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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA CURSO DE GRADUAÇÃO EM FÍSICA - LICENCIATURA Laura Suzumi Varjão Komatsu INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA Barra do Garças 2019

INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

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Page 1: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM FÍSICA - LICENCIATURA

Laura Suzumi Varjão Komatsu

INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

Barra do Garças

2019

Page 2: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM FÍSICA - LICENCIATURA

Laura Suzumi Varjão Komatsu

INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

Trabalho de Curso apresentado à Universidade

Federal de Mato Grosso - Campus

Universitário do Araguaia - Instituto de

Ciências Exatas e da Terra, como parte dos

requisitos para obtenção do título de Graduado

em Física - Licenciatura.

Orientador: Prof. Dr. Adellane Araujo de

Sousa.

Barra do Garças

2019

Page 3: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

2

Page 4: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

3

"Dedico este trabalho à minha filha!”

Page 5: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

4

AGRADECIMENTOS

Primeiramente quero agradecer a Deus por ter chegado até aqui!

Dedico este meu trabalho assim com as lutas durante o curso à minha filha Mariana

Komatsu carinhosamente chamada por mim de “chaveirinho” onde, todas as lutas, angustias e

alegrias esteve ao meu lado me dando forças para nunca desistir. Não foi fácil, mas

conseguimos!

Agradeço a minha família em especial minha mãe Elvira e meu pai Mario, aos meus

irmãos Sylvio e Suzuki que tanto me incentivaram a seguir em frente e lutar pelo que acredito,

assim eu agradeço o olhar e as atitudes protetoras sempre que precisei mesmo me dando

algumas broncas construtivas que carrego comigo com muito carinho. Vocês são meu porto

seguro!

Durante esse longo tempo de curso passaram diversos professores que não poderia

deixar de agradecer e que sempre levarei comigo os ensinamentos, as conversas e a paciência

para comigo, são eles: Prof. Dr. Arian Paulo de Almeida Moraes, Prof. Dr. Gilberto de Campos

Fuzari Junior, e em especial ao meu orientador Prof. Dr. Adellane Araujo de Sousa. O meu

muito obrigada e saibam que tenho um carinho enorme por todos vocês do curso!

O que seria de nós sem os nossos amigos? Aqueles que choramos e damos risadas e é o

que nos motiva a seguir em frente, agradeço a minha irmã “de coração” Adriana, a minha prima

Jane que foram guerreiras nas minhas angustias desde o início do meu curso, vocês são demais!

Page 6: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

5

“Ninguém que não tenha ficado chocado com

a teoria quântica a entendeu realmente”.

Niels Bohr

Page 7: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

6

RESUMO

O trabalho consiste em apresentar de forma clara e objetiva duas interpretações da

mecânica quântica: a de Copenhague e das Variáveis Ocultas. Embora existem dezenas de

interpretações para a mecânica quântica, essas duas interpretações estão entre as mais

comentadas nos dias atuais. Vamos explicar o famoso experimento da Dupla Fenda, para

melhor entendimento da diferença entre essas duas interpretações. Nosso foco não é discutir

qual intepretação está certa ou errada, mas mostrar o que cada interpretação apresenta e defende.

Para uma melhor compressão também é discutido outro experimento com base nessas

interpretações: Paradoxo EPR (Einstein, Podolsky e Rosen) ou Entrelaçamento Quântico.

Palavras chave: Mecânica Quântica, Copenhague, Variáveis Ocultas, Dupla Fenda, Paradoxo

EPR, Entrelaçamento Quântico.

Page 8: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

7

ABSTRACT

The work consists of presenting clearly and objectively two interpretations of quantum

mechanics: Copenhagen and the Hidden Variables. Although there are dozens of interpretations

for quantum mechanics, these two interpretations are among the most talked about these days.

Let us explain the famous experiment of the Double Slit, for a better understanding of the

difference between these two interpretations. Our focus is not to discuss which interpretation is

right or wrong, but to show what each interpretation presents and defends. For a better

compression is also discussed another experiment based on these interpretations: Paradox EPR

(Einstein, Podolsky and Rosen) or Quantum Interlacing.

Key-words: Quantum Mechanics, Copenhagen, Hidden Variables, Double-Slit, EPR Paradox,

Quantum Intertwining.

Page 9: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1-Tela registradora do elétron.................................................................................... 15

Figura 2-Superposição de Ondas Construtiva e Destrutiva.................................................... 16

Figura 3- Interferência de Ondas .......................................................................................... 18

Figura 4- Dupla Fenda na interpretação de Copenhague, comportamento ondulatório. ......... 23

Figura 5- Dupla Fenda na interpretação de Copenhague, comportamento corpuscular. ......... 24

Figura 6- Dupla Fenda na interpretação das Variáveis Ocultas. ............................................ 33

Page 10: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10

2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 12

2.1 Objetivo Geral ......................................................................................................... 12

2.2 Objetivo Específico .................................................................................................. 12

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO .................................................... 13

3.1 Dualidade Onda-Partícula ...................................................................................... 13

3.2 Interferência ............................................................................................................ 15

3.3 Experimento de Young ............................................................................................ 17

4 DESENVOLVIMENTO ......................................................................................... 19

4.1 Interpretação de Copenhague ................................................................................. 19

4.2 Equação de Schroedinger na interpretação de Copenhague ................................. 20

4.3 Dupla Fenda na interpretação de Copenhague ...................................................... 23

4.4 O gato de Schroedinger ........................................................................................... 24

4.5 Teoria das Variáveis Ocultas .................................................................................. 26

4.6 Equação de Schroedinger na Teoria das Variáveis Ocultas .................................. 27

4.7 Intepretação da Onda Piloto ................................................................................... 29

4.8 Dupla Fenda na Teoria das Variáveis Ocultas ....................................................... 32

4.9 Paradoxo EPR ......................................................................................................... 34

4.10 Entrelaçamento Quântico ....................................................................................... 34

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 36

6 CONCLUSÕES ....................................................................................................... 38

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 40

APÊNDICE .............................................................................................................................41

Page 11: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

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1 INTRODUÇÃO

Uma curiosidade na mecânica quântica é que para esta teoria não podemos prever com

exatidão o que irá acontecer com o comportamento de um objeto quântico, como por exemplo,

medir simultaneamente a posição e velocidade um elétron. Geralmente, conseguimos associar

esse comportamento com probabilidades para os resultados das medições.

Um exemplo que iremos abordar neste trabalho é o experimento da Dupla Fenda. Grosso

modo falando, temos ali muitos elétrons passando e se propagando da mesma maneira e para

esta teoria, ela prevê de maneira correta a distribuição estatística dos resultados que seria esta

probabilidade de encontramos o objeto quântico em determinadas regiões.

Alguns resultados experimentais mostram que um único elétron que poderíamos

considera-lo como “partícula” também se propaga como onda, pois o próprio experimento nos

mostra que existe interferência e difração que são comportamentos típicos ondulatórios. Porém,

na hora de sua detecção este elétron se comporta como algo pontual, um típico comportamento

corpuscular e isso é algo “estranho”, pois, se um “objeto” se propaga como onda esperamos

que ela seja espalhada como uma onda; porém quando vamos medir este “objeto” nos

deparamos com um ponto.

E por termos situações curiosas como estas é que surgem as várias interpretações da

mecânica quântica. Na visão mais ortodoxa da interpretação de Copenhague, o elétron é visto

como uma onda e que sofre um colapso no ponto de sua medição e o que temos são

probabilidades de encontrarmos este elétron e para esta interpretação não podemos assumir dois

estados (onda e partícula) ao mesmo tempo. Em uma visão alternativa, temos a Teoria das

Variáveis Ocultas onde o fenômeno possa ser interpretado como uma onda e que carrega

consigo o elétron, como se este elétron estivesse “surfando” nesta onda, para esta interpretação

o estado de onda e partícula caminham juntos.

Com o experimento da Dupla Fenda podemos entender este comportamento frente à

essas duas interpretações e visto que a mecânica quântica passou por vários momentos de

calorosas discussões, não só o experimento da Dupla Fenda foi discutido como houve tentativas

de explica-lo em outros experimentos como o Gato de Schroedinger (experimento mental) e o

Paradoxo ERP (Einstein, Podolsky e Rosen) para o Entrelaçamento Quântico. Este último

realmente foi comprovado, tornando a mecânica quântica uma teoria ainda mais fascinante.

Neste trabalho vamos descrever o experimento da dupla fenda na visão da intepretação

usual, chamada de Copenhague e na visão de uma intepretação alternativa da mecânica

Page 12: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

11

quântica, chamada de Variáveis Ocultas. Ambas as interpretações fornecem os mesmos

resultados experimentais, ou seja, uma figura de interferência num anteparo com detector,

porém cada intepretação tem uma descrição da realidade, diferente uma da outra. Esperamos

que este trabalho seja um ponto de partida para o interesse de alunos da graduação nas

interpretações alternativas da mecânica quântica e sua relação com a Filosofia da Ciência bem

como futuros trabalhos de pós-graduação nessas áreas citadas. O objeto quântico tratado nesse

trabalho será considerado sem “spin” e não relativístico, por simplicidade no tratamento físico

e matemático.

Page 13: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Explicar a o experimento da Dupla Fenda à luz das Interpretações de Copenhague e a

Teoria das Variáveis Ocultas, e apresentar o Paradoxo EPR (Einstein, Podolsky e Rosen) no

Entrelaçamento Quântico como experimentos auxiliares.

2.2 Objetivo Específico

1. Fazer uma revisão da literatura com um histórico sobre duas Interpretações da Mecânica

Quântica, Copenhague e Variáveis Ocultas; e explicar as duas Interpretações.

2. Apresentar o formalismo da Variáveis Ocultas e o significado do Potencial Quântico

3. Explicar o experimento da Dupla Fenda segundo essas duas Interpretações.

4. Apresentar outros experimentos segundo essas Interpretações como o Gato de

Schroedinger, o Paradoxo ERP no Emaranhamento Quântico;

5. Sugerir qual interpretação está correta e qual está errada ou se é inconclusivo definir um

vencedor.

Page 14: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO

3.1 Dualidade Onda-Partícula

Ao solucionar o problema de por que o brilho do carvão em brasa é vermelho e não azul,

o físico alemão Max Planck deu início a uma revolução que levou ao nascimento da física

quântica. Buscando descrever tanto a luz quanto o calor em suas equações, ele segmentou a

energia em pequenos pacotes de energia ao qual ele chamou de “quanta”, e durante esse

processo foi explicado o motivo do por que corpos aquecidos emitem tão pouca luz ultravioleta.

(BACKER, 2015, pg.14).

Planck atribuiu uma frequência a cada uma dessas energias, de modo que E = hν, em

que E é energia, ν é a frequência da luz e h é um fator constante, hoje conhecido como constante

de Planck, sendo esta a constante mais fundamental para a Mecânica Quântica. Essas unidades

de energia foram batizadas com o termo quanta, pois vem do latim. Planck supôs que a energia

E poderia ter apenas certos valores discretos, em vez de qualquer valor (EISBERG, 1988,

pg.33).

