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Intervenções Psicossociais no Sistema Carcerário Feminino       A     r      t       i     g     o 558 Marcela  Ataide Guedes Psychosocial interventions in the female prison system PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2006, 26 (4), 558-569

Intervenções Psicossociais No Sistema Carcerário Feminino

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  • IntervenesPsicossociais no

    Sistema CarcerrioFeminino

    Art

    igo

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    MarcelaAtaide Guedes

    Psychosocial interventions in the female prison system

    PSICOLOGIA CINCIA E PROFISSO, 2006, 26 (4), 558-569

  • Resumo: Um dos meios de percepo do crescimento da violncia nasociedade atual pode ser mensurado pelo aumento da populaocarcerria, o que pode favorecer a violao dos direitos humanos.Considerando os poucos dados disponveis, o presente trabalho buscouinvestigar essa populao, visando a contribuir para a produo deconhecimento sobre esse grupo. Por meio do planto psicolgico, realizadonuma delegacia de Belo Horizonte/MG, acolhemos demandasespontneas de sessenta e sete mulheres, de agosto de 2004 a julho de2005. A faixa etria das mulheres variou de dezoito a quarenta e doisanos, e o tempo de priso, de um a trinta e seis meses. A anlise temticados assuntos abordados pelas mulheres aprisionadas salientoucaractersticas como o cotidiano prisional, a maternidade/relaesfamiliares, as vivncias amorosas internas/externas e as relaes de gnero.Foram apontadas estratgias individuais e coletivas que visam a facilitar adinmica interna cotidiana: o apego aos filhos/familiares, as prticasreligiosas, as oficinas de artesanato, o trabalho na limpeza e as relaesamorosas internas.Palavras- chave: sistema prisional feminino, excluso social, Psicologiasocial.

    Abstract: One of the means of perception of the increase of violence inthe current society can be measured by the growth of the incarceratedpopulation, what possibly contributes to the breaking of human rights.Singularities have already been observed in relation to female inmates,what makes the matter still more difficult to be faced due to few availabledata. The present study aimed to investigate this population in order tocontribute to the knowledge about this group. Through the psychologicalshift in a police station in Belo Horizonte we received spontaneousstatements from 67 women from August 2004 to July 2005. The womensage ranged from 18 to 42 and the sentence length from 1 to 36 months.An analysis of the themes for the issues brought by the inmates showedcharacteristics such as everyday life in prison, maternity/family relationships,internal and external love relationships and gender relationships. Individualand group strategies were listed to facilitate the everyday internal dynamic:family / parental attachment, religious practice, handicraft workshops,cleaning work and inmates love relationships.Keys word: female prison system, social exclusion, Social Psychology.

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  • abusos que ocorrem em seu interior, pareceser apenas mais um elo na cadeia de mltiplasviolncias que conformam a trajetria de umaparte da populao feminina. Na melhor dashipteses, ela no favorece em nada ainterrupo da violncia e da criminalidade. Napior, ela refora e contribui para que a violnciase consolide como a linguagem predominantena vida das presas e daqueles que as cercam.O ciclo da violncia, que se inicia na famlia enas instituies para crianas e adolescentes,perpetua-se no casamento, desdobra-se na aotradicional das polcias e se completa napenitenciria, para recomear, provavelmente,na vida das futuras egressas (p. 126).

    A partir do exposto, um aspecto fundamentala ser ressaltado diz respeito ao contexto deviolncia que muitas dessas mulheresvivenciaram e continuam a vivenciar, que inclui,alm das agresses fsicas, sexuais epsicolgicas diretamente sofridas ao longo daexistncia, perdas violentas de parentesprximos e/ou de parceiros conjugais.

    Destacamos ainda outras especificidades docrcere feminino. Assis e Constantino (2001)descrevem que existe um imaginrio socialconstrudo em torno da criminalidade feminina,que acolhido inclusive por autoridades comojuzes, delegados, carcereiros, advogados, etc.Concebe-se que as mulheres so fortementeinfluenciadas por estados fisiolgicos e que seuscrimes so, em grande escala, cometidos noespao privado, j que o espao pblico aindalhes muito negado. Muitas vezes seenvolvem em crimes passionais ou naquelescometidos sob violenta emoo. Quandocometem crimes de outra natureza, como aparticipao no trfico de drogas, esses estovinculados a uma posio subalterna justificadacomo uma extenso natural de suas relaesafetivas. Acredita-se que participem dos delitosem nmero menor que os homens e sejampostas margem das atividades importantes.So consideradas perigosas e no confiveis,capazes de traio, com exceo das que

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    O presente trabalho baseia-se em um projetoque integrou atividades de ensino, pesquisae extenso.

