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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 1 www.compos.org.br www.compos.org.br/anais_encontros.php I’M SORRY, WILSON: Uma discussão sobre a relação entre coisas, pessoas e o campo da Comunicação 1 I´SORRY, WILSON: A discussion on the relationship between things, people and the field of Communication Cláudia Pereira 2 Joana Beleza 3 Marcella Azevedo 4 Resumo: O objetivo é refletir sobre o lugar das pesquisas sobre as materialidades no campo da Comunicação e dos estudos do Consumo, considerando, para tanto, mais a “coisa” em si mesma, no sentido físico e material, do que sua representação ou significação. Analisamos artigos dos encontros anuais da Compós de 2000 a 2018 e trabalhos dos autores que já participaram do GT Consumos e Processos de Comunicação, desde 2015. Por meio de duas pesquisas em andamento, sobre o livro como obra de arte e outra sobre quartos de adolescentes, são apresentados possíveis caminhos teórico- metodológicos. Palavras-Chave: Consumos. Materialidades. Comunicação Abstract: The aim is to reflect on the place of research on the materialities in the field of Communication and studies of Consumption, considering, therefore, more the "thing" in itself, in the physical and material sense, than its representation or meaning. We have analyzed articles of the annual meetings of Compós from 2000 to 2018 and papers by authors who have participated in the WG Consumption and Communication Processes since 2015. By means of two researches in progress, one on the book as a work of art and the other on adolescent rooms, there are presented possible theoretical-methodological paths. Keywords: Consumptions. Materialities. Communication. 1. Introdução 1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Consumos e Processos de Comunicação do XXVII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUCRS Porto Alegre, 11 a 14 de junho de 2019. 2 Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio, Professora Adjunta, [email protected]. 3 Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio, Doutoranda, e-mail: [email protected]. 4 Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio, Doutoranda, e-mail: [email protected]

I´SORRY, WILSON: A discussion on the relationship between ...€¦ · produzidos no Brasil sobre a temática da materialidade na comunicação e, a fim de viabilizar o aqui proposto,

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XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019

1 www.compos.org.br

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I’M SORRY, WILSON: Uma discussão sobre a relação entre coisas, pessoas e o campo da Comunicação1

I´SORRY, WILSON: A discussion on the relationship

between things, people and the field of Communication

Cláudia Pereira 2

Joana Beleza3

Marcella Azevedo4

Resumo: O objetivo é refletir sobre o lugar das pesquisas sobre as materialidades no campo da

Comunicação e dos estudos do Consumo, considerando, para tanto, mais a “coisa”

em si mesma, no sentido físico e material, do que sua representação ou significação. Analisamos artigos dos encontros anuais da Compós de 2000 a 2018 e trabalhos dos

autores que já participaram do GT Consumos e Processos de Comunicação, desde

2015. Por meio de duas pesquisas em andamento, sobre o livro como obra de arte e

outra sobre quartos de adolescentes, são apresentados possíveis caminhos teórico-

metodológicos.

Palavras-Chave: Consumos. Materialidades. Comunicação

Abstract: The aim is to reflect on the place of research on the materialities in the field of

Communication and studies of Consumption, considering, therefore, more the

"thing" in itself, in the physical and material sense, than its representation or

meaning. We have analyzed articles of the annual meetings of Compós from 2000 to

2018 and papers by authors who have participated in the WG Consumption and

Communication Processes since 2015. By means of two researches in progress, one

on the book as a work of art and the other on adolescent rooms, there are presented

possible theoretical-methodological paths.

Keywords: Consumptions. Materialities. Communication.

1. Introdução

1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Consumos e Processos de Comunicação do XXVII Encontro Anual

da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS – Porto Alegre, 11 a 14 de junho

de 2019. 2 Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio, Professora Adjunta, [email protected].

3 Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio, Doutoranda, e-mail: [email protected].

4 Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio, Doutoranda, e-mail: [email protected]

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Era só o céu, o mar e uma balsa improvisada de galhos amarrados com sisal. O corpo

muito magro, curtido pelo sol, cabelos longos e barba cheia, ainda tinha um fio de vida - era a

uma corda que se agarrava quando, ao se lançar determinado ao mar, tentava salvar seu amigo

que, inerte, se distanciava. Tentava nadar em desespero, mas os músculos, fracos, eram

vencidos pelas ondas. Entre um chamado e outro, deixava-se submergir, mas logo voltava à

superfície para tomar fôlego. De um lado, a balsa presa pela corda. Do outro, o amigo que

boiava, sem reagir. Decide então arriscar sua sobrevivência, alimentada com tanto sacrifício

por quatro anos, pelo resgate do seu único interlocutor naquela ilha. Solta a corda e movimenta

braços e pernas, que sentem a resistência da água, mais do que o normal. De fato, ossos e

músculos se resguardavam somente para a terra firme. Com muito esforço, consegue voltar a

segurar a corda. Puxa e se deixa deslizar em direção à balsa. Ao mesmo tempo, chorando, grita,

“I´m sorry, Wilson”.

A cena é de Cast Away (EUA, Zemechis, 2000), traduzido por O Náufrago no Brasil,

no momento em que Chuck Noland (Tom Hanks), se despede da bola de vôlei que ganhou um

nome, Wilson, e um rosto, desenhado casualmente pelo sangue de um corte em sua mão.

