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INTERPRETAÇÕES CALIGRÁFICAS DAS CANÇÕES
um projeto de
KLEITON & KLEDIR
curador
LuíS AuGuSTO FISChER
patro
cíni
o
prod
ução
finan
ciam
ento
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ltura
ll
DO QUE SÃO FEITAS AS ALMÔNDEGASLuís Augusto Fischer
les clássicos em que, a cada momento, os protagonistas não tinham a menor clareza sobre o que ia dar e o que não ia dar certo, e por-tanto não tinham certeza da correção e da precisão de cada tiro que precisavam dar a cada tanto.
Mas deu certo, da maneira como as coisas dão certo – meio almôn-dega, que olhando de longe não tem lá uma cara tão atraente, mas provando é satisfação garantida. (Parêntese: um dos dois, ponhamos o nome, o Kledir, é vegetariano, e em homenagem justa a ele deve-mos lembrar que existe almôndega sem carne. Olha aí, Kledir.)
O certo que deu foi os dois irmãos – o já nomeado Kledir mais o Kleiton, o do violino, do cabelo crespo, entendeu? – saíram pelo mundo brasileiro a cantar, fazendo sucessos com fado, sátira, lirismo, saudade do sul, refrães pregnantes, e um bom humor muito raro, um astral de amizade e gentileza que, pensando bem, repre-senta um naco do melhor que o país tem, de sul a norte.
Quantos anos se passaram desde então? Meu Deus, meu deus, muito tempo. Décadas!
No meio delas, ocorreram casamentos, filhos, viagens, tempo-radas em que a dupla se separou, mais shows e discos. Morreu o elepê, veio o cedê, que também se foi dando lugar ao inefável, agora o devedê que convive com outros elepês e cedês, mais a rede mundial – e tudo isso alimentado por canções que alimenta-vam a vida, como sempre ocorre quando a coisa é boa, a mistura dá certo. Almôndega.
Não é querer forçar a conta ou dar relevo ao que não tem, mas 2014 representa quarenta anos de arte para os dois. Eu sei, o senhor olha pra eles e não diz, mas são sim quarenta anos de, como se diz, estrada. O endereço habitual dos dois, cada qual com sua família e tal, é Rio de Janeiro, mas eles andam para cima e para baixo, para o oeste e de volta ao leste na geografia do Brasil. E nunca param de lembrar que tudo nasceu longe demais das capitais. Nunca renegam esse pertencimento e nunca deixaram de se entregar ao mundo, numa dialética que, preste atenção, é rara, para gaúchos.
Confira comigo no replay. Ao longo do tempo, artistas nascidos no Rio Grande do Sul ou bem permaneciam aqui e eram reconheci-dos como gaúchos, ou iam para outra parte (Rio de Janeiro, quase sempre) e perdiam o título de gaúchos. Isso, claro, vista a coisa pela lente de quem ficava no Rio Grande do Sul.
Mas havia uma contrapartida maluca, compondo um tipo particu-lar de torcicolo cultural: os que ficavam, ao mesmo tempo em que eram vistos como da casa, não tinham passado pela dura prova de ir lá, no centro cultural do país, e vencer, ser reconhecido como brasileiro, como um dos grandes; na mão oposta, os que tinham ido embora e dado certo por lá, mesmo sem ganhar o carinho dos res-sentidos que aqui ficavam, ostentavam a aura dos vencedores.
Ponhamos nomes na conversa. Do primeiro time, os ficantes, Mário Quintana, Teixeirinha, Vasco Prado, Nelson Coelho de Castro, Bebeto Alves, Nei Lisboa – todos eles artistas de obra de primeira em seus respectivos campos e públicos, todos eles sem o carimbo dos “grandes centros”, vistos quase como gente da família mas com histórias complicadas de rejeição ou insucesso junto ao mundo externo. Do segundo time, os partintes, Augusto Meyer, Raul Bopp, Carlos Nejar, Elis Regina – idem, todos muito bons no que faziam (e fazem), ostentando o tal carimbo, com histórias de sucesso “lá fora” para contar, mas vistos como gente que renegou o pago.
Certo, nada é tão restrito assim, e casos como o de Erico Verissimo e Iberê Camargo, celebrados dentro e fora dos limites da província, estão aí para comprovar. Talvez se possa dizer o mesmo acerca de Lupicínio. Para eles há apreciadores em toda parte.
É possível, até provável, que essa esquizofrenia cultural tenha aca-bado nos tempos atuais, ou ao menos tenha esmaecido fortemente. Escritores das novas gerações tendem a viver essa tensão de modo bem mais leve, tendo antes de si os exemplos bem-sucedidos dos mais experientes Luis Fernando Verissimo e Moacyr Scliar, Lya Luft, Caio Fernando Abreu e João Gilberto Noll; especialmente cancionis-tas mais recentes experimentam um à-vontade notável no trânsito entre cá e lá. Humberto Gessinger e os Engenheiros do Hawaii, cujo primeiro disco se chamava “Longe demais das capitais”. As bandas Cachorro Grande e Bidê ou Balde. Adriana Calcanhoto. Antônio Villeroy. Vitor Ramil.
Parágrafo para esse último. Irmão mais novo da mesma família em que brotaram Kleiton e Kledir, Vitor não apenas viveu esse processo como formulou um conhecido ensaio sobre ele, a partir da manchete que inventou e que fez carreira – a “Estética do Frio”. Vivendo no Rio na época e experimentando já um relativo sucesso, fruto de seu tra-balho e talento, mas inegavelmente caminhando pelas picadas aber-tas pelos irmãos mais velhos, Vitor se deu conta de que não tinha sentido nem cabimento renegar o Sul, sua arte e suas contingências, para tornar-se outra coisa, que um provinciano pensa como oposta à condição provincial. (Essa outra coisa é ser brasileiro.)
Kleiton e Kledir, esse é o nosso ponto. Mais um mate?Estavam postos em relativo sossego os dois irmãos,desfrutando
de uma carreira que funciona em toda parte, cantando e recantando Maria Fumaça, Navega coração, Deu pra ti, Fonte da saudade, Vira virou, Paixão, Nem pensar, tantos sucessos acumulados nas ditas quatro décadas de carreira ao lado de novas composições, sem contar os projetos paralelos de um e de outro, sempre acesos e
criativos – Kleiton fazendo um mestrado em Música em Paris, Kledir publicando livros, para só citar dois exemplos –, quando foram mais uma vez mordidos pela inquietação, essa mosca insaciável que ator-menta os artistas – e os leva para adiante.
Mosca que se apresenta sob várias formas e cores, a inquietação que os mordeu conduziu-os a um território que, bem pesadas as coisas, tem com o mundo da canção uma relação de estranheza e intimidade, muito parecida com aquela que há entre o Rio Grande do Sul isolado e o Brasil como um todo – conduziu-os ao território da literatura.