Portanto, a mecânica quântica é principalmente o estudo do mundo microscópico e neste

mundo, muitas grandezas físicas são encontradas apenas em múltiplos inteiros de uma

quantidade elementar e esta quantidade elementar é o que chamamos de “quantum”. Einstein

propôs que para uma radiação eletromagnética a luz era quantizada e esta quantidade elementar

hoje é chamada de “fótons”. (HALLIDAY, vol.4, 2009, pg.186).

Em 1905, Einstein colocou em questão a teoria clássica da luz, propôs uma nova teoria,

e citou o efeito fotoelétrico como aplicação que poderia testar qual teoria estava correta.

Einstein não concentrou sua atenção na forma ondulatória familiar com que a luz se propagava,

mas sim na maneira corpuscular com que ela é emitida e absorvida. Ele supôs que a energia E

do pacote, ou fóton, está relacionada com sua frequência ν pela equação E = hν. (EISBERG,

1988, pg.54-55). O que Einstein fez na verdade foi colocar a proposta de Planck em ação no

experimento do efeito fotoelétrico.

Após a descoberta do fóton na mecânica quântica, assim como uma série de

experimentos mirabolantes no século XIX mostrou que a teoria da luz antes vista como caráter

ondulatório estava errada ou ao menos era insuficiente. Ficou claro que a luz que incide sobre

uma superfície de metal desloca elétrons, cujas energias só podem ser explicadas se a luz for

composta por fótons – corpúsculos e não de ondas.

Page 15: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

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Na virada do século XX, a ideia de que a luz e a eletricidade eram transmitidas como

ondas e que a matéria sólida era feita de partículas veio abaixo, e assim os experimentos

revelaram que elétrons e fótons, (corpúsculos) sofriam difração e interferência – assim como as

ondas (ondulatórios). “Ondas e partículas são dois lados da mesma moeda.” Assim é conhecida

a interpretação da Complementariedade.

Em 1924 o físico francês Louis de Broglie propôs a seguinte linha de raciocínio: um

feixe luminoso é uma onda, mas transfere energia e momento à matéria através de “pacotes”

chamados de fótons. Por que um feixe de partículas não pode ter as mesmas propriedades?

(HALLIDAY, vol.4, 2009, pg.196).

De acordo com de Broglie, tanto para a matéria quanto para a radiação, a energia total

E esta relacionada à frequência ν da onda associada ao seu movimento pela equação E=hν e o

momento p é relacionado com o comprimento de onda λ da onda associada pela equação p=h/λ.

Aqui conceitos relativos à partículas, energia E e o momento p, estão ligados através da

constante de Planck h aos conceitos relativos a ondas, frequência ν e comprimento de onda λ.

A equação p=h/λ é conhecida como relação de de Broglie. (EISBERG, 1988, pg.87).

Em 1927, a previsão de de Broglie de que as partículas de matéria se comportavam

como onda em certas circunstâncias foi confirmada através do experimento de C. J. Davisson

e L. H. Germer nos Estados Unidos e por Thomson na Escócia. Nesse experimento, uma figura

de interferência foi obtida fazendo incidir elétrons, um a um, em um anteparo com duas fendas

estreitas, esse arranjo experimental era o mesmo usado para demostrar a interferência de ondas

luminosas.

Os primeiros elétrons não mostraram nada de interessante e pareciam chegar até a tela

em pontos aleatórios como mostra a Figura 1. Mas, depois de alguns milhares de elétrons

atravessarem as fendas, começou então a aparecer um padrão de faixas claras e escuras na tela,

caracterizando um padrão de Interferência. Isso significa que cada elétron passou pelas fendas

como uma onda de matéria, ou seja, a parte que passou por uma fenda interferiu com a parte

que passou pela outra. (HALLIDAY, vol.4, 2009, pg.187).

Na próxima seção, passamos a discutir os fundamentos físicos e matemáticos da

interferência de ondas em uma corda como uma primeira aproximação no entendimento do

fenômeno de interferência de partículas.

Page 16: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

15

Figura 1-Tela registradora do elétron

Fonte: PESSOA JR, 2003

3.2 Interferência

Com o intuito de entendermos o funcionamento de interferência de ondas em geral,

passamos a descrever por simplicidade como funciona a interferência de ondas mecânicas em

uma corda.

Suponha que duas ondas se propagam simultaneamente na mesma corda esticada, os

deslocamentos que a corda sofreria se cada onda se propagasse sozinha seria a soma algébrica.

𝑦𝑟(𝑥, 𝑡) = 𝑦1(𝑥, 𝑡) + 𝑦2(𝑥, 𝑡) (1)

Estas ondas superpostas significam que elas se somam algebricamente para produzir

uma onda resultante total. Este é o princípio da superposição, segundo o qual, quando vários

efeitos ocorrem simultaneamente o efeito total é a soma dos efeitos individuais.

Se duas ondas senoidais de mesma amplitude e comprimento de onda se propagam no

mesmo sentido em uma corda, elas interferem para produzir onda resultante senoidal que se

propaga nesse sentido.

Se as ondas estão exatamente em fase, ou seja, se os picos e vales de uma estão

exatamente alinhados com os da outra, o deslocamento total a cada instante é o dobro do

deslocamento que seria produzido por apenas uma das ondas. Se estão totalmente defasadas,

ou seja, os picos de uma estão exatamente alinhados com os vales da outra, elas se cancelam

mutuamente e o deslocamento é zero; a corda permanece parada.

Portanto, o fenômeno de combinação ou superposição de ondas recebe o nome de

interferência, e dizemos que as ondas interferem entre si.

Suponha que uma das ondas que se propagam em uma corda é dada por.

𝑦1(𝑥, 𝑡) = 𝑦𝑚𝑠𝑒𝑛(𝑘𝑥 − 𝜔𝑡) (2)

e que a outra, desloca em relação à primeira, é dada por.

Page 17: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

16

𝑦2(𝑥, 𝑡) = 𝑦𝑚𝑠𝑒𝑛(𝑘𝑥 − 𝜔𝑡 + ∅) (3)

Essas ondas têm a mesma frequência angular ω, portanto a mesma frequência f, o mesmo

número de onda k e portanto, o mesmo comprimento de onda λ e a mesma amplitude 𝑦𝑚. Ambas

se propagam no sentido positivo do eixo x, com a mesma velocidade e se diferem apenas de um

angulo constante 𝜙, a constante de fase. Logo, dizemos que essas ondas estão defasadas de 𝜙

ou que sua diferença de fase é 𝜙.

Segundo o princípio de superposição, a onda resultante é a soma algébrica das duas

ondas e tem um deslocamento.

𝑦𝑟(𝑥, 𝑡) = 𝑦1(𝑥, 𝑡) + 𝑦2(𝑥, 𝑡) (4)

𝑦𝑟(𝑥, 𝑡) = 𝑦𝑚

𝑠𝑒𝑛(𝑘𝑥 − 𝜔𝑡) + 𝑦𝑚

𝑠𝑒𝑛(𝑘𝑥 − 𝜔𝑡 + 𝜙) (5)

A soma dos senos de dois ângulos α e β obedece à:

𝑠𝑒𝑛𝛼 + 𝑠𝑒𝑛𝛽 = 2𝑠𝑒𝑛1

2(𝛼 + 𝛽)𝑐𝑜𝑠

1

2(𝛼 − 𝛽) (6)

Obtemos a equação da onda resultante para a interferência de ondas:

𝑦𝑟(𝑥, 𝑡) = [2𝑦𝑚

𝑐𝑜𝑠1

2𝜙] 𝑠𝑒𝑛 (𝑘𝑥 − 𝜔𝑡 +

1

2𝜙) (7)

onde ω é a frequência angular, k é o número de ondas, λ é o comprimento de onda e 𝑦𝑚 é a

amplitude da onda.

Logo, a interferência que produz a maior amplitude possível é chamada de interferência

construtiva e embora duas ondas estejam se propagando na corda e não vemos a corda se mover,

temos então outro tipo de interferência chamada de interferência destrutiva. (HALLIDAY 2009

Vol.2, pg.129-131). A Figura 2 abaixo mostra diferentes etapas no processo de interferência de

dois pulsos em uma corda.

Figura 2-Superposição de Ondas Construtiva e Destrutiva.

Fonte: http://professorbiriba.com.br/boilerplate/html/colegio/terceiroano/aula14-terceiroano.html,

Acessado em: 12/04/2019.

Na próxima seção passamos a explicar a interferência de ondas luminosas.

Page 18: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

17

3.3 Experimento de Young

Na seção anterior, explicamos de maneira geral, o fenômeno de interferência tendo

como exemplo mais simples, a interferência de ondas unidimensionais em uma corda. A seguir

passamos a estender esse conceito para as ondas luminosas.

Em 1801, Thomas Young provou experimentalmente que a luz é uma onda, ao contrário

do que pensavam muitos cientistas na época. O que o Thomas fez foi demostrar que a luz sofre

interferência como as ondas do mar, as ondas sonoras e outros tipos de ondas. (HALLIDAY,

v.4, 2009, pg. 83). Como vimos anteriormente nos experimentos, algo que era tido como luz

estava associado a onda, mas também tinha características de partículas.

Quando uma onda luminosa se divide em duas, as diferentes trajetórias podem se

misturar tanto para reforçar quanto para cancelar o sinal. Assim como nas ondas de água, onde

cristas se encontram, ondas se combinam e listras brilhantes aparecem; onde cristas e vales se

cancelam um ao outro, fica escuro. Esse comportamento, chamado interferência, prova que a

luz age como uma onda. (BAKER, 2015, pg. 23).

A imagem mostrada na Figura 3 nos mostra a configuração usada no experimento de

Young. A luz de uma fonte monocromática distante ilumina a fenda Sο do anteparo A. A luz

difratada pela fenda se espalha e é usada para iluminar as fendas S1 e S2 do anteparo B. Uma

nova difração ocorre quando a luz atravessa essas fendas, e duas ondas esféricas se propagam

simultaneamente no espaço à direita do anteparo B, interferindo uma com a outra.

Não podemos, porém, observar a interferência a não ser em que uma tela de observação

C for usada para interceptar a luz. Neste caso, os pontos em que as ondas se reforçam formam

listras iluminadas, denominadas franjas claras, ao longo da tela. Os pontos em que as ondas se

cancelam formam listras sem iluminação, denominadas franjas escuras. O conjunto de franjas

claras e escuras que aparecem na tela é chamado de interferência, como vimos anteriormente.

(HALLIDAY, v.4, 2009, pg. 83).

Page 19: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

18

Figura 3- Interferência de Ondas

Fonte: PORTANOVA, 2016

A descoberta de Young foi importante na época porque contrariava a ideia anterior de

Newton de que a luz era feita de partículas ou corpúsculos. Como duas ondas luminosas podem

entrar em interferência, Young mostrou claramente que a luz é uma onda. Partículas teriam

passado reto pelas fendas na cartolina e produzido apenas duas listras na tela.

