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Série ECOS MINISTÉRIO DA SAÚDE ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE Série ECOS Economia da Saúde para a Gestão do SUS Ferramentas para Diagnóstico e Qualificação de Investimentos em Saúde Brasília – DF 2015 Eixo 1 Volume

Investimentos em Saúde - Ministério da Saúde...Tiragem: 1ª edição – 2015 – 2.500 exemplares Impresso no Brasil / Printed in Brazil Ficha Catalográfica Brasil. Ministério

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  • Série ECOS

    MINISTÉRIO DA SAÚDEORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE

    Série ECOSEconomia da Saúde paraa Gestão do SUS

    Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúdewww.saude.gov.br/bvs

    Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúdewww.saude.gov.br/bvs

    Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúdewww.saude.gov.br/bvs

    Ferramentas para Diagnóstico e Qualificação de Investimentos em Saúde

    Brasília – DF2015

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    Eixo 1

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    ISBN 978-85-334-2220-9

  • MINISTÉRIO DA SAÚDEORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE

    Série ECOSEconomia da Saúde paraa Gestão do SUS

    Ferramentaspara Diagnósticoe Qualificação deInvestimento em Saúde

    Eixo 1, Volume 4

    Brasília – DF2015

  • 2015 Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana de Saúde.Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.

    A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: . O conteúdo desta e de outras obras da Editora do Ministério da Saúde pode ser acessado na página: .

    Tiragem: 1ª edição – 2015 – 2.500 exemplares

    Impresso no Brasil / Printed in Brazil

    Ficha Catalográfica

    Brasil. Ministério da Saúde. Ferramentas para diagnóstico e qualificação de investimentos em saúde / Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde.

    – Brasília : Ministério da Saúde, 2015.124 p. : il. – (Série Ecos, Economia da Saúde para Gestão do SUS ; Eixo 1, v. 4)

    ISBN 978-85-334-2220-9

    1. Economia da Saúde. 2. Tecnologia em Saúde. 3. Equipamentos Médicos. I. Organização Pan-Americana da Saúde. II. Título. III. Série.

    CDU 351.77:614

    Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2015/0031

    Títulos para indexação:Em inglês: Tools for diagnosis and qualification of investments in healthEm espanhol: Herramientas para diagnóstico y calificación de inversiones en salud

    Elaboração, distribuição e informações:MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria-ExecutivaDepartamento de Economia da Saúde,Investimentos e DesenvolvimentoCoordenação de Qualificação de Investimentos em Infraestrutura em SaúdeEsplanada dos Ministérios, bloco G, Anexo B, sala 465CEP: 70900-058 – Brasília/DFTel.:(61) 3315-3798Site: www.saude.gov.br/svs

    ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE/ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDESetor de Embaixadas Norte, lote 19Cep: 70800-400 – Brasília/DFSite: www.opas.org.brE-mail: [email protected]

    Elaboração de texto:Aline Silva Amorim Alessandra Campos CastanheiraClaudia Cury Gonçalves BragaMarcelo Sette Gutierrez

    Revisão e copydesk:Oficina da Palavra

    Organização e edição de texto:Aline Silva Amorim – Consultoria Claudia Cury Gonçalves Braga – ConsultoriaMarcelo Sette Gutierrez – CQIS/DESID/SE/MS

    Revisão técnica da redação final:Aline Silva Amorim – ConsultoriaFabíola Sulpino Vieira – DESID/SE/MSMarcelo Sette Gutierrez – CQIS/DESID/SE/MS

    Editora responsável:MINISTÉRIO DA SAÚDESecretaria-ExecutivaSubsecretaria de Assuntos AdministrativosCoordenação-Geral de Documentação e InformaçãoCoordenação de Gestão EditorialSIA, Trecho 4, lotes 540/610CEP: 71200-040 – Brasília/DFTels.: (61) 3315-7790 / 3315-7794Fax: (61) 3233-9558Site: http://editora.saude.gov.brE-mail: [email protected]

    Equipe editorial:Normalização: Amanda SoaresRevisão: Khamila Silva e Tatiane SouzaCapa, projeto gráfico: Kátia BarbosaDiagramação: Marcos Melquíades Gonçalves dos Santos

    http://www.saude.gov.br/svs

  • Lista de figuras e gráfico

    Figura 1 – Oferta de tomógrafos computadorizados disponíveis ao SUS, por município.Dezembro 2007 ..................................................................................................... 24

    Figura 2 – Oferta de tomógrafos computadorizados da esfera privada, não disponíveis ao SUS, por município. Dezembro 2007 ........................................................................ 25

    Figura 3 – População distribuída por município e capitais no território nacional. Ano: 2007 ......26

    Figura 4 – Padrão de distribuição das classes IDH alto e IDH baixo. Brasil, 2000 ......................... 27

    Figura 5 – Padrão de distribuição das classes alta e baixa de taxas de mortalidade, padronizadas por faixa etária. Brasil, 2005 ...................................................................28

    Figura 6 – Internação por AVC, por local de ocorrência, segundo a existência de tomógrafos computadorizados disponíveis ao SUS. Brasil, 2005 a 2007 .........................................30

    Figura 7 – Abrangência dos tomógrafos computadorizados disponíveis ao SUS, círculos com raio de 75 km, sobre os municípios brasileiros, segundo classe de IDH. Brasil, 2005 a 2007 ......................................................................................................................31

    Figura 8 – Fluxos de internação por AVC, com deslocamentos maiores que 75 km. Brasil, 2005 a 2007 ......................................................................................... 32

    Figura 9 – Fluxos de internação por AVC, com deslocamentos entre 10 e 75 km. Brasil, 2005 a 2007 .....................................................................................33

    Figura 10 – Abrangência de TC-SUS, sobre municípios, segundo classe de IDH e distribuição de fluxos de internação por AVC. Brasil, 2005 a 2007 ...................................................34

    Figura 11 – Etapas a serem consideradas na elaboração do PGRSS .............................................. 41

    Figura 12 – Ciclo de vida genérico de produtos ...............................................................................42

    Figura 13 – Banco de dados: Instruções de Uso de itens registrados na Anvisa ............................48

    Figura 14 – Tipos de tratamento de resíduos para o ambiente sala grande de cirurgia, disponibilizado pelo SomaSUS ...................................................................................... 53

    Figura 15 – Vista completa do equipamento e peças marcadas com simbologia, respectivamente .............................................................................................................54

    Figura 16 – Protocolo de reciclagem de produtos ...........................................................................54

    Gráfico 1 – Origem das empresas de EMH, cujos manuais de usuário foram analisados ...............51

  • Lista de tabelas

    Tabela 1 – A oferta de tomógrafos computadorizados, segundo esfera administrativa, considerada para efeito de cálculos e mapeamento. Dezembro 2007 ........................ 23

    Tabela 2 – População residente por ano de referência, segundo sexo e faixa etária ................... 25

    Tabela 3 – Taxas de mortalidade por AVC, segundo sexo e faixa etária. Brasil, 2005 ................... 28

    Tabela 4 – Internações por AVC, segundo sexo e faixa etária. Brasil, 2005 a 2007 ....................... 29

    Tabela 5 – Distribuição dos tomógrafos computadorizados, com financiamentos aprovados no âmbito do Ministério da Saúde, nos anos de 2006 e 2007 ...................................... 35

    Tabela 6 – Relação de equipamentos e quantidade de documentos selecionados no banco de dados da Anvisa ..............................................................................................................49

    Tabela 7 – Resultado da análise realizada nos manuais de usuário de EMH .................................51

    Tabela 8 – Relação de ambientes e área mínima total de UBS Porte I ...........................................61

    Tabela 9 – Ambientes não contemplados na Portaria MS/G M nº 2.226/2009 ............................... 62

    Tabela 10 – Relação de profissionais que compõem a Equipe Saúde da Família para UBS Porte I .............................................................................................................. 62

    Tabela 11 – Tarifas de consumo de água executadas nas regiões brasileiras no período de janeiro a novembro de 2010, cujos dados foram utilizados para o cálculo da média mensal e anual ................................................................................................................ 63

    Tabela 12 – Tarifas de consumo de água executadas nas regiões brasileiras no período de janeiro a dezembro de 2011, cujos dados foram utilizados para o cálculo da média mensal e anual ................................................................................................................ 65

    Tabela 13 – Tarifas de consumo de energia elétrica executadas nas regiões brasileiras no período de janeiro a novembro de 2010, cujos dados foram utilizados para o cálculo da média mensal e anual ................................................................................................66

    Tabela 14 – Tarifas de consumo de energia elétrica executadas nas regiões brasileiras no período de março a novembro de 2011, cujos dados foram utilizados para o cálculo da média mensal e anual ................................................................................................68

    Tabela 15 – Custos de consumo médio de água e energia, segundo dados do Sinapi, no período de 2010 a 2011 ....................................................................................................69

  • Tabela 16 – Relação de ambientes com pontos de água previstos para UBS Porte I, de acordo com dados da Portaria nº 2.226/2009 e SomaSUS ........................................... 70

    Tabela 17 – Consumo de água por tipo de ponto, segundo dados da Sabesp e DAB .................... 70

    Tabela 18 – Estimativa do número de acionamentos por hora de torneiras por ambiente ............71

    Tabela 19 – Parâmetros considerados no cálculo do consumo diário e total de água em UBS ......71

    Tabela 20 – Parâmetros considerados no cálculo do consumo de água (diário, mensal e anual) de UBS ............................................................................................................... 72

