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INVESTIMENTOS GLOBAIS DESAFIOS PARA O PRóXIMO GOVERNO Nesta edição SEUS FILHOS Já HERDARAM JUNTOS? PARTE 2 | Natalia Zimmermann, CFP ® ENTREVISTA Ulf Mannhardt, CFP ® Professional MAGAZINE ANO 1 · Edição 4 · Nov. Dez. Jan ’2015 por Giuliano De Marchi, CFP ® , CIMA e Gabriela Santos por Paulo Miguel

investimentos globais

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investimentos globais

desafios para o próximo governo

Nesta edição

seus filhos já herdaram juntos?PARTE 2 | Natalia Zimmermann, CFP®

entrevistaUlf Mannhardt, CFP®

ProfessionalMagazineano 1 · edição 4 · Nov. Dez. Jan ’2015

por Giuliano De Marchi, CFP®, CIMA

e Gabriela Santos

por Paulo Miguel

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É O QUE O IBCPF ACREDITA. SA IBA MAIS SOBRE O POSIC IONAMENTO ESTRATÉGICO DO INST ITUTO EM WWW.ibCpf.org.br

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SUMÁRIOPalavra do Editor - ChefeJan Karsten, CFP®, CFA

Investimentos no BrasilPaulo Miguel

Investimentos no ExteriorGiuliano De Marchi, CFP® CIMA

e Gabriela D. Santos

Previdência e SegurosEdmur de Almeida, CFP®

Planejamento Sucessório e TributárioNatalia Zimmermann, CFP®

Planejamento Financeiro PessoalMari Emmanoulides, CFP®

Conduta ProfissionalAlexandre Pinelli, CFP®

A Vida Como Ela É Raphael Cordeiro, CFP®

Entrevista Ulf Mannhardt, CFP®

Educação Continuada

CFP® PROFESSIONAL | MAGAzINE Edição #4

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Palavra do Editor - Chefe

Prezado Associado,

Entramos na reta final de um ano atípico, frente

a um cenário complexo nos âmbitos político

e econômico, tanto no ambiente local quanto

externo. Bom momento para refletirmos sobre

a função da nossa atividade profissional.

Quais os reflexos da inevitável instabilidade

observada atualmente no Brasil, provocada

principalmente pelas eleições presidenciais,

nas finanças pessoais? Como o profissional

responsável pela gestão do patrimônio de

famílias deve se posicionar?

O planejador financeiro pessoal tem a

responsabilidade de traduzir para seus clientes

este mundo complexo, em constante transição,

alertando-os para as oportunidades que se

desenham, assim como analisando os riscos e

trabalhando as estratégias de proteção em todas

as esferas que envolvem sua vida financeira.

Este desafio requer conhecimentos técnicos

avançados de produtos e serviços do mercado,

manter-se atualizado diariamente (se não a

cada hora) dos fatos relacionados a assuntos

de potencial impacto nos interesses dos

clientes – lembrando que vivemos a Sociedade

da Informação – e habilidades de comunicação

bem desenvolvidas, desejavelmente inspiradas

nos estudos de psicologia econômica.

Características essas, esperadas de um

profissional que carrega um símbolo global de

excelência como a Certificação CFP®.

A Comissão de Certificação do IBCPF,

coordenada por Marcia Dessen, diretora na

atual gestão e uma das fundadoras do Instituto,

concluiu no início deste segundo semestre a

revisão do Programa Detalhado para o Exame

CFP, que será aplicado a partir do Exame de

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Junho de 2015. O novo Programa visa adequar

a avaliação de conhecimentos (Exame) à

realidade da atividade do planejador financeiro,

com base em uma pesquisa realizada com os

profissionais em parâmetros recomendados

pelo FPSB. Este trabalho é um exemplo da

visão de futuro do IBCPF em ressaltar o valor

da Certificação CFP, destacando consistência

para o mercado e proporcionando longevidade

à marca.

Com os aprovados no 18º Exame, encerraremos

2014 com mais de 1700 profissionais

certificados. A quantidade de inscrições

registram recordes sucessivos nos últimos

quatro Exames. Certamente, a Certificação

CFP é referência hoje para os profissionais de

planejamento financeiro no Brasil.

Em agosto, o IBCPF adquiriu junto ao FPSB

(Financial Planning Standards Board, órgão

responsável pela divulgação, gerenciamento

e controle do uso das marcas CFP fora dos

Estados Unidos) um curso de Planejamento

Financeiro, desenvolvido pela própria entidade.

Trabalharemos nos próximos meses na

adaptação desse curso ao contexto brasileiro,

reforçando ainda mais o pilar de Educação,

com objetivo de atender a demanda crescente

de qualificação profissional para o adequado

relacionamento com o cliente.

Nesta edição da CFP Professional Magazine,

você terá a oportunidade de aprofundar sua visão

em questões técnicas e refletir sobre condutas

e oportunidades no campo do planejamento

financeiro. Agradeço os feedbacks positivos das

edições anteriores e aguardo suas sugestões

para as próximas publicações. Boa leitura!

Jan Karsten, CFP®,CFA

É planejador financeiro desde 2003. Vice-presiden-

te e Coordenador da Comissão de Educação do

IBCPF. Possui 23 anos de experiência no mercado

financeiro com passagens por: Banco Matrix, Dres-

dner Bank, BankBoston, UBS, Citibank e atualmente

é sócio da GPS Global Portfolio Strategists.

Palavra do Editor - Chefe

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

desafios da política econômicapara o próximo governoPaulo Miguel

Se ainda havia dúvida, a estagnação do PIB e

do emprego em 2014 agora é evidência de

que está esgotada a capacidade de a política

econômica atual impulsionar o crescimento.

Passado o breve período de aceleração da

economia, entre 2004 e 2010, nos últimos

anos o país enfrenta uma nefasta combinação

de juros altos, inflação persistente, baixa

credibilidade da gestão fiscal e monetária, além

de graves problemas de competitividade.

As dificuldades atuais decorrem, em parte,

da combinação do esgotamento de algumas

fontes de dinamismo, externas e locais, que

impulsionaram o crescimento na década anterior,

com as más escolhas de política econômica

dos últimos anos. Um dos vetores positivos, que

mudou de sentido, é o preço internacional das

commodities. Depois de quase uma década de

bonança, quando os preços das exportações

brasileiras subiram rapidamente e propiciaram

grandes saldos positivos na balança comercial,

favorecendo o crescimento, a trajetória agora é

inversa. Internamente, o país utilizou ao limite

algumas alavancas de crescimento, que já não

conseguem contribuir na mesma magnitude.

O crédito interno, por exemplo, passou de

25% para 55% do PIB entre 2004 e 2011,

complementando o forte crescimento da renda

do trabalho e impulsionando o consumo.

Há mais de três anos, no entanto, as concessões

de crédito livre para pessoas físicas e empresas

estão estagnadas, uma demonstração clara de

que o país já não pode contar com a disposição

dos agentes econômicos para se endividarem

ainda mais, em especial no ambiente atual de

falta de confiança.

Investimentos no Brasil

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Outra alavanca interna foi a rápida ocupação

da mão de obra desde 2004. Com a taxa de

desemprego baixa, já não há grande ociosidade

no mercado de trabalho, o que impõe ainda mais

o desafio de aumentar a produtividade, sem o

que não será possível retomar o crescimento

na mesma dimensão do passado recente.

O quadro se completa com a deterioração na

gestão da economia, cuja gênese está na crise

financeira de 2008. A recessão mundial de

então levou o governo brasileiro a optar por

ações expansionistas, com significativa redução

do superávit primário federal, aumento do

crédito público e cortes de juros.

Como ferramenta de combate à crise, a estratégia

foi bem sucedida e o crescimento voltou em

2010 e início de 2011. Desde então, porém,

ficou evidente que a continuidade do mesmo

remédio, em doses ainda maiores, estava

prejudicando o paciente. A inflação tornou-se

mais persistente com a estratégia do governo

de expandir o crédito dos bancos oficiais e a

piora das contas públicas a partir de 2012,

quando a retomada pós-crise perdeu força.

E a tendência dos juros altos permaneceu, a

despeito da tentativa mal sucedida do governo

de forçar uma redução da taxa Selic e dos

spreads bancários. Em um país com baixa taxa

de poupança interna, juros altos e recorrente

sido menos expansão fiscal e crédito público

mais contido, de um lado, e mais afrouxamento

monetário, de outro.

Mas a escolha do governo foi oposta. A

tentativa de impulsionar o crescimento com

mais consumo, crédito e gastos públicos

levou a uma redução acentuada da poupança

interna, que, no segundo trimestre de 2014,

atingiu 12,3% do PIB, próxima ao menor

patamar da série histórica e cerca de metade

do que seria desejável para que o país

pudesse almejar financiar internamente os

investimentos necessários a fim de obter uma

taxa de crescimento econômico maior. De fato,

mesmo o parco investimento, equivalente a

16,9% do PIB em meados de 2014, tem sido

cada vez mais financiado com o aumento do

uso de poupança externa. O saldo em conta

corrente passou de um superávit de 1,8% do

PIB em 2004 para um déficit próximo a 3,7%

do PIB em 2013 e até meados de 2014.Essa

estratégia foi possível enquanto o Brasil tinha

sobra de credibilidade e espaço no orçamento

pressão de valorização cambial que prejudica

a competitividade industrial, como tem sido

o caso do Brasil, a resposta mais eficaz à

interrupção do crescimento econômico que se

seguiu à crise e persistiu a partir de 2012 teria

Investimentos no Brasil

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

público, num contexto global de juros baixos e

abundância de financiamento.

Agora, aproximam-se os limites. O estado das

contas públicas é lastimável. O saldo primário

caiu de 3% do PIB, nível que vigorava antes

da crise de 2008, para quase zero atualmente

(se forem desconsideradas as receitas

extraordinárias e os ajustes contábeis criativos).

