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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 1 Justin Bieber em três fases: as fachadas retratadas nas capas das revistas Billboard e Capricho entre 2010 e 2016 1 Gabriel CALVINO 2 3 Rafael GROHMANN 4 Faculdade Cásper Líbero, São Paulo, SP Resumo Esse artigo analisa, a partir do conceito de fachada em Goffman, as capas das revistas Capricho e Billboard, relacionadas ao cantor Justin Bieber, entre 2010 e 2016. Com isso, mostramos de que maneiras a mídia colabora para a construção da imagem de celebridades, bem como seus impactos na forma como é dada a notícia, nas palavras utilizadas, nas cores e formatos e até nas poses dos artistas em fotografias. Justin Bieber, nesse período, transitou por três fases distintas em sua vida e, por isso, teve alterações significativas na maneira como era retratado pela mídia, no geral. Palavras-chave: Justin Bieber; Capricho; Billboard; fachada; enquadramento. Introdução Justin Bieber é considerado hoje um dos maiores nomes da música pop internacional. Nascido no Canadá, em 1º de março de 1994, ele alcançou o sucesso com o hit “Baby”, lançado em 2010. O menino com então 16 anos ganhou fama rapidamente em todo o mundo. O estrondoso sucesso chamou a atenção da mídia mundial e de todos que estavam interessados em mostrar um pouco mais sobre o jovem cantor. Os segmentos que mais davam atenção para a carreira de Bieber eram os veículos voltados ao cenário musical e ao público adolescente. Ao longo desses seis anos de carreira, Justin Bieber foi destaque nas mídias por diversos motivos. Começou com a fase infantil, chamando a atenção do público para o seu talento musical; passando pelo momento rebelde, e atualmente, na terceira fase, superou as adversidades da fase anterior, com seu novo álbum Sorry. Para entender essas mudanças de fachadas e diferentes enquadramentos que foi dado ao astro teen, fizemos uma análise das revistas Capricho e Billboard entre 2010 e 2016. A primeira se utiliza de um enfoque jovial, do cotidiano das celebridades, proporcionando um 1 Trabalho apresentado na Divisão Temática de Jornalismo, da Intercom Júnior XII Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Estudante de Graduação 2º. ano do Curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, email: [email protected] 3 Também colaboraram nesse trabalho: Caroline Sassatelli, Fernanda Silva, Gustavo Martini, Giovanna Sutto e Lucas Herrero. 4 Orientador do trabalho. Professor do Curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, email: [email protected]

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Justin Bieber em três fases: as fachadas retratadas nas capas das revistas Billboard e

Capricho entre 2010 e 20161

Gabriel CALVINO2 3

Rafael GROHMANN4

Faculdade Cásper Líbero, São Paulo, SP

Resumo

Esse artigo analisa, a partir do conceito de fachada em Goffman, as capas das revistas

Capricho e Billboard, relacionadas ao cantor Justin Bieber, entre 2010 e 2016. Com isso,

mostramos de que maneiras a mídia colabora para a construção da imagem de celebridades,

bem como seus impactos na forma como é dada a notícia, nas palavras utilizadas, nas cores

e formatos e até nas poses dos artistas em fotografias. Justin Bieber, nesse período, transitou

por três fases distintas em sua vida e, por isso, teve alterações significativas na maneira como

era retratado pela mídia, no geral.

Palavras-chave: Justin Bieber; Capricho; Billboard; fachada; enquadramento.

Introdução

Justin Bieber é considerado hoje um dos maiores nomes da música pop internacional.

Nascido no Canadá, em 1º de março de 1994, ele alcançou o sucesso com o hit “Baby”,

lançado em 2010. O menino com então 16 anos ganhou fama rapidamente em todo o mundo.

O estrondoso sucesso chamou a atenção da mídia mundial e de todos que estavam

interessados em mostrar um pouco mais sobre o jovem cantor. Os segmentos que mais

davam atenção para a carreira de Bieber eram os veículos voltados ao cenário musical e ao

público adolescente.

Ao longo desses seis anos de carreira, Justin Bieber foi destaque nas mídias por

diversos motivos. Começou com a fase infantil, chamando a atenção do público para o seu

talento musical; passando pelo momento rebelde, e atualmente, na terceira fase, superou as

adversidades da fase anterior, com seu novo álbum “Sorry”.

Para entender essas mudanças de fachadas e diferentes enquadramentos que foi dado

ao astro teen, fizemos uma análise das revistas Capricho e Billboard entre 2010 e 2016. A

primeira se utiliza de um enfoque jovial, do cotidiano das celebridades, proporcionando um

1Trabalho apresentado na Divisão Temática de Jornalismo, da Intercom Júnior – XII Jornada de Iniciação Científica em

Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2Estudante de Graduação 2º. ano do Curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, email: [email protected] 3Também colaboraram nesse trabalho: Caroline Sassatelli, Fernanda Silva, Gustavo Martini, Giovanna Sutto e Lucas

Herrero. 4Orientador do trabalho. Professor do Curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, email: [email protected]

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enquadramento mais social da vida do astro, enquanto a segunda é voltada para o mundo

musical em si, recortando e selecionando acontecimentos voltados a essa temática.

