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Revista Científica da Ano 3 Nº 1 - 1º semestre de 2007 ISSN: 1808 - 5784 Escola de Administração do Exército http://www.esaex.ensino.eb.br Escola de Administração do Exército Revista Científica da Escola de Administração do Exército Ano 3 Nº 1 2007

ISSN: 1808 - 5784 Escola de Administração do Exército

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Revista Científica da

Ano 3 Nº 1 - 1º semestre de 2007

ISSN: 1808 - 5784

Escola de Administração do Exército

http://www.esaex.ensino.eb.br

Escola de Administração do Exército

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Nº 1

2007

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. Todas as informações dos artigoscom autoria declarada são de responsabilidade dos respectivos autores, não representando a opinião da Instituição.

Revista Científica da

Escola de Administração do Exército

Revista Científica da Escola de Administração do Exército. Ano 3 N° 1 (1°

semestre de 2007)- . Salvador: Escola de Administração do Exército, 2007.

v. : il.

Publicação Semestral

ISSN 1808-5784

1. Educação. 2. Gestão. 3. Comunicação Social. 4. Direito.

5.Saúde. I. Escola de Administração do Exército.

Ano 3 N° 1 - 1° semestre de 2007ISSN: 1808-5784

Escola de Administração do Exército – EsAExComandante:

Sub Comandante:Chefe da Divisão de Ensino:

Comissão Editorial

Capa e Editoração Eletrônica:Redação:

Revista digital disponível no site da Escola de Administração do Exército

Coronel Joarez Alves Pereira JúniorCoronel Jorge Gaspar da Silva Filho

Tenente-Coronel Francisco Pinheiro Rodrigues Silva Netto

Francisco Pinheiro Rodrigues Silva Netto/EsAExAry Jorge Basto Brasileiro/EsAEx

José Roberto Pinho de Andrade Lima/EsAExSelma Lúcia de Moura Gonzales/EsAEx

Ana Vera Falcão de Nantua/EsAExCarlos Eduardo Arruda de Souza/EsAEx

Marcos Nalim/UJAMaurício Costa Alves da Silva/UFBA

César Augusto Leiro/UFBA

1º Tenente Carlos Eduardo Arruda de Souza e 1º Tenente Luiz Fernando Sousa da [email protected]

http://www.esaex.ensino.eb.br

Escola de Administração do ExércitoRua Território do Amapá, 455 – Pituba

Salvador - BACEP: 41830-540

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SumárioEditorial

Educação, 5

• Uma Proposta Construtivista de Portal de Ensino: Dispositivos deAprendizagem Coletiva e Individualizante..........................................6Suzana Marly da Costa Magalhães, Márcia Gama de Paula, Vanderléia Alvesde Souza, Maria da Glória Lima Pereira Vernick

• A Utilização de Portais de Ensino Como Ferramenta Complementarno Ensino da Língua Inglesa................................................................28Ana Rita de Ávila Belbute Pares, Fernanda Menna Barreto

Gestão, 41

• Gestão de Conhecimentos: Modelo de Dimensões e Processo deAprendizagem do Curso de Formação de Oficiais da Escola deAdministração do Exército(EsAEx)................................................42Darcilene Auxiliadora Duarte, Luciana de Souza, Rafael Oliveira Marinato

• Comakership: Proposta de Adoção nas Organizações Militares.........57Francisco Martinho de Moura Júnior, Fábio Leandro Sartori Dutra, AlanAnderson Bastos Pimentel

Comunicação Social, 69

• A Importância da Imagem Corporativa e de sua Proteção..............70Gauss Catarinozi Reis, Fernando Gomes Larrondo, Marcus César OliveiraAssis

Direito, 88

• Justiça Militar da União – Alterações na Competência...................89Alexandre Santos de Oliveira, Cirelene Maria da Silva Buta, Izabel Fátima

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Ferreira Mendes

• O Pregão Eletrônico: Análise do Procedimento, Vantagens e AlgunsAspectos Jurídicos..........................................................................103Juliana Patussi Bertou Jeronymo, Matheus Musse Santos

Saúde, 120

• Acompanhamento da Situação Higiênico-Sanitária do Serviço deAprovisionamento da Escola de Administração do Exército(EsAEx)........................................................................................121Luciana Gonçalves Pinto, Marcus Vinícius Ribeiro Machado, Otavio AugustoBrioschi Soares

• Fatores Causadores de Estresse e sua Possível Atuação nos Alunosdo Curso de Formação de Oficiais do Quadro Complementar............136Luciana Ellwanger

Colaborações, 150

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Editorial

O incentivo à busca do conhecimento e oportuna divulgação deste têm sidoum dos pontos do planejamento estratégico da Escola de Administração doExército(EsAEx). Nesta sistemática é lançada a 4a edição da Revista Científica daEsAEx, que traz a público Artigos Científicos elaborados nas diversas áreas deensino de nossa Escola.

Na especialidade Educação, este exemplar contempla estudos nos quaissão discutidos conceitos atinentes a Portal de Ensino, seus modelos deaprendizagem coletiva, com dispositivos e influências construtivistas; destaca,também, ferramentas complementares ao ensino da Língua Inglesa.

Outro enfoque desta edição trata da Gestão do Conhecimento, realçandoa relevância de levantamento de dados e medidas de avaliação na tomada dedecisões relativas à melhoria de processos.

Nas pautas que tratam da Administração ressalta-se a importância dasrelações de parcerias, seus fatores estratégicos, a metodologia de aquisição deprodutos e serviços e a qualidade e eficiência do processo comercial frente àsnormas da administração pública.

Abordando a Comunicação Social como especialidade de promoção dofortalecimento institucional, esta revista contempla estudo sobre planejamento demarketing, a mensuração e a busca da imagem corporativa favorável.

Evidenciando a eficácia do aproveitamento de vários saberes em prol daaprendizagem, o Direito salienta os aspectos jurídicos e a legalidade do PregãoEletrônico, instituto inovador nos processos administrativos.

Ainda na área do Direito, um tema conduz o leitor à reflexão sobre umtrabalho que permeia proposta de emenda constitucional, ao discutir a competênciade julgamentos de punições disciplinares aplicadas aos militares das ForçasArmadas.

Finalizando esta edição, a área de Saúde sinaliza para a situação higiênico-sanitária, conforme Indicadores de Qualidade para os Serviços de Aprovisionamento(IQSA), mediante análises microbiológicas, possibilidades e normatizações,avaliações de fornecedores, verificações de instalações e controle de pessoal,equipamentos e controle ambiental. Aborda, ainda, o Estresse, síndrome multifatorialque eventualmente atinge a vários grupos profissionais, e que nas escolas militares

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poderá ser potencializado, podendo, porém, ser amenizado por meio de estratégiasde enfrentamento.

Com esta publicação, a EsAEx pretende contribuir com a Instituição ExércitoBrasileiro e com outros centros de pesquisas, na dinâmica troca de saberes quecaracteriza o avanço das Ciências e a incessante busca de melhorias de processos.

Francisco Pinheiro Rodrigues Silva NettoTenente-Coronel Chefe da Divisão de Ensino da EsAEx

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Educação

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UMA PROPOSTA CONSTRUTIVISTA DE PORTAL DE ENSINO:DISPOSITIVOS DE APRENDIZAGEM COLETIVA E

INDIVIDUALIZANTESuzana Marly da Costa Magalhães1, Márcia Gama de Paula2, Vanderléia Alves

de Souza3, Maria da Glória Lima Pereira Vernick4

Resumo. O Portal de Ensino é atualmente uma das ferramentas mais utilizadasna área de Informática Educativa. Trata-se de um site especializado na área deEducação, próprio de uma Instituição de Ensino. Ele dispõe de dispositivos dedivulgação da vida escolar, e, eventualmente, de programas de debate (chat), fóruns(depósito temático de arquivos), banco de dúvidas, ferramentas de busca parapesquisa, dentre outros recursos. Neste sentido, este artigo propõe, através deuma pesquisa bibliográfica, um modelo de portal de ensino a partir dos aportesteóricos do Construtivismo (Piaget e Vygotsky). Tal modelo caracteriza o grupo dedispositivos de aprendizagem coletiva (fórum de debates, escrita coletiva de textos,correio eletrônico, dentre outros) e o grupo de dispositivos de aprendizagemindividualizante (ferramentas de busca e hipertexto). Neste trabalho busca-seressaltar as possibilidades mais efetivas de desenvolvimento das capacidadescognitivas e metacognitivas dos educandos a fim de ensejar um melhoraproveitamento desta ferramenta em contextos educacionais. Em suma, se bemutilizado, o Portal de Ensino pode ser uma excelente ferramenta na construção doprocesso ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: Portal de ensino. Capacidades cognitivas e metacognitivas.Construtivismo.

Abstract. The teaching Portal is nowadays one of the most utilised tools in theEducative Computer Science. It is a specialized site in the Educational area.Developed by teaching institutions the Portal offers updated information of the schoollife, and, occasionally, chat softwares, forums (thematic deposit of files), doubtbank, search tools for research, among others. In this sense, this article aims atproposing an alternative model of a teaching Portal in the light of the Constructivismtheoretical bases (Piaget and Vygotsky), characterizing groups of collective learningdevices (debate forums, collective writing, electronic mail and others) and the groupof devices of individualizing learning (search tools and hypertext) regarding theirmore effective possibilities of development of cognitive and metacognitive capacities

1 Bacharelado em Pedagogia.Escola de Administração do Exército (EsAEx), Salvador, [email protected] Bacharelado em Letras/Inglês.Escola de Administração do Exército (EsAEx), Salvador, [email protected] Bacharelado em Administração.Escola de Administração do Exército (EsAEx), Salvador, [email protected] Bacharelado em Pedagogia.Escola de Administração do Exército (EsAEx), Salvador, [email protected].

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in order to propitiate a better utilization of this tool in educational contexts. In short,if well-used, it can be an excellent instrument in the construction of the teaching-learning process.

Keywords: Teaching portal. Cognitive and metacognitive capacities. Construtivism.

1 Introdução

Desde a criação da ARPANET,em 1969 - a primeira rede decomputadores - com o objetivo deinterligar um centro de pesquisas como Departamento de Defesa dos EUA,estabeleceu-se um processo crescentede efetivação da chamada sociedadede informação. Tal fato influenciou omundo do trabalho, a esferaadministrativa, a indústria deentretenimento e, para alguns autores,a própria maneira de o indivíduoaprender e organizar as informações,a saber, o modus operandi dainteligência.

A Revolução Cibernéticainfluenciou também a educação,inicialmente sob a égide docomportamentalismo (Skinner,Watson). Atualmente, é marcante, naárea de Informática Educativa, ainfluência da matriz construtivista(Piaget, Vygotsky, Luria, Leontiev,Wallon), a qual enfatiza o papel ativodo educando no processo de ensino-aprendizagem, a sua capacidade deanálise, síntese, abstração, as

habilidades de resolução deproblemas, de auto-regulaçãocognitiva, dentre outras.

O portal de ensino surge como umadas ferramentas da área de InformáticaEducativa. Bastante difundido nosúltimos dez anos, pode ser entendidocomo um site especializado na área deEducação, próprio de uma instituiçãode ensino, site este que dispõe dedispositivos de divulgação da vidaescolar (notas, eventos, programas dedisciplina, cardápios de cantinas), alémde chats de debate, fóruns (depósitotemático de arquivos), banco dedúvidas, ferramentas de busca parapesquisa, dentre outros. Porém, oportal de ensino tem comumente secentrado na dimensão meramenteinformativa, administrativa epublicitária, em detrimento dosaspectos propriamente educativos eformativos. Neste sentido, este artigotenciona propor um novo modelo deportal de ensino a partir dos aportesteóricos de Piaget e Vygotsky,caracterizando os seus dispositivosmais típicos e o seu potencial efetivode desenvolvimento das capacidades

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cognitivas e metacognitivas doseducandos.

No primeiro item, pretende-seanalisar duas tendências da InformáticaEducativa – o tecnicismo pedagógicoe o paradigma da aprendizagem(Construtivismo e Cognitivismo). Nosegundo, será caracterizada aferramenta portal de ensino.Finalmente, no terceiro item, serãodistinguidos dois grupos de dispo-sitivos próprios do portal de ensino,fundamentando-os em termospsicopedagógicos: de um lado, obanco de dúvida, o chat de bate-papo,o fórum, o correio eletrônico, a escritacoletiva de textos - que se reportam aredes coletivas ou de comunidades deaprendizes, analisadas através dascategorias do Socio-interacionismo, deLev Vygotsky (Zona de Desenvol-vimento Proximal–ZDP; aprendiza-gem social), e do InteracionismoPiagetiano (desequilíbrio e equilibraçãocognitiva); de outro lado, osdispositivos de individualização daaprendizagem - banco de ferramentasde busca, hipertexto – que serãoabordados através da categoria demetacognição, haurida dos aportesteóricos de Piaget e Vygotsky.

2 Tecnicismo e Paradigma daAprendizagem na InformáticaEducativa

Impõe-se hoje a era da informaçãoe da comunicação, com acessocrescente às tecnologias eletrônicas,trazendo mudanças significativas nomodo de viver, no trabalho e naorganização social. Assim,

[...] comportamentos, práticas,informações e saberes se alteram comextrema velocidade. Um saber ampliadoe mutante caracteriza o atual estágio doconhecimento na atualidade. Essasalterações refletem-se sobre astradicionais formas de pensar e fazereducação. Abrir-se para novaseducações – resultantes de mudançasestruturais nas formas de ensinar eaprender possibilitadas pela atualidadetecnológica – é o desafio a ser assumidopor toda a sociedade (KENSKI , 2003,p. 27).

A função primordial da escola é tercomo produto a construção doconhecimento, promovendo o acessoaos saberes e às formas culturais.Neste sentido, não se pode deixar decriar condições, no âmbito escolar,para a apropriação crítica dessa novatecnologia.

Inicialmente, a InformáticaEducativa firmou-se sob a égide dotecnicismo pedagógico, embasado nas

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teorias comportamentalistas, atravésde um modelo de ensino efetivadoatravés de máquinas. Esta idéia foiinicialmente utilizada por Dr. SidneyPressey, em 1924, que inventou umamáquina para corrigir testes de múltiplaescolha. Isto foi posteriormentereelaborado por B. F. Skinner que, noinício de 1950, como professor deHarvard, propôs uma máquina paraensinar - a instrução programada -através de uma técnica decondicionamento de comportamentos.Nessa perspectiva, o processoinstrucional era concebido como umaestruturação do ambiente paramaximizar a aprendizagem de novoscomportamentos.

Na instrução programada, oconteúdo a ser ensinado é dividido empequenos segmentos encadeadoslogicamente, denominados módulos.Cada módulo termina com umaquestão que o aluno deve responder,preenchendo lacunas em branco ouassinalando a resposta correta, dentreoutras alternativas apresentadas. Seacertar, prossegue para o móduloseguinte. Se errar, o computador emitea resposta correta. Conclui-se, então,que a progressão da aprendizagemocorre de modo linear. Esta propostade instrução programada de Skinnerfoi muito utilizada até o início dos anos60, sendo incorporada à Informática

Educativa: a instrução auxiliada porcomputador ou “computer-aidedinstruction” (CAI). No Brasil, estesprogramas eram conhecidos comoProgramas Educacionais porComputador (PEC). No início de1970, a disseminação do CAI nasescolas aconteceu com a introduçãodos microcomputadores, com tutoriais,jogos educativos, simulação,programas de demonstração,exercício-e-prática e avaliação doaprendizado.

Por sua vez, os programas tutoriaiseram uma versão computacional dainstrução programada, com animação,som e a manutenção do controle daperformance do aprendiz, facilitandonão só o processo de administraçãodas lições mas também os possíveisprogramas de aperfeiçoamentodiscente, sem necessidade detreinamento docente e sem umaatividade intelectual intensa por partedo aluno, uma vez que só demandavama leitura de um texto, a resposta a umapergunta de múltipla escolha e acompletação de letras ou palavras.

Nos jogos educacionais, a abor-dagem utilizada era a exploração auto-dirigida, lúdica. Entretanto, o proble-ma dos jogos era a possibilidade dedesvio da atenção do aluno do con-ceito a ser aprendido. Já na simulação,o aluno tinha uma possibilidade maior

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de desenvolvimento de hipóteses, deelaboração de testes, de análise de re-sultados e de construção de concei-tos. Aqui, o computador passava a serutilizado mais como ferramenta do quecomo máquina de ensinar.

Finalmente, em 1976, o paradigmade aprendizagem passou a influenciara área de Informática Educativa,revertendo a hegemonia do paradigmatecnicista. O paradigma daaprendizagem concebe a escola comouma comunidade de aprendizes que,engloba professores e alunos, develhes permitir a elaboração de umamelhor compreensão do mundo, odesenvolvimento de competências e aaquisição de conhecimentos. Numcontexto de interação ativa, configura-se, por excelência, como umapedagogia de rede, de naturezaessencialmente comunitária, onde oprofessor desempenha somente opapel de mediador. Trata-se, outrossim,de uma pedagogia centrada naaprendizagem contextualizada, queparte sempre de situaçõesproblemáticas, de projetos ou daspeculiaridades intelectuais eemocionais do próprio educando(TARDIF, 1998). O paradigma daaprendizagem tem se aproximado, nasúltimas décadas, da Pedagogia Novana sua versão mais atual, agrupandotendências tão diversas como o

construtivismo, o socio-construtivismo,a aprendizagem contextualizada e apsicologia cognitivista.

E no Brasil? O paradigma daaprendizagem começou a substituir otecnicismo na área de InformáticaEducativa, através da iniciativa de umgrupo interdisciplinar, envolvendo pro-fissionais de computação, lingüística epsicologia educacional na Universida-de de Campinas (UNICAMP). Essespesquisadores elaboraram as primei-ras investigações da linguagem LOGO,com a cooperação técnica dosrenomados cientistas internacionaisSeymour Papert e Minsky. É precisoesclarecer que o LOGO é uma lingua-gem de programação desenvolvidapelo professor Seymour Papert, noMassachusetts Institute of Technology(MIT), Boston E.U.A, paraimplementar uma metodologia de en-sino alternativa

[...] do ponto de vista computacional,as características do Logo quecontribuem para que ele seja umalinguagem de programação de fácilassimilação são: exploração deatividades espaciais, fácil terminologiae capacidade de criar novos termos ouprocedimentos. Do ponto de vistapedagógico, o Logo está fundamen-tado no construtivismo piagetiano,propiciando um ambiente deaprendizado onde o conhecimento nãoé passado pronto para o aluno, ele já

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tem mecanismos de aprendizagemantes de entrar para a escola, interagecom os objetos do ambiente,desenvolvendo conceitos, propondoproblemas ou projetos a seremdesenvolvidos através do Logo(VALENTE, 1993, p.13).

Nessa perspectiva, o professor temum papel relevante, propondomudanças no projeto para ajustá-lo aonível cognitivo e aos conhecimentosprévios do aluno, disponibilizandosubsídios e, relacionando os programascom os conteúdos disciplinares. Aqui,torna-se possível a auto-análise dasconcepções e estratégias discentesatravés da linguagem de programação,com o emprego de dispositivos dedetecção do erro e auto-correção.Assim, o uso do LOGO pode secorporificar, no âmbito da InformáticaEducativa, como um modelo de ensino-aprendizagem em moldesconstrutivistas, provocando umatransformação das práticas educativasnas escolas, uma vez que fortalece ouso do computador como ferramentaao invés de uma mera “máquina deensinar”.

Finalmente, em 1973, foi realizadaa 1ª Conferência Nacional deTecnologia Aplicada ao EnsinoSuperior, que se constituiu em umimportante marco, na medida em quese discutiu, pela primeira vez, o uso

efetivo do computador no Brasil.Assim, a informática passou a serprioridade e objeto de medidasprotecionistas. Dez anos mais tarde,o Ministério da Educação (MEC)institucionalizou o campo daInformática Educativa, criandoprogramas especiais. Em 1986, oMEC lançou o Programa de AçãoImediata em Informática na Educação,com o objetivo de propiciar uma infra-estrutura para iniciativas nesta área.Em 1989, houve a Jornada LusoLatino-Americana de Informática naEducação, realizada em Petrópolis(RJ), sendo criada a SociedadeBrasileira de Informática Educativa,iniciando, a partir deste evento, aconstituição de uma comunidadecientífca brasileira neste campo. Houvetambém a criação do PrimeiroPrograma Nacional de InformáticaEducativa (PRONINFE) nas escolas,com o objetivo de realizar pesquisasde desenvolvimento nesta área. Em1997, foi lançado o ProgramaNacional de Informática Educativa(PROINFO) pelo MEC, mobilizandoesforços para a introdução dainformática nas escolas públicas.

Atualmente, há inúmeras iniciativasde utilização escolar do computador.A integração de softwares educativos,da Internet e dos recursos telemáticosao currículo escolar tem propiciado o

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uso do computador como um meio decomunicação, como um fatorestimulador de mudanças deparadigmas, conferindo autonomia aoaluno, ensejando a formação de umcampo de atuação alternativo para oprofessor, efetivando o ensinocolaborativo, com a participação ativade alunos e de professores. Assim, oprocesso ensino-aprendizagem podeser potencializado pela participaçãosocial oportunizada em ambientesvirtuais de interação e colaboração,com a utilização, cada vez maisfreqüente, de trabalhos em grupos eem rede, que incluem mecanismosinterativos em tempo real.

3 Características Principais doPortal de Ensino

Entende-se portal como um site naInternet que contém informaçõesespecíficas destinadas a um públicoalvo. Neste sentido, os portaiseducacionais surgiram visando supriras necessidades da comunidadeescolar. Por apresentarem conteúdosdiversos, tornaram-se instrumentosrelevantes de efetivação dainterdisciplinaridade. Convém aindaacrescentar que o aluno, ao acessar oPortal, pode realizar atividadescomplementares àquelas realizadas emsala de aula. Além disso, os portais de

ensino oferecem uma ampla gama deserviços. Não só proporcionam aoaluno a participação em diversosprojetos escolares, como tambémpossibilitam o contato ágil do alunocom boletins escolares, visando apotencializar o processo de ensino-aprendizagem.

No portal de ensino, são utilizadasvárias ferramentas envolvendo aprodução de sons, imagens estáticas eem movimento, vídeos e muitos outrosdispositivos, possibilitados pelosavanços tecnológicos atuais: oshipertextos, os chats de bate-papo, ocorreio eletrônico, a escrita coletiva detexto e as ferramentas de busca.

Os chats são salas virtuais defuncionamento permanente, as quais,no caso de inserção nos portais deensino, podem ser direcionadas parafinalidades educativas, com amplaspossibilidades de interatividade. Já ocorreio eletrônico é um recurso dainternet que possibilita a troca demensagens entre as pessoas, de formaágil e direta. Para isto, os seus usuáriospossuem um endereço eletrônico (e-mail), através do qual recebem eenviam as mensagens (IAHN, 2001).

A ferramenta de busca é umconjunto de softwares e hardwarescom a finalidade de permitir a pesquisapor assunto, texto, nomes de arquivos.

O hipertexto se caracteriza, em

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primeiro lugar, pela virtualidade: umtexto é disponível em suporte imaterialque só existe quando ativado –procurado, visível na tela docomputador, vinculado a outrosdocumentos, contextualizado, lido,modificado, impresso – pelo utilizador.Outro aspecto do hipertexto é o seucaráter modular, pois é composto deelos de informação semânticos ematerialmente autônomos. O conjuntode elos constitui uma rede não-finita,dinâmica e provisória. O hipertexto secaracteriza, também, pelamultimodalidade, porque se desdobranum espaço multidimensional,disponibiliza as atividades de leitura eescrita dos textos, as imagens e ossons, outros objetos de comunicaçãoverbal e não-verbal, ultrapassando oespaço bidimensional da páginaeletrônica (HUYNH; PLANE, 2000).O hipertexto é, portanto, interativo,pois é infinitamente recomposto emfunção das intervenções de leitores-autores.

4 O Portal de Ensino na PerspectivaConstrutivista: Dispositivos deAprendizagem Coletiva eIndividualizante

4.1 Dispositivos de AprendizagemColetiva e seus FundamentosTeóricos

Os dispositivos típicos deaprendizagem coletiva, da comunidadede aprendizes, são aqueles que sereportam à interação social numcontexo virtual: o chat de bate papo,o fórum de debates, o correioeletrônico, a escrita coletiva de textos.Entretanto, tem-se ignorado adimensão desses dispositivos comouma atividade propriamente educativa,de aprimoramento intelectual,considerando-os somente como umaforma de sociabilidade, deentretenimento, próprios da subculturaetária infanto-juvenil.

Propõe-se aqui o realce daspossibilidades de desenvolvimentocognitivo, através destas ferramentas,que podem ser catalizadas em contextoescolar, se vinculadas a programas detemas ou problemas de naturezainterdisplinar e transdisciplinar. Trata-se de fundamentar os dispositivostípicos da comunidade de aprendizesatravés das categorias piagetianas dedesequilíbrio e equilibração cognitiva

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e da categoria de aprendizagem social,de Lev Vygotsky.

Para Piaget, a equilibração seimpõe como a instância auto-organizadora, de auto-regulação, querealiza a conexão entre a estrutura e oentorno, coordenando internamente asações do sujeito para satisfazer osdesafios do meio. E a auto-regulação funciona através dosprocessos de assimilação e daacomodação, como um recurso deadaptação eficiente ao meio. Maisatuante no início do desenvolvimento,a assimilação seria a tentativa deincorporação dos dados do real aosesquemas prévios do sujeito, enquantoque a acomodação, traduzida como acapacidade de transformação internados esquemas mentais para seadequarem ao meio, seria maisfreqüente em estágios avançados deconhecimento, mediante diferenciaçõese mobilidades crescentes. Nessesentido, a ênfase no processo deacomodação, própria dos estadosintermediários e superiores dedesenvolvimento, implicava a crescentecapacidade de adequação/adaptaçãoao real como instância objetiva. Istoequivalia à conquista de estadoscrescentes de equilíbrio: a harmoniaentre a organização interior e aexperiência externa, ou seja, aconquista da isomorfia entre mente e

real

A perspectiva do indivíduo a respeitodo universo se transforma radicalmente:do egocentrismo integral àobjetividade, que é a lei dessa evolução.(PIAGET, 1996, p. 363).

A busca desta afinação entre amente e a realidade seria acaracterística fundamental daequilibração, como uma tendênciaconstante ao longo do processo dedesenvolvimento cognitivo que, paraPiaget, não se concluía com o adventodo estágio das operações formais, naadolescência, acompanhando oindivíduo por toda a vida. A cada dadofenomenal novo, não assimilado àsestruturas mentais do sujeito, dar-se-ia o desequilíbrio, desencadeando umciclo de reformulações internas(acomodação), com a absorção danovidade e a irrupção de uma novafisionomia das estruturas cognitivas.Daí que a situação ideal para odesenvolvimento cognitivo seja oconfronto com o diferente: comsituações problemáticas, ainda nãoexplicáveis completamente pelo sujeito.

Considera-se que o bom ensinodeve ser o que proporciona condiçõesde desequílibrio, favorecendo autilização de recursos, conceitos eestratégias para resolver problemas.Para Piaget, isto demandava a

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interação social, o contato comopiniões divergentes a respeito de umtema ou problema. A nosso ver, daídecorre a pertinência dos dispositivosde comunidades de aprendizes, deuma rede coletiva de aprendizagem,como o chat de bate-papo, o fórumde debates, o correio eletrônico, aescrita coletiva de textos, seorientados, em contexto escolar,para a aprendizagem de conceitos,procedimentos e valores.

Por outro lado, a categoria deaprendizagem social de Vygotskytambém pode ensejar a fundamentaçãodos dispositivos da comunidade deaprendizes. Para este autor, a interaçãosocial conduz o indivíduo a elaborarnovos instrumentos cognitivos,ensejando, a posteriori, a participaçãoem atividades mais elaboradas e airrupção de processos cognitivos maiscomplexos. Em síntese, é a sinergiaentre o pólo coletivo e intelectual dainteligência que provoca aaprendizagem. Com efeito,experimentos confirmam a tese de quegrupos de indivíduos confrontados a umproblema utilizam estratégiassuperiores às de um indivíduo isolado,e que os progressos podem serapropriados de maneira estável porcada um. Esta apropriação advém seos pontos de vista dos participantes seopõem, criando um debate - um

conflito sócio-cognitivo -, o quepermite ao indivíduo a tomada deconsciência de seu erro e da existênciade soluções alternativas (RUANO-BORBALAN, 1998).

Nesse ponto, é necessário aindaponderar a categoria vygotskiana deZona de Desenvolvimento Proximal(ZDP) para respaldar a tese daaprendizagem social. A ZDP, aoenfocar o hiato entre as capacidadesreais e potenciais, entre o que umindivíduo é capaz de realizar sozinho eo que ele faz com a ajuda de outrem,ajuda a esclarecer a dinâmica dedesenvolvimento, considerando osresultados já obtidos e aqueles em viade aquisição. Desta forma, aaprendizagem social só permite umaverdadeira aprendizagem se se situano interior desta zona.

Nessa perspectiva, os dispositivosda comunidade de aprendizes podemfavorecer o desenvolvimento da ZDPe do desequilíbrio cognitivo atravésdo fomento da interação de sujeitosde diferentes níveis cognitivos pormeio dos dispositivos coletivos doportal de ensino que ensejem trocasde ordem intelectual, orientada pelaescola, entre estudantes de sériesdiversas, professores e indivíduos dacomunidade, de estados, regiões oumesmo de países diferentes.

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4.2 Dispositivos Individualizantese o Desenvolvimento dasHabilidades Metacognitivas

4.2.1 A metacognição no enfoquede Piaget e Vygosky

A problemática da metacogniçãodespontou da constatação de que aliteratura atual de metodologia deensino embasa-se em premissasmetacognitivas, prenunciadas desde osclássicos Vygotsky, Piaget e Bruner.

Nesse sentido, esse capítuloenfoca, primeiramente, uma revisãosobre a categoria de metacognição,resgatando-se a contribuição de Piagete Vygotsky. Após isso, analisar-se-á adimensão metacognitiva dosdispositivos individualizantes do portalde ensino. Portanto, pretende-se, comesse capítulo, contribuir, a partir doenfoque teórico da metacognição,para o redimensionamento de algunsdispositivos do portal de ensino,firmando diretrizes para uma propostade portal de ensino que favoreça osprocessos metacognitivos.

Piaget pode ser considerado omarco fundamental do conceito demetacognição. Com efeito, na teoriapiagetiana de desenvolvimento, as fasesde desenvolvimento se consubstanciamcomo um modo peculiar de resoluçãode problemas, decorrente de uma

configuração estrutural específica, deordem motora, intelectual e afetiva(PERREAUDEAU, 1996). É precisoainda acrescentar que os processosmetacognitivos só se esboçam no finaldo estágio das operações concretas(7-11 anos), firmando-se, com maiornitidez, na fase das operações formais(12 anos em diante).

Aí se delineiam, a partir dasregulações precedentes dopensamento concreto, estruturasdefinidas - classificações, seriações,correspondências, dentre outras -atinentes à organização dos dadosimediatos. A reversibilidade progride,então, no âmbito do operatório formal,quando cada estado é concebido comoresultado de uma transformação,ensejando uma ultrapassagem do realno sentido hipotético-virtual, própriado pensamento abstrato. Estacaracterística está ausente nooperatório-concreto(INHELDER ;PIAGET, 1976).

Portanto, o pensamento, no estágiodas operações formais, acusaria o graumáximo de equilíbrio e, simulta-neamente, a capacidade reflexiva, deobjetivação da estrutura proposicionaldo raciocínio. Na verdade, aabstração, em sua forma mais acabada,apresenta outras dimensões própriasda metacognição: aqui, a represen-tação do real é apartada das impressões

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perceptuais e das ações pessoais dosujeito, que passa a conceber ouniverso como instância sujeita aregularidades objetivas que subjazemà seqüência de transformações damatéria. Com efeito, no operatórioformal, o real prolonga-se na forma dopossível, onde o pensamento nãodemanda a experiência direta paraoperar, libertando-se assim do campoda realidade para atuar no plano dashipóteses, das idéias, a partir dodomínio da linguagem - símboloslinguísticos ou matemáticos(INHELDER; PIAGET, 1976).

Esta aquisição cognitiva apresentaóbvia dimensão metacognitiva, dadoque o indivíduo monitora o processode resolução de problemas, arrolando,de modo sistemático, todas aspossibilidades, na forma proposicional,e objetiva o pensado, concebido comotrama de categorias sujeitas a relaçõesde disjunções, conjunções, exclusões,dentre outras.

Conclui-se que, para Piaget, ametacognição se traduziria comoabstração reflexionante, contraposta àabstração empírica, que se apoiavasobre os objetos físicos e materiais daprópria ação; neste caso, na verdade,não há a pura apreensão dos sentidos,intervindo, efetivamente, nos esquemasconceituais elaborados pelo sujeito. Aabstração reflexionante, no entanto,

denuncia um salto qualitativo, quandose apresenta como tomada deconsciência pelo sujeito - a reflexãosobre reflexão (PIAGET, 1995) .

E Vygotsky? Segundo este autor,pode-se conceber o desenvolvimentodo pensamento como requisito crucialno aprimoramento das capacidadesmetacognitivas. A criança esboça,primeiramente, uma representaçãoimagética dos objetos e eventos,vinculada à organização do campovisual.

As imagens ou grupos sincréticosformam-se como resultado dacontiguidade no tempo ou no espaçodos elementos isolados, ou pelo fatode serem inseridos em alguma outrarelação mais complexa pela percepçãoimediata da criança (VYGOSTKY,1998,p.75).

Este estágio é sucedido pelopensamento por complexos, quedetecta, de forma incipiente, asrelações entre os efeitos, insinuando ascaracterísticas do pensamento coerentee objetivo, embora não ultrapasse asconexões concretas e factuais. Não seatingem as relações lógicas e abstratas,centrando-se nas semelhançasperceptuais. De fato, no pensamentopor complexos, impõe-se a sequênciainstável de critérios de classificação,sem a abstração e a generalização

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próprias do pensamento por conceitos(VYGOSTKY, 1998). E o pseudo-conceito reflete ainda um processoincompleto de internalização dasfunções mentais superiores - aabstração. Convém ressaltar que, àsemelhança da evolução da fala, quese conecta ao desenvolvimento dopensamento, que a catalizaefetivamente, a capacidade deabstração se desdobra em diversosníveis de resolução de problemas, deexpressão oral, de compreensãoverbal, de domínio de leitura e escrita,com grau crescente de complexidade.Na fala, outrossim, progride-se da falaexterior à fala interior através da falaegocêntrica, evoluindo do uso deinstrumentos e da verbalização daspropriedades físicas dos instrumentos;do uso correto das estruturasgramaticais lógicas subjacentes -pseudo-conceitos; da manipulaçãodos signos figurativos e da suavocalização para a realização deoperações mentais (desenhar, contarem voz alta); e, finalmente, até ainteriorização das operações deabstração, na detecção de relaçõesintrínsecas. É o estágio final da falainterior, que denuncia a culminância doprocesso de abstração mental, com apossibilidade de manipulaçãoconsciente de signos linguísticos, queportam conceitos como

representações generalizantes do real.Segundo Vygotsky (1998), a

abstração - ou formação de conceitoscientíficos - apresenta uma dimensãopropriamente metacognitiva, comoatividade de oscilação do particularpara o geral e vice-versa, na fixaçãovoluntária em determinados aspectosdo real, rumo à síntese e simbolizaçãoatravés dos signos, no reconhecimentodas suas conexões com a suacontraparte empírica. Finalmente, oprocesso de gerenciamento desta“oscilação” caracteriza-se por suanatureza metacognitiva, devido àpossibilidade de objetivação daarticulação dos símbolos em suaarquitetura lógica até o refazimento doraciocínio para a resolução eficientedos problemas.

