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Interaccedilotildees hibridaccedilotildees e simbioses
Carlos Augusto Moreira da Noacutebrega
o artigo busco pelo anoacutelise de algumas obras auxiliados por computador pensar o interatividade em ambientes hiacutebridos nos quais homem e moacutequina se integram no
constituiccedilatildeo de um microssistema e o que isso aponto como estruturaccedilatildeo de novos subjetividades
Muacuteltiplas realidades
A interaccedilatildeo entre o sujeito e a maacutequina jaacute foi
observada em obras como Rotory Glass Plotes (Precision Optics) uma maacutequina rotativa
produzida por Mareei Duchamp e Man Ray em
1920 cujo movimento dependia de que o
observador acionasse um botatildeo fazendo com
que esse sujeito receptor da obra se tomasse
um ativo participante As obras interativas de
artistas como Jeffrey Shaw Myron Krueger e
Scott Fisher poreacutem ampliam o sentido dessa
participaccedilatildeo ao contextualizar na obra a escolha
de um sujeito que interage e constroacutei sua
proacutepria narrativa
Com o uso de equipamentos especiais como
doto gloves (luvas informatizadas) eyephones (visares estereoscoacutepicos de alta definiccedilatildeo) ou ateacute
mesmo uma bicicleta adaptada o usuaacuterio
(receptor da obra) do sistema pode interagir
com o universo paralelo sintetizado pela
maacutequina Em The Legible Ciacutety ( 1990) trabalho
de Jeffrey Shaw em colaboraccedilatildeo com Dirk
Groeneveld um ambiente tridimensionar gerado
por computador funciona como uma cidade de
palavras Numa bicicleta real que serve de
interface eletrocircnica o usuaacuterio pode percorrer os
arredores de ruas esquinas dessa cidade numa
aacuterea virtual equivalente a 6km2 do Centro de
Manhattan Sensores no guidom e nos pedais da
bicicleta - fixada diante de grandes monitores shy
transmitem para dentro do sistema as intenccedilotildees
do sujeito que faz do pedalar um passeio virtual
Arte interat iva real Idade vi rtu al sim biose
Esse sistema conhecido como realidade virtual
substitui totalmente o ato de observaccedilatildeo passivo
de uma tela pela imersatildeo e interaccedilatildeo numa
realidade que coexiste com a nossa em tempo
real Apesar de toda imagem digital vista no
monitor de um computador nos conectar a um
espaccedilo virtual a RVa que nos referimos envolve
espaccedilos tridimensionais simulados
matematicamente que podem ser acessados e
vivenciados por um visitante que o explora
como se seu corpo fiacutesico pertencesse a essa
nova dimensatildeo Mediante a imersatildeo provocada
por essas interfaces esse usuaacuterio tem a
sensaccedilatildeo de habitar um espaccedilo tridimensional
que responde a suas accedilotildees dentro do ambiente
simulado Esses sistemas se inserem numa
categoria de trabalho baseada em tecnologia
digital em que mundos virtuais satildeo gerados e
vivenciados por interfaces de acesso
The Cave outro exemplo de RV produzido nos
laboratoacuterios da Universidade Illions em Chicago
por Dan Sandin e sua equipe consiste em um
espaccedilo cuacutebico de trecircs metros de lado formado
por telas de projeccedilatildeo nas quais as imagens
reagem agraves interaccedilotildees de um usuaacuterio presente
Nessa espeacutecie de teatro eletrocircnico a imersatildeo do
espectador eacute total visto que as imagens geradas
em tempo real a 30 quadros por segundo
reagem agraves accedilotildees de um sujeito totalmente imershy
so no ambiente trid imensional virtual The Cave produz novas sensaccedilotildees de tempo e espaccedilo ao
gerar perspectivas do ponto de vista do usuaacuterio
que as alcanccedila via oacuteculos especiais (stereo
c o l A B o R A ccedil Atilde o bull C A R l OS A U G U S T O M o A N 6 B R E G A 99
bull
ae REVISTA DO PROGRAMA DE P6S-GRADUACcedilAO EM A RTE S VISUAIS EBA bull UFRJ 20 04
glasses) Segundo Paul Virilio We ore entering in o world where there wont be one but two realities the actual and the virtual I
Nos trabalhos baseados em RV
experimentamos uma espeacutecie de distuacuterbio
espaccedilo-temporal acentuado pela imersatildeo e a
coexistecircncia de duas realidades a nossa e a
simulada Do mais complexo sistema de
simulaccedilatildeo aos Jogos interativos operados por
joystick o que parece ser fundamental agrave imersatildeo
no espaccedilo virtual ciberneacutetico eacute a resposta da
Imagem a nossas accedilotildees O espaccedilo virtual digital
eacute a imagem atraveacutes do espelho Numa
comparaccedilatildeo entre tecno logias eacute como se ao
observar um quadro a piracircmide visual da
perspectiva se rebatesse para dentro do plano
lanccedilando o observador para algum espaccedilo no
interior da imagem O espaccedilo virtual que se
apresenta na tela digitai eacute um espaccedilo
multidirecional em que SUjeito e objeto se
percebem
Espaccedilo redimensionado
No entanto espaccedilos tridimensionais simulados
matematicamente acessados pelo uso de luvas
e capacetes especiais natildeo satildeo as uacutenicas portas
de entrada da dimensatildeo virtual eletrocircnica
Mesmo a imagem mais rudimentar pixe lada e
plana ao responder a nossas accedilotildees pode gerar
uma forma de imersatildeo no espaccedilo sutil da
virtualidade A interaccedilatildeo em espaccedilos virtuais nos
desloca da fisicalidade do mundo e nos
transporta a um territoacuterio em que homem e
imagem se completam
Video Place2 (1989) uma videoinstalaccedilatildeo
interativa do artista Myron W Krueger utiliza
computadores que percebem a imagem de
visitantes em movimento analisando-a
reconhecendo o que vecircem e respondendo
com graacuteficos viacutedeos e sons sintetizados A
imagem que se projeta eacute uma espeacutecie de
silhueta do visitante coordenada por suas accedilotildees
N atildeo se apresenta na tela nenhum sofisticado
espaccedilo tridimensional apenas graacuteficos que
bull
reagem ao movimento de nosso corpo criando
uma espeacutecie de simbiose entre imagem e
sujeito
A interaccedilatildeo entre estes espaccedilos - o fiacutesico e o
digital - produz nos sentidos daquele que expershy
imenta a obra a percepccedilatildeo de uma dimensatildeo
expandida Natildeo se trata mais de uma bidimenshy
sionalidade como suporte de um espaccedilo represhy
sentado em sua profundidade mas de uma dimensatildeo que resulta da interaccedilatildeo entre espaccedilos
heterogecircneos e d istintos interconectados pela
accedilatildeo de um interagente3 O ato criador do
artista propositor da obra somado agrave particishy
paccedilatildeo do SUjeito que a experimenta e a desdoshy
bra demarca um campo em que artista e interashy
gente se conectam por intermeacutedio da obra
tecendo uma rede que se expande a cada atualshy
izaccedilatildeo de suas interfaces A participaccedilatildeo do
espectador na obra contribui para o ato criativo
como disse Duchamp e essa accedilatildeo contextualiza
um momento natildeo apenas visual mas dimenshy
sionaI Conforme Martin Grossmann
A dimensionalizaccedilatildeo e natildeo mais necessariashymente a visualizaccedilatildeo do mundo experienciashydo (o entendimento e tratamento do espaccediloshytempo) eacute modelada atraveacutes da interaccedilatildeo entre objetos e sujeitos criacuteticos e conscientes natildeo s6 do ato criativo como tambeacutem do intershypretativo e dos limites deste conhecimento relativizado ( ) No caso da arte temos um momento-arte pois a arte natildeo eacute mais um objeto (quadro escultura gravura) mas uma criaccedilatildeo coletiva formadora de espaccedilos-tempo sincrocircnicos (interfaces) O momento-arte eacute (re)criado quando h6 uma interaccedilatildeo entre a proposta-arte do artista a disposiccedilatildeopreshysenccedila (esteacutetica)do(s) objeto(s) e a particishypaccedilatildeo efetiva (conscienteintelectual) do usuaacuterio (natildeo mais observador) Sendo assim o objeto-arte natildeo cumpre apenas uma funccedilatildeo esteacutetica mas acima de tudo funciona como um detonador de uma (inter)relaccedilatildeo-arte A arte eacute modelada ou formalizada quando existe uma conectividade entre estas trecircs instacircncias mencionadas acima trata-se de uma net-art 4
100
A arte interativa amplifica a dimensatildeo da
experiecircncia participativa ao acrescentar o
componente virtual de seus objetos A
manipulaccedilatildeo e interaccedilatildeo entre sujeito e objeto
se datildeo num espaccedilo mais amplo fruto da
hibridizaccedilatildeo entre objetos reais e virtuais As
obras de interaccedilatildeo virtuais ativam a apanccedilatildeo de
novas realidades
( ) a arte coacutessica tanto estaacutetica como baseada no tempo oferecia uma janela no mundo que olhoacutevamos agrave distacircncia mas natildeo consegufamos tocar nem afetar a arte mediada por computador oferece uma porta de dados atraveacutes da qual podemos passar para interagir ativamente na construccedilatildeo da realidade muitas realidades com muitos significados e voacuterias trajetoacuterias de experiecircncia 5
o tempo como distacircncia
Realidades que se interconectam pelas redes
nos apontam a emergecircncia da dimensatildeo
chamada de ciberespaccedil06 Os monitores
interfaces de visualizaccedilatildeo das maacutequinas
numeacutericas transformam-se em portas de
passagens para universos paralelos A matriz
digital nos apresenta um espaccedilo denso e
profundo ainda que mediado quase sempre
pela bidimensionalidade de suas telas
Em Distonce7 ( 1999) Tina La Porta artista
midiaacutetica que vive e trabalha em Nova York
explora as possibilidades da comunicaccedilatildeo on-line via chat em videoconferecircncia Por meio das
conexotildees e desconexotildees de imagens sons e
textos entre pessoas remotamente situadas no
globo terrestre a artista penetra o ciberespaccedilo
valendo-se da mediaccedilatildeo da tela do monitor para
capturar emanaccedilotildees figuradas por aqueles que
tentam a troca via rede
Esse desejo de comunicaccedilatildeo revela imagens que
trafegam o ciberespaccedilo codificadas em pacotes
binaacuterios de informaccedilatildeo Na tela do monitor
pequenas janelas de videoconferecircncia satildeo
capturadas em sua forma descontiacutenua
fragmentadas pela (in)eficiecircncia das linhas e
interfaces para depois ser disponibilizadas por
links hipertextuais que as organizam sob um
novo contexto
Frases como Her social nerwork is dispersed connecting through wires Her desire to
communicote to an other is met on-ine Each encounter occurs in real-time Interaction is
immediate servem de link entre uma apariccedilatildeo e
outra ao mesmo tempo que concedem novos
significados agraves imagens descarnadas de suas
origens
O que se apresenta satildeo fragmentos imageacuteticos
provenientes de corpos situados em territoacuterios
distintos separados apenas pelo tempo de suas
conexotildees Imagens que sofreram accedilatildeo da
maacutequina reconflguradas por suas transmissotildees
pondo em evidecircncia o poder das interfaces de
impregnarem as mensagens que nelas trafegam
Tina nos revela
