84
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917 e sua caracterização química e biológica Tania Barth Orientador: Dr. Osmindo Rodrigues Pires Júnior Brasília 2018 Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da Universidade de Brasília como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Biologia Animal.

Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

  • Upload
    others

  • View
    6

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal

Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha

caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917 e sua

caracterização química e biológica

Tania Barth

Orientador: Dr. Osmindo Rodrigues Pires Júnior

Brasília

2018

Tese de doutorado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Biologia Animal da Universidade de

Brasília como parte dos requisitos para

a obtenção do título de Doutor em

Biologia Animal.

Page 2: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

ii

Dedico este trabalho,

Aos meus amados pais, Adalberto e Edith, que com todo amor e sabedoria

cultivaram o meu jardim e me ensinaram que para ele florir, é preciso amor,

respeito, dedicação, honestidade, simplicidade... Assim, cada flor que se abre

colorida e perfumada, posso colher graças a vocês.

Ao meu filho Hiroshi, a maior e mais bela flor do meu jardim, que me faz sorrir

todos os dias e que desperta em mim as mais incríveis emoções e o amor mais

profundo.

Page 3: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

iii

Agradecimentos

Agradeço especialmente aos meus pais Adalberto e Edith e, meus irmãos

Eneide e Jayson, pelo amor pleno e verdadeiro, pelo apoio e incentivo e por

compreenderem minha ausência neste período.

Ao meu filho Hiroshi, que em tantos momentos difíceis, senti sua mãozinha

macia e cheia de ternura deslizando nos meus cabelos e me confortando

profundamente dizendo: mamãe, eu te amo muiiiiiiito!!!

Ao meu esposo Renato, pelos gestos de amor, de compreensão e pelas longas

conversas que me ajudaram a seguir em frente.

Agradeço aos professores da Morfologia/UESC, Aparecida, Cristina O.,

Cristina C., Marco, Andréia, Lígia, Lise, Bau, Fábio, Guisla e a professora Jane Lima,

amigos queridos, que mesmo sabendo que passariam por um período difícil, me

apoiaram e me ajudaram na realização deste trabalho.

Agradeço às instituições, Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC e

Universidade de Brasília - UnB, que apoiaram a realização do curso de doutoramento.

À Andréia Pinheiro, pela sua amizade e por sua contagiante alegria, que

transformaram nossos dias em causos incríveis, que valerão sempre a pena

relembrar.

Agradeço ao professor Osmindo R. P. Júnior, pela oportunidade, orientação e

ensinamentos e, por compreender todas as situações que envolveram meu papel

como mãe.

Aos colegas do laboratório de Toxinologia/UnB, Carlos Santana, Ana Carolina

e Lucas Ferreira, por compartilharem conhecimentos, pelo socorro prestado nas horas

mais críticas (rsrsrs) e por todos os momentos carinhosos e divertidos que passamos.

Agradeço a Dhara, Elisama, Nayara e Tsai, pela imprescindível ajuda com a

coleta das amostras e principalmente pelo carinho!

A todos os professores e alunos do laboratório de Toxinologia/UnB, pela

convivência harmoniosa e gentil e, por todas as vezes em que de alguma forma me

ajudaram, em especial, Kamillinha e Andréia pelo auxílio com os ensaios hemolíticos.

Agradeço ao Washington, Adolfo, Patrícia, Elias e Danilo, do laboratório de

Toxinologia/UnB, pela atenção com que sempre me ajudaram e por tudo o que me

ensinaram.

Page 4: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

iv

Agradeço aos professores Mariana Castro e Wagner Fontes, pela importante

contribuição com este trabalho, especialmente a espectrometria de massa e por todas

as conversas sempre produtivas, em que aprendi muita coisa e que sempre levavam

a mais um passo adiante.

Ao Nuno, um parceiro especial com quem sempre, sempre pude contar e muito

aprendi. Seu jeito simples e bem-humorado, transformou momentos difíceis em

diversão e tudo isso, vou guardar no lado esquerdo do peito!

Agradeço aos professores, Carlos André, Peter Roepstorff, Eliane Noronha e

Sônia Freitas e aos colegas Amanda e Alonso, pois a participação de vocês neste

trabalho foi de extrema importância. Agradeço também por compartilharem seu

conhecimento de forma tão atenciosa e incentivadora.

Agradeço a Dra. Jaqueline do laboratório de Nanobiotecnologia/UnB, uma

grande companheira e incentivadora. Jaque, te agradeço muito pela amizade, pela

força e por todos os ensinamentos que você generosamente fez questão de

compartilhar comigo.

Agradeço a todos os colegas do laboratório de Nanoboptecnologia/UnB, pelo

carinho e por toda ajuda que recebi.

A todos os professores, especialmente as professoras Consuelo Medeiros e

Aline Martins e aos alunos e servidores do LBQP/UnB, que carinhosamente me

receberem, me ajudaram e torceram por mim.

Agradeço aos professores da UnB, Diego Madureira, Ricardo Bentes, Eloísa

Dutra e, a Patrícia Diniz por terem viabilizado a realização de experimentos em seus

laboratórios e a professora Marta R. Magalhães (PUC/GO) que me esclareceu as

primeiras dúvidas nos experimentos enzimáticos.

Enfim, tenho certeza que estas palavras não são suficientes para expressar a

gratidão que sinto por todos aqueles que verdadeiramente me ajudaram, inclusive

aquela ajuda que vem de um simples sorriso.

E, “de acordo com a literatura, a hialuronidase é uma enzima que cliva

preferencialmente o ácido hialurônico e ...,” e eu diria ainda, que ela é uma criatura

danada, com vida própria e que gosta de causar fortes emoções. Digo isso, porque

tudo começou com ela e nossa “relação” foi muito além do que está escrito aqui, pois

além do grande aprendizado, conheci várias pessoas que comigo vibraram a cada

conquista. Por isso, a ela também agradeço.

Page 5: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

v

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................ viii

LISTA DE TABELAS ............................................................................................... x

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.................................................................. xi

RESUMO .............................................................................................................. xii

ABSTRACT .......................................................................................................... xiii

I. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 16

1. Aranhas ..................................................................................................... 17

2. Composição da peçonha e atividades biológicas ....................................... 18

2.1. Ação antimicrobiana..............................................................................19

2.2. Ação citotóxica......................................................................................21

2.3. Ação imunomoduladora............................. ...........................................22

2.4. Acilpoliaminas ..................................................................................... 24

2.5. Enzimas .............................................................................................. 27

2.6. Proteínas CRISP ................................................................................ 30

3. Acanthoscurria natalensis .......................................................................... 31

II. JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 35

III. OBJETIVOS .................................................................................................... 36

IV. ESTRUTURA DA TESE .................................................................................. 37

PARTE I ............................................................................................................ 38

Fracionamento da peçonha de A. natalensis e screening de atividades

biológicas .......................................................................................................... 38

1. Material e métodos .................................................................................... 38

1.1. Material biológico e obtenção da peçonha .......................................... 38

1.2. SDS-PAGE ......................................................................................... 39

1.3. Fracionamento por cromatografia líquida de alta eficiência de fase

reversa (RP-HPLC) ................................................................................... 39

1.4. Screening de atividades biológicas da peçonha ................................. 40

2. Resultados ................................................................................................ 47

2.1. Perfil eletroforético da peçonha .......................................................... 47

2.2. Fracionamento da peçonha por cromatografia de fase reversa .......... 48

Page 6: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

vi

2.3. Screening de atividades biológicas da peçonha ................................. 50

3. Discussão .................................................................................................. 57

PARTE II ........................................................................................................... 66

Acilpoliaminas: purificação, atividades biológicas e caracterização parcial da

estrutura química .............................................................................................. 66

1. Material e métodos .................................................................................... 66

1.1. Recromatografia por RP-HPLC e atividade antimicrobiana ................ 66

1.2. Determinação de CIM e atividade hemolítica ...................................... 67

1.3. Espectroscopia Ultravioleta (UV) ........................................................ 69

1.4. MALDI-TOF/TOF ................................................................................ 69

1.5. ESI-MS ............................................................................................... 70

2. Resultados ................................................................................................ 70

2.1. Recromatografia por RP-HPLC e atividade antimicrobiana ................ 70

2.2. CIM e atividade hemolítica ................................................................. 76

2.3. Caracterização parcial da estrutura química ....................................... 79

3. Discussão .................................................................................................. 90

PARTE III .......................................................................................................... 97

Caracterização bioquímica e estrutural de um complexo proteico contendo as

proteínas Hialuronidase e CRISP isoladas da peçonha da aranha

Acanthoscurria natalensis ................................................................................. 97

1. Material e métodos .................................................................................... 97

1.1. SDS-PAGE e zimograma ................................................................... 97

1.2. 1D Blue native (BN)-PAGE, 2D BN/SDS-PAGE e zimograma ............ 98

1.3. Digestão in gel .................................................................................... 99

1.4. Espectrometria de massa ................................................................... 99

1.5. Sequenciamento N-terminal por degradação de Edman................... 101

1.6. Processamento dos dados e análise da sequencia .......................... 101

1.7. Dicroismo circular (DC) ..................................................................... 103

1.8. Caracterização enzimática ............................................................... 105

2. Resultados .............................................................................................. 106

Page 7: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

vii

2.1. MALDI-TOF e perfil eletroforético da AnHyal .................................... 106

2.2. Caracterização estrutural da AnHyal ................................................ 107

2.3. Análises 1D e 2D BN-PAGE ............................................................. 116

2.4. Análise de dicroísmo circular e estabilidade térmica ......................... 119

2.5. Caracteriazação enzimática da AnHyal ............................................ 121

3. Discussão ................................................................................................ 122

V. CONCLUSÕES.............................................................................................. 129

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 132

Anexo I. Licença SISBIO .................................................................................... 147

Anexo II. Autorização CEUA .............................................................................. 148

Anexo III. Artigo científico publicado durante o período do doutorado ................ 149

Page 8: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

viii

LISTA DE FIGURAS

I. INTRODUÇÃO

Figura 1. Representação da estrutura química geral das acilpoliaminas .......... 26

Figura 2. Exemplar de Acanthoscurria natalensis.. .......................................... 34

Figura 3. Distribuição da espécie A. natalensis no território brasileiro .............. 34

IV. ESTRUTURA DA TESE

PARTE I. Fracionamento da peçonha de A. natalensis e screening de atividades

biológicas

Figura 1. Perfil eletroforético da peçonha de A. natalensis............................... 49

Figura 2. Perfil cromatográfico de A. natalensis por RP-HPLC ........................ 48

Figura 3. Efeito da peçonha e FR5 sobre a viabilidade celular de células

tumorais (Hela e MCF7) e não tumorais (NIH3T3) ........................................... 51

Figura 4. Efeito da peçonha e FR5 sobre macrófagos J774............................. 53

Figura 5. Efeito da peçonha e FR5 sobre macrófagos J774 estimulados (LPS) 54

Figura 6. Atividade proteolítica da peçonha de A. natalensis ........................... 55

Figura 7. Atividade fosfolipásica da peçonha de A. natalensis ......................... 56

Figura 8. Atividade hialuronidásica da peçonha e frações cromatográficas de A.

natalensis ........................................................................................................ 57

PARTE II. Acilpoliaminas: purificação, atividades biológicas e caracterização

parcial da estrutura química

Figura 1. Recromatografia (1ª. RC) da fração 5 (FR5) ..................................... 71

Figura 2. Recromatografia (2ª. RC) das frações 5.13 a 5.18 ............................ 74

Figura 3. Espectros MALDI TOF/TOF das frações 5.13 a 5.18 ........................ 75

Figura 4. Atividade antimicrobiana das frações 5.13 a 5.18 ............................. 77

Figura 5. Atividade hemolítica da peçonha, FR 5 e frações 5.13 a 5.18 ........... 78

Page 9: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

ix

Figura 6. Espectro de absorção UV das frações 5.13 a 5.16 e 5.18................. 80

Figura 7. Análise ESI-MS/MS da ApAn728.. .................................................... 83

Figura 8. Análise ESI-MS/MS da ApAn614a .................................................... 84

Figura 9. Análise ESI-MS/MS da ApAn614b .................................................... 86

Figura 10. Análise ESI-MS/MS da ApAn742 .................................................... 87

Figura 11. Análise ESI-MS/MS da ApAn756. ................................................... 89

PARTE III. Caracterização bioquímica e estrutural de um complexo proteico

contendo as proteínas Hialuronidase e CRISP isoladas da peçonha da aranha

Acanthoscurria natalensis

Figura 1. Análise da AnHyal por SDS-PAGE e zimograma ............................ 106

Figura 2. Peptídeos da AnHyal sequenciados de novo com similaridade para a

hialuronidase de Brachypelma vagans........................................................... 108

Figura 3. Peptídeos da AnHyal por degradação de Edman e sequenciados de

novo com similaridade para GTx-VA1 de Grammostola rosea. ...................... 108

Figura 4. Alinhamento múltiplo da AnHyalH com a hialuronidase de outros

artrópodes. .................................................................................................... 114

Figura 5. Alinhamento múltiplo da AnHyalC com CRISPs de aranhas ........... 115

Figura 6. BN-PAGE, 2D BN/SDS-PAGE e/ou zimograma da AnHyal ............ 117

Figura 7. Espectro de Dicroísmo Circular (DC) da AnHyal em função da

temperatura ................................................................................................... 120

Figura 8. Caracterização enzimática da AnHyal ............................................. 121

Page 10: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

x

LISTA DE TABELAS

IV. ESTRUTURA DA TESE

PARTE I. PARTE I

Fracionamento da peçonha de A. natalensis e screening de atividades biológicas

Tabela 1. Atividade antimicrobiana da peçonha de A. natalensis e frações

cromatográficas. .............................................................................................. 50

PARTE II. Acilpoliaminas: purificação, atividades biológicas e caracterização

parcial da estrutura química

Tabela 1. Atividade antimicrobiana das frações 5.1 a 5.19 .............................. 73

PARTE III. Caracterização bioquímica e estrutural de um complexo proteico

contendo as proteínas Hialuronidase e CRISP isoladas da peçonha da aranha

Acanthoscurria natalensis

Tabela 1. Sequenciamento de novo da AnHyal com similaridade para a

hialuronidase de Brachypelma vagans........................................................... 109

Tabela 2. Sequencia N-terminal e sequenciamento de novo da AnHyal com

similaridade para GTx-VA1 de Grammostola rósea. ...................................... 110

Tabela 3. Sequenciamento de novo dos peptídios da AnHyalH e AnHyalC

obtidos pela digestão in gel ............................................................................ 118

Page 11: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

xi

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Abs Absorbância ACN Acetonitrila ANOVA Análise de Variância ATCC American Type Culture Colection BSA Albumina sérica bovina, do inglês “bovine serum albumin” CEUA Comissão de Ética no Uso Animal CIM Concentração inibitória mínima Da Dalton DMSO Dimetilsulfóxido DTT Ditiotreitol ESI Ionização por eletrospray HCCA Ácido α-ciano-4-hidroxicinâmico IL Interleucina LC-MS/MS Cromatografia líquida acoplada a espectrômetro de massas

sequencial LPS Lipopolissacarídeo purificado de Escherichia coli 0127 MALDI-TOF Matrix Assisted Laser Desorption Ionization-Time of Fligth MeOH Metanol [M+H]+ Massa molecular monoisotópica MRM Multiple reaction monitoring MS Espectrometria de massa, do inglês “mass spectrometry” MTT 3-(4,5)-dimetilalzolil-2,5-difeniltetrazólio m/z Massa/carga NaNO2 Nitrito de Sódio NEED diamina-di-hidroclorido naftaleno NF-kB Fator nuclear kappa B NO Óxido Nítrico PBS Tampão fosfato de sódio, do inglês “Phosphate-buffered saline” RPMI Meio de cultura celular, do inglês “Roswell Park Memorial Institute” RMN Ressonância magnética nuclear RP-HPLC Cromatografia líquida de alta eficiência em fase reversa, do inglês

“Reversed-Phase High Performance Liquid Chroatography” SA Ácido sinapínico, do inglês “Sinapinic acid” SDS-PAGE Dodecil Sulfato de Sódio - Gel de Poliacrilamida SFB Soro fetal bovino TFA Ácido trifluoroacético TNF-α Fator de necrose tumoral alfa UV Ultravioleta

Page 12: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

xii

INVESTIGAÇÃO DE COMPOSTOS ISOLADOS DA PEÇONHA DA ARANHA

CARANGUEJEIRA ACANTHOSCURRIA NATALENSIS CHAMBERLIN, 1917 E

SUA CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E BIOLÓGICA

RESUMO

A peçonha de aranhas é composta por uma mistura complexa de moléculas, como

acilpoliaminas, peptídios e proteínas neurotóxicas e, enzimas, como hialuronidases. A

caracterização destas moléculas tem possibilitado o desenvolvimento de diversas

aplicações farmacológicas e biotecnológicas. Contudo, poucas moléculas foram

estudadas em aranhas do gênero Acanthoscurria, inclusive em Acanthoscurria natalensis.

Assim, o objetivo deste estudo foi a investigação de compostos presentes na peçonha de

A. natalensis e sua caracterização química e biológica. A peçonha foi fracionada por

cromatografia líquida (RP-HPLC) obtendo-se 18 frações principais. O screening de

atividades biológicas da peçonha e/ou frações, identificou ação antimicrobiana

pronunciada, manutenção da viabilidade celular e redução da produção de óxido nítrico,

na fração composta por acilpoliaminas. A peçonha apresentou atividade hialuronidásica

correspondente a fração 18 (AnHyal) e nenhuma atividade proteásica e fosfolipásica. A

concentração inibitória mínima (CIM) das acilpoliaminas contra Staphylococcus aureus e

Escherichia coli variou entre 128 e 256 µM, sem causar hemólise nestas mesmas

concentrações. A estrutura química parcial das acilpoliaminas (614―756 Da) sugerida

pelo espectro UV e padrão de fragmentação (ESI-MS/MS), compreende uma unidade

tirosil ligada a uma cadeia poliamina, contendo ao menos uma espermidina. A

caracterização da AnHyal indicou atividade máxima entre pH 4,0 e 6,0 e temperatura

entre 30 e 60oC, degradando preferencialmente o ácido hialurônico. O sequenciamento

parcial (LC-MS/MS e degradação de Edman) da AnHyal mostrou similaridades para a

hialuronidase da aranha Brachipelma vagans e proteína CRISP de Grammostola rosea,

com 64% e 79% de cobertura proteica, respectivamente. Análises por 1D e 2D BN-

PAGE/SDS-PAGE/zimograma, mostraram que a AnHyal é composta pelas proteínas

hialuronidade e CRISP, formando um complexo enzimaticamente ativo. Sua estrutura

secundária contém 36,15% de α-hélice e a temperatura de desnaturação (Tm) foi de 46,37

°C, sendo esta irreversível. Em conclusão, este estudo possibilitou a identificação e

caracterização parcial de acilpoliaminas com propriedades biológicas que podem

contribuir para sua qualificação como possível agente terapêutico. Ainda, a AnHyal

mostrou a presença de um complexo proteico enzimaticamente ativo entre as proteínas

hialuronidase e CRISP, sendo este descrito pela primeira vez. Estudos adicionais poderão

elucidar outras propriedades deste complexo, ampliando as possibilidades de aplicações

biotecnológicas.

