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ISA INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL 10 10 10 10 10 ANOS SUMÁRIO Apresentação 3 Memória 4 Parceiros Locais 10 Financiadores 11 Informação e Conhecimento 12 Rio Negro 20 Mananciais 23 Xingu 24 Direito e Políticas Públicas 27 Mata Atlântica 30 Vale do Ribeira 31 Brasil Socioambiental 32 se escreve junto

ISA · Vale do Ribeira 31 Brasil ... referência no Brasil e no exteri-or de uma perspectiva diferenciada para pensar o ... Terras Indígenas e Unidades de Conservação Com

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ISAINSTITUTO SOCIOAMBIENTAL

1010101010 ANOS

SUMÁRIO

Apresentação 3Memória 4Parceiros Locais 10Financiadores 11Informação e Conhecimento 12Rio Negro 20

Mananciais 23Xingu 24Direito e Políticas Públicas 27Mata Atlântica 30Vale do Ribeira 31Brasil Socioambiental 32

se escreve junto

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OOOOO Instituto Socioambiental (ISA) é uma associaçãosem fins lucrativos, qualificada como Organização

da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). Fundadoem 1994 para propor soluções integradas a questõessociais e ambientais, o ISA tem como objetivo defenderbens e direitos sociais, coletivos e difusos, relativos aomeio ambiente, ao patrimônio cultural, aos direitoshumanos e dos povos.

Com uma das populações mais diversificadas domundo – povos indígenas, descendentes de quilombos,colonos, caiçaras, ribeirinhos, extrativistas, populaçõesrurais e urbanas de diferentes origens étnicas e culturais– , o Brasil abriga também a mais rica biodiversidade doplaneta. Formado por paisagens e ecossistemas diversoscomo Cerrado, Pantanal, Caatinga, Pampa e uma amplaZona Costeira, possui ainda mais de 3,5 milhões de km2de florestas tropicais, na Amazônia e na Mata Atlântica.

O trabalho que o ISA realiza tem como base:• a defesa dos direitos socioambientais coletivos;• o monitoramento e proposição de alternativas às

políticas públicas;• a pesquisa, difusão, documentação de informações

socioambientais;• o desenvolvimento de modelos participativos de

sustentabilidade socioambiental;• o fortalecimento institucional de parceiros locais.Com sede em São Paulo e escritórios em Brasília (DF)

e São Gabriel da Cachoeira (AM), o ISA privilegia açõesque articulem projetos de caráter demonstrativo,campanhas e programas de trabalho e parceria,combinando diversas modalidades e níveis de atuação,desde o local, ao regional, ao nacional e ao global. Atuaem todo o Brasil, em especial na região do Rio Negro(AM), no Xingu (MT), no Vale do Ribeira (SP) e na questãodos mananciais da Região Metropolitana de São Paulo.

PPPPPara saber mais sobrara saber mais sobrara saber mais sobrara saber mais sobrara saber mais sobre o ISA consultee o ISA consultee o ISA consultee o ISA consultee o ISA consultewww.socioambiental.orwww.socioambiental.orwww.socioambiental.orwww.socioambiental.orwww.socioambiental.orggggg

Conselho DirConselho DirConselho DirConselho DirConselho DiretoretoretoretoretorNeide Esterci (Presidente) • Enrique Svirsky (Vice-presidente) • Beto Ricardo • CarlosFrederico Marés • Laymert Garcia dos Santos • Márcio Santilli • Nilto Tatto • SergioLeitão • Sérgio Mauro [Sema] Santos Filho

DirDirDirDirDiretor executivo: etor executivo: etor executivo: etor executivo: etor executivo: Sergio LeitãoDirDirDirDirDiretor executivo adjunto: etor executivo adjunto: etor executivo adjunto: etor executivo adjunto: etor executivo adjunto: Nilto Tatto

CoorCoorCoorCoorCoordenadordenadordenadordenadordenadores de Pres de Pres de Pres de Pres de Programas e Atividades Pogramas e Atividades Pogramas e Atividades Pogramas e Atividades Pogramas e Atividades Permanentes:ermanentes:ermanentes:ermanentes:ermanentes:Adriana Ramos • André Villas-Bôas • Ângela Galvão • Beto Ricardo • Cícero CardosoAugusto • Fany Ricardo • Isabel Pedott • Marcio Santilli • Maria Inês Zanchetta•Marina Kahn • Marussia Whately • Nilto Tatto • Rodolfo Marincek

Apoio institucionalApoio institucionalApoio institucionalApoio institucionalApoio institucionalIcco – Organização Intereclesiástica para Cooperação ao DesenvolvimentoNCA – Ajuda da Igreja da Noruega

Sócios EfetivosSócios EfetivosSócios EfetivosSócios EfetivosSócios EfetivosAdriana Ramos • Alícia Rolla • Ana Valéria Araújo • André Junqueira Ayres Villas-Bôas • Anthony Anderson • Anthony Reginald Gross • Aurélio Rios • Barbara Bramble• Brunhilde Haas de Saneaux • Beto Ricardo • Carlos Frederico Marés de Souza Filho• Deborah Lima • Eduardo Viveiros de Castro • Enrique Svirsky • Fany PantaleoniRicardo • Geraldo Andrello • Isabelle Vidal Gianinni • Jason Clay • José Carlos deAlmeida Libânio • Juliana Ferraz da Rocha Santilli • Jurandir Mendes Craveiro Jr. •Laymert Garcia dos Santos • Leão Serva • Luiz Fernando Lemos dos Santos • LuizEdson Facchin • Marcio Santilli • Marina da Silva Kahn • Mário Mantovani • NeideEsterci • Nilto Ignácio Tatto • Paulo Afonso Garcia • Ricardo Azambuja Arnt • RubensRamos Mendonça • Sergio Leitão • Sérgio Mauro de Souza Santos Filho • StephanSchwartzman • Washington Novaes • Willem Pieter Groeneveld

ISA – 10 ANOS ISA – 10 ANOS ISA – 10 ANOS ISA – 10 ANOS ISA – 10 ANOS Edição: Edição: Edição: Edição: Edição: M. Inês Zanchetta • TTTTTextos:extos:extos:extos:extos: Mario Blander • PrPrPrPrProjeto gráficoojeto gráficoojeto gráficoojeto gráficoojeto gráficoe editoração:e editoração:e editoração:e editoração:e editoração: Sylvia Monteiro • PrPrPrPrProdução gráfica:odução gráfica:odução gráfica:odução gráfica:odução gráfica: Marcia Signorini • TTTTTratamentoratamentoratamentoratamentoratamentode imagem:de imagem:de imagem:de imagem:de imagem: Claudio Aparecido Tavares • ImprImprImprImprImpressão: essão: essão: essão: essão: Gráfica Ipsis

São PSão PSão PSão PSão PauloauloauloauloauloAvenida Higienópolis 90101238-001São Paulo SPBrasiltel: (11) 3660 7949fax: (11) 3660 [email protected]

BrasíliaBrasíliaBrasíliaBrasíliaBrasíliaSCLN 210, bloco C, sala 11270862-530Brasília DFBrasiltel: (61) 3035 5114fax: (61) 3035 [email protected]

São Gabriel da CachoeiraSão Gabriel da CachoeiraSão Gabriel da CachoeiraSão Gabriel da CachoeiraSão Gabriel da CachoeiraRua Projetada 70, CentroCaixa Postal 2169750-000São Gabriel da Cachoeira AMBrasiltel/fax: (97) 471 [email protected]

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OOOOO ISA comemora 10 anos de existência consolidando-se como uma importante organização da so-

ciedade civil brasileira, referência no Brasil e no exteri-or de uma perspectiva diferenciada para pensar o paíse suas gentes.

Desde a sua fundação, o ISA assumiu a difícil tare-fa de procurar alternativas para a gestão territorial dasterras indígenas e de populações tradicionais no país,conciliando geração de renda, preservação da integri-dade territorial, conservação da biodiversidade e res-peito à diversidade cultural. Para tanto, vem estabele-cendo parcerias com organizações e atores locais, con-cebendo e implementando projetos de campo, capa-citando técnicos e auxiliando no fortalecimentoinstitucional dos parceiros, promovendo ações judici-ais e intervenções políticas, produzindo mapas, livros,vídeos e outros materiais de divulgação sobre assun-tos relevantes para a agenda socioambiental.

Além de uma série de iniciativas na área de políticaspúblicas, o ISA tem centrado seus esforços na articula-ção dos diferentes atores sociais para propor políticasalternativas, mobilizando os mais diversos setores da

sociedade brasileira para repensar, debater e discutir omodelo de desenvolvimento do país, visando um cami-nho para a sua sustentabilidade socioambiental.

Esta revista procura contar um pouco da trajetóriado ISA ao longo desses 10 anos. Revela suas estratégiasde intervenção, algumas de suas vitórias e o esforço detoda uma instituição para atingir objetivos determina-dos, que atestam a articulação engenhosa de iniciativasnos planos local, regional, nacional e internacional. Edemonstra que a sociedade civil é um ator importantepara assegurar o respeito aos direitos dos cidadãos euma qualidade melhor de vida para todos.

Nesta ocasião, reafirmamos nosso compromissopara com a construção de novos parâmetros socioam-bientais de desenvolvimento que incluam a dimensãoda sustentabilidade, agradecendo a colaboração dosmuitos que ajudaram a fazer o ISA até agora e convi-dando a se juntarem a nós todos aqueles que partilhamdos mesmos ideais.

NE I D E ES T E R C I

Presidente

O ISA reafirmao compromissocom aconstruçãode novosparâmetrossocioambientais

APRESENTAÇÃO

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Dez anos de lutasFFFFForam quase dez anos de luta nos tribunais e fora de

les. Em 2003, os Panará receberam, finalmente, a in-denização cobrada da União pelos danos sofridos ao lon-go de três décadas, desde que a construção da rodoviaCuiabá-Santarém, a BR-163, cortou suas terras, desenca-deando uma tragédia que os expulsou para bem longe deonde viviam e dizimou grande parte da comunidade.

A decisão é histórica: pela primeira vez, o Judiciárioreconheceu a um povo indígena o direito a reparo por per-das em conseqüência de políticas públicas. No caso, umdesastroso processo de contato realizado na década de1970, no auge dos sonhos grandiosos de integração na-cional acalentados pelos governos militares. Paradigmana luta pela defesa dos povos indígenas no Brasil, o casodos Panará, os “índios gigantes”, é também um dos gran-des marcos nos dez anos de atuação do Instituto Socio-ambiental (ISA) e um dos exemplos de um trabalho quemobiliza praticamente a instituição inteira – as chamadas

O ISA trouxeuma propostainovadorana defesa debens e direitoscoletivos:soluçõesintegradaspara questõessociais eambientais

MEMÓRIA

Manifestaçãono PlanaltoCentral:Constituiçãode 1988 foi ummarco nasrelações entreo Estado eos povosindígenas

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ações globais (ver páginas 27 a 29).A indenização de 1,2 milhão de reais, festejada na

aldeia Nãsêpotiti, erguida em seu território tradicional,para onde começaram a retornar em meados dos anos1990, não foi a única vitória dos Panará nem a únicaação do ISA para deixar para trás uma história pautadapelo arbítrio e pela dor. Desde o início da ação judicialindenizatória, em 1994, quando saía do papel, o ISAacompanhou todos os passos dos Panará. Além de pres-tar assessoria jurídica, que contribuiu para a reparaçãode perdas – vitoriosa em todas as instâncias – e para oreconhecimento de suas terras, desenvolveu um amploconjunto de ações para sua sustentabilidade, fortaleci-mento cultural e acesso à educação, com a formação deprofessores bilíngües e, agora, colabora com a comuni-dade na gestão da indenização recebida.

