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INTRODUÇÃO

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INTRODUÇÃO

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Considerações históricas

A primeira descrição de um paciente afetado pela síndrome de

Noonan (SN) foi atribuída a Kobylinski, em 1883. Este autor descreveu um

paciente tuberculoso, cuja característica fenotípica principal era a presença

do pescoço alado. Em 1979, Opitz e Pallister publicaram um artigo de

revisão com a fotografia desse paciente, na qual os autores constataram,

além do pescoço alado, também denominado pterigium colli, anomalias

faciais sugestivas da SN.

Ullrich, em 1930, descreveu uma paciente de oito anos de idade com

dismorfismos faciais, pescoço alado, baixa implantação de cabelos na nuca,

cubitus valgus, anomalias ungueais e, ao nascimento, linfedema de mãos e

pés.

Oito anos após, Turner relatou sete mulheres com idades entre 15 e

23 anos que apresentavam uma tríade de sinais composta por pterigium

colli, cubitus valgus e infantilismo sexual.

A tríade de Turner no sexo masculino foi decrita por Flavell, em 1943.

As descrições de Ullrich e Turner correspondiam à mesma doença,

conhecida posteriormente como síndrome de Turner.

Em 1959, foi demonstrado por Ford e colaboradores a monossomia

do cromossomo X nesta síndrome e, a partir daí, a denominação síndrome

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de Turner foi utilizada para pacientes do sexo feminino com apenas um

cromossomo X ou outra aberração estrutural envolvendo o cromossomo X.

Aqueles que apresentavam constituição cariotípica normal passaram a

receber várias designações como síndrome de Turner no homem, pseudo-

síndrome de Turner, síndrome de Turner XX e síndrome de Turner XY.

Somente em 1963, no Congresso de Pesquisa Pediátrica da

Sociedade do Meio-Oeste nos Estados Unidos, Noonan e Ehmke relataram

a presença de malformações associadas em crianças com defeitos

cardíacos. Nesse estudo, as autoras observaram nove indivíduos (seis do

sexo masculino e três do sexo feminino), em um total de 835 crianças com

defeitos cardíacos, que apresentavam especificamente estenose pulmonar

valvar e outras anomalias extra cardíacas como baixa estatura,

hipertelorismo ocular, deficiência mental leve e, menos frequentemente,

ptose palpebral, criptorquia e anomalias esqueléticas. Consideraram essa

doença, a qual afetava ambos os sexos, como uma possível nova síndrome.

Em 1968, Noonan ampliou seu espectro com a presença de outros defeitos

cardíacos que não apenas a estenose pulmonar valvar, além de

hepatoesplenomegalia e trombocitopenia em alguns afetados. Todos

apresentavam cromatina sexual compatível com o sexo gonadal e o estudo

cromossômico, realizado em seis deles, foi normal.

A partir dessa descrição, muitos indivíduos com constituição

cromossômica normal, diagnosticados como tendo síndrome de Turner XX

ou síndrome de Turner XY, passaram a ser considerados como afetados por

esta “nova” síndrome descrita por Noonan e Ehmke.

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O epônimo síndrome de Noonan foi proposto por Optiz et al. (1965)

para esta “nova” síndrome, começando a desfazer assim a sobreposição

entre a síndrome de Turner e a síndrome de Noonan, a qual perdurou por

várias décadas.

1.2. Incidência

Embora não se saiba ao certo qual a incidência da SN na população,

Nora et al. (1974) estimaram-na entre 1:1000 a 1:2500 nascimentos.

1.3. Quadro clínico

1.3.1. Achados craniofaciais

A região ocular é a que apresenta as características mais típicas da

SN, com inclinação para baixo das fendas palpebrais, hipertelorismo, ptose

palpebral e proptose. Anomalias intra-oculares também são comuns, como a

presença de nervos corneanos espessados no segmento anterior do olho,

observado em 46% dos afetados (Lee et al., 1992).

Além disso, há má-oclusão dentária, palato alto e orelhas baixo-

implantadas e/ou posteriorizadas com espessamento da porção superior da

hélice (Noonan, 1994).

O fenótipo varia com a idade (Allanson et al., 1985) e, no adulto, as

características faciais podem ser sutis, o que dificulta o diagnóstico.

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1.3.2. Pescoço

Durante o período neonatal, as crianças afetadas pela SN podem

apresentar um excesso de pele na região da nuca e, com o seu crescimento,

o pterigium colli e a baixa implantação de cabelos na nuca tornam-se mais

evidentes (Allanson et al., 1985).

1.3.3. Achados cardiovasculares

As anomalias cardíacas ocorrem em aproximadamente 50% dos

pacientes (Nora et al., 1974; Mendez e Opitz, 1985; Noonan, 1994), sendo

que praticamente todo tipo de defeito cardíaco já foi descrito na SN (Noonan

e O´Connor, 1996).

Entretanto, a estenose pulmonar valvar (EPV) é a anomalia cardíaca

mais comum e característica, presente em 50% dos afetados (Char et al.,

1972; Allanson, 1987). Muitas vezes a valva pulmonar é displásica, o que

acarreta dificuldades no seu manejo. O grau de displasia e obstrução é

variável (Noonan e O´Connor, 1996). Em muitos pacientes, apesar da valva

ser displásica, não há sinais de obstrução ou regurgitação. Mas, em alguns

deles, ocorre uma obstrução progressiva, o que não é observado em

crianças com mais de dois anos de idade que possuem EPV não-

sindrômica, na sua forma leve ou moderada.

A miocardiopatia hipertrófica é o segundo achado cardíaco mais

comum, com uma freqüência que varia de 20% (Sharland et al., 1992) a 30%

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(Nora et al., 1975). A história natural desta anomalia na SN não é bem

conhecida. Há uma grande variabilidade clínica, com alguns pacientes

apresentando sintomas já na lactância e uma rápida progressão do quadro,

enquanto outros permanecem estáveis por vários anos ou mesmo

apresentam os primeiros sintomas reconhecíveis na infância tardia. Os

casos sintomáticos apresentam uma alta taxa de mortalidade, mesmo na

lactância. De forma semelhante à miocardiopatia hipertrófica não-

sindrômica, a maioria dos pacientes com SN apresenta um padrão de

hipertrofia assimétrico do ventrículo e, no exame anatomopatológico, um

desarranjo das fibras musculares e espessamento das paredes das artérias

coronárias intramurais. Por outro lado, a concomitância de valvas cardíacas

displásicas ocorre apenas na SN.

Outros defeitos cardíacos comuns são: comunicação interatrial (CIA),

comunicação interventricular (CIV) (Bertola et al., 2000), tetralogia de Fallot

e prolapso da valva mitral (Noonan e O´Connor, 1996).

Anomalias eletrocardiográficas (desvio superior do eixo do QRS e

ondas S profundas nas derivações precordiais) são comuns na SN,

independente do tipo ou da presença ou não de defeito cardíaco (Noonan e

O´Connor, 1996; Bertola et al., 2000).

Anomalias do sistema linfático estão presentes em aproximadamente

20% dos casos (Mendez e Opitz, 1985), caracterizadas por linfedema de

mãos e pés, higroma cístico na região cervical (Donnenfeld et al., 1991),

linfangiectasia intestinal (Herzog et al., 1976), linfangiectasia pulmonar

(Fischer et al., 1982), hidropsia fetal (Paupe et al., 1991).

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1.3.4. Achados abdominais

A presença de esplenomegalia é um achado comum na SN. George

et al., (1993) realizaram um estudo ultra-sonográfico de abdome em 44

pacientes afetados pela síndrome, com 53% deles apresentando

esplenomegalia e, em seis, havia concomitantemente hepatomegalia.

A fisiopatologia deste achado na SN permanece ainda desconhecida.

1.3.5. Achados geniturinários

Além da criptorquia, a anomalia geniturinária mais comum na SN

(presente em 60% dos pacientes do sexo masculino), outros achados são:

testículos pequenos, pênis pequeno e hipospádia (Allanson, 1987).

As anomalias renais não são freqüentes na SN. George et al. (1993),

estudando 44 pacientes com SN, observaram 11% de anomalias renais,

representadas por agenesia renal unilateral, ectopia renal, duplicação do

sistema pielocalicial, cistos renais bilaterais e dilatação da pelve renal.

1.3.6. Achados esqueléticos

Allanson (1987) afirmou que a anomalia esquelética mais comum na

SN, presente em 70% dos casos, é a deformidade torácica com pectus

carinatum superiormente e pectus excavatum inferiormente. Outros achados

também comuns incluem a presença de cubitus valgus (50%),

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clinobraquidactilia (30%), anomalias vertebrais e esternais (25%) e má-

oclusão dentária. As anomalias vertebrais geralmente não apresentam uma

expressão clínica evidente, sendo representada especialmente pela espinha

bífida oculta, escoliose e cifose (Bertola et al., 1999).

1.3.7. Achados na pele e anexos

As anomalias cutâneas na SN são representadas principalmente por

coxins nas pontas dos dedos das mãos e pés, cabelos encaracolados,

sobrancelhas e cabelos esparsos, nevos e efélides, queratose pilar atrófica

da face e tendência à formação de quelóides (Noonan, 1994).

1.3.8. Achados hematológicos

Na SN são descritos distúrbios de coagulação envolvendo as

plaquetas e/ou os fatores de coagulação.

As anomalias plaquetárias podem ser quantitativas - trombocitopenias

- (Noonan, 1968; Caralis et al., 1974; Phillips et al., 1993) ou qualitativas -

agregação plaquetária deficiente (Festen et al., 1980).

Mais freqüentemente, entretanto, são as deficiências de fatores de

coagulação, que podem ocorrer de forma isolada ou em combinação

(Bertola et al., 2003). A deficiência do fator XI é o achado mais comum

(Sharland et al., 1990). Outros fatores de coagulação envolvidos incluem os

fatores XII (Mollica et al., 1987), VIII, IX, V (Sharland et al., 1990), II (Singer

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et al., 1997), assim como anomalias sugestivas da doença de von

Willebrand.

Mais recentemente, foram descritas doenças mieloproliferativas em

pacientes com SN. Bader-Meunier et al. (1997) realizaram um estudo

retrospectivo analisando 52 pacientes com doença mieloproliferativa, dos

quais quatro – também afetados pela SN – apresentavam leucemia

mielomonocítica crônica. Os autores consideraram que provavelmente esta

associação não era fortuita. Estes mesmos pacientes apresentavam uma

esplenomegalia, mesmo na normalização dos achados hematológicos,

sugerindo ser esta a etiologia da esplenomegalia em pacientes com SN.

1.3.9. Crescimento

O déficit estatural ocorre em aproximadamente 50% dos afetados

(Sharland et al., 1992).

Witt et al. (1986) elaboraram uma curva de crescimento de pacientes

afetados pela SN. Os autores observaram que estes indivíduos

apresentavam comprimento ao nascimento localizado próximo do limite

inferior da normalidade. Posteriormente, o crescimento caia abaixo do 5º

percentil por volta dos 3 meses e permanecia constantemente assim até a

idade adulta. Ramke et al. (1988) observaram que o estirão de crescimento

na puberdade ocorria com um atraso de dois anos, compatível com a idade

óssea atrasada nesses indivíduos e que a altura final aproximava-se dos

limites inferiores da normalidade no final da segunda década de vida. Os

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homens atingiam uma estatura final média de 162,5 +/- 5,4 cm e as

mulheres, 152,7 +/- 5,7 cm.

Noonan et al. (2003) avaliaram a estatura de 73 adultos (acima de 21

anos de idade) com SN, sem a utilização de hormônio de crescimento. A

baixa estatura nas mulheres era mais importante, com 54,5% delas com

estatura abaixo do percentil 3, contra 38% dos pacientes do sexo masculino.

1.3.10. Deficiência mental

Há poucos trabalhos na literatura que analisaram as características

cognitivas dos pacientes afetados pela SN.

Nora et al. (1974), avaliando o coeficiente de inteligência (QI) desses

pacientes, observaram que eles apresentavam, em geral, um valor 10%

inferior quando comparados ao QI de seus familiares.

Uma avaliação mais detalhada foi realizada por Money e Kalus (1979)

em oito afetados, com uma ampla variação no valor do QI (64 a 127). Seis

deles apresentavam um QI dentro da variação da normalidade e um,

apresentava um QI superior. Testes para áreas cognitivas específicas

mostraram uma disparidade entre as habilidades verbais e práxicas em

apenas alguns pacientes. Os autores concluíram que, embora a casuística

fosse pequena, o envolvimento cognitivo é variável e que uma avaliação

mais detalhada deveria ser sempre efetuada para a averiguação das áreas

mais acometidas, no intuito de se estimular especificamente estas

deficiências.

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1.4. Diagnóstico

O diagnóstico da SN baseia-se primariamente em uma suspeita

clínica. Não há, entretanto, na síndrome, um sinal que seja patognomônico.

É o conjunto de vários sinais que levará ao diagnóstico clínico. Para tanto,

critérios diagnósticos foram propostos por alguns autores (Duncan et al.,

1981; van der Burgt et al., 1994). O mais utilizado é o de van der Burgt et al.

(1994) que estabelece o diagnóstico da SN baseado nas características do

quadro abaixo.

Quadro 1 - Critérios diagnósticos da SN (van der Burgt et al., 1994)

O indivíduo é considerado afetado pela SN se apresentar o critério maior fácies típico associado amais um critério maior ou dois menores. Se o fácies for sugestivo (critério menor), há necessidade dapresença de mais dois critérios maiores ou três menores.

A descoberta de um gene responsável pela SN abriu a possibilidade

de se realizar o teste molecular para a confirmação do diagnóstico clínico.