O senhor pergunta se são mesmo territórios distintos, o da canção e o da criação literária? Tem profunda razão de ser a dúvida. Compartilho dela.
Dependendo da distância que se toma para observar o fenômeno, a canção faz parte do reino da literatura, ou ao menos é vizinho. Ambos são artes da palavra, e por aí a literatura e a canção são apa-rentadas também do teatro, da ópera, da tirinha, das histórias em quadrinhos, tudo isso e mais alguma coisa.
Mas não dá pra esquecer que, a despeito dessa afinidade, a canção é simultaneamente uma arte dos sons e ritmos. Ela só existe na medida em que é as duas coisas, equilibra uma na outra, a outra na uma, e vai levando. (A imagem do equilíbro foi formulada por um excelente pensador da canção, Luiz Tatit, por sinal também cancionista.)
Kleiton e Kledir se propuseram uma nova viagem, dentro desse território das artes da palavra, ou então, se quisermos, entre duas províncias desse território, a província da canção e a da literatura de livro. Resolveram inventar um percurso novo: não se tratava de pedir letras, poemas, trechos prontos de texto, para escritores e, então, compor melodia, inventar harmonia, propor instrumentos para acompanhar. O que passou pela cabeça dos irmãos era convi-dar escritores de livros para compor canções junto com eles.
Nada óbvio, como se vê. Uma coisa é o carinha pegar um poema, um trecho de texto, e
brincar com ele, tentando encontrar aquele equilíbrio entre letra e melodia. Nem era o caso oposto, oferecer uma melodia para os escritores inventarem alguma letra que ali coubesse, que ali se equi-librasse. Essas duas modalidades de composição de canções funcio-nam, e há casos muito bem sucedidos, no Brasil e fora dele.
Mas era outra onda, outro caminho. Os irmãos queriam se acercar de escritores, especificamente escritores gaúchos – pela afinidade óbvia, mas também por outro motivo, que adiante explico –, para compor com eles. O tempo todo, desde o começo, ao lado de cada um dos escritores convidados.
Corte para uma cena concreta. Certo dia, meados de 2013, recebo um recado do Vitor Ramil: o Kledir queria conversar comigo, para um projeto. Sim, claro, passa meus contatos para ele. E tu sabes o que é, de que se trata? Não, o Vitor não sabia.
Alguns dias mais tarde, era o inverno ainda, recebo o honroso telefonema anunciado. O Kledir queria uma conversa ao vivo, tinha uma ideia e queria saber se eu topava ajudar. Claro que sim, res-pondi. E marcamos uma conversa para o mesmo dia; por facilidade geral, numa área de alimentação de um shopping.
E lá, enquanto o Kledir comia uma massa (sem carne, que ele não come, já contei), comecei a saber das intenções. Queriam, ele e o
Fora do eixo Rio – São Paulo. Longe demais das capitais. Me pergun-taram se eu sou gaúcho, está na cara, repare o meu jeito. Estética do frio. Amigo, boleie a perna, puxe um banco e vá sentando: foi bom você ter chegado, eu tinha que lhe falar – um gaúcho apaixonado precisa desabafar.
Ah, não sei se o senhor sabe, mas ter nascido longe custa. Custa quando se permanece nesse longe, e custa mais ainda se a gente quiser sair desse longe. Ou melhor, corrijo: se a gente quiser conti-nuar nesse longe mas com direito a sair dele, e vice-versa, se quiser sair para viver em outra parte, noutra lonjura, lá no centro dos acon-tecimentos, mas com direito de voltar ao longe original.
Qual longe? Quão longe? Assunto que podemos ir conversando. Boleie a perna, vamos tomar um mate. Estamos num bar do Bom Fim, em Porto Alegre. Ou estamos na praia de Ipanema, Rio de Janeiro. Ou estamos num bar da Vila Madalena, São Paulo. Estamos onde calhar, não importa: aceite um mate.
O assunto aqui é um novo capítulo na vida de uma já calejada dupla de artistas, cantores e compositores, cancionistas para dizer de modo simples e direto. Seus nomes, o senhor já viu na capa, não preciso repetir. Mas digo que são irmãos de sangue, nascidos de mesmo pai e mesma mãe, na mesma cidade – longe pra burro. Pelotas, cidade cosmopolita ao sul do Rio Grande do Sul. Tão ao sul que quase não dá para ser mais sul, porque em seguida já vem o Uruguai, acabou o Brasil.
A história é longa mas pode ser sumariada assim: música em casa, gosto apurado com aulas de instrumentos, convivência com tango platino e samba brasileiro, mais folclore gauchesco falando de campos e gados, mas tudo isso modulado pelos anos 60 – que se traduz em rock’n’roll estrangeiro e brasileiro, ácido ou român-tico, bossa nova, MPB, tropicalismo, black music norte-americana e brasileira, modalidades nascidas em contextos diversos mas todas, rigorosamente todas, conversando entre si e gerando coisas inespe-radas e sensacionais.
Aí os dois irmãos, junto com amigos, em meados dos anos 70, em Porto Alegre – capital do estado, mas ainda longe demais –, resolvem acreditar que o bololô sonoro dava pé, agradava e abria caminhos. Ajudaram a inventar um grupo com o críptico nome de Almôndegas.
O senhor sabe, eu sei, almôndegas se fazem de mistura. Tem carne moída, tem temperos, tem farinha, e se der liga vai pra frigideira ou o forno. Dizendo de outro modo: tem carne, mas não é churrasco; tem tempero, mas não é forte como se usa na Bahia; tem farinha, mas não é um pão, daqueles que compõem o clássico café da manhã brasileiro.
É uma mistura, mas já é outra coisa. Síntese, é o que é.Isso tudo faz tanto tempo... Já dá até para contar a história assim,
rapidinho. Mas o que importa é que estamos falando de um pro-cesso longo, um verdadeiro movimento da história cultural, daque-
Kleiton, que eu os ajudasse na conversa inicial com alguns escri-tores do Rio Grande do Sul – queriam fazer um disco, que seria um dvd e um show e uma turnê, sabe-se lá mais o quê, nesse novo projeto que se abria.
Fiz as perguntas que me ocorreram (iam pedir poemas aos escri-tores? iam levar melodias para eles?), mas mais que tudo saudei a ideia. Ali estava algo realmente original, no mundo das artes da pala-vra. Mundo que tem já no Brasil uma história respeitável, tanto na canção quanto nas várias modalidades de literatura de livro, mundo no qual, portanto, não se produzem novidades assim no mais.
Aqui explico o outro motivo da força dessa ideia. Mas preciso de um tempo para botar de pé a explicação. Mais um mate?
