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Gabriel Villas Bôas Camargo . Maurício Storchi . Soraya Nór

Inventário de Paisagem Cultural de Florianópolis

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The current research aims to survey the cultural landscape of Florianópolis, located in the South region of Brazil. The intensification of urbanization and tourism, along with the increasing pressure from the real estate capital has brought about socio-spatial transformations that began to threaten the maintenance of its cultural identity. The cultural landscape presents itself as an important instrument of ways of living and conceiving life, anchored in the historical process of production and interaction with the natural environment. From this conceptual approach is being developed methodological procedure for their identification and mapping of areas of interest and landscaped value. It is intended to contribute to new ways of planning and management of the city, to promote the conservation of nature and built landmarks (tangible heritage) and the reflexive evocation of the past, to enhance the urban memory and to maintain the social identity present and alive (intangible heritage).

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A presente pesquisa objetiva inventariar a paisagem cultural de Florianópolis, localizada na região sul do Brasil. A intensi-ficação da urbanização e da atividade turística, acompanhada da crescente pressão do capital imobiliário têm acarretado transformações socioespaciais que passaram a ameaçar a manutenção de sua identidade cultural. A paisagem cultural apresenta-se como um instrumento revelador dos modos de viver e conceber a vida, ancorados no processo histórico de produção e interação com o meio natural. A partir dessa abordagem conceitual, foi desenvolvido um procedimento metodológico para identificação e mapeamento das áreas de interesse e valor paisagístico. Pretende-se contribuir para novas formas de planejamento e gestão da cidade, no senti-do de promover a conservação da natureza e dos marcos edificados (patrimônio material) e a evocação do passado de forma reflexiva, ao valorizar a memória urbana de modo a manter uma identidade social presente e viva (patrimônio imaterial).

Gabriel Villas Bôas Camargo . Maurício Storchi . Soraya Nór

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Universidade Federal de Santa CatarinaGrupo PET Arquitetura e Urbanismo

2015

Roselane NeckelReitora

Jamil Assreuy FilhoPró-Reitor de Pesquisa Extensão

Sebastião Roberto SoaresDiretor do Centro Tecnologico

César Floriano dos SantosChefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo

José Ripper KosCoordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo

Vera Helena Moro Bins ElyTutora do Grupo PET Arquitetura e Urbanismo

Soraya NórOrientadora da Pesquisa

Gabriel Villas Bôas CamargoMaurício Storchi

Bolsistas

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INVENTÁRIO DE PAISAGEM

CULTURAL DE FLORIANÓPOLIS

Gabriel Villas Bôas CamargoMaurício Storchi

Soraya Nór

Florianópolis, 2015

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CAMARGO, Gabriel; STORCHI,Maurício; NÓR, Soraya. Inventário de Paisagem Cultural. Florianópolis: PET/ARQ/UFSC, 2015.

Inventário de paisagem cultural de Florianópolis / Gabriel Villas Bôas Camargo, Maurício Storchi, Soraya Nór. - Florianópolis : UFSC, 2014.

111 p.; il., mapa., tabs.

Inclui bibliografia.

1. Paisagem - Florianópolis. 2. Patrimônio cultural - Florianópolis. 3. Turismo e planejamento urbano. I.Storchi, Maurício. II. Nór, Soraya. III. Título.

CDU: 71(B16.406.02)

Camargo, Gabriel Villas Bôas; Storchi, Maurício; Nór, Soraya.2014

c172i

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5SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

1.1. APRESENTAÇÃO1.2. OBJETIVOS 1.2.1. Objetivo geral 1.2.2. Objetivos específicos

2. CONTEXTUALIZAÇÃO: A ILHA DE SANTA CATARINA

2.1. LOCALIZAÇÃO2.2. CARACTERÍSTICAS2.3. BREVE HISTÓRICO

3. PROCEDIMENTO DE MÉTODO

3.1. CONSTRUÇÃO DO CONCEITO3.2. INSTRUMENTOS DE ANÁLISE 3.2.1. Leitura Histórica 3.2.2. Planilha de Análise 3.2.3. Questionários 3.2.4. Mapeamento

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4. APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE ANÁLISE4.1 SANTO ANTÔNIO DE LISBOA 4.1.1. Breve histórico 4.1.2. Análise4.2 CENTRO 4.2.1. Breve histórico 4.2.2. Análise

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

6. REFERÊNCIAS

7. APÊNDICES

7.1 QUESTIONÁRIOS 7.1.1. Questionário Santo Antônio de Lisboa 7.1.2. Questionário Centro7.2 ÍNDICE DE PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL7.3 PUBLICAÇÕES 7.2.1. Artigo - 12º ENEPEA - Menção Honrosa 7.2.2. Artigo - 3º Colóqui Íbero-americano Paisagem Cultural, Patrimônio e Projeto 7.2.3. Resumo estendido Corpocidade 47.4 APRESENTAÇÃO DE PÔSTER 7.3.1. Pôster para o VI Seminario Internacional de Investigacíon en Urbanismo

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6.1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 6.1 LISTA DE FIGURAS E QUADROS

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1. INTRODUÇÃO

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1. INTRODUÇÃO

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1111111.1. APRESENTAÇÃO

A presente pesquisa, desenvolvida no âmbito do Progra-ma de Educação Tutorial - PET do Departamento de Ar-quitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, destina-se a promover a identificação e conservação de paisagens culturais na cidade de Flori-anópolis - SC, localizada na região sul do Brasil.

No contexto do planejamento e da gestão urbana de cidades turísticas brasileiras, o poder público tem sido fortemente pressionado pelos interesses econômicos. Como resultado, verifica-se baixa prioridade à manuten-ção do patrimônio histórico e da paisagem, gerando um contínuo processo de degradação da natureza, perda dos vestígios culturais e descaracterização de populações tradicionais (NÓR, 2010).

Esse processo de renovação urbana acelerada, mui-tas vezes, acaba por destruir os suportes da memória coletiva, podendo causar a falta de identidade e afetivi-dade com lugares urbanos, uma vez que “os fenômenos de expansão urbana, globalização e massificação das paisagens urbanas e rurais colocam em risco contextos de vida e tradições locais em todo o planeta” (IPHAN, 2011, p.3).

Como forma de identificar, valorizar e conservar as áreas de interesse paisagístico na cidade de Florianópolis, esta pesquisa propõe-se a desenvolver procedimentos para inventariar a paisagem cultural no âmbito de estudo do espaço urbano, com intuito de contribuir para novas for-mas de planejamento e gestão da cidade, que contem-

Figura 1. Distrito sede de Florianópolis

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plem a conservação dessas áreas relevantes.

Por meio da revisão bibliográfica de referên-cias sugeridas pela orientadora da pesquisa, foram realizadas leituras, as quais auxiliaram na construção de um conceito de paisagem cultural.

A partir da elaboração do conceito, foi desen-volvida uma planilha que visa a identificação de paisagens culturais no município de Flori-anópolis, as quais objetivaram o trabalho em campo. O trabalho em campo é precedido pela leitura histórica da área em estudo.

Para consolidar os resultados obtidos, ela-borou-se questionários com o intuito de analisar a relação dos usuários com as áreas de estudo. Por fim, mapearam-se as áreas consideradas como paisagens culturais.

Figura 2. Embarcação na orla de Santo Antônio de Lisboa

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13131.2. Objetivos

1.2.1. Objetivo geral

O objetivo da presente pesquisa é desenvolver um procedimento de método para identifica-ção e mapeamento das áreas de paisagem cultural de Florianópolis.

1.2.2. Objetivos específicos

• Aplicar o conceito de paisagem cultural na análise urbana de Florianópolis;• a partir do conceito de paisagem cultural, desenvolver critérios para a identificação de áreas de relevante valor paisagístico em Florianópolis; • elaborar formas de representação cartográfica das áreas de relevante valor pais- agístico;• contribuir para o registro e a preservação ambiental e cultural da cidade.

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2. CONTEXTUALIZAÇÃO: A ILHA DE SANTA CATARINA

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2. CONTEXTUALIZAÇÃO: A ILHA DE SANTA CATARINA

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17172.1. LOCALIZAÇÃO

O município de Florianópolis, capital do esta-do de Santa Catarina, na região Sul do Brasil, está localizado na porção central do litoral catarinense.

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Figura 3. Mapa rodoviário do município de Florianópolis

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18182.2. CARACTERÍSTICAS

O município de Florianópolis conta com uma população de 421.240 habitantes (IBGE, 2010). É formado pela Ilha de Santa Catarina (439 km²) e por uma parte continental (12 km²), banhadas pelo Oceano Atlântico e sepa-radas por um estreito canal de cerca de 500 metros de largura, que conforma duas baias de águas calmas, uma ao norte e outra ao sul (IPUF, 2002).

Florianópolis possui ambiente natu-ral bastante diversificado, resultante do contraste entre planícies e elevações montanhosas. A ilha, com quase uma centena de praias, compostas por enseadas, costões, promontórios e restingas é conformada por dois maciços montanhosos, com encostas verdes destacadas na paisagem litorânea (IPUF, 2002).

Mais da metade de seu território é recoberto por matas nativas e sua população total é relativamente reduzida se comparada a outras capitais, mesmo com um aumento sig-nificativo nos índices de crescimento popula-cional nas últimas décadas (REIS, 2012).

A capital catarinense tem no setor de serviços e no setor turístico as faces mais dinâmicas de sua economia, sendo uma capital não in-dustrializada.

Figura 4. Praia Mole, Leste da Ilha

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19192.3. BREVE HISTÓRICO

Os indícios mais remotos de presença huma-na na Ilha de Santa Catarina datam de mais de 5000 anos e seus vestígios estão relacio-nados aos sambaquis, sítios arqueológicos característicos do litoral catarinense, en-contrados em diversos pontos da costa. Um conjunto significativo de pinturas rupestres e oficinas líticas, locais onde se praticava o polimento de instrumentos de pedra, tam-bém expressam sinais desse povoamento (BERGER, 1990).

Posteriormente, há relatos dos primeiros eu-ropeus que chegaram à Ilha e tiveram contato com índios Carijós, os quais migraram para o local aproximadamente em 1300 e acabaram deixando o território em uma ação não vio-lenta. Com isso, a Ilha encontrava-se pratica-mente inabitada por volta de 1600.

Os séculos que sucederam o descobrimento do Brasil, em 1500, condicionaram o processo de desenvolvimento da Ilha de Santa Catarina. Sua localização geográfica estratégica, em meio ao trajeto de navios que seguiam para o Mar Del Plata e para a Colônia do Sacramento, tornando-se importante ponto de passagem de navegantes de diferentes origens, gerou disputas entre as Coroas portuguesas e es-panholas (BERGER, 1990).

Figura 5. Vista aérea, Barra da Lagoa

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Em meados do século XVII, o vicentista Fran-cisco Dias Velho iniciou o processo de ocu-pação destas terras, vinculado à iniciativa portuguesa de povoamento da região sul do território da Colônia. Tem-se assim, em 1662, a fundação do povoado de Nossa Senhora do Desterro.

O desenvolvimento desse povoado tem como marco inicial a construção da Capela de Nos-sa Senhora do Desterro, localizada em uma pequena colina próxima às águas Baía Sul, onde se encontra hoje a Catedral Metropoli-tana de Florianópolis. A Capela e todo espaço conformado entre a edificação e o mar serviu de matriz conformadora do desenvolvimento da localidade.

Em 1726, o povoado recebeu o título de Vila, com denominação de Desterro. Entretanto, seu desenvolvimento foi lento nos anos sub-sequentes, uma vez que a Ilha servia basica-mente como ancoradouro para reabasteci-mento dos navios e esquadras que percorriam a costa sul-americana (VAZ, 1991).

Conflitos territoriais entre Portugal e Es-panha, principalmente em função da disputa pelo domínio da Colônia do Sacramento e o acesso ao Rio da Prata, motivou a Coroa por-tuguesa, a partir do século XVIII, a manifes-

Figura 6. Vista aérea, Praia de CanasvieirasFigura 7. Vista aérea, Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de AraçatubaFigura 8. Vista aérea, Praia da Armação

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tar seu domínio na Ilha de Santa Catarina. Com isso, houve, em 1738, a fundação da Capitania de Santa Catarina, tendo a Vila do Desterro como sua capital e, sob o coman-do do Brigadeiro José da Silva Paes, a vila sofreu inúmeras reformas e construções de edificações públicas, incluindo a Casa do Governo, a reforma na Capela e a fortifica-ção da Ilha (REIS, 2012).

No século XVIII, a Ilha de Santa Catarina, em virtude do projeto de expansão colo-nial de Portugal na região sul do Brasil, recebeu imigrantes dos Arquipélagos dos Açores, iniciando o processo de forma-ção socioespacial do litoral. Os açorianos trouxeram uma bagagem de tradições, conhecimentos e costumes, os quais foram adaptados às condições ambientais locais, na consolidação do processo povoador na região (FARIAS, 1998).

Na Ilha de Santa Catarina, os núcleos popu-lacionais que se formaram com a coloniza-ção açoriana, a partir de 1748, têm como base o modelo colonial luso-brasileiro, evidenciado em sua arquitetura e traçado urbano. A população mais antiga desses núcleos conserva ainda hábitos e tradições herdados da cultura açoriana, expres-sos na pesca, culinária, religiosidade,

artesanato e festas populares (VEIGA, 2004).

Com o processo de construção das for-talezas e dos assentamentos humanos que aos poucos iam se formando, redes de co-municação tanto terrestres como maríti-mas foram demandadas, criando as tril-has e caminhos que ligavam estas regiões e, que mais tarde, se transformariam nas primeiras ruas. Com isso, novos assentam-entos foram estabelecendo-se nas várzeas e restingas (IPUF, 2002).

Nos assentamentos de imigrantes açoria-nos, o processo de ocupação e reorganiza-ção espacial começa a ganhar corpo. As comunidades, em especial a da Lagoa da Conceição, Santo Antônio de Lisboa e Ri-beirão da Ilha, assumem porte e importân-cia na Ilha de Santa Catarina (IPUF, 2002).

No início do século XX, Florianópolis pas-sa a sofrer os efeitos da modernização: mudanças socioeconômicas, espaciais e tecnológicas passam a impor uma nova organização dos espaços locais. Tais trans-formações podem ser percebidas pelas fotografias aéreas que datam de 1938, 1957, 1977, 1994 e 2002, apresentados na sequência(IPUF, 2002).

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Atualmente, a intensificação do adensamento populacional e da atividade turística em Flo-rianópolis, aliados à crescente pressão do capital imobiliário, especialmente, a partir do final do século XX, vem modificando a paisa-gem da cidade, com urbanização acelerada, trânsito intenso de veículos, aterros para am-pliação do sistema viário e verticalização dos edifícios (NÓR, 2010). Assim, a cidade tem sofrido uma perda sistemática dos referenci-ais urbanos que materializaram sua história, bem como das belezas naturais que singula-rizam seu sítio.

A mudança das relações volumétricas da ci-dade tem sido marcante. A altura das novas edificações promove a perda substancial da relação de escala com o patrimônio edificado, os elementos que outrora eram dominantes na paisagem, hoje sucumbem ao novo cenário (ADAMS, 2004).

Figura 9. vista áerea do Centro de Florianópolis

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Figura 10. Florianópolis imagem de satélite 1938 Figura 11. Florianópolis imagem de satélite 1957

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Figura 12. Florianópolis imagem de satélite 1977 Figura 13. Florianópolis imagem de satélite 1994

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Figuras 8,9,10,11,12 - Fotografias áereas de Florianópolis de 1938, 1957, 1977, 1994 e 2002 respectivamente. A partir delas percebe-se o desenvolvimento dos assentamentos huma-nos, as intervenções no ambiente natural e as obras de infraestrutura, com destaque ao sistema viário e suas modificações, como os aterros da baía Centro-Sul, Av. Beiramar Norte e as Pontes Pedro Ivo Campos e Co-lombo Salles, que ligam a ilha ao continente(IPUF, 2002).

Figura 14. Florianópolis imagem de satélite 2002

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3. PROCEDIMENTO DE MÉTODO

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3. PROCEDIMENTO DE MÉTODO

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29293.1. CONSTRUÇÃO DO CONCEITO

A ideia de paisagem cultural surge por meio da compreensão de uma série de con-ceitos. Dentre eles, as temáticas de tem-po, memória e lugar, que juntas, ajudam a compreender a de cultura e paisagem, as-sociadas às ideias de patrimônio, constru-indo assim a noção de paisagem cultural.

Sendo considerado um conceito recente no âmbito das chancelas patrimoniais, a ideia de paisagem cultural surge a partir da contí-nua observação da perda de vestígios cul-turais e descaracterização das populações tradicionais de determinado lugar, os quais se apresentam como agressões a aspectos importantes para construção de uma iden-tidade. Para entender seus efeitos nocivos, é preciso compreender a importância das noções de tempo, memória e lugar.

A oposição entre passado e presente é essencial na aquisição da consciência de tempo, pois, diferente do que se pensa, tempo não é um dado natural, provém da construção cultural (WHITROW, 1993; LE GOFF, 2003). A concepção de tempo de uma sociedade consiste em um sistema de atribuição de valores .

Podemos então perceber que a ideia de tempo está vinculada à nossa concep-

ção cultural do mundo. Há, portanto, uma representação coletiva do tempo.

Quando fazemos uma compreensão do tempo, nos libertando do presente, aces-samos a memória. A memória estabelece uma relação muito íntima com a linguagem, pois é a partir da linguagem que a memória se expressa, se exterioriza e ganha sentido. Ganha sentido, pois a memória não existe somente no interior das pessoas, uma vez que em nenhum instante o homem deixa de estar inserido na sociedade. É uma ex-periência social cujos grupos sociais pos-suem pontos desta memória em comum, que constitui uma memória coletiva (HAL-BWARCHS, 2004).

Muitas vezes estas memórias estão rela-cionadas a um lugar, que traz um sentimen-to de identidade, de pertencimento. Para Milton Santos (1985) lugar é “repositório de valores”: o homem guarda lugares em suas emoções e lembranças e também comparecem na formação do ser. Em sín-tese, o lugar é o espaço com grupos so-ciais definidos no qual são contextualiza-das suas atividades e onde se desenvolve a memória coletiva das sociedades, a qual é essencial na identidade dos indivíduos.

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Lugares são pontos de ancoragem da memória, pois, segundo Pesavento (2007), são neles que nos reconhecemos, vivemos experiências do cotidiano ou situações excep-cionais, territórios muitas vezes percorridos e familiares ou, pelo contrário, existentes em um tempo já escoado e que somente possuem sentido em nosso espírito porque narrados pelos mais antigos, que os percor-reram no passado. São espaços que tornam o território urbano qualificado, uma vez que são dotados de significado que integram a esta comunidade simbólica de sentidos, a que se dá o nome de imaginário.

De acordo com Jaime Lerner (2005, p.14), “a memória da cidade é nosso velho retra-to de família. Assim como não se rasga um velho retrato de família, [...] não se pode perder um ponto de referência tão impor-tante para nossa identidade.”. Ou seja, a memória coletiva, que nos garante a iden-tidade com o lugar, tem papel fundamental em nossa formação e sentimento de per-tencimento. O conceito de paisagem cultural abrange a preservação dessa identidade, as-sim como o nosso velho retrato de família.