Enquanto fotografo as janelas de vfdeo e bateshypapo que apareceram em minha tela de computador eu me tomo um voyeur
seduzido no mundo on-line de interaccedilatildeo em
tempo real Enquanto observo um ~uxo
constante de viacutedeo simultacircneo e bate-papo uma intersubjetividade emerge - uma sintaxe uacutenica para a cultura on-line8
As pequenas imagens em preto-e-branco de
Distance nos falam sobretudo de um natildeo-lugar
Imagens que emergem na tela revelando a
profundidade de um espaccedilo (des)controlado
que se presentifica a cada atualizaccedilatildeo dos bits 9
A grande novidade do Renascimento no campo
da imagem foi a representaccedilatildeo de um espaccedilo
hierarquizado segundo as leis da perspectiva
Esse procedimento articulava na
bidimensionalidade da tela de pintura uma ilusatildeo
de tridimensional idade A sensaccedilatildeo de
profundidade ou de um espaccedilo era sugerida
pela geometria que alinhava observador e
C O lABORACcedilAacuteO bull C AR L OS AUGUS T O M DA NOacuteBREGA 101
bull
ae REVISTA DO PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ARTES VISUAIS EBA bull UfRJmiddot 2004
natureza mediados pelo plano visual O espaccedilo
ciberneacutetico no entanrto eacute de uma
profundidade que natildeo se baseia nas linhas da
geometria Ele se estabelece pelo aspecto
temporal de sua apariccedilatildeo A cada conexatildeo cada
acesso rompemos com as constantes de nosso
tempo atual para imergir no tempo real virtual
Assim sendo a profundidade produzida pelas
mediaccedilotildees no plano digital difere da distacircncia
especular sugerida na pintura representativa
pois natildeo deriva de uma geometria e sim do
tempo das transformaccedilotildees espaccedilo-temporais
Podemos dizer que a fruiccedilatildeo da net-art lO eacute a
experiecircncia do tempo dentro do tempo Do
tempo paradoxal que surge da diluiccedilatildeo do
presente no tempo real das interaccedilotildees virtuais
Pela intemet o espaccedilo da arte se desloca se
desmaterializa Ele se encontra aqui agora e na
proacutexima conexatildeo a net-art vem ateacute noacutes
Natureza hiacutebrida
Mesmo que o substrato da imagem seja
numeacuterico sua modulaccedilatildeo eacute proveniente muitas
vezes de in puts originados em interfaces que
fazem a ponte entre o real e a matriz
informaacutetica Esses estiacutemulos fomecidos por
cacircmeras sensores scanners ou outro dispositivo
qualquer de entrada trafegam nas redes
conectando sujeitos e sistemas em longa
distacircncia Pelas redes digitais os fluxos
informacionais satildeo o resultado da transmutaccedilatildeo
do gesto em energia binaacuteria Esse gesto
codificado trafega o ciberespaccedilo para retomar agrave flsicalidade do mundo como a manifestaccedilatildeo de
um desejo - acender luzes gerar movimentos
produzir sons etc A arte interativa via rede
vale-se da matildeo dupla dos fluxos de informaccedilatildeo
- por um lado manifestamos nosso desejO de
interaccedilatildeo por outro dispositivos satildeo acionados
pela recepccedilatildeo de pulsos decodificados e viceshy
versa Dessa forma o corpo virtual serve de
mediaccedilatildeo entre territoacuterios distintos
Teleporting an Unknown Stote ll eacute uma instalaccedilatildeo
do brasileiro Eduardo Kac Esse artista que
102
bull
possui trabalhos cuja produccedilatildeo envolve desde a
holografia ateacute a biotecnologia demonstra com
essa instalaccedilatildeo como uma imagem-luz
trafegando as redes digitais de informaccedilatildeo pode
condicionar a vida num ambiente remoto
Segundo o proacuteprio Eduardo Kac essa obra eacute
um trabalho de telecomunicaccedilatildeo baseado em
computadores no qual um processo bioloacutegico eacute
parte integral da obra O trabalho usa a internet
como um sistema de suporte agrave vida Num
quarto escuro uma semente localizada em um
vaso com terra recebe por meio de um
videoprojetor a luz proveniente de diversas
partes do planeta A luz eacute deflagrada quando um
ou mais indiviacuteduos apontam suas cacircmeras para o
ceacuteu de suas cidades e transmitem via internet a
imagem do sol para o site da galeria Conforme
Eduardo Kac revela essa instalaccedilatildeo utiliza a
transmissatildeo remota de imagens de viacutedeo
objetivando o fenocircmeno da propagaccedilatildeo de
ondas luminosas e natildeo o conteuacutedo
representativo das imagens A videoconferecircncia
pela internet eacute utilizada como teletransporte de
partiacuteculas de luz de diversos paiacuteses com o
propoacutesito de habilitar o desenvolvimento
bioloacutegico da vida num local especiacutefiCO
Em Teeporting an Unknown State percebemos
uma mudanccedila paradigmaacutetica entre sujeito e
natureza Um indiviacuteduo natildeo necessariamente o
artista aponta um dispositivo para o mundo a
fim de capturaacute-lo codificaacute-lo e transmiti-lo O desalinhamentoentre SUJeito interface e
natureza eacute total Eie aponta sua cacircmera para o
ceacuteu e uma imagem eacute produzida em algum lugar
do planeta Na posse de um modelo digital do
fenocircmeno natural um indiviacuteduo o transmite em
tempo real para outro territoacuterio O que se
recebe a partir dessas transferecircncias satildeo
realidades construiacutedas pela maacutequina Tantas
naturezas quantas puderem ser capturadas e
processadas No quarto escuro um fenocircmeno
ocorre uma semente eacute cultivada sob a luz de
vaacuterios ceacuteus digitais
A metamorfose ocorrida no trabalho de
Eduardo Kac (o crescimento da planta) natildeo
ocorre no plano virtual mas sim no mundo
fiacutesico em que vivemos No entanto a interaccedilatildeo
com a instalaccedilatildeo que gera tal transformaccedilatildeo
ocorre mediada pelas interfaces digitais da
maacutequina Podemos dizer que o procedimento
interativo se faz da conexatildeo do gesto corporal (a
matildeo que aponta a cacircmera para a luz energia
humana) com o gesto maquiacutenico (aquele que
processa a informaccedilatildeo e a transmite energia
maquiacutenica) e o gesto bioloacutegico que faz crescer a
planta Essa hibridizaccedilatildeo do corpo bioloacutegico e
tecnoloacutegico aponta novos territoacuterios de
investigaccedilatildeo para a arte contemporacircnea e para a
ciecircncia
Simbiose corpomaacutequina
Christa Sommerer e Laurent Mignonneau satildeo
dois artistas que desde 1992 pesquisam o uso
de interfaces naturais mediante a utilizaccedilatildeo de
plantas luz aacutegua e o corpo fiacutesico como meio de
interaccedilatildeo com o espaccedilo virtual buscando uma
dissoluccedilatildeo do aparato tecnoloacutegico que interliga o
homem agrave maacutequina e tornando a imersatildeo na
realidade virtual menos artificial Com base nos
conhecimentos cientiacuteficos de programaccedilatildeo e
biologia Sommerer e Mignonneau tecircm criado
ambientes interativos nos quais o corpo
bioloacutegico do fruidor desse espaccedilo interage
diretamente com entidades dinacircmicas geradas
por inteligecircncia artificial Trata-se da obra de arte
como um sistema inteligente capaz natildeo apenas
de reagir agrave vida presente em seu espaccedilo mas
ainda de evoluir com o passar do tempo
Estamos falando de arte como um organismo
que se alimenta e evolui por meio de palavras
gestos e energias operando sob um novo
paradigma no qual o objeto de arte daacute lugar a
um sistema vivo
Em Interactive Plant Growing l2 ( 1992-97) um
dos primeiros trabalhos dessa dupla uma planta
real serve de interface para o crescimento de
outra artificial Ao interagir com a planta real
tocando-a ou movendo-se a seu redor o sujeito
que interage com esse sistema faz com que
plantas artificialmente geradas por programaccedilatildeo
computacional cresccedilam numa tela a sua frente
Variaccedilotildees de forma tipo cor e ateacute o surgimento
de outros seres artificiais dependem do
comportamento desse sujeito-interativo em
relaccedilatildeo agrave planta real do distinto ambiente Esse
sujeito determina entatildeo mediante sua presenccedila
e accedilatildeo o estado geral da obra Tendo no
entanto desenvolvido a sensibilidade que lhe
permite manter uma relaccedilatildeo simbioacutetica com os
organismos artificiais e naturais em JOgo nessa
instalaccedilatildeo acaba por ir aos poucos modificando
sua relaccedilatildeo com o mundo sendo gradativamente
transformado pela obra da qual faz parte
Novos paradigmas
Investigaccedilotildees envolvendo o participante da experiecircncia esteacutetica em ambientes virtuais solicitando seu corpo inteiro e diversos sentidos nos cenaacuterios produzidos pela maacutequina estatildeo obrigando a uma revisatildeo de paradigmas diante de uma subjetividade estruturalmente diversa do que estavam submetidos os receptores da arte em regimes perceptivos anteriores I 3
Interfaceado com as tecnologias digitais de
comunicaccedilatildeo nosso corpo bioloacutegico produz um
diaacutelogo com diferentes entidades fiacutesicas e
virtuais Palavras sons movimentos gerados e
memorizados tecnologicamente satildeo agora
interlocutores e natildeo mais reflexos de uma
mente criadora Os limites do corpo sua
materialidade presenccedila fiacutesica e sua energia satildeo
informaccedilotildees inputs de dados que transitam em
feedbacks interativos nos ambientes numeacutericos
Sistemas artificiais se alimentam de nossos sinais
vitais A obra nos vecirc atraveacutes de seu ceacuterebro
eletrocircnico Suas redes neurais compostas de
camadas de interfaces satildeo agentes cognitivos
nesse transe eletrocircnico
Se nos ambientes mediados eletronicamente
nossos gestos se estendem para aleacutem dos limites
do corpo eacute ao mesmo tempo para dentro do
corpo que os organismos digitais e suas redes se
COLA B ORACcedilAtildeO CARLOS AUGUS T O M DA NOacuteBRE G A 103
bull
ae REVISTA DO PR OGRAMA DE POacuteS-G RAD UACcedilAo EM ARTES V ISUAIS EB A bull UfRJ 2004
ramificam Eacuteno cruzamento desses campos de
energias que ecoam nossos desejos e eacute ao
longo dessa malha complexa que nossos niacuteveis
de consciecircncia se reestruturam em novas
arquiteturas cognitivas O corpo eacute a miacutedia e a
interface Diante desse novo paradigma o corpo
interfaceado eacute sUjeito e objeto para uma
consciecircncia que se expande aleacutem das superfiacutecies
No momento em que a arte eletrocircnica cuida de
uma espacializaccedilatildeo na qual o corpo se encontra
mediado pelas novas tecnologias eacute funccedilatildeo do
artista pensar essas arquiteturas nas quais se daacute
o abraccedilo tecnoloacutegico Podemos considerar no
entanto campos de interaccedilatildeo muito mais sutis
do que aqueles operados sob uma percepccedilatildeo
orientada por antigos paradigmas
Em comunhatildeo com a ciecircncia a experiecircncia
artiacutestica sempre funcionou como um
amplificador dos sentidos e hoje mais do que
nunca auxiliada pela instrumentaccedilatildeo tecnoloacutegica
a obra torna-se um microcosmo caoacutetico
revelando novas visualidades novos significados
estruturas outras baseadas em t rocas de
sensibilidades
As tecnociecircnciacuteas disponibilizam ferramentas
