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ireito ontelD IDbiental "" oraneo JOSÉ RUBENS MORATO LEITE Doutor em Direito Ambiental e professor da UFSC Nota Fiscal de DOAÇÃO Sem Valor Comercial ~ Editora Manole LIda I Clcl, 672 . Tamboró • Baruori I ~p _~~ C.p: 96<460 . 120 Muno]e Doutor em Direito e professor da UFMA

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ireitoontelD

IDbiental""oraneo

JOSÉ RUBENS MORATO LEITE

Doutor em Direito Ambiental eprofessor da UFSC

Nota Fiscal de

DOAÇÃOSem Valor Comercial ~

Editora Manole LIda I

Clcl, 672 . Tamboró • Baruori I ~p _~~C.p: 96<460 . 120 Muno]e

Doutor em Direito eprofessor da UFMA

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Projeto (Jráfico c Capa:NclllOI1Mielnik e Sylvia Mielnik

BdItOI'lIÇUOEletrÔnica:Acqul1 Estúdio Gráfico

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

Direito ambiental contemporâneo/ José Rubens Morato Leite, Ney de Barros Bello Filho (org.).-

BlIrueri, SP : Manole, 2004

Inclui bibliografiaISBN 85-204-1946-1

1. Direito ambienta!. 2. Proteção ambienta!.1. Leite, José Rubens Morato. 11. Bello Filho, Ney de Barros.

Todos os direitos reservados.Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, por qualquerprocesso, sem a permissão expressa dos editores.~ proibida a reprodução por xerox.

Direitos adquiridos pela:Editora Manole Ltda.Avenida Ceci, 672 - Tamboré06460-120 - Barueri - SP - BrasilFone: (O_ll) 4196-6000 - Fax: (O_ll) [email protected]

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

Ao TONZINHO, dr.Morato, pelos valores e tudo que me transmitiu;À Maria Eugênia, por ser o pilar da minha educação;

À Débora e ao Marcelo, meus dois amores, pelo incentivo e paciência.

A busca do conhecimento é uma jornada de aventuras eternas.Essa aventura somente pode ser vivida quando a fraternidade se une à paixão.

Outra dedicatória não seria possível senão aos novos amigos dassalas e bibliotecas da Universidade Federal de Santa Catarina.Flores, Cláudio, Leila, Goretti, Giovane, Carol, Júlio, Daniele,

Cláudia, Isaac, Cristine, Guilherme, Sandro, David, Lola, André,Rodrigo e, em especial, Heline, Rogério e José Rubens: interlocutores

apaixonados e apaixonantes, todos construtores do ideal de um mundo melhor.

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23Direitos Humanos e MeioAmbiente: Uma Revoluçãode Paradigma para oSéculo XXI

Introdução - 1. Gerações de direitos humanos - 2. Direitoshumanos e ambiente - Considerações finais - Referências

bibliográficas.

INTRODUÇÃO

A presente edição de inovações em Direito Ambiental vemmostrar o estágio atual da questão que envolve as diversas temá-ticas que circundam a relação entre o Direito e o Meio Ambiente.

Hoje, podemos constatar que além da legislação específicasobre o tema que se refere ao meio ambiente temos também umaperfeiçoamento tanto processual como doutrinário para abor-dar as questões relativas ao Direito Ambiental.

Constatamos ainda uma presença das questões ambientaisem outros institutos tradicionais do direito, a começar pela Cons-tituição Federal, mas também no novo Código Civil. Além disso,o princípio poluidor-pagador permeia o Direito Tributário, im-brica-se no Direito Penal a lei de crimes ambientais e figura em

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divt'rsus 110l'llHlSdI.' Dll'l'ilo Adlllinisll'lllivo, bl'lll l.'Olllo t'lll tuntosoulros rUlllos da l'i~I1l.'iajul'ldka.

Defendemos que () Direilo Ambiental nào se restringe apenas alima discipli na no sen tido .dogmático e dou triná rio do termo; en-tendemos que ele não pode ser esgotado, em seus princípios e emsua abrangência, em um campo específico do direito. Ao contrário,ele perpassa transversalmente as demais disciplinas dos campos tra-dicionais do direito e inclusive ultrapassa-o.

O enfoque ambiental se insere sob diferentes lógicas, por exem-plo, o Código Florestal tem um caráter claramente presevacionista,enquanto outros itens ambientais estão presentes em legislaçõescomo o Relatório de Impacto de Vizinhança, no Estatuto da Cidade.É mediante a disseminação dos valores ambientais em diferenteslegislações que vemos a pujança de sua força normativa, sempre nosentido do aperfeiçoamento da qualidade de vida do cidadão (prin-cipalmente urbano); seja na sustentabilidade das cidades, ou emoutras áreas, sempre podendo ser visto sob o amplo leque do quechamamos Direito Ambiental (lato sensu).

Tudo isso é permanentemente referido, estudado e objeto de mo-nografias e dissertações, desta forma nos questionamos: onde de fatoestá o novo em Direito Ambiental?

