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Ministério Público Folha nº 50 MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS Gabinete do Procurador Marcílio Barenco Corrêa de Mello Processo n.º: 884.755 Natureza: Edital de Concurso Público Relator: Jurisdicionado: Conselheiro Mauri Torres Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão SEPLAG; Secretaria de Estado de Defesa Social SEDS. Edital: Inscrições: Provas: SEPLAG/SEDS n.º 03/2012 01/10/2012 a 30/10/2012 02/12/2012 M A N I F E S T A Ç Ã O P R E L I M I N A R Excelentíssimo Senhor Conselheiro-Relator, I. BREVE RELATÓRIO FÁTICO Versam os presentes autos sobre o Edital de Concurso Público SEPLAG/SEDS n.º 03/2012, destinado a selecionar candidatos para o provimento de cargos da carreira de Agente de Segurança Penitenciário do quadro de pessoal da Secretaria de Estado de Defesa Social, encaminhado a esse Egrégio Tribunal por meio do Ofício n.º 086/2012/SCPRH/DCPR, protocolizado sob o n.º 02600412/2012, em cumprimento ao disposto no art. 2º da INTC n.º 08/2009. O Ofício n.º 086/2012/SCPRH/DCPR, à fl. 01, se fez acompanhar dos documentos de fls. 02 a 29, compreendendo: a) Edital n.º 03/2012, publicado no jornal Minas Gerais, do dia 31/8/2012 (fls. 02/08); b) Quadro demonstrativo do quantitativo de vagas criadas, ocupadas e disponíveis, nos termos do inciso IV do art. 1º da INTC n.º 08/2009 (fl. 09); c) Legislação Estadual vigente, relativa à criação do cargo e seus requisitos, jornada de trabalho, atribuições e vencimentos (fls. 10/19); d) Comprovação da publicidade do Edital nos meios elencados pela Súmula TC 116 (fls. 20/29).

IRREGULARIDADES DETECTADAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONCURSO ASP MG 2012

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Folha nº

50

MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Gabinete do Procurador Marcílio Barenco Corrêa de Mello

Processo n.º: 884.755

Natureza: Edital de Concurso Público

Relator:

Jurisdicionado:

Conselheiro Mauri Torres

Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – SEPLAG;

Secretaria de Estado de Defesa Social – SEDS.

Edital:

Inscrições:

Provas:

SEPLAG/SEDS n.º 03/2012

01/10/2012 a 30/10/2012

02/12/2012

M A N I F E S T A Ç Ã O P R E L I M I N A R

Excelentíssimo Senhor Conselheiro-Relator,

I. BREVE RELATÓRIO FÁTICO

Versam os presentes autos sobre o Edital de Concurso Público

SEPLAG/SEDS n.º 03/2012, destinado a selecionar candidatos para o provimento

de cargos da carreira de Agente de Segurança Penitenciário do quadro de pessoal

da Secretaria de Estado de Defesa Social, encaminhado a esse Egrégio Tribunal por

meio do Ofício n.º 086/2012/SCPRH/DCPR, protocolizado sob o n.º 02600412/2012,

em cumprimento ao disposto no art. 2º da INTC n.º 08/2009.

O Ofício n.º 086/2012/SCPRH/DCPR, à fl. 01, se fez acompanhar dos

documentos de fls. 02 a 29, compreendendo:

a) Edital n.º 03/2012, publicado no jornal Minas Gerais, do dia 31/8/2012 (fls.

02/08);

b) Quadro demonstrativo do quantitativo de vagas criadas, ocupadas e

disponíveis, nos termos do inciso IV do art. 1º da INTC n.º 08/2009 (fl. 09);

c) Legislação Estadual vigente, relativa à criação do cargo e seus requisitos,

jornada de trabalho, atribuições e vencimentos (fls. 10/19);

d) Comprovação da publicidade do Edital nos meios elencados pela Súmula

TC 116 (fls. 20/29).

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A documentação foi submetida ao Eminente Conselheiro-Presidente

(fl. 31), que determinou a sua autuação como Edital de Concurso Público, nos

termos do art. 111 do RITCMG, e respectiva distribuição.

Após a devida distribuição (fl. 32), os autos foram encaminhados à

Unidade Técnica, que se manifestou às fls. 34 a 47, apontando o seguinte:

a) necessidade de remessa da memória de cálculo/tabela, contendo o exato

valor do vencimento constante do subitem 2.7 do Edital e a indicação das

respectivas leis,

b) necessidade de retificação do subitem 5.4.1 do Edital, de forma que,

além das hipóteses de cancelamento ou suspensão do Certame, o

pagamento em duplicidade ou extemporâneo da taxa de inscrição

também seja objeto de devolução, devendo-se, ainda, incluir as

condições para a sua efetivação, nos termos do art. 1º, §§ 1º e 2º, da

Lei Estadual n.º 13.801/2000;

c) necessidade de retificação do subitem 5.5.5 do Edital, de forma que seja

possibilitada a concessão de isenção da taxa de inscrição a todos os

candidatos que, em razão de limitações de ordem financeira, não

puderem pagar a referida taxa sem o comprometimento do próprio

sustento ou de sua família, independentemente de estarem trabalhando

ou não, devendo ser permitida a comprovação da hipossuficiência através

de ―declaração, sob as penas da Lei‖, pelo candidato interessado;

d) necessidade de ser incluída hipótese de recurso, no subitem 16.1 do

Edital, para os casos de cancelamento da inscrição e exclusão sumária do

candidato do Concurso Público, uma vez que o subitem 13.11 não trouxe

a previsão do direito de defesa no âmbito da Administração Pública para

essas situações;

e) necessidade de retificação dos subitens 8.2 e 8.2.2 do Edital, de forma a

ampliar os meios de divulgação relativos ao dia, local, sala e horário da

realização das provas, em jornal oficial e de grande circulação nas regiões

de abrangência do Concurso Público, bem como no site indicado no

subitem 8.2;

f) além disso, verificou-se a necessidade de incluir cláusula contendo

previsão de prazo para a guarda da documentação relativa ao Concurso

Público.

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Cabe ressaltar, ainda, que o subitem 3.2 do Edital não disponibilizou

vagas para candidatos portadores de deficiência, sob alegação, em tese, da

natureza do trabalho do Agente de Segurança Penitenciário, que exigiria aptidão plena,

nos termos do art. 38, inciso II, do Decreto Federal n.º 3.298/1999, tendo sido tal

entendimento corroborado pelo Órgão Técnico desse Tribunal, em detrimento dos

mandamentos constitucionais de inclusão social de portadores de necessidades

especiais.

Após, os autos vieram a este órgão ministerial para apreciação.

Assim é o relatório fático no essencial, passando-se à fundamentação.

