Investigação Científica Invenção e Verificação

Embed Size (px)

Citation preview

Investigao Cientfica: Inveno e VerificaoIn. Filosofia da Cincia Natural. Carl. G. Hempelhttp://the-rioblog.blogspot.com/2011/09/historia-dosmedicos-que-mudaram.html

Um caso Histrico como exemplo O caso : Febre Puerperal estudadapelo mdio hngaro Iguaz Semmelveis, no Hosp. Geral de Viena, de 1844 a 1848.

Puerperal: referente purpera, ou ao parto Purpera: referente mulher que pariu recentemente Puerprio: perodo que se segue ao parto at que os rgos genitais e o estado geral da mulher retornem normalidade

Problema de Semmelweis Grande nmero de mulheres internadas no 1 servio da maternidade do hospital geral contraia, aps o parto, uma doena sria, muitas vezes fatal, conhecida como febre puerperal.

Dados estatsticos 1 servioAno N. Internaes % Mortes

1844 1845 1846

+ - 3.200 + - 3.200 + - 3.200

8,2(+ - 262)

6,8(+ - 217)

11,4(+ - 364)

Dados estatsticos 2 servioAno N. Internaes % Mortes

1844 1845 1846

+ - 3.200 + - 3.200 + - 3.200

2,3(+ - 73)

2,0(+ - 64)

2,7(+ - 86)

Comparao da % mortes nos dois servios1 servio8,2 6,8 11,4

2 servio2,3 2,0 2,7

Tentativas de resoluo do problema Semmelveis inicia por considerar as vrias explicaes (Hipteses) conhecidas na poca Logo rejeita aquelas consideradas, por ele, incompatveis com os fatos. Submete verificao as hipteses restantes

Outras questes que intrigam Semmelveis Por que o nmero de mortes maior no 1 servio se o cuidado o mesmo nos dois servios? Por que a mortalidade menor entre os casos de parto de rua? Por que s os bebs das pacientes que tiveram a doena durante o parto tambm contraiam a doena? Por que a doena no podia ser transmitida ao beb antes do nascimento, pela corrente sangunea?

Hipteses aceitas na poca1. Mudanas csmico-telrico-atmosfricas 2. Excesso de pessoas; 3. Exames grosseiros de estudantes; 4. Explicaes psicolgicas; 5. Posio das mulheres durante parto.

Telurismo: Crena de que o solo de uma regio poderia influenciar nos costumes e no carter dos habitantes. Poderia, inclusive, causar epidemias.

Que significa dizer que Semmelveis logo descartou as hipteses incompatveis com os fatos? Vejamos alguns detalhes sobre as hipteses e as objees de Semmelveis

Pistas para soluo do problema Em 1847, um mdico feriu-se no dedo com o bisturi de um estudante que realizava autpsia e morreu logo em seguida com os mesmos sintomas da febre puerperal. Autpsia, necropsia = exame de cadver

Em meados do sec. XIX ainda se desconhece o papel dos microorganismos na infeces. Mesmo assim Semmelveis compreendeu que havia relao entre a necropsia e a febre e elaborou a hiptese: A matria cadavrica, introduzida na corrente sangunea pelo bisturi, pode ser a causa da doena fatal

Analogia Semmelveis percebe a semelhana entre o caso da morte do mdico e o caso da morte das pacientes e chega concluso de que todos morreram devido a algo que ele chama: Envenenamento do SangueHoje sabemos que o Streptococcus Pyogenes o responsvel pela febre puerperal.

No sculo XIX, um dos melhores indicadores da experincia e conhecimento de um mdico era o estado de seu avental. Quanto mais sujo de sangue, pus e outros fludos, melhor. A sujeira das vestes era uma orgulhosa demonstrao de que aquele profissional havia realizado vrias intervenes, que lhe davam a experincia necessria para cuidar de seus pacientes.

Esclarecimento de Semmelveis sobre a hiptese Eu, meus colegas e os estudantes somos os veculos do material infeccioso. Atuamos nas enfermarias logo aps realizarmos dissecaes na sala de autpsia e examinamos as mulheres em trabalho de parto depois de lavarmos as mos superficialmente, muitas vezes retendo o cheiro nauseante

Contudo, Semmelveis ainda precisa submeter sua hiptese a um TESTE EMPRICO

Outra hiptese em questo: Se ele estivesse certo, a febre poderia ser prevenida pela destruio qumica do material infeccioso aderido s mos.

