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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 1 Interações Mediadas na Página SP Invisível: Convocações a Novos Olhares e Formas de Viver a Cidade 1 Mayara Luma LOBATO 2 Filipe de Oliveira COSTA 3 Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), São Paulo, SP Resumo Neste trabalho, nosso propósito é discutir os mecanismos de convocação e interação mediada da página do Facebook SP Invisível, que aborda histórias de vida, relatos e depoimentos de diversas pessoas enquadradas como invisíveis urbanos como mendigos, malabaristas, usuários de drogas, prostitutas e transeuntes. A partir de referenciais teóricos do campo da comunicação e dos estudos sobre subjetividade, incluindo Sibilia (2008), Aidar Prado (2013), Sevcenko (2002) e Thompson (1998), é feita uma análise dos comentários de seguidores e dos depoimentos publicados na página, a fim de problematizar as ferramentas e os modos de interpelação nela existentes. Ao fim, nota-se a adoção de estratégias de convocação que enfatizam o acionamento afetivo do internauta, que visam à mobilização e à deliberação sobre os modos de vida dos personagens retratados. Palavras-chave: comunicação; interfaces comunicacionais; interação mediada; SP Invisível; subjetividade. Introdução Diariamente, muitas são as pessoas que se cruzam em ruas e esquinas dos grandes centros urbanos. A vida apressada em cidades como São Paulo, muitas vezes, empurra seus habitantes para uma espécie de visão seletiva: dentro de sua rotina, veem apenas aquilo que desejam e fecham os olhos para uma infinidade de histórias, cenários, afetos, sensações. Esses personagens urbanos somos todos nós, que, muitas vezes, insistimos em esquecer que a cidade é sempre um ambiente compartilhado, que dividimos com muitas outras pessoas; algumas a nós se assemelham e oferecemos a elas o nosso olhar, outras se mantêm invisíveis nos variados espaços pelos quais transitamos cotidianamente. 1 Trabalho apresentado no GP Comunicação e Culturas Urbanas do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM/SP. Mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero. Professora do Centro Universitário FIAM-FAAM. Mediadora do Núcleo de Estudos de Gênero e Sexualidade (NUGE - FIAM-FAAM), e-mail: [email protected]. 3 Graduado em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda Estácio CEUT-PI. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM/SP, na Linha de Pesquisa Lógicas de Produção e Estratégias Midiáticas Articuladas ao Consumo, e-mail: [email protected].

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

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Interações Mediadas na Página SP Invisível: Convocações a Novos Olhares e Formas

de Viver a Cidade1

Mayara Luma LOBATO2

Filipe de Oliveira COSTA3

Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), São Paulo, SP

Resumo

Neste trabalho, nosso propósito é discutir os mecanismos de convocação e interação

mediada da página do Facebook SP Invisível, que aborda histórias de vida, relatos e

depoimentos de diversas pessoas enquadradas como invisíveis urbanos – como mendigos,

malabaristas, usuários de drogas, prostitutas e transeuntes. A partir de referenciais teóricos

do campo da comunicação e dos estudos sobre subjetividade, incluindo Sibilia (2008),

Aidar Prado (2013), Sevcenko (2002) e Thompson (1998), é feita uma análise dos

comentários de seguidores e dos depoimentos publicados na página, a fim de problematizar

as ferramentas e os modos de interpelação nela existentes. Ao fim, nota-se a adoção de

estratégias de convocação que enfatizam o acionamento afetivo do internauta, que visam à

mobilização e à deliberação sobre os modos de vida dos personagens retratados.

Palavras-chave: comunicação; interfaces comunicacionais; interação mediada; SP

Invisível; subjetividade.

Introdução

Diariamente, muitas são as pessoas que se cruzam em ruas e esquinas dos grandes

centros urbanos. A vida apressada em cidades como São Paulo, muitas vezes, empurra seus

habitantes para uma espécie de visão seletiva: dentro de sua rotina, veem apenas aquilo que

desejam e fecham os olhos para uma infinidade de histórias, cenários, afetos, sensações.

