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Internet: possibilidades e ameaças para a rádio musical João Paulo Meneses * 2007 Índice 1 Introdução (e metodologia) 1 2 Uma revolução chamada Internet 3 2.1 Razões para se falar em ameaça . 3 2.1.1 Um exemplo a partir da indús- tria musical .......... 4 2.2 Novas oportunidades para o ou- vinte (a geração iPod) ...... 8 2.2.1 Razões para perda da rádio .. 9 2.3 Opções para a rádio ....... 11 2.3.1 Convergência digital e novos conteúdos ........... 12 3 Bibliografia 12 1 Introdução (e metodologia) Existe uma velha máxima na comunicação que diz que um novo meio (ou uma nova tec- nologia) não anula o anterior; ambos se aco- modam e se adaptam, coexistindo. E o exem- plo que costuma ser dado é o da rádio: não morreu com a chegada da televisão. Mesmo que Wolton considere que as novas tecno- logias não impõem por definição uma nova hierarquia entre novos e velhos meios (Wol- ton, 1999:75), o futuro é, como diz Martinéz- * Jornalista na TSF e doutorando na área da rádio na Universidade de Vigo. Costa, uma “encrucijada” (Martinéz-Costa e Moreno Moreno, 2004:322). A Internet ameaça pôr em causa este prin- cípio, tais as mudanças que está a provocar. Na própria rádio. E sobretudo na rádio mu- sical. “Sin embargo el momento radiofónico actual es complejo como pocos en la his- toria del medio y requiere una abnegada e ingeniosa atención. Y si la circunstan- cia merece esmero, reflexión y vigilancia es porque la situación es mucho más pe- ligrosa que la generada por la llegada de la televisión. Posiblemente este sea el conflicto más complejo de los vividos por la radio hasta el momento presente por- que afecta a su propia raíz. A la radio y - no se olvide-, a los demás medios de comunicación" (Faus Belau in Martinéz- Costa, 2001: 16) A rádio musical, e em concreto a rádio co- mercial musical, é a verdadeira herdeira do choque provocado pelo aparecimento da te- levisão: com menos ouvintes, passou tam- bém a ter menos dinheiro para suportar os seus próprios conteúdos. Em simultâneo, a indústria discográfica descobre que a rádio pode ser um suporte de marketing único. A

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João Paulo Meneses

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Internet: possibilidades e ameaçaspara a rádio musical

João Paulo Meneses∗

2007

Índice

1 Introdução (e metodologia) 12 Uma revolução chamada Internet 32.1 Razões para se falar em ameaça. 32.1.1 Um exemplo a partir da indús-

tria musical . . . . . . . . . . 42.2 Novas oportunidades para o ou-

vinte (a geração iPod) . . . . . . 82.2.1 Razões para perda da rádio. . 92.3 Opções para a rádio. . . . . . . 112.3.1 Convergência digital e novos

conteúdos . . . . . . . . . . . 123 Bibliografia 12

1 Introdução (e metodologia)

Existe uma velha máxima na comunicaçãoque diz que um novo meio (ou uma nova tec-nologia) não anula o anterior; ambos se aco-modam e se adaptam, coexistindo. E o exem-plo que costuma ser dado é o da rádio: nãomorreu com a chegada da televisão. Mesmoque Wolton considere que as novas tecno-logias não impõem por definição uma novahierarquia entre novos e velhos meios (Wol-ton, 1999:75), o futuro é, como diz Martinéz-

∗Jornalista na TSF e doutorando na área da rádiona Universidade de Vigo.

Costa, uma “encrucijada” (Martinéz-Costa eMoreno Moreno, 2004:322).

A Internet ameaça pôr em causa este prin-cípio, tais as mudanças que está a provocar.Na própria rádio. E sobretudo na rádio mu-sical.

“Sin embargo el momento radiofónicoactual es complejo como pocos en la his-toria del medio y requiere una abnegadae ingeniosa atención. Y si la circunstan-cia merece esmero, reflexión y vigilanciaes porque la situación es mucho más pe-ligrosa que la generada por la llegadade la televisión. Posiblemente este sea elconflicto más complejo de los vividos porla radio hasta el momento presente por-que afecta a su propia raíz. A la radioy - no se olvide-, a los demás medios decomunicación"(Faus Belauin Martinéz-Costa, 2001: 16)

A rádio musical, e em concreto a rádio co-mercial musical, é a verdadeira herdeira dochoque provocado pelo aparecimento da te-levisão: com menos ouvintes, passou tam-bém a ter menos dinheiro para suportar osseus próprios conteúdos. Em simultâneo, aindústria discográfica descobre que a rádiopode ser um suporte de marketing único. A

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relação passou a ser de tal maneira depen-dente que há mesmo quem admita um “em-pobrecimento do meio” (Crisell, 1994:65).

A Internet está a mudar tudo, oferecendo– de diversas formas – mais e melhor mú-sica (do ponto de vista dos consumidores,que passaram a ter o controlo da situação).