    Teve incio em agosto de 2004, como atividadede pesquisa e interveno, atravs daaproximao com o sistema prisional de BeloHorizonte/MG, que nos apresentou umarealidade que demandava e permitia odesenvolvimento de um projeto de extenso

    1

    que incluiu uma interveno teraputica atravsdo atendimento de planto psicolgico,orientado e supervisionado pela Prof Dr IngridFaria Gianordoli-Nascimento.

    2

    Tal demanda surge de uma delegacia situadana Capital mineira, que solicitou nossaparticipao junto a um projeto que buscavacontribuir para o processo de incluso,recuperao e construo de cidadania dasmulheres que se encontram detidas, atravsdo trabalho em atividades internas e cursosde trabalhos manuais, o que permitiu umaprofissionalizao, j que visava reinserosocial e no mercado de trabalho.

    A articulao entre a vivncia do plantopsicolgico e a reviso da literatura nospermitiu descrever algumas dasparticularidades da realidade institucional e davida dessas mulheres, que se revelaraminformaes fundamentais para acompreenso deste trabalho

    3.

    consenso entre especialistas, opinio pblicae o prprio governo que o sistemapenitencirio do Pas vive uma crise aguda,seja pelas pssimas condies de vida nospresdios e carceragens, seja em decorrnciados casos de corrupo que envolvempoliciais, funcionrios e juzes e que aparecemfreqentemente nos jornais.

    No que tange carceragem feminina, Soarese Ilgenfritz (2002) apontam:

    (...) o que os dados mostram que a priso,tanto pela privao de liberdade quanto pelos

    1 CENEX/UFMG.

    2 Professora doDepartamento dePs ico log ia /FAFICH/UFMG.

    3 O presente tra-balho,tambm orien-tado pelaProf Dr Ingrid FariaGianordoli-Nascimento(Dep.de Psicologia/FAFICH/UFMG), contoucom a colaborao dopsiclogo AlessandroVincius de Paula(mestrando do Programade Ps-graduao emPsico log ia /FAFICH/UFMG), que participouativamente dasatividades de co-orientao e interveno.

    (...) o que osdados mostram

    que a priso, tantopela privao deliberdade quantopelos abusos queocorrem em seu

    interior, parece serapenas mais um

    elo na cadeia demltiplas violnciasque conformam atrajetria de uma

    parte dapopulao

    feminina.

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  • passam por provas especiais de valor. Exceose faz somente quando se trata de lsbicas ouprostitutas, que so identificadas como maisparecidas com os homens, mais machonas emais habituadas rua e delinqncia.

    No que tange ao estudo desse fenmeno,concordamos com Frinhani (2004), queenfatiza o excesso de tematizao porprogramas televisivos que tratam de assuntoscomo violncia, direitos humanos ecriminalidade, o que possibilita a construode um imaginrio, muitas vezes de formapreconceituosa e estigmatizante, dessasquestes.

    Dessa forma, a mdia acaba por contribuir, deforma macia, para a manuteno de umaideologia opressora e comprometida com osinteresses da classe dominante. Assim, apequena importncia dada criminalidadefeminina se deve, entre outros fatores, faltade dados objetivos, que responde pelodesinteresse em aprofundar a discusso atravsde uma investigao cientfica rigorosa.

    Este trabalho pretende oferecer a possibilidadede se empreender um estudo sobre a vida demulheres encarceradas, a partir do que elaspensam, agem e falam de forma sistematizada,o que permite, alm de compreender aspectosrelevantes a esse respeito, compreendertambm as relaes estabelecidas com suasdiferentes redes de relacionamento social,incluindo o ambiente prisional, com o objetivode elaborar polticas pblicas.

    Atravs do planto psicolgico, visamos afornecer um espao de ateno psicossocial sade dessas mulheres, buscando contribuirpara a produo de conhecimentos especficossobre essa realidade to pouco estudada ato momento.

    Sendo assim, Menandro (1998) menciona doispontos chave no processo de valorizao doindivduo como ator social e que tmimplicaes metodolgicas em nosso trabalho:

    a relevncia de se ouvir as explicaes dosujeito, no restringindo a anlise observaoda ao, e a valorizao de quaisquerinformaes que possam ser extradas dasaes ou de produtos das aes dos indivduos.Percebe-se, dessa forma, a importnciarecentemente dada pelas cincias sociais vida cotidiana e a sua aplicabilidade nestaexperincia em particular.

    Procedimentos metodolgicos

    O atendimento na modalidade plantopsicolgico visa ao atendimento individual ede emergncia s presas alocadas nainstituio, e tem como objetivos acolher suasdemandas emocionais e contribuir parafornecer ateno psicossocial sade dessasmulheres. Por ser mais conveniente dinmicado estabelecimento, o planto psicolgicoocorreu regularmente, no turno da manh,cinco vezes por semana, e foram atendidas,em mdia, trs mulheres por turno.