Ali está a literatura, no sentido tradicional dessa palavra: os livros, os romances, os leitores, os poemas, etc. Desse lado, o Rio Grande do Sul tem experiência forte e, em termos brasileiros e sul-ameri-canos, bastante profunda. Sem ir muito longe na descrição, veja-se que no estado gaúcho floresceram escritores de excelente quali-dade, como Simões Lopes Neto e Erico Verissimo, mas mais que isso costuma existir uma forte ligação entre os escritores, grandes ou não, e o público leitor.
Espera, não é óbvio isso: não é toda parte, cá na América do Sul, e particularmente cá no Brasil, que conta com um circuito forte, está-vel e em constante renovação, em matéria de produção e leitura de autores do próprio estado, da própria região. Por que isso?
Literatura, no Rio Grande do Sul, rima com sonho de autonomia: subproduto culto da desejada e derrotada República do Piratini, a cultura letrada entre nós se encarregou de veicular uma variedade de interpretações desse sonho, dessa utopia, que tendo morrido na vida real ganhou a força dos desejos reprimidos, para o bem e para o mal.
Rima também com outros fatores. Terra de governos republica-nos de certa radicalidade, a palavra escrita tem prestígio na escola. Região fria, é propícia para o recolhimento que dá ensejo à leitura e à reflexão. Província que acolheu imigrantes europeus que prestigia-vam a leitura e a escrita, o Rio Grande do Sul vê no escritor, assim como no professor, uma figura de relevo público.
Assim, quando Kleiton e Kledir pensaram em se aproximar de escritores com o generoso projeto, estavam fazendo um gesto de reconhecimento dessa antiga força.
Mas tem o outro lado. Compor uma canção, tenho convicção disto, implica encontrar o ponto de mediação entre a fala e o canto (estou seguindo os passos do argumento de Luiz Tatit, acima citado). Sem esse ponto, a canção pode existir, claro, mas ela não terá a força da melhor tradição cancional brasileira. Foi justamente o encontro dessa mediação que permitiu a existência de Noel Rosa, de Lupicínio Rodrigues, de Chico Buarque, de Caetano Veloso, de Paulinho da Viola: a gente ouve o que eles compuseram e sabe, intimamente, que ali alguém está cantando uma fala, alguém extraiu da fala familiar alguns elementos-chave, estabilizou-os e, com isso, permitiu que todo mundo reconheça nesse canto a dicção, ou melhor, a entoação da vida.
Por isso é que a canção é tão mais significativa quanto mais bem faz essa ponte entre a vida e a arte, entre a arte e a vida.
Sendo isso uma verdade geral, como creio, segue-se uma dúvida, antes de voltar ao relato acima suspenso: a fala gaúcha, ou as falas gaúchas, encontraram já seus compositores ideais, tanto quanto,
digamos, Noel Rosa encontrou para a fala classe-média carioca, Adoniram Barbosa idem para a fala de pobre paulistano?
A resposta nos encaminha para o começo desta já longa conversa: para a fala gaúcha moderna urbana, que envolve algo do mundo rural e do folclore mas já é posterior à Bossa Nova, quem pri-meiro encontrou o ponto de mediação foram os Almôndegas, e em seguida a dupla Kleiton e Kledir.
A nova ideia deles, assim, trazia desde sempre uma força por assim dizer histórica das mais expressivas. Tinha tudo para dar certo.
Minha participação na história, assim, foi bastante simples e em todos os momentos muito agradável. Eles tinham um conjunto de escritores já em mente, e eu propus uns nomes de alguns outros, de vez em quando apresentando gente que os dois desconheciam pes-soalmente mas de quem conheciam algo da obra. Listei traços da personalidade literária de uma série de escritores, pensando em abran-gência: gente mais velha, gente mais nova; gente de escrita mais con-vencional, gente de ousadia formal; gente dedicada apenas ao mundo urbano contemporâneo, gente que frequenta temas do passado rural.
(Ah, sim, esqueci de dizer: na hora zero da conversa toda, o Kledir contou que esse projeto tinha a ver com uma bela história do pas-sado: desde os anos 70, Caio Fernando Abreu e Kledir mantiveram uma boa amizade, que se complementou com uma parceria, envol-vendo em seguida o Kleiton, numa canção que leva o nome de “Lixo e purpurina”. Isso andou por conversas e cartas, por anos, e é a raiz de todo o projeto, agora completado. Foi esse caso que deu ao Kledir a certeza de que escritores de prosa poderiam ser excelentes parceiros em canções. A única pena é que o Caio não está mais aqui para ouvir e curtir.)
Minhas sugestões, então, passaram a ser um acréscimo a essa pedra angular, a parceria com o Caio.
E assim foi. Fiz contatos iniciais apresentando a ideia aos escrito-res. Quase todos aceitaram de primeira, mesmo quando reticentes. Em outras palavras, alguns me responderam usando um argu-mento forte para terem resistência – como é que um escritor, no fim das contas um solitário, um praticante de uma arte fria, tramada e depois lida em esfera sempre individual e isolada, poderia se meter na composição de canções, para palco, para a estridência da perfor-mance, para o âmbito público que ela respira?
O Kleiton e o Kledir, com a humildade dos sábios, entraram em campo, feito esse primeiro contato e estabelecida a hipótese de parceria.
E o que aconteceu? Bem – um último mate, agora? –, o resultado está aqui, neste traba-
lho, que honra uma longa tradição, aliás, duas, a da literatura e a da canção, inventando uma síntese nova. Os dois irmãos conversaram, perguntaram, propuseram, ofereceram seu comprovado talento para uma aliança toda nova, toda promissora, toda bela. E saiu cada coisa...
Luis Fernando Verissimo, Leticia Wierzschowski, Martha Medeiros, Lourenço Cazarré, Daniel Galera, Fabrício Carpinejar, Claudia Tajes, Alcy Cheuiche, Paulo Scott, mais o Caio F., todos e cada um com Kleiton e Kledir.
O mundo entra em novos eixos, se espalha em nova geografia, quando a arte funciona. Nova síntese, almôndega inédita.
Olha aí. Escuta aí. •
COISA DE NETUNO EM LIbrAKleiton & Kledir
sem fim. Histórias que certamente caberiam dentro do “bule mons-tro” que ficava pendurado na fachada de uma loja, na esquina da Sete com a Andrade Neves.
Paulo Scott escreveu sobre um cara que tenta estabelecer as bases de um novo relacionamento, com os encontros e desencontros que fazem parte do dia a dia. Sua paixão pelo hip-hop transbordou os limites dos versos cantados e surgiu também um texto falado, pró-prio do “ritmo e poesia”.
