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B _ i ACIDI revIstA Nº83 AGOstO 2010 interculturalidade uma realidade em portugal? as prioridades do ii plano para a integração dos imigrantes entreculturas promover a interculturalidade

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B_iACIDIrevIstA Nº83

AGOstO 2010

interculturalidade uma realidade em portugal?

as prioridades doii plano para a integração dos imigrantes

entreculturaspromover a interculturalidade

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B_i 2ACIDI REVISTA Nº 83 AGOSTO 2010

Enriquecer no encontro das diferenças é o princípio da Interculturalidade que o ACIDI defende e aplica na sua actividade.

Não se trata de uma afirmação meramente teórica mas, pelo contrário, de uma constatação de que as culturas não são monolíticas mas interdependentes, resultam de mútuas trocas e empréstimos, e essa diversidade constitui uma das raízes do seu desenvolvimento.

De facto, habitualmente não nos damos conta de como somos um produto da interculturalidade.

Escrevemos com o alfabeto latino deixado pelos Romanos, contamos com os algarismos trazidos da Índia pelos Árabes, falamos uma língua que partilhámos com os Galegos mas tudo nos parece apenas “nosso”.

Mas se é verdade que o “encontro das diferenças” tem produzido o enriquecimento da sociedade humana no seu todo e em múltiplas dimensões, não é menos verdade que no confronto das diferenças se têm registado, em alguns casos, os maiores prejuízos para a dignidade humana.

Genocídio, racismo, xenofobia, discriminação são, infelizmente, marcas ainda visíveis no século XXI do “encontro das diferenças”.

Defender o princípio da Interculturalidade significa prestar atenção à nossa prática diária e combatermos todas as atitudes discriminatórias no contacto com a “diferença” seja ela de nível cultural, de aspecto físico, de nacionali-dade, de religião, etc.

“Todos diferentes, todos iguais” não é ainda um sentimento enraizado em cada um de nós. Mesmo quando a diferença se resume apenas a uma imagem reflectida num espelho menos plano que transportamos no nosso olhar.

Dedicamos este número do Bi ao tema da Interculturalidade na certeza de que neste domínio teremos de percorrer, com grande fôlego e persistência, um longo caminho para garantirmos o lema que perfilhamos: Mais diversidade, melhor humanidade.

rosário Farmhouse

Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural

ENRIQUECER NO ENCONTRO DAS DIFERENÇAS

e D I t O r I A l

Defender o princípio da Interculturalidade significa prestar atenção à nossa prática diária e combatermos todas as atitudes discriminatórias no contacto com a “diferença”.

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promover a interculturalidade

A Interculturalidade é um con-ceito incorporado na pró-pria designação do ACIDI – Alto Comissariado para

a Imigração e Diálogo Intercultural – e afirma-se como um dos seus sete princípios-chave estruturantes, a par da Igualdade, Diálogo, Cidadania, Hospitalidade, Proximidade e Iniciativa. O Decreto-Lei 167/2007, de 3 de Maio, diploma que instituiu a Lei Orgânica do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, refere como atri-buições do ACIDI, na alínea e) do n.º 2 do artigo 3º, “Promover a interculturali-dade, através do diálogo intercultural e inter-religioso, com base no respeito pela Constituição, pelas leis e valorizando a diversidade cultural num quadro de res-peito mútuo” e, na alínea h), “Favorecer a aprendizagem da língua portuguesa e o conhecimento da cultura portuguesa por parte dos imigrantes, tendo em vista a sua melhor integração na sociedade por-tuguesa”. Outras atribuições relacionadas com a interculturalidade, previstas no mesmo diploma são (alínea j) “Promover acções de sensibilização da opinião públi-ca e a realização de estudos sobre as temáticas da imigração, minorias étnicas, diálogo intercultural e diálogo inter-reli-gioso” e (alínea m) “Promover o diálogo com as religiões através do conhecimento das diferentes culturas e religiões e da construção de uma atitude de respeito mútuo e de afecto pela diversidade, quer dentro das fronteiras nacionais, quer na

relação de Portugal com o mundo”. Assim, a Interculturalidade, e a sua pro-moção em Portugal, são atribuições trans-versais do ACIDI - que recentemente foi a entidade responsável no nosso país pelo Ano Europeu do Diálogo Intercultural 2008 - e estão presentes na sua actuação aos mais diversos níveis, desde o atendi-mento quotidiano de cidadãos imigran-tes até ao trabalho pedagógico e de fundo do Entreculturas ou do Observatório da Imigração. Num âmbito europeu, o diálogo inter-cultural surge na UE como reforço do papel da educação, na aquisição de co-nhecimentos e capacidades que permi-tam lidar com um ambiente cultural cada vez mais aberto e complexo. De acordo com o portal www.uenomundo.eu, resul-tante de uma parceria estabelecida entre o Governo português e a Comissão Euro-peia, que disponibiliza informação sobre

interculturalidadeuma realidade em portugal?

o papel da União Europeia no mundo, o diálogo intercultural na UE visa sensibili-zar todas as pessoas, especialmente os jo-vens, para a importância de desenvolver uma cidadania activa, aberta ao mundo, que respeite a diversidade cultural e o sentimento de pertença à Europa. Pre-tende, também, salientar a contribuição das diferentes culturas e expressões de diversidade cultural para o património e os modos de vida dos Estados-membros. Actualmente, existem programas de intercâmbio que reforçam esta ideia, tendo como objectivo proporcionar aos jovens a experiência prática do diálo-go intercultural. São exemplos destes programas comunitários o programa Comenius, destinado a sensibilizar os jovens e os quadros docentes para a diversidade e o valor das culturas e das línguas europeias e o programa Erasmus, de apoio à mobilidade de estudantes e docentes do ensino superior.

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B_i 4ACIDI REVISTA Nº 83 AGOSTO 2010

O que é, actualmente, o Entreculturas? Actualmente, o Entreculturas está in-tegrado no Departamento de Apoio ao Associativismo e ao Diálogo Intercultural (DAADI) do ACIDI e actua numa das suas frentes, a promoção do diálogo in-tercultural, ou seja, o trabalho junto da sociedade portuguesa na perspectiva de facilitar a convivência na diversidade. O processo de integração do imigrante, que é a missão do ACIDI, é um pro-cesso complexo, que envolve múltiplas dimensões, e é desde logo um processo de adaptação recíproco, de quem chega e de quem acolhe. O ACIDI tem junto dos imigrantes uma acção muito alarga-da e diversificada no sentido de facilitar o seu processo de inserção, mas há também um trabalho de sensibilização e formação a fazer com as instituições da sociedade de acolhimento. O Entreculturas actua a esse nível, através de vários dispositivos. Esta acção vem-se desenvolvendo há uns anos, começou na educação e teve opor-

tunidade de no ACIDI alargar o seu âm-bito, reconhecendo-se a importância de a estender a outros sectores da sociedade, tal como vem definido no Plano para a Integração dos Imigrantes (PII).

Este é sobretudo um trabalho de fun-do? Exactamente. Nesta equipa pode haver acompanhamento e respostas mais ime-diatas a problemas que possam surgir em escolas ou noutros contextos, mas efecti-vamente o trabalho é mais de fundo, de rectaguarda. Não estamos no front office do ACIDI, estamos essencialmente no back office, com as instituições e com os profissionais que interagem com os imigrantes. Quando falo em instituições, falo essencialmente em serviços públicos – em escolas, hospitais, centros de saúde, municípios – mas refiro também a cola-boração com organizações não-governa-mentais e outras instituições privadas.

Quais são as principais tarefas? Este trabalho tem em vista a sensibi-lização e a formação para um melhor acolhimento dos imigrantes por parte das instituições, uma maior abertura à diversidade. Gostaria de salientar que a diversidade, do nosso ponto de vista, não é um dado apenas decorrente da presença dos imigrantes em Portugal, pois todos nós somos diferentes. Temos pessoas do campo e da cidade, temos várias gerações em confronto, desempenhamos diversas actividades profissionais, e isto implica

“a integração é um processo complexo”

Filomena cassis, coordenadora do entreculturas,

aborda nesta entrevista o crescente leque de

actividades da equipa no sentido de promover a

interculturalidade em portugal.

e N t r e v I s t A

F i l o m e n a c a s s i s

A INteGrAçãO DO

ImIGrANte eNvOlve

múltIplAs DImeNsões

e é um prOCessO De

ADAptAçãO reCíprOCO,

De quem CheGA e De

quem ACOlhe.

a equipa entreculturas A equipa Entreculturas tem actualmente dez pessoas, essencialmente

profissionais das ciências sociais e humanas, professores, sociólogos

e juristas, com experiência na formação de formadores, na formação

para a interculturalidade, no trabalho de mediação intercultural, no

acompanhamento de projectos.