    Antes de comear cada atendimento, explicou-se detalhadamente s detentas quais eram osobjetivos do mesmo, com garantia deanonimato e sigilo. Todos os atendimentosforam individuais, com durao mdia decinqenta minutos, e realizados em espaoprivado, sem a presena de outras detentasou membros do DI (agentes penitencirios e/ou policiais).

    O atendimento foi baseado numa propostaterico-metodolgica desenvolvida peloaconselhamento psicolgico, que prope umprocesso de integrao transdisciplinar em suasbases terico-conceituais, visando a promoveruma interveno psicossocial.

    Os atendimentos foram discutidos emsuperviso semanal e possibilitaram aconstruo de um banco de dados quecontinha os relatos clnicos dos atendimentose das intervenes especficas necessrias acada caso.

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  • Para o desenvolvimento do plantopsicolgico, tomaram-se como base aspropostas de Mahfoud (1987) e Barbanti &Chalom (1999), buscando proporcionar umespao de acolhimento de demandas diversasque se manteve disposio de quaisquerdetentas que dele necessitassem, sendo quea mesma detenta podia ser atendida pordiferentes estagirios, caso necessrio.

    Segundo Mahfoud (1987), esse sistema pedeuma disponibilidade para se defrontar com ono planejado e com a possibilidade de queo encontro seja nico (p. 75). Em nosso casoespecfico, podemos dizer, a partir dos dadoscoletados, que, em 50% dos casos, houveretornos, mas em nenhum deles se configurouum processo de psicoterapia, j que nossoobjetivo primordial foi estar disponvel para omaior nmero de demandas possvel.

    Mahfoud (1987), ao descrever o trabalho doconselheiro-psiclogo, indica a importncia deuma posio de abertura que facilite ao sujeitouma viso mais clara de si mesmo e daquiloque vivencia para gerar um pedido de ajuda.Nesse sentido, as perguntas devem estarsintonizadas com a fala do sujeito, o que implicauma escuta atenta e uma disponibilidade eentrega por parte do conselheiro e facilita oprocesso de apropriao, pelo sujeito, de suasdemandas e questes:

    (...) aceitar manter-se centrado na vivnciada problemtica que emerge com suaansiedade e fora particulares no prpriomomento de pedido de ajuda,acompanhando a variao da percepo de sie das circunstncias pela direo que aclarificao a levar (Mahfoud, 1987, p. 83).

    Na anlise do material obtido nas entrevistas,optamos por uma abordagem qualitativa. Emfuno disso, ouvir as mulheres encarceradase observar o seu cotidiano prisional mostrou-se fundamental, j que, segundo Becker(1994), h um valor nas interpretaes que

    as pessoas fazem da sua prpria experinciacomo explicao para o comportamento. Paraentender porque algum tem ocomportamento que tem, precisocompreender como lhe parecia talcomportamento (p. 103).

    Perceber os sujeitos como construtores da suahistria permitir que eles compreendam osfenmenos que os cercam sua maneira, abrir espao para que tambm se percebamcomo sujeitos sociohistricos ativos desseprocesso. Minayo (1999) sublinha a relevnciada carga histrica que possui a pesquisapsicossocial, uma vez que evidencia arealidade e a dinmica social, os interesses declasse e de determinados grupos intra e extra-institucionalmente.

    Deve-se ressaltar que, em alguns momentos,foi necessrio cautela devido ao risco de osinterlocutores (entrevistados) contarem suahistria acreditando que o entrevistador poderiaser levado a influenciar as autoridades das quaisseu destino depende. Alguns profissionais soesperados pelas detentas por serem pessoasestranhas instituio (o que significa umaiseno e possibilidade de confiana) e porindicarem uma possibilidade de reviso doprocesso.

    Resultados e discusso

    Durante o desenvolvimento do plantopsicolgico (agosto de 2004

    a julho de 2005),

    foram atendidas sessenta e sete mulheres, comndice de retorno regular ao atendimento de50 %. A mulheres possuam idades quevariavam de dezoito a quarenta e dois anos,com tempo de permanncia na delegacia quevariava de um ms a trs anos. O nvel deescolaridade, representado na Tabela 1,concentrou-se no segmento ensinofundamental incompleto (45,7 %), seguidopelo ensino mdio (completo e incompleto)e analfabetismo (14,3 % cada), e, por fim,ensino fundamental completo (11,4 %).