Pode-se aferir que, a memória coletiva, anco-rada nestes lugares dotados de significação, auxilia na construção da identidade coletiva de

Figura 15. Etapa da construção da Ponte Hercílio Luz, iniciadas em 1922 Figura 16. Etapa da construção da Ponte Hercílio Luz, iniciadas em 1922 Figura 17. Etapa da construção da Ponte Hercílio Luz, iniciadas em 1922

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um povo. Estas identidades ajudam a elab-orar a sensação de pertencimento, pro-duzindo coesão social e reconhecimento individual, assegurando e confortando os indivíduos que delas se apossam, pois são dotadas de positividade que permitem a aceitação e endosso. (PESAVENTO, 2007).

A identidade implica na articulação de um sistema de ideias e imagens que ex-plica e convence, pois se exibe em hábitos, maneiras de ser, ritos, práticas sociais e acontecimentos do passado.

Além das noções sobre tempo, memória e lugar, é oportuna uma breve abordagem sobre as noções de cultura e de paisagem, associadas ao patrimônio. Para Santos (1985), a paisagem e a cultura transfor-mam-se, vinculadas uma à outra.

A palavra cultura advém do latim, verbo “colo”, que significa eu moro, eu ocupo a terra e, por extensão, eu cultivo o campo (BOSI, 1992). A partir dessa origem, é pos-

Nota: “Mas, sobretudo, são lugares, dotados de carga simbólica que os diferencia e identifica. E, se tais sentidos estão referidos no passado, fazendo evocar ações, personagens e tramas que se realizaram em um tempo já escoado, eles são lugares de memória, como aponta Pierre Nora¹, ou ainda espaços que contém um tempo, como assinala Paul Ricoeur².” (PESAVENTO, 2007)1 Cf. NORA, Pierre. Les lieux de mémoire. 3 v. Gallimard: Paris, 1997; Nora, Pierre. Entre memória e história. A problemática dos lugares. Projeto história. 10. PUCSP: São Paulo, 1993.

2 Cf. RICOEUR, Paul. Architecture et narrativité. Urbanisme, 303, nov.déc.1998, Paris, p. 44-51.

sível estabelecer uma conexão entre cul-tura e a dimensão espacial do lugar e da paisagem.

Entende-se, atualmente, cultura como a conjugação dos modos de ser, viver, pen-sar e falar de uma dada formação social, ou ainda, como todo o conhecimento que uma sociedade tem de si mesma, sobre outras sociedades, sobre o meio material em que vive e sobre sua própria existência (BOSI, 1992; SANTOS, 1997).

Assim, a cultura pode ser definida como o conjunto de características distintas, es-pirituais e materiais, intelectuais e afetivas, que caracterizam uma sociedade ou um grupo social, que abrange, além das artes e letras, seus modos de viver, sistemas de valor, tradições e crenças (UNESCO, 2002).

A paisagem, por sua vez, ao ser produzida pela atividade transformadora do homem, reproduz sua concepção de habitar, tra-

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balhar e viver, como fruto de um determi-nado momento do desenvolvimento social. Desse modo, seus conteúdos humanos – sociais e econômicos exprimem funções antigas que, mesmo desaparecidas, podem marcar a paisagem atual (SANTOS, 1999).

Além da ação, o homem cria também a paisagem como uma forma intelectual, na qual osgrupos sociais percebem, inter-pretam e constroem marcos significati-vos e simbólicos, segundo sua concepção cultural (SCHIER, 2003; CLAVAL 2007). Desse modo, a concepção de paisagem ultra-passa a dimensão visual concreta e passa a incorporar História, relações, valores e sím-bolos inerentes à cultura dos grupos sociais, podendo mesmo ser permeada pela sub-jetividade do observador. Assim, a paisa-gem não reside somente no objeto e nem somente no sujeito, mas é engendrada em sua complexa interação (NÓR, 2010).

O patrimônio cultural consiste nas referên-cias consideradas como representativas de diferentes grupos sociais. Os bens culturais expressam os processos de produção e re-produção da vida, bem como os mecanis-mos que articulam esses processos à for-mação da memória social de um povo.

A noção de patrimônio tem adquirido, ao longo do tempo, novos significados e am-pliado sua abrangência, refletindo a in-corporação de novas visões a respeito de cultura, com o reconhecimento da diversidade cultural e a valorização do vernacular e do contemporâneo (CHOAY, 2001). Como integrante dessa expansão destaca-se a categoria de patrimônio ima-terial, que reconheceu a existência e a ne-cessidade de salvaguarda do conjunto das das realizações humanas, em diversas ex-pressões, superando a atuação preservaci-onista de outrora voltada prioritariamente para o tombamento dos bens materiais, os chamados “de pedra e cal” – igrejas, fortes, pontes, prédios e conjuntos urbanos repre-sentativos de estilos arquitetônicos especí-ficos.

Na esfera da ampliação do conceito de patrimônio, a Organização das Nações Uni-das para a Educação, a Ciência e a Cultura (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) - UNESCO passou a abordar, desde 1990, a ideia de paisagem cultural, combinando aspectos materiais e imateriais, aliados à interação entre o homem e a natureza, sendo que a categoria de paisagem cultural foi consolidada pelo Comitê do Patrimônio Mundial, em Santa

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Fé (EUA), em 1992 (CASTRIOTA, 2009).

No documento denominado “Recomenda-ção da Europa” para a conservação das áreas de paisagens culturais, elabo-rado em 1995, paisagem cultural foi caracterizada pela maneira pela qual é per-cebida por um indivíduo, ou por uma comu-nidade, testemunhando, do passado ao pre-sente, o relacionamento entre o homem e seu meio ambiente. Possibilitando, a partir de sua observação, especificar culturas e locais, sensibilidades, práticas, crenças e tradições.

A UNESCO apresentou, em 1999, nas dire-trizes operacionais para a Convenção do Patrimônio Mundial, a ideia de paisagem cul-tural da seguinte maneira:

Figura 18. Vista da Ponte Hercílio Luz, fases finais da construçãoFigura 19. Vista da Ponte Hercílio Luz, fases finais da construçãoFigura 20. Vista da Ponte Hercílio Luz

Paisagens culturais representam o tra-balho combinado da natureza e do homem [...] são ilustrativas da evolução da socie-dade e dos assentamentos humanos ao longo do tempo, sob a influência das deter-minantes físicas e/ou oportunidades apre-sentadas por seu ambiente natural e das sucessivas forças sociais, econômicas e culturais, tanto internas, quanto externas. Elas deveriam ser selecionadas com base tanto em seu extraordinário valor univer-sal e sua representatividade em termos de região geocultural claramente definida, quanto por sua capacidade de ilustrar os elementos culturais essenciais e distintos daquelas regiões (UNESCO, 1999).

Vista da Ponte Hercílio Luz

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No Brasil, o Instituto do Patrimônio Históri-co e Artístico Nacional - IPHAN, em 2009, definiu como paisagem cultural brasileira a “porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas, ou atribuíram valores” (IPHAN, 2009).

Nessas concepções sobre paisagem cul-tural, como categoria de patrimônio, estão sendo consideradas as formas de viver e de se relacionar com o meio ambiente, evi-denciando os sítios históricos, os sistemas de uso da terra e o conhecimento tradicio-nal, que se entrelaçam na conformação dos lugares e seu tecido social, revelando aspectos estéticos, simbólicos, espirituais, funcionais e ecológicos.

No processo de identificação e avaliação da paisagem cultural consideram-se os modos de conceber a vida das popula-ções locais, com atenção para os marcos e as permanências do processo histórico de produção e de interação com o meio natural. Assim, nas áreas de estudo, os pesquisadores devem procurar relacio-nar a importância da preservação da natureza, de edificações e sítios significa-tivos (patrimônio material), na medida em

que possibilitem e a evocação do passado de forma reflexiva, valorizando a memóriaurbana de modo a manter uma identidade social presente e viva (patrimônio imate-rial) (SANTOS,1997; CASTRIOTA, 2009). Paisagens culturais representam o tra-balho combinado da natureza e do homem [...] são ilustrativas da evolução da socie-dade e dos assentamentos humanos ao longo do tempo, sob a influência das deter-minantes físicas e/ou oportunidades apre-sentadas por seu ambiente natural e das sucessivas forças sociais, econômicas e culturais, tanto internas, quanto externas. Elas deveriam ser selecionadas com base tanto em seu extraordinário valor univer-sal e sua representatividade em termos de região geocultural claramente definida, quanto por sua capacidade de ilustrar os

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3.2.1. Leitura Histórica

Visando a compreensão da conformação das áreas de estudo, é realizado um estudo prévio do histórico da conformação do lugar, por meio de pesquisa bibliográfica. Esta etapa garante um embasamento para as visitas a campo e análises posteriores.

3.2.2.Planilha de Análise

Após finalização da leitura histórica da área de estudo, realizam-se visitas de campo a fim de qualificar essa área como pertencente, ou não, à classificação de paisagem cultural, de acordo com os critérios sintetizados na planilha de análise, advindos do conceito de paisagem cultural.

A planilha divide-se em três etapas, a primei-ra explora questões mais concretas e aspec-tos imediatamente perceptíveis na paisagem; a segunda, questões mais subjetivas e, na terceira etapa, realiza-se a junção de todo o material registrado, conformando a carac-terização da área analisada. Considerando que um mesmo espaço pode ser percebido de formas diferentes, estabelece-se, posterior-mente, o debate sobre os resultados de cada pesquisador e as reflexões sobre a avaliação realizada.

3.2. INSTRUMENTOS DE ANÁLISE

Figura 21. Baía de Santo AntônioFigura 22. Centro histórico de Santo AntônioFigura 23. Vista da ponte Hercício Luz, 2014

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Cada momento da análise é realizado por meio de subdivisões, que objetivam facili-tar o trabalho em campo. Lembrando que essa separação não existe na prática, é apenas uma estratégia metodológica para facilitar a melhor compreensão do objeto de estudo, que consiste numa totalidade.

A primeira etapa é subdividida em qua-tro aspectos a serem identificados: limites e vistas; marcos na paisagem, dinâmica socioespacial e impactos nega-tivos na paisagem. Na segunda etapa de análise há a avaliação de dois aspec-tos relativos ao patrimônio imaterial, como observação de vivências e afetos e existência de indícios de práticas tradicio-nais e simbólicas. Na terceira etapa, reali-za-se a junção dos momentos precedentes,

comparam-se os resultados, e a partir da reflexão em equipe, pode haver comple-mentações e recomendações sobre os as-pectos avaliados. Fotografias e desenhos também são instrumentos de registro da percepção por parte do observador/analista.

O quadro de “Planilha de análise da paisa-gem cultural”, apresentado a seguir, foi concebido e aprimorado ao longo do estu-do, no sentido de orientar os pesquisadores em relação ao que deve ser observado du-rante a análise de campo, sendo sempre possível realizar ampliações, modificações e adaptações durante a pesquisa, de modo a aperfeiçoar a avaliação.

Figura 24. Vista da Baía de Santo Antônio

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PLANILHA DE ANÁLISE DA PAISAGEM CULTURAL

1ª ETAPA

a. LIMITES E VISTAS

Identificar os limites e vistas da paisagem em estudo, levando em consideração, por exemplo, a presença ou a ausência de destaques na topografia, massas vegetais, corpos d’água, vistas panorâmicas, etc. Ilustrar com fotografias e croquis.

b. MARCOS NA PAISAGEM

Registrar as edificações históricas, tombadas, ou signifi-cativas existentes, bem como os demais marcos físicos que dão identidade ao lugar, como praças, monumen-tos, equipamentos, mobiliário urbano, etc. Neste item deve-se avaliar o grau de autenticidade histórica, comprovando se o que homem construiu é produto de uma experiência vivida, de um valor cul-tural próprio e autêntico, distinguindo de eventuais simulacros, pastiches, imitações recentes de estilos arquitetônicos históricos. Ilustrar com fotografias e croquis.

c. DINÂMICA SOCIOESPACIAL

Considerar a dinamicidade da cultura e a contínua evolução da sociedade impressa no local de estudo, reconhecendo e admitindo as mudanças inerentes à evolução humana e de seus assentamentos. Verificar como o homem imprimiu marcas de suas ações e formas de expressão, associados aos diferentes tem-pos e como se deu sua interação com o espaço natural e cultural, ao longo dessa trajetória.

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d. IMPACTOS NEGATIVOS NA PAISAGEM

Analisar as interferências de novos elementos urbanos e seu potencial de causar impacto visual, sonoro, olfa-tivo na paisagem. Consideram-se impacto as alterações no meio urbano resultantes das atividades, que direta, ou indiretamente, afetem as atividades sociais, culturais e econômicas, bem como as condições estéticas e paisagísticas deste meio (NÓR, 2010).

2ª ETAPA

a. VIVÊNCIAS E AFETOS

Considerar se o local de estudo apresenta relações sociais e afetivas integradas com o ambiente e que se demonstrem como respostas peculiares ao meio natu-ral e à História, os quais interfiram nos modos de vida locais, definindo-os. Identificar se existe um processo histórico compartilhado na conformação do lugar. As pessoas que moram naquele espaço têm relação de afeto/respeito/orgulho relacionados ao lugar? Existem ainda vivências peculiares naquele espaço? Quão sig-nificantes são elas? O local analisado evidencia relações entre o ambiente natural, o trabalho e a moradia de seus habitantes? Qual o grau de interação entre estes fatores e o quão são dependentes entre si?

b. PRÁTICAS TRADICIONAIS E SIMBÓLICAS

Verificar se ocorrem festas, cultos, crenças, rituais, ofí-cios tradicionais ou simbólicos do local de estudo. Estas práticas contribuem para a identidade e memória coletiva da população local?

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3ª ETAPA

a. RELACIONAR OS ASPEC-TOS MATERIAIS E IMATERI-AIS

Realizar a correspondência entre os aspectos analisa-dos, identificando sua complementaridade. Possibilitar o entendimento das relações entre homem, sua cultura e o ambiente natural.

b. CONSIDERAÇÕES Avaliar a existência de potenciais impactos negativos e a vulnerabilidade da paisagem cultural analisada. Propor medidas ou recomendações, se pertinente.

Quadro 01. Planilha de análise de paisagem cultural. Elaboração dos autores.

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3.2.3. Questionários

O questionário acrescenta ao relatório a percepção das pessoas que usufruem e vivem nas áreas de estudo. Os questionári-os aplicados sobre o centro de Florianópo-lis foram realizados in loco e também pela internet. Os questionários sobre Santo An-tonio de Lisboa foram realisados somente pela internet. As questões exploram os mesmos pontos da planilha de análises a fim de complementar a análise de campo e obter resultados mais consistentes. Com os questionários é possível identificar os marcos considerados referenciais para os entrevistados, impactos negativos na paisagem, perceber como as pessoas en-tendem a dinâmica dos espaços ao longo do tempo, a relação de afeto dos usuários com o lugar, entre outros. Gráficos e ta-belas a partir dos depoimentos, auxiliam a consolidar os resultados das entrevistas.

Os questionários encontram-se nos apêndi-ces desta pesquisa.

Figura 25. Bolsistas realizando pesquisa em campoFigura 26. Bolsistas realizando pesquisa em campoFigura 27. Bolsistas realizando pesquisa em campo

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3.2.4 Mapeamento

Visou-se delimitar a abrangência espacial das áreas de estudo com base na percep-ção e vivências dos entrevistados, utilizan-do a seguinte pergunta: Para você, onde começa e onde termina Santo Antônio de Lisboa/o Centro?A partir dos resultados, foi possível traçar poligonais capazes de identificar os limites da área estudada. Assim, as poligonais delimitam a área de abrangência destas paisagens culturais, po-dendo contribuir para o registro e preser-vação das mesmas.

Figura 28. Mapeamento da área de estudo

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4. APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE ANÁLISE

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4. APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE ANÁLISE

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45454.1. SANTO ANTÔNIO DE LISBOA

Santo Antônio de Lisboa localiza-se na por-ção noroeste da Ilha de Santa Catarina, na orla calma da Baia Norte e tem como pano de fundo significativa topografia com exuber-ante massa vegetal. O distrito possui área de 22,45 km² e população de 6.343 habitantes (IBGE, 2010). Mantém um dos conjuntos ar-quitetônicos mais representativos da fase de colonização portuguesa do litoral sul brasi-leiro, remanescente dos séculos XVIII e XIX, com destaque para a Igreja de Nossa Senhora das Necessidades, construída em 1756.

Figura 29. Mapa do distrito de Santo Antônio de Lisboa

Sambaqui

Santo Antônio de Lisboa

Cacupé LEGENDA

Limites do distrito

Vias Principais

Vias secundárias

Centro Histórico de Santo Antônio de Lisboa N

0m 400m 800m

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4.1.1. Breve Histórico

A história do distrito está vinculada com a do município de Florianópolis. No século XVIII, a Ilha de Santa Catarina, em virtude do projeto de expansão colonial de Portu-gal na região sul do Brasil, ocorreu a vinda de imigrantes dos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, iniciando o processo de for-mação socioespacial do litoral catarinense (FARIAS, 1998).

Em 1714, quando se construiu em Sambaqui um entreposto para operar com o comér-cio marítimo, iniciando o florescimento da região., as levas de imigrantes açorianos dirigiu-se para Santo Antônio de Lisboa, estimulando o seu desenvolvimento com seus conheci-mentos e costumes (FARIAS, 1998)

Santo Antônio de Lisboa foi elevado à Freguesia em 1750, sendo uma das mais antigas da Ilha, tendo como marco a con-strução da igreja de Nossa Senhora das Ne-cessidades (1756), A edificação luso-brasil-eira do período colonial é hoje patrimônio material do distrito, além das demais con-struções típicas deste período.

Dos açorianos herdou-se também o lingua-

jar e sotaque peculiar, a cerâmica, a renda de bilro, o forte sentimento de religiosi-dade, além de festas e tradições culturais.

Entretanto, nas últimas décadas, Santo Antônio de Lisboa têm vivenciado um ex-pressivo crescimento populacional, com ampliação da área residencial, onde pre-dominam edificações unifamiliares. A atividade turística tem se destacado, es-pecialmente pela implantação de lojas de artesanato e restaurantes ao longo da orla, transformando o lugar numa referência da gastronomia a base de frutos do mar, aliando o preparo de pratos tradi-cionais a novas receitas, que surgiram com o desenvolvimento do cultivo de ostras e mariscos, em virtude de um projeto de de-senvolvimento socioeconômico, que teve inicio na década de 1980.

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4.1.2. AnáliseApós o estudo prévio da história do Distrito de Santo Antônio de Lisboa, partiu-se para a análise de campo auxiliada pela planilha de análise da paisagem cultural.

Seguindo a metodologia, iniciou-se pela ex-ploração com base no primeiro momento de análise, identificando o mar como el-emento natural de maior destaque que de-marca a paisagem, delimitando as cons-truções e o traçado das ruas, as quais contor-nam a orla suave de águas calmas da baia. Os limites e vistas são também marcados por grande presença de massas vegetais, a Mata Atlântica encobre boa parte das elevações que conformam o espaço de estudo.

A brisa marinha, o barulho das pequenas on-das, as embarcações oscilando e as estrutu-ras das “fazendas” de ostras e mariscos, que submergem em alguns pontos, configuram a paisagem local.

Na orla, em direção ao horizonte, avista-se o perfil das distantes edificações da área cen-tral e tem-se uma visão privilegiada da silhueta da Ponte Hercílio Luz, que consiste num dos mais importantes símbolos de Flo-rianópolis.