Esses personagens urbanos somos todos nós, que, muitas vezes, insistimos em esquecer que

a cidade é sempre um ambiente compartilhado, que dividimos com muitas outras pessoas;

algumas a nós se assemelham e oferecemos a elas o nosso olhar, outras se mantêm

invisíveis nos variados espaços pelos quais transitamos cotidianamente.

1 Trabalho apresentado no GP Comunicação e Culturas Urbanas do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em

Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM/SP. Mestre em

Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero. Professora do Centro Universitário FIAM-FAAM. Mediadora do Núcleo de

Estudos de Gênero e Sexualidade (NUGE - FIAM-FAAM), e-mail: [email protected].

3 Graduado em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda – Estácio CEUT-PI. Mestrando do

Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM/SP, na Linha de Pesquisa Lógicas de

Produção e Estratégias Midiáticas Articuladas ao Consumo, e-mail: [email protected].

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Comumente, pessoas em situação de rua compõem esse cenário dos invisíveis

urbanos: “mendigos”, malabaristas de farol, limpadores de para-brisas, usuários de drogas,

prostitutas... Se, usando a vida apressada como argumento, insistimos em tornar essas

pessoas invisíveis, a página no Facebook SP Invisível, cuja proposta é dar voz a esses

indivíduos, publicando fotos e depoimentos seus, convoca-nos (AIDAR PRADO, 2013) a

vê-los, a conhecer suas histórias. Tendo como suporte a mídia, o Facebook, uma rede social

digital, o projeto usa a tecnologia para conseguir se efetivar, representando um dos vários

exemplos atuais do que Thompson (1998) chama de “interação mediada” ou “quase-

interação mediada”.

Neste artigo, propomo-nos a fazer uma análise sobre a página SP Invisível,

considerando os depoimentos publicados e os comentários de seguidores, muitos deles

dedicados à ideia de oferecer um novo olhar à cidade e àqueles “outros” pelos quais

passamos todos os dias. A partir dessas observações, consideramos que SP Invisível propõe

um novo tipo de interação entre os habitantes que dividem um mesmo espaço urbano. Além

de Aidar Prado (2013) e Thompson (1998), os debates de autores como Sevcenko (2002) e

Sibilia (2008) tiveram contribuição fundamental para esta pesquisa.

SP Invisível: uma breve contextualização

O coletivo SP Invisível – fundado por Vinicius Lima e André Soler – intitula-se

como um movimento e não um projeto, pois, para os fundadores, um movimento está em

constante evolução, ao contrário do segundo modelo. O movimento trata-se de uma

divulgação de histórias de pessoas que vivem nas ruas da cidade de São Paulo, com a

proposta de um olhar humanizado que visa a um relacionamento de forma horizontal entre a

população “visível” e a população estigmatizada e esquecida – incluindo trabalhadores

comuns, artistas independentes, moradores de rua, travestis e prostitutas, por exemplo.

Segundo os fundadores4 do movimento, “o SP invisível surgiu de um incômodo com a

situação que vivemos hoje em São Paulo, um monte de pessoas andando que se encaram e

se esbarram, mas ninguém se olha ou percebem umas às outras”.

O movimento SP Invisível começou na rede social digital Facebook5, com a

divulgação de fotos e depoimentos dos habitantes “invisíveis” de São Paulo; normalmente

4 Disponível em: http://www.ideafixa.com/sp-invisivel. Acesso em 4 mai. 2016.

5 Disponível em: https://www.facebook.com/spinvisivel. Acesso em 4 mai. 2016.

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os relatos continham a explicação sobre como e por que a pessoa estava morando na rua.

Com o tempo, o movimento obteve uma maior visibilidade nas mídias digitais e não digitais

e, assim, foi migrando para outras plataformas digitais e outras cidades pelo Brasil.

Atualmente, o movimento ampliou-se para lugares como Porto Alegre (RS), Salvador (BA),

Fortaleza (CE), Rio de Janeiro (RJ) e Manaus (AM).

O foco da comunicação continua na rede social digital Facebook, porém, o

movimento conta também com um website oficial6, interessante em especial para

estrangeiros que, nele, podem ter acesso à história do movimento em inglês.

