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Islamismo na História das Religiões
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Histria das Religies 65
ISLAMISMO
Aspectos histricos.
Das religies monotestas, o islamismo uma das que demonstrou maior
dinamismo social e cultural, pois arrancou do deserto uma civilizao poderosa que
comeou a sobrepujar o cristianismo medieval.
O isl teve origem na Arbia e ainda hoje est intimamente relacionado
cultura rabe. Entre outras razes, porque o livro sagrado dos muulmanos, o Coro
ou Alcoro, foi escrito em rabe. Em conseqncia, o elemento rabe importante no
isl, embora hoje s uma minoria dos muulmanos seja rabe. O isl est amplamente
difundido em vastas regies da frica e da sia, e praticado por uma stima parte da
populao do mundo (por volta de 15%). Atualmente a segunda maior religio do
planeta depois do cristianismo, e grandes levas de imigrantes asiticos e africanos o
transformaram tambm na maior religio de minorias tnicas na Europa.
A palavra rabe slam significa submisso. um significado forte. Percebe-se na raiz do nome algo essencial nessa religio: o homem deve se entregar a Deus e se
submeter a Sua vontade em todas as reas da vida. Trata-se da condio para ser
muulmano, palavra rabe que tem a mesma raiz que slam.
Como religio, o isl no compreende apenas a esfera espiritual, mas todos os
aspectos da vida humana e social. A interpretao da lei, o direito, sempre ocupou um
lugar relevante na histria do isl. Na maioria dos pases islmicos, os que tm
conhecimentos jurdicos costumam atuar como lderes religiosos. No existe um
sacerdcio organizado.
Uma descrio geral do isl se divide em trs tpicos principais:
* credo (monotesmo e revelao);
* deveres religiosos (os pilares), e
* relaes interpessoais (tica e poltica).
O profeta Maom e suas revelaes.
Por muito tempo o isl foi conhecido no Ocidente como maometanismo, em razo da forte influncia do profeta Maom sobre o isl.
O isl, a mais recente das grandes religies mundiais, remonta a Maom, que
nasceu em Meca, na Arbia, no final do sculo VI, por volta de 570 d.C. Filho de uma
das principais famlias da cidade importante centro comercial e posto de parada para as caravanas que transitavam pela pennsula Arbica , Maom ficou rfo ainda criana. Um de seus tios, Abu Talib, cuidou dele e o sustentou quando ele
comeou a fazer suas prdicas. Foi esse mesmo tio que levou Maom a trabalhar como
condutor de camelos para Khadidja, a rica viva de um mercador, de excelente famlia,
que embora quinze anos mais velha que ele, mais tarde se tornou sua esposa. Khadidja
foi a primeira a seguir Maom quando ele lhe falava das revelaes que tinha; ela
exerceu bastante influncia em seu desenvolvimento religioso. Maom nunca teve
outra esposa.
A formao religiosa de Maom. Meca era no apenas um importante centro
comercial, mas tambm um dos centros religiosos da Arbia. As tribos nmades que
Histria das Religies 66
viviam prximas cidade j consideravam sagrada a pedra negra de Meca, que
recebia peregrinaes bem antes da poca de Maom. Porm, tanto em Meca como
entre os bedunos, cultuavam-se e se adoravam muitos deuses e seres sobrenaturais.
Com freqncia, tratava-se de deuses tribais, j que a tribo e a famlia eram centrais
para o modo de vida dos nmades. No existia nenhum sistema legal fora da tribo. Se
um indivduo transgredisse as leis e os costumes desta, era expulso como fora-da-lei.
A tribo era unida pelos laos de sangue. Se um de seus membros fosse
assassinado, a linhagem da tribo sofria. Essa perda tinha de ser compensada por uma
vingana, prtica bastante difundida, que resultou em diversas rixas sangrentas entre as
tribos bedunas.
Na poca de Maom, em muitos lugares a transio da sociedade beduna
nmade para uma sociedade urbana mais fixa ia causando a extino da religio
tradicional. Em decorrncia disso, aumentou a influncia das duas grandes religies, o
judasmo e o cristianismo. Maom foi particularmente influenciado pelo monotesmo e
pela noo de fim do mundo acompanhado do Juzo Final.