Funcionário da FedEx, Noland sofre um acidente aéreo às vésperas do Natal e se torna um

náufrago, o único sobrevivente. O bote inflável que encontra no avião, ao ser acionado, num

repuxo o leva até a superfície e acaba sendo lançado numa ilha deserta. Sem nenhum objeto, a

não ser suas roupas e o bote amarelo, Noland, um homem “civilizado” e escravo dos minutos

do relógio, vê-se diante da natureza e, sem saber como, sai em busca de abrigo e comida. Pouco

tempo depois, as encomendas que se amontoavam no avião de carga começam a chegar na

praia. O náufrago recolhe tudo e começa a ter esperanças de sobrevivência, pois vislumbra

novas utilidades para os objetos encaixotados. Um deles é a bola de vôlei da marca Wilson.

Ele a deixa de lado, pois parecia ser útil. Um acidente provoca um corte profundo em sua mão.

Depois de improvisar uma atadura, descansa um pouco e pega a embalagem. Foi quando o

sangue deixou impressa a sua mão na bola. Noland decide, então, tirá-la da embalagem e

desvelar, com saliva e um pedaço de pano, olhos, nariz e boca na mancha vermelha. Wilson

ganha então um rosto e, mais tarde, cabelos de galho seco.

O objetivo do presente artigo é refletir sobre o lugar das pesquisas sobre as

materialidades no campo da Comunicação e dos estudos do Consumo, considerando, para

tanto, mais a “coisa” em si mesma, no sentido físico e material, do que sua representação ou

significação, questão espinhosa, mas que decidimos, aqui, enfrentar.

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Vários foram os objetos que se adaptaram a novos usos para Noland, e somente com

eles se garantiu sua sobrevivência. Antes, mesmo com a natureza que habitava a ilha

paradisíaca, eram incertas as suas chances de se manter física e psicologicamente íntegro. Mas

nenhum desses objetos foi tão importante como a bola de vôlei. Wilson era uma presença. Ao

“dialogar” com Wilson, embora não houvesse a troca esperada, o que gerava momentos de

tensão para o náufrago, ainda assim, a comunicação ganhava vida. Ele poderia falar sozinho,

ou consigo mesmo, como muitos de nós fazemos em muitos momentos, na vida cotidiana. Mas,

em nosso dia-a-dia, temos interlocutores presentes. Para Noland, Wilson era uma presença

necessária para espelhar-se a si próprio, para que, afinal, não ficasse tão evidente que estava

falando sozinho. A materialidade da presença de Wilson garantia a sua própria humanidade,

que se configurava por meio da habilidade de se comunicar.

2. Estaríamos sozinhos numa ilha?

Consideramos importante começar pela tentativa de analisar alguns dos textos já

produzidos no Brasil sobre a temática da materialidade na comunicação e, a fim de viabilizar

o aqui proposto, delimitamos um recorte que se deu a partir de dois critérios principais. O

primeiro restringiu a pesquisa aos artigos apresentados nos encontros anuais da Compós nos

últimos dezenove anos (de 2000 a 2018)5. O segundo se deteve aos trabalhos dos autores que

já participaram do GT Consumos e Processos de Comunicação, desde o seu início em 2015, a

partir das informações disponibilizadas em seus currículos lattes.

O processo metodológico nos anais da Compós se deu da seguinte maneira: acessamos

cada ano de encontro, entramos no campo “busca”, digitamos o termo “materia” e

selecionamos e analisamos todos os textos que apresentavam o termo em seu título ou subtítulo,

discutidos em qualquer um dos GTs. Já para a busca nos currículos lattes, o primeiro passo foi

salvar cada currículo em PDF e depois também realizar a busca pelo termo “materia”,

utilizando a ferramenta “localizar”. Vale mencionar que, a partir do termo, vieram também

variações como matéria(s), (i)materialidade(s), (i)material, materiais, materialismo,

materialista e materializando. Foram excluídas da análise as inserções que não abordavam

discussões sobre materialidade, que aqui nos interessa de maneira particular.

5 A recorrência do tema acontece mais nos últimos 10 anos, de 2008 a 2018. A hipótese que podemos construir

daí é que a internet contribuiu para o interesse pela discussão.

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No que tange primeiramente aos textos apresentados na Compós, identificamos

importantes artigos com discussões teóricas e propostas metodológicas acerca do tema da

materialidade na comunicação. A corrente mais frequente foi a que parte das proposições da

“Teoria das Materialidades da Comunicação”, que tem o alemão Hans Ulrich Gumbrecht como

um de seus principais expoentes, e que apresenta uma abordagem não-hermenêutica do campo

da comunicação, considerando que o suporte material ou o meio de toda e qualquer

comunicação não apenas influencia, mas muitas vezes determina a mensagem. Felinto (2001)

faz uma cuidadosa apresentação desta teoria, incluindo uma genealogia do pensamento que

levou à sua elaboração, discute a sua aplicabilidade e defende que seja de grande validade para

pensar teoricamente os fenômenos comunicacionais.

Girardi Junior (2016) retoma modelos baseados na teoria da informação de Claude E.

Shannon e da cibernética de Norbert Wiener que propiciam abordagens diferenciadas no que

tange a questões que envolvem as novas mídias e materialidades da comunicação. Em outro

trabalho, Girardi (2017) trata das consequências da aproximação entre a Teoria das Mídias

Alemã e os estudos das Cultural Techniques e novas possibilidades que surgem a partir daí

para compreensão dos fenômenos da cibercultura. Já Santos (2017) defende que para além de

teorias como a Teoria da Mídia Alemã, Teoria Ator-Rede e Arqueologia da Mídia, fazem-se

necessários novos caminhos para uma abordagem materialista da tecnologia da comunicação.