Controle experimental Semmelveis determinou que todos os mdicos e estudantes lavassem as mos numa soluo de cal clorada antes de qualquer exame. No mesmo ano (1848) a febre cai para 1,2 % no primeiro servio, contra os 8,2 6,8 11,4 nos anos anteriores

Antes do Controle experimental8,2 % em 1844 6,8% em 1845 11,4 % em 1846

Depois do Controle experimental1,2% em 1848 (1 servio) 1,3 % em 1848 (2 servio)

Com os testes realizados por Semmelveis, em apenas um anos as mortes caem de aproximadamente 280 mortes para 40 mortes por ano

Dados que reforam ainda mais a hiptese (fecunda) Explicava por que a mortalidade era menor no 2 servio, onde as pacientes eram socorridas por parteiras. Explicao: Parteiras (2 servio): no recebiam instruo anatmica por dissecao de cadveres Estudantes (1 servio): recebiam instruo anatmica por dissecao de cadveres.

Dados que reforam ainda mais a hiptese (fecunda) Explicava a menor mortalidade entre os casos de partos de rua. Explicao: as pacientes que chegavam com os bebs no colo raramente eram examinadas (da no contraiam a infeco)

Dados que reforam ainda mais a hiptese (fecunda) Explicava por que s os bebs das que tinham contrado a doena durante o parto tambm ficavam doentes. Explicao : a doena era transmitida pelo material cadavrico me e ao beb no momento do parto.

Experincias que alargam a hiptese1. Aps a assepsia examinam uma mulher em trabalho de parto que sofria de cncer cervical purulento; 2. Examinam, em seguida, 12 outras pacientes na mesma sala, sem realizar a assepsia; 3. Resultado: 11 das 12 pacientes morreram com a febre 4. Concluso: a febre no causada apenas por material cadavrico, mas tambm por matria ptrida retirada de um organismo vivo

Como se verifica as hipteses Diretamente: Caso da aglomerao de pessoas; Atendimento grosseiro dos estudantes; Etc.

Indiretamente: O caso do aparecimento do padre; A posio das mulheres durante o parto.

Raciocnio lgico sobre a hipteseSe A ento B No B _____________ Logo no A

Modus tollens = qualquer argumento dessa forma dedutivamente vlido. Se as premissas so verdadeiras, a concluso infalivelmente verdadeira.

Falcia lgica Da hiptese de que a febre era um envenenamento do sangue provocado pela matria cadavrica, Semmelveis inferiu que medidas antisspticas reduziriam os casos. A experincia mostrou que a implicao era verdadeira, mas esse caso favorvel no provava conclusivamente que a hiptese fosse verdadeira. O argumento era uma falcia.

Forma lgica da falciaSe A ento B Ocorre B ___________ Logo A Falcia: o raciocnio no vlido. Sua concluso pode ser falsa mesmo quando as premissas so verdadeiras.

Um exemplo da falcia acima A verso inicial de sua interpretao da febre era a de que a infeco com matria cadavrica era a nica fonte da doena. Mas como ele descobriu depois, a febre tambm pode ser produzida por material ptrido proveniente de organismos vivos.

Cincia envolvidas na pesquisa Medicina; Qumica; Fsica; Lgica; Matemtica (estatstica); etc

O papel da induo na investigao cientfica A cada problema uma resposta (hiptese). Mas como se chega a essas hipteses? Resposta: so inferidas das reunio dos fatos por meio da INDUO.

Induo e Deduo Deduo: em uma deduo vlida, se as premissas so verdadeiras, a concluso infalivelmente verdadeira. Ex.: A B B _______________ A

Outro exemplo de inferncia dedutivamente vlida:Qualquer sal de sdio, quando colocado na chama de um bico de Bunsen torna a chama amarela; Este pedao de sal de pedra sal de sdio ________________________________________ Este pedao de sal de pedra, quando posto na chama de um bico de Bunsen tornar a chama amarela

1. 2. 3.

Os

argumentos dessa espcie levam do geral para o particular

Induo: partimos de premissas sobre casos particulares para uma concluso que tem o carter de lei.Ex.: do fato de que cada uma das amostras de vrios sais de sdio colocados na chama tornaram a chama amarela... Concluimos que todos, quando colocados na chama, a tornaro amarela. Problema: aqui a verdade das premissas no garante a verdade da concluso

Problema da induo: mesmo que todas tenham tornado a chama amarela, possvel encontrar novas espcies de sais de sdio que no esto de acordo com essa generalizao. Alm disso: algumas, j examinadas com resultado positivo podem deixar de satisfazer a generalizao As premissas da Induo implicam a concluso apenas com maior ou menor probabilidade. J na deduo implicam com certeza

Acredita-se que na induo as coisas funcionem a partir de 4 etapas bsicas:1. 2. 3. 4. Observao e registro de todos os fatos; Anlise e classificao desses fatos; Derivao indutiva de generalizaes; Verificao adicional das generalizaes.

