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CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E DEMOGRÁFICAS ASSOCIADAS À DIREÇÃO DE VEÍCULOS AUTOMOTORES E ACIDENTES AUTOMOBILÍSTICOS EM PACIENTES COM EPILEPSIA Bicalho, M.A.H. 1,2 ; Sukys-Claudino, L. 1,2 ; Guarnieri, R. 1,2 ; Walz, R. 1,2 ; Lin, K. 1,2 1 Serviço de Neurologia, Departamento de Clínica Médica, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, Brasil 2 Centro de Epilepsia de Santa Catarina (CEPESC), Hospital Governador Celso Ramos (HGCR), Florianópolis, SC, Brasil E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO Para serem considerados aptos para dirigir no Brasil, os pacientes com epilepsia (PCE) devem estar livres de crises há pelo menos um ano, em tratamento regular e ter um parecer favorável do médico que os acompanha. Estudos prévios de outros países mostram que cerca de 20-36% dos PCE continuam dirigindo mesmo com crises não controladas. Não existem dados suficientes sobre direção de veículos automotores por PCE no Brasil. Um maior conhecimento a esse respeito pode ajudar a identificar pacientes que estão sob maior risco de acidentes e encontrar alternativas que permitam preservar a produtividade e qualidade de vida desses pacientes. OBJETIVOS Investigar as características clínicas e demográficas associadas à direção de veículos automotores e acidentes automobilísticos em PCE. MÉTODOS Foram entrevistados 144 pacientes com diagnóstico de epilepsia estabelecido de acordo com a International League Against Epilepsy (ILAE), em acompanhamento nos ambulatórios do Centro de Epilepsia de Santa Catarina e do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis, SC. Os dados demográficos, clínicos e a identificação da direção de veículos automotores e acidentes foram obtidos por meio de questionário com os pacientes e seus acompanhantes. Pacientes analfabetos, com comprometimento cognitivo ou suspeita de crises psicogênicas foram excluídos. Todos os pacientes assinaram termos de consentimento livre e esclarecido para participar do estudo. Somente quatro pacientes se recusaram a participar. RESULTADOS 54,9% sexo masculino. Média de idade de 36 anos e escolaridade de 8,4 anos. 95% tiveram crises no último ano, com uma média de 1,79 crises por semana. 50 pacientes tinham carteira de habilitação, sendo que 76,7% omitiram o diagnóstico para obtê-la. 68 (47%) pacientes dirigiram após o diagnóstico de epilepsia. Os fatores de risco associados a este comportamento foram: sexo masculino, maior renda per capita, presença de crises epilépticas que permitiam se proteger durante o evento, idade de início da doença > 18 anos e monoterapia. Dentre os que dirigiram após o diagnóstico 38,2% apresentaram crises com perda de consciência no volante. 46 pacientes dirigiram nos últimos 12 meses, sendo 89% com crises não controladas. Apenas pacientes do sexo masculino envolveram-se em acidentes devido a crises (17 pacientes), sendo estes indivíduos de menor escolaridade e com início da epilepsia após os 18 anos. A maioria dos acidentes ocorreu durante direção veicular com propósito ocupacional (42,3%), em via rural ou rodovia (80,8%), envolvendo carro (76,9%), sem evidência de crise sem perda de consciência antecedendo o acidente (69,2%). CONCLUSÕES Indivíduos com epilepsia do sexo masculino, idade entre 18 e 35 anos, que estão trabalhando, com renda per capita de pelo menos R$ 400,00 ao mês, com início das crises recorrentes após os 18 anos, apresentando crises epilépticas sem perda de consciência e em monoterapia devem ser especialmente orientados pelo seu médico assistente quanto aos riscos envolvidos na direção de veículos automotores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Fisher RS, van Emde Boas W, Blume W, Elger C, Genton P, Lee P, et al. Epileptic Seizures and Epilepsy: Definitions Proposed by the International League Against Epilepsy (ILAE) and the International Bureau for Epilepsy (IBE). Epilepsia. 2005;46(4):470-472. 2- Gomes MM. Epilepsia e Incapacidade Laborativa. J Epilepsy Clin Neurophysiol. 2009;15(3):130-134. 3- Bautista RE, Wludyka P. Driving prevalence and factors associated with driving among patients with epilepsy. Epilepsy Behav. 2006;9(4):625-31. 4- Krauss GL, Ampaw L, Krumholz A. Individual state driving restrictions for people with epilepsy in the US. Neurology. 2001;57(10):1780-5. 5- Berg AT, Vickrey BG, Sperling MR, Langfitt JT, Bazil CW, Shinnar S, et al. Driving in adults with refractory localization-related epilepsy. Multi-Center Study of Epilepsy Surgery. Neurology. 2000;54:625–630. 6- Adura F E. Diretriz Nacional para Direção de Veículos Automotores por Pessoas com Epilepsia. J Epilepsy Clin Neurophysiol. 2004; 10(3): 175- 180. 7- Elliott JO, Long L. Perceived risk, resources, and perceptions concerning driving and epilepsy: a patient perspective. Epilepsy Behav. 2008;13(2):381-6. 8- No YJ, Lee S, Park H, Lee S. Factors contributing to driving by people with uncontrolled seizures. Seizure. 2011;20:491-493. 9- Polychronopoulos P, Argyriou AA, Huliara V, Sirrou V, Gourzis P, Chroni E. Factors associated with poor compliance of patients with epilepsy driving restrictions. Neurology. 2006;12;67(5):869-71. Tabela 1: Variáveis clínicas e demográficas independentemente associadas à direção após o diagnóstico de epilepsia Tabela 2: Variáveis clínicas e demográficas independentemente associadas ao envolvimento em acidentes automobilísticos devido a crises epilépticas

