investigacao (1)

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  • Crditos Francisco das Chagas S. Arajo Delegado de polcia, aposentado da Polcia Civil do Distrito Federal. Membro do grupo de trabalho que coopera com a elaborao e implantao da Matriz Curricular Nacional. Ps-graduado em Polcia Judiciria (Academia de Polcia Civil PCDF). Curso superior de Polcia (Academia de Polcia Civil PCDF). Curso sobre PAUTAS DEONTOLGICAS Y OPERATIVAS PARA EL CONTROL DE LA POLICIA na Divisin de Formacin y Perfeccionamiento, Centro de Actualizacin y Especializacin, Direccin General de la Polica, Ministerio del Interior, vila, Espaa. Treinamento em tcnicas de investigao sobre crimes relacionados ao abuso e desaparecimento de crianas, facilitados pela internet, promovido pelo International Centre for Missing & Exploited Children. Curso de Gestin de Riesgo Catastrficos y Atencin a Desastres promovido pela Agencia Espaola de Cooperacin Internacional AECI. Professor da Academia de Polcia Civil da PCDF, das disciplinas: Investigao criminal, Tcnicas de entrevista e interrogatrio, tica policial e Procedimentos de polcia judiciria. Foi corregedor-geral e chefiou diversas delegacias da PCDF. Foi subsecretrio de doutrina, ensino e pesquisa da SSP/DF.

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  • Apresentao O curso Investigao criminal d incio a desconstruo de um paradigma que diz que o conhecimento de investigao criminal s diz respeito quele que tem a competncia legal para investigar. Essa verdade tem impedido que os demais profissionais de segurana pblica possam colaborar na produo da prova criminal. Colaborar sim, pois o investigador , no mximo, o segundo a chegar cena do crime. Antes disso, quantos fatores podero contribuir para a alterao dos dados que podero indicar autoria e circunstncias do delito? Para a efetiva colaborao, o profissional dever ter o mnimo de informao tcnica que o habilite a adotar as primeiras providncias de proteo e formatao da prova. De que adiantaria o profissional operacional de rua chegar primeiro ao local de delito e no saber delimitar e isolar potencial ambiente repositrio de vestgios de um crime? Ou no ter habilidades que o levem a identificar e coletar informaes que possibilitaro a formulao das primeiras hipteses para explicao do delito? O crime tem vozes que s podero ser ouvidas nos primeiros momentos. Que oua ento quem tem capacidade para ouvir e esse ser sempre o primeiro que chega ao local. A investigao criminal interdisciplinar e cada procedimento complementar ao outro. Significa que cada ator do processo, dentro de sua parcela de responsabilidade e conhecimento, complementa a atividade do outro, num sistema contnuo de interdependncia, sem que isso signifique a sobreposio ou usurpao de atribuies. No h dvida de que o processo de investigao criminal corresponde ao processo de produo de um conhecimento cientfico, pois, tal qual uma pesquisa cientfica, movido por um raciocnio correto e ordenado, a partir de fatos que levam a uma hiptese testvel que, alm de explicar os fatos que compem o fenmeno investigado, permite aplicaes prticas com o julgamento do autor. esse ponto de vista que permitir ao investigador a adoo de estratgias que garantam a valorizao da prova como essncia do direito de punir do Estado, fundado na democracia e no direito. A investigao Criminal ferramenta de conexo dos fundamentos constitucionais de cidadania e respeito dignidade da pessoa humana na busca de provas da prtica de um delito, da a necessidade de que seja tratada com a devida lealdade cientfica. O curso Investigao criminal tem como referncia os princpios contidos na Matriz Curricular Nacional e os eixos tico, legal e tcnico, pertinentes ao ensino do profissional da rea de segurana pblica, num Estado Democrtico de Direito. Curso Investigao criminal 1 Mdulo 1 SENASP/MJ - ltima atualizao em 31/10/2008 Pgina 3

  • O curso Investigao criminal tem como principal objetivo, criar condies para que os profissionais de segurana pblica tenham o acesso s informaes que possibilitem sua real colaborao na produo da prova criminal. Este curso formado por duas Unidades, cada um com 60 horas aula. A Unidade I abordar contedos tericos da investigao criminal enquanto a Unidade II abordar conhecimentos de natureza prtica. A participao na Unidade II ter como pr-requisito a concluso da primeira parte. Reflita sobre os temas abordados. Promova novas pesquisas e aplique esses conhecimentos com entusiasmo e respeito aos desafios do ofcio de apurar infraes penais. Este curso est dividido em 8 mdulos: Mdulo 1 - A investigao criminal como instrumento de defesa da cidadania Mdulo 2 - Investigao criminal: aspectos conceituais Mdulo 3 - Investigao criminal: princpios fundamentais Mdulo 4 - Fundamento legal da investigao criminal Mdulo 5 - A lgica aplicada investigao criminal Mdulo 6 - Perfil profissional do investigador Mdulo 7 - A interdisciplinaridade da investigao criminal Mdulo 8 - Valorizao da prova Mdulo 1 - A investigao criminal como instrumento de defesa da cidadania Ao final deste mdulo, voc ser capaz de: Explicar a idia de segurana pblica concebida como tutela de direitos; Ter a percepo da investigao criminal como instrumento de defesa de direitos fundamentais; e Identificar os princpios fundamentais de sustentao da democracia brasileira. O contedo do mdulo est distribudo em uma aula:

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  • Aula 1 - Modelos de polcia e investigao policial Quando se fala em modelo de polcia a pergunta a ser respondida : A que tipo de sociedade ela deve servir? O pacto poltico firmado em 1988 pela sociedade brasileira foi no sentido de formatar um Estado Democrtico de Direito fundado nos princpios de: Soberania; Cidadania; Dignidade da pessoa humana; Valores sociais do trabalho; Livre iniciativa; e Pluralismo poltico. Para garantir esse modelo de sociedade, ser preciso uma nova configurao da idia de segurana pblica concebida como tutela de direitos e no de preservao da ordem pblica, pois so diferentes as concepes. A diferena das concepes de tutela de direitos e de preservao da ordem pblica apontada pelo texto introdutrio de um manual sobre a relao polcia e direitos humanos, editado pela Comisso de Direitos Humanos da Cmara dos Deputados: Uma polcia para a preservao da ordem, afinal, s pode ser concebida como uma instituio a servio da manuteno do status quo brao armado Estado voltado, sempre que necessrio, contra as classes perigosas. (ROLIM, 2000, p. 9) A idia de segurana pblica associada a tutela de direitos remete a um conjunto de direitos bsicos que devem ser garantidos. A percepo de segurana para o cidado a que est relacionada com o respeito aos seus direitos fundamentais. Como os servios de segurana pblica so de atendimento da integralidade da cidadania, a polcia faz parte de uma rede interdisciplinar de tutela dos valores de sustentao do Estado Democrtico de Direito, num processo complexo cooperativo e complementar. A investigao criminal uma das ferramentas utilizadas pela polcia na prestao dos servios de garantia do cidado. As prticas infracionais atentam contra o sistema de direitos fundamentais que garante a sobrevivncia de uma sociedade democrtica. Como visto, a razo de ser da polcia garantir o livre e pacfico exerccio desses direitos. Portanto, a investigao criminal dever se adequar s demandas decorrentes dos mesmos. A sociedade precisa mesmo de uma polcia? Jaume Curbet (1983, p. 75) remete a reflexo sobre o tema com uma citao do escritor francs Balzac que diz: Os governos passam, as sociedades morrem, mas a polcia eterna.

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  • H dois pontos de vista a serem considerados a partir dessa assertiva: Apesar de todas as mudanas polticas e sociais operadas, as polcias continuam modeladas em princpios que no atendem as demandas das comunidades. Seja qual for o modelo de sociedade, esta sempre precisar da tutela da organizao policial. Num sistema de garantias de direitos fundamentais, de que adiantaria, por exemplo, o direito moradia se o cidado no pudesse permanecer em casa com tranqilidade e segurana? A primeira Constituio Francesa de 1791, j declarava a importncia da tutela policial dos direitos do homem e do cidado, quando dizia em seu artigo 12, conforme citao de Ballbe (1983 ): A garantia dos direitos do homem e do cidado necessita de uma fora pblica. Esta fora se institui, portanto, para benefcio de todos e no para a utilidade particular daqueles que a tm a seu cargo. Tanto a nossa Constituio (1988), como a Francesa (1791) resultam na garantia da soberania do Estado, no respeito ao exerccio dos atos de cidadania e da dignidade de cada cidado, bem como dos valores sociais e das liberdades. Sendo assim, as prticas da investigao criminal devem refletir a certeza de que cada uma delas tutela a garantia do modelo poltico adotado pelo Estado Democrtico de Direito. A investigao criminal necessita refletir o benefcio a toda comunidade, pois ela tem dupla funo, prevenir e reprimir a prtica de delitos.

    Concluso Neste mdulo voc viu uma abordagem sobre o papel da investigao criminal como instrumento de defesa da cidadania. Foi discutido o novo modelo de polcia proposto pela Constituio Federal de 1988, onde trocada a velha teoria de segurana pblica de preservao da ordem pela teoria de segurana pblica de tutela de direitos. A investigao criminal, como ferramenta dessa tutela, ter que se adequar nova concepo. No prximo mdulo sero discutidos os aspectos conceituais da investigao criminal. Neste mdulo so apresentados exerccios de fixao para auxiliar a compreenso do contedo.

