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INTRODUÇÃO À FORMULAÇÃO DE DIETAS PARA VACAS LEITEIRAS

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INTRODUÇÃO ÀFORMULAÇÃO

DE DIETAS PARAVACAS LEITEIRAS

1. IntroduçãoFormular uma dieta é uma parte importante de uma estratégia de alimentação diária de vacas leiteiras. É um meio de atender às metas de produção e financeiras, atendendo às necessidades específicas da vaca da maneira mais econômica.

Para formular uma dieta, os produtores e os técnicos precisam saber a quantidade de nutrientes que a vaca ou o rebanho precisa para atender às metas de produção e saúde animal, e o teor de nutrientes dos alimentos disponíveis.

Uma dieta balanceada é aquela em que 'necessidades de nutrientes da vaca = nutrientes fornecidos na dieta'.

Alguns pontos precisam ser considerados ao formular dietas para vacas:

- A vaca precisa ser fisicamente capaz de comer a quantidade de alimento fornecida;- A resposta econômica da dieta com nutrientes específicos deve ser maior do que seu custo;- A vaca é um animal ruminante, de forma que é preciso cuidar da saúde do rúmen também para que a dieta alcance a eficácia buscada;- A formulação de dieta não deve mirar apenas a produção de leite. É preciso que a nutrição cubra áreas como saúde, reprodução, melhora do sistema imune. A busca é ter vacas longevas e com um bom desempenho em todas as áreas.

A formulação de dieta deve seguir os seguintes passos:

1) Definição das metas de produção para cada vaca ou todo o rebanho;2) Avaliação de quais alimentos estão disponíveis na fazenda;3) Decisão de quais alimentos precisam ser comprados;4) Medidas para garantir que a ração pode ser consumida para atingir as metas de produção;5) Medidas para garantir que a ração seja a mais lucrativa, tanto no presente quanto ao longo de toda a lactação.

A formulação da dieta é em grande parte um conjunto de procedimentos matemáticos. No entanto, a observação atenta de vacas também é importante. Produção de rebanho, fertilidade, condição corporal e saúde são todos bons indicadores de desequilíbrios nutricionais.

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A principal razão é a importância dos alimentos concentrados no custo de produzir leite. Os concentrados são o maior custo da produção leiteira independentemente do sistema de produção. Assim, minimizar o custo dos alimentos concentrados por litro de leite produzido significa maior rentabilidade da atividade.

Deve-se ter em mente que a diluição da mantença torna o animal mais eficiente dentro de qualquer sistema, o que significa que vacas de maior produção são sempre preferíveis por diluírem os custos dos alimentos concentrados. Além disso, forragens de alta qualidade e digestibilidade reduzem a necessidade de concentrado na dieta para produzir a mesma qualidade de leite ou mais.

Outras formas de reduzir os custos de concentrado por litro de leite são comprar bem os concentrados e cultivar os alimentos na própria fazenda. Mas a formulação de dieta é uma das formas mais eficientes de conseguir este resultado.

Como no Brasil praticamente todos os produtores de leite fornecem alimentos concentrados para as vacas, a formulação é aplicada tanto para pequenos quanto para grandes produtores.

2. Por que devemos formular dietas?

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3. Conceito de dieta

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O conceito de dieta é um conceito que precisa ser melhor compreendido. A dieta de uma vaca leiteira é composta por forragens e concentrados, que devem ser misturados em uma proporção ótima para se obter uma mistura de conteúdo nutricional previsível, conciliada a uma boa eficiência econômica. Esta é a filosofia no uso da Dieta Completa (a TMR ou “Total Mixed Ration”) como sistema alimentar e do cálculo dietético.

O termo “dieta” em nutrição é sinônimo de ração: tudo que um animal consome por dia. Recomendações do tipo, o concentrado para vacas leiteiras deve ter um determinado teor de proteína bruta, independentemente da composição da forrageira disponível, são incorretas. Se este conceito fosse correto, uma vaca consumindo cana com 2% de PB poderia receber o mesmo concentrado que uma vaca consumindo alfafa com 18% de PB. A dieta total deve ser o objeto de cálculo e o concentrado deve suprir as deficiências nutricionais da forragem.

A dieta de um bovino inclui forragem e concentrado. Assim, o cálculo dos nutrientes é baseado na mistura. Se a forragem tem proteína baixa, por exemplo, é necessário ter um concentrado com proteína mais alta, pois o que importa é a composição da mistura. Assim, a composição e a quantidade de concentrado depende da composição e disponibilidade de forragem.

Dessa forma, a dieta ideal é aquela que atende à demanda nutricional do animal e usa a combinação de ingredientes que minimiza o custo por quilo de matéria seca.

De maneira geral, os programas de formulação de dietas vão trabalhar com custo por quilo de matéria seca como objetivo. No programa, coloca-se

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uma demanda, o preço dos ingredientes e o computador fará uma mistura que atende aquela demanda da forma mais econômica possível.