Interações mediadas e convocações nos espaços urbanos

Com quantas pessoas cruzamos, em um dia, numa grande cidade como São Paulo?

Quantas oferecem seu olhar ao nosso e para quantos negligenciamos atenção? Diversos são

os autores que falam da vida apressada nas grandes cidades, que se estabelecem no século

XIX, durante a modernidade, como Benjamin (2010) e Simmel (2009). Edgar Allan Poe

também teve como um dos principais temas de sua literatura o cotidiano urbano. Em “O

homem na multidão”, o escritor, sentado junto à janela de um café londrino, propõe-se a

observar os transeuntes. Seu texto, publicado há mais de um século, continua atual:

A grande maioria dos que passavam tinha uma atitude satisfeita e

eficiente, e parecia só pensar em abrir caminho na torrente. Tinham as

sobrancelhas franzidas e moviam os olhos com rapidez; quando

esbarrados por outros passantes, não expressavam nenhum sinal de

impaciência, apenas ajeitavam a roupa e seguiam se apressando. Outros,

de uma classe também numerosa, tinham movimentos agitados, o rosto

vermelho e falavam e gesticulavam sozinhos, como que se sentindo

solitários exatamente por causa da densidade do agrupamento à sua volta

(POE, 2014, p.2).

Sevcenko (2002, p.84) também reconhece o impacto da “Revolução Científico-

Tecnológica, que em fins do século 19 desencadeou os grandes processos migratórios que

deram origem às metrópoles contemporâneas”. O autor atualiza esse debate, considerando

em especial os novos aspectos econômicos que geram mudanças nos espaços urbanos e, por

consequência, em seus usos e nas formas de vida daqueles que os habitam. Para ele,

vivemos na “era das grandes corporações”, ou da globalização, em que essas empresas

“fragmentaram sua estrutura funcional, espalhando seus negócios pelos diferentes

6 Disponível em: http://spinvisivel.com. Acesso em 4 mai. 2016

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quadrantes do mundo” (SEVCENKO, 2002, p.79). Aspecto esse que, é claro, afeta a

estrutura urbana: “os processos de transformação nas cidades devem, portanto, ser

compreendidos em consonância e como um efeito dessas mudanças profundas que estão

ocorrendo no sistema econômico internacional (SEVCENKO, 2002, p.81).

Segundo o autor, o próprio crescimento urbano “multiplica a desigualdade e a

pobreza, ao invés de corrigi-los, como outrora se esperava” (SEVCENKO, 2002, p.85).

Assim, uma das grandes marcas das cidades é o “aumento da polarização entre os extremos

de um núcleo cada vez mais concentrado de altos salários, de um lado, e uma ampla pressão

conducente à disseminação da baixa remuneração, do outro” (SEVCENKO, 2002, p.84).

Para ele, isso gera um processo de “secessão dos bem-sucedidos” (SEVCENKO, 2002,

p.84), ajudado pela tecnologia de que dispomos na atualidade:

Os yuppies, bobos e digeratis preferem viver em íntima relação com seus

aparatos eletrônicos, computadores, telefones celulares, máquinas de fax,

bippers, modem e a internet, dispensando cada vez mais o contato com

pessoas reais, sobretudo se essas pessoas são estranhas e pobres

(SEVCENKO, 2002, p.85, grifos do autor).

Em oposição a Sevcenko (2002), Thompson (1998), no livro Mídia e Modernidade,

acredita que a mídia, inegavelmente, depende da tecnologia e impulsiona a socialidade. Ao

contrário de dificultar o contato com outras pessoas e com o ambiente, provoca novas

formas de viver, ver e sentir as cidades. Para o autor, “o desenvolvimento da mídia é assim

uma parte integrante de uma característica dinâmica mais ampla das sociedades modernas,

[...] que se pode descrever como o efeito recíproco de complexidade e experiência prática”

(THOMPSON, 1998, p.189). Segundo Thompson (1998, p.202), “parece claro que a

estrutura da experiência mudou de várias e significativas maneiras”, o que, em grande

medida, é provocado pela mídia, que “tanto contribui para o crescimento da complexidade

social quanto proporciona uma fonte constante de conselhos sobre como enfrentá-la”

(THOMPSON, 1998, p.190).

