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Revista SÍNTESE Direito Previdenciário ANO XVI – Nº 77 – MAR-ABR 2017 REPOSITÓRIO AUTORIZADO Tribunal Regional Federal 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013 Tribunal Regional Federal 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087 Tribunal Regional Federal 3ª Região – Portaria nº 03, de 31.05.2012 – Registro nº 26 Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR DIRETOR EXECUTIVO Elton José Donato GERENTE EDITORIAL Milena Sanches Tayano dos Santos COORDENADOR EDITORIAL Cristiano Basaglia EDITORA Valdinéia de C. Tessaro de Souza CONSELHO EDITORIAL Danilo Ribeiro Miranda Martins, Érica Paula Barcha Correia, Heloísa Hernandez Derzi, Ivani Contini Bramante, José Aldizio Pereira Junior, Marcus Orione G. Correia, Maria Garcia, Marisa Ferreira dos Santos, Oscar Valente Cardoso, Roberto Luis Luchi Demo, Wladimir Novaes Martinez COMITÊ TÉCNICO Hermes Arrais Alencar, Luciano Marinho Filho, Marco Aurélio Serau Junior Tatiana Sada Jordão COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Daniela Wagner, Francisco de Salles Almeida Mafra Filho, George Resende Rumiatto de Lima Santos, Gustavo Filipe Barbosa Garcia, Luís Rodolfo Cruz e Creuz, Tauã Lima Verdan Rangel, Victor Roberto Corrêa de Souza ISSN 2237-714X

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Revista SÍNTESEDireito Previdenciário

Ano XVI – nº 77 – MAr-Abr 2017

reposItórIo AutorIzAdo

Tribunal Regional Federal 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013Tribunal Regional Federal 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087

Tribunal Regional Federal 3ª Região – Portaria nº 03, de 31.05.2012 – Registro nº 26 Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS

Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR

dIretor eXecutIVoElton José Donato

Gerente edItorIAlMilena Sanches Tayano dos Santos

coordenAdor edItorIAl Cristiano Basaglia

edItorAValdinéia de C. Tessaro de Souza

conselho edItorIAlDanilo Ribeiro Miranda Martins, Érica Paula Barcha Correia,

Heloísa Hernandez Derzi, Ivani Contini Bramante, José Aldizio Pereira Junior, Marcus Orione G. Correia,

Maria Garcia, Marisa Ferreira dos Santos, Oscar Valente Cardoso, Roberto Luis Luchi Demo,

Wladimir Novaes Martinez

coMItê técnIcoHermes Arrais Alencar, Luciano Marinho Filho,

Marco Aurélio Serau Junior Tatiana Sada Jordão

colAborAdores destA edIçãoDaniela Wagner, Francisco de Salles Almeida Mafra Filho,

George Resende Rumiatto de Lima Santos, Gustavo Filipe Barbosa Garcia, Luís Rodolfo Cruz e Creuz, Tauã Lima Verdan Rangel, Victor Roberto Corrêa de Souza

ISSN 2237-714X

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2011 © SÍNTESE

Uma publicação da SÍNTESE, uma linha de produtos jurídicos do Grupo SAGE.

Publicação mensal de doutrina, jurisprudência, legislação e outros assuntos trabalhistas e previdenciários.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total, sem consentimento expresso dos editores.

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de total responsabilidade de seus autores.

Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias obtidas nas secretarias dos respec-tivos tribunais.

A solicitação de cópias de acórdãos na íntegra, cujas ementas estejam aqui transcritas, e de textos legais pode ser feita pelo e-mail: [email protected] (serviço gratuito até o limite de 50 páginas mensais).

Distribuída em todo o território nacional.

Tiragem: 5.000 exemplares

Revisão e Diagramação: Dois Pontos Editoração

Artigos para possível publicação poderão ser enviados para o endereço [email protected].

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Revista SÍNTESE Direito Previdenciário. – Ano 16, n. 77 (mar./abr. 2017)- . – São Paulo: IOB, 2011- . v. ; 23 cm.

Trimestral: 2001-2011. Bimestral: 2011- . Continuação de: Revista de Direito Social. Ano 1, n. 1 (jan./mar. 2001)-ano 10, n. 42 (abr./jun. 2011). Publicação: Sapucaia do Sul: Notadez, 2001-2010; São Paulo: SÍNTESE, 2011. Descrição baseada em: Ano 10, n. 43 (jul./ago. 2011).

ISSN 2237-714X

1. Ciências sociais aplicadas - Periódico. 2. Legislação social - Periódico. 3. Direito previdenciário - Periódico.

CDU: 34:368.4 CDD: 341.67

Bibliotecária responsável Jucelei Rodrigues Domingues – CRB 10/1569

IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda.R. Antonio Nagib Ibrahim, 350 – Água Branca 05036‑060 – São Paulo – SPwww.sage.com

Telefones para ContatosCobrança: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900

SAC e Suporte Técnico: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900E-mail: [email protected]

Renovação: Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7283888

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Carta do Editor

Em mais uma edição da Revista SÍNTESE Direito Previdenciário abordamos, no Assunto Especial, tema polêmico relativo ao que vem ocorrendo em nosso País “O Servidor e a Reforma Previdenciária”.

Para ajudar no debate publicamos dois excelentes artigos de auto-ria dos Mestres Tauã Lima Verdan Rangel e Francisco de Salles Almeida Mafra Filho, com destaque para o seguinte trecho:

Desde sempre se aborda a necessidade de reformar a previdência dos servidores públicos. Também os trabalhadores particulares sofrem de modificações em seus direitos, que irão, via de regra, ser atingidos em vista dos argumentos sempre elencados de que, com o passar dos anos e a evolução das ciências, maior é o tempo de vida de todas as pessoas no Brasil e no mundo, a ponto de surtir reflexos sobre a capacidade de as previdências terem níveis atuariais que sustentem o pagamento dos benefícios das pessoas em inatividade pelas contribuições daqueles que ainda estão na ativa.

Já na Parte Geral levamos a você, Leitor, um vasto conteúdo dou-trinário dos seguintes Mestres do Direito: George Resende Rumiatto de Lima Santos, Victor Roberto Corrêa de Souza, Luís Rodolfo Cruz e Creuz e Daniela Wagner.

Além disso, você pode encontrar acórdãos na íntegra, Seções Espe-ciais, Clipping Jurídico e Tabela de Atualização de Débitos Trabalhistas.

Na Seção Especial intitulada “Em Poucas Palavras”, contamos com um artigo de autoria do Dr. Gustavo Filipe Barbosa Garcia intitulado “Desaposentação na Atual Jurisprudência do STF”.

Desejamos a você uma excelente leitura!

Milena Sanches Tayano dos Santos

Gerente Editorial

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Sumário

Normas Editoriais para Envio de Artigos ....................................................................7

Assunto Especial

O ServidOr e a refOrma Previdenciária

dOutrinaS

1. A Construção do Mínimo Existencial Social em Sede de Direito Previdenciário: o Reconhecimento da Fundamentalidade da Previdência Social à Luz da Jurisprudência do STFTauã Lima Verdan Rangel .........................................................................9

2. O Servidor Público na Reforma da Previdência: Comentários Iniciais ao Regime Próprio de Previdência Social na PEC 287/2016Francisco de Salles Almeida Mafra Filho .................................................25

Parte Geral

dOutrinaS

1. Reconhecimento do Tempo de Serviço para Fins Previdenciários: a Sentença Trabalhista e a Exigência Normativa de Início de Prova MaterialGeorge Resende Rumiatto de Lima Santos ..............................................35

2. A Reforma da Previdência e Suas Regras de Transição: a Isonomia e o Princípio da Proteção da ConfiançaVictor Roberto Corrêa de Souza ..............................................................63

3. As Novas Regras de Concessão de Benefícios Previdenciários – Como e Quais São as Regras e Condições para Concessão e Obtenção de Benefícios Previdenciários após as Leis nºs 13.134, 13.135 e 13.183, de 2015Luís Rodolfo Cruz e Creuz e Daniela Wagner .........................................84

JuriSPrudência Previdenciária

Acórdãos nA ÍntegrA

1. Supremo Tribunal Federal .....................................................................102

2. Superior Tribunal de Justiça ..................................................................109

3. Superior Tribunal de Justiça ..................................................................118

4. Superior Tribunal de Justiça ..................................................................126

5. Tribunal Regional Federal da 1ª Região .................................................135

6. Tribunal Regional Federal da 2ª Região .................................................145

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7. Tribunal Regional Federal da 3ª Região .................................................1528. Tribunal Regional Federal da 4ª Região .................................................1619. Tribunal Regional Federal da 5ª Região .................................................174

ementário Previdenciário

1. Ementário de Jurisprudência Previdenciária ..........................................184

Seção Especialem POucaS PalavraS

1. Desaposentação na Atual Jurisprudência do STFGustavo Filipe Barbosa Garcia ..............................................................220

Tabelas Práticas ..............................................................................................224

Clipping Jurídico ..............................................................................................227

Índice Alfabético e Remissivo .............................................................................231

Errata

Na Edição nº 75, da Revista SÍNTESE Direito Previdenciário, ano XV, nov.-dez. 2016, p. 09, o artigo intitulado o “Reconhecimento do Tempo de Serviço para Fins Previdenciários: a Sentença Trabalhista e a Exigência Normativa de Início de Prova Material”, de autoria do Dr. George Resende Rumiatto de Lima Santos, foi publicado sem as notas de rodapé.

Por esse motivo, republicamos o artigo na íntegra nesta edição.

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Normas Editoriais para Envio de Artigos1. Os artigos para publicação nas Revistas SÍNTESE deverão ser técnico-científicos e fo-

cados em sua área temática.2. Será dada preferência para artigos inéditos, os quais serão submetidos à apreciação do

Conselho Editorial responsável pela Revista, que recomendará ou não as suas publi-cações.

3. A priorização da publicação dos artigos enviados decorrerá de juízo de oportunidade da Revista, sendo reservado a ela o direito de aceitar ou vetar qualquer trabalho recebido e, também, o de propor eventuais alterações, desde que aprovadas pelo autor.

4. No caso de publicação dos artigos enviados, não serão devidos direitos autorais, re-muneração ou qualquer espécie de contraprestação a seus autores, sendo apenas en-viado um exemplar da edição da Revista em que o artigo foi publicado, ficando, ainda, a critério do Editor a seleção e aprovação para publicação, a qual será comunicada ao autor.

5. As opiniões emitidas pelo autor em seu artigo são de sua exclusiva responsabilidade.6. À Editora reserva-se o direito de publicar os artigos enviados em outros produtos jurí-

dicos da Síntese.7. À Editora reserva-se o direito de proceder às revisões gramaticais e à adequação dos

artigos às normas disciplinadas pela ABNT, caso seja necessário.8. O artigo deverá conter além de TÍTULO, NOME DO AUTOR e TITULAÇÃO DO AU-

TOR, um “RESUMO” informativo de até 250 palavras, que apresente concisamente os pontos relevantes do texto, as finalidades, os aspectos abordados e as conclusões.

9. Após o “RESUMO”, deverá constar uma relação de “PALAVRAS-CHAVE” (palavras ou expressões que retratem as ideias centrais do texto), que facilitem a posterior pesquisa ao conteúdo. As palavras-chave são separadas entre si por ponto e vírgula, e finaliza-das por ponto.

10. Terão preferência de publicação os artigos acrescidos de “ABSTRACT” e “KEYWORDS”.

11. Todos os artigos deverão ser enviados com “SUMÁRIO” numerado no formato “arábi-co”. A Editora reserva-se ao direito de inserir SUMÁRIO nos artigos enviados sem este item.

12. Os artigos encaminhados à Revista deverão ser produzidos na versão do aplicativo Word, utilizando-se a fonte Arial, corpo 12, com títulos e subtítulos em caixa alta e alinhados à esquerda, em negrito. Os artigos deverão ter entre 7 e 20 laudas. A pri-meira lauda deve conter o título do artigo, o nome completo do autor e os respectivos créditos.

13. As citações bibliográficas deverão ser indicadas com a numeração ao final de cada citação, em ordem de notas de rodapé. Essas citações bibliográficas deverão seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

14. As referências bibliográficas deverão ser apresentadas no final do texto, organizadas em ordem alfabética e alinhadas à esquerda, obedecendo às normas da ABNT.

15. Observadas as regras anteriores, havendo interesse no envio de textos com comentá-rios à jurisprudência, o número de páginas será no máximo de 8 (oito).

16. Os trabalhos devem ser encaminhados preferencialmente para os endereços eletrôni-cos [email protected]. Juntamente com o artigo, o autor deverá preen-cher os formulários constantes dos seguintes endereços: www.sintese.com/cadastro-deautores e www.sintese.com/cadastrodeautores/autorizacao.

17. Quaisquer dúvidas a respeito das normas para publicação deverão ser dirimidas pelo e-mail [email protected].

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Assunto Especial – Doutrina

O Servidor e a Reforma Previdenciária

A Construção do Mínimo Existencial Social em Sede de Direito Previdenciário: o Reconhecimento da Fundamentalidade da Previdência Social à Luz da Jurisprudência do STF

TAuã LImA VERDAn RAngELBolsista Capes, Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Di-reito da Universidade Federal Fluminense (UFF) (Linha de Pesquisa Conflitos Urbanos, Ru-rais e Socioambientais), Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especializando em Práticas Processuais – Processo Civil, Processo Penal e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo/ES, Bacharel em Direito pelo Centro Universitário São Camilo/ES. Produziu diversos artigos, voltados principalmente para o Direito Penal, Direito Constitucional, Direito Civil, Direito do Consumidor, Direito Administrativo e Direito Ambiental.

RESUMO: Em ressonância com o preceito de necessidades humanas básicas, na perspectiva das presentes e futuras gerações, é colocada para reflexão, como ponto robusto, a exigência de um patamar mínimo de qualidade e segurança social, sem o qual o preceito de dignidade humana restaria violentado em seu núcleo essencial. A seara de proteção do direito à vida, quando confrontado com o quadro de riscos sociais contemporâneos, para atender o padrão de dignidade alçado constitucionalmente, reclama ampliação, a fim de abarcar a dimensão no seu quadrante normativo, sobretudo no que toca à superação dos argumentos e obstáculos erigidos pela Administração Pública no que se relaciona à reserva do possível para sua implementação. Insta salientar, ainda, que a vida se apresenta como condição elementar para o pleno e irrestrito exercício da dignidade humana, conquanto esta não se limite àquela, porquanto a dignidade não se resume a questões existenciais de natureza essencialmente biológica ou física; todavia, carece a proteção da existência humana de forma mais ampla. Dessa maneira, é imprescindível que subsista a promoção dos direitos sociais para identificação dos patamares necessários de tutela da dignidade humana, a fim de promover o reconhecimento de um direito-garantia do mí-nimo existencial social. Para tanto, o presente busca estabelecer uma análise sobre tal locução em sede de Direito Previdenciário, à luz do entendimento do STF.

PALAVRAS-CHAVE: Direitos fundamentais sociais; Previdência Social; mínimo existencial social; dignidade da pessoa humana.

SUMÁRIO: 1 Comentários introdutórios: ponderações ao característico de mutabilidade da ciên-cia jurídica; 2 A construção filosófica do vocábulo “dignidade” e suas implicações no alargamen-to dos direitos fundamentais; 3 A construção do mínimo existencial social: o reconhecimento

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dos direitos sociais como indissociáveis da dignidade da pessoa humana; 4 O direito fundamen-tal à Previdência Social: uma análise à luz do entendimento jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal; Referências.

1 ComeNtárIoS INtrodutórIoS: PoNderaçõeS ao CaraCteríStICo de mutabIlIdade da CIêNCIa JurídICa

Em sede de comentários inaugurais, ao se dispensar uma análise robusta sobre o tema colocado em debate, mister se faz evidenciar que a ciência jurídica, enquanto conjunto plural e multifacetado de arcabouço doutrinário e técnico, assim como as pujantes ramificações que a integra, reclama uma interpretação alicerçada nos múltiplos peculiares caracte-rísticos modificadores que passaram a influir em sua estruturação. Nesse diapasão, trazendo a lume os aspectos de mutabilidade que passaram a orientar o Direito, tornou-se imperioso salientar, com ênfase, que não mais subsiste uma visão arrimada em preceitos estagnados e estanques, alheios às necessidades e às diversidades sociais que passaram a contor-nar os ordenamentos jurídicos. Ora, em razão do burilado, infere-se que não mais prospera a ótica de imutabilidade que outrora sedimentava a aplicação das leis, sendo, em decorrência dos anseios da população, suplantados em uma nova sistemática. É verificável, dessa sorte, que os valores adotados pela coletividade, tal como os proeminentes cenários apresentados com a evolução da sociedade, passam a figurar como ele-mentos que influenciam a confecção e aplicação das normas.

Com escora em tais premissas, cuida hastear como pavilhão de interpretação o “prisma de avaliação o brocardo jurídico ‘Ubi societas, ibi jus’, ou seja, ‘Onde está a sociedade, está o Direito’, tornando ex-plícita e cristalina a relação de interdependência que esse binômio mantém”1. Desse modo, com clareza solar, denota-se que há uma inte-ração consolidada na mútua dependência, já que o primeiro tem suas balizas fincadas no constante processo de evolução da sociedade, com o fito de que seus diplomas legislativos e institutos não fiquem inquinados de inaptidão e arcaísmo, em total descompasso com a realidade vigen-te. A segunda, por sua vez, apresenta estrutural dependência das regras

1 VERDAN, Tauã Lima. Princípio da legalidade: corolário do Direito Penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun. 2009. Disponível em: <http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em: 15 maio 2016.

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consolidadas pelo ordenamento pátrio, cujo escopo fundamental está assentado em assegurar que inexista a difusão da prática da vingança privada, afastando, por extensão, qualquer ranço que rememore priscas eras, nas quais o homem valorizava os aspectos estruturantes da Lei de Talião (“Olho por olho, dente por dente”), bem como para evitar que se robusteça um cenário caótico no seio da coletividade.

Afora isso, volvendo a análise do tema para o cenário pátrio, é possível evidenciar que, com a promulgação da Constituição da Repú-blica Federativa do Brasil de 1988, imprescindível se fez adotá-la como maciço axioma de sustentação do ordenamento brasileiro, primacial-mente quando se objetiva a amoldagem do texto legal, genérico e abs-trato, aos complexos anseios e múltiplas necessidades que influenciam a realidade contemporânea. Ao lado disso, há que se citar o magistral voto proferido pelo Ministro Eros Grau, ao apreciar a Ação de Descum-primento de Preceito Fundamental nº 46/DF, “o direito é um organismo vivo, peculiar porém porque não envelhece, nem permanece jovem, pois é contemporâneo à realidade. O direito é um dinamismo. Essa, a sua força, o seu fascínio, a sua beleza”2. Como bem pontuado, o fas-cínio da ciência jurídica jaz justamente na constante e imprescindível mutabilidade que apresenta, decorrente do dinamismo que reverbera na sociedade e orienta a aplicação dos diplomas legais.

Ainda nesta senda de exame, pode-se evidenciar que a concepção pós-positivista que passou a permear o Direito ofertou, por via de conse-quência, uma rotunda independência dos estudiosos e profissionais da ciência jurídica. Aliás, há que se citar o entendimento de Verdan, “esta doutrina é o ponto culminante de uma progressiva evolução acerca do valor atribuído aos princípios em face da legislação”3. Destarte, a partir de uma análise profunda de sustentáculos, infere-se que o ponto central da corrente pós-positivista cinge-se à valoração da robusta tábua princi-

2 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Acórdão em Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 46/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Marcos Aurélio, J. 05.08.2009: “Empresa Pública de Correios e Telégrafos. Privilégio de entrega de correspondências. Serviço postal. Controvérsia referente à Lei Federal nº 6.538, de 22 de junho de 1978. Ato normativo que regula direitos e obrigações concernentes ao serviço postal. Previsão de sanções nas hipóteses de violação do privilégio postal. Compatibilidade com o sistema constitucional vigente. Alegação de afronta ao disposto nos arts. 1º, inciso IV; 5º, inciso XIII, 170, caput, inciso IV e parágrafo único, e 173 da Constituição do Brasil. Violação dos princípios da livre concorrência e livre iniciativa. Não caracterização. Arguição julgada improcedente. Interpretação conforme à Constituição conferida ao art. 42 da Lei nº 6.538, que estabelece sanção, se configurada a violação do privilégio postal da União. Aplicação às atividades postais descritas no art. 9º da Lei”. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 15 maio 2016.

3 Verdan, 2009, [s.p.].

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piológica que Direito e, por conseguinte, o arcabouço normativo, pas-sando a figurar, nesta tela, como normas de cunho vinculante, flâmulas hasteadas a serem adotadas na aplicação e interpretação do conteúdo das leis.

2 a CoNStrução fIloSófICa do voCábulo “dIgNIdade” e SuaS ImPlICaçõeS No alargameNto doS dIreItoS fuNdameNtaIS

É perceptível que a edificação de um Estado Democrático de Di-reito, na contemporaneidade, guarda umbilical relação, no cenário na-cional, com o ideário da dignidade da pessoa humana, sobremaneira devido à proeminência concedida ao tema na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Ao lado disso, não se pode perder de vista que, em decorrência da sorte de horrores perpetrados durante a Segun-da Grande Guerra Mundial, os ideários kantianos foram rotundamente rememorados, passando a serem detentores de vultosos contornos, vez que, de maneira realista, foi possível observar as consequências abjetas provenientes da utilização do ser humano como instrumento de realiza-ção de interesses. A fim de repelir as ações externadas durante o desen-rolar do conflito supramencionado, o baldrame da dignidade da pessoa humana foi maciçamente hasteado, passando a tremular como flâmula orientadora da atuação humana, restando positivado em volumosa par-cela das Constituições promulgadas no pós-guerra, mormente as do Oci-dente. “O respeito à dignidade humana de cada pessoa proíbe o Estado e dispor de qualquer indivíduo apenas como meio para outro fim, mesmo se for para salvar a vida de muitas outras pessoas”4. É perceptível que a moldura que enquadra a construção da dignidade da pessoa humana, na condição de produto da indignação dos humilhados e violados por pe-ríodos de intensos conflitos bélicos, expressa um conceito fundamental responsável por fortalecer a construção dos direitos humanos, tal como de instrumentos que ambicionem evitar que se repitam atos atentatórios contra a dignidade de outros indivíduos.

Por óbvio, a República Federativa do Brasil, ao estruturar a Cons-tituição Cidadã de 1988, concedeu, expressamente, relevo ao princípio da dignidade da pessoa humana, sendo colocada sob a epígrafe “dos

4 HABERMAS, Jürgen. Sobre a Constituição da Europa. São Paulo: Unesp, 2012. p. 9.

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princípios fundamentais”, positivado no inciso III do art. 1º. Há que se destacar, ainda, que o aludido preceito passou a gozar de status de pilar estruturante do Estado Democrático de Direito, toando como fundamen-to para todos os demais direitos. Nessa trilha, também há que se enfa-tizar que o Estado é responsável pelo desenvolvimento da convivência humana em uma sociedade norteada por caracteres pautados na liber-dade e solidariedade, cuja regulamentação fica a encargo de diplomas legais justos, no qual a população reste devidamente representada, de maneira adequada, participando e influenciando de modo ativo na es-truturação social e política. Ademais, é permitida, inda, a convivência de pensamentos opostos e conflitantes, sendo possível sua expressão de modo público, sem que subsista qualquer censura ou mesmo resistência por parte do ente estatal.

Nesse ponto, verifica-se que a principal incumbência do Estado Democrático de Direito, em harmonia com o ventilado pelo dogma da dignidade da pessoa humana, está jungido na promoção de políticas que visem à eliminação das disparidades sociais e os desequilíbrios eco-nômicos regionais, o que clama a perseguição de um ideário de justiça social, ínsito em um sistema pautado na democratização daqueles que detém o poder. Ademais, não se pode olvidar que “não é permitido ad-mitir, em nenhuma situação, que qualquer direito viole ou restrinja a dignidade da pessoa humana”5, tal ideário decorre da proeminência que torna o preceito em comento em patamar intocável e, se porventura houver conflito com outro valor constitucional, aquele há sempre que prevalecer. Frise-se que a dignidade da pessoa humana, em razão da promulgação da Carta de 1988, passou a se apresentar como fundamen-to da República, sendo que todos os sustentáculos descansam sobre o compromisso de potencializar a dignidade da pessoa humana, fortale-cido, de maneira determinante, como ponto de confluência do ser hu-mano. Com o intuito de garantir a existência do indivíduo, insta realçar que a inviolabilidade de sua vida, tal como de sua dignidade, faz-se proeminente, sob pena de não haver razão para a existência dos demais direitos. Nesse diapasão, cuida colocar em saliência que a Constituição

5 RENON, Maria Cristina. O princípio da dignidade da pessoa humana e sua relação com a convivência familiar e o direito ao afeto. 232f. Dissertação (Mestre em Direito) – Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2009. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br>. Acesso em: 15 maio 2016, p. 19.

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14 �������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

de 1988 consagrou a vida humana como valor supremo, dispensando--lhe aspecto de inviolabilidade.

É evidenciável que o princípio da dignidade da pessoa humana não é visto como um direito, já que antecede o próprio ordenamento jurídico, mas sim um atributo inerente a todo ser humano, destacado de qualquer requisito ou condição, não encontrando qualquer obstáculo ou ponto limítrofe em razão da nacionalidade, do gênero, da etnia, do cre-do ou da posição social. Nesse viés, o aludido bastião se apresenta como o maciço núcleo em torno do que gravitam todos os direitos alocados sob a epígrafe “fundamentais”, que se encontram agasalhados no art. 5º da CF/1988. Ao perfilhar-se à umbilical relação nutrida entre a dignida-de da pessoa humana e os direitos fundamentais, podem-se tanger dois aspectos primordiais. O primeiro se apresenta como uma ação negativa, ou passiva, por parte do ENTE ESTATAL, a fim de evitar agressões ou lesões; já a positiva, ou ativa, está atrelada ao “sentido de promover ações concretas que, além de evitar agressões, criem condições efetivas de vida digna a todos”6.

Comparato alça a dignidade da pessoa humana a um valor supre-mo, eis que “se o direito é uma criação humana, o seu valor deriva, jus-tamente, daquele que o criou. O que significa que esse fundamento não é outro, senão o próprio homem, considerando em sua dignidade subs-tância da pessoa”7, sendo que as especificações individuais e grupais são sempre secundárias. A própria estruturação do ordenamento jurídico e a existência do Estado, conforme as ponderações aventadas, só se justifi-cam se erguerem como axioma maciço a dignidade da pessoa humana, dispensando esforços para concretizarem tal dogma. Mister se faz pon-tuar que o ser humano sempre foi dotado de dignidade; todavia, nem sempre foi (re)conhecida por ele. O mesmo ocorre com o sucedâneo dos direitos fundamentais do homem que preexistem à sua valoração, os descobre e passa a dispensar proteção, variando em decorrência do contexto e da evolução histórico-social e moral que condiciona o gêne-ro humano. Não se pode perder de vista que o corolário em comento é

6 BERNARDO, Wesley de Oliveira Louzada. O princípio da dignidade da pessoa humana e o novo Direito Civil. Breves reflexões. Revista da Faculdade de Direito de Campos, a. VII, n. 8, p. 229-267, jun. 2006. Disponível em: <http://fdc.br/Arquivos/Mestrado/Revistas/Revista08>. Acesso em: 15 maio 2016, p. 236.

7 COMPARATO, Fábio Konder. Fundamentos dos direitos humanos. In: DINIZ, José Janguiê Bezerra (Coord.). Direito constitucional. Brasília: Consulex, 1998. p. 76.

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a síntese substantiva que oferta sentido axiológico à Constituição da Re-pública Federativa do Brasil de 1988, determinando, conseguintemen-te, os parâmetros hermenêuticos de compreensão. A densidade jurídica do princípio da dignidade da pessoa humana, no sistema constitucional adotado, há de ser, desse modo, máxima, afigurando-se, inclusive, como um corolário supremo no trono da hierarquia das normas.

A interpretação conferida pelo corolário em comento não é para ser procedida à margem da realidade. Ao reverso, alcançar a integralida-de da ambição contida no bojo da dignidade da pessoa humana é ele-mento da norma, de modo que interpretações corretas são incompatíveis com teorização alimentada em idealismo que não as conforme como fundamento. Atentando-se para o princípio supramencionado como es-tandarte, o intérprete deverá observar para o objeto de compreensão como realidade em cujo contexto a interpretação se encontra inserta. Ao lado disso, nenhum outro dogma é mais valioso para assegurar a unida-de material da Constituição senão o corolário em testilha. Assim, ao se considerar os valores e ideários por ele abarcados, não é possível per-der de vista que as normas, na visão garantística consagrada no ordena-mento jurídico nacional, reclamam uma interpretação em conformidade com o preceito analisado até o momento.

Diante de tal cenário, os valores de igualdade, fraternidade e so-lidariedade recebem especial relevância em tempos contemporâneos e clamam, assim, por posicionamentos que busquem promover a inclusão por parte dos poderes constituídos em prol da busca do bem comum. Pozzoli8 afirma que uma nova sociedade, fundada em valores fraternos, teria o amor como princípio dinâmico social. Assim, a sociedade é com-posta por pessoas humanas e tem como fim precípuo o bem comum coletivo, não significando apenas o bem individual, mas sim o empenho de cada um na realização da vida social dos demais das outras pessoas. O bem comum de um ser humano está calcado na realização do bem comum do outro ser humano. Repousa em tal ideário o verdadeiro sen-tido do bem comum de uma humanidade.

Ainda em relação à proeminência da dignidade da pessoa humana, inclusive no que tange ao alargamento dos direitos fundamentais, con-

8 POZZOLI, Lafayette. Cultura dos direitos humanos. Revista de Informação Legislativa, Brasília: Senado Federal, a. 40. n. 159, p. 109, jul./set. 2003.

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soante a dicção de Rocha, o perfil do Estado Social repousa no fato de ser um Estado intervencionista em duplo aspecto: por um lado, intervém na ordem econômica, seja direcionando e planejando o desenvolvimen-to econômico, seja promovendo inversões nos ramos da economia con-siderados estratégicos; por outro turno, intervém no âmbito social, no qual dispensa prestações de bens e serviços e realiza outras atividades visando à elevação do nível de vidas das populações consideradas mais carentes. Nessa esteira de dicção, “o desenvolvimento humano a ser perseguido pelos Estados nacionais liga-se, intimamente, na qualidade de vida do seu povo e a fome, de modo particular, mostra-se como uma forma de afastar o indivíduo da participação nos destinos da democracia de um Estado”9.

3 a CoNStrução do míNImo eXISteNCIal SoCIal: o reCoNheCImeNto doS dIreItoS SoCIaIS Como INdISSoCIáveIS da dIgNIdade da PeSSoa humaNa

Em ressonância com o preceito de necessidades humanas básicas, na perspectiva das presentes e futuras gerações, é colocada para reflexão, como ponto robusto, a exigência de um patamar mínimo de qualidade e segurança social, sem o qual o preceito de dignidade humana restaria violentado em seu núcleo essencial. A seara de proteção do direito à vida, quando confrontado com o quadro de riscos sociais contemporâ-neos, para atender o padrão de dignidade alçado constitucionalmente, reclama ampliação, a fim de abarcar a dimensão no seu quadrante nor-mativo, sobretudo no que toca à superação dos argumentos e obstáculos erigidos pela Administração Pública no que se relaciona à reserva do possível para sua implementação. Insta salientar, ainda, que a vida se apresenta como condição elementar para o pleno e irrestrito exercício da dignidade humana, conquanto esta não se limite àquela, porquanto a dignidade não se resume a questões existenciais de natureza essen-cialmente biológica ou física; todavia, carece a proteção da existência humana de forma mais ampla. Dessa maneira, é imprescindível que sub-sista a promoção dos direitos sociais para identificação dos patamares necessários de tutela da dignidade humana, a fim de promover o reco-nhecimento de um direito-garantia do mínimo existencial social.

9 MEDEIROS, Robson A. de; SILVA, Eduardo P.; ARAÚJO, Jailton M. de. A (in)segurança alimentar e nutricional no Brasil e o desenvolvimento humano. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/primafacie/article/viewFile/4351/3283>. Acesso em: 15 maio 2015, p. 32.

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A exemplo do que ocorre com o conteúdo do superprincípio da dignidade humana, o qual não encontra pontos limítrofes ao direito à vida, em uma acepção restritiva, o conceito de mínimo existencial não pode ser limitado ao direito à simples sobrevivência na sua dimensão estritamente natural ou biológica; ao reverso, exige concepção mais am-pla, eis que almeja justamente a realização da vida em patamares dig-nos, considerando, nesse viés, a incorporação da qualidade social como novo conteúdo alcançado por seu âmbito de proteção. Arrimado em tais corolários, o conteúdo do mínimo existencial não pode ser confundido com o denominado “mínimo vital” ou mesmo com o “mínimo de sobre-vivência”, na proporção em que este último tem seu sentido atrelado à garantia da vida humana, sem necessariamente compreender as condi-ções para uma sobrevivência física em condições dignas, portanto, de uma vida dotada de certa qualidade.

Nesta senda de exposição, ainda, o conteúdo normativo ventilado pelo direito ao mínimo existencial deve receber modulação à luz das circunstâncias históricas e culturais concretas da comunidade estatal, inclusive em uma perspectiva evolutiva e cumulativa. Destarte, é natural que novos elementos, decorrentes das relações sociais contemporâneas e das novas necessidades existenciais apresentadas, sejam, de maneira paulatina, incorporados ao seu conteúdo, eis que o escopo primordial está assentado em salvaguardar a dignidade da pessoa humana, sendo indispensável o equilíbrio e a segurança ambiental. Nessa esteira, com o escopo de promover a conformação do conteúdo do superprincípio da dignidade da pessoa humana, é imperioso o alargamento do rol dos direitos fundamentais, os quais guardam ressonância com a concepção histórica dos direitos humanos, porquanto a tendência é sempre a am-pliação do universo dos direitos fundamentais, de maneira a garantir um nível cada vez maior de tutela e promoção da pessoa, tanto em uma órbita individual como em aspectos coletivos.

Ademais, cuida anotar que o processo histórico-constitucional de afirmação de direitos fundamentais e da proteção da pessoa viabilizou a inserção dos direitos sociais no rol dos direitos fundamentais. Nessa premissa, cuida reconhecer que o mínimo existencial social se desdobra como uma das múltiplas e indissociáveis órbitas vinculadas ao super-princípio da dignidade da pessoa humana, em especial no que atina à realização de suas potencialidades, sobremaneira no que se relaciona

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aos direitos. Recentemente, o rol do art. 6º da Constituição da República Federativa do Brasil sofreu considerável alargamento, passando a abar-car uma plêiade de direitos sociais como fundamentais ao indivíduo: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”10. De maneira reiterada, o Supremo Tribunal Federal reconhece que os direitos sociais materializam um agir positivo do Estado, devendo, portanto, ser adimplido em favor do cidadão.

Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Direito Cons-titucional. Educação de deficientes auditivos. Professores especializados em Libras. 3. Inadimplemento estatal de políticas públicas com previsão constitucional. Intervenção excepcional do Judiciário. Possibilidade. Pre-cedentes. 4. Cláusula da reserva do possível. Inoponibilidade. Núcleo de intangibilidade dos direitos fundamentais. 5. Constitucionalidade e con-vencionalidade das políticas públicas de inserção dos portadores de neces-sidades especiais na sociedade. Precedentes. 6. Ausência de argumentos suficientes a infirmar a decisão recorrida. 7. Agravo regimental a que se nega provimento. (Supremo Tribunal Federal, ARE 860.979-AgRg, 2ª Tur-ma, Rel. Min. Gilmar Mendes, J. 14.04.2015, DJe 06.05.2015)

Recurso extraordinário com agravo (Lei nº 12.322/2010). Manutenção de rede de assistência da criança e do adolescente. Deve estatal resultante da norma constitucional. Configuração, no caso, de típica hipótese de omissão estatal (RTJ 183/818-819). Comportamento que transgride a au-toridade da Lei Fundamental da República (RTJ 185/794-796). A questão da reserva do possível. Reconhecimento de sua inaplicabilidade, sem-pre que a invocação dessa cláusula puder comprometer o núcleo básico que qualifica o mínimo existencial (RTJ 200/191-197). O papel do Poder Judiciário na implementação de políticas públicas instituídas pela Cons-tituição e não efetivadas pelo Poder Público. A fórmula da reserva do possível na perspectiva da teoria dos custos dos direitos: impossibilidade de sua invocação para legitimar o injusto inadimplemento de deveres estatais de prestação constitucionalmente impostos ao Poder Público. A teoria da “restrição das restrições” (ou da “limitação das limitações”). Ca-ráter cogente e vinculante das normas constitucionais, inclusiva daquelas de conteúdo programático, que veiculam diretrizes de políticas públicas,

10 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 15 maio 2016.

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especialmente na área da saúde (CF, arts. 6º, 196 e 197). A questão das “escolhas trágicas”. A colmatação de omissões constitucionais como ne-cessidade institucional fundada em comportamento afirmativo dos Juízes e Tribunais e de que resulta uma positiva criação jurisprudencial do Di-reito. Controle jurisdicional de legitimidade da omissão do Poder Públi-co: atividade de fiscalização judicial que se justifica pela necessidade de observância de certos parâmetros constitucionais (proibição do re-trocesso social, proteção ao mínimo existencial, vedação da proteção insuficiente e proibição de excesso). Doutrina. Precedentes do Supremo Tribunal Federal em tema de implementação de políticas públicas deli-neadas na Constituição da República (RTJ 174/687 – RTJ 175/1212-1213 – RTJ 199/1219-1220). Existência, no caso em exame, de relevante inte-resse social. Recurso de agravo improvido. (Supremo Tribunal Federal, ARE 745.745-AgRg, 2ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello, J. 02.12.2014, DJe 19.12.2014)

Agravo regimental no recurso extraordinário. Administrativo e processual civil. Repercussão geral presumida. Sistema público de saúde local. Po-der Judiciário. Determinação de adoção de medidas para a melhoria do sistema. Possibilidade. Princípios da separação dos poderes e da reserva do possível. Violação. Inocorrência. Agravo regimental a que se nega provimento. 1. A repercussão geral é presumida quando o recurso versar questão cuja repercussão já houver sido reconhecida pelo Tribunal, ou quando impugnar decisão contrária a súmula ou a jurisprudência domi-nante desta Corte (art. 323, § 1º, do RISTF). 2. A controvérsia objeto destes autos – possibilidade, ou não, de o Poder Judiciário determinar ao Poder Executivo a adoção de providências administrativas visando a melhoria da qualidade da prestação do serviço de saúde por hospital da rede pú-blica – foi submetida à apreciação do Pleno do Supremo Tribunal Federal na SL 47-AgR, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJ de 30.04.2010. 3. Naquele julgamento, esta Corte, ponderando os princípios do “mínimo existencial” e da “reserva do possível”, decidiu que, em se tratando de direito à saúde, a intervenção judicial é possível em hipóteses como a dos autos, nas quais o Poder Judiciário não está inovando na ordem jurí-dica, mas apenas determinando que o Poder Executivo cumpra políticas públicas previamente estabelecidas. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (Supremo Tribunal Federal, RE 642.536-AgRg, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, J. 05.02.2013, DJe 27.02.2013)

Ora, denota-se que a implementação do mínimo existencial social pressupõe, com claros contornos, a estruturação de políticas públicas

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pelo Poder Público, sobretudo no que concerne ao núcleo duro que sus-tenta os direitos sociais, entre o direito à educação e o direito à saúde re-cebem especial atenção. É preciso sublinhar que o dever estatal de atri-buir efetividade aos direitos fundamentais, de índole social, qualifica-se como expressiva limitação à discricionariedade administrativa. Assim sendo, a intervenção jurisdicional, por vezes, encontra justificativa pela ocorrência de arbitrária recusa governamental em conferir significação real ao direito à educação e à saúde, precipuamente, tornar-se-á plena-mente legítima, sempre que se impuser, nesse processo de ponderação de interesse e de valores em conflito, a necessidade de prevalência da decisão política fundamental que o legislador constituinte adotou em tema de respeito e proteção aos direitos sociais.

Não se ignora que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais – além de caracterizar-se pela gradualidade de seu proces-so de concretização – depende, em grande medida, de um inescapável vínculo financeiro subordinado às possibilidades orçamentárias do Esta-do, de tal modo que, comprovada, objetivamente, a alegação de inca-pacidade econômico-financeira da pessoa estatal, desta não se poderá razoavelmente exigir, então, considerada a limitação material referida, a imediata efetivação do comando fundado no texto da Carta Política. Não se mostrará lícito, contudo, ao Poder Público, em tal hipótese, criar obstáculo artificial que revele – a partir de indevida manipulação de sua atividade financeira e/ou político-administrativa – o ilegítimo, arbitrário e censurável propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o estabe-lecimento e a preservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de con-dições materiais mínimas de existência.

Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da “reserva do pos-sível” – ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível – não pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se, dolosamente, do cumprimento de suas obrigações constitucionais, nota-damente quando, dessa conduta governamental negativa, puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos constitucionais im-pregnados de um sentido de essencial fundamentalidade. Ao lado do exposto, tratando-se de típico direito de prestação positiva, que se sub-sume ao conceito de liberdade real ou concreta, a proteção dos direitos sociais, de maneira geral, tem por fundamento regra constitucional cuja densidade normativa não permite que, em torno da efetiva realização de

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tal comando, o Poder Público disponha de um amplo espaço de discri-cionariedade que lhe enseje maior grau de liberdade de conformação, e de cujo exercício possa resultar, paradoxalmente, com base em simples alegação de mera conveniência e/ou oportunidade, a nulificação mesma dessa prerrogativa essencial.

Vê-se, desse modo, que, mais do que a simples positivação dos direitos sociais – que traduz estágio necessário ao processo de sua afir-mação constitucional e que atua como pressuposto indispensável à sua eficácia jurídica –, recai sobre o Estado inafastável vínculo institucional consistente em conferir real efetividade a tais prerrogativas básicas, em ordem a permitir, às pessoas, nos casos de injustificável inadimplemento da obrigação estatal, que tenham elas acesso a um sistema organizado de garantias instrumentalmente vinculadas à realização, por parte das entidades governamentais, da tarefa que lhes impôs a própria Consti-tuição. Não basta, portanto, que o Estado meramente proclame o reco-nhecimento formal de um direito, em especial a plêiade que compõe o mínimo existencial social. Torna-se essencial que, para além da simples declaração constitucional desse direito, seja ele integralmente respei-tado e plenamente garantido, especialmente naqueles casos em que o direito se qualifica como prerrogativa jurídica de que decorre o poder do cidadão de exigir, do Estado, a implementação de prestações positivas impostas pelo próprio ordenamento constitucional.

4 o dIreIto fuNdameNtal à PrevIdêNCIa SoCIal: uma aNálISe à luz do eNteNdImeNto JurISPrudeNCIal do SuPremo trIbuNal federal

O direito à previdência social, na sistemática constitucional vigente, é reconhecido como integrante da extensa, porém imprescindível, rubrica dos direitos fundamentais, encontrando, com destaque, forte amparo no superprincípio da dignidade da pessoa humana. Ao lado disso, inclusive, cuida transcrever o art. 201 da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, que, sob a rubrica da ordem social, cuja base é o primado do trabalho e o objetivo se alicerça no bem- -estar e na justiça social, preconiza que a previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: I – cobertura dos eventos de doença, invalidez,

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morte e idade avançada; II – proteção à maternidade, especialmente à gestante; III – proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV – salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; V – pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes. Trata-se, no primeiro contato, de direito que condensa em sua essência singular arcabouço de fundamentalidade, aludindo à cláusula impregnada pelos direitos sociais. Acerca de tal aspecto, cuida transcrever o entendimento jurisprudencial firmado pelo Supremo Tribunal Federal:

Recurso extraordinário. Direito Previdenciário. Regime Geral de Previ-dência Social (RGPS). Revisão do ato de concessão de benefício. Deca-dência. 1. O direito à previdência social constitui direito fundamental e, uma vez implementados os pressupostos de sua aquisição, não deve ser afetado pelo decurso do tempo. Como consequência, inexiste prazo decadencial para a concessão inicial do benefício previdenciário. 2. É legítima, todavia, a instituição de prazo decadencial de dez anos para a revisão de benefício já concedido, com fundamento no princípio da segurança jurídica, no interesse em evitar a eternização dos litígios e na busca de equilíbrio financeiro e atuarial para o sistema previdenciário. 3. O prazo decadencial de dez anos, instituído pela Medida Provisória nº 1.523, de 28.06.1997, tem como termo inicial o dia 1º de agosto de 1997, por força de disposição nela expressamente prevista. Tal re-gra incide, inclusive, sobre benefícios concedidos anteriormente, sem que isso importe em retroatividade vedada pela Constituição. 4. Inexiste direito adquirido a regime jurídico não sujeito a decadência. 5. Recur-so extraordinário conhecido e provido. (Supremo Tribunal Federal, RE 626.489, Tribunal Pleno, Rel. Min. Roberto Barroso, J. 16.10.2013, DJe 23.09.2014)

Em decorrência de sua fundamentalidade, bem como plasmando o reconhecimento da liberdade de constituição de famílias, a Suprema Corte brasileira propalou que ninguém pode ser privado de direitos nem mesmo sofrer restrições de ordem jurídica por motivo de sua condição sexual. Assim sendo, ao ofertar reconhecimento jurisprudencial às uni-ões homoafetivas, o Supremo Tribunal Federal afixou que àqueles têm direito de receber a igual proteção tanto das leis quanto do sistema po-lítico-jurídico arvorado pelo Texto Constitucional de 1988, revelando--se arbitrário e inaceitável qualquer estatuto que traga, em seu âmago, disposições excludentes ou discriminatórias, fomentando a intolerância,

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estimulando o desrespeito e estabelecendo desigualdade em razão da condição sexual.

Dessa feita, a extensão, às uniões homoafetivas, do mesmo regime jurídico aplicável à união estável entre pessoas de gênero distinto justi-fica-se e encontra legitimidade pela direta incidência, entre outros, dos princípios e dos corolários constitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade, da segurança jurídica e do postulado constitucional implícito que consagra o direito à busca pela felicidade, os quais têm o condão de configurar, em uma estrita dimensão que privilegia o sentido de inclusão decorrente da própria Constituição Federal de 1988, substancializando fundamentos autônomos e suficientes aptos a conferir sustentação legiti-madora à qualificação das conjugalidade entre pessoas do mesmo sexo como espécie do gênero entidade familiar. Assim sendo, salta aos olhos, que, em decorrência do reconhecimento do direito à previdência social como direito fundamental indissociável do primado maior e substancial-mente mais denso da dignidade da pessoa humana, cuida reconhecer a assistência de tal direito como desdobramento lógico e indiscutível do primado do direito, igualmente, fundamental à condição sexual, não se admitindo, via de consequência, tratamento desigual.

Apresenta-se, portanto, imprescindível invocar o postulado da dig-nidade da pessoa humana, responsável por substancializar significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente no território nacional e que tra-duz, de modo expressivo, um dos alicerces em que se assenta a ordem republica e democrática consagrada pelo sistema de direito constitucio-nal positivo, tal como tem reconhecido a jurisprudência, em especial da Suprema Corte brasileira. Mais do que isso, no que toca à concreção dos direitos fundamentais, entre os quais, com efeito, o direito à previdência social como conformador e realizador do indivíduo, cuida sublinhar que a força normativa de que se acham impregnados os princípios constitu-cionais e a intervenção decisiva substancializada pelo fortalecimento da jurisdição constitucional exprimem aspectos de alto relevo que contor-nam e destacam alguns dos elementos que compõem o marco teórico que confere suporte doutrinário ao neoconstitucionalismo, em ordem a permitir, em uma perspectiva de implementação concretizadora, a ple-na realização, em sua dimensão global, do próprio texto normativo da Constituição e a plêiade de direitos salvaguardados.

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referêNCIaS

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VERDAN, Tauã Lima. Princípio da legalidade: corolário do Direito Penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun. 2009. Disponível em: <http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em: 15 maio 2016.

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Assunto Especial – Doutrina

O Servidor e a Reforma Previdenciária

O Servidor Público na Reforma da Previdência: Comentários Iniciais ao Regime Próprio de Previdência Social na PEC 287/2016

FRAnCISCO DE SALLES ALmEIDA mAFRA FILHODoutor em Direito (UFMG), Professor Associado II (UFMT).

RESUMO: Artigo inicial de uma série de textos científicos que analisarão a Reforma da Previ-dência de 2016/2017, especialmente no tocante aos servidores públicos brasileiros. O trabalho será de análise do texto da PEC 287/2016 e dos seus dispositivos efetivamente aprovados no Congresso Nacional, a modificar, mais uma vez, a Constituição Federal de 1988.

ABSTRACT: Initial article in a series of scientific texts that will analyze the Social Security Reform of 2016/2017 especially regarding Brazilian civil servants. The work will be to analyze the text of PEC 287/2016 and its provisions effectively approved in the National Congress to modify once again the Federal Constitution of 1988.

SUMÁRIO: Introdução; Aposentadoria dos servidores públicos; Readaptação de servidores; Regras gerais; Aposentadoria compulsória e voluntária; RPPS x RGPS – Regime Próprio de Pre-vidência Social e Regime Geral de Previdência Social: fim da disparidade; Forma de cálculo dos proventos; Aposentadoria compulsória dos servidores públicos – Cálculo dos proventos; Obser-vação; Forma de cálculo dos proventos de aposentadoria por incapacidade permanente; Apo-sentadoria dos servidores públicos com deficiência; Aposentadoria dos servidores públicos em condições prejudiciais à saúde; Aposentadorias especiais dos servidores públicos; Acumulação de aposentadorias e/ou pensões por morte; Vedação de acumulação de pensões por morte; Ve-dação da acumulação de aposentadorias com pensão por morte; Da concessão de pensão por morte; Cálculo da pensão por morte; Pensão por morte: dependentes; Pensão por morte: cotas individuais; Pensão por morte: tempo de duração e cessação das cotas individuais; Conclusões.

INtrodução

Desde sempre se aborda a necessidade de reformar a previdência dos servidores públicos. Também os trabalhadores particulares sofrem de modificações em seus direitos, que irão, via de regra, ser atingidos em vista dos argumentos sempre elencados de que, com o passar dos anos

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e a evolução das ciências, maior é o tempo de vida de todas as pessoas no Brasil e no mundo, a ponto de surtir reflexos sobre a capacidade de as previdências terem níveis atuariais que sustentem o pagamento dos benefícios das pessoas em inatividade pelas contribuições daqueles que ainda estão na ativa.

O problema não é novidade e vem sendo tratado em várias emen-das constitucionais à Constituição de 1988, como a EC 20, a EC 41, a EC 47, a EC 70 e a EC 88, sendo esta última a que alterou a idade para o teto da aposentadoria compulsória dos servidores públicos não mais aos 70, mas aos 75 anos de idade1.

Querendo ou não assumir a veracidade da informação, é cediço que os governos costumam tirar proveitos das reservas financeiras da previdência para diferentes objetivos. A construção de Brasília seria um ótimo exemplo de desvio do dinheiro da previdência para fins diversos.

Em apresentação realizada pelo Ministro da Previdência, foram apresentadas diversas informações acerca da Previdência Social no Brasil. Inicialmente, são informados números apenas negativos!

Fontes não alinhadas com o Governo Federal indicam os efeitos nocivos e perversos da reforma previdenciária, que seria realizada com o propósito de garantir o pagamento de juros aos bancos e ao sistema financeiro em geral.

O Brasil vive dias de muita incerteza, a ponto de não se poderem mais prever os acontecimentos políticos. A economia sente os efeitos da crise política e a mudança de governo trouxe consigo profundas refor-mas que refletem assuntos há muito tempo discutidos2.

A recém-aprovada reforma na lei trabalhista, que instituiu a tercei-rização em todos os níveis de ocupação laboral, como também apontam os especialistas, tende a produzir uma diminuição ainda maior nas con-tribuições à Previdência Social e agravar mais ainda a questão3.

1 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc20.htm>; <http://www.pla nalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc41.htm>; <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc47.htm>; <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc70.htm>; <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc88.htm.

2 Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/wp-content/uploads/2016/12/apresenta%C3%A7%C3%A3o-Marcelo-Caetano-no-Congresso-08.mar_.2017-1.pdf>.

3 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13429.htm>.

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Além de tudo, a todos os instantes assistimos a notícias a respeito de mudanças no projeto de reforma da previdência, haja vista a dificul-dade de o Poder Executivo conseguir os votos necessários para mais essa mudança constitucional.

Analisaremos, então, as novidades da PEC 287/2016 da Câmara dos Deputados, que institui a Reforma da Previdência4.

Não discutiremos, neste texto, as modificações propostas como condição para a aprovação da emenda constitucional já aprovada em primeira instância na Câmara dos Deputados, haja vista a sua inconstân-cia e o seu fim incerto até as votações no Senado Federal.

aPoSeNtadorIa doS ServIdoreS PÚblICoS

Sob o título Aposentadoria dos servidores públicos, são tratados muitos tópicos relacionados às modificações a serem produzidas nos temas envolvidos. O primeiro artigo da Constituição Federal a ser modi-ficado é o art. 37 no concernente à readaptação de servidores.

readaPtação de ServIdoreS

Inicialmente, tratando-se de readaptação de servidores, é acres-centado o § 13 ao art. 37, que prevê que o servidor titular de cargo efetivo poderá ser readaptado ao exercício de cargo cujas atribuições e responsabilidades sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, mediante perícia em saúde, en-quanto permanecer nesta condição, respeitados a habilitação e o nível de escolaridade exigidos para o exercício do cargo de destino e mantida a remuneração do cargo de origem.

Somado ao inciso I do § 1º do art. 40, estabelece-se que o servidor não será aposentado por incapacidade permanente para o trabalho se puder ser submetido a processo de readaptação funcional para exercício de outro cargo, mediante perícia em saúde.

4 Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/wp-content/uploads/2016/12/PEC-287-2016.pdf>.

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regraS geraIS

O art. 40 da Constituição Federal institui o regime de previdência pública dos servidores titulares dos cargos efetivos da União, dos Esta-dos, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações (RPPS).

O § 1º do art. 40 prevê como os servidores abrangidos pelo re-gime de previdência de que trata o artigo serão aposentados, ou seja, por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em que estiver investido, quando insuscetível de readaptação.

Leia-se que esse dispositivo, somado ao § 13 do art. 37, visa a es-tabelecer que o servidor não será aposentado por incapacidade perma-nente para o trabalho se puder ser submetido a processo de readaptação funcional para exercício de outro cargo, mediante perícia em saúde.

aPoSeNtadorIa ComPulSórIa e voluNtárIa

Aprovada a idade de 75 anos para a aposentadoria compulsória desde a EC 88, o texto da atual reforma também prevê que o servidor público se aposente de modo compulsório aos 75 anos de idade; ou, voluntariamente, aos 65 anos de idade e 25 anos de contribuição, desde que tenha cumprido 10 anos de efetivo exercício no serviço público e 5 anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria.

rPPS X rgPS – regIme PróPrIo de PrevIdêNCIa SoCIal e regIme geral de PrevIdêNCIa SoCIal: fIm da dISParIdade

O § 2º do art. 40 da CF/1988 da PEC 287 determina que os pro-ventos de aposentadoria não poderão ser menores do que o limite míni-mo e nem maiores do que o limite máximo estabelecido para o Regime Geral de Previdência Social. Em outras palavras, passam a se equivaler os proventos da aposentadoria dos servidores públicos e os dos trabalha-dores do regime geral.

A leitura dessa disposição permite vislumbrar uma tentativa do projeto em eliminar a forte disparidade atual entre os proventos das apo-sentadorias pagas no setor público e no setor privado.

