40
INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS DANIELA GOUVÊA CUNHA DE CASTRO DISCIPLINA DE GERIATRIA HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 2005

INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

  • Upload
    dinhthu

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS

DANIELA GOUVÊA CUNHA DE CASTRO

DISCIPLINA DE GERIATRIA

HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

2005

Page 2: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

2

INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS

Orientadora: Rosa Maria Miranda Moreira Supervisora: Yolanda Maria Garcia

Monografia apresentada como requisito para Conclusão do Curso de Especialização em Geriatria no Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Page 3: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

3

SUMÁRIO

1 - RESUMO ............................................ Pg. 5

2 - INTRODUÇÃO ....................................

Pg. 6

2.1 - MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA GORDURA CORPORAL ....................

Pg. 11

2.1.1 - PESO ...................................................

Pg. 12

2.1.2 - ALTURA ...............................................

Pg. 12

2.1.3 - IMC .......................................................

Pg. 12

2.1.4 - CIRCUNFERÊNCIA DE CINTURA .....

Pg. 15

2.1.5 - CIRCUNFERÊNCIA DE QUADRIL .....

Pg. 16

2.1.6 - ÍNDICE CINTURA QUADRIL ..............

Pg. 17

2.1.7 - PREGAS CUTÂNEAS ........................

Pg. 17

2.1.8 - DEXA ...................................................

Pg. 17

2.2 - IMPEDÂNCIA BIOELÉTRICA – BIA ..

Pg. 18

2.3 - INTERVENÇÃO NA OBESIDADE .....

Pg. 22

2.4 - PROGRAMA DE OBESIDADE DO IDOSO – PROBESI ............................

Pg. 24

(continua na próxima página)

Page 4: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

4

3 - OBJETIVOS .......................................

Pg. 25

4 - METODOLOGIA ................................

Pg. 25

4.1 - PROBESI – Intervenção ..................

Pg. 26

4.1.1 – EDUCAÇÃO FÍSICA .........................

Pg. 26

4.1.2 – FISIOTERAPIA .................................

Pg. 27

4.1.3 – MEDICINA ........................................

Pg. 27

4.1.4 – NUTRIÇÃO ..................................... .

Pg. 28

4.1.5 – PSICOLOGIA ..................................

Pg. 28

5- RESULTADOS ...................................

Pg. 28

5.1 - PESO .................................................

Pg. 30

5.2 - MASSA GORDA ................................

Pg. 30

5.3 - MASSA MAGRA E ÁGUA CORPORAL ......................................

Pg. 30

6- DISCUSSÃO ......................................

Pg. 33

7- CONCLUSÕES ..................................

Pg. 35

8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .. Pg. 36

Page 5: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

5

RESUMO

A obesidade é definida como um acúmulo anormal ou excessivo de gordura

corporal no tecido adiposo, numa extensão em que a saúde pode ser prejudicada.

É considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença

crônica, relacionada a várias co-morbidades, epidêmica em nível mundial e afeta

também os idosos. Com o envelhecimento, ocorrem alterações na composição

corporal, que podem ser avaliadas de forma simples pela impedância bioelétrica

(BIA). Para abordar a obesidade em idosos, iniciou-se em 2001 o Programa de

Obesidade do Idoso – PROBESI, grupo interdisciplinar do Serviço de Geriatria do

Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São

Paulo (FMUSP) nas áreas de: Educação Física, Fisioterapia, Medicina, Nutrição,

Psicologia e Serviço Social. Objetivo: verificar o impacto do PROBESI na

composição corporal dos idosos participantes do grupo. Metodologia: foram

avaliados por BIA, pré e pós-intervenção multidisciplinar de 06 meses, 14 idosos

(12 mulheres) da amostra inicial, com idade média de 66,8±4 anos. Resultados:

houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa

magra e água corporal em 71% dos idosos. Conclusões: através da análise da

BIA, observa-se que ocorreram perda de massa gorda, bem como aumento de

massa magra e de água corporal na maioria destes idosos do PROBESI,

mostrando a importância do trabalho em equipe nos vários aspectos (gasto

energético, orientação nutricional, otimização da mobilidade articular, apoio

psicológico, diagnóstico e tratamento de co-morbidades da obesidade, entre

outros).

Page 6: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

6

INTRODUÇÃO

A obesidade é o excesso de gordura corporal, sendo considerada doença

crônica e relacionada a várias co-morbidades, como as doenças cardiovasculares,

osteomusculares e neoplásicas, entre outras.

Obesidade e sobrepeso representam um crescente problema para a saúde

da população em um crescente número de países do mundo (WHO, 1998). O

excesso de peso atinge cerca de 1/3 da população adulta e apresenta uma

prevalência crescente nas últimas décadas, mesmo entre as pessoas idosas

(CABRERA, JACOB FILHO; 2001).

Em estudo brasileiro realizado em 1989, com o objetivo de aferir o estado

nutricional da população do país, observou-se que, na população idosa, 30,4%

dos homens e 50,2% das mulheres apresentavam excesso de peso, com

predomínio deste problema no sexo feminino, enquanto que o perfil de magreza

foi de 7,8% nos homens e 8,4% nas mulheres (TAVARES, ANJOS; 1999); estes

dados evidenciam a alta prevalência de obesidade na população idosa brasileira,

destacando a necessidade de seu estudo.

Em vários levantamentos realizados em pacientes idosos, a prevalência de

obesidade foi maior no sexo feminino. Há uma grande variação nas prevalências

de obesidade nas diferentes faixas etárias na população geriátrica. Na faixa etária

de 80 anos ou mais há diminuição significativa da obesidade, podendo sugerir a

interferência da obesidade e suas co-morbidades como fatores que influenciam na

Page 7: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

7

maior mortalidade em obesos idosos antes dos 80 anos (CABRERA, JACOB-

FILHO; 2001). Este fenômeno também pode ser atribuído a mudanças

metabólicas do envelhecimento, levando a diminuição da gordura com o

desenvolvimento da idade avançada (KENNEDY et al; 2004).