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diferentes formas de ver o mundo. Há um autor brasileiro, Leonardo Boff, que diz que “todo o ponto de vista é a vista de um ponto”. E, precisamente, vemos as coisas a partir do ponto em que nos situamos. Portanto, obviamente, a imi-gração alargou esta diversidade, colocou novos desafios, mas o que também é novo nisto é o olhar que temos sobre a diversidade, o reconhecimento do direito de todos a serem reconhecidos como cidadãos, independentemente das suas especificidades, que progressivamente tem vindo a ser assumido na sociedade portuguesa. O Departamento em que nos inserimos é o Departamento de Apoio ao Associativismo e ao Diálogo Intercultural. E este diálogo intercultu-ral não é espontâneo, requer reflexão e requer um esforço de todos nós. Tem a ver com um processo de mudança na nossa sociedade e no mundo em geral, que nem sempre é fácil. É um desafio para cada um de nós e para as institui-ções, porque não é simples que cada um reconheça que a sua maneira de fazer não é a única e que pode nem sequer ser a melhor. Por outro lado, também temos o desafio de encontrar o que nos une, o que temos em comum. Todos somos pessoas, com sentimentos e emoções. A maneira de os viver e, sobretudo, de os expressar é que pode ser diferente. A abordagem intercultural pressupõe respeito, parti-lha, cooperação, igualdade e requer uma aprendizagem. Temos de nos adaptar, e aprender é mudar a nossa perspectiva e tentar adequar o nosso comportamento a novas realidades. É um processo que implica diálogo, abertura, entendimento. Só estando próximos e tentando com-preender-nos é que podemos começar a fazer coisas com os outros. Um outro autor, americano, James Banks, que muito tem inspirado o nosso trabalho, em resposta a alguém que lhe perguntava por onde começar, dizia: “Comece por si

mesmo!”. E é preciso ter esta consciência de que as nossas formas de estar, as nossas percepções, a forma como nos relaciona-mos, têm a influência dos contextos em que nos situamos. O mesmo acontece com as ideias feitas, os preconceitos que todos temos. E começar por si mesmo é isto, é ter esta consciência crítica de nós próprios, ser capaz de se pôr no lugar do outro...

As realidades da diversidade têm evolu-ído. O trabalho do Entreculturas tem acompanhado essa evolução? O nosso trabalho tem procurado acom-panhar essa evolução. O ACIDI propor-cionou a oportunidade e o desafio de alargamento do trabalho de uma equipa que vinha em parte do Ministério da Educação, mas que foi agregando novos elementos com experiências e contribu-

tos diversificados. O trabalho alargou-se a outras realidades: instituições de saúde, outros serviços públicos, municípios, o apoio a projectos que introduzem a abordagem intercultural na intervenção comunitária, por exemplo, nos processos de realojamento, de desenvolvimento local... Não se pode aqui deixar de falar dos portugueses ciganos, em Portugal há 500 anos, que continuam a ter na nossa sociedade um estatuto de minoria margi-nalizada, discriminada e com pouco aces-so aos serviços e aos recursos existentes. Do nosso ponto de vista, a perspectiva intercultural, ou a formação para a in-terculturalidade, envolve dois aspectos fundamentais. Um diz respeito à convi-vência intercultural, ou seja, ao processo de comunicação, de entendimento e de interacção positiva entre pessoas das mais diversas origens e culturas. O outro tem

há um esFOrçO A FAzer NO trAbAlhO COm As

INstItuIções DA sOCIeDADe De ACOlhImeNtO. O

eNtreCulturAs ACtuA A esse Nível.

interculturalidadeuma realidade em portugal?

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B_i 6ACIDI REVISTA Nº 83 AGOSTO 2010

e N t r e v I s t A

a ver com a igualdade de oportunida-des, com o acesso de todos aos recursos: à educação, ao emprego, à habitação, etc., o direito de todos a um lugar. Nesta perspectiva, é preciso distinguir entre a origem étnico-cultural e as situações de precariedade sócio-económica e, muitas vezes, de exclusão social em que muitos grupos de origem imigrante ou de grupos minoritários se encontram. Não se trata apenas de procurar contribuir para uma interacção mais harmoniosa e positiva entre diferentes grupos e diferentes for-mas de estar, mas também de acentuar a importância das oportunidades de vida, da participação de todos numa sociedade democrática. O ACIDI, desde sempre, teve a preocupação de sensibilizar a opi-nião pública para as questões levantadas pela imigração, pela diferença. A criação do Observatório da Imigração é, obvia-mente, uma aposta nesse sentido, assim como a criação do programa de televisão NÓS, a divulgação da acção do ACIDI em vários suportes, a relação com os media, são vertentes do trabalho de es-clarecimento e sensibilização da opinião pública. O investimento na promoção do diálo-go intercultural visa também questionar algumas ideias feitas, imagens estereoti-padas e preconceitos que temos. A nossa identidade não é imutável, todos somos hoje diferentes daquilo que éramos há dez anos atrás. Ao longo da vida, a nossa identidade e a nossa cultura vão-se

alterando porque interagimos, porque a sociedade está a mudar, porque aprende-mos com os outros. Vale a pena insistir nesta questão porque frequentemente tendemos a fechar as pessoas em imagens rígidas, que só reforçam os riscos de intolerância. E as pessoas são muito mais do que aquilo que a comunicação social possa ter difundido acerca delas ou da sua comunidade. E que aquilo que somos é também, em grande parte, a forma como os outros nos vêem.

A formação é uma grande aposta do Entreculturas... A aposta na formação tem sido um grande investimento do ACIDI e do Entreculturas. Desenvolvemos, a este nível, acções dirigidas a públicos mais específicos e outras a um âmbito mais alargado de destinatários. Estas acções mais alargadas, que são essencialmente acções de sensibilização e de informa-ção, destinam-se a dar a conhecer, por um lado, o que é o ACIDI, os recursos existentes e, por outro lado, a sensibilizar para a riqueza da diversidade - diversida-de cultural, de línguas, de religiões... O ponto de partida é que a diversidade é um ganho e um recurso que nos permite alargar horizontes. O ACIDI criou, em 2006, uma bolsa de formadores, actual-mente com 36 pessoas, distribuídas pelas várias regiões do país e que respondem aos pedidos das instituições através de acções de curta duração (com módulos de três, quatro e seis horas). Esta bolsa tem vindo a alargar a sua acção e a diver-sificar a oferta formativa, que engloba um módulo sobre mitos e factos em relação à imigração, módulos para o diá-logo intercultural, aprendizagem inter-cultural a partir de histórias... Estamos actualmente num processo de desenvol-vimento de novas temáticas, integrando uma sensibilização para o diálogo com as diferentes religiões, um outro módulo sobre diálogo intercultural e comunida-

des ciganas, bem como os materiais de suporte. A matriz é o diálogo intercultu-ral, o tronco comum em que tudo passa pela criação de ambientes que promovem a convivência em moldes positivos.

A mediação intercultural tem sido uma das vertentes da formação... Um dos módulos em preparação tem a ver com a mediação intercultural, área em que o ACIDI tem estado a desenvol-ver um projecto de formação de agentes de mediação intercultural, com orien-tação do Professor Carlos Giménez, da Universidade Autónoma de Madrid. É uma parceria que envolve várias insti-tuições – hospitais, centros de saúde, associações locais, autarquias, etc. – que sentem necessidade de ter a colaboração de mediadores na sua intervenção junto das comunidades. O compromisso é con-tribuir para a definição de perfil destes agentes e a construção de um referencial de formação. A ideia é formar agentes de mediação intercultural e também que todos nós – profissionais, pais, cidadãos – possamos desenvolver competências de mediação, para uma cidadania mais responsável.

O trabalho do Entreculturas é um tra-balho de prevenção? Os desafios que a presença dos imigran-tes em Portugal lançam às instituições e às pessoas no sentido de melhorar as suas respostas são importantes para todos os cidadãos, porque uma sociedade que responde bem às necessidades de todos os que nela vivem é certamente um sociedade melhor e todos ganhamos com isso. Quando falamos de prevenção, fala-mos neste sentido de contribuir para a coesão social, para a equidade, para criar oportunidades para todos, num processo de co-responsabilização e de capacitação de todos os envolvidos: as instituições, os profissionais e os utentes.

A ACçãO DO

eNtreCulturAs tem em

vIstA A seNsIbIlIzAçãO

e A FOrmAçãO pArA um

melhOr ACOlhImeNtO

DOs ImIGrANtes,

melhOr CONvIvêNCIA NA

DIversIDADe.

