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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES
CURSO DE BIOMEDICINA
INVESTIGAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DO POLIMORFISMO DO GENE NFKB1
NO RISCO DE DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA
Emily Bruch Seibel
Lajeado, novembro de 2016
Emily Bruch Seibel
INVESTIGAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DO POLIMORFISMO DO GENE NFKB1
NO RISCO DE DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA
Artigo apresentado na disciplina
Trabalho de Conclusão de curso II, do Curso
de Biomedicina, do Centro Universitário
UNIVATES, para a obtenção do título de
Graduação em Biomedicina.
Orientador: Dr. Paulo Roberto Vargas
Fallavena
Lajeado, dezembo de 2016
INVESTIGAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DO POLIMORFISMO DO GENE NFKB1
NO RISCO DE DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA
Emily Bruch Seibel1, Camile Wunsch
2, Paulo Roberto Vargas Fallavena
1
1 Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Centro Universitário UNIVATES,
Lajeado, RS, Brasil.
2 Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, Centro Universitário
UNIVATES, Lajeado, RS, Brasil.
Autor correspondente:
Dra. Paulo Roberto Vargas Fallavena
Professor Biotecnologia em Saúde,
Centro Universitário UNIVATES, 95.900-000, Lajeado, RS, Brasil.
Endereço: Rua Avelino Tallini 171, sala 205– prédio 8.
CEP: 95.900-000, Lajeado, RS, Brasil.
Telefone: 3714700 – ramal 5418
E-mail: [email protected]
5
Resumo
A principal doença cardiovascular é a doença arterial coronariana (DAC), cuja patologia é de
origem inflamatória crônica, multifatorial, desencadeada por fatores genéticos, ambientais e
de grande incidência mundial, apresentando, múltiplos estágios no desenvolvimento da
aterosclerose. Os fatores de risco que predispõem o surgimento e o desencadeamento de
DAC, são classificados como modificáveis e não-modificáveis. Por ser uma doença
multifatorial, além da presença de fatores de risco para a patologia, diversos estudos têm
demonstrado que o desenvolvimento da DAC tem forte influência de fatores genéticos, tais
como os polimorfismos no gene NFKB, regulador mestre de ativação da cascata inflamatória.
Por conseguinte, este estudo tem como objetivo a verificação da relação do polimorfismo
NFKB -94 ATTG ins/del com a presença de DAC em indivíduos adultos, submetidos ao
serviço de Hemodinâmica do Hospital Bruno Born de Lajeado, Rio Grande do Sul, Brasil. A
amostra totalizou 324 indivíduos adultos de ambos os sexos. As amostras de sangue periférico
foram coletadas para as dosagens bioquímicas e moleculares. Foi utilizada a técnica da reação
em cadeia da polimerase (PCR) para a amplificação do polimorfismo, com primers em
condições específicas e, posteriormente, foi realizada digestão enzimática para genotipagem
do polimorfismo deste estudo, onde os fragmentos resultantes foram visualizados em gel de
agarose 2%. Os testes estatísticos foram realizados através do software SPSS, versão 21.0.
Para as frequências genotípicas, foi utilizado o teste do qui-quadrado de Pearson e as
variáveis categóricas pelo método de Mann Whitney Kruskal-Wallis. Para o equilíbrio de
Hardy-Weinberg foi utilizado o teste do qui-quadrado. Não foram identificadas associações
significativas com nenhuma das variáveis investigadas. Os achados sugerem que o
polimorfismo investigado não apresenta um papel significativo na doença arterial
coronariana.