No entanto, mutações no gene PTPN11 foram encontradas em

aproximadamente 50% dos afetados, mostrando haver heterogeneidade

genética na síndrome. Portanto, a presença da alteração gênica no gene

PTPN11 em um paciente com características clínicas da SN confirma o

diagnóstico, mas a sua ausência não exclui essa possibilidade.

Característicasclínicas

A=major B=minor

Fácies Típico SugestivoCoração EPV e/ou ECG típico Outro defeito cardíacoEstatura <3º percentil <10º percentilTórax Pectus carinatum/excavatum Tórax largoHistória familiar Parente de 1º grau com diagnóstico

definitivo de SNParente de 1º grau com diagnósticosugestivo de SN

Outros Presença de: deficiência mental +criptorquia + displasia linfática nosexo masculino

Presença de: deficiência mental oucriptorquia ou displasia linfática no sexomasculino

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1.5. Diagnósticos diferenciais

1.5.1. Síndrome de Turner. Constitui-se no diagnóstico diferencial

mais importante nas pacientes do sexo feminino. A SN e a síndrome de

Turner apresentam várias características em comum, entre elas a baixa

estatura, dismorfismos faciais como ptose palpebral, epicanto, orelhas

displásicas, retromicrognatia, pterigium colli, baixa implantação de cabelos

na nuca, cubitus valgus, hipertelorismo mamário, hiperextensibilidade

articular e linfedema de membros (De Majo et al., 1979). Quanto ao defeito

cardíaco, na síndrome de Turner as anomalias mais freqüentes são aquelas

que acometem o coração esquerdo, especialmente a estenose aórtica e a

coartação da aorta, enquanto na SN a anomalia mais comum é a estenose

pulmonar valvar.

Algumas características clínicas ocorrem exclusivamente em apenas

uma das duas síndromes, como, por exemplo, a presença de ovários

disgenéticos na síndrome de Turner, com conseqüente infertilidade (Hall e

Gilchrist, 1990). Já a deficiência mental, que é variável na SN, é rara na

síndrome de Turner, embora as afetadas possam apresentar dificuldades em

áreas como relações espaciais e habilidade numérica.

A realização do estudo cromossômico permite confirmar o diagnóstico

da síndrome de Turner. Aproximadamente 50% das afetadas apresentam

uma constituição cariotípica 45,X. A presença de um isocromossomo X

(duplicação de um braço do cromossomo X com perda do outro braço)

ocorre em 12 a 20% dos casos. Mosaicismo (a presença de duas linhagens

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celulares diferentes quanto aos cromossomos sexuais) é encontrada em 30

a 40% das afetadas pela síndrome de Turner. Raramente há anomalias

cromossômicas estruturais envolvendo o cromossomo X e um autossomo

(Hall e Gilchrist, 1990).

1.5.2. Síndrome de Williams. Caracteriza-se por anomalias

craniofaciais, como a fronte ampla, sobrancelhas espessas na sua porção

medial, região periorbital proeminente, estrabismo, íris com padrão

estrelado, ponte nasal rebaixada, regiões malares hipoplásicas, filtro longo e

hipoplásico, lábios grossos, boca grande e mento proeminente; deficiência

mental, geralmente leve a moderada e anomalias cardíacas, presentes em

75% dos casos. O defeito cardíaco mais comum é a estenose aórtica

supravalvar, seguida da estenose das artérias pulmonares periféricas. A

hipercalcemia, quando presente, pode levar a um quadro de déficit ponderal,

vômitos, episódios de constipação alternados com diarréia e, em alguns

casos, à nefrocalcinose.

Outros achados na síndrome são: baixa estatura, microcefalia,

pescoço longo, cifoescoliose, hérnia inguinal ou umbilical, unhas

hipoplásicas, hálux valgo e voz rouca (Burn, 1986).

Bzdúch (1995) comparou 10 pacientes com SN e 10 com síndrome de

Williams e observou que a EPV estava presente em nove pacientes com SN

e a estenose aórtica supravalvar em todos os afetados pela síndrome de

Williams. A deficiência mental e o déficit estatural eram mais freqüentes na

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síndrome de Williams. Além disso, os dismorfismos faciais são típicos para

cada doença.

A síndrome de Williams decorre de uma microdeleção no braço longo

do cromossomo 7 (7q11.23), considerada uma síndrome de genes

contíguos. Esta deleção, na grande maioria dos casos, é detectada pela

técnica da hibridização in situ por fluorescência (FISH). Os pacientes

afetados apresentam uma hemizigosidade no lócus do gene da elastina

entre outros, o qual está relacionado com algumas características da

doença, como a estenose aórtica supravalvar, a voz rouca e o

envelhecimento precoce da pele.

1.5.3. Síndrome de Aarskog. Caracteriza-se por baixa estatura;

deficiência mental leve a moderada; dismorfismos faciais com hipertelorismo

ocular, ptose palpebral, leve inclinação para baixo das fendas palpebrais,

nariz curto com narinas antevertidas, ponte nasal alargada, hipoplasia

maxilar, displasia auricular, filtro largo e presença de um sulco abaixo do

lábio inferior; umbigo proeminente; braquidactilia e anomalias de genitália

com criptorquia e escroto em cachecol (Porteous e Goudie, 1991).

Trata-se de uma doença gênica de herança recessiva ligada ao

cromossomo X, cujo gene – FGDY – localiza-se no braço curto do

cromossomo X (Pasteris et al., 1994).

1.5.4. Síndrome de Alcoolização Fetal. É determinada pela ingestão

materna de bebida alcoólica durante a gestação.

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Os pacientes afetados apresentam um retardo de crescimento pré e

pós-natal, disfunção do sistema nervoso central e anomalias faciais,

representadas por fendas palpebrais estreitas, nariz curto com narinas

antervertidas, filtro hipoplásico, lábio superior fino e hipoplasia maxilar. Pode

haver também ptose palpebral e inclinação para baixo das fendas palpebrais

(Clarren e Smith, 1978). A deficiência mental é uma das características mais

comuns e graves associada à teratogenicidade pelo etanol. Distúrbios

comportamentais como hiperatividade e déficit de atenção podem também

estar presente.

1.6. Prognóstico e tratamento

O prognóstico dos afetados está diretamente relacionado à presença

ou não das diferentes malformações.

A anomalia que mais preocupa na SN é a cardíaca. O grau de

displasia e obstrução causada pela EPV é variável. Em muitos pacientes,

apesar da valva ser displásica, não há sinais de obstrução ou regurgitação.

Entretanto, em alguns deles ocorre uma obstrução progressiva a partir dos

dois anos de idade, o que não é observado em indivíduos com EPV não

sindrômica (Noonan e O´Connor, 1996). Pelo fato da valva ser displásica,

muitas vezes a valvuloplastia com balão não é efetiva em abolir a obstrução

da saída do ventrículo direito. Muitas crianças, portanto, necessitam de

tratamento cirúrgico com ressecção completa da valva e dos feixes

musculares anômalos (Noonan e O´Connor, 1996).

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A miocardiopatia hipertrófica também apresenta uma variabilidade

grande de apresentação na SN e quando sintomática, está associada com

uma mortalidade significativa, mesmo na lactância. A incidência de morte

súbita, comumente descrita na forma não sindrômica, não é conhecida na

SN, mas sua ocorrência já foi observada (Ishizawa et al., 1996). O

tratamento dessa anomalia cardíaca não difere da forma não sindrômica,

com utilização de agentes receptores ß-adrenérgicos e bloqueadores dos

canais de cálcio. A cirurgia é recomendada naqueles casos com obstrução

da saída do ventrículo esquerdo que não respondem aos medicamentos. O

procedimento mais utilizado tem sido a miectomia-miotomia septal

ventricular transaórtica (procedimento de Morrow). O transplante cardíaco já

foi realizado em alguns pacientes com miocardiopatia hipertrófica e SN.

Na presença de anomalias valvares ou na miocardiopatia hipertrófica,

a profilaxia da endocardite bacteriana deve ser realizada.

Embora cada vez mais utilizado, o emprego do hormônio de

crescimento sintético na SN ainda é controverso. Alguns trabalhos mostram

um aumento da velocidade de crescimento nos afetados (Ahmed et al.,

1991; Cotterill et al., 1996), mas poucos são os pacientes que atingiram a

sua estatura final, o que permitiria melhor caracterização da eficácia do

hormônio para o crescimento.

Em um trabalho recente (Ferreira et al., 2005), os autores utilizaram o

hormônio de crescimento sintético em sete pacientes com SN que

apresentavam mutações no gene PTPN11 e em sete, sem mutações, por

um período de três anos. A média de idade dos afetados era de 12,3 anos e

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a idade óssea de 9,8 +/- 2,7 anos. Apesar de haver um aumento da

velocidade de crescimento em ambos os grupos, essa velocidade foi maior

naquele grupo sem mutações no gene PTPN11, além de um maior aumento

nos níveis de IGF-I. Esses achados sugerem que alterações nesse gene

acarretam um efeito negativo na terapia hormonal, possivelmente por

interferência na via de sinalização do hormônio de crescimento.

A infertilidade nos pacientes do sexo masculino parece estar

associada à presença da criptorquia bilateral. Elsawi et al. (1994) estudaram

11 adultos afetados pela SN, com seis deles apresentando criptorquia

bilateral corrigida cirurgicamente com uma idade média de 5,5 anos. Os

autores observaram que em cinco deles os níveis plasmáticos de FSH eram

elevados e quatro deles apresentavam oligospermia ou azospermia.

Na eventualidade de um procedimento cirúrgico, uma atenção

especial deve ser dada aos distúrbios de hemostasia nos afetados pela SN.

1.7. Aspectos genéticos

A etiologia da SN tem sido objeto de investigação há décadas.

Inicialmente, pelas semelhanças entre o quadro clínico da SN e o da

síndrome de Turner, a possibilidade da SN ser uma aberração

cromossômica foi levantada, mas não confirmada nos casos típicos

(Fraccaro et al., 1961; Steiker et al., 1961).

Evidências de que a SN era uma doença gênica de herança

autossômica dominante surgiram a partir da descrição de casos familiais,

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com transmissão vertical de pai para filho (Levy et al., 1970). Atualmente

esta herança é amplamente aceita, catalogada com o número *163950 por

McKusick (1998).

Como é comum para a maioria das doenças gênicas de herança

autossômica dominante, a expressividade é bastante variável, ou seja, as

manifestações fenotípicas variam em pessoas que apresentam o mesmo

genótipo.

1.7.1. A descoberta do gene responsável pela SN

Pela associação da SN com neurofibromatose tipo 1 - NF1 -

(Allanson et al., 1985), o primeiro gene testado como possível candidato

para a síndrome de Noonan foi o NF1, localizado no braço longo do

cromossomo 17 (17q11). Entretanto, nos casos típicos da SN, sem

evidências de neurofibromatose, não foram encontradas alterações neste

gene (Flintoff et al., 1993; Alhbom et al., 1995).

De forma semelhante, a região 22q11 também foi aventada como

possível localização do gene responsável pela SN. Wilson et al. (1993)

descreveram um paciente que apresentava a síndrome de DiGeorge,

sabidamente reconhecida como uma microdeleção da região 22q11,

associada a um fenótipo Noonan. Os autores sugeriram que a ocorrência de

ambas patologias em um mesmo indivíduo poderia ser explicada por uma

das seguintes quatro possibilidades: associação ao acaso das duas

doenças; o fenótipo Noonan seria conseqüência de um desenvolvimento

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anormal do 3º e 4º arcos branquiais; mais de um gene estaria deletado no

probando e um deles seria responsável pelo fenótipo Noonan; ou vários

outros genes secundários contribuiriam para o fenótipo Noonan em adição a

um gene principal, sendo que o gene acometido na síndrome de DiGeorge

atuaria de alguma forma no fenótipo Noonan. A ausência de deleção da

região 22q11 em quatro pacientes com SN e defeitos conotruncais, os quais

não são comuns na SN, mas estão freqüentemente relacionados à deleção

do cromossomo 22q11, levou à exclusão desta região como a responsável

pela localização do gene da SN (DiGiglio et al., 1996).

Em 1994, Jamieson et al. mapearam o gene da SN no braço longo do

cromossomo 12, na região 12q22-qter, entre os marcadores D12S84 e

D12S366, a partir do estudo por análise de ligação de uma família com oito

afetados em três gerações. Os autores também demonstraram haver

heterogeneidade de lócus no caso de uma outra família em que um dos

afetados herdou um haplótipo totalmente diferente de sua irmandade

afetada.

O estudo de outra família com oito afetados pela SN e dois afetados

pela síndrome cardiofaciocutânea (caracterizada por um fenótipo Noonan

com um envolvimento ectodérmico e neurológico mais acentuados) em

quatro gerações, delimitou a região do lócus gênico da SN para 5cM, entre

os marcadores D12S84 e D12S1341 (Legius et al., 1998).

Com a região crítica do gene da SN melhor determinada, genes

candidatos, localizados neste intervalo cromossômico, foram testados.

Crosby et al., (1998) estudaram cinco desses genes situados no braço longo

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20

do cromossomo 12 – MYL2, DCN, EPS8, HMGI-C e RPL6. Três destes

genes (EPS8, DCN, HMGI-C) foram excluídos pela técnica da hibridização

in situ por fluorescência por não estarem localizados dentro do intervalo

crítico, Para a análise dos dois outros genes, empregou-se a técnica do

SSCP (polymorphism conformation of single strand) e nenhuma mutação foi

encontrada.

Somente em dezembro de 2001, Tartaglia et al. (2001) constataram

que o gene PTPN11, previamente clonado em 1993 por Ahmad et al., era o

responsável pela síndrome de Noonan. Estes autores consideraram-no

como um candidato, uma vez que ele localizava-se na região 12q24.1 e o

seu produto protéico, SHP-2, era essencial em várias vias de transdução

que controlam diversos processos do desenvolvimento, incluindo a

valvulogênese semilunar.