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o entreculturas na internet

O Entreculturas está presente na

Internet em www.entreculturas.pt

Trata-se essencialmente de

um site de formação e reflexão

destinado a professores, técnicos ou

investigadores, onde se apresenta a

perspectiva de formação intercultural

do Entreculturas e se dão a conhecer

as diferentes áreas de intervenção do

DAADI.

Por seu lado, o www.entrekulturas.pt

é o site de Internet do Entreculturas

Jovem, pretendendo ser uma

plataforma de diálogo onde os jovens

dos 12 aos 18 anos podem encontrar

informação, comunicar uns com os

outros, encontrar jogos e actividades

que os fazem reflectir e experimentar

a vivência da interculturalidade.

Mais informações: www.acidi.gov.ptwww.entreculturas.ptwww.entrekulturas.pt

interculturalidadeuma realidade em portugal?

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B_i 8ACIDI REVISTA Nº 83 AGOSTO 2010

e N t r e v I s t A

Este foi um trabalho iniciado ainda no tempo em que a equipa do Entreculturas se integrava no Ministério da Educação, com os

módulos de introdução à formação inter-cultural e o módulo de formação sobre a cooperação entre a família e a escola. O trabalho foi depois continuado no ACIDI, com o módulo sobre a colabora-ção na escola, intitulado “Aprendizagem e Cooperação”, ou o módulo “Aprender com a Diversidade”, elaborado a partir dos principais resultados e propostas de intervenção de um projecto de educação inclusiva do Ministério da Educação. Foram também sendo desenvolvidos novos campos de acção, por exem-plo, com a brochura “Aprender com as Histórias”, uma das áreas de formação que faz parte da oferta da Bolsa de Formadores e consiste na exploração de histórias como um recurso de sensibiliza-ção das pessoas que permita desenvolver as abordagens interculturais, que inclui também um conjunto de pequenas ideias e sugestões para quem trabalha no aten-dimento em serviços públicos, ideias essas que promovem a tolerância e a interculturalidade. Existe ainda a publicação “Imigração: Os mitos e os factos”, que apoia este módulo de formação, e um conjunto de DVD e guias pedagógicos designado “Percursos em Nós”. Neste caso, a ideia foi utilizar pequenos sketches do Programa Nós que

publicações entreculturas um apoio à formação

apontam boas práticas e dificuldades no processo de integração dos imigrantes em Portugal, destacando os casos bem sucedidos e os desafios que se levantam e procurando, a partir daí, construir um modelo de abordagem e de trabalho com pistas exploratórias para o trabalho na sala de aula. Foi também preparado um módulo sobre o Ensino do Português como Língua do País de Acolhimento porque a aprendi-zagem da língua é um instrumento fun-damental de integração e é preciso que os professores tenham instrumentos que lhes permitam ensinar português como uma língua que não é a materna. Finalmente, foi desenvolvida uma linha de cadernos de apoio à formação, cuja edição mais recente é um caderno de mediação intercultural da autoria do professor Carlos Giménez e que preten-de difundir, junto das instituições e do público, os objectivos e as estratégias da mediação intercultural. Uma parte dos materiais do Entreculturas pode ser distribuída em sessões e em grandes encontros. Existe uma outra parte que apenas é distribuída em con-textos de formação, porque só aí eles fazem sentido. Como regra geral, os materiais não são distribuídos fora de um contexto em que haja possibilidade de debate e de esclarecimento sobre as questões do diálogo intercultural.

as publicações do entreculturas Foram, desde o iníci,o elaboradas com o objectivo de servirem de suporte

à Formação e às acções nas escolas e nos serviços, pois para introduzir e desenvolver uma abordagem

intercultural são necessários materiais que espelhem a diversidade e estimulem a construção de perspectivas

diFerentes.

interculturalidadeuma realidade em portugal?

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ii plano para a integração dos imigrantesdeFinir as prioridades

O Ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, pre-sidiu no dia 27 de Julho à reunião do Conselho

Consultivo para os Assuntos da Imigração (COCAI), durante a qual foi apresentada a proposta do Plano para a Integração dos Imigrantes (PII) para os anos de 2010-2013, bem como o rela-tório final de Execução do Plano para a Integração dos Imigrantes 2007-2009. Na sessão estiveram presentes a Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural e a Secretária de Estado da Administração Interna. O II Plano para a Integração dos Imigrantes assenta na avaliação do plano anterior e na identificação das neces-sidades de intervenção para o período 2010-2013, beneficiando do contributo de todos os ministérios e da participação da sociedade civil, em especial através das associações de imigrantes ou que traba-lhem com imigrantes. No final da reunião do COCAI, o Ministro da Presidência prestou declara-ções à comunicação social sobre o novo PII, referindo que este tem três marcas distintivas fundamentais. Em primeiro lugar, a valorização da promoção da diversidade e do diálogo intercultural. Esta é já uma área de pre-ocupação das políticas públicas levadas a cabo pelo ACIDI, mas na estrutura do novo plano aparece agora como uma área autónoma e um dos eixos do Plano. O Ministro sublinhou que, apesar do clima político e social favorável à integração de imigrantes na sociedade portuguesa, é preciso manter uma atenção permanente

à sensibilização da opinião pública para a riqueza da diversidade em Portugal. A segunda marca distintiva deste plano é a atenção ao tema do desemprego dos imigrantes. De acordo com Pedro Silva Pereira este é, porventura, o problema social mais preocupante que os imigran-tes na sociedade portuguesa enfrentam. O governante referiu que, em resultado da crise económica internacional, as taxas de desemprego subiram e afectaram de modo especial as comunidades imigran-tes, sobretudo porque as suas activida-des profissionais estão frequentemente ligadas a sectores expostos à crise. Por outro lado, acrescentou, muitas vezes as comunidades imigrantes apresentam um quadro de qualificações inferior à média, tendo mais dificuldade em disputar alter-nativas no mercado de emprego, para além de a precaridade laboral ser mais intensa nestas comunidades do que na sociedade em geral. Por estas razões, o novo PII dará uma atenção especial aos problemas específicos que os imigrantes enfrentam nesta área. A terceira área que o Ministro da Presidência classificou como uma marca distintiva deste Plano prende-se com a situação dos idosos imigrantes, cujo número é significativo, em resultado da permanência prolongada dos imigrantes em Portugal e sobretudo do movimen-to de reagrupamento familiar que se tem verificado na sociedade portuguesa. Assim, será dado uma especial importân-cia à divulgação junto dos imigrantes dos direitos sociais que estes têm e das respos-tas sociais a que podem ter acesso, quer as prestações sociais propriamente ditas, quer o apoio das instituições no terreno.

184 mIl estrANGeIrOs

em sItuAçãO reGulAr

Cerca de 184 mil imigrantes

foram regularizados em

Portugal nos últimos três

anos, pela aplicação da nova

lei de estrangeiros, em vigor

desde Agosto de 2007, anunciou nesta ocasião

a Secretária de Estado da Administração

Interna. Segundo Dalila Araújo, foram

regularizados 50 mil imigrantes que tinham

situação laboral estável e 57 mil no âmbito

do reagrupamento familiar, tendo sido

ainda atribuídos mais 77 mil estatutos de

nacionalidade portuguesa. Para a secretária

de Estado, a nova lei significou uma mudança

de paradigma da imigração, através de uma

política humanista que facilita e incentiva a

regularização.

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B_i 10ACIDI REVISTA Nº 83 AGOSTO 2010

Veio a Portugal participar numa con-ferência. Quais foram os temas que abordou? Participei numa conferência sobre inter-culturalidade e mediação e a ligação, por um lado, entre a interculturalida-de enquanto perspectiva socio-política e ética sobre a diversidade intercultu-ral, abordando a questão de como se pode gerir a diversidade cultural de uma forma positiva. Por outro lado, abordei a mediação como um instrumento e uma filosofia necessárias para criar essa interculturalidade. Estes foram os temas essenciais da conferência.

Quais têm sido as suas funções como consultor do projecto de mediação in-tercultural do ACIDI? Enquanto consultor participei, em pri-meiro lugar, na concepção do projecto com o ACIDI. Em segundo lugar, tive

“em portugal, a questão da presença de minoriasé já muito estrutural”

a função de trazer um enquadramento teórico e metodológico e também a tarefa de supervisionar o trabalho da equipa com a colaboração de Daniel Zaidam. Assim, tive as funções de fundamentação conceptual, de formação e, finalmente, de elaboração de uma série de documen-tos, dos quais o mais importante é um documento de sistematização que está em fase de finalização.

Em 2008 participou em Portugal num seminário sobre estes temas. Quais têm sido desde então as principais evolu-ções no nosso país? Não conheço bem toda a evolução dos te-mas que têm a ver com a gestão da diver-sidade em Portugal. Mas penso que o es-forço do ACIDI se reflecte de uma forma muito positiva na evolução de uma po-sição mais multiculturalista e de respeito pela diversidade, que é muito importante

para uma atitude mais interculturalista, colocando a tónica na interacção entre as diferentes culturas. Julgo que a evolução recente está nesta linha.