    Tabela 21 – Parâmetros considerados no cálculo do consumo de água (diário, mensal e anual) por agentes comunitários de saúde .............................................................................. 73

    Tabela 22 – Estimativa dos pontos de luz por ambiente para cálculo de potência, segundo dados do SomaSUS e Inmetro ....................................................................................... 73

    Tabela 23 – Levantamento da quantidade de equipamentos e suas respectivas potências (Watts), bem como pontos de luz existentes nos ambientes de UBS ......................... 74

    Tabela 24 – Cálculo de potência dos equipamentos e pontos de luz considerados para os ambientes Farmácia e Guarda de Materiais e Insumos ................................................ 77

    Tabela 25 – Resultados dos cálculos de consumo de energia (diário, mensal e anual) de UBS, comparando-se a Portaria nº 2.226/2009 e Manual do DAB ......................................... 78

    Tabela 26 – Custos indiretos de água e energia para UBS Porte I, comparando-se a Portaria nº 2.226/2009 e Manual do DAB, nos períodos de 2010 e 2011 ...................................... 78

    Tabela 27 – Custos mensais e anuais de água considerando pontos de água e RDC-50, no período de 2010 e 2011 .................................................................................................... 79

    Tabela 28 – Custos indiretos de água e energia, com respectivos consumos mensais e anuais, tarifas média nacional, no período de 2010 a 2011 ........................................................ 79

    Tabela 29 – Tarifas de água por região brasileira no período de janeiro a novembro de 2010 e respectivos cálculos das tarifas médias mensal e anual, bem como custos mensal e anual por região ........................................................................................................... 79

    Tabela 30 – Tarifas de água por região brasileira no período de janeiro a dezembro de 2011 e respectivos cálculos das tarifas médias mensal e anual, bem como custos mensal e anual por região ............................................................................................................81

    Tabela 31 – Tarifas de consumo de energia por região brasileira no período de janeiro a novembro de 2010 e respectivos cálculos das tarifas médias mensal e anual, bem como custos mensal e anual por região ........................................................................ 83

  • Tabela 32 – Custo mensal e anual de consumo de energia elétrica por região no período de março a dezembro de 2011, calculados com base na tarifa média anual .....................84

    Tabela 33 – Custos mensal e anual do consumo de água e energia elétrica em UBS Porte I, no nos anos de 2010 e 2011 .............................................................................................86

    Tabela 34 – Custos mensal e anual do consumo de água e energia elétrica em UBS, com base em dados do Sinapi, nos anos de 2010 e 2011 ................................................................86

    Tabela 35 – Custo de tarifas praticadas para água e energia elétrica por região no período de 2010 e 2011 ..................................................................................................................86

    Tabela 36 – Estrutura mínima para projetos de Unidades Básicas de Saúde (UBS) Porte I ...........89

    Tabela 37 – Ambientes não contemplados na Portaria MS/GM nº 2.226/2009 ................................90

    Tabela 38 – Relação de profissionais que compõem a Equipe da Saúde da Família (ESF) .............90

    Tabela 39 – Taxa anual de depreciação e vida útil de diferentes tipos de bens .............................. 92

    Tabela 40 – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e de manutenção de EMH e MP do ambiente Sala de Recepção em UBS – Porte 1 ........... 93

    Tabela 41 – UBS – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e de manutenção de EMH e MP do ambiente Sala de Espera em UBS – Porte 1 .................94

    Tabela 42 – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e de manutenção de EMH e MP do ambiente Consultório Médico-Odontológico (2 unidades) em UBS – Porte 1 ....................................................................................... 95

    Tabela 43 – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e de manutenção de EMH e MP do ambiente Consultório Odontológico em UBS – Porte 1 ............................................................................................................. 97

    Tabela 44 – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e de manutenção de EMH e MP do ambiente Sala de Procedimento em UBS – Porte 1 .............................................................................................................99

    Tabela 45 – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e de manutenção de EMH e MP do ambiente Sala de Vacina em UBS – Porte 1 ................ 101

    Tabela 46 – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e de manutenção de EMH e MP, considerando o ambiente Sala de Curativo em UBS – Porte 1 ............................................................................................................102

    Tabela 47 – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e de manutenção de EMH e MP do ambiente Sala de Reunião em UBS – Porte 1 .............103

  • Tabela 48 – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e de manutenção de EMH e MP do ambiente Copa/Cozinha em UBS – Porte 1 ................ 104

    Tabela 49 – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e e manutenção de EMH e MP do ambiente Sala para Material de Limpeza/DML em UBS – Porte 1 ................................................................................... 104

    Tabela 50 – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e de manutenção de EMH e MP do ambiente Sala de Utilidades/Apoio à Esterilização em UBS – Porte 1 ............................................................................................................105

    Tabela 51 – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e de manutenção de EMH e MP do ambiente Farmácia em UBS – Porte 1, não contemplado na Portaria MS/GM nº 2.226/2009 ......................................................... 106

    Tabela 52 – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e de manutenção de EMH e MP do ambiente Guarda de Materiais e Insumos em UBS – Porte 1, não contemplado na Portaria MS/GM nº 2.226/2009 ...........................107

    Tabela 53 – Estimativa de custos mínimos e máximos de aquisição, de depreciação e de manutenção de Unidades Móveis para Transporte de Equipes (Veículo) – não contemplado na Portaria MS/GM nº 2.226/2009 ..........................................................107

    Tabela 54 – Somatório das estimativas dos valores de aquisição, valores das estimativas de depreciação e de manutenção anual total dos equipamentos e dos materiais permanentes de UBS Porte I ........................................................................................ 108

    Tabela 55 – Somatório dos valores estimados de aquisição dos equipamentos e dos materiais permanentes e o custo anual de depreciação e de manutenção ............................... 109

  • Sumário

    Apresentação ........................................................................................................................................................... 11

    1 Introdução .............................................................................................................................................................. 13

    2 Avaliação da equidade na distribuição de tomógrafos computadorizados (TC) no Brasil ...................................................................................................................................................................... 17

    2.1 Diretrizes para o cuidado do AVC – Tecnologias envolvidas ....................................................................18

    2.2 A equidade e sua dimensão geográfica ..............................................................................................................22

    2.3 A oferta de TC no Brasil e sua distribuição geográfica ................................................................................23

    2.4 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ......................................................................................................26

    2.5 Mortalidade por AVC ....................................................................................................................................................27

    2.6 Internações por AVC ....................................................................................................................................................29

    2.7 Municípios em área de abrangência de tomógrafo computadorizado ...............................................30

    2.8 Investimentos em tomógrafos pelo Ministério da Saúde ...........................................................................35

    2.9 Conclusão .........................................................................................................................................................................36

    3 Descarte de equipamentos médico-hospitalares, segundo os manuais dos fabricantes .......................................................................................................................................................39

    3.1 Introdução .........................................................................................................................................................................39

    3.2 Metodologia ......................................................................................................................................................................47

    3.2.1 Seleções dos tipos de equipamentos e dos manuais de usuário ....................................................................48

    3.2.2 Análise dos documentos .....................................................................................................................................................49

    3.3 Resultados e discussão ............................................................................................................................................... 50

    3.4 Considerações finais .....................................................................................................................................................56

    4 Estudos de custos indiretos da infraestrutura física em atenção básica ..................................59

    4.1 Introdução .........................................................................................................................................................................59

    4.2 Metodologia .....................................................................................................................................................................61

  • 4.3 Resultados .........................................................................................................................................................................78

    4.4 Conclusões .......................................................................................................................................................................86

    5 Estudos de Custos dos Equipamentos Médico-Hospitalares em Atenção Básica no ano de 2010 e 2011 ...............................................................................................................................................87

    5.1 Introdução .........................................................................................................................................................................87

    5.2 Metodologia .....................................................................................................................................................................89

    5.3 Resultados ...................................................................................................................................................................... 108

    5.4 Conclusão ....................................................................................................................................................................... 109

    Posfácio ..................................................................................................................................................................... 111

    Referências ..............................................................................................................................................................113

    Bibliografia complementar ..............................................................................................................................119

    Anexos .......................................................................................................................................................................123

    Anexo A – Resultados obtidos na análise documental .....................................................................................123

  • 11

    Apresentação

    A publicação Ferramentas de Diagnóstico e Qualificação de Investimentos em Saúde pretende apresentar os estudos técnicos desenvolvidos pela Coordenação de Qualificação de Investimentos em Infraestrutura em Saúde (CQIS), uma unidade do Departamento de Economia da Saúde, Investimentos e Desenvolvimento do Ministério da Saúde (DESID/MS). Esta Coordenação tem como competência a realização de estudos técnicos relacionados à infraestrutura física e aos equipamentos, visando subsidiar o Ministério da Saúde na formulação de políticas, de diretrizes e de metas para áreas e temas estratégicos, bem como desenvolver e implantar metodologias e ferramentas que qualifiquem os investimentos em infraestrutura em saúde.

    A temática é voltada para gestores de saúde, pesquisadores e demais segmentos da sociedade interessados em conhecer os estudos desenvolvidos nas áreas de infraestrutura e equipamentos de saúde pelo Ministério da Saúde.

    A publicação resulta da parceria entre o DESID do Ministério da Saúde do Brasil e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS) para organizar textos em uma série, a partir de produtos criados pelos consultores contratados por meio de termo de cooperação técnica assinado entre as duas instituições.