Foram estudadas inicialmente duas famílias (uma com quatro

afetados em três gerações e outra com três afetados em duas gerações) e

mutações missense ou de sentido trocado foram encontradas no éxon 3 da

região codificadora do gene. Estas alterações gênicas foram consideradas

patogênicas pelo fato de segregarem com o fenótipo Noonan nessas

famílias, estarem ausentes nos parentes não afetados, não estarem

presentes em 200 controles e afetarem resíduos altamente conservados

evolutivamente. Comprovava-se assim que o gene PTPN11 era o gene

responsável pela SN.

Outros 22 propósitos com SN (casos esporádicos ou de pequenas

famílias, cujo estudo de ligação não havia sido informativo para a região

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21

12q24.1) também foram avaliados e mutações missense foram encontradas

em apenas metade desses indivíduos, demonstrando que na síndrome há

heterogeneidade de lócus , como previamente indicado pelo trabalho de

Jamieson et al. (1994).

O gene PTPN11, com mais de 100Kb de extensão, é composto por 16

éxons (Tartaglia et al., 2001). O éxon 1 contém a região 5´ não-traduzida, o

códon iniciador ATG e alguns códons adicionais e o éxon 15 possui um

códon de parada.

O padrão de expressão do gene foi explorado em camundongos e

seres humanos. Um transcrito de 7,0Kb foi detectado em diversos tecidos

(coração, cérebro, pulmões, fígado, músculo esquelético, rins e pâncreas),

sendo que os maiores níveis foram observados no coração e no músculo

esquelético nos seres humanos e no coração e tecidos neuro-ectodérmicos

nos camundongos (Ahmad et al., 1993).

1.7.2. Espectro de mutações

Estudos moleculares mostraram mutações na região codificadora do

gene PTPN11 em uma porcentagem que variou entre 29% (Musante et al.,

2002) e 60% (Zenker et al., 2004), mas a maioria dos pesquisadores obteve

uma positividade em torno de 45% (Tartaglia et al., 2002; Yoshida et al.,

2004a).

Com exceção de uma deleção de três pares de bases no éxon 3

(Yoshida et al., 2004b) todas as outras mutações descritas na SN (Gráfico 1)

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22

foram missense (Tartaglia et al., 2001; Kosaki et al., 2002; Maheshwari et al.,

2002; Musante et al., 2002; Tartaglia et al., 2002; Sarkozy et al., 2003;

Schollen et al., 2003; Loh et al., 2004; Yoshida et al., 2004a; Zenker et al.,

2004; Jongmans et al., 2005) e localizavam-se preferencialmente nos éxons

3, 8 e 13 (Tartaglia et al., 2002).

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23

Gráfico 1 - Mutações já descritas em pacientes afetados pela SN

1

6

1

1

2

1

2

8

9

19

2

1

5

4

13

1

3

2

14

4

1

1

1

1

1

3

2

2

3

41

5

1

1

2

1

3

3

7

1

1

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Thr2Ile

Thr42Ala

Asn58Asp

Asn58Lys

Gly60Ala

DelGly60

Asp61Asn

Asp61Gly

Tyr62Asp

Tyr63Cys

Glu69Gln

Phe71Leu

Ala72Ser

Ala72Gly

Thr73Ile

Glu76Asp

Glu76Asp

Gln79Pro

Gln79Arg

Asp106Ala

Glu111Ala

Glu139Asp

Glu139Asp

Glu139Asp

Gln256Arg

Ile282Val

Tyr279Cys

Phe285Leu

Phe285Ser

Asn308Asp

Asn308Ser

Ile309Val

Thr411Met

Thr468Met

Arg501Lys

Ser502Thr

Gly503Arg

Met504Val

Gln506Pro

Leu560Phe

Exon 14

Exon 13

Exon 12

Exon 11

Exon 8

Exon 7

Exon 4

Exon 3

Exon 2

Exon 1

FONTE: Tartaglia et al., 2001; Kosaki et al., 2002; Maheshwari et al., 2002; Musante et al., 2002;

Tartaglia et al., 2002; Sarkozy et al., 2003; Schollen et al., 2003; Loh et al., 2004; Yoshida et al.,

2004a; Zenker et al., 2004; Jongmans et al., 2005

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24

1.7.3. Correlação genótipo-fenótipo

Várias tentativas de se estabelecer uma correlação genótipo-fenótipo

foram realizadas, mas ainda não há um consenso quanto a esta associação.

Inicialmente, Tartaglia et al. (2002) compararam os diversos achados

clínicos em pacientes com SN que apresentavam mutação no gene PTPN11

com aqueles sem mutação no gene, em um total de 119 indivíduos. Uma

associação estatisticamente significante foi observada entre pacientes com

mutações no gene PTPN11 e a presença de estenose pulmonar (70,6% x

46,2%; P=0,008). Por outro lado, a miocardiopatia hipertrófica foi encontrada

numa porcentagem bem menor neste grupo de pacientes com mutação,

diferença esta também estatisticamente significante (5,9% x 26,2%;

P=0,004).

A mesma associação – pacientes com mutação no gene PTPN11 e

uma maior freqüência de estenose pulmonar – foi observada por Zenker et

al. (2004). Entretanto, esse achado não foi reproduzido no trabalho de

Musante et al. (2002). Estes autores realizaram o estudo molecular em 79

propósitos com SN e obtiveram uma freqüência semelhante de estenose

pulmonar valvar no grupo de pacientes com mutação no gene PTPN11 e

naqueles sem mutação. O mesmo ocorreu no trabalho de Sarkozy et al.

(2003), em 71 afetados pela síndrome de Noonan.

Zenker et al. (2004) obtiveram uma diferença estatisticamente

significante em pacientes com mutação no gene PTPN11 e que

apresentavam baixa estatura, deformidade torácica e hematomas

freqüentes, quando comparados com aqueles sem mutação no gene.

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25

Sem levar em consideração uma análise estatística, Musante et al.

(2002) relataram que as características clínicas mais comuns, com uma

freqüência acima de 90%, encontradas em pacientes com SN e mutações no

gene PTPN11, foram a criptorquia nos meninos e a baixa estatura. Já as

características craniofaciais mais freqüentes neste grupo foram as orelhas

baixo implantadas e a inclinação para baixo das fendas palpebrais. Os

autores ressaltaram que o hipertelorismo ocular, considerado um dos

achados mais importantes da SN, estava presente em apenas metade dos

afetados. Defeitos cardíacos foram observados em 87,5%, sendo o mais

comum, a estenose pulmonar valvar.

Jongmans et al. (2005) também observaram que a criptorquia era a

característica mais comum (84%), juntamente com o fácies típico (86%), no

grupo de pacientes afetados pela SN e mutações no gene PTPN11. Mais

uma vez, a estenose pulmonar valvar era o defeito cardíaco mais comum.

A tentativa de se estabelecer uma correlação estreita entre uma

mutação específica e o fenótipo da SN não tem sido muito frutífera. A única

exceção parece ser o desenvolvimento de uma doença mieloproliferativa

(leucemia mielomonocítica juvenil) na síndrome e a mutação T73I.

Apesar da mutação não ser específica, vários pacientes com SN e

esse tipo de leucemia foram descritos (Tartaglia et al., 2003; Loh et al.,

2004). Há, no entanto, o relato de um afetado com anomalias hematológicas

apresentando a mutação G417C (Musante et al., 2002). Por outro lado, em

alguns pacientes com SN e a mutação T73I não há descrição de qualquer

distúrbio mieloproliferativo (Tartaglia et al., 2002; Zenker et al., 2004).

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26

1.7.4. Expressividade variável X Penetrância incompleta

A penetrância nunca foi analisada de forma sistemática, embora a

expressividade na SN seja amplamente reconhecida como variável.

O trabalho de Tartaglia et al. (2002) mostrou evidências que sugerem

que a penetrância na SN é praticamente completa. Nos 28 casos familiais,

as alterações gênicas foram identificadas em todos os indivíduos

considerados como afetados. Já nos 26 casos esporádicos com mutações

no gene PTPN11, apenas um genitor foi identificado como apresentando

mutação.

1.7.5. Produto protéico do gene PTPN11 – SHP2

O gene PTPN11 codifica uma proteína não receptora – SHP2 –, a

qual faz parte de uma pequena sub-família de proteínas citosólicas tirosina

fosfatases (PTP) citoplasmáticas, agindo como transdutora de sinalizações

intracelulares.

Ela é composta por dois domínios (N-SH2 e C-SH2) na região amino-

terminal, por um único domínio catalítico (PTP) e, na região carboxi-terminal

há dois locais de fosforilação e uma cauda rica em prolina, com um total de

593 aminoácidos.

Dados obtidos por cristalografia mostraram que o domínio N-SH2

interage com o domínio PTP na conformação inativa, bloqueando o sítio

catalítico da enzima (Hof et al., 1998). Após a ligação de um fosfopeptídeo

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27

no domínio N-SH2, uma mudança na conformação da proteína diminui a

interação entre os domínios N-SH2 e PTP, tornando o sítio catalílico

disponível para o substrato.

As mutações encontradas em afetados pela SN concentravam-se

nessa região de interação entre os domínios N-SH2 e PTP, sendo que

estudos prévios sugerem que as mutações estabilizariam o SHP-2 na sua

conformação ativa, levando a um ganho de função (Tartaglia et al., 2001).

A proteína tirosina fosfatase apresenta um papel fundamental no

desenvolvimento embrionário, uma vez que está envolvida na diferenciação

do mesoderma, no desenvolvimento de membros, na diferenciação das

células hematopoiéticas e na valvulogênese semilunar (Chen et al., 2000).

Ela é necessária para a ativação da cascata Ras/proteíno-quinase ativadora

de mitogênio (MAPK) induzida pelos fatores de crescimento de hepatócitos,

epidérmicos e de fibroblastos.

1.7.6. Modelo Animal

Araki et al. (2004) criaram um camundongo knock-in expressando a

mutação D61G.

Quando em homozigose, a mutação foi embrionicamente letal, com a

presença de hemorragia, edema, defeitos cardíacos graves e necrose

hepática.

Os camundongos heterozigotos também apresentavam uma

diminuição da viabilidade em 50%. Os sobreviventes apresentavam um

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28

fenótipo caracterizado por baixa estatura; dismorfismos faciais com uma

tendência a um fácies de formato triangular e hipertelorismo ocular;

cardiopatia, especialmente com acometimento da valva mitral e o

desenvolvimento de uma doença mieloproliferativa de curso benigno.

Os defeitos cardíacos observados foram dependentes da dosagem

gênica. Os homozigotos apresentavam uma estenose poli-valvar grave,

defeitos septais amplos, dupla via de saída do ventrículo direito, entre

outros. Aproximadamente 50% dos camundongos heterozigotos também

apresentavam defeitos cardíacos importantes, embora com uma menor

gravidade que os observados nos homozigotos. Nos restantes, os achados

eram bem mais leves, indicando que outros alelos modificadores eram

responsáveis pela variação fenotípica.

Os estudos bioquímicos realizados mostraram que o ganho de função

da mutação D61G nos coxins endocárdicos agia de forma semelhante ao

produto gênico da neurofibromatose tipo I (neurofibromina), com um

aumento da atividade da via Ras-Erk, aumento da proliferação celular e

diminuição da apoptose local. Estes achados sugerem que os produtos

gênicos da SN e da neurofibromatose tipo I atuam em vias de sinalização

similares.

Outro achado comum à SN e à neurofibromatose tipo I é o

desenvolvimento de uma doença mieloproliferativa, sendo possível que

mutações nos genes dessas duas doenças atuem sobre os

hemangioblastos, progenitores das células hematopoiéticas e algumas

células endoteliais.

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29

A geração de um modelo animal para o estudo da SN permitirá uma

melhor compreensão da patogênese da doença, com definição da atuação

da proteína SHP2 nas vias de sinalização.

1.7.7. Síndromes com quadro clínico semelhante à SN e o gene PTPN11

O gene PTPN11 foi também estudado como um possível responsável

pela etiologia de síndromes que apresentam um quadro clínico muito

semelhante ao da SN.

A síndrome de LEOPARD é uma doença autossômica dominante,

cujo acrônimo define suas características clínicas principais: manchas

lentiginosas, anormalidades eletrocardiográficas, hipertelorismo ocular,

estenose pulmonar, anormalidade de genitália, retardo de crescimento e

surdez. Para o diagnóstico clínico da síndrome, Voron et al. (1976)

estabeleceram critérios diagnósticos os quais incluem a presença de

manchas lentiginosas associadas a duas outras características clínicas ou a

presença de um parente de primeiro grau com essas manchas associada a

outros três achados no paciente em questão.

Mutações missense (Tabela 1) foram encontradas em torno de 80%

dos afetados, especialmente a Y279C e a T468M, localizadas nos éxons 7 e

12 do gene PTPN11, respectivamente. Outras alterações gênicas

envolvendo esses dois éxons, assim como o éxon 13 foram descritas

posteriormente em menor freqüência (DiGilio et al., 2002; Legius et al., 2002;

Conti et al., 2003; Froster et al., 2003; Sarkozy et al., 2003; Digilio et al.,

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30

2004; Keren et al., 2004; Sarkozy et al., 2004a e b; Yoshida et al., 2004a;

Kalidas et al., 2005; Paradisi et al., 2005).

A mutação Y279C foi descrita também em pacientes com diagnóstico

de SN (Tartaglia et al., 2002; Yoshida et al., 2004a). Entretanto, vale

ressaltar que um dos pacientes descritos, com idade inferior a seis anos,

apresentava apenas manchas café com leite. Na síndrome de LEOPARD as

manchas lentiginosas aparecem tardiamente, por volta dos cinco ou seis

anos de idade e, portanto, o diagnóstico da síndrome de LEOPARD nessas

crianças não pode ser afastado.