Figura 30. Baía de Santo AntônioFigura 31. Baía de Santo Antônio, ponte Hercício Luz em perspectivaFigura 32. Centro histórico de Santo Antônio de Lisboa

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O casario de arquitetura luso-brasileira, a Igreja de Nossa Senhora das Necessidades implantada em uma elevação, alinhada com a Praça Getúlio Vargas e com o mar, configu-ram uma implantação urbana típica da coloni-zação portuguesa. Há ainda um trecho rema-nescente da primeira rua calçada do Estado, na Praça Roldão da Rocha Pires, e a fachada da casa onde se hospedou o imperador D. Pe-dro II, elementos que compõem o patrimônio histórico do distrito.

A Igreja de Nossa Senhora das Necessidades, o casario luso-açoriano e a orla aparecem como os primeiros marcos de referência a serem lembrados pelos entrevistados, repre-sentando, respectivamente, 28%, 24% e 16% das respostas, além de muitos deles serem citados também como importantes ancora-douros de memória, que permitem uma evo-cação ao passado, mostrando o desenvolvi-mento do distrito ao longo do tempo.

Pode se observar também a evolução da ci-dade impressa em Santo Antônio de Lisboa, por meio da nova pavimentação das vias que dão acesso ao distrito, bem como por edifica-ções de arquitetura mais recente que surgem em meio aos prédios históricos, mas que ainda mantêm os gabaritos baixos, preservando a relação volumétrica. Mobiliário urbano, como

Figura 33. Igreja Nossa Senhora das NecessidadesFigura 34. Decks de madeira na orla de Santo AntônioFigura 35. Prática da Maricultura

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decks de madeira, instalados nos últimos anos ao longo da orla, criam espaços de convívio em meio à rota gastronômica.

A maricultura garantiu a permanência da relação do homem com o mar, como meio de subsistência das comunidades tradi-cionais do distrito, visto que a atividade pesqueira encontrava-se em decadência. A implantação do projeto de cultivo, além de atender questões socioeconômicas da co-munidade, criou um novo atrativo turístico propiciando a instalação de restaurantes, que vem sofisticando o atendimento a um público de poder aquisitivo cada vez mais elevado.

Entretanto, pode-se também observar que essa rota gastronômica está fazendo com que os restaurantes ocupem gradativa-mente a orla, praticamente privatizando-a e obstruindo a visão do mar a partir da via que o margeia, constituindo um impacto negativo. Os restaurantes promovem-se a partir da valorização da bela paisagem natural, que passa a ser vista, em muitos trechos, apenas do interior dos recintos. Para quem caminha pela praia têm-se, muitas vezes, a visão dos fundos dos es-tabelecimentos e os odores das cozinhas, descaracterizando o ambiente. Além do

aumento constante do trânsito de veícu-los, que vem dificultando a circulação pe-las ruas antigas e estreitas do local.

Com base nos questionários, muitos mo-radores do distrito consideram que as mudanças foram muitas e também preju-diciais a toda dinâmica e modo de vida do lugar, 60% dos entrevistados acredita que Santo Antônio de Lisboa pode vir a perder suas memórias, edificações e identidade, em virtude das mudanças que vem ocor-rendo no distrito.

No segundo momento de análise, obser-vou-se que as vivências e os afetos são bem fortes em Santo Antônio de Lisboa. De acordo com o questionário aplicado, 92% dos entrevistados considera o distrito um lugar especial, ou seja, possui uma carga simbólica que o diferencia e identifica den-tro do contexto de Florianópolis. Veem-se pessoas saindo para o trabalho no mar em pequenos barcos, mantendo a tradição da pesca, associada ao mais recente cultivo de ostras e mariscos. Pequenas embarca-ções estão sempre se movimentando em frente à orla, numa relação estreita entre o homem e o meio ambiente. As marés, correntes marítimas, fases da lua e regime dos ventos fazem parte do conhecimento,

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das conversas e do cotidiano dos habi-tantes.

Observa-se também, ao longo da orla, a importância do convívio e da contemplação do mar, entre os moradores e visitantes, numa relação de afeto com o lugar e am-biente natural. Nas ruas, bares, escadarias da igreja, decks da orla e praças é possível notar rodas de amigos, encontros, pessoas sentadas de frente para o mar, pintores e fotógrafos retratando a paisagem. Viven-cia-se uma espécie de volta no tempo, propiciada pela calma e ritmo tranquilo da vida local.

A igreja é ainda amplamente vivenciada, uma vez que possui uma carga de identi-dade com a população local muito forte, evidenciada na manutenção das práticas religiosas, com missas semanais, com grande envolvimento dos moradores em preparativos e participação de almoços e jantares da paroquia, bem como nas fes-tas tradicionais, como a Festa do Divino Espírito Santo, que movimenta a comuni-dade anualmente, continuando uma antiga tradição dos Açores.Marcos importantes da paisagem também concentram um valor simbólico e possuem relações de afeto com as pessoas que dele

usufruem. O casario, a Igreja e o artesa-nato local, além de serem elementos mar-cantes da paisagem de Santo Antônio de Lisboa, são considerados pelos entrevis-tados, como possuidores da identidade e memória do distrito, uma vez que quase metade das respostas demonstram o desejo de que perdurem para as gerações futuras.

Constatou-se, também, que o mar ainda é muito citado pelos entrevistados e condiz com um forte marco do distrito, respon-sável pelo modo de vida, trabalho e con-formação da ocupação humana em Santo Antônio de Lisboa.

A comunidade participa e perpetua as lendas e tradições herdadas dos seus an-tepassados, fazendo com que cada data comemorativa se torne uma rica experiên-cia para os moradores, que confirmam e estreitam as relações sociais, atraindo visitantes. Existem representações e dan-ças típicas do folclore local, como o Boi-de-Mamão, Maricota, Bernunça, Pau de Fita, que costumam ser exibidos nas fes-tas populares.

Estas atividades são vivenciadas não ap-enas por moradores do distrito, mas sim

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por demais moradores de Florianópolis e turistas.

A linguagem é também um importante bem imaterial que representa a tradição, por meio do sotaque, expressões e denomina-ções peculiares, que continuam bem pre-sentes e marcantes em Santo Antônio de Lisboa. Percebe-se também que existem rivalidades discretas e comparações com os demais distritos de Florianópolis, as quais são resultado de um sentimento de pertencimento ao lugar, de identidade e, de certa forma, fortalecem os laços na comu-nidade.

No terceiro momento da pesquisa, analisaram-se os dados coletados na me-dida em que proporcionam relações entre o homem, sua cultura e o ambiente natu-ral, a fim de, finalmente, classificar a área como paisagem cultural. Pois, segundo o IPHAN (2011, p.3) “Nos sítios onde são constatadas as singularidades materiais de determinada área, somadas à sua rela-ção intrínseca com a natureza e ao caráter dinâmico no convívio com o elemento hu-mano, aí então caberá a chancela da Paisa-gem Cultural”.

Constatou-se que o patrimônio material e

Figura 36. Privitização da orla pelas edificaçõesFigura 37. Privatização da orla por parte dos restaurantesFigura 38. Feira de Artesanatos

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imaterial, como elementos de alusão à história local, permanecem vivos e valorizados. Mes-mo no fluxo da contínua evolução do distri-to, em sua dinamicidade, estão mantidas as características essenciais do lugar, sua rela-ção com o espaço natural, com as tradições, seus modos de produzir e conceber a vida. Assim, o estudo realizado nos induz a carac-terizar Santo Antônio de Lisboa como uma das áreas que abriga a “paisagem cultural” de Florianópolis, merecendo cuidados por parte da gestão urbana, com necessária participa-ção da população local, para sua manutenção e conservação.

Ao mesmo tempo, identificou-se a tendência de verticalização das edificações no distrito, que já se avizinha do núcleo histórico de San-to Antônio de Lisboa, ameaçando a relação de escala volumétrica do lugar, bem como a crescente presença de empreendimentos imobiliários que constroem condomínios resi-denciais unifamiliares, fechados por grandes muros, que interrompem e segmentam a malha, rompendo as relações com os espa-ços públicos, segregando e elitizando a ocu-pação urbana.

Visando delimitar a abrangência espacial do distrito, tendo como base a percepção, vivên-cia e afetos que os usuários de Santo Antônio

Figura 39. Ofício da Maricultura

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referências o início do caminho que leva até Sambaqui, um estabelecimento comer-cial no Caminho dos Açores e o TISAN. 19% dos entrevistados consideram estas refer-ências como sendo o território de Santo Antônio de Lisboa.

Conclui-se, a partir dos resultados apre-sentados pelos questionários, que para a maioria dos entrevistados o lugar considerado como Santo Antônio de Lis-boa é o núcleo do distrito, o qual abriga boa parte dos marcos históricos e a orla marinha.

Considera-se importante que o poder público possa prevenir eventuais impac-tos nas paisagens culturais, avaliando pre-viamente interferências capazes de causar descaracterização da ambiência urbana, obstrução visual, bloqueio de ângulos de visão, efeitos nocivos na rotina e no padrão de vida da população, perda de referências históricas/culturais e comprometimento de renda e produção (NÓR, 2010).

Para tanto, recomenda-se que novas pro-postas de intervenção em áreas classi-ficadas como Paisagem Cultural devam ser submetidas a estudos específicos, que possam limitar ou indicar adequações a

de Lisboa possuem, foram levantados os limites do distrito. A partir dos resultados, foi possível identificar três poligonais.

A primeira poligonal (verde) representa o núcleo do distrito, que contém a maior parte do conjunto arquitetônico luso-brasileiro, a Igreja de Nossa Senhora das Necessidades, a orla e os restaurantes à beira mar, que fazem parte da rota gas-tronômica de Santo Antônio. 62% dos entrevistados considera que Santo Antônio de Lisboa se encontra nesta poligonal, cit-ando como referências a Igreja, a Praça Getúlio Vargas e, em frente à mesma, o conjunto de casarios açorianos, a orla e seus restaurantes.

A segunda poligonal (vermelha) repre-senta uma área maior do distrito e possui como referências o Terminal de Integração de Santo Antônio de Lisboa (TISAN), a orla e os restaurantes, que além de engloba-rem o polígono nuclear, considera também a Rua Padre Lourenço Rodrigues de An-drade, principal via de acesso ao distrito a partir da rodovia SC-401. Esta poligonal representa 19% das respostas.

A terceira (azul) é a mais abrangente, pois engloba todas as demais e tem como

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Figura 40. Mapeamento da abrangência espacial do distrito de Santo Antônio de Lisboa

LEGENDA

Vias Principais

Vias secundárias

Igreja de Nossa das Necessidades (1); Orla (2); Praça Getúlio Vargas (3)

TISAN (4); Orla (5); Praça Getúlio Vargas(6)

Bairro Sambaqui (7); Estabelecimento comercial (8); TISAN (9)

N250m 125m 0m 250m 500m

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projetos, propondo medidas mitigadoras compensatórias ou preventivas.

Desse modo, como contribuição da pre-sente pesquisa, considera-se pertinente indicar ao poder público que o Distrito de Santo Antônio de Lisboa deva configurar no mapeamento de Florianópolis como área caracterizada de “paisagem cultural”, o que implica em adotar medidas de con-servação cultural e na exigência de estu-dos prévios de impacto paisagístico para novos empreendimentos, ou intervenções no espaço urbano.

Figura 41. Enseada de Santo Antônio de Lisboa

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56564.2. CENTRO DE FLORIANÓPOLIS

Localizado no distrito Sede, o Centro de Flo-rianópolis situa-se na porção centro-oeste da Ilha e é banhado pelas Baías Sul e Norte, e delimitado a leste pelo maciço do Morro da Cruz. Apresenta como limites os bairros da Agronômica, ao norte, e o bairro Saco dos Limões, ao sul. O Centro possui uma popula-ção de 44.315 habitantes e uma área de 74,54 km² (IBGE,2010). O Centro histórico é o mar-co do início da urbanização da Ilha de Santa Catarina, sendo ancoradouro de memória e de vasto patrimônio cultural.

Figura 42. Mapa do Centro de Florianópolis

LEGENDA

Vias Principais

Vias secundárias

Catedral Metropolitana

Praça XV de Novembro

N 0m 100m 200m

1

2

1

2

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4.2.1. Breve Histórico

Como já visto, o desenvolvimento do povoado da Ilha de Santa Catarina tem como marco ini-cial a Capela de Nossa Senhora do Desterro, hoje catedral Metropolitana de Florianópolis, no Centro. A localização da igreja em uma pequena colina a aproximadamente 250 metros do mar, traduz a típica implantação, herdada dos portugueses, de construir a igreja em um ponto de destaque na topogra-fia, desenvolvendo a malha urbana a partir deste edifício. Seguindo esta linha, constrói-se uma praça logo em frente, a qual se estendia até o mar, conformando o primeiro espaço público claramente definido como abrigo das atividades coletivas da póvoa (VAZ, 1991).

Foi a partir deste centro, com a colonização açoriana e construção de edifícios institucio-nais, que se desenvolveu a vida urbana de Florianópolis. Importantes edificações de sig-nificação regional, juntamente com a Casa de Câmara e Cadeia e com o atual Palácio Cruz e Souza, emprestavam à praça principal da vila um sentido monumental. Em seu entorno já havia moradias várias (VAZ, 1991) Sendo assim, o centro contém inúmeros bens que fazem alusão à história da cidade.

Figura 43. Palácio Cruz e Souza, início do séc XXFigura 44. Praça XV e entorno, Início do séc XXFigura 45. Praça XV e Catedral Metropolitana, início séc XX

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4.2.2. Análise

Inicialmente, buscou-se entender quais os limites do centro de Florianópolis. Estes limites, no âmbito da pesquisa, nem sempre são aqueles definidos oficialmente, mas sim, definidos por características simbólicas ou visuais pela população.

Ao nível do pedestre, o centro de Florianópolis é marcado pela presença de enquadramentos de maciços montanhosos: o Morro da Cruz, na porção insular, e pelos maciços presentes na porção continental da região metropoli-tana, a oeste. As massas vegetais também são destaque destas elevações, encobertas pela Mata Atlântica, e pela presença de algu-mas habitações informais que demonstram crescente desenvolvimento em porções do maciço do Morro da Cruz.

Edifícios imponentes e de gabaritos elevados também demarcam o entorno do Largo da Alfândega, despontando por de trás dos pré-dios históricos da área central.

Grandes vias para a circulação de automóveis fazem parte dessa paisagem, assim como o Terminal de Integração do Centro (TICEN) e o Terminal Rodoviário Rita Maria. As palmei-ras originais do projeto do paisagista Roberto

Figura 46. Morro da Cruz em destaqueFigura 47. Centro de Florianópolis Imediações do TICENFigura 48. Centro de Florianópolis

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Burle Marx para o aterro da Baia Centro-Sul tomam a paisagem de quase todo o centro histórico, ganhando destaque nas vistas. O principal “cartão postal” da cidade, a ponte Hercílio Luz, aparece em meio aos grandes edifícios, também conformando o entorno do local.

Na pesquisa realizada para identificar os limites do centro de Florianópolis, os entre-vistados identificaram, de forma mais signifi-cativa, três perímetros. A primeira área, (para 48% dos entrevistados) identificada pela cor azul no mapa, é compreendida, no sentido norte -sul, entre os extremos da Av. Mauro Ramos (Shopping Beiramar até o túnel An-tonieta de Barros), e no sentido leste-oeste, entre a Av. Mauro Ramos, que coincide com a encosta do Morro da Cruz, até a Av. Beira-mar Norte, o Terminal Rodoviário Rita Maria, o Terminal de Integração Urbana do Centro (TICEN) e a linha de edifícios históricos e dos complexos governamentais próximos à saída dos túneis.

O núcleo histórico do centro, inserido no in-terior do perímetro delimitado pelos entre-vistados, teve seus monumentos e edifícios históricos lembrados diversas vezes como marcos referenciais, ou como a primeira memória relativa ao “Centro de Florianópo-

Figura 49. Av. Governador Gustavo RichardFigura 50. TICENFigura 51. Feira do Largo da Alfândega

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Figura 52. Mapeamento da abrangência espacial do Centro de Florianópolis

LEGENDA

Vias Principais

Vias secundárias

Praça XV de Novembro (1); Catedral Metropolitana (2); Teatro Álvaro de Carvalho (3); Av. Hercílio Luz (4); Mercado Público (5); Rua Filipe Schmidt (6)

Av. Hercílio Luz (7); TICEN (8); Rodoviária(9); Rua Conselheiro Mafra (10), Parque da Luz (11); Praça Getúlio Vargas (12); Av. Mauro Ramos (13).

Tunel Antonieta de Barros (14); Ponte Hercílio Luz (15); Shopping Beiramar (16); Av. Mauro Ramos (17).

N100m 50m 0m 100m 200m

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lis”. Mostram-se possuidores de cargas simbólicas que caracterizam o centro da cidade como um lugar de memória cole-tiva, de referências comuns do passado e que ainda perduram no presente. Estes es-paços dotados de significado fazem da ci-dade um território urbano qualificado, pois são apropriados pelas pessoas. Espaços que também erigem seus pontos de ancor-agem da memória (PESAVENTO, 2007).

Como marcos mais citados, temos: a Praça XV de Novembro ( 35% dos entrevistados), o Mercado Público, ( 32% dos entrevista-dos), o “Calçadão” da Rua Felipe Schmidt (17%) e a Catedral Metropolitana.

Além destes, também destacaram-se a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a Casa da Alfândega, o Palácio Cruz e Souza, antigo Palácio do Governo, a Casa da Câmara, bem como um grande conjunto de casarios do século XVIII, de arquitetura luso-brasileira, que completam o conjunto

Nota: Ano de construção e tombamento, respectivamente, dos edifícios acima citados: Mercado Público - 1898 / 1984; Catedral Metropolitana - 1753 / 1986; Palácio Cruz e Souza - século XVIII / 1980; Igreja de Nossa Senhora do Rosário - 1787 / 1975; Casa da Alfândega - 1875 / 1975; Casa da Câmara - 1780 / 1984. Fonte: SOUZA, Alcidio Mafra de. Guia dos bens tombados, Santa Catarina. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cul- tura; Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1992. 152 p.

Figura 53. Praça XVFigura 54. Mercado Público Municipal de FlorianópolisFigura 55. Rua Felipe Schmidt

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histórico arquitetônico central.

O patrimônio material aparece como im-portante referência para a população local e turística e ganha ainda mais força pelo fato de Florianópolis ter surgido e se de-senvolvido a partir de seu centro.

As cidades, contudo, tem a propriedade de se densificar e crescer de forma que, ten-dencialmente, seus centros são primeiros a sofrerem tais mudanças, podendo ter des-gastes físicos e simbólicos (PESAVENTO, 2007). Florianópolis tem a vantagem de possuir um centro ainda vivo e dinâmico.

Com o processo de crescimento da cidade e a necessidade por vias que contemplassem os automóveis, houve a construção da pon-te Hercílio Luz, primeira ligação rodoviária ilha-continente, na década de 1920. Poste-riormente, este acesso e as ruas estreitas não conseguiam suprir a quantidade de veículos, cada vez maior. Então, na década de 1970, iniciou-se a construção do aterro da Baia centro-sul, afastando por quase 500 metros, as edificações históricas do mar. O aterro consistiu numa mudança em prol do transporte rodoviário e demonstra, também, uma mudança na vida econômica da capital catarinense, na qual o porto já

Figura 56. Centro de Florianópolis início do séc XXFigura 57. Construção do Aterro da Baía Sul Figura 58. Vista aérea do centro histórico de Florianópolis

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não supria as necessidades e interesses econômicos da cidade.