Moraes (2011), por sua vez, elabora uma discussão teórica em que parte de uma retomada dos

pressupostos e principais eixos teóricos dos estudos culturais, estabelecendo um diálogo com

o “materialismo cultural” de Raymond Williams, considerado pela autora como herdeiro do

método dialético, e que ela propõe como opção “teórico-metodológica” a ser aplicada nas

pesquisas em comunicação.

A discussão sobre a materialidade na comunicação tem sido usada como base de grande

aplicabilidade para se pensar, entre outros, fenômenos do ambiente das TICs, tendo despertado

a atenção de muitos estudiosos que voltam seus esforços para questões do ciberespaço. Vouga

(2004) observa dinâmicas do comércio eletrônico; Herscovici (2007) se volta às mercadorias

trocadas nas redes do ciberespaço; Martins (2003) reflete sobre a construção do simbólico a

partir de objetos digitais; Lemos (2010) se propõe a estudar as tecnologias e serviços baseados

em localização, tomando como objeto as “mídias locativas”; e Messias (2018) discute

possibilidades para se abordar o fenômeno das gambiarras digitais.

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Observou-se também a discussão acerca da “produção de presença” em ambientes

online. Sá e Polivanov (2012) discutem materialidades da comunicação e presentificação dos

sujeitos em ambientes virtuais. Maia (2013) considera a questão em jogos de videogame. Em

outra linha, Felinto (2004) reflete sobre o que considera excessos de desmaterialização do

corpo, propondo que este seja considerado a partir de seu caráter físico e material.

A imagem também foi pensada pela perspectiva da materialidade. Carvalho (2011),

propõe que se considere a “imagem-matéria” e não apenas “imagem-representação” e a partir

daí desenvolve uma “apreciação materialista do cinema”. Laurentiz (2004) propõe a análise de

diversos níveis de materialidade na imagem e considera que as chamadas “tecnologias virtuais”

permitem perceber relações diferenciadas entre o material e o imaterial, possibilitando novas

compreensões. Rose Rocha (2003) propõe, entre outras coisas, que se considere a materialidade

dos aparelhos audiovisuais em relação a uma materialidade outra das imagens veiculadas.

Wajnman e Rodrigues (2015) analisam a construção de visualidade em produções audiovisuais,

a partir de uma análise de objetos em cena em uma produção de ficção.

O campo estético permitiu abordagens diversas com relação à materialidade. Prado e

Assis (2001) discutem sua aplicação na arte contemporânea, contemplando, por exemplo,

tecnologia aplicada à realidade virtual. Cleomar Rocha (2004) trata da desmaterialização do

objeto artístico e das alterações que provoca na figura do agente fruidor, que se torna coautor

da obra de arte, possibilitando novos ressignificados. Cardoso Filho (2007) leva a análise da

materialidade para a abordagem da interface entre mídia e música e avalia possibilidades de

apreensão da experiência estética. Gonçalves (2010), ao analisar processos de leitura, considera

o impacto da “existência concreta dos livros”.

Castanheira, Polivanov e Maia (2016) propõem pensar as mídias, inclusive as digitais,

a partir de suas (i)materialidades, procurando analisar os objetos concretos que suportam suas

existências, claro, sem deixar de relacioná-los a seus usos sociais, e através de uma observação

arqueológica de tais objetos. Telles (2016) também considera “outra materialidade da mídia”,

dirigindo sua atenção para as matérias-primas e componentes empregados na fabricação dos

objetos midiáticos.

Silva Neto (2017) por meio da aplicação metodológica de pressupostos do materialismo

dialético, estuda a interface entre comunicação e cultura religiosa a partir das materialidades

do município de Palmelo, considerada “a capital espírita do Brasil”. Guerra et al. (2017)

analisam aspectos da ascensão feminina na cena musical, considerando simbolismos,

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materialidades e tecnologias do rock a partir de objetos que estabelecem relações afetivas e

construções identitárias. Pastor (2018) pensa a selfie “enquanto um aparato de práticas

material-discursivas específicas”, levando-se em consideração também as materialidades

digitais que o envolvem, assim como as práticas relacionais.

No âmbito dos estudos de consumo, Silveira (2004) analisa as vitrines para venda de

aparelhos de TV, em dupla perspectiva, a partir dos objetos materiais e dos enquadramentos de

olhar que visam estabelecer uma linha simbólica e narrativa com o objetivo de incentivar o

consumo. Piedras (2006), com sua pesquisa sobre sonhos de consumo, aborda aspectos tanto

do consumo material quanto simbólico, considerando ainda o discurso publicitário.

Também tangenciando aspectos relacionados ao consumo, tem-se o único dos 32

artigos analisados, que foi apresentado no GT Consumos e Processos de Comunicação, o de

Carla Barros (2015a) - fato que destacamos como sendo, no mínimo, curioso, se considerarmos

que a dinâmica do consumo pressupõe uma interdependência com a dinâmica das

materialidades. A autora empenha uma discussão sobre materialismo no ambiente digital a

partir de uma observação sobre objetos de consumo presentes no Pinterest, trabalhando com a

ideia de “materialismo digital” para pensar na relação entre pessoas e bens, considerados aqui

como dotados de valores simbólicos e mediadores de relações sociais6.

Valorizamos sobremaneira o empenho desses autores em trazer a discussão sobre a

materialidade para o campo da comunicação, em suas múltiplas possibilidades, e como

perspectiva metodológica para analisar diferentes objetos de pesquisa. Destacamos, porém, que

a grande motivação para a escrita do presente artigo reside exatamente na premissa de que

consumo e materialidade estão intrinsecamente ligados. Desta forma, o GT Consumos e

Processos de Comunicação é o lugar da Compós que pode abrigar, com grande propriedade,

trabalhos que pesquisem a materialidade a partir dos objetos em si, das “coisas” mesmo, e dos

fenômenos comunicacionais que se dão pela concretude material dos objetos, por sua agência,

seu simbolismo, sua presença e interação com as pessoas. A contribuição deste trabalho vai no

sentido de trazer para o GT, também, este objeto e, mais, a discussão mais ampla sobre o seu

lugar no campo científico ao qual nos filiamos.