O ensino mais adequado deveria,na verdade, visar à formação daconsciência e ao domínio dos própriospensamentos para gerenciar a suacomplexificação crescente. De fato

O pensamento infantil é não-deliberadoe inconsciente de si próprio. Então,como a criança finalmente atinge aconsciência e o domínio dos seuspróprios pensamentos? (VYGOTSKY,1998, p. 112).

É preciso considerar que odesenvolvimento das funções mentaissuperiores é anterior à consciência e

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ao controle das operações mentais

Para submeter uma função ao controleda volição e do intelecto, temos primeiroque nos apropriar dela (VYGOTSKY,1998, p.113).

E a metacognição se caracterizaprecisamente pelo controle conscientedas operações - posterior à suaaquisição - e que pode ser catalizadopela instrução escolar, através dofomento da introspecção progressiva,no sentido da auto-observaçãoverbalizada dos próprios processosmentais.

O corolário desta perspectivatraduz-se na ênfase da aprendizageme da intervenção do adulto, paraestabelecer situações interativas como intuito de favorecer o planejamentoe a regulação das atividades por partedo educando

[...] as situações mais efetivas daaprendizagem são aquelas em que osalunos são orientados por seusprofessores para facilitar-lhes aaquisição e desenvolvimento de auto-regulação. Quando os estudantesamadurecem, são eles mesmos queinternalizam estas funções,interrogando a si mesmo e avaliandoseus próprios processos cognitivos eos resultados que obtém (MARTÍN &MARCHESI, 1995, p.30).

O ensino formal pode facultar odesenvolvimento das funções mentaissuperiores e, outrossim, do controleexecutor, por enfatizar uma estruturahierárquica de conceitos que ensejama capacidade de discernimento e decomparação, o que pressupõe umaatitude mental de distanciamento - deobjetivação (VYGOTSKY, 1998).Na verdade, os conceitos científicosfavorecem e pressupõem opensamento reflexivo, porque aí aatenção está posta no próprio ato depensamento. Nessa perspectiva, osrudimentos da objetivação esboçam-se a partir dos conceitos científicos,transferindo-se para os conceitoscotidianos, transformando a suaestrutura psicológica de cima parabaixo.

Para concluir, a teoria de Vygotskyrealçou, efetivamente, o caráter auto-regulado, consciente, das funçõesmentais superiores, de procedênciacultural, como constructoorganizacional que se caracteriza pelocontrole executivo e por processosperceptivos auto-reguladores daatenção e da memória. Em termosneuropsicológicos, podem ser descritascomo um dos efeitos dodesenvolvimento de funções do córtexpré-frontal, potencializando acapacidade de auto-modelagem dacognição para se ajustar às demandas

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de diferentes tarefas ou situações.

4.2.2 Implicações pedagógicas dacategoria de metacognição

Quais as implicações dametacognição para a Pedagogia ? Defato, deve-se mencionar a categoria deeducabilidade cognitiva que se impõecomo um novo paradigmaeducacional, ultrapassando asconcepções de adestramento derespostas ou de retenção deconhecimento enciclopédico. Trata-seagora de enfatizar o “aprender aaprender” como fulcro do processo deensino-aprendizagem, enfocando osmodos discentes de apropriação dosaber, sua reflexão sobre as estratégiasde aprendizagem, para desenvolveruma efetiva capacidade deaprendizagem. A educabilidade, naverdade, baseia-se na perfectibibilidade- na convicção do aperfeiçoamentocontínuo do indivíduo (MEIRIEU apudPERRAUDEAU, 1996).

A diretriz da educabilidadefavoreceria, portanto, a emancipaçãodo sujeito, desenvolvendo seupotencial de raciocínio através do tratofreqüente de situações e derepresentações, catalizando a análisecrítica do real e a capacidade deabstração.

A ponderação da dimensão

metacognitiva se impõe na novaabordagem da educabilidade devido àconfluência de diversas teses: a danecessidade do desenvolvimento daconsciência da aprendizagem, dogerenciamento da dimensão emocional,motivacional (domínio conativo) e daponderação dos estilos cognitivos.

O princípio da educabilidadeengendrou diversos métodospedagógicos que englobam asdimensões cognitiva-metacognitiva-conativa, com graus diferenciados deênfase. Pode-se, então, adotar aseguinte classificação de métodos:

1) Os que intervém directamente “nascompetências cognitivas”. Distinguem-se três sub-categorias: os métodoscentrados nas operações mentais (porexemplo, os ARL); os centrados naaprendizagem das condições dopensamento (por exemplo, o métodoRamain); os que se interessam pelaestruturação cognitiva a partir de umsuporte informático;2)Os métodos centrados nascompetências formais e simbólicas,necessárias em situações de raciocínioou de resolução de problemas (porexemplo, os cubos de Mialet);3)Os métodos que visam à autonomiado aluno no seu processo deaprendizagem (por exemplo, a gestãomental);4)Os métodos que facilitam oconhecimento de si mesmo;5)Os métodos que se baseiam nos

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componentes fisiológicos do cérebro(PERRAUDEAU,1996, p.129).

Esboçam-se ainda os métodoscentrados na construção dasoperações mentais, a partir dadesestabilização cognitiva do aluno(HIGILÉ,1991; PAPERT, 1981;PLANCHON, 1989; MIALET, 1990apud PERRAUDEAU,1996); oscentrados nos processos deaprendizagem, para desenvolver acapacidade de abstração e deautonomia do aluno (DUMAZEDIER,1994; LERBET, 1994; GOUZIEN,1994; MEIRIEU, 1989 apudPERRAUDEAU,1996); os centradosna personalidade do aluno, queenfocam os estilos cognitivos(EVÉQUOZ, 1993; RACLER, 1983;BUZAN, 1984 apudPERRAUDEAU,1996); os centradosna ativação cerebral (COTTIN, 1991;WILLIANS 1986 apudPERRAUDEAU,1996).

Conclui-se que a searametacognitiva embasa as diretrizesprecípuas do Princípio daEducabilidade, que se impõe comoparadigma pedagógico no século XXI,apostando no desenvolvimento dacapacidade de aprendizagem - doaprender a aprender - em detrimentoda incorporação passiva de conteúdos.Daí a necessidade de elaboração de

pesquisas que contemplem o fomentodas estratégias metacognitivas emdiferentes contextos de aprendizagem,o que inclui uma das ferramentas maisinfluentes da pedagogia contem-porânea: a Informática Educativa.

4.2.3 A abordagem metacognitiva do portal de ensino: o caso dosdispositivos de individualização daaprendizagem

Pode-se definir dispositivo virtualde individualização da aprendizagemcomo um recurso de acesso individuala um ambiente educativo intranet.Deve-se ressaltar o caráterindividualizante desses dispositivos,uma vez que as possibilidades denavegação são múltiplas e altamentedependentes das característicascognitivas estáveis e conhecimentosprévios do educando, tais como a suamemória de trabalho.

É o caso do banco de ferramentasde busca e do hipertexto, quemobilizam competências cognitivas emetacognitivas avançadas no âmbitoda leitura e da escrita. Trata-se aquide examinar o impacto desses recursosnão-lineares nos processos mentais.Supõe-se que um dos seus efeitos seriao desenvolvimento das capacidades decompreensão e de auto-regulação(metacognição).

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Enquanto atividade psicológica, acompreensão, envolvida na lide dohipertexto e da ferramenta de busca,exige processos complexos e dediversos níveis: a identificação depalavras e das estruturas sintáticas, aelaboração de significações a um nívellocal e global. Neste sentido, acompreensão textual, no acesso a estasferramentas virtuais, envolve umaintensificação do processo decompreensão-integração próprio àatividade de leitura e escrita: a partirdas informações literais dos textosvirtuais em rede, o leitor constróiunidades elementares de significação,conceitos e proposições semânticas.Desta forma, o educando as integraem uma trama no qual intervêmconhecimentos ativados de forma ágile descontrolada. Rapidamente, o jogode ativações e inibições semânticasenseja a desativação da maior parte dasidéias não-pertinentes ou deimportância insuficiente. O resultadoseria um modelo de situação textual coerente e hierarquizado (HUYNH;PLANE, 2000).

Este processo demanda umconsiderável controle estratégico,metacognitivo do sujeito, devido aofato de a leitura virtual envolver umapluralidade de fontes textuais, deextensão variável: o leitor tem que fazera triagem entre as informações

importantes e irrelevantes em funçãodos seus objetivos, da estrutura dostextos e das exigências da situação.Esta necessidade de controleestratégico é evidente desde que sesitue a leitura num contexto funcional,como, por exemplo, a pesquisa dedados para um dado tema ou problema.A importância de uma fonte seriadeterminada em função de suapertinência. Da mesma maneira, textose parágrafos seriam retidos na medidada sua contribuição ao tema tratado,que também pode evoluir durante ainvestigação.

Neste caso, distinguem-se osprocessos cognitivos, que concernemao tratamento direto da informação,dos processos metacognitivos, queconcernem ao modo deprocessamento da informação. Numnível mais global, a metacogniçãointervém na capacidade da criança deler de forma mais estratégica. Assim,os indivíduos com dificuldades deleitura não conseguem perceberincoerências em um texto, elaborandointerpretações focadas e literais semexercer um controle ativo sobre asrepresentações que eles constroem:eles se engajam menosespontaneamente nas atividades deregulação metacognitiva dacompreensão tais como parar, reler,problematizar, consultar um dicionário.

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Esta distinção entre cognição emetacognição é essencial paracompreender por que os sistemashipertextuais exigem muito mais acatalização de habilidadesmetacognitivas do que os suportestradicionais da escrita. Com efeito, umdos princípios fundadores doshipertextos vem a ser a oferta de umaalternativa à organização linear,supostamente constritiva, centrada nacorrespondência entre a ordem daspáginas e a estrutura enunciativaprópria dos textos impressos. No caso,o hipertexto se caracteriza como umsistema informacional em redetotalmente permutável, vinculado a umsem número de associações de idéias,e, portanto, fluido e mutante, a partirde referências semânticas fixas – aspalavras-chave.

Desta forma, poder-se-iafavorecer um raciocínio não linear eflexível no educando desde que seensejasse, ao mesmo tempo, odesenvolvimento das estratégiasmetacognitivas para superar osfenômenos da desorientação esobrecarga cognitiva próprios dohipertextos... O educando pode aísoçobrar sem reter nada de substancialdevido a uma inadequação entre aferramenta, a tarefa e o utilizador(HUYNH; PLANE, 2000).

A solução deve ser a vinculação

entre o uso dos hipertextos e apreocupação com o desenvolvimentodas habilidades metacognitivas. Defato, a pesquisa de numerosas páginasconsiderando o conteúdo, desco-brindo novas associações, retornandoa uma página já consultada, tudo issorequer intensa motivação do leitor esólidas capacidades de gestãometacognitivas, condições raramentepreenchidas pelo educandos em idadeescolar e mesmo por grande parte dopúblico universitário. Para eles, seriapertinente a pré-estruturação daatividade para minimizar adesorientação e a sobrecarga cognitiva.Uma técnica promissora de naturezametacognitiva vem a ser o planejamentoda atividade de pesquisa através douso de uma cadeia de palavras-chave.

Por outro lado, algumas diretrizesdeveriam reger a configuração dohipertexto, tais como a presença de umplano de marcadores virtuais quecompilasse todas as cadeias de temasdisponíveis a que o pesquisador podese remeter; ou uma relaçãoproporcional entre a amplidão e aprofundidade da cadeia deinformações.

Para concluir, é preciso ressaltar ofato de que os dispositivoshipertextuais disponibilizam umaquantidade imensa de informaçõessobre os assuntos mais variados, o que

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pode só gerar ruído cognitivo, umverdadeiro caos informacional. Paraque o aluno elabore conhecimentos apartir de tais sistemas, convém que eleaprenda a tratar a informação de modoaprofundado e metódico. Nestesentido, o acesso à informaçãoobedece aos mesmos princípios dosdocumentos impressos, mas com umadose suplementar de gestãometacognitiva para que o educando seoriente, faça escolhas, retorne ao pontode partida, integre fontes múltiplas deinformação. Estas competênciasmetacognitivas devem ser objeto deuma aprendizagem sistemática naescola, através precisamente do usodos recursos hipertextuais.

5 Conclusão

A Informática Educativa foiconsiderada inicialmente como umapanacéia para as mazelas educacionais.No Brasil, desde a década de 80,impôs-se este gênero de expectativascomo se a mera introdução docomputador pudesse sanar asdeficiências de ordem quantitativa equalitativa da escola brasileira. Arealidade, porém, foi bem outra: após20 anos de difusão, a InformáticaEducativa permaneceu como umapêndice desvinculado da didáticacorrente nas salas de aula, dos

planejamentos curriculares, semefetivar o que Seymour Papertchamava de uma revolução sur nosmodes de pensée et d’apprendre(PAPERT, 1980, p.13).

De fato, o problema está nautilização do computador, quasesempre nas mãos dos técnicos deinformática, desconhecedores dapedagogia e das áreas disciplinaresescolares, e no estranhamento dosprofessores em relação àspossibilidades do computador dedesenvolvimento do processo deensino-aprendizagem. Desta forma, oemprego escolar do computador sóensejou a sua utilização comoentretenimento, como forma desociabilidade, em detrimento dofavorecimento da aprendizagemcriteriosa de conteúdos, procedimentose valores, que é o apanágio dainstituição escolar.

Portanto, em face do empregoinadequado do computador emcontexto escolar e da precáriafundamentação psicopedagógica daspráticas de Informática Educativa,propôs-se aqui o modelo alternativo deuma ferramenta atualmente muitoutilizada nas escolas – o portal deensino.

Foram selecionados dois grupos dedispositivos de aprendizagem coletivae individualizante. Foi caracterizado o

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seu impacto no desenvolvimentocognitivo e metacognitivo doseducandos, se corretamenteorientados. Para tal, utilizaram-se ascategorias do Interacionismo e Sócio-Interacionismo (Equilibração, desequi-líbrio cognitivo, ZDP, metacognição eaprendizagem social).

Apesar da abordagem nãoexaustiva dos dispositivoshabitualmente empregados naferramenta portal de ensino, considera-se que esta pesquisa pode ensejar ainvestigação de resultados e aotimização do portal de ensino emcontexto educacional.

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A UTILIZAÇÃO DE PORTAIS DE ENSINO COMO FERRAMENTACOMPLEMENTAR NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

Ana Rita de Ávila Belbute Peres1, Fernanda Menna Barreto2

Resumo. O presente artigo tem como objetivo apresentar uma discussão a respeitodo uso de portais como ferramenta auxiliar no ensino de língua inglesa. Inicialmente,é apresentado um resumo das principais metodologias de ensino de inglês, seguidode um breve histórico sobre a relação entre tecnologias e o ensino de línguaestrangeira. O tema portais de ensino e alguns aspectos mais relevantes no quetange ao conteúdo de portais de ensino de inglês é abordado posteriormente. Otexto finaliza com uma discussão sobre as vantagens da utilização dos portaiscomo uma das ferramentas mais adequadas à situação do aluno atual e ao contextoinformativo vigente.

Palavras-chave: Informática educativa. Portais de ensino. Ensino de língua ingle-sa.

Abstract. This article aims at presenting a discussion on the use of learning portalsas a complementary tool for EFL (English as Foreign Language) teaching. Firstly,a review of the main methodologies in EFL teaching and a brief report on therelationship between technology and foreign language teaching are presented. Thetopic portal and a discussion on the most relevant aspects concerning the contentof EFL portals are also approached. The paper is concluded with a discussion onthe advantages on the utilization of teaching portals as the most adequate tool forthe today’s students and the current technological environment.

Keywords: Computer assisted language learning. Teaching portals. EFL teaching.

1 Introdução

Ao longo dos tempos, a tecnologiatem influenciado o homem e provoca-do mudanças sociais e culturais funda-mentais. Na educação, o advento denovas tecnologias de informação e co-municação tem proporcionado diver-1 Bacharelado em Letras/Inglês. Escola de Administração do Exército (EsAEx), Salvador, [email protected] .2 Mestrado em Lingüística aplicada. Escola de Administração do Exército (EsAEx). Salvador, Brasil. [email protected] .

sas formas de ensino-aprendizagemseja na forma de auto-educação, sejana educação a distância. Esse novo ce-nário ampliou o espectro de oportuni-dades de ensino para todas as idades

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Cada vez mais jovens e adultos exigemmaior variedade de canais deaprendizagem, num sistema de múltiplasescolhas, e em suas próprias casas(PENHA , 2001).

No que se refere ao ensino deLíngua Estrangeira, a necessidade decanais diversificados parece ser aindamaior. Mais especificamente, alinguagem se dá em diversas esferas, asaber, a fala, a escrita, a compreensãoe a produção. Conseqüentemente, oaluno precisa transitar em todos essesâmbitos para que ocorra a aquisição.Normalmente isso nem sempre épossível em sala de aula.

Para tanto, a Internet tem sidoconsiderada uma importanteferramenta pedagógica para o ensino-aprendizagem de língua estrangeira.Com informações atualizadas emcontextos mais atraentes para o aluno,a Internet oferece maioresoportunidades de interação do alunocom a língua-alvo e complementaçãoextraclasse do conteúdo trabalhado emsala de aula.

Este artigo apresenta, inicialmente,uma breve discussão sobre as correntesteóricas que tratam da aquisição delíngua estrangeira, aqui denominada L2.A seguir, sumariza o desenvolvimentohistórico e a utilização das tecnologiasque mais impactaram o ensino de L2.

Para finalizar, é apresentada umadiscussão à cerca das vantagens e dosaspectos mais relevantes associados àutilização de portais de ensino comoferramenta complementar dasatividades desenvolvidas em sala deaula.

2 O Ensino de Língua Inglesa:Principais Metodologias

O ensino de língua moderna, emespecial o ensino da língua inglesa, éfoco de estudo por mais de um século.Entre modismos e metodologias querevolucionaram o ensino, as variadasabordagens trouxeram muitosenriquecimentos ao ensino de línguas.Segundo Brown (2001), a metodologiaatual tende a ser menos restritiva e maisunificada e compreensiva. Entenda-seo termo ‘abordagem’ou ‘metodologia’aos moldes de Brown (2001), que osdescreve como práticas pedagógicasem geral além de quaisquerconsiderações que tratem de “comoensinar”.

Segundo Larsen-Freman (1986) eBrown (2001), diversas abordagens3

relevantes de ensino colaboram paraestruturar um referencial histórico doensino de línguas; entre elas sedestacam:

3 Algumas abordagens terão suas denominações mantidas em inglês, tendo em vista que a tradução destes termos pode gerar ambigüidades.

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(a) “The Grammar translation method”– considerado o método clássico, foiutilizado por vários séculos. Nessaabordagem, o estudo de uma línguaestrangeira era relacionado ao estudode Latim ou de Grego na memorizaçãode declinações e conjugações, natradução de textos e na prática deexercícios escritos. Essa metodologiatem por objetivo analisar e estudar asregras gramaticais da língua. A práticase dá através da manipulação dasregras e através de traduções. Nessesentido, o objetivo de aprender umalíngua estrangeira é o de ser capaz decompreender a literatura nessa língua.Acredita-se que o estudo de umalíngua estrangeira oferece um bomexercício para a mente. Em outraspalavras, para este método, se o alunoconsegue traduzir de uma língua paraoutra, ele aprendeu a língua; assim, ahabilidade de se comunicar não é oobjetivo desse método. As habilidadesprimárias desenvolvidas são a leitura ea escrita. O professor é a autoridade ehá pouca interação professor- aluno.(b) Modelo Audiolingual - oaudiolingualismo estava em voga nadécada de 1960, mas sumiu logo apóso famoso ataque de Chomsky4 aobehaviorismo no aprendizado delínguas. A abordagem audiolingual é

baseada na teoria behaviorista deaprendizagem que assume que a língua,assim como outros aspectos daatividade cognitiva humana, é umaforma de comportamento. Nessadireção, o aprendizado de línguaocorre através da repetição decomportamentos. O objetivo éaprender a se comunicar através daautomoticidade. O aprendizado dalíngua é um processo de formação dehábitos , logo erros levam à formaçãode hábitos incorretos. O objetivoprincipal é a aquisição de aspectosestruturais da língua, não de regrasgramaticais.(c) “Community Language Learning”-Charles A. Curran desenvolveu estemétodo baseado na PsicologiaHumanista de Carl Rogers, quesempre acreditou que os adultos sesentem ameaçados em situações deaprendizado. Segundo Curran, oprofessor deve ser um conselheirolingüístico, uma vez que o aprendiz éum somatório de sentimentos, intelecto,instintos e reações. Portanto, oprofessor deve estar atento ao nível deconfiança e segurança do aluno paraseguir adiante.(d) “Silent Way” - A abordagem SilentWay surgiu no início dos anos 1970 etinha como princípios a idéia de que

4 Noam Chomsky é um importante lingüista americano que introduziu inatismo nos estudos da Lingüística na década de 1950, e revolucionoutodos os estudos de aquisição da linguagem.

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aprendizado é facilitado se o aprendizdescobre, ao invés de lembrar ourepetir. Segundo essa abordagem, oaprendizado é auxiliado por objetosfísicos e a resolução de problemas écentral para o ensino. O uso da palavra‘silêncio’ também é significativo nessaabordagem , tendo em vista que aabordagem assume que o professordeve fazer o máximo de silênciopossível na sala de aula para que osalunos se sintam encorajados a produzirna língua-alvo.(e) “Task- Based Approach” - oobjetivo desta metodologia é o deoferecer ao aluno um contexto naturalpara o uso da língua. O aprendizadona forma de tarefa é apresentadoatravés da negociação de problemasentre o conhecimento já existente e onovo conhecimento. É tipicamentedividido em três estágios. No primeiroestágio, o professor introduz e defineo tópico e os alunos são inseridos ematividades que os auxiliem a lembrarde palavras e frases que serão úteispara a execução da tarefa. A seguir,os alunos executam a tarefadeterminada em grupos ou pares.Então, preparam um relatório para asala reportando como realizaram aatividade e quais conclusõesalcançaram. Finalmente, apresentam osachados para a turma na forma escritaou falada. No estágio final, o foco é na

língua. Estruturas específicas da línguaque foram utilizadas nas tarefas sãodestacadas e trabalhadas.(f) Abordagem Comunicativa - estaabordagem enfatiza a competênciacomunicativa como objetivo principalna aquisição de uma língua. Faz uso,sempre que possível, de materialautêntico. O aluno deve teroportunidade de expressar suas idéiase opiniões . Os erros, nestaabordagem, são vistos como parte doaprendizado e do desenvolvimento dashabilidades comunicativas. A língua alvoé instrumento de comunicação em salade aula e não somente objeto deestudo. Atividades que são realmentecomunicativas exigem preenchimentode informação, escolha e feedback.Aprender a usar formas lingüísticasadequadamente é uma parte importantena competência comunicativa.

As abordagens acima relacionadasmostram uma preocupação com aforma com que o conteúdo étransmitido ao aluno ao longo dotempo, além de revelar as mudançasde rumos no ensino de línguas,originárias de estudos não somenteligados à área da Aquisição daLinguagem, mas também á área daPsicologia, da Pedagogia entre outras.Com a introdução de tecnologias nomeio escolar, a relação informática e

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ensino tem sido discutida com vistas atrazer melhoramentos para a sala deaula.

3 Tecnologia e Língua Estrangeira– Um Breve Histórico

Há algum tempo, a tecnologia e oensino de língua estrangeira andam demãos dadas. Segundo Warschauer eHealey (1998), a evolução do uso decomputadores associada ao ensino delínguas é conseqüência de dois fatoresassociados: a emergência de diferentesabordagens de ensino de L2 a partirda década de 50 e a evolução datecnologia, com a conseqüenteamplificação do acesso da populaçãoocidental ao computador. De acordocom esses autores, a aprendizagem delíngua estrangeira auxiliada porcomputador foi modificando-se emfunção das diferentes abordagens quese utilizaram das tecnologias como suasferramentas e ganhando papéis efunções específicas.

A aprendizagem de línguasauxiliada por computador, chamada deCALL (do inglês, Computer-AidedLanguage Learning), surge já nasdécadas de 50 e 60 nas universidadesnorte-americanas. O ensino tradicionalem sala de aula deu lugar a laboratóriosde linguagem – equipados comcabines, gravadores, microfones e

fones de ouvido. As atividades nesseslaboratórios eram basicamentecentradas em padrões decomportamento estímulo-resposta.Acreditava-se, na época, que quantomaior a carga de exercícios derepetições, mais rápido seria oaprendizado. O computador era umaespécie de “tutor mecânico”incansável que fornecia aos alunosoportunidades de repetirem asestruturas gramaticais da língua-alvosem emitir julgamentos. Apesar derepresentarem o primeiro passo deintegração entre tecnologia e ensino delíngua estrangeira, as atividadesdesenvolvidas nesses laboratórios eramtediosas e desinteressantes para osalunos. A interação professor/aluno eramínima, sem contar as deficiênciaspedagógicas e as falhas constantes doequipamento. Além disso, asatividades desenvolvidas noslaboratórios se limitavam a fornecersomente input auditivo. Essa primeirafase foi denominada CALLBehaviorista ou comportamental.

A segunda fase, chamada de CALLComunicativo, surgiu com o declíniodas teorias behavioristas de ensino-aprendizagem, nas décadas de 70 e 80,e com a emergência da AbordagemComunicativa na aquisição de línguaestrangeira. Nessa abordagem ocomputador deixa de ser o tutor e

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torna-se uma ferramenta deaprendizagem que focalizava muitomais os usos da língua-alvo do quesuas formas gramaticais. Ocomputador deixava de ser um meioque fornecia input ao aluno, mas umaferramenta capaz de promover o usoe a compreensão da língua-alvo.

Warschauer e Healey (1998)salientam que no início da década de90 houve uma reavaliação do CALLComunicativo, juntamente com umavanço nos estudos da abordagemcomunicativa de ensino de línguaestrangeira, que passava a aceitar umavisão sócio-cognitiva, com maiorênfase no uso da língua-alvo emcontextos mais autênticos.

Concomitantemente a essasmudanças, surgiam os meios multimídiae as grandes redes de computadores,em especial a Internet. Em meio a essenovo cenário, o computador passou afornecer um ambiente onde o alunoutiliza várias ferramentas tecnológicasem um processo de aprendizagemcontínuo. Em vez de um laboratóriocom atividades auditivas, o aluno tema oportunidade de ler, ver imagens eouvir, tudo ao mesmo tempo, tanto emsala de aula, quanto em casa.

No Brasil, o ensino de línguaestrangeira auxiliado por computadorteve seu início bem mais tarde, no finalda década de 90, e limitou-se

basicamente a escolas particulares deensino de idiomas, que podiam arcarcom os custos inerentes a essaabordagem. Na escola pública, oensino de língua estrangeira aindaencontra-se limitado à sala de aula ecentrado na figura do professor e dolivro didático.

4 A Relação Professor, Aluno e aInternet

A entrada da Internet como novoambiente de ensino implica a mudançaqualitativa nos processos deaprendizagem e não à simplestransferência de conteúdos tradicionaispara formatos de hipertexto.

A Internet trouxe uma nova formade aquisição do conhecimento namedida em que exige do alunoaprender a aprender , a manipular oconhecimento ilimitado que lhe éoferecido. Surge um novo perfil dealuno que , conforme Levy (1999),tolera cada vez menos seguir umaforma de ensino tradicional e rígida eque não corresponda às suasnecessidades reais, que são tãomutáveis como o é o conhecimentocontemporâneo .

O aluno deve estar consciente desua responsabilidade ao fazer uso dessaferramenta, pois suas escolhas atravésdo sistema determinarão o acesso a

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conhecimentos mais ou menosrelevantes para si.

Neste novo contexto, o professordeve incorporar um perfil diferenciado,pois não representa mais o detentor dosaber e o principal fornecedor deinformação. O acesso ao conhecimentofacilitado pela Internet faz com que,em uma simples pesquisa pela rede, oaluno tenha acesso a uma quantidadede informação muito maior do que aque o professor possui ou possatransmitir em sala de aula. Contudo,essa nova relação que se estabelecenão torna o professor uma figurasupérflua na sala de aula, mas lheatribui um novo papel: o de facilitadorda atividade de aprender.

Mais especificamente, o professordeve estar confortável com esta novarelação professor-aluno-computadorem que o aluno, muitas vezes, é odetentor do expertise (BUZATTO,2001).

O professor deve estar preparadopara ensinar o aluno a lidar com essasobrecarga de conhecimento e, alémdisso, saber como manipulá-lainteligentemente. Para tanto, oprofessor pode lançar mão detecnologias diferenciadas que oauxiliem a trabalhar com a constanteinovação do conhecimento, a saber: ossoftwares, a própria Internet e, maisrecentemente, os portais de ensino. Os

softwares oferecem acesso aoconteúdo de ensino de forma muitosimilar à Internet, porém com umadependência físico-temporaldeterminada pelo espaço disponível nodisco e o momento da gravação doconteúdo. Ou seja, os softwares trazemum tipo de informação que, por maisatualizada que seja, ainda é estanque,pois é dependente do espaço físico doprograma. De acordo com Weininger(1996), o uso produtivo da Internetpara fins educativos é imenso e seulimite é apenas a imaginação e acriatividade de professores e alunosque a utilizam. Dentre as diversasformas de tirar proveito da Internet emprol da educação está o Portal deEnsino. Os portais de ensino podemse tornar ferramentas úteis para odirecionamento do aluno para um rolde conteúdos mais relevantes às suasnecessidades, de forma mais dinâmicae atualizada.

5 A Internet e os Portais de Ensino

Os portais de ensino são ambientesde aprendizagem que oferecem aoaluno a oportunidade de auto-instruçãofora da sala de aula. As atividades dosportais de ensino podem serescolhidas pelos professores de acordocom os currículos e objetivos a seremseguidos.

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Apesar de complementarem oconteúdo ministrado em sala de aula,os portais, em sua maioria, nãofornecem um ambiente criativo edinâmico como a abordagemcomunicativa exige.

No Brasil, os portais de idiomasdisponibilizados na Internet são empequeno número, restringindo-se acursos de idiomas particulares. Onúmero de escolas que oferece essetipo de atividade a seus alunos émuitíssimo limitado, senão nulo. Muitossítios não são portais propriamenteditos, mas uma compilação de atalhospara outras páginas que fornecem“dicas” para professores e alunos.

Isso ocorre devido ao fato de queuma grande parcela das escolas aindasão ambientes burocratizados,resistentes às mudanças e às inovações,principalmente no que tange àtecnologia.

A situação é diferente em outrospaíses. Muitas universidades e escolasde idiomas oferecem portais de ensinoou sítios bastante desenvolvidos, cominúmeras atividades e com amploespectro de ferramentas de tecnologiasda informação.

Outro aspecto problemático noBrasil é o fato de os professores nãoestarem preparados para o uso docomputador, ou seja, segundo Buzato(2001), há uma falta de letramento

eletrônico. Segundo este autor, oletramento eletrônico inclui oconhecimento e as habilidadesnecessárias para usufruir da eraeletrônica e seus dispositivos. Éimportante salientar que o letramentoeletrônico não deve ser entendido comouma habilidade particular de pessoasmuito inteligentes, muito jovens ou comtalento especial. O fator determinantepara a aquisição do letramentoeletrônico, que torna o indivíduo hábila lidar com computadores, é aexposição a práticas coletivas etutoriais, ou seja, a vivência prática dosujeito e não sua idade ou nível dedesenvolvimento intelectual.

O letramento eletrônico não deve,pois, ser um empecilho ao uso detecnologias, mas um estímulo deaprimoramento não só paraprofessores de língua estrangeira, maspara educadores em geral.

6 Portais de Ensino de L2

Os portais de ensino de línguainglesa variam em formato e conteúdooferecido, de acordo com os interessesde seus mantenedores e recursosdisponíveis para sua operação. Muitaspáginas não são propriamente portais,resumindo-se a sítios com atalhos aoutros relacionados. Um estudo deKrajka (2002) apresenta um quadro

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comparativo com os principaisaspectos encontrados em portais deensino de língua estrangeira.

6.1 Casos-Modelo Internacionais

6.1.1 Dave’s ESL Café (http://www.eslcafe.com/)

O autor, Dave Sperling, é um dospioneiros do uso da Internet comoauxílio no ensino de língua inglesa paraestrangeiros. Professores podemacessar programas do tipo CALL,atividades, jogos e fóruns. Já paraestudantes, há atalhos para salas debate-papo, resenhas de cinema equizzes5.

6.1.2 A4ESL.ORG (http://a4esl.org/)

Este portal é parte de um projetoconhecido por muitos professorescomo The Internet TESL Journal.Com mais de 1000 atividadesdirecionadas a estudantes de Inglêscomo Língua Estrangeira, o foco desseportal está basicamente centrado emquizzes interativos (os estudantesrecebem uma avaliação dedesempenho) e na autonomia do aluno.O portal apresenta exercícios degramática e vocabulário e aceitacontribuições de professores de todas

as partes do mundo.

6.2 Casos-Modelo no Brasil

6 . 2 . 1 E x t r a - l e a r n i n g ( h t t p : / /www.icbna.com.br/)

Pioneiro entre os CentrosBinacionais, o ICBNA, InstitutoCultural Brasileiro Norte Americano,lançou o projeto extra-learning, quefornece aos alunos um portal comexercícios complementares, “dicas” epossibilidade de interação com osprofessores. Os alunos recebem umcódigo e uma senha de acesso para oportal.

6.2.2 House of English (http://www.houseofenglish.com.br/)

É o portal da Escola de IdiomasYazigi. Esse espaço visa a aperfeiçoara compreensão auditiva, a escrita, ovocabulário e a gramática. O portaltambém permite que o professormonitore e acompanhe as atividadesdos alunos.

5 Exercícios de perguntas e resposta geralmente realizados para verificação da aprendizagem.

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7 Discussão

Com base no estudo desenvolvidopor Krajka (2002), será realizada umadiscussão com o objetivo de destacaralguns aspectos relevantes no que tangeao conteúdo apresentado nos portaisde ensino. Em seu trabalho, o autorelencou diversos itens consideradospor ele como fundamentais em umportal de língua estrangeira, entre eles:apresentação geral, conteúdo, links,funções orientadas ao aluno e aoprofessor e tópicos de ajuda.

O item conteúdo será aquienfatizado, pois trata maisespecificamente de aspectosrelacionados à língua e aodesenvolvimento das habilidades daL2. Dentre os aspectos apresentadospelo o autor, foram selecionadosaqueles que mais contribuem para anatureza “complementar” do portal deensino. O termo complementar aqui serefere à utilização do portal comoferramenta auxiliar ao conteúdoministrado em sala de aula.