Palavras-chave: aranha, Acanthoscurria natalensis, peçonha, acilpoliaminas,

antimicrobiano, óxido nítrico, hialuronidase, CRISP, complexo proteico, sequenciamento

de novo.

Page 13: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

xiii

INVESTIGATION OF ISOLATED COMPOUNDS FROM SPIDER

CARANGUEJEIRA ACANTHOSCURRIA NATALENSIS CHAMBERLIN, 1917

AND ITS CHEMICAL AND BIOLOGICAL CHARACTERIZATION

ABSTRACT

Spider venom is composed of a complex mixture of molecules, such as acylpolyamines,

peptides and neurotoxic proteins, and enzymes such as hyaluronidases. The

characterization of these molecules has enabled the development of several

pharmacological and biotechnological applications. However, few molecules have been

studied in spiders of the genus Acanthoscurria, including Acanthoscurria natalensis. Thus,

the objective of this study was the investigation of the compounds present in A. natalensis

venom and its chemical and biological characterization. The venom was fractionated by

liquid chromatography (RP-HPLC) obtaining 18 main fractions. The screening of biological

activities of venom and/or fractions, identified pronounced antimicrobial action,

maintenance of cellular viability and reduction of nitric oxide production, in the fraction

composed of acylpolyamines. The venom presented hyaluronidase activity corresponding

to fraction 18 (AnHyal) and no protease and phospholipase activity. The minimum

inhibitory concentration (MIC) of the acylpolyamines against Staphylococcus aureus and

Escherichia coli varied between 128 and 256 μM, without causing hemolysis at these

same concentrations. The partial chemical structure of the acylpolyamine (614-756 Da)

suggested by the UV spectrum and fragmentation standard (ESI-MS / MS) comprises a

tyrosyl moiety attached to a polyamine chain containing at least one spermidine. The

characterization of AnHyal indicated maximum activity between pH 4.0 and 6.0 and

temperature between 30 and 60oC, preferentially degrading hyaluronic acid. AnHyal's

partial sequencing (LC-MS / MS and degradation of Edman) showed similarities to the

Brachipelma vagans spider hyaluronidase and Grammostola rosea CRISP protein, with

64% and 79% protein coverage, respectively. Analyzes by 1D and 2D BN-PAGE/SDS-

PAGE/zymogram, showed that AnHyal is composed of hyaluron and CRISP proteins,

forming an enzymatically active complex. Its secondary structure contains 36.15% α-helix

and the denaturation temperature (Tm) was 46.37 ° C, which is irreversible. In conclusion,

this study allowed the identification and partial characterization of acylpolyamines with

biological properties that may contribute to its qualification as a possible therapeutic agent.

Furthermore, AnHyal showed the presence of an enzymatically active protein complex

between the hyaluronidase and CRISP proteins, which is described for the first time.

Further studies may elucidate other properties of this complex, expanding the possibilities

of biotechnological applications.

Keywords: spider, Acanthoscurria natalensis, venom, acylpolyamines, antimicrobial, nitric

oxide, hyaluronidase, CRISP, protein complex, de novo sequencing.

.

Page 14: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

16

I. INTRODUÇÃO

As aranhas representam um grupo de organismos terrestres com

extraordinário sucesso evolutivo, com registros fósseis que datam de 380 milhões

de anos, abrangendo o período Devoniano. Este sucesso é sustentado por

diversos fatores, como a presença de estruturas especializadas para a

transferência segura de sêmen para a fêmea e a presença de um par de glândulas

de peçonha na base das quelíceras (Mygalomorpha) ou em seu prossoma

(Araneomorpha) (Coddington e Levi, 1991). A peçonha é um importante recurso

para estes animais, com o propósito de promover sua alimentação e defesa contra

predadores naturais. Assim, dispor de uma peçonha contendo componentes com

ação mais inespecífica, possibilita maior eficiência frente a um amplo espectro de

presas e predadores (Kuhn-Nentwig, Stöcklin e Nentwig, 2011). Estas ações

incluem neurotoxicidade, citotoxicidade e outras associadas a degradação da

matriz extracelular (Sannaningaiah, Subbaiah e Kempaiah, 2014). Por outro lado,

permanentes modificações ocorridas ao longo da sua evolução, promoveram o

desenvolvimento de uma complexa mistura de compostos na peçonha de aranhas,

resultando na ampliação dos seus efeitos biológicos (Kuhn-Nentwig, Stöcklin e

Nentwig, 2011). Estes foram continuamente sendo investigados e a descoberta de

várias outras atividades biológicas relacionadas a peçonha foram aproveitadas

para o desenvolvimento de produtos com interesse farmacológico e biotecnológico

(Harvey, 2014). Nas últimas décadas, este potencial tem sido demonstrado por

diversas pesquisas, que tem possibilitado o isolamento, purificação e

caracterização de moléculas da peçonha de várias espécies de aranhas por meio

de diferentes metodologias, como a espectrometria de massa, que tem sido uma

Page 15: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

17

importante aliada para novas descobertas (Baldwin, 2004). Mas, apesar deste

potencial e da grande diversidade de espécies de aranhas, apenas uma pequena

parte deste grupo de animais foi estudado quanto a composição de sua peçonha,

correspondendo a aproximadamente 0,4 % das espécies e, menos que um terço

das famílias conhecidas (Nentwig, 2013).

1. Aranhas

As aranhas (classe Araneae) compõem um grupo muito diversificado de

organismos terrestres, compreendendo aproximadamente 46.986 espécies

amplamente distribuídas em diversos continentes (Platnick, 2017). A classe

Araneae é dividida em dois grupos: o Mesothelae e o Opisthothelae. O primeiro

mantém características plesiomórficas, como a glândula de peçonha pouco

desenvolvida. Já o grupo Opisthothelae, apresenta esta glândula bem

desenvolvida, o que os torna interessantes do ponto de vista toxinológico. Este

grupo é representado pelas subordens Migalomorfas e Araneomorfas (Coddington

e Levi, 1991). A glândula de peçonha está localizada dentro das quelíceras

(migalomorfas) ou ocupa a porção anterior do cefalotórax (araneomorfas) e suas

presas movem-se dorsoventralmente (migalomorfas) ou mediolateralmente

(araneomorfas) em direção ao seu alvo, atuando como pinças (Kuhn-Nentwig,

Stöcklin e Nentwig, 2011).

A subordem Migalomorfa é um grupo bastante diverso, representado por 16

famílias. Entre estas, destaca-se a família Theraphosidae, que reúne aranhas de

grande porte (com até 10 cm de comprimento do corpo) denominadas

Page 16: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

18

caranguejeiras ou tarântulas e contém quase três vezes mais espécies que as

demais famílias (Coddington e Levi, 1991).

As aranhas são animais predadores generalistas ecologicamente

importantes, alimentando-se predominantemente de insetos e outros pequenos

invertebrados. O principal mecanismo para a obtenção de suas presas, bem como

sua defesa, se dá pelo uso de sua peçonha (Kuhn-Nentwig, Stöcklin e Nentwig,

2011). Contudo, devido à complexidade de sua composição, o custo energético de

produção e a quantidade limitada, as aranhas utilizam este recurso de forma

estratégica, visando sua economia e otimização (Cooper, Nelsen e Hayes, 2015).

2. Composição da peçonha e atividades biológicas

A peçonha das aranhas é composta por uma mistura complexa de moléculas

biologicamente ativas. Quanto à natureza de sua ação, podem ser divididas em

moléculas neurotóxicas e necróticas (citolíticas). Em termos de estrutura química,

podem ser agrupadas em: i) compostos de baixa massa molecular (<1 kDa), como

sais, carboidratos, aminoácidos, aminas biogênicas e acilpoliaminas; ii) peptídeos

(1-10 kDa), como neurotoxinas contendo pontes dissulfeto e peptídeos citolíticos

lineares e; iii) compostos de alta massa molecular (>10 kDa) representados por

diferentes proteínas, incluindo enzimas e outras neurotoxinas (Vassilevski, Kozlov

e Grishin, 2009) e, proteínas secretoras ricas em cisteína (CRISP) (Sanggaard et

al., 2014). As acilpoliaminas e peptídeos lineares representam as principais

categorias de moléculas produzidas continuamente e que possuem alta potência e

seletividade para múltiplos alvos celulares (Kuhn-Nentwig, Stöcklin e Nentwig,

2011). Dentre os compostos enzimáticos, as hialuronidases, proteases,

Page 17: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

19

fosfolipases e esfingomielinases foram extensivamente identificadas e

caracterizadas na peçonha de aranhas (Sannaningaiah, Subbaiah e Kempaiah,

2014).

Em humanos, estes compostos podem produzir uma série de eventos

adversos, incluindo toxicidade local (edema, hemorragia, dermo e mionecrose) e

sistêmica (neurotoxicidade, miotoxicidade, citotoxicidade, alterações hemostáticas

e inflamação), os quais podem ser atribuídos ao efeito sinérgico de toxinas

enzimáticas e não enzimáticas (Sannaningaiah, Subbaiah e Kempaiah, 2014).

A permanente investigação da diversidade molecular presente na peçonha,

das propriedades bioquímicas, estruturais e os mecanismos de ação de seus

compostos, revelaram um leque ainda maior de atividades biológicas, ampliando

as possibilidades de aplicações farmacológicas e biotecnológicas (Matavel,

Estrada e Marco Almeida, 2016; Vassilevski e Grishin, 2011). Assim, os

compostos presentes na peçonha podem ser empregados como agentes

antimicrobianos, citotóxicos contra células tumorais, imunomoduladores, entre

outros (Saez et al., 2010; Utkin, 2015).

2.1. Ação antimicrobiana

A ação antimicrobiana da peçonha de aranhas, assim como em outros

organismos, tem sido relacionada a compostos de natureza peptídica,

denominados peptídios antimicrobianos (PAMs) (Kuhn-Nentwig, 2003). Os PAMs

presentes na peçonha são utilizados especialmente para a obtenção de suas

presas e defesa contra predadores, atuando isolada ou sinergicamente com outros

compostos (Kuhn-Nentwig, 2003). Os PAMs da peçonha são de natureza

Page 18: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

20

catiônica, anfipática, com estrutura em -hélice linear e sem resíduos de cisteína

(Kuhn-Nentwig, 2003). O caráter anfipático comum a muitos PAMs, confere

grande habilidade em provocar distúrbios na membrana plasmática (Giangaspero,

Sandri e Tossi, 2001).

A atividade antimicrobiana dos PAMs da peçonha de aranhas é bastante

ampla, incluindo peptídios com ação contra bactérias Gram-positivas e Gram-

negativas, vírus, fungos e parasitas (Wang e Wang, 2016).

Na peçonha de aranhas, os principais PAMs foram identificados em Lycosa

carolinensis (licotoxinas I e II) (Yan e Adams, 1998), Oxyopes takobius

(oxiopininas) (Corzo et al., 2002) e Cupiennius salei (cupieninas) (Kuhn-Nentwig et

al., 2002). A atividade antimicrobiana dos peptídios licotoxina I e II (ambos em

concentração de 10 a 20 µM) foi similar contra a bactéria Gram-negativa E. coli,

mas contra a bactéria Gram-positiva Bacillus thuringensis israelenses, a licotoxina

I (5 µM) foi mais efetiva (Yan e Adams, 1998). Os peptídios oxiopininas mostraram

alta atividade contra as bactérias Bacillus subtilis, E. coli, Pseudomonas

fluorescens (MIC 0,5–1 µM) e S. aureus (MIC 10 µM) (Corzo et al., 2002),

enquanto os peptídios isolados de C. salei foram ativos contra as bactérias E. coli,

Pseudomonas aeruginosa, S. aureus e Enterococcus faecalis (0,31–5 µM) (Kuhn-

Nentwig et al., 2002).

A análise da estrutura secundária destes peptídios mostrou uma

conformação em α-hélice catiônica amfipática, sendo esta característica estrutural

relacionada a muitos PAMs capazes de romper membranas biológicas por meio

da formação de poros (Estrada, Villegas e Corzo, 2007; Giangaspero, Sandri e

Page 19: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

21

Tossi, 2001). Desta forma, este mesmo mecanismo foi sugerido para os PAMs da

peçonha de aranhas citados acima.

Por outro lado, em estudos posteriores, a atividade antimicrobiana foi

identificada também em um grupo de moléculas não peptídicas presentes na

peçonha de aranhas, denominadas acilpoliaminas (Ferreira e Silva Junior, 2012;

Sutti et al., 2015). Assim, este tema será abordado adiante, no item 2.4 da

introdução.

2.2. Ação citotóxica

Compostos isolados da peçonha animais como escorpiões, abelhas, vespas,

aranhas, formigas e lagartas, possuem propriedades citotóxicas sobre células

tumorais, que são capazes de afetar diferentes funções celulares, como

viabilidade celular, apoptose, migração e proliferação celular (Heinen e Veiga,

2011). Estes compostos são representados principalmente por peptídeos e

proteínas e têm sido empregados como agentes antitumorais. Algumas relações

entre tais propriedades e seus efeitos sobre células tumorais podem ser

exemplificadas, como: i) compostos que atuam sobre canais iônicos, podem afetar

a fisiologia da célula tumoral bloqueando canais iônicos específicos; ii) compostos

que se ligam a alvos específicos na membrana celular, podem causar a morte de

células tumorais; iii) compostos que inibem a angiogênese, podem afetar o

desenvolvimento do tumor; iv) compostos que são formadores de poros, podem

causar permeabilização da membrana e levar a morte celular, entre outros

(Heinen e Veiga, 2011).

Page 20: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

22

Em relação a peçonha de aranhas, o seu efeito citotóxico foi avaliado sobre

diferentes linhagens tumorais, sendo demonstrado que a peçonha das espécies

da família Salticidae provocou o rompimento instantâneo da membrana celular de

células N1E-115 (neuroblastoma murino). Contudo, considerou-se que este efeito

foi provavelmente devido às enzimas contidas na peçonha e não aos peptídeos ou

acilpoliaminas presentes (Cohen e Quistad, 1998). Neste mesmo estudo, uma

ação citotóxica mais moderada foi identificada para as espécies das famílias

Lycosidae e Oxyopidae, enquanto que as espécies da família Theraphosidae e

Arenidae, apresentaram baixa citotoxicidade.

Outros estudos investigaram o efeito da peçonha da aranha Macrothele

raven (Hexatelidae), sendo demonstrado que in vitro, a peçonha diminuiu a

proliferação de células HeLa (carcinoma cervical humano) e MCF-7 (câncer de

mama humano) de maneira dose dependente e in vivo, o tamanho do tumor foi

significativamente reduzido (Gao et al., 2005) (Gao et al., 2007).

2.3. Ação imunomoduladora

A imunomodulação está relacionada a ações que modificam a resposta

imune de uma maneira positiva ou negativa (Saroj et al., 2012). A estimulação ou

supressão da resposta imune pode ser necessária frente a diferentes condições

de saúde, como em infecções ou imunodeficiência (Saroj et al., 2012). Algumas

moléculas de natureza peptídica foram identificadas como reguladoras do sistema

imune, atuando como estimuladores ou supressores da produção de citocinas e

mediadores inflamatórios e prevenindo a ativação de macrófagos, por exemplo

(Haney e Hancock, 2014). Apesar da complexidade deste processo, algumas

Page 21: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

23

moléculas estão classicamente envolvidas na resposta imune inata, como o óxido

nítrico (NO). Este é um importante sinalizador biológico, que apresenta rápida

difusão e habilidade para permear membranas celulares, atuando em diversos

processos fisiológicos, como regulação da pressão sanguínea, resposta imune e

comunicação neural e, patológicos como câncer (Choudhari et al., 2013).

A ação imunomoduladora de compostos da peçonha, representados

principalmente por peptídeos, tem sido identificada em alguns animais, como

formigas, escorpiões, anêmonas, serpentes, abelhas e anfíbios (Kastin, 2013),

porém em aranhas esta propriedade tem sido pouco explorada.

Um estudo relacionado a aranhas, porém não com moléculas da peçonha,

avaliou o efeito imunomodulador da Migalina. Esta molécula isolada da hemolinfa

de Acanthoscurria gomesiana, foi capaz de induzir a produção de interferon gama

(IFN- e NO por esplenócitos e macrófagos murinho (Mafra et al., 2012).

O primeiro relato a respeito de ação imunomoduladora na peçonha de

aranhas, refere-se ao peptídeo Cupienina 1a, isolado de Cupiennius salei. Esta é

uma molécula com importante atividade citolítica, mas também capaz de inibir a

formação de óxido nítrico pela enzima óxido nítrico sintetase neuronal (nNOS),

cujo mecanismo envolve a formação de um complexo entre a Cupienina 1a e a

calmodulina, uma proteína reguladora de cálcio (Pukala et al., 2007).

O peptídeo Tx2-6 purificado da peçonha de Phoneutria nigriventer,

apresentou um significativo aumento da produção de óxido nítrico no tecido

cavernoso de ratos após injeção subcutânea, promovendo a ereção. Este estudo

Page 22: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

24

demonstrou que o peptídeo Tx2-6 é uma molécula promissora para o tratamento

da disfunção erétil (Nunes et al., 2008).

Ainda relacionado a peçonha, mas dentro de outro contexto, alguns estudos

avaliaram o envolvimento de diversas moléculas nos processos de

envenenamento, onde compostos presentes na peçonha podem interagir com

proteínas e receptores celulares de células T e macrófagos, por exemplo,

resultando em eventuais respostas inflamatórias. Estas envolvem a ativação de

células e liberação de citocinas pró-inflamatórias e outros mediadores, como o

óxido nítrico. Estes são importantes para a interação entre células do sistema

imune e respostas inflamatórias, que tem o propósito de reparar danos teciduais

gerados pelo envenenamento (Petricevich, 2004). Por exemplo, a injeção de

diferentes doses da proteína F35 isolada da peçonha de Loxosceles intermedia e

da peçonha total em camundongos, induziu a produção de fator de necrose

tumoral (TNF), interleucina (IL)-6, IL-10 e NO no soro, além de diversos sintomas

clínicos e alterações histopatológicas (Tambourgi et al., 1998).

