14
Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1 Multidisciplinary intervention in individuals with htlv1 Sarah Souza Pontes 1 MaiaraBouzas 2 Lilia Doria 3 Arlenna Silva Damasceno Souza 4 Renata Schulz 5 Gabriele Maria da Silva 6 Jéssica Magalhães Guedes 7 Ramona Barqueiro 8 Raiany Alves dos Santos 9 RESUMO Estudo de intervenção realizado emdoze pacientes com HTLV-1 em atendimento em um centro de saúde multidisciplinar, onde foram avaliados quanto a aspectos nutricionais, mobilidade e qualidade de vida. Os pacientes realizaram o Método Pilates por nove semanas, duas vezes na semana com duração de 60 minutos, totalizando dezoito sessões. A mobilidade foi avaliada através de versões brasileiras das seguintes escalas funcionais: Teste de TINETTI, Índice de BARTHEL, Escala de Incapacidade Neurológica IPEC – 1, Escala de Incapacidade Neurológica IPEC - 2 (EIPEC-2), Escala De Incapacidade de KURTZKE, Escala De Incapacidade de OSAME, Escala de Incapacidade Expandida de KURTZKE, e Timedupand Go. E a 1 Fisioterapeuta especialista em Neurofuncional - Pilates e Enfermeira. Especialista em Saúde do Trabalhador. Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social. Aluna especial do Doutorado em Medicina e Saúde da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. 2 Fisioterapeuta especialista em neonatal, Mestre em ciências da saúde, Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal da Bahia. 3 Enfermeira graduada pela Universidade Federal da Bahia, Mestre em Gestão em Educação pela Universidade do estado da Bahia. 4 Graduada pela UNIJORGE. 5 Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde pela Universidade Federal Fluminense; Especialista em Clínica Cirúrgica pelo Hospital Universitáro Pedro Ernesto/UERJ; Enfermeira Graduada em Enfermagem e Licenciatura pela Universidade Federal Fluminense. 6 Graduada pela UNIJORGE. 7 Acadêmica do curso de graduação em Fisioterapia na UNIJORGE. Salvador-BA, Brasil. 8 Possui graduação em Nutrição pela Universidade Federal da Bahia (2009) e mestrado em Medicina e Saúde (Curso Novo) pela Universidade Federal da Bahia (2011). Atualmente é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Alimentos, Nutrição e Saúde da Escola de Nutrição da UFBA. Atua como professora universitária no Centro Universitário Jorge Amado e no Centro Universitário Estácio da Bahia e como nutricionista na Clínica Cardiovascular Center 9 Graduada pela UNIJORGE Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 059

Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1

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Page 1: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1

Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1

Multidisciplinary intervention in individuals with htlv1

Sarah Souza Pontes1 MaiaraBouzas2

Lilia Doria3 Arlenna Silva Damasceno Souza4

Renata Schulz5 Gabriele Maria da Silva6

Jéssica Magalhães Guedes7 Ramona Barqueiro8

Raiany Alves dos Santos9

RESUMO

Estudo de intervenção realizado emdoze pacientes com HTLV-1 em atendimento em

um centro de saúde multidisciplinar, onde foram avaliados quanto a aspectos

nutricionais, mobilidade e qualidade de vida. Os pacientes realizaram o Método

Pilates por nove semanas, duas vezes na semana com duração de 60 minutos,

totalizando dezoito sessões. A mobilidade foi avaliada através de versões brasileiras

das seguintes escalas funcionais: Teste de TINETTI, Índice de BARTHEL, Escala de

Incapacidade Neurológica IPEC – 1, Escala de Incapacidade Neurológica IPEC - 2

(EIPEC-2), Escala De Incapacidade de KURTZKE, Escala De Incapacidade de

OSAME, Escala de Incapacidade Expandida de KURTZKE, e Timedupand Go. E a

1Fisioterapeuta especialista em Neurofuncional - Pilates e Enfermeira. Especialista em Saúde do Trabalhador.

Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social. Aluna especial do Doutorado em Medicina e Saúde da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. 2Fisioterapeuta especialista em neonatal, Mestre em ciências da saúde, Doutora em Ciências da Saúde pela

Universidade Federal da Bahia. 3Enfermeira graduada pela Universidade Federal da Bahia, Mestre em Gestão em Educação pela Universidade

do estado da Bahia. 4Graduada pela UNIJORGE.

5Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde pela Universidade Federal Fluminense; Especialista em Clínica Cirúrgica pelo Hospital Universitáro Pedro Ernesto/UERJ; Enfermeira Graduada em Enfermagem e Licenciatura pela Universidade Federal Fluminense. 6Graduada pela UNIJORGE.

7Acadêmica do curso de graduação em Fisioterapia na UNIJORGE. Salvador-BA, Brasil.

8Possui graduação em Nutrição pela Universidade Federal da Bahia (2009) e mestrado em Medicina e Saúde (Curso Novo) pela

Universidade Federal da Bahia (2011). Atualmente é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Alimentos, Nutrição e Saúde da Escola de Nutrição da UFBA. Atua como professora universitária no Centro Universitário Jorge Amado e no Centro Universitário Estácio da Bahia e como nutricionista na Clínica Cardiovascular Center 9Graduada pela UNIJORGE

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Page 2: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1

qualidade de vida foi avaliada através do Questionário de Qualidade de Vida - SF-36

(questão 06) e Escala WHOQOL-BREF, a avaliação nutricional foi realizada de

acordo com medidas antropométricas e anamnese. Conclui-se que houve uma

melhora na mobilidade e na qualidade de vida nos sujeitos da pesquisa.

Palavras Chaves: HTLV1, Pilates, mobilidade, qualidade de vida.

ABSTRACT

Intervention study performed in twelve patients with HTLV-1 in a multidisciplinary health center, where they were evaluated regarding nutritional aspects, mobility and quality of life. Patients performed the Pilates Method for nine weeks, twice a week for 60 minutes, totaling eighteen sessions. The mobility was evaluated through Brazilian versions of the following functional scales: TINETTI Test, BARTHEL Index, IPEC - 1 Neurological Disability Scale, IPEC - 2 Neurological Disability Scale (EIPEC - 2), KURTZKE Disability Scale, OSAME disability, KURTZKE Expanded Disability Scale, WHOQOL-BREF Scale, and Timed up and Go. Quality of life was assessed using the Quality of Life Questionnaire - SF-36 (question 06) and BECK Depression Inventory. It was concluded that there was an improvement in the mobility and the quality of life in the subjects of the research.

Key Words: HTLV1, Pilates, mobility, quality of life.

INTRODUÇÃO

O vírus linfotrópico de células T humanas (HTLV) é um vírus da família

Retroviridae e é classificado em tipos I e II com tropismo preferencial para linfócitos

T CD4+. Mesmo sendo semelhantes, eles se comportam de maneiras diferentes no

organismo, enquanto o HTLV-I ocasiona complicações significativas que podem

prejudicar os indivíduos na realização das suas atividades de vida diária (AVD’s), o

HTLV-II frequentemente não ocasiona danos ao organismo infectado. Foi o primeiro

retrovírushumano, descrito em 1980, isolado de um paciente com linfoma cutâneo

de células T. No Brasil, o vírus foi descrito pela primeira vez em 1986, entre

imigrantes de Okinawa, Japão (REIS, 2007, p. 29-36; ROMANELLI, 2010, p. 340-

347; KITAGAWA, 1986; OMS, 1998).

A mielopatia associada ao HTLV-1 (HAM/TSP) tem ocorrência em 4% dos

casos. O quadro clínico tem evolução progressiva, porém geralmente lenta e mais

expressa no sexo feminino com proporção estimada de 2:1 a 3:1. As alterações

neuromotoras mais comuns são distúrbios de marcha, fraqueza e aumento do tônus

Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 060

Page 3: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1

em membros inferiores de acordo com os miótomos acometidos(FIGUEIREDO,

2012, p. 143-155).

A transmissão do HTLV ocorre através do contato com linfócitos infectados,

podendo ser através de relação sexual, onde a maior frequência é do homem

infectado para a mulher, com uma taxa de 61%; por meio do aleitamento materno,

em que quanto maior o tempo de amamentação, maiores as chances de infecção,

com uma probabilidade de 18 a 30%; por transfusão sanguínea, de órgãos, e por

compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas (GONÇALVES, 2009, p. 99-

110; ROMANELLI, 2010, p. 340-347).

