Introdução ao estudo da influência social: Os paradigmas de Sherif, Asch e Moscovici

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    INTRODUO AO ESTUDO DA INFLUNCIASOCIAL:OS PARADIGMAS DESHERIF,ASCH EMOSCOVICITexto da Autoria de: Dra. Celeste Duque

    Serge Moscov ic i

    Muzafer Sher i f (1906-1988)

    So lomon E l io t Asch (1907-1996)

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    NDICE

    1. Breve introduo ........................................................................................................ 1

    2. Formao de Normas ................................................................................................. 2

    2.1. Funo das normas .........................................................................................................2

    2.2. Definio de norma ........................................................................................................2

    2.3. Como se formam as normas ..........................................................................................3

    3. Conformismo social ................................................................................................... 4

    3.1. Submisso a uma maioria quantitativa: Dependncia informativa

    e dependncia normativa ..............................................................................................53.1.1. Submisso a uma maioria quantitativa .......................................................... ..................... 5

    3.1.2. Dependncia informativa e dependncia normativa ........................................................ 6

    a) Dependncia informativa ............................................................... ........................................ 7

    b) Dependncia normativa ........................................................................................................ . 8

    3.2. Submisso a uma maioria qualitativa Efeito de Milgram ...................................9

    3.3. O conformismo, ser uma norma social? .................................................................13

    3.4. Comportamento desviado ...........................................................................................13

    4. A mudana adaptativa ........................................................................................... 14

    4.1. Normas arbitrrias e desajustadas ............................................................................14

    4.2. Aco de lderes ............................................................................................................15

    5. Inovao .................................................................................................................... 16

    5.1. Dependncia vs Negociao de conflitos .................................................................16

    5.2. Factores que determinam a eficcia das minorias activas ....................................18

    5.2.1. O comportamento consistente ................................................................ ............................ 18

    5.2.2. Estilo de negociao ............................................................ ................................................. 19

    5.2. Modelo funcionalista versus modelo gentico .......................................................21

    5.2.1. Modelo funcionalista ........................................................................................................... 21

    5.2.2. Modelo gentico ................................................................................................................... 22

    6. Bibliografia ............................................................................................................... 23

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    1. BREVE INTRODUO

    Quando reflectimos utilizamos uma linguagem, conceitos, ideias, que nos foramfornecidos pela sociedade e pelos grupos onde crescemos e vivemos, o nosso dilogo interior sempre um troca com um Eu tomado como Alter e esse Eu constitui-se a partir de muitos

    outros (...) pela sua referncia a uma estrutura de regras ou de normas colectivas que todaa conduta humana significativa e coerente, tanto aos olhos do prprio sujeito como aosolhos dos outros com quem, ou no meio de quem o sujeito age (Rocher, 1971).

    Todos ns ficamos fascinados quando vemos pessoas aceitarem ideias ou opinies queno partilhavam, imitar gestos ou adoptar expresses que no eram seus (...) Ficamosigualmente admirados com a fora emocional que se encontra associada ao estabelecimentoou abolio de normas, no funcionamento social, e nas vivncias sociais ou individuaisquando se respeitam ou se cometem infraces (Moscovici & Ricateau, 1972).

    Os fenmenos psicossociolgicos anteriormente descritos, nas citaesapresentadas, so estudados em Psicologia Social e designados de processos de

    influncia social.O estudo destes processos procura analisar os efeitos de um indivduo ou grupo,

    enquanto aliado, modelo ou adversrio, nas respostas de um outro (indivduo ou grupo)a um objecto ou situao social.

    De uma forma geral, procura-se responder a questes do tipo:

    Como e porqu se formam as normas? Como e porqu um grupo ou um indivduo procura impor as suas normas a outro? Como e porqu os indivduos adoptam as normas que lhe so impostas?Mas a Psicologia Social tambm procura responder a outro tipo de questes, que se

    podem considerar como opostas das primeiras:

    Como e porqu os indivduos propem e introduzem novas normas? Como e porqu mudam as normas?Os psiclogos sociais estiveram durante longo tempo convictos que os processos de

    influncia social eram os responsveis (ou estavam na origem) da normalizao e doconformismo social.

    A normalizao refere-se formao das normas situao que ocorre quando osindivduos se influenciam mutuamente para criarem e adoptarem uma norma aceitvel

    por todos.O conformismo, por seu turno, refere-se adaptao a uma norma dominante; esta

    norma seria imposta por um sujeito ou entidade de estatuto superior (maioriaqualitativa) ou imposta por um grupo (maioria quantitativa).

    Subjacente reflexo destes dois processos est o princpio ideolgico de que aadaptao a nica fonte de preservao do sistema individual e social. Considerando-se o comportamento desviante como representando um risco para o sistema e que,embora seja um rudo inevitvel, o sistema deve procurar absorv-lo ou elimin-lo. Amudana deve, ento, ser encarada como existente e sendo necessria mas apenas namedida em que torna o sentido ainda mais adaptado e adaptativo.

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    Serge Moscovici, em 1967, liderou um movimento europeu, seguido por muitosinvestigadores, em que tentava ultrapassar a ideia de que a normalizao e oconformismo seriam as nicas manifestaes do processo da influncia social, chamandoa ateno para os fenmenos de inovao. Esta ltima, refere-se adopo, por parte deum grupo maioritrio, de novas normas propostas por uma minoria desprovida depoder (Faucheaux & Moscovici, 1971).

    De seguida, tentaremos mostrar e analisar como a Psicologia Social Experimentaltem procurado responder a todas as questes at aqui apresentadas. E vamos comearpela anlise do processo de 1) Formao de Normas, passando depois ao estudo do 2)Conformismo Social, ao estudo do 3) Comportamento Desviante, abordando a seguir a4) Mudana Adaptativa e por ltimo, mas no menos importante, o processo de 5)Inovao.

    2. FORMAO DE NORMAS

    As normas mostram-se essenciais na nossa vida. atravs delas que conseguimos aestabilidade do meio em que vivemos (regemos o nosso comportamento em funo dasnormas quando interagimos com os outros e, porque estas se aplicam tambm aosoutros, o inverso tambm verdade surge assim o equilbrio).

    O nosso comportamento, como facilmente se pode inferir do anteriormenteexposto, obedece a regras e esquemas de conduta dos quais temos mais ou menosconscincia, e atravs dos quais se manifesta a nossa pertena a uma cultura e se tornabvia a nossa insero neste ou naquele grupo social.

    2.1. Funo das normas

    De uma forma muito resumida podemos afirmar que as normas tm como funo:

    Estabilizar o meio, simplificando a aprendizagem e a adaptao do indivduo sociedade;

    Facilitar a relao interpessoal, regulando e tornando previsveis os comportamentosdos outros, permitindo, ainda, a sua descodificao;

    Ser sinal da pertena a um grupo ou grupos, facilitando a interaco dos indivduosno(s) grupo(s), isto , pertencer a um grupo adoptar as suas normas.

    2.2. Definio de norma

    Para melhor compreender o conceito de norma, apresentamos de seguida asdefinies de vrios autores:

    Regras e esquemas de comportamento largamente seguidas numa sociedade ou numgrupo social, cujo no cumprimento implica sanes explcitas ou implcitas e a que osmembros do grupo, como tal, conferem valor (Maisonneuve, 1973).

    Constituem-se como Uma escala de referncia ou avaliao, que define uma margem decomportamentos, atitudes e opinies, permitidas e repreensveis (Sherif, 1965, citado emLeyens, 1988, p. 67)

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    So a aceitao partilhada de uma regra que uma prescrio no que se refere maneira deperceber, pensar, sentir e agir (Newbomb, Turner, & Converse, 1970, citado em 1988,pp.67-68).