Além da “experiência vivida”, passamos a contar também no mundo atual com uma

experiência mediada, classificada pelo autor como “interação mediada” ou “quase-interação

mediada” (THOMPSON, 1998): “a mídia aumentou a capacidade dos indivíduos

experimentarem [...] fenômenos que dificilmente poderiam encontrar na rotina ordinária de

suas vidas” (THOMPSON, 1998, p.182). De forma simples, a diferença entre as duas é que

a primeira é dialógica e é orientada a receptores específicos, ou seja, “os indivíduos podem

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estabelecer uma forma de intimidade recíproca”; já a quase-interação mediada é

monológica e se destina a um número indefinido de receptores potenciais, por isso, “os

indivíduos podem criar e estabelecer uma forma de intimidade essencialmente não

recíproca” (THOMPSON, 1998, p.181-182).

Considerando essas novas possibilidades de experimentação, segundo o autor, a

mídia tornaria nosso cotidiano também mais complexo, pois “produz um contínuo

entrelaçamento de diferentes formas de experiência, uma mistura que torna o dia-a-dia de

muitos indivíduos hoje bastante diferente do experimentado por gerações anteriores”

(THOMPSON, 1998, p.197). Ainda nas palavras do autor:

[...] experimentar eventos através da mídia é experimentar eventos que,

em sua grande maioria, estão distantes espacialmente (e talvez também

temporalmente) dos contextos práticos da vida diária. São eventos que

dificilmente seriam presenciados diretamente no curso das atividades

normais da vida diária. Por isso, eles são eventos que, para os indivíduos

que os assistem pela mídia, têm um caráter refratário: isto é, são

acontecimentos que muito provavelmente serão afetados pelas ações

destes indivíduos. Eles estão fora do alcance e, portanto, fora do controle

de quem os assiste (THOMPSON, 1998, p.197-198).

Esses eventos, portanto, aos quais só temos acesso pela mídia, segundo o autor,

aumentam nossos horizontes e referências, pois a interação não mais está limitada ao face a

face, podendo acontecer em contextos temporais e espaciais distintos. E mais: se, antes, a

vivência de uma experiência comum estava restrita àqueles que partilhavam um mesmo

espaço, agora, “os indivíduos podem ter experiências similares através da mídia sem

compartilhar os mesmos contextos de vida” (THOMPSON, 1998, p.200).

Para que isso aconteça, as experiências mediadas assumem sempre um caráter

recontextualizador, pois “são reimplantadas, através da recepção e apropriação dos produtos

da mídia, nos contextos práticos da vida diária” (THOMPSON, 2002, p.198). Mas o autor

faz uma ressalva: os contextos em que cada um está inserido afetam de forma determinante

a maneira como são feitas a recepção, a apropriação e a incorporação dos produtos

midiáticos. E é isso que faz com que a experiência mediada não seja igual para todos,

podendo gerar choques e situações desconcertantes por conta dos contrastes entre os

contextos envolvidos.

Como Thompson (2002), Aidar Prado (2013, p.13) concorda que, hoje, as vivências

do tempo e do espaço são diferentes, em alguns aspectos, por conta também dos media –

termo priorizado pelo autor –, que, entre muitas outras coisas, “teriam democratizado as

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visões de mundo” (AIDAR PRADO, 2013, p.16). Para ele, a mídia funciona como um

dispositivo comunicacional de convocação, “um empuxo à interatividade [...], o objetivo é

apenas o de fazer participar, de fazer ser interativo para criar um ambiente repleto de

intensidades [...]” (AIDAR PRADO, 2013, p.40). Por meio desse dispositivo, somos

instados a participar socialmente do que quer que seja que se esteja promovendo:

Nessa direção os media são dispositivos convocadores e orientadores de

ação de primeira ordem no capitalismo contemporâneo. As convocações

dos sistemas dos media e da publicidade buscam a adesão a programas

que se propõem capacitar o leitor em um campo e modalizá-lo para ser o

melhor, para sentir-se bem, bem adaptado ao mundo [...] (AIDAR

PRADO, 2013, p.60).