inteligentes para apuraccedilatildeo dos fenocircmenos mas
cabe ao artista e a sua mente criativa transformar
modelos de conhecimento em sensibilidade
esteacutetica fazendo as perguntas certas criando as
interfaces adequadas
Carlos Augusto M da Noacutebrega (GUIO Noacutebrega) eacute mestre em
Comunicaccedilatildeo e Tecnologia da Imagem pela ECO-UFRJ e professor da
EM - UFRJ Produz e pesqu isa ane em miacutedias digitais
104
I
Notas II Cf htlpfwwwekacorglteleportinghtml
I Rush Michael NltW Media in Late 20-Cenwc Art London
Thamesand Hudson 1999 2 13
I I
i 2 Esse trabalho foi apresentado no Brasi l na 3 Mostra de
Realidade Virtual patrocinada pela Petrobras
) Conce~o utilizado por Diana Oomingues para re tratar o
sujeito ativo que agora ocupa o lugar do antigo
espectador O Domingues Diana (org) A arte no seacuteculo
XXI Satildeo Paulo Ed~ora da Unesp 1997 23
Grossmann Martin Do Ponto de Viacutesta agrave Oimensionalidade
Ilem Revista de Arte n3 Rio de janeiro fevereiro de
1996 35
S Ascotl Roy Cultivando o Hipercoacutertex In Oomingues op
ci1 339
6 Termo cunhado por William Gibson para descrever o espaccedilo
formado pelas redes de dados computacionais que
servem de palco para accedilotildees e comunicaccedilotildees na era
eletrocircnica da informaccedilatildeo O Cotton Bob amp Oliver
Richard Understanding hipermidio London Phaidon
2000 40
7 Em 1999 Tina LaPorta recebeu apoio do National
Endowment for the Ms para realizar Distance Esse
trabalho foi escolhido como semifinalista na categona
Arte e Cultura do Fourth Annual Global Information
Infrastructure (Gil) Awards Distance foi exposto no
Alelier Sevigne em Paris em setembro de 1999 e
obteve segundo lugar no Festival Intemacional de
Linguagem Eletrocircnica - File-2oo0 evento sobre arte
eletrocircnica rea lizado na cidade de Satildeo Paulo apresentado
tambeacutem pela internet O
hllpturbulenceorgWorkslDistance1ndex html
8 O wwwfi lecombr
9 Menor unidade (valor Oou I) de dados de computaccedilatildeo
10 Termo util izado para denominar os trabalhos de arte
interativa que utilizam a internet corno meio
12 Cf httpAvwlNiamasaqp-christalndexhtml
IJ Duarte Paulo Sergio Chega de fu turo) Arte e tecnologia
diante da questatildeo expressiva In Ferreira Gloacuteria
Venancio Filho Paulo (org) Arte amp EnsOos n9 Rio de
janeiro Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Artes
ViacutesuaisEscola de Belas ArtesUFRj 2002 59
CO L ABORACcedil AtildeO middot CAR L OS A U GUSTO M DA NOacuteBR E GA 105
ae REVISTA DO PROGRAMA DE P6S-GRADUACcedilAO EM A RTE S VISUAIS EBA bull UFRJ 20 04
glasses) Segundo Paul Virilio We ore entering in o world where there wont be one but two realities the actual and the virtual I
Nos trabalhos baseados em RV
experimentamos uma espeacutecie de distuacuterbio
espaccedilo-temporal acentuado pela imersatildeo e a
coexistecircncia de duas realidades a nossa e a
simulada Do mais complexo sistema de
simulaccedilatildeo aos Jogos interativos operados por
joystick o que parece ser fundamental agrave imersatildeo
no espaccedilo virtual ciberneacutetico eacute a resposta da
Imagem a nossas accedilotildees O espaccedilo virtual digital
eacute a imagem atraveacutes do espelho Numa
comparaccedilatildeo entre tecno logias eacute como se ao
observar um quadro a piracircmide visual da
perspectiva se rebatesse para dentro do plano
lanccedilando o observador para algum espaccedilo no
interior da imagem O espaccedilo virtual que se
apresenta na tela digitai eacute um espaccedilo
multidirecional em que SUjeito e objeto se
percebem
Espaccedilo redimensionado
No entanto espaccedilos tridimensionais simulados
matematicamente acessados pelo uso de luvas
e capacetes especiais natildeo satildeo as uacutenicas portas
de entrada da dimensatildeo virtual eletrocircnica
Mesmo a imagem mais rudimentar pixe lada e
plana ao responder a nossas accedilotildees pode gerar
uma forma de imersatildeo no espaccedilo sutil da
virtualidade A interaccedilatildeo em espaccedilos virtuais nos
desloca da fisicalidade do mundo e nos
transporta a um territoacuterio em que homem e
imagem se completam
Video Place2 (1989) uma videoinstalaccedilatildeo
interativa do artista Myron W Krueger utiliza
computadores que percebem a imagem de
visitantes em movimento analisando-a
reconhecendo o que vecircem e respondendo
com graacuteficos viacutedeos e sons sintetizados A
imagem que se projeta eacute uma espeacutecie de
silhueta do visitante coordenada por suas accedilotildees
N atildeo se apresenta na tela nenhum sofisticado
espaccedilo tridimensional apenas graacuteficos que
bull
reagem ao movimento de nosso corpo criando
uma espeacutecie de simbiose entre imagem e
sujeito
A interaccedilatildeo entre estes espaccedilos - o fiacutesico e o
digital - produz nos sentidos daquele que expershy
imenta a obra a percepccedilatildeo de uma dimensatildeo
expandida Natildeo se trata mais de uma bidimenshy
sionalidade como suporte de um espaccedilo represhy
sentado em sua profundidade mas de uma dimensatildeo que resulta da interaccedilatildeo entre espaccedilos
heterogecircneos e d istintos interconectados pela
accedilatildeo de um interagente3 O ato criador do
artista propositor da obra somado agrave particishy
paccedilatildeo do SUjeito que a experimenta e a desdoshy
bra demarca um campo em que artista e interashy
gente se conectam por intermeacutedio da obra
tecendo uma rede que se expande a cada atualshy
izaccedilatildeo de suas interfaces A participaccedilatildeo do
espectador na obra contribui para o ato criativo
como disse Duchamp e essa accedilatildeo contextualiza
um momento natildeo apenas visual mas dimenshy
sionaI Conforme Martin Grossmann
A dimensionalizaccedilatildeo e natildeo mais necessariashymente a visualizaccedilatildeo do mundo experienciashydo (o entendimento e tratamento do espaccediloshytempo) eacute modelada atraveacutes da interaccedilatildeo entre objetos e sujeitos criacuteticos e conscientes natildeo s6 do ato criativo como tambeacutem do intershypretativo e dos limites deste conhecimento relativizado ( ) No caso da arte temos um momento-arte pois a arte natildeo eacute mais um objeto (quadro escultura gravura) mas uma criaccedilatildeo coletiva formadora de espaccedilos-tempo sincrocircnicos (interfaces) O momento-arte eacute (re)criado quando h6 uma interaccedilatildeo entre a proposta-arte do artista a disposiccedilatildeopreshysenccedila (esteacutetica)do(s) objeto(s) e a particishypaccedilatildeo efetiva (conscienteintelectual) do usuaacuterio (natildeo mais observador) Sendo assim o objeto-arte natildeo cumpre apenas uma funccedilatildeo esteacutetica mas acima de tudo funciona como um detonador de uma (inter)relaccedilatildeo-arte A arte eacute modelada ou formalizada quando existe uma conectividade entre estas trecircs instacircncias mencionadas acima trata-se de uma net-art 4
100
A arte interativa amplifica a dimensatildeo da
experiecircncia participativa ao acrescentar o
componente virtual de seus objetos A
manipulaccedilatildeo e interaccedilatildeo entre sujeito e objeto
se datildeo num espaccedilo mais amplo fruto da
hibridizaccedilatildeo entre objetos reais e virtuais As
obras de interaccedilatildeo virtuais ativam a apanccedilatildeo de
novas realidades
( ) a arte coacutessica tanto estaacutetica como baseada no tempo oferecia uma janela no mundo que olhoacutevamos agrave distacircncia mas natildeo consegufamos tocar nem afetar a arte mediada por computador oferece uma porta de dados atraveacutes da qual podemos passar para interagir ativamente na construccedilatildeo da realidade muitas realidades com muitos significados e voacuterias trajetoacuterias de experiecircncia 5
o tempo como distacircncia
Realidades que se interconectam pelas redes
nos apontam a emergecircncia da dimensatildeo
chamada de ciberespaccedil06 Os monitores
interfaces de visualizaccedilatildeo das maacutequinas
numeacutericas transformam-se em portas de
passagens para universos paralelos A matriz
digital nos apresenta um espaccedilo denso e
profundo ainda que mediado quase sempre
pela bidimensionalidade de suas telas
Em Distonce7 ( 1999) Tina La Porta artista
midiaacutetica que vive e trabalha em Nova York
explora as possibilidades da comunicaccedilatildeo on-line via chat em videoconferecircncia Por meio das
conexotildees e desconexotildees de imagens sons e
textos entre pessoas remotamente situadas no
globo terrestre a artista penetra o ciberespaccedilo
valendo-se da mediaccedilatildeo da tela do monitor para
capturar emanaccedilotildees figuradas por aqueles que
tentam a troca via rede
Esse desejo de comunicaccedilatildeo revela imagens que
trafegam o ciberespaccedilo codificadas em pacotes
binaacuterios de informaccedilatildeo Na tela do monitor
pequenas janelas de videoconferecircncia satildeo
capturadas em sua forma descontiacutenua
fragmentadas pela (in)eficiecircncia das linhas e
interfaces para depois ser disponibilizadas por
links hipertextuais que as organizam sob um
novo contexto
Frases como Her social nerwork is dispersed connecting through wires Her desire to
communicote to an other is met on-ine Each encounter occurs in real-time Interaction is
immediate servem de link entre uma apariccedilatildeo e
outra ao mesmo tempo que concedem novos
significados agraves imagens descarnadas de suas
origens
O que se apresenta satildeo fragmentos imageacuteticos
provenientes de corpos situados em territoacuterios
distintos separados apenas pelo tempo de suas
conexotildees Imagens que sofreram accedilatildeo da
maacutequina reconflguradas por suas transmissotildees
pondo em evidecircncia o poder das interfaces de
impregnarem as mensagens que nelas trafegam
Tina nos revela
Enquanto fotografo as janelas de vfdeo e bateshypapo que apareceram em minha tela de computador eu me tomo um voyeur
seduzido no mundo on-line de interaccedilatildeo em
tempo real Enquanto observo um ~uxo
constante de viacutedeo simultacircneo e bate-papo uma intersubjetividade emerge - uma sintaxe uacutenica para a cultura on-line8
As pequenas imagens em preto-e-branco de
Distance nos falam sobretudo de um natildeo-lugar
Imagens que emergem na tela revelando a
profundidade de um espaccedilo (des)controlado
que se presentifica a cada atualizaccedilatildeo dos bits 9
A grande novidade do Renascimento no campo
da imagem foi a representaccedilatildeo de um espaccedilo
hierarquizado segundo as leis da perspectiva
Esse procedimento articulava na
bidimensionalidade da tela de pintura uma ilusatildeo
de tridimensional idade A sensaccedilatildeo de
profundidade ou de um espaccedilo era sugerida
pela geometria que alinhava observador e
C O lABORACcedilAacuteO bull C AR L OS AUGUS T O M DA NOacuteBREGA 101
bull
ae REVISTA DO PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ARTES VISUAIS EBA bull UfRJmiddot 2004
natureza mediados pelo plano visual O espaccedilo
ciberneacutetico no entanrto eacute de uma
profundidade que natildeo se baseia nas linhas da