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forma de CálCulo doS ProveNtoS

O § 3º, inciso I, do art. 40 institui a correspondência dos proventos de aposentadoria, por ocasião da sua concessão, para a aposentadoria por incapacidade permanente para o trabalho e a aposentadoria volun-tária, a 51% (cinquenta e um por cento) da média das remunerações e dos salários de contribuição utilizados como base para as contribuições, apurada na forma da lei, acrescidos de 1 (um) ponto percentual, para cada ano de contribuição considerado na concessão da aposentadoria, aos regimes de previdência de que tratam este artigo e os arts. 42, 142 e 201, até o limite de 100% (cem por cento) da média.

Essa será a nova regra de cálculo dos proventos de aposentadoria. Doravante, o benefício há de corresponder a 51% da média das remu-nerações dos servidores e dos salários dos contribuintes privados, acres-cido de 1% por ano de contribuição.

Para obter 100% da média dos salários percebidos no período de cálculo, o servidor deverá ter 49 anos de contribuição. Com 65 anos de idade, ele terá que ter tido contribuições ininterruptas desde os 16 anos de idade, sem distinção entre homem e mulher.

aPoSeNtadorIa ComPulSórIa doS ServIdoreS PÚblICoS – CálCulo doS ProveNtoS

Os proventos de aposentadoria, por ocasião de sua concessão, corresponderão, para a aposentadoria compulsória, ao resultado do tem-po de contribuição dividido por 25 (vinte e cinco), limitado a um inteiro, multiplicado pelo resultado do cálculo de que trata o inciso I, ressalvado o caso de cumprimento dos requisitos para a concessão da aposentado-ria voluntária, quando serão calculados nos termos do inciso I.

obServação

A nova regra de cálculo para a aposentadoria compulsória, sem distinção entre gêneros, prevê que o servidor fará jus ao provento pro-porcional ao tempo de contribuição, tomando-se o requisito de 25 anos de contribuição como o denominador.

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forma de CálCulo doS ProveNtoS de aPoSeNtadorIa Por INCaPaCIdade PermaNeNte

Nos casos de aposentadoria por incapacidade permanente para o trabalho, decorrentes exclusivamente de acidente do trabalho, os pro-ventos serão equivalentes a 100% (cem por cento) da média das remu-nerações utilizadas como base para as contribuições aos regimes de pre-vidência de que tratam os arts. 40, 42 e 201 (RPPS, Militares dos Estados, do DF e dos Territórios e RGPS).

aPoSeNtadorIa doS ServIdoreS PÚblICoS Com defICIêNCIa

A aposentadoria dos servidores públicos deficientes não foi alte-rada. Apenas a nomenclatura foi alterada de portadores de deficiência para deficiência.

aPoSeNtadorIa doS ServIdoreS PÚblICoS em CoNdIçõeS PreJudICIaIS à SaÚde

O § 4º, inciso III, trata das atividades que sejam exercidas sob condições especiais que efetivamente prejudiquem a saúde, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação.

Efetivamente é a previsão a respeito do conceito de aposentadoria especial em condições prejudiciais à saúde, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, de forma a exigir a comprovação à exposição ao agente nocivo. Impede a concessão de aposentadoria especial simplesmente em condições prejudiciais à saúde por categoria ou ocupação.

aPoSeNtadorIaS eSPeCIaIS doS ServIdoreS PÚblICoS

O § 4º-A detalha que, para os segurados do § 4º, a redução do tempo exigido para fins de aposentadoria, nos termos do inciso III do § 1º, será de, no máximo, 10 anos no requisito de idade e de, no máxi-mo, 5 anos para o tempo de contribuição, observadas as regras de cál-culo e reajustamento estabelecidas no art. 40 da Constituição Federal.

É limitação para redução de tempo para fins de aposentadoria es-pecial a 10 anos de idade e 5 de contribuição. Deficientes e servidores

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sujeitos a agentes nocivos só poderão se aposentar aos 55 anos de idade, e com 20 de contribuição. Para a pessoa com deficiência grave, prevê a Lei Complementar nº 142 que a aposentadoria pode se dar aos 25 anos de contribuição ou 20 anos, sem idade mínima, ou por idade, aos 60 ou 55 anos, desde que cumprido tempo mínimo de contribuição de 15 anos.

aCumulação de aPoSeNtadorIaS e/ou PeNSõeS Por morte

De acordo com o § 6º, inciso I, do mesmo art. 40, é vedado o re-cebimento conjunto, sem prejuízo de outras hipóteses previstas em lei, de mais de uma aposentadoria à conta dos regimes de previdência dos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos acumuláveis, na forma da Constituição.

Somente as aposentadorias de cargos acumuláveis, segundo a Constituição Federal, poderão ser acumuladas.

vedação de aCumulação de PeNSõeS Por morte

O § 6º, inciso II, do mesmo artigo veda a percepção, ou seja, a acumulação de mais de uma pensão por morte deixada por cônjuge ou companheiro no âmbito dos regimes de previdência dos servidores titu-lares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios ou entre estes regimes e os regimes dos militares dos Estados, do DF e dos Territórios, das Forças Armadas e do RGPS, assegurado o direito de opção por um dos benefícios, ficando suspenso o pagamento do outro benefício.

vedação da aCumulação de aPoSeNtadorIaS Com PeNSão Por morte

Finalmente, o § 6º, inciso III, art. 40, veda a percepção em conjun-to de pensão por morte e aposentadoria no âmbito dos RPPS – regimes de previdência dos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios – ou entre estes regimes e os regimes dos militares dos Estados, das Forças Armadas e do RGPS,

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assegurado o direito de se optar por um dos benefícios, ficando suspenso o pagamento do outro benefício.

da CoNCeSSão de PeNSão Por morte

Já o § 7º do art. 40 determina que, na concessão do benefício de pensão por morte, cujo valor será equivalente a uma cota familiar de 50% (cinquenta por cento), acrescida de cotas individuais de 10 (dez) pontos percentuais por dependente, até o limite de 100% (cem por cen-to), não será aplicável o estabelecido no § 2º do art. 201 e será observa-da a determinação de lei. É uma nova fórmula de cálculo da pensão por morte, onde o dependente fará jus a 50% do valor, acrescido de 10% por cada membro dependente, limitada ao teto do RGPS.

CálCulo da PeNSão Por morte

Falecendo o aposentado, as cotas serão calculadas sobre a tota-lidade dos seus proventos, desde que seja respeitado o limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdência Social: I – ao valor da totalidade dos proventos do servidor falecido, até o limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdên-cia Social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da par-cela excedente a este limite, caso aposentado à data do óbito.

Além disso, falecendo o servidor em atividade, as cotas serão cal-culadas sobre o valor dos proventos aos quais o servidor teria direito caso fosse aposentado por incapacidade permanente na data do óbito, observado o disposto no inciso I do § 3º e no § 3º-A deste artigo, respei-tado o limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdência Social: II – ao valor da totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo em que se deu o falecimento, até o limite má-ximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdência Social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este limite, caso em atividade na data do óbito.

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PeNSão Por morte: dePeNdeNteS

O inciso III do § 7º do art. 40 da Constituição Federal exige que se determine a identidade do rol de dependentes, as condições necessárias para o enquadramento e a qualificação dos dependentes estabelecidos para o Regime Geral de Previdência Social.

É uma equiparação às regras do RGPS para fins de definição de de-pendentes. Efeito prático dessa determinação é encerrar a possibilidade de que leis específicas definam como dependentes quem possui idade superior a 21 anos, mesmo que estudante.

PeNSão Por morte: CotaS INdIvIduaIS

O art. 40, § 7º, inciso IV, da Constituição Federal, após a aprova-ção da PEC 287/2016, determina que as cotas individuais cessarão com a perda da qualidade de dependente e não serão reversíveis aos demais beneficiários. A novidade da determinação representa redução do valor da pensão, na medida em que os filhos deixem de ser dependentes.

PeNSão Por morte: temPo de duração e CeSSação daS CotaS INdIvIduaIS

O tempo de duração da pensão por morte e as condições de ces-sação das cotas individuais serão estabelecidos conforme a idade do be-neficiário na data de óbito do segurado, na forma prevista para o Regime Geral de Previdência Social.

Isso é a constitucionalização dos efeitos da Lei nº 13.146, de 2015, que fixou prazos de gozo da pensão vinculados à idade do cônjuge na data do óbito, indo de 3 anos a 20 anos entre as idades de 21 a 43 anos.

CoNCluSõeS

A reforma da previdência no Brasil de 2017 reflete a opção políti-ca do atual governo de retirar direitos dos trabalhadores em detrimento do que defende o setor bancário nacional e internacional. As medidas propostas não diferem do que já foi realizado em outros países da Euro-pa e das Américas. É uma tendência, afinal.

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Efetivamente, a reforma busca igualar os regimes de previdência dos setores público e privado e institui normas de difícil aceitação pela população em geral.

Além disso, desrespeita a necessária diferenciação entre aposenta-dorias de pessoas que ocupam funções públicas chave para a Nação em relação a ocupantes de cargos no setor privado.

Outrora conhecida como amplamente vantajosa, a previdência dos servidores do regime próprio de previdência pública se equipara à previdência do regime geral do setor privado e pode causar um esvazia-mento dos postos do setor público. É a privatização pretendida desde o Consenso de Washington com a efetivação do Estado cada vez menor em detrimento dos direitos individuais da população em geral.

Esse movimento, no entanto, não é novidade e se agrava em virtu-de de ser proveniente de um governo que não foi eleito.

Terá vida curta a Reforma da Previdência de 2016/2017.

Essa é uma análise inicial dos primeiros pontos da PEC 287/2016.

Independentemente de sua duração, em artigos a serem produzi-dos e publicados, efetuaremos uma análise completa do texto que vier a ser aprovado e posto em vigor na Constituição Federal de 1988.

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Parte Geral – Doutrina

Reconhecimento do Tempo de Serviço para Fins Previdenciários: a Sentença Trabalhista e a Exigência Normativa de Início de Prova Material

gEORgE RESEnDE RumIATTO DE LImA SAnTOSProcurador Federal, Especialista em Direito Constitucional pela Faculdade de Direito Professor Damásio de Jesus, Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo.

RESUMO: O presente trabalho busca discutir o papel que se pode atribuir, em âmbito previ-denciário, à sentença trabalhista que reconhece tempo de serviço prestado pelo trabalhador. Como forma de delimitar as fronteiras entre o direito do trabalho e o previdenciário, pretende-se promover abordagem inicial acerca da autonomia científica de tais disciplinas, da submissão a princípios e regras próprios, bem como da atribuição de competências de processo e julga-mento das ações trabalhistas e previdenciárias a órgãos judiciários diversos. Com amparo em tais premissas, propõe-se demonstrar que a exigência normativa de que o reconhecimento de tempo de serviço para fins previdenciários só pode ser feito mediante apresentação de início de prova material reclama, por sua vez, que a sentença trabalhista seja valorada, no processo administrativo ou judicial previdenciário, de acordo com a instrução probatória que lhe serve de fundamento. Isso baliza a conclusão de que a sentença trabalhista que reconhece o tempo de serviço só poderá ser aceita no âmbito previdenciário se o processo judicial trabalhista tiver se constituído de documentos contemporâneos, ou se o segurado apresentar tais documentos, em conjunto com a sentença trabalhista, no processo administrativo ou judicial previdenciário. Por fim, registram-se reflexões sobre possíveis alterações legislativas que possam conferir mais adequado equacionamento ao trato do tema, embora se sustente que toda proposta deverá sempre se considerar limitada pelas características próprias do direito do trabalho e do direito previdenciário.

PALAVRAS-CHAVE: Direito previdenciário; direito do trabalho; sentença trabalhista; reconheci-mento de tempo de serviço; início de prova material.

ABSTRACT: This paper discusses the role that can be attributed, in part social security law, the labor sentence recognizing length of service by the worker. In order to delimit the boundaries between labor law and social security law, it is intended to promote initial approach about the scientific autonomy of these disciplines, submission to principles and own rules and the powers to prosecute and judge the labor and social security actions to various judicial bodies. Up based on these assumptions, it is proposed to demonstrate that the normative requirement that the service time of recognition for pension purposes can only be done by material evidence early presentation complains, in turn, that the labor sentence is valued at administrative or judicial pension process, according to the evidential statement that serves as its foundation. This sup-

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ports the conclusion that labor sentence that recognizes the service time can only be accepted in the social security law under the labor proceedings has been constituted of contemporary documents, or if the insured person presents such documents, together with labor sentence in administrative proceeding or judicial pension. Finally, record up reflections on possible legislative changes that may confer more adequately addressing the issue of the deal, although it main-tains that any proposal should always be considered limited by the characteristics of labor law and social security law.

KEYWORDS: Social security law; labor law; labor sentence; service time recognition; early do-cumentary evidence.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Interação entre o direito trabalhista e o previdenciário; 1.1 Uma palavra sobre a autonomia científica; 1.2 Divisão de competências; 2 A exigência de início de prova material contemporânea para o reconhecimento de tempo de serviço para fins previdenciários; 3 A sentença trabalhista: distinção entre as sentenças conforme a instrução probatória que lhes serviu de fundamento; 4 Há alternativas possíveis?; Conclusão; Referências.

INtrodução

Não parece exagero dizer que o Brasil é um País de trabalhadores informais. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostram que o nível de informalidade médio da população ocupada gira na casa de um terço, considerada a evolução de 2010 a 20131.

Isso significa que cerca de um a cada três brasileiros ocupados trabalha sem registro em carteira e sem recolhimentos à Previdência So-cial. É por isso que são tão comuns as ações judiciais cujo objetivo é ver reconhecido o tempo de serviço prestado pelo trabalhador. A finalidade pretendida com tais ações varia: a correta anotação da CTPS para que possa servir como comprovação da experiência profissional em futura busca de emprego; a declaração do tempo trabalhado para que subsidie a cobrança de verbas trabalhistas devidas pelo empregador; o reconhe-cimento do tempo de serviço para que possa ser requerido benefício previdenciário; ou mesmo todos esses fins cumulados.

Ocorre que, a depender do objetivo buscado, o caminho a ser percorrido também será diverso. O Direito brasileiro atribui competên-

1 Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ministério do Trabalho e Emprego. Mercado de trabalho: conjuntura e análise. Brasília: Ipea/MTE, ano 20, fev. 2014.

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cias de processo e julgamento de ações trabalhistas e previdenciárias a órgãos judiciários distintos. Assim, ocorre de o trabalhador ajuizar ação contra seu empregador perante a Justiça do Trabalho, mas, ainda que reconhecido o tempo de labor informal, não obter a averbação de tal tempo para fins previdenciários.

Pretendemos demonstrar por que isso ocorre. Para tanto, será pre-ciso analisar a forma como interagem o direito do trabalho e o direito previdenciário em nosso ordenamento jurídico.

Em seguida, assentadas as premissas relativas à autonomia científi-ca de tais matérias, à divisão constitucional de competências e à submis-são a disciplinas normativas próprias, será possível, então, debater com maior propriedade acerca da valoração, em âmbito previdenciário, da sentença trabalhista que reconhece tempo de serviço.

Nesse contexto, será oportuno debater a distinção entre as senten-ças trabalhistas conforme a instrução probatória que lhes serve de fun-damento, questão que se relaciona diretamente com a exigência legal de que o tempo de serviço, para fins previdenciários, só pode ser reco-nhecido se houver suporte de início de prova material, sendo vedada, portanto, a prova exclusivamente testemunhal.

Por fim, proporemos breves reflexões sobre possíveis alternativas que poderiam ser adotadas como forma de se buscar um termo conci-liatório no trato do tema, considerando, contudo, que o inter-relaciona-mento entre o direito do trabalho e o direito previdenciário não significa confusão entre as disciplinas, de sorte que sempre deverão ser respeita-das as peculiaridades ínsitas a cada qual desses ramos do Direito.

1 INteração eNtre o dIreIto trabalhISta e o PrevIdeNCIárIo

1.1 Uma palavra sobre a aUtonomia científica

O debate a que nos propusemos reclama análise inicial acerca do inter-relacionamento ente o direito trabalhista e o direito previdenciário. Uma primeira observação, nesse sentido, deve partir da investigação so-bre a autonomia científica desses ramos do Direito.

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Talvez não seja adequado avançar sem antes tecer breves consi-derações sobre o que seria essa autonomia científica. Marcos Barbosa de Oliveira formula, nesse contexto, a seguinte pergunta: que forma de autonomia deve ser reivindicada pela ciência nos dias de hoje? O pro-fessor, então, registra que distinguimos três formas que a autonomia da ciência assume ao longo de sua história: a galileana (ou metodológica), a vannevariana e a neoliberal2.

O autor conclui, após minucioso estudo sobre o tema, que:

A forma de autonomia a ser reivindicada pela ciência hoje (1) exclui a autonomia neoliberal, (2) cede terreno na autonomia programática, mas (3) insiste na reivindicação da autonomia metodológica. Trata-se de uma forma inserida em um sistema democrático de condução da ciência que, como vimos, implica o exercício da responsabilidade social por parte dos cientistas. Dada a importância desse requisito, pode ser chamada autonomia com responsabilidade social, ou autonomia socialmente res-ponsável. É a forma própria da ciência no interesse público ou ciência pós-neoliberal.3

Nota-se, portanto, que é posto acento no método. Alaôr Caffé Alves explica que o método e a ação analítica presidem a construção sistemática de uma ciência e que, na medida em que se elegem determi-nados critérios como relevantes para os fins científicos, “já se prefigura o conteúdo material do saber teórico sobre o objeto, determinando-o como estrutura de sentido”4. E prossegue, advertindo que tal questão é muito importante para eliminar a ilusão idealista do direito:

A ciência nada põe que antes já não esteja no objeto como algo possível de ser descoberto. Ela explora as múltiplas possibilidades que a realidade material oferece, cuja seleção se obtém em função da polarização com as necessidades e propósitos do homem em sua marcha histórico-social. Nessa linha, o objeto é descoberto ou construído, mas não inventado.5

2 OLIVEIRA, Marcos Barbosa de. Formas de autonomia da ciência. Sci. stud., São Paulo, v. 9, n. 3, p. 527-561, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662011000300005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 set 2016.

3 Ibidem.4 ALVES, Alaôr Caffé. Dialética e Direito: linguagem, sentido e realidade: fundamentos a uma teoria crítica da

interpretação do direito. Barueri: Manole, 2010. p. 136-137.5 Ibidem, p. 139.

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De fato, o recorte metodológico sempre denota, ainda que indi-retamente, a preocupação com necessidades humanas ideologicamente orientadas. A construção de um saber científico, desde o nascedouro, portanto, não pode ser reputada neutra, a despeito da natureza pura-mente descritiva que Kelsen pretendia impor à ciência jurídica. É por isso que Karl Marx registrava, sobre o processo de “criação” da ciência, que:

Mesmo nos momentos em que eu sozinho desenvolvo uma atividade científica, uma atividade que raramente posso levar ao fim em direta associação com outros, sou social, porque é como homem que realizo tal atividade. Não é só o material da minha atividade – como também a própria linguagem que o pensador emprega – que me foi dado como produto social. A minha própria existência é atividade social. Por con-seguinte, o que eu próprio produzo é para a sociedade que o produzo e com a consciência de agir como ser social.6

Assim, o Direito emerge ex ante como realidade para que possa ser apanhado de acordo com o método científico, isto é, para que possa ser apresentado de forma ordenada e sistematizada. Podemos ilustrar essa constatação da seguinte forma: as relações de trabalho assalariado, por meio das quais grupos de pessoas proprietárias dos meios de produ-ção pagam um determinado montante pela mão de obra de outras pesso-as, surgiram antes da regulação normativa hoje conhecida como direito do trabalho. Ou ainda: as pessoas compravam e vendiam bens antes da positivação de um direito dos contratos.

É certo que o Direito, como ciência social normativa, busca o es-tudo de como se deve realizar a conduta dos homens, conforme o im-perativo das normas jurídicas postas7 pelos grupos dominantes em uma dada comunidade. Configura-se, no dizer de Kelsen, como “ordem da conduta humana”, no sentido de “um conjunto de regras que possui o tipo de unidade que entendemos por sistema”8.

6 MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Tradução de Alex Marins. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2011. p. 140.

7 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Introdução ao estudo do direito: teoria geral do direito. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Método, 2015.

8 KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do estado. Tradução de Luís Carlos Borges. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 5.

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Daí se dizer que o direito é uno e indivisível. Sua categorização por ramos ou disciplinas, nesse diapasão, presta-se a fins didáticos e, ainda assim, é colocada em xeque diante dos novos rumos que tem tomado a ciência jurídica pós-positivista, em especial após a Segunda Guerra. A categorização do Direito, embora já notada de certo modo no Direito romano, tomou força com a codificação napoleônica, inicial-mente se dividindo em compartimentos estanques o direito público e o privado, noção hoje refutada por muitos estudiosos do tema.

Passo adiante, e considerada a ressalva acerca da unidade do Di-reito, registramos que se costuma buscar a afirmação da autonomia cien-tífica de um ramo do Direito com base em determinados critérios. Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari anotam que:

Deve-se ressaltar, inicialmente, que a autonomia de que tratam os dou-trinadores, segundo uma concepção mais recente, não significa, em momento algum, deixar de reconhecer a vinculação que um ramo do Direito tenha com os demais, por fazerem parte do mesmo ordenamento jurídico. Dizer-se autônomo o direito previdenciário, como o queremos adiante concluir, traz a ideia de uma disciplina que merece estudo à par-te, calcado em princípios e normas singulares.

A autonomia científica de um ramo do Direito, segundo critérios pacifi-camente aceitos pela doutrina, e creditados a Alfredo Rocco, é observa-da quando a matéria a ser disciplinada contém: um conteúdo vasto de estudo e pesquisa; princípios gerais ou institutos peculiares; e método ou processo próprio.9

Os autores concluem em seguida, após detida análise, pela auto-nomia do direito previdenciário. E a explicação se faz necessária porque se verifica na doutrina, embora de forma minoritária, a chamada teoria da unidade, que integra o direito previdenciário no bojo do direito do trabalho.

Amauri Mascaro Nascimento lembra que a teoria da unidade é ad-vogada por Mario de la Cueva, para quem o tratamento dado à matéria previdenciária, consoante a legislação mexicana, é o mesmo do direito

9 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

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do trabalho, de sorte que não se poderia falar em seguro social com autonomia10.

A despeito disso, doutrina de escol postula que o direito previden-ciário goza de autonomia científica – no sentido estrito aqui proposto –, em geral se registrando que: a) as relações entre as partes são diversas, já que no direito previdenciário o indivíduo se relaciona com o Estado, por meio de normas de direito público, ao passo que no direito do trabalho o indivíduo é parte de relação contratual, em regra com uma pessoa de direito privado, regida pelas normas em sua maioria de direito privado; b) as finalidades são distintas, sendo que no direito do trabalho se tem o interesse do trabalhador e na segurança social, a melhoria individual, material e moral da sociedade; c) o direito previdenciário conta com princípios próprios, em muito diferenciados de outras relações reguladas pela ordem positiva.

Pois bem. Resta afirmada a dualidade entre direito do trabalho e direito previdenciário11, mas não se pode negar a forte interdisciplinari-dade desses ramos do Direito, bem como a existência de diversos pontos de conexão entre eles. Aliás, os limites dessa interação é que constituem, sob certo ponto de vista, o cerne da questão que nos propomos a discu-tir. Vejamos, então, como essas disciplinas dialogam e, especialmente, como o ordenamento jurídico brasileiro desenhou a divisão de compe-tências no trato da matéria.

10 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 367. A obra do autor mexicano em que expressada essa concepção é a seguinte: Derecho mexicano del trabajo, 1960, Porrúa, v. 2, p. 8.

11 Amauri Mascaro Nascimento conclui, com a doutrina majoritária, que: “Direito do trabalho e direito da seguridade social, nome este que abrange a Previdência Social e a Assistência Social como partes integrantes das quais é o gênero, desvincularam-se e são ramos autônomos do direito, apesar dos fluxos e refluxos que interagem entre ambos, em razão da proximidade de algumas questões. Essa independência pode ser claramente observada ao se comparar, entre as instituições básicas, nucleares, dos dois setores, no direito do trabalho, o contrato individual de trabalho, a organização sindical, as convenções coletivas de trabalho e a administração pública do trabalho; na seguridade social, o seguro social, o custeio do sistema de previdência e assistência social, os benefícios e os beneficiários. Aquele, ramo do direito privado; este, do direito público. O primeiro fixa direitos para o trabalhador em atividade; o segundo, regras para o segurado durante a sua inatividade transitória ou permanente em razão dos riscos e contingências a que está exposto. In Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 368-369.

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1.2 Divisão De competências

O Estado brasileiro segue o clássico esquema de organização tripartite: o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário (art. 2º da Constituição da República). Essa divisão, na classificação apresentada por Diogo Figueiredo Moreira Neto, diz respeito ao critério orgânico – em contraposição ao critério funcional. O autor explica que:

Desse modo, convencionalmente, são poderes orgânicos: o Poder Legis-lativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário, e poderes funcionais: o poder legiferante ou normativo, o poder executante ou administrativo e o poder judicante ou jurisdicional.

Inexiste, todavia, qualquer correspondência rígida entre os clássicos po-deres orgânicos e os poderes funcionais com idêntica raiz etimológica, pois, nos modelos reais, a distribuição de funções entre órgãos do Estado obedece apenas a critérios político-constitucionais, que expressam as al-tas definições organizativas próprias de cada Estado.

Como indicam as denominações, os poderes orgânicos dispõem-se arti-culadamente em órgãos, que são entes ou corpos despersonalizados aos quais se atribuem competências para executar funções determinadas, e os poderes funcionais se desdobram em funções, que são atribuições ou conjunto de atribuições cometidas aos órgãos, para atuar em missões específicas.

Assim, esquematicamente, o poder orgânico pressupõe órgãos dotados de poder funcional, voltados ao desempenho de certas funções, que se manifestarão pela prática de seus atos próprios.12

Konrad Hesse, nessa linha de ideias, arrola a “organização” do Es-tado como uma das tarefas fundamentais de uma Constituição. O jurista alemão registra que:

A necessidade do ordenamento jurídico não se apresenta apenas para a formação e conservação da unidade política, mas também para a ação e incidência dos órgãos estatais constituídos com esses fundamentos. Em tal medida, necessita-se de uma normatização da arquitetura do Estado e do cumprimento de suas tarefas. A necessidade de fixar essas competên-cias de forma ordenada pela Constituição tem sido algo habitual. Trata-se

12 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutória, parte geral e parte especial. 16. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

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de constituir órgãos a que confiar, em função de sua natureza objetiva, os diferentes, determinados e delimitados âmbitos de atuação estatal e as competências correspondentes, necessárias ao cumprimento objetivo de tais tarefas: a Constituição funda competências, criando, dessa maneira, poder estatal conforme o Direito com o alcance do respectivo mandato.13

Pode-se dizer, assim, que a competência diz respeito às funções de certos órgãos da comunidade jurídica, particularmente dos Tribunais e das autoridades administrativas14. Evidentemente que a multiplicidade de funções atribuídas hodiernamente à comunidade exige uma divisão de trabalho. Não basta, pois, dizer que ao Poder Judiciário é atribuída a função jurisdicional. Nem mesmo seria completa tal afirmação, pois ocultaria o fato de que os demais Poderes orgânicos também exercem função jurisdicional, ainda que de forma atípica. Mas o que releva é fri-sar que o Judiciário, por sua vez, subdivide-se em órgãos, cada qual com competências predeterminadas pelo ordenamento jurídico.

Leone Pereira, nessa toada, define competência como “a medida, o limite, o fracionamento, a parcela da jurisdição”, ou seja, “a divisão dos trabalhos perante os órgãos encarregados do exercício da função jurisdicional”15.

Daí já se inicia a separação entre o direito do trabalho e o pre-videnciário. Isso porque o Estado brasileiro, nessa divisão de compe-tências, criou uma justiça trabalhista dedicada a processar e julgar as ações oriundas das relações de trabalho (arts. 92, II-A e IV, 111 a 116 da Constituição da República).

Já as ações relacionadas ao direito previdenciário foram inseridas no rol de competência de processo e julgamento das chamadas Justi-ças Comum, Federal e Estadual. No âmbito federal, as políticas públicas previdenciárias são promovidas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), autarquia federal, de modo que a maior parte das ações que en-volvem relações previdenciárias é de competência da Justiça Federal (e da Justiça Estadual, por meio de competência delegada, quando a Co-

13 HESSE, Konrad. Temas fundamentais do direito constitucional: textos selecionados e traduzidos por Carlos dos Santos Almeida, Gilmar Ferreira Mendes e Inocêncio Mártires Coelho. São Paulo: Saraiva, 2009, item I.1.

14 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução de João Baptista Machado. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 166.

15 PEREIRA, Leone. Processo do trabalho. São Paulo: RT, 2012. p. 40.

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marca do domicílio do autor não for sede de Vara do Juízo Federal), ex vi art. 109, I e § 3º, da CR. Esse dispositivo constitucional exclui as ações de acidentes de trabalho, que restam abrangidas pela competência resi-dual da Justiça Estadual.

Essa dicotomia pode ser ilustrada pelo seguinte exemplo: um tra-balhador conta trinta anos de trabalho formal, com registro em carteira e regular recolhimento de contribuições previdenciárias. Dispensado de seu emprego, consegue em seguida se reinserir no mercado. Trabalha agora como empregado (de forma subordinada, habitual e onerosa), mas sem registro em sua carteira de trabalho (CTPS) e, consequentemente, sem recolhimento de contribuições à Previdência. É despedido sem justa causa após cinco anos de labor informal.

Pois bem. O trabalhador tem, então, três pretensões: 1) a declara-ção do vínculo de emprego que perdurou cinco anos; 2) a condenação do empregador ao pagamento de verbas trabalhistas não adimplidas; e 3) a averbação desses cinco anos de trabalho para fins previdenciários, a fim de que, somados ao seu tempo de contribuição anterior, possa gozar de aposentadoria por tempo de contribuição.

Qual a solução jurídica adequada a este trabalhador, considerada a separação constitucional de competências entre as Justiças Comum e Trabalhista? Quanto às duas primeiras pretensões, não há dúvida, devem ser exercidas perante a Justiça do Trabalho, por se tratar de matéria dire-tamente afeta à relação de trabalho. O empregador é quem figurará no polo passivo da ação.

Sobre a terceira pretensão, oportuna o registro de Rogério Neiva:

Ainda sobre a competência e os aspectos tributários e previdenciários, outro tema relevante consiste no debate sobre o julgamento de lides en-volvendo a averbação para fins previdenciários. A tese no sentido da competência tem como fundamento a compreensão de que a origem do direito postulado se relaciona com o contrato de trabalho e se sujeita à competência da Justiça Laboral. Porém, a compreensão que vem sendo adotada pelo TST é no sentido da ausência de competência. Assim, a título ilustrativo, destacam-se os seguintes precedentes:

“Mandado de segurança. Determinação dirigida ao INSS para proceder à averbação de tempo de serviço de reclamante. Incompetência [...] exor-

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bita de sua competência o magistrado trabalhista que determina ao INSS que proceda à averbação de tempo de serviço do reclamante para fins previdenciários, mormente se sobreveio, na reclamação trabalhista, acor-do judicial, tornando desnecessária a produção de provas nesse sentido, exigida expressamente pela Lei nº 8.213/1991 [...].” (TST, RXOFROMS 556.925/1999.0, SBDI-2, Rel. Min. Ives Gandra, DJ 04.08.2000)

“Recurso de revista. Incompetência da Justiça do Trabalho. Averbação de tempo de serviço de período de trabalho reconhecido em juízo para efeitos previdenciários. É da competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, I e § 3º, da CF, a averbação do tempo de serviço relativo a vínculo empregatício reconhecido em juízo, para fins previdenciários, visto que tal competência não se encontra taxativamente prevista no art. 114 da CF, tampouco existe legislação em vigor que fixe a competên-cia desta Justiça Especializada para determinar tal averbação [...].” (TST, RR 227/2007-043-15-00.6, 8ª T., Relª Min. Dora Maria da Costa, DEJT 04.09.2009)16

Com efeito, a averbação de tempo de serviço para fins previden-ciários consubstancia relação de natureza previdenciária, e não traba-lhista. A pretensão é exercida não em face do empregador, mas do ente público previdenciário, o INSS. A ação que veicula tal pretensão se sub-mete a princípios e normas específicos, assim como a exigência norma-tiva sobre a forma de se provar tal tempo de serviço, como veremos, é tratada de forma especial pela legislação previdenciária.

Esse cenário denota a peculiaridade da divisão de trabalho dos órgãos jurisdicionais brasileiros. Ainda que a Justiça do Trabalho prolate sentença declaratória do vínculo de emprego, reconhecendo, no nos-so exemplo, o labor prestado ao longo de cinco anos, e determine ao empregador a anotação competente na CTPS, essa sentença não valerá como título executivo contra o INSS, ou seja, o trabalhador não poderá, apenas por força dessa sentença, somar tal tempo de serviço para fins previdenciários.

Primeiro, porque a Autarquia Federal não integrou aquela ação. A sentença só faz coisa julgada às partes às quais ela é dada (art. 506 do

16 NEIVA, Rogério. Direito e processo do trabalho aplicados à administração pública e Fazenda Pública. São Paulo: Método, 2012.

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Código de Processo Civil), de modo que não tem autoridade para impor obrigação a terceiros estranhos ao processo.

Ademais disso, nem mesmo se poderia cogitar, para suprir a falta de autoridade da sentença em relação ao INSS, da citação do ente pú-blico e de sua consequente integração ao polo passivo, já que, como vimos, falece competência à Justiça do Trabalho para julgar pretensão de natureza previdenciária.

Considerada essa divisão de competências, analisemos, então, qual a saída que o ordenamento jurídico admite para essa pretensão do trabalhador que permaneceu de fora da apreciação do Juízo Trabalhista. Dito de outro modo: de posse da sentença trabalhista que declarou o tempo de serviço, o que deve ser feito para que tal período de labor seja reconhecido para fins previdenciários?

2 a eXIgêNCIa de INíCIo de Prova materIal CoNtemPorâNea Para o reCoNheCImeNto de temPo de ServIço Para fINS PrevIdeNCIárIoS

A comprovação de tempo de serviço deve ser realizada de acordo com o que prevê o ordenamento jurídico. No que se refere ao direito previdenciário, o trato do tema parte da análise da Lei nº 8.213/1991, em especial do § 3º do art. 55:

Art. 55. O tempo de serviço será comprovado na forma estabelecida no Regulamento, compreendendo, além do correspondente às atividades de qualquer das categorias de segurados de que trata o art. 11 desta Lei, mesmo que anterior à perda da qualidade de segurado:

[...]

§ 3º A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta Lei, inclu-sive mediante justificação administrativa ou judicial, conforme o dispos-to no art. 108, só produzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme dis-posto no Regulamento.

Logo se nota que o requisito basilar para que o Poder Público reconheça tempo de serviço para fins previdenciários é a existência

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de início de prova material. A questão foi, inclusive, decidida pelo Superior Tribunal de Justiça em sede de julgamento de recurso repe-titivo:

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA – PRE-VIDENCIÁRIO – TRABALHADOR RURAL – TEMPO DE SERVIÇO – PROVA EXCLUSIVAMENTE TESTEMUNHAL – IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO – 1. Prevalece o entendimento de que a prova exclusivamente testemunhal não basta, para o fim de obtenção de be-nefício previdenciário, à comprovação do trabalho rural, devendo ser acompanhada, necessariamente, de um início razoável de prova mate-rial (art. 55, § 3º, da Lei nº 8.213/1991 e Súmula nº 149 deste Superior Tribunal de Justiça). [...]. (REsp 1133863/RN, 3ª S., Rel. Min. Celso Li-mongi (Desembargador Convocado do TJSP), Julgado em 13.12.2010, DJe 15.04.2011)

A única exceção à exigência de início de prova material se verifica nas excepcionais hipóteses de força maior ou caso fortuito, que se carac-terizam, nos termos do art. 142, § 2º, do Decreto nº 3.048/1999, diante da verificação de ocorrência notória, tais como incêndio, inundação ou desmoronamento, que tenha atingido a empresa na qual o segurado ale-gue ter trabalhado, devendo ser comprovada mediante registro da ocor-rência policial feito em época própria ou apresentação de documentos contemporâneos dos fatos e verificada a correlação entre a atividade da empresa e a profissão do segurado.

E não há vício na norma previdenciária que positiva restrição nos meios de se provar determinado fato. A despeito da regra da atipicidade das provas no Direito brasileiro, a lei, em diversos casos, exige que a prova seja feita de determinada maneira. Note-se:

Indubitavelmente, a questão mais delicada no que concerne ao tempo de serviço diz respeito à sua prova. Relativamente aos meios probatórios ad-mitidos, nosso CPC acolheu o princípio da liberdade objetiva dos meios de demonstração (art. 332). Vale dizer, são admitidos todos os meios, desde que cientificamente idôneos e moralmente legítimos. No que con-cerne à avaliação das provas, nosso CPC adotou o sistema da persuasão racional para a apreciação das provas (art. 131). Assim, o destinatário da prova tem liberdade para apreciá-la, salvo quando a lei excepciona. Exatamente esse tipo de tratamento diferenciado é dispensado no § 3º do

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art. 55, quando se cogita da comprovação do tempo laboral, pois aqui a prova, contrariando a regra geral, é tarifada.17

Observe-se que o Supremo Tribunal Federal já apreciou o tema e, por mais de uma vez, julgou constitucional o art. 55, § 3º, da Lei de Benefícios, valendo destacar a seguinte ementa:

APOSENTADORIA – TEMPO DE SERVIÇO – PROVA EXCLUSIVAMEN-TE TESTEMUNHAL – INADMISSIBILIDADE COMO REGRA – A teor do disposto no § 3º do art. 55 da Lei nº 8.213/1991, o tempo de serviço há de ser revelado mediante início de prova documental, não sendo admi-tida, exceto ante motivo de força maior ou caso fortuito, a exclusiva-mente testemunhal. Decisão em tal sentido não vulnera os preceitos dos arts. 5º, incisos LV e LVI, 6º e 7º, inciso XXIV, da Constituição Federal. (RE 226.772, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 06.10.2000, p. 98)

Em acréscimo, os documentos que se apresentam como início de prova material devem ser contemporâneos aos fatos que pretendem comprovar. Isso porque o art. 62 do Decreto nº 3.048/1999 é expresso ao exigir a contemporaneidade dos documentos a serem apresentados para a comprovação do exercício de atividade laboral:

Art. 62. A prova de tempo de serviço, considerado tempo de contribuição na forma do art. 60, observado o disposto no art. 19 e, no que couber, as peculiaridades do segurado de que tratam as alíneas j e l do inciso V do caput do art. 9º e do art. 11, é feita mediante documentos que compro-vem o exercício de atividade nos períodos a serem contados, devendo esses documentos ser contemporâneos dos fatos a comprovar e mencio-nar as datas de início e término e, quando se tratar de trabalhador avulso, a duração do trabalho e a condição em que foi prestado. (Redação dada pelo Decreto nº 4.079, de 2002)

Discute-se se a contemporaneidade do início de prova é exigência válida, na medida em que não consta expressamente da lei, positivando--se apenas por meio de decreto. Todavia, tem prevalecido o entendi-mento de que não há ilegalidade. A documentação contemporânea dos

17 ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Comentários à Lei de Benefícios da Previdência Social. 7. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. p. 235. No mesmo sentido, lembrando que a propriedade de bens imóveis, por exemplo, prova-se pelo registro (art. 1.245, §§ 1º e 2º, Código Civil), e que o casamento prova-se pela sua certidão (art. 1.543, Código Civil): BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2012, v. 1, parte IV, cap. 2, item 6.

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fatos a serem comprovados diz respeito à própria idoneidade da prova. Esse parece ser o entendimento doutrinário predominante. Como expli-ca Augusto Massayuki Tsutiya:

A justificação administrativa somente se processará quando baseada em início de prova material, contemporânea dos fatos. O segurado deverá juntar documentos, da época, que comprovem o exercício da atividade laboral. [...] A Instrução Normativa nº 95, de 07.10.2003, em alguns de seus artigos aponta os tipos de provas que podem ser apresentados. Não se aceitam provas exclusivamente testemunhais para a comprovação do tempo de serviço para efeito de aposentadoria, exceto caso de força maior ou caso fortuito.18

No mesmo sentido o posicionamento de Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari, para quem “a prova da atividade labora-tiva, conforme o Decreto nº 3.048/1999, art. 62, corresponde àqueles documentos que são obrigatórios por lei nas relações de emprego, con-temporâneos ao período que se pretende comprovar”19.

Essa, portanto, é uma grande diferença de tratamento normativo entre o direito do trabalho e o previdenciário. Isso porque, em sede de reclamação trabalhista, não vige exigência dessa estirpe. É possível, por exemplo, que o trabalhador veja reconhecido o seu alegado tempo de serviço exclusivamente com base em prova testemunhal. Ou, ainda, que o trabalhador e o empregador celebrem acordo em audiência trabalhis-ta, reconhecendo-se o tempo de serviço e anotando-se a CTPS sem que tenha havido nenhuma instrução probatória.

Devido a essas múltiplas possibilidades de reconhecimento do tempo de serviço em âmbito trabalhista, a força probante da sentença proferida pelo Juízo do Trabalho, para fins previdenciários, precisa ser apreciada de modo analítico e diferenciado.

18 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, item 29.8.

19 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, item 40.5.1.

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3 a SeNteNça trabalhISta: dIStINção eNtre aS SeNteNçaS CoNforme a INStrução ProbatórIa que lheS ServIu de fuNdameNto

Como adiantamos, o reconhecimento do tempo de serviço na Jus-tiça do Trabalho pode se dar de diversas formas, notadamente: a) a sen-tença homologa acordo entre as partes, independentemente de qualquer instrução probatória; b) a sentença reconhece o tempo de serviço por força de confissão ficta do empregador (o qual, por exemplo, não com-pareceu à audiência); c) a sentença reconhece o tempo de serviço ape-nas com base em prova testemunhal; d) a sentença reconhece o tempo de serviço após ampla instrução probatória, marcada pela produção de provas materiais e testemunhais.

São situações bastante distintas, que gerarão, por consequên-cia, tratamento diferenciado no âmbito previdenciário. Jefferson Luis Kravchychyn [et al.] refuta(m) essa diferenciação, pontuando, com apoio de julgado da Turma de Uniformização dos Juizados Especiais Federais, que a desconsideração da sentença trabalhista, ainda que meramente homologatória, como início de prova material, malfere a coisa julgada e consubstancia desrespeito à atividade jurisdicional20.

Não concordamos com tal objeção. No julgamento mencionado pelos autores (TNU, PEDILEF 106826420104013600-MT, Relª Juíza Fe-deral Simone dos Santos Lemos Fernandes, Julgamento em 14.06.2011, DOU 22.07.2011), a Turma registrou que há ofensa à coisa julgada porque “é dever de qualquer magistrado, no exercício de suas funções, analisar a regularidade de acordos que homologa, coibindo fraudes e conluios”.

Ocorre que o reconhecimento do tempo de serviço fictício, por meio de acordo, pode não decorrer de conluio direcionado a lesar o ente previdenciário. Imagine-se que o trabalhador, na realidade, traba-lhou por um ano sem registro para determinado empregador. Ajuíza a ação reclamando o reconhecimento de cinco anos de trabalho e o pa-gamento de R$ 50.000,00 a título de verbas trabalhistas inadimplidas. O empregador, em audiência, sabe que não houve trabalho por cinco

20 KRAVCHYCHYN, Jefferson Luis [et al.]. Prática processual previdenciária: administrativa e judicial. 5. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

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anos. No entanto, por motivos variados, resolve encerrar o quanto antes o litígio e propõe acordo de reconhecimento do quinquênio, anotação em CTPS e pagamento de R$ 15.000,00. Em um caso como esse, o ma-gistrado não adentrará nas especificidades da real prestação do serviço pelo tempo alegado. Examinará aspectos formais e, se em termos, homo-logará o acordo sem mais delongas.

Além disso, não há nenhuma violação à coisa julgada porque: a) a autoridade da sentença trabalhista não abrange o ente previdenciá-rio, que não participou da relação jurídico-processual; b) o Juízo Traba-lhista não tem competência para julgar questão previdenciária, de modo que a sentença que prolata não impõe nenhuma obrigação de índole previdenciária que pudesse ser violada ou inobservada; c) a lei impõe forma diferenciada de prova do tempo de serviço para fins previden-ciários, forma essa não necessariamente observada no processo traba-lhista que dá azo à sentença ali produzida, já que a autonomia científi-ca de cada um desses ramos enseja a incidência de princípios e regras diversos.

O Tribunal Superior do Trabalho, inclusive, editou, no ano de 2000, a Orientação Jurisprudencial nº 57 da SDI-2, solidificando o se-guinte entendimento: “Conceder-se-á mandado de segurança para im-pugnar ato que determina ao INSS o reconhecimento e/ou averbação de tempo de serviço”.

Dito isso, temos que, em regra, a sentença proferida na Justiça do Trabalho, por si só, não será admitida como prova para fins de con-cessão de benefício previdenciário, especialmente se inexiste nos autos administrativos ou judiciais o início de prova material, conforme exigido pelo § 3º, art. 55, da Lei nº 8.213/1991. É necessário que a sentença tra-balhista tenha efetivamente apreciado provas da relação empregatícia. Veja-se:

O STJ, por seu turno, vem admitindo que a sentença proferida pela Justi-ça do Trabalho é suficiente para o reconhecimento da atividade laboral, quando lastreada em provas da ocorrência da relação de emprego, mes-mo quando o INSS não tenha participado do processo de conhecimento, especialmente quando há execução das contribuições incidentes sobre

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os salários de contribuição. Nesse sentido: STJ, AgRg-AREsp 147.454/DF, 2ª T., Rel. Min. Humberto Martins, DJe 15.05.2012.21

De fato, o STJ e os demais Tribunais pátrios têm entendimento firme no sentido de que a sentença trabalhista só tem eficácia para fins de comprovar tempo de serviço nas hipóteses em que ela tenha sido fundada em elementos que evidenciem o labor exercido na função e o período alegado pelo trabalhador na ação previdenciária. Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL – PREVIDENCIÁRIO – RECONHECIMENTO DE TEMPO DE SERVIÇO POR MEIO DE SEN-TENÇA TRABALHISTA – MERO RECONHECIMENTO DA RELAÇÃO DE TRABALHO POR PARTE DO RECLAMADO – AUSÊNCIA DE ELEMEN-TOS DE PROVAS A SUBSIDIAR O PEDIDO – I – “A sentença trabalhista será admitida como início de prova material, apta a comprovar o tempo de serviço, caso ela tenha sido fundada em elementos que evidenciem o labor exercido na função e o período alegado pelo trabalhador na ação previdenciária. Precedentes das Turma que compõem a Terceira Seção” (EREsp 616.242/RN, 3ª S., Relª Min. Laurita Vaz, DJ 24.10.2005). II – In casu, a sentença trabalhista tão somente homologou acordo firma-do entre as partes, no qual o reclamado reconheceu relação de emprego do reclamante, não tendo sido juntado, porém, qualquer elemento que evidenciasse, na ação trabalhista, que ele houvesse prestado serviço na empresa e no período alegado na ação previdenciária. Agravo regimental desprovido. (STJ, AgRg-REsp 1128885/PB, 5ª T., Rel. Min. Felix Fischer, Julgado em 27.10.2009, DJe 30.11.2009)

PREVIDENCIÁRIO – TEMPO DE SERVIÇO – INÍCIO DE PROVA MATE-RIAL – SENTENÇA TRABALHISTA – CARACTERIZAÇÃO – ELEMENTOS QUE EVIDENCIEM LABOR – COMPROVAÇÃO – NECESSIDADE – EN-TENDIMENTO DA TERCEIRA SEÇÃO – PRECEDENTES – RESSALVA DO POSICIONAMENTO PESSOAL DO RELATOR – AGRAVO DESPROVI-DO – I – A questão posta em debate restringe-se em saber se a sentença trabalhista constitui ou não início de prova material, pois as anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS advieram por força desta sentença. II – Possuía entendimento no sentido de que o tempo de serviço anotado na CTPS, através de sentença trabalhista, detinha força probante material, não devendo, assim, ser considerado simples prova

21 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, item 40.5.

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testemunhal. III – Não obstante, a eg. Terceira Seção pacificou entendi-mento de que a sentença trabalhista será admitida como início de pro-va material, apta a comprovar o tempo de serviço, caso ela tenha sido fundada em elementos que evidenciem o labor exercido na função e no período alegados pelo trabalhador na ação previdenciária. IV – Com base nestas inferências, considerando a natureza colegiada deste Tribunal, impõe-se prestigiar o posicionamento acima transcrito, ficando ressalva-do o pensamento pessoal deste Relator. V – Agravo interno desprovido. (STJ, AgRg-REsp 837.979/MG, 5ª T., Rel. Min. Gilson Dipp, Julgado em 10.10.2006, DJ 30.10.2006, p. 405)

PREVIDENCIÁRIO – EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ES-PECIAL – CARTEIRA DE TRABALHO E PREVIDÊNCIA SOCIAL – ANO-TAÇÕES FEITAS POR ORDEM JUDICIAL – SENTENÇA TRABALHISTA NÃO FUNDAMENTADA EM PROVAS DOCUMENTAIS E TESTEMU-NHAIS – INÍCIO DE PROVA MATERIAL NÃO CARACTERIZADO – 1. A sentença trabalhista será admitida como início de prova material, apta a comprovar o tempo de serviço, caso ela tenha sido fundada em elementos que evidenciem o labor exercido na função e o período alega-do pelo trabalhador na ação previdenciária. Precedentes das Turma que compõem a Terceira Seção. 2. No caso em apreço, não houve produ-ção de qualquer espécie de prova nos autos da reclamatória trabalhista, tendo havido acordo entre as partes. 3. Embargos de divergência aco-lhidos. (STJ, EREsp 616242/RN, 3ª S., Relª Min. Laurita Vaz, Julgado em 28.09.2005, DJ 24.10.2005, p. 170)

Previdenciário. Aposentadoria por tempo de contribuição. Sentença pro-ferida em ação trabalhista. Necessidade de ação própria para compro-vação da atividade laborativa na função e período alegado. Apelação e remessa oficial providas. 1. A sentença trabalhista que reconhece ao reclamante tempo de serviço sem provas materiais suficientes do exer-cício da atividade, necessariamente, não tem que ser aceita pelo INSS em ação para concessão de benefícios de natureza previdenciária, mor-mente não tendo a autarquia previdenciária sido parte na demanda em questão. 2. Necessidade de ação própria para se comprovar a atividade laborativa na função e período alegado. 3. Precedentes do STJ e desta Turma. 4. Apelação e remessa oficial providas. (TRF da 5ª Região, AC 2006.83.02.000164-4, 4ª T., Rel. Des. Federal Marcelo Navarro, Julga-mento em 19.11.2007, DJ de 08.02.2008)

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Disso se conclui que a sentença trabalhista meramente homolo-gatória de acordo não serve de início de prova material para os fins pre-videnciários de comprovação tempo de serviço, porque não se baseia em provas do efetivo labor. Ao revés, limita-se a homologar situação reconhecida pelo empregador, sem a realização de instrução probatória. Do mesmo modo, a sentença trabalhista ancorada apenas em prova tes-temunhal, ou a sentença que reconhece o tempo de serviço após decla-rar a confissão ficta, decorrente de revelia do empregador no processo trabalhista.

A Instrução Normativa INSS/PRES nº 77/2015, que estabelece roti-nas para agilizar e uniformizar o reconhecimento de direitos dos segura-dos e beneficiários da Previdência Social, traz relevantes considerações a esse respeito. Note-se:

Art. 71. A reclamatória trabalhista transitada em julgado restringe-se à garantia dos direitos trabalhistas e, por si só, não produz efeitos para fins previdenciários. Para a contagem do tempo de contribuição e o reconhe-cimento de direitos para os fins previstos no RGPS, a análise do processo pela Unidade de Atendimento deverá observar:

I – a existência de início de prova material, observado o disposto no art. 578;

II – o início de prova referido no inciso I deste artigo deve constituir-se de documentos contemporâneos juntados ao processo judicial trabalhista ou no requerimento administrativo e que possibilitem a comprovação dos fatos alegados;

[...]

§ 1º A apresentação pelo filiado da decisão judicial em inteiro teor, com informação do trânsito em julgado e a planilha de cálculos dos valores devidos homologada pelo Juízo que levaram a Justiça do Trabalho a re-conhecer o tempo de contribuição ou homologar o acordo realizado, na forma do inciso I do caput, não exime o INSS de confrontar tais in-formações com aquelas existentes nos sistemas corporativos disponíveis na Previdência Social para fins de validação do tempo de contribuição.

[...]

Art. 578. O início de prova material deve ser contemporâneo aos fatos alegados, observadas as seguintes disposições:

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I – o segurado deverá apresentar documento com a identificação da em-presa ou equiparada, referente ao exercício do trabalho que pretende provar, na condição de segurado empregado;

II – o empregado rural deverá apresentar também, documento consig-nando a atividade exercida ou qualquer outro elemento que identifique a condição rurícola;

III – deverá ser apresentado um documento como marco inicial e outro como marco final, e, na existência de indícios que tragam dúvidas so-bre a continuidade do período, ou seja, o período entre o documento apresentado do marco inicial e final, poderão ser exigidos documentos intermediários; e

IV – a aceitação de um único documento está restrita à prova do(s) ano(s) a que ele se referirem.

Parágrafo único. Não se aplica o contido no inciso I deste artigo, para benefícios concedidos no valor de um salário mínimo para períodos até 31 de dezembro de 2010, na forma do art. 183 do RPS.

Logo, a sentença trabalhista que reconhece o tempo de serviço só poderá ser aceita no âmbito previdenciário se o processo judicial trabalhista tiver se constituído de documentos contemporâneos, ou se o segurado apresentar tais documentos, em conjunto com a sentença trabalhista, no processo administrativo ou judicial previdenciário.

Registre-se, por fim, que o citado § 3º do art. 55 da Lei nº 8.213/1991 prescreve que a comprovação do tempo de serviço só produz efeito quando baseada em início de prova material, e com isso quer dizer que não é admissível a prova exclusivamente testemunhal. Destarte, ainda que amparada em documentos contemporâneos, a sentença trabalhista assume força probante de início de prova material, e não de prova plena e autossuficiente, ou seja, tal sentença deverá se somar a outros elemen-tos de prova no processo administrativo ou judicial previdenciário – para que o tempo de serviço seja reconhecido para fins previdenciários22.

22 Nesse sentido: “Por fim, cabe-nos lembrar que em muitos casos, mesmo quando a sentença homologatória servir de início de prova documental, ainda assim o requerente deverá trazer aos autos da ação previdenciária testemunhas, fatos e documentos que ajudem no convencimento do juiz da causa no tocante ao efetivo exercício da atividade, bem como do direito ao benefício pleiteado. Isso porque apenas a sentença trabalhista, apesar dos entendimentos antes transcritos, não significa a automática concessão do benefício. Os dois processos judiciais são independentes, podendo o juiz da causa previdenciária analisar os fatos e o direito novamente, decidindo como melhor lhe parecer o direito, não ficando vinculado ao julgamento da Justiça do Trabalho, ainda que em sentença condenatória e não apenas homologatória [...]” (KRAVCHYCHYN, Jefferson

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4 há alterNatIvaS PoSSíveIS?

Apresentamos, em síntese, o cenário dicotômico da comprovação do tempo de serviço nos âmbitos trabalhista e previdenciário. Convém agora discutir, ainda que embrionariamente, sobre ser ou não viável uma alternativa ao equacionamento dessa questão.

Vale observar, antes, que nem sempre há necessidade de obtenção de sentença pelos dois Juízos. É que, se a pretensão for apenas a de aver-bação do tempo de serviço para fins previdenciários (v.g., cômputo do tempo para a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição), a demanda pode ser submetida diretamente ao INSS e, em caso de resis-tência, judicializada no foro previdenciário.