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  • O objetivo destes exerccios complementar as informaes apresentadas nas pginas anteriores. 1. Analise a afirmativa a seguir e explique como isso poder se tornar prtico. (...) a investigao criminal uma das ferramentas utilizadas pela polcia na prestao dos servios de garantia do cidado. Resposta pessoal 2. Voc estudou que um dos princpios de sustentao do Estado Democrtico de Direito a dignidade da pessoa humana. Avalie suas prticas como profissional de segurana pblica ressaltando no que elas refletem ou contrariam esse princpio. Resposta pessoal Orientao A dignidade um valor inerente s personalidades das pessoas que se manifesta na autodeterminao consciente e responsvel da prpria vida, esperando que as demais pessoas o respeitem. Ao eleger a dignidade da pessoa humana, fundamento do Estado Democrtico, a inteno foi fazer com que a liberdade individual tenha um mnimo de invulnerabilidade mesmo diante das aes necessrias de controle do prprio Estado. A dignidade da pessoa humana como fundamento democrtico, fomenta unidade aos direitos e garantias fundamentais. As prticas da apurao de provas so extremamente invasivas e sempre numa rota de coliso com essa liberdade individual das pessoas, exigindo do profissional de segurana pblica, portanto, extremo cuidado para que no ultrapasse esse mnimo de liberdade que diz respeito auto-estima das pessoas. 3. Exponha, a partir do que foi estudado e de sua vivncia, que tipo de polcia a sociedade atual precisa? Resposta pessoal Orientao A sociedade precisa de uma polcia que acompanhe as mudanas polticas e sociais

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  • atendendo aos princpios e demandas das comunidades. A polcia deve levar em conta os exerccio e atos da cidadania e da dignidade de cada cidado, bem como os valores sociais. Como visto, a razo de ser da polcia garantir o livre e pacfico exerccio desses direitos. Este o final do mdulo 1 A investigao criminal como instrumento de defesa da cidadania

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  • Curso Investigao criminal 1 Mdulo 2 SENASP/MJ - ltima atualizao em 13/02/2009 Pgina 2

    Mdulo 2 - Investigao criminal: aspectos conceituais Ao final deste mdulo, voc ser capaz de: Definir investigao criminal; Explicar as finalidades da investigao criminal; e Listar as modalidades de investigao criminal. O contedo do mdulo est dividido em 2 aulas: Aula 1 - Conceito e finalidade; e Aula 2 - Classificao da investigao criminal. Aula 1 - Conceito e finalidade O que a investigao? Muito provavelmente o cinema policial tem sido uma boa oportunidade de discusso do tema. Mas a fico nem sempre a melhor oportunidade para uma reflexo sobre a investigao como mtodo de respeito aos direitos fundamentais do cidado. Povoam nosso imaginrio os incrveis detetives dos filmes e da literatura policial que tudo podem em nome da lei. Investigar uma atividade instigante pela emoo de percorrer labirintos que sempre levaro explicao de um delito. Esse o foco romntico da investigao criminal. S que a prtica requer conhecimentos e mtodos sistematizados para que o resultado sempre seja a correta construo da verdade. O que investigar? Veja a definio encontrada no dicionrio Aurlio: Investigar. [ Do Lat. Investigare. ] V. t. d. 1. Seguir os vestgios de. 2. Fazer diligncias para achar; pesquisar, indagar, inquirir: investigar as causas de um fato. 3. Examinar com ateno; esquadrinhar. (Ferreira, 1975, p. 781) Veja que todas as definies so compatveis com o contexto do processo de busca da prova: seguir os vestgios; fazer diligncias para achar; pesquisar; indagar; inquirir; examinar com ateno; e esquadrinhar. So realidades que se complementam num contexto interdisciplinar.

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    O resultado da ao de investigar a investigao que complementada pelo adjetivo criminal, foca na reconstruo do cenrio de um delito. Conceito de investigao criminal O mesmo dicionrio Aurlio valida a compreenso sinonmica da ao investigativa quando registra: Investigao. [Do lat. Investigatione.] S. f. 1. Ato ou efeito de investigar; busca, pesquisa. 2. Indagao minuciosa; indagao, inquirio. (1975, p. 781) Tanto as definies do verbo que expressa o agir e o sentir dos executores, como as do nome, que expressam o resultado daquelas aes, nos levam percepo de que a investigao um conjunto de atos que se complementam. Ento, voc pode dizer que: Investigao criminal o conjunto de procedimentos interdisciplinares, de natureza inquisitiva, que busca, de forma sistematizada, a produo da prova de um delito penal. Finalidade da investigao criminal A produo da prova penal ocorre no Brasil, em grande parte, na fase que antecede o processo, por meio do inqurito policial. A finalidade da investigao criminal coincidente com a finalidade daquele procedimento, dividida em trs eixos: remota, mediata e imediata. Finalidade remota A aplicao da lei penal e a tutela dos direitos fundamentais do cidado; Finalidade mediata Produzir subsdios para a promoo da ao penal pelo Ministrio Pblico ou pelo ofendido; e Finalidade imediata Apurao de provas das circunstncias e autoria das infraes penais para indiciamento do autor pela autoridade policial. Aula 2 - Classificao da investigao criminal Foi visto que a investigao criminal um conjunto de procedimentos do qual participam vrios conhecimentos (interdisciplinar). Esse processo tem a coordenao direta ou indireta da autoridade policial, de forma integrada e complementar. Os dados tanto podero ser coletados de vestgios deixados em objetos relacionados com a prtica do delito, como do depoimento de pessoas que, de alguma forma tm ou tiveram algum vinculo com o fato investigado. a natureza funcional do investigador que ir determinar um dos critrios de classificao da investigao criminal.

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    Critrios de classificao H provas produzidas pelo investigador cujas atividades, na estrutura funcional, esto diretamente vinculadas ao controle da autoridade policial, ou seja, acontece, via de regra, no mbito do cartrio da organizao policial. Exemplo disso o que ocorre com a coleta de depoimentos, reconhecimentos, e outros, feita sob a coordenao direta do delegado. Enquanto isso, a prova baseada em vestgios materiais, tem sua produo em laboratrios e executada por peritos sem uma subordinao funcional direta da autoridade policial. Essas circunstncias possibilitam a classificao do processo investigatrio em cartorria e tcnico-cientfica. O conceito de investigao criminal como um conjunto de procedimentos sistematizados sugere uma segunda modalidade de classificao no que diz respeito aos momentos em que praticada. Com essa viso, Mingardi (2005, p. 11) oferece uma classificao da investigao do homicdio, que tambm pode ser aplicada no contexto da investigao criminal, como sendo investigao preliminar e investigao de segmento. Classificao quanto natureza funcional do investigador Investigao criminal cartorria A investigao criminal cartorria aquela desenvolvida sob o controle tcnico-funcional direto da autoridade policial, no mbito do cartrio da organizao. EXEMPLOS: Ordem de servio expedida a uma equipe de profissionais da seo de investigao para localizar determinada testemunha ou para identificar as testemunhas de um determinado delito, e o reconhecimento de um suspeito. Investigao criminal tcnico-cientfica A investigao criminal tcnico-cientfica aquela desenvolvida pelos peritos, sob a coordenao tcnico-operacional indireta da autoridade policial. feita mediante requisio da autoridade que preside a investigao. EXEMPLOS: A anlise de mancha de sangue feita pelo perito no local de crime, e necropsia feito pelo legista. Classificao quanto ao momento da execuo Investigao criminal preliminar A investigao criminal preliminar aquela que se inicia logo aps a notcia do crime e continua at a liberao do local pela polcia. EXEMPLO: A investigao no local de crime. Investigao criminal de segmento

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    Investigao de segmento ocorre aps a polcia deixar o local e feita tendo como ponto de partida os indcios ou provas obtidas na investigao preliminar. EXEMPLO: Os exames periciais e os depoimentos coletados aps a liberao do cenrio. Essas duas modalidades so gerais, abrangem a investigao cartorria e a tcnico-cientfica. Concluso No segundo mdulo foram discutidos os aspectos conceituais e a finalidade da investigao criminal. A classificao, ainda que com aparncia eminentemente pedaggica, tem fundamental importncia na prtica do profissional da investigao pois lhe dar a percepo da natureza sistmica do processo. Quanto a finalidade, permite que o profissional compreenda que os limites da investigao vo bem mais longe do universo da unidade policial e tem real funo de tutela dos direitos fundamentais do cidado. No prximo mdulo voc ter oportunidade de conhecer e discutir os princpios legais que regulam as atividades da investigao criminal. Neste mdulo so apresentados exerccios de fixao para auxiliar a compreenso do contedo. O objetivo destes exerccios complementar as informaes apresentadas nas pginas anteriores. 1. Voc estudou que a finalidade da investigao criminal se divide em trs eixos: remota, mediata e imediata. Numa avaliao crtica, descreva o efeito prtico desse conhecimento para a efetividade da investigao criminal. Resposta pessoal Orientao A investigao criminal est contida em um sistema jurdico que o contempla com uma finalidade tridimensional que vai da produo de provas, para fundamentar o indiciamento do autor no inqurito policial, passando pelo oferecimento de subsdios instaurao da ao penal pelo promotor de justia ou pelo ofendido, chegando aplicao da lei e ao resguardo dos direitos fundamentais, em um nvel poltico de proteo do Estado Democrtico de Direito.