geometria Ele se estabelece pelo aspecto
temporal de sua apariccedilatildeo A cada conexatildeo cada
acesso rompemos com as constantes de nosso
tempo atual para imergir no tempo real virtual
Assim sendo a profundidade produzida pelas
mediaccedilotildees no plano digital difere da distacircncia
especular sugerida na pintura representativa
pois natildeo deriva de uma geometria e sim do
tempo das transformaccedilotildees espaccedilo-temporais
Podemos dizer que a fruiccedilatildeo da net-art lO eacute a
experiecircncia do tempo dentro do tempo Do
tempo paradoxal que surge da diluiccedilatildeo do
presente no tempo real das interaccedilotildees virtuais
Pela intemet o espaccedilo da arte se desloca se
desmaterializa Ele se encontra aqui agora e na
proacutexima conexatildeo a net-art vem ateacute noacutes
Natureza hiacutebrida
Mesmo que o substrato da imagem seja
numeacuterico sua modulaccedilatildeo eacute proveniente muitas
vezes de in puts originados em interfaces que
fazem a ponte entre o real e a matriz
informaacutetica Esses estiacutemulos fomecidos por
cacircmeras sensores scanners ou outro dispositivo
qualquer de entrada trafegam nas redes
conectando sujeitos e sistemas em longa
distacircncia Pelas redes digitais os fluxos
informacionais satildeo o resultado da transmutaccedilatildeo
do gesto em energia binaacuteria Esse gesto
codificado trafega o ciberespaccedilo para retomar agrave flsicalidade do mundo como a manifestaccedilatildeo de
um desejo - acender luzes gerar movimentos
produzir sons etc A arte interativa via rede
vale-se da matildeo dupla dos fluxos de informaccedilatildeo
- por um lado manifestamos nosso desejO de
interaccedilatildeo por outro dispositivos satildeo acionados
pela recepccedilatildeo de pulsos decodificados e viceshy
versa Dessa forma o corpo virtual serve de
mediaccedilatildeo entre territoacuterios distintos
Teleporting an Unknown Stote ll eacute uma instalaccedilatildeo
do brasileiro Eduardo Kac Esse artista que
102
bull
possui trabalhos cuja produccedilatildeo envolve desde a
holografia ateacute a biotecnologia demonstra com
essa instalaccedilatildeo como uma imagem-luz
trafegando as redes digitais de informaccedilatildeo pode
condicionar a vida num ambiente remoto
Segundo o proacuteprio Eduardo Kac essa obra eacute
um trabalho de telecomunicaccedilatildeo baseado em
computadores no qual um processo bioloacutegico eacute
parte integral da obra O trabalho usa a internet
como um sistema de suporte agrave vida Num
quarto escuro uma semente localizada em um
vaso com terra recebe por meio de um
videoprojetor a luz proveniente de diversas
partes do planeta A luz eacute deflagrada quando um
ou mais indiviacuteduos apontam suas cacircmeras para o
ceacuteu de suas cidades e transmitem via internet a
imagem do sol para o site da galeria Conforme
Eduardo Kac revela essa instalaccedilatildeo utiliza a
transmissatildeo remota de imagens de viacutedeo
objetivando o fenocircmeno da propagaccedilatildeo de
ondas luminosas e natildeo o conteuacutedo
representativo das imagens A videoconferecircncia
pela internet eacute utilizada como teletransporte de
partiacuteculas de luz de diversos paiacuteses com o
propoacutesito de habilitar o desenvolvimento
bioloacutegico da vida num local especiacutefiCO
Em Teeporting an Unknown State percebemos
uma mudanccedila paradigmaacutetica entre sujeito e
natureza Um indiviacuteduo natildeo necessariamente o
artista aponta um dispositivo para o mundo a
fim de capturaacute-lo codificaacute-lo e transmiti-lo O desalinhamentoentre SUJeito interface e
natureza eacute total Eie aponta sua cacircmera para o
ceacuteu e uma imagem eacute produzida em algum lugar
do planeta Na posse de um modelo digital do
fenocircmeno natural um indiviacuteduo o transmite em
tempo real para outro territoacuterio O que se
recebe a partir dessas transferecircncias satildeo
realidades construiacutedas pela maacutequina Tantas
naturezas quantas puderem ser capturadas e
processadas No quarto escuro um fenocircmeno
ocorre uma semente eacute cultivada sob a luz de
vaacuterios ceacuteus digitais
A metamorfose ocorrida no trabalho de
Eduardo Kac (o crescimento da planta) natildeo
ocorre no plano virtual mas sim no mundo
fiacutesico em que vivemos No entanto a interaccedilatildeo
com a instalaccedilatildeo que gera tal transformaccedilatildeo
ocorre mediada pelas interfaces digitais da
maacutequina Podemos dizer que o procedimento
interativo se faz da conexatildeo do gesto corporal (a
matildeo que aponta a cacircmera para a luz energia
humana) com o gesto maquiacutenico (aquele que
processa a informaccedilatildeo e a transmite energia
maquiacutenica) e o gesto bioloacutegico que faz crescer a
planta Essa hibridizaccedilatildeo do corpo bioloacutegico e
tecnoloacutegico aponta novos territoacuterios de
investigaccedilatildeo para a arte contemporacircnea e para a
ciecircncia
Simbiose corpomaacutequina
Christa Sommerer e Laurent Mignonneau satildeo
dois artistas que desde 1992 pesquisam o uso
de interfaces naturais mediante a utilizaccedilatildeo de
plantas luz aacutegua e o corpo fiacutesico como meio de
interaccedilatildeo com o espaccedilo virtual buscando uma
dissoluccedilatildeo do aparato tecnoloacutegico que interliga o
homem agrave maacutequina e tornando a imersatildeo na
realidade virtual menos artificial Com base nos
conhecimentos cientiacuteficos de programaccedilatildeo e
biologia Sommerer e Mignonneau tecircm criado
ambientes interativos nos quais o corpo
bioloacutegico do fruidor desse espaccedilo interage
diretamente com entidades dinacircmicas geradas
por inteligecircncia artificial Trata-se da obra de arte
como um sistema inteligente capaz natildeo apenas
de reagir agrave vida presente em seu espaccedilo mas
ainda de evoluir com o passar do tempo
Estamos falando de arte como um organismo
que se alimenta e evolui por meio de palavras
gestos e energias operando sob um novo
paradigma no qual o objeto de arte daacute lugar a
um sistema vivo
Em Interactive Plant Growing l2 ( 1992-97) um
dos primeiros trabalhos dessa dupla uma planta
real serve de interface para o crescimento de
outra artificial Ao interagir com a planta real
tocando-a ou movendo-se a seu redor o sujeito
que interage com esse sistema faz com que
plantas artificialmente geradas por programaccedilatildeo
computacional cresccedilam numa tela a sua frente
Variaccedilotildees de forma tipo cor e ateacute o surgimento
de outros seres artificiais dependem do
comportamento desse sujeito-interativo em
relaccedilatildeo agrave planta real do distinto ambiente Esse
sujeito determina entatildeo mediante sua presenccedila
e accedilatildeo o estado geral da obra Tendo no
entanto desenvolvido a sensibilidade que lhe
permite manter uma relaccedilatildeo simbioacutetica com os
organismos artificiais e naturais em JOgo nessa
instalaccedilatildeo acaba por ir aos poucos modificando
sua relaccedilatildeo com o mundo sendo gradativamente
transformado pela obra da qual faz parte
Novos paradigmas
Investigaccedilotildees envolvendo o participante da experiecircncia esteacutetica em ambientes virtuais solicitando seu corpo inteiro e diversos sentidos nos cenaacuterios produzidos pela maacutequina estatildeo obrigando a uma revisatildeo de paradigmas diante de uma subjetividade estruturalmente diversa do que estavam submetidos os receptores da arte em regimes perceptivos anteriores I 3
Interfaceado com as tecnologias digitais de
comunicaccedilatildeo nosso corpo bioloacutegico produz um
diaacutelogo com diferentes entidades fiacutesicas e
virtuais Palavras sons movimentos gerados e
memorizados tecnologicamente satildeo agora
interlocutores e natildeo mais reflexos de uma
mente criadora Os limites do corpo sua
materialidade presenccedila fiacutesica e sua energia satildeo
informaccedilotildees inputs de dados que transitam em
feedbacks interativos nos ambientes numeacutericos
Sistemas artificiais se alimentam de nossos sinais
vitais A obra nos vecirc atraveacutes de seu ceacuterebro
eletrocircnico Suas redes neurais compostas de
camadas de interfaces satildeo agentes cognitivos
nesse transe eletrocircnico
Se nos ambientes mediados eletronicamente
nossos gestos se estendem para aleacutem dos limites
do corpo eacute ao mesmo tempo para dentro do
corpo que os organismos digitais e suas redes se
COLA B ORACcedilAtildeO CARLOS AUGUS T O M DA NOacuteBRE G A 103
bull
ae REVISTA DO PR OGRAMA DE POacuteS-G RAD UACcedilAo EM ARTES V ISUAIS EB A bull UfRJ 2004
ramificam Eacuteno cruzamento desses campos de
energias que ecoam nossos desejos e eacute ao
longo dessa malha complexa que nossos niacuteveis
de consciecircncia se reestruturam em novas
arquiteturas cognitivas O corpo eacute a miacutedia e a
interface Diante desse novo paradigma o corpo
interfaceado eacute sUjeito e objeto para uma
consciecircncia que se expande aleacutem das superfiacutecies
No momento em que a arte eletrocircnica cuida de
uma espacializaccedilatildeo na qual o corpo se encontra
mediado pelas novas tecnologias eacute funccedilatildeo do
artista pensar essas arquiteturas nas quais se daacute
o abraccedilo tecnoloacutegico Podemos considerar no
entanto campos de interaccedilatildeo muito mais sutis
do que aqueles operados sob uma percepccedilatildeo
orientada por antigos paradigmas
Em comunhatildeo com a ciecircncia a experiecircncia
artiacutestica sempre funcionou como um
amplificador dos sentidos e hoje mais do que
nunca auxiliada pela instrumentaccedilatildeo tecnoloacutegica
a obra torna-se um microcosmo caoacutetico
revelando novas visualidades novos significados
estruturas outras baseadas em t rocas de
sensibilidades
As tecnociecircnciacuteas disponibilizam ferramentas
inteligentes para apuraccedilatildeo dos fenocircmenos mas
cabe ao artista e a sua mente criativa transformar
modelos de conhecimento em sensibilidade
esteacutetica fazendo as perguntas certas criando as
interfaces adequadas
Carlos Augusto M da Noacutebrega (GUIO Noacutebrega) eacute mestre em
Comunicaccedilatildeo e Tecnologia da Imagem pela ECO-UFRJ e professor da
EM - UFRJ Produz e pesqu isa ane em miacutedias digitais
104
I
Notas II Cf htlpfwwwekacorglteleportinghtml
I Rush Michael NltW Media in Late 20-Cenwc Art London
Thamesand Hudson 1999 2 13
I I
i 2 Esse trabalho foi apresentado no Brasi l na 3 Mostra de
Realidade Virtual patrocinada pela Petrobras
) Conce~o utilizado por Diana Oomingues para re tratar o
sujeito ativo que agora ocupa o lugar do antigo
espectador O Domingues Diana (org) A arte no seacuteculo
XXI Satildeo Paulo Ed~ora da Unesp 1997 23
Grossmann Martin Do Ponto de Viacutesta agrave Oimensionalidade
Ilem Revista de Arte n3 Rio de janeiro fevereiro de
1996 35
S Ascotl Roy Cultivando o Hipercoacutertex In Oomingues op
ci1 339
6 Termo cunhado por William Gibson para descrever o espaccedilo
formado pelas redes de dados computacionais que
servem de palco para accedilotildees e comunicaccedilotildees na era