    Segundo Jacques-Philippe Leyens (1988), elas ... so essenciais para as nossas

    interaces fornecendo-lhes ordem, estabilidade e previsibilidade (p. 68).E, ento, de acordo com as definies aqui apresentadas as normas so extensveis

    a todo o tipo de comportamento (isto , pensar, sentir, agir), so imperativas (obrigama...) mas tambm so relativas (porque, variam de grupo para grupo e de poca parapoca).

    Quanto sua extenso, temos a considerar duas categorias de normas:

    As que so comuns a todos o indivduos de uma dada cultura ou grupo; As que so especficas dos diferentes papis sociais. Definindo-se papel social como um

    conjunto de atitudes e comportamentos esperados de um indivduo que ocupa

    determinada posio ou estatuto social.

    2.3. Como se formam as normas

    Em 1936, Muzafer Sherif, tentando demonstrar experimentalmente como seformam as normas, baseou-se no efeito autocintico bem conhecido dos astrnomos, e muito estudado, o qual consiste no facto de um ponto luminoso imvel, apresentadoem completa escurido e a uma certa distncia, dar a impresso de se mover de formairregular, aos olhos de um observador que no tem outros pontos de referncia nasituao e colocou as seguintes hipteses:

    a) Numa situao marcada pela incerteza, um indivduo procura estabelecer uma normaque lhe permita estabilizar a situao;

    b) Numa situao marcada pela incerteza, vrios indivduos que possuem estatutosequivalentes, procuraro influenciar-se mutuamente por forma a produzir normasaceitveis por todos;

    c) As normas estabelecidas numa situao de grupo manter-se-o aquando de posteriorinsero de cada inidvduo isolado na mesma situao.

    Em termos prticos, na primeira situao experimental de Sherif, os sujeitos tinhamque avaliar, numa sala completamente s escuras, a deslocao de um ponto luminoso (oqual era efectivamente fixo). Em tal situao, e ao fim de alguns segundos, as pessoas

    acabam por ver o ponto luminoso a deslocar-se efeito autocintico.Os resultados obtidos por Sherif demonstraram que os sujeitos so

    progressivamente levados a estabelecer uma norma, em torno da qual elaboram as suasavaliaes sobre a deslocao do ponto luminosos, e que esta norma varia de indivduopara indivduo.

    Numa segunda experincia, face mesma situao, e comeando com aexperincia individualmente passando posteriormente a uma situao de grupo commais um ou dois outros sujeitos, Sherif, verificou que da situao de grupo emergia aproduo de uma norma de grupo.

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    Leyens (1988) considera que esta norma representa ou uma convergncia mdiadas normas anteriormente estabelecidas, ou uma norma original ou, ainda, a influnciapreponderante de um sujeito.

    Numa terceira experincia, os indivduos comeam por ser colocados em grupo e,

    uma vez formada a norma de grupo, so colocados em situao individual. Verificou-se,nesse momento, que os indivduos tm tendncia para interiorizar a norma de grupo(ver Figura 1 A e B , grficos do lado direito).

    Figura 1. Mediana das estimativas dos sujeitos, em polegadas (em Faucheux et al., 1971, pp. 216-217)

    Podemos, ento, concluir que, tal como Sherif (1936) advoga, o fundamentopsicolgico do estabelecimento de normas sociais, tais como os esteretipos, as modas,as convenes, os costumes e os valores, a formao de quadros de referncia comunsenquanto produtos do contacto dos indivduos entre si.

    3.CONFORMISMO SOCIAL

    Como j referimos, o conformismo refere-se ao processo que ocorre quandoconfrontado com uma situao assimtrica, quantitativa ou qualitativa, um sujeito ou

    um grupo adere ou se submete norma de um outro sujeito ou grupo.

    BA

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    Para se melhor compreender este conceito, iremos recorrer: 1) ao paradigmaexperimental clssico de Asch, 2) ao estudo que a partir desse paradigma Deutsch eGerard realizaram, bem como 3) s experincias de Milgram sobre a submisso a umamaioria qualitativa.

    3.1. Submisso a uma maioria quantitativa: Dependncia informativa edependncia normativa

    3.1.1. Submisso a uma maioria quantitativa

    Solomon Asch, em 1951, que seguia uma orientao gestaltista, falava em efeitos dapresso implcita do grupo na distoro da percepo.

    Nos seus estudos, Asch, utilizou a seguinte experincia: apresentou a trs gruposestudantes (constitudos por um mnimo de seis e um mximo de oito indivduos) detrs Universidades diferentes, dois cartes um deles, sempre apresentado esquerda,continha uma linha considerada padro; e o outro continha trs linhas, das quais apenasuma era igual padro; esta prova era repetida num total de dezoito ensaios. Os carteseram colocados num quadro a um metro de distncia dos sujeitos.

    E foi dada a instruo aos sujeitos de que deveriam comparar as linhas dos doiscartes, aps o que deveriam indicar qual era, das trs, a linha padro (cartoapresentado direita) (ver Figura 2).

    Figura 2. Exemplo de cartes de estmulo utilizados por Asch (em Moscovici, 1972, p. 163)

    Nestes grupos, apenas um indivduo um verdadeiro sujeito experimental e que

    ser, de ora em diante, designado de sujeito ingnuo os restantes 5 ou 7 membros dogrupo so cmplices do experimentador.

    Cada um dos sujeitos convidado a fazer a sua avaliao, em voz alta e,propositadamente, o sujeito ingnuo o ltimo a falar. A experincia consiste, como jreferimos, num total de 18 ensaios e os cmplices foram instrudos para daremunanimamente respostas erradas, em 12 cartes especficos. O sujeito ingnuo encontra-se numa posio minoritria, isolado face a uma maioria unnime, que contradiz deforma consistente a evidncia perceptiva, cometendo erros que chegam a atingir os 5cm.Embora no haja qualquer presso explcita do grupo o sujeito ingnuo confrontado,implicitamente, com a unanimidade dos membros do grupo.

    Quais foram, ento, os resultados obtido por Asch?

    S A B C

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    Antes de respondermos a esta questo, convm referir que Asch convencio-nou,por questo de critrio, chamar prova crtica a qualquer juzo para o qual a maioria duma resposta errada e prova neutra a qualquer juzo crtico.

    Verificou-se que nas doze provas crticas, a mdia de erros, isto , de conformismo,

    situava-se entre quatro e cinco e apenas um em cada quatro sujeitos permaneciaindependente da maioria no conjunto da experincia.

    Assim, Asch, esperava com esta experincia que os sujeitos realizassem umtrabalho cognitivo substancial, consistindo em reorganizar as suas percepes em funodas respostas da maioria. Para tentar saber quais eram as razes que levavam aocomportamento independente ou ao conformista, Asch, optou por, aps a experincia,entrevistar os sujeitos.

    E chegou concluso que: os sujeitos independentes se distinguiam pela confianaque demonstravam na sua prpria percepo; pelo seu afastamento psicolgicorelativamente aos outros participantes que prejudicavam a sua qualidade de indivduo

    nico; e, por fim, por uma dvida que prevalece sobre o seu prprio juzo.Asch, interessou-se, mais pelos indivduos conformistas, uma vez que so os mais

    susceptveis de modificar o objecto do seu juzo. Apuradas as causas do comportamentode conformismo, verificou-se que alguns sujeitos aderiram maioria por receio dasrepreslias que uma desobedincia poderia implicar.

    A maior parte dos sujeitos, no entanto, reconhece ter seguido os juzos da maioriaporque a unanimidade destes abonava em favor da exactido. E s uma pequenaminoria de sujeitos deformaram a sua percepo, por se ter submetidoinconscientemente influncia da maioria que, segundo eles, emitia juzos correctos. Eraesta ltima categoria de sujeitos que Asch esperava encontrar desde o incio, pelo que oescasso nmero que dela fazem parte invalidou a sua tese gestaltista.

    A explicao para que tal tenha sucedido pode residir no tipo de material utilizadomaterial estruturado; mais objectivo se, por exemplo, tivesse sido utilizado materialmenos estruturado mais subjectivo , tal como juzos de valor, opinies, atitudes,talvez ento se obtivessem reaces mais conformes perspectivagestaltista.

