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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
1 www.compos.org.br
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I’M SORRY, WILSON: Uma discussão sobre a relação entre coisas, pessoas e o campo da Comunicação1
I´SORRY, WILSON: A discussion on the relationship
between things, people and the field of Communication
Cláudia Pereira 2
Joana Beleza3
Marcella Azevedo4
Resumo: O objetivo é refletir sobre o lugar das pesquisas sobre as materialidades no campo da
Comunicação e dos estudos do Consumo, considerando, para tanto, mais a “coisa”
em si mesma, no sentido físico e material, do que sua representação ou significação. Analisamos artigos dos encontros anuais da Compós de 2000 a 2018 e trabalhos dos
autores que já participaram do GT Consumos e Processos de Comunicação, desde
2015. Por meio de duas pesquisas em andamento, sobre o livro como obra de arte e
outra sobre quartos de adolescentes, são apresentados possíveis caminhos teórico-
metodológicos.
Palavras-Chave: Consumos. Materialidades. Comunicação
Abstract: The aim is to reflect on the place of research on the materialities in the field of
Communication and studies of Consumption, considering, therefore, more the
"thing" in itself, in the physical and material sense, than its representation or
meaning. We have analyzed articles of the annual meetings of Compós from 2000 to
2018 and papers by authors who have participated in the WG Consumption and
Communication Processes since 2015. By means of two researches in progress, one
on the book as a work of art and the other on adolescent rooms, there are presented
possible theoretical-methodological paths.
Keywords: Consumptions. Materialities. Communication.
1. Introdução
1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Consumos e Processos de Comunicação do XXVII Encontro Anual
da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS – Porto Alegre, 11 a 14 de junho
de 2019. 2 Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio, Professora Adjunta, [email protected].
3 Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio, Doutoranda, e-mail: [email protected].
4 Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio, Doutoranda, e-mail: [email protected]
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Era só o céu, o mar e uma balsa improvisada de galhos amarrados com sisal. O corpo
muito magro, curtido pelo sol, cabelos longos e barba cheia, ainda tinha um fio de vida - era a
uma corda que se agarrava quando, ao se lançar determinado ao mar, tentava salvar seu amigo
que, inerte, se distanciava. Tentava nadar em desespero, mas os músculos, fracos, eram
vencidos pelas ondas. Entre um chamado e outro, deixava-se submergir, mas logo voltava à
superfície para tomar fôlego. De um lado, a balsa presa pela corda. Do outro, o amigo que
boiava, sem reagir. Decide então arriscar sua sobrevivência, alimentada com tanto sacrifício
por quatro anos, pelo resgate do seu único interlocutor naquela ilha. Solta a corda e movimenta
braços e pernas, que sentem a resistência da água, mais do que o normal. De fato, ossos e
músculos se resguardavam somente para a terra firme. Com muito esforço, consegue voltar a
segurar a corda. Puxa e se deixa deslizar em direção à balsa. Ao mesmo tempo, chorando, grita,
“I´m sorry, Wilson”.
A cena é de Cast Away (EUA, Zemechis, 2000), traduzido por O Náufrago no Brasil,
no momento em que Chuck Noland (Tom Hanks), se despede da bola de vôlei que ganhou um
nome, Wilson, e um rosto, desenhado casualmente pelo sangue de um corte em sua mão.
Funcionário da FedEx, Noland sofre um acidente aéreo às vésperas do Natal e se torna um
náufrago, o único sobrevivente. O bote inflável que encontra no avião, ao ser acionado, num
repuxo o leva até a superfície e acaba sendo lançado numa ilha deserta. Sem nenhum objeto, a
não ser suas roupas e o bote amarelo, Noland, um homem “civilizado” e escravo dos minutos
do relógio, vê-se diante da natureza e, sem saber como, sai em busca de abrigo e comida. Pouco
tempo depois, as encomendas que se amontoavam no avião de carga começam a chegar na
praia. O náufrago recolhe tudo e começa a ter esperanças de sobrevivência, pois vislumbra
novas utilidades para os objetos encaixotados. Um deles é a bola de vôlei da marca Wilson.
Ele a deixa de lado, pois parecia ser útil. Um acidente provoca um corte profundo em sua mão.
Depois de improvisar uma atadura, descansa um pouco e pega a embalagem. Foi quando o
sangue deixou impressa a sua mão na bola. Noland decide, então, tirá-la da embalagem e
desvelar, com saliva e um pedaço de pano, olhos, nariz e boca na mancha vermelha. Wilson
ganha então um rosto e, mais tarde, cabelos de galho seco.
O objetivo do presente artigo é refletir sobre o lugar das pesquisas sobre as
materialidades no campo da Comunicação e dos estudos do Consumo, considerando, para
tanto, mais a “coisa” em si mesma, no sentido físico e material, do que sua representação ou
significação, questão espinhosa, mas que decidimos, aqui, enfrentar.