Apesar dessas descrições, as mutações no gene PTPN11

encontradas na síndrome de LEOPARD e as mutações na SN são distintas,

praticamente exclusivas de cada síndrome, indicando que as duas doenças

são condições alélicas.

Tabela 1 - Mutações já descritas na síndrome de LEOPARD

Éxon Troca de nucleotídeo Troca de aminoácido Nº de probandos

7 A836G Y279C 257 A836C Y279S 212 G1381A A461T 212 G1391C G464A 212 C1403T T468M 1813 C1492T A498L 113 G1493T A498W 113 A1517C Q506P 213 A1529C Q510P 3FONTE: DiGilio et al., 2002; Legius et al., 2002; Conti et al., 2003; Froster et al., 2003; Sarkozy et al.,2003; Digilio et al., 2004; Keren et al., 2004; Sarkozy et al., 2004a e b; Yoshida et al., 2004a; Kalidaset al., 2005; Paradisi et al., 2005

A síndrome de Noonan-like/lesões múltiplas de células gigantes

(SNL), descrita por Cohen et al. (1974), caracteriza-se pela presença de

atraso do desenvolvimento neuropsicomotor/ inteligência no limite inferior da

normalidade, baixa estatura, hipertelorismo ocular, orelhas proeminentes e

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posteriorizadas, cardiopatia congênita (EPV) e lesões de células gigantes

em ossos, principalmente na mandíbula e maxila, articulações e/ou partes

moles do organismo. Ainda que a paciente descrita por Cohen et al. (1974)

apresentasse características tanto da SN como da síndrome de LEOPARD,

os autores sugeriram que se tratava de uma doença distinta.

Contra esta idéia, Bertola et al. (2001) descreveram uma família de

três afetados com quadro clínico típico da SN, incluindo diátese

hemorrágica, e lesões de células gigantes na mandíbula e maxila em dois

deles. O estudo de ligação realizado nesta família mostrou que os afetados

apresentavam o mesmo haplótipo na região 12q, local do gene responsável

pela SN. Os autores sugeriram que as lesões de células gigantes poderiam

fazer parte do espectro da SN e, portanto, a SNL não seria uma doença

distinta.

Com a identificação do gene responsável pela SN (PTPN11) no

intervalo cromossômico 12q24 (Tartaglia et al., 2001), o estudo molecular

deste gene na família descrita por Bertola et al. (2001) mostrou a presença

da mutação N308S, a qual também foi encontrada em pacientes com SN e

sem lesões de células gigantes (Tartaglia et al., 2002). Comprovava-se

assim que a SNL não é uma doença distinta. O desenvolvimento das lesões

de células gigantes parece decorrer do efeito de outro(s) gene(s) ou da

interação gene-ambiente.

Duas outras mutações missense foram descritas posteriormente nos

éxons 3 (Asp106Ala) e 7 (Phe285Leu) (Lee et al., 2005). Da mesma forma,

essas mutações já tinham sido descritas em pacientes com SN sem lesões

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aparentes de células gigantes, confirmando que essas lesões fazem parte

do espectro da SN.

A síndrome da neurofibromatose-Noonan (NFSN), caracterizada

por manifestações clínicas tanto da neurofibromatose tipo I (NF1) quanto da

SN, pode decorrer de quatro mecanismos: 1) algumas características da SN

fazem parte do espectro da NF1; 2) algumas características da NF1 fazem

parte do espectro da SN; 3) a NFSN é uma doença distinta; 4) coocorrência

de ambas as doenças em um indivíduo.

Mutações no gene da NF1 foram descritas em pacientes com quadro

clínico compatível com NFSN (Baralle et al., 2003), sugerindo que o fenótipo

Noonan faz parte do espectro da NF1. Este achado foi recentemente

confirmado pelo trabalho de De Luca et al. (2005). Estes autores, em uma

casuística com 17 afetados pela síndrome, demonstraram que 16 deles

apresentavam diferentes mutações no gene NF1, mas não no gene

PTPN11, indicando que o gene NF1 é o principal responsável pela síndrome

da neurofibromatose/Noonan.

Por outro lado, na síndrome cardio-facio-cutânea (CFC) e na

síndrome de Costello, não foram encontradas mutações na região

codificadora do gene (Ion et al., 2002; Kavamura et al., 2003; Tartaglia et al.,

2003), indicando que essas doenças são distintas da síndrome de Noonan.

A síndrome CFC foi descrita por Reynolds et al. (1986) como uma

nova síndrome de anomalias congênitas/retardo mental com envolvimento

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cardio-facio-cutâneo. Ela é caracterizada pela presença de macrocefalia;

dismorfismos faciais (fronte alta, com constricção bitemporal, hipoplasia das

cristas supraorbitárias, inclinação para baixo das fendas palpebrais, ponte

nasal deprimida e orelhas posteriorizadas com hélices proeminentes);

anomalias ectodérmicas, com cabelos esparsos e quebradiços,

sobrancelhas esparsas e lesões hiperqueratóticas; cardiopatia congênita;

retardo de crescimento e desenvolvimento e esplenomegalia.

A etiologia da síndrome CFC ainda não é conhecida.

A síndrome de Costello caracteriza-se por macrocefalia relativa,

cabelos encaracolados, dismorfismos faciais, papilomas periorificiais,

hiperelasticidade da pele das mãos e pés, pregas palmares e plantares

profundas, tonalidade mais escura de pele e deficiência mental (Costello,

1977; Costello, 1996). As anomalias cardiovasculares mais comuns na

doença incluem a comunicação interventricular, a estenose pulmonar valvar

e a miocardiopatia hipertrófica (Siwik et al., 1998).

O gene responsável pela síndrome (HRAS), envolvido na mesma via

de sinalização da proteína SHP2, foi identificado por Aoki et al. (2005). Os

autores descreveram quatro diferentes mutações missense (G13D, G12S,

G12A e G12V) em 12 de 13 pacientes com síndrome de Costello.

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34

1.7.8. O gene PTPN11 e leucemias/síndromes mielodisplásicas

A partir da observação de que pacientes com SN apresentam um risco

aumentado de desenvolver uma leucemia mielomonocítica juvenil (LMMJ),

Tartaglia et al. (2003) estudaram 62 crianças com LMMJ, mas sem SN. Os

autores encontraram mutação apenas no tecido hematopoiético, consistente com

mutações missense somáticas, em 34%. Pacientes com síndromes

mielodisplásicas e com leucemia mielóide aguda também apresentavam

mutações no gene PTPN11, mas em uma proporção menor (10% e 4%,

respectivamente) e, raramente, foram encontradas em adultos com estes

distúrbios hematológicos (Watkins et al., 2004).

Mutações somáticas no gene PTPN11 também foram implicadas na

gênese das leucemias linfocíticas agudas (Tartaglia et al., 2004). De forma

semelhante ao estudo anterior, as mutações foram diferentes das observadas na

SN.

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35

OBJETIVOS

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2. OBJETIVOS

1. Determinar a proporção de pacientes com diagnóstico clínico da SN que

apresenta mutações no gene PTPN11.

2. Determinar a proporção de pacientes com diagnóstico clínico de síndromes

com quadro clínico semelhante à SN (síndrome de LEOPARD, síndrome da

NFNS e SNL) que apresenta mutações no gene PTPN11.

3. Estabelecer uma correlação genótipo-fenótipo entre os pacientes que

apresentam mutação no gene PTPN11 com aqueles sem mutação detectada.

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MÉTODOS

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38

3. MÉTODOS

3.1. Casuística

A casuística é composta por 50 propósitos afetados pela SN, assim

como três propósitos afetados pela síndrome de LEOPARD, três pela SNL e

dois pela síndrome de NFSN (Tabela 2), avaliados na Unidade de Genética

Clínica do Instituto da Criança (ICr) do Hospital das Clínicas da Faculdade

de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Os parentes de

primeiro grau foram examinados clinicamente e 16 destes foram também

considerados afetados (13 com SN, dois com SNL e um com síndrome da

NFNS), perfazendo um total no estudo de 74 pacientes.

Tabela 2 - Total de pacientes com SN e Noonan-like estudados no presentetrabalho

Síndrome Nº propósitos Nº parentes afetados

Noonan 50 13LEOPARD 3 0Noonan-like/lesões múltiplas de célulasgigantes

3 2

Neurofibromatose-Noonan 2 1Total 58 16

Trata-se de um estudo retrospectivo e prospectivo de pacientes com

diagnóstico clínico da SN e de síndromes Noonan-like (síndrome de

LEOPARD, síndrome NFNS e SNL).

Esses indivíduos estudados foram selecionados no Ambulatório de

Genética do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas – FMUSP. Tanto

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39

os pacientes com SN já em seguimento, como aqueles que foram avaliados

inicialmente na confecção deste trabalho foram examinados por mim e só

foram incluídos quando preenchiam os critérios diagnósticos propostos por

van der Burgt et al. (1994).

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital

das Clínicas. O responsável legal pelo probando deu o consentimento

informado para participação nesta pesquisa.

3.2. Protocolo

A avaliação clínica foi baseada em um protocolo que incluiu a

anamnese, o exame físico completo com medidas antropométricas para

peso, estatura, perímetro cefálico, distância intercantal externa (DICE) e

interna (DICI). A adequação do peso e estatura dos afetados seguiu os

gráficos de Marques et al. (1982) e o perímetro cefálico, o de Neelhaus

(1968). A baixa estatura foi assim considerada quando situava-se abaixo do

percentil 2,5. Já, o hipertelorismo ocular foi considerado quando a distância

interpupilar (DIP), calculada segundo a fórmula de Pryor (1969) - DIP=DICE-

DICI/2+DICI -, localizava-se acima do percentil 97 do gráfico de Feingold e

Bossert (1974). O levantamento genealógico e o histórico familiar foram

obtidos através de informações fornecidas pelos genitores e/ou responsáveis

pelo paciente. Todos os familiares de primeiro grau foram examinados

sempre que possível e, na sua impossibilidade, fotografias de diferentes

épocas foram analisadas.

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Os exames complementares compreenderam a realização de uma

avaliação cardiológica com eletrocardiograma e ecocardiograma, raio-X da

coluna vertebral, ultra-som abdominal, avaliação oftalmológica e

hematológica (hemograma completo, coagulograma e dosagem do fator XI).

O estudo cromossômico com banda G do sangue periférico foi realizado em

todos os probandos.

3.3. Estudo molecular

O estudo molecular do gene PTPN11, realizado no Laboratório de

Biologia Molecular do Instituto do Coração - InCor - foi baseado na técnica

da cromatografia líquida de alta precisão desnaturante (DHPLC) dos éxons 2

a 15 em todos os propósitos. Naquelas amostras que apresentavam um

perfil cromatográfico alterado, pela técnica do DHPLC, o seqüenciamento do

éxon correspondente foi realizado.

Nos casos familiais, o estudo molecular era realizado no propósito e,

uma vez detectada uma mutação, o éxon específico era testado no parente

afetado para confirmação. Nos casos aparentemente esporádicos com

mutação encontrada, o genótipo dos parentes de primeiro grau foi realizado,

sempre que possível.

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41

3.3.1. Extração de DNA a partir de sangue total (Miller et al., 1988)

Para a extração de DNA genômico dos propósitos foram coletados 4

ml de sangue de uma veia periférica em um tubo contendo EDTA 5%.

O sangue total foi transferido para um tubo de 15 ml, ao qual

adicionou-se 6 ml de uma solução de lise. O tubo foi agitado (vórtex),

colocado na geladeira a 4 ºC por 10 minutos para a obtenção da lise das

membranas das hemácias e centrifugado a 4 ºC por 10 minutos a 3000 rpm.

O sobrenadante foi descartado e o precipitado ressuspendido em 10 ml de

solução de lise através de agitação, colocado novamente na geladeira e

centrifugado. O sobrenadante foi descartado novamente e ressuspendido

com 1,5 ml de uma solução tampão, 100 ul de SDS 10% e 250 ul de uma

solução contendo proteinase K para a lise dos núcleos dos leucócitos. As

amostras foram deixadas em uma estufa a 37 ºC por 12 a 18 horas. No dia

seguinte, foi adicionado 500 ul de uma solução de NaCl 6 M, misturado

vigorosamente e centrifugado a 4 ºC por 20 minutos a 3000 rpm. O

sobrenadante foi tranferido para outro tubo de 15 ml, ao qual adicionou-se

um volume de etanol a 100%. O DNA foi assim obtido e transferido para um

novo tubo que já continha 1 ml de etanol a 70%. A amostra foi centrifugada a

4 ºC por 15 minutos a 13500 rpm, descartado o sobrenadante e o tubo foi

deixado à temperatura ambiente para secar bem. O DNA foi então

ressuspendido em 1 ml de TE 1X (10 mM Tris-HCl pH 8,0, 1 mM EDTA pH

8,0).

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3.3.2. Reação em cadeia da polimerase (PCR)

O DNA genômico foi amplificado através da reação em cadeia da

polimerase (PCR) utilizando-se pares de primers (Tabela 3) que flanqueiam

cada um dos 14 éxons codificantes do gene PTPN11 – éxons 2 a 15, tanto

para a realização do seqüeciamento quanto para a técnica do DHPLC.