Juros altos, inflação próxima ao teto da meta,

preços administrados represados, menor

espaço fiscal e baixo crescimento estão

presentes e trazem desafios para o próximo

mandato presidencial. O país se defronta, então,

com a necessidade de corrigir rumos. Caso

persista o curso atual de expansionismo fiscal

e creditício, parece difícil evitar um cenário de

crescimento da dívida pública e piora adicional

da nota de crédito do país, inclusive com risco

de perda do grau de investimento atribuído

pelas (desacreditadas, mas não irrelevantes)

agências de classificação de risco.

Nesse contexto, o risco de reversão do fluxo

internacional de capitais e instabilidade

cambial seria mais alto. As taxas de juros reais

permaneceriam elevadas, em função tanto das

pressões inflacionárias como da perda adicional

de credibilidade da política econômica. Seria

um cenário negativo para investimentos de

longo prazo.

A alternativa desejável é realizar um ajuste fiscal

de longo prazo. Tal ajuste envolve, além do

controle estrutural das despesas do governo,

um esforço de simplificação – e no médio

prazo desoneração - tributária, concentrada

em impostos cumulativos, especialmente os

incidentes sobre o faturamento corporativo e o

ICMS. Um programa desta natureza poderia ter

impacto relevante na formação de poupança

privada, acompanhando o aumento do

investimento e da renda interna. O crescimento

da taxa de poupança interna reduziria o

problema atual da necessidade de sempre se

contar com poupança externa para aumentar o

investimento. O caminho do ajuste fiscal e da

simplificação tributária poderia abrir um novo

horizonte de confiança. Em conjunto com ações

que levem ao resgate da política monetária, à

convergência da inflação para o centro da meta,

e ao controle mais austero do crédito público,

seria possível consolidar um ambiente de juros

reais mais baixos, com impactos positivos para

o investimento. A estabilização econômica do

país só estará completa quando estiverem

criadas as condições para que a taxa de juros

real se aproxime do padrão internacional. Que

o trabalho seja retomado em breve, enquanto

ainda persiste o ambiente de ampla liquidez

internacional.

Paulo Miguel

É responsável por pesquisa econômica e estraté-

gia de investimentos na GPS. Foi sócio e econo-

mista-chefe da Quest Investimentos entre 2005

e 2013. Foi professor de finanças internacionais

e avaliação de empresas no INSPER/SP. É articu-

lista econômico do jornal Folha de São Paulo e

membro do conselho de administração do Grupo

Terra Viva. Paulo é mestre em economia pela

FEA-USP e MBA pelo INSEAD.

Investimentos no Brasil

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Giuliano De Marchi, CFP®, CIMA e Gabriela Santos

inVestimentos globais

Você investiria 100% de seus recursos em

apenas 1% ou 2% dos ativos disponíveis para

investimento? Você concentraria a maior parte

do risco de seu patrimônio em somente uma

economia ou mercado?

Na verdade, isso já acontece com a maioria

dos investidores brasileiros, que “concentram”

grande parte de seus investimentos no mercado

local. A realidade é que o mercado brasileiro de

renda variável, por exemplo, representa somente

1% do valor de mercado global (medido pelo

índice MSCI All Country World). Como a maioria

dos investidores brasileiros tendem a preferir

ativos de renda fixa local, vale a pena destacar

que a renda fixa brasileira representa somente

2% do mercado global de renda fixa (medido por

títulos corporativos e soberanos em circulação).

Isso significa que 99% e 98% do universo de

renda variável e renda fixa, respectivamente,

encontram-se fora do país. Como destacamos

no primeiro quadro, a economia brasileira

representa somente 3% da economia global

(baseada na paridade de poder de compra) – é

grande a probabilidade de que existam algumas

oportunidades interessantes no resto do mundo.

Investimentos no Exterior

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Além desse conceito de oportunidades perdidas

para investidores que se concentram no mercado

local, é importante também considerar os riscos

de tal comportamento. Para muitos investidores,

seus respectivos trabalhos e patrimônio já são

fortemente expostos à economia local. Assim,

alguma diversificação regional, quando se trata

de investimentos financeiros, poderia ser uma

boa ideia.

Adicionalmente, a inclusão de ativos globais

com correlações baixas ou negativas aos

ativos locais pode aumentar os benefícios de

diversificação para uma carteira. Uma carteira

bem diversificada pode ter um bom retorno

anual e com menos volatilidade, no longo

prazo. Como destacamos no quadro abaixo, em

um ano os ativos locais podem ter a melhor

performance de todo o universo global, e no ano

seguinte ter a pior performance. Por exemplo,

em 2010, juros reais e juros nominais brasileiros

(representados pelos índices IMA-B e IRF-M,

respectivamente) tiveram o melhor retorno

entre oito ativos globais, em moeda brasileira.

Porém, em 2013, os retornos desses mesmos

ativos estiveram entre os piores, enquanto a

renda variável global teve o melhor retorno. Em

vez de tentar adivinhar qual classe de ativos

ou qual região irá ter a melhor performance

em um determinado momento, investidores se

beneficiariam tendo uma carteira internacional

bem diversificada. Como ilustramos no mesmo

quadro, uma carteira diversificada teórica teria

tido um retorno anual de 10,2% entre 2006 e

2013 e com menos volatilidade do que ativos

individuais.

merCados globais de renda variável

Fonte: JP Morgan Asset Management

Investimentos no Exterior

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Nesse momento em particular, poderia ser

uma boa oportunidade adicionar ações

internacionais a uma carteira. Isso porque a

correlação do mercado global de renda variável

vem diminuindo dramaticamente nos últimos

três anos. Como mostramos no quadro, durante

o auge da crise financeira, a correlação entre

os mercados de renda variável de 30 países

chegou perto de 0,80. Isso significava que

mercados como a África do Sul, Reino Unido

e Brasil estavam se movendo para cima e para

baixo juntos (reagindo aos mesmos fatores

risk-on e risk-off). Atualmente, a correlação

está muito mais baixa, em 0,37 em setembro.

Esse cenário aumenta os benefícios de ter uma

carteira diversificada entre ações internacionais.

retornos por Classe de ativo

Fonte: JP Morgan Asset Management

Investimentos no Exterior

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Vale a pena destacar que os benefícios de

investimentos internacionais e os riscos da

concentração local exagerada são válidos, não

importa que desafios a economia local esteja

passando, e são aplicáveis a investidores ao

redor do mundo. Além disso, o desafio de

superar as objeções sobre investir no exterior

pode ser comum entre investidores ao redor do

mundo também.

Qual razão o levaria a tamanha concentração

local para investidores brasileiros? Alto retorno?

Baixo risco? Uma combinação dos dois?

Essa concentração se deve, entre outros

fatores, a uma familiaridade com o mercado

local ou o que é chamado entre economistas

comportamentais, de home bias.

Esse é um comportamento observado em

investidores ao redor do mundo, e que

limita as oportunidades de investimento e os

benefícios de diversificação. Vemos o mesmo

comportamento em investidores desde os

Estados Unidos à Ásia.

É através de um processo de investimento

disciplinado que os investidores de todo o

mundo são capazes de tirar proveito das

oportunidades globais.

Outro fator que acentua ainda mais esse

comportamento por parte dos investidores

brasileiros é a falta de regras, na legislação

brasileira, que permitam a nosso investidor

local buscar ativos que façam sentido para sua

carteira em outros países.

Esse segundo ponto está prestes a ser alterado

Investimentos no Exterior

volatilidade e CorrelaÇÃo do merCado de renda variável

Fonte: JP Morgan Asset Management

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

em Audiência Publica conduzida pela CVM,

que regula a nova legislação sobre fundos de

Investimentos (Edital de Audiência Pública nº

04/14 – em substituição à Instrução CVM 409).

Nessa revisão, vários pontos relativos ao tema

investimentos no exterior estão em discussão,

dentre os quais o aumento da possibilidade

de exposição de fundos Multimercados a

ativos internacionais, a maior flexibilização

para alocações em ativos internacionais para

Investidores Qualificados e, finalmente, a

criação de uma nova categoria de investidor

profissional que terá maior liberdade para esse

tipo de investimento.

Com essas possíveis alterações, em breve

teremos uma nova realidade no Mercado

brasileiro e, provavelmente, ativos internacionais

terão uma participação significativamente maior

nas carteiras de nossos clientes!

Giuliano De Marchi, CFP®

É planejador financeiro certificado desde 2003.

Latin America Funds Management Sales Head no

no J.P. Morgan Asset Management, onde iniciou

em junho de 2013. Giuliano tem extensa experiên-

cia no mercado financeiro, trabalhou nos últimos

10 anos na AllianceBernstein Investimentos, mais

recentemente como Country Manager. Anterior-

mente, trabalhou como Gerente de Vendas na Cig-

na Retirement and Investment Services e também

no Bank of America. É graduado em Administração

de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mac-

kenzie, tem Especialização em Estratégias para

Negócios Internacionais pela London School of

Economics, Inglaterra, e possui MBA em Finanças

e Ciências Atuariais pela USP, SP. Giuliano possui a

certificação CFP® e a certificação CIMA® (Cer-

tified Investment Manager Analyst) e é Diretor do

IBCPF.

Gabriela D. Santos

Estrategista de Mercado Global da Equipe de Estra-

tégia “Global Market Insights” do J.P. Morgan Funds.

É responsável por entregar insights econômicos e

de mercado para clientes institucionais e de varejo

em toda a América Latina. Também é responsável

pelo desenvolvimento do carro-chefe entre as pub-

licações trimestrais, o Guide to the Markets – Brasil,

além de outras publicações. Desde que se juntou à

equipe, Gabriela tem desempenhado um papel im-

portantíssimo na expansão do programa Market In-

sights no Brasil. Antes de entrar para o J.P. Morgan

em 2012, Gabriela trabalhou durante três anos no

Private Bank do HSBC em três países: Cingapura,

Suíça e México. Gabriela possui bacharelado com

honra máxima (summa cum laude) em Filosofia,

Ciências Políticas e Economia, e em Francês, pela

University of Pennsylvania. É fluente em português,

inglês e francês e proficiente em espanhol.