2.4. Acilpoliaminas

As acilpoliaminas são um grupo de moléculas presentes em diversos

organismos, sendo os mais abundantemente representados na peçonha de

aranhas (Estrada, Villegas e Corzo, 2007). Entre as aranhas, as acilpoliaminas

foram primeiramente identificadas em Nephila clavata e Argiope lobata e

posteriormente, muitas outras espécies também foram investigadas e um número

significativo de acilpoliaminas foi caracterizado (Nentwig, 2013). Mais de cem

estruturas químicas já foram elucidadas, sendo as acilpoliaminas presentes em

Page 23: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

25

aranhas da subfamília Nephilinae e do gênero Argiope, as que foram amplamente

caracterizadas (Palma, 2012).

As acilpoliaminas apresentam massas moleculares entre 350 e 1000 Da e

podem ser organizadas em dois grupos, aquelas contendo aminoácidos,

presentes em aranhas das famílias Araneidae e Nephilidae e, aquelas sem

aminoácidos em sua composição, presentes em algumas famílias como

Ctenizidae, Hexathelidae e Theraphosidae (Nentwig, 2013).

A estrutura química geral destas moléculas pode ser dividida em quatro

segmentos: i) um grupo acil aromático lipofílico, ii) uma ligação amina, iii) uma

cadeia poliamina estrutural e iv) uma cadeia poliamina terminal (Fig. 1). O grupo

acil aromático e a estrutura poliamina, compõem a parte principal comum a todas

as moléculas conhecidas desta classe, enquanto a ligação amina e a cauda são

opcionais, presentes em certas acilpoliaminas (Palma e Nakajima, 2005).

Devido a combinação destes diferentes componentes, as acilpoliaminas

podem ser estruturalmente muito diversas, variando em extensão, número de

ligações amida e grupos funcionais (Nentwig, 2013; Palma, 2012), de modo que

um número ainda maior destas moléculas pode existir.

Page 24: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

26

Inicialmente, a resolução da estrutura química das acilpoliaminas era obtida

por meio de extensiva purificação da peçonha, seguida por técnicas de hidrólise e

derivatização, análise de aminoácidos por degradação de Edman e ressonância

magnética nuclear (NMR). Mais recentemente, outras estratégias têm sido

empregadas envolvendo métodos cromatográficos associados à NMR

bidimensional, HRMS e MS/MS, entre outras (Palma, 2012).

As acilpoliaminas são reconhecidas por sua atividade neuromoduladora

sobre o sistema nervoso de vertebrados e invertebrados. A presença de cargas

positivas nas aminas livres e secundárias de sua cadeia poliamina, confere

importante ação neuroativa, antagonizando receptores de glutamato e bloqueando

seletivamente canais catiônicos (Estrada, Villegas e Corzo, 2007). Contudo,

atualmente as acilpoliaminas têm sido investigadas também acerca do seu

potencial antimicrobiano.

Figura 1. Representação dos blocos estruturais que podem ser encontradas em acilpoliaminas da peçonha de aranhas. Adaptado de Palma, 2012.

Page 25: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

27

Em 2007, o estudo realizado por Pereira e colaboradores, identificou uma

molécula produzida por hemócitos da aranha caranguejeira A. gomesiana, sendo

denominada Migalina. A análise estrutural revelou que se tratava de uma

acilpoliamina. Esta molécula mostrou uma importante atividade antimicrobiana

contra bactérias Gram-negativas em concentrações micromolares (Pereira et al.,

2007).

O primeiro relato sobre a ação antimicrobiana de acilpoliaminas isoladas da

peçonha de aranha foi publicado apenas recentemente, sendo esta, uma função

biológica anteriormente desconhecida para tais moléculas. A análise da peçonha

de Nephilengys cruentata, uma espécie de aranha brasileira, revelou a presença

de vários peptídeos antimicrobianos e acilpoliaminas, com atividade

antimicrobiana contra bactérias Gram-positivas e fungos (Ferreira e Silva Junior,

2012).

A acilpoliamina VdTX-I isolada da peçonha da aranha caranguejeira Vitalius

dubius foi primeiramente identificada como uma molécula antagonista de

receptores nicotínicos colinérgicos (Rocha-e-Silva, Sutti e Hyslop, 2009).

Posteriormente, a VdTX-I foi avaliada quanto a sua atividade antimicrobiana e

mostrou um amplo espectro de atividade contra diferentes linhagens de bactérias

e fungos, em concentrações micromolares (Sutti et al., 2015).

2.5. Enzimas

Por algum tempo, pouca atenção foi dada às enzimas presentes na

peçonha de aranhas. Atualmente, as enzimas identificadas na peçonha de

aranhas podem ser separadas em dois grupos: aquelas que atuam sobre

Page 26: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

28

polímeros da matriz extracelular e as que atuam sobre fosfolipídios de membrana

e compostos relacionados. A ação conjunta das enzimas com as demais toxinas

da peçonha tem o propósito de transpor as barreiras representadas pela matriz

extracelular e assim facilitar o acesso dos demais compostos (Kuhn-Nentwig,

Stöcklin e Nentwig, 2011).

A presença de enzimas na peçonha de aranhas, especialmente proteases,

foi alvo de questionamento, devido à possibilidade de contaminação por proteases

tissulares ou fluido digestivo durante o processo de extração por dissecação ou

eletroestimulação, respectivamente (Rash e Hodgson, 2002). Contudo, foi

demonstrado que a adoção de cuidados apropriados no processo de

eletroestimulação evita a contaminação da peçonha (Kuhn-Nentwig, Schaller e

Nentwig, 1994).

As proteases (E.C. 3.4) são enzimas que catalisam a hidrólise

especificamente de ligações peptídicas de proteínas e podem ser classificadas de

acordo com o local de clivagem em exopeptidases e endopeptidases (López-Otín

e Bond, 2008). Proteases presentes na peçonha podem causar a destruição

tecidual facilitando a difusão de outras toxinas (Sannaningaiah, Subbaiah e

Kempaiah, 2014). Proteases, especialmente metalo e serino proteases, estão

presentes na peçonha de aranhas de espécies como, Lycosa raptoria, Phoneutria

nigriventer e do gênero Loxosceles, sendo neste último, componentes bastantes

expressivos da peçonha (Sannaningaiah, Subbaiah e Kempaiah, 2014). Contudo,

em geral as espécies da família Theraphosidae, não apresentam relevante

atividade proteolítica (García-Arredondo et al., 2015). Com base na homologia

destas enzimas com outras proteases envolvidas na ativação de proteínas

Page 27: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

29

precursoras, foi sugerido que as proteases da peçonha atuem também no

processamento e ativação de pró-toxinas (Sanggaard et al., 2014).

As fosfolipases (E.C. 3.1.1) compreendem uma classe diversa de enzimas

representadas por quatro principais grupos: A, B, C ou D, dependendo do sítio de

clivagem dentro do fosfolipídio. Estas enzimas atuam sobre fosfolipídios e

compostos relacionados, que são os componentes fundamentais das membranas

celulares, mas também atuam na regulação da sinalização de diversos eventos

celulares (Vines e Bill, 2015) e processos patofisiológicos (Shridas e Webb, 2014).

Na peçonha de aranhas, diferentes fosfolipases foram descritas, tais como:

fosfodiesterase (cliva ligações fosfodiéster), esfingomielinase D (degrada a

esfingomielina) e fosfolipases (hidrolisam fosfolipídeos) (Nentwig, 2013). Contudo,

estas enzimas foram identificadas principalmente em aranhas do gênero

Loxosceles e da família Hexathelidae. Já em aranhas da família Theraphosidae,

as fosfolipases são raramente encontradas (Vassilevski, Kozlov e Grishin, 2009).

A hialuronidase (HA) (E.C. 3.2.1.35) é uma enzima bem conservada,

produzida por diversos organismos, desde unicelulares até vertebrados (Kuhn-

Nentwig, Stöcklin e Nentwig, 2011). A HA de aranhas apresenta massa molecular

variando entre 33 and 47 kDa em sua forma monomérica (Bordon et al., 2015).

Esta enzima preferencialmente catalisa a hidrólise do ácido hialurônico, um

polissacarídeo linear formado por unidades dissacarídicas repetidas de N acetil-β-

D-glucosamina (GlcNAc) e β-D-ácido glucurônico (GlcUA), sendo o principal

constituinte da matriz extracelular presente em tecidos conjuntivos (Bordon et al.,

2015). Sua ação facilita a difusão de outras toxinas presentes na peçonha, sendo

por isso denominada como “fator de espalhamento” (Sannaningaiah, Subbaiah e

Page 28: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

30

Kempaiah, 2014). Esta propriedade tem sido empregada para facilitar a absorção

e disperção de drogas injetáveis, mas seu potencial nas áreas médica e

biotecnológica é ainda mais amplo, sendo a hialuronidase utilizada em terapias

anticancer e imunoterapia (Heinen e Veiga, 2011; Senff-Ribeiro et al., 2008).

A presença da HA na peçonha de diversos animais tem sido relatada (Frost,

Csóka e Stern, 1996). Entre as aranhas, a HA foi identificada primeiramente na

peçonha da aranha caranguejeira Dugesiella hentzi, sendo considerada como o

principal constituinte da peçonha (Schanbacher et al., 1973). Adicionalmente, a HA

foi também identificada em outras espécies, entre elas, Hippasa partita (Nagaraju,

Devaraja e Kemparaju, 2007), Vitaluis dubius (Rocha-e-Silva, Sutti e Hyslop,

2009), Brachypelma vagans (Clement et al., 2012), Loxosceles intermedia (Ferrer

et al., 2013), Cupiennius salei (Biner et al., 2015) e diversas outra espécies de

Theraphosidaes (Rodríguez-Rios et al., 2017).

2.6. Proteínas CRISP

Proteínas CRISP representam uma extensa família de proteínas secretoras

ricas em cisteína altamente conservadas e amplamente distribuídas entre

mamíferos, representada por três grupos principais, denominados CRISP-1,

CRISP-2 e CRISP-3 (Krätzschmar et al., 1996). As principais funções biológicas

relacionadas a CRISP-1 e CRISP-2 incluem ação bloqueadora de canais iônicos e

envolvimento nos processos de maturação e fusão de gametas, sendo neste caso,

mediado pela sequencia de aminoácidos chamada assinatura 2 (Cohen et al.,

2011). CRISP-3 é encontrada no plasma sanguíneo e nas secreções exócrinas,

sendo sua atividade biológica relacionada a imunidade inata (Udby et al., 2002).

Page 29: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

31

Estas proteínas também foram encontradas na forma de complexos com as

proteínas α1B-glicoproteína no plasma sanguíneo (Udby et al., 2004) e PSP94 no

plasma seminal (Anklesaria et al., 2016; Udby et al., 2005), sendo proposto que

este complexo contribui para a neutralização de efeitos possivelmente danosos da

CRISP-3 em sua forma livre.

Apenas recentemente, CRISPs foram identificadas também na peçonha,

apresentando diferentes funções. Em serpentes, CRISPs foram descritas para

várias espécies, atuando principalmente como bloqueadores de canais iônicos

(Yamazaki e Morita, 2004). Em Bothrops jararaca, a primeira CRISP isolada desta

espécie, denominada Bj-CRP, apresentou atividade sobre sistema complemento e

induziu respostas inflamatórias (Lodovicho et al., 2017). Por outro lado, a presença

de CRISPs na peçonha de invertebrados tem sido pouco relatada. No gastrópode

Conus textile (Milne et al., 2003) e na aranha Grammostola iheringi (Borges et al.,

2016), as CRISPs identificadas mostraram atividade proteolítica, mas nas aranhas

Grammostola rosea (M5AWW7, UniProtKB) e Trittame loki (Undheim et al., 2013),

nenhuma atividade biológica foi relatada. Estas evidências mostram que as

funções biológicas relacionadas as CRISPs podem ser bastante diversas.

3. Acanthoscurria natalensis

O gênero Acanthoscurria contém aproximadamente 39 espécies descritas,

amplamente distribuídas em regiões Neotropicais, principalmente na América do

Sul. O gênero é caracterizado pela presença de cerdas estridulantes na face

retrolateral do trocanter palpal, apenas uma apófise tibial na pata I e um nódulo

Page 30: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

32

retrolateral na tíbia palpal. As fêmeas podem ser reconhecidas pelo receptáculo

seminal com uma base comum e dois lobos mais ou menos evidentes (Pérez-

Miles et al., 1996).

A espécie A. natalensis (Fig. 2) tem ampla distribuição em biomas de

Caatinga e Cerrado, abrangendo os estados do Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio

Grande do Norte, Tocantins, Pernambuco, Paraíba, Mato Grosso, Bahia, Alagoas,

Sergipe, Goiás, e Minas Gerais (Fig. 3). Os machos de A. natalensis lembram

Acanthoscurria paulensis e Acanthoscurria chacoana em alguns aspectos, mas

podem ser distinguidos pela quilha menos desenvolvida e uma projeção anterior

do embolo bem marcada. As fêmeas podem ser diferenciadas de outras espécies

do gênero pelo lobo do receptáculo seminal com uma base estreita e mais

projetado (Lucas et al., 2011). A. natalensis é uma espécie não agressiva e se

alimenta de diversos invertebrados e pequenos vertebrados (Ferreira et al., 2014).

Poucas espécies deste gênero foram estudadas quanto a presença de

moléculas bioativas, sendo que na peçonha, estas estão restritas a apenas dois

relatos (Mourão et al., 2013; Rates et al., 2013).

Na hemolinfa de A. gomesiana foram identificadas três importantes

moléculas, denominadas Migalina, Gomesina e Acanthoscurrina. Estas moléculas

apresentaram atividades biológicas relacionadas principalmente a ação

antimicrobiana e antiparasitária (Lorenzini et al., 2003; Pereira et al., 2007; Silva,

Daffre e Bulet, 2000).

Na peçonha de Acanthoscurria paulensis foi encontrada a Ap1a, o primeiro

peptídeo descrito para esta espécie. Ele contém 48 resíduos de aminoácidos e

possui massa molecular de 5.457 Da. Este peptídio mostrou ação sobre a junção

Page 31: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

33

neuromuscular de insetos e mamíferos, sendo esta, mediada por receptores de

glutamato (Mourão et al., 2013).

Em uma publicação mais recente, a análise da peçonha de A. natalensis

revelou a presença de um peptídeo, denominado µ-Theraphotoxin-An1a (µ-TRTX-

An1a). Este peptídeo mostrou atividade sobre canais de sódio dependentes de

voltagem de neurônios de insetos (Rates et al., 2013).

Page 32: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

34

Figura 2. Exemplar de Acanthoscurria natalensis. Imagem: arquivo pessoal.

Figura 3. Distribuição da espécie A. natalensis no território brasileiro. (A): território brasileiro representado pela área destacada em cinza claro e escuro (em detalhate na figura B). (B): pontos representam a distribuição de A. natalensis nos estados da região nordeste e centro-oeste. Adaptado de Lucas et al., 2011.

Page 33: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

35

II. JUSTIFICATIVA

As aranhas são um grupo zoológico de ampla diversidade e representam

uma importante fonte para a obtenção de compostos bioativos. Contudo,

relativamente poucos compostos foram identificados e caracterizados a partir da

peçonha de aranhas. Estes compostos bioativos apresentam diferentes ações

biológicas, como: antimicrobiana, antitumoral e imunomodulatória e, com

atividades enzimáticas, como a hialuronidase, conferindo assim um grande

potencial para novas descobertas. Diversos destes compostos possuem aplicação

na área médica e nas indústrias farmacêutica, alimentícia, biotecnológica, entre

outras (Matavel, Estrada e Marco Almeida, 2016). Por exemplo, as espécies de

aranhas Phoneutria nigriventer e Lycosa erythrognatha possuem compostos com

potencial aplicação na modulação da função erétil e com ação antimicrobiana,

respectivamente (Marco Almeida et al., 2015). A propriedade da enzima

hialuronidase, conhecida como “fator de espalhamento”, pode ser utilizada no

aumento da permeabilidade tecidual para facilitar a dispersão e absorção de

drogas injetáveis, na redução de edemas (Bordon et al., 2015) e ainda, pode ser

empregada diretamente como agente antitumoral (Heinen e Veiga, 2011).

Estudos dedicados a caracterização de compostos bioativos em

Acanthoscurria spp. tem se restringido a investigação de peptídeos

antimicrobianos e poliaminas presentes na hemolinfa de A. gomesiana e

neurotóxicos na peçonha de A. paulensis e A. natalensis. O pouco conhecimento

disponível sobre os componentes da peçonha da aranha A. natalensis e as

evidências de seu potencial científico, torna esta espécie importante alvo de

investigação, que poderá contribuir de forma relevante para descrição da

Page 34: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

36

diversidade molecular e a caracterização estrutural e funcional de compostos

presentes na sua peçonha, bem como, para o conhecimento científico da

biodiversidade brasileira.

III. OBJETIVOS

Geral

Investigar e caracterizar química e biologicamente, compostos isolados da

peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis.

Objetivos específicos

1. Fracionar os compostos presentes na peçonha bruta por cromatografia

líquida de alta performance de fase reversa (RP-HPLC).

2. Identificar as frações de interesse por meio de screening das

atividades:antimicrobiana, efeitos sobre a viabilidade celular e modulação da

produção de óxido nítrico.

3. Identificar as frações de interesse por meio de screening das atividades

enzimáticas: proteásica, fosfolipásica e hialuronidásica.

4. Caracterizar a estrutura química dos compostos de interesse por

espectrometria de massa.

Page 35: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

37

IV. ESTRUTURA DA TESE

A tese foi organizada em três partes, nas quais são apresentados os

métodos utilizados e os resultados obtidos, bem como a respectiva discussão.

Parte I: Aborda os aspectos relacionados ao fracionamento da peçonha de

A natalensis e identificação de frações de interesse por meio de screenings de

atividades biológicas.

Parte II: Contempla o tema “Acilpoliaminas: purificação, atividade

antimicrobiana e hemolítica e, caracterização parcial da estrutura química”.

Parte III: Contempla o tema “Caracterização estrutural e bioquímica de uma

nova Hialuronidase isolada da peçonha de Acanthoscurria natalensis”.