Mas isso não é tão simples. Físicos têm mostrado desde então que a luz é caprichosa:

em algumas circunstâncias ela se comporta como uma partícula, em outras como uma onda. E

variações do experimento de dupla fenda de Young que emite raios de luz muito fracos e

fechando as fendas rapidamente após a luz passar, são ainda importantes para investigar a

natureza da luz, tornando esta interpretação intrigante.

Portanto, este foi um dos principais experimentos que contribuiu para o entendimento

da mecânica quântica e é através dele que vamos apresentar duas interpretações para esta teoria.

Page 20: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

19

4 DESENVOLVIMENTO

4.1 Interpretação de Copenhague

Embora todos os físicos estejam de acordo que a teoria quântica funciona, no sentindo

que ela prevê resultados que estão em excelente concordância com a experiência, há uma

crescente controvérsia em relação a seus fundamentos filosóficos, ou seja, qual é imagem da

realidade de um objeto quântico. Niels Bohr foi o principal arquiteto da interpretação atual da

mecânica quântica, conhecida como interpretação de Copenhagen. (EISBERG 1994 pg.113).

A Interpretação de Copenhague também conhecida como Complementariedade que junto a

Niels Bohr, contou com a parceria de Werner Heisenberg em 1927 ao qual obteve o apoio de

outros físicos da época. Convém mencionar que para fazermos uma “interpretação” o seu

conceito aqui é um conjunto de teses ou imagens que se agrega ao formalismo mínimo de uma

teoria, porém não afeta as previsões observacionais.

Niels Bohr tentou explicar o sentido físico ou realidade da mecânica quântica. Naquilo

que ficou conhecido como interpretação de Copenhague como mencionado, ele combinou o

princípio da incerteza de Heisenberg à equação de onda de Schroedinger para explicar como

um observador pode afetar as medidas na posição ou velocidade de um objeto quântico, como

elétron ou fóton.

O princípio da Complementariedade afirma que qualquer experimento quântico só pode

ser entendido como um quadro corpuscular ou ondulatório, mas nunca em ambos ao mesmo

tempo. Com isso, na descrição corpuscular não se pode haver franjas de interferência e na

descrição ondulatória não se pode haver trajetórias bem definidas ao objeto quântico e vice-

versa. (FREIRE JR aput PESSOA JR, 005/08, pag.2). Podemos escolher medir a posição de

uma partícula, em cujo caso seu momentum é incerto ou podemos medir o momentum e

abandonar o conhecimento de sua posição. (FREIRE 1999 pg. 323). Está claro que para esta

interpretação, que a certeza nas medições é descartada.

O que acontece quando fazemos uma medição? Por que a luz que passa por duas fendas

entra em interferência como ondas em certa ocasião, mas em outra ocasião muda para um

comportamento similar ao de partículas e se tentamos capturar o fóton que passa em uma fenda?

De acordo com Bohr, escolhemos antecipadamente qual será o resultado ao decidirmos como

queremos medi-lo, portanto era isso que incomodava os físicos na época.

Aqui Bohr se inclinou sobre a equação de Schroedinger e seu conceito de “função de

onda”, contendo tudo o que podemos saber sobre uma partícula. Quando o caráter de um objeto

Page 21: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

20

é fixado – como partícula ou como onda, por exemplo – por um ato de observação, dizemos

que a função de onda “colapsou”. Todas as probabilidades, exceto uma, desaparecem. Resta

apenas a consequência. Então, a função de onda de um raio de luz é uma mistura de

possibilidades: o comportamento de onda ou de partícula. Quando detectamos a luz, a função

de onda colapsa para deixar uma forma, ou seja, uma escolha foi feita e é a detectada pelo

observador. A luz não faz isso para alterar seu comportamento, mas porque realmente consiste

das duas coisas.

Para fechar a lacuna entre sistemas quânticos e normais, incluindo nossas experiências

na escala humana, Bohr também introduziu o “princípio de correspondência”, segundo o qual

o comportamento quântico deve desaparecer de sistemas maiores com os quais estamos

familiarizados, nos quais a física newtoniana é adequada. (BACKER, 2015, pg.82). Logo, esse

é o motivo pelo qual os efeitos quânticos são imperceptíveis a nossa escala humana.

O que acontece com esta interpretação é que nossos olhos estão habituados a

compreender a natureza da mecânica clássica, portanto presos a esta linguagem. Os cientistas

conseguiam compreender o fenômeno da dualidade onda-partícula em laboratório por meio de

quadros clássicos e queriam duas características que seria “corpuscular” em que o objeto

quântico é considerado uma partícula, portanto descreve uma trajetória bem definida ao longo

do experimento, sendo assim não pode apresentar franjas de interferência e em um quadro

“ondulatório” em que o objeto quântico é considerado uma onda que pode ser dividida e

recombinada gerando franjas de interferência. (PESSOA JR, 005/8, pg.2). Assim, devido à

natureza dual dos objetos nessa realidade quântica, nos faz pensar que:

“Ninguém que não tenha ficado chocado com a teoria quântica a entendeu realmente.”

(BACKER, 2015, pg.79 aput BOHR, 1958).

Antes de descrever o comportamento do objeto quântico no fenômeno da Interferência

da Dupla Fenda, de acordo com a Intepretação de Copenhague, é descrito na próxima seção, o

aparato matemático usual nessa “interpretação”.

4.2 Equação de Schroedinger na interpretação de Copenhague

Com relação ao comportamento ondulatório das partículas, é possível descrever as

ondas de matéria associadas às partículas através da função de onda Ψ(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡). Em muitas

situações físicas é possível discutir a evolução da função de onda Ψ(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) através de

equações separadas na parte espacial e temporal. Mas nesse caso, a função Ψ(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) pode

ser escrita na forma:

Ψ(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) = 𝜓(𝑥, 𝑦, 𝑧)𝑒−𝑖𝜔𝑡 (8)

Page 22: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

21

onde 𝜔 = 2𝜋𝑓 é a frequência angular da onda de matéria.

Porém, observe que 𝜓 é uma a letra grega lê-se “psi” minúscula, é usada para representar a

parte da função de onda Ψ que não depende do tempo. A evolução da função Ψ(𝑟, 𝑡) porém

ela é determinista, isto quer dizer que, a função num instante 𝑡 qualquer pode ser calculada a

partir do conhecimento da função Ψ(𝑟, 𝑡0) em um instante inicial 𝑡0, porém o significado da

função de onda é de natureza estatística, pois tem a ver com o fato de que uma onda de matéria,

como uma onda luminosa, e até mesmo uma onda de probabilidade.

Nesse caso, a probabilidade de que um detector indique a presença de uma partícula em

um intervalo de tempo especificado é proporcional a |𝜓|2, onde |𝜓| um valor absoluto da

função de onda na posição do detector. Embora 𝜓 seja em geral uma grandeza complexa, |𝜓|2é

sempre uma grandeza real e positiva. Assim, é |𝜓|2, a chamada densidade de probabilidade,

que possui significado físico. É através dele que vamos ter informações relevantes ao

comportamento do elétron.

As ondas de matéria obedecem à equação de Schroedinger e em muitas situações que

podemos discutir, envolvem o movimento de uma partícula ao longo do eixo 𝑥 em uma região

na qual a força a que a partícula está sujeita faz com que a partícula possua uma energia

potencial 𝑉(𝑥). Nesse caso especial, a equação de Schroedinger se reduz para o movimento

unidimensional.

𝑑2𝜓

𝑑𝑥2 +8𝜋2𝑚

ℎ2[𝐸 − 𝑉(𝑥)]𝜓 = 0 (9)

onde 𝐸 é a energia mecânica total da partícula e ℎ é a constante de Planck. A equação de

Schroedinger não pode ser deduzida a partir de princípios mais simples, ela é a expressão de

uma lei natural. (HALLIDAY, vol.8, pg. 200, 2009)

Se considerarmos 𝑉(𝑥) sendo zero, a equação descreve uma partícula livre, isto é, uma

partícula que não está sujeita a nenhuma força. Nesse caso a energia total da partícula é igual à

energia cinética e, portanto a é dada por, 𝐸 = 𝑚𝑣2/2 e logo, a equação (9) se torna:

𝑑2𝜓

𝑑𝑥2 +8𝜋2𝑚

ℎ2 (𝑚𝑣2

2) 𝜓 = 0 (10)

que também pode ser escrita na forma:

𝑑2𝜓

𝑑𝑥2 + (2𝜋𝑝

ℎ)

2

𝜓 = 0 (11)

Para obter essa equação substituímos 𝑚𝑣 pelo momento 𝑝.

De acordo com a equação 𝜆 = ℎ/𝑝, a razão 𝑝/ℎ na equação acima pode ser substituída

por 1/𝜆, onde 𝜆 o comprimento de onda de De Broglie. Além disso 2𝜋 𝜆⁄ é o número quântico

Page 23: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

22

angular que vamos chamar de 𝑘. Com essas substituições a equação se torna equação de

Schroedinger para a partícula livre, ou seja, a partícula sem nenhuma força de interação.

𝑑2𝜓

𝑑𝑥2 + 𝑘2𝜓 = 0 (12)

Pode-se tentar uma solução geral para a equação independente do tempo:

𝜓(𝑥) = 𝐴𝑖𝑘𝑥 + 𝐵𝑒−𝑖𝑘𝑥 (13)

onde 𝐴 e 𝐵 são constantes arbitrárias. Podemos verificar que essa equação é realmente uma

solução da partícula livre.

Combinando as equações (8) e (13) obtemos, para a função de onda 𝜓 dependente do

tempo que se propaga ao longo do eixo 𝑥, para uma dimensão.(HALLIDAY, vol.8, pg. 201,

2009). Quando combinamos a equação independente do tempo com a equação dependente do

tempo, obtemos a seguinte equação:

𝜓(𝑥, 𝑡) = 𝜓(𝑥)𝑒−𝑖𝜔𝑡 = (𝐴𝑒𝑖𝑘𝑥 + 𝐵𝑒−𝑖𝑘𝑥)𝑒−𝑖𝜔𝑡

= 𝐴𝑒𝑖(𝑘𝑥−𝜔𝑡) + 𝐵𝑒−𝑖(𝑘𝑥+𝜔𝑡) (14)

Para restringir a solução geral acima, tomamos a constante arbitrária 𝐵 das equações

(14) e (13) como sendo zero. Ao mesmo tempo, chamamos a constante 𝐴 de 𝜓0 para que

tenhamos a propagação da partícula em apenas uma direção a equação e fazendo algumas

manipulações a equação (13) se torna:

𝜓(𝑥) = 𝜓0𝑒𝑖𝑘𝑥 (15)

Para determinar a densidade de probabilidade devemos calcular o quadrado do valor

absoluto de 𝜓(𝑥). O resultado é o seguinte:

|𝜓|2 = |𝜓0𝑒𝑖𝑘𝑥|2

= (𝜓02)|𝑒𝑖𝑘𝑥|

2

Podemos escrever a equação acima como: |𝜓|2 = ψ∗ψ

ou seja,

|𝜓|2 = (𝜓02)(1)2 = 𝜓0

2 (16)

A densidade de probabilidade |𝜓|2 é a mesma para qualquer valor 𝑥. Não existe nada

que nos permita identificar um determinado ponto sobre o eixo 𝑥 como a posição mais provável

para a partícula, ou seja, todas as posições são igualmente prováveis. (HALLIDAY, vol.8, pg.