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    Percebendo esse alcance da investigao, o profissional da segurana pblica saber que sua atividade, por mais simples que seja, est em um contexto do qual parte de grande importncia, por isso no poder ser negligenciada. 2. Leia, analise os fatos e identifique, comentando, os tipos de investigao criminal desenvolvidos na apurao do caso. Numa ocorrncia de roubo a um supermercado, os infratores fogem levando dinheiro e cheques subtrados dos caixas. Para assegurar a fuga, deixam alguns empregados amarrados no banheiro e atiram, matando o segurana. A polcia militar isola e preserva o local. Para a coleta de provas deixadas no cenrio, so chamados os investigadores da delegacia de polcia da rea e os peritos criminais. O corpo do segurana encaminhado ao IML e, como no houve priso em flagrante dos autores, foi instaurado inqurito policial para apurao do evento criminoso. Resposta pessoal Orientao Perceba que no contexto da represso ao delito, h a interveno de setores diversos da atividade de segurana pblica, em circunstncias e momentos variados. H dois momentos da investigao, na cena do crime e depois, com a instaurao do inqurito, no cartrio da delegacia e nos departamentos de investigao tcnico-cientfica. Portanto, h uma fase preliminar e uma de segmento. Veja tambm, que a busca da prova executada tanto pelos peritos criminais e mdico-legistas como pelos investigadores das delegacias. 3. Quanto finalidade mediata da investigao criminal, marque a afirmativa correta: ( ) Corresponde aplicao da lei penal e a tutela dos direitos fundamentais do cidado. ( ) Corresponde aplicao da pena pelo processo investigatrio ( ) Corresponde produo de subsdios para a promoo da ao penal.

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    ( ) Corresponde apurao de provas das circunstncias e autoria das infraes penais para indiciamento do autor. 4. Assinale a afirmativa correta: ( ) A classificao da investigao criminal quanto ao momento de execuo corresponde s atividades desenvolvidas na cena do crime. ( ) A investigao criminal preliminar se inicia com o despacho do delegado para a equipe de investigao, aps receber o boletim de ocorrncia com as informaes colhidas no local de crime. ( ) Quanto ao momento da execuo, a investigao criminal pode ser classificada em de segmento e cartorria. ( ) O depoimento das testemunhas nos autos do inqurito policial um exemplo de investigao criminal de segmento. Este o final do mdulo 2 Investigao criminal: aspectos conceituais Gabarito: 3. Corresponde produo de subsdios para a promoo da ao penal. 4. O depoimento das testemunhas nos autos do inqurito policial um exemplo de investigao criminal de segmento.

  • Mdulo 3 - Investigao criminal: princpios fundamentais Ao final deste mdulo, voc ser capaz de: Definir o que so princpios; Listar os princpios constitucionais que regem a investigao criminal quanto ao aspecto legal; e Nomear os princpios doutrinrios que regulam a investigao criminal quanto ao aspecto operacional. O contedo do mdulo est dividido em 3 aulas: Aula 1 - Princpios; Aula 2 - Princpios constitucionais da investigao criminal; e Aula 3 - Princpios operacionais da investigao criminal. Aula 1 - Princpios O procedimento investigatrio para cumprir sua funo tutelar dos direitos fundamentais precisa moldar-se em princpios que possibilitem essa adequao. Princpios so regras bsicas que determinam condutas obrigatrias e impedem a adoo de procedimentos com eles incompatveis. Eles so os fundamentos de determinados procedimentos e elementos de ao transversal em todos os atos pblicos. Sendo a investigao criminal ato da Administrao Pblica, incidem sobre ela princpios que fundamentam a gesto dessa administrao, bem como princpios especficos da metodologia de execuo tcnico - cientifica. Os princpios aplicados investigao so regras de operacionalidade da funo protetora de direitos fundamentais que lhe imposta. Quanto maior o grau de lesividade do ato investigatrio, maior dever ser o cuidado do investigador com as garantias protetoras do investigado. Suas prticas dirias como agente pblico tm sido norteadas com essa percepo? Aula 2 - Princpios constitucionais da investigao criminal O marco inicial dos princpios que regem a investigao criminal o artigo 37, da

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  • Constituio Federal que formula os fundamentos legais que devero servir de referncia para todos os atos da Administrao Pblica. Art. 37. A Administrao Pblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia (...) Veja cada um destes princpios nas prximas pginas. Princpio da legalidade Foi visto que no Estado Democrtico de Direito todos devero se submeter supremacia da lei. O princpio da legalidade a pedra de toque do Estado de Direito e estabelece dois tipos de relao, uma com a Administrao Pblica, outra com o cidado. Relao com a Administrao Pblica A atuao da administrao pblica s pode ser operada em conformidade com a lei. uma relao de submisso. Relao com o cidado permitido ao cidado fazer tudo aquilo que a lei no probe. No poder ser obrigado a fazer o que no lhe determinado por lei. uma relao de autonomia que resulta no princpio da liberdade do ser humano, configurado, tambm, na Constituio Federal com um dos princpios fundamentais: Ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei. (CF, artigo 5, inciso II) O princpio da legalidade direito fundamental de cidadania, que servir de base para todos os demais princpios. Observe que a definio dada pela norma constitucional ao vocbulo lei no restrita, abrangente, compreendendo a lei propriamente dita e todo o contexto jurdico em que ela est contida. Significa que as normas que regulam a investigao criminal, mesmo as administrativas (portarias, ordens de servios, protocolos de procedimentos, etc.) esto nesse contexto e devero respeitar o princpio da legalidade. Princpio da impessoalidade A impessoalidade na investigao criminal significa que as atitudes do investigador devero refletir objetividade no atendimento do interesse pblico, sem qualquer possibilidade de promoo pessoal do agente ou da autoridade. O interesse pblico contido na investigao criminal o de explicar o fato acontecido, para que os dados coletados possam formar a prova necessria para aplicao da pena justa ao infrator.

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  • No cabe utilizar a investigao para promoo pessoal de quem quer que seja. O ato de investigar no deve ser usado para prejudicar ou beneficiar determinada pessoa. Princpio da moralidade A moralidade da administrao pblica est relacionada com aquilo que a sociedade, em determinado momento, considerou eticamente adequado, moralmente aceito. As prticas da investigao tero que estar de acordo com a opinio moral vigente no grupo social, como honestidade, bondade, compaixo, equidade e justia. As decises tomadas para o processo da investigao devero adequar-se aos valores que a sociedade adota como linha para a relao de convivncia das pessoas e dessas para com o ambiente. Princpio da publicidade O significado fundamental do princpio da publicidade de transparncia. Esse termo aplicado investigao criminal, cuja natureza tem como elemento principal o sigilo, possvel? Transparncia na administrao pblica tem como objetivo o controle que poder ser feito pela prpria administrao, pelo poder judicirio e pelo cidado. O controle da gesto pblica exercido pelo cidado garantia fundamental de direitos assegurada em vrios itens constitucionais do artigo 5, como o de receber dos rgos pblicos informaes de interesse particular, coletivo ou geral (inciso XXXIII); o de obteno de certides em reparties pblicas (inciso XXXIV); e o de conhecimento de informaes relativas pessoa interessada, constantes de bancos de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de carter pblico (inciso LXXII). E na investigao, como se aplicaria esse princpio? Como toda regra, o princpio no absoluto. A prpria Constituio impe limite, colocando como exceo ao direto informao, as hipteses de sigilo: [...] Todos tm direito a receber dos rgos pblicos informaes de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que sero prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindvel segurana da sociedade e do Estado. (CF, artigo 5, inciso XXXIII) A transparncia a regra. A exceo est expressa na lei. Todos os atos da investigao so necessariamente sigilosos? Em princpio no. No caso da investigao criminal, devem ser considerados dois

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  • aspectos: O contexto da apurao de interesse da sociedade em geral, pois diz respeito s demandas imediatas de bem-estar da coletividade; e O aspecto de ato operacional especfico, cujo interesse mediato. A apurao de provas da prtica de um delito, como ato geral de gesto pblica, deve ser do conhecimento da comunidade, para que tenha segurana jurdica quanto garantia de proteo de seu bem-estar. Entretanto, mesmo sendo de seu interesse, os procedimentos operacionais de apurao, em regra, so executados em sigilo, exatamente para garantir a execuo da investigao. J imaginou se a polcia anunciar antecipadamente as estratgias que ir aplicar na investigao de delitos praticados por quadrilhas de trfico de drogas? pouco provvel que consiga alguma prova. Princpio da eficincia Esse princpio tambm de observncia prioritria e universal no exerccio de toda atividade administrativa do Estado. O termo remete definio de boa administrao vinculada produtividade, profissionalismo e adequao tcnica do exerccio funcional s demandas do interesse pblico. A administrao pblica e seus profissionais, no exerccio das atividades funcionais, devero aplicar os recursos avaliando a relao de custo-benefcio, buscar a otimizao de recursos, aplicar os critrios tcnicos e legais necessrios para maior eficcia possvel em benefcio da boa qualidade de vida do cidado. E, ainda, diz respeito ao investimento na formao profissional. A aplicao prtica do princpio na investigao criminal se concretiza com todos os cuidados necessrios para sua eficcia, desde o planejamento, com a escolha adequada dos meios, at os cuidados com a proteo aos direitos fundamentais das pessoas envolvidas no processo e com a legalidade na coleta da prova. Saiba mais... Segundo Pazzaglini (2000, pag. 32) , o administrador pblico tem o dever jurdico de, ao cuidar de uma situao concreta, escolher e aplicar, dentre as solues previstas e autorizadas pela lei, a medida eficiente para obter o resultado desejado pela sociedade. Aula 3 - Princpios operacionais da investigao criminal A operacionalidade da investigao criminal sustentada pelo trip formado pelos princpios da compartimentao sigilosa, do imediatismo e da oportunidade. Princpios da compartimentao sigilosa Compartimentar o mesmo que compartir, ou seja, dividir em compartimentos. Ainda, conforme definies encontradas nos dicionrios, distribuir por vrios