Quando os Panará foram desalojados das terras deseus antepassados e levados contra a sua vontade para o

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Um dos primeirosregistros cartográficosdo Noroeste Amazônicofeito pelo Laboratóriode Geoprocessamento

Terras Indígenas e Unidades de Conservação

Com o Cedi,nascia o maiorbanco de dadossobre povosindígenas naAmérica Latina

M E M Ó R I AParque Indígena do Xingu, o Centro Ecumênico de Docu-mentação e Informação (Cedi), antecessor do ISA, come-çava a nascer. Criado em 1974, o Cedi teve origem em umgrupo formado dez anos antes, logo após o golpe militar,por intelectuais, educadores e humanistas que inicialmentese reuniam para ler poesia. Não demorou muito para queos encontros se transformassem em um espaço de resis-tência democrática, onde se fazia a revisão crítica do pas-sado recente e do populismo, eram disseminadas infor-mações censuradas e onde opositores perseguidos peloregime buscavam abrigo. O Cedi veio dar formainstitucional a esse movimento.

Os índios no mapaEm 1977, com um núcleo paulista que se reunia num

porão do imponente prédio neoclássico do Colégio NossaSenhora de Sion – desenhado por Ramos de Azevedo,arquiteto do Theatro Municipal de São Paulo – e ondeestá hoje a sede do ISA, o Cedi passou a criar programaspara diferentes segmentos sociais – operários, campo-neses, indígenas. “O Cedi foi um dos primeiros a demo-lir a categoria povo brasileiro”, lembra o antropólogo BetoRicardo, que participou ativamente da organização (foiseu secretário geral adjunto por 11 anos) e se tornou,mais tarde, um dos sócios fundadores do ISA. “Os ín-dios, por exemplo, passaram a ser pensados não maiscomo uma categoria genérica, mas como 220 povos. Foium processo de entender nossas especificidades, de aju-dar a tecer os fios da diversidade brasileira para urdidurado tecido da democracia”.

Ricardo levou para o Cedi o levantamento que tinhacomeçado a organizar, em 1970, ainda nos tempos de es-tudante, num caderno de capa dura, após uma reunião daSociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC),que lançou um alerta contra a ameaça de devastação daAmazônia trazida pelo modelo nacional-desenvolvimentistados militares. Era um abecedário da população indígenaque, enriquecido mais tarde com informações de uma redeformada por mais de mil colaboradores voluntários – an-tropólogos, lingüistas, missionários, fotógrafos e pro-fissionais de saúde, entre outros –, viria a se tornar o maiorbanco de dados referenciais sobre índios na América Lati-na, o único dessa envergadura mantido por uma institui-ção privada e a base de um sistema de informações per-manente, acumulativo e georreferenciado. Começava o tra-balho de colocar os povos indígenas no mapa, deitandoluz sobre uma presença até então praticamente invisível.

Os índios na ConstituiçãoOutro desafio viria logo depois. Com o fim do regime

autoritário, o objetivo passou a ser colocar os direitos in-dígenas na Constituição. A ampla mobilização que se se-guiu, nascida da simbiose entre líderes indígenas

carismáticos e setores organizados da sociedade, levandoos índios a ocupar muitas vezes a Praça dos Três Poderesem Brasília e até o plenário da Constituinte, teve uma ex-pressiva participação do Cedi, ao lado de outras organiza-ções civis. Um de seus diretores, o ex-deputado federal,Márcio Santilli, exerceu um papel chave na ligação entreesses grupos e o Congresso Nacional, onde a causa indí-gena encontrou firmes defensores, como os senadoresMário Covas e Severo Gomes.

A Constituição de 1988 marcou a maior evolução járegistrada em quase 500 anos nas relações entre o Esta-do, a sociedade brasileira e os povos indígenas, depoisde um longo período em que se alternaram fases de des-respeito e de assistencialismo. O Capítulo dos DireitosIndígenas reconhece claramente o direito originário dosíndios – anterior à formação do próprio Estado – sobre asterras que tradicionalmente ocupam.

Foi para tornar concretas essas conquistas legais quesurgiu o Núcleo de Direitos Indígenas (NDI), iniciativa deum grupo de índios, advogados, antropólogos e outros de-fensores da causa indígena que haviam acompanhado ostrabalhos da Constituição. Sua proposta era dedicar-se àdefesa dos direitos territoriais, ameaçados por garimpei-ros, madeireiras e grandes latifundiários, por meio de açõesjudiciais capazes de criar jurisprudência e produzir dou-trinas. Tinha início uma nova etapa: colocar os direitosdos índios na prática.

“A opção foi por casos que se transformassem emparadigmas, com grande chances de vitória. Perder seriavoltar atrás”, diz Ana Valéria Araújo, um dos membros da

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A ECO 92deu destaqueao conceito dedesenvolvimentosustentável,inspirandonovas formasde atuar

Encerramento doEncontro dos PovosIndígenas do Xinguem 1989

Os índios comoprotagonistas: deputadosanalisam mapa do Cedina Constituinte de 1988.Ao lado, Beto Ricardocom os senadoresSevero Gomes eMário Covas

equipe jurídica do NDI, juntamente com Sérgio Leitão eJuliana Santilli. Com Márcio Santilli como secretário exe-cutivo, os três atuavam em conjunto no pequeno escritó-rio de duas salas do NDI em Brasília, sob orientação deCarlos Frederico Marés de Souza Filho, mestre em direitopúblico e consultor internacional em direitos coletivos edireitos dos povos.

Marés fazia parte da diretoria executiva, responsávelpelas diretrizes gerais, juntamente com o líder indígenaAilton Krenak e Beto Ricardo. No breve período de seisanos, de 1988 a 1994, o NDI moveu mais de 40 açõesque levaram a importantes avanços no reconhecimento dosdireitos indígenas, na proteção de suas terras e na cons-trução da cidadania.

O socioambientalismoParalelamente, o Cedi investia na informatização de

sua base de dados e na implantação de um Laboratório deGeoprocessamento que contribuiu para levar à frente asdemarcações de terras indígenas nesse período. Na fasepós-Constituição, o Cedi também participou ativamentede iniciativas que colaborariam nos anos seguintes parafortalecer uma nova visão de política ambiental – osocioambientalismo, criação brasileira sem paralelo noambientalismo internacional. Uma delas foi o trabalho comseringueiros no Acre, sob a liderança de Chico Mendes,cuja trágica morte, pouco depois, teria grande repercus-são. O Cedi deu apoio à produção de uma cartilha – cha-mada Poronga – utilizada na primeira escola de alfabeti-

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Representantes do ISAe da Foirn discutemsituação das TerrasIndígenas na região doRio Negro em 1999

zação de seringueiros. Poronga é o nome da luz que osseringueiros usam para caminhar na selva.

O Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, realizado emfevereiro de 1989, em Altamira (PA), também teve forteenvolvimento do Cedi. O evento, com cerca de 3.000 parti-cipantes – 650 índios –, marcou um claro protesto contra oplano de construção de hidrelétricas no rio Xingu, anuncia-do pela Eletronorte. Os ambientalistas começaram a ver osíndios como protagonistas, mesmo que, algumas vezes, elesestivessem aliados a garimpeiros e madeireiros, agentes dedevastação. O socioambientalismo ganhava força.

Nesse mesmo ano, o Cedi também integrou a Aliançados Povos da Floresta, reunião de trabalhadores extrativistase povos indígenas pela defesa da reforma agrária e das ter-ras indígenas, e participou do Primeiro Encontro Nacionaldos Trabalhadores Atingidos por Bar-ragens com lideranças de movimen-tos surgidos durante a construção degrandes usinas hidrelétricas, comoSobradinho (Bahia, 1970), Itaipu(Paraná, 1978) e Tucuruí (Amazônia,início dos anos 1980).

A Conferência das Nações Uni-das sobre Meio Ambiente e Desen-volvimento (ECO 92), que reuniu noRio de Janeiro delegações de 175países, também teve impacto sobreo cenário que durante muito tempoorientava as instituições voltadaspara a transformação da realidade epara a melhoria da qualidade de vida.A ECO 92 deu destaque ao conceitode desenvolvimento sustentável, quecombina aspirações ao progressoeconômico e material à necessidadede uma consciência sobre preserva-ção da natureza, e reforçou a impor-tância da biodiversidade, despertan-do o interesse de grandes organizações ambientalistas quepassaram a operar no Brasil.

Convergência de interessesEm 1994, após 20 anos, o Cedi deixou de existir. Ao

contrário do que ocorreu com a imensa maioria das insti-tuições da América Latina que serviram de “guarda-chu-va” durante a resistência ao autoritarismo, abrigando di-versidade de pensamento e de correntes, seu desapareci-mento não ocorreu por divergências. O final foi resultadode uma decisão política, conseqüência natural do esgota-mento de um ciclo e o início de outro, com a volta aoestado de direito, o fortalecimento dos movimentos so-ciais e dos partidos políticos e sem as utopias que caíramcom o Muro de Berlim.

O fim do Cedi e a multiplicação de suas diversas ativi-dades em outras organizações voltadas para temas espe-cíficos – caso da Ação Educativa, que herdou parte dopatrimônio, recursos e acervos – coincidiram com umadiscussão interna no NDI sobre os rumos a seguir. De umlado, o Ministério Público começava a se estruturar, pas-sando a participar mais da defesa dos direitos indígenas.Por outro lado, crescia a convicção de que, além de de-fender direitos dos índios e a demarcação de suas terras,também era preciso contribuir para a sua sobrevivência.

“Ficou claro que o caminho era integrar a defesa dosdirei tos dos índios à gestão de seu terr i tór io, àsustentabilidade socioambiental e a outras populações,como extrativistas, quilombolas e pescadores, por exem-plo”, explica Sérgio Leitão, um dos advogados do NDI e

sócio fundador do ISA. “Incluir os índios numa estratégiade desenvolvimento sustentável era a única solução pararesolver uma equação em que 0,2% da população, cercade 400.000 pessoas, são donas de 12,5% do territórionacional”, observa Beto Ricardo.

Com essa convergência de interesses, o grupo queestava à frente do Programa Povos Indígenas no Brasil, doCedi, uniu-se ao NDI e a ambientalistas respeitados, comoo biólogo e ecólogo João Paulo Capobianco, que trazia nabagagem respeitável história de lutas para constituir o ISA.A proposta, desde o início, foi criar soluções integradaspara questões sociais e ambientais, dando continuidadeao trabalho e levando à frente a experiência acumuladapelas duas organizações na defesa de bens e direitos co-letivos, como consta da Ata de Fundação, assinada por 29FO

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Fachada do ColégioSion, em São Paulo,onde o ISA ocupaalgumas salas

Evolução dos recursos1995-2004

sócios fundadores, todos com formação profissional ehistórico de atuação na defesa de direitos sociais e am-bientais.

