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Economia Internacional Prof. Volney Gouveia 1 ECONOMIA INTERNACIONAL I: O OBJETO, A METODOLOGIA E A IMPORTÂNCIA DA ECONOMIA INTERNACIONAL 1) O Objeto da Economia Internacional Estudo das relações econômicas entre nações/países. Elemento básico: espaço geográfico e suas relações com o resto do mundo. Porém, a dimensão central é o conjunto de transações entre agentes econômicos residentes neste espaço geográfico e suas contrapartes não residentes no mesmo espaço. 1.1 Método de Análise da Economia Internacional O estudo das relações econômicas entre “países” se divide em: a) análise das relações comerciais; b) análise das relações financeiras; A análise das relações comerciais, chamada de “A teoria pura de comércio internacional”, foi preponderante pelas razões: a) tipo de intervenção de política econômica; b) preocupação a respeito das relações com o resto do mundo e suas implicações comerciais internas; c) cenário de limitado movimento internacional de capitais; Os modelos teóricos de relações comerciais são mais avançados do que modelos relativos às finanças internacionais. 1) Objetivos Fundamentais: por que os países comercializam entre si. Por que alguns países produzem alguns bens enquanto outros países produzem outros bens? Ou por que existem barreiras ao comércio? Particularidades: Os principais participantes do comércio internacional são indivíduos ou firmas pertencentes a nações diferentes e sujeitos a legislações diferentes.

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ECONOMIA INTERNACIONAL

I: O OBJETO, A METODOLOGIA E A IMPORTÂNCIA DA ECONOMIA

INTERNACIONAL

1) O Objeto da Economia Internacional

Estudo das relações econômicas entre nações/países.

Elemento básico: espaço geográfico e suas relações com o resto do mundo.

Porém, a dimensão central é o conjunto de transações entre agentes econômicos residentes

neste espaço geográfico e suas contrapartes não residentes no mesmo espaço.

1.1 Método de Análise da Economia Internacional

O estudo das relações econômicas entre “países” se divide em:

a) análise das relações comerciais;

b) análise das relações financeiras;

A análise das relações comerciais, chamada de “A teoria pura de comércio internacional”, foi

preponderante pelas razões:

a) tipo de intervenção de política econômica;

b) preocupação a respeito das relações com o resto do mundo e suas implicações

comerciais internas;

c) cenário de limitado movimento internacional de capitais;

Os modelos teóricos de relações comerciais são mais avançados do que modelos relativos às

finanças internacionais.

1) Objetivos Fundamentais: por que os países comercializam entre si. Por que alguns países

produzem alguns bens enquanto outros países produzem outros bens? Ou por que existem

barreiras ao comércio?

Particularidades:

Os principais participantes do comércio internacional são indivíduos ou firmas

pertencentes a nações diferentes e sujeitos a legislações diferentes.

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Questão monetária: uma firma brasileira que vende para outra empresa brasileira é

obrigada por lei em aceitar como pagamento a moeda nacional. Isso não ocorre entre firmas

brasileiras e estrangeiras.

A razão básica para se estudar o comércio internacional separadamente reside na

“imobilidade” de fatores de produção entre as nações.

1. A Importância da Economia Internacional

A relevância da Economia Internacional deriva do fato de que os temas econômicos estarem

presente tanto nas atividades diárias das pessoas e empresas como nas decisões de política

econômica tomadas pelas autoridades de um país. Exemplo: medicamento cujo princípio ativo

foi fabricado em outro país; compra de equipamento fotográfico fabricado em outro país;

projeção de expansão da oferta de moeda depende da entrada de investimentos externos;

Decisões de exportadores, importadores e da própria autoridade da área macroeconômica são

afetadas quando ocorrem variações inesperadas na taxa de câmbio.

Noticiário diário sobre barreiras ao comércio ou aproximação entre países em termos de

preferências comerciais (integração regional). Exemplo: Mercosul.

Crises sistemáticas em determinadas economias, derivadas de vulnerabilidade financeira num

contexto de não regulação e supervisão.

2. Relevância do Comércio Internacional: alguns dados

Tabela 1.1. Crescimento do Comércio Mundial entre 1950 e 2001

Período Exportações Mundiais (US$ bilhões)

1950 – 1960 91,2

1961 – 1970 195,7

1971 – 1980 986,2

1981 – 1990 2.302,3

1991 – 2001 4.995,8

Inequívoca evolução positiva do volume de transações internacionais.

Tabela 1.2. Crescimento anual do Produto e Comércio Mundiais - %

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Período Comércio Produto

Média 1994 – 1998 2,9 2,5

Média 1999 - 2002 7,4 4,2

Do ponto de vista financeiro, a massa de recursos associada aos empréstimos bancários

representava menos de 1% do valor da produção mundial em meados dos anos 60 e de 40%

do valor da produção no início da década de 90.

Relação Estoque de Investimento Direto Externo e Produção Mundial: 4,5% em 1960 para

9% em 1990. Siginificado: investimento externo mais dinâmico que a formação de capital

nacional e movimentação financeira ter superado em grande escala os sistemas financeiros

nacionais.

Agenda de Tópicos Relevantes:

Protecionismo dos países desenvolvidos

Níveis excessivos de pobreza em algumas regiões do mundo

Integração regional

Atuação de organismos internacionais

Tabela 1.3. Evolução da Estrutura do Comércio Mundial

Por grupo de países e tipos de produtos - %

Países Industrializados 1980 1990 1995 2000

Manufaturas 71 78 79 80

Alimentos 11 9 9 7

Matérias primas agrícolas 4 3 3 2

Países em Desenvolvimento

Manufaturas 20 54 67 69

Alimentos 12 12 10 7

Matérias primas agrícolas 4 3 3 2

Forte participação de produtos industrializados na pauta de exportações;

Crescimento do volume de transações internacionais associado, grosso modo, ao aumento

considerável da importância do comércio de produtos industrializados.

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Participação crescente do setor externo na economia brasileira

Envolvimento da economia brasileira com o mercado internacional decorre,

fundamentalmente do processo de industrialização e das políticas comerciais ativas e variadas.

Diversificação da pauta exportadora e importadora. Implicações variadas: maior

necessidade de recursos para financiar o ciclo produtivo.

Tabela 1.4 – Composição do Comércio de Mercadorias do Brasil – 1965-1999 - %

Exportações 1965 1980 1999

Produtos Primários 74,4 28,9 18,3

Produtos Industrializados 24,9 69,7 80,0

Importações

Produtos Primários 36,6 50,7 13,4

Produtos Industrializados 63,0 49,3 86,6

Participação dos Países em Desenvolvimento em Diversos Indicadores Globais - %

91-97 1998 1999 2000

Nos fluxos totais de capital privado 12,8 9,9 7,6 7,6

No total de investimento externo direto 31,2 25,9 18,9 15,9

Na produção global 20,7 21,6 21,7 22,5

No comércio global 29,2 30,7 30,7 33,4

Na população global 86,0 85,0 85,1 85,2

Algumas observações:

1. Participação no mercado de capitais internacionais relativamente menor do que a dos

países industrializados;

Evolução Balança Comercial Brasil (us$ milhões)

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

jan

/59

jan

/63

jan

/67

jan

/71

jan

/75

jan

/79

jan

/83

jan

/87

jan

/91

jan

/95

jan

/99

jan

/03

Importações Exportações

Polinômio (Importações) Polinômio (Exportações)

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2. Participação totalmente desproporcional ao peso relativo desses países em termos de

produção e tamanho geográfico;

3. Em função de diversas crises externas, a participação dos investimento externos caiu

drasticamente a partir de 1997;

Participação do capital estrangeiro no processo produtivo em 1995: 10% da produção total,

estratificado em 19,5% na indústria de transformação, 59,9% na indústria de mineração e

0,6% na construção civil.

Esse conjunto de fatores parece justificar a importância do estudo da economia internacional

de forma sistemática.

II. BALANÇO DE PAGAMENTOS E TAXA DE CÂMBIO

1) Taxa de Câmbio

1.1) Taxas de Câmbio (determinada pelo mercado)

Necessidade de haver uma forma de conversão das moedas entre países.

Conceito: medida pela qual a moeda de um país qualquer pode ser convertida em

moeda de outro país. Ou: a taxa de câmbio é exatamente o preço de uma moeda em termos de

outra.

Como qualquer outro preço, a taxa de câmbio é influenciada pela oferta e pela

demanda. A taxa de câmbio é definida pela interação entre estas duas forças.

Ofertantes de Divisas: exportadores e empresas que obtiveram empréstimos em moeda

estrangeira.

Demandantes de Divisas: importadores e devedores em moeda estrangeira.

Como qualquer curva de oferta e demanda, as decisões dos exportadores e importadores

dependerão da taxa de câmbio.

Taxa de Câmbio $ Café em US$ $ Café em reais Exportações

2,00 0,50 1,00 Aumenta

1,00 4,00 4,00 Diminui

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Taxa de Câmbio $ Gasolina em US$ $ Gasolina em reais Importações

2,00 0,50 1,00 Diminui

1,00 0,50 0,50 Aumenta

Conclusão:

Lado das Exportações

Quanto maior a taxa de câmbio, maior o volume das exportações, maior a oferta de divisas.

Curva de oferta crescente em relação ao preço.

Lado das Importações

Quanto maior a taxa de câmbio, menor o volume das importações, menor a demanda de

divisas. Curva de demanda de importações decrescente em relação ao preço

Fatores que influenciam a oferta e a demanda de divisas:

Exemplo 1) Exportadores aumentam suas vendas no mercado externo, elevando o volume de

divisas.

Exemplo 2) Consumidor brasileiro aumenta a demanda de bens importados.

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A curva de oferta e de demanda de divisas depende dos gostos e preferências das

populações do país importador e do exportador.

