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Artigo de Márcia Regina Selpa de Andrade
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AS INTERFACES DA ATUAO DO COORDENADOR PEDAGGICO: CONTRIBUIES AOS DOCENTES
ANDRADE*, Mrcia Regina Selpa de - FURB [email protected]
ANJOS**, Rozidete Domingues dos - FURB [email protected]
Resumo
O tema desta pesquisa aborda as interfaces do trabalho do coordenador pedaggico e as contribuies de seu fazer no cotidiano do professor no contexto escolar. Com o objetivo de caracterizar quais so as interfaces do Coordenador Pedaggico e de que modo elas contribuem para o trabalho do professor, esta pesquisa foi realizada em cinco maiores escolas da Rede Pblica Municipal de Ensino em Blumenau. A partir das entrevistas numa amostra de 40 pesquisados, destes 25 professores e 15 coordenadores pedaggicos, pde-se caracterizar pontos em comum e divergncias quanto a concepo do trabalho do coordenador pedaggico, quais so as suas atribuies, os tempos e espaos de interao, bem como os aspectos que dificultam e que facilitam a interao entre coordenador pedaggico e professores. Caracterizar as interfaces do trabalho do Coordenador Pedaggico com os demais atores da comunidade escolar foi um grande desafio por se tratar de uma pesquisa num campo ainda pouco explorado na literatura. Dessa forma, desvelou-se as dimenses do papel do Coordenador Pedaggico, sua evoluo histrica, a configurao das interaes que estabelecem no interior da Escola e a repercusso no trabalho pedaggico do professor e por sua vez na a melhoria do processo de ensino de aprendizagem. Pode-se conhecer a realidade da populao pesquisada e vislumbrar possibilidades de melhoria no mbito das inter-relaes existentes. Os resultados da pesquisa proporcionam uma reflexo aos Coordenadores Pedaggicos e professores sobre o papel de cada um na escola e sobre a importncia da qualidade nas trocas realizadas, bem como as possibilidades de criao de novos espaos e tempos de acordo com as necessidades e a realidade de cada grupo pesquisado. Desvela-se ainda nesta pesquisa que as interfaces do Coordenador Pedaggico p dem ser ressignificadas a partir de propostas de formao e trocas de experincias entre os profissionais destas escolas com objetivo de enriquecer seus saberes e suas prticas.
Palavras-chave: Coordenador Pedaggico; Professor; Interfaces.
As interfaces da atuao do coordenador pedaggico Ainda que o trabalho do coordenador pedaggico guarde especificidades, suas
atribuies fazem parte do todo que o coletivo da escola. Assim, o trabalho do coordenador
* Mestre em Educao / Professora e Assessora Pedaggica da FURB-Universidade Regional de Blumenau
** Acadmica do curso de Pedagogia da FURB
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pedaggico numa perspectiva de gesto democrtica e participativa da escola tem relao direta com o trabalho dos gestores e professores.
Uma vez que o coordenador pedaggico tem a funo precpua de ser um articulador entre todos os atores que compem a escola, cabe o entendimento de que ele atua num espao
de mediao e de interao entre todos. Portanto, o entrosamento fundamental para a busca de rumos coletivos que efetivamente coordenem o trabalho pedaggico pelo dilogo e
compartilhamento de decises. De acordo com Libneo (2003), nos sistemas tradicionais de administrao escolar os
gestores e coordenadores tinham atribuies bem definidas do ponto de vista funcional: cabia ao gestor todos os procedimentos relativos parte administrativa e de pessoal enquanto os
coordenadores e orientadores pedaggicos se ocupavam da parte pedaggica da escola. No entanto, no modelo de gesto democrtica e participativa a qualidade das interfaces do
trabalho do coordenador pedaggico tambm diz respeito ao trabalho do gestor. O diretor de escola o responsvel pelo funcionamento administrativo e pedaggico
da escola, portanto, necessita de conhecimentos tanto administrativos quanto pedaggicos (LIBNEO, 2003, p. 87).