II. FUNDAMENTAÇÃO

Antes de adentrarmos ao mérito, impende destacarmos que se trata o

FISCAD – Fiscalização dos Atos de Admissão -, de processo eletrônico de exame

de legalidade, para fins de fiscalização dos atos de admissão e contratação de

pessoal, por meio de concurso público, nos termos do que dispõe o art. 71, III, c/c

art. 75 ambos da Constituição Federal c/c art. 76, VI, da Constituição do Estado de

Minas Gerais.

A Magna Carta de 1988 assim preconiza:

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido

com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:

(...)

III – apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de

pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas

as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as

nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das

concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as

melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato

concessório;

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(...)

Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à

organização, composição, fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados

e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos

Municípios. (...) (grifos nossos)

Nessa senda, pelo princípio constitucional da simetria, a Constituição

do Estado de Minas Gerais, prescreve:

Art. 76 - O controle externo, a cargo da Assembleia Legislativa, será

exercido com o auxílio do Tribunal de Contas, ao qual compete:

(...)

V – apreciar, para o fim de registro, a legalidade dos atos de admissão

de pessoal, a qualquer título, pelas administrações direta e indireta,

excluídas as nomeações para cargo de provimento em comissão ou para

função de confiança; (grifos nossos) (...)‖.

As Cortes de Contas, inseridas num contexto normativo orientado pelas

Constituições, estão a elas também submetidas, devendo, portanto, pautar sua

atuação nos valores e princípios nelas contidos, a fim de que sejam reconhecidas

como instrumento burocrático voltado à implementação dos princípios

constitucionais axiológicos, políticos-constitucionais e jurídicos constitucionais, bem

como órgão democrático garantista e como mecanismo de desenvolvimento da

eficiência do agir estatal, voltado ao bem comum da sociedade.

O exórdio da presente manifestação se deu em consonância ao

cumprimento da Instrução Normativa TCE n.º 05/2007, cuja redação foi objeto de

alteração pelas Instruções Normativas TCE n.º 04/2008 e 08/2009, regulando,

conforme ementa:

Dispõe sobre critérios e procedimentos acerca da remessa, de documentos

e informações necessárias à apreciação da legalidade para fins de registro

e controle dos atos de admissão de pessoal da Administração Direta e

Indireta dos Poderes do Estado e dos Municípios.

Na busca da realização do princípio da celeridade processual e

razoável duração do processo (ex vi inciso LXXVIII do artigo 5º da CF/88), voltou-

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se essa Egrégia Corte de Contas à modernização de seus procedimentos de

controle e fiscalização, dentre os quais a implantação do software – FISCAD, que de

certo dará maior efetividade aos procedimentos de fiscalização e registro dos atos

de admissão de pessoal, digno de registro por este representante do Parquet

Especial.

A nova sistemática de informação de dados, na busca da necessária

modernidade tecnológica dos órgãos de contas em geral, impôs um regime de

autodeclaração ao jurisdicionado, isto é, preenchimento de um banco de dados

preestabelecido, voltado a autodescrever os atos e fatos jurídicos ocorridos no

âmbito de sua própria estrutura da administração pública, com remessas periódicas

ao respectivo Tribunal, com necessidade de comprovação material imediata, isto é,

com materialidade documental, em casos de verificação de inconsistências,

irregularidades ou ilegalidades, em tese, como no presente feito.

Registre-se, por oportuno, que o Edital de Concurso Público n.º

03/2012 – Secretaria de Estado de Defesa Social – SEDS / Secretaria de Estado

de Planejamento e Gestão – SEPLAG, foi remetido diretamente a esse Tribunal

por Ofício n.º 086/2012/SCPRH/DCPR, em razão de limitação do próprio sistema

eletrônico (FISCAD).

II.I. DAS IRREGULARIDADES ENCONTRADAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DE

CONTAS

Além das irregularidades encontradas pela Unidade Técnica,

vislumbram-se outras, que serão objeto de análise por este Órgão Ministerial.

Assim, passados a aditar o presente, fundamentadamente.

A) Da fase interna na contratação de instituição para realização de concurso

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A fase externa dos concursos públicos, como regra, é marcada por

grande controle social, decorrente, sobretudo, do interesse dos próprios candidatos.

Contudo, na fase interna (planejamento, preparação e contratação da

instituição realizadora), o controle tem sido pouco feito, inclusive por parte dos

órgãos de controle externo, sem qualquer demérito, diante das inúmeras atribuições

legais e funcionais dos órgãos de contas, como partícipes da construção e

realização do Estado Social de Direito.

Sabemos que o concurso público trata-se de procedimento

administrativo, de natureza instrumental, que permite selecionar de forma imparcial e

por critérios estritamente objetivos, os indivíduos que ocuparão cargos, empregos ou

funções na Administração Pública em geral, se idealizando como meio relevante de

combate à corrupção existente nos Poderes Constituídos de nosso Estado

Republicano.

Nas formas de sua promoção, se encontra a via direta, quando a

própria Administração Pública realiza todas as fases do certame (concepção,

planejamento, preparação e execução), dotada de pouca imparcialidade e carente

de expertise para sua escorreita realização.

De forma usual, vemos a forma indireta, quando há a contratação de

terceiros para realização parcial ou integral do certame, como in casu.

Seguindo na linha esposada, agora, quanto à forma de contratação

indireta pelo ente público, exsurge: a) inexigibilidade inaplicável in casu, segundo a

jurisprudência pacífica do Tribunal de Contas da União; e b) a dispensa de licitação,

com fundamento no art. 24, XIII, da Lei Federal n.º 8.666/93, visando à contratação

de instituição nacional incumbida regimental ou estatutariamente em pesquisa de

ensino ou de desenvolvimento institucional, ou de instituição dedicada à

recuperação social do preso, desde que a contratada detenha inquestionável

reputação ético-profissional e não tenha fins lucrativos.

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Sendo a hipótese de licitação, preferencialmente se dará na

modalidade de concorrência pública e, sempre do tipo ―melhor técnica‖ ou ―técnica e

preço‖, por se tratar de serviço de natureza predominantemente intelectual. Desse

modo, nunca é o caso de se admitir a licitação do tipo ―menor preço‖.

Assim, não esclarecido nos autos de forma terminativa tais

circunstâncias e para fins de controle de legalidade, acerca da forma de

contratação e do respectivo procedimento administrativo pretérito que ensejou a

legalidade da atuação da empresa organizadora do certame em tela, com atesto de

todos os meandros e especificidades aplicáveis à espécie, o Ministério Público

requesta a vinda do inteiro teor do Processo Licitatório Administrativo que

ensejou a respectiva contratação da empresa INSTITUTO BRASILEIRO DE

FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO - IBFC, face às inúmeras irregularidades apontadas

pela Unidade Técnica dessa Corte de Contas, que demandam - prima facie – uma

reflexão jurídica acerca da premente expertise inerente à própria organização de

concursos públicos em geral.