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Vários foram os objetos que se adaptaram a novos usos para Noland, e somente com
eles se garantiu sua sobrevivência. Antes, mesmo com a natureza que habitava a ilha
paradisíaca, eram incertas as suas chances de se manter física e psicologicamente íntegro. Mas
nenhum desses objetos foi tão importante como a bola de vôlei. Wilson era uma presença. Ao
“dialogar” com Wilson, embora não houvesse a troca esperada, o que gerava momentos de
tensão para o náufrago, ainda assim, a comunicação ganhava vida. Ele poderia falar sozinho,
ou consigo mesmo, como muitos de nós fazemos em muitos momentos, na vida cotidiana. Mas,
em nosso dia-a-dia, temos interlocutores presentes. Para Noland, Wilson era uma presença
necessária para espelhar-se a si próprio, para que, afinal, não ficasse tão evidente que estava
falando sozinho. A materialidade da presença de Wilson garantia a sua própria humanidade,
que se configurava por meio da habilidade de se comunicar.
2. Estaríamos sozinhos numa ilha?
Consideramos importante começar pela tentativa de analisar alguns dos textos já
produzidos no Brasil sobre a temática da materialidade na comunicação e, a fim de viabilizar
o aqui proposto, delimitamos um recorte que se deu a partir de dois critérios principais. O
primeiro restringiu a pesquisa aos artigos apresentados nos encontros anuais da Compós nos
últimos dezenove anos (de 2000 a 2018)5. O segundo se deteve aos trabalhos dos autores que
já participaram do GT Consumos e Processos de Comunicação, desde o seu início em 2015, a
partir das informações disponibilizadas em seus currículos lattes.
O processo metodológico nos anais da Compós se deu da seguinte maneira: acessamos
cada ano de encontro, entramos no campo “busca”, digitamos o termo “materia” e
selecionamos e analisamos todos os textos que apresentavam o termo em seu título ou subtítulo,
discutidos em qualquer um dos GTs. Já para a busca nos currículos lattes, o primeiro passo foi
salvar cada currículo em PDF e depois também realizar a busca pelo termo “materia”,
utilizando a ferramenta “localizar”. Vale mencionar que, a partir do termo, vieram também
variações como matéria(s), (i)materialidade(s), (i)material, materiais, materialismo,
materialista e materializando. Foram excluídas da análise as inserções que não abordavam
discussões sobre materialidade, que aqui nos interessa de maneira particular.
5 A recorrência do tema acontece mais nos últimos 10 anos, de 2008 a 2018. A hipótese que podemos construir
daí é que a internet contribuiu para o interesse pela discussão.
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No que tange primeiramente aos textos apresentados na Compós, identificamos
importantes artigos com discussões teóricas e propostas metodológicas acerca do tema da
materialidade na comunicação. A corrente mais frequente foi a que parte das proposições da
“Teoria das Materialidades da Comunicação”, que tem o alemão Hans Ulrich Gumbrecht como
um de seus principais expoentes, e que apresenta uma abordagem não-hermenêutica do campo
da comunicação, considerando que o suporte material ou o meio de toda e qualquer
comunicação não apenas influencia, mas muitas vezes determina a mensagem. Felinto (2001)
faz uma cuidadosa apresentação desta teoria, incluindo uma genealogia do pensamento que
levou à sua elaboração, discute a sua aplicabilidade e defende que seja de grande validade para
pensar teoricamente os fenômenos comunicacionais.
Girardi Junior (2016) retoma modelos baseados na teoria da informação de Claude E.
Shannon e da cibernética de Norbert Wiener que propiciam abordagens diferenciadas no que
tange a questões que envolvem as novas mídias e materialidades da comunicação. Em outro
trabalho, Girardi (2017) trata das consequências da aproximação entre a Teoria das Mídias
Alemã e os estudos das Cultural Techniques e novas possibilidades que surgem a partir daí
para compreensão dos fenômenos da cibercultura. Já Santos (2017) defende que para além de
teorias como a Teoria da Mídia Alemã, Teoria Ator-Rede e Arqueologia da Mídia, fazem-se
necessários novos caminhos para uma abordagem materialista da tecnologia da comunicação.
Moraes (2011), por sua vez, elabora uma discussão teórica em que parte de uma retomada dos
pressupostos e principais eixos teóricos dos estudos culturais, estabelecendo um diálogo com
o “materialismo cultural” de Raymond Williams, considerado pela autora como herdeiro do
método dialético, e que ela propõe como opção “teórico-metodológica” a ser aplicada nas
pesquisas em comunicação.
A discussão sobre a materialidade na comunicação tem sido usada como base de grande
aplicabilidade para se pensar, entre outros, fenômenos do ambiente das TICs, tendo despertado
a atenção de muitos estudiosos que voltam seus esforços para questões do ciberespaço. Vouga
(2004) observa dinâmicas do comércio eletrônico; Herscovici (2007) se volta às mercadorias
trocadas nas redes do ciberespaço; Martins (2003) reflete sobre a construção do simbólico a
partir de objetos digitais; Lemos (2010) se propõe a estudar as tecnologias e serviços baseados
em localização, tomando como objeto as “mídias locativas”; e Messias (2018) discute
possibilidades para se abordar o fenômeno das gambiarras digitais.
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Observou-se também a discussão acerca da “produção de presença” em ambientes
online. Sá e Polivanov (2012) discutem materialidades da comunicação e presentificação dos
sujeitos em ambientes virtuais. Maia (2013) considera a questão em jogos de videogame. Em
outra linha, Felinto (2004) reflete sobre o que considera excessos de desmaterialização do
corpo, propondo que este seja considerado a partir de seu caráter físico e material.