Com a abertura de grandes redes de lojas e estabelecimentos comerciais nos pavi-mentos térreos dos edifícios históricos, o Centro , que até a década de 1970, era comercial e residencial, passou a ter um caráter predominantemente comercial. Nota-se que o fluxo de pessoas coin-cide com o horário comercial das lojas e serviços, deixando-o praticamente deserto nos períodos noturnos e nos finais de se-mana, como atestam os depoimentos dos entrevistados.

A Casa da Alfândega e o Mercado Público possuíam forte relação com as águas da Baia, uma vez que estas eram as portas de entrada para a cidade e local de mo-vimentado comércio, por onde mercador-ias e pessoas circulavam. No vão livre do Mercado, que antigamente fora a solução encontrada para a carga e descarga de mercadorias, agora é espaço para mesas, cadeiras e guarda-sóis que dão suporte aos bares e à nova dinâmica do espaço ur-bano.

Percebe-se também que a Praça XV de No-vembro já passou por reformas e revitali-zações e conta com mobiliário novo.

Uma vez que a população mais jovem cos-tuma se encontrar em outros espaços, o uso da praça também mudou, deixou de ser um local de encontros de forte relação com os fiéis da Catedral Metropolitana, e passou a ser local predominantemente de passagem e descanso nos intervalos do co-mércio. Pessoas de mais idade ainda man-tém a tradição do encontro, é possível ob-

Consigo falar com propriedade a respei-to dos últimos 15 anos. Reparo algumas mudanças, porém não tão grandes. Há a construção e reforma de alguns edifícios, mudanças em algumas ruas (como a Vi-dal Ramos). As maiores mudanças são caracterizadas pelo comércio, vitrines e fachadas no térreo. (Entrevistado 1)

Sou muito jovem para perceber mudan-ças muito drásticas, mas na minha opin-ião (e pelo que conheço da história da ci-dade) o centro tem se descaracterizado lentamente, perdendo seu valor como lugar de comércio local, interação social e democrática e tornando-se um local de uso restrito apenas em alguns horários do dia/semana, tornando-se até mesmo

perigoso em outros horários e inclusive transformando-se em um local apenas de trabalho e não mais de lazer, como costumava ser. (Entrevistado 2)

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servar idosos jogando o tradicional dominó e ocupando o local.

Com a construção do aterro, a conforma-ção tipicamente portuguesa foi descarac-terizada, o aterro distanciou a praça quase que 500 metros das águas do mar.

Além disto, muitos prédios históricos no centro possuem novos usos, é o caso da Casa da Câmara e Cadeia (antiga sede do Legislativo municipal) na Praça XV de Novembro, que data de 1780, após seis anos de abandono vai passar por um processo de restauração para “Tornar-se o primeiro museu da Capital contan-do de forma interativa a história de Florianópolis.” (IPUF, 2013)

A maioria dos entrevistados reconhece este dinamismo no Centro de Florianópo-lis. Apesar dos monumentos históricos possuírem novos usos, não sofreram pelo esquecimento e pela falta de sentido

Houve violentas mudanças. No início do século XX era comum os cinemas cen-trais próximos a à catedral, onde após as sessões, o povo vinha para a Praça XV conversar e passar o tempo. No TAC ocorriam as formaturas com bailes no Clube 12. Toda a vida se dava no centro. (Entrevistado 3)

Figura 59. Largo da Alfândega, início do séc XXFigura 60. Feira tradicional do Largo da Alfândega, séc XXFigura 61. Praça XV

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histórico, uma vez que 98% dos entrevista-dos afirmou que gostaria de guardar algum elemento do Centro para as gerações futu-ras, e quando os indagávamos, sempre sur-giram referências a marcos do passado que contam a história da cidade, como Praça XV de Novembro, o Mercado Público e a Catedral Metropolitana. Assim, 85% dos entrevistados consideram o Centro como um lugar especial de Florianópolis.

Entretanto, é possível notar alguns impactos negativos desta nova dinâmica do centro.

Durante o dia, a variedade de sons é grande. Ouve-se pessoas caminhando, o barulho do trânsito é muito presente, o fluxo de pessoas, e até mesmo de músicos que tentam chamar atenção dos transeuntes, criam uma confusão sonora considerável. O mercado de peixe traz movimento na dinâmica do espaço, mantendo o local vivo e com muitas atividades, além de trazer novos odores agora já característicos do Centro - o cheiro de frutos do mar próximo ao mercado público é inconfundível.

O aterro acabou por isolar toda essa região do Centro de seu principal motivador – o mar. Não se vê mais a relação de respeito perante este marco antes tão importante. Mesmo as-sim, o comércio tradicional de pescados ainda

Figura 62. Casa da Câmara e CadeiaFigura 63. Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da PenitênciaFigura 64. Tradicional Feira no Largo da Alfândega

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é presente na área central, mantendo-a viva e diversificada.

Edifícios com alto gabarito criam bloqueio visual à igreja São Francisco que data de 1815, fazendo-a perder papel de destaque na paisagem. O Mar e o maciço do Morro da Cruz são fortíssimos elementos da paisagem natural que também são enco-bertos pelos grandes edifícios.

A Catedral Metropolitana de Florianópo-lis ainda mantém forte suas característi-cas arquitetônicas tradicionais, entretan-to, no interior da igreja a instalação de ar condicionado, som mecânico, câmeras de vigilância e televisores acabam por descaracterizar o ambiente do templo.

As vivências que ocorrem no centro são expressivas, sendo um local ampla-mente vivenciado por artistas, músicos, transeuntes, comerciantes e trabalhadores que circulam diariamente pelo centro, mostram uma diversidade de classes soci-ais, estilos e “tribos”. Nas feiras de rua ocorre o comércio de hortaliças, frutas, carnes e laticínios dos produtores da região da Grande Florianópolis.

O mercado, além dos pescados, abriga estabelecimentos tradicionais, que ofer-ecem pratos típicos servidos no local, aproveitando a atmosfera do centro. Há uma união dos sentidos e sabores.

Nas vivências e afetos desenvolvidos, vê--se idosos jogando carta ou dominó nas mesas da praça. Muitos deles mantém a praça como ponto de encontro para con-versas ao fim da tarde. A praça apresenta uma grande diversidade de público, de tra-balhadores locais a turistas.

O local de estudo apresenta relações soci-ais e afetivas integradas com o ambiente, que se demonstram como respostas pe-culiares ao processo histórico do lugar, definindo a rotina no centro.

A qual é composta não só pelo trabalho e pe-los encontros, mas também pelas práticas tradicionais. O centro ainda abriga grandes festas e comemorações. A catedral met-ropolitana e seu calendário proporcionam comemorações religiosas durante o ano. O Carnaval de rua movimenta as vias do centro de Florianópolis durante os dias de festa trazendo shows e desfiles, além dos eventos políticos.

A verticalização assustadora dos edifícios, impedem a visualização da paisagem. (Ent-revistado 4)

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Figura 65. Artista de rua do centro de Florianópolis

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A forma urbana é o resultado de um trabalho coletivo de gerações. A História se exprime por meio das formas da arquitetura e da organização urbana. A permanência dos substra-tos históricos, adaptados às necessidades atuais, é que constitui o cerne da identidade de nossas cidades.

Assim, a paisagem cultural, na tênue e frágil relação entre o material e o imaterial, entre as obras humanas e o meio natural, que se engendram para constituir essa nova categoria do patrimônio, demanda um novo olhar para o espaço urbano. Sua qualificação, admitindo e convivendo com o processo dinâmico das cidades, passa não só pelo uso e ocupação so-cialmente adequados, mas deve também se estruturar em consonância com ações de pro-teção e conservação da ambiência, entorno, meio social e natural que conformam os bens culturais. De acordo com o que preconiza a Portaria IPHAN (2009), “a chancela da Paisagem Cultural Brasileira valoriza a relação harmônica com a natureza, estimulando a dimensão afetiva com o território e tendo como premissa a qualidade de vida da população”.

Em tempos de globalização e pasteurização das culturas, é saudável que se possam res-guardar e valorizar contextos de vida singulares, que se estabelecem na relação harmônica do homem com a natureza (IPHAN, 2011). Santo Antonio de Lisboa e o Centro de Florianópo-lis, são ainda alguns desses lugares especiais, expressos em sua paisagem.

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6. REFERÊNCIAS

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INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL - IPHAN. (2009). Portaria n. 127, de 30 de abril de 2009: estabelece a chancela da paisagem cultural brasileira. Diário Oficial da União, dia 05 de maio de 2009, n 83, p.17.

______. Reflexões sobre a chancela da paisagem cultural brasileira. Brasília: IPHAN,2011.

6.1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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7575

INSTITUTO DE PLANEJAMENTO URBANO DE FLORIANÓPOLIS – IPUF. Gestão e controle da urbanização em cidades turísticas. Florianópolis: IPUF, 2002

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PESAVENTO, Sandra Jatahy. História, memória e centralidade urbana. 2007. Disponível em: <http://nuevomundo.revues.org/3212>. Acesso em: 20 abr. 2014.

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WHITROW, G. J. O tempo na história: concepções sobre o tempo da pré-história aos nossos dias. Rio de Janeiro: Zahar, 1993. 242p.

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7777776.2. LISTA DE FIGURAS E QUADROS

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Distrito sede de Florianópolis - Acervo PET/ARQ/UFSC 11Figura 2. Embarcação na orla de Santo Antônio de Lisboa - Foto dos autores 12Figura 3. Mapa rodoviário do município de Florianópolis - Prefeitura Municipal de Florianópolis 17Figura 4. Praia Mole, Leste da Ilha - Foto dos autores 18Figura 5. Vista aérea, Barra da Lagoa - Acervo da Casa da Memória 19Figura 6. Vista aérea, Praia de Canasvieiras - Acervo da Casa da Memória 20Figura 7. Vista aérea, Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição - Acervo da Casa da Memória 20Figura 8. Vista aérea, Praia da Armação - Acervo da Casa da Memória 20Figura 9. Vista áerea do Centro de Florianópolis - Acervo da Casa da Memória 22Figura 10. Florianópolis imagem de satélite 1938 - Acervo IPUF 23Figura 11. Florianópolis imagem de satélite 1957 - Acervo IPUF 23Figura 12. Florianópolis imagem de satélite 1977 - Acervo IPUF 24Figura 13. Florianópolis imagem de satélite 1994 - Acervo IPUF 24Figura 14. Florianópolis imagem de satélite 2002 - Acervo IPUF 25Figura 15. Etapa da construção da Ponte Hercílio Luz, iniciadas em 1922 - Acervo da Casa da Memória 30Figura 16. Etapa da construção da Ponte Hercílio Luz, iniciadas em 1922 - Acervo da Casa da Memória 30Figura 17. Etapa da construção da Ponte Hercílio Luz, iniciadas em 1922 - Acervo da Casa da Memória 30Figura 18. Vista da Ponte Hercílio Luz, fases finais da construção - Acervo da Casa da Memória 33Figura 19. Vista da Ponte Hercílio Luz, fases finais da construção - Acervo da Casa da Memória 33Figura 20. Vista da Ponte Hercílio Luz - Acervo da Casa da Memória 33Figura 21. Baía de Santo Antônio - Foto dos autores 35Figura 22. Centro histórico de Santo Antônio - Foto dos autores 35Figura 23. Vista da ponte Hercício Luz, 2014 - Foto dos autores 35Figura 24. Vista da Baía de Santo Antônio - Foto dos autores 36Figura 25. Bolsistas realizando pesquisa em campo - Foto de André Luiz 40Figura 26. Bolsistas realizando pesquisa em campo - Foto de André Luiz 40Figura 27. Bolsistas realizando pesquisa em campo - Foto de André Luiz 40Figura 28. Mapeamento da área de estudo - Foto dos autores 41Figura 29. Mapa do distrito de Santo Antônio de Lisboa - Produção dos autores 45Figura 30. Baía de Santo Antônio - Foto dos autores 47Figura 31. Baía de Santo Antônio, ponte Hercício Luz em perspectiva - Foto dos autores 47Figura 32. Centro histórico de Santo Antônio de Lisboa - Foto dos autores 47Figura 33. Igreja Nossa Senhora das Necessidades - Foto dos autores 48Figura 34. Decks de madeira na orla de Santo Antônio - Foto dos autores 48Figura 35. Prática da Maricultura - Foto dos autores 48

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01. Planilha de análise de paisagem cultural. Elaboração dos autores

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Figura 36. Privitização da orla pelas edificações - Foto dos autores 51Figura 37. Privatização da orla por parte dos restaurantes - Foto dos autores 51Figura 38. Feira de Artesanatos - Foto dos autores 51Figura 39. Ofício da Maricultura - Foto dos autores 52Figura 40. Mapeamento da abrangência espacial do distrito de Santo Antônio de Lisboa - Foto Autores 54Figura 41. Enseada de Santo Antônio de Lisboa - Foto dos autores 55Figura 42. Mapa do Centro de Florianópolis - Produção dos autores 56Figura 43. Palácio Cruz e Souza, início do séc XX- Acervo Casa da Memória 57Figura 44. Praça XV e entorno, Início do séc XX - Acervo Casa da Memória 57Figura 45. Praça XV e Catedral Metropolitana, início séc XX - Acervo Casa da Memória 57Figura 46. Morro da Cruz em destaque - Foto dos autores 58Figura 47. Centro de Florianópolis Imediações do TICEN - Foto dos autores 58Figura 48. Centro de Florianópolis - Foto dos autores 58Figura 49. Av. Governador Gustavo Richard - Foto dos autores 59Figura 50. TICEN - Foto dos autores 59Figura 51. Feira do Largo da Alfândega - Foto dos autores 59Figura 52. Mapeamento da abrangência espacial do Centro de Florianópolis - Produção dos autores 60Figura 53. Praça XV - Foto de André Luiz 61Figura 54. Mercado Público Municipal de Florianópolis - Foto de André Luiz 61Figura 55. Rua Felipe Schmidt - Foto de André Luiz 61Figura 56. Centro de Florianópolis início do Séc XX - Acervo Casa da Memória 62Figura 57. Construção do Aterro da Baía Sul - Acervo Casa da Memória 62Figura 58. Vista aérea do centro histórico de Florianópolis - Acervo Casa da Memória 62Figura 59. Largo da Alfândega, início do séc XX - Acervo Casa da Memória 64Figura 60. Feira tradicional do Largo da Alfândega, séc XX - Acervo Casa da Memória 64Figura 61. Praça XV - Foto de André Luiz 64Figura 62. Casa da Câmara e Cadeia - Acervo Casa da Memória 65Figura 63. Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência - Foto dos Autores 65Figura 64. Tradicional Feira no Largo da Alfândega - Foto dos Autores 65Figura 65. Artista de rua do centro de Florianópolis - Foto dos Autores 67

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7. APÊNDICES

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6. Existe algo em Santo Antônio de Lisboa que você gostaria de guardar para seus filhos e netos? Se sim, o quê?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. Quais elementos que desvalorizamSanto Antônio de Lisboa?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8. Com que frequência você vem a Santo Antônio de Lisboa?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9. Quais são suas principais atividades emSanto Antônio de Lisboa (trabalho, moradia, lazer, eventos, festividades)?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

10. Para você, onde se inicia e onde termina Santo Antônio de Lisboa?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11. Você poderia dizer (até) cinco palavras que na sua opinião caracterizam Santo Antônio de Lisboa?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12. Você poderia fazer um mapa esquemático do que é o Santo Antônio de Lisboa pra você?

PESQUISA SOBRE PAISAGEM CULTURAL DE FLORIANÓPOLIS

Suas respostas contribuirão para a Pesquisa desenvolvida no âmbito do Programa de Educação Tutorial – PET do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, intitulada Inventário de Paisagem Cultural de Florianópolis.

NÚMERO DO ENTREVISTADO:_________

NOME (opcional):________________________________________________________ IDADE: ______________

LOCAL DE NASCIMENTO:_______________________________________________________________________

LOCAL ONDE MORA:__________________________________________________________________________

QUESTIONÁRIO

1. Quando você ouve a palavra “Santo Antônio de Lisboa”, qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Você considera Santo Antônio de Lisboa um lugar especial? Por quê?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Você acredita que algo ou algum elemento de Santo Antônio de Lisboa conta uma historia? Se sim, a história de quem ou do quê?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. Você consegue perceber se houve mudanças em Santo Antônio de Lisboa? Se sim, quais?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Você acha que Santo Antônio de Lisboa corre o risco de perder sua memória, suas edificações, sua cara/identidade? Por quê?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7.1.1. QUESTIONÁRIO SANTO ANTÔNIO DE LISBOA

7.1. QUESTIONÁRIOS

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PESQUISA SOBRE PAISAGEM CULTURAL DE FLORIANÓPOLIS

Suas respostas contribuirão para a Pesquisa desenvolvida no âmbito do Programa de Educação Tutorial – PET do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, intitulada Inventário de Paisagem Cultural de Florianópolis.

NÚMERO DO ENTREVISTADO:_________

NOME (opcional):________________________________________________________ IDADE: ______________

LOCAL DE NASCIMENTO:_______________________________________________________________________

LOCAL ONDE MORA (cidade/bairro):___________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________

QUESTIONÁRIO

1. Quando você ouve a palavra “Centro” de Florianópolis, qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Você considera o Centro um lugar especial? Por quê?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Você acredita que algo ou algum elemento do Centro conta uma historia? Se sim, a história de quem ou do quê?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. Você consegue perceber se houve mudanças no Centro? Se sim, quais?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Você acha que o Centro de Florianópolis corre o risco de perder sua memória, suas edificações, sua cara/identidade? Por quê?

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. Existe algo no Centro que você gostaria de guardar para seus filhos e netos? Se sim, o quê?

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. Quais elementos que desvalorizam o Centro?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8. Com que frequência você vem ao Centro?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9. Quais são suas principais atividades no Centro (trabalho, moradia, lazer, eventos, festividades)?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

10. Para você, onde se inicia e onde termina o Centro?

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11. Você poderia dizer (até) cinco palavras que, na sua opinião, caracterizam o Centro?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12. Você poderia fazer um mapa esquemático do que é o Centro pra você?

7.1.2. QUESTIONÁRIO CENTRO

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847.2. ÍNDICE DE PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL

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O índice de preservação da Paisagem Cultural é um instrumento prático de avaliação que revela, quantitativamente, a necessidade de medidas para salvaguardar a Paisagem Cultural

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ÍNDICE DE PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL1 IDENTIFICAÇÃO

1.1 Identificar os limites e vistas da paisagem em estudo e sua abrangência. Localizar e geo-referenciar os pontos, via GPS. Realizar registro fotográfico.

1.2 Registrar no mapa as características naturais relevantes e as edificações históricas, tom-badas, ou significativas existentes, bem como os demais espaços construídos que dão identidade ao lugar. Realizar registro fotográfico.

1.3 Descrever práticas tradicionais ou simbólicas. Realizar registro fotográfico.

2CARACTERIZAÇÃOAssinale os itens e some a pontuação

Pontuação do item assinalado

2.1 Características naturais relevantes (1) presença de características naturais relevantes (corpos d’agua, dunas, massa vegetal, formação rochosa, vistas panorâmicas, habitat de animais silvestres etc.)(0) ausência de características naturais relevantes.

2.2 Características do patrimônio edificado(1) presença de edificações e espaços construídos relevantes (edificações históricas, praças, monumentos, mobiliário, marcos etc.)(0) ausência de edificações e espaços construídos relevantes.