A rádio não musical parece abrigada destaturbulência, podendo, até, tirar da Internetgrandes benefícios (a Internet é, por isso,e em simultâneo, uma oportunidade e umaameaça). Abrigada porquê? Ganha quemtiver os conteúdos, é outra máxima que sevai ouvindo. E se a Internet (os computado-res, a digitalização) tem a música, não tema voz, não tem a espontaneidade do directo,não tem sentimentos nem emoções.

O problema da rádio não musical será,portanto, outro – se o meio rádio não se tor-nará obsoleto, a partir do momento em queos mais jovens (os que procuram a música)se desabituam de ouvir. Como disse o presi-dente da empresa de estudos mediáticosJa-cobs Media, Fred Jacobs, “Quando só exis-tíamos nós[a rádio], eles[os jovens]acaba-riam por nos encontrar. Mas, hoje, há todauma série de lugares onde podem ir. Se nãocrescerem connosco, por que é que virão terconnosco?”1.

Aliás, uma das poucas certezas que exis-tem nestes poucos anos de transformaçõesem curso é que os mais jovens estão a ouvirmenos rádio. No mercado radiofónico maisdesenvolvido, o dos Estados Unidos, os nú-meros de 2006 e as previsões para 2007 daBridge Ratingse daResearch Director Inc.apontam para os valores mais baixos dos úl-timos 10 anos (cerca de 12 horas por semana,

1“Consultant Tells Radio:You Reap What YouSow”, Radio Ink, ?/12/2006 (cons. a 6/01/07)

quando em 1997 eram superiores a 17 ho-ras). É, como lhe chamaram nos EstadosUnidos, “uma tempestade perfeita”.

Estas questões são relevantes para o con-texto metodológico deste trabalho – comoqualquer outro que se dedique a avaliar im-pactos e consequências da nova tecnologiadigital, faz todo o sentido invocar ressalvasperante as incógnitas. Como lembra Wolton(1999: 76), “há que ser rigoroso e salien-tar que se trata de uma mistura de realida-des e de fantasia e que o entusiasmo ingé-nuo que as envolve será daqui a dez anosbastante mais matizado”. Pretende-se, con-tudo, em defesa da sua validade científica en-quadrar os sinais em tendências mais vastas.Até porque, como todos concordam, o futurojá começou. Sem perder de vista a precari-edade dos próprios conceitos, sujeitos a re-voluções por conta de múltiplos desenvolvi-mentos tecnológicos.

A metodología da análise e as refle-xões que se apresentam seguem, de algumaforma, a perspectiva funcionalista, uma vezque se pretendem comparar resultados de es-tudos empíricos para estabelecer o estadodos públicos jovens na rádio musical. Noentanto, este estudo não se limita à tradi-ção mais conservadora dosMass Communi-cation Researchjá que se propõe como basepara crítica e proposta de hipóteses sociais eempresariais alternativas que permitam pen-sar uma rádio musical de acordo com a evo-lução iniciada.

A partir da análise de casos e de exemplos,no estilo proposto pela fenomenología (ouanálise de recepção), o texto propõe alterna-tivas e opções no sentido que a rádio musicalevolua, do seu estado tradicional para umaconcepção adequada ao presente.

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2 Uma revolução chamadaInternet

Em meados da década passada afirmava-seque a Internet seria o FM do novo milénio.Ou seja, que a Internet faria no século XXIaquilo que o FM (a que deveríamos associara utilização quase simultânea do transístor)fez pela rádio numa altura em que apareceucom toda a força a televisão.

Não foram poucos os que previram amorte da rádio perante o choque provo-cado pela televisão – no fundo, a televisãoapresentava-se como a rádio com imagem,recorrendo a muitos dos programas da rá-dio e a muitas das suas vozes mais conheci-das. Porquê ouvir rádio se havia a televisão,muito mais atraente? O FM e o transístor,conjugados como novo meio de emissão enovo meio de recepção respectivamente, sal-varam a rádio de uma morte anunciada?

É muito provável que se essas duas tec-nologias não tivessem sido postas ao serviçoda rádio em simultâneo com o choque pro-vocado pelo aparecimento da televisão, ouseja que se a rádio ainda usasse apenas a AMe os receptores fossem de válvulas, que ti-vesse acabado por desaparecer. É uma espe-culação, naturalmente, não confirmável, masparece certo que, se as duas tecnologias ti-vessem demorado duas décadas a aparecer, arádio não resistiria.

A Internet, contudo, não é o FM do novomilénio. O FM é um modo de emissão (otransístor, do ponto de vista da rádio, essen-cialmente de recepção). A Internet é, ela pró-pria, um meio que pode servir de emissãoe de recepção de rádio, influenciando outrosdois elementos do processo comunicativo: amensagem e o feedback.

Enquanto o FM e o transístor são iniciati-

vas quase exclusivas para servir a própria rá-dio, de alguma forma esgotando-se aí a suautilidade, a Internet não apareceu por causada rádio nem está directa e unicamente aoseu serviço. A rádio, como muitas outrastecnologias, usa-a. Só que também suspeitadela.

