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INVESTIGAÇÕES SÔBRE O COMPORTAMENTO DE FORMAS ADULTAS DE MOSQUITOS SILVESTRES NO ESTADO DE SAO PAULO, BRASIL (1) Oswaldo Paulo FORATTINI (1) Oscar de Souza LOPES (2) Ernesto Xavier RABELLO (4) Apresentaram-se os resultados das observações sobre o comportamento de formas adultas de Culicidae silvestres na área de Casa Grande, de zona de florestas primitivas situada na parte nordeste do Estado de São Paulo, Brasil. As investigações focalizaram os mosquitos de hábitos diurnos e crepusculares- -noturnos, durante o período de 1963 a 1966. Foram obtidos dados concer- nentes à composição especifica, distribuição, ciclo anual da densidade, estra- tificação vertical na floresta e possíveis relações com o ambiente doméstico. A região estudada é considerada como bioma ou ecossistema do Anopheles (Kerteszia) cruzii e, dessa maneira, êsse mosquito compareceu de maneira predominante nas observações, merecendo por isso especial atenção. As outras espécies distribuiram-se predominantemente entre os Sabethini, além de alguns Culicini. No que concerne à domesticidade, o Anopheles cruzii apresentou-se como apreciável freqüentador das casas, seguido pelo Aedes serratus. Além disso, aquele anofelino mostrou-se acentuadamente acrodendrófilo, parecendo ser dotado de alguma ornitofilia. Recebido para publicação em 9-8-1968. (1) Do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da USP; Do Laboratório de Arbovírus do Instituto «Adolfo Lutz» da Secretaria da Saúde Pública do Estado de São Paulo; Do Departamento de Zoologia da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo. (2) Do Departamento de Epidemiologia da FHSP. (3) Do Instituto "Adolfo Lutz" da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. (4) Do Departamento de Zoologia da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo. INTRODUÇÃO A existência de ciclos naturais de arbo- vírus passíveis de serem veiculados ao ho- mem, tem sido objeto de pesquisas em várias regiões. Para tanto, a fauna de Culicidae vem merecendo atenção espe- cial, pois encerra o maior número de espécies até o momento incriminadas co- mo vetoras. Com êsse objetivo, foi pro- gramada série de observações visando obter dados sobre o comportamento des- ses dípteros em área natural previamente escolhida. Esta situou-se em região con- siderada como ecossistema do qual o Anopheles (Kerteszia) cruzii participa essencialmente. Por conseguinte, a pre- sença dessa espécie tornou-se aspecto cons- tante e as informações obtidas a seu res- peito, perfizeram grande parte dos resul-

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INVESTIGAÇÕES SÔBRE O COMPORTAMENTODE FORMAS ADULTAS DE MOSQUITOS SILVESTRES NO ESTADO

DE SAO PAULO, BRASIL (1)

Oswaldo Paulo FORATTINI(1)

Oscar de Souza LOPES (2)

Ernesto Xavier RABELLO (4)

Apresentaram-se os resultados das observações sobre o comportamento deformas adultas de Culicidae silvestres na área de Casa Grande, de zona deflorestas primitivas situada na parte nordeste do Estado de São Paulo, Brasil.As investigações focalizaram os mosquitos de hábitos diurnos e crepusculares--noturnos, durante o período de 1963 a 1966. Foram obtidos dados concer-nentes à composição especifica, distribuição, ciclo anual da densidade, estra-tificação vertical na floresta e possíveis relações com o ambiente doméstico.A região estudada é considerada como bioma ou ecossistema do Anopheles(Kerteszia) cruzii e, dessa maneira, êsse mosquito compareceu de maneirapredominante nas observações, merecendo por isso especial atenção. As outrasespécies distribuiram-se predominantemente entre os Sabethini, além de algunsCulicini. No que concerne à domesticidade, o Anopheles cruzii apresentou-secomo apreciável freqüentador das casas, seguido pelo Aedes serratus. Alémdisso, aquele anofelino mostrou-se acentuadamente acrodendrófilo, parecendoser dotado de alguma ornitofilia.

Recebido para publicação em 9-8-1968.(1) Do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da USP;

Do Laboratório de Arbovírus do Instituto «Adolfo Lutz» da Secretaria da Saúde Públicado Estado de São Paulo; Do Departamento de Zoologia da Secretaria da Agriculturado Estado de São Paulo.

(2) Do Departamento de Epidemiologia da FHSP.(3) Do Instituto "Adolfo Lutz" da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo.(4) Do Departamento de Zoologia da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo.

I N T R O D U Ç Ã O

A existência de ciclos naturais de arbo-vírus passíveis de serem veiculados ao ho-mem, tem sido objeto de pesquisas emvárias regiões. Para tanto, a fauna deCulicidae vem merecendo atenção espe-cial, pois encerra o maior número deespécies até o momento incriminadas co-mo vetoras. Com êsse objetivo, foi pro-gramada série de observações visando

obter dados sobre o comportamento des-ses dípteros em área natural previamenteescolhida. Esta situou-se em região con-siderada como ecossistema do qual oAnopheles (Kerteszia) cruzii participaessencialmente. Por conseguinte, a pre-sença dessa espécie tornou-se aspecto cons-tante e as informações obtidas a seu res-peito, perfizeram grande parte dos resul-

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tados. Assim sendo, foi possível dar espe-cial atenção a êsse mosquito, que é con-siderado como vetor epidemiològicamenteimportante de malária, nesta região meri-dional do Brasil.

O presente trabalho reune, portanto, osdados conseguidos durante o período com-preendido entre o segundo semestre de1963 e o primeiro de 1966. Dizem res-peito ao comportamento das formas adul-tas. Òbviamente as informações quemais interessaram foram as concernentesaos hábitos desses transmissores. Asatenções foram concentradas na verifica-ção da densidade, atividade, distribuiçãolocal e regional dos adultos das váriasespécies. As observações foram levadasa efeito tanto no meio natural como tam-bém no doméstico. Dessa maneira, foitentado levantar dados dessa dinâmicapopulacional, que pudessem elucidar algosôbre o provável papel desempenhado porêsses mosquitos. Tanto nos possíveis ci-clos enzoóticos naturais, como na transfe-rência de agentes infecciosos ao homem eseu ambiente em geral.

CARACTERÍSTICAS DA REGIÃO

A intenção de levar a efeito pesquisasem ambiente natural, levou-nos à procurade áreas que apresentassem, o mais pos-sível, o seu aspecto primitivo inalterado.Foi em obediência a tais requisitos que anossa escolha voltou-se para a área deCasa Grande. Acha-se ela situada, emgrande parte, no Município de Salesópo-lis e dista, por estrada de rodagem, poucomais de 100 quilômetros da Cidade deSão Paulo.

Além de ocupar boa parte do supra-citado Município, a região inclui partesde Biritiba-Mirim e de Santos. Situa-seno nordeste do Estado de São Paulo, noinício do planalto que se sucede à Serrado Mar litorânea. Pode ser localizada aoredor das coordenadas geográficas de23o40' de latitude sul e 45o50' de longi-tude oeste. Os mapas constantes das fi-guras 1 e 2 dão idéia dessa situação.

O relevo topográfico dessa área é aci-dentado, em vista de sua localização noalto da Serra do Mar e apenas no inícioda parte paulista do planalto meridionaldo Brasil. A altitude oscila ao redor de800 metros acima do nível marítimo, sen-do de 855 a correspondente ao reservató-rio da Barragem do Rio do Campo. Talaspecto corresponde ao perfil relativamen-te simples que o litoral do Estado deSão Paulo apresenta ao norte de Santos.Alí, após a baixada costeira, segue-se odesnível abrupto constituído pelo paredãoda citada Serra. No alto forma-se o re-bordo do planalto, o qual vai caindo len-tamente em direção oeste. A nossa re-gião encontra-se justamente nessa bordae, em vista disso, a distância em linhareta para o oceano é apenas pouco maiorde dez quilômetros. Isso permite a fácilvisualização do mar, do alto da escarpa.

A Serra do Mar constitui-se em divisorentre as águas que correm para o RioParaná, a oeste, e aquelas que se dirigemdiretamente para o Oceano Atlântico, aleste. A área de Casa Grande compreen-de, pois, a bacia hidrográfica do rio Cla-ro, assinalando-se o Ribeirão Grande eo rio do Campo como seus afluentesprincipais. Aquêle, por sua vez, é o pri-meiro tributário de vulto do rio Tietê,pertencente ao primeiro dos mencionadossistemas. Acham:se também incluídas ascabeceiras do rio Guaratuba, o qual, des-cendo a escarpa marítima, lança-se dire-tamente no mar. Como essas águas sedestinam ao abastecimento da cidade deSão Paulo, tôda a área é protegida econstitui propriedade do Departamento deÁguas e Esgotos (DAE) da Secretariade Obras do Estado de São Paulo. A ex-tensão da mesma é de aproximadamente6800 alqueires, ou seja, ao redor de 160quilômetros quadrados ( NOVAES, 26 1927).Todavia, sob o ponto de vista geográficoe ecológico, ela continua-se com a Serrado Mar, atingindo assim extensão consi-derável.

O tipo climático desta área corres-ponde ao designado pelo símbolo Cfb do

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sistema internacional de KOEPPEN 23

(1948), temperado úmido sem estiagem.Ou então, ao tiU°l de SEREBRENICK 30

(1942), modificado por SETZER 31, 32

(1946, 1949), denominado temperado su-per-úmido sem estação sêca, sendo o ve-rão o período mais chuvoso e a primave-ra (o) e o outono (1) dotados de pluvio-sidades equivalentes.

As encostas do planalto que, como vi-mos, nesta região são formadas pela Ser-ra do Mar, constituem zona que apresen-ta os maiores índices pluviométricos. Eisso porque, além das chuvas de verão, amencionada serra provoca a precipitaçãoda umidade trazida pelos ventos da Fren-te Polar Atlântica. Esta, em virtude desua elevada densidade, freqüentemente,não consegue ultrapassar a escarpa mon-tanhosa. Assim sendo, fica retida ali,precipitando-se em forma de chuvas con-tínuas ou denso nevoeiro, mormente nosmeses de inverno. Em vista disso, a plu-viosidade pode atingir valores excepcio-nalmente elevados, chegando a ultrapas-sar os 4500 mm anuais.7 Para CasaGrande e Poço Preto registraram-se va-lores médios equivalentes a 1774 e 3058mm por ano, respectivamente ( SETZER31,1946).

Com os elementos pluviométricos for-necidos pelo Departamento de Águas eEnergia Elétrica (DAEE), foi-nos possí-vel o cálculo das precipitações mensaisocorridas durante dois anos e referentesàs localidades de Casa Grande e Boracéia.Êsse espaço de tempo corresponde aodecorrido entre setembro de 1963 e agôs-to de 1965. Os resultados encontram-seexpostos na Tabela 1 e por êles pode-severificar que, os totais anuais em milíme-tros, foram de 1437 e 1598 para a pri-meira, e de 2736 e 3519 para a segunda.Como se vê, a proximidade da escarpamarítima, neste caso representada pelasituação de Boracéia, condiciona sensívelaumento na pluviosidade. Dessa manei-

ra, embora haja certo decréscimo inver-nal, não ocorre distinção nítida entre aestação seca e chuvosa. Tal é o aspectode nossa região, onde as chuvas são abun-dantes e os nevoeiros costumam descerem cortinas espêssas, cobrindo o ambienteno decorrer de poucos minutos (Figs. 3e 4).

Quanto à temperatura, como já foidito, a oscilação não chega a atingir va-lores médios superiores a 22o C. É o quedemonstram os dados apresentados porSETZER 31 (1946), referentes às médiasmensais de treze anos em Casa Grandee de seis em Poço Preto. E é também oque tivemos oportunidade de verificar emnossas medidas, levadas a efeito em Bora-céia, com os dados fornecidos pela esta-ção meteorológica ali instalada peloDAEE. Os resultados estão representadosna Tabela 2 e referem-se ao mesmo pe-ríodo mencionado para a pluviometria.Verifica-se que o maior valor médio men-sal não ultrapassou o de 19,8.o C, emboratenham sido registradas temperaturas má-ximas acima de 30,0o C.

Pelos elementos expostos, concluímosfacilmente que, a classificação climáticade nossa região, encontra-se nos supra-mencionados tipos, temperados desprovi-dos de estação sêca. Compulsando os da-dos mensais constantes das Tabelas 1 e2, construímos o gráfico da Fig. 5. Comêsse climagrama podemos observar as re-lações das temperaturas e precipitações, deacôrdo com os meses. Verifica-se ali quea estação mais quente e chuvosa inclui osperíodos de novembro, dezembro, janei-ro e fevereiro. De outro lado a maisfria e de menores precipitações compreen-de junho, julho e agosto.

Dados microclimáticos: Em florestassemelhantes à que é sede dêste trabalho,as condições microclimáticas tem sido es-tudadas com minúncias. Essas investiga-ções foram levadas a efeito em matas da

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região endêmica de "Bromélia-malária"do Estado de Santa Catarina, Brasil (ARA-GÃO2, 3, 4 1958, 1959, 1960). Com elasverificou-se que a temperatura do ar namata, via de regra, apresenta-se com mé-dias mais baixas do que no descampado.Todavia, durante o inverno, especialmen-te em ocasiões de céu limpo, pode dar-seo contrário. Quanto à umidade, mostrou--se ela na dependência da topografia, sen-do maiores os valores encontrados em lu-gares baixos e menores os das elevações.Da mesma forma, a umidade revelou-semenor na copa das árvores do que ao ní-vel do solo, na altura dos arbustos. Alémdisso, em geral os abrigos de qualquertipo tendem a prolongar o tempo duranteo qual a umidade permanece inalteradaapós o nascer do sol.