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  • indivduos ou lugares. Os dois significados so compatveis com o sentido posto para o princpio em anlise. O sigilo inerente prpria arquitetura da investigao criminal. Imagine se as informaes colhidas nesse processo pudessem ser devassadas por qualquer pessoa. Provavelmente, a polcia nunca apuraria provas de um delito. Diz a lei processual penal: [...] Art. 20 A autoridade assegurar ao inqurito policial o sigilo necessrio elucidao do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. (Cdigo de Processo Penal) A prtica demonstra que a regra de conduta ps-delito adotada pelo infrator de esforo mximo para deletar o maior nmero possvel de vestgios que possam lig-lo cena do crime. O sigilo tem o fim de proteo dos dados que devero ser submetidos verificao quanto sua validade e credibilidade como prova. Compartimentar a investigao dividi-la, literalmente, em pequenas pores. como se fossem pequenas caixas dentro de uma caixa maior, cada uma preservando sua parte do todo, mas esto interligadas por um setor de controle e filtragem. uma estratgia para operacionalizar o sigilo. Dependendo da complexidade da investigao, o sigilo s ser possvel com a partio de atos. Os compartimentos tero que ser estanques, fechados, para impedir a troca de informaes dentro do prprio grupo que investiga um mesmo delito. Compartimentao sigilosa o processo de separao, por partes estrategicamente definidas, da investigao criminal, para evitar que haja troca de informaes entre os grupos de investigadores, garantindo o maior grau possvel de sigilo e o xito da investigao. Como fazer isso? O exemplo mais prtico da investigao dos crimes de extorso mediante seqestro. Por via de regra preciso que a investigao ocorra em vrios campos, envolvendo grupos de trabalho diversos e especficos em frentes diferentes. A complexidade do evento requer atividades como reconhecimento de ambientes, negociao, rastreamento de informaes, anlise de dados, vigilncia, proteo a pessoas, etc. A diversidade de atos, de investigadores e ambientes, aumenta o risco de vazamento de informaes. A soluo dividir essas informaes em pequenas caixas sob o controle de um grupo gestor. Imagine que um dos investigadores que esteja fazendo o reconhecimento seja capturado pelos infratores. O passo seguinte ser colher dele, a qualquer custo, tudo que saiba sobre a operao policial. Caso conhea todos os procedimentos da operao, a probabilidade de que venha a delatar muito grande, dependendo dos mtodos aplicados pelos infratores.

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  • A compartimentao dever ocorrer tanto em relao aos grupos de investigao entre si, como em relao dos grupos com a comunidade que corresponde aos demais servidores da unidade policial e ao pblico externo. Protocolo de compartimentao No protocolo devero constar todos os procedimentos que sero adotados para preservao da compartimentao sigilosa: Determinar o nmero de compartimentaes (de grupos operacionais); Definir o grupo de investigadores; Determinar os dados que sero coletados pelo grupo; Definir a base de execuo e gesto das atividades; Estabelecer regras de comando e de comunicao; Estabelecer regras de segurana das informaes; e Estabelecer as estratgias de ao e determinar o prazo. Princpio do imediatismo Outro fundamento operacional da investigao o princpio do imediatismo. Trata da condio de ao imediata para a tomada da deciso que ir desencadear o processo investigativo. O termo imediato tem as definies de seguido, logo, depois, prximo, instantneo. Imediatismo na investigao no tem relao com a imprudncia ou precipitao. A necessidade de eficcia, falada no princpio constitucional correspondente, no comporta desleixo com o plano de investigao. Mesmo no procedimento mais simples sempre haver a necessidade de breve plano para o incio da investigao. O princpio do imediatismo impe que, recebida a notcia da infrao, o desencadeamento da investigao seja pronto e breve, mas em condies que garantam sua eficincia e eficcia. O plano inicial deve ser breve, pois provisrio e necessrio para formulao das hipteses preliminares. Quanto mais tempo o investigador levar para iniciar a investigao, maior ser o risco de perda de informaes. Os primeiros momentos depois do crime so potencialmente mais promissores para a investigao. o perodo em que os vestgios esto mais evidentes.

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  • O tempo fator de eficcia ou ineficincia da investigao. Quanto mais deixado passar, encarrega-se do desaparecimento de vestgios e da memria das testemunhas. Facilita tambm, a contra-investigao dos infratores. Princpio da oportunidade O imediatismo e a oportunidade, aparentemente paradoxais, so aes complementares. Tambm est contido no princpio da eficincia como possibilidade prtica de dar qualidade ao ato de investigao. Os dois princpios so pontos de equilbrio mtuo. O princpio da oportunidade significa que o investigador, com plano breve e seguro, dever conceber o momento mais favorvel, mais conveniente para iniciar o processo de busca das provas. A aplicao dos princpios do imediatismo e da oportunidade evita a precipitao de atos que possam dificultar ou prejudicar a eficcia do resultado. Concluso Voc viu que a investigao criminal faz parte de um contexto de grande importncia para a manuteno do Estado Democrtico de Direito. Portanto, est submetida ao controle legal para que possa cumprir sua misso de apurar provas da prtica de um delito. O ato de investigar a no poder absoluto. Para que cumpra seu papel de tutela preciso que a investigao seja submetida ao controle de princpios que esto na prpria Constituio Federal. A legalidade o elemento de controle que perpassa todo o processo da investigao para garantir a validade de seu produto como prova no processo criminal Veja no prximo mdulo que desses princpios surgem as normas legais determinantes dos limites a serem obedecidos pela investigao criminal. Neste mdulo so apresentados exerccios de fixao para auxiliar a compreenso do contedo. O objetivo destes exerccios complementar as informaes apresentadas nas pginas anteriores. 1. Explique como o princpio da impessoalidade se reflete nas prticas da investigao criminal. Resposta pessoal

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  • Orientao A impessoalidade nos atos de investigao significa que ela no deva ser executada para satisfazer interesse pessoal do investigador, mas sim o interesse pblico na busca da prova de um delito. 2. Demonstre um efeito prtico da aplicao do princpio da compartimentao sigilosa, na eficcia da investigao criminal. Resposta pessoal Orientao Compartimentar a investigao dividi-la em partes que sero executadas por grupos diversos, separados, sem que um conhea a atividade do outro, mas sob gesto nica. uma estratgia de gesto que possibilita maior controle do necessrio sigilo. 3. Assinale as afirmativas corretas: ( ) O princpio da eficincia aplicado investigao criminal, se concretiza com todos os cuidados necessrios para sua eficcia, desde o planejamento, com a escolha adequada dos meios, at os cuidados com a proteo aos direitos fundamentais das pessoas envolvidas no processo e com a legalidade na coleta da prova. ( ) A aplicao do princpio do imediatismo, aplicado investigao criminal, significa que, tomando conhecimento do crime, o investigador deva desencadear, imediatamente, sem qualquer plano, a coleta de provas. ( ) A relao do princpio da legalidade com o cidado uma relao de submisso. ( ) As atividades de estabelecer regras de comando e de comunicao e de estabelecer regras de segurana das informaes esto no protocolo de compartimentao. 4. Considerando os princpios aplicados investigao criminal, associe as colunas: ( ) Princpio da oportunidade. ( ) Princpio da publicidade.

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  • ( ) Princpio do imediatismo. 1. Significa que o investigador, com plano breve e seguro, dever conceber o momento mais favorvel, mais conveniente para iniciar o processo de busca das provas. 2. O tempo fator de eficcia ou ineficincia da investigao. Quanto mais passar, far com desaparea os vestgios e as lembranas da memria das testemunhas. Facilita tambm, a contra-investigao dos infratores. 3. Transparncia na administrao pblica tem como objetivo o controle que poder ser feito pela prpria administrao, pelo poder judicirio e pelo cidado. Este o final do mdulo 3 Investigao criminal: princpios fundamentais Gabarito: 3. O princpio da eficincia aplicado investigao criminal, se concretiza com todos os cuidados necessrios para sua eficcia, desde o planejamento, com a escolha adequada dos meios, at os cuidados com a proteo aos direitos fundamentais das pessoas envolvidas no processo e com a legalidade na coleta da prova; e As atividades de estabelecer regras de comando e de comunicao e de estabelecer regras de segurana das informaes esto no protocolo de compartimentao. 4. 1-3-2

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    Mdulo 4 - Fundamento legal da investigao criminal Ao final deste mdulo, voc ser capaz de: Relacionar as regras constitucionais de controle dos atos de investigao criminal; Descrever os valores fundamentais da Constituio garantidores do respeito dignidade do investigado; e Aplicar as normas legais de controle da efetividade da busca da prova pela investigao criminal. O contedo do mdulo est dividido em 4 aulas: Aula 1 - Contextualizao dos fundamentos; Aula 2 - O controle na Constituio Federal; Aula 3 - O controle no Cdigo de Processo Penal; e Aula 4 - O controle nas leis especiais. Aula 1 - Contextualizao dos fundamentos A investigao criminal um conjunto de atos da Administrao Pblica. Atos administrativos que so orientados por princpios que do legitimidade s prticas do investigador. No Estado Democrtico de Direito a legalidade o fundamento de todos os atos da administrao. Voc j deve ter ouvido o provrbio latino que diz: Todo poder vem da lei. A lei a sustentao de toda a arquitetura da investigao criminal. Para ter validade, preciso que cada parte do processo seja formatada de acordo com o modelo definido em lei. O modelo jurdico dos atos est expresso tanto na Constituio Federal como no Cdigo de Processo Penal e em outras leis especiais que regulamentam atividades especficas de investigao criminal, como a infiltrao de policiais em grupos organizados. O ato de investigar, por sua natureza, invasivo, por isso, precisa de controle absoluto para que o dano causado seja sempre o estritamente necessrio para a coleta da prova.