Na prtica cotidiana, como o gestor desempenha predominantemente a gesto geral da escola com nfase para os aspectos administrativos, a parte pedaggica delegada aos coordenadores pedaggicos. Estes, por sua vez, no exerccio de suas funes fazem um trabalho de suporte e apoio ao professor na sala de aula, mas tambm auxiliam o gestor no s substituindo-o quando necessrio, mas auxiliando-o nas decises de cunho pedaggico.
As funes do coordenador pedaggico variam conforme a legislao estadual e municipal: dependendo do local, as atividades de coordenao pedaggica e orientao
educacional so desempenhadas por uma s pessoa ou por professores. O coordenador pedaggico supervisiona, acompanha, assessora, apia e avalia as atividades pedaggico-curriculares, mas sua prioridade prestar assistncia didtico-pedaggica aos professores no que diz respeito ao trabalho interativo com os alunos.
Outra atribuio do coordenador pedaggico buscar aproximao e fortalecer o relacionamento com os pais e a comunidade em aspectos generalizados. J a funo do
orientador educacional prestar atendimento ao aluno, fazer o acompanhamento de sua vida escolar e tambm fortalecer o relacionamento entre escola e comunidade.
O corpo docente formado pelos professores da escola e sua misso se confunde com a prpria misso da escola: ensinar. Entretanto, faz parte das responsabilidades do professor
no projeto de gesto da escola participar da elaborao do Projeto Poltico Pedaggico e
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participar de outras atividades promovidas pela escola. No entanto, para exercer o seu trabalho o professor conta com o apoio do coordenador pedaggico para orient-lo, para trocar experincias e auxiliar na busca da unidade entre a teoria e a prtica.
Parafraseando Libneo (2003, p. 85), a interao entre o trabalho dos professores e coordenador pedaggico proporciona a formao de uma cultura voltada para o dilogo, para a participao e a busca conjunta por solues que melhorem a prtica educativa. Isso vai gerando um estilo coletivo de perceber as coisas, de pensar os problemas e de encontrar solues.
Estendendo a relevncia do trabalho do coordenador pedaggico para o mbito das suas interfaces com o trabalho do gestor e dos demais profissionais da escola, percebe-se as
contribuies para um estilo de gesto democrtica e participativa. Isso no quer dizer que o coordenador pedaggico seja o nico ou o principal responsvel no processo de gesto participativa, mas ao cumprir com sua funo de articulador e apoiador do trabalho de gestores e professores, ele exerce o seu papel e a sua responsabilidade nessa busca.
Alm do mais, na esfera de atuao do trabalho do coordenador pedaggico, os aspectos administrativos e pedaggicos interagem.
Breve histrico da coordenao pedaggica O reconhecimento da coordenao pedaggica como um cargo na estrutura funcional e
administrativa da escola como parte de sua organizao formal recente. A partir do momento em que se formaram os sistemas escolares, mesmo sem a instituio do cargo de
coordenador pedaggico, as atribuies inerentes a este profissional j vinham sendo exercidas com outras nomenclaturas.
Conforme Foucault (1987), na Idade Mdia, a pessoa encarregada das atribuies correspondentes quelas prprias dos coordenadores pedaggicos exercia, especificamente, a funo de vigilncia. A vigilncia das instituies de ensino estavam a cargo da Igreja, e inicialmente era exercida pelos Bispos e, posteriormente, por pessoas indicadas, pelas
autoridades eclesisticas. As relaes de poder eram construdas com base na disciplina imposta pela autoridade
dos professores da poca, geralmente, membros da prpria Igreja. O contexto social da poca era de moralismo e punio qualquer manifestao dos alunos, principalmente ligadas sexualidade tais como as manifestaes de afetividade entre alunos, atos obscenos e masturbao. A arquitetura das escolas valorizada as formas arredondadas com paredes e
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janelas muito prximas para facilitar a vigilncia dos alunos, que era feita por um inspetor muito prximo dos professores membros da igreja.