    3.1.2. Dependncia informativa e dependncia normativa

    Jones e Gerard (1967), aps a entrevista e a introspeco dos sujeitos ingnuos,chegaram concluso que se gera nos indivduos uma duplo conflito. Por um lado, tm,

    espontaneamente, tendncia para confiar nas suas prprias capacidades perceptivas, queraramente falharam at ento, mas hesitam devido s informaes que lhes vm dosoutros membros (dos pares) do grupo. Por outro, esto szinhos face a um grupounnime que ir talvez julg-los severamente.

    De facto, no que diz respeito s capacidades perceptivas exigidas em provas comoas de Asch, cada sujeito teve, obrigatoriamente, uma dupla aprendizagem antes de seapresentar nas provas: conhecer as suas prprias capacidades e ter confiana nos outros(Leyens, 1988, p. 87).

    Para no falar daquilo que, neste momento, para ns bvio, cada um de ns foiigualmente treinado para obedecer s normas de grupo.

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    O sujeito de uma experincia de Asch sabe que a desobedincia, voluntria ou no,pode e tem seguramente consequncias tais como: ser ridicularizado pelos restantesmembros do gurpo; perder o seu estatuto no seio do grupo a que, momentaneamente,pertence.

    A propsito deste duplo conflito, Deutsch e Gerard (1955), posteriormente experincia de Asch, realizaram uma srie de outras experincias que evidenciam doistipos de influncia, ou dependncia, que conduzem ao conformismo: a dependnciainformativa e a dependncia normativa.

    a) Dependncia informativa

    A dependncia informativa refere-se importncia que as avaliaes e opiniesdos outros representam para ns este, alis, o princpio evidenciado pela Teoria daComparao Social de Festinger (1954) desde muito cedo que aprendemos a ter emateno e a respeitar os juzos e opinies dos outros e a compararmo-nos com os outros

    (referentes sociais); alis, do conhecimento geral que os primeiros comportamentossocializados da criana so feitos por imitao.

    Leyens (1988) defende que a dependncia informativa gera-se devido ao ... oconflito cognitivo, em que o indivduo procura reunir as informaes pertinentes que

    posteriormente lhe iro permitir solucionar o problema com o qual foi confrontado (p. 88, grifodos autores).

    Vejamos ento como e quando surge a dependncia informativa, como factor deconformismo.

    O conformismo aumenta medida que aumenta a importncia numrica da maioria(Asche, posteriormente, Deutsch et al., chegaram concluso de que necessrio um mnimode trs sujeitos no grupo maioritrio para que se obtenha conformismo). Isto sucedeporque todos ns acreditamos haver mais verdades na cabea de vrios indivduos doque na de um s.

    De acordo com este raciocnio, o nmero crescente da maioria, mais do que exercer umapresso moral, acenturaria um conflito de informaes. Deste modo, o sujeito ingnuoter cada vez mais dificuldade em admitir que todos os outros esto equivocados,excepto ele; a sua educao no o preparou para recusar massivamente a opinio dosoutros que no tm qualquer motivo para o induzir sistematicamente em erro. Osresultados das experincias de Asch (1951) e de Gerard et al. (1968) confirmam,segundo Leyens (1988), este raciocnio. Assim, por exemplo, nos grupos de controlo que

    no incluem qualquer cmplice, os erros so quase inexistentes, quando um nicoindivduo a emitir juzos incorrectos, a influncia mnima; pelo contrrio, oconformismo aumenta consideravelmente quando so trs ou mais sujeitos cmplicesdo experimentador.

    Quando aumenta a ambiguidade do estmulo(por exemplo, voltando s investigaes deAsch, quando no h grandes diferenas nas linhas a comparar com a linha padro) ou,ainda, quando os sujeitos devem responder fazendo apelo sua memria o ter querecorrer memria aumenta o conformismo (Asch, 1951, Deutsch et al., 1955).

    Leyens (1988) refere que quanto mais ambguo for o estmulo mais o sujeito estarindeciso sobre a resposta a dar, mais tendncia ter para tomar a maioria comoreferncia e mais se conformar (p. 90).

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    A ambiguidade do estmulo tem ainda um efeito sobre outra dimenso daconformidade, a que se chamou aceitao pblica (consiste em concordar, em voz alta,publicamente, com a norma do grupo) e aceitao privada (consiste em concordardentro de si; em adoptar como sua a norma do grupo, em comportamentos futuros). Apropsito destas aceitaes, Leyens (1988) defende que no porque o sujeito ingnuo

    se deixa influenciar pela maioria que ele vai interiorizar os seus juzos.Em 1965, Vernon Allen dedicou um ensaio s condies de coincidncia mais ou menosestreita entre aceitaes pblica e privada. A ambiguidade do estmulo uma dessascondies. Assim, quanto mais elevada for a ambiguidade mais a maioria, mesmo nounnime, provoca no sujeito uma verdadeira adeso.

    O hiato entre a aceitao pblica e a aceitao privada confirma o aspecto dedependncia normativa, presente na experincia de Asch. Parece evidente que um maiorconformismo em situao pblica, identificvel, resulta de uma dependncia relativamentes regras do grupo de referncia; cede-se maioria que no pode detectar-nos porque se temeo ridculo, porque h o medo de se ser rejeitado, etc. (Leyens, 1988, p. 91).

    Quando na situao experimental h mais do que um sujeito ingnuo, ou a maioria noresponde de forma unnime e consistente unanimidade da maioria , baixa oconformismo (Asch).

    Allen (1975) chegou concluso, aps inmeras experincias, que a unanimidade (e oconsenso) que interessa e no o apoio social (representado pelo cmplice diferente). Defacto, um cmplice que emite juzos ainda mais incorrectos que a maioria reduz tambm eleo conformismo dado que, havendo desacordo entre os referentes sociais, estes perdem oseu valor informativo.

    b) Dependncia normativa

    No que se refere dependncia normativa, ela diz respeito aos riscos que o sujeitocorre quando no segue as normas do grupo. Estes riscos podem ser de dois tipos: noaceitao ou mesmo excluso do grupo.

    Festinger (1950) preconizou, numa segunda teoria, algo que se aproxima muitodesta problemtica e que designou de presses para a uniformidade. Este autor defendeque os grupos exercem, voluntariamente ou no, presses para a uniformidade: agindode tal forma que os grupos sejam capazes de atingir os objectivos estipulados ou que osseus membros, momentanaemente afastados, sejam obrigados a reconhecer a sua culpaaquando da sua reintegrao nos mesmos.

    Leyens (1988) defende que a dependncia normativa se refere ao ... conflitomotivacional na medida em que a presena real ou simblica no grupo est subordinada adesos normas, e s regras do grupo (p. 88, grifo dos autores).

    J em 1952, Kelley, tinha evidenciado esses dois tipos de dependncia ao enunciara dupla funo dos grupos de: pertena/referncia a funo comparativa e a funonormativa/prescritiva.

    Deutsch et al. (1955), no que concerna dependncia normativa, verificaram que:

    O conformismo baixa quando as respostas do sujeito ingnuo no so conhecidas damaioria (por exemplo, quando escritas) e aumenta quando este d respostas em vozalta, em situaes de face a face.

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    O conformismo aumenta quando induzida no sujeito ingnuo a ideia de que ele fazparte de um grupo, e que os resultados do seu grupo sero comparados com os deoutros grupos.

    Numa outra experincia, Linde e Patterson (1964) verificaram que o conformismo

    se manifestava com maior intensidade quando o grupo era homogneo, sendo a maioriae a minoria constituda por paraplgicos, em cadeira de rodas, ou normais (entenda -se: sem handicaps fsicos, no deficientes); pelo contrrio, quando o grupo eraheterogneo (um paraplgico para vrios indivduos no deficientes, ou vice-versa) oconformismo manifestava-se menos. Isto , se o grupo se constitui como grupo dereferncia adequada, ou, se se quiser, como referente social, ento, o conformismoaumenta ( mais elevado).