2.3 Características do patrimônio imaterial (1) presença de práticas tradicionais e simbólicas (festividades, crenças, rituais etc.)(0) ausência de práticas tradicionais e simbólicas

Somatória *(S1)

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3GRAU DE PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM CULTURALAssinale os itens e some a pontuação

Pontuação do item assinalado

3.1 Grau de preservação das características naturais (1,5) em alto risco(1) vulnerável(0,5) necessita de medidas para manutenção(0) bem preservadas

3.2 Grau de preservação do patrimônio edificado(1,5) em alto risco(1) vulnerável(0,5) necessita de medidas para manutenção(0) bem preservado

3.3 Grau de preservação do patrimônio imaterial(1,5) em alto risco(1) vulnerável(0,5) necessita de medidas para manutenção(0) bem preservado

Somatória *(S2)

4 ÍNDICE DE PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL Resultado

TOTAL *(S1 + S2) (de 0 a 7,5)

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Page 87: Inventário de Paisagem Cultural de Florianópolis

87877.3. PUBLICAÇÕES

7.3.1. Artigo - 12º ENEPEA - Menção honrosa

O artigo a seguir foi publicado no 12º Encontro Nacional de Ensino de Paisagismo em Escolas de Arquitetura e Urbanismo no Brasil, sediado em Vitória, Espírito Santo, entre os dias 26 e 30 de agosto de 2014.

O artigo também recebeu menção honrosa no Concurso Nacional de Artigos de Iniciação Científica para Estudantes de Arquitetura e Urbanismo, realiza-do durante o evento.

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8888

INVENTÁRIO DE PAISAGEM CULTURAL DE FLORIANÓPOLIS 

 CAMARGO, G. V. B. (1); STORCHI, M. (2); NÓR, S.(3) 

(1)Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET, Departamento de Arquitetura e Urbanismo – UFSC, [email protected] 

(2)Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET, Departamento de Arquitetura e Urbanismo – UFSC, [email protected] 

(3) Professora Orientadora, Departamento de Arquitetura e Urbanismo – UFSC, [email protected]  

Resumo:  A  presente  pesquisa  objetiva  inventariar  a  paisagem  cultural  de  Florianópolis, localizada  na  região  sul  do  Brasil.  A  intensificação  da  urbanização  e  da  atividade  turística, acompanhada  da  crescente  pressão  do  capital  imobiliário  têm  acarretado  transformações socioespaciais que passaram a ameaçar a manutenção de sua identidade cultural. A paisagem cultural apresenta‐se como um  instrumento revelador dos modos de viver e conceber a vida, ancorados no processo histórico de produção e  interação com o meio natural. A partir dessa abordagem conceitual, está sendo desenvolvido procedimento metodológico para identificação e mapeamento das áreas de  interesse e valor paisagístico.Pretende‐se contribuir para novas formas  de  planejamento  e  gestão  da  cidade,  no  sentido  de  promover  a  conservação  da natureza  e  dos marcos  edificados  (patrimônio material)  e  a  evocação  do passado de  forma reflexiva, ao valorizar a memória urbana de modo a manter uma  identidade social presente e viva (patrimônio imaterial).  

Palavras‐chave: cidade; cultura; paisagem. 

1 INTRODUÇÃO  

O  presente  artigo  apresenta  aspectos  da  pesquisa  em  desenvolvimento  no  âmbito  do Programa  de  Educação  Tutorial  ‐  PET  do  Departamento  de  Arquitetura  e  Urbanismo  da Universidade Federal de Santa Catarina  ‐ UFSC, a  referida pesquisa destina‐se a promover a identificação e conservação de paisagens culturais na cidade de Florianópolis  ‐ SC,  localizada na região sul do Brasil.   

No contexto do planejamento e da gestão urbana de cidades  turísticas brasileiras, como é o caso  de  Florianópolis,  o  poder  público  tem  sido  fortemente  pressionado  pelos  interesses econômicos,  como  resultado  verifica‐se  baixa  prioridade  à  manutenção  do  patrimônio histórico e da paisagem, gerando um contínuo processo de degradação da natureza, perda dos vestígios culturais e descaracterização de populações tradicionais (NÓR, 2010).   

Esse processo de renovação urbana acelerada, muitas vezes, acaba por destruir os suportes da memória  coletiva, podendo  causar a  falta de  identidade e afetividade  com  lugares urbanos, uma vez que “os  fenômenos de expansão urbana, globalização e massificação das paisagens urbanas e  rurais  colocam em  risco  contextos de  vida e  tradições  locais em  todo o planeta” (IPHAN, 2011:3).  

Como forma de identificar, valorizar e conservar as áreas de interesse paisagístico na cidade de Florianópolis  está  sendo  desenvolvida  a  atual  pesquisa,  que  se  propõe  a  desenvolver procedimentos para  inventariar a paisagem cultural no âmbito de estudo do espaço urbano, com  intuito  de  contribuir  para  novas  formas  de  planejamento  e  gestão  da  cidade,  que contemplem a conservação dessas áreas relevantes.    

2 ÁREA DE ESTUDO 

O município de Florianópolis, com população de 421.240 habitantes  (IBGE, 2010), é formado pela  Ilha de Santa Catarina  (439 km²) e por uma parte  continental  (12 km²), banhadas pelo Oceano Atlântico e separadas por um estreito canal de cerca de 500 metros de  largura, que conforma duas baias de águas calmas, uma ao norte e outra ao sul (IPUF, 2002).  

Florianópolis  possui  ambiente  natural  bastante  diversificado,  resultante  do  contraste  entre planícies e elevações montanhosas. A  ilha, com quase uma centena de praias, compostas por enseadas,  costões,  promontórios  e  restingas  é  conformada  por  dois maciços montanhosos, com encostas verdes destacadas na paisagem litorânea (IPUF, 2002).  

No século XVIII, a  Ilha de Santa Catarina passou a  integrar o projeto de expansão colonial de Portugal  na  região  sul  do  Brasil,  com  a  vinda  de  imigrantes  dos  Arquipélagos  dos  Açores, iniciando  o  processo  de  formação  socioespacial  do  litoral.  Os  açorianos  trouxeram  uma bagagem  de  tradições,  conhecimentos  e  costumes,  os  quais  foram  adaptados  às  condições ambientais locais, na consolidação do processo povoador na região (FARIAS, 1998).   

Na  Ilha  de  Santa  Catarina,  os  núcleos  populacionais  que  se  formaram  com  a  colonização açoriana, a partir de 1748, têm como base o modelo colonial  luso‐brasileiro, evidenciado em sua  arquitetura  e  traçado  urbano.  A  população mais  antiga  desses  núcleos  conserva  ainda hábitos e tradições herdados da cultura açoriana, expressos na pesca, culinária, religiosidade, artesanato e festas populares (VEIGA, 2004).  

Entretanto,  a  intensificação  do  adensamento  populacional  e  da  atividade  turística  em Florianópolis,  aliados  à  crescente  pressão  do  capital  imobiliário,  especialmente,  a  partir  do final  do  século  XX,  vem  modificando  a  paisagem  da  cidade,  com  urbanização  acelerada, trânsito  intenso de  veículos,  aterros para  ampliação do  sistema  viário  e  verticalização,  com edifícios  acima  de  15  pavimentos.  Assim,  a  cidade  tem  sofrido  uma  perda  sistemática  dos referenciais  urbanos  que materializaram  sua  história,  bem  como  das  belezas  naturais  que singularizam seu sítio.   

A  mudança  das  relações  volumétricas  da  cidade  tem  sido  marcante.  A  altura  das  novas edificações promove a perda substancial da relação de escala com o patrimônio edificado, os elementos  que  outrora  eram  dominantes  na  paisagem,  hoje  sucumbem  ao  novo  cenário (ADAMS, 2004).  

Para o estudo proposto, como etapa  inicial, está sendo analisada uma das áreas urbanas de Florianópolis, o distrito de Santo Antônio de Lisboa, um dos núcleos populacionais que ainda preserva características urbanas que guardam uma relação  forte com o patrimônio natural e edificado. O objetivo desta etapa (piloto) da pesquisa foi elaborar e aplicar os  indicadores de paisagem  cultural nesse  lugar, para que  se possa desenvolver a análise em outras áreas do município.  

3 PAISAGEM CULTURAL 

Para melhor compreender o conceito de paisagem cultural é oportuna uma breve abordagem sobre as noções de  cultura e de paisagem, associadas ao patrimônio. Para Santos  (1985), a paisagem e a cultura transformam‐se, vinculadas uma à outra.  

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qual é percebida por um  indivíduo, ou por uma comunidade, testemunhando, do passado ao presente, o relacionamento entre o homem e seu meio ambiente. Possibilitando, a partir de sua observação, especificar culturas e locais, sensibilidades, práticas, crenças e tradições.  

A UNESCO apresentou, em 1999, nas diretrizes operacionais para a Convenção do Patrimônio Mundial, a ideia de paisagem cultural da seguinte maneira:  

Paisagens culturais representam o trabalho combinado da natureza e do homem [...] são ilustrativas da evolução  da  sociedade  e  dos  assentamentos  humanos  ao  longo  do  tempo,  sob  a  influência  das determinantes  físicas  e/ou  oportunidades  apresentadas  por  seu  ambiente  natural  e  das  sucessivas forças sociais, econômicas e culturais, tanto  internas, quanto externas. Elas deveriam ser selecionadas com base  tanto em  seu extraordinário valor universal e  sua  representatividade em  termos de  região geocultural claramente definida, quanto por sua capacidade de ilustrar os elementos culturais essenciais e distintos daquelas regiões (UNESCO, 1999).  

 

No Brasil, o  Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional  ‐  IPHAN, em 2009, definiu como paisagem cultural brasileira a “porção peculiar do território nacional, representativa do processo  de  interação  do  homem  com  o meio  natural,  à  qual  a  vida  e  a  ciência  humana imprimiram marcas, ou atribuíram valores” (IPHAN, 2009).  

Nessas  concepções  sobre  paisagem  cultural,  como  categoria  de  patrimônio,  estão  sendo consideradas  as  formas de  viver  e de  se  relacionar  com o meio  ambiente,  evidenciando os sítios históricos, os sistemas de uso da terra e o conhecimento tradicional, que se entrelaçam na  conformação  dos  lugares  e  seu  tecido  social,  revelando  aspectos  estéticos,  simbólicos, espirituais, funcionais e ecológicos.  

No  processo  de  identificação  e  avaliação  da  paisagem  cultural  consideram‐se  os modos  de conceber  a  vida das populações  locais,  com  atenção para os marcos  e  as permanências do processo histórico de produção e de interação com o meio natural. Assim, nas áreas de estudo, os  pesquisadores  devem  procurar  relacionar  a  importância  da  preservação  da  natureza,  de edificações  e  sítios  significativos  (patrimônio material),  na medida  em  que  possibilitem  e  a evocação do passado de  forma  reflexiva, valorizando a memória urbana de modo a manter uma  identidade  social  presente  e  viva  (patrimônio  imaterial)  (SANTOS,1997;  CASTRIOTA, 2009).  

4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE 

Está  sendo  desenvolvido,  como  parte  integrante  da  presente  pesquisa,  um  procedimento metodológico para identificação e mapeamento das áreas de interesse e valor paisagístico em Florianópolis. Para  tanto, estão  sendo elaborados  critérios de análise,  capazes de  identificar qualidades consideradas inerentes às paisagens culturais.  

Inicialmente,  selecionou‐se  uma  área  piloto  no meio  urbano  de  Florianópolis,  considerada peculiar, ou seja, que se diferencia, se ressalta ou se particulariza (IPHAN, 2011) – o Distrito de Santo Antonio de Lisboa. Estudou‐se, por meio de pesquisa bibliográfica, o contexto histórico de seu desenvolvimento e procurou‐se compreender sua conformação atual. Após, realizaram‐se análises em campo a fim de qualificar essa área como pertencente, ou não, à classificação de paisagem cultural, bem como para aferição dos instrumentos de avaliação.  

A primeira parte do  trabalho de  campo  consistiu na exploração  livre,  com  caráter  intuitivo, focada  na  percepção  dos  elementos  desta  paisagem  pelos  pesquisadores  e  por  pessoas entrevistadas no local. Esta percepção é em grande parte subjetiva e pode ser explorada pelos diversos sentidos (visão, audição, olfato, etc.).  

A palavra cultura advém do latim, verbo “colo”, que significa “eu moro”, “eu ocupo a terra” e, por extensão, eu cultivo o campo  (BOSI, 1992). A partir dessa origem, é possível estabelecer uma conexão entre cultura e a dimensão espacial do lugar e da paisagem.   

Entende‐se, atualmente, cultura como a conjugação dos modos de ser, viver, pensar e falar de uma dada formação social, ou ainda, como todo o conhecimento que uma sociedade tem de si mesma,  sobre  outras  sociedades,  sobre  o meio material  em  que  vive  e  sobre  sua  própria existência (BOSI, 1992; SANTOS, 1997).  

Assim, a cultura pode ser definida como o conjunto de características distintas, espirituais e materiais,  intelectuais e  afetivas, que  caracterizam uma  sociedade ou um  grupo  social, que abrange, além das artes e  letras, seus modos de viver, sistemas de valor, tradições e crenças (UNESCO, 2002).  

A paisagem, por sua vez, ao ser produzida pela atividade transformadora do homem, reproduz sua  concepção  de  habitar,  trabalhar  e  viver,  como  fruto  de  um  determinado momento  do desenvolvimento  social.  Desse  modo,  seus  conteúdos  humanos  –  sociais  e  econômicos exprimem  funções  antigas  que,  mesmo  desaparecidas,  podem  marcar  a  paisagem  atual (SANTOS, 1999).  

Além da  ação, o homem  cria  também  a paisagem  como uma  forma  intelectual, na qual os grupos sociais percebem, interpretam e constroem marcos significativos e simbólicos, segundo sua concepção cultural (SCHIER, 2003; CLAVAL 2007). Desse modo, a concepção de paisagem ultrapassa  a  dimensão  visual  concreta  e  passa  a  incorporar  História,  relações,  valores  e símbolos  inerentes  à  cultura  dos  grupos  sociais,  podendo  mesmo  ser  permeada  pela subjetividade do observador. Assim, a paisagem não reside somente no objeto e nem somente no sujeito, mas é engendrada em sua complexa interação.   

O  patrimônio  cultural  consiste  nas  referências  consideradas  como  representativas  de diferentes grupos sociais. Os bens culturais expressam os processos de produção e reprodução da  vida, bem  como os mecanismos  que  articulam  esses processos  à  formação da memória social de um povo.  

A noção de patrimônio tem adquirido, ao  longo do tempo, novos significados e ampliado sua abrangência,  refletindo  a  incorporação  de  novas  visões  a  respeito  de  cultura,  com  o reconhecimento da diversidade  cultural  e  a  valorização do  vernacular  e do  contemporâneo (CHOAY,  2001).    Como  integrante  dessa  expansão  destaca‐se  a  categoria  de  patrimônio imaterial,  que  reconheceu  a  existência  e  a  necessidade  de  salvaguarda  do  conjunto  das realizações  humanas,  em  diversas  expressões,  superando  a  atuação  preservacionista  de outrora  voltada prioritariamente para o  tombamento dos bens materiais, os  chamados  “de pedra e cal” –  igrejas,  fortes, pontes, prédios e conjuntos urbanos representativos de estilos arquitetônicos específicos.   

Na esfera da ampliação do conceito de patrimônio, a Organização das Nações Unidas para a Educação,  a  Ciência  e  a  Cultura  (United  Nations  Educational,  Scientific  and  Cultural Organization)  ‐  UNESCO  passou  a  abordar,  desde  1990,  a  ideia  de  paisagem  cultural, combinando aspectos materiais e imateriais, aliados à interação entre o homem e a natureza, sendo  que  a  categoria  de  paisagem  cultural  foi  consolidada  pelo  Comitê  do  Patrimônio Mundial, em Santa Fé (EUA), em 1992 (CASTRIOTA, 2009).   No  documento  denominado  “Recomendação  da  Europa”  para  a  conservação  das  áreas  de paisagens culturais, elaborado em 1995, paisagem cultural foi caracterizada pela maneira pela 

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Quadro 1 ‐ Critérios de análise de paisagem cultural.  Os critérios de análise foram aplicados na área de estudo piloto de Santo Antônio de Lisboa e os resultados irão subsidiar as etapas seguintes da pesquisa, em outras áreas de estudo consideradas igualmente relevantes.  5 RESULTADOS PRELIMINARES DA ÁREA ESTUDADA 

Santo  Antônio  de  Lisboa  localiza‐se  na  porção  noroeste  da  Ilha  de  Santa  Catarina,  na  orla calma da Baia Norte e  tem  como pano de  fundo morros  com exuberante massa  vegetal. O distrito possui área de 22,45 km² e população de 6.343 habitantes (IBGE, 2010). Mantém um dos conjuntos arquitetônicos mais representativos da fase de colonização portuguesa do litoral sul  brasileiro,  remanescente  dos  séculos  XVIII  e  XIX,  com  destaque  para  a  Igreja  de Nossa Senhora das Necessidades, construída em 1756.   Florianópolis,  em  virtude  do  acelerado  processo  de  expansão,  tem  sofrido  crescente descaracterização  pela  baixa  qualidade  da  ambiência  urbana  e  por  uma  arquitetura despersonalizada dos anos recentes, como ocorre em diversas outras cidades do país.  

Nas  últimas  décadas,  Santo  Antônio  de  Lisboa  têm  vivenciado  um  expressivo  crescimento populacional, com ampliação da área residencial, onde predominam edificações unifamiliares. 

assentamentos. Verificar como o homem imprimiu marcas de suas ações e formas de expressão, associados aos diferentes  tempos e  como  se deu sua interação com o espaço natural, ao longo dessa trajetória. 

 

d) Impactos negativos na 

paisagem 

Analisar  as  interferências  de  novos  elementos  urbanos  e  seu potencial de causar impacto visual, sonoro, olfativo na paisagem. Consideram‐se impacto as alterações no meio urbano resultantes das  atividades,  que  direta,  ou  indiretamente,  afetem  as atividades  sociais,  culturais  e  econômicas,  bem  como  as condições estéticas e paisagísticas deste meio (Nór, 2010). 

2º Momento  

a) Vivências e afetos 

Considerar  se  o  local  de  estudo  apresenta  relações  sociais  e afetivas integradas com o ambiente e que se demonstrem como respostas  peculiares  ao  meio  natural  e  à  história,  os  quais interfiram nos modos de vida  locais, definindo‐os.  Identificar  se existe um processo histórico  compartilhado na  conformação do lugar.  As  pessoas  que  moram  naquele  espaço  têm  relação  de afeto/respeito/orgulho  relacionados  ao  lugar?  Existem  ainda vivências peculiares naquele espaço? Quão significantes são elas? O  local analisado evidencia relações entre o ambiente natural, o trabalho  e  a  moradia  de  seus  habitantes?  Qual  o  grau  de interação entre estes fatores e o quão são dependentes entre si? 

b) Práticas tradicionais e 

simbólicas 

Verificar  se  ocorrem  festas,  cultos,  crenças,  rituais,  ofícios tradicionais ou simbólicos do local de estudo. Estas práticas contribuem para a  identidade e memória coletiva da população local? 

3º Momento a) Relacionar os aspectos 

materiais e imateriais 

Realizar  a  correspondência  entre  os  aspectos  analisados, identificando  sua  complementaridade.    Possibilitar  o entendimento  das  relações  entre  homem,  sua  cultura  e  o ambiente natural. 

 

b) Considerações 

Avaliar  a  existência  de  potenciais  impactos  negativos  e  a vulnerabilidade da paisagem cultural analisada. Propor medidas ou recomendações, se pertinente. 