O retorno sobre o gasto com alimentos de uma dieta, é calculado subtraindo o custo com alimentação (forragens + concentrados) da renda bruta (produção x preço por litro). Este valor representa o recurso financeiro disponível por vaca para pagamento dos custos não alimentares e para a retirada do lucro do produtor. Como a participação da alimentação no custo de produção de leite é próxima de 50%, este parâmetro pode direcionar a busca de melhor desempenho financeiro da fazenda.

A dieta de custo mínimo é a dieta de lucro máximo, já que maximiza o retorno sobre o custo alimentar em um dado consumo, produção e valor monetário do leite.

Os requisitos das vacas devem ser calculados com base em objetivos de produção realistas. Existem cinco fatores a serem considerados:

1) Manutenção - que depende do peso vivo;2) Lactação - que depende da produção e composição do leite;3) Gestação - o que depende do número de meses de prenhez;4) Atividade - que depende da distância e do terreno percorrido pelo animal até a sala de ordenha;5) Mudanças nas reservas corporais - que dependem das mudanças no peso vivo e/ou na condição corporal.

4. Informações necessárias paraformular uma dieta4.1) Requisitos das vacas

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Minerais e vitaminas são necessários para ajustar o sistema. Frequentemente, as deficiências de oligoelementos são regionais e sazonais. Sua variabilidade pode depender do manejo da forragem. Quando a dieta basal é predominantemente de espécies de pasto de boa qualidade, a maioria desses problemas pode ser reduzida com um bom manejo do pasto.

Como as forragens são geralmente os alimentos mais baratos, o principal objetivo da suplementação é preencher as lacunas de nutrientes que ocorrem devido às variações na disponibilidade e qualidade da forragem. Em sistemas baseados em forragem, o nutriente mais limitante para a produção de leite é a energia. Forragens de baixa qualidade fornecem energia suficiente apenas para baixos níveis de produção e também podem estar associadas a perdas de peso vivo. Perdas excessivas de peso vivo podem prejudicar o desempenho reprodutivo da vaca.

Para tomar essa decisão, é necessário ter uma ferramenta de programação linear. Alguns programas de formulação de dieta já vêm com o otimizador, que é uma ferramenta para fazer a programação linear. O Excel também tem uma ferramenta de programação linear chamada Solver.

O modelo do NRC, por exemplo, não tem otimizador, sendo uma avaliador de dieta. Existem programas de formulação de dieta no mercado baseados no NRC 2001 que têm o otimizador.

Para manter a dieta formulada similar à consumida é preciso conhecer o teor de matéria seca e a composição de cada ingrediente. Por isso, a mensuração do teor de matéria seca da forragem deve ser prática rotineira das fazendas que trabalham com alimentos conservados. Além disso, deve-se ter um manejo nutricional que não induza seleção do alimento pelo animal.

Para tomar a decisão de quanto colocar de cada ingrediente na dieta é preciso fazer a análise dos alimentos.

Uma forma de saber a composição dos alimentos é fazer análise por espectroscopia de reflectância no infravermelho próximo (NIRS) ou por química convencional. O NIRS tem a vantagem de ser barato e rápido, embora tenha

4.2 Como formular a dieta ideal?

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algumas limitações sobre as informações que fornece. Sua aplicação é alta na nutrição. Porém, a análise mais completa é a química. Assim, sempre que é possível ter a análise química, é o ideal, especialmente quando se lida com alimentos com poucas informações.

Outra forma de ter informações sobre a composição é usar tabelas de composição de alimentos. Existem tabelas impressas e eletrônicas. O ideal é ter boas tabelas de composição eletrônicas para que esses dados sejam mais rapidamente inseridos no programa de formulação.

O NRC 2001 tem boas tabelas, trazendo informações coletadas a partir de muitos dados diferentes, assim como as tabelas do Cornell Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS) também são muito boas e incluem alimentos tropicais. Para alimentos brasileiros existe o CQBAL 3.0, que é útil quando se utiliza alimentos não convencionais que não estão presentes nas demais tabelas.

Lembre-se: alimentos não têm valor nutricional constante. Assim, o valor nutricional do alimento depende da composição da dieta oferecida e do nível de consumo do animal. Quanto maior o consumo de matéria seca, maior a velocidade de passagem da digesta pelo trato digestivo do animal. O alimento que passa mais rápido tem menos tempo para ser digerido.

Além de saber o que a vaca precisa e quais nutrientes os alimentos podem fornecer, deve-se considerar se as vacas podem consumir aquela quantidade de alimento para fornecer esses nutrientes. Existem duas "regras práticas" disponíveis para estimar o quanto as vacas vão comer. É difícil medir a ingestão de animais com precisão, especialmente se eles estiverem pastando.

Vacas leiteiras geralmente podem comer 3% de seu peso vivo como matéria seca. Portanto, uma vaca pesando 500 kg não pode consumir mais do que 15 kg MS/dia, enquanto uma vaca de 450 kg não pode consumir mais do que 13,5 kg MS/dia.

5. Estimando os limites de ingestãode alimento

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O peso vivo por si só nem sempre é um bom indicador dos limites de ingestão para animais individuais, pois vacas com o mesmo peso vivo podem diferir no apetite, na capacidade ruminal ou nos hábitos alimentares. Alimentos com a mesma qualidade podem ser consumidos em diferentes quantidades, dependendo do comprimento do corte, teor de matéria seca ou palatabilidade.