Page 36: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

38

PARTE I

Fracionamento da peçonha de A. natalensis e screening de atividades

biológicas

1. Material e métodos

1.1. Material biológico e obtenção da peçonha

Exemplares de A. natalensis (n~30) foram coletadas (no. de licença SISBIO:

51803-1, Anexo I) na Fazenda Nossa Senhora Aparecida-GO e transportadas até

o biotério do Instituto de Biologia-UnB, onde foram mantidas individualmente em

caixas contendo areia e água, em uma sala reservada e sob condições naturais de

foto período e ventilação. As aranhas foram alimentadas mensalmente com

camundongos neonatos provenientes do biotério. Os exemplares foram

identificados (Lucas et al., 2011) e a espécie confirmada pelo professor Dr. Paulo

César Motta, curador da Coleção de Aracnídeos da UnB. Um indivíduo de A.

natalensis foi depositado como testemunho na referida coleção.

A extração da peçonha foi realizada apenas em fêmeas em estágio

intermuda nos dias que precedem a alimentação. Cerca de 30 µL de peçonha por

animal foram coletados em microtubos por meio de eletroestimulação,

posicionando-se os eletrodos lateralmente na base das quelíceras e aplicando-se

um estímulo de 75 V por 3 s, sob baixa corrente e pulsado, de 1 a 2 vezes por

animal (Rocha-e-Silva, Sutti e Hyslop, 2009). As amostras foram levadas ao

Laboratório de Toxinologia-UnB e congeladas individualmente para liofilização

(Speed-Vac, Thermo Scientific) e conservação a -20oC até o uso. A quantidade

Page 37: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

39

total de peçonha foi obtida pela pesagem de microtubos, antes e após sua

utilização para a coleta e liofilização das amostras (peso seco).

1.2. SDS-PAGE

A separação dos componentes proteicos presentes na peçonha foi

realizada por meio de eletroforese em gel de poliacrilamida contendo dodecil

sulfato de sódio (SDS-PAGE), sob condições redutoras (Laemmli, 1970). A

amostra de peçonha (8 µg) foi preparada em tampão de amostra (Tris-HCl 0,5M,

pH 6,8, glicerol, SDS 10% e azul de bromofenol 0,5%) e aplicada no gel de

poliacrilamida 12% separador, preparado em tampão Tris pH 8,8 na presença de

SDS. Após a eletroforese em sistema mini-gel a 40C, sob voltagem de 180 V e

corrente de 40 mA, o gel foi colorado com nitrato de prata (Nesterenko, Tilley e

Upton, 1994). Proteínas com massa molecular entre 97 e 14.4 kDa foram

utilizadas como marcador molecular (fosforilase b: 97 kDa, albumina: 66 kDa,

ovoalbumina: 45 kDa, anidrase carbônica: 30 kDa, inibidor de tripsina: 20 kDa e α-

lactalbumina: 14,4 kDa) (Low Molecular Weight Calibration Kit for Electrophoresis,

GE Healthcare, U.K.).

1.3. Fracionamento da peçonha por cromatografia líquida de alta eficiência

de fase reversa (RP-HPLC)

O fracionamento da peçonha foi obtido por RP-HPLC, sob sistema de

gradiente de solventes. As amostras liofilizadas (20 mg/mL) foram solubilizadas no

solvente A (0,12% ácido trifluoracético (TFA) (v/v) em água Milli-Q) e centrifugadas

por 10 minutos a 10.000 rpm. Alíquotas de 200 µL do sobrenadante foram

Page 38: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

40

aplicadas em coluna de fase reversa C18 (Vydac 218TP54, 250 mm x 4,5 mm, 5

µm), previamente equilibrada com o mesmo solvente, sob fluxo de 1 mL/min. As

frações cromatográficas foram eluídas sob gradiente linear de 0 a 60% do solvente

B (0,12% de TFA v/v em acetonitrila (ACN)) em 60 min. e detectadas

simultaneamente em 216 e 280 nm. As frações coletadas manualmente em

microtubos foram liofilizadas em Speed-Vac (Thermo Scientific) e mantidas a -

200C até o uso. A quantificação das frações cromatográficas foi obtida como

descrito acima, no item 1.1.

1.4. Screening de atividades biológicas da peçonha

1.4.1. Ensaio antimicrobiano

A avaliação da atividade antibacteriana e antifúngica de amostras da

peçonha total e frações cromatográficas foi realizada pelo método de microdiluição

em caldo, utilizando-se as bactérias Gram-negativas Escherichia coli ATCC 25922

e Klebsiella pneumoniae ATCC 13883 e, Gram-positivas Staphylococcus aureus

ATCC 25923 e Enterococcus faecalis ATCC 29212 e o fungo Candida albicans

ATCC 10231, cultivadas em meio Mueller-Hinton (MH) (bactérias) ou Brain Heart

Infusion (BHI) (fungo), sob leve agitação a 37°C. Após 24 h e a densidade óptica

atingir o valor de 1 a 595 nm, alíquotas de 50 μL de cada cultura, diluídas na

proporção de 1:100 (bactérias Gram-positivas e fungo) e 1:50 (bactérias Gram-

negativas) foram incubadas por 24 h a 37°C com 50 μL da amostra de peçonha

(10 mg/mL) ou fração cromatográfica (equivalente a uma corrida), diluídas em

água Milli-Q estéril. Para o controle positivo (crescimento pleno) e negativo

(ausência de crescimento), os microorganismos foram incubados com meio de

Page 39: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

41

cultura e água Milli-Q e, formaldeído 0,4% (v/v), respectivamente. A leitura da

densidade óptica a 595 nm foi realizada em leitora de placas Multiskan FC

(Thermo Scientific) e o valor do branco (meio de cultura e Milli-Q), subtraído de

todas as amostras. O crescimento do microorganismo foi determinado como um

percentual do controle positivo, definido como 100%, obtido em dois ensaios

independentes em duplicata.

1.4.2. Ensaio de viabilidade celular de células tumorais e não tumorais

A influência da peçonha total e da fração cromatográfica FR5 na viabilidade

celular de células tumorais e não tumorais foi avaliada pelo ensaio colorimétrico do

MTT (3-(4,5-dimethylthiazol-2-yl)-2,5-45 diphenyltetrazolium bromide), que é

baseado na capacidade das células viáveis reduzirem o substrato MTT em um

produto de coloração azulada, o formazan (Mosmann, 1983).

As linhagens celulares tumorais Hela (colo de útero humano), MCF-7

(mama humano) e não tumoral NIH/3T3 (fibroblasto de camundongo) foram

cedidas pelo Prof. Ricardo Bentes do Laboratório de Nanobiotecnologia-UnB, no

qual os experimentos foram realizados. As células provenientes do estoque em

nitrogênio líquido foram semeadas em garrafas de poliestireno (25 cm2) contendo

meio de cultura DMEM suplementado com 10% de soro fetal bovino e 1% de

estreptomicina e penicilina e incubadas por 24h, a 370C e 5% de CO2. O meio de

cultura foi trocado após as 24h e posteriormente a cada 48h. Ao atingirem

confluência de aproximadamente 80%, as células foram removidas pela adição de

2 mL de tripsina por 2 min, sendo após inativada pela adição de igual volume de

meio suplementado. As células foram centrifugadas (5 min., 2000 rpm),

Page 40: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

42

ressuspensas em 1 mL de meio e recultivadas para expansão das células. Ao

atingirem confluência de aproximadamente 80%, as células foram removidas com

tripsina, centrifugadas e ressuspensas em 1 mL de meio.

As células foram contadas em câmara de Neubauer (utilizando-se 10 µL da

diluição obtida pela mistura de 10 µL da suspensão celular com 40 µL de azul

tripan) e a concentração celular foi ajustada para 5 x 103 células por poço. As

células foram adicionadas em placas de 96 poços e incubadas por 24 h, nas

condições já citadas. Após a remoção do meio de cultura, as células foram

tratadas com 200 µL da amostra de peçonha (10 mg/mL) ou fração cromatográfica

(equivalente a uma corrida) diluídas em meio suplementado e incubadas por 24h.

Células incubadas apenas com meio de cultura suplementado foram utilizadas

como controle positivo. Após a incubação e remoção do meio de cultura, 150 µL

de uma solução de MTT (15 µL de MTT 5mg/mL diluídos em 135 µL de meio

suplementado) foram adicionados a cada poço. Após 4 horas de incubação, o

MTT foi removido e os cristais de formazam solubilizados com 100 µL de DMSO

10%. Um branco foi estabelecido somente com DMSO. A absorvância foi lida a

595 nm e a viabilidade celular foi expressa como um percentual do controle

positivo, definido como 100% de viabilidade celular, obtida em dois ensaios

independentes em duplicata.

1.4.3. Avaliação da produção de óxido nítrico (NO)

O efeito da peçonha total e da fração cromatográfica FR5 sobre a produção

de óxido nítrico de macrófagos J744, foi avaliada pela reação colorimétrica de

Griess (Hibbs et al., 1988). O NO gerado em diferentes processos fisiológicos,

Page 41: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

43

como nas respostas inflamatórias, é rapidamente oxidado a nitrito e nitrato. Assim,

sob condições in vitro, o NO presente no sobrenadante celular pode ser

determinado indiretamente pela quantificação do nitrito (NO2-) pela reação de

Griess. O reagente de Griess converte o nitrito a um produto azo de coloração

violeta, que pode ser detectado espectrofotometricamente e que reflete a

quantidade de óxido nítrico produzido.

Cultura celular de macrófagos

A cultura de macrófagos da linhagem J774 ATCC-CCL TIB-67TM ocorreu de

modo semelhante ao descrito no item 1.4.2., em relação a manutenção, expansão

e contagem celular. Porém, o meio de cultura utilizado para os macrófagos foi o

RPMI-1640, suplementado com 10% de soro fetal bovino e 1% de penicilina e

estreptomicina e a concentração de macrófagos por poço (placas de 96 poços) foi

de 1x105 células. Após a adição das células aos poços, as placas foram mantidas

em estufa a 370C e 5% de CO2 por 2h para a aderência celular. Após este

período, o meio de cultura foi removido e as células foram incubadas a 370C e 5%

de CO2 por 24h com lipopolissacarídeo-LPS (utilizado como ativador de produção

de NO) a 50 ng/mL em meio suplementado, na presença ou ausência da peçonha

total e FR5 nas concentrações de 50, 125 e/ou 250 µg/mL em meio suplementado.

O controle de produção de NO foi obtido pela incubação das células somente com

LPS. Células cultivadas apenas com meio RPMI representaram o controle de

viabilidade celular e ausência de produção de NO.

Page 42: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

44

Teste de viabilidade celular de macrófagos

A viabilidade celular foi avaliada pelo ensaio colorimétrico do MTT, como

descrito no item 1.4.2. Após a incubação dos macrófagos com LPS e/ou as

amostras por 24 h, o sobrenadante celular de cada poço foi transferido para outra

placa (para a quantificação de nitrito, descrito a seguir) e as células aderidas

foram submetidas ao ensaio do MTT. Os resultados de viabilidade celular obtidos

em dois experimentos em triplicata foram expressos como um percentual do

controle positivo (células em meio RPMI) definido como 100% de viabilidade

celular.

Produção de óxido nítrico (NO) por macrófagos

A produção de NO pelas células expostas ou não ao ativador (LPS) e a

peçonha total e FR5 foi detectada pela adição de 100 µL do reagente de Griess

(solução de sulfanilamida 1% e hidrocloreto naftiletileno diamina-NEED 0,1%,

ambos em 2,5% de H3PO4) preparado no momento do uso, aos poços contendo

100 µL dos sobrenadantes celulares. Após 10 min., a absorvância foi lida em

espectrofotômetro a 540 nm. A concentração de nitrito foi calculada a partir de

uma curva padrão preparada com concentrações conhecidas de nitrito de sódio (0

a 200 µM). Os resultados apresentados foram obtidos em um experimento

realizado em triplicata.

Page 43: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

45

1.4.4. Atividade proteolítica

A presença de atividade proteolítica na peçonha total foi avaliada

espectrofotometricamente (Christen e Marshall, 1984), pela detecção do

grupamento azo liberado pela hidrólise do substrato cromogênico azocaseína. O

ensaio foi realizado pela adição de 300 µL da solução de azocaseína (1 mg/mL em

tampão Tris-HCl 0,1 M pH 6,0 ou pH 8,0) em microtubos e em seguida, 20 µL das

amostras e controles. As amostras da peçonha de A. natalensis foram testadas

nas concentrações de 2 e 4 mg/mL. Para o controle positivo, o substrato foi

incubado com 20 µL da peçonha da serpente Bothrops moojeni (5 mg/mL). Poços

contendo apenas tampão ou azocaseína, foram utilizados como controles de 0% e

100% de substrato, respectivamente. A mistura foi incubada por 1,5 h a 370C e a

reação foi interrompida pela adição de 100 µL de TCA (ácido tricloroacético) 0,5M.

Os tubos foram então centrifugados a 10.000 rpm por 5 min. e 200 µL do

sobrenadante, transferidos para uma placa de 96 poços para leitura da

absorvância a 342 nm em espectrofotômetro. A atividade proteolítica foi expressa

como a porcentagem de substrato hidrolisado em relação ao controle de 100%,

em dois ensaios em triplicata.

1.4.5. Atividade de fosfolipase

A presença de atividade fosfolipásica na peçonha total foi avaliada

espectrofotometricamente pela diminuição da turbidez provocada pela ação da

enzima sobre uma suspensão de gema de ovo utilizada como substrato (Marinetti,

1965). O ensaio foi realizado em placa de 96 poços, pela adição de 180 µL da

suspensão de gema de ovo a 2% (m/v) em tampão Tris-HCl 0,1 M pH 8,0 a cada

Page 44: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

46

poço para a primeira leitura (tempo 0) da absorvância a 405 nm. Em seguida,

alíquotas de 20 µL das amostras e controles foram adicionadas aos poços. Após 5

min., uma nova leitura de absorvância foi realizada. As amostras da peçonha de A.

natalensis foram testadas nas concentrações de 2 e 4 mg/mL. Para o controle

positivo, o substrato foi incubado com 20 µL da peçonha da serpente Bothrops

moojeni (5 mg/mL). Poços contendo apenas tampão ou emulsão de gema de ovo,

foram utilizados como controles de 0% e 100% de substrato, respectivamente.

Para verificar o efeito do cálcio na atividade fosfolipásica, as amostras foram

incubadas com 10 µL de CaCl 10mM. A atividade fosfolipásica foi expressa como

porcentagem de substrato hidrolisado em relação ao controle de 100%, em dois

ensaios em triplicata.

1.4.6. Atividade hialuronidásica

A presença de atividade hialuronidásica na peçonha total e frações

cromatográficas agrupadas como: fração 1-3, 4, 5, 6-7, 8-12, 13-17 e 18, foi

avaliada por turbidimetria de acordo com (Di-Ferrante, 1956), com algumas

modificações. A mistura de reação foi preparada em placa de 96 poços utilizando

57 μL de tampão de acetato de sódio 200 mM, pH 5,8 contendo 150 mM de NaCl,

12 μL de ácido hialurónico (0,5 mg/mL) e 5 μL de amostra (contendo 50 μg de

peçonha ou 5 μg das frações cromatográficas). Como controle positivo, 5 µg de

hialuronidase testicular bovina (400-1000 U/mg, Sigma Aldrich) foi utilizada. Poços

contendo apenas tampão ou ácido hialurônico, foram utilizados como controles de

0% e 100% de substrato, respectivamente. A placa foi incubada durante 15 min a

37 °C e a reação enzimática interrompida pela adição de 125 μL de brometo de

Page 45: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

47

cetiltrimetilamónio (CTAB) 2,5% (m/v) em NaOH 2% (m/v). Após 10 min, a

absorvância foi medida a 405 nm contra um branco contendo tampão e CTAB. A

quantidade de ácido hialurônico hidrolisado foi obtida pela diferença nas

absorvâncias entre o controle de 100% e a amostra. A atividade enzimática foi

expressa como porcentagem de substrato hidrolisado em relação ao controle de

100%, em dois ensaios em triplicata.

1.5. Análise estatística

Os dados foram expressos como média ± desvio padrão. ANOVA bi-fatorial

foi utilizada para as análises estatísticas (dados dos ensaios de MTT e NO), e a

diferença estatística foi identificada pelo teste de Bonferroni, utilizando o programa

estatístico GraphPad Prism 5 (GraphPad Software, Inc, EUA). O nível de

significância foi estabelecido como P<0,05.

2. Resultados

2.1. Perfil eletroforético da peçonha

O perfil eletroforético da peçonha obtido por SDS-PAGE e coloração por

nitrato de prata, revelou a presença de um pequeno número de componentes de

natureza proteica (Fig. 2). O principal componente foi identificado na faixa de 45

kDa, sugerindo corresponder a enzima hialuronidase, de modo semelhante ao

descrito na literatura para outras hialuronidases (Bordon, et al., 2015).

Page 46: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

48

2.2. Fracionamento da peçonha por cromatografia de fase reversa

A peçonha total foi fracionada por RP-HPLC em coluna C18 e com sistema

de gradiente de solventes (Fig.1), permitindo a identificação de 18 frações

principais, eluídas predominantemente com até aproximadamente 30% de ACN,

indicando o caráter mais hidrofílico dos seus componentes. Nesta região, a fração

5 (FR5) foi a mais abundante, eluindo entre 15 e 25% de ACN. A baixa resolução

deste pico indicou a presença de uma grande quantidade de componentes

coeluídos e de natureza química bastante semelhantes, sugerindo corresponder

às acilpoliaminas. Já na região mais hidrofóbica (em torno de 50% de acetonitrila),

o principal componente eluído foi a fração 18 (FR18).

Figura 1. Perfil eletroforético da peçonha (8 µg) de A. natalensis (An) em SDS-PAGE 12% corado com nitrato de prata. M: marcador molecular (kDa), fosforilase b (97), albumina (66), ovoalbumina (45), anidrase carbônica (30), inibidor de tripsina (20) e α-lactalbumina (14,4).

Page 47: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

49

Figura 2. Perfil cromatográfico representativo da peçonha total (4mg) de A. natalensis fracionada por RP-HPLC em coluna C18, sob gradiente linear de 0 a 60% do solvente B em 60 min, sob fluxo de 1,0 mL/min. Solvente A: 0,12% de TFA em água Milli-Q. Solvente B: 0,12% de TFA em ACN.