eletrocircnica da informaccedilatildeo O Cotton Bob amp Oliver
Richard Understanding hipermidio London Phaidon
2000 40
7 Em 1999 Tina LaPorta recebeu apoio do National
Endowment for the Ms para realizar Distance Esse
trabalho foi escolhido como semifinalista na categona
Arte e Cultura do Fourth Annual Global Information
Infrastructure (Gil) Awards Distance foi exposto no
Alelier Sevigne em Paris em setembro de 1999 e
obteve segundo lugar no Festival Intemacional de
Linguagem Eletrocircnica - File-2oo0 evento sobre arte
eletrocircnica rea lizado na cidade de Satildeo Paulo apresentado
tambeacutem pela internet O
hllpturbulenceorgWorkslDistance1ndex html
8 O wwwfi lecombr
9 Menor unidade (valor Oou I) de dados de computaccedilatildeo
10 Termo util izado para denominar os trabalhos de arte
interativa que utilizam a internet corno meio
12 Cf httpAvwlNiamasaqp-christalndexhtml
IJ Duarte Paulo Sergio Chega de fu turo) Arte e tecnologia
diante da questatildeo expressiva In Ferreira Gloacuteria
Venancio Filho Paulo (org) Arte amp EnsOos n9 Rio de
janeiro Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Artes
ViacutesuaisEscola de Belas ArtesUFRj 2002 59
CO L ABORACcedil AtildeO middot CAR L OS A U GUSTO M DA NOacuteBR E GA 105
A arte interativa amplifica a dimensatildeo da
experiecircncia participativa ao acrescentar o
componente virtual de seus objetos A
manipulaccedilatildeo e interaccedilatildeo entre sujeito e objeto
se datildeo num espaccedilo mais amplo fruto da
hibridizaccedilatildeo entre objetos reais e virtuais As
obras de interaccedilatildeo virtuais ativam a apanccedilatildeo de
novas realidades
( ) a arte coacutessica tanto estaacutetica como baseada no tempo oferecia uma janela no mundo que olhoacutevamos agrave distacircncia mas natildeo consegufamos tocar nem afetar a arte mediada por computador oferece uma porta de dados atraveacutes da qual podemos passar para interagir ativamente na construccedilatildeo da realidade muitas realidades com muitos significados e voacuterias trajetoacuterias de experiecircncia 5
o tempo como distacircncia
Realidades que se interconectam pelas redes
nos apontam a emergecircncia da dimensatildeo
chamada de ciberespaccedil06 Os monitores
interfaces de visualizaccedilatildeo das maacutequinas
numeacutericas transformam-se em portas de
passagens para universos paralelos A matriz
digital nos apresenta um espaccedilo denso e
profundo ainda que mediado quase sempre
pela bidimensionalidade de suas telas
Em Distonce7 ( 1999) Tina La Porta artista
midiaacutetica que vive e trabalha em Nova York
explora as possibilidades da comunicaccedilatildeo on-line via chat em videoconferecircncia Por meio das
conexotildees e desconexotildees de imagens sons e
textos entre pessoas remotamente situadas no
globo terrestre a artista penetra o ciberespaccedilo
valendo-se da mediaccedilatildeo da tela do monitor para
capturar emanaccedilotildees figuradas por aqueles que
tentam a troca via rede
Esse desejo de comunicaccedilatildeo revela imagens que
trafegam o ciberespaccedilo codificadas em pacotes
binaacuterios de informaccedilatildeo Na tela do monitor
pequenas janelas de videoconferecircncia satildeo
capturadas em sua forma descontiacutenua
fragmentadas pela (in)eficiecircncia das linhas e
interfaces para depois ser disponibilizadas por
links hipertextuais que as organizam sob um
novo contexto
Frases como Her social nerwork is dispersed connecting through wires Her desire to
communicote to an other is met on-ine Each encounter occurs in real-time Interaction is
immediate servem de link entre uma apariccedilatildeo e
outra ao mesmo tempo que concedem novos
significados agraves imagens descarnadas de suas
origens
O que se apresenta satildeo fragmentos imageacuteticos
provenientes de corpos situados em territoacuterios
distintos separados apenas pelo tempo de suas
conexotildees Imagens que sofreram accedilatildeo da
maacutequina reconflguradas por suas transmissotildees
pondo em evidecircncia o poder das interfaces de
impregnarem as mensagens que nelas trafegam
Tina nos revela
Enquanto fotografo as janelas de vfdeo e bateshypapo que apareceram em minha tela de computador eu me tomo um voyeur
seduzido no mundo on-line de interaccedilatildeo em
tempo real Enquanto observo um ~uxo
constante de viacutedeo simultacircneo e bate-papo uma intersubjetividade emerge - uma sintaxe uacutenica para a cultura on-line8
As pequenas imagens em preto-e-branco de
Distance nos falam sobretudo de um natildeo-lugar
Imagens que emergem na tela revelando a
profundidade de um espaccedilo (des)controlado
que se presentifica a cada atualizaccedilatildeo dos bits 9
A grande novidade do Renascimento no campo
da imagem foi a representaccedilatildeo de um espaccedilo
hierarquizado segundo as leis da perspectiva
Esse procedimento articulava na
bidimensionalidade da tela de pintura uma ilusatildeo
de tridimensional idade A sensaccedilatildeo de
profundidade ou de um espaccedilo era sugerida
pela geometria que alinhava observador e
C O lABORACcedilAacuteO bull C AR L OS AUGUS T O M DA NOacuteBREGA 101
bull
ae REVISTA DO PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ARTES VISUAIS EBA bull UfRJmiddot 2004
natureza mediados pelo plano visual O espaccedilo
ciberneacutetico no entanrto eacute de uma
profundidade que natildeo se baseia nas linhas da
geometria Ele se estabelece pelo aspecto
temporal de sua apariccedilatildeo A cada conexatildeo cada
acesso rompemos com as constantes de nosso
tempo atual para imergir no tempo real virtual
Assim sendo a profundidade produzida pelas
mediaccedilotildees no plano digital difere da distacircncia
especular sugerida na pintura representativa
pois natildeo deriva de uma geometria e sim do
tempo das transformaccedilotildees espaccedilo-temporais
Podemos dizer que a fruiccedilatildeo da net-art lO eacute a
experiecircncia do tempo dentro do tempo Do
tempo paradoxal que surge da diluiccedilatildeo do
presente no tempo real das interaccedilotildees virtuais
Pela intemet o espaccedilo da arte se desloca se
desmaterializa Ele se encontra aqui agora e na
proacutexima conexatildeo a net-art vem ateacute noacutes
Natureza hiacutebrida
Mesmo que o substrato da imagem seja
numeacuterico sua modulaccedilatildeo eacute proveniente muitas
vezes de in puts originados em interfaces que
fazem a ponte entre o real e a matriz
informaacutetica Esses estiacutemulos fomecidos por
cacircmeras sensores scanners ou outro dispositivo
qualquer de entrada trafegam nas redes
conectando sujeitos e sistemas em longa
distacircncia Pelas redes digitais os fluxos
informacionais satildeo o resultado da transmutaccedilatildeo
do gesto em energia binaacuteria Esse gesto
codificado trafega o ciberespaccedilo para retomar agrave flsicalidade do mundo como a manifestaccedilatildeo de
um desejo - acender luzes gerar movimentos
produzir sons etc A arte interativa via rede
vale-se da matildeo dupla dos fluxos de informaccedilatildeo
- por um lado manifestamos nosso desejO de
interaccedilatildeo por outro dispositivos satildeo acionados
pela recepccedilatildeo de pulsos decodificados e viceshy
versa Dessa forma o corpo virtual serve de
mediaccedilatildeo entre territoacuterios distintos
Teleporting an Unknown Stote ll eacute uma instalaccedilatildeo
do brasileiro Eduardo Kac Esse artista que
102
bull
possui trabalhos cuja produccedilatildeo envolve desde a
holografia ateacute a biotecnologia demonstra com
essa instalaccedilatildeo como uma imagem-luz
trafegando as redes digitais de informaccedilatildeo pode
condicionar a vida num ambiente remoto
Segundo o proacuteprio Eduardo Kac essa obra eacute
um trabalho de telecomunicaccedilatildeo baseado em
computadores no qual um processo bioloacutegico eacute
parte integral da obra O trabalho usa a internet
como um sistema de suporte agrave vida Num
quarto escuro uma semente localizada em um
vaso com terra recebe por meio de um
videoprojetor a luz proveniente de diversas
partes do planeta A luz eacute deflagrada quando um
ou mais indiviacuteduos apontam suas cacircmeras para o
ceacuteu de suas cidades e transmitem via internet a
imagem do sol para o site da galeria Conforme
Eduardo Kac revela essa instalaccedilatildeo utiliza a
transmissatildeo remota de imagens de viacutedeo
objetivando o fenocircmeno da propagaccedilatildeo de
ondas luminosas e natildeo o conteuacutedo
representativo das imagens A videoconferecircncia
pela internet eacute utilizada como teletransporte de
partiacuteculas de luz de diversos paiacuteses com o
propoacutesito de habilitar o desenvolvimento
bioloacutegico da vida num local especiacutefiCO
Em Teeporting an Unknown State percebemos
uma mudanccedila paradigmaacutetica entre sujeito e
natureza Um indiviacuteduo natildeo necessariamente o
artista aponta um dispositivo para o mundo a
fim de capturaacute-lo codificaacute-lo e transmiti-lo O desalinhamentoentre SUJeito interface e
natureza eacute total Eie aponta sua cacircmera para o
ceacuteu e uma imagem eacute produzida em algum lugar
do planeta Na posse de um modelo digital do
fenocircmeno natural um indiviacuteduo o transmite em
tempo real para outro territoacuterio O que se
recebe a partir dessas transferecircncias satildeo
realidades construiacutedas pela maacutequina Tantas
naturezas quantas puderem ser capturadas e
processadas No quarto escuro um fenocircmeno
ocorre uma semente eacute cultivada sob a luz de
vaacuterios ceacuteus digitais
A metamorfose ocorrida no trabalho de
Eduardo Kac (o crescimento da planta) natildeo
ocorre no plano virtual mas sim no mundo
fiacutesico em que vivemos No entanto a interaccedilatildeo
com a instalaccedilatildeo que gera tal transformaccedilatildeo
ocorre mediada pelas interfaces digitais da
maacutequina Podemos dizer que o procedimento
interativo se faz da conexatildeo do gesto corporal (a
matildeo que aponta a cacircmera para a luz energia
humana) com o gesto maquiacutenico (aquele que
processa a informaccedilatildeo e a transmite energia
maquiacutenica) e o gesto bioloacutegico que faz crescer a
planta Essa hibridizaccedilatildeo do corpo bioloacutegico e
tecnoloacutegico aponta novos territoacuterios de
investigaccedilatildeo para a arte contemporacircnea e para a
ciecircncia
Simbiose corpomaacutequina
Christa Sommerer e Laurent Mignonneau satildeo
dois artistas que desde 1992 pesquisam o uso
de interfaces naturais mediante a utilizaccedilatildeo de
plantas luz aacutegua e o corpo fiacutesico como meio de
interaccedilatildeo com o espaccedilo virtual buscando uma
dissoluccedilatildeo do aparato tecnoloacutegico que interliga o
homem agrave maacutequina e tornando a imersatildeo na
realidade virtual menos artificial Com base nos
conhecimentos cientiacuteficos de programaccedilatildeo e
biologia Sommerer e Mignonneau tecircm criado
ambientes interativos nos quais o corpo
bioloacutegico do fruidor desse espaccedilo interage
diretamente com entidades dinacircmicas geradas
por inteligecircncia artificial Trata-se da obra de arte