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    Aula 2 - O controle na Constituio Federal A Constituio Federal a estrutura de todo o sistema poltico e jurdico do Estado. Suas normas estabelecem o formato jurdico, poltico e social da Repblica Federativa do Brasil. O texto do primeiro mdulo do curso revela a insero das polcias num contexto de defesa de direitos fundamentais do cidado, nos quais est contida a segurana pblica e, dentro dessa, as atividades de apurao das infraes penais. A tutela de direitos desemboca em controle de liberdades e limitao de direitos individuais e coletivos, pois a proteo impe a colocao de anteparos que garantam o limite das individualidades. Ocorre que a preservao dos valores que compem esses direitos requer equilbrio entre o ato de controle e as liberdades do indivduo. O texto constitucional cuidou de delinear os mtodos de equilbrio entre o procedimento policial e os direitos do investigado no artigo 5, que trata dos direitos e garantias fundamentais e enumera os direitos e deveres individuais e coletivos: [...] Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes. (CF, artigo 5 ) Eles so valores fundamentais, garantidores da existncia da pessoa humana como membro de uma sociedade democrtica. Princpios que norteiam todas as normas de controle da cidadania. O ato de investigar bidimensional. Ao mesmo tempo protege e limita os direitos do cidado. O modelo de polcia concebido pela Constituio Federal de organizao garantidora de direitos e prestadora de servios, valores que replicam na investigao criminal. Dos direitos e deveres formatados nos incisos do artigo 5, da CF, os que mais tangenciam a operacionalidade da investigao criminal so estes: Exigncias ilegais; [...] II - Ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei. Como visto anteriormente, o outro lado do princpio da legalidade. a parte que cabe ao cidado na relao com a lei. Enquanto o agente pblico s pode fazer o que a lei permite, do cidado s pode ser cobrado como obrigao aquilo que a lei diz que ele deve ou no fazer. Prtica de atos no abusivos;

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    [...] III - Ningum ser submetido tortura nem ao tratamento desumano ou degradante. Essa norma vem desconstruir, de uma vez por todas, o paradigma da fora do poder como ferramenta bsica da investigao criminal. O principal fator de movimentao da busca da prova do crime a legalidade. Resguardo da intimidade das pessoas; e [...]X - So inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao; XI - A casa asilo inviolvel do indivduo, ningum nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinao judicial; e XII - inviolvel o sigilo da correspondncia e das comunicaes telegrficas, de dados e das comunicaes telefnicas, salvo, no ltimo caso, por ordem judicial, nas hipteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigao criminal ou instruo processual penal. So trs princpios que resguardam uma das mais importantes condies de sobrevivncia do ser humano: a intimidade. A intimidade condio bsica do bem-estar da pessoa humana; a possibilidade de ter, s para si, momentos e ambientes destinados reflexo e recomposio de sua natureza. Essa necessidade contemplada em um dos fundamentos, j vistos, do Estado Democrtico de Direito: o respeito dignidade da pessoa humana. Provas ilegais. [...] LVI - So inadmissveis, no processo, as provas obtidas por meios ilcitos. A legalidade a essncia de toda a ao da administrao pblica. No isso? a compensao das liberdades concedidas tanto ao cidado como administrao pblica. A prova o elemento fundamental na aplicao da pena. a nica possibilidade para o Estado estabelecer a relao jurdica entre ele e o suspeito da prtica de um delito, por isso, todas as informaes de explicao da prtica delituosa no podero ser contaminadas por atos abusivos. Essa contaminao poder ocorrer tanto na metodologia da coleta quanto na da anlise dos dados. Uma hiptese formulada com base em preconceitos poder levar a um resultado no verdadeiro que manchar todo um processo. EXEMPLO: Um roubo ocorrido nas proximidades de uma favela. A primeira hiptese do investigador de que o autor seja morador daquele ncleo, baseado apenas nas condies econmicas e sociais daquele ambiente. As variveis, que so mais fruto do preconceito do que de um estudo cientfico, podero no ser verdadeiras e desencadear uma srie de procedimentos abusivos,

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    como buscas e prises ilegais. A Constituio ainda formula os princpios de gesto da administrao pblica vistos no mdulo anterior. Aula 3 - O controle no Cdigo de Processo Penal No Cdigo de Processo Penal esto as normas de regulamentao operacional da investigao. Do artigo 6 ao 250, no Cdigo de Processo Penal - CPP, esto as regras de operacionalidade do procedimento. Vo desde o recebimento da notcia do crime at aos procedimentos metodolgicos de coleta e anlise dos dados de prova, tanto material quanto testemunhal. Na preservao do cenrio do crime [...] Art. 6 Logo que tiver conhecimento da prtica da infrao penal, a autoridade policial dever: I - Dirigir-se ao local, providenciando para que no se alterem o estado e conservao das coisas, at a chegada dos peritos criminais. (Cdigo de Processo Penal) Metodologia da investigao criminal no CPP A metodologia adotada no CPP o da pesquisa descritiva, utilizando tcnicas padronizadas de coleta sistmica de dados. O Cdigo de Processo Penal arquiteta um processo metodolgico com abordagem clara de interdisciplinaridade e complementaridade dos atos de investigao criminal. O modelo adotado de co-participao, justaposio de diferentes disciplinas e atores que desenvolvem um processo de complementao das atividades. Cdigo de Processo Penal [...] II - Apreender os objetos que tiverem relao com o fato, aps liberados pelos peritos criminais; III - Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstncias; IV - Ouvir o ofendido; V - Ouvir o indiciado, com observncia, no que for aplicvel, do disposto no Captulo III, do Ttulo Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por 2 (duas) testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI - Proceder o reconhecimento de pessoas e coisas e as acareaes;

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    VII - Determinar, se for caso, que se proceda o exame de corpo de delito e quaisquer outras percias; VIII - Ordenar a identificao do indiciado pelo processo datiloscpico, se possvel, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; e IX - Averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condio econmica, sua atitude e estado de nimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contriburem para a apreciao do seu temperamento e carter. Art. 7o Para verificar a possibilidade de a infrao ter sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poder proceder a reproduo simulada dos fatos, desde que essa no contrarie a moralidade ou a ordem pblica. Art. 10. O inqurito dever terminar no prazo de 10 (dez) dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nessa hiptese, a partir do dia em que se executar a ordem de priso, ou no prazo de 30 (trina) dias, quando estiver solto, mediante fiana ou sem ela. 1o A autoridade far minucioso relatrio do que tiver sido apurado e enviar autos ao juiz competente. [...] Art. 20. A autoridade assegurar no inqurito o sigilo necessrio elucidao do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. A coleta e anlise dos dados A coleta e anlise dos dados que iro possibilitar a verificao das hipteses formuladas esto regulamentas nos captulos que tratam: Do exame de corpo de delito e das percias em geral, do artigo 158 ao 184; Do interrogatrio do acusado, do artigo 185 ao 196; Das testemunhas, do artigo 202 ao 225; Do reconhecimento de pessoas e coisas, do artigo 226 ao 228; Da acareao, artigos 229 e 230; Dos indcios, artigo 239; e Da busca e apreenso, do artigo 240 ao 250. Aula 4 - O controle nas leis especiais Investigao do crime organizado A investigao criminal ainda submetida ao controle por meio de leis especiais,

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    como a Lei n 9.034, de 3 de maio de 1995, que dispe sobre a utilizao de meios operacionais para a preveno e represso de aes praticadas por organizaes criminosas. A lei, alm de definir o conceito de crime organizado, estabelece a operacionalidade de algumas tcnicas de investigao possveis na coleta de prova do delito especfico. Lei n 9.034, de 3 de maio de 1995 [...] Art. 1o Esta lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatrios que versem sobre ilcitos decorrentes de aes praticadas por quadrilha ou bando ou organizaes ou associaes criminosas de qualquer tipo. Art. 2o Em qualquer fase de persecuo criminal so permitidos, sem prejuzo, dos j previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigao e formao de provas: I - (Vetado). II - A ao controlada, que consiste em retardar a interdio policial do que se supe ao praticada por organizaes criminosas ou a ela vinculada, desde que mantida sob observao e acompanhamento, para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz do ponto de vista da formao de provas e fornecimento de informaes; III - O acesso a dados, documentos e informaes fiscais, bancrias, financeiras e eleitorais; IV - A captao e a interceptao ambiental de sinais eletromagnticos, ticos ou acsticos, e o seu registro e anlise, mediante circunstanciada autorizao judicial; e V - Infiltrao por agentes de polcia ou de inteligncia, em tarefas de investigao, constituda pelos rgos especializados pertinentes, mediante circunstanciada autorizao judicial. Pargrafo nico. A autorizao judicial ser estritamente sigilosa e permanecer nessa condio enquanto perdurar a infiltrao. (Lei n 9.034, de 3 de maio de 1995) Na produo e trfico ilcito de drogas A Lei n 11.343, de 23 de agosto de 2006, que institui o Sistema Nacional de Polticas Pblicas sobre Drogas Sisnad, dentre outras medidas, estabelece normas para a investigao criminal na represso produo no autorizada e ao trfico ilcito de drogas, bem como limites para essa atuao. Lei n 11.343, de 23 de agosto de 2006 [...] Art. 53 Em qualquer fase da persecuo criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, so permitidos, alm dos previstos em lei, mediante autorizao judicial e ouvido o Ministrio Pblico, os seguintes procedimentos investigatrios: I - A infiltrao por agentes de polcia, em tarefas de investigao, constituda pelos rgos especializados pertinentes; e II - A no-atuao policial sobre os portadores de drogas, seus precursores qumicos ou outros produtos utilizados em sua produo, que se encontrem no territrio