(a) Atividades de compreensão auditiva- esse tipo de atividade nem sempre éviável em sala de aula devido aquestões como falta de tempo e númeroexcessivo de alunos em sala. Por outrolado, o acesso a esse tipo de atividadefornece ao aluno atividades quantitativa

e qualitativamente superiores, namedida em que pode ouvir e repetirquantas vezes for necessário para suacompreensão e percepção.(b) Material escrito originalmente nalíngua-alvo – o livro texto utilizado emsala de aula não oferece oportunidadedo aluno entrar em contato comcontextos reais na língua em processode aprendizado. A diferença entre omaterial autêntico e o livro texto resideem que o primeiro foi desenvolvidocom o objetivo de expressar umamensagem ao leitor; já o textoencontrado na maioria dos livrosdestina-se a um determinado fimdidático e, por isso, é limitado emvocabulário, tempos verbais eexpressões.(c) Textos com links para dicionário -Com esse recurso disponível, o alunotem acesso a vários dicionários e podesanar suas dúvidas instantaneamente.Em sala de aula, o acesso a dicionáriosé bastante restrito devido ao tempolimitado ou,muitas vezes, à falta derecursos das escolas para aquisiçãodesses materiais.(d) Quizzes interativos auto-orientados- quando o aluno estuda sozinho, ele éo gerente de seu aprendizado, cabe aele escolher o que vai aprender e qualo melhor caminho a seguir. Asatividades auto-orientadas, quandoplanejadas pelo professor, fornecem ao

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aluno subsídios para que ele possaexecutar a atividade e receber,rapidamente, o retorno de seuaprendizado, o que nem sempre épossível em sala.(e) Prática de pronúncia – A percepçãopor parte do aluno de sons da línguaestrangeira é um aspecto bemproblemático, uma vez que a tendênciade todo aprendiz é a de perceber ossons desconhecidos como sonssemelhantes aos da língua materna. Porisso, atenção especial à distinção entreos sons da língua materna e da L2requer tempo e atenção do aluno, oque, geralmente, não é possível em salade aula, pois o aspecto de pronúnciarecebe pouca ênfase por parte doprofessor.(f) Notícias atualizadas - O livro textopor sua natureza é um tanto estático;além de normalmente ser utilizado poralguns anos, contém muita informaçãodesatualizada, o que gera desinteressepor parte do aluno. Já em um portal, afacilidade de inserção de informaçõespermite que o aluno tenha acesso atextos mais atualizados e,conseqüentemente, mais significativospara o momento que o aluno estávivenciando.(g) Atividades de produção oral comosalas de bate-papo e fóruns - Dentreas possibilidades que um portaloferece, essas atividades são as que

apresentam um apelo maior junto aosalunos. Ao invés de situaçõessimuladas, o aluno estará conversandona língua-alvo em situação real com apossibilidade de decidir o queconversar, em que sala de bate-papodeseja entrar, o tema que escolher, e,em alguns casos, podendo serorientado por professores on-line.

É importante salientar que não sepretende aqui diminuir o papel doensino em sala de aula. Entretanto, éuma realidade o curto espaço de tempodestinado ao ensino de línguaestrangeira no currículo escolarbrasileiro, assim como a falta derecursos que auxiliem os professoresa desenvolverem as quatro habilidadesnecessárias para aquisição da L2.

Com base nos itens apresentados,é possível afirmar que o portal deensino é uma ferramenta complementarao ensino presencial em sala de aula,pois oferece uma série deoportunidades do aluno entrar emcontato com a língua estrangeira deformas diferenciadas.

Sabe-se, também, que a criação emanutenção de um portal não é umatarefa fácil, porém já existem bonsexemplos – como aqueles mencionadosna seção anterior – que podem serindicados pelos professores ou atémesmo por eles utilizados com o intuito

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de constante atualização eaprendizado.

8 Considerações Finais

Este trabalho procurou discutir arelação entre tecnologia e educação,mais especificamente, o uso de portaise o ensino de línguas. Sabe-se que asnovas tecnologias fazem parte , cadavez mais, do cotidiano do aluno dehoje. Nesse sentido, deve-se repensara adequação desta nova realidade àsituação de ensino- aprendizagem.

O aluno de hoje tem acesso aoconhecimento rápido e à informaçãoem tempo real. O professor precisa,portanto, mudar radicalmente a visãotradicional de ensino. No que se refereao ensino de línguas, o professor podeoferecer ao aluno um gama deatividades que podem ser trabalhadasmais significativamente com o auxílioda Internet e, particularmente, dosportais.

Este artigo teve por finalidadeapresentar as diversas vantagens douso de portais como ferramentacomplementar no desenvolvimento dashabilidades da língua inglesa. Tambémaborda os principais aspectosnecessários a formação de um portalde língua estrangeira como ferramentadirecionadora da busca do aluno.

Este trabalho representa um passo

inicial para os professores de línguaestrangeira refletirem sobre suaspráticas de ensino e um estímulo àutilização de novas ferramentas queincentivem o aluno de hoje a construirseu próprio conhecimento.

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Gestão

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GESTÃO DO CONHECIMENTO: MODELO DE DIMENSÕES EPROCESSO DE APRENDIZAGEM NO CURSO DE FORMAÇÃO

DE OFICIAIS DA ESAEX

Darcilene Auxiliadora Duarte1, Luciana de Souza2, Rafael Oliveira Marinato3

Resumo. Este artigo tem por finalidade discutir os modelos de dimensão na Gestãodo Conhecimento, discorrendo sobre os fatores estratégicos para o sucesso dasorganizações, o modelo de estrutura organizacional que favoreça o desenvolvimentodo conhecimento, a importância dos sistemas de informação na atualidade, anecessidade de mensuração do desempenho e a dificuldade de medir os ativosintangíveis. Apresenta, também, a relevância do processo de aprendizagem,enfocando o fator criatividade como meio facilitador do aprendizado, levantando,inclusive, a relação instrutor versus aluno no Curso de Formação de Oficiais (CFO)da Escola de Administração do Exército (EsAEx). Foi realizada uma pesquisabibliográfica que fundamentou os assuntos abordados. O artigo mostra a importânciada gestão do conhecimento na atualidade, como meio de manutenção e ampliaçãodo desempenho organizacional e destaca o homem como fator essencial paragerir e criar conhecimento, através do estudo e da experiência.

Palavras chaves: Gestão do conhecimento. Mensuração. Aprendizagem.

Abstract. This work aims of discussing the dimension models in the KnowledgeManagement field. It also discusses the strategic factors that contribute to wardsthe succees of organizations, the organizational structure model that favoursknowledge development, the importance of information systems nowadays, theneed of performance measurement, and the difficulties in measuring intangibleassets. This article also presents the relevance of the learning process, focusingon the creativity factor as a learning facilitator, including the relationship betweeninstructor and student in the Curso de Formação de Oficiais – CFO (Officer TraiiningCourse) that takes place in the Escola de Administração do Exército – EsAEx.

Keywords: Knowledge management. Measurement. Learning.

1 Bacharelado em Administração. Escola de Administração do Exército(EsAEx), Salvador, Brasil. [email protected] Bacharelado em Administração. Escola de Administração do Exército(EsAEx), Salvador, Brasil. [email protected] Bacharelado em Análise de Sistemas. Escola de Administração do Exército(EsAEx), Salvador, Brasil. [email protected].

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1 Introdução

O homem é o ser vivo que cria eaprimora constantemente o seu meioambiente e as estruturas nas quais estáinserido. Para isso, utiliza o seudiferencial básico em relação às demaisformas de vida: o intelecto.

Desenvolver e aplicar oconhecimento adquirido gerousociedades e empresas complexas,que se deparam hoje com umaavalanche de informações e métodosgerenciais, assim como com umadiversidade de perfis profissionais,tendo que gerir esse volume deconhecimento de forma que aarticulação de todos os fatoresmelhorem a capacidade dasorganizações para aprender, criar,explorar suas competências e protegerseus conhecimentos e ativos intangíveisestratégicos.

Gerenciar conhecimento não é omesmo que gerenciar informações edados, pois o primeiro encontra-se nacabeça das pessoas; assim, o queimporta são as manifestações doconhecimento de cada indivíduo, o qualage e decide contribuindo com suasexperiências e capacidades,agregando valor às atividades eprocessos dos quais participa.

A necessidade de administrar oconhecimento não é uma

particularidade das empresas privadas,é também essencial nas organizaçõespúblicas.

O Exército Brasileiro, comoinstituição nacional, regular epermanente, desenvolveu umaestrutura de ensino focada na formaçãoe no constante aprimoramento de seusmembros. No Curso de Formação deOficiais do Quadro Complementar(CFO/QC) da Escola deAdministração do Exército observa-seque, por meio da transmissão doconhecimento e da agilidade deresposta, é possível encontrar a melhorforma de interação entre instrutor einstruendo, visando à aplicaçãoracional do oficial na atividade-meio aque se destina.

Desta forma, o objetivo desteartigo é discutir o modelo de dimensõesna gestão do conhecimento através dosseguintes tópicos:

• Fatores estratégicos;• Estrutura organizacional;• Sistemas de informação;• Mensuração de resultados;• Interação aluno x instrutor noprocesso de aprendizagem.

Foi utilizada pesquisa bibliográficavoltada para a Gestão doConhecimento, Educação eInformação, em especial a obra de

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Terra (2005), a fim de levantar eanalisar os conceitos e procedimentosvigentes no meio organizacional.Passou-se, então, à delimitação doassunto dentro dos tópicos acimamencionados, que enfatizam os pontosrelevantes para o entendimento e aaplicação da Gestão doConhecimento.

2 Fatores Estratégicos

Na maioria das estruturasorganizacionais criadas pelo homem énecessário que seja exercida acapacidade de liderança, organizaçãoe gerenciamento da força de trabalho,de forma a tornar possível a aplicaçãode estratégia competitiva, uma vez queestas vantagens são difíceis de seremcopiadas.

As competências organizacionaisexpressam-se na capacidade dealcançar resultados específicos etangíveis, partindo-se da integraçãodas habilidades individuais e coletivas,da utilização dos recursosdisponibilizados, das informaçõesfornecidas, das redes derelacionamentos, do gerenciamento,entre outros. O que deve ser observadoé a diferenciação entre as competênciasdos indivíduos e grupos que integrama organização.

Com o advento da Internet, houve

uma alavancagem das competênciasespecíficas, como, por exemplo, avenda direta ao consumidor, além dadisponibilização de checagem dasestratégias e modelos de negócios queestão tendo sucesso. Segundo Terra(2005, p.110)

Se, por um lado, pioneirismo evelocidade são condições sine qua nonpara se competir nesse mercado, poroutro, é evidente que as empresas quemelhor focarem seus esforços emalgumas competências-chave e áreasdo conhecimento serão aquelas quetambém estarão obtendo os melhoresresultados.

O sucesso da instituição deve serpautado no foco de sua atividade,respeitando sua cultura organizacionale o gerenciamento do seu capitalhumano.

Indispensável a toda empresa é nãoapenas inovar seus processosprodutivos, mas procurar sempreampliar sua área de competência e,para isso, deve investir noaprimoramento de seus funcionários,incentivando a busca permanente pelodesenvolvimento pessoal e profissional,a experimentação, a receptibilidade anovos conceitos e tecnologias.

As metas administrativas devem serdirecionadoras do esforço despendidopelos colaboradores. Para Peter Senge

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(1990 apud TERRA, 2005, p.112)

O líder deve atuar como professor,mentor, guia ou facilitador,incentivando as pessoas e aorganização, de maneira geral, adesenvolverem habilidadesfundamentais para a existência de umaprendizado capaz de recriar o mundo.Além disso, [...] a liderança deve sebasear no princípio da tensão criativa,que surge a partir do entendimento dasdiferenças entre a visão de onde se querchegar e a realidade. Dessa maneira,consegue-se utilizar a motivaçãointrínseca das pessoas.

Não é viável investir no recursoconhecimento com a intenção dealcançar resultados imediatos ouprocurando mensurar o retorno sobreo investimento aplicando fórmulasmatemáticas. Ainda que sejamutilizados indicadores, o que realmenteimporta para a aprovação eimplantação de projetos arrojados temsido a presença de líderes quecompreendem as diversas formas dese investir no recurso conhecimento,pois, por ser este cumulativo e semanifestar apenas através do exercícioefetivo, ocorre a dificuldade de mapeá-lo, medi-lo ou avaliá-lo.

3 Estrutura Organizacional

A Gestão do Conhecimento estádiretamente relacionada à maneiracomo as organizações estãoestruturadas e como se desenvolvemseus trabalhos e principais processos.

Organizações orientadas porparadigmas tradicionais, recheados deburocracia e estruturas rígidas, nãofavorecem a Gestão do Conhecimento.Essas estruturas se apresentamcentralizadas em cargos, são orientadaspara a repetição e eficiência,remuneram pelo status e restringem ocampo de ação dos projetos,processos e pessoas. Na contra-mãodessas, há organizações maisdinâmicas, que estão centralizadas naspessoas, buscam a inovação comoeficiência e remuneram pelo valoragregado. Ainda assim, as estruturasburocráticas tradicionais sãopredominantes na maior parte dasorganizações do mundo.

Um passo na direção daflexibilização é o uso de estruturasaplicadas sobre as tradicionais, semeliminá-las, porém reunindo conceitose métodos que propiciam em maiorescala a Gestão do Conhecimento.Filosofias, como o just in time e okaizen, e os programas de qualidadetotal representam algumas dessasestruturas.

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Apoiadas em conceitos de trabalhoem equipe, organizações modernasvêm agregando aspectos inovadoresem suas estruturas, rompendo com aslinhas tradicionais e apontando para ocaminho da Gestão do Conhecimento.Apresentam, dentre outras, as seguintescaracterísticas: trabalho em equipe,escolha e mudança de líderes dentroda própria equipe, profissionais emvários projetos ao mesmo tempo,maior delegação de autoridade,redução de hierarquia, busca decompetências múltiplas. O principaldiferencial desta nova linha em relaçãoà tradicional é a agilização edescentralização dos processos dedecisão. Para atingir este nível dematuridade também são necessáriastransformações em outros elementosda organização, como recursoshumanos, padrões culturais e sistemasde informações. Deve-se buscartambém a coordenação das atividadesde Gestão do Conhecimento de formadescentralizada, podendo assimtrabalhar mais próximo dos indivíduose atrair sua atenção para as questõesrelacionadas ao conhecimento.

4 Sistemas de Informação

Empresas e organizações em geralvêm experimentando grandesmudanças nas últimas décadas,

adaptando suas estratégias em face dataxa crescente de mudanças einovações tecnológicas e da crescenteintensidade e importância doconhecimento.

A tecnologia da informação seapresenta como um dos principaisfatores de sucesso das organizações,sendo atualmente fundamental para suasobrevivência e aumento decompetitividade. Paralelamente aosrecursos tecnológicos, cresce emimportância para as organizações oconhecimento, pela sua capacidade deproduzir inovação, criatividade eserviço. Essas duas grandes áreas,tecnologia da informação econhecimento, possuem forte relação,e cada vez mais o uso da tecnologia semostra um importante apoio às tarefasde gestão do conhecimento.

Este apoio está relacionado ao usode sistemas de informação paracompartilhar ou descobrir informaçõese conhecimento. Segundo Terra(2005), existem fatores a seremobservados para o sucesso daimplementação de sistemas deinformação no contexto da gestão doconhecimento. Entre eles podemosdestacar:

• a identificação do usuário e doseu nível prévio de conhecimento;• as políticas de acesso à

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informação devem ser poucorestritivas;• a informação precisa ter o nívelde detalhamento requerido para setornar útil;• as informações devem estardisponíveis em tempo hábil;• o excesso de informação podecausar perda de produtividade.

Podemos dizer que, nas“organizações que aprendem”, asinformações e os sistemas devem serprecisos, imediatamente disponíveis notempo e no espaço e estar em umformato que facilite o uso. Entre ossistemas de informação, existemdiversas tecnologias que podem seraplicadas na gestão do conhecimento.Destacam-se entre outras: intranet,data warehouse e data mining.

4.1 Intranet

Pode ser entendida como sites“similares” aos que existem nainternet, utilizando a rede interna daorganização como “infovia” e atecnologia típica da web. A similaridadecom a Internet é observada apenas noaspecto técnico, pois existem muitasdiferenças entre elas, principalmentepor existirem em ambientes culturaisdiferentes. As intranets funcionam emambiente controlado e possuem

objetivos específicos comprometidoscom as estratégias da organização, aocontrário da Internet que não possuifronteira. As intranets devem ter ofoco no seu público (usuários), já quesua principal função é alavancar ocapital intelectual das organizações,dando sustentação à gestão doconhecimento.

4.2 Data Wharehouse

As grandes organizaçõesgeralmente possuem um grande volumede dados espalhados por diferentessistemas e armazenados sob diferentesformatos. Isso faz com que se tornedifícil analisar esses dados e buscarinformações que permitam uma tomadade decisão apoiada num histórico noqual seja possível identificar tendênciase extrair fundamentos que permitamposicionar a organização estrategica-mente e diminuir os erros na tomadade decisão.

Neste contexto, surge o conceitode Data Warehouse (DW): um bancode dados não relacional que utilizadados de diferentes fontes e formatos(bancos de dados relacionais,arquivos, repositórios) organizadosnuma estrutura projetada para darsuporte aos sistemas de apoio àtomada de decisão. Segundo Inmon(1997, p.284), data warehouse é

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uma coleção de dados orientados porassuntos, integrados, variáveis com otempo e não voláteis, para dar suporteao processo de tomada de decisão.

Para fazer a extração e análise dosdados do DW, existe um grupo deferramentas específicas conhecidascomo ferramentas On-Line AnalyticProcessing (OLAP).Essas ferra-mentas são de fundamental importânciapara os diretores e gerentes, poispossibilitam visualizar as informaçõessob diferentes prismas e em diferentesníveis de detalhamento, gerandorelatórios capazes de auxiliar na tomadade decisão.

Conhecer e aplicar esta tecnologiapode auxiliar os administradores,deixando-os mais seguros paradefinirem as metas e adotaremdiferentes estratégias em suaorganização com base em dadoshistóricos e não em suas intuições.

4.3 Data Mining

Um DW só se justifica se nele foremempregadas eficientes ferramentas deexploração. A partir de seu surgimento,aumentou em importância a tecnologiade Data Mining (mineração dedados), aproveitando-se das bases dedados do DW, as quais são bemorganizadas e consolidadas. Trata-sede um processo de extrair informação

válida, previamente desconhecida e demáxima abrangência, usando as basesde dados para efetuar decisões.

Essa tecnologia baseia-se emfundamentos de estatística (envolveconceitos de distribuição normal,variância, análise de regressão, desviosimples, análise de conjuntos, análisesdiscriminantes e intervalos deconfiança), todos usados para analisardados e relacionamentos existentesentre eles. Também utiliza técnicas deinteligência artificial (redes neurais,árvores de decisão), que tentam imitara maneira de pensar do homem. Oprocesso de Data Mining pode serconsiderado uma forma dedescobrimento de conhecimento.

A adoção de sistemas deinformação cada vez maisespecializados e complexos vem setornando imprescindível para asgrandes organizações. Assim comohoje é impossível pensar em umaorganização atuando sem o uso dotelefone e e-mail, dentro de algunspoucos anos, algumas ferramentasmais recentes como as aquiapresentadas também serão essenciais,principalmente para aquelasorganizações que desejarem trabalhara gestão do conhecimento.

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5 Mensuração de Resultados

Para administrar com clareza eobter bons retornos, o gerentenecessita saber se as operaçõesapresentam desempenho aceitável.Para tanto, precisa-se de alguma formade medida de desempenho como pré-requisito para melhoramento.

Tal medida constitui-se num pro-cesso de quantificar a ação, devendoo desempenho preencher objetivos oucritérios que satisfaçam ou justifiquema existência da operação ou processo.Os padrões de desempenho podem serdivididos em quatro tipos (SLACK,2002): histórico, meta, da concorrên-cia e absoluto. No primeiro, compa-ra-se o desempenho atual com os an-teriores, dentro de um período esta-belecido; no segundo, os padrões sãodefinidos arbitrariamente para refletiralgum nível de desempenho que é vis-to como adequado ou razoável; no ter-ceiro, realiza-se a comparação do de-sempenho atingido com aquele queestá sendo alcançado por um concor-rente; no quarto, toma-se um limite te-órico, como por exemplo, o padrão dequalidade de “zero defeito”, o qual,talvez, nunca seja atingido na prática,mas permite a uma operação uma re-lação de calibragem.

O principal objetivo de umaorganização é gerar lucro para seus

acionistas, mas isto não quer dizerapenas dinheiro em caixa: umaorganização pode estar consumindo ougerando caixa sem que isto representeum ganho para seus acionistas. Mascomo saber se os gestores estãogerando lucro ou não? Sistemas decontabilidades tradicionais só medemos ativos tangíveis. Como medir o valore contribuição dos ativos intangíveis,como conhecimento organizacional,satisfação dos clientes, capacidade deinovação, patentes, marcas, etc? Édifícil colocar valor em algo que nãopode ser mensurado.

Dessa forma, o valor dos ativosintangíveis (marcas, patentes, etc)dificilmente é avaliado pelos balançosconvencionais; por outro lado, já osrecursos intangíveis (processos detrabalho, conhecimento e habilidadesdos funcionários, etc) nem aparecemnos resultados.

O foco agora é a Era doConhecimento, que preza mais osaspectos qualitativos do quequantitativos. Num mundo onde, pelaprimeira vez, o conhecimento se tornouo principal fator de produção, asempresas precisam se transformarradicalmente para ter sucesso nestanova realidade. Se isto é verdade paraas empresas, o que dizer dos governose instituições públicas? Estas, em geral,não produzem bens físicos, mas

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informação e serviços. Sãoverdadeiras organizações doconhecimento, embora continuem a seradministradas com métodos eprocessos da era industrial.

No setor público, as organizaçõesprecisam ser relevantes para quesobrevivam. Esta nova abordagemcoloca o seu foco nos resultados daforma mais abrangente possível: nãoadianta realizar rotinas porque elasexistem há tempos. É fundamentalempregar os processos de trabalhomais adequados e suspender aexecução das rotinas que não sejustificam mais, para garantir que asnovas metas estratégicas sejamalcançadas.

Emprega-se a palavra Gestão paradesignar a administração que é feita deforma ativa e orientada pela buscaintencional de resultado superior.Corresponde a uma nova postura dosadministradores, que vai muito além dofuncionamento da empresa, refletindouma preocupação com o desempenhoda organização. Ela procuraabandonar a postura reativa e“automática” da administraçãotradicional, através de uma novapostura simbolizada pelaspreocupações típicas. Através deexemplos simples, é possível perceberque o novo modelo se volta paraquestões essenciais e para o

atendimento do foco principal, ocliente.

5.1 Mensuração do CapitalIntelectual

Terra (2005, p.217-218) apresentaum levantamento dos recentes estudosde mensuração do capital intelectual,mencionando que, a partir da décadade 1990, os autores referidos a seguircomeçaram a medi-lo, contudo, nãoexiste um consenso entre eles. ParaEdvinsson e Malone (apud TERRA,2005) ele é dividido em dois grupos:Capital Humano (valores, filosofia,capacidade individual dos funcionários,etc) e Capital Estrutural (hardware,patentes, marcas, etc); para Sveiby(apud TERRA, 2005), é dividido emtrês componentes: Competências dosFuncionários, Estrutura Interna eEstrutura Externa; já Brookingclassifica-o em quatro: Ativos deMercado, Ativos baseados nosfuncionários, Ativos relacionados àpropriedade intelectual e Ativos deinfra-estrutura; Terra e Gordon (apudTERRA, 2005) classificam-no emFontes Internas (capital de liderança,capital social, capital estrutural e capitalhumano) e Fontes Externas, que é ocapital de rede ou Network Capital.

Não existe um processo unificadorpara a medição de capital intelectual,

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tudo depende do contexto e danatureza do que se deseja medir, seconhecimento implícito ou explícito.Mas não é suficiente termos metas aatingir e bons indicadores dedesempenho se não formos capazes deavaliar se essas metas estão sendocumpridas, e se medidas de ajuste sãonecessárias.

No caso específico do ExércitoBrasileiro, o desafio é converter osprocedimentos e critérios empregadosno tempo de paz, em mecanismosoperacionais ajustados aos períodosde mobilização. Os métodos de gestãodevem ser adequados às duassituações ou ser convertidos muitorapidamente. Outro aspectoimportante dessa dualidade aparece nobinômio “preparo X emprego”, quepropicia o convívio do aspecto daadministração (funcional, hierárquica,burocrática, lenta) com o aspecto daoperação (multidisciplinar, horizontal,integrada). A contínua verificação dosprocessos de trabalho e dosindicadores empregados paraavaliação dos resultados pode garantiro estado de prontidão indispensável aoexercício permanente e proveitoso dasatividades desenvolvidas pelainstituição.

6 Interação do Aluno x Instrutorno Processo de Aprendizagem

Muito do conhecimento quepossuímos está codificado de algumaforma. Podemos explicá-loverbalmente ou escrevê-lo. Trata-se doconhecimento explícito, que sematerializa na forma de documentos,sistemas de informação, quadros deavisos, entre outros. Contudo, boaparte do que “sabemos” não estáescrito ou verbalizado. É oconhecimento implícito, que pode serobservado e acumulado ao longo dotempo, constituindo-se no resultado daexperiência humana em diversascircunstâncias.

A idéia desenvolvida por Nonakae Takeuchi (1997 apud SLACK,2002, p.710-711) é que indivíduosadquirem conhecimento movendo-seem ciclos. No processo chamadosocialização, o aprendizado se dá porintermédio do trabalho e daproximidade com pessoas experientes,ocorrendo a transferência doconhecimento implícito entreindivíduos. No processo deexternalização a experiência éarticulada em regras e decisões,ocorrendo o movimento entreconhecimento implícito e explícito.Procura-se formalizar ao menos umaparte do conhecimento implícito. Na

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combinação, diferentes tipos deconhecimento explícito podem serunificados, juntando-se peças deinformação relacionadas. A parte finaldo ciclo, o qual iniciará novamente,corresponde ao processo deinternalização, que pode sercompreendida como o “aprenderfazendo” somado ao conhecimentoimplícito dos indivíduos.

A idéia apresentada por Piaget(1974 apud FIALHO, 2002, p.63)afirma que a aprendizagem secaracteriza pelo movimento de umsaber fazer a um saber, o que nãoocorre naturalmente, mas por umprocesso denominado abstraçãoreflexiva, pelo qual o indivíduo pensao processo que executa e constróialgum tipo de teoria que vem justificaros resultados alcançados.

O processo criativo éextremamente importante para os sereshumanos e a imaginação dramáticapode ser trabalhada através daaplicação de métodos de ensino,possibilitando a inter-relação (relaçãocriadora entre pessoas de objetivoscomuns, gerando uma mensagemvoluntariamente partilhada entre oscomponentes). Quem se expressaacaba por se adaptar diante das novassituações.

Como benefícios dos jogoscriativos na educação, podem-se citar:

a compreensão e aceitação de formase padrões de comportamento pessoale social; o desenvolvimento daautoconfiança e segurança em situaçõesadversas; a capacidade de resolversituações novas aplicandoconhecimentos e habilidades jáadquiridas; a análise e avaliação dopróprio comportamento comoindivíduo de um grupo.

O educador é um facilitador noprocesso ensino-aprendizagem. Éaquele que acompanha, ajuda,participa, passa conteúdos queinspiram pensamentos criativos. Assimcomo não existe um único modelo deeducação, também há diversidade decomportamento e perfil dos alunos. Porisso, a diversidade é um dos fatoresde qualidade em educação. Quando oprofessor é capaz de fornecer respostadiferenciada às necessidades dosestudantes, o desempenho dos mesmosdeverá ser significativamente melhor.

As características dos alunos, sejado grupo ou individual, exigemadequações que tornem mais eficaz oprocesso de ensinar e aprender. Emrelação à diversidade, segundo IGEA(2005, p.40)

[...] a preparação de atividadescomplementares ou de reforço, asatenções individualizadas, o trabalhoem equipe e a distribuição de tarefas

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em função das afinidades pessoais, aorganização de atividades segundocritérios de complexidade, aflexibilização de grupos a fim deconseguir maior homogeneidade são -entre outras - medidas que costumamser aplicadas com freqüência.

A Lei do Ensino no ExércitoBrasileiro instituiu um sistema calcadonos seguintes princípios: integração àeducação nacional; seleção pelo mérito;profissionalização continuada eprogressiva; avaliação integral,contínua e cumulativa; pluralismopedagógico; aperfeiçoamentoconstante dos padrões éticos, morais,culturais e de eficiência; titulações egraus universitários próprios ouequivalentes às de outros sistemas deensino.

A Escola de Administração doExército, de acordo com seuregulamento, tem por finalidade formaroficiais para o Quadro Complementarhabilitando-os para o exercício decargos e funções de naturezacomplementar, em áreas e subáreasespecíficas. Para tanto, a Divisão deEnsino, devidamente organizada emseções, é responsável por assistir oDiretor de Ensino no planejamento,programação, coordenação,execução, controle e avaliação doensino, da pesquisa e da aprendizagem,além da orientação psicológica,

educacional e profissional dos alunos.Os instrutores preparam suas

sessões de instrução observando o usode técnicas de ensino relacionadas nomanual do instrutor (T 21-250). Exige-se deles uma atitude que incentive oinstruendo, levando-o a encontrarmotivos que o conduzam aaprendizagem. Por meio dapercepção, considera-se que eleabsorverá as novas experiências queserão incorporadas no seuconhecimento e trarão mudanças noseu comportamento.

Levantar a questão do total deaprendizagem alcançado peloinstruendo nos cursos ministrados éfator importantíssimo para a melhoriado ensino no Exército. As abordagensdos instrutores, entremeadas deexperiências vividas e absorvidasdurante a própria carreira, assim comoas contribuições dos própriosinstruendos, relatando suas vivências eexperiências profissionais, constituemuma interação que cria e consolidaconhecimentos, partindo dasespecificações contidas nos manuais,passando pela abordagemexemplificativa que leva a um maiorrendimento do aprendizado.

Contudo, em relação ao CFO/QC,não bastam o estímulo e os facilitadoresmencionados, visto que o cursoobjetiva criar valores e perfis em um

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curto espaço de tempo (trinta e cincosemanas). Há uma necessidade demaiores fontes de experiências, comopalestras específicas ou vídeosdirecionados para situações a seremvividas pelos oficiais, quandoefetivamente assumirem suas funçõesnas Organizações Militares para asquais forem designados.

Esse aumento e diversificação dasfontes de experiências (conhecimentoimplícito) contribuirão para a formaçãodos novos oficiais, reduzindo o períodode adaptação, proporcionando-lhesmais segurança no exercício de suasfunções.

7 Conclusão

Neste trabalho foi tratada a Gestãodo Conhecimento sob as dimensõesque devem ser observadas etrabalhadas para sua implementação,mostrando seus aspectos maissignificativos, voltados para aestruturação de um ambienteorganizacional apropriado a facilitar eincentivar a criação e disseminação doconhecimento.

Observa-se que tanto o trabalhotécnico como o não-técnico estão,cada vez mais, baseados noconhecimento, contudo, apesar detodo o trabalho de pesquisa realizado,não se constatou a existência de uma

solução simplista de prática gerencialque conduza ao sucesso competitivo.

O estímulo aos processos humanosde criação e aprendizado individual ecoletivo deve ser permanente. Tornar-se uma “Organização que Aprende”exige revisões nos valores de liderança,os quais devem focar a implementaçãode uma cultura organizacional deaprendizado, valorizando habilidadesrelacionadas ao desenvolvimento deuma infra-estrutura facilitadora e ágil(apoiada nos avanços da informática)que permitirá a coleta, processamentoe disponibilização de informações paraa tomada de decisões fundamentadaem fatos conhecidos e devidamentemensurados.

Particularmente, referente ao Cursode Formação de Oficiais da EsAEx,foi comentada a relação aluno versusinstrutor no processo de aprendizagem,com ênfase na transmissão deconhecimento tanto implícito quantoexplícito.

São inúmeras as vantagens daaplicação da Gestão do Conheci-mento. Pode-se citar o aumento dacompetência baseada na qualificaçãoe capacitação profissional, ofornecimento de um acesso rápido efácil a uma base de conhecimentoglobal e a agilidade de resposta frenteàs adversidades externas sofridas pelaorganização. Apontam-se como

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desvantagens o tempo necessário paraa formação e treinamento contínuo docapital humano e o valor despendido,tanto em material quanto emprofissionais capacitados, para aestruturação de uma rede deconhecimento.

A partir dos pontos abordadosneste trabalho, pode-se dizer que o quefalta às organizações brasileiras, tantoprivadas quanto públicas, é uma visãode futuro capaz de estimular osinvestimentos em educação e criar umambiente que propicie a competição,a inovação e a constituição de umainfra-estrutura que integre asorganizações à Era do Conhecimento.

Espera-se com este trabalhocontribuir para a conscientização daimportância da Gestão do Conheci-mento, de forma a inspirar a altaadministração no sentido de buscarações que visem adquirir, gerar,armazenar e, principalmente, difundiro conhecimento.

Uma proposta viável, a partir dospontos enfocados neste trabalho, é odesenvolvimento de um projeto/estudoque vise à implementação de técnicasde Gestão do Conhecimento no CFO/QC.

Referências

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IGEA, Benito del Rincón. Presentee futuro do trabalhopsicopedagógico. Porto Alegre:Artmed, 2005.

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TERRA, José Cláudio Cyrineu.Gestão do conhecimento: o grandedesafio empresarial. Rio de Janeiro:Elsevier, 2005.

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COMAKERSHIP: PROPOSTA DE ADOÇÃO NASORGANIZAÇÕES MILITARES

Francisco Martinho de Moura Júnior1, Fábio Leandro Sartori Dutra2, AlanAnderson Bastos Pimentel3

Resumo. O presente artigo tem como finalidade propor a adoção de uma novametodologia para aquisição de produtos e serviços nas organizações militares,compatibilizando a melhoria na qualidade e eficiência do processo comercial comas normas legais que regem a administração pública. O trabalho se inicia a partirda identificação do assunto e sua relevância, seguido de uma exploração da atualliteratura que aborda: sistemas de compras, relacionamento cliente-fornecedor,comparativos técnicos entre os sistemas de compras no modelo tradicional e noComakership e sua principal implicação: a necessidade de atender às exigênciasda lei de licitações. Na seqüência, será apresentada a possibilidade de utilizaçãodo novo modelo nas organizações militares, ainda que não de forma integral.

Palavras-chave. Compras. Comakership. Relacionamento cliente-fornecedor.

Abstract. This article aims to propose the adoption of a new methodology foracquisition of goods and services in military organizations, in compliance with thelaw. The work begins with an introduction of the subject, followed by a review of thecurrent literature, including the following topics: system of purchases, customer-supplier relationship, and a parallel between the systems of purchases in thetraditional model and in the Comakership and its major implication: the need tomeet the requirements of the bidding law. Subsequenty, the possibility of use of thenew model is presented.

Keywords. Purchases. Comakership. Customer-supplier relationship.

1 Bacharelado em Ciências Contábeis. Escola de Administração do Exército(EsAEx), Salvador, [email protected] Bacharelado em Administração. Escola de Administração do Exército(EsAEx), Salvador, [email protected] Bacharelado em Ciências Contábeis. Escola de Administração do Exército(EsAEx), Salvador, Brasil. [email protected].