como um sistema inteligente capaz natildeo apenas
de reagir agrave vida presente em seu espaccedilo mas
ainda de evoluir com o passar do tempo
Estamos falando de arte como um organismo
que se alimenta e evolui por meio de palavras
gestos e energias operando sob um novo
paradigma no qual o objeto de arte daacute lugar a
um sistema vivo
Em Interactive Plant Growing l2 ( 1992-97) um
dos primeiros trabalhos dessa dupla uma planta
real serve de interface para o crescimento de
outra artificial Ao interagir com a planta real
tocando-a ou movendo-se a seu redor o sujeito
que interage com esse sistema faz com que
plantas artificialmente geradas por programaccedilatildeo
computacional cresccedilam numa tela a sua frente
Variaccedilotildees de forma tipo cor e ateacute o surgimento
de outros seres artificiais dependem do
comportamento desse sujeito-interativo em
relaccedilatildeo agrave planta real do distinto ambiente Esse
sujeito determina entatildeo mediante sua presenccedila
e accedilatildeo o estado geral da obra Tendo no
entanto desenvolvido a sensibilidade que lhe
permite manter uma relaccedilatildeo simbioacutetica com os
organismos artificiais e naturais em JOgo nessa
instalaccedilatildeo acaba por ir aos poucos modificando
sua relaccedilatildeo com o mundo sendo gradativamente
transformado pela obra da qual faz parte
Novos paradigmas
Investigaccedilotildees envolvendo o participante da experiecircncia esteacutetica em ambientes virtuais solicitando seu corpo inteiro e diversos sentidos nos cenaacuterios produzidos pela maacutequina estatildeo obrigando a uma revisatildeo de paradigmas diante de uma subjetividade estruturalmente diversa do que estavam submetidos os receptores da arte em regimes perceptivos anteriores I 3
Interfaceado com as tecnologias digitais de
comunicaccedilatildeo nosso corpo bioloacutegico produz um
diaacutelogo com diferentes entidades fiacutesicas e
virtuais Palavras sons movimentos gerados e
memorizados tecnologicamente satildeo agora
interlocutores e natildeo mais reflexos de uma
mente criadora Os limites do corpo sua
materialidade presenccedila fiacutesica e sua energia satildeo
informaccedilotildees inputs de dados que transitam em
feedbacks interativos nos ambientes numeacutericos
Sistemas artificiais se alimentam de nossos sinais
vitais A obra nos vecirc atraveacutes de seu ceacuterebro
eletrocircnico Suas redes neurais compostas de
camadas de interfaces satildeo agentes cognitivos
nesse transe eletrocircnico
Se nos ambientes mediados eletronicamente
nossos gestos se estendem para aleacutem dos limites
do corpo eacute ao mesmo tempo para dentro do
corpo que os organismos digitais e suas redes se
COLA B ORACcedilAtildeO CARLOS AUGUS T O M DA NOacuteBRE G A 103
bull
ae REVISTA DO PR OGRAMA DE POacuteS-G RAD UACcedilAo EM ARTES V ISUAIS EB A bull UfRJ 2004
ramificam Eacuteno cruzamento desses campos de
energias que ecoam nossos desejos e eacute ao
longo dessa malha complexa que nossos niacuteveis
de consciecircncia se reestruturam em novas
arquiteturas cognitivas O corpo eacute a miacutedia e a
interface Diante desse novo paradigma o corpo
interfaceado eacute sUjeito e objeto para uma
consciecircncia que se expande aleacutem das superfiacutecies
No momento em que a arte eletrocircnica cuida de
uma espacializaccedilatildeo na qual o corpo se encontra
mediado pelas novas tecnologias eacute funccedilatildeo do
artista pensar essas arquiteturas nas quais se daacute
o abraccedilo tecnoloacutegico Podemos considerar no
entanto campos de interaccedilatildeo muito mais sutis
do que aqueles operados sob uma percepccedilatildeo
orientada por antigos paradigmas
Em comunhatildeo com a ciecircncia a experiecircncia
artiacutestica sempre funcionou como um
amplificador dos sentidos e hoje mais do que
nunca auxiliada pela instrumentaccedilatildeo tecnoloacutegica
a obra torna-se um microcosmo caoacutetico
revelando novas visualidades novos significados
estruturas outras baseadas em t rocas de
sensibilidades
As tecnociecircnciacuteas disponibilizam ferramentas
inteligentes para apuraccedilatildeo dos fenocircmenos mas
cabe ao artista e a sua mente criativa transformar
modelos de conhecimento em sensibilidade
esteacutetica fazendo as perguntas certas criando as
interfaces adequadas
Carlos Augusto M da Noacutebrega (GUIO Noacutebrega) eacute mestre em
Comunicaccedilatildeo e Tecnologia da Imagem pela ECO-UFRJ e professor da
EM - UFRJ Produz e pesqu isa ane em miacutedias digitais
104
I
Notas II Cf htlpfwwwekacorglteleportinghtml
I Rush Michael NltW Media in Late 20-Cenwc Art London
Thamesand Hudson 1999 2 13
I I
i 2 Esse trabalho foi apresentado no Brasi l na 3 Mostra de
Realidade Virtual patrocinada pela Petrobras
) Conce~o utilizado por Diana Oomingues para re tratar o
sujeito ativo que agora ocupa o lugar do antigo
espectador O Domingues Diana (org) A arte no seacuteculo
XXI Satildeo Paulo Ed~ora da Unesp 1997 23
Grossmann Martin Do Ponto de Viacutesta agrave Oimensionalidade
Ilem Revista de Arte n3 Rio de janeiro fevereiro de
1996 35
S Ascotl Roy Cultivando o Hipercoacutertex In Oomingues op
ci1 339
6 Termo cunhado por William Gibson para descrever o espaccedilo
formado pelas redes de dados computacionais que
servem de palco para accedilotildees e comunicaccedilotildees na era
eletrocircnica da informaccedilatildeo O Cotton Bob amp Oliver
Richard Understanding hipermidio London Phaidon
2000 40
7 Em 1999 Tina LaPorta recebeu apoio do National
Endowment for the Ms para realizar Distance Esse
trabalho foi escolhido como semifinalista na categona
Arte e Cultura do Fourth Annual Global Information
Infrastructure (Gil) Awards Distance foi exposto no
Alelier Sevigne em Paris em setembro de 1999 e
obteve segundo lugar no Festival Intemacional de
Linguagem Eletrocircnica - File-2oo0 evento sobre arte
eletrocircnica rea lizado na cidade de Satildeo Paulo apresentado
tambeacutem pela internet O
hllpturbulenceorgWorkslDistance1ndex html
8 O wwwfi lecombr
9 Menor unidade (valor Oou I) de dados de computaccedilatildeo
10 Termo util izado para denominar os trabalhos de arte
interativa que utilizam a internet corno meio
12 Cf httpAvwlNiamasaqp-christalndexhtml
IJ Duarte Paulo Sergio Chega de fu turo) Arte e tecnologia
diante da questatildeo expressiva In Ferreira Gloacuteria
Venancio Filho Paulo (org) Arte amp EnsOos n9 Rio de
janeiro Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Artes
ViacutesuaisEscola de Belas ArtesUFRj 2002 59
CO L ABORACcedil AtildeO middot CAR L OS A U GUSTO M DA NOacuteBR E GA 105
ae REVISTA DO PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ARTES VISUAIS EBA bull UfRJmiddot 2004
natureza mediados pelo plano visual O espaccedilo
ciberneacutetico no entanrto eacute de uma
profundidade que natildeo se baseia nas linhas da
geometria Ele se estabelece pelo aspecto
temporal de sua apariccedilatildeo A cada conexatildeo cada
acesso rompemos com as constantes de nosso
tempo atual para imergir no tempo real virtual
Assim sendo a profundidade produzida pelas
mediaccedilotildees no plano digital difere da distacircncia
especular sugerida na pintura representativa
pois natildeo deriva de uma geometria e sim do
tempo das transformaccedilotildees espaccedilo-temporais
Podemos dizer que a fruiccedilatildeo da net-art lO eacute a
experiecircncia do tempo dentro do tempo Do
tempo paradoxal que surge da diluiccedilatildeo do
presente no tempo real das interaccedilotildees virtuais
Pela intemet o espaccedilo da arte se desloca se
desmaterializa Ele se encontra aqui agora e na
proacutexima conexatildeo a net-art vem ateacute noacutes
Natureza hiacutebrida
Mesmo que o substrato da imagem seja
numeacuterico sua modulaccedilatildeo eacute proveniente muitas
vezes de in puts originados em interfaces que
fazem a ponte entre o real e a matriz
informaacutetica Esses estiacutemulos fomecidos por
cacircmeras sensores scanners ou outro dispositivo
qualquer de entrada trafegam nas redes
conectando sujeitos e sistemas em longa
distacircncia Pelas redes digitais os fluxos
informacionais satildeo o resultado da transmutaccedilatildeo
do gesto em energia binaacuteria Esse gesto
codificado trafega o ciberespaccedilo para retomar agrave flsicalidade do mundo como a manifestaccedilatildeo de
um desejo - acender luzes gerar movimentos
produzir sons etc A arte interativa via rede
vale-se da matildeo dupla dos fluxos de informaccedilatildeo
- por um lado manifestamos nosso desejO de
interaccedilatildeo por outro dispositivos satildeo acionados
pela recepccedilatildeo de pulsos decodificados e viceshy
versa Dessa forma o corpo virtual serve de
mediaccedilatildeo entre territoacuterios distintos
Teleporting an Unknown Stote ll eacute uma instalaccedilatildeo
do brasileiro Eduardo Kac Esse artista que
102
bull
possui trabalhos cuja produccedilatildeo envolve desde a
holografia ateacute a biotecnologia demonstra com
essa instalaccedilatildeo como uma imagem-luz
trafegando as redes digitais de informaccedilatildeo pode
condicionar a vida num ambiente remoto
Segundo o proacuteprio Eduardo Kac essa obra eacute
um trabalho de telecomunicaccedilatildeo baseado em
computadores no qual um processo bioloacutegico eacute
parte integral da obra O trabalho usa a internet
como um sistema de suporte agrave vida Num
quarto escuro uma semente localizada em um
vaso com terra recebe por meio de um
videoprojetor a luz proveniente de diversas
partes do planeta A luz eacute deflagrada quando um
ou mais indiviacuteduos apontam suas cacircmeras para o
ceacuteu de suas cidades e transmitem via internet a
imagem do sol para o site da galeria Conforme
Eduardo Kac revela essa instalaccedilatildeo utiliza a
transmissatildeo remota de imagens de viacutedeo
objetivando o fenocircmeno da propagaccedilatildeo de
ondas luminosas e natildeo o conteuacutedo
representativo das imagens A videoconferecircncia
pela internet eacute utilizada como teletransporte de
partiacuteculas de luz de diversos paiacuteses com o
propoacutesito de habilitar o desenvolvimento
bioloacutegico da vida num local especiacutefiCO
Em Teeporting an Unknown State percebemos
uma mudanccedila paradigmaacutetica entre sujeito e
natureza Um indiviacuteduo natildeo necessariamente o
artista aponta um dispositivo para o mundo a
fim de capturaacute-lo codificaacute-lo e transmiti-lo O desalinhamentoentre SUJeito interface e
natureza eacute total Eie aponta sua cacircmera para o
ceacuteu e uma imagem eacute produzida em algum lugar
do planeta Na posse de um modelo digital do
fenocircmeno natural um indiviacuteduo o transmite em
tempo real para outro territoacuterio O que se
recebe a partir dessas transferecircncias satildeo
realidades construiacutedas pela maacutequina Tantas
naturezas quantas puderem ser capturadas e
processadas No quarto escuro um fenocircmeno
ocorre uma semente eacute cultivada sob a luz de
vaacuterios ceacuteus digitais
A metamorfose ocorrida no trabalho de