Êsses e outros dados têm sido medidospelos autores, com o objetivo de correla-cioná-los a observações referentes ao com-portamento de, principalmente, mosqui-tos. Na impossibilidade material de le-varmos a efeito estudo detalhado do mi-croclima de nossa região, limitamo-nos acolher informações sôbre a temperatura e

umidade. Para tanto, seguimos o siste-ma empregado por TRAPIDO & GALINDO34

(1957) utilizando um par de aparelhostermohigrógrafos tipo "Lambrecht". Fo-ram postos em funcionamento na estaçãode Boracéia, tendo-nos sido possível com-pulsar os dados referentes ao período desetembro de 1963 a novembro de 1964.Um dêles funcionou em situação poucoacima do solo, enquanto o outro foi insta-lado na plataforma situada ao nível dacopa arbórea.

Os resultados dessas medidas encon-tram-se expostos na Tabela 3, onde se po-de observar as médias calculadas pelasleituras feitas nos gráficos obtidos sema-nalmente.

Observando-se tais dados, verifica-se queas temperaturas não foram sensìvelmentediferentes daquelas do clima em geral,expostas na Tabela 2. Apesar das deter-minações de ARAGÃO 2 (1958), já citadas,as médias na mata não diferiram daque-las obtidas no descampado. Contudo, de-ve-se assinalar que em nosso caso os dadosreferentes a êste último são os da estaçãometereológica instalada pelo DAEE naprópria localidade de Boracéia. Assimsendo, além de se tratar do mesmo localde nossas determinações, a êle não se apli-ca pròpriamente a característica de des-campado. Trata-se, porém, de pequenaabertura em situação elevada do terreno,rodeada de floresta. Dessa maneira, erade se esperar que o aparelho colocado nacopa das árvores, não registrasse infor-mações muito diferentes daqueles instala-dos nessa clareira.

No que concerne aos dois níveis, pu-demos observar que também neste caso,as temperaturas registradas não diferiram.Os valores ligeiramente menores referen-tes ao solo, não podem ser realmente con-siderados como traduzindo diferença rele-vante. Tal semelhança, provàvelmente,

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resulta da influência, pelo menos parcial,da topografia. Com efeito, a localizaçãoda plataforma, na qual foram instaladosos aparelhos, acha-se em depressão daencosta de elevação do terreno. Isso fazcom que, nesse local, as mudanças dascondições climáticas sejam menos acen-tuadas. Quanto aos efeitos das tempera-turas extremas, não nos foi possível cal-culá-los por não dispormos de suficienteaparelhagem.

Quanto à umidade, os dados relativosao solo e à copa, mostraram pequenas di-ferenças, com valores ligeiramente maio-res para aquêle nível. Tal resultado sepode conceber, pelo menos em parte, pelomesmo motivo explanado em relação àtemperatura. A situação de nossa plata-forma, colocou-a ao abrigo de mudançasacentuadas e o aspecto microclimático daumidade pouco diferiu nos meses maissecos de julho, agôsto e setembro. Toda-via, pràticamente, os valores da umidaderelativa não desceram de 90,0%.

ARAGÃO 4 (1960), realizou observaçõessôbre o número de horas do dia duranteas quais a umidade se mantinha elevada,e o período de tempo decorrido entre onascer do sol e o início da queda dessaúltima. Verificou êsse autor que, pelamanhã, o ar na floresta permanece satu-rado por mais tempo. Além disso, tantonos níveis superiores como nos inferiores,essa saturação prolonga-se mais na matada encosta do que naquela situada no altode elevações. Embora não tenhamos po-dido realizar observações análogas, pornão dispormos de dados de heliógrafos,acreditamos que essas observações em flo-restas de Santa Catarina poderiam seraplicadas em nossa região. De maneirageral, as nossas medidas mostram que ograu de umidade encontra-se sempre pró-ximo da saturação. Na Tabela 4 encon-tram-se os resultados a que chegamos nocálculo do número médio de horas pordia em que a umidade relativa se man-teve acima de 95%. Seguindo a orien-

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tação do supracitado autor, êsse dado foiobtido medindo-se a parte do traçado dohigrógrafo situada acima dêsse valor.

Observando-se êsses resultados, junta-mente com os da Tabela 3, verifica-se queem relação à umidade, as diferenças entreos dois níveis não são acentuadas. Nes-se sentido, as maiores foram aquelas ob-servadas durante as horas mais luminosasdo dia, pois é sabida a ação dêsse fator.Com efeito, o céu encoberto influi na os-cilação do estado higrométrico do ar (ARA-GÃO 4, 1960). Quando êsse estado ocorrepela manhã, provoca a demora na quedada umidade, graças à intercepção dosraios diretos do sol. Nas tardes encober-tas o que se observa é o contrário, pois,em tais situações, o retardo no esfriamen-to noturno faz com que fato análogoocorra com a elevação da umidade. Essa

situação inverte-se quando os dias apre-sentam céu claro sem nebulosidade. Des-sa maneira, os valôres pouco inferiores,em relação à copa arbórea são devidosprincipalmente à insolação que sempre sefaz sentir de maneira mais acentuada nes-se nível. Daí, pois, o fato de observar-seali sempre maior amplitude de oscilaçãodo que no solo. De resto, as considerá-veis precipitações atmosféricas e os fre-qüentes nevoeiros, fazem com que a si-tuação em ambos os estratos, tenda acerta uniformização.

Vegetação: Considerando o aspecto ge-ral do revestimento vegetal brasileiro(SANTOS29 1943, WARMING40 1947, CHE-VALIER10 1949, VELOSO37 1962), a áreaque escolhemos para sede de nossos estu-dos possui, nesse particular, feição que épeculiar à extensa região sul do Brasil,ocupada pelas Serras do Mar e Geral.

Os solos pertencem aos tipos 1 e 2 deSETZER32 (1949), e têm como caracterís-tica, o fato de não serem muito profun-dos (IBGE22, 1958). São forrados comapreciável camada de detritos, daí resul-tando elevada concentração de matériaorgânica. Como resultante disso, aliadoao acentuado teor de umidade, dá-se ocrescimento de vegetação arbórea e arbus-tiva de certo porte. Constituem-se assimflorestas escuras e úmidas, cujas árvoresapresentam raízes pouco profundas que seentrelaçam na superfície. Desde que acamada do solo, rica em matéria orgânica,seja delgada e, por sua vez, se assentesôbre outra de pouca permeabilidade, aerosão pode fazer sentir seus efeitos. Emtais casos, nos locais de acentuado decli-ve, as chuvas fortes e prolongadas podemprovocar o escorregamento da primeirasobre a segunda. Daí resulta a forma-ção de áreas de campo e cerrado, rodea-das de matas. Em nossa área observa--se com certa freqüência a existência detais terrenos, de extensão limitada, nomeio do revestimento florestal contínuo.A presença dêles poderá ter essa explica-ção (SETZER32 1949).

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A cobertura vegetal primitiva desta re-gião é constituída pelo tipo de florestalatifoliada tropical, característico da en-costa atlântica ( VELOSO37 1962). Seuaspecto é bastante uniforme, dominandoas árvores um tanto finas e relativamen-te baixas, pois só excepcionalmente ultra-passam os 25 metros de altura. Nestaárea da escarpa e alto da Serra, tais indi-víduos arbóreos são predominantementerepresentantes de Lauraceas, assinalando--se também os vegetais menores Myrtaceaee Rubiaceae, além de numerosos pteridó-fitos (Figs. 6 e 7).

O que de início chama a atenção detodo aquele que percorre essas matas,vem a ser o grande número de Brome-liaceae e Orchidaceae. Estas famíliasapresentam-se de maneira constante nes-ta região. Daí resultam paisagens uni-formes, com árvores repletas dessas plan-tas epífitas e com o chão da floresta for-rado de bromélias terrestres (Figs. 8 e9). A elevada densidade dêsses vegetaisdeve-se, segundo ARAGÃO 5 (1961), nãosomente às características de alta pluvio-sidade da região, mas também e princi-palmente ao aspecto constante de umida-de elevada. Êste último, sendo conse-qüência dos tipos locais de circulação at-mosférica e iluminação.

Ao lado da floresta, como menciona-mos linhas atrás, verifica-se a presençade áreas abertas com o aspecto de cam-pos cerrados (Fig. 10). Nelas predomi-na a vegetação arbustiva do tipo restinga(VELOSO, MOURA & KLEIN 38, 1956),além de revestimento rasteiro de gramí-neas e abundância de pteridófitos e bro-mélias terrestres. As soluções de continui-dade da camada fértil dêsse solo, dãoorigem a coleções líquidas. Isso revelaa dificuldade de infiltração da água etraduz a pouca permeabilidade da camadasubjacente.

Nos arredores da reserva de Casa Gran-de, a vegetação primitiva tem sofrido acen-tuadas alterações. Deve-se isso às ativi-dades carvoeiras e à substituição da anti-ga floresta pelo plantio de espécies de in-

terêsse econômico. Entre elas ressalta oeucalipto (Eucalyptus sp.), cobrindo atual-mente extensas áreas que limitam com anossa região. Além dêsses eucaliptaisconsideráveis, observam-se pequenos pi-nheirais (Pinus sp. e Araucaria sp.) decaráter experimental.

REGIÃO DE CASA GRANDE

Como vimos, é a extensão de terras depropriedade do DAE, protegida e conser-vada em seu aspecto natural, para cons-tituir-se na demominada Adutora do RioClaro. Nela se encontra a sede adminis-trativa que leva o mesmo nome da re-gião, além de algumas outras localidadesonde residem e trabalham alguns dos fun-cionários do mencionado Departamento.Dentro dela situa-se, ainda, pequena áreade propriedade do Departamento de Zoo-logia da Secretaria da Agricultura do Es-tado de São Paulo (DZ) onde se achainstalada estação para investigações bio-lógicas. Dessa forma, nas linhas que se-guem, descreveremos os aspectos princi-pais desta região. Para melhor compreen-são, as descrições poderão ser acompa-nhadas pela observação do mapa constan-te da Figura 2.

Casa Grande: Está situada no local doantigo "Acampamento" onde, em 1926,teve lugar a instalação do primeiro servi-ço de captação de águas da região, parao abastecimento da cidade de São Paulo(NOVAES 26 1927). Atualmente acham-seali sediados os serviços administrativos daAdutora do Rio Claro, bem como as ca-sas que servem de residência à maioriados funcionários locais.

O núcleo encontra-se às margens do rioClaro e de um lago artificial. Êste últimoé resquício do que deveria ter sido a pri-mitiva barragem, de acôrdo com o pro-jeto original (Fig. 11). Aos edifíciosadministrativos, sucedem-se as casas dosfuncionários. Estas são bem construídase de alvenaria, dispondo-se em fileira aolongo da única rua do núcleo (Fig. 12).

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Pela figura citada pode-se verificar que afloresta se sitúa bastante próxima dos li-mites desta localidade. Isso condicionafacilidades de contato recíproco, entre apopulação e o ambiente silvestre. Pode--se verificar que, a maioria das habita-ções se encontra ao alcance de vôo demosquitos procedentes da mata. Por suavez, esta recebe a freqüente visita dos ha-bitantes. E não sòmente por parte dosindivíduos masculinos que exercem boaparte de suas atividades profissionais nes-se meio, mas também de mulheres ecrianças que estão amiúde em contato como ambiente. No que concerne aos traba-lhadores, seus misteres dizem respeito àsmúltiplas funções relacionadas com a con-servação de instalações da Adutora, daestrada de acesso, do sistema de conduçãoelétrica e outras, grande parte delas le-vadas a efeito dentro da reserva florestal(Fig. 15).

Adutora: Nesta área situa-se o sistemade captação e condução de água até osfiltros, localizados na proximidade do nú-cleo de Casa Grande. A captação é rea-lizada em dois pontos, um para cada ba-cia hidrográfica. O primeiro, na locali-dade de Poço Preto, retira o líquido dorio Claro que ali se encontra parcialmenterepresado. Essa localidade também foisede de primitivo projeto de barragem, oqual foi abandonado pelo definitivo dorio do Campo. Tanto em Poço Preto, co-mo na Barragem do Rio do Campo (Fig.13) encontram-se casas de funcionáriosque ali residem e trabalham. O que foidito a respeito da proximidade florestalem relação ao núcleo de Casa Grande,vale com ênfase ainda maior no que dizrespeito a estas casas. Com efeito, elasse situam pràticamente dentro do ambien-te silvestre (Fig. 14).

O segundo ponto de captação acha-sesituado às margens do rio Guaratuba pró-ximo da escarpa marítima. Ali estão ins-taladas as bombas para retirada da águae, em vista de seu funcionmento não sercontínuo, não houve necessidade da ma-

nutenção permanente de guardas no local.Assim sendo, essa região não apresentacasas de residentes. Recentemente, emprincípios de 1966, estabeleceu-se ali acam-pamento de pessoal empregado em ativida-des topográficas. Pertence ele à emprêsaparticular contratada para o levantamentode dados nesse sentido. Destinam-se àfutura construção da estrada de ferro pa-ra a cidade de São Sebastião, no litoral.