B) Da qualificação técnica dos organizadores do Certame e do corpo docente

O concurso público deve ser visto como um processo garantidor do

princípio republicano e democrático de ampla acessibilidade aos cargos e empregos

públicos em geral.

Ainda, se vislumbra no mesmo, um instrumento de efetivação dos

princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência, todos assim

insculpidos na Magna Carta:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes

da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 19, de 1998)

I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos

brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como

aos estrangeiros, na forma da lei; (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 19, de 1998)

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II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação

prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo

com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista

em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em

lei de livre nomeação e exoneração; (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 19, de 1998)

III - o prazo de validade do concurso público será de até dois anos,

prorrogável uma vez, por igual período;

IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele

aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos será

convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou

emprego, na carreira;

[...]

No contexto verificado nos autos, com a promoção do Certame de

forma indireta pela contratação de empresa organizadora, há de se observar fatores

essenciais a serem considerados na capacidade técnica, para manutenção da

imparcialidade:

a) inquestionável reputação técnico-profissional para promoção do

certame;

b) demonstração da qualificação adequada da equipe técnica responsável

pela elaboração e correção das avaliações constantes das provas

objetivas e, titulação pessoal dos responsáveis pelo corpo docente

(mestrado, doutorado, dentre outros), de acordo com a natureza e a

complexidade do cargo ou emprego público ofertado, vinculado às

especificidades do conteúdo programático exigido;

c) apresentação de plano de segurança, sistema de controle de

informações adequado e suficiente à garantia da lisura e sigilo nas

fases de elaboração, impressão, distribuição, aplicação e correção das

avaliações;

d) termo de compromisso do corpo técnico, de elaboração de questões

inéditas e provas de gabaritos variados;

e) comprovação de especialização na realização de concurso público,

com demonstração de aptidão para o desempenho da atividade e

compatível em características, quantidades e prazos em relação à

dimensão do certame; e,

f) capacidade financeira e patrimonial para arcar com eventuais prejuízos

aos candidatos e à Administração.

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Desta forma, deve o ente epigrafado, ao assumir o ônus e a

responsabilidade de entregar a promoção do certame a terceiros, especificar e

trazer aos autos, para controle de legalidade, as respostas e comprovação do

cumprimento dos itens acima (itens “a” a “f”), visando à manutenção da

imparcialidade e expertise necessárias à realização dos concursos públicos.

C) Dos recursos, do prazo e dos meios para sua interposição

No item 16 do edital (fl. 05), há previsão para o caso de interposição de

recurso, em respeito aos princípios do contraditório e da ampla defesa. Trata-se aqui

da preservação dos corolários inseridos no rol de direitos e garantias individuais e

coletivos, assim insculpidos no inciso LV, do artigo 5º da Magna Carta de 1988.

Entretanto, consta como irregularidades verificadas, a forma de

interposição dos recursos e requerimentos (subitem 16.4 – fl. 05), possível apenas

diretamente, via correios por meio de SEDEX e/ou por Aviso de Recebimento (AR),

o que restringe tal direito, bem como a fixação do prazo recursal em 02 (dois) dias,

contados do primeiro dia útil posterior à data de divulgação do ato ou do fato que lhe

deu origem (subitem 16.2), o qual não se revela razoável ou suficiente para garantir

a ampla defesa dos candidatos, motivo pelo qual deve o referido prazo ser ampliado

para ao menos 03 (três) dias úteis.

Nesse sentido se manifestou essa Egrégia Corte de Contas, nos autos

do Edital do Concurso Público n.º 839.004, cujo acórdão fora proferido pela 2ª

Câmara, na sessão do dia 24.02.2011: ―O prazo contido nos subitens [...], deve ser

ampliado para 3 (três) dias úteis para a garantia constitucional do direito de

defesa”. (grifos nossos)

Assim, o prazo razoável de 3 (três) dias úteis deve ser a regra

retificada, (subitem 16.2) visando o afastamento de qualquer exiguidade temporal,

com a possibilidade de interposição de recursos tanto via internet, quanto

pessoalmente ou por procurador legalmente constituído, e ainda, via postal por

SEDEX ou Carta Registrada com Aviso de Recebimento – ―AR‖, indicando-se para

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tanto os endereços físicos e eletrônicos completos, com dia e horários de

funcionamento da repartição.

D) Da guarda dos documentos do concurso

Verificamos ausência de cláusula acerca da guarda de documentos do

concurso, mais especificamente das provas, requerimentos e recursos

eventualmente interpostos.

Em que pese à falta de lei específica regulamentadora, há que se ter

em vista que se mostra razoável o prazo estabelecido pelo Conselho Nacional de

Arquivos (CONARQ), mais especificamente na Resolução n.º 14/2001, que impõe

o arquivamento respectivo por 06 (seis) anos.

Tal resolução vai ao encontro do estabelecido no Decreto n.º

20.910/1932, segundo o qual eventual ação judicial contra a Administração Pública

poderá ser manejada dentro do lapso temporal máximo de 05 (cinco) anos, o que

impõe a necessidade de guarda da documentação do certame ao menos por esse

período, de modo a preservar a possibilidade de defesa de direitos pelos

interessados.

Há que se registrar que os demais documentos do concurso devem ser

guardados para fins de aferição, pelo TCEMG, da legalidade dos atos de admissão.

Assim, o Ministério Público aponta no sentido de que o gestor público

deva acrescentar no Edital do Certame, a previsão de guarda do material relativo ao

Concurso Público, notadamente no que se refere às provas e recursos

eventualmente interpostos, pelo prazo mínimo de 06 (seis) anos, seguindo as

normas do Conselho Nacional de Arquivos - CONARQ, sem prejuízo do

cumprimento de outros prazos aplicáveis à guarda da documentação remanescente,

para fins de fiscalização dos atos de admissão pelos órgãos públicos responsáveis.

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E) Da ausência de previsão de vagas destinadas aos portadores de

necessidades especiais

O edital não previu a destinação de vagas aos portadores das

necessidades especiais, sob fundamento de que o cargo exigiria aptidão plena, nos

termos do art. 38, inciso II, do Decreto Federal n.º 3.298/1999, tendo sido o mesmo

entendimento adotado pela unidade técnica, sem sequer se debruçar sobre as

atribuições inerentes ao cargo e em total detrimento à concretude dos mandamentos

constitucionais de inclusão social de portadores de necessidades especiais.