As principais manifestações clínicas da retrovirose são neurológicas e

hematológicas sendo, a mais frequente a Paraparesia Espástica Tropical/ Mielopatia

Associada ao HTLV-1 (PET/MAH). Não raramente se observa a associação de

várias manifestações, daí o termo “complexo neurológico” associado ao HTLV-1:

PET/MAH, miopatia, doença do neurônio motor, neuropatia periférica, disautonomia,

ataxia cerebelar e disfunção cognitiva (GOTUZZO, 2007, p. 223-30; COSTA, 2011,

p. 4-15).

A Mielopatia associada ao HTLV-1/Paraparesia Espástica Tropical

(PET/MAH) é uma doença desmielinizante, crônica e progressiva, de caráter

insidioso, afetando a medula espinhal, preferencialmente na região toracolombar,

ocasionando enfraquecimento do arco reflexo sacral (MAURO, 2013).

A sintomatologia da PET/MAH geralmente se expressa a partir dos 40 anos,

sendo rara a ocorrência na infância ou velhice. Caracteriza-se por diminuição de

força muscular, espasticidade, em membros inferiores, dificuldades de locomoção,

alterações sensitivas, principalmente nos membros inferiores, dores na região

lombar e disfunção autonômica, ocasionando diminuição da libido, disfunção erétil e

incontinência urinária, sendo as alterações miccionais presentes em 90% dos casos

(BARROSO, 2013).

A espasticidade ou hipertonia elástica é considerada o principal fator limitante.

É de suma importância verificar até que momento a espasticidade é benéfica e

quando ela vem a se tornar incapacitante para a realização das atividades de

desenvolvimento da autonomia pessoal e social. A marcha parietoespástica é o

padrão adotado pelo paciente com PET/MAH, devido à hipertonia elástica. Este

padrão de marcha requer maior consumo energético o que pode em casos

avançados gerar uma marcha não funcional no paciente incapacitando em outras

Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 061

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atividades de vida diária como, na higiene pessoal, ao subir e descer degraus e ao

vestir-se, fazendo com que o indivíduo necessite de auxílio progressivo tais como:

muletas, bengalas e andadores para realizar a deambulação, sendo a cadeira de

rodas o estágio final da evolução. As alterações sensoriais nem sempre

acompanham o quadro motor, mas, com frequência, há relato de disestesias e

parestesias (dormência, formigamentos) ao longo dos membros inferiores e

predominantemente distais (GONÇALVES, 2009, p. 99-110; GOTUZZO, 2007, p.

223-30; FERNANDES, 2014).

Além do tratamento medicamentoso para inibição do processo infeccioso e do

tratamento do tônus muscular, é de grande importância o trabalho da equipe

multidisciplinar para remissão dos sintomas. A reabilitação é um processo

restaurativo de manutenção contínua que se inicia na ocasião da lesão, sendo

prolongada até a integração do indivíduo à comunidade e está relacionada

diretamente com o papel do fisioterapeuta (FERNANDES, 2014).

A reabilitação promove a melhora da qualidade de vida e diminui a morbidade

da doença. Os exercícios que podem ser ativos e/ou passivos melhoram a

espasticidade e o equilíbrio e conservam a integridade articular. Ao melhorar a

deambulação, utilizando-se órteses ou auxílios como muletas e andadores, o

indivíduo retorna ao convívio de sua família e, com um melhor desempenho,

beneficia a adaptação do paciente às exigências do meio onde vive. O tratamento

fisioterapêutico parece eficaz no processo de reabilitação dos pacientes

sintomáticos, favorecendo a melhoria da qualidade de vida desses doentes ao

proporcionar uma maior independência funcional dentro de cada limitação

(NASCIMENTO, 2010).

Dessa maneira, embora a fisioterapia não possa intervir diretamente nos

aspectos patológicos da infecção, espera-se que ela possa reduzir os sintomas e

melhorar a funcionalidade, gerando um impacto positivo na condição de vida destes

indivíduos. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foidescrever o perfil clínico de

pacientes acometidos com HTLV-1 e avaliar o impacto do MétodoPilatesna

capacidade funcional e qualidade de vida desses indivíduos.