Na  segunda  parte,  aplicaram‐se  os  critérios  de  análise  estabelecidos,  sintetizados  em  uma planilha, na qual se registraram os aspectos pertinentes, com base nos conceitos teóricos que embasam  a  pesquisa.  As  impressões  e  análises  foram  também  registradas  por  fotografias, croquis e desenhos. Posteriormente, a equipe de estudo debateu os resultados e  impressões para elaboração dos registros e relatórios.  

Partindo‐se da  revisão bibliográfica, elaborou‐se a planilha que auxilia o  trabalho em campo para  identificação  de  paisagens  culturais.  Esta  planilha  divide‐se  em  três  momentos  do levantamento,  o  primeiro  explora  questões  mais  concretas  e  aspectos  imediatamente perceptíveis  na  paisagem;  o  segundo,  questões  mais  subjetivas  e,  no  terceiro  momento, realiza‐se  a  junção  de  todo  o  material  registrado,  conformando  a  caracterização  da  área analisada.  Considerando  que  um mesmo  espaço  pode  ser  percebido  de  formas  diferentes, estabelece‐se,  posteriormente,  o  debate  sobre  os  resultados  de  cada  pesquisador  e  as reflexões sobre a avaliação realizada.   

Cada  momento  da  análise  é  realizado  por  meio  de  subdivisões  que  objetivam  facilitar  o trabalho  em  campo.  Lembrando  que  essa  separação  não  existe  na  prática,  é  apenas  uma estratégia metodológica para facilitar a melhor compreensão do objeto de estudo.  

O primeiro momento é subdividido em quatro aspectos a serem identificados: limites e vistas; marcos na paisagem, dinâmica socioespacial e  impactos negativos na paisagem. No segundo momento de análise há a avaliação de dois aspectos relativos ao patrimônio  imaterial, como observação de vivências e afetos e existência de indícios de práticas tradicionais e simbólicas. No  terceiro  momento,  realiza‐se  a  junção  dos  momentos  precedentes,  comparam‐se  os resultados, e a partir da reflexão em equipe, pode haver complementações e recomendações sobre os aspectos avaliados.  

O quadro de “Critérios de análise da paisagem cultural”, apresentado a seguir, foi concebido e aprimorado ao  longo do estudo, no sentido de orientar os pesquisadores em relação ao que deve  ser  observado  durante  a  análise,  sendo  sempre  possível  realizar  ampliações, modificações e adaptações durante a pesquisa, de modo a aperfeiçoar a avaliação. 

Critérios de Análise 

1º Momento 

 

a) Limites e vistas 

Identificar os limites e vistas da paisagem em estudo, levando em consideração,  por  exemplo,  a  presença  ou  a  ausência  de destaques na  topografia, massas  vegetais,  corpos d’água,  vistas panorâmicas, etc. Ilustrar com fotografias e croquis. 

 

b) Marcos na paisagem 

Registrar  as  edificações  históricas,  tombadas,  ou  significativas existentes,  bem  como  os  demais  marcos  físicos  que  dão identidade ao  lugar, como praças, monumentos, equipamentos, mobiliário urbano, etc. Neste  item  deve‐se  avaliar  o  grau  de  autenticidade  histórica, comprovando  se  o  que  homem  construiu  é  produto  de  uma experiência  vivida,  de  um  valor  cultural  próprio  e  autêntico, distinguindo  de  eventuais  simulacros,  pastiches,  imitações recentes de estilos arquitetônicos históricos. Ilustrar com fotografias e croquis. 

 

c) Dinâmica socioespacial 

Considerar a dinamicidade da  cultura e a  contínua evolução da sociedade  impressa  no  local  de  estudo,  reconhecendo  e admitindo as mudanças  inerentes à evolução humana e de seus 

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do aumento constante de  transito de veículos, que vem dificultando a circulação pelas  ruas antigas e estreitas do local.  

No segundo momento de análise, observou‐se que as vivências e os afetos são bem fortes em Santo  Antônio  de  Lisboa.  Veem‐se  pessoas  saindo  para  o  trabalho  no mar  em  pequenos barcos, mantendo a tradição da pesca, associada ao mais recente cultivo de ostras e mariscos. Pequenas  embarcações  estão  sempre  se  movimentando  em  frente  à  orla,  numa  relação estreita  entre o homem  e o meio  ambiente. As marés,  correntes marítimas,  fases da  lua  e regime dos ventos fazem parte do conhecimento, das conversas e do cotidiano dos habitantes.  

Observa‐se também, ao  longo da orla, a  importância do convívio e da contemplação do mar, entre os moradores e visitantes, numa relação de afeto com o  lugar e ambiente natural. Nas ruas,  bares,  escadarias  da  igreja,  decks  da  orla  e  praças  é  possível  notar  rodas  de  amigos, encontros,  pessoas  sentadas  de  frente  para  o  mar,  pintores  e  fotógrafos  retratando  a paisagem. Vivencia‐se uma espécie de volta no tempo, propiciada pela calma e ritmo tranquilo da vida local.   

A  igreja é ainda amplamente vivenciada, uma vez que possui uma carga de  identidade com a população  local muito  forte, evidenciada na manutenção das práticas  religiosas, com missas semanais,  com  grande  envolvimento  dos  moradores  em  preparativos  e  participação  de almoços e  jantares da paroquia, bem  como nas  festas  tradicionais,  como  a  Festa do Divino Espírito Santo, que movimenta a comunidade durante o ano, continuando uma antiga tradição dos Açores.   

A  comunidade  participa  e  perpetua  as  lendas  e  tradições  herdadas  dos  seus  antepassados, fazendo com que cada data comemorativa se torne uma rica experiência para os moradores, que confirmam e estreitam as relações sociais, atraindo visitantes. Existem representações e danças típicas do folclore local, como o “Boi‐de‐Mamão, Maricota, Bernunça, Pau de Fita”, que costumam ser exibidos nas festas populares.  

A linguagem é também um importante bem imaterial que representa a tradição, por meio do sotaque, expressões e denominações peculiares, que continuam bem presentes e marcantes em  Santo  Antônio  de  Lisboa.  Percebe‐se  também  que  existem  rivalidades  discretas  e comparações  com  os  demais  distritos  de  Florianópolis,  as  quais  são  resultado  de  um sentimento de pertencimento ao lugar, de identidade e, de certa forma, fortalecem os laços na comunidade.    No  terceiro momento,  analisaram‐se  os  dados  coletados  na medida  em  que  proporcionam relações entre o homem, sua cultura e o ambiente natural, a fim de, finalmente, classificar a área como paisagem cultural. Pois, segundo o IPHAN (2011:3) “Nos sítios onde são constatadas as  singularidades materiais  de  determinada  área,  somadas  à  sua  relação  intrínseca  com  a natureza  e  ao  caráter  dinâmico  no  convívio  com  o  elemento  humano,  aí  então  caberá  a chancela da Paisagem Cultural”.  Constatou‐se que o patrimônio material e imaterial, como elementos de alusão à história local, permanecem vivos e valorizados. Mesmo no  fluxo da  contínua evolução do distrito, em  sua dinamicidade, estão mantidas as características essenciais do lugar, sua relação com o espaço natural, com as tradições, seus modos de produzir e conceber a vida. Assim, o estudo realizado nos induz a caracterizar Santo Antônio de Lisboa como uma das áreas que abriga a “paisagem cultural” de Florianópolis, merecendo  cuidados por parte da gestão urbana,  com necessária participação da população local, para sua manutenção e conservação.  

A atividade turística tem se destacado, especialmente pela implantação de lojas de artesanato e restaurantes ao longo da orla, transformando o lugar numa referência da gastronomia a base de frutos do mar, aliando o preparo de pratos tradicionais a novas receitas, que surgiram com o  desenvolvimento  do  cultivo  de  ostras  e  mariscos,  em  virtude  de  um  projeto  de desenvolvimento socioeconômico, que teve inicio na década de 1980.  

No desenvolvimento da fase inicial da pesquisa, após o estudo prévio da história do Distrito de Santo Antonio de Lisboa, partiu‐se para a análise de campo auxiliada pela planilha de critérios de análise da paisagem cultural.   

Seguindo a metodologia adotada,  iniciou‐se pela exploração com base no primeiro momento dos critérios,  identificando o mar como elemento natural de maior destaque que demarca a paisagem estudada, delimitando as construções e o  traçado das  ruas, as quais contornam a orla  suave  de  águas  calmas  da  baia. Os  limites  e  vistas  são  também marcados  por  grande presença  de  massas  vegetais,  a  Mata  Atlântica  encobre  boa  parte  das  elevações  que conformam o espaço de estudo.   

A brisa marinha, o barulho das pequenas ondas, as embarcações oscilando e as estruturas das “fazendas” de ostras e mariscos, que submergem em alguns pontos, configuram a paisagem local.   

Na orla, em direção ao horizonte, avista‐se o perfil das distantes edificações da área central e tem‐se uma visão privilegiada da silhueta da Ponte Hercílio Luz, que faz ligação da Ilha com o continente e consiste num dos mais importantes símbolos de Florianópolis.  

O  casario  de  arquitetura  luso‐brasileira,  a  Igreja  de  Nossa  Senhora  das  Necessidades implantada em uma elevação, alinhada com a Praça Getúlio Vargas e com o mar, conformam uma  configuração  urbana  característica  da  colonização  portuguesa.  Há  ainda  trecho remanescente da primeira rua calçada do Estado, na Praça Roldão da Rocha Pires, e a fachada da  casa onde  se hospedou o  imperador D. Pedro  II, elementos que  compõem o patrimônio histórico do distrito.  

Pode se observar também a evolução da sociedade impressa em Santo Antônio de Lisboa, por meio da nova pavimentação das vias que dão acesso ao distrito, bem como por edificações de arquitetura mais recente surgem em meio aos prédios históricos, mas que ainda mantêm os gabaritos  baixos,  preservando  a  relação  volumétrica.  Mobiliário  urbano,  como  decks  de madeira,  instalados nos últimos anos ao  longo da orla, criam espaços de convívio em meio à rota gastronômica.   

A maricultura  garantiu  a  permanência  da  relação  do  homem  com  o mar,  como meio  de subsistência  das  comunidades  tradicionais  do  distrito,  visto  que  a  atividade  pesqueira encontrava‐se  em  decadência.  A  implantação  do  projeto,  além  de  atender  questões socioeconômicas da comunidade, criou um novo atrativo turístico propiciando a instalação de restaurantes, que vem sofisticando o atendimento a um público de poder aquisitivo cada vez mais elevado.   

Entretanto, pode‐se  também observar que essa  rota gastronômica está  fazendo com que os restaurantes ocupem gradativamente a orla, praticamente privatizando‐a e obstruindo a visão do mar  a  partir  da  via  que  o margeia,  constituindo  um  impacto  negativo. Os  restaurantes promovem‐se a partir da valorização da bela paisagem natural, a qual passa a ser vista apenas do  interior  dos  recintos.  Para  quem  caminha  pela  praia  têm‐se, muitas  vezes,  a  visão  dos fundos dos estabelecimentos e os odores das cozinhas, descaracterizando o ambiente. Além 

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Em tempos de globalização e pasteurização das culturas, é saudável que se possam resguardar e valorizar contextos de vida singulares, que se estabelecem na relação harmônica do homem com a natureza (IPHAN, 2011). Santo Antônio de Lisboa, em Florianópolis, é ainda um desses lugares especiais.  7 REFERÊNCIAS 

ADAMS, B.  (2004). Permanências,  transformações e  resgates na cidade de Florianópolis. Em: Atlas de Florianópolis (86 ‐ 93). Florianópolis: IPUF.   

BOSI, A. (1992). Dialética da colonização. São Paulo: Cia. das Letras.  

CASTRIOTA,  L.  (2009).  Patrimônio  cultural:  conceitos,  políticas,  instrumentos.  São  Paulo: Annablume; Belo Horizonte: IEDS.  

CHOAY, F. (2001). A alegoria do patrimônio. São Paulo: UNESP.  

CLAVAL, P. (2007). A Geografia cultural. Florianópolis: UFSC, 2007.  

FARIAS, V.  F.  (1998). Dos açores ao Brasil meridional: Uma  viagem no  tempo: povoamento, demografia, cultura, Açores e litoral catarinense. Florianópolis: Ed. do Autor.  

INSTITUTO DE PLANEJAMENTO URBANO DE FLORIANÓPOLIS – IPUF. (2002). Gestão e controle da urbanização em cidades turísticas. Florianópolis: IPUF.  

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL  ‐  IPHAN.  (2009). Portaria n. 127,  de  30  de  abril  de  2009:  estabelece  a  chancela  da  paisagem  cultural  brasileira.  Diário Oficial da União, dia 05 de maio de 2009, n 83, p.17.  

______ (2011). Reflexões sobre a chancela da paisagem cultural brasileira. Brasília: IPHAN.  

NÓR, S. (2010). Paisagem e lugar como referências culturais. Tese (Doutorado em Geografia) ‐ Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina.   

SANTOS, M. (1985). Espaço e método. São Paulo: Nobel.  ______ (1997). Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec.   ______ (1999). A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec.  

SCHIER, R. A. (2003). Trajetórias do conceito de paisagem na Geografia. Revista RA’E GA, n.7 (79‐85). Curitiba: Editora UFPR.  

VEIGA,  E.  (2004).  Análise  histórico‐cultural  do  município  de  Florianópolis.  Em:  Atlas  de Florianópolis (79‐85). Florianópolis: IPUF.   

1.1. FONTES ELETRÔNICAS  

BRASIL. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA ‐ IBGE. (2010). Censo. Disponível em: http://www.ibge.gov.br (Consulta: 05/12/2013).   

UNESCO.  Convenção  do  Patrimônio  Mundial.  (1999).  Disponível  em: <http://portal.iphan.gov.br>. (Consulta: 23/03/2012). ______.  Declaração  universal  sobre  a  diversidade  cultural  (2002).  Disponível  em: http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127160por.pdf. (Consulta: 05/12/2013). 

Ao mesmo tempo, identificou‐se a tendência de verticalização das edificações no distrito, que já se avizinha do núcleo histórico de Santo Antonio de Lisboa, ameaçando a relação de escala volumétrica do  lugar, bem como a crescente presença de empreendimentos  imobiliários que constroem  condomínios  residenciais  unifamiliares,  fechados  por  grandes  muros,  que interrompem  e  segmentam  a  malha,  rompendo  as  relações  com  os  espaços  públicos, segregando e elitizando a ocupação urbana.  Considera‐se importante que o poder público possa prevenir eventuais impactos nas paisagens culturais, avaliando previamente  interferências capazes de causar obstrução visual, bloqueio de ângulos de visão, descaracterização da ambiência urbana, efeitos nocivos na  rotina e no padrão de vida da população, perda de referências históricas/culturais e comprometimento de renda e produção (NÓR, 2010).  Para  tanto,  recomenda‐se que novas propostas de  intervenção em áreas assim  classificadas devam  ser  submetidas  a  estudos  específicos,  que  possam  limitar  ou  indicar  adequações  a projetos, propondo medidas mitigadoras compensatórias ou preventivas.   Desse modo,  como  contribuição  da  presente  pesquisa,  considera‐se  pertinente  indicar  ao poder publico que o Distrito de Santo Antônio de Lisboa deva configurar no mapeamento de Florianópolis  como  área  caracterizada  de  “paisagem  cultural”,  o  que  implica  em  adotar medidas de  conservação  cultural  e na  exigência de  estudos prévios de  impacto paisagístico para novos empreendimentos, ou intervenções no espaço urbano. 

6 CONSIDERAÇÕES 

A forma urbana é o resultado de um trabalho coletivo de gerações. A História se exprime por meio  das  formas  da  arquitetura  e  da  organização  urbana.  A  permanência  dos  substratos históricos, adaptados às necessidades atuais, é que constitui o cerne da identidade de nossas cidades (ADAMS, 2004).  

Os lugares são espaços onde grupos sociais contextualizam suas atividades e desenvolvem sua memória coletiva, para Milton Santos (1985), o homem guarda os lugares em suas emoções e lembranças, os quais também comparecem na formação do seu próprio ser.  

Muitas vezes esta identidade, relacionada ao lugar, que traz um sentimento de pertencimento, está expressa na paisagem cultural, na  tênue e  frágil  relação entre o material e o  imaterial, entre  as  obras  humanas  e  o  meio  natural,  que  se  engendram  para  constituir  essa  nova categoria do patrimônio.  Assim, a gestão desse bem patrimonial demanda um novo olhar para o espaço urbano. Sua qualificação, admitindo e convivendo com o processo dinâmico das cidades, passa não só pelo uso e ocupação socialmente adequados, mas deve também se estruturar em consonância com ações de proteção e conservação da ambiência, entorno, meio social e natural que conformam os bens  culturais. De  acordo  com o que preconiza  a Portaria  IPHAN  (2009),  “a  chancela da Paisagem  Cultural  Brasileira  valoriza  a  relação  harmônica  com  a  natureza,  estimulando  a dimensão afetiva com o território e tendo como premissa a qualidade de vida da população”.  

Em  Santo  Antônio  de  Lisboa,  como  em  demais  localidades,  considera‐se  que  estudos específicos  sobre  conservação  e  valorização  cultual,  bem  como  estudos  de  impactos  na paisagem cultural devam ser elaborados, a fim de garantir a permanência da memoria coletiva e da identidade urbana, permitindo que o patrimônio paisagístico perdure.   

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CAMINHOS PARA A IDENTIFICAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL

Projeto piloto em Santo Antônio de Lisboa, SC - Florianópolis

CAMARGO, GABRIEL. V. B. (1); STORCHI, MAURÍCIO (2); NÓR, SORAYA (3)

1. Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. rua Capitão Romualdo de Barros, 998 blA ap 401. Carvoeira, Florianópolis - SC

[email protected]

2. Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Departamento de Arquitetura e Urbanismo, rua João Pio Duarte Silva, 404 bl1 ap 108. Córrego Grande, Florianópolis - SC

[email protected]

3. Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Departamento de Arquitetura e Urbanismo, [email protected]

RESUMO

A presente pesquisa objetiva inventariar a paisagem cultural de Florianópolis, localizada na região sul do Brasil. A intensificação da urbanização e da atividade turística, acompanhada da crescente pressão do capital imobiliário têm acarretado transformações socioespaciais que passaram a ameaçar a manutenção de sua identidade cultural. A paisagem cultural apresenta-se como um instrumento revelador dos modos de viver e conceber a vida, ancorados no processo histórico de produção e interação com o meio natural. A partir dessa abordagem conceitual, está sendo desenvolvido procedimento metodológico para identificação e mapeamento das áreas de interesse e valor paisagístico. Pretende-se contribuir para novas formas de planejamento e gestão da cidade, no sentido de promover a conservação da natureza e dos marcos edificados (patrimônio material) e a evocação do passado de forma reflexiva, ao valorizar a memória urbana de modo a manter uma identidade social presente e viva (patrimônio imaterial).

Palavras-chave: cidade; cultura; paisagem;

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7.3.2. Artigo 3º Colóquio Ibero-amer-icano Paisagem Cultural, Patrimônio e Projeto

O artigo a seguir foi publicado no 3º Colóquio Ibero-americano Paisagem Cultural, Patrimônio e Projeto, sediado em Belo Horizonte, Minas Gerais, entre os dias 15 e 17 de setembro de 2014.

de Iniciação Científica para Estudantes de Arquitetura e Urbanismo, realizado

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Figura 1: Florianópolis - Ilha e porção continental, destaque Santo Antonio de Lisboa.

Fonte: Prefeitura municipal de Florianópolis, adaptado pelos autores.