Os judeus se estabeleceram em toda a Arbia depois da queda de Jerusalm e da
destruio do Templo, no ano 70 d.C, e aos poucos passaram a adotar a lngua e o
estilo de vida rabes, ao mesmo tempo que mantinham sua prpria crena e seu culto
mosaico.
Tambm o cristianismo se espalhou rapidamente por todo o Oriente Mdio
durante os primeiros sculos da nossa era. Havia Estados cristos como a Abissnia
(atual Etipia). Muitas tribos bedunas se converteram ao cristianismo, e era possvel
encontrar cristos entre os escravos e as camadas inferiores em Meca.
Provavelmente foram os monges e eremitas cristos, os quais viviam isolados
do mundo no deserto da Arbia, que exerceram a maior influncia sobre Maom. A
atitude do Coro para com esses cristos, que estimavam mais a comunho com Deus
do que o comrcio, uma atitude positiva. Devotos e generosos, eles ajudavam os
viajantes no deserto.
necessrio que compreendamos o panorama religioso extremamente
complexo da Arbia para podermos apreciar o crescimento do isl.
Deus se revela a Maom. Todo ano, Maom se retirava para uma caverna numa
montanha dos arredores de Meca, onde meditava. Esse tambm era o hbito dos
monges e eremitas cristos, que, diferentemente de Maom, fundamentavam suas
meditaes em algum texto ou passagem selecionada, em geral dos evangelhos. Ao
completar quarenta anos, Maom teve uma revelao na caverna. O anjo Gabriel de
repente lhe apareceu com um pergaminho e ordenou a ele que o lesse. Maom
respondeu que no sabia ler, e o anjo disse:
Recita em nome do teu Senhor, que criou, criou o homem a partir [de cogulos
de sangue.
Recita! Teu senhor o Mais Generoso, que pela pena ensinou ao [homem o que
ele no sabia.
Em rabe, a palavra recitar tem a mesma raiz que Curan, que significa ler, ou ler alto. O Coro (ou Alcoro) o livro sagrado dos muulmanos e rene as revelaes de Maom. Assim, os muulmanos, do mesmo modo que os judeus e os
cristos, passaram a ter um texto sagrado. O Coro s foi escrito depois da morte de
Maom. Seus 114 captulos (suras) foram arranjados de maneira tal que os mais longos
Histria das Religies 67
vm primeiro, mesmo os que Maom recebeu numa data posterior aos mais curtos. A
exceo a sura 1, no incio do Coro.
A tradio islmica venera figuras como No, Abrao, Moiss, Jesus (e seus
discpulos) e Jos mas quem ocupa o lugar central sem dvida Maom. O Alcoro relata como todos os mensageiros foram muulmanos, pregando a
crena na unicidade de Deus que demanda a unidade da religio que Ele, Deus, enviou
humanidade, e a unidade de Seus mensageiros que transmitiram sua mensagem ao
ser humano.
1. No: Se recusardes (meu apelo f, diz No). No vos pedirei nenhuma recompensa, porque a espero somente de Deus, e fui ordenado a ser-Lhe muulmano (10:72).
2. Abrao: Abrao no foi judeu, nem cristo, e sim monotesta muulmano (3:67). 3. Moiss: Moiss falou-lhes: - povo meu, se acreditastes realmente em Deus, coloque vossa confiana nEle, se sois muulmanos (10:84). 4. Jesus e seus discpulos: Quando Jesus pressentiu a incredulidade deles (dos israelitas), indagou: - Quem me apia em Deus? Os discpulos disseram-lhe: - Ns
somos teus apoiadores em Deus, cremos em Deus, testemunhe tu que somos
muulmanos (3:25). 5. Jos: Senhor meu, j me agraciaste com a soberania e me ensinaste a interpretao dos sonhos! Criador dos cus e da terra, Tu s meu Protetor neste
mundo e no Outro. Faze com que eu morra muulmano, e junta-me aos virtuosos (12:101).
O Coro.