METODOLOGIA

Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 062

Page 5: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1

Estudo de caráter descritivo e prospectivo, realizado no estúdio de Pilates do

Instituto de Saúde doCentro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE), em pacientes

com diagnóstico médico de HTLV-1 de ambos os sexos, com idade superior a

dezoito anos e, com queixas cinético-funcionais, com capacidade de se manter em

sedestação de forma independente.

Foram excluídos os pacientes sem controle da pressão arterial (hipertensos

ou hipotensos), visto que ambos geram instabilidade hemodinâmica e podem ser

potencializados durante o exercício físico. A hipertensão é potencializada devido ao

aumento da frequência cardíaca (FC), aumento do débito cardíaco (DC) e aumento

da pressão arterial como resposta fisiológica, mas no hipertenso descompensado

aumentam o risco de ocorrência de um acidente vascular encefálico e infarto

(MONTEIRO, 2004). Apesar de todo mecanismo de aumento da pressão arterial

devido ao aumento da resistência vascular periférica, existe o fenômeno da

hipotensão pós exercício, o qual a pressão arterial diminui no período de

recuperação do exercício encontrando valores menores do que antes do início do

exercício físico e que pode perdurar as 24 horas subsequentes (BRUM, 2004).

O programa de reabilitação era composto por atendimentos duas vezes por

semana durante nove semanas, com duração de sessenta minutos através do

método Pilates totalizando dezoito sessões.

Foi explicado aos participantes os objetivos do estudo, informando-os sobre a

importância da pesquisa e os benefícios do trabalho com a leitura do Termo de

Consentimento Livre e Pré-esclarecido. Após a concordância em participar,

assinaram esse termo em duas vias de igual teor autorizando o uso dos dados a

serem coletados.

Todas as informações coletadas foram resguardadas as identidades,

mantendo-se a ética e o sigilo quanto à identidade dos participantes. Este estudo foi

aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa conforme a Resolução nº 466 do

Conselho Nacional de Saúde (CAAE: 56230116.0.0000.0041).

Os atendimentos foram realizados por cinco alunos previamente treinados e

supervisionados por docente responsável.Os exercícios utilizados foram aplicados

no Solo e nos Equipamentos de Pilates, visando a extensão e a estabilização de

tronco, fortalecimento do Core, da porção glútea e quadríceps em todas as sessões

e aumentando o nível de complexidade de acordo com a performance individual de

cada paciente.

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Page 6: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1

Antes e após o programa de reabilitação foramaplicados os seguintes testes

funcionais: Teste de TINETTI, Índice de BARTHEL, Escala de Incapacidade

Neurológica IPEC - 1 (EIPEC-1), Escala de Incapacidade Neurológica IPEC - 2

(EIPEC-2), Escala De Incapacidade de KURTZKE (DSS), Escala De Incapacidade

de OSAME, Escala de Incapacidade Expandida de KURTZKE (EDSS) e

Timedupand Go. E a avaliação da qualidade de vida foi realizada através do

Questionário de Qualidade de Vida - SF-36 (questão 06), do Inventário de

Depressão de BECK e da Escala WHOQOL-BREF.

Foram mensuradas as seguintes medidas: peso, circunferência do braço (CB)

e dobra cutânea tricipital (DCT) conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS)

(1995) e a altura do joelho (AJ). O peso atual foi aferido em balança eletrônica de

plataforma com capacidade máxima de 300 kg e escala de 100 g, da marca

Filizola®. A AJ foi medida formando um ângulo de 90º entre o joelho e o tornozelo

com o indivíduo na posição supina. Utilizou-se um paquímetro, com sensibilidade de

0,1 cm, constituído por uma parte fixa, posicionada na superfície plantar do pé e

uma parte móvel, pressionada sobre a patela. A DCT e a CB foram aferidas com o

uso do adipômetro Lange e de uma fita inelástica, respectivamente (CARVALHO,

2015).

A estatura foi estimada com o uso das equações propostas para adultos15e

idosos. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado pela razão entre o peso e o

quadrado da estatura estimada (CARVALHO, 2015).