6 A autora oferece discussões acerca do “materialismo digital” em outros trabalhos de sua autoria. Optamos aqui

por concentrar as análises, nesta e na próxima seção, em apenas dois desses textos, devidamente apontados mais

à frente na bibliografia deste trabalho.

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Em levantamento mais alargado, realizado a partir do material textual7 que toca o tema

no Currículo Lattes dos autores que já passaram pelo GT Consumos e Processos de

Comunicação, e para além da Compós, evidenciamos ao menos a coexistência de duas linhas

distintas para tratar da materialidade. A primeira “corrente” – e a mais habitual dentre elas -

envolve os estudos que se inclinam à antropologia do consumo para sustentar ideias e

argumentos. Nestes casos, encontramos nomes como Colin Campbell, Daniel Miller, Everardo

Rocha, Georg Simmel, Grant McCracken, Jean Baudrillard, Lévi-Strauss, Marshal Sahlins,

Mary Douglas, Marcel Mauss, Pierre Bourdieu e Thorstein Veblen funcionando de base para

tratar de universos tão distintos como o das empregadas domésticas (BARROS, 2012), pirataria

(MARTINELLI, 2012; 2017), livro (PEREIRA & BELEZA, 2014), games e redes sociais

(BARROS, 2015), camisas de banda (PEREIRA & BELEZA, 2016; 2018), café e chocolate

(PEREIRA, 2017), e outros. Neste âmbito, evidencia-se um olhar para a materialidade

especialmente em seu valor simbólico e social – funcionando sobretudo como representação,

signo e significado -, carregada de conceitos e mensagens inteligíveis por membros de uma

mesma cultura, revestindo de sentido, assim, as “trocas” e os “ritos” diários e ordinários.

Interessante observar que, embora alguns destes artigos sinalizem o entendimento da

materialidade para além das trocas simbólicas e sociais – Barros (2015); Pereira & Beleza,

(2018²); Pereira (2017) – pautados especialmente nos estudos do antropólogo britânico Daniel

Miller, que prevê construção mútua na interação entre pessoas e coisas, em alguma medida

ainda reforçam a perspectiva dos bens enquanto símbolo, legitimador de identidade e estilo de

vida, evidenciando as definições culturais de gosto e a produção de distinções a partir disso.

Neste sentido, a cultura material funciona especialmente na construção social do sujeito e nas

relações em sociedade. Ainda dentro desta primeira abordagem sócio-lógica, identificamos

análises pautadas pelos pressupostos da semiótica, ao revelar o universo simbólico e

classificatório dos bens desta vez observando também as materialidades produzidas por estas

simbologias, num sentido agora essencialmente mercadológico (PEREZ & TRINDADE, 2017;

PEREZ, 2017). Estes estudos se voltam então a observar o modo pelo qual marcas, por

exemplo, investem em aspectos materiais – embalagens, estratégias visuais, sensoriais e

olfativas – para construírem-se socialmente e aumentar as vendas. De todo modo, ambas as

perspectivas acima concebem a cultura material como a cultura dos “objetos” revestidos de

7 Foram contemplados, nesta análise, apenas os artigos publicados – e registrados no Curriculo Lattes destes

autores. Não foram contemplados materiais de palestras, encontros ou mini cursos apontados neste registro.

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conceitos e mensagens a priori. A terceira vertente identificada dentro desta mesma linha que

aborda a cultura material como símbolos que “servem” ao sujeito (MILLER, 2013) inclina-se

a observar a imagem – uma imaterialidade, a princípio - como cultura material, ou

“materialidade digital”. Estes textos desdobram-se por entre fenômenos televisivos e digitais -

Facebook, Instagram, Youtube -, evidenciando atributos e efeitos da tecnologia na construção

e na manutenção das relações, classificações e distinções sociais (ROCHA & AUCAR, 2014;

CARRERA, 2014; BARROS, 2015). Dentre estes artigos, porém, identificamos, em

abordagem particular acerca das imagens televisivas na contemporaneidade, uma peculiaridade

no tratamento da materialidade. Ressaltando talvez novas (ou outras) discussões para o campo

da comunicação, Rose Rocha (2003) propõe outro olhar para a questão material, ali percebida

na forma da imagem – viva, questionadora do sujeito “vidente” e da noção da verdade única e

instransponível, uma vez que constitui visualidades “em movimento”. Uma materialidade

(visual) que cumpre ali dupla função: atribuir sentido aos ritos cotidianos; e interpelar o sujeito,

instigando-o ao “salto” para “além do arroz e feijão” (ROCHA, 2003). Deste modo,

concordamos em identificar este trabalho como aquele que, sozinho, compõe aqui uma outra

linha de abordagem da materialidade, aquela que se valerá de outros campos e fundamentos,

para além da antropologia, para ocupar-se das conexões dialéticas entre pessoas e coisas.