    A série denominada Ecos: Economia da Saúde para a Gestão do SUS estrutura-se em dois eixos:

    • Eixo 1 – Ampliação do uso de estratégias de Economia da Saúde para apoiar a gestão do SUS por meio da produção e da disseminação do conhecimento sobre temas relacionados.

    • Eixo 2 – Ampliação do uso de ferramentas de Economia da Saúde pelos gestores do SUS no processo de tomada de decisão para a análise, a formulação e a implementação da política de saúde.

    Esta publicação integra o Volume 4 do Eixo 1 e está estruturada em cinco capítulos. Assim, o Ministério da Saúde coloca à disposição de todos os conhecimentos que podem contribuir na qualificação dos serviços de saúde.

  • 13

    Introdução

    A universalização do acesso aos serviços de saúde, direito instituído pela Constituição Federal de 1988, representou um grande marco na história da Saúde: rompeu com um modelo de exclusão, que restringia o direito à saúde aos contribuintes da Previdência Social e a quem pudesse pagar pelos serviços privados. Uma significativa parcela da população dependia da caridade ou morria sem atendimento.

    Contra essa situação de indigência, pessoas e instituições uniram-se ao Movimento Sanitarista na luta pelos direitos sociais, durante a Assembleia Nacional Constituinte. Assim, a Constituição de 1988 estabeleceu o princípio da universalidade e criou a base para a sedimentação do Sistema Único de Saúde (SUS), com as seguintes diretrizes básicas: a descentralização, o atendimento integral, a universalização e a participação social.

    O desafio para o setor público de saúde passou a ser, então, o atendimento, com qualidade e equidade, a toda população brasileira, e não a uma parte da sociedade. Desde sua implantação, o SUS alcançou vários avanços, porém ainda há muitos desafios a serem superados. Entre os avanços, podemos citar a oferta de diversos programas, projetos e políticas que têm apresentado resultados exitosos para a população brasileira, como o Programa Saúde da Família, o Programa Nacional de Imunizações, o Sistema Nacional de Transplantes – o Brasil é o segundo país do mundo em número de transplantes –, o Programa de Controle de HIV/AIDS, entre outros (BRASIL, 2006, p. 43).

    A garantia do atendimento integral à população envolve a disponibilização de infraestrutura física, equipamentos, recursos humanos capacitados, entre outros. De acordo com a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, entre as atribuições do SUS estão o desenvolvimento de normas técnicas, os padrões de qualidade e parâmetros de custos, bem como a realização de pesquisas na área da Saúde. Nesse sentido, a Coordenação de Qualificação de Investimentos em Infraestrutura em Saúde (CQIS) desenvolveu vários projetos nos anos anteriores, tendo sido destacados alguns nesta publicação. Ressaltamos que é importante observar que foram consideradas as normas vigentes no ano de desenvolvimento desses projetos.

    Considerando que os recursos financeiros são limitados, a garantia de uma assistência integral aos usuários do SUS representa um grande desafio para o sistema público. Nesse contexto, a excelência da gestão em saúde depende do desenvolvimento e da aplicação de ferramentas que auxiliem a tomada de decisão do gestor. Um estabelecimento de saúde compreende uma estrutura física peculiar para suportar a incorporação de novos

    1

  • Ministério da Saúde / Organização Pan-Americana da Saúde

    14

    equipamentos e tecnologias, cabendo ao MS buscar a melhor distribuição geográfica para atendimento das necessidades dos usuários.

    O MS, por meio do Fundo Nacional de Saúde (FNS), realiza o repasse financeiro para a aquisição de equipamentos médico-hospitalares para a rede pública e instituições filantrópicas e sem fins lucrativos. Geralmente, os projetos encaminhados ao FNS são imprecisos em pontos essenciais, causando morosidade no processo de análise e de aprovação dos pleitos, atraso na execução orçamentária, o que afeta negativamente a gestão do sistema.

    Visando preencher essa lacuna, o MS desenvolveu o Sistema de Apoio à Elaboração de Projetos de Investimentos em Saúde (SomaSUS). Trata-se de uma ferramenta de apoio aos gestores e aos profissionais de saúde na elaboração de projetos de infraestrutura em EAS (física e de equipamentos).

    No que se refere à equidade na distribuição geográfica dos equipamentos, no estudo A Oferta de Tomógrafo Computadorizado para o Tratamento do Acidente Vascular Cerebral Agudo, no Brasil, sob o Ponto de Vista das Desigualdades Sociais e Geográficas, Gutierrez (2009) revelou uma concentração desses equipamentos nos municípios de maior porte e de melhor nível de renda. Embora, a tomografia computadorizada tenha várias utilidades na realização de diagnósticos e seja indispensável na diferenciação de tipos de acidente vascular cerebral (AVC), há muitas áreas sem cobertura nos estados situados no Norte e no Nordeste, principalmente. O estudo sugere o estabelecimento de critérios técnicos para a melhor distribuição dos equipamentos no território nacional, como veremos no Capítulo 1.

    Equipamentos médicos em geral, produzem resíduos extremamente nocivos ao meio ambiente e aos profissionais de saúde. O lixo hospitalar deve seguir normas especiais de descarte, mas, no Brasil, culturalmente, não se planeja o descarte adequado de equipamentos médico-hospitalares ao final da sua vida útil. Frequentemente, a mídia noticia casos de descarte de resíduos hospitalares sem tratamento em locais inapropriados. No caso das tecnologias médicas há agravantes, pois os equipamentos podem ser compostos por fontes radioativas, placas eletrônicas, acessórios contaminados e de difícil decomposição no meio ambiente. Nesse contexto, há a necessidade de desenvolvimento de políticas de descarte de equipamentos médicos, bem como de avaliar como os fabricantes abordam a questão do descarte de resíduos nos seus manuais técnicos, tema abordado no estudo Descarte de Equipamentos Médico-Hospitalares, segundo os Manuais de Usuários (Capítulo 3).

    Além dos recursos financeiros aplicados na implantação de espaços adequados em saúde para a realização das atividades assistenciais, torna-se imprescindível estimar os custos indiretos para garantir o funcionamento dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS), tais como, energia elétrica, água, insumos etc. Diante desta motivação, o

  • Ferramentas para Diagnóstico e Qualificação de Investimento em Saúde

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    Capítulo 4 apresenta um estudo com os custos indiretos de infraestrutura (água e energia elétrica) voltados para as Unidades Básicas de Saúde (UBS).

    Para um funcionamento eficiente e oferta de serviços seguros à população, os EAS precisam estabelecer processos atualizados de gestão de tecnologias em saúde. Dentro desses processos deve-se ressaltar a questão da manutenção preventiva dos equipamentos, englobando as suas soluções (por exemplo, equipes próprias ou terceirizadas), as tecnologias e os custos envolvidos. Dessa forma, o Capítulo 5 vem apresentar um estudo realizado no período de 2010 a 2011 sobre os custos envolvidos na manutenção de equipamentos e materiais permanentes, considerando a infraestrutura disponível em UBS com base nas portarias vigentes.

  • 17

    Avaliação da equidadena distribuição de tomógrafos computadorizados (TC) no Brasil

    A tomografia computadorizada é uma tecnologia indispensável na medicina moderna, dela depende o diagnóstico preciso de diversas ocorrências, impossíveis de serem diagnosticadas com precisão pelo exame clínico. É o caso do acidente vascular cerebral (AVC), que pode ser isquêmico ou hemorrágico. No Brasil essa patologia tem sido responsável por mais óbitos do que a doença coronária.

    Alguns aspectos do cuidado com o AVC são comuns para todos os tipos patológicos, mas existem diferenças fundamentais no tratamento de pacientes com AVC isquêmico e AVC hemorrágico. Assim, o cuidado com o paciente com sintomas de AVC depende muito de um diagnóstico rápido e acurado do processo patológico em andamento. O exame de imagem do cérebro por tomografia computadorizada pode proporcionar um diagnóstico acurado da natureza e da extensão do problema e identificar se ele é isquêmico ou hemorrágico. A tomografia computadorizada pode ser utilizada também para auxiliar no diagnóstico de diversas outras doenças.

    Embora imprescindível, a tecnologia esbarra no subfinanciamento dos serviços públicos de saúde, já que seus custos são relativamente altos. Até há pouco tempo o Brasil não produzia, em escala comercial, esse tipo de equipamento. A maioria dos fabricantes de tomógrafos computadorizados localiza-se no Japão, na Alemanha, nos Estados Unidos e na China. Na época da pesquisa, um tomógrafo computadorizado correspondia a um investimento de até R$ 2,2 milhões, dependendo de sua configuração (ECRI, 2002).

    Diante da histórica escassez de recursos, o Estado precisa administrar de forma mais racional e equitativa possível a oferta do serviço à população. Entretanto, no estudo A Oferta de Tomógrafos Computadorizados para o Tratamento do Acidente Vascular Cerebral Agudo no Brasil, sob o Ponto de Vista das Desigualdades Sociais e Geográficas, Gutierrez (2009) demonstra que a distribuição geográfica dos equipamentos é pouco equitativa: a oferta da tecnologia concentra-se nos municípios mais populosos e de melhor situação socioeconômica.

    O estudo demonstrou, com base no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), mantido pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS), do Ministério da Saúde, que, em março de 2008, havia no Brasil 2.258 equipamentos de tomografia computadorizada – 1.961 pertencentes ao setor privado e 297 pertencentes ao

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    setor público federal, estadual e municipal. Isso significa que a iniciativa privada detinha 86,8% dos aparelhos, restando ao setor público apenas 13,2%.