    Podemos, deste modo, afirmar, resumidamente, que os factores que levam a umamaior dependncia informativa ou normativa contribuem, seguramente, para umreforo do conformismo. Destes factores foram citados: a importncia numrica damaioria; a unanimidade da maioria; a ambiguidade do estmulo a percepcionar e, nesta,foi analisada a situao pblica no annima.

    A acrescentar a estes factores h ainda mais dois, que se apresentam de seguida.

    Temos que considerar que a natureza das relaes entre o indivduo susceptvel de serinfluenciado e o grupo de presso tem uma importncia capital isto , constituir-se comoreferente socialpara o sujeito. Logo, quanto mais o grupo representar as caractersticas de umareferncia adequada, maiores so as probabilidades de xito ao nvel da influncia.

    E, por fim, sabe-se que a atraco pelo grupodesempenha, igualmente, um papel importante.O sujeito no ousa arriscar-se a perder o seu estatuto de membro resistindo ou opondo-se spresses de que alvo. Por exemplo, quando um sujeito inserido num grupo que ele

    considera ser o mximo e com o qual partilha muitas das principais regras, a probabilidadeda sua aceitao pblica (de que tinha um parecer diferente) se transformar numa verdadeiraadeso extremamente elevada. Pelo contrrio, um indivduo que se sinta profundamenteatrado por um grupo, mas que no concorda com muitas das suas regras fundamentais, smuito dificilmente poderia assumir a aceitao pblica como verdadeira adeso ele estariaa vivenciar uma situao que designamos de dissonncia cognitiva.

    3.2. Submisso a uma maioria qualitativa Efeito de Milgram

    Ao contrrio do que sucedeu nas experincias de Asch, Deutsh e Gerard em que oindivduo se submetia ao grupo sem que se verificasse uma presso explcita, nas

    experincias que Milgram iniciou a partir de 1961, sobre o conceito de submisso aogrupo, observou-se uma presso explcita sobre o sujeito com a finalidade de o levar aobedecer norma (Milgram, 1974).

    Milgram desenvolveu um conjunto alargado de estudos sobre a obedincia,procurando saber se os indivduos obedeceriam a ordens de um estranho comrelativamente pouco poder, que lhes exigia que inflingissem o que lhes parecia uma boadose de dor a outra pessoa um completo desconhecido.

    Por forma a analisar os comportamentos de obedincia, Milgram concebeu umaengenhosa simulao laboratorial, realizada nos laboratrios de Psicologia daUniversidade de Yale.

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    Vejamos ento quais os cenrios apresentados, bem como os resultados obtidos nasexperincias de Milgram sobre a submisso.

    O autor colocou um anncio num jornal local, oferecendo 4 dlares, bem como opagamento dos transportes, aos indivduos, do sexo masculino, que estivessem na

    disposio de participar num estudo sobre memria, a decorrer no laboratrio depsicologia da Universidade de Yale.

    Posteriormente, os sujeitos so informados que se trata de facto de um estudo paraavaliar a intensidade da punio (no caso concreto, a aplicao de um choque elctrico)necessria para alcanar uma maior aprendizagem.

    Quando o sujeito chega ao laboratrio confrontado com a presena de umindivduo que ronda os 50 anos, que a aguardava o incio da experincia. Na presenade ambos, o experimentador tira, aparentemente, sorte (aleatoriamente) qual dos doisindivduos ir desempenhar o papel de estudante e qual ser o professor.

    O aparelho que, supostamente, daria os electrochoques possua trinta alavancas, aprimeiro com a etiqueta 15 volts, a segunda 30 volts, at tlima 450 volts.

    A tarefa consiste no seguinte: o professor (sujeito ingnuo) dir sries de quatropalavras s quais associa outras quatro (por exemplo: azul/cu, dia/ /quente,alcol/fogo, etc.). O estudante (sujeito cmplice) ter que repetir as associaes ecomplet-las, medida que o professor for lendo as sries. Cada vez que errar ou noresponder ser punido com um choque elctrico que pode variar entre os 15 e os 450volts. Iniciando-se a punio pelo choque de mais baixa intensidade (15 volts) e sendoacrescido, a cada novo erro, de mais 15 volts, e assim sucessivamente, at se atingirem os450 volts.

    Isto significava que se um estudante desse muitos erros apanhava choques degrande intensidade. bvio que o estudante nunca apanhava choques elctricosdurante a experincia. E, o nico choque elctrico alguma vez usado era de muito fracaintensidade (45 volts, o equivalente a uma picadela de um insecto) e servia apenas paraque o professor se convencesse que o aparelho era real.

    Antes de se iniciar a experincia, era dito aos participantes verdadeiros que aresponsabilidade pela sade do estudante era exclusivamente do investigador.

    Aps as instrues, o estudante dirige-se para uma sala ao lado. O professorreceber a resposta e ofeedbackao tratamento que aplicar ao estudante atravs de umaltifalante. O feedback realista dado que se trata das supostas reaces do estudante

    aos choques, as quais foram previamente gravadas e em que: aos 75 volts ele geme, aos135 volts ele grita ainda mais alto, aos 150 volts diz que no pode continuar, aos 270 voltsouve-se um grito de agonia, e a partir dos 300 volts deixa de haver qualquer respostaaudvel.

    Como j deve ter percebido, apesar da simplicidade da tarefa, o estudante,seguindo instrues prvias ao contexto da experincia, cometia muitos erros. Destaforma, os participantes depararam-se rapidamente com um dilema: deveriam continuara castigar esta pessoa dando-lhe o que pareciam electrochoques dolorosos? Deveriamrecusar-se a continuar? Se eles hesitavam, o experimentador pressionava-os acontinuarem, apresentando-lhes gradativamente as seguintes instrues:

    Continue, por favor;

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    INTRODUO AO ESTUDO DA INFLUNCIA SOCIAL

    C el es te Duque, 2004 11

    A experincia exige que continue; absolutamente indispensvel que continue; No tem alternativa, continue.A experincia termina se, e aps o quarto incitamento, o professor (sujeito

    ingnuo) se recusar a continuar.

    Como os sujeitos eram pagos adiantadamente e eram todos voluntrios,poderiamos prever que a maioria iria rapidamente recusar-se a cumprir as ordens doexperimentador. Milgram verificou que 65% dos sujeitos mostrou obedincia total prosseguindo at ao choque final de 450 volts e que o choque mdio, a partir do qual ossujeitos se recusam a continuar, de 360 volts.

    Em comparao, as pessoas num grupo de controlo, a quem no eram dadas estasordens, geralmente usavam apenas os choques de reduzida intensidade.

    claro que muitos sujeitos protestaram e queriam que a sesso terminasse, masquando lhes era ordenado que continuassem, contudo, a maioria submetia-se influncia do experimentador e continuava a obedecer.

    Eles continuavam a obedecer mesmo quando a vtima batia na parede como seprotestasse com os electrochoques (quando chegava ao nvel dos 300 volts) e, aps essenvel, deixassem de responder.

    Milgram demonstrou que poderiam ser gerados resultados semelhantes, mesmosob condies em que se esperava uma reduo da obedincia.

    Quando o estudo passou a realizar-se num escritrio localizado num edifcio poucoagradvel, os nveis de obedincia mantiveram-se elevados (47,5% dos sujeitos vo ataos 450 volts);

    Quando o experimentador no pode continuar e substitudo por um terceiroparticipante (cmplice) na conduo da experincia, 20% dos sujeitos vo at ao fim;

    A autoridade do experiementador no abalada no primeiro caso, mas -o nosegundo. De facto, nesta ltima srie de experincias, quem faz o controlo no oexperimentador, que justamente se ausentou, mas um outro indivduo cmplice doexperimentar, mas que visto pelo sujeito ingnuo como um par (com o mesmo estatutoque ele prprio).