Dez anos depois, o ISA se transformou em uma gran-de organização, com sede em São Paulo e escritórios emBrasília e em São Gabriel da Cachoeira, no Rio Negro (AM);cerca de 120 funcionários; parceiros internacionais, naci-onais e com atuação nas áreas onde desenvolve projetos(ver páginas 10 e 11) e um orçamento anual da ordem de10 milhões de reais.

Nos dois primeiros anos, aprofundou-se o debateconceitual e institucional que reforçou o conceito de

socioambientalismo, visto não como a abordagem de duasdimensões paralelas, mas como uma síntese, uma novamaneira de pensar e de atuar, resumida no slogan “Socio-ambiental se escreve junto”.

As discussões, no entanto, não impediram o ISA deentrar em ação imediatamente, em linha com sua opçãode ser uma instituição verticalizada que pensa o Brasil,mas tem o “pé no barro”. Desde o início, o ISA planejoua implantação de programas regionais, nas bacias hidro-gráficas dos rios Xingu e Negro, na Amazônia, e no Valedo Ribeira, entre São Paulo e Paraná. A escolha desteúltimo confirma a decisão de ampliar o horizonte de atu-ação para além da população indígena: no Vale do Ri-beira, foi montado um programa voltado para comunida-des quilombolas.

A atuação do ISA é sempre em parceria com organiza-ções locais, em alguns casos criadas com seu apoio. “Comisso, o instituto coloca em prática sua crença de que asustentabilidade socioambiental de terras indígenas e deoutras áreas protegidas dependem da sustentabilidade so-cial, econômica, política e cultural dos que habitam essasterras e seus arredores”, observa Nilto Tatto, um dos só-cios fundadores.

Ações concretasCada programa teve início com a realização de diag-

nósticos socioambientais, seguidos de ações concretas,detalhadas ao longo desta edição. Em 1994, foi elaboradoe implantado o Projeto Formação de Professores Indíge-nas no Parque Indígena do Xingu. A partir de 1995, come-çou o Projeto de Manejo Florestal de baixo impacto paraextração de madeira com os índios Xikrin do Cateté: a pri-meira safra foi comercializada em 2000. Em 1997, emparceria com a Associação Terra Indígena Xingu, nascia oProjeto Mel do Xingu.

No ano seguinte, foi a vez do Projeto de Pisciculturano Alto Rio Negro, que já colocou três estações em funci-onamento, e do projeto de cestaria de arumã, ambos emconjunto com a Federação das Organizações Indígenas doRio Negro (Foirn). Em 1999 e 2000, o Projeto de Educa-ção Foirn/ISA elaborou e implementou com os índiosBaniwa-Coripaco e Tuyuka as primeiras escolas criadasespecialmente para eles. Em 2002, o ISA produziu e pu-blicou os diagnósticos socioambientais da bacia Billingse do Vale do Ribeira, ambos em São Paulo.

Ainda na linha do desenvolvimento de projetos em de-fesa do meio ambiente, do patrimônio cultural e dos direi-tos de povos indígenas e populações tradicionais, o ISAcoordenou em 2003 o Encontro BR-163 Sustentável, emSinop (MT), para discutir propostas socioambientais paraa área de influência da rodovia. A iniciativa foi uma desuas ações globais, uma forma de atuação privilegiada porarticular projetos e parcerias. FO

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Equipe Foirn/ISAem visita àscomunidadesdas terrasem demarcação

Uma organizaçãocom programasem vários pontosdo país, 120funcionários eorçamentoanual deR$ 10 milhões

Direitos socioambientaisNa defesa dos direitos sociais, a atuação do ISA teve

início já em 1994 com ações em favor dos índios Panará eGavião da Montanha, ambas vitoriosas. Em 1997, o institu-to participou da demarcação física das Terras Indígenas (TI)do Alto e Médio Rio Negro. Desde 1999, juntamente comoutras entidades, o ISA vem pleiteando o licenciamentoambiental completo para a hidrovia Araguaia-Tocantins, queafetará uma grande extensão do Centro-Oeste, próxima aaldeias indígenas. No Vale do Ribeira, teve forte participa-ção durante cinco anos nos processos que culminaram nanegativa de licença ambiental para a construção da Hidrelé-trica de Tijuco Alto, empreendimento do Grupo Votorantimpara fornecer energia para sua controlada Companhia Brasi-leira de Alumínio (CBA).

A partir de 2001, o ISA contribuiu para implantar oBalcão da Cidadania, convênio entre a Foirn e o Ministérioda Justiça que deu documentos a mais de 4 mil pessoas.Em 2003, os advogados do ISA representaram duas co-munidades da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol em jul-FO

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gamento no Superior Tribunal de Justiça, que derrubouação do governo de Roraima contra a demarcação.

Em outra importante frente, o ISA vem desenvolvendoações de monitoramento e proposição de políticas públi-cas. É o caso, por exemplo, do Seminário Biodiversidadena Amazônia Brasileira, em 1999, que reuniu em Macapá(AP) mais de duas centenas de pesquisadores e especia-listas para identificar áreas prioritárias na preservação dabiodiversidade.

Em 2002, durante o Seminário Billings, foram pro-postas ações prioritárias e de conservação da biodiversi-dade da bacia Billings (SP). Por ter acumulado experiên-cia em diagnósticos participativos, foi chamado a colabo-rar na elaboração dos planos diretores da Capela do So-corro e Parelheiros, bairros ao sul da capital paulista queestão em áreas de mananciais. Merecem registro os tra-balhos de documentação e de geoprocessamento, que dãosubsídios à elaboração de diagnósticos, fontes de con-sulta para pesquisadores e instrumentos para omonitoramento de políticas públicas.

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P A R C E I R O S LO C A I S

TrabalhoafinadoFortalecimentodas organizaçõesindígenas equilombolasé uma das metasdo ISA

Assembléia da Foirn(acima) e da Atix (aolado): parceiroslocais do ISA

EEEEEm todos os projetos que desenvolve, seja em comunidadesindígenas ou em sociedades não tradicionais, como os

quilombolas do Vale do Ribeira, o Instituto Socioambiental (ISA)tem como premissa não impor demandas, mas responder aelas e não trabalhar para, mas com. Significa atuar em conjuntoem projetos pilotos e preparar as lideranças locais para terem,no longo prazo, maior autonomia sobre seus projetos.

Foi isso que levou às parcerias com a Federação dasOrganizações Indígenas (Foirn), a Associação Terra Indígena doXingu (Atix) e com a Associação Quilombo de Ivaporunduva, noVale do Ribeira. E também às ações para apoiar o povo Panará ase organizar em defesa de seus direitos na Associação Iakiô. Os

parceiros locais são considerados estratégicos para odesenvolvimento dos programas regionais do ISA, desenhadosconjuntamente para responder aos constantes desafios a quesão submetidos em relação às políticas públicas.

Além de dar acompanhamento e prestar assessoria aosparceiros locais em projetos voltados para a fiscalização de terras,proteção ambiental ou de sustentabilidade, o ISA mantém umprograma de capacitação em gestão, que visa o fortalecimentoinstitucional das associações indígenas e quilombolas e incluidesde aspectos administrativos e financeiros até a elaboração deprojetos. Essa parceria também envolve a formação de técnicos eprofessores indígenas no Rio Negro e no Parque Indígena do Xingu.

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F I N A N C I ADORES

Quem apóia o ISAOOOOO Instituto Socioambiental (ISA) privilegia ações que

ar ticulam projetos de caráter demonstrativo,campanhas e programas de trabalho e parceria, combinandodiversas modalidades e níveis de atuação – local, regional,nacional e internacional. Além dos parceiros locais, tambémfazem parte dessa estratégia parceiros nacionais e

internacionais que contribuem para suas atividades eparticipam ativamente dos processos de discussão daquestão socioambiental no Brasil.As parcerias que contribuem com recursos humanos efinanceiros são classificadas pelo grau de envolvimento coma estratégia geral do ISA:

11111 - P - P - P - P - Pa ra ra ra ra rcei rcei rcei rcei rcei ros insti tucionais –os insti tucionais –os insti tucionais –os insti tucionais –os insti tucionais – Apóiam institucionalmenteaportando recursos de várias formas, contribuindo para a imple-mentação da estratégia global do ISA.Icco – Organização Interclesiástica para a Cooperação ao Desenvol-vimento (Holanda) • NCA – Norwegian Church Aid2 2 2 2 2 - P- P- P- P- Parararararceirceirceirceirceiros multisetoriais -os multisetoriais -os multisetoriais -os multisetoriais -os multisetoriais - Apóiam algumas áreas e programaspré-definidos em comum acordo, contribuindo para a implementaçãode parte da estratégia geral do ISA a partir de prioridades definidasdentro das instituições parceiras.Embaixada do Reino dos Países Baixos • Fundação Ford (EUA) •RFUS – Rainforest Foundation (EUA) • RFN – Norwegian RainforestFoundation • UE – União Européia33333 - P - P - P - P - Parararararceirceirceirceirceiros pros pros pros pros programáticos -ogramáticos -ogramáticos -ogramáticos -ogramáticos - Apóiam a implementação de açõesde um ou mais programas do ISA a partir de prioridades definidas emcomum acordo.Gordon & Betty Moore Foundation • Horizont 3000/ Aliança peloClima • Icco – Organização Intereclesiástica para Cooperação aoDesenvolvimento (Holanda) • Norad/ PNPI – Agência Norueguesapara Cooperação Internacional/ Programa Norueguês para Povosindígenas • RFN – Norwegian Rainforest Foundation • RFUS –Rainforest Foundation (EUA) • UE – União Européia