Evocando Agamben, o autor explica que a força dos dispositivos está organizada em

torno de três tópicos: é um conjunto heterogêneo, sua organização se dá em rede e inclui

vários discursos, instituições e proposições (AIDAR PRADO, 2013, p.59). A convocação

que esse dispositivo promove também está estruturada em três fases: a captura da atenção, a

interpelação propriamente e o retorno, o feedback do processo (AIDAR PRADO, 2013,

p.51-53).

Em seu livro “Convocações biopolíticas dos dispositivos comunicacionais”, o autor

se vale principalmente de exemplos de meios de comunicação tradicionais, como as

revistas, para explicar como a mídia assume o papel de convocadora da sociedade. Porém,

suas ideias são aplicáveis também à internet e às redes sociais digitais, como o próprio autor

prevê:

Para que as pessoas buscam “textos”, sejam na internet, sejam em revistas,

sejam na televisão? A resposta não é somente “para se informar”, mas:

para se integrar, ao se informar, para se localizar, para ter narrativas de

enquadramento no mundo, para saber qual é o meu mundo, como ele

funciona, como eu posso pertencer melhor a esse que já é o meu mundo

(AIDAR PRADO, 2013, p.54).

E é buscando se informar, entender melhor o seu mundo, conseguir nele se localizar

e a ele pertencer, que muitos usuários do Facebook buscam a página SP Invisível, objeto de

análise deste estudo que se conecta às ideias aqui apresentadas

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Olhares e convocações em SP Invisível

A pergunta que fizemos no início do tópico acima – com quantas pessoas cruzamos

todos os dias sem nos dar conta em uma grande cidade? – encontra uma possível resposta

na página do Facebook SP Invisível. Sua proposta é trazer depoimentos de pessoas que

estão em situação de rua, em especial moradores e usuários de drogas. Há também algumas

séries especiais, como “Crianças Invisíveis”, em que a página contou não histórias de

crianças que vivem nas ruas, mas, sim, daquelas que vivem em comunidades pobres da

cidade. Atualmente, a SP Invisível conta com cerca de 300 mil curtidas.

A página, em primeiro lugar, reverbera os pensamentos de Aidar Prado (2013), pois

é parte dos media, que, segundo o autor, “teriam trazido à luz e à voz discursos que

anteriormente só viviam no subúrbio das sociedades modernas” (AIDAR PRADO, 2013,

p.16). SP Invisível tenta, ainda, romper com as chamadas análises conservadoras de que

trata o mesmo autor, para as quais “a existência dos sem-teto, dos habitantes dos guetos,

dos desempregados crônicos é exceção e não um fracasso estrutural do capitalismo”

(AIDAR PRADO, 2013, p.40).

Um movimento como o analisado aqui só tem espaço para existir e crescer em

centros urbanos como os que temos estabelecidos hoje, em especial na América Latina,

frutos de um sistema econômico internacional em desequilíbrio. Segundo Sevcenko (2002,

p.80), as grandes empresas controlam mundialmente operações econômicas, financeiras e

comerciais, sem, no entanto, promover investimentos em desenvolvimento científico,

tecnológico e em atividades culturais. E acabam sendo as cidades do Terceiro Mundo7 que

mais sentem os efeitos negativos disso:

Em vista da desigualdade estrutural sobre a qual se baseia a estratégia das

empresas, os lucros tendem a se acumular nas matrizes, sendo então

desviados dos processos produtivos e redirecionados para mais altamente

lucrativa das atividades, que [...] é a especulação cambial e financeira.

Assim desviados, eles se beneficiam ainda de isenções de impostos, são

canalizados via paraísos fiscais ou quaisquer outros mecanismos de

evasão, de forma que o que deixam de reaplicar na economia deixam

igualmente de reverter para sustentar os serviços públicos, atividades e

serviços de interesse social. O quadro que se cria é o da estagnação

econômica, desemprego ascendente e queda na massa salarial, muito

embora a lucratividade, os balanços e as ações das empresas continuem

crescendo (SEVCENKO, 2002, p.81, grifos nossos).