A idia era controlar os alunos, vigiar e punir de acordo com as normas estabelecidas pela escola. Conforme Foucault (1987, p. 41) o entendimento era de que: a disciplina produz docilidade e eficincia, servindo-se da domesticao e da moralizao. No basta punir, preciso vigiar, corrigir, reeducar, organizando o tempo e o espao e formulando novas
tcnicas de vigilncia. Contudo, na Idade Moderna que se encontram as razes da superviso, exercida pelo
cidado atravs de comisses. Surgem no sculo XIII s escolas municipais de nvel elementares, as primeiras escolas que fazem parte de um sistema de ensino.
Conforme Alves (apud VALRIEN, 1993), entre os sculos, XVII e XIX, a superviso considerada apenas como inspeo, geralmente realizada por leigos. O
supervisor era chamado de inspetor e suas funes eram mais de julgar do que propriamente executar.
No Brasil, em 1827, quando foram institudas as escolas de primeiras letras nas cidades, vilas e lugares bastante populosos, ainda prevalecia o modelo de inspeo baseada na vigilncia e punio dos alunos.
J no incio do sculo XX, a superviso no Brasil limitava-se a funo de fiscalizar a matrcula dos alunos, as condies do prdio, a assiduidade do professor, dentre outros aspectos rotineiros do cotidiano escolar. Em alguns regulamentos previam-se os deveres tcnico-pedaggico, em que o supervisor devia dar aulas-modelo e aconselhar o professor
para que realizasse, com mais xito a sua tarefa (ALVES apud VALRIEN, 1993). J a prtica da Orientao Educacional nas escolas brasileiras, de maneira intencional
e sistemtica, comeou na dcada de 30. Ela chegou s escolas e nos organizadores de classe por impulso empresarial. Nessa poca, a Orientao educacional tinha um suporte terico que valorizava a estrutura organizacional e o funcionamento da escola, tratando com indiferena a totalidade da vida do educando. Dessa forma, todo e qualquer assunto que dissesse respeito
aos alunos se reduzia identificao de problemas disciplinares e aplicaes de punies. Conforme Pimenta (2000), o reconhecimento da superviso escolar no Brasil inicia
formalmente com o Parecer n 252/69, emitido pelo Conselho Federal de Educao (CFE) paralelamente administrao escolar e orientao educacional. A partir da as escolas comearam a formar quantidades cada vez maiores de especialistas em educao que seriam absorvidos pelo mercado de trabalho. Nessa perspectiva de fiscalizar o trabalho dos
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professores e dos alunos, os supervisores e orientadores tinham algumas aes pouco distintas, mas que muitas vezes se completavam.
A partir de um resumo das idias de Pimenta (2000), pode-se desenhar um mapa evolutivo da coordenao pedaggica desde os seus primrdios at o contexto de suas
atribuies na atualidade. Portanto, na transio da dcada de 60 para 70, as funes especficas do supervisor
eram:
Auxiliar na aplicao das atividades docentes com o objetivo de manter os padres de desempenho pr-definidos;
Acompanhar e avaliar o currculo;
Controlar o desempenho dos docentes;
Avaliar o resultado do processo ensino-aprendizagem;
Constatar e avaliar dados referentes produtividade do corpo docente. J a funo do Orientador Pedaggico era trocar idias com os professores e com o
supervisor escolar que apontassem as causas determinantes do baixo rendimento escolar dos
alunos. Tambm promoviam as atividades de integrao entre escola e comunidade, organizar arquivos de dados pessoais de alunos, necessrios a orientao educacional e caracterizar o
desempenho dos docentes, na parte especfica de participao no processo de orientao educacional. Nessa poca j se verifica uma preocupao com o processo da adaptao do aluno, procurando seu ajuste pessoal e social.
Conforme Pimenta (2000), na mesma vertente os administradores das escolas, exerciam as suas funes voltadas para a melhoria do processo de aprendizagem dos alunos, ainda que a base terica ainda estivesse voltada totalmente para a realidade da escola
brasileira. Ou seja, os modelos de organizao e administrao eram importados de outros pases e adaptados de empresas para a escola.