Em que consiste o Caderno de Forma-ção “Interculturalidade e Mediação”? O Caderno de Formação é a tradução de alguns trabalhos que eu tinha escrito em castelhano e que haviam já sido publica-dos em outras línguas, como o italiano. O Caderno tem dois ensaios da minha autoria. Um deles é um relato, uma narrativa, do que tenho realizado nesta área do interculturalismo desde o ano de 1994 até à actualidade, abrangendo 15 ou 16 anos de trabalho sobre diver-sidade cultural. A segunda parte é uma aplicação prática desse enfoque a cinco áreas: a área das políticas públicas, a área da mediação, a área da educação cívica e outras. Estou com muita expectativa

carlos giménez, especialista em mediação intercultural da universidade

autónoma de madrid, é o consultor cientíFico do acidi para o projecto

de mediação intercultural no atendimento em serviços públicos.

presente em lisboa no âmbito do projecto, aborda nesta entrevista as

questões das estratégias de mediação intercultural e da Formação de

mediadores.

c a r l o s g i m é n e z

e N t r e v I s t A

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para ver as reacções que este documento suscita em Portugal porque é uma espé-cie de compêndio do meu trabalho nos últimos anos.

Existem muitas diferenças entre Espa-nha e Portugal nas circunstâncias da mediação intercultural? Sim. Cada país deve aplicar o seu próprio esquema, a sua própria estratégia, apesar de haver muitos pontos em comum. Talvez a diferença mais relevante é que Portugal tem uma história de imigração mais antiga. Em Portugal, a questão da raça e da presença de minorias negras africanas é já muito estrutural e o povo português já está habituado a esse tema. Em Espanha, a novidade é maior. Há outra diferença importante: não temos um pacto de imigração como há em Portugal, de os políticos não utilizarem os temas da imigração de forma eleitora-

lista. Espanha recebeu imigração de mui-tas partes do mundo e as origens dos imi-grantes são mais variadas. Os imigrantes em Portugal vêm também de muitas origens mas sobretudo das ex-colónias. Há muitas diferenças que determinam a forma como se deve abordar o tema. Essas diferentes realidades implicam algumas diferenças na formação dos mediadores? Implicam sim, apesar de haver um blo-co comum. Claramente, os mediadores devem ser formados em mediação, em interculturalidade, etc. Mas a tónica do caso português está muito relacionada com a forma como se normaliza o acesso das populações imigrantes às instituições públicas e à informação sobre estas. Em Espanha, existe outro tipo de questões, como por exemplo a forma de gerir os conflitos que se sentem em alguns bair-ros, e outros. São realidades diferentes e há que abordar isso no âmbito da forma-ção. Há que estabelecer, de alguma for-ma, alguns pressupostos de formação em aspectos de diversidade cultural que em Espanha já se terão desenvolvido mais em determinados cursos e pós-graduações.

No resto da Europa existem outros modelos em relação aos quais devemos estar atentos? Sim, devemos estar muito atentos à rea-lidade italiana da mediação linguística e cultural, que dá muita importância aos temas da comunicação, da língua, dos mal-entendidos. Também é muito interessante, em Itália, o modelo da etno-psiquiatria e o papel da mediação na saúde mental. No caso inglês, e dos países sob essa influência, têm muito interesse algumas características dos link workers

ou “trabalhadores de ligação”. É uma rea-lidade distinta da dos mediadores, mas há algumas características interessantes, especialmente o facto de cada comuni-dade imigrante ter o seu próprio link worker com os serviços públicos. Julgo que, sobretudo da experiência belga, interessa muito uma concepção da incor-poração da mediação na saúde mental, como em Itália, mas também muito na área da mediação escolar e educativa a nível comunitário. Há experiências muito boas e muito diversas mas ainda não há suficiente insistência nas questões da mediação.

Vai continuar a trabalhar em Portugal? Gostaria de continuar. Aprendi muito em Portugal e a equipa é muito boa.

a tónica do caso

português está

muito relacionada

com a Forma como

se normaliza

o acesso das

populações

imigrantes às

instituições

públicas e à

inFormação sobre

estas.

interculturalidadeuma realidade em portugal?

o caderno de

Formação é a

tradução de alguns

trabalhos que

eu tinha escrito

em castelhano,

uma espécie de

compêndio do que

Fiz nos últimos

anos.

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B_i 12ACIDI REVISTA Nº 83 AGOSTO 2010

i n ê s d ’ o r e y

é no encontro com o outro que eu me encontro. durante muito tempo isto Foi moral, hoje é ciência.

(joaquim coelho rosa)

a globalização da economia, a emigração

generalizada, os progressos técnico-cientíFicos,

a expansão dos meios de comunicação social e a

abertura das Fronteiras pela associação dos países

em grandes espaços territoriais, são características

do mundo actual, com a consequente alteração dos

quadros de reFerência e composição demográFica de

nações que, antes maioritariamente monoculturais,

são agora multiculturais.

A escola em Portugal reflecte esta diversidade, com 83.372 alunos inscritos no ano lectivo de 2002/2003 de mais de 16 nacionalidades diferen-tes, o que implica proceder a uma profunda reflexão

sobre a adequação das suas estruturas e pressupostos de base, tanto no que diz respeito ao papel dos professores, como às relações entre professores e alunos, à formatação do currículo e estratégias pedagógicas e, ainda, na relação que estabelece com a família e a comunidade. Os avanços técnicos – científicos actuais mudaram os pressupostos em que se baseava o conhecimento. De um conjunto de sabe-res organizado, definitivo, essencial e inquestionável tornou-se aberto à mudança, flexível, em construção e provisório. De um

e N t r e v I s t A

encontros e desencontros na educação multi / intercultural

O p I N I ã O

proFessora da escola superior

de educação maria ulrich

pensamento convergente, disciplinar e especializado passou-se a uma forma de pensar divergente e interdisciplinar. Da subalter-nização dos saberes empíricos face às certezas teóricas, passou-se a relacionar a teoria com a prática. De uma ciência baseada em relações lineares de causa-efeito e firmada em certezas, passou-se a um conhecimento que assume a complexidade e a incerteza como pressupostos.As mudanças verificam-se igualmente ao nível institucional e, de uma escola de elites, passou-se para uma escola de massas; a escola antes meritocrática é, agora, democrática; de monocul-tural e selectiva, a escola tornou-se multicultural e, como tal, enfrenta o desafio da inclusão das diferenças; de uma escola das certezas passou-se para uma escola da dúvida, do questio-

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namento e da investigação; a concepção dum ensino fundado na transmissão do conhecimento tem, agora, a partilha e a co-construção do conhecimento como estratégia pedagógica; de uma escola dogmática com o exclusivo do saber, tem de tornar-se uma escola flexível, aberta, reflexiva e emancipatória, reco-lhendo e integrando os saberes de todos os que a frequentam.A população escolar, de homogénea passou a heterogénea, introduzindo na escola culturas diversas que podem, agora, ser diferentes ou mesmo contrárias à cultura escolar tradicional, na linguagem, valores, regras e hábitos. Os alunos, que antes chegavam à escola já com as competências sócio-cognitivas preparatórias para as aprendizagens, chegam, actualmente, com diferentes formas de ler o mundo e de se relacionar com os outros. A autoridade e o estatuto do professor, antes inques-tionável é, agora, contestada e avaliada por alunos, famílias e sociedade em geral.Esta mudança estrutural impõe uma profunda remodelação da escola e é neste cenário que surge, como resposta, a educação multi/intercultural, cujo objectivo é a inclusão de todos os alunos, tomando a diversidade como um valioso contributo para a mudança de atitudes e sentimentos, para a redução de preconceitos, para a alteração dos conteúdos curriculares e das normas e valores da comunidade escolar tradicional, dinamizando uma relação mais estreita e eficaz entre a escola, as famílias e a comunidade envolvente. O preconceito define-se como uma representação negativa genera-lizada a todos os indivíduos de grupos sociais minoritários e consti-tui o principal obstáculo a uma educação multi/intercultural. São grupos minoritários todos os que são socialmente desprestigiados, com a consequente falta de poder para se fazerem respeitar. O preconceito está na origem da discriminação social destes grupos e, consequentemente, é causa da sua exclusão, insucesso e abandono precoce da escola. Na educação multi/intercultural toda a cultura escolar, nome-adamente o currículo, reflecte e integra elementos das culturas dos vários grupos presentes na escola, para que todos se sin-tam reconhecidos e reconheçam a escola como seu grupo de pertença.