Ou seja, a Internet é, ao mesmo tempo,uma oportunidade mas também uma ameaça.O FM surgiu para “salvar” a rádio, a Internetaté pode acabar com ela: 1) A Internet temajudado a ultrapassar algumas das limitaçõesestruturais que a rádio apresenta desde a suafundação, há 100 anos, e logo em quatro pla-nos essenciais da teoria da comunicação: nãoapenas na emissão e na recepção, mas tam-bém nos conteúdos e no feedback; 2) A In-ternet, porque intervém nessas quatro áreas,apresenta uma força incomparável com o FMou o transístor, juntos;

Se ao nível da emissão são óbvios os ga-nhos trazidos pelanet, já quando se pensanas mudanças provocadas ao nível da recep-ção, a conclusão de queo rádio perdeu oexclusivo de receber a rádioprovoca, ime-diatamente, duas consequências: 1) O rádiopassa a disputar com outras plataformas derecepção (o computador, o PDA, o telemó-vel, a consola, o leitor de áudio) espaços emomentos de acumulação/portabilidade; 2)Está em causa o próprio conceito de rádio,tal como o conhecemos durante 100 anos,quando o que recebemos nessas plataformasé áudio programado por um computador esem recurso ao espectro radioeléctrico;

2.1 Razões para se falar emameaça

Obviamente que a rádio se habituou a vi-ver em concorrência, mas havia uma zona na

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nossa vida em que, durante décadas, a rádiofoi exclusiva: a da acumulação. O carro éo exemplo mais óbvio, mas ler e ouvir rádionos transportes públicos, correr e ouvir rádioou estudar e ouvir rádio são também associ-ações clássicas.

A Internet veio ajudar a quebrar o últimoreduto de dominação radiofónica: a partir domomento em que é possível emitir para ostelemóveis emissõesstreamingdas rádios nawebé também possível emitir todo o tipo deconteúdos. Significa isto que é possível re-ceber áudio (sem que seja rádio; um discocompleto por exemplo) através da Internet,no computador, no telemóvel ou até em no-vos receptores específicos para oon line.

Mas a Internet deu mais um contributoneste sentido, a partir do momento em quepassou a alojar música para ser descarregadalegal ou ilegalmente. Há milhões de temasarmazenados nanet, a ponto de se falar queo futuro da música será apenas digital e quese assistirá a curto prazo à desmaterializa-ção da música. A seguir, apareceram os lei-tores para essa música digital, permitindoconstruir listas pessoais com milhares de te-mas. Alguns desses leitores apresentam a rá-dio com funcionalidade extra mas outros nãoquerem concorrência (o mais conhecido detodos oiPod). Ou seja, passou a ser possívelir correr sem ter, como companhia obrigató-ria, a rádio.

Em alternativa, há o leitor de áudio ou otelemóvel (através de memórias internas ouexternas). O mesmo acontece com cozinharou estudar de auscultadores nos ouvidos. Ouaté conduzir sem a companhia da rádio – sãojá vários os modelos de automóvel que têmligação directa aos leitores de áudio digital,mas, quando isso não acontece, existem mo-duladores que, utilizando as frequências de

FM, colocam as listas de música no próprioreceptor de rádio (e este exemplo é, simboli-camente, o mais irónico – a rádio deixou deter o exclusivo da acumulação e da portabi-lidade e a tecnologia que mais ameaça essacondição utiliza o próprio meio rádio. . . ).

Os leitores digitais são apenas a con-sequência lógica do armazenamento de mi-lhões de temas na rede. A partir do momentoem que osdownloadsse banalizaram é a rá-dio musical que mais tem a perder: no com-putador, no telemóvel, nas consolas de jo-gos, transmitida em memórias portáteis ouwireless, a música existe para além daquiloque era uma espécie de aliança entre indús-tria musical e rádios.

Ou seja, deixou de ser necessário ouvir narádio para conhecer as últimas edições ousaber mais dos músicos – a Internet está adestruir rapidamente essa aliança, ainda porcima nos dois sentidos: 1) Não são apenas osouvintes que deixaram de precisar da rádiopara ouvir o seu artista favorito – o que fize-ram durante décadas, também por falta de al-ternativas; 2) A própria indústria – entendidaaqui no seu sentido mais vasto – percebeuque há outros canais alternativos igualmenteválidos;

2.1.1 Um exemplo a partir da indústriamusical

Para os músicos fora do sistema mais profis-sional – e que dificilmente conseguiriam en-trar nas listas das rádios – a Internet mostrou-lhes que o sucesso é possível; mas mesmopara as grandes editoras deixou de ser im-perativo conseguirairplay (o número de ve-zes que uma música passa na rádio); se oconseguem será óptimo, mas agora há novasformas de criar raízes com o público. Al-

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guns exemplos: Páginas oficiaison line(comconteúdos diversificados como notícias, bio-grafias e discografias, imagens, temas paradownloadgratuito e/ou para venda imediata,lançamentos e exclusivos, além de canais decomunicação); Páginas de fãs (não oficiais),incentivadas ou não pelos próprios músicosou editoras; Utilização de espaços nanetso-cial ou web 2.0(MySpace, hi5 ou YouTube,entre outros). Estes espaços são usados querpor fãs, que se agrupam e partilham gostos,informações e conteúdos, quer pelos pró-prios artistas, para aprofundarem uma rela-ção directa com os fãs, sem terem de lidarcom intermediários ougatekeepers);