202, 2009). Na próxima seção, é apresentado uma explicação do fenômeno da Dupla Fenda

tendo como base, a densidade de probabilidade de encontrar a partícula numa posição qualquer

x, equação 16.

Page 24: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

23

4.3 Dupla Fenda na interpretação de Copenhague

Dentro desta interpretação podemos analisar o experimento da Dupla Fenda para o

fóton. Porém neste capitulo não vamos nos ater em descrever o experimento, pois visto que já

descrito na seção; Experimento de Young, porém nosso foco é analisar o comportamento deste

objeto quântico dentro da interpretação de Copenhague.

Pode-se aplicar nesse experimento, o princípio da complementariedade ao qual se

afirma que qualquer experimento com características quânticas, até mesmo para o elétron, deve

ser compreendido ou em um quadro corpuscular ou em um quadro ondulatório, como já vimos,

esse é o princípio fundamental para que consigamos analisar o experimento.

Vejamos que na Figura 4, ao incidirmos luz em O, notamos que formou-se uma onda

que novamente ao passar por A e B formando-se novamente outras duas ondas e essas ondas

são registradas em um anteparo que chamamos de dupla fenda e que nos dá uma característica

de interferência.

Figura 4- Dupla Fenda na interpretação de Copenhague, comportamento ondulatório.

Fonte: PESSOA JR, 005/08

O fenômeno da imagem antes da detecção, é ondulatório: não podemos atribuir uma

trajetória ao fóton detectado em R, pois é como se ele passasse simultaneamente por ambas as

fendas (como diríamos de uma onda na física clássica). Se apenas uma das fendas estivesse

aberta, aí o fenômeno seria corpuscular que podemos observar na Figura 5: saberíamos sua

trajetória, mas não haveria franjas quando um grande número de fótons incidisse na tela. (

PESSOA JR 005/08 pg.4)

Para esta interpretação vamos assumir primeiramente que houve um comportamento

ondulatório no experimento, então, na tela de registro existe franjas de interferência que ao se

somarem ou se anularem nos daria “picos” e “vales” algo bem característico de ondas, já que

passaria simultaneamente por ambas as fendas. Ao tocar no anteparo, o fenômeno novamente

é corpuscular, pois temos “pontos” localizados formando uma figura de interferência.

Page 25: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

24

Ao fecharmos a fenda B este comportamento passa a ser corpuscular e na tela de registro

em R seria possível determinar a sua trajetória que no caso será bem definida e determinada,

pois a luz seria representada como pontos ou “bolinhas” na tela registro. Portanto, se apenas

uma das fendas estivesse aberta, aí o fenômeno seria corpuscular: conheceríamos sua trajetória,

e não haveria franjas quando um grande número de fótons incidisse na tela.

Figura 5- Dupla Fenda na interpretação de Copenhague, comportamento corpuscular.

Fonte: PESSOA JR, 005/08

Logo, a garantia que se tem para analisar o comportamento do elétron no experimento,

sendo para um quadro corpuscular ou ondulatório só pode ser feita “após” o encerramento do

experimento, pois, antes disso não se pode atribuir à realidade do objeto quântico para um

comportamento de partícula ou de onda. (PESSOA JR 005/08 pg.4). O que podemos é analisar

o experimento após o resultado final com uma certa probabilidade que é a parte de interferência.

Por algum motivo, caso você tente fazer esta previsão antecipadamente estaríamos então

interagindo com o sistema e aconteceria o “Colapso da Função de Onda”. Portanto, esse colapso

para que entendemos melhor o seu significado é como se em existissem infinitas possibilidades

da partícula ser encontrada, porém quando a medição acontece a escolha é feita e então as outras

possibilidades desaparecem, ficando apenas a escolhida.

4.4 O gato de Schroedinger

Erwin Schroedinger nasceu em Viena, na Áustria em 1887 e se tornou um dos cientistas

que mais contribuiu para o desenvolvimento da Mecânica Quântica, Contudo, ele era um dos

principais críticos da Intepretação de Copenhague e acreditava que o aparato quântico

desenvolvido por ele e descrito na seção 4.2 era apenas um formalismo matemático e a função

de onda não era um objeto real, mas sim um artifício matemático numa estrutura equivalente à

mecânica quântica matricial de Heisenberg, que foi o primeiro formalismo desenvolvido na

estrutura matemática da quântica. Com o objetivo de tentar explicar fatos inexplicáveis na

estrutura interpretativa usual da quântica, Schroedinger propôs um experimento mental, em

Page 26: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

25

1935, chamado de “O Gato de Schroedinger”. No experimento, um gato era encaixotado por

certo período com um frasco de veneno, um material radioativo e um contador Geiger,

dispositivo para detectar radiação. Esse contador Geiger foi montado de maneira que quando o

material radioativo fosse decaindo, acionaria um martelo e esse martelo quebraria o frasco

contendo ácido cianídrico que ao ser liberado e mataria o gato como mostrado na Figura 6.

Figura 6. O gato de Schroedinger

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gato_de_Schr%C3%B6dinger, Acessado em 11-03-2019

A quantidade de material radioativo deveria ser tão pequena que num prazo de uma hora talvez

houvesse decaimento dos átomos acionando o martelo e quebrando o frasco, mas com uma

igual probabilidade de nenhum átomo decair e nesse caso, o martelo não seria acionado. No

período em que o gato estivesse dentro da caixa, o gato então passaria a existir em um estado

desconhecido, pois como o gato estaria fora de nosso alcance visual, não teria como ser

observado, e com isso não se poderia afirmar se o gato está vivo ou morto. Resumindo bem, o

gato estaria em um estado de vida ou morte, enquanto não se observa. (SÉRVULO, 2014, pg.2).

Schroedinger argumentou que não fazia sentido pensar em um animal real como uma nuvem

de probabilidade simplesmente por carecermos de conhecimento sobre o que acontece.

(BACKER, 2015, pg.85).

Com isso, se tentarmos descrever o que ocorreu dentro da caixa usando as leis da

Mecânica Quântica, chegaríamos a uma conclusão estranha, pois o gato seria descrito como

uma função de onda chamada de Ψ(x,t) extremamente complexa e que não vamos nos

aprofundar aqui, mas poderíamos descreve-la como:

Ψ = Ψ(a) + Ψ(b) (17)

Onde Ψ representa a superposição de dois estados (vivo e morto), Ψ(a) representa o gato vivo

e Ψ(b) representa o gato morto. Quando se faz a medição (colapso da função de onda) obtemos

o seguinte resultado:

Ψ= Ψ(a), gato vivo;

Page 27: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

26

Ψ= Ψ(b), gato morto.

Ou seja, antes da medição, existia uma a superposição de dois estados, com a possibilidade de

existir 50% de chance do gato estar vivo e 50% de chance do gato estar morto. Na interpretação

de Copenhague na mecânica quântica, um sistema para a superposição de estados se torna um

ou outro quando uma observação acontece. Essa experiência torna aparente o fato de que a

natureza da medição, ou observação, não é bem definida nessa interpretação. Apenas quando a

caixa é aberta e uma observação é feita é que, então, a função de onda colapsa em um dos dois

estados. Schroedinger apontou um desconforto nessa interpretação da superposição de estados

vivo/morto pois uma indeterminação originalmente confinada ao domínio atômico vindo a

transformar-se numa determinação macroscópica, sendo então resolvida pela observação direta

não poderia ser um modelo preciso da realidade. Para Einstein, o gato vivo ou morto

independeria do processo de observação. Esta experiência mental é muito usada para

explicarmos um dos conceitos mais complexos da Mecânica Quântica, como a dualidade onda

partícula e a função de onda.

Exemplos como esse levaram alguns físicos como Einstein, Schroedinger dente outros

a duvidar da realidade descrita na intepretação de Copenhague, levando a Einstein afirmar que

“Deus não joga dados com o Universo”. Essas contradições, apontadas pelo experimento do

gato levou um desses físicos, David Bohm, em 1952, a propor um engenhoso formalismo

matemático e uma nova interpretação da mecânica quântica, conhecido como Teoria das

Variáveis Ocultas, para tentar apresentar um modelo mais preciso da realidade.

4.5 Teoria das Variáveis Ocultas

Esta teoria é uma contraproposta à interpretação de Copenhague, ou seja, nos fornece

uma interpretação alternativa para aspectos que a de Copenhague não consegue explicar. Esta

interpretação foi formulada originalmente por Louis de Broglie e redescoberta por David Bohm.

O fato de o mundo quântico poder ser descrito em termos de probabilidade preocupava

alguns físicos, incluindo Albert Einstein. Como causa e efeito poderiam ser explicados, se tudo

ocorre por acaso? Esse debate causou calorosas discussão entre Einstein e Bohr e um modo de

contornar isso é assumir que sistemas quânticos são definidos como um todo, mas que há

variáveis ocultas ainda a serem conhecidas.

“Esta teoria tem como base forte condições de localidade que vamos ver no Paradoxo

EPR. Localidade significa que uma medida no sistema A não pode ser afetada por

operações feitas no sistema B com o qual A interagiu no passado.” (HENRIQUE,

2014, pg.2).

Uma observação do estado de uma partícula nos diz algo sobre a outra, mas não porque

uma função de onda está colapsando. A informação era inerente a cada partícula e contida em

Page 28: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

27

“variáveis ocultas”. (BACKER, 2015, pg.189). A vantagem desta interpretação é que a todo

instante podemos considerar que o objeto quântico existe de uma maneira que independe da

presença de um observador e que não considera o colapso de função de onda para esta

interpretação. (PESSOA JR. 005/08 pag.5). Na próxima seção é apresetando os fundamentos

físicos matemáticos do formalismo das Variáveis Ocultas.

4.6 Equação de Schroedinger na Teoria das Variáveis Ocultas

Vimos na seção anterior, de acordo com a Interpretação de Copenhague, uma descrição

do experimento do Gato de Schroedinger. Para uma explicação matemática para as Variáveis

Ocultas, Bohm dividiu a equação de Schroedinger em duas partes: a primeira seria uma

recapitulação da física newtoniana (clássica) e a segunda seria um campo informativo

semelhante ao das ondas. Com isso a equação de Schroedinger passa a definir o movimento do

objeto quântico e indicando respostas para questões sobre o comportamento desse objeto.

Contrário à Niels Bohr que defendia que a Interpretação de Copenhague para onda-

partícula, Bohm postulou que o objeto quântico se comportava como uma partícula comum,

mas que teria acesso a informações sobre o resto do universo (primeiro termo) e que um campo

informativo funcional que fornece ao objeto quântico informações sobre o resto do universo

físico seria denominado de Potencial Quântico (segundo termo).