1. Fachada individual e a figura pública

O sociólogo Erving Goffman (2002) explicita em sua obra os fatores preponderantes

nos menores processos de interação social - entre eles, o fenômeno da “fachada”, inserida

na microssociologia. Segundo ele, para compreender as grandes ações e atitudes das figuras

públicas, é necessário analisar os pequenos eventos, os quais não são representados nas capas

de revista, porque, afinal, chamam menos atenção do público. De acordo com o sociólogo,

esses acontecimentos dentro do micro campo revelam grandes estruturas no macro campo.

O macro se dá na repetição de padrões e da forma como a personalidade se revela

para a humanidade. Isso seria a fachada especificada por Goffman, pois os padrões são

inconscientes, mas existem no nível social, ou seja, no nível macro. Goffman (2002, p.69)

diz. “Fachada, portanto, é o equipamento expressivo de tipo padronizado intencional ou

inconscientemente empregado pelo indivíduo durante sua representação”.

Essa ferramenta subjetiva teria o objetivo de inserir o indivíduo na sociedade, pois

ele acredita que o homem sempre precisa de aceitação. Os homens fogem dos atritos sociais

e, por isso, utilizam-se de estratégias para anular o exercício da racionalidade e exaltar a

agradabilidade da vida. Em linhas gerais, muda-se a fachada, causa-se constrangimento, uma

vez que toda fachada vem acompanhada de um plano de fundo. (GOFFMAN, 2002)

Mas e se esse aborrecimento for o objetivo do indivíduo que o promove? A execução

de tal estigma causa uma marca na pessoa e a afasta do grupo social. Tratando-se de uma

figura pública, como as celebridades, esse tipo de atitude gera o distanciamento dos seus fãs,

ou da sua plateia, como diria Goffman:

A plateia percebe mistérios e poderes secretos por trás da representação e o ator sente

que seus principais segredos são insignificantes. Como demonstra um sem-número

de contos populares e de ritos de iniciação, frequentemente o verdadeiro segredo por

trás do mistério é que realmente não há mistério. O problema real consiste em evitar

que o público também aprenda isso. (GOFFMAN, 2002, p. 69).

Tal distanciamento geralmente é proposital, tanto para isolar os fãs de sua vida

particular quanto para gerar maior visibilidade ao produtor da ação. Esses atos midiáticos,

além disso, costumam ser enquadrados baseando-se em aspectos subjetivos do ser que a fará.

2. Enquadramento jornalístico e as celebridades

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Além de abordar a arte da encenação, o sociólogo também fez apontamentos a

respeito dos enquadramentos feitos pelos indivíduos. O conceito de enquadramento foi

falado inicialmente por Erving Goffman no livro “Frame Analysis”, em 1974. Segundo o

sociólogo canadense, esse conceito leva em conta o repertório individual de cada ser.

Goffman explicita seu pensamento do seguinte modo:

Parto do princípio de que as definições de uma situação são construídas de acordo

com princípios de organização que governam eventos – pelo menos os sociais – e o

nosso envolvimento subjetivo neles; enquadramento é a palavra que eu uso para

referir-se a um destes elementos básicos, tais como sou capaz de identificar. Esta é

minha definição de enquadramento. Minha expressão análise do enquadramento é

um slogan para referir-me, nesses termos, ao exame da organização da experiência.

(GOFFMAN, 2006, p. 11 apud CARVALHO, 2009, p. 4)

Essa conceituação pode ser aplicada em diversos setores tais como o jornalístico.

Noticiar algo consiste em selecionar aspectos e julgá-los, baseando-se em um repertório

individual e visando alcançar um objetivo específico, aptos a entrarem em determinada

matéria. Posteriormente, esses tópicos serão enquadrados, isto é, organizados, para então

serem publicados. Por levar em conta a subjetividade do escritor que fará aquela notícia, as

informações enquadradas apresentam mais peso que a própria realidade, pois, geralmente,

os quadros apresentam ideologias.

Por esse motivo, as celebridades tomam um extremo cuidado com as informações

que são veiculadas sobre elas na imprensa, no geral, para evitar ruídos comunicacionais, uma

vez que elas, usualmente, dependem dessas notícias para manter sua visibilidade.