Quando cresce a renda do país, cresce também a demanda de divisas.

Quando cresce o nível de preços, ou seja, quando há inflação, diminui a oferta de divisas e

aumenta a demanda de divisas, aumentando a taxa de câmbio.

1.2) Taxas de Câmbio (determinada pelo governo)

No sistema de mercado, a taxa de câmbio se ajusta, mas nem sempre isso

ocorre. Alguns motivos para o governo intervir no câmbio:

a) Elasticidades da demanda e da oferta de divisas forem muito pequenas. Exemplo:

Retração da oferta de divisas por causa do aumento de preços do café. Bruscas

alterações na cotação da moeda estrangeira podem gerar desequilíbrios

macroeconômicos

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b) Especulação. Compradores esperam que a taxa de câmbio se eleva e antecipam

compras de divisas. Os ofertantes esperam que a taxa se eleve e diminuem sua

oferta para vender mais tarde. Resultado: expectativas dos compradores e dos

vendedores acabam por diminuir a oferta e aumentar a demanda.

Conceito “especulação” sem caráter moral, sem ligação à “corrupção” ou a

“falcatruas”. È um fenômeno de mercado, indicando perspectivas sobre a evolução futura dos

preços. Exemplo: Estoques reguladores impedem fortes flutuações nos preços das

commodities.

2) Balança de Pagamentos

Registro contábil de todas as transações de um país com outros países do mundo.

Registra-se: exportações, importações, fretes pagos, empréstimos, capital das firmas

estrangeiras, etc. Estão registradas todas as compras e vendas de moeda estrangeira.

Estrutura do B.P.

- Balança Comercial

Exportações (crédito)

Importações (Débito)

- Balança Serviços SALDO TRANSAÇÕES CORRENTES (STC)

Aluguéis

Juros

Frete

Lucros

- Balança de Capitais

Investimentos (firmas estrangeiras) SALDO CONTA CAPITAL (SCK)

Empréstimos (empresas, FMI, etc)

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Importante: A soma dos débitos das três balanças, conjuntamente, deve ser igual à soma

dos créditos das três balanças conjuntamente.

BALANÇO PAGAMENTOS = STC – SCK = Déficit ou Superávit

Se BP com superávit, indica que o país não depende de poupança externa e tem Reservas.

Se BP com déficit, indica que o país depende de poupança externa.

DÉBITO CRÉDITO

Compra Moeda Estrangeira Venda Moeda Estrangeira

O Balanço de Pagamentos estará em equilíbrio

Exemplo:

Balança Comercial Saldo Devedor

Débito Crédito

Importações: $ 17.000 Exportações: $ 15.000 $ 2.000

Balança Serviços

Transporte + Juros: $ 5.000 Transporte: $ 3.000 $ 2.000

Saldo Transações Correntes $ 4.000 (Déficit)

Balança Capitais

Ingresso Capitais: $ 1.000

Empréstimo Exterior: $ 1.000

Diminuição Reservas: $ 1.000

Empréstimo FMI: $ 1.000

Saldo Balança de Capitais $ 4.000 (Crédito)

Saldo do Balanço Pagamento 0 0

O saldo de $ 4.000 precisa ser coberto de alguma forma: FMI, Reservas, Ingresso de

investimentos, etc...

O Superávit da Balança de Capitais (SCK) compensa o déficit da Balança de Transações

Correntes (STC)

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2.1) Balanço de Pagamentos e Contas Nacionais

No cálculo do PIB considera-se apenas as transações correntes e não as transações de

capital, já que o PIB mede o Produto Corrente de uma nação.

PIB = C + I + G + X – M

(X-M) => Balança de transações correntes

Condição de Equilíbiro em Macroeconomia

C + I + G + X – M = C + S + T

S = poupança; T = tributo; C = consumo; I = investimento; G = gasto; X = exportações e M =

importações

Um saldo negativo em transações correntes nem sempre é prejudicial ao país. Se o

saldo é negativo e empresas estrangeiras se instalam no país, trazendo investimentos, esse

saldo negativo é compensado.

Mas se há escassez de divisas para a remessa de dividendos, e o país contrai

empréstimos no exterior, a situação torna-se prejudicial em função dos custos (juros) destes

empréstimos.

Maior saldo negativo => maiores custos empréstimos => menores o prazo de

vencimento

Resumo: saldos negativos em transações correntes é transferência de poupança de um

país para outro. O mais importante são os custos destas transferências.

2.2) Conceitos Adicionais

Termos de intercâmbio (índice de relações de troca): quociente do índice dos preços

dos produtos de exportação (Px) pelo índice dos preços dos produtos importados (Pm)

R = Px / Pm

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Capacidade de importar: é o preço de exportação vezes a quantidade exportada

(Receita de Exportação) pelo índice dos preços de importação

Cm = [Px . Qx] / Pm

Cm = capacidade de importar; Px = preço das exportações; Px . Qx = Receita de Exportação;

Pm = preço de importações

III. AS TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

1) Teoria do Comércio Mundial

O processo de integração de regiões e cidades semi-autônomas em um Estado nacional

foi um processo ao mesmo tempo político e econômico. Em sua dimensão econômica levou

ao surgimento do sistema que ficou conhecido como mercantilismo. Foi a expansão comercial

dos Estados nacionais modernos que criou as condições institucionais para a criação de uma

economia mundial e a base econômica para o desenvolvimento do capitalismo industrial.

A substituição da comercialização de mercadorias de alto preço por produtos de

grande consumo a preços moderados não seria possível sem a monetização da economia e a

previsibilidade das instituições – isto é, da existência de regras conhecidas, direito de

propriedade e proteção legal. Esses foram os bens sociais fornecidos pelos nascentes Estados

nacionais que permitiram o desenvolvimento do comércio internacional.

Entre 1750 e 1914, o valor do comércio mundial aumentou mais de 50 vezes. A

Revolução Industrial dependeu de produtos vindos de diversas partes do mundo para que o

salto econômico que acarretou não se extinguisse rapidamente por falta de matérias-primas,

de alimentos e, em menor escala, de mercados.

Nos 150 anos compreendidos entre a Revolução Industrial e a Primeira Guerra

Mundial o mundo se transformou em uma economia que caracterizava-se por elevado grau de

integração. O processo de globalização que se seguiu ao fim das guerras napoleônicas em

1815 fez com que nenhum país do mundo pudesse ignorar seu papel na complexa rede de

relações comerciais internacionais.

Evolução do debate sobre os ganhos do comércio exterior no pensamento econômico, na

visão dos mercantilistas

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MERCANTILISMO: A ECONOMIA POLÍTICA DO ESTADO ABSOLUTISTA

A economia política, que surge na Europa no século XVIII, faz parte da revolução

cultural e econômica desta época e é filha do Iluminismo. A Revolução Industrial, a formação

de uma economia mundial, o surgimento da idéia de Estado nacional e, portanto, uma visão

contratual de governo, são acontecimento contemporâneos.

Sociedade medieval: estruturas jurídicas, regulamentação e sistemas de pesos e

medidas eram essencialmente locais, com o poder sendo exercido pelo nobre local. O absoluto

predomínio ideológico e religioso do catolicismo faziam com que visões de progresso e

mudança técnica e/ou social fossem completamente estranhas.

O mercantilismo como sistema econômico é uma reação à ordem medieval. A política

comercial mercantilista, reforçando o poder do monarca absoluto, defende a unificação

econômica, jurídica e administrativa nacional e sustenta a necessidade de se reforçar o poder

nacional para permitir a sobrevivência do Estado-nação contra ameaças externas..

Nacionalismo e absolutismo são as contrapartidas políticas do mercantilismo.

Para os mercantilistas o dinheiro era um fator de produção, uma “riqueza artificial”,

em oposição a terra, que seria uma “riqueza natural”. Locke, importante pensador

mercantilista, observava que só existiam dois meios para se aumentar a massa de dinheiro

existente em um país: extraí-lo das próprias minas ou obtendo-o por outros países. Para obter

dinheiro do estrangeiro, havia apenas três caminhos: 1) a força, 2) o empréstimo, 3) o

comércio. A riqueza da sociedade cresceria com a massa de dinheiro existente, e o aumento

dessa massa dependia essencialmente do comércio exterior. Para que isso ocorresse, a balança

comercial de um país deveria ser superavitária.

A aquisição de moeda e metais preciosos não deveria ser entesourada. A visão

medieval também sustentava a idéia de acumulação de metais preciosos, no entanto só

deveriam ser entesourados para uma emergência nacional (guerra, fome, etc).

A idéia dos mercantilistas era de que o estoque de moeda para as relações de troca com

o exterior era a razão principal da aspiração à cumulação de metais preciosos. Países com

menos dinheiro (menos metal precioso), deveriam vender seus bens por um preço mais baixo.

Um país com pequeno estoque de metal precioso venderia seus produtos ao seu nível de preço

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e compraria um produto do exterior ao nível de preço do outro país. Uma variação positiva

dos estoques elevaria o valor da moeda nacional no exterior e produziria uma taxa de câmbio

favorável. O único instrumento eficiente para garantir o aumento do estoque de moeda em um

país seria a geração de um superávit na balança comercial. A variável-chave a ser controlada

não seria o movimento de metais preciosos, mas o movimento de mercadorias.

Como o dinheiro não era produzido pelo Estado, a única estratégia compatível com o

aumento do estoque de moeda de um país que não tinha minas era uma política comercial que

promovesse o aumento da exportação e a redução da importação.

Finalmente, a concepção mercantilista defendia a unificação econômica doméstica e a

liberdade de comércio no interior do território nacional. Sua ação restringiu as aduanas e

pedágios impostos por nobres feudais, racionalizou os sistemas de pesos e medidas, unificou o

regime monetário e a legislação nacional, aumentou a confiabilidade no sistema legal e na

defesa da propriedade privada. Criação das condições para a monetização da economia e com

isso estimulando o surgimento do capitalismo industrial.