No meu entender, ele se encontra não somente nas atuais nor-mas que ampliam a abordagem do tema, mas principalmente namudança de atitude e comportamento que este conjunto de normas,princípios e valores saídos do Direito Ambiental tem influenciadode forma determinante a própria ciência jurídica e questionado seusfundamentos epistemológicos.

É justamente aí que, quero crer, reside o novo em Direito Am-biental, nesta massa crítica que nos permite observar o direito sob umoutro enfoque ou ainda com uma lente mais aperfeiçoada, em que osfatos jurídicos, sociais e ambientais fazem parte de um mesmo univer-so de ações, redefinindo mesmo a atuação do operador jurídico doséculo XXI com vistas à sustentabilidade.

Estamos nos encaminhando para uma mudança de paradig-ma nas ciências jurídicas, na qual a abordagem epistemológica do

dirl'ilo It'l1de LI cOllfl'Olltar nosso comportamento predatório (quemuitos chamam de sociedade de risco), com a perspectiva da sus-tentabilidade.

Poderia dizer que estamos atravessando o auge do Direito Am-biental para uma transformação de abordagem qualitativa, redefinidoos valores e princípios epistemológicos do Direito. Esse conjunto devalores e ações visam não só a um questionamento dos princípios quefundamentam a tradicional ciência do direito, mas também impõe àcivilização uma nova atitude com vistas a estabelecer um ordenamen-to jurídico que aponte para a sustentabilidade das atuais e futurasgerações. Este conjunto ainda nebuloso de valores, atitudes e ações,por ora, vou chamar de ecol6gia jurídica.

Neste novo comportamento, o próprio Estado, que não maispode apenas se definir como garante da segurança e da distribuiçãode Justiça, conforme o legado liberal, ou se transformar em um Esta-do-providência, que intervém na economia no sentido de protegero hipossuficiente por meio de uma justiça social mais distributiva,ampliando o conceito de cidadania conquistado pela civilização noséculo XVIII.

Por melhor que seja a distribuição e em cumprindo com as pro-messas da modernidade, o Estado contemporâneo tem necessidadenão só de atender as crescentes demandas da civilização atual comovê exigida sua atuação na garantia de qualidade de vida e do equilí-brio do ambiente, bem como a garantia de qualidade de vida para asfuturas gerações.

Um outro enfrentamento, este de natureza diferenciada, irá ocor-rer no próprio pensamento ambiental, o qual irá questionar qual seráa melhor forma de abordagem: antropocêntrica, ecocêntrica ou daecologia profunda; dialética ou sistêmica elou holística?

Estas respostas ocuparão o cientista do direito e o teórico daciência por muito tempo e grande quantidade de papel será impres-sa para melhor esclarecimento destes temas

O que me proponho aqui é uma abordagem relacionada ao pa-radigma emergente, que transita do Direito Ambiental para a Ecolo-gia Jurídica. O questionamento do funcionamento da sociedade, do

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direito, da economia e da própria civilizay.)o a partir du evoluy.\ohistórica dos direitos humanos como direitos políticos e redelinido-res do próprio agir da civilização com vistas à sua superação.

Para desenvolver meu raciocínio, vou me valer dos direitos hu-manos por meio de uma releitura da abordagem feita por outrosautores, como Marshall, Bobbio, Lefort, entre outros.

dadl' l'slnhdt'ddn ~'elo poder divino, segundo a qual o rei aluavacomo cnviudo direto de Deus, partilhando desta forma a responsa-bilidade do dero e da monarquia na administração dos interessesdos súditos.

A lógica pela qual estava imbuído o loeus do poder era a dos dog-mas religiosos que estabeleciam as normas jurídicas emanadas deação divina, que deveriam ser aplicadas na administração terrena.

Com este intuito, todos os procedimentos eram válidos paramanter o poder emanado diretamente da vontade divina. O questio-namento do rei era em si mesmo uma heresia, não só contra a majes-tade, mas contra o próprio Criador.

Nesse sentido o crime de lesa-majestade deveria ser não sópunido, mas verdadeiramente exorcizado, para que a alma ao menospudesse ser salva, já que o corpo não pode ser moldado aos desíg-nios divinos em exercício terreno. Todo o tipo de procedimentojudicial que viesse a arrancar uma confissão por parte do culpadoera válido, incluindo nesta esfera a tortura e qualquer ato bárbaroque pudesse ser executado pelo carrasco que agia em nome e porordens diretas do supremo mandatário da vontade divina na terra,o reI.

Com isso, não bastava executar a vítima, mas verdadeiramentepurificá-Ia pela confissão, que deveria ser invariavelmente realizadamediante tortura eem ato público amplamente divulgado em todasas esferas do reino. Após estes procedimentos, poderia então o acu-sado ser executado, pois, tendo seu corpo sofrido, sua alma restariapurificada e seus pecados, redimidos.