A imagem também foi pensada pela perspectiva da materialidade. Carvalho (2011),
propõe que se considere a “imagem-matéria” e não apenas “imagem-representação” e a partir
daí desenvolve uma “apreciação materialista do cinema”. Laurentiz (2004) propõe a análise de
diversos níveis de materialidade na imagem e considera que as chamadas “tecnologias virtuais”
permitem perceber relações diferenciadas entre o material e o imaterial, possibilitando novas
compreensões. Rose Rocha (2003) propõe, entre outras coisas, que se considere a materialidade
dos aparelhos audiovisuais em relação a uma materialidade outra das imagens veiculadas.
Wajnman e Rodrigues (2015) analisam a construção de visualidade em produções audiovisuais,
a partir de uma análise de objetos em cena em uma produção de ficção.
O campo estético permitiu abordagens diversas com relação à materialidade. Prado e
Assis (2001) discutem sua aplicação na arte contemporânea, contemplando, por exemplo,
tecnologia aplicada à realidade virtual. Cleomar Rocha (2004) trata da desmaterialização do
objeto artístico e das alterações que provoca na figura do agente fruidor, que se torna coautor
da obra de arte, possibilitando novos ressignificados. Cardoso Filho (2007) leva a análise da
materialidade para a abordagem da interface entre mídia e música e avalia possibilidades de
apreensão da experiência estética. Gonçalves (2010), ao analisar processos de leitura, considera
o impacto da “existência concreta dos livros”.
Castanheira, Polivanov e Maia (2016) propõem pensar as mídias, inclusive as digitais,
a partir de suas (i)materialidades, procurando analisar os objetos concretos que suportam suas
existências, claro, sem deixar de relacioná-los a seus usos sociais, e através de uma observação
arqueológica de tais objetos. Telles (2016) também considera “outra materialidade da mídia”,
dirigindo sua atenção para as matérias-primas e componentes empregados na fabricação dos
objetos midiáticos.
Silva Neto (2017) por meio da aplicação metodológica de pressupostos do materialismo
dialético, estuda a interface entre comunicação e cultura religiosa a partir das materialidades
do município de Palmelo, considerada “a capital espírita do Brasil”. Guerra et al. (2017)
analisam aspectos da ascensão feminina na cena musical, considerando simbolismos,
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materialidades e tecnologias do rock a partir de objetos que estabelecem relações afetivas e
construções identitárias. Pastor (2018) pensa a selfie “enquanto um aparato de práticas
material-discursivas específicas”, levando-se em consideração também as materialidades
digitais que o envolvem, assim como as práticas relacionais.
No âmbito dos estudos de consumo, Silveira (2004) analisa as vitrines para venda de
aparelhos de TV, em dupla perspectiva, a partir dos objetos materiais e dos enquadramentos de
olhar que visam estabelecer uma linha simbólica e narrativa com o objetivo de incentivar o
consumo. Piedras (2006), com sua pesquisa sobre sonhos de consumo, aborda aspectos tanto
do consumo material quanto simbólico, considerando ainda o discurso publicitário.
Também tangenciando aspectos relacionados ao consumo, tem-se o único dos 32
artigos analisados, que foi apresentado no GT Consumos e Processos de Comunicação, o de
Carla Barros (2015a) - fato que destacamos como sendo, no mínimo, curioso, se considerarmos
que a dinâmica do consumo pressupõe uma interdependência com a dinâmica das
materialidades. A autora empenha uma discussão sobre materialismo no ambiente digital a
partir de uma observação sobre objetos de consumo presentes no Pinterest, trabalhando com a
ideia de “materialismo digital” para pensar na relação entre pessoas e bens, considerados aqui
como dotados de valores simbólicos e mediadores de relações sociais6.
Valorizamos sobremaneira o empenho desses autores em trazer a discussão sobre a
materialidade para o campo da comunicação, em suas múltiplas possibilidades, e como
perspectiva metodológica para analisar diferentes objetos de pesquisa. Destacamos, porém, que
a grande motivação para a escrita do presente artigo reside exatamente na premissa de que
consumo e materialidade estão intrinsecamente ligados. Desta forma, o GT Consumos e
Processos de Comunicação é o lugar da Compós que pode abrigar, com grande propriedade,
trabalhos que pesquisem a materialidade a partir dos objetos em si, das “coisas” mesmo, e dos
fenômenos comunicacionais que se dão pela concretude material dos objetos, por sua agência,
seu simbolismo, sua presença e interação com as pessoas. A contribuição deste trabalho vai no
sentido de trazer para o GT, também, este objeto e, mais, a discussão mais ampla sobre o seu
lugar no campo científico ao qual nos filiamos.
6 A autora oferece discussões acerca do “materialismo digital” em outros trabalhos de sua autoria. Optamos aqui
por concentrar as análises, nesta e na próxima seção, em apenas dois desses textos, devidamente apontados mais
à frente na bibliografia deste trabalho.