    Os dados colhidos preliminarmente no CNES indicavam uma concentração no número de tomógrafos em determinadas regiões, estados e municípios. Tornava-se, portanto, importante o estudo da ocorrência de barreiras ao acesso do serviço, da distribuição desigual geográfica e social dos equipamentos para o atendimento do AVC no Brasil, bem como a busca de soluções que pudessem colaborar para a melhoria da equidade no acesso da população menos favorecida à tomografia computadorizada.

    O tomógrafo computadorizado é um equipamento de diagnóstico por imagem, não invasivo, baseado na tecnologia de radiação ionizante, capaz de produzir imagens de fatias transversais (cortes) de qualquer parte do corpo humano, com alta resolução, sendo clinicamente bastante útil também para exames de cabeça, coluna, gastrointestinal e vascular (ECRI, 2002).

    Um TC é composto por um subsistema de raios-X, um pórtico na forma de túnel, uma mesa de paciente, um computador de controle e diversos softwares de construção/reconstrução de imagens. Um gerador de alta voltagem fornece a energia para o tubo de raios-X colocado em um suporte giratório instalado no pórtico. A mesa de paciente pode ser movida tanto vertical como horizontalmente para acomodar o paciente dentro do túnel, em várias posições. À medida que o tubo gira em torno do paciente o computador recebe os dados e faz o processamento para construir as imagens de fatias virtuais do corpo do paciente (ECRI, 2002).

    2.1 Diretrizes para o cuidado do AVC – Tecnologias envolvidas

    Existia uma série de diretrizes e protocolos nacionais e internacionais relacionados ao cuidado do paciente com AVC, como a diretriz para Tratamento da Fase Aguda do Acidente Vascular Cerebral (ABN, 2001); os Protocolos Gerenciados para Tratamento do AVC (HIAE, 2007); as Recomendações para o Cuidado com o AVC (EUSI, 2003); e as Recomendações para o Tratamento do AVC Isquêmico e do Acidente Isquêmico Transitório (ESO, 2008).

    Em que pesem as eventuais atualizações na normativa citada percebe-se que, de forma geral, as diretrizes abordam questões relacionadas à organização dos serviços, atendimento de emergência, triagem e avaliação neurológica de pacientes, condutas clínicas, fluxos de atendimento, terapêutica, recursos humanos envolvidos no atendimento, tecnologias de diagnóstico e tratamento, medicamentos.

    As ações do sistema de saúde, em especial dos serviços de saúde relacionados ao AVC, compreendem os serviços de atenção básica, passando pelo atendimento de urgência

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    e pela reabilitação dos pacientes, o que envolve um grande número de ações e diferentes abordagens. A análise das diretrizes indica que a assistência a pacientes com AVC agudo é multifacetado e inclui aspectos que ainda não foram submetidos a testes científicos rigorosos (AHA, 2008).

    De acordo com diretrizes internacionais e nacionais, para o correto atendimento ao AVC, faz-se necessária a existência de uma rede de saúde organizada e hierarquizada, profissionais adequadamente treinados no manejo da doença, o acesso aos recursos de diagnósticos necessários, além de ações educativas constantes para profissionais de saúde e população (ESO 2008; EUSI 2003; ABN, 2001; HIAE, 2007).

    A diretriz ESO (2008) recomenda que hospitais ou centros que prestam atendimento de urgência a pacientes com AVC agudo disponham de infraestrutura capaz de oferecer os cuidados especializados que esses pacientes necessitam, e propõe a concepção de dois tipos de unidades ou centros de atendimento ao AVC, as unidades primárias e as diferenciadas.

    As unidades de AVC primárias são definidas pela ESO (2008) como centros com os recursos humanos necessários, infraestruturas, competências e programas para proporcionar diagnóstico e tratamento adequado à maioria dos doentes com AVC. Já as unidades de AVC diferenciadas são apresentadas como centros que proporcionam diagnóstico apropriado e tratamento para a maioria dos doentes com AVC, com tecnologia médica especializada e cuidados cirúrgicos (ESO, 2008).

    A European Stroke Initiative (2003) recomenda, entre os requerimentos mínimos para unidades de AVC, a disponibilidade de exame de tomografia computadorizada 24 horas por dia; o estabelecimento de protocolos de tratamento e de procedimentos operacionais para o cuidado com o AVC; a capacidade para realização de diagnóstico por ultrassom; a disponibilidade de monitores de sinais fisiológicos para monitoração de ECG, oximetria sanguínea, pressão, temperatura e glicose; a capacidade para realização de exames laboratoriais; a capacidade de atuação integrada de neurologistas, de intensivistas e de especialistas em reabilitação; além de pessoal de enfermagem com treinamento especializado.

    A diretriz de 2003 ressalta que cada unidade de AVC deve dispor de uma equipe multidisciplinar especializada, contando, entre outros profissionais, com médicos (neurologistas, intensivistas, cardiologistas e fisiatras), enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais.

    Quanto ao atendimento de emergência, a EUSI (2003) ressalta que pacientes com suspeita de AVC devem ser transportados, sem demora, para o hospital ou centro de atendimento mais próximo que possua unidade de AVC ou que possa efetuar o atendimento organizado ao paciente de AVC. Ressalta que a maioria dos pacientes de acidente vascular cerebral não recebe tratamento adequado porque não consegue chegar ao hospital ou centro de atendimento com a rapidez necessária.

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    Segundo Wardlaw et al. (2004), o diagnóstico rápido e acurado do processo patológico em andamento é fundamental para o cuidado com o paciente que apresenta sinais de AVC. O primeiro passo, portanto, seria rastrear aqueles relativamente poucos pacientes com causas não vasculares (exemplo: tumores, abscessos, hematomas subdurais, enxaquecas e epilepsia focal). Em tais pacientes, cirurgia ou biópsia podem ser necessárias para o tratamento ou o diagnóstico patológico. Para os demais pacientes com patologia vascular, exames de imagem do cérebro por TC ou ressonância magnética (RM) podem proporcionar um diagnóstico acurado da natureza e da extensão do problema, e se ele é isquêmico ou hemorrágico.

    Em relação às tecnologias utilizadas para diagnóstico do AVC, o papel da tomografia computadorizada é destacado na ESO (2008), por ter sido evidenciada como uma tecnologia de melhor custo-efetividade e segura, quando realizada dentro das primeiras horas do evento isquêmico, permitindo que a terapêutica trombolítica seja realizada nos casos indicados.

    De forma geral, todas as diretrizes estudadas indicam a necessidade do uso, entre outras tecnologias, do tomógrafo computadorizado como importante método de diagnóstico por imagem, integrante do processo de tratamento e acompanhamento dessa doença.

    Sobre a necessidade das tecnologias e suas características específicas, abstrai-se da ESO (2008) que:

    • Deve ser realizado exame de tomografia computadorizada (TC) ou de ressonância magnética (RM) em todos os pacientes.

    • A TC sem contraste identifica, de forma confiável, a maior parte das patologias confundíveis com AVC e distingue AVC agudo isquêmico de hemorrágico dentro dos primeiros sete dias.

    • Os doentes admitidos até três horas após o início do AVC isquêmico podem ser candidatos a trombólise intravenosa; a TC é geralmente suficiente para guiar a trombólise de rotina.

    • A TC realizada de imediato é a estratégia de maior custo-efetividade para a avaliação por imagem de doentes com AVC agudo.

    • A TC é altamente específica para identificação precoce de lesão cerebral isquêmica.

    • A investigação de um AIT é urgente, porque até 10% destes doentes irá sofrer um AVC nas 48 horas subsequentes.

    Em relação ao limite de tempo de três horas entre o surgimento dos primeiros sintomas e a aplicação da medicação trombolítica, conforme preconizado na ESO (2008),

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    cabe ressaltar que Hacke et al. (2008) demonstraram (por intermédio de um recente estudo multicêntrico internacional, randomizado e duplo-cego) um perfil favorável de eficácia e de segurança no tratamento de acidente vascular cerebral isquêmico com uma determinada droga trombolítica, quando realizado dentro de um período de até 4-5 horas, após o início dos sintomas.

    Estudo efetuado por Wardlaw et al. (2004), em hospitais da Escócia, teve grande influência na definição da diretriz ESO (2008) e deu o necessário respaldo para a conclusão de que a tomografia computadorizada, realizada de imediato, é a estratégia de maior custo-efetividade para a avaliação por imagem de doentes com AVC agudo. Os pacientes de AVC agudo foram submetidos à tomografia computadorizada dentro de um período de 48 horas após a admissão no hospital. O estudo foi realizado em diversos hospitais da Escócia em pacientes acometidos do primeiro AVC, internados ou liberados após o atendimento, e os resultados foram comparados com outras estratégias para tratar a doença, em especial com a ressonância magnética.

    Em relação ao custo-efetividade da tomografia computadorizada, os principais determinantes considerados no estudo em análise foram o custo da realização do exame propriamente dito (considerando-se diferentes horas do dia, em diferentes tipos de hospital); o tempo de internação para pacientes com AVC (hemorrágico, isquêmico e de diferentes níveis de severidade), o custo dessa internação em diferentes tipos de hospital; e os efeitos das decisões de tratamento orientadas pela realização de exame de TC (incorporando o efeito de acurácia do diagnóstico) no subsequente tempo de internação, incluindo os efeitos de administrar o tratamento correto ou errado (em função da patologia real do paciente).