Resumindo: o mercantilismo é um sistema econômico caracterizado pelas seguintes

proposições básicas:

a) a riqueza da sociedade cresce com o crescimento do estoque de meios de

pagamento (dinheiro em circulação);

b) dinheiro é uma dádiva da natureza, e não um bem produzido pelo Estado;

c) Dinheiro é igual a capital, isto é, é um fator de produção;

d) O aumento da produção e comércio doméstico depende, além do estoque de meios

de pagamentos, da unificação econômica e liberdade de comércio no interior das

fronteiras nacionais;

e) O crescimento do estoque de meios de pagamentos de um país depende da

produção de minas nacionais ou do superávit na balança comercial. Para um país

sem minas, uma política comercial baseada no protecionismo e na promoção de

exportação é a única estratégia compatível com o aumento do poder nacional.

Os temas introduzidos pelo mercantilismo que vão permear os debates futuros são: i)

qual é a relação entre comércio exterior e riqueza nacional? ; ii) O comércio exterior deve ser

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livre, como o comércio doméstico, ou este deve ser administrado, em benefício dos interesses

nacionais?

2) Teorias Clássicas do Comércio Internacional

3.1) David Hume

Primeiro economista moderno. É de sua autoria uma hipótese que suplantaria os

argumentos mercantilistas em defesa do superávit comercial (hipótese do preço-fluxo de

metais preciosos). Propõe que um superávit comercial continuado não é possível, nem

desejável. Hume, tal como os mercantilistas, acreditava que um superávit comercial levaria

necessariamente à transferência de metais preciosos ou moedas metálicas do país deficitário

para o país superavitário. Mas, diferentemente deles, acreditava que tal transferência levaria

não ao crescimento da riqueza de um país, e sim ao crescimento dos preços dos produtos

produzidos domesticamente. Da mesma forma, o país deficitário perderia metais preciosos.

Isto reduziria o nível de preços doméstico, aumentando a procura de seus produtos no

exterior. Desse modo, o país superavitário tenderia a exportar menos e importar mais, e o país

deficitário a exportar mais e importar menos, e em ambos os casos a balança comercial

tenderia para o equilíbrio.

O ponto central do pensamento econômico de Hume é a visão de que fatores reais, e

não o aumento do meio circulante, é que determinavam a prosperidade de uma nação. E que

tal prosperidade, e não o acúmulo de metais preciosos, era o único fundamento confiável para

a segurança de uma nação. O comércio não seria, como pensavam os mercantilistas, um jogo

de soma zero, mas sim um jogo de soma positiva.

A teoria de Hume foi a base do sistema monetário do padrão ouro. Os princípios do

livre-cambismo combinaram-se com a hipótese de preço-fluxo de metais preciosos para a

criação de uma nova ordem, econômica internacional.

3.2) Adam Smith e a Teoria das Vantagens Absolutas

Obra principal: Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das

Nações.

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A resposta à pergunta do livro é totalmente distinta à dos mercantilistas: a riqueza das

nações é o resultado do aumento da produtividade do trabalho. Esta, por sua vez, é

conseqüência da divisão do trabalho.

Uma vez que o comércio internacional aumenta o mercado para os produtos

produzidos domesticamente, ele permite o aprofundamento da divisão do trabalho,

contribuindo para aumentar a riqueza das nações. Para Smith, o comércio internacional seria

possível tão-somente quando o tempo de trabalho necessário para produzir pelo menos um

produto fosse inferior àquele do exterior. Ele afirmava que os metais preciosos são um

produto como qualquer outro e recomendava que a liberalização do comércio exterior, da qual

ele era um grande defensor, não fosse feita açodadamente.

3.3) David Ricardo e a Teoria das Vantagens Comparativas

A teoria do comércio internacional chega ao apogeu na economia política clássica com

David Ricardo. A principal contribuição desse autor foi sua teoria das vantagens

comparativas. A proposição de que as vantagens comparativas são a causa última dos ganhos

do comércio é uma idéia poderosa que sobreviveu a todo o debate acadêmico até os dias de

hoje.

A teoria ricardiana de vantagens comparativas pode ser resumida na seguinte

proposição: o comércio bilateral é sempre mais vantajoso que a autarquia (comércio

unilateral) para duas economias cujas estruturas de produção não sejam similares. Isto é, se

duas economias, produzindo cada uma dois produtos, por exemplo vinho e tecidos,

empregarem na produção desses produtos uma quantidade de trabalho Lv e Lt, no país S, e

Lv* e Lt*, no país N, é necessário e suficiente que Lv/Lt<>Lv*/Lt para que o comércio entre

eles seja possível. Note-se que para Ricardo os salários w no interior de uma economia seriam

sempre iguais.

O modelo de comércio internacional implica, portanto, a especialização de cada país

na exportação do produto do qual tem vantagens comparativas. O modelo ricardiano

pressupõe o comércio de dois países, com dois produtos. Essa premissa, no entanto, é

facilmente descartável. A segunda premissa do modelo é que só existe um fator de produção,

o trabalho, e que este é perfeitamente móvel no interior de um país, e imóvel

internacionalmente. A terceira premissa é que há diferentes tecnologias em diferentes países.

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A quarta premissa é que a balança comercial está sempre equilibrada e o custo dos transportes

é igual a zero. Finalmente, há rendimentos constantes de escala.

O conceito de vantagens comparativas pode ser aplicado a economias planificadas.

Mas o que podemos concluir do modelo ricardiano é que mais comércio é melhor que menos

comércio, o que não implica necessariamente livre mercado.

Por que duas nações diferentes comerciam?

Resposta está inicialmente com os economistas clássicos, com a Teoria das Vantagens

Comparativas.

o Duas nações têm relações comerciais quando apresentam custos de produção diferentes;

o Uma nação exportará sempre aquele produto que produzir com custos relativamente

menores do que o de outra.

Brasil e EUA na Produção de Café e Automóveis (em 1.000 unidades)

a) Os dois países produzindo os dois produtos (ao ano)

Produção Anual Brasil EUA Total

Automóveis 36 48 84

Café 18 12 30

Sub-total 54 60 114

b) O Brasil produzindo somente café e os EUA, somente automóveis

Produção Anual Brasil EUA Total Ganho Líquido

Automóveis 0 96 96 22

Café 36 0 36 6

Sub-total 36 96 132 28

Porém, o Brasil não deseja consumir apenas café, e nem os EUA não desejam

consumir apenas automóveis, razão pela qual os países irão comerciar.

Custos Relativos Brasil EUA

Custo Automóvel em termos de café ½ = 0,5 café ¼ = 0,25 café

Custo Café em termos de automóvel 2 carros 4 carros

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Se os dois países não comercializassem entre si, e produzissem os dois bens, teriam

que:

Brasil:

o para produzir 6 mil automóveis a mais, deixaria de produzir 3 mil sacas de café (6 x ½ =

3);

o se quisesse um automóvel a mais, o Brasil precisaria abandonar 0,5 saca de café (1 x ½ =

0,5)

o para produzir 6 mil sacas de café a mais, deixaria de produzir 12 mil automóveis (6 x 2 =

12)

o se quisesse uma saca de café a mais, o Brasil precisaria abandonar 2 automóveis (1 x 2 =

2)

EUA:

o para produzir 2 mil sacas a mais de café, precisariam abandonar a produção de 8 mil

carros (2 x 4 = 8)

o se quisessem 1 saca de café a mais, precisariam abandonar a produção de 4 automóveis (1

x 4 = 4)

o para produzir 2 mil automóveis a mais, precisariam abandonar a produção de 0,5 mil sacas

de café (2 x ¼ = 0,5)

o se quisessem produzir 1 automóvel a mais, os EUA abandonariam a produção de 0,25 saca

de café (1 x ¼ = 0,25)

Algumas conclusões importantes:

o Custos de produção do automóvel nos EUA são menores;

o Custos de produção de café no Brasil são menores;

o Se o Brasil produzisse somente café, pagaria por cada carro dos EUA apenas 0,25 ( ¼ ) de

saca de café (já que seu custo para produzir 1 carro é de 0,5);

o Se os EUA produzissem somente automóveis, pagariam apenas 2 automóveis por saca de

café (custo brasileiro) e não 4 (custo americano);

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Teoria das Vantagens Comparativas: é muito melhor para todos os países se

especializarem na produção daqueles bens em que tenham vantagens comparativas. Cada país

tem recursos naturais diferentes, em quantidades diferentes, e habilidades e custos de

produção diferentes. Como conseguir isso? Através do livre comércio, sem barreiras

alfandegárias, sem tarifas, sem restrições à importação ou à exportação.

Isso seria plenamente verdade caso a teoria fosse realista, se:

1) os custos de produção de um bem fossem constantes no tempo;

2) os mercados operassem em concorrência perfeita;

3) desconsiderássemos fatores como as economias de escala e as economia externas, que

podem diminuir bastante os custos de produção.

Por estas razões, nenhum país contemporâneo adota uma política de livre comércio sem

restrições à importação, deixando a economia completamente exposta à concorrência externa.

4) Teoria Neoclássica do Comércio Internacional

4.1) Modelo neoclássico ou de Heckscher-Ohlin-Samuelson

Enquanto os clássicos enfatizam a diferença de produtividade relativa da mão de obra, os

neoclássicos enfatizam a diferença relativa de dotação de fatores de produção (capital e

trabalho).