Para esta interpretação, todo ponto do espaço contribui com informações para o objeto

quântico mesmo sendo independente a separação entre eles, com isso, foi demonstrado que a

influência desse Potencial Quântico dependia apenas da forma e não da magnitude do tipo de

função de onda.

Assim como a “interpretação de Copenhague”, a “interpretação das Variáveis Ocultas”

ou “interpretação da Onda Piloto” também tem a sua fundamentação matemática e como

mencionamos anteriormente, partindo da equação de Schroedinger para as Variáveis Ocultas

temos a seguinte fundamentação matemática. A equação de Schroedinger para uma partícula

sem spin num movimento não relativístico num potencial 𝑉(𝑟) é dado por

−ℏ2

2𝑚∇2𝜓(𝑟, 𝑡) + 𝑉(𝑟)𝜓(𝑟, 𝑡) = 𝑖ℏ

𝜕𝜓(𝑟,𝑡)

𝜕𝑡 (18)

onde ∇2=𝜕2

𝜕𝑥2 +𝜕2

𝜕𝑦2 +𝜕2

𝜕𝑧2 é o operador laplaciano e

ℏ =ℎ

2𝜋 , 𝜓(𝑟, 𝑡) é uma função de onda complexa da posição 𝑟 e tempo 𝑡. Desde que o potencial

seja uma função real, a equação de Schroedinger implica na equação da continuidade.

Portanto, vamos demonstrar esta equação em apenas uma dimensão para que possamos

expandi-la para outras dimensões.

Page 29: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

28

𝑖ℏ𝜕Ψ

𝜕𝑡= −

ℏ2

2𝑚

𝜕2Ψ

𝜕𝑥2 + 𝑉Ψ (l9)

Lembrando que Ψ = 𝜓𝑒𝑖𝐸𝑡. Tomamos o complexo conjugado da equação (l9) temos:

𝑖ℏ𝜕Ψ∗

𝜕𝑡= −

ℏ2

2𝑚

𝜕2Ψ∗

𝜕𝑥2 + 𝑉Ψ∗ (20)

Multiplicando Ψ∗ na equação (I9) temos:

𝑖ℏ𝜕Ψ∗

𝜕𝑡Ψ = −

ℏ2

2𝑚

𝜕2Ψ∗

𝜕𝑥2 Ψ + 𝑉Ψ∗Ψ (21)

Subtraindo (21) em (20) e organizando ambos os termos temos:

−𝑖ℏ (𝜕Ψ

𝜕𝑡Ψ∗ −

𝜕Ψ∗

𝜕𝑡Ψ) = −

ℏ2

2𝑚(

𝜕2Ψ

𝜕𝑥2 Ψ∗ −𝜕2Ψ∗

𝜕𝑥2 Ψ) (22)

−𝑖ℏ𝜕

𝜕𝑡(ΨΨ∗) = −

ℏ2

2𝑚(

𝜕2Ψ

𝜕𝑥2 Ψ∗ −𝜕2Ψ∗

𝜕𝑥2 Ψ) (23)

onde a densidade de probabilidade 𝜌(𝑥, 𝑡) é uma função real definida por:

𝜌(�⃗�, 𝑡) = 𝑅(�⃗�, 𝑡)2 = |𝜓(�⃗�, 𝑡)|2 = 𝜓∗(�⃗�, 𝑡)𝜓(�⃗�, 𝑡)

e 𝑗(�⃗�, 𝑡)é:

𝑗(�⃗�, 𝑡) =𝑖ℏ2

2𝑚(𝜓∗∇⃗⃗⃗𝜓 − 𝜓∇⃗⃗⃗𝜓∗) (24)

Vale ressaltar aqui, que para equação (24) que é a equação em três dimensões,

mostraremos que é possível um cálculo para uma dimensão, portanto, a equação (24) pode ser

reescrita como sendo a equação (33) em uma dimensão, cujo os passos a seguir servirão como

um desenvolvimento.

Para ΨΨ∗ = 𝜌 e arrumando a equação igualando a zero temos:

𝜕𝜌

𝜕𝑡−

𝑖ℏ

2𝑚(

𝜕2Ψ

𝜕𝑥2 Ψ∗ −𝜕2Ψ∗

𝜕𝑥2 Ψ) = 0 (25)

Esta é a equação de Schroedinger para uma dimensão. Portanto, queremos chegar em:

𝜕𝜌

𝜕𝑡+ ∇⃗⃗⃗. J⃗ = 0 (26)

𝐽 = 𝐼 (ℏ2

𝑚Ψ∗∇⃗⃗⃗Ψ) (27)

∇⃗⃗⃗=𝜕

𝜕𝑥𝑖̂ +

𝜕

𝜕𝑦𝑗̂ +

𝜕

𝜕𝑧�̂� (28)

ℏ2

𝑚Ψ∗ (

𝜕Ψ

𝜕𝑥𝑖̂ +

𝜕Ψ

𝜕𝑦𝑗̂ +

𝜕Ψ

𝜕𝑧�̂�) (29)

∇⃗⃗⃗. J⃗ =ℏ2

𝑚{

𝜕

𝜕𝑥(Ψ∗ 𝜕Ψ

𝜕𝑥) +

𝜕

𝜕𝑦(Ψ∗ 𝜕Ψ

𝜕𝑦) +

𝜕

𝜕𝑧(Ψ∗ 𝜕Ψ

𝜕𝑧)} (30)

Pegando a parte da dimensão 𝑥 temos:

∇⃗⃗⃗. J⃗ =ℏ2

𝑚{

𝜕

𝜕𝑥(Ψ∗ 𝜕Ψ

𝜕𝑥)} (31)

∇⃗⃗⃗. J⃗ =ℏ2

𝑚(

𝜕Ψ∗

𝜕𝑥

𝜕Ψ

𝜕𝑥+ Ψ∗ 𝜕2Ψ

𝜕𝑥2 ) (32)

Page 30: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

29

Logo, a equação se torna:

𝐽𝑥 =𝑖ℏ

2𝑚(

𝜕Ψ

𝜕𝑥Ψ∗ −

𝜕Ψ∗

𝜕𝑥Ψ) (33)

Que é a densidade de corrente em uma dimensão. A densidade 𝜌(𝑟, 𝑡) pode ser pensada

como a expressão da conservação local da probabilidade e 𝑗(𝑟, 𝑡) é a densidade de corrente de

probabilidade. Na interpretação padrão, a densidade refere-se a resultados de medidas da

posição da partícula e não em evolução determinista ou não da posição da partícula entre

observações. (BETZ, 2014, pg.4).

4.7 Intepretação da Onda Piloto

Se associarmos movimento de um fluido à equação de continuidade, podemos ter uma

relação entre densidade de corrente e densidade de probabilidade como mostra a equação:

𝑗(𝑟, 𝑡) = 𝜌𝑣 (22)

onde 𝑣 é o campo de velocidade do fluido. Embora usamos o fluido como analogia, trataremos

apenas da velocidade de uma partícula e não de um fluido. A velocidade de uma partícula pode

ser calculada através da função de onda como

𝑣 =𝑖ℏ2

2𝑚(ψ∗∇ψ−ψ∇ψ∗)

ψ∗ψ (23)

ou

𝑣 =𝑖ℏ2

2𝑚(

∇⃗⃗⃗ψ

𝜓−

∇⃗⃗⃗𝜓∗

𝜓∗ ) (24)

A equação acima informa a velocidade da partícula numa posição 𝑟 e tempo 𝑡. Se

chamarmos de �⃗⃗�(𝑡), a posição da partícula, a evolução temporal da sua posição será:

𝑑

𝑑𝑡�⃗⃗�(𝑡) = 𝑣(�⃗⃗�, 𝑡) (25)

Nessa teoria de Bohm, existe uma equivalência com a intepretação usual, pois a posição

inicial da partícula não é conhecida com precisão, mas existe uma densidade de probabilidade

de encontrar a partícula num tempo posterior 𝑡 dado por ‖Ψ(�⃗⃗�, 𝑡)‖2. Na mecânica bohmiana,

a partícula possui uma posição e velocidade bem definida embora não conhecida com precisão.

As probabilidades estão ligadas a falta de conhecimento dos valores que na realidade estão bem

definidos, eles apenas não são conhecidos. Já na interpretação usual ou ortodoxa, a posição e

velocidade estão definidas apenas no ato de medição. Fora da medição, o valor da posição e da

velocidade está indefinido, não apenas desconhecidos. (BETZ, 2014, pg.4).

Numa tentativa de tratar o formalismo quântico com uma descrição clássica de

movimento de objetos quânticos como partículas, Bohm introduziu um potencial quântico

associado a uma onda que guia uma partícula com um potencial clássico associado à ela.

Page 31: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

30

Quando esse potencial quântico é somado ao potencial clássico da partícula, isso nos permite

interpretar o movimento da partícula devido a uma força associada ao potencial total.

Para melhor compreensão da equação da continuidade e do Potencial Quântico vamos

separar a equação de Schroedinger em duas partes (Real e Imaginária). Partindo da equação de

Schroedinger temos:

𝑖ℏ𝜕𝜓(𝑟,𝑡)

𝜕𝑡=

−ℏ2

2𝑚∇2Ψ(𝑟, 𝑡) + 𝑉(𝑟, 𝑡)Ψ(𝑟, 𝑡) (26)

Escrevendo a função de onda na forma polar ficando: 𝜓 = 𝑅𝑒𝑖𝑆/ℏ

Pode-se aplicar a regra da cadeia para desenvolver as derivadas, lembrando que o

laplaciano é o divergente do gradiente.

∇2𝜑 = ∇⃗⃗⃗. (∇⃗⃗⃗𝜑) (27)

Assim os três termos da equação de Schroedinger se torna:

Termo 1: 𝑖ℏ𝜕𝜓

𝜕𝑡= 𝑖ℏ (

𝜕𝑅

𝜕𝑡− 𝑅

𝜕𝑆

𝜕𝑡) 𝑒𝑖𝑆/ℏ (28)

Termo 2: −ℏ

2𝑚∇2𝜓 = −

2𝑚(∇2𝑅 −

𝑅

ℏ2(∇⃗⃗⃗𝑆)

2+ 𝑖

2

ℏ∇⃗⃗⃗𝑅. ∇⃗⃗⃗𝑆 + 𝑖

𝑅

ℏ∇2𝑆) 𝑒𝑖𝑆/ℏ (29)

Termo 3: 𝑉𝜓 = 𝑉𝑅𝑒𝑖𝑆/ℏ (30)

A equação de Schroedinger pode agora ser separada na parte real e imaginaria, como

mencionamos anteriormente e assim fornece duas equações interligadas. Para obter a primeira,

multiplicamos por 𝑒−𝑖𝑆/ℏ/𝑅, e para obter a segunda, multiplicamos por (2𝑅/ℏ)𝑒−𝑖𝑆/ℏ. Assim

a equação (26) pode ser reescrita ficando:

Parte Real: 𝜕𝑆

𝜕𝑡+

(∇⃗⃗⃗𝑆)2

2𝑚+ 𝑉 +

ℏ2

2𝑚

∇2𝑅

𝑅= 0 (31)

Parte Imaginaria: 𝜕𝑅2

𝜕𝑡+ ∇⃗⃗⃗. (𝑅2 ∇⃗⃗⃗𝑆

𝑚) = 0 (32)

A equação da continuidade aparece na equação 32, desde que 𝑅2 seja igual à densidade

probabilidade 𝜌(𝑟, 𝑡) = 𝑅(𝑟, 𝑡)2, exprimindo a conservação de densidade de probabilidade.