A obesidade é uma doença complexa, que resulta da interação entre

fatores genéticos e ambientais, relacionados aos hábitos de vida. Os fatores

ambientais interagindo com os genéticos, podem levar a um ganho de peso em

indivíduos suscetíveis (VILLARES, 2002).

Deste modo, os genes envolvidos no ganho de peso aumentam a

suscetibilidade de um indivíduo desenvolver obesidade, quando exposto a um

ambiente adverso (OMS, 2004).

Apesar da importância do componente genético no peso e na estatura dos

indivíduos, pode haver interferência da dieta, da atividade física, de fatores psico-

sociais e doenças, entre outros, durante o envelhecimento (MATSUDO et al;

2000).

Tendências epidemiológicas recentes na obesidade indicam que a causa

primária da epidemia global da obesidade está nas alterações ambientais e

comportamentais, pois o aumento nas taxas de obesidade ocorreu num período

muito curto, insuficiente para que pudessem ocorrer alterações genéticas

significantes nas populações (OMS, 2004).

Os fatores dietéticos (como as dietas com alto teor de gorduras e ricas em

calorias) e os padrões de atividade física (como o sedentarismo) influenciam

fortemente a equação de balanço de energia e podem ser considerados os

Page 8: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

8

principais fatores modificáveis entre as muitas forças externas que promovem o

ganho de peso (OMS, 2004).

O avanço da idade está relacionado com importantes alterações na

composição corporal, ocorrendo aumento de gordura e redução de massa magra

(GUO, 1999; HUGUES, 2002). Devido a isso, é necessário o entendimento do

padrão de mudança de peso e composição corporal dos idosos e dos fatores que

neles influenciam para serem desenvolvidas estratégias na prevenção de co-

morbidades e incapacidades que ocorrem no processo de envelhecimento.

O processo de envelhecimento é acompanhado por um aumento do peso

corporal, que acontece especialmente dos 40 aos 60 anos, com diminuição após

os 70 anos. É de extrema importância a avaliação da composição corporal nos

indivíduos idosos, dada a estreita relação do aumento da gordura corporal, assim

como o seu padrão de distribuição, com desordens metabólicas e doenças

cardiovasculares.

Há uma redistribuição da gordura corporal dos membros para o tronco, ou

seja, ela torna-se mais centralizada; decocorre dIsto o aumento da adiposidade

visceral que acompanha o envelhecimento e é mais marcante em mulheres do

que em homens (KENNEDY et al, 2004).

Deste modo, o aumento do tecido adiposo segue um padrão típico, ou seja,

maior aumento dos depósitos centrais de gordura em relação aos periféricos,

seguindo o modelo andróide, com uma distribuição centrípeta de gordura

(BARBOSA et al, 2001).

Page 9: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

9

A diminuição do nível de atividade física que ocorre com o avançar da idade

também contribui para o aumento do depósito de gordura corporal (GUIMARÃES,

PIRES-NETO; 1996).

Além da atividade física programada, outros fatores que interferem com o

gasto energético e que podem contribuir para a obesidade são a diminuição da taxa

metabólica em repouso, do efeito termogênico dos alimentos e dos movimentos

realizados não relacionados com exercícios físicos. Estes movimentos são

chamados atividade física espontânea ou não programada e correspondem a um

dos pontos fundamentais da mudança de estilo de vida, fazendo diferença

importante no final do dia, em relação ao gasto energético total.

O gasto energético em idosos pode diminuir por década 165kcal em

homens e 103kcal em mulheres (ELIA, 2001).

Quanto ao tecido livre de gordura, entre os 25 e 65 anos de idade, há uma

diminuição substancial por conta das perdas na massa óssea, no músculo

esquelético e na água corporal total, que acontecem com o envelhecimento

(MATSUDO et al; 2000). Essa perda é mais lenta em mulheres do que em homens

(PROTHRO, ROSENBLOOM; 1995).

O declínio de massa muscular e conseqüente diminuição da força, que

ocorre com o avanço da idade é definido como sarcopenia (ROSENBERG, 1989)

e sido associado a limitações funcionais e físicas, alterando a qualidade de vida e

aumentando custos com a saúde do idoso (DUTTA, 1997). Sua prevalência vem

crescendo devido ao aumento da expectativa de vida.

Page 10: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

10

O excesso de massa gorda deve ser evitado em idosos, especialmente pelo

risco de limitações físicas. Utilizando dados do Cardiovascular Health Study,

VISSER et al. (1998) demonstraram uma associação positiva entre massa gorda e

incapacidade. Os resultados mostraram que grande quantidade de gordura

corporal é um preditor independente de incapacidade relacionada à mobilidade em

mulheres e homens idosos.

A medida da gordura corporal é um desafio aos pesquisadores; seu

principal depósito está no subcutâneo e intra-abdominal, sendo que boa parte

também pode estar nos músculos, principalmente em idosos (WILLETT et al,

1999).

O conteúdo desejável de gordura corporal para homens adultos é de 12% a

20% e de 20% a 30% para mulheres adultas, com relação ao peso corporal total.

Assim sendo, obesidade é definida como um conteúdo corporal de gordura de

>25% ou >33% do peso corporal total em homens e mulheres, respectivamente

(VEGA, 2001).

Como já referido, a gordura corporal aumenta com o avançar da idade,

contudo este aumento mostra-se atenuado em mulheres, que acima de 70 anos

apresentam uma redução de massa gorda, enquanto que este efeito é menos

aparente em homens.