Tabela 3 - Seqüência dos primers utilizados para amplificação dos éxons dogene PTPN11 e suas temperaturas de hibridização

Éxon Primer forward Primer reverse Temp. (ºC)

2 CGA AAT GCA GGC AGC A AGC TGT GTT GTG GA 61,83 GGT AAA ATC CGA CGT GGA AGC CTT TGG AGT CAG AGA 53,44 GTG TTT AGG AGA GCT GA GGT GTC TGT CTT CTG TCA 61,85 GAA TAA TGC TGC AGT GA ACC TCT GTC TGT TTG CA 53,76 TCA ACT GCT GTA CTC GA TCA AGT CTC TCA GGT CCA 61,87 GAA CAT TTC CTA GGA TGA ATT CC GGT ACA GAG GTG CTA GGA ATC A 56,08 GGC TGG GGA GTA ACT GA CTT TCA GGA CAT GAG GA 50,59 TCC TTC CTC ATG TCC TGA CCT AAA CAT GGC CAA 59,610 TTC TGA TCT CTT CCA GA ATG CAT GCA TGT ATG CA 50,511 AAG CTT AGA ACC GGG TGA AAG AGC TAG GAG TGG GTA 50,512 GCT TGG TTT TGA GTC TGA CAA CCT CTC TTC CCC AGA 50,513 GCA TTG TCT CTG AGT CCA CCT GTC CTC CTG CTC A 53,414 AAC CAT TGT CCC TCA AAA CCA CCA TGA CCA 56,715 GCC CAA AGA ATG TAG TA AAT TGC TTG CCT GCT TA 59,6

A reação de PCR para o seqüenciamento de cada éxon continha 2 ul

de DNA, 9 ul de um tampão com os quatro desosirribonucleotídeos (dATP,

dCTP, dGTP e DTTP), 2 ul de cada primer em uma concentração de 12,5

pm (F e R), 2,5 ul de DMSO a 5%, 0,25 ul da enzima Taq-polimerase e água

destilada para completar 50 ul.

As amostras foram colocadas em um termociclador (Perkin-Elmer)

com os seguintes ciclos programados: desnaturação inicial a 92 ºC por 3

minutos, desnaturação a 94 ºC por 30 segundos, hibridização por 1 minuto,

extensão a 72 ºC por 30 segundos e extensão final a 72 ºC por 10 minutos,

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em um total de 35 ciclos. A temperatura de hibridização variou de acordo

com o éxon estudado (Tabela 3).

Para a técnica do DHPLC, realizou-se um PCR contendo 1,5 ul de

DNA, 2,5 ul de um tampão, 0,5 ul de uma solução com os quatro

desosirribonucleotídeos (dATP, dCTP, dGTP e DTTP), 1 ul de cada primer

em uma concentração de 12,5 pm (F e R), 0,75 ul de MgCl2 50 mM, 0,125 ul

da enzima Taq-polimerase Platinum e água destilada para completar 25 ul.

A ciclagem consistiu em desnaturação inicial a 94 ºC por 2 minutos,

desnaturação a 94 ºC por 30 segundos, hibridização por 30 segundos

(Tabela 3), extensão a 72 ºC por 30 segundos e extensão final a 72 ºC por

10 minutos, em um total de 35 ciclos. Após a reação de PCR, os produtos

foram submetidos a uma desnaturação a 94 ºC por 10 minutos e resfriados

lentamente até a temperatura ambiente.

Os produtos de PCR amplificados, tanto para o seqüenciamento como

para a técnica do DHPLC, foram submetidos à eletroforese em gel de

agarose a 1% contendo brometo de etídio e observados em um

transiluminador com luz ultravioleta.

3.3.3. DHPLC (cromatografia líquida de alta precisão desnaturante)

Nesta técnica existe uma coluna de 4,6 mm preenchida com uma

matriz porosa de grãos de copolímero poliestireno-divinilbenzeno (PS-DVB),

os quais são neutros, hidrofóbicos e não reagem diretamente com o DNA. O

buffer acetato de trietilamônia (TEAA) é uma solução íon-pareante que atua

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promovendo a afinidade do DNA com os grãos da coluna. A carga positiva

do grupo amônia do TEAA se liga ao grupo fosfato da molécula de DNA,

enquanto que os grupos hifrofóbicos daquele ligam-se à coluna, servindo

como uma ponte entre a coluna e o DNA.

Esta matriz da coluna refere-se à fase estacionária do DHPLC. A fase

móvel consiste da combinação de tampões que eluem o DNA da coluna, os

quais contém acetonitrila. Conforme se aumenta a sua concentração no

fluxo, as interações hidrofóbicas entre o DNA e o TEAA são quebradas e

assim o DNA é solto.

Nos indivíduos que são heterozigotos para um único nucleotídeo,

aquecendo as amostras a 95 ºC e esfriando devagar, promove-se a

hidridização dos produtos de PCR e formação de mistura de homoduplex e

heteroduplex (estruturas que possuem porções não pareadas de fita

simples). Sob condições de desnaturação parcial, estas formações de

heteroduplex eluem mais rapidamente da coluna, permitindo a diferenciação

entre eles. O programa que acompanha o sistema computacional de

aparelho ajuda na escolha da temperatura ideal desta coluna, baseada na

seqüência de DNA do fragmento a ser eluído. Os fragmentos são detectados

por um sistema de luz ultravioleta e os resultados são apresentados como

cromatogramas.

Foram inicialmente preparadas 4 soluções tampões:

Tampão A: 50 ml de TEAA e 250 ul de acetonitrila em 1 litro de água;

Tampão B: 50 ml de TEAA e 250 ml de acetonitrila em 1 litro de água;

Tampão C: 80 ml de acetonitrila em 1 litro de água;

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Tampão D: 750 ml de acetonitrila em 1 litro de água.

Os tampões C e D são usados para lavagem do sistema.

Uma planilha foi construída no computador ligado ao sistema com

parâmetros a serem definidos, como a localização da amostra na placa, o

volume de injeção da amostra, tipo de aplicação, nome da amostra,

seqüência do éxon estudado, temperatura de corrida já estabelecida

previamente, tempo de retenção na coluna.

O sistema é composto de quatro módulos, sendo que o 1º possui as

válvulas que fazem as misturas dos tampões. Uma lavagem do sistema para

eliminação de bolhas e detritos foi realizada no início.

As amostras amplificadas de forma satisfatória foram colocadas no

módulo 2. Para cada análise, uma agulha retirou 8ul da amostra a qual foi

levada por um capilar à coluna (módulo 3), juntamente com o tampão. Para

a formação de homo e heteroduplex, as amostras são aquecidas a 95º C e

posteriormente esfriadas para que ocorra uma desnaturação parcial, com

temperaturas previamente estabelecidas (Tabela 4). Com o aumento da

concentração da acetonitrila no fluxo, as interações hidrofóbicas entre o DNA

e o TEAA são quebradas e assim o DNA é solto. Em algumas situações,

devido à própria seqüência de DNA a ser eluído, que é variável quanto ao

seu conteúdo GC, a temperatura ótima para a diferenciação de fragmentos

homo e heterozigotos pode variar para cada porção deste fragmento. Por

exemplo, os primeiros 200 bp têm uma temperatura de eluição ótima

diferente dos últimos 300 bp em um fragmento de 500 bp. Nesta situação,

realizamos duas passagens independentes deste produto de PCR pelo

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DHPLC, cada qual com uma temperatura de eluição específica. O Objetico

deste procedimento é tornar o método mais sensível e menos sujeito a

resultados falso-negativos.

No módulo 4 a amostra passou por uma leitura por luz ultra-violeta,

cujo resultado foi analisado por um programa de computador e representado

como um cromatograma para posterior análise.

Tabela 4 - Temperatura da coluna do DHPLC para desnaturação parcial daamostra específica para cada éxon

Éxon Temperatura (ºC)

2 58,5/56,53 57,84 55,5/605 55,5/57,86 55,5/57,57 56,78 56,8/58,89 56,2/60,210 57,911 59/6112 58,513 59,814 57,5/6315 54,9/57,8

3.3.4. Reação de seqüenciamento

A purificação dos produtos de PCR foi realizada naqueles com

amplificação satisfatória utilizando-se o E.Z.N.A. (“easy nucleic acid

isolation”) cycle pure kit do Laboratório Omega Bio-Tek.

Para a realização da reação de seqüenciamento, utilizou-se o kit ABI

Prism Big Dye Terminator Cycle Sequencing Ready Reaction, o qual contém

os didesoxirribonucleotídeos marcados com fluorocromos. Desta solução, à

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4 ul foram adicionados 1ul de primer em uma concentração de 5 pmol/ul e 2

ul do produto de PCR purificado. O volume foi completado para 10 ul com

água MilliQ.

Uma nova reação de PCR foi realizada com uma temperatura de

desnaturação inicial de 96 ºC por 5 minutos e 25 ciclos incluindo 20

segundos a uma temperatura de 96 ºC, 10 segundos a 50 ºC e 4 minutos a

60 ºC.

Ao fim da ciclagem, para precipitação do produto para posterior

injeção no ABI PrismTM 377 (Perkin Elmer), acrescentou-se 50 ul de etanol a

80% e incubou-se por 20 minutos em temperatura ambiente. A solução foi

centrifugada por 45 minutos a 4 ºC e 4000 rpm e o etanol foi desprezado

invertendo-se a placa e drenando-o em papel toalha. Centrifugou-se a placa

por 1 minuto a 1000 rpm. Em seguida, adicionou-se 120 ul de etanol a 70%

e novamente a placa foi colocada na centrífuga por 15 minutos a 4 ºC e

4000 rpm e o álcool desprezado. As amostras foram aquecidas a 95 ºC por 2

minutos no termociclador. Ao final, 2 ul de tampão de corrida contendo Blue

Dextram e Formamida Deionizada foi acrescentado, homogeneizado em

vórtex e desnaturado no termociclador a 90 ºC por 2 minutos. As amostras

foram conservadas em gelo até o momento da aplicação no gel de

seqüenciamento bidirecional em equipamento ABI (utilizando o kit Big Dye

Terminator Sequencing Kit) para realização de uma eletroforese com

duração de 8 horas. O gel foi confeccionado com 9 g de uréia, 2,5 ml de long

ranger, 5 ml de TBE 5X e 10,5 ml de água MilliQ. o seqüenciamento do éxon

em questão foi realizado para elucidação dessa alteração. O resultado

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destas reações foi, então, analisado em aparelho ABI Prism 377 da Perkin

Elmer e os genótipos foram determinados utilizando os programas

GeneScan v3.1.

3.4. Análise estatística

O teste exato de Fisher foi utilizado para análise dos dados obtidos. Um

valor P< 0,050 foi considerado estatisticamente significante.

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RESULTADOS

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4. RESULTADOS

4.1. Síndrome de Noonan

Os 50 propósitos (23 do sexo feminino e 27 do sexo masculino) que

preenchiam os critérios de van der Burgt et al. (1994) foram incluídos nesse

estudo. A idade cronológica deles, por ocasião da realização do estudo

molecular, variou entre 3 meses e 24 anos e 1 mês, com média de 9 anos e

5 meses. A idade do diagnóstico da SN variou entre 3 meses e 20 anos e 4

meses, com média de 5 anos e 9 meses. Oito dos 50 pacientes estudados

eram casos familiais (16%), sendo metade de origem materna.

Dos 50 propósitos estudados, 30 deles (60%) foram encaminhados do

Instituto do Coração (InCor), 5 pacientes (10%) da Endocrinologia Pediátrica

do Instituto da Criança, 6 propósitos eram provenientes de diferentes

especialidades (Neurologia, Hepatologia, Imunologia, Nefrologia e

Neonatologia) e 9 foram encaminhados da rede básica de saúde.

4.1.2. Estudo molecular na SN

Mutações missense (Tabela 5) foram encontradas em 21 (18

esporádicos e três familiais) dos 50 propósitos (42%). Alguns exemplos

destas mutações podem ser vistos na Figura 1.

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Dentre os oito casos familiais, três apresentavam mutações no gene

PTPN11 (37,5%), as quais segregavam nos parentes afetados. Uma

paciente apresentava um irmão que já havia falecido por ocasião do estudo,

não sendo, portanto, incluído na casuística. Um desses casos familiais foi

inicialmente considerado como um caso esporádico, mas a mesma mutação

encontrada na probanda (T411M) foi também observada na mãe e na irmã.

A mãe apresentava baixa estatura e um pescoço curto e a irmã apenas um

hipertelorismo ocular leve.

Dentre os 42 casos esporádicos, 18 pacientes apresentaram mutação

de novo no gene PTPN11 (43%). Em quatro casos aparentemente

esporádicos, o genótipo dos pais não foi realizado, seja por falta de

disponibilidade ou recusa.

Tabela 5 - Mutações encontradas nos propósitos com SN

Éxon Troca de aminoácido Nº depropósitos

RG dos propósitos

3 G60A 1 6030318J3 D61G 1 5042700H3 Y62D 1 5110506I3 Y63C 1 6054054D3 T73I 1 6109379A3 Q79R 3 5181532A/ 6056853G/

5050940C3 D106A 1 55373292J4 E139D 2 6097858F/ 6106602J8 F285S 1 6100175C8 N308S 1

215245426A6094675D/ 5220523D/

11 T411M2 11 6076224E13 P491H2 1 5222686B13 P491S 1 5209601H13 M504V 1 5353798G13 S502L2 1 5263313I13 V508M2 1 5168365G(1) casos familiais(2) mutações não descritas anteriormente

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Figura 1 - Cromatograma do seqüenciamento do éxon 8 mostrando amutação F285S comparada com o seqüenciamento normal e amutação N308S.

Detectamos duas mutações silenciosas: uma troca de guanina para

adenina na posição 162 do aminoácido (D162D) e uma troca de guanina por

adenina na posição 85 (H85H), consideradas como polimorfismos.

4.1.3. Aspectos clínicos na SN

Os pacientes com mutação no gene PTPN11 apresentavam, em

geral, maior proporção de baixa estatura, inclinação para baixo das fendas

palpebrais, má-oclusão dentária, displasia auricular, presença de

Normal

F285S

N308S

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cardiopatia, presença de estenose pulmonar valvar, hepatoesplenomegalia,

anomalia renal, criptorquia, anomalias hematológicas e anomalias vertebrais.