A palavra Alcoro (possui outros nomes: Al Furkan O Discernimento; Al Tanzil a Revelao; Al Zikir a Lembrana; e Al Kitab o Livro, dentre outros) na lngua rabe significa leitura, recitao e foi definida pelos sbios como sendo a
palavra de Allah (significa Deus na lngua rabe, da mesma forma que God significa
Deus em ingls). Portanto, percebemos o quanto se equivocam aqueles que dizem que
Allah o Deus dos muulmanos, um Deus diferente dos outros, essas pessoas se
esquecem que cristos e judeus rabes tambm se referem a Deus como sendo Allah.
A palavra Allah no possui variao de gnero, nmero e nem grau, ao contrrio da
designao de Deus em outros idiomas) revelada ao Profeta Muhammad, que tem na
sua recitao uma forma de adorao, iniciada pela surata (captulo) da Abertura e
encerrada pela surata dos Humanos. Os muulmanos consideram que Allah tem 99
nomes e alguns falam sobre um centsimo nome de Deus, um que somente Ele
conhece.
O Alcoro dividido em 114 suratas e formado de um total de 6.342 Ayt
(Ayt o plural de Aya que significa sinal, prova e foi dessa forma que Allah designou
as suas frases, pois cada uma delas uma prova da autenticidade do Alcoro e um
sinal que nos indica a Sua existncia), 77.930 palavras e 323.670 letras.
Alcoro Palavra de Allah ou de Muhammad? Vrias pessoas no decorrer da histria tm levantado a hiptese de que Muhammad seja o autor do Alcoro e, para
sustent-la, inventam uma srie de possveis motivaes que teriam levado
Muhammad a escrever esse Livro.
Histria das Religies 68
1. Ambio e Ganncia. Muhammad, movido por suas ambies e por sua
ganncia, escreveu o Alcoro e reivindicou a profecia.
2. O Desejo de Poder e Glria como Motivaes.
3. A Unio e a Libertao dos rabes. Escreveu o Alcoro com o intuito de unir
e libertar os rabes.
4. A Epilepsia. O Alcoro o resultado de palavras emitidas por Muhammad no
decorrer de suas crises epilticas.
5. Fontes Judaico-Crists. O Alcoro foi escrito por Muhammad e que este se
utilizou do conhecimento que possua do Velho e do Novo Testamento e, para
sustentar essa hiptese, elas utilizam como argumento o fato de haver certas
semelhanas entre o Alcoro e a Bblia.
Os Assuntos Contidos no Alcoro. O Alcoro abrange todos os assuntos
relacionados com o ser humano como um todo. Vejamos, resumidamente, esses
assuntos:
- Primeiro o Alcoro nos d conhecimento de Allah; os seus nomes e atributos, dos anjos, dos Livros por Ele enviados, do dia do juzo final e da predestinao. Mostra
ainda a nossa obrigao diante dessa crena.
- Segundo Mostra-nos as regras do bom comportamento e as virtudes com as quais os homens devem se moldar.
- Terceiro As regras das prticas que organizam a relao dos homens com Allah Salat (orao), pagamento do Zakat (consiste em tirar 2,5% dos bens aps este ter
alcanado um determinado patamar, tendo ficado parado durante um ano e dar para
quem necessita), Siam (jejum), Hajj (peregrinao), promessas, etc. e as que
regulamentam as relaes dos homens entre si, seja individualmente, em grupos ou
enquanto naes.
- Quarto As histrias dos povos passados, para que se tire proveito delas, aprendendo com os acertos e com os erros daqueles que nos antecederam.
O Alcoro foi revelado para ser posto em prtica trazendo as pessoas das trevas
para a luz; para regulamentar a vida dos que ainda se encontram nesse mundo sendo
uma constituio a ser seguida; para enfeitar o homem e a sua vida com a f, o bom
comportamento e as virtudes morais.