Paula Guimarães Simões (2011) explicita essa capacidade da mídia de afastar ou

manter nela certas figuras. Ela afirma que a mídia define nossas orientações que temos das

coisas e dessa maneira, também molda os comportamentos das celebridades e dos seus

seguidores. Ela afirma:

Ao enquadrar a vida das celebridades e definir o que está ocorrendo em cada situação

que constrói a trajetória delas, a mídia delimita figura e fundo, colocando relevo

sobre uma forma de compreender a situação, de tornar inteligível o evento em

questão. Ao fazer isso, a mídia define os lugares e posicionamentos (footings) a

serem assumidos pelas celebridades e pelas pessoas ligadas a elas e que participam

de alguma forma da situação descrita e narrada pelos meios. (SIMÕES, 2011, p. 7)

Ela ainda completa dizendo que ao analisar a trajetória de uma personalidade, é

possível identificar vários quadros delas, e, ao modificá-los, há alterações em seu

comportamento. Por essa razão, pode-se aferir que a mídia apresenta um papel de

protagonista frente às mudanças das celebridades, já que ao alterar seu enquadramento sobre

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algo, modifica-se também a conduta desses personagens midiáticos. As revistas, como um

dos exemplos de mídia, também contribuem para essa construção imagética das celebridades

e sua modificação.

3. As revistas como veículos de comunicação

As revistas, com linguagem visual e textual, comunicam-se com grupos específicos

atraídos pelo conteúdo e estilo de cada veículo. Sob essa perspectiva, uma revista para

sobreviver no mercado editorial funciona por meio de um contrato que, conforme apontado

por José Luiz Aidar Prado (2010), estabelece um enunciador cujo papel é enquadrar

determinado assunto e um enunciatário que, a partir do que diz o enunciador, procurará ser

melhor dentro daquele quadro do qual faz parte. É como se uma publicação servisse como

guia a um determinado tipo de leitor que procura se integrar cada vez mais dentro de um

segmento.

Seguindo esta linha de pensamento, títulos como a “Capricho” ou a “Billboard” são

exemplos de revistas segmentadas que possuem, cada uma, seu público alvo – que estão

dispostos a manter seu papel de enunciatário dentro do contrato da comunicação. O fato de

uma revista ser, entre outras coisas, um produto deve ser analisado com a devida atenção

para que se possa entender o mecanismo que garante a comunicação. Conforme já dito

anteriormente, um veículo precisa sobreviver no mercado editorial e, para isso, precisa

manter seus leitores interessados em suas publicações. Para tanto, as revistas fazem uso de

dispositivos por meio dos quais a elaboração das capas acaba servindo, como coloca Prado,

de convocador, que visa capturar a atenção e a fidelidade de seu público alvo a partir de

elementos que causem identificação. Segundo Prado:

Aqui se coloca o cerne do que mais tarde consistirá o dispositivo na obra de

Agamben: a relação dos indivíduos com o elemento histórico. Nesse sentido, o

dispositivo se liga a “um conjunto de práticas, corpos de conhecimentos, medidas e

instituições que visam administrar, governar, controlar e orientar – de um modo que

pretende ser útil – os comportamentos, gestos e pensamentos dos seres humanos”

(Agamben: 12). Sendo assim, os media são dispositivos convocadores e orientadores

de ação de primeira ordem no capitalismo contemporâneo. (PRADO, 2010, p.68)

Pelo uso dos dispositivos procura-se fazer com que as revistas sejam vendidas dentro

do mercado capitalista. Primeiro o leitor se interessa pela capa (há a convocação) e, depois,

ele compra o produto para ler o conteúdo. Em ambas essas fases, seja através de imagens

e/ou texto, há comunicação entre o público alvo e o veículo. Nesse mercado editorial ao qual

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as revistas fazem parte, o mundo das celebridades e os demais assuntos voltados à cultura

pop recebem maior enfoque dessas mídias, uma vez que apresentam maior apelo comercial.

4. Cultura pop e celebridades

Estar na mídia é estar sujeito a julgamentos quase que constantemente – seja de forma

mais restrita, tal como uma rede social, ou mais abrangente, como estar na capa de uma

revista. Para uma celebridade, este fato é percebido e trabalhado com ainda maior cuidado.

Assim que uma notícia é veiculada, valores positivos ou negativos são atribuídos a ela e essa

classificação depende do grupo social que realizará a análise da notícia veiculada.

Exatamente, por isso, ou seja, por apresentar um alcance massivo, a cultura pop é idealizada

junto com o interesse social.

Fianco explicita isso na sua obra. Segundo ele, “a mercadoria cultural é, então, uma

atividade industrial que tem como finalidade primeira o lucro, e como consequência

secundária o embotamento espiritual dos espectadores” (FIANCO, 2010, p.14). Assim

sendo, é necessário, muitas vezes, que o artista se recrie. Na sociedade atual, as tendências

se modificam vertiginosamente e, visando acompanhá-las, é necessário que o artista também

mude a sua imagem perante a sociedade e, principalmente, perante seus admiradores.