O objectivo de toda a educação é contribuir para a socializa-ção e desenvolvimento das capacidades individuais de cada aluno. Por isso, toda a intervenção pedagógica deve colocar a pessoa numa posição em que possa lidar, com sucesso, com as exigências das situações em que se encontra e organizar o meio envolvente, de forma a estimular e ser suporte do desen-volvimento das suas potencialidades. Deste modo, a educação multi/intercultural cria as condições necessárias para reforçar a auto-confiança e a auto-estima de cada criança, para que a interacção desta com os seus pares e com os adultos na escola seja de molde a favorecer a sua autonomia para participar activamente no seu meio. Isto só é possível se o ambiente e as atitudes da população escolar, adultos e crianças, forem inclu-sivas, e a diversidade seja considerada uma mais-valia para o desenvolvimento da própria escola, e não um corpo estranho e um factor negativo.É habitual, quando se fala de educação multi/intercultural, ou de escola inclusiva, associá-la aos emigrantes, às crianças portadoras de deficiência ou a casos em que a diferença é visí-vel. No entanto, a educação ou é multi/intercultural ou não é educação, pois a igualdade é uma ilusão e ensinar todos como se fossem um só é, desde logo, retirar oportunidade de suces-so àqueles que, por razões individuais, familiares ou sociais, tenham um capital cultural e uma forma de apropriação do conhecimento diferente do praticado na escola. Considerar que todos aprendem da mesma forma, ao mesmo tempo, a mesma coisa, com o mesmo interesse, é uma aberração peda-gógica. À escola, para não fazer uma contra educação, cabe adoptar uma orientação multi/intercultural, praticando a diferenciação pedagógica no seu currículo e práticas.

NA eDuCAçãO multI/INterCulturAl

tODA A CulturA esCOlAr,

NOmeADAmeNte O CurríCulO,

reFleCte e INteGrA elemeNtOs

DAs CulturAs DOs várIOs GrupOs

preseNtes NA esCOlA.

interculturalidadeuma realidade em portugal?

De mONOCulturAl e seleCtIvA, A

esCOlA tOrNOu-se multICulturAl

e, COmO tAl, eNFreNtA O DesAFIO DA

INClusãO DAs DIFereNçAs.

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B_i 14ACIDI REVISTA Nº 83 AGOSTO 2010

Neste destino, que começou por ser desconheci-do, esperava-os uma semana cheia de missões e desafios que foram desvendando em cada dia e que ao longo dos dias os ajudaram a descobrir

que colaborar pode ser mais eficaz do que competir. E que há coisas, como a amizade, que quando se partilham aumentam em vez de diminuir. Os participantes na viagem foram escolhidos em cada comu-nidade por se terem destacado nos resultados escolares, parti-

cipação e envolvimento cívico ao longo do ano lectivo. Para a maioria, esta foi uma oportunidade única de passar férias fora de casa e da família, num contexto de aventura e diversidade cultural e étnica. O grupo foi recebido na Câmara Municipal do Funchal, uma das entidades que tornou possível a iniciativa, e ficou alojado no quartel do Regimento 3 da cidade, onde ficaram também instalados os 50 monitores voluntários e vários animadores que guiaram os jovens nas suas muitas missões: a descoberta

mais de cem jovens com idades compreendidas entre

os 13 e os 16 anos, representando projectos escolhas

de todo o país, embarcaram no dia 11 de julho em

portimão rumo ao Funchal.

Jovens embaixadores do programa levam diversidade e cooperação à ilha da madeira

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escolhas

do Funchal, a construção de jangadas numa praia de areia vulcânica, um jantar de gala em trajes ecológicos, muitos jogos e actividades radicais como o slide - que foi uma estreia para a maioria - ou ainda um dia de serviço comunitário em que se plantaram árvores e pintaram espaços, noutros bairros de jovens como eles, junto de quem quiseram deixar uma marca positiva da sua presença na ilha. Entre os participantes, cerca de 40% provinham de famílias portuguesas e a maioria era descendente de imigrantes de diversos países, representando culturas, etnias, realidades

sociais diferentes e que tornaram esta viagem também numa festa intercultural. No final, “balanço mais do que positi-vo”. De acordo com Pedro Calado, Director Executivo do Programa Escolhas, “foram alcançados todos os objectivos a que a organização se propôs e houve ainda um forte impacto deixado pelo grupo nos lugares por onde passou, quer pela postura construtiva e disciplinada de todos, quer pela alegria e animação que não deixou de chamar a atenção de quem com eles se cruzou”.

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Entidades Projectos N.º Activ. CLAII/ConcelhoCentro Social e Paroquial da Vera Cruz “Aveiro+ Intercool” 4 AveiroComoiprel – Ciprl e Câmara Municipal de Moura “Cidade do Sol” 6 MouraCâmara Municipal de Loures “Mostra de Emprego e Formação Profissional” 5 Loures

Cruz Vermelha Portuguesa – Delegação de Vila Real de Stº António

“Viver Aqui” 8 Vila Real de Santo António

Socialis – Associação de Solidariedade Social “Raízes” 2 MaiaCâmara Municipal de Santarém “ICI – Informar, Conviver e Integrar” 7 SantarémJRS – Serviço dos Jesuítas aos Refugiados “ASI – Agir, Sensibilizar e Integrar” 3 Lisboa - CharnecaConfraria Nossa Senhora da Nazaré “(In)formar para a Diversidade” 4 NazaréCâmara Municipal de Sesimbra 10 Sesimbra

Câmara Municipal de São Brás de Alportel e Associação in Loco

“Rostos e Gestos para a Inclusão” 1 São Brás de Alportel

Câmara Municipal do Seixal Interculturalidade, Cidadania e Desenvolvimento” 3 SeixalCâmara Municipal de Alenquer “Alenquer Acolhe” 6 AlenquerCâmara Municipal de Macedo de Cavaleiros “[email protected]” 9 Macedo de CavaleirosCâmara Municipal do Montijo “Pla Diversidade” 4 MontijoCâmara Municipal de Oeiras “Aqui entre Nós” 6 OeirasAssociação Amigrante “IMteGrante” 5 LeiriaCâmara Municipal deValongo “Valorizar a Diferença” 5 ValongoAIPA – Associação dos Imigrantes nos Açores “MigrAçores” 7 Ponta DelgadaCâmara Municipal de Cascais “Entre Nós” 2 CascaisAssociação Olho Vivo “Sintra quer mais Interculturalidade” 9 SintraCáritas Diocesana de Portalegre e Castelo Branco

“Portalegre entre Culturas” 6 Portalegre

Centro Social Paroquial N. Sra. da Conceição “Em busca da Multiculturalidade” 7 Almada

Cáritas Diocesana da Guarda“Contigo…na Escola, no Trabalho e na Comunidade”

3 Guarda

Grupo de Instrução e Sport “Multicores” 6 Figueira da Foz

“Mini-Olimpíadas” – projecto de impacto nacional que envolveu 250 jovens de 14 nacionalidades (incluindo a portuguesa), em representação de 15 municípios, num programa de 4 dias, com o objectivo de promover os valores da solidariedade, paz, tolerância e inclusão, construindo assim, através do desporto, o ideal de um mundo mais unido, sob o lema: Mais Diversidade Melhor Humanidade.

B_i 16ACIDI REVISTA Nº 83 AGOSTO 2010

desenvolver projectos municipais para o diálogo intercultural autarquias e entidades da sociedade civil de mãos dadas com a interculturalidade

claii

mais de uma centena de actividades realizadas em todas as regiões do continente e açores envolveram 18.037

cidadãos, imigrantes e autóctones, 5.266 entidades e 392 técnicos, provando assim que a riqueza da diversidade

reside precisamente nas diFerenças e especiFicidades de cada um de nós.

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17

Brochura resultante do Projecto

“Cidade do Sol”, do CLAII de Moura

Brochura resultante do Projecto

“ICI – Informar, Conviver e Integrar”, do CLAII de

Santarém

Partindo da premissa de que a integração se faz ao nível local, a realização de “Projectos Municipais para a Promoção

da Interculturalidade” é uma iniciati-va que nasceu em Janeiro de 2009, financiada pelo Fundo Europeu para a Integração de Nacionais de Países Terceiros (FEINPT), com o propósito de conferir aos Centros Locais de Apoio à

Integração de Imigrantes (CLAII) recur-sos que lhes permitam, mais do que acolher e informar, desenvolver também actividades facilitadoras de uma integra-ção efectiva dos imigrantes na sociedade portuguesa.

Todos os projectos incluíram, obrigatoriamente, actividades nos domínios da Educação e do Mercado de Trabalho, enquanto áreas estruturantes dos processos de integração. Na área da Educação, as 54 actividades desenvolvidas envolveram 223 escolas do país que, juntamente com alunos, famílias e comunidade educativa, dinamizaram actividades de divulgação das línguas e costumes das comunidades imigrantes, introduzindo a dimensão da interculturalidade através da leitura, da expressão dramática e da produção oral de contos, bem como concursos e exposições itinerantes.