    O custo do exame foi determinado a partir de pesquisas em diversos hospitais da Escócia, visando obter dados de custo dos serviços de tomografia computadorizada em diferentes tipos de unidades de saúde. Avaliaram-se, também, como estas estimativas poderiam ser utilizadas em um modelo econômico para determinar como o efeito da TC e as decisões de tratamento tomadas a partir dela afetam tanto os desfechos clínicos quanto o custo do cuidado ao paciente com o AVC.

    Wardlaw et al. (2004) observaram que os médicos, quando fazem diagnóstico clínico de AVC (versus não AVC), divergem em cerca de 20% dos pacientes; que não é possível diferenciar AVC isquêmico do hemorrágico por intermédio apenas de exames clínicos; que a TC apresenta alta sensibilidade e especificidade para detectar hemorragias apenas dentro dos primeiros oito dias após os primeiros sinais do AVC; que o ácido acetilsalicílico (AAS) aumenta o risco de hemorragia intracerebral primária; que não existiam evidências científicas robustas sobre os desfechos funcionais ou sobre os efeitos do tratamento antitrombótico no longo termo, após a ocorrência de hemorragia intracerebral primária; que a distribuição geográfica de TC é desigual na Escócia, em relação ao quantitativo da população, mas que 65% dos pacientes com suspeita de AVC são submetidos a exames de

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    TC dentro de 48 horas após o surgimento dos sintomas, e que 100% são submetidos a esse exame dentro dos primeiros sete dias após a admissão no hospital.

    Wardlaw et al. (2004) concluíram que, em geral, as estratégias nas quais a maioria dos pacientes era examinada por TC imediatamente custavam menos e apresentavam os melhores resultados de QALY1, dado que o custo de realização do exame de tomografia (mesmo fora do horário normal) era menor do que o custo da internação. O aumento da sobrevida, mesmo em proporção relativamente pequena, com o uso do AAS nos casos de AVC isquêmico e da aplicação dos cuidados apropriados nos casos de não AVC, reduziu os custos e aumentou os QALY. Contribuiu para o resultado, também, o não uso do AAS nos casos de AVC hemorrágico.

    Análises de sensibilidade realizadas nesse estudo (considerando variação nos custos do exame de TC, diferentes faixas etárias, diferentes proporções de Avci, Avch, tumores e infecções, variação na acurácia da TC, variação de pesos de utilidade no cálculo dos QALY e nos tempos de internação) não alteraram o ranque de custo-efetividade das estratégias.

    2.2 A equidade e sua dimensão geográfica

    A Constituição Brasileira estabelece a saúde como um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.

    Os princípios constitucionais foram reforçados na Lei nº 8.080/1990, que instituiu o Sistema Único de Saúde (SUS), ao estabelecer as seguintes diretrizes:

    • universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;

    • integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

    • preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;

    • igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie;

    • utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, da alocação de recursos e da orientação programática (BRASIL, 1990).

    1 O QALY (Quality-Adjusted Life-Year) considera a quantidade e a qualidade de vida gerada por intervenções de saúde. Trata-se de um produto aritmético da expectativa de vida e uma medida da qualidade do ano de vida restante (PHILIPS, 2009).

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    A Portaria MS/GM nº 399, de 22 de fevereiro de 2006, instituiu o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS em três dimensões – Pacto pela Vida, Pacto de Gestão e Pacto em Defesa do SUS – possibilitando a efetivação de acordos entre as três esferas de gestão do SUS. Os acordos entre União, estados e municípios têm como objetivo a reforma de aspectos institucionais, a promoção de inovações nos processos e instrumentos de gestão, visando a maior efetividade e eficiência no uso dos recursos nas ações de saúde. Foram também redefinidas responsabilidades coletivas por resultados sanitários em função das necessidades de saúde da população e na busca da equidade.

    A preocupação com a universalidade, a equidade e a eficiência está presente em todo arcabouço legal relativo ao SUS. O princípio da igualdade tem base no conceito de cidadania, segundo o qual todos os indivíduos são iguais, tendo, portanto, os mesmos direitos (NUNES et al., 2001). Whitehead (1991) apresenta a equidade a partir do entendimento de que todos os indivíduos de uma sociedade devem ter justa oportunidade para desenvolver seu pleno potencial de saúde, de acordo com os seus ideais, e ninguém deve ser colocado em situação de desvantagem para alcançar tal desenvolvimento.

    Não obstante, torna-se importante observar que o conceito de equidade admite certa flexibilidade ou mobilidade, na medida em que a classificação de uma política como equânime pode possuir pontos de corte variados. Tal variação pode existir em função da sociedade em análise ou do momento em que se considera a política. Assim, a abordagem da equidade requer a consideração de dimensões e de valores diferentes para espaços sociais e momentos distintos (VIANA; FAUSTO; LIMA, 2003).

    Parece consenso entre diversos estudiosos que a avaliação da equidade no acesso aos serviços de saúde deve comportar a dimensão da desigualdade social, além da geográfica e de outros aspectos.

    2.3 A oferta de TC no Brasil e sua distribuição geográfica

    Após a realização dos cálculos sobre os dados obtidos no CNES, de acordo com a metodologia adotada neste trabalho, foram obtidos os quantitativos da oferta de TC no território nacional, segundo esfera administrativa, conforme Tabela 1.

    Tabela 1 – A oferta de tomógrafos computadorizados, segundo esfera administrativa, considerada para efeito de cálculos e mapeamento. Dezembro 2007

    Esfera Administrativa Quantidade Ofertada (%)Federal 62 2,8Estadual 156 7,1Municipal 61 2,8

    continua

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    Esfera Administrativa Quantidade Ofertada (%)Privada (disponível ao SUS) 772 34,9Privada (não disponível ao SUS) 1.159 52,4Total 2.210 100,0

    Fonte: Ministério da Saúde – Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil, CNES 2008.

    A caracterização da distribuição dos tomógrafos computadorizados disponíveis ao SUS (independente da esfera administrativa), e pertencentes à esfera privada não disponíveis ao SUS, pode ser visualizada no território nacional, respectivamente, por intermédio das figuras 1 e 2.

    Pela observação dessas duas figuras pode-se notar que existe uma nítida concentração de equipamentos de TCs nas capitais de todos os estados, bem como no interior dos estados pertencentes às regiões Sul e Sudeste. A distribuição geográfica dos TCs disponíveis ao SUS está menos concentrada e possui uma maior abrangência no interior da maioria dos estados brasileiros, quando comparada com a respectiva distribuição geográfica dos equipamentos da rede privada, não disponíveis ao SUS.

    Figura 1 – Oferta de tomógrafos computadorizados disponíveis ao SUS, por município. Dezembro 2007

    Fonte: Elaborado pelo autor com base no CNES/DATASUS 2008.

    conclusão

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    Figura 2 – Oferta de tomógrafos computadorizados da esfera privada, não disponíveis ao SUS, por município. Dezembro 2007

    Fonte: Elaborado pelo autor com base no CNES/DATASUS 2008.

    As estimativas populacionais obtidas, tanto para o ano de 2005 quanto para o de 2007, foram produzidas sobre o universo dos 5.564 municípios em estudo, resultando nos quantitativos relacionados na Tabela 2.

    Tabela 2 – População residente por ano de referência, segundo sexo e faixa etária

    POPULAÇÃO2005

    (%)2007

    (%)Hab. Hab.

    Masculina 90.671.019 49,2 93.042.111 49,1– Masculina idade menor que 60 anos 83.668.303 45,4 84.924.919 44,9– Masculina idade maior igual 60 anos 7.002.716 3,8 8.117.192 4,3Feminina 93.513.055 50,8 96.293.080 50,9– Feminina idade menor que 60 anos 84.934.511 46,1 86.205.443 45,5– Feminina idade maior igual 60 anos 8.578.544 4,7 10.087.637 5,3Total 184.184.074 100,0 189.335.191 100,0

    Fonte: Ministério da Saúde – DATASUS/2008.

    A distribuição da população no território nacional, no ano de 2007, pode ser observada na Figura 3, onde as cidades mais populosas foram ressaltadas para permitir uma melhor visualização das respectivas faixas populacionais.

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    Pode-se observar que a distribuição da população no Brasil é bastante irregular, sendo que o Sudeste é a região mais populosa e a mais povoada, com uma quantidade relativamente grande de metrópoles com mais de 300 mil habitantes. A Região Centro-Oeste é a menos populosa, com grande parte de sua área formada por municípios com menos de 25 mil habitantes. Deve-se ressaltar que, em 2007, cerca de 80% da população brasileira vivia em áreas urbanas.

    Figura 3 – População distribuída por município e capitais no território nacional. Ano: 2007

    Fonte: Elaborado pelo autor com base no DATASUS/MS 2008.

    2.4 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

    O conjunto dos 5.564 municípios brasileiros apresentam um IDH médio de 0,700, índice médio utilizado nas análises deste trabalho como divisor entre os municípios de IDH baixo (índice menor do que 0,700) e os de IDH alto (índice maior ou igual a 0,700), conforme pode ser visualizado pela Figura 4.

    A Figura 4 demonstra, nitidamente, uma predominância de municípios com IDH alto nos estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Já os municípios de IDH baixo predominam nos estados das regiões Norte e Nordeste.