O cálculo da circunferência muscular do braço (CMB) foi feito pela seguinte

equação: CMB =CB (cm) – 3,14 x [PCT (mm) ÷ 10]. As adequações da PCT e CMB

foram obtidas utilizando a tabela com os valores de referência adaptados por

Blackburn & Thornton (1979). Para a avaliação do ritmo intestinal foi utilizada a

escala de Bristol, conforme sugerido pelo Consenso da Organização Mundial de

Gastroenterologia.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados foram tabulados em planilhas específicas do Microsoft Excel®.

Posteriormente serão analisados no software SPSS versão 16. Foram utilizadas

técnicas de estatística descritiva como as medidas de tendência central e dispersão

para as variáveis quantitativas e as frequências absoluta e relativa para as

Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 064

Page 7: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1

qualitativas. Os resultados foram expressos em tabelas e gráficos adequados ao tipo

de informação.

Foram realizados procedimentos para a escolha do teste estatístico adequado

à comparação. As técnicas de estatística inferencial como: Testes T com medidas

repetidas, assumido como nível de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra de conveniência foi composta de 12 pacientes com média de idade

de 51,7 anos (mín. 24/máx. 66 anos). A média de idade foi semelhante àquela

encontrada nos estudos de Brito(2016)eRomanelli(2010)que apresentou uma média

de idade de 40 anos.

A média de idade elevada, pode estar associada à alta frequência do vírus

atrelada as transfusões sanguíneas no passado, o que indica que asinfecções

transmitidas pelo sangue eram um meio importante de infecção pelo HTLV antes da

implementação da triagem de doadores de sangue no Brasil (BRITO, 2016, p. 35-

41).

Apenas três (25%) pacientes trabalhavam de forma autônoma e os demais já

se encontravam aposentados. Todos os pacientes do sexo masculino eram casados

e nenhuma das mulheres mantinha nenhum tipo de relacionamento conjugal estável.

A incontinência urinária foi menos frequente que a constipação intestinal.

Quatro (33,3%) pacientes referiram ter incontinência urinária, sendo que um deles

também referiu ter polaciúria. A Incontinência urinária pode repercutir em diversas

situações cotidianas na vida da mulher, levando-as a uma baixa autoestima, perda

da autoconfiança e, consequentemente, uma negação da relação sexual e

incapacidade em ter um parceiro sexual (MILAGRE, 2002, p. 153-8; CASTRO,

2002).

Na avaliação Nutricional houve perda da amostra, foram avaliados no total 10

indivíduos que participaram do programa de Pilates. De acordo com a escala de

Bristol, 8de 10 pacientes referiram aspecto das fezes compatíveis com obstipação.

No trabalho realizado por Santos e Rodrigues20, 55,1% dos pacientes com HTLV-1 e

dos avaliados apenas 2relatavam apresentar obstipação. O HTLV-1 leva ao intestino

neuropático, levando a cronicidade do problema causado por falha motora.A

obstipação pode ser colônica, quando há alterações na função propulsória do cólon,

ou retal, na qual se verifica transtornos no reflexo da defecação na pelve ou ânus,

Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 065

Page 8: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1

sendo que o paciente com HTLV-1 pode apresentar ambos. Além do

comprometimento neurológico, observa-se neste grupo de pacientes ouso frequente

de laxantes, baixo consumo hídrico em função da incontinência urinária e o baixo

consumo de fibras, que acentuam os distúrbios de motilidade intestinal (SANTOS,

2012, p. 25-32).

A avaliação antropométrica dos pacientes está descrita na tabela 1. Segundo

o IMC, 5 (41,6%) pacientes apresentam excesso de peso corporal. Em estudo

realizado em Salvador- Bahia com 54 pacientes com HTLV-1, verificou-se a

prevalência de 52% de pacientes com excesso de peso, segundo o IMC22.No

presente estudo, a prevalência de excesso de peso concorda com os resultados de

adequação da Dobra Cutânea Tricipital, que evidencia que 6 (50%) pacientes

apresentavam excesso de tecido adiposo (Tabela 1) (ANDROMANAKOS, 2006, p.

638-46).

Tabela 1. Caracterização antropométrica da população estudada.