Com Daniel Galera foi um pouco diferente. Partimos de alguns esboços musicais que ele havia criado e inventamos uma melodia para um deles, Ventotto Spazzolini da Denti. O título em italiano remetia a um antigo conto que ele havia escrito, em que um casal briga por causa de uma escova de dentes. Na letra, por fim, entre-laçando ainda mais os universos de música e literatura, Galera reconta a história da briga do casal, agora ambientada no verão escaldante de 2014 em Porto Alegre.
Luis Fernando Verissimo, por sua vez, entrou por um olho mágico e descobriu que há um outro mundo por trás desse que se vê. Uma viagem lírica, uma revelação, um olhar poético e iluminado sobre as entrelinhas da natureza humana.
Alguns autores sugeriram musicarmos poesias que já estavam prontas, mas insistimos com a ideia de que deveriam escrever “palavras para serem ouvidas”. Foi um enorme desafio. Como diz Verissimo em seu depoimento, escrever “letra de música é outra coisa”. Somos agradecidos a todos pela coragem e generosidade de aceitarem participar dessa aventura. A contribuição que trouxeram é inestimável.
São escritores que dominam com talento a prosa de ficção e abri-ram mão da segurança para participar de um vôo no escuro, sem rede. Ou melhor, uma rede frágil sustentada por dois guris do inte-rior do Rio Grande que sempre gostaram de ler e cantar.
Compor com estes autores que tanto admiramos foi um privilégio. Estamos muito felizes. Caio deve estar sorrindo. •
Porto Alegre, anos 70. Caio Fernando Abreu lançando seus primeiros livros. Nós, Kleiton & Kledir, gravando nossos primeiros discos com Almôndegas. Foi nessa época que, entusiasmados, começamos a conversar sobre a ideia de fazer uma música em parceria. A vida nos levou para lugares diferentes, distantes, mas sempre que nos encon-trávamos o assunto era o mesmo: “E a nossa música?”
Anos 90. Caio estava lançando Ovelhas Negras e um dos textos do livro falava exatamente sobre o tema que queríamos retratar. Era o toque que faltava. Começamos a esboçar a melo-dia e Caio se dedicou a reescrever a ideia em forma de letra de música. Fomos trocando figurinhas e finalmente nasceu a canção que tínhamos passado mais de 20 anos tentando fazer. Lixo e Purpurina fala da nossa geração, nós os que nascemos com um trânsito de Netuno no signo de Libra. Uma geração que detonou com todos os tabus de comportamento e sonhou com um mundo de paz e amor.
Caio foi embora e por muito tempo guardamos a música com cari-nho, sem saber muito bem o que fazer com ela.
A ideia que surgiu foi este projeto. Com o auxílio luxuoso de Luís Augusto Fischer na curadoria, convidamos escritores contemporâ-neos - gaúchos como nós - e propusemos a eles o desafio de repetir a experiência do Caio: escrever versos para uma canção. O resultado é surpreendente. E original. Gente da palavra escrita escrevendo palavras para serem ouvidas.
O processo foi mais ou menos o mesmo para todos. Um primeiro encontro para entender o gosto musical do escritor. A partir dessa referência, procuramos criar uma música que refletisse isso e envia-mos para que escrevesse uma letra. Em geral, na medida em que foram chegando os textos, foi preciso fazer um trabalho de lapida-ção para poder encaixar as letras na melodia, segundo as regras da canção popular: métrica, prosódia e rima. Processo delicado, pois tínhamos consciência de que estávamos mexendo com pedras preciosas.
Surgiram temas variados, personagens raros, histórias únicas. Martha Medeiros, que já foi diagnosticada como portadora de feli-cidade crônica, escreveu sobre tomar a iniciativa e determinou: “É hoje que eu sou feliz!”. Claudia Tajes imaginou uma história de amor com começo, meio e fim que durava apenas uma noite. Fabrício Carpinejar inventou um personagem atrapalhado, sufocado por tanta felicidade, cansado de ser feliz.
Alcy Cheuiche escreveu versos escancarados em que um pai abençoa a relação de amor de sua filha com outra mulher. Leticia Wierzchowski enxergou seu reflexo no próprio filho, através da paixão comum pela natação. Retratos originais das famílias do nosso tempo.
Lourenço Cazarré, pelotense como nós, trouxe à tona lembranças de infância com mistérios, fantasmas, loucos de rua e molecagens
lixo e purpurina CAIO FERNANDO ABREU
felizes para sempre CLAUDIA TAJES
olho mágico LUIS FERNANDO VERISSIMO
piscina LETICIA WIERZCHOWSKI
vinte e oito escovas de dente DANIEL GALERA
pingos nos is MARTHA MEDEIROS
lado a lado ALCy CHEUICHE
cansado de ser feliz FABRíCIO CARpINEJAR
mistérios do bule monstro LOURENçO CAZARRé
rochas pAULO SCOTT
GABRIEL MEAVE méxico
VOLNEI MATTé brasil
CLáUDIO GIL brasil
ALExANDRE SALOMON brasil
ROBERTO DE VICq DE CUMpTICH estados unidos
FIZ COM GIZ | JULIANA ZARATTINI + MARINA ROSSO brasil
ALEJANDRO pAUL argentina
JAIME DE ALBARRACíN peru
JOãO BRANDãO portugal
GUILHERME MENGA brasil
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Caio Fernando Abreu arte Gabriel Meave
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Claudia Tajes
arte Volnei Matté
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Luis Fernando Verissimo
arte Cláudio Gil
OMparte02.indd 1 10/02/15 23:34
eu sou jovem outra vez
quando te olho me vejo em ti
a água e o tempo fluindo em mim
outra vez
eu sou jovem outra vez
eu inocente vencendo em ti
a vida inteira fluindo em mim
outra vez
o tempo em mim é sempre assim renasce ao sol das manhãs
a água em ti renova em mimbraços e mãos nas manhãs
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Leticia Wierzchowski
arte Alexandre Salomon
e na água, na água, na água
que dança entre os dedos eu sei que vou
e na água, na água, na água
o teu riso revela o que eu sei que sou
e na água, na água, na água
que dança em teu corpo eu sei que vou
e na água, na água, na água
o teu brilho reflete e eu sei quem sou
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Daniel Galera
arte Roberto de Vicq de Cumptich
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Martha Medeiros
arte Fiz com GizJuliana Zarattini + Marina Rosso
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Alcy Cheuiche arte Alejandro Paul
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ejar
arte Jaime de Albarracín
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Lourenço Cazarré
arte João Brandão
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Paulo Scott
arte Guilherme Menga
CAIO FErNANDO AbrEU
CLAUDIA TAjES
Vou falar não só pelos gaúchos, mas também pelos demais
povos: é difícil encontrar um vivente que não tenha alguma
ligação com a música dos ilustríssimos Kleiton & Kledir. Pode
ser pelo começo inesquecível nos Almôndegas (nome de banda
sensacional), pode ser porque, depois que saíram em carreira
solo, ou melhor, duplamente solo, os dois nunca mais pararam
de criar sucessos. Importante: não sucessos vazios, desses com
melodia pobre e letra indigente - como virou moda pelo mundo
-, mas música de verdade, trabalhada na letra e na harmonia,
coisa cada vez mais rara de se ouvir.