Publicação resultante da recolha de contos do

Projecto

“ICI – Informar, Conviver e Integrar”, do CLAII de

Santarém

educação e mercado de trabalho Foram área chave da integração

Publicação resultante da recolha de contos do

Projecto “Cidade do Sol”, do CLAII de Moura

Na área do Mercado de Trabalho, onde tiveram lugar 42 actividades envolvendo 3.742 entidades empregadoras, verificou-se uma aposta muito significativa ao nível da sensibilização, através da realização de feiras de emprego, sessões de sensibilização (340 nesta e outras áreas) com empresários/associações empresariais e ainda através da realização de acções de formação (31, nomeadamente na área do Empreendedorismo), bem como da identificação de Boas Práticas nesta mesma área. Foram também concebidos materiais de apelo à não discriminação no mercado de trabalho, realçando os direitos e deveres dos imigrantes.

Para este fim, os 24 projectos da I Edição que terminou em Março deste ano (10 de autarquias, 14 da sociedade civil) foram desenvolvidos em contexto de parceria, num total de 139 parceiros formais, asso-ciando a capacidade de consolidação do poder local à capacidade de mobilização da sociedade civil, reunindo assim esfor-ços e valências em torno de projectos comuns.

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B_i 18ACIDI REVISTA Nº 83 AGOSTO 2010

DVD com 6 filmes sobre temáticas ligadas à

imigração, resultante do Projecto “Rostos e Gestos

para a Inclusão” do CLAII de São Brás de Alportel

Publicação resultante da recolha de usos e costumes

do Projecto “ICI – Informar, Conviver e Integrar” do

CLAII de Santarém

Estes são alguns dos resultados preliminares da I Edição da “Promoção da Interculturalidade a nível Municipal”. Com eles pretende-se beneficiar toda a Rede CLAII mas também todas as organizações que dentro e fora da rede trabalham em prol dos imigrantes. No último trimestre de 2010 serão divulgados publicamente os resultados da avaliação em curso. Entretanto, para saber mais sobre estes e outros produtos basta enviar um e-mail para: [email protected]

Quanto à II Edição, para o período de 2010-2011, está já em curso!

claiiE porque as comunidades imigrantes se caracterizam também pelo seu forte grau de mobilidade, foram desenvolvidas 13 actividades destinadas ao Acolhimento Inicial de Imigrantes através da concepção de kits de boas vindas, materiais informativos (9.034), visitas (122) e guias (4) sobre os municípios, traduzidos em várias línguas.

Brochura resultante do Projecto “(In)formar para a

Diversidade”, do CLAII da Nazaré

Guia de Apoio ao Imigrante resultante do Projecto

“Alenquer Acolhe”, do CLAII de Alenquer

SENSIBILIzAR A OPINIãO PúBLICA E PROMOVER A PARTICIPAçãO ACTIVA DOS IMIGRANTES A NíVEL LOCAL

De destacar ainda as 73 actividades realizadas nos domínios da Sensibilização da Opinião Pública e da Participação na Vida Local, comprometendo tanto os imigrantes como a sociedade de acolhimento, ao nível da desconstrução de preconceitos e estereótipos e da valorização da diversidade cultural

através da realização de programas de rádio (4 programas com várias emissões), filmes (6), feiras e mostras culturais (61), divulgação de histórias de vida de imigrantes (5 colectâneas), criação de uma bolsa de “Contadores de Histórias do Mundo” (Aveiro), um “Grupo de Danças do Mundo” (Aveiro), fundação de Associações de Imigrantes (de que foi exemplo o concelho de Macedo de Cavaleiros) e da celebração de iniciativas como o “Dia Municipal do Diálogo Intercultural” (136) o que, no caso do projecto “Aveiro+Intercool”, conduziu mesmo à institucionalização do Dia do Imigrante por parte da Câmara Municipal.

Cartaz resultante do Projecto

“Viver Aqui”, do CLAII de Vila Real de Santo António

Publicação resultante da recolha de histórias de vida

do Projecto “Cidade do Sol”, do CLAII de Moura

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19

breves

português para todos

DREN ENtREga cERtificaDos a aluNos EstRaNgEiRos No dia 10 de Julho as instalações da Direcção Regional de Educação do Norte

foram palco da cerimónia de entrega dos certificados aos 312 formandos que

concluíram o Curso de Formação “Português Para Todos”.

São cidadãos imigrantes com idades entre os 18 e os 65 anos, que estão a

trabalhar e a estudar em Portugal. Aproveitaram os cursos de formação do

programa “Português Para Todos” e, durante nove meses, entre Outubro de

2009 e Julho de 2010, desenvolveram competências no domínio da língua

portuguesa, que lhes permitiram uma melhor integração social e profissional

e que contribuem para o acesso à nacionalidade, à residência permanente ou

ao estatuto de residente de longa duração.

O Curso de Formação em Língua Portuguesa para Estrangeiros (nível A2

do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas), integrado no

programa Português Para Todos (PPT), foi organizado pela Direcção Regional

de Educação do Norte e decorreu em 19 escolas da região. O PPT é uma

iniciativa conjunta da Presidência do Conselho de Ministros, Ministério do

Trabalho e da Solidariedade e Ministério da Educação.

A cerimónia incluiu leituras de poesia, uma miscelânea de música dos países

de origem dos formandos e especialidades gastronómicas.

bélgica

coNfERêNcia aNual iMiscoE A rede de investigação IMISCOE promove nos dias 13 e 14 de Setembro a sua sétima conferência anual organizada em parceria com o Centre d’Études de l’Ethnicité

et des Migrations (CEDEM) da Universidade de Liège (Bélgica), onde decorre o evento. Esta conferência, a primeira desde que a IMISCOE se constituiu como rede

independente, estrutura-se em painéis, sessões plenárias e workshops temáticos. A primeira sessão plenária de 13 de Setembro, a decorrer após a abertura formal

do congresso, compete a John Mollenkopf, professor da City University of New York, e incidirá sobre a imigração nos Estados Unidos da América.

À entrega da primeira edição do prémio IMISCOE sucede-se o painel “New Migration as a Tool for the Redevelopment of Industrial Regions and Cities”, presidido

por Marco Martiniello (CEDEM), em que participarão Lucinda Fonseca (Centro de

Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa), Robert Kloosterman (Universidade de

Amesterdão, Holanda), Myriam Stoffen (da organização não governamental belga zinneke)

e Ricard zapata-Barrero (Universidade Pompeu-Fabra, Espanha).

A sessão plenária do dia 14 de Setembro tem por título “New Migrants in Southern

European Cities: Integration Difficulties and Social Conflict” e o orador será Enzo

Mingione, da Universidade de Milão-Bicocca (Itália). Para o resto do dia estão programadas

as sessões dos workshops temáticos, que abarcam um amplo leque das várias dimensões

da integração dos imigrantes e seus descendentes na Europa.

Mais informações: www.imiscoe2010.org

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B_i 20ACIDI REVISTA Nº 83 AGOSTO 2010

demetrios papademetriou

as boas pRáticas DE poRtugal Portugal é provavelmente o país europeu com melhores políticas de integração, defendeu no dia 14 de Julho o

presidente do Migration Policy Institute. Em entrevista à agência Lusa, Demetrios Papademetriou sublinhou que

muitos países europeus estão a olhar para o que faz o ACIDI em Portugal e estão a tentar aprender. Segundo este

especialista, os governos irão no futuro tentar apertar algumas regras mas procurando tornar a vida mais fácil

para os imigrantes que estão já instalados, para que quando a economia melhorar eles possam fazer parte da

solução.

O presidente do Migration Policy Institute lembrou que Portugal é um país de emigrantes e que talvez essa

realidade tenha facilitado a forma de lidar com os estrangeiros. Na sua opinião, Portugal é o país europeu mais

tranquilo no que toca à imigração.

Reconhecendo que em tempos de crise e de elevadas taxas de desemprego é mais difícil explicar aos nacionais

a presença de estrangeiros, Papademetriou defendeu que é preciso manter as portas abertas mas de forma

inteligente. É fundamental, referiu, resistir mandar os imigrantes embora e fechar as portas, sendo necessário, tal

como Portugal tem feito, investir em educação e em iniciativas de integração.

jorge malheiros

“uM MaR DE águas Mais calMas” EM MatéRia DE iMigRação O “mar de águas mais calmas” que se vive em Portugal em matéria de

imigração permite pensar em respostas estruturais de integração de

estrangeiros, defendeu no dia 20 de Julho Jorge Malheiros. Segundo este

investigador do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa,

que participou num debate em Ponta Delgada sobre “O Papel do Poder Local

na Integração dos Imigrantes”, com a redução do número de entradas de

imigrantes no país chegou também o momento de se fazer a articulação da

acção das várias entidades com intervenção nessa área.