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Em levantamento mais alargado, realizado a partir do material textual7 que toca o tema
no Currículo Lattes dos autores que já passaram pelo GT Consumos e Processos de
Comunicação, e para além da Compós, evidenciamos ao menos a coexistência de duas linhas
distintas para tratar da materialidade. A primeira “corrente” – e a mais habitual dentre elas -
envolve os estudos que se inclinam à antropologia do consumo para sustentar ideias e
argumentos. Nestes casos, encontramos nomes como Colin Campbell, Daniel Miller, Everardo
Rocha, Georg Simmel, Grant McCracken, Jean Baudrillard, Lévi-Strauss, Marshal Sahlins,
Mary Douglas, Marcel Mauss, Pierre Bourdieu e Thorstein Veblen funcionando de base para
tratar de universos tão distintos como o das empregadas domésticas (BARROS, 2012), pirataria
(MARTINELLI, 2012; 2017), livro (PEREIRA & BELEZA, 2014), games e redes sociais
(BARROS, 2015), camisas de banda (PEREIRA & BELEZA, 2016; 2018), café e chocolate
(PEREIRA, 2017), e outros. Neste âmbito, evidencia-se um olhar para a materialidade
especialmente em seu valor simbólico e social – funcionando sobretudo como representação,
signo e significado -, carregada de conceitos e mensagens inteligíveis por membros de uma
mesma cultura, revestindo de sentido, assim, as “trocas” e os “ritos” diários e ordinários.
Interessante observar que, embora alguns destes artigos sinalizem o entendimento da
materialidade para além das trocas simbólicas e sociais – Barros (2015); Pereira & Beleza,
(2018²); Pereira (2017) – pautados especialmente nos estudos do antropólogo britânico Daniel
Miller, que prevê construção mútua na interação entre pessoas e coisas, em alguma medida
ainda reforçam a perspectiva dos bens enquanto símbolo, legitimador de identidade e estilo de
vida, evidenciando as definições culturais de gosto e a produção de distinções a partir disso.
Neste sentido, a cultura material funciona especialmente na construção social do sujeito e nas
relações em sociedade. Ainda dentro desta primeira abordagem sócio-lógica, identificamos
análises pautadas pelos pressupostos da semiótica, ao revelar o universo simbólico e
classificatório dos bens desta vez observando também as materialidades produzidas por estas
simbologias, num sentido agora essencialmente mercadológico (PEREZ & TRINDADE, 2017;
PEREZ, 2017). Estes estudos se voltam então a observar o modo pelo qual marcas, por
exemplo, investem em aspectos materiais – embalagens, estratégias visuais, sensoriais e
olfativas – para construírem-se socialmente e aumentar as vendas. De todo modo, ambas as
perspectivas acima concebem a cultura material como a cultura dos “objetos” revestidos de
7 Foram contemplados, nesta análise, apenas os artigos publicados – e registrados no Curriculo Lattes destes
autores. Não foram contemplados materiais de palestras, encontros ou mini cursos apontados neste registro.
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conceitos e mensagens a priori. A terceira vertente identificada dentro desta mesma linha que
aborda a cultura material como símbolos que “servem” ao sujeito (MILLER, 2013) inclina-se
a observar a imagem – uma imaterialidade, a princípio - como cultura material, ou
“materialidade digital”. Estes textos desdobram-se por entre fenômenos televisivos e digitais -
Facebook, Instagram, Youtube -, evidenciando atributos e efeitos da tecnologia na construção
e na manutenção das relações, classificações e distinções sociais (ROCHA & AUCAR, 2014;
CARRERA, 2014; BARROS, 2015). Dentre estes artigos, porém, identificamos, em
abordagem particular acerca das imagens televisivas na contemporaneidade, uma peculiaridade
no tratamento da materialidade. Ressaltando talvez novas (ou outras) discussões para o campo
da comunicação, Rose Rocha (2003) propõe outro olhar para a questão material, ali percebida
na forma da imagem – viva, questionadora do sujeito “vidente” e da noção da verdade única e
instransponível, uma vez que constitui visualidades “em movimento”. Uma materialidade
(visual) que cumpre ali dupla função: atribuir sentido aos ritos cotidianos; e interpelar o sujeito,
instigando-o ao “salto” para “além do arroz e feijão” (ROCHA, 2003). Deste modo,
concordamos em identificar este trabalho como aquele que, sozinho, compõe aqui uma outra
linha de abordagem da materialidade, aquela que se valerá de outros campos e fundamentos,
para além da antropologia, para ocupar-se das conexões dialéticas entre pessoas e coisas.
3. Nadando contra a maré: duas pesquisas em construção
Esta seção traz por objetivo compartilhar caminhos de pesquisa, ainda em andamento,
que esforçam-se em olhar a materialidade das coisas para além dos símbolos e das
representações, enveredando-se ora pela privacidade dos quartos de adolescentes ora pelo
universo dos livros num recorte específico da arte contemporânea, mas ambas em busca de
outras e novas possibilidades de observação e abordagem do mundo material, defendendo, cada
qual a seu modo, a legitimidade desta vertente dentro do campo da Comunicação e do
Consumo. Começamos pelo livro na arte contemporânea.