As diversas mutações que acontecem durante a carreira desta figura pública podem

ocorrer no estilo de vestimentas ou na mudança das atitudes e de postura, por exemplo.

Embora algumas dessas modificações aconteçam de maneira não premeditada - como as

ocorridas devido às transições de fases da vida - outras são propositais visando adquirir

visibilidade midiática. Como algumas atitudes e o próprio estilo do artista já estão adaptados

ao público, profissionais dedicados à imagem reveem conceitos e recriam uma nova persona

para uma nova aceitação dos expectadores.

De acordo com Rodrigues, “isso revela uma faceta um tanto comercial desse sistema:

quanto mais flexíveis eles forem, mais público atrairão, construindo assim um legado

memorável” (RODRIGUES, 2015, p.2). Para o autor, “são poucos os cantores que não

tentam uma nova abordagem, portanto alguns deles alteram sua sonoridade, seu visual, seus

discursos, suas performances, etc. Afinal, os gostos da grande massa são dinâmicos e mudam

o tempo todo” (RODRIGUES, 2015, p.2). Sendo assim, como as celebridades são muito

voláteis e precisam se manter na mídia, são obrigas a se adaptar às questões exigidas por

determinado público e/ou período. Justin Bieber é um exemplo, dentre os vários, de

celebridades polêmicas em que isso pode ser aplicado, e, por essa razão, ele vai ser

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destacado. Bieber transitou por três fases distintas entre si na sua carreira em um curto

período de tempo, mudando não só os conteúdos das suas músicas como seu próprio estilo.

Isso mostrou ao público as personalidades divergentes do cantor o que, de certo modo,

aproximou-os.

5. Análise

Visando analisar essas interpretações midiáticas e do comportamento das

celebridades faladas acima, foram escolhidos dois veículos – a Billboard e a Capricho – que

se distanciam na abordagem do mundo musical por uma série de motivos. O primeiro ponto

a ser considerado é a nacionalidade dos conteúdos. A revista Billboard é estadunidense, e,

por isso, traz o pensamento e as ideologias norte-americanas sobre as atitudes do cantor. Já

a Capricho é produzida no Brasil, país fortemente atingido pelas tendências culturais

estrangeiras. Em outras palavras, justamente por ambas as revistas estarem imersas em

culturas diferentes entre si, suas abordagens serão, consequentemente, distintas.

O segundo motivo é o público alvo, uma vez que a Billboard foca suas publicações

nos jovens e adultos, fazendo uma abordagem mais conceitual e objetiva. A publicação

brasileira tem como prioridade o público jovem, com abordagem mais visual. Tanto o

editorial americano - que tem como foco a música - quanto a brasileira - que se interessa por

uma gama mais vasta de assuntos da atualidade - recebem destaque nos meios teen e musical

e são importantes para a formação da opinião pública.

Para mostrar os diferentes discursos midiáticos em uma mesma celebridade, o cantor

canadense Justin Bieber merece ser destacado. Como falado acima, o jovem apresentou três

padrões de comportamentos diferentes entre si (que serão explicitados posteriormente) muito

impulsionados pela mídia. Essas atitudes causaram consequências negativas para a sua

imagem e elas transpareceram nas capas e nas notícias dadas pelos veículos.

Mas, analisar somente o conteúdo das capas é sintomático, até porque é o primeiro

recurso das editoras para atrair os possíveis compradores. Roland Barthes, em sua seção “A

Mensagem Fotográfica”, no livro “O Óbvio e o Obtuso” (2009), averiguou a intenção da

imprensa ao veicular certos tipos de imagens, afinal, “a fotografia de imprensa é uma

mensagem. A totalidade dessa mensagem é constituída por uma fonte emissora, um canal de

transmissão e um meio receptor”. (BARTHES, 1990, p.11)

Ou seja, segundo Barthes, a emissão e a recepção da fotografia fazem parte de uma

esfera maior, que estuda os grupos humanos e lhes define motivações. Por tentar ligar o

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comportamento do estrato social à sociedade em sua totalidade, a imagem não é um resultado

isolado de outra operação, e sim, de toda uma seleção, uma interpretação e um significado

já pré-definidos pelas revistas. Tudo é pensado, desde a cor de fundo da imagem à sua pose

- ângulo do rosto do personagem e expressões faciais.

As duas estruturas da mensagem ocupam espaços reservados, contíguos, mas não

"homogeneizados", como, por exemplo, num enigma figurado que funde numa só

linha a leitura de palavras e figuras. E também, muito embora não haja foto de

imprensa sem comentário escrito, a análise deve incidir primeiro sobre cada estrutura

separada; é só quando se tiver esgotado o estudo de cada estrutura que se poderá

compreender a maneira como se completam. (BARTHES, 1990, p.12)

Portanto, para chegarmos a uma análise do conjunto, abordaremos cada um dos

elementos que compõe a imagem de capa das revistas separadamente e, desse modo,

perceber como o todo se relaciona à fachada midiática do cantor canadense.