Por essas e muitas outras, o convite para participar do projeto
“Com todas as letras” foi uma grande honra. Nunca cometi
uma poesia, nada sei de prosódia, minhas rimas são capengas.
Tudo isso, claro, até o texto cair nas mãos do Kleiton e do
Kledir e virar uma delicadeza para escutar. O processo todo foi
bem complicado. Rabiscada a letra, era preciso experimentar,
construir, tentar. E dê-lhe desencontros. Quando K&K estavam
em Porto Alegre, eu sumia. No fim das contas, os e-mails e
telefonemas acabaram substituindo as tardes que deveríamos
ter passado juntos e ao vivo. Pela generosa paciência e pela fina
parceria, meus mais sinceros aplausos. E de pé.
LUIS FErNANDO VErISSIMO
Letra de música não é prosa nem poesia, é outra coisa. Não me
perguntem que outra coisa é essa, passei muito tempo depois
que o Kledir me pediu uma letra tentando descobrir como se
fazia. Consegui, finalmente, mas não sei o que fiz. A experiência
só aumentou minha admiração pela dupla K&K e outros letristas
como o Vinicius, o Chico, o Aldir Blanc, o Caetano e outros
mestres da outra coisa. Poesia pode ser musicada, claro. Em
Nova York vi um espetáculo extraordinário, a cantora e atriz
Audra McDonald interpretando Billie Holiday e cantando, entre
outras músicas, numa imitação perfeita, “Strange fruit”, canção
que nasceu como um poema de protesto contra o racismo no
Sul dos Estados Unidos, inspirado na imagem de corpos de
negros linchados pendendo de árvores como frutos estranhos.
Há outros exemplos de poemas que viraram música, mas acho
que a tese se sustenta. Letra é outra coisa.
LETICIA WIErzChOWSkI
Os desafinados também têm um coração
Se tivessem me perguntado qual dom eu gostaria de ter, lá na
grande repartição das almas ainda não-encarnadas, eu teria dito
que gostaria de saber cantar.
Durante a adolescência, flertei com a música e, por fim, ganhei um
violão dos meus pais. Fiz uns dois anos de aulas, mas o problema
todo era que, quando chegava em casa, ao tocar para minha plateia
ansiosa, ninguém reconhecia a música. O professor era um hábil
diversionista, enganando-me quanto à minha total falta de ouvido
e ao meu desafinamento atroz. Aquele mundo charmoso do "um
banquinho e um violão" não era mesmo pra mim, e aposentei o
instrumento que, anos depois, virou fetiche dos meus filhos pequenos.
Depois, comecei a escrever, enveredando pela vida de
personagens ficcionais com muito mais afinação do que pelas
cordas do meu violão esquecido no quartinho de guardados.
Mas sempre admirei o poder de passar uma ideia, um sentimento,
com uma letra de música. A precisão cirúrgica de provocar uma
emoção em poucos minutos, e o que deve ser a energia de gerar
uma emoção coletiva, vendo as pessoas cantarem em coro uma
música - nós, escritores, escrevemos na solidão, esperamos
meses, talvez anos, que o livro seja publicado, e depois dá-lhe
solidão de novo, enquanto o leitor, lá na sua casa inimaginada, lê
o nosso livro e experimenta as suas próprias emoções. Tudo exige
muito tempo, e muita solidão. E não vou mentir que desgosto...
Mas então os guris do K&K vieram com esta ideia de fazer
música com escritor. Eles vieram com a sua alegria - não existe
baixo astral com esses dois - e foram pacientes com os meus
medos, com a minha timidez escorregadia e com as minhas
pequenas e inúmeras bobagens - e então, dessas paciências
todas, mais um pouco de cloro e tardes de sol, outro tanto de
humor e de boas conversas, pois mate não teve, já que sou uma
gaúcha de araque, foi que nasceu Piscina.
DANIEL GALErA
Pouca gente sabe, até porque não faço questão de comentar, mas
tentei ser músico antes de escrever. Tinha catorze anos quando
comecei a ter aulas de violão clássico e popular, e minha ambição,
além de tocar em rodinhas nas viagem de colégio, era compor. Até
aprendi a tocar direitinho, mas esbarrei numa dificuldade enorme,
e finalmente intransponível, para escrever letras para as minhas
músicas. A canção, como a poesia, não estava a meu alcance.
Algum tempo depois encontrei minha vocação na prosa de ficção e
segui tocando violão apenas como hobby, até esquecer o assunto.
Por isso o convite para compor uma canção em parceria com o
Kleiton e o Kledir me pareceu não apenas uma ideia estimulante,
mas uma chance de aprendizado. Eles souberam adaptar o
método de trabalho aos meus potenciais e limitações.
Como ponto de partida, aproveitamos uma pequena
composição instrumental que gravei no computador em 2003 e o
tema de um dos meus primeiros contos publicados, "Intimidade".
Rascunhei os primeiros versos, incorporando elementos novos
que situavam a situação vivida pelo casal de personagens no
escaldante e pós-apocalíptico verão porto-alegrense de 2014. A
letra foi retrabalhada várias vezes. Nos encontros presenciais,
desdobramos os acordes e melodias iniciais em algo novo e mais
complexo, moldado pelo cativante estilo sonoro da dupla.
Escutar as primeiras versões foi como conhecer um fragmento
perdido de um caminho que eu próprio, sozinho, não pude seguir.
MArThA MEDEIrOS
Outros músicos já adaptaram poemas meus, porém num
processo que nunca exigiu grande envolvimento: eu cedia os
versos e eles voltavam com a canção pronta.
Mas com a dupla dinâmica K&K, logo vi que não seria essa
moleza: eles me fizeram colocar a mão na massa, pediram
referências dos meus sons preferidos, me estimularam
a palpitar à vontade durante a adaptação da letra. Moça
obediente, segui todas as instruções e acabei recebendo, em
troca, momentos que costumam ser incluídos na série “me
belisca”. Entre eles, audições privadas em pleno sofá da minha
sala. Os guris cantaram, compuseram e se divertiram com
a farra da criação. Show privado. Foi quando a escritora aqui
abandonou o papel de coautora e voltou a ser apenas a fã de
sempre, aquela que escutava no rádio sucessos como “Deu pra
ti” e “Nem pensar” e que nem em sonhos imaginava que um
dia iria partilhar dessa intimidade, virando amiga dos caras.