Perante esta realidade de múltiplas ofertas– juntando a crescente digitalização de mi-lhões de canções, descarregadas legal ou ile-galmente em grandes quantidades, e a mul-tiplicação de editoras que existem sobretudona Internet (web-labels) – é possível concluirque o consumidor tem o controlo: 1) Os fãsdeixaram de estar dependentes da rádio (oude terem de comprar o disco) para contacta-rem com determinado artista; 2) Os fãs sãocada vez mais interactivos: pedem, exigem,sugerem. Comunicam; 3) Uma canção vivee pode conseguir sucesso sem chegar à rádio.

“Enquanto a indústria discográfica fazo balanço de um ano em que as vendasvoltaram a baixar, alguns sinais apon-tam para uma democratização da mú-sica, graças à Internet, que começa a al-terar o equilíbrio de forças no seio da in-dústria musical. Explorando designada-mente os fóruns e os blogues musicais,as companhias independentes de discosfazem grandes progressos, à custa dosquatro conglomerados mundiais de mú-sica, cujo modelo comercial, que consiste

em promover os “hits” graças à difusãoradiofónica, parece cada vez mais ultra-passado”(Jeff Leeds, “Net beneficia edi-toras independentes”, Courrier Internaci-onal, no 43, 06/04/06, pág. 43).

A rádio, habituada a fabricar os sucessos,confronta-se com uma nova realidade: terde se associar a esses sucessos para nãoperder ouvintes – que provavelmente já osconhecem de outros acessos.

2.1.1.1 Alguns casos em concreto

Alguns exemplos relevantes, registadosem 2006, de uma conquista pioneira, masque se tornará banal com o passar do tempo– confundindo a auto-edição com o sistemaindustrial:

• Lily Alen tornou-se conhecida atravésda Internet e doMySpacee veio provarque se pode atingir o sucesso (ou conse-guir uma “carreira”) sem o circuito clás-sico promocional da rádio ou da televi-são. Ainda não tinha lançado qualquerdisco, mas já colocara quatro músicasna sua página. A partir daí, e em poucotempo, teria conseguido mais de 40 mil“amigos” registados, que teriam ouvidoas suas músicas um milhão de vezes, so-bretudo “Smile”. Só depois é que assi-nou com uma editora e grava “AlrightStil. . . ”. “ Agora há diversidade, hipó-teses de escolha (. . . ) A Internet per-mite que os miúdos encontrem músicanova em vez das coisas de sempre. Osmiúdos fartaram-se de estrelas pop ma-nufacturadas, falsas. Querem algo dife-rente. Com a Internet podem procurar eencontrar exactamente aquilo que dese-

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jam, em vez daquilo que lhes disseram[de] que deviam gostar”, disse;

• OsGnarls Barkley estiveram nove se-manas consecutivas na liderança da ta-bela britânica de singles apenas comdownloadsda sua estreia “Crazy”;

• “ (. . . )a então pouco conhecida cantoraescocesaSandi Thom ia a caminhode dar um concerto no País de Galesquando o carro avariou. Nesse mo-mento, decidiu que a Internet seria amelhor forma de fazer a sua músicachegar a todo o lado, sem se sujeitar àsvicissitudes da vida na estrada: atravésde umawebcam, a partir do seu pró-prio apartamento, transmitiu uma sériede 21 concertos para o mundo inteiro.Reza ainda a mesma lenda que a pri-meira emissão foi vista por 70 pessoasmas que, a meio desta sua digressãovirtual, já se contavam mais de 160 milespectadoreson-line. Em três semanas,o fenómeno levou Sandi Thom a assinarcontrato com uma multinacional, e, malo single “I Wish I was a Punk Rocker”foi editado (em Junho deste ano), subiude imediato ao topo as tabelas do ReinoUnido (. . . )” (Sol, 23/09/06);

• OsArtic Monkeys conseguiram bater orecorde de vendas na semana de lança-mento do seu álbum de estreia. Isto de-pois de a canção “I Bet You Look Goodon The Dancefloor” ter sido difundidameses antes através do seusite e, tam-bém ela, ter atingido o primeiro lugar natabela britânica de singles; Outro temasdeste grupo,“′Whatever People Say IAm, That’s What I’m Not’, é a estreiadiscográfica com o maior sucesso de

sempre no mercado britânico”(Diáriode Notícias, 10/03/06);

Estes exemplos, ainda raros, são de artis-tas que conseguiram sucesso através do novocircuito marginal à rádio. Mas a lista de mú-sicos que primeiro lançam os seus temas naInternet e não através da rádio é muito ex-tensa. Guiseppe Granieri diz que a blogos-fera funciona como uma gigantescaWord-of-mouth network, ao serviço do sucesso demuitos músicos:

“Foi graças à Word-of-mouth networkque grupos musicais encontraram lugare que sem os blogues provavelmente nãoteriam tido o mesmo destino. Desdeo sucesso do desconhecido rapper Diz-zee Rascal em Inglaterra, aos RadioDepts, aos italianíssimos Perturbazione,que acabaram por também abrir um blo-gue” (Granieri, 2005:63)

2.1.1.2 Uma alternativa válida

A Internet não é apenas caminho para osmúsicos que estão a começar. Mesmo a mú-sicos consagrados, awebpermite libertarem-se das amarras das editoras (como aconteceuem 2006 com os Pearl Jam), permite che-gar a novos públicos com novos circuitos dedistribuição (os videoclips não passam ape-nas na televisão, passam sobretudo na Inter-net), permite ter mais capacidade de resposta(lançar apenas uma música em vez de ter degravar um CD ou pôron line uma gravaçãoao vivo) e não estar dependente das decisõesdos responsáveis pelasplaylists, além de po-derem controlar melhor o preço final.

O grande problema, nesta altura, é encon-trar uma forma de garantir retorno financeiro

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das apostas musicais, uma vez que Internetainda é sinónimo, neste domínio, de pirata-ria ou, pelo menos, de gratuitidade.

Do ponto de vista da indústria musical, aInternet significa uma alternativa muito vá-lida à rádio. Construída porplaylistsadmi-nistradas ao pormenor, de características fe-chadas e dimensões reduzidas, a rádio faz asua gestão com grande cuidado, na medidaem que se trata do um activo de grande valore do qual depende o seu sucesso nas audiên-cias.

E se as audiências são relevantes, a edi-tora tudo fará para colocar o seu artista nessalista. Haverá muitos casos de interesse dosdois lados, mas atendendo à quantidade deedições semanais e ao pouco espaço dis-ponível nas listas, são frequentes casos emque as rádios não estão interessadas em in-cluir determinada música, apesar dos esfor-ços da editora junto dosgatekeepers, comolhes chamam S. Barnard (Hendy, 2004:99)ou Baskerville (Neves, 1999:73).

No actual panorama, a rádio ainda re-presenta um desafio promocional muito exi-gente para a indústria, que joga a seu favoro trunfo de funcionar como oligopólio (Ne-ves, 1999:40), ou seja, ganhando mais ca-pacidade de impor – “as ‘majors’ possuemas melhores condições para a colocação dosseus produtos devido aos processos de traba-lho utilizados e à extensão dos recursos ma-teriais e humanos de que dispõem” (Neves,1999:42).

Suspeitas de pagamentos (a animado-res/djsou a directores de programas) sempreexistiram (o chamadopayola), mas só muitorecentemente a justiça norte-americana deuas suspeitas como provadas: uma investiga-ção a centenas de estações resultou em con-denações e promessas de alterar a conduta

por parte de gigantes como aSonyou aWar-ner.

A decisão sobre a inclusão ou não nas lis-tas de difusão era, aliás, um dos três gran-des problemas colocados pelas rádios à in-dústria, juntamente com a formatação por es-tilos de música, que obriga a uma arrumaçãonem sempre pacífica, e a estratégia das edito-ras, que procura “vender o máximo de cópiasdo mínimo de produtos, o que, dada a ex-pansão da rádio aos níveis local e mundial,permite concluir que o aumento do tempo deemissão se fez difundindo a mesma música”(Neves, 1999:74). Tirando estas excepções,indústria e rádios casaram durante décadassem crises: de uma forma muito simples, aseditoras davam a música às rádios, as rádiosdivulgavam-na. Tudo de borla, portanto, evi-tando com que as editoras gastassem muitoem publicidade e as rádios tivessem de pa-gar pelos conteúdos que transmitiam (Neves,1999:73). A construção de programas combase no top de vendas será provavelmente arepresentação máxima da relação passiva en-tre indústria e rádio.

Tendo em vista a diminuição de receitasprovocada pelos descarregamentos ilegais epela pirataria em geral, a indústria musicaltalvez tivesse preferido que a Internet nãoexistisse. Daí também ter reagido tarde.Mas, percebido que se trata de um fenómenoimparável, editoras e músicos passaram acontar com ela. Não é exactamente de borlacomo a rádio (porque é preciso pagar o aloja-mento da informação nos servidores), mas osganhos – ao nível da difusão da mensagem –compensam. Além disso pode juntar-se maisfacilmente publicidade e música através danet.

Parece certo que, a menos que as audiên-cias da rádio musical desçam drasticamente,

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a indústria continuará a ter interesse em usara rádio. Já não como o veiculo promocio-nal por excelência (único, por vezes, comoaconteceu durante décadas, ou “o principalsuporte promocional da indústria”, como lhechama Neves, 1999:73), mas como mais um.Complementar com as possibilidades abertaspela Internet.

Haverá sempre reedições, novos singles,lançamentos ambiciosos em que a rádio mu-sical (também) será chamada a intervir. Masa partir do momento em que a rádio mu-sical perde influência, protagonismo, lide-rança, deixa também de ser um parceiro te-mido e/ou respeitado. Será apenas um par-ceiro. Mas isso não faz uma aliança. Des-feita pela Internet.