Investimentos no Exterior

Page 14: investimentos globais

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Edmur de Almeida, CFP®

seguro residenCial: poR QUe contRataR e QUais os cUidados ao faZÊ-lo?

Previdência e Seguros

Não temos conhecimento de pesquisas ou estudos específicos sobre o índice de penetração de seguro nas residências brasileiras, mas comenta-se, no meio segurador, que menos de 20% delas têm seguro.

por que isso?Vamos avaliar essa questão sob três pontos

de vista distintos: um técnico-cultural, um de

responsabilidade social e outro econômico.

Do lado cultural há uma questão matemática,

ou estatística, a ser considerada: todos os dias

uma ou mais residências pegam fogo ou são

roubadas em São Paulo. Isso para ficarmos

com apenas esses dois tipos de eventos e numa

região específica.

Então, de todo o universo de residências em

São Paulo, a nossa está no meio delas. Logo,

há uma probabilidade de um desses eventos

ocorrer com nossa casa.

A visão da população em geral, olhando apenas

sob o fator da probabilidade, é de que a chance

de ocorrer um acidente é bem pequena e por

isso não dá tanta importância ou mesmo não

considera a hipótese de contratar um seguro

para a casa, apartamento, sítio etc.

Afinal, não é comum vermos a casa do vizinho

pegando fogo.Preferimos fazer o seguro do

carro, porque temos a impressão – que é correta

– de que a probabilidade de nosso carro bater,

pegar fogo ou ser roubado é bem maior. Do

ponto de vista de gestão de riscos, essa é uma

maneira limitada de pensar.

Page 15: investimentos globais

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Explico. Mais importante que a probabilidade

de algo ocorrer, é o impacto, a severidade, o

potencial de dano ou o prejuízo decorrente. Ou

seja, é mais racional segurar a casa do que o

carro (se não pudermos segurar os dois), porque,

normalmente, o prejuízo com a perda da casa é

muito maior que com a do carro. Não havendo

seguro, é possível economizar uns 2, 3 ou 5

anos e comprar outro carro. A mesma conta

em relação a uma casa nova pode envolver 20,

30 anos...Seguro é um instrumento ideal contra

eventos de baixa probabilidade de ocorrência,

mas com alto impacto. E tem mais: por conta

dessa multiplicação de fatores – probabilidade x

impacto – o seguro da casa custa muito menos

que o seguro do carro. Veja o quadro abaixo:

Ou seja, para segurar um bem 10 vezes mais

CarroCasa

1 em 100 = 0,01 = 1%1 em 1000 = 0,001 = 0,1%

50.000,00500.000,00

500,00500,00

item Probabilidade (taxa %) impacto (valor R$) Custo do Sinistro R$

valioso que o outro, paga-se o mesmo valor.

Outra questão envolve a responsabilidade

social: uma casa abriga o lar de uma família.

Uma família sem casa, normalmente, não terá

lar. Filhos menores devem sofrer muito mais, ao

mudar com os pais para um lugar com muito

menos qualidade de vida, com escolas de nível

pior, entre outros fatores.

Ter seguro é, de alguma forma, manter o

padrão de qualidade de vida que tem a família,

com condições de se desenvolver naturalmente

e sem dar um passo atrás. O ponto de vista

econômico nos parece o menos impactante

nessa falta de penetração do seguro residencial.

O seguro custa algo entre 0,1 e 0,3% do valor

do imóvel (valor para reconstrução), para um

ano de vigência. Logo estamos falando em

0,000274% por dia. Em muitos casos, menos

que R$ 1,00 por dia.

passemos agora a alguns cuidados na hora de contratar o seguro.

O valor a ser segurado para a edificação, prédio, para a construção, não é o valor de venda do imóvel: terreno ou fração ideal não pega fogo. O valor segurado é quanto custa para construir novamente a casa: material e mão de obra novos, pois não conseguimos comprar tijolos e cimento com 10 anos de uso, nem pagar pedreiro com preço de 10 anos atrás. Considerados fatores como a região, padrão de construção, metragem quadrada e custo de construção por metro quadrado, conseguimos definir o valor a ser segurado, consultando publicações e revistas especializadas em construção. No caso de apartamento, as áreas comuns não devem entrar nessa conta, porque é de responsabilidade do condomínio fazer o seguro.

Previdência e Seguros

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Também muita atenção ao definir valor para tudo que está dentro do imóvel – móveis, utensílios, equipamentos, eletrodomésticos, decoração, vestuário, enfim. Sempre nos surpreendemos quando começamos a fazer algumas contas, do tipo: 5 ternos a R$ 2.000,00 dá R$ 10.000,00; 20 pares de sapatos (femininos, claro) a R$ 200,00 dá R$ 4.000,00; 3 TVs a R$ 7.500,00. Quando chegar aos talheres, essa conta já deverá estar bem alta. Enfim, não nos damos conta do valor que há dentro de casa. E é, então, uma ótima oportunidade para fazer um inventário e doar algumas coisas inúteis pra nós, mas úteis para outras pessoas.

Não aceite um pacote de coberturas de seguro que não lhe atenda. Dificilmente uma inundação vai atingir seu apartamento no 20º andar... Claro que exagerei, mas esse é o recado. Antes de colher propostas, defina, de preferência aconselhado por um corretor, quais coberturas e valores estão afetos a sua residência, ao seu risco.

Existem coberturas muito úteis, além de incêndio, que é a cobertura básica. Por exemplo, a de aluguel. Se você é proprietário e sua casa pega fogo, enquanto ela é reconstruída, o seguro paga o aluguel de um outro imóvel. Se você é inquilino, o seguro paga o valor do aluguel para o proprietário, também enquanto o imóvel é reconstruído. O valor do seguro para

essa cobertura deve ser um aluguel mensal para um imóvel semelhante ao seu, vezes o período estimado de reconstrução (6 meses, por exemplo). O custo dessa cobertura é muito pequeno.

O valor do seguro para a cobertura de roubo deve levar em conta os bens que são passíveis de serem levados. Parece óbvio, mas não é. Quem mora em apartamento no 20º andar em uma região bem policiada pode ter um valor segurado menor que quem mora em uma casa em uma região isolada e pouco ou nada policiada. Já ouvimos histórias de gente que chegou de viagem do feriado prolongado e não achou nada – literalmente nada – em casa. Essa é uma cobertura que custa bem mais que a básica ou mesmo de aluguel.

Não deixe de contratar a cobertura de Responsabilidade Civil. O vaso que cai da janela sobre o carro do vizinho; o filho que, brincando de esconde-

Previdência e Seguros

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

esconde, resolveu atravessar a porta de vidro do condomínio; ou mesmo quando seu cachorro resolve avançar numa pessoa durante o passeio matinal. Há uma infinidade de exemplos de situações que podem envolver a necessidade de termos que indenizar um terceiro por um acidente que nós ou alguém de nossa família causou.

As seguradoras oferecem muitos serviços associados ao seguro, como reparo de eletrodomésticos, encanador, eletricista, chaveiros e outros. São serviços que ajudam muito no dia a dia. Comparar os serviços oferecidos é uma boa estratégia também.

Para a maioria das coberturas de seguro há uma franquia correspondente. Franquia é a parte do prejuízo que a seguradora não paga, semelhante ao seguro do seu carro. Muita atenção nesse item também: veja se o valor da franquia cabe dentro de seu bolso.

Antes de fazer o seguro, sempre peça ao seu corretor, ou busque, no site da seguradora, as condições do contrato. São chamadas condições gerais, especiais e particulares. Leia atenta e especialmente as exclusões de cobertura. Veja também se há alguma cobertura nova que possa atender uma necessidade específica sua. Não deixe para ler o contrato de seguro depois que contratar. Leia antes.

Edmur de Almeida, CFP®

É planejador financeiro certificado desde 2008. É

consultor e corretor de seguros com registro na

Susep – Superintendência de Seguros Privados

desde 1992. Sócio diretor da Alfa Real Consultoria

e Corretagem de Seguros e gerente de riscos pela

Alarys – Associacion Latinoamericana de Riesgos

& Seguros. Diretor da ANSP - Academia Nacional

de Seguros e Previdência e coordenador da cát-

edra de Seguro de Danos – Riscos Financeiros da

ANSP. Coordenador da Comissão Técnica de Seg-

uros de Riscos Financeiros do Sincor-SP – Sindi-

cato dos Corretores de Seguros de São Paulo.

Previdência e Seguros

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

seus filhos já herdaram juntos? cUidados no planejamento sUcessóRioNatalia Zimmermann, CFP®

Planejamento Sucessório e Tributário

5. regras básicas de direito das sucessões e doaçõesO direito das sucessões é regulado em nosso

Código Civil entre os artigos 1.784 e 2.027. Já

a doação, que é uma forma de transmissão do

patrimônio em vida e é usada no contexto do

planejamento sucessório, está regulada entre

os artigos 538 a 564 do Código Civil.

5.1. sucessão “Causa mortis”Já conceituamos a herança como o conjunto

de bens integrantes do patrimônio que uma

pessoa deixa ao morrer. Esse conjunto é o

patrimônio transmissível de uma pessoa, e

é representado pelo total dos bens e direitos

existentes na abertura da sucessão (data do

falecimento), acrescido dos bens e direitos

sujeitos à colação1 e excluídas as eventuais

dívidas e despesas com funeral.

No Brasil, as pessoas não podem livremente

dispor sobre quanto, como e para quem desejam

destinar a sua herança. Nossa legislação permite

apenas que a pessoa livremente disponha de

metade de seu patrimônio e/ou herança.