Pois virei, viramos e outras histórias virão. Este é apenas o
primeiro entre muitos pingos nos “is” que espalharemos por aí.
ALCy ChEUIChE
Nossa canção nasceu após algumas horas de um encontro
memorável. Foi aqui onde moro, na parte alta de Porto Alegre,
onde um dia giraram os moinhos de vento, que recebi a visita
dos irmãos Kleiton e Kledir. A missão: sintonizarmos nosso
processo criativo, antes de colocar esse mecanismo misterioso
em funcionamento.
Sem compromisso com nenhum tema, começamos falando da
grande exposição dos quadros de Van Gogh no Museu d’Orsay (eu
chegara havia poucos dias de Paris) e saboreamos nossa admiração
pelo pintor. Depois, contei da minha chegada à França, como jovem
estudante, exatamente no dia em que Edith Piaf morreu. Trocamos
opiniões sobre ela, sua voz e interpretação incomparáveis, e os
grandes cantores que revelou: Charles Aznavour e Yves Montand.
Kleiton recordou uma linda canção que compôs em Paris. Kledir
juntou em palavras todas aquelas imagens que nos encantam,
abrindo o caminho que iríamos percorrer. Depois, fizemos um selfie
para registrar a alegria de estarmos juntos, e eles me deixaram com
a missão de escrever a letra...
Na madrugada do dia seguinte, me acordei com os dois
primeiros versos que nasciam: Se tu gostas dela, minha bela /
O que é que eu posso te dizer? E, antes de levantar-me para
escrever a sequência, vi nitidamente o quadro Mademoiselle
Gachet, um dos últimos pintados por Van Gogh; só que, em
lugar de uma jovem, enxerguei duas naquele jardim. O que
aconteceu, a seguir, é de total responsabilidade do talento
geminado dos meus queridos irmãos.
FAbríCIO CArpINEjAr
Quando fui convidado para compor com Kleiton e Kledir,
fingi que não era nada. Juro, tratei como se não fosse nada.
Para evitar colapso nervoso. Fiz de conta que não era a dupla
que fez meu coração nos anos 80, quando era adolescente, e
que me inspirou a escrever descaradamente de Porto Alegre
e jamais disfarçar o "tu" gritado. Tratei como se fosse um
convite para correr com um amigo ou para tomar uma cerva
num bar qualquer. Algo singelo. Eu evitei transmitir o meu
contentamento de piá. Forjei voz de adulto, sério e espaçado,
imitando desinteresse. Falseei de tão emocionado. Agüentei
bonito até criar a letra com eles. Daí foi um deus me acuda, um
deus dará, a admiração virou amizade, dei vexame, falei o que
não devia e me emocionei como nunca imaginei.
LOUrENçO CAzArré
Para quem comprou seu primeiro toca-discos aos 37 anos, a
pedido dos filhos, o convite foi um espanto.
Música, eu?
Uma letra - explicou Kledir.
Passada a perplexidade, lembrei-me de uns poemas (na verdade,
prosa rimada) que andava rabiscando para um livro que contava
com um poeta (cordelista) entre seus principais personagens.
Mandei-os para o Rio de Janeiro.
Tens jeito para a redondilha maior – constatou o sempre gentil
e generoso Kledir.
Veio-me então a ideia de transcrever em versos de sete sílabas
trechos de uns contos pelotenses. Meti o machado nuns causos
enfeitiçados e arranjei umas dezenas de versos, que remeti aos
irmãos. Descartados uns versos, polidos outros, chegamos ao
esqueleto poético que recebeu uma primorosa vestimenta (meio
portenha) do multi-instrumentista e sonhador Kleiton. Foi por aí,
mais ou menos.
pAULO SCOTT
Quando decidi publicar um livro de poemas no início deste século,
cedendo a uma oferta de um amigo editor de Porto Alegre, não
imaginava que os desdobramentos mais imediatos e palpáveis
daquela escolha seriam me tornar próximo de sujeitos cuja obra
eu admirava. Na esteira dessa fortuna, e sem que eu jamais
pudesse prever, surgiu o convite para compor uma canção com
Kleiton & Kledir; da série de tardes em que trabalhamos na
criação dessa música, às vezes no estúdio caseiro de um ou do
outro, tenho certeza, surgiu uma amizade.
Ao lado do cinema e das histórias em quadrinho, a música
sempre foi um elemento de grande impacto na balança que
repercute na minha maneira de pensar e selecionar o que vale
a pena dizer, escrever. Tento, na medida do possível, me manter
coerente em relação às suposições e aspirações mais ingênuas e
desmesuradas da minha adolescência; havia um olhar, um modo,
uma curiosidade, que até hoje eu me esforço bastante para não
perder, embora a perda (sem retorno) seja inevitável.
As músicas de Kleiton & Kledir estavam no molde das coisas que
eu considerava, e ainda considero, mais geniais, das referências com
as quais tento dialogar até hoje. Ter a chance de conviver com eles,
com a sua genialidade foi sorte grande. Às vezes minha preocupação
era única e exclusivamente não atrapalhar, ficar meio de lado
deixando os dois pensarem, criarem, trabalharem, aproveitando o
tanto que eu pudesse a oportunidade do testemunho.
Penso que chegamos a uma música que carrega muito da
minha inquietação e da estranheza que é um pouco a marca
do que eu escrevo. Não há como agradecer a generosidade
desses dois caras, que também são escritores de mão cheia, que
conseguiram perceber aonde eu imaginava chegar e montaram o
caminho para que isso pudesse acontecer. A música é muito mais
deles, a genialidade é deles, mas como é concerto, suponho que
não seja arrogância demasiada da minha parte, é minha também. Só
posso dizer: obrigado. Que as músicas deste disco virem sua cabeça
como a obra inteira desses dois até hoje faz com a minha.