5.1. Baby: Análise das capas da Billboard e da Capricho, entre anos de 2010 e 2013

Para a análise, achamos pertinentes os conceitos abordados por Barthes (1990) e a

noção de fachada em Goffman (2002). Eles nos auxiliam a compreender os efeitos de sentido

dos discursos das revistas em relação ao ídolo Justin Bieber.

Como já falado anteriormente, o cantor iniciou a carreira em 2007 ao ser assistido

por Scooter Braun, ex-executivo de marketing da “So So Def Records”. Em menos de dois

anos, o menino passou do anonimato para a fama, com a gravação do primeiro álbum

“Extended Play My World”, quando mostrou ao mundo canções, que ficariam

internacionalmente conhecidas, como “Baby”, seu maior sucesso, “Never Let you Go” e “U

Smile”.

Figura 1 – Ed. Março 2010 - Billboard Figura 2 – Ed. 1115 - Capricho Figura 3 – Ed.1088 – Capricho

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Seu talento musical e a imagem de garoto teen, existente até o final de 2012,

contribuíram para a sua fama e a rápida ascensão no meio musical. Bieber, na época,

proporcionou uma revolução na moda, ao ditar tendências de comportamento e de estilos

entres os adolescentes. O de maior alcance foi o cabelo liso com franja comprida em cima

da testa. Diante dessa rápida aceitação e adesão no meio adolescente, as revistas também

tentaram entender e abordar esse fenômeno.

Na capa da Billboard, edição de março de 2010, Justin Bieber é representado como

um garoto inocente, tímido, mas igualmente sério e decidido, simbolizado ainda mais pelo

rádio em primeiro plano que está segurando, como se a música fosse mais importante que a

figura dele – até então, em construção. A frase na capa “Ele tem 16 anos e está prestes a sair

de fenômeno para estrela. Ele está preparado?”5 colabora para potencializar a inocência do

menino, já que, com pouca idade, tem que enfrentar todas as consequências da vida de um

superstar. Além disso, essa frase colabora para trazer uma empatia do leitor. Essas evidências

são ainda mais certificadas, com o fundo azul claro, remetendo a calma e tranquilidade,

evidenciando ainda mais o caráter de garoto infantil.

Já no caso da revista Capricho, na edição de número 1115, Justin Bieber aparece ao

lado de Selena Gomez, cantora e ex-namorada do astro. Nessa capa, predominam as cores

amarelo e roxo, opostas e complementares no círculo de cores. De certa forma, pode-se

pensar que ambos os artistas são opostos complementares e simultaneamente a isso, as cores

deixam a capa ainda mais com um toque de adolescente.

Essas cores passam uma informação específica para os expectadores. Luciano

Guimarães (2003) explicita que as cores no jornalismo também apresentam a capacidade de

transmitir uma comunicação específica, o que ele nomeou de cor-informação. Segundo o

autor,

considera-se cor como informação todas as vezes em que sua aplicação desempenhar

uma dessas funções responsáveis por organizar e hierarquizar informações ou lhes

atribuir significado, seja sua atuação individual e autônoma ou integrada e

dependente de outros elementos do texto visual em que for aplicada (formas, figuras,

texturas, textos, ou até mesmo sons e movimentos, como em produtos multimídia).

Quando quiser enfatizar o uso desse conceito, utilizarei o termo cor-informação.

(GUIMARÃES, 2003, p.31).

Seguindo essa linha de raciocínio, a imagem do casal aliada às cores utilizadas, por

lhe atribuir um significado, pode ser entendida como “cor-informação”. Isso pode levar o

5“He’s 16 and about to jump from phenom to superstar. Is he ready?”

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expectador a compreender essa cena como um casal em um aniversário de debutante. As

roupas nos levam a pensar em uma festa de 15 anos. Associada com a pigmentação

escolhida, essa imagem também transparece a pureza dos relacionamentos adolescentes. Isso

fica ainda mais evidente com os desenhos na capa, como o cupido e os corações, já que

ambos remetem a um diário. O cadeado, por sua vez, traz um efeito de sentido de que aquilo

está guardado dentro dos corações deles, salientando a ideia de pureza.

Na frase de capa “Eles tentam esconder, mas a gente revela os detalhes dessa amizade

colorida”, evidencia-se ainda mais o caráter teen do relacionamento, já que em vez de se

utilizar o termo “namoro”, optam pela expressão “amizade colorida”, linguagem dos

adolescentes. A expressão “a gente revela os detalhes”, nos remete a olhar dentro da

fechadura, abrir esse cadeado da capa, e mostrar a intimidade do casal, que na época, era um

dos casais mais comentados pelos veículos relacionados ao mundo pop.