Claro que o trabalhador tem direito subjetivo a que o empregador anote corretamente sua CTPS, bem como tem direito ao reconhecimento das obrigações decorrentes da relação de emprego ilegalmente mantida na informalidade pelo empregador. São pretensões que envolvem a re-lação de trabalho e, como tal, podem ser normalmente submetidas ao crivo da Justiça do Trabalho.

O que se quer dizer é que uma proposta de aperfeiçoamento do sistema no trato do tema só faz sentido em relação aos casos em que o trabalhador tem, a um só tempo, pretensões de natureza trabalhis-ta e previdenciária, e isso nem sempre ocorre. Note-se a sugestão de Jefferson Luis Kravchychyn [et al.]:

Mas para os casos de cômputo de tempo de contribuição como segu-rado empregado, com datas de serviço antigas, nos quais se tem tanto prova documental quanto testemunhal para a averbação do tempo, o ingresso na Justiça do Trabalho torna-se desnecessário, sendo mais prá-tico o ingresso direto na Justiça Federal ou Estadual com vistas à solicita-ção da concessão do benefício comum ou acidentário, respectivamente. Nesse caso, intenta-se uma ação de averbação de tempo de contribui-ção cumulada com pedido de concessão de benefício previdenciário/acidentário.23

Luis [et al.]. Prática processual previdenciária: administrativa e judicial. 5. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014).

23 KRAVCHYCHYN, Jefferson Luis [et al.]. Prática processual previdenciária: administrativa e judicial. 5. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

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Voltemos, pois, ao exemplo inicialmente utilizado, em que o tra-balhador, dispensado de emprego em relação ao qual não houve regis-tro, pretende que o empregador anote sua CTPS, pague verbas trabalhis-tas não adimplidas na época própria e pretende também que esse tempo de serviço seja averbado para que possa gozar de aposentadoria por tempo de contribuição.

Aqui, sem atalhos, não se vislumbra alternativa que não passe pela promulgação de emenda constitucional. É dizer, só podemos falar em mudança de constitutione ferenda. Isso porque, como pudemos consta-tar, a delimitação das competências dos órgãos jurisdicionais, no Brasil, é positivada no nível constitucional. A Lei Maior atribuiu a órgãos judi-ciais distintos a competência para o processo e julgamento das causas trabalhistas e previdenciárias.

Feita essa ressalva, poderíamos cogitar de alteração constitucional que atribuísse ao Juízo Trabalhista a competência para processar e julgar as causas que envolvem pretensão de averbação de tempo de serviço para fins previdenciários, sempre que tal pretensão fosse exercida cumu-ladamente com outra, oriunda de relação de trabalho, e assentada nos mesmos fatos jurídicos constitutivos24.

Isso exigiria alterações constitucionais e legais, a exemplo da in-serção dessa competência adicional e condicionada da Justiça do Traba-lho no rol do art. 114 da CR, além alterações legislativas correspectivas, incluindo-se a prescrição de que a prova do tempo de serviço, para fins previdenciários, submete-se aos critérios previstos pela legislação previ-denciária.

Todavia, remanesceria ainda relevante questão concernente à necessidade de prévia provocação da Administração, sob pena de ex-tinção do processo sem resolução do mérito por ausência de interesse processual. É que o STF consolidou o entendimento de que “a concessão de benefícios previdenciários depende de requerimento do interessado, não se caracterizando ameaça ou lesão a direito antes de sua apreciação e indeferimento pelo INSS, ou se excedido o prazo legal para sua análi-

24 Adotando-se, aqui, a definição de Giuseppe Chiovenda, segundo a qual “denominam-se fatos jurídicos aqueles de que deriva a existência, a modificação ou a cessação de uma vontade concreta de lei”, sendo constitutivos aqueles “que dão vida a uma vontade concreta de lei à expectativa de um bem por parte de alguém”. In Instituições de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, v. I, 1965. p. 07.

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58 ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – PARTE GERAL – DOUTRINA

se” (RE 631240, Rel. Min. Roberto Barroso, Tribunal Pleno, Julgado em 03.09.2014, publicação em 10.11.2014).

Então, a demanda perante o Juízo Trabalhista – contra o emprega-dor e contra o INSS – só poderia ser apresentada caso o segurado tivesse, antes, requerido a averbação do tempo de serviço – e eventualmente a concessão do benefício – em sede administrativa e tivesse seu requeri-mento indeferido.

Evidentemente que isso inviabiliza o próprio uso da sentença como início de prova material, já que, antes da judicialização, o trabalhador deverá apresentar prova documental do vínculo empregatício ao INSS.

Mas não parece que essa exigência de prévio requerimento im-peça a mudança de competência ora vislumbrada. Vale notar que a já mencionada Instrução Normativa INSS/PRES nº 77/2015 admite que a comprovação do vínculo de emprego, urbano ou rural, seja feita por meio de diversos tipos de documentos, como recibos de pagamento contemporâneos ao fato alegado, com a necessária identificação do empregador e do empregado, ou mesmo outros documentos contem-porâneos que possam vir a comprovar o exercício de atividade junto à empresa (art. 10, I, g e i).

Portanto, caberia ao segurado instruir seu requerimento adminis-trativo com os documentos que tivesse e, caso indeferido o benefício pela autarquia, ajuizar a ação, no Juízo trabalhista, contra o empregador e contra o INSS.

Em acréscimo, seria mesmo possível se pensar na hipótese de competência concorrente para processo e julgamento, de maneira que a faculdade de apresentar a demanda contra o empregador e contra o INSS perante a Justiça do Trabalho não excluiria a possibilidade, hoje existente, de ajuizar a ação trabalhista apenas contra o empregador e, de posse da sentença trabalhista, provocar o INSS administrativamente. Indeferido o requerimento, poderia ainda levar a questão previdenciária à apreciação da Justiça Federal ou Estadual.

São caminhos que podem ser debatidos, embora não seja tarefa simples se chegar a um termo conciliatório. As dificuldades são muitas e envolvem questões variadas, entre as quais, como pudemos ver: a auto-

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nomia científica do direito do trabalho e do direito previdenciário, que leva ao tratamento legislativo diferenciado entre essas matérias; as dife-renças que envolvem as relações jurídicas trabalhista e previdenciária, especialmente no que se refere à presença do Poder Público como ator processual nos conflitos de interesses de índole previdenciária, ao passo que, nas ações de natureza trabalhista, de regra, a lide se desenvolve entre particulares; e a divisão de competências prevista no plano consti-tucional, que submete as ações de índole trabalhista e previdenciária a órgãos judiciários diversos.

CoNCluSão

Pudemos constatar que a diferença de tratamento normativo entre o direito do trabalho e o direito previdenciário decorre da autonomia científica de que gozam esses ramos do Direito. Como matérias autô-nomas, são governadas por princípios e regras específicos e métodos e processos singulares.

Isso fica evidente já no plano constitucional, na medida em que foram atribuídas a órgãos jurisdicionais distintos as competências para processo e julgamento das ações trabalhistas e previdenciárias.

Também o reconhecimento do tempo de serviço para fins pre-videnciários submete-se a um regime normativo próprio, o qual exige expressamente o início de prova material, restando vedada a prova ex-clusivamente testemunhal (§ 3º do art. 55 da Lei nº 8.213/1991). Difere, portanto, do reconhecimento do tempo de serviço no âmbito do direito do trabalho, em que não se encontra semelhante limitação legal.

É por isso que se mostra problemática a questão relativa ao valor probatório da sentença trabalhista no processo previdenciário em que se pretende o reconhecimento de tempo de serviço. A sentença trabalhista, assim, será valorada de acordo com a instrução probatória que lhe serviu de fundamento.

As sentenças trabalhistas que homologam acordos independente-mente de qualquer instrução probatória ou que reconhecem o tempo de serviço por força de confissão ficta do empregador ou mesmo que reco-nhecem o tempo de serviço apenas com base em prova testemunhal não

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terão, portanto, força de início de prova material para fins previdenciá-rios, porque consubstanciam declaração despida de base documental, de sorte que não atendem à exigência normativa do mencionado § 3º do art. 55 da Lei nº 8.213/1991.

Já a sentença trabalhista que reconhece o tempo de serviço após ampla instrução probatória, marcada pela produção de provas materiais e testemunhais, essa sim deverá ser reputada como início de prova ma-terial idôneo no âmbito previdenciário. Ainda assim, sua força probante será de início de prova, e não de prova plena e autossuficiente. Isso significa que tal sentença deverá se justapor a outros elementos proba-tórios, no processo administrativo ou judicial previdenciário, para que o tempo de serviço seja reconhecido para fins previdenciários.

Isso porque, como visto, os processos trabalhista e previdenciário são autônomos, de modo que a autoridade administrativa ou judicial previdenciária não se vincula ao julgamento da Justiça do Trabalho.

É possível pensar em caminhos alternativos, como uma alteração constitucional que atribuísse ao Juízo Trabalhista a competência para processar e julgar as causas que envolvem pretensão de averbação de tempo de serviço para fins previdenciários, sempre que tal pretensão fos-se exercida cumuladamente com outra, oriunda de relação de trabalho, e assentada nos mesmos fatos jurídicos constitutivos.

Essa solução poderia ser prevista como hipótese de competência concorrente para processo e julgamento. Assim, poderia o trabalhador apresentar a demanda contra o empregador e contra o INSS perante a Justiça do Trabalho, sem prejuízo da faculdade de ajuizar a ação traba-lhista apenas contra o empregador e, de posse da sentença trabalhista, provocar o INSS administrativamente. Indeferido o requerimento, pode-ria ainda levar a questão previdenciária à apreciação da Justiça Federal ou Estadual, como é feito atualmente.

Trata-se de proposta embrionária, a merecer maiores reflexões e debates. A autonomia científica do direito do trabalho e do direito previ-denciário leva naturalmente ao tratamento legislativo diferenciado entre essas matérias, o que inclui a divisão de competências prevista no plano constitucional, que submete as ações de índole trabalhista e previden-ciária, como visto, a órgãos judiciários diversos. Essas diferenças, enfim,

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sempre terão que ser consideradas no horizonte de toda a tentativa de mudança e aperfeiçoamento normativo no trato do tema.

referêNCIaS

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HESSE, Konrad. Temas fundamentais do direito constitucional: textos selecio-nados e traduzidos por Carlos dos Santos Almeida, Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho. São Paulo: Saraiva, 2009.

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KELSEN, Hans. Teoria geral do Direito e do Estado. Tradução de Luís Carlos Borges. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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Parte Geral – Doutrina

A Reforma da Previdência e Suas Regras de Transição: a Isonomia e o Princípio da Proteção da Confiança

VICTOR ROBERTO CORRêA DE SOuzAJuiz Federal do 11º Juizado Especial Federal do Rio de Janeiro/RJ (especializado em Matéria Previdenciária), Membro da Comissão de Acompanhamento da Reforma da Previdência (cria-da pela Ajufe), Doutorando do PPGSD/UFF.

O art. 24 da Proposta de Emenda Constitucional nº 287/2016 (Re-forma da Previdência) traz a possibilidade de revogação de normas tran-sitórias de emendas constitucionais anteriores (ECs 20, 41 e 47), elabo-radas como parte de anteriores reformas previdenciárias. Assim dispõe o citado art. 24, em seus incisos II, III e IV:

Art. 24. Ficam revogados os seguintes dispositivos:

[...]

II – da Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998:

a) o art. 9º; e

b) o art. 15;

III – da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003:

a) o art. 2º;

b) o art. 6º; e

c) o art. 6º-A; e

IV – da Emenda Constitucional nº 47, de 5 de julho de 2005: o art. 3º.

A intenção do presente artigo é, ao final, verificar se esse dispositi-vo da referida reforma respeita as regras constitucionais em vigor.

regraS de traNSIção em vIgor

Inicialmente, necessário transcrever quais normas constitucionais são essas que o proponente quer revogar e que estão dispostas nos cita-

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dos dispositivos, especialmente o art. 9º da EC 20/1998, para entender seus objetivos.

emeNda CoNStItuCIoNal Nº 20/1998

Art. 9º Observado o disposto no art. 4º desta Emenda e ressalvado o di-reito de opção a aposentadoria pelas normas por ela estabelecidas para o regime geral de previdência social, é assegurado o direito à aposenta-doria ao segurado que se tenha filiado ao regime geral de previdência so-cial, até a data de publicação desta Emenda, quando, cumulativamente, atender aos seguintes requisitos:

I – contar com cinqüenta e três anos de idade, se homem, e quarenta e oito anos de idade, se mulher; e

II – contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de:

a) trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos, se mulher; e

b) um período adicional de contribuição equivalente a vinte por cento do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior.

§ 1º O segurado de que trata este artigo, desde que atendido o disposto no inciso I do caput, e observado o disposto no art. 4º desta Emenda, pode aposentar-se com valores proporcionais ao tempo de contribuição, quando atendidas as seguintes condições:

I – contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de:

a) trinta anos, se homem, e vinte e cinco anos, se mulher; e

b) um período adicional de contribuição equivalente a quarenta por cen-to do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atin-gir o limite de tempo constante da alínea anterior;

II – o valor da aposentadoria proporcional será equivalente a setenta por cento do valor da aposentadoria a que se refere o caput, acrescido de cin-co por cento por ano de contribuição que supere a soma a que se refere o inciso anterior, até o limite de cem por cento.

§ 2º O professor que, até a data da publicação desta Emenda, tenha exer-cido atividade de magistério e que opte por aposentar-se na forma do dis-posto no caput, terá o tempo de serviço exercido até a publicação desta Emenda contado com o acréscimo de dezessete por cento, se homem, e

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de vinte por cento, se mulher, desde que se aposente, exclusivamente, com tempo de efetivo exercício de atividade de magistério.

emeNda CoNStItuCIoNal Nº 41/2003

Art. 2º Observado o disposto no art. 4º da Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, é assegurado o direito de opção pela aposentadoria voluntária com proventos calculados de acordo com o art. 40, §§ 3º e 17, da Constituição Federal, àquele que tenha ingressado regularmente em cargo efetivo na Administração Pública direta, autárqui-ca e fundacional, até a data de publicação daquela Emenda, quando o servidor, cumulativamente:

I – tiver cinqüenta e três anos de idade, se homem, e quarenta e oito anos de idade, se mulher;

II – tiver cinco anos de efetivo exercício no cargo em que se der a apo-sentadoria;

III – contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de:

a) trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos, se mulher; e

b) um período adicional de contribuição equivalente a vinte por cento do tempo que, na data de publicação daquela Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea a deste inciso.

§ 1º O servidor de que trata este artigo que cumprir as exigências para aposentadoria na forma do caput terá os seus proventos de inatividade reduzidos para cada ano antecipado em relação aos limites de idade estabelecidos pelo art. 40, § 1º, III, a, e § 5º, da Constituição Federal, na seguinte proporção:

I – três inteiros e cinco décimos por cento, para aquele que completar as exigências para aposentadoria na forma do caput até 31 de dezembro de 2005;

II – cinco por cento, para aquele que completar as exigências para apo-sentadoria na forma do caput a partir de 1º de janeiro de 2006.

§ 2º Aplica-se ao magistrado e ao membro do Ministério Público e de Tribunal de Contas o disposto neste artigo.

§ 3º Na aplicação do disposto no § 2º deste artigo, o magistrado ou o membro do Ministério Público ou de Tribunal de Contas, se homem, terá o tempo de serviço exercido até a data de publicação da Emenda Consti-

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tucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, contado com acréscimo de dezessete por cento, observado o disposto no § 1º deste artigo.

§ 4º O professor, servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, que, até a data de publicação da Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, tenha ingressado, regularmente, em cargo efetivo de magistério e que opte por aposentar-se na forma do disposto no caput, terá o tempo de serviço exercido até a publicação daquela Emenda contado com o acrés-cimo de dezessete por cento, se homem, e de vinte por cento, se mulher, desde que se aposente, exclusivamente, com tempo de efetivo exercício nas funções de magistério, observado o disposto no § 1º.

§ 5º O servidor de que trata este artigo, que tenha completado as exigên-cias para aposentadoria voluntária estabelecidas no caput, e que opte por permanecer em atividade, fará jus a um abono de permanência equiva-lente ao valor da sua contribuição previdenciária até completar as exi-gências para aposentadoria compulsória contidas no art. 40, § 1º, II, da Constituição Federal.

§ 6º Às aposentadorias concedidas de acordo com este artigo aplica-se o disposto no art. 40, § 8º, da Constituição Federal.

Art. 6º Ressalvado o direito de opção à aposentadoria pelas normas es-tabelecidas pelo art. 40 da Constituição Federal ou pelas regras estabe-lecidas pelo art. 2º desta Emenda, o servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, que tenha ingressado no serviço público até a data de publicação desta Emenda poderá aposentar-se com proventos integrais, que corresponde-rão à totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo em que se der a aposentadoria, na forma da lei, quando, observadas as reduções de idade e tempo de contribuição contidas no § 5º do art. 40 da Constitui-ção Federal, vier a preencher, cumulativamente, as seguintes condições:

I – sessenta anos de idade, se homem, e cinqüenta e cinco anos de idade, se mulher;

II – trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de con-tribuição, se mulher;

III – vinte anos de efetivo exercício no serviço público; e

IV – dez anos de carreira e cinco anos de efetivo exercício no cargo em que se der a aposentadoria.

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Parágrafo único. Os proventos das aposentadorias concedidas conforme este artigo serão revistos na mesma proporção e na mesma data, sempre que se modificar a remuneração dos servidores em atividade, na forma da lei, observado o disposto no art. 37, XI, da Constituição Federal. (Re-vogado pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)

Art. 6º-A. O servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, que tenha ingressado no serviço público até a data de publicação desta Emenda Constitucional e que tenha se aposentado ou venha a se aposentar por invalidez perma-nente, com fundamento no inciso I do § 1º do art. 40 da Constituição Fe-deral, tem direito a proventos de aposentadoria calculados com base na remuneração do cargo efetivo em que se der a aposentadoria, na forma da lei, não sendo aplicáveis as disposições constantes dos §§ 3º, 8º e 17 do art. 40 da Constituição Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 70, de 2012)

Parágrafo único. Aplica-se ao valor dos proventos de aposentadorias con-cedidas com base no caput o disposto no art. 7º desta Emenda Constitu-cional, observando-se igual critério de revisão às pensões derivadas dos proventos desses servidores. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 70, de 2012)

emeNda CoNStItuCIoNal Nº 47/2005

Art. 3º Ressalvado o direito de opção à aposentadoria pelas normas es-tabelecidas pelo art. 40 da Constituição Federal ou pelas regras estabe-lecidas pelos arts. 2º e 6º da Emenda Constitucional nº 41, de 2003, o servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, que tenha ingressado no serviço público até 16 de dezembro de 1998 poderá aposentar-se com proventos integrais, desde que preencha, cumulativamente, as seguintes condições:

I – trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de con-tribuição, se mulher;

II – vinte e cinco anos de efetivo exercício no serviço público, quinze anos de carreira e cinco anos no cargo em que se der a aposentadoria;

III – idade mínima resultante da redução, relativamente aos limites do art. 40, § 1º, inciso III, alínea a, da Constituição Federal, de um ano de idade para cada ano de contribuição que exceder a condição prevista no inciso I do caput deste artigo.

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Parágrafo único. Aplica-se ao valor dos proventos de aposentadorias con-cedidas com base neste artigo o disposto no art. 7º da Emenda Constitu-cional nº 41, de 2003, observando-se igual critério de revisão às pensões derivadas dos proventos de servidores falecidos que tenham se aposenta-do em conformidade com este artigo.

Essas normas constitucionais – bem se observa – são normas de transição determinadas nas referidas reformas previdenciárias para ser-vidores públicos civis, de acordo com suas datas de ingresso no serviço público, se anteriores às respectivas datas de promulgação das Emendas.

Tanto a Emenda nº 20/1998 (art. 3º) quanto a Emenda nº 41/2003 (art. 3º) asseguram o direito adquirido à pensão e à aposentadoria aos servidores que preencheram os requisitos até a data de suas publica-ções. Note-se que não tem qualquer relevância a data do requerimento administrativo do benefício, para aferição de qual regra se utilizar – o que importa é a data em que o cidadão preenche os requisitos, tempus regitactum.

Anteriormente à citada EC 20/1998, ao servidor bastava o tempo de serviço (35 anos para o homem e 30 anos para a mulher) para a con-cessão de sua aposentadoria, com proventos integrais. Não era exigida idade mínima.

Havia uma regra de transição no art. 8º da EC 20/1998, para os servidores que ingressaram antes dessa emenda, que previa a conces-são de aposentadoria, de modo integral (com base em sua última re-muneração), e pela qual o servidor deveria contar com a idade mínima de 53/48 anos (homem/mulher), bem como 35/30 anos de contribuição (homem/mulher), devendo ainda prestar um tempo adicional de serviço (pedágio) de 20% do tempo que faltasse para a aposentadoria, e contar com 5 anos de efetivo exercício do cargo em que pretenda se aposentar. Todavia, este art. 8º foi revogado pela EC 41/2003, que passou a regular a transição desses servidores (ingressados no serviço público antes de 16.12.1998) em seu art. 2º, supratranscrito.

Com a regulação do art. 2º da EC 41/2003, o regime de aposentado-ria dos servidores que ingressaram anteriormente à data da publicação da EC 20/1998 (16.12.1998), e que não tinham direito adquirido à aposen-tadoria pelo regime anterior, permaneceu praticamente o mesmo, com o detalhe de que não mais seria garantido o cálculo dos proventos de modo

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integral, de acordo com sua última remuneração, tendo em vista a altera-ção do art. 40, § 3º, que passou a prever que seriam consideradas todas as remunerações utilizadas como base para as contribuições recolhidas ao respectivo RPPS, corrigidas monetariamente, fazendo-se, então, uma mé-dia de tais contribuições. Ainda, a regra de transição da EC 20/1998, com a modificação da EC 41/2003, mantém o direito à paridade dos reajustes de aposentados e pensionistas com os reajustes e vantagens deferidas aos servidores ativos, tendo em vista o art. 7º da EC 41/2003.

De outro lado, outra regra de transição foi instituída, para que os servidores obtivessem o direito a proventos integrais e com paridade. Trata-se do art. 6º da EC 41/2003, aplicável a todos que tenham ingressa-do no serviço público antes da publicação da referida Emenda, pela qual o servidor deveria contar com a idade mínima de 60/55 anos (homem/mulher), bem como 35/30 anos de contribuição (homem/mulher), de-vendo ainda comprovar 20 anos de efetivo exercício do serviço público, 10 anos de carreira e 5 anos de efetivo exercício do cargo em que pre-tenda se aposentar. Entretanto, essa paridade passa a ser parcial, limitada ao valor do subsídio mensal do ministro do STF, teto do funcionalismo público (art. 37, XI, da CF).

Ou seja, a EC 41/2003 instituiu duas regras de transição distintas, em seus arts. 2º e 6º. Para os servidores que ingressaram antes da pu-blicação da EC 20/1998, há a opção entre uma das duas regras citadas; para os que ingressaram entre as ECs 20/1998 e 41/2003, aplicar-se-á a sistemática do art. 6º, caso o servidor almeje integralidade e paridade. Com isso, os servidores que ingressaram no serviço público, a partir da EC 41/2003, perderam o direito à paridade remuneratória e à integrali-dade dos proventos em relação à remuneração da ativa, que só foram mantidos para quem ingressou até 30.12.2003.

Por fim, após a edição da EC 41/2003, com a inclusão do § 19 ao art. 40 da Constituição Federal, aquele servidor que preencher os requi-sitos para se aposentar conforme o art. 40, § 1º, III, a, da CF, o texto da respectiva regra de transição, e optar por permanecer no serviço públi-co, fará jus a um abono de permanência equivalente à sua contribuição previdenciária.

Posteriormente, a EC 47/2005, em seu art. 3º, estabeleceu uma nova regra de transição para os servidores que ingressaram antes de

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16.12.1998, permitindo, em dispositivo mais brando que o art. 2º da EC 41/2003, a concessão de aposentadoria pela regra conhecida como 95/85 pontos (95, pela soma da idade com tempo de contribuição para o servidor homem, e 85, para a servidora). Para usufruir dessa regra de transição, o servidor terá que comprovar 25 anos de efetivo exercício do serviço público, 15 anos de carreira e 5 anos de efetivo exercício no cargo em que pretenda se aposentar. Esses novos parâmetros, por outro lado, também passaram a ser utilizados para a aplicação da regra de paridade plena dos reajustes dos proventos, conforme se percebe da revogação do parágrafo único do art. 6º da EC 41/2003 e do novel pará-grafo único do art. 3º da EC 47/2005. Conforme o art. 6º da EC 47/2005, esse art. 3º da EC 47/2005 é de eficácia retroativa, para fins de proteger aqueles que se aposentaram, entre 01.01.2004 e 05.07.2005, conforme as regras mais rígidas do art. 2º da EC 41/2003.

Obviamente, a reforma trazida em cada emenda constitucional per-mitia ao servidor requerer sua aposentadoria, optativamente, conforme a regra de transição ou conforme o texto atualizado do art. 40 da Consti-tuição Federal (que era sempre um regime mais restritivo). A feição atual do art. 40, aplicável obrigatoriamente a todos os servidores que ingressa-ram no serviço público a partir de 01.01.2004, dispõe que a aposenta-doria do servidor público deve ser calculada segundo a média aritméti-ca dos valores de suas contribuições e com direito a reajustes periódicos nos mesmos moldes daqueles devidos aos beneficiários do RGPS. Ainda, o ente federativo poderá limitar as aposentadorias ao teto do RGPS do art. 201 da CF, caso institua regime de previdência complementar para seus respectivos servidores, por intermédio de entidades fechadas de na-tureza pública (art. 40, §§ 14 a 16, da CF). Esse regime começou a ser ins-tituído com a edição da Lei nº 12.618/2012 (com o acréscimo do art. 92 da Lei nº 13.328/2016), seguida por decretos regulamentadores da criação dos planos de benefícios em cada entidade de previdência complementar de cada Poder, Funpresp-Exe, Funpresp-Leg e Funpresp-Jud.

regraS de traNSIção ProPoStaS Com a PeC 287/2016

Com a revogação de todas essas regras de transição supratranscri-tas, nota-se que o proponente quer implementar novas regras de transi-

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ção para a concessão de aposentadorias aos servidores públicos, confor-me os arts. 2º e 3º da PEC 287, que assim determinam:

Art. 2º Ressalvado o direito de opção à aposentadoria pelas normas es-tabelecidas no art. 40 da Constituição, o servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e funda-ções, que tenha ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data da promulgação desta Emenda e que tenha idade igual ou superior a cinquenta anos, se homem, e a quarenta e cinco anos, se mulher, nesta mesma data, poderá aposentar-se quando preencher, cumulativamente, as seguintes condições:

I – sessenta anos de idade, se homem, e cinquenta e cinco anos de idade, se mulher;

II – trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de con-tribuição, se mulher;

III – vinte anos de efetivo exercício no serviço público;

IV – cinco anos de efetivo exercício no cargo em que se der a aposenta-doria; e

V – período adicional de contribuição equivalente a 50% (cinquenta por cento) do tempo que, na data de promulgação desta Emenda, faltaria para atingir os limites previstos no inciso II deste artigo.

§ 1º Os servidores que ingressaram no serviço público em cargo efetivo até 16 de dezembro de 1998 poderão optar pela redução da idade mí-nima de que trata o inciso I do caput em um dia de idade para cada dia de contribuição que exceder o tempo de contribuição previsto no inciso II do caput.

§ 2º Os requisitos de idade e de tempo de contribuição de que tratam os incisos I e II do caput serão reduzidos em cinco anos e não será aplicável o disposto no § 1º, para:

I – o professor que comprovar exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio; e

II – o policial que comprovar pelo menos vinte anos de efetivo exercício em cargo de natureza estritamente policial.

§ 3º Os proventos das aposentadorias concedidas de acordo com este artigo corresponderão:

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I – à totalidade da remuneração do servidor público no cargo efetivo em que se der a aposentadoria, para aqueles que ingressaram no serviço público em cargo efetivo até 31 de dezembro de 2003, observado o dis-posto nos § 14 e § 16 do art. 40 da Constituição; e

II – à totalidade da média aritmética simples das remunerações utilizadas como base para as contribuições do servidor aos regimes de previdência aos quais esteve vinculado, desde a competência de julho de 1994 ou desde a competência do início da contribuição, se posterior àquela, para aqueles que ingressaram no serviço público em cargo efetivo a partir de 1º de janeiro de 2004, observado o disposto nos § 14 e § 16 do art. 40 da Constituição.

§ 4º Os proventos das aposentadorias concedidas de acordo com este artigo serão reajustados:

I – de acordo com o disposto no art. 7º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, se concedidas na forma do inciso I do § 3º deste artigo; ou

II – de acordo com o disposto no § 8º do art. 40 da Constituição, se con-cedidas na forma do inciso II do § 3º deste artigo.

§ 5º Excetuam-se da regra de reajuste estabelecida no inciso I do § 4º des-te artigo os proventos de aposentadoria do servidor que tenha exercido a opção de que trata o § 16 do art. 40 da Constituição, hipótese na qual será aplicado o reajuste previsto no inciso II do § 4º deste artigo.

§ 6º Conforme os critérios a serem estabelecidos pelo ente federativo, o servidor de que trata este artigo, que tenha completado as exigências para aposentadoria voluntária, e opte por permanecer em atividade fará jus a um abono de permanência equivalente, no máximo, ao valor da sua contribuição previdenciária até completar a idade para aposentado-ria compulsória.

Art. 3º Ao servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-nicípios, incluídas suas autarquias e fundações, que tenha ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de promulgação desta Emen-da e que tenha idade inferior às referidas no caput do art. 2º, aplicam-se as disposições dos § 3º e § 3º-A do art. 40 da Constituição.

Parágrafo único. O limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social previsto no § 2º do art. 40 da Consti-tuição somente será imposto para aqueles servidores que ingressaram no

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serviço público posteriormente à instituição do correspondente regime de previdência complementar ou que ingressaram anteriormente e exer-ceram a opção de que trata o § 16 do art. 40 da Constituição.

Ou seja, o proponente desta Emenda almeja que o novo regime por ele intentado seja aplicável a todos que tenham ingressado no serviço público antes da publicação da futura Emenda, caso tenham idade me-nor que 50/45 anos (homem/mulher). Caso a idade seja superior na data de publicação da referida Emenda, o servidor terá o direito de se aposen-tar com 60/55 anos de idade (homem/mulher), 35/30 anos de contribui-ção (homem/mulher), 20 anos de efetivo exercício de serviço público, 5 anos de efetivo exercício do cargo em que pretenda se aposentar e um pedágio de 50% do tempo de contribuição que faltaria para comple-tar os 35/30 anos de contribuição. Caso a idade seja inferior, conforme art. 3º da PEC, aplica-se ao servidor o novo regime de requisitos para aposentadoria, que, regra geral, prevê que será devida aposentadoria aos 65 anos de idade para qualquer servidor (homem ou mulher), com um tempo mínimo de 25 anos de contribuição (para uma aposentadoria de 76%), com o limite do teto máximo do RGPS, e com a possibilidade de utilização de regime de previdência complementar, por intermédio de entidades fechadas de natureza pública (Lei nº 12.618/2012, com o acréscimo do art. 92 da Lei nº 13.328/2016).

Nessa regra de transição, o servidor que tenha ingressado antes da EC 20/1998 (e que tenha a idade mínima na data da publicação da futura Emenda) terá a possibilidade de compensar e reduzir um dia da idade necessária por um dia de tempo de contribuição excedente; de outro lado, a integralidade dos proventos e a paridade parcial (limitada ao teto do subsídio dos ministros do STF) nos reajustes dos proventos é garantida para aqueles que ingressaram no serviço público até a data de publicação da EC 41/2003 (mas, também, desde que tenha a idade mínima na data da publicação da futura Emenda).

Isto é, o servidor que não possuir a idade mínima, mas que se encontre protegido pelas regras de transição das Emendas nºs 20/1998, 41/2003 e 47/2005, perderá o direito às regras de transição anteriores, de modo que só poderá se aposentar aos 65 anos de idade (homem ou mulher), com um tempo mínimo de 25 anos de contribuição (para uma aposentadoria de 76%), garantindo-se apenas a média aritmética simples de suas remunerações e uma reposição anual limitada à preservação do valor real do benefício (reposição inflacionária).

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É o caso, por exemplo, de um servidor público do sexo masculino, com 39 anos de idade na data de publicação da Emenda, que tenha in-gressado no serviço público em 2001 (aos 23 anos de idade), e que tinha em seu patrimônio jurídico a expectativa de se aposentar com proventos integrais e paridade de reajustes, aos 60 anos de idade, quando já teria mais de 35 anos de contribuição, mais de 20 anos de serviço público, mais de 10 anos de carreira e mais de 5 anos no cargo em que pretenda se aposentar (art. 6º da EC 41/2003). Repentinamente, esse mesmo servi-dor se verá sem a possibilidade de se aposentar com proventos integrais e paridade, apenas aos 65 anos de idade, e ainda assim só terá 93% de aposentadoria, tendo que trabalhar até os 72 anos de idade, se quiser se aposentar com 100% de seu salário de benefício. Se se tratasse de uma servidora mulher, com os mesmos parâmetros do exemplo citado, ela se aposentadoria aos 55 anos de idade, quando já teria os 30 anos de contribuição e os demais requisitos. Pelo texto da Reforma, ela também só se aposentaria aos 65 anos de idade e teria que trabalhar até os 72 anos, se quiser 100% de seu salário de benefício. Enfim, para receber os mesmos 100% de aposentadoria que receberia aos 60/55 anos de idade (homem/mulher), o servidor terá que trabalhar mais 12 anos e a servido-ra, pasmem, 17 anos!

Parece-nos claro que essa proposta de emenda constitucional, nesse art. 24, pode ser qualquer coisa, menos razoável, e muito menos ainda isonômica.

SeguraNça JurídICa e reforma

Como se não bastasse, essas medidas trazidas pela PEC 287 ferem a segurança jurídica e trazem, de modo desassombrado, lesão ao Estado Democrático de Direito.

É fato que a Reforma previu, no art. 5º da PEC 287, meios de pre-servação do direito adquirido (o que não seria necessário, pois se dessu-miria do próprio texto original da Constituição).

Contudo, não é apenas o direito adquirido que deve ser protegido, mas também as expectativas legítimas do cidadão/servidor público nos atos administrativos, legislativos e jurisdicionais emanados do Estado.

É certo que, por motivos diversos (mutação jurisprudencial, in-dependência decisória, mudança de gestão, erros administrativos, erro

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judiciário, morosidade, discricionariedade administrativa ou legislativa consistente em motivação econômica, política, financeira, social, inter-nacional, etc.), os órgãos de poder estatal, passado um determinado lap-so de tempo, dão novo direcionamento a seus anteriores e vigentes com-promissos (modificando, anulando ou revogando seus atos legislativos, executivos ou jurisdicionais), deliberando, ou sendo impostos, a outras escolhas que afetam diretamente a boa-fé e a confiança das pessoas nos atos estatais.

Assim, no estudo da segurança jurídica, especialmente no que atine à aferição da legalidade/constitucionalidade e legitimidade dessas novas escolhas, se faz necessário o estudo do princípio da proteção da confiança, agregado ao cuidado de não se afetar o pleno exercício de qualquer das funções estatais, o que pode vir a prejudicar o interesse público primário.

Inicialmente, é indispensável diferenciar, na origem alemã, a segu-rança jurídica da proteção à confiança – confusão terminológica bastante comum no Brasil, pois, enquanto a segurança jurídica (Rechtssicherheit) é de caráter objetivo, a proteção à confiança (Vertrauensschutz) é subje-tiva. A esse respeito, Humberto Ávila:

O princípio da proteção da confiança (Vertrauensschutzprincip, principe de protection de la confiance légitime, principle of protection of legitima-te expectations) é diferenciado do princípio da segurança jurídica pelos seguintes critérios: (a) âmbito normativo – enquanto o princípio da segu-rança jurídica diz respeito ao ordenamento jurídico como um todo, fo-cando o âmbito macrojurídico, o princípio da confiança legítima relacio-na-se com um aspecto normativo do ordenamento jurídico, enfatizando um âmbito microjurídico; (b) âmbito pessoal – enquanto o princípio da segurança jurídica representa uma norma objetiva, não necessariamen-te vinculada a um sujeito específico, o princípio da confiança legítima protege o interesse de uma pessoa específica; (c) nível de concretização – enquanto o princípio da segurança jurídica refere-se, primordialmente, ao plano abstrato, o princípio da confiança legítima pressupõe o nível concreto de aplicação; (d) amplitude subjetiva de proteção – enquanto o princípio da segurança jurídica serve de instrumento de proteção de interesses coletivos, o princípio da proteção da segurança jurídica é neu-tro com relação ao interesse dos cidadãos, podendo tanto ser usado em seu favor quanto em seu desfavor, o princípio da proteção da confiança

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só é utilizado com a finalidade de proteger os interesses daqueles que se sentem prejudicados pelo exercício passado de liberdade juridicamente orientada. (Ávila, 2012, p. 368-369)

Segundo Hartmut Maurer, o princípio da proteção à confiança tem sua origem na sentença do Tribunal Administrativo de Terceira Instân-cia de Berlim, de 14.11.1956, DVBl., 1957, 503, em que, no embate entre a segurança jurídica e o princípio da legalidade (sempre alegado pela Administração para se permitir a invalidação de atos administrati-vos com efeitos ex tunc) até então prevalecente, passou-se a privilegiar a limitação da retratabilidade e invalidação de atos administrativos com efeitos benéficos a terceiros, respeitando-se a necessidade de proteção à confiança dos administrados, que teria assento axiológico tanto na cer-teza jurídica quanto na boa-fé e na lealdade, que devem permear a éti-ca do Estado de Direito Social. Posteriormente, ele seria consagrado no § 481 da Lei de Processo Administrativo Alemã de 1976 (Verwaltungs-verfahrensgesetz).

Após o início de sua aplicação em terras alemãs, o princípio da proteção da confiança foi acolhido e disperso pelo direito comunitário europeu e pelos direitos nacionais dos países europeus. O princípio é sistematizado por Hartmut Maurer2:

Proteção à confiança deve ser então aceita, quando (1) o beneficiado confiou na existência do ato administrativo, (2) sua confiança é digna de proteção e (3) seu interesse de proteção perante o interesse público prepondera no restabelecimento da legalidade. A dignidade da prote-ção da confiança deve ser negada, (a) quando o beneficiado deixou o

1 De acordo com esse dispositivo, a Administração não poderia, em um processo de invalidação de ato dela emanado, sob o argumentum ad verecundiam da necessidade de se respeitar irrefletidamente a legalidade, desconsiderar a confiança do cidadão e os efeitos práticos do ato a ser invalidado, por mais invalidade que ele detenha. Deve ser compatibilizada a proteção objetiva à segurança jurídica com a proteção da legalidade, a evitar a permanência no ordenamento de um ato ilegal e nulo (§ 1º do art. 48 da VwVfg), e também com a proteção subjetiva da confiança legítima, que pode até ser vedada (§§ 2º, 3º, 4º e 5º do art. 48 da VwVfg), como em situações em que o administrado induza a Administração a erro ou atue com dolo ou má-fé, ou não tenha qualquer atuação positiva a ser protegida. E como essa participação do administrado no ato invalidado ocorre excepcionalmente na vida real, não há fundamentação adequada na regra que determina a nulidade e a não produção de quaisquer efeitos do ato administrativo nulo sem considerar a confiança incutida no administrado, pois, do contrário, a norma estaria distante da realidade. A invalidação de um ato administrativo (permitida pela ótica objetiva da segurança jurídica) deveria, portanto, ser diferenciada da invalidação dos efeitos por ele produzidos (permitida com efeitos ex nunc em regra, pela ótica subjetiva da proteção da confiança).

2 Deve ser salientado que o conceito de retratação da doutrina alemã é correlato ao nosso conceito lato de invalidação, abarcando os institutos brasileiros da anulação e da revogação, mencionando a existência de retratação de atos administrativos jurídicos (revogação) e de atos administrativos antijurídicos (anulação).

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ato administrativo cair em desuso ou o obteve por outro meio desleal, (b) quando ele conhecia a antijuridicidade ou devesse conhecê-la ou (c) quando a antijuridicidade situa-se em seu âmbito de responsabilidade (por exemplo, porque ele deu declarações errôneas, em que é insignifi-cante se nisso lhe toca uma culpa ou não). Ademais, em regra, proteção à confiança somente é concedida, quando o beneficiado “atuou” sua con-fiança, ao ele tomar medidas ou disposições correspondentes (BVerwGE 24, 294, 296; comparar, porém, também – ainda duvidadora – BverwGE 48, 87, 93). A ponderação conduz, em atos administrativos com efeito de duração, regularmente a isto, que o ato administrativo, sem dúvida, pode ser retratado ex nunc, mas não ex tunc. Mas também excepcio-nalmente pode uma retratação ex nunc ser inadmissível, ou seja, então, quando o beneficiado, em confiança na existência do ato administrativo, alterou suas condições de vida incisiva e duradouramente e não mais corrigível [...]. Uma diferenciação correspondente entra em considera-ção junto a atos administrativos que, sem dúvida, têm como objeto uma prestação única, mas até agora somente em parte estão executados (retra-tação parcial, comparar BVerwGE 10, 308). Em decisões mais recentes, finalmente, ainda é direcionado a isto, se a retratação para o beneficiado é exigível (comparar BVerwGE 40, 147, 149). [sic] (Maurer, 2006, p. 325)

No Brasil, o princípio da proteção da confiança está consagrado, por exemplo, no art. 927, § 4º, do CPC de 2015, e estará sendo lesado pelo constituinte derivado, em relação a milhares de servidores civis que se viam protegidos pelas regras de transição das Emendas anteriores, pois confiaram na existência de uma proteção jurídica de seu regime previdenciário, dada pelo Estado, optaram pela manutenção de um vín-culo laboral com o Estado de acordo com aquele regramento em detri-mento de outras possíveis escolhas profissionais, e, repentinamente, por uma mudança de entendimento do legislador/constituinte derivado, se veem desprotegidos.

É de se salientar que o princípio da proteção da confiança deve ser aplicado a quaisquer atos dos entes estatais, de quaisquer dos Poderes; contudo, de acordo as especificidades e o tempo de cada Poder, como bem acentua Valter Shuenquener de Araújo:

O princípio da proteção da confiança pode provocar sérias objeções quando manejado de uma forma que impeça o pleno exercício de qual-quer das funções estatais. Quando empregado para proteger o particular diante de atos legislativos, o princípio acaba interferindo na liberdade de

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configuração política desse poder. Em face do administrador público, ele demanda uma revisão no exercício da sua discricionariedade. E, quando atua em relação aos atos jurisdicionais, a proteção da confiança pode ameaçar a independência do magistrado. Não é possível, do ponto de vista teórico e prático, estudar e aplicar o princípio da proteção da con-fiança uniformemente em relação a todos os tipos de manifestação do poder estatal. Cada uma das funções primordiais dos poderes republica-nos é capaz de criar e frustrar a confiança do particular de uma maneira específica. Cada poder tem feições próprias. Aliás, isso tem relação direta com o fato de cada poder estatal dirigir sua atenção primordialmente para um determinado momento temporal. Usualmente, o Poder Legislati-vo se ocupa do futuro, o Executivo se volta para o presente, enquanto que o Judiciário se preocupa com o passado. (Araújo, 2009, p. 165)

Destaca-se, por oportuno, excerto da obra de Humberto Ávila, acerca da necessidade de respeito à segurança jurídica, em quaisquer atos provenientes dos poderes estatais:

O princípio da segurança jurídica determina a busca dos ideais de cog-noscibilidade, confiabilidade e calculabilidade no Direito. Esses ideais (porém, e com a permissão para o emprego de uma metáfora) compõem apenas a parte da segurança jurídica que pode ser vista acima do mar, tal qual um iceberg, cuja ponta esconde uma imensa, externa e profunda base submersa. Como o princípio da segurança jurídica delimita os con-tornos daquilo que é indispensável para que o cidadão possa, de acordo com o Direito, plasmar o seu presente e planejar, livre e autonomamente, sem engano ou injustificada surpresa, o seu futuro, inquiri-lo é, a um só tempo, investigar, de um lado, os direitos de liberdade, de igualdade e de dignidade, e de outro, os princípios relativos à atuação estatal. Mais do que isso: os ideais que o integram revelam, indiretamente, o tipo de sociedade que se visa a constituir, pelos tipos de Estado e de cidadão que resultam da sua configuração. A exigência de cognoscibilidade permite que o cidadão possa “saber” aquilo que “pode ou não fazer” de acordo com o Direito. Essa exigência, dentro de um estado de confiabilidade e de calculabilidade, capacita-o a, com autonomia e com liberdade, “fazer ou não fazer”, de modo que possa “ser ou não ser” aquilo que deseja e que tem condições de ser. A segurança jurídica, em outras palavras, é um instrumento para que o cidadão possa saber, antes, e com seriedade, o que pode fazer, de modo que possa melhor ser o que pode e quer ser. Como pontifica Ataliba, seguros são os cidadãos que têm certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos

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demais cidadãos dele na discreparão. Em suma, a segurança jurídica é instrumento de realização da liberdade, e a liberdade é meio de realiza-ção da dignidade. (Ávila, 2012, p. 95)

Sublinhe-se a seguinte passagem da obra do Professor Humberto Ávila:

A exigência de cognoscibilidade permite que o cidadão possa “saber” aquilo que “pode ou não fazer” de acordo com o Direito. Essa exigência, dentro de um estado de confiabilidade e de calculabilidade, capacita-o a, com autonomia e com liberdade, “fazer ou não fazer”, de modo que possa “ser ou não ser” aquilo que deseja e que tem condições de ser. A segurança jurídica, em outras palavras, é um instrumento para que o cidadão possa saber, antes, e com seriedade, o que pode fazer, de modo que possa melhor ser o que pode e quer ser.

Ora, há algo mais calculável e programável que uma aposentado-ria para o trabalhador/servidor público? Há algo mais esperado, tendo em vista o envelhecimento e a saúde mais frágil do trabalhador/servidor público, do que uma aposentadoria? Há algo mais relevante que a legis-lação previdenciária em vigor, a se confiar, para alguém que espera uma aposentadoria?

É certo que, diferentemente dos Poderes Executivo e Judiciário, os membros do Poder Legislativo possuem uma liberdade criadora maior, para aperfeiçoar o ordenamento e mudar as regras que precisem ser mo-dificadas, nos limites e nas formas permitidos pela Constituição e legisla-ção respectiva. Todavia, o legislador não pode violar as expectativas le-gítimas dos cidadãos e editar uma lei ou alterar a Constituição, pondo de lado o princípio da proteção da confiança, desconsiderando a situação de todos aqueles que eram protegidos pela regra até então vigente, ge-rando, com isso, frustrações e inseguranças. Um comportamento como esse, por parte do próprio Estado-legislador (como o pretende a PEC 287), traz ao cidadão a sensação de que a legislação até então vigente não tinha valor ou eficácia alguma, e com isso abala os fundamentos que legitimam o princípio da legalidade, e, por decorrência, o próprio Estado Democrático de Direito. É como descreveu Patrícia Baptista, em sua tese de doutorado:

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A rigor, a hipótese de um conflito entre o princípio da legalidade e o princípio da segurança jurídica não deixa de causar certa perplexidade. Uma vez que a legalidade representa uma densificação da segurança ju-rídica construída no Estado de Direito, simplesmente não poderia haver, na origem, conflito entre uma e outra. Ambas operam como instrumentos destinados a assegurar a estabilidade e a previsibilidade da ordem jurídi-ca. [...] Sucede, porém, que houve, historicamente, um esgarçamento da legalidade como parâmetro da segurança jurídica. A inflação legislativa, a instabilidade das leis e a imprecisão do seu conteúdo são fatores que contribuíram para que a legalidade deixasse de ser a única expressão da segurança jurídica. (Baptista, 2006, p. 58)

Valter Shuenquener de Araújo, mais uma vez de modo acertado, assim descreve o entendimento prevalecente:

Segundo Beatrice Weber-Dürler, não se deve obstar a proteção de uma expectativa nos casos de mudança legislativa, sob o argumento de que o particular sempre deverá contar com essas alterações. A supressão da tu-tela de expectativas com base nesse pensamento esvaziaria, por comple-to, o objetivo do princípio da proteção da confiança. Embora as leis não sejam perpétuas, especialmente nos dias de hoje, as alterações que elas sofrem devem levar em consideração a confiança que nelas foi deposita-da pelos seus destinatários. Consoante adverte Karl Larenz, o legislador nunca elabora uma lei para toda a eternidade, mas ele também não a cria para que tenha vigência por um único dia e, por isso, “las leyes deben regir un futuro previsible”. Sobre o tema, também é oportuna a assertiva de Katharina Sobota de que “o que hoje é uma lei não deveria, dentro do que seja possível, sofrer uma abrupta e infundada modificação”. O legislador não tem liberdade ilimitada na criação de normas, e um dos objetivos do princípio da proteção da confiança é justamente o de fixar alguns limites. Nesse contexto, a Constituição exercerá uma valiosa fun-ção na preservação de expectativas legítimas. O Estado de Direito do século XX, e que se estende pelo século XXI, tem como um de seus prin-cipais fundamentos a necessidade de que a Constituição seja observada por todas as demais normas jurídicas. Isso serve para conter eventuais impulsos de uma maioria circunstancial tendente a abolir direitos previs-tos no texto supremo. [...] A Constituição, portanto, também desempenha um relevante papel para o alcance da estabilidade das relações sociais e deve servir como instrumento para possibilitar uma firme tutela das expectativas legítimas dos cidadãos contra inesperadas alterações legais. Sendo assim, o legislador também pode sofrer uma vinculação futura da

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sua atuação. Um dispositivo legal ou constitucional criado no passado poderá, portanto, com amparo no princípio da proteção da confiança, restringir, sem agredir a democracia, a atuação do parlamento no futuro. (Araújo, 2009, p. 172-173)

Também as lições da Professora Patrícia Baptista, em sua tese, de-vem ser reproduzidas, a respeito da aplicação do princípio em relação ao legislador:

De um modo geral, os Tribunais Constitucionais alemão, espanhol, ita-liano e português têm admitido a oposição do princípio da proteção da confiança ao legislador como parâmetro para o controle de constitucio-nalidade das leis. [...] A ninguém é dado confiar na vigência eterna de uma lei. Da mesma forma, a proteção da confiança não incide – porque a confiança não pode surgir legitimamente nesses casos – se há contro-vérsia sobre a constitucionalidade da lei, se esta era assumidamente pro-visória, se uma nova legislação estava em vias de aprovação ou, ainda, se a própria interpretação da legislação vigente é confusa e controvertida. A situação será outra, porém, na hipótese de retroatividade normativa. No Estado de Direito, o cidadão deve poder confiar em que as posições jurídicas por ele assumidas, com base em normas válidas e vigentes, al-cancem os efeitos originalmente previstos. Mesmo que o regime legal vi-gente tenha de ser alterado por força de um interesse público prevalente, o particular deve poder contar com a proteção de sua posição jurídica, seja pela previsão de uma norma transitória, seja por meio de uma com-pensação em dinheiro. Nessas circunstâncias, a autonomia do legislador não se mantém absoluta, mas pode ser limitada para a proteção das ex-pectativas que o cidadão legitimamente depositou na estabilidade da lei. (Baptista, 2006, p. 133)

Dessa forma, a validade e, principalmente, a eficácia das Emendas Constitucionais nºs 20/1998, 41/2003 e 47/2005, no que atine às regras de transição por elas criadas, não podem ser desprezadas pelo consti-tuinte derivado, ao analisar o art. 24 da PEC 287/2016, que pretende simplesmente revogar tais regras de transição, para pôr em seu lugar nenhuma regra de transição, caso o servidor público tenha menos de 50 anos de idade, se homem, e 45 anos de idade, se mulher. Para além da ofensa à isonomia que tal distinção apenas pela idade do trabalhador representa, há flagrantemente outra ofensa, que ocorre em relação à se-gurança jurídica, pois o servidor detinha em seu patrimônio jurídico um

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verdadeiro direito a se aposentar segundo as regras de transição até en-tão existentes, válidas e eficazes, e que repentinamente são revogadas, com tal Projeto de Emenda. Maior ofensa ao próprio Estado de Direito não existirá!

Um pilar do Estado – a segurança jurídica – se vê corroído com esse dispositivo do art. 24 da PEC.

CoNCluSão

Em nosso entendimento, o referido art. 24 da PEC 287/2016 trata de dispositivo de inconstitucionalidade flagrante, seja por que fere a igualda-de entre as pessoas que já se encontram protegidas por regras de transição em vigor, seja por que delimita o direito por um paradigma (etário) que não tem qualquer conexão com o valor social do trabalho, que é funda-mento da República brasileira (art. 1º, IV, da CF), e, além disso, a eventual aprovação da PEC 287/2016, com tal dispositivo, representará verdadeiro malogro da segurança jurídica e do próprio Estado de Direito, posto que frustrará a confiança depositada por todos aqueles que atualmente já pos-suem em seu patrimônio jurídico a expectativa de se aposentarem sob as regras de transição em vigor. Repita-se: o Estado-legislador não tem a prerrogativa de suspender a aplicação das regras de transição por ele mesmo editadas, e até então em vigor, sem observar o grave impacto que essa sua atitude acarretará para vários trabalhadores do serviço público. Assim sendo, o texto final da PEC 287 deve ser revisado para fins de ser excluída a previsão do art. 24, mantendo-se as regras de transição até então em vigor, sob pena de diversas inconstitucionalidades e relevante abaulamento do Estado Democrático de Direito, aplicando-se suas novas regras apenas aos novos servidores que ingressem ao serviço público após eventual promulgação da Emenda Constitucional que venha a representar a Reforma buscada pelo proponente.

referêNCIaS

ARAÚJO, Valter Shuenquener de. O princípio da proteção da confiança: uma nova forma de tutela do cidadão diante do Estado. Niterói: Impetus, 2009.

ÁVILA, Humberto. Teoria da segurança jurídica. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2014.

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BAPTISTA, Patricia Ferreira. Segurança jurídica e proteção da confiança legítima no direito administrativo: análise sistemática e critérios de aplicação no direito administrativo brasileiro 01.01.2006. 374 f. Doutorado em Direito, Instituição de Ensino: USP, São Paulo. Biblioteca Depositária: FacDir USP.

MAURER, Hartmut. Direito administrativo geral. Barueri: Manole, 2006.

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Parte Geral – Doutrina

As Novas Regras de Concessão de Benefícios Previdenciários – Como e Quais São as Regras e Condições para Concessão e Obtenção de Benefícios Previdenciários após as Leis nºs 13�134, 13�135 e 13�183 de 2015

LuíS RODOLFO CRuz E CREuz1

Advogado e Consultor em São Paulo, Sócio de Cruz & Creuz Advogados, Doutorando em Direi-to Comercial pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP, Mestre em Re-lações Internacionais pelo Programa Santiago Dantas do convênio das Universidades Unesp/Unicamp/PUC-SP, Mestre em Direito e Integração da América Latina pelo Prolam – Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo – USP, Pós-Graduado em Direito Societário – LLM – Direito Societário do Insper (São Paulo), Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Autor do livro Acordo de Quotistas – Análise do Instituto do Acordo de Acionistas Previsto na Lei nº 6.404/1976 e Sua Aplicabilidade nas Sociedades Limitadas à Luz do Novo Código Civil Brasileiro, com Con-tribuições da Teoria dos Jogos (São Paulo: IOB-Thomson, 2007). Coautor do livro Organizações Internacionais e Questões da Atualidade, organizado por Jahyr-Philippe Bichara (Natal/RN, 2011 – ISBN 978-85-7273-722-7), sendo autor do Capítulo “Organizações Internacionais e a Integração Econômica: Revisões de uma Teoria Geral” (p. 67 a 101). Autor dos livros Commer-cial and Economic Law in Brazil (Holanda, 2012) e Defesa da Concorrência no Mercosul – Sob uma Perspectiva das Relações Internacionais e do Direito (São Paulo, 2013). Coautor do livro Direito dos Negócios Aplicado – Volume I – Do Direito Empresarial, coordenado por Elias M. de Medeiros Neto e Adalberto Simão Filho (São Paulo, 2015), sendo autor do Capítulo “Acordo de Quotistas Aplicado aos Planejamentos Sucessórios”.