Jorge Malheiros considerou que em todo o país se encontram boas práticas de

integração dos imigrantes nos diferentes domínios: na saúde, na educação, no

acesso ao mercado de trabalho, e sublinhou a importância da intervenção dos

municípios.

Para este especialista, ultrapassada a fase em que a chegada de grande

número de imigrantes tornava a resposta imediata fundamental, importa

agora melhorar as respostas na integração dos imigrantes. Na sua opinião, é

preciso, por exemplo, articular as iniciativas dos vários concelhos de maneira

a que as aprendizagens de cada um sirvam também para que os outros

também se apropriem delas e as repliquem.

Estão abertas as candidaturas ao Prémio Empreendedor Imigrante do

Ano, promovido anualmente, desde 2007, pela Plataforma Imigração. O

Prémio Empreendedor Imigrante do Ano, no valor de vinte mil euros, será

atribuído ao imigrante que, em 2009, tenha revelado maior capacidade

empreendedora e de responsabilidade social na sociedade portuguesa,

sendo simultaneamente um exemplo de integração proactiva e inovadora na

economia.

São destinatários do Concurso imigrantes que: tenham autorização de

residência em Portugal à data da candidatura; sejam residentes em Portugal

há mais de cinco anos a contar da data da candidatura; à data do início da

residência em Portugal não fossem cidadãos da União Europeia; detenham um

perfil que se enquadre nos objectivos do concurso.

As candidaturas encerram

a 30 de Setembro, sendo os

prémios entregues a 17 de

Dezembro, véspera do Dia

Internacional do Migrante,

numa cerimónia pública a

realizar na Fundação Calouste

Gulbenkian.

Mais informações: www.plataformaimigracao.org

plataForma imigração

pRéMio EMpREENDEDoR iMigRaNtE

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breves

programa escolhas

pRéMios DE DEsEMpENho EscolaR No dia 23 de Julho realizou-se a atribuição de Prémios de Desempenho Escolar

do Programa Escolhas. A Cerimónia decorreu no Pavilhão do Conhecimento,

em Lisboa, e contou com a presença do Ministro da Presidência, Pedro Silva

Pereira, da Ministra da Educação, Isabel Alçada, e da Alta Comissária para

a Imigração e Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse, que procederam à

atribuição de seis prémios. Esta iniciativa decorreu no âmbito de um concurso

lançado pelo Programa Escolhas que pretende premiar os jovens destinatários

pelo mérito do seu percurso escolar no ano lectivo 2009/2010.

Nesta iniciativa foram atribuídos dois prémios por cada ciclo de ensino (2.º,

3.º e secundário), designadamente um prémio de mérito escolar e um prémio

de progressão escolar. Os jovens premiados receberam um cheque no valor de

500 Euros para aquisição do material escolar necessário para o ano lectivo de

2010/2011.

O Prémio de Mérito Escolar foi dado a jovens que obtiveram as melhores

notas no ano lectivo 2009/2010, enquanto o Prémio de Progressão Escolar

distinguiu jovens que evidenciaram progressos escolares ao longo do

ano. Foram igualmente considerados a assiduidade na escola, o percurso

de reprovação em anos lectivos anteriores e a participação em projectos

financiado pelo Programa Escolhas.

madeira

Novo claii No fuNchal O ACIDI e a Secretaria Regional dos Recursos Humanos assinaram no dia 15 de Julho um Protocolo de Cooperação para a abertura de um Centro Local de Apoio à

Integração de Imigrantes (CLAII) na freguesia de Santa Luzia, Concelho de Funchal. Com a abertura deste pólo, a rede CLAII perfaz 87 Centros distribuídos por todo

o território nacional, incluindo Portugal continental e as regiões autónomas dos Açores e da Madeira.

A Cerimónia, que contou com a presença da Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse, e do Secretário Regional dos Recursos

Humanos, Brazão de Castro, teve lugar no Salão da Secretaria Regional dos

Recursos Humanos, no Funchal.

Rosário Farmhouse explicou que este é o resultado do trabalho que vem sendo

desenvolvido pelo Centro das Comunidades Madeirenses que, através deste

protocolo, fica ligado a uma rede nacional que permite aos imigrantes ter uma

informação fidedigna e rápida, para que a sua integração em Portugal seja

mais fácil. Por seu lado, Brazão de Castro sublinhou que o protocolo que prevê a

criação e desenvolvimento do CLAII na Madeira tem o objectivo de proporcionar

ao imigrante respostas ao nível do acolhimento, integração e resolução dos seus

problemas.

CLAII da Madeira

Parceiro Local: Secretaria Regional dos Recursos Humanos

Morada: Centro das Comunidades Madeirenses – Vila Passos

Rua Alferes Veiga Pestana n.º15 - 9054-505 Funchal

Horário: 2ª a 6ª: 9h00-17h30

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B_i 22ACIDI REVISTA Nº 83 AGOSTO 2010

imigrantes em portugal

apREsENtação DE livRo O livro “Imigrantes em Portugal - Economia, Pessoas, Qualificações e Territórios” da autoria de José Reis,

Tiago Santos Pereira, João Tolda e Nuno Serra foi apresentado em Junho. Nesta obra, publicada pela editora

Almedina, os autores – todos investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra –

exploram os recentes desenvolvimentos na sociedade portuguesa ao nível do trabalho e da imigração.

Os primeiros capítulos começam por analisar a estrutura económica portuguesa, em especial a importância

do factor trabalho, e examinam a diversidade dos perfis económicos das várias regiões do país. A partir deste

retrato económico são estudadas as transformações decorrentes da imigração, o impacto desta no mercado de

trabalho e a distribuição territorial da mão-de-obra imigrante. O livro aborda ainda a inclusão de Portugal no

sistema global de circulação de investigadores.

A apresentação da obra em Lisboa esteve a cargo de António Vitorino, professor convidado da Faculdade de

Direito da Universidade Nova de Lisboa e, em Coimbra, de Lucinda Fonseca, professora do Centro de Estudos

Geográficos da Universidade de Lisboa.

A informação sobre o livro encontra-se disponível em:

www.ces.uc.pt/cesalmedina

país, segundo o documento. E, entre os

imigrantes, os jovens são os mais atingidos

pelo desemprego. A OCDE mantém, no

entanto, que a longo prazo os imigrantes

continuam a ser decisivos para as economias

dos países membros, pelo que defende o apoio

dos governos aos que perderam o emprego,

em condições de igualdade com os naturais

do país.

Para ilustrar esta tendência, o relatório

afirma que sem um aumento das actuais

taxas de migração, a população em idade activa aumentará apenas 1,9% nos

próximos dez anos, contra os 8,6% registados entre 2000 e 2010. As actuais

dificuldades económicas não devem ser usadas como desculpa para restringir

demasiado a imigração, sublinhou no documento o secretário-geral da OCDE,

Angel Gurría.

relatório da ocde

cRisE fEz baixaR iMigRação A crise económica provocou uma redução na chegada de imigrantes aos países

da OCDE em 2008 e 2009, tendência que deverá inverter-se com a recuperação

económica e o aumento das necessidades de trabalho, indica um relatório

divulgado no dia 12 de Julho.

O documento especifica que o fluxo de imigrantes para os países da OCDE caiu

cerca de 6%, em 2008, para 4,4 milhões de pessoas, invertendo cinco anos de

aumentos anuais médios de 11%. Dados nacionais recentes sugerem que os

números da imigração caíram ainda mais em 2009, refere o relatório anual

sobre imigração da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento

Económico.

A organização, que considera a imigração como essencial para o crescimento

económico a longo prazo, atribui esta diminuição do número de imigrantes à

redução da oferta de trabalho nas economias desenvolvidas.

O desemprego entre os imigrantes homens, maioritariamente a trabalhar

em sectores muito atingidos pela recessão, como a construção, hotelaria

e restauração, é na generalidade mais elevado do que entre os naturais do

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breves

Festival todos

o MuNDo cabE No MaRtiM MoNizO ACIDI volta a ser parceiro do Festival TODOS – Caminhada de Culturas, cuja segunda edição decorre de 16 a 19 de Setembro no Largo do Martim Moniz, em

Lisboa. TODOS – Caminhada de Culturas é uma iniciativa que, nas suas diversas vertentes, apela ao convívio dos habitantes daquela zona da capital, a maioria

imigrantes. Mas sobretudo promove a divulgação dos hábitos e costumes dos países de origem daqueles que fizeram do Martim Moniz o local mais multicultural de

Lisboa, com um comércio próprio, sons, cheiros e sabores reunidos num espaço único em Portugal.