44444 - P - P - P - P - Parararararceirceirceirceirceiros setoriais -os setoriais -os setoriais -os setoriais -os setoriais - Contribuem com recursos financeirosvinculados a projetos específicos de alguma área ou programa.Alton Jones Foundation • Banco do Brasil • Bristol -Myers SquibbBrasil • Cafod Catholic Agency for Overseas Development • Cenp –Coordenadoria de Ensino e Normas Pedagógicas/ Seduc - SP •CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico eTecnológico • Colgate Palmolive • Fundo Canadá/ Embaixada doCanadá • Fundação Abrinq – Associação Brasileira de Fabricantesde Brinquedos • CVRD – Companhia Vale do Rio Doce • Diretoriasregionais de ensino de Miracatu, Registro e Apiaí • Doen Foundation(EUA) • Ecoscambio (programa coordenado pelas instituiçõesitalianas Legambiente e Cocis – Coordenação das ONGs deCooperação Internacional) • EDF – Environmental Defense Fund(EUA) • Editora Estação Liberdade • ELI – Environmental Law Institute(EUA) • E-Law – Environmental Law Alliance Worldwide (EUA) •Emae – Empresa Metropolina de çgua e Energia • EmbaixadaBritânica • Embaixada Real da Dinamarca • Embaixada do Reinodos Países Baixos • Esalq/ USP • Fehidro – Fundo Estadual deRecursos Hídricos (São Paulo) • Fema – Fundação Estadual doMeio Ambiente (Mato Grosso) • FGV – Fundação Getulio Vargas •Finep/ MCT – Financiadora de Estudos e Projetos/ Ministério daCiência e Tecnologia • Fundo de Defesa dos Direitos Difusos/MJ •FNDE/ MEC – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação/Ministério da Educação • FNMA/ MMA – Fundo Nacional de MeioAmbiente/ Ministério do Meio Ambiente • Fundação Banco do Brasil• Fundação Florestal • Fundação Ford (EUA) • Fundação Volkswagen• Goldman Environmental Prize (EUA) • Grupo AES (Eletropaulo,Sul, Tietê, Uruguaiana)/ Lei de Incentivo à Cultura – MINC • IAF –Inter-American Foundation • IBM Brasil • IIE – Institute of InternationalEducation US (EUA) • IIEB – Instituto Internacional de Educação

para o Brasil • IIZ – Instituto para Cooperação Internacional/ Aliançapelo Clima • Imesp – Imprensa Oficial do Estado de São Paulo •Instituto Ludwig-Boltzmann de Pesquisa Contemporânea para aAmérica Latina • Instituto Max Planck • KAS – Fundação KonradAdenauer • Levi Strauss Foundation • MacArthur Foundation (EUA)• Master Comunicação • Mata Terraplanagem e Serviços • MCT –Ministério da Ciência e Tecnologia • MEC/ SEF/CGAEI – Ministérioda Educação/ Secretaria de Educação Fundamental/ CoordenaçãoGeral de Apoio às Escolas Indígenas • MMA/ Probio - Ministério doMeio Ambiente/ Projeto de Conservação e Utilização Sustentável daDiversidade Biológica Brasileira • MMA/ SCA – Ministério do MeioAmbiente/ Secretaria de Coordenação da Amazônia • NaturaCosméticos • MME – Ministério das Minas e Energias • Movimondo/MOLISV • NBS – Agência de Publicidade • NC-IUCN NetherlandsCommittee for the World Conservation Union • Norad/ PNPI – AgênciaNorueguesa para Cooperação Internacional/ Programa Norueguêspara Povos Indígenas • NWF – National Wildlife Federation • ODA –Operation Workday/ Campanha dos Estudantes Secundaristas daNoruega • OEA – Organização dos Estados Americanos • Onlus –Associazione Umanisti nel Mondo • Oxfam América (Itália) • Padic– Programa de Apoio Direto às Iniciativas Comunitárias (Mato Grosso)• Pew Charitable Trust Funds • PNUD/ PPTAL/ KfW – Programa dasNações Unidas para o Desenvolvimento/ Programa Proteção TerrasIndígenas na Amazônia/ Banco da Alemanha • PPG7/ Projeto AMA/PNUD – Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais doBrasil do Grupo dos 7/ Projeto de Apoio ao Monitoramento e Análise• PPG 7/ Promanejo – Programa Piloto para Proteção das FlorestasTropicais do Brasil do Grupo dos 7/ Projeto de Apoio ao ManejoFlorestal da Amazônia • PPG7/ Subprograma de C&T/ PPD -Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil doGrupo dos 7/ Subprograma de Ciência e Tecnologia/ Projeto dePesquisa Dirigida • Prefeitura Municipal de São Paulo/ Subprefeiturada Capela de Socorro e Subprefeitura de Parelheiros • Probio/ CNPq– Programa de Conservação e Utilização Sustentável da DiversidadeBiológica Brasileira/ Conselho Nacional do DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico • Prodeagro/Padic/Pnud – Projeto deDesenvolvimento Agroambiental (Mato Grosso)/ Programa de Apoioàs Iniciativas Comunitárias do Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento • Prodeam – Programa de Ações Estratégicas paraa Amazônia Brasileira • Promanejo – Projeto de Apoio ao ManejoFlorestal na Amazônia • Pronaf – Programa Nacional deFortalecimento da Agricultura Familiar • Prosare/ CCR/ Cebrap •Proyeto Cultivando Diversidad • Rainforest Foundation Fund • RAN– Rainforest Action Network (EUA) • RFN – Norwegian RainforestFoundation • RFUK – Rainforest Foundation (Reino Unido) • RFUS– Rainforest Foundation (EUA) • Sabesp – Companhia de SaneamentoBásico do Estado de São Paulo • Secretaria Estadual de Energia deSão Paulo • Secretaria Estadual de Recursos Hídricos, Saneamentoe Obras de São Paulo • Seduc-MT/ FEE – Secretaria de Educaçãodo Estado de Mato Grosso/ Fundo Estadual de Educação • Seduc/AM – Secretaria Estadual de Educação do Amazonas • Suny – State

University of New York (EUA) • Terre des Hommes (Holanda} •The Field Museum (EUA) • Thompson Digital • TNC – The NatureConservancy (Brasil) • Tok & Stok • Unicef – Fundo das NaçõesUnidas para a Infância-Brasil - Centro Sul do Brasil • Usaid –Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional• WWF – Fundo Mundial para a Natureza • Zoom Aviação Ambiental

55555 - Contribuintes/Colaborador - Contribuintes/Colaborador - Contribuintes/Colaborador - Contribuintes/Colaborador - Contribuintes/Colaboradores -es -es -es -es - Instituições ou pessoasque contribuem por meio de doações em dinheiro, equipamentosou serviços.Afinco – Administração e Finanças para o Desenvolvimento •AGDS – Associação Global de Desenvolvimento Sustentável •Apacame – Associação Paulista de Apicultores, Criadores deAbelhas Melíficas Européias • Cepta/ Ibama – Centro Nacionalde Pesquisa de Peixes Tropicais/ Instituto Brasileiro do MeioAmbiente e dos Recursos Naturais Renováveis • Cese –Coordenação Ecumênica de Serviços • Coama – Programa parala Consolidación de la Amazonia Colombiana • Coiab –Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira• Cia. Suzano de Papel e Celulose • Conselho Nacional daReserva da Biosfera da Mata Atlântica • Dienste in †bersee •Embaixada da Austrália • Erdas • Esri • Faculdade de EducaçãoAmbiental Senac • Fapeam – Fundação de Amparo à Pesquisado Amazonas, Programa Jovem Cientista Amazônida • FOE –Amigos da Terra Internacional/ Projeto Rádio Amazônia • Funai– Fundação Nacional do êndio • Fundação Memorial da AméricaLatina • FVA – Fundação Vitória Amazônica • Geotec Consultoria• Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis • Ibase – Instituto Brasileiro de Análises eEstudos • Ipaam – Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas• Ipam – Instituto de Pesquisa da Amazônia • Instituto Pronatura• Ipol – Instituto de Políticas Lingüísticas • IPT – Instituto dePesquisas Tecnológicas • Imac – Instituto do Meio Ambiente doAcre • Inpa – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia •Instituto Acqua • Instituto GEA, Ética e Meio Ambiente • IRD –Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento • MPE – MinistérioPúblico Estadual/ Promotoria de São Gabriel da Cachoeira • MPEG– Museu Paranaense Emílio Gšeldi • Museu Nacional do Rio deJaneiro • Nepa – Núcleo de Estudos e Pesquisa em Alimentaçãoda Unicamp • Prefeitura Municipal da Estância Turística de RibeirãoPires • Pró-Reitoria de Extensão da Unicamp • PWA – ProgramaWaimiri-Atroari • Rede de ONGs da Mata Atlântica • Santos FurrielaAdvogados • SBS – Sociedade Brasileira de Silvicultura •Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo • Sehab –Secretaria Municipal de Habilitação de São Paulo • SecretariaMunicipal do Meio Ambiente de São Paulo • Semec – SecretariaMunicipal de Educação de São Gabriel da Cachoeira • Senai –Serviço Nacional de Aprendizagem da Indústria • Sesc/ SP –Serviço Social do Comércio • SOS Amazônia • Sub-Comitê daBacia Hidrográfica Billings/ Tamanduateí • Unifesp – UniversidadeFederal de São Paulo/ Departamento de Medicina Preventiva •VIDC – Vienna Institute for Development and Cooperation

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O Laboratório deGeoprocessamentoproduz e atualiza mapasque orientam ações doISA e se tornou umaimportante fonte deconsulta parapesquisadores

Centro de referênciaEm dez anos,o ISA assumiupapel ativo nageração edivulgação deestudos epesquisas

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São 832 páginas, 81 artigos, 1.713 notícias, 27 mapas,270 fotos, documentos, grafismos e tabelas. O livro Po-

vos Indígenas no Brasil editado pelo Instituto Socioambiental(ISA) é o maior conjunto de informações sobre as 220 comu-nidades indígenas que vivem no país.

No balanço das realizações do instituto, Povos Indíge-nas no Brasil – o PIB ou “Pibão”, como é chamado interna-mente por seu tamanho – serve como uma espécie de em-blema. Primeiro por sua importância: é a principal obra dereferência sobre a situação das mais antigas sociedadesestabelecidas no país e sua história recente. Segundo porser uma síntese de tudo o que o ISA faz: abre espaço para areflexão, reúne e divulga dados, gera textos, fotos e mapas.Em outras palavras, produz informação e conhecimento.

Com isso, leva à frente missões expressas na Ata deFundação: promover, realizar e divulgar pesquisas e estu-dos, organizar documentação e difundir por quaisquermeios as informações e conhecimentos produzidos por siou por terceiros. No ISA, pesquisa, produção de mapas,informática, documentação e comunicação são instrumen-tos que se intercruzam e se complementam para dar apoioàs ações, ajudar a entender melhor o cenário socioam-biental e a pensar alternativas para os grandes desafiosnesse campo.

É nessa linha que se enquadra, por exemplo, omonitoramento de áreas protegidas, que visa coletar, siste-matizar e divulgar informações que possam influenciar po-líticas públicas voltadas para a defesa dos direitos coleti-

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Em 2003, o site do ISAregistra quase1 milhão de acessos;um dos destaquesé o subsite PovosIndígenas do Brasil

O I S A E M N Ú M E R O S

• Notícias no site = 1.118• Inserções na mídia = 1,878 (1995/2003)• Verbetes Enciclopédia = 136• Banco de notícias = 11,550• Banco de Organizações Indígenas = 510• Banco de Unidades de Conservação = 1,698• Banco de Terras Indígenas = 618• Revista Parabólicas = 59

• Atendimentos externos = 10,000• Publicações produzidas = 94• Acervo bibliográfico = 24,444• Mapas gerados = 307• Ações judiciais = 30• Acervo de fotos = 24,361• Vídeos catalogados = 630• Títulos de coleções de periódicos = 644• Recor tes de jornais = 120,000

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vos e da proteção e preservação do patrimônio ambiental.Esse trabalho não se limita às Terras Indígenas (TIs) eUnidades de Conservação (UCs), estendendo-se a outrasáreas públicas ou até a empreendimentos privados – comousinas hidrelétricas, gasodutos, rodovias, ferrovias,hidrovias, zonas de mineração, garimpagem e de explora-ção madeireira – capazes de provocar impactos socioam-bientais. A proposta é ter uma visão abrangente doordenamento territorial no Brasil, monitorar ações do Es-

tado em relação a essas terras e subsidiar projetos desustentabilidade ambiental das comunidades indígenas eoutras populações tradicionais. E também acompanharameaças, como o desmatamento, utilizando para isso ima-gens de satélite.