Variáveis antropométricas n %

Índice de Massa Corporal

Excesso de peso 5

50

Eutrofia 4

40

Baixo Peso 1

10

Adequação da DCT

Obesidade 5

50

Sobrepeso 1

10

Adequado 1

10

Desnutrição Leve 1

10

Desnutrição Moderada 2

20

Adequação da CMB

Eutrofia 9

90

Desnutrição Leve 1 10

Pesquisa: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com HTLV1

Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 066

Page 9: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1

De forma contrária, a adequação da Circunferência Muscular do Braço

evidencia que a maior parte dos pacientes avaliados (75%) apresentam boa reserva

muscular e apenas 1 paciente apresenta depleção muscular leve (Tabela 1).

Sugere-se que isso se deva ao maior uso dos membros superiores para

movimentação, seja pelo uso de cadeiras de rodas ou muletas, o que permite o

desenvolvimento da musculatura de membros superiores.

Para avaliação do equilíbrio e mobilidade, foram utilizadas as escalas

TINETTI, TUG e OSAME e os resultadospré e pós intervenção podem ser

visualizados na figura 1. Foi aplicada a análise estatística através do Teste T. Foi

verificada uma reduçãosignificativa (p=0,012) do risco de queda após a intervenção,

de acordo com TUG, resultado semelhante ao encontrado no estudo de Figueiredo

Neto, realizado com 17 sujeitos de um centro de referência de HTLV da cidade de

Salvador. Neste trabalho, houve melhora estatisticamente significante do TUG com

redução da média de 15,68 ± 6,93 para 12,31 ± 3,69 com (p=0,26). FERREIRA et

al.(2004), observou uma melhora significativa no equilíbrio e na marcha – avaliadas

pelo Tinetti- após terapia com uso da técnica de facilitação neuromuscular

proprioceptivo em um indivíduo portador de Paraparesia Espástica Tropical (PET).

O teste de Tinetti foi traduzido e validado no Brasil por Gomes em 2003 e é

utilizado para avaliar o equilíbrio e marcha dos indivíduos. A escala é dividida em

duas partes (equilíbrio e marcha) em que as tarefas representam as atividades de

vida diária (AVD). A pontuação varia de 0 a 28 pontos, sendo que escores abaixo de

19 indicam alto risco de quedas, e escores entre 19 e 24 indicam risco moderado.

Figura 1. Impacto de 18 sessões de Pilates sobre a motricidade de pacientes

infectados

com HTLV-1.

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Page 10: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1

Pesquisa: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com HTLV1

Timedupand Go (TUG) é um teste que

indivíduo deve levantar de uma cadeira sem apoio, percorrer três metros e retornar

ao ponto de partida. O indivíduo que

éindependente, com mobilidade funcional totalmente livre. Aquele que realizada

intervalo de dez a dezenove segundos são caracterizados como independentes,

entre vinte a vinte e nove possuem dificuldad

de trinta segundos são considerados

A Escala de Disfunção

que garante ao paciente a maior parte de sua independência funcional, não

avaliando outras atividades da vida diária (AVD). O escore OMDS varia de 0 a 13,

sendo 0 marcha normal e 13 restrição ao leito com completa dependência motora

funcional. Pode ser utilizada uma versão reduzida em que o escore varia de 0 a 6,

sendo 0 normal e 6 restrição ao leito

A escala Barthel avalia a funcionalidade sendo seu escore de zero a cem,

quanto maior o indivíduo é mais independente.

pelo Índice de BARTHEL, não

que permaneceu o escore

mesmo aconteceu na avaliação da sexualidade, com aplicação da Escala ARIZONA

(MINOSSONO, 2010).

0

5

10

15

20

25

TUG

19p=0,012

Pesquisa: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com HTLV1

(TUG) é um teste que avalia a mobilidade funcional

deve levantar de uma cadeira sem apoio, percorrer três metros e retornar

indivíduo que realiza este teste em até dez segundos

, com mobilidade funcional totalmente livre. Aquele que realizada

intervalo de dez a dezenove segundos são caracterizados como independentes,

entre vinte a vinte e nove possuem dificuldade nas atividades de vida diária e acima

são considerados dependentes (BETRAN, 2013).