Florianópolis possui ambiente natural bastante diversificado, resultante do contraste entre

planícies e elevações montanhosas. A ilha, com quase uma centena de praias, compostas por

enseadas, costões, promontórios e restingas é conformada por dois maciços montanhosos,

com encostas verdes destacadas na paisagem litorânea (IPUF, 2002).

No século XVIII, a Ilha de Santa Catarina passou a integrar o projeto de expansão colonial de

Portugal na região sul do Brasil, com a vinda de imigrantes dos Arquipélagos dos Açores,

iniciando o processo de formação socioespacial do litoral. Os açorianos trouxeram uma

bagagem de tradições, conhecimentos e costumes, os quais foram adaptados às condições

ambientais locais, na consolidação do processo povoador na região (FARIAS, 1998).

Na Ilha de Santa Catarina, os núcleos populacionais que se formaram com a colonização

açoriana, a partir de 1748, têm como base o modelo colonial luso-brasileiro, evidenciado em

sua arquitetura e traçado urbano. A população mais antiga desses núcleos conserva ainda

hábitos e tradições herdados da cultura açoriana, expressos na pesca, culinária, religiosidade,

artesanato e festas populares (VEIGA, 2004).

Entretanto, a intensificação do adensamento populacional e da atividade turística em

Florianópolis, aliados à crescente pressão do capital imobiliário, especialmente, a partir do

final do século XX, vem modificando a paisagem da cidade, com urbanização acelerada,

transito intenso de veículos, aterros para ampliação do sistema viário e verticalização, com

Santo Antônio de Lisboa

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo apresenta aspectos da pesquisa em desenvolvimento no âmbito do

Programa de Educação Tutorial - PET do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, a referida pesquisa destina-se a traçar

possíveis caminhos e sugestões que visam a identificação e conservação de paisagens

culturais na cidade de Florianópolis - SC, localizada na região sul do Brasil.

No contexto do planejamento e da gestão urbana de cidades turísticas brasileiras, como é o

caso de Florianópolis, o poder público tem sido fortemente pressionado pelos interesses

econômicos, como resultado verifica-se baixa prioridade à manutenção do patrimônio

histórico e da paisagem, gerando um contínuo processo de degradação da natureza, perda

dos vestígios culturais e descaracterização de populações tradicionais (NÓR, 2010).

Esse processo de renovação urbana acelerada, muitas vezes, acaba por destruir os suportes

da memória coletiva, podendo causar a falta de identidade e afetividade com lugares urbanos,

uma vez que “os fenômenos de expansão urbana, globalização e massificação das paisagens

urbanas e rurais colocam em risco contextos de vida e tradições locais em todo o planeta”

(IPHAN, 2011, p.3).

Como possível forma de identificar, valorizar e conservar as áreas de interesse paisagístico na

cidade de Florianópolis está sendo desenvolvida a atual pesquisa, que se propõe a

desenvolver procedimentos para inventariar a paisagem cultural no âmbito de estudo do

espaço urbano, com intuito de contribuir para novas formas de planejamento e gestão da

cidade, que contemplem a conservação dessas áreas relevantes.

2. ÁREA DE ESTUDO

O município de Florianópolis, com população de 421.240 habitantes (IBGE, 2010), é formado

pela Ilha de Santa Catarina (439 km²) e por uma parte continental (12 km²), banhadas pelo

Oceano Atlântico e separadas por um estreito canal de cerca de 500 metros de largura, que

conforma duas baias, uma ao norte e outra ao sul (IPUF, 2002).

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Entende-se, atualmente, cultura como a conjugação dos modos de ser, viver, pensar e falar de

uma dada formação social, ou ainda, como todo o conhecimento que uma sociedade tem de si

mesma, sobre outras sociedades, sobre o meio material em que vive e sobre sua própria

existência (BOSI, 1992; SANTOS, 1997).

Assim, a cultura pode ser definida como o conjunto de características distintas, espirituais e

materiais, intelectuais e afetivas, que caracterizam uma sociedade ou um grupo social, que

abrange, além das artes e letras, seus modos de viver, sistemas de valor, tradições e crenças

(UNESCO, 2002).

A paisagem, por sua vez, ao ser produzida pela atividade transformadora do homem, reproduz

sua concepção de habitar, trabalhar e viver, como fruto de um determinado momento do

desenvolvimento social. Desse modo, seus conteúdos humanos – sociais e econômicos –

exprimem funções antigas que, mesmo desaparecidas, podem marcar a paisagem atual

(SANTOS, 1999).

Além da ação, o homem cria também a paisagem como uma forma intelectual, na qual os

grupos sociais percebem, interpretam e constroem marcos significativos e simbólicos,

segundo sua concepção cultural (SCHIER, 2003; CLAVAL 2007). Desse modo, a concepção

de paisagem ultrapassa a dimensão visual concreta e passa a incorporar História, relações,

valores e símbolos inerentes à cultura dos grupos sociais, podendo mesmo ser permeada

pela subjetividade do observador. Assim, a paisagem não reside somente no objeto e nem

somente no sujeito, mas é engendrada em sua complexa interação (NÓR, 2013).

O patrimônio cultural consiste nas referências consideradas como representativas de

diferentes grupos sociais. Os bens culturais expressam os processos de produção e

reprodução da vida, bem como os mecanismos que articulam esses processos à formação da

memória social de um povo.

A noção de patrimônio tem adquirido, ao longo do tempo, novos significados e ampliado sua

abrangência, refletindo a incorporação de novas visões a respeito de cultura, com o

reconhecimento da diversidade cultural e a valorização do vernacular e do contemporâneo

(CHOAY, 2001). Como integrante dessa expansão destaca-se a categoria de patrimônio

imaterial, que reconheceu a existência e a necessidade de salvaguarda do conjunto das

realizações humanas, em diversas expressões, superando a atuação preservacionista de

outrora voltada prioritariamente para o tombamento dos bens materiais, os chamados “de

pedra e cal” – igrejas, fortes, pontes, prédios e conjuntos urbanos representativos de estilos

arquitetônicos específicos.

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

edifícios acima de 15 pavimentos. Assim, a cidade tem sofrido uma perda sistemática dos

referenciais urbanos que materializaram sua história, bem como das belezas naturais que

singularizam seu sítio.

Para o estudo proposto, como fase inicial, está sendo analisada uma das áreas urbanas de

Florianópolis, o distrito de Santo Antonio de Lisboa, um dos núcleos populacionais que ainda

preserva características urbanas que guardam uma relação forte com o patrimônio natural e

edificado. O objetivo desta etapa (piloto) da pesquisa foi elaborar e aplicar os indicadores de

paisagem cultural nesse lugar, para que se possa desenvolver a análise em outras áreas do

município.

Santo Antônio de Lisboa localiza-se na porção noroeste da Ilha de Santa Catarina, na orla da

Baia Norte e tem como pano de fundo os morros com exuberante massa vegetal. O distrito

possui área de 22,45 km² e população de 6.343 habitantes (IBGE, 2010). Mantém um dos

conjuntos arquitetônicos mais representativos da fase de colonização portuguesa do litoral sul

brasileiro, remanescente dos séculos XVIII e XIX, com destaque para a Igreja de Nossa

Senhora das Necessidades, construída em 1756.

Nas últimas décadas, Santo Antônio de Lisboa têm vivenciado um expressivo crescimento

populacional, com ampliação da área residencial, onde predominam edificações unifamiliares.

A atividade turística tem se destacado, especialmente pela implantação de lojas de artesanato

e restaurantes ao longo da orla, transformando o lugar numa referência da gastronomia a

base de frutos do mar, aliando o preparo de pratos tradicionais a novas receitas, que vem

sofisticando o atendimento a um público de poder aquisitivo cada vez mais elevado.

A maricultura, com cultivo de ostras e mariscos, surgiu com a implantação, na década de

1980, de um projeto que visou garantir a subsistência das comunidades tradicionais, em

virtude da decadência da pesca artesanal na ilha.

3. PAISAGEM CULTURAL

Para melhor compreender o conceito de paisagem cultural é oportuna uma breve abordagem

sobre as noções de cultura e de paisagem, associadas ao patrimônio. Para Santos (1985), a

paisagem e a cultura transformam-se, vinculadas uma à outra.

A palavra cultura advém do latim, verbo “colo”, que significa eu moro, eu ocupo a terra e, por

extensão, eu cultivo o campo (BOSI, 1992). A partir dessa origem, é possível estabelecer uma

especial conexão entre cultura e a dimensão espacial do lugar e da paisagem.

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processo histórico de produção e de interação com o meio natural. Assim, nas áreas de

estudo, os pesquisadores devem procurar relacionar a importância da preservação da

natureza, de edificações e sítios significativos (patrimônio material), na medida em que

possibilitem e a evocação do passado de forma reflexiva, valorizando a memória urbana de

modo a manter uma identidade social presente e viva (patrimônio imaterial) (SANTOS,1997;

CASTRIOTA, 2009).

4. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE

Está sendo desenvolvido, como parte integrante da presente pesquisa, um procedimento

metodológico para identificação e mapeamento das áreas de interesse e valor paisagístico em

Florianópolis. Para tanto, estão sendo elaborados critérios de análise, que buscam identificar

qualidades consideradas inerentes às paisagens culturais. Além disto, Para consolidar os

resultados obtidos, elaborou-se questionários com o intuito de analisar a relação dos usuários

com as áreas de estudo.

Inicialmente, selecionou-se uma área piloto no meio urbano de Florianópolis, considerada

peculiar, ou seja, a paisagem que se diferencia, se ressalta ou se particulariza (IPHAN, 2011)

– o Distrito de Santo Antonio de Lisboa. Estudou-se, por meio de pesquisa bibliográfica, o

contexto histórico de seu desenvolvimento e procurou-se compreender sua conformação

atual. Após, realizaram-se análises em campo a fim de qualificar essa área como pertencente,

ou não, à classificação de paisagem cultural, bem como para aferição dos instrumentos de

avaliação.

A primeira parte do trabalho de campo consistiu na exploração livre, com caráter intuitivo,

focada na percepção dos elementos desta paisagem pelos pesquisadores e por pessoas

entrevistadas no local. Esta percepção é em grande parte subjetiva e pode ser explorada

pelos diversos sentidos (visão, audição, olfato, etc.).

Na segunda parte, aplicaram-se os critérios de análise estabelecidos, sintetizados em uma

planilha (Quadro 1), na qual se registraram os aspectos pertinentes, a partir dos conceitos

teóricos que embasam a pesquisa. As impressões e análises foram também registradas por

fotografias, croquis e desenhos.

Assim, a planilha divide-se em três etapas do levantamento, a primeira explora questões mais

concretas e aspectos imediatamente perceptíveis na paisagem; a segunda, questões mais

subjetivas e, na terceira etapa, realiza-se a junção de todo o material registrado, conformando

a caracterização da área analisada.

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Na esfera da ampliação do conceito de patrimônio, a Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura (United Nations Educational, Scientific and Cultural

Organization) - UNESCO passou a abordar, desde 1990, a ideia de paisagem cultural,

combinando aspectos materiais e imateriais, aliados à interação entre o homem e a natureza,

sendo que a categoria de paisagem cultural foi consolidada pelo Comitê do Patrimônio

Mundial, em Santa Fé (EUA), em 1992 (CASTRIOTA, 2009).

No documento denominado “Recomendação da Europa” para a conservação das áreas de

paisagens culturais, elaborado em 1995, a paisagem cultural foi caracterizada pela maneira

pela qual é percebida por um indivíduo, ou por uma comunidade, testemunhando, do passado

ao presente, o relacionamento entre o homem e seu meio ambiente. Possibilitando, a partir de

sua observação, especificar culturas e locais, sensibilidades, práticas, crenças e tradições.

A UNESCO apresentou, em 1999, nas diretrizes operacionais para a Convenção do

Patrimônio Mundial, a ideia de paisagem cultural da seguinte maneira:

Paisagens culturais representam o trabalho combinado da natureza e do homem

[...] são ilustrativas da evolução da sociedade e dos assentamentos humanos ao

longo do tempo, sob a influência das determinantes físicas e/ou oportunidades

apresentadas por seu ambiente natural e das sucessivas forças sociais,

econômicas e culturais, tanto internas, quanto externas. Elas deveriam ser

selecionadas com base tanto em seu extraordinário valor universal e sua

representatividade em termos de região geocultural claramente definida, quanto

por sua capacidade de ilustrar os elementos culturais essenciais e distintos

daquelas regiões (UNESCO, 1999).

No Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, em 2009, definiu

como paisagem cultural brasileira a “porção peculiar do território nacional, representativa do

processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana

imprimiram marcas, ou atribuíram valores” (IPHAN, 2009).

Nessas concepções sobre paisagem cultural, como categoria de patrimônio, estão sendo

consideradas as formas de viver e de se relacionar com o meio ambiente, evidenciando os

sítios históricos, os sistemas de uso da terra e o conhecimento tradicional, que se entrelaçam

na conformação dos lugares e seu tecido social, revelando aspectos estéticos, simbólicos,

espirituais, funcionais e ecológicos.

No processo de identificação e avaliação da paisagem cultural consideram-se os modos de

conceber a vida das populações locais, com atenção para os marcos e as permanências do

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Neste item deve-se avaliar o grau de

autenticidade histórica, comprovando se o

que homem construiu é produto de uma

experiência vivida, de um valor cultural

próprio e autêntico, distinguindo de eventuais

simulacros, pastiches, imitações recentes de

estilos arquitetônicos históricos.

Ilustrar com fotografias e croquis.

c) Dinâmica

socioespacial

Considerar a dinamicidade da cultura e a

contínua evolução da sociedade impressa no

local de estudo, reconhecendo e admitindo as

mudanças inerentes à evolução humana e de

seus assentamentos.

Verificar como o homem imprimiu marcas de

suas ações e formas de expressão,

associados aos diferentes tempos e como se

deu sua interação com o espaço natural, ao

longo dessa trajetória.

d) Impactos negativos

na paisagem

Analisar as interferências de novos elementos

urbanos e seu potencial de causar impacto

visual, sonoro, olfativo na paisagem.

Consideram-se impacto as alterações no

meio urbano resultantes das atividades, que

direta, ou indiretamente, afetem as atividades

sociais, culturais e econômicas, bem como as

condições estéticas e paisagísticas deste

meio (NÓR, 2010).

2ª Etapa

a) Vivências e afetos

Considerar se o local de estudo apresenta

relações sociais e afetivas integradas com o

ambiente e que se demonstrem como

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Cada momento da análise é realizado por meio de subdivisões, que objetivam facilitar o

trabalho em campo. Lembrando que essa separação não existe na prática, é apenas uma

estratégia metodológica para facilitar a melhor compreensão do objeto de estudo, que

consiste numa totalidade.

A primeira etapa momento é subdividida em quatro aspectos a serem identificados: limites e

vistas; marcos na paisagem, dinâmica socioespacial e impactos negativos na paisagem. Na

segunda etapa de análise há a avaliação de dois aspectos relativos ao patrimônio imaterial,

como observação de vivências e afetos e existência de indícios de práticas tradicionais e

simbólicas. Na terceira etapa, realiza-se a junção dos momentos precedentes, comparam-se

os resultados, e a partir da reflexão em equipe, pode haver complementações e

recomendações sobre os aspectos avaliados.

Fotografias e desenhos também são instrumentos de registro da percepção do por parte do

observador/analista.

O quadro de “Planilha de análise da paisagem cultural”, apresentado a seguir, foi concebido e

aprimorado ao longo do estudo, no sentido de orientar os pesquisadores em relação ao que

deve ser observado durante a análise, sendo sempre possível realizar ampliações,

modificações e adaptações durante a pesquisa, de modo a aperfeiçoar a avaliação.

Quadro 1: Critérios de análise de paisagem cultural.

Critérios de Análise

1ª Etapa

a) Limites e vistas

Identificar os limites e vistas da paisagem em

estudo, levando em consideração, por

exemplo, a presença ou a ausência de

destaques na topografia, massas vegetais,

corpos d’água, vistas panorâmicas, etc.

Ilustrar com fotografias e croquis.

b) Marcos na paisagem

Registrar as edificações históricas, tombadas,

ou significativas existentes, bem como os

demais marcos físicos que dão identidade ao

lugar, como praças, monumentos,

equipamentos, mobiliário urbano, etc.

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Segundo o IPHAN (2011, p.3) “Nos sítios onde são constatadas as singularidades materiais

de determinada área, somadas à sua relação intrínseca com a natureza e ao caráter dinâmico

no convívio com o elemento humano, aí então caberá a chancela da Paisagem Cultural”.

Os questionários sobre Santo Antonio de Lisboa foram realisados pela internet, porém

direcionado aos moradores e visitantes do lugar. As questões exploram os mesmos pontos da

planilha de análises a fim de complementar a análise de campo e obter resultados mais

consistentes. Com os questionários é possível identificar os marcos considerados referenciais

para os entrevistados, impactos negativos na paisagem, perceber como as pessoas

entendem a dinâmica dos espaços ao longo do tempo, a relação de afeto dos usuários com o

lugar, entre outros, adicionando ao relatório a percepção das pessoas que usufruem e vivem

na área de estudo.

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

respostas peculiares ao meio natural e à

história, os quais interfiram nos modos de vida

locais, definindo-os. Identificar se existe um

processo histórico compartilhado na

conformação do lugar.

As pessoas que moram naquele espaço têm

relação de afeto/respeito/orgulho

relacionados ao lugar? Existem ainda

vivências peculiares naquele espaço? Quão

significantes são elas?

O local analisado evidencia relações entre o

ambiente natural, o trabalho e a moradia de

seus habitantes? Qual o grau de interação

entre estes fatores e o quão são dependentes

entre si?

b) Práticas tradicionais

e simbólicas

Verificar se ocorrem festas, cultos, crenças,

rituais, ofícios tradicionais ou simbólicos do

local de estudo.

Estas práticas contribuem para a identidade e

memória coletiva da população local?

3ª Etapa

a) Relacionar os

aspectos materiais e

imateriais

Realizar a correspondência entre os aspectos

analisados, identificando sua

complementaridade. Possibilitar o

entendimento das relações entre homem, sua

cultura e o ambiente natural.

b) Considerações

Avaliar a existência de potenciais impactos

negativos e a vulnerabilidade da paisagem

cultural analisada.

opor medidas ou recomendações, se pertinente.

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

A maricultura garantiu a permanência da relação do homem com o mar, como meio de

subsistência das comunidades tradicionais do distrito, visto que a atividade pesqueira

encontrava-se em decadência. A implantação do projeto de cultivo, além de atender questões

socioeconômicas da comunidade, criou um novo atrativo turístico propiciando a instalação de

restaurantes, que vem sofisticando o atendimento a um público de poder aquisitivo cada vez

mais elevado.

Entretanto, pode-se também observar que essa rota gastronômica está fazendo com que os

restaurantes ocupem gradativamente a orla, praticamente privatizando-a e obstruindo a visão

do mar a partir da via que o margeia, constituindo um impacto negativo. Os restaurantes

promovem-se a partir da valorização da bela paisagem natural, que passa a ser vista, em

muitos trechos, apenas do interior dos recintos. Para quem caminha pela praia têm-se, muitas

vezes, a visão dos fundos dos estabelecimentos e os odores das cozinhas, descaracterizando

o ambiente. Além do aumento constante de transito de veículos, que vem dificultando a

circulação pelas ruas antigas e estreitas do local.