DAnIELA WAgnER2

Advogada em São Paulo, Advogada Associada de Cruz & Creuz Advogados, Bacharel em Direi-to pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo.

SUMÁRIO: I – Aposentadoria por tempo de contribuição e a fórmula 85/95 progressiva; II – Auxílio-doença; III – Pensão por morte; IV – Auxílio-reclusão; V – Seguro-desemprego; VI – Seguro-defeso; Considerações finais; Referências.

A batalha não é para reforma da lei, mas para a reforma do costume. A lei, especialmente com as modificações mais recentes, faz pelo condena-do aquilo que pode. Não precisa pretender tudo do estado. Infelizmente este é um dos hábitos que cada vez mais se consolidam entre os homens;

1 E-mail: [email protected] – @LuisCreuz.2 E-mail: [email protected].

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e também este é um aspecto da crise da civilização. Sobretudo não se deve pedir ao Estado aquilo que o Estado não pode dar. O Estado pode impor aos cidadãos o respeito, mas não pode infundir o amor. O Estado é um gigantesco robô, do qual a ciência pode fabricar o cérebro mas não o coração.3

Em matéria previdenciária, tivemos recentes alterações legislati-vas advindas de três importantes medidas provisórias (“MPs”) que fo-ram convertidas em lei no final do ano de 2015. Vale dizer que, uma vez convertidas em lei, várias regras tratadas nessas medidas provisórias foram definitivamente implementadas em nosso ordenamento jurídico, fazendo com que alguns benefícios fossem modificados.

Assim, o presente estudo visa a identificar essas mudanças, nota-damente quanto à aposentadoria por tempo de contribuição, ao auxílio--doença, à pensão por morte, ao auxílio-reclusão, ao seguro-desempre-go e ao seguro-defeso.

I – aPoSeNtadorIa Por temPo de CoNtrIbuIção e a fórmula 85/95 ProgreSSIva

A aposentadoria por tempo de contribuição, assim denominada pela Emenda Constitucional nº 20/1998, é, nas palavras de Fernando Rubin4, a “maior aposentadoria previdenciária”, pois “representa a es-sência do sistema de seguridade, com precedência de fonte de custeio bem definida e aferição de benesse vitalícia, não mais sujeita, a partir da sua concessão, à contribuição e que gera a pensão por morte aos dependentes”.

A Medida Provisória nº 667, editada em 18 de junho de 2015 e convertida em lei (Lei nº 13.183/20155), trouxe para nosso ordenamento

3 CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. 7. ed. Trad. José Antônio Cardinalli. Campinas: Bookseller, 2006. p. 72.

4 RUBIN, Fernando. Aposentadorias previdenciárias no Regime Geral da Previdência Social: questões centrais de direito material e de direito material e de direito processual. São Paulo: Atlas, 2015. p. 29.

5 Lei nº 13.183, de 4 de novembro de 2015. Altera as Leis nºs 8.212, de 24 de julho de 1991, e 8.213, de 24 de julho de 1991, para tratar da associação do segurado especial em cooperativa de crédito rural e, ainda essa última, para atualizar o rol de dependentes, estabelecer regra de não incidência do fator previdenciário, regras de pensão por morte e de empréstimo consignado, a Lei nº 10.779, de 25 de novembro de 2003, para assegurar pagamento do seguro-defeso para familiar que exerça atividade de apoio à pesca, a Lei nº 12.618, de 30 de abril de 2012, para estabelecer regra de inscrição no regime de previdência complementar dos servidores públicos federais titulares de cargo efetivo, a Lei nº 10.820, de 17 de dezembro de 2003, para dispor sobre o pagamento de empréstimos realizados por participantes e assistidos com entidades fechadas e abertas de previdência complementar e a Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990; e dá outras providências.

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a fórmula conhecida como “85/95 progressiva”. Tal regra surgiu como uma alternativa para a inaplicabilidade do fator previdenciário no cálcu-lo da aposentadoria por tempo de contribuição.

Importante mencionar que a fórmula 85/95 surgiu primeiramente com a Emenda nº 45 à Medida Provisória nº 664, aprovada pela Câmara dos Deputados em 13 de maio de 2015. Todavia, tal mudança não foi sancionada pela Presidente da República, que a vetou com a justificati-va de que a alteração traria “risco ao equilíbrio financeiro e atuarial da previdência social, tratado pelo art. 201 da Constituição”6.

Após o veto, o Executivo instituiu a Medida Provisória nº 667/2015, como uma “proposta alternativa”, garantindo, ao bem da verdade, a im-plementação da fórmula que já havia sido tratada na Emenda nº 45, com algumas alterações. Novamente, portanto, o tema voltou ao debate político, com “outra roupagem” e em outro momento histórico – e deve-mos destacar que o debate do equilíbrio financeiro e atuarial da previ-dência social não é atual e de hoje, e, sim, vem sendo carregado desde a reforma realizada na década de 90, mas que a cada novo inchaço da “máquina pública” e das contas públicas, aumentando o déficit público, este tema sempre volta à baila.

Mas com a fórmula 85/95, o segurado que preencher o requisi-to para a aposentadoria por tempo de contribuição poderá optar pela não incidência do fator previdenciário no cálculo de sua aposentadoria, quando o total resultante da soma de sua idade e de seu tempo de con-tribuição, incluídas as frações, na data de requerimento da aposentado-ria, for igual ou superior a 95 pontos, se homem, observando o tempo mínimo de contribuição de 35 anos ou igual ou superior a 85 pontos, se mulher, observando o tempo mínimo de contribuição de 30 anos7.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13183.htm>. Acesso em: 21 set. 2016.

6 Mensagem nº 213, de 17 de junho de 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Msg/VEP-213.htm>. Acesso em: 21 set. 2016.

7 Lei nº 13.183, de 4 de novembro de 2015. “Art. 29-C. O segurado que preencher o requisito para a aposentadoria por tempo de contribuição poderá optar pela não incidência do fator previdenciário no cálculo de sua aposentadoria, quando o total resultante da soma de sua idade e de seu tempo de contribuição, incluídas as frações, na data de requerimento da aposentadoria, for: I – igual ou superior a noventa e cinco pontos, se homem, observando o tempo mínimo de contribuição de trinta e cinco anos; ou II – igual ou superior a oitenta e cinco pontos, se mulher, observado o tempo mínimo de contribuição de trinta anos”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13183.htm>. Acesso em: 21 set. 2016.

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A título de ilustração, apresentamos a seguinte tabela:

Homem mulHerTempo mínimo de

contribuição35 30

Idade 60 55Total 95 85

É plenamente possível variar o tempo de contribuição para mais e a idade para menos, pois a lei não estabeleceu uma idade mínima, mas tão somente um tempo de contribuição mínimo. O importante é que a somatória do tempo de contribuição com a idade do segurado resulte em 95 para homens e 85 para mulheres. Exemplificadamente, temos:

Homem mulHerTempo mínimo de

contribuição36 31

Idade 59 54Total 95 85

Importante destacar e alertar que tal fórmula, como já dissemos, é uma alternativa para aplicação do fator previdenciário, ou seja, só será aplicável se for mais favorável ao segurado comparado ao cálculo de sua aposentadoria com a incidência do fator.

Aqui, ressaltamos que o fator previdenciário é uma fórmula mate-mática que combina as variáveis idade, tempo de contribuição e expec-tativa de sobrevida do segurado. Tal fator foi criado com o objetivo de, por um lado, desestimular aposentadorias precoces, visto que, quanto menor a idade, maior a expectativa de sobrevida e, consequentemente, menos favorável o fator previdenciário; e, por outro, equilibrar em parte a expectativa atuarial dos fundos previdenciários, dado o já mencionado debate do equilíbrio financeiro da previdência social – considerando o aumento da expectativa de vida da população, o custo de pagamento desta sobrevida aumentou, assim como os demais incidentes, levando o governo a pensar em alternativos de financiamento deste “caixa”.

Ainda, a fórmula 85/95 possui um critério progressivo, visto que as somas de idade e de tempo de contribuição serão majoradas em um ponto8, conforme tabela a seguir:

8 Lei nº 13.183, de 4 de novembro de 2015. “Art. 29-C. [...] § 2º As somas de idade e de tempo de contribuição previstas no caput serão majoradas em um ponto em: I – 31 de dezembro de 2018; II – 31 de dezembro de 2020; III – 31 de dezembro de 2022; IV – 31 de dezembro de 2024; e V – 31 de dezembro de 2026”.

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Homem mulHerAté 31 de dezembro de 2018 95 8531 de dezembro de 2018 96 86

31 de dezembro de 2020 97 8731 de dezembro de 2022 98 8831 de dezembro de 2024 99 8931 de dezembro de 2026 100 90

Com relação aos professores e professoras, o tempo mínimo de contribuição, após comprovado exclusivamente tempo de efetivo exer-cício de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e mé-dio, será de, respectivamente, trinta e vinte e cinco anos, e serão acresci-dos cinco pontos à soma da idade com o tempo de contribuição9.

II – auXílIo-doeNça

O auxílio-doença, previsto no art. 59 da Lei nº 8.213/199110, é o benefício pago ao segurado em caso de incapacidade temporária para o trabalho por acidente ou doença.

Carlos Alberto de Castro e João Batista Lazzari11 definem o auxílio--doença como

um benefício concedido ao segurado impedido de trabalhar por doença ou acidente, ou por prescrição médica (por exemplo, no caso de gravidez de risco) acima do período previsto em lei como sendo de responsabili-dade do empregador e, nos casos de segurados sem vínculo de emprego, a partir do início da incapacidade temporária.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13183.htm>. Acesso em: 21 set. 2016.

9 Lei nº 13.183, de 4 de novembro de 2015. “Art. 29-C. [...] § 3º Para efeito de aplicação do disposto no caput e no § 2º, o tempo mínimo de contribuição do professor e da professora que comprovarem exclusivamente tempo de efetivo exercício de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio será de, respectivamente, trinta e vinte e cinco anos, e serão acrescidos cinco pontos à soma da idade com o tempo de contribuição”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13183.htm>. Acesso em: 21 set. 2016.

10 Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. “Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213cons.htm>. Acesso em: 22 set. 2016.

11 CASTRO, Carlos Alberto de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, ago. 2015. p. 779.

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Tal benefício sofreu consideráveis mudanças com o advento da Lei nº 13.135/2015, conforme mostraremos.

A primeira delas é como o valor do benefício será calculado. An-tes da recente lei, o cálculo era feito por meio de uma média aritmética simples dos maiores salários de contribuição correspondentes a 80% de todo o período contributivo de 07/1994 em diante, com renda mensal correspondente a 91% do salário de benefício, limitado ao teto estabe-lecido pelo INSS.

A Lei nº 13.135/2015, advinda da MP 664, acrescentou o § 10 ao art. 29, modificando o teto do auxílio-doença. Com essa alteração, o auxílio-doença não poderá exceder a média aritmética simples dos últimos 12 (doze) salários de contribuição, inclusive em caso de remu-neração variável, ou, se não alcançado o número de 12 (doze), a média aritmética simples dos salários de contribuição existentes12.

O cálculo inicial permanece o mesmo, sendo feita a média aritmé-tica simples dos 80% maiores salários de contribuição de 07/1994 em diante, multiplicado por 91%. Todavia, agora se deve calcular a média aritmética simples dos últimos 12 (doze) salários de benefício (ou, caso não se alcance a doze os últimos salários de contribuição, é aplicada a média dos salários de contribuição existentes), sendo o resultado obtido considerado o novo teto, limitando-se, assim, o valor de renda inicial mensal do benefício.

Para sistematizar e facilmente visualizarmos, consideraremos uma situação hipotética em que a média dos 80% maiores salários de contri-buição do segurado resultou em R$ 2.000,00 e a média dos seus últimos doze salários de contribuições resultou em R$ 1.000,00:

Antes dA modificAção depois dA modificAçãoMédia aritmética dos 80% maio-res salários de contribuição

R$ 2.000,00 R$ 2.000,00

Multiplicado por 91% R$ 1.820,00 R$ 1.820,00

12 Lei nº 13.135, de 17 de junho de 2015. Altera as Leis nº 8.213, de 24 de julho de 1991, nº 10.876, de 2 de junho de 2004, nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e nº 10.666, de 8 de maio de 2003, e dá outras providências. “Art. 29. [...] § 10. O auxílio-doença não poderá exceder a média aritmética simples dos últimos 12 (doze) salários-de-contribuição, inclusive em caso de remuneração variável, ou, se não alcançado o número de 12 (doze), a média aritmética simples dos salários-de-contribuição existentes”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13135.htm>. Acesso em: 22 set. 2016.

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Antes dA modificAção depois dA modificAçãoTeto Estabelecido pelo INSS

(p. ex.: R$ 4.663,7513)Média aritmética dos 12 últi-mos salários de contribuição(p. ex.: R$ 1.000,00)

Renda inicial mensal do bene- -fício

R$ 1.820,00 R$ 1.000,00

Assim, ilustramos o quão prejudicial essa nova regra foi ao segura-do. É defensável, inclusive, ser tal previsão inconstitucional por colidir com o art. 201 da Constituição Federal (caput e § 1114), podendo o novo teto ser considerado uma limitação do salário de benefício. Naturalmen-te, quaisquer questionamentos, discussões ou pleitos relacionados a tal inconstitucionalidade (em tese) devem ser avaliados caso a caso, sempre considerando a efetiva necessidade de que a matéria seja levada aos Tribunais brasileiros para a avaliação e decisão concreta.

A segunda alteração foi com a nova redação dada ao art. 26, inci-so II, à Lei nº 8.213/1991, especialmente com relação à lista de doenças graves.

Com a mudança, os benefícios por incapacidade (auxílio-doença e aposentadoria por invalidez) serão isentos de carências nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido de alguma das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e da Previdência Social, atualizada a cada 3 (três) anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado15.

13 Benefícios: Índice de reajuste para segurados que recebem acima do mínimo é de 6,23% em 2015. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/2015/01/beneficios-indice-de-reajuste-para-segurados-que-recebem- -aci ma-do-minimo-e-de-623-em-2015/>. Acesso em: 22 set. 2016.

14 Constituição Federal de 1988. “Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial [...] § 11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 22 set. 2016.

15 Lei nº 13.135, de 17 de junho de 2015. “Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações: [...] II – auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido de alguma das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e da Previdência Social, atualizada a cada 3 (três) anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13135.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.

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Na redação anterior, a lista era elaborada também pelo Ministério do Trabalho. Ademais, ao rol de doenças previstas no art. 15116 foram acrescentadas a esclerose múltipla e hepatopatia grave.

A nova lei trouxe a possibilidade de instituição de acordos de co-operação para que as perícias médicas não sejam feitas exclusivamente por perito do INSS. Assim, nos casos de impossibilidade de realização de perícia médica pelo órgão ou setor próprio competente, o INSS po-derá celebrar convênios, termos de execução descentralizada, termos de fomento ou de colaboração, contratos não onerosos ou acordos de cooperação técnica para realização de perícia médica, por delegação ou simples cooperação técnica, sob sua coordenação e supervisão, com órgãos e entidades públicos ou que integrem o Sistema Único de Saúde (SUS)17. Neste ponto nos pareceu bastante acertada e avançada a me-dida, dado que pode “desafogar” e minimizar o já tão problemático e demorado agendamento de perícias do INSS.

Por último, foram acrescidos os §§ 6º e 7º ao art. 6018. O primeiro estabelece que o segurado que durante o gozo do auxílio-doença vier a exercer atividade que lhe garanta subsistência poderá ter o benefício cancelado a partir do retorno à atividade. Já o segundo dispõe que, caso o segurado, durante o gozo do auxílio-doença, venha a exercer ativida-

16 Lei nº 13.135, de 17 de junho de 2015. “Art. 151. Até que seja elaborada a lista de doenças mencionada no inciso II do art. 26, independe de carência a concessão de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez ao segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido das seguintes doenças: tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, esclerose múltipla, hepatopatia grave, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante), síndrome da deficiência imunológica adquirida (Aids) ou contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13135.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.

17 Lei nº 13.135, de 17 de junho de 2015. “Art. 60. [...] § 5º Nos casos de impossibilidade de realização de perícia médica pelo órgão ou setor próprio competente, assim como de efetiva incapacidade física ou técnica de implementação das atividades e de atendimento adequado à clientela da previdência social, o INSS poderá, sem ônus para os segurados, celebrar, nos termos do regulamento, convênios, termos de execução descentralizada, termos de fomento ou de colaboração, contratos não onerosos ou acordos de cooperação técnica para realização de perícia médica, por delegação ou simples cooperação técnica, sob sua coordenação e supervisão, com: I – órgãos e entidades públicos ou que integrem o Sistema Único de Saúde (SUS)”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13135.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.

18 Lei nº 13.135, de 17 de junho de 2015. “Art. 60. [...] § 6º O segurado que durante o gozo do auxílio- -doença vier a exercer atividade que lhe garanta subsistência poderá ter o benefício cancelado a partir do retorno à atividade. § 7º Na hipótese do § 6º, caso o segurado, durante o gozo do auxílio-doença, venha a exercer atividade diversa daquela que gerou o benefício, deverá ser verificada a incapacidade para cada uma das atividades exercidas”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13135.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.

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de diversa daquela que gerou o benefício, deverá ser verificada a inca-pacidade para cada uma das atividades exercidas.

III – PeNSão Por morte

A pensão por morte, prevista no art. 201, V, da Constituição Fede-ral19, é o benefício concedido ao dependente em caso de falecimento de segurado. O benefício, segundo Carlos Alberto de Castro e João Batista Lazzari, é de “prestação de pagamento continuado, substituidora da re-muneração do segurado falecido”20.

De acordo com as regras anteriores, não havia tempo mínimo de contribuição, prazo mínimo de casamento e nem prazos para manuten-ção do recebimento.

A primeira mudança foi quanto à possibilidade de perda da pensão por morte por indignidade21. Regra já existente no Direito Civil, perde o direito à pensão por morte o dependente que for condenado definitiva-mente por ter matado dolosamente o instituidor da pensão. Nota-se que a lei prevê o trânsito em julgado, diferentemente da MP 664, que, sem essa previsão, desrespeitava o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa.

Também perde o direito ao benefício se comprovada, a qualquer tempo, em processo judicial, simulação ou fraude no casamento ou união estável com objetivo de constituir benefício previdenciário22.

Quanto à cessação da pensão por morte, houve relevantes modifi-cações, principalmente para os cônjuges e companheiros.

19 Constituição Federal de 1988. “Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: [...] V – pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.

20 CASTRO, Carlos Alberto de; LAZZARI, João Batista. Op. cit., p. 817.21 Lei nº 13.135, de 17 de junho de 2015. “Art. 74. [...] § 1º Perde o direito à pensão por morte, após o trânsito

em julgado, o condenado pela prática de crime de que tenha dolosamente resultado a morte do segurado”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13135.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.

22 Lei nº 13.135, de 17 de junho de 2015. “Art. 74. [...] § 2º Perde o direito à pensão por morte o cônjuge, o companheiro ou a companheira se comprovada, a qualquer tempo, simulação ou fraude no casamento ou na união estável, ou a formalização desses com o fim exclusivo de constituir benefício previdenciário, apuradas em processo judicial no qual será assegurado o direito ao contraditório e à ampla defesa”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13135.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.

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Para os filhos e irmãos, o direito à percepção de cada cota indivi-dual cessará23:

(i) ao completar 21 (vinte e um) anos de idade, salvo se for invá-lido ou com deficiência;

(ii) para filho ou irmão inválido, pela cessação da invalidez;

(iii) para filho ou irmão que tenha deficiência intelectual ou men-tal ou deficiência grave, pelo afastamento da deficiência, nos termos do regulamento.

Para os dependentes filhos e irmãos o benefício cessa aos 21 anos, salvo se inválidos, hipótese em que não há tempo mínimo de concessão do benefício.

Já, para cônjuge ou companheiro, que antes do advento da referi-da lei tinham benefício vitalício, cessará a pensão por morte24:

(i) se inválido ou com deficiência, pela cessação da invalidez ou pelo afastamento da deficiência;

(ii) em 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que o segurado tenha vertido 18 (dezoito) contribuições mensais ou se o ca-samento ou a união estável tiverem sido iniciados em menos de 2 (dois) anos antes do óbito do segurado;

(iii) transcorridos os seguintes períodos, estabelecidos de acordo com a idade do beneficiário na data de óbito do segurado, se o óbito ocorrer depois de vertidas 18 (dezoito) contribuições

23 Lei nº 13.135, de 17 de junho de 2015. “Art. 77. [...] § 2º O direito à percepção de cada cota individual cessará: [...] II – para filho, pessoa a ele equiparada ou irmão, de ambos os sexos, ao completar 21 (vinte e um) anos de idade, salvo se for inválido ou com deficiência; III – para filho ou irmão inválido, pela cessação da invalidez; IV – para filho ou irmão que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave, pelo afastamento da deficiência, nos termos do regulamento [...]”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13135.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.

24 Lei nº 13.135, de 17 de junho de 2015. “Art. 77. [...] § 2º [...] V – para cônjuge ou companheiro: a) se inválido ou com deficiência, pela cessação da invalidez ou pelo afastamento da deficiência, respeitados os períodos mínimos decorrentes da aplicação das alíneas b e c; b) em 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que o segurado tenha vertido 18 (dezoito) contribuições mensais ou se o casamento ou a união estável tiverem sido iniciados em menos de 2 (dois) anos antes do óbito do segurado; c) transcorridos os seguintes períodos, estabelecidos de acordo com a idade do beneficiário na data de óbito do segurado, se o óbito ocorrer depois de vertidas 18 (dezoito) contribuições mensais e pelo menos 2 (dois) anos após o início do casamento ou da união estável: 1) 3 (três) anos, com menos de 21 (vinte e um) anos de idade; 2) 6 (seis) anos, entre 21 (vinte e um) e 26 (vinte e seis) anos de idade; 3) 10 (dez) anos, entre 27 (vinte e sete) e 29 (vinte e nove) anos de idade; 4) 15 (quinze) anos, entre 30 (trinta) e 40 (quarenta) anos de idade; 5) 20 (vinte) anos, entre 41 (quarenta e um) e 43 (quarenta e três) anos de idade; 6) vitalícia, com 44 (quarenta e quatro) ou mais anos de idade”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13135.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.

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mensais e pelo menos 2 (dois) anos após o início do casamen-to ou da união estável:

idAde de referênciA (em Anos)

durAção dA pensão (em Anos)

Menor de 21 321 a 26 627 a 29 1030 a 40 1541 a 43 20

44 ou mais Vitalício

Nota-se que agora só terá benefício vitalício o cônjuge ou com-panheiro inválido ou com deficiência ou que na data do óbito tiver 44 anos ou mais, mas desde que o falecido tenha contribuído 18 meses para o INSS e que o casal tenha, no mínimo, 2 anos de convivência ou casamento.

Importante observar que essa tabela não será estática, pois sempre dependerá da expectativa de sobrevida estabelecida pelo IBGE25.

Iv – auXílIo-reCluSão

Com previsão também constitucional (art. 201, IV26), o auxílio-re-clusão é o benefício concedido aos dependentes do segurado de baixa renda recolhido à prisão que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço27.

O benefício tem um caráter social, pois os dependentes necessi-tam de subsistência que não poderá ser provida pelo segurado enquanto

25 Lei nº 13.135, de 17 de junho de 2015. “Art. 77. [...] § 3º Após o transcurso de pelo menos 3 (três) anos e desde que nesse período se verifique o incremento mínimo de um ano inteiro na média nacional única, para ambos os sexos, correspondente à expectativa de sobrevida da população brasileira ao nascer, poderão ser fixadas, em números inteiros, novas idades para os fins previstos na alínea b do inciso VII do caput, em ato do Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, limitado o acréscimo na comparação com as idades anteriores ao referido incremento”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- -2018/2015/Lei/L13135.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.

26 Constituição Federal de 1988. “Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: [...]IV – salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/cons-tituicaocompilado.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.

27 Lei nº 8.213, de 24 de junho de 1991: “Art. 80. O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos dependentes do segurado recolhido à prisão, que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso em: 9 nov. 2016.

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estiver preso. Nesta linha, citando ainda Carlos Alberto de Castro e João Batista Lazzari,

sendo a Previdência um sistema que garante não só ao segurado, mas também à sua família, a subsistência em caso de eventos que não permi-tam a manutenção por conta própria, é justo que, da mesma forma que ocorre com a pensão por falecimento, os dependentes tenham direito ao custeio de sua sobrevivência pelo sistema de seguro social, diante do ideal de solidariedade.28

No tocante às recentes alterações legislativas, ressaltamos que as regras para a concessão do auxílio-reclusão seguem as mesmas da pen-são por morte, uma vez que é devido, nas mesmas condições desta29. Assim, as mudanças deste benefício são as mesmas elencadas no tópico da pensão por morte, no que couber.

v – Seguro-deSemPrego

O seguro-desemprego é um direito assegurado constitucionalmen-te ao trabalhador que foi dispensado pelo empregador sem justa causa (tratado na Constituição como “desemprego involuntário”)30. Ainda, tal benefício é regulamentado pela Lei nº 7.998/1990.

Complementarmente, trazemos a definição de César Reinaldo Offa Basile31, que estabelece que o seguro-desemprego constitui um be-nefício que “visa prover assistência financeira temporária ao trabalha-dor desempregado em virtude de dispensa sem justa causa, inclusive a indireta, e ao trabalhador comprovadamente resgatado de regime de trabalho forçado ou da condição análoga à de escravo”.

28 CASTRO, Carlos Alberto de; LAZZARI, João Batista. Op. cit., p. 837.29 Lei nº 8.213, de 24 de junho de 1991. “Art. 80. O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições

da pensão por morte, aos dependentes do segurado recolhido à prisão, que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço”. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso em: 9 nov. 2016.

30 Constituição Federal de 1988. “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] II – seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 16 nov. 2016.

31 BASILE, César Reinaldo Offa. Direito do trabalho: duração do trabalho a direito de greve. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 130/131.

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Antes da modificação trazida pela Lei nº 13.134/2015, fruto da conversão da MP 665, para se ter direito ao recebimento do seguro--desemprego era necessária uma carência de 6 (seis) meses, ou seja, anteriormente à demissão sem justa causa, o trabalhador deveria ter tra-balhado com carteira assinada por tal período.

A recente lei alterou os arts. 3º e 4º da Lei nº 7.998/1990, trazendo um escalonamento diferenciado para o período de carência exigido para a concessão do benefício: (i) para o primeiro pedido, o trabalhador deve comprovar o recebimento de salário por ao menos 12 (doze) meses nos últimos 18 (dezoito) meses imediatamente anteriores à data de dispensa; (ii) para o segundo pedido, são necessários 9 (nove) meses nos últimos 12 (doze) meses imediatamente anteriores à data de dispensa; e (iii) a partir do terceiro pedido, cada um dos 6 (seis) meses imediatamente anteriores à data de dispensa32.

Além disso, nos termos da Lei nº 7.998/1990, para ter direito ao recebimento deste benefício, o segurado não pode ter renda própria de qualquer natureza que seja suficiente à sua manutenção e de sua família, bem como não poderá estar em gozo de auxílio-desemprego ou qual-quer benefício previdenciário de prestação continuada, exceto auxílio--acidente, o auxílio suplementar da Lei nº 6.367/1976 ou o abono de permanência em serviço previsto na Lei nº 5.890/197333.

Ainda, também varia o número de parcelas ao qual fará jus o tra-balhador, sempre tendo como referência o período de 36 (trinta e seis) meses anteriores à data da dispensa, nos quais os meses trabalhados não precisam ser ininterruptos nem para o mesmo empregador:

32 Lei nº 13.134, de 16 de junho de 2015. “Art. 1º A Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990, passa a vigorar com as seguintes alterações: ‘Art. 3º [...] I – ter recebido salários de pessoa jurídica ou de pessoa física a ela equiparada, relativos a: a) pelo menos 12 (doze) meses nos últimos 18 (dezoito) meses imediatamente anteriores à data de dispensa, quando da primeira solicitação; b) pelo menos 9 (nove) meses nos últimos 12 (doze) meses imediatamente anteriores à data de dispensa, quando da segunda solicitação; e c) cada um dos 6 (seis) meses imediatamente anteriores à data de dispensa, quando das demais solicitações; [...]’”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13134.htm>. Acesso em: 9 nov. 2016.

33 Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990. “Art. 3º Terá direito à percepção do seguro-desemprego o trabalhador dispensado sem justa causa que comprove: [...] III – não estar em gozo de qualquer benefício previdenciário de prestação continuada, previsto no Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, excetuado o auxílio- -acidente e o auxílio suplementar previstos na Lei nº 6.367, de 19 de outubro de 1976, bem como o abono de permanência em serviço previsto na Lei nº 5.890, de 8 de junho de 1973; IV – não estar em gozo do auxílio-desemprego; e V – não possuir renda própria de qualquer natureza suficiente à sua manutenção e de sua família. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7998.htm>. Acesso em: 16 nov. 2016.

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(i) Para o primeiro pedido, se dentro deste período o segurado trabalhou ao menos 12 (doze) meses, até 23 (vinte e três) me-ses, receberá 4 (quatro) parcelas; se trabalhou ao menos 24 (vinte e quatro) meses, receberá 5 (cinco) parcelas.

(ii) Para o segundo pedido, se trabalhou ao menos 9 (nove) meses até 11 (onze) meses, receberá 3 (três) parcelas; se trabalhou no mínimo 12 (doze) meses até 23 (vinte e três) meses, rece-berá 4 (quatro) parcelas; e, por fim, se trabalhou no mínimo 24 (vinte e quatro) meses, receberá 5 (cinco) parcelas.

(iii) A partir do terceiro pedido, se trabalhou no mínimo 6 (seis) e no máximo 11 (onze) meses, receberá 3 (três) parcelas; se trabalhou no mínimo 12 (doze) e no máximo 23 (vinte e três) meses, receberá 4 (quatro) parcelas; e, por fim, se traba-lhou no mínimo 23 (vinte e três) meses, receberá 5 (cinco) parcelas34.

Para sistematizar e facilmente visualizar as hipóteses, temos a se-guinte tabela:

ocAsião dA solicitAção

QuAntidAde de pArcelAs Que receberá

meses de trAbAlHo, dentro dos últimos 36 meses

Primeira solicitação 4 parcelas Mínimo 12, máximo 235 parcelas Mínimo 24

34 Lei nº 13.134, de 16 de junho de 2015. “Art. 4º [...] § 2º A determinação do período máximo mencionado no caput observará a seguinte relação entre o número de parcelas mensais do benefício do seguro-desemprego e o tempo de serviço do trabalhador nos 36 (trinta e seis) meses que antecederem a data de dispensa que originou o requerimento do seguro-desemprego, vedado o cômputo de vínculos empregatícios utilizados em períodos aquisitivos anteriores: I – para a primeira solicitação: a) 4 (quatro) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo, 12 (doze) meses e, no máximo, 23 (vinte e três) meses, no período de referência; ou b) 5 (cinco) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo, 24 (vinte e quatro) meses, no período de referência; II – para a segunda solicitação: a) 3 (três) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo, 9 (nove) meses e, no máximo, 11 (onze) meses, no período de referência; b) 4 (quatro) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo, 12 (doze) meses e, no máximo, 23 (vinte e três) meses, no período de referência; ou c) 5 (cinco) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo, 24 (vinte e quatro) meses, no período de referência; III – a partir da terceira solicitação: a) 3 (três) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo, 6 (seis) meses e, no máximo, 11 (onze) meses, no período de referência; b) 4 (quatro) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo, 12 (doze) meses e, no máximo, 23 (vinte e três) meses, no período de referência; ou c) 5 (cinco) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo, 24 (vinte e quatro) meses, no período de referência”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13134.htm>. Acesso em: 9 nov. 2016.

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ocAsião dA solicitAção

QuAntidAde de pArcelAs Que receberá

meses de trAbAlHo, dentro dos últimos 36 meses

Segunda solicitação 3 parcelas Mínimo 9, máximo 114 parcelas Mínimo 12, máximo 235 parcelas Mínimo 24

Terceira solicitação e seguintes

3 parcelas Mínimo 6, máximo 114 parcelas Mínimo 12, máximo 235 parcelas Mínimo 24

Por fim, salientamos que não se pode utilizar os meses trabalhados já contabilizados para a concessão do seguro em um pedido futuro, ou seja, nos termos da nova lei, “é vedado o cômputo de vínculos empre-gatícios utilizados em períodos aquisitivos anteriores”35. Tal mudança visa a evitar fraudes e incentivar o trabalhador para manter seu emprego, diminuindo a alta rotatividade dos empregos formais, além da economia aos cofres públicos.

vI – Seguro-defeSo

O seguro-defeso é um benefício de um salário-mínimo, tal como o seguro-desemprego, e é pago para o pescador artesanal profissional, durante o período de pesca proibida, desde que este exerça a pesca de forma exclusiva, isto é, sem outra fonte de renda36.

Tal benefício, nas lições de André Gambier Campos e José Valente Chaves, possui um objetivo social e outro ambiental. Em suas palavras, “o primeiro é assegurar amparo ao pescador artesanal, sob a forma de transferência monetária, durante o período de defeso, quando ele não pode retirar sua subsistência do mar, dos rios ou dos lagos. O segundo objetivo, relacionado a este, é ajudar na preservação de várias espécies

35 Lei nº 13.134, de 16 de junho de 2015. “Art. 4º [...] § 2º A determinação do período máximo mencionado no caput observará a seguinte relação entre o número de parcelas mensais do benefício do seguro-desemprego e o tempo de serviço do trabalhador nos 36 (trinta e seis) meses que antecederem a data de dispensa que originou o requerimento do seguro-desemprego, vedado o cômputo de vínculos empregatícios utilizados em períodos aquisitivos anteriores”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- -2018/2015/Lei/L13134.htm>. Acesso em: 9 nov. 2016.

36 Lei nº 13.134, de 16 de junho de 2015. “Art. 2º A Lei nº 10.779, de 25 de novembro de 2003, passa a vigorar com as seguintes alterações: ‘Art. 1º O pescador artesanal de que tratam a alínea b do inciso VII do art. 12 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, e a alínea b do inciso VII do art. 11 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, desde que exerça sua atividade profissional ininterruptamente, de forma artesanal e individualmente ou em regime de economia familiar, fará jus ao benefício do seguro-desemprego, no valor de 1 (um) salário-mínimo mensal, durante o período de defeso de atividade pesqueira para a preservação da espécie’”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13134.htm>. Acesso em: 9 nov. 2016.

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de peixes, crustáceos etc. cuja reprodução ocorre justamente durante o período de defeso”37.

Ainda, os autores elucidam que o seguro-defeso se equipara a um desemprego involuntário, pois, durante o período de defeso, “por mo-tivos alheios à sua vontade, o trabalhador encontra-se impossibilitado de subsistir por meio de seu trabalho”38. Em que pese tal benefício ser mantido pelo FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), este é pago e administrado pelo INSS.

As principais mudanças advindas da Lei nº 13.134/2015 são:

(i) O pescador profissional artesanal não fará jus, no mesmo ano, a mais de um benefício de seguro-desemprego decorrente de defesos relativos a espécies distintas39.

(ii) A concessão do benefício não será extensível às atividades de apoio à pesca nem aos familiares do pescador profissional40.

(iii) Cabe ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) receber e processar os requerimentos e habilitar os beneficiários41. An-tes da alteração legislativa, a habilitação era feita no Ministé-rio do Trabalho e Emprego.

(iv) Para fazer jus ao benefício, o pescador não poderá estar em gozo de nenhum benefício previdenciário ou assistencial de natureza continuada, exceto pensão por morte e auxílio-aci-dente42.

37 CAMPOS, André Gambier; CHAVES, José Valente. Seguro-defeso: diagnóstico dos problemas enfrentados pelo programa. Texto para discussão. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília/Rio de Janeiro: Ipea, abr. 2014. p. 9. Disponível em: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3015/1/TD_1956.pdf>. Acesso em: 9 nov. 2016.

38 Idem.39 Lei nº 13.134, de 16 de junho de 2015. “Art. 1º [...] § 5º O pescador profissional artesanal não fará jus,

no mesmo ano, a mais de um benefício de seguro-desemprego decorrente de defesos relativos a espécies distintas”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13134.htm>. Acesso em: 9 nov. 2016.

40 Lei nº 13.134, de 16 de junho de 2015. “Art. 1º [...] § 6º A concessão do benefício não será extensível às atividades de apoio à pesca nem aos familiares do pescador profissional que não satisfaçam os requisitos e as condições estabelecidos nesta Lei”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13134.htm>. Acesso em: 9 nov. 2016.

41 Lei nº 13.134, de 16 de junho de 2015. “Art. 2º Cabe ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) receber e processar os requerimentos e habilitar os beneficiários, nos termos do regulamento”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13134.htm>. Acesso em: 9 nov. 2016.

42 Lei nº 13.134, de 16 de junho de 2015. “Art. 2º [...] § 1º Para fazer jus ao benefício, o pescador não poderá estar em gozo de nenhum benefício decorrente de benefício previdenciário ou assistencial de natureza

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Ademais, a nova lei estabelece que, no ato de habilitação, o INSS deverá verificar a condição de segurado pescador artesanal e o paga-mento da contribuição previdenciária nos últimos 12 (doze) meses ime-diatamente anteriores ao requerimento do benefício ou desde o último período de defeso até o requerimento do benefício, o que for menor43.

CoNSIderaçõeS fINaIS

Na esteira das análises apresentadas no presente estudo sobre as novas regras de concessão e obtenção de benefícios previdenciários, avaliamos as mudanças ocorridas após as Leis nºs 13.134, 13.135 e 13.183, de 2015, sendo que, em função de tais alterações, pudemos perceber que a maioria dos novos dispositivos veio como um grande retrocesso aos trabalhadores, sendo defensável, inclusive, a inconstitu-cionalidade de algumas regras.

Todavia, uma vez que as controvertidas medidas provisórias fo-ram convertidas em lei, resta aguardar e monitorar possíveis discussões e afrontamentos das referidas normas por meio de ações de declaração de inconstitucionalidade (ou outros enfrentamentos diretos) perante o Supremo Tribunal Federal (STF), ou mesmo questionamentos diretos em ações de iniciativa privada em determinadas questões pontuais, questio-nando dispositivos isolados da norma.

Não obstante, insta alertar e destacar que até que não sejam discu-tidas ou declaradas inconstitucionais, tais normas serão vigentes, válidas e deverão ser observadas pelos segurados. Ademais, ainda que todo o cotejo feito no presente estudo tenha percorrido diversos pontos, as di-versas variáveis para cada caso concreto devem ser pontualmente ava-liadas, e consideradas, dada a complexidade dos temas apresentadas.

continuada, exceto pensão por morte e auxílio-acidente”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13134.htm>. Acesso em: 9 nov. 2016.

43 Lei nº 13.134, de 16 de junho de 2015. “Art. 2º [...] § 3º O INSS, no ato de habilitação ao benefício, deverá verificar a condição de segurado pescador artesanal e o pagamento da contribuição previdenciária, nos termos da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, nos últimos 12 (doze) meses imediatamente anteriores ao requerimento do benefício ou desde o último período de defeso até o requerimento do benefício, o que for menor, observado, quando for o caso, o disposto no inciso II do § 2º”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13134.htm>. Acesso em: 9 nov. 2016.

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referêNCIaS

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RUBIN, Fernando. Aposentadorias previdenciárias no Regime Geral da Previ-dência Social: questões centrais de direito material e de direito material e de direito processual. São Paulo: Atlas, 2015.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

2297

Supremo Tribunal Federal24.02.2017 Primeira TurmaAgRg no Recurso Extraordinário com Agravo nº 1.004.476 São PauloRelatora: Min. Rosa WeberAgte.(s): Maria Masson BarissaAdv.(a/s): Diego Goncalves de AbreuAgdo.(a/s): Instituto Nacional do Seguro Social – INSSProc.(a/s)(es): Procurador‑Geral Federal

ementadIreIto PrevIdeNCIárIo – aPoSeNtadorIa Por Idade rural – Não ComProvação da atIvIdade rural No Período ImedIatameNte aNterIor ao requerImeNto do beNefíCIo – INaPlICabIlIdade da leI Nº 10.666/2003 – reCurSo eXtraordINárIo INterPoSto Sob a ÉgIde do CPC/1973 – eveNtual ofeNSa refleXa Não vIabIlIza o maNeJo do reCurSo eXtraordINárIo – art. 102 da leI maIor – agravo maNeJado Sob a vIgêNCIa do CPC/2015

1. A controvérsia, a teor do já asseverado na decisão guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há falar em afronta aos preceitos constitucionais indicados nas razões recursais. Compre-ensão diversa demandaria a análise da legislação infraconstitucio-nal encampada na decisão da Corte de origem, a tornar oblíqua e reflexa eventual ofensa à Constituição, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário. Desatendida a exigência do art. 102, III, a, da Lei Maior, nos termos da reman-sosa jurisprudência desta Suprema Corte.

2. Agravo regimental conhecido e não provido, com majoração em 10% (dez por cento) dos honorários advocatícios anteriormen-te fixados, obedecidos os limites previstos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015, ressalvada eventual concessão do benefício da gratuidade da Justiça.

acÓrDão

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal em conhecer do agravo regimental e negar-

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-lhe provimento, com majoração dos honorários advocatícios anterior-mente fixados, obedecidos os limites previstos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015, nos termos do voto da Relatora e por unanimidade, em sessão virtual da Primeira Turma realizada entre 17 a 23 de fevereiro de 2017, na conformidade da ata do julgamento.

Brasília, 24 de fevereiro de 2017.

Ministra Rosa Weber Relatora

relatÓrio

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Contra a decisão por mim proferida, pela qual negado seguimento ao recurso, maneja agravo regimental Maria Masson Barissa.

A matéria debatida, em síntese, diz com o questionamento sobre regramento exclusivo à aposentadoria por idade urbana, disposta no § 10 do art. 3º da Lei nº 10.666/2003, e o diferente tratamento quanto ao benefício do trabalhador rural, que deve comprovar o efetivo exer-cício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tempo igual à carência exigida.

A agravante ataca a decisão impugnada ao argumento de que a violação dos preceitos da Constituição Federal se dá de forma direta. Reitera a afronta aos arts. 3º, III, 5º, caput, 7º, XXIV, e 194, parágrafo único, I e II, da Constituição Federal.

O Tribunal Regional Federal da 3ª Região julgou a controvérsia em decisão cuja ementa reproduzo:

“PREVIDENCIÁRIO – AGRAVO LEGAL (ART. 557, § 10, DO CPC) – RE-DISCUSSÃO DA MATÉRIA JÁ DECIDIDA – IMPOSSIBILIDADE – DE-CISÃO AGRAVADA MANTIDA – AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER – APOSENTADORIA POR IDADE RURAL – NÃO COMPROVAÇÃO DA ATIVIDADE RURAL NO PERÍODO IMEDIATA-MENTE ANTERIOR AO REQUERIMENTO DO BENEFÍCIO – INAPLICA-BILIDADE DA LEI Nº 10.666/2003 – 1. O agravo previsto no art. 557,

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§ 10, do Código de Processo Civil tem o propósito de submeter ao órgão colegiado o controle da extensão dos poderes do relator, bem como a legalidade da decisão monocrática proferida, não se prestando à redis-cussão de matéria já decidida. 2. Inexiste ilegalidade ou abuso de poder na decisão questionada, sendo que os seus fundamentos estão em con-sonância com a jurisprudência pertinente à matéria. 3. Esta 1ª Turma, se-guindo a jurisprudência do E. STJ, adotou posicionamento no sentido de que o disposto no § 10 do art. 3º da Lei nº 10.666/2003 traz regramento exclusivo à aposentadoria por idade urbana, não se aplicando ao caso dos autos, eis vez que, nos termos do § 2º do art. 48 da Lei nº 8.213/1991, com a redação dada pela Lei nº 11.718/2008, para fazer jus ao benefício o trabalhador rural deve comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tempo igual a carência exigida.”

Recurso extraordinário interposto sob a égide do CPC/1973.

Agravo manejado sob a vigência do Código de Processo Civil de 2015.

É o relatório.

voto

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Preenchidos os pressu-postos genéricos, conheço do agravo regimental e passo ao exame do mérito.

Nada colhe o agravo.

Transcrevo o teor da decisão que desafiou o agravo:

“Vistos etc.

Contra o juízo negativo de admissibilidade do recurso extraordinário, exarado pela Presidência do Tribunal a quo, foi manejado agravo. Na minuta, sustenta-se que o recurso extraordinário reúne todos os requisitos para sua admissão. Aparelhado o recurso na afronta aos arts. 3º, III, 5º, caput, 7º, XXIV, e 194, parágrafo único, I e II, da Constituição Federal.

É o relatório.

Decido.

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Preenchidos os pressupostos extrínsecos.

Da detida análise dos fundamentos da decisão denegatória de seguimen-to do recurso extraordinário, bem como à luz das razões de decidir ado-tadas pelo Tribunal de origem, por ocasião do julgamento do recurso veiculado na instância ordinária, concluo que nada colhe o agravo.

Divergir da conclusão da Corte de origem demandaria a análise da le-gislação infraconstitucional apontada no apelo extremo, bem como o revolvimento do conjunto fático delineado, o que torna obliqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário. Dessarte, desatendida a exigência do art. 102, III, a, da Lei Maior, nos termos da jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido:

‘DIREITO PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA RURAL – REQUISITOS – PROVA INSUFICIENTE – EXTRAORDINÁRIO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO CPC/1973 – EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO VIABILIZA O MANEJO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO – ART. 102 DA LEI MAIOR – AGRAVO MANEJADO SOB A VIGÊNCIA DO CPC/2015 – 1. A controvérsia, a teor do já asseverado na decisão guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há falar em afronta aos preceitos constitucionais indicados nas razões recursais. Compreensão diversa demandaria a análise da legislação infraconstitucional encampada na decisão da Corte de origem, a tornar oblíqua e reflexa eventual ofensa à Constituição, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário. Desatendida a exigência do art. 102, III, a, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta Suprema Corte. 2. Majoração em 10% (dez por cento) dos honorários advocatícios anteriormente fixados, obedecidos os limites previstos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015. 3. Agravo regimental conhecido e não provido, com aplicação da penalidade prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015, calculada à razão de 1% (um por cento) sobre o valor atualizado da causa.’ (ARE 977324-AgR, de minha lavra, 1ª T., Julgado em 27.09.2016, Processo Eletrônico DJe de-234, Divulg. 03.11.2016, Public. 04.11.2016)

‘AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA ESPECIAL – TEMPO RURAL – COMPROVAÇÃO – REEXAME DE PROVAS – IMPOSSIBILIDADE: SÚMULA Nº 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO’ (ARE 946856-AgR, Relator(a): Min. Cármen Lúcia, 2ª T., Julgado em 15.03.2016, Processo Eletrônico DJe de-061, Divulg. 04.04.2016, Public. 05.04.2016).

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Nesse sentir, não merece processamento o apelo extremo, consoante também se denota dos fundamentos da decisão que desafiou o recurso, aos quais me reporto e cuja detida análise conduz à conclusão pela au-sência de ofensa a preceito da Constituição da República.

Nego seguimento (art. 21, § 1º, do RISTF).”

Irrepreensível a decisão agravada.

As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, a inviabilizar o trânsito do recurso extraordinário.

A suposta afronta aos postulados constitucionais invocados no apelo extremo somente poderia ser constatada a partir da análise da legislação infraconstitucional, a tornar oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraor-dinário.

O exame de eventual afronta aos preceitos constitucionais apon-tados, consagradores dos princípios da legalidade, da proteção ao di-reito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, bem como ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa (art. 5º da Lei Maior), demanda, em primeiro plano, a interpretação das normas infra-constitucionais aplicáveis à espécie, de tal modo que, se afronta ocorres-se, seria indireta, o que não atende à exigência do art. 102, III, a, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência deste egrégio Supremo Tribunal Federal (STF, AI-AgR 495.880/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, 1ª T., DJ 05.8.2005; STF, AI-AgR 436.911/SE, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª T., DJ 17.06.2005; STF, RE-AgR 154.158/SP, Rel. Min. Carlos Vello-so, 2ª T., DJ 20.09.2002 e STF, RE-153.781/DF, Rel. Min. Ilmar Galvão, 1ª T., DJ 02.02.2001).

Ressalto que no julgamento do RE 748.371-RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, Pleno, DJe de 01.08.2013, decidiu-se pela inexistência de re-percussão geral da matéria relacionada à alegação de violação dos prin-cípios do contraditório, da ampla defesa, dos limites da coisa julgada e do devido processo legal quando o julgamento da causa depender de prévia análise da adequada aplicação das normas infraconstitucionais, cuja ementa transcrevo:

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“Alegação de cerceamento do direito de defesa. Tema relativo à suposta violação aos princípios do contraditório, da ampla defesa, dos limites da coisa julgada e do devido processo legal. Julgamento da causa depen-dente de prévia análise da adequada aplicação das normas infraconstitu-cionais. Rejeição da repercussão geral.”

Constato, ademais, que o Tribunal de origem, na hipótese em apreço, se lastreou na prova produzida para firmar seu convencimento, razão pela qual aferir a ocorrência de eventual afronta aos preceitos constitucionais invocados no apelo extremo exigiria o revolvimento do quadro fático delineado, procedimento vedado em sede extraordinária. Aplicação da Súmula nº 279/STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”.

Agravo regimental conhecido e não provido, com majoração em 10% (dez por cento) dos honorários advocatícios anteriormente fixados, obedecidos os limites previstos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015, ressalvada eventual concessão do benefício da gratuidade da Justiça.

É como voto.

primeira tUrma eXtrato De ata

AgRg no Recurso Extraordinário com Agravo nº 1.004.476

Proced.: São Paulo

Relatora: Min. Rosa Weber

Agte.(s): Maria Masson Barissa

Adv.(a/s): Diego Goncalves de Abreu (228568/SP)

Agdo.(a/s): Instituto Nacional do Seguro Social – INSS

Proc.(a/s)(es): Procurador-Geral Federal

Decisão: A Turma, por unanimidade, conheceu do agravo regi-mental e negou-lhe provimento, com majoração dos honorários ante-riormente fixados, obedecidos os limites previstos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015, nos termos do voto da Relatora. Primeira Turma, Sessão Virtual de 17 a 23.02.2017.

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Composição: Ministros Marco Aurélio (Presidente), Luiz Fux, Rosa Weber e Luís Roberto Barroso. Disponibilizaram processos para esta Sessão os Ministros Dias Toffoli e Edson Fachin.

Carmen Lilian Oliveira de Souza Secretária da Primeira Turma

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

2298

Superior Tribunal de JustiçaAgint no Agravo em Recurso Especial nº 909.894 – DF (2016/0108129‑7)

Relator: Ministro Herman Benjamin

Agravante: Companhia Brasileira de Distribuição

Agravante: Novasoc Comercial Ltda.

Agravante: Companhia Pernambucana de Alimentação

Agravante: Sendas Distribuidora S/A

Agravante: Coop. de Econ. e Cred. Mútuo dos Emp. do Grupo Pão de Açúcar

Agravante: Ass. Rec. Cult. e de Asst. dos Emp. do Grupo Pão de Açúcar – Arca

Agravante: Sé Supermercados Ltda.

Agravante: Instituto GPA de Desenvolvimento Humano

Agravante: Sendas Pão de Açúcar Esporte Clube

Agravante: Auto Posto Sigua Ltda.

Agravante: Auto Posto MFP Ltda.

Advogado: Nelson Wilians Fratoni Rodrigues e outro(s) – SP128341

Agravado: Fazenda Nacional

ementa

ProCeSSual CIvIl e trIbutárIo – CoNtrIbuIção PrevIdeNCIárIa – SalárIo-materNI- dade e fÉrIaS gozadaS – INCIdêNCIa

1. O acórdão recorrido encontra-se em consonância com a ju-risprudência atual da Primeira Seção do STJ, no sentido de que incide contribuição previdenciária sobre o pagamento a título de férias gozadas e de salário-maternidade.

2. É descabido o precedente relativo ao Recurso Especial nº 1.322.945/DF, tendo em vista que a orientação nele adotada foi revista por ocasião do julgamento dos posteriores Embargos de Declaração, acolhidos com efeitos infringentes para conformá-lo ao decidido no Recurso Especial nº 1.230.957/CE, representativo de controvérsia.

3. Agravo Interno não provido.

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acÓrDão

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça: “A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).” Os Srs. Ministros Og Fernandes, Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães (Presidente) e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 07 de fevereiro de 2017 (data do Julgamento).

Ministro Herman Benjamin Relator

relatÓrio

O Exmo. Sr. Ministro Herman Benjamin (Relator):

Trata-se de Agravo Interno interposto contra decisão (fls. 1.229- -1.234, e-STJ) que negou provimento ao recurso.

Os agravantes invocam precedente reputado “recente” para afir-marem que foi reaberta a discussão sobre a inexigibilidade da contribui-ção previdenciária patronal sobre verbas que não são devidas em razão da contraprestação de serviços, como o salário-maternidade e as férias gozadas, razão pela qual requerem o acolhimento na íntegra de seu Re-curso Especial.

É o relatório.

voto

O Exmo. Sr. Ministro Herman Benjamin (Relator): Os autos foram recebidos neste Gabinete em 01.12.2016.

O Agravo Interno não merece prosperar, pois a ausência de ar-gumentos hábeis para alterar os fundamentos da decisão ora agravada torna incólume o entendimento nela firmado.

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RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ����������������������������������������������������������������111

Conforme consignado no decisum, o acórdão recorrido está em sintonia com o atual entendimento desta Corte Superior, no sentido de que incide contribuição previdenciária sobre salário-maternidade e fé-rias gozadas.

A propósito, confiram-se os seguintes precedentes:

[...] CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS SOBRE FÉRIAS GOZADAS, SALÁRIO-MATERNIDADE, ADICIONAL DE HORAS EXTRAS E ADICIO-NAL DE TRANSFERÊNCIA – INCIDÊNCIA – JURISPRUDÊNCIA PACÍFI-CA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO

I – A questão da incidência de contribuição previdenciária patronal, so-bre o valor pago a título de salário-maternidade, já foi objeto de jul-gamento, no Recurso Especial nº 1.230.957/RS, submetido ao rito do art. 543-C do CPC, restando, assim, plenamente pacificada nesta Corte, que concluiu que tal incidência, no RGPS, decorre de disposição expres-sa do art. 28, § 2º, da Lei nº 8.212/1991.

II – A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça tem afirmado, de forma reiterada, a natureza remuneratória dos valores pagos, aos em-pregados, a título de férias gozadas, o que implica na incidência de contribuições previdenciárias sobre tal verba. Precedentes recentes da Primeira Seção: AgRg-EREsp 1.202.553/PR, Rel. Min. Herman Benja-min, DJe de 02.02.2015; AgRg-EDcl-EREsp 1.352.146/RS, Rel. Min. Og Fernandes, DJe de 14.10.2014; AgRg-EREsp 1.355.594/PB, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 17.09.2014; AgRg-EAREsp 138.628/AC, Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe 18.08.2014.

III – No que diz respeito às horas extras, o Recurso Especial nº 1.358.281/SP, julgado sob o regime do art. 543-C do CPC, consolidou a jurisprudência desta Corte, no sentido de que tal verba detém cará-ter remuneratório, sujeitando-se, portanto, à incidência de contribuições previdenciárias.