Desse modo, conteúdo desejável de gordura corporal em idosos é de 36%

para ambos os sexos, principalmente após os 70 anos (CARVALHO-FILHO,

1996).

Page 11: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

11

Outros autores definem a obesidade em idosos como a presença de

excesso de gordura acima de 30% do peso corporal total em homens e 37% em

mulheres (MATOS, 2002).

MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA GORDURA CORPORAL

Dos métodos de avaliação da gordura corporal mais usados em adultos, as

medidas antropométricas são as mais aplicadas na prática clínica. Elas auxiliam

na graduação da adiposidade, no acompanhamento das mudanças na

composição corporal durante o tratamento e classificam a distribuição de gordura

em central ou periférica, além de poderem ser utilizadas em estudos

epidemiológicos (MATOS, 2002).

Além da antropometria, os métodos mais conhecidos para a avaliação da

composição corporal são a absorciometria de fótons (DEXA) e bioimpedância

elétrica (BIA).

Na antropometria são realizadas as medidas de peso, altura, índice de

massa corporal (IMC), circunferências de cintura e quadril, índice cintura-quadril

(ICQ) e pregas cutâneas.

Page 12: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

12

PESO – Em países ricos, a média de peso entre homens e mulheres

aumenta na meia idade; nos homens, atinge seu platô por volta de 65 anos e

depois, geralmente, regride; nas mulheres o peso aumenta de modo ainda mais

significativo e o platô ocorre cerca de 10 anos após o do homem (MATOS, 2002).

ALTURA - com o envelhecimento, há um declínio da altura de 1 a

2cm/década, que se inicia por volta dos 40 anos e é mais rápido nas idades mais

avançadas. É resultado de compressão vertebral e mudanças na altura e na forma

dos discos vertebrais (MATOS, 2002). Além disso, também pode ser explicado

pelo achatamento do arco plantar, perda do tônus muscular e mudanças na

postura (CARVALHO-FILHO, 1996).

IMC - é um índice utilizado para classificar sobrepeso e obesidade; é

calculado através da divisão do peso corporal (em quilogramas) pela estatura (em

metros) ao quadrado. É de fácil mensuração, apresenta uma grande

disponibilidade de dados e relação com morbi-mortalidade, podendo ser utilizado

como um dos indicadores de estado nutricional em estudos epidemiológicos,

apesar de não indicar a composição corporal (ANJOS, 1992).

À medida que o IMC aumenta, o mesmo ocorre com o risco do

desenvolvimento das co-morbidades da obesidade, entre elas diabetes mellitus,

hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, gota e doenças osteoarticulares, entre

outras (TABELA 1).

Page 13: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

13

Tabela 1. Risco relativo de problemas de saúde associados com obesidade (WHO, 1998).

Grandemente Aumentado

(Risco relativo maior que 3)*

Moderadamente

Aumentado

(Risco relativo 2-3)*

Levemente Aumentado

(Risco relativo 1-2)*

Diabetes mellitus não insulino-

dependente Doença cardíaca coronariana

Câncer (mama em mulheres

menopausadas, endométrio,

cólon)

Doença da vesícula biliar Hipertensão arterial sistêmica Anormalidades dos hormônios

reprodutivos

Dislipidemia Osteoartrose (joelhos) Síndrome dos ovários

policísticos

Resistência à insulina Hiperuricemia e gota Diminuição da fertilidade

Dispnéia Dor lombar devida à obesidade

Apnéia do sono Aumento do risco anestésico

Malformação fetal associada

com obesidade materna

De acordo com o IMC e o risco de co-morbidades, utiliza-se a classificação

de obesidade e sobrepeso em adultos para avaliações em nível populacional

(Tabela 2).

Page 14: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

14

Tabela 2. Classificação de sobrepeso em adultos de acordo com o IMC

(OMS, 2004)

Da mesma forma que o peso, o IMC também aumenta na meia idade e se

estabiliza um tanto mais cedo em homens do que em mulheres. Nos homens, seu

platô começa por volta dos 50 a 60 anos (ou ainda aos 70 anos) e nas mulheres,

inicia-se aos 70 anos ou mais. Tanto em homens quanto em mulheres, geralmente

há uma redução na média de IMC após 70 a 75 anos (WHO, 1995).

Alguns autores sugerem que os valores de IMC utilizados para classificação

de obesidade devem ser adaptados para idosos, pois com o envelhecimento, há

aumento da gordura corporal. Segundo eles, a obesidade deveria ser definida em

um patamar de IMC mais elevado nesta faixa etária (ANJOS, 1992).

Classificação IMC (Kg/m2) Risco de Co-morbidades

Baixo Peso <18,5 Baixo (embora aumente o risco de

outros problemas clínicos)

Faixa Normal 18,5 – 24,9 Médio

Sobrepeso ≥25,0

Pré-Obesidade 25,0 – 29,9 Aumentado

Obesidade Classe I 30,0 – 34,9 Moderado

Obesidade Classe II 35,0 – 39,9 Severo

Obesidade Classe III ≥ 40,0 Muito Severo

Page 15: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

15

CIRCUNFERÊNCIA DE CINTURA – método simples, que apresenta uma

correlação com as co-morbidades da obesidade, como o desenvolvimento de

Síndrome Metabólica.