Hipóteses do modelo neoclássico:

o concorrência perfeita em todos os mercados;

o existência de dois fatores de produção: capital e trabalho;

o os países possuem dotações relativas diferentes de capital (K) e trabalho (L)

o o conhecimento tecnológico está disponível livremente no mundo;

o existem produtos que usam intensivamente capital e outros que usam intensivamente mão

de obra;

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19

É possível, assim, obter uma explicação para o comércio internacional: países que têm

abundância relativa de capital tenderiam a exportar produtos intensivos em capital; países com

abundância relativa de mão de obra tenderiam a exportar produtos intensivos em mão de obra.

Razão simples:

Países intensivos em capital possuem custo deste fator relativamente menor

Países intensivos em mão de obra possuem custo de salário baixo

Esta teoria também enfatiza as vantagens do livre comércio.

As curvas de transformação diferem entre os países porque cada um tem uma dotação

relativa maior de um dos fatores de produção, indicando que o Brasil tem um viés a produzir

mais tecidos, e os EUA a produzir mais máquinas.

A evolução do comércio internacional nos últimos 50 anos não seguiu as previsões dos

modelos apresentados anteriormente, que previam o comércio predominantemente inter-

industrial (Brasil exportando tecidos e EUA exportando máquinas).

O que se observou no mundo real foi uma presença significativa de comércio intra-industrial

(exportações e importações dentro do mesmo ramo industrial).

Necessidades de desenvolver novas teorias que pudessem explicar por que um país

poderia exportar um tipo de tecido ou de máquinas e importar outras variedades de tecidos e

automóveis, bem como a importância de economias de escalas e de estrutura de mercado

imperfeita.

4.2) As Novas Teorias do Comércio Internacional

Precursor: Linder (anos 60)

Apresentou a importância do comércio entre os países ricos (comércio norte-norte), em

contraposição às teorias tradicionais, que previam uma intensificação do comércio entre

países ricos e os em desenvolvimento (comércio norte-sul).

Para Linder, a concentração do comércio de manufaturas entre os países ricos era

explicada fundamentalmente pela semelhança dos seus níveis de renda per capita, padrões de

demanda semelhante, estruturas produtivas parecidas e produtos diferenciados.

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20

Surge a teoria do “ciclo de vida do produto”, de R. Vernon, que procura explicar o

comércio internacional a partir do progresso tecnológico e das várias etapas da vida de um

produto.

Tendência de surgir nos países ricos novos produtos e processos produtivos devido à

demanda por produtos sofisticados e pela existência de capacidade empresarial e de mão de

obra altamente especializada para trabalhar em pesquisa e desenvolvimento.

Monopólio transitório das inovações tecnológicas destes países. À medida que estes

produtos vão se padronizando, passam a ser produzidos em outros locais, preferencialmente

para os países em desenvolvimento, atraídos por menores custos de produção (mão de obra

barata).

Padrão do comércio mundial explicado pelas várias etapas da vida de um produto:

No nascimento: vantagens comparativas nos países desenvolvidos;

Na maturidade: nos países em desenvolvimento;

Anos 80

Incorporação: mercados imperfeitos, economias de escala e diferenciação dos

produtos.

Duas variantes principais:

a) a que usa o modelo de concorrência monopolística;

b) a que usa as teorias de oligopólio para explicar a existência de um importante

comércio intra-indústria.

Premissa:

o Existência de um grande número de firmas produzindo produtos diferenciados em

diferentes países;

o Nenhum país produzirá todas as variedades dos bens por existirem economias de escala;

o Quando expostos ao livre comércio, aumentará a variedade de bens ao consumidor e

reduzirá seus preços.

Antes do livre comércio, situação de equilíbrio de uma firma (d1), quantidade

transacionada (q1) e preço (p1), sem lucros extraordinários.

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21

Com livre comércio, ocorre aumento da variedade de produtos e elasticidade-preço da

demanda tenderiam a aumentar pelo aumento do número de produtos substitutos. Com isso, o

equilíbrio de longo prazo seria obtido no ponto d2, com a redução dos custos médios,

aumento da quantidade produzida e queda dos preços.

IV. O SETOR EXTERNO DA ECONOMIA BRASILEIRA

1) Introdução

O ano de 1968 pode ser considerado o do início de um processo de maior abertura do

País ao resto do mundo. Evidenciou-se pelas alterações da política cambial (implantação do

sistema de minidesvalorizações) e pela criação de um sistema de inventivos às exportações.

As exportações avançaram de US$ 1,9 bilhão em 1968 para US$ 31,4 bilhões em

1990. As importações saltaram de US$ 1,9 bilhão em 1968 para US$ 20,3 bilhões em 1990.

No mesmo período, a dívida externa líquida (dívida externa bruta menos as reservas

internacionais) passava de US$ 3,5 bilhões para US$ 93,0 bilhões em 1986.

Ao longo desses anos ocorreram fatos importantes na economia internacional:

substancial elevação das taxas de juros internacionais, moratórias de países devedores, crise

no sistema financeiro internacional, etc.

Discute-se a seguir como o Brasil foi afetado pelas diferentes situações da economia

internacional e como foram acionados os instrumentos de política econômica em cada

período.

2) A questão do déficit da balança de pagamentos

O conceito de déficit da balança de pagamentos refere-se à diferença entre o saldo da

balança de transações correntes e o da balança de capitais

Se o saldo de transações correntes é negativo, o País precisará de recursos para cobrir

este déficit por meio de entradas da balança de capitais. Se a balança de capitais registrar um

saldo positivo maior que o saldo negativo da balança de transações correntes, o país terá

superávit na balança de pagamentos.

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22

Se os recursos da balança de capitais não forem suficientes para cobrir o saldo da

balança de transações correntes, ter-se-á um déficit na balança de pagamentos, o qual será

coberto com a redução do nível de reservas.

3) A evolução do setor externo

A partir de 1968, o Brasil adotou uma estratégia de maior abertura da economia ao

resto do mundo. O volume de comércio do Brasil era pequeno, em torno de US$ 2,5 bilhões

(exportações mais importações), e tinha na política cambial a principal responsável por isso.

Antes de 1968 o sistema cambial adotado pelo Brasil consistia em desvalorizações

abruptas da taxa de câmbio, que trazia conseqüências desfavoráveis ao setor externo da

economia. A atividade exportadora não apresentava estímulos para aumentar o seu volume

(inexistência de incentivos fiscais) e como conseqüência reduzia nossa capacidade de

importar.

Em segundo lugar, as desvalorizações cambiais bruscas criavam movimentos

especulativos de importações e de fluxo de capitais.

Este sistema era um dos obstáculos a uma política de desenvolvimento econômico que

exige a importação de quantidades crescentes de equipamentos, máquinas, matérias-primas,

componentes, etc. Essa necessidade crescente de importação tenderia a criar fortes pressões

sobre a balança de pagamentos, devido à baixa capacidade de exportar do país. Isso resultou

na formulação de uma política de desenvolvimento com ênfase nas exportações, sendo a taxa

cambial um dos principais instrumentos dessa política.

4) O período 1968-1973

A partir de 1968, o Brasil passa a adotar uma política de minidesvalorizações cambiais

(desvalorizações em períodos curtos). Adoção de medidas fiscais e creditícias (crédito fiscal

do IPI, maior assistência financeira, isenção do imposto de renda nas vendas ao exterior).

A maior abertura ao setor externo foi favorável até 1973. As exportações cresceram a

uma taxa média de 27% ao ano no período 68-73, o que permitiu às importações crescerem no

mesmo ritmo, mantendo praticamente a balança comercial “zerada”. Por outro lado, a balança

de serviços apresentava saldos negativos, ampliando o déficit em transações correntes. Este

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23

déficit foi financiado sem problemas pelos superávits da balança de capitais, o que permitiram

a obtenção de superávits na balança de pagamentos.

Em relação à balança de capitais, vale destacar o rápido incremento de investimentos

diretos e crescimento expressivo de empréstimos líquidos (poupança externa).

5) O período 1974-1980

A situação favorável foi interrompida em 1974 com a crise do petróleo e a duplicação

dos preços do produto.

Ao invés do ajustamento, o Brasil optou pela manutenção do crescimento da produção

de bens e serviços. As despesas de importação duplicaram, abrindo um enorme déficit da

balança comercial. Não havia neste período dificuldades de obtenção de empréstimos

externos. O Brasil passa a utilizar os chamados “Petrodólares” .

A aceleração do ritmo de endividamento foi favorecida pela situação do mercado

financeiro internacional de elevada liquidez e pela opção de continuar com a política de

crescimento.

A dívida externa ficou ainda mais comprometida com o segundo choque do petróleo

em 1979. Aumento dos déficits da balança de transações correntes.

O governo tentou alterar este quadro promovendo a maxidesvalorização do cruzeiro, gerando

impactos inflacionários. A dívida externa cresceu rapidamente.

6) O período 1981-1983

No início da década de 80, o Brasil enfrentou a maior recessão de sua história em

função da evolução das contas externas. A dívida externa crescia a taxas aceleradas em função

das taxas internacionais de juros, principalmente as dos Estados Unidos com vista as combater

a inflação que superava a casa dos 10%. Os empréstimos internacionais contratados pelo

Brasil eram remunerados a taxas flutuantes.

Este quadro conduziu a economia brasileira a uma situação extremamente complicada

em termos de balança de pagamentos. A redução do fluxo de empréstimo e o crescimento da

dívida estrangularam as contas externas, com déficits de US$ 3,5 bilhões na balança de

pagamentos e conseqüente redução do nível de reservas. Um ajustamento seria inevitável. O

Brasil recorre ao FMI (Fundo Monetário Internacional)

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24

A Estratégia do FMI

A liberação de empréstimos ficava condicionada à adoção de uma política econômica

interna acertada com o FMI. O acerto do Brasil com o FMI era uma garantia para os bancos

de que a economia brasileira realizaria seu processo de ajustamento e teria condições de arcar

com os compromissos assumidos.