1 Introdução

Nos últimos anos, muito foidebatido e escrito sobre orelacionamento entre fornecedores eclientes. Em uma abordagemtradicional, os fornecedores são

considerados como sérias ameaçaspara os clientes. Entretanto, a aberturada economia mundial possibilitou umamudança na percepção empresarial,conseqüência do crescente surgimentode competidores, devido àglobalização.

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Do atual cenário, depreende-seque o foco no estreitamento dos laçosde parceria entre fornecedor e clientetem sido uma das maiorespreocupações organizacionais.

Muitas organizações, suscetíveis aestas questões, aperfeiçoaram seusprocedimentos, a fim de melhoraremo relacionamento com seusfornecedores, além de criaremprocessos de integração e parcerias.Isso tornou a relação cliente-fornecedor mais ágil e racional, deforma a considerar as necessidades eexpectativas das partes envolvidas nonegócio. Com isto, procura-se evitarbenefícios unilaterais, priorizando os deordem mútua.

Neste contexto, o trabalho faráuma sucinta exposição sobre algunsdos sistemas de compras adotados naadministração pública e privada eapresentará possibilidades de adoçãode uma relação de parceria no setorpúblico, denominada, por algunsautores, de Comakership: confiançamútua, participação e qualidadeassegurada. Para isso serão utilizadasa literatura específica e a legislação emvigor.

A validade do artigo se justifica pelanecessidade de aprimorar orelacionamento entre cliente efornecedor no sistema de comprasadotado pelas organizações militares,

por meio das possibilidades de seestabelecer uma maior flexibilidade naaquisição de produtos e serviços, emconsonância com os dispositivos legais.

O estudo não objetiva esgotar oassunto, tampouco descrever ospormenores operacionais daadaptação do sistema comakership nagestão pública.

2 Sistema de Compras : Aborda-gem Geral

O sistema de compras adotadopelas empresas privadas no Brasil ébaseado em livre acordo de preços,planos de pagamento, prazos deentrega e na qualidade do produtoofertado; já para a administraçãopública, ele é totalmente vinculado aoregime de licitações e contratos.

2.1 Compras na AdministraçãoPública

Devido ao reconhecimento daimportância do uso eficiente dosrecursos públicos, a ConstituiçãoFederal (BRASIL, 1988) trouxe noinciso XXI do artigo 37 a previsãolegal, determinando que as obras,serviços, compras e alienaçõespúblicas sejam feitas por intermédio deprocesso licitatório, assegurandoigualdade de condições a todos os

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concorrentes.A Lei nº 8.666/93 (BRASIL,

2006) estabelece as normas geraissobre licitações e contratosadministrativos relativos a obras,serviços, compras, alienações,concessões, permissões e locações noâmbito da administração direta,autarquias, fundações públicas,empresas públicas, sociedades deeconomia mista e demais entidadescontroladas direta ou indiretamentepela União, estados, Distrito Federale municípios.

Conforme o artigo 3º dasupracitada lei, o processo licitatóriotem os seguintes princípiosnorteadores:

• procedimento formal;• publicidade de seus atos;• igualdade entre os licitantes;• sigilo na apresentação daspropostas;•vinculação ao edital ou convite;• julgamento objetivo;• adjudicação compulsória aovencedor;• probidade administrativa.

As compras realizadas naadministração pública deverão seguiruma série de preceitos legais, de formaa garantir as melhores condições denegociação para a instituição,

atendendo rigorosamente aosprincípios já citados. Cabe destacarque todas as compras deverão sersubmetidas às mesmas condições deaquisição e pagamento utilizados nosetor privado, devendo conter tambéma indicação dos recursos orçamentáriosdestinados ao pagamento.

Com a finalidade de preservar alisura do processo de aquisição, deveráser dada, consoante o artigo 16 da Leinº 8.666/93 (BRASIL, 2006),publicidade da relação de todas ascompras feitas pela administraçãodireta ou indireta, em órgão dedivulgação oficial ou em quadro deavisos de amplo acesso público. Talprocedimento visa pormenorizar aidentificação do bem comprado, opreço unitário, quantidade adquirida,nome do vendedor e valor total daoperação.

Os procedimentos adotados naadministração pública, de acordo coma lei de licitações, para aquisição dematerial, obras e serviços, sãorealizados - de maneira geral -conforme Figura 1:

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Figura 1: Compras na administração pública.

2.2 Compras na AdministraçãoPrivada

As empresas privadas possuem ogrande diferencial competitivo daliberdade de ação nas suas compras.Todos os atos são discricionários, deforma que elas não ficam engessadaspelos preceitos legais obedecidos nosetor público. Assim, para a adoçãodo sistema de parceria do tipocomakership, no setor privado, bastaseguir os roteiros técnicos e científicosdisponíveis, sem grandes adaptações.

Cabe ao proprietário ou gerente decompras a decisão do que e comocomprar.

3 Relacionamento Cliente-Forne-cedor

Nos primórdios do mercantilismo,não existia a concorrência entre ascompanhias. Havia um rígidomonopólio comercial, cujo preço equalidade eram impostos aos clientes.

Com o desenvolvimento do sistemacapitalista, o inevitável surgimento deempresas congêneres concorrentes fezcom que o cliente passasse a ter ummaior poder de negociação no que dizrespeito à escolha dos fornecedores.Tal fato, trouxe como conseqüênciauma disputa de poder, nem sempresilenciosa, entre cliente e fornecedor.

Essa relação foi alvo de trabalhossobre a importância da definição deestratégias que evitassem desvantagensno relacionamento entre as empresas.Os fornecedores, por um lado, tem apossibilidade de se organizarem parareduzir as desvantagens, como citaPorter (1986, p.43):

Os fornecedores podem ameaçar comelevação de preços ou redução daqualidade/serviços prestados,podendo desta forma reter arentabilidade da indústria.

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Neste relacionamento, as figurasdo cliente e do fornecedor se contra-põem, tornando-se verdadeiros adver-sários. Não foram poucos os casos emque tal dificuldade de relacionamentocomercial acarretou a falência de umadas empresas.

Era generalizada a idéia de que ofornecedor estaria sempre mal-inten-cionado, procurando auferir o máximolucro à custa de eventuais descuidosdos clientes. A fim de garantir-se, aempresa-cliente, normalmente, faziavárias cotações com fornecedores con-correntes, e havia o máximo cuidadona inspeção de recebimento da mer-cadoria ou serviço.

Muitas vezes, a empresa-clientetornava-se adversária direta do forne-cedor, pois passava a adotar a estra-tégia de integração vertical em sua ca-deia de suprimentos: produzir por simesma aquilo que anteriormente eracomprado para compor seu produtofinal.

A globalização e a modificação dosantigos valores comerciais, que trou-xeram a satisfação do cliente comoprioridade na relação, carregaram con-sigo reflexos da transferência de ativi-dades acessórias a outras empresas.Aqui se destacam os processos dedesverticalização e terceirização dosprocessos, onde se busca o foco nonegócio central ou “core business”, em

que as empresas passaram a priorizara essência de seus negócios, especi-alizando-se apenas nessas áreas.

Como conseqüência, tivemos osurgimento das parcerias e alianças es-tratégicas, nas quais cliente e fornece-dor puderam sair ganhando. É o cha-mado relacionamento “ganha-ganha”.

Em seus trabalhos, Laseter,Ramachandran e Voigt (1996) verifi-caram, por intermédio de pesquisas,que reduções do custo total entre 15 a30% podem ser alcançadas através doestreitamento das relações entre orga-nizações e seus fornecedores.

O cliente é a razão de ser das em-presas e, junto com os fornecedores,integra a cadeia produtiva. Quantomelhor for o relacionamento entre eles,maiores serão as chances das organi-zações lograrem sucesso.

Toda cadeia de fornecimento podeser vista como uma corrente, cujos elosdevem operar para fornecer um pro-duto ou serviço que satisfaça ao seucliente.

A aproximação entre clientes e for-necedores produz, em muitos casos,uma significativa interdependência emtorno do interesse organizacional. Demodo que, conforme Reicheld (2000),os fornecedores que não buscam a le-aldade dos clientes abalam sua propos-ta de valor e arriscam o futuro.

Tucker (2001) afirma que a

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descontinuidade de um empreendimen-to pode ser causada pela insistência deum fornecedor em manter posturastotalmente ultrapassadas de relaciona-mento com os clientes de seus produ-tos e serviços.

3.1 Evolução do RelacionamentoCliente-Fornecedor

• abordagem convencional;• melhoria da qualidade;• integração operacional;• integração estratégica.

3.1.1 Abordagem convencional

Momento em que se dá prioridadeao preço. A desconfiança quanto àqualidade acompanha sempre o pro-cesso de compra. Destarte a inspeçãonos recebimentos das mercadoriasgera constrangimentos, perda de tem-po e, conseqüentemente, redução doslucros empresariais.

3.1.2 Melhoria da qualidade

Aqui a primazia se dá à qualidadedo produto. Nesta fase, inicia-se umrelacionamento mais duradouro, como surgimento de relativa confiançarecíproca. Reduzem-se os números defornecedores com a eliminação préviadaqueles que não apresentam

qualidade. É o primeiro estágio rumoao comakership.

3.1.3 Integração operacional

Prioriza-se o controle dosprocessos, levando-se em conta suacapacidade operacional. De formaincipiente, surge a participação dofornecedor no projeto do produto,exercendo um papel semelhante ao deum co-design. O cliente e o fornecedorfazem investimentos comuns empesquisa e desenvolvimento, comaquele muitas vezes financiandoprogramas de melhoria de qualidadedeste, a fim de implantarem sistemasde garantia de qualidade. É um passoalém no relacionamento comakership.

3.1.4 Integração estratégica

Há uma parceria nos negócios.Surge um gerenciamento comum dosprocedimentos negociais, incluindo odesenvolvimento de produtos eprocessos, engenharia simultânea,fornecimento sincronizado e qualidadeassegurada. Tem-se com isto, aconsolidação prática dorelacionamento do tipo comaker.

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3.2 Comakership: Uma Parceria deNegócios

Martins (2000) defende a idéia deque a verdadeira revolução daqualidade, introduzida globalmente nosúltimos anos, trouxe consigo novasformas de abordagem norelacionamento cliente-fornecedor.

Hodierno, podemos dizer quesituações de adversidade, outroracomuns no relacionamentoempresarial, são cada vez mais raras.Entre cliente e fornecedor procura-sedesenvolver um clima de confiançamútua, no qual ambos devem ganhar.É o que se convencionou chamar deparceria.

Quando a relação de parceriaatinge um elevado grau de evolução,temos o chamado comakership.

Segundo Merli (1998, p.13):

Comakership é uma relação evoluídaentre cliente e fornecedor, e éconsiderada um fator prioritário naestratégia industrial. (...)Quando estarelação de parceria atinge um elevadograu de evolução, traduzida emconceitos como os de confiança mútua,participação e fornecimento comqualidade assegurada, dá-se o nome decomakership.

O Modelo de Merli estácaracterizado pelas seguintes atividades

no relacionamento fornecedor-cliente:

• classe operacional exigida;• realizar avaliação;• desenvolvimento de fornecedo-res;• certificação.

Ambos buscam a criação de umrelacionamento que traga benefíciomútuo por meio da abnegação dointeresse pessoal e da independência -em favor da confiança - a fim de seobter uma aliança.

Para Merli (1998) é necessárioreduzir o número dos fornecedoresativos, procurando selecionar os quemelhor se adaptam às característicasda empresa, avaliando-os na lógica docusto total, nas potencialidades demelhoria e na disponibilidade parainiciar uma colaboração duradoura.

Objetiva-se destarte, melhorar aeficiência dos processos e a qualidadedos produtos ao consumidor final, alémde concentrar a preocupação dasempresas naquilo que sabem fazermelhor, evitando, por exemplo, aperda de tempo com inspeções em suascompras.

4 Paralelo entre os Sistemas

O Quadro 1 tem o propósito deauxiliar na compreensão das diferenças

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básicas entre o modelo tradicional decompras adotado nas diversasorganizações e o novo modeloproposto.

5 Possibilidade de Adoção nasOrganizações Militares

Devido às limitações impostas pelalegislação vigente, seria incoerentefalarmos na adoção do comakershipem sua plenitude na administraçãopública. Deve-se perceber talrelacionamento como um horizonte aser perseguido para a garantia damelhoria da qualidade dos produtos e

serviços ofertados e do relacionamentoentre as organizações.

Apesar do ordenamento jurídicobrasileiro ter referendado a licitaçãocomo regra para a contratação naadministração pública, este prevêexceções nas quais a contrataçãopoderá ser realizada de forma direta.

É para estes casos que ocomakership poderia ser adaptado,no que couber, na dispensa ouinexigibilidade de licitação, previstasnos artigos 24 e 25 da Lei nº 8.666/93 (BRASIL, 2006), como segue:

Art. 24. É dispensável a licitação:I - para obras e serviços de engenharia

Quadro 1: Comparativo entre o modelo tradicional de compras e o comakership

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de valor até 10% (dez por cento) dolimite previsto na alínea “a”, do inciso Ido artigo anterior, desde que não serefiram a parcelas de uma mesma obraou serviço ou ainda para obras eserviços da mesma natureza e no mesmolocal que possam ser realizadasconjunta e concomitantemente;(Redação dada pela Lei nº 9.648, de 27/05/98)II - para outros serviços e compras devalor até 10% (dez por cento) do limiteprevisto na alínea “a”, do inciso II doartigo anterior e para alienações, noscasos previstos nesta Lei, desde quenão se refiram a parcelas de um mesmoserviço, compra ou alienação de maiorvulto que possa ser realizada de umasó vez; (Redação dada pela Lei nº 9.648,de 27/05/98)III - nos casos de guerra ou graveperturbação da ordem;IV - nos casos de emergência ou decalamidade pública [...]VII - quando as propostasapresentadas consignarem preçosmanifestamente superiores aospraticados no mercado nacional, ouforem incompatíveis com os fixadospelos órgãos oficiais competentes [...]IX - quando houver possibilidade decomprometimento da segurançanacional [...]XII - nas compras dehortifrutigranjeiros, pão e outrosgêneros perecíveis [...]XIV - para a aquisição de bens ouserviços nos termos de acordointernacional específico aprovado peloCongresso Nacional, quando ascondições ofertadas foremmanifestamente vantajosas para o

Poder Público;XVI - para a impressão dos diáriosoficiais, de formulários padronizados deuso da administração, e de ediçõestécnicas oficiais, bem como paraprestação de serviços de informática apessoa jurídica de direito públicointerno, por órgãos ou entidades queintegrem a Administração Pública [...]XVII - para a aquisição de componentesou peças de origem nacional ouestrangeira, necessários à manutençãode equipamentos durante o período degarantia técnica, junto ao fornecedororiginal desses equipamentos [...]XVIII - nas compras ou contrataçõesde serviços para o abastecimento denavios, embarcações, unidades aéreasou tropas e seus meios dedeslocamento quando em estadaeventual de curta duração em portos,aeroportos ou localidades diferentes desuas sedes, por motivo demovimentação operacional ou deadestramento [...]XIX - para as compras de material deuso pelas Forças Armadas, comexceção de materiais de uso pessoal eadministrativo, quando houvernecessidade de manter a padronização[...]XXIV - para a celebração de contratosde prestação de serviços com asorganizações sociais, qualificadas noâmbito das respectivas esferas degoverno, para atividades contempladasno contrato de gestão.

Ainda na mesma lei:

Art. 25. É inexigível a licitação quando

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houver inviabilidade de competição, emespecial:I - para aquisição de materiais,equipamentos, ou gêneros que sópossam ser fornecidos por produtor,empresa ou representante comercialexclusivo [...]II - para a contratação de serviçostécnicos enumerados no art. 13 destaLei, de natureza singular, comprofissionais ou empresas de notóriaespecialização, vedada a inexigibilidadepara serviços de publicidade edivulgação;III - para contratação de profissionalde qualquer setor artístico, diretamenteou através de empresário exclusivo,desde que consagrado pela críticaespecializada ou pela opinião pública.

Cabe salientar que, como se fazperceptível nos tópicos da legislaçãosupracitados, não se trata de favoreceruma empresa em detrimento de outra.A adoção de tal modelo deve ter comoprincípio a melhoria do fornecimentode produtos e serviços às organizaçõesmilitares(OM). Um melhorrelacionamento poderia trazer comovantagem, dentre outros fatores, oaumento da qualidade dos materiais eserviços prestados à instituição,caracterizando bem a segunda fase daevolução no relacionamento cliente-fornecedor (MARTINS, 2002).

Com tais vantagens, o tempoutilizado na busca de empresas de

serviços e materiais também seriasuprimido, o que aumentaria aagilidade do processo de compras.

O que não pode ser implantado,devido às limitações legais, é aintegração operacional e estratégicaentre as empresas. Isso pode sersuperado com as precípuaspossibilidades de incremento novolume das vendas, vislumbradas pelosfornecedores ao contar com umagrande OM como cliente. Talacumulação de lucros, oriunda destaalavancagem comercial, pode sercanalizada para a melhoria dosprocessos de produção, trazendovantagens significativas para o clientee para o fornecedor.

6 Conclusão

A política de comprasgovernamentais brasileira - apesar deestar alicerçada em uma legislaçãopouco flexível - está seguindo atendência para a flexibilização dosprocessos, com controle nos resultadose não apenas nos meios. Há casos emque o excesso de formalismos nãogarante a utilização eficiente dosrecursos públicos.

É esperado que futuramente, nosprocessos de contratação, não seanalise apenas o cumprimento danorma, e sim, se o valor contratado foi

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o mais vantajoso e os objetivospropostos foram alcançados. Aburocracia deixará de exercer o papelprincipal para tornar-se acessória.

Após a análise do sistema decompras e do relacionamento cliente-fornecedor, da visualização do paraleloentre os sistemas de compras domodelo tradicional e do comakership,além da possibilidade de adoção nasorganizações militares, chega-se àconclusão de que tal sistema pode serusado nos casos de dispensa delicitação nas hipóteses tratadas nosIncisos I, II, XII e XIX do artigo 24da Lei nº 8.666/93 (BRASIL, 2006).Nos demais casos fica impossibilitadopelo reduzido número de compras epela falta de constância. Nos casos deinexigência de licitação, o descrito noInciso I do artigo 25, da mesma Lei,pode ser uma hipótese de aplicaçãopara o comakership.

Como perspectiva futura, espera-se que tal modelo possa serregulamentado para utilização plena desuas características, uma vez que, pelaatual legislação, algumas adaptaçõessão necessárias, principalmente no quese refere a uma das características docomakership, que é odesenvolvimento do fornecedor, queficaria limitado.

O artigo não tem como objetivoesgotar o assunto. Pelo contrário, trata-

se de uma sugestão de implantação,aos encarregados de compras, nasorganizações militares, tendo em vistaa melhoria do desempenho na área deaquisições e a maior satisfação norelacionamento cliente-fornecedor.

Ele também contribui para a buscada modernização nos modelos degestão pública, no que tange àsaquisições de produtos e serviços.Abre-se uma lacuna teórica paraelaboração de estudos posteriores quecomplementem e avaliem as situaçõespassíveis de se adequar um novomodelo de relacionamento entre oExército Brasileiro e seus fornecedores,de modo a permitir uma melhoria naeficiência e eficácia do seu atual modelode compras.

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ComunicaçãoSocial

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A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM CORPORATIVA E DE SUAPROTEÇÃO

Gauss Catarinozi Reis1, Fernando Gomes Larrondo2, Marcus César OliveiraAssis3

Resumo. Este artigo relata os resultados de uma análise realizada da imagemcorporativa, sua importância, formação, mensuração, sugestões de como torná-lapositiva e sua proteção, por meio de ampla pesquisa bibliográfica, realizada emlivros, outros artigos, publicações e congressos. A informação referente à imagemcorporativa, obtida por meio dessa análise, pode ser útil no planejamento demarketing das instituições de ensino superior ou similares, permitindo a canalizaçãodos esforços do seu departamento de comunicação e de marketing, com o objetivoprincipal de conseguir uma imagem controlada, uma projeção real de sua identidade,posicionada positivamente frente aos seus públicos-alvo.

Palavras-chave: Imagem Corporativa. Comunicação. Relações públicas. Direito.Marketing.

Abstract. This article shows the results of an analysis of the corporate image, itsimportance, formation, mensuration, suggestions of how to make it positive andabout its protection, by means of large bibliography study of books, other articles,publications and congress. The information referring to the corporate image obtainedthrough this analysis can be useful in marketing planning of universities or alike,allowing the canalization of efforts of their communication and marketing department,with the principal objective to obtain a controlled image, a real projection of theiridentity, positioned positively before their target public.

Keywords: Corporate image. Communication. Public Relations. Law. Marketing.

1 Introdução

As grandes e cada vez mais rápi-das mudanças ocorridas nas últimasdécadas no cenário mundial vêm influ-enciando, de forma marcante, as es-

tratégias das organizações, que, demaneira geral, têm realizado diversosesforços, no sentido de divulgar e pro-mover seus produtos e/ou serviços,com o intuito de fortalecer sua imagem,imprescindível à sociedade de hoje.

1 Bacharelado em Administração. Escola de Administração do Exército (EsAEx), Salvador, Brasil. [email protected] Bacharelado em Direito. Escola de Administração do Exército (EsAEx), Salvador, Brasil. [email protected] Bacharelado em Comunicação Social. Escola de Administração do Exército (EsAEx), Salvador, Brasil. [email protected].

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De acordo com Fox e Kotler(1994),

a imagem é função de ações e comuni-cações onde uma imagem favorável sur-ge quando a escola tem um bom desem-penho e gera satisfação real, deixando,assim, que outros conheçam o seu su-cesso.

O fato do mercado de trabalhoexigir, cada vez mais, conhecimento eexperiência dos alunos recém-forma-dos deve fazer com que as instituiçõesmantenham-se sempre atualizadas emrelação ao contexto social etecnológico em que estão inseridas,além de uma progressiva evolução edu-cacional, uma vez que elas vêm am-pliando suas atuações na comunidade,nas organizações da qual fazem partee nas empresas da região em que es-tão situadas.

Antes, algumas delas atuavam deforma passiva nas questões educacio-nais e principalmente nas relações como mercado. Mas, hoje, estão sendo for-çadas a serem pró-ativas em suasações estratégicas, sobretudo na iden-tificação das expectativas e satisfaçãodas necessidades de um mercado cadavez mais seletivo e exigente (NEVES;RAMOS, 2002).

As pessoas integrantes dos públi-cos-alvo relacionam-se, muitas vezes,à imagem da organização, e não ne-

cessariamente à realidade, o que épreocupante, já que tendem a formarimagens das organizações baseadas eminformações limitadas e/ou imprecisas.

A qualidade real de uma instituiçãoé quase sempre menos importante queo seu prestígio ou sua reputação dequalidade, porque é a sua excelênciapercebida que, de fato, orienta qual-quer decisão por parte do público-alvo.

E, como a organização estáinserida em um ambiente cada vez maisimprevisível, é necessária uma preo-cupação constante com a proteção daimagem, ou seja, com o gerenciamentode sua reputação.

Por isso, neste artigo, serão rela-tados alguns estudos e análises a res-peito da importância da imagem trans-mitida pela organização, e principal-mente, de sua percepção pelo públi-co-alvo. Será também objeto do estu-do a importância da comunicaçãocomo vínculo entre a identidade e aimagem da organização.

Sugerir-se-ão metas, objetivos eestratégias que, se efetivamente apli-cados, poderão possibilitar oatingimento do objetivo principal – ofortalecimento da imagem – e ainda, oque há de proteção legal da imagemem nossa legislação.

Para isso, utilizar-se-á de amplapesquisa em livros de renomados au-

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tores, outros artigos e algumas abor-dagens relativas ao assunto e defendi-das em congressos.

Pretende-se aqui enfatizar a ne-cessidade de uma atenção especial,principalmente por parte da Escola deAdministração do Exército(EsAEx),para o marketing institucional,

que consiste em atividades empreendi-das para criar, manter ou modificar asatitudes e comportamento do público-alvo com relação a uma organização(ARMSTRONG; KOTLER, 1999).

E também para as ações de comu-nicação, onde a eficácia da estratégiade comunicação da organização de-pende substancialmente dacredibilidade das mensagens utilizadase de sua conseqüente assimilação pe-los destinatários, com o ojetivo maiorde "polir" sua imagem perante seuspúblicos-alvo.

2 Identidade, Imagem e Comu-nicação: Definições e Consi-derações

É imprescindível que a organiza-ção, seja qual for a sua finalidade, te-nha uma personalidade própria, quepermitirá identificá-la e diferenciá-la dasdemais organizações, independente-mente de como são percebidas por seuambiente exterior. E esta personalida-

de será configurada por um conjuntode características ou atributos deno-minados identidade.

Quanto ao termo "imagem", elevem sendo utilizado em uma varieda-de de contextos (imagem institucional,organizacional, de marca, pública, eassim por diante), tornando a sua defi-nição difícil, além de englobar diver-sos aspectos subjetivos.

O conceito de imagem tambémvem sofrendo modificações e evolu-ções desde que se começou a estudara sua importância, o que era previsí-vel, já que o ambiente competitivo eas demais características do mercadovêm mudando desde os anos 50, quan-do o referido termo começou a ser uti-lizado.

Segundo Tajada (apud LAS CA-SAS, 2001, p.48), imagem é conside-rada "como o conjunto de representa-ções mentais criado pelo público emrelação a uma empresa ou instituição".

Estas representações, tantoafetivas quanto racionais, são associa-das, por um indivíduo ou um grupo deindivíduos, a uma organização comoresultado de suas experiências, cren-ças, atitudes, sentimentos e informa-ções.

Alguns dos diversos conceitos deimagem conseguem traduzir a idéia deque tudo o que é oferecido ao consu-midor tende a ser rotulado por ele.

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A imagem das empresas resulta deum aglomerado de impressões, con-vicções, rastros de memória, sentimen-tos de amor e ódio em diferentes in-tensidades, enfim, de elementos degrande teor subjetivo.

Na visão de Vaz (1995, p.53) de-fine-se imagem como

um conjunto de idéias que uma pessoatem ou assimila a respeito de um objeto,e que forma na sua consciência um en-tendimento particular sobre tal objeto,seja ele um fato, uma pessoa ou umainstituição.

Aplicada a um contexto prático, aimagem é definida como institucionalquando elaborada à medida em que umgrupo de pessoas constrói uma insti-tuição. O objetivo dela, seu modo detrabalho, o tratamento que dá ao fun-cionário, ao fornecedor e ao clientecontribuem para expressar sua auto-imagem que depois se tornará a ima-gem institucional. E essa, por sua vez,indicará a escala valorativa e ética daentidade.

A imagem ainda pode ser espon-tânea (ou natural), quando surge his-toricamente, isenta de qualquer pro-cesso de controle e sujeita apenas àsações espontâneas. Ou controlada (ougerida), quando surge pela vontade daorganização de assumir o controle deseu efeito.

Imagem corporativa, termo utiliza-do neste artigo, é definido como a ima-gem de uma empresa, organização ouinstituição, resultado da síntese de to-das as ações de comunicação dirigidasa seus diferentes públicos.

Ainda entre as definições, pode-sedistingüir o termo "imagem" dos simi-lares como crenças, atitudes e estere-ótipos, onde uma imagem é muito maisampla do que uma simples crença, sen-do melhor definida como um conjuntode crenças a respeito de um objeto,pessoa ou organização.

Já a mesma imagem que duas pes-soas podem possuir de uma organiza-ção não refletirão atitudes iguais emrelação a ela, dependendo de compo-nentes cognitivos, afetivos ecomportamentais.

Por sua vez, o estereótipo sugereuma imagem ampla, altamentedistorcida e simplista, que conduz umaatitude favorável ou desfavorável emrelação ao objeto. Por outro lado, aimagem é uma percepção mais pesso-al de um objeto que pode variar am-plamente de uma pessoa para outra(FOX; KOTLER, 1994).

E não menos importante, a comu-nicação pressupõe um processo derelação entre várias partes, engloban-do toda transmissão de informaçãoque ocorre mediante a emissão, a con-dução e a recepção de uma mensa-

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gem. Ou seja, ela é substancial eimprenscindível para que a organiza-ção interaja com os seus públicos, tan-to o interno quanto o externo.

Já a comunicação corporativa seráa aplicação de um conjunto de meiosde comunicação que pretende proje-tar a personalidade (identidade) daempresa no meio ambiente, a ser con-figurado de acordo com o público, ten-do como objetivo a projeção das ca-racterísticas e das peculiaridades daorganização em sua totalidade.

Conclui-se então que a imagemcorporativa de uma empresa, organi-zação ou instituição é resultado da sín-tese de todas as suas ações de comu-nicação de propaganda, relações pú-blicas e técnicas afins, dirigidas a seusdiferentes públicos.

3 Importância, Formação eMensuração da Imagem daOrganização

A importância de se estudar egerenciar de maneira positiva a ima-gem reside no fato de que ela interferediretamente no relacionamento da or-ganização com os públicos do seuambiente institucional.

No âmbito das instituições de en-sino, a imagem pode influenciar, diretaou indiretamente, a qualidade do ensi-no, uma vez que pode levar a um me-

nor ou maior comprometimento docorpo discente, dependendo da ima-gem que ele tem da instituição e/ou docurso que freqüenta (NEVES; RA-MOS, 2002).

A imagem de uma instituição deensino pode ainda determinar sua ca-pacidade em obter recursos humanose financeiros, influenciar sua competên-cia em se relacionar com órgãos go-vernamentais, além de motivar sua atu-ação administrativa.

É evidente, para uma instituição deensino, a importância em lançar e man-ter uma boa imagem corporativa pe-rante seus públicos (interno e externo).Essa imagem será levada em conside-ração pelo consumidor quando este foroptar por um trabalho científico, ela-borado pelos seus alunos ou por umserviço, seja de ensino e aprendizagem,ou uma prestação de serviços técni-cos.

Toda organização deve ter umapreocupação constante com a imagemque passa para o público. E uma insti-tuição educacional não é diferente, poisa escola ou universidade que apresen-ta uma imagem negativa não consegueatrair a atenção dos seus públicos-alvopara os seus produtos e/ou serviços,nem apoio aos seus projetos.

Públicos que possuem imagem ne-gativa de uma instituição de ensino vãoevitá-la ou desprestigiá-la, mesmo sen-

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do de alta qualidade. E aqueles que têmuma imagem positiva sobre a mesmaficarão indecisos.

É difícil afirmar que a importânciada imagem esteja apenas nos itens jácitados. Porém, diante da atual con-juntura do mercado, quando marcas enomes tendem a se enfraquecer sob oataque de diversos fatores econômi-cos e sociais, a imagem torna-se de vitalimportância para a instituição, pois faráa diferença de uma organização paraoutra no mercado.

Vê-se aqui porque o Exército Bra-sileiro deve manter o excelente traba-lho de comunicação e marketing, vi-sando à manutenção e proteção de suaimagem.

A formação da imagem acontecequando o público apela a inúmeras re-ferências pessoais para averiguar seuma determinada idéia merece ou nãoa sua aceitação e o seu interesse. Apartir daí, as referências resultantes daexperiência são confrontadas.

Para Bueno et al. (2002, p.288),

as idéias consideradas verdadeiras for-mam as crenças e, com base nelas, as-sociadas à idéia da empresa ou produ-to, constrói-se a imagem daquele públi-co sobre determinada empresa.

A imagem resulta de uma percep-ção unificada. Portanto, ela é única.Contudo, para se formar essa imagem

na mente das pessoas, devem ser con-siderados todos os atributos dos pro-dutos/serviços oferecidos por ela(GRACIOSO, 1995).

Para uma instituição, esses atribu-tos podem ser observados, por exem-plo, por meio dos alunos que atuamou começam a atuar no mercado detrabalho, nas organizações militarespara onde irão após o término do cur-so, nos serviços prestados às empre-sas (uso de laboratórios, pesquisas,entre outros), nos eventos promovidospelas instituições e na consultoria dadapor professores às empresas.

Dessa forma, pode-se afirmar quea imagem é o resultado de diversosatributos que se somam como um efei-to sinérgico.

Nesse processo, os fatos são maiseloqüentes que as palavras, e o con-sumidor tende a criar imagens subjeti-vas em sua mente. Esse mecanismopsíquico que conduz a tais associaçõesé complexo e ainda insuficientementecompreendido. Sobre essa colocação,Guerchfeld (1994) sugere que, para seposicionar diante do consumidor, umainstituição deve adotar três passosprincipais: adotar uma posição, ou seja,posicionar-se diante da sociedade, dopúblico-alvo; escolher os atributos queserão comunicados, de acordo com apostura adotada; e, por fim, escolhere utilizar-se dos meios de comunica-

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ção disponíveis para propagar a men-sagem de maneira simples e objetiva,permitindo assim a associação.

A associação da imagem da insti-tuição com os meios de comunicação,e vice-versa, é indiscutível. Assim, aimagem fica associada a fatos, episó-dios, qualidades, defeitos, vantagens,desvantagens, direitos e obrigações,assimilados principalmente através dosmeios de comunicação.

Mesmo sendo importante para ainstituição colocar primeiramente suaenergia na administração do seu rela-cionamento com seus clientes, forne-cedores, distribuidores, enfim, com oseu micro-ambiente, é relevante nãodeixar de lado a imagem que outrospúblicos têm, pois uma instituição estáinserida em uma cadeia, em uma soci-edade.

Contudo, não basta apenas cons-truir a imagem corporativa. É precisoacompanhar os índices nareceptividade dos diversos públicos,por meio de métodos específicos demensuração.

Mensurar a imagem é uma provi-dência muito útil para saber o que estáocorrendo com o objeto e para apon-tar algumas mudanças desejadas naimagem da instituição. Vários autoresjá propuseram diversas formas demensurar a imagem que uma institui-ção possui diante de seu público, seja

pela mensuração familiaridade-favorabilidade ou pelo diferencial se-mântico.

Porém, vale ressaltar que, em setratando de existir como um conceitona mente das pessoas, a imagemcorporativa não pode ser medida emtermos absolutos.

A instituição deve investir e desen-volver a melhor imagem possível e usu-fruir as vantagens que possam advirdessas providências. E, quanto à peri-odicidade, é sugerido que essa averi-guação seja feita no mínimo uma vezpor ano, sendo mais adequado duasvezes por ano, para um preciso acom-panhamento da imagem da instituição.

4 A Busca de uma ImagemCorporativa Favorável

Como já comentado anteriormen-te, o termo "imagem" vem sendo utili-zado das mais variadas maneiras pelasorganizações, com diversos entendi-mentos sobre o que é, sobre comoconstruí-la e de que forma ela é per-cebida. Porém, o mais importante éque a imagem está sendo tratada comoum ativo intangível das organizações,amplamente valorizado nos últimostempos.

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De acordo com Filho (2002,p.65),

os ativos intangíveis fazem parte daestratégia competitiva das empresas emum ambiente de mudanças globais. Namedida em que a velocidade das aquisi-ções de ativos tangíveis se acelera e oprocesso de produção se padroniza glo-balmente, as empresas que desejamsustentar uma vantagem competitivadistinta (diferenciação), devem prote-ger, explorar e aprimorar seus ativos in-tangíveis.

Quando as empresas trabalham asua imagem diante do público, elasbuscam conhecer sobre o que ela re-presentam para eles ou como eles arepresentam, de acordo com seus há-bitos, valores, crenças e costumes.

A imagem - seja de empresa, deproduto, de marca - é desenhada namente das pessoas com base em atri-butos desejáveis ou rejeitáveis, pauta-dos em valores, formando assim umconceito favorável ou desfavorável,imagem positiva, negativa ou neutra daempresa.