As equações 31 e 32 são equivalentes à equação de Schroedinger, não envolvendo ainda

nenhuma hipótese interpretativa. A nova interpretação surge ao se postular que a função de

onda 𝜓 está associada a um ponto material (uma partícula) de massa 𝑚 que se propaga

continuamente no espaço seguindo uma trajetória bem definida 𝑟(𝑡), com momento de

probabilidade clássica 𝜌(𝑟, 𝑡) de a partícula estar em 𝑟 no instante 𝑡.

Para o Potencial Quântico pode se demonstrado que a equação 31 mostra que o termo

quântico −(ℏ2/2𝑚). ∇2𝑅/𝑅 atua como um potencial 𝑈 que se adiciona ao potencial clássico

𝑉. Este é exatamente o potencial quântico que, na teoria de Bohm, guia a partícula nessa nova

interpretação da Onda-Piloto:

Page 32: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

31

𝑈(𝑟, 𝑡) =ℏ2

2𝑚

∇2𝑅(𝑟,𝑡)

𝑅(𝑟,𝑡) (33)

A equação 31 pode ser escrita como uma equação de Newton, na qual o potencial

quântico dá origem a uma força de tipo não-clássica:

𝑚𝑑2𝑟

𝑑𝑡2 = −∇⃗⃗⃗(𝑉(𝑟, 𝑡) + 𝑈(𝑟, 𝑡)) (34)

Vemos que o potencial quântico se escreve como um quociente envolvendo a amplitude

𝑅 da função de onda. Na verdade, 𝑈(𝑟, 𝑡) também depende da fase 𝑆, já que 𝑅 e 𝑆 estão

relacionados pela equação 32 da continuidade.

Mas a forma como 𝑈(𝑟, 𝑡) está escrito acima mostra que mesmo quando 𝑅2 ≡ |𝜓|2 se

aproxima de zero, por exemplo em regiões de interferência destrutiva no experimento das duas

fendas, o quociente ∇2𝑅/𝑅 pode ficar bastante grande, em modulo. Esta violenta variação em

𝑈 faz com que a força agindo na partícula seja intensa, de forma que sua velocidade também se

torne imensa (em casos ideais em que estritamente 𝑅 = 0, poderíamos ter velocidades

infinitas). Dessa forma, o tempo que a partícula permanece nas regiões de interferência

destrutiva é praticamente nulo, e ela nunca é detectada nesta região.

Podemos entender melhor essas passagens matemáticas no apêndice ao final do

trabalho, onde expandimos as equações da seção 4.7 em apenas uma dimensão e assim podemos

fazer uma generalização em outras dimensões.

Queremos lembrar que esse formalismo iniciou-se com De Broglie, mas Bohm o

estendeu, de um caso de uma simples partícula, para o caso de várias partículas e então

recalculou as equações. Embora a extensão desse novo formalismo para as condições

relativísticas não terem sido concluído com sucesso, elas foram usadas para incluir o “spin”.(

INTERPRETAÇÃO DE BOHM , sp, 2018)

Para guiar uma partícula até onde ela deve estar, Bohm definiu um “potencial quântico”.

Ele abriga todas as variáveis quânticas, responde a outros sistemas e efeitos quânticos e está

ligado à função de onda. A posição e a trajetória de uma partícula, então, são sempre definidas,

mas como não conhecemos todas as propriedades da partícula no início, precisamos usar a

função de onda para descrever a probabilidade de uma partícula estar em algum lugar ou em

certo estado. As Variáveis Ocultas são as posições da partícula, não o potencial quântico ou

função de onda. (BACKER, 2015, pg.188).

O corpúsculo seria uma “variável oculta”, com posição e velocidade bem definida a

cada instante, que “surfaria” na onda que o acompanha, de forma que a probabilidade de ele se

encontrar em uma certa posição seria proporcional ao quadrado da amplitude da onda.

(PESSOA JR 005/08 pag.6).

Page 33: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

32

Bohm mostrou que era possível escrever uma versão de variáveis ocultas da mecânica

quântica. O próximo passo era testá-la. Em 1924, John Bell concebeu uma série de

experimentos imaginários cujos resultados poderiam ser consistentes com a teoria de variáveis

ocultas. Se os resultados diferissem das previsões, o emaranhamento quântico (superposição de

estados) descrito pela interpretação de Copenhague seria, então, verdadeiro. Nos anos 1980,

físicos conseguiram realizar esses testes.

O teorema de Bell é considerado um dos resultados mais profundos da Física do século

XX – é uma desigualdade matemática que mostra uma incompatibilidade entre a Mecânica

Quântica com a ideia de “não-localidade” e a Teoria das Variáveis Ocultas que defendia a

“localidade”. Uma possível solução para resolver esse impasse apareceu com o artigo publicado

por Clauser, Horne, Shimony e Holt em 1969, onde, a partir da generalização das desigualdades

de Bell e de algumas modificações no experimento, eles propuseram um experimento realizável

que poderia testar as desigualdades de Bell, surgindo ulteriormente os primeiros experimentos

que as testaram. (FREIRE JR, pg.98, 2011).

No entanto, em 1964 John S. Bell demonstrou que, devido às suas fortes condições de

localidade, as Teorias de Variáveis Ocultas são restritas a certas desigualdades que não são

sempre obedecidas pela Mecânica Quântica. (HENRIQUE, pg.2, 2014).

Com isso eles descartaram o caso mais simples de variáveis ocultas “locais”, nos quais

a informação é limitada pela velocidade da luz. Correlações instantâneas de longa distância ou

o emaranhamento quântico são necessários, de fato. Portanto a teoria das Variáveis Ocultas era

de fato uma teoria “não-local”, o que foi um golpe contra ela mesma.

“Em certo sentido, o homem é um microcosmo do Universo: aquilo que é o homem,

portanto, é uma pista para o Universo. Estamos embrulhados em Universo.”

(BACKER, 2015, pg.186 aput BOHM).

4.8 Dupla Fenda na Teoria das Variáveis Ocultas

Passamos agora a explicar o experimento da dupla fenda segundo à interpretação

alternativa das Variáveis Ocultas. Como vimos anteriormente à teoria das Variáveis Ocultas

nos diz que é possível um objeto quântico ter características corpusculares e ondulatórias.

Portanto, neste experimento os corpúsculos de de Broglie não seguiriam uma trajetória reta,

mas surfariam em zig zag, passando pelas regiões proibidas (correspondentes às regiões escuras

da franjas de interferência) com velocidades altíssimas. (PESSOA JR, 005/08, pag.6).

Segundo esta teoria, um objeto quantico se divide em duas partes: em corpusculo com

trajetoria bem definida que carrega energia e é detectado e uma onda associada que guia a

partícula, mas não carrega energia e nem é detectada. A probabilidade da particula se propagar

em certa direção depende da amplitude da onda associada, de forma que em regiões onde as

Page 34: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

33

ondas se cancelam, não há particula. Não há mais contradição porque o objeto se divide em

duas partes, uma sendo só partícula e a outra só em onda. (PESSOA JR. 2003. Pag.5).

Figura 6- Dupla Fenda na interpretação das Variáveis Ocultas.

Fonte: PESSOA JR, 005/08

Note que, para esta interpretação um padrão de interferência é criado na tela de registro.

O corpúsculo seria a Variável Oculta, com posição e velocidade bem definidas a cada

instante, que “surfaria” na onda que o acompanha, de forma que a probabilidade de ele se

encontrar em certa posição seria proporcional ao quadrado da “altura do pico” (amplitude) da

onda-piloto. O ponto na tela detectora corresponderia sempre à localização do corpúsculo, ao

passo que a onda nunca seria observada diretamente. A onda serve para “guiar” o corpúsculo,

que se comporta como um surfista, seguindo apenas onde há ondas.

Na realidade existiria partícula e essa teria trajetória bem definida e uma onda associada

porém, essa não carrega energia conforme postula de Broglie com sua teoria da “dupla solução”.

(PESSOA JR, 1999, pg.140). O movimento da partícula se deve à força devido ao potencial

quântico causado pela função de onda que guia a partícula fazendo com que essa partícula se

movimente em regiões de cancelamento das duas ondas provenientes das fendas até chegar no

detector, por isso, existe o movimento de zig zag como mencionado.

Lembrando que existe uma distância razoável das fendas, logo nota-se a formação do

padrão de interferência com raias claras e escuras, com isso podemos destacar uma

característica para esta interpretação; algumas poucas trajetórias cruzam as raias escuras, nesse

local as partículas nunca são detectadas. Essas regiões correspondem aos vales do potencial

quântico que são atravessadas a velocidades altíssimas que tendem ao infinito, outra

característica é que se pode ver que cada partícula permanece no lado da fenda pela qual passou,

pois duas trajetórias não podem se cruzar ao mesmo instante. (PESSOA JUNIOR, 2006,

pg.241). Note que se a velocidade é altíssima, isso seria um indicio de que esta interpretação

seria “não-local”.

Page 35: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

34

4.9 Paradoxo EPR

Vamos agora descrever um experimento histórico envolvendo as “interpretações da

quântica” chamadas de Paradoxo de EPR, ao qual teve inúmeras discussões calorosas entre os

físicos que defendiam na época. Esse experimento foi proposto inicialmente com a finalidade

de confirmar que havia variáveis ocultas por detrás das interpretações da quântica e existiriam

“problemas de casualidade” na “interpretação de Copenhague”.

Em 1935, três físicos – Albert Einstein, Boris Podolsky e Nathan Rosen – elaboraram

um paradoxo que desafiou interpretações da mecânica quântica. O fato de a informação

quântica aparentemente poder viajar mais rápido do que a velocidade da luz parecia ser um furo

na ideia do colapso de funções de onda. (BACKER, 2015, pg.89). Para Einstein, precisava haver

alguma forma de explicar esses fenômenos quânticos, não havia experimentos que pudessem

demostrar isso, no entanto o Paradoxo de EPR surge em uma tentativa, mesmo que mental para

explicar esses fatos.

O objetivo do Paradoxo EPR era, provar que o colapso da função de onda, ao qual Bohr

defendia na interpretação de Copenhague precisaria ser questionada. (HENRRIQUE, 2014,

pag.1). O que vimos segundo a interpretação de Copenhague é que o objeto quântico se

comporta como partícula ou como onda no momento em que se colapsa. Porém, para Albert

Einstein isso não fazia sentido, foi nesta perspectiva que ele propôs as “variáveis ocultas” como

vimos no capítulo anterior na tentativa de dizer que o sistema se comporta de uma forma

convencional típico da mecânica clássica.

4.10 Entrelaçamento Quântico

Imagine uma partícula, talvez um núcleo atômico, que decai para outros dois menores.

