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t Susana Kampff Lages roTALTE,R BEI§JAMIT TraduÇao e Melan* u l.'g

Introdução Jeanne Marie

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Benjamin

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  • t Susana Kampff Lages

    roTALTE,RBEIJAMIT

    Traduao e Melan* u

    l.'g

  • 7 I

    Copyrighr @ 2002 blr Susana Kampf Lages

    Dados Interrracionais de Caulogao na Publiao (Clp){Cnrara Brasileira do Livro, P, Br*sil}

    Lages, usana KanrpfWaher Benjaminr Traduo r [dekncolia susana Kampff Lages.

    - So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo.2002.

    IBN: 85-i 14.0654-4

    1. Benia,min, Valrer, 1892"1940 -

    Crtica e interpretao Z-Melancoli i. Tradro e interpretao L Ttulo.

    01-4486 cDD"418.02

    r.,dices pa.a cadlogo siltemrico:i., Me{ancolia e rradues : Lingrrtica1. Traduo e mekncolia: Lingsrica

    418.02418..02

    Dire iror reser.;arlo* iEdusp

    - ditora rh Universidade de so pau{o

    v, Fro, Lsefurrg Cualbeto, Traversa J, 3746" andar

    - Ed. .d ndga Reitoria -

    Cidade Universitriaff5O8-90O

    - io paulo

    - p * trasil Fax {Ox,x.1t} 30il4t51

    Tel. {0xx1i} 30914008 I 3091-4150rvww.uspbled,wp * e.mail: [email protected]

    Printed jn Brazil 2:002

    Fqi feito o depsito lcgal

  • PnE,Fcro

    C'est que s'il y a eru effet sparaton infinie'il reuient la parole d'en faire le lieu de l'en-

    ' tente, et s'il y 4 uru insurmontable abirne" laParole trduerse l' abme|'

    Maurice Blanchot, L'entretien in{ini

    S ob sua aparncia ben-r-comportada de tese de doutorado sobre'waiter Benlamin, esre iivra de susana Kampff I-ages um pequeno tra..tado, discreto mas efica z. d.e despedicla' uma dupla despeciida, alis- necessrio' primeiro, d-eixar essa t'nsca F'ol rim ii*guagem trnsparenteque consiga dizer to fielmente a verdade originria que se apaque a simesma Como rnediwm,como iinguagem itlstamente; eSS primeira renn-cia caracteriza a reflexo contempornea, oriunda de Nietzsche e Hei-degger, de crtica grande tradio da metafsica clssica' Freud e Marx,r*t e* contriburam pra esse empreendimento de suspeita e de desilu-so" Ftrtras essa primeira renncia se desdobra ]um outra. sob pena decaii 1u;'*a ionga- lamentao sobre s ideais perdidcs, a desorientaoipsi*tocierna

    = c ieiativism cillrurai- Dtve-se desistil iambm da quei-

    *a * du acusaco , a Kage e a- Ankiage como disse Freud no textc se=minal, Lttto e Melattcclia, cartentado por susana. A segunda despedida,certamente mais penosa que a primeira, , pois, a despedida cia prpriamelancolia {no Zaratustra, Nietzsche tambm chamou a ateno para

    .- ..se h, pois, separao iniinira, cabe palarra fazer desia o lugar do acordo' e se h um abismoinsupervel, r, palrrra atrsvessa o abismo." Maurice Blanchot, L'entretien infini'Paris'Gallimard'tg69, p- r87 (trad- de J- \'{- Gagnebin)-

    .3

  • wALTER BENJMIN: TRADUo e uELNCoLIA

    essa dificuldade, talvez maior que a prpria morte de Deus e que acome-te os "ltimos homens": a saudade do Deus morto).

    uma das surpresas deste belo livro: ele fala da melancolia e rda rra-duo, sim; fala das semelhanas estruturais entre melancolia e traduoe ilustra essa relao privilegiada pelo pensamento benjaminiano. Nofim, porm, desata o n e afirma, novamente com discrio mas comeficcia, a_necessidade de uma traduo alegre, irreverente, audaciosa,mesmo violenta, enfim, de uma traduo sem melancolia.