O uso do IMC na prática clínica apresenta desvantagens, pois falha em

distinguir a obesidade geral da obesidade abdominal, a qual é relacionada com

vários fatores de risco, incluindo: resistência à insulina, hiperinsulinemia, tolerância

diminuída à glicose, diminuição do colesterol HDL, elevação do colesterol LDL (e

triglicerídeos) e hipertensão arterial sistêmica (síndrome metabólica). O risco de

complicações metabólicas relacionadas com obesidade é mais facilmente predito

quando os perigos do acúmulo da gordura intra-abdominal são também avaliados

por medidas simples como a circunferência da cintura. Pesquisas têm mostrado o

valor desta medida isoladamente como um indicador de risco de complicações

metabólicas. De acordo com o terceiro Adult Treatment Panel (ATP) III (Vega,

2001), na detecção da síndrome metabólica, os valores de circunferência de

cintura em homens >102cm e >88cm em mulheres são usados como definição de

obesidade central; o diagnóstico da síndrome se dá quando um paciente

apresenta um excesso de gordura corporal (>20% em homens e >30% em

mulheres) e pelo menos 2 co-morbidades, tais como dislipidemia e hipertensão

arterial sistêmica ou dislipidemia e diminuição da tolerância à glicose. Para o

diagnóstico, o excesso de gordura deve ser preferencialmente abdominal (também

chamada andróide ou em forma de maçã). A obesidade periférica (ginecóide ou

em forma de pêra) é aquela na qual o tecido adiposo se situa predominantemente

na parte inferior do corpo e se relaciona com osteoartrose de joelhos e varizes de

membros inferiores.

Page 16: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

16

Tabela 3. Circunferência de cintura e risco de complicações metabólicas

associadas com obesidade em caucasianos (OMS, 2004)

Aumentado Substancialmente Aumentado

Homem ≥ 94 cm ≥ 102 cm

Mulher ≥ 80 cm ≥ 88 cm

A identificação de risco usando a circunferência abdominal poder ser

população-específica e depender do grau de obesidade e outros fatores de

risco para doenças cardiovasculares e Diabetes Mellitus não insulino-

dependente.

A circunferência da cintura é obtida como o ponto médio entre a crista ilíaca

superior e o último arco costal (após uma expiração normal, com os pés afastados

entre si 25 a 30 cm e o peso do corpo igualmente distribuído nas duas pernas).

Em alguns casos, pode ocorrer que um indivíduo com IMC normal pode

apresentar medida de cintura que o classifica como grupo de risco, por ser

portador de obesidade central.

CIRCUNFERÊNCIA DE QUADRIL – adequada para determinar padrões de

distribuição de gordura e acompanhar suas modificações durante perda ponderal

Page 17: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

17

ÍNDICE CINTURA QUADRIL – auxilia na identificação de indivíduos com

acúmulo de gordura na região central do corpo. Alguns autores consideram que

este índice seria mais sensível em pessoas sem excesso de peso, mas com

deposição de gordura mais centralizada

A Circunferência da cintura tem sido proposta como um melhor indicador de risco

que O ICQ, apresentando uma boa correlação com este índice, com o IMC, com a

gordura total e abdominal (LEAN, 1995; American Psychiatric Association, 1994).

PREGAS CUTÂNEAS – a medição das pregas cutâneas são úteis para

determinar depósitos cutâneos de tecido adiposo. Estima-se que metade da

gordura corporal total é subcutânea, sendo uma maneira indireta de determinar a

gordura corporal total (MATOS, 2002). São medidas com pinças graduadas; não

é tarefa simples: requer agilidade, treinamento e a utilização de um calibre

padronizado. Para idosos, o IMC é mais útil como avaliação; A gordura corporal é

calculada com base em equações e normogramas. A sua principal utilização é em

estudos longitudinais.

DEXA – este exame permite que diferentes tipos de tecido como ósseo,

adiposo e muscular possam ser avaliados. Baseia-se na emissão de energia que

se verifica no coeficiente de atenuação e o resultado obtido varia segundo o tipo

de estrutura tissular, em função de seu diferente conteúdo mineral (MATOS, 2002)

Page 18: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

18

IMPEDÂNCIA BIOELÉTRICA – BIA

A BIA baseia-se no conceito de que o fluxo elétrico é facilitado pelo tecido

hidratado (e isento de gordura), por este apresentar uma menor resistência

elétrica quando comparado ao tecido adiposo; deste modo, a impedância ao fluxo

da corrente elétrica será tanto menor quanto menor for a quantidade de gordura

corporal (MATOS, 2002).

Para realização do exame, o paciente deve ser devidamente orientado e

submetido a preparo prévio, para não interferir na acurácia do teste: é muito

importante que esteja apropriadamente hidratado, com jejum de duas horas, evitar

exercício físico e sauna nas 8 horas anteriores, evitar bebidas alcoólicas 12 horas

antes anteriores, tomando o cuidado de mantendo a pele seca, limpa e em

temperatura normal. durante o exame, o indivíduo deve permanecer em decúbito

horizontal, manter-se tranqüilo, sem se movimentar e com os membros afastados

do corpo. (Weight Manager 2.05c Instruction Manual, 1997).

A BIA é um método simples, preciso, de baixo custo e de fácil manejo, que

faz o estudo da composição corporal através da medida da resistência total do

corpo à passagem de uma pequena corrente elétrica.

Page 19: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

19

O método baseia-se no princípio de que a impedância ao fluxo elétrico

relaciona-se ao volume do condutor (corpo) e ao quadrado do comprimento do

condutor (altura); através da análise da resistência, da reactância e do ângulo de

fase, o método da bioimpedância pode avaliar a quantidade de fluidos, de gordura

e da massa celular do organismo.

Os tecidos ricos em água e eletrólitos são menos resistentes à passagem

de uma corrente elétrica. O tecido muscular é rico em água e eletrólitos, diferente

dos tecidos que são ricos em lipídios, como o tecido adiposo. Se um indivíduo só

tivesse tecido muscular e não tivesse tecido adiposo, a impedância seria mínima e

aumentaria conforme o tecido muscular fosse substituído por tecido adiposo.