    Dentro do universo de municípios estudados, 3.052 (54,8%) apresentavam IDH alto (entre 0,700 e 0,919) e 2.512 (45,2%) classificavam-se como IDH baixo (entre 0,467 e

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    0,699). Os municípios de IDH alto abrangiam 146.316.119 habitantes, ou 77,3% da população brasileira à época, enquanto os de IDH baixo eram habitados por 43.019.072 (22,7%).

    Figura 4 – Padrão de distribuição das classes IDH alto e IDH baixo. Brasil, 2000

    Fonte: Elaborado pelo autor com base no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea/ 2008.

    Os municípios de IDH alto dispunham de 2.162 tomógrafos computadorizados, o equivalente a 97,8% dos TCs existentes no País, enquanto os de IDH baixo ficavam com apenas 48 aparelhos (2,2%). Esses dados demonstram que os municípios de melhor situação socioeconômica possuem 45 vezes mais tomógrafos do que os seus pares menos favorecidos.

    2.5 Mortalidade por AVC

    O AVC foi a causa da morte de 89.906 pessoas em 2005, o que resultou numa taxa de mortalidade de 48,8 por 100 mil habitantes. No processo de padronização das taxas de mortalidade dos municípios, pelo método direto, foram utilizadas, como padrão, as taxas de mortalidade referente à população brasileira e os óbitos por AVC ocorridos no Brasil no ano de 2005, conforme Tabela 3.

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    Tabela 3 – Taxas de mortalidade por AVC, segundo sexo e faixa etária. Brasil, 2005

    Subgrupo Populacional BRASILÓbitos por População AVCTaxa de Mortalidade Brasil

    (por 100 mil hab./ano)

    Menor que 60 anos 20.018 168.602.814 11,9

    Maior ou igual a 60 anos 69.819 15.581.260 448,1

    Idade desconhecida 69 --- ---

    Masculino 45.100 90.671.019 49,7

    Feminino 44.794 93.513.055 47,9

    Sexo desconhecido 12 --- ---

    Total 89.906 184.184.074 48,8

    Fonte: Ministério da Saúde – DATASUS – Sistema de Informações sobre Mortalidade/2008.

    A taxa de mortalidade entre os 5.564 municípios foi de 44,1 óbitos por 100 mil habitantes/ano. Essa taxa média foi utilizada como um divisor para separar os municípios em duas classes: municípios com taxa de mortalidade baixa e municípios com taxa alta, cujos padrões de distribuição no território nacional podem ser observados na Figura 5.

    Figura 5 – Padrão de distribuição das classes alta e baixa de taxas de mortalidade, padronizadas por faixa etária. Brasil, 2005

    Fonte: Elaborado com base no DATASUS/MS 2008.

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    A Figura 5 apresenta, sob o ponto de vista geográfico, uma predominância de municípios com taxa de mortalidade baixa justamente nas regiões Norte e Nordeste, cujos municípios possuem menor IDH e menor disponibilidade de TC, quando comparados com os municípios das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, conforme visto anteriormente.

    2.6 Internações por AVC

    Os arquivos de autorização de internação hospitalar (AIH) contêm registros correspondentes a cada AIH paga na unidade da federação no período de 2005 a 2007, sendo que havia um arquivo para cada UF, cada mês e cada ano. Ao todo, foram analisados 971 arquivos referentes aos 26 estados brasileiros e ao Distrito Federal, resultando no processamento de 35,3 milhões de registros. O volume de internações por AVC pode ser visto na Tabela 4.

    Tabela 4 – Internações por AVC, segundo sexo e faixa etária. Brasil, 2005 a 2007

    População2005 a 2007

    Internações (%)

    Masculina 340.509 52,1

    Feminina 313.282 47,9

    Sem informação de sexo 8 0,0

    Idade menor do que 60 anos 227.323 34,8

    Idade maior ou igual a 60 anos 426.473 65,2

    Sem informação de idade 3 0,0

    Total de internações 653.799 100,0

    Fonte: Ministério da Saúde – DATASUS – Sistema de Informações Hospitalares do SUS/2008.

    A distribuição das internações por AVC, de acordo com os municípios de ocorrência da internação, segundo a existência ou não de tomógrafos computadorizados disponíveis ao SUS, pode ser visualizada na Figura 6. Verifica-se uma concentração dos municípios que internaram pacientes com AVC nas regiões Sul e Sudeste.

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    Figura 6 – Internação por AVC, por local de ocorrência, segundo a existência de tomógrafos computadorizados disponíveis ao SUS. Brasil, 2005 a 2007

    Fonte: Elaborado com base no DATASUS/MS 2008.

    A Figura 6 mostra que o número de municípios que dispõe de equipamentos de tomografia computadorizada para atendimento pelo SUS internaram menos pacientes do que aqueles que internaram sem dispor de TC-SUS ou que não internaram. Dos 3.305 municípios que realizaram internações por AVC, no período analisado, 2.852 (86%) o fizeram sem dispor de TC-SUS.

    Não obstante, deve-se ressaltar que desses 3.305 municípios, 2.852 municípios sem TC-SUS realizaram 166.299 internações, enquanto os 453 municípios com TC-SUS realizaram 487.500 internações (75% de todas as internações realizadas).

    2.7 Municípios em área de abrangência de tomógrafo computadorizado

    Praticamente todos os municípios da região Sul e dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo estavam cobertos pelos serviços de tomografia computadorizada, em 2007, considerando-se como razoável um raio de 75 quilômetros a partir da sede do município que dispõe do TC-SUS (Figura 7). O critério leva em conta a compatibilidade do tempo gasto

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    no deslocamento do paciente a partir da ocorrência do AVC com a urgência da realização da tomografia.

    Pelo mesmo critério, a cobertura do TC-SUS na Região Nordeste limita-se à faixa litorânea, onde estão localizadas as capitais e as grandes cidades. A maior parte da área não abrangida por TC-SUS se encontra no interior dos estados da Bahia, Piauí e Maranhão. Nos estados da Região Norte, a área sob abrangência de TC-SUS é relativamente pequena.

    Pela Figura 7 pode-se observar, ainda, que a maior parte da área sob abrangência de TC-SUS corresponde à área formada pelos municípios de melhor situação socioeconômica (ou de IDH alto), que se concentram, principalmente, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A maior parte da área não abrangida por TC-SUS corresponde àquela formada por municípios de pior situação socioeconômica (ou de IDH baixo), que se concentram, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste.

    Figura 7 – Abrangência dos tomógrafos computadorizados disponíveis ao SUS, círculos com raio de 75 km, sobre os municípios brasileiros, segundo classe de IDH. Brasil, 2005 a 2007

    Fonte: Elaborado com base no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea/ 2008.

    Com base nas observações feitas a partir da Figura 7, verificou-se que dos 5.564 municípios existentes no País, 4.019 (72,2%) encontravam-se em área de abrangência de

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    tomógrafos computadorizados disponíveis ao SUS, e que, desses municípios abrangidos, 2.661 (66,2%) apresentam IDH alto e 1.358 (33,8%) apresentavam IDH baixo.

    Em relação aos 1.545 municípios não abrangidos por tomógrafos disponíveis ao SUS, observou-se uma situação inversa: 1.154 (74,7%) apresentavam IDH baixo, enquanto 391 (25,3%) possuíam IDH alto.

    Essa desigualdade entre regiões e municípios leva os pacientes a se deslocarem longas distâncias para ter acesso ao atendimento adequado para o tratamento do AVC: as 653.799 internações por AVC ocorridas no Brasil, de janeiro de 2005 a dezembro de 2007, geraram 21.486 deslocamentos geograficamente distintos.

    A Figura 8 mostra que os principais polos de atendimento estão localizados nas capitais dos estados brasileiros, e que os maiores deslocamentos, em termos da distância percorrida entre o município de residência e o de internação, ocorrem entre municípios dentro das regiões Norte e Nordeste, ou entre municípios dessas regiões e municípios das regiões Sudeste e Centro-Oeste.

    No centro do estado de Goiás, a cidade de Goiânia aparece como um grande polo de atendimento ao AVC, recebendo pacientes de municípios de diversos estados, inclusive do Acre, Rondônia e Tocantins.

    Figura 8 – Fluxos de internação por AVC, com deslocamentos maiores que 75 km. Brasil, 2005 a 2007

    Fonte: Elaborado com base no DATASUS/MS 2008.

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    Figura 9 – Fluxos de internação por AVC, com deslocamentos entre 10 e 75 km. Brasil, 2005 a 2007

    Fonte: Elaborado com base no DATASUS/MS 2008.

    Dos 5.564 municípios brasileiros, 3.305 (59,4%) apresentaram registros de internação por AVC, ou seja, internações passíveis de classificação entre as causas ou subcategorias da CID-10, no período de 2005 a 2007. Dos 3.305 municípios que internaram pacientes com AVC, apenas 97 internaram um ou mais pacientes por dia. Esses 97 municípios foram responsáveis pela realização de 331.897 internações por AVC nos três anos considerados, ou seja, menos de 3% dos municípios que atenderam AVC foram responsáveis pelo atendimento de 50,8% do total das 653.799 internações realizadas no Brasil, no período pesquisado.