2.2 Novas oportunidades para oouvinte (a geração iPod)

A rádio musical talvez seja (ou talvez venhaa ser) a principal vítima das ameaças trazidaspela Internet, aquela em que os ganhos se-rão inferiores às perdas provocadas. Porque– como se viu – há alternativas ao nível dasplataformas onde se pode colocar uma infor-mação que antes tinha a rádio como destinoexclusivo (há desde duas décadas canais detelevisão sobre música, mas sem as duas ca-racterísticas chaves: a portabilidade e/ou aacumulação).

Mas sobretudo porque, para os consumi-dores, deixou de ser necessário ouvir a rádiopara conhecer os últimos sucessos. Podemfazê-lo nos computadores – estão a fazê-lo,como demonstram as estatísticas – mas tam-bém nos leitores de música digital, em con-solas e, principalmente, nos telemóveis.

Entre o universo de ouvintes da rádiomerecem, neste contexto, especial atenção

os mais jovens: 1) Porque são eles osmais receptivos às novas tecnologias (Wol-ton fala da ideia de abertura que lhe serámuito grata); 2) Porque tradicionalmente são(eram?) os melhores ouvintes de rádio; 3)Porque o comportamento que tiverem agoraface à rádio será decisivo na sua ligação fu-tura a este meio;

Contudo, o que dizem os últimos estudosfeitos sobretudo nos Estados Unidos é quea rádio está em perda junto do público maisjovem. Alguns números:

• Um estudo daEdison Media Researchmostra que os jovens entre os 12 e os17 anos passaram de 65 horas de escutaradiofónica em 1993 para 51 horas em2006. Ou seja, uma queda de 22%. Seo universo for o dos 18/24, percebe-seque a quebra é de 24%2;

• De acordo com um outro estudo daMindShare intitulado “Kids, Tweens,and Teens and Technology” , "Quandoa empresa perguntou aos jovens quala tecnologia que eles mais lamenta-riam perder, a televisão aparece em pri-meiro lugar, mas os videojogos e a in-ternet aparecem logo a seguir (. . . ). Rá-dio, jornais e revistas dificilmente cons-tam”3;

2 “Consultant Tells Radio:You Reap What YouSow”, Radio Ink, 12/06 (consultado a 26/12/06)

3 http://www.kurthanson.com/archive/news/101206/index.asp, RAIN, 12/10/06 (consultado 23/12/06).Em Espanha, contudo, um estudo que fez a mesmapergunta teve resultados diferentes: “ De 4.000encuestados, el 47% se quedaría con los videojuegosantes que con la tele (el 34%)” (El País,La telepierde, consolas y móviles ganan, Rosario G. Gómez/Guillermo Abril, 13/08/06)

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• A Bridge Ratingsentrevistou 2000 jo-vens norte-americanos entre os 12 e os24 anos e percebeu que 85% preferiamo seu leitor de áudio digital à rádio. Omesmo universo escolheu a rádio na In-ternet à rádio convencional, 54% contra30% para ouvir música; Os números sãoainda mais claros na faixa 18-24 anos4;

• De um estudo daJacobs Mediafeito porfocus groupa jovens dos 18 aos 24 anos:“estes ouvintes dizem que a rádio estáa perder a sua portabilidade (a ideiade que a rádio é ubíqua e totalmentetransportável pode ser encarada comouma coisa do passado. Como[Fred]Ja-cobs contou: “A determinada um deles[do focus group] olhou para mim e disseque oiPodé portátil e o rádio não””5.A única vantagem da rádio, disseram, éser de borla;

• Outro estudo, desta vez daYahooe daOMD Worlwide, realizado entre jovensdos 13 aos 24 anos, em onze países,confirma que a Internet ultrapassou arádio como meio preferido (em todosos países analisados). Esta preferên-cia é especialmente clara fora dos Es-tados Unidos. Dentro dos EUA, 47%dos inquiridos dizem preferir a Internetpara ouvir música, comparado com os27% que preferem a rádio. Noutros paí-ses, cerca de 60% dos jovens preferema Internet comparando com os 20% quepreferem a rádio6;

4 Rediscover the serendipity of radio, Marc Fisher,The Washington Post, 04/02/06

5 “Jovens (18-34) acham que a rádio não é portá-til! ”, O segundo Choque, 14/12/05 (cons. a 23/12/06)

6 “Yahoo, OMD Study: Youth Prefer the Internet

• Um último estudo, neste contexto, é daArbitron e foi divulgado peloThe NewYork Times: entre a primavera de 1999e a primavera de 2005, os ouvintes en-tre os 12 e os 17 anos ouviram menos15%, os 18-24 menos 15,3% e os 25-34menos 13,2% (as outras faixas etáriastêm também quebras, mas inferiores a10%)7;

2.2.1 Razões para perda da rádio

Vamos encontrar dois tipos de argumentospara justificar esta queda da rádio entre osmais novos: os de carácter exógeno e os en-dógenos.