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    brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior nmero de integrantes de operaes de trfico e distribuio, sem prejuzo da ao penal cabvel. Pargrafo nico. Na hiptese do inciso II deste artigo, a autorizao ser concedida desde que sejam conhecidos o itinerrio provvel e a identificao dos agentes do delito ou de colaboradores. (A Lei n 11.343, de 23 de agosto de 2006) Na interceptao de comunicaes A lei permite, para eficcia do resultado final com relao ao trfico, alm da prtica da tcnica de infiltrao, regras de limitao da investigao no que diz respeito aos usurios de drogas. Da mesma forma, a Lei n 9.296, de 24 de julho de 1996, regulamenta os procedimentos de investigao criminal na aplicao de tcnicas de interceptao de comunicaes telefnicas, de qualquer natureza, bem como do fluxo de comunicaes em sistemas de informtica e telemtica. A metodologia de controle da investigao criminal, especialmente nas aes de maior invasividade, sempre com adoo de medidas de gesto direta e imediata do juiz e do promotor de justia. Lei n 9.296, de 24 de julho de 1996 [...] Art. 1 A interceptao de comunicaes telefnicas, de qualquer natureza, para prova em investigao criminal e em instruo processual penal, observar o disposto nesta Lei e depender de ordem do juiz competente da ao principal, sob segredo de justia. Pargrafo nico. O disposto nesta Lei aplica-se interceptao do fluxo de comunicaes em sistemas de informtica e telemtica. Art. 2 No ser admitida a interceptao de comunicaes telefnicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipteses: I - No houver indcios razoveis da autoria ou participao em infrao penal; II - A prova puder ser feita por outros meios disponveis; e III - O fato investigado constituir infrao penal punida, no mximo, com pena de deteno. Pargrafo nico. Em qualquer hiptese deve ser descrita com clareza a situao objeto da investigao, inclusive com a indicao e qualificao dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada. Art. 3 A interceptao das comunicaes telefnicas poder ser determinada pelo juiz, de ofcio ou a requerimento: I - Da autoridade policial, na investigao criminal; e II - Do representante do Ministrio Pblico, na investigao criminal e na instruo processual penal. Art. 4 O pedido de interceptao de comunicao telefnica conter a

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    demonstrao de que a sua realizao necessria apurao de infrao penal, com indicao dos meios a serem empregados. 1 Excepcionalmente, o juiz poder admitir que o pedido seja formulado verbalmente, desde que estejam presentes os pressupostos que autorizem a interceptao, caso em que a concesso ser condicionada sua reduo a termo. 2 O juiz, no prazo mximo de vinte e quatro horas, decidir sobre o pedido. Art. 5 A deciso ser fundamentada, sob pena de nulidade, indicando tambm a forma de execuo da diligncia, que no poder exceder o prazo de quinze dias, renovvel por igual tempo, uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova. Art. 6 Deferido o pedido, a autoridade policial conduzir os procedimentos de interceptao, dando cincia ao Ministrio Pblico, que poder acompanhar a sua realizao. 1 No caso de a diligncia possibilitar a gravao da comunicao interceptada, ser determinada a sua transcrio. 2 Cumprida a diligncia, a autoridade policial encaminhar o resultado da interceptao ao juiz, acompanhado de auto circunstanciado, que dever conter o resumo das operaes realizadas. 3 Recebidos esses elementos, o juiz determinar a providncia do artigo 8, ciente o Ministrio Pblico. Art. 7 Para os procedimentos de interceptao de que trata esta Lei, a autoridade policial poder requisitar servios e tcnicos especializados s concessionrias de servio pblico. Art. 8 A interceptao de comunicao telefnica, de qualquer natureza, ocorrer em autos apartados, apensados aos autos do inqurito policial ou do processo criminal, preservando-se o sigilo das diligncias, gravaes e transcries respectivas. Pargrafo nico. A apensao somente poder ser realizada imediatamente antes do relatrio da autoridade, quando se tratar de inqurito policial (Cdigo de Processo Penal, artigo 10, 1) ou na concluso do processo ao juiz para o despacho decorrente do disposto nos artigos. 407, 502 ou 538, do Cdigo de Processo Penal. Art. 9 A gravao que no interessar prova ser inutilizada por deciso judicial, durante o inqurito, a instruo processual ou aps esta, em virtude de requerimento do Ministrio Pblico ou da parte interessada. Pargrafo nico. O incidente de inutilizao ser assistido pelo Ministrio Pblico, sendo facultada a presena do acusado ou de seu representante legal. Art. 10 Constitui crime realizar interceptao de comunicaes telefnicas, de informtica ou telemtica, ou quebrar segredo da Justia, sem autorizao judicial ou com objetivos no autorizados em lei.

    Importante!

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    Lembra do equilbrio entre os atos da investigao e as liberdades do investigado? A metodologia de controle da investigao criminal, especialmente nas aes de maior invasividade, sempre com adoo de medidas de controle imediato do juiz.

    Concluso Este mdulo abordou o contedo das regras constitucionais e as que so postas em outras normas, para controle da investigao criminal. Voc viu que o foco maior das regras est voltado para o respeito dignidade das pessoas e legalidade dos atos investigatrios. O legislador chega ao extremo quando determina que o prprio juiz assuma, pessoalmente, algumas diligncias. o reflexo do modelo de Estado Democrtico de Direito repercutindo em todos os atos da Administrao Pblica. No mdulo seguinte, ser discutida a natureza cientfica do processo investigatrio criminal. Neste mdulo so apresentados exerccios de fixao para auxiliar a compreenso do contedo. O objetivo destes exerccios complementar as informaes apresentadas nas pginas anteriores. 1. Segundo a Constituio Federal, [...] so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas.... Aponte atitudes do investigador que sejam o reflexo dessa norma constitucional. Resposta pessoal Orientao A intimidade, a vida privada e a imagem das pessoas so direitos fundamentais garantidos no nosso Estado Democrtico de Direito, pela Constituio Federal, mas que precisam ser efetivados pelas atitudes dos agentes pblicos, guardies desses direitos. Na investigao criminal essas garantias se efetivam com o respeito que voc d ao trato com as pessoas envolvidas. Por exemplo, durante uma busca, revistar o espao extremamente necessrio para a coleta da prova, procurando incomodar ao mnimo as pessoas residentes no local, preservando suas imagens de exposies pblicas desnecessrias.

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    2. Assinale as alternativas corretas: ( ) O sigilo da correspondncia e das comunicaes telegrficas, de dados e das comunicaes telefnicas, poder ser quebrado, sem ordem judicial, para apurao de crime contra a vida das pessoas. ( ) O pedido de interceptao de comunicao telefnica no precisa conter a demonstrao de que a sua realizao necessria apurao de infrao penal. ( ) Em qualquer fase da persecuo criminal relativa aos crimes de trfico ilcito de drogas, permitida, como procedimento investigatrio, a no atuao policial sobre os portadores de drogas, seus precursores qumicos ou outros produtos utilizados em sua produo, que se encontrem no territrio brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior nmero de integrantes de operaes de trfico e distribuio, sem prejuzo da ao penal cabvel. 3. Assinale a alternativa errada: ( ) Logo que tiver conhecimento da prtica da infrao penal, a autoridade policial dever investigar a vida do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condio econmica, sua atitude e estado de nimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contriburem para a apreciao do seu temperamento e carter. ( ) Quanto ao procedimento investigatrio de interceptao de comunicao telefnica, em nenhuma hiptese, o juiz poder admitir que o pedido seja formulado verbalmente, mesmo que estejam presentes os pressupostos que autorizem a interceptao. ( ) Para verificar a possibilidade de a infrao ter sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poder proceder a reproduo simulada dos fatos, desde que essa no contrarie a moralidade ou a ordem pblica. ( ) Na investigao dos crimes organizados, em qualquer fase de persecuo criminal, permitido o procedimento da ao controlada, que consiste em retardar a interdio policial do que se supe ao praticada por organizaes criminosas ou a ela vinculada. Este o final do mdulo 4 Fundamento legal da investigao criminal

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    Gabarito: 2. Em qualquer fase da persecuo criminal relativa aos crimes de trfico ilcito de drogas, permitida, como procedimento investigatrio, a no atuao policial sobre os portadores de drogas, seus precursores qumicos ou outros produtos utilizados em sua produo, que se encontrem no territrio brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior nmero de integrantes de operaes de trfico e distribuio, sem prejuzo da ao penal cabvel; e 3. Quanto ao procedimento investigatrio de interceptao de comunicao telefnica, em nenhuma hiptese, o juiz poder admitir que o pedido seja formulado verbalmente, mesmo que estejam presentes os pressupostos que autorizem a interceptao.