O Programa Monitoramento de çreas Protegidas re-sulta em informações, atualizadas permanentemente, naforma de artigos, relatórios, notícias de interesse das po-pulações tradicionais, movimentos pela defesa dos direitos

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No projetodesenvolvidono Rio Negro,componentes domicrocomputadorganham nomes nalíngua Baniwa

Pesquisadores doISA em ação no rioNegro: Aloísio Cabalzar(esquerda) e olevantamento sobresaúde e nutrição;Geraldo Andrellorevê depoimentospara um livro comnarrativas indígenas FO

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indígenas, ambientalistas, órgãos governamentais, agênciasmultilaterais e da mídia.

Sua base é um sistema de dados com representaçãocartográfica, trabalhado pelo Laboratório de Geoproces-samento, em São Paulo, que se dedica à produção, atualiza-ção e divulgação de mapas e ao desenvolvimento de siste-mas de informação geográfica para elaboração de diagnósti-cos socioambientais participativos, com a colaboração dosdiversos atores sociais locais.

O laboratório atende a programas e projetos do ISA, for-necendo subsídios para o planejamento e desenvolvimentode ações, e também comunidades e parceiros locais, pesqui-sadores, organizações governamentais e não-governamentais,imprensa e interessados em geral sobre os aspectos territoriaisdos temas estudados pelo instituto. Nos últimos dois anos,juntamente com diversas instituições de pesquisas e ONGs,o ISA foi convidado pelo Ministério do Meio Ambiente a par-ticipar da análise de dados de desmatamento em Mato Gros-so, em particular no Xingu, onde atua, devido à sua experiên-cia de trabalho nessa região.

São vários os destaques como os levantamentos para osdiagnósticos do Vale do Ribeira e das bacias Billings eGuarapiranga, além dos que serviram de base para a demar-cação das Terras Indígenas no Rio Negro, em 1997, e para oSeminário de Macapá. O evento, em 1999, reuniu mais de200 pesquisadores e especialistas de diferentes áreas de co-nhecimento para identificar áreas prioritárias para a biodiver-sidade na Amazônia Legal. Este trabalho foi realizado por so-licitação do Ministério do Meio Ambiente.

Em dez anos, o resultado dessas iniciativas pode ser ex-presso em 307 mapas (mais de 5 mil cópias distribuídas),que, muitas vezes, contaram com contribuições dos parcei-ros locais do ISA. É o caso, por exemplo, do mapa Cabeceirasdo Xingu, produzido e editado em 2001, que identificou áreasdesmatadas e alteradas na parte mato-grossense da bacia do

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Barco levando a equipedo ISA percorreu oRiozinho do Anfrísio, naTerra do Meio (PA)

Em Macapá,pesquisadoresapontaram açõesprioritárias paraa biodiversidadena Amazônia

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rio Xingu. Os dados serviram de subsídio para o trabalho dospostos indígenas e vigilância e, também, para a elaboraçãode estratégias de ação para a equipe responsável pelo Pro-grama Parque Indígena do Xingu. Outro exemplo é o das Pai-sagens do Rio Negro, mapeamento de ambientes e do uso derecursos naturais feito com instrumentos cartográficos e inú-meros colaboradores indígenas.

Diagnósticos socioambientaisEntre os trabalhos recentes está o mapa Amazônia Brasi-

leira 2004, o mais atualizado sobre as 400 Terras Indígenas(TIs) e as 236 Unidades de Conservação (UCs) nos 500,6milhões de hectares da região. Os limites das TIs e UCs foramobtidos nos instrumentos oficiais de criação, compilados peloPrograma Monitoramento de çreas Protegidas e lançados so-bre as cartas do mapeamento sistemático do Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outra importante fontedo ISA para a produção de conhecimento são pesquisas eestudos sobre o seu amplo e diversificado conjunto de inte-resses. Um bom exemplo são as expedições, realizadas em2002, a uma região de 7,9 milhões de hectares no sul doPará, a Terra do Meio, por solicitação do Ministério do Meio

Ambiente, para elaborar um diagnóstico socioeconômico eambiental da área.

Dentro da proposta de apresentar alternativas às políticaspúblicas, o relatório final sugeriu a criação de um mosaico deUnidades de Conservação, pela enorme diversidade que a Terrado Meio abriga e pelas ameaças que a grilagem de terrasrepresenta naquela região. Em 2004, o governo optou porcriar ali uma reserva extrativista.

O Rio Negro tem sido um campo particularmente fértil parapesquisas: além do levantamento socio-econômico e demográficorealizado em São Gabriel da Cachoeira (ver reportagem da página20), o ISA realizou em2003 uma pesquisa desaúde e nutrição com oobjetivo de aprofundaro conhecimento sobreo impacto do contatointerétnico na saúdedos povos indígenaspara melhor adequaçãodas políticas públicasàs demandas locais.

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Parceiros indígenas doAlto Rio Negrocontribuem paraaprimorar os registroscartográficos da regiãoFO

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Quase um milhão de acessos na InternetNo acervo da documentação do instituto só os recortes

de jornais passam de 120 mil. Montar um sistema eficientede captação, informatização, conservação e acesso de docu-mentos e informações foi a resposta aos desafios trazidospela necessidade de acompanhamento atualizado e qualifi-cado de processos sociais e políticos que envolvem as dife-rentes áreas de atuação da organização.

Ao iniciar suas atividades o ISA já contava com extensoacervo de documentos oriundos das organizações que o pre-cederam, e agregou novos documentos, livros, jornais, revis-tas, dissertações, teses, índices e notícias. A documentaçãofunciona como um serviço permanente de apoio aos progra-mas e projetos do ISA, bem como fonte de consulta, cada vezmais requisitada, por pesquisadores, jornalistas, estudantese outros públicos interessados no socioambientalismo.

O clipping diário realizado pela equipe da documenta-ção, selecionando notícias de jornais, revistas e sites, comassuntos de interesse do ISA, acabou por gerar um filhote -as Manchetes Socioambientais, um boletim eletrônico diárioenviado a mais de 4.100 pessoas cadastradas e também co-locado à disposição no site do ISA.

Ao longo de dez anos, o ISA assumiu um papel ativo nadivulgação de estudos e informações, utilizando diferentes meios– livros, mapas, cartilhas, revistas, CDs e vídeos (Olhares Cru-zados, sobre o programa desenvolvido no Vale do Ribeira, eArte Baniwa, produzidos em 1998 e 1999, respectivamente).

Além da publicação Povos Indígenas no Brasil, a sérieDocumentos ISA traz textos, transcrições de seminários eestudos de caso de interesse do instituto. No total, já forameditadas 94 publicações, cobrindo a vasta gama de assuntosque fazem parte do universo do ISA e do socioambientalismo:

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ManchetesSocioambientaisé o boletimdiário enviadoa mais de 4 milpessoas

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direitos socioambientais, povos indígenas e sua arte, costu-mes e tradições, mananciais e Mata Atlântica, entre outros. OSeminário de Macapá, deu origem ao livro Biodiversidade naAmazônia Brasileira, vencedor do Prêmio Jabuti – o maisprestigiado do país na área editorial –, como a melhor obra denão-ficção de 2002 e teve versão em inglês, publicada em2004 (ver alguns dos principais títulos lançados pelo ISA naspáginas18 e 19).

De novembro de 1994 a setembro/outubro de 1999, oISA publicou a revista Parabólicas. Em 2000, seu conteúdopassou a ser editado eletronicamente e o último número foi ode agosto/setembro daquele ano. Algumas edições eletrôni-cas de Parabólicas estão disponíveis no site do ISA, e umadas mais acessadas pelo público é a de número 59, que tra-tou da questão dos transgênicos.

No ar desde 1998, o site do ISA também se tornou umcanal de divulgação de informação: o subsite Povos Indíge-nas no Brasil abriga a Enciclopédia dos Povos Indígenas comverbetes – já são 136 – que também passaram a ser referên-cia sobre as comunidades indígenas no Brasil contemporâ-neo. Em 2003, o site foi consultado por 973 mil pessoas.

Entre as atividades que dão suporte às operações do ISA,a área de informática está envolvida num projeto de inclusãodigital no Rio Negro. Com apoio do Ministério das Comunica-ções, foram instalados dois computadores e uma antena numaescola Baniwa, a dez horas de barco de São Gabriel da Ca-choeira. Os alunos, jovens entre 16 e 25 anos, participaramde oficinas e estão usando os equipamentos, que funcionam

Mapa Cabeceiras doXingu editado em 2004com dados de 2003(no alto); ao lado,atualizaçãodo mapa AmazôniaBrasileira 2000, comcom Terras Indígenase Unidades deConservação em 2004

com energia solar, para buscar informações, disseminar suacultura e se comunicar com a sede da Foirn e do ISA, em SãoGabriel da Cachoeira.

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Uma centena depublicações

Os destaques são oslivros Povos Indígenasno Brasil, as cartilhas doPrograma Xingu em 14línguas indígenas, livrosdidáticos do Projeto deEducação do Rio Negro,diagnósticossocioambientais, obrasjurídicas com o resumode cases significativos daatuação dos advogadosdo ISA e Biodiversidadena Amazônia Brasileira,vencedor do PrêmioJabuti 2003 na categoriaNão-Ficção

EEEEEm sua trajetória ao longo de uma década, o InstitutoSocioambiental produziu 94 publicações incluindo livros,

cartilhas, mapas, além da revista Parabólicas e da sérieDocumentos ISA - oito ao todo, sendo que os primeiros estãoesgotados, mas disponíveis para download aos interessadosno site www.socioambiental.org. A seguir, um painel com umaseleção de títulos que retratam as áreas de atuação do ISA.

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Os caminhos dasustentabilidadeA experiênciaem projetospilotos naregião inspirouPrograma deDesenvolvimentoIndígenaSustentável

Estação de Pisciculturana Escola Baniwa eviveiro de mudas parareplantio e alimentação

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A região do Alto Rio Negro, no noroeste amazônico,abriga uma imensa diversidade socioambiental – 23 povosindígenas e seus ambientes milenarmente manejados emodificados. Essa riqueza contrasta com a escassez depeixes, resultado de um conjunto de fatores naturais esocioeconômicos – solo pobre em nutrientes, águas detemperatura elevada e escuras, grandes cachoeiras e técnicasde pesca não tradicionais, especialmente redes –, quealgumas experiências pilotos vêm tentando mudar.

Desde 1994, a Federação das Organizações Indígenas(Foirn) e o Instituto Socioambioental (ISA) desenvolvemtrabalhos em parceria na região. Um deles é o Projeto dePiscicultura e Manejo Agroflorestal, iniciado em 1998 paraaumentar a segurança alimentar de comunidades indígenasque vivem em áreas onde a quantidade de peixes atingiu níveiscríticos. O objetivo é contribuir para o repovoamento,permitindo, a longo prazo, a recuperação do estoque depeixes. Juntamente com a mandioca, o peixe é o principalalimento dos povos do Rio Negro.