A completa mensuração por impedância consiste na medida da resistência,

reactância e determinação do ângulo de fase. Todas as substâncias, com exceção

dos supercondutores oferecem uma resistência ao fluxo da corrente elétrica.

Baseado na análise da resistência, da reactância e do ângulo de fase, o método

da bioimpedância pode avaliar a quantidade de fluidos, de gordura e da massa

celular do organismo.

Page 20: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

20

Bioimpedância – Resistência

- As leis de Ohm estabelecem que a resistência de uma substância é

proporcional à variação da voltagem de uma corrente elétrica a ela aplicada.

No corpo humano, os tecidos sem gordura são altamente condutores,

por conterem grande quantidade de água e eletrólitos e representarem um

meio de baixa resistência elétrica.

Gordura e ossos são maus condutores ou meios de alta resistência, pois

possuem pouca quantidade de água e eletrólitos condutores.

Bioimpedância – Reactância:

-A reactância, também conhecida como resistência capacitiva, é a

oposição ao fluxo da corrente elétrica causada pela capacitância.

Por definição, um capacitor consiste de duas ou mais placas condutoras

separadas por um isolante ou material não condutivo, utilizado para armazenar

carga elétrica.

No corpo humano, a membrana celular é formada por uma camada de

lipídios não condutora entre duas camadas condutoras de proteínas.

Teoricamente a reactância é a medida da capacitância da membrana celular e

o indicador da quantidade da massa intracelular ou da massa celular do corpo.

Enquanto a gordura corporal, a água total e a água extracelular

oferecem resistência à corrente elétrica, somente a membrana celular

apresenta reactância.

Page 21: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

21

Bioimpedância - Ângulo de Fase:

-Ângulo de fase é um método linear de medir a relação entre resistência

e reactância em circuitos elétricos em série ou paralelos. O ângulo de fase

pode variar de 0 a 90 graus: zero grau se o circuito é só resistivo (como em um

sistema sem membranas celulares) e 90 graus se o circuito é só capacitivo (só

membranas, sem fluidos). Um ângulo de fase de 45 graus reflete um circuito

(ou corpo) com igual quantidade de reactância capacitiva e resistência, como

em vegetais frescos.

A média do ângulo de fase para um indivíduo saudável é

aproximadamente de 4 a 10 graus, dependendo do sexo. Ângulos de fase

menores (baixa reactância) podem ser associados à morte celular ou a uma

alteração na permeabilidade seletiva da membrana celular. Ângulos de fase

mais altos (reactância alta) podem ser associados a maiores quantidades de

membranas celulares intactas, isto é, maior massa celular do corpo.

Quanto ao funcionamento do aparelho, um analisador como o RJL distribui

uma corrente de 800 microA (no máximo) a 50 KHz, que passa entre os dois

eletrodos distais fonte de corrente. A diferença de voltagem entre os dois eletrodos

internos é medida através de um amplificador de alta impedância (IREMT, 2004).

A impedância da pele e dos eletrodos não afeta a medida da impedância

total do corpo, com a técnica de quatro eletrodos de superfície, já que uma

quantidade mínima da corrente é perdida através da pele e circuitos de entrada. A

corrente constante é regulada para ±1% de acurácia de 0 a 8000 Ohm. Os

eletrodos de detecção têm características que não requerem eletrodos complexos

ou fita condutiva.

Page 22: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

22

INTERVENÇÃO NA OBESIDADE

A atividade física regular e a adoção de estilo de vida ativo são necessários

para a promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida durante o processo de

envelhecimento. A atividade física deve ser estimulada não somente nos adultos,

mas também nos idosos, como forma de prevenir e controlar as doenças crônicas

não transmissíveis que aparecem mais freqüentemente durante a terceira idade e

como forma de manter a independência funcional (MATSUDO et al; 2001).

Page 23: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

23

Como a distribuição de gordura corporal é um importante determinante de

diabetes e outros fatores de risco cardiovasculares, o objetivo da intervenção na

obesidade deve visar a mudança nesse padrão, mais que a perda corporal em si

(KENNEDY, 2004).

Para conseguir a diminuição da massa gordurosa é necessário um balanço

energético negativo, condição na qual o gasto supera o consumo de energia, pois

os estoques de energia do organismo são consumidos para sustentar processos

metabólicos, levando ao emagrecimento (FRANCISCHI et al, 2000).

A combinação de restrição calórica e exercícios físicos com mudança de

comportamento pode resultar em perda de 5 a 10% peso num período de 4 a 6

meses. Embora os pacientes percebam a pequena perda de peso como

insuficiente, há melhora de muitas condições relacionadas com a obesidade

(YANOVSKI, YANOVSKI; 2002).

Tem sido objeto de pesquisa se a atividade física isoladamente pode

reduzir o peso corporal. A maioria dos estudos mostra que nestas condições a

redução é modesta, porém, quando são associadas dieta e atividade física, a

redução do peso é mais intensa e mais freqüente. Comparando-se apenas com

dieta, as evidências não permitiram conclusões, o que torna mais favorável de que

a associação de medidas é superior a ambas isoladamente; merecendo categoria

B de evidências (poucos estudos randomizados ou com populações inadequadas).

Da mesma forma, a manutenção da perda de peso foi mais eficaz quando houve

associação entre atividade física e dieta, do que apenas com dieta.

Page 24: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

24

Há 2 tipos principais de atividade física indicados para intervenção na

obesidade,: exercícios com pesos e sem pesos. Sabe-se que ambos são

responsáveis pelo aumento do consumo energético, o que diminui o acúmulo de

tecido adiposo; quanto ao incremento da massa muscular, a atividade física com

pesos provoca um aumento ainda mais significativo.

É possível que haja redução da gordura corporal mesmo sem diminuição do

peso quando, por exemplo, ocorre ganho de massa muscular, através do aumento

do nível de atividade física. O aumento de massa muscular pode ser superior ao

peso de gordura reduzido, levando ao aumento de peso corporal total.