Observando a última capa, terceira da esquerda para a direita, nota-se que a

“Capricho” optou por destacar Bieber numa pose que simboliza alguém com atitude

confiante. Vestindo um agasalho com gorro e puxando a abertura da roupa com as mãos, o

astro parece demonstrar estar seguro de si e não ter nada a esconder sobre sua personalidade

e jeito de ser. Sua pose casa perfeitamente com a chamada da matéria que, destacada em rosa

logo abaixo de seu nome, diz que Bieber falou em uma “conversa” com a revista sobre coisas

da sua vida pessoal e social, como “garotas”, “fama” e seu “cachorrinho”. Interessante

destacar que a chamada se dirige ao astro como “o garoto mais fofo do momento”, apelido

esse que seria posto em xeque anos mais tarde.

5.2. Bad Boy: Análise das capas da Capricho nos anos de 2013 e 2014

Figura 4 – Ed. 1198 - Capricho Figura 5 – Ed. 1194 - Capricho

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Justin Bieber entrava em uma nova fase de sua carreira. Depois do lançamento do

CD “Believe”, em 2012, o cantor não parecia ser mais o adolescente que cantava “Baby”.

Com recém-completos 19 anos, Bieber passou a se envolver em diversas situações - bem

diferentes das quais a mídia e, principalmente seus fãs, estavam acostumados a encarar. Em

2013, durante a turnê de divulgação do disco que aconteceria próximos dois anos, o artista

se envolveu em grandes polemicas, que logo tomaram as capas de revistas.

A edição 1198 da Revista Capricho, publicada no início de 2013, traz em sua

chamada: “Justin mostra o seu lado mais rebelde no melhor momento de sua carreira”, além

de uma foto do cantor com uma marca de beijo no rosto, o que significa que, apesar de ter

mudado, ele ainda é querido pelas suas fãs. O conjunto dessa capa mostra que, embora Bieber

tenha se envolvido em polêmicas, como a agressão a um paparazzi, a imprensa ainda o

considerava “uma boa influência” aos seus seguidores, retratando Justin como um cantor

mais amadurecido, principalmente em sua trajetória musical.

Quando analisamos a capa dessa edição, percebemos que existe uma tentativa de

focar no amadurecimento musical do artista. “Justin mostra o seu lado mais rebelde” acaba

sendo atenuado pelo “melhor momento de sua carreira” e com a notícia que a matéria trará

informações sobre o novo show de Bieber. Em destaque, ainda, a frase “Love Bieber”

(“Amamos o Bieber”), mostra que não havia uma preocupação com as alterações no

comportamento do músico, mas, ainda, um grande afeto pela sua imagem, evidenciado pela

cor da fonte e o coração no lugar do ponto da vogal “i”.

Na edição 1194 da Capricho, de fevereiro de 2014, o editorial questionava: “Você

conhece esse cara?”, fazendo referência às mudanças emocionais causadas na transição para

a fase adulta. Souza e Bertol explicam essas transformações em seus estudos em psicologia.

De acordo com a análise delas, a transição entre adolescência e fase adulta é dada como um

período de conflitos internos. Segundo Bertol e Souza:

a transgressão e a rebeldia são características necessárias a qualquer sujeito que,

formado nos princípios do individualismo, busca a realização do ideal de autonomia

[...]. Entretanto, essas mesmas ações são condenadas pela civilização, que as enxerga

como uma ameaça para a ordem social. (BERTOL; SOUZA, 2010, p. 835)

Tal condenação é explicitada na capa da revista. A foto do cantor em preto e branco,

por si, tem um significado eminente. O efeito retira as cores da imagem e à reduz para apenas

duas tonalidades díspares. Seu passado, azul claro e sem manchas, ficou para trás, no fundo

da imagem.

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Antes retratado como menino romântico, Bieber passou a ser considerado “bad

boy”6. A revista enfatiza isso dizendo “esqueça o Justin Bieber que conquistou seu coração”.

A frase apresenta uma ambiguidade. A primeira interpretação é de que não existe mais o

garoto que conquistou o coração das fãs. A segunda é que a frase no imperativo pede às

leitoras que “esqueçam” o antigo Bieber, já que suas atitudes não conquistarão as fãs.

A foto escolhida foi tirada no dia em que Justin Bieber foi preso em Miami. Nela, o

músico aparece com o uniforme cedido aos presos, e, embora com olhar abatido e rosto

aparentemente cansado, está com um sorriso no rosto. O semblante mostra que, ainda

estando errado, o cantor está aparentemente confortável, quiçá com suas atitudes.