  • Mdulo 5 - A lgica aplicada investigao criminal Ao final deste mdulo, voc ser capaz de: Descrever a investigao criminal como um processo cientfico; Formular o problema em uma investigao criminal; e Elaborar hipteses indicativas das circunstncias e autoria de um crime. O contedo do mdulo est distribudo em uma aula: Aula 1 - Processo cientfico da investigao criminal Todas as formas de conhecimento pretendem compreender a realidade. A diferena entre o conhecimento cientfico e as demais formas, como o caso do conhecimento do senso comum, a maneira como se procede para sua obteno. Para Denker (2007, p. 29), o conhecimento cientfico se caracteriza pela reflexo e inteno de construo de um corpo metodicamente ordenado de conhecimentos, orientado pelo emprego certifico. O processo da investigao criminal corresponde ao processo de produo de um conhecimento cientfico? Nesse processo h o emprego de mtodos cientficos? O que um mtodo cientfico? Leia o conceito de Denker (2007, p. 29): Mtodo cientfico um conjunto de regras ou critrios que servem de referncia no processo de busca da explicao ou da elaborao de previses em relao a questes ou problemas especficos. Diz, ainda, a autora, que o emprego do mtodo que faz com que o conhecimento seja considerado cientfico. Para ela, so trs os elementos que formam a base da investigao cientfica e caracterizam o conhecimento como cincia: a teoria, o mtodo e a tcnica. O Cdigo de Processo Penal e outras normas complementares estabelecem uma metodologia, ou seja, uma maneira concreta de se realizar a busca do conhecimento (prova) de uma realidade especfica (o ato delituoso). O processo da investigao Analisando o padro geral da investigao cientfica, possvel constatar, como diz Copi (1981, p. 391), que o detetive, cujo objeto no idntico ao do cientista puro, mas cuja abordagem e tcnica para a investigao dos problemas ilustram, claramente, o mtodo cientfico. Toda investigao parte de um problema. O problema a questo que se pretende resolver: o fato (crime?) apresentado para o investigador. Curso Investigao criminal 1 Mdulo 5 SENASP/MJ - ltima atualizao em 31/10/2008 Pgina 2

  • O processo da investigao criminal no diferente. H um problema (o fato), formulao de hiptese (Crime? Homicdio?...) e uma concluso (crime tal, praticado de determinada forma por determinada pessoa). Processo de Investigao criminal Problema = Formulao de hiptese = Concluso Formulao do problema Para iniciar uma investigao no basta um fato que sugira a prtica de um crime. preciso que o investigador, tal qual o cientista, de forma reflexiva, formule indagaes. Segundo John Dewey, citado por Copi (1981, p. 392), todo pensamento reflexivo termo que inclui tanto a investigao criminal quanto a pesquisa cientfica uma atividade de resoluo de problemas. A concluso de Copi (1981, p. 392 ) de que, antes que o detetive ou o cientista metam ombros a uma tarefa, tem que sentir primeiro a presena de um problema. Formular um problema diante de um fato, muitas vezes de aparente insignificncia jurdica, nem sempre tarefa fcil. Ainda segundo Copi, a mente ativa v problemas onde a pessoa obtusa s v objetos familiares. Sherlock Holmes, criao literria ontolgica do escritor ingls A. Conan Doyle, a mais emblemtica e clssica referncia ao detetive astuto, capaz de solucionar at o mais desconcertante mistrio. Usando esse heri dos contos policiais, Copi (1981, p. 392), descreve uma visita que o Dr. Watson fizera a Holmes numa poca de Natal quando o viu utilizando uma lente e pinas para examinar antiga cartola, sem brilho, rasgada em muitos lugares e de uso impossvel. Depois das saudaes, Holmes disse ao intrigado Watson, referindo-se sua estranha tarefa: Peo-lhe que no encare este objeto como uma velha cartola, e sim, como um problema intelectual. O certo que aquela cartola os levou a uma das suas mais interessantes aventuras que no teria existido se o detetive Holmes no a tivesse visto, desde o princpio, como um problema. Problema O que um problema ento? Podemos caracterizar um problema como um fato ou um grupo de fatos, para o qual no dispomos de qualquer explicao aceitvel, que parea incomum ou que no se adapte s nossas expectativas ou preconceitos. (COPI, 1981, p. 392) Na investigao criminal, o problema o fato posto diante do investigador como elemento no mundo jurdico e que requer uma definio das circunstncias em que ocorreu. o caso sob investigao.

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  • Anlise do caso Leia o caso: O cadver de uma mulher jovem encontrado no aterro sanitrio que fica fora da rea urbana. Estava sem a cabea e as duas mos que tinham sido decepadas. Junto ao corpo, tambm decepados, estavam os membros inferiores da vitma. H uma explicao aceitvel para esse fato? Est o investigador diante de circunstncias prprias para a formulao de um problema que merea ser investigado? A formulao do problema requer do investigador informaes doutrinrias sobre a repercusso do evento (condutas criminosas) no mundo jurdico, tendo como referencial os conhecimentos produzidos a respeito e aqueles sobre as circunstncias at ento conhecidas (dados do boletim de ocorrncia). Formulao da hiptese preliminar na investigao criminal Diante do problema, o investigador dar incio a um processo de raciocnio que o leva a concluses, a partir das premissas formuladas. As observaes iniciais dos dados conhecidos levaro o investigador a um processo de hipteses do fato para que possa emitir suas primeiras opinies sobre o caso. Evidentemente no possvel chegar a uma concluso antes do exame de um nmero razovel de provas, entretanto, tambm no possvel colher dados para serem analisados sem que haja uma suposio do caso. As informaes iniciais permitiro a formulao das primeiras hipteses a serem testadas com a anlise dos dados, ou seja, sero levantadas as teorias iniciais sobre a natureza do delito, as possveis circunstncias e a metodologia a ser aplicada na investigao. Inicialmente no precisa ser uma teoria completa e nem possvel, mas deve ser o suficiente para traar as linhas gerais da investigao e permitir a seleo dos dados a serem examinados. Na prtica... Volte ao caso apresentado. No primeiro momento a nica informao que houve a morte de uma mulher, cuja cabea e membros foram decepados. Na cena, o investigador ter a possibilidade de observar uma srie de informaes que o levaro a formular as primeiras hipteses. Exemplo: Houve um homicdio. O crime no ocorreu no local onde foi encontrado o cadver. As circunstncias conhecidas sugerem essas possibilidades. No h marcas de luta, nem manchas de sangue que sugiram ser aquele o local da prtica do evento.

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  • O processo seguinte coletar dados que possam confirmar ou no, as hipteses preliminares ou auxiliar em novas formulaes. Para se iniciar uma investigao sria, diz Copi (1981, p. 395) que a hiptese preliminar to importante quanto a existncia do prprio problema. Claro que as primeiras hipteses, quase sempre, so decorrentes de conjecturas baseadas em experincias anteriores. Sero sempre incompletas e, muitas vezes, diferentes da soluo final do caso, mas de extrema importncia como fonte movedora da busca das provas. Hiptese uma suposio feita pelo investigador na tentativa de responder o problema (o fato questionado). a resposta provvel de qual, como e quem praticou o crime, que precisa ser testada pela investigao. Compilao de dados adicionais na investigao certo que as informaes iniciais quase sempre so insuficientes para a apurao total do caso. Mesmo a situao em que h priso em flagrante do autor, sempre requer investigao complementar. O investigador competente ver nesses fatos preliminares a possibilidade de construir hipteses que podero conduzi-lo explicao total do evento. O investigador no poder se deixar conduzir apenas pela obviedade dos fatos, mas analisar com cuidado cada uma das informaes. Quantas informaes complementares podero ser colhidas no cenrio? Marcas de pneus de veculos, de calados, objetos que podero relacionar aquele cadver a outro cenrio e testemunhos. A observao criteriosa do ambiente levar a outras reflexes, hipteses e dados adicionais. Formulao da hiptese definitiva Formuladas todas as hipteses preliminares, os fatos decorrentes devero ser avaliados quanto relevncia e validade como prova. A anlise de validao usar como padro o modelo legal de prova. A elaborao de uma hiptese envolve um processo criador que tem suporte tanto na imaginao como no conhecimento do investigador. Esse processo poder receber estmulos da percepo e de observaes feitas no contexto do fenmeno. Mesmo a hiptese mais simples exige do investigador uma capacidade ampla de percepo dos fatos em toda sua integralidade. Na prtica... Volte ao caso. O investigador, ao se deslocar, provavelmente, baseado nos conhecimentos acumulados com estudos e fatos anteriores, ir formular suas primeiras hipteses. Por exemplo, poder considerar que, em situao parecida, havia um crime

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  • passional como explicao. Fontes de hipteses Os fatores que estimulam o processo de formulao da hiptese na investigao so, segundo Denker (2007, pp. 94/95): Observao Estabelecimento associativo de relaes pela observao dos fatos do dia-a-dia. Resultado de outras pesquisas (investigaes) A repetio de experimentos (hipteses) permite que se tenha uma idia da regularidade com que os fatos ocorrem. Teorias Elas verificam a validade das explicaes tericas. Intuio So propostas pelo pesquisador (investigador). Informaes, intuio experincia O ensinamento de Pdua (2005, p. 46) de que a vivncia, a rea de especializao, a criticidade e a intuio do pesquisador so fatores relevantes nessa fase do processo heurstico (Processo de descoberta), fatores que garantem a produo do conhecimento cientfico. Aplicando essa teoria das fontes de hipteses investigao criminal, certo que para formular uma possibilidade sobre a ocorrncia do delito, o investigador dever considerar as informaes conhecidas, suas experincias profissionais, o conhecimento acadmico adquirido, sua capacidade de intuir, dosando tudo isso com uma viso global e crtica do contexto. Verificao das conseqncias das hipteses A boa hiptese permitir que o investigador passe dos fatos iniciais para outros novos fatos em que a existncia s foi possvel de verificar com a hiptese preliminar. A caracterstica operacional da hiptese ser passvel de verificao, segundo Pdua (2005, p. 45), para quem essa verificao pode ser realizada de duas maneiras: Pela observao Estudo dos fenmenos tais como se apresentam; e Pela experimentao Estudo dos fenmenos em condies determinadas pelo pesquisador. Para a investigao criminal, aplica-se a tcnica da observao. Toda hiptese deve ser plausvel e estar relacionada a uma teoria, no caso, o direito penal e todo o conhecimento transversal ao tema (sociologia, psicologia, medicina, engenharia, conhecimentos tcnico-operacionais, etc.). A verificao da hiptese, feita pela investigao, a confirmao ou no dos elementos de interpretao formulados provisoriamente. No caso que est sendo analisado...