Poder político e poder religioso confundiam-se num interesseparticular de manutenção de determinados privilégios da nobreza edo clero, bem como de determinados dogmas que não poderiam serquestionados. Tudo isso serviu como base de sustentação do podere do Estado absolutista da Idade Média.

Foi justamente a partir da Revolução Francesa que os valoresestabelecidos pelo Aneien Régime puderam ser colocados abaixo, jun-tamente com as classes que os representavam - o clero e a nobreza.Assim, era preciso um novo universo de valores que estabelecesse o

1. GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Pode-se dizer que os direitos humanos, como os conhecemos namodernidade, constituíram-se a partir da Revolução Francesa e es-tabeleceram um novo patamar de legitimidade, no sentido ético epolítico, transformando a atuação do Estado e, principalmente, dasociedade.

O presente texto vai mostrar que mediante um processo de cons-tituição e releitura permanente, os direitos humanos de alguma for-ma estabeleceram os marços de atuação e reivindicação de profundastransformações da sociedade em cada momento histórico.

Para sistematizar o trabalho iremos apresentá-Ia em forma demódulos nos quais poderá se observar a cada momento preciso dahistória a constituição de uma verdadeira geração de direitos. 1

Aliada à referida geração de direitos, vamos analisar o valor cor-respondente (liberdade, igualdade, fraternidade, solidariedade etc.),bem como o tipo preciso de Estado que se configura por meio dedemandas populares, bem como o indicativo de lutas que colocavaa claro as injustiças perpetradas pelo poder pari passu ao avanço daprópria ciência. Nesse sentido, os direitos humanos são direitos emi-nentemente políticos, conforme nos ensina Chmde Lefort.

Nosso marco de referência se dá com a Revolução Francesa de1789, porém faremos algumas digressões para explicarmos a nature-za do Ancien Régime, que pautava sua prática por meio da legitimi-

1 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. 9. ed. Rio de Janeiro, Campus, 1992.

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NOIIV/'(1I1 Ut'J.lilll/', IH)O Illllis [,lIsc,'lIdonos inleresses seculares da igre-ja e das oligarquias dos nobres.

Ora, nào se tratava de uma simples troca de personalidades noexercício do poder, mas de lima verdadeira ruptura epistemológicae política na forma de agir com vistas à administração do interessepüblico. Esse interesse público não mais era definido pela vontadedas oligarquias, mas pela composição vitoriosa dos interesses popu-lares, representados pela burguesia e sua revolução civil.

A mudança foi tão profunda que não só o Estado, mas toda aeducação deveria ser laica, ficando a fé e a Igreja relegadas a seu pa-pel de cuidar da alma, e o sacerdócio tornou-se um ofício comoqualquer outro, e não mais uma verdade absoluta a ser determinadapelos atos de exercício de poder.

Em outras palavras, pela primeira vez na história, o homem sen-tiu-se verdadeiro artesão de seu desiderato. Ele podia escrever a histó-ria com suas próprias mãos e não aceitar a determinação dogmáticade leis estabelecidas por uma natureza religiosa, superiores ao homeme portanto inquestionáveis por estes. Não estávamos apenas diante deum novo fato que viria a modificar para sempre a forma de agir poli-ticamente. A partir de uma nova legitimidade estabelecida pelos revo-lucionários franceses, a participação popular decidiria a forma pelaqual deveríamos moldar o futuro da civilização, portanto, estávamosdando os primeiros passos em direção à cidadania.

As transformações foram muito além da simbólica queda da Bas-tilha, elas entraram definitivamente não só na estética do poder comoprincipalmente no agir e pensar de cada indivíduo, não mais parte deum todo temente a Deus, mas um ser dotado de autonomia e desejos,que pode determinar a forma pela qual deve caminhar o coletivo nosentido de ampliar os horizontes de sua conduta e conhecimento.

Este primeiro momento histórico da revolução francesa estabe-leceu o que vamos chamar de primeira geração de direitos humanos,a qual se caracterizou pelos seguintes itens, abaixo assinalados:

• Valor = liberdade;• Estado = liberal;

• Direitos = civis e públicos;• Conseqüência = cidadão como ator principal no processo e

construção da nova sociedade;• Principal luta = contra as oligarquias do clero e da nobreza;• Modelo econômico = liberal- acumulação de riqueza que gera

o progresso;• Sujeito = o homem livre (burguês);• Sociedade = Livre mercancia.

Após colocar abaixo os grilhões do feudalismo que acorrenta-vam a sociedade da épocia, foi preciso um enorme esforço parareconstruir as ruínas morais e econômicas em que se encontrava asociedade. Neste momento, foi possível iluminar todos os camposdo conhecimento e, por meio da conquista da liberdade individuale coletiva, o homem passou a ocupar o espaço público sem qual-quer tutela e a desenvolver as forças produtivas da sociedade deacordo com os valores e interesses professados pelos revolucioná-nos.

Foi no bojo desse processo que se nasceram todas as instituiçõesda vida civil e da vida pública baseadas no credo liberal.