    Quando o experimentador o estudante, todos os sujeitos param aos 150 volts(mximo!!!), isto , quando o experimentador pede pela primeira vez;

    Quando professor e estudante esto na mesma sala, no podendo o primeiroignorar as reaces de dor do segundo, 40% dos sujeitos mostra obedincia total.

    Mais surpreendentemente, cerca de 30% dos sujeitos obedeceu mesmo quando tinha depegar na mo da vtima e pression-la contra um disco de metal;

    Quando se afasta o professor do experimentador (agora num terceirocompartimento e d as suas ordens pelo telefone) muitos sujeitos fingem obedecer mas,de facto, no aplicam choques elctricos ou aplicam um muito mais fraco do que aquiloque lhe era exigido. Parece que a autoridade reduzida do experimentador pode explicaruma reduo da obedincia. Mas isso no impede que 20,5% dos sujeitos executem

    escrupulosamente a tarefa at aos 450 volts;

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    INTRODUO AO ESTUDO DA INFLUNCIA SOCIAL

    C el es te Duque, 2004 12

    A tarefa do professor agora partilhada por trs sujeitos: o primeiro sujeito(estudante cmplice) l os pares de palavras, o segundo sujeito (cmplice) informao terceiro sujeito (ingnuo) da resposta dada pelo estudante, por forma a que esteaplique ou no a punio. Quando o segundo colaborador (cmplice) se recusa aprosseguir aps os 150 volts, o sujeito ingnuo, se ainda no parou, pra nos 210 volts

    ou, ento, segue at ao fim (10% dos sujeitos); Numa das variantes deste estudo, a autoridade representada por dois

    experimentadores que entram em desacordo um no quer que a experincia prossigaaps a aplicao de um choque de 150 volts, o outro quer continuar em vinte casosdezoito no continuam;

    Quando no esto envolvidos directamente com a aplicao dos electrochoques, 92,5%dos sujeitos segue at ao fim.

    Segundo Milgram, o que justifica a submisso ou obedincia o facto de osindivduos deixarem de se considerar autnomos e responsveis a partir do momento

    em que entram numa estrutura social hierarquizada. Milgram fala em estado do sujeitoagente. Tal estado caracteriza-se pelo facto de o sujeito se considerar como um agenteque executa uma ordem dada por uma autoridade (no caso, dada a natureza daexperincia, conotada como cientfica) que admite e que vista como inquestionvel.

    Por outro lado, na entrevista ps-experimental, os sujeitos no se consideravampessoalmente responsveis pelo sofrimento infligido aos supostos estudantes, vistoque era o experimentador quem a tal os obrigava. Estaramos, assim, em presena dochamado e to conhecido efeito de diluio de responsabilidades.

    Por outras palavras, os estudos de Milgram sugerem que pessoas vulgares estodispostas, embora com alguma relutncia, a fazer mal a um desconhecido inocente, se tal

    lhe for ordenado por algum com autoridade.Devemos agora colocar uma pergunta:porque que ocorre esta obedincia destrutiva?

    Em primeiro lugar, as pessoas que detm a autoridade retiram a quem obedece aresponsabilidade das suas aces (Estava s a cumprir ordens);

    Em segundo lugar, as pessoas que detm a autoridade muitas vezes possuem dsticosvisveis ou smbolos do seu estatuto;

    Uma terceira razo para a obedincia que, em muitas situaes em que os alvos dessainfluncia possam resistir, envolve a escalada gradual das ordens da figura autoritria;

    Finalmente e em quarto lugar, os acontecimentos em muitas situaes que envolvem aobedincia destrutiva ocorrem muito rapidamente: as manifestaes transformam-sesubitamente em motins ou as prises em espancamentos em massa.

    Mas como que se processa a resistncia influncia social? Vejamos algumasestratgias:

    Em primeiro lugar, os indivduos expostos s ordens de figuras autoritrias podem serrecordadas que so elas e no as autoridades os responsveis pelos danosproduzidos;

    Em segundo lugar, aos indivduos podem ser dadas indicaes claras que, a partir dedeterminado ponto, a submisso total s ordens destrutivas inadequada (exposio a

    modelos de desobedincia);

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    Em terceiro lugar, os indivduos podem considerar mais fcil resistir influncia defiguras autoritrias se elas questionarem a percia e os motivos dessas figuras;

    Finalmente e em quarto lugar, o simples conhecimento sobre o poder das figurasautoritrias para ordenar a obedincia cega pode ser til em si mesmo.

    3.3. O conformismo, ser uma norma social?

    Berry realizou, em 1967, uma experincia que consistia na apresentao de umafolha de papel, a sujeitos adultos, onde estavam desenhadas uma linha padro e oitooutras linhas. Os sujeitos experimentais pertenciam a trs culturas distintas: esquims,Temne da Serra Leo e escoceses. Todos os indivduos eram informados de que a maioriadas pessoas da cultura a que pertenciam designavam uma linha particular como acorrecta. Obviamente que esta indicao era falsa trs vezes em quatro. Berry verificouque os esquims quase no apresentam conformismo, o povo Temne altamenteconformista e os escoceses apresentam um score (resultado) que se situa entre os das

    duas culturas anteriores. Estes resultados indicam que, em certas culturas, mais numasque noutras, o conformismo uma norma social.

    3.4. Comportamento desviado

    Que sucede aos indivduos que no se conformam s normas socialmente impostasou estabelecidas? Aos que se desviam das normas do grupo?

    Sendo as interrelaes sociais vincadamente marcadas pela assimetria dos diversosagentes sociais, pela assimetria numrica, de poder ou de competncia, o respectivoequilbrio social ser mantido por aqueles que detm o poder (mais poder), oucompetncia, ou, ainda, so mais numerosos. Facilmente nos apercebemos que aosdesviados apenas lhes resta a marginalidade um exemplo, bem actual, da nossasociedade -nos fornecido pelo grupo de sujeitos apelidados de sem abrigo, j parano falar daqueles que superpopulacionam as nossas prises, a detidos por teremcometido os mais diversos crimes dos mais diversos graus.

    Vejamos como este processo evidenciado numa experincia de Schachter (1951)que apresentamos, resumidamente, de seguida.

    Os sujeitos experimentais so distribudos por diferentes grupos constitudos poroito a dez membros cada, e devero chegar a acordo sobre a pena a atribuir a um jovemdeliquente, Johnny Rocco, cuja histria inventada e construda de tal forma que faz

    apelo a uma pena leve. Em cada grupo h trs cmplices: um que defende a norma dogrupo, uma pena leve (que representa o sujeito conformista); um outro que se ope aogrupo propondo um tratamento muito severo (que representa o sujeito desviado); umoutro, ainda, que inicialmente preconiza um tratamento severo, mas que, a pouco epouco, vai aderindo opinio da maioria (que representa o sujeito convertido).

    Os resultados mais salientes, e que de momento mais nos interessam, dizemrespeito ao grau de popularidade que cada um destes trs sujeitos (cmplices)conquistou dentro do grupo. Perante a necessidade de ter que se excluir algum dogrupo, os sujeitos propem significativamente a excluso do indivduo desviado,enquanto que o conformista e o convertido obtm scoresmdios de popularidade.

    Schachter controlou ainda o nmero de vezes que o grupo dirige a palavra a cadaum dos sujeitos, e verificou que: esse nmero constante, ao longo da interaco, no que

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    respeita ao sujeito conformista, diminui em relao ao convertido e, no que concerna aosujeito desviado, o grupo vai, progressivamente, deixando de se lhe dirigir. O que pode,em termos simblicos, ser interpretado como tendo sido feita uma rejeio ao sujeitodesviado.

    Esta experincia coloca-nos face ao problema da mudana das normas sociais. Peloque devemos interrogarmo-nos: Se os indivduos que no se submetem s normassociais so excludos e, como tal, perdem a capacidade de interveno, ento: Comoexplicar a mudana? E como consider-la?