    Ao rastrear as descries histricas da melancolia, de Aristteles aFreud passando pela Renascena e por Drer, susana insiste em duascaractersticas desse "humor negro"; ela "ocupa regies de fronteira,,,manifestando a ligao dolorosa entre duas entidades que a tradiofilosfica tentou, em vo, separar: a alma e o corpo; e, quase ironica-mente, ela acomete o personagem que melhor deveria conseguir desfa-zer-se das nefastas influncias somticas: o pensador, o sbio, o eremi-ta, o filsofo, enfim, esse "intelectual" que medita e se perde, com delciae terror, no abismo sem fundo de sua prpria rneditao

    - e como no

    h fundo, dir Benjamin, o Grbler2 melanclico pode continuar infi-nitamente cavando., ora, ambas as caractersticas, 9 lugar fronteirio e a atividade intelec-tual, tambm definem a funo do tradutor, esse mesre das passagens edos intervalos. figura do tradutor nos ajuda sobremaneira a entenderpor que a melancolia ataca, cie maneira privilegiada, os ,,intelecruais,,.susana cira, com muito certo) as clescries ciicormicas do ofcio uiatrac*-io, ile suas gr-nclezas e misrias. Dividido enre desejo de darvez t yoz ao ontro, ao autr do arigincf, e o esforo prprio necessria acumulao de mlripios saberes {iingsticos, histricos, culrurais, psl-ioigiccs) paa fur-lprir sua iarela, o tradutor oscila, tccio + ,rnrpo, efi-tre duas atitudes oposrs e cc,mplementaes: ele ou ur1 ,,coitado,, ouum "heri" iPaulo Rnaij, eie passa da "humirdade" ,,soberba,, {Jrs

    z' palavra Griibler significa o suieito ocupado a griibeln, verbo que pode ser rra

  • PRF-F.cto

    paulo Paes) e da depresso mania como, iustarnente, um exmio me-lanclico. Na medida em que ele admira o outro, o original, a autorida-de do auro, ele se apaga a si mesmo para melhor deixar brilh-lo; eleinsiste em dizer que no consegue, Pof princpio e malgrado seus her-cleos esforos, devolver na sua lngua a tiqueza do texto original; setrempreendimento , desde sempre, fadado ao fracasso, i que e1e no pode

    se tornar rransparent; (lvleschonnic) ou invisvel (Venuti) e que, mais fun-damentalmente, as lnguas so sistemas autnomos fechados, portantointransponveis (Mounin). Simultaneamente, o tradutor sofre dessa au-todesvalo zao e Se Senfe como que "engolido", devorado pelo textoalheio, podendo at se rebelar contra esse monstro por ele construdo'

    , A arividacle de traduo se torna, assim, emblemtica das dificulda-'des do verdacleiro trbalho intelectual e espiritual, QU no se define poruma erudio rnirabolante ou por tcnicas to complexas como abstra-tas, mas muito mais pelo reconhecimento pleno da alteridade - em par-ticular da alteridade da tradio - e pela liberdade subfetiva" Nesse sen-tido, a elaborao reflexiva autntica Somente configura um exemplo ,privilegiado cla dialtica maior entre reconhecimento do ourro e afirma-

    a" au si" Podemos obserr, clue, se o tradutor melanclico nS como!'eiele e" a-lis, *ruitas vezes, uma mulherr como se as rnulheres ossem mrris

    :lcostltr-Iadas a assur.rir ess iltprescindvel posio de segundo plano!)' lustamente polque ele aos lembra, en1 tempos de vaidades narcsicas,*ssa verdade to anriga como literatura e filosofia: a saber, qlle lingua'gem e esprito sopram mais forte e mais longe que suas expresses parti-cttlares e individuais-

    VIas as ligaes ente tracluo, melancolia e narcisismo no se clei-xa{-n resLlmrr ao diiema prenle entr. uma uto-afirmao r*iclosa'de siiIesii,-i e ufil siienciosa siEbrniss3 2 r:*z ci+ ciitr+' Su-tsaaa =o leri:'t;r';iqlie ensaii: cie Fi:euci sobre "Lilto e fulelancciia" pode sei consiciera'doLrma C,sntiniiac, da "nii oCuo zro Narcisismo", escrita tim no -ntes'a prpria melancoiia, essa iigura primeira visia tocante

  • WALTER BENJAiVIIN: TRDUAO E MELNCOLIA

    Sempre e, simultaneamente, sempre procurado, pois reconhecer sua per-da seria abandonar essa identificao narcsica arcaica que oferece, aomesmo tempo, pazer e tormeno, pazer no tgrmento. Assim, a "Com-plexa dinmica de idealizao e desvalorzao de si e do outro" quecaracteriza o estado melanclico patolgico remeteria muito mais a fa-thas arcaicas no proeesso de separao do outro que dialtica entrereverncia excessiva pelo outro e afirmao falha de si mesmo; mas essadialtica parente oferece a grande vantagem (narcsica?!) de proteger osujeito melanclico contra a censura alheia, i que ele parece uma pes-_soa to humilde e resPeitosa.