Sendo assim, as principais funes do administrador estavam voltadas para o controle do livro de matrculas dos alunos e tambm para o livro-ponto dos docentes, administrao do
patrimnio escolar e para o controle das finanas da escola. Os administradores escolares tambm cuidavam dos registros no livro de atas as reunies sociais, relatrios de festas
escolares, responsabilizando-se por eles. Conforme Libneo (2003) foi na dcada de 80 que a escola passou a sentir de forma
mais sensvel as mudanas ocorridas na sociedade, tais como a abertura poltica, o incio da luta contra o analfabetismo no Brasil e os reflexos da globalizao dentre outras
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transformaes que exigiam da escola uma postura mais crtica e especializaes. De um modo geral, a escola estava sendo requisitada a repensar a sua funo social, o papel de seus profissionais, bem como a sua prtica e o fazer pedaggico.
Diante disso, os pressupostos da formao contnua dos profissionais da educao j comeam a ser erguidos, valorizando a necessidade de especializao de professores, coordenadores pedaggicos e diretores. As bases da formao contnua se fortaleceram com a
edio da Lei de Diretrizes e Bases da Educao (1996).
O papel do coordenador pedaggico H um consenso na literatura de que o papel do coordenador pedaggico
desenvolver e articular aes pedaggicas que viabilizem a qualidade no desempenho do processo ensino-aprendizagem. Portanto, o carter articulador remete ao dilogo, trocas e
interaes entre o coordenador pedaggico e os demais atores da escola, sobretudo os professores.
Sobressai-se, dessa forma, o carter de orientador das prticas do professor, supervisionando, auxiliando e estimulando a adotar novas estratgias e metodologias de ensino que auxiliem no processo ensino-aprendizagem.
No entanto, para De Rossi (2006, p. 68) o coordenador pedaggico esfora-se por unir, desafiar e fabricar, com fios separados e heterogneos, um tecido escolar, comunitrio e social, coerente e unido, em meios de conflitos, oposies, negociaes e acordos.
Portanto, a atuao do coordenador pedaggico transcende os limites da orientao ao
professor diante da complexidade do processo de ensino e de aprendizagem. O prprio ambiente escolar uma mescla de culturas diferentes, de realidades econmicas, sociais,
polticas, relaes grupais, caractersticas individuais, relaes interpessoais e de poder, elementos esses que se transformam em variveis muito presentes no cotidiano da escola.
Para a Agncia de Certificao Profissional da Fundao Luis Eduardo Magalhes (2006), que ministra cursos de especializao para a formao de profissionais da educao:
O grau de intensidade das atividades do Coordenador Pedaggico depende dos tipos de atividades desenvolvidas; dos grupos articulados por ele; das atribuies especficas dos profissionais e sujeitos que integram esses grupos; da definio de prioridades e objetivos; da distribuio de responsabilidades convencionadas pela organizao e pelos variados grupos, em diferentes momentos e situaes; dentre outros fatores (FUNDAO LUIS EDUARDO MAGALHES, 2006, p. 1).
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Dessa forma, o coordenador pedaggico quem faz a anlise e a avaliao diagnstica do processo ensino-aprendizagem, articulando-se com todos os atores envolvidos na escola em busca de uma soluo coletiva para os problemas a serem enfrentados. De acordo com Vicentini et al (2006), uma tarefa que lhe exige conhecimentos especficos voltados para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem, para o desenvolvimento e a implantao da Proposta Pedaggica e do Currculo Escolar e de Programas Educacionais, com foco em
conhecimentos e atitudes. No obstante, o coordenador pedaggico tambm auxilia no crescimento profissional e
a formao continuada dos educadores, alm do desenvolvimento de recursos pedaggicos mais apropriados para o desenvolvimento dos alunos. Dentre os gestores, pais e comunidade
escolar a relao tambm dialgica, de busca de parcerias e envolvimento nos projetos da escola.