Por outro lado, a miocardiopatia hipertrófica foi menos freqüente neste grupo

(Tabela 6).

Os distúrbios hematológicos foram, entretanto, os únicos a atingirem

uma diferença estatisticamente significante quando comparados os grupos

de pacientes com SN e mutação no gene PTPN11 com aqueles sem

mutação (0,043 – P < 0,05) (Tabela 6).

Os dismorfismos faciais de alguns dos pacientes com SN e mutações

no gene PTPN11 podem ser apreciados na Figura 4.

Tabela 6 - Distribuição dos achados clínicos dos propósitos com síndromede Noonan (número de afetados/ total, %) com mutação e semmutação no gene PTPN11

Achados clínicos Mutação + Mutação – P Total

Baixa estatura 20/21 (95) 24/29 (83) 0,380 44/50 (88)Hipertelorismo ocular 8/21 (38) 14/29 (48) 0,569 22/50 (44)Inclinação ? das fendas 16/21 (76) 17/29 (59) 0,238 33/50 (66)Ptose palpebral 11/21 (52) 20/29 (69) 0,255 31/50 (62)Proptose 6/21 (29) 10/29 (34) 0,763 16/50 (32)Nervos corneanos espessados 1 7/16 (44) 9/23 (39) 1,000 16/39 (41)Fundo de olho alterado2 2/16 (12,5) 4/23 (17) 1,000 6/39 (15)Má-oclusão dentária 10/21 (48) 10/29 (34) 0,393 20/50 (40)Palato alto 7/21 (33) 11/29 (38) 0,774 18/50 (36)Displasia auricular 14/21 (67) 14/29 (48) 0,254 28/50 (56)Pescoço curto/alado 19/21 (90) 27/29 (93) 1,000 46/50 (92)Deformidade esternal 10/21 (48) 18/29 (62) 0,391 28/50 (56)Cardiopatia 19/21 (90) 24/29 (83) 0,684 43/50 (86)Estenose pulmonar valvar 14/21 (67) 14/29 (48) 0,254 28/50 (56)Miocardiopatia hipertrófica 2/21 (10) 4/29 (14) 1,000 6/50 (12)Hepatoesplenomegalia 5/21 (24) 5/29 (17) 0,723 10/50 (20)Anomalia renal 4/21 (19) 3/29 (10) 1,000 7/50 (14)Criptorquia 7/13 (54) 7/14 (50) 1,000 14/27 (52)Anomalia hematológica 12/20 (60) 8/28 (29) 0,043 20/48 (42)Anomalia vertebral 9/20 (45) 6/27 (22) 0,205 15/47 (32)

(1) Além dos nervos corneanos espessados, a biomicroscopia evidenciou também a presença deembriotóxon posterior e anomalia de Rieger.(2) As alterações encontradas no fundo de olho foram: coloboma do nervo óptico/retina e coróide,displasia do nervo óptico, alteração pigmentar macular, escavação do nervo óptico, FO miópico, FOtigróide e descolamento de vítreo.

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As anomalias cardíacas estavam presentes em aproximadamente

90% da nossa casuística, sendo as mais freqüentes a estenose pulmonar

valvar e a miocardiopatia hipertrófica (Tabela 7).

Tabela 7 - Anomalias cardíacas nos propósitos com SN (número deafetados/ total, %) com mutação e sem mutação no genePTPN11

Anomalias cardíacas Mutação + Mutação – Total

Estenose pulmonar valvar (EPV)IsoladaEPV/CIAOutras associações

14/21(67)5/14 (36)5/14 (36)4/14 (29)

14/29 (45)5/14 (36)3/14 (21)6/14 (43)

28/50 (56)10/28 (36)8/28 (29)10/28 (36)

Miocardiopatia hipertrófica 2/21 (10) 4/29 (14) 6/50 (12)Defeitos septais (CIA e/ou CIV) 2/21 (10) 1/29 (3) 3/50 (6)EPIV/CIA - 1/29 (3) 1/50 (2)Tetralogia de Fallot - 1/29 (3) 1/50 (2)Dilatação discreta da raiz da aorta - 1/29 (3) 1/50 (2)Prolapso da valva mitral 1/21 (5) - 1/50 (2)Forame oval pérvio/canal arterial - 1/29 (3) 1/50 (2)Anomalia de Ebstein - 1/29 (3) 1/50 (2)

As principais caracterísitcas clínicas nos parentes afetados podem ser

observadas na Tabela 8.

A estatura final foi avaliada em nove parentes afetados. No grupo com

mutação, a estatura nas quatro mulheres variou de 145,5 cm a 152,5 cm. Já

no grupo sem mutação no gene PTPN11, as duas mulheres tinham uma

estatura final de 151 e 153 cm e nos três homens, ela variou de 147,5 cm a

152 cm.

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55

Tabela 8 - Achados clínicos nos parentes afetados pela SN (número deafetados/ total, %)

Achados clínicos Mutação + Mutação – P Total

Baixa estatura 1/5 (20) 5/8 (62,5) 0,266 6/13 (46)Hipertelorismo ocular 1/5 (20) 3/8 (37,5) 1,000 4/13 (31)Inclinação ? das fendas 5/5 (100) 6/8 (75) 0,487 11/13 (85)Ptose palpebral 0/5 (0) 1/8 (12,5) 1,000 1/13 (8)Proptose 2/5 (40) 3/8 (37,5) 1,000 5/13 (38)Má-oclusão dentária 1/5 (20) 2/8 (25) 1,000 3/13 (23)Palato alto 1/5 (20) 2/8 (25) 1,000 3/13 (23)Displasia auricular 1/5 (20) 0/8 (0) 0,385 1/13 (8)Pescoço curto/alado 2/5 (40) 3/8 (37,5) 1,000 5/13 (38)Deformidade esternal 0/5 (0) 1/8 (12,5) 1,000 1/13 (8)Cardiopatia (EPV) 1/5 (20) 0/8 (0) 0,385 1/13 (8)Hepatoesplenomegalia 0/5 (0) 0/8 (0) - 0/13 (0)Anomalia renal 0/5 (0) 0/8 (0) - 0/13 (0)Criptorquia - 0/5 (0) - 0/5 (0)

4.2. Síndromes Noonan-like

Na síndrome de LEOPARD, dois pacientes do sexo feminino e um do

sexo masculino, aparentemente casos esporádicos, foram avaliados.

Na síndrome Noonan-like/lesões múltiplas de células gigantes, um

caso familial (mãe, filho e filha afetados) e dois casos aparentemente

esporádicos (um do sexo masculino e um do feminino) foram incluídos.

Na síndrome de neurofibromatose/Noonan, duas pacientes foram

estudadas.

4.2.1. Estudo molecular nas síndromes Noonan-like

A mutação Y279C no éxon 7 (Figura 2) foi observada em todos os

três afetados pela síndrome de LEOPARD.

Nos pacientes com SNL, a mutação N308S, foi encontrada apenas

em um caso familial (Tartaglia et al., 2002).

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Uma paciente com síndrome de NFSN, com os seguintes achados:

inclinação para baixo das fendas palepebrais, hipertelorismo ocular, orelhas

posteriorizadas, pescoço curto, pectus carinatum, cardiopatia congênita –

estenose pulmonar valvar e coartação da aorta -, mais de seis manchas café

com leite (Figura 5), neurofibromas, efélides nas regiões axilares e inguinais,

nódulos de Lisch à biomicroscopia e glioma do nervo óptico, apresentava

mutação tanto no gene da SN (Q510R)(Figura 3), como no gene da NF1

(L844R). Nesse caso, a paciente herdou a mutação do gene PTPN11 do pai,

considerado clinicamente afetado. Os genitores não apresentavam nenhuma

característica clínica de NF1 e o estudo molecular em ambos foi normal. No

outro caso de NFSN nenhuma alteração gênica foi identificada.

Figura 2 – Cromatograma do seqüenciamento do éxon 7 mostrando amutação Y279C (troca de uma adenina por uma guaninana posição 836 do nucleotídeo), comparada com oseqüenciamento normal.

Y279C

Normal

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57

Figura 3 – Cromatograma do seqüenciamento do éxon 13 mostrandoa mutação Q510R.

4.2.2. Aspectos clínicos nas síndromes Noonan-like

Síndrome de LEOPARD

O fácies típico (Figura 4), a presença de miocardipatia hipertrófica e

as manchas lentiginosas estavam presentes em todos os três afetados

(Tabela 9).

Tabela 9 - Achados clínicos nos propósitos com síndrome de LEOPARD

Achados clínicos na síndrome de LEOPARD N

Baixa estatura 2/3Fácies típico 3/3Fundo de olho alterado 0/2Miocardiopatia hipertrófica 3/3Alteração eletrocardiográfica 2/3Criptorquia 0/1Manchas lentiginosas 3/3Déficit auditivo 1/2Anomalias hematológicas (doença de vonWillebrand e TTPA alargado)

2/3

Q510R

Normal

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Síndrome Noonan-like/ lesões múltiplas de células gigantes

Os três propósitos com síndrome de Noonan-like/lesões múltiplas de

células gigantes apresentavam baixa estatura, dismorfismos faciais,

cardiopatia congênita (estenose pulmonar valvar) e lesões ósseas com

células gigantes multinucleadas (Tabela 10).

Tabela 10 - Achados clínicos nos propósitos com síndrome de Noonan-like/lesões múltiplas de células gigantes e nos parentesafetados

Achados clínicos na síndrome Noonan-like/lesões múltiplas de células gigantes

Propósitos Parentes afetados

Baixa estatura 3/3 2/2Fácies típico 3/3 2/2Nervos corneanos espessados 2/3 0/2Fundo de olho alterado 0/3 0/2Estenose pulmonar valvar com ou sem CIA 3/3 1/2Criptorquia 2/2 -Anomalias hematológicas (doença de VonWillebrand e fator XI diminuído)

2/3 1/2

Lesões múltiplas de células gigantes 3/3 1/2

Síndrome neurofibromatose-Noonan

Os propósitos afetados pela síndrome da neurofibromatose-Noonan

apresentvam pelo menos três critérios clínicos para o diagnóstico da

neurofibromatose (Tabela 11), além do fácies típico da SN (Figura 5).

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Tabela 11 - Achados clínicos nos propósitos com síndrome daneurofibromatose-Noonan e nos parentes afetados

Achados clínicos na síndromeneurofibromatose-Noonan

Propósitos Parentes afetados

Baixa estatura 0/2 0/1Fácies típico da SN 2/2 1/1Pescoço curto/alado 1/2 0/1Anomalia cardíaca 2/2 0/1Manchas café-au-lait (> 6) 2/2 0/1Efélides em axila e virilha 2/2 0/1Neurofibromas 1/2 0/1Glioma do nervo óptico 1/2 0/1Nódulos de Lisch 2/2 0/1

Figura 4 – Fotos de alguns dos pacientes com SN e síndrome de LEOPARDcom mutações no gene PTPN11 encontrados na nossacasuística.

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Figura 5 - Propósita com NFNS apresentando hipertelorismo evidente,efélides e várias manchas café com leite.

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DISCUSSÃO

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62

5. DISCUSSÃO

5.1 Síndrome de Noonan

Quando analisamos a totalidade de nossos pacientes com SN,

independente da presença ou não de mutações no gene PTPN11,

observamos as seguintes freqüências de achados clínicos:

Na literatura, a baixa estatura ocorre em torno de 50% dos afetados

pela síndrome de Noonan (Sharland et al., 1992; Musante et al.,2002;

Sarkozy et al., 2003) e, na nossa casuística, ela estava presente em 88%

dos pacientes.

Essa diferença pode ser explicada pelo fato do nosso serviço ser um

Hospital Terciário, com pacientes apresentando, provavelmente, um quadro

clínico mais exuberante. Outro fator importante é a utilização de critérios

diagnósticos, o que, além de homogeneizar mais a amostra, seleciona os

pacientes com um quadro clínico mais típico da doença.

Vale ressaltar que no trabalho de Tartaglia et al. (2002), a baixa

estatura estava presente em 73% dos afetados, mas não havia relato de

como essa característica foi avaliada, se abaixo do percentil 3% ou do 10%.

Freqüência semelhante (72%) foi observada por Zenker et al. (2004), que

considerou baixa estatura aquela localizada dois desvios-padrão abaixo da

média.

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A cardiopatia, outro sinal cardinal da síndrome de Noonan, é

encontrada em 50% dos pacientes (Nora et al., 1974; Mendez e Opitz, 1985;

Noonan, 1994). No trabalho de Sharland et al. (1992), estudando afetados

pela SN encaminhados por Pediatras, Cardiologistas Pediátricos e

Geneticistas Clínicos no Reino Unido, os autores observaram que apenas

12,5% destes indivíduos apresentavam exames ecocardiográficos normais.

Eles atribuíram a freqüência maior das anomalias cardíacas ao fato de se ter

mais segurança em se fazer o diagnóstico da SN na presença de um defeito

cardíaco.

Obtivemos também uma freqüência de anomalias cardíacas superior

a descrita na literatura (86%). É provável que isso decorra do fato dos

pacientes terem sido encaminhados, na sua maioria, pelo Instituto do

Coração (60%).

Quanto aos tipos de anomalias cardíacas, a estenose pulmonar valvar

foi a mais comum na nossa amostra (56%), seguida da miocardiopatia

hipertrófica (12%), não diferindo dos achados da literatura.

A freqüência da criptorquia nos meninos afetados varia bastante na

literatura, desde 41% (Sarkozy et al., 2003) até 77% (Tartaglia et al., 2002).

Obtivemos em nossa casuística uma presença intermediária de 52%.