    Foge da minha inteno e tambm da minha competncia qualquerdiscusso mais aprofundada sobre o emaranhado complexo do narcisis-mo e da melancolia nas interpretaes de Freud, Kristeva e Lacan. Scabe aqui ressaltar que Susana sabe muito bem aproveitar essas hipte-ses psicanalticas para nos levar, por meio das precisas anlises de algunstextos benjaminianos, a uma subuerso dessa relao entre melancolia erraduc. O que caracteriza as teorias conternporneas da traduo nc, segundo ela, uma afirmao iocosa ou trir.rnfalista de relativismo "ps-moclerno", o gozo efmerc de um perspectivismo to individualista comGiriviai. s quatro ieituras por eia escoihidas da "Tarefa do Tradutcr",icxto inovador e errrblemtico de \tr7aiter Benjamin, tm stuitas dieren-as de provenincia e de inteno. Todas as quatro, porm, ressaltam a"impossibiliciade de se entender a traduo em ermos de uma recuper-o" plena de significados e enfatizam a aceita da perda de uma ori-gem estvel, encarnada pelo texto original

    - otl, mais ainda, a aceitao

    da perda de nrna suposta origeru to estuel corno nefuel que o traba-tho clo tradutor deveria, cono se diz s vezesr "resgatar". "A Tarefa do-l?aclr-rrar" no uma su-posa iamentao sobre a perda da lngua origi-nria lnica, como aincla o interpretam alguns cornentadores que tentriencaixar o ensaio de Beniamin cie t9t6, '"Sobre a Lngua em geral e so-bre a Lngua rios F{omeIs", e o ensaio posterior sobre traduor numclerradeira especulao pseudomstica sobre aprima lingua" Pelo contr-rio, as quatro leituras referidas por Susan e por ela retomadas na suaprpria proposta cle interpretao transformam a idia de perda "numa

    Susana nos promete uma traduo de ambos os textos.

    r6

  • PREFcto

    {l.s;r;iilgia de superao da prpria idia de impossibilidade ou perda, ouseja, numa defesa contra a melancolia'l.-Q conceito-chave que possibili-r;r ial rransformao o de traiduzibilidade,) presente na reflexo inau-gural do romantismo de-Gna Sobr crtica e traduo e, tarnbm, na ms-tica iudaica da Cabala (ou tradio). No texto benjaminiano, diz aautora, este conceito "travessado (mas no dominado) pelo influxornelatrclico" porque pressupe "a aceitao de u-rna distncia, de umast:1rarao de um fundo textual reconhecido como anterior, por definio,inapreensvel em sua anterioridade-, mas tambm porque "implica gmadestruio voluntria desse texto anterior e sua reconstituio, em outro

    - l.tempo, outra lngua, outra cultura, enfim, em uma situao de alterida-cle ou outridade radical".

    Essa longa citao explicita a hip-_tEe-hfmn-u-tica, a meu ver muitoorte, de Susana Kampff Lages: a saber, que o Pensamento de Beniaminno nem uma retomada contempornea do antigo motivo da melanco-lia, um motivo que se sobressai com demasiada facilidade no cenrio daatualidade, nem uma caixa de ferramentas disposio de teorias relati-vistas, sejam elas chamadas, de maneira peiorativa ou positi'ra, de ps-modernas, desconstrucionistas ou multiculturalistas (deixo aqui de ladoas polmicas suscitadas por rais epteeos). A reflexo de Beniarnin mui-to mais o palco de urna luta entre impulsos metafsicos e melanclicos e acnscincia aguda de sua patente insuficincia para transformar o presen-te histrico. Contra a acedia' essa figura medieval da melancolia, Benia-min reclama, nas teses "Sobre o Conceito de Histria", a construo de"um experincia {Erfahrwngl com o passado" que torne possvei a inter-veno no presente, afirma, muito apropriadamente, Susana. Nesse sen-tido a tarefa do tradutor configura, emblernaticarnente> a tarc{a Co pen-samento; tareia no tripio sentido da palavra aiem Aw{gabe: no sentiCode dever tico e poltico de transmisso, mas tambm ao sentido de "re-nncia" {o verbo aufgeben significa "desistir"}, o que podernos interpre-tar como a renncia vontade onipotente de tudo dizer; e, finalmente,numa aceitao que Susana no cita, mas que seu texto encarna, no sen-tido de uma ddiva que se impe {Auf-gabe) e que exige nossa resposta.

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    leanne Marie Gagnebin