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    (...) aceitarmanter-se

    centrado navivncia da

    problemtica queemerge com sua

    ansiedade e foraparticulares no

    prprio momentode pedido de

    ajuda,acompanhando a

    variao dapercepo de si edas circunstnciaspela direo que

    a clarificao alevar

    Mahfoud

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    Marcela Ataide Guedes

    Tabela 1: Nvel de escolaridade das mulheresatendidas

    Nvel de escolaridade %Analfabetismo 14,3 %Ensino fundamental incompleto 45,7 %Ensino fundamental - completo 11,4 %Ensino mdio incompleto 14,3 %Ensino Mdio completo 14,3 %

    Soares & Ilgenfritz (2002), em um estudoem presdio do Rio de Janeiro, tambmver i f icaram, ent re as mulheresencarceradas, o baixo grau de escolaridade,o que normalmente associado a baixascondies socioeconmicas. Tais dadosrequerem cuidado em sua anlise, uma vezque no se pode afirmar haver uma relaodireta entre baixa escolaridade e condiosoc ioeconmica com ndices decriminalidade. Segundo Velho (2000), essafreqente e equivocada relao tende areforar o estigma imposto s populaespobres, tidas como perigosas e violentas.

    Os sujeitos pertencentes s classes debaixa renda tendem a sofrer maior aoda Justia atravs do aparato judiciriopolicial. Assim, as prises ficam cheias depobres e se reproduz um esteretipo decriminoso como aquele proveniente debolses de pobreza, no sendo apopulao carcerr ia uma amost rafidedigna do conjunto total de infratores(Zaluar, 2000).

    No que se refere ao estado civil, os dadoses to s i s temat izados conforme aautodeclarao das mulheres, no havendorelao direta com o estado civil oficial.30% declararam-se casadas/amigadas;25,3% das mulheres dec lararam-sesolteiras; 7,5%, separadas/desquitadas/divorciadas, e 3,0%, vivas, conformeTabela 2.

    Tabela 2: Estado civil autodeclarado pelasmulheres

    Estado civil %Viva 3,0 %Separada, desquitada, divorciada 7,5 %Solteira (no envolvida em relaoconjugal ao ser presa)Casada/amigada 30,0 %No respondeu 34,2 %

    Percebemos que h uma aparente relaoentre relacionamento conjugal e tipo de crimecometido. As mulheres casadas/amigadas e asseparadas/desquitadas/divorciadas declaram, namaioria das vezes, que foram presas em funodo relacionamento com seus companheiros seja por meio do trfico ou da violnciadomstica. As solteiras esto, em geral, detidaspor uso/trfico de drogas e crimes contra opatrimnio.

    Constatou-se que 87,8% das mulheres erammes, e 12,2% no tinham filhos. Dasmulheres-mes, 37,2% tinham dois filhos;34,9%, apenas um; 16,3%, quatro ou maisfilhos, e 11,6 %, trs filhos, conformeapresentado na Tabela 3.

    Tabela 3: Nmero de filhos das mulheresatendidas

    Nmero de filhos %Um filho 34,9 %Dois filhos 37,2 %Trs filhos 11,6 %Quatro ou mais filhos 16,3 %

    A relao entre a entrada no crime e amaternidade foi constatada nos relatos dasmulheres atendidas. Na sua maioria, alegavamuma relao entre os delitos cometidos e atentativa de assegurar aos filhos acesso aoconforto e aos bens de consumo divulgadosna mdia. A Tabela 4 indica os responsveispelo cuidado e guarda dos filhos dessasmulheres aps seu aprisionamento. 61% das

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    25,3 %

  • mesmas. Em se tratando das mulheresaprisionadas, o que se observa que, se, porum lado, se sentem culpadas pelo nocumprimento dessas exigncias, por outro,acreditam se tornarem passveis de umtratamento diferenciado pelo aparato judicial,merecendo inclusive serem absolvidasquando presas por serem mes de famlia,principalmente quando seus delitos estorelacionados com o sustento da casa e dasnecessidades dos filhos.

    A anlise temtica das questes abordadasespontaneamente pelas mulheres referiu-seprincipalmente a trs categorias: cotidianoprisional, maternidade e relaes familiares,vivncias amorosas e relaes de gnero.

    Cotidiano prisional

    O desrespeito aos direitos humanos,encontrado em muitas instituies penais,evidencia a mltipla penalizao imposta aoscriminosos. Alm da privao da liberdade, soainda penalizados com castigos corporais,exposio ao uso de drogas e ao contgio avrias enfermidades. Soma-se a isso odescumprimento dos dispositivos legais queregulamentam a privao de liberdade, no quediz respeito ao andamento do processo etambm no que toca questo da superlotao,da possibilidade de trabalho e da educaoformal do detento. Essas privaesdesconstroem o valor da dignidade humana,assim como a possibilidade de reinsero social(Frinhani, 2004).