Além das mercearias e lojas com artigos dos países dos proprietários, que convidam os visitantes a entrar na

sua cultura, os quatro dias do evento serão uma verdadeira mostra de artes. Da escrita ao cinema, da dança

à fotografia ou à música, com concertos de fado, músicas dos Balcãs, sonoridades da China e do continente

africano. As ruas vão receber também o Teatro Popular, eternizado por William Shakespeare, e a energia do

Grupo Desportivo da Mouraria, enquanto que o Largo do Intendente será o palco de Circo Cigano.

Quatro dias, cinco continentes, um bairro de Lisboa.

O programa do evento encontra-se disponível em:

todoscaminhadadeculturas.blogspot.com

ii mundialinho da integração

aciDi paRcEiRo Do EvENtoO ACIDI esteve presente na abertura da segunda edição do Mundialinho da Integração, no dia 17 de Julho,

no Estádio Municipal da Alta de Lisboa.

O Mundialinho realizou-se nos três fins-de-semana entre 17 de Julho e 1 de Agosto. O ACIDI foi um dos

parceiros deste evento e a Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse,

deu o pontapé de saída juntamente com a equipa de apresentadores do Programa Nós, Pedro Cativelos e

Kadidja Monteiro, que conduziram a sessão de abertura. O

desporto e, neste caso, o futebol, pretendeu funcionar como

linguagem de ligação entre todos os participantes,

contribuindo para a integração das várias comunidades

imigrantes.

Este ano, participaram 16 equipas: Angola, Brasil, Nigéria,

Senegal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe,

Espanha, Alemanha, Reino Unido, Ucrânia, Roménia,

Moldávia, Marrocos, Moçambique e China. Os jogos

dividiram-se entre Lisboa e Sintra, mais precisamente no

Estádio do Lumiar, em Lisboa, e no Estádio 1º de Dezembro

de Sintra.

Tratou-se de um evento de responsabilidade social que

teve a honra de contar com o Presidente da República como

Presidente da Comissão de Honra. Esta iniciativa foi parceira

do Instituto de Segurança Social neste Ano Europeu de Luta

Contra a Pobreza e Exclusão Social.

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thE iNtERcultuRal DyNaMics of MulticultuRal WoRkiNg

Coordenação: Manuela Guilherme, Evelyne Glaser, María del Carmen Méndez-García Edição: Multilingual Matters (2010)

“The Intercultural Dynamics of Multicultural Working (Langua-ges for Intercultural Commu-nication and Education)” surge no âmbito de um projecto de investigação em que o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra foi um dos parceiros. O projecto teve a colaboração do Entreculturas e um dos artigos é de Isabel Ferreira Martins, até recentemente coordenado-ra deste organismo do ACIDI.

O livro propõe uma nova abordagem das competências de comunicação intercultural numa sociedade global. Os diversos autores abordam a mobilidade real e simbólica de povos, identidades e culturas. Cada capítulo examina a forma como indivíduos e equipas multiculturais trabalham no sentido de construir relações eficazes que realizem o po-tencial da diversidade.

B_i ACIDI REVISTA Nº 83 AGOSTO 2010

iNtERcultuRal aND MulticultuRal EDucatioN

Coordenadores: Carl A. Grant, Agostino Portera Edição: Routledge (2010)

Ao abordar a educação intercultu-ral e multicultural num contexto global, este livro reúne os prin-cipais debates sobre estes temas que estão a suceder um pouco por todo o mundo. Não se limitando a debater a teoria ou a prática isoladamente, esta colectânea de ensaios traz-nos um conjunto dialogante, juntando uma varie-dade de epistemologias, ideolo-gias, circunstâncias históricas, pedagogias, abordagens políticas, currículos e narrativas pessoais.

Os participantes neste debate levam o leitor a países, escolas e Organizações Não Governamentais onde existem projectos de educação intercultural e multicultural muito activos, e os conceitos e práticas são debatidos incessantemente no quotidiano da sociedade.

la NégociatioN iNtERcultuREllE

Autor: Manoëlla Wilbaut Edição: Dunod (2010)

A multiplicação e a aceleração de intercâmbios trazem o intercultural para o cerne das nossas actividades. No decurso desses intercâmbios, as diferenças de percepção e de perspectiva difi-cultam frequentemente a compreensão mútua. Em situações de negociação, as dificuldades são exacerbadas pelos elementos dos jogos de poder e de estatuto, gerando tensões. “La négociation interculturelle: Guide pour préparer, conduire et clore une négociation internationale”, com exemplos originários de mais de 25 países, propõe uma aproximação prática e inovadora. O livro responde, entre outras, às seguintes questões: Como preparar uma negociação? Como a condu-zir? Quer se seja iniciado nestes temas ou detentor de longa experiência, trata-se de uma ajuda decisiva para este tipo de situações.

lEs facEs cachéEs DE l’iNtERcultuREl

Autores: Gina Thésée, Nicole Carignan, Paul R. CarrEdição: L’Harmattan (2010)

“Les faces cachées de l’interculturel: De la rencontre des porteurs de cultures” é uma obra colectiva: cruza os olhares interculturais de investigado-res e actores sociais, académi-cos e especialistas, nomeada-mente em psicologia, sociologia, educação, pedagogia, filosofia, comunicação, ética, antropolo-gia e trabalho social. Estas aná-lises interdisciplinares levam os autores a propor reflexões críti-cas, reavaliação de ideias feitas

e perspectivas multidimensionais sobre as estratégias de comunicação ou de práticas educativas e pedagógicas. Os olhares cruzados incitam o leitor a questionar as novas configurações espaciais, temporais e simbólicas, a abrir a porta à exploração de novas relações e a sugerir fronteiras inéditas.

coMMuNicatioN iNtERcultuREllE

Autor: Reyniers Edição: De Boeck (2010)

No momento em que as relações entre os países e os povos do mundo não param de se desen-volver, a interculturalidade está na ordem do dia. Este manual propõe uma abordagem teórica à comunicação intercultural, esse conjunto de interacções no decurso das quais as culturas se constroem e comunicam. O discurso e a análise são assim centrados na cultura, entendida como um conjunto de relações

dinâmicas, e nos encontros interpessoais. O livro desen-volve algumas das principais perspectivas propostas sobre a comunicação entre culturas (comunicação e cultura, choque e conflito cultural, culturas e sub-culturas, alte-ridade e diferença, problemáticas do multiculturalismo, perspectivas analíticas, etc.). Uma atenção especial é dada aos contextos culturais e às percepções culturais no espaço e no tempo.

programa Nós

DoMiNgo, pElas 9:50, Na Rtp2

Agosto reserva temas bem interessantes no programa Nós. Falamos de desporto e do II Mundialinho da Integração. Vamos conhecer melhor a Comunidade Brasileira e aprofundar a temática das Migrações. Para os que gostam de dançar, reservamos uma emissão espe-cialmente dedicada às Danças do Mundo. Pedro Cativelos e Kadidja Pinto Monteiro convidam-no a juntar-se ao Nós e levam-no a saber mais sobre outras culturas, outros saberes e sabores através das suas reportagens e con-versas com entrevistados tão interessantes como Nuno

Delgado, Beatriz Quintella, a presidente da Operação Nariz Vermelho, Frei Francisco Sales Diniz e Petchu, um

conhecido coreógrafo angolano. Tempo ainda para saber mais sobre os jovens do Programa Escolhas e sobre a rede CLAII. Por tudo isto e muito mais fica o convite: Junte-se a Nós!

cultura

O ACIDI, I.P. prossegue atribuições da Presidência do Conselho de Ministros, regulado pelo D.L.

nº. 167/2007, de 3 Maio

ACIDI, I.P.

LISBOARua Álvaro Coutinho, nº 14-16 1150-025 Lisboa

Tel.: 218 106 100 Fax: 218 106 117LINHA SOS IMIGRANTE: 808 257 257 / 21 810 61 91

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www.acidi.gov.pt

B_iDirecção

Rosário FarmhouseAlta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural

Coordenação da ediçãoElisa Luis

RedacçãoJogo de Letras - João van zeller

[email protected]

DesignBuilding Factory

Jorge Vicente_Fernando [email protected]

Colaboraram nesta edição Ana Correia, Catarina Reis Oliveira, Filomena Cassis, Inês Rodrigues, Gabriela

Semedo, Inês Rodrigues, Luís Pascoal, Margarida Caseiro, Paula Moura, Susana Antunes, Tatiana Gomes

Fotografia de capaLUSA

ImpressãoOffsetmais, Artes Gráficas, S.A.

Tiragem6.000 exemplares

Depósito Legal11111111111111111111111111111111111111