Tim Ingold (2012), provavelmente inspirado pelas teorias de Heidegger, propõe a
distinção entre objeto e coisa, avançando largamente por esta direção. Ao contrário do objeto
- revestido de símbolos, signos e representações - a coisa seria desprovida de todo e qualquer
empecilho, obstáculo ou embaraço que a restringisse a este ou àquele significado social
previamente acumulado. Tomando a expressão “signi-ficado”, de José Machado Pais (2005) –
que remete à ideia de que os signos “ficam” - considera-se, de maneira oposta, que as
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materialidades, no sentido de coisa, não carregam as metáforas e as significações atribuídas a
priori – aquelas que “ficam” – atuando diferentemente a cada interação. Partindo
especialmente desta oposição, a pesquisa A vida material do livro sugere - a partir da análise
específica do uso do livro na arte contemporânea – haver, na contemporaneidade, uma relação
ainda possível entre materialidade, experiência e não-automatismo, ainda que estejamos
envolvidos por um universo bastante amplo e onipresente dos signos. A pesquisa, buscando
experimentar as “estranhezas” na percepção e contato com objetos que não se deixam definir -
trabalhados aí diante da perspectiva de “coisa” -, reúne proposições de artistas que fizeram uso
do livro como material e instrumento da arte, no contexto contemporâneo brasileiro,
especialmente a partir do final da década de 1950, quando irrompe o movimento neoconcreto
com inovações criativas. Este, e outros movimentos que o sucederam, buscando a libertação
dos padrões clássicos de reprodução do mundo real, servem de base para a construção da
categoria sugerida na tese: o “livro-coisa”, o livro descansado das muitas camadas de
significação8.
Cabe retomar o termo “não-automatismo”, empregado pelo artista plástico Ricardo
Basbaum, que reflete, em sua arte, autênticos obstáculos ao saber habitual. A partir da
exploração de materiais, Basbaum propõe inusitadas experiências entre pessoas e coisas,
incitando ineditismos, descobertas (FIG.1). Sua obra instiga, assim, novas conexões a partir
das materialidades. “Acho extraordinário você ter criado um objeto significante, mas sem
significado, um objeto que, lançado no mundo, vai criando um emaranhado de sentidos e
experiências”9 (REZENDE, 2012). A criação de emaranhados de sentidos e experiências livres
a partir da materialidade é o que particularmente nos interessa.
8 Referência à teoria de Bill Brown (2009), que sugere que os objetos na contemporaneidade, especialmente no
contexto dos EUA, parecem cansados das (tantas) significações atribuídas pelos sujeitos. 9 Este comentário, embora estenda-se a outras obras de Basbaum, refere-se especificamente ao objeto NBP –
idealizado pelo artista para rodar o mundo, emprestando, neste processo, valor e importância também ao
observador. Para mais detalhes, acessar o site: www.nbp.pro.br/projeto.php.
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FIGURA 1 – Obras de Ricardo Basbaum OBRAS – Passagens (2001); Ei, Psiu, Olá, Tchau (2013) FONTE – A Gentil Carioca (Site).
Neste contexto, sugerimos que as obras Livro de Carne, de Artur Barrio, Livro Carbono
e É = (o espelho) um véu?, de Waltercio Caldas, configuram talvez atuações do livro
funcionando como obstáculo e não-automatismo na arte contemporânea, partindo da ideia de
que há certos paradigmas sendo rompidos diante destas experiências, e de que algo novo está
ali a se dar a ver10 (FIG.2). Este tipo de obra é comumente exposta sem “placas explicativas”
e contextualização direta, permitindo que o “observador” construa sua própria interação sem
muitos atravessamentos11.
FIGURA 2 – Sugestões de não-automatismo do livro na arte OBRAS - Livro de Carne (Arthur Barrio); Livro Carbono e É=(um espelho) um véu? (Ambas de Waltercio Caldas). FONTE – BRETT, 2012, p.158-161; CALDAS, 1999, p.15; CALDAS, 1999, p.17.
10
Na primeira imagem, um livro feito de carne, remetendo aos saberes antigos do corte e da faca; na segunda,
folhas alternadas de carbono e mata-borrão, que, com o peso da gravidade e o manusear das páginas pelos
espectadores, constrói, em termos químicos e físicos, o “conteúdo” deste livro; na terceira, uma caixa aberta, com
folhas-cartão que se destacam até libertar um “olho” tridimensional, que ganha potência e “interpela” tudo o que
vê: a obra, o espectador, a sala. 11
Importante acentuar que a experiência, ocorrendo no contexto e nos espaços reais da arte, vê-se favorecida pela
presença física simultânea de ambos os elementos – pessoas e coisas – provocando sensações, de todo modo, mais
completas e totalizantes do que se experimenta aqui.
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Argumentamos que o espectador estaria aí diante de algo ininteligível, estranho, não
familiar12, diante de um “mundo” não codificado e não catalogado, devolvendo ao espectador,
à coisa, e ao objeto da arte, a liberdade há muito deslocada. O argumento consiste em identificar
que, embora haja proposições formais revestindo as obras, o que impacta o espectador seria
justamente esta materialidade e a experiência inusitada com um objeto a princípio familiar que,
neste espaço, aparece desconstruído e repousado das significações convencionais que nos
tocam antes do primeiro contato. Neste sentido, a arte estaria promovendo a estranheza
necessária para se alcançar o pensamento livre e novas relações.
Por analogia às teorias de Heidegger (2009 [1971]), podemos considerar ainda que,
diante destas interações específicas, estaria o objeto deixando talvez de “servir” socialmente
ao sujeito. E, justamente por esta razão, estaria sobressaindo, enfim, a importância da
materialidade em questão, a coisa – esta materialidade agora nova, não mais familiar,
provocadora de “não-automatismos”, que alcança o sujeito profundamente, modificando algo
em sua estrutura interna.