3. Nadando contra a maré: duas pesquisas em construção

Esta seção traz por objetivo compartilhar caminhos de pesquisa, ainda em andamento,

que esforçam-se em olhar a materialidade das coisas para além dos símbolos e das

representações, enveredando-se ora pela privacidade dos quartos de adolescentes ora pelo

universo dos livros num recorte específico da arte contemporânea, mas ambas em busca de

outras e novas possibilidades de observação e abordagem do mundo material, defendendo, cada

qual a seu modo, a legitimidade desta vertente dentro do campo da Comunicação e do

Consumo. Começamos pelo livro na arte contemporânea.

Tim Ingold (2012), provavelmente inspirado pelas teorias de Heidegger, propõe a

distinção entre objeto e coisa, avançando largamente por esta direção. Ao contrário do objeto

- revestido de símbolos, signos e representações - a coisa seria desprovida de todo e qualquer

empecilho, obstáculo ou embaraço que a restringisse a este ou àquele significado social

previamente acumulado. Tomando a expressão “signi-ficado”, de José Machado Pais (2005) –

que remete à ideia de que os signos “ficam” - considera-se, de maneira oposta, que as

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materialidades, no sentido de coisa, não carregam as metáforas e as significações atribuídas a

priori – aquelas que “ficam” – atuando diferentemente a cada interação. Partindo

especialmente desta oposição, a pesquisa A vida material do livro sugere - a partir da análise

específica do uso do livro na arte contemporânea – haver, na contemporaneidade, uma relação

ainda possível entre materialidade, experiência e não-automatismo, ainda que estejamos

envolvidos por um universo bastante amplo e onipresente dos signos. A pesquisa, buscando

experimentar as “estranhezas” na percepção e contato com objetos que não se deixam definir -

trabalhados aí diante da perspectiva de “coisa” -, reúne proposições de artistas que fizeram uso

do livro como material e instrumento da arte, no contexto contemporâneo brasileiro,

especialmente a partir do final da década de 1950, quando irrompe o movimento neoconcreto

com inovações criativas. Este, e outros movimentos que o sucederam, buscando a libertação

dos padrões clássicos de reprodução do mundo real, servem de base para a construção da

categoria sugerida na tese: o “livro-coisa”, o livro descansado das muitas camadas de

significação8.

Cabe retomar o termo “não-automatismo”, empregado pelo artista plástico Ricardo

Basbaum, que reflete, em sua arte, autênticos obstáculos ao saber habitual. A partir da

exploração de materiais, Basbaum propõe inusitadas experiências entre pessoas e coisas,

incitando ineditismos, descobertas (FIG.1). Sua obra instiga, assim, novas conexões a partir

das materialidades. “Acho extraordinário você ter criado um objeto significante, mas sem

significado, um objeto que, lançado no mundo, vai criando um emaranhado de sentidos e

experiências”9 (REZENDE, 2012). A criação de emaranhados de sentidos e experiências livres

a partir da materialidade é o que particularmente nos interessa.

8 Referência à teoria de Bill Brown (2009), que sugere que os objetos na contemporaneidade, especialmente no

contexto dos EUA, parecem cansados das (tantas) significações atribuídas pelos sujeitos. 9 Este comentário, embora estenda-se a outras obras de Basbaum, refere-se especificamente ao objeto NBP –

idealizado pelo artista para rodar o mundo, emprestando, neste processo, valor e importância também ao

observador. Para mais detalhes, acessar o site: www.nbp.pro.br/projeto.php.

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FIGURA 1 – Obras de Ricardo Basbaum OBRAS – Passagens (2001); Ei, Psiu, Olá, Tchau (2013) FONTE – A Gentil Carioca (Site).

Neste contexto, sugerimos que as obras Livro de Carne, de Artur Barrio, Livro Carbono

e É = (o espelho) um véu?, de Waltercio Caldas, configuram talvez atuações do livro

funcionando como obstáculo e não-automatismo na arte contemporânea, partindo da ideia de

que há certos paradigmas sendo rompidos diante destas experiências, e de que algo novo está

ali a se dar a ver10 (FIG.2). Este tipo de obra é comumente exposta sem “placas explicativas”

e contextualização direta, permitindo que o “observador” construa sua própria interação sem

muitos atravessamentos11.

FIGURA 2 – Sugestões de não-automatismo do livro na arte OBRAS - Livro de Carne (Arthur Barrio); Livro Carbono e É=(um espelho) um véu? (Ambas de Waltercio Caldas). FONTE – BRETT, 2012, p.158-161; CALDAS, 1999, p.15; CALDAS, 1999, p.17.

10

Na primeira imagem, um livro feito de carne, remetendo aos saberes antigos do corte e da faca; na segunda,

folhas alternadas de carbono e mata-borrão, que, com o peso da gravidade e o manusear das páginas pelos

espectadores, constrói, em termos químicos e físicos, o “conteúdo” deste livro; na terceira, uma caixa aberta, com

folhas-cartão que se destacam até libertar um “olho” tridimensional, que ganha potência e “interpela” tudo o que

vê: a obra, o espectador, a sala. 11

Importante acentuar que a experiência, ocorrendo no contexto e nos espaços reais da arte, vê-se favorecida pela

presença física simultânea de ambos os elementos – pessoas e coisas – provocando sensações, de todo modo, mais

completas e totalizantes do que se experimenta aqui.

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Argumentamos que o espectador estaria aí diante de algo ininteligível, estranho, não

familiar12, diante de um “mundo” não codificado e não catalogado, devolvendo ao espectador,

à coisa, e ao objeto da arte, a liberdade há muito deslocada. O argumento consiste em identificar

que, embora haja proposições formais revestindo as obras, o que impacta o espectador seria

justamente esta materialidade e a experiência inusitada com um objeto a princípio familiar que,

neste espaço, aparece desconstruído e repousado das significações convencionais que nos

tocam antes do primeiro contato. Neste sentido, a arte estaria promovendo a estranheza

necessária para se alcançar o pensamento livre e novas relações.