Relativamente aos primeiros, como já seviu, a rádio ganhou finalmente concorrênciano seu terreno preferencial, o da acumula-ção e o da portabilidade, e no seu conteúdomais apetecível, a música. Não só existemnovos suportes que são autónomos e portá-teis, como os telemóveis, os leitores de áudioou as consolas de jogos (qualquer um delescom grande potencial de crescimento, a par-tir de memórias internas ou externas), comoa nova música deixou de chegar quase ex-clusivamente pela rádio: chega agora atra-vés das muitas faces da Internet (downloads,canaisstreaming, podcasts, páginas oficiaisou oficiosas, troca de ficheiros em memóriasportáteis).

É na comparação com outros suportes tec-nologicamente mais evoluídos que se perce-

over Radio”, Radio Currents Online, 27/12/05 (cons.a 23/12/06),

7 “Changing Its Tune; Broadcast Radio Is Scram-bling To Regain Its Groove”, The New York Times,15/09/06 (alternativa: “A perda de ouvintes na rádioconvencional” O Segundo Choque, 20/09/06; cons. a06/01/07)

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bem as limitações da rádio. Mas à rádio tam-bém são apontadas falhas que justificam umaperda de protagonismo, nomeadamente entreo público mais jovem:

• A rádio, dependente das receitas pu-blicitárias, “tem procurado o dinheiro,atingindo os ouvintes mais velhos”, di-zem consultores especializados, esque-cendo os mais novos, que têm um podereconómico reduzido. O grupo prefe-rencial de ouvintes desejados pela rádioé, por isso, o dos 25-54. A situação éainda mais dramática relativamente aosque têm menos de 12 anos. À excepçãodaRadio Disney, não há mais projectosque os possam interessar. Se conside-rarmos que “Las audiencias confirmanun descenso en el consumo infantil[detelevisão]. De hecho, es el único co-lectivo, junto a los jóvenes de 13 a 24años, que ha reducido el consumo te-levisivo. Si en 1995 los menores de 4a 12 años se pasaban 160 minutos de-lante de la pequeña pantalla, en 2005fueron 142, según la empresa de me-dición de audiencias Sofres” (El País,13/08/06), conclui-se que estes jovensestão no computador, nas consolas e naInternet;

• Parece certo que existe um divórcio en-tre a linguagem da rádio e a dos maisjovens, não só pela estabilização gera-cional que a rádio procura mas tambémpela incapacidade em acompanhar aevolução tecnológica a que os mais no-vos estão dispostos. De alguma formapoderia dizer-se que quando a rádio erao único meio disponível a fornecer mú-sica os jovens acabavam por aparecer;hoje já não é. . .

• E em contraponto à reduzida dimen-são dasplaylists das rádios musicais,as novas gerações parecem ter uma ati-tude diferente relativamente à música:coleccionam-na! E em vez de discos, naintegra, apenas canções. Legal ou ile-galmente têm ao seu dispor milhões decanções – que podem enviar aos ami-gos por e-mail (em vez de terem de gra-var uma cassete ou um CD). Será aquiloque o presidente daNettwerk MusicGroup, Terry McBride, chama de gera-ção “we-pod”: “ os fãs estão lenta masseguramente a recuperar o controlo so-bre a indústria musical e a ouvir mú-sica da forma que as pessoas ouviam há30 anos, apenas por aconselhamento”,(“ Internet killed the radio star, says techguru”, 24 Hours Vancouver, 4/12/06);

• “El joven de la Generación Youtubequiere interactuar, se aburre con algoque dure más de cinco minutos y, so-bre todo, no tolera los anuncios. Portanto, el modelo mediático tiene quecambiar”8 . A questão da publicidadetem sido das mais estudadas nos últi-mos anos, não sendo pacífico até queponto os mais jovens a toleram. A for-mulação não pode ser feita entre a op-ção de ter publicidade ou não ter, massaber que preço estão disponíveis a pa-gar para não ter. “Os que têmiPodseoutros leitores de mp3 têm mais proba-bilidade de considerar a publicidade narádio como intrusiva”, diz um estudo daArbitron/Edison Media Research(“SpotLoad Study 2005”). “ Um em cada seisinquiridos neste estudo tem umiPodou

8 “Cómo es la generación YouTube?”, José A. delMoral, Allianzo Netwoks, 9/11/06

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um leitor de mp3. Estes são os que maisdizem que a publicidade é ‘sempre’ ou‘habitualmente’ intrusiva (34%)”9.

Por tudo isto não é de estranhar que o pre-sidente de um dos principais grupos de rá-dios nos Estados Unidos, Joel Hollander, daCBS Radio, confesse que “é extremamentedoloroso” escutar o seu jovem filho dizer que“não há nada para ouvir na rádio”.