    Dos municípios que internaram, somente 453 (13,7%) possuíam pelo menos um tomógrafo computadorizado, independente desse equipamento estar disponível ao SUS ou não. E 2.852 municípios (86,3%) realizaram internações sem possuir esse equipamento. Quando restringimos essa análise aos tomógrafos disponíveis ao SUS, o número cai para 391 (11,8%) municípios. Outros 2.914 municípios (88,2%) realizaram internações sem dispor desse equipamento no atendimento do SUS.

    Dos 391 municípios que internaram e possuíam tomógrafos do SUS, 367 (93,8%) possuíam IDH alto e somente 24 (6,1%) possuíam IDH baixo.

    Em relação às características socioeconômicas dos municípios pode-se observar, pela análise da Figura 9, que existe nitidamente uma quantidade maior de fluxos (entre 10 e 75 km) não abrangidos por tomógrafos computadorizados sobre a área vermelha (que

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    representa IDH alto), do que sobre a área azul (que representa IDH baixo). Ou seja, diante do cenário em que se considerem os deslocamentos favoráveis para o atendimento ao AVC (entre 10 e 75 km), e as áreas de abrangência por tomógrafo computadorizado (circulares com 75 km de raio), o mapa da Figura 10 indica que os municípios de IDH baixo possuem, nitidamente, um volume maior de fluxos não abrangidos por tomógrafos, quando comparado com os seus pares de IDH alto. O que indica uma situação de desigualdade social no acesso, ou de influência da condição social na probabilidade de acesso, em tempo hábil, aos municípios mais bem equipados para o atendimento ao AVC.

    Figura 10 – Abrangência de TC-SUS, sobre municípios, segundo classe de IDH e distribuição de fluxos de internação por AVC. Brasil, 2005 a 2007

    Fonte: Elaborado pelo autor com base no DATASUS e Ipea/2008.

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    2.8 Investimentos em tomógrafos pelo Ministério da Saúde

    O Ministério da Saúde firmou convênios, em 2007, no valor de R$ 360,1 milhões para aquisição de equipamentos médico-hospitalares, unidades móveis de saúde e materiais permanentes, incluindo aparelhos de tomografia computadorizada. Nos anos de 2006 e 2007, o Ministério investiu R$ 13,6 milhões na aquisição de 11 aparelhos de TC. Outros cinco tomógrafos foram adquiridos diretamente pelo Ministério da Saúde.

    A Tabela 5 apresenta a aquisição ou o financiamento pelo Ministério da Saúde, de 16 TCs nos anos de 2006 e 2007, o que equivale a aproximadamente 1,5% do parque de TC disponíveis ao SUS. Todos os TCs constantes da Tabela 5 foram destinados a municípios com IDH alto, sendo que quatro aparelhos foram destinados a municípios com menos de 100 mil habitantes, inclusive para o município de Jaguariúna/SP, que contava em 2007 com uma população de apenas 35.562 habitantes. Os municípios do Rio de Janeiro e do Recife foram os mais beneficiados. Receberam dois e três aparelhos, respectivamente.

    Tabela 5 – Distribuição dos tomógrafos computadorizados, com financiamentos aprovados no âmbito do Ministério da Saúde, nos anos de 2006 e 2007

    UF Município Ano(1) EsferaAdministTipo

    EntidadeClasse de

    IDH (3)População doMunicípio(4)

    AL Maceió 2006 Particular Filantrópica Alto 941.294

    CE Fortaleza 2006 Particular Org. Não Gov. Alto 2.458.545

    MA Imperatriz 2007 Municipal Prefeitura Alto 232.864

    MG Araxá 2006 Particular Filantrópica Alto 86.725

    MG São Sebast. Paraíso 2007 Particular Filantrópica Alto 66.223

    MG Belo Horizonte 2007 Estadual SES Alto 2.424.292

    PE Recife 2007 Particular Filantrópica Alto 1.528.971

    PE Recife 2006(2) Estadual SES Alto 1.528.971

    PE Recife 2006(2) Estadual SES Alto 1.528.971

    PR Cianorte 2006 Particular Filantrópica Alto 63.833

    RJ Rio de Janeiro 2006(2) Federal Federal Alto 6.178.762

    RJ Rio de Janeiro 2006(2) Estadual SES Alto 6.178.762

    RS Porto Alegre 2006(2) Federal Federal Alto 1.453.075SP Diadema 2006 Municipal Prefeitura Alto 401.111

    SP Jaguariúna 2007 Municipal Prefeitura Alto 35.562

    SP Campinas 2007 Municipal Prefeitura Alto 1.073.021continua

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    UF Município Ano(1) EsferaAdministTipo

    EntidadeClasse de

    IDH (3)População doMunicípio(4)

    Observação (1) - Ano de aprovação do Convênio

    (2) - Ano de licitação do equipamento

    (3) - Nesse trabalho, o IDH foi considerado “alto” quando acima de 0,700.

    (4) - Ano de 2007 (IBGE)

    Fonte: GESCON e SAS/Ministério da Saúde – 2008.

    2.9 Conclusão

    A oferta de tomógrafos computadorizados no Brasil caracteriza-se pela forte presença do setor privado, que demonstrou possuir, no período estudado, 87,4% dos TCs existentes no País e 73,4% dos tomógrafos disponíveis ao SUS (TC-SUS).

    Há uma evidente concentração desses equipamentos na Região Sudeste e nas capitais dos estados brasileiros. Essa oferta procura se ajustar aos locais mais densamente povoados e, pelos números observados na esfera privada, apresenta indicação de ser bastante influenciada pela lógica de mercado, a qual, via de regra, não considera a equidade na alocação de recursos tecnológicos. O fato de os municípios de IDH alto possuírem 97,8% dos TCs existentes no País reafirma essa observação.

    Os resultados encontrados no universo pesquisado mostram uma alocação de tomógrafos computadorizados pouco equitativa, e uma concentração da oferta dessa tecnologia nos municípios mais populosos e de melhor situação socioeconômica, o que caracteriza uma situação de desigualdade geográfica e social no acesso aos serviços de saúde para o atendimento ao AVC.

    Embora os dados de oferta de tomógrafos computadorizados demonstrem que o SUS disponibilizava à população brasileira 47,5% dos aparelhos existentes no País, é importante observar que a área de abrangência dos TCs-SUS cobria 72,7% dos municípios brasileiros.

    Nas áreas de abrangência de TC-SUS, 66,2% dos municípios têm IDH alto, e 33,8% têm IDH baixo, enquanto 74,7% dos municípios fora das áreas de abrangência de TC-SUS apresentavam IDH baixo, e 25,3% com IDH alto.

    No entanto, é importante frisar que o fato de o município possuir tomógrafo computadorizado disponibilizado pelo SUS, ou estar em área de abrangência de outro município com TC-SUS, não significa garantia de que todos os pacientes com suspeita de AVC serão atendidos em estabelecimento de saúde que possua TC, nem a garantia de

    conclusão

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    que esses pacientes serão submetidos a exames de diagnóstico do AVC por tomografia computadorizada.

    Deve-se observar, ainda, que o aparelho de tomografia computadorizada pode ser utilizado para a realização de uma série de exames de imagem radiológica com outros fins, além do diagnóstico de AVC, como por exemplo: diagnósticos em ortopedia, oncologia, neurologia, fisiatria etc. À medida que os TCs, incluindo toda a infraestrutura necessária para o seu funcionamento, representam um recurso relativamente escasso em nosso país, cria-se um ambiente de competição na sua utilização entre pacientes de AVC e pacientes de outras condições ou patologias.

    Há uma grande concentração territorial das internações por AVC, dado que 3% dos municípios, entre os que realizaram internações por AVC, foram responsáveis pela realização de mais da metade do total de internações. Sob o ponto de vista geográfico, essa concentração reflete no aumento das distâncias a serem vencidas pelos pacientes de municípios mais distantes, que procuram por atendimento ao AVC.

    A constatação de que entre os 391 municípios que internaram e possuíam tomógrafo SUS, 367 (93,8%) possuíam IDH alto, mostra que a probabilidade de um indivíduo residente em um município com IDH alto ser internado por AVC, em serviço financiado pelo SUS sem tomógrafo, era somente 13% maior do que a de um indivíduo residente em um município com IDH baixo. E que a probabilidade de um indivíduo residente em um município de IDH baixo ser internado em estabelecimento de saúde com tomógrafo SUS era 15 vezes menor do que as chances de um indivíduo residente em um município de IDH alto.

    Se considerarmos a probabilidade de internação em município que dispõe de TC-SUS ser associada à probabilidade de se obter um tratamento mais adequado à luz das diretrizes sobre o cuidado com o AVC, poderemos observar que, no Brasil, os indivíduos residentes em municípios de IDH mais baixo tinham uma probabilidade marcadamente menor de obter acesso à internação de melhor qualidade, quando comparados com os indivíduos residentes em municípios de melhores condições socioeconômicas.

    Pela análise dos fluxos de pacientes com AVC que se deslocaram mais do que 75 km para obter internação, observam-se alguns deslocamentos de grandes distâncias, sobretudo nos pacientes residentes na Região Norte, que se internaram nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Tendo em vista a urgência de atendimento para o acidente vascular cerebral, supõe-se que esses deslocamentos tenham sido realizados por via aérea (sendo patrocinados por governos locais, seguros de saúde privados ou do próprio bolso). Essas longas distâncias podem comprometer a boa qualidade do atendimento, tendo em vista a necessidade de atenção tempestiva ao paciente com sintomas de AVC.