O diferencial da instituição não pre-cisa estar no serviço enquanto tal, massim, na mente do consumidor (FOX;KOTLER, 1994), no caso da EsAEx,o Exército Brasileiro.

Partindo do princípio de que asorganizações são sistemas abertos eque sua sobrevivência só será possívelpor meio da relação de troca com o

ambiente, chega-se à conclusão de quese torna primordial o conhecimento doambiente no qual estão inseridas (NE-VES; RAMOS, 2002).

Para Iasbeck (2005), a imagem daempresa é formada a partir da experi-ência que o público vivencia com ela,dos conhecimentos que adquire sobreseu funcionamento, sua história, seudesempenho e suas metas.

Este mesmo autor indica que ima-gem está relacionada diretamente àquestão da identidade entre a institui-ção e seu público.

As organizações devem atentarpara os stakeholders, grupo de pes-soas ou de outras organizações quesobre aquelas influem diretamente, jáque a imagem corporativa é entendidapela forma como as organizações sãopercebidas por eles. A imagem da or-ganização é uma questão de atitude,de caráter, de formação e de crença.

A construção da imagemcorporativa está relacionada à neces-sidade de legitimação da organizaçãoem relação ao seu ambiente técnico-institucional.

Segundo Pfeffer e Salancik (apudMENDONÇA; ANDRADE, 2003, p42),

a legitimidade é um status conferido àorganização quando os stakeholdersendossam e dão suporte a seus objeti-

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vos e a suas atividades.

Uma das funções das instituiçõesde ensino consiste em desenvolver há-bitos, costumes e atitudes, centradasno compromisso e responsabilidadesocial, além de prover conhecimento(FRANCO ,1998).

O posicionamento que a escolaadota perante o mercado é importan-te, pois ele influencia a imagem que ainstituição transmite, isto é, a imagemque uma instituição conquista é reflexodo seu posicionamento, e poderá ha-ver dificuldades se a propagandainstitucional quiser alterá-la posterior-mente (GRACIOSO, 1995).

Para melhor buscar uma imagemideal, é preciso relembrar aqui o que éimagem e diferenciá-la da identidade.Torquato (1991) diz que a identidadeé formada por valores, princípios, con-ceitos e sistemas. A personalidade daempresa é aquilo que ela realmente é,enquanto que a imagem é aquilo que aempresa deseja projetar, é a sombrada identidade.

Quanto mais clara for a identidadeda empresa – ou seja, como ela é, qualsua razão de ser, suas crenças, valores– mais coerentes serão seus objetivos,comportamentos e ações. Nessa di-mensão também, mais facilmente elaatingirá a imagem que busca.

Deve-se tomar extremo cuidado

com todo o conjunto de manifesta-ções externas que tornam uma empre-sa visível e perceptível aos olhos e sen-timentos da opinião pública, incluindo-se os stakeholders (visibilidade).

Tornar compatíveis a visibilidade deuma organização com a sua identida-de é um dos grandes desafios dos em-presários e diretores de hoje, mas im-prescindível para se atingir uma ima-gem positiva.

5 Metas, Objetivos e Estratégias

Como sugestão, preocupado emenfatizar a importância da imagemcorporativa, uma instituição de ensino,com o objetivo de fortalecê-la perantea sociedade, pode priorizar as seguin-tes metas:

a)Divulgar a produção da instituiçãojunto aos seus diversos públicos;

b)Fortalecer a Seção deComunicação Social; e

c)Criar uma Central de Informações.

5.1 Divulgar a Produção

Para a primeira meta, são sugeri-dos os seguintes objetivos:

a)Implementar e consolidar a Políticade Comunicação;

b)Promover maior visibilidade da

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instituição no cenário desejado,através de uma estratégia eficaz dedivulgação cultural, científica einstitucional; e

c)Dar publicidade aos procedi-mentos e decisões administrativas.

E as seguintes estratégias:

a)Publicação de uma revista técnicaou a inclusão dos trabalhoscientíficos em revistas já existentes(mediante autorização);

b)Criar um jornal somente dainstituição;

c)Fortalecer os trabalhos científicosexistentes (Projetos Interdisci-plinares e Artigos Científicos) e asua divulgação dentro daorganização maior onde estáinserida;

d)Ampliar e fortalecer um projeto dedivulgação junto aos estudantes doensino superior;

e)Promover a divulgação dainstituição através de peçaspromocionais de caráterinstitucional;

f)Divulgar o banco de dados deespecialistas;

g) Atuar em um projeto de tevê e emuma rádio educativos (dependendodo alcance desejado);

h)Estabelecer fluxos de comunicação,de forma planejada e contínua,

entre as diversas seçõesacadêmicas envolvidas; e

i)Implementar um projeto deidentidade visual e sinalização paraa instituição.

5.2 Fortalecer a Seção deComunicação Social

Na segunda meta, são sugeridos osseguintes objetivos:

a) Atuar de modo sinérgico, evitandoa duplicidade e sobreposição deesforços e tarefas; e

b) Otimizar o modelo administrativoutilizado para comunicação dainstituição.

E as seguintes estratégias:

a) Estabelecer parcerias na área decomunicação e informação entresetores da instituição e setores domercado, da sociedade civil e daesfera estatal;

b) Captar apoio institucional e demarketing para projetos decomunicação;

c) Capacitar e qualificar rotinei-ramente o pessoal ligado à área decomunicação.

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5.3 Criar uma Central deInformações

Na terceira meta, são sugeridos osseguintes objetivos:

a) Criar um modelo de normaliza-ção para informações (já existenteno âmbito do Exército Brasileiro);

b) Coordenar e orientar os fluxos deinformações concernentes aosdiferentes níveis da comunicaçãoorganizacional;

c) Prestar informações para alunos,servidores técnico-administrativos,professores, pesquisadores edemais visitantes sobre serviços,produtos, pesquisas, publicações etrabalhos desenvolvidos pelainstituição;

d) Integrar os diversos sistemas deinformação.

E as seguintes estratégias:

a) Documentar e divulgar, interna eexternamente, os trabalhos,eventos e pesquisas realizados nainstituição;

b) Elaborar uma programação anualde comunicação da instituição queaponte prioridades e formuleestratégias, obedecendo a agendasde divulgação institucional, científicae cultural.

6 A Proteção da Imagem

Após o estudo e análise da impor-tância da imagem para uma organiza-ção nos dias de hoje, torna-se impor-tante um outro estudo sobre a sua pro-teção legal.

Torna-se difícil não comentar tam-bém sobre a marca, pois são inúmerascitações e leis onde os dois termos,imagem e marca, vêm atrelados.

Como alguns exemplos de bensincorpóreos têm-se: a reputação, aconfiança do consumidor, a tradição,tudo o que forma a imagem da empre-sa junto ao seu público. Assim, é pos-sível afirmar que as empresas possu-em uma honra objetiva, ou seja,

[...] aquela que consiste no respeito, ad-miração, apreço, consideração que osoutros dispensam à pessoa [...] (A pes-soa jurídica) pode padecer, porém, deataque à honra objetiva, pois goza dereputação junto a terceiros, passível deficar abalada por atos que afetam o seubom nome no mundo civil ou comercialonde atua (recurso especial dirigido aoSuperior Tribunal de Justiça, 4a Turma,n° 60.033-2).

A proteção legal da imagem dapessoa jurídica e seus reflexos no cam-po indenizatório é tema pertinente aoDireito Civil, em razão da responsabi-lidade civil, surgida com o dano cau-sado pelo seu uso indevido.

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Há muito discute-se a existência dedano moral à imagem, quando a vítimafor pessoa jurídica, seja em decorrên-cia do uso indevido da marca ou inde-pendente desta. Os que contestam asua existência afirmam que dificilmen-te se encontrará lesão moral que nãoacarrete prejuízo econômico no casode empresas. Esse entendimento está,hoje, sendo superado pela posição quedefende a existência do dano moral.

O dano é o requisito elementar, quefaz surgir a responsabilidade civil, aolado da conduta dolosa ou culposa edo nexo causal, onde a conduta dolosa(intencional) ou culposa (decorrente deimprudência, imperícia ou negligência)é a ação ou omissão imputável à pes-soa física ou à jurídica que causa odano. E é o nexo causal o liame entreessa conduta e o dano.

Sem o dano, não há que se falarem responsabilidade civil, pelo simplesfato de que não há o que se indenizar.Esse é o entendimento clássico,edificado em virtude dos artigos 1059e 1060 do antigo Código Civil (cor-respondente ao artigo 957 do atualCódigo Civil). É o chamado danopatrimonial que cria a obrigação dereparar o prejuízo econômico sofridopela vítima.

Em contrapartida, a lei 9279/96(legislação federal, www.senado.gov.br), que trata da propriedade in-

dustrial e, portanto, é a lei aplicável àsituação ora estudada, afirma que,quando ocorrer violação da marca, nãoé exigida a comprovação dos danosefetivos para gerar o dever de indeni-zar. Este, no caso das pessoas jurídi-cas, é mais facilmente caracterizadopelos lucros cessantes. É o que sedepreende da leitura dos artigos 208 e210 desta lei:

Art. 208. A indenização será determina-da pelos benefícios que o prejudicadoteria auferido se a violação não tivesseocorrido.Art. 210. Os lucros cessantes serão de-terminados pelo critério mais favorávelao prejudicado, dentre os seguintes:I - os benefícios que o prejudicado teriaauferido se a violação não tivesse ocor-rido; ouII - os benefícios que foram auferidospelo autor da violação do direito; ouIII - a remuneração que o autor da viola-ção teria pago ao titular do direito vio-lado pela concessão de uma licença quelhe permitisse legalmente explorar obem.

Portanto, basta o uso indevido damarca para gerar a obrigação de inde-nizar, pois o dano é presumido (dilui-ção da marca, confusão no espírito doconsumidor do seu verdadeiro titular,etc...). Um dos motivos de tal regra éque a marca, como bem intangível, éde difícil avaliação do prejuízo efetivo.

Quanto aos tipos de dano, primei-

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ramente temos o dano patrimonial, queé aquele que atinge os bens integran-tes do patrimônio da vítima, entenden-do-se como tal o conjunto das rela-ções jurídicas de uma pessoa apreciá-veis em dinheiro.

Em relação ao dano moral, apósanos de polêmica, a Constituição Fe-deral de 1988 acabou com a celeumade sua previsão ou não na legislaçãonacional ao definir em seu artigo 5°,inciso X, serem

invioláveis a intimidade, a vida privada,a honra e a imagem das pessoas, asse-gurando o direito à indenização pelodano material ou moral decorrente desua violação

Nesse contexto, o Superior Tribu-nal de Justiça editou a súmula 37: "Sãocumuláveis as indenizações por danomaterial e moral oriundas do mesmofato", e, posteriormente, a súmula 227:"A pessoa jurídica pode sofrer danomoral".

No dano moral, há, normalmente,lesão aos direitos da personalidadecomo: honra, imagem, nome e privaci-dade. Porém, há possibilidade de danomoral decorrente de outros direitoslesionados, já que o mesmo

consubstancia-se no efeito nãopatrimonial da lesão e não na próprialesão abstratamente considerada, sen-

do o sofrimento causado por uma per-da não patrimonial (Extraído do acórdãoda 1a Câmara Cível do Tribunal de Justi-ça do Rio de Janeiro, apelação cíveljulgada em 19/11/91).

Assim, a indenização pelo danomoral não visa a reparar a integridadedo dano causado, mas sim, a uma sim-ples compensação pelo desconfortoexperimentado pela vítima.

No que concerne às pessoas jurí-dicas, o dano moral, até pouco tempoatrás, não era admitido, pois só diziarespeito aos "danos da alma", advindosda capacidade afetiva e sentimental doser humano. Atualmente, contudo, ajurisprudência já vem se consolidandono sentido de ser cabível a indeniza-ção por danos morais à pessoa jurídi-ca, independente de acarretar danospatrimoniais indiretos ou não. O se-guinte acórdão do Tribunal de Justiçado Rio de Janeiro corrobora o acimaafirmado:

A pessoa jurídica, embora não seja titu-lar de honra subjetiva que se caracteri-ze pela dignidade, decoro e auto-esti-ma, exclusiva do ser humano, é deten-tora de honra objetiva, fazendo jus àindenização por dano moral sempre queseu bom nome, reputação ou imagemforem atingidos no meio comercial poralgum ato ilícito. Ademais, após a Cons-tituição Federal de 1988, a noção dodano moral não mais se restringe ao

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pretium doloris, abrangendo tambémqualquer ataque ao nome ou imagem dapessoa, física ou jurídica, com vistas aresguardar a sua credibilidade e respei-tabilidade (Rel. Des. Sérgio CavalieriFilho, Revista Técnica, vol. 725, pág.336).

Esta ofensa pode ter seu efeito res-trito à diminuição do seu conceito pe-rante o público. Portanto, trata-se dedano extra-patrimonial, que pode sermensurado através de arbitramento.

Assim, o uso indevido da marcapode vir a gerar um dano moral a seutitular, uma vez que a marca serve paraidentificar o fabricante do produto, oprestador do serviço, e, conseqüente-mente, a qualidade dos produtos e ser-viços. E aquele que infringir o direitoao uso exclusivo do titular da marca, aeste estará gerando um dano moralpelas presumíveis conseqüências queadvirão do ato ilícito.

Há quem defenda o surgimento deum terceiro tipo de dano que, assimcomo o dano moral, também teria ocaráter extra-patrimonial. Este danoseria o chamado dano à imagem, fun-damentado no artigo 5, inciso V, daConstituição Federal de 1988: “é as-segurado o direito de resposta, pro-porcional ao agravo, além da indeni-zação por dano material, moral ou àimagem”.

Contudo, a imagem pessoal se

constitui em um bem tutelado, enquantofator de identificação pessoal. Assimhá lesão ao direito de imagem quandohouver usurpação, contrafação ouadulteração da identidade da pessoa(física ou jurídica). E, como a finalida-de da marca é identificar a pessoa ju-rídica, fabricante de produtos ouprestadora de serviços, pode-se con-cluir que o uso indevido da marca ge-rará um dano à imagem do seu titular.

A formação da clientela, a fama daempresa e a qualidade de seus produ-tos são fatores reveladores da pros-peridade da pessoa jurídica, motivopelo qual deve ser preservada a ima-gem da organização.

Assim, nota-se uma estreita ligaçãoentre dano moral e dano à imagem,podendo este ser entendido comosubespécie daquele. Isso se deve aofato de que a violação à imagem é umaviolação a um direito da personalida-de, ou seja, uma lesão de natureza nãopecuniária.

Apesar da Lei de Propriedade In-dustrial determinar, em seu artigo 124,não serem registráveis os emblemas edistintivos oficiais ou públicos, os mes-mos, e ainda a imagem das pessoasjurídicas/órgãos que representam, es-tão abrangidos pelas proteções legaisacima referidas. Mesmo que tais sím-bolos não identifiquem empresas co-merciais, o certo é que haverá dano na

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sua utilização não autorizada, pois,como dito, este, quando atinge imagemou marca, não precisa ser demonstra-do efetivamente, além da possível exis-tência de dano moral, o qual nãocorresponde a uma lesão apreciável emdinheiro.

No mais, a reputação, o crédito, oconceito e a fama da empresa ou ór-gão público são frutos de tempo e dadedicação de seus integrantes, poden-do ser abalados em virtude da utiliza-ção indevida por terceiros.

Assim, no caso específico da Es-cola de Administração do Exército, autilização de sua imagem ou mesmo desua marca, por exemplo, por cursospreparatórios para concurso gera paraestes, o dever de indenizar a institui-ção apenas pelo fato da inexistência deautorização de seu titular, a União, nãosendo necessário se apurar concreta-mente se a pessoa jurídica vítima dei-xou de lucrar com tal expediente, e,nem tampouco, se o autor do dano ex-perimentou vantagens. Nesse sentido,a Associação Brasileira de Proprieda-de Industrial, por seu Conselho Dire-tor, aprovou, em 27 de janeiro de2000, uma Resolução, dispondo so-bre infrações aos direitos da proprie-dade intelectual nos seguintes termos:

item 3.3 – O dano moral resulta da pró-pria violação ao direito, devendo ser in-

denizado sem qualquer necessidade deprova de prejuízo material.

Finalmente, cabe à instituição a pre-ocupação em se manter atenta ao am-biente onde está inserida, através dacriação ou adequação de um departa-mento ou seção, preparada para agirquando a sua imagem, ou a de algumde seus órgãos, for atingida.

7 Conclusão

É importante a conscientização deque a imagem não é estática, uma vezque possui uma estrutura dinâmica esensível, tanto às mudanças externas,quanto ao que ocorre nas estratégiasorganizacionais, e que a troca com ospúblicos-alvo só será possível se aimagem percebida por tais for positi-va.

Lembrando que imagem abrangeuma soma de fatores como crenças,idéias e impressões acerca de um ob-jeto, uma política de ComunicaçãoSocial deverá visualizar a realidade eseus reflexos sobre a instituição e, aomesmo tempo, colocar este setorcomo instrumento das estratégias quea instituição deve adotar para partici-par do processo de formação da opi-nião pública.

A formação da imagem corporativadeve ser encarada como um trabalho

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permanente, coerente e planejado. E,para que se possa desenvolver umaimagem forte para uma instituição, umproduto, ou até mesmo uma marca, sãonecessários muita criatividade e esfor-ço, pois a imagem não é implantadade forma instantânea nem divulgada porum veículo de mídia isolado.

Ela deve fazer parte de todas ascomunicações da instituição com seusdiversos públicos e ser mostrada re-petidamente. Desenvolver a imagem deuma instituição nos dias de hoje é fun-damental para a sua sobrevivência nomercado.

Uma imagem positiva da organiza-ção perante a sociedade gerará moti-vação entre as pessoas que dela fa-zem parte, e ela pode ser obtida atra-vés de um planejamento administrati-vo, buscando mais efetividade domarketing institucional e maior eficiên-cia das comunicações, de um controlecontínuo sobre o posicionamento daimagem perante seus públicos-alvo etoda a reorganização estrutural neces-sária para tal.

Estas podem ser algumas contribui-ções geradas pelo artigo, ressalvandoaqui a necessidade de um pouco maisde aprofundamento e detalhamentodas metas, objetivos e estratégias su-geridos no mesmo, caso venha a serimplantado.

Este artigo pode representar, para

uma organização, uma mudança de ati-tudes de todos os seus colaboradores(corpo discente, corpo docente, fun-cionários e demais públicos) e a ela-boração de um plano de fortalecimen-to da imagem corporativa queviabilizará maior relacionamento comos públicos-alvo, com maior valoriza-ção de seus produtos e/ou serviços.

E ainda, é necessário que as orga-nizações estejam adequadas e atentasàs novas questões de proteção da ima-gem em todos os seus ambientes deinteração e comunicação, cada vezmais multimídia e interativo. Neste ce-nário, digital e conectado, onde os ris-cos e a imprevisibilidade são cada vezmaiores, é preciso adotar metodologiaspreventivas e corretivas que atendama demandas de natureza diferente dastradicionais.

Mais que investir em imagem, épreciso gerenciar a reputação, o queexige vigilância contínua. O Marketinge a Comunicação Social, mais preci-samente, Relações Públicas, precisam,cada vez mais, estar preparados a fa-zer a gestão e a proteção da imagemda marca.

A partir de um controle constantee um adequado treinamento dosgestores, a organização vai saber comoevitar ruídos na comunicação com amídia, e manter um fluxo de informa-ção adequado com todos os interes-

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sados, de forma a fortalecer a imageme mantê-la assim posicionada, evitan-do estragos à imagem e à reputaçãode negócios, produtos ou serviços.

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Direito

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1 Bacharelado em Direito. Escola de Administração do Exército (EsAEx), Salvador, Brasil. [email protected] Bacharelado em Direito. Escola de Administração do Exército (EsAEx), Salvador, Brasil. [email protected] Bacharelado em Direito. Escola de Administração do Exército (EsAEx), Salvador, Brasil. [email protected].

JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO – ALTERAÇÕES NACOMPETÊNCIA

Alexandre Santos de Oliveira1, Cirelene Maria da Silva Buta2, Izabela FátimaFerreira Mendes3

Resumo. Este artigo tem como objetivo analisar a alteração da competência daJustiça Militar da União contida na Proposta de Emenda Constitucional nº 358/04.A proposta, em tramitação no Congresso Nacional, objetiva deslocar a competênciado julgamento das punições disciplinares aplicadas aos militares das ForçasArmadas, da Justiça Federal para a Justiça Militar da União. Considerando que noâmbito da Justiça Militar Estadual esta alteração já foi implementada (EmendaConstitucional n. 45/2004), busca o presente estudo examinar os reflexos de taisalterações, na caserna, especificamente, no que tange ao fortalecimento dahierarquia e da disciplina. Evidencia-se que a aprovação da proposta culminará navalorização dos pilares básicos da instituição castrense, valorizando ainda maisas Instituições Militares das Forças Armadas.

Palavras chaves: Projeto de Emenda Constitucional. Punições Disciplinares.Competência da Justiça Militar.

Abstract. This work aims at analyzing the changes in competence of the MilitaryJustice proposed by the Constitutional Amendment Proposal number 358/04. Underproceedings in the National Congress, the proposal has the objective of changingthe competence in the judgment of actions resultant from disciplinary punishmentsapplied to military individuals in the Armed Forces of the Federal Justice in theUnion. Considering that, in the ambit of the State Military Justice this change hasalready been implemented (Constitutional Amendment number 45/2004), this studyattempts to examine the effects of these changes on the military life, specially thestrengthening of hierarchy and discipline. The approval of this proposal will attributehigher value to the basic pillars of the military institution, attributing higher value tothe Military Institutions in the Armed Forces.

Keyword: Increase. Competence. Justice. Military. Punishments. Disciplinary.

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1 Introdução

O Poder Judiciário Brasileiro passapor uma verdadeira transformação. AEmenda Constitucional n. 45 de 2004(LAZZARINI, 2005, p. 264),introduziu profundas mudanças naorganização e estrutura das CortesJudiciais. Outras propostas dealterações estão em andamento: umadelas, especificamente, de interesse dasForças Armadas.

A Proposta de EmendaConstitucional (PEC) nº 358/04(MAGALHÃES, 2005) que tem porescopo, entre outros, alterar o art. 124da Constituição Federal (CF) quepassará a ter a seguinte redação: “àJustiça Militar da União competeprocessar e julgar os crimes militaresdefinidos em lei, bem como exercer ocontrole jurisdicional sobre as puniçõesdisciplinares aplicadas aos membrosdas Forças Armadas”.

O tema é de interesse, tendo emvista que permitirá à Justiça Militar daUnião; que é a constitucionalmentecompetente para tutelar os bensjurídicos relevantes para InstituiçõesMilitares, quais sejam: as obrigações,os deveres, a hierarquia e a disciplinamilitares; apreciar também as lidesdecorrentes de punições disciplinares,que são lesões menos gravosas a essesmesmos bens jurídicos.

Hordiernamente estas lides sãoapreciadas pela Justiça Federal,conforme prevê o Art. 109, I da CF(LAZZARINI, 2005, p. 89).

A apreciação das lides decorrentesde punições disciplinares pela JustiçaMilitar propiciará um exame maisacurado dos valores vigas mestra dacaserna, hierarquia e disciplina. Umavez que a carreira militar tem suasparticularidades, reconhecidas, assim,pela Carta Magna. Desta forma, écritério de equanimidade que o órgãojurisdicional competente também lheseja peculiar, ou seja, a Justiça Militarcuidando do Direito Militar, comcompetência penal e cível.

No âmbito da Justiça MilitarEstadual (JME), este deslocamento decompetência já é fato, pois a EmendaConstitucional n. 45 – EC 45/04(LAZZARINI, 2005, p. 264)–acrescentou ao Art. 125 daConstituição Federal o § 5º, atribuindocompetência à JME para apreciar aslides decorrentes de atos disciplinaresmilitares.

Antes da EC 45/04, no âmbito daJME, o juiz de direito da JustiçaComum era competente para conhecerestas lides e, por vezes, em razão dodesconhecimento da importância dosvalores cultuados na instituiçãocastrense, decidia afrontando ospróprios princípios tutelados pelos

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Regulamentos Disciplinares, enfraque-cendo assim a hierarquia e a disciplinana tropa.

Para evitar tais disparates jurídicos,as lides decorrentes das puniçõesdisciplinares, ao que parece, deveriam,da mesma forma que vem sendorealizada na JME ser apreciadas pelaJustiça Militar da União – JMU – tendoem vista a sua especialidade, uma vezque tanto a transgressão disciplinarquanto o crime militar atingem, emultima ratio, os mesmos bens jurídicosda Instituição Militar.

É esta a proposta da PEC 358/04(MAGALHÃES, 2005), que uma vezaprovada, contemplará o paralelismojurídico constitucional no que dizrespeito ao tema competência daJustiça Militar, pois as esferas federaise estaduais deverão guardarsemelhanças no âmbito de suasatribuições e competências, emhomenagem ao Federalismo. Sendoassim, a JMU e a JME deverãocaminhar rumo ao objetivo: guardar asInstituições Militares, o quehodiernamente ainda não ocorre.

Com base nestes fundamentosexpostos, objetiva-se demonstrar anecessidade da aprovação da PEC358/04 no que diz respeito àcompetência da JMU, uma vez que,aparentemente, trará reflexos nocomportamento da tropa.

O estudo será desenvolvido pormeio de compilações doutrinárias etextos legais.

Serão analisados o conceito decompetência e as atuais competênciasdas Justiças Militares; estas abordarãoos conceitos de transgressão e puniçãodisciplinares. Ao final, demonstrar-se-á os reflexos destas vantagens perantea Instituição Militar.

É bem verdade que o tema érecente, pouco explorado, porém, issonão o faz menos importante e, porconseqüência, menos instigante.

2 Competência

A doutrina ensina que competênciaé a medida de jurisdição que determinaas atribuições dos variados órgãos queexercem as funções jurisdicionais(MARQUES, 2003, p. 265). Tambémpode ser definida como o critério dedistribuição entre os vários órgãosjudiciários das atribuiçõesconcernentes ao desempenho dajurisdição (THEODORO JÚNIOR,2003, p.141).

Nery Júnior e Nery (2003, p. 471)ao comentarem o art. 86 do Códigode Processo Civil afirmam que

[...] a lei fixa critérios que distribuementre os diversos órgãos do Estado aórbita do poder jurisdicional de seus

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agentes. Fazendo isto, a lei conferecompetência ao órgão estatalincumbido de exercer a jurisdição, nosexatos limites da linha que traça.

Assim, a delimitação do poderjurisdicional é feita em vários planosconforme a natureza da lide, o territórioe as funções dos órgãos.

2.1 Competência na ConstituiçãoFederal

A primeira distribuição decompetência, nos moldes acimaexpostos, é feita pela Constituição aoatribuir a cada órgão o poder decompor a lide de acordo com a matéria(ratione materiae). Desta forma, naesfera criminal e cível, estabeleceu,entre outras, a Justiça Militar da União,Justiça Militar dos Estados, JustiçaComum Federal e Justiça ComumEstadual.

Assim, ao mesmo tempo, a CartaMagna dividiu os militares em duasclasses: os militares federais integrantesdas Forças Armadas (art. 143, §3º ) eos militares dos Estados, DistritoFederal e dos Territórios (art. 144, §6ºe art. 42). Conforme Lenza (2005, p.407)

[...] assim, de maneira coerente, a CFdistingue a Justiça Militar Federal (daUnião) de um lado (art. 124) e a

estadual, também especializada, deoutro (art. 125, § 3º, 4º, e 5º, grifo doautor).

Anteriormente à promulgação daConstituição Cidadã, havia inúmerosdebates acerca dos limites dacompetência da Justiça Militar e umatendência jurisprudencial no sentido derestringir a atuação da JustiçaCastrense nos conflitos de competênciacom a Justiça Comum. Fernandes(2002, p. 144) esclarece que:

[...] todavia com a EmendaConstitucional 7, de 13.04.1977, quemodificou o art. 144, 1º, d , daConstituição Federal, foi atribuída àJustiça Militar competência para julgarmilitares em crimes militares,invertendo-se a tendência pretorianacom uma ampliação demasiada dacompetência da Justiça Militar.

A nova ordem constitucional de1988 manteve a redação textual econfirmou a corrente jurisdicionalampliativa. Assim, ratificou acompetência para julgar os crimesmilitares definidos em lei (art. 124,caput, e 125, §4º, da CF) para aJustiça Militar federal e a estadual(FERNANDES, 2002, p. 144).

Quanto à competência civil parajulgar os atos disciplinares cometidospelos militares estaduais, a EC 45/

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2004, como será esclarecido,posteriormente, estabeleceu que osjuízes auditores togados julgarão asações judiciais contra atos disciplinaresmilitares. Entretanto, para os militaresdas Forças Armadas, as puniçõesdisciplinares a eles imputadoscontinuarão sendo julgadas pela JustiçaComum Federal (art. 109, I, da CF).

Por fim, compete ao SupremoTribunal Federal processar e julgar osconflitos de competência entre oSuperior Tribunal Militar (STM) equaisquer tribunais. Compete aoSuperior Tribunal de Justiça (STJ)processar e julgar os conflitos decompetência entre juízes militares eoutros tribunais ou outros juízes, emconformidade com o art. 105, I, d, daCF.

2.1.1 Competência da Justiça Militarda União

Emanada a competênciaestabelecida pela Constituição, faz-senecessário analisar as atribuições decada tribunal militar, iniciando-se peloda União. De acordo com o art. 124,parágrafo único, da CF, combinadocom o art. 82 do Código de ProcessoPenal Militar (CPPM), compete àJustiça Militar da União processar ejulgar os crimes militares definidos emlei, cometidos seja por militares ou civis.

Infere-se das regras constitucionaisque para o estabelecimento dacompetência da Justiça Militar daUnião foi utilizado o critério rationelegis, ou seja, este órgão jurisdicionalapreciará os crimes militares definidosem lei praticados por qualquer agente(civil ou militar).

A Justiça Militar da União,atualmente, só detém competência emmatéria penal. As ações decorrentes depunições disciplinares são apreciadaspela Justiça Comum Federal, deacordo com o art. 109, I, da CF, vistoque a União terá a condição de autoraou ré nos processos. Ademais, a EC45/04 não alterou a matéria, ficandorestrita à Justiça Militar Estadual e ado Distrito Federal. Por fim, Lenza(2005, p. 412) ressalta que, nosjulgamentos realizados pela JMU, oConselho de Justiça continua sendo oórgão jurisdicional competente parajulgar os crimes militares praticadoscontra civis.

2.1.2 Competência da Justiça MilitarEstadual

A Constituição possibilitou aosEstados-Membros a constituírem osTribunais Militares Estaduais.Atualmente há três Tribunais de Justiça:Minas Gerais, Rio Grande do Sul e SãoPaulo. Nos demais Estados, está

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organizada, no primeiro grau, por juízesde direito e pelos Conselhos de Justiçae, no segundo grau, pelo Tribunal deJustiça por meio de uma câmaraespecializada.

Antes da EC 45/04, a Justiça MilitarEstadual julgava somente os crimesmilitares definidos em lei. As ações, emrazão dos atos disciplinares, eramjulgadas pela Justiça Comum Estadualquando praticadas pelos militaresestaduais.

Com a Reforma do Judiciário,coube à Justiça Militar Estadualprocessar e julgar os policiais militarese os membros dos Corpos deBombeiros nos crimes definidos em leie as ações judiciais contra atosdisciplinares, ressalvada a competênciado Tribunal do Júri quando a vítima forcivil, em conformidade com os art.125, § 4°, da CF (TOURINHOFILHO, 2006, p.240). Cabe ressaltarque o STJ já definiu que se deveentender por policiais militarespropriamente os membros dos Corposde Bombeiros, os Policiais Rodoviáriosestaduais e os membros da PolíciaFlorestal. Segundo o mesmo autor,excluiram-se os efetivos das guardasmunicipais, visto que não se enquadramem nenhuma das categorias supra.

Nas palavras de Lenza(2005,p.394)

Com o novo parágrafo 5º introduzidopela Reforma do Judiciário ao art. 125da CF/88, a Justiça Militar Estadual (eveja, somente a estadual, podendo, emnosso entender ser ampliada para a doDF e Territórios), através de seus juízesauditores togados (e não pelosConselhos, como se verá), pela primeiravez, julgará as ações judiciais contraatos disciplinares militares, portanto,de natureza civil e não maisexclusivamente penal, como aconteciaantes da Reforma.

A EC 45/2004 atribuiu ao Tribunaldo Júri o julgamento do policial emembros dos Corpos de Bombeirosque comete contra civil crime militardoloso contra a vida, consumado outentado, e deu competência ao JuizAuditor para processar e julgar “[...]singularmente , os crimes militarescometidos contra civis e as açõesjudiciais contra atos disciplinaresmilitares [...]” (grifo nosso), de acordocom o art. 125, § 5º, da CF. Os demaismembros do Conselho da JME nãoparticiparão da fase instrutória doprocesso criminal, nos crimes dolososcontra a vida de civil,independentemente do grauhierárquico do acusado.

Verifica-se que para definir acompetência da Justiça Militar Estadual

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foram utilizados dois critérios: rationemateriae (natureza de crime militar) eratione personae (qualidade doagente). Ou seja, esta Justiça julgaráos crimes militares que foremcometidos por policiais militares oubombeiros.

Segundo Fernandes (2002, p.145), a Justiça Militar Estadual só podejulgar os policiais militares oubombeiros militares (art. 125, § 4°, daCF). Portanto, a Constituição Federalexclui os civis. Caso estes cometamcrimes militares, não serão julgadospor essa justiça especializada, mas pelaJustiça Comum Estadual.

3 A Emenda Constitucional 45/2004

A EC 45/2004, que foi aprovadaem 17.11.2004, após treze anos detramitação, cuida da Reforma doPoder Judiciário. A matéria emcomento foi anteriormente tratada emuma única Proposta de Emenda àConstituição (PEC) de número 96/92que foi posteriormente desmembradaem quatro: n. 29/2000 que setransformou na EC 45/2004; n. 29-A/2000 que na Câmara dos Deputadostomou o n. 358/2005 por ter sidomodificada no Senado; n. 26/04-SFque altera o art. 100, da CF; e n. 27/04-SF que autoriza a lei instituir

juizados de instrução criminal para asinfrações penais nela definidas.(LENZA, 2005, p. 364-366).

Tourinho Filho (2006, p. 241.) aoanalisar os reflexos da Reforma doJudiciário na Justiça Militar argumentaque

[...] o Congresso, quando da elaboraçãoda Emenda Constitucional n. 45/2004, anosso juízo, cometeu um deslize: deixoude estender à Justiça Militar da Uniãoa competência para exercer o controlejurisdicional sobre as puniçõesmilitares, que, hoje, cabe,esdruxulamente, à Justiça Ordinária. Fê-lo, entretanto, em relação à JustiçaMilitar dos Estados.

Todavia, a Comissão de Constitui-ção, Justiça e Cidadania do Senado jáexarou parecer e encaminhou à Câma-ra dos Deputados a Proposta deEmenda Constitucional n. 29, de2000, complementando a EC n. 45/2004 sobre as modificações do PoderJudiciário. E, segundo o supracitadoparecer, o art. 124 da CF terá a se-guinte redação:

à Justiça Militar da União compete pro-cessar e julgar os crimes militares defi-nidos em lei, bem como exercer o con-trole jurisdicional sobre as puniçõesdisciplinares aplicadas aos membrosdas Forças Armadas (grifo nosso).