IV – Por fim, também devem incidir as contribuições previdenciárias so-bre o adicional de transferência, tendo em vista que ‘a orientação do Superior Tribunal de Justiça, em casos análogos, firmou-se no sentido de que o adicional de transferência possui natureza salarial, conforme firme jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, pois, da leitura do § 3º do art. 463 da CLT, extrai-se que a transferência do empregado é um di-reito do empregador, sendo que do exercício regular desse direito decor-re para o empregado transferido, em contrapartida, o direito de receber

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112 ������������������������������������������������������������RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA

o correspondente adicional de transferência’ (AgRg-REsp 1.474.581/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe de 05.11.2014)”.

V – Agravo Regimental improvido.

(AgRg-REsp 1516345/PR, Relª Min. Assusete Magalhães, 2ª T., DJe 24.04.2015)

TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – SALÁRIO-MA-TERNIDADE E FÉRIAS GOZADAS – INCIDÊNCIA – PRECEDENTES – SÚMULA Nº 83/STJ – APLICABILIDADE AOS RECURSOS ESPECIAIS INTERPOSTOS COM FUNDAMENTO NA ALÍNEA A DO PERMISSIVO CONSTITUCIONAL – POSSIBILIDADE

1. A jurisprudência do STJ reconhece a incidência da contribuição pre-videnciária sobre as importâncias pagas a título de salário-maternidade e sobre as férias gozadas. Incidência, no caso, da Súmula nº 83/STJ.

2. A jurisprudência desta Corte é uníssona no sentido de que o teor da Súmula nº 83/STJ aplica-se, inclusive, aos recursos especiais interpostos com fundamento na alínea a do permissivo constitucional.

3. Agravo regimental improvido.

(AgRg-AREsp 666.330/BA, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 20.04.2015)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – [...] CONTRIBUIÇÃO PREVIDEN-CIÁRIA – SALÁRIO-MATERNIDADE, ADICIONAL NOTURNO, HORAS--EXTRAS E FÉRIAS GOZADAS – INCIDÊNCIA

[...]

2. A Primeira Seção desta Corte Superior, nos termos do art. 543-C do Código de Processo Civil, decidiu: 1) o salário-maternidade tem natu-reza salarial, devendo sobre ele incidir a contribuição previdenciária (REsp 1.230.957/RS); 2) incide contribuição previdenciária (RGPS) sobre o adicional noturno e de horas extras (REsp 1.358.281/SP).

3. No mesmo sentido, a Primeira Seção decidiu que “o pagamento de férias gozadas possui natureza remuneratória, nos termos do art. 148 da CLT, razão pela qual incide a contribuição previdenciária” (AgRg-EA -REsp 138.628/AC, Rel. Min. Sérgio Kukina, 1ª S., Julgado em 13.08.2014, DJe 18.08.2014).

Agravo regimental não provido.

(AgRg-REsp 1476216/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª T., DJe 14.05.2015)

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A respeito do invocado precedente da Primeira Turma, registro que se trata do Recurso Especial nº 1.322.945/DF. A orientação nele adotada realmente destoa do entendimento fixado pela Seção de Direito Público do STJ por ocasião do julgamento do REsp 1.230.957/CE, razão pela qual, é importante esclarecer, os Embargos de Declaração opostos pela Fazenda Pública foram acolhidos com efeitos modificativos, para adequar integralmente o decisum à orientação deste Tribunal Superior, de que incide contribuição previdenciária sobre o salário-maternidade e sobre as férias gozadas. Nesse sentido:

TRIBUTÁRIO [...] CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS SOBRE VALO-RES PAGOS, AOS EMPREGADOS, A TÍTULO DE FÉRIAS GOZADAS – INCIDÊNCIA – ENTENDIMENTO CONTRÁRIO À INCIDÊNCIA, EXA-RADO PELA 1ª SEÇÃO DO STJ, NO JULGAMENTO DO RECURSO ES-PECIAL Nº 1.322.945/DF, POSTERIORMENTE REFORMADO, EM SEDE DE EMBARGOS DECLARATÓRIOS – PRECEDENTES POSTERIORES, DE AMBAS AS TURMAS QUE COMPÕEM A 1ª SEÇÃO, NO SENTIDO DE INCIDÊNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS SOBRE A QUANTIA RELATIVA ÀS FÉRIAS GOZADAS – [...]

I – Apesar de a 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar o Recurso Especial nº 1.322.945/DF, em julgamento realizado em 27.02.2013, ter decidido pela não incidência de contribuição previden-ciária sobre o salário-maternidade e as férias usufruídas, é certo que, em posteriores Embargos de Declaração, acolhidos, com efeitos infringen-tes, reformou o referido aresto embargado, para conformá-lo ao decidido no Recurso Especial nº 1.230.957/CE, julgado sob o rito do art. 543-C do CPC (STJ, EDcl-REsp 1.322.945/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 1ª S., DJe de 16.05.2014).

II – De outra parte, mesmo após o julgamento do Recurso Especial 1.322.945/DF, tanto a 1ª, como a 2ª Turmas desta Corte proferiram jul-gamentos, em que afirmado o caráter remuneratório do valor pago, ao empregado, a título de férias gozadas, o que implica na incidência de contribuições previdenciárias sobre tal quantia.

III – “A Primeira Seção desta Corte, ao julgar o REsp 1.230.957/RS, pro-cessado e julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, confirmou a inci-dência da contribuição previdenciária sobre o salário-maternidade. Incide a contribuição previdenciária sobre os valores referentes ao pa-gamento de férias. Precedentes. Agravo regimental não provido” (STJ, AgRg-Ag 1.428.917/MT, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 1ª T., DJe de 13.05.2014). Em igual sentido: “A Primeira Seção, no julgamento do

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114 ������������������������������������������������������������RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA

REsp 1.230.957/RS, submetido à sistemática do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ nº 8/2008, firmou a orientação no sentido de que incide contribuição previdenciária sobre o salário-maternidade. O pagamento de férias gozadas possui natureza remuneratória e salarial, nos termos do art. 148 da CLT, e integra o salário de contribuição. Precedentes desta Corte Superior: AgRg-REsp 1.355.135/RS, Rel. Min. Arnaldo Este-ves Lima, DJe 27.02.2013; e AgRg-EDcl-AREsp 135.682/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 14.06.2012. [...] Agravo regimental a que se nega provimento” (STJ, AgRg-REsp 1.240.038/PR, Rel. Min. Og Fernandes, 2ª T., DJe de 02.05.2014).

[...]

(AgRg-EDcl-EREsp 1352303/RS, Relª Min. Assusete Magalhães, 1ª S., DJe 24.10.2014, grifei)

TRIBUTÁRIO – [...] FÉRIAS GOZADAS – CONTRIBUIÇÃO PREVIDEN-CIÁRIA – INCIDÊNCIA – PRECEDENTES

[...]

2. Nos termos da jurisprudência desta Corte, o pagamento de férias go-zadas possui natureza remuneratória (art. 148 da CLT), razão pela qual sobre elas incide a contribuição previdenciária. Precedentes: AgRg--REsp 1.472.237/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJe 31.03.2015 e AgRg-REsp 1.469.613/SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª T., DJe 07.04.2015.

3. “Quanto à tese no sentido de que não incide contribuição previden-ciária sobre o valor correspondente às férias gozadas, cumpre esclarecer que o acórdão proferido nos autos do REsp 1.322.945/DF (1ª S., Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 08.03.2013) foi objeto de su-cessivos embargos de declaração, sendo os segundos embargos apresen-tados pela Fazenda Nacional acolhidos para determinar a incidência de contribuição previdenciária sobre as férias gozadas, nos termos do voto apresentado pelo Ministro Mauro Campbell Marques (que foi designado Relator para acórdão, em Sessão Ordinária de 25.02.2015).” (AgRg-REsp 1514627/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 14.04.2015)

4. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg-REsp 1473588/RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, 1ª T., DJe 02.06.2015, grifei)

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Por fim, a Primeira Seção desta Corte pacificou o entendimento de que a limitação imposta pelo art. 170-A, do CTN, introduzido pela LC 104/2001, que admite a compensação tributária somente após o trânsito em julgado da sentença, deve ser aplicada apenas às causas iniciadas posteriormente à sua vigência, ou seja, após 11.1.2001. Confira-se a ementa do julgado:

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL – COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA – LEI APLICÁVEL – VEDAÇÃO DO ART. 170-A DO CTN – INAPLICABILI-DADE A DEMANDA ANTERIOR À LC 104/2001

1. A lei que regula a compensação tributária é a vigente à data do en-contro de contas entre os recíprocos débito e crédito da Fazenda e do contribuinte. Precedentes.

2. Em se tratando de compensação de crédito objeto de controvérsia ju-dicial, é vedada a sua realização “antes do trânsito em julgado da res-pectiva decisão judicial”, conforme prevê o art. 170-A do CTN, vedação que, todavia, não se aplica a ações judiciais propostas em data anterior à vigência desse dispositivo, introduzido pela LC 104/2001. Precedentes.

3. Recurso especial provido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução nº STJ 08/2008.

(REsp 1164452/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1ª S., DJe 02.09.2010)

No caso concreto, a ação foi ajuizada (fl. 848, e-STJ) depois da publicação da Lei Complementar nº 104/2001 (em 10.01.2001), motivo pelo qual se adotam, no caso, os ditames do art. 170-A do Código de Tributário Nacional, introduzido pela referida lei complementar.

Logo, ausente a comprovação da necessidade de retificação a ser promovida na decisão agravada, proferida com fundamentos suficientes e em consonância com orientação pacífica deste Tribunal, não há prover o Agravo Interno que contra ela se insurge.

Diante do exposto, nego provimento ao Agravo Interno, com a advertência de que a interposição de novo recurso será considerada ma-nifestamente infundada e sujeita a multa.

É como voto.

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certiDão De JUlGamento seGUnDa tUrma

Número Registro: 2016/0108129-7 AgInt-AREsp 909.894/DF

Números Origem: 00325229020064013400 200634000334192

Pauta: 07.02.2017 Julgado: 07.02.2017

Relator: Exmo. Sr. Ministro Herman Benjamin

Presidente da Sessão: Exma. Sra. Ministra Assusete Magalhães

Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Mário José Gisi

Secretária: Belª Valéria Alvim Dusi

aUtUaÇão

Agravante: Companhia Brasileira de Distribuição

Agravante: Novasoc Comercial Ltda.

Agravante: Companhia Pernambucana de Alimentação

Agravante: Sendas Distribuidora S/A

Agravante: Coop de Econ. e Cred. Mútuo dos Emp. do Grupo Pão de Açúcar

Agravante: Ass. Rec. Cult. e de Asst. dos Emp. do Grupo Pão de Açú-car – Arca

Agravante: Sé Supermercados Ltda.

Agravante: Instituto GPA de Desenvolvimento Humano

Agravante: Sendas Pão de Açúcar Esporte Clube

Agravante: Auto Posto Sigua Ltda.

Agravante: Auto Posto MFP Ltda.

Advogado: Nelson Wilians Fratoni Rodrigues e outro(s) – SP128341

Agravado: Fazenda Nacional

Assunto: Direito Tributário – Contribuições – Contribuições previden-ciárias – Contribuição sobre a folha de salários

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RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – PARTE GERAL – DOUTRINA �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������117

aGravo interno

Agravante: Companhia Brasileira de Distribuição

Agravante: Novasoc Comercial Ltda.

Agravante: Companhia Pernambucana de Alimentação

Agravante: Sendas Distribuidora S/A

Agravante: Coop de Econ. e Cred. Mútuo dos Emp do Grupo Pão de Açúcar

Agravante: Ass. Rec. Cult. e de Asst dos Emp. do Grupo Pão de Açú-car – Arca

Agravante: Sé Supermercados Ltda.

Agravante: Instituto GPA de Desenvolvimento Humano

Agravante: Sendas Pão de Açúcar Esporte Clube

Agravante: Auto Posto Sigua Ltda.

Agravante: Auto Posto MFP Ltda.

Advogado: Nelson Wilians Fratoni Rodrigues e outro(s) – SP128341

Agravado: Fazenda Nacional

certiDão

Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

“A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”

Os Srs. Ministros Og Fernandes, Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães (Presidente) e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

2299

Superior Tribunal de JustiçaAgInt‑EDcl no Recurso Especial nº 1.598.405 – PR (2016/0124245‑3)Relator: Ministro Francisco FalcãoAgravante: Instituto Nacional do Seguro SocialAgravado: Brasilio Vicente de Castro Filho Advogados: Melissa Folmann – PR032362

Gabriel Fabian Corrêa – PR056492

ementa

PrevIdeNCIárIo – aPoSeNtadorIa Por temPo de CoNtrIbuIção – CoNtagem reCí- ProCa – regImeS dIverSoS – CoNtrIbuIçõeS Para Cada SIStema – duaS aPoSeN- tadorIaS – PoSSIbIlIdade

I – É assente na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que “a norma previdenciária não cria óbice a percepção de duas aposentadorias em regimes distintos, quan-do os tempos de serviços realizados em atividades concomitan-tes sejam computados em cada sistema de previdência, haven-do a respectiva contribuição para cada um deles” (AgRg-REsp 1.335.066/RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., Julgado em 23.10.2012, DJe 06.11.2012).

II – Agravo interno improvido.

acÓrDão

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribu-nal de Justiça, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a). Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Og Fernandes e Mauro Campbell Marques votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Assusete Magalhães.

Brasília (DF), 07 de março de 2017 (data do Julgamento).

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RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ����������������������������������������������������������������119

Ministro Francisco Falcão Relator

certiDão De JUlGamento seGUnDa tUrma

Número Registro: 2016/0124245-3

AgInt-EDcl-REsp 1.598.405/PR

Números Origem: 450047043120144040000 50048788920144047000 PR-50048788920144047000 TRF4-50047043120144040000

Pauta: 21.02.2017 Julgado: 21.02.2017

Relator: Exmo. Sr. Ministro Francisco Falcão

Presidente da Sessão: Exma. Sra. Ministra Assusete Magalhães

Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Mario Luiz Bonsaglia

Secretária: Belª Valéria Alvim Dusi

aUtUaÇão

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social

Recorrido: Brasilio Vicente de Castro Filho

Advogados: Melissa Folmann – PR032362 Gabriel Fabian Corrêa – PR056492

Assunto: Direito previdenciário – Benefícios em espécie – Aposenta-doria por tempo de contribuição (art. 55/6)

aGravo interno

Agravante: Instituto Nacional do Seguro Social

Agravado: Brasilio Vicente de Castro Filho

Advogados: Melissa Folmann – PR032362 Gabriel Fabian Corrêa – PR056492

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120 ������������������������������������������������������������RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA

certiDão

Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

“Adiado por indicação do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”

relatÓrio

O Exmo. Sr. Ministro Francisco Falcão (Relator):

O presente feito decorre do ajuizamento de ação que objetiva o restabelecimento de benefício de aposentadoria por tempo de contri-buição, com o valor da causa fixado em R$ 104.546,22 (cento e quatro mil, quinhentos e quarenta e seis reais e vinte e dois centavos) (fls. 4/29).

O pedido foi julgada procedente, tendo o Tribunal de origem man-tido a sentença, com parcial provimento ao recurso de apelação em relação à remessa oficial, conforme ementa (fls. 764/772):

PREVIDENCIÁRIO – ATIVIDADES CONCOMITANTES PRESTADAS SOB O RGPS – CONTAGEM PARA OBTENÇÃO DE APOSENTADORIA EM REGIMES DIVERSOS – POSSIBILIDADE – TUTELA ESPECÍFICA

1. Transformados os empregos públicos em cargos públicos, o tempo an-terior celetista foi automaticamente incorporado ao vínculo estatutário, mediante compensação entre os sistemas. Houve modificação da nature-za jurídica do vínculo, mas não ocorreu solução de continuidade, tendo inclusive o Supremo Tribunal Federal reconhecido, como sabido, o direi-to dos servidores federais ao aproveitamento, no regime estatutário, sem restrições, do tempo anterior celetista.

2. Com a convolação do emprego público para cargo público, e a pre-visão para compensação financeira, nada impede o aproveitamento das contribuições como servidor público pelo demandante para fins de ob-tenção de aposentadoria no regime próprio. A situação em apreço não é a de dupla consideração da mesma atividade e das mesmas contribui-ções, e sim, de concomitância de atividade de como autônomo e pro-fessor, com recolhimentos distintos, cabendo salientar que é inclusive permitida a acumulação de cargos públicos (art. 97, CF/1967, art. 37, XVI, CF/1988).

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3. Hipótese em que não há se falar, pois, em rigor, de contagem de tempo de serviço em duplicidade ou sequer de contagem recíproca, mas, tão--somente, de possibilidade de aproveitamento, em Regime próprio, de tempo de serviço público celetista referente a emprego público que foi convolado em cargo público, com a previsão de compensação financei-ra, não se subsumindo o presente caso à hipótese prevista no art. 96, II, da Lei nº 8.213/1991.

4. Determina-se o cumprimento imediato do acórdão naquilo que se re-fere à obrigação de implementar o restabelecimento do benefício, por se tratar de decisão de eficácia mandamental que deverá ser efetivada mediante as atividades de cumprimento da sentença stricto sensu pre-vistas no art. 461 do CPC, sem a necessidade de um processo executivo autônomo (sine intervallo).

Os embargos declaratórios opostos foram acolhidos para o fim de prequestionamento (fls. 787/793).

Recebidos os autos pelo Superior Tribunal de Justiça, proferiu-se a decisão ora agravada (fls. 838/843), pela qual o recurso especial foi im-provido considerando a consonância da decisão do Tribunal de origem com a jurisprudência desta Corte, nos seguintes termos da ementa:

PROCESSUAL CIVIL – PREVIDENCIÁRIO – OMISSÃO – ALEGAÇÃO GENÉRICA – SÚMULA Nº 284/STF – INSTITUTO DA CONTAGEM RE-CÍPROCA – REGIMES DIVERSOS – CONTRIBUIÇÕES A CADA SISTEMA – DUAS APOSENTADORIAS – POSSIBILIDADE – PRECEDENTES – SÚ-MULA Nº 83/STJ – RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.

No presente agravo interno, a parte recorrente aduz que as contri-buições da parte recorrente ocorreram em favor apenas do Regime Ge-ral de Previdência Social, não se enquadrando assim na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça citada na decisão, nos seguintes termos (fls. 874-876):

Percebe-se, portanto, que as contribuições relativas às duas atividades, foram vertidas ao RGPS, sendo que apenas é permitido o cômputo dos tempos de serviços realizados em atividades concomitantes, quando houver a respectiva contribuição para cada um dos sistemas de previ-dência (RGPS e RPPS). O que não ocorreu no presente processo.

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Intimada, a parte agravada apresentou manifestação pela manu-tenção da decisão agravada (fls. 881/885).

É o relatório.

voto

O Exmo. Sr. Ministro Francisco Falcão (Relator):

Segundo decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da pu-blicação do provimento jurisdicional impugnado. Aplica-se, por isso, o Código de Processo Civil de 2015.

O recurso de agravo interno não merece prosperar, pois a ausên-cia de argumentos hábeis para alterar os fundamentos da decisão ora agravada torna incólume o entendimento nela firmado.

Consoante a decisão agravada, negou-se provimento ao recurso especial com aplicação do Enunciado nº 83 da Súmula do STJ, conside-rando que o acórdão do Tribunal de origem foi proferido em consonân-cia com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, assim firmada (fls. 838/843):

[...] a concessão de aposentadoria pelo Regime Geral da Previdência So-cial a segurado aposentado em regime próprio não ofende o disposto nos arts. 96 e 98 da Lei nº 8.213/1991, se o autor permaneceu vinculado ao RGPS e cumpriu os requisitos para a cumulação dos benefícios por regimes distintos, vertendo a respectiva contribuição para cada um deles.

No agravo interno, a parte recorrente alega dissonância entre a situação fática e a jurisprudência colacionada na decisão, uma vez que teriam ocorrido contribuições relativas às duas atividades apenas para um dos sistemas previdenciários, o Regime Geral de Previdência Social (fls. 874/876).

Contudo, cumpre asseverar que tais alegações não foram aduzidas no recurso especial, o que impossibilita sua análise por meio de agravo interno, por caracterizar imprópria inovação recursal.

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Ademais, as afirmações da parte recorrente não condizem com a realidade do processo, considerando o seguinte posicionamento do Tribunal de origem acerca das atividades desenvolvidas pela parte recor-rida e suas respectivas contribuições (fls. 764/770):

Observe-se, de início, que tais benefícios decorrem de contribuições feitas em função de atividades concomitantes, tendo o autor efetuado recolhimentos como contribuinte individual em razão do exercício pri-vado da medicina, bem como efetuado recolhimentos na qualidade de empregado público da UFPR, no período de 01.11.1971 a 11.12.1990.

Permanece, assim, o posicionamento acerca da possibilidade de concessão de duas aposentadorias simultâneas, uma pelo Regime Pró-prio e outra pelo Regime Geral de Previdência Social, quando houver o recolhimento de contribuição em favor de cada um deles. Assim é a jurisprudência desta Corte. Veja-se.

PREVIDENCIÁRIO – INSTITUTO DA CONTAGEM RECÍPROCA – REGI-MES DIVERSOS – CONTRIBUIÇÕES A CADA SISTEMA – DUAS APO-SENTADORIAS – POSSIBILIDADE – PRECEDENTES – SÚMULA Nº 83/STJ

“A norma previdenciária não cria óbice a percepção de duas aposenta-dorias em regimes distintos, quando os tempos de serviços realizados em atividades concomitantes sejam computados em cada sistema de previ-dência, havendo a respectiva contribuição para cada um deles” (AgRg--REsp 1.335.066/RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., Julgado em 23.10.2012, DJe 06.11.2012). Súmula nº 83/STJ.

Agravo regimental improvido.

(AgRg-REsp 1.433.178/RN, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., Julgado em 20.05.2014, DJe 26.05.2014)

PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL – APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO – POSSIBILIDADE DE CÔMPUTO DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO COMO CONTRIBUINTE INDIVIDUAL PARA CONCESSÃO DE APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRI-BUIÇÃO, AINDA QUE CONCOMITANTE AO TEMPO DE SERVIÇO COMO EMPREGADO PÚBLICO, DESDE QUE NÃO UTILIZADO PARA OBTENÇÃO DE APOSENTADORIA ESTATUTÁRIA – AGRAVO REGI-MENTAL DESPROVIDO

[...]

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124 ������������������������������������������������������������RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA

3. É firme o entendimento desta Corte de que o exercício simultâneo de atividades vinculadas a regime próprio e ao regime geral, havendo a respectiva contribuição, não obstaculiza o direito ao recebimento si-multâneo de benefícios em ambos os regimes. Precedentes: AgRg-REsp 1.335.066/RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 06.11.2012, AgRg-REsp 1.063.054/RS, Rel. Min. Og Fernandes, DJe 29.11.2010.

4. Agravo Regimental do INSS desprovido.

(AgRg-REsp 1.410.874/RN, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 1ª T., Julgado em 25.03.2014, DJe 07.04.2014)

Dessa forma, a parte agravante não comprova a necessidade de retificação a ser promovida na decisão agravada, proferida com funda-mentos suficientes e em consonância com entendimento pacífico deste Tribunal, razão pela qual não há como se prover o agravo interno.

Ante o exposto, nego provimento ao recurso de agravo interno.

É o voto.

certiDão De JUlGamento seGUnDa tUrma

Número Registro: 2016/0124245-3

AgInt-EDcl-REsp 1.598.405/PR

Números Origem: 450047043120144040000

50048788920144047000 PR-50048788920144047000

TRF4-50047043120144040000

Pauta: 21.02.2017 Julgado: 07.03.2017

Relator: Exmo. Sr. Ministro Francisco Falcão

Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Francisco Falcão

Subprocuradora-Geral da República: Exma. Sra. Dra. Sandra Verônica

Cureau

Secretária: Belª Valéria Alvim Dusi

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RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ����������������������������������������������������������������125

aUtUaÇão

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social

Recorrido: Brasilio Vicente de Castro Filho

Advogados: Melissa Folmann – PR032362 Gabriel Fabian Corrêa – PR056492

Assunto: Direito previdenciário – Benefícios em espécie – Aposenta-doria por tempo de contribuição (art. 55/6)

aGravo interno

Agravante: Instituto Nacional do Seguro Social

Agravado: Brasilio Vicente de Castro Filho

Advogados: Melissa Folmann – PR032362 Gabriel Fabian Corrêa – PR056492

certiDão

Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

“A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”

Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Og Fernandes e Mauro Campbell Marques votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Assusete Magalhães.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

2300

Superior Tribunal de JustiçaAgRg no Agravo em Recurso Especial nº 724.326 – DF (2015/0135905‑7)Relator: Ministro Napoleão Nunes Maia Filho Agravante: Silvia de Jesus Sofia ClaudioAdvogado: Carlos Eduardo Pereira Costa e outro(s) – GO022817Agravado: Distrito FederalAdvogado: Sem representação nos autos – SE000000M

ementa

dIreIto CIvIl e admINIStratIvo – agravo regImeNtal No agravo em reCurSo eSPeCIal – revISão de ato de aPoSeNtadorIa – alegada vIolação doS artS. 3o e 198 do CódIgo CIvIl – a aNálISe da INCaPaCIdade Para a PrátICa doS atoS da vIda CIvIl requer a reaPreCIação do CoNJuNto fátICo-ProbatórIo – ImPoSSIbIlIdade – SÚmula Nº 7/StJ – PreSCrIção do fuNdo de dIreIto – aCórdão em SINtoNIa Com o eNteNdImeNto deSta Corte SuPerIor – agravo regImeNtal do PartICular a que Se Nega ProvImeNto

1. No tocante à alegada violação dos arts. 3º e 198, ambos do Código Civil, verifica-se que o Tribunal de origem consignou que as moléstias que acometem a parte Agravante – depressão grave e distúrbio misto de emoções e conduta – não possuem o condão de lhe gerar incapacidade para os atos da vida civil, bem como de que já existiam à época da concessão do ato de aposentadoria, e que foram levadas em consideração, não havendo motivos que ensejem a suspensão do prazo prescricional.

2. O acolhimento da tese formulada pela parte Agravante, de que faz jus a revisão de sua aposentadoria proporcional para integral, ao argumento de se encontrar incapacitada para a prática dos atos da vida civil, demanda, necessariamente, o revolvimento de ma-téria fático-probatória, o que é inviável em sede de Recurso Es-pecial, nos termos da Súmula nº 7/STJ. Além do mais, sequer há notícias nos autos acerca de eventual interdição da parte Recor-rente, de modo que a condição alegada não afeta, por ora, o prazo prescricional.

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3. No mais, se extrai dos autos, que a aposentadoria da parte Re-corrente somente se aperfeiçoou com a Decisão nº 8.142/2000 do Tribunal de Contas do Distrito Federal, datada de 07.11.2000, e que somente em 22.04.2014 ingressou com a ação de revisão da aposentadoria por invalidez proporcional, visando à conces-são da aposentadoria integral, ou seja, mais de cinco anos após o ato de sua concessão, restando configurada, portanto, a prescrição do próprio fundo de direito, nos termos da firme orientação ju-risprudencial desta Corte. Precedentes: AgRg-AREsp 734.180/BA, Rel. Min. Conv. Olindo Menezes, DJe 15.02.2016; AgRg-AREsp. 818.623/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 26.02.2016.

4. Agravo Regimental do particular a que se nega provimento.

acÓrDão

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provi-mento ao Agravo Regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Benedito Gonçalves, Sérgio Kukina (Presidente), Regina Helena Costa e Gurgel de Faria votaram com o Sr. Ministro Re-lator.

Brasília/DF, 16 de fevereiro de 2017 (data do Julgamento).

Napoleão Nunes Maia Filho Ministro Relator

relatÓrio

1. Trata-se de Agravo Regimental interposto por Silvia de Jesus Sofia Claudio contra decisão que negou provimento ao seu Agravo em Recurso Especial nos termos da seguinte ementa:

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – REVISÃO DE ATO DE APOSEN-TADORIA – ALEGADA VIOLAÇÃO AOS ARTS. 3º E 198 DO CÓDIGO CIVIL – A ANÁLISE DA INCAPACIDADE PARA A PRÁTICA DOS ATOS DA VIDA CIVIL REQUER A REAPRECIAÇÃO DO CONJUNTO FÁTICO-

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-PROBATÓRIO – IMPOSSIBILIDADE – SÚMULA Nº 7/STJ – PRESCRI-ÇÃO DO FUNDO DE DIREITO – ACÓRDÃO EM SINTONIA COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE SUPERIOR – SÚMULA Nº 83/STJ – AGRAVO DESPROVIDO (fl. 190).

Essa decisão confirmou o entendimento firmado pelo Tribunal de origem, assim ementado:

APELAÇÃO CÍVEL DIREITO ADMINISTRATIVO – SERVIDORA DA SE-CRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL – AUXILIAR DE ENFERMAGEM – READAPTAÇÃO – AGENTE ADMINISTRATIVO – APOSENTADORIA – DOENÇA GRAVE – PROVENTOS PROPORCIO-NAIS – VENCIMENTOS DO CARGO ORIGINAL – PRAZO PRESCRICIO-NAL QUINQUENAL – INOBSERVÂNCIA – GRATUIDADE DE JUSTIÇA

1. Fundando-se o pleito de revisão de aposentadoria no argumento de que a servidora se encontrava acometida de doenças graves, que não geram incapacidade para atos da vida civil e, portanto, imprescritibilida-de, e que já existiam no momento da aposentação, servindo, inclusive, de fundamento para esta, a questão envolve o fundo de direito e sujeita--se ao prazo prescricional qüinqüenal previsto pelo art. 1º do Decreto nº 20.910/1932.

2. Não se identificando qualquer nulidade no ato de aposentadoria, em relação aos vencimentos tomados como parâmetro, não há falar-se em imprescritibilidade.

3. O ato de aposentadoria configura ato administrativo complexo, aper-feiçoando-se somente com a decisão do Tribunal de Contas, sendo esse o termo inicial do prazo prescricional de pretensões que não envolvem prestações sucessivas.

4. É possível, em qualquer grau de jurisdição, pleitear os benefícios da gratuidade da justiça, franqueando-se ao magistrado a possibilidade de, a partir dos elementos dos autos, verificar a hipossuficiência econômica da parte e conceder ou indeferir o benefício, sendo que, no caso de de-ferimento, os efeitos da concessão se operam ex nunc.

5. Apelação conhecida e parcialmente provida (fls. 107/108).

3. A parte Agravante reitera as razões expendidas em seu Apelo Nobre, apontando violação aos arts. 3º e 198 do Código Civil, e 1º e 3º do Decreto nº 20.910/1932, aos seguintes argumentos: (a) de que a Re-corrida é portadora de depressão grave e distúrbio misto de emoções e

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conduta, tratando-se de pessoa absolutamente incapaz; e (b) de que não corre a prescrição contra absolutamente incapazes, de modo que é pos-sível a revisão de sua aposentadoria proporcional para integral, estando prescritas somente as parcelas anteriores aos cinco anos do ajuizamento da ação.

4. Dessa forma, pugna pela reconsideração do decisum agravado ou o julgamento do presente Agravo pelo Órgão Colegiado competente.

5. É o relatório.

voto

CIvIl e admINIStratIvo – agravo regImeNtal No agravo em reCurSo eSPeCIal – revISão de ato de aPoSeNtadorIa – alegada vIolação aoS artS. 3º e 198 do CódIgo CIvIl – a aNálISe da INCaPaCIdade Para a PrátICa doS atoS da vIda CIvIl requer a reaPreCIação do CoNJuNto fátICo ProbatórIo – ImPoSSIbIlIdade – SÚmula Nº 7/StJ – PreSCrIção do fuNdo de dIreIto – aCórdão em SINtoNIa Com o eNteNdImeNto deSta Corte SuPerIor – agravo regImeNtal do PartICular a que Se Nega ProvImeNto

1. No tocante a alegada violação aos arts. 3º e 198, ambos do Código Civil, verifica-se que o Tribunal de origem consignou que as moléstias que acometem a parte Agravante – depressão grave e distúrbio misto de emoções e conduta – não possuem o condão de lhe gerar incapacidade para os atos da vida civil, bem como de que já existiam à época da concessão do ato de aposentadoria, e que foram levadas em consideração, não havendo motivos que ensejem a suspensão do prazo prescricional.

2. O acolhimento da tese formulada pela parte Agravante, de que faz jus a revisão de sua aposentadoria proporcional para integral, ao argumento de se encontrar incapacitada para a pratica dos atos da vida civil, demanda, necessariamente, o revolvimento de ma-téria fático-probatória, o que é inviável em sede de Recurso Es-pecial, nos termos da Súmula nº 7/STJ. Além do mais, sequer há notícias nos autos acerca de eventual interdição da parte Recor-rente, de modo que a condição alegada não afeta, por ora, o prazo prescricional.

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3. No mais, se extrai dos autos, que a aposentadoria da parte Re-corrente somente se aperfeiçoou com a Decisão nº 8.142/2000 do Tribunal de Contas do Distrito Federal, datada de 07.11.2000, e que somente em 22.04.2014 ingressou com a ação de revisão da aposentadoria por invalidez proporcional, visando a conces-são da aposentadoria integral, ou seja, mais de cinco anos após o ato de sua concessão, restando configurada, portanto, a prescrição do próprio fundo de direito, nos termos da firme orientação ju-risprudencial desta Corte. Precedentes: AgRg no AREsp. 734.180/BA, Rel. Min. convocado Olindo Menezes, DJe 15.02.2016; AgRg-AREsp. 818.623/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 26.02.2016.

4. Agravo Regimental do particular a que se nega provimento.

1. A despeito das alegações da parte Agravante, razão não lhe as-siste, porquanto os argumentos trazidos no recurso não foram suficientes para infirmar a decisão agravada, devendo ser mantida por seus próprios fundamentos.

2. Conforme destacado anteriormente, no tocante a alegada viola-ção aos arts. 3º e 198 ambos do Código Civil, verifica-se que o Tribunal de origem consignou que as moléstias que acometem a parte Agravante – depressão grave e distúrbio misto de emoções e conduta – não pos-suem o condão de lhe gerar incapacidade para os atos da vida civil, bem como de que já existiam à época da concessão do ato de aposentadoria, e que foram levadas em consideração, não havendo motivos que ense-jem a suspensão do prazo prescricional. Nesse contexto, merece desta-que o seguinte trecho do acórdão:

Analisa-se, em primeiro lugar, a argumentação a respeito da existência de moléstia grave a amparar a concessão da aposentadoria com proven-tos integrais.

Sobre o ponto, cumpre salientar, em primeiro lugar, que as moléstias que acometem a autora/apelante – depressão grave e distúrbio misto de emo-ções e conduta – não tem o condão de lhe gerar a incapacidade para os atos da vida civil, conforme previsão do art. 3º, II, do Código Civil e, em conseqüência, obstar o curso de qualquer prazo prescricional.

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Ademais, vê-se que as enfermidades relatadas pela autora/apelante já existiam à época da concessão de sua aposentadoria e inclusive serviram de fundamento para referido ato administrativo.

Logo, por não se tratar de enfermidade superveniente, deve ser conside-rado o momento da aposentação da servidora, não lhe socorrendo, nesse particular, a tese relativa à prestação de trato sucessivo (fl. 111).

3. Da simples leitura do trecho em destaque, verifica-se que o aco-lhimento da tese formulada pela parte Agravante, de que faz jus a revi-são de sua aposentadoria proporcional para integral, ao argumento de se encontrar incapacitada para a prática dos atos da vida civil, demanda, necessariamente, o revolvimento de matéria fático-probatória, o que é inviável em sede de Recurso Especial, nos termos da Súmula nº 7/STJ. Além do mais, sequer há notícias nos autos acerca de eventual interdi-ção da parte Recorrente, de modo que a condição alegada não afeta, por ora, o prazo prescricional.

4. No mais, se extrai dos autos, que a aposentadoria da parte Re-corrente somente se aperfeiçoou com a Decisão nº 8.142/2000 do Tribu-nal de Contas do Distrito Federal, datada de 07.11.2000, e que somente em 22.04.2014 ingressou com a ação de revisão da aposentadoria por invalidez proporcional, visando a concessão da aposentadoria integral, ou seja, mais de cinco anos após o ato de sua concessão, restando con-figurada, portanto, a prescrição do próprio fundo de direito, nos termos da firme orientação jurisprudencial desta Corte.

5. Nesse sentido, os seguintes julgados:

ADMINISTRATIVO – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RE-CURSO ESPECIAL – SERVIDOR PÚBLICO APOSENTADO – REVISÃO DO ATO DE APOSENTADORIA OCORRIDO DENTRO DO PRAZO DE CINCO ANOS – PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO AFASTADA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM

1. O Tribunal de origem reconheceu que não houve o decurso do prazo prescricional, de cinco anos, que se inicia com a passagem para a ina-tividade, pois a presente ação foi ajuizada dentro do prazo quinquenal legalmente estabelecido, o que afasta a ocorrência da prescrição do fun-do de direito.

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2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que “é de cinco anos o prazo prescricional para o servidor inativo postular a revi-são do benefício de aposentadoria, considerando-se como termo inicial a data em que ele passou à inatividade, nos termos do art. 1º do Decreto nº 20.910/1932” (REsp 1509760/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., Julgado em 02.06.2015, DJe 05.08.2015).

3. Não obstante a boa qualidade dos argumentos expendidos pelo agra-vante, o arrazoado, que reitera os argumentos do recurso especial, não tem o condão de infirmar os fundamentos da decisão agravada, de que se proposta a ação dentro do prazo de cinco anos da data em que a parte passou à inatividade não ocorreu a prescrição do fundo de direito.

4. Agravo regimental desprovido (AgRg-AREsp 734.180/BA, Rel. Min. Conv. Olindo Menezes, DJe 15.02.2016).

***

ADMINISTRATIVO – SERVIDORA PÚBLICA ESTADUAL – APOSEN-TADORIA COM PROVENTOS INTEGRAIS – ART. 1º DO DECRETO Nº 20.910/32 – APLICABILIDADE – PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DI-REITO – OCORRÊNCIA.

1. O Decreto nº 20.910/1932 regula a prescrição das pretensões formu-ladas contra a Fazenda Pública, seja qual for a sua natureza (cf. REsp 1251993/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 1ª S., DJe 19.12.2012, rito dos recursos repetitivos).

2. Entende esta Corte Superior que “o termo inicial da prescrição quin-quenal aplicável à ação que busca a revisão da proporcionalidade dos proventos de aposentadoria em razão dos anos de serviço prestados é o ato de concessão do benefício, porquanto a pretensão atinge o pró-prio fundo do direito” (cf. EAg 1172802/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, DJe 05.10.2015).

3. Agravo regimental não provido (AgRg-AREsp 818.623/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 26.02.2016).

6. Ante o exposto, nega-se provimento ao Agravo Regimental do particular. É como voto.

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certiDão De JUlGamento primeira tUrma

AgRg-AREsp 724.326/DF Número Registro: 2015/0135905-7

Números Origem: 00570018020148070001 20140110570014 20140110570014AGS 570018020148070001

Pauta: 16.02.2017 Julgado: 16.02.2017

Relator: Exmo. Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho

Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Sérgio Kukina

Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Antônio Carlos Fonseca da Silva

Secretária: Belª Bárbara Amorim Sousa Camuña

aUtUaÇão

Agravante: Silvia de Jesus Sofia Claudio

Advogado: Carlos Eduardo Pereira Costa e outro(s) – GO022817

Agravado: Distrito Federal

Advogado: Sem representação nos autos – SE000000M

Assunto: direito administrativo e outras matérias de direito público – Servidor público civil – Aposentadoria

aGravo reGimental

Agravante: Silvia de Jesus Sofia Claudio

Advogado: Carlos Eduardo Pereira Costa e outro(s) – GO022817

Agravado: Distrito Federal

Advogado: sem representação nos autos – SE000000M

certiDão

Certifico que a egrégia Primeira Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

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A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Benedito Gonçalves, Sérgio Kukina (Presidente), Regina Helena Costa e Gurgel de Faria votaram com o Sr. Ministro Re-lator.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

2301

Tribunal Regional Federal da 1ª RegiãoApelação Cível nº 0034087‑74.2014.4.01.9199/MGRelator: Desembargador Federal Jamil Rosa de Jesus OliveiraApelante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSSProcurador: DF00025372 – Adriana Maia VenturiniApelado: Lavinia Milito da Silva – menor e outro(a)Advogado: MG00131480 – Giovani Lucas Adad Altef e outros(as)

ementa

PrevIdeNCIárIo e CoNStItuCIoNal – PeNSão Por morte – trabalhador urbaNo – ComProvação da CoNdIção de Segurado – eXteNSão Período de graça – deSemPrego – fIlhaS meNoreS – dePeNdêNCIa eCoNÔmICa PreSumIda – NeCeSSIdade de INterveNção do mP – oCorrêNCIa – termo a quo – auSêNCIa de requerImeNto admINIStratIvo – ParCelaS devIdaS – Correção moNetárIa e JuroS de mora – hoNorárIoS advoCatíCIoS

1. Sentença sujeita à revisão de ofício, eis que proferida contra o INSS (art. 475, I, do CPC/art. 496, I do NCPC) e de valor incerto a condenação.

2. Cuida-se de decisão proferida na regência do CPC de 1973, sob o qual também foi manifestado o recurso, e conforme o princí-pio do isolamento dos atos processuais e o da irretroatividade da lei, as decisões já proferidas não são alcançadas pela lei nova, de sorte que não se lhe aplicam as regras do CPC atual, inclusive as concernentes à fixação dos honorários advocatícios, que se regem pela lei anterior.

3. A pensão por morte é benefício previdenciário regido pela lei vigente à época do óbito do segurado instituidor e independe de carência. Nos termos do art. 74 da Lei nº 8.213/1991, é o be-nefício pago aos dependentes do segurado falecido, homem ou mulher, aposentado ou não. A concessão do benefício de pensão por morte pressupõe a dependência econômica em relação ao ins-tituidor da pensão (arts. 16 e 74 da Lei nº 8.213, de 1991). Ausente um desses requisitos, deve ser denegado o benefício.

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4. No caso dos autos, restou comprovado o óbito (ocorrido em 26.12.2008) e a condição de dependente econômica da par-te autora em relação à seu genitor (filhas menores, nascidas em 27.07.2000 e em 26.08.2003, respectivamente). O cerne do litígio diz respeito à qualidade de segurado do falecido.

5. Na data do óbito, o pretenso instituidor detinha a qualidade de segurado, pois o seu último vínculo encerrara-se em 16.07.2007 (informações sistema CNIS). Assim, o período de graça deve ser es-tendido pelos 12 meses previstos no art. 15, II da Lei nº 8.213/1991 (após a cessação das contribuições) e por mais 12 meses previstos no §2º do referido artigo (situação de desemprego), mantendo o falecido a qualidade de segurado até 15.09.2009.

6. Comprovados, nos autos, o óbito e a qualidade de segurado do instituidor da pensão, bem como a condição de dependente das beneficiárias, deve ser concedido o benefício de pensão por morte à parte autora.

7. O art. 74 da Lei nº 8.213/1991 estabelece que, quanto à data de início do benefício, a pensão será devida a partir do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste; da data do requerimento administrativo, quando requerida após o prazo previsto no inciso anterior, observada a prescrição quinquenal. Em caso de ausência de tal requerimento, o benefício será devido a contar da citação (Recurso Especial Representativo de Controvérsia. Art. 543-C do CPC. REsp 1369165/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª S., Jul-gado em 26.02.2014, DJe 07.03.2014). A DIB fora fixada correta-mente na data do óbito do instituidor.

8. De acordo com o Código Civil de 2002, a prescrição quinque-nal não corre contra os absolutamente incapazes (menores de 16 anos), assim como o prazo previsto no art. 74 da Lei nº 8.213/1991. Dessa forma, será devida a pensão por morte desde a data do óbito quando requerida pelo filho menor até 30 dias após completar 16 anos (Instrução Normativa INSS/PRES nº 40 de 2009). Após essa data, a causa impeditiva do transcurso do prazo prescricional deixa de existir, passando, a partir de então, a ter fluência para o requerimento das parcelas vencidas.

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9. Deve ser observado, pelo Juízo a quo, o percentual devido a cada uma das dependentes do segurado falecido, levando-se em consideração, especialmente, o rateio entre as filhas. Saliente-se que a pensão por morte, havendo mais de um pensionista, como no caso, será rateada entre todos em parte iguais, nos termos do art. 77 da Lei nº 8.213/1991.

10. Correção monetária e juros moratórios, conforme Manual de Cálculos da Justiça Federal, observada quanto aos juros a Lei nº 11.960, de 2009, a partir da sua vigência.

11. Honorários advocatícios, de 10% da condenação, nos termos da Súmula nº 111 do STJ.

12. Houve manifestação do MPF, no interesse das menores, pelo desprovimento do recurso.

13. Apelação do INSS e remessa oficial, tida por interposta, par-cialmente providas, para fixar os honorários advocatícios em 10% da condenação e para adequar a correção monetária e os juros de mora aos termos do voto.

acÓrDão

Decide a Turma, por unanimidade, dar parcial provimento à ape-lação do INSS e à remessa oficial, tida por interposta.

1ª Turma do TRF da 1ª Região – 15.02.2017.

Desembargador Federal Jamil Rosa de Jesus Oliveira Relator

relatÓrio

O Exmo. Sr. Desembargador Federal Jamil Rosa de Jesus Oliveira (Relator):

O INSS maneja recurso de apelação contra a sentença pela qual o juízo a quo acolheu a pretensão deduzida em juízo, condenando a referida autarquia a conceder o benefício de pensão por morte, em razão do falecimento do genitor da parte autora, na condição de trabalhador

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urbano, com pagamento das parcelas devidas desde o óbito. Conde-nação ao pagamento de correção monetária e de juros de mora. Sem condenação em custas processuais. Honorários advocatícios fixados em 15% sobre o valor da condenação. Não submeteu ao reexame.

Sustenta o INSS a improcedência do pedido pela ausência de com-provação da qualidade de segurada urbana da falecida.

Ad argumentandum, apresentou questionamento quanto aos con-sectários da condenação.

Foram apresentadas contrarrazões pela parte autora, pela manu-tenção da sentença de procedência.

Houve manifestação do MPF pelo desprovimento do recurso do INSS, no interesse das menores.

É o relatório.

voto

Apelação que preenche os requisitos subjetivos e objetivos de ad-missibilidade.

Sentença sujeita à revisão de ofício, eis que proferida contra o INSS (art. 475, I, do CPC/art. 496, I do NCPC) e de valor incerto a con-denação.

mÉrIto

pensão por morte

A pensão por morte é benefício previdenciário regido pela lei vi-gente à época do óbito do segurado instituidor e independe de carência. Nos termos do art. 74 da Lei nº 8.213/1991, é o benefício pago aos de-pendentes do segurado falecido, homem ou mulher, aposentado ou não.

Para obtenção desse benefício é necessária a comprovação do óbito, a qualidade de segurado do instituidor da pensão, bem como a condição de dependente do beneficiário.

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É devida ao conjunto de seus dependentes, observada a ordem preferencial das classes do art. 16 da Lei nº 8.213/1991, sendo que a classe I detém presunção legal de dependência econômica.

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado:

I – o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido;

II – os pais;

III – o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido;

§ 1º A existência de dependente de qualquer das classes deste artigo ex-clui do direito às prestações os das classes seguintes.

§ 2º O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante decla-ração do segurado e desde que comprovada a dependência econômica na forma estabelecida no Regulamento.

§ 3º Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser casada, mantém união estável com o segurado ou com a segurada, de acordo com o § 3º do art. 226 da Constituição Federal.

§ 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é pre-sumida e a das demais deve ser comprovada.

Aos dependentes de segurado especial de que trata o art. 11, inci-so VII, da referida lei, fica garantida a concessão de pensão por morte no valor de um salário mínimo, dispensada carência (art. 39, I), exigindo, tão só, a comprovação de filiação à Previdência Social, que, no caso, poderá ser feita depois do falecimento (Dec. 3.048/1999, art.18, § 5º).

reqUisitos para a concessão Da pensão por morte

A concessão do benefício de pensão por morte aos dependentes do segurado falecido pressupõe: a) o óbito do segurado; b) a qualida-de de segurado do falecido à data do óbito, independentemente de ca-rência; c) que os dependentes sejam aqueles assim considerados pelo art. 16 da Lei nº 8.213/1991, sendo que, para os indicados no inciso I do referido dispositivo legal a dependência econômica é presumida, devendo ser comprovada, em relação aos demais.

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qUaliDaDe De seGUraDo

A Previdência Social é organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, cf. art. 201, caput, da Constituição, por isso que os titulares do direito subjetivo de usufruir das prestações previdenciárias são os segurados e seus dependentes. O mo-delo nacional não é universal, mas contributivo. Segurados são os que se vinculam diretamente à Previdência Social, em razão do exercício de atividade prevista em lei, ainda que sem contribuir para o sistema, como os segurados especiais, ou em razão de contribuições vertidas, nos ter-mos da lei, como na generalidade dos casos.

Nos termos do disposto nos incisos I e II do art. 15 da Lei nº 8.213/1991, mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições e sem limite de prazo, o segurado que estiver em gozo de benefício (auxílio-doença), e o segurado que deixar de exercer ativi-dade remunerada, até 12 meses após a cessação das contribuições.

Por sua vez, o § 1º estabelece que o prazo do inciso II será prorro-gado para até 24 (vinte e quatro) meses se o segurado já tiver recolhido mais de 120 (cento e vinte) contribuições mensais sem interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado.

Da mesma forma, o § 2º determina que os prazos do inciso II ou do § 1º serão acrescidos de 12 (doze) meses para o segurado desemprega-do, desde que comprovada essa situação pelo registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e da Previdência Social.

Verifica-se, ainda, que “não perde a qualidade de segurado aquele que deixa de contribuir para Previdência Social em razão de incapa-cidade legalmente comprovada” (STJ, REsp 800860, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 18.05.2009).

A perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao término do prazo fixado no Plano de Custeio da Seguridade Social para recolhimento da contribuição referente ao mês imediatamente posterior ao final dos prazos fixados no art. 15, § 4º, da Lei nº 8.213/1991.

Não é devida a pensão por morte aos dependentes do segurado que falecer após a perda da qualidade de segurado, salvo se preenchido

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os requisitos legais para a obtenção da aposentadoria, nos termos do art. 102 da Lei de Benefícios.

Havendo perda da qualidade de segurado, as contribuições an-teriores a essa data só serão computadas para efeito de carência depois que o segurado contar, a partir da nova filiação à Previdência Social, com, no mínimo, 1/3 do número de contribuições exigidas para o cum-primento da carência definida para o benefício a ser requerido (no caso, 4 contribuições).

Com relação ao segurado contribuinte individual e facultativo, o não recolhimento das contribuições previdenciárias até o dia quinze do mês seguinte ao da competência, dá início ao prazo que se mantém ain-da a qualidade de segurado.

Para o contribuinte facultativo o período de graça é reduzido para seis meses, nos termos do disposto no art. 15, inciso VI, da Lei nº 8.213/1991.

CaSo doS autoS

No caso dos autos, restou comprovado o óbito (ocorrido em 26.12.2008) e a condição de dependente econômica da parte autora em relação à seu genitor (filhas menores, nascidas em 27.07.2000 e em 26.08.2003, respectivamente). O cerne do litígio diz respeito à qualida-de de segurado do falecido.

Na data do óbito, o pretenso instituidor detinha a qualidade de se-gurado, pois o seu último vínculo encerrara-se em 16.07.2007 (informa-ções sistema CNIS). Assim, o período de graça deve ser estendido pelos 12 meses previstos no art. 15, II da Lei nº 8.213/1991 (após a cessação das contribuições) e por mais 12 meses previstos no § 2º do referido artigo (situação de desemprego), mantendo o falecido a qualidade de segurado até 15.09.2009.

Comprovados, nos autos, o óbito e a qualidade de segurado do instituidor da pensão, bem como a condição de dependente das bene-ficiárias, deve ser concedido o benefício de pensão por morte à parte autora.

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Atendidos os requisitos indispensáveis à concessão do benefício de pensão por morte, prova material da qualidade de segurado do ins-tituidor, bem como a dependência econômica da parte autora (filhas menores) em relação ao falecido, devidamente corroborada por prova testemunhal sólida, mostrou-se correta a sentença que acolheu a preten-são nesse sentido deduzida.

termo inicial Do benefício – Dib

A data de início do benefício será definida pela legislação vigente à data do óbito do segurado e pela capacidade do dependente que re-querer o benefício.

O art. 74 da Lei nº 8.213/1991 estabelece que, quanto à data de início do benefício, a pensão será devida a partir do óbito, quando re-querida até trinta dias depois deste; da data do requerimento administra-tivo, quando requerida após o prazo previsto no inciso anterior observa-da a prescrição qüinqüenal. Em caso de ausência de tal requerimento, o benefício será devido a contar da citação (Recurso Especial Represen-tativo de Controvérsia. Art. 543-C do CPC. REsp 1369165/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª S., Julgado em 26.02.2014, DJe 07.03.2014).

Ocorrido o óbito do segurado antes da alteração procedida no art. 74 da Lei nº 8.213/1991 (pela Lei nº 9.528/1997), e ante a falta de requerimento administrativo, o termo inicial do benefício corresponde à data da citação.

No que concerne ao pagamento de prestações vencidas, em qualquer dessas hipóteses, será observada a prescrição quinquenal (cf. art. 103, parágrafo único, da Lei nº 8.213, de 1991, e da Súmula nº 85 do STJ).

DIB fixada corretamente na data do óbito do instituidor.

Deve ser observado, pelo Juízo a quo, o percentual devido a cada uma das dependentes do segurado falecido, levando-se em considera-ção, especialmente, o rateio entre as filhas. Saliente-se que a pensão por morte, havendo mais de um pensionista, como no caso, será rateada entre todos em parte iguais, nos termos do art. 77 da Lei nº 8.213/1991.

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PreSCrIção

No que concerne ao pagamento de prestações vencidas, em qualquer dessas hipóteses, será observada a prescrição quinquenal (cf. art. 103, parágrafo único, da Lei nº 8.213, de 1991, e da Súmula nº 85 do STJ).

De acordo com o Código Civil de 2002, a prescrição quinquenal não corre contra os absolutamente incapazes (menores de 16 anos), as-sim como o prazo previsto no art. 74 da Lei nº 8.213/1991. Dessa forma, será devida a pensão por morte desde a data do óbito quando requerida pelo filho menor até 30 dias após completar 16 anos (Instrução Norma-tiva INSS/PRES nº 40 de 2009). Após essa data, a causa impeditiva do transcurso do prazo prescricional deixa de existir, passando, a partir de então, a ter fluência para o requerimento das parcelas vencidas.

Dessa forma, será devida a pensão por morte desde a data do óbito quando requerida pelo filho menor até 30 dias após completar 16 anos (Instrução Normativa INSS/PRES nº 40 de 2009). Após essa data, a causa impeditiva do transcurso do prazo prescricional deixa de existir, pas-sando, a partir de então, a ter fluência para o requerimento das parcelas vencidas.

Nesse sentido:

[...] 9. A prescrição quinquenal não corre contra os absolutamente in-capazes (CC/2002, art. 1.968, I, e Lei nº 8.213/1991, art. 103, parágrafo único). Entretanto, a causa impeditiva do transcurso do prazo prescri-cional somente ocorre até a relativização da incapacidade do menor, ou seja, quando ele completa 16 (dezesseis) anos de idade, passando a partir de então, a ter fluência para o requerimento das parcelas vencidas. Precedentes. (AC 0029407-12.2015.4.01.9199/MT, Relª Desª Fed. Gilda Sigmaringa Seixas, 1ª T., e-DJF1 p. 304 de 16.09.2015)

CoNSeCtárIoS

correÇão monetária e JUros

Correção monetária com base nos índices do Manual de Cálcu-los da Justiça Federal. Juros de 1% de acordo com o art. 3º do Dec. 2.322/1987, até a vigência da Lei nº 11.960, de 29.06.2009, que

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deu nova redação ao mencionado art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, de 10.09.19997, devendo ser aplicados, a partir de então, os índices ofi-ciais de juros aplicados à caderneta de poupança, que são devidos desde a citação.

cUstas processUais

Nos feitos processados perante a Justiça Estadual, o INSS é isento do pagamento de custas (inclusive despesas com oficial de justiça) nos estados de Minas Gerais, Goiás, Rondônia, Mato Grosso e Piauí.