Êsse sistema de adução é acompanhadopor estrada de rodagem a qual saindo deCasa Grande, chega até a Barragem doRio do Campo e ao ponto de captação deGuaratuba. Essa rodovia estende-se pelareserva, no meio do ambiente natural, bi-furcando-se depois da segunda ponte sô-bre o rio Claro e totalizando cêrca de 20quilômetros até a Barragem. Durante oseu percurso, o panorama é o de constan-tes florestas, exceto em trecho do ramodestinado ao Guaratuba que atravessa áreade campo cerrado. A maior elevação to-pográfica da região é representada porbloco granítico conhecido pelo nome dePedra da Boracéia, cujo perfil sobressaino alto da escarpa da Serra do Mar.

Estação Biológica de Boracéia: Dentroda reserva de Casa Grande foi delimitadaárea com cêrca de 40 alqueires (96 hec-tares), de propriedade do DZ. A partirde 1954 foi ali instalada a Estação Bio-lógica de Boracéia (EBB), destinada apropiciar a realização de investigaçõesdessa natureza em geral (TRAVASSOS Fo &CAMARGO35, 1958).

A EBB dispõe de instalações adequadaspara cumprir a sua finalidade. Situam--se ao lado da rodovia que leva à Barra-gem. Encontram-se ali as residências dosfuncionários do DZ encarregados da ma-nutenção, bem como os edifícios para olaboratório, escritório e hospedagem dosbiologistas (Fig. 16). A área total daEstação estende-se por faixa que vai des-de o espigão divisor das águas das duasbacias hidrográficas, até as margens dorio Claro.

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Em local próximo à sede, encontra-seinstalado posto metereológico do DAEE.Alguns dos dados ali registrados foramobjeto de considerações em parágrafos an-teriores.

Pelas mesmas razões de proximidadecom a floresta, as pessoas ali residentes,encontram-se em constante contato comela.

Arredores: Limitando com a reservade Casa Grande, situam-se várias proprie-dades rurais. Algumas delas conservamainda parte do revestimento florestal pri-mitivo. É o caso da área que se estendena margem norte do rio Claro, a jusantedo núcleo de Casa Grande.

A maior parte, todavia, já foi sede deatividades agrícolas, com as modificaçõesprofundas dai resultantes. Dessa manei-ra, o aspecto freqüente é o de apresenta-rem boa porção de sua superfície cobertapor vegetação arbustiva ou arbórea desegunda formação. Ao lado disso, ressal-tam as plantações de eucaliptos, que cons-

tituem a principal atividade econômicalocal. Na atualidade, os mais extensoseucaliptais podem ser encontrados na par-te norte da região, abrangendo as loca-liades de Ribeirão Grande, Fazenda Pal-ma e Pedra Queimada. Ali se observa aexistência de população reduzida, cujafunção é a de guardar tais plantações. Oshabitantes residem em casas de madeiralocalizadas dentro ou na periferia doseucalptais. Neste último caso, com fre-qüência essas residências situam-se juntoaos limites da floresta de Casa Grande(Figs. 17 e 18). Esta população sòmen-te sofre sensíveis aumentos, por ocasiãodo corte dessas árvores. Nessa oportuni-dade controem-se casas de caráter transi-tório, destinadas a servir de abrigo tem-porário aos trabalhadores empregados nes-sa atividade.

A oeste e sudoeste de Casa Grande, ve-rifica-se a existência de várias localidadeshabitadas. A conhecida pelo nome deSerengue, foi anteriormente sede de con-siderável plantação de eucaliptos, que fo-ram submetidos a corte em época ante-

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rior. Atualmente encontram-se ali algunseucaliptais de menor extensão, além de ca-sas esparsas, muitas delas desabitadas.

M É T O D O S E M P R E G A D O S

As coletas de culicideos foram realiza-das obedecendo a três tipos fundamentais,ou seja, com iscas humana e luminosa, eem ambiente domiciliar. Para tôdas elasfoi adotado uniformemente o uso siste-mático de tubos aspiradores (FORATTINI15,1962) e, com a finalidade de transporte,foram empregados frascos gessados.

E S T A Ç Õ E S

Para as capturas no ambiente naturalda floresta, foram estabelecidas estaçõesobedecendo ao mesmo tipo empregado porvários autores (CAUSEY & SANTOS9 1949;GALINDO, TRAPIDO & CARPENTER 17 1950;DEANE, DAMASCENO & AROUCK12 1953 eGROOT, MORALES & VIDALES 21 1961).Cada unidade dessas, incluia uma árvoreda mata, adrede escolhida, em cuja copase procedia à instalação de plataforma,acessível mediante escada construída aolongo do tronco (Figs. 19 a 22). Assimsendo, cada estação destinava-se a per-mitir a coleta simultânea de mosquitos nacopa arbórea e no solo da floresta. Paraisso, empregou-se equipe constituída pordois homens previamente treinados. Am-bos trabalhavam concomitantemente, umdêles na plataforma e outro no solo. Oshomens procuravam capturar todos osculicideos que vinham sugá-los ou que seaproximassem para tal fim. Dessa ma-neira, o coletor desempenhou também opapel de isca humana. Com a finalidadede uniformizar possíveis causas indivi-duais de êrro, procedeu-se ao revesamen-to de hora em hora, passando aquêle queestava em baixo a trabalhar em cima evice-versa. Suspendeu-se o trabalho nasvêzes em que a ocorrência de intensa plu-viosidade ou condições adversas tornavamimpraticável a sua realização nesse dia.

As horas assim perdidas eram substituí-das pelas correspondentes em outro diada semana. Caso isso também não fôssepossível, procedia-se ao desconto dêsse pe-ríodo no cálculo final da média horáriamensal.

O plano de trabalho dessas estações, vi-sava o processamento de coletas diurnase noturnas, tendo sido iniciado em outu-bro de 1963. Cada uma delas executadauma vez por semana, em horário prees-tabelecido. Para as capturas diurnas es-tipulou-se o de 10:00 às 15:00 h, tota-lizando cinco horas dentro do períodomais luminoso do dia. Para as noturnasestabeleceu-se das 18:00 às 20:00 h noinverno e das 19:00 às 21:00 h noverão, em ambos os casos, com duas ho-ras de duração e incluindo o período docrepúsculo e início da noite. Com isso,objetivamos conhecer a fauna culicidianaatraída pela isca humana e suas possíveisvariações em relação ao local, nível ehorário das capturas. A localização e omodo de operação das estações são osseguintes:

1) Estação de Boracéia (EBB): Lo-calizada na Estação Biológica de Bora-céia, em pequena grota situada na en-costa do divisor hidrográfico. Foiconstruída em árvore junto à nascente doribeirão Venerando, pequeno curso deágua afluente direto do rio Claro. Aplataforma está localizada a doze metrosacima do solo (Fig. 19).

2) Estação da Barragem (BRR): Ins-talada em ponto situado a cêrca de500 m da margem da reprêsa conse-qüente à Barragem do Rio do Cam-po. Tal situação corresponde ao ladoopôsto da citada Barragem e para atin-gí-lo, torna-se necessário o uso de barcopara atravessar o lago artificial. A es-tação foi construída em árvore de elevadoporte para esta região, estando a plata-forma situada a quinze metros acima dosolo (Fig. 21).

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3) Estação de Guaratuba (GT) : Estásituada à margem da picada que, da es-trada de Guaratuba, leva até a escarpada Serra. A árvore escolhida encontra--se na encosta que precede o alto escar-pado. A plataforma foi construída a10 m do solo (Fig. 20). O funciona-mento da estação teve início em outubrode 1963 e prolongou-se até dezembro de1964. Motivou essa interrupção o surgirde dificuldades crescentes para o transpor-te regular da equipe de capturadores,uma vez que nessa área não existiam ha-bitantes. Em vista disso, a partir de ja-neiro de 1965, foi substituída pela se-guinte.

4) Estação de Casa Grande (CG) :Teve sua instalação efetuada em ponto si-tuado a pequena distância da margem dorio Claro, nos arredores do núcleo deCasa Grande. A plataforma foi construí-da na copa de uma árvore, corresponden-do a altura de 10 m (Fig. 22). Oseu funcionamento regular teve início, co-mo mencionado, em janeiro de 1965.

ISCA LUMINOSA: Com o objetivo deaumentar o rendimento do material des-tinado às tentativas de isolamento deagentes virais, levamos a efeito tambémcoletas com isca luminosa. Para tanto,empregamos a armadilha de Shannon, do-tada de lampião de querosene de 500 ve-las, de acordo com técnica conhecida ejá descrita (FORATTINI15, 1962).

Estas capturas foram executadas umavez por semana, por ocasião da primeirametade da noite, ocupando período deduas horas, compreendido entre as 20:00e 22:00 h. Todavia, o ritmo não teve aregularidade rígida que foi exigida paraas coletas efetuadas com isca humana, nasestações supradescritas. Tal exigênciadeixou de ser feita, uma vez que, para asnossas observações biológicas, esta captu-ra não apresentava o mesmo interêsse da-quelas outras. De qualquer maneira, po-rém, os resultados globais assim obtidos,contribuiram para os conhecimentos sô-bre a fauna culicidiana local.

A realização das coletas com isca lumi-nosa foi levada a efeito em três pontosdo ambiente florestal. Um dêles, na Bar-ragem do Rio do Campo em mata pró-xima à casa de residência do guarda lo-cal, outro na Estação Biológica de Bora-céia e o terceiro nos arredores de CasaGrande, em floresta vizinha à casa de umdos homens empregados na captura.

CAPTURAS DOMICILIARES: Como vimos,êste trabalho tem por objetivo verificar apossibilidade de agentes infecciosos sil-vestres poderem passar para o ambientedoméstico. Assim sendo, despertou-nosapreciável interêsse a investigação da pos-sível freqüência de mosquistos transmisso-res aos domicílios humarlos. Por conse-guinte, no rol de nossas observações, in-cluímos aquelas destinadas à verificaçãodesse aspecto, através da execução de cap-turas domiciliares.

A proximidade que a floresta apresen-ta em relação às casas da região, fêz-noscrer na possibilidade das residências se-rem visitadas com freqüência por mosqui-tos silvestres. Evidentemente, no que con-cerne a essa domesticidade de culicídeos,interessa ao epidemiologista conhecer ohábito que êsses animais têm, de pene-trar nas habitações, e até que ponto pos-suem tendência a ali permanecer, e esco-lher os seus locais de abrigo (FORATTI-NI 15, 1962). Contudo, ao se realizaremcapturas intradomiciliares, deve-se consi-derar que elas, por si só, fornecerão da-dos sòmente sôbre os exemplares existen-tes dentro do domicílio, por ocasião dacoleta. O ideal seria, por conseguinte, acombinação dêsse tipo de captura com ouso de artifícios que permitissem obterdados sôbre o número de espécimens quetendem a abandonar a casa num determi-nado espaço de tempo. Para tanto, em-pregam-se armadilhas especialmente cons-truídas e que, colocadas nas janelas, per-mitem a entrada de mosquitos, capturan-do os que tentam sair. Em nossos tra-balhos, devido a dificuldades várias, nãose tornou possível o emprêgo dêsses re-

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cursos. Restou-nos, portanto, a possibi-lidade de verificar a freqüência das espé-cies que penetram nas casas em determi-nado período. Para isso, levamos a efeitocapturas semanais em casas pré-escolhidas.Tais coletas foram executadas duranteduas horas, na primeira metade da noi-te, com início logo após o crepúsculo.Com isso tencionamos observar a faunanoturna que, ou prolonga a sua atividadepela noite a dentro, ou a inicia por oca-sião do pôr do sol. Embora com eviden-tes falhas, êste procedimento pôde orien-tar-nos em outras investigações, com meiosmais eficientes.

Para a execução destas capturas domi-ciliares escolhemos três casas. Uma delasfoi a residência do funcionário guarda daBarragem do Rio do Campo (BRR) (Fig.14). A outra está localizada na EstaçãoBiológica de Boracéia (EBB) (Fig. 16),enquanto a terceira foi a casa no 98 doconjunto residencial do núcleo de CasaGrande (CG) (Fig. 12).

Médias Horárias: Gomo norma geral,adotamos o processo de relacionar osexemplares apreendidos ao respectivo pe-ríodo de capturação. Para tanto, utili-zamos o cálculo das médias horárias, ouseja, o número de mosquitos dividido pe-lo de horas e de homens empregados nacaptura (FORATTINI15, 1962). Com isso,torna-se mais fácil observar a existênciade possíveis variações da densidade dafauna culicidiana nas várias coletas.

R E S U L T A D O S O B T I D O S

Na fase preliminar destas investigações,tornou-se necessário adquirir familiarida-de com a fauna culicidiana local. Paraisso, tivemos de estabelecer caracteres efi-cientes para a identificação das fêmeas.A finalidade era tornar viável a determi-nação de considerável número de exem-plares, como é imprescindível em investi-gação de significado epidemiológico. Osproblemas surgidos nesse particular, cons-tituiram objeto de estudos que foram e

serão publicados separadamente. Para apresente investigação podemos afirmarque, com boa margem de confiança, con-seguimos diferenciar as espécies que ocor-rem na região, dentro das atividades vá-lidas até o presente momento.