Ele foi revelado, versculo por versculo, surata por surata, de acordo com as
situaes e os acontecimentos, no decorre dos vinte e trs ltimos anos da vida do
Profeta Mohammad. Uma parte foi revelada na Hgira, em Makka, e outra depois, em
Madina. Os versculos e as suratas revelados em Makka abrangem as normas da crena
em Allah, em Seus anjos, em Seus livros, em Seus mensageiros e no Dia do Juzo
Final. Os versculos e as suratas revelados em Madina dizem respeito aos rituais e
jurisprudncia.
Assim, o Alcoro pode ser dividido pelo perodo de revelao em makkita e
madanita. O Alcoro makkita aquele que foi revelado em Makka antes da migrao o
madanita o que foi revelado em Madina depois da migrao. Vejamos as
caractersticas da revelao nesses dois perodos:
Caractersticas do Alcoro Makkita:
1 O chamado para a crena na unicidade de Allah e para Sua adorao nica e exclusivamente, a afirmao da mensagem revelada ao Profeta (Que a paz e a
misericrdia de Allah estejam com ele), a afirmao de que haver o ressuscitamento
Histria das Religies 69
aps a morte para o julgamento e a existncia da recompensa (Paraso) e do castigo
(Inferno), o chamado para a observao dos sinais de Allah no universo e a resposta
crena politesta atravs de provas racionais.
2 A apresentao das bases gerais da jurisprudncia, das virtudes que devem ser incorporadas pela sociedade e das injustias cometidas pelos incrdulos.
3 A apresentao das histrias dos mensageiros que antecederam o Profeta Muhammad e dos povos anteriores.
4 O discurso no Alcoro makkita geral como, por exemplo, humanos, filhos de Ado. 5 Predomina nas Ayt makkitas o juramento. Allah jura em 30 Ayt para chamar a ateno das suas criaturas; j no madanita Ele jura em uma nica Aya.
6 As Ayt makkitas so menores. Caractersticas do Alcoro Madanita:
1 O ensino das adoraes, das regras de relacionamento, das leis penais, da importncia do empenho pela causa de Allah (Jihad), das regras relacionadas s
famlias, das regras sociais, das regras de governo, das regras da herana e das
questes relacionadas jurisprudncia.
2 O dilogo com os cristos e judeus e o chamado para que eles abracem o Islam. 3 A exposio das caractersticas dos hipcritas. 4 O discurso no Alcoro madanita especfico como, por exemplo, crentes. 5 As Ayt madanitas so mais longas.
At Tafssir A Cincia da Exegese do Alcoro. A importncia de uma cincia avaliada atravs da importncia do assunto por ela estudado. Por isso, a cincia do
tafssir uma das mais nobres cincias, visto ela estudar a palavra de Allah,
permitindo-nos assim compreender as Ayt de Allah de acordo com a capacidade
humana.
O Alcoro o maior milagre do Profeta Muhammad e um milagre em todas as
pocas. Logo, em cada poca, vemos novas observaes, novas explicaes surgirem
em relao as Ayt alcornicas.
As pessoas que desejam se dedicar a este estudo devem seguir alguns passos.
So eles:
1. Sinceridade (98:5).
2. A busca da verdade Quando uma pessoa se abre para conhecer de verdade um assunto e coloca de lado toda e qualquer ideia ou conceito preestabelecido,
deixando de lado os seus caprichos, os seus interesses, a sua ideologia e as suas
tendncias, ela consegue compreender as coisas com mais clareza (47:16).
3. A humildade. Aceitar que se est errado, dar o brao a torcer, no uma
coisa muito fcil. Para que possa admitir um erro, a pessoa necessita de uma qualidade
indispensvel principalmente para aqueles que esto atrs da verdade, a humildade ter humildade para aceitar a verdade de quem quer que seja, mesmo que seja de uma
pessoa com menos conhecimento, mais jovem ou at mesmo de um inimigo (4:135).
4. Explicar o Alcoro pelo Alcoro Em um primeiro estgio deve se procurar juntar todas as Ayt que tratam de um determinado assunto, pois uma Aya pode vir
generalizada, sendo restringida mais adiante e pode vir concisa, sendo detalhada mais
adiante, ou pode vir no muito clara sendo aclarada adiante (1:4; 82:17-19; 1:7; 4,69).