2.3 Opções para a rádioVisto desta forma fatalista, a rádio, sobre-tudo musical, estará condenada. Mas há ca-minhos que a rádio pode tomar para tentarsobreviver – conciliando a sua característicagratuita com a forte implantação histórica ecultural:

• Deixar, de uma vez por todas, de enten-der a Internet como rival e potenciar-se através dela, criando múltiplos ca-nais de difusão musical, chegando a ni-chos esquecidos e possibilitando umalógica de diversidade e de repetição, pa-lavras inconciliáveis na rádio convenci-onal (mas não para os canais áudio quetransmitem emstreaming); Para ElsaMoreno Moreno a especialização mu-sical pode não ser a única resposta àpergunta sobre os novos conteúdos darádio “pero sí la más extendida y pro-bablemente lo siga siendo durante lospróximos años a través de los diferen-tes soportes de producción y distribu-

9 http://www.edisonresearch.com/home/archives/SpotLoad_Study_2005.pdfin “Jovens e (pouca) pu-blicidade” O Segundo Choque, 11/11/06 (cons. a26/12/06)

ción ante los que converge el médio”10.O mesmo caminho é apontado por umestudo daTechnoMetrica Market Intel-ligence: “O futuro da rádio musical re-side provavelmente em entretenimentoaltamente especializado e em apresen-tar novos artistas e produtos musicais amercados altamente especializados”11.A Internet também permite as tais ex-pressões de interactividade, um dos se-gredos dawebsocial, e que não há razãopara a rádio não incorporar;

• O sucesso desses canais de áudio é ex-plicável pela desatenção da rádio con-vencional – que tem oknow how, masse limita a repetir fórmulas. Poderia tersido ela a promovê-los. Ou seja, ganhaquem tiver conteúdos que façam a di-ferença e se, quem os tiver, os adaptaraos novos tempos Se isso não aconte-cer, não faz sentido concorrer quando aperda é evidente;

• Mais do que apostar em inovações tec-nológicas que parecem condenadas amédio-prazo (como oHD, que permiteo multicasting, mas obriga a novos apa-relhos e a novas lógicas de convergên-cia), o esforço da indústria deveria serpara convencer as marcas que operamos novos suportes a integrar a rádiocomo funcionalidade standard (uma en-tre várias); ou seja, estar onde estão, eonde estarão cada vez mais, os poten-

10 Elsa Moreno Moreno, s/ título,http://www.unav.es/fcom/jornadas2000/Ponencias/Ponencia%20Elsa%20Moreno%20Final%20.htm(cons. a 06/01/07)

11 “Music Radio Stations Hard Hit By Perso-nal Digital Music Revolution”, Music Industry NewsNetwork, 08/06/05 (cons. a 06/01/07)

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ciais ouvintes (o receptor de rádio, talcomo o conhecemos hoje, está conde-nado a convergir ou a desaparecer);

• E, finalmente, não se limitar à conecti-vidade em telemóveis, consolas ou lei-tores de áudio, mas encontrar progra-mas, serviços e conteúdos que estas pla-taformas – por serem apenas distribui-doras – não contemplem; a espontanei-dade da voz humana parece um valordeterminante.

2.3.1 Convergência digital e novos con-teúdos

Em face de tudo quanto foi dito parece certoque há, pelo menos, duas ideias-chave no fu-turo da rádio, sobretudo da musical: conver-gência digital e novos (melhores?) conteú-dos. Provavelmente nenhuma das duas con-seguirá sobreviver sem a outra. E a explica-ção é simples: com a digitalização, a revo-lução não se faz apenas pelo lado do emis-sor ou do receptor. Faz-se envolvendo estasduas zonas essenciais, mas também a mensa-gem e o feedback. Afinal, nada mais do queaproveitar os caminhos abertos pela própriaInternet.

Se conseguir conciliar uma forte presençaconvergente com novos conteúdos, até po-derá tirar partido das tecnologias que, agora,a ameaçam, aumentando o tempo de escuta(o podcastingparece ser o melhor exemplo).

Um exemplo de que como uma não per-mite triunfar sem a outra: menos incentivadapela indústria musical (que, não precisandoem exclusivo, pode dividir atenções e recur-sos por diversos canais, sobretudo relacio-nados com a Internet), a rádio musical terámenos argumentos e incentivos – menos ex-

clusivos, menos antecipações, menos valor.Sendo menos interessante terá menos ouvin-tes. E com menos ouvintes os anunciantesafastar-se-ão, como mostram dados mais re-centes. Irreversível? É aqui que entra a ló-gica de novos conteúdos. Partindo do pres-suposto de que com os mesmos não conse-guirá afirmar-se e de que a Internet é cadavez mais social, a rádio terá de ser mais in-teractiva (recorrendo à Internet para se com-plementar em tempo real) e menosgatekee-per (menosplaylist), conciliando esta lógicacom um argumento de peso sobre os canaisde streaming: a voz, que poderá estar pre-sente a cada momento.

O futuro não é certo – nem é certo, porexemplo, que éter estreamingcoexistam du-rante muito mais tempo – mas há algo queparece abrigado de qualquer futurologia: sócom novos conteúdos a rádio musical podesobreviver. É que o ambiente não é maiso mesmo: dooffline passamos, todos, parauma realidadeonline. Com outras caracte-rísticas, exigências e possibilidades.

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