Honorários aDvocatícios (súmUla nº 111/stJ)

Os honorários advocatícios, em casos assim, são fixados em 10% das prestações vencidas até a prolação da sentença de procedência, ou do acórdão que reforma a sentença de improcedência da pretensão au-toral.

Tal parcela é devida igualmente nos feitos em que não houve pré-via postulação administrativa, tendo em vista que o INSS não requereu a suspensão do feito para, administrativamente, analisar a prevalência do pedido formulado, optando a autarquia por dar continuidade ao proces-so judicial em seus ulteriores termos.

Quando a sentença condenar o INSS em valor fixo, ao invés de es-tabelecer percentuais relativos ao valor da causa, quando da execução, no momento da apuração dos valores a serem pagos pelo ente público, caso o valor estabelecido seja maior que o percentual fixado pela juris-prudência, deve ser reduzido ao parâmetro sumular. Caso seja inferior e, em não havendo recurso voluntário da parte neste sentido, deve ser mantido tal qual foi estabelecido na sentença.

CoNCluSão

Ante o exposto, dou parcial provimento à apelação do INSS e à remessa oficial, tida por interposta, para fixar os honorários advocatícios em 10% da condenação, nos termos da Súmula nº 111 do STJ e para adequar a correção monetária e os juros de mora aos termos do presente voto.

É como voto.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

2302

Tribunal Regional Federal da 2ª RegiãoApelação Cível – Turma Especialidade I – Penal, Previdenciário e Propriedade IndustrialNº CNJ: 0000508‑65.2016.4.02.9999 (2016.99.99.000508‑2)Relator: Juiz Federal Vigdor Teitel (em Substituição ao Desembargador Federal Abel Gomes)Apelante: Emilda da Cruz TóstasAdvogado: Valber Cruz Cereza e outroApelado: INSS – Instituto Nacional do Seguro SocialProcurador: Procurador FederalOrigem: [...]

ementa

PrevIdeNCIárIo – PedIdo de CoNCeSSão de aPoSeNtadorIa Por Idade (rural) – Não CoNfIguração do INíCIo de Prova materIal – Não ateNdImeNto ao requISIto da ComProvação do eXerCíCIo da atIvIdade rural Pelo Período de CarêNCIa eXIgIdo – SeNteNça maNtIda

I – A aposentadoria por idade, no que tange ao exercício de ati-vidade rural, encontra-se disciplinada nos arts. 11, 48, §§ 2º e 3º, 142 e 143 da Lei nº 8.213/1991 e, ainda, no art. 201, § 7º, II da CF/1988, tendo como pressupostos a exigência de que o labor rural tenha sido exercido em período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tempo igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício, além da idade de 60 anos para o homem e 55 para a mulher.

II – Cumpre consignar que para a comprovação do exercício da atividade rural não basta a prova meramente testemunhal, sendo imprescindível a produção de início de prova material, sendo certo que a relação de documentos estipulados no art. 106 para a com-provação de atividade rural não é exaustiva, mas apenas exem-plificativa (STJ, REsp 433237 e 1218286, 5ª T., Rel. Min. Gilson Dipp DJe de 28.02.2011 e TRF 2ª R., AGTAC 361966, 1ª T.Esp.). É imprescindível que a prova acostada aos autos seja capaz de produzir a presunção do exercício de atividade rural e que, além disso, seja corroborada e não conflite com outros documentos ou

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com os depoimentos pessoais prestados em juízo, sob pena de não ficar demonstrado o fato constitutivo do alegado direito.

III – Note-se que a jurisprudência restou consolidada no sentido de que a prova exclusivamente testemunhal, sem o razoável início de prova material, não basta à comprovação da qualidade de segura-do especial (Súmula nº 149 do eg. STJ). Perfilhando essa linha de raciocínio, com enfoque particular para o caso da aposentadoria por idade do trabalhador rural, é preciso levar em conta, além dos pressupostos legais acima referidos, o fato de que o benefício em questão possui um caráter diferenciado, haja vista que os “segu-rados especiais” (trabalhadores rurais que já se encontravam no sistema antes da Lei nº 8.213/1991) não estão obrigados a reco-lher a respectiva contribuição previdenciária, a fim de fazer jus ao benefício.

IV – Vale dizer, a fonte de custeio para esse tipo de benefício não é derivada de percentual dos valores eventualmente recebidos pelo trabalhador em decorrência de sua atividade. Por essa razão, para que se alcance o tão desejado equilíbrio atuarial da Previdência, é preciso que se adote uma postura de maior rigor e restritividade na avaliação dos pleitos previdenciários, inclusive nos relativos aos benefícios postulados por trabalhadores rurais, não sendo possível admitir qualquer tipo de prova (mas sim um início razoável – acei-tável) para a caracterização do direito, não obstante se saiba das dificuldades que muitos trabalhadores rurais enfrentam para obter tais documentos.

V – É que por maior que seja a relevância social de tal aspecto, não se pode elevá-lo a um patamar que suplante o interesse cole-tivo de proteção do sistema previdenciário, o qual visa justamente garantir o direito de todos aqueles que dele se beneficiam, mor-mente os que efetivamente contribuem diretamente para sua ma-nutenção, de modo que todos possam, efetivamente, no curso do tempo, gozar de seus benefícios, mediante prévia racionalização e consequente preservação e higidez do aludido sistema. Portanto, para que se reconheça o direito ao benefício de aposentadoria rural é essencial que se produza nos autos um início razoável de prova material do desempenho da atividade no campo, e que esta venha a ser corroborada pela prova testemunhal, não sendo plau-

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sível admitir um conjunto probatório que apresente algum tipo de inconsistência ou contradição, por mínima que seja.

VI – No caso concreto, em que pese os documentos apresenta-dos, creio que não restou devidamente comprovado o labor rural individualmente, ou em regime de economia familiar, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao re-querimento do benefício por tempo igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício. Para comprovar o labor rural a autora apresentou os seguintes docu-mentos: certidão de casamento emitida em 1974, contratos de parceria agrícola extemporâneos à época da firmação do contrato (fls. 17/18, 19/20, 21/22); escritura pública de compra e venda de área rural (fls. 23/24); registro do Sindicato Rural com admissão em 27.10.2005 (fl. 35), dentre outros. Conforme consignado na sentença, a declaração de exercício de atividade rural apresenta-da, e as declarações de terceiros não se classificam como prova material e sim prova testemunhal, o que por si só são insuficientes para fazer prova da atividade rural (fls. 15/16, 42/50). Ressalte-se que a autora trabalhou na atividade urbana por um certo período, tendo inclusive exercido tais atividades em concomitância com os indicados nos contratos de parceria agrícola, o que não restou esclarecido pela apelante (fl. 32). Por sua vez os depoimentos tes-temunhais, analisados conjuntamente com a prova documental, não se revestiram de força probante o bastante para permitir aqui-latar o desenvolvimento do labor rurícola nos termos requeridos na inicial (fls. 134/136).

VII – Logo, não há como ser reconhecido o trabalho rural na con-dição de segurado especial, não preenchendo o autor os requisitos legais, para a concessão do benefício de aposentadoria por idade rural em regime de economia familiar nos termos do disposto no art. 39 da Lei nº 8.213/1981.

VIII – Apelação conhecida, mas não provida.

acÓrDão

Vistos e relatados os presentes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Membros da Primeira Turma Especializada do

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Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, em negar pro-vimento à apelação, nos termos do voto do Relator.

Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 2017.

Vigdor Teitel Juiz Federal Convocado (Em substituição ao Des. Federal Abel Gomes) Relator

relatÓrio

Trata-se de apelação interposta por Emilda da Cruz Tostas (fls. 146/151), contra a sentença de fls. 141/144, que julgou improceden-te o pedido de concessão do benefício previdenciário de aposentadoria por idade de trabalhador rural, em ação ajuizada em face do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.

A apelante requer a reforma da sentença, sustentando, em síntese, que preencheu os requisitos necessários à concessão do benefício, uma vez que comprovou o labor rural com razoável início de prova material e testemunhal.

Pugna, ao final, pelo provimento da apelação.

O Ministério Público Federal não vislumbrou interesse público a justificar a sua intervenção.

É o relatório. Peço dia para julgamento.

Rio de Janeiro, 09 de janeiro de 2017.

Vigdor Teitel Juiz Federal (em substituição ao Desembargador Federal Abel Gomes)

voto

A aposentadoria por idade, no que tange ao exercício de atividade rural, encontra-se disciplinada nos arts. 11, 48, §§ 2º e 3º, 142 e 143 da

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Lei nº 8.213/1991 e, ainda, no art. 201, § 7º, II da CF/1988, tendo como pressupostos a exigência de que o labor rural tenha sido exercido em pe-ríodo imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tempo igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício, além da idade de 60 anos para o homem e 55 para a mulher.

Cumpre consignar que para a comprovação do exercício da ativi-dade rural não basta a prova meramente testemunhal, sendo imprescin-dível a produção de início de prova material, sendo certo que a relação de documentos estipulados no art. 106 para a comprovação de atividade rural não é exaustiva, mas apenas exemplificativa (STJ, REsp 433237 e 1218286, 5ª T., Rel. Min. Gilson Dipp, DJe de 28.02.2011 e TRF 2ª R., AGTAC 361966, 1ª T.Esp.). É imprescindível que a prova acostada aos autos seja capaz de produzir a presunção do exercício de atividade rural e que, além disso, seja corroborada e não conflite com outros documen-tos ou com os depoimentos pessoais prestados em juízo, sob pena de não ficar demonstrado o fato constitutivo do alegado direito.

Note-se que a jurisprudência restou consolidada no sentido de que a prova exclusivamente testemunhal, sem o razoável início de prova material, não basta à comprovação da qualidade de segurado especial (Súmula nº 149 do eg. STJ).

Perfilhando essa linha de raciocínio, com enfoque particular para o caso da aposentadoria por idade do trabalhador rural, é preciso levar em conta, além dos pressupostos legais acima referidos, o fato de que o benefício em questão possui um caráter diferenciado, haja vista que os “segurados especiais” (trabalhadores rurais que já se encontravam no sistema antes da Lei nº 8.213/1991) não estão obrigados a recolher a respectiva contribuição previdenciária, a fim de fazer jus ao benefício.

Vale dizer, a fonte de custeio para esse tipo de benefício não é derivada de percentual dos valores eventualmente recebidos pelo traba-lhador em decorrência de sua atividade.

Por essa razão, para que se alcance o tão desejado equilíbrio atua-rial da Previdência, é preciso que se adote uma postura de maior rigor e restritividade na avaliação dos pleitos previdenciários, inclusive nos relativos aos benefícios postulados por trabalhadores rurais, não sendo possível admitir qualquer tipo de prova (mas sim um início razoável –

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aceitável) para a caracterização do direito, não obstante se saiba das dificuldades que muitos trabalhadores rurais enfrentam para obter tais documentos.

É que por maior que seja a relevância social de tal aspecto, não se pode elevá-lo a um patamar que suplante o interesse coletivo de prote-ção do sistema previdenciário, o qual visa justamente garantir o direito de todos aqueles que dele se beneficiam, mormente os que efetivamente contribuem diretamente para sua manutenção, de modo que todos pos-sam, efetivamente, no curso do tempo, gozar de seus benefícios, me-diante prévia racionalização e consequente preservação e higidez do aludido sistema.

Portanto, para que se reconheça o direito ao benefício de aposen-tadoria rural é essencial que se produza nos autos um início razoável de prova material do desempenho da atividade no campo, e que esta venha a ser corroborada pela prova testemunhal, não sendo plausível admitir um conjunto probatório que apresente algum tipo de inconsistência ou contradição, por mínima que seja.

No caso concreto, em que pese os documentos apresentados, creio que não restou devidamente comprovado o labor rural individual-mente, ou em regime de economia familiar, ainda que de forma descon-tínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício por tempo igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício. Para comprovar o labor rural a autora apresen-tou os seguintes documentos: certidão de casamento emitida em 1974, contratos de parceria agrícola extemporâneos à época da firmação do contrato (fls. 17/18, 19/20, 21/22); escritura pública de compra e venda de área rural (fls. 23/24); registro do Sindicato Rural com admissão em 27.10.2005 (fl. 35), dentre outros. Conforme consignado na sentença, a declaração de exercício de atividade rural apresentada, e as declarações de terceiros não se classificam como prova material e sim prova teste-munhal, o que por si só são insuficientes para fazer prova da atividade rural (fls. 15/16, 42/50). Ressalte-se que a autora trabalhou na atividade urbana por um certo período, tendo inclusive exercido tais atividades em concomitância com os indicados nos contratos de parceria agrícola, o que não restou esclarecido pela apelante (fl. 32).

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Por sua vez os depoimentos testemunhais, analisados conjunta-mente com a prova documental, não se revestiram de força probante o bastante para permitir aquilatar o desenvolvimento do labor rurícola nos termos requeridos na inicial (fls. 134/136).

Logo, não há como ser reconhecido o trabalho rural na condição de segurado especial, não preenchendo a autora os requisitos legais, para a concessão do benefício de aposentadoria por idade rural indi-vidual ou em regime de economia familiar nos termos do disposto no art. 39 da Lei nº 8.213/1981.

Ante o exposto, nego provimento à apelação, e mantenho a sen-tença na sua integralidade.

Com o trânsito em julgado, baixem os autos na distribuição e re-metam-se à Vara de origem.

É como voto.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

2303

Tribunal Regional Federal da 3ª RegiãoDE publicado em 09.03.2017Apelação Cível nº 0031280‑81.2016.4.03.9999/SP2016.03.99.031280‑4/SPRelator: Desembargador Federal Newton De LuccaApelante: Job Teodoro LopesAdvogado: SP259014 Alexandre IntrieriApelado(a): Instituto Nacional do Seguro Social – INSSProcurador: SP173737 Caio Batista Muzel GomesAdvogado: SP000030 Hermes Arrais AlencarNº Orig.: 14.00.00035‑3 2ª Vr. Salto/SP

ementaPrevIdeNCIárIo – revISão de beNefíCIo – NovoS lImIteS máXImoS INStItuídoS PelaS emeNdaS CoNStItuCIoNaIS NºS 20/1998 e 41/2003 – deCadêNCIa – Não oCorrêNCIa – art. 1.013, § 4º, do CPC/2015 – PreSCrIção quINqueNal – aJuIzameNto da ação INdIvIdual – beNefíCIoS CoNCedIdoS No Período deNomINado “buraCo Negro” – ProCedêNCIa – Correção moNetárIa e JuroS moratórIoS – hoNorárIoS advoCatíCIoS

I – O prazo decadencial previsto no art. 103, da Lei nº 8.213/1991, incide nas ações visando à revisão do ato de concessão de benefí-cio previdenciário. No caso dos autos, trata-se de readequação do valor da renda mensal aos novos limites máximos instituídos pelas Emendas Constitucionais nºs 20/1998 e 41/2003, motivo pelo qual não há que se falar em decadência.

II – Com relação à prescrição, é absolutamente pacífica a juris-prudência no sentido de que o caráter continuado do benefício previdenciário torna imprescritível esse direito, somente sendo atingidas pela praescriptio as parcelas anteriores ao quinquênio legal que precede o ajuizamento da ação.

III – O Plenário do C. Supremo Tribunal Federal, na Repercus-são Geral reconhecida no Recurso Extraordinário nº 564.354, de Relatoria da Exma. Ministra Carmem Lúcia reconheceu como de-vida a aplicação imediata do art. 14, da Emenda Constitucional

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nº 20/1998 e do art. 5º, da Emenda Constitucional nº 41/2003 aos benefícios previdenciários limitados ao teto do regime geral de previdência social estabelecido antes da vigência das referidas normas.

IV – Dessa forma, deve haver a aplicação imediata dos tetos pre-vistos nas Emendas Constitucionais acima mencionadas, ainda que o benefício tenha sido concedido no período denominado “buraco negro”.

V – O benefício da parte autora foi concedido no período denomi-nado “buraco negro”, tendo sido o respectivo salário-de-benefício limitado ao teto quando da revisão administrativa, nos termos do art. 144 da Lei nº 8.213/1991, motivo pelo qual faz jus à reade-quação pleiteada, respeitada a prescrição quinquenal do ajuiza-mento da presente demanda.

VI – A matéria relativa à existência ou não de eventuais diferenças a executar poderá ser discutida no momento da execução, quando as partes terão ampla oportunidade para debater a respeito, inclu-sive no tocante ao exato valor a ser recebido pelo segurado.

VII – A correção monetária deve incidir desde a data do venci-mento de cada prestação e os juros moratórios a partir da citação, momento da constituição do réu em mora. Com relação aos índi-ces de atualização monetária e taxa de juros, deve ser observado o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal que estiver em vigor no momento da execução do julgado.

VIII – A verba honorária fixada, no presente caso, à razão de 10% sobre o valor da condenação remunera condignamente o serviço profissional prestado. No que se refere à sua base de cálculo, con-siderando que o direito pleiteado pela parte autora foi reconheci-do somente no Tribunal, passo a adotar o posicionamento do C. STJ de que os honorários devem incidir até o julgamento do recur-so nesta Corte, in verbis: “Nos termos da Súmula nº 111 do Su-perior Tribunal de Justiça, o marco final da verba honorária deve ser o decisum no qual o direito do segurado foi reconhecido, que

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no caso corresponde ao acórdão proferido pelo Tribunal a quo.” (AgRg no Recurso Especial nº 1.557.782/SP, 2ª T., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, J. em 17.12.2015, v.u., DJe 18.12.2015)

IX – Apelação do autor parcialmente provida.

acÓrDão

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indica-das, decide a Egrégia Oitava Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento à apelação da parte autora para condenar o INSS a proceder à readequação do benefício com a aplicação dos novos limites máximos instituídos pelas Emendas Constitucionais nºs 20/1998 e 41/2003, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

São Paulo, 20 de fevereiro de 2017.

Newton De Lucca Desembargador Federal Relator

relatÓrio

O Senhor Desembargador Federal Newton De Lucca (Relator): Trata-se de ação ajuizada em face do INSS – Instituto Nacional do Segu-ro Social, objetivando a aplicação dos novos limites máximos instituídos pelas Emendas Constitucionais nºs 20/1998 e 41/2003 – nos valores de R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais) e R$ 2.400,00 (dois mil e quatro-centos reais), respectivamente – para os benefícios previdenciários con-cedidos antes da vigência dessas normas, com o pagamento dos valores em atraso. Requer, ainda, o pagamento de honorários advocatícios no percentual de 20% sobre o valor total da condenação.

Foram deferidos à parte autora os benefícios da assistência judi-ciária gratuita (fl. 20).

O Juízo a quo reconheceu a ocorrência da decadência, julgando extinto o processo com resolução do mérito, nos termos do art. 269, inc. IV, do CPC/1973.

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Inconformada, apelou a parte autora, alegando em breve síntese:

– a inaplicabilidade do instituo da decadência no presente caso, por não se tratar de revisão do ato de concessão de benefício, razão pela qual requer seja afastada a sua ocorrência;

– o direito à readequação de sua aposentadoria, com a aplicação dos novos limites máximos instituídos pelas Emendas Cons- titucionais nºs 20/1998 e 41/2003, considerando o documen- to de fl. 13 onde consta que o salário-de-benefício foi limi- tado ao teto da época e

– a violação ao ato jurídico perfeito (art. 5º, inc. XXXVI, da CF/1988).

Sem contrarrazões, subiram os autos a esta E. Corte.

É o breve relatório.

Inclua-se o presente feito em pauta de julgamento (art. 931, do CPC/2015).

Newton De Lucca Desembargador Federal Relator

voto

O Senhor Desembargador Federal Newton de Lucca (Relator): Ini-cialmente, observo que não há que se reconhecer a decadência na pre-sente ação, uma vez que o prazo decadencial previsto no art. 103, da Lei nº 8.213/1991, incide nas ações visando à revisão do ato de concessão de benefício previdenciário. No caso dos autos, trata-se de readequação do valor da renda mensal aos novos limites máximos instituídos pelas Emendas Constitucionais nºs 20/1998 e 41/2003.

Dessa forma, passo à análise das demais questões, nos termos do art. 1.013, § 4º, do CPC/2015.

Com relação à prescrição, é absolutamente pacífica a jurispru-dência no sentido de que o caráter continuado do benefício previden-ciário torna imprescritível esse direito, somente sendo atingidas pela

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praescriptio as parcelas anteriores ao quinquênio legal que precede o ajuizamento da ação.

Passo, então, ao exame do mérito.

Dispõe o art. 14, da Emenda Constitucional nº 20/1998 e art. 5º, da Emenda Constitucional nº 41/2003, in verbis:

“Art. 14. O limite máximo para o valor dos benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201 da Constituição Federal é fixado em R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais), devendo, a partir da data da publicação desta Emenda, ser reajustado de forma a preservar, em caráter permanente, seu valor real, atualizado pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de previdência social.”

“Art. 5º O limite máximo para o valor dos benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201 da Constituição Federal é fixa-do em R$ 2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais), devendo, a partir da data de publicação desta Emenda, ser reajustado de forma a preservar, em caráter permanente, seu valor real, atualizado pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de previdência social.”

Cinge-se a vexata quaestio à possibilidade ou não de se aplicar os novos limites máximos – R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais) e R$ 2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais) – instituídos pelas Emendas Constitucionais acima mencionadas sobre os benefícios previdenciários concedidos anteriormente à vigência das referidas Emendas.

Consoante o julgamento realizado, em 08.09.2010, o Plenário do C. Supremo Tribunal Federal, na Repercussão Geral reconhecida no Recurso Extraordinário nº 564.354, de Relatoria da Exma. Ministra Carmem Lúcia reconheceu como devida a aplicação imediata do art. 14, da Emenda Constitucional nº 20/1998 e do art. 5º, da Emenda Constitucional nº 41/2003 aos benefícios previdenciários limitados ao teto do regime geral de previdência social estabelecido antes da vigência das referidas normas, in verbis:

“EMENTA: DIREITOS CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO – REVI-SÃO DE BENEFÍCIO – ALTERAÇÃO NO TETO DOS BENEFÍCIOS DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA – REFLEXOS NOS BENEFÍCIOS CON-CEDIDOS ANTES DA ALTERAÇÃO – EMENDAS CONSTITUCIONAIS NºS 20/1998 E 41/2003 – DIREITO INTERTEMPORAL: ATO JURÍDICO PERFEITO – NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO DA LEI INFRACONS-

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TITUCIONAL – AUSÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA IRRETROA-TIVIDADE DAS LEIS – RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO

1. Há pelo menos duas situações jurídicas em que a atuação do Supremo Tribunal Federal como guardião da Constituição da República deman-da interpretação da legislação infraconstitucional: a primeira respeita ao exercício do controle de constitucionalidade das normas, pois não se declara a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei sem antes entendê-la; a segunda, que se dá na espécie, decorre da garantia constitucional da proteção ao ato jurídico perfeito contra lei superve-niente, pois a solução de controvérsia sob essa perspectiva pressupõe sejam interpretadas as leis postas em conflito e determinados os seus alcances para se dizer da existência ou ausência da retroatividade cons-titucionalmente vedada.

2. Não ofende o ato jurídico perfeito a aplicação imediata do art. 14 da Emenda Constitucional nº 20/1998 e do art. 5º da Emenda Constitucio-nal nº 41/2003 aos benefícios previdenciários limitados a teto do regime geral de previdência estabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que passem a observar o novo teto constitucional.

3. Negado provimento ao recurso extraordinário.”

(STF, RE 564.354/SE, Plenário, Relª Min. Cármem Lúcia, J. 08.09.2010, por maioria, DJU de 14.02.2011, grifos meus)

A E. Ministra Relatora, em seu voto, deixou consignado inexistir a alegada ofensa ao ato jurídico perfeito (art. 5º, inc. XXXVI, da Consti-tuição Federal), ao princípio da irretroatividade das leis, bem como ao § 5º do art. 195 da CF, sob o fundamento de que “não foi concedido aumento ao Recorrido, mas reconhecido o direito de ter o valor de seu benefício calculado com base em limitador mais alto, fixado por norma constitucional emendada”.

Outrossim, ao negar provimento ao Recurso Extraordinário inter-posto pelo INSS, manteve integralmente o acórdão proferido pela Turma Recursal da Seção Judiciária do Estado de Sergipe, nos autos do Recur-so Inominado nº 2006.85.00.504903-4, o qual deixou bem explicitada a regra que se deve adotar ao afirmar que: “O cálculo das prestações pecuniárias previdenciárias de trato continuado é efetivado, em regra, sobre o salário de benefício (Lei nº 8.213/1991), e tem como limite má-ximo o maior valor de salário de contribuição. Assim, após a definição

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do salário de benefício, calculado sobre o salário-de-contribuição, deve ser aplicado o limitador dos benefícios da previdência social, a fim de se obter a Renda Mensal do Benefício a que terá direito o segurado. Dessa forma, a conclusão inarredável a que se pode chegar é a de que, efetivamente, a aplicação do limitador (teto) para definição da RMB que perceberá o segurado deve ser realizada após a definição do salário de benefício, o qual se mantém inalterado, mesmo que o segurado perceba quantia inferior ao mesmo. Assim, uma vez alterado o valor limite dos benefícios da Previdência Social, o novo valor deverá ser aplicado so-bre o mesmo salário de benefício calculado quando da sua concessão, com os devidos reajustes legais, a fim de se determinar a nova RMB que passará a perceber o segurado. Não se trata de reajustar e muito menos de alterar o benefício. Trata-se, sim, de manter o mesmo salário-de-be-nefício calculado quando da concessão do benefício, só que agora lhe aplicando o novo limitador dos benefícios do RGPS” (grifos meus).

Dessa forma, deve haver a aplicação imediata dos tetos previstos nas Emendas Constitucionais acima mencionadas aos benefícios previ-denciários limitados ao teto do regime geral de previdência, ainda que concedidos no período denominado “buraco negro”, não abrangidos pelo art. 26 da Lei nº 8.870/1994.

Deixo consignado, a propósito, que a parte autora não requereu, na presente ação, o reajuste de benefício previdenciário em manutenção e nem a utilização de índices proporcionais entre a renda mensal perce-bida e o limite máximo instituído pelas referidas Emendas.

In casu, a parte autora pleiteia a revisão de sua aposentadoria por tempo de contribuição, com DIB em 02.02.1991, concedida no perío-do denominado “buraco negro”. Verifica-se, ainda, que o referido bene-fício foi objeto de revisão administrativa, nos termos do art. 144 da Lei nº 8.213/1991, conforme revela o documento de fls. 13, onde consta “RMI anterior obtida por desindexação da MR. Anter. SAL. Contrib. acima do teto, colocado no teto. Benefício revisto no período do “buraco negro”, motivo pelo qual faz jus à readequação pleiteada, com o pagamento das parcelas atrasadas, respeitada a prescrição quinquenal do ajuizamento da presente ação.

A matéria relativa à existência ou não de eventuais diferenças a executar poderá ser discutida no momento da execução, quando as par-

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tes terão ampla oportunidade para debater a respeito, inclusive no to-cante ao exato valor a ser recebido pelo segurado.

Importante deixar consignado que eventuais pagamentos das di-ferenças pleiteadas já realizadas pela autarquia na esfera administrativa deverão ser deduzidas na fase da execução do julgado.

A correção monetária deve incidir desde a data do vencimento de cada prestação e os juros moratórios a partir da citação, momento da constituição do réu em mora.

Com relação aos índices de atualização monetária e taxa de juros – não obstante o meu posicionamento de que a referida matéria deveria ser discutida na fase da execução do julgado, tendo em vista a existên-cia da Repercussão Geral no Recurso Extraordinário nº 870.947 a ser apreciada pelo C. Supremo Tribunal Federal –, passei a adotar o enten-dimento da 8ª Turma desta Corte, a fim de que seja observado o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal que estiver em vigor no momento da execução do julgado.

No que diz respeito aos honorários advocatícios, nos exatos ter-mos do art. 85 do CPC/2015:

“A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

§ 1º São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumpri-mento de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente.

§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:

I – o grau de zelo profissional;

II – o lugar de prestação do serviço;

III – a natureza e importância da causa;

IV – o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

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§ 3º Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos ho-norários observará os critérios estabelecidos nos incs. I a IV do § 2º e os seguintes percentuais:

I – mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da con-denação ou do proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários--mínimos;

II – mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condena-ção ou do proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários--mínimos até 2.000 (dois mil) salários-mínimos.

[...]”

Assim raciocinando, a verba honorária fixada, no presente caso, à razão de 10% sobre o valor da condenação remunera condignamente o serviço profissional prestado.

No que se refere à sua base de cálculo, considerando que o direito pleiteado pela parte autora foi reconhecido somente no Tribunal, passo a adotar o posicionamento do C. STJ de que os honorários devem inci-dir até o julgamento do recurso nesta Corte, in verbis: “Nos termos da Súmula nº 111 do Superior Tribunal de Justiça, o marco final da verba honorária deve ser o decisum no qual o direito do segurado foi reco-nhecido, que no caso corresponde ao acórdão proferido pelo Tribunal a quo” (AgRg no Recurso Especial nº 1.557.782-SP, 2ª T., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, J. 17.12.2015, v.u., DJe 18.12.2015).

Ante o exposto, dou parcial provimento à apelação da parte au-tora para condenar o INSS a proceder à readequação do benefício com a aplicação dos novos limites máximos instituídos pelas Emendas Cons-titucionais nºs 20/1998 e 41/2003, a partir da publicação das referidas normas, com o pagamento dos valores atrasados, respeitada a prescrição quinquenal contada da data do ajuizamento da presente demanda, de-vendo a correção monetária, os juros de mora e a verba honorária incidir na forma acima indicada.

É o meu voto.

Newton De Lucca Desembargador Federal Relator

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

2304

Tribunal Regional Federal da 4ª RegiãoApelação Cível nº 2007.71.99.008676‑7/RSRelator: Des. Federal Roger Raupp RiosApelante: Dorli Antonio Machado de SouzaAdvogado: Claudio Roberto da SilvaApelado: Instituto Nacional do Seguro Social – INSSAdvogado: Procuradoria Regional da PFE‑INSS

ementa

PrevIdeNCIárIo – auXílIo-doeNça – requISItoS – qualIdade de Segurado – INCa- PaCIdade – laudo PerICIal – CoNSeCtárIoS legaIS – dIferImeNto – tutela eSPe- CífICa – ImPlaNtação do beNefíCIo

1. São três os requisitos para a concessão dos benefícios por incapa-cidade: a) a qualidade de segurado; b) o cumprimento do período de carência de 12 contribuições mensais; c) a incapacidade para o trabalho, de caráter permanente (aposentadoria por invalidez) ou temporária (auxílio-doença).

2. A concessão dos benefícios de auxílio-doença e aposentado-ria por invalidez pressupõe a averiguação da incapacidade para o exercício de atividade que garanta a subsistência do segurado, e terá vigência enquanto permanecer ele nessa condição.

3. A incapacidade laboral é comprovada através de exame mé-dico-pericial e o julgador, via de regra, firma sua convicção com base no laudo, entretanto não está adstrito à sua literalidade, sen-do-lhe facultada ampla e livre avaliação da prova.

4. No caso dos autos, o laudo pericial indicou que a parte autora é portadora de doenças ortopédicas (gonartrose, discopatia dege-nerativa, trombose venosa de membro inferior), razão pela qual é devida a concessão do benefício de auxílio-doença.

5. Termo inicial do benefício na data da cessação administrativa, uma vez evidenciado que a incapacidade estava presente àquela data.

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6. A definição dos índices de correção monetária e juros de mora deve ser diferida para a fase de cumprimento do julgado.

7. O cumprimento imediato da tutela específica independe de requerimento expresso do segurado ou beneficiário, e o seu de-ferimento sustenta-se na eficácia mandamental dos provimentos fundados no art. 461 do CPC/1973, bem como nos arts. 497, 536 e parágrafos e 537 do CPC/2015.

8. A determinação de implantação imediata do benefício, com fundamento nos artigos supracitados, não configura violação dos arts. 128 e 475-O, I, do CPC/1973 e 37 da CF/1988.

acÓrDão

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indica-das, decide a Egrégia 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Re-gião, por unanimidade, dar provimento à apelação da parte autora, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Porto Alegre, 07 de março de 2017.

Des. Federal Roger Raupp Rios Relator

relatÓrio

Trata-se de apelação contra sentença que julgou improcedente o pedido de concessão de benefício por incapacidade, condenando a parte autora ao pagamento de custas processuais e ho-norários advocatícios de R$ 1.000,00 (um mil reais), suspensa a exigibi-lidade da verba sucumbencial em razão da AJG deferida à parte autora (fls. 134-136).

A parte autora, em suas razões, sustenta que tem direito ao res-tabelecimento do auxílio-doença previdenciário, cessado em fevereiro de 2007, ou à concessão de auxílio-acidente, em razão da limitação da capacidade laborativa reconhecida pela perícia (fls. 138-140).

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Com contrarrazões do INSS (fl. 141), vieram os autos conclusos.

É o relatório.

voto

do Novo CPC (leI Nº 13.105/2015)

Consoante a norma inserta no art. 14 do CPC/2015, “a norma pro-cessual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada”. Portanto, apesar da nova normatização processual ter aplicação imediata aos processos em curso, os atos processuais já praticados, perfeitos e acabados não podem mais ser atingidos pela mudança ocorrida a posteriori.

Nesse sentido, serão examinados segundo as normas do CPC de 2015 tão somente os recursos e remessas em face de sentenças publica-das a contar do dia 18.03.2016.

da ordem CroNológICa doS ProCeSSoS

Dispõe o art. 12 do Novo CPC (Lei nº 13.105/2015, com redação da Lei nº 13.256/2016) que “os juízes e os tribunais atenderão, preferen-cialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão”, estando, contudo, excluídos da regra do caput, entre outros, “as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça” (§ 2º, inciso VII), bem como “a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada” (§ 2º, inciso IX).

O caso presente encontra-se dentre aqueles considerados urgentes no julgamento, vez que se refere a benefício por incapacidade, estando a parte autora, hipossuficiente, hipoteticamente impossibilitada de labo-rar e obter o sustento seu e de familiares.

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Juízo de admISSIbIlIdade do reCurSo

Recebo o recurso de apelação da parte autora, visto que adequado e tempestivo.

doS requISItoS Para a CoNCeSSão do beNefíCIo

A concessão de benefícios por incapacidade laboral está prevista nos arts. 42 e 59 da Lei nº 8.213/1991, verbis:

Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.

Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cum-prido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 dias consecutivos.

Extrai-se, da leitura dos dispositivos acima transcritos, que são três os requisitos para a concessão dos benefícios por incapacidade: a) a qualidade de segurado; b) o cumprimento do período de carência de 12 contribuições mensais; c) a incapacidade para o trabalho, de caráter per-manente (aposentadoria por invalidez) ou temporária (auxílio-doença).

da qualIdade de Segurado e do Período de CarêNCIa

Quanto ao período de carência (número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício), estabelece o art. 25 da Lei de Benefícios da Previdência Social:

Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Pre-vidência Social depende dos seguintes períodos de carência:

I – auxílio-doença e aposentadoria por invalidez: 12 contribuições mensais;

Na hipótese de ocorrer a cessação do recolhimento das contribui-ções, prevê o art. 15 da Lei nº 8.213/1991 o denominado “período de

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graça”, que permite a prorrogação da qualidade de segurado durante um determinado lapso temporal:

Art. 15. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de con-tribuições:

I – sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício;

II – até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver suspenso ou licenciado sem remuneração;

III – até 12 (doze) meses após cessar a segregação, o segurado acometido de doença de segregação compulsória;

IV – até 12 (doze) meses após o livramento, o segurado retido ou recluso;

V – até 3 (três) meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para prestar serviço militar;

VI – até 6 (seis) meses após a cessação das contribuições, o segurado facultativo.

§ 1º O prazo do inciso II será prorrogado para até 24 (vinte e quatro) me-ses se o segurado já tiver pago mais de 120 (cento e vinte) contribuições mensais sem interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado.

§ 2º Os prazos do inciso II ou do § 1º serão acrescidos de 12 (doze) meses para o segurado desempregado, desde que comprovada essa situação pelo registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e da Previdên-cia Social.

§ 3º Durante os prazos deste artigo, o segurado conserva todos os seus direitos perante a Previdência Social.

§ 4º A perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao do término do prazo fixado no Plano de Custeio da Seguridade Social para recolhimento da contribuição referente ao mês imediatamente posterior ao do final dos prazos fixados neste artigo e seus parágrafos.

Prevê a LBPS que, decorrido o período de graça na forma do § 4º, as contribuições anteriores à perda da qualidade de segurado somente serão computadas para efeitos de carência depois que o segurado con-tar, a partir da nova filiação à Previdência Social, com, no mínimo, 1/3 (um terço) do número de contribuições exigidas para o cumprimento da carência definida para o benefício a ser requerido.

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Cumpre destacar que no caso dos segurados especiais não há obrigatoriedade de preenchimento do requisito carência conforme aci-ma referido, sendo necessária, porém, a comprovação de atividade ru-ral no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, mesmo que de forma descontínua. Eis a disciplina do art. 39, da Lei nº 8.213/1991:

Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do art. 11 des-ta Lei, fica garantida a concessão: I – de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, e de auxílio-acidente, conforme disposto no art. 86, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período, imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido [...].

Nestes casos, o tempo de serviço rural deve ser demonstrado me-diante a apresentação de início de prova material contemporânea ao pe-ríodo a ser comprovado, complementada por prova testemunhal idônea, não sendo esta admitida exclusivamente, a teor do art. 55, § 3º, da Lei nº 8.213/1991, e Súmula nº 149 do STJ. Entretanto, embora o art. 106 da LBPS relacione os documentos aptos à comprovação da atividade rurí-cola, tal rol não é exaustivo, sendo admitidos outros elementos idôneos.

da ComProvação da INCaPaCIdade laboral

A concessão dos benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez pressupõe a averiguação, através de exame médico-pericial, da incapacidade para o exercício de atividade que garanta a subsistência do segurado, e terá vigência enquanto essa condição persistir. Ainda, não obstante a importância da prova técnica, o caráter da limitação deve ser avaliado conforme as circunstâncias do caso concreto. Isso porque não se pode olvidar de que fatores relevantes – como a faixa etária do re-querente, seu grau de escolaridade e sua qualificação profissional, assim como outros – são essenciais para a constatação do impedimento laboral e efetivação da proteção previdenciária.

Dispõe, outrossim, a Lei nº 8.213/1991 que a doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-se ao Regime Geral de Pre-

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vidência Social não lhe conferirá direito ao benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento da doença ou lesão.

do CaSo CoNCreto

A presente ação foi distribuída em 29.01.2007 no Juízo Estadual de Encantado/RS com pedidos atinentes a benefícios por incapacidade.

A qualidade de segurado e o cumprimento do requisito da carên-cia não foram contestados de forma contundente pelo INSS, não sendo, a priori, pontos controvertidos na presente ação. Assim, a matéria central a ser enfrentada, e motivo da decisão administrativa, diz respeito ao re-quisito da incapacidade.

Nesse passo, durante a instrução processual, foram realizadas duas perícias judiciais (fls. 109-112 e 124-125).

Em 05.12.2011, sobreveio perícia pelo médico psiquiatra Alexsandro Bennemann, chegando à seguinte conclusão (fls. 109-112):

“Foi constatado, através do exame realizado, que o periciado encontra--se apto para o desenvolvimento de suas atividades laborativas habituais, sob o ponto de vista clínico e psiquiátrico, não tendo sido constatada patologia incapacitante.

Sugiro realização de perícia ortopédica, pois queixou-se de problemas ortopédicos em joelho e coluna.”

Em 25.06.2011, foi realizada perícia pelo médico do trabalho Renan Marsiaj de Oliveira Júnior, de cujo laudo se extraem as seguintes informações:

– quadro mórbido: gonartrose, discopatia degenerativa, trombose veno-sa de membro inferior e transtorno depressivo recorrente moderado (CID10 M17, M51, I83.9 e F33.1);

– incapacidade: “parcial de 5%” (fl. 125, item 8, quesitos do autor, res-posta “b”.

Concluiu o expert afirmando o seguinte (fl. 125, verso):

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O autor apresenta uma limitação do movimento lombar da ordem de 10%.

Segundo tabela DPVAT, a imobilidade total do segmento lombar repre-senta uma perda de 25%, como o autor perdeu 10% sua perda é de 2,5%.

O autor apresenta uma limitação do uso do joelho da ordem de 10%.

Segundo tabela DPVAT, a imobilidade total do joelho representa uma perda de 25%, como o autor perdeu 10% sua perda é 2,5%.

A perda total do autor é de 5%.

A aptologia emocional não causa incapacidade.

Está apto ao trabalho com a perda descrita.

As condições socioeconômicas da parte autora são as seguintes:

– idade: 60 anos (nascimento em 30.01.1956);

– atividades laborais: consta como “rurícola” no laudo pericial das fls. 124-125; qualificado como “auxiliar de serviços gerais” na inicial (fl. 02);

– escolaridade: ensino fundamental/primário completo;

– histórico de benefícios por incapacidade: auxílio-doença previdenciá-rio de 20.01.2007 a 30.06.2007.

Em que pese a conclusão do perito, de que o autor se encontra apto ao trabalho, ainda que diagnosticadas as enfermidades ortopédicas referidas no laudo pericial, a prova documental disponível nos autos indica incapacidade laborativa temporária pelas mesmas doenças em janeiro e março de 2007, conforme revelam os atestados médicos junta-dos às fls. 14, 15, 16 e 31).

Diante desse cenário, a sentença proferida pelo Juízo a quo com-porta reforma, a fim de que se reconheça o direito da parte autora ao benefício de auxílio-doença a contar da data da cessação administrativa (28 de fevereiro de 2007).

Cabe considerar que esta Corte possui consolidada jurisprudência no sentido de que o julgador não fica adstrito à literalidade do laudo pericial, sendo-lhe facultada ampla e livre avaliação da prova. Assim, quando o caso revela a impossibilidade de o segurado desempenhar atividade laborativa, tem-se entendido pelo deferimento do benefício.

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da ComPeNSação de PreStaçõeS INaCumuláveIS

Explicito que devem ser abatidos das prestações devidas na pre-sente demanda os valores eventualmente já adimplidos pelo INSS a título de benefício inacumulável no mesmo período, seja administrativamente ou em razão de antecipação de tutela.

Correção moNetárIa e JuroS de mora

A questão da atualização monetária das quantias a que é con-denada a Fazenda Pública, dado o caráter acessório de que se reveste, não deve ser impeditiva da regular marcha do processo no caminho da conclusão da fase de conhecimento.

Firmado em sentença, em apelação ou remessa oficial o cabimen-to dos juros e da correção monetária por eventual condenação imposta ao ente público e seus termos iniciais, a forma como serão apurados os percentuais correspondentes, sempre que se revelar fator impeditivo ao eventual trânsito em julgado da decisão condenatória, pode ser di-ferida para a fase de cumprimento, observando-se a norma legal e sua interpretação então em vigor. Isso porque é na fase de cumprimento do título judicial que deverá ser apresentado, e eventualmente questionado, o real valor a ser pago a título de condenação, em total observância à legislação de regência.

O recente art. 491 do NCPC, ao prever, como regra geral, que os consectários já sejam definidos na fase de conhecimento, deve ter sua interpretação adequada às diversas situações concretas que reclamarão sua aplicação. Não por outra razão seu inciso I traz exceção à regra do caput, afastando a necessidade de predefinição quando não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido. A norma vem com o objetivo de favorecer a celeridade e a economia processuais, nunca para frear o processo.

E no caso, o enfrentamento da questão pertinente ao índice de cor-reção monetária, a partir da vigência da Lei nº 11.960/2009, nos débi-tos da Fazenda Pública, embora de caráter acessório, tem criado graves óbices à razoável duração do processo, especialmente se considerado que pende de julgamento no STF a definição, em regime de repercussão geral, quanto à constitucionalidade da utilização do índice da poupan-

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ça na fase que antecede a expedição do precatório (RE 870.947, Tema nº 810).

Tratando-se de débito, cujos consectários são totalmente definidos por lei, inclusive quanto ao termo inicial de incidência, nada obsta a que seja diferida a solução definitiva para a fase de cumprimento do jul-gado, em que, a propósito, poderão as partes, se assim desejarem, mais facilmente conciliar acerca do montante devido, de modo a finalizar definitivamente o processo.

Sobre esta possibilidade, já existe julgado da Terceira Seção do STJ, em que assentado que “diante a declaração de inconstitucionalida-de parcial do art. 5º da Lei nº 11.960/2009 (ADI 4357/DF), cuja modula-ção dos efeitos ainda não foi concluída pelo Supremo Tribunal Federal, e por transbordar o objeto do mandado de segurança a fixação de parâ-metros para o pagamento do valor constante da portaria de anistia, por não se tratar de ação de cobrança, as teses referentes aos juros de mora e à correção monetária devem ser diferidas para a fase de execução. 4. Embargos de declaração rejeitados” (EDcl-MS 14.741/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, 3ª S., Julgado em 08.10.2014, DJe 15.10.2014).

Na mesma linha vêm decidindo as duas turmas de Direito Adminis-trativo desta Corte (2ª Seção), à unanimidade, (Ad exemplum: os proces-sos nºs 5005406-14.2014.404.7101, 3ª Turma, Julgado em 01.06.2016 e 5052050-61.2013.404.7000, 4ª Turma, Julgado em 25.05.2016)

Portanto, em face da incerteza quanto ao índice de atualização monetária, e considerando que a discussão envolve apenas questão acessória no contexto da lide, à luz do que preconizam os arts. 4º, 6º e 8º do novo Código de Processo Civil, mostra-se adequado e racional diferir-se para a fase de execução a solução em definitivo acerca dos critérios de correção, ocasião em que, provavelmente, a questão já terá sido dirimida pelo tribunal superior, o que conduzirá à observância, pe-los julgadores, ao fim e ao cabo, da solução uniformizadora.

A fim de evitar novos recursos, inclusive na fase de cumprimento de sentença, e anteriormente à solução definitiva pelo STF sobre o tema, a alternativa é que o cumprimento do julgado se inicie, adotando-se os índices da Lei nº 11.960/2009, inclusive para fins de expedição de precatório ou RPV pelo valor incontroverso, diferindo-se para momento

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posterior ao julgamento pelo STF a decisão do juízo sobre a existência de diferenças remanescentes, a serem requisitadas, acaso outro índice venha a ter sua aplicação legitimada.

Os juros de mora, incidentes desde a citação, como acessórios que são, também deverão ter sua incidência garantida na fase de cumpri-mento de sentença, observadas as disposições legais vigentes conforme os períodos pelos quais perdurar a mora da Fazenda Pública.

Evita-se, assim, que o presente feito fique paralisado, submetido a infindáveis recursos, sobrestamentos, juízos de retratação, e até ações rescisórias, com comprometimento da efetividade da prestação jurisdi-cional, apenas para solução de questão acessória.

Diante disso, difere-se para a fase de cumprimento de sentença a forma de cálculo dos consectários legais, adotando-se inicialmente o índice da Lei nº 11.960/2009 a contar da sua vigência. No período ante-rior, deve ser observado o INPC.

hoNorárIoS advoCatíCIoS e PerICIaIS

Os honorários advocatícios são devidos pelo INSS no percentual de 10% sobre o valor das parcelas vencidas até a data da sentença de procedência ou do acórdão que reforma a sentença de improcedência, nos termos da Súmula nº 111 do STJ e Súmula nº 76 deste TRF.

Honorários periciais a cargo da parte vencida.

daS CuStaS e deSPeSaS ProCeSSuaIS

Havendo o feito tramitado perante a Justiça Estadual do Rio Grande do Sul, o INSS está isento do pagamento de custas, mas obrigado ao pagamento de eventuais despesas processuais, consoante o dispos-to no art. 11 da Lei Estadual nº 8.121/1985, na redação dada pela Lei nº 13.471, de 23 de junho de 2010.

ImPlaNtação

A Terceira Seção desta Corte, ao julgar a Questão de Ordem na Apelação Cível nº 2002.71.00.050349-7, firmou entendimento no sentido de que, nas causas previdenciárias, deve-se determinar a ime-

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diata implementação do benefício, valendo-se da tutela específica da obrigação de fazer prevista no art. 461 do CPC/1973, bem como nos arts. 497, 536 e parágrafos e 537 do CPC/2015, independentemente de requerimento expresso por parte do segurado ou beneficiário (QUOAC 2002.71.00.050349-7, Rel. p/ Ac. Celso Kipper, DE 01.10.2007).

Em razão disso, sendo procedente o pedido, o INSS deverá im-plantar o benefício concedido no prazo de 45 dias, consoante os parâ-metros acima definidos, sob pena de multa.

Em homenagem aos princípios da celeridade e da economia pro-cessual, tendo em vista que o INSS vem opondo embargos de declaração sempre que determinada a implantação imediata do benefício, alegan-do, para fins de prequestionamento, violação dos arts. 128 e 475-O, I, do CPC/1973, e 37 da CF/1988, esclareço que não se configura a nega-tiva de vigência a tais dispositivos legais e constitucionais. Isso porque, em primeiro lugar, não se está tratando de antecipação ex officio de atos executórios, mas, sim, de efetivo cumprimento de obrigação de fazer decorrente da própria natureza condenatória e mandamental do provi-mento judicial; em segundo lugar, não se pode, nem mesmo em tese, cogitar de ofensa ao princípio da moralidade administrativa, uma vez que se trata de concessão de benefício previdenciário determinada por autoridade judicial competente.

CoNCluSão

A apelação da parte autora foi provida para reconhecer-lhe o di-reito ao restabelecimento de auxílio-doença a partir de 28 de fevereiro de 2007.

Determinada a implantação do benefício.

dISPoSItIvo

Ante o exposto, voto por dar provimento à apelação e determinar a implantação do benefício.

É o voto.

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Des. Federal Roger Raupp Rios Relator

eXtrato De ata Da sessão De 07.03.2017

Apelação Cível nº 2007.71.99.008676-7/RS

Origem: RS 00038615620078210044

Relator: Des. Federal Roger Raupp Rios

Presidente: Paulo Afonso Brum Vaz

Procurador: Dr. Juarez Mercante

Apelante: Dorli Antonio Machado de Souza

Advogado: Claudio Roberto da Silva

Apelado: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS

Advogado: Procuradoria Regional da PFE-INSS

Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 07.03.2017, na sequência 438, disponibilizada no DE de 14.02.2017, da qual foi intimado(a) Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, o Ministério Pú-blico Federal, a Defensoria Pública e as demais Procuradorias Federais.

Certifico que o(a) 5ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A turma, por unanimidade, decidiu dar provimento à apelação e determi-nar a implantação do benefício.

Relator Acórdão: Des. Federal Roger Raupp Rios

Votante(s): Des. Federal Roger Raupp Rios Des. Federal Paulo Afonso Brum Vaz Des. Federal Rogerio Favreto

Lídice Peña Thomaz Secretária de Turma

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

2305

Tribunal Regional Federal da 5ª RegiãoApte.: Banco Votorantim Financeira S.A.Adv./Proc.: Wilson Sales Belchior e outrosApdo.: Deusdete Xavier FreireAdv./Proc.: Aline Maria Bayma de OliveiraRelator: Desembargador Federal Cid Marconi – 3ª TurmaOrigem: Juízo da 3ª Vara Federal/CE – Juiz George Marmelstein Lima

ementaCIvIl – emPrÉStImo CoNSIgNado – beNefíCIo PrevIdeNCIárIo – deSCoNto INdevIdo – fraude – reSPoNSabIlIdade da INStItuIção fINaNCeIra – daNo materIal – reStItuIção doS valoreS – daNo moral – razoabIlIdade do moNtaNte fIXado Na SeNteNça

1. Apelação interposta pela BV Financeira S/A – Crédito, Finan-ciamento e Investimento em face da sentença que condenou os Bancos Votorantim S/A e o Mercantil do Brasil S/A ao pagamen-to de R$ 50,78 (cinquenta reais e setenta e oito centavos) e de R$ 636,32 (seiscentos e trinta e seis reais e trinta e dois centavos), respectivamente, a título de danos materiais, e de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para cada um dos Réus, por danos morais, ad-vindos de descontos irregulares nos seus proventos, em face de empréstimo consignado contratado com as citadas instituições fi-nanceiras mediante fraude.

2. A Súmula nº 479 do STJ, que trata da responsabilidade civil das instituições financeiras, assim dispõe: “As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.”

3. Os Réus não se desincumbiram de afastar as hipóteses de afas-tamento da sua responsabilidade objetiva previstas no art. 14, § 3º, do CDC.

4. Ausência de prova, por parte das instituições financeiras, que o Demandante, residindo em Fortaleza, compareceu às agências

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bancárias localizadas em São Paulo e Belo Horizonte, nas datas em que celebrou os contratos.

5. O desconto decorrente de fraude na concessão de empréstimo sem autorização do titular de benefício previdenciário é ato ob-jetivamente capaz de gerar prejuízo de ordem moral, pois causa abalo psíquico ao interessado, uma vez que teve reduzido seu be-nefício previdenciário em razão dos descontos que foram indevi-damente efetivados.

6. Réus que foram negligentes, não tendo a prudência e os cui-dados necessários ao realizarem os contratos em questão, tendo concedido os empréstimos sem se certificarem da autenticidade e da veracidade dos documentos apresentados, cabendo a eles suportarem o ônus de restituir os valores descontados indevida-mente, bem como ao pagamento dos danos morais.

7. Irretocável a sentença que condenou os Bancos-réus ao paga-mento dos valores descontados dos proventos da parte autora, a título de danos materiais.

8. Manutenção da sentença que fixou a indenização em R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para cada um dos réus, a título de danos morais, bem assim da correção monetária e dos honorários advocatícios. Apelação improvida.

acÓrDão

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas.

Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Re-gião, por unanimidade, negar provimento à Apelação, nos termos do relatório e voto do Desembargador Relator, que passam a integrar o pre-sente julgado.

Recife (PE), 09 de março de 2017.

Desembargador Federal Cid Marconi Relator

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relatÓrio

O Desembargador Federal Cid Marconi: Apelação interposta pela BV Financeira S/A – Crédito, Financiamento e Investimento em face da sentença que condenou os Bancos Votorantim S/A e o Mercantil do Brasil S/A ao pagamento de R$ 50,78 (cinquenta reais e setenta e oito centavos) e de R$ 636,32 (seiscentos e trinta e seis reais e trinta e dois centavos), respectivamente, a título de danos materiais, e de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para cada um, por danos morais, dos quais ficam descontados R$ 1.600,00 (mil e seiscentos reais) e R$ 5.000,00 (cinco mil reais), res-pectivamente, por se encontrarem depositados à ordem do juízo.

Ficou determinado que os valores não abatidos das condenações deverão ser corrigidos monetariamente pelo IPCA-E, acrescidos de juros moratórios de 1% ao mês, a partir da data do evento danoso (Súmula nº 54 do STJ).

Condenou, ainda, os sucumbentes ao pagamento dos honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condena-ção, pro rata.

A Apelante pugnou pela reforma da sentença, alegando, em suma, que o contrato de empréstimo consignado foi formalizado com a apre-sentação dos documentos pessoais do Autor, tendo agido na mais ab-soluta boa-fé ao efetuar os descontos atinentes ao citado contrato, não havendo qualquer ilegalidade na sua conduta.

Afirmou que, caso um terceiro tenha utilizado os referidos dados de má-fé, também é vítima, uma vez que o banco foi o maior prejudi-cado.

Ressaltou que o fato causador dos supostos prejuízos experimen-tados pela parte autora foi causado por terceiro, estando configurada a excludente da responsabilidade.