PROGRAMA DE OBESIDADE DO IDOSO – PROBESI

Com o objetivo de abordar a obesidade em idosos, foi iniciado em 2001 o

PROBESI, grupo interdisciplinar do Serviço de Geriatria do HC-FMUSP, que

inicialmente se compôs das áreas de: Educação Física (treino com e sem pesos),

Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Psicologia e Serviço Social, que deu suporte ao

grupo realizando a estratificação sócio-econômica e auxiliando na inclusão dos

pacientes em serviços da comunidade ao final do programa..

O trabalho com a equipe interdisciplinar tem como objetivos, entre outros, a

prevenção das co-morbidades da obesidade e de suas complicações, através da

promoção de mudança na composição corporal dos idosos e orientação quanto à

manutenção dos resultados obtidos.

Page 25: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

25

OBJETIVOS

Avaliar as mudanças no peso e na composição corporal em idosos obesos

submetidos às atividades do PROBESI, através da medida da BIA.

METODOLOGIA

Realizou-se um estudo prospectivo, em que foram avaliados 14 idosos (12

mulheres e 02 homens) participantes do 1o grupo do PROBESI nos primeiros 06

meses de atividade. Os idosos estudados foram submetidos a BIA, em aparelho

RJL, no início e ao final dos seis meses de intervenção; os resultados das

alterações na composição corporal dos mesmos. foram analisados

estatisticamente com o Teste t - Student.

PROBESI

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO:

- ter índice de massa corporal (IMC) ≥ 30 kg/ m2,

- desejar emagrecer,

- ter interesse e conseguir fazer atividade física 2 vezes por semana,

- disponibilidade para permanecer no atendimento duas tardes por

semana, durante 06 meses.

Page 26: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

26

CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO:

- não há.

PROBESI - INTERVENÇÃO

Quantos aos profissionais envolvidos neste trabalho, participaram as áreas:

Educação Física, visando principalmente a promoção de gasto energético através

de atividade física; Fisioterapia, objetivando a redução no índice de dores

músculo-esqueléticas, com melhora da mobilidade articular e da funcionalidade;

Medicina, com a prevenção, diagnóstico e tratamento das co-morbidades da

obesidade e suas complicações; Nutrição, visando intervenção alimentar e

nutricional; Psicologia, intervindo nos aspectos afetivos e emocionais envolvidos

no processo de obesidade, além do suporte do Serviço Social.

EDUCAÇÃO FÍSICA

Os idosos foram submetidos à atividade física, sob orientação dos

educadores físicos, duas vezes por semana. Foram divididos em 2 grupos, dos

quais os pacientes eram submetidos a treino com e sem pesos.

O grupo que realizou atividade com pesos num período máximo de 50

minutos por treino, o qual constou de 3 séries, com 12, 10 e 8 repetições, nesta

ordem, com cargas crescentes. Deste, participaram 10 dos idosos estudados.

No outro grupo, era realizado exercícios sem pesos com duração de 1 hora

por treino, dividido em 3 momentos: aquecimento, ginástica localizada e

caminhada contínua.

Page 27: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

27

A atividade física foi alterada periodicamente, conforme a resposta do

paciente e de acordo com sua aptidão física. Desta forma, o princípio de

individualidade biológica e da sobrecarga de cada idoso foi respeitada.

FISIOTERAPIA

Para atuar nas principais queixas referentes às dores músculo-esqueléticas,

visando a restauração do bem estar desses pacientes obesos, eram realizadas

atividades em grupo com o fisioterapeuta duas vezes por semana, com duração

de uma hora. Durante esse período, eram realizados exercícios direcionados para

melhora da conscientização corporal, relaxamento muscular, alongamentos,

exercícios de mobilização ativa das grandes articulações, treino de marcha e

equilíbrio e utilização de eletroterapia no caso de dores agudas.

MEDICINA

Quanto à parte médica, eram realizadas consultas individuais a cada cinco

semanas, com anamnese geriátrica e dirigida para obesidade e suas co-

morbidades; exame físico e complementares, inclusive BIA e troca (ou suspensão,

quando possível), de medicações que dificultam o emagrecimento, além de

encontros mensais com palestras interativas em conjunto com as outras áreas,

para que esses pacientes tivessem melhor compreensão da obesidade e suas co-

morbidades, facilitando, assim o tratamento e otimizando os resultados.

Page 28: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

28

NUTRIÇÃO

Na área nutricional, eram realizadas consultas individuais a cada cinco

semanas, tendo entre os principais objetivos avaliar o consumo de alimentos, o

estado nutricional e a composição corporal dos pacientes, com intervenção

nutricional e reavaliação dos resultados obtidos.

PSICOLOGIA

Intervindo nas questões afetivas e emocionais, eram realizados encontros

semanais com os idosos participantes, de uma hora de duração. Nessas reuniões,

as discussões eram livres, apenas mediadas pela psicóloga quando necessário e

visavam o resgate da auto-estima dos pacientes, além de propiciar espaço

terapêutico grupal a fim de facilitar a elaboração de conflitos emocionais geradores

de ansiedades e possível compulsão alimentar.

RESULTADOS

A fim de caracterizar os indivíduos que compõem a amostra, foram

realizados testes estatísticos das variáveis observadas no início do estudo.

Destas, foram utilizadas idade, peso e altura (para cálculo do IMC inicial), massa

gorda, massa magra e água corporal.

Page 29: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

29

A população estudada apresentou como resultados iniciais as seguintes

médias: idade de 66,8±4 anos, IMC de 38,5±6 Kg/m2, gordura corporal de

52,93%±7,28, massa livre de gordura de 47,07%±7,28 e água corporal de

34,36%±5,39.