INTRODUÇÃO

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CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E DEMOGRÁFICAS ASSOCIADAS À DIREÇÃO DE VEÍCULOS AUTOMOTORES E ACIDENTES AUTOMOBILÍSTICOS EM PACIENTES COM EPILEPSIA. Bicalho, M.A.H. 1,2 ; Sukys-Claudino , L. 1,2 ; Guarnieri, R. 1,2 ; Walz , R. 1,2 ; Lin , K. 1,2. - PowerPoint PPT Presentation

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Page 1: INTRODUÇÃO

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E DEMOGRÁFICAS ASSOCIADAS À DIREÇÃO DE VEÍCULOS AUTOMOTORES E

ACIDENTES AUTOMOBILÍSTICOS EM PACIENTES COM EPILEPSIA

Bicalho, M.A.H.1,2; Sukys-Claudino, L.1,2; Guarnieri, R.1,2; Walz, R.1,2; Lin, K.1,2

1 Serviço de Neurologia, Departamento de Clínica Médica, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, Brasil2 Centro de Epilepsia de Santa Catarina (CEPESC), Hospital Governador Celso Ramos (HGCR), Florianópolis, SC, Brasil

E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃOPara serem considerados aptos para dirigir no Brasil, os pacientes com epilepsia (PCE) devem estar livres de crises há pelo menos um ano, em tratamento regular e ter um parecer favorável do médico que os acompanha. Estudos prévios de outros países mostram que cerca de 20-36% dos PCE continuam dirigindo mesmo com crises não controladas. Não existem dados suficientes sobre direção de veículos automotores por PCE no Brasil.Um maior conhecimento a esse respeito pode ajudar a identificar pacientes que estão sob maior risco de acidentes e encontrar alternativas que permitam preservar a produtividade e qualidade de vida desses pacientes.

OBJETIVOSInvestigar as características clínicas e demográficas associadas à direção de veículos automotores e acidentes automobilísticos em PCE.

MÉTODOS Foram entrevistados 144 pacientes com diagnóstico de epilepsia estabelecido de acordo com a International League Against Epilepsy (ILAE), em acompanhamento nos ambulatórios do Centro de Epilepsia de Santa Catarina e do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis, SC. Os dados demográficos, clínicos e a identificação da direção de veículos automotores e acidentes foram obtidos por meio de questionário com os pacientes e seus acompanhantes. Pacientes analfabetos, com comprometimento cognitivo ou suspeita de crises psicogênicas foram excluídos.Todos os pacientes assinaram termos de consentimento livre e esclarecido para participar do estudo. Somente quatro pacientes se recusaram a participar.