Nesse sentido, transcrevemos o item 2 do Edital do certame, acerca

das atribuições do cargo ofertado, verbis:

2. Especificações do cargo 2.1. Cargo – Agente de Segurança Penitenciário 2.2. Atribuições do cargo (de acordo com o Decreto Estadual n.º 43.960/2005): garantir a ordem e a segurança no interior dos estabelecimentos prisionais; desempenhar ações de vigilância interna e externa dos estabelecimentos prisionais, inclusive muralhas e guaritas,bem como em órgãos e locais vinculados ou de interesse do Sistema Prisional; exercer atividades de escolta e custódia de presos; executar operações de transporte, escolta e custódia de presos em movimentações externas, bem como de transferências interestaduais ou entre unidades no interior do Estado; realizar buscas periódicas nas celas; realizar revistas nos familiares e visitantes dos presos; prestar segurança a profissionais diversos que fazem atendimentos especializados aos presos nas unidades prisionais; conduzir presos à presença de autoridades; adotar as medidas necessárias ao cumprimento dos alvarás de soltura, obedecidas as normas próprias; informar ao preso sobre seus direitos e deveres de conformidade com o Regulamento Disciplinar Prisional – REDIPRI e demais normas vigentes; verificar sobre a necessidade de encaminhar presos a atendimentos especializados; entregar medicamentos aos presos, observada a prescrição médica; prestar assistência em situações de emergência: primeiros socorros, incêndios, transporte de enfermos, rebeliões, fugas e outras assemelhadas; preencher formulários, redigir e digitar relatórios e comunicações internas; participar de comissões de classificação e de disciplina, quando designado; exercer outras atividades que vierem a ser incorporadas ao cargo por força de dispositivos legais. (grifos nossos)

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Nesse sentido, vemos atribuições totalmente compatíveis com as mais

graves formas de deficiências físicas: paraplegia, monoparesia, visão monocular,

etc...

O que impede os deficientes citados de preencher formulários, redigir

documentos, digitar relatórios, participar de comissões? Absolutamente nada.

A exclusão absoluta de reservas de vagas aos portadores de

necessidades especiais só se justificaria diante de total incompatibilidade de todas

as atribuições do cargo com qualquer espécie e grau de deficiência.

Assim, a ausência de disponibilização de vagas destinadas aos

portadores de necessidades especiais, não atendem às legislações aplicáveis in

casu, devendo tal inconstitucionalidade ser afastada.

Em sua obra Oração aos Moços, lida na Faculdade de Direito do Largo

de São Francisco em 1921, o ali paraninfo Ruy Barbosa (Oração aos moços.

Marcelo Módolo (Org.). São Paulo: Hedra, 2009), escreveu:

A regra da igualdade não consiste senão em aquinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites humanos conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a cada um, na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem. (grifos nossos)

Assim, ex surge aplicação de uma das facetas do princípio

constitucional da isonomia ou igualdade, descrito no caput, do artigo 5º da Magna

Carta de 1988.

O edital do certame é viciado sob a ótica do princípio da

igualdade, legalidade, razoabilidade, ao excluir, taxativamente, em total

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incompatibilidade para o cargo, qualquer espécie de deficiência quanto à

natureza, grau de necessidade especial, sem que se possibilite ao candidato

uma avaliação médica pela perícia oficial do Estado que, eventualmente, ateste

tal circunstância.

Acerca do tema, o então Procurador do Ministério Público de Contas do

Estado de Minas Gerais, ora alçado à vaga de Conselheiro dessa Egrégia Corte –

Claudio Couto Terrão, e Conselheiro-Relator do presente, publicou artigo

esclarecedor na Edição Especial – ano XXVIII da Revista do TCEMG (fls. 43/55),

intitulado ―Reserva de vagas na administração pública para as pessoas com

deficiência: ação afirmativa e concurso público”, em que busca reflexão sobre a

promoção da política constitucional de reserva de vagas, nos concursos públicos, às

pessoas com deficiência.

A regra de competência constitucional material sobre o tema, indica o

artigo 23, inciso II, da Magna Carta de 1988, que dispõe sobre competência

comum dos entes da federação, para o exercício do poder-dever de implementar

políticas públicas voltadas à inserção social das pessoas portadoras de

necessidades especiais junto à coletividade.

Já a competência constitucional legislativa, aponta o artigo 24, inciso

XIV, da Magna Carta de 1988, na classificação da competência concorrente, onde a

União estabelece normas gerais, e os Estados e Distrito Federal, complementam;

podem os municípios ainda suplementar a legislação federal e estadual, no que

couber, devendo, contudo, subordinação legislativa (Ex vi, artigo 30, incisos I e II,

da Magna Carta de 1988).

Vejamos:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

[...] omissis

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XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;

§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. [...] Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; [...] (grifos nossos)

Partindo das premissas hierarquizantes do arcabouço jurídico-

normativo dos sistemas de regras que envolvem os instrumentos de realização dos

princípios políticos-constitucionais, insculpiu-se na Magna Carta de 1988, o artigo

37, inciso VIII, que preconiza: “a lei reservará percentual dos cargos e empregos

públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de

sua admissão” (grifos nossos); remete-se assim, à competência exclusiva dos

entes que compõe a federação, a auto-organização administrativa dos estatutos de

seus próprios servidores, onde houver.

No âmbito da União, a Lei Federal n. 8.112/90, estabeleceu em seu

artigo 5º, parágrafo 2º, o coeficiente de até 20% (vinte por cento) como limite

máximo de vagas reservas no âmbito da Administração Pública Federal, verbis:

Art. 5o São requisitos básicos para investidura em cargo público:

[...] omissis

§ 1o As atribuições do cargo podem justificar a exigência de

outros requisitos estabelecidos em lei.

§ 2o Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o

direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de

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que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso. (grifos nossos)

Regulamentando a Lei Federal n. 7.853/1989, que dispõe sobre a

Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, o Decreto

Federal n. 3.298/99, de 20 de dezembro de 1999, preconizou o percentual mínimo

de reserva de vagas de 5% (cinco por cento), em face da aprovação e classificação

obtida em concurso público, senão vejamos:

Art. 37. Fica assegurado à pessoa portadora de deficiência o direito de se inscrever em concurso público, em igualdade de condições com os demais candidatos, para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que é portador.

§ 1o O candidato portador de deficiência, em razão da

necessária igualdade de condições, concorrerá a todas as vagas, sendo reservado no mínimo o percentual de cinco por cento em face da classificação obtida.

§ 2o Caso a aplicação do percentual de que trata o

parágrafo anterior resulte em número fracionado, este deverá ser elevado até o primeiro número inteiro subsequente. (grifos nossos)

Em Minas Gerais, a Lei Estadual n. 11.867, de 28 de julho de 1995, fixa o

coeficiente de reserva em 10% (dez por cento) e o correspondente arredondamento de

números fracionados para o primeiro inteiro subsequente, quando a fração for maior que

cinco décimos, desprezando-se a fração, quando ela for menor que cinco décimos, como se

vê, verbis:

Art. 1° — Fica a administração pública direta e indireta do Estado obrigada a reservar 10% (dez por cento) dos cargos ou empregos públicos, em todos os níveis, para pessoas portadoras de deficiência. § 1° — Sempre que a aplicação do percentual de que trata este artigo resultar em número fracionário, arredondar-se-á a fração igual ou superior a 0,5 (cinco décimos) para o número inteiro subsequente e a fração inferior a 0,5 (cinco décimos) para o número inteiro anterior.