    Deve-se ressaltar que, em comparao com arealidade dos presdios, as detentas citadasneste estudo possuem uma importanteparticularidade, devido ao carter provisrioque a instituio possui. Por ser uma delegacia,e no um presdio, esperado que as detentaspermaneam pouco tempo at que sejamsentenciadas e transferidas para outrasunidades. O que se observou, entretanto, que algumas detentas j haviam sido

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    crianas esto sob a responsabilidade dos avs;24% esto sob os cuidados de outros familiares,vizinhos e conhecidos, e 15% permanecemcom o pai. Ressalta-se que muitos paistambm se encontram presos, ou as mulheresno sabem de seu paradeiro, por estaremforagidos, o que, de certa maneira, explica abaixa incidncia de permanncia das crianascom seus progenitores.

    Tabela 4: Cuidadores dos filhos das mulheresaprisionadas

    Cuidadores %Os avs 61,0 %Outros familiares, vizinhos,conhecidosO pai 15,0 %

    Uma das maiores preocupaes apresentadaspelas mulheres a ausncia de contato comos filhos, principalmente aquelas cujos filhosesto com parentes ou vizinhos, o que fazcom que tenham poucas informaes e visitasdas crianas. Isso acarreta um sentimento demedo e culpa por terem abandonado osfilhos em condies que fogem ao seucontrole ou por eles poderem vir a sofrer maustratos. Descrevem tambm o receio da perdado vnculo materno, perda da guarda legal,privao material e alimentar,acompanhamento escolar e cuidados com asade. Destacamos ainda que essas mulheresse declaram mes de famlia que cumpremo seu papel social, motivo pelo qual nopoderiam estar presas.

    Trindade (1998; 1999) indica que as mulheresso defensoras de um modelo de maternidadeinventada pelos homens, no qual so tantoopressoras quanto oprimidas. Nesse modelode maternidade, construdo a partir doconceito de instinto materno, as mulheresse sentem responsveis pela total assistnciaaos filhos, o que inclui cuidados com a sadefsica, emocional e moral das crianas, almde ateno ao processo educacional das

    Uma das maiorespreocupaes

    apresentadaspelas mulheres a

    ausncia decontato com os

    filhos,principalmente

    aquelas cujos filhosesto com

    parentes ouvizinhos, o que fazcom que tenham

    poucasinformaes e

    visitas das crianas.

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    24,0 %

  • sentenciadas e permaneceram na instituiopor mais de trs anos. Isso se deve, muitasvezes, ao fato de que a maioria das mulheresconta com defensor pblico e afirmam no sesentirem bem orientadas ou defendidas quantoaos seus processos ou seus trmites. Acreditamque, se tivessem um advogado particular,poderiam ter mais chances de seremsentenciadas a uma pena mais leve ou deserem absolvidas pelos crimes.

    Frinhani (2004) explica que o que acontece que a maioria da populao carcerria no temcondies de contratar um advogado, o quedeixa as detentas sem conhecimento de suasituao jurdica e sem acesso aos benefciosprevistos por lei.

    No que diz respeito ao conhecimento sobreencarceramento, grande parte das informaesque as mulheres deste estudo apresentaramestava restrito a algumas fontes provenientesda mdia televisiva, alguma experincia anteriorcom familiares ou amigos presos e, em algunscasos, atravs de passagens por algumadelegacia, quando foram presas em flagrantee levadas para prestar depoimento. O temorinicial, no entanto, foi reduzido quando asdetentas efetivamente se inseriram no crcere.Algumas mulheres relataram episdios detentativa de extorso, agresses fsicas everbais. As imagens inicialmente construdasso desfeitas quando ingressam no espaoprisional real. A diferena entre o queefetivamente encontram e o que esperavamencontrar possibilita uma primeira assimilaodesse espao. Assim, a construo da imagemque as detentas passam a fazer de si envolveos motivos que as levaram ao encarceramento, percepo do espao onde esto inseridas edas outras mulheres ali presentes.

    H relatos das dificuldades enfrentadas pelasdetentas para se inclurem em determinadosgrupos, o que faz com que passem adiferenciar entre elas e eu, ou entreaquele grupo e o meu grupo. Atribuem s

    outras detentas comportamentos e valores queno reconhecem como seus. Ora se diferenciampelos grupos das celas (ex. a cela 8 a pior,onde as pessoas so mais intolerantes eviolentas), ora pela diferena de delitoscometidos. Souza (2004) discute a dinmicasocial de excluso/incluso e violncia presenteem diversas sociedades. Afirma que (...)podemos identificar tais mecanismos dediferenciao e categorizao que, em ltimaanlise, permitem identificar o outro, o diferente,aquele que no pertence ao grupo (p. 64).