Eduardo Kac (o crescimento da planta) natildeo
ocorre no plano virtual mas sim no mundo
fiacutesico em que vivemos No entanto a interaccedilatildeo
com a instalaccedilatildeo que gera tal transformaccedilatildeo
ocorre mediada pelas interfaces digitais da
maacutequina Podemos dizer que o procedimento
interativo se faz da conexatildeo do gesto corporal (a
matildeo que aponta a cacircmera para a luz energia
humana) com o gesto maquiacutenico (aquele que
processa a informaccedilatildeo e a transmite energia
maquiacutenica) e o gesto bioloacutegico que faz crescer a
planta Essa hibridizaccedilatildeo do corpo bioloacutegico e
tecnoloacutegico aponta novos territoacuterios de
investigaccedilatildeo para a arte contemporacircnea e para a
ciecircncia
Simbiose corpomaacutequina
Christa Sommerer e Laurent Mignonneau satildeo
dois artistas que desde 1992 pesquisam o uso
de interfaces naturais mediante a utilizaccedilatildeo de
plantas luz aacutegua e o corpo fiacutesico como meio de
interaccedilatildeo com o espaccedilo virtual buscando uma
dissoluccedilatildeo do aparato tecnoloacutegico que interliga o
homem agrave maacutequina e tornando a imersatildeo na
realidade virtual menos artificial Com base nos
conhecimentos cientiacuteficos de programaccedilatildeo e
biologia Sommerer e Mignonneau tecircm criado
ambientes interativos nos quais o corpo
bioloacutegico do fruidor desse espaccedilo interage
diretamente com entidades dinacircmicas geradas
por inteligecircncia artificial Trata-se da obra de arte
como um sistema inteligente capaz natildeo apenas
de reagir agrave vida presente em seu espaccedilo mas
ainda de evoluir com o passar do tempo
Estamos falando de arte como um organismo
que se alimenta e evolui por meio de palavras
gestos e energias operando sob um novo
paradigma no qual o objeto de arte daacute lugar a
um sistema vivo
Em Interactive Plant Growing l2 ( 1992-97) um
dos primeiros trabalhos dessa dupla uma planta
real serve de interface para o crescimento de
outra artificial Ao interagir com a planta real
tocando-a ou movendo-se a seu redor o sujeito
que interage com esse sistema faz com que
plantas artificialmente geradas por programaccedilatildeo
computacional cresccedilam numa tela a sua frente
Variaccedilotildees de forma tipo cor e ateacute o surgimento
de outros seres artificiais dependem do
comportamento desse sujeito-interativo em
relaccedilatildeo agrave planta real do distinto ambiente Esse
sujeito determina entatildeo mediante sua presenccedila
e accedilatildeo o estado geral da obra Tendo no
entanto desenvolvido a sensibilidade que lhe
permite manter uma relaccedilatildeo simbioacutetica com os
organismos artificiais e naturais em JOgo nessa
instalaccedilatildeo acaba por ir aos poucos modificando
sua relaccedilatildeo com o mundo sendo gradativamente
transformado pela obra da qual faz parte
Novos paradigmas
Investigaccedilotildees envolvendo o participante da experiecircncia esteacutetica em ambientes virtuais solicitando seu corpo inteiro e diversos sentidos nos cenaacuterios produzidos pela maacutequina estatildeo obrigando a uma revisatildeo de paradigmas diante de uma subjetividade estruturalmente diversa do que estavam submetidos os receptores da arte em regimes perceptivos anteriores I 3
Interfaceado com as tecnologias digitais de
comunicaccedilatildeo nosso corpo bioloacutegico produz um
diaacutelogo com diferentes entidades fiacutesicas e
virtuais Palavras sons movimentos gerados e
memorizados tecnologicamente satildeo agora
interlocutores e natildeo mais reflexos de uma
mente criadora Os limites do corpo sua
materialidade presenccedila fiacutesica e sua energia satildeo
informaccedilotildees inputs de dados que transitam em
feedbacks interativos nos ambientes numeacutericos
Sistemas artificiais se alimentam de nossos sinais
vitais A obra nos vecirc atraveacutes de seu ceacuterebro
eletrocircnico Suas redes neurais compostas de
camadas de interfaces satildeo agentes cognitivos
nesse transe eletrocircnico
Se nos ambientes mediados eletronicamente
nossos gestos se estendem para aleacutem dos limites
do corpo eacute ao mesmo tempo para dentro do
corpo que os organismos digitais e suas redes se
COLA B ORACcedilAtildeO CARLOS AUGUS T O M DA NOacuteBRE G A 103
bull
ae REVISTA DO PR OGRAMA DE POacuteS-G RAD UACcedilAo EM ARTES V ISUAIS EB A bull UfRJ 2004
ramificam Eacuteno cruzamento desses campos de
energias que ecoam nossos desejos e eacute ao
longo dessa malha complexa que nossos niacuteveis
de consciecircncia se reestruturam em novas
arquiteturas cognitivas O corpo eacute a miacutedia e a
interface Diante desse novo paradigma o corpo
interfaceado eacute sUjeito e objeto para uma
consciecircncia que se expande aleacutem das superfiacutecies
No momento em que a arte eletrocircnica cuida de
uma espacializaccedilatildeo na qual o corpo se encontra
mediado pelas novas tecnologias eacute funccedilatildeo do
artista pensar essas arquiteturas nas quais se daacute
o abraccedilo tecnoloacutegico Podemos considerar no
entanto campos de interaccedilatildeo muito mais sutis
do que aqueles operados sob uma percepccedilatildeo
orientada por antigos paradigmas
Em comunhatildeo com a ciecircncia a experiecircncia
artiacutestica sempre funcionou como um
amplificador dos sentidos e hoje mais do que
nunca auxiliada pela instrumentaccedilatildeo tecnoloacutegica
a obra torna-se um microcosmo caoacutetico
revelando novas visualidades novos significados
estruturas outras baseadas em t rocas de
sensibilidades
As tecnociecircnciacuteas disponibilizam ferramentas
inteligentes para apuraccedilatildeo dos fenocircmenos mas
cabe ao artista e a sua mente criativa transformar
modelos de conhecimento em sensibilidade
esteacutetica fazendo as perguntas certas criando as
interfaces adequadas
Carlos Augusto M da Noacutebrega (GUIO Noacutebrega) eacute mestre em
Comunicaccedilatildeo e Tecnologia da Imagem pela ECO-UFRJ e professor da
EM - UFRJ Produz e pesqu isa ane em miacutedias digitais
104
I
Notas II Cf htlpfwwwekacorglteleportinghtml
I Rush Michael NltW Media in Late 20-Cenwc Art London
Thamesand Hudson 1999 2 13
I I
i 2 Esse trabalho foi apresentado no Brasi l na 3 Mostra de
Realidade Virtual patrocinada pela Petrobras
) Conce~o utilizado por Diana Oomingues para re tratar o
sujeito ativo que agora ocupa o lugar do antigo
espectador O Domingues Diana (org) A arte no seacuteculo
XXI Satildeo Paulo Ed~ora da Unesp 1997 23
Grossmann Martin Do Ponto de Viacutesta agrave Oimensionalidade
Ilem Revista de Arte n3 Rio de janeiro fevereiro de
1996 35
S Ascotl Roy Cultivando o Hipercoacutertex In Oomingues op
ci1 339
6 Termo cunhado por William Gibson para descrever o espaccedilo
formado pelas redes de dados computacionais que
servem de palco para accedilotildees e comunicaccedilotildees na era
eletrocircnica da informaccedilatildeo O Cotton Bob amp Oliver
Richard Understanding hipermidio London Phaidon
2000 40
7 Em 1999 Tina LaPorta recebeu apoio do National
Endowment for the Ms para realizar Distance Esse
trabalho foi escolhido como semifinalista na categona
Arte e Cultura do Fourth Annual Global Information
Infrastructure (Gil) Awards Distance foi exposto no
Alelier Sevigne em Paris em setembro de 1999 e
obteve segundo lugar no Festival Intemacional de
Linguagem Eletrocircnica - File-2oo0 evento sobre arte
eletrocircnica rea lizado na cidade de Satildeo Paulo apresentado
tambeacutem pela internet O
hllpturbulenceorgWorkslDistance1ndex html
8 O wwwfi lecombr
9 Menor unidade (valor Oou I) de dados de computaccedilatildeo
10 Termo util izado para denominar os trabalhos de arte
interativa que utilizam a internet corno meio
12 Cf httpAvwlNiamasaqp-christalndexhtml
IJ Duarte Paulo Sergio Chega de fu turo) Arte e tecnologia
diante da questatildeo expressiva In Ferreira Gloacuteria
Venancio Filho Paulo (org) Arte amp EnsOos n9 Rio de
janeiro Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Artes
ViacutesuaisEscola de Belas ArtesUFRj 2002 59
CO L ABORACcedil AtildeO middot CAR L OS A U GUSTO M DA NOacuteBR E GA 105
ocorre no plano virtual mas sim no mundo
fiacutesico em que vivemos No entanto a interaccedilatildeo
com a instalaccedilatildeo que gera tal transformaccedilatildeo
ocorre mediada pelas interfaces digitais da
maacutequina Podemos dizer que o procedimento
interativo se faz da conexatildeo do gesto corporal (a
matildeo que aponta a cacircmera para a luz energia
humana) com o gesto maquiacutenico (aquele que
processa a informaccedilatildeo e a transmite energia
maquiacutenica) e o gesto bioloacutegico que faz crescer a
planta Essa hibridizaccedilatildeo do corpo bioloacutegico e
tecnoloacutegico aponta novos territoacuterios de
investigaccedilatildeo para a arte contemporacircnea e para a
ciecircncia
Simbiose corpomaacutequina
Christa Sommerer e Laurent Mignonneau satildeo
dois artistas que desde 1992 pesquisam o uso
de interfaces naturais mediante a utilizaccedilatildeo de
plantas luz aacutegua e o corpo fiacutesico como meio de
interaccedilatildeo com o espaccedilo virtual buscando uma
dissoluccedilatildeo do aparato tecnoloacutegico que interliga o
homem agrave maacutequina e tornando a imersatildeo na
realidade virtual menos artificial Com base nos
conhecimentos cientiacuteficos de programaccedilatildeo e
biologia Sommerer e Mignonneau tecircm criado
ambientes interativos nos quais o corpo
bioloacutegico do fruidor desse espaccedilo interage
diretamente com entidades dinacircmicas geradas
por inteligecircncia artificial Trata-se da obra de arte
como um sistema inteligente capaz natildeo apenas
de reagir agrave vida presente em seu espaccedilo mas
ainda de evoluir com o passar do tempo
Estamos falando de arte como um organismo
que se alimenta e evolui por meio de palavras
gestos e energias operando sob um novo
paradigma no qual o objeto de arte daacute lugar a
um sistema vivo
Em Interactive Plant Growing l2 ( 1992-97) um
dos primeiros trabalhos dessa dupla uma planta
real serve de interface para o crescimento de
outra artificial Ao interagir com a planta real
tocando-a ou movendo-se a seu redor o sujeito
que interage com esse sistema faz com que
plantas artificialmente geradas por programaccedilatildeo
computacional cresccedilam numa tela a sua frente
Variaccedilotildees de forma tipo cor e ateacute o surgimento
de outros seres artificiais dependem do
comportamento desse sujeito-interativo em
relaccedilatildeo agrave planta real do distinto ambiente Esse
sujeito determina entatildeo mediante sua presenccedila
e accedilatildeo o estado geral da obra Tendo no
entanto desenvolvido a sensibilidade que lhe
permite manter uma relaccedilatildeo simbioacutetica com os
organismos artificiais e naturais em JOgo nessa
instalaccedilatildeo acaba por ir aos poucos modificando
sua relaccedilatildeo com o mundo sendo gradativamente
transformado pela obra da qual faz parte
Novos paradigmas