Kleiton, paulo Scott e Kledir
(sentido horário, a partir da esq.) Dunga, Dudu Trentin, Marco Vasconcellos,
Christiaan Oyens, Kleiton e Kledir
Kleiton e o violinoBranca Ramil
João Schmidt
Kledir e o cuatro venezolano
Adriana Calcanhotto
um projeto de KLEITON & KLEDIR
curador Luís Augusto Fischer
direção de produção Branca Ramil
produção executiva João Schmidt
captação Kleiton Ramil
produção administrativa Beatriz Araújo
assistente de produção Fabiana Costa
assist. de produção administrativa Juliana Silva
livro idealizado por Marcos Eizerik
CD / LP
produzidos por Christiaan Oyens
concepção musical Christiaan Oyens + Kleiton & Kledir
arranjos vocais Kleiton Ramil
gravado por Fabricio Matos / Toca do Bandido, Rio de Janeiro
assistente de gravação Leo Ribeiro
gravações adicionais Dunga / Quase 9 e Christiaan
Oyens / Spelunca, Rio de Janeiro
Tiago Becker / Soma, Porto Alegre
mixado por Alvaro Alencar / Musa NY, Nova York
masterizado por Ezio Filho no Audiolume / RJ
TODAS AS MÚSICAS EDITADAS EM PANDORGA (uNIVERSAL MGB)
GRAVADO E MIxADO EM NOVEMBRO/DEZEMBRO 2014
DOCuMENTÁRIO / DVD
direção e roteiro Gustavo Fogaça
produção Santa Transmedia
direção de fotografia, montagem e finalização Leo Coutinho
operadores de Câmera Dudu Chamon, Érico Cazarré, Leo Coutinho,
Gustavo Fogaça, Julia Maria Ferreira, Mastrangelo Reino, Samir Barcelos
PROJETO GRÁFICO
direção de arte Felipe Taborda
caligrafias Cláudio Gil
design Augusto Erthal
assistente de design Talita Garcia
fotos arquivo K&K
excetoRodrigo Lopes (Kleiton & Kledir pág. 7)Adriana Franciosi (Caio Fernando Abreu, pág. 51)Dunga (selfie, pág. 57)
AGRADECIMENTOS
Marcos Eizerik / PFC, pessoal da CUB, Gráfica Centhury, Francisco
Velnecker / Mão Santa, Luis Augusto Krause e Adriana Franciosi
PARCEIROS DE K&K
PFC - Propaganda Futebol Clube www.propagandafutebolclube.com.br
CUB www.cub.rs
Lunetterie www.lunetterie.com.br
Dominus Luthier www.dominusluthier.com.br
Up Rights www.up-rights.com
www.kleitonekledir.com.br
discografia, história, fotos, vídeos, letras e cifras + hot site Com Todas as Letras
CONTATO PARA ShOWS / MANAGEMENT
Ramil e Uma Produções
+55(21) 2542 8304 / 2542 5956
uma realização Biscoito Fino 2015
direção geral Kati Almeida Braga
direção artística Olivia Hime
gerência de produção Karolina Ávila
coordenação de produção Diego Lara
assistente de produção Jullie Steffanine
GuILhERME MENGA
Iniciou sua carreira profissional como designer trabalhando principalmente com internet
em startups e empresas de tecnologia. Em 2007 seu interesse por tipografia o levou à
pesquisa e estudo da caligrafia. Em 2008 fez seu primeiro curso com Andréa Branco em
São Paulo, além de cursos com Cláudio Gil, Ale Paul, Luca Barcellona e outros. Desde
2013 vem se dedicando exclusivamente às letras, desenvolvendo seu trabalho com
lettering e caligrafia em projetos de identidade visual, publicidade, editorial e artísticos
sob encomenda.
www.guimenga.com | www.instagram.com/guimenga
JAIME DE ALBARRACíN
Nasceu em Lima, Peru, em 1944. Calígrafo, designer gráfico, diretor de arte, artista, professor,
escritor e ilustrador. Sua obra caligráfica encontra-se representada em museus da Venezuela
e Rússia. Realizou exposições em países como Venezuela, México, Bélgica, Rússia e Ucrânia.
Foi publicado nos EUA, México, Peru, Argentina, Espanha, Alemanha, Hong Kong e Rússia.
Ministrou conferências e oficinas no Peru, República Dominicana e Venezuela. Atualmente
é ativo na pesquisa e prática de caligrafia tradicional e contemporânea usando mídia digital,
assim como tinta, papel e caneta.
www.caligrafiaenperu.blogspot.com | www.behance.net/jaimedealbarracin
www.facebook.com/jaime.dealbarracin
JOãO BRANDãO
Designer gráfico e diretor de arte. Versátil, vai da complexidade do UI design para web
ou aplicativos mobile, ao design editorial e caligrafia. Professor assistente da faculdade
de Arquitetura da Universidade de Lisboa (UL), diretor do curso, mestre em Design de
Comunicação. Membro do CIAUD, Centro de Pesquisa de Arquitetura, Planejamento e
Design. PhD em Design pela Universidade Técnica de Lisboa (UTL). Diretor do mestrado
em Design Gráfico do Instituto Politécnico Castelo Branco e membro da APD (Associação
Portuguesa de Designers).
www.joaobrandao.net
ROBERTO DE VICq DE CuMPTICh
Roberto de Vicq de Cumptich nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, graduou-se em Graphic Design
e mudou-se para Nova York a fim de fazer seu Mestrado no Pratt Institute. Hoje tem seu próprio
escritório de design em Nova York, especializado em design editorial, restaurantes e branding.
Dá palestras sobre tipografia e design e é autor de vários livros sobre seu próprio trabalho
gráfico. Seu livro mais recente To All Men of Letters and People of Substance, foi selecionado
como um dos 50 melhores pela AIGA (American Institute of Graphic Arts) em 2008. Já
recebeu vários prêmios e menções do Art Directors Club, AIGA, D&AD, Communication Arts,
Eye, Graphis, How, Print, Type Directors Club e dois Webby Awards. É Vice Presidente do
Type Directors Club, foi juíz do anual de tipografia Communication Arts em 2014 e presidente
da competição de tipografia do TDC em janeiro de 2015. Dará uma palestra na Brand New
Conference em setembro de 2015 em Nova York.
www.devicq.com
VOLNEI MATTé
Professor e designer gráfico em Santa Maria, RS, Brasil. Trabalha com foco em tipografia,
caligrafia e design editorial, e suas aplicações em materiais impressos e digitais. Ensina
tipografia, caligrafia, produção gráfica e design editorial no Curso de Desenho Industrial da
Universidade Federal de Santa Maria.
www.flickr.com/volneimatte
CALíGrAFOS
ALEJANDRO PAuL
Nasceu em Buenos Aires em 1972. Membro fundador do projeto Sudtipos, o primeiro
coletivo tipográfico da Argentina. Sua carreira como diretor de arte em estúdios de design
de prestígio levou-o a lidar com marcas de consumo de massa. Com a fundação da Sudtipos
em 2002, Ale concentrou seus esforços na criação de tipografias e “lettering” para agências
e venda comercial. Conferencista em numerosos congressos, foi publicado em livros e
revistas internacionais de destaque. Premiado com 4 prêmios do Type Directors Club of NY
(BurguesScript, Adios Script, Poem Script, Hipster Script). O concurso organizado em 2011
pela ATypI “Letter2” selecionou Piel Script como uma das tipografias mais representativas
da década. Membro da Alliance Graphique Internationale e da delegação argentina da ATypI.
www.sudtipos.com | www.behance.net/alepaul
ALExANDRE SALOMON
Doutorando em Design pela ESDI, Alexandre Salomon é Mestre em Design pelo Centro
Universitário do SENAC de São Paulo, na área de Comunicação e Cognição com a dissertação
Tipografia Arquitetônica Nominativa Carioca. É Bacharel em Desenho Industrial pelo Centro
Universitário da Cidade do Rio de Janeiro (2006) e Bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (1996). Alexandre Salomon tem 20 anos de experiência nas
áreas criativas nos campo do Design Gráfico e da Comunicação. Além disso participou de projetos
editoriais e de identidade visual e na produção criativa de marcas e de manuais de marcas.
www.salomondesign.com | www.behance.net/alexandresalomon
CLÁuDIO GIL
Artista, professor e calígrafo, nasceu no estado do Rio de Janeiro em Setembro de 1968.