RESULTADOS• 54,9% sexo masculino. Média de idade de 36 anos e escolaridade de 8,4 anos.• 95% tiveram crises no último ano, com uma média de 1,79 crises por semana.• 50 pacientes tinham carteira de habilitação, sendo que 76,7% omitiram o diagnóstico para obtê-la. • 68 (47%) pacientes dirigiram após o diagnóstico de epilepsia.• Os fatores de risco associados a este comportamento foram: sexo masculino, maior renda per capita, presença de crises epilépticas que permitiam se proteger durante o evento, idade de início da doença > 18 anos e monoterapia.• Dentre os que dirigiram após o diagnóstico 38,2% apresentaram crises com perda de consciência no volante.• 46 pacientes dirigiram nos últimos 12 meses, sendo 89% com crises não controladas.• Apenas pacientes do sexo masculino envolveram-se em acidentes devido a crises (17 pacientes), sendo estes indivíduos de menor escolaridade e com início da epilepsia após os 18 anos. • A maioria dos acidentes ocorreu durante direção veicular com propósito ocupacional (42,3%), em via rural ou rodovia (80,8%), envolvendo carro (76,9%), sem evidência de crise sem perda de consciência antecedendo o acidente (69,2%).• 94,1% dos pacientes que tiveram acidentes haviam sido orientados quanto a restrição à direção.

CONCLUSÕESIndivíduos com epilepsia do sexo masculino, idade entre 18 e 35 anos, que estão trabalhando, com renda per capita de pelo menos R$ 400,00 ao mês, com início das crises recorrentes após os 18 anos, apresentando crises epilépticas sem perda de consciência e em monoterapia devem ser especialmente orientados pelo seu médico assistente quanto aos riscos envolvidos na direção de veículos automotores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1- Fisher RS, van Emde Boas W, Blume W, Elger C, Genton P, Lee P, et al. Epileptic Seizures and Epilepsy: Definitions Proposed by the International League Against Epilepsy (ILAE) and the International Bureau for Epilepsy (IBE). Epilepsia. 2005;46(4):470-472. 2- Gomes MM. Epilepsia e Incapacidade Laborativa. J Epilepsy Clin Neurophysiol. 2009;15(3):130-134.3- Bautista RE, Wludyka P. Driving prevalence and factors associated with driving among patients with epilepsy. Epilepsy Behav. 2006;9(4):625-31. 4- Krauss GL, Ampaw L, Krumholz A. Individual state driving restrictions for people with epilepsy in the US. Neurology. 2001;57(10):1780-5. 5- Berg AT, Vickrey BG, Sperling MR, Langfitt JT, Bazil CW, Shinnar S, et al. Driving in adults with refractory localization-related epilepsy. Multi-Center Study of Epilepsy Surgery. Neurology. 2000;54:625–630. 6- Adura F E. Diretriz Nacional para Direção de Veículos Automotores por Pessoas com Epilepsia. J Epilepsy Clin Neurophysiol. 2004; 10(3): 175-180.7- Elliott JO, Long L. Perceived risk, resources, and perceptions concerning driving and epilepsy: a patient perspective. Epilepsy Behav. 2008;13(2):381-6. 8- No YJ, Lee S, Park H, Lee S. Factors contributing to driving by people with uncontrolled seizures. Seizure. 2011;20:491-493. 9- Polychronopoulos P, Argyriou AA, Huliara V, Sirrou V, Gourzis P, Chroni E. Factors associated with poor compliance of patients with epilepsy driving restrictions. Neurology. 2006;12;67(5):869-71.

Tabela 1: Variáveis clínicas e demográficas independentemente associadas à direção após o diagnóstico de epilepsia

Tabela 2: Variáveis clínicas e demográficas independentemente associadas ao envolvimento em acidentes automobilísticos devido a crises epilépticas