Dentre as competncias do coordenador pedaggico mencionadas pela Fundao Luis Eduardo Magalhes (2006) e endossadas Por Vicentini et al (2006), destacam-se:
Compreender fenmenos naturais de processos histrico-geogrficos, da produo tecnolgica e das manifestaes artsticas atravs de bases tericas do processo
ensino-aprendizagem;
Selecionar, organizar, relacionar, interpretar, tomar decises e enfrentar situaes-
problema;
Relacionar e argumentar: coordenar pontos de vista, defender ou criticar uma
hiptese ou afirmao;
Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaborao de proposta
e interveno participativa na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.
Com base nessas competncias, destacam-se os traos mais relevantes que compem o
perfil profissional do coordenador pedaggico, embora a realidade em que cada um esteja inserido seja determinante para o modo de atuao em resposta s necessidades refletidas por essa realidade.
No entanto, ao rever a literatura que subsidia este estudo, pode-se dividir o campo de atuao do coordenador pedaggico em quatro grandes grupos: o planejamento da ao pedaggica, a orientao e articulao com o professor, o assessoramento tcnico gesto
escolar e a anlise global da escola.
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No contexto geral, esses quatro tpicos focalizam a atuao do coordenador pedaggico no atendimento s necessidades de aprendizagem dos alunos, no aperfeioamento contnuo dos professores, na contextualizao e articulao das vrias reas do conhecimento e nos objetivos de ensino traduzidos em competncias e habilidades.
Consideraes Diante do exposto nesta pesquisa, oportuno fazer algumas consideraes sobre os
seus resultados retomando a idia inicial que se pretendeu investigar.
O objetivo principal foi identificar as contribuies da atuao e articulao do coordenador, entre os docentes, visando qualidade do processo de ensino-aprendizagem.
Para tanto, se identificou primeiramente as aes do coordenador dentro da escola, pontuou-se as prticas que contribuem com o fazer docente, analisou-se os aspectos que facilitam e dificultam essas trocas, de forma a proporcionar, atravs da pesquisa, uma reflexo principalmente aos especialistas sobre seu papel na escola.
Outros elementos estiveram presentes, como o perfil dos sujeitos entrevistados. No que se refere formao, constatou-se na pesquisa que os professores e Coordenadores
Pedaggicos so experientes, atuando na educao desde a dcada de 80 e que, muitos, buscaram ao longo deste tempo, a especializao atravs dos cursos de ps-graduao na rea
em que atuam.
Constatou-se na pesquisa que tanto os professores quanto os coordenadores pedaggicos tm uma concepo formada acerca do trabalho do Coordenador. Dentre os
professores o Coordenador Pedaggico foi considerado um articular, um mediador entre todos os atores da comunidade escolar e um ajudador do trabalho do professor. No obstante, a fala de alguns professores revelou que eles tm outras expectativas em relao ao Coordenador Pedaggico, e uma delas que este seja, antes de tudo, um amigo presente nos momentos de dificuldades pedaggicas com objetivo de apoiar suas iniciativas e at mesmo no sentido de dar apoio emocional e afetivo frente aos conflitos no campo profissional.
No entanto, em momento algum essa concepo ou necessidade foi mencionada nas respostas das entrevistas com os coordenadores pedaggicos. Estes guardam a concepo acerca do prprio trabalho como apoiadores e mediadores do trabalho do professor, porm, no consideraram relaes de amizade ou componentes emocionais e afetivos permeando as
interfaces com o trabalho do professor. Quando se questionou sobre a qualidade das interaes entre professores e
Coordenadores Pedaggicos houve um consenso nas respostas de ambos: o elemento tempo
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foi considerado pouco, o que afeta a qualidade das interaes e trocas necessrias para o trabalho pedaggico. Tanto professores quanto coordenadores revelaram na pesquisa que tentam improvisar esses encontros fora dos momentos de reunies pedaggicas, seja na sala de aula ou at nos corredores da escola.