Page 48: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

50

2.3. Screening de atividades biológicas da peçonha

2.3.1. Atividade antimicrobiana

A atividade antimicrobiana da peçonha total e das 18 frações

cromatográficas foi avaliada contra bactérias Gram-positivas, Gram-negativas e

uma linhagem de fungo, pelo método de diluição em meio líquido. As amostras

que apresentaram atividade antimicrobiana são apresentadas na tabela 1. A

peçonha total não se mostrou muito efetiva, com porcentagens de inibição de

crescimento inferiores a 50% contra todos os microorganismos. A fração FR5

apresentou expressiva atividade, com inibição acima de 80% contra 4 dos 5

microorganismos testados. A atividade antimicrobiana das demais frações foi mais

moderada, inibindo o crescimento microbiano predominantemente entre 50 e 80%.

Tabela 1. Atividade antimicrobiana da peçonha total (PT) de A. natalensis e

frações cromatográficas (FR).

Amostra Microorganismos

Fungo Gram-positivo Gram-negativo

CA SA KP EC EF

PT + + + + +

FR2 ++ ++ + ++ ++

FR5 +++ +++ ++ +++ +++

FR6 ++ ++ ++ ++ ++

FR7 + ++ +++ +++ +++

CA: Candida albicans, SA: Staphylococcus aureus, KP: Klebsiella pneumoniae, EC: Escherichia

coli e EF: Enterococcus faecalis

(+++) inibição de crescimento bacteriano ≥ que 80%

(++) inibição de crescimento bacteriano entre 50 e 80%

(+) inibição de crescimento bacteriano < que 50%.

Negrito: fração que apresentou atividade antimicrobiana mais expressiva

Page 49: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

51

2.3.2. Efeito sobre a viabilidade celular de células tumorais e não tumorais

Os resultados obtidos pelo ensaio do MTT, mostraram que a peçonha total

e FR5 não reduziram significativamente a viabilidade celular das linhagens

celulares testadas, quando comparado com o controle de viabilidade celular (CT).

A FR5 mostrou ainda, um possível aumento da viabilidade celular das células

MCF7 e NIH3T3, embora não estatisticamente significativo devido ao elevado

desvio padrão (Fig. 3).

Figura 3. Efeito da peçonha total (PT) e fração cromatográfica FR5 sobre a viabilidade celular de células tumorais (Hela e MCF7) e não tumorais (NIH3T3) após 24 h de incubação, avaliado pelo ensaio do MTT. Hela: colo uterino humano. MCF7: mama humano. NIH3T3: fibroblasto de camundongo. CT: controle (100% de viabilidade celular). Dados foram expressos como média ± DP.

Page 50: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

52

2.3.3. Produção de óxido nítrico (NO)

Efeito da peçonha total e fração 5 sobre a viabilidade celular e

produção de NO de macrófagos

Considerando que a peçonha de aranhas e moléculas como poliaminas,

podem interferir na viabilidade celular ou modular respostas imunológicas ou

inflamatórias, o efeito da peçonha total e fração 5 de A. natalensis sobre a

viabilidade celular e produção de NO de macrófagos foi avaliado pelo método do

MTT e de Griess, respectivamente.

Como resultado, os macrófagos expostos a diferentes concentrações da

peçonha total e fração 5 (50, 125 e/ou 250 µg/mL) não promoveram alterações na

viabilidade celular quando comparadas ao controle (células em RPMI) (Fig. 4A). A

produção de NO de macrófagos incubados por 24 h com as amostras testes não

foi alterada quando comparado as células não estimuladas (células em RPMI)

(Fig. 4B), diferentemente do que foi observado nas células incubadas com LPS.

Estes resultados demonstram que as amostras não interferem na viabilidade

celular e não estimulam a produção de NO de macrófagos nas condições

testadas.

Page 51: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

53

Efeito da peçonha total e fração 5 sobre a viabilidade celular e

produção de NO de macrófagos estimulados com LPS

Como observado na figura 4B, a peçonha total e fração 5 não induziram a

produção de NO. Assim, para investigar o possível efeito supressor da produção

de NO, macrófagos estimulados com LPS foram expostos a diferentes

concentrações das amostras (50, 125 e/ou 250 µg/mL). Os resultados mostraram

que a presença de 50 e 125 µg/mL da peçonha total e fração 5 significativamente

reduziu a produção de NO das células estimuladas com LPS (Fig. 5A). O maior

efeito foi obtido com 125 µg/mL, que representa uma redução na produção de NO

em aproximadamente 64% quando comparado com o respectivo controle (células

estimuladas com LPS). A redução na produção de NO observada não foi

considerada uma consequência de alterações na viabilidade celular das células

estimuladas com LPS, uma vez que esta não diferiu estatisticamente do controle

NO

- 2(

M/1

05 c

élu

las)

0

10

20

30

40

50 125

B

RPMI

LPS

PT

FR 5

(g/mL)

Via

bili

dad

e c

elu

lar

(%)

0

50

100

150RPMI

PT

FR 5

50 125 250 (g/mL)

A

Figura 4. Efeito da peçonha total (PT) e fração cromatográfica FR5 sobre macrófagos J774, em diferentes concentrações (µg/mL). (A): Viabilidade celular (ensaio do MTT). RPMI: controle de 100% de viabilidade celular. (B): Produção de NO (método de Griess). RPMI: controle de ausência de produção de NO. LPS: controle de produção de NO. Dados foram expressos como média ± DP.

Page 52: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

54

de viabilidade celular (células em RPMI) em nenhuma das concentrações testadas

(Fig. 5B).

Via

bilid

ad

e c

elu

lar

(%)

0

50

100

150

50 125 250

B

RPMI

LPS

PT

FR 5

(g/mL)

NO

- 2(

M/1

05 c

élu

las)

0

5

10

15

****** ***

***

50 125

A

RPMI

LPS

PT

FR 5

(g/mL)

Figura 5. Efeito da peçonha total (PT) e fração cromatográfica FR5 sobre macrófagos J774 estimulados com LPS (50 ng/mL), em diferentes concentrações (µg/mL). (A): Produção de NO (método de Griess). RPMI: controle de ausência de produção de NO. LPS: controle de produção de NO (B): Viabilidade celular (ensaio do MTT). RPMI: controle de 100% de viabilidade celular. Dados foram expressos como média ± DP.

Page 53: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

55

2.3.4. Atividade proteolítica

A presença de atividade proteolítica na peçonha foi avaliada sobre o

substrato azocaseína. Nenhuma atividade proteolítica foi identificada nas

diferentes concentrações (2 e 4 mg/mL) e pH testados, diferentemente do controle

positivo representado pela peçonha de B. moojeni (Fig. 6).

2.3.5. Atividade fosfolipásica

A presença de atividade fosfolipásica na peçonha foi avaliada sobre uma

emulsão de gema de ovo como substrato. Nenhuma atividade fosfolipásica foi

identificada nas diferentes concentrações (2 e 4 mg/mL) testadas, mesmo na

presença de cálcio, diferentemente do controle positivo representado pela

peçonha de B. moojeni (Fig. 7).

Substr

ato

hid

rolis

ado (

%)

CT 2 4 50

50

100

150pH 6,0

pH 8,0

A. natalensis B. moojeni

(mg/mL)

Figura 6. Atividade proteolítica da peçonha de A. natalensis usando o substrato azocaseína, sob diferentes concentrações e pH. CT: controle sem adição de enzima (100% de substrato). B. moojeni: controle positivo. Dados foram expressos como média ± DP.

Page 54: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

56

2.3.6. Atividade hialuronidásica

A atividade hialuronidásica da peçonha e frações cromatográficas foi

avaliada turbidimétricamente (Fig. 8). Apenas a peçonha total e fração 18

mostraram atividade hialuronidásica, hidrolisando aproximadamente 100% do

substrato, de modo semelhante ao controle positivo, representado pela

hialuronidase testicular bovina (Bv).

Substr

ato

hid

rolis

ado (

%)

CT 2 4 50

20

40

60

80

(mg/mL)

A. natalensis B. moojeni

Figura 7. Atividade fosfolipásica da peçonha de A. natalensis usando emulsão de gema de ovo como substrato, sob diferentes concentrações. CT: controle sem adição de enzima. B. moojeni: controle positivo. Dados foram expressos como média ± DP.

Page 55: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

57

3. Discussão

Fracionamento da peçonha e perfil eletroforético

A separação de moléculas por cromatografia líquida de fase reversa (RP-

HPLC) se baseia na relação de hidrofobicidade entre as moléculas a serem

purificadas e a matriz cromatográfica. O fracionamento da peçonha de A.

natalensis foi realizado por RP-HPLC em coluna C18, sob gradiente linear de

acetonitrila, obtendo-se 18 frações principais eluídas predominantemente na

região mais hidrofílica do cromatograma. Nesta região, o principal componente

encontrado foi a fração 5 (FR5).

Conhecidamente, em RP-HPLC, a região mais hidrofílica do cromatograma

caracteriza-se pela eluição preferencial de compostos de baixa massa molecular,

tais como, aminas biogênicas e acilpoliaminas (Skinner et al., 1989). Estas últimas

constituem uma família de moléculas estruturalmente muito semelhantes e de

Amostra

Substr

ato

hid

rolis

ado (

%)

CT PT 1-3 4 5 6-78-12

13-17 18 Bv

0

20

40

60

80

100

Figura 8. Atividade hialuronidásica da peçonha total (PT) e frações cromatográficas (1-3, 4, 5, 6-7, 8-12, 13-17 e 18) de A. natalensis sobre o substrato ácido hialurônico. CT: controle sem adição de enzima. Bv: hialuronidade testicular bovina, usada como controle positivo. Dados foram expressos como média ± DP.

Page 56: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

58

difícil separação (Estrada, Villegas e Corzo, 2007). A análise conjunta destes

aspectos indicou que a FR5 corresponde ao grupo de acilpoliaminas. Além disto, a

eluição desta fração por aproximadamente 4 minutos, mostra que há uma

quantidade ainda maior de compostos presentes na peçonha. Entre as aranhas,

esta é uma característica que tem sido frequentemente relatada (Palma, 2012).

Já na região mais hidrofóbica do cromatograma, foi observada a eluição de

um componente principal, a fração 18 (FR18). Nesta região hidrofóbica, também é

conhecido que compostos com massa molecular mais elevada são

caracteristicamente eluídos (Skinner et al., 1989), sendo estes em geral, de

natureza peptídica. O perfil eletroforético da peçonha mostrou a presença de

poucos componentes proteicos na peçonha, sendo a banda na faixa de 45 kDa, a

mais expressiva. A presença de componentes proteicos com massa molecular

entre 5 e 15 kDa (Estrada-Gomez, Muñoz e Quintana, 2013) e em torno de 40 kDa

(Rocha-e-Silva, Sutti e Hyslop, 2009), foi demonstrada na peçonha de aranhas

Theraphosidaes. Os componentes com massas moleculares mais elevadas (~40

kDa), podem corresponder a enzimas (Gentz et al., 2009) e dentre estas, a

hialuronidase tem sido descrita para diversas espécies de aranhas (Rash e

Hodgson, 2002) (Vassilevski, Kozlov e Grishin, 2009). Assim, a análise conjunta

do perfil cromatográfico e eletroforético e, do ensaio de atividade enzimática de A.

natalensis, confirmaram que a FR18 contém a enzima hialuronidase (HA).

Page 57: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

59

Screening de atividades biológicas

As atividades biológicas da peçonha de A. natalensis avaliadas incluíram:

ação antimicrobiana, efeito sobre a viabilidade celular e produção do óxido nítrico

(NO).

A atividade antimicrobiana de compostos da peçonha de diversos animais,

comumente é atribuída a moléculas de natureza peptídica (Saez et al., 2010).

Contudo, na peçonha de A. natalensis a atividade antimicrobiana mais

pronunciada foi identificada na fração 5 (FR5), constituída por acilpoliaminas.

Desta forma, a FR5 foi selecionada para a continuidade do estudo, visando

caracterizar suas atividades biológicas e estrutura química (apresentados na Parte

II, sobre acilpoliaminas).

Embora a peçonha de diversos animais, como serpentes, abelhas e

escorpiões, tem demonstrado efeitos citotóxicos contra células tumorais, entre as

aranhas (Heinen e Veiga, 2011), estes efeitos têm sido pouco relatados para

membros da família Theraphosidae. Contudo, recentemente a atividade citotóxica

de moléculas da peçonha de 24 espécies desta família foi avaliada. Destas, 11

espécies (incluindo uma espécie do gênero Acanthoscurria, Acanthoscurria

geniculata) demonstraram atividade citotóxica contra células MCF7. Esta atividade

foi relacionada a duas acilpoliaminas identificadas na peçonha, denominadas

PA389 e PA366. A análise da estrutura química destas moléculas mostrou a

presença de um grupo aromático indole na PA389, enquanto na PA366, a presença

de um grupo hidroxifenil, confere a esta uma atividade mais acentuada (Wilson et

al., 2017).

Page 58: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

60

A peçonha e a fração acilpoliamina de A. natalensis não reduziram a

viabilidade celular das células tumorais e não tumoral testadas, mas um possível

aumento da viabilidade celular das células MCF7 e NIH3T3 foi observado na

fração FR5. Certamente estudo adicionais são necessários para verificar esta

possibilidade, sobretudo em relação ao fibroblasto de camundongo (NIH3T3), pois

poderia abrir uma linha interessante de investigação, voltada para os processos de

cicatrização de feridas, já que estes envolvem diferentes eventos fisiológicos,

como a proliferação celular. Neste contexto, alguns animais têm sido explorados

para identificar compostos com propriedades cicatrizantes. Em Lonomia obliqua, a

proteína Losac e rLosac (recombinante) mostrou diversas atividades, como

citoproteção, proliferação celular e estimulação da produção de proteínas da

matriz extracelular e, in vivo, rLosac promoveu aumentou a proliferação epidermal

e induziu a contração da ferida (Sato et al., 2016). O peptídio antimicrobiano

Pardaxin (GE33), isolado do peixe Pardachirus marmoratus, em adição a sua

atividade antimicrobiana, promoveu rápida reepitelização de feridas infectadas

com Staphylococcus aureus resistente a meticilina (MRSA) e não apresentou

efeitos imunotóxicos (Huang et al., 2014). Compostos com propriedades

cicatrizantes, também foram identificados na peçonha de alguns animais, como

em abelhas e serpentes. A Melitina isolada de Apis mellifera, mostrou atividade

antimicrobiana contra Listeria monocytogenes em concentração micromolar (CIM:

12.5 µg/mL) e acelerou a contração da ferida e reepitelização decorrente da

proliferação celular (Alia, Laila e Al-DaoudeAntonious, 2013). Isolado da peçonha

de Crotalus adamanteus, o composto CaTx-II (7.8 mg/mL) mostrou expressiva

ação antimicrobiana contra Staphylococcus aureus. CaTx-II não foi citotóxico

Page 59: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

61

contra células de pulmão (MRC-5) e fibroblastos (HEPK), aumentou a produção de

citocinas envolvidas na cicatrização e migração celular em camundongos,

resultando cicatrização completa da ferida (Samy et al., 2014).

A peçonha de aranhas contém diversas moléculas bioativas, com

propriedades já bastante conhecidas, como neurotoxicidade, ação antimicrobiana

e enzimática (Kuhn-Nentwig, Stöcklin e Nentwig, 2011). Contudo, o efeito dos

componentes da peçonha de aranhas sobre respostas imunológicas tem sido

pouco explorado. Embora extremamente complexas, as respostas imunológicas

são primariamente mediadas por macrófagos, que rapidamente produzem

mediadores inflamatórios, como o óxido nítrico, em resposta a diferentes

antígenos, sejam eles de natureza química ou biológica (Fujiwara e Kobayashi,

2005).

A avaliação do efeito da peçonha total e fração 5 de A. natalensis sobre

macrófagos não estimulados, mostrou que as amostras em concentrações de até

250 µg/mL não reduziram a viabilidade celular e não induziram a produção de NO.

De modo semelhante, a peçonha do escorpião Tityus serrulatus não afetou a

viabilidade celular de células mononucleares de sangue periférico nas mesmas

concentrações (Casella-Martins et al., 2015). Por outro lado, a peçonha da

serpente Crotalus durissus terrificus causou a lise de macrófagos em baixas

concentrações (25 µg/mL) e induziu a produção de NO (Cruz, Mendonça e

Petricevich, 2005). Já a Migalina, uma acilpoliamina isolada da peçonha de

Acanthoscurria gomesiana, também não afetou a viabilidade celular de

esplenócitos e macrófagos sob concentrações entre 5 e 40 µg/mL, mas induziu a

produção de NO (Mafra et al., 2012).

Page 60: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

62

O óxido nítrico é uma molécula produzida endogenamente, atuando como

importante sinalizador em diversos processos fisiológicos, como vasodilatação,

neurotransmissão e respostas imunológicas (Moncada e Higgs, 1991). No caso de

respostas inflamatórias, o NO é um dos mais importantes mediadores e o seu

efeito pró ou anti-inflamatório parece depender das concentrações em que é

produzido. O NO produzido em baixas quantidades atua como anti-inflamatório,

enquanto altas concentrações, como aquelas produzidas em resposta a bactérias,

são pró-inflamatórias (Grisham, Jourd’Heuil e Wink, 1999). A produção de NO

excessiva ou desregulada pode contribuir para o estabelecimento de condições

patofisiológicas, como respostas inflamatórias severas, sepse e câncer (Choudhari

et al., 2013). Assim, a busca por novos compostos com habilidade de modular a

produção de NO podem representar alternativas terapêuticas para o controle de

doenças inflamatórias, autoimunes, entre outras (Barreto, Correia e Muscará,

2005; Saez et al., 2010).

Efeitos imunomoduladores da peçonha de aranhas, tem sido pouco relatado

na literatura e a maior parte destes, abordam as respostas pró-inflamatórias

causadas pela injeção da peçonha de espécies dos gêneros Loxosceles e

Phoneutria em animais experimentais (Farsky, Antunes e Mello, 2005; Nunes et

al., 2008). Alguns estudos in vitro, foram realizados com a peçonha de Loxosceles

gaúcho e Loxosceles deserta sobre queratinócitos, sendo demonstrada a indução

de TNF-α (Malaque et al., 1999) e fator de crescimento endotelial vascular (VEGF)

(Desai, Lankford e Warren, 2000), respectivamente. Em relação ao efeito

imunomodulador de moléculas isoladas da peçonha, a Migalina, acima

mencionada, promoveu a modulação positiva de macrófagos e esplenócitos,

Page 61: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

63

aumentando a produção de algumas citocinas e de NO (Mafra et al., 2012). A

peçonha de outros animais como escorpiões e serpentes, também possuem

propriedades imunomoduladoras, representadas principalmente por efeitos

imunoestimulantes e pró-inflamatórios (Farsky, Antunes e Mello, 2005; Petricevich,

2010).