Por analogia às teorias de Heidegger (2009 [1971]), podemos considerar ainda que,

diante destas interações específicas, estaria o objeto deixando talvez de “servir” socialmente

ao sujeito. E, justamente por esta razão, estaria sobressaindo, enfim, a importância da

materialidade em questão, a coisa – esta materialidade agora nova, não mais familiar,

provocadora de “não-automatismos”, que alcança o sujeito profundamente, modificando algo

em sua estrutura interna.

No sentido proposto por Basbaum e outros artistas do século XX, supõe a pesquisa, o

observador enfrentaria ali a materialidade como ela é, e não, antes, sua representação ou

simbologia. Conceitos e palavras, então, não o alcançariam antes da experimentação

(BROWN, 2009), libertando a interação das muitas categorizações sociais que, segundo a

teoria, aprisionariam o pensamento. Representaria talvez um esforço de enxergar a

materialidade por ela mesma – de se pensar a “coisidade da coisa” (HEIDEGGER, 1977) -,

conectada ainda ao impacto que esta mesma materialidade, por não mais se vestir do familiar

e do simbólico, provoca internamente no “observador”. Inspirado inicialmente nas proposições

de Tim Ingold (2012), Ricardo Basbaum e também Daniel Miller (2013) – que percebe os

objetos para além da servidão de símbolos à vida social do sujeito - o estudo investe em

atuações não naturalizadas do livro, não automáticas, nas quais seu significado se apresenta

necessariamente transitório e flutuante - nunca permanente; nunca antes -, estando, portanto,

em constante “movimento” e “construção”, a cada interação pessoa-coisa.

Buscando nas teorias de Didi-Huberman (1998) subsídios que defendessem a saída do

objeto de um estado passivo e objetal para um estado maior de troca, encontramos a ideia

central de que as pessoas e as coisas constroem-se mutuamente: a proposta de que o “olhado”

12

Uma “coisa”, portanto, não mais um objeto necessariamente revestido das tantas camadas de significação.

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– objeto ou coisa - também olha, interpela e questiona o “olhante” – sujeito ou pessoa -, que

responde a esta “investida” com ações, pensamentos, emoções, transformando-se ambos nesta

experiência. Por influência de Walter Benjamin, e outros, temos que a sobrecarga de estímulos

e de elementos codificados na contemporaneidade impedem o indivíduo muitas vezes de

confrontar-se com inquietações mais profundas ou genuinamente estruturantes no cotidiano de

suas relações. De todo modo, argumentaria Didi-Huberman, não perdemos o valor da

experiência. Retomando os estudos benjaminianos, o autor ressalta aquilo que chama de o

“segundo aspecto da aura”, que, conforme observa, estaria já revelado em Benjamin, embora

ainda pouco notado: a ideia de que a imagem (aqui, objeto tridimensional), quando não

codificada e não revelada em sua transparência, interpela o “olhante”, deslocando a hierarquia

formal entre sujeito e objeto. Toda a reflexão de Didi-Huberman se dá em torno da inquietação

provocada por este elemento material, contemporâneo, percebido em sua opacidade, não em

sua transparência. A pesquisa considera, por analogia ao trabalho de Basbaum, que, nestas

ocasiões, sobressai a materialidade, que, não reconhecida ou catalogada, força o espectador a

parar diante dela, buscando encontrar, sem sucesso, referências e associações familiares a partir

deste material não revelado. Neste sentido, a obra interpela o espectador ao mesmo tempo que

também é por ele interpelado, numa construção dialógica interessante, uma relação viva e

agoniante entre pessoa e coisa, na qual, ao final, de nada se tem certeza. O olhar singular de

cada experiência – promovido por esta materialidade indefinida – em diálogo com a

experiência individual do observador, intransferível, é o que permite ao elemento material

“reauratizar-se”, “aparecer como um acontecimento visual único” a cada conexão singular

estabelecida (Didi-Huberman, 1998) – princípio básico da “aura” benjaminiana.

Arriscamos então defender, a partir destas colocações, e em tom ainda bastante

embrionário, uma relação mais estreita entre comunicação e materialidade, baseando-nos

justamente nesta troca intersubjetiva que se sugere ocorrer a partir de experiências de não-

automatismo com as coisas – especialmente no campo da arte. Propomos utilizar a noção de

coisa, considerando que o elemento material em questão, estando “em aberto”, tende a não

acumular em si as significações construídas pelo espectador a cada interação. Estamos lidando

então com a ideia de uma materialidade produzindo experiências – novas, desconcertantes -,

que alcançam, desestruturam e modificam o observador, por não lhe oferecer o facilmente

codificável, despertando algo novo internamente - um fenômeno individual, mais do que social.

Este caminho sugere, portanto, que a comunicação com o “outro” é essencial e fundamental

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para a manutenção psíquica do ser humano – conduzida muitas vezes por intermédio de objetos,

tal qual ocorre em “Náufrago” - mas a conexão estabelecida com ele mesmo a partir desta troca

com a coisa material, especialmente, acentuada por seu caráter inédito e não-automático, faz-

se também importante e relevante para sua construção e transformação interna.