É importante ressaltar que, entre os anos de 2013 e 2014, aqui referidos, a revista

Billboard não teve nenhuma capa com o Justin Bieber. A editoria da revista dá prioridade

para trabalhos que estejam sendo feitos pelos artistas e as novidades em suas carreiras e,

como neste período Bieber não lançou nenhum CD novo, a publicação não abordou o cantor

em suas capas. Outra razão possível seria que as manchetes negativas que rondavam o astro

podem ter influenciado na ausência de matérias do artista na revista Billboard, já que a

imagem negativa do artista naquele período poderia não ser interessante à editoria da revista,

fato esse que se modificaria nos anos seguintes, já que a revista passou a abordá-lo.

5.3. Sorry: Avaliação das capas da Capricho e da Billboard de 2015 e 2016

Na atual fase, fica nítida a mudança de comportamento do astro. Isso foi percebido

pela mídia, no geral, inclusive pelas duas revistas abordadas. A edição de número 127 da

revista Billboard, publicada em 14 de novembro de 2014, é um desses exemplos. Sua capa

traz a imagem de Justin Bieber exibindo uma expressão amena, praticamente, arrependida.

6Em tradução livre para o português, “menino malvado”.

Figura 6 – Ed.127 - Billboard Figura 7 – Ed.77 – Capricho Week Figura 8 – Ed. 112 – Capricho Week

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A cor roxa desbotada ao fundo da figura transmite um tom de mistério, diferentemente de

outras capas já apresentadas acima.

Para mostrar o seu lado inofensivo, nessa edição, Bieber parece perdido. A expressão

corporal dele, os braços cruzados, a camiseta regata, e a posição do corpo demonstram isso.

Importante ressaltar a questão da vestimenta, afinal em muitas capas das suas fases

anteriores, Bieber aparecia sem camiseta, com uma postura mais explosiva.

Não só a linguagem visual demostra essa mudança, a textual também. Na capa está

escrito: "O renascimento de Justin Bieber - Prodígio aos 12, astro pop aos 15, bad boy aos

20. Agora, aos 22, depois de um ‘vazio’ de dois anos nos tabloides, ele está em seu caminho

para se reinventar emocional, virtuosa e musicalmente. ‘Eu estava perto de deixar a fama me

destruir’"7, diz a capa da revista americana.

O ídolo pop sofreu uma reviravolta desde o fim de 2014, tentando consertar os

deslizes cometidos pela liberdade que a fama lhe proporcionou. Bieber parece estar tentando

voltar aos hábitos que conquistou fãs ao redor do mundo todo. O discurso adotado pelo

cantor, nesse caso acima retratado, é o da superação, constantemente utilizado na mídia para

tentar justificar uma série de erros que, somados, mancharam a imagem dessas

personalidades.

Embora essas revistas tenham objetivos finais um pouco diferentes, as produções

dialogam entre si. A Capricho Week, edição 77, de 14 de julho de 2015, reitera esse

renascimento já anunciado na Billboard de novembro. Na capa da revista brasileira, o fundo

claro tem o mesmo objetivo de apontar para essas mudanças de comportamento da produção

estrangeira. Bieber aparece com uma expressão tranquila e seu estilo mais leve e descolado.

O chapéu e a camisa passam a sensação de que o cantor sossegou da sua fase rebelde.

A revista brasileira também traz uma perspectiva de mudança para o astro, a

reviravolta na carreira e um apelo à religião na tentativa de causar uma empatia e recuperar

a imagem do músico. O uso dos termos “renascimento” e “religião” carrega a ideia de que o

primeiro foi um guia na reviravolta positiva na carreira de Bieber. É como se as revistas

dessem um eixo narrativo de que é possível continuar gostando do astro mesmo depois de

alguns erros, já que agora ele se arrependeu.

Quase um ano depois, a mesma Capricho Week, edição 112, de 15 de março de 2016,

já representa o cantor em sua fase já consolidada. O fundo permanece claro e a expressão

7“The Rebirth of Justin Bieber - Prodigy at 12, superstar at 15, punchline at 20. Now, after and 'empty' two-year tabloid

spiral, he's on his way to reinventing himself emotionally, spritually and musically. 'I was close to letting fame destroy

me'”.

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continua leve. Suas roupas mudam e agora ele aparece de terno, com uma expressão mais

madura, dando a entender que Bieber cresceu e agora sabe como agir. Junto a isso, as novas

produções e o consequente sucesso trouxeram o astro de volta para o boom da popularidade.

Nesta edição o enfoque começa a mudar, os alvos não são mais sua personalidade ou

sua vida pessoal (já que os problemas foram superados) e sim, a sua música: “Justin Bieber:

O que está rolando na nova turnê do muso”.

Só que mesmo com muita informação sobre o astro, algumas outras foram deixadas

de lado. O discurso silenciado para não ferir a imagem de Bieber poderia ter muito mais a

dizer do que a imagem de redenção passada nessa reviravolta. Quando se é uma figura

pública, a liberdade de ser quem você realmente é talvez tenha que ser medida por uma

questão de aparências.