Com os métodos supracitados, tivemoso objetivo de medir a densidade dos cu-licídeos adultos constatados na região. Osdados obtidos possibilitaram os conheci-mentos sôbre as variações dessa densida-de, em relação a vários fatôres. No meionatural silvestre tivemos a intenção deobservar a distribuição vertical, com apossível existência de mosquitos dotadosde hábitos arbóreos ou acrodendrófilos.Interessou-nos, também, neste particular,as oscilações diurnas e noturnas, além da-quelas que constituem o ciclo estacional.Finalmente, tivemos a preocupação de ve-rificar a freqüência dêsses insetos no am-biente domiciliar. O mapa constante daFigura 23, oferece aspectos geral dos lo-cais onde tiveram lugar as supracitadascoletas.

As considerações que serão apresenta-das a seguir, são concernentes somenteaos espécimens fêmeas, não tendo sido in-cluídos os poucos exemplares machos quese aproximaram o suficiente para figura-rem, embora de maneira esporádica, nascapturas.

OBSERVAÇÕES NO MEIO SILVESTRE

Como nos referimos, as investigaçõesno ambiente florestal foram levadas aefeito com isca humana nas estações, ecom isca luminosa em armadilhas deShannon. Os dados obtidos em ambas se-rão considerados separadamente, nas li-nhas que seguem.

Estações de Captura: De acordo como que descrevemos linhas atrás, as esta-ções operaram em períodos diurnos e no-turnos ou crepusculares. Durante o espa-ço de tempo decorrido de outubro de

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1963 a março de 1966, tais coletas totali-zaram, para as diversas estações, os se-guintes números de horas:

Estações EBB BRR GT CG

Coletas diurnas 600 600 280 285

Coletas noturnas 200 220 72 110

Com isso, pudemos conseguir dados sô-bre as possíveis diferenças na composiçãoespecífica, densidade e distribuição.

Composição Específica: As Tabelas 5 e7 sumariam os resultados globais destascapturas diurnas e noturnas, em relação àsvárias espécies encontradas. Pode-se veri-ficar que foram obtidos 64777 exemplaresnas primeira, e, 28239 nas segundas, tota-lizando 93016 mosquitos. Êsse total cor-respondeu a cerca de 43 espécies das quais,4 de Anophelini, 16 de Culicini e 23 deSabethini. Nas Tabelas 6 e 8 encontram--se os dados sobre as proporções no com-parecimento das espécies mais freqüentes.

Anophelini: Os anofelinos foram re-presentados, praticamente em sua totali-dade, pelo Anopheles cruzii do subgêneroKerteszia. Pôde-se observar que essa es-pécie representou, por si só, 21% das co-letas diurnas e cêrca de 70% das crepus-culares. Êsse aspecto dominante se reve-lou, pois, em ambas capturas e em tôdasas estações, com exceção de CG onde sò-mente foi sobrepujado pelo Aedes serra-tus nas noturnas. Quanto aos demais re-presentantes da tribo, assinalou-se reduzi-do número de Anopheles lutzii e algunsraros exemplares de Anopheles evansae eChagasia fajardoi.

Culicini: De maneira geral, os repre-sentantes dêste grupo foram os menosabundantes. Sòmente constituiram exce-ção a esta regra, as capturas noturnas emCG, nas quais êstes mosquitos contribuí-ram com maior contingente. Por outrolado, notou-se que sua presença foi des-prezível em ambas as coletas levadas aefeito em EBB.

O gênero Aedes compareceu com seisespécies, três para cada um dos subgêne-ros Finlaya e Ochlerotatus. De tôdas amais abundante foi Aedes serratus quechegou a sobrepujar os demais culicídeosnas capturas noturnas de CG, compare-cendo também de maneira relevante nascoletas diurnas da mesma estação. Quan-to às outras espécies dêste gênero, Aedesleucocelaenus e A. terrens foram obtidasem pequeno número, acrescido de rarosespécimens de Aedes taeniorhynchus e A.fluviatilis.

Das espécies de Psorophora, destacou-sePsorophora ferox a qual, exceto em EBB,sempre foi conseguida em quantidade re-gular, especialmente na estação CG. Nascoletas diurnas desta última, compareceutambém determinado número de Psoro-phora discrucians. As espécies Psoropho-ra albipes e P. lanei apenas forneceramalguns exemplares.

No que concerne ao gênero Culex, co-mo se sabe, a identificação das fêmeasreveste-se de dificuldades nem sempre su-peráveis com facilidade. De qualquermaneira, o comparecimento nas coletas,tanto diurnas como noturnas foi negligen-ciável. Identificamos alguns espécimensdo subgênero Microculex, capturados emEBB, como pertencentes às espécies Culexaureus e C. worontzowi.

Outros representantes dos Culicini fo-ram constituídos por raros exemplares deMansonia albifera e de Orthopodomya al-bicosta que compareceram às capturas no-turnas.

Sabethini: Esta tribo contribuiu consi-deràvelmente no volume global do mate-rial coletado. Seu comparecimento se fêzsentir principalmente nas coletas diurnas,nas quais alcançou 74,1% do total obtido.Nas notrunas, a participação destes mos-quitos foi sensìvelmente menor, chegandoapenas a 23,4%. Naquelas notou-se quea sua presença foi constantemente alta pa-ra tôdas as estações, com exceção de CGonde, embora elevada, não chegou ao níveldas demais.

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O gênero Phoniomya compareceu demaneira constante e contribuiu com gran-de contingente para o resultado geral.Com efeito, do total de espécimens conse-guidos nas coletas diurnas, 30439 foramrepresentantes dêste grupo, perfazendoassim 47,0%, o que significa quase a me-tade do material obtido nessas horas. Emambas capturas a espécie dominante foiPhoniomyia pilicauda. Esteve ela cons-tantemente presente, de maneira relevan-te, em todas as estações, exceção feita depequeno número de exemplares com quecompareceu nas coletas noturnas de GT eCG. Das outras espécies, Phoniomyia lon-girostris e P. palmala foram obtidas em

número digno de nota nos períodos diur-nos de EBB, BRR e GT, além dos noturnosde BRR. O outro representante do gêne-ro foi Phoniomyia davisi, cujo compare-cimento apenas mereceu certo destaque nacoleta diurna de BRR.

Os representantes do gênero Trichopro-sopon foram também coletados com abun-dância, chegando a sobrepujar as Phonio-myia nas capturas noturnas. Sua presen-ça se fêz sentir principalmente nas esta-ções EBB e BRR, sendo sempre menosnumerosos nas outras duas. A dominân-cia coube a Trichoprosopon reversum quecompareceu com certo número também

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nas coletas noturnas de CG. As espéciesTrichoprosopon cerqueirai e T. frontosum,participaram também com contingenteapreciável nas coletas diurnas em EBB,BRR, GT, e noturnas da segunda dessasestações. As demais espécies obtidas fo-ram Trichoprosopon digitatum, T. pallidi-venter e T. theobaldi cuja presença, po-rém, se fêz apenas discretamente ou mes-mo a custa de raros exemplares.

Conseguiu-se sete espécies de Wyeo-myia distribuídas em três subgêneros. Oaspecto dominante coube a Wyeomyiaconfusa, que participou de maneira rele-vante nas coletas diurnas em EBB e CG,e em ambas de BRR. Nesta última esta-

ção, fizeram-se presentes durante o dia,também Wyeomyia aporonoma e W. sa-bethea. Das demais, Wyeomyia leucos-tigma, W. lutzi e W. rooti sòmente foramconseguidos poucos espécimens.

Em relação a Sabethes, observou-se aparticipação de três componentes do sub-gênero Sabethes e um de Sabethinus. Osmais abundantes foram Sabethes albipri-vus e S. intermedius. Todavia, seu nú-mero não foi grande, atingindo certo va-lor somente na estação BRR e apenas nascapturas diurnas. Quanto aos outros doisrepresentantes, Sabethes quasicyaneus eS. tarsopus, foram êles obtidos em quan-tidade pequena ou mesmo desprezível.

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A única componente do gênero Limatus,foi a espécie Limatus flavisetosus a qual,embora em reduzido número, mostrou-semais abundante em EBB e BRR, e nascapturas diurnas.

Considerando-se as espécies que foramcoletadas em, pelo menos uma das quatroestações, em proporção não inferior a1,0% do total, verificamos os resultadosconstantes das Tabelas 6 e 8. Pode-se ob-servar, em relação às duas capturas, umacomo que inversão nas proporções de Sa-bethini e Anophelini, ou melhor, Anophe-les cruzii. Com efeito, nos períodos diur-nos verificamos o franco predomínio dosprimeiros, perfazendo 74,1% e com pre-podenrância dos gêneros Phoniomyia, Tri-choprosopon e Wyeamyia. Nessas oca-siões, o Anopheles cruzii se fêz represen-tar com 21,0%. Nas capturas crepuscu-lares-noturnas, a situação pràticamente seinverteu, passando êsse anofelino a quase70,0% e os sabetinos a 23,4%. Note-seo papel dominante do Anopheles cruzii,desempenhando-o como única espécie datribo na composição específica de todo oconjunto de culicídeos capturados.

Os culicinos se fizeram representar po-bremente, chegando apenas Aedes serra-tus e Psorophora ferox a merecer algumdestaque. Êstes mosquitos se mostrarammais freqüentes na estação CG do quenas outras, onde os sabetinos foram sem-pre mais abundantes. Isso talvez possasugerir o caráter acentuadamente selvá-tico dêstes, com menos tendência a seaproximarem do ambiente humano que,no caso particular de CG, seria represen-tado pelo núcleo habitado de Casa Grande.

É de se assinalar também a escassez oumesmo ausência de certas espécies de in-teresse epidemiológico na transmissão dealguns vírus, como o da febre amarela.Assim é que, ao lado da inexistência derepresentantes da Haemagogus, foi insig-nificante o comparecimento de Aedes leu-cocelaenus e pobre, o de Sabethes. Taisresultados sugerem portanto que, median-te o emprêgo de isca humana nesta re-gião, a fauna atraída é composta prin-

cipalmente por Anopheles cruzii e váriasespécies de Sabethini. Deve-se admitirque a atividade e a antropofilia dêssesculicídeos são suficientes para se torna-rem dominantes. Ê lícita, portanto, a su-posição de que esta região se constituiem nicho ecológico de tais mosquitos eque êles deverão manter relações comoutros componentes, entre os quais, osarbovírus locais. Compreende-se por con-seguinte que nas considerações a seremfeitas nos parágrafos seguintes, as aten-ções se concentrem nesses representantes.

Resumindo, de 93016 mosquitos captu-rados nas quatro estações, as espécies maisfreqüentes distribuiram-se da seguinteforma:

Distribuição Vertical: Desde as obser-vações iniciais com o gênero Haemagogusna Colômbia (BUGHER et alii.8 1944, BA-TES 6 1944), sabe-se que certos mosqui-tos na floresta, denotam evidente estra-tificação ou distribuição vertical. Algu-mas espécies mostram marcada preferên-cia em exercer suas atividades no nívelda copa elevada das árvores, propriedade

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para a qual foi proposto o nome de acro-dendrofilia, por GARNHAM, HARPER &HlGHTON18 (1946).

Em vista disso, a finalidade das coletasexecutadas nas plataformas das estações,destina-se a possibilitar a obtenção deamostra passível de ser comparada comaquela conseguida concomitantemente nosolo. As informações sôbre a fauna culi-cidiana dos altos níveis apresentam parti-cular interêsse, pois os hospedeiros ver-tebrados de certos vírus possuem hábitosarborícolas. Daí a possibilidade de rela-cionar as espécies de mosquitos ali encon-tradas, com o ciclo enzoótico natural dês-ses agentes. Assim, pois, seguindo aorientação levada a efeito por vários pes-quisadores, estabelecemos tais níveis decoletas, nos períodos diurnos e crepus-culares-noturnos já citados (BATES6 1944;CAUBEY & SANTOS 9 1949; GALINDO, TRA-PIDO & CARPENTER17 1950; DEANE, DA-MASCENO & AROUCH 1 2 1953; TRAPIDO,GALINDO & CARPENTER33 1955; TRAPIDO& GALINDO34 1957; ALVARADO et alli 1

1959; GROUT, MORALES & VIDALES 21 1961e MORALES & VIDALES 25 1962).

Nas Tabelas 9 e 10 encontram-se osresultados gerais da distribuição vertical,observados nas capturas diurnas e notur-nas. Para a avaliação dessa distribuição,consideramos sòmente as espécies que com-pareceram com 50 ou mais espéci-mens em, pelo menos, uma das estações.Dessa maneira, as percentagens e as mé-dias horárias foram calculadas separada-mente para cada um dêsses postos decoleta.

O critério para separar os mosquitos,sob o ponto de vista de sua estratificaçãovertical na mata, apresenta certa variaçãode acôrdo com os investigadores. NasAméricas, os trabalhos iniciais levados aefeito em ambiente silvestre tropical úmi-do de regiões do Panamá, considerarampredominantemente arbóreos aquêles cujaproporção de coleta na copa das árvoresfôsse de 80 a 100% (GALINDO, TRAPIDO& CARPENTER 17 1950 e TRAPIDO, GALINDO& CARPENTER33 1955).