Ao final dos 06 meses, com a análise das mesmas variáveis, observou-se

redução do IMC e da massa gorda, que tiveram média de 35,8±4 Kg/m2 e

43,42%±9,92, respectivamente; quanto à massa magra e água corporal, houve um

aumento, sendo as médias de 56,57%±9,92; 41,42%±7,26, respectivamente.

Esses resultados estão representados no gráfico abaixo.

Comparação das variáveis massa gorda, massa magra e água corporal (%)

52,9343,42

47,0756,57

34,36 41,42

1 2inicial final

*estatisticamente significante

água corporal

massa magra

massa gorda

Page 30: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

30

PESO

Quanto ao peso, houve perda média de 6,23±6,37 Kg (p=0,003), sendo que

a variação foi negativa, ou seja, houve perda ponderal, que ocorreu em 93% dos

pacientes (Figura 1).

MASSA GORDA

Em 93% dos pacientes houve perda de massa gorda, com uma média de

perda de 7,64±12,80 Kg (p=0,044), também com variação negativa (Figura 2).

MASSA MAGRA E ÁGUA CORPORAL

Analisando a massa magra e água corporal, observou-se uma variação

positiva em ambos os itens. A massa magra aumentou em 71% dos idosos, com

média de ganho de 5,59±4,52 Kg (p=0,000) (Figura 3); a água corporal também

aumentou em 71%, com média de ganho de 4,07±3,26 Kg (p=0,001) (Figura 4).

Em 7% dos pacientes (n=1) houve ganho de peso, o que ocorreu às custas

de ganho de massa magra e água corporal, com redução de massa gorda.

Em 7% (n=1) houve ganho de massa gorda, sendo que ocorreu redução do

peso às custas de perda de massa magra e água corporal.

Page 31: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

31

Figura 1. Distribuição por quartis das variáveis para peso (Kg)

3HVR

ILQDOLQLFLDO

���

���

��

��

��

��

Figura 2. Distribuição por quartis das variáveis para massa gorda (Kg)

PDVVD��JRUGD

ILQDOLQLFLDO

��

��

��

��

��

��

Page 32: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

32

Figura 3. Distribuição por quartis das variáveis para massa magra (Kg)

0DVVD�P

DJUD

ILQDOLQLFLDO

��

��

��

��

��

��

��

��

Figura 4. Distribuição por quartis das variáveis para água corporal (Kg)

ÈJXD

)LQDO,QLFLDO

��

��

��

��

��

��

Page 33: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

33

DISCUSSÃO

Participaram do 1º grupo ao todo 30 pacientes, sendo que 14 puderam ser

avaliados por terem realizado a BIA pré e pós-intervenção.

Com a análise dos resultados dos exames de BIA, observa-se perda de

peso corporal na maioria dos idosos. Essa perda ponderal ocorreu devido à

redução de gordura total, associado a ganho de massa magra e água, gerando

impacto positivo na composição corporal dos pacientes.

Essas modificações podem ser explicadas pela participação de um

programa com atividade física regular, além de mudanças nos hábitos alimentares

destes pacientes obesos.

O PROBESI, através das atividades em grupo, pode ter atuado como um

grupo de auto ajuda, visto que abriu-se espaço para trocas de dificuldades e

experiências. As intervenções em nível físico, além de contribuir com o

emagrecimento, influiu positivamente na vida social, pois diminuiu a dificuldade de

deambulação e o risco de síndrome de imobilidade.

Outro fator que pode ter influido nos resultados foi a educação dos idosos

sobre a obesidade e suas co-morbidades (e como tratá-las), através da

intervenção com palestras realizadas pela equipe interdisciplinar, fazendo com

que entendam a importância do emagrecimento e haja adesão ao programa.

Page 34: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

34

Esse fato levou a uma mudança de estilo de vida por parte dos idosos, que

atuou nos fatores modificáveis de controle da obesidade não havendo, assim,

utilização de tratamento com medicamentos anti-obesidade.

Houve um paciente que não perdeu peso, porém emagreceu: isso é

explicado pelo ganho de massa magra e água, pois este evoluiu com perda de

gordura.

Houve também um paciente que evoluiu negativamente; praticamente,

manteve o peso, porém, essa manutenção ocorreu às custas de perda de massa

magra e água e ganho de massa gorda. Este caso, pode ser explicado pela falta

aderência à proposta do grupo, talvez por ansiedade por parte do paciente, o qual

não aceitou tratamento medicamentoso para este fim.

Corroborando as melhoras na composição corporal, foram realizados testes

pré e pós-intervenção nas outras áreas, que demonstraram melhora na

funcionalidade e no psiquismo (Brandão, 2004; Hartmann, 2004; Giordan, 2004).

Page 35: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

35

CONCLUSÕES

1 - O PROBESI promoveu modificações de forma positiva na composição

corporal da maioria dos idosos obesos, pois na maioria deles houve:

- perda de peso às custas da redução de gordura.

- aumento de massa magra.

- aumento de água corporal.

2 - Na minoria dos pacientes que não perderam peso, evidenciou-se ganho

de massa magra e água corporal.

Page 36: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANJOS, LA. Índice de massa corporal como indicador do estado

nutricional de adultos: revisão da literatura. Rev.Saúde Pública

1992; 26: 431-436.

BARBOSA, AR; SANTARÉM, JM; JACOB-FILHO,W; MEIRELLES, ES;

MARUCCI, MFN. Comparação da gordura corporal de mulheres

idosas segundo antropometria, bioimpedância e DEXA. Archivos

Latinoamericanos de Nutricion 2001; 51: 49-56.

BRANDÃO, CLC; ARANHA, VC; DE LUCIA, MCS; MOREIRA, RMM.