Com base nos questionários, 58% dos entrevistados observaram poucas mudanças em Santo

Antônio de Lisboa, contudo, quando dirigimos a pergunta aos moradores do distrito, muitos

consideram que as mudanças foram muitas e também prejudiciais a toda dinâmica e modo de

vida do lugar. Mesmo assim, 60% dos entrevistados acredita que Santo Antônio de Lisboa

pode vir a perder suas memórias, edificações e identidade, em virtude das mudanças que vem

ocorrendo no distrito.

Figura 2: Restaurantes na orla de Santo Antônio de Lisboa.

Foto: dos autores, 2014.

Na segunda etapa de análise, observou-se que as vivências e os afetos são bem fortes em

Santo Antônio de Lisboa. De acordo com o questionário aplicado, 92% dos entrevistados

considera o distrito um lugar especial, ou seja, possui uma carga simbólica que o diferencia e 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

5. RESULTADOS PRELIMINARES DA ÁREA ESTUDADA

Seguindo a metodologia adotada, iniciou-se pela exploração com base na primeira etapa da

planilia dos critérios de análise. Identificou-se o mar como elemento natural de maior destaque

que demarca a paisagem, delimitando as construções e o traçado das ruas, as quais

contornam a orla suave de águas calmas da baia. Os limites e vistas são também marcados

por grande presença de massas vegetais, a Mata Atlântica encobre boa parte das elevações

que conformam o espaço de estudo.

A brisa marinha, o barulho das pequenas ondas, as embarcações oscilando e as estruturas

das “fazendas” de ostras e mariscos, que submergem em alguns pontos, configuram a

paisagem local.

Na orla, em direção ao horizonte, avista-se o perfil das distantes edificações da área central e

tem-se uma visão privilegiada da silhueta da Ponte Hercílio Luz, que faz ligação da Ilha com o

continente e consiste num dos mais importantes símbolos de Florianópolis.

O casario de arquitetura luso-brasileira, a Igreja de Nossa Senhora das Necessidades

implantada em uma elevação, alinhada com a Praça Getúlio Vargas e com o mar, configuram

uma instalação urbana típica da colonização portuguesa. Há ainda um trecho remanescente

da primeira rua calçada do Estado, na Praça Roldão da Rocha Pires, e a fachada da casa

onde se hospedou o imperador D. Pedro II, elementos que compõem o patrimônio histórico do

distrito.

A Igreja de Nossa Senhora das Necessidades, o casario luso-açoriano e a orla aparecem

como os primeiros marcos de referência a serem lembrados pelos entrevistados,

representando, respectivamente, 28%, 24% e 16% das respostas, além de muitos deles

serem citados também como importantes ancoradouros de memória, que permitem uma

evocação ao passado, mostrando o desenvolvimento do distrito ao longo do tempo.

Pode se observar também a evolução da sociedade impressa em Santo Antônio de Lisboa,

por meio da nova pavimentação das vias que dão acesso ao distrito, bem como por

edificações de arquitetura mais recente que surgem em meio aos prédios históricos, mas que

ainda mantêm os gabaritos baixos, preservando a relação volumétrica. Mobiliário urbano,

como decks de madeira, instalados nos últimos anos ao longo da orla, criam espaços de

convívio em meio à rota gastronômica.

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Estas atividades são vivenciadas não apenas por moradores do distrito, mas sim por demais

moradores de Florianópolis e turistas, fazendo as festividades responderem por 17% das

atividades realizadas em Santo Antônio de Lisboa. É importante destacar que, boa parte dos

entrevistados não mora em Santo Antônio de Lisboa: 82% afirma frequentar o distrito

raramente, visto que a maioria o procura para momentos de lazer, respondendo por 69% das

demais atividades citadas no questionário.

A linguagem é também um importante bem imaterial que representa a tradição, por meio do

sotaque, expressões e denominações peculiares, que continuam bem presentes e marcantes

em Santo Antônio de Lisboa. Percebe-se também que existem rivalidades discretas e

comparações com os demais distritos de Florianópolis, as quais são resultado de um

sentimento de pertencimento ao lugar, de identidade e, de certa forma, fortalecem os laços na

comunidade.

Na terceira etapa da análise, os dados coletados na medida em que proporcionam relações

entre o homem, sua cultura e o ambiente natural, a fim de, finalmente, classificar a área como

paisagem cultural. Pois, segundo o IPHAN (2011, p.3) “Nos sítios onde são constatadas as

singularidades materiais de determinada área, somadas à sua relação intrínseca com a

natureza e ao caráter dinâmico no convívio com o elemento humano, aí então caberá a

chancela da Paisagem Cultural”.

Constatou-se que o patrimônio material e imaterial, como elementos de alusão à história local,

permanecem vivos e valorizados. Mesmo no fluxo da contínua evolução do distrito, em sua

dinamicidade, estão mantidas as características essenciais do lugar, sua relação com o

espaço natural, com as tradições, seus modos de produzir e conceber a vida. Assim, o estudo

realizado nos induz a caracterizar Santo Antônio de Lisboa como uma das áreas que abriga a

“paisagem cultural” de Florianópolis, merecendo cuidados por parte da gestão urbana, com

necessária participação da população local, para sua manutenção e conservação.

Ao mesmo tempo, identificou-se a tendência de verticalização das edificações no distrito, que

já se avizinha do núcleo histórico de Santo Antônio de Lisboa, ameaçando a relação de escala

volumétrica do lugar, bem como a crescente presença de empreendimentos imobiliários que

constroem condomínios residenciais unifamiliares, fechados por grandes muros, que

interrompem e segmentam a malha, rompendo as relações com os espaços públicos,

segregando e elitizando a ocupação urbana.

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

identifica dentro do contexto de Florianópolis. Veem-se pessoas saindo para o trabalho no

mar em pequenos barcos, mantendo a tradição da pesca, associada ao mais recente cultivo

de ostras e mariscos. Pequenas embarcações estão sempre se movimentando em frente à

orla, numa relação estreita entre o homem e o meio ambiente. As marés, correntes marítimas,

fases da lua e regime dos ventos fazem parte do conhecimento, das conversas e do cotidiano

dos habitantes.

Observa-se também, ao longo da orla, a importância do convívio e da contemplação do mar,

entre os moradores e visitantes, numa relação de afeto com o lugar e ambiente natural. Nas

ruas, bares, escadarias da igreja, deck da orla e praças é possível notar rodas de amigos,

encontros, pessoas sentadas de frente para o mar, pintores e fotógrafos retratando a

paisagem. Vivencia-se uma espécie de volta no tempo, propiciada pela calma e ritmo tranquilo

da vida local.

A igreja é ainda amplamente vivenciada, uma vez que possui uma carga de identidade com a

população local muito forte, evidenciada na manutenção das práticas religiosas, com missas

semanais, com grande envolvimento dos moradores em preparativos e participação de

almoços e jantares da paroquia, bem como nas festas tradicionais, como a Festa do Divino

Espírito Santo, que movimenta a comunidade durante o ano, continuando uma antiga tradição

dos Açores.

Marcos importantes da paisagem também concentram um valor simbólico e possuem

relações de afeto com as pessoas que dele usufruem. O casario de arquitetura luso-brasileira,

a Igreja de Nossa Senhora das Necessidades e o artesanato local, além de serem elementos

marcantes da paisagem de Santo Antônio de Lisboa, são considerados pelos entrevistados,

como possuidores da identidade e memória do distrito, uma vez que quase metade das

respostas demonstram o desejo de que perdurem para as gerações futuras.

Constatou-se, também, que o mar, caracterizado pelas águas calmas da Baía Norte, ainda é

muito citado pelos entrevistados e condiz com um forte marco do distrito, responsável pelo

modo de vida, trabalho e conformação da ocupação humana em Santo Antônio de Lisboa.

A comunidade participa e perpetua as lendas e tradições herdadas dos seus antepassados,

fazendo com que cada data comemorativa se torne uma rica experiência para os moradores,

que confirmam e estreitam as relações sociais, atraindo visitantes. Existem representações e

danças típicas do folclore local, como o “Boi-de-Mamão, Maricota, Bernunça, Pau de Fita”,

que costumam ser exibidos nas festas populares.

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

figura 3 - mapa com poligonais

Fonte: elaborado pelos autores

6. CONSIDERAÇÕES

Considera-se importante que o poder público possa prevenir eventuais impactos nas

paisagens culturais, avaliando previamente interferências capazes de causar

descaracterização da ambiência urbana, obstrução visual, bloqueio de ângulos de visão, ,

efeitos nocivos na rotina e no padrão de vida da população, perda de referências

históricas/culturais e comprometimento de renda e produção (NÓR, 2010).

Para tanto, recomenda-se que novas propostas de intervenção em áreas classificadas como

Paisagem Cultural devam ser submetidas a estudos específicos, que possam limitar ou

indicar adequações a projetos, propondo medidas mitigadoras compensatórias ou

preventivas.

Desse modo, como contribuição da presente pesquisa, considera-se pertinente indicar ao

poder publico que o Distrito de Santo Antônio de Lisboa deva configurar no mapeamento de

Florianópolis como área caracterizada de “paisagem cultural”, o que implica em adotar

medidas de conservação cultural e na exigência de estudos prévios de impacto paisagístico

para novos empreendimentos, ou intervenções no espaço urbano.

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Visando delimitar a abrangência espacial do distrito, tendo como base a percepção, vivência e

afetos que os usuários de Santo Antônio de Lisboa possuem, foram levantados os limites do

distrito. A partir dos resultados, foi possível identificar três poligonais.

A primeira poligonal (laranja) representa o núcleo do distrito, que contém a maior parte do

conjunto arquitetônico luso-brasileiro, a Igreja de Nossa Senhora das Necessidades, a orla e

os restaurantes à beira mar, que fazem parte da rota gastronômica de Santo Antônio. 62% dos

entrevistados considera que Santo Antônio de Lisboa se encontra nesta poligonal, citando

como referências a Igreja, a Praça Getúlio Vargas e, em frente à mesma, o conjunto de

casarios açorianos, a orla e seus restaurantes.

A segunda poligonal (rocha) representa uma área maior do distrito e possui como referências

o Terminal de Integração de Santo Antônio de Lisboa (TISAN), a orla e os restaurantes, que

além de englobarem o polígono nuclear, considera também a Rua Padre Lourenço Rodrigues

de Andrade, principal via de acesso ao distrito a partir da rodovia SC-401. Esta poligonal

representa 19% das respostas.

A terceira (azul) é a mais abrangente, pois engloba todas as demais e tem como referências o

início do caminho que leva até o bairro vizinho, Sambaqui, um estabelecimento comercial na

Rua Caminho dos Açores e o TISAN. 19% dos entrevistados consideram estas referências

como sendo o território de Santo Antônio de Lisboa.

Conclui-se, a partir dos resultados apresentados pelos questionários, que para a maioria dos

entrevistados o lugar considerado como Santo Antônio de Lisboa é o núcleo do distrito, o qual

abriga boa parte dos marcos edificados e a orla marinha.

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Em tempos de globalização e pasteurização das culturas, é saudável que se possam

resguardar e valorizar contextos de vida singulares, que se estabelecem na relação

harmônica do homem com a natureza (IPHAN, 2011). Santo Antonio de Lisboa, em

Florianópolis, é ainda um desses lugares especiais, expresso em sua paisagem.

REFERÊNCIAS

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PAISAGEM CULTURAL DE FLORIANÓPOLIS O presente artigo apresenta aspectos da pesquisa em desenvolvimento no âmbito do Programa de Educação Tutorial - PET do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, a qual destina-se a promover a identificação de paisagens culturais na cidade de Florianópolis - SC, visando sua preservação. No contexto do planejamento e da gestão urbana, pressionados pelos interesses econômicos, tem-se observado baixa prioridade à manutenção do patrimônio cultural, gerando um contínuo processo de degradação da natureza, perda dos vestígios culturais e descaracterização de populações tradicionais (NÓR, 2010). O município de Florianópolis, com população de 421.240 habitantes (IBGE, 2010), é formado pela Ilha de Santa Catarina (439 km²) e por uma parte continental (12 km²), banhadas pelo Oceano Atlântico e separadas por um estreito canal de cerca de 500 metros de largura, que conforma duas baias de águas calmas, uma ao norte e outra ao sul. Florianópolis possui ambiente natural bastante diversificado, resultante do contraste entre planícies e elevações montanhosas (IPUF, 2002). Os núcleos populacionais de fundação açoriana têm como base o modelo colonial luso-brasileiro, evidenciado em sua arquitetura e traçado urbano. A população mais antiga desses núcleos conserva hábitos e tradições da cultura açoriana, expressos na pesca, culinária, religiosidade, artesanato e festas populares (VEIGA, 2004). A intensificação da urbanização e da atividade turística em Florianópolis, com a crescente pressão do capital imobiliário, têm acarretado transformações socioespaciais que passaram a ameaçar a manutenção da memória e identidade cultural do lugar (NÓR, 2010). A paisagem cultural apresenta-se como um instrumento revelador dos modos de viver e conceber a vida, ancorados no processo histórico de produção e interação com o meio natural, que possibilita a preservação de marcos edificados (patrimônio material) e a evocação do passado de forma reflexiva, ao valorizar a memória urbana como forma de manutenção de uma identidade social presente e viva (patrimônio imaterial) (SANTOS,1997; CASTRIOTA, 2009). Considera-se, portanto, importante identificar a paisagem cultural no âmbito de estudo do espaço urbano, alavancando novas formas de planejamento e gestão da cidade, no sentido de promoverem a conservação dessas áreas relevantes. A análise, no âmbito da pesquisa, é composta pela exploração livre, com caráter intuitivo, focada na percepção dos elementos desta paisagem pelos pesquisadores. Esta percepção é em grande parte subjetiva e pode ser explorada pelos diversos sentidos (visão, audição, olfato, etc.). A análise é complementada pela verificação de adequação quanto aos conceitos e critérios que embasam a pesquisa. As impressões e análises são registradas por fotografias, croquis e desenhos.

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7.3.3. Resumo estendido - Corpocidade 4

O resumo estendido a seguir foi aceito para apresentação e publicação no Corpo-cidade 4, sediado em Salvador, Bahia, en-tre os dias 04 e 06 de dezembro de 2014.

de Iniciação Científica para Estudantes de Ar-quitetura e Urbanismo, realizado durante o evento.

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo apresenta aspectos da pesquisa em desenvolvimento no âmbito do

Programa de Educação Tutorial - PET do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, a referida pesquisa destina-se a traçar

possíveis caminhos e sugestões que visam a identificação e conservação de paisagens

culturais na cidade de Florianópolis - SC, localizada na região sul do Brasil.

No contexto do planejamento e da gestão urbana de cidades turísticas brasileiras, como é o

caso de Florianópolis, o poder público tem sido fortemente pressionado pelos interesses

econômicos, como resultado verifica-se baixa prioridade à manutenção do patrimônio

histórico e da paisagem, gerando um contínuo processo de degradação da natureza, perda

dos vestígios culturais e descaracterização de populações tradicionais (NÓR, 2010).

Esse processo de renovação urbana acelerada, muitas vezes, acaba por destruir os suportes

da memória coletiva, podendo causar a falta de identidade e afetividade com lugares urbanos,

uma vez que “os fenômenos de expansão urbana, globalização e massificação das paisagens

urbanas e rurais colocam em risco contextos de vida e tradições locais em todo o planeta”

(IPHAN, 2011, p.3).

Como possível forma de identificar, valorizar e conservar as áreas de interesse paisagístico na

cidade de Florianópolis está sendo desenvolvida a atual pesquisa, que se propõe a

desenvolver procedimentos para inventariar a paisagem cultural no âmbito de estudo do

espaço urbano, com intuito de contribuir para novas formas de planejamento e gestão da

cidade, que contemplem a conservação dessas áreas relevantes.

2. ÁREA DE ESTUDO

O município de Florianópolis, com população de 421.240 habitantes (IBGE, 2010), é formado

pela Ilha de Santa Catarina (439 km²) e por uma parte continental (12 km²), banhadas pelo

Oceano Atlântico e separadas por um estreito canal de cerca de 500 metros de largura, que

conforma duas baias, uma ao norte e outra ao sul (IPUF, 2002).

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1047.4. APRESENTAÇÃO DE PÔSTER

7.3.1. Pôster para o VI Seminario Internacional de Investigacíon en Urbanismo

O pôster ao lado foi aceito para apresentação e publicação no VI Seminario Internacional de Inves-tigación en Urbanismo, sediado em Barcelona, Espanha, entre os dias 16 e 17 de junho de 2014.

INVENTÁRIO DE PAISAGEM CULTURALESTUDO DE CASO EM SANTO ANTÔNIO DE LISBOA

BRASIL

SANTA CATARINA

FLORIANÓPOLIS

DISTRITO DE SANTO ANTÔNIO DE LISBOA

A intensi�cação da urbanização e da atividade turística, acompanhada da crescente pressão do capital imobiliário, especialmente a partir do �nal do século XX, têm acarretado transformações socioespaciais em Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, no sul do Brasil, que passaram a ameaçar a manutenção de sua identidade cultural.

A paisagem cultural apresenta-se como um instrumento revelador dos modos de viver e conceber a vida, ancorados no processo histórico de produção e interação com o meio natural, que possibilita a preservação de marcos edi�cados, patrimônio material, e a evocação do passado de forma re�exiva, ao valorizar a memória urbana como forma de manutenção de uma identidade social presente e viva, o patrimônio imaterial (SANTOS,1997; CASTRIOTA, 2009.)

A presente pesquisa objetiva inventariar a paisagem cultural de Florianópolis. Selecionou-se uma área piloto no meio urbano de Florianópolis, considerada peculiar, ou seja, que se diferencia, se ressalta ou se particulariza (IPHAN, 2011) � o Distrito de Santo Antônio de Lisboa como estudo de caso.

Vista de Santo Antônio da Av. Beiramar Norte e Ponte Hercílio Luz.

A partir da abordagem conceitual, criou-se um procedimento metodológico para identi�cação e mapeamento das áreas de interesse e valor paisagístico. Para tanto, foram elaborados critérios de análise, capazes de identi�car qualidades consideradas inerentes a paisagens culturais. Elaborou-se uma planilha que auxilia o trabalho em campo para identi�cação de paisagens culturais. Esta planilha divide-se em três momentos, o primeiro explora questões mais concretas e aspectos imediatamente perceptíveis na paisagem; o segundo, questões mais subjetivas e, no terceiro momento, realiza-se a junção de todo o m a t e r i a l re g i s t r a d o, co n fo r m a n d o a caracterização da área analisada.

Após análise dos resultados coletados em campo, constatou-se que o patrimônio material e imaterial, como elementos de alusão à história local, permanecem vivos e valorizados no distrito de Santo Antônio de Lisboa. Mesmo no �uxo da contínua evolução do distrito, em sua dinamicidade, estão mantidas as características essenciais do lugar, sua relação com o espaço natural, com as tradições, seus modos de produzir e conceber a vida. Assim, o estudo realizado nos induz a caracterizar Santo Antônio de Lisboa como uma das áreas que abriga a �paisagem cultural� de Florianópolis, merecendo cuidados por parte da gestão urbana, com necessária participação da população local, para sua manutenção e conservação. Espera-se ainda, que este estudo sirva de parâmetro para identi�cação de paisagens culturais em outros contextos urbanos.

Pôr do sol à beira mar em Santo Antônio de Lisboa.

REFERÊNCIAS

DESENVOLVIMENTO

CONCLUSÕES

TEMÁTICA

O ofício da maricultura. Igreja de Nossa Senhora das Necessidades e casario histórico.

Embarcações de pescadores na orla de Santo Antônio de Lisboa.

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