Palavras-chave: NFKB, doença arterial coronariana (DAC), processo inflamatório,
aterosclerose, doença cardiovascular
6
Abstract
The main coronary artery diseases (CAD), whose pathology has a chronic
inflammatory origin, multifactorial unleashed by genetic, environmental factors with a high
incidence in the world. The risk factors that predispose the beginning and triggering of CAD
are classified as modifiable and non-modifiable. As it is a multifactorial disease is known that
besides the existence of risk factor for the pathology, numerous studies have been showing
that the development of CAD has a strong influence on the genetic factors such as the
polymorphism NFKB gene, main regulator of inflammatory cascade. This way, this study has
as objective the verification of the relationship between -94 ATTG ins/del polymorphism of
NFKB and the presence of CAD in adults, submitted through the Hemodinamic service of
Bruno Born Hospital of Lajeado, Brazil. The sample of peripheral blood were collected for
biochemistry and molecular analysis. The polymerase Chain Reaction (PCR) was used for the
amplification of polymorphism, with primers in specific conditions, and later was done an
enzymatic digestion for polymorphism genotyping -94 ATTG ins/del of gene NFKB1, where
the resulting fragments were visualized on 2% agarose gel. The static test were done using the
software SPSS version 21.0. for the genotype frequencies the chi-squared of Pearson test and
the categorical variable by the method of Mann Whitney Kuskal Wallis were used. There was
not found any significant association with any of the variables investigated. The findings
suggest that the investigated polymorphism doesn’t presnt any significant role in the Coronary
Artery Disease.
1. Introdução
As doenças cardiovasculares são uma das principais causas de morte com
implicações no mundo inteiro (Borissoff, Spronk e Cate ten 2011). Elas desenvolvem-se a
partir de uma série de eventos, tendo como início o desequilíbrio homeostático, causado pelas
interações anormais do ambiente, juntamente com alterações genéticas (Filho et al. 2003). A
principal doença cardiovascular é a doença arterial coronariana (DAC), cuja patologia é de
origem inflamatória e crônica, podendo levar a infarto do Miocárdio (IM), o qual, por sua vez,
representa uma complicação aguda (Samani e Schunkert 2008).
Além de ser conhecida como de origem inflamatória e crônica, a DAC também é
classificada como multifatorial e complexa, apresentando múltiplos estágios no
7
desenvolvimento da aterosclerose, pelo fato da obstrução do fluxo sanguíneo das artérias
coronárias pelas placas de gordura (Samani e Schunkert 2008).
A lesão aterosclerótica é a patologia mais comum encontrada nas artérias. É uma
doença multifatorial, lenta e progressiva, resultante de dois processos básicos: acúmulo de
colesterol e aumento de células musculares lisas na túnica íntima. O acúmulo de substâncias
lipídicas, células inflamatórias e componentes fibrosos, os quais se depositam na parede das
artérias, são os responsáveis pela formação de placas ou estrias gordurosas, e que normalmente
ocasionam a obstrução das mesmas (Camancho, Melicio e Soares 2007; Gottlieb, Bonardi e
Moriguchi 2005).
Os fatores de riscos que podem contribuir para a disfunção endotelial, além do
colesterol alto, são radicais livres, fatores externos, hipertensão, diabetes mellitus e alterações
genéticas (Motta et al. 20130). Entretanto, eles podem ser classificados em modificáveis,
tendo como exemplos: pressão arterial sistêmica, dislipidemias, diabetes mellitus, tabagismo,
sedentarismo, gordura abdominal e estresse; e não–modificáveis, tais como histórico familiar,
idade e gênero (Brasil 2006). Contudo, a genética também tem grande participação no
desenvolvimento da DAC, fato já bem estabelecido há alguns anos através de determinados
estudos (Lai et al. 2015). Dessa forma o objetivo deste estudo é verificar a associação do
polimorfismo -94 ATTG ins/del do gene NFKB1 e o risco de DAC, em pacientes que foram
submetidos ao exame de cateterismo cardíaco no Hospital Bruno Born de Lajeado.
1.1 Sistema Imunológico e o Processo Inflamatório
Existem vários marcadores cardiovasculares sendo estudados e um exemplo comum
desses são as citocinas. Essas, por sua vez, possuem baixo peso molecular e agem de forma
endócrina, parácrina e autócrina (Casella et al. 2003). Em geral, as citocinas ligam-se a
receptores específicos em células alvos e, dessa forma, desencadeiam vias de sinalizações,
estimulando a expressão gênica (Tonet, Nobrega 2008).