No plano econômico, a afirmação de valores liberais, com o fan-tástico crescimento da ciência e das descobertas, permitiu à socieda-de um novo momento de pujança, com a Revolução Industrial, quealiava valores revolucionários com verdades científicas voltadas paraa produção.

Esse processo trouxe um poder quase ilimitado àqueles que deti-nham a posse dos meios de produção. Ao mesmo tempo em que sesentiu um enorme poder baseado nos valores liberais, estabeleceu-seuma dominação de novo tipo, que fazia com que a maioria da popu-lação, embora tivesse igualdade jurídica, por meio dos direitos civis,não possuísse igualdade de condições materiais. Portanto, na práticaacobertava-se a desigualdade econômica existente entre as classes.Assim, surgiram as grandes contestações populares, pois havia mui-tos que, todavia participassem da vida pública, não podiam questio-nar a natureza do regime baseado em valores liberais.

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Estas contl'staçül's Sl' d(,'ram prindpall11l'lltl' IHI (,'sli.'rada WI1.centração de riquezas nas müos da burguesia, porém elas redellniamtodo um outro campo ético e jurídico de atuação individual e cole-tiva por parte dos trabalhadores. A este momento preciso de ruptu-ra com a ordem vigente e a exigência de profundas transformaçõesdo comportamento dos detentores do poder é que vimos emergir achamada segunda geração de direitos humanos, cujas característicasestão abaixo ressaltadas:

• Valor = igualdade;• Estado = socialista, comunista ou social-democrata (Estado debem-estar socia!);

• Direitos = dos trabalhadores (individuais e coletivos),previdenciário, à saúde, ao saneamento básico, à educação etc.;

• Conseqüência = o proletariado como ator principal no proces-so e construção da nova sociedade;

• Principal luta = contra a burguesia e contra a exploração dohomem pelo homem;

• Modelo econômico = social- distribuição de riqueza que gerao progresso;

• Sujeito = proletariado como classe;• Sociedade = sociedade do bem-estar (sem classes).

que som(,'llll' nssim ptldel'il\ HeI' estabelecido UI11patamar dl' (,'x(,'l'd

cio pleno da ddlldulliu pnnlllqucles que tinham como úniw h(,'m lisua força de trabalho.

Nesse processo, um dos principais autores da segundll gent~'ilodos direitos humanos identificará que a transformação deve se processar na infra-estrutura econômica e não na superestrutura sorilll(Marx). De nada valeria a igualdade jurídica, se em seu enunciadoela ocultasse a desigualdade econômica. Essa desigualdade é a mndição última da dominação burguesa e imposição de seu 1110dodevida, baseada na exploração do homem pelo homem.

Os direitos individqais dos investidores deveriam se transfúrmar em direitos coletiv~s do trabalhador, seus ganhos deveriam serpartilhados por todos e, desta forma, seria alavancado o progressona direção da emancipação de toda forma de exploração do hOml'l11pelo homem, passando do reino das necessidades para o reino daopulência e plena realização.

O burguês solitário, que investe em um determinado negóciocom vistas ao lucro e ao progresso, dá lugar a um novo ente co!clivo: o proletariado como classe. Nesse processo é preciso rompe!'mais uma vez com os dogmas que foram secularizados pela burgul'sia: de que ela é a única classe social capaz de promover o desenvolvimento.

Como na Revolução Francesa, o poder não seria simplesmenteoferta do a nova classe ascendente, seria necessária uma ruptura ma isprofunda que interviesse no próprio funcionamento e na forma dever a sociedade e a própria civilização.

Os direitos que eram civis se tornam sociais (direito do trabalhoindividual e coletivo, previdência social, direito sanitário, direito iIsaúde pública etc.). O valor da liberdade dá lugar ao da igualdade econômica e não à igualdade jurídica, meramente formal, estabelecidapelos códigos burgueses.

O Estado precisa se modificar, uma vez que ele não pode ser ()simples anteparo que sustenta as classes detentoras do poder econú-mico e possuidoras dos meios de produção. É preciso que ele, Esta~do, coloque em prática o valor emergente da igualdade. Exige-se que

A imensa riqueza que fez florescer a primeira civilização rompeuas limitações que existiam por parte do homem pela natureza. Domi-nar o meio em que vive e o processo produtivo, superando em partesua dependência dos limites naturais, foi a conquista mais significa-tiva que teve a civilização no curso do processo da Revolução Indus-triaL

Porém, estes ganhos se restringiam a uma pequena classe, quedetinha não só o poder econômico, mas também o poder políticoabsoluto.

Foi nesse processo que as injustiças contra os trabalhadores fica-ram evidenciadas, e uma ruptura da ordem injusta estabelecida pelanova classe dominante passou a figurar na ordem do dia, uma vez

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o Estado cumpra com seu desiderato social c nâo apenas garanla osprivilégios econômicos da classe dominante.