De acordo com as regras de conservação de energia, se uma partícula não era originalmente

estacionária, as partículas filhas deveriam adquirir momento angular e momento linear opostos

e de valor igual. As partículas emergentes se separam, cada uma para um lado e têm spins de

direções opostas. Outras propriedades quânticas do par também estão ligadas.

Se medimos a direção do spin de uma partícula, instantaneamente sabemos o estado da

outra: ela deve ter spin oposto para se encaixar nas regras quânticas. Contanto que nenhuma

das partículas interaja com outras, o que perturbaria o sinal, esse fato permanece verdadeiro,

não importando quão longe as partículas estejam ou quanto tempo se passe.

Na linguagem da interpretação de Copenhague, ambas as partículas filhas existem em

uma sobreposição de todos os resultados possíveis – uma mistura de todas as diferentes

velocidades e direções de spin que elas podem assumir. No momento em que medimos uma

Page 36: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

35

delas, as probabilidades da função de onda de ambas as partículas colapsam para consolidar

esse resultado.

Einstein, Podolsky e Rosen argumentaram que isso não fazia sentido. Einstein sabia que

nada poderia viajar mais rápido que a luz. Com essa ideia, então seria possível passar um sinal

instantâneo a uma partícula que se encontrasse, muito, muito longe, podendo até mesmo estar

no outro lado do universo? E se isso fosse comprovado, a interpretação de Copenhague deveria

estar errada. Schroedinger, mais tarde, usou a expressão “emaranhamento” para descrever essa

estranha ação à distância. (BACKER, 2015, pg.90). Assim, foram propostos alguns

experimentos chamados de desigualdades de Bell para testar o emaranhamento quântico. Com

isso, concluímos que é possível que as duas funções de onda 𝜓1 e 𝜓2correspondam ao mesmo

elemento de realidade, ou seja, as duas funções de onda correspondem a um sistema A após a

interação com o sistema B. (HENRIQUE, pg.2, 2014).

Partículas gêmeas parecem saber quando a outra é observada, mesmo que estejam

extremamente distantes entre si. Como resultado disso, informação quântica não é armazenada

uma só vez, de maneira definitiva, mas está interligada e é reativa. (BACKER, 2015, pg.195).

Os experimentos realizados confirmaram as previsões da mecânica quântica, violando as

desigualdades de Bell e foram muito influentes no desenvolvimento da pesquisa sobre

fundamentos da física quântica. (FREIRE JR, pg.98, 2011). O que favorece a interpretação de

Copenhague, uma vez que a sua “não-localidade” foi comprovada.

Page 37: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

36

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com a interpretação de Copenhague, não existe um unico fragmento da

Teoria Quantica com relação à descrição do mundo classico, o que é diferente para a

interpretação das Variaveis Ocultas, pois, segundo esta teoria, ela evita o colapso da função de

onda que é um aspecto fundamental da interpretação de Copenhague.

O que a interpretação de Copenhague não enfrenta é o problema da medição, é errado

considerar o aparato de medição (macroscopico) como separado do sistema quantico

(microscopico) e assim, a interpretação de Copenhague não parece distinguir entre a perda de

coerencia quantica, ou seja, o processo pelo qual os sistemas macroscopicos evoluem para um

estado onde interferencia é para todos os fins proibidos; e o colapso que é um processo pelo

qual o resultado é impossível, embora as propriedades estatisticas de um grande número de

experimentos similares possam ser calculados pela função de onda.

A teoria quântica implica que as medições normalmente não têm resultados do tipo

que a teoria foi criada para explicar. Assim como na interpretação das Variáveis Ocultas se a

descrição fornecida pela função de onda for considerada incompleta, então a descrição da

situação pós-medição inclui, assim como a função de onda, pelo menos os valores das variáveis

que registram o resultado e, portanto, não há medição.

Existe uma serie de razões pelas quais a teoria das Variaveis Ocultas não ganhou tanta

aceitação entre os cientistas, quanto em outras teorias. Em primeiro lugar, há a proposta do

potencial quantico e em física os potenciais classicos e quanticos surgem de interações fisicas

entre objetos, mas a potencial quantico surge apenas da matematica da equação de Schrodinguer

e não tem base física. Além disso, as forças associadas a esta teoria violam a terceira lei de

Newton, segundo a qual toda ação tem uma reação igual ou oposta, portanto, a onda influencia

a partícula através do potencial quântico, mas a partícula não reage na onda.

A teoria das Variáveis Ocultas tem problemas sutis ao incorporar o spin e outros

conceitos da fisica quantica como os autolavores do spin são discretos que não mencionamos

no trabalho, portanto, contradizem a uma constante rotacional, a menos que a interpretação

probabilistica seja aceita, o que não é o caso. Além de fazer postulados desnecessarios como,

por exemplo: a existencia de trajetorias de particulas que nunca podem ser observadas com mais

precisão do que o principio da incerteza permite. Embora a teoria não exija o colapso da função

de onda para explicar os fenomenos quanticos uma vez que a medição é feita, a função de onda

deve desaparecer, o que é altamente contraditório.

Page 38: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

37

Portanto, a principal razão pela qual a teoria das Variaveis Ocultas não é

universalmente aceita é que ela é essencialmente uma teoria não-local, quando se trata da

velocidade e o que significa que uma partícula pode ser influenciada não somente pelo potencial

na localização da partícula, mas também por seus valores em outros pontos no espaço, apesar

de a interpretação de Copenhague também ser uma interpretação não-local.

Por fim, o que muitos físicos acreditam e em outras palavras, a interpretação de

Copenhague teve mais sucesso do que a teoria das Variáveis Ocultas simplesmente porque foi

a primeira a ser apresentada, mas que não devemos levar somente isso como fator absoluto.

Para muitos, essa teoria parece organizada e acredita-se que ela foi deliberadamente

programada para fornecer previsões que são em todos os detalhes idênticos à Mecânica

Quântica convencional. Porém a ideia de que a teoria das Variáveis Ocultas veio para derrubar

interpretação de Copenhague não é verdadeira, mas simplesmente como uma teoria alternativa

de outras teorias possíveis.

Page 39: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

38

6 CONCLUSÕES

Como vimos a Mecânica Quântica não é uma teoria completa, assim como na Mecânica

Clássica onde conseguimos fazer previsões e os resultados nos mostram uma certeza absoluta

aceita e comprovada até. Porém, quando vamos para um mundo subatômico as coisas ou o

comportamento dos elétrons parece não fazer muito sentido.

Na interpretação de Copenhague, o objeto quântico teriam comportamentos ondulatório

ou corpuscular e ambos juntos seria impossível para esta interpretação quântica, o colapso da

função de onda aqui é um aspecto fundamental e o problema da medição e a não localidade

também contribuiu para que esta teoria não fosse tão aceita, pois o resultados que ela mostra

são apenas possibilidades.

Na Dupla Fenda na interpretação de Copenhague, padrões de interferência que são

características de ondas eram obtidos na tela de registro e, ao observar a trajetória desse objeto

quântico aconteceria o colapso da função de onda e o que teríamos na tela de registro seria um

quadro corpuscular, isso nos faz pensar que para esta interpretação existem muitas

possibilidades, mas apenas uma foi à escolhida no ato de observar. O experimento do Gato de

Schroedinger para esta interpretação é apenas para nos mostrar a ação do observador ao tentar

medir um objeto quântico.

Esta interpretação gerou grandes debates na época de sua descoberta e até nos dias

atuais. Para a interpretação das Variáveis Ocultas, temos um objeto quântico que seriam

também divididos em duas partes, uma partícula e um corpúsculo. Para guiar a partícula é

definido um Potencia Quântico e o corpúsculo seria a Variável Oculta e ambos estariam ligados

a Função de Onda.

A “localidade” nesta teoria era uma proposta que os físicos tinham na época, proposta

essa que foi derrubada pelo Teorema de Bell. O Paradoxo EPR foi um experimento proposto

com a finalidade de confirmar as Variáveis Ocultas e o colapso da função de onda ao qual a

interpretação de Copenhague defendia precisaria ser questionada, e no Entrelaçamento

Quântico a “não localidade” é confirmada.

Na Dupla Fenda para essa interpretação, padrões de interferência eram obtidos na tela

de registro, porém partícula e onda não seriam tratadas de forma separada, pois a partícula que

no caso é o objeto quântico surfaria na onda associada em ziguezague e na tela de registro

formaria o padrão de interferência, onde as ondas se cancelam não há partículas e observe que

nessa interpretação comportamento corpuscular e ondulatório são reais o tempo todo.

Page 40: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

39

Enquanto na interpretação de Copenhague o ato de medir o objeto quântico provoca um

colapso, na Teoria das Variáveis Ocultas isso não acontece, pois onda e partícula são reais, mas

isso não quer dizer que a Teoria das Variáveis Ocultas seja melhor ou pior do que a interpretação

de Copenhague, o que de fato acontece nas duas Teorias são apenas formas diferentes de uma

interpretação Quântica ao qual até nos dias atuais nenhuma outra teoria foi 100% comprovada.

Existe sim, uma forte aceitação na interpretação de Copenhague, mas o que acontece é

que o que a interpretação de Copenhague não consegue explicar, as outras teorias entram como

uma alternativa. E hoje temos muitas outras e citando algumas temos: Hugh Everett (Muitos

Mundos), Histórias Consistentes (Copenhague “corrigida”), Consciência Causa Colapso e

muitas outras.

Por fim, no artigo Betz foi calculado a trajetória do elétron através da fenda por um

simulador computacional, porém na quântica não tem esta trajetória, mas as equações de Bohm

depois de trabalhadas fornecem o 𝑟 em função do tempo e quando jogamos no computador, nos

dá essas linhas que é a trajetória do elétron, no entanto, esses cálculos não foram feitos e seria

interessante para futuros trabalhos que se faça os cálculos baseado em Betz em uma dimensão

o que fez Betz para trem dimensões.

Page 41: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

40

REFERÊNCIAS

[1] PESSOA JR, Osvaldo. Conceitos de Física Quântica 1. Editora Livraria da Física, 2003. [2] PESSOA JR, Osvaldo. As interpretações contemporâneas da mecânica quântica. 005/08.

Disponível em: < https://www.researchgate.net/profile/Osvaldo_Pessoa_Jr/publication/255671453_As_interpretacoes_contemporaneas_da_mecanica_quantica/links/5478f5ef0cf2a961e4878042.pdf>

[3] PESSOA JR, Osvaldo. Instituto de Estudos Avançados (lEA), USP; e Centro de Lógica,

Epistemologia & História da Ciência (CLE), Unicamp, C.P.6133. Campinas, SP 13081-970. [4] FREIRE JR, Olival; PESSOA JR, Osvaldo; BROMBERG, Joan Lisa. Teoria quântica:

estudos históricos e implicações culturais. eduepb, 2011. Disponível em: < http://books.scielo.org/id/xwhf5>

[5] HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de Física, vol. 4, 2003. LTC

editora, Rio de Janeiro. [6] HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de Física, 8a. edição, Vol. 2, LTC.