No sentido proposto por Basbaum e outros artistas do século XX, supõe a pesquisa, o
observador enfrentaria ali a materialidade como ela é, e não, antes, sua representação ou
simbologia. Conceitos e palavras, então, não o alcançariam antes da experimentação
(BROWN, 2009), libertando a interação das muitas categorizações sociais que, segundo a
teoria, aprisionariam o pensamento. Representaria talvez um esforço de enxergar a
materialidade por ela mesma – de se pensar a “coisidade da coisa” (HEIDEGGER, 1977) -,
conectada ainda ao impacto que esta mesma materialidade, por não mais se vestir do familiar
e do simbólico, provoca internamente no “observador”. Inspirado inicialmente nas proposições
de Tim Ingold (2012), Ricardo Basbaum e também Daniel Miller (2013) – que percebe os
objetos para além da servidão de símbolos à vida social do sujeito - o estudo investe em
atuações não naturalizadas do livro, não automáticas, nas quais seu significado se apresenta
necessariamente transitório e flutuante - nunca permanente; nunca antes -, estando, portanto,
em constante “movimento” e “construção”, a cada interação pessoa-coisa.
Buscando nas teorias de Didi-Huberman (1998) subsídios que defendessem a saída do
objeto de um estado passivo e objetal para um estado maior de troca, encontramos a ideia
central de que as pessoas e as coisas constroem-se mutuamente: a proposta de que o “olhado”
12
Uma “coisa”, portanto, não mais um objeto necessariamente revestido das tantas camadas de significação.
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– objeto ou coisa - também olha, interpela e questiona o “olhante” – sujeito ou pessoa -, que
responde a esta “investida” com ações, pensamentos, emoções, transformando-se ambos nesta
experiência. Por influência de Walter Benjamin, e outros, temos que a sobrecarga de estímulos
e de elementos codificados na contemporaneidade impedem o indivíduo muitas vezes de
confrontar-se com inquietações mais profundas ou genuinamente estruturantes no cotidiano de
suas relações. De todo modo, argumentaria Didi-Huberman, não perdemos o valor da
experiência. Retomando os estudos benjaminianos, o autor ressalta aquilo que chama de o
“segundo aspecto da aura”, que, conforme observa, estaria já revelado em Benjamin, embora
ainda pouco notado: a ideia de que a imagem (aqui, objeto tridimensional), quando não
codificada e não revelada em sua transparência, interpela o “olhante”, deslocando a hierarquia
formal entre sujeito e objeto. Toda a reflexão de Didi-Huberman se dá em torno da inquietação
provocada por este elemento material, contemporâneo, percebido em sua opacidade, não em
sua transparência. A pesquisa considera, por analogia ao trabalho de Basbaum, que, nestas
ocasiões, sobressai a materialidade, que, não reconhecida ou catalogada, força o espectador a
parar diante dela, buscando encontrar, sem sucesso, referências e associações familiares a partir
deste material não revelado. Neste sentido, a obra interpela o espectador ao mesmo tempo que
também é por ele interpelado, numa construção dialógica interessante, uma relação viva e
agoniante entre pessoa e coisa, na qual, ao final, de nada se tem certeza. O olhar singular de
cada experiência – promovido por esta materialidade indefinida – em diálogo com a
experiência individual do observador, intransferível, é o que permite ao elemento material
“reauratizar-se”, “aparecer como um acontecimento visual único” a cada conexão singular
estabelecida (Didi-Huberman, 1998) – princípio básico da “aura” benjaminiana.
Arriscamos então defender, a partir destas colocações, e em tom ainda bastante
embrionário, uma relação mais estreita entre comunicação e materialidade, baseando-nos
justamente nesta troca intersubjetiva que se sugere ocorrer a partir de experiências de não-
automatismo com as coisas – especialmente no campo da arte. Propomos utilizar a noção de
coisa, considerando que o elemento material em questão, estando “em aberto”, tende a não
acumular em si as significações construídas pelo espectador a cada interação. Estamos lidando
então com a ideia de uma materialidade produzindo experiências – novas, desconcertantes -,
que alcançam, desestruturam e modificam o observador, por não lhe oferecer o facilmente
codificável, despertando algo novo internamente - um fenômeno individual, mais do que social.
Este caminho sugere, portanto, que a comunicação com o “outro” é essencial e fundamental
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para a manutenção psíquica do ser humano – conduzida muitas vezes por intermédio de objetos,
tal qual ocorre em “Náufrago” - mas a conexão estabelecida com ele mesmo a partir desta troca
com a coisa material, especialmente, acentuada por seu caráter inédito e não-automático, faz-
se também importante e relevante para sua construção e transformação interna.
Consideramos, portanto, que, nestas experiências, ocorre “comunicação” em dois
sentidos. Primeiro, há a comunicação entre artista e espectador, mediada por este elemento
material “aberto”, “em construção”, sobre o qual ambos depositam suas proposições, e, ainda
que em silêncio, trocam suas impressões. Em paralelo, a experiência artística como “processo
de transformação” - intenso e emancipatório - “arranca” o espectador da “anestesia cotidiana”
para experimentar a pulsação da obra de arte (BASBAUM, 2012). É neste momento que se
sugere ocorrer o segundo tipo de comunicação, não o tradicional, como algo comunicado a um
“outro”, mas algo comunicado a si mesmo: “Se ela [a experiência artística] se endereça a
outrem, é de modo errático, como uma garrafa de náufrago jogada ao mar. Dentro dela, o papel
está em branco: caberá a cada um ali deixar sua marca” (RIVERA, 2012, p.90). Para Tania
Rivera, se há então uma transmissão, uma comunicação entre observador e obra, ela ocorre
apenas entre o espectador e o seu próprio eu, que ali se faz “outro”: “A experiência não é um
encontro entre o eu e o mundo. [...]. Na arte, em vez do terreno seguro e prazeroso de
aproximação do eu com o mundo, temos desencontros líricos ou problemáticos, ou pequenas
dores poéticas” (RIVERA, 2012, p.85). É justamente nestes desencontros líricos ou dores
poéticas – no desconforto – que concentramos esta pesquisa.