Três estações de produção de alevinos para aumentara população de peixes foram instaladas nos rios Tiquié(Caruru), Uaupés (Iauaretê) e Içana, esta última instaladana Escola Indígena Pamáali (Baniwa-Coripaco). Nas três, onúmero de viveiros comunitários e familiares tem crescidode forma contínua – já são mais de 80, com previsão deconstruir outros 80 a médio prazo – , e a equipe técnica

vem obtendo bons resultados na reprodução artificial deespécies nativas, como o aracu-riscado, o aracu-de-três-pintas e o acará.

Foram instalados viveiros de mudas para replantio e aequipe do ISA produziu uma cartilha sobre técnicas dereprodução de plantas, transmitidas a alunos, professores ediversas comunidades. As plantas dos viveiros servemtambém para alimentação dos peixes nas estações. Em 2003,o Projeto de Piscicultura e Manejo Florestal ganhou o PrêmioChico Mendes, concedido pelo Ministério do Meio Ambiente,na categoria Ciência e Tecnologia.

A idéia é que a piscicultura se transforme, aos poucos,em um programa mais amplo de manejo ambiental e de pesca,com um conjunto de atividades ligadas à educação,monitoramento do meio ambiente e formação de agentesindígenas de manejo.

Demarcação, pesquisas e políticas públicasO ISA teve ainda ativa participação na demarcação das

Terras Indígenas (TIs) do Alto e Médio Rio Negro, entre 1997e 1998, ajudando a criar o maior território indígena em áreacontínua do país. As cinco TIs do Rio Negro ocupam 10,6milhões de hectares, que abrigam uma populaçãomajoritariamente indígena – são cerca de 40 mil pessoasdistribuídas por cerca de mil comunidades e sítios ao longode rios, em povoados e nos centros urbanos existentes,

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Com o Balcão daCidadania, maisde 4 mil pessoasreceberamdocumentos;abaixo, projeto danova sede do ISAem São Gabriel

especialmente no município de São Gabriel da Cachoeira,centro econômico da região, onde o ISA instalou uma subsedee mantém uma equipe permanente.

Atento ao acelerado crescimento de São Gabriel,provocado pelo deslocamento de famílias indígenas quedeixam suas terras para viver na cidade, o ISA realizou umapesquisa socioeconômico-demográfica para montar umamplo perfil da população e de suas condições de vida,identificando as causas da migração e avaliando os efeitosdo crescimento urbano. Ainda no campo da pesquisa, quecaracteriza a atuação do ISA no Rio Negro, foi concluído em2003 um projeto voltado à saúde e nutrição das populaçõesindígenas para aprofundar o conhecimento sobre o impactodecorrente do contato interétnico e sugerir alternativas emelhor adequação das políticas públicas de saúde.

Educação e cidadaniaA parceria entre a Foirn e ISA se estende também à

educação e já levou à criação de escolas piloto, planejadase estruturadas pelos índios. É o caso da Associação EscolaIndígena Utapinopona Tuyuka, formada por cincocomunidades do Alto Tiquié, e da Escola Indígena Pamáali,dos índios Baniwa-Coripaco. O Projeto de Educação inclui,ainda, a articulação com políticas públicas, num trabalhopara que as secretarias de educação municipal e estadualapóiem e assumam as escolas piloto indígenas. Em outrafrente – a valorização das línguas e cultura – são realizadasoficinas que resultaram em iniciativas como um CD demúsicas cerimoniais Tuyuka e no desenvolvimento de novosprodutos feitos com fibra de tucum.

A partir de 2001, o ISA apoiou a implementação doBalcão da Cidadania no Rio Negro, convênio entre o Ministérioda Justiça e a Foirn para emitir documentos para a populaçãoindígena e fazer valer os seus direitos. No total, 4.193 pessoas,de 19 etnias receberam 6 mil documentos entre certidão denascimento, carteira de identidade, carteira de trabalho, CPFe registro de casamento civil. Para chegar aos pontos maisdistantes, foram montados postos de atendimentos em barcosque percorriam os rios da região.

Outra etapa do Balcão da Cidadania foi a organização doCurso de Direitos Indígenas do Rio Negro, que reuniu 155

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O objetivo éimplantarmodelosparticipativospara oaproveitamentode recursosnaturais

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UMA ARTE DE 2000 ANOS

Para chegar aosgrandes centrosurbanos, balaiose urutus baniwa sãotransportados emcanoas, passando por19 corredeiras

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A milenar arte dos Baniwa, um dos povos indíge-nas da bacia do rio Negro, ficou acessível aos brasilei-ros que vivem nos grandes centros urbanos desde 2000quando ganhou marca e uma grande exposição em SãoPaulo e passou a gerar recursos que ajudam a manter acomunidade. Seus balaios e urutus, cestos verticais detrama delicada, em diferentes tamanhos, tipos degrafismos e cores, – com predomínio do vermelho dourucum e do preto da fuligem dos fornos de farinha – jásão encontrados em lojas do sudeste e do sul.

Agregar valor cultural e ambiental aos produtospara ocupar nichos de mercado adequados e obterpreços compensadores é um dos principais resulta-dos do projeto piloto da Foirn e associações filiadasencabeçadas pela Organização Indígena da Bacia doIçana (Oibi), em parceria com o ISA, para incentivar aprodução sustentável de cestaria de arumã, fibra ex-traída de uma planta da região. A primeira rede de lo-jas a comercializar o artesanato Baniwa foi a Tok&Stoke depois algumas lojas da rede de supermercados Pãode Açúcar.

Em 2001, a parceria recebeu menção honrosa doPrêmio Empreendedor Social Ashoka-Mckinsey, na ca-tegoria Idéia Inovadora em Mobilização de Recursos.Estima-se que os Baniwa já se dedicavam à cestariahá mais de 2.000 anos: seus grafismos foram inscri-tos em pedras pelos antepassados para nunca seremesquecidos. Esses objetos são usados pelas mulhe-res no processamento da mandioca brava, base de suaalimentação.

Até recentemente, conhecer a arte Baniwa era pri-vilégio de poucos. Para ir de canoa do Alto Rio Içana aSão Gabriel da Cachoeira é preciso vencer 19corredeiras numa viagem que pode demorar até duas

semanas. Dali, os produ-tos seguem até Manaus edepois para São Paulo.

O projeto envolve otrabalho de 226 artesãosque, no total, já venderamquase 25 mil peças, comuma receita bruta de 250mil reais em cinco anos.Os recursos obtidos coma venda são utilizadospara remunerar os pro-dutores, cobrir custosoperacionais e aplicar emprojetos de interesse dasassociações Baniwa.

representantes de 49 associações indígenas para discutirtemas fundamentais para eles como demarcação; superposiçãode terras indígenas com unidades de conservação e presençamilitar na região entre outros.

As lições aprendidas com os projetos pilotos (piscicultura,escolas, arte baniwa etc) inspiraram a formulação de umPrograma Indígena de Desenvolvimento Sustentável na região,e que é o objetivo geral do Programa Rio Negro do ISA. A idéiaé desenvolver e multiplicar modelos participativos deaproveitamento de recursos naturais, que aliem conhecimentostradicionais aos técnicos.

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MANANCIAIS

Água para São Paulo Atuação do ISAvisa informaro públicoe apontaralternativaspara reduzira ameaça decolapso noabastecimentoda regiãometropolitana

Vista aérea da região daBillings, em São Paulo:sob o impactoda ocupaçãodesordenada

Maior reservatório de água da Região Metropolitana de SãoPaulo, a bacia hidrográfica Billings ocupa aproximadamente500 quilômetros quadrados e é responsável pelo abastecimentode água de boa parte dessa área, um dos maiores aglomeradosurbanos do mundo. Nos últimos anos, a crescente ocupaçãoirregular e desordenada, o desmatamento e o lançamento deesgotos domésticos passaram a representar sérias ameaças àBillings, num momento em que ganha força a preocupação emrelação à escassez de água no planeta, com um consumo quecresce duas vezes mais que a população.

Foi esse cenário que reuniu durante três dias, emnovembro de 2002, quase 200 especialistas – cientistas,acadêmicos, representantes de organizações não-governamentais, do meio empresarial e de movimentossociais – para discutir propostas sobre a conservação,recuperação e uso sustentável da bacia hidrográfica Billings.O Seminário Billings 2002, organizado pelo InstitutoSocioambiental (ISA) em conjunto com várias instituiçõesgovernamentais e não-governamentais, identificou problemase riscos, realizou um completo diagnóstico da região eapresentou um conjunto de recomendações para reverter oquadro de degradação que ameaça este importante manancial.

Diagnósticos participativos enquadram-se na proposta doISA de oferecer alternativas para questões socioambientais,propondo medidas para impedir que continue a ocupaçãodesordenada e para diminuir os impactos já sofridos. No casoda Billings, uma das inúmeras sugestões apresentadas foi acriação de parques, como o da Cratera da Colônia – relíquiaarqueológica –, em torno de uma gigantesca cratera formadahá milhões de anos.

A atuação do ISA nesse campo teve início em 1996, como Diagnóstico Socioambiental Participativo da BaciaHidrográfica Guarapiranga, que abastece a parte sudoeste domunicípio de São Paulo, e se ampliou com estudos e iniciativasde mobilização da sociedade. Em 2003, passou a trabalharcom as bacias hidrográficas do sistema Cantareira.

Pela experiência que acumulou – e como parte de suaproposta de participar da formulação e monitoramento de políticaspúblicas – o ISA contribuiu em 2003 para elaboração dos planosdiretores das subprefeituras de Capela do Socorro e Parelheiros,onde estão situadas áreas de mananciais. O instituto tambémrepresenta ONGs ambientalistas no Conselho da çrea de ProteçãoAmbiental (APA) do Capivari-Monos, que ocupa parte da baciaBillings e, no Comitê de Bacia Hidrográfica do Alto Tietê.

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Em situação de riscoConjunto deações comcomunidadeslocais é aresposta àsameaçastrazidas pelaexpansão dasfronteirasagrícolas noParque do Xingu

Posto indígena deDiauarum, no Parquedo Xingu, onde a Atixtem sua sede

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QQQQQuem sobrevoa o Parque Indígena do Xingu, em MatoGrosso, tem diante dos olhos um mar verde que se

estende por 2,6 milhões de hectares. Não é preciso ir muitolonge, no entanto, para se notar que essa área está setornando uma ilha cercada por pontos de desmatamento equeimadas, sinais da expansão, cada vez mais rápida, dafronteira agrícola.

O Parque Indígena do Xingu abriga uma rica diversidadeecológica, social e cultural. Cerca de 4.700 pessoas de14 etnias, que falam línguas diferentes, vivem em 49aldeias e postos nas florestas tropicais, ao norte, ou empontos de cerrado, ao sul. Até meados da década de 1980,seus habitantes permaneciam em relativo isolamento. Apartir de então, a construção de grandes rodovias, aampliação das fronteiras agrícolas e as invasões demadeireiros e pescadores põem em risco seu território e asua sustentabilidade. Essas ameaças foram determinantes

na parceria entre o Instituto Socioambiental (ISA), aAssociação Terra Indígena do Xingu (Atix) e ascomunidades do Parque Indígena do Xingu. Desde 1995,o ISA desenvolve um amplo conjunto de projetos na região– de iniciativas para geração de renda à formação deagentes indígenas de saúde e professores.