Investigaccedilotildees envolvendo o participante da experiecircncia esteacutetica em ambientes virtuais solicitando seu corpo inteiro e diversos sentidos nos cenaacuterios produzidos pela maacutequina estatildeo obrigando a uma revisatildeo de paradigmas diante de uma subjetividade estruturalmente diversa do que estavam submetidos os receptores da arte em regimes perceptivos anteriores I 3
Interfaceado com as tecnologias digitais de
comunicaccedilatildeo nosso corpo bioloacutegico produz um
diaacutelogo com diferentes entidades fiacutesicas e
virtuais Palavras sons movimentos gerados e
memorizados tecnologicamente satildeo agora
interlocutores e natildeo mais reflexos de uma
mente criadora Os limites do corpo sua
materialidade presenccedila fiacutesica e sua energia satildeo
informaccedilotildees inputs de dados que transitam em
feedbacks interativos nos ambientes numeacutericos
Sistemas artificiais se alimentam de nossos sinais
vitais A obra nos vecirc atraveacutes de seu ceacuterebro
eletrocircnico Suas redes neurais compostas de
camadas de interfaces satildeo agentes cognitivos
nesse transe eletrocircnico
Se nos ambientes mediados eletronicamente
nossos gestos se estendem para aleacutem dos limites
do corpo eacute ao mesmo tempo para dentro do
corpo que os organismos digitais e suas redes se
COLA B ORACcedilAtildeO CARLOS AUGUS T O M DA NOacuteBRE G A 103
bull
ae REVISTA DO PR OGRAMA DE POacuteS-G RAD UACcedilAo EM ARTES V ISUAIS EB A bull UfRJ 2004
ramificam Eacuteno cruzamento desses campos de
energias que ecoam nossos desejos e eacute ao
longo dessa malha complexa que nossos niacuteveis
de consciecircncia se reestruturam em novas
arquiteturas cognitivas O corpo eacute a miacutedia e a
interface Diante desse novo paradigma o corpo
interfaceado eacute sUjeito e objeto para uma
consciecircncia que se expande aleacutem das superfiacutecies
No momento em que a arte eletrocircnica cuida de
uma espacializaccedilatildeo na qual o corpo se encontra
mediado pelas novas tecnologias eacute funccedilatildeo do
artista pensar essas arquiteturas nas quais se daacute
o abraccedilo tecnoloacutegico Podemos considerar no
entanto campos de interaccedilatildeo muito mais sutis
do que aqueles operados sob uma percepccedilatildeo
orientada por antigos paradigmas
Em comunhatildeo com a ciecircncia a experiecircncia
artiacutestica sempre funcionou como um
amplificador dos sentidos e hoje mais do que
nunca auxiliada pela instrumentaccedilatildeo tecnoloacutegica
a obra torna-se um microcosmo caoacutetico
revelando novas visualidades novos significados
estruturas outras baseadas em t rocas de
sensibilidades
As tecnociecircnciacuteas disponibilizam ferramentas
inteligentes para apuraccedilatildeo dos fenocircmenos mas
cabe ao artista e a sua mente criativa transformar
modelos de conhecimento em sensibilidade
esteacutetica fazendo as perguntas certas criando as
interfaces adequadas
Carlos Augusto M da Noacutebrega (GUIO Noacutebrega) eacute mestre em
Comunicaccedilatildeo e Tecnologia da Imagem pela ECO-UFRJ e professor da
EM - UFRJ Produz e pesqu isa ane em miacutedias digitais
104
I
Notas II Cf htlpfwwwekacorglteleportinghtml
I Rush Michael NltW Media in Late 20-Cenwc Art London
Thamesand Hudson 1999 2 13
I I
i 2 Esse trabalho foi apresentado no Brasi l na 3 Mostra de
Realidade Virtual patrocinada pela Petrobras
) Conce~o utilizado por Diana Oomingues para re tratar o
sujeito ativo que agora ocupa o lugar do antigo
espectador O Domingues Diana (org) A arte no seacuteculo
XXI Satildeo Paulo Ed~ora da Unesp 1997 23
Grossmann Martin Do Ponto de Viacutesta agrave Oimensionalidade
Ilem Revista de Arte n3 Rio de janeiro fevereiro de
1996 35
S Ascotl Roy Cultivando o Hipercoacutertex In Oomingues op
ci1 339
6 Termo cunhado por William Gibson para descrever o espaccedilo
formado pelas redes de dados computacionais que
servem de palco para accedilotildees e comunicaccedilotildees na era
eletrocircnica da informaccedilatildeo O Cotton Bob amp Oliver
Richard Understanding hipermidio London Phaidon
2000 40
7 Em 1999 Tina LaPorta recebeu apoio do National
Endowment for the Ms para realizar Distance Esse
trabalho foi escolhido como semifinalista na categona
Arte e Cultura do Fourth Annual Global Information
Infrastructure (Gil) Awards Distance foi exposto no
Alelier Sevigne em Paris em setembro de 1999 e
obteve segundo lugar no Festival Intemacional de
Linguagem Eletrocircnica - File-2oo0 evento sobre arte
eletrocircnica rea lizado na cidade de Satildeo Paulo apresentado
tambeacutem pela internet O
hllpturbulenceorgWorkslDistance1ndex html
8 O wwwfi lecombr
9 Menor unidade (valor Oou I) de dados de computaccedilatildeo
10 Termo util izado para denominar os trabalhos de arte
interativa que utilizam a internet corno meio
12 Cf httpAvwlNiamasaqp-christalndexhtml
IJ Duarte Paulo Sergio Chega de fu turo) Arte e tecnologia
diante da questatildeo expressiva In Ferreira Gloacuteria
Venancio Filho Paulo (org) Arte amp EnsOos n9 Rio de
janeiro Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Artes
ViacutesuaisEscola de Belas ArtesUFRj 2002 59
CO L ABORACcedil AtildeO middot CAR L OS A U GUSTO M DA NOacuteBR E GA 105
ae REVISTA DO PR OGRAMA DE POacuteS-G RAD UACcedilAo EM ARTES V ISUAIS EB A bull UfRJ 2004
ramificam Eacuteno cruzamento desses campos de
energias que ecoam nossos desejos e eacute ao
longo dessa malha complexa que nossos niacuteveis
de consciecircncia se reestruturam em novas
arquiteturas cognitivas O corpo eacute a miacutedia e a
interface Diante desse novo paradigma o corpo
interfaceado eacute sUjeito e objeto para uma
consciecircncia que se expande aleacutem das superfiacutecies
No momento em que a arte eletrocircnica cuida de
uma espacializaccedilatildeo na qual o corpo se encontra
mediado pelas novas tecnologias eacute funccedilatildeo do
artista pensar essas arquiteturas nas quais se daacute
o abraccedilo tecnoloacutegico Podemos considerar no
entanto campos de interaccedilatildeo muito mais sutis
do que aqueles operados sob uma percepccedilatildeo
orientada por antigos paradigmas
Em comunhatildeo com a ciecircncia a experiecircncia
artiacutestica sempre funcionou como um
amplificador dos sentidos e hoje mais do que
nunca auxiliada pela instrumentaccedilatildeo tecnoloacutegica
a obra torna-se um microcosmo caoacutetico
revelando novas visualidades novos significados
estruturas outras baseadas em t rocas de
sensibilidades
As tecnociecircnciacuteas disponibilizam ferramentas
inteligentes para apuraccedilatildeo dos fenocircmenos mas
cabe ao artista e a sua mente criativa transformar
modelos de conhecimento em sensibilidade
esteacutetica fazendo as perguntas certas criando as
interfaces adequadas
Carlos Augusto M da Noacutebrega (GUIO Noacutebrega) eacute mestre em
Comunicaccedilatildeo e Tecnologia da Imagem pela ECO-UFRJ e professor da
EM - UFRJ Produz e pesqu isa ane em miacutedias digitais
104
I
Notas II Cf htlpfwwwekacorglteleportinghtml
I Rush Michael NltW Media in Late 20-Cenwc Art London
Thamesand Hudson 1999 2 13
I I
i 2 Esse trabalho foi apresentado no Brasi l na 3 Mostra de
Realidade Virtual patrocinada pela Petrobras
) Conce~o utilizado por Diana Oomingues para re tratar o
sujeito ativo que agora ocupa o lugar do antigo
espectador O Domingues Diana (org) A arte no seacuteculo
XXI Satildeo Paulo Ed~ora da Unesp 1997 23
Grossmann Martin Do Ponto de Viacutesta agrave Oimensionalidade
Ilem Revista de Arte n3 Rio de janeiro fevereiro de
1996 35
S Ascotl Roy Cultivando o Hipercoacutertex In Oomingues op
ci1 339
6 Termo cunhado por William Gibson para descrever o espaccedilo
formado pelas redes de dados computacionais que
servem de palco para accedilotildees e comunicaccedilotildees na era
eletrocircnica da informaccedilatildeo O Cotton Bob amp Oliver
Richard Understanding hipermidio London Phaidon
2000 40
7 Em 1999 Tina LaPorta recebeu apoio do National
Endowment for the Ms para realizar Distance Esse
trabalho foi escolhido como semifinalista na categona
Arte e Cultura do Fourth Annual Global Information
Infrastructure (Gil) Awards Distance foi exposto no
Alelier Sevigne em Paris em setembro de 1999 e
obteve segundo lugar no Festival Intemacional de
Linguagem Eletrocircnica - File-2oo0 evento sobre arte
eletrocircnica rea lizado na cidade de Satildeo Paulo apresentado
tambeacutem pela internet O
hllpturbulenceorgWorkslDistance1ndex html
8 O wwwfi lecombr
9 Menor unidade (valor Oou I) de dados de computaccedilatildeo
10 Termo util izado para denominar os trabalhos de arte
interativa que utilizam a internet corno meio
12 Cf httpAvwlNiamasaqp-christalndexhtml
IJ Duarte Paulo Sergio Chega de fu turo) Arte e tecnologia
diante da questatildeo expressiva In Ferreira Gloacuteria
Venancio Filho Paulo (org) Arte amp EnsOos n9 Rio de
janeiro Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Artes
ViacutesuaisEscola de Belas ArtesUFRj 2002 59
CO L ABORACcedil AtildeO middot CAR L OS A U GUSTO M DA NOacuteBR E GA 105
Notas II Cf htlpfwwwekacorglteleportinghtml
I Rush Michael NltW Media in Late 20-Cenwc Art London
Thamesand Hudson 1999 2 13
I I
i 2 Esse trabalho foi apresentado no Brasi l na 3 Mostra de
Realidade Virtual patrocinada pela Petrobras
) Conce~o utilizado por Diana Oomingues para re tratar o
sujeito ativo que agora ocupa o lugar do antigo
espectador O Domingues Diana (org) A arte no seacuteculo
XXI Satildeo Paulo Ed~ora da Unesp 1997 23
Grossmann Martin Do Ponto de Viacutesta agrave Oimensionalidade
Ilem Revista de Arte n3 Rio de janeiro fevereiro de
1996 35
S Ascotl Roy Cultivando o Hipercoacutertex In Oomingues op
ci1 339
6 Termo cunhado por William Gibson para descrever o espaccedilo
formado pelas redes de dados computacionais que
servem de palco para accedilotildees e comunicaccedilotildees na era
eletrocircnica da informaccedilatildeo O Cotton Bob amp Oliver
Richard Understanding hipermidio London Phaidon
2000 40
7 Em 1999 Tina LaPorta recebeu apoio do National
Endowment for the Ms para realizar Distance Esse
trabalho foi escolhido como semifinalista na categona
Arte e Cultura do Fourth Annual Global Information
Infrastructure (Gil) Awards Distance foi exposto no
Alelier Sevigne em Paris em setembro de 1999 e
obteve segundo lugar no Festival Intemacional de
Linguagem Eletrocircnica - File-2oo0 evento sobre arte
eletrocircnica rea lizado na cidade de Satildeo Paulo apresentado
tambeacutem pela internet O
hllpturbulenceorgWorkslDistance1ndex html
8 O wwwfi lecombr
9 Menor unidade (valor Oou I) de dados de computaccedilatildeo
10 Termo util izado para denominar os trabalhos de arte
interativa que utilizam a internet corno meio
12 Cf httpAvwlNiamasaqp-christalndexhtml
IJ Duarte Paulo Sergio Chega de fu turo) Arte e tecnologia
diante da questatildeo expressiva In Ferreira Gloacuteria
Venancio Filho Paulo (org) Arte amp EnsOos n9 Rio de
janeiro Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Artes
ViacutesuaisEscola de Belas ArtesUFRj 2002 59
CO L ABORACcedil AtildeO middot CAR L OS A U GUSTO M DA NOacuteBR E GA 105