Além disso, elas atuam principalmente por meio do mecanismo parácrino – células
vizinhas – ou autócrino – nas próprias células produtoras. As citocinas sofrem o fenômeno
chamado de pleitropia, ou seja, diversos tipos de células produzem as mesmas citocinas, no
entanto, uma única citocina pode atuar em diversos tipos celulares (Oliveira et al. 2011).
Elas são classificadas de acordo com sua função, seja pró–inflamatórias, como anti–
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inflamatórias e são formadas em cascata, ou seja, uma citocina incentiva suas células–alvo a
produzirem mais citocinas. Essas, por sua vez, ligam–se a receptores específicos, fazendo com
que os mensageiros intercelulares - os quais regulam a expressão gênica - sejam ativados
(Oliveira et al. 2011).
Um exemplo de receptor, cuja função é de grande importância na ativação do NFKB
é o CD14 (cluster of diferenciation 14). Ele reconhece moléculas envolvidas na resposta
imune inata contra fatores endógenos e exógenos. Os co-receptores do CD14 de maior
importância são os chamados “Toll-like receptors” - TLR2, TLR4 – os quais são receptores
transmembrana que mediam a resposta inflamatória por endotoxinas e é através desse
processo que o NFKB é ativado dentro do citoplasma, processo que dá continuidade à cascata
de sinalização (Bone et al. 1992).
O início da via de sinalização do NFKB na DAC acontece quando o sistema imune
inato é ativado através do reconhecimento de moléculas específicas, por exemplo: aumento
do colesterol LDL na corrente sanguínea, que é um estímulo para o início do processo
inflamatório. Os radicais livres são induzidos a transformar essas lipoproteínas de baixa
densidade em LDL-ox. Em consequência disto, moléculas de adesão linfocitárias são
inseridas na superfície endotelial para atrair linfócitos e monócitos, os quais se transformarão
em macrófagos, combatendo aquelas lipoproteínas. A molécula de LDL–ox causa certo dano
às células e demais estruturas que a cercam, sendo imediatamente feito o reconhecimento
por receptores padrões, que irão desencadear uma cascata no citoplasma celular (Brasil
2013). A presença de LDL-ox e macrófagos na circulação é captada por um receptor
específico e imediatamente ativa o NFKB, que está inativo, acoplado a uma proteína no
citoplasma. Após a sua ativação, o NFKB transforma-se em um promotor de RNA
mensageiro e, dessa forma, aumenta a produção de citocinas e interleucinas. No entanto, se
esta via não funcionar corretamente, a chance do desenvolvimento da DAC e de outras
patologias aumenta (Moreira, Vieira e Gottschall 2010).
1.3 NFKB
O NFKB é um fator de transcrição e está diretamente relacionado ao sistema
imunológico, na regulação do processo inflamatório, proliferação e apoptose; além da
produção de citocinas, interleucinas, quimiocinas, moléculas de adesão e proteínas de fase
aguda (Glezer 2000; Yang et al. 2014; Lai et al. 2015).
Atualmente, existem cinco membros da família do NFKB que foram identificados:
9
NFKB1 (p50, onde seu precursor é a p105), NFKB2 (p52, tendo como precursor a p100),
RELA (p65), RelB e c-Rel. Essas subunidades são importantes no processo de transcrição,
pois este depende da dimerização das mesmas. Por exemplo, as proteínas codificadas pelas
suas respectivas famílias podem ativar diferentes genes ou inibir a transcrição do NFKB. A
principal forma de NFKB encontrada nos tecidos é na forma do heterodímero p50/p65. A
p50 está envolvida diretamente no processo inflamatório. Este heterodímero limita a
transcrição de citocinas pró-inflamatórias e estimula citocinas anti-inflamatórias. As famílias
p50 e p105 são codificadas por splicing alternativo pelo NFKB. Já as subunidades RELA,
RelB e c-Rel, por possuírem um domínio de transativação (TDA), desempenham o papel de
ativar a transcrição gênica (Salim e Xavier 2014; Vogel et al. 2011; Yang et al. 2014).