No presente estudo, a peçonha total e fração 5 foram também avaliadas

quanto a capacidade em modular negativamente a produção de NO de

macrófagos estimulados com LPS. Os resultados mostraram que ambas as

amostras reduziram significativamente a produção de NO induzida por LPS, em

concentrações de 50 e 125 µg/mL.

O estudo realizado com peptídio Cupienina 1a, isolado da peçonha da

aranha Cupiennius salei, inibiu a óxido nítrico sintase neuroral (nNOS) e assim, a

produção de NO, em concentrações de IC50 de 1.3 µM (5.1 µg/mL). Neste estudo,

a inibição de nNOS foi medida pela conversão da [3H] arginine em [3H] citrulline

(Pukala et al., 2007).

Outros estudos relacionados a efeitos imunossupressores em peçonha de

aranhas não foram encontrados na literatura. Contudo, estes efeitos têm sido

identificados na peçonha de animais, como abelhas, vespas, formigas e serpentes

(Rajendra, Armugam e Jeyaseelan, 2004). O efeito imunomodulador da peçonha

de abelha e seu principal componente, a Melitina (ambos em concentrações de 1

e 2 µg/mL), foi avaliado sobre células microgliais, resultando na inibição da

produção citocinas e de NO induzido por LPS (Moon et al., 2007). A peçonha da

vespa Nasonia vitripennis, modulou a atividade de macrófagos estimulados com

LPS, inibindo a produção da citocina pró-inflamatória IL-6 e do fator de transcrição

Page 62: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

64

NF-κB, que regula genes relacionados a reações inflamatórias (Danneels et al.,

2014). Atividades anti-inflamatórias também foram identificadas em compostos

isolados de organismos marinhos (Abad, Bedoya e Bermejo, 2008; Malve, 2016),

a exemplo do coral Sinularia spp., que inibiu a produção de TNF-α e NO por

macrófagos estimulados com LPS (Takaki et al., 2003). A astaxantina, um

carotenoide isolado do camarão marinho Litopenaeus vannamei, também reduziu

a produção de NO em macrófagos estimulados com LPS. A concentração que

apresentou este resultado foi de 43,5 µg/mL (Santos et al., 2012), estando próxima

a menor concentração (50 µg/mL) de peçonha total e fração 5 utilizadas no

presente trabalho.

A caracterização enzimática da peçonha de A. natalensis, envolveu três

grupos de enzimas conhecidos em aranhas: proteases, fosfolipases e

hialuronidases.

Com relação à presença de enzimas de natureza proteolítica e

fosfolipásica, nenhuma atividade foi detectada na peçonha de A. natalensis, de

modo semelhante a outros Theraphosidaes (Kuhn-Nentwig, Stöcklin e Nentwig,

2011) como, Poecilotheria regalis, Ceratogyrus darlingi, Brachypelma epicureanum

(García-Arredondo et al., 2015) e Vitalius dubius (Rocha-e-Silva, Sutti e Hyslop,

2009). Por outro lado, algumas aranhas do gênero Loxoceles (Sannaningaiah,

Subbaiah e Kempaiah, 2014) e Hippasa (Nagaraju et al., 2006) contém ambas as

enzimas em sua peçonha, enquanto outras apresentam apenas atividade

fosfolipásica ou proteásica, como em Pamphobeteus aff. nigricolor (Estrada-

Gomez, Muñoz e Quintana, 2013) e algumas espécies de Phoneutria (Richardson

et al., 2006), respectivamente.

Page 63: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

65

A hialuronidase é uma enzima comumente presente na peçonha de

diversos animais, incluindo as aranhas. Em A. natalensis, a atividade

hialuronidásica foi identificada por turbidimetria na fração 18 (FR18), sendo esta

bastante expressiva. Desta forma, a FR18 foi selecionada para a continuidade do

estudo, visando a caracterização bioquímica e estrutural da enzima hialuronidase.

(apresentados na Parte III, sobre hialuronidase).

Page 64: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

129

V. CONCLUSÕES

A peçonha de A. natalensis possui predominantemente compostos de baixa

massa molecular e com caráter hidrofílico, eluídos na porção inicial do

cromatograma e, uma pequena quantidade de compostos proteicos, sendo o

principal encontrado na faixa de 45 kDa (SDS-PAGE).

Os compostos de baixo peso molecular presentes na FR5, representados

pelas acilpoliaminas, apresentaram relevante atividade antimicrobiana com até

90% de inibição do crescimento bacteriano.

A FR5 não reduziu a viabilidade celular (VC) de células tumorais e não-

tumoral e por outro lado, um possível aumento da VC de fibroblastos de

camundongo (NIH3T3) foi observado. Contudo, estudos adicionais são

necessários para confirmar este possível efeito, que pode representar uma

interessante linha de investigação.

Ainda, a FR5 mostrou um possível efeito modulador da produção de NO de

macrófagos J774 induzida por LPS, reduzindo esta produção em

aproximadamente 64%, sem afetar a VC. Sem dúvida, futuras investigações são

necessárias a fim de identificar e isolar o (os) componente (s) que detêm esta

capacidade, bem como avaliar seu efeito sobre a produção de citocinas e as vias

de ativação dos macrófagos. A ampla caracterização destas propriedades

contribuirá para a qualificação dos seus componentes como possíveis agentes

terapêuticos no tratamento de doenças relacionadas a infecção e inflamação.

A caracterização das acilpoliaminas da FR5, denominadas ApAn728,

ApAn614a, ApAn614b, ApAn742 e ApAn756, mostrou atividade antibacteriana

Page 65: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

130

contra E. coli e S. aureus com CIM variando entre 128 e 256 µM e ausência de

atividade hemolítica contra eritrócitos de camundongos.

As ApAn apresentaram massas moleculares entre 614 e 756 Da e a análise

da estrutura química mostrou a presença de uma unidade tirosil como cromóforo,

ligada a uma cadeia poliamina contendo ao menos uma unidade similar a

espermidina. Análises por ressonância magnética nuclear (RMN) poderão

contribuir para a elucidação completa da estrutura química destas acilpoliaminas.

A peçonha não apresentou atividade proteolítica e fosfolipásica, porém uma

expressiva atividade hialuronidásica foi identificada na FR18, sendo esta

denominada AnHyal.

A AnHyal apresentou um íon monocarregado em 42,55 kDa (MALDI-TOF),

sugerindo a homogeneidade da amostra e íons multi-carregados sugerindo a

presença de formas oligoméricas. Uma banda principal em 45 kDa e outras

bandas menores (acima de 45 kDa) enzimaticamente ativas, além de uma banda

não ativa em 42 kDa, foram identificadas na AnHyal (SDS-PAGE e zimograma).

O sequenciamento de novo e degradação de Edman da AnHyal resultou na

identificação de similaridades para as proteínas hialuronidase de B. vagans, com

cobertura proteica de 64% e CRISP de G. rosea, com cobertura proteica de 79%.

A identificação de domínios conservados (característicos das roteínas

hialuronidase ou CRISP) nos peptídios da AnHyal e o alinhamento destes com

outras hialuronidases e CRISP, indicaram a presença destas duas proteínas na

AnHyal, sendo denominados AnHyalH (hialuronidase) e AnHyalC (CRISP).

As análises por BN-PAGE mostraram que a AnHyal pode ser encontrada

como formas oligoméricas enzimaticamente ativas. Uma destas formas foi

Page 66: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

131

decomposta em duas subunidades, uma ativa em 53 kDa e outra não ativa em 44

kDa. O sequenciamento de novo destas subunidades mostrou que a banda ativa

corresponde a hialuronidase, enquanto a banda não ativa corresponde a CRISP.

A AnHyalC encontra-se em proporção maior que a AnHyalH e desta forma,

é possível que o sinal da AnHyalH tenha sido suprimido, de modo que esta não foi

visualizada na análise por MALDI-TOF.

A estrutura secundária da AnHyal foi compatível com aquela apresentada

para outras proteínas CRISP, contendo 36,15% de α-hélice e 15,5% de folha β. A

AnHyal sobre um processo gradadivo de desnaturação, sendo que a temperatura

de transição (Tmelting) ocorre em 46,4 oC e a desnaturação total em 65 oC.

A AnHyal apresentou atividade máxima em uma ampla faixa de pH (4,0-6,0)

e temperatura (30-60 oC), com uma atividade residual de 85% a 60 oC, sendo que

esta pode ter sido favorecida pela associação entre a hialuronidase e CRISP.

A AnHyal apresentou especificidade pelo substrato ácido hialurônico e um

valor de KM de 617,9 µg/mL, sugerindo uma baixa afinidade por seu substrato.

Este trabalho permitiu pela primeira vez, a identificação de um complexo

enzimaticamente ativo entre as proteínas hialuronidase e CRISP. Estudos

adicionais devem ser realizados para identificar a função da proteína CRISP na

peçonha de A. natalensis, que poderá ajudar a elucidar a possível relação entre as

duas proteínas. A descoberta e caracterização de novos tipos de hialuronidases

pode expandir ainda mais as possibilidades de aplicações biotecnológicas dessas

enzimas.

Page 67: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

132

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABAD, M.; BEDOYA, L.; BERMEJO, P. Natural marine anti-inflammatory products. Mini-

Reviews in Medicinal Chemistry, v. 8, n. 8, p. 740–754, 2008.

ALIA, O.; LAILA, M.; AL-DAOUDEANTONIOUS. Honeybee (Apis mellifera) Venom and its

Wound Healing Potential. International Journal Pharmcology Science Review

Research, v. 21, n. 1, p. 318–324, 2013.

ANKLESARIA, J. H.; PANDYA, R. R.; PATHAK, B. R.; MAHALE, S. D. Purification and

characterization of CRISP-3 from human seminal plasma and its real-time binding

kinetics with PSP94. Journal of Chromatography B, v. 1039, p. 59–65, 2016.

BALDWIN, M. A. Protein Identification by Mass Spectrometry. Molecular & Cellular

Proteomics, v. 3, n. 1, p. 1–9, 2004.

BARRETO, R. D. L.; CORREIA, C. R. D.; MUSCARÁ, M. N. Óxido nítrico: Propriedades e

potenciais usos terapêuticos. Quimica Nova, v. 28, n. 6, p. 1046–1054, 2005.

BATISTA, C. V. F.; ROMÁN-GONZÁLEZ, S. A.; SALAS-CASTILLO, S. P.; ZAMUDIO, F.

Z.; GÓMEZ-LAGUNAS, F.; POSSANI, L. D. Proteomic analysis of the venom from the

scorpion Tityus stigmurus: Biochemical and physiological comparison with other Tityus

species. Comparative Biochemistry and Physiology - C Toxicology and Pharmacology,

v. 146, n. 1–2 SPEC. ISS., p. 147–157, 2007.

BINER, O.; TRACHSEL, C.; MOSER, A.; KOPP, L.; LANGENEGGER, N.; KÄMPFER, U.;

BALLMOOS, C. VON; NENTWIG, W.; SCHÜRCH, S.; SCHALLER, J.; KUHN-

NENTWIG, L. Isolation, N-glycosylations and function of a hyaluronidase-like enzyme

from the venom of the spider Cupiennius salei. PLoS ONE, v. 10, n. 12, p. 1–32, 2015.

BÖHM, G. CDNN: CD spectra deconvolution software version 2.1. University of Halle-

Wittenberg, Halle, Germany, 1997.

BORDON, K. C. F.; PERINO, M. G.; GIGLIO, J. R.; ARANTES, E. C. Isolation, enzymatic

characterization and antiedematogenic activity of the first reported rattlesnake

hyaluronidase from Crotalus durissus terrificus venom. Biochimie, v. 94, n. 12, p. 2740–

2748, 2012.

BORDON, K. C. F.; WIEZEL, G. A.; AMORIM, F. G.; ARANTES, E. C. Arthropod venom

Hyaluronidases: biochemical properties and potential applications in medicine and

biotechnology. Journal of Venomous Animals and Toxins including Tropical Diseases,

v. 21, n. 1, p. 43, 22 dez. 2015.

BORGES, M. H.; FIGUEIREDO, S. G.; LEPREVOST, F. V.; LIMA, M. E. DE; CORDEIRO,

Page 68: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

133

M. DO N.; DINIZ, M. R. V.; MORESCO, J.; CARVALHO, P. C.; YATES, J. R.

Venomous extract protein profile of Brazilian tarantula Grammostola iheringi: Searching

for potential biotechnological applications. Journal of Proteomics, v. 136, p. 35–47,

2016.

BULET, P.; HETRU, C.; DIMARCQ, J.-L.; HOFFMANN, D. Antimicrobial peptides in

insects; structure and function. Developmental & Comparative Immunology, v. 23, n. 4,

p. 329–344, 1999.

CASELLA-MARTINS, A.; AYRES, L. R.; BURIN, S. M.; MORAIS, F. R.; PEREIRA, J. C.;

FACCIOLI, L. H.; SAMPAIO, S. V; ARANTES, E. C.; CASTRO, F. A.; PEREIRA-

CROTT, L. S. Immunomodulatory activity of Tityus serrulatus scorpion venom on

human T lymphocytes. Journal of Venomous Animals and Toxins including Tropical

Diseases, v. 21, n. 1, p. 46, 2015.

ČERNÁ, P.; MIKEŠ, L.; VOLF, P. Salivary gland hyaluronidase in various species of

phlebotomine sand flies (Diptera: Psychodidae). Insect Biochemistry and Molecular

Biology, v. 32, n. 12, p. 1691–1697, 2002.

CHESNOV, S.; BIGLER, L.; HESSE, M. The Acylpolyamines from the venom of the spider

Agelenopsis aperta. Helvetica Chimica Acta, v. 84, n. 8, p. 2178–2197, 2001.

CHOUDHARI, S. K.; CHAUDHARY, M.; BAGDE, S.; GADBAIL, A. R.; JOSHI, V. Nitric

oxide and cancer: a review. World Journal of Surgical Oncology, v. 11, n. 1, p. 118,

2013.

CHRISTEN, G. L.; MARSHALL, R. T. Selected Properties of Lipase and Protease of

Pseudomonas fluorescens 27 Produced in Four Media. Journal of Dairy Science, v. 67,

n. 8, p. 1680–1687, 6 ago. 1984.

CLEMENT, H.; OLVERA, A.; RODRÍGUEZ, M.; ZAMUDIO, F.; PALOMARES, L. A.;

POSSANI, L. D.; ODELL, G. V.; ALAGÓN, A.; SÁNCHEZ-LÓPEZ, R. Identification,

cDNA cloning and heterologous expression of a hyaluronidase from the tarantula

Brachypelma vagans venom. Toxicon, v. 60, n. 7, p. 1223–1227, 2012.

CODDINGTON, J. A.; LEVI, H. W. Systematics and evolution of spiders (Araneae). Annual

Review of Ecology and Systematics, v. 22, n. 1, p. 565–592, 1991.

COHEN, D. J.; MALDERA, J. A.; MUÑOZ, M. W.; ERNESTO, J. I.; VASEN, G.;

CUASNICUL, P. S. Cysteine-rich secretory proteins (CRISP) and their role in

mammalian fertilization. Biological Research, v. 44, n. 2, p. 135–138, 2011.

COHEN, E.; QUISTAD, G. B. Cytotoxic effects of arthropod venoms on various cultured

cells. Toxicon, v. 36, n. 2, p. 353–358, 1998.

Page 69: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

134

COOPER, A. M.; NELSEN, D. R.; HAYES, W. K. The strategic use of venom by spiders.

In: GOPALAKRISHNAKONE, P.; MALHOTRA, A. (Eds.). Evolution of venomous

animals and their toxins. Dordrecht: Springer Netherlands, 2015. p. 1–18.

CORZO, G.; VILLEGAS, E.; GÓMEZ-LAGUNAS, F.; POSSANI, L. D.; BELOKONEVA, O.

S.; NAKAJIMA, T. Oxyopinins, large amphipathic peptides isolated from the venom of

the wolf spider Oxyopes kitabensis with cytolytic properties and positive insecticidal

cooperativity with spider neurotoxins. Journal of Biological Chemistry, v. 277, n. 26, p.

23627–23637, 2002.

CRUZ, A. H.; MENDONÇA, R. Z.; PETRICEVICH, V. L. Crotalus durissus terrificus venom

interferes with morphological, functional, and biochemical changes in murine

macrophage. Mediators of Inflammation, v. 2005, n. 6, p. 349–359, 2005.

CSOKA, A. B.; STERN, R. Hypotheses on the evolution of hyaluronan: A highly ironic acid.

Glycobiology, v. 23, n. 4, p. 398–411, 2013.

DANNEELS, E. L.; GERLO, S.; HEYNINCK, K.; CRAENENBROECK, K. VAN;

BOSSCHER, K. DE; HAEGEMAN, G.; GRAAF, D. C. DE. How the venom from the

ectoparasitoid wasp Nasonia vitripennis exhibits anti-inflammatory properties on

mammalian cell lines. PLoS ONE, v. 9, n. 5, p. 1–13, 2014.

DESAI, A.; LANKFORD, H. A.; WARREN, J. S. Loxosceles deserta spider venom induces

the expression of vascular endothelial growth factor (VEGF) in keratinocytes.

Inflammation, v. 24, n. 1, p. 1–9, 2000.

DI-FERRANTE, N. Turbidimetric measurement of acid mucopolysaccharides and

hyaluronidase activity. The Journal of Biological Chemistry, v. 220, n. 1, p. 303–306,

1956.

ELDEFRAWI, A. T.; ELDEFRAWI, M. E.; KONNO, K.; MANSOUR, N. A.; NAKANISHIT,

K.; OLTZT, E.; USHERWOOD, P. N. R.; NAKANISHI, K.; OLTZ, E. Structure and

synthesis of a potent glutamate receptor antagonist in wasp venom. Proceedings of the

National Academy of Sciences of the United States of America, v. 85, n. July, p. 4910–

4913, 1988.

ESTRADA-GOMEZ, S.; MUÑOZ, L. J. V.; QUINTANA, J. C. Extraction and partial

characterization of venom from the Colombian spider Pamphobeteus aff. nigricolor

(Aranae:Theraphosidae). Toxicon, v. 76, p. 301–309, 2013.

ESTRADA, G.; VILLEGAS, E.; CORZO, G. Spider venoms: a rich source of

acylpolyamines and peptides as new leads for CNS drugs. Nat. Prod. Rep., v. 24, n. 1,

p. 145–161, 2007.