O processo de ajustamento foi dirigido no sentido de obter superávits comerciais (estímulo às

exportações e/ou redução das importações).

Maxidesvalorização do cruzeiro

Redução dos salários reais (reajustes inferiores às variações dos preços)

Redução das importações através de um controle

Resultados

Lado externo: reversão dos saldos em transações correntes (de US$ 13 bilhões para US$ 0,1

bilhões)

Lado interno: forte queda da produção de bens e serviços. Queda no nível de emprego de

20%.

7) Retomada do crescimento (1984-1985)

Expansão da economia americana e aumento da demanda por produtos brasileiros.

Superávit comercial ultrapassava os US$ 13 bilhões (1984); Redução do coeficiente de

importação e crescimento do nível de reservas.

8) O Plano Cruzado, o “consumo” das reservas e a moratória

Forte ampliação nos ganhos reais da mão de obra com aumento da massa real de

salários em 25%.

Taxas de juros baixas estimularam o consumo, o investimento e a demanda agregada.

O congelamento do câmbio reduziu o poder de competição das exportações.

Forte pressão sobre as compras externas e queda das exportações. Queda no nível das

reservas. Escassez cambial gerada exclusivamente por questões de política doméstica.

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25

09) O Plano Bresser-1987-1988

Mesmo com a decretação da moratória, as reservas internacionais do país continuaram

caindo. Promoção de mididesvalorização do cruzado e intenção de retornar a negociação

externa. Aumentar as exportações e reduzir a demanda interna (extinção do gatilho salarial,

redução dos gastos do governo e taxas de juros positivas). Condições criadas para

renegociação com os credores externos e a suspensão da moratória brasileira.

10) O Plano Verão – 1989

Adoção do congelamento de preços, salários e câmbio em função da aceleração

inflacionária.

Exportações foram desestimuladas e importações aquecidas. Deterioração do saldo

comercial levou o país a suspender os pagamentos dos juros da dívida externa.

11) O governo Collor

Mudança drástica da política cambial. Adoção do sistema de câmbio flutuante. Até o

final de 1990, desvalorização de 30% do cruzeiro.

Mudança drástica da política comercial: extinção de controles quantitativos e

cronograma de redução gradual de tarifas.

Retomada do pagamento da dívida externa, dentro da estratégia de integração do país

na economia mundial. Condicionamento do pagamento da dívida externa à geração de

superávits no orçamento público. Ampliação do superávit comercial e aumento das reservas

internacionais ( de USD 8,8 bilhões –1991- para USD 23,7 bilhões – 1992)

12) O Plano Real

Mudança mais drástica do setor externo da economia das últimas décadas.

Abertura comercial, redução significativa de alíquotas de importações e apreciação cambial.

Importações têm um papel importante no aumento da oferta, pois limitaram o aumento dos

preços. Estratégia de usar poupança externa por meio de déficits da balança comercial.

Três fases:

1) julho/94 a mar/95 – forte pressão da demanda interna e

substancial aumento das importações; Forte fuga de capitais no

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26

México em função de elevados déficits alerta para riscos da

dependência de poupança externa.

2) mai/95 – adoção da política de bandas cambiais e desvalorização

cambial e redução do nível da atividade para diminuir pressões

sobre as importações (contração do crédito, e aumento taxa de

juros. Jul/95 : reequilíbrio da balança comercial. US$ 51,8 bilhões

reservas internacionais (maciça entrada de capitais especulativos).

3) Dez/95 – Flexibilização da política monetária. Nível de atividade

volta a se expandir e a balança comercial voltou a apresentar

déficit (mar/96). Setores impulsionados: bens de consumo

durável. O aumento do déficit foi financiado pela entrada de

capitais

13) Governo Lula

http://dspace.insper.edu.br/xmlui/handle/11224/1348

V. CRESCIMENTO ECONÔMICO E COMÉRCIO INTERNACIONAL

A experiência de dois séculos anteriores era a de uma predominância, com um elevado grau

de abertura ao comércio externo, dada sua dependência de recursos naturais importados. O

surgimento dos Estados Unidos como principal locomotiva da economia mundial implicava

duas características específicas: 1) primeiros anos pós-armistícios com enormes superávits e

2) um baixo grau de abertura.

Essa preocupação deu origem a um conjunto de modelos teóricos que procuram estabelecer a

relação entre o tipo de crescimento econômico, seu impacto sobre os setores exportador e

importador e, consequentemente, o efeito sobre as contas externas de um país.

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27

Comércio e Crescimento

Efeitos do Crescimento Econômico sobre o Perfil de Especialização Comercial de um

País

Suponha que um determinado país produza e exporte um produto X e produza e importe M.

Não existe, portanto, especialização completa: o país produz algo de ambos os produtos

considerados na análise.

Na situação inicial, o país produz AT do produto X, em troca de BS do produto M.A relação

de trocas no mercado internacional é igual à inclinação da curva AB, e o país atinge um nível

de bem-estar correspondente a C.

Suponha agora que o país considerado experimente crescimento, e isso se traduz em maior

produção em nível agregado. Isso lhe permitirá atingir um nível de consumo agregado mais

elevado, e a relação entre os preços de X e de M permanecerá inalterada (figura 5.2).

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28

Efeitos do Crescimento Econômico sobre o Consumo

O crescimento é ilustrado pelo deslocamento da fronteira de possibilidade de produção AB

para A`B`, de forma paralela, porque os preços relativos dos produtos se mantêm inalterados

(país pequeno).

O que acontece com a estrutura de consumo?

No caso de a composição de consumo se deslocar de C para C`, isto é, preservando a mesma

proporção dos dois produtos na cesta de consumo, o crescimento é considerado neutro, uma

vez que não há alteração no peso do produto importado no consumo. Mas existem outras

quatro possibilidades:

a) Se a estrutura de consumo se desloca de C para algum ponto do segmento C`G, isso

significa que terá aumentado o peso relativo do produto M (importado) na cesta de

consumo. Diz-se então que o crescimento foi do tipo “viesado pró-comércio”.

b) Se a estrutura de consumo se deslocar de C para algum ponto de C’J, terá reduzido o peso

relativo do produto importado; portanto, o crescimento é “viesado anti-comércio”.

c) Se a estrutura de consumo se deslocar de C para algum ponto de GB’, terá aumentado o

peso absoluto do produto importado na cesta de consumo; portanto, o comércio é do tipo

“ultra-prócomércio”.

d) De modo semelhante, um deslocamento de C para algum ponto de JÁ’ implicará uma

redução do peso absoluto do produto importado no consumo; portanto, um crescimento de

tipo “ultra-anticomércio”.

Efeitos do Crescimento Econômico sobre a Produção

Suponha agora que o processo produtivo no país apresente rendimentos decrescentes (custos

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29

crescentes de produção), retendo a hipótese de serem dados os preços relativos dos produtos

no mercado internacional. (Figura 5.3)

O crescimento econômico implica um deslocamento da fronteira de possibilidades de

produção, preservando a mesma relação entre os dois produtos.

Na hipótese de o ponto de produção se deslocar de P para P`, não houve alteração na

composição do produto agregado; assim, o crescimento econômico é considerado neutro.

a) Se a produção se desloca de P para algum ponto em P`T, isso significa que aumentou a

produção nacional do produto importável. Portanto, o crescimento é de tipo

“anticomércio”.

b) Se a produção se desloca de P para algum ponto em P`L, isso significa que aumentou a

produção nacional do produto importável; portanto, o crescimento é de tipo “pró-

comércio”.

c) Se a produção se desloca de P para algum ponto em TN, isso significa que aumentou a

produção nacional do produto importável; portanto, o crescimento é de tipo “ultra-

anticomércio”.

d) Se a produção se desloca de P para algum ponto em TN, isso significa que reduziu a

produção nacional do produto importável; portanto, o crescimento é de tipo “ultra-

prócomércio”.

Nem os efeitos sobre o consumo nem os efeitos sobre a produção são capazes de determinar

isoladamente o resultado final do crescimento econômico sobre a composição do comércio

externo.

VI. COMÉRCIO E DESENVOLVIMENTO

A Teoria de Desenvolvimento surgiu nos anos seguintes ao final da Segunda Guerra Mundial,

ao concentrar atenção no que deveria ser a orientação básica para o emprego de recursos.

Em paralelo a essas preocupações, as décadas de 1960 e 1970 testemunharam esforços em

direções diversas, tratando de caracterizar os países menos desenvolvidos como efetivamente

uma categoria de análise diferenciada. Desse modo, Chenery (1970) busca caracterizar as

diversas etapas do desenvolvimento econômico (medido por níveis de renda per capita) como

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30

apresentando características próprias, mutantes à medida que a economia evolui no seu nível

de produto por habitante.

Outros autores se preocuparam com a importância vital da disponibilidade de divisas para o

processo de crescimento e desenvolvimento das economias de menor expressão. Assim,

Furtado (1964), Chenery (1966), Prebisch (1950), Singer (1950) e outros enfatizaram as

limitações das disponibilidades de recursos para financiar o processo de desenvolvimento,

com particular ênfase na capacidade de geração de divisas na quantidade requerida para

sustentar esse processo.

É essa percepçào de que uma economia em desenvolvimento tem necessidade de um volume

expressivo de divisas para viabilizar sua importações de produtos básicos, bem como de

equipamentos e insumos intermediários para satisfazer às necessidades básicas da população,

e ao mesmo tempo tornar viável a produção de uma série de itens que caracterizem um

parque industrial.

De um lado, está a opção por viabilizar a oferta interna dos itens demandados, e com isso

reduzir a pressão sobre o balanço de pagamentos. De outro lado, está a alternativa de

procurar gerar mais divisas por meio de exportações competitivas, de tal modo a poder contar

com os recursos necessários sem penalizar o setor importador. A primeira estratégia é

conhecida como “industrialização via substituição de importações”. A segunda é

genericamente designada de “promoção de exportações”.