Esta segunda geração de direitos humanos apresentou duas cor-rentes mais claramente identificadas: uma advogava a ruptura coma classe dominante a partir da subordinação de todo o desenvolvi-mento econômico voltado para o interesse coletivo, com o fim dasclasses sociais, tendo o Estado como único investidor. Já a segundacorrente acreditava que as conquistas dos trabalhadores deveriamser novamente inseridas num quadro jurídico em que se redefiniriao sentido da propriedade, visando a uma harmonia entre as classese não à supressão de uma delas por meio da tomada violenta dopoder (processo revolucionário), pois, em última instância, ambasbuscavam o progresso da humanidade.

É claro que aqui estou enunciando as correntes que viriam a sera social-democracia e o socialismo democrático versus o comunis-mo baseado no processo de revolução proletária.

O interessante é que o Estado liberal puro, baseado no desenvol-vimento econômico da burguesia, deu lugar a uma nova concepçãode Estado. Seja comunista, social-democrata ou liberal, agora o Esta-do não busca apenas o progresso, mas ele se transforma definitiva-mente em Estado de bem-estar social.

O Estado de bem-estar social abrange o sentido teleológico detodas as ideologias produtivistas, as quais discordam quanto à formade atingir sua excelência, se por meio de iniciativas coletivistas, dainiciativa privada ou de uma mescla das duas. Porém, é consensoque o desenvolvimento da ciência e o domínio da natureza devemser tratados igualmente, como um dogma, bem como a crença nainesgotabilidade dos recursos naturais. Eis as características da ter-ceira geração de direitos humanos:

• COllseqü~ncia elllt'rg~n<:iadt' novos sujdlos sociais t' dl1ddl1dania ambiental;

• Principalluta= contra o sistema predatório da s()(it'dadl'industrial, que compromete a vida IlOplaneta. Luta conlra aexploração do homem (sistema) pelo homem (homem,mulher, raças) e a natureza;

• Modelo econômico= desenvolvimento sustentável;• Sujeito= novos movimentos sociais;• Direitos= difusos - ambientais, do consumidor, das mulheres,

da infância ete. (metaindividuais, transclassistas ete.);• Sociedade= fim da sociedade de risco.

• Valor = solidariedade;• Estado = de bem-estar ambiental (ou Estado democrático do

ambiente);• Direitos = difusos, anti-racistas, das mulheres, pela paz ete.;

É inegável o enorme avanço alcançado por parte das lulas sociais iniciadas no século XIX e que se consolidaram no século xx. Abusca incessante pela igualdade fez com que parcela significativa dahumanidade professasse o credo de uma mudança significativa dosrumos adotados pelo regime liberal.

Os avanços existentes, mesmo nas sociedades capitalistas, podl'll1ser creditados à luta dos trabalhadores e a seu esforço de organi:t',arasociedade rumo a um maior equilíbrio entre o capital e o trabalho,conseqüentemente à supressão da exploração do homem pelo honll'lll.

Porém, os valores que estavam calcados para as transforma(;()l'sda sociedade, mesmo as mais radicais, advogavam um permanl'lltl'crescimento das forças produtivas, diferenciando-se quanto a seuprocesso de concentração ou distribuição de riquezas. Nesse senl ido, pode-se afirmar que desde as teses mais ortodoxas dos liberais,ou da Escola de Chicago, até os mais ferrenhos revolucionários deorientação marxista-trotskista, todos tinham no aumento da produção e no domínio da natureza, por meio da ciência e da tecnologia,uma mesma partilha de interesses.

Desenvolver a ciência e a tecnologia, dominar a natureza elllproveito do homem, aumentar a produção e proporcionar o maiorconforto material possível sempre foi o ideal buscado por ideologiastão díspares no plano econômico, mas próximas no que tange 8 l'Xl'cução de seus meios.

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Falando em linguagem marxista: os sistemas capitalista e socia-lista eram antagônicos com relação ao modo de produção, porémprofessavam a mesma fé a respeito dos meios a serem empregadospara o desenvolvimento da sociedade. a simples crescimento quan-titativo das forças produtivas da sociedade se chocou com a maisdura realidade no que diz respeito ao equilíbrio ambientaL

É impossível manter o mesmo nível de produção para toda ahumanidade sem que haja um colapso ecológico, um vez que a capa-cidade científica e tecnológica de processar as matérias é infinita-mente superior à capacidade que a natureza tem de se regenerar oude ofertar matéria prima para seu processamento. a mais incrível éque este enunciado é válido tanto para os processos individuais demodelo de desenvolvimento, como para os modelos coletivistas oude socialização dos meios de produção.

Se o processo de revolução liberal teve como marco o ano de1789, com a Revolução Francesa; por outro lado, temos como marcoda Revolução Socialista o ano de 1917, na Rússia. Se formos procu-1'ar um único traço da emergência do processo de construção destaterceira geração de direitos humanos, não vamos encontrar. Seu écaráter difuso, complexo e, por vezes até mesmo paradoxal, porém,apenas como referência poderemos citar o ano de 1968, em especialo mês de maio do referido ano, na França, por possuir força simbó-lica suficiente para ser considerado como um dos principais marcosda chamada terceira geração de direitos humanos.