Os achados clínicos nos parentes afetados com SN foram, em geral,

menos freqüentes que nos propósitos. As seguintes características clínicas

atingiram uma diferença estatisticamente significante (P<0,050): baixa

estatura, ptose palpebral, displasia auricular, pescoço curto e/ou alado,

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presença de cardiopatia e deformidade esternal, compatível com um fenótipo

mais sutil nos parentes afetados.

A estatura final observada em nove parentes afetados estava

comprometida na quase totalidade deles, com exceção de uma mulher cuja

estatura estava acima do percentil 10. Noonan et al. (2003) estudando 73

adultos com SN, observaram que aproximadamente 70% deles

apresentavam uma estatura final abaixo do percentil 10, indicando que

embora o déficit diminua com o estirão de crescimento, que é mais tardio na

SN, ainda assim a estatura final situa-se abaixo do esperado para a idade.

A síndrome de Noonan é considerada uma doença gênica

heterogênea. Esta heterogeneidade é tanto alélica quanto de lócus. Neste

último caso, estudos prévios mostraram mutações na região codificadora do

gene PTPN11 em uma porcentagem que variou entre 29% (Musante et al.,

2002) e 60% (Zenker et al., 2004). No presente estudo, as mutações foram

encontradas em 42% da nossa amostra, dado este muito semelhante ao

observado por Tartaglia et al. (2002) (45%) na análise de uma casuística

composta por 119 pacientes com SN (Tabela 12). No trabalho de Zenker et

al. (2004), a maior taxa de mutações observadas em sua amostra foi

atribuída aos seguintes fatos: 1) o uso da técnica de seqüenciamento direto,

ao invés do emprego da técnica do DHPLC como screening inicial; 2) a

maioria dos probandos estudados foram encaminhados da clínica de

Cardiologia, levando a um aumento do número de pacientes que

apresentavam defeitos cardíacos. Já se havia demonstrado que afetados

pela SN com estenose pulmonar valvar apresentavam mais comumente

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mutações no gene PTPN11 quando comparados com aqueles sem

mutações (Tartaglia et al., 2002). No presente trabalho, a incidência de

estenose pulmonar valvar nos pacientes com mutação no gene PTPN11 foi

de 67%, valor este intermediário entre o observado por Zenker et al. (2004)

(74%) e o obtido por Tartaglia et al. (2002) (57%), o que poderia levar a um

pequeno viés do nosso resultado.

O fato de que uma grande porcentagem de pacientes com diagnóstico

clínico de SN, os quais preenchiam os critérios diagnósticos para a doença,

não apresentar mutações na região codificadora do gene PTPN11 confirmou

estudos anteriores que já indicavam que a SN é uma síndrome heterogênea.

Jamieson et al. (1994) mostraram que algumas famílias com SN não

apresentavam ligação para a região crítica da localização do gene em

12q24. Além disso, van der Burgt e Brunner (2000) sugeriram que havia

evidências de uma forma da SN compatível com um padrão de herança

autossômica recessiva.

A região codificadora do gene é composta por 15 éxons, mas as

mutações descritas em pacientes com SN concentram-se em três éxons

específicos – 3, 8 e 13. De fato, 86% das mutações aqui encontradas

localizavam-se nessas regiões (Tabela 12). Este achado é muito semelhante

ao da literatura, uma vez que nos trabalhos houve uma variação entre 83 e

88% (Tartaglia et al., 2002; Musante et al., 2002; Sarkozy et al., 2003;

Zenker et al., 2004; Jongmans et al., 2005).

Por outro lado, a freqüência do envolvimento de cada um desses três

éxons varia consideravelmente nos trabalhos descritos na literatura, como,

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por exemplo, de 35% (Sarkozy et al., 2003) a 70% (Musante et al., 2002) no

éxon 3.

Na nossa casuística, mutações no éxon 13 foram observadas com

uma freqüência bem maior (24%) quando comparada com outros estudos,

mostrando ser um local comum de mutações na nossa população.

No éxon 8 um hot spot foi encontrado na região onde localizam-se os

resíduos 308 e 309. No caso do éxon 3, as mutações estão mais

espalhadas, sem uma região preferencial.

Tabela 12 - Freqüência de mutações (%) encontradas nos probandos comSN e especificamente nos éxons 3, 8 e 13 em diferentesestudos e no presente trabalho

Mutações Tartaglia etal., 2002

Musante etal., 2002

Sarkozy etal., 2003

Zenker etal., 2004

Jongmanset al., 2005

Presentetrabalho,2006

Geral 45 29 32 60 45 42

Éxon 3 41 70 35 50 46 43

Éxon 8 39 17 39 26 27 19

Éxon 13 7 0 9 12 14 24

Soma(3, 8 e 13)

87 87 83 88 8 86

A mutação considerada mais comum é a N308D no éxon 8 (Tartaglia

et al., 2002 – 31%; Zenker et al., 2003 – 18%; Sarkozy et al., 2003 – 30%),

seguida pela Y63C e Q79R localizadas no éxon 3. A mutação N308S (14%),

juntamente com a Q79R (14%), foram as mais frequentes na nossa

casuística (Tabela 5). O fato de não encontrarmos nenhum probando em

nosso trabalho com a mutação considerada mais comum, sugere que a

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mutação N308D não é freqüente na nossa população, embora o resíduo 308

continue a ser um local importante de ocorrência de mutação.

As alterações gênicas não descritas anteriormente identificadas no

nosso trabalho foram a T411M, localizadas no éxon 11, a S502L, a V508M,

e a P491H, localizadas no éxon 13. Os resíduos das mutações - 491 e 502 -

já haviam sido descritos como local de alteração gênica anteriormente.

Com exceção da mutação T411M que localiza-se na folha ß do

domínio PTP e a E139D, que está no domínio C-SH2, as outras mutações

encontradas estão situadas na interação entre os domínios N-SH2 e PTP, de

acordo com o descrito na literatura (Figura 6).

Figura 6 – Representação da estrutura terciária da proteína SHP-2com as mutações encontradas na nossa casuística. Odomínio N-SH2 está representado em amarelo, o PTP emcinza e o C-SH2 em verde. As mutações estãorepresentadas em vermelho e roxo.

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Outra característica da SN é a sua expressividade bastante variável,

tanto entre diferentes famílias (inter-familial) quanto dentro da mesma família

(intra-familial). Esta característica, aliada ao fato de que o fenótipo pode

variar com a idade, sendo as características clínicas mais evidentes na

criança que no adulto (Allanson, 1987), faz com que o diagnóstico clínico

nem sempre seja realizado no adulto. Às vezes, as características clínicas

são tão sutis, que o indivíduo pode ser considerado normal.

Portanto, recomenda-se que seja feita uma avaliação detalhada dos

genitores dos afetados, com fotos dos mesmos quando crianças, o que é

essencial para um correto diagnóstico e posterior aconselhamento genético.

Em uma paciente afetada pela SN, com uma mutação nova (T411M)

identificada na nossa casuística, o exame físico dos pais e dos irmãos não

revelou características sugestivas da SN e foram considerados como não

afetados (Figura 7). Entretanto, o estudo molecular da mãe, que apresentava

apenas uma inclinação para baixo das fendas palpebrais e um pescoço

curto, assim como de uma das irmãs, com apenas uma tendência a um

hipertelorismo ocular, mostrou a mesma mutação, indicando que elas

também apresentavam a SN (Bertola et al., 2004)(Anexo A).

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Figura 7 - Heredograma de uma família com SN e comexpressividade variável. As fotos mostram aprobanda (apontada por uma flecha), a irmã e a mãecom a mesma mutação no gene PTPN11 (T411M). Afoto à esquerda é da mãe quando criança.

Em casos como este, fica difícil estabelecer se o fenótipo,

extremamente sutil, é decorrente da expressividade variável ou de uma

penetrância incompleta.

Nos outros 14 dos 18 pacientes esporádicos com mutação no gene

PTPN11, nenhuma mutação neste gene foi identificada em um genitor ou

irmã/irmão do propósito. Além disso, nos outros dois casos familiais da

nossa casuística, a mutação segregava com o fenótipo em todos os

afetados. Embora estes achados corroboram os de Tartaglia et al. (2002),

que sugeriram que a penetrância era praticamente completa na SN, novos

estudos são necessários para que se esclareça de forma definitiva se a

penetrância na SN é completa ou não.

4 4

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70

Como corolário deste achado temos que a expressividade bastante

variável na SN, em pacientes com o mesmo genótipo (a mesma mutação no

gene PTPN11), indica que a interação com outro(s) gene(s), assim como

com o meio ambiente são importantes na determinação do fenótipo.

Além disso, como aplicação prática, nos casos em que uma mutação

é identificada em um caso aparentemente esporádico, o estudo molecular

dos parentes de primeiro grau é imprescindível, mesmo na ausência de

características clínicas sugestivas da SN nestes parentes. Isto permitirá a

realização de um aconselhamento genético mais adequado. No caso da

família descrita acima, com mutação T411M, o risco de recorrência para

uma futura prole da mãe e da irmã da paciente mudou de menos de 1% para

50%.

Quando avaliamos as principais características clínicas apenas dos

propósitos que apresentavam mutações no gene PTPN11 aqui estudados e

comparamos com os trabalhos de Tartaglia et al., 2002; Sarkozy et al., 2003;

Zenker et al., 2004 e Jongmans et al., 2005 (Tabela 13), observamos que a

baixa estatura, o fácies típico e a presença de cardiopatia eram mais

comuns na nossa amostra. Quanto à presença de cardiopatia, embora esta

anomalia tenha sido mais freqüente no grupo de afetados pela SN como um

todo, independente da presença ou não de mutações no gene PTPN11, a

freqüência de estenose pulmonar valvar no grupo com mutações no gene foi

semelhante à encontrada por Jongmans et al. (2005).

Já a deformidade esternal e a criptorquia foram os achados clínicos

que apresentaram maior variação nos diferentes estudos. A deformidade

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esternal, à semelhança do observado por Jongmans et al. (2005), foi bem

menos freqüente nas duas casuísticas, em torno de 45%. Nos trabalhos de

Sarkozy et al. (2003) e Zenker et al. (2004), os autores usaram o termo

deformidade torácica, sendo possível que também levaram em consideração

o tórax alargado, o que aumentaria a freqüência desse achado, mas não

explicaria a diferença observada no estudo de Tartaglia et al., (2002), no

qual os autores aparentemente só avaliaram a deformidade esternal.

A criptorquia nos propósitos do sexo masculino variou de 43% a 84%

nos diferentes trabalhos. Provavelmente essa variação pode ser explicada

pela origem do encaminhamento dos pacientes, uma vez que se eles

tiverem sido encaminhados com maior freqüência da Clínica

Endocrinológica, haverá uma maior proporção de criptorquia.

Tabela 13 - Achados clínicos nos propósitos com SN com mutações no genePTPN11 em diferentes estudos e no presente trabalho (númerode afetados/ total, %)

Achados clínicosnos propósitos commutação PTPN11

Tartaglia et al.,2002

Sarkozy etal., 2003

Zenker et al.,2004

Jongmans etal., 2005

Presentetrabalho,2006

Baixa estatura 39/51 (76,5) 20/23 (87) 28/34 (82) 41/56 (73) 20/21 (95)Fácies típico - 21/23 (91) 31/34 (91) 48/56 (86) 20/21 (95)Cardiopatia

EPVMiocardiopatiahipertrófica

-36/51 (70,6)3/51 (5,9)

-13/23 (56)3/23 (13)

-30/34 (88)3/34(9)

42/56 (75)38/56 (68)4/56 (7)

19/21 (90)14/21 (67)2/21 (10)

Deformidadeesternal/torácica

39/50 (78) 21/23 (91) 28/34 (82) 24/56 (43) 10/21 (48)

Criptorquia 26/31 (83,9) 6/11 (54) 6/14 (43) 27/32 (84) 7/13 (54)

As características craniofaciais na síndrome de Noonan são

extremamente importantes para o diagnóstico clínico, sendo a presença do

hipertelorismo ocular considerada a mais típica. Lee et al. (1992) fizeram

uma avaliação oftalmológica detalhada em 58 pacientes afetados por essa

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patologia e observaram que algum tipo de anomalia estava presente em

95% dos casos, sendo que a mais comum era o hipertelorismo ocular, em

74% dos pacientes.

Na nossa casuística, esse achado ocular estava presente apenas em

38% dos afetados com mutação no gene PTPN11, sendo que a inclinação

para baixo das fendas palpebrais (76%) e a ptose palpebral (52%) foram as

anomalias oculares mais comuns. De forma semelhante, Musante et al.

(2002) também ressaltaram essa discrepância. Estes autores observaram

que o hipertelorismo ocular estava presente em 50% dos propósitos com

mutação no gene PTPN11 e a inclinação para baixo das fendas palpebrais e

a ptose palpebral foram os achados mais freqüentes, perfazendo um total de

71% e 60%, respectivamente.

É interessante notar que apesar do hipertelorismo ocular não ser tão

prevalente como o esperado, nos trabalhos que descreviam o fácies como

típico ou sugestivo, sem pormenorizar as características individualmente,

havia uma alta freqüência de fácies típico (91%), indicando que mesmo na

ausência do hipertelorismo evidente, os outros achados clínicos eram

suficientes para o diagnóstico.

Além dos achados oftalmológicos externos, a presença de nervos

corneanos espessados, pela avaliação biomicroscópica da câmara anterior

do olho, é comum, presente em 46% dos pacientes (Lee et al., 1992).

Nossos dados corroboram este fato, com uma freqüência de 40% na nossa

casuística como um todo e em 44% dos pacientes com mutação presente.