Estratégias de Substituição de Importações e Promoção de Exportações

A idéia básica associada a um processo de substituição de importações é a de promoção – no

mercado interno de uma economia – da capacidade de oferta de itens anteriormente

conseguidos por meio do comércio externo. Dessa maneira, a produção nacional substitui a

oferta de alguns produtos importados.

Essa estratégia de promoção da industrialização tem em geral uma forte dependência de

recursos públicos, uma vez que está associada à provisão de incentivos fiscais e creditícios. A

produção competitiva com importações passa a ser considerada justificável – sobretudo em

períodos de escassez de divisas.

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31

Vista de uma perspectiva de desenvolvimento econômico – cujo objetivo é alterar a estrutura

produtiva de um sistema econômico – tal estratégia é associada a um processo que procura

repetir de forma acelerada a experiência de industrialização dos países desenvolvidos.

O objetivo é a constituição de sistema econômicos nacionais flexíveis, diversificados (de

modo a reduzir a vulnerabilidade frente às flutuações das relações de troca, altamente

desastrosas em sistemas dependentes de poucos produtos), com condição de poder gerar um

ritmo sustentável de crescimento do produto.

Assim, uma estratégia de substituição de importações requer um grau expressivo de proteção

em relação à concorrência de produtos importados, seja por meio de barreiras comerciais,

seja por preços relativos (leia-se taxa de câmbio).

A lógica subjacente da estratégia de substituição de importações como instrumento para a

indução do desenvolvimento econômico é, portanto, a de que algum custo em termos de

eficiência é aceitável, pois levará (a médio prazo) a uma menor dependência em relação à

oferta externa, e, portanto, menor necessidade - ao longo do tempo – de divisas

(supostamente escassas) para poder adquirir tais produtos, permitindo alocar essas divisas

para a aquisição de outros itens (como bens de produção e tecnologia) com efeito mais

expressivo sobre a competitividade do sistema.

A lógica do modelo tem os seguintes passos:

a) As economias menos desenvolvidas em geral apresentam um parque produtivo limitado,

com oferta de poucos produtos;

b) Esses produtos são em geral pouco elaborados, freqüentemente produtos in natura;

c) A demanda por esses produtos é limitada, com baixa elasticidade, seja em relação aos

preços, seja em relação à renda, o que faz o desempenho exportador desses países ser

pobre e fortemente dependente dos ciclos de atividade das principais economias;

d) A demanda interna nos países menos desenvolvidos é predominantemente satisfeita com

produtos fabricados no exterior; desse modo, a disponibilidade de divisas é vital para o

funcionamento do sistema econômico e a satisfação dos consumidores locais;

e) Há poucos graus de liberdade das autoridades nacionais em conseguir aumentar a receita

líquida de exportações de forma sustentada, uma vez que as baixas elasticidades-preço e

renda da demanda por exportações são um fator limitador;

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32

f) Assim, o aumento do grau de industrialização não é um fim em si mesmo, mas a busca de

uma maneira mais eficiente e factível de reduzir a vulnerabilidade externa, por meio da

viabilização mais eficiente de inserção na economia internacional, menos sujeita a

oscilações bruscas na receita de divisas, e pela redução do peso do setor externo no

conjunto da atividade econômica de cada país.

Essa estratégia baseada na substituição de importações foi colocada em xeque por dois tipos

de considerações: 1) De um lado, a experiência mostrou que para países com dimensões

econômicas limitadas o potencial para substituir importações é reduzido, uma vez que a

tecnologia empregada nos processos produtivos demanda escala indivisível, e, portanto, é

necessário poder dispor de mercado além de um certo tamanho para a produção poder ser

realizada sem capacidade produtiva ociosa excessiva. Além disso, a geração de empregos no

setor industrial ficou geralmente aquém do desejável; e 2) Mesmo em processos bem-

sucedidos de substituição de importações por produção interna, a dependência de

importações não diminui. Em diversos casos, os insumos utilizados nos processos produtivos

são de origem externa. Isso significa que não apenas a dependência em relação às

importações não diminuiu, como eventualmente aumentou, e com menor grau de

compressibilidade, pois corresponde a componentes requeridos para o próprio processo

produtivo.

Intervenções Ótimas e Viés da Política Comercial Externa

Segundo a teoria básica da proteção, apenas em economias de maior porte faz sentido adotar

política comercial intervencionista, uma vez que apenas nestes casos é possível melhorar as

relações de troca como resultado dessas intervenções.

O problema com as políticas de tipo intervencionista são os custos que elas podem impor ao

sistema econômico. A literatura ressalta os seguintes custos:

1) Custos sociais da “apropriação de rendas extraordinárias” (rent-seeking), derivada da

atuação de grupos interessados na preservação de determinadas barreiras comerciais;

2) Custo social de tipo “peso morto”, relacionado à existência e à atuação de monopólio em

alguns setores;

3) Custo social derivado da ineficiência na alocação dos recursos disponíveis

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33

A prática de uma política comercial externa deve ser idealmente mais “neutro” possível para

evitar viesses excessivos, e consequentemente evitar induzir alocação de recursos de forma

que não corresponda à dotação de recursos. Assim, devem ser evitados:

a) a seleção a priori dos setores produtivos a serem incentivados;

b) graus de intervenção no sistema econômico que distorçam a identificação “natural”

dos sinais de custos relativos no emprego dos fatores por parte dos agentes

econômicos e;

c) os vieses da política comercial;

VII. INTEGRAÇÃO REGIONAL

Em dezembro de 1985, os países da União Européia aprovaram um documento, chamada de

Ata Única Européia, no qual se comprometiam a completar a formação de um mercado

regional único em 1992 (“Projeto Europa-92).

Por essa época, na América Latina, as restrições impostas pela escassez de divisas, derivada

da crise da crise dívida externa, afetava a maior parte dos países da região, que voltaram a

ver na integração regional uma ferramenta de recuperação do seu dinamismo.

Ao longo da década de 90, observou-se um ressurgimento com intensidade inusitada de

acordos de preferência comercial. Em dezembro de 2002 estava notificado na Organização

Mundial do Comércio (OMC) um total de 250 acordos regionais de comércio, sendo que,

desses, 150 foram formalizados a partir de 1995. Há outros 170 acordos em processo de

negociação.

Teoria da Integração – Os Diversos Níveis de Integração

O primeiro aspecto importante é determinar o grau ou nível de integração.

O nível mais simples a considerar é quando dois ou mais países negociam entre si

preferências comerciais. Uma Área de Preferências Comerciais compreende a redução ou

isenção de imposto de importação no comércio entre os países envolvidos, apenas para um

grupo reduzido de produtos. Um exemplo é o conjunto de concessões comerciais entre os

Estados Unidos e Israel.

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34

O nível imediatamente seguinte é o de uma Área de Livre Comércio (ALC). Uma ALC

implica concessões comerciais generalizadas e demanda dois tipos de providências:

a) a definição de “regras de origem” (estabelecimento de critérios claros em relação ao

percentual de valor adicionado em um dos países da ALC, de modo a caracterizar um

determinado produto como produção nacional de um dos países, e assim qualificá-lo para

as preferências tarifárias. Isso evita a triangulação de produtos originários de terceiros

países;

b) alinhamento das taxas de câmbio dos países participantes, para evitar o surgimento de

situações em que um ou alguns países passam a ser sistematicamente superavitários no

comércio com seus parceiros, graças à competitividade induzida pela desvalorização

cambial.

Um exemplo de área de livre comércio é aquela criada desde o início dos anos 90 entre os

Estados Unidos, Canadá e México. O NAFTA (criado em 1994) é basicamente um conjunto

de concessões comerciais em que cada país preserva sua autonomia no desenho da política

comercial externa.

Quando uma ALC conta, além dessas condições, com barreiras externas comuns em relação

a países não-membros (tarifa externa comum), atinge-se uma União Aduaneira (UA)

Como agora o comércio é livre, torna-se necessário – além de alinhar as políticas cambiais

dos países participantes – promover a convergência de suas políticas fiscal e monetária. É o

caso da UA formada entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo em 1947, que foi absorvida pela

Comunidade Européia em 1958.

Um Mercado Comum (MC) é o estágio seguinte nesse grau de integração e consiste em

uma UA acrescida de plena mobilidade de fatores de produção entre os países participantes.

Nesse nível, além da coordenação das políticas cambial, fiscal e monetária – compatibilizar

as legislações correlatas, como as normas trabalhistas, previdenciárias, regulação de capital,

proteção aos investidores, regulação de concorrência e diversas outras. Um Mercado Comum

- por implicar a coordenação de políticas internas e externas – demanda a existência de

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35

instituições supranacionais que permitam gerir esses diversos aspectos de forma homogênea

nos diversos países. O exemplo mais claro é o formado pela União Européia.

O nível seguinte ao Mercado Comum é a União Monetária. As autoridades monetárias

nacionais perdem sua função básica – e a política macroeconômica perde graus de liberdade

– e são substituídas por um órgão emissor único para toda a região. Isso força as diversas

economias participantes a manter entre si um forte grau de convergência de suas políticas

fiscais. Os exemplos são os da união monetária entre Bélgica e Luxemburgo em 1921, e o

dos 12 membros da União Européia que aderiram à moeda comum européia (euro), a partir

do Tratado de Maastricht, de 1991.

O último estágio de integração é a União Política, ou fusão dos Estado Nacionais em um

único (novo) Estado. Os exemplos são os processos de unificação da Itália e da Alemanha, na

segunda metade do século XIX.