Esse jogo de cena realizado por essa celebridade, também foi captado pelas

publicações. Ambas essas revistas procuram trabalhar com a ideia de identidade social

encontrada em Goffman (2002), isto é, a construção de uma imagem para a sociedade,

visando corresponder com as expectativas dos fãs de Bieber, em que elas tentam encontrar

padrões positivos no comportamento do menino, que se destaca em seu meio de convívio,

tornando-se dessa maneira uma de referência na vida de milhões de adolescentes.

Os jovens e as celebridades, assim como a sociedade, categorizam o mundo ao seu

redor. O artista é um dos principais alvos dessa classificação e dessa expectativa criada. Por

estar sempre em destaque, ele acaba produzindo formas de comportamento em seus fãs, e,

por isso, atitudes que fogem do senso comum têm maior repercussão. Possivelmente, isso

justifique a tentativa dos meios de comunicação de suavizar as atitudes do astro. A sua

identidade real, em outras palavras, o Bieber por trás das câmaras, o público massivo nunca

terá acesso, já que as informações veiculadas são o resultado da interpretação dos fatos pela

mídia, assim como, que as escolhas das imagens e das palavras utilizadas pelas revistas

revelam os enquadramentos da vida do cantor. Porto interpreta o conceito de enquadramento

de Goffman nessa realidade. Segundo ele,

Goffman define enquadramentos como os princípios de organização que governam

os eventos sociais e nosso envolvimento nestes eventos. Segundo o autor, tendemos

a perceber os eventos e situações de acordo com enquadramentos que nos permitem

responder à pergunta: “O que está ocorrendo aqui?”. Neste enfoque, enquadramentos

são entendidos como marcos interpretativos mais gerais construídos socialmente que

permitem às pessoas dar sentido dos eventos e das situações sociais (PORTO, 2004,

p.78)

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Seguindo essa linha de pensamento, as revistas ao noticiarem o que está acontecendo

na vida do rapaz, enquadram e interpretam esses aspectos, como Prado afirma acima,

baseando-se nas ideologias sociais, fato esse que permite ao público dar um sentido subjetivo

– não distante da interpretação social – aos eventos noticiados. A ideia transmitida nessas

interpretações dos veículos é a de que Bieber superou os problemas pelos quais passou, e

eles são normais na vida de um adolescente que tem que lidar muito cedo com a fama. Por

causa disso, nessa narrativa da superação adotada atualmente, seus erros são minimizados

em detrimento dos seus acertos.

6. Considerações Finais

É possível concluir que existe um paralelismo entre as atitudes de grandes fenômenos

da cultura pop, como é o caso do cantor Justin Bieber, e a forma como sua imagem é retratada

pelas diferentes mídias, em especial, as revistas aqui abordadas.

Justin começou sua carreira em 2010, e, ao longo desses últimos seis anos, seu

sucesso esteve vinculado ao modo como suas atitudes eram retratadas. Inicialmente, ele era

o menino prodígio da música, e a mídia no geral, salientava essa imagem no jovem astro.

Conforme foi crescendo, suas atitudes passaram a ser questionadas foram tomando conta dos

tabloides, sites e revistas do mundo pop. O garoto passou a ser visto pela imprensa como um

símbolo de rebeldia e constantemente envolvido em polêmicas.

Com o lançamento de seu CD mais recente, em 2015, Justin voltou aos holofotes,

mas por um novo motivo - ele agora era visto pela mídia como um homem arrependido, que

pedia o perdão do público. O discurso elaborado pelo cantor e reafirmado pela mídia faz

referência diretas aos discursos de superação, em outras palavras, ao fato dele ter se

recuperado das mazelas causadas pela união da imaturidade com a fama. Esse argumento foi

aceito pelas fãs, no geral, e o jovem, então problemático, voltara à mídia como um ícone

reformulado da música pop. As revistas, que por sua vez, durante a fase mais rebelde do

cantor, ponderavam nas palavras adotadas, voltaram a dar destaque ao astro nas suas

publicações.

Em meio à tanta turbulência de acontecimentos, mostrar essa trajetória de superação

do Justin Bieber pela mídia acaba sendo um motivo de leitura para os respectivos públicos-

alvo de cada uma das revistas. Algumas celebridades só se mantêm na mídia pelo fato de

serem polêmicas e quanto maior a polêmica, maior a visibilidade seja ela negativa ou

positiva. Esses holofotes midiáticos são intensificados pelas revistas e pela mídia, no geral,

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pois esses fatos têm maior repercussão, e consequentemente, maior audiência, visto que o

alcance da cultura pop é massivo. Por causa disso, cada etapa da vida do garoto foi

enquadrada, exaltando os lados positivos em detrimento dos negativos, ou mesmo

suavizando-os para manter uma identidade social em que se encaixe, ou tenta, com o que os

fãs esperam das suas atitudes sociais.

7. Referências

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