    Esses dados tambm vo ao encontro dadiscusso sobre processos de categorizaosocial apontados por Joffe (1995) ao investigaras representaes sociais sobre o surgimentoda AIDS. Ainda que haja uma categorizaosocial na qual bandido considerado tudoigual, no universo prisional, construda umacategorizao grupal prpria em que os gruposse diferenciam entre si. O distanciamento dooutro grupo protege o prprio grupo e a simesmo, promovendo laos de solidariedadeentre os membros do grupo e criandopenalizao para os diferentes. So freqentesas queixas relacionadas com a baguna, coma fofoca e com a deslealdade, em um processode aproximao e diferenciao.

    Embora a maioria das entrevistadas afirme terbons relacionamentos entre si, reclamam porterem poucas ou nenhuma amizade. Relatamque as outras detentas so falsas e nomerecem confiana. Em contrapartida, existemrelatos que indicam comportamentos solidriosentre as que pertencem ao mesmo grupo, taiscomo: partilha da comida recebida, produtosde higiene e roupas, acolhimento emocionalpara as que chegam, troca de favores econtratao de servios que possam auxiliar arenda familiar.

    Tais observaes assemelham-se aos dados deLemgruber (1999), ao tratar da solidariedadenas prises. Segundo a mesma, a solidariedadenunca total entre populaes de presos, mastambm no chega a deixar de existir.

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  • Outro dado significativo diz respeito s duasdivises bsicas que foram apontadas pelasdetentas: 1) diviso entre presas flagradas(detentas que ainda no foram condenadas)e as presas sentenciadas (detentas jcondenadas), e 2) entre presas condenadasque trabalham e as que no trabalham.

    As presas flagradas so apontadas como maisbarulhentas, folgadas, agitadas e nervosas.O espao a elas destinado sempre o piordentro da cela, conforme j observado notrabalho de Bastos (1997). J o espao daspresas sentenciadas apontado comomelhor, com mais conforto e mais calmo. Adiferena entre os dois grupos est naperspectiva que elas controem sobre aqueleespao. Por um lado, at a sentena, aspresas flagradas acreditam que podero serabsolvidas, o que faz com que elas no sesintam parte do espao. Por outro, a dvidasobre qual ser a condenao, o tamanhoda mesma e a falta de informao sobre suasituao processual geram grande ansiedade.Observou-se que as presas sentenciadas, porterem melhor previso do tempo depermanncia no espao prisional, procuramtransformar tal espao em um ambientepersonalizado.

    A ociosidade outro aspecto que provocadesgaste entre as detentas, por no possurematividade recreativa ou de trabalho. Em algunscasos, relataram que s saam para oatendimento mdico ou psicolgico. Paramuitas mulheres, a falta de liberdade parafazer o que desejam, na hora que desejam ea dificuldade de ficarem sozinhas, semningum por perto para perturb-las, soalgumas das principais limitaes dacoletividade forada.

    Em relao s estratgias utilizadas pelasdetentas para suportar o encarceramento,observou-se: 1) realizao de trabalho nalimpeza (com a possibilidade de obterem aremio da pena); 2) atividades de artesanato;

    3) o cuidado com prpria aparncia ou com oespao da cela; 4) apego aos filhos e demaisfamiliares e 5) participao no grupo dealfabetizao ou grupos de orao organizadospor entidades religiosas diversas. Os gruposde orao so bem recebidos pelas detentas;algumas participavam de vrios grupos,independentemente da religio que ospromovia, afirmando que o principal ouviro que Deus diz. Tais atividades tambm sovistas como uma oportunidade de sair maisvezes de dentro das celas, e, em alguns casos,uma alternativa para ficar livre demedicamentos.

    Tambm foi possvel trabalhar com asexpectativas das mulheres em relao aofuturo. Os projetos futuros apresentam umcomposto de medo, ansiedade e expectativasque coincidem com os projetos das detentaspesquisadas por Soares & Ilgenfritz (2002).Geralmente, as detentas desejam recomeara vida e (re)iniciar atividades como cuidar dosfilhos, estudar, afastar-se do mundo das drogase trabalhar - mesmo sabendo que terodificuldades em encontrar um trabalho porestarem com a ficha suja ou marcadasdevido ao estigma de ex-presidirias. Asmulheres sabem que no fcil o retorno sociedade, e algumas detentas percebem quea vida na delegacia, apesar de apresentarmuitas restries e arbitrariedades, representatambm uma proteo contra as incertezas davida futura ou uma forma de proteo contraa vida que tinham antes de serem presas -sobretudo para aquelas envolvidas com o crimeorganizado. Observa-se, em algumas mulheres,que o medo de serem soltas to grandequanto era o medo de serem presas.