5. Explicar o Alcoro pela Sunna, pois ela explica e esclarece o Alcoro.
Histria das Religies 70
6. Explicar o Alcoro pelo dito dos sahabas.
7. Conhecer o motivo pelo qual a Aya foi revelada. de suma importncia para
que se possa entender o Alcoro. Esse conhecimento s se d atravs da narrao feita
pelos que presenciaram a revelao, ou por aqueles que se dedicaram a estudar esse
assunto, reportando-se a fontes fidedignas.
8. E por fim apegar-se lngua rabe, que a lngua do Alcoro. Por isso deve-
se ter um profundo conhecimento da lngua em todos os seus aspectos.
Os seis pilares do Islamismo.
As principais prticas ou obrigaes religiosas para cada autntico muulmano
so consideradas os seis pilares: * o credo;
* a orao;
* a caridade;
* o jejum;
* a peregrinao a Meca; e,
* a jihad.
1. CREDO. No h outro Deus seno Al, e Maom seu Profeta. Esse credo repetido pelos fiis vrias vezes todos os dias e proclamado do alto dos minaretes nas
horas de orao. Esse ato de f se encontra nas paredes das mesquitas. E a primeira
coisa que se deve sussurrar ao ouvido da criana recm-nascida e a ltima a se
murmurar no ouvido dos moribundos. O ato de f o ponto-chave da religio islmica.
2. ORAO. O isl requer que o fiel diga suas preces cinco vezes por dia. Antes de
cada um dos cinco horrios fixos para a orao, ouve-se o chamado reza vindo dos
minaretes. Antigamente um homem denominado muezim fazia o chamado; hoje,
porm, em geral uma fita gravada que repete as conhecidas palavras:
Al Grande, no h outro Deus seno Al e Maom seu profeta. Vinde para
a orao, vinde para a salvao, Al Grande, no h outro Deus seno Al.
Antes da orao o fiel deve estar ritualmente limpo. Os muulmanos crem que
as pessoas se tornam impuras em razo de suas funes corporais inclusive atos sexuais e, portanto, devem passar por uma purificao. Isso significa lavar o corpo inteiro em gua corrente. Em outras ocasies, basta lavar as mos e o rosto. No raro
que haja banhos especiais prximos s mesquitas. Tais regras levaram a um alto
padro de higiene nos pases rabes, j desde os tempos antigos (veja as suras 4:46 e
5:8-9).
A maioria das oraes islmicas so frmulas fixas, um ritual que exige
palavras e gestos bem definidos. Embora exista tambm a orao espontnea, na qual
o fiel pode se dirigir a Deus para falar de algo pessoal, a orao ritual deve ser dita em
primeiro lugar. Ela consiste, sobretudo, em louvores a Deus. Uma orao
constantemente repetida a sura 1 o Exrdio: Louvado seja Deus, Senhor do Universo, O Caridoso, o Compassivo, Soberano
do Dia do Juzo! S a Ti adoramos, e s a Ti recorremos em busca de ajuda. Guia-nos
Histria das Religies 71
pelo caminho direito, o caminho daqueles a quem Tu favoreceste, no daqueles que
incorreram na Tua ira, no daqueles que se desviaram.
As cinco oraes dirias podem ser ditas em qualquer lugar. A maioria das
pessoas possui um tapetinho ou uma esteira especial onde se ajoelham e rezam, e seus
gestos so sempre dirigidos para Meca. Os gestos tm tanto valor quanto as palavras;
eles enfatizam a submisso do homem a palavra isl significa isso, submisso e mostram que o corpo e a alma so igualmente importantes.
As diferentes posies da orao muulmana:
Posio vertical: comunho com o gnero humano, por ser o nico que ainda
direito.
Posio inclinada: comunho com o mundo animal, obrigado a inclinar-se para
apanhar os alimentos.
Posio inclinada: comunho com o mundo vegetal e mineral, que tem de se
inclinar diante da proximidade de Deus.
Posio sentada: permanncia da proximidade com Deus e comunho com os
pontos cardeais.