7 O termo caiu em desuso, mas ainda é usado por Sevcenko (2002), por isso, optamos por mantê-lo ao explicar as ideias do

autor.

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Como propõe o autor, os processos de transformação por que passam as cidades

devem, portanto, ser entendidos em consenso com o sistema econômico internacional, o

qual também passa por mudanças profundas (SEVCENKO, 2002). E entre as consequências

mais alarmantes dessas transformações, como o autor também aponta, está o aumento da

polarização entre as classes sociais e, portanto, entre os habitantes das cidades

(SEVCENKO, 2002). Muitas vezes, essa polarização não se dá espacialmente, mas pelos

estilos de vida, pelos hábitos de consumo, pelos modos de habitação, pelos usos do espaço

urbano etc. É o que observamos na SP Invisível, que em certa medida tenta romper com a

barreira do “outro”, da comum oposição entre “nós” e “eles”, reforçando que todos

habitamos e dividimos o mesmo espaço urbano.

Se, como propõe o autor, o processo de crise urbana é sentido de forma mais

acentuado “nas cidades periféricas do que nas globais8 e muito mais acentuado nas grandes

cidades do que nas pequenas” (SEVCENKO, 2002 p.84), a página em questão tem muitas

histórias de vida para explorar. Nela, há depoimentos como o de Rosana9, uma advogada

que perdeu o emprego e hoje oferece faxina em um farol na região do Paraíso; ou como o

de um jovem10 de 17 anos que era religioso, cantava no coral da igreja, mas começou a usar

drogas e agora vive com a namorada nas ruas; ou, ainda, como o de Carlos Augusto11, de 58

anos, de Maceió (AL), que está na rua há quatro meses, tentando juntar dinheiro com o que

ganha do Programa Bolsa Família e alguns “bicos” para conseguir alugar uma casa.

8 Para o autor, cidades globais são aquelas que se beneficiam de um sistema econômico em desequilíbrio, detendo 75% do

produto bruto mundial, como algumas da Europa, Estados Unidos e Japão (SEVCENKO, 2002, p.80). 9 Link para este depoimento: https://www.facebook.com/spinvisivel/photos/pb.598268693591136.-

2207520000.1463428930./941994062551929/?type=3&theater 10 Link para este depoimento: https://www.facebook.com/spinvisivel/photos/pb.598268693591136.-

2207520000.1465147621./1016476208437047/?type=3&theater 11 Link para este depoimento: https://www.facebook.com/spinvisivel/photos/pb.598268693591136.-

2207520000.1465147668./1021507444600590/?type=3&theater

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Figura 1. Foto que acompanha o depoimento da advogada Rosana à página. Autor: SP Invisível.

Todos esses exemplos de personagens em situação de vulnerabilidade social

ilustram as reflexões de Sevcenko (2002, p.84) sobre a atual situação das metrópoles

globais:

[...] as cidades grandes, sobretudo nos países subdesenvolvidos, sofrem

um influxo maior e mais constante de populações flutuantes. São grandes

contingentes de vários tipos: populações migrantes, grupos

marginalizados, trabalhadores eventuais, fluxos sazonais e a pressão

sempre crescente das novas gerações de jovens nascidas dessas mesmas

coletividades, mas que já têm com relação à cidade um nível de

familiaridade, expectativas e frustrações incomparavelmente maiores. No

conjunto, esses contingentes crescentes dão ensejo a efeitos que recaem

sobre eles mesmos e sobre outros setores vulneráveis da população

urbana, na medida em que aumentam a oferta de trabalho, deprimem a

escala salarial, facilitando os trajetos paralelos da “terceirização”, da

“flexibilização” e da chamada “economia informal” (SEVCENKO, 2002

p.84, grifos do autor).