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73

Na tentativa de se estabelecer uma correlação genótipo-fenótipo, as

características clínicas em pacientes apresentando mutação no gene

PTPN11 e naqueles que não apresentavam mutação nesse gene foram

comparadas. Entretanto, os dados obtidos são discordantes, não havendo,

por hora, uma correlação absoluta.

No trabalho de Tartaglia et al. (2002), os autores mostraram que os

pacientes com mutação no gene PTPN11 apresentavam uma maior

incidência de estenose pulmonar valvar, assim como uma menor incidência

de miocardiopatia hipertrófica, diferença esta estatisticamente significante.

No trabalho de Zenker et al. (2004), além da estenose pulmonar, uma

diferença estatisticamente significante entre os pacientes com mutação no

gene e aqueles sem mutação foi observada com relação à baixa estatura,

diátese hemorrágica, deformidade esternal e a presença do fácies típico. No

entanto, a miocardiopatia hipertrófica não apresentou uma relação inversa,

como no trabalho de Tartaglia et al. (2002).

Já Sarkozy et al. (2003) observaram uma freqüência semelhante de

estenose pulmonar valvar entre os dois grupos.

No presente estudo a única anomalia que atingiu uma diferença

estatisticamente significante, também observada por Zenker et al. (2004), foi

a anomalia hematológica (Tabela 6 - P =0,043). Entretanto, há uma

diferença metodológica entre os trabalhos. No estudo de Zenker et al.

(2004), os autores consideraram a presença de diátese hemorrágica como

um critério menor para o diagnóstico clínico da SN, sendo que bastava

apenas a presença de sintomas e/ou sinais, não havendo necessidade de

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74

uma comprovação laboratorial da alteração do sistema de coagulação. No

presente trabalho, consideramos as alterações laboratoriais. Dos 21

pacientes com mutação no gene PTPN11, 12 propósitos apresentavam

alguma alteração, sendo que um paciente não realizou a avaliação

hematológica. Um diagnóstico definitivo foi obtido em cinco casos:

deficiência da pré-calicreína em um paciente, síndrome mielodisplásica

(leucemia mielomonocítica juvenil) também em um paciente e a deficiência

de fatores de coagulação em três casos (deficiência do fator XI em um, do

fator XII em outro e uma deficiência combinada dos fatores XI, VII e cofator

da ristocetina em outro caso). O restante apresentava uma alteração no

coagulograma, com um tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPA)

alargado.

A presença de diátese hemorrágica na SN foi descrita nos primeiros

relatos da síndrome (Noonan, 1968) e incluia anormalidades plaquetárias,

em número e/ou função, assim como deficiência dos fatores de coagulação,

especialmente a deficiência do fator XI (Sharland et al. 1990). Na última

década, a presença de doenças mieloproliferativas foi descrita na SN, sendo

que essa associação não parecia ser fortuita (Bader-Meunier et al., 1997). A

forma de apresentação dessa síndrome mielodisplásica na SN, uma

leucemia mielomonocítica juvenil, geralmente apresenta uma evolução

benigna, com regressão espontânea do quadro. A mutação T73I foi

identificada em pacientes com SN que apresentavam essa anormalidade

hematológica (Tartaglia et al., 2003; Loh et al., 2004), embora não seja

específica. Há a descrição da mutação G417C em um paciente com esse

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quadro clínico, assim como a presença da mutação T73I em pacientes sem

história de qualquer anormalidade hematológica. Portanto, a alteração

gênica T73I parece predispor os pacientes a apresentar uma síndrome

mielodisplásica. Um dos pacientes aqui estudado, com essa mutação

identificada, apresentou nos primeiros meses de vida um quadro de

hepatoesplenomegalia, com leucocitose, monocitose, anemia e

plaquetopenia, com regressão espontânea dos achados hematológicos após

quatro meses de evolução. Portanto, pacientes afetados pela SN com essa

mutação específica devem ser avaliados quanto à possibilidade do

desenvolvimento de uma síndrome mielodisplásica, especificamente a

leucemia mielomonocítica juvenil.

Um paciente da nossa casuística, com a mutação F285S,

apresentava um déficit pôndero-estatural acentuado, quilotóraces de

repetição por ocasião de dois procedimentos cirúrgicos e um quadro

sugestivo de linfangictasia intestinal.

A mesma mutação foi descrita em um feto com hidropsia fetal

(Schluter et al., 2005), sugerindo que essa alteração gênica possa predispor

ao desenvolvimento de displasia linfática.

Contrário a esta sugestão existe o fato de que a mesma mutação já

foi identificada em outros pacientes com SN (Tartaglia et al., 2001; Yoshida

et al., 2004a), aparentemente sem história de displasia linfática. Entretanto,

como os sinais desse achado podem ser observados apenas em situação de

um grande stress (por exemplo, um procedimento cirúrgico), é ainda

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possível que os casos prévios com mutação F285S apresentassem sinais

subclínicos dessa anomalia.

A descrição clínica detalhada de outros afetados com SN e a mutação

F285S são importantes para a confirmação dessa associação.

A alteração gênica N308D, considerada a mutação mais comum na

SN, parece estar relacionada com um desenvolvimento intelectual favorável

(Jongmans et al., 2005).

5.2. Síndromes Noonan-like

Diferentemente da SN, o encontro de mutações na região codificadora

do gene PTPN11 em pacientes com síndrome de LEOPARD é alto, em torno

de 90% (Digilio et al., 2002; Keren et al., 2004), indicando que esse gene é o

principal responsável pela síndrome. Na nossa casuística, os três afetados

(100%) apresentavam mutação nesse gene.

As alterações gênicas na síndrome de LEOPARD apresentam uma

alta especificidade, indicando ser uma condição alélica à SN. Duas

mutações são recorrentes e muito prevalentes (Y279C e T468M), nos éxons

7 e 12 respectivamente. A mutação T468M foi mais freqüente (62,5%) no

estudo de Digilio et al. (2002), mas não no trabalho de Keren et al. (2004),

no qual observou-se a mesma positividade que a Y279C (46%). Apesar da

nossa casuística ser constituída por apenas três pacientes, o fato de

encontrarmos a mesma mutação (Y279C) nestes afetados não aparentados,

aliado ao fato de que esta mutação também ser considerada a mais comum

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(45%) quando analisadas as casuísticas de diversos trabalhos em conjunto

(DiGilio et al., 2002; Legius et al., 2002; Froster et al., 2003; Conti et al.,

2003; Sarkozy et al., 2003; Digilio et al., 2004; Sarkozy et al., 2004a e b;

Yoshida et al., 2004c; Keren et al., 2004; Kalidas et al., 2005; Paradisi et al.,

2005), sugere que iniciemos o estudo molecular pela análise do éxon 7,

local dessa mutação.

Os achados clínicos nos nossos propósitos, os quais preechiam os

critérios clínicos de Voron et al. (1976), foram típicos da síndrome, com a

presença de dismorfismos faciais, manchas lentiginosas e cardiopatia

(miocardiopatia hipertrófica) em todos eles.

É interessante notar que, diferentemente da SN, na qual pacientes

com mutações no gene PTPN11 apresentam uma prevalência reduzida de

miocardiopatia hipertrófica, na síndrome de LEOPARD essa foi a cardiopatia

mais comum. Na literatura, de 29 pacientes descritos com anomalias

cardíacas e mutação no gene PTPN11, 22 apresentavam miocardiopatia

hipertrófica (76%). Este achado sugere que mutações no domínio PTP,

encontrados na síndrome de LEOPARD, desempenham um papel mais

importante na proliferação dos cardiomiócitos.

As alterações de condução eletrocardiográficas, consideradas um dos

achados principais da síndrome de LEOPARD, estava presente em dois dos

três afetados em nosso trabalho (67%), freqüência menor que a presença da

miocardiopatia hipertrófica. Este fato corrobora os de Yoshida et al. (2004c),

indicando que a miocardiopatia hipertrófica é um achado característico nos

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pacientes com síndrome de LEOPARD e mutações no gene PTPN11, mais

importante que as alterações encontradas no eletrocardiograma.

Além disso, as alterações eletrocardiográficas observadas nos dois

pacientes da nossa casuística, representadas por uma alteração difusa da

repolarização ventricular em ambos os casos e bloqueio de ramo em um

deles, podem ser consideradas como decorrentes da própria miocardiopatia

hipertrófica.

Anomalias hematológicas são descritas em aproximadamente 30%

dos afetados pela SN, mas não na síndrome de LEOPARD. No entanto, os

dois pacientes aqui avaliados apresentavam distúrbios hematológicos,

representados pela doença de von Willebrand e alargamento do TTPA, com

dosagem normal dos fatores de coagulação. Esse achado amplia o espectro

fenotípico na síndrome de LEOPARD, sugerindo que mutações no domínio

PTP também predisponham ao desenvolvimento de alterações

hematológicas.

Na síndrome de Noonan-like/lesões múltiplas de células gigantes,

anteriormente considerada uma doença distinta da SN, mutações no gene

PTPN11 (N308S, D106A e F285L) foram encontradas em pacientes com

quadro clínico típico da síndrome (Tartaglia et al., 2002; Lee et al., 2005).

Essas mesmas mutações já haviam sido identificadas em pacientes com SN

e sem história de lesões múltiplas de células gigantes, indicando que a SNL

não é uma doença distinta, mas sim parte do espectro da SN. Um dos

pacientes estudados por Lee et al. (2005) não apresentava mutação no gene

PTPN11, assim como os dois propósitos aqui avaliados, sugerindo haver

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heterogeneidade de lócus na doença. O desenvolvimento das lesões de

células gigantes parece estar relacionado à interação com outro gene(s)

e/ou gene(s)-fatores ambientais.

Os achados clínicos nos nossos propósitos incluíram a baixa estatura,

o fácies típico, a cardiopatia (EPV), a criptorquia e lesões múltiplas de

células gigantes em todos eles.

Os estudos moleculares na síndrome da NFSN indicavam que essa

síndrome decorreria de mutações apenas no gene da NF1 (Baralle et al.,

2003; De Luca et al., 2005). Uma paciente aqui avaliada com NFSN

apresentava tanto uma mutação no gene PTPN11 (Q510R), quanto no gene

da NF1 (L844R), achado este não descrito na literatura (Bertola et al., 2005)

(Anexo B). No caso, ela havia herdado o gene PTPN11 mutado do pai

(também afetado pela SN) e possuía uma mutação de novo no gene NF1. A

alteração gênica L844R já havia sido descrita em um caso esporádico de

neurofibromatose tipo I (Maynard et al., 1997). O encontro de mutações

nesses dois genes sugere que a síndrome NFSN seja uma doença

heterogênea, em que a coocorrência de ambas as doenças em um indivíduo

é uma possibilidade, uma vez que elas são relativamente comuns na

população.

Embora um grande progresso no entendimento da etiologia da SN

tenha sido obtido nos últimos anos, por ser considerada uma doença

heterogênea, ainda há um longo caminho a ser percorrido para o total

conhecimento dessa síndrome, o que permitirá um manejo mais adequado e

um aconselhamento genético mais preciso.

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CONCLUSÕES

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6. CONCLUSÕES

6.1. A síndrome de Noonan é uma doença heterogênea.

Aproximadamente, metade dos pacientes (42%) com diagnóstico

clínico de SN apresenta mutações na região codificadora do gene

PTPN11, demonstrando que há heterogeneidade de lócus na doença.

6.2. As mutações encontradas nos pacientes com SN estão distribuídas

principalmente nos éxons 3, 8 e 13 (86%), semelhante ao descrito na

literatura, justificando uma pesquisa inicial nestes éxons.

6.3. A mutação N308D, considerada a mais comum na SN não foi

encontrada na nossa coorte, sugerindo que não se trata de uma

alteração gênica freqüente na nossa população.

6.4. As alterações gênicas não descritas anteriormente identificadas no

nosso trabalho foram a T411M, localizadas no éxon 11, a S502L a

V508M, e a P491H localizadas no éxon 13.

6.5. Não há uma correlação genótipo-fenótipo bem estabelecida, embora

a mutação T73I pareça predispor ao desenvolvimento de uma doença

mielodisplásica de curso benigno nos pacientes com SN. Além disso,

é possível que a mutação F285S predisponha a uma displasia

linfática.

6.6. A síndrome de Noonan apresenta uma expressividade bastante

variável, sendo que o diagnóstico no adulto é muitas vezes difícil pelo

caráter sutil do fenótipo. Por esta razão, o estudo molecular dos

parentes de primeiro grau é essencial para um correto

aconselhamento genético.

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6.7. A síndrome de LEOPARD é uma doença alélica à SN, sendo a

mutação Y279C a mais comum.

6.8. Anomalias hematológicas, à semelhança da SN, fazem parte do

espectro da síndrome de LEOPARD, ampliando seu fenótipo.

6.9. A miocardipatia hipertrófica é a anomalia cardíaca mais freqüente na

síndrome de LEOPARD com mutações no gene PTPN11.

6.10. A síndrome de Noonan-like/lesões múltiplas de células gigantes faz

parte do espectro da SN e também é uma doença heterogênea.

6.11. Na síndrome da neurofibromatose/Noonan, detectamos uma mutação

no gene PTPN11 e no gene NF1, o que comprova a coocorrência de

ambas as doenças na probanda. Este mecanismo, aliado ao fato de

que a síndrome da neurofibromatose/Noonan em alguns pacientes

decorre de mutações apenas no gene NF1 (e, portanto faz parte do

espectro da neurofibromatose), sugere heterogeneidade genética na

síndrome.

6.12. O estudo do gene PTPN11 é importante para a confirmação

diagnóstica nos casos suspeitos de SN e síndromes Noonan-like e

para o aconselhamento genético adequado.

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ANEXOS

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Anexo A – Artigo publicado no Am J Med Genet (2004)

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Anexo B – Artigo publicado no Am J Med Genet (2005)

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REFERÊNCIAS

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