Passemos ao segundo exemplo, que nos leva para dentro do quarto dos adolescentes.
Em um lar familiar típico da sociedade moderna ocidental, mais comumente aqueles
pertencentes a camadas sociais mais privilegiadas, este cômodo costuma ser visto como um
cômodo à parte, espaço com regras próprias. Se a casa, de um modo geral, está sob a liderança
dos adultos, em seu quarto o jovem se sente mais livre, exercendo naquele pequeno espaço
delineado por quatro paredes, as suas vontades e preferências. Um olhar atento aos itens
pessoais que são ali colocados pode oferecer interessantes pistas para investigação. Para Reid
(2017), o quarto dos adolescentes tornou-se um espaço de armazenamento para uma série de
itens comprados e produzidos em massa, incluindo brinquedos, roupas, material de leitura e
jogos. O autor aponta, inclusive, que foi na forma como os jovens decoraram seus quartos, que
o consumo juvenil teve um dos seus efeitos mais destacados no período pós-guerra.
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Considerando que “a melhor maneira de entender, transmitir e apreciar nossa
humanidade é dar atenção à nossa materialidade fundamental” (MILLER, 2013, p.10),
pretende-se refletir sobre a relação do jovem com a materialidade em seus quartos, tanto como
uma forma de experienciar o mundo ao confrontar-se com a alteridade das “coisas”, quanto
como um modo de conferir significado às suas próprias vidas. A perspectiva adotada nesta
pesquisa é que tanto nos interessa a materialidade em si, no sentido de concretude, de existência
material, como também o aspecto simbólico.
Para iniciarmos esta reflexão, vale trazer a obra de Marcel Mauss, Ensaio Sobre a
Dádiva (2003), em que ele compara informações de várias civilizações e identifica o que
acredita ser uma universalidade nos processos de troca por elas praticados. Entre outros, a
saber: dar e receber implica, para além de uma troca de bens, uma comunicação de almas. O
autor afirma: “Se o presente recebido, trocado, obriga, é que a coisa recebida não é inerte.
Mesmo abandonada pelo doador, ela ainda conserva algo dele” (MAUSS, 2003, p. 198). E
ainda: “A própria coisa tem uma alma, é alma” (MAUSS, 2003, p. 200).
Latour (2009) nos mostra também que as coisas não são inertes. O autor lança mão de
exemplos variados para mostrar a agência das coisas sobre nós: seja, por exemplo, o carro com
dispositivo de segurança que pisca e apita incessantemente caso o motorista tente dirigir seu
veículo sem acoplar o cinto de segurança ou o computador que adverte: “não desligue até que
as atualizações sejam finalizadas”. Latour “iguala” pessoas e coisas no sentido de que todos
são “actantes”, impactando uns aos outros de forma permanente.
Os depoimentos dos adolescentes que participam do projeto The Do Not Enter Diaries13
apontam uma relação especial e de mutualidade entre eles e suas coisas. O jovem escolhe seus
objetos - materiais ou não - e determina o que entra e o que sai de seus quartos, em função de
uma, digamos, reciprocidade. Tal objeto é escolhido porque se espera que desperte
determinado sentimento ou sensação em seu dono, como sugere Dylan O.: “The idea that you
can like capture something that you can bring home with you, you can capture like moments
13
O projeto The Do Not Enter Diaries consiste em uma série de vídeos publicados no site
https://vimeo.com/donotenterdiaries, entre julho de 2012 e setembro de 2013. Organizado por Emma Orlow, na
época com 17 anos, e Emily Cohn, com 18, o projeto de arte colocou no ar 54 vídeo-documentários curtos, todos
gravados nos quartos de jovens.
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with your friends, and you can have that to look back upon to, it’s very exciting. I'm very
particular about things that I put in my room”1415.
Cabe considerar o impacto que a proliferação dos eletrônicos teve nos quartos dos
adolescentes no pós-guerra. De acordo com Reid (2017), equipamentos de som, televisões,
computadores e vídeo games inundaram seus quartos nessa época, afetando a maneira como
pais e filhos se socializavam uns com os outros. Inicialmente comercializados como meios de
fornecer entretenimento para toda a família, muitos desses objetos deslocaram-se para os
quartos da casa, incentivando formas solitárias de lazer. Os jovens, agora, podiam usar seus
quartos para assistir TV, escutar música ou falar ao telefone relativamente fora de intrusões.
Fundamental considerar novas formas de sociabilidade que vieram a partir desses
aparelhos eletrônicos, e de outros como os smartphones, levando ao que consideramos um
paradoxo no que tange aos quartos juvenis contemporâneos. Ao mesmo tempo que é onde o
jovem se isola e exerce sua individualidade, é também nele que cria uma conexão com o mundo
exterior. Os gadgets conectados à internet ligam esse jovem a uma outra rede de sociabilidade,
específica e com regras próprias.