A Escala de DisfunçãoMotora de Osame (OMDS) tem foco na marcha, função

que garante ao paciente a maior parte de sua independência funcional, não

do outras atividades da vida diária (AVD). O escore OMDS varia de 0 a 13,

sendo 0 marcha normal e 13 restrição ao leito com completa dependência motora

funcional. Pode ser utilizada uma versão reduzida em que o escore varia de 0 a 6,

trição ao leito com total dependência3.

Barthel avalia a funcionalidade sendo seu escore de zero a cem,

o indivíduo é mais independente.No quesito funcionalidade

de BARTHEL, não houve diferença entre a avaliação i

escore mediano de 90 pontos, indicando maior independência.

avaliação da sexualidade, com aplicação da Escala ARIZONA

TINETTI OSAME

21

6

17 18

7

Antes Após 9 semanas

p=0,012 p=0,53

p=0,655

Pesquisa: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com HTLV1

avalia a mobilidade funcional.O

deve levantar de uma cadeira sem apoio, percorrer três metros e retornar

até dez segundos

, com mobilidade funcional totalmente livre. Aquele que realizada no

intervalo de dez a dezenove segundos são caracterizados como independentes,

e nas atividades de vida diária e acima

, 2013).

tem foco na marcha, função

que garante ao paciente a maior parte de sua independência funcional, não

do outras atividades da vida diária (AVD). O escore OMDS varia de 0 a 13,

sendo 0 marcha normal e 13 restrição ao leito com completa dependência motora

funcional. Pode ser utilizada uma versão reduzida em que o escore varia de 0 a 6,

Barthel avalia a funcionalidade sendo seu escore de zero a cem,

funcionalidade, avaliada

entre a avaliação inicial e final, Em

de 90 pontos, indicando maior independência.O

avaliação da sexualidade, com aplicação da Escala ARIZONA

p=0,655

Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 068

Page 11: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1

A qualidade de vida é comprometida pela falta de independência funcional,

reforçando a importância de se avaliar a mesma. Neste estudo, a qualidade de vida

foi mensurada através do Questionário SF-36 e pela Escala WHOQOL-BREF

apresentando resultados satisfatórios, se assemelhando ao estudo de KLAUTAU et

al27 onde avaliaram a qualidade de vida de pacientes submetidos ao Método Pilates,

tendo como resultado melhora de quase todos os domínios (SHUBLA, 2010, p. 144-

145).

O SF-36 é multidimensional, formado por 36 itens, dividido em oito escalas ou

domínios: capacidade funcional (CF), aspectos físicos (AF), dor física (DF), estado

geral de saúde (EGS), vitalidade (VT), aspectos sociais (AS), aspectos emocionais

(AE) e saúde mental (SM), em que cada componente ou domínio é avaliado

separadamente. O questionário pode ser dividido em dois componentes: o

componente físico envolve a capacidade funcional, a dor, o estado geral de saúde e

o aspecto físico. O componente mental abrange a saúde mental, o aspecto

emocional e o social e a vitalidade, que é avaliada por 35 questões. Além disso, há

mais uma questão comparativa entre a saúde atual e a do ano anterior. A finalidade

das questões foi transformar medidas subjetivas em dados objetivos, que permitem

ser analisadas de forma específica, global e reprodutível (KLAUTAU, 2014).

O WHOQOL-Brefé um instrumento genérico, desenvolvido pela Organização

Mundial de Saúde, numa versão abreviada do WHOQOL-100, que mede a

percepção dos indivíduos a respeito do impacto que as doenças causam em suas

vidas. É composto por 26 questões, sendo duas questões gerais de qualidade de

vida e as demais 24 representam cada uma das 24 facetas que compõem o

instrumento original (FERNANDES, 2009).

Figura 2. Impacto de 18 sessões de Pilates sobre a qualidade de vida de

pacientes

infectados com HTLV-1.

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Page 12: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com htlv1

Pesquisa: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com HTLV1

Na avaliação da severidade da doença e função corporal foram utilizadas as

escalas IPEC –1, IPEC – 2, EDSS e DSS não sendo verificadas mudanças

significativaspré e pós intervenção. EIPEC-1 - foi criada e validada em 2006, com o

propósito de ser um instrumento específico para mensuração da incapacidade nos

pacientes com MAH/PET.A avaliação do desempenho da escala EIPEC-2, em

relação a outras escalas já existentes, permite investigar se ela proporciona, ou não,

melhor acompanhamento clínico dos pacientes, com observação mais precisa do

grau de incapacidade e da resposta às intervenções terapêuticas, melhorando,

portanto, a qualidade assistencial do atendimento destes indivíduos.