Em conseqüência, seriam predominan-temente terrestres os que revelassemproporções análogas em relação ao solo,e mais ou menos indiferentes, com pos-síveis preferências para um ou outro,os que apresentassem valores inferioresa êsses para qualquer um dos níveis.Contudo, deve-se assinalar que essa dis-tribuição vertical pode apresentar-se commaior ou menor evidência, de acôrdocom o tipo de floresta. Ela geralmentese mostra mais nítida nas matas tropi-cais úmidas, onde as copas das árvoressão altas e densas, e assim o solo éacentuadamente sombreado e protegidodas condições climáticas gerais. Naque-las menos espêssas e onde ocorrem esta-ções sêcas prolongadas, tais diferenças ten-dem a diminuir. Como vimos, em nossaregião, embora as copas arbóreas sejamapreciàvelmente densas, a altura florestalnão é grande. Além disso, observou-seque a variação da umidade e da tempe-ratura microclimáticas, referentes aos doispontos, não se mostrou acentuadamentediferente. Por conseguinte, quer nos pa-recer que o critério supracitado para adiscriminação das espécies capturadas, po-deria ser menos rigoroso. Resolvemos,pois, considerar o valor de 60%, como li-mite para a separação. Aliás, aquêlesmesmos autores, já o tinham adotado emsuas ulteriores investigações (TRAPIDO &GALINDO34 1957).

No que concerne aos possíveis fatôresorientadores desta distribuição vertical, emlinhas gerais atribui-se papel de relêvo àscondições microclimáticas. Estas, por suavez, são diretamente influenciadas pelascaracterísticas locais de topografia, tipo defloresta e clima. Dessa maneira, com-preende-se que para as quatro estações decoletas, teremos de levar em considera-ção êsses diferentes aspectos, os quaisnão foram os mesmos para tôdas. Pon-do-se de lado a influência relativamenteuniforme do clima, os demais foram ne-cessàriamente diferentes, como se depreen-de da descrição dêsses locais de trabalho,feita linhas atrás. Acresce ainda a pre-

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sença ou ausência de população humanapróxima. Com efeito, enquanto a esta-ção CG encontrava-se nas vizinhanças donúcleo de Casa Grande, as BRR e GT si-tuavam-se em pontos da mata virgem, com-pletamente afastados de zonas habitadas.Contudo, o tipo de floresta, principalmen-te no que concerne à altura da copa dasárvores, foi diferente. O mesmo pode serdito em relação à EBB. Assim sendo,acreditamos difícil considerar o compor-tamento de mosquitos, baseados em resul-tados globais das quatro estações de co-leta. Preferimos descrever os resultadospara cada uma delas e, com êles, passaràs considerações gerais das prováveis cau-sas influenciadoras na estratificação obser-vada.

Fauna arbórea: Compulsando-se os da-dos constantes das Tabelas 9 e 10, veri-fica-se certa variação para os mosquitosarbóreos. E não sòmente em cada esta-ção como também em relação às capturasdiurnas e noturnas. As proporções con-seguidas na copa, encontram-se represen-tadas pelos histogramas das Figs. 24 a27. Êles foram ordenados de maneiradecrescente para as primeiras e compara-dos, para cada espécie, em relação às úl-timas.

Das quinze espécies encontradas na es-tação EBB, cinco compareceram na copacom mais de 60% dos exemplares. Dasdemais, oito forneceram percentagens va-riáveis de 40 a 60% nesse nível. Aque-las que podemos considerar como arbó-reas, foram constituídas por quatro re-presentantes do gênero Phoniomyia e oAnopheles cruzii. Contudo, êsse aspectofoi observado nas capturas diurnas poisnas noturnas sòmente êsse último mosqui-to manteve, e acentuou o caráter arborí-cela, passando de 65,8 a 74,4%. Os de-mais deixaram de comparecer no períodode coleta crepuscular-noturno, exceto Pho-niomyia pilicauda a qual todavia, teve asua presença diminuída. As outras oitoespécies foram, na sua grande maioria,encontradas apenas nas coletas diurnas.

Entre elas, a única que esteve presentenas noturnas, foi Trichoprosopon rever-sum. Êste mosquito aliás, aumentou oseu comparecimento nessas capturas, semporém ultrapassar os 54,7%. Assim sen-do, nesta estação EBB mostraram-se comhábitos diurnos arbóreos os mosquitosPhoniomyia davisi, P. palmala, P. pili-cauda, P. longirostris e Anopheles cruzii.Êste último, não apenas manteve, comoaumentou a sua presença nesse nível, porocasião das coletas noturnas. Oito outrosculicídeos forneceram também substan-ciais capturas de 40 a 60% na copa.Foram eles, Sabethe intermedius, S. albi-privus, Trichoprosopon frontosum, T. pal-lidiventer, T. reversum, T. cerqueirai,Wyeomyia aporonoma e W. confusa.

No que concerne à estação BRR, foramcoletadas e compulsadas dezoito espéciesna copa arbórea. Tôdas elas comparece-ram nas capturas diurnas, mas sòmenteSabethes intermedius o fêz com mais de60%, em tais ocasiões. Ainda nessas co-letas, registrou-se a presença de nove mos-quitos com substanciais situações de 40%a 60% nesse nível. Nas noturnas obser-vou-se o desaparecimento de vários dêles,entre os quais a própria espécie supra-citada. Contudo, o Anopheles cruziiaumentou sensìvelmente a sua presença,passando a 83,3% dos espécimens con-seguidos nessas coletas noturnas. Em li-nhas gerais, portanto, repetiu-se aqui oobservado na estação anterior, com êsseanofelino reafirmando o seu hábito arbó-reo por ocasião do crepúsculo e início danoite. É de se notar o elevado valor de52,6 atingido pela média horária em taisoportunidades indicando, positivamente,acentuada atividade da espécie nesse ní-vel. Os outros oito culicídeos que, em-bora sem predominante caráter arbóreo,apresentaram-se substancialmente nas cap-turas diurnas efetuadas na copa foram,Phoniomyia palmata, P. longirostris, P.pilicauda, P. davisi, Sabethes albiprivus,Trichoprosopon pallidiventer, T. fronto-sum e Wyeomyia oblita. De noite, po-rém, como mencionamos, desaparecem ou

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diminuem o seu comparecimento, havendoalguns casos de aumento, mas sem atin-gir o limite de 60%.

Na estação GT foram assinaladas dozeespécies na copa, durante as capturasdiurnas. Três delas, a saber, Anophelescruzii, Phoniomyia palmata e P. longiros-tris, fizeram-se presentes a êsse nível, commais de 60% dos totais obtidos no pôstode coleta. De noite, contudo, sòmente oprimeiro dêsses mosquitos continuou pre-sente, e na considerável porcentagem de73,0%. Os outros dois desapareceram, omesmo ocorrendo com quase todos os de-mais. Destes, foram assinalados Phonio-myia pilicauda, P. davisi e Sabethes albi-privus como fornecendo 40 a 60% deespécimens nesse nível. Os outros esti-veram abaixo disso e apenas o Aedes ser-ratus esteve presente em reduzido númerona oportunidade da captura crepuscular--noturna. Em suma, também aqui o Ano-pheles cruzii mostrou o seu caráter arbó-reo, acentuando-se por ocasião do iníciodo período noturno.

Finalmente, as coletas levadas a efeitona copa da estação CG, mostraram o com-parecimento, de dia, de Phoniomyia lon-girostris, P. pilicauda e Anopheles cruziicom mais de 60% dos exemplares obti-dos. De noite, as duas primeiras espé-cies desapareceram dêsse nível e a ter-ceira diminuiu a sua presença, continuan-do porém a comparecer substancialmente,com 50,1% dos espécimens coletados.Foram conseguidas mais sete espé-cies, tôdas elas porém ocorrendo em per-centagens abaixo de 40% e, nascoletas noturnas, chegando a desaparecer,diminuir ou aumentar de maneira insigni-ficante. De qualquer forma, o Anophelescruzii teve outra oportunidade para rea-firmar o caráter arbóreo de seus hábitos,tanto de dia como no início da noite.

Resumindo os resultados obtidos na co-pa das diversas estações, podemos dizerque, nas capturas diurnas, a fauna demosquitos arbóreos foi constituída por al-gumas espécies de Phoniomyia, Sabethesintermedius e Anopheles cruzii. Êste úl-timo compareceu de maneira constante

com êste hábito, em todos os quatro pos-tos, ao passo que aquêles sabetinos varia-ram de acôrdo com a estação. Nas co-letas crepusculares-noturnas esta faunarestringiu-se apenas ao Anopheles cruzii.Em tais ocasiões, êste mosquito não sò-mente manteve o seu caráter arbóreo, co-mo também aumentou-o. Isso foi obser-vado em pràticamente tôdas as estações.Em algumas delas o comparecimento no-turno desse anofelino foi muito pronun-ciado, fornecendo elevadas médias horá-rias neste nível.

Fauna do solo: Compulsando ainda osdados constantes das Tabelas 9 e 10, po-deremos ter idéia, para os diversos pos-tos de coleta, das espécies que preferiramexercer a sua atividade ao nível do soloda floresta.

Na estação EBB verificou-se que dasquinze espécies diurnas, sòmente duas, Li-matus flavisetosus e Wyeomyia oblita,compareceram com mais de 60% ao níveldo solo. Contudo, boa parte delas con-tribuiu substancialmente para essa coleta,como Trichoprosopon cerqueirai e T. re-versum, para os quais pouco faltou paraatingirem aquêle limite. Nas capturasnoturnas nenhum mosquito se mostrou nì-tidamente terrestre, sendo mais ou menosindiferentes as duas espécies de sabetinosali conseguidos.

Em BRR observou-se que oito dos de-zoito mosquitos capturados de dia, mos-traram preferência pelo solo, com percen-tagem acima de 60% de comparecimen-to. Foram êles, Aedes leucocelaenus, Ae.serratus, Psorphora ferox, Limatus flavi-setosus, Trichoprosopon cerqueirai, T. re-versum, Wyeomyia aporonoma e W. con-fusa. M ereceram atenção também assubstanciais coletas de Trichoprosoponfrontosum, T. pallidiventer e Phoniomyiadavisi. Nas capturas noturnas compare-ceram, como preferencialmente do solo.com mais de 60%, Psorophora ferox, Pho-niomyia palmata, Trichoprosopon rever-sum, Wyeomyia aporonoma e W. confusa,e forneceram também apreciável contin-

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gente para êste nível, Phoniomya longi-rostris, Trichoprosopon cerqueirai, T. pal-lidiventer e Ae. serratus.

Nas capturas diurnas em GT, mostra-ram-se decididamente terrestres, Aedesserratus, Psorophora ferox, Trichoproso-pon reversum, T. cerqueirai, T. fronto-sum e Wyeomyia confusa. Nas noturnas,Aedes serratus foi a única especie predo-minante no solo, comparecendo a êssenível com 92,8% dos espécimens obtidos.

No que concerne a CG, os mosquitosdiurnos do solo foram Aedes serratus,Wyeomyia confusa, Psorophora ferox, Ps.discrucians, Sabethes intermedius, Tricho-prosopon cerqueirai e T. reversum. Nascoletas noturnas, embora ocorresse certaparticipação do Anopheles cruzii, as espé-cies nitidamente terrestres, foram Aedesserratus, Psorophora ferox e Trichoproso-pon reversum.

Em resumo, os resultados obtidos nascapturas efetuadas no solo das várias es-tações, revelaram fauna um tanto variá-vel. Com presença nìtidamente constan-te acima de 60%, foram assinalados Ae-des serratus, Psorophora ferox, Limatusflavisetosus, Wyeomyia confusa e Tricho-prosopon cerqueirai. Outras espécies li-mitaram-se a comparecer de maneira pre-dominante, ou substancial, de acôrdo como pôsto de coleta. Dessa forma, algunsmosquitos variaram nesse particular, con-tribuindo numa estação para a faunado solo e em outra para a arbórea. Foio caso de alguns representantes de Wyeo-myia e Trichoprosopon. Assinalou-se ocomportamento de Sabethes intermediuscomo culicídeo do solo na estação CG, ten-do se mostrado essencialmente arbóreo emBRR, conforme citamos linhas atrás. No-tou-se também a presença de Aedes leu-cocelaenus sòmente na estação BRR, sen-do ali coletado no solo, de maneirapredominante.

CONSIDERAÇÕES: Os aspectos suprades-critos mostram a estratificação verticalobservada nas horas de coletas e medianteo uso de isca humana. Nas diurnas ve-

rificou-se que, em geral, certos sabetinosdisputam com o Anopheles cruzii a pre-dominância na copa arbórea. Tal aspec-to modifica-se por ocasião do crepúsculoe início da noite, quando aqueles mosqui-tos declinam ou desaparecem e êste passaentão a predominar. Isso sugere que osrepresentantes noturnos de Phoniomyia eTrichoprosopon sejam meros componentesda população diurna que estendem a suaatividade até o início da noite. Tudo in-dica que, nessa oportunidade, aquela es-pécie anofélica não predomine sòmentepor falta das outras, mas sim tambématravés do incremento de sua própriaatividade.