A segunda regra prática é baseada na combinação de porcentagem de Fibra Detergente Neutra (%FDN) e peso vivo. Conforme a porcentagem de FDN aumenta nas forragens, as vacas comem menos de acordo com a seguinte fórmula:

Consumo máximo de matéria seca (kg/d) = (120 ÷ %FDN) ÷ (100 x PV)

As seguintes estimativas para a ingestão máxima diária de uma dieta contendo 45% de FDN são:

• para vacas de 450 kg, (120 ÷ 45) ÷ 100 × 450 kg = 12,0 kg MS/d• para vacas de 500 kg, (120 ÷ 45) ÷ 100 × 500 kg = 13,3 kg MS/d

A Tabela 1 lista essas quantidades para vários valores de peso vivo e fibra detergente neutra.

Tabela 1: Consumo máximo diário de matéria seca de vacas (kg/d) de acordo com peso vivo da vaca e com o teor de Fibra Detergente Neutra (FDN) da dieta (Fonte: Linn e Martin 1989)

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Se as vacas puderem selecionar o que comem dentro de suas dietas, provavelmente deve haver menos fibra na dieta. Por exemplo, se a dieta oferecida testar 50% de FDN, então a dieta que é selecionada pela vaca pode ser 5% a 10% mais baixa, ou 40% a 45% de NDF.

A regra acima se aplica a vacas não gestantes. A capacidade das vacas no final da gestação é menor porque o tamanho do rúmen é reduzido pelo aumento do tamanho do feto em crescimento.

Para calcular o limite de apetite de vacas leiteiras levando em consideração o teor de fibra de sua dieta total, deve-se conhecer o teor de FDN de cada constituinte da dieta.

Dietas contendo grandes quantidades de forragens recém-colhidas podem criar outro problema para vacas leiteiras, a saber, o excesso de umidade. O murchamento da forragem tropical fresca aumenta o consumo de matéria seca em vacas leiteiras. Portanto, a Tabela 1 deve ser considerada apenas um guia muito aproximado quanto aos limites de apetite das vacas leiteiras. É improvável que vacas leiteiras de 500 kg alimentadas com pastagens tropicais/dietas concentradas de boa qualidade, fornecendo 10 MJ/kg de MS de energia metabolizável, consumam mais do que 13 a 15 kg de MS/dia.

Existe uma grande variedade de modelos de computador usados para a formulação de rações. Alguns são relativamente simples, exigindo o tipo de entrada de dados descrito aqui. Outros são mais complexos, exigindo uma entrada de dados mais sofisticada ou usando uma entrada semelhante, mas derivando parâmetros adicionais com os quais formular a dieta para atingir os níveis desejados de desempenho.

Ao usar computadores, a validade da ração formulada é tão boa quanto os dados disponíveis para descrever os constituintes da ração. Por exemplo, se os dados de análise de ração são derivados apenas de tabelas e não de análises reais de amostras de ração a serem fornecidas, modelos de computador complexos podem não necessariamente melhorar a capacidade de prever o desempenho animal com precisão de tal ração formulada.

6. Programas de computador para formulação de ração

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A maioria dos programas de computador de formulação de ração que estão comercialmente disponíveis foi desenvolvida para sistemas de fazendas leiteiras em clima temperado, onde os alimentos, o manejo do rebanho e os genótipos das vacas são frequentemente muito diferentes daqueles encontrados em sistemas tropicais de pequenos produtores. No entanto, como são baseadas em respostas biológicas a incrementos na ingestão de nutrientes, tais previsões devem ser igualmente precisas em todas as situações. Porém, é importante validar esses modelos em tais sistemas, pois esta é a única maneira de ganhar confiança em sua utilidade na previsão de respostas de produção para uma variedade de cenários de alimentação nesse sistema

Os modelos nutricionais matemáticos são requeridos para definir o valor nutricional de dietas em proteína metabolizável, aminoácidos absorvidos e energia. Os dois modelos mais utilizados são os do NRC 2001 e o CNCPS, sendo o primeiro gratuito e o segundo sujeito ao pagamento de uma licença.

O NRC 2001 é um avaliador de dietas que não contém um otimizador. O usuário precisa colocar os dados dos seus ingredientes no programa que, por sua vez, faz os cálculos de exigências nutricionais e fluxo de nutrientes dos animais, comparando a demanda com o que está sendo oferecido.

Como o NRC 2001 não foi desenvolvido para ser utilizado na rotina do nutricionista na prática, existem outros modelos que foram desenvolvidos baseados nele, como por exemplo, o Spartan Dairy 3 (https://www.canr.msu.edu/spartandairy) e o Formulate2 (www.formulate2.com), entre outros.

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Referências:

Curso Introdução à formulação de dietas para bovinos leiteiros (https://www.educapoint.com.br/curso/pecuaria-leite/principios-formulacao/)

Formulating a diet - Capítulo 12 do livro Tropical dairy farming : feeding management for small holder dairy farmers in the humid tropics, de John Moran, 312 pp., Landlinks Press, 2005.

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