No entanto, as respostas da maioria levam a constatao de duas situaes preocupantes: tanto professores quanto coordenadores pedaggicos precisam de mais
aproximao, mais dilogo e cooperao mtua, pois, em alguns casos expostos na pesquisa, um fica esperando que o outro o procure e ao fim, reclamam da falta de iniciativa um do outro.
Os Coordenadores Pedaggicos, de modo geral, afirmam que quase nunca exercem as
suas funes especficas de coordenadores, se revezando em mltiplas tarefas que o desviam da finalidade de seu trabalho, dentre elas fazer curativos, substituir professores na sala de
aula, dentre outras, que poderiam ser feitas por outra pessoa do grupo. Inclusive um coordenador pedaggico sugeriu na pesquisa que fosse contratado um auxiliar para realizar essas tarefas.
Fato que chamou a ateno que, enquanto a literatura coloca que uma das prioridades do trabalho do Coordenador Pedaggico auxiliar o professor, tambm, em assuntos ligados sua formao contnua, somente um dos 15 coordenadores pedaggicos entrevistados mencionou a formao como uma das principais aes de sua incumbncia.
Percebe-se, no contexto geral da pesquisa, que a formao contnua vai sendo colocada em segundo plano diante das dificuldades apontadas tanto por professores quanto
por Coordenadores Pedaggicos no cotidiano de suas tarefas na escola. Percebe-se, tambm, que cada categoria de pesquisados tem sua prpria viso das dificuldades e oportunidades em
relao tanto ao trabalho cotidiano que exercido por eles nas escolas. Entende-se, dessa forma, que os trs elementos agregadores apresentados no estudo
terico desta pesquisa como: Planejamento da ao pedaggica; Orientao e articulao com o professor ; Assessoramento tcnico gesto escolar, no esto to evidentes na atuao do
Coordenador Pedaggico. Estes elementos aparecem, porm desarticulados, com nfase em alguns aspectos apenas. No que se refere s interfaces dos professores e coordenadores
pedaggicos, destacam como principais momentos na prtica educativa: a orientao quanto ao planejamento e a parceria na busca de solues para dificuldades cotidianas no processo de ensino e aprendizagem.
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Porm, para que cada uma dessas interfaces ocorra necessrio a existncia de um espao dialgico e a criao de novos tempos e espaos para que as trocas aconteam efetivamente.
Somente com dilogo que professores, coordenadores pedaggicos e gestores,
conseguiro se aproximar, assumindo assim, cada qual, a sua parcela de contribuio para o sucesso do trabalho educativo.
Nas escolas pesquisadas, ainda que as interfaces ocorram, constataram-se as dificuldades, a qualidade e a intensidade dos encontros pedaggicos entre estes atores, sendo que muitas vezes os encontros e trocas so realizados de forma improvisada nos corredores da escola. Outro aspecto desvelado a pouca iniciativa dos professores e coordenadores de
reivindicar e propor propostas de formao em servio, garantido por sua vez esses tempos e espaos de encontros com maior qualidade e intensidade.
No contexto da realidade vivenciada por esses dois atores do processo ensino-aprendizagem, sobressaiu as dificuldades a serem enfrentadas com pouca ou quase nenhuma ao voltada para as necessidades futuras de professores e coordenadores, que incluem esforos no sentido de identificar possibilidades para a resoluo desses problemas. Os problemas e restries j existem por si s. Para que as interfaces na relao Coordenador Pedaggico e professores dem um salto qualitativo necessrio dilogo, aproximao e busca coletiva pela soluo desses problemas.
A recomendao de que cada qual, no mbito de suas atribuies como Coordenadores Pedaggicos e professores, reconheam as interfaces, suas dimenses
pedaggicas, a importncia de sua atuao no contexto escolar. Percebam que as interaes entre os profissionais promovem a qualidade de ensino, enriquecem a formao, contribuem
na transformao da realidade social.
REFERNCIAS
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