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  • A hiptese preliminar aponta para a possibilidade de que o crime tenha ocorrido em outro lugar. Essa hiptese est fundada no resultado da observao do local de encontro do cadver que resultou na localizao de um tquete de estacionamento pago, que levou a um prdio de escritrios, da a uma sala e s testemunhas que apontaram um suspeito. A constatao de que o suspeito fora visto, tarde da noite, colocando uma caixa pesada no porta-malas de seu veculo. Fato comprovado pelo vdeo das cmeras do circuito interno do prdio. Que outra hiptese voc formularia com base nessas variantes diante do fato em questo? O mais provvel de que o contedo da caixa deveria ser o cadver da vtima. A investigao pericial feita no veculo e no escritrio do suspeito constatou a presena de sangue da vitima. Voc faria novas hipteses? Se a caixa no estava junto do cadver, provavelmente fora abandonada em algum lugar. Onde? Uma busca constatou que estava na lixeira do prdio onde reside o suspeito e dentro dela uma faca suja de sangue. Na caixa havia uma etiqueta com o endereo do escritrio do suspeito, manchas de sangue e fragmentos de impresses digitais. Exames periciais indicaram que o sangue era da vtima e as impresses digitais, do suspeito. Observaes detalhadas no cenrio onde estava o cadver, indicaram sinais de que os membros decepados da vitima haviam sido ocultados naquele mesmo local. Com as impresses digitais foi possvel fazer a identificao da vtima. Tambm, sob as unhas do cadver, havia fragmentos de tecidos de pele humana, constatando-se por exame de DNA, serem do rosto do suspeito. O processo investigativo sistematizado levou o investigador verificao dos fatos decorrentes de hipteses formuladas. Testemunhas informaram que a vtima freqentava o escritrio. Fotos e bilhetes, ali encontrados, comprovaram que ela era amante do amante do suspeito que ameaava terminar o romance e resolveu mat-la diante da ameaa que ela fazia de revelar o caso para sua esposa. No contexto das hipteses preliminares e fatos, o investigador constri a hiptese final que explica o fenmeno submetido ao processo de investigao. Nesse caso, houve um homicdio praticado pelo suspeito, motivado pela reao a uma chantagem.

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  • Aplicao da hiptese Naturalmente, o investigador no quer apenas uma explicao dos fatos. Por uma questo legal sua misso tambm apontar o autor do delito. Toda a teoria construda ter que ter uma aplicao prtica para apontar o autor, dizer onde poder ser encontrado e submetido a julgamento. As conseqncias deduzidas a partir das hipteses, passaram a ser a demonstrao da verdade, por meio dos exames periciais, dos testemunhos e das observaes do investigador cartorrio, que ser submetida validao no processo judicial. Essa a imagem da investigao criminal. Tal como o processo de uma pesquisa cientfica, movida por um raciocnio correto e ordenado, a partir de fatos que levam a uma hiptese testvel que, alm de explicar os fatos que compem o fenmeno investigado, ainda permite aplicaes prticas com o julgamento do autor. Concluso No h dvida de que a investigao criminal busca um conhecimento que a prova de um delito, de sua autoria e de como aconteceu. Esse conhecimento tem base em trs elementos: a teoria, o mtodo e a tcnica que do caracterstica ao conhecimento cientfico. H dvida de que a investigao um processo cientfico? Como toda investigao cientfica, parte de um problema, formula hipteses e elabora uma concluso, obedecendo uma metodologia prpria contida no Cdigo de Processo Penal e outras normas. Como processo cientfico a investigao criminal merece ser respeitada como tal sendo executada por profissionais com postura de verdadeiros cientistas. No prximo mdulo, ser feita uma abordagem do perfil desse profissional cientista da investigao criminal. Neste mdulo so apresentados exerccios de fixao para auxiliar a compreenso do contedo. O objetivo destes exerccios complementar as informaes apresentadas nas pginas anteriores. 1. Com sua experincia, descreva e comente procedimentos que confirmem a investigao criminal como processo cientfico. Compartilhe sua resposta com o grupo. Resposta pessoal Orientao Voc viu que o investigador criminal aplica a mesma abordagem e tcnica do

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  • cientista para a investigao dos delitos (problemas) ilustrando, claramente, o mtodo cientfico. Quando voc, como investigador, toma conhecimento de uma ocorrncia, est diante de um problema que precisa ser explicado. feita a anlise desse problema, quando levanta a hiptese de que seja um determinado delito ocorrido de tal forma. Comea ento a fazer a verificao da hiptese (coleta das provas) para confirm-la ou no. Confirmada a hiptese, voc chega concluso de que ocorreu um determinado delito, em tais circunstncias e com certo autor. 2. Considerando o processo cientfico da investigao criminal, relacione as colunas: 1. Mtodo cientfico. 2. Fonte da hiptese. 3. O problema da investigao. 4. Hiptese. ( ) A repetio de experimentos permite que se tenha uma idia da regularidade com que os fatos ocorrem. ( ) Conjunto de regras ou critrios que servem de referncia no processo de busca da explicao ou da elaborao de previses em relao a questes ou problemas especficos. ( ) Suposio feita pelo investigador na tentativa de responder o problema (o fato questionado). ( ) Um fenmeno de reflexo no mundo jurdico e que requer uma definio das circunstncias em que ocorreu. 3. Marque a alternativa correta: So fontes de hiptese no processo cientfico: ( ) Observao, intuio, complementao de dados e teorias. ( ) Intuio, observao, teorias e resultado de outras pesquisas. ( ) Observao, mtodo, teorias e pesquisa. ( ) Teoria, mtodo, tcnica e observao.

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  • Este o final do mdulo 5 A lgica aplicada investigao criminal Gabarito: 2. 2-1-4-3 3. Intuio, observao, teorias e resultado de outras pesquisas.

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    Mdulo 6 - Perfil profissional do investigador Ao final deste mdulo, voc ser capaz de: Explicar o perfil do policial de uma sociedade democrtica de direito; Relacionar competncia profissional com perfil do policial investigador; e Listar os atributos exigidos ao profissional da investigao criminal. O contedo do mdulo est dividido em 3 aulas: Aula 1 - O perfil do policial; Aula 2 - Competncia profissional; e Aula 3 - Atributos exigidos ao investigador. Aula 1 - O perfil do policial Vamos buscar no cinema, mais uma vez, subsdios para nossos estudos. Essa extraordinria fonte de lazer passa o esteretipo do perfil do detetive policial como sendo arrojado, racional e frio. James Bond e tantos outros povoam o imaginrio humano. Algo bem distante da figura do cientista conforme visto no mdulo anterior. Na literatura, entretanto, possvel encontrar outro modelo de investigador prximo da realidade. Segundo consta em uma das apostilas da Academia de Polcia Civil do DF, o escritor ingls Frederick Forsyth, em seu livro O dia do Chacal, traou o perfil de um investigador quando se referiu ao inspetor Claude Lebel, que dizia saber ter sido sempre um bom policial, lento, preciso, metdico, infatigvel. Era conhecido na polcia judiciria como esquisito, um homem metdico que detestava publicidade e se furtava a dar as entrevistas coletivas. O policial o reflexo da imagem da polcia. Ele corresponde expectativa de mercado com sua imagem profissional respondendo as seguintes perguntas: O que ele ? De que forma poder ajudar profissionalmente seus semelhantes? Qual o perfil do investigador criminal que uma sociedade democrtico de direito quer como tutor de seus direitos fundamentais? Qual o perfil do investigador prestador de servio? No que diz respeito primeira pergunta, o primeiro mdulo do curso o levou a essa reflexo. Como diz Balestreri (2002), o policial um ator social envolvido

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    diretamente nas cenas de construo da realidade; um protagonista de direitos e de cidadania; o policial um pedagogo; o policial , antes de tudo, um cidado. Para Balestreri (2002), um novo paradigma educacional mais abrangente, essa incluso do policial na dimenso de agente educacional. Para ele, como outras, a profisso policial formadora de conscincias e de opinies, portanto o policial um pleno e legtimo educador, dimenso inabdicvel, explicitada atravs de comportamentos e atitudes. nesse contexto que devemos refletir e construir o perfil profissional do policial investigador. A natureza garantidora de direitos do processo investigatrio exige de seus executores atributos e habilidades especficas, adequadas ao propsito de busca da verdade de uma determinada prtica delituosa. Perceba que h um novo paradigma de cidadania: as competncias requeridas por essa sociedade tero que corresponder s suas novas demandas. Aula 2 - Competncia profissional O que so competncias? Citado por Cordeiro e Silva (2005, p. 42), o educador francs Perrenoud, diz que: Denomina-se competncias profissionais o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessrias para garantir sua atuao na profisso. Mape-las exige metodologia especfica visando responder s perguntas que possam englobar: O que este profissional precisa saber? O que ele ir fazer? Que atitude dever ter? Ainda com apoio do ensinamento de Cordeiro e Silva, para compreenso do que seja o perfil profissional, veja o exemplo de competncias profissionais no emprego adequado da arma de fogo: Dentre os conhecimentos, habilidades e atitudes que essa competncia engloba, destacado como exemplo: Conhecimentos sobre o armamento: caractersticas fsicas, componentes e princpios da utilizao das armas de fogo;

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    Habilidades que os possibilitem a us-las: postura, empunhadura, etc.; e Atitudes que possam ajud-los na hora da deciso em diferentes cenrios, em diversas situaes, tendo como premissa bsica a valorizao de vidas. (Cordeiro e Silva, 2005, p. 42) Conhecimento diz respeito aos saberes conceituais (se refere a conceitos, leis e saberes historicamente sistematizados); as habilidades, aos contedos de procedimentos, de como executar os atos da profisso; atitudes, a valores que iro determinar a tomada de deciso, a ao e reao em diferentes contextos. No h como desvincular o perfil profissional das competncias profissionais rigidamente formatadas pela educao profissional do indivduo, baseada em um modelo centrado no desenvolvimento do pensamento crtico e reflexivo; da atitude reflexiva; e da organizao do pensamento. Perceba que h uma nova metodologia de construo do perfil d