Assim como a EDSS, a DSS foi criada para avaliação depacientes com

esclerose múltipla. Além de avaliar a função deambulatória, esta escalainclui

também a avaliação de sistemas funcionais, muitos dos quais raramente

sãoafetados nos casos de MAH/PET como, por exemplo, a função cerebelar, visual

ou detronco cerebral. A EDSS apresenta uma série deproblemas. Primeiramente,

ela não é uma medida pura de incapacidade, mas sim umacombinação de medidas

de disfunção (nos graus mais baixos da escala) e deincapacidade (nos graus mais

altos). Ressalta-se, também, a baixa concordância entreexaminadores e a baixa

sensibilidade às mudanças clínicas no decorrer do tempo (AGUIAR, 2011).

p=0,524

p=0,007

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Figura 3. Impacto de 18 sessões de Pilates sobre

função

corporal de pacientes infectados com HTLV

Pesquisa: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com HTLV1

CONCLUSÃO

A hipertonia elástica característica das manifestações da infecção pelo HTLV

1 e o padrão de marcha adquirido

considerados os fatores de maior limitação e/ou incapacidade funcional para os

indivíduos portadores do HTLV

2007).

Por ser um quadro crônico

ao tratamento medicamentoso se faz imprescindível para a manutenção da

qualidade de vida e independência funci

2014).

Desta forma, concluímos a partir dos resultados demonstrados que

pacientes portadores de HTLV

apresentaram melhora significativa na qualidade de vida, equilíbrio,

funcional, marcha e na diminuição do risco de quedas.

0

5

10

15

20

25

IPEC-1

2022

p=0,05

. Impacto de 18 sessões de Pilates sobre a severidade da doença e

corporal de pacientes infectados com HTLV-1.

Pesquisa: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com HTLV1

A hipertonia elástica característica das manifestações da infecção pelo HTLV

adquirido pelas limitações que esta hipertonia acarreta são

considerados os fatores de maior limitação e/ou incapacidade funcional para os

portadores do HTLV-1 (GONÇALVES, 2009, p. 99-

Por ser um quadro crônico-progressivo, a intervenção multidisciplinar atrelada

ao tratamento medicamentoso se faz imprescindível para a manutenção da

qualidade de vida e independência funcional destes indivíduos (FERNANDES,

Desta forma, concluímos a partir dos resultados demonstrados que

pacientes portadores de HTLV-1 submetidos a intervenção multidisciplinar

apresentaram melhora significativa na qualidade de vida, equilíbrio,

funcional, marcha e na diminuição do risco de quedas.

IPEC-2 DSS EDSS

13

64

13

6

Antes Após 9 semanas

p=0,231p=0,18

p=0,86

a severidade da doença e

Pesquisa: Intervenção multidisciplinar em indivíduos com HTLV1

A hipertonia elástica característica das manifestações da infecção pelo HTLV-

pelas limitações que esta hipertonia acarreta são

considerados os fatores de maior limitação e/ou incapacidade funcional para os

-110; GOTUZZO,

progressivo, a intervenção multidisciplinar atrelada

ao tratamento medicamentoso se faz imprescindível para a manutenção da

onal destes indivíduos (FERNANDES,

Desta forma, concluímos a partir dos resultados demonstrados que os

tidos a intervenção multidisciplinar

apresentaram melhora significativa na qualidade de vida, equilíbrio, mobilidade

EDSS

7p=0,231

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REFERÊNCIAS MONTEIRO, M.F., FILHO, D. C. S. Exercício físico e o controle da pressão arterial. Revista brasileira de medicina do esporte. V. 10, n. 6, Niterói, Nov./Dez. 2004. BRUM, P. C., FORJAZ C. L. M., TINUCCI, T., NEGRÃO, C. E. Adaptações agudas e crônicas do exercício físico no sistema cardiovascular. Rev. paul. Educ. Fís., v.18, p.21-31, São Paulo, 2004.

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