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Quando essa redação tornar-sedefinitiva cessará um dos erros da nos-sa Justiça: permitir à Justiça ComumFederal processar e julgar habbeascorpus contra punições disciplinares.

Neste diapasão, mister se faz defi-nir as punições disciplinares passíveisde análise pelas Justiça Militar Esta-dual e Justiça Federal da União.

4 Punições Disciplinares

O ato da administração que aplicaa punição disciplinar, espécie de atoadministrativo, que por sua vez, é umaespécie de ato jurídico.

Ensina Meirelles,(2002, p.119) que

Ato administrativo é toda manifestaçãounilateral de vontade da AdministraçãoPública que, agindo nessa qualidade,tenha por fim imediato adquirir,resguardar, transferir, modificar,extinguir e declarar direitos, ou imporobrigações aos administrados ou a siprópria.

A formação de todo atoadministrativo, da qual o atoadministrativo disciplinar é espécie,revela nitidamente a existência de cincorequisitos essenciais: competência,finalidade, forma, motivo e objeto. Sema convergência desses elementos, nãose aperfeiçoa o ato e,conseqüentemente, não terá ele

condições de eficácia para produzirefeitos válidos.

Caracteriza-se o ato administrativopunitivo pela larga margem dediscricionariedade com que age aadministração pública, quer quanto aescolha da penalidade ou quanto agradação da pena, desde que concedaao interessado a possibilidade dedefesa.

Carvalho (2005) assim definepunição disciplinar

[...] a punição administrativa disciplinardecorre da supremacia especial que oEstado exerce sobre os administrados,visando o controle do desempenho dasfunções estatais e a conduta interna deseus servidores, responsabilizando-ospelas faltas cometidas. A puniçãodisciplinar militar é o atoadministrativo que objetiva apreservação da hierarquia e dadisciplina militar, tendo em vista obenefício ao punido, pela suareeducação, e à Organização Militar,pelo fortalecimento da disciplina e dajustiça (grifo do autor).

Ainda como conceito de puniçãodisciplinar temos

[...] a sanção disciplinar, sinônimo depunição disciplinar [...] vem a ser oresultado final de uma complexaapuração por meio de um processoadministrativo disciplinar, onde oobjetivo final da sanção disciplinar é

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aplicar ao infrator uma medida de cunhodisciplinar visando restabelecer ummandamento regulamentar violado (DACOSTA, 2003, p.153).

Em decorrência de ser a puniçãodisciplinar espécie de atoadministrativo, a sua natureza jurídicaé administrativa, tal entendimento écorroborado por Carvalho Filho(2005, p.56) ao diferenciar puniçãofuncional de Direito Penal

[...] no Direito Penal, o juiz aplica aoinfrator a pena atribuída à condutatipificada na lei, permitindo-se aoaplicador somente quantificá-la. NoDireito [administrativo] disciplinar, nãoobstante, tal não ocorre. De acordo coma gravidade de conduta, a autoridadeescolherá , entre as penas legais, a queconsulte ao interesse do serviço e a quemais reprima a falta cometida [...] Emvirtude dessa competência, não cabeao Judiciário alterar ou majorar sançõesaplicadas pelo administrador, porquedecisão desse tipo ofenderia o princípioda separação dos Poderes consagradona Carta vigente ; ao juiz cabe tãosomente invalidá-las se constar dehipótese de ilegalidade (grifo do autor).

Cabe lembrar que o administradorao aplicar a sanção deve obedecer aoprincípio da adequação punitiva ouproporcionalidade, que, com os demaisrequisitos do ato administrativo, podemser objeto de controle por parte do

Judiciário.

4.1 Controle do Poder Judiciário

O controle judicial dos atosadministrativos constitui, juntamentecom o princípio da legalidade, um dosfundamentos do próprio Estado deDireito.

O sistema de controle adotadopelo Brasil é o sistema da jurisdiçãouna com fundamento constitucional noart. 5º, inciso XXXV da CF.

Nesse sentido, o ato doadministrador militar que aplica puniçãoé passível de controle pelo Judiciárioque o faz pelo seguintes meios: HabeasCorpus, Habeas Data, Mandado deSegurança Individual e Coletivo(CARVALHO FILHO, 2005, p.789-793).

Atualmente, tal controle no âmbitodas Forças Armadas é realizado pelosjuízes Federais. Com a aprovação daPEC 358/04 esse controle passará aser realizado pela JMU,restabelecendo, assim, o paralelismojurídico perdido com EC 45/04, queestabeleceu competência à JME paraapreciar as lides decorrentes de atosdisciplinares.

Ainda não foram produzidos pelaJME julgados suficientes para umaestudo acerca dos reflexos de talalteração. Porém, por ter a Justiça

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Militar competência e especializaçãopara apreciar os crimes militares, quenada mais são que violações maisgraves aos preceitos genuinamentemilitares, da mesma forma seriaespecializada para apreciar as puniçõesdisciplinares, que são lesões menosgraves a esses mesmos preceitos.

Esta gradação é o entendimentocompreendido com a leitura do art. 42do Estatuto dos Militares que traçauma linha geral sobre o conceito detransgressão disciplinar.

Art.. 42 - A violação das obrigações oudos deveres militares constituirácrime, contravenção ou transgressãodisciplinar, conforme dispuser alegislação ou regulamentaçãoespecíficas (LAZZARINI, 2005, p. 279,grifo nosso).

Pela análise do texto legal, olegislador, ao que parece, teve a nítidaimpressão de estabelecer umagradação quanto a violação dasobrigações e deveres dos militares, ouseja, a maior lesão constitui crime e amenor, transgressão disciplinar.

Outro dispositivo legal queconfirma a proximidade entre crimemilitar e transgressão disciplinar é oparágrafo único do art. 8º doRegulamento Disciplinar daAeronáutica ao informar que

Distingue-se [a transgressãodisciplinar] do crime militar que éofensa mais grave a esse mesmo dever,segundo o preceituado na legislaçãopenal militar (LAZZARINI, 2005, p. 593,grifo nosso).

O Regulamento Disciplinar doExército, art. 14, também confirma anatureza próxima entre crime militar etransgressão disciplinar

Art. 14, § 4°: No concurso de crime etransgressão disciplinar, quandoforem da mesma natureza, esta éabsorvida por aquele e aplica-sesomente a pena relativa ao crime(LAZZARINI, 2005, p. 689, grifo nosso).

De forma até mais enfática oEstatuto Disciplinar da Marinha em seuart. 6º deixa claro que será transgressãoaquela ação ou omissão não tipificadapenalmente, e denomina a transgressãode contravenção disciplinar, portanto,se assemelha ao crime

Art. 6º - Contravenção Disciplinar étoda ação ou omissão contrária àsobrigações ou aos deveres militaresestatuídos nas leis, nos regulamentos,nas normas e nas disposições em vigorque fundamentam a OrganizaçãoMilitar, desde que não incidindo no queé capitulado pelo Código Penal Militarcomo crime (LAZZARINI, 2005, p. 619,grifo nosso).

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À luz dos textos legais supracitadoso conceito de transgressão disciplinarguarda grande semelhança jurídicaentre o crime militar, objeto de atuaçãoda Justiça Militar, em razão disso, seriaesta Justiça a mais especializada paraapreciar as ações decorrentes daspunições disciplinares.

Tal possibilidade desafogará as jáabarrotadas Varas da Justiça Federale propiciará um exame mais célere eacurado do tema.

5 A Proposta de Emenda àConstituição N. 358

A PEC n. 29-A (358/05-CD), sealterar o art. 124 da CF, ampliará asatribuições da Justiça Militar da União,que além de processar e julgar os crimesmilitares definidos em lei, passará aexercer o controle jurisdicional sobreas punições disciplinares aos membrosdas Forças Armadas. Segundo Lenza(2005, p. 410), se aprovada, ampliaráa competência da Justiça Militar daUnião para o julgamento de matéria denatureza disciplinar.

Segundo o voto do relator da ditaProposta,

[...] a Justiça Militar da União recebecompetência para exercer o controlejurisdicional sobre as puniçõesdisciplinares aplicadas aos membros

das Forças Armadas (art. 124), pondofim à cisão atual, que deixa tal controleaos tribunais da Justiça comum.Outrossim, a redação proposta éconsentânea com a atribuição decompetência à Justiça Militar estadualpara julgar ações judiciais contra atosdisciplinares militares, feita pela EmendaConstitucional n.º 45 (MAGALHÃES,2005).

Assim, será restabelecido oparalelismo jurídico atualmenteinexistente entre a JMU e a JME.Também permitirá que a JMU faça umexame mais apurado das lides, vistoque é o órgão jurisdicional que tratados princípios da hierarquia e disciplinadiuturnamente.

Por fim, ressalta-se que o militar,ao comparecer a um juízo, antes apenascriminal, ficará estigmatizado pelosdemais integrantes da Força, mesmoque o motivo de sua presença àquelaCorte seja eminentemente admi-nistrativo.

6 Conclusão

Este ensaio teve por escopoexaminar o deslocamento dacompetência do julgamento das açõesdecorrentes das punições disciplinaresaplicadas aos militares das ForçasArmadas.

Demonstra que o estudo do tema

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é de relevante interesse para as ForçasArmadas, tendo em vista quepropiciará à Justiça Militar da União,que é a constitucionalmentecompetente para tutelar os bensjurídicos relevantes para InstituiçõesMilitares (as obrigações, os deveres,a hierarquia e a disciplina militares),apreciar, também, as lides decorrentesde punições disciplinares, que sãolesões menos gravosas a esses mesmosbens jurídicos.

Competência é matéria constitu-cional, ou seja, a Carta Magna é a quefaz a divisão da competência judicial.Atualmente, as lides decorrentes depunições disciplinares aplicadas aosmilitares das Forças Armadas sãojulgadas pela Justiça Federal.

Do conceito legal de transgressãodisciplinar se extrai que esta fere osmesmos bens jurídicos que os crimesmilitares, apenas lesiona de forma maisbranda.

Em razão de atuar sobre osmesmos objetos jurídicos que o crime,é de relevância que a mesma Justiçaos aprecie, qual seja, a Justiça Militar.Está é a nova redação do art. 124, daCF apresentada na Proposta.

Todos os aspectos levam a pensarque esse deslocamento de competênciatrará reflexos positivos na caserna, taiscomo o fortalecimento da hierarquia edisciplina, pois a JMU é a

especializada, desde 1808, para tutelaros bens jurídicos da caserna e, até osdias atuais, tem exercido bem suamissão constitucional.

Uma das contribuições desse artigoé alertar aos operadores do direitomilitar, bem como as autoridadesmilitares que tal inovação proposta pelaPEC 358/04, a prima facie, traráreflexos positivos para a tropa. Por seruma Justiça especializada e menossobrecarregada que a Justiça Federalproduzirá decisões mais céleres e maisvoltadas para os princípios basilarescastrense.

É bem verdade que tal alteraçãotrará competência cível para a JMU,porém isso não a fará menosespecializada, pois esta decorre daConstituição Federal e da própriacondição especial que tutela: DireitoMilitar.

Não se pode ter a pretensão deesgotar o tema em tão exíguas laudas,principalmente, por se tratar de Projetode Emenda Constitucional; portantoainda não incorpora o ordenamentojurídico e depois pela própriaamplitude do assunto, pela recentealteração do tema na JME ainda nãotendo produzido julgados suficientepara estudo, por isso deixa de estudaros reflexos diretos produzidos na tropa,bem como a constitucionalidade daalteração da competência, os recursos

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cabíveis, a tramitação das ações, acompetência para a decisão: juiz-auditor ou conselho e outros que serelacionam com o tema.

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Revista Científica da Escola de Adminstração do Exército – Ano 3 Número 1 – 1° semestre de 2007104

O PREGÃO ELETRÔNICO: ANÁLISE DO PROCEDIMENTO,VANTAGENS E ALGUNS ASPECTOS JURÍDICOS

Juliana Patussi Bertol Jeronymo1, Matheus Musse Santos2

Resumo. O presente artigo científico visa analisar as inovações trazidas peloDecreto nº. 5.450/2005, que introduziu o pregão eletrônico como uma novamodalidade licitatória, que tende a se tornar, por força do próprio diploma, o principalmeio de aquisição de bens e serviços comuns no âmbito federal. O artigo tambémanalisa a tendência de mudança dos procedimentos de licitação, que irão, cadavez mais, se valer de formas mais flexíveis e ágeis de contratação, sem olvidar osprincípios de direito público aplicáveis. Também são mencionadas as vantagenspara as compras realizadas no âmbito da Administração Pública através do novoinstituto, assim como alguns aspectos jurídicos que poderão provocar discussões.

Palavras-chave: Licitação. Pregão Eletrônico. Princípios. Vantagens.

Abstract. The present scientific article aims to analyze the innovations brought byrthe Decree nº. 5.450/2005, that introduced the electronic auction as a new modalityof licitation, that tends to become, in force of the legislation itself, the main way ofacquisition of common goods and services in the federal scope. The article alsoanalyzes the trend of change of the licitation procedures, that will use more flexibleand agile forms of act of contracting, not forgetting the applicable principles ofpublic law. Also the advantages for the purchases carried through in the scope ofthe Public Administration through the new institute will be mentioned, as well assome legal aspects that will be able to provoke quarrels.

Keywords: Licitation. Electronic Auction. Principles. Advantages.

1 Bacharelado em Direito. Escola de Administração do Exército (EsAEx), Salvador, Brasil. [email protected] Bacharelado em Direito. Escola de Administração do Exército (EsAEx), Salvador, Brasil. [email protected].

1 Introdução

A Administração Pública, aocontrário do setor privado, não podeatuar livremente quando almejacomprar, alienar, locar bens oucontratar a execução de obras ouserviços. Para fazê-lo, conforme o

disposto no inciso XXI do artigo 37da Constituição Federal (BRASIL,2004), o Poder Público, via de regra,necessita adotar um procedimentoprévio, disciplinado rigorosamente emlei. Tal procedimento denomina-selicitação.

Carvalho Filho (2005, p. 195/196)

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define licitação como o procedimentoadministrativo vinculado, pelo qual osentes da administração pública, assimcomo aqueles por ela controlados,selecionam a melhor proposta dentreas oferecidas pelos interessados, como objetivo de celebração de contrato.

Como se deduz do art. 22, incisoXXVII da Constituição Federal(BRASIL, 2004), a competência paralegislar sobre a matéria assiste aosquatro entes da Federação, quaissejam: União, Estados, Distrito Federale Municípios. Todavia, é decompetência privativa da União aedição de normas gerais sobre oassunto, restando aos outros enteslegislar sobre normas específicas.

Na órbita federal, a lei reguladoradas licitações é a Lei nº 8.666/93(BRASIL, 1993), que tambémestabelece normas gerais, obrigatóriasem todo o País. O referido diplomaelencou cinco modalidades licitatórias,que apresentam diferenças quanto àcomplexidade e o procedimento. Sãoelas a concorrência, tomada de preços,convite, concurso e leilão.

Ocorre que a AdministraçãoPública verificou que o procedimentoestabelecido pela Lei nº 8.666, muitasvezes, não atendia a necessidade deeficiência na aquisição dos bens eserviços de que necessitava. Acercadas modalidades de licitação previstas

na referida lei, afirma Carvalho Filho:

[...] em muitos casos, não conseguiramdar a celeridade desejável à atividadeadministrativa destinada ao processode escolha de futuros contratantes. Asgrandes reclamações oriundas deórgãos administrativos não tinhamcomo alvo os contratos de grande vultoe de maior complexidade. Ao contrário,centravam-se nos contratos menoresou de mais rápida conclusão,prejudicados pela excessiva burocraciado processo regular de licitação (2005,p. 241).

Como resposta a esta necessidadede celerizar as contratações, bemcomo de diminuir os custos delasadvindos, instituiu-se, apenas noâmbito da União, através de medidasprovisórias, uma nova modalidade delicitação, denominada pregão.

Na opinião de Justen Filho, aintrodução desta modalidade consistenuma etapa de um projeto de mudançageral da legislação sobre a matéria

Diante da impossibilidade material (porcircunstâncias políticas) de produzir asubstituição da Lei n° 8.666, a Uniãopassou a editar legislação específica ediferenciada, com a perspectiva de que,a médio prazo, todas as licitações sesubordinem aos novos modelos (2005,p. 09).

Neste contexto, o passo seguinte

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foi estender a possibilidade de uso dopregão para toda a órbita federativa.Isto se deu através da edição da Lein.º 10.520/02, que instituiu o pregãotambém no âmbito dos Estados,Distrito Federal e Municípios.

A próxima etapa deste processode substituição dos procedimentoslicitatórios tradicionais por figuras maiságeis e eficientes foi estabelecido naprópria lei supracitada, pois estapermitiu a realização do pregão pormeio de utilização de recursos detecnologia da informação, como prevêo § 1º do art. 2º da Lei 10.520/02(BRASIL, 2002).

Diante desta possibilidade, a Uniãoeditou o Decreto Federal nº. 3.697, de2000(BRASIL, 2000), regulamen-tando em seu âmbito a realização depregão por meio da utilização derecursos de tecnologia da informação,o denominado pregão eletrônico.

Posteriormente, o Decreto nº.5.450/05(BRASIL, 2005), querevogou o Decreto nº. 3.697/00,tornou obrigatória para a administraçãopública federal a utilização do chamadopregão na forma eletrônica, para aaquisição de bens e serviços comuns,salvo nos casos de comprovadainviabilidade, a ser justificada pelaautoridade competente.

O assunto do presente artigo é estanova modalidade licitatória, qual seja,

a figura do pregão eletrônico,analisada face ao pregão presencial.Este estudo abordará o procedimento,as vantagens e alguns aspectosjurídicos do pregão eletrônico, a luz dodecreto 5.450/05(BRASIL, 2005).Alguns dos aspectos abordadospodem, inclusive, ser objeto de futurasdiscussões doutrinárias ou mesmojurisprudenciais, no tocante, porexemplo, à obrigatoriedade do uso dopregão eletrônico, ou mesmodiscussões sobre a legalidade doDecreto 5.450/05 (BRASIL, 2005).

A relevância do presente trabalhoreside no fato de que o pregãoeletrônico é um instituto inovador noordenamento jurídico. Não apenas porser um dos novos modelos de licitação,mas também por consistir, aindasegundo Justen Filho (2005) em umatentativa pioneira de incorporação doprogresso tecnológico, visando aalterar qualitativamente os instrumentosde produção jurídica. Além deinovador, o pregão eletrônico vem seconsolidando como a principal formade contratação do Governo Federal,o que tende a reduzir em muito arealização das outras modalidades,salvo os casos que o objeto não secoadune ao modelo proposto.

Para o desenvolvimento dotrabalho, a metodologia utilizada seráa análise e interpretação da legislação

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pertinente, fundamentando-se nadoutrina existente sobre o tema, deautoria de Marçal Justen Filho, MariaSylvia Zanella Di Pietro, dentreoutros.

Para desenvolver o presente artigo,analisar-se-á, brevemente, o pregãopresencial, e, em seguida, o pregãoeletrônico, ressaltando as vantagensdeste último com base no estudo deseu procedimento, observando algunsaspectos jurídicos relevantes sobre otema.

2 O Pregão Comum ou Presencial(Lei 10.520/02)

O pregão comum ou presencial é,como toda modalidade de licitação, umprocedimento destinado a promoveruma disputa entre os particularesinteressados em contratar com umente público, de modo que este obtenhaa proposta mais conveniente paracelebração de contrato.

O pregão presencial, apesar de nãoter sido previsto na Lei 8.666/93(BRASIL, 1993), também deve, aexemplo das demais modalidadeslicitatórias, observar os princípios queregem a Administração Pública nassuas aquisições, entre eles o dapublicidade, da igualdade de condiçõesentre os concorrentes e o da legalidade.Porém, o pregão comum difere das

outras modalidades com relação ao seuobjeto e procedimento.

De fato, o pregão presencialdestina-se à aquisição “[...] de bens eserviços comuns, qualquer que seja ovalor estimado da contratação” (DIPIETRO, 2004, p. 327/328, grifonosso). Saliente-se que o rol de bense serviços comuns que podem seradquiridos pelo pregão presencial estáelencado, exemplificativamente, noAnexo II do Decreto nº. 3.555/00, queregulamenta o pregão comum(BRASIL, 2000).

Quanto ao procedimento, apeculiaridade consiste na inversão daordem das fases de habilitação ejulgamento, em comparação com oquanto estabelece a Lei 8.666(BRASIL, 1993). Portanto, só após aclassificação das propostas é que opregoeiro realiza a análise dosdocumentos exigidos para habilitação.Podemos apontar as seguintespeculiaridades sobre o procedimento:

[...] a possibilidade de renovação delances por todos ou alguns licitantes,até chegar-se à proposta maisvantajosa, sendo inconfundível com asmodalidades previstas na Lei 8.666/93[...], e o fato de comportar propostaspor escrito, mas o desenvolvimento docertame envolve a formulação de novasproposições (“lances”), sob formaverbal (CARVALHO FILHO, 2005, p.243,

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grifos nossos).

Ou seja, prevalece a negociaçãoverbal entre os contratantes.

Quanto à sua utilização, o pregãopresencial “[...] não é modalidade deuso obrigatório pelos órgãospúblicos.”(CARVALHO FILHO,2005, p. 242). A administração, por-tanto, adota-o facultativamente, deacordo com sua atuação discricioná-ria, podendo, ao invés deste, optar poralguma das modalidades previstas naLei 8.666/93 (BRASIL, 1993). Há quese fazer uma ressalva, pois adiscricionariedade da AdministraçãoPública reside apenas na verificação deser comum ou não o bem. Ou seja:

[...] não se admite a utilização do pregãoquando o bem ou serviço não forcomum. Mas não basta o bem ouserviço ser comum para, de modoautomático ou obrigatório, consagrar-se o pregão. Caberá à administraçãoavaliar se a modalidade do pregão seráadotada, em face das circunstâncias.Essa decisão deverá ser motivada,sendo insuficiente a pura e simplesasserção de que “o objeto da licitaçãoé um bem ou serviço comum” (JUSTENFILHO, 2005, p. 42).

Anteciparemos agora um ponto aser melhor tratado mais adiante, quandofalarmos do pregão eletrônico: noconceito de bens ou serviços comuns,

independente do valor, o Decreto nº.3.555/00(BRASIL, 2000), que tratado pregão comum, exclui completa-mente a contratação de obras eserviços de engenharia. Tal exclusãonão foi repetida no Decreto nº. 5.450/05 (BRASIL, 2005), que trata dopregão eletrônico, o que abre caminhopara se questionar se este últimopoderá ser utilizado para contrataçãode tais serviços.

Ressaltados alguns pontosrelevantes sobre o pregão comum,podemos concluir, com base nosensinamentos de Justen Filho (2005),que a contratação através do citadoinstituto busca suprir uma necessidadeestatal “relativamente simples”, quepode ser atendida com algumafacilidade.

Esta simplicidade do objetoreflete-se na flexibilização doprocedimento, pois se tornamdesnecessárias profundas e amplasinvestigações acerca da idoneidade doslicitantes. Com isso, o processo dehabilitação se faz com maior celeridade,vez que os requisitos de habilitaçãoadotados são menos rígidos. Enfim,resulta daí a sumariedade doprocedimento:

Sob um ângulo, é possível umacontratação satisfatória sem maioresburocracias, porque a natureza

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“comum” do objeto dispensainvestigações mais detidas acerca daproposta. Por outro lado, não hánecessidade de impor requisitos maisseveros para a habilitação (CARVALHOFILHO, 2005, p. 36).

É inequívoca a otimização doprocedimento de compra realizadoatravés do pregão comum, comparadocom as demais espécies licitatórias.Mas, como já observado, é a naturezados objetos das contratações a que sedestina o instituto que permite suasimplicidade e rapidez, resultando emum ganho em eficiência naadministração pública.

Nesse contexto, o advento dopregão eletrônico é um reflexo destabusca pela eficiência, unindo umprocedimento mais simples decontratação pública aos recursos datecnologia da informação, comoveremos a seguir.

3 Pregão eletrônico (Decreto 5.450/05)

3.1 Origem e Conceito

O pregão eletrônico, tal como opregão presencial, não foi previsto naLei de Licitações. Está disciplinado noDecreto 5.450/05 (BRASIL, 2005).

O instituto surge da constatação,por parte do Ministério do

Planejamento, Orçamento e Gestão,dos chamados “efeitos burocratizantes”das modalidades em uso. O referidoMinistério, por meio de sua Secretariade Logística e Tecnologia daInformação (SLTI) e do seuDepartamento de Logística e ServiçosGerais, envidou esforços para acriação de uma modalidade queatendesse aos anseios de eficiência doGoverno, da sociedade e dosfornecedores.

É o que se observa na doutrina:

O pregão eletrônico é a licitaçãorealizada com a utilização de recursosde tecnologia da informação. A novalegislação, acompanhando as maisrecentes conquistas científicas etecnológicas das últimas décadas,propicia à Administração dos trêsníveis de Governo e do Distrito Federala utilização dos recursos eletrônicos oude tecnologia da informação e deferramentas mais modernas e céleres,em consonância com os princípiosmaiores da presteza, desburocratizaçãoe eficiência, na forma de regulamen-tação específica (SZKLAROWSKY,2005).

O art. 2° do Decreto 5.450/05(BRASIL, 2005) define que o pregãona forma eletrônica, como modalidadede licitação do tipo menor preço,realizar-se-á quando a disputa pelofornecimento de bens ou serviços

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comuns for feita a distância, em sessãopública, por meio de sistema quepromova a comunicação pela Internet.

3.2 Critério de Escolha de Bens eServiços

O critério de escolha dos bens eserviços que podem ser contratados viapregão eletrônico restringe-se aorequisito do menor preço, sendo estevinculado às exigências de qualidademínimas e indispensáveis. Ou seja, épossível analisar a qualidade dos benscomuns3, no entanto, a análise daqualidade dos bens não pode ser ocritério de escolha da proposta,justamente porque os bens jáapresentam características padro-nizadas pelo mercado.

3.3 Objeto do Pregão Eletrônico

Um ponto a ser citado é a definiçãodo objeto do pregão eletrônico, ouseja, em que consistem os bens eserviços ditos comuns. O Decreto3.555/00 (BRASIL, 2000), que versasobre o pregão presencial, traz em seuAnexo II um rol meramenteexemplificativo de bens e serviços assimconsiderados. Tal solução não foiadotada pelo regulamento que versa

sobre o pregão eletrônico, o quemerece aplausos, na opinião de JustenFilho (2005). Segundo o autor, o quedefine se o bem ou serviço é comum éa natureza do mesmo e a análise domercado, e não a sua inclusão no rolde um regulamento. Assim como écabível contratar bem ou serviçocomum não incluso no rol, não se podeadquirir aqueles que, mesmoclassificados como comuns, não osejam de fato, quando analisadas suascaracterísticas. Todavia, nada impedeque o Anexo II do Decreto 3.555/00(BRASIL, 2000) seja tambémaplicado ao pregão eletrônico.

Ainda com relação ao objeto dopregão eletrônico, outro ponto passívelé de fomentar discussões doutrináriase jurisprudenciais acerca dapossibilidade de contratação de obrase serviços de engenharia. Isto porqueo decreto que trata do pregão comumveda expressamente a utilização domesmo para a contratação de taisobras e serviços (art. 5º do Decreto3.555/00). Já o Decreto 5.450/05,referente ao pregão eletrônico, vedaseu uso apenas para a contratação deobras de engenharia. Ante a omissãodo citado decreto, poder-se-ia indagarsobre a possibilidade de uso do pregãoeletrônico para a contratação de

3 Art. 1° da Lei 10.520/02, parágrafo único: Consideram-se bens e serviços comuns, para os fins e efeitos deste artigo, aqueles cujos padrõesde desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais do mercado.

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serviços de engenharia. A interpretaçãomais coerente não pode apenas sebasear na literalidade do dispositivo,mas deve analisar a natureza do objeto:se houver um serviço de engenhariaque possa ser qualificado comocomum, não há vedação para aaplicação do pregão eletrônico. Taldefinição, todavia, depende doestabelecimento de critérios para avaliarse determinado bem ou serviço é ounão comum.

Aprofundando a análise do queseja bem ou serviço comum, JustenFilho (2005) afirma que se trata de umconceito jurídico indeterminado. Suaanálise no caso concreto resulta,portanto, em três zonas: uma decerteza positiva absoluta; outra decerteza negativa absoluta. E, por fim,a terceira, uma zona cinzenta deincerteza. Recaindo nas duasprimeiras, a resposta acerca daaplicação ou não do procedimento nãooferece dificuldades. Todavia, o quefazer persistindo dúvida?

Em relação a esta indagação, oautor supracitado observa algunscritérios: a) disponibilidade - comunssão os bens e serviços que aadministração contrata tal comoexistem no mercado, e que estãodisponíveis para compra a qualquertempo (são oferecidos numa atividadeempresarial estável); b) padronização

- seus atributos estão previamentedeterminados, sendo invariáveis ousujeitos a variações de mínimarelevância. Observe-se que estes doisatributos devem ser analisadosconjuntamente. Ainda, para JustenFilho (2005), a qualidade de serconsiderado comum é um atributoexterno ao bem, e não essencial. Daíporque a análise do bem em si não éum critério satisfatório. Um produtopode ser padronizado, mas não estarprontamente disponível no mercado,em razão de suas especificidades. Aprópria Administração pode exigircaracterísticas de um bem que acabempor restringir a competição a ponto denão haver, no mercado, fornecimentohabitual e permanente do produto, oque impede a aplicação do pregão.

De todo modo, persistindo dúvidaacerca da natureza do bem ou serviço,não é aconselhável a utilização dopregão.

3.4 Aspectos Práticos

Uma das grandes vantagens desteprocedimento, segundo Justen Filho(2005), é que ao submeter o processode licitação à via informatizada, aliberdade pessoal dos interessadosacaba sendo restrita apenas àquilo queseja compatível com o sistema. A infra-estrutura material e a programação dos

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equipamentos impõem constran-gimentos à conduta dos participantes.Pela forma como é processado, opregão eletrônico exclui um semnúmero de variáveis que semprepoderiam ocorrer no curso de outrasmodalidades licitatórias. Disto resultauma simplificação do procedimentolicitatório.

Por outro lado, a adoção domeio eletrônico implica umapreocupação constante com asegurança do procedimento, o que temse materializado através do controle daprogramação. O decreto que o instituiudetermina que a SLTI seria provedorado sistema para os órgãos integrantesdo Sistema de Serviços Gerais(SISG) 4. Estes programas devem serelaborados de modo a garantir asegurança do certame, bem como osprincípios de isonomia, publicidade,imparcialidade, mantendo atransparência do sistema.

3.5 Possível Vício Formal doDecreto 5.450/05

De acordo com Justen Filho(2005), o regulamento do pregãoeletrônico introduziu importantes

inovações relativas ao procedimentodo pregão comum. Assim sendo,pode-se dizer que o pregão eletrônicoe o comum “[...]são modalidadesautônomas e inconfundíveis delicitação” (JUSTEN FILHO, 2005, p.220). Logo, o pregão eletrônicodeveria ter sido instituído através de lei,único instrumento hábil a inovar aordem jurídica. O grande número dediferenças entre o pregão presencial eo eletrônico de fato impede que esteseja visto como uma mera modalidadedaquele. O decreto que institui o pregãoeletrônico trouxe inovações noordenamento jurídico, com práticastotalmente distintas do que ocorria como pregão presencial, das quaisdestacam-se: a) alteração nasistemática de apresentação depropostas (por envelope no presencial,o que não ocorre na forma eletrônica);b) seleção dos licitantes que passarãoà etapa de lances, sendo que no pregãoeletrônico são todos os classificados,enquanto no pregão comum são apenasos que preencham certos requisitos.Observe a conclusão do versadoautor:

Se a vontade estatal, ao adotar o pregão

4 O Sistema de Serviços Gerais – SISG, integrado pelos órgãos e pelas entidades da Administração Federal direta, autárquica e fundacional,é o sistema que organiza a gestão das atividades de serviços gerais, compreendendo licitações, contratações, transportes, comunicaçõesadministrativas, documentação e administração de edifícios públicos e de imóveis. No âmbito do SISG, são estabelecidas diretrizes, normase atividades operacionais que são comuns a todos os órgãos e entidades que o integram, visando a melhor coordenação e eficiência dasatividades de apoio administrativo no Governo Federal. O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão é o órgão central do SISG,exercendo essa competência por intermédio daaSLTI. Disponível em:ahttp://www.planejamento.gov.br/tecnologia_informacao/conteudo/principais_atv/compras_governamentais.htm.

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eletrônico, era acolher inovaçõesnormativas radicais, então a únicaalternativa seria a utilização doinstrumento legislativo (JUSTENFILHO, 2005, p. 222).

Em que pese esta consideração,tem-se que o pregão eletrônico é amais recente medida adotada peloGoverno Federal na busca doaperfeiçoamento da legislação e dasnormas públicas de logística, esforçoeste que vem sendo constante nasúltimas décadas. É também umaconseqüência da percepção de que asmedidas de contratação adotadasmostraram-se, ao longo dos anos,excessivamente burocráticas,demoradas e ineficientes, chegando aonerar os cofres públicos em algunscasos. É um processo que tem porforça motriz a necessidade de atenderaos princípios da AdministraçãoPública, em particular princípio daeficiência, bem como implica, demaneira reflexa, a implantação depolíticas públicas que permitem maiorgarantia dos direitos constitucionaisdos cidadãos, particularmente dodireito de fiscalizar a própria

Administração.Não obstante, a simples busca pela

eficiência não legitima o cometimentode ilegalidades, e não será argumentohábil a contestar argüições nestesentido.

Passemos agora a uma sucinta aanálise do procedimento do pregão, doque se depreende imediatamente aagilidade com que seus atos sedesencadeiam, como veremos emseguida.

3.6 Pregão Eletrônico – AnáliseSumária do Procedimento

Como já mencionado, o pregãoeletrônico destina-se à aquisição debens e serviços comuns, e poderá sercontratado, no âmbito da União, pelasentidades cadastradas no - Sistema deCadastramento Unificado deFornecedores (SICAF5). O Ministériodo Planejamento, Orçamento eGestão, na busca de umaregulamentação e sistematização dosprocedimentos, veicula através do sitewww.comprasnet.gov.br6 (Portal deCompras do Governo Federal)

5 O Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores – SICAF é o módulo informatizado do SIASG, operado “on-line”, que cadastra ehabilita as pessoas físicas ou jurídicas interessadas em participar de licitações realizadas por órgãos e pelas entidades integrantes do SISG. OSICAF desburocratiza e facilita o cadastramento dos fornecedores do Governo Federal, contribuindo para aumentar a transparência e acompetitividade das licitações. Disponível em: http://www.planejamento.gov.br/tecnologia_informacao/conteudo/principais_atv/compras_governamentais.htm.6 É um sistema “on-line” de acesso a serviços do SIASG, inclusive por meio da Internet, no site www.comprasnet.gov.br. Oferece a consultaa convites, tomadas de preços e concorrências realizados pela Administração Federal , que pode ser facilmente realizada por qualquerinteressado. O Comprasnet oferece ainda vários outros serviços e facilidades, como a consulta ao cadastro de fornecedores (SICAF), odownload da íntegra de editais de licitações e a consulta a resultados de licitações realizadas. São facilidades que beneficiam os fornecedoresdo Governo, reduzem custos e tornam mais transparentes e competitivas asalicitações.aDisponívelaem:ahttp://www.planejamento.gov.br/tecnologia_informacao/conteudo/principais_atv/compras_governamentais.htm.