A outra metade deve obrigatoriamente ser

entregue aos herdeiros determinados por lei.

Apenas se não existirem tais herdeiros é que a

pessoa pode livremente dispor da totalidade de

seu patrimônio.

Nesta edição, damos continuidade ao artigo “Seus

filhos já herdaram juntos? Cuidados no planejamento

sucessório”. Tratamos exclusivamente dos três

últimos blocos do artigo: “Regras Básicas de Direito

das Sucessões e Doações”, “Noções da Tributação

Incidente nas Transmissões Causa Mortis e Doações”

e “Conclusões”.

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

A vontade da pessoa é limitada pela obrigação

de transmissão de uma parcela da sua herança

em conformidade com as disposições legais.

Ou seja, algumas pessoas são obrigatoriamente

herdeiras, e a elas deve ser destinada uma

parcela da herança.

Portanto, dentre os herdeiros há aqueles que

são herdeiros legítimos (relacionados na lei e

dentre os quais estão os herdeiros necessários)

e os herdeiros testamentários (são as pessoas

nomeadas pelo testador como herdeiros).

5.2. herdeiros legítimosSão herdeiros legítimos aqueles descritos no

artigo 1.829 do Código Civil:

Descendentes (filhos, netos, bisnetos etc.) em concorrência com o Cônjuge (dependendo do

regime de casamento);

Ascendentes (pais, avós etc.) juntamente com o Cônjuge (independente do regime de

casamento);

Cônjuge; e

Parentes colaterais até o 4º grau – irmãos,

primos, tios e sobrinhos.

Esse dispositivo legal prevê a ordem de

vocação hereditária, ou seja, qual é a ordem

de preferência para entrega da herança. Nessa

ordem, os descendentes têm a preferência

concorrendo com o cônjuge sobrevivente,

desde que este fosse casado com o falecido

num dos seguintes regimes: separação total

de bens (convencional); participação final nos

aquestos; ou regime da comunhão parcial de

bens, se existirem bens particulares do falecido.

Se o cônjuge sobrevivente era casado sob

o regime da comunhão universal de bens,

separação total de bens (legal) ou comunhão

parcial de bens sem bens particulares, estes

não são herdeiros necessários quando

concorrerem com os descendentes do falecido.

Assim, se existirem descendentes, os

ascendentes e colaterais estão automaticamente

excluídos da sucessão. O cônjuge, por sua vez,

irá receber a herança em conjunto com os

descendentes, se fora casado num regime de

bens que o qualifique a ser herdeiro juntamente

com os descendentes.

No entanto, se não existirem descendentes, a

parcela legítima da herança será entregue aos

ascendentes e ao cônjuge, não importando o

regime de bens que foi adotado. Na ausência de

descendentes e ascendentes, o cônjuge passa

a ser herdeiro exclusivo. Se o falecido também

não tiver cônjuge, a herança será entregue aos

parentes colaterais até o 4º grau. Mas, como

veremos abaixo, esses não são obrigatoriamente

herdeiros, podem ser excluídos por testamento,

pois não são herdeiros necessários. Na ausência

de colaterais também, a herança será entregue

ao Município, DF ou União.

5.2.1. herdeiros necessáriosDentre os herdeiros legítimos, há alguns

que foram alçados à condição de herdeiros

necessários.

Planejamento Sucessório e Tributário

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

A lei determina que, se existirem descendentes,

ascendentes ou cônjuge sobrevivente,

obrigatoriamente eles devem receber metade

da herança – são os denominados herdeiros

necessários2.

Também deve ser destacado que o cônjuge

sobrevivente, além de herdeiro necessário, é

também privilegiado, pois a este é reservado no

mínimo 25% da herança, mas apenas quando

concorrer com descendentes comuns aos dois.

Parece-nos claro, portanto, que, no planejamento

sucessório, os filhos são considerados herdeiros

necessários, e obrigatoriamente devem receber,

em partes iguais, metade da herança.

5.3. herdeiros testamentáriosOs herdeiros testamentários são aquelas

pessoas que o testador (o titular do patrimônio

a ser transmitido) livremente nomeia em seu

testamento. Esses herdeiros receberão o que

foi a eles determinado por meio do testamento

da pessoa falecida.

5.4. Conceitos de legítima e disponívelComo já explicado, 50% da herança deve

ser destinada às pessoas determinadas no

artigo 1.845 do Código Civil – os herdeiros

necessários (descendentes, ascendentes e

cônjuge). Os outros 50% da herança podem

ser livremente destinados a quem a pessoa

desejar por meio do testamento.

Portanto, podemos afirmar que a herança pode

ser dividida em duas partes iguais: Legítima e

Disponível.

A Legítima corresponde a 50% do patrimônio

transmissível e consiste na parcela que

obrigatoriamente deve ser transmitida aos

herdeiros necessários no momento da abertura

da sucessão.

A Disponível corresponde aos 50% restantes

do patrimônio transmissível, e consiste na

parcela que o titular pode dispor livremente.

5.5. testamento3

O testamento é o documento através do qual

uma pessoa determina a sua vontade quanto

à destinação da parcela disponível de seu

patrimônio, mas não necessariamente precisa

se limitar às questões patrimoniais.

Disposições não patrimoniais também podem

ser contempladas no testamento. Por exemplo:

reconhecimento de filhos, nomeação de tutor

ao filho menor, instituição de fundações ou

disposições de ordem pessoal ou moral.

Destaque-se que se não houver testamento, ou

se este for considerado nulo, a totalidade da

herança caberá aos herdeiros necessários, que

a receberão na ordem e forma determinada

pela lei, como citado acima.

O testamento representa a última vontade

do testador, sendo possível sua revogação a

qualquer momento. O ato de testar é um ato

que apenas a própria pessoa pode realizar (dito,

por isso, personalíssimo).

Planejamento Sucessório e Tributário

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Maria Berenice Dias4 , citando Arnaldo Rizzardo,

indica que o testamento “é considerado ato de última vontade para significar ser a derradeira decisão de uma pessoa sobre bens ou outros assuntos de seu interesse”.É importante destacar que com o testamento

não há a transferência de patrimônio no

momento em que este é feito. Difere, portanto,

da doação. Só ocorrerá a transferência aos

herdeiros escolhidos quando do falecimento, e

por isso pode ser modificado ou revogado a

qualquer momento.

O patrimônio objeto do testamento (parcela

disponível) pode ser gravado com cláusulas

restritivas.Tais restrições podem ser usadas

para que os pais protejam o patrimônio deixado

em herança a seus filhos e netos, impedindo,

por exemplo, que o patrimônio herdado passe

a pertencer também ao cônjuge do herdeiro,

ou vetando que os filhos disponham livremente

desta parcela do patrimônio herdado.

Três são as restrições que podem ser impostas

por meio do testamento:

incomunicabilidade: impede que o patrimônio recebido em herança

se comunique com o cônjuge do herdeiro;

impenhorabilidade: impede que o patrimônio herdado possa ser

usado como garantia de obrigações ou para

satisfazer obrigações do herdeiro; e

inalienabilidade: impede que o patrimônio herdado seja vendido

pelo herdeiro.

Estas restrições podem ser aplicadas a todos

os herdeiros ou apenas a alguns escolhidos

pelo testador.

5.6. doaçõesDoações são atos de mera liberalidade

praticados por um doador (nome dado àquele

que dispõe gratuitamente de algo que lhe

pertence) em favor de um terceiro, denominado

donatário. As doações são sempre gratuitas.

No entanto, é possível que o doador imponha

condições que deverão ser cumpridas pelo

donatário, caso este aceite a doação.

Por meio da doação, uma pessoa transfere

bens, direitos e/ou vantagens do seu patrimônio

para o patrimônio de outra pessoa, usualmente

de forma definitiva.

A doação pode ser realizada em adiantamento

de herança legítima ou com a parte disponível

do patrimônio do doador.

Um ponto que merece toda a atenção no contexto

do planejamento sucessório é o fato de que, nas

doações de ascendente para descendente (por

exemplo, de pai para filho) e entre cônjuges, se

nada for mencionado na doação, presume-se

que esta foi feita em adiantamento da legítima

que caberia ao donatário. Motivo pelo qual é

recomendável que a doação seja formalizada

por um instrumento escrito e que os demais

herdeiros necessários participem do ato como

intervenientes anuentes.

As doações podem ser realizadas por meio

de instrumento escrito ou de forma verbal.

Na hipótese da doação envolver valores

Planejamento Sucessório e Tributário

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

significativos, é recomendável que seja adotada

a forma escrita.

Exceto na hipótese de doação de bens imóveis,

que a lei exige que seja feita por meio de

instrumento público, é facultado ao doador

escolher entre o instrumento público ou

particular.

Da mesma forma que o testador, a pessoa

que doa pode impor as mesmas restrições

que indicamos acima: incomunicabilidade,

impenhorabilidade e inalienabilidade.

As doações são bastante utilizadas no contexto

do planejamento sucessório, pois permitem a

realização da sucessão em vida, que em muitos

casos pode ser um facilitador da sucessão

“causa mortis”.

O doador neste contexto pode – e muitas vezes

deve – reservar para si o usufruto do bem

doado. Nesse caso, como não há a doação da

propriedade plena, apenas da “nua propriedade”,

o doador permanece com o direito de uso, gozo

e fruição do bem. Por exemplo, um imóvel pode

ser doado aos filhos, mas os patriarcas podem

continuar residindo no imóvel ou alugá-lo e

receber os aluguéis, mesmo não sendo mais os

proprietários do imóvel. O instituto do usufruto

é frequentemente utilizado quando há a doação

de participações societárias. É comum que os

patriarcas doem aos filhos ações ou quotas

de empresas e reservem para eles o direito

de continuar recebendo os dividendos, Juros

Sobre o Capital Próprio (JCP) e de exercer o

direito de voto.