Sustentou que, ao efetuar os descontos, apenas agiu dentro do seu exercício regular de direito, haja vista a existência dos empréstimos, não configurando qualquer ilícito, tudo em consonância com o art. 188, I, do Código Civil.

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Asseverou que o Recorrido não sofreu nenhuma perda monetária indevida, logo é descabido o pagamento por danos materiais.

Manifestou-se, ainda, contrariamente ao pagamento de danos morais, afirmando a ausência de comprovação dos mesmos e do nexo de causalidade. Caso seja mantido o dano moral, requer sua redução (fls. 270/284).

Contrarrazões apresentadas. É o relatório.

voto

O Desembargador Federal Cid Marconi: A pretensão do Autor, ora Apelado, é a de que os Réus sejam condenados ao pagamento de indeni-zação por danos morais e materiais, decorrentes de descontos indevidos em seu benefício previdenciário, mediante empréstimo consignado re-alizado sem sua autorização, bem como na suspensão dos citados des-contos em sua folha de pagamento.

É sabido que a realização de qualquer desconto em benefício pre-videnciário deve ser precedida de autorização de seu respectivo titular, nos termos do art. 6º, da Lei nº 10.820/2003, com a redação dada pela Lei nº 10.953/2004.

Por sua vez, os arts. 186 e 927, ambos do CCB, preveem in verbis:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusiva-mente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a ou-trem, fica obrigado a repará-lo.”

A Teoria da Responsabilidade Civil Objetiva, prevista na Cons-tituição Federal de 1988, art. 37, § 6º, também é adotada pelo Código de Defesa do Consumidor, para o caso específico dos fornecedores de serviços, no art. 14, da Lei nº 8.078/1990, in verbis:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente de cul-pa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos

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relativos à prestação dos serviços, bem como por informações suficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.”

Por outro lado, os Réus não se desincumbiram de afastar as hi-póteses de afastamento da sua responsabilidade objetiva previstas no art. 14, § 3º, do CDC.

Importa registrar, ainda, que a Súmula nº 479 do STJ, que trata da responsabilidade civil das instituições financeiras, assim dispõe:

“As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gera-dos por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por tercei-ros no âmbito de operações bancárias.”

O dano moral, em face da sua subjetividade, presume-se com a ocorrência do ilícito, eis que não há como ser provado. Ele existe, tão somente, pela ofensa, e dela é presumido, sendo o bastante para justifi-car a indenização.

Quanto aos danos morais, não tenho dúvidas de que estão presen-tes no caso concreto, em razão do sofrimento causado ao Autor, que foi alvo de tristeza, vexame e humilhação, uma vez que teve reduzido seu benefício previdenciário de aposentadoria, em razão dos descontos que foram indevidamente efetivados.

O desconto decorrente de fraude na concessão de empréstimo sem a autorização do titular de benefício previdenciário é ato objetivamente capaz de gerar prejuízo moral, pois causa abalo psíquico ao interessado, uma vez que teve reduzido seu benefício previdenciário.

Já o dano material é a lesão concreta que afeta o próprio patri-mônio da vítima, de forma a reduzir-lhe os bens materiais que lhe per-tencem, seja através da perda ou da deterioração, sendo suscetível de avaliação pecuniária.

A quantificação do dano material, no presente caso, é de fácil mensuração, devendo corresponder ao prejuízo de ordem patrimonial suportado pelo autor, ou seja, a devolução das parcelas descontadas indevidamente, de forma simples.

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Assim, restaram demonstrados todos os pressupostos necessários da responsabilidade civil dos Réus, que foram negligentes não tendo a prudência e os cuidados necessários ao realizarem os contratos em questão, tendo concedido os empréstimos sem se certificarem da auten-ticidade e da veracidade dos documentos apresentados, cabendo a eles suportarem o ônus de restituir os valores descontados indevidamente, bem como ao pagamento dos danos morais.

Neste sentido, transcrevo excertos da bem fundamentada senten-ça; verbis:

“[...]

Partindo-se do pressuposto de que a cláusula legitimamente pactuada, autorizando expressamente os descontos em folha é lícita, há que se re-conhecer num primeiro plano que a mesma deverá ser cumprida. Ocorre que o caso em análise mostra-se peculiar, pois consultando a documen-tação que instrui a presente causa, mormente as defesas apresentadas pelas partes demandadas, tenho por induvidoso que a contratação do empréstimo se deu sem a anuência da parte Autora, fato praticamente confirmado pela ausência de provas nas teses de defesas apresentadas pelos Bancos demandados, uma vez que os Banco Votorantim S/A e o Banco Mercantil do Brasil S/A, apesar de apresentarem cópias dos con-tratos, sequer demonstraram que a impressão digital lançada no contra-tos fosse do Sr. Deusdete Xavier Freire. Não bastasse isso, também não fizeram prova, através de filmagens, condição plenamente viável para os Bancos, de que o Demandante comparecera às agências bancárias nas datas em que celebraram o acordo.

No caso, causa-me até certa estranheza, o fato de o Autor cearense, resi-dindo em Fortaleza, ter celebrado os termos em lugares tão díspares, São Paulo e Belo Horizonte, conforme predicam os documentos apresenta-dos pelas Rés, fls. 114 e 140.

Saliento, ainda, que não será o fato da parte autora não ter efetuado o empréstimo em questão que ensejará dúvidas a respeito da existência de relação de consumo. Isso porque a promovente se enquadra no conceito de consumidor por equiparação, o qual amplia a tutela legal, de modo a abranger as práticas comerciais abusivas utilizadas antes da contratação, como é o caso de empréstimo fraudulento.”

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Sobre o tema merece atenção a jurisprudência desta Turma, verbis:

“CIVIL – EMPRÉSTIMO CONSIGNADO REALIZADO MEDIANTE FRAU-DE – DESCONTOS INDEVIDOS NOS PROVENTOS DO AUTOR – RES-TITUIÇÃO EM DOBRO DOS VALORES – DESCABIMENTO – DANO MORAL – OCORRÊNCIA – REDUÇÃO DO MONTANTE DA INDENI-ZAÇÃO

1. Caso em que o autor, servidor público federal aposentado, com mais de 84 anos de idade e residente na zona rural do Município de Ibimirim/PE, recebeu em sua conta corrente o crédito de R$ 38.092,23 (trin-ta e oito mil, noventa e dois reais e vinte e três centavos) em 07.01.2015.

2. Valor depositado em seu favor em decorrência do contrato de mútuo firmado com o Banco Santander S/A em dezembro/2014, com previsão de quitação do débito mediante consignação em folha de pagamento, constando, a partir do contracheque de novembro/2014, o desconto nos proventos do demandante da quantia de R$ 1.078,17 (mil e setenta e oito reais e dezessete centavos), montante correspondente a uma das 96 parcelas do empréstimo.

3. Proferida sentença que confirmou os efeitos da antecipação da tutela, determinando à União que suspendesse definitivamente os descontos re-alizados na aposentadoria do autor e condenou a instituição financeira a: cancelar o contrato de mútuo em folha de nº 226657357; restituir em do-bro a quantia indevidamente descontada dos seus rendimentos (montan-te a ser apurado na fase de execução); e a pagar, a título de indenização por danos morais, a importância de R$ 10.000,00 (dez mil reais), valor a ser acrescido de correção monetária e juros moratórios, nos moldes do Manual de Cálculos da Justiça Federal.

4. Constatação de que o contrato de empréstimo consignado firmado com o Banco Santander S/A foi fruto de fraude. Nele costa, como data de nascimento do autor, 25.05.1950, a qual também pode ser vista nos documentos de identificação apresentados quando da celebração do mútuo, quando o demandante, conforme cópia da sua Carteira de Iden-tidade anexada à inicial, cuja correspondência com o original não foi questionada pelos réus, nasceu, na verdade, em 25.05.1930.

5. Divergência de datas, certamente derivada da intenção de facilitar a concessão do empréstimo, que demonstra, a toda evidência, que a pes-soa que se dirigiu à instituição financeira e subscreveu o instrumento contratual não foi o autor, cuja assinatura, aposta em RG expedido em

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julho/2014, revela uma escrita já com marcas da sua idade avançada, que destoa claramente da firmeza da letra, verificada sobretudo nos so-brenomes, posta no contrato em questão.

6. Demonstrada a ocorrência de fraude, imperiosa a suspensão dos des-contos realizados nos proventos do demandante, ludibriado por terceiro.

7. Avulta dos autos a boa-fé do promovente, que preservou em sua conta corrente o valor creditado a título de empréstimo, tendo requerido judi-cialmente a sua devolução ao banco, abatida a quantia de cinco mil reais utilizada para pagamento de ‘comissão’ à pessoa que o enganou.

8. Boa-fé que também sobressai das correspondências dirigidas pelo au-tor, em janeiro/2015, ao Ministério dos Transportes e ao Banco Santan-der, datadas de janeiro/2015, informando não haver contraído o emprés-timo e rogando pela adoção de providências destinadas a estancar as deduções verificadas em sua aposentadoria.

9. A instituição bancária, ao conceder empréstimo sem se certificar da autenticidade e veracidade dos documentos apresentados, concorreu para o evento danoso, traduzido no fato de o demandante ver-se privado mensalmente de fatia considerável de seus proventos, em decorrência da fraude de que foi vítima.

10. Não procedeu o Santander com a diligência esperada e necessária para evitar a celebração de um contrato em prejuízo de terceiro, em que pese a notoriedade da grande ocorrência de fraudes em avenças dessa natureza.

11. O STJ firmou a tese, em julgamento de recursos repetitivos, de que as instituições bancárias respondem objetivamente pelos danos causados por fraudes ou delitos praticados por terceiros, decorrendo essa responsa-bilidade do risco do empreendimento (REsp 1199782/PR, 2ª S., Rel. Min. Felipe Salomão, DJ 24.08.2011, DJe 12.09.2011).

12. Os descontos destinados a amortizar o empréstimo consignado frau-dulento infligiram ao autor, hoje com 86 anos de idade, além de prejuízo material, uma aflição incomum, um abalo psíquico, que desborda do mero aborrecimento cotidiano, apto a ensejar indenização por dano moral.

13. O dano moral resultante de descontos indevidos nos proventos de aposentadoria, aliás, prescinde de comprovação, porquanto decorre do próprio fato, operando-se in re ipsa.

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14. Demonstrado o nexo de causalidade entre a conduta do Santander e o dano moral impingindo ao autor, irretorquível o dever de indenizar.

15. O importe fixado a título de danos morais deve ser minorado de R$ 10.000,00 para R$ 5.000,00, quantia que se afigura justa e razoável, pois não propicia o enriquecimento ilícito da parte demandante e, ao mesmo tempo, repara o dano sofrido. Precedente recente da Terceira Turma deste TRF-5ª Região em caso similar.

16. Descabimento da restituição em dobro dos valores indevidamente descontados dos proventos do autor. Aplicação do entendimento do STF consubstanciado na Súmula nº 159 (Cobrança excessiva, mas de boa-fé, não dá lugar às sanções do art. 1.531 do Código Civil), não havendo que se falar em má-fé na hipótese vertente.

17. Com relação aos honorários de sucumbência, correta a fixação de acordo com o CPC/1973, vigente à época do ajuizamento da ação, de maneira que, em consonância com o art. 20, §§ 3º e 4º, daquele Estatuto Processual, é justa e razoável o seu estabelecimento em R$ 2.000,00 (dois mil reais), tal como assentado na sentença.

18. Remessa oficial, tida por interposta, e recurso adesivo desprovidos. Apelação parcialmente provida para reduzir a R$ 5.000,00 (cinco mil reais) o valor da indenização por danos morais e afastar a condenação do Banco Santander S/A a restituir as quantias indevidamente descontadas da aposentadoria do autor na forma dobrada.”

(Processo: 08002422120154058310, AC/PE, Rel. Des. Fed. Paulo Machado Cordeiro, J. 01.10.2016)

“CIVIL – EMPRÉSTIMO CONSIGNADO – BENEFÍCIO PREVIDENCIÁ-RIO – DESCONTO INDEVIDO – FRAUDE – LEGITIMIDADE DO INSS – RESPONSABILIDADE DO INSS E DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA – DANO MATERIAL – RESTITUIÇÃO DOS VALORES – DANO MORAL – RAZOABILIDADE DO MONTANTE FIXADO NA SENTENÇA – JUROS DE MORA

1. Caso em que aposentado pelo INSS busca reparação por danos advin-dos de descontos irregulares nos seus proventos, em face de empréstimo consignado contratado com instituição financeira mediante fraude.

2. O desconto decorrente de fraude na concessão de empréstimo sem autorização do titular de benefício previdenciário é ato objetivamente capaz de gerar prejuízo de ordem moral, pois causa abalo psíquico ao interessado.

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3. Embora a autarquia previdenciária não tenha participado do proce-dimento de concessão do empréstimo, é sabido que a realização de qualquer desconto em benefício previdenciário deve ser precedida de autorização de seu respectivo titular, o que não ocorreu no caso em apre-ço. Assim, a inexistência da anuência do titular do benefício, conforme exigência do art. 6º, da Lei nº 10.820/2003, demonstra a ilicitude na conduta do INSS em proceder ao desconto sem a devida autorização.

4. Considerando que a instituição financeira concorreu para o evento da-noso, haja vista ter concedido o empréstimo em questão, sem se certificar da autenticidade e da veracidade dos documentos apresentados, cabe a ela suportar o ônus de restituir os valores descontados indevidamente, bem como o pagamento dos danos morais.

5. Irretocável a sentença que condenou o Banco-réu ao pagamento dos valores descontados dos proventos da parte autora, a título de danos ma-teriais.

6. Dano moral configurado. Manutenção da sentença que fixou a inde-nização em R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), para cada um dos réus.

7. Os juros moratórios passam a ser fixados pelo índice aplicado pela caderneta de poupança, nos termos do que dispõe o art. 1º-F, da Lei nº 9.494/1997, com a redação dada pelo art. 5º, da Lei nº 11.960/2009. O STF declarou a inconstitucionalidade parcial por arrastamento do citado art. 5º, no que pertine à correção monetária (ADI 4.357/DF e ADI 4.425/DF).

8. Apelação do INSS provida em parte (item 7) e Apelação do Banco Bradesco S/A improvida.”

(Processo: 08008305620134058000, AC/AL, Rel. Des. Fed. Élio Wanderley de Siqueira Filho (Convocado), 3ª T., Julgamento: 30.04.2015)

Manutenção do montante fixado a título de danos morais e mate-riais, bem assim da correção monetária e dos honorários advocatícios.

Esforçado nessas razões, nego provimento à Apelação. É como voto.

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Parte Geral – Ementário de Jurisprudência2306 – Ação indenizatória – invalidez permanente – cerceamento de defesa – ocor­

rência

“Agravo interno no recurso especial. Ação indenizatória. 1. Invalidez permanente. Cer-ceamento de defesa. Ocorrência. Reconhecimento da invalidez permanente. Laudo do INSS. Única prova. Presunção relativa. Necessidade de realização da prova pericial requerida. 2. Concessão de aposentadoria por invalidez pelo INSS. Prova apta ao pa-gamento da cobertura securitária. Previsão contratual. Acolhimento dessa tese. Impos-sibilidade. Incidência das Súmulas nºs 5 e 7 do STJ. 3. Agravo interno desprovido. 1. A jurisprudência desta Casa dispõe no sentido de que a concessão, pelo INSS, de aposen-tadoria decorrente de invalidez permanente não constitui prova absoluta da invalidez total e permanente do recorrido para fins do contrato de seguro privado. Precedentes. Determinado o retorno dos autos à origem para dar continuidade à instrução probatória, tendo em vista estar configurado o cerceamento de defesa. 2. O acolhimento da tese sustentada pela parte recorrente nas contrarrazões ao recurso especial e no respectivo agravo interno (acerca da existência de previsão contratual admitindo a utilização da concessão de aposentadoria por invalidez pelo INSS para o segurado comprovar o di-reito à percepção da cobertura securitária contratada) demandaria o reexame dos fatos e das provas dos autos e a interpretação de cláusulas contratuais, o que não se admite nesta instância extraordinária, ante o disposto nas Súmulas nºs 5 e 7 do STJ. 3. Agravo interno desprovido.” (STJ – AgInt-REsp 1.635.373 – (2016/0284830-6) – 3ª T. – Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze – DJe 01.03.2017 – p. 1243)

2307 – Ação regressiva – acidente do trabalho – negligência do empregador – configu­ração

“Direito administrativo. Apelação cível. INSS. Ação regressiva. Acidente de trabalho. Pensão por morte. Negligência do empregador. Configurada. Dever de ressarcimento. Sentença extra petita. Inclusão em folha de pagamento. Nulidade parcial decretada de ofício. Impossibilidade de constituição do capital. 1. Lide envolvendo o pedido do INSS de ressarcimento aos cofres da Previdência Social dos gastos decorrentes do pagamento dos benefícios acidentários, em razão de acidente de trabalho com óbito de segurado. Recurso da ré alegando o cerceamento de defesa, a carência da ação, ilegitimidade das partes, a ausência de culpa ou dolo do empregador, a culpa exclusiva ou concorrente do empregado falecido, além de ser indevido o ressarcimento ao INSS porquanto já há a obrigatoriedade de contribuição do SAT. 2. Carece a apelante de interesse recursal quanto ao pedido de suspensão do processo até a completa produção de provas no juízo trabalhista, uma vez que, pela consulta ao portal eletrônico do TRT da 1ª Região, a re-clamatória trabalhista em questão já teve sentença proferida, e encontra-se pendente de julgamento o recurso de revista interposto, estando, portanto, encerrada a instrução pro-batória. 3. Inexiste o cerceamento de defesa alegado pela ré, sob o fundamento de que o juízo a quo teria proferido sentença baseando-se em perícia não terminada e impugnada pela empregadora, realizada nos autos da ação trabalhista, uma vez que o magistrado da primeira instância não se baseou unicamente no laudo daquela perícia para formar o

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seu convencimento, mas sim fundamentou sua decisão nos elementos de prova produ-zidos nestes autos, referindo-se ao laudo pericial a fim de corroborar as suas conclusões. 4. As preliminares de carência de ação e ilegitimidade das partes lastreiam-se na ausên-cia de culpa da empresa recorrente para o evento danoso. Afastada a preliminar, uma vez que se confunde com o mérito da demanda. 5. O art. 120 da Lei nº 8.213/1991 se refere ao ressarcimento pelos responsáveis da quantia paga pelo INSS a título de benefí-cio previdenciário quando o acidente decorre de negligência quanto às normas padrão de segurança e higiene do trabalho. Já o inciso XXVIII do art. 7º da Constituição Federal estabelece que são direito dos trabalhadores urbanos e rurais o ‘seguro contra acidente de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa’, sendo este seguro arrecadado para o financiamento dos benefícios concedidos em virtude do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente de riscos ambientais de trabalho, conforme estabelece o art. 22, II da Lei nº 8.212/1991, tendo este caráter tributário. Portanto, não se constata qualquer incom-patibilidade entre os citados artigos, visto que possuem as prestações naturezas diversas. 6. O pagamento do Seguro Acidente de Trabalho – SAT, por si, não exime a empresa de se preocupar e tomar medidas efetivas para a segurança do trabalhador, sob pena de tal seguro vir a se transformar em verdadeiro estímulo para que as empresas sejam omissas com a segurança no trabalho. 7. Demonstrada nos autos a negligência da empresa em-pregadora na observação das normas de segurança de trabalho, especialmente a defi-ciência de treinamentos ministrados a fim de garantir a segurança dos empregados e evi-tar acidentes como o que vitimou o empregado. ‘Caracterizada a negligência da empresa apelante – seja pelos autos de infrações lavrados ou pelo próprio laudo técnico produ-zido por assistente técnico – tendo sido atestado o descumprimento, ao menos à época do acidente, das normas de higiene e segurança do trabalho [...]’. 8. Ressalta-se que o empregado falecido era responsável pelo início das operações de deslocamento, carga e descarga, de caminhões e empilhadeiras, no pátio da empresa, sendo imprescindível que o motorista do caminhão aguardasse a orientação daquele funcionário para poder manobrar o veículo. Assim, embora estivesse o encarregado no chamado ‘ponto cego’ do motorista naquele momento, não poderia o condutor movimentar o caminhão no pá-tio da empresa sem a visão total da localização daquele funcionário e sem a autorização expressa dele. Ausente, portanto, a culpa exclusiva ou concorrente do de cujus como fator de causa do trágico ocorrido. 9. O magistrado de primeiro grau prolatou decisão em desconformidade com o pleito formulado na exordial, concedendo inclusão de terceiros não integrantes da lide em folha de pagamento da ré, o que não foi requerido pelo INSS, revelando-se a sentença, nesse ponto, extra petita, impondo-se, desse modo, decretar de ofício a nulidade da sentença nesse ponto. 10. A indenização que se busca através desta ação não possui natureza de prestação alimentar, não cabendo, portanto, a cons-tituição de capital prevista no art. 475-Q do CPC/1973 (STJ, 1ª T., AgRg-REsp 1251428, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe 01.04.2014). 11. Apelação conhecida. Decretada, de ofício, a nulidade da sentença, na parte em que condenada a ré a incluir as dependentes

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do segurado falecido na folha de pagamento da empresa. Recurso da ré não provido.” (TRF 2ª R. – AC 0005731-85.2012.4.02.5101 – 8ª T.Esp. – Rel. Marcelo Pereira da Silva – DJe 22.02.2017 – p. 758)

Remissão Editorial SínTESEVide RSP nº 72, maio-jun./2016, ementa nº 1992 do TRF 2ª R.

2308 – Acidente do trabalho – incapacidade total e temporária – nexo causal demons­trado – inexistência de lesão permanente – aposentadoria por invalidez – não cabimento

“Previdenciário e processual civil. Ação acidentária. Acidente de trabalho. Incapacidade total e temporária. Nexo causal demonstrado. Inexistência de lesão permanente. Apo-sentadoria por invalidez. Não cabimento. Direito ao auxílio-doença acidentário reco-nhecido. 1. Tendo em vista que o laudo pericial emitido atesta que o autor encontra-se incapacitado para o trabalho apenas de forma temporária, ante a inexistência de conso-lidação das lesões sofridas em virtude do acidente laboral, não há como ser reconhecido o direito à concessão de aposentadoria por invalidez, devendo ser restabelecido o paga-mento de auxílio-doença, até a sua reabilitação profissional. 2. Demonstrado o nexo de causalidade entre a enfermidade apresentada pela parte autora e sua atividade laboral, mostra-se impositivo o reconhecimento do direito à conversão do auxílio-doença em seu homônimo acidentário. 3. Remessa de Ofício conhecida e não provida.” (TJDFT – Proc. 20150110583327RMO – (978020) – 1ª T.Cív. – Relª Nídia Corrêa Lima – J. 25.11.2016)

Remissão Editorial SínTESEVide RSP nº 76, jan.-fev./2017, ementa nº 2262 do TJMG.

2309 – Aposentadoria – revisão do ato de concessão de benefício – decadência – ob­servação

“Processual civil e previdenciário. Recurso especial. Aposentadoria. Revisão do ato de concessão de benefício. Decadência. Retratação. Recurso não provido. 1. O Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral, ao apreciar o mérito do RE 626.489/SE, definiu que, além de não ser inconstitucional a instituição de prazo para a revisão de benefício previdenciário, a decadência tem aplicação mesmo nos benefícios concedidos antes da sua instituição, observada, como marco inicial de incidência nessas hipóteses, a entrada em vigor da norma. 2. No caso em exame, o julgado proferido pela Quinta Turma, em sede de agravo regimental interposto pelo ente estatal, não se coaduna com a tese apreciada pelo Supremo Tribunal Federal no aludido RE 626.489/SE, devendo ser re-alizado o seu realinhamento. 3. Juízo de retratação exercido. Reconsideração do julgado para negar provimento ao recurso especial.” (STJ – REsp 1.219.066 – (2010/0200255-6) – 5ª T. – Rel. Min. Ribeiro Dantas – DJe 15.03.2017 – p. 1348)

2310 – Aposentadoria especial – atividade profissional – trocador de ônibus – agente agressivo – ruído – pagamento devido

“Previdenciário. Mandado de segurança. Aposentadoria especial. Atividade profissional. Trocador de ônibus. Agente agressivo. Ruído. Exposição do segurado acima dos limites

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legais. Arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213/1991. Preenchimento dos requisitos legais. Benefício devido. Consectários legais. A aposentadoria especial é devida ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem sua saúde ou sua integridade física durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, de modo habitual e per-manente, não ocasional, nem intermitente, a teor dos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213/1991. O cômputo do tempo de serviço deverá observar a legislação vigente à época da pres-tação laboral, tal como disposto no § 1º, art. 70, do Decreto nº 3.048/1999, com re-dação do Decreto nº 4.827/2003. Em razão da sobreposição de leis entre os Decretos nºs 53.831/1964 e 83.080/1979, quando o primeiro fixou o limite de insalubridade em 80dB (oitenta decibéis) e o último delimitou em 90dB (noventa decibéis), estabeleceu-se que atividade especial é aquela desenvolvida em ambiente com ruído médio superior a 80dB (oitenta decibéis), tendo em conta a vigência simultânea e sem incompatibilidade dos seus anexos. A efetiva exposição do segurado a agentes agressivos à saúde deve ser comprovada por prova documental, consubstanciada em formulários DSS 8030 e laudos técnicos periciais, dos quais consta que o trabalhador esteve exposto aos seguintes níveis de ruídos: superior a 80 decibéis, na vigência do Decreto nº 53.831/1964; superior a 90 decibéis de 06.03.1997 a 18.11.2003, vigência do Decreto nº 2.172/1997, e superior a 85 decibéis a partir da edição do Decreto nº 4.882, de 18.11.2003. Quanto ao uso de equipamento de proteção individual ou coletiva pelo segurado, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Agravo em Recurso Extraordinário ARE nº 664.335, com re-percussão geral reconhecida, decidiu, em relação ao agente físico ruído, que a utilização de EPI (protetores auriculares) não descaracteriza o tempo de serviço especial para apo-sentadoria, eis que a potência do som ‘causa danos ao organismo que vão muito além daqueles relacionados à perda das funções auditivas’ (ARE 664335, Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno – STF, J. 04.12.2014, DJe-029 de 12.02.2015). 6. A jurisprudência mais recente do STJ permite a conversão do tempo de serviço especial em comum, inclusive após 28.05.1998 (REsp 956110/SP). Por outro lado, em se tratando de conversão do tem-po de serviço comum em especial, para fins de concessão do benefício de aposentadoria especial, o Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso repetitivo do art. 543-C do CPC/1973, então vigente, decidiu que ‘para que o segurado faça jus à conversão de tem-po de serviço comum em especial, é necessário que ele tenha reunido os requisitos para o benefício pretendido antes da Lei nº 9.032/1995, de 28.04.1995, independentemente do momento em que foi prestado o serviço’ (EDcl-REsp 1.310.034/PR, Rel. Min. Her-man Benjamin, 1ª S., J. 26.11.2014, DJe 02.02.2015). 7. Na hipótese, a cópia da CTPS (fls. 28/31) e o PPP de fl. 32 indicam que o autor exerceu a atividade de trocador de ônibus. A profissão de trocador deve ser considerada atividade especial, por enqua-dramento de categoria profissional (Decreto nº 53.831/1964, código 2.4.4, e Decreto nº 83.080/1979, código 2.4.2), cuja sujeição a agentes nocivos é presumida até a Lei nº 9.032/1995, e esteve exposto, nos demais períodos, de forma habitual e permanente, a agente nocivo (ruído) em nível superior aos limites legais de tolerância aplicáveis à época, razão pela qual devem ser reconhecidos como de labor especial os períodos de 30.03.1983 a 01.06.1990 e 27.10.1994 a 18.02.2013. Portanto, o impetrante perfaz

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mais de 25 anos de trabalho insalubre, fazendo jus ao benefício de aposentadoria espe-cial, nos termos estabelecidos na sentença. 8. A correção monetária e os juros de mora seguirão as regras estabelecidas no Manual de Cálculos do Conselho da Justiça Federal. 9. Apelação do INSS desprovida e remessa oficial parcialmente provida tão somente para ajustar os consectários legais.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 0002524-52.2013.4.01.3814 – 2ª T. – Rel. Des. João Luiz de Sousa – J. 01.02.2017)

Comentário Editorial SínTESENo presente acórdão foi reconhecido o agente insalubre na profissão de tro-cador de ônibus explica:A aposentadoria especial foi introduzida no ordenamento jurídico pátrio pela Lei nº 3.807/1960, que, em seu art. 31, estabelecia que fazia jus ao benefí-cio o segurado que possuía 50 (cinquenta) anos ou mais e 15 (quinze) anos de contribuição, além de ter trabalhado durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme a atividade profissional em serviços que fossem considerados insalubres, perigosos ou penosos.O Decreto nº 48.959-A/60 regulamentou a Lei nº 3.807/1960 e aprovou o Regulamento Geral da Previdência Social. Tal Regulamento trazia anexo que definia os serviços insalubres, perigosos ou penosos que conferiam natureza especial à atividade para fins de concessão de aposentadoria especial.Quatro anos depois foi editado o Decreto nº 53.831/1964, que regulamentou o art. 31 da Lei nº 3.807/1960, criando um Quadro Anexo que relacionou os agentes físicos, químicos, biológicos e as atividades profissionais que tinham direito à aposentadoria especial.Em 1979 foi expedido novo Regulamento da Previdência Social com o Decre-to nº 83.080, que manteve a sistemática de relacionar em Quadros Anexo, além dos agentes físicos, químicos e biológicos, as atividades profissionais cujo exercício dava direito à aposentadoria especial.Doze anos depois editou-se a Lei nº 8.213/1991, que instituiu o Plano de Benefícios da Previdência Social, dispondo sobre a aposentadoria especial em seus arts. 57 e 58, posteriormente modificados pelas Leis nºs 9.032/1995 e 9.732/1998.A Lei nº 8.213/1991 foi regulamentada pelos Decretos nºs 357/1991, 611/1992, 2.172/1997, 2.782/1998 e 3.048/1999, sendo que este último ainda está em vigor e, assim como a Lei nº 8.213/1991, já sofreu várias alterações.Segundo o art. 57 da Lei nº 8.213/1991, a aposentadoria especial é devida ao segurado que tiver trabalhado exposto a condições especiais que prejudi-quem a saúde ou a integridade física durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos.O mesmo dispositivo determina que a concessão da aposentadoria especial dependerá da comprovação de que a exposição a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física no período mínimo fixado tenha sido permanente, não ocasional nem intermitente.Ainda, assevera que, além do tempo de trabalho, o segurado deverá compro-var a exposição a agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física pelo período equivalen-te ao exigido para concessão do benefício.

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Por outro lado, o art. 58 da Lei nº 8.213/1991 destaca que a relação dos agentes nocivos será definida pelo Poder Executivo, sendo certo que, atual-mente se refere ao Anexo IV do Decreto nº 3.048/1999, embora tal relação já tenha constado no Anexo IV do Decreto nº 2.172/1997.Outrossim, ressalta o art. 58 da Lei nº 8.213/1991 que a comprovação será feita mediante formulário emitido pela empresa com base em laudo técnico atualizado.Ainda, no § 2º do art. 58 passou-se a exigir que no laudo técnico conste a informação sobre a existência de tecnologia de proteção coletiva ou individual que diminua a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância.Destarte, é possível afirmar que até a edição da Lei nº 9.032/1995 existe pre-sunção de exposição a agente nocivo, no tocante às categorias profissionais constantes no Anexo do Decreto nº 53.831/1964 e nos Anexos I e II do De-creto nº 83.080/1979, sendo certo que a Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais pacificou entendimento nesse sentido com a aprovação da Súmula nº 49: “Para reconhecimento de condição especial de trabalho antes de 29.04.1995, a exposição a agentes nocivos à saúde ou à integridade física não precisa ocorrer de forma permanente”.Com efeito, restando comprovada por meio de perícia técnica a insalubridade, a periculosidade ou a penosidade da atividade laboral, é de rigor que se con-ceda a aposentadoria especial.” (Utilização da Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho para Obter Êxito no Enquadramento da Atividade Especial. Re-vista SÍNTESE Direito Previdenciário, ano XV, n. 71, mar-abr/2016, p. 113)

2311 – Aposentadoria por idade – coisa julgada – comprovação

“1. Previdenciário. Rural. Aposentadoria por idade. Coisa julgada. Comprovação. Ocor-rência de coisa julgada material em processo anterior. Extinção sem resolução de mérito com fulcro no art. 485, V, CPC/2015. Dá-se a coisa julgada quando há uma sentença que decide, em definitivo, questão jurídica da qual não cabe mais Recurso. A presente ação reproduz ação ajuizada na 6ª Vara Federal de Itabaiana do Estado de Sergipe (Processo nº 05011961-91.2013.4.05.8501), distribuída em 17 de julho de 2013, que foi decidi-da por Sentença e por Acórdão da Turma Recursal, o qual deu provimento ao Recurso inominado da Parte Autora, para conceder-lhe o benefício de Aposentadoria Rural por Idade, com o pagamento dos atrasados desde o Requerimento Administrativo. Extinção da presente demanda sem resolução de mérito. 2. Litigância de má-fé. Multa. Condena-ção da requerente a pagar ao requerido multa por litigância de má-fé, correspondente a 1% (um por cento) sobre o valor da causa. Apelação da Autora desprovida.” (TRF 5ª R. – AC 2009.05.99.004366-0 – (491016/SE) – 1ª T. – Rel. Des. Fed. Alexandre Luna Freire – DJe 16.11.2016 – p. 9)

2312 – Aposentadoria por idade – professora – regras de transição – ec 20/1998 – ina­plicabilidade

“Previdenciário. Constitucional. Revisão de benefício. Aposentadoria por idade. Profes-sora. Regras de transição. Art. 9º da Emenda Constitucional nº 20/1998. Inaplicabilidade. Afastamento do fator previdenciário. Impossibilidade. Ausência de ofensa ao princípio

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da irredutibilidade dos benefícios previdenciários. 1. A atividade de magistério foi con-siderada como serviço penoso pelo Decreto nº 53.831/1964 (Código 2.1.4), que asse-gurava aos professores o direito à aposentadoria aos 25 anos, não fazendo a legislação da época distinção entre os níveis de educação e reconhecendo como tempo especial o exercício das funções de professor na educação infantil, ensino fundamental, médio ou superior. 2. A jurisprudência perfilhou o entendimento de que, a partir do advento da EC 18/1981, que disciplinou a aposentadoria dos professores, não há que se falar em conta-gem de tempo especial e respectiva conversão em tempo comum, mas somente em apo-sentadoria com tempo de serviço reduzido e desde que integralmente na atividade de magistério. 3. A parte autora não faz jus à concessão da sua aposentadoria observando--se as regras da carreira do magistério, conforme previsão do art. 9º da Emenda Constitu-cional nº 20/1998, pois na data da sua publicação ela não havia implementado o tempo mínimo de exercício de atividade de magistério exigido para fazer jus às aposentadorias integral ou proporcional como professora, segundo as regras de transição estabelecidas no art. 9º da referida emenda constitucional. 4. Como a parte autora somente preencheu os requisitos para a percepção da aposentadoria em momento posterior ao advento da Lei nº 9.876/1999, não lhe assiste direito ao cálculo do benefício de acordo com o re-gramento anterior, mormente quanto ao afastamento do fator previdenciário. 5. A Lei nº 9.876/1999 que instituiu o fator previdenciário não padece de vício de inconstitucio-nalidade, adequando-se, pois, à premissa da necessidade de manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial do RGPS. Precedentes do STF: ADIn 2111/DF. 6. A incidência do fator previdenciário não importou em violação ao princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios, uma vez que somente se pode falar em redução do valor do benefício quando este, já concedido, deixa de ser recalculado por índices de reajustamento inade-quados para evitar a perda real em seu poder de compra, situação diversa da ventilada na espécie. 7. Apelação desprovida.” (TRF 1ª R. – AC 0001381-65.2016.4.01.3800 – 2ª T. – Rel. Des. João Luiz de Sousa – J. 01.02.2017)

2313 – Aposentadoria por idade – rurícola – comprovação – benefício devido

“Previdenciário. Segurado especial em regime de economia individual. Concessão de aposentadoria por idade. Trabalhador rural. Comprovação da atividade rural. Prova testemunhal robusta e início razoável de prova material. Cumprimento do período de carência e da idade mínima. Juros de mora e correção monetária. Súmula nº 111. Ne-cessidade de observância. Remessa oficial e apelação do INSS parcialmente providas. 1. Remessa oficial e Insurgência contra sentença que julgou procedente o pleito au-toral de concessão de aposentadoria por idade, na condição de segurado especial. 2. Para a concessão da aposentadoria por idade de trabalhador rural, na forma da Lei nº 8.213/1991, de acordo com a tabela do art. 142, devem ser atendidos dois requisitos: (a) o trabalhador rural tenha 60 (sessenta) anos completos, se homem, ou 55 (cinquenta e cinco) anos completos, se mulher (art. 48, § 1º); (b) cumprimento do período de carência exigida pela LBPS, em meses de exercício de atividade rural, ainda que de forma descon-tínua. 3. Prova documental e testemunhal a demonstrar o exercício de atividade rurícola, pelo tempo necessário. Requisito etário preenchido. 4. Para demonstrar a prestação de

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serviço rural em regime de economia familiar, a Apelante juntou aos autos: a) Certidão de casamento, onde consta sua profissão como sendo agricultor, b) Declaração de ati-vidade rural do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Uruburetama/CE; c) Declaração do proprietário do imóvel rural onde laborou o Autor, como Parceiro; d) identificação de sócio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, datada em 2002; e) Ficha de matrícula do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, com entrada em 21.02.1981; f) Pagamento de contribuições sindicais referentes aos anos de 1991, 1992, 1996, 1999, 2000, 2002, 2005 e 2006; g) inscrições no Programa Hora de Plantar, dentre outros. 5. A prova testemunhal colhida em juízo é idônea para comprovar o exercício de atividade rural, ainda mais se corroborada por início de prova documental, tendo em vista a dificuldade encontrada pelo trabalhador rural para comprovar sua condição, por meio de prova ma-terial, seja pela precariedade do acesso aos documentos exigidos, seja pelo grau de ins-trução ou mesmo pela própria natureza do trabalho exercido no campo, que, na maioria das vezes, não são registrados e ficam impossibilitados de apresentarem prova escrita do período trabalhado. Assim, a contemporaneidade da prova no período de carência deve ser observada, porém com tais ressalvas, em face da dificuldade do trabalhador obtê-las. 6. No tocante ao vínculo urbano do filho (de 2000 a 2012) e a aposentadoria urbana de sua esposa, tal circunstância não descaracteriza a qualidade de segurado es-pecial do Autor, na categoria individual, nos termos do art. 11, VII da Lei nº 8.213/1991. 7. o STJ já decidiu que: ‘A Primeira Seção desta Corte no julgamento do Recurso Espe-cial Representativo da Controvérsia nº 1.304.479/SP, firmou o entendimento de que o exercício de atividade remunerada de natureza urbana pelos demais membros do grupo familiar, não descaracteriza a condição de segurado especial do membro que se dedique à produção rural em regime individual, desde que comprove sua condição com docu-mentos em seu nome. 3. Agravo Regimental do INSS desprovido...EMEN: (STJ, AgAREsp 201200278203, Napoleão Nunes Maia Filho, 1ª T., DJe Data: 30.08.2013..DTPB:.). 8. Relativamente aos juros de mora e correção monetária, o Pleno do TRF5, à unanimi-dade, na Sessão realizada no dia 17.06.2015, ao proferir o julgamento dos processos nºs 0800212-05.2013.4.05.0000, 0800607-58.2013.4.05.0000 e Ap-Reex 22.880/PB, decidiu que as parcelas em atraso (tutela condenatória), devem sofrer a incidência de juros de mora, no percentual de 0,5% (meio por cento) ao mês, a contar da citação inicial, e correção monetária a partir de quando deveria ter sido efetuado o pagamento das parcelas aqui perseguidas, nos moldes estatuídos pelo Manual de Cálculos da Justiça Federal. Contudo, deve prevalecer o decidido na sentença, sob pena de configuração da reformatio in pejus’. 9. Honorários advocatícios mantidos no percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, devendo ser observada a Súmula nº 111, do STJ. 10. Remessa oficial e Apelação do INSS parcialmente providas.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0000199-65.2013.4.05.9999 – (34282/CE) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Carlos Rebelo Júnior – DJe 15.03.2017 – p. 36)

2314 – Aposentadoria por idade rural – não comprovação da atividade no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício

“Direito previdenciário. Aposentadoria por idade rural. Não comprovação da atividade rural no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício. Inaplicabilidade

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da Lei nº 10.666/2003. Recurso extraordinário interposto sob a égide do CPC/1973. Eventual ofensa reflexa não viabiliza o manejo do recurso extraordinário. Art. 102 da lei maior. Agravo manejado sob a vigência do CPC/2015. 1. A controvérsia, a teor do já asseverado na decisão guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há falar em afronta aos preceitos constitucionais indicados nas razões recursais. Compreensão diversa demandaria a análise da legislação infraconstitucional encampada na decisão da Corte de origem, a tornar oblíqua e reflexa eventual ofensa à Constituição, insusce-tível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário. Desatendida a exigência do art. 102, III, a, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta Suprema Corte. 2. Agravo regimental conhecido e não provido, com majoração em 10% (dez por cento) dos honorários advocatícios anteriormente fixados, obedecidos os limites previstos no art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015, ressalvada eventual concessão do be-nefício da gratuidade da Justiça.” (STF – AgRg-RE-Ag 1.004.476 – São Paulo – 1ª T. – Relª Min. Rosa Weber – J. 24.02.2017)

2315 – Aposentadoria por invalidez – qualidade de segurado – período de carência – laudo pericial conclusivo – incapacidade laboral total e permanente – preen­chimento dos requisitos legais – benefício devido

“Previdenciário. Aposentadoria por invalidez. Trabalhador urbano. Qualidade de segu-rado. Período de carência. Laudo pericial conclusivo. Incapacidade laboral total e per-manente. Preenchimento dos requisitos legais. Juros e correção monetária. Manual de cálculos da justiça federal. Sentença sujeita à remessa oficial, vez que de valor incerto a condenação imposta ao INSS. Os requisitos para a concessão da aposentadoria por invalidez estão dispostos no art. 42, caput e § 2º, da Lei nº 8.213/1991, quais sejam: 1. qualidade de segurado; 2. cumprimento do período de carência (12 contribuições), quando exigida; 3. incapacidade insuscetível de recuperação ou de reabilitação para o exercício de atividade que garanta a subsistência (incapacidade total e permanente para o trabalho) e 4. não ser a doença ou lesão preexistente à filiação do segurado ao Regime Geral da Previdência Social. Nos termos do art. 15, II, da Lei nº 8.213/1991, mantém a qualidade de segurado até 12 meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade remunerada abrangida pela Previdência Social, poden-do ser prorrogado para até 24 (vinte e quatro) meses se o segurado já tiver pago mais de 120 (cento e vinte) contribuições mensais sem interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado (§ 1º), somando-se, ainda, mais 12 (doze) meses para o segurado desempregado (§ 2º). Na hipótese, a qualidade de segurada, bem assim o cumprimento do período de carência, restaram comprovados por meio documental (fl. 164), vez que a parte autora contribuiu para o RGPS nos períodos de 09/1988 a 11/1988, 01/1989 a 02/1989, 12/1989, 04/1990, 08/2004 a 10/2004 e 12/2004 a 01/2006; além do que recebeu auxílio-doença nos interregnos de 16.01.2006 a 31.12.2007 e 15.02.2008 a 15.06.2008. Ademais, cabe ao INSS o ônus probatório da efetiva fraude cometida pela requerente, não podendo ser considerada presumida, ainda mais diante da escassez de documentos que pudessem comprovar os recolhimentos previdenciários de forma ex-

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temporânea, bem assim a preexistência da incapacidade laborativa. Dessa forma, não havendo comprovação de fato impeditivo do direito (art. 373, II do NCPC), os elementos carreados aos autos demonstram o vínculo da segurada com a autarquia federal à época da incapacidade. A prova pericial médica (fls. 151/154) não só revelou que a parte au-tora está acometida de enfermidade incapacitante (esquizofrenia), bem como destacou, peremptoriamente, que a requerente está incapacitada de modo total e permanente para o trabalho desde meados de 2006 (fl. 153). Ainda de acordo com o referido laudo, a paciente é insuscetível de reabilitação (quesito 10 – fl. 154). Dessa forma, o laudo pe-ricial mostra-se claro e objetivo ao afirmar que a segurada não apresenta capacidade para o retorno ao mercado de trabalho. A parte autora faz jus à percepção do benefício de aposentadoria por invalidez, a contar da data de cessação do auxílio-doença em 31.12.2007 (fl. 164), descontando-se os importes recebidos, no mesmo período, a título de benefício inacumulável. Quanto ao índice de correção monetária e juros, a redação atual do Manual de Cálculos da Justiça Federal, aprovado pela Resolução nº 267/2013, com o intuito de auxiliar a elaboração dos cálculos na fase judicial de liquidação de sen-tença, compila, sistematicamente, a legislação e a jurisprudência sobre o tema, fixando que a Taxa Referencial (TR) deve ser afastada como índice de correção monetária, tendo em vista não servir como fator de atualização do valor de compra da moeda. Dessarte, para fins de cálculo dos juros de mora e da correção monetária, devem ser aplicados os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, que espelham as normas oficiais adotadas por esta Corte. Os honorários advocatícios devem ser fixados em 10% das prestações vencidas até a prolação da sentença de procedência, ou do acórdão que reforma o comando de improcedência da pretensão vestibular. Apelação do INSS desprovida e remessa oficial parcialmente provida para que sejam observados os consec-tários legais.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 0059479-45.2016.4.01.9199 – 2ª T. – Rel. Des. João Luiz de Sousa – J. 08.03.2017)

2316 – Aposentadoria por tempo de contribuição – contribuinte individual – recolhi­mentos – requisitos preenchidos – pagamento devido

“Previdenciário. Aposentadoria por tempo de contribuição. Reconhecimento de labor urbano comum. Segurado autônomo/contribuinte individual. Necessidade de recolhi-mentos. Preenchidos os requisitos para a concessão da aposentadoria por tempo de con-tribuição proporcional. Juros de mora e correção monetária. Inicialmente, verifica-se que a r. sentença incorreu em julgamento ultra petita. Pois bem, o pedido se refere ao reconhecimento do tempo de serviço comum e a concessão de aposentadoria por tem-po de serviço/contribuição. O magistrado após reconhecer parte do tempo de serviço condenou o INSS ao pagamento de aposentadoria por tempo de contribuição ou apo-sentadoria por idade, esta última não requerida na inicial, proferindo julgamento ultra petita. Com efeito, é induvidosa a necessidade de sua adequação aos limites do pedido, excluindo da condenação o pagamento da aposentadoria por idade. No caso analisado, o valor da condenação verificado no momento da prolação da sentença não excede a 1000 salários mínimos, de modo que a sentença não será submetida ao reexame neces-

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sário, nos termos do art. 496, § 3º, inciso I, do novo Código de Processo Civil. A questão em debate consiste na possibilidade de se reconhecer os períodos de trabalho comum especificados na inicial, para somados aos demais lapsos de trabalho incontroversos, propiciar a concessão da aposentadoria. No que tange ao labor comum referente ao período de 01.09.1960 a 03.10.1967, reconhecido pela r. sentença, observo que não é objeto de insurgência do INSS em sede de apelo, pelo que tenho como incontroverso. No que se refere ao interstício de 08.04.1969 a 31.12.1970, durante o qual o deman-dante integrou o quadro societário da empresa Domingues e Figueiredo Ltda., impossível o deferimento do pleito, tendo em vista que, enquadrado como segurado autônomo/contribuinte individual, deveria efetuar contribuições previdenciárias para que o tempo de serviço fosse computado para fins de aposentadoria. No mesmo sentido, impossí-vel o cômputo do tempo de serviço dos períodos de 10/1987, de 09/1991 a 06/1992, de 08/1992 a 09/1992, de 11/1992 a 02/1993, de 05/1993 a 02/1994, de 11/1994 a 12/1994, de 03/1995 a 07/1995, quando integrou o quadro societário da empresa Galão Com. de Tintas Ltda., face à ausência de comprovação dos respectivos recolhimentos nos autos. Os demais lapsos em que atuou como empresário junto à Galão Com. de Tintas Ltda. foram computados, uma vez que houve prova nos autos das contribuições. Quanto ao alegado vínculo empregatício, de 15.12.1970 a 30.09.1971, também não deve ser computado, tendo em vista que a CTPS apresentada encontra-se rasurada no campo ‘data de saída’ e não há nos autos qualquer outro documento que ateste a efetiva data de afastamento do labor. Não há reparos a serem feitos no cômputo do tempo de serviço realizado pela r. sentença, devendo ser mantida a concessão da aposentadoria por tempo de contribuição proporcional, uma vez que o demandante perfez até a Emen-da nº 20/1998 mais de 30 anos de serviço, conforme tabela elaborada à fl. 253, fazendo jus à aposentadoria, eis que respeitando as regras anteriores à Emenda nº 20/1998, de-veria cumprir, pelo menos, 30 (trinta) anos de serviço. A correção monetária e os juros moratórios incidirão nos termos do Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal em vigor por ocasião da execução do julgado. Cuidando-se de prestação de natureza alimentar, presentes os pressupostos do art. 300 c/c art. 497 do Novo CPC/2015, é possível a antecipação da tutela para a imediata implantação da aposentadoria por tempo de serviço. Ciente a parte do decidido pelo E. Superior Tribunal de Justiça, em decisão proferida no julgamento do REsp 1.401.560/MT (integrada por embargos de declaração), processado de acordo com o rito do art. 543-C do CPC/1973. Reexame necessário não conhecido. Apelação da parte autora não provida. Apelo do INSS não provido.” (TRF 3ª R. – Ap-RN 0005143-98.2015.4.03.6183/SP – 8ª T. – Relª Desª Fed. Tania Marangoni – DJe 20.03.2017 – p. 752)

2317 – Aposentadoria por tempo de contribuição – inércia da administração – ocor­rência – mandado de segurança – cabimento

“Mandado de segurança. Direito previdenciário. Remessa oficial. Aposentadoria por tempo de contribuição. Leis nºs 9.784/1999 e 8.213/1991. Inércia da administração. Ocorrência. Segurança concedida. I – A Administração tem o dever de apreciar e de-

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cidir os processos administrativos dentro dos prazos estabelecidos pela legislação, con-forme disposição dos arts. 48 e 49 da Lei nº 9.784/1999 e do § 5º do art. 41-A da Lei nº 8.213/1991. II – No caso dos autos, restou comprovada a inércia da Administração Pública, razão pela qual se impõe a manutenção da sentença que concedeu a seguran-ça, determinando a implantação do benefício de aposentadoria já reconhecido admi-nistrativamente, sob pena de violação dos princípios da eficiência e da razoabilidade. III – Remessa Oficial improvida.” (TRF 3ª R. – RNC 0001550-04.2016.4.03.6126/SP – 9ª T. – Rel. Des. Fed. Gilberto Jordan – DJe 01.03.2017 – p. 285)

2318 – Aposentadoria por tempo de serviço – exercício sob condições especiais – be­nefício devido

“Previdenciário. Aposentadoria por tempo de serviço/contribuição. Tempo de labor exercido sob condições especiais. Tempo de labor na faina rural. Da aposentadoria por tempo de serviço. O benefício será devido, na forma proporcional, ao segurado que completar 25 (vinte e cinco) anos de serviço, se do sexo feminino, ou 30 (trinta) anos de serviço, se do sexo masculino (art. 52, da Lei nº 8.213/1991). Comprovado mais de 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se homem, ou 30 (trinta) anos, se mulher, concede--se aposentadoria na forma integral (art. 53, I e II, da Lei nº 8.213/1991). Necessário o preenchimento do requisito da carência, seja de acordo com o número de contribuições contido na tabela do art. 142, da Lei nº 8.213/1991, seja mediante o implemento de 180 (cento e oitenta) prestações vertidas. Da aposentadoria por tempo de contribui-ção. A Emenda Constitucional nº 20/1998 estabeleceu o requisito de tempo mínimo de contribuição de 35 (trinta e cinco) anos para o segurado e de 30 (trinta) anos para a segurada, extinguindo a aposentadoria proporcional. Para os filiados ao regime até sua publicação (em 15 de dezembro de 1998), foi assegurada regra de transição, de forma a permitir a aposentadoria proporcional: previu-se o requisito de idade mínima de 53 (cinquenta e três) anos para os homens e de 48 (quarenta e oito) anos para as mulheres e um acréscimo de 40% (quarenta por cento) do tempo que faltaria para atingir os 30 (trinta) ou 35 (trinta e cinco) anos necessários nos termos da nova legislação. Do tempo exercido em condições especiais. O tempo de serviço prestado sob condições especiais poderá ser convertido em tempo de atividade comum independente da época trabalhada (art. 70, § 2º, do Decreto nº 3.048/1999), devendo ser aplicada a legislação vigente à época da prestação laboral. Até a edição da Lei nº 9.032/1995, a conversão era conce-dida com base na categoria profissional classificada de acordo com os anexos dos De-cretos nºs 53.831/1964 e 83.080/1979 (rol meramente exemplificativo). Todavia, caso não enquadrada em tais Decretos, podia a atividade ser considerada especial mediante a aplicação do entendimento contido na Súm. 198/TFR. Após a Lei nº 9.032/1995, passou a ser necessário comprovar o exercício de atividade prejudicial à saúde por meios de formulários ou de laudos. Com a edição da Lei nº 9.528/1997, passou-se a ser neces-sária a apresentação de laudo técnico para a comprovação de atividade insalubre. A apresentação de Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP substitui o laudo técnico, sendo documento suficiente para aferição das atividades nocivas a que esteve sujeito

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o trabalhador. A extemporaneidade do documento (formulário, laudo técnico ou Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP) não obsta o reconhecimento de tempo de traba-lho sob condições especiais. A demonstração da especialidade do labor por meio do agente agressivo ruído sempre exigiu a apresentação de laudo. O C. Superior Tribunal de Justiça (REsp 1.398.260/PR – representativo da controvérsia) assentou que, até 05 de março de 1997, entendia-se insalubre a atividade exposta a 80 dB ou mais (aplicação dos Decretos nºs 53.831/1964 e 83.080/1979); com a edição do Decreto nº 2.172/1997, passou-se a considerar insalubre o labor desempenhado com nível de ruído superior a 90 dB; sobrevindo o Decreto nº 4.882/2003, reduziu-se tal patamar para 85 dB. Impossível a retroação do limite de 85 dB para alcançar fatos praticados sob a égide do Decreto nº 2.172/1997. O C. Supremo Tribunal Federal (ARE 664.335/RS – repercussão geral da questão constitucional reconhecida) fixou entendimento no sentido de que, havendo prova da real eficácia do Equipamento de Proteção Individual – EPI, afastado estará o direito à aposentadoria especial. Todavia, na hipótese de dúvida quanto à neutralização da nocividade, deve ser priorizado o reconhecimento da especialidade. Especificamente no tocante ao agente agressivo ruído, não se pode garantir a eficácia real do EPI em eli-minar os efeitos agressivos ao trabalhador, uma vez que são inúmeros os fatores que o influenciam, de modo que sempre haverá direito ao reconhecimento da atividade como especial. Do tempo exercido em atividade rural. O tempo de serviço do segurado traba-lhador rural exercido antes da data de vigência da Lei nº 8.213/1991 é de ser computado e averbado, independentemente do recolhimento das respectivas contribuições, todavia, não se prestando para fins de carência (art. 55, § 2º, da Lei nº 8.213/1991). Em relação ao reconhecimento de trabalho rural posterior a novembro de 1991, faz-se necessária a prova do recolhimento das contribuições previdenciárias relativas ao período (art. 60, X, do Decreto nº 3.048/1999). A comprovação de tal tempo, nos termos do § 3º do art. 55 da Lei nº 8.213/1991, deve ser levada a efeito por meio de início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal (Súm. 149/STJ). De acordo com o C. Superior Tribunal de Justiça (REsp 1.348.633/SP – representativo da controvérsia), é pos-sível o reconhecimento de tempo anterior ao documento mais remoto (desde que o labor seja confirmado pela prova oral). Admite-se o cômputo do período laborado no campo pelo menor de idade (a partir dos 12 doze anos), uma vez que as regras insculpidas nos Ordenamentos Constitucionais, vedando o trabalho infantil, não podem prejudicá-lo. Negado provimento ao recurso de apelação da parte autora, à apelação do INSS e ao Reexame Necessário.” (TRF 3ª R. – Ap-RN 0003616-46.2009.4.03.6111/SP – 7ª T. – Rel. Des. Fed. Fausto de Sanctis – DJe 02.12.2016 – p. 414)

2319 – Auxílio­acidente – redução da capacidade laborativa – inexistência – pagamen­to indevido

“Previdenciário e processual civil. Agravo interno no agravo em recurso especial. Auxí-lio-acidente. Acórdão recorrido que, à luz da prova dos autos, concluiu pela inexistência de redução da capacidade laborativa do segurado, para o exercício do trabalho que habi-tualmente exercia. Reexame de matéria fática. Impossibilidade. Súmula nº 7/STJ. Agravo interno improvido. I – Agravo interno aviado contra decisão publicada em 07.10.2016,

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que, por sua vez, julgara recurso interposto contra a decisão que inadmitira o Recurso Especial, publicada na vigência do CPC/1973. II – O Tribunal de origem concluiu, à luz das provas dos autos, que ‘da análise do laudo pericial e demais elementos dos autos, resta evidente a inexistência de incapacidade laborativa atual, estando ausente, portanto, um dos requisitos essenciais para a reparação no âmbito da infortunística, o que, por si só, afasta cabalmente a concessão de benefício acidentário, fazendo-se desnecessária a discussão acerca do nexo de causalidade/concausalidade’. Observou o acórdão recor-rido, ainda, que ‘o exame físico não apresentou quaisquer anormalidades anatômicas ou restrições funcionais, e as manobras de praxe resultaram negativas’, e que, ‘no laudo médico pericial ultimado nos autos, realizado pelo perito judicial Dr. Renato Mari Neto, com vistoria no local de trabalho (fls. 94/104), restou constatada a inexistência de inca-pacidade laborativa’. III – Considerando a fundamentação adotada, o acórdão recorrido somente poderia ser modificado mediante o reexame dos aspectos concretos da causa, o que é obstado, no âmbito do Recurso Especial, pela Súmula nº 7 desta Corte. IV – Agravo interno improvido.” (STJ – AgInt-Ag-REsp 989.144 – (2016/0252992-0) – 2ª T. – Relª Min. Assusete Magalhães – DJe 16.03.2017 – p. 637)

2320 – Auxílio­acidente – requisitos – não preenchimento – benefício indevido

“Previdenciário. Processual civil. Auxílio-acidente. Não preenchimento dos requisitos para a concessão. Entendimento da Corte de origem. Impossibilidade de revisão. Óbice da Súmula nº 7/STJ. 1. É entendimento pacificado no âmbito desta Corte Superior que a averiguação do preenchimento dos requisitos para a concessão do benefício previden-ciário em debate é medida que implicaria em reexame do arcabouço de fatos e provas integrantes dos autos, o que é vedado do STJ, a teor de sua Súmula nº 7/STJ. 2. Agravo interno a que se nega provimento.” (STJ – AgInt-Ag-REsp 905.148 – (2016/0100455-9) – 1ª T. – Rel. Min. Sérgio Kukina – DJe 02.12.2016 – p. 2079)

2321 – Auxílio­acidente e aposentadoria – concessão após 1997 – impossibilidade

“Agravo interno no recurso especial. Previdenciário. Acumulação de auxílio-acidente com aposentadoria concedida após 1997. Impossibilidade. Recurso repetitivo. 1. O Re-curso Especial Repetitivo nº 1.296.673/MG, processado nos moldes do art. 543-C do CPC, firmou entendimento de que a ‘acumulação do auxílio-acidente com proventos de aposentadoria pressupõe que a eclosão da lesão incapacitante, apta a gerar o direito ao auxílio-acidente, e a concessão da aposentadoria sejam anteriores à alteração do art. 86, §§ 2º e 3º, da Lei nº 8.213/1991, promovida em 11.11.1997 pela Medida Provisória nº 1.596-14/1997, posteriormente convertida na Lei nº 9.528/1997’ (REsp 1.296.673/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, 1ª S., DJe 03.09.2012). 2. Entendimento também consoli-dado pela Súmula nº 507/STJ, segundo a qual ‘a acumulação de auxílio-acidente com aposentadoria pressupõe que a lesão incapacitante e a aposentadoria sejam anteriores a 11.11.1997, observado o critério do art. 23 da Lei nº 8.213/1991 para definição do momento da lesão nos casos de doença profissional ou do trabalho’. 3. Havendo sido a

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aposentadoria, no presente caso, concedida apenas em 2009, não é possível a acumula-ção com o auxílio-acidente. 4. Agravo interno não provido.” (STJ – AgInt-REsp 1.580.741 – (2016/0024972-2) – 2ª T. – Rel. Min. Og Fernandes – DJe 15.03.2017 – p. 1057)

2322 – Auxílio­acidente ou aposentadoria por invalidez – perícia médica judicial – ob­servação

“Previdenciário e processual civil. Agravo interno no agravo em recurso especial. Au-xílio-acidente ou aposentadoria por invalidez. Acórdão fundamentado em perícia mé-dica realizada em juízo e que concluiu pela inexistência de invalidez ou redução da capacidade laborativa do segurado. Reexame de matéria fática. Impossibilidade. Súmula nº 7/STJ. Agravo interno improvido. I – Trata-se de Agravo interno, interposto contra decisão monocrática publicada em 20.09.2016, que, por sua vez, julgara recurso in-terposto contra decisão que inadmitira o Recurso Especial, publicada na vigência do CPC/2015. II – O Tribunal de origem concluiu, à luz das provas dos autos, que ‘não restou demonstrada a existência de incapacidade laborativa atual (parcial e permanente ou total e permanente) decorrente da atividade laborativa de agente de apoio técnico desempenhada pelo obreiro’. III – Considerando a fundamentação adotada, o acórdão recorrido somente poderia ser modificado mediante o reexame dos aspectos concretos da causa, o que é obstado, no âmbito do Recurso Especial, pela Súmula nº 7 desta Cor-te. IV – No que tange à interposição recursal fundamentada na alínea c do permissivo constitucional, ‘o STJ tem jurisprudência pacífica no sentido de que não é possível o co-nhecimento do recurso especial interposto pela divergência jurisprudencial, na hipótese em que o dissídio é apoiado em fatos e não na interpretação da lei federal. Isso porque a Súmula nº 7 do STJ também se aplica aos recursos especiais interpostos pela alínea c do permissivo constitucional’ (STJ, AgInt-AREsp 858.894/SP, Relª Min. Diva Malerbi (Desª Fed. Conv. do TRF 3ª R.), 2ª T., DJe de 10.08.2016). V – Agravo interno improvido.” (STJ – AgInt-Ag-REsp 980.362 – (2016/0238100-3) – 2ª T. – Relª Min. Assusete Magalhães – DJe 29.11.2016 – p. 802)

2323 – Auxílio­doença – incapacidade – ausência – direito – inexistência

“Previdenciário. Auxílio-doença. Incapacidade. Ausência. Direito. Inexistência. 1. De-mandante que pretende a reforma da sentença que julgou improcedente o pedido de auxílio-doença, sustentando que se encontra incapacitado para o trabalho diante da patologia da qual é portadora (espondilose lombar e artrose lombar). 2. ‘O auxílio-do-ença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua ativida-de habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos’ (art. 59 da Lei nº 8.213/1991). 3. Constatado, através de exame médico-pericial, que o postulante não se encontra in-capacitado para o trabalho, inexiste direito à concessão de auxílio-doença. 4. Apelação desprovida.” (TRF 5ª R. – AC 0003099-16.2016.4.05.9999 – (592232/PB) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Machado Cordeiro – DJe 03.02.2017 – p. 116)

Transcrição Editorial SínTESELei nº 8.213/1991:

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“Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.