    Nesse sentido, o atendimento psicolgicopassa a ser um espao valorizado pelasmulheres na medida em que oferece umespao de reflexo e visibilidade social que,at o momento, no havia sido vivenciado porelas. Alm disso, o atendimento, nessecontexto, contribui para proporcionar um

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  • momento de privacidade to necessrio aoenfrentamento da coletividade forada, comomencionado acima.

    Maternidade e relaesfamiliares

    Alteraes nos lares so freqentementemencionadas pelas mulheres aprisionadas,dentre elas: 1) o aumento da responsabilidadedos filhos mais velhos, que passam a cuidarda casa e dos irmos mais novos; 2) apreocupao com a entrada ou permannciano crime de filhos ou irmos; 3) a quebra dovnculo com os familiares em funo dosofrimento e constrangimento causados aosfamiliares. Cabe destacar a nfase dada pelasdetentas relao com as mes e com osfilhos, sempre citados com carinho,manifestando elas a preocupao de que elespossam perdo-las.

    Muitas mulheres relatam valorizar mais oconvvio com a famlia depois de presas,apesar de a maioria mencionar que sempreteve um bom relacionamento familiar. Forammencionadas, como dificuldades do crcere,a preocupao e a saudade da famlia. Bastos(1997) afirma que os familiares se tornam umaponte com o mundo externo, uma ligaodelicada em funo da distncia, e frgil emfuno do no envolvimento direto com asquestes cotidianas.

    O contato com a famlia ocorre nos momentosde visita, que geralmente esperado comansiedade e com cuidados referentes aparncia pessoal e arrumao do ptio. Ocuidado com o ambiente tambm pode servisto como um indicativo de que as mulherescuidam de si e esperam que seus visitantes sesintam bem. Quando os familiares,principalmente mes e filhos, nocomparecem s visitas, as presas buscam oatendimento ora ressentidas, ora preocupadascom as ausncias. Algumas mulheresjustificavam a ausncia familiar pela dificuldade

    de deslocamento dos parentes, peloconstrangimento de passarem pela revista epela tristeza de terem um familiar preso.Arevista aos familiares apontada por Soares& Ilgenfritz (2002) como um procedimentoconstrangedor, humilhante e ineficiente,j que nem sempre consegue impedir aentrada de drogas, celulares e outros objetosilcitos dentro do crcere.

    Nesse sentido, outro ponto importante apercepo de que o universo prisional no serestringe ao confinamento ao qual estosubmetidas. Inclui relaes externas que asinfluenciam e afetam, fazendo com quemantenham preocupaes com osacontecimentos externos e suas repercussesna vida de seus familiares. Essas preocupaesmobilizam as mesmas a buscar estratgias deenfrentamento dessas questes, mesmoestando presas, visando a manter um lugar nomundo familiar e social.

    Vivncias amorosase relaes de gnero

    A ausncia masculina foi indicada pelasdetentas como fator agravante para apermanncia no crcere. Apontam a falta derelacionamentos afetivos e sexuais com o sexooposto, principalmente por no terem visitasntimas, o que favorece envolvimentosafetivos/sexuais entre as detentas. A maioriadas mulheres iniciou tais experincias duranteo aprisionamento, o que gerava dvida sobrea continuidade ou no dessa escolha,embora percebam a importncia dessasrelaes para o enfrentamento da condiocarcerria, na medida em que oferecem erecebem proteo e cuidados. Existiam casosem que algumas detentas j possuam talorientao sexual antes de serem presas. Assis& Constantino (2001) destacam que ohomossexualismo de internato umaconstruo institucional, comum em espaosde recluso, servindo como estratgia deenfrentamento do crcere no sentido dapreservao dos afetos.

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    Marcela Ataide Guedes

    Muitas mulheresrelatam valorizarmais o convviocom a famliadepois de presas,apesar de amaioria mencionarque sempre teveum bomrelacionamentofamiliar. Forammencionadas,como dificuldadesdo crcere, apreocupao e asaudade dafamlia. Bastos(1997) afirma queos familiares setornam uma pontecom o mundoexterno, umaligao delicadaem funo dadistncia, e frgilem funo do noenvolvimentodireto com asquestescotidianas.

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  • Alguns relatos sinalizaram caractersticas degnero, na vivncia prisional feminina, no quediz respeito relaes afetivas maternais entreas presas, que envolveram cuidados, proteo,acolhimento e aconselhamento das mulheresmais velhas para as mais jovens.

    Reflexes finais

    Um trabalho que se prope a lidar, ao mesmotempo, com mltiplos aspectos de umfenmeno social no pode se encerrar semque fique uma sensao de que mais poderiater sido feito. Entretanto, entendemos eaceitamos que o prprio social e a rede designificados formada por ele comportamsempre outras possibilidades de abordageme anlise; assim, a completude s seria possvelse todas essas fossem consideradas, tarefaobviamente do campo da impossibilidade.Dessa forma, trabalhar com um recorte dofenmeno s pode ser considerado vlido seesse recorte e seu tratamento permitem quese veja um trao a partir do qual se pode intuiro restante.