    Os resultados encontrados apontam para a necessidade da adoção de políticas de alocação de recursos tecnológicos que reduzam as desigualdades regionais e sociais, condição necessária para a obtenção da equidade prevista na legislação brasileira relativa ao setor de saúde.

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    Descarte de equipamentosmédico-hospitalares,segundo os manuais dos fabricantes

    3.1 Introdução

    A gestão adequada de resíduos constitui-se em um dos grandes desafios dentro da problemática do saneamento ambiental. Os resíduos gerados por Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS), embora representem uma pequena parcela dos resíduos urbanos, devem ser observados com cautela pelo risco que apresentam ao ambiente e à saúde pública.

    A classificação de resíduos é uma atividade complexa e, em muitos casos, ainda indefinida, mesmo nos países desenvolvidos. Quanto mais perigoso o resíduo, maiores são os cuidados necessários e, como consequência, maiores os custos envolvidos (FERREIRA, 1995).

    De acordo com a norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR 10.004, de 2004, os resíduos sólidos são definidos como:

    Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis perante a melhor tecnologia disponível (ABNT, 2004).

    A Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 306, de 7 de dezembro de 2004, dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS). A Resolução define como geradores de RSS os seguintes tipos de serviços:

    Atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento (tanatopraxia e somatoconservação); serviços de medicina legal; drogarias e farmácias, inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e de pesquisa

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    na área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos, importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, entre outros similares (ANVISA, 2004).

    Esta resolução não se aplica a fontes radioativas seladas, que devem seguir as determinações da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

    As instituições de saúde devem elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), compatível com as normas locais relativas à coleta, ao transporte e à disposição final dos resíduos gerados nos serviços de saúde, estabelecidas pelos órgãos locais responsáveis.

    As etapas a serem consideradas na elaboração do PGRSS são apresentadas a seguir (Figura 11):

    1) Manejo: O manejo consiste na ação de gerenciar os resíduos e envolvem três etapas, citadas a seguir.

    1.1) Segregação: Separação dos resíduos no momento e no local de sua geração, de acordo com as características físicas, químicas, biológicas, estado físico e riscos envolvidos.

    1.2) Acondicionamento: Os resíduos segregados são acondicionados em sacos ou recipientes que evitem vazamentos e resistam às ações de punctura e ruptura, de acordo com a NBR 9.191/2000, da ABNT. Resíduos líquidos devem ser acondicionados em recipientes constituídos de material compatível com o líquido armazenado, resistentes, rígidos e estanques, com tampa rosqueada e vedante.

    1.3) Identificação: Conjunto de medidas que permite o reconhecimento dos resíduos contidos nos sacos e recipientes, fornecendo informações ao correto manejo dos RSS. Devem estar de acordo com a NBR 7.500 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

    2) Armazenamento temporário (interno): Guarda temporária dos recipientes contendo os resíduos já acondicionados, em local próximo aos pontos de geração, visando agilizar a coleta dentro do estabelecimento e otimizar o deslocamento entre os pontos geradores e o ponto destinado à apresentação para coleta externa.

    3) Transporte interno: Traslado dos resíduos dos pontos de geração até o local de armazenamento temporário ou armazenamento externo com a finalidade de apresentação para a coleta

    4) Tratamento: Aplicação de método, de técnica ou de processo que modifique as características dos riscos inerentes aos resíduos, reduzindo ou eliminando o risco de contaminação, de acidentes ocupacionais ou de dano ao meio ambiente.

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    5) Armazenamento externo: Guarda dos recipientes de resíduos até a realização da etapa de coleta externa, em ambiente exclusivo com acesso facilitado para os veículos coletores.

    6) Coleta e transporte externos: Remoção dos RSS do abrigo de resíduos (armazenamento externo) até a unidade de tratamento ou disposição final, utilizando-se técnicas que garantam a preservação das condições de acondicionamento e a integridade dos trabalhadores, da população e do meio ambiente, devendo estar de acordo com as orientações dos órgãos de limpeza urbana. Devem ser realizados de acordo com as normas NBR 12.810 e NBR 14.652 da ABNT.

    Figura 11 – Etapas a serem consideradas na elaboração do PGRSS, segundo a RDC nº 306/2004

    Fonte: Elaborada pela autora.

    Atualmente, o SUS possui 247 mil EAS, de diferentes níveis de complexidade (CNES, 2013). Na maioria destes estabelecimentos a questão da destinação final dos RSS não está resolvida. Segundo Ferreira (1995), dos resíduos produzidos pelas unidades de prestação de serviços de saúde, cerca de 80% são equiparados aos domésticos (Grupo D). Nesta classe estão os resíduos que não oferecem risco ao homem, portanto não necessitam de tratamento especial. Os 20% restantes são considerados perigosos e oferecem risco à saúde.

    Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), apontou que a produção de resíduos sólidos no Brasil é de 228.413 toneladas/dia. Os resíduos de serviços de saúde correspondem de acordo com a Anvisa 1% desse total, o que corresponde a uma produção da ordem de 2.284 toneladas/dia de resíduos hospitalares (SOUZA, 2005). Muitas vezes, esses resíduos hospitalares são jogados no lixo comum. Estudo realizado pelo IBGE (2000) demonstrou que 2.569 cidades vazam o lixo hospitalar no mesmo aterro dos resíduos urbanos.

    Os RSS exigem um tratamento específico e rigoroso dado seu alto potencial de risco à saúde pública e à natureza. Os EAS passaram por importante evolução tecnológica,

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    especialmente nas últimas cinco ou seis décadas, devido ao desenvolvimento da ciência médica, onde novas tecnologias têm sido incorporadas aos métodos de diagnóstico e de tratamento, agregando novos materiais, substâncias e equipamentos. Esse processo, assim como ocorre em outros setores, reflete-se na composição dos resíduos gerados, que também se tornam mais complexos e, em alguns casos, mais perigosos para o homem e o meio ambiente.

    No que se refere aos equipamentos médicos, a produção de resíduos depende de inúmeros fatores, tais como: tipo de equipamento, insumos associados e número de pacientes/dia. Evidentemente, um hospital geral, equipado para atender os mais diversos tipos de ocorrências, gera mais resíduos do que uma Unidade Básica de Saúde (UBS), que possui equipamentos de menor complexidade.

    O equipamento gera resíduos durante sua utilização e torna-se um resíduo ao final da sua vida útil, quando deve ser descartado de maneira correta, pois pode apresentar na sua composição placas eletrônicas, plásticos, metais, produtos químicos, entre outros materiais. No ciclo de vida genérico de produtos existe uma sequência de etapas inter-relacionadas que compreende desde a extração dos materiais até o fim da sua vida, onde este produto perde a sua funcionalidade e não satisfaz as expectativas de uso. Ao fim da vida útil do produto, há cinco estratégias que podem ser adotadas: reuso, serviços (manutenção), remanufatura, reciclagem ou descarte (JOFRE; MORIOKA, 2005) – ver Figura 12.

    Figura 12 – Ciclo de vida genérico de produtos

    Fonte: Adaptado de JOFRE; MORIOKA, 2005.

    Diante da discussão sobre a destinação de produtos eletrônicos pós-vida útil, o Parlamento Europeu aprovou, em 27 de janeiro de 2003, a Diretriz 2002/96/EC sobre Waste

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    Electrical and Electronic Equipment (WEEE) – Descarte de Equipamentos Eletroeletrônicos. Esta diretriz padroniza o tratamento e a reciclagem de equipamentos eletroeletrônicos, e tem como principal objetivo encorajar a sua reutilização e a reciclagem. Entre as exigências da WEEE, está o pagamento pelo fabricante da coleta de seus produtos no final de sua vida útil, além do estabelecimento de pontos centrais e metas de reutilização, de reciclagem e de recuperação (FADUL, 2010). A diretriz WEEE aplica-se aos seguintes dispositivos médicos, com exceção de produtos implantados e infectados:

    • Equipamentos de radioterapia.

    • Equipamentos de cardiologia.

    • Equipamentos de diálise.

    • Ventiladores pulmonares.

    • Equipamentos de medicina nuclear.

    • Equipamentos de laboratório para diagnóstico in vitro.

    • Analisadores.

    • Congeladores.

    • Testes de fertilização.

    • Outros aparelhos para detectar, evitar, controlar, tratar, aliviar doenças, lesões ou deficiências.

    No Brasil, a regulamentação dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos foi estabelecida por meio da Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que determinou a implantação de Sistemas de Logística Reversa para categorias de resíduos considerados perigosos. As discussões sobre a questão encontram-se em estágio relativamente avançados (XAVIER et al., 2012).

    A Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Odontológicos, Hospitalares e de Laboratório (Abimo) realizou, em 2010, uma oficina abordando a sustentabilidade na fabricação e no descarte de EMH, quando apresentou o Projeto Piloto Ambientronic. O objetivo deste projeto era identificar as dificuldades do setor empresarial brasileiro para se adequar aos requisitos dessas diretivas – RoHS e WEEE – e, ao mesmo tempo, contribuir com os fabricantes de EMH no enfrentamento deste desafio. As principais conclusões obtidas com a realização desta oficina foram (ROCHA; PIMENTEL, 2009):

    • O desenvolvimento sustentável significa oportunidade de inclusão da indústria no mercado global e desenvolvimento tecnológico para o País.

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    • Divulgação das diretivas RoHS/WEEE/Ecodesign como oportunidades de crescimento.

    • É necessário preservar o meio ambiente d