Embora essas estruturas pareçam semelhantes, possuem funções e localizações
diferentes: as subunidades p50 (NFKB1) e p52 (NFKB2) inibem a transcrição de citocinas
pró-inflamatórias, como o TNF-α e IL-12 e induzem a transcrição de citocinas anti-
inflamatórias, como por exemplo a IL-10, e estão localizados nos genes 4q24 e 10q24,
respectivamente. E as subunidades RELA, RelB e c-Rel, estão localizadas nas regiões
11q12-q13, no cromossomo 19 e região 2p13-p12, respectivamente (Salim e Xavier 2014;
Stegger et al. 2013).
Na maioria das células, o NFKB está associado a complexos inativos com uma
proteína denominada IkB (Inhibitory kappa B), no citoplasma. Após alguns estímulos, como
produtos bacterianos, virais, citocinas e radicais livres, além da própria LDL-ox, acontece a
ativação do NFKB. Estes estímulos fazem com que haja a translocação do NFKB até a região
nuclear, através de um mecanismo envolvendo a fosforilação da IkB e sua dissociação com
o NFKB. No núcleo, o NFKB liga-se à região promotora do DNA, regulando, portanto, a
transcrição genética (Salim e Xavier 2014).
Salim e Xavier (2014) também afirmam que o NFKB é encontrado no citoplasma
das células imunes, acoplado com proteínas. O modo de ativação varia de acordo com o tipo
de célula imune, com o seu estado de ativação ou com a sua fase de desenvolvimento. Além
do mais, o NFKB é impedido de entrar no núcleo de linfócitos periféricos T (células T), pelo
fato de que suas subunidades estão fortemente ligadas à proteína inibidora. Após a indução
celular por citocinas, ocorre uma série de alterações bioquímicas, incluindo fosforilação,
ubiquitinação e, em seguida, a degradação por proteassoma. Após a entrada do NFKB no
núcleo, o mesmo liga-se ao DNA, iniciando a expressão de genes-alvo diferentes.
Existem duas vias de ativação do NFKB, de acordo com Franco (2010). A via
10
clássica ou canônica, a qual é a mais comum e está associada à expressão de genes
relacionados à inflamação, à resposta inata, à anti-apoptose e à sobrevivência celular. Já a
via alternativa - ou não-canônica - associa-se com a expressão de genes que atuam no
desenvolvimento e a manutenção de órgãos linfoides secundários – linfonodos, baço,
tonsilas.
1.4 NFKB1
O gene NFKB1 está localizado na região 4q24 e possui 24 éxons e íntrons. O
NFKB1 é responsável por codificar as subunidades proteicas p50 e p105 através do splicing
alternativo. A p50 tem como objetivo a transcrição de citocinas anti-inflamatorias, tendo
como exemplo a IL-10 (Salim e Xavier 2014; Vogel et al. 2011).
O polimorfismo -94 ATTG ins/del do gene NFKB1 consiste em uma inserção ou
deleção de 4 pb na região promotora ( -94 ATTG ins/del - rs28362491). O alelo deleção
(del/del) destrói um sítio de ligação de fator de transcrição, resultando em baixa expressão
gênica. Isso resulta em diminuição dos níveis de p50 e, consequentemente, a função dessas
subunidades é prejudicada, ou seja, não exercerá efeito anti-inflamatório (Karban et al. 2004;
Mishra et al. 2013; Vogel et al. 2011).
Dessa forma, alguns estudos demonstraram que o genótipo del/del está associado
com um maior risco de desenvolvimento da DAC.
2. Materiais e métodos
2.1 Participantes
A população foi composta de 324 indivíduos adultos, participantes do projeto de
pesquisa desenvolvido pelo Centro Universitário Univates, intitulado como: “Aspectos
moleculares ambientais e biomarcadores proteicos das doenças multifatoriais”. Todos os
participantes da pesquisa consentiram e assinaram um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE).