2008. [7] EISBERG, Robert Martin et al. Física quântica: átomos, moléculas, sólidos, núcleos y

partículas. 1994. [8] BAKER, Joanne. 50 ideias de física quântica que você precisa conhecer. São Paulo:

Planeta.,2015. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/DuarteOliveira13/50-ideias-de-fisica-quantica-joanne-baker>

[9] HENRIQUE, Franciele Renata. O paradoxo de Einstein-Podolsky-Rosen.Disponível em:

<http://hyperhumanism.com/biblioteca/O%20Paradoxo%20EPR%20-%20Franciele%20Renata%20Henrique.pdf>

[10] SÉRVULO, Felipe. A interpretação de Copenhague e o Gato de Schrödinger.

Disponível em < https://www.misteriosdouniverso.net/2014/05/a-interpretacao-de-copenhague-e-o-gato.html> Acesso em: 13 jan. 2019.

[11] BETZ, Michel Emile Marcel. Elementos de mecânica quântica da partícula na interpretação da

onda piloto. Revista brasileira de ensino de física. São Paulo. Vol. 36, n. 4 (Oct./Dec. 2014), 4310, 14 p., 2014. Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/143774/000995936.pdf?sequence=1&isAllowed=y>

[12] PORTANOVA, M. Ondas. Slideplayer.com.br. 2016. Disponível em

<https://slideplayer.com.br/slide/3171478/>Acessado em: 18/02/2019. [13] SILVA, Domiciano Correa Marques da. "Interferência de ondas"; Brasil Escola. Disponível em

<https://brasilescola.uol.com.br/fisica/interferencia-ondas.htm>. Acesso em 18 de fevereiro de 2019.

[14] INTERPRETAÇÃO DE BOHM. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia

Foundation, 2018. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Interpreta%C3%A7%C3%A3o_de_Bohm&oldid=53549783>. Acesso em: 9 nov. 2018.

[15] PESSOA JUNIOR, OSVALDO, Conceitos de Física Quantica, Volume II / Oswaldo Pessoa

Jr..--1.ed. – São Paulo: Editora Livraria da Física, 2006.

Page 42: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

41

APÊNDICE

Como mencionamos no trabalho, na seção 4.7 mostramos a equação de Schroedinger

nas Variáveis Ocultas para três dimensões, portanto, nesta seção vamos desenvolve-la em uma

dimensão.

Temos a equação de Schroedinger em uma dimensão e separamos em três partes:

𝑖ℏ𝜕Ψ

𝜕𝑡=

−ℏ2

2𝑚

𝜕2Ψ

𝜕𝑥2+ 𝑉Ψ

lembrando que Ψ = 𝑅𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄ ; 𝑆 = 𝑆(𝑟, 𝑡) em uma dimensão.

Desenvolvendo a equação da primeira parte temos:

𝑖ℏ𝜕Ψ

𝜕𝑡= 𝑖ℏ

𝜕

𝜕𝑡(𝑅𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄ )

𝑖ℏ𝜕Ψ

𝜕𝑡= 𝑖ℏ (

𝜕𝑅

𝜕𝑡𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄ + 𝑅

𝜕

𝜕𝑡𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄ )

𝑖ℏ𝜕Ψ

𝜕𝑡= 𝑖ℏ (

𝜕𝑅

𝜕𝑡𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄ +

𝑖𝑅

𝜕𝑆

𝜕𝑡𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄ )

Portanto, a equação da primeira parte se torna:

𝑖ℏ𝜕Ψ

𝜕𝑡= 𝑖ℏ (

𝜕𝑅

𝜕𝑡+

𝑖𝑅

𝜕𝑆

𝜕𝑡) 𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄

Desenvolvendo a equação da segunda parte temos:

−ℏ2

2𝑚

𝜕2Ψ

𝜕𝑥2=

−ℏ2

2𝑚

𝜕2

𝜕𝑥2(𝑅𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄ )

−ℏ2

2𝑚

𝜕2Ψ

𝜕𝑥2= −

ℏ2

2𝑚

𝜕

𝜕𝑥(

𝜕

𝜕𝑥(𝑅𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄ ))

−ℏ2

2𝑚

𝜕2Ψ

𝜕𝑥2= −

ℏ2

2𝑚

𝜕

𝜕𝑥(

𝜕𝑅

𝜕𝑥𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄ + 𝑅

𝜕

𝜕𝑥𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄ )

−ℏ2

2𝑚

𝜕2Ψ

𝜕𝑥2= −

ℏ2

2𝑚

𝜕

𝜕𝑥(

𝜕𝑅

𝜕𝑥𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄ + 𝑅𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄ +

𝑖

𝜕𝑆

𝜕𝑥)

Fazendo a regra da derivada do produto; a equação acima se torna:

−ℏ2

2𝑚

𝜕2Ψ

𝜕𝑥2= −

ℏ2

2𝑚{

𝜕2𝑅

𝜕𝑥2𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄

+ (𝜕𝑅

𝜕𝑥𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄

𝑖

𝜕𝑆

𝜕𝑥+

𝑖

ℏ[𝜕𝑅

𝜕𝑥𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄

𝜕𝑆

𝜕𝑥+ 𝑅𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄

𝑖

𝜕𝑅

𝜕𝑥

𝜕𝑆

𝜕𝑥+ 𝑅𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄

𝜕2𝑆

𝜕𝑥2])}

Portanto, a equação da segunda parte se torna:

−ℏ2

2𝑚

𝜕2Ψ

𝜕𝑥2= −

ℏ2

2𝑚{

𝜕2𝑅

𝜕𝑥2+

2𝑖

𝜕𝑅

𝜕𝑥

𝜕𝑆

𝜕𝑥−

𝑖

ℏ𝑅 (

𝜕𝑆

𝜕𝑥)

2

+𝑖

ℏ𝑅 (

𝜕2𝑆

𝜕𝑥2)} 𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄

Desenvolvendo a equação da terceira parte temos:

Page 43: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

42

𝑉Ψ = VR𝑒𝑖ℏ 𝑆⁄

Consideramos todos os termos em uma dimensão, temos:

𝑖ℏ (𝜕𝑅

𝜕𝑡+

𝑖𝑅

𝜕𝑆

𝜕𝑡) 𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄

= −ℏ2

2𝑚{

𝜕2𝑅

𝜕𝑥2𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄

+ (𝜕𝑅

𝜕𝑥𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄

𝑖

𝜕𝑆

𝜕𝑥+

𝑖

ℏ[𝜕𝑅

𝜕𝑥𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄

𝜕𝑆

𝜕𝑥+ 𝑅𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄

𝑖

𝜕𝑅

𝜕𝑥

𝜕𝑆

𝜕𝑥+ 𝑅𝑒𝑖𝑆 ℏ⁄

𝜕2𝑆

𝜕𝑥2])}

+ VR𝑒𝑖ℏ 𝑆⁄

𝑖ℏ𝜕𝑅

𝜕𝑡−

𝑖𝑅

𝜕𝑆

𝜕𝑡= −

ℏ2

2𝑚

𝜕2𝑅

𝜕𝑥2−

ℏ2

2𝑚

2𝑖

𝜕𝑅

𝜕𝑥

𝜕𝑆

𝜕𝑥−

ℏ2

2𝑚(−

𝑅

ℏ(

𝜕𝑆

𝜕𝑥)

2

) −ℏ2

2𝑚(

𝑖𝑅

𝜕2𝑆

𝜕𝑥2) + 𝑉𝑅

Separando a equação de Schroedinger em uma dimensão nas partes Real e Imaginaria,

temos:

Parte Real:

−𝑅𝜕𝑆

𝜕𝑡=

−ℏ2

2𝑚

𝜕2𝑅

𝜕𝑥2+ 𝑉𝑅 +

2𝑚𝑅 (

𝜕𝑆

𝜕𝑥)

2

−𝑅𝜕𝑆

𝜕𝑡+

ℏ2

2𝑚

𝜕2𝑅

𝜕𝑥2− 𝑉𝑅 −

2𝑚𝑅 (

𝜕𝑆

𝜕𝑥)

2

= 0

𝜕𝑆

𝜕𝑡−

ℏ2

2𝑚

1

𝑅

𝜕2𝑅

𝜕𝑥2+ 𝑉 +

2𝑚(

𝜕𝑆

𝜕𝑥)

2

= 0

Parte Imaginária:

ℏ𝜕𝑅

𝜕𝑡= −

𝑚

𝜕𝑅

𝜕𝑥

𝜕𝑆

𝜕𝑥−

2𝑚𝑅 (

𝜕2𝑆

𝜕𝑥2)

ℏ𝜕𝑅

𝜕𝑡+

𝑚

𝜕𝑅

𝜕𝑥

𝜕𝑆

𝜕𝑥+

2𝑚𝑅 (

𝜕2𝑆

𝜕𝑥2) = 0

𝜕𝑅

𝜕𝑡+

1

𝑚

𝜕𝑅

𝜕𝑥

𝜕𝑆

𝜕𝑥+

𝑅

2𝑚(

𝜕2𝑆

𝜕𝑥2) = 0

Podemos agora analisar os resultados das equações em três dimensões como mostra o

trabalho na seção 4.7 e comparamos os seus significados físicos juntamente com as equações

em uma dimensão como mostra o apêndice.

Segundo a equação (32) Parte Imaginária temos:

𝜕𝑅2

𝜕𝑡+ ∇⃗⃗⃗. (𝑅2

∇⃗⃗⃗𝑆

𝑚) = 0

desde que 𝑅2 = 𝜌 = |Ψ|2 ; a densidade seja |Ψ(𝑟, 𝑡)|2 ; probabilidade seja ΨΨ∗

Page 44: INTERPRETAÇÕES DA MECÂNICA QUÂNTICA

43

𝐽 = 𝑅21

𝑚∇⃗⃗⃗𝑆

𝜕𝜌

𝜕𝑡+ ∇⃗⃗⃗. J⃗ = 0

Esta equação é da densidade de corrente de probabilidade.

De acordo com a equação da continuidade em analogia com fluido temos:

J⃗ = 𝜌𝑣 = 𝑅2 (1

𝑚∇⃗⃗⃗𝑆)

a velocidade da partícula pode ser 𝑣 =1

𝑚∇⃗⃗⃗𝑆 ou melhor, 𝑝 = ∇⃗⃗⃗𝑆 pois, a função de onda guia a

partícula pois ela dá a velocidade da partícula.

Lembrando que a equação da parte Real nos diz que a energia se conserva e no caso,

E=Energia cinética mais o potencial (clássico mais quântico), sendo assim descreve

naturalmente a energia de uma partícula livre, podemos interpretar que a força que atura sobre

a partícula é derivada do potencial clássico mais quântico, guiando a partícula na sua trajetória

e fazendo que essa mesma trajetória seja bem definida.

A equação da parte Imaginaria é identificada como equação de continuidade, informa

que podemos definir uma velocidade para a partícula dada pela densidade de corrente de

probabilidade J e essa velocidade embora desconhecida depende de R no denominador, fazendo

com que para as regiões de interferência destrutiva, as velocidades sejam elevadas.