Ainda sobre Integração Regional, há um tipo de acordo regional chamado “integração rasa”,

ou de acordos de primeira geração, aqueles processos cuja negociação compreende

basicamente temas comerciais e aspectos diretamente relacionados, a exemplo do

MERCOSUL. Sob essa ótica, os acordos de “gerações posteriores” incluem – além de temas

comerciais – outros aspectos, como políticas de compras governamentais, políticas de

regulação de concorrência, políticas ambientais e outros temas.

Uma característica comum importante nos esforços para a integração regional: acordos de

preferências comerciais e mesmo áreas de livre comércio podem ser feitas entre países sem

grande proximidade geográfica. Já Uniões Aduaneiras e estágios mais avançados de

integração estão diretamente associados à vizinhança entre países. Cada esquema regional

tem um eixo de comércio entre dois ou três países cujo volume de transações comerciais é

mais intenso do que no restante dos países, ou mesmo entre países “centrais”e demais

parceiros. Parte da explicação está nas facilidades proporcionadas por vínculos comerciais

existentes, por menores barreiras em termos de infra-estrutura, por complementariedade de

estruturas produtivas e de composição de demanda.

Avaliação de Um Esquema de Integração: Criação e Desvio de Comércio

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36

A “criação de comércio” é a substituição de produção nacional – supostamente obtida a

custos elevados – por produção semelhante proveniente do país parceiro, a custos mais

baixos.

O “desvio de comércio” é outro lado da mesma moeda. Ao estimular o comércio entre os

participantes de um esquema de integração e ao mesmo tempo manter as barreiras em relação

ao resto do mundo, está-se substituindo o acesso a produtos, mais baratos provenientes de

terceiros países por produtos do país parceiro.

A “criação de comércio” é benéfica, no sentido de que traz um efeito positivo ao volume

total de comércio em nível mundial. Já o “desvio de comércio” é daninho porque penaliza os

consumidores nos países participantes da União Aduaneira.

Argumentos para a Relação entre Integração e Desenvolvimento : a América Latina

A ideia de criar um mercado comum latino-americano esteve presente nos estudos da

CEPAL (Comissão Econômica para América latina e o Caribe, órgão da Organização das

Nações Unidas) desde 1949, pois de entendia que os países da região precisavam de um

mercado de alcance regional para o desenvolvimento de sua indústria, passo necessário para

reduzir a vulnerabilidade nas contas externas, porque, conforme se imaginava, a dependência

de exportações de produtos primários com baixo grau de processamento expunha as

economias da região a flutuações excessivas nas relações de troca e a uma tendência

negativa, a longo prazo, no poder de compra das exportações.

Nos anos 60, a perspectiva geral era a de que – dadas as condições experimentadas na

Segunda metade dos anos 50 – a região enfrentaria desequilíbrio crescente do Balanço de

Pagamentos, restringindo a importação de bens de capital. Nesse contexto, a recomendação

era de que pela integração regional se criasse um mercado regional que viabilizasse (via

ganhos de escala) a produção de bens de capital e de bens intermediários.

A década de 1980 foi caracterizada, na América latina, como um período de “asfixia

cambial” provocada pela dívida externa. Nesse contexto, a integração passou a ser vista

como uma via de saída para a própria crise. Além disso, a exploração dos mercados vizinhos

possibilitaria aos produtores nacionais de cada país coordenar suas estruturas produtivas,

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37

aproveitar um “efeito-apredizagem” das exportações regionais para poder lançar-se

posteriormente a terceiros mercados.

Já nos anos 90, permaneceu a ênfase à importância da integração regional com abertura

multilateral. A integração não apenas permitiu apropriar ganhos de economias de escala, mas

reduzir rendas não produtivas associadas à falta de concorrência. Ela influencia as

expectativas de investidores internos e externos, reduz custos de transações, aumenta a

eficiência produtiva, contribuindo para a estabilização de preços, e facilita a absorção de

progresso tecnológico.

Assim, a integração regional tem sido vista como uma ferramenta adicional de reforço aos

processos de reforma interna que buscaram elevar a competitividade das economias em

desenvolvimento

Um Tema Associado: Integração Monetária

Uma união monetária entre dois países tem dois componentes principais: sua política

cambial conjunta e a integração do mercado de capitais. Uma união monetária requer, além

desse componentes, que os países participantes coordenem suas políticas monetárias de

forma a evitar distorções. Por exemplo, diferenças nas taxas de crescimento da oferta

monetária levariam a diferentes taxas de inflação, o que por sua vez demandaria variações

nas taxas de câmbio, comprometendo a paridade fixa. Com moeda comum é necessária a

criação de um Banco Central comum, encarregado de controlar a oferta monetária e fixar a

taxa de câmbio em relação às demais moedas do resto do mundo.

A literatura econômica enfatiza a existência de benefícios e custos associados à formação de

uma união monetária, derivados da fixação de paridades e redução de riscos cambiais.

Benefícios:

1) a eliminação das flutuações entre as paridades das moedas dos países que compõem a

união monetária reduz a incerteza associada a essas flutuações e assim estimula negócios,

contribuindo para aumentar o volume de transações intra-área. Isso é particularmente

relevante para as empresas de médio e pequeno porte, para as quais os custos com a

busca de proteção contra os riscos cambiais podem ser expressivos em relação à sua

receita.

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2) A remoção de controles sobre o movimento internacional de capital e das distorçoes no

tratamento diferenciado ao capital financeiro entre países-membros permite melhorar a

eficiência na alocação de recursos entre países.

3) A unificação de moedas permite reduzir o nível de reservas que os países mantêm para se

precaver de desequilíbrios nas transações com os parceiros.

4) No nível microeconômico, há redução de custos operacionais derivados da reduçào do

risco cambial e dos controles administrativos, sobretudo para empresas que operam

simultaneamente em diversos países da região.

5) Na medida em que as taxas de juros se reduzem com a formação da área monetária, ao

eliminar-se o componente de risco, poderá haver ganhos em termos dinâmicos, derivados

de aumento na formação de capital fixo.

6) A unificação de moedas permite diminuir a possibilidade de variações excessivas

(“overshooting”) das taxas de câmbio, suavizando a trajetória das paridades e permitindo

com isso maior estabilidade econômica.

7) A redução da variabilidade nos preços relativos – conseguida com a estabilidade da taxa

de câmbio.

8) A unificação de diversas moedas pode levar ao surgimento de uma nova moeda mais

forte no cenário internacional do que a soma das moedas anteriores, ampliando o poder

de negociação com outros países não-membros.

CUSTOS:

1) A adesão a uma moeda única reduz graus de liberdade dos países participantes, que

perdem a liberdade para determinar as próprias políticas monetárias e, por consequencia,

a taxa de inflação considerada desejável.

2) O Banco Central do país perde a capacidade de emissão monetária e eventualmente terá

de aceitar uma taxa de inflação mais baixa do que aquela que seria desejável em vista das

condicionantes específicas da economia.

3) Os países participantes de uma união diferem também em termos do seu grau de

desenvolvimento econômico. A diferença entre o PIB da Alemanha e o de Portugal em

1999 era de 19 vezes; no Mercosul, a diferença entre o PIB do Brasil e o do Paraguai era

de 91 vezes. A maior liberdade de movimento de capitais e trabalho, associada à

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39

formação de união monetária, pode levar ao deslocamento dos fatores das áreas menos

favorecidas para as áreas em que há economias de algomeração e nível mais elevado de

produtividade.

4) O país perde graus de liberdade na determinação da política cambial. Isso pode ser um

custo significativo se houver desequilíbrios comerciais expressivos entre países

participantes da união.

5) Os países de renda mais baixa no conjunto de participantes da união monetária podem

acabar atraindo investimentos externos de baixo valor agregado, enquanto os países mais

desenvolvidos atraem os investimentos em atividades de maior valor adicionado.

Negociações Internacionais

O Cenário de Regulação Internacional

Foi com esse referencial que se criaram estas instituições internacionais: Organização das

Nações Unidas, como um local para as negociações voltadas para assegurar a paz mundial;

Fundo Monetário Internacional, encarregado de prover liquidez internacional e evitar

crises nas contas externas dos países associados. O Banco Mundial, instituição incumbida

de prover recursos para os projetos relacionados ao desenvolvimento econômico. Foi

assinado em 1947, em caráter provisório um acordo que deu origem ao Acordo Geral sobre

Tarifas e Comércio, mais conhecido pela sigla em inglês: GATT (General Agreement on

Tariffs and Trade). A reunião que criou o FMI aconteceu em 1944 na cidade de Bretton

Woods.

O GATT

O acordo que criou o GATT foi firmado por 23 países, sendo que quase a metade de países

em desenvolvimento: Brasil, Birmânia (atual Myanmar), Ceilão (atual Sri Lanka). Chile,

China, Cuba, Índia, Líbano, Paquistão, Rodésia (atual Zimbabuwe) e Síria. Até 1979,

apenas oito países da América Latina e Caribe (Argentina, Brasil, Chile, Cuba, Peru,

Nicarágua, República Dominicana e Uruguai) eram partes contratantes do GATT.

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40

O GATT é um conjunto de normas de procedimentos para as relações comerciais entre as

partes contratantes e regulamentam a elaboração, a prática e o controle das regras

conveniadas. É um fórum para negociação comercial, em que ressalta o aspecto

essencialmente político.

Um pilar central do GATT é a chamada Cláusula da Nação Mais Favorecida (NMP), onde

os mesmos benefícios concedidos por um país A a um país B deverão ser estendidos aos

países C, D etc.: trata-se do princípio de não discriminação

O Tratado de Roma criou a Comunidade Européia. O Artigo XI impõe uma proibição

geral sobre o uso de restrições quantitativas (RQs) a importações. No entanto, os Artigos

XII e XVIII estabelecem condições em que essas restrições podem ser justificáveis no

GATT.