Ainda que incipiente, poderíamos dizer que o século xx foi ges-tor da única verdadeira ideologia nascida neste período. A crítica àsociedade de consumo, ao desperdício e aos limites da produção.Abriu-se uma discussão no campo da economia que perpassou ocampo da ciência e da ética, chegando às raias das ciências sociais,da espiritualidade e da própria atuação política. A este movimentode contestação e de propostas que redefinem a forma de atuar cien-tífica e politicamente vamos dar o nome de ecologismo.

No plano da sociedade sua atuação se dá por meio de diversosmovimentos sociais, que presentemente são chamados de organiza-ções não-governamentais, as ONG'S, e no campo da representação

polít ka estes valores cst,)o ma is prcsl'l1tcs nos pnrt idos Vt'l'tlt's,embora possam f1gurar em outras agrem inçiks pol íl kas, porl"m S<.'lll

a construção teórica de uma nova sociedade baseada nos seus vaiores e em propostas que em muito avançam para além das qUl'slllt'seconômicas.

Isso não significa um isolamento ou o encerramento do dilÍlogocom outros movimentos típicos da segunda geração dos direitos humanos. Ao contrário, redefinir o eixo da produção passa por conquistar a igualdade professada pelo ideal socialista, assim comoentendo que a própria liberdade, característica dos valores liberais,somente será alcança da por meio da conquista da igualdade buscada pelas lutas sociais.

Na verdade poderíamos dizer que o ecologismo está para o socia-lismo, assim como Einstein está para Newton. Não significa que osenunciados newtonianos estejam errados, mas que são verdadei!"Osdentro dos limites estabelecidos pela sua teoria, sendo que seu inslrumental teórico não dá conta de analisar a complexidade dos fenôlllenos quânticos.

Podemos notar o quanto de perniciosa foi e continua sendo acrença no sistema produtivista, além de criar verdadeiros monst n IS

sob o manto da ideologia.A irracional idade da Guerra Fria fez com que a humanidade

armazenasse uma capacidade de destruição da Terra em mais de 120vezes, bastando um apertar de botões para que todos fôssemos pa rao beleléu. E isso não era privilégio do capitalismo ou do comunis-mo, mas de um processo de corrida armamentista em que am hosestavam completamente envolvidos, utilizando-se das descobertascientíficas e do potencial econômico gerado por seus países pa rapromover a aniquilação total do inimigo, que em termos nuclearesseria a própria aniquilação do vencedor.

a limite da razão científica levou ao limite da irracionalidade daguerra a sua conseqüência máxima: a completa destruição das partes envolvidas. A situação já não comportava os bons de um lado eos maus de outro, se observado sob um outro aspecto, estávamos ellluma luta em que ambas as partes poderiam ser classificadas, grosso

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modo, como "bandidos", Ncstc quadro polílk:o cxlrcmamcnlt.' som-brio é que surge o movimento pacifista como um ator importanteno processo de construção de uma nova cidadania.

Mas não era só no terreno bélico que as coisas se mostravamincompatíveis. As sociedades industriais mais desenvolvidas eramtambém as maiores poluidoras, e geralmente os ganhos econômicosnão eram necessariamente traduzidos em qualidade de vida.

Foi assim que se viu alguns dos antagonismos desenvolvimen-tistas capitalistas e industriais quase sucumbirem diante da polui-ção. Tomemos apenas como exemplo a cidade de Londres na época.Sufocada pelo desenfreado processo produtivo de suas usinas, fatoro qual aliado a sua situação geográfica e ecológica ascendeu a preo-cupantes níveis de poluição urbana.

Um outro exemplo foi o próprio Rio Tâmisa completamentepoluído. Estes e outros exemplos exigiram uma nova atitude por parteda população que via o comprometimento de seus sítios naturais emesmo de sua qualidade de vida ficar comprometida pelo objetivoúnico de aumentar a produção e a renda.

Foi necessário muito recurso de diversos investidores para alémda cidade de Londres para que o Tâmisa fosse despoluído e paraque a cidade pudesse voltar a ter níveis aceitáveis de qualidadede vida.

Estas contradições, porém, não existiam apenas no mundo capi-talista, após a queda do Muro de Berlim, constatou-se também osdesgastes que a sociedade comunista causou ao meio ambiente, e ototal comprometimento ecológico de seu modelo econômico, emespecial com o acidente de Chernobyl, que ficou como símbolo deuma era que precisava ser superada.

Mas nem só de ecologistas e pacifistas vive a chamada terceirageração de direitos humanos, mas, principalmente, foi neste momen-to que se viu emergir um novo ator social e político fundamental queredefinirá os valores e as ações políticas da cidadania: a mulher.

