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Interacionismo simbólico

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Interacionismo simbólico

Abertura No Dicionário do Pensamento Social no Século

XX (p. 393), Outhwait e Bottomore assim definem Interacionismo Simbólico:

− “Ramo da sociologia norte-americana, o interacionismo simbólico é um produto da Escola de Chicago”.

Realiza oposição teórica ao Funcionalismo de Parsons.

Nos anos de 1960, o Interacionismo ressurge na academia em interlocução com a Fenomenologia.

A expressão “interação simbólica” foi cunhada por Herbert Blumer, em 1938 (JOAS, 1999). Indicava que a interação ocorre em trocas de significações.

Indica ênfase teórica nos processos de interação social (“ação social orientada reciprocamente”).

Ao pensar as interações, dá centralidade a seu caráter simbolicamente mediado.

Fundamental: pensar os significados que atribuem os sujeitos individuais e coletivos às suas ações/interações.

Situação teórica O interacionismo simbólico é uma das

correntes acionalistas em Sociologia. “A abordagem acionalista em sociologia não é

recente e, do meu ponto de vista, tem seu clássico em Max Weber. O início do século XX já discute as relações entre sujeitos (dimensão psicológica ou sociológica), suas ações (dimensão interativa ou relacional) e a natureza da ordem ou estrutura social em que se inserem essas relações (dimensão simbólica)” (LUZ, 1993, p. 41).

A questão do estatuto teórico das ações e das interações de sujeitos individuais ou coletivos na determinação do objeto das Ciências Sociais não é nova (LUZ, 1993, p. 42).

Orientação epistemológica Considera, em seus métodos de investigação,

a intersubjetividade na prática da pesquisa, as análises qualitativas”, sem pretensões à generalidade e à neutralidade.

Suas hipóteses e teorias são sempre reformuláveis, pois são provisórias, tais como as interações humanas.

Não hierarquiza o conhecimento científico em relação ao senso comum (LUZ, 1993, p. 46).

“Não existe, neste sentido, uma verdade sociológica, na medida em que não existe uma realidade social” (LUZ, 1993, p. 46).

A sociologia é uma prática como outras práticas.

Interacionismo e Escola de Chicago “O interacionismo simbólico é visto como a

continuação de certas partes do pensamento e obra do heterogêneo grupo interdisciplinar de teóricos, pesquisadores e reformadores sociais da Universidade de Chicago [...]” (JOAS, 1999, p. 131).

Precursores e influências SOCIOLOGIA IMPRESSIONISTA DE SIMMEL Sociedade produzida nas interações sociais,

entre “círculos sociais”. PRAGMATISMO SOCIAL DE JOHN DEWEY O Pragmatismo é uma filosofia da ação. Seu

conceito de ação objetivou superar os dualismos cartesianos.

A realidade é produzida pela ação dos indivíduos. Entendê-la, portanto, é entender a “conduta pormenorizada dos sujeitos”.

GEORGE HERBERT MEAD (1863-1931) Filósofo pragmático com relevante contribuição

à Psicologia Social. Ministrou um curso por 30 anos na

Universidade de Chicago, cujos resultados foram publicados no livro “Mente, self e sociedade”.

Mead visa compreender os modos de “individuação”. Só existe um senso de “EU”, se existir um senso de “NÓS”.

A pessoa (self) é o produto do que ela faz na sociedade (papéis, funções, atividades, etc.).

Construímos nossa identidade a partir de referências simbólicas, um “Outro significativo”. Desde a infância, precisamos deste “Outro significativo”.

Na razão em que generalizamos os comportamentos aprendidos, passa a existir um “Outro generalizado”.

Então, o processo de individuação é relacional.

Para Mead, a formação da mente acontece quando o indivíduo consegue tomar a si mesmo como objeto de reflexão. Eu Mim (“self”) Outro Generalizado

A sociedade, neste sentido, faz-se o “mecanismo que nos permite conviver com o outro”.

Para Mead, a Sociologia estuda a consciência, a ação e a interação.

Mente e Self se originam no processo social.

Self é a capacidade de tornar-se objeto de seu próprio pensamento (sujeito reflexivo).

Pensamento é um ato social.

Self diz respeito a construção das identidades, possuindo duas dimensões: objetiva e subjetiva: EU (JE) – subjetivo, ativo, pois é iniciador da ação MIM (MOI) – objetivo, é a parte do eu percebida

pelos outros “Mead desenvolveu as condições da

possibilidade de auto-reflexividade a partir de uma teoria das origens da comunicação e sociabilidade especificamente humanas” (JOAS, 1999, p. 139).