A presença desses mosquitos com hábi-tos arbóreos encontra explicação, possì-velmente em vários fatôres. Um dêlesseria o concernente aos criadouros situa-dos em bromélias epífitas e ocos deárvores. Nesse particular, resultados se-melhantes foram obtidos em outras re-giões, como en Trinidad e Panamá, ondeoutras espécies do subgênero Kerteszia,Anopheles bellator e Anopheles neivai,forneceram substanciais coletas nesse ní-vel ( DOWNS & PITTENDRIGH 13 1946 eTRAPIDO, GALINDO & CARPENTER 33 1955).É interessante assinalar que na região dePassos, Estado de Minas Gerais, no suldo Brasil, investigações análogas efetua-das em pequenas áreas de florestas resi-duais, revelaram baixa proporção de sa-betinos na copa, não indo além de 35,4%o máximo observado ( CAUSEY & SAN-TOS 9 1949). Por sua vez, na região deBrusque, Estado de Santa Catarina, nãofoi encontrada variação significante nascapturas de três espécies de Kerteszia emtrês níveis diferentes, correspondentes aosolo e duas plataformas arbóreas (VELOSOet alii.39 1956).

Por outro lado, boa parte de represen-tantes de Sabethini, juntamente com Ae-des e Psorophora, apresentaram-se comgrande comparecimento no solo. Inclusi-ve o Aedes leucocelaenus, embora se tra-te de mosquito que se cria em buracosde árvores.

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Outro fator ao qual se tem atribuídoinfluência na estratificação vertical, vema ser aquêle representado pelas condiçõesmicroclimáticas locais e climáticas gerais.Desde as observações de BATES 6 (1944)na Colômbia, tem se verificado a possi-bilidade desssa distribuição sofrer altera-ções durante as diferentes horas do diae as épocas sêcas e úmidas do ano. Taisvariações são devidas às modificações nomicroclima em conseqüência da presençade condições climáticas gerais, tornandoou não, sensìvelmente diferentes a tempe-ratura e a umidade na copa e no solo dasmatas. Essas diferenças atingem valoresmais acentuados nas florestas úmidas doque naquelas constituídas por vegetaçãodecídua. Nestas últimas o microclimatende a se uniformizar e a estratificaçãoa se tornar menos evidente do que na-quelas onde as diferenças entre copa esolo são mais pronunciadas (TRAPIDO &GALINDO 34, 1957). Em outras palavras,a ação das condições climáticas gerais sefaz sentir mais acentuadamente nas flo-restas deciduas do que naquelas forma-das por plantas latifoliadas e de ambienteúmido. Contudo, mesmo nestas, o aspec-to microclimático não é o mesmo paratôdas. No sul do Brasil, a época sêcado ano coincide também com a mais fria,e a tal fato atribuem CAUSEY & SANTOS 9

(1949) o não terem observado diferençaapreciável na estratificação de mosquitosdurante tais períodos, na zona de Passos,Estado de Minas Gerais. Ainda no Bra-sil meridional, região de Brusque, Estadode Santa Catarina, as observações deVELOSO et alli39 (1956) com três espé-cies de Kerteszia concluiram que o vôodesses anofelinos parecia estar ìntimamen-te ligado à umidade relativa. Dessa ma-neira, tanto a distribuição anual comodiurna tenderiam a aumentar com a di-minuição dêsse fator. Contudo, como jáassinalamos, nessas investigações não sedetectou variação significante entre o soloe os níveis arbóreos.

Como já tivemos ocasião de mencionar,a floresta na qual realizamos essas obser-

vações é do tipo tropical úmido. Contu-do, difere ela em múltiplos aspectos daequatorial. E isso devido, em boa par-te, não apenas àquêles concernentes àtemperatura e precipitações, mas tambémà insolação e ao estado higrométrico doar (ARAGÃO5 1961). Com efeito, nestaencosta atlântica, é bem mais prolongadoo período de tempo em que o céu seapresenta encoberto e também mais fre-qüentes os nevoeiros. Isso condicionamaiores valores da umidade do ar, o quepode explicar as variações que se obser-vam na vegetação. É o caso da riquezaem epífitas nesta região sul e a pobrezadessas plantas em matas amazônicas. Porconseguinte, é de se esperar que, comomencionamos, as diferenças microclimáti-cas da copa e do solo, não sejam acen-tuadas em nossa região.

Todavia, além dessa possível uniformi-dade microclimática, deve-se levar emconta que a altura média da copa dasárvores não é grande. Tal aspecto tornaviável a suposição de que seja aindamaior a influência do clima geral nascondições correspondentes aos dois níveisflorestais.

Com o objetivo de observar a distri-buição vertical em diversas épocas do ano,levamos em conta o espaço de tempo cons-tituído pelos 24 meses decorridos demarço de 1964 a fevereiro de 1966. Ba-seados nos dados climáticos já co-nhecidos e explanados no segundo capí-tulo dêste trabalho, consideramos comosecos os intervalos correspondentes aosmeses de março a agôsto, e úmidos os desetembro a fevereiro. Assim sendo, êlesrepresentaram os conjuntos de outuno-in-verno e primavera-verão, respectivamente,com as temperaturas mais baixas acom-panhando o primeiro e as mais altas oúltimo (Tabelas 1 e 2). Dessa maneira,pudemos dispor de dois períodos secos edois úmidos para os quais calculamos aspercentagens das capturas diurnas e no-turnas, na copa e no solo, concernentesaos postos EBB e BRR. Para os outrosdois, só foi possível levar em considera-

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ção um só dêsses períodos para CG, poisem GT as atividades foram suspensas emdezembro de 1964. Os resultados cons-tam das Tabelas 11 a 14. Ali se encon-tram compulsados somente os dados das

espécies que apresentaram médias horá-rias não inferiores a 1,0, pelo menos emum dos níveis, e cujo comparecimento noperíodo considerado, não se fêz com nú-mero inferior a 50 espécimens.

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Verifica-se portanto que, em ambos osperíodos o Anopheles cruzii, manteve oseu caráter arbóreo. Com efeito, a per-centagem de 60% foi ultrapassada namaioria das coletas efetuadas nesse nível.Fizeram exceção algumas variações quepodem ser atribuídas a fatôres locais. Foio caso das coletas diurnas referentes ao1o período sêco em EBB e 2o úmido emBRR e CG, além das noturnas do 2o sêcoem CG. Contudo, em tôdas elas o seucomparecimento foi substancial, nunca in-ferior a 40,0% dos exemplares coletados.Como regra geral, verificou-se também oincremento da presença arbórea dêstemosquito, por ocasião das capturas no-turnas. Como exceção apresentaram-seaquelas referentes ao 2o período sêco emCG, em que houve decréscimo do compa-recimento do anofelino na copa.

Portanto, considerando o Anophelescruzii como mosquito acrodendrófilo, jul-gamos de interêsse a observação de possí-veis variações dessa qualidade, segundoos locais (estações), as coletas (diurnase noturnas) e as condições climáticas ge-rais (períodos secos e úmidos). Paratanto lançamos mão do procedimento deGOLD19, 20 (1960, 1962), que permite arealização simultânea, a um nível de sig-nificância global prefixado, de todos ostestes de hipóteses relativos à comparaçãode proporções em sua forma mais geral(contrastes), numa distribuição multino-mial. Dessa maneira, os dados relativosa essa acrodendrofilia, encontram-se ex-postos na Tabela 15. Nela estão incluí-dos todos os elementos necessários paraas comparações que julgamos necessárias.

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x i = número de exemplares captura-dos na copa

n i = número total de exemplares cap-turados

Quanto aos locais de coleta, os dadosglobais das várias estações forneceram osresultados:

Observa-se significância nas últimasduas comparações, o que permite suporque a estação CG difere das outras duas,no que concerne ao total do material co-letado. Com efeito, como vimos assina-lando em páginas anteriores, êste pôstose situa próximo ao núcleo habitado deCasa Grande e isso talvez possibilite maioração por parte do homem, no sentido deintroduzir modificações no primitivo am-biente natural. Por outro lado, podeocorrer a presença de peculiaridades lo-cais, não estudadas. Seria o caso de di-ferenças na densidade de bromélias e nacomposição da fauna e flora. De qual-quer forma, embora o Anopheles cruziiconserve em nível apreciável o seu caráteracrodendrófilo, em CG êle se comportade maneira um tanto diferente do queem EBB e BRR. Quanto a estas duasúltimas estações, sob o ponto de vista dosresultados globais, elas aparentemente nãodiferem.

Em relação aos dados gerais das cole-tas diurnas e noturnas, as comparaçõesforneceram os resultados seguintes:

Observa-se significância para o rendi-mento total nas coletas noturnas da copaarbórea, em EBB e BRR. Mais uma vez,verifica-se a discrepância da estação CG,pois as diferenças observadas não foramexpressivas.

Finalmente, se compararmos os dadosobtidos nos períodos secos e úmidos paraas capturas diurnas e noturnas, obtere-mos o seguinte:

Constata-se que em períodos secos ocor-reu aumento relevante das proporções ar-bóreas noturnas em EBB e diurnas emBRR. Não houve diferença significanteem relação aos demais períodos e na esta-ção CG. É claro que a explicação dêsseaspecto, no estado atual de nossos conhe-cimentos, não passará do terreno das hi-póteses. Contudo, cremos que em virtu-de de fatôres locais, a uma menor densi-dade que ocorra no período sêco e friodo ano, corresponda, proporcionalmente,maior número de exemplares desse ano-felino no alto das árvores. Em outras

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palavras, diminuindo o número total demosquitos pode acontecer que, em cir-cunstâncias independentes do dia ou danoite, os exemplares capturados venham aser, em sua maior proporção, encontra-dos na copa arbórea. Nesse caso, tería-mos o hábito acrodendrófilo determinan-do maior acúmulo nesse nível, em taisocasiões. De resto, as outras compara-ções não revelaram significância, mostran-do assim que tais discrepâncias adquiremaspectos de peculiaridades locais.

Em suma, o Anopheles cruzii mostrou-se mosquito essencialmente acrodendrófi-lo, apesar de em CG, ter revelado êssecaráter em menor grau. Todavia, mes-mo ali êle contribuiu substancialmente pa-ra as coletas a êsse nível. Tal hábitoparece acentuar-se nas capturas noturnase, como regra geral, não sofreu influên-cia por parte das condições climáticasgerais.

Em relação aos demais culicídeos, pô-de-se observar variações. Foram elas, emlinhas gerais, semelhantes àquelas descri-tas em parágrafos anteriores, para os re-sultados globais das coletas nos dois ní-veis da mata. Dessa maneira, verifica-seentre os sabetinos, a manutenção da pre-ferência arbórea por parte dos represen-tantes de Phonianvyia, com a contribuiçãosubstancial de alguns Trichoprosopon.Por sua vez, Wyeomyia confusa conservoucaráter predominantemente terrestre, bemcomo alguns representantes do último da-quêle gênero. O que se verifica é va-riação em relação aos locais de coleta.No que diz respeito aos culicinos, o ca-ráter terrestre das capturas de Aedesserratus e de Psorophora ferox parecetambém não ter sofrido mudanças comas épocas consideradas.

No que pesem tais variações, o aspectogeral da distribuição vertical manteve-setanto nos períodos secos, como nos úmi-dos. Portanto, no estado atual de nos-sos conhecimentos, acreditamos ser difícilatribuir às mudanças climáticas algumainfluência marcante na estratificação. Oque se poderá observar em decorrência

delas, será o aumento, diminuição ou mes-mo desaparecimento de algumas espécies.Mas o caráter arbóreo ou do solo, pelomenos para o Anopheles cruzii, parecenão depender do clima em geral ou domicroclima, em particular. Êste aliás, noseu aspecto global, não se mostrou acen-tuadamente diferente nos dois níveis dafloresta. Em conclusão a estas observa-ções, acreditamos que êsse mosquito te-nha acrodendrofilia que se intensifica porocasião do início da noite. Por conse-guinte, é lícito pensar que o fator deter-minante de tal comportamento seja oda procura de animais sôbre os quais êsseanofelino tenha alguma preferência hema-tófaga. Isso sugere fortemente que taisvertebrados sejam constituídos por aves,pois são elas que no fim da tarde pro-curam abrigar-se na copa das árvores, on-de passam a noite.

Ciclo anual da densidade: Às variaçõesanuais de temperatura e umidade, corres-ponde fenômeno análogo em relação àdensidade populacional de mosquitos.Contudo, como assinalamos em trabalhoprecedente (FORATTINI 15

, 1962), essadensidade constitui talvez fator epidemio-lógico dos mais difíceis de ser medido.O que se faz comumente, e adotamos nes-te trabalho, é a realização de capturascontínuas em determinados períodos detempo e com técnica preestabelecida. Ébem verdade que, com isso, não se podeevitar certa ação seletiva. Contudo, naimpossibilidade de adoção de melhoresmétodos, êste fornece dados aceitáveis pa-ra o estudo dessa variação ou distribuiçãoestacional. Deve-se porém ter sempre emmente que êles se referem a coletas emdeterminadas horas e com o emprêgo deisca humana. Os resultados são pois, re-duzidos à expressão de médias horárias.