O usufruto pode ser vitalício ou temporário,

com prazo pré-determinado. O doador pode

também determinar a reversão da doação,

que é a previsão contratual de que os bens

e/ou direitos doados devem retornar para o

patrimônio do doador, se o donatário falecer

antes do doador. A reversão não pode se dar

em favor de terceiro, tão somente do doador

original.

5.7. sucessão na união estávelA sucessão dos companheiros ainda é objeto

de inúmeras discussões, tanto na doutrina como

na jurisprudência, pois este tema foi regulado

recentemente em termos legislativos.

Os conviventes, de acordo com o novo

código, podem participar da sucessão um do

outro, apenas em relação aos bens adquiridos

onerosamente na constância da união estável e de acordo com as condições previstas

no artigo 1.790:

Planejamento Sucessório e Tributário

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

“Art. 1.790. A companheira ou o companheiro

participará da sucessão do outro, quanto aos bens

adquiridos onerosamente na vigência da união estável,

nas condições seguintes:

I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma

quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;

II - se concorrer com descendentes só do autor da

herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada

um daqueles;

III - se concorrer com outros parentes sucessíveis,

terá direito a um terço da herança;

IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à

totalidade da herança.”

Note que este é o único artigo do Código Civil

que prevê a sucessão na união estável, mas é

incapaz de regrar a situação mais corriqueira

de nossos dias: “Como se daria a sucessão

quando houver filhos comuns e exclusivos do

companheiro falecido?”

A esse respeito existem diversos posicionamentos

doutrinários, resumidos a seguir:

Identificação dos descentes como se

todos fossem filhos comuns, aplicando-se

exclusivamente o inciso I do artigo 1.790

citado acima;

Identificação dos descendentes como se todos

fossem filhos exclusivos do autor da herança,

aplicando-se, nesse caso, apenas o inciso II do

artigo 1.790 citado acima;

Composição dos incisos I e II do artigo 1.790

pela atribuição de uma quota e meia ao

convivente sobrevivente; e

Composição dos incisos I e II do artigo 1.790

pela subdivisão proporcional da herança,

segundo a quantidade de descendentes de

cada grupo.

6. noções da tributação incidente nas transmissões Causa Mortis e doaçõesAqui iremos analisar a possibilidade de

incidência de dois impostos, um de competência

federal, o Imposto sobre a Renda (IR) e outro

de competência estadual, o Imposto sobre

Transmissão Causa Mortis e Doação sobre

bens e direitos de qualquer natureza (no estado

de São Paulo é conhecido como ITCMD).

O propósito de abordarmos a incidência

desses dois impostos é mostrar que a forma

de transmissão dos ativos envolve maior ou

menor carga tributária, dependendo da forma

de transmissão que se faz do ativo. Por isso,

planejar a forma de transmitir o patrimônio aos

filhos é fundamental para otimizar a tributação

incidente.

6.1. imposto sobre a rendaA legislação tributária prevê que, sob a ótica do

donatário ou herdeiro (pessoa que recebe),

as doações e heranças são rendimentos isentos

Planejamento Sucessório e Tributário

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para fins de IR.

A Lei nº 7.713/88 prevê em seu artigo 6º:

“Ficam isentos do imposto de renda os

seguintes rendimentos percebidos por pessoas

físicas: (...) XVI - o valor dos bens adquiridos

por doação ou herança (...)”.

Entretanto, o doador ou o espólio podem ser

tributados pelo IR caso seja atribuído ao bem

ou direito doado ou deixado em herança um

valor superior ao constante da declaração de IR

do doador ou espólio. Nesse caso, deverá ser

apurado o ganho de capital, que será tributado

à alíquota de 15%.

Vejamos o disposto no artigo 23 da Lei nº.

9.532/97:

“Art. 23. Na transferência de direito de propriedade

por sucessão, nos casos de herança, legado ou

por doação em adiantamento da legítima, os bens

e direitos poderão ser avaliados a valor de mercado

ou pelo valor constante da declaração de bens

do de cujus ou do doador.

§ 1º Se a transferência for efetuada a valor de

mercado, a diferença a maior entre esse e o valor pelo

qual constavam da declaração de bens do de cujus

ou do doador sujeitar-se-á à incidência de imposto de

renda à alíquota de quinze por cento.(...)”

Destaque-se, portanto, que pode ou não haver

a incidência do IR na sucessão. A ocorrência

deste imposto dependerá do valor atribuído

ao bem ou direito transmitido. Essa previsão

legal dá ao titular do patrimônio e aos seus

sucessores (quer seja por doação ou herança)

a possibilidade de escolher qual valor será

atribuído ao bem ou direito transmitido para fins

de cálculo do eventual IR devido.

Essa possibilidade legal permite, portanto, que

se planeje, por exemplo, se determinado bem

ou direito deve ser transmitido ao herdeiro ou

donatário por valor de custo ou de mercado,

para fins de IR.

Em algumas situações, seria oportuno fazer

Planejamento Sucessório e Tributário

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

a transmissão por valor de mercado, se for

possível a utilização de algum benefício fiscal. A

título ilustrativo, poderíamos citar a isenção do

IR sobre o ganho de capital para bens imóveis

adquiridos antes de 1969; a redução percentual

do IR a pagar para os imóveis adquiridos entre

1970 e 19885 ; ou a aplicação dos fatores

de redução para imóveis adquiridos a partir de

19966 .

6.2. imposto sobre transmissão Causa mortis e doação sobre bens e direitos de quaisquer natureza (no estado de são paulo – itCmd)O ITCMD a princípio sempre incidirá, exceto

nas hipóteses de isenção estabelecidas em

lei. Por ser um imposto estadual, suas regras

e alíquotas variam de estado para estado, mas

elas são limitadas a 8%, em conformidade com

a Resolução do Senado Federal nº 9, de 1992.

Via de regra, quem é tributado é o donatário

ou herdeiro. No estado de São Paulo7 , o

donatário ou herdeiro é tributado pelo ITCMD

à alíquota de 4%. Entretanto, se o donatário

não for residente nem domiciliado no estado, o

pagamento do ITCMD caberá ao doador (artigo

7º, inciso III, parágrafo único).

Regra geral, a base de cálculo do ITCMD no

estado de São Paulo é o valor venal do bem

ou direito transmitido8 , expresso em moeda

nacional ou em Ufesps (Unidades Fiscais do

Estado de São Paulo). Entende-se por valor

venal o valor de mercado do bem ou direito na

data da abertura da sucessão ou da realização

do ato ou contrato de doação. Para quotas de

empresas ou ações de companhias que não

sejam listadas em bolsa, a base de cálculo é o

valor do patrimônio líquido da empresa.

6.3. pontos de atenção importantesNote que a base de cálculo do IR e do ITCMD

podem ser diferentes, dado que as leis que

regem cada um desses tributos estabelecem

critérios distintos para se determinar a base de

cálculo. Analisar com critério o valor que deve

ser atribuído ao bem ou direto doado ou deixado

em herança é fundamental no planejamento

sucessório.

Gostaria de chamar a atenção, também, para

o seguro de vida do tipo VGBL – Vida Gerador

de Benefícios Livres – que é um seguro de

vida atípico, pois cobre a sobrevivência, dado

que pode ser resgatado pelo titular a qualquer

momento.

Alega-se que, dado que o VGBL é um seguro

de vida, os valores pagos aos beneficiários

seriam considerados indenização de seguro

de vida, e como tal não estariam sujeitos ao

pagamento do ITCMD, pois tais valores não

seriam considerados como herança9.

A esse respeito, é importante que os patriarcas

não deixem de considerar que, se por um

lado não há a incidência do ITCMD, pois os

valores não seriam herança, nessa forma de

transmissão esses valores perdem também

toda a proteção que poderia ser imposta aos

herdeiros, nos casos em que a transmissão se

dá por herança ou doação.

Planejamento Sucessório e Tributário

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Nesse sentido, é fundamental que os patriarcas

tenham claros quais são os efeitos de se optar

por um planejamento que envolva a contratação

de um Plano VGBL. Se, de um lado, pode haver

eficiência fiscal, de outro se perde a segurança

da incomunicabilidade que pode ser imposta às

heranças e doações.

7. ConclusõesE afinal, o que é planejar a sucessão? Entendo

que é identificar seus sonhos e objetivos e

adaptá-los à realidade.

Que patriarca não sonha em manter seus

filhos unidos, dedicando a mesma energia

ao patrimônio construído, lutando pela sua

preservação, baseados nos mesmos valores

familiares, tendo tudo isso regido pelo diálogo

familiar respeitoso?

Mas sonhos frequentemente esbarram na

realidade. Nem sempre seus filhos querem ou

podem ficar juntos; cada um dos filhos têm

aptidões, capacidades e interesses distintos.

Cada um deles tem projetos pessoais que

gostaria de empreender, estilo de vida distinto,

e recebe inúmeras influências externas que vão

além da vontade dos pais.

Esse processo de transformação e adaptação

dos sonhos e objetivos em algo mais próximo

da realidade, em minha visão, é o processo de

planejamento sucessório, que não elimina o

risco de problemas futuros entre seus herdeiros,

mas certamente mitiga este risco.

Assim, os conceitos expostos neste artigo

visaram tão somente ajudar o leitor a identificar

os aspectos jurídicos relevantes na sua

realidade, e que o ajudarão a adaptar seus

sonhos e objetivos.

Logo, planejar a sucessão é, em primeiro lugar,

querer enfrentar este desafio. Mas planejar a

sucessão também é compreender que não há

uma fórmula mágica e tudo deve ser adaptado

à realidade da sua família; é compreender que

o poder de decisão não é ilimitado, ao contrário,

ele é moldado pelos limites legais.