A proposta teórica do interacionismo simbólico

“Na clássica disputa teórica ação social X ordem (ou estrutura) social, pode-se afirmar sem medo que o interacionismo simbólico situou-se, desde seus primórdios, nos anos 30 e 40, com autores como Schutz e Blumer, na perspectiva acionalista” (LUZ, 1993, p. 44).

“Dos anos 60 aos 80, em que se destacam autores como Goffman e Garfinkel, essa tendência se confirma e se precisa em termos de micro-sociologia” (LUZ, 1993, p. 44).

“Nessa perspectiva, não apenas se privilegiam as ações dos indivíduos como objeto de discurso e de investigação, mas também se atribui à ordem social uma contingência e uma relatividade quase radicais” (LUZ, 1993, p. 45).

“Para o interacionismo existe, objetivamente, uma ordem social que fornece regras e normas para as ações dos sujeitos, embora ela esteja constantemente em processo de construção (ou desconstrução), através da negociação de significados, de sanções, de hierarquias e das próprias normas” (idem, p. 45).

A ordem social é negociada. “O fundamental nessa ordem, objetiva, embora

provisória, são os significados que atribuem os sujeitos individuais e coletivos às suas ações ↔ interações, isto é, às ações do(s) outro(s) sobre si mesmo e sobre outrem” (LUZ, 1993, p. 45).

“Há, no entanto, uma grande diferença, além da questão da abrangência: é o redimensionamento do papel do conflito e do exercício do poder nas ações e nas interações sociais. É verdade que o conflito e as negociações não têm função transformadora nas relações sociais, mas de qualquer forma determinam a provisoriedade e a instabilidade da ordem social” (LUZ, 1993, p. 47).

“Na abordagem interacionista deve predominar a análise dinâmica das relações e padrões interativos, diferentemente das abordagens funcional e estruturalistas, que abordam aspectos estáticos e invariáveis das relações e padrões de relações sociais” (LUZ, 1993, p. 48).

Principais argumentos do Interacionismo Simbólico (cf. Gadea, 2008)

1 . Importância na capacidade do ator para interpretar o mundo social.

2. Ator e mundo são processos dinâmicos.

3 . Sociedade. 

A. Não é uma estrutura ou organização, senão as ações das pessoas que tomam lugar em “situações”. É construída pelas pessoas interpretando “situações”.

B. O meio da ação humana e da interação é, necessariamente, um meio definido simbolicamente (...). Em síntese, as pessoas atuam com referência a um outro em termos dos símbolos desenvolvidos através da interação, e elas atuam através da comunicação desses símbolos. A sociedade é um nome dado resumidamente para tal interação.

C. A vida social é visualizada como um processo dinâmico. A sociedade não “existe” de uma forma substantiva. É continuamente criada e recriada na medida em que as pessoas atuam com referência a um “outro”. A sociedade e a pessoa estão juntas no processo social.

4 . Símbolo:

Enquanto os signos representam algo por si mesmo (a água para a pessoa que tem sede), os símbolos são objetos sociais que se usam para representar (“ocupar o lugar de”). As pessoas utilizam símbolos para comunicar certo modo de vida.

5. Interação

A. O ser humano age com relação às coisas na base dos sentidos que elas têm para ele.

B. O sentido destas coisas surge da interação social que alguém estabelece com seus companheiros.

 C. Estes sentidos são manipulados e modificados através de um

processo interpretativo usado pela pessoa ao tratar as coisas que ela encontra. Na medida que o significado é derivado do processo interpessoal implica que a realidade é definida por meio desse processo, mais do que independentemente dele.

6. Contribuições de Mead (Mente, Self e Sociedade)

Mead argumenta que os significados dos símbolos não são universais e objetivos. Assim, os significados são individuais e subjetivos no sentido de que é o receptor quem os atribui aos símbolos de acordo com o modo em que os interpreta.

Referências:GADEA, C. Teorias sociais contemporâneas. Anotações de aula.

PPG Ciências Sociais, Unisinos, 2008.

JOAS, H. Interacionismo simbólico. In: GIDDENS, A.; TURNER, J. (Orgs.) Teoria Social Hoje. São Paulo: Unesp, 1999.

LUZ, M. O interacionismo simbólico: breve exposição de uma corrente acionalista em ciências sociais. In: CARVALHO, M. C. B. (Org.) Teorias da Ação em Debate. São Paulo: Cortez, 1993.

MEAD, G. H. Espiritu, persona y sociedad. Buenos Aires: Paidós, 1982.