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[...] grifos nossos

Assim, deverão constar das normas editalícias calcadas na legislação

mineira acima, retificação do edital por parte do contratante e do organizador do

certame, que deixaram de prever a reserva de vagas e os critérios de convocação

dos portadores de necessidades especiais, que deverão constar não só dentro do

número de vagas ofertadas no específico certame, mas também no eventual

chamamento de aprovados e não classificados dentro do número de vagas

originárias estabelecidas, em estrita oportunidade e conveniência da administração

e, durante toda a validade do certame ou de sua eventual prorrogação, tudo em

sede de cadastro de excedentes, respeitando-se sempre, o princípio constitucional

da ordem de classificação dos concursos públicos.

Como agora postos, os critérios editalícios irão atender o fundamento

constitucional da máxima efetivação dos direitos fundamentais, em especial da

reserva de vagas insculpida constitucionalmente. Fundamento:

Terrão (ob. cit.), em seu brilhante artigo, aduz apontamentos sobre

questões polêmicas, que incidem no caso em concreto, para fixação dos critérios

objetivos de operacionalização que devem constar do exame de legalidade do

certame:

No primeiro caso, a sistemática consiste em aplicar o coeficiente de reserva toda vez que a Administração Pública promover um certame. Apuram-se as vagas que serão oferecidas e sobre elas aplica-se o percentual de reserva fixado pela lei. No segundo caso, considera-se o total de vagas criadas no quadro de pessoal, aplicando-se o percentual de reserva sobre o montante de cada cargo ou emprego que compõe o quadro de pessoal. A partir daí, o órgão ou ente passa a ter números fixos de vagas reservadas, modificáveis tão somente a partir da alteração do próprio quadro.

Para maior concretude dos dispositivos constitucionais e legais

antepostos, baseado, sobretudo, na interpretação teleológica da norma que

determinou a reserva de vagas aos portadores de necessidades especiais em

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concursos públicos (art. 37, inc. VIII da CF/88), entende o Ministério Público de

Contas que o percentual aplicável à espécie, deverá incidir sobre o montante de

cada cargo ou emprego que compõe o quadro de pessoal, atendido sempre, o

princípio da proporcionalidade.

Nesse sentido, defendeu o Ilustre Ministro Cesar Peluso, que no bojo

do inteiro teor de seu voto proferido no Supremo Tribunal Federal, em sede do

Mandado de Segurança n. 25.074, concluiu:

[...] o que assegura a Constituição é que os portadores de deficiência têm direito de ocupar determinado número de cargos e empregos públicos, considerados em cada quadro funcional, segundo a percentagem que lhes reserve a lei, o que só pode apurar-se no confronto do total dos cargos e dos empregos, e não, é óbvio, perante o número aleatório de vagas que se ponham em cada concurso (grifos nossos).

Como posto, espancar-se-á de certo, qualquer discussão acerca dos

critérios de arredondamento das vagas, prevista no regime próprio do Estado de

Minas Gerais, acaso o percentual resulte em aplicação de números fracionados, com

a escorreita convocação dos portadores de necessidades especiais para admissão

aos cargos/empregos ora ofertados.

Concluindo no mesmo diapasão, Terrão (ob. cit.), afirma:

Com efeito, havendo a reserva por quadro, a aplicação do coeficiente destinado aos portadores de deficiência resultará em número fixo de cargos ou empregos reservados. Preenchido aquele número específico, a renovação dos ocupantes das vagas reservadas só ocorrerá a partir de sua vacância. Nesse caso, seria possível, sem ferir o princípio da isonomia, não se reservar vagas aos deficientes em certo concurso, desde que a razão prevista pela lei para o quadro permaneça estabilizada em função dos servidores ativos. Ou, a contrário senso, e em aparente prejuízo aos candidatos não deficientes, reservá-las no certame em número exato (uma, duas, três vagas, etc.), que pode até mesmo ser maior que o fixado para a ampla concorrência. (grifos nossos)

É cediço que Supremo Tribunal Federal reconheceu como parâmetro

nacional, pelas razões de aduzir antepostas, a aplicação do limite mínimo de 5%

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(cinco por cento) e máximo de 20% (vinte por cento), o qual todos os entes

compulsoriamente devem observar, sob pena de inconstitucionalidade.

Nessa linha de princípios, transcreva-se o julgado do Supremo Tribunal

Federal, que nas palavras do Ministro Marco Aurélio, altera a jurisprudência

anteriormente consolidada, verbis:

CONCURSO PÚBLICO – CANDIDATOS – TRATAMENTO IGUALITÁRIO. A regra é a participação dos candidatos, no concurso público, em igualdade de condições. CONCURSO PÚBLICO – RESERVA DE VAGAS – PORTADOR DE DEFICIÊNCIA – DISCIPLINA E VIABILIDADE. Por encerrar exceção, a reserva de vagas para portadores de deficiência faz-se nos limites da lei e na medida da viabilidade consideradas as existentes, afastada a possibilidade de, mediante arredondamento, majorarem-se as percentagens mínima e máxima previstas. (MS 26.310-5/DF – Relator Ministro Marco Aurélio – DJ 31.10.2007)

[...]

VOTO – O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – Reconheço a existência de precedente deste Plenário agasalhando a tese sustentada pelo impetrante. No recurso extraordinário nº 227.299-1/MG, relatado pelo ministro Ilmar Galvão, a Corte defrontou-se com situação concreta em que, oferecidas oito vagas, a percentagem de cinco por cento prevista na legislação local como própria à reserva de vagas aos portadores de deficiência desaguou em quatro décimos. Prevaleceu a óptica da necessidade de sempre conferir-se concretude ao inciso VIII do artigo 37 da Constituição Federal. Presente esteve, conforme o voto do relator que se encontra às folhas 32 e 33, o disposto no Decreto nº 3.298/99, que regulamentou a Lei nº 7.853/89. O tema, porém, merece reflexão, reexaminando-se o entendimento que acabou por prevalecer, até mesmo com o meu voto. (grifos nossos)

Desse modo, o coeficiente de reserva deve ser fixado pela lei do ente

promotor do certame e estar previsto no edital, bem como obedecer aos

supracitados parâmetros, isto é, nunca aquém do mínimo de 5% (cinco por cento),

ou, além do máximo de 20% (vinte por cento), respectivamente, afastando-se as

normas contrárias a tais preceitos já consolidados, posto que, flagrantemente

inconstitucionais.