Sempre que possvel, o fiel deve participar das oraes da congregao pelo
menos uma vez por semana, de preferncia numa mesquita. Isso especialmente
relevante nas oraes de sexta-feira ao meio-dia, quando o servio inclui um sermo.
Fiis, quando fordes chamados para as oraes de sexta-feira, apressai-vos a vos lembrar de Deus e cessai vosso comrcio (62:9).
Os que comparecem mesquita devem estar respeitosamente vestidos, tirar os
sapatos antes de entrar e acompanhar os movimentos de quem preside as oraes de
maneira ordenada e disciplinada. O lder das oraes tambm fica de frente para Meca,
isto , de costas para a congregao.
Normalmente so s os homens que oram no salo principal da mesquita. As
mulheres ficam numa galeria, ou escondidas atrs de uma cortina bem no fundo.
Qualquer homem adulto muulmano pode ser um dirigente das preces, um im.
No h sacerdcio organizado no isl. Entretanto, em geral o dirigente das oraes e
responsvel pelos sermes tem uma boa educao teolgica e funcionrio da
mesquita.
3. CARIDADE. A caridade , na verdade, uma taxa ou um imposto formal sobre a
riqueza e a propriedade. Est fixada em 1/40, ou seja, 2,5%, mas as pessoas so
incentivadas a dar mais. De acordo com Maom, essa taxa deve ser tirada dos ricos e
dada aos pobres. Devem-se dar esmolas apenas aos pobres e destitudos; queles que se empenham na administrao das esmolas e queles cujos coraes so simpticos
F; para a libertao dos escravos e dos devedores; para o avano da causa de Deus; e
para o viajante em necessidade. Caridade no uma traduo plena da palavra rabe, pois ela mais do que
um presente. um dever para o muulmano, um dever dado por Deus, como diz o
Coro.
Quando essa taxa recolhida e destinada a usos sociais, ela se torna parte da
poltica oficial de redistribuio de um Estado islmico. O objetivo diminuir as
desigualdades entre ricos e pobres, sem interferir no princpio da propriedade privada.
Histria das Religies 72
O dever de dar esmolas tambm influenciou o desenvolvimento do socialismo
islmico em alguns pases.
4. JEJUM. O Coro probe os muulmanos de comer porco, por ser um animal impuro.
Probe tambm o lcool. Afora isso, o isl no prega o ascetismo de qualquer espcie.
Ao contrrio, o Coro diz: Deus deseja o vosso bem-estar, no o vosso desconforto. A grande exceo o jejum durante o Ramadan, o nono ms do ano lunar. Entre o
nascer do sol e o pr-do-sol proibido comer, beber, fumar ou ter relaes sexuais. Os
viajantes, os doentes, as crianas e as mulheres grvidas ou que esto amamentando
so exortados a cumprir o jejum numa data posterior.
noite essas proibies so suspensas; assim, em diversos lugares a vida
noturna animada e h boa comida e bebida, enquanto muitos fiis se renem nas
mesquitas para passar a noite ouvindo o Coro. Ramadan, o ms de jejum, foi o ms
em que Maom teve sua primeira revelao. O jejum simboliza o retiro que cada
muulmano deveria fazer, como fez Maom.
5. PEREGRINAO A MECA. Todo muulmano adulto que dispe de meios para
realizar uma peregrinao a Meca, deve faz-lo pelo menos uma vez na vida. Ali se
encontra o santurio sagrado mais antigo do isl, a Caaba. Trata-se de um edifcio
quadrado coberto por um pano negro. Num canto da Caaba fica uma pedra negra
incrustada na parede; essa pedra tem um enorme significado simblico.
Para os muulmanos, Meca e a Caaba so o centro do mundo. No s os fiis se
voltam para Meca quando oram; tambm as mesquitas so construdas com o eixo
mais longo apontando para l. Os mortos so enterrados voltados para Meca, e a
cidade o destino das peregrinaes.
Meca visitada todos os anos por cerca de 1,5 milho de peregrinos, metade
dos quais vem de fora da Arbia. O nmero de peregrinos aumentou de maneira
extraordinria depois que se organizaram os vos charter para l. A grande mesquita
de Meca foi completamente reconstruda e hoje pode abrigar 600 mil pessoas. S os
que podem provar que so muulmanos recebem visto para entrar na cidade santa.