Um dos eixos do trabalho desenvolvido é o ProjetoFronteiras do Xingu, que criou um modelo de monitoramento,proteção e fiscalização do entorno do parque, com aparticipação das comunidades indígenas e apoio de agênciasgovernamentais e não-governamentais.

Entre as iniciativas adotadas estão o apoio à consolidaçãoe ao funcionamento de 11 postos de fiscalização e capacitaçãode seus chefes, monitoramento e mapeamento da região earticulação das lideranças com os órgãos ambientais, queresultaram em maior controle sobre invasões. Expediçõesperiódicas ao entorno do parque são realizadas para levantar

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Vista aérea dos limitesdo Parque, cercado pelodesmatamento

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informações sobre a situação da vegetação e dos rios, aextensão de queimadas e a ocorrência de atividades capazesde provocar danos ao meio ambiente. As expediçõespercorrem, em média, cerca de 1.800 quilômetros.

Em outra frente, são desenvolvidas atividades que buscama construção de autonomia para a Atix, assegurando condiçõespara que ela articule e mobilize lideranças em torno de umaagenda de questões políticas relacionadas à gestão do parquee assuma a elaboração e controle de projetos.

Formação de agentes indígenasUm deles é o de manejo de recursos naturais e

desenvolvimento de alternativas econômicas sustentáveis, quetem como meta a manutenção da cultura material e da saúdealimentar, valorizando conhecimentos e técnicas tradicionaise promovendo a formação de agentes indígenas de manejo.

Entre as iniciativas estão o manejo de sementes florestais;a instalação de viveiros comunitários, com espécies nativas eexóticas para a produção de mudas frutíferas em diversasaldeias; o estudo dos tipos de mandioca do povo Yudjá; oacompanhamento das diferentes técnicas de cultivo nas roças

Kaiabi; multiplicação de sementes de amendoim na aldeiaKwarujá e levantamento sobre as condições locais para acriação de galinhas.

Em paralelo à capacitação sobre economia desubsistência, busca-se consolidar a produção sustentavel e acomercialização de alguns produtos diferenciados, comagregação de valor ambiental e cultural, em projetos pilotosque vêm contribuindo para o aumento da geração de rendapara a comunidade. É o caso da apicultura, desenvolvida emalgumas aldeias (ver quadro).

O Projeto de Formação de Professores, que ofereceeducação continuada para 39 professores indígenas jáformados e prepara outros 42 para o magistério, tambémvem obtendo avanços. Desde 2000, quatro professoresindígenas formados no magistério atuam como auxiliares,de forma integrada com a equipe de formação do ISA,lecionando para uma turma de professores novatos. Osprofessores indígenas, que pertencem a 14 etnias do Xingu,dão aulas em português e línguas indígenas para 1.500alunos de 40 escolas. Nesse sentido, foram criadasortografias para as 14 línguas faladas no parque, num

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Cerimônia de formatura:entrega de diplomaspara professoresindígenas

DA FLORESTAS ÀS PRATELEIRAS DOS SUPERMERCADOS

Projetospilotos,como o manejode sementesflorestais,viveiroscomunitários ea apiculturacontribuempara a geraçãode rendaFO

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trabalho conjunto entre lingüistas,professores indígenas e a equipe do ISA.

A proposta é que os alunos man-tenham sua identidade como povos cultu-ralmente diferenciados. Um dos desafiosdos professores e da equipe do ISA é con-tribuir para fortalecer o diálogo com osmais velhos na perspectiva de motivar aparticipação dos adolescentes na vida tra-dicional da comunidade – festas, trabalhoda roça e confecção de artesanato, porexemplo. O projeto ganhou vários prêmi-os, entre os quais se destacam: Itaú-Unicef,em 1999, na categoria Educação e Parti-cipação, o Prêmio Chico Mendes, em 2002, do Ministério doMeio Ambiente, na categoria Organização Não-Governamentale o Prêmio Gestão e Cidadania, da Fundação Getúlio Vargas eFundação Ford, em 2003.

A formação de professores indígenas integra-se aoutros projetos desenvolvidos no Parque, como o deformação de agentes de saúde e os agentes de fiscalizaçãode fronteiras.

Desde meados de 2003, o mel produzido nasaldeias dos povos Suyá, Trumai, Ikpeng e Kayabi doParque Indígena do Xingu está chegando às lojas da

cadeia Pão de Açúcar, em São Paulo,a cerca de 2.500 quilômetros de

distância. Até agora, além da Atixe do ISA, a venda do mel dosíndios do Xingu restringia-se apequenas lojas.

A entrada numa grande rede devarejo abre novas perspectivas para

a apicultura do Xingu, projeto que teve início em 1995com apoio dos técnicos do ISA.

Em 2001, o mel do Xingu passou a ser o único dopaís certificado como produto orgânico pelo InstitutoBiodinâmico (IBD), sediado em Botucatu (SP). Depoisde colhido nas aldeias, o produto é enviado para umaCentral do Mel instalada no posto Diauarum, no parque,para ser embalado e enviado para a cidade de Canarana(MT), onde a Atix, que atualmente cuida da produção,comercialização e distribuição, mantém um escritório.De lá, segue para São Paulo.

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DIREITO E POLÍTICAS PÚBLICAS

Índios Panará em 1996:de volta para casa

Proteção aosconhecimentostradicionais e àdiversidadebiológica,garantiados direitoscoletivos eproposição dealternativasàs políticaspúblicas sãodesafios do ISA

A defesa dos povose da biodiversidade

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EEEEEm 1989, os índios Gavião da Montanha que então viviamnuma região elevada do médio rio Tocantins, no Pará –

considerada por eles como sagrada – entraram com ação naJustiça reivindicando a reposição de suas terras, inundadaspela barragem da usina hidrelétrica de Tucuruí. O processo,acompanhado de perto pelos advogados do ISA, só foiconcluído em 2002, com uma sentença do Tribunal RegionalFederal (TRF) que reconheceu o direito dos Gavião daMontanha a novas terras, em igual tamanho e na mesma região.

O caso é uma das mais importantes iniciativas do ISA nocampo do Direito e Políticas Públicas, mais tarde integradasno Programa Política e Direito Socioambiental. Ao episódiodos Gavião da Montanha viriam somar-se outros, como aquestão da hidrovia Araguaia-Tocantins, planejada para escoara produção de soja da região oeste de Mato Grosso. Comoutras organizações, o ISA pleiteou o licenciamento ambiental

completo do projeto, contestando o Estudo de ImpactoAmbiental (EIA-RIMA) e representando algumas comunidadesde índios Xavante diretamente afetadas pelo empreendimento.Atuou também nos processos que culminaram na negativa delicenciamento ambiental para construção da hidrelétrica deTijuco Alto, no Vale do Ribeira (ver página 31).

Encontro BR-163O anúncio pelo governo, em 2003, da pavimentação de

trecho da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém) originou outraação do ISA na área de políticas públicas: o Encontro BR-163Sustentável, em conjunto com um grande número de parceiros.Realizado em Sinop (MT), em 2003, o evento reuniu mais de200 participantes, entre sindicatos de trabalhadores rurais,organizações não-governamentais, prefeituras, representantesde assentados e povos indígenas, com o objetivo de elaborar

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Em 2000, índiosXikrin de Catetécomemoramprimeira safrade madeiraresultante de manejode baixo impacto

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um conjunto de propostas socioambientais para o eixo mato-grossense da estrada.

Entregue à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, aoministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, e ao governadordo Mato Grosso, Blairo Maggi, presentes ao encontro, odocumento final incluiu ações e estratégias visando asustentabilidade social, econômica e ambiental da área deinfluência da rodovia. A proposta é garantir que os benefíciosda pavimentação se estendam aos diferentes segmentos dasociedade e a preservação da floresta e de sua biodiversidade.

Entre 2000 e 2001, outro destaque do ISA na frente doDireito e Políticas Públicas foi a defesa do Código Florestal,ameaçado por uma comissão de parlamentares de sofrermodificações capazes de aumentar o desmatamento em todoo país e de provocar impacto sobre diversos ecossistemas. Areação do ISA e de outras organizações levou à vitoriosacampanha SOS Florestas, que registrou uma amplamobilização da sociedade civil. Mais de 10 mil pessoasenviaram mensagens ao Congresso Nacional, por meio deuma página hospedada no site do ISA, protestando contra aspretendidas mudanças.

Desde sua fundação, o ISA também vemacompanhando e participando ativamente do debate sobre

a questão da biodiversidade e dos conhecimentostradicionais. O Brasil tem a maior área contínua de florestastropicais do planeta, com 10% a 20% das espécies vivas ecerca de 55 mil espécies de plantas com sementes. Essabiodiversidade tem imenso potencial principalmente nafabricação de produtos para as indústrias farmacêutica,química, agrícola e de alimentos.

Assessoria jurídicaA Convenção da Diversidade Biológica, resultante da

Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ECO92), estabelece que os benefícios oriundos do uso dabiodiversidade e dos conhecimentos tradicionais devem serrepartidos de forma justa e eqŸitativa. Nessa linha, o ISAcontribuiu, com outros setores da sociedade, para a elaboraçãodo Anteprojeto de Lei de Acesso aos Recursos Genéticos eProteção aos Conhecimentos Tradicionais, e tem promovidodiscussões sobre o assunto, com participação de comunidadesindígenas e populações tradicionais.

No final da década de 1980, a construção de uma rodovialigando São Félix do Xingu e Redenção, no Pará, cortou aparte sul do território dos Xikrin do Cateté, deflagrando umprocesso de ocupação desordenada de seu entorno. Logo, as

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D I R E I T O E P O L Í T I C A S P Ú B L I C A S

Ministros Ciro Gomes e Marina Silva, no encerramentodo Encontro BR-163, em Sinop, que teve a participaçãode cerca de 200 pessoas, em 2003

Cacique Prepori Kaiabi evariedades de sementestradicionais de seu povo

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terras Xikrin foram invadidas por madeireiras e o cortepredatório de árvores ganhou intensidade.

O ISA assumiu a Ação Civil Pública de Responsabilidadeproposta em 1992 pelo NDI, levando adiante o processoque terminou com a retirada dos madeireiros daquelas terras,em março de 1994. O desdobramento veio com um programade manejo ambiental - desenvolvido em parceria pelo ISA epela Associação Bép-Nói de Defesa do Povo Xikrin - parareverter um quadro de exploração predatória em um modeloeconômico sustentável. No final de 2002, o ISA encerrousua participação no projeto, que passou a ser desenvolvidopela Associação Bep-Nói.

Decisão históricaOutro caso emblemático na área do Direito e Políticas

Públicas são os índios Panará (ver detalhes à página 4).Também conhecidos como Kreen-Akarore, eles viviam isoladosna região que se estende do rio Peixoto de Azevedo àscabeceiras do rio Iriri, nos estados de Mato Grosso e do Pará.Em 1972, quando foi iniciada a construção da rodovia BR-163, para ligar Cuiabá (MT) a Santarém (PA), uma expediçãocomandada pelos irmãos Orlando e Claudio Villas Bôas fezos primeiros contatos com os Panará.

Os resultados foram dramáticos. Por falta de medidas deproteção à saúde, os Panará foram vítimas de doenças para asquais não tinham resistência imunológica. Em menos de doisanos, a população estimada em 400 pessoas, ficou reduzidaa 79. Os sobreviventes foram então levados para o ParqueIndígena do Xingu.