Os critérios de inclusão dos indivíduos na pesquisa citada anteriormente foram os
seguintes: indivíduos que realizaram o exame de cateterismo cardíaco, com idade acima de
18 anos, de ambos os sexos e que assinaram o TCLE.
Foram excluídos da pesquisa os indivíduos que não estavam conscientes no
11
momento da realização do exame e os que não apresentavam capacidade de compreensão do
que estava sendo proposto no estudo.
Além do TCLE, os indivíduos participantes da pesquisa preencheram também um
questionário semiestruturado, que continha dados demográficos, histórico de doença
cardiovascular na família, história médica, uso de medicações, consumo de álcool,
tabagismo e sedentarismo.
2.2 Coleta de material
Foi coletado dos indivíduos participantes, no período de julho de 2012 a dezembro de
2013, sangue total em tubos de 4 mL com anticoagulante EDTA para a extração de DNA e
dois tubos de 6 mL com gel separador para as dosagens bioquímicas. Os tubos de sangue
foram coletados pelos enfermeiros responsáveis durante o exame de cateterismo. Os pacientes
estavam em jejum de 12 horas.
2.3 Genotipagem
O DNA foi extraído dos leucócitos das amostras coletadas de sangue em tubo com
EDTA, no Laboratório de Biologia Molecular do Centro Universitário Univates. A extração
do DNA foi realizada através da adaptação do método de Lahiri e Nurnberger (1991).
As amplificações das amostras para o polimorfismo - 94 ins/del ATTG, no gene
NFKB1, foram realizadas através da técnica convencional de PCR, utilizando os primers
descritos por Li e colaboradores (2015), e genotipado pelo método de RFLP (Restriction
Fragment Length Polymorfisms), que consiste na digestão enzimática, pela enzima de
restrição PflMI (Van91I) dos fragmentos de inserção. A realização da separação destes
fragmentos foi feita em eletroforese de gel de agarose 2%, onde o alelo de deleção foi
identificado por uma banda 281 pb e o alelo de inserção, pela presença de dois fragmentos,
com 240 pb e 45 pb, respectivamente.
2.4 Análises estatísticas
Foi utilizado o programa SPSS versão 21.0 para a tabulação dos dados clínicos dos
participantes e dos testes estatísticos, com nível de significância de P< 0,05. Para as
frequências genotípicas, foi utilizado o teste do qui-quadrado de Pearson e as variáveis
categóricas pelo método de Mann Whitney e Kruskal-Wallis. Para o equilíbrio de Hardy-
12
Weinberg foi encontrado o valor de 895.
3. Resultados
Foram determinados como grupo controle os participantes que, após cateterismo,
não apresentaram risco cardiovascular e como caso, os que tiveram confirmado o
desenvolvimento de DAC após o cateterismo. Não houve resultados estatisticamente
significativos (p>0,05), quando comparados os principais preditores para o desenvolvimento
de DAC e a alteração polimórfica -94 ATTG ins/del do gene NFKB1 (diabetes, fumo,
hipertensão, dispilidemia). A Tabela 1 resume a interação entre tabagismo e o risco
cardiovascular; a tabela 2, a relação entre diabetes e risco cardiovascular; e tabela 3, o uso
de medicação e o desenvolvimento de DAC. E, por fim, a tabela 4 mostra o
polimorfismo/genótipo em relação aos casos e controles. Quando comparados diabéticos,
hipertensos com DAC e os genótipos, também não foram visualizados dados
estatisticamente significativos. Não foram identificados resultados significativos nas
variáveis citadas anteriormente.