Atualmente vive na cidade do Rio de Janeiro e é mestrando em História do Design na ESDI/
UERJ (Escola Superior de Design Industrial / Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
www.lagrafia.blogspot.com.br | www.behance.net/claudiogil
FIZ COM GIZ | JuLIANA ZARATTINI + MARINA ROSSO
Fiz com Giz é o projeto paralelo das designers Juliana Zarattini e Marina Rosso, que
encontraram no giz a possibilidade de explorar suas habilidades manuais. Desde 2013, as
duas fazem projetos de composições tipográficas para os mais diversos tipos de cliente, que
vêem no trabalho handmade uma maneira de deixar o ambiente de restaurantes, cafés e lojas
mais intimista e único. Além do giz, a descoberta de novos materiais tem desafiado as duas
a transferirem o estilo de seu trabalho para novos suportes.
www.fizcomgiz.com | www.instagram.com/fizcomgiz | [email protected]
GABRIEL MEAVE
É designer gráfico e tipográfico, ilustrador e calígrafo. Nasceu e é radicado na Cidade do
México, onde trabalha no seu estúdio e sua foundry KTF. Meave já projetou tipografias para
empresas nacionais tais como Telcel, o diário financeiro El Economista, Jumex e armázens
El Palacio de Hierro, e também a fonte institucional do governo federal do México. Suas
fontes originais Arcana e Organica são distribuidas por Adobe Systems. Já fez trabalhos de
design, lettering e ilustracão para cerveja Corona, P&G, McMillan, Pearson Education, FCE
e para diversas publicações, livros, agências, editoras e estúdios de design. Meave ensina
caligrafia e tipografia em diversas universidades e já deu workshops e palestras no México e
em outros países. Recebeu cinco prêmios pelo Type Directors Club de Nova York e três pela
ATypI; e já teve muitas fontes seleccionadas para as bienais Tipos Latinos 2006, 2008, 2010 e
2012. Phaidon Books, no seu livro Area_2 (2009) incluiu Meave como um dos cem designers
emergentes mais importantes do mundo hoje.
www.meave.org | www.behance.net/gmmeave
Lixo e purpurina CD BR4PA1500011 Lp BR-4PA-15-00001 3:36
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Caio Fernando Abreu)
participação especial ADRIANA CALCANhOTTO * voz Kleiton violino, voz e coroKledir violão e vozDudu Trentin fender rhodesMarco Vasconcellos guitarrasDunga baixoChristiaan Oyens bateria, coral sitar e percussão
FeLizes para sempre CD BR4PA1500012 Lp BR-4PA-15-00002 3:07
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Claudia Tajes)
Kleiton cuatro, violino, voz e coroKledir vozDudu Trentin piano acústicoMarco Vasconcellos guitarrasDunga baixoChristiaan Oyens bateria e percussão
oLho mágico CD BR4PA1500013 Lp BR-4PA-15-00003 4:06
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Luis Fernando Verissimo)
participação especial LuIS FERNANDO VERISSIMO saxofoneKleiton vozKledir vozDudu Trentin piano acústicoMarco Vasconcellos violãoDunga baixoChristiaan Oyens bateria e percussão
piscina CD BR4PA1500014 Lp BR-4PA-15-00004 3:48
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Leticia Wierzchowski)
Kleiton violão, voz e coro.Kledir vozDudu Trentin fender rhodesMarco Vasconcellos guitarrasDunga baixoChristiaan Oyens bateria, percussão e mellotron
Vinte e oito escoVas de dentes CD BR4PA1500015 Lp BR-4PA-15-00005 4:03
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Daniel Galera)
participação especial DANIEL GALERA guitarra e violão
Kleiton violão, violino, voz e coroKledir vozChristiaan Oyens guitarra
pingos nos is CD BR4PA1500016 Lp BR-4PA-15-00006 2:47
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Martha Medeiros)
Kleiton violão, voz e coroKledir vozChristiaan Oyens percussão e guitarra
Lado a Lado CD BR4PA1500017 Lp BR-4PA-15-00007 3:50
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Alcy Cheuiche)
Kleiton violão, violino, voz e coroKledir vozDudu Trentin fender rhodes Marco Vasconcellos guitarrasDunga baixoChristiaan Oyens bateria, percussão e piano acústico
cansado de ser FeLiz CD BR4PA1500018 Lp BR-4PA-15-00008 5:00
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Fabrício Carpinejar)
Kleiton voz e coroKledir vozDudu Trentin fender rhodes e piano acústicoMarco Vasconcellos violão e guitarrasDunga baixoChristiaan Oyens bateria e percussão
mistérios do BuLe monstro
BRINCANDO NA PRAçA DOS ENFORCADOSCD BR4PA1500019 Lp BR-4PA-15-00009 4:23V(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Lourenço Cazarré)
Kleiton violão voz e coroKledir cuatro e vozChristiaan Oyens percussão e mellotron
rochas CD BR4PA1500020 Lp BR-4PA-15-00010 5:25
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Paulo Scott)
participação especial PAuLO SCOTT falaKleiton violino e vozKledir vozDudu Trentin fender rhodesDunga baixoChristiaan Oyens bateria e teclados
tempo total 40:29
* Adriana Calcanhotto gentilmente cedida por Sony Music
um projeto de KLEITON & KLEDIR curador LUíS AUGUSTO FISCHER CD/LP produzidos por CHRISTIAAN OYENS DVD documentário dirigido por GUSTAVO FOGAçA Direção de Produção BRANCA RAMIL
dedicado aCAIO
FERNANDO ABREU
CAIO FERNANDO ABREU | CLAUDIA TAJES | LUIS FERNANDO VERISSIMO LETICIA WIERZCHOWSKI | DANIEL GALERA | MARTHA MEDEIROS | ALCy CHEUICHE FABRíCIO CARpINEJAR | LOURENçO CAZARRé | pAULO SCOTT | ADRIANA CALCANHOTTO
participação especial
patro
cíni
o
finan
ciam
ento
apoi
o cu
ltura
ll