Em 1957 foi criada uma facilidade exclusiva para os países em desenvolvimento em

situações de crise de Balanço e Pagamentos. Sua Seção B permite a um país nessa

situação adotar RQs “de modo a assegurar um nível de reservas adequado para a

implementação de um programa de desenvolvimento econômico”.

O debate em torno ao Artigo XVIII-B tem se concentrado em reações fortes de parte dos

países desenvolvidos em relação a diversos aspectos: a) o texto não dá margem a um exame

adequado da justificativa para a adoção de medidas restritivas; b) as facilidades previstas não

se justificam, uma vez que RQs protegem apenas por um período limitado de tempo e não

eliminam a necessidade de política cambial mais ativa; c) as facilidades já existem no Artigo

XVIII-B (proteção com base em indústria nascente).

As rodadas de negociação multilaterais

Até o momento ocorreram oito rodadas de negociações, no âmbito do GATT:

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41

A Rodada Uruguai foi até aqui a mais expressiva, por incluir na agenda um conjunto de

temas não imediatamente relacionados ao objeto inicial do GATT (como algumas normas

disciplinadoras das políticas de propriedade intelectual e dos investimentos com efeitos

sobre o comércio), consolidar uma estrutura institucional permanente, a Organização

Mundial do Comércio (e não mais provisória, como foi o GATT entre 1947 e 1994) e adotar

um caráter mandatório, como o GATT jamais teve.

Nas rodadas anteriores , os países podiam optar por aceitar ou não alguns dos dispositivos.

Os resultados da Rodada Uruguai tiveram de ser aceitos por todas as partes

contratantes, sob perna de exclusão da OMC. As decisões da OMC têm caráter impositivo.

A tabela 7.2 mostra as variações nas tarifas médias por grupos de países para produtos

industrializados antes e depois da Rodada Uruguai.

Os produtos industrializados foram em média reduzidos em um terço do nível vigente antes

da Rodada Uruguai.

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42

Tarifas consolidadas são aquelas em que cada país registra junto à OMC como alíquotas

máximas. Qualquer alíquota acima daquele nível tem de ser negociada com as demais partes

contratantes.

O número de alíquotas consolidadas aumentou significativamente na Rodada Uruguai.

Nos países da América Latina, a Rodada Uruguai coincidiu no tempo com esforços de

reformas para lidar com a inflação crônica. A maior parte dos países reformou sua política

comercial externa em grande medida buscando aumentar o grau de concorrência no mercado

interno, eliminando ganhos monopólicos e assim controlando um componente importante de

alimentação da inflação. Como conseqüência, foi necessário sinalizar o comprometimento

com os processos de abertura comercial, e isso levou a América Latina a ser a única região

em que os países têm 100% de suas tarifas consolidadas na OMC.

A Criação da OMC

À diferença do GATT a OMC é um organismo inter-governamental de alcance universal: no

momento de sua criação era composta por 144 países, dos quais 2/3 se auto definem como

países em desenvolvimento. A conferência ministerial e o Conselho Geral adotam decisões

por maioria.

Ao finalizar a Rodada Uruguai, estava prevista a realização de negociações posteriores sobre

alguns dos temas para os quais não houve clima político suficiente até a assinatura do

Tratado de Marrakesh, de 1994, que consagrou o fim da Rodada. Questões relacionadas

ao comércio de produtos agrícolas, temas associados à aplicação de subsídios e outros

ficaram apenas parcialmente resolvidos em 1994.

A Quarta Conferência Ministerial, em Doha, no Qatar, em novembro de 2001. Essa

agenda negociadora compreende 21 temas: comércio de produtos agrícolas, serviços,

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acesso a mercado para produtos não-agrícolas, aspectos dos direitos de propriedade

intelectual relacionados ao comércio (TRIMs).

Ao final de 2003, as negociações chegaram a um nível elevado de dificuldade: os países em

desenvolvimento apresentaram uma contra-proposta à posição conjunta dos Estados Unidos e

União Européia quanto à liberalização do comércio de produtos agrícolas, e resistiram

fortemente às propostas negociadoras nos chamados “novos temas” .

Temas controversos na OMC, da perspectiva dos países em

desenvolvimento

Desde 1968 os países em desenvolvimento contam com o Sistema Geral de Preferências.

Um dos problemas resultantes das negociações da Rodada Uruguai e da prática dos países

desenvolvidos ao definir sua política comercial externa é que há um descompasso entre o

nível tarifário médio acordado e a situação efetiva para alguns produtos.

A estrutura tarifária consolidada dos países desenvolvidos para produtos não-agrícolas tem

um nível médio de 4%, indiscutivelmente baixo. Porém, os países exportadores de produtos

básicos enfrentam dois tipos de barreiras aos seus produtos: a incidência de “picos”

tarifários (superiores a 12% ad valorem). O problema dos “picos” tarifários é maior para os

alimentos básicos.

Agricultura

Estados Unidos e Japão adotam igualmente expressivas barreiras comerciais e subsídios.

Este tema é sensível aos países em desenvolvimento porque a maior parte da população

mundial de baixa renda vive em áreas rurais, e o setor agrícola corresponde a

aproximadamente metade do emprego nos países em desenvolvimento. Eles respondem por

90% da produção mundial de cacau, mas apenas 4% da produção global de chocolate.

Produtos Têxteis e Vestuário

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44

Apenas 20% das importações feitas sob restrições quantitativas pelos Estados Unidos e

Comunidade Européia foram liberadas

Serviços

A Rodada Uruguai deu origem a uma solução contemporizadora, criando o GATS (Acordo

Geral sobre o Comércio de Serviços). Seus princípios básicos são: a) cobertura global; b)

trato isonômico (tanto serviços e provedores estrangeiros como nacionais tem isonomia de

tratamento); c) condição de nação mais favorecida (não-discriminação entre os serviços e

provedores); d) transparência (deve-se publicar e colocar à disposição dos interessados as

medidas gerais aplicáveis ao comércio de serviços); e) reconhecimento (pode-se requerer o

reconhecimento de um título acadêmico, antes da provisão de um serviços) e f) liberalização

progressiva.

TRIPS (Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights)

Esse acordo sobre o Direito de Propriedade Intelectual tem encontrado forte resistência por

parte de alguns países em desenvolvimento – entre eles o Brasil – que argumentam que

os temas de propriedade intelectual devem ser tratados no âmbito da OMPI

(Organização Mundial de Propriedade Intelectual), agência das Nações Unidas criada

em 1967. Contra esse argumento existe a percepção de que a OMPI carece de poderes

efetivos para disciplinar os países signatários em casos de transgressão de normas.

As discussões sobre TRIPs tornam explícitas as diferenças entre as posições dos países

industrializados, que têm interesse em reforçar a proteção aos direitos de maneira irrestrita, e

dos países em desenvolvimento, para os quais a propriedade intelectual deveria ser um

instrumento de transferência de tecnologia e apoio à industrialização. A Declaração de Doha

reconhece aos países menos desenvolvidos o direito de violar patentes farmacêuticas

quando se trata de produzir medicamentos para atender à saúde pública.

TRIMS

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O acordo TRIMs estabelece normas para evitar os efeitos sobre o comércio de bens das

medidas relacionadas a estímulo aos investimentos.

Os países em desenvolvimento consideram a OMC como lhes tendo tirado a capacidade de

adotar uma série de instrumentos tradicionais de política industrial, pelo Acordo de

Subsídios e Medidas Compensatórias, assim o Acordo TRIMs impõe limites às condições

que os governos podem impor a investigadores estrangeiros para leva-los a investir segundo

suas prioridades de política.

O Brasil e Índia têm proposto mudanças no Acordo de TRIMs, alegando na OMC que o

Acordo não lhes dá flexibilidade suficiente na adoção de políticas para corrigir problemas

econômicos, sociais, tecnológicos e regionais.

Subsídios às Exportações

Entende-se existir subsídio quando um governo faz uma ´contribuição financeira´ que dá uma

vantagem a quem recebe. Os subsídios proibidos são aqueles concedidos às exportações e

aqueles que condicionem sua concessão ao uso de produtos nacionais em detrimento dos

importados.

Risco de Graduação

Nos temas em discussão pretende-se criar novas categorias de países em desenvolvimento

(avançado superior, de renda baixa, mais pobres), a partir de um conjunto de indicadores

econômicos. Essa proposta encontra evidentemente forte reação por parte de países – como

Brasil, China, Malásia, Cingapura – que se encontram em uma faixa intermediária de

desenvolvimento.

A Agenda de Doha

As negociações multilaterais iniciadas na Reunião Ministerial de Doha, Qatar, em 2001 estão

centradas em agenda negociadora que compreende:

a) negociações para abrir os mercados de produtos agrícolas, reduzindo as formas de

subsídios à exportação e o apoio doméstico aos agricultores;

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b) negociações sobre as relações entre acordos multilaterais de investimentos com

efeitos ambientais e as regras da OMC, sobre procedimentos para troca de

informações entre a OMC e esses acordos multilaterais, e redução de tarifas e

barreiras não-tarifárias para serviços e produtos ambientais;

c) negociações para abertura gradual dos mercados a fornecedores estrangeiros de

serviços financeiros, telecomunicações, saneamento, turismo e educação, assim

como negociações para permitir a contratação temporária de trabalhadores

estrangeiros;

d) negociações para reduzir tarifas sobre produtos industriais, incluindo picos tarifários e

escalada tarifária;

e) negociações para melhorar as disciplinas de medidas antidumping e medidas

compensatórias;

f) negociações sobre transparência em compras públicas e simplificação de

procedimentos aduaneiros;

g) negociações sobre investimentos e políticas de regulação de concorrência;

h) negociações sobre comércio eletrônico;

i) negociações sobre implementação de acordos da Rodada Uruguai

j) negociações para melhorar o mecanismo de solução de controvérsias.