Acredita-se que nas duas primeiras no podemos fazer uso de hipteses porque prejudicam a iseno necessria objetividade cientfica.

Essa a chamada Concepo Indutiva Estreira da Investigao Cientfica Vejamos algumas crticas essa concepo e as quatro etapas do mtodo indutivo

Crtica primeira etapa: impossvel uma coleo de todos fatos; impossvel mesmo uma coleo dos fatos relevantes. Relevantes para qu? Como saber o que relevante sem uma conjectura?

Por exemplo, se Semmelveis conjectura que a mortalidade se deve ao aparecimento do padre, relevante coletar dados sobre isso. Mas ser irrelevante procurar saber o que aconteceria se os mdicos desinfetassem as mos. Fatos so relevantes ou irrelevantes relativamente a uma hiptese.

Concluso da crtica 1 etapa. o preceito de que os dados devem ser coletados e reunidos sem a guia de uma hiptese preliminar sobre as conexes entre os fatos em estudo autodestruidor e no seguido na investigao cientfica pelo contrrio, a hiptese que d a direo investigao. Ela que diz quais dados devem ser escolhidos.

Crtica segunda etapa: Podemos analisar e classificar os fatos de muitas maneiras, mas apenas isso nada esclarece sobre o que pretendemos com a investigao Semmelveis poderia classificar as mulheres pela idade, residncia, estado civil, hbitos etc, mas isso em nada ajudaria se ele no possusse um CRTERIO de classificao

Para que a anlise e a classificao dos dados possa conduzir a uma explicao dos fenmenos necessrio fundamentlas em HIPTESES sobre como esses fenmenos esto fundamentados Sem as hipteses a anlise e a classificao so CEGAS

Crtica terceira etapa: invlida tambm a idia de que as hipteses s so introduzidas na terceira etapa pela inferncia indutiva a partir dos dados previamente reunidos. No h um procedimento mecnico como a multiplicao de inteiros que nos levaria a um produto correspondente

Isso ocorre porque as hipteses e teorias cientficas so formuladas em termos que no ocorrem na descrio dos dados empricos. Ex.; as teorias sobre a estrutura atmica ou subatmica da matria contm termos como tomo, eltron, prton, funo psi etc, que esto baseados em: Dados sobre espectros de gases Rastros deixados em cmaras de nuvem e de bolha etc

Imaginao Criadora Enfim, no existem regras de induo aplicveis em geral, mediante as quais hipteses ou teorias possam ser mecanicamente derivadas ou inferidas dos dados empricos. A transio dos dados teoria requer uma imaginao criadora

As hipteses e as teorias cientficas no so derivadas dos fatos observados, mas inventadas com o fim de explic-los As hipteses so palpites sobre os nexos que possam ser obtidos entre os fenmenos. As vezes podem ser palpites felizes.

Mas palpites felizes requerem um grande engenho, principalmente quando se afastam do modo corrente de pensamento cientfico (da cincia normal) Exemplo: teoria da relatividade; teoria dos quanta Esse esforo inventivo s pode ser beneficiado por uma familiaridade completa com o conhecimento corrente do campo em questo (com o paradigma?)

Por isso um principiante dificilmente far uma descoberta cientfica importante. As idias que lhe ocorrem so apenas tentativas j realizadas por outros cientistas. Como se chega a palpites proveitosos? O caminho para se chegar a eles bem diferente de qualquer processo de inferncia sistemtica. Veja exemplo de Kukul na pg. 28

Isso coloca o problema da Objetividade Cientfica. Em seu esforo para encontrar a soluo o cientista pode soltar as rdeas de sua imaginao. Nesse processo seu pensamento criador pode ser influenciado at mesmo por noes cientificamente discutveis.

Kepler por exemplo, ao estudar o movimento planetrio: Foi inspirado por seu interesse numa doutrina mstica sobre os nmeros; Tentou mostrar a harmonia musical das esferas.

Nada disso impede que a OBJETIVIDADE CIENTFICA fique salvaguardada. Por que?

Porque as hipteses e teorias livremente inventadas no podem ser aceitas se no passarem pelo escrutnio crtico, especialmente pela verificao das implicaes capazes de serem observadas ou experimentadas

A imaginao e a inveno tem um papel importante tambm na matemtica. A descoberta de teoremas importantes e fecundos na matemtica e teorias importantes e fecundas na cincia emprica requerem engenho inventivo Exige capacidade adivinhatria, imaginativa e retrospectiva