Quando os peregrinos se aproximam de Meca, passam a usar vestes brancas.
Nos dias que se seguem eles iro realizar uma srie de ritos, dentro e fora da cidade. A
maioria desses rituais enfatiza sua ligao com Abrao ou Maom, pois ambos
mostraram obedincia a Deus. O primeiro rito consiste em caminhar em torno da
Caaba sete vezes, e muitos tentam beijar a pedra negra. Diz a tradio que essa
construo foi erigida por Abrao e Ismael, filho de Abrao com sua escrava Agar.
Outro momento importante quando os peregrinos se postam no monte Arafat,
desde o meio-dia at o pr-do-sol, sem permisso para proteger a cabea do calor
intenso. Foi no monte Arafat que Ado e Eva se encontraram de novo, depois que
foram expulsos do jardim do den. Os peregrinos passam vrias horas ali juntos,
afirmando assim seu pacto com Deus e sua crena de que no h outro Deus.
O clmax vem com o festival dos sacrifcios. Os peregrinos matam um animal
(um carneiro, bode, camelo, boi etc). Esse sacrifcio serve para lembrar aos
muulmanos que Abrao foi to obediente a Deus que se disps a sacrificar seu
prprio filho (embora no isl o filho seja chamado de Ismael, e no de Isaac como nos
Livros de Moiss). Deus, porm, foi misericordioso e lhe enviou um animal para que
Histria das Religies 73
ele o sacrificasse em lugar do filho. Aqui se revela claramente o cerne religioso da
peregrinao: a obedincia vontade de Deus.
6. JIHAD. Literalmente, o termo no significa guerra santa, como muitos entendem, antes, traduzido por esforo, relacionado defesa prpria e da religio ou daqueles que foram expulsos de seus lares. A cultura muulmana explica que se pessoas de bem
no se preocuparem em estar preparadas para arriscarem suas prprias vidas em defesa
da causa do Isl, logo, a injustia triunfar no mundo. Outro significado para a
expresso Jihad a luta interior de cada um para se desvencilhar de seus desejos
egostas, o que proporcionaria paz interior, denominada Jihad al-Akbar.
Muitas obras que versam sobre o Isl no fazem meno da Jihad como sendo
um dos pilares doutrinrios, todavia, essa rejeio deriva do desconhecimento de
muitos sobre o posicionamento do califa Otman ibn Affan (644-656), o terceiro aps a
morte de Maom, que reconheceu na Jihad uma forte expresso de devoo e f que
deveria fazer parte da vida muulmana.
Divises do Islamismo: Xiitas e Sunitas.
Quando Maom morreu, os muulmanos passaram a ser liderados por califas,
ou sucessores. Os trs primeiros califas eram parentes do profeta ou estavam entre os
primeiros convertidos. O quarto califa, que se chamava Ali, era filho do tio de Maom,
Abu Talib, e portanto seu primo. Mas Ali era tambm genro de Maom, casado com
sua filha, Ftima.
O cisma no mundo islmico comeou na poca de Ali. Sua liderana foi repleta
de controvrsias, e ele acabou assassinado pelos adversrios. Desde a morte de
Maom, seus seguidores acreditavam que Ali, por ser o parente mais prximo do
profeta, era o sucessor natural. O partido de Ali, ou Shiat Ali, formou a base para o
ramo do isl que hoje conhecido como Shia, adotado como a religio oficial do Ir.
Assim, a principal dissidncia no isl no foi causada por uma diviso
ideolgica, mas por um desacordo sobre quem devia ser o lder. A faco xiita (Shiat
Ali) acreditava que o lder devia ser um descendente direto do profeta, ao passo que a
faco maior, a sunita, julgava que a liderana cabia ao indivduo que de fato
controlava o poder.
Aps a morte de Ali, o califado teve sede em Damasco por algum tempo e a
seguir instalou-se em Bagd, onde permaneceu por um perodo de quinhentos anos.