Desta forma, entre os motivos que noslevaram à realização dessas coletas contí-nuas por tempo prolongado, está o dese-jo de conseguir o quadro do ciclo anualdessa densidade. É de se notar, contudo,que certas espécies desaparecem das cap-

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turas, após terem comparecido de manei-ra substancial. Tal comportamento, naaparência independente da variação esta-cional, pôde ser observado com váriosmosquitos. Assim sendo, isso parece in-dicar a existência, para tais culicídeos, deciclos maiores envolvendo vários períodosanuais. Nesse caso, sòmente as capturascontinuadas através de considerável espa-ço de tempo, poderão surpreender êssefenômeno. Na fase atual de nossos tra-balhos, dispomos de resultados relativosa 24 meses, de março de 1964 a fevereirode 1966, para as estações EBB e BRR e12 meses para a CG. Pelas mesmas ra-zões já expostas, deixamos de consideraros resultados concernentes ao pôsto deGT, pois as suas atividades tiveram deser interrompidas em dezembro de 1964,não chegando assim a completar um ci-clo inteiro análogo aos demais.

Como dissemos, ocorreram espécies que,considerando o espaço de tempo de doisanos, desapareceram das coletas durantelongo período. Como o que pretendemosatualmente é a observação do ciclo anualda densidade, deixamos de levar em con-ta tais mosquitos. Assim sendo, dedica-mos a nossa atenção para aquêles que

compareceram nas capturas, de maneiraa poder evidenciar a sua variação esta-cional. Além disso, restringimos as nos-sas atenções àquêles que forneceram nú-mero de exemplares não inferior a 100,no período considerado. Compreende-seque tenhamos sido levados a isso, umavez que se trata de observar variaçõesdurante espaço de tempo bastante longo.

Nas tabelas 16 e 17, encontram-se ex-postas as médias horárias mensais obtidasnas coletas diurnas e levadas a efeitonessas estações de captura. Consideran-do-se os períodos correspondentes ao outo-no, inverno, primavera e verão, observa--se como aspecto geral, a diminuição da-queles valores nos dois primeiros, e seuaumento nos dois últimos. Contudo, essaregra é apenas geral, porque podem serverificadas variações, não sòmente em re-lação às espécies, como no que concerneao posto de coleta.

Para o Anopheles cruzii, verificou-se ci-clo correspondente ao supradescrito, tantonas capturas diurnas como noturnas dasestações EBB e BRR. Se considerarmosas médias horárias referentes aos perío-dos trimestrais supracitados, obteremos osdados constantes da Tabela 18.

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Verifica-se que, embora as médias ob-servadas variem de acôrdo com o pôstode coleta e sejam maiores à noite do quedurante o dia, o ciclo anual obedece aoesquema citado. Os meses mais secos efrios pertencentes ao outono e inverno,são acompanhados de diminuição da den-sidade, chegando mesmo ao desapareci-mento do mosquito. O contrário ocorrenaqueles mais úmidos e quentes da pri-mavera e verão, quando a densidade atin-ge seus maiores valores. Essa flutuaçãopode ser notada também nas coletas no-turnas em BRR, onde foram observadaselevadas médias horárias, mesmo nos pe-ríodos secos e frios. Na estação CG, ocomportamento da distribuição anual dês-te anofelino foi um tanto irregular, em-bora esboçando ciclo semelhante. Tudoleva a crer que fatôres locais possam in-fluir com eficácia na diminuição ouaumento da densidade, além do clima prò-priamente dito.

Quanto aos demais mosquitos, observou--se distribuição estacional análoga. Al-guns chegaram mesmo a desaparecer nascapturas, durante as épocas frias e sêcas.Êsse fenômeno verificou-se da maneiramais evidente com Aedes serratus e Pso-rophora ferox em CG. É o que se podeobservar pela Tabela 19. Para tais culi-

cinos, notou-se a presença de meses com-pletamente negativos, enquanto em outros,a densidade elevou-se bruscamente.

Outras espécies mostraram apreciávelvariação, inclusive em relação a períodoscorrespondentes nos dois anos. É claroque o próprio clima é passível de sofreralterações no seu ciclo, de ano para ano.Contudo, mesmo assim não se pode afas-tar a influência de fatôres locais outros,ainda não suficientemente conhecidos. Dequalquer maneira, observou-se como linhageral, o aumento da densidade culicídicapor ocasião do advento da primavera,chegando ao máximo nos meses estivais dedezembro a janeiro.

A R M A D I L H A D E S H A N N O N

Como já foi dito, as coletas com a ar-madilha de Shannon dotadas de isca lu-minosa, foram levadas a efeito em trêslocais, correspondentes às estações EBB,BRR e CG. Em linhas gerais, foram rea-lizadas na primeira metade da noite, umavez por semana, desde setembro de 1964.O objetivo principal foi conseguir mate-rial de culicídeos para as tentativas deisolamento. Em vista disso, essas captu-ras foram suficientemente irregulares pa-

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ra não permitirem considerações além da-quelas referentes à composição específica.Assim sendo, deixaremos de levantar da-dos relativos à densidade e suas varia-ções. Contudo, julgamos conveniente as-sinalar que, em investigação anterior rea-lizada em EBB, foi observada a médiahorária total de 82,6 para o Anophelescruzii, durante os meses de XI.1960 aII.1961 (FORATTINI et alii16 1961).

Composição Específica: A Tabela 20resume o material obtido nestas capturas.Por ela se pode verificar que o total de30843 espécimens distribui-se por cêrcade trinta e seis espécies, das quais cincopertencentes a Anophelini, quinze a Culi-cini e dezesseis a Sabethini.

À semelhança do que foi geralmenteobservado nas outras coletas, notou-se ofranco predomínio do Anopheles cruzii.Êste anofelino que compareceu em todosos locais e, com o total geral de 26919exemplares, por si só constituiu 87,3%de todo o material capturado. Como sepode ver, trata-se de mosquito que man-tém o caráter dominante, parecendo in-crementá-lo no período noturno.

No que concerne aos culicinos, pôde-seassinalar a presença de Aedes serratus ede Psorophora ferox, devido principalmen-te às capturas realizadas em CG. Algunsgêneros se fizeram representar com maiornúmero de representantes do que nas co-letas diurnas, como foi o caso de Manso-nia e Uranotaenia. Mas, mesmo assim emnúmero negligenciável.

Quanto aos sabetinos, como que numareafirmação do caráter predominantemen-te diurno de seus hábitos, contribuiramcom a menor parcela. Alguns dêles, co-mo o Trichoprosopon reversum, parecemter certa tendência a prolongarem a ati-vidade após o advento da noite. Toda-via, os dados disponíveis não são de mol-de a sugerir que isso corresponda aaumento substancial dêsse aspecto, comose verifica com o anofelino supracitado.

OBSERVAÇÕES NO AMBIENTEDOMÉSTICO

Desde que o aumento da densidade culi-cidiana, em linhas gerais, ocorre no ve-rão, decidimos considerar os resultadosobtidos durante os meses que incluemêsse período. Com efeito, as coletas do-miciliares executadas nas épocas frias, ouforam totalmente negativas ou forneceramnúmero limitado de exemplares. Isso noslevou à conclusão, sob o ponto de vistaprático, da nulidade dessa freqüência do-miciliar por parte dos culicídeos em taisperíodos. Por sua vez, é lícito supor queessa visita aos domicílios deva se tornarmais evidente quando do aumento dadensidade. Por conseguinte, para a in-vestigação epidemiológica interessou-nossaber se, em tais épocas, ao aumento daatividade na floresta seguiu-se fenômenoanálogo em relação à procura de casas.Dessa maneira, levamos em consideraçãoos dados referentes ao espaço de tempodecorrido entre o fim da primavera e iní-cio do outono. Em outras palavras, con-sideramos os meses de novembro a março,a exemplo do que foi feito em investiga-ções anteriores (FORATTINI et alii16 1961,FORATTINI14 1961).

Da maneira como já foi descrita, ascoletas domiciliares foram levadas a efei-to após o crepúsculo, com a duração deduas horas. Nos supracitados períodos,totalizaram os seguintes números de ho-ras:

C O M P O S I Ç Ã O E S P E C Í F I C A

A análise da Tabela 21 mostra a pre-sença de cêrca de vinte e duas espécies deculicídeos encontrados dentro das casaspesquisadas. Tais representantes distri-buiram-se entre 5048 exemplares, incluin-do 5 Anophelini, 13 Culicini e 4 Sabe-

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thini. Todavia, chama logo a atenção ofranco predomínio do Anopheles cruzii oqual, contribuiu com 4270 espécimens, oque significa 84,6% do total coletado.Merece também algum destaque, o Aedesserratus, principalmente em CG. Êsse culi-cino compareceu com 419 representantes,o que equivale a 8,3% do material obti-do. Como se vê, pois, essas duas espéciesrepresentaram cêrca de 93% das capturasdomiciliares, restando sòmente 7% paraas outras 20.

Compreende-se pois, que sob o pontode vista epidemiológico, as atenções de-vam convergir sôbre êsses dois mosqui-tos. Os demais deverão ser tidos comomeros visitantes causáis das residências,pelo menos nos períodos considerados.Com efeito, observou-se a captura de al-guns sabetinos nas residências de EBBe BRR, as quais são justamente as queestão em contato mais estreito com a flo-resta. Por outro lado, verificou-se queentre os mosquitos que se apresentaramdiscretamente nestas coletas, existem al-guns que já foram encontrados com apre-ciável freqüência aos domicílios. É o ca-so de Aedes scapularis que em períodoanálogo de 1960/61, mostrou-se regular-mente presente nessas capturas (FORATTI-NI14, 1961). Isso, a nosso ver, eviden-cia mais uma vez, fenômeno comumenteobservado pelos investigadores que se de-dicam a estas pesquisas. Trata-se da pos-sível modificação na composição faunís-tica numa mesma região, com o correrdo tempo. Em outras palavras, isso se-ria devido à existência de ciclos de abun-dância, maiores do que aquêle que incluiapenas um ano climático.

ANOPHELES CRUZII

A freqüência dêste anofelino a domicí-lios de Casa Grande e Boracéia, já tinhasido objeto de investigações levadas aefeito em 1960/61, em época correspon-dente a estas (FORATTINI et alli16 1961).Nessa ocasião verificou-se apreciável den-sidade domiciliar maior na segunda da-

quelas localidades. As médias globais pa-ra as duas, foram de 3, 9 e 21, 7 respec-tivamente. As observações atuais feitastrês anos após, revelaram em linhas ge-rais, situação semelhante, como se depre-ende pelos dados da Tabela 22.

Observou-se que as médias horárias fo-ram mais baixas em CG do que nosoutros locais. Contudo, verificou-se tam-bém a existência de variações dignas denota, de ano para ano. Com efeito, emEBB notou-se aumento considerável des-sa freqüência, a qual atingiu elevado va-lor no início de 1966. O contrário ocor-reu nas outras duas localidades, onde seregistrou relativa diminuição em relaçãoao ano anterior. Observando-se porémcada mês em particular, pode-se ver queessa flutuação se fêz em ambos os sen-tidos.

De qualquer maneira, a freqüência des-ta espécie aos domicílios da região, con-tinua a se fazer sentir. A exemplo doverificado em outras áreas do sul do Bra-sil, como em Florianópolis, Estado deSanta Catarina, onde as médias horáriaspara os períodos noturnos chegaram a33,5 (RACHOU 27, 28 1946, 1958). Contu-do, tais valores sofrem alterações de acôr-do com fatôres locais. Entre êles se si-tuam os que dizem respeito à situação dacasa em relação à floresta. Em nossasobservações notamos que as menores den-sidades obtidas em CG, corresponderamao núcleo urbano de Casa Grande, o qualnão se encontra em tão íntima proximi-dade com a mata, quando comparado comEBB e BRR. Outros fatôres podem serresponsabilizados pelas alterações dessasmédias. De fato, embora a nossa regiãonão tenha sido submetida à dedetizaçãodomiciliar, os moradores de Casa Grandelançam mão do uso de inseticidas, mesmode maneira irregular. É de se supor pois,que isso constitua fator passível de pro-vocar certa diminuição nas visitas ano-félicas (FORATTINI et alii14 1961).

Em resumo, o Anopheles cruzii consti-tui espécie que, respeitadas as variaçõesdevidas a fatôres locais, freqüenta as ca-

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sas da área de Casa Grande, com apre-ciável densidade. Esta pode chegar aatingir níveis elevados, especialmente emresidências localizadas em íntimo conta-to com o ambiente silvestre. É o casoda habitação situada na Barragem doRio do Campo (BRR).

A E D E S SERRATUS

Esta espécie também foi encontradadentro das casas, embora com densidadebem menor do que a anterior. Sua pre-sença nesse ambiente foi digno de notasomente na localidade CG, sendo despre-zível nas demais. A Tabela 23, resumeos resultados obtidos.

Verifica-se, pois, que as médias horá-rias totais foram de 6,2 e 3,2 para osdois períodos, respectivamente. Contudo,observando-se, separadamente os valoresmensais, nota-se que em alguns dêles, con-seguiu-se os níveis mais altos de 11,9 e10,8, correspondentes aos meses de II.65e XI.65. Ocorreu, portanto, apreciávelvariação dessa média, o que de certo mo-do, está de acôrdo com os hábitos dosrepresentantes dêste gênero, que se carac-terizam pelo aspecto explosivo de seu apa-

recimento. De qualquer maneira, trata-se de culicino cuja visita aos domicílios,em CG e nessa época mostrou-se dignade nota. Suas médias horárias, em al-gumas ocasiões, chegaram a atingir valo-res apreciáveis.