O sucesso da sucessão está intimamente ligado

à capacidade dos patriarcas de identificar seus

desejos, sonhos e objetivos, tomar decisões,

embasá-las e protegê-las com os instrumentos

legais disponíveis.

“Quer [planejar a sucessão]? Então faça acontecer

porque a única coisa que cai do céu é a chuva”

Vinícius de Moraes

1Colação, conforme explicado pela Profa. Maria Berenice Dias, vem da palavra collatio, que significa conferir. Assim, a colação “nada mais [é] do que a obrigação do herdeiro de conferir as doações recebidas quando da morte do doador”. Continua a professora: “todo ato de liberdade a favor de herdeiro necessário precisa ser conferido quando da abertura da sucessão, para comprovar se a doação extrapolou ou não a parte disponível da herança.” (in Manual das Sucessões; 2ª edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 590).

2O artigo 1.845 do Código Civil determina que são herdeiros necessários os descentes (filhos, netos, bisnetos), os ascendentes (pais, avós, bisavós) e o cônjuge. O artigo 1.846 do mesmo diploma legal, por sua vez, determina que aos herdeiros necessários deve ser entregue a metade dos bens e direitos da herança, denominando esta parcela de legítima.

Planejamento Sucessório e Tributário

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3Os testamentos são regulados pelo Código Civil, notadamente em seus artigos 1.857 a 1.880.

4DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões, 2° edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 346.

5A isenção do IR incidente sobre o ganho de capital apurado na alienação (sentido amplo) de imóveis adquiridos até 1969 e a redução percentual do IR a pagar para imóveis adquiridos entre 1970 e 1988 está prevista no artigo 18 da Lei nº 7.713/88.

6Os fatores de redução estão previstos no artigo 40 da Lei nº 11.196/05.

Natalia Zimmermann, CFP®

é advogada com foco em planejamento patrimo-

nial para pessoas físicas, planejadora financeira

pessoal e possui a certificação CFP® (Certified

Financial Planner), concedida pelo Instituto Bra-

sileiro de Certificação de Profissionais Financeiros

(IBCPF). E-mail: [email protected]

7No estado de São Paulo o ITCMD é regido pela Lei nº 10.705/00 e pelo Decreto nº 46.655/02, com alterações subsequentes.

8No caso de transmissão não onerosa do domínio útil ou na instituição do usufruto, por ato não oneroso a base de cálculo é equivalente a 1/3 do valor do bem. No caso de transmissão não onerosa do domínio direto ou na transmissão não onerosa da nua-propriedade, a base de cálculo é equivalente a 2/3 do valor do bem (artigo 9º, §2° da Lei nº 10.705/00).

9“Art. 794. No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital estipulado não está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera herança para todos os efeitos de direito.”

As respostas refletem as opiniões da autora, e não do IBCPF. O IBCPF não se responsabiliza pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Planejamento Sucessório e Tributário

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Mari Emmanoulides, CFP®

atiVidade pRofissional de planejamento finanCeiro

Sempre tive interesse e curiosidade pelas

histórias de empreendedores: entender como

surgiram as ideias, expectativas, obstáculos,

estruturas societárias, entre outros.... Penso

que, se o empreendedor é bem-sucedido,

está criando um ativo real, de valor, e que

pode contribuir muito e em vários sentidos, até

socialmente. Sua empresa poderá crescer, abrir

o capital, expandir em diversos continentes,

gerar empregos e contribuir de fato para a

comunidade. Significa dizer que tem a chance

de ser perpetuada, e que todos os esforços

e tempo alocados não estarão perdidos. Qual

não é minha surpresa ao receber o convite

para relatar a minha experiência no Magazine

do IBCPF!

Venho do mercado financeiro e minha formação

e carreira foi em crédito, em um banco

multinacional, para o mercado local. Nessa

mesma época, enquanto trabalhava, graduei-

me em Direito. No Banco Comercial, passei por

diversas áreas financeiras, fui Gerente Geral de

Agência, até chegar à Diretoria e estruturar o

Private Banking, que geri por alguns anos. Passei

por outra instituição financeira multinacional

dedicada ao mercado internacional, trabalhei

com pessoas muito competentes e aprendi a

gestão internacional.

Entendi que trabalhar e ter o treinamento em

diversas áreas financeiras, oferecido pelas

multinacionais, é a escola necessária de base.

Esse conhecimento, adquirido pelo treinamento

e no dia a dia, dificilmente seria possível apenas

Planejamento Financeiro Pessoal

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

pelo mundo acadêmico. Aprendi a valorizar e

entender que não há a menor possibilidade de

se ter um negócio próprio e estabelecido se

não existir: foco no cliente; processos formais;

alinhamento entre sócios, associados e toda a

equipe, estrutura de risco e compliance; além

de rentabilidade que remunere os acionistas.

Sabia que em algum momento estaria

abandonando o mundo corporativo e deixando

de ser uma executiva para empreender e

tocar o próprio negócio com pessoas que têm

a mesma perspectiva, o mesmo olhar e os

mesmos valores.

Fazer essa transição significa deixar para trás

a suposta zona de conforto e iniciar tudo de

novo, começando do zero! A convicção tem de

ser muito forte e cristalina, e foi exatamente

esse o meu caso. A convicção e a perseverança

são absolutamente necessárias, acrescidas ao

foco no que se faz. Não é fácil sair do nada.

É muito semelhante à construção de uma

casa: é preciso ter um detalhado business plan

(planta e respectivo orçamento), as licenças

regulamentares (aprovações ambientais e

municipais), a escolha dos sócios e profissionais

que ajudarão a colocar de pé a empresa

(incorporador, construtor etc.) e entender que

precisa de tempo para se ter retorno. Injetam-

se recursos por um bom tempo, não se é

remunerado, mas tem-se que remunerar os

profissionais que são CLT.

Quando disse que parece a construção de uma

casa, é porque quando se está na fase inicial, só

se alocam recursos e não se vê nada! Apenas

um buraco com cimento e umas madeiras que

são as fundações da casa. Chega-se a duvidar

que um dia vá existir uma casa naquele local.

É a mesma sensação, e o que transforma

tudo isso é a convicção do que se acredita

ser um diferencial e do que se sabe fazer

profissionalmente: se você sabe fazer na casa

dos outros, é bem provável que saiba fazer na sua

própria casa. Se estiver cercado de processos,

das pessoas certas, e não tentar obter retorno

no curto prazo, tem boas chances de conseguir

colocar de pé uma empresa de valor futuro e

que faça uma diferença no mercado.

Acredito que um CFP independente tem a

possibilidade de desenvolver um modelo próprio

de Planejamento Financeiro considerando o

tamanho de patrimônio com que escolheu

trabalhar. Sua qualificação já lhe permite

desenvolver de acordo com sua própria

convicção, e a escolher o nicho de mercado

que irá desenvolver. Estará criando valor a

longo prazo para seus clientes e consolidando

sua carreira também. Com foco no cliente,

buscando o melhor interesse dele e se utilizando

de uma estrutura processual, dificilmente não

será bem-sucedido.

Mari Emmanoulides CFP®

Diretora e Membro do Board do FPSB – Financial

Planning Standards Board. Formada em Direito

pelo Mackenzie, atua no mercado financeiro há

mais de 30 anos. É Sócia Fundadora, Diretora

Executiva e Presidente do Grupo Taler. Participa do

Sub-Comitê de Produtos da Anbima.

Planejamento Financeiro Pessoal

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Alexandre Pinelli, CFP®

diligênCia e objetividade paRa eVitaR aRmadilhas

A prática da consultoria sobre os ativos

financeiros líquidos de indivíduos e famílias de

alto patrimônio é, na grande maioria dos casos

no Brasil, o eixo central do relacionamento

dos profissionais CFP com seus clientes.

Atividades afins, como distribuição e gestão dos

investimentos, bem como serviços acessórios

como execução, custódia, monitoramento e

entrega de relatórios, complementam a cadeia

de valor.

As interações mais frequentes dos profissionais

CFP com seus clientes e os momentos de

contato destes com as instituições financeiras

ocorrem, em grande medida, em torno do tema

investimentos: aconselhamento para alocação

de ativos, aplicações, revisão de portfólios,

distribuição de produtos, envio de relatórios de

performance e extratos financeiros, entre outras

situações. E por serem os serviços mais comuns

e a origem de grande parte dos contatos,

são também terreno fértil para reclamações,

desentendimentos e desgastes com os clientes.

Em um caso ilustrativo (e eventualmente mais

comum do que gostaríamos), vamos considerar

um cliente que pretende investir um determinado

valor e para isso recorre a sua Gerente Private

(“gerente”) para obter recomendações. O

cliente prefere contatos remotos, por e-mail e,

eventualmente, por telefone, pois está sempre

muito ocupado. Sua gerente comenta ao

telefone sobre dois produtos estruturados que

a tesouraria do banco está lançando, envia ao

cliente todos os documentos de que dispõe

(material de marketing, regulamento, disclaimers e termo de adesão). Após uma sequência de

e-mails trocados e alguns telefonemas, para

Conduta Profissional

Page 31: investimentos globais

31

CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

passar mais detalhes e tirar dúvidas do cliente,

este finalmente decide investir.

Seguem-se os trâmites de formalização e

execução da ordem, entre eles o recebimento

pela gerente de todos os documentos exigidos

por regulamentação específica e/ou por

procedimentos internos, devidamente assinados

pelo cliente.

Alguns meses se passam e, com a piora do

cenário econômico e dos mercados, o cliente

experimenta perdas nesses investimentos e

começa a questionar sua gerente e o banco,

alegando que não foi devidamente orientado e

investiu em algo para o qual não tinha perfil.

Depois de vários meses de análises e reuniões

com o cliente, chega-se a um acordo no qual

a instituição iria ressarcir parte das perdas do

cliente.