Consideramos, portanto, que, nestas experiências, ocorre “comunicação” em dois

sentidos. Primeiro, há a comunicação entre artista e espectador, mediada por este elemento

material “aberto”, “em construção”, sobre o qual ambos depositam suas proposições, e, ainda

que em silêncio, trocam suas impressões. Em paralelo, a experiência artística como “processo

de transformação” - intenso e emancipatório - “arranca” o espectador da “anestesia cotidiana”

para experimentar a pulsação da obra de arte (BASBAUM, 2012). É neste momento que se

sugere ocorrer o segundo tipo de comunicação, não o tradicional, como algo comunicado a um

“outro”, mas algo comunicado a si mesmo: “Se ela [a experiência artística] se endereça a

outrem, é de modo errático, como uma garrafa de náufrago jogada ao mar. Dentro dela, o papel

está em branco: caberá a cada um ali deixar sua marca” (RIVERA, 2012, p.90). Para Tania

Rivera, se há então uma transmissão, uma comunicação entre observador e obra, ela ocorre

apenas entre o espectador e o seu próprio eu, que ali se faz “outro”: “A experiência não é um

encontro entre o eu e o mundo. [...]. Na arte, em vez do terreno seguro e prazeroso de

aproximação do eu com o mundo, temos desencontros líricos ou problemáticos, ou pequenas

dores poéticas” (RIVERA, 2012, p.85). É justamente nestes desencontros líricos ou dores

poéticas – no desconforto – que concentramos esta pesquisa.

Passemos ao segundo exemplo, que nos leva para dentro do quarto dos adolescentes.

Em um lar familiar típico da sociedade moderna ocidental, mais comumente aqueles

pertencentes a camadas sociais mais privilegiadas, este cômodo costuma ser visto como um

cômodo à parte, espaço com regras próprias. Se a casa, de um modo geral, está sob a liderança

dos adultos, em seu quarto o jovem se sente mais livre, exercendo naquele pequeno espaço

delineado por quatro paredes, as suas vontades e preferências. Um olhar atento aos itens

pessoais que são ali colocados pode oferecer interessantes pistas para investigação. Para Reid

(2017), o quarto dos adolescentes tornou-se um espaço de armazenamento para uma série de

itens comprados e produzidos em massa, incluindo brinquedos, roupas, material de leitura e

jogos. O autor aponta, inclusive, que foi na forma como os jovens decoraram seus quartos, que

o consumo juvenil teve um dos seus efeitos mais destacados no período pós-guerra.

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Considerando que “a melhor maneira de entender, transmitir e apreciar nossa

humanidade é dar atenção à nossa materialidade fundamental” (MILLER, 2013, p.10),

pretende-se refletir sobre a relação do jovem com a materialidade em seus quartos, tanto como

uma forma de experienciar o mundo ao confrontar-se com a alteridade das “coisas”, quanto

como um modo de conferir significado às suas próprias vidas. A perspectiva adotada nesta

pesquisa é que tanto nos interessa a materialidade em si, no sentido de concretude, de existência

material, como também o aspecto simbólico.

Para iniciarmos esta reflexão, vale trazer a obra de Marcel Mauss, Ensaio Sobre a

Dádiva (2003), em que ele compara informações de várias civilizações e identifica o que

acredita ser uma universalidade nos processos de troca por elas praticados. Entre outros, a

saber: dar e receber implica, para além de uma troca de bens, uma comunicação de almas. O

autor afirma: “Se o presente recebido, trocado, obriga, é que a coisa recebida não é inerte.

Mesmo abandonada pelo doador, ela ainda conserva algo dele” (MAUSS, 2003, p. 198). E

ainda: “A própria coisa tem uma alma, é alma” (MAUSS, 2003, p. 200).

Latour (2009) nos mostra também que as coisas não são inertes. O autor lança mão de

exemplos variados para mostrar a agência das coisas sobre nós: seja, por exemplo, o carro com

dispositivo de segurança que pisca e apita incessantemente caso o motorista tente dirigir seu

veículo sem acoplar o cinto de segurança ou o computador que adverte: “não desligue até que

as atualizações sejam finalizadas”. Latour “iguala” pessoas e coisas no sentido de que todos

são “actantes”, impactando uns aos outros de forma permanente.

Os depoimentos dos adolescentes que participam do projeto The Do Not Enter Diaries13

apontam uma relação especial e de mutualidade entre eles e suas coisas. O jovem escolhe seus

objetos - materiais ou não - e determina o que entra e o que sai de seus quartos, em função de

uma, digamos, reciprocidade. Tal objeto é escolhido porque se espera que desperte

determinado sentimento ou sensação em seu dono, como sugere Dylan O.: “The idea that you

can like capture something that you can bring home with you, you can capture like moments

13

O projeto The Do Not Enter Diaries consiste em uma série de vídeos publicados no site

https://vimeo.com/donotenterdiaries, entre julho de 2012 e setembro de 2013. Organizado por Emma Orlow, na

época com 17 anos, e Emily Cohn, com 18, o projeto de arte colocou no ar 54 vídeo-documentários curtos, todos

gravados nos quartos de jovens.

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with your friends, and you can have that to look back upon to, it’s very exciting. I'm very

particular about things that I put in my room”1415.

Cabe considerar o impacto que a proliferação dos eletrônicos teve nos quartos dos

adolescentes no pós-guerra. De acordo com Reid (2017), equipamentos de som, televisões,

computadores e vídeo games inundaram seus quartos nessa época, afetando a maneira como

pais e filhos se socializavam uns com os outros. Inicialmente comercializados como meios de

fornecer entretenimento para toda a família, muitos desses objetos deslocaram-se para os

quartos da casa, incentivando formas solitárias de lazer. Os jovens, agora, podiam usar seus

quartos para assistir TV, escutar música ou falar ao telefone relativamente fora de intrusões.