Nesse caso, possível tão somente à aplicação da regra de interesse

regional editada pelo Estado de Minas Gerais, com os critérios expressos de

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arredondamento já acima esposados; então, a 5ª vaga que houver em cada quadro

de cargos/empregos - ex vi Parágrafo 1º, do artigo 1º, da Lei Estadual n. 11.867,

de 28 de julho de 1995, sendo o primeiro número inteiro alcançado com a

aplicação da reserva máxima de 20%, e, subsequentemente, a 15ª, 25ª, 35ª, 45ª,

55ª, 65ª vagas e, assim sucessivamente, deverão ser providas por admissão dos

portadores de necessidades especiais que assim se declarem e comprovem tal

condição nas hipóteses legais e nos termos editalícios, incluindo-se

expressamente como critério a ser adotado no edital do certame.

A fim de melhor aclarar a regra anteposta, disseco: as 4 (quatro)

primeiras vagas abertas para cada cargo serão providas pelos candidatos aprovados

de acordo com a lista de classificação geral, seguindo-se, nas que vierem a ser

providas, a 5ª delas reservada para o portador de necessidades especiais, a 15ª,

25ª, 35ª, 45ª, 55ª, 65ª vagas e, assim sucessivamente, impondo o dever de constar

no edital os referidos critérios objetivos ora incidentes, inclusive quanto à

convocação acima do número de vagas disponibilizadas no certame, visando a

manutenção perene da concretude do mandamento constitucional de reserva de

vagas, com previsão de publicação de lista de classificação geral e específica de

vagas reservadas.

Deverá ainda o edital atender expressamente, a todos os preceitos da

Política Nacional, estatuídos e regulamentados no Decreto Federal n. 3.298 de 20

de dezembro de 1999, impondo desta feita sua republicação, senão vejamos in

verbis:

Art. 39. Os editais de concursos públicos deverão conter:

I - o número de vagas existentes, bem como o total correspondente à reserva destinada à pessoa portadora de deficiência; II - as atribuições e tarefas essenciais dos cargos; III - previsão de adaptação das provas, do curso de formação e do estágio probatório, conforme a deficiência do candidato; e, IV - exigência de apresentação, pelo candidato portador de deficiência, no ato da inscrição, de laudo médico atestando a espécie e o grau ou nível da deficiência, com expressa referência ao código correspondente da Classificação Internacional de Doença - CID, bem como a provável causa da deficiência.

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Art. 40. É vedado à autoridade competente obstar a inscrição de pessoa portadora de deficiência em concurso público para ingresso em carreira da Administração Pública Federal direta e indireta.

§ 1º No ato da inscrição, o candidato portador de deficiência que necessite de tratamento diferenciado nos dias do concurso deverá requerê-lo, no prazo determinado em edital, indicando as condições diferenciadas de que necessita para a realização das provas. § 2º O candidato portador de deficiência que necessitar de tempo adicional para realização das provas deverá requerê-lo, com justificativa acompanhada de parecer emitido por especialista da área de sua deficiência, no prazo estabelecido no edital do concurso. Art. 41. A pessoa portadora de deficiência, resguardadas as condições especiais previstas neste Decreto, participará de concurso em igualdade de condições com os demais candidatos no que concerne:

I - ao conteúdo das provas; II - à avaliação e aos critérios de aprovação; III - ao horário e ao local de aplicação das provas; e, IV - à nota mínima exigida para todos os demais candidatos.

Art. 42. A publicação do resultado final do concurso será feita em duas listas, contendo, a primeira, a pontuação de todos os candidatos, inclusive a dos portadores de deficiência, e a segunda, somente a pontuação destes últimos. (grifos nossos)

Sem prejuízo, no diapasão acima anteposto, deverá constar do edital

do certame que, o Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais – INDI irá

cumprir as seguintes regras, em continuação às antepostas:

Art. 43. O órgão responsável pela realização do concurso terá a assistência de equipe multiprofissional composta de três profissionais capacitados e atuantes nas áreas das deficiências em questão, sendo um deles médico, e três profissionais integrantes da carreira almejada pelo candidato.

§ 1º A equipe multiprofissional emitirá parecer observando:

I - as informações prestadas pelo candidato no ato da inscrição; II - a natureza das atribuições e tarefas essenciais do cargo ou da

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função a desempenhar; III - a viabilidade das condições de acessibilidade e as adequações do ambiente de trabalho na execução das tarefas; IV - a possibilidade de uso, pelo candidato, de equipamentos ou outros meios que habitualmente utilize; e, V - a CID e outros padrões reconhecidos nacional e internacionalmente.

§ 2º A equipe multiprofissional avaliará a compatibilidade entre as atribuições do cargo e a deficiência do candidato durante o estágio probatório.

Assim, enquanto não a sanada grave ilicitude e inconstitucionalidade,

que atenta ao princípio da isonomia, da legalidade, da razoabilidade e da ampla

competitividade, deverá o certame ser suspenso para que não acarrete maiores

prejuízos aos pretensos candidatos ora preteridos ao arbítrio do administrador

público.

Em recente decisão, o Supremo Tribunal Federal suspendeu a

realização de concurso público para os cargos de Delegado, Escrivão e Perito,

por determinação liminar do ministro Ayres de Brito, nos autos da Reclamação

(RCL) 14145, na qual o Ministério Público Federal aponta que os editais dos

concursos descumprem entendimento da ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha,

que, ao analisar processo relacionado ao caso – o Recurso Extraordinário (RE)

676335 –, decidiu que a jurisprudência do Supremo é no sentido da

obrigatoriedade de destinação de vagas em concurso público a portadores de

necessidades especiais.

Nos fundamentos citados pelo ministro do Pretório Excelso, em 2002, o

Ministério Público Federal ajuizou uma ação civil pública pedindo a

inconstitucionalidade de qualquer regra que restringisse o acesso de portadores de

necessidades especiais à carreira da Polícia Federal. Esse pedido foi julgado

improcedente à época em primeira e segunda instâncias, sob a alegação de que os

cargos de delegado, escrivão, perito e agente da PF não seriam compatíveis com

nenhum tipo de deficiência.

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No entanto, quando em grau do Recurso Extraordinário n. 676335,

julgou-se procedente o pedido, sob relatoria da Ministra Cármen Lúcia Antunes, em

dia 21 de março de 2012, transitando-se em julgado o decisum.

Nesse sentido, o edital do presente certame fere tais preceitos

constitucionais e mandamentais já pacificados, em flagrante inconstitucionalidade.

II.II. DA MEDIDA CAUTELAR INCIDENTAL INAUDITA ALTERA PARS

A medida cautelar tem por finalidade assegurar o resultado efetivo e

real dos processos cognitivo e executivo. Trata-se de medida de urgência de

natureza instrumental, objetivando, segundo a doutrina dominante, proteger a

atividade jurisdicional. A urgência é elemento constante do processo cautelar,

mesmo porque as questões meritórias ínsitas são o periculum in mora, ao lado do

fumus boni juris.