O que deu errado? A análise do caso suscita

boas reflexões sobre pequenas armadilhas

que podem levar a reclamações de clientes

e a prejuízos financeiros para as instituições,

mas que podem ser evitadas (ou pelo menos

minimizadas) a partir de alguns comportamentos

e cuidados dos profissionais:

1) o cliente é muito ocupado e os contatos precisam ser rápidos e objetivos, muitas vezes remotos: aqui corre-se o risco de “passar batido” por

detalhes fundamentais, principalmente aqueles

relativos a cenários adversos e perdas nas

estratégias de investimento. Às vezes a gerente

também não tem tempo, pois tem muitos

outros clientes a atender. O foco de ambos

fica apenas nos cenários mais positivos. Aqui

a dica é efetivamente planejar o contato com

o cliente para um momento em que ele possa

dispor de mais tempo para se concentrar e

ouvir a exposição detalhada a respeito da

recomendação. Além disso, que o o profissional

se prepare muito bem para o contato, dispondo

também de toda a informação, tranquilidade

e tempo para sua interação com o cliente.

Nosso “Código de Ética e Responsabilidade

Profissional” oferece orientação a respeito de

“... tomar as medidas razoáveis e necessárias

para garantir que o cliente compreenda as

recomendações...” (Regra 305).

2) o cliente assinou todos os documentos e termos necessários, logo, ele tomou uma decisão de investimento informada e consciente: o fato de o cliente ter assinado e devolvido

todos os documentos solicitados pode até

eximir a instituição e o profissional de riscos no

âmbito legal, porém, não os livra da possível

perda do relacionamento com o cliente, do

constrangimento, de desgastes internos e de

eventuais perdas financeiras de situações como

a descrita. Sem falar na propaganda negativa

que um cliente insatisfeito pode (e com certeza

irá) fazer. A dica aqui é ser bastante diligente,

rigoroso, claro e transparente quando se estiver

orientando o cliente a respeito de produtos

de investimento, aplicando maior intensidade

quanto maior for a complexidade do produto

Conduta Profissional

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32

CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

e/ou menor a experiência do cliente com

investimentos (respeitando-se obviamente aqui

o suitability – Regra 302 – e os limites impostos

pelo perfil de risco do cliente). Para tanto, uma

boa prática é usar os próprios regulamentos e

termos de adesão fornecidos pela instituição,

que explicitam bem os riscos envolvidos. Deve-

se repassar estes documentos com o cliente,

garantindo que ele efetivamente os tenha lido

e compreendido. Não devem ser encarados

apenas como um trâmite burocrático dentro do

processo de investimento.

3) o cliente tinha perfil para o produto, entendeu o risco de perda envolvido, decidiu investir, mas acabou contrariado e insatisfeito quando o cenário adverso se materializou: sabemos, pela teoria e pela

prática, que os investidores tendem a ser

mais agressivos em momentos favoráveis do

mercado e mais conservadores em momentos

de maior volatilidade e queda de preços. E dói

muito mais experimentar uma perda financeira

do que meramente cogitar sua possibilidade.

O fato de que um determinado produto “cabe”

no budget de risco do cliente no momento

do investimento também é uma armadilha

importante, um falso conforto. Portanto, é

fundamental que o profissional use toda a sua

sensibilidade, sabedoria e conhecimento do

cliente, bem como “... juízo razoável e prudente

...” (Regra 801), em relação ao perfil e psicologia

de seu cliente investidor, para determinar se um

produto é ou não adequado para seu cliente.

Ao adotar essas e algumas outras condutas

necessárias, o profissional CFP aumenta suas

chances de perpetuar uma relação saudável,

de confiança e produtiva com seus clientes e

com a instituição à qual eventualmente esteja

vinculado, garantindo a boa imagem e reputação

de todos os envolvidos.

Conduta Profissional

Alexandre Pinelli, CFP®

É planejador financeiro certificado desde 2006.

Em 18 anos de mercado financeiro, liderou pro-

cessos de criação, integração, reposicionamento

e expansão de operações de Private Wealth

Management no Brasil, na América Latina e nos

Estados Unidos. Administrador de Empresas pela

UFRJ, com especialização em finanças pela COP-

PEAD e em gestão de negócios pela Harvard

Business. É Diretor do IBCPF.

Page 33: investimentos globais

33

CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Raphael Cordeiro, CFP®

a vida como ela é

Planejador Financeiro, segundo a definição

apresentada pelo IBCPF, é “o profissional

que atua como um consultor, que avalia os

objetivos, expectativas e necessidades de

cada cliente, visando desenvolver, apresentar e

executar estratégias de planejamento financeiro

adequadas ao perfil do cliente”. É complexo

exercer essa profissão, pois trata de entender de

finanças e compreender as pessoas, algo difícil,

principalmente aos profissionais com vocação

às ciências exatas, de onde costumam vir os

financeiros. No exercício da nossa profissão,

lidamos com situações inusitadas: desde um

herdeiro que está recebendo milhões em

herança, a uma profissional liberal que está

insegura, pois vai se divorciar.

Em um dos seminários do IBCPF, lembro-me

de ter escutado de um palestrante que nossa

profissão é diferente, pois, em nosso caso,

o cliente nem sempre está certo. Pode ser

um exagero, mas sim, é verdade, os vieses

psicológicos levam boa parte dos nossos

clientes a desejar fazer o que nós profissionais

sabemos não ser o correto. Bons exemplos

disso foram os volumes de novos investidores

que debutaram nos mercados de Ações no ano

de 2007 e de Fundos Imobiliários e Fundos de

Inflação em 2012. Desnecessário mencionar

o que ocorreu depois. Entretanto, o prejuízo

desses clientes será muito maior do que a

simples perda financeira em que incorreram, pois

alguns poderão não mais considerar classes de

investimentos ao longo de suas vidas por conta

dessas experiências ruins. Passamos por isso

inúmeras vezes e tentamos resgatar a confiança

dos investidores, porém, com muito cuidado.

Um cliente nosso, que aplicou em ações no

IPO da BM&F, tem como estratégia ter apenas

1,5% de seus investimentos em ações, isso

A Vida Como Ela É

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

porque o mercado de ações precisará resgatar

sua confiança, logo, o processo precisa ser

cauteloso.

Este tipo de equívoco dos clientes pode ser

potencializado pelos vendedores de produtos

que tendem a oferecer ao cliente o que ele

comprará com mais facilidade, logo, os equívocos

são potencializados pelos profissionais que

precisam vender seus produtos.

Eu decidi, a partir de um momento, fazer outro

caminho e me tornei um profissional fee only,

e a única razão pela qual eu fiz essa escolha é

para tentar minimizar as minhas interferências

na busca pela decisão ótima de um cliente.

No entanto, uma parte chata do trabalho é ter

de rebater boa parte das recomendações dos

vendedores de produtos. Em um determinado

caso, eu estava constrangido de dizer ao cliente

que ele tinha feito um péssimo negócio ao

contratar um plano de previdência conservador,

de um suposto amigo, com taxa de administração

de 3,5% ao ano. Nessa relação com os clientes,

há um problema a ser administrado. Tanto nós

como os clientes passamos por experiências

que levamos para toda a vida. Já escutei de um

que jamais aplicaria em um plano de previdência,

porque seu pai perdeu dinheiro com um deles

na década de 1980. Outro cliente mencionou

que não aplicaria em ações, porque perdeu

dinheiro nos papéis da Petrobras. A questão

é que nossas ambições e aflições não podem

potencializar a dos clientes, ao mesmo tempo

em que o cliente precisa se identificar com

você, planejador, pois, para que o trabalho flua,

a empatia é essencial; nós Planejadores não

podemos reforçar seus vieses por conta dos

nossos.

Muito gratificante é ver que depois de alguns

meses, ou até anos, os clientes, mesmo sem

entender completamente, começam a perceber

que nossas recomendações têm fundamento.

O problema é que, para eles perceberem

isso, leva no mínimo 6 meses. Por exemplo,

A Vida Como Ela É

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

em janeiro deste ano eu recomendei a uma

cliente, que já tinha NTN-B em seu portfólio

de investimentos, que adquirisse mais títulos.

À época ela foi resistente à ideia, eu não insisti

e ela não efetivou a recomendação. Depois de

5 meses eu apresentei a ela a valorização do

título e com delicadeza mencionei que, apesar

da alta, o objetivo de efetivar a aplicação

não era esse, era obter renda no longo prazo

através dos juros semestrais, já que a cliente

estava aposentada e precisava complementar

sua aposentadoria com outras fontes de renda.

Como eu atuo?

Em nossa empresa, temos basicamente

clientes com dois focos diferentes: uns querem

administrar bem seu patrimônio, outros querem

formá-lo. Os do primeiro grupo não precisam

focar muito em Fluxo de Caixa e geração de

poupança, já os segundo devem se preocupar e

muito com sua capacidade de guardar dinheiro.

Nosso trabalho engloba ambos os casos, e

identificá-los é a primeira etapa, quando se

avaliam Objetivos, Expectativas e Necessidades.

A partir desse momento, desenvolve-se o

planejamento e aí se inicia a próxima etapa: a

execução. Essa, diferente das etapas anteriores,

depende muito do cliente, de modo que, para

alguns casos, deve-se exercer a paciência e a

disciplina.

Gostaria de aproveitar esse contexto para

voltar ao trecho citado no início, em que se

apresentou a definição da profissão de um

Planejador Financeiro. As palavras-chaves são

“objetivos, expectativas e necessidades de cada

cliente”. Deixar claro para o cliente quais são

os seus objetivos, expectativas e necessidades

e relembrá-lo disso periodicamente é um

exercício de paciência, que utiliza técnicas

comportamentais e financeiras, e deve ser feito

com gentileza. Essa é a função de um Planejador

Financeiro, segundo minhas experiências.