4. Discussão
A Organização Mundial da Saúde projeta para os próximos anos uma tendência ao
aumento de doenças cardiovasculares, fato que contribui para a elevação dos níveis de
morbidade e mortalidade em países em desenvolvimento (Brasil 2013). Santos (2008)
também afirma que as doenças cardiovasculares têm altos índices de mortes tanto nos países
desenvolvidos, como em desenvolvimento e que se os fatores de riscos forem tratados, estes
índices podem diminuir de 30% a 40% (Scher, Magalhaes e Malheiros 2007; Roberts 2012).
De modo geral, as manifestações das doenças cardiovasculares incluem infarto do
miocárdio, acidentes vasculares encefálicos e doenças vasculares periféricas, os quais são
causados por um processo aterosclerótico, tendo início, normalmente, na meia-idade. A lesão
aterosclerótica consiste em um processo que dará origem a uma placa fibrosa projetada
dentro do lúmen da artéria e, consequentemente, ocasionando uma série de problemas
circulatórios decorrentes da resposta inflamatória na parede do vaso (Camacho, Melicio e
Soares 2007).
Existem fatores de riscos classificados como modificáveis e não– modificáveis, os
13
quais foram citados anteriormente (Brasil 2006). No entanto, fatores genéticos também têm
forte ligação com a DAC. Estudos do tipo GWAS (Genome-wide association studies), cujo
objetivo é determinar genes que acometem determinadas patologias através de pequenas
variações genéticas, têm demonstrado associações significativas entre polimorfismos
genéticos variados e o desenvolvimento de DAC. Um exemplo de estudo de GWAS,
realizado pelo Cardiogramplusc4c Consortiun (2013), identificou o envolvimento do gene
NFKB e o risco de desenvolver DAC.
Dessa forma, por ser uma doença multifatorial, a DAC, juntamente com a via de
sinalização do NFKB, pode estar relacionada ao desencadeamento de outras patologias.
Pesquisas apontam que a ativação da via pró – inflamatória do NFKB é uma característica
de muitos distúrbios metabólicos com relação à supernutrição, resistência à insulina ou
mecanismo de estresse oxidativo (Gregor e Hotamislgil 2011). Também pode estar
envolvido no processo de obesidade, salientando-se, por exemplo, que a administração de
IL–4 pode induzir à ativação microglial, ocorrendo a inflamação do hipotálamo e resultando
no aumento de peso. (OH-I et al, 2010).
No entanto, até o presente momento, tem-se evidenciado poucos estudos onde o
polimorfismo -94 ATTG ins/del - rs28362491 tem relação com a DAC. Um estudo recente,
realizado por Lai e colaboradores (2015), avaliou a associação do genótipo do presente
estudo com DAC em uma população chinesa; a Ham. É um estudo de caso-controle, onde a
amostra total foi de 520 mulheres e 620 homens (Lai et al. 2015). De acordo com os autores,
a função do NFKB no processo inflamatório é determinada pela isomerização da subunidade
proteica (NFKB1, NFKB2, RELA, RelB ou c-Rel). O homodímero proteico de p50, por
exemplo, tem função anti-inflamatória, uma vez que a mesma inibe a transcrição de citocinas
pró-inflamatórias como TNF – α e interleucina – 12 (IL-12) e estimula a transcrição de
citocinas anti-inflamatórias como a IL-10. Já o heterodímero p65/p50 possui capacidade pró-
inflamatória. Os autores também concluíram que o genótipo del/del teve uma associação
independente com o aumento do risco de desenvolvimento de DAC. No entanto, os mesmos
destacam que são necessários mais estudos para que se confirmem estes achados, tanto na
mesma população como em populações diferentes.
Baseado na mesma linha, Lai e colaboradores (2015) também avaliaram a relação
entre o polimorfismo do gene NFKB em uma população chinesa: Uygur. Da mesma forma,
foi associado que o polimorfismo em estudo tem relação com o risco de DAC e também está
associado à expressão da IL-6.
14
Outro estudo realizado por Mishra e colaboradores (2013) conclui que o genótipo
del/del do polimorfismo não está associado apenas ao desenvolvimento de DAC, mas
também tem relação com a disfunção ventricular esquerda e que o genótipo de risco pode
modular a gravidade da doença.