Ocorre que, em algumas situações de dano, a necessidade de um

provimento célere e urgente é tamanha, em face da elevada possibilidade de lesão

ao direito que se pretende tutelar, no caso o Erário Público, que a própria legislação

autoriza o aparente sacrifício do princípio do contraditório, permitindo-se a

concessão de cautelas legais ex officio (ex vi art. 797 do CPC) e de tutelares

cautelares sine audita altera pars (ex vi art. 804 do CPC).

Observe-se que tal proceder, como já referido, objetiva salvaguardar a

utilidade da atuação do Estado quando da resolução da lide propriamente dita, como

in casu por essa Egrégia Corte de Contas.

Assim, precedidos os fundamentos antepostos, impõe-se a concessão

in limine litis da cautela perseguida, visando à comprovação de que o ente, após

citado, não torne ineficaz a medida, em especial para salvaguardar a observância de

princípios constitucionais e legais já esposados, bem como o erário público e os

candidatos do certame que vierem a concorrer aos cargos ofertados.

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A Lei Orgânica desse Egrégio Tribunal de Contas (Lei Complementar

Estadual n. 102/2008) preconiza no Título IV, do Capítulo II, as hipóteses das

medidas cautelas que ora o Ministério Público Especial entende cabível, para

preservação de direitos e cumprimento das leis e da Constituição, em manutenção

da segurança jurídica e em proteção ao erário. Confiramos:

Art. 95. No início ou no curso de qualquer apuração, havendo fundado

receio de grave lesão ao erário ou a direito alheio ou de risco de

ineficácia da decisão de mérito, o Tribunal poderá, de ofício ou

mediante provocação, determinar medidas cautelares.

§ 1º As medidas cautelares poderão ser adotadas sem prévia

manifestação do responsável ou do interessado, quando a efetividade

da medida proposta puder ser obstruída pelo conhecimento prévio.

§ 2º Em caso de comprovada urgência, as medidas cautelares poderão

ser determinadas por decisão do Relator, devendo ser submetidas à

ratificação do Tribunal na primeira sessão subsequente, sob pena de

perder eficácia, nos termos regimentais.

§ 3º Na ausência ou inexistência de Relator, compete ao Presidente do

Tribunal a adoção de medidas cautelares urgentes.

Art. 96. São medidas cautelares a que se refere o art. 95, além de outras

medidas de caráter urgente:

I - recomendação à autoridade superior competente, sob pena de

responsabilidade solidária, do afastamento temporário do responsável, se

existirem indícios suficientes de que, prosseguindo no exercício de suas

funções, possa retardar ou dificultar a realização de auditoria ou inspeção,

causar novos danos ao erário ou inviabilizar o seu ressarcimento;

II - indisponibilidade, por prazo não superior a um ano, de bens em

quantidade suficiente para garantir o ressarcimento dos danos em

apuração;

III - sustação de ato ou de procedimento, até que se decida sobre o

mérito da questão suscitada;

IV - arresto.

[...]

Art. 97. As medidas cautelares previstas nesta seção serão

regulamentadas no Regimento Interno, aplicando-se, subsidiariamente, o

Código de Processo Civil.

(grifos nossos)

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Assim tem se manifestado essa Egrégia Corte de Contas, nos termos

dos julgados abaixo transcritos de maneira uniforme. Vejamos:

SEGUNDA CÂMARA

PROCESSO n. 863.084

NATUREZA: EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO

ÓRGÃO: PREFEITURA MUNICIPAL DE ROSÁRIO DA LIMEIRA

INTERESSADO: Prefeito Municipal - Edson Curi

[...]

Diante do exposto verifico, neste primeiro momento, a existência de inúmeros vícios no procedimento ora focado, comprometendo a sua legalidade, justificando, desta forma, a adoção de medida acautelatória de suspensão do certame até que a Prefeitura Municipal tome as providências necessárias de modo a conformá-lo com o ordenamento jurídico em vigor.

Assim, encontrando-se preenchidos os requisitos legais do periculum in mora e fumus boni iuris, e à vista da realização do certame que se anuncia com a possibilidade de violar o ordenamento jurídico, voto pela suspensão cautelar do Concurso Público n. 01/2012, a ser realizado pela Prefeitura Municipal de Rosário da Limeira, com fundamento no inciso XXXI do art. 3º, c/c o art. 95 e inciso III do art. 96 da Lei Complementar n. 102/08.

Ad referendum

Proceda-se, COM URGÊNCIA, a intimação, por e-mail e fac-símile do Prefeito Municipal de Rosário da Limeira, Sr. Edson Curi, fixando o prazo de 5 (cinco) dias para juntada aos autos de prova de publicação da referida suspensão, devendo o ofício conter advertência de que o não cumprimento desta decisão importará na aplicação de multa pessoal, nos termos do art. 85, inciso III, da Lei Complementar n. 102/2008.

[...]

PRIMEIRA CÂMARA

Processo nº: 862646

Sessão do dia: 13/03/12

Natureza: Edital de Concurso Público

Jurisdicionado: Município de Japonvar

Parte(s): Leonardo Durães de Almeida

Representante do MPTC: Maria Cecília Borges

[...]

Diante do exposto, com fundamento no caput e § 2º do art. 95 da Lei Orgânica do Tribunal, determino, “ad referendum” da Primeira Câmara, a suspensão cautelar do concurso público de provas objetivas e práticas para provimento de cargos do quadro de pessoal do Município de Japonvar,

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regido pelo Edital nº 01/2011, na fase em que se encontra, até que o Tribunal se manifeste sobre a matéria, devendo, pois, a Administração abster-se da prática de qualquer ato atinente ao prosseguimento do certame, incluída a publicação de eventuais modificações, até ulterior determinação, sob pena de multa de R$10.000,00 (dez mil reais), nos termos do art. 85, III, da Lei Orgânica do Tribunal de Contas.

Fixo o prazo de 05 (cinco) dias para que o Senhor Leonardo Durães de Almeida, prefeito, comprove nos autos a adoção da medida ordenada, mediante publicação do ato de suspensão em diário oficial e em jornal de grande circulação.

Encaminho os autos à Secretaria da Primeira Câmara, para a intimação do responsável, em caráter de urgência, por e-mail e fac-símile, nos termos dos incisos VI e VII do art. 166 do Regimento Interno, e para apreciação na próxima sessão de julgamento. Na mesma oportunidade, o responsável deverá ser citado, para, querendo, oferecer defesa no prazo de 15 (quinze) dias sobre aos apontamentos contidos no relatório técnico de fls. 155/171 e no parecer ministerial de fls. 174/174v, cujas cópias deverão acompanhar a citação, ou apresentar minuta de edital acatando os apontamentos deste Tribunal.

[...]

SEGUNDA CÂMARA – SESSÃO: 1º/12/11

RELATOR: CONSELHEIRO MAURI TORRES

PROCESSO Nº 862545 – EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO

PROCURADORA PRESENTE À SESSÃO: MARIA CECÍLIA BORGES

[...]