Ao mesmo tempo, só temos acesso a todas essas histórias pela experiência mediada

de que trata Thompson (1998). Na verdade, fisicamente, muitas vezes, estamos próximos

daqueles apresentados na SP Invisível, mas, pela lógica de funcionamento das grandes

cidades, não teríamos muitas outras formas de conhecer suas histórias e com eles

estabelecer relações de intimidade, nos termos de que trata o autor, se não fosse pela

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mediação da rede social em questão. Aspecto esse que se observa no comentário de Nívea

Carvalho na página: “As vezes a gente tem medo ou as vezes a correria nos cega”12.

O que se estabelece entre os que acompanham a página e seus “invisíveis” é um

processo de quase-interação mediada, pois é monológico e orientado a um número

indefinido de receptores. Alguns comentários são emblemáticos nesse sentido, como este:

“A gente anda por essa cidade todos os dias e não imagina a quantidade de historias

incriveis que as pessoas carregam consigo”, de Bruna Brasil. E, ainda: “Eu trabalho na Rua

Estela e a vejo [a depoente] todos os dias. Desde que trabalho neste local (cerca de 1 mês) a

observo. Já pensei em falar com ela e pedir uma foto p postar. Afim de tentar ajudá-la. Fico

feliz que a imagem dela está sendo divulgada!”, de Natalia Antunes. Na quase-interação

mediada, o que se estabelece é uma espécie de “intimidade à distância”, que, nos termos do

autor, “não é dialógica, [...] não tem caráter recíproco [...], é um tipo de intimidade que

deixa os indivíduos com a liberdade de definir os termos de engajamento e de intimidade

que desejam ter com os outros” (THOMPSON, 1998, p.191).

As ideias de Thompson (1998) podem ser conectadas também às de Paula Sibilia

(2008), que entende que a internet e as interações sociais por ela proporcionadas, em

especial nas redes sociais digitais, acabam por gerar mudanças profundas nos processos de

construção do eu, chegando mesmo a suscitar a composição de novas subjetividades. É o

que acontece na página SP Invisível, à medida em que proporciona, entre outros elementos

e situações, a “intimidade à distância”: quem acompanha os depoimentos publicados se

aproxima e passa a conhecer detalhes da vida dos depoentes, sem que estes saibam qualquer

coisa da vida de quem lê suas histórias13.

Para além da quase-interação mediada, a SP Invisível, ao dar voz a populações

marginalizadas e tentar orientar nosso olhar a elas, propõe novas formas do que Thompson

chama de “experiência vivida”, já que “pode haver conexões causais entre os eventos

experimentados através da mídia e os contextos práticos da vida cotidiana” (THOMPSON,

1998, p.198). Elemento esse que pode ser observado nos comentários a seguir, por

exemplo: “Quero ajudar esse moco, vamos comprar uma passagem para ele !”, de

Constanza Munhoz, sobre a história de um homem que deseja voltar a sua cidade natal, mas

não tem dinheiro para a passagem.

12 Aqui e no restante deste trabalho, mantivemos os erros de digitação e grafia dos comentários da página. 13 Sempre é importante lembrar que esta distância nem sempre é física, podendo ser também de classes sociais, estilos de

vida, realidades vividas etc.

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Outro caso marcante: “Acredito que o Haddad tem feito muita coisa bacana, como

os centros de apoio aos lgbt. Acredito que a página de vocês é material muifo forte para

reivindicar novas políticas que visem os moradores de rua. Questão de articulação!

Podemos articular uma carta/projeto/assinaturas. A página tem visibilidde pra isso. Que

tal?”, de Mayara Paiva Nuernberg. Claro está que as experiências proporcionadas pela

página também afetam de forma profunda as subjetividades de quem a acompanha, nos

moldes propostos por Sibilia (2008).

Figura 2. Imagem do relato de Luiz, usuário de drogas que vive nas ruas de São Paulo. Autor: SP Invisível.