Certa vez, cheguei a ser repreendido por uma

cliente: “Raphael, você precisa me chamar ao menos uma vez por ano para vir aqui, se não,

corre o risco de eu fazer besteira”. De outros

dois clientes escutei: “Avisei minha esposa que se eu morrer você é a primeira pessoa a quem ela deve procurar”.Exercer a profissão de um Planejador

Financeiro é uma arte sublime, de extrema

responsabilidade. Ficamos entre a psicologia

humana, a psicologia do mercado financeiro e

as constantes alterações das regras. Tudo isso

para defender o ser humano, na maioria das

vezes, dele mesmo!

A Vida Como Ela É

Raphael Cordeiro, CFP®

É planejador financeiro certificado desde 2003.

Analista de Investimentos, é graduado em Admin-

istração de Empresas e pós-graduado através do

MBA Personal Finance (FIPECAFI/USP). Sócio da

empresa Inva Capital e autor do livro “O Sovina e

o Perdulário – em busca do sucesso financeiro”

da coleção ExpoMoney.

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Qual a pergunta mais frequente dos seus clientes?

Por ser conhecido no mercado como especialista

em planejamento financeiro e estruturações

transacionais, recebo freqüentemente perguntas

sobre como investir, eficazmente, no exterior.

Os clientes, em geral, preferem investir na

diversificação e proteção dos seus ativos, com

eficiência fiscal, sucessória e operacional.

o planejador está evoluindo na mesma velocidade das necessidades dos clientes?

O objetivo da profissão do planejador financeiro

pessoal é acompanhar o cliente na evolução

de seus objetivos financeiros, nacional e

internacionalmente. O diálogo constante entre

o planejador e seu cliente é relevante para

Ulf Mannhardt, CFP®

Formação educacional:

profissional bancário,”Bankkaufmann”

em alemão, com mBa em finanças,

pelo instituto Brasileiro de mercado

de capitais-iBmec

Atuação:

Viena, Áustria e atuo aonde os clientes, na sua grande maioriabrasileiros, precisam.

Especialidade:

planejamento e estruturação financeira transnacional

Empresa de atuação: Uma financial planning e.U. Viena - Áustria

ENTREvISTA

Entrevista

estabelecer confiança mútua e que o cliente

perceba que seu planejador financeiro pessoal

CFP® atende à máxima do código de ética

de sua profissão: “o interesse do cliente em

primeiro lugar”.

onde estão os gargalos na prestação de serviços hoje?

Esta pergunta conecta bem com a anterior.

A complexidade do mundo financeiro é cada

vez mais elevada. É pouco provável que um

profissional formule soluções para todas as

necessidades de seus clientes. Precisa-se ter

a humildade deste reconhecimento e a vontade

de pesquisar e/ou conhecer colegas que

possam ajudar a encontrar soluções relevantes.

E, mesmo com a confiança mútua estabelecida

com o cliente, trabalhar neste mundo financeiro,

com diversos produtos, promessas e políticas,

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

é um enorme desafio. Resumindo: os maiores

desafios estão na crescente complexidade

dos mercados, no nível de confiança mútua e,

ainda, na falta de estruturas educacionais em

planejamento financeiro do profissional e do

seu cliente.

Qual a principal preocupação no momento para a atividade de planejamento financeiro?

O IBCPF, em conjunto com seus pares,

atualmente em outros 24 países, associados ao

Financial Planning Standard Board - FPSB, visa

desenvolver respostas aos desafios descritos

acima. Como fazer para que o diálogo e a

confiança mútua entre o profissional planejador

financeiro e seu cliente evoluam?

Outro desafio está no reconhecimento

da profissão pelo cliente e no constante

aprimoramento dos profissionais que buscam

o caminho da excelência, representada pela

marca CFP®, pautada nos 4E’s: Experiência,

Educação, Exame e Ética e na autorregulação

da profissão.

Como os clientes estão se comportando em função da volatilidade do mercado?

Parte da volatilidade dos mercados é

consequência da crescente complexidade

financeira mundial, como resultado, ainda, da

crise de 2008/2009, e da rapidez da evolução

tecnológica e da comunicação. Os clientes

continuam em busca de retornos financeiros

positivos, mas neste ambiente internacional de

juros baixos - os juros brasileiros são exceção

- muitos já optaram, prioritariamente, pela

preservação do patrimônio.

Qual sua recomendação sobre o melhor approach com clientes inquietos com a posição em pré ou renda fixa inflação?

A situação específica dos investimentos

em Reais, no Brasil, precisa ser gerenciada

adequadamente ao momento político-

econômico que o país está vivendo.

Em momentos de turbulência, o horizonte

financeiro fica mais curto. Como planejador

financeiro, é tarefa nossa estudar a situação

especifica do cliente para que, através da

diversificação e prudência, os riscos sejam

reduzidos ou minimizados e simultaneamente

equilibrados com a expectativa do cliente.

Entrevista

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

você tem tido dificuldade na contratação de profissionais qualificados?

Como minha atividade é muito específica,

inclusive dentro do mundo holístico das finanças

pessoais, e o meu trabalho é desenvolvido, na

maioria dos casos, em conjunto com outros

profissionais da área, não contrato profissionais.

Atuo com parceiros. Como Diretor do IBCPF, sei

que existe carência de profissionais qualificados

à altura da complexidade financeira atual.

Espero que isto conduza cada vez mais escolas,

universidades, educadores e instituições

de ensino a perceberem que Planejamento

Financeiro é uma profissão ainda recente e em

formação no Brasil, porém inesgotável na sua

dimensão educacional e, consequentemente na

relevância econômico-financeira.

Como os clientes têm reagido à sua certificação Cfp? eles entendem o que significa?

Vivencio uma situação particular. Parte

significativa das pessoas que recebem meu

cartão de visita, onde consta que sou CFP®

certificado no Brasil, já estranham meu primeiro

nome que tem três letras e parece sigla.

Aliado ao fato de eu não parecer brasileiro,

me faz acreditar que a maioria não pergunta o

significado do CFP® ... Por isso eu geralmente

esclareço, na primeira conversa, que estas três

letras após meu sobrenome representam uma

qualificação e distinção profissional!

Quais as suas fontes e formas de atualização educacional e profissional?

Como co-fundador e atual diretor do IBCPF,

tenho o privilégio de representar o Brasil em

reuniões do Conselho Global de Planejamento

Financeiro pessoal, o FPSB Council, e, de

participar de grupos de trabalho que visam

estabelecer e fundamentar cada vez mais

a profissão do Planejamento Financeiro no

mundo. Esta atividade, voluntária, proporciona

relevantes estudos e aprendizados. Além

disso, nesta profissão, constata-se que não há

cliente com perfil igual a outro e isto me leva

a ser mais um dos apaixonados pelas Finanças

Comportamentais, ciência recente que estuda

o comportamento humano em relação a

ocorrências financeiras.

Entrevista

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

edUcaÇÃo CONTINUADA

O novo Manual de Educação Continuada do Profissional CFP®, lançado em março de 2013, prevê a obrigatoriedade do planejador financeiro CFP em obter ao menos 10 créditos qualificados, originados através de atividades promovidas pelo IBCPF ou registradas por essas instituições.

para acessar a relação de atividades registradas no Programa de Educação Continuada por entidades credenciadas no IBCPF.

As novas regras são válidas para os planejadores financeiros certificados a partir de fevereiro de 2013 e para aqueles que renovaram sua certificação neste mês. Para os demais profissionais CFP, as novas regras serão aplicadas a partir da próxima renovação da certificação.Você também pode responder o Quiz relacionado a esta edição da CFP Professional Magazine, que concederá 2 créditos para o Programa de Educação Continuada.

Clique aqui

Acesse o Quiz

Educação Continuada

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CFP® PROFESSIONAL | MAgAzINE Edição #4 Voltar

Ano 1 · Edição 4 · Nov. Dez. Jan ‘2015

Editor-chefeJan Gunnar Karsten, CFP®, CFA

Conselho Editorial Gisele Colombo de Andrade, CFP®

Laís Cardoso Pereto, CFP®

Luiz Correia Martins Pereira, CFP®

Maria Angela Nunes Assumpção, CFP®

Ricardo Nardini

Coordenação Felipe Gandolfi Tomasi

DiagramaçãoRadio Design

Diretoria do IBCPF Alexandre Nogueira Alexandre Pinelli, CFP®

Fabio Whitaker Vidigal Gisele Colombo de Andrade, CFP®

Giuliano de Marchi, CFP® Jan Gunnar Karsten, CFP®

José Hugo Laloni, CFP®

Laís Cardoso Pereto, CFP®

Louis Frankenberg, CFP®

Luiz Sorge, CFP®

Marcia Belluzo Dessen, CFP®

Marcos Shalders da Silva, CFP®

Paulo Meirelles, CFP®

Plinio de Lucca Junior, CFP®

Rogério Veras Caldeira Bastos, CFP®

Syllas dos Passos Ramos, CFP®

Ulf Mannhardt, CFP® Yves Cardoso Fidalgo Jr., CFP®

Equipe do IBCPF Ricardo NardiniFernando PurezaFelipe Gandolfi Tomasi Sabrina Mattos Tomazzi

A Certificação CFP® é a única credencial de profissionalismo mudialmente reconhecida para o planejador financeiro pessoal. Ao buscar aconselhamento objetivo, competente e de confiança, procure um profissional CFP®

Para mais informações sobre a Certificação CFP®, visite www.ibcpf.org.br e www.fpsb.org

Certificação CFP® Excelência global em planejamento financeiro

As marcas CFP®, CERTIFIED FINANCIAL PLANNER e pertencem ao Financial Planning Standards Board Ltd. para uso fora do território norte-americano. O Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros - IBCPF é a entidade autorizada pelo FPSB mediante acordo firmado entre ambas para a concessão e administração destas marcas no território brasileiro.

Associada Sênior

Associados PJ

ProfessionalMagazineano I · edição 4 · Nov. Dez. Jan ’2015