Depois disso, a liderana passou para o sulto turco de Istambul. O ltimo sulto foi
derrubado em 1924, e desde ento o mundo islmico deixou de ter um califa como
lder.
A tradicional diviso entre xiitas e sunitas, cuja origem remonta ao grande
cisma do Isl provocado pela luta de sucesso do Profeta, vai manifestar-se tambm
nos movimentos radicais. A teologia sunita de inspirao qutbiana e xiita de inspirao khomeynista.
Histria das Religies 74
Xiitas e sunitas em confronto nos respectivos sistemas de crena
O Profeta O Alcoro A direo da
comunidade
O corpo dos
especialistas
Viso do fim
dos tempos
Xiitas Novo ciclo proftico.
Sentido
manifesto e
sentido
escondido.
Imam como
lder religioso
e espiritual.
Composto por
especialistas nas
coisas sagradas.
Espera da volta
do imam
escondido.
Sunitas Muhammad fecha a
profecia.
Revelao
clara e
definitiva
da Lei
divina.
Califa como
fiador na terra
da verdade
revelada.
Composto por
funcionrios
sem particulares
encargos
sagrados.
Espera do Dia
do Juzo.
Muitos estudiosos do islamismo tm encorajado a unio dos muulmanos. De
forma notvel, o sheikh Shatoot, da notvel escola teolgica sunita de Al-Azhar, no
Cairo, imitiu uma fatwa (permisso), em 1959, em que proclama: O xiismo uma escola de pensamento que est apta, do ponto de vista religioso, a seguir o culto, como
tambm esto outras escolas de pensamento sunita. O fundamentalismo islmico. Um exrcito de monges-guerreiros prontos a
combater na via de Deus (jihad).
Sayyd Qutb (1906-1966), o idelogo de ponta do radicalismo Islmico, cuja
obra constitui, juntamente do paquistans Mawdudi, a referncia terica de todos os
grupos radicais contemporneos.
A importncia de Qutb na elaborao da ideologia do Isl poltico radical
indubitvel. As suas obras foram lidas e continuam a s-lo nos crculos dos militantes
dos movimentos radicais contemporneos. Ele foi um lder ideolgico e, ao mesmo
tempo, um intrprete coerente de uma nova falange de intelectuais convencidos da
necessidade de um regresso s fontes religiosas do Isl para legitimar, atravs de uma
hermenutica viva, a ao poltica. Por outras palavras, Qutb o expoente mximo da
nova teologia poltica que inspirou as mentes e os coraes de milhes de militantes
radicais. Uma de suas obras fundamentais: Fi zilat al-Qur na ( sombra do Alcoro).
Qutb comps esta obra na priso, entre 1954 e 1064, e f-la passar para o exterior em
fascculos semi clandestinos. Foi publicada postumamente pelo irmo de Qutb, aps
este ter sido executado. O Zilat um comentrio do Alcoro que procura traduzir os
princpios inerrantes do texto sagrado em instrumentos de anlise das formas
modernas de organizao social, desde a poltica at economia, passando pela famlia
e pela militncia na f. A inteno de Qutb demonstrar que o Islo um sistema
universal e eterno que exige uma reinterpretao dinmica, na perspectiva de um
homem do nosso tempo nunca afastando-se dos princpios originrios , se quiser desenvolver inteiramente as suas potencialidades como guia integral do homem
contemporneo. O Isl que Qtub reinterpreta no , por isso, um depsito de smbolos
imutveis mas, pelo contrrio, um potente sistema de convices capazes de
transformar o mundo.
A exegese de Qutb concentra-se em determinados conceitos-chave: jahiliyya
(ignorncia religiosa), hakim-miyya (soberania nica e absoluta de Deus), talia (necessidade de selecionar uma guarda avanada de missionrios guerreiros) e jihad (combate na via de Deus). Para Qutb, o mundo muulmano, ao longo dos tempos,
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regrediu ao mesmo estado de ignorncia religiosa (jahiliyya) que Muhammad tinha
encontrado quando iniciou a sua pregao em Meca.
Historicamente a jihad tinha a funo de defender a Casa do Isl (dar al-Islam)
contra os inimigos externos que a atacavam.
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