Voguel e colaboradores (2013) mostraram e sugerem que os pacientes portadores
do alelo deleção possuem um risco maior do desenvolvimento de doença coronária do
coração; sendo, entretanto, necessárias mais pesquisas sobre este mecanismo a fim de
explicar essa relação.
Em contrapartida dos estudos citados anteriormente, este trabalho tenha
demonstrado que não existe relação significativa entre o polimorfismo -94 ATTG ins/del
com DAC, Asadi e colaboradores (2014) também realizaram um estudo em que avaliaram
120 pessoas com DAC e 130 controles, de diferentes famílias, ambas localizadas no norte
do Irã. Os resultados obtidos neste estudo também sugerem que o polimorfismo do gene
NFKB1 não está associado à presença da doença arterial coronariana. Ou seja, não houve
diferença significativa nos genes deleção e inserção nos casos e controles daquela população.
Em nosso trabalho realizado, não observamos relação significativa entre o
polimorfismo -94 ATTG ins/del do gene NFKB1. Sugerimos que possa ter sido em função
do nosso número amostral ter sido relativamente baixo e, talvez, que os participantes da
pesquisa possam ter omitido alguma informação que pudesse comprometer o resultado da
mesma, sendo estes alguns dos vieses do estudo. Outra hipótese que também merece atenção
é a etnia que pode impactar em um perfil genético variado. Uma vez que existe descrito na
literatura a relação de algumas patologias que prevalecem em certas etnias.
No entanto, vale ressaltar que, mesmo não encontrando associação do polimorfismo
-94 ATTG ins/del entre o desenvolvimento de DAC neste estudo, não deve-se descartar a
hipótese desta relação, uma vez que existe descrito na literatura a existência da mesma. Vale
ressaltar que, assim como outras doenças tais como câncer, diabetes mellitus e obesidade, a
DAC é considerada uma patologia multifatorial, sendo resultante de uma combinação entre
os fatores genéticos, fisiológicos, ambientais e psicológicos. Fatores que favorecem o
acúmulo de substâncias lipídicas e, dessa forma, podendo levar a um quadro de inflamação
(Reis et al. 2008; Speretta, Leite e Duarte 2014).
Embora ainda existam poucos estudos na área, é importante que se faça este tipo de
estudo em populações variadas, pois talvez essa relação entre o polimorfismo e a DAC seja
mais acentuada em algum tipo específico de etnia.
15
Conclui-se, portanto, que embora não há associação significativa entre o
polimorfismo -94 ATTG ins/del, estes dados serão importantes para estudos futuros, pois
esta é uma área de crescentes descobertas e, dessa forma, deve ser investigada com maior
ênfase.
16
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Tabelas
Tabela 1: relação caso e controle X tabagismo
TABAGISTA CASO (%) CONTROLE (%) TOTAL P
SIM 22 (14,5) 22 (12,4) 44 0,573
NÃO 130 (85,5) 156 (87,6) 286
TOTAL 152 178 330
Tabela 2: relação caso e controle X medicação para Diabetes
MEDICAÇÃO DIABETES
CASO (%) CONTROLE (%) TOTAL P
SIM 24 (15,8) 23 (12,9) 47 0,457
NÃO 128 (84,2) 155 (87,1) 283
TOTAL 152 178 330
Tabela 3: relação caso e controle X diabéticos
DIABÉTICOS CASO (%) CONTROLE (%) TOTAL P
SIM 30 (20) 30 (17,4) 60 0,524
NÃO 120 (80) 144 (82,6) 264
TOTAL 150 174 324
Tabela 4: polimorfismo e genótipo X caso e controle
Caso (%) Controle (%) TOTAL P
-94 ATTG ins/del 11 (7,2) 6 (3,4) 17 0,161
Del/del 19 (12,5) 25 (14) 44
Ins/del 79 (52,0) 81 (45,5) 160
Ins/ins 43 (28,3) 66 (37,1) 109
TOTAL 152 178 330