Outras espécies: Como foi assinalado,os demais culicídeos foram coletados den-tro das casas, em pequeno número. Po-deria parecer de algum significado as cap-turas de Psorophora ferox em CG. To-davia, êste mosquito apenas foi coletadoem alguns meses e sòmente em XII.64 asua média horária forneceu valor de 4,0.Acreditamos, pois, na suposição de quejuntamente com os outros, faça parte docontingente dos visitantes ocasionais.

Seria interessante ressaltar aqui doisaspectos. Em primeiro lugar, o desapare-cimento quase total do Aedes scapularisque, em período análogo de 1960/61 com-pareceu com regularidade dentro do do-micílio de CG, embora com médias ho-rárias baixas (FORATTINI14, 1961). Játivemos ocasião de tecer considerações sô-bre êste fato, linhas atrás. Em segundolugar, a ausência do Culex pipiens fati-gans. Com efeito, tratando-se de mosqui-to essencialmente doméstico, não esperá-

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vamos, de início, encontrá-lo em EBB eBRR. Contudo, como CG representa nú-cleo habitado há bastante tempo, era dese supor que êle viesse a comparecernessas coletas. Isso não ocorreu, a exem-plo do que aconteceu nas observações de1960/61, e tal fato pode dar margem avárias hipóteses. Estas irão desde a suainexistência no local, até a presença deformas com hábitos, no máximo, perido-miciliares.

Em resumo, das observações no am-biente domiciliar, verificamos que as ca-sas desta região podem ser freqüentadasregularmente por culicídeos silvestres.Entre êles, ressalta-se o Anopheles cruzii,com apreciável densidade. O Aedes ser-ratus parece comportar-se com certa re-gularidade, embora em menor densidade,no núcleo de Casa Grande. Quanto aosoutros, mesmo representando considerávelnúmero de espécies, podem ser encaradoscomo simples visitantes acidentais.

COMENTÁRIOS E CONCLUSÕES

O aspecto global dos dados obtidosressalta sobremaneira a presença marcan-te do Anopheles cruzii, além de prováveispapéis desempenhados por alguns repre-sentantes de Culicini e Sabethini. Poresta razão, nossos comentários focalizarãodiretamente êsses mosquitos.

No meio silvestre: Sendo o Anophelescruzii espécie florestal, a sua dominâncianesse meio se revela através dos conside-ráveis valores que podem atingir as mé-dias horárias. Em nossas observaçõescom isca humana, apresentou-se êle comdensidade elevada, tanto nas capturasdiurnas, como nas crepusculares-noturnas.Nesta região da encosta atlântica meri-dional do Brasil, situa-se o bioma natu-ral dêsse anofelino, em cujas matas pre-domina ( VELOSO, MOURA & KLEIN 38

1956, RACHOU 28 1958, FORATTINI 15

1962).

Em nossas investigações, o Anophelescruzii revelou-se mosquito dotado de apre-

ciáveis tendências acrodendrófilas. Talencontro está um tanto em desacordo comobservações levadas a efeito em Brusque,Estado de Santa Catarina, Brasil. Comefeito, nessa região, VELOSO et alii39

(1956) considerando de maneira globalo subgênero Kerteszia, levaram a cabo in-vestigações em estações dotadas de duasplataformas para cada árvore, a primeiraentre 7 e 9 metros e a segunda entre 12e 17 metros de altura. Êsses autores nãoencontraram diferença significante entreo solo, a primeira e a segunda platafor-mas de duas dessas estações e certa va-riação, para mais, nos níveis elevados daterceira. Todavia, deve-se ter presenteque essas capturas foram executadas coma finalidade de observar, especìficamente,o vôo dêsses mosquitos e portanto, coma preocupação de evitar a influência ex-cessiva do fator "isca-humana". Dessamaneira, foi determinado como sendo de30 minutos o tempo máximo para que ohomem capturador não exercesse atraçãoacentuada sôbre mosquitos situados maisdistantes a níveis sensìvelmente diferentesdo que aquêle em que estava situado.Com êsse tempo, as coletas foram feitasem vários pontos, sucessivos e em rodí-zio, perfazendo período total de 24 horascontínuas, das 12:00 de um dia até omesmo horário do dia seguinte. Compre-ende-se pois que êsse processo foi total-mente diferente do que utilizamos. Ocor-re que tínhamos interêsse em focalizar anossa atenção essencialmente sôbre a he-matofagia dos mosquitos. Poderíamostê-la dirigido não sòmente em relação aohomem, como também a diversas espé-cies animais. Em virtude de dificulda-des várias, até agora isso não foi realiza-do, bem como deixamos de efetuar cole-tas de 24 horas sucessivas. Contudo,apesar dessas omissões, somos de parecerque, à semelhança de outros investigado-res que levaram a efeito pesquisas idênti-cas, o método que empregamos é capazde fornecer idéia razoável dessa ativida-de. Se não, vejamos. O emprego de ape-nas dois níveis estabeleceu a diferença ne-

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cessária para julgar do caráter acroden-drófilo, e as capturas simultâneas emambos, possibilitaram razoàvelmente essaobservação. O revezamento dos homenscapturadores, procedido de hora em hora,reduziu ao mínimo as possíveis influên-cias individuais. Finalmente, desde quenos interessava observar a hematofagia, apermanência mais prolongada da isca nolocal vinha ao encontro dêsse objetivo.De resto, as nossas verificações concor-dam com as de VELOSO et alii39 (1956)no que concerne, de maneira geral, aoaumento dessa atividade com o cair danoite.

Quanto à periodicidade anual, o rendi-mento de nossas coletas aumentou nosmeses em que registramos maiores va-lores da umidade relativa. Tais resulta-dos parecem constituir o inverso do ob-servado ainda por VELOSO et alii39

(1956). Quer nos parecer que tal fatodeva ocorrer por conta de diferenças re-gionais das áreas em que foram realiza-das as duas pesquisas. Com efeito, co-mo já assinalamos em capítulos preceden-tes, a nossa região situa-se no alto deterreno montanhoso da Serra do Mar, tu-do parecendo indicar a presença de certauniformidade microclimática duranteapreciável período do ano. Deve-se lem-brar também que, nossas coletas não co-briram as 24 horas seguidas. Aindamais, enquanto as investigações naquelaregião são concernentes só ao subgêneroKerteszia, para as três espécies ali exis-tentes (VELOSO36 1958), as nossas se re-ferem apenas a uma delas, o Anophelescruzii, mas incluem também os demaismembros locais da família Culicidae.

De qualquer forma, de nossas investi-gações no meio silvestre de Casa Grande,acreditamos poder afirmar o que segue.Nas estações de coleta situadas em áreasescassamente habitadas ou mesmo despo-voadas, como foi o caso de EBB, BRR eGT, a maior densidade de mosquitos diur-nos repartiu-se entre vários representan-tes de Sabethini e Anopheles cruzii. Poroutro lado, nas capturas noturnas, ocor-

reu sensível diminuição dos primeiros eaumento considerável por parte do se-gundo. Na estação CG, situada próximoao núcleo habitado de Casa Grande, osresultados foram também semelhantes,mas ali pudemos notar também a presen-ça um tanto marcada de alguns Culicini.Possìvelmente as diferenças de ordem lo-cal determinaram tais variações em re-lação aos outros dois postos de captura.É de se supor também ali a influência daatividade humana, em virtude da proxi-midade do núcleo habitado.

O caráter acrodendrófilo parece ser evi-dente em relação ao Anopheles cruziialém de, embora com certa irregularida-de, para alguns Sabethini. O hábito ar-bóreo daquêle anofelino tende a acentuar--se com o início da noite. Êsse aspectopoderia dar margem a algumas conside-rações sobre a possível motivação paraêsse comportamento. A nosso ver, desdeque êle parece não depender do clima oumicroclima, é lícito supor que papel designificante influência venha ser desem-penhado pelas possíveis fontes para o re-pasto sanguíneo. Em outras palavras, apresença de vertebrados arbóreos seria hi-pótese bastante viável na determinaçãodessa acrodendrofilia. E, ao se levar emconta que no início da noite as copas ar-bóreas servem de abrigo para a faunaaviária da região, não seria descabido su-por que êsses animais pudessem vir aser importantes fontes para a atividadehematófaga do Anopheles cruzii. Nesseparticular, chama necessàriamente a aten-ção a presença de apreciável número degalinhas encontradas com positividadepara o vírus Boracéia (1) o qual é agen-te isolado dêsse anofelino (LOPES et alii24

1966).

No ambiente doméstico: Foi ainda oAnopheles cruzii que desempenhou papelde relêvo em nossas observações sôbre afreqüência aos domicílios da região. Emalguns casos, como no da residência si-

(1) Lopes, O. de S. et alii — Dados inéditos.

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tuada em BRR, a densidade intradomi-ciliar chegou a atingir considerável va-lores. Convirá assinalar que o compor-tamento dessa espécie nesse sentido, pa-rece ter se mantido de maneira constantenesta região. E isso porque as nossasatuais observações confirmam outras, le-vadas a efeito anteriormente na mesmaárea (FORATTINI et alii16 1961).

O mesmo, contudo, parece não ter ocor-rido com outros mosquitos. Foi o casode Aedes scapularis que, coletado comcerta freqüência em época anterior (Fo-RATTINI 14 1961), desapareceu pratica-mente das capturas atuais. Êsse mosqui-to, como que foi substituído pelo Aedesserratus cujo comparecimento, em algu-mas ocasiões, acusou mesmo apreciáveisníveis nas médias horárias. É possívelpois que, as populações de tais culicídeosestejam sujeitas a ciclos mais longos doque o anual, no intervalo dos quais, po-dem chegar a diminuir muito de densi-dade. Outra explicação seria a ocorrên-cia de modificações na composição damesma população específica, levando-se emconta que tais hábitos poderiam obedecera comando genético. De tôdas as manei-ras, são assuntos interessantes para pes-quisa.

O que importa considerar para a atualinvestigação é que desde nossas anterio-res observações (FORATTIN et alii16

1961)), até as atuais, o Anopheles cruziimanteve o seu caráter de freqüentadorde domicílios. Nestes últimos dois anose, especificamente, no núcleo de CasaGrande, foi-nos possível notar inclusive aatividade nesse sentido, por parte doAedes serratus.

É interessante notar que o Anophelescruzii consegue alcançar, com boa densi-dade, mesmo casas situadas a certa dis-tância de seus criadouros. Foi o caso dahabitação no 98 do núcleo de Casa Gran-de, e que se encontra instalada a maisde 200 metros da margem florestal, tendoainda o rio Claro de permeio. Isso podeencontrar explicação, pelo menos em par-te, no apreciável alcance de vôo dêsse

anofelino. Algumas observações têm re-velado êsse fato. É o caso daquelas le-vadas a efeito em Cananéia, Estado deSão Paulo, Brasil, onde exemplares mar-cados foram recapturados a distâncias su-periores a 1000 metros do local de sol-tura. E note-se que, nessas investigações,foi possível verificar a capacidade de tra-vessia, em ambos os sentidos, de canal deágua salgada com largura mínima de800 metros ( CORRÊA et alii11 1961).

Por conseguinte, essa freqüência aosdomicílios da região, permite considerarimportante fator epidemiológico no possí-vel mecanismo de transporte de vírus eoutros agentes, do meio silvestre para odoméstico.

Desde o início, chamou-nos a atenção aausência da espécie doméstica Culex pi-piens fatigans. Com efeito, nas capturasa sua presença foi absolutamente nula,mesmo naquelas levadas a cabo no núcleohabitado de Casa Grande. Na tentativade trazer alguma explicação para êssefato, programamos a pesquisa de cria-douros domiciliares. Até o momento, osresultados foram negativos para essa es-pécie, exceção feita de alguns reduzidosfocos no próprio núcleo de Casa Grande.Dessa maneira, até que o possível pros-seguimento das investigações nos tragamaiores dados, sòmente podemos suporque êsse mosquito se encontre ainda emfase de adaptação ao ambiente domésticodesta área. É possível que ela ainda nãose tenha processado de maneira eficaz.

S U M M A R Y

This work reports observations on adultCulicidae activities for diurnal and cre-puscular-nocturnal forest species occur-ring in the area of Casa Grande, locatedat the Northeast region of the State ofSão Paulo, Brazil. These investigations,were carried out during the 1963 to 1966period. They recorded the specific com-position, distribution, year cycle of abun-dance, vertical stratification in the forest,

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and the possible relationship of these fo-rest mosquitoes to the housekold environ-ment. Since these region is considereda biome of the Anopheles (Kerteszia)cruzii particular attention was dedicatedto this species, considered as an impor-tant malaria vector. Beside this, severalSabethini species proved to be considera-bly abundant and, along with some culi-cines as Aedes serratus, showed activitiesthat may put these mosquitoes in relationwith humans and domestic animals. Re-garding the domesticity of these mosqui-toes, Anopheles cruzii proved to be a con-siderable house visitor and this suggestthat it may be incriminated for the trans-mission of forest virus and other infec-tious agents to humans and domestic ani-mals. This mosquito proved to be ofthe acrodendrophilic species and somepreference of it by avian blood is sugges-ted.

A G R A D E C I M E N T O

Cumprimos o grato dever de agradecerao Prof. Rubens Murillo Marques, da Fa-culdade de Higiene e Saúde Pública daUniversidade de São Paulo, a inestimávelcolaboração que nos prestou na análiseestatística dos dados coletados.

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