    Abordar o universo institucional de mulheresencarceradas possibilitou-nos, no nossoentender, observar como se constituem, nogrupo de sujeitos por ns atendidos, osmecanismos que possibilitam a busca dealternativas frente a uma experincia deexcluso.

    O que pudemos perceber, em muitos casos, que a busca por reconhecimento, inclusoe visibilidade social desses sujeitos se faz,muitas vezes, pela afirmao de poder viacriminalidade. Quando tratamosespecificamente da questo do trfico dedrogas, delito muito incidente entre asmulheres entrevistadas por ns, concordamoscom Tavares & Menandro (2004) com aindicao que o trfico de drogas produz asensao do ganhar dinheiro fcil, daautoridade de bandido com poder absolutosobre o outro, e, por fim, da no-subjugao

    s regras sociais, alm de reafirmar um idealde consumo e acesso a bem materiais todifundido pelo modelo neoliberal.

    Apesar dessa tentativa de incluso viacriminalidade, o que ocorre, muitas vezes, o aprisionamento desses sujeitos, e, nesseaspecto, foi interessante notar que, apesar dospreceitos legais que destacam o carterressocializador como prioritrio, o que a prisoconsegue reproduzir o modelo de exclusoe violncia que j assinalava a vida dessasmulheres anteriormente, fomentando, assim,a assimilao de valores imersos na culturaprisional que no correspondem aos valoresdesejveis para uma existncia extramuros.A ausncia do Estado na proposio deestratgias eficazes que previnam amanifestao da violncia e que tambmfavoream a recuperao/ressocializao doscidados em conflito com a lei mantm adesigualdade e a misria, que, emconseqncia, reiniciam o ciclo de violncia/criminalidade/excluso.

    Tavares & Menandro (2004) afirmam que asprises brasileiras funcionam como mecanismode oficializao da excluso que j perpassa avida dos detentos, no s tomando comoreferncia a precariedade das condiesproporcionadas pelo aprisionamento, mastambm a precariedade das condies de vidadesses sujeitos antes do encarceramento, emsua maioria, provenientes de grupos marcadospela excluso. Questionam tambm asperspectivas de vida que essas pessoas podemvislumbrar ao sarem do sistema carcerriocomo ex-presidirios.

    No podemos deixar de mencionar que ocorre,tambm, uma articulao, no senso comum,entre a noo de direitos humanos e oprivilgio de bandidos. Essa vinculao acabapor tornar a populao contrria defesa dosdireitos humanos, uma vez vinculada aospresos. Esse tipo de postura acaba por dificultarqualquer possibilidade de implementao de

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  • projetos que atendam essa populao, ouainda, a implementao de polticas pblicasque favoream a reinsero social dos egressos.

    Assim, seria de fundamental importnciaagregar esforos, recursos e idias paradesenvolver atividades de extenso, ensino epesquisa em frentes vinculadas ao campo daPsicologia social. Atravs de projetos desse tipo,pretende-se oferecer aos psiclogos emformao excelentes espaos de atuao, quefavoream o aprendizado com seriedade ticae possibilitem a aquisio das competnciasexigidas para o desenvolvimento de atividadesdesse porte.

    Sob esse ponto de vista, trabalhar com sujeitosencarcerados se torna um dos desafios para o

    avano da Psicologia, medida que taisatividades permitem a construo de reflexese aes acerca da percepo sobre as diversasprticas institucionais, sociais e polticas quenegligenciam as formas de construo decidadania, visando a contribuir com subsdiosque possam favorecer os programas de reduode violncia e reinsero social das egressasdo sistema prisional.

    Por fim, admitimos, mais uma vez, os limitesde nosso trabalho, muitas vezes decorrentesda prpria situao estudada. Entretanto,consideramos tambm a importncia do quefoi aqui discutido, sua relevncia para ainvestigao e o entendimento de questesque s podem ser validadas no cotidiano decada sujeito e atravs da sua fala.

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    Marcela Ataide Guedes

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    Referncias

    Marcela Ataide GuedesPsicloga, graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG. Ps-graduanda em Psicologia

    clnica nfase em Gestalt-terapia pela Faculdade de Estudos Administrativos - FEAD.Rua Timbiras, 1364 apto 703B Funcionrios - Belo Horizonte MG. Cep: 30140-060

    Tel: (031) 3234 4162. E-mail:[email protected]

    Recebido 16/01/06 Reformulado 17/10/06 Aprovado 09/11/06