Ansiedade e stress no programa de obesidade do idoso-PROBESI.

Anais do Congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia, Santos,

2004.

CABRERA, MAS; JACOB-FILHO, W. Obesidade em idosos:

prevalência, distribuição e associação com hábitos e co-

morbidades. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia

2001; 45: 494-501.

CARVALHO-FILHO, ETC. Fisiologia do Envelhecimento. In: Papaléo-

Neto, M. Gerontologia. São Paulo. Atheneu; 1996.P.60-70.

Page 37: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

37

DUTTA, C. Significance of sarcopenia in the elderly. J Nutr 1997, 127:

S992-S993.

ELIA, M. Obesity in the Elderly. Obes Res 2001; 9: 244S-248S.

FRANCISCHI, RPP; PEREIRA, LO; FREITAS,CS; et al. Obesidade:

atualização sobre sua etiologia, morbidade e tratamento. Rev de

Nutrição 2000; 13: 17-28.

GIORDAN, FC; LINARES, RP; BARBANTE-JUNIOR, JDL;

SANTARÉM, JM; MELO, AC; MOREIRA, RMM; JACOB-FILHO, W.

Atividade física em idosos obesos-variação da aptidão física após

treinamento. Anais do Congresso Paulista de Geriatria e

Gerontologia, Santos, 2004.

GUO, SS; ZELLER, C; CHUMLEA, WC; SIERVOGEL, RM. Aging,

body composition, and lifestyle: the Fels Longitudinal Study. Am J

Clin Nutr 1999; 70: 405- 411.

GUIMARÃES, FJSP; PIRES-NETO, CS. Alterações nas características

antropométricas induzidas pelo envelhecimento. Rev. da Escola

Sup. Ed. Física Univ. Pernambuco 1996; 1(1).

Page 38: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

38

HARTMANN, LMR; SIMOMURA, F; DIAS, MCG; LOUREIRO, S;

MOREIRA, RMM; JACOB-FILHO, W. Emagrecimento de idosos

obesos em atendimento multidisciplinar. Anais do Congresso

Paulista de Geriatria e Gerontologia Santos, 2004.

HUGUES, VA; FRONTERA, WR; ROUBENOFF, R; EVANS, WJ;

SINGH, MAF. Longitudinal changes in body composition in older

men and women: role of body weight change and physical activity.

Am J Clin Nutr 2002; 76: 473-481.

IREMT. Instituto de Reumatologia e Endocrinologia do Mato Grosso

[página da Internet]. Cuiabá. [Atualizado em julho de 2004.

Acessado em agosto de 2004]. www.iremt.com.br

KENNEDY, RL; CHOKKALINGHAM, K; SRINIVASAN, R. Obesity in

elderly: who should we be treating and why and how? Curr Opin

Clin Nutr Metab Care. 2004; 7: 3-9.

MATOS, AFG. Diagnóstico e Classificação da Obesidade. In: Halpern,

A; Mancini, MC. Manual de Obesidade para o Clínico.1a Ed. São

Paulo. Editora Roca; 2002. P. 1-25.

MATSUDO, SM; MATSUDO, VKR; BARROS-NETO, TL. Atividade

física e envelhecimento: aspectos epidemiológicos. Rev. Bras.

Ciên.e Mov. 2001; 7(1).

Page 39: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

39

MATSUDO, SM; MATSUDO, VKR; BARROS-NETO, TL. Impacto do

envelhecimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e

metabólicas da aptidão física. Rev Bras Ciên e Mov 2000; 8:21-32.

OMS. Obesidade: Prevenindo e Controlando a Epidemia Global.

Relatório da consultoria da OMS. Genebra, Organização Mundial

de Saúde, 2004.

PROTHRO, JW; ROSENBLOOM, CA. Body measurements of black

and white elderly persons with emphasis on body composition.

Gerontology 1995; 41: 22-38.

ROSENBERG, IH. Summary comments. Am J Clin Nutr 1989, 50:

1231-3.

TAVARES, EL; ANJOS, LA. Perfil antropométrico da população idosa

brasileira. Resultados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e

Nutrição. Cad. Saúde Pública 1999; 15: 759-768.

VILLARES, SMF. O que Causa o Ganho de Peso? In: Halpern, A;

Mancini, MC. Manual de Obesidade para o Clínico. 1a Ed. São

Paulo. Editora Roca; 2002.P.37-44.

VEGA, GL. Results of Expert Meetings: Obesity and Cardiovascular

Disease. Obesity, the metabolic syndrome, and cardiovascular

disease. AM Heart J 2001; 142:1108-116.

Page 40: INTERVENÇÃO NA OBESIDADE EM IDOSOS‡ÃO... · 4.1.4 – NUTRIÇÃO ... houve perda de peso e de massa gorda em 93% dos pacientes e ganho de massa magra e água corporal em 71%

40

VISSER, M; LANGLOIS, J; GURALNIK, JM et al. High body fatness,

but not low fat-free mass, predicts disability in older men and

women: the Cardiovascular Health Study. Am J Clin Nutr 1998;

68:584-590.

Weight Manager 2.05c Instruction Manual, RJL Systems,

www.rjlsystems.com, 1997.

WHO Physical status: the use and interpretation of anthropometry.

Report of a WHO Expert Committee. Geneva, World Health Organ

Tech Rep Ser 1995:854.

WHO Obesity: Preventing and Managing the Global Epidemic. Report

of WHO Consultation on Obesity. Geneva, World Health

Organization, 1998.

WILLETT, WC; DIETZ, WH; COLDITZ, GA. Guidelines for Healthy

Weight. N Engl J Med 1999; 341:427-434

YANOVSKI, SZ; YANOVSKI, JA. Obesity. N Engl J Med. 2002;

346:591-602.