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manuais destinados a orientarservidores envolvidos no procedimentoeletrônico licitatório, e outros eventuaisinteressados. Em suma, tais manuaistraduzem a prática do pregão, o queserá agora analisado. Salienta-se queo procedimento é realizado através dosite acima citado.

A negociação do pregão eletrônicoinicia-se e conclui-se pela Internet,cujos usuários devem estarpreviamente habilitados no SistemaIntegrado de Administração e ServiçosGerais (SIASG7).

A fase preparatória do pregão ele-trônico consiste numa sequência deatos, iniciando-se com a elaboração dotermo de referência, dirigido à autori-dade competente para a solicitação dacontratação. Após, haverá a aberturado procedimento licitatório, e então,sendo aprovado o termo de referên-cia, haverá a elaboração do edital.

A partir daí, o órgão licitante deverealizar, na internet, a inclusão do Editale o agendamento automático do pre-gão eletrônico. Esta publicação pre-tende divulgá-lo junto à Imprensa Na-cional, por intermédio do Sistema deDivulgação Eletrônica de Compras eContratações (SIDEC). Cadastrado oEdital no SIDEC, passa a constar en-

tre os pregões agendados.Após a data da publicação do avi-

so, podem os fornecedores enviar ouexcluir propostas durante o período dedivulgação do edital, até o início dasessão pública. Este edital deve trazertodos os aspectos essenciais para acorreta utilização, inclusive definir opregoeiro e a equipe de apoio que irãoatuar no pregão anunciado, ficandoeles vinculados. A Sessão pública dopregão eletrônico compreende as se-guintes fases: 1) Abertura e classifica-ção das propostas. Aberta a sessão, opregoeiro deve realizar a análise daspropostas frente ao edital publicado.Pode ocorrer que o pregão seja de-serto – não ter ocorrido envio de pro-postas - o que constará em ata. Os lan-ces somente podem ser ofertados emvalor inferior ao último ofertado pelomesmo licitante, o que será registradopelo sistema, como prevê o art. 24 doDec. 5.450/05 (BRASIL, 2005). Seráregistrado, contudo, lance superior aomenor lance ofertado, desde que sejamenor do que o último ofertado pelomesmo fornecedor. Isto permite queprossiga a disputa caso o fornecedorclassificado em primeiro lugar não hon-re o preço ofertado, de forma a ampli-ar a possibilidade de disputa entre os

7 O Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais – SIASG é o sistema informatizado de apoio às atividades operacionais no âmbitodo SISG. O SIASG tem sido uma ferramenta para a mordernização da área de serviços gerais na Administração Federal, em especial nasatividades de cadastramento de fornecedores, catálogo de materiais e serviços e registro de preços de bens e serviços.aDisponívelaem:ahttp://www.planejamento.gov.br/tecnologia_informacao/conteudo/principais_atv/compras_governamentais.htm

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fornecedores; 2) Aceitação das pro-postas. Após a aceitação das propos-tas, o sistema, por medida de seguran-ça, não permite voltar para a fase doslances. Nesta fase, é ampla a negocia-ção entre pregoeiro e fornecedor. Seráaceita a proposta de menor lance, ou,justificadamente, outra que não esta,desde que a recusa seja justificada.Estando os itens na condição de acei-tos, inicia-se então a habilitação des-tes fornecedores; 3) Habilitação dosfornecedores. Diferentemente do queocorre nas modalidades licitatórias pre-vistas na Lei 8.666/93 (BRASIL,1993), aqui procede-se a habilitaçãosomente após a negociação e aceita-ção das propostas; 4) Prazo para in-tenção de recurso. Estando os itens ha-bilitados ou não, mas encerrada a fasede habilitação, o pregoeiro abre prazopara registro da intenção de recursopor parte dos fornecedores, nos ca-sos de aceito e habilitado; cancelado,e ítem deserto. Fechado o prazo paraintenção de recursos, é realizada aadmissibilidade destes, decidindo pelaaceitação ou recusa. Em sendo aceito,o licitante poderá registrar as razõesdo recurso pretendido; 5) Encerra-mento da sessão pública. Havendo in-tenção de recurso aceita, será estima-do pelo pregoeiro prazo para registrodas razões, contra-razões e decisões.Não havendo, pode-se realizar o en-

cerramento da sessão pública; 6) Apóso encerramento da sessão pública, osistema gera a ata do pregão. Pormedida de segurança, o sistema impe-de o retorno às fases anteriores ao en-cerramento da Sessão Pública. Tal se-gurança ocorre por intermédio de umdígito verificador, que se trata de umcódigo de segurança, calculado auto-maticamente pelo sistema no ato degeração da ata do Pregão Eletrônico,seja ela original ou complementar, e quegarantirá a sua integridade, pois qual-quer tentativa de alteração implicaráalteração do código. A ata comple-mentar somente será emitida quandohouver decisão de recurso ou outromotivo justificado no Sistema, queacarretar alteração de resultado oucorreção de erro praticado; 7) A ad-judicação é o ato pelo qual a adminis-tração atribui ao vencedor o objetoda licitação. Se houver recurso, a ad-judicação deve ser realizada pela au-toridade competente – ordenador dedespesas. Não havendo recurso pen-dente, a adjudicação será realizadapelo pregoeiro; 8) Homologação, queé a aprovação ao procedimento reali-zado, quanto a inexistência de vícios.O pregão eletrônico pode ser homo-logado por item ou na sua totalidade.É um procedimento do ordenador dedespesas que equivale à decisão finalou ratificação dos atos do pregoeiro.

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Se não estiverem presentes os requisi-tos para homologação, não será ho-mologada, podendo também haver re-vogação ou anulação, total, ou refe-rente a um item.

3.7 Implicações Teóricas

Desenvolvido o assunto objeto dopresente artigo, verificou-se que háimplicações teóricas inseridas no tema,especialmente: 1) prevalecendo a tesede que o pregão eletrônico éinstrumento diverso do pregão comumpor trazer inúmeras inovações, econsiderando-se que estas somentepoderiam ter sido implementadasatravés de lei, e não de Decreto, pode-se dar azo a discussões acerca dalegalidade ou mesmo daconstitucionalidade do Decreto queprevê a modalidade eletrônica depregão; 2) o termo “bens e serviçoscomuns” nada mais é do que conceitojurídico indeterminado, ou seja, não hátexto legal que preveja seu significado.Assim, em que pese existir rolexemplificativo constante do anexo IIdo Decreto 3.555/00(BRASIL,2000), e inexistir no que tange aopregão eletrônico, deve este conceitoser analisado em cada caso concreto,de acordo com os critérios expostos;3) o fato do pregão eletrônico nãoimpedir sua utilização para contratação

de serviços de engenharia abremargem para que este procedimentoseja adotado, quando tais serviçossejam considerados comuns.

Tais implicações não obstam autilização do procedimento, no entanto,podem gerar questionamentos queacabem modificando a interpretação noque tange ao seu emprego no futuro.

Atualmente, podemos afirmar quea aplicação prática do pregão eletrô-nico é evidente, bem como a suasobreposição sobre o pregãopresencial. Além do mais, o Decretoque o institui prevê a utilização obriga-tória do pregão, preferencialmente naforma eletrônica (art 4°), para a aqui-sição de bens e serviços comuns, o queimpõe aos órgãos públicos licitantesadequarem sua estrutura para realiza-ção do mesmo. O fato do pregão ele-trônico ser um procedimento aliado àtecnologia da informação impõe ao li-citante uma adequação a esta nova re-alidade. Mas superada esta fase deadaptação, percebe-se que há muitosganhos também para os licitantes, nosentido de participar de um procedi-mento mais ágil e de menor custo. Àmedida que o instituto se torne maisabrangente para o cidadão, o governodemonstrará para a sociedade maiortransparência e eficiência no gasto pú-blico, gerando também maiorcredibilidade perante esta.

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4 Conclusão

O pregão comum, bem como o ele-trônico, surgem da necessidade deagilizar a aquisição de bens econtratação de serviços, no intuito dediminuir o gasto público e aumentar aeficiência do sistema. As vantagensdecorrentes da adoção do pregão ele-trônico são, em resumo, a maior flexi-bilidade do procedimento, em funçãodo uso da tecnologia da informação.Além da facilidade de contratar viaInternet, o procedimento é seguro eoferece, dentro de sua esfera, as ga-rantias presentes no pregão presencial.Certamente a desnecessidade de des-locamento, bem como a agilidade narealização dos atos, acaba pordesonerar o órgão público contratan-te, daí a necessidade de maior difusãodo sistema, o que ocorrerá, inclusive,por força do imperativo legal.

A edição da Lei que regula o pre-gão presencial, bem como o Decretoque institui o pregão eletrônico, reve-lam uma inegável tendência de se subs-tituir os atuais procedimentoslicitatórios por outros, mais simples eeficazes. Cabe aqui indagar: qual seráo futuro da Lei 8666/93 ? Na opiniãode Justen Filho, o diploma se limitará aser um vetor principiológico

Em suma, pode-se esperar que, ao lon-go do tempo, a Lei n° 8.666/93 torne-seum diploma cuja única utilidadenormativa será a veiculação de princí-pios gerais. A disciplina concreta daslicitações será efetivada por meio dediplomas específicos. E um papel fun-damental caberá à figura do pregão(2005, p.09).

Percebe-se que a adoção de pro-cedimentos licitatórios mais flexíveisimplica a exclusão de formalidades,salvo aquelas que visem resguardar osprincípios de direito público que regema matéria. Todavia, não se pode dei-xar de perceber que a AdministraçãoPública continuará realizando comprase contratações de grande vulto, ou comobjetos complexos, para as quais aaplicação das modalidades tradicionaisprevistas na Lei 8.666 (BRASIL,1993) se revela mais adequada, inclu-sive pela possibilidade de adoção docritério de melhor técnica ou técnica epreço.

O presente artigo busca contribuirpara a conscientização de que o pre-gão eletrônico deve, por imposição le-gal e pelas facilidades que apresenta,ser implantado em todas as esferas daadministração pública, por se mostrarum instrumento que atende a todos osaspectos de lisura do procedimento deaquisições de bens e serviços públicos,com muito mais eficiência e menor gas-

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to. Ainda que haja deficiênciatecnológica em alguns setores, atecnologia deve ser buscada eimplementada, indo ao encontro doprogresso.

É relevante que temas atuais comoeste sejam amplamente discutidos edisseminados, tendo em vista quequanto maior o número de conhece-dores, maior será a implementação dosistema, no caso, do procedimento dopregão eletrônico. Quanto mais conhe-cido se tornar, será mais utilizado ecom melhor proveito, porque a práti-ca poderá conduzir a correção de im-perfeições e virá a suprir dúvidas queainda existem, diante da modernidadedo instituto.

Foram destacados alguns aspectosjurídicos do pregão eletrônico, anali-sando-se de forma prática seu proce-dimento e evidenciando-se as vanta-gens e principais aspectos jurídicos tra-zidos pelo Decreto 5.450/05 (BRA-SIL, 2005), que o prevê. Através daanálise da previsão legal e de doutri-nas acerca do assunto, limitou-se acompilar parte do que existe atualmentesobre o tema, sem tecer maiores críti-cas ou propor alterações.

Conclui-se, em perspectiva sobreo tema, que num futuro próximo, o pre-gão comum tende a desaparecer, subs-tituído pelo pregão eletrônico, face asvantagens deste, na medida em que os

requisitos para adoção de um ou deoutro são os mesmos

Não é exagero afirmar que a difusão dopregão eletrônico produzirá a reduçãoda relevância do pregão comum. À me-dida que as diferentes unidades admi-nistrativas instituam o pregão eletrôni-co, essa passará a ser a alternativa do-minante. Portanto, a utilização do pre-gão comum é uma etapa passageira.Não será surpresa se, dentro de algunsanos, a figura do pregão comum se con-figurar como uma raridade (JUSTEN FI-LHO, 2005, p. 10).

Observa-se, porém, que a tendên-cia do pregão eletrônico substituir opresencial se deve ao fato de ambosversarem sobre a contratação do mes-mo objeto – bens e serviços comuns.Em se tratando de objetos específicos,com complexas especificações técni-cas, afasta-se a aplicação deste insti-tuto, sendo mais indicadas aquelasmodalidades previstas na Lei 8666(BRASIL, 1993).

Há ainda uma outra tendência, tam-bém preconizada por Justen Filho, queserá a consagração futura de uma novamodalidade licitatória, por ele denomi-nada de consulta eletrônica. De fato, oprocedimento licitatório só não podeprescindir de formalidades na medidaem que estas sejam garantidoras dosprincípios de que regem o instituto dalicitação, tais como isonomia, legalida-

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de, publicidade, moralidade, julgamen-to objetivo, vinculação ao instrumentoconvocatório, ou quando assim o exi-gir o objeto a ser licitado, por suaespecificidade. Mas com aflexibilização das formalidades decor-rente do uso da tecnologia da infor-mação, o ordenamento jurídico impõeapenas que um diploma legislativo fixeo rol de princípios (e as formalidadescorrespondentes) a serem respeitados,restando um amplo espectro de atua-ção para a Administração Pública.

Assim, de acordo com Justen Fi-lho (2005, p.245)

Se e quando houver tal consagraçãolegislativa, estará concluída a implanta-ção de uma nova modalidade licitatória,apropriada para os casos atualmente de-nominados de “contratação direta” [...]pode estimar-se que esta nova modali-dade licitatória corresponderá a umaconsulta eletrônica, em que a divulga-ção dos interesse administrativo em re-alizar a contratação far-se-á por via dainternet, admitindo-se a formulação porpotenciais interessados de propostasnum curtíssimo espaço de tempo. Tal-vez se possa, inclusive, assemelhar asituação a uma espécie de “convite porvia eletrônica”, em que a administraçãosolicitará proposta de certos fornece-dores, admitindo-se que os particula-res cadastrados possam competir (mes-mo quando não convidados).

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Saúde

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ACOMPANHAMENTO DA SITUAÇÃO HIGIÊNICO-SANITÁRIADO SERVIÇO DE APROVISIONAMENTO DA ESCOLA DE

ADMINISTRAÇÃO DO EXÉRCITO (ESAEX)

Luciana Gonçalves Pinto1, Marcus Vinícius Ribeiro Machado2, Otavio AugustoBrioshi Scares3

Resumo. O presente artigo teve por finalidade avaliar a situação higiênico-sanitáriado serviço de aprovisionamento da Escola de Administração do Exército (EsAEx),ao longo dos anos de 2005 e 2006. Neste ínterim, visou a detectar os pontos queforam melhorados e os que continuaram a apresentar deficiências, com base noIndicador de Qualidade para os Serviços de Aprovisionamento (IQSA) e na análisemicrobiológica de alimentos prontos. A pontuação final decorrente da aplicação doIQSA encontrada para as datas de fevereiro de 2005, fevereiro de 2006 e maio de2006 foram 62,67; 64,68 e 52,80 respectivamente, mantendo o serviço sempre naclassificação “regular”. A análise microbiológica revelou alguns alimentos imprópriospara o consumo humano contaminados com coliformes a 45°C e Bacillus cereus.A avaliação pormenorizada dos blocos de quesitos que compõem o IQSA mostroumelhorias nas instalações físicas do serviço de aprovisionamento, porém tambémmostrou deficiências quanto à higiene de pessoal, técnicas de manipulação eorganização. Dificuldades de padronização da aplicação do IQSA foram encontradas,o que demonstra a necessidade de normatização desta aplicação. Não obstante,o IQSA, junto à análise microbiológica, foi capaz de traduzir a situação higiênico-sanitária de um serviço de aprovisionamento, sendo fundamental na orientaçãodos trabalhos de melhoria do mesmo.

Palavras-chave: Higiene alimentar. Análise microbiológica. Cozinhas militares.Indicador.

Abstract. This article aims to evaluate the sanitary situation at the provision serviceof EsAEx over the years 2005 and 2006. In the matter, it intends to detect theaspects that improved over those years and the ones that have not been developedaccording to the Provision Service Quality Indicator (PSQI) and a microbiologicalanalysis of prepared meals. The final scores were 62,67; 64,68 and 52,80 forFebruary 2005, February 2006 and May 2006 respectively. Those scores alwaysclassified the service as “regular”. The microbiological analysis revealed that somemeals were inadequate for human intake, as they were contaminated with “coliformesa 45°C” and Bacillus cereus. A detailed analysis of the sections that structures the1 Bacharelado em Veterinária.Escola de Administração do Exército(EsAEx), Salvador, [email protected] Bacharelado em Veterinária.Escola de Administração do Exército(EsAEx), Salvador, [email protected] Bacharelado em Veterinária.Escola de Administração do Exército(EsAEx), Salvador, [email protected].

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PSQI showed some improvement on facilities, but poor personal hygiene,manipulation techniques and organization were detected. Difficulties concerningstandardization of PSQI application were observed which suggests future efforts onregulating this application. However, PQSI and microbiological analysis togetherwere able to explain the sanitary situation, becoming essential tools to guideimprovements on the provision service.

Keywords: Food hygiene. Microbiological analysis. Military kitchens. Indicator.

1 Introdução

1.1 Histórico

Desde os tempos da Roma antiga,o homem preocupa-se com normaspara inspeção alimentar. Após umaimensa evolução, a maioria dos con-sumidores de todo o mundo tem a se-gurança dos alimentos como uma pre-ocupação fundamental. Nos dias dehoje, é necessária a produção em es-cala dos alimentos e a realização detransformações tecnológicas nos mes-mos para se contraporem à degrada-ção natural desses, permitindo acomercialização e o consumo em con-dições de segurança (PRATA;FUKUDA, 2001, p.3). Por isso, cadavez mais, as organizações públicas eprivadas têm buscado assegurar a qua-lidade de seus produtos e serviços(CNI/SENAI/SEBRAE/ANVISA,2002, p.13). Dentro do Exército Bra-sileiro (EB) existe a preocupação daInstituição com a saúde de seu efetivoe a conseqüente economia de recur-

sos com o tratamento médico dos mi-litares vitimados por EnfermidadesVeiculadas por Alimentos, as chama-das EVA (LEITE, 2004, p.157).

Entretanto, oferecer segurança emalimentos é matéria extremamentecomplexa, envolvendo os setores pro-dutivos, transformadores, decomercialização, os próprios consumi-dores e os poderes públicos, esses úl-timos incumbidos de elaborar exigên-cias e normas, exercendo tarefa de vi-gilância e controle (PRATA;FUKUDA, 2001, p.5).

Tendo em vista a importância doserviço de aprovisionamento dos ran-chos do Exército para a saúde da tro-pa, a contínua melhoria na qualidadedeste serviço é de fundamental impor-tância para o bom funcionamento deuma Organização Militar (OM).A qua-lidade do serviço de aprovisionamen-to passa por diferentes tópicos comoum bom controle de fornecedores deprodutos alimentícios, higiene dosmanipuladores de alimentos no rancho,qualidade da água utilizada no rancho,

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adequação das instalações às práticasde manipulação e conservação de ali-mentos entre outros. A necessidade doconstante aperfeiçoamento das açõesde controle sanitário na área de alimen-tos fez com que o Ministério da Defe-sa elaborasse a Portaria n° 854 de 4de julho de 2005, que aprova o Regu-lamento Técnico de Boas Práticas emSegurança Alimentar nas OrganizaçõesMilitares.

Essa portaria relaciona-se à neces-sidade do constante aperfeiçoamentodas ações de controle sanitário na áreade alimentos, visando à proteção dasaúde do potencial humano das Orga-nizações Militares (OM), bem como ànecessidade de adequar a legislaçãovigente no âmbito das Forças Arma-das (FA) à legislação dos órgãos deVigilância Sanitária.

1.2 A Higiene Alimentar e Indus-trial

Para se obter uma boa higiene emalimentos, vários procedimentos sãonecessários. Um conjunto de princípi-os e regras para o correto manuseiode alimentos, denominado “Boas Prá-ticas de Fabricação” é um deles (CNI/SENAI/SEBRAE/ANVISA, 2002,p.13).

Ainda no sentido de assegurar ahigiene alimentar, outra medida impor-

tante a ser tomada é a avaliação da si-tuação higiênico-sanitária das cozinhas,assim como a sugestão de ações paraa melhoria desta situação.

Segundo Germano & Germano(2001), cabe ao consultor de unida-des de alimentação a avaliação das ins-talações e dos equipamentos, acapacitação da mão-de-obra, o con-trole de fornecedores de matérias-pri-mas, o monitoramento das diferentesetapas da fabricação de alimentos en-tre outros. O mesmo autor ressalta tam-bém que o primeiro passo a ser exe-cutado por um consultor no sentido demelhorar a qualidade, em uma unida-de de alimentação, é o diagnóstico dasituação atual da unidade, sendo que

[...] é a partir da detecção de eventuaiserros técnicos de procedimentos, maufuncionamento dos equipamentos,inadequação das instalações e inabili-dade dos recursos humanos que aconsultoria poderá avaliar a real situa-ção do estabelecimento e propor solu-ções ao cliente (GERMANO, 2001).

Outro conceito que se desprendedestes conhecimentos é o de higieneindustrial. Segundo Prata e Fukuda(2001), higiene industrial entende-sepor

[...] controle sistemático das ações econdições de transporte,

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processamento, armazenagem e comer-cialização dos alimentos, objetivandoprevenir contaminação, seja pormicroorganismos, insetos, roedores,outros animais nocivos, substânciasquímicas estranhas, corpos estranhos,metais tóxicos, agentes putrefatos, po-luição ambiental, etc.

O mesmo autor assegura que fa-zem parte da higiene industrial a higie-ne de pessoal, a higiene de instalações,equipamentos e processos, e o con-trole ambiental.

A Portaria 854/SELOM, de 4 dejulho de 2005, publicada no DiárioOficial da União nº 129, de 7 de julhode 2005 – Seção 1 e reproduzida noBoletim do Exército nº 28, de 15 dejulho de 2005 (BRASIL, 2005), trazestes conceitos de higiene alimentar eindustrial para o âmbito da Força.

No tocante à higiene de pessoal,assegura que manipuladores de alimen-tos não podem ser portadores aparen-tes ou inaparentes de doenças infecci-osas ou parasitárias, sendo que exa-mes laboratoriais, como hemograma,devem ser feitos anualmente para estainvestigação. Também assegura queindivíduos portadores de feridas ou le-sões nas mãos ou nos braços,gastroenterites, infecções pulmonarese faringites devem ser afastados damanipulação de alimentos.

No que se refere à água para con-

sumo ou preparo de alimentos, a Por-taria 854/SELOM (BRASIL, 2005)garante que esta deve vir de reserva-tório, que deve ser limpo e desinfeta-do a cada seis meses, ou na ocorrên-cia de algum acidente.

A mesma portaria ainda prevê vá-rias medidas para a higiene de instala-ções e equipamentos, como a utiliza-ção de piso de cor clara e de fácilhigienização; paredes de cor clara e,se azulejada, com azulejos até a alturade 2 metros no mínimo; portas e jane-las com mecanismos que impeçam aentrada de insetos, roedores, entreoutros.

O mesmo documento descrevevários outros procedimentos para hi-giene ambiental, para a higiene de ví-veres, para padronização de proces-sos de manipulação, recebimento,transporte e conservação de gênerosalimentícios.

1.3 Situação Epidemiológica daEscola de Administração doExército (EsAEx)

A Escola de Administração doExército (EsAEx) foi criada em 5 deabril de 1988. Cursos de diversas es-pecialidades eram realizados nesse es-tabelecimento de ensino. A partir de1990, passou a ser realizado, também,o curso de formação de oficiais do

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Quadro Complementar (CFO/QC).O Quadro Complementar, criado em2 de outubro de 1989 destina-se asuprir as necessidades do ExércitoBrasileiro em pessoal de nível superiorpara ocupação de cargos de naturezac o m p l e m e n t a r. ( M A R Q U E S ;MEDEIROS e PASSOS, 2005). Estacarreira está estruturada desde o pos-to inicial de 1º Tenente até o de Te-nente Coronel. A duração do curso éde 35 semanas, onde são fornecidosao aluno a alimentação, salário, aloja-mento e instrução, compatíveis com oposto de 1º Tenente.

No decorrer da evolução daEsAEx, pesquisas na área de saúdeforam realizadas e se constatou queproblemas gastrointestinais possuemtaxa epidemiológica relevante. Entre osanos de 1999 e 2003 constatou-seum índice de 18,8 % de atendimentosde oficiais alunos com menos de 26anos de idade, 18,2 % entre os ofici-ais alunos de 26 a 33 anos e 11,9 %nos com mais de 34 anos. Estes índi-ces só foram inferiores aos índices deproblemas ortopédicos (MARQUES;MEDEIROS e PASSOS, 2005).

Tais dados só vêm a corroborar àimportância de uma constante vigilân-cia em saúde com especial enfoquepara a segurança de água e alimentos.

Este artigo tem por finalidade ava-liar a situação higiênico-sanitária do

serviço de aprovisionamento da EsAExnos anos de 2005 e 2006, através dautilização do Indicador de Qualidadepara os Serviços de Aprovisionamen-to do Exército (IQSA), conforme pro-posto por Leite e colaboradores(2005), e realizar análise microbioló-gica em alimentos prontos, advindosdeste serviço.

2 Metodologia

Com o objetivo de avaliar a evo-lução do serviço de aprovisionamentoda Escola de Administração do Exér-cito (EsAEx), o Índice de Qualidadedo Serviço de Aprovisionamento(IQSA) proposto por Leite e colabo-radores (2005) foi utilizado. O questi-onário foi aplicado às instalações res-ponsáveis pelo serviço de aprovisio-namento da EsAEx pelo Oficial Vete-rinário da EsAEx nos meses de feve-reiro de 2005, fevereiro de 2006 emaio de 2006.

O IQSA é um método para auditaras instalações da cozinha, equipamen-tos e utensílios, matéria-prima e pro-dutos, qualidade da água utilizada, flu-xo de produção, manipulação, instala-ções frigoríficas, refeitório, banheiros,destino de resíduos, entre outros que-sitos. O método é composto por umquestionário onde os itens avaliadossão pontuados numa escala que clas-

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sifica o serviço de aprovisionamentocomo péssimo, ruim, regular, bom ouexcelente de acordo com a pontuaçãofinal obtida.

Complementando o IQSA, análi-ses microbiológicas foram realizadasnos alimentos preparados pela cozinhada EsAEx, no Laboratório Central deSaúde Pública Professor GonçaloMoniz, do Governo do Estado daBahia. Os testes realizados incluírampesquisa de Salmonella sp, contagemde coliformes a 45°C/g, contagem deBacillus cereus, contagem deStaphilococcus coagulase positivo,contagem de Clostridium sulfito redu-tores a 46°C, além de análises físico-químicas, visando à cor, ao aspecto eao odor da amostra. A legislação con-siderada para a elaboração dos lau-dos foi a Resolução RDC n° 12/01ANVISA – MS (BRASIL, 2001).

3 Resultados

3.1 IQSA

O questionário é composto por14 blocos de quesitos, com pesos atri-buídos conforme risco sanitário queperfazem um total de 100 pontos. Deacordo com a pontuação final obtida,o serviço de aprovisionamento é clas-sificado como se segue:

• 0 a 19 pontos – péssimo;• 20 a 49 pontos – ruim;• 50 a 69 pontos – regular;• 70 a 90 pontos – bom;• 91 a 100 pontos – excelente.

Esta classificação indica a qualida-de do serviço de aprovisionamento,balizada pelo Regulamento Técnico deBoas Práticas em Segurança Alimen-tar nas Organizações Militares, esta-belecido na Portaria 854/SELOM de4 de julho de 2005, da Secretaria deLogística, Mobilização, Ciência eTecnologia do Ministério da Defesa,transcrita no BE número 28 de 15 dejulho de 2005 (BRASIL, 2005).

O desejável é uma nota final míni-ma de 70 pontos, que dará segurançaquanto à qualidade sanitária dos alimen-tos produzidos na cozinha.

Analisamos a evolução do serviçode aprovisionamento da EsAEx, quefoi auditado em 3 datas distintas: 24de fevereiro de 2005, 22 de fevereirode 2006 e em 30 de maio de 2006,estando os resultados dispostos no ta-bela 1.

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Tabela 1 - Resultado das Auditorias Sanitárias de BPF na Cozinha da EsAEx entre2005 e 2006

Fonte: Seção de Ensino 5/EsAEx.Obs.: Estão em negrito os resultados abaixo do limite desejável (70% de atendimento).

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3.1.1 Áreas externas

Este quesito é composto de 7 itenscom peso 4 na classificação final. Avaliaas condições das áreas externas pró-ximas ao rancho quanto à pavimenta-ção do acesso; limpeza; acesso inde-pendente para a entrada de pessoas,materiais e alimentos; escoamento deáguas pluviais.

A variação na pontuação ocorredevido ao fato da manutenção, limpe-za e utilização de acessos independen-tes para pessoas, materiais e alimen-tos não serem padronizados.

3.1.2 Gabinete de higienização

Quesito composto por 4 itens ava-liados e com peso 6 na classificaçãofinal.

Embora existam os gabinetes dehigienização, as condições de uso vãose tornando precárias no decorrer dasauditorias, com a falta de detergente,sanitizante e toalhas descartáveis.

3.1.3 Cozinha (área interna)

Avaliada em 16 itens com peso 15na classificação final.

Área que evoluiu bastante desde aprimeira auditoria devido a uma refor-ma, onde as instalações foram adequa-das as necessidades mais urgentes, pre-

cisando ainda ser resolvidos algunspontos importantes como a separaçãode áreas limpa e suja, isolamento daárea de manipulação de outras áreas.A limpeza e higienização também se en-contram inadequadas.

3.1.4 Equipamentos e utensílios

Quesito avaliado em 8 itens compeso 6 na classificação final.

Embora os equipamentos e utensí-lios existam em quantidades adequa-das, a organização, manutenção ehigienização são deficientes.

3.1.5 Matéria-prima e produtos

Aqui é avaliada a procedência e aqualidade da matéria-prima e a con-servação dos produtos em 8 itens dis-tintos, com peso 8 na classificação fi-nal.

Pontos importantes foram perdidosna inadequada conservação dos ali-mentos e no desrespeito aos prazos devalidade.

3.1.6 Fluxo de produção e mani-pulação

Avaliado em 4 itens com peso 15na classificação final.

Quesito importantíssimo que ava-lia o sentido do fluxo de produção e

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como são manipulados os alimentos.Está numa classificação descendente ereflete a deficiência no treinamento dosmanipuladores e ausência de fiscaliza-ção dos trabalhos. Manipulação e hi-giene inadequadas, ausência de sepa-ração da área limpa e suja, desrespei-to ao fluxo de produção favorecendoa contaminação cruzada.

3.1.7 Instalações frigoríficas

Quesito avaliado em 9 itens, compeso 6 na classificação final.

Melhorar a organização e identifi-cação dos produtos dentro das câma-ras.

3.1.8 Refeitório

Avalia as condições de higiene e asinstalações do refeitório, tem peso 4na pontuação final.

3.1.9 Banheiros

Quesito avaliado em 6 itens e peso6 na classificação final.

Lixeiras sem tampas, portas semfechamento automático, ausência dedetergente, sanitizante e papel toalhadescartável são as deficiências apre-sentadas neste quesito.

3.1.10 Destino de resíduos

Avaliado em 5 itens, este quesitoentra com peso 4 na classificação fi-nal.

Manejo de resíduos inadequado,limpeza e higienização das lixeirasinsatisfatórias.

3.1.11 Depósito, almoxarifado,armazenagem de produtos químicos

Avaliado em 6 itens, com peso 6na classificação final.

Armazenamento de alimentos econdimentos inadequado. A organiza-ção, identificação e localização dosdiversos produtos químicos noalmoxarifado são insatisfatórias.

3.1.12 Pessoal, vestuário e hábitoshigiênicos

Avaliado em 8 itens, este quesitotem peso 8 na classificação final.

Este quesito demonstra a grandedeficiência existente no serviço deaprovisionamento quanto ao treina-mento e qualificação dosmanipuladores. Avalia as condições dehigiene dos uniformes, uso exclusivodos uniformes para o trabalho no ran-cho, utilização de gorro para a con-tenção dos cabelos, condições de saú-de dos manipuladores e asseio dos

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manipuladores.

3.1.13 Abastecimento de água

Avaliado em 12 itens, com peso 8na pontuação final.

Quesito importante que atingiu ní-veis de excelência com a implantaçãode um programa de controle de quali-dade da água e a instalação de um fil-tro de entrada de água em janeiro de2005. A queda na última pontuação sedeve a uma maior exigência do auditorno controle dos níveis de cloro daágua.

3.1.14 Programa de controle eregistros

São 6 itens avaliados, computan-do peso 4 na classificação final.

Embora existam programas decontrole de insetos, roedores, limpezae desinfecção da caixa d’água, insta-lações e equipamentos, estes devem sermelhorados.

3.2 Análises Microbiológicas

Os resultados das análisesmicrobiológicas encontram-se no Grá-fico 1 . As análises físico-químicas de

GRÁFICO 1 - Resultado das Análises Microbiológicas de Amostras de Alimentos -EsAEx /2005 (percentual de conformidade)

%

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todos os alimentos analisados encon-traram como resultado, para todos osquesitos, como cor e odor, “própriodo produto”.

Em maio de 2005, em cinco diasdiferentes, alguns alimentos como ar-roz, feijão, frango, peixe, carne bovi-na, polenta e salada foram remetidospara análise microbiológica. No dia 09daquele mês, todos os alimentos esta-vam de acordo com padrões legais vi-gentes, exceto a polenta, que foi con-siderada imprópria para consumo hu-mano por apresentar contagem decoliformes a 45o C acima dos padrões.Em 10 de maio de 2005, todos os ali-mentos apresentaram-se dentro dospadrões legais vigentes. Em 19 de maiode 2005, a salada foi considerada im-própria para o consumo humano, porapresentar contagem de coliformes a45oC acima dos padrões recomenda-dos. Em 30 de maio de 2005, nova-mente um deles foi considerado impró-prio para o consumo humano, sendoeste o arroz com cenoura, por apre-sentar Bacillus cereus acima dos pa-drões legais vigentes. Mas, em 31 demaio, todos os alimentos remetidos es-tavam de acordo com os padrões le-gais vigentes.

Em junho de 2005, alimentoscomo feijão, arroz, frango, batata emacarrão foram avaliados. No dia 03de junho o macarrão foi considerado

impróprio para consumo humano, porapresentar contagem de coliformes a45° C acima dos padrões legais vigen-tes. No dia 08, todos os alimentos fo-ram considerados dentro dos padrõeslegais assim como no dia 29.

4 Discussão

Durante os últimos meses do anode 2005, o refeitório da EsAEx foi sub-metido a diversas reformas em prol damelhoria da higiene alimentar. Tais re-formas derivam da observação de de-ficiências detectadas através da apli-cação e análise do IQSA em 2005.Desta forma, entre as obras realizadas,incluiu-se a colocação de telas contrainsetos na cozinha, troca do piso dacozinha e região circunvizinha, troca dacobertura das paredes, subdivisão daárea de manipulação de alimentos embancadas para verduras e bancadaspara carnes, colocação de gabinetespara lavagem das mãos em cada ban-cada, com torneiras de acionamentopelos cotovelos, organização do esgotodas pias, criação de área parahigienização das panelas, instalação defiltro industrial de água para toda acozinha, troca da iluminação, entreoutras mudanças.