Pode-se constatar o quanto as atitudes desenvolvidas pelos sis-temas capitalista e comunista estão baseadas nos valores masculinosda competição e da dominação, em que invariavelmente o homem é

considt'l'lIdo NlIpt'I'lor1\ mulher, indl'pt'ndcnlt' do rcgiml' polllil'O 011

da idcologia que se professc,Num primeiro momento, a luta das mulheres foi pela igualdadl'

sexual, quando os papéis domésticos estavam bem definidos, t' o t'Spaço público era um privilégio masculino, bem como lodos os ckmentos que até então definiam a cidadania; num segundo momcnto,foi a luta por trabalho igual, salário igual, pois não existe l]ualqut'rjustificativa plausível senão o machismo que faça com que as mulllt'res recebam menos por um trabalho que venha a ser desenvolvidode igual forma; e atualmente estamos vivendo um terceiro moml'nto da luta das mulheres, que redefine os valores da atuação política,Não basta igualdade de sexos, nem emancipação econômica, osvalores que dominam a sociedade contemporânea estão calcados l'mvalores masculinos que privilegiam a dominação, a conquisla l' aforça com relação à solidariedade, ao trabalho coletivo e principalmente ao sentimento de preservação da vida que as mulheres têm,em especial por gerarem a vida.

Junte-se a esses atores sociais todos aqueles que lutaram contl',lo racismo, pois nenhuma justificativa sustenta a superioridade deuma raça sobre as demais, apenas revelando o grau de irracional idade que pode ser gerado pelos processos de exclusão e privilégio dealgumas classes.

Há que se salientar que a luta contra o racismo vai muito all'mde sua emancipação econômica, pois os negros, judeus, entre oulrasraças, podem se sentir discriminados e agredidos mesmo quandosua condição econômica é confortáveL A luta contra o racismo (',uma luta de um novo comportamento de civilização e não de simpIes aceitação do diferente.

Alguns autores ainda advogam que, com o avanço de algumasáreas científicas e com a capacidade de manipulação genética dosseres vivos, estaríamos já entrando numa quarta geração de direitos,em que a questão da ética deveria se sobrepor sobre todas as demais,sob pena de termos que redefinir o próprio conceito de vida e, conseqüentemente, o de direito (pois não é a vida o bem maior a ser tutelado pelo direito?).

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Os limitcs do dcscnvolvinll'nto produtivo 11i\O dCVl'mwmpro-meter o equilíbrio ecológico, bcm como o dcscnvolvimcnto da ci~n-cia não pode ultrapassar a fronteira da criação da vida.

Um, ",um u prm:esso dc dcscollslitui<;.lO dn sobcrllllill clll1l011lt'da cwnomill de mercado ncolibcral, o qLlI: se v~ é a lolall1llsl'nrill dl'éapa_cidade normativa para rcgular csscs mcrGldos, somada n UI1111f~!a d~~t~a quese e_~!!:.t?d~_d~_~conomiapara a ciência. Vemos qUl',

se for interessante economicamente, podemos avançar cm todos oscampos do conhecimento, sem qualquer respeito à ética, como oque pode ocorrer na área da manipulação genética, atingindo Iambém os seres humanos (se é que poderemos chamá-Ios assim casoseja lançado um processo desenfreado de seu desenvolvimcnlo). J!ica claro que estamos tocando em pontos delicados do dcscnvolvimento científico os quais acreditávamos trabalhar semprc em prolda humanidade. Mas, caso esse processo de progresso sem ('Iira Sl'

consolide, ele terá quebrado todas as barreiras éticas.Que alternativas ainda temos neste nebuloso quadro de rel ron's

so em termos civilizatórios em que estamos jogados, a se conllnllaJ'o processo d~~neoliberal? Estamos caminhando pa ra UIl1quadro de ~~ba~~tar~sto é, globalização cOl~ autoritaris

/ll1o, ~.

que pode superar em mUlto todas as formas de dommação do sccu10 xx, incluindo os regimes totalitaristas.

Da mesma forma que este poder mostra seus tentáculos, ele 11110o faz sem resistências. O interessante é que num quadro de compkxidade como o que estamos vivenciando, a resistência deve tamb('1l1se dar no plano da globalização.

Em outras palavras, se a globalização é um processo inevit<Ível.queremos que ela se dê, principalmente, na esfera humana, com orompimento das fronteiras para os estrangeiros, com o respeito global à natureza, com o pagamento digno a qualquer trabalhadoJ',independentemente do país em que ele esteja. Enfim, dar as condições de sobrevivência digna não só para as pessoas, mas pa ra ()próprio planeta, que parece que foi tomado de assalto por algunsgrupos privados, que se arvoram no verdadeiro papel de Deus,podendo superar em muito a forma absolutista de dispor dos bCl1se até mesmo das pessoas, como ocorreu na longínqua Idade Média.que acreditávamos ter superado.

Com o processo neoliberal em curso e a chamada sociedade "20por 80", estamos vivenciando provavelmente um retrocesso jamaisvisto pela humanidade, pois nenhum dos valores constantes da Revo-lução Francesa, como aqueles constituintes da cidadania, a igualdade,a liberdade e a fraternidade, é respeitado por este processo que estabe-lece a economia como superior às outras ciências e dogmaticamenteinquestionável, pois é o único saber ao qual as sociedades de massadevem se submeter.