Fundamental considerar novas formas de sociabilidade que vieram a partir desses

aparelhos eletrônicos, e de outros como os smartphones, levando ao que consideramos um

paradoxo no que tange aos quartos juvenis contemporâneos. Ao mesmo tempo que é onde o

jovem se isola e exerce sua individualidade, é também nele que cria uma conexão com o mundo

exterior. Os gadgets conectados à internet ligam esse jovem a uma outra rede de sociabilidade,

específica e com regras próprias.

Podemos estabelecer aqui também um paralelo com o que Pais (1993) denomina de

“fachadas culturais”. O autor analisa dinâmicas de sociabilidade dos jovens e considera a

adesão a grupos de amigos que apresentam certa identificação entre si. Esses grupos asseguram

certa proteção a seus integrantes, propiciando o espaço para que possam exercer suas

individualidades e também “desenvolver formas genuínas de participação social” (PAIS, 1993,

p. 94). Consideramos que no espaço privado de seus quartos, longe fisicamente dos amigos,

seus objetos e suas coisas vão exercer esse papel, propiciando ao jovem uma sensação de

conforto e estabilidade, uma “segurança ontológica” nos termos de Giddens (2002), de que

tudo está em seu lugar, como podemos observar na fala de Sasha F, do projeto The Do Not

Enter Diaries: “I'd like the idea of things staying the same like there is a sort of security and

consistency to me. I look for my room to be that kind of safe space.”16

No contexto dessa pesquisa, ainda, para além dos objetos, consideramos o próprio

quarto, em sua forma e concretude, suas características arquitetônicas, como materialidade

específica que se faz presente. Miller (2001) afirma que:

14 Disponível em: https://vimeo.com/47055567. Último acesso em 11 de fev. de 2019. 15 Por limitações de tamanho e número de caracteres, optamos por deixar as citações em seu idioma original. 16

Disponível em: https://vimeo.com/50473756. Último acesso em 11 de fev. de 2019.

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In industrialized societies, most of what matters to people is happening behind the closed doors

of the private sphere. [...] It´s likely that people are paying increasing attention to their

relationship to their own home, to its structure, its decoration, its furnishing and the arrays of

objects that fill its space, and that they reflect back on it their agency and sometimes their

impotence. (MILLER, 2001, p. 1)

Podemos estabelecer um paralelo dos quartos adolescentes com a polêmica em torno

da proposta de construção de um banheiro público feminino em Londres, no cruzamento da

Park Street com Camden Right Street, por volta do ano de 1900, analisado por Barbara Penner

(2009). A autora fornece um relato detalhado de como essa proposta de construir um objeto

cotidiano estava implicada na produção, manutenção e contestação da estrutura de poder

patriarcal. Espaços cotidianos como banheiros públicos não refletem passivamente as relações

e identidades sociais existentes, mas estão envolvidos, tal qual os quartos juvenis que estamos

analisando, em sua produção e reprodução:

Users do not have a universal response to spaces but experience them differently according to

factors such as their sexuality, gender, race, class and age. Daily encounters with the built

environment continually position people in relation to the dominant power structure, enforcing

and reinforcing their differences […] While power relations most obviously operate in

everyday space through physical barriers and various forms of exclusion, as we will see, they

can also work more subtly, creating invisible boundaries that shape experience in equally

powerful ways (PENNER, 2009, p. 371).

Nesse processo, as coisas assumem caráter fundamental. É por meio da materialidade

e dos objetos que os jovens estabelecem relações que ajudam não só na compreensão de si

mesmos, mas do mundo. Se como para Mauss (2003), os objetos têm alma, o jovem olha para

um pedaço de sua própria alma, expressa em seus objetos preferidos, e assim, reflexivamente,

faz incursão a um doloroso e igualmente poderoso processo de autoconhecimento.

4. Terra à vista? (considerações finais)

Voltamos à emocionante cena da despedida. Quando, desesperado, triste e resignado,

Noland escolhe manter-se preso à balsa e deixa que Wilson se vá, despede-se pela última vez:

“I´m sorry, Wilson”. De um certo modo, ao pedir desculpas à bola de vôlei, que agora já era

um amigo querido, o náufrago se ressente de não ter mais a sua presença física. É a morte da

(e pela) materialidade. O que manteve Noland em terra firme, literal e psicologicamente

falando, foi a representação de um rosto numa bola de vôlei. Foi, portanto, seu aspecto

simbólico que o ajudou a enfrentar a solidão. Como significação, a bola de vôlei materializa

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quatro anos de luta pela vida e os laços que se firmaram nesta inusitada relação entre homem

e objeto. Trata-se de pura emoção e experiência, portanto, imaterialidades. Mas o que se vai é

a materialidade. E é a ela que Noland pede perdão.

Como afirma Daniel Miller (2013), há uma “humildade” nos objetos que faz com que

pareçam menos importantes para as pessoas do que de fato são. Talvez, como pesquisadores,

precisemos, também, escolher por resgatar os objetos, largando a corda da certeza teórica que

coloca o homem em lugar de dominação sobre todas as outras coisas, sem as quais, na verdade,

não sobrevivemos. Mais ainda, como estudiosos do campo da Comunicação e do Consumo,

apresentamos caminhos, e não apenas uma escolha. Com este artigo, fazemos nosso pedido de

desculpas a todas as materialidades que passaram diante de nossos olhos e por nossas mãos,

atentas a fenômenos que observamos ao longo de nossas trajetórias. Superando a culpa,

tentamos aqui fazer emergir possíveis abordagens ao perceber que, entre coisas e pessoas, há

muito para ser tocado, sentido e, consequentemente, investigado.

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