Page 70: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

135

FARSKY, S. H. P.; ANTUNES, E.; MELLO, S. B. V. Pro and antiinflammatory properties of

toxins from animal venoms. Current drug targets. Inflammation and Allergy, v. 4, n. 3, p.

401–411, 2005.

FERREIRA, A. S.; SILVA, A. D. O.; CONCEIÇAO, B. M. DA; CARDOSO, D. D. S.;

SANTOS, P. Predation on Tropidurus semitaeniatus (Squamata: Tropiduridae) by

Acanthoscurria natalensis (Aranea: Theraphosidae) in the semiarid Caatinga region of

northeastern Brazil. Herpetology Notes, v. 7, p. 501–503, 2014.

FERREIRA, F. R. B. et al. Evaluation of antimicrobial, cytotoxic, and hemolytic activities

from venom of the spider Lasiodora sp. Toxicon, v. 122, p. 119–126, 2016.

FERREIRA, I. L. C.; SILVA JUNIOR, P. I. Acilpoliaminas do veneno da aranha brasileira

Nephilengys cruentata: antigos neuromoduladores como uma nova alternativa no

desenvolvimento de fármacos antimicrobianos. In:

UNESCO:BRASILIA/RECYT/CNPQ/MBC/CGEE (Ed.). Inovação tecnológica na saúde:

edição 2012 do Prêmio MERCOSUL de Ciência e Tecnologia. 1a. ed. Brasília:

UNESCO, 2012. p. 37–60.

FERRER, V. P.; MARI, T. L. DE; GREMSKI, L. H.; TREVISAN SILVA, D.; SILVEIRA, R. B.

DA; GREMSKI, W.; CHAIM, O. M.; SENFF-RIBEIRO, A.; NADER, H. B.; VEIGA, S. S.

A novel hyaluronidase from brown spider (Loxosceles intermedia) venom (Dietrich’s

Hyaluronidase): from cloning to functional characterization. PLoS Neglected Tropical

Diseases, v. 7, n. 5, p. 1–12, 2013.

FISZER-SZAFARZ, B.; LITYNSKA, A.; ZOU, L. Human hyaluronidases: Electrophoretic

multiple forms in somatic tissues and body fluids: Evidence for conserved

hyaluronidase potential N- glycosylation sites in different mammalian species. Journal

of Biochemical and Biophysical Methods, v. 45, n. 2, p. 103–116, 2000.

FROST, G. I.; CSÓKA, T.; STERN, R. The Hyaluronidases : A Chemical , Biological and

Clinical. Trends in Glycoscience and Glycotechnology, v. 8, n. 44, p. 419–434, 1996.

FUJITA, T.; ITAGAKI, Y.; NAOKI, H.; NAKAJIMA, T.; HAGIWARA, K. Structural

characterization of glutaminergic blocker spider toxins by high‐energy collision

charge‐remote fragmentations. Rapid Communications in Mass Spectrometry, v. 9, n.

5, p. 365–371, 1995.

FUJIWARA, N.; KOBAYASHI, K. Macrophages in inflammation. Current drug targets.

Inflammation and allergy, v. 4, n. 3, p. 281–286, 2005.

GAO, L.; SHAN, B.; CHEN, J.; LIU, J.; SONG, D.; ZHU, B. Effects of spider Macrothele

raven venom on cell proliferation and cytotoxicity in HeLa cells. Acta Pharmacologica

Page 71: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

136

Sinica, v. 26, p. 369–376, 2005.

GAO, L.; YU, S.; WU, Y.; SHAN, B. Effect of spider venom on cell apoptosis and necrosis

rates in MCF-7 cells. DNA and cell biology, v. 26, n. 7, p. 485—489, 2007.

GARCÍA-ARREDONDO, A.; RODRÍGUEZ-RIOS, L.; DÍAZ-PEÑA, L. F.; VEGA-ÁNGELES,

R. Pharmacological characterization of venoms from three theraphosid spiders:

Poecilotheria regalis, Ceratogyrus darlingi and Brachypelma epicureanum. The journal

of venomous animals and toxins including tropical diseases, v. 21, p. 15, 2015.

GENTZ, M. C.; JONES, A.; CLEMENT, H.; KING, G. F. Comparison of the peptidome and

insecticidal activity of venom from a taxonomically diverse group of Theraphosid

spiders. Toxicon, v. 53, n. 5, p. 496–502, 2009.

GIANGASPERO, A.; SANDRI, L.; TOSSI, A. Amphipathic α helical antimicrobial peptides.

European Journal of Biochemistry, v. 268, n. 21, p. 5589–5600, 2001.

GIRISH, K. S.; KEMPARAJU, K. A low molecular weight isoform of hyaluronidase:

Purification from Indian cobra (Naja naja) venom and partial characterization.

Biochemistry (Moscow), v. 70, n. 6, p. 708–712, 2005.

GRISHAM, M. B.; JOURD’HEUIL, D.; WINK, D. A. Nitric oxide. I. Physiological chemistry

of nitric oxide and its metabolites:implications in inflammation. The American journal of

physiology, v. 276, n. 2 Pt 1, p. G315–G321, 1999.

GRISHIN, E. V; VOLKOVA, T. M.; ARSENIEV, A. S. Isolation and structure analysis of

components from venom of the spider Argiope lobata. Toxicon, v. 27, n. 5, p. 541–549,

1989.

HANEY, E. F.; HANCOCK, R. E. W. Peptide design for antimicrobial and

immunomodulatory applications. Biopolymers, v. 100, n. 6, p. 572–583, 2014.

HANEY, R. A.; AYOUB, N. A.; CLARKE, T. H.; HAYASHI, C. Y.; GARB, J. E. Dramatic

expansion of the black widow toxin arsenal uncovered by multi-tissue transcriptomics

and venom proteomics. BMC Genomics, v. 15, n. 1, p. 366, 2014.

HARVEY, A. L. Toxins and drug discovery. Toxicon, v. 92, p. 193–200, 2014.

HEINEN, T. E.; VEIGA, A. B. G. Arthropod venoms and cancer. Toxicon, v. 57, n. 4, p.

497–511, 2011.

HIBBS, J. B.; TAINTOR, R. R.; VAVRIN, Z.; RACHLIN, E. M. Nitric oxide: a cytotoxic

activated macrophage effector molecule. Biochemical and biophysical research

communications, v. 157, n. 1, p. 87–94, 1988.

HISADA, M.; FUJITA, T.; NAOKI, H.; ITAGAKI, Y.; IRIE, H.; MIYASHITA, M.; NAKAJIMA,

T. Structures of spider toxins: Hydroxyindole-3-acetylpolyamines and a new generalized

Page 72: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

137

structure of type-E compounds obtained from the venom of the Joro spider, Nephila

clavata. Toxicon, v. 36, n. 8, p. 1115–1125, 1998.

HORTA, C. C. R.; MAGALHÃES, B. F. DE; OLIVEIRA-MENDES, B. B. R.; CARMO, A. O.

DO; DUARTE, C. G.; FELICORI, L. F.; MACHADO-DE-ÁVILA, R. A.; CHÁVEZ-

OLÓRTEGUI, C.; KALAPOTHAKIS, E. Molecular, immunological, and biological

characterization of Tityus serrulatus venom hyaluronidase: new insights into its role in

envenomation. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 8, n. 2, p. e2693, 2014.

HUANG, H. N.; PAN, C. Y.; CHAN, Y. L.; CHEN, J. Y.; WU, C. J. Use of the antimicrobial

peptide pardaxin (GE33) to protect against methicillin-resistant Staphylococcus aureus

infection in mice with skin injuries. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 58, n. 3,

p. 1538–1545, 2014.

ITAGAKI, Y.; FUJITA, T.; NAOKI, H.; YASUHARA, T.; ANDRIANTSIFERANA, M.;

NAKAJIMA, T. Detection of new spider toxins from a Nephilengys borbonica venom

gland using on-line mu-column HPLC continuous flow (FRIT) FAB LC/MS and MS/MS.

Natural toxins, v. 5, n. 1, p. 1–13, 1997.

JAMES, K. J.; FUREY, A. Neurotoxins: Chromatography. In: Encyclopedia of Separation

Science. [s.l.] Elsevier, 2000. p. 3482–3490.

KASTIN, A. Handbook of Biologically Active Peptides. [s.l.] Elsevier Science, 2013.

KEMENY, D. M.; DALTON, N.; LAWRENCE, A J.; PEARCE, F. L.; VERNON, C. A. The

purification and characterisation of hyaluronidase from the venom of the honey bee,

Apis mellifera. European journal of biochemistry / FEBS, v. 139, n. 2, p. 217–223, 1984.

KENNY, P. T. M.; GOODNOW JR, R. A.; KONNO, K.; NAKANISHI, K. Philanthotoxins. A

mass spectrometric investigation. Rapid Communications in Mass Spectrometry, v. 3,

n. 9, p. 295–297, 1989.

KOZLOV, S. A.; VASSILEVSKI, A. A.; FEOFANOV, A. V; SUROVOY, A. Y.; KARPUNIN,

D. V; GRISHIN, E. V. Latarcins, antimicrobial and cytolytic peptides from the venom of

the spider Lachesana tarabaevi (Zodariidae) that exemplify biomolecular diversity.

Journal of Biological Chemistry, v. 281, n. 30, p. 20983–20992, 2006.

KRÄTZSCHMAR, J.; HAENDLER, B.; EBERSPAECHER, U.; ROOSTERMAN, D.;

DONNER, P.; SCHLEUNING, W.-D. The Human Cysteine-Rich Secretory Protein

(CRISP) Family. European Journal of Biochemistry, v. 236, n. 3, p. 827–836, 1996.

KUHN-NENTWIG, L. Antimicrobial and cytolytic peptides of venomous arthropods. Cellular

and Molecular Life Sciences, v. 60, n. 12, p. 2651–2668, 2003.

KUHN-NENTWIG, L.; MÜLLER, J.; SCHALLER, J.; WALZ, A.; DATHE, M.; NENTWIG, W.

Page 73: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

138

Cupiennin 1, a new family of highly basic antimicrobial peptides in the venom of the

spider Cupiennius salei (Ctenidae). Journal of Biological Chemistry, v. 277, n. 13, p.

11208–11216, 2002.

KUHN-NENTWIG, L.; SCHALLER, J.; NENTWIG, W. Purification of toxic peptides and the

amino acid sequence of CSTX-1 from the multicomponent venom of Cupiennius salei

(Araneae:Ctenidae). Toxicon, v. 32, n. 3, p. 287–302, 1994.

KUHN-NENTWIG, L.; STÖCKLIN, R.; NENTWIG, W. Venom composition and strategies in

spiders. is everything possible? [s.l: s.n.]. v. 40

LAEMMLI, U. K. Cleavage of Structural Proteins during the Assembly of the Head of

Bacteriophage T4. Nature, v. 227, n. 5259, p. 680–685, 1970.

LODOVICHO, M. E. et al. Investigating possible biological targets of Bj-CRP, the first

cysteine-rich secretory protein (CRISP) isolated from Bothrops jararaca snake venom.

Toxicology Letters, v. 265, p. 156–169, 2017.

LÓPEZ-OTÍN, C.; BOND, J. S. Proteases: Multifunctional enzymes in life and disease.

Journal of Biological Chemistry, v. 283, n. 45, p. 30433–30437, 2008.

LORENZINI, D. M.; SILVA, P. I. DA; FOGAÇA, A. C.; BULET, P.; DAFFRE, S.

Acanthoscurrin: A novel glycine-rich antimicrobial peptide constitutively expressed in

the hemocytes of the spider Acanthoscurria gomesiana. Developmental and

Comparative Immunology, v. 27, n. 9, p. 781–791, 2003.

LUCAS, S. M.; GONZALEZ FILHO, H. M. O.; PAULA, F. D. S.; GABRIEL, R.;

BRESCOVIT, A. D. Redescription and new distribution records of Acanthoscurria

natalensis (Araneae: Mygalomorphae: Theraphosidae). Zoologia, v. 28, n. 4, p. 525–

530, 2011.

MAFRA, D. G.; SILVA, P. I. DA; GALHARDO, C. S.; NASSAR, R.; DAFFRE, S.; SATO, M.

N.; BORGES, M. M. The spider acylpolyamine Mygalin is a potent modulator of innate

immune responses. Cellular Immunology, v. 275, n. 1–2, p. 5–11, 2012.

MALAQUE; ORI; SANTOS; ANDRADE. Production of TNF-alpha by primary cultures of

human keratinocytes challenged with loxosceles gaucho venom. Revista do Instituto de

Medicina Tropical de Sao Paulo, v. 41, n. 3, p. 179–82, 1999.

MALVE, H. Exploring the ocean for new drug developments: Marine pharmacology.

Journal of Pharmacy & Bioallied Sciences, v. 8, n. 2, p. 83–91, 2016.

MANOV, N.; TZOUROS, M.; BIGLER, L.; BIENZ, S. Solid-phase synthesis of15N-labeled

acylpentamines as reference compounds for the MS/MS investigation of spider toxins.

Tetrahedron, v. 60, n. 10, p. 2387–2391, 2004.

Page 74: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

139

MARCO ALMEIDA, F.; MONTEIRO DE CASTRO PIMENTA, A.; CRISTINA OLIVEIRA, M.;

ELENA DE LIMA, M. Venoms, toxins and derivatives from the Brazilian fauna: valuable

sources for drug discovery. Acta Physiologica Sinica, v. 67, n. 3, p. 261–270, 2015.

MARINETTI, G. V. The action of phospholipase A on lipoproteins. Biochimica et

Biophysica Acta (BBA) - Lipids and Lipid Metabolism, v. 98, n. 3, p. 554–565, 1965.

MATAVEL, A.; ESTRADA, G.; MARCO ALMEIDA, F. Spider Venom and Drug Discovery:

A Review. In: GOPALAKRISHNAKONE, P.; CORZO, G. A.; DIEGO-GARCIA, E.; LIMA,

M. E. DE (Eds.). . Spider Venoms. Dordrecht: Springer Netherlands, 2016. p. 273–292.

MCCORMICK, S.; POLIS, G. A. Arthropods that prey on vertebrates. Biological Reviews,

v. 57, n. 1, p. 29–58, 1982.

MEDEIROS, G. Distribution of sulfated glycosaminoglycans in the animal kingdom:

widespread occurrence of heparin-like compounds in invertebrates. Biochimica et

Biophysica Acta (BBA) - General Subjects, v. 1475, n. 3, p. 287–294, 2000.

MILNE, T. J.; ABBENANTE, G.; TYNDALL, J. D. A.; HALLIDAY, J.; LEWIS, R. J. Isolation

and characterization of a cone snail protease with homology to CRISP proteins of the

pathogenesis-related protein superfamily. Journal of Biological Chemistry, v. 278, n. 33,

p. 31105–31110, 2003.

MIURA, R. O.; YAMAGATA, S.; MIURA, Y.; HARADA, T.; YAMAGATA, T. Analysis of

glycosaminoglycan-degrading enzymes by substrate gel electrophoresis (zymography).

Analytical Biochemistry, v. 225, n. 2, p. 333–340, mar. 1995.

MONCADA, S.; HIGGS, E. A. Endogenous nitric oxide: physiology, pathology and clinical

relevance. European Journal of Clinical Investigation, v. 21, n. 4, p. 361–374, 1991.

MOON, D. O.; PARK, S. Y.; LEE, K. J.; HEO, M. S.; KIM, K. C.; KIM, M. O.; LEE, J. D.;

CHOI, Y. H.; KIM, G. Y. Bee venom and melittin reduce proinflammatory mediators in

lipopolysaccharide-stimulated BV2 microglia. International Immunopharmacology, v. 7,

n. 8, p. 1092–1101, 2007.

MOSMANN, T. Rapid colorimetric assay for cellular growth and survival: application to

proliferation and cytotoxicity assays. Journal of immunological methods, v. 65, n. 1–2,

p. 55–63, 1983.

MOURÃO, C. B. F.; HEGHINIAN, M. D.; BARBOSA, E. A.; MARÍ, F.; BLOCH, C.;

RESTANO-CASSULINI, R.; POSSANI, L. D.; SCHWARTZ, E. F. Characterization of a

novel peptide toxin from Acanthoscurria paulensis spider venom: A distinct cysteine

assignment to the HWTX-II family. Biochemistry, v. 52, n. 14, p. 2440–2452, 2013.

MӦLLER, C.; CLARK, E.; SAFAVI-HEMAMI, H.; DECAPRIO, A.; MARÍ, F. Isolation and

Page 75: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

140

characterization of Conohyal-P1, a hyaluronidase from the injected venom of Conus

purpurascens. Journal of Proteomics, v. 164, p. 73–84, 2017.

NAGARAJU, S.; DEVARAJA, S.; KEMPARAJU, K. Purification and properties of

hyaluronidase from Hippasa partita (funnel web spider) venom gland extract. Toxicon,

v. 50, n. 3, p. 383–393, 2007.

NAGARAJU, S.; MAHADESWARASWAMY, Y. H.; GIRISH, K. S.; KEMPARAJU, K.

Venom from spiders of the genus Hippasa: Biochemical and pharmacological studies.

Comparative Biochemistry and Physiology - C Toxicology and Pharmacology, v. 144, n.

1, p. 1–9, 2006.

NAKANISHI, K.; GOODNOW, R.; KONNO, K.; NIWA, M.; BUKOWNIK, R.;

KALLIMOPOULOS, T. A.; USHERWOOD, P.; ELDEFRAWI, A. T.; ELDEFRAWI, M. E.

Philanthotoxin-433 (PhTx-433), a non-competitive glutamate receptor inhibitor. Pure

and Applied Chemistry, v. 62, n. 7, p. 1223–1230, 1990.

NENTWIG, W. Spider Ecophysiology. Berlin, Heidelberg: Springer Berlin Heidelberg,

2013.

NESTERENKO, M. V; TILLEY, M.; UPTON, S. J. A simple modification of Blum’s silver

stain method allows for 30 minite detection of proteins in polyacrylamide gels. Journal

of Biochemical and Biophysical Methods, v. 28, n. 3, p. 239–242, 1994.

NUNES, K. P.; COSTA-GONÇALVES, A.; LANZA, L. F.; CORTES, S. F.; CORDEIRO, M.

N.; RICHARDSON, M.; PIMENTA, A. M. C.; WEBB, R. C.; LEITE, R.; LIMA, M. E. DE.

Tx2-6 toxin of the Phoneutria nigriventer spider potentiates rat erectile function.

Toxicon, v. 51, n. 7, p. 1197–1206, 2008.