    4. AMUDANA ADAPTATIVA

    A psicologia social, tem considerado, tradicionalmente, dois processos atravs dosquais as normas mudam. Ento normas mudam quando: a) se mostram desajustadas,arbitrrias, caducas, em relao realidade social; e, b) os lderes, operam a sua acosocial renovadora (inovadora).

    4.1. Normas arbitrrias e desajustadas

    McNeil e Sherif realizaram uma experincia, em 1976, na qual se apresentava ahiptese de que uma norma ser tanto mais fcil de ser colocada em causa quanto maisintil ela se torne para grupo, ou quanto mais desajustada se verifique ser.

    Nesta experincia, so utilizados grupos colonizados (por terem sujeitosingnuos e sujeitos cmplices). Numa primeira fase o grupo, constitudo por umsujeito ingnuo e trs sujeitos cmplices, que so confrontados com o efeito autocintico

    (j anteriormente explicado). Aps a apresentao das trinta estimativas, de cada um dosquatro elementos do grupo, sobre a deslocao do ponto luminoso, inicia-se a segundafase da experincia, em que um dos cmplices substitudo por outro sujeito ingnuo,ficando, deste modo, o grupo formado por dois sujeitos ingnuos e dois sujeitoscmplices, os quais, uma vez mais, respondem a uma srie de trinta estimulaes. Umterceiro sujeito cmplice substitudo por um sujeito ingnuo, na terceira fase daexperincia, ficando, agora, o grupo constitudo por trs sujeitos ingnuos e um sujeitocmplice, que respondem, apresentando as suas trinta estimativas do deslocamento.Aps o que, e finalmente na quarta e ltima fase, substitudo o ltimo cmplice pormais um sujeito ingnuo, ficando o grupo a ser constitudo apenas por sujeitos ingnuos,

    os quais so submetidos a uma quarta, e ltima, srie de trinta estimulaes.Os cmplices induziram no grupo uma certa cultura, de acordo, alis, com asinstrues do experimentador (no que respeita ao clculo das deslocaes do pontoluminoso). medida que os cmplices so substitudos, por outros sujeitos ingnuos,verifica-se a substituio da norma induzida pelos cmplices, por uma nova norma.

    Verificou-se nesta experincia que as respostas dos sujeitos, relativamente sestimativas de deslocao do ponto luminoso (efeito autocintico), se situavam entre os 5e os 18 cm.

    Esta situao experimental, em laboratrio, tentava reproduzir o processo desubstituio da normas culturais atravs das diferentes geraes, de resto este processo

    pode ser observador em sociedade com alguma facilidade.

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    Mas, no que respeita ao processo de substituio de uma norma devido ao seucarcter arbitrrio, esta experincia que acabmos de enunciar no era a mais adequada,pelo que, McNeil e Sherif constituiram, mais uma vez, grupos colonizados, aos quaisapresentaram a mesma sequncia de trinta estimulaes (provocando o efeitoautocintico) numa outra situao experimental, que seguiu o procedimento seguinte:

    Formaram dois grupos. Num grupo introduziram cmplices que deveriam induziruma norma arbitrria, isto , em completo desacordo (30 a 53 cm) com aquela que ossujeitos em mdia referiam (5-18 cm). No outro grupo, introduziram cmplices quedeveriam induzir uma norma moderadamente arbitrria (22 a 38 cm), porque maisprxima da norma dos sujeitos.

    Estes dois grupos foram, depois, comparados, com um grupo natural, porquecomposto apenas por sujeitos ingnuos.

    Verificou-se que, este ltimo grupo se manteve estvel, com resultados evoluindo volta da norma; e que, os grupos colonizados, e apesar disso, evoluem para uma norma

    menos arbitrria.Observou-se que a norma moderamente arbitrria tem maior impacto (influncia) e

    mais facilmente interiorizada do que a norma exageradamente arbitrria. Estesresultados levam-nos a concluir que quanto mais arbitrria uma norma maior ser apredisposio para a mudana, logo mais facilmente ela ser substituda por uma novanorma.

    Apesar de podermos tirar estas concluses (em teoria), na prtica as coisas no soto lineares, pelo que temos que ter algumas reservas nesta transposio para a vidaquotidiana, at porque na nossa vida assistimos com frequncia a uma enormeresistncia mudana por parte dos indivduos mesmo quando consideram que asnormas so arbitrrias, o que indicia que, na vida real, outros factores esto em jogo paraalm da arbitrariedade e, esses sim, bem mais influentes.

    4.2. Aco de lderes

    Merei (1949) observou durante duas semanas dois grupos de crianas, com idadescompreendidas entre os quatro e os onze anos, com o objectivo de determinar quais ascrianas que nesses grupos desempenhavam o papel de chefe, de lder. Posteriormenteconstituiu doze grupos de crianas formados apenas por crianas no-lderes eestimulou-as para que se organizassem e estabelecessem um conjunto de normas

    estveis tradio do grupo. Aps o que, Merei, introduziu em cada um desses gruposuma criana previamente classificada como lder, e que no estava a par dessastradies.

    Em consequncia desse procedimento, Merei constatou que, em cada um dosgrupos, a criana lder desenvolveu uma aco que se compe das seguintes fases:

    1. Tenta introduzir alteraes na organizao do grupo por exemplo, tenta suprimir astradies do grupo para as substituir por outras essas alteraes no so aceites pelosoutros membros do grupo;

    2. rejeitado pelo grupo;3. Aceita e integra as normas do grupo aceita as tradies aprendendo-as depressa;

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    4. Assume a liderana do grupo no quadro dessas tradies, depressa assume aliderana e o grupo, apesar de relutante, segue-o, porque ele faz um bom papel;

    5. Introduz alteraes (variantes) insignificantes, mas que abalam a tradio do grupo;6. Introduz ento novas variantes no ritual que surgiu como consequncia das primeiras

    variantes introduzidas.

    Hollander (1958, 1960) tentou sistematizar a concepo segundo a qual namedida em o lder adopta completamente as normas do grupo (adquirindo assimcrdito idiossincrtico) que ele se pode impor como autoridade e a partir daintroduzir mudanas.

    Assim, e segundo esta perspectiva, a mudana surge como sendo fruto da aco delderes conformistas. E , precisamente, ao introduzir mudanas que o lder salvaguardao seu prestgio no grupo, j que facilita a sua adaptao a novos contextos e realidades.

    A mudana aqui entendida como ajustamento, e um produto do poder.

    Faucheux et al. (1971) colocam este problema da seguinte forma So evidentes asconsequncias paradoxais duma tal concepo: toda a inovao o resultado de um compromisso,e os grandes inovadores so tambm os conformistas mais hbeis . A histria ensina-nos ocontrrio. A intransigncia mais estrita caracterstica dos indivduos que tiveram um grandeimpacto nas novas ideias e nos novos comportamentos (p. ?).

    5. INOVAO

    Deve-se a Moscovici (1971) a introduo de um novo olhar sobre processo demudana no contexto da psicologia social e sua respectiva anlise.

    A mudana dever ser encarada, segundo este autor, como inovao, e esta oresultado da aco de minorias desprovidas de poder.

    Moscovici (1979) vai falar de minorias anmicas e de maiorias nmicasheterodoxas. Estas diferenciam-se da seguinte forma:

    indivduos e grupos desviados, aceitando definir como tal aqueles que no seconformam s normas estabelecidas, mas que, por outro lado, no desenvolvem umaaco constante e explcita para transformar essas normas minorias anmicas;

    indivduos e grupos inovadores, cujo propsito o de propor novas normas; maioriasnmicas heterodoxas.

    At ao momento, a psicologia social estudou sobretudo a relao entre as minoriasanmicas e as maiorias, que se caracterizam pela sua adeso s normas estabelecidas(vide, por exemplo, experincia de Schachter).