Sem terras boas para a agricultura e sem a fartura de caçae pesca a que estavam habituados, os Panará não se adaptaramao parque e nunca deixaram de acalentar o sonho de retornar àssuas terras ancestrais. No início da década de 1990, em visita àregião do rio Iriri, onde tinham vivido, descobriram uma áreapreservada em meio à devastação provocada por pastos e pelamineração. “O homem branco comeu quase toda a nossa terra”,disse na ocasião o líder Akã Panará.

Começava a caminhada de volta. Os Panará contaram,desde o início, com assessoria dos advogados do NDI, e

depois do ISA. Foram sucessivas vitórias em todas asinstâncias judiciais, que culminaram com a decisão históricada condenação da União em conceder-lhes indenização de1,2 milhão de reais, recebida em 2003, para reparação dasperdas e danos. Com o apoio do ISA estão sendodesenvolvidos projetos de sustentabilidade da comunidade,que incluem educação, manejo de recursos naturais eassessoria na gestão de recursos.

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M ATA A T L Â N T I C A

O ISA produziuum dossiêreunindo amploconjunto deinformaçõessobre o bioma

O desafio da conservação

Vista aérea do rioRibeira de Iguape, noVale do Ribeira, um dosúltimos remanescentesde Mata Atlântica noestado de São Paulo

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RRRRReduzida a pouco mais de 7% de sua área original, a MataAtlântica é um dos maiores desafios para a conservação

da biodiversidade no continente americano. Apesar da atençãoque passou a despertar nos últimos anos, a devastação de suasflorestas prossegue em ritmo acelerado, pondo em risco umpatrimônio que regula o fluxo de mananciais hídricos responsáveispelo abastecimento de água a 120 milhões de brasileiros, garantea fertilidade do solo e protege escarpas e encostas das serras.

Diante desse cenário, o ISA decidiu criar, em 1999, oPrograma Mata Atlântica, com o objetivo de acompanhar aformulação, implementação e avaliação de políticas públicas,a legislação específica e de contribuir para a articulação entresetores governamentais e nãogovernamentais em ações deconservação e de utilização sustentável dos recursos de umdos mais ricos conjuntos de ecossistemas do planeta.

Foi o ponto de partida para diversas iniciativas, como oDossiê Mata Atlântica 2001 e o levantamento Quem Faz o QuePela Mata Atlântica 1990-2000 –, em parceria com a Rede deONGs da Mata Atlântica (RMA) e apoio de inúmeras instituições.

Composto por textos, um mapa-pôster, fotos e tabelas e umCD-Rom com dados gerais, referências bibliográficas, legislação,unidades de conservação, terras indígenas e base cartográfica, oDossiê Mata Atlântica forma o maior conjunto de informaçõesqualificadas sobre o assunto, à disposição de pesquisadores epúblico leigo. É, ainda, importante ferramenta para o suporte aorganizações voltadas para a conservação e sustentabilidade destebioma, que se estende do nordeste ao sul do país.

Quem Faz o Que pela Mata Atlântica , por sua vez, é oresultado de um minucioso trabalho de cadastramento,reunindo experiências realizadas na região, ao longo dedez anos, por órgãos públicos, ONGS, empresas, univer-sidades, instituições de pesquisas, movimentos sociais eoutras organizações. Os dados, relativos a 829 projetos,foram apresentados em seminário de âmbito nacional, rea-lizado em São Paulo, no final de 2001, e depois transfor-mados em publicação. Em 2002, o ISA optou pordesmembrar o programa em dois: Mananciais e Vale doRibeira (ver páginas 23 e 31).

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Sementes depalmito juçara:repovoamento deuma espécieameaçada deextinção

Do isolamento à inclusão Ações voltadaspara geração derenda dequilombolas,em harmoniacom a natureza,já produzemresultadosconcretos

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DDDDDepois de mais de dois séculos de quase total isolamento,vivendo da agricultura de subsistência, cerca de 70

famílias do Quilombo de Ivaporunduva, no Vale do Ribeira, emSão Paulo, vem passando por grandes transformações. Desde1997, a parceria entre o ISA e a Associação Quilombo deIvaporunduva está contribuindo para abrir espaço para a bananaorgânica e para o artesanato em palha de bananeira, produzidospela comunidade, nos grandes mercados consumidores. É oresultado de um conjunto de atividades voltadas para a geraçãode renda para os quilombolas – denominação que se dá àpopulação que vive no quilombo – , em equilíbrio com a natureza,e para a melhoria da qualidade de vida da comunidade.

Em 2003, 27 produtores de Ivaporunduva obtiveramcertificação orgânica para a cultura da banana, principal atividadeeconômica da região, agregando valor à sua produção. O trabalhoconjunto com a comunidade permitiu ainda eliminar a figura doatravessador, garantindo ganhos de até 80% na comercialização.No artesanato, a criação de etiquetas valorizou as peçasproduzidas. O projeto ganhou o Prêmio Super Ecologia 2003,da revista Super Interessante, na categoria Comunidades.

Em 2002, o ISA colocou à disposição do público o Diagn—stico Participativo do Vale do Ribeira, abrangente estudo sobrea região. O Vale do Ribeira é considerado patrimônio natural dahumanidade e é também dotado de grande diversidade cultural:além de quilombolas, abriga comunidades indígenas Guarani,caiçaras e pequenos agricultores.

O levantamento reuniu informações que dão suporte àdiscussão e implementação de alternativas para o desenvolvimentosocioambiental do Vale. Nesse sentido, os advogados do ISAatuaram nos processos que culminaram na decisão dos —rgãosgovernamentais de negar autorização à construção da hidrelétricade Tijuco Alto, planejada pelo Grupo Votorantim para gerar energiapara sua controlada Companhia Brasileira de Alumínio (CBA). Ocaso, no entanto, não está encerrado, já que a CBA entrou comnovo pedido para retomar o projeto.

Entre outras atividades, são desenvolvidas ações como orepovoamento do palmito juçara, cuja extração é proibida por setratar de espécie em extinção; a coleta seletiva de lixo, e assessoriaaos quilombos na regularização de suas terras. Ivaporunduva foi oprimeiro deles a receber título de uso coletivo da terra.

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Amansa Brasil Convite a uma colaboração

Desenvolvimento sim.De qualquer jeito, não

O Instituto Socioambiental (ISA), a propósito dacomemoração dos seus dez anos em 2004, vem convidartoda a sociedade brasileira a refletir sobre si mesma e sobreo estado de sua casa - que é o nosso país, o pedaço quenos coube do planeta. Entendemos que é imperativo repensaros caminhos pelos quais vamos enveredando na ânsia deencontrar uma solução para as gigantescas dificuldadeseconômicas e sociais em que estamos mergulhados. Essescaminhos nos conduzem a uma forte aceleração do ritmo,já perigosamente rápido, de destruição irreversível de umdos componentes básicos de nossa identidade como nação:nossa diversidade socioambiental. Diante disso, pensamosque é urgente decidir, agora, que vida desejamos para nóse, sobretudo, para nossos filhos, qual país queremos deixarpara eles. Estamos convictos de que é urgente, não "pararpara pensar", mas pensar para não parar; é urgente começar

a pensar bem para não parar de vez. O Brasil é grande, mas o mundo é pequeno. ATerra não vai nada bem, neste começo de século.

Há hoje uma insustentabilidade aguda dospadrões globais de produção, distribuição econsumo da energia necessária à vida

humana. Nosso país é um dos poucos que aindatêm viabilidade do ponto de vista de sua base de

recursos. O Brasil ostenta uma das populaçõeshistórica e culturalmente mais diversificadas do mundo:220 povos indígenas, uma imensidão de descendentes deafricanos, de imigrantes europeus e asiáticos, de árabes,de judeus; são caiçaras, caboclos ribeirinhos, camponesesextrativistas, pequenos fazendeiros, colonos; em suma,gentes rurais e urbanas das mais diferentes origens étnicase culturais, habitando uma variedade de formações naturais– cerrado, pantanal, caatinga, campos e os mais de 3,5

milhões de quilômetros quadrados de florestastropicais, na Amazônia e na Mata Atlântica – que,por sua vez, abrigam a mais rica biodiversidadedo planeta. Sociodiversidade e biodiversidade

deveriam ser nossos principais trunfos em um mundo emacelerado processo de globalização. Mas eis-nos aqui,ainda e sempre, teimando em serrar o galho em queestamos sentados, com uma política de comércio exteriore sustentação da dívida que vem aplicando um modelo dedesenvolvimento ecologicamente predatório, economi-camente concentrador, socialmente empobrecedor e cul-turalmente alienante. Devastamos mais da metade de nossopaís acreditando que era preciso deixar a natureza para entrarna história; pois eis agora que esta última, com sua

costumeira predileção pela ironia, exige-nos comopassaporte justamente a natureza.

Hoje, nós do ISA ainda temos que advertir que“socioambiental” se escreve junto; mas esperamos ver odia em que esta palavra seja considerada um pleonasmo:se é social, só pode ser ambiental. Pois não existe uma“dimensão ambiental” do crescimento econômico, dodesenvolvimento social, do progresso em geral: ambienteé o nome da coisa toda, do problema inteiro. O ambientenão é uma atração turística, um detalhe pitoresco, umaalegoria de carnaval. Ambiente não existe só aos domingos,nem é luxo de rico. Ambiente é uma questão de saúdepública e de justiça social, não só para os que vivem hoje,mas para as gerações futuras. Uma questão de economia,enfim, no sentido próprio e nobre do conceito. Ambiente,recordemos, é apenas uma outra palavra para condiçõesde existência.

O equívoco de se separar social de ambiental se tornaainda mais grave quando se imagina – como se imagina tãofrequentemente – que só podemos nos desenvolver pagandoalgum preço ambiental, isto é, estragando alguma coisa.Isso não é verdade. Não se faz omelete sem quebrar os ovos,diz-se – pode ser, mas também não se faz omeletequebrando todos os ovos e matando as galinhas. Ou odesenvolvimento é sustentável, ou não é desenvolvimento.O “preço” que temos de pagar é o de melhorar o ambiente,aprender a evoluir em sintonia com ele, pois não háverdadeiro avanço da civilização que não seja ao mesmotempo um melhoramento das condições ambientaispropícias a nossa espécie.

Em suma, é preciso fazer uma revisão drástica doparadigma do crescimento indefinido e a qualquer custo,que continua guiando nossos planos econômicos e nossossonhos de grandeza nacional. Por isso o mote destemanifesto: Amansa Brasil. Apegados a uma concepção lineare cumulativa de história, herdeira de um pensamento europeuvelho de séculos, ainda não acordamos para a constataçãode que a miséria, a fome e a injustiça não são o fruto docaráter ainda parcial e incompleto da marcha do progresso,mas seus produtos necessários, que continuarão crescendomais e mais enquanto a marcha prosseguir no rumo em quevai. A saída não pode ser por aí, e cabe a nós acharmosoutra. Pois o futuro nos desafia a uma nova síntese: asustentabilidade socioambiental. Esse é o espetáculo quequeremos mostrar para nossos filhos.

ISA, 2004