Diante dos fundamentos acima expostos e, considerando que o Edital de Concurso Público contém cláusulas passíveis de causar lesão grave e de difícil reparação, entendo preenchidos os requisitos legais do periculum in mora e fumus boni iuris que justificam a adoção da medida acautelatória de suspensão do certame, razão pela qual, DETERMINO, ad referendum da 2ª Câmara e com fulcro no inciso XXXI do art. 3º, c/c o art. 95 e inciso III do art. 96 da Lei Complementar n. 102/08, a suspensão cautelar do Concurso Público deflagrado pelo Edital n. 001/2011, promovido pelo Município de São João das Missões, na fase em que se encontra.

[...]

SEGUNDA CÂMARA – SESSÃO: 04/08/11

RELATOR: CONSELHEIRO EDUARDO CARONE COSTA

PROCESSO Nº 851262 – EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO

PROCURADORA PRESENTE À SESSÃO: SARA MEINBERG

[...]

Assim, encontrando-se preenchidos os requisitos legais do periculum in mora e fumus boni iuris, e à vista da realização do certame que se anuncia com a possibilidade de violar o ordenamento jurídico, voto pela suspensão cautelar do Concurso Público nº 01/2011, a ser realizado pela Prefeitura Municipal de Angelândia, com fundamento no inciso XXXI do art.

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3º, c/c o art. 95 e inciso III do art. 96 da Lei Complementar nº. 102/08, em face da imperiosa necessidade de adequação.

Proceda-se, COM URGÊNCIA, a intimação, por e-mail, fac-símile e AR da Prefeita Municipal de Angelândia, fixando o prazo de 05 (cinco) dias para juntada aos autos de prova de publicação da referida suspensão, bem como cópia das Leis nºs. 163/2006 e 164/2006, devendo o ofício conter advertência de que o não cumprimento desta decisão importará na aplicação de multa pessoal, nos termos do art. 85, inciso III, da Lei Complementar n. 102/2008.

[...]

PRIMEIRA CÂMARA − SESSÃO: 27/10/09

RELATOR: CONSELHEIRO EM EXERCÍCIO GILBERTO DINIZ

PROCESSO Nº 804524 – EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO

PROCURADORA PRESENTE À SESSÃO: MARIA CECÍLIA BORGES

Tendo em vista as irregularidades que constatei e com fundamento no caput do art. 95 e inciso III do art. 96 da Lei Complementar Estadual nº 102/08, presentes o fumus boni júris e o periculum in mora, determino, liminarmente, a suspensão do Concurso Público de Provas e Títulos para provimento de cargos do Quadro de Pessoal do Poder Legislativo do Município de Matias Cardoso, regido pelo Edital 001/2009, na fase em que se encontra, em face das irregularidades apontadas que comprometem a legalidade do certame, até que ao Tribunal de Contas se manifeste definitivamente sobre a matéria, devendo, pois, a Administração abster-se da prática de qualquer ato atinente a seu prosseguimento, incluída a publicação de eventuais modificações, até julgamento final do presente feito.

Fixo o prazo de 5 (cinco) dias para que a Administração comprove a suspensão ora determinada, encaminhando a este Tribunal cópia da publicação no Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, sob pena de aplicação de multa diária no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), ao fundamento do disposto no art. 90 da referida Lei Complementar. (grifos nossos)

Assim, restam demonstrados os precedentes dessa E. Corte de Contas

autorizativos da concessão da medida.

III. CONCLUSÃO

Ex positis, OPINA o representante deste Ministério Público Especial, as

medidas abaixo que ora se impõem, a serem determinadas por esse ilustre

Conselheiro-Relator, como seguem:

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Ministério

Público

Folha nº

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MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Gabinete do Procurador Marcílio Barenco Corrêa de Mello

a. A concessão de MEDIDA CAUTELAR INCIDENTAL inaudita altera

pars in limine, presentes os pressupostos legais autorizativos de sua

concessão, para determinar a suspensão imediata do certame, nos

termos do artigo 95, parágrafos 1º e 2º da Lei Complementar

Estadual n.º 102/2008, encaminhando-se a essa Corte de Contas a

comprovação do cumprimento da medida no prazo de 05 (cinco) dias,

sob pena de multa pessoal diária de R$ 2.000,00 (dois mil reais), nos

termos do art. 90 da Lei Complementar Estadual n.° 102/2008;

b. a CITAÇÃO da Secretária de Estado de Planejamento e Gestão,

Sra. Renata Maria Paes de Vilhena, e do Secretário de Estado de

Defesa Social, Sr. Rômulo de Carvalho Ferraz, para, querendo, no

prazo máximo de 10 (dez) dias, apresentem defesa escrita em

observância aos corolários constitucionais de ampla defesa e do

contraditório, nos termos do artigo 5º, inciso LV da Magna Carta de

1988, c/c artigo 265 da Resolução TCE n.º 12/2008 (Regimento

Interno do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais);

c. a INTIMAÇÃO da Secretária de Estado de Planejamento e Gestão,

Sra. Renata Maria Paes de Vilhena, e do Secretário de Estado de

Defesa Social, Sr. Rômulo de Carvalho Ferraz, para facultar-lhes

suprimir as irregularidades apontadas tanto pela unidade técnica,

quanto por este Parquet de Contas, ora violadoras do princípio da

isonomia, legalidade, razoabilidade e ampla competitividade, com

remessa de minuta de novo edital para prévia apreciação, bem como a

remessa do inteiro teor do Processo Administrativo pretérito à

publicação do Edital do Concurso Público em tela, que ensejou a

contratação do INSTITUTO BRASILEIRO DE FORMAÇÃO E

CAPACITAÇÃO, este último, sob pena de multa pessoal diária de

R$5.000,00 (cinco mil reais), nos termos do art. 90 da Lei

Complementar Estadual n.° 102/2008, a título de astreintes, visando o

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Ministério

Público

Folha nº

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MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Gabinete do Procurador Marcílio Barenco Corrêa de Mello

exame de legalidade dos atos praticados.

Após o cumprimento das medidas de praxe, pugna pelo envio dos

autos à Unidade Técnica para reexame da matéria e, posteriormente, retorno dos

mesmos a este Órgão Ministerial, para manifestação em sede de parecer conclusivo,

nos termos do disposto nos arts. 152 e 153 da Resolução TCE n.º 12/2008.

Entranhe-se, registre-se, certifique-se, numerem-se e encaminhem-se

à CAOP, para as providências de praxe.

É a manifestação preliminar ministerial.

Belo Horizonte, 31 de outubro de 2012.

Marcílio Barenco Corrêa de Mello Procurador do Ministério Público de Contas

(Documento certificado e assinado digitalmente e disponível no SGAP/TCE/MG)