    Moscovici prope a necessidade de se estudar a influncia das minorias nmicasheterodoxas sobre as maiorias nmicas, como forma de explicar a dependncia.

    5.1. Dependncia vs Negociao de conflitos

    Segundo Moscovici, experincias como as de Asch, Deutsh e Gerard, de Milgram,etc., obedecem ao que ele designou de modelo de reduo das incertezas ou da

    dependncia.

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    Segundo este modelo, a influncia social ocorre sempre em na sequncia desituaes marcadas pela assimetria dos intervenientes (assimetria numrica, de poder oucompetncia), e tem como finalidade assegurar o controlo social (estabelecer o equilbrio,absorver os desviados).

    Assim, necessidade dos sujeito conservarem o seu sistema de comporta-mentos eas suas evidncias perceptivas, opor-se-ia a necessidade, mais intensa ainda, de seconfrontarem com os outros (dependncia informativa) e de serem aceites pelos outros(terem a sua aprovao dependncia normativa).

    Moscovici, em 1971, prope um novo modelo de anlise da influncia social, o qual sensvel aos processos de estabelecimento de normas, de conformismo e de inovao: omodelo de negociao de conflitos.

    Segundo este modelo:

    todos os sujeitos devem ser considerados como fontes potenciais e receptores eventuaisde influncia;

    o processo de influncia no tem apenas como funo o controlo social mas tambm amudana;

    o estilo de comportamento da fonte de influncia, ou seja, a sua consistncia e asignificao que reveste para o receptor, o factor determinante no processo;

    o processo de influncia deve ser visto enquanto produo e reabsoro de conflitos. Aspessoas levam para a interaco (interrelao) um sistema de valores e reaces que lheso prprios; a confrontao entre os diferentes sistemas provoca conflito e consequentebloqueamento; segue-se um processo de negociao, processo cuja evoluo sermarcada pela consistncia do comportamento de uma das partes.

    Vejamos, de seguida, na figura 3, como Moscovici (1971) esquematiza o seumodelo:

    Figura 3. Processo de atribuio de propriedades estveis

    Processos de Atribuio de Propriedades Estveis

    Conflito Interindividual

    Sistemas de

    ComportamentoInternos

    Sistemas de

    ComportamentoMaioritrios

    Consistentes

    Sistemas de

    ComportamentoMinoritrios

    Consistentes

    Norma Conformismo Inovao

    Consenso Interindividual

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    Norma (que leva normalizao), conformismo e inovao sero, assim, trs dasmodalidades que pode assumir a influncia social.

    De seguida vamos tentar demonstrar, experimentalmente como, surge a inovao(a sua ilustrao experimental), tomando como ponto de referncia a anlise dos factores

    que determinam a eficcia das minorias activas, os quais so, segundo Moscovici: ocomportamento consistente e o estilo de negociao. E, por fim, iremos descrever omodelo de anlise mais amplo, apresentado por Faucheux et al. (1971), luz do qual ainovao se torna mais compreensvel: o modelo gentico.

    5.2. Factores que determinam a eficcia das minorias activas

    5.2.1. O comportamento consistente

    Peguemos, de novo na experincia de Asch, anteriormente analisada, e vamosinterpret-la de outra forma. Suponhamos que o efeito obtido por Asch se deve, no presso da maioria mas, sim, consistncia das suas respostas, e que a influncia a queassistimos tem por funo a mudana de uma norma dominante.

    De facto, o sujeito ingnuo pode representar, no uma minoria, mas uma maioria.Ele o representante de uma norma perceptiva comummente aceite, enquanto que oscmplices representam uma minoria que prope uma nova norma perceptiva.

    Como vimos, a consistncia das respostas dos cmplices que mexe com o sujeitoingnuo e o leva a adoptar a nova norma. Pode, ento, colocar-se a hiptese que: umaminoria coerente e consistente capaz de, em certas circunstncias, transformar umanorma maioritria.

    Com base nesta hiptese, Moscovici et al. (1967) realizaram toda uma srie deexperincias. Apresentamos de seguida a primeira delas.

    Os sujeitos, em nmero de quatro ou cinco, devem escolher a caracterstica quetorna mais salientes uma srie de desenhos, no sentido de serem utilizados como sinaisem situaes que exigem uma tomada de deciso rpida.

    As caractersticas consideradas so: a cor, a forma, o contorno e o tamanho.

    Entre os sujeitos que participam nos grupos experimentais h um, e um s, que cmplice do experimentador e d sistematicamente a resposta cor. Este sujeito respondesistematicamente que a caracterstica que torna mais saliente qualquer das figuras

    sempre a cor. Como reagem os restantes sujeitos? Adoptam a norma proposta pelocmplice?

    Os resultados obtidos do uma orientao positiva a esta questo e soapresentados no quadro 1:

    Quadro 1

    Mdias das respostas dos grupos experimental e de controlo s caractersticas cor, contorno, tamanho eforma

    Grupos Mdias das respostasCor Contorno Tamanho Forma

    Experimental 20.82 16.18 16.09 10.88Controlo 15.28 18.93 14.20 15.59

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    20

    25

    Cor Contorno Tamanho Forma

    Experiment

    Controlo

    Para uma melhor visualizao, estes resultados so colocados sob a forma degrfico de barrras (ver Figura 4).

    Estes resultados foram confirmados em outras experincias. Segundo Moscovici a

    consistncia da minoria que lhe confere influncia.A minoria geradora de um conflito que atinge o seu expoente mximo atravs da

    intransigncia, a qual caracteriza o comportamento consistente, e rompe com o consensoa dois nveis: por um lado, a minoria prope uma nova norma, por outro, mostra quenem s a maioria ou a autoridade pode definir as normas.

    A consistncia significa que a minoria resiste s presses sociais e pode, por isso,constituir-se como uma alternativa. Trata-se de uma minoria nmica. Produzido oconflito, em que direco se processar a reabsoro ou equilbrio? De acordo comMoscovici, ser a consistncia do comportasmento de uma das partes que marcar aevoluo da situao a seu favor.

    Figura 4. Mdias das respostas dos grupos experimental e de controlo s caractersticas cor,contorno, tamanho e forma

    5.2.2. Estilo de negociao

    Mas o problema no termina aqui, se olharmos um pouco mais atentamenteverificamos que ele bem mais complexo. Com efeito, o comportamento consistentepode levar os sujeitos a recusarem a influncia, tal como se evidencia na experincia deSchachter, descrita anteriormente. Uma segunda condio para a eficcia da aco dasminorias nmicas foi, ento, proposta o estilo de negociao. Um estilo de negociao

    rgido contraproducente, enquanto que um estilo flexvel facilitador da aco dasminorias.

    Mugny, em 1975, realizou uma experincia bem ilustrativa do que acabamos deexpressar.

    Trata-se de uma experincia realizada sobre a modificao das atitudes face objeco de conscincia. Esta experincia incide, pois, sobre contedos de naturezaideolgica, e no j sobre simples normas perceptivas como a maioria dos estudos atagora referidos.

    Numa primeira fase, os sujeitos, todos eles a favor da objeco de conscincia,

    responderam a uma escala de atitudes apresentando, assim, a sua opinio face aoexrcito suio.

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    Numa segunda fase, so expostos influncia de uma fonte minoritria, cujospontos de vista so contra a objeco de conscincia, como condio de uma aco eficazcontra as foras armadas.

    Numa terceira, e ltima, fase, os sujeitos manifestam de novo a sua atitude face ao

    exrcito.A manipulao experimental incidiu sobre o estilo do discurso da fonte

    minoritria: este era flexvel num caso, rigdo no outro, mas consistente nas duascondies experimentais.

    No que respeita condio consistncia + flexibilidade, a fonte toma emconsiderao o ponto de vista dos sujeitos: a objeco de conscincia um meio vlido delutar contra as foras armadas, mas insuficiente; preciso lutar no interior das foras armadas....