Quanto a este retrocesso, que não partilha de nenhum valor quenão a especulação, podemos observar que não é nem mais a acumu-lação por parte da burguesia industrial, mas a especulação por partedos mercados financeiros, impessoalizados, antidemocráticos e semnenhum valor ético, que determina o funcionamento de nossassociedades.

Como esse processo de construção neoliberal acredita ser isen-to de valor, pois reflete o interesse do mercado e do único sistemaexistente, por mais paradoxal que possa parecer, o neoliberalismonão propõe nenhum modelo de Estado, nem liberal, nem socialista,nem de bem-estar. Simplesmente fala-se em um Estado mínimo,que no meu entender não quer dizer grande coisa.

Estamos no limite de uma nova barbárie, pois o capital e a eco-nomia não se sujeitam a nenhum ordenamento jurídico, pois, paratanto, como diria Kelsen, é necessária uma norma fundamental hi-J:S'!~!~~-~~_es_ta,~Illtermos furídicos, se darlâ-ape~·;~~-~~~--a existên-cia de um Estado cuja materialidade se consolidaria na Constituiçãosoberana.-

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011111'01 ""M•• IM.II AMIIINTII UMA IIIVOLUÇAO DI 'AIIADIGMA 'AlIA O UCULO 11111'-_" __ 0"_-

Entendo que é possível uma forma de I'esisl~nda ddad.\ c PI'O-positiva, que não fique apenas apresentando as mazelas de limasociedade injusta e patriarcal.

No plano econômico, não só é importante defender a sustenta-bilidade, como é preciso operar um outro conceito de mais-valia: amais-valia tecnológica, que por razões óbvias não vou tratar nestetexto, mas posso adiantar que proponho deslocar o eixo de análiseda mais-valia, que Marx identificava no trabalhador e no salário,para a mais-valia tecnológica, que permite uma apropriação em ter-mos geométricos de valores e concentra uma riqueza que deveriapertencer a todos.

Por fim, creio que não devemos repetir os erros do passado,principalmente no campo do modelo de Estado a ser construído. Acrença em um Estado único provedor das necessidades coletivas aca-bou, em muitos casos, se tornando pretexto para as mais cruéis dita-duras. Por outro lado, o Estado de bem-estar social, idealizadoprincipalmente pelos países ricos, só foi possível mediante a explo-ração do Terceiro Mundo e da famigerada dívida externa, além deser altamente predatório e conter no seu bojo diversas contradições.

Proponho que comecemos a pensar num modelo de Estado queseja de acordo com o desafio que estamos enfrentando. Por falta deuma melhor precisão e por ser ainda incipiente, vou chamar de Esta-do de bem-estar ambiental, que resgata as conquistas do Estado debem-estar social, tratando de seus excessos, porém baseado no qua-dro mais geral da sustentabilidade.

Esse Estado de bem-estar ambiental não será fruto de conquistado poder por um partido ou privilégio de uma região, ele deve seruma referência norteadorade atuação do campo da radicalização dademocracia e da nova cidadania emergente, que é a cidadania am-biental, típica do terceiro milênio, cheia de contradições, com avan-ços e recuos, mas sempre resgatando a utopia da possibilidade deconstruir a históriá com nossas próprias mãos. s_também, sem.2~ereafirmando.oql1ão.solllos ~eterminados pelas forç;~--i;J~f~tiveisdo mercado ~ qual resume nossa possibiiidàde-d;~xi ..s.tência a ~-

. "" ..'<~""'-'~".~--

pIes consumidores de uma sociedade pós-moderna.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

(1) O momento presente que vive a dvilizl1çilo exige um outrocomportamento, tanto na produção como no consumo, em face dalimitação dos recursos naturais e às exigências impostas pela sociedade industrial.

(2) Paradoxalmente o elevado grau de problemas que enfrenta asociedade contemporânea é proporcional às possibilidades de encontraI' alternativas que permitam a recomposição do tecido social.

(3) Os direitos humanos foram redefinidos a cada momento histórico de acordo com as exigências e as crises por que passava a sociedade em cada momento histórico. O Direito Ambiental é o novomarco jurídico de emancipação que permitirá a ampliação da cidadania no século XXI.

(4) O Direito Ambiental traz à tona uma série de discussões queultrapassam sua materialidade, não se resolvendo apenas na esferaprocessualística. Na realidade, é um novo marco epistemológico daprópria ciência do direito, que aponta um novo horizonte de discussão em uma outra disciplina que por ora vou denominar de EcologiaJurídica.

(5) A sociedade contemporânea não vive mais o dilema dos anos50: socialismo ou barbárie, mas sim um outro dilema: sustentabilidade ou barbárie.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ambiental: prevenção, reparação e repressão. São Paulo, RT, 1993.

AZEVEDO, Plauto Faraco de. Justiça distributiva e aplicação do direito. Porto Alegre,Sérgio A. Fabris, 1983.