Aplicando-se novamente o IQSAem 2006, e analisando-se cada quesi-to em separado, foi possível acompa-

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nhar a evolução de certos pontos nes-tes dois anos, e perceber que as obrasrealizadas contribuíram positivamentepara a melhoria do serviço de aprovi-sionamento da Escola, porém, em mui-tos pontos ainda há diversas deficiên-cias a serem sanadas, como a padro-nização de procedimentos com a im-plantação do manual de boas práticasde fabricação; separação física de árealimpa e área suja; manejo adequadodos resíduos e a organização das ins-talações frigoríficas; depósito de ali-mentos e depósito de produtos quími-cos.

O principal item a ser melhoradoatualmente refere-se aos recursos hu-manos empregados no rancho, passan-do certamente por treinamento pararealização das atividades da cozinha deforma adequada. É pertinente a su-gestão de se reduzir o efetivo variávelque muda a cada ano, do pessoal quetrabalha no rancho, pois a cada trocade efetivo, é necessário novo treina-mento. A manutenção de um chefe decozinha e a presença mais próxima deum veterinário, responsável técnicopelo serviço de aprovisionamento aju-dariam a manter a qualidade do servi-ço.

O fato da pontuação final do IQSAter diminuído, apesar da notável me-lhora em certos quesitos, evidencia adeficiência dos manipuladores, falta de

padronização dos procedimentos e daavaliação do auditor. Através de trei-namento dos auditores e do uso deum manual para padronizar a aplica-ção do IQSA, seriam evitadas possí-veis distorções.

O IQSA tem se mostrado positivopara caracterizar uma fotografia da si-tuação no momento de aplicação doquestionário. Através dele, é possíveldetectar quais itens de cada blocomelhoraram, pioraram ou se mantive-ram ao longo dos meses, e onde é pre-ciso agir para adequar os locais a umnível higiênico-sanitário satisfatório.

Já no tocante à análisemicrobiológica, os resultados mostramque, apesar da maior parte dos alimen-tos estar de acordo com os padrõeslegais vigentes, em algumas análisescertos pratos foram considerados im-próprios para o consumo humano, sen-do o agente mais freqüentemente en-contrado o Bacillus cereus e a pre-sença de coliformes a 45oC, indican-do falhas de higiene pessoal e conser-vação inadequada dos alimentos.

O Bacillus cereus é um microrga-nismo causador de toxinfecções ali-mentares, encontrado em grande vari-edade de produtos de origem animal evegetal, cuja incidência de casos emsaúde pública é elevada, embora hajagrande subnotificação devido ao fatode suas manifestações clínicas serem

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semelhantes às de outros microrganis-mos. Pode provocar síndromediarréica, com período de incubaçãode 8 a 16 horas, ou síndrome emética,com cerca de 30 minutos a 5 horas deincubação. Na grande maioria dos ca-sos, ocorre evolução rápida para acura, em 12 a 24 horas (GERMANO;GERMANO, 2001, p.200).

O agente em questão encontra-seamplamente distribuído na natureza,sendo isolado com freqüência do solo,poeiras, água, sedimentos, vegetação,colheita de cereais e dos pêlos dosanimais. Dessa forma, trata-se de umcomponente habitual da flora intestinaltemporária do homem. A toxinfecçãoocorre por ingestão de alimentos con-tendo células vegetativas de B. cereus,que, no intestino do homem, produzema enterotoxina responsável pelo qua-dro de diarréia. A toxina emética, po-rém, é produzida na fase estacionáriade multiplicação (GERMANO;GERMANO, 2001, p.200).

Os alimentos mais envolvidos coma síndrome diarréica são produtoscárneos, hortaliças, leite e derivados,cremes, sopas, purê de batatas e sala-das de legumes, enquanto produtosamiláceos e cereais, principalmente oarroz, estão mais envolvidos com asíndrome emética (GERMANO;GERMANO, 2001, p.200).

O termo coliforme refere-se a um

grupo de bactérias bastonetes gram-negativos, que habitam o tubo intesti-nal do homem e de outros animais,capazes de fermentar a lactose comprodução de gás. Algumas espécies sãomuito semelhantes, sendo necessáriouma série de provas bioquímicas paradiferenciá-las (TRABULSI et al, 2002,p.207). O índice de coliformes totais éutilizado para avaliação das condiçõessanitárias de preparação do alimentoanalisado, enquanto o índice decoliformes fecais denota a provávelcontaminação fecal (SIQUEIRA,1995). O grupo de coliformes fecaisinclui a E. coli, detectada em um dosalimentos analisados, que é uma bac-téria da famíla Enterobacteriaceae, comdiferentes cepas, relacionadas a dife-rentes quadros clínicos degastroenterites, sendo as principais aenteropatogênica, a enterotoxigênica,a enteroinvasiva, e a enterohemor-rágica, cada uma com diferentes perí-odos de incubação e sintomas. Oagente em questão pode estar presen-te em qualquer alimento exposto à con-taminação fecal (GERMANO;GERMANO, 2001, p.217).

De acordo com a Resolução -RDC no 12 de 2 de janeiro de 2001,da ANVISA - MS(BRASIL, 2001),utilizada como referência para as aná-lises laboratoriais, “a denominação de‘coliformes a 45°C’ é equivalente à

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denominação de ‘coliformes de origemfecal’ ”. Portanto, a presença decoliformes a 45° C em alguns alimen-tos da cozinha da EsAEx denota a fal-ta de higiene por parte dosmanipuladores de alimentos. Estes re-sultados confirmam a situação nãosatisfatória em que o serviço encon-tra-se, apontados por alguns itens doIQSA. Esta congruência entre os re-sultados microbiológicos e do IQSAdemonstra a capacidade do índice dealertar para situações problemáticas.

5 Conclusão

Através da utilização do IQSA emsucessivos momentos e da análisemicrobiológica de alimentos prontosaplicados ao serviço de aprovisiona-mento da EsAEx, foi possível acom-panhar a situação higiênico-sanitáriadeste serviço. Melhorias realizadas porocasião de uma reforma, a que as ins-talações da EsAEx foram submetidas,puderam ser detectadas, por meio dosvários blocos de quesitos que com-põem o IQSA. A análisemicrobiológica mostrou alguns alimen-tos impróprios para o consumo huma-no, indicando que os itens mal classifi-cados no indicador podem acarretarsérios problemas aos produtos finaisdo serviço acompanhado. O IQSAjuntamente com a análise

microbiológica, então, foram capazesde traduzir a situação higiênico-sanitá-ria de um serviço de aprovisionamen-to, sendo fundamentais na orientaçãodos trabalhos de melhoria dos mesmos.

A normatização e o treinamentopara a aplicação do IQSA podem serobjetos de um futuro trabalho no sen-tido de diminuir a influência do auditorno resultado.

Agradecimentos

Agradecemos ao Laboratório Cen-tral de Saúde Pública Professor Gon-çalo Moniz (LACEN), da Secretariade Saúde do Estado da Bahia pelagrande colaboração prestada na reali-zação das análises microbiológicas dosalimentos.

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FATORES CAUSADORES DE ESTRESSE E SUA POSSÍVELATUAÇÃO NOS ALUNOS DO CURSO DE FORMAÇÃO DE

OFICIAIS DO QUADRO COMPLEMENTAR

Luciana Ellwanger 1

Resumo. O estresse é uma síndrome multifatorial ligada a aspectos físicos, psi-cológicos, sociais e comportamentais. Está intimamente relacionado à percepçãodo sujeito ao estímulo estressante, e, por isso, as vertentes emocionais vincula-das a esta síndrome são muito relevantes. O ambiente de trabalho, por ter sofridomudanças em sua estrutura funcional, levou a uma alteração no equilíbrio entre aatividade física e mental, gerando estresse. Neste ambiente encontram-se estímu-los estressores como a incerteza quanto à permanência no mercado de trabalho,aumento do trabalho administrativo, condições ergonômicas inadequadas, dentreoutros. O ambiente militar, por caracterizar um ambiente de trabalho específico,apresenta agentes estressores característicos, dos quais este trabalho selecio-nou mobilidade geográfica constante, separação da família, risco de lesão duranteo trabalho e jornada de trabalho longa e imprevisível. Os oficiais-alunos do Cursode Formação de Oficiais do Quadro Complementar entram em contato com estesestressores e contam, como estratégias de enfrentamento, com técnicas emocio-nais, físicas e estruturais. Fisicamente, sugerem-se técnicas de relaxamento comoo sono, fazer pilates ou yoga e, emocionalmente, com a convivência com oscolegas e com a troca de experiência entre si, o que proporciona, empiricamente,a queda no nível de ansiedade. Porém há outras técnicas como a prática de espor-tes, dança ou estudo de idiomas. Estruturalmente, no entanto, a modificação doambiente de trabalho não se constitui uma possibilidade pela estrutura sólida econservadora do Exército Brasileiro.

Palavras-chave: Estresse no trabalho. Ambiente militar. Oficiais-alunos.

Abstract. Stress is a multifactorial syndrome associated with physical,psychological, social and behavioral aspects. It is closely related to the individualsperception of the stressing stimulus and, because of this, the emotional sourceslinked to this syndrome are very relevant.Stress is deeply connected to the work atmosphere, where a great deal of stressingstimuli, such as excess of responsibility, temperature extremes and inadequateergonomic conditions are, present. The military environment, as a workplace, is asource of specific stressing stimuli. Constant geographic mobility, being distantfrom the family, injury risk, besides long and unpredictable work hours are stressingfactors which are part of the military environment. The trainee-officers of the “CFO-

1 Graduada em Enfermagem.Escola de Administração do Exército(EsAEx), Salvador, [email protected].

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QC” get in touch with the same kind of stress that the officers do, and count onemotional, physical and structural techniques as coping strategies. Physically,they count on techniques of relaxation, which are hugely spread out, like sleepingand; emotionally, they rely on the closeness to the other students and the exchangeof experiences among them, which provides, empirically, a small drop in the level ofanxiety. Structurally, however, the change of the work atmosphere is not possibleon account of the solid and conservative structure of the Brazilian Army.

Keywords: Stress at work. Military environment. Trainee-officers.

1 Introdução

Salles e Orsolini (2007), em repor-tagem publicada pela Revista Veja noprimeiro semestre do ano de 2007, tra-zem a tona o interesse que tem se vol-tado ao emprego público nos últimostempos e como ele passou a “valer apena”, nas palavras da própria repor-tagem de capa. Isso se deve ao au-mento do índice de desemprego e ànecessidade de ocupação da popula-ção em geral. Dados apresentados porMontali (2003), relativos à cidade deSão Paulo, corroboram o exposto aci-ma. A autora relata que, de 1990 até adata de publicação de seu estudo, osetor financeiro sofreu uma série decrises que influenciaram o mercado detrabalho, diminuindo as vagas de em-prego. No entanto, com o cessar dascrises, as vagas não eram repostas,havendo um déficit pendente até aquelaépoca. O desemprego tem como re-sultante, especialmente ao final dosanos 90, a diminuição da renda per

capita e o “deslocamento da respon-sabilidade da manutenção da família”(MONTALI, 2003) para outros deseus componentes, como os idosos,crianças e adolescentes, destacando-se a mulher, que antes se responsabili-zava apenas pelo cuidado da casa.

No entanto, com o aumento daqualificação das vagas de empregos, amão-de-obra também deveria ter sequalificado. Porém, a dificuldade deacesso da população em geral à quali-ficação em nível superior, principal-mente a de renda mais baixa (ZAGO,2006), gera o paradoxal crescimentode mercados e de vagas disponíveis,enquanto o desemprego cresce.

O Exército Brasileiro (EB) possui,segundo fonte do Comando Militar doSul (2007f), cerca de 205 mil militaresem diferentes postos e graduações,bem como em várias linhas de atua-ção. Assim, a constante necessidadede renovação no efetivo leva à abertu-ra de vagas, através de concurso ouincorporação (BRASIL, 2007d). A

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incorporação refere-se aos soldados,enquanto que para as demais gradua-ções e postos há concursos que abran-gem todos os níveis de formação: pri-meiro, segundo e terceiro graus com-pletos. Atendo-se especificamente aopúblico civil, com formação técnica eminstituições de ensino superior, o EBabre suas portas a três áreas. A pri-meira área é a Saúde, englobandomédicos, farmacêuticos e odontólogoscuja formação militar ocorre na Esco-la de Saúde do Exército – EsSEx – noRio de Janeiro (BRASIL, 2007a). Asegunda é a Ciência e Tecnologia, queabrange os diversos ramos de enge-nharia, cuja formação ocorre no Insti-tuto Militar de Engenharia – IME –também localizado no Rio de Janeiro(BRASIL, 2007b). Por último, existea área Complementar, composta porprofissionais que prestam assessoria eassistência em diversas áreas, comoMagistério, Pedagogia, Enfermagem,Direito, Economia, Contabilidade,Comunicação Social, dentre outras. Aformação do pessoal da área Comple-mentar ocorre na Escola de Adminis-tração do Exército – EsAEx – situadaem Salvador, na Bahia (BRASIL,2007c).

A admissão aos quadros de Saú-de, Ciência e Tecnologia e Comple-mentar ocorre através de concursopúblico. No caso da área Complemen-

tar, esta seleção é realizada em trêsfases. A primeira fase avalia conheci-mentos gerais de História e Geografiado Brasil, Língua Portuguesa e LínguaEstrangeira, além dos conhecimentosespecíficos à área de formação técni-ca. Além desse Exame Intelectual,constam da seleção a Inspeção deSaúde e o Exame de Aptidão Física(BRASIL, 2006).

Os aprovados no concurso, apósmatriculados, recebem a denominaçãode tenentes-alunos. Passadas 35 se-manas de formação, farão parte dochamado Quadro Complementar deOficiais – QCO.

A rotina exigida pelo curso é inten-sa e rigorosa. Durante o período depermanência na Escola, é exigido es-forço físico crescente no TreinamentoFísico Militar e nos exercícios de cam-po; estudo constante e intenso para ostrabalhos e avaliações da aprendiza-gem, necessários ao curso; e preparoemocional para lidar com todas as si-tuações extenuantes impostas pela pró-pria carreira militar, a começar peladistância da família e seguida pela pró-pria adaptação à vida castrense.

Como percebe-se, a formação mi-litar atinge os domínios cognitivo,psico-motor e afetivo. Isto é posto emprática através do desenvolvimento deatividades com armamento, conheci-mento de legislação voltada à adminis-

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tração militar, produção científica atra-vés de redação de artigo científico,aprimoramento do espírito de lideran-ça, desenvolvimento da capacidade fí-sica e de trabalho em equipe (interaçãoe interdisciplinaridade).

Para isso, é necessária dedicaçãofísica e emocional, irrestrita, incondici-onal e em tempo integral.

Na EsAEx, o aluno, já reconheci-do como oficial do EB, é preparadopara assumir o cargo de oficial em suaplenitude. Neste período, a maioria dosalunos permanece afastada de sua fa-mília e de seu estado de origem. Nestecontexto, pode-se verificar algumasalterações importantes no estilo devida.

A família, por exemplo, faz partedas instituições básicas da sociedade,formada por laços consangüíneos eculturais específicos, constituindo nãosó um núcleo social, mas a própria li-gação entre indivíduo e sociedade. Essaimportância da família é mostrada porCarvalho e Almeida (2003, p. 109),que a define como co-autora das rea-lizações do indivíduo:

A família é apontada como elemento-chave não apenas para a “sobrevivên-cia” dos indivíduos, mas também para aproteção e a socialização de seus com-ponentes (...). Representando a formatradicional de viver e uma instânciamediadora entre indivíduo e sociedade,

a família operaria como espaço de pro-dução e transmissão de pautas e práti-cas culturais e como organização res-ponsável pela existência cotidiana deseus integrantes, produzindo, reunin-do e distribuindo recursos para a satis-fação de suas necessidades básicas.

Outro aspecto a ser considerado éa convivência dos alunos em alojamen-tos. Wolff e Fesseha (1998), analisan-do a questão das crianças convivendoem orfanatos, relatam que é possívelpara seus cuidadores respeitarem suaspeculiaridades, inclusive estimulandoseu senso de autonomia dentro do gru-po. Desta forma, a perda da individu-alidade, uma idéia que acompanha oconceito de vida em alojamento, podeser superada sem traumas, apesar deo processo adaptativo ser bastantepessoal. Dividir o espaço com um gran-de número de pessoas, ainda comple-tamente estranhas, e conviver de ma-neira pacífica, podem ser uma tarefadifícil para alguns. Porém, a situaçãogeradora de ansiedade pode ser su-perada através da criação de laçosafetivos e da valorização das caracte-rísticas individuais, fortalecendo, para-doxalmente, o espírito de grupo.

No ano de 2007, foram matricula-dos 56 alunos no Curso de Formaçãode Oficiais do Quadro Complementar– CFO/QC (BRASIL, 2007c). Estesoficiais-alunos passam por todas as

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dificuldades elencadas acerca da for-mação militar. As exigências do cursogeram necessidade de adaptação in-dividual e essa adaptação, aliada aoprocesso de afastamento da família, aochoque cultural, à exigência física eemocional, pode ser fator gerador deestresse.

Considerando tais características,este trabalho tem por objetivo analisaras possíveis situações causadoras deestresse às quais os trabalhadores, emgeral, estão expostos, comparando-ascom a situação vivenciada pelos ofici-ais-alunos do CFO/QC, levando-seem consideração as peculiaridades eexigências da profissão militar e pro-por alternativas para lidar com as mes-mas.

2 Estresse e Trabalho

As mudanças no ambiente de tra-balho levam a uma alteração no equilí-brio entre a atividade física e mental(ONCIUL, 1996). O desenvolvimen-to tecnológico reduziu a necessidadede esforços físicos exagerados e, emcontrapartida, surge a necessidade deesforços cognitivos e emocionais nosnovos ambientes de trabalho. Estes sãocaracterizados por falta de tempo, fa-tores funcionais menos controláveis,distrações maiores, espaço reduzido,incerteza generalizada quanto a aspec-

tos como a permanência no mercadode trabalho, por exemplo, e aumentodo trabalho administrativo (ONCIUL,1996). Tais fatores aliados à conse-qüente alteração do padrão de vida dostrabalhadores, incluindo aí as ativida-des pessoais e sociais, podem geraruma síndrome de grande abrangênciasocial, denominada “estresse”.

Para Levi (1996, apud NOBLET,2003), estresse pode ser consideradoum conjunto de fatores que alteram,pelo menos, quatro aspectos da vidado ser humano: aspectos físicos, psi-cológicos, sociais e comportamentais.Ainda acrescentam-se problemas desaúde como uma particularidade quepode estar vinculada a esta síndrome.Apesar de todo o envolvimento múlti-plo, o estresse é um evento de domí-nio eminentemente psicológico no qualvariáveis cognitivas podem influenciara percepção e compreensão de even-tos estressantes (STACCIARINI eTRÓCCOLI, 2002).

Monat e Lazarus (1997, apudSTACCIARINI e TRÓCCOLI, 2002)diversificam o conceito de estresse aoconcluir que existem três tipos básicos:sistêmico ou fisiológico, psicológico esocial. Fisiologicamente, estar-se-iatratando de distúrbios de sistemas oupartes do corpo; psicologicamente, decaracterísticas afetivas e cognitivas; esocialmente, de comprometimento de

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unidades sociais, sejam elas quais fo-rem.

Os custos econômicos e humanosdo estresse estão relacionados ao in-teresse de toda a sociedade, incluindoaí os empregados e empregadores(NOBLET, 2003). Isto está ligado aoíndice de absenteísmo, ao custo comas patologias estresse-relacionadas,como a depressão ou os DORT (dis-túrbios ósteo-musculares relacionadosao trabalho), o que leva a turnoverconstante no quadro funcional e a que-da no desempenho dos profissionais deuma maneira geral. O absenteísmodeve ser compreendido como todas asfaltas, justificadas ou não, ao trabalho.Isto pode ocorrer em razão de doen-ça pessoal ou na família, compromis-sos pessoais ou jurídicos, dentre ou-tros. O turnover diz respeito à substi-tuição de funcionários no mesmo car-go em um determinado período de tem-po, que pode ser aumentado devido aimpedimentos diversos, mas especial-mente a problemas emocionais e lesõesfísicas.

Selye (1975, apud ONCIUL,1996) propôs um modelo de adapta-ção ao estresse em 1936, conhecidocomo “síndrome da adaptação geral”(SAG), caracterizada pela exposiçãoprolongada ao estímulo estressante eutilização dos hormônios da glândulaadrenal (glicocorticóides e

mineralocorticóides) na resposta aomesmo (GRAEFF, 2003). A SAG écomposta por três fases: reação dealarme, fase de resistência e exaustão.As três fases do desenvolvimento doestresse possuem características espe-cíficas, como expõem Onciul (1996):

- Reação de alarme: há a respostaimediata a uma ameaça ou desafio. Oenvolvimento do sistema nervoso au-tônomo (simpático/parassimpático) esistema límbico deixa o organismo pre-parado para reagir ao estímulo no as-pecto muscular, cardiovascular e emo-cional.

- Estágio de resistência: é desen-volvido tão logo novos estímulosestressores sejam ativados, uma vezque a resposta pronta do organismoaos mesmos não permanece semprealerta. Os mecanismos deenfrentamento são imediatistas e nãobuscam uma resolução mais completado problema causado pelas fontesestressantes.

- Exaustão: é aquele em que a so-brecarga ao organismo é tão grandeque o indivíduo passa a se encontrarem estado de “sofrimento”. Nestecaso, podem-se classificar casos maisgraves de exaustão emocional e físicano ambiente de trabalho, depressão eDORT.

Existem vários fatores que podeminfluenciar a suscetibilidade ao estresse

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em diferentes pessoas. Estes fatoresestão ligados, ainda segundo Onciul(1996), a características de constitui-ção individual, ao estilo de vida e detrabalho, a mecanismo deenfrentamento, a experiências préviascom estresse, a expectativas para comas diversas experiências da vida e àautoconfiança.

No ambiente de trabalho, algunsestressores específicos podem ser en-contrados: incerteza e perda de con-trole dentro do ambiente de trabalho;exigência extrema, como muita respon-sabilidade e comprometimento; extre-mos de temperatura e condiçõesergonômicas inadequadas; cultura doambiente de trabalho não permitindofalhas ou fraqueza, além de tarefasrepetitivas (ONCIUL, 1996).

Outra conseqüência dos fatoresestressantes, especialmente em paísesindustrializados, com prevalência de7% a 30%, são os chamados trans-tornos mentais comuns (TMC). Noconceito apresentado por Goldberg eHuxley, (1992, apud LUDERMIR eMELO FILHO, 2002) estes transtor-nos caracterizam-se por sintomascomo insônia, fadiga, irritabilidade, es-quecimento, dificuldade de concentra-ção e queixas somáticas.

3 Estresse e Atividades Militares

O trabalho realizado nas ForçasArmadas pode ser uma fonte deestresse devido a uma série de aspec-tos desencadeantes. Exemplos são ci-tados no estudo de Burrell et al (2006)que coloca a ocupação militar comoportadora de vários fatoresestressantes. São apresentados como“gatilhos” a mobilidade geográficaconstante, separação da família, riscode lesão durante o trabalho e jornadade trabalho longa e imprevisível.

- Mobilidade geográfica constan-te: os militares dos diversos quadros,serviços e armas são transferidos deuma localidade para outra com a fre-qüência mínima de quatro anos (BRA-SIL,1996). Assim sendo, há a possi-bilidade do militar e sua família residi-rem nos lugares mais diversos, em qual-quer Estado do País. As mudançaspodem alterar a vida familiar, amiza-des e outras relações de afeto e apoioà vida em comunidade. Isso leva à bus-ca e ao desenvolvimento de novos la-ços nas novas comunidades de desti-no.

- Separação da família: pode ocor-rer em diversas situações. O militar pos-sui em suas rotinas os exercícios decampo, os cursos de formação e aper-feiçoamento e as formações de tropapara deslocamento em guerra ou mis-

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sões de paz. Em todas estas ativida-des, afasta-se de seus familiares e pes-soas próximas. Estes períodos podemdurar de alguns dias a meses e nor-malmente ocorrem mais de uma vezdurante a carreira militar. Burrell et al(2006) cita que sentimentos de solidãoe isolamento podem acometer milita-res em ocasiões de separação da fa-mília.

- Risco de lesão: pensar na profis-são militar como livre de riscos físicose psicológicos é uma perspectiva de-sejável, porém, irreal (WESSELY,2005). No desenvolvimento de suas ati-vidades diárias, o militar lida com ar-mamento e munição; realiza esforçosfísicos que, dependendo das exigênci-as, podem levar a lesões ósteo-mus-culares, tanto dentro do aquartelamentoquanto nos exercícios de campo e cur-sos; sofre exposição a materiais quí-mico-físico-biológicos-nucleares alta-mente tóxicos para aquelas equipesespecializadas nestes materiais, dentreoutras atividades. Além dos riscos delesão, a ocupação militar possui comomaior agravante a convivência com orisco de morte. Este tipo de perspecti-va, especialmente em países que vivemem guerra, gera um considerável nívelde ansiedade. O Brasil, no momento,não está envolvido em situações deconflito, mas a formação e o treinamen-to para participar dessas situações é

freqüente e constante. Assim, diversoscursos (Caatinga, Comandos, ForçasEspeciais, etc) (BRASIL, 2007e) alémde conferirem a necessária formaçãoaos militares, já os expõem, enquantoalunos, a situações estressantes simi-lares àquelas enfrentadas em operaçõesreais.

- Jornada de trabalho longa eimprevisível: a jornada de trabalho domilitar inicia ao toque de alvorada eacaba ao toque de ordem (BRASIL,2004), segundo o previsto no Regula-mento Interno e dos Serviços Gerais.Todavia, na prática, as jornadas de tra-balho são mais longas e cansativas enão acabam aos toques regulamenta-res. Além de longa, a jornada de tra-balho é imprevisível: o militar possuimúltiplas funções dentro de uma orga-nização militar e sob este prisma, mui-tas questões podem surgir para seremsolucionadas. Devem ser consideradasatividades como o serviço de escala emissões concomitantes. Assindicâncias e a participação em co-missões são exemplos de atividadesque levam o militar a uma sobrecargaelevada. Sua rotina e o nível de estressedo militar são alterados significativa-mente. Vale lembrar que todas as ati-vidades exercidas em caráter extraor-dinário não são assim remuneradas.

O ingresso em instituições milita-res, segundo Amador et al (2002, p.2)

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traz um grande impacto psicológico aoindivíduo, já que as regras grupais des-tas instituições, suas particularidades,seus determinantes de convivência eideais “permeiam as relações de tra-balho e as relações interpessoais”. Aoingressar na vida militar, o indivíduoincorpora aos seus valores os atribu-tos característicos da personalidademilitar, preconizados pelos regulamen-tos da instituição. Amador et al (2002,p. 3) são pertinentes ao tratar dessaadaptação, afirmando que:

Inicialmente, sentem o impacto das re-gras na convivência social intramuros,onde as relações perdem a naturalidadee se revestem de medo, de receio doerro e de tudo que ele pode acarretar.

Os mesmos autores, ao analisaremo impacto da inclusão nas Forças Ar-madas e de como isso pode ser umagente estressor, alegam que o militaranseia por um ideal de profissional quese baseia em princípios rígidos, padro-nização de condutas, comportamentos,atos e fardamentos, dificultando, assim,a expressão da individualidade, e suaformação ocorre nesses padrões. Res-saltam, ainda, que o grupo exerce pa-pel intimidativo sobre o indivíduo, cer-ceando, especialmente, sua liberdade,sendo que o Regulamento Disciplinardo Exército e o Código Penal Militarsão elementos, juntamente com outros

princípios doutrinários e normativos,utilizados, não só para esse fim, maspara manter a coesão do grupo (AMA-DOR et al, 2002).

Particularmente, os oficiais-alunosdo CFO/QC, convivem com as situa-ções de tensão emocional como as jáapresentadas e estão, constantemen-te, expostos aos estímulos estressores.

Analisando pontualmente, consta-ta-se a mobilidade geográfica e a se-paração da família como fatores inici-ais geradores de estresse, tendo emvista que a grande maioria do CFO/QC é oriunda de outros Estados daFederação, uma vez que apenas 6 sãoprovenientes de Salvador de um totalde 56 alunos (BRASIL, 2007c).

A separação da família pode gerargrande desconforto ao oficial-aluno.Burrell et al (2006) cita sentimentos detristeza e solidão como comuns. Estessentimentos podem estar presentes noCFO, que busca apoio constante emsua família através de conversas tele-fônicas, correio eletrônico, e visitas comfreqüência variável, dependendo dalocalidade onde os familiares residam.Além disso, os laços afetivos criadoscom os colegas são uma alternativapara aplacar os sentimentos negativosque surgem pelo afastamento dos en-tes queridos. Esta atitude é corrobo-rada por Burrell et al (2006).

Da mesma forma, a mobilização

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geográfica torna-se, para o CFO, fontede sentimentos conflituosos, por todoo ano letivo: inicialmente, pela já trata-da separação da família; posteriormen-te, pela espera para a divulgação dasvagas e a conseqüente localidade dedestino. As vagas das organizaçõesmilitares de destino são divulgadas paraos oficiais-alunos ao final do curso. Aescolha dessas vagas é feita baseadanuma ordenação classificatória deacordo com o desempenho cognitivo,psicomotor e afetivo obtido pelos ofi-ciais-alunos. A expectativa e o próprioconhecimento dessas vagas retomamo sentimento de separação e demobilização geográfica. A possibilida-de de aumentar a distância de seus fa-miliares, bem como as particularidadesdeste novo local de residência podemse constituir em fonte de elevadoestresse.

As atividades previstas para oCFO, como para todo militar, apre-sentam risco como foco principal desua existência (WESSELEY, 2005).Os oficiais-alunos do CFO realizamexercícios de campo, recebem instru-ção de armamento e munição, execu-tando tiro com fuzil e com pistola eprestam serviço de escala devidamen-te armados. Nos exercícios de cam-po, são expostos a tarefas como pistade corda, onde devem atravessar umaextensão de água por sobre cordas;

pista de orientação diurna e noturna,onde há desgaste físico e mental parase achar os pontos marcados; pista deprogressão diurna e noturna, na qualhá rastejo na lama, progressão caute-losa em terreno desnivelado e desco-nhecido; exercício de tiro real diurno enoturno; exercício de patrulha nas mes-mas condições da progressão; câma-ra de gás, dentre outros, aumentandoconsideravelmente o risco nos exercí-cios noturnos. Nos serviços de escala,alguns postos são preenchidos por ofi-ciais-alunos armados, como observa-dor do oficial-de-dia e sargento-de-diada subunidade.

Quanto à jornada de trabalho, osalunos do CFO-QC passam pelosmesmos agentes estressores que osmilitares já formados. A demanda in-telectual exigida dos alunos com osestudos e produção científica envolve-os por tempo muito mais longo.

Finalmente, a adaptação ao novoambiente é um processo que pode terdiferentes graus de dificuldade paracada indivíduo. No entanto, como jáexposto no caso dos militares, estaadaptação é conflituosa para todos osoficiais-alunos do CFO-QC. As regrasrígidas que moldam comportamentose atitudes durante grande parte do diapodem ser responsáveis por limitar aespontaneidade e até a criatividade dosoficiais-alunos. Essa situação, por ou-

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tro lado, é contornada pelo vínculoafetivo estabelecido entre os compa-nheiros de turma, que criam maneirasde tornar a rotina militar mais leve du-rante o período de formação.

4 Estratégias para Enfrentamentodo Estresse no CFO-QC

Klink et al (2001) em estudo doano de 2001, apresentam alguns sin-tomas de desgaste emocional relacio-nados ao estresse. São eles “altos ní-veis de tensão, raiva, ansiedade, hu-mor deprimido, fadiga mental e pro-blemas do sono” (KLINK et al, 2001,p. 270).

O enfrentamento destes proble-mas-sintomas, segundo o mesmo au-tor, pode se dar segundo alguns me-canismos distintos. O manejo doestresse comumente é realizado comtreinamento em métodos de relaxa-mento, técnicas cognitivo-comportamentais e terapias centradasno cliente. Uma segunda opção refe-re-se a intervenções no desenvolvimen-to organizacional e reestruturação dotrabalho (KLINK et al, 2001).

No CFO/QC algumas técnicas eatitudes podem ser adotadas para oenfrentamento do estresse. Técnicas derelaxamento, como conversar com oscolegas, ir ao cinema, leitura ou sim-plesmente aproveitar melhor as horas

de sono são válidas. Outras sugestõessão procurar atividades extra-curriculares como dança, teatro, aulasde idiomas, esportes, pilates e yoga.Estas atividades levam ao relaxamen-to físico e cognitivo, apesar de exigi-rem esforço de uma ou outra área.

Na EsAEx, como opção, há a Se-ção Psico-Pedagógica, especializadaem atender os problemas emocionaisdos alunos relacionados a aconteci-mentos ocorridos na Escola ou fora deseus muros, e que interfiram no desem-penho do aluno.

Contudo, além de técnicas físicasde relaxamento, é interessante ater-sena importância do vínculo criado entreos alunos do CFO. No aquartelamen-to, é o chamado espírito de corpo.Nos momentos de dificuldade, tensão,raiva, fadiga extrema, e humor depri-mido, os alunos estão presentes paraauxiliarem-se uns aos outros. Estavinculação afetiva, que perpassa o cur-so de formação, é o melhor mecanis-mo de enfrentamento ao estresse deque o oficial-aluno pode se valer.

5 Conclusão

O estresse é uma síndrome damodernidade, acometendo pessoasdas mais diversas classes sociais, gê-nero, idades e profissões. Pode ou nãoestar ligado ao trabalho. Porém, ge-

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ralmente o está, visto que a maioria dostrabalhadores está exposta a agentescausadores de danos físicos ou emo-cionais.

Os militares estão expostos aestresse de maneira específica, pois suaprofissão está ligada a risco de lesãofísica e morte, a separação constanteda família e entes queridos, a mudan-ças geográficas e a jornadas de traba-lho longas e imprevisíveis.

Da mesma forma que os militaresem geral estão expostos a todos estesestressores, o aluno do CFO/QC tam-bém o está, por também ser militar,apesar de aluno. O afastamento da fa-mília, a apreensão quanto o local paraonde será feita a transferência ao finaldo curso, as atividades de risco du-rante o curso e outros fatores em me-nor grau contribuem como fatores ge-radores de estresse. Supõe-se eviden-ciar algumas mudanças de comporta-mento em determinados períodos,como por exemplo: nos dias que pre-cedem as avaliações.

As propostas de mecanismos deenfrentamento que poderiam ser utili-zados contra o estresse no CFO/QC,podendo abranger técnicas emocio-nais, físicas ou de reorganização ad-ministrativa.

Todavia, no EB, as regras rígidasde hierarquia e disciplina não permi-tem uma re-estruturação

organizacional, haja vista sua estabili-dade há mais de três séculos. No en-tanto, técnicas físicas e emocionais,especialmente o vínculo com os demaiscolegas e com as respectivas famílias,são essenciais para um bomenfrentamento do estresse no CFO/QC.

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