Comentários como os selecionados aqui são bons exemplos de como as interações

mediadas e quase-interações mediadas se tornam experiências importantes na vida das

pessoas, capazes de promover outros tipos de experiências vividas, até com vistas a tentar

mudar o cenário dos espaços urbanos com políticas públicas voltadas à população em

situação de rua, como observamos no comentário acima de Mayara. Pessoas como ela,

Constanza e tantas outras da página, depois de passar pelos dois primeiros estágios da

convocação de que trata Aidar Prado (2013), captura da atenção e interpelação, chegam à

fase do feedback, oferecendo retornos aos estímulos convocatórios. Elas se enquadram

também nas ideias de Thompson (1998):

Viver num mundo mediado significa uma nova carga de responsabilidade

que pesa gravemente sobre os ombros de alguns. Provoca uma nova

dinâmica na qual o imediatismo da experiência vivida e as reinvindicações

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morais associadas à interação face a face jogam constantemente contra as

demandas e as responsabilidades provenientes da experiência mediada.

Alguns indivíduos se fazem cegos e surdos a estes últimos apelos e

procuram manter distância de acontecimentos que estão, de algum modo,

distantes das pressões rotineiras da vida. Outros, estimulados pelas

imagens e relatos da mídia, se lançam em campanhas em favor de grupos

e de causas distantes14 (THOMPSON, 1998, p.202).

Interações mediadas ou quase-interações mediadas, como o caso analisado aqui,

convocam-nos a uma nova responsabilidade, a não fechar os olhos para determinadas

situações que demandam atenção e às quais, não fosse a experiência mediada,

provavelmente não teríamos acesso. Nas palavras de Aidar Prado (2013, p.12): “a

convocação oferece, portanto, não uma satisfação pura e simples para uma necessidade

‘natural’, mas dá forma a uma demanda latente” (grifos do autor). Para o autor, essas

convocações apelam à emoção e à experiência, o que SP Invisível também faz e pode ser

observado em comentários como o de Katre Danilevicius: “Meu coração sempre aperta com

esses relatos!”; ou o de Day Lopes: “Me emocionou de verdade! Me doi ver tanta gente

precisando de amor, de ajuda... Que vida dura ela tem!”.

Comentários como os transcritos acima provam que, ao ser interpelada, “a pessoa

tem de sentir o chamado no corpo, tem de responder com o corpo” (AIDAR PRADO, 2013,

p.58). Isso porque “o enunciador, para se fazer ouvir, trabalha o texto em sua força de

apelo, de interpelação, de narrativa carregada de sentidos ligados ao mundo cotidiano”

(AIDAR PRADO, 2013, p.58) – o que, inegavelmente, faz a página, por meio dos

depoimentos que publica.

Considerações finais

Como se observou ao longo do desenvolvimento deste artigo, as ideias de Aidar

Prado (2013), Sevcenko (2002) e, em especial, Thompson (1998) foram fundamentais para

compreender as novas formas de interação, conhecimento e contato com o mundo

proporcionadas pela internet, principalmente considerando as peculiaridades latino-

americanas que marcam a cidade de São Paulo, uma das maiores do mundo. Nesse sentido,

a análise da página SP Invisível, objeto de estudo desta pesquisa, mostrou-se profícua por

ilustrar de forma exemplar muitas das ideias dos autores.

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Durante o desenvolvimento da pesquisa, observamos, ainda, que o estudo da página

em questão pode se desdobrar em muitas outras direções. É possível, por exemplo, fazer um

estudo de recepção com pessoas que acompanham a SP Invisível para compreender como

os depoimentos com os quais tiveram contato transformaram suas experiências vividas,

como é a relação estabelecida com os espaços urbanos, a forma de olhar para as pessoas em

situação de rua ou vulnerabilidade, como se dá o engajamento em causas sociais etc. Nesse

sentido, estudos sobre modulação da subjetividade em tempos digitais, como os de Sibilia

(2008), também nos pareceram interessantes. O assunto se mostra bem mais complexo do

que o explorado aqui e aponta para novas direções, em pesquisas futuras que podem ser

desenvolvidas.

Resgatando as ideias de Poe apresentadas anteriormente, é como se a página nos

convidasse a ser o observador, em moldes próximos ao do escritor ao construir seu conto

“O homem na multidão”. No lugar do café, temos um assento qualquer, uma cadeira de

escritório, um banco de ônibus ou de metrô; ao invés de uma janela, temos a tela de um

computador, tablet ou celular, que, de forma figurada, representa, hoje, algumas de nossas

grandes janelas de acesso ao mundo.

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