Podemos estabelecer aqui também um paralelo com o que Pais (1993) denomina de
“fachadas culturais”. O autor analisa dinâmicas de sociabilidade dos jovens e considera a
adesão a grupos de amigos que apresentam certa identificação entre si. Esses grupos asseguram
certa proteção a seus integrantes, propiciando o espaço para que possam exercer suas
individualidades e também “desenvolver formas genuínas de participação social” (PAIS, 1993,
p. 94). Consideramos que no espaço privado de seus quartos, longe fisicamente dos amigos,
seus objetos e suas coisas vão exercer esse papel, propiciando ao jovem uma sensação de
conforto e estabilidade, uma “segurança ontológica” nos termos de Giddens (2002), de que
tudo está em seu lugar, como podemos observar na fala de Sasha F, do projeto The Do Not
Enter Diaries: “I'd like the idea of things staying the same like there is a sort of security and
consistency to me. I look for my room to be that kind of safe space.”16
No contexto dessa pesquisa, ainda, para além dos objetos, consideramos o próprio
quarto, em sua forma e concretude, suas características arquitetônicas, como materialidade
específica que se faz presente. Miller (2001) afirma que:
14 Disponível em: https://vimeo.com/47055567. Último acesso em 11 de fev. de 2019. 15 Por limitações de tamanho e número de caracteres, optamos por deixar as citações em seu idioma original. 16
Disponível em: https://vimeo.com/50473756. Último acesso em 11 de fev. de 2019.
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In industrialized societies, most of what matters to people is happening behind the closed doors
of the private sphere. [...] It´s likely that people are paying increasing attention to their
relationship to their own home, to its structure, its decoration, its furnishing and the arrays of
objects that fill its space, and that they reflect back on it their agency and sometimes their
impotence. (MILLER, 2001, p. 1)
Podemos estabelecer um paralelo dos quartos adolescentes com a polêmica em torno
da proposta de construção de um banheiro público feminino em Londres, no cruzamento da
Park Street com Camden Right Street, por volta do ano de 1900, analisado por Barbara Penner
(2009). A autora fornece um relato detalhado de como essa proposta de construir um objeto
cotidiano estava implicada na produção, manutenção e contestação da estrutura de poder
patriarcal. Espaços cotidianos como banheiros públicos não refletem passivamente as relações
e identidades sociais existentes, mas estão envolvidos, tal qual os quartos juvenis que estamos
analisando, em sua produção e reprodução:
Users do not have a universal response to spaces but experience them differently according to
factors such as their sexuality, gender, race, class and age. Daily encounters with the built
environment continually position people in relation to the dominant power structure, enforcing
and reinforcing their differences […] While power relations most obviously operate in
everyday space through physical barriers and various forms of exclusion, as we will see, they
can also work more subtly, creating invisible boundaries that shape experience in equally
powerful ways (PENNER, 2009, p. 371).
Nesse processo, as coisas assumem caráter fundamental. É por meio da materialidade
e dos objetos que os jovens estabelecem relações que ajudam não só na compreensão de si
mesmos, mas do mundo. Se como para Mauss (2003), os objetos têm alma, o jovem olha para
um pedaço de sua própria alma, expressa em seus objetos preferidos, e assim, reflexivamente,
faz incursão a um doloroso e igualmente poderoso processo de autoconhecimento.
4. Terra à vista? (considerações finais)
Voltamos à emocionante cena da despedida. Quando, desesperado, triste e resignado,
Noland escolhe manter-se preso à balsa e deixa que Wilson se vá, despede-se pela última vez:
“I´m sorry, Wilson”. De um certo modo, ao pedir desculpas à bola de vôlei, que agora já era
um amigo querido, o náufrago se ressente de não ter mais a sua presença física. É a morte da
(e pela) materialidade. O que manteve Noland em terra firme, literal e psicologicamente
falando, foi a representação de um rosto numa bola de vôlei. Foi, portanto, seu aspecto
simbólico que o ajudou a enfrentar a solidão. Como significação, a bola de vôlei materializa
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quatro anos de luta pela vida e os laços que se firmaram nesta inusitada relação entre homem
e objeto. Trata-se de pura emoção e experiência, portanto, imaterialidades. Mas o que se vai é
a materialidade. E é a ela que Noland pede perdão.
Como afirma Daniel Miller (2013), há uma “humildade” nos objetos que faz com que
pareçam menos importantes para as pessoas do que de fato são. Talvez, como pesquisadores,
precisemos, também, escolher por resgatar os objetos, largando a corda da certeza teórica que
coloca o homem em lugar de dominação sobre todas as outras coisas, sem as quais, na verdade,
não sobrevivemos. Mais ainda, como estudiosos do campo da Comunicação e do Consumo,
apresentamos caminhos, e não apenas uma escolha. Com este artigo, fazemos nosso pedido de
desculpas a todas as materialidades que passaram diante de nossos olhos e por nossas mãos,
atentas a fenômenos que observamos ao longo de nossas trajetórias. Superando a culpa,
tentamos aqui fazer emergir possíveis abordagens ao perceber que, entre coisas e pessoas, há
muito para ser tocado, sentido e, consequentemente, investigado.
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