    Em relao condio consistncia + rigidez, a fonte entra em ruptura total com aaudincia: meios como a objeco de conscincia so falsos, pequeno-burgueses, quasereaccionrios....

    Os resultados da experincia so bem elucidativos e mostram uma significativainfluncia, da condio flexibilidade, enquanto que o discurso rgido no produz efeitos.

    Muitos so os estudos que posteriormente foram feitos com o objectivo de se fazero levantamento dos factores que determinam a eficcia das minorias activas. Nesta linhade pensamento, vejamos algumas das orientaes que esses estudos tm tomado(Mugny e col., 1982):

    A influncia minoritria em grande parte determinada pelo modo de apreenso daminoria pela maioria.

    a imagem que a maioria constri da minoria, mais do que as suas caractersticasobjectivas, que explicam a influncia positiva ou o fracasso da persuaso (um discursoflexvel, se apreendido como rgido, no fonte de influncia).

    Adoptar o ponto de vista da minoria no apenas adoptar uma nova norma, mas auto-atribuir-se o conjunto das caractersticas com que so rotuladas as minorias.

    O processo de influncia decorre num contexto social definido e envolve no apenasdois actores mas trs a minoria, a maioria e o poder.

    O poder constitui o grupo dominante, ou a entidade que estabelece as normas;

    A maioria ser a populao constituda por uma constelao de grupos sociaisdominados, ou, dentro de um mesmo grupo, pelos sujeitos dependentes do lder;

    A minoria refere um sujeito, sujeitos ou grupos, sem poder formal, que se propemalterar o tipo de relaes sociais estabelecidas.

    O poder constri e difunde regulaes (normas) ideolgicas que, no essencial,consistem em esconder as relaes de:

    domnio entre o poder e a populao; antagonismo entre a minoria e o poder.

    Procura-se, assim, que a minoria no aparea como uma alternativa vlida e coerente aopoder.

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    Uma das formas de induzir a resistncia da populao face minoria consiste empsicologizar esta minoria (mostrando, por exemplo, que o seu discurso no mais do quea manifestao de problemas psicolgicos ou de taras caracteriais).

    A anlise do processo de influncia social implica ultrapassar os nveis de anlise intra-individual e relacional, introduzindo-se problemticas que relevam dos processos deregulao inter-grupos e dos processos de regulao ideolgica.

    5.2. Modelo funcionalista versus modelo gentico

    A perspectiva introduzida por Moscovici para analisar numa nova ptica osprocessos de influncia social, tem subjacente um modelo mais geral de anlise dosprocessos psicossociolgicos, modelo que ele prprio designou de gentico, em oposioao modelo funcionalista.

    Vejamos, ento, como este autor descreve os traos distintivos de cada um destesdois modelos (Moscovici, 1979):

    5.2.1. Modelo funcionalista

    O modelo funcionalista defende que:

    Os dados pr-determinados para o indivduo ou para o grupo so, por um lado, ossistemas sociais formais, ou informais e, por outro, o meio. So eles que nos fornecem,antes mesmo da interaco social, um papel, um estatuto e os recursos psicolgicos.

    O comportamento do indivduo, ou do grupo, ter como objectivo e por funoassegurar a sua insero no sistema ou no meio. Por conseguinte, e uma vez que ascondies s quais o indivduo se deve adaptar so dadas, a realidade descrita como

    uniforme e as normas a observar aplicam-se igualmente a cada um.Com base neste modelo, a normalidade, por sua vez, dever ser encarada como um

    estado de adaptao ao sistema, um equilbrio com o meio e uma coordenao entre osdois. Tendo por base este ponto de vista algo dourado, o processo de influncia visariaa reduo do comportamento desviante, a estabilizao das relaes entre os indivduos,bem como das trocas com o mundo exterior (interrelao com o meio fsico).

    De acordo com este tipo de raciocnio, somos levados a concluir que as acesdaqueles que seguem a norma so, forosamente, funcionais e adaptativas, enquantoque os que optam por lhes fazer frente, afastando-se das normas so considerados comodisfuncionais e no adaptados, resta, para estes ltimos, a condio de excludo,rejeitado, em suma, a marginalidade (em relao ao grupo).

    O conformismo ento visto como uma exigncia obrigatria do sistema social econduz ao consenso e ao equilbrio. Como tal, nada deve mudar ou, a aconteceremmudanas, ser sempre no sentido de estas permitirem ao sistema uma maiorfuncionalidade, adequao, adaptao.

    Para se alcanarem estes objectivos, as mudanas devero ser conduzidas poraqueles que detm a informao, ou recursos, que detm o poder ou competncia, logo,tero que ser indivduos que ocupam posies chave tais como: lderes, a maioria, osespecialistas, etc. E, quanto maior for a integrao e o controlo social (do estrato,

    normalmente, elevado), maior ser a sua eficcia.

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    5.2.2. Modelo gentico

    O modelo gentico, por seu lado, considera que:

    O sistema social formal, ou informal, e o meio so definidos e produzidos por aquelesque neles participam e lhe fazem frente. Deste modo, os papis, estatuto social e

    recursos psicolgicos so tornados activos e apenas recebem significao aquando dainteraco social.

    A adaptao, por parte dos indivduos e dos grupos, ao sistema e ao meio, encaradacomo sendo apenas a contrapartida da adaptao do sistema e do meio aos indivduos eaos grupos.

    As normas que determinam o sentido da adaptao resultam, ento, das interrelaes,passadas e presentes, entre os indivduos e os grupos. Tanto os indivduos, quanto osgrupos, no se apercebem que aquelas (normas) se lhes impem da mesma forma, ouem igual grau.

    Vejamos, ento, como encarado o conceito de normalidade, neste modelo. Aqui onormal e o desviado so definidos relativamente ao tempo, ao espao e situaoparticular, que vivem, na sociedade.

    O comportamento desviante no pode ser apenas interpretado como um acidentede percurso, que sucede organizao social uma manifestao de patologia social,individual pois ele um produto desta organizao, o sinal de uma antinomia que ,simultaneamente, criao e fruto dessa criao, isto , a organizao cria o desvio mastambm criada por ele.

    Por exemplo, se os artistas, os jovens, as mulheres, os negros, etc., esto margemda sociedade, esta define-se de forma a mant-los nessa situao e esta tomada de

    posio, por sua vez, enforma (no caso, deforma) a orientao futura da sociedade.Assim, se h talentos que so, eternamente, inexplorados, se se percepciona

    determinada camada da populao como excessivamente densa, geram-se as condiesideais para o surgimento de: movimentos de contestao, contra-cultura, dissidncias,etc., e isso sucede porque a organizao no foi concebida de modo a satisfazer todas asnecessidades que suscita, nem a tratar todos os efeitos que produz.

    De uma forma breve, podemos ento afirmar que: o modelo funcionalista olha arealidade social como um dado, o modelo gentico como uma construo; o primeiro sublinha adependncia dos indivduos relativamente ao grupo e a sua reaco a este, enquanto o segundosublinha a interdependncia do indivduo e do grupo e a interaco no seio do grupo; aquele

    estuda os fenmenos do ponto de vista do equilbrio, este do ponto de vista do conflito. Finalmente,para um, os indivduos e os grupos procuram adaptar-se; enquanto para o outro tentam crescer, oque quer dizer que procuram e tendem a transformar a sua condio e a transformarem-se assimsucede com as minorias desviadas que se tornam minorias activas , ou ainda, a criar novas

    formas de pensar e de agir (Faucheux et al., 1971, p. ?).

    Quadro 2

    Principais diferenas entre o modelo funcional e o modelo gentico

    Modelo

    Funcionalista Gentico

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    A realidade social Um dado Uma construo

    A relao do indivduo com o grupo Dependncia e reaco Interdependncia einteraco

    Os fenmenos de influncia provocam Equilbrio Conflito

    Indivduos e grupos procuram Adaptao Crescimento

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