PACE, C. N.; SHIRLEY, B. A.; THOMSON, J. A. Measuring the conformational stability of

a protein. In: Protein structure: A practical approach. [s.l.] IRL Press, Oxford, 1989. p.

311–330.

PALMA, M. S. The Acylpolyamines from Spider Venoms. In: Studies in Natural Products

Chemistry. 1. ed. [s.l.] Elsevier B.V., 2012. v. 36p. 27–42.

PALMA, M. S.; NAKAJIMA, T. a Natural Combinatorial Chemistry Strategy in

Acylpolyamine Toxins From Nephilinae Orb-Web Spiders. Toxin Reviews, v. 24, n. 2, p.

209–234, 2005.

PEREIRA, L. S.; SILVA, P. I.; MIRANDA, M. T. M.; ALMEIDA, I. C.; NAOKI, H.; KONNO,

K.; DAFFRE, S. Structural and biological characterization of one antibacterial

acylpolyamine isolated from the hemocytes of the spider Acanthocurria gomesiana.

Biochemical and Biophysical Research Communications, v. 352, n. 4, p. 953–959,

Page 76: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

141

2007.

PÉREZ-MILES, F.; LUCAS, S.; SILVA JUNIOR, P. DA; BERTANI, R. Systematic revision

and cladistic analysis of Theraphosinae (Araneae: Theraphosidae). [s.l: s.n.]. v. 1

PETRICEVICH, V. L. Cytokine and nitric oxide production following severe envenomation.

Curr Drug Targets Inflamm Allergy, v. 3, n. 3, p. 325–332, 2004.

PETRICEVICH, V. L. Scorpion Venom and the Inflammatory Response. Mediators of

Inflammation, v. 2010, p. 1–16, 2010.

PINTO, J. R. A. D. S.; SANTOS, L. D. DOS; ARCURI, H. A.; DIAS, N. B.; PALMA, M. S.

Proteomic characterization of the hyaluronidase (E.C. 3.2.1.35) from the venom of the

social wasp Polybia paulista. Protein and peptide letters, v. 19, n. 6, p. 625–635, 2012.

PLATNICK, N. I. The World Spider Catalog, version 18.5. New York: Natural History

Museum Bern. Disponível em: <http://wsc.nmbe.ch>. Acesso em: 24 jul. 2017.

PUKALA, T. L.; DOYLE, J. R.; LLEWELLYN, L. E.; KUHN-NENTWIG, L.; APPONYI, M. A.;

SEPAROVIC, F.; BOWIE, J. H. Cupiennin 1a, an antimicrobial peptide from the venom

of the neotropical wandering spider Cupiennius salei, also inhibits the formation of nitric

oxide by neuronal nitric oxide synthase. FEBS Journal, v. 274, n. 7, p. 1778–1784,

2007.

QUISTAD, G. B.; SUWANRUMPHA, S.; JAREMA, M. A.; SHAPIRO, M. J.; SKINNER, W.

S.; JAMIESON, G. C.; LUI, A. Structures of paralytic acypolyamines from the spider

Agelenopsis aperta. Biochemical and Biophysical research Communications, v. 169, n.

1, p. 51–56, 1990.

RAJENDRA, W.; ARMUGAM, A.; JEYASEELAN, K. Toxins in anti-nociception and anti-

inflammation. Toxicon, v. 44, n. 1, p. 1–17, 2004.

RAPPSILBER, J.; MANN, M.; ISHIHAMA, Y. Protocol for micro-purification, enrichment,

pre-fractionation and storage of peptides for proteomics using StageTips. Nature

Protocols, v. 2, n. 8, p. 1896–1906, 1 ago. 2007.

RASH, L. D.; HODGSON, W. C. Pharmacology and biochemistry of spider venoms.

Toxicon, v. 40, n. 3, p. 225–254, mar. 2002.

RATES, B.; PRATES, M. V.; VERANO-BRAGA, T.; ROCHA, Â. P. DA; ROEPSTORFF, P.;

BORGES, C. L.; LAPIED, B.; MURILLO, L.; PIMENTA, A. M. C.; BIONDI, I.; LIMA, M.

E. DE. μ-Theraphotoxin-An1a: Primary structure determination and assessment of the

pharmacological activity of a promiscuous anti-insect toxin from the venom of the

tarantula Acanthoscurria natalensis (Mygalomorphae, Theraphosidae). Toxicon, v. 70,

p. 123–134, 2013.

Page 77: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

142

RICHARDSON, M. et al. Comparison of the partial proteomes of the venoms of Brazilian

spiders of the genus Phoneutria. Comparative Biochemistry and Physiology - C

Toxicology and Pharmacology, v. 142, n. 3–4 SPEC. ISS., p. 173–187, 2006.

ROCHA-E-SILVA, T. A. A.; ROSTELATO-FERREIRA, S.; LEITE, G. B.; SILVA, P. I. DA;

HYSLOP, S.; RODRIGUES-SIMIONI, L. VdTX-1, a reversible nicotinic receptor

antagonist isolated from venom of the spider Vitalius dubius (Theraphosidae). Toxicon,

v. 70, n. May 2013, p. 135–141, ago. 2013.

ROCHA-E-SILVA, T. A. A.; SUTTI, R.; HYSLOP, S. Milking and partial characterization of

venom from the Brazilian spider Vitalius dubius (Theraphosidae). Toxicon, v. 53, n. 1, p.

153–161, 2009.

RODRÍGUEZ-RIOS, L.; DÍAZ-PEÑA, L. F.; LAZCANO-PÉREZ, F.; ARREGUÍN-

ESPINOSA, R.; ROJAS-MOLINA, A.; GARCÍA-ARREDONDO, A. Hyaluronidase-like

enzymes are a frequent component of venoms from theraphosid spiders. Toxicon, v.

136, p. 34–43, 2017.

SAEZ, N. J.; SENFF, S.; JENSEN, J. E.; ER, S. Y.; HERZIG, V.; RASH, L. D.; KING, G. F.

Spider-venom peptides as therapeutics. Toxins, v. 2, n. 12, p. 2851–2871, 2010.

SAMY, R. P.; KANDASAMY, M.; GOPALAKRISHNAKONE, P.; STILES, B. G.; ROWAN,

E. G.; BECKER, D.; SHANMUGAM, M. K.; SETHI, G.; CHOW, V. T. K. Wound healing

activity and mechanisms of action of an antibacterial protein from the venom of the

eastern diamondback rattlesnake (Crotalus adamanteus). PLoS ONE, v. 9, n. 2, p.

e80199, 14 fev. 2014.

SANGGAARD, K. W. et al. Spider genomes provide insight into composition and evolution

of venom and silk. Nature Communications, v. 5, n. May, p. 3765, 2014.

SANNANINGAIAH, D.; SUBBAIAH, G. K.; KEMPAIAH, K. Pharmacology of spider venom

toxins. Toxin Reviews, v. 33, n. 4, p. 206–220, 2014.

SANTOS, S. D.; CAHÚ, T. B.; FIRMINO, G. O.; CASTRO, C. C. M. M. B. DE; CARVALHO

JR., L. B.; BEZERRA, R. S.; FILHO, J. L. L. Shrimp waste extract and astaxanthin: rat

alveolar macrophage, oxidative stress and inflammation. Journal of Food Science, v.

77, n. 7, p. H141–H146, jul. 2012.

SAROJ, P.; VERMA, M.; K JHA, K.; PAL, M. An overview on immunomodulation. J Adv

Sci Res, v. 3, n. 1, p. 7–12, 2012.

SATO, A. C.; BOSCH, R. V.; WILL, S. E. A.; ALVAREZ-FLORES, M. P.; GOLDFEDER, M.

B.; PASQUALOTO, K. F. M.; SILVA, B. A. V. G. DA; ANDRADE, S. A. DE;

CHUDZINSKI-TAVASSI, A. M. Exploring the in vivo wound healing effects of a

Page 78: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

143

recombinant hemolin from the caterpillar Lonomia obliqua. Journal of Venomous

Animals and Toxins including Tropical Diseases, v. 22, n. 1, p. 36, 2016.

SCHÄFER, A.; BENZ, H.; FIEDLER, W.; GUGGISBERG, A.; BIENZ, S.; HESSE, M.

Polyamine toxins from spiders and wasps. Alkaloids: Chemistry and Pharmacology, v.

45, n. C, p. 1–125, 1994.

SCHAGGER, H.; CRAMER, W. A.; VONJAGOW, G. Analysis of molecular masses and

oligomeric states of protein complexes by blue native electrophoresis and isolation of

membrane protein complexes by two-dimensional native electrophoresis. Analytical

Biochemistry, v. 217, n. 2, p. 220–230, 1994.

SCHANBACHER, F. L.; LEE, C. K.; WILSON, I. B.; HOWELL, D. E.; ODELL, G. V.

Purification and characterization of tarantula, Dugesiella hentzi (girard) venom

Hyaluronidase. Comparative Biochemistry and Physiology Part B: Comparative

Biochemistry, v. 44, n. 2, p. 389–396, fev. 1973.

SENFF-RIBEIRO, A.; HENRIQUE DA SILVA, P.; CHAIM, O. M.; GREMSKI, L. H.;

PALUDO, K. S.; BERTONI DA SILVEIRA, R.; GREMSKI, W.; MANGILI, O. C.; VEIGA,

S. S. Biotechnological applications of brown spider (Loxosceles genus) venom toxins.

Biotechnology Advances, v. 26, n. 3, p. 210–218, 2008.

SHEVCHENKO, A.; WILM, M.; VORM, O.; MANN, M. Mass spectrometric sequencing of

proteins from silver-stained polyacrylamide gels. Analytical Chemistry, v. 68, n. 5, p.

850–858, 1996.

SHRIDAS, P.; WEBB, N. R. Diverse functions of secretory Phospholipases A 2. Advances

in Vascular Medicine, v. 2014, n. 859, p. 1–11, 2014.

SILVA, P. I.; DAFFRE, S.; BULET, P. Isolation and characterization of gomesin, an 18-

residue cysteine-rich defense peptide from the spider Acanthoscurria gomesiana

hemocytes with sequence similarities to horseshoe crab antimicrobial peptides of the

tachyplesin family. Journal of Biological Chemistry, v. 275, n. 43, p. 33464–33470,

2000.

SILVEIRA, R. B. DA; CHAIM, O. M.; MANGILI, O. C.; GREMSKI, W.; DIETRICH, C. P.;

NADER, H. B.; VEIGA, S. S. Hyaluronidases in Loxosceles intermedia (Brown spider)

venom are endo-β-N-acetyl-d-hexosaminidases hydrolases. Toxicon, v. 49, n. 6, p.

758–768, maio 2007.

SKINNER, W. S.; ADAMS, M. E.; QUISTAD, G. B.; KATAOKA, H.; CESARIN, B. J.;

ENDERLIN, F. E.; SCHOOLEY, D. A. Purification and characterization of two classes of

neurotoxins from the funnel web spider, Agelenopsis aperta. Journal of Biological

Page 79: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

144

Chemistry, v. 264, n. 4, p. 2150–2155, 1989.

SKINNER, W. S.; DENNIS, P. A.; LUI, A.; CARNEY, R. L.; QUISTAD, G. B. Chemical

characterization of acylpolyamine toxins from venom of a trap-door spider and two

tarantulas. Toxicon, v. 28, n. 5, p. 541–546, 1990.

SORU, E.; ZAHARIA, O. Presence of N-acetyl group in hyaluronidase. Archives of

Biochemistry and Biophysics, v. 119, n. 11, p. 498–500, 1967.

SUTTI, R.; ROSA, B. B.; WUNDERLICH, B.; SILVA JUNIOR, P. I. DA; ROCHA E SILVA,

T. A. A. DA. Antimicrobial activity of the toxin VdTX-I from the spider Vitalius dubius

(Araneae, Theraphosidae). Biochemistry and Biophysics Reports, v. 4, p. 324–328,

2015.

SUTTI, R.; TAMASCIA, M.; HYSLOP, S.; ROCHA-E-SILVA, T. A. Purification and

characterization of a hyaluronidase from venom of the spider Vitalius dubius (Araneae,

Theraphosidae). Journal of Venomous Animals and Toxins including Tropical Diseases,

v. 20, n. 1, p. 2, 2014.

TAKAKI, H.; KOGANEMARU, R.; IWAKAWA, Y.; HIGUCHI, R.; MIYAMOTO, T. Inhibitory

effect of norditerpenes on LPS-induced TNF-α production from the Okinawan soft coral,

Sinularia sp. Biological and Pharmaceutical Bulletin, v. 26, n. 3, p. 380–382, 2003.

TAMBOURGI, D. V; PETRICEVICH, V. L.; MAGNOLI, F. C.; ASSAF, S. L. M. .; JANCAR,

S.; DIAS DA SILVA, W. Endotoxemic-like shock induced by Loxosceles spider venoms:

pathological changes and putative cytokine mediators. Toxicon, v. 36, n. 2, p. 391–403,

1998.

TOKI, T.; MIWA, A.; KAWAI, N.; HAGIWARA, K.; NAKAJIMA, T. Paralytic effect oe spider

toxin-related compounds on german cockroach, Blattella germanica. Biomedical

Research, v. 13, n. 1, p. 53–58, 1992.

UDBY, L.; CALAFAT, J.; SØRENSEN, O. E.; BORREGAARD, N.; KJELDSEN, L.

Identification of human cysteine-rich secretory protein 3 (CRISP-3) as a matrix protein

in a subset of peroxidase-negative granules of neutrophils and in the granules of

eosinophils. Journal of Leukocyte Biology, v. 72, n. 3, p. 462–469, 2002.

UDBY, L.; LUNDWALL, Å.; JOHNSEN, A. H.; FERNLUND, P.; VALTONEN-ANDRÉ, C.;

BLOM, A. M.; LILJA, H.; BORREGAARD, N.; KJELDSEN, L.; BJARTELL, A. β-

Microseminoprotein binds CRISP-3 in human seminal plasma. Biochemical and

Biophysical Research Communications, v. 333, n. 2, p. 555–561, 2005.

UDBY, L.; SØRENSEN, O. E.; PASS, J.; JOHNSEN, A. H.; BEHRENDT, N.;

BORREGAARD, N.; KJELDSEN, L. Cysteine-rich secretory protein 3 is a ligand of

Page 80: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

145

alpha1B-glycoprotein in human plasma. Biochemistry, v. 43, n. 40, p. 12877–86, 2004.

UNDHEIM, E. A. B. et al. A Proteomics and Transcriptomics investigation of the venom

from the Barychelid spider Trittame loki (brush-foot trapdoor). Toxins, v. 5, n. 12, p.

2488–2503, 2013.

UTKIN, Y. N. Animal venom studies: Current benefits and future developments. World

Journal of Biological Chemistry, v. 6, n. 2, p. 28–33, 2015.

VASSILEVSKI, A. A.; GRISHIN, E. V. Novel active principles from spider venom. Acta

Chim Slov, v. 58, p. 717–723, 2011.

VASSILEVSKI, A A; KOZLOV, S. A; GRISHIN, E. V. Molecular Diversity of Spider Venom.

Biochemistry (Moscow), v. 74, n. 13, p. 1505–1534, 2009.

VINES, C. M.; BILL, C. A. Phospholipases. In: eLS. Chichester, UK: John Wiley & Sons,

Ltd, 2015. p. 1–9.

VOLFOVA, V.; HOSTOMSKA, J.; CERNY, M.; VOTYPKA, J.; VOLF, P. Hyaluronidase of

bloodsucking insects and its enhancing effect on leishmania infection in mice. PLoS

neglected tropical diseases, v. 2, n. 9, p. e294, 2008.

WANG, X.; WANG, G. Insights into Antimicrobial Peptides from Spiders and Scorpions.

Protein and peptide letters, v. 23, n. 8, p. 707–721, 2016.

WANG, Y. L.; KUO, J. H.; LEE, S. C.; LIU, J. S.; HSIEH, Y. C.; SHIH, Y. T.; CHEN, C. J.;

CHIU, J. J.; WU, W. G. Cobra CRISP functions as an inflammatory modulator via a

novel Zn 2+- and heparan sulfate-dependent transcriptional regulation of endothelial

cell adhesion molecules. Journal of Biological Chemistry, v. 285, n. 48, p. 37872–

37883, 2010.

WIEGAND, C.; BAUER, M.; HIPLER, U.-C.; FISCHER, D. Poly(ethyleneimines) in dermal

applications: Biocompatibility and antimicrobial effects. International Journal of

Pharmaceutics, v. 456, n. 1, p. 165–174, 2013.

WILSON, D.; BOYLE, G. M.; MCINTYRE, L.; NOLAN, M. J.; PARSONS, P. G.; SMITH, J.

J.; TRIBOLET, L.; LOUKAS, A.; LIDDELL, M. J.; RASH, L. D.; DALY, N. L. The

aromatic head group of spider toxin polyamines influences toxicity to cancer cells.

Toxins, v. 9, n. 11, p. 1–13, 2017.

WITTIG, I.; BRAUN, H.-P.; SCHÄGGER, H. Blue native PAGE. Nature Protocols, v. 1, p.

418–428, 2006.

WRIGHT, R. P.; ELGERT, K. D.; CAMPBELL, B. J.; BARRETT, J. T. Hyaluronidase and

esterase activities of the venom of the poisonous brown recluse spider. Archives of

Biochemistry and Biophysics, v. 159, n. 1, p. 415–426, 1973.

Page 81: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

146

YAMAZAKI, Y.; MORITA, T. Structure and function of snake venom cysteine-rich secretory

proteins. Toxicon, v. 44, n. 3, p. 227–231, 2004.

YAN, L.; ADAMS, M. E. Lycotoxins, antimicrobial peptides from venom of the wolf spider

Lycosa carolinensis. Journal of Biological Chemistry, v. 273, n. 4, p. 2059–2066, 1998.

ZHANG, K.; NI, Y. Tyrosine decarboxylase from Lactobacillus brevis: Soluble expression

and characterization. Protein Expression and Purification, v. 94, n. Supplement C, p.

33–39, 2014.

Page 82: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

147

Anexo I. Licença SISBIO

Page 83: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

148

Anexo II. Autorização CEUA

Page 84: Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha ... · Investigação de compostos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria natalensis Chamberlin, 1917

149

Anexo III. Artigo científico publicado durante o período do doutorado

Marine Depsipeptides as Promising Pharmacotherapeutic Agents

Marisa Rangel, Carlos José Correia de Santana, Andréia Pinheiro, Lilian dos

Anjos, Tania Barth, Osmindo Rodrigues Pires Júnior, Wagner Fontes e Mariana S.

Castro

Current Protein and Peptide Science, 2017, 18, 72-91