Parágrafo único. Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social já portador da doença ou da lesão invo-cada como causa para o benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.”

2324 – Auxílio­reclusão – concessão do benefício – possibilidade

“Previdenciário. Auxílio-reclusão. Concessão do benefício. Possibilidade. Recluso com baixa renda. 1. Somente o segurado de baixa renda dará direito à sua família de obten-ção do benefício. Tal entendimento foi firmado pela Emenda Constitucional nº 20/1998, alterando o art. 201, IV. 2. À fl. 39, consta no Termo da Rescisão do Contrato de Traba-lhador que a última renumeração foi de R$ 666,90 (seiscentos e sessenta e seis reais e noventa centavos). 3. Esse valor é somado às verbas rescisórias, ou seja, se o autor não houvesse rescindido o contrato, ele receberia R$ 572,00 (quinhentos e setenta e dois reais), valor inferior ao teto máximo vigente à época. Além disso, vale ressaltar que na Declaração de Imposto de Renda do autor (fls. 20/21), há as renumerações de todo o ano de 2014, as quais possuíram a média apurada em aproximadamente R$ 529,00. 4. Mesmo se as verbas rescisórias fossem ser consideradas, não é compatível com os princípios de justiça e razoabilidade a negação do benefício à autora, a qual possui a saúde econômica prejudicada, sendo dependente de seu filho; Em razão de R$ 50,00. 5. Negado provimento ao apelo.” (TRF 2ª R. – AC 2011.02.01.008299-7 – 2ª T.Esp. – Relª Simone Schreiber – DJe 17.03.2017 – p. 152)

2325 – benefício previdenciário – desconto indevido de pensão alimentícia a maior – devolução dos valores – dano moral – inexistência

“Administrativo. Benefício previdenciário. Desconto indevido de pensão alimentícia a maior. Devolução dos valores descontados indevidamente. Inexistência de danos morais que justificassem indenização. Conduta da parte autora que contribuiu para os prejuízos. Restabelecimento pelo que determinou a sentença. Sentença de parcial procedência mantida. Apelações improvidas.” (TRF 4ª R. – AC 5007061-46.2013.4.04.7104 – 4ª T. – Rel. Cândido Alfredo Silva Leal Junior – J. 08.03.2017)

2326 – benefício previdenciário – devolução de valores – boa­fé presumida – má­fé não comprovada – valores recebidos – cobrança indevida

“Embargos de declaração. Processual civil e previdenciário. Devolução de valores. Boa-

-fé presumida. Má-fé não comprovada. Indevida a cobrança de valores recebidos. Ine-

xistência de omissão. 1. Os embargos de declaração não são meio próprio ao reexame

da causa, devendo limitar-se ao esclarecimento de obscuridade, eliminar contradição,

suprir omissão, bem como para corrigir erro material, nos termos do art. 1.022, do Códi-

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go de Processo Civil. 2. Alega a parte embargante que, ‘no julgado ora embargado, entre-

tanto, não há qualquer menção e, menos, ainda, análise fundamentada a respeito da im-

periosidade de ser determinada a devolução dos valores indevidamente recebidos pelo

ora embargado’. 3. Não há que se falar na existência de omissão no acórdão vergastado.

Em que pesem os argumentos expendidos pelo embargante, a discussão levantada não

é possível em sede de embargos de declaração, porquanto do teor do acórdão atacado,

percebe-se que o relator foi claro ao mencionar que: ‘São irrepetíveis os valores pagos

indevidamente a beneficiários da Previdência Social, por interpretação errônea ou má

aplicação da lei, ou por erro da Administração, dada a natureza alimentar das referidas

verbas. Precedentes do STJ. Para ser devida a referida cobrança, necessário comprovar-

-se a má-fé do particular ao receber o benefício, o que não se deu’. 4. Verifique-se, pois,

que os presentes embargos não foram opostos com a intenção de sanar algum vício no

acórdão, mas sim, tentativa de reexame em substância da matéria já julgada. 5. Embargos

de declaração não providos.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 2008.81.00.016365-5/01 – (7846/CE)

– 1ª T. – Rel. Des. Fed. Élio Wanderley de Siqueira Filho – DJe 02.02.2017 – p. 38)

2327 – benefício previdenciário – revisão – rmi limitada ao teto – prescrição quinque­nal – observação

“Previdenciário. Revisão de benefício. Alteração do teto pelas EC 20/1998 e 41/2003.

RMI limitada ao teto por ocasião da revisão do art. 144 da Lei nº 8.213/1991. Prescri-

ção quinquenal. O benefício do autor teve DIB em 14.12.1990, no ‘Buraco Negro’,

e teve a RMI limitada ao teto por ocasião da revisão preceituada pelo art. 144 da Lei

nº 8.213/1991 – em julgamento do RE 564/354/SE, realizado em 08.09.2010, na forma

do art. 543-B, do CPC, o STF assentou entendimento no sentido da possibilidade de

aplicação dos tetos previstos nas referidas Emendas Constitucionais aos benefícios pre-

videnciários concedidos anteriormente a tais normas, reduzidos ao teto legal, por meio

da readequação dos valores percebidos aos novos tetos, de modo que o autor faz jus à

revisão pretendida, com o pagamento de eventuais diferenças daí advindas, respeitada

a prescrição quinquenal contada do ajuizamento da ação. A existência de ação civil

pública não implica a suspensão da prescrição, uma vez que a autora não pretende

aderir ao feito coletivo (ACP 0004911-28.2011.4.03.6183). O ajuizamento da presente

ação individual e a ausência de interesse em aderir à ACP tiveram o condão de obstar

o aproveitamento dos efeitos positivos de eventual coisa julgada erga omnes, haja vista

a opção pelo prosseguimento de ação própria, afastando a tutela promovida na ação

coletiva, ex vi do art. 21 da Lei nº 7.347/1985 c/c art. 104 da Lei nº 8.078/1990. Apenas

em sede de liquidação há de se verificar se a condenação aqui estampada irá produzir

reflexos financeiros a favor do autor. A correção monetária e os juros de mora incidirão

nos termos do Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Fede-

ral em vigor por ocasião da execução do julgado, em obediência ao Provimento COGE

nº 64, de 28 de abril 2005 e ao princípio do tempus regit actum. Verba honorária fixada

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em 10% sobre o valor da condenação, até a sentença, a teor da Súmula nº 111, do STJ. Apelo parcialmente provido.” (TRF 3ª R. – AC 0001846-83.2015.4.03.6183/SP – 8ª T. – Relª Desª Fed. Tania Marangoni – DJe 20.03.2017 – p. 749)

2328 – conflito de competência – pensão por morte – alcance

“Processual civil. Conflito negativo de competência. Benefício previdenciário de pen-são por morte. Suscitante: juízo de direito da Vara Única da Comarca de Belém do São Francisco/PE. Suscitado: Juízo de Direito da Vara Única da Comarca de Orocó/PE. § 3º, do art. 109 da CF/1988: ‘Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual’. Conflito de Competência conhe-cido, para declarar competente o Juízo de Direito da Vara Única da Comarca de Be-lém do São Francisco/PE, o juízo suscitante, do domicílio da autora.” (TRF 5ª R. – CC 0003062-86.2016.4.05.9999 – (3325/PE) – TP – Rel. Des. Fed. Lázaro Guimarães – DJe 30.11.2016 – p. 45)

Remissão Editorial SínTESEVide RSP nº 75, nov-dez/2016, ementa nº 2240 do TRF 5ª R.

2329 – contribuição previdenciária – pretensão inicial de suspensão da exigibilidade da patronal incidente sobre os riscos Ambientais do trabalho – rAt

“Processual civil e tributário. Mandado de segurança. Sindicato. Pretensão inicial de suspensão da exigibilidade da contribuição previdenciária patronal incidente sobre os Riscos Ambientais do Trabalho – RAT. Ausência de ato coator. Inexistência de prova da ameaça ao direito líquido e certo da impetrante. Denegação da ordem. Sentença man-tida. 1. Cuida-se de mandado de segurança impetrado por associação para assegurar o direito líquido e certo à suspensão da exigibilidade da contribuição previdenciária patronal incidente sobre os Riscos Ambientais do Trabalho (RAT), apurada com a aplica-ção do Fator Acidentário de Prevenção (FAP). 2. Nos termos do art. 5º, inciso, LXIX, da CF/1988, conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atri-buições do Poder Público. 3. O mandado de segurança exige a comprovação de plano do alegado direito, sendo necessário que os documentos acompanhem a petição inicial (MS 32954-AgR, Relator(a): Min. Dias Toffoli, 2ª T., J. 05.04.2016, Processo Eletrônico DJe-083, Divulg. 28.04.2016, Public. 29.04.2016). 5. Consoante a Súmula nº 266 do STF: ‘Não cabe mandado de segurança contra lei em tese’. 6. Na hipótese dos autos, a impetrante não instruiu o mandado de segurança com nenhuma prova de que seus substituídos estão sujeitos à exigibilidade da contribuição previdenciária patronal inci-dente sobre os Riscos Ambientais do Trabalho (RAT), apurada com a aplicação do Fator Acidentário de Prevenção (FAP). 7. Diante dessa situação, não se vislumbra nenhum ato

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coator, o que ensejaria a impetração repressiva, ou um justo receio de que o Fisco vies-se a efetuar qualquer lançamento tributário em relação à esfera jurídica da impetrante, a ponto de viabilizar a pretensão inicial na via do mandado de segurança preventivo. 8. Apelação desprovida.” (TRF 1ª R. – Proc. 00066877920104013200 – Rel. Juiz Leandro Saon da Conceição Bianco – J. 07.02.2017)

2330 – contribuição previdenciária – verbas indenizatórias – não incidência

“Apelação. Tributário. Contribuição previdenciária. Verbas indenizatórias. Não incidên-cia. I – No caso dos autos, cumpre ressaltar que a contribuição social consiste em um tributo destinado a uma determinada atividade exercitável por entidade estatal ou para-estatal ou por entidade não estatal reconhecida pelo Estado como necessária ou útil à realização de uma função de interesse público. II – O salário de contribuição consiste no valor básico sobre o qual será estipulada a contribuição do segurado, é dizer, é a base de cálculo que sofrerá a incidência de uma alíquota para definição do valor a ser pago à Seguridade Social. Assim, o valor das contribuições recolhidas pelo segurado é estabelecido em função do seu salário de contribuição. III – Dispõe o art. 28, inciso I da Lei nº 8.212/1991, que as remunerações do empregado que compõem o salário de contribuição compreendem a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adianta-mentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou contrato, ou ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normati-va. IV – As verbas pagas a título de aviso-prévio indenizado, gratificação de férias, terço constitucional de férias e verbas pagas a título de ajuda de custo (diárias que não exce-dam 50% do valor do salário) possuem caráter indenizatório, não constituindo base de cálculo das contribuições previdenciárias. V – As verbas pagas a título de horas extras e seu adicional, adicionais de periculosidade e de insalubridade e noturno, férias gozadas, descanso semanal remunerado, salário-maternidade e auxílio-paternidade apresentam caráter salarial e, portanto, constituem base de cálculo das contribuições previdenciárias. VI – Apelação da parte impetrante e da União Federal parcialmente providas. Remes-sa oficial parcialmente provida.” (TRF 3ª R. – Ap-RN 0013933-29.2015.4.03.6100/SP – 1ª T. – Rel. Des. Fed. Valdeci dos Santos – DJe 23.02.2017)

2331 – desaposentação – utilização do tempo de contribuição em outro benefício – impossibilidade

“Previdenciário. Mandado de segurança. Aposentadoria. Renúncia. Decadência. Ino-corrência. Desaposentação. Utilização do tempo de contribuição em outro benefício. Impossibilidade. Jurisprudência atualizada do STF. RE 661.256/DF. Repercussão geral. Sentença de improcedência mantida. 1. A suspensão do processo até o julgamento da matéria sob repercussão geral perante o Supremo Tribunal Federal é providência já supe-rada, tendo em conta a decisão prolatada no RE 661.256/DF. 2. Sendo notória a posição

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do INSS e patente a resistência à pretensão deduzida em juízo, é inequívoco o interesse de agir. Entendimento do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extra-ordinário 631.240/MG. 3. Conforme decidido pelo STJ, cuidando os autos de pedido de renúncia e cancelamento de benefício concedido pela Previdência Social, com o objetivo de concessão de nova vantagem previdenciária e não de pedido de revisão do valor do benefício já deferido, não há decadência do direito. 4. A renúncia à aposenta-doria visando ao aproveitamento de tempo de serviço posterior à concessão do benefício é vedada no ordenamento jurídico, sobretudo ante o disposto no art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/1991, conforme decisão do STF, no Recurso Extraordinário nº 661.256/DF, da relatoria do Ministro Luís Roberto Barroso, em sede de repercussão geral. 5. A jurispru-dência desta Turma, alinhada com a orientação da Corte Suprema, tem entendimento de que eventuais valores pagos em virtude de decisão liminar são irrepetíveis, consideran-do-se a hipossuficiência do segurado, o fato de ter recebido de boa-fé o seu benefício por decisão judicial fundamentada, bem assim a natureza alimentar da referida prestação. 6. Apelação do impetrante desprovida.” (TRF 1ª R. – AC 0003699-21.2016.4.01.3800 – 2ª T. – Rel. Des. João Luiz de Sousa – J. 08.03.2017)

Transcrição Editorial SínTESE

Vide RSP nº 74, set.-out./2016, artigo de Theodoro Vicente Agostinho e Sérgio Henrique Salvador intitulado “O Impacto da Desaposentação no Direito Previdenciário: uma Reflexão da Sua Viabilidade e Importância no Cenário Jurídico”.

2332 – funrural – pessoa física empregador – art. 25 da lei nº 8.212/1991 – compro­vação da condição de empregador rural – inexigibilidade da contribuição – in­constitucionalidade – limites do indébito

“Tributário. Funrural. Pessoa física empregador. Art. 25 da Lei nº 8.212/1991. Compro-vação da condição de empregador rural. Inexigibilidade da contribuição. Inconstitucio-nalidade. Limites do indébito. 1. Demonstrados no caso a condição do autor de produtor rural empregador pessoa física e o recolhimento da contribuição em tela mediante os seguintes documentos: Relatório de informações previdenciárias e notas fiscais compro-vando a venda da produção rural. 2. É inconstitucional a contribuição sobre a comercia-lização dos produtos rurais, devida pelo produtor rural pessoa física com empregados, prevista pelo art. 25, incisos I e II, da Lei nº 8.212/1991. Precedente do STF. 3. Confor-me julgamento da Arguição de Inconstitucionalidade na AC nº 2008.70.16.000444-6, o reconhecimento da inexigibilidade da contribuição previdenciária incidente sobre a comercialização da produção rural (Funrural) resulta em um indébito correspondente à ‘diferença da contribuição recolhida com base na comercialização da produção rural e a incidente sobre a folha de salários’.” (TRF 4ª R. – AC 5001172-70.2016.4.04.7116 – 2ª T. – Relª Desª Fed. Luciane Amaral Corrêa Münch – J. 07.02.2017)

Transcrição Editorial SínTESE

Lei nº 8.212/1991:

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“Art. 25. Os preços de venda dos produtos adquiridos pelas autarquias e empresas públicas federais, para revenda, não poderão ser inferiores ao seu custo médio, salvo quando a entidade adquirente:

I – dispuser de receita própria suficiente para atender ao déficit corresponden-te, sem prejuízo do atendimento de suas necessidades de custeio administra-tivo e operacional e do serviço de sua dívida; ou

II – dispuser, para cobertura do déficit, de dotação a seu favor na lei orçamen-tária anual, a título de subvenção econômica, nos termos previstos no art.18 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964; ou

III – caracterizar urgência e comprovar risco de prejuízo para o Tesouro Na-cional, em face do estado de conservação de bens perecíveis, proceder a licitação ou leilão, e desde que a subvenção econômica correspondente seja autorizada na forma do art.167, § 3º, da Constituição Federal.

Parágrafo único. Na determinação do custo médio referido no caput deste ar-tigo será considerado, pelo seu valor atualizado, o conjunto de gastos diretos e indiretos efetuados pela entidade para dispor do produto em condições de venda, nele incluídos todos os custos de aquisição, preparo, armazenamento, remoção, quebras e perdas, seguros, impostos, taxas, multas, encargos finan-ceiros e despesas administrativas.”

2333 – ir – aposentadoria – incidência

“Tributário. Imposto sobre a renda. Aposentadoria pagamento em parcela única de presta-ções atrasadas. Natureza salarial. Incidência mês a mês. 1. O recebimento em pagamento único de prestações atrasadas de aposentadoria possui natureza salarial, posto que confi-gura acréscimo patrimonial. 3. O pagamento em parcela única deve sofrer a retenção do imposto de renda, observada a alíquota da época que cada parcela deveria ser creditada, precedente do egrégio Superior Tribunal de Justiça. 4. O autor possui direito à repetição dos valores à repetição do Imposto de Renda apurado e exigido indevidamente. 5. Não possuindo caráter indenizatório os valores recebidos acumuladamente de prestações atra-sadas de pensão, inexiste razão para isenção dos juros de mora. 6. O crédito a repetir deve ser atualizado, desde a época do recolhimento indevido (Súmula STJ nº 162), na forma do Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal, aprovado pela Resolução nº 134/2010 do Conselho da Justiça Federal, com as alterações introdu-zidas pela Resolução nº 267/2013. 7. Indevida verba honorária devido a sucumbência recíproca, posto que não houve o acolhimento integral do pedido inicial, especialmente em relação ao caráter indenizatório dos valores recebidos acumuladamente de presta-ções atrasadas de pensão, bem como da isenção dos juros de mora. 8. Apelação estatal e remessa oficial providas e recurso adesivo não provido.” (TRF 3ª R. – Ap-RN 0004886-84.2014.4.03.6126/SP – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Nery Junior – DJe 06.03.2017)

2334 – pensão por morte – companheira – comprovação – possibilidade

“Direito constitucional e administrativo. Agravo interno em recurso extraordinário com agravo. Companheira. Pensão por morte. Possibilidade. Precedentes. 1. A conclusão

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do Tribunal de origem não diverge da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (RE 229.349/RS). 2. Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação da multa pre-vista no art. 557, § 2º, do CPC/1973.” (STF – AgRg-RE-Ag 793.930 – Rio Grande do Sul – 1ª T. – Rel. Min. Roberto Barroso – J. 24.02.2017)

2335 – pensão por morte – cônjuge que renunciou ao recebimento de alimentos quan­do da separação judicial – necessidade econômica superveniente – comprova­ção – benefício devido

“Previdenciário. Pensão por morte. Cônjuge que renunciou ao recebimento de alimentos quando da separação judicial. Necessidade econômica superveniente. Comprovação. Súmula nº 336, do STJ. Rateio com a companheira. Juros e correção Súmula nº 56/TRF2. Honorários advocatícios. NCPC. Apelação provida. I – Hipótese em que a autora, bem como as netas menores do casal, Brenda e Bruna, cuja guarda o casal detinha, tinham seu sustento econômico provido pelo falecido instituidor, enquanto eram casados, sendo que a autora dispensou o recebimento de pensão quando da separação judicial con-sensual (audiência em 11.03.2008 – fls. 91/92), tendo sido convencionada fixação de alimentos para as netas em ação judicial na Comarca de Laranjal/AP (fls. 53/54). Poste-riormente as netas foram residir com o avô e sua nova companheira, até o óbito do mes-mo, quando voltaram a morar com a autora, que nessa ocasião passara a viver com sua genitora. II – A autora sustentou que sempre dependeu economicamente do ex-marido, apesar de ter dispensado a pensão alimentícia quando da separação e que o mesmo jamais deixou de visitar as netas, ‘como também provê-las e a sua ex-esposa...’. III – A apelante trouxe ao feito contas de luz, água e esgoto e telefone, em nome do falecido, da época em que eram casados, além de fatura de cartão de crédito indicando que pos-suía cartão adicional (fls. 333/343-354), e declarações de pessoas que conviveram com o casal antes e após a separação no intuito de corroborar o que afirmado (fls. 404/411). III – Dos elementos de prova constantes nos autos, pode-se depreender que, de fato, a autora dependia economicamente do falecido, por não possuir condições de manter-se por sua própria conta, o que, inclusive, é confirmado pela informação de que a mesma passou a viver às expensas de sua genitora (Euda Amaral dos Santos). IV – Outrossim, for-çoso levar em consideração outra importante questão: a ajuda financeira provida pelos genitores, no caso a mãe da autora, infelizmente, não é ad eternum, o que reforça a ideia de que não pode a ex-cônjuge que, quando da separação judicial, não tinha necessidade financeira que justificasse o recebimento de pensão alimentícia, ficar à mercê da própria sorte quando se encontra, em considerável momento posterior, numa situação de neces-sidade econômica, sendo privada de um direito que lhe é inerente. V – A autora vem sofrendo problemas de saúde tendo colacionado aos autos atestado médico declarando que se encontra em acompanhamento para tratamento de hipertensão arterial sistêmica e quadro depressivo, e juntou receituários e resultados de exames (fls. 286/295). Por ou-tro lado, veio a tomar conhecimento de que sua genitora encontra-se contaminada pelo vírus HIV (fl. 296). VI – Considero que, na hipótese, ficou demonstrada a hipossuficiên-cia econômica da autora, bem como a necessidade do recurso proveniente da pensão

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previdenciária, que, aliás, lhe era de direito desde quando concedido o benefício, pois não há impedimento legal para que a esposa separada de fato, que seja dependente econômica do marido, receba a pensão por morte desdobrada com a beneficiária com-panheira, tendo em vista a finalidade precípua do pensionamento, o qual visa amparar após a morte quem era dependente do de cujus quando este ainda era vivo, e, no caso, o ex-segurado sempre prestou assistência financeira à família. VII – Acrescente-se que, embora a prova material seja fraca, o que até se explica ante a informalidade dos auxílios espontâneos que se pretende arrolar, as declarações trazidas aos autos, foram unânimes e convincentes a respeito da dependência econômica, e o Colendo Superior Tribunal de Justiça já se manifestou sobre a possibilidade de admissão, inclusive, de prova ex-clusivamente testemunhal em casos como o presente. VIII – Desta forma, entendo que restou comprovada a necessidade econômica superveniente da apelante em relação ao segurado falecido, fazendo jus a autora à pensão por morte de seu ex-marido, consoante aplicação da Súmula nº 336 do E. STJ. IX – Extrai-se do acervo probatório que o falecido segurado após a separação, passou a ter uma relação de união estável com a segunda ré, tendo o INSS reconhecido o direito da companheira à percepção da pensão por morte. Dessa forma revela-se correto que o benefício de pensão por morte, seja rateado entre a ex-esposa e a companheira do segurado em partes iguais, a teor do art. 77 da Lei nº 8.213/1991. X – Quanto ao termo a quo, é certo que, em havendo requerimento ad-ministrativo, o termo inicial do pagamento do benefício deve retroagir a esta data (STJ, 5ª T., REsp 828828, Rel. Min. Arnaldo Lima, DJU de 26.06.2006). XI – Até a data da en-trada em vigor da Lei nº 11.960/2009, os juros moratórios, contados a partir da citação, devem ser fixados em 1% ao mês, ao passo que a correção monetária deve ser calculada de acordo com o Manual de Cálculos da Justiça Federal. Após a entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, passam a incidir o índice oficial de remuneração básica e os juros aplicados à caderneta de poupança, conforme dispõe o seu art. 5º. XII – Aplicação do Enunciado nº 56 da Súmula deste Tribunal, que dispõe: ‘É inconstitucional a expressão “haverá incidência uma única vez”,constante do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dado pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009’. XIII – Na forma do art. 85, § 4º, II, do NCPC, tratando-se de acórdão ilíquido proferido em demanda da qual a Fazenda Públi-ca faça parte, a fixação dos honorários de sucumbência será feita na fase de liquidação, observando-se os critérios estabelecidos no art. 85, §§ 2º e 3º, do mesmo diploma legal. XIV – Dado provimento à apelação.” (TRF 2ª R. – AC 2009.51.51.031316-5 – 2ª T.Esp. – Relª Simone Schreiber – DJe 10.02.2017 – p. 26)

2336 – pensão por morte – desdobramento – habilitação de menor – termo inicial dos atrasados – retroação – possibilidade

“Previdenciário. Apelação cível. Pensão por morte. Desdobramento. Habilitação de me-nor. Termo inicial dos atrasados. Retroação. Hipótese em que já era pago o benefício in-tegralmente a outro beneficiário legal. Incidência dos arts. 74 e 76 da Lei nº 8.213/1991. Sentença reformada. 1. A hipótese é de pedido de retroação da data de início de paga-mento da cota da pensão desdobrada da autora para a data do óbito do instituidor, seu

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genitor, falecido em 2002. 2. Os documentos dos autos comprovam que a autora é filha do Sr. Maycon Silva Andrade, que o INSS já lhe concedeu o benefício de pensão por morte na esfera administrativa, após ação de investigação de paternidade em que foi julgado procedente o seu pedido, mas não desde a data do óbito do genitor, como pre-tende, e sim de acordo com o art. 76 da Lei nº 8.213/1991, uma vez que já existia outro dependente habilitado pelo INSS (seu irmão), e segundo o texto da lei previdenciária, qualquer habilitação importando em exclusão ou inclusão de dependente ‘só produzirá efeito a contar da data da inscrição ou habilitação’. 3. Como à época do falecimento do pai, a autora era menor de idade, e absolutamente incapaz, contra ela não corre qual-quer prazo prescricional. Todavia, o fato é que já havia dependente anterior habilitado para o benefício (irmão da autora), e, neste caso, conforme determina o art. 76 da Lei nº 8.213/1991, ‘[...] qualquer inscrição ou habilitação posterior que importe em exclu-são ou inclusão de dependente só produzirá efeito a contar da data da inscrição ou habi-litação’. 4. Conforme precedentes jurisprudenciais em casos análogos, o entendimento é de que não se poderia obrigar a autarquia a pagar em dobro a pensão a habilitado pos-terior, do qual não se tinha conhecimento, quando já pagava integralmente o benefício a outro dependente legalmente habilitado. Precedente: STJ, 3ª T., REsp 200401820741, Rel. Min. Ricardo Villas Boas Cueva, DJe de 01.07.2014. 5. Apelação e remessa oficial providas para reformar a sentença e julgar improcedente o pedido. Invertidos os ônus da sucumbência.” (TRF 2ª R. – AC-RN 0000606-93.2013.4.02.5104 – 1ª T.Esp. – Rel. Abel Gomes – DJe 02.12.2016 – p. 326)

2337 – pensão por morte – ex­combatente – filha maior inválida – comprovação de incapacidade laborativa – benefício devido

“Administrativo. Pensão por morte de ex-combatente. Art. 53, do ADCT, II e III c/c art. 5º, III da Lei nº 8.059/1990. Filha maior. Inválida. Comprovação de incapacidade laborativa. Impossibilidade prover a própria subsistência. Invalidez preexistente ao óbito do instituidor da pensão. Óbito da genitora. Direto à reversão da cota-parte da pensão a contar do requerimento administrativo. Remessa e recurso da união improvidos. Apelada da autora provida. Ação ajuizada objetivando a condenação da união ao pagamento de metade da pensão especial de que trata o art. 53, II do ADCT/1988, com o recebimento dos valores referentes ao benefício desde a data do óbito de sua genitora. A questão a ser analisada é se a autora, filha maior inválida, preenche os requisitos previstos na Lei nº 8.059/1990 para a reversão do benefício, inicialmente revertido integralmente a favor de sua genitora, ante a sua condição de invalidez preexistente ao óbito de seu genitor, instituidor da referida pensão. A jurisprudência do supremo tribunal federal assentou o entendimento de que o direito à pensão especial, bem como a eventual reversão, é regi-do pela legislação vigente na data do óbito do ex-combatente, instituidor do benefício. Entendimento adotado como linha de fundamentação para todos os casos em que se discute a aquisição do direito à pensão e as condições para o seu exercício. In casu, o instituidor da pensão faleceu em 30.09.2011, portanto, sob os ditames das disposições do ADCT/1988 e da Lei nº 8.059/1990. Laudo pericial. Comprovação de incapacidade

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total para toda e qualquer atividade laborativa, em razão de sequelas neurológicas de poliomielite (ocorrida aos quatro anos de idade), quadro clínico grave e irreversível. Impossibilidade de prover a própria subsistência. Invalidez preexistente à morte do ins-tituidor da pensão. Fato constatado, inclusive, por médico da administração militar. A reversão integral inicialmente efetuada a favor da viúva do instituidor, não inviabiliza o requerimento da filha e a reversão a seu favor, após a morte da genitora. A habilitação pode ser requerida a qualquer tempo (art. 10, da Lei nº 8.059/1990). A regra contida no art. 14, parágrafo único da Lei nº 8.059/1990, veda apenas a transferência de cota-parte de um dependente para os demais. Inexistência de impedimento de habilitação posterior para o recebimento de sua própria cota-parte. Direito à reversão da metade do valor total da pensão, a contar da data do requerimento administrativo de habilitação. Honorários de sucumbência a ser fixados em 10% sobre o valor da condenação, nos termos do art. 85, § 2º, do NCPC. Remessa necessária e à apelação da União não provida e apela-ção adesiva provida.” (TRF 2ª R. – AC-RN 0003568-73.2014.4.02.5001 – 6ª T.Esp. – Relª Salete Maccalóz – DJe 16.03.2017 – p. 293)

2338 – pensão por morte – lei vigente na data do óbito – cobrança de valores atrasados – termo inicial

“Previdenciário. Pensão por morte. Termo inicial. Lei vigente na data do óbito. Cobrança de valores atrasados. A norma que rege a pensão deve ser aquela da data do óbito, pois é o momento em que devem estar presentes todas as condições exigidas e o dependente adquire o direito à prestação. No caso concreto, o falecimento do segurado instituidor da pensão ocorreu na vigência do Decreto nº 83.080/1979, que em seu art. 67 dispu-nha que tal benefício é devido a partir da data do óbito. Os juros de mora e a correção monetária são aplicados na forma prevista no Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal em vigor nesta data. A Autarquia Previdenciária está isenta das custas e emolumentos, nos termos do art. 4º, I, da Lei nº 9.289, de 04.07.1996, do art. 24-A da Lei nº 9.028, de 12.04.1995, com a redação dada pelo art. 3º da Medida Provisória nº 2.180-35/2001, e do art. 8º, § 1º, da Lei nº 8.620, de 05.01.1993. O INSS arcará com os honorários advocatícios, fixados no percentual de 10% sobre o valor da condenação, consoante os arts. 20, §§ 3º e 4º, do Código de Processo Civil de 1973, e 85, § 3º, I, do Código de Processo Civil. Apelação provida.” (TRF 3ª R. – AC 0012567-73.2007.4.03.9999/SP – 7ª T. – Rel. Des. Fed. Fausto de Sanctis – DJe 02.12.2016 – p. 677)

2339 – pensão por morte – menor incapacitante sob guarda – efeitos

“Previdenciário. Restabelecimento de pensão por morte. Menor sob guarda. Duplo grau de jurisdição. Art. 475, § 2º, do CPC. Valor da condenação inferior a sessenta salários mínimos. Remessa oficial. Não cabimento. Cessada a pensão por morte após a maiori-dade da autora. Existência de doença incapacitante desde o nascimento. Determinado o restabelecimento. Condenação do INSS em custas processuais. Feito proposto na justiça estadual. Não isenção. Honorários advocatícios. Mantidos. Apelação improvida. Remes-

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sa oficial não conhecida. 1. Não se conhece de recurso oficial contra condenação cujo valor seja inferior a sessenta salários mínimos, consoante disposição do art. 475, § 2º, do antigo CPC, vigente à época da prolação da sentença. 2. Busca a postulante o restabe-lecimento do benefício de pensão por morte que percebia, desde 27.05.1994, na con-dição de menor sob guarda do avô, a qual foi indevidamente cessada em 17.05.2012, quando completou 21 anos de idade, porquanto é portadora de doença incapacitante desde o nascimento. 3. Com efeito, quando da suspensão do benefício, apesar de ter a demandante atingido a maioridade civil, detinha, ainda, outro requisito para a continui-dade da percepção da pensão do avô, nos termos do disposto no inc. IV do art. 16 da Lei nº 8.213/1991, vigente à data do deferimento do benéfico (27.05.1994), em razão de ser portadora de retardo mental grave (CID: F72.1), desde o nascimento, de acordo com o laudo médico pericial realizado por psiquiatra do CAPS I da comarca de Santana do Acarajú/CE, nos autos do processo de interdição da autora, de modo a fazer jus ao restabelecimento do benefício de pensão por morte, desde a data da cessação, em razão da sua invalidez. 4. Mantida a condenação do INSS ao pagamento das custas proces-suais, visto que este não é isento do pagamento das custas quando o litigo se dá perante a Justiça Estadual, em consonância com a jurisprudência consolidada pelo STJ, na Sú-mula nº 178, não se aplicando em tais hipóteses a regra do art. 8º da Lei nº 8.620/1993. 5. Mantida a verba honorária advocatícia fixada em 10% (dez por cento) sobre o valor das prestações vencidas, posto que estabelecida de acordo com o disposto no § 4º do art. 20 do CPC, vigente à data do ajuizamento da presente ação, e na Súmula nº 111 do STJ. 6. Apelação do INSS improvida. Remessa oficial não conhecida.” (TRF 5ª R. – Ap--Reex 0002089-34.2016.4.05.9999 – (33837/CE) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Edilson Pereira Nobre Júnior – DJe 25.11.2016 – p. 77)

2340 – pensão por morte – militar – paridade e integralidade – ausência de matéria constitucional – descabimento

“Direito previdenciário. Agravo interno em recurso extraordinário com agravo. Pensão por morte. Militar. Paridade e integralidade. Ausência de matéria constitucional. Desca-bimento. 1. Hipótese em que a conclusão adotada pelo Tribunal de origem se susten-ta na interpretação conferida ao Decreto nº 30.886/2002. Nessas condições, torna-se inviável o processamento do recurso extraordinário. 2. Nos termos do art. 85, § 11, do CPC/2015, fica majorado em 25% o valor da verba honorária fixada anteriormente, observados os limites legais do art. 85, §§ 2º e 3º, do CPC/2015. 3. Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015.” (STF – AgRg-RE-Ag 1.005.475 – Rio de Janeiro – 1ª T. – Rel. Min. Roberto Barroso – J. 24.02.2017)

2341 – pensão por morte – qualidade de segurado – comprovação – benefício devido

“Previdenciário. Agravo regimental no agravo em recurso especial. Pensão por morte. Qualidade de segurado. Impossibilidade de revolvimento do conjunto fático-probatório dos autos. Súmula nº 7/STJ. Precedentes. Agravo regimental do INSS a que se nega pro-

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vimento. 1. As instâncias ordinárias, com base no acervo fático-probatório dos autos, reconheceram que o de cujus manteve a qualidade de Segurado até a data do óbito, as-sim, é de ser mantida a conclusão, porquanto o revolvimento de tal premissa em sede de recorribilidade extraordinária demandaria a análise de fatos e provas, conforme o óbice da Súmula nº 7 desta egrégia Corte. 2. Agravo Regimental do INSS a que se nega provi-mento.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 380.802 – (2013/0257702-0) – 1ª T. – Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho – DJe 17.03.2017 – p. 1757)

2342 – pensão por morte – servidora pública estadual falecida – união estável reconhe­cida judicialmente – benefício devido

“Previdenciário. Pensão. 1. Pretensão ao recebimento de pensão em virtude do faleci-mento da ex-companheira, servidora estadual falecida. Admissibilidade. União estável reconhecida judicialmente. 2. Benefício devido desde a data do óbito (art. 145 da Lei nº 180/1978, na redação vigente à época do falecimento). 3. Inocorrência da prescrição do fundo de direito; apenas da prescrição parcelar (arts. 160 e 161 da Lei nº 180/1978). 4. Atualização do débito. Lei nº 11.960/2009. Relegada a discussão da matéria à fase de execução, oportunidade em que deverá ser aplicado o que for decidido pelo Pretório Excelso em sede de repercussão geral (Tema nº 810). 5. Recursos não providos, com observação.” (TJSP – Ap 0032773-22.2012.8.26.0053 – São Paulo – 7ª CDPúb. – Rel. Coimbra Schmidt – DJe 23.02.2017)

Comentário Editorial SínTESECuida o v. acórdão do pagamento de pensão por morte pelo reconhecimento da união estável do servidor publico falecido.

O Dr. Bruno Sá Freire Martins comenta:

“Tanto que hoje o Texto Maior restringe-se apenas a definir a metodologia de cálculo dos proventos, conforme se depreende da redação do § 7º do art. 40, senão vejamos:

§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pensão por morte, que será igual:

I – ao valor da totalidade dos proventos do servidor falecido, até o limite má-ximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este limite, caso aposentado à data do óbito; ou

II – ao valor da totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo em que se deu o falecimento, até o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este limite, caso em atividade na data do óbito.

Constate-se que a Constituição remete à lei de cada pessoa jurídica política da Federação a disciplina da concessão de pensão por morte. É a interpretação que melhor se coaduna com o princípio federativo e com a autonomia dos entes estatais. O poder reformador, porém, entendeu de já fixar critérios rijos para definição do valor das pensões, como visto, tanto decorrentes da morte

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de aposentado quanto de servidor na atividade, bem em correspondência com o ideal centralizado da União que vem permeando toda a reforma previden-ciária. Ao definir as balizas postas nos incisos I e II, deixou-se aos Estados e Municípios apenas a competência para dispor sobre os aspectos operacionais relacionados ao instituto, tais como o rol de dependentes, a perda do direito à pensão, o rateio de cotas, o procedimento para obtenção do benefício e assuntos correlatos.

Entretanto, o fato de a redação constitucional atribuir à lei os regramentos e contornos atinentes à concessão do benefício, bem como as regras relativas aos proventos, salvo sua metodologia de cálculo, não se constitui em permis-sivo para a inobservância de outras normas e princípios que integram a Carta Magna, uma vez que o ordenamento jurídico brasileiro adota o princípio da hierarquia das leis, submetendo-as sempre à verificação de sua conformidade perante o Texto Maior, pois, na percepção jurídica, a Constituição se apresenta enquanto norma superior, de obediência obrigatória e que fundamenta e dá validade a todo o restante do ordenamento jurídico.

Assim, a legislação reguladora do benefício em questão deve estar atenta para os ditames constitucionais e observá-los em sua integralidade, sob pena de ter sua vigência extirpada do mundo jurídico.” (Limite para o Acúmulo de Pensões por Morte na Previdência do Servidor. Revista SÍNTESE Direito Pre-videnciário, n. 66, maio/jun. 2015, p. 36)

2343 – responsabilidade civil – benefício previdenciário – fraude – cobrança equivo­cada – homônimo – poder de autotutela – danos morais – não configuração

“Administrativo. Responsabilidade civil. Benefício previdenciário. Fraude. Cobrança equivocada. Homônimo. Poder de autotutela. Danos morais inexistentes. 1. Pretende o apelante a reforma da sentença que julgou procedente o pedido de cancelamento da cobrança indevida, alusiva a benefício previdenciário de homônimo, e condenou o INSS a indenizar o autor por danos morais, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 2. O ob-jeto de análise nos presentes autos não é a regularidade da concessão do benefício pre-videnciário, mas a equivocada cobrança de valores indevidamente pagos a beneficiário homônimo do autor e suas consequências na esfera moral do apelado. 3. A despeito da semelhança do nome e do número de CPF anotado na autarquia previdenciária, é fácil verificar que são pessoas diversas. O apelante não nega o equívoco, mas refuta a existên-cia de danos morais indenizáveis. Declara que o autor nunca comparecera em qualquer agência do INSS para desfazer o engano, fato não refutado pelo autor. 4. A falha que se poderia imputar ao ente público envolveria a ausência de verificação apurada dos do-cumentos do real beneficiário, gerando o vínculo inadequado com o apelado. Todavia, os possíveis danos materiais decorrentes da cobrança equivocada foram obstados pela presente ação judicial. 5. Ainda que se reconheça os inegáveis aborrecimentos sofridos pelo apelado, inexistiu o ilícito em si, a justificar a pretensão de indenização. Também não ficou demonstrada qualquer restrição cadastral ou constrição a bens e o simples fato de ser notificado do débito que, em princípio, se iniciou de forma legítima e necessária, não gera direito a ser indenizado por danos morais. 6. A autarquia agiu dentro dos limites

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legais, realizando auditoria para averiguar a regularidade do benefício, ainda que tenha dirigido a cobrança erroneamente contra o autor, resguardando-lhe o direito de defesa. Portanto, não ficaram configuradas a conduta ilícita do INSS ou a deliberada agressão aos interesses psicofísicos ou da dignidade da pessoa humana. 7. Reforma parcial da sen-tença para afastar a condenação em indenização por danos morais. Mantido o cancela-mento da dívida, que não foi atacado pelo recurso. 8. Recurso conhecido e parcialmente provido.” (TRF 2ª R. – AC 0040541-67.2011.4.02.5151 – 7ª T.Esp. – Rel. José Antonio Lisbôa Neiva – DJe 22.02.2017 – p. 566)

Comentário Editorial SínTESEA vertente tem por escopo cuidar do dano moral no direito previdenciário.

O Relator não condenou a autarquia ao pagamento da indenização por dano moral ao segurado, uma vez que as provas apresentadas não foram sufi-cientes.

A Professor Erica Paula Barcha Correia assim explica o fenômeno:

“Com a constitucionalização da reparação por dano moral pela Carta Maior de 1988, abriu-se novo horizonte para busca da reparação por dano moral, decorrente do abandono da perspectiva individualista do antigo Código Civil e substituição pela tutela da dignidade humana no plano constitucional

O direito civil, fundado em valores individualistas, transforma-se, contem-plando, agora, direitos e prerrogativas de determinados grupos, considerados frágeis e que reclamam especial proteção da lei, que, na seara do direito previdenciário, destacamos os idosos, as pessoas portadoras de deficiências, as crianças etc.

Nesta perspectiva, a dignidade humana, tomada como sobreprincípio consti-tucional, alcança todos os setores da ordem jurídica, e, quando em cotejo ou colisão com outros princípios, o princípio da dignidade humana não se sujeita a ponderações.

Desse modo, em caso de conflito entre duas ou mais situações jurídicas sub-jetivas amparadas por outros princípios de igual importância hierárquica, a medida será sempre em favor do conceito de dignidade da pessoa humana, que deverá vir à tona no caso concreto.

Ocorrendo um conflito entre uma situação jurídica subjetiva existencial e uma situação jurídica patrimonial, a primeira prevalece, em nome do princípio constitucional da dignidade humana (art. 1º, III, da CF).

Assim, à luz do Texto Constitucional, podemos conceituar o dano moral como aquele que ‘configura-se pela alteração no bem-estar psicofísico do indivíduo’.

Paulo Eduardo Oliveira refere-se ao dano moral como dano pessoal, pois a lesão ocorre nos direitos da pessoa humana em suas diversas ‘integralidades’, quais sejam, ‘a psicofísica, a intelectual, a moral propriamente dita e a social’.

Destarte, ao invés da consagrada expressão ‘dano moral’, preferimos a deno-minação ‘dano pessoal’, por ser a que mais se acomoda, na seara do direito social, aos danos sofridos pela pessoa como um todo, em sua dignidade hu-mana.

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Ressaltamos que tais danos não são taxativos e se concretizam sempre que houver violação aos direitos de personalidade e dignidade humana.

Na esfera cível, a integridade psicofísica (física e moral) garante vários direitos de personalidade, como a honra, a vida, a imagem.

Em nome do direito à vida, inclui-se o direito à saúde, previdência e assistên-cia, compreendidas estas como bem-estar psicofísico e social.

Também entendemos como manutenção da integridade psicofísica o direito à existência digna e, como bom exemplo, temos o direito à irredutibilidade dos benefícios previdenciários, como direito fundamental, de caráter alimentar e existencial.

Exemplificando: a redução de benefício, seja por fator previdenciário, seja por ato unilateral da autarquia previdenciária, resulta em dano moral previdenci-ário, por violar proteção constitucional do direito à vida, que é um direito de personalidade.

Portanto, o que configura o dano moral é a alteração no bem-estar psicofísico do indivíduo.” (O Dano Moral no Direito Previdenciário. Revista SÍNTESE Di-reito Previdenciário, n. 61, jul./ago 2014, p. 10)

2344 – responsabilidade civil do estado – concessão da aposentadoria – demora injus­tificada – danos morais – possibilidade

“Remessa necessária e apelação. Administrativo. Responsabilidade civil do Estado. De-mora injustificada na concessão da aposentadoria. Dever de indenizar o servidor. Prece-dentes do STJ. Danos morais. Possibilidade. Remessa necessária e apelação desprovidas. 1. A controvérsia cinge-se em perquirir se correta a sentença que reconheceu o direito do autor ao recebimento de indenização a título de danos materiais e morais ante a demora injustificada pela União para conceder a aposentadoria ao autor. 2. É certo que a existência de processo administrativo disciplinar em andamento impede a aprecia-ção de pedido de aposentadoria de servidor, conforme se observa do art. 172, da Lei nº 8.112/1990. 3. Uma vez arquivado o processo administrativo disciplinar que motivou o sobrestamento do pedido de aposentadoria, a Administração deveria ter analisado o requerimento de aposentadoria do autor no prazo máximo de 60 dias, por aplicação analógica do art. 49, da Lei nº 9.784/1999. 4. A responsabilidade civil do Estado deve ser analisada sob a ótica da Teoria Objetiva, consoante literalidade do art. 37, § 6º, da Constituição Federal de 1988. Para a sua configuração, desnecessário o lesado provar a culpa ou o dolo do agente público, bastando a demonstração do ato ilícito e o seu nexo de causalidade. 5. Por necessitar de um ato administrativo formal, impõe-se a observân-cia de um processo administrativo prévio com obediência aos ditames constitucionais, principalmente no que tange à razoável duração do processo. 6. O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de que a demora injustificada da Administração em analisar o requerimento de aposentadoria gera o dever de indenizar o servidor, que fica obrigado a continuar exercendo suas funções compulsoriamente. 7. Da análise dos autos, verifica-se que restou devidamente comprovada a desídia do Estado em conceder

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a aposentadoria ao apelado, o que ocasionou dano material ao mesmo, que continuou laborando, quando já possuía direito subjetivo ao descanso remunerado, conforme as-sentado na sentença a quo. Indubitável, nesse contexto, o dever da União de indenizar o autor quanto aos danos oriundos da demora injustificada da Administração em conceder a aposentadoria da autora, em consonância com o entendimento da sentença recorrida. 8. Sendo assim, os prejuízos causados pela omissão devem ser indenizados, tendo em vista que o Estado omitiu-se além do prazo razoável para apreciar e deferir o pedido de aposentadoria do apelado, causando a este, indiscutivelmente, prejuízos, devendo ser compelido a pagar indenização pelo tempo em que trabalhou compulsoriamente. 9. Na hipótese, o juiz a quo fixou o valor da indenização correspondente aos venci-mentos integrais do autor, relativos ao período de 60 dias após a conclusão do Processo Administrativo Disciplinar – PAD até a data da publicação da concessão do benefício, observados os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, não se mostrando ele exorbitante, ante o quadro fático delineado na sentença e na jurisprudência do STJ em casos análogos. 10. Quanto ao pedido de indenização por danos morais, é evidente que o lapso temporal de mais de um ano sem receber o benefício, sendo este de caráter alimentar, e sua única fonte de renda, permite concluir que tal fato, inegavelmente, gera abalo considerável na esfera moral do indivíduo, que tem na renda não só a fonte de seu sustento, mas o elemento fundamental para a preservação de sua dignidade. Nessa linha, o autor acostou aos autos Avaliação Médica, na qual o médico perito atesta que as alterações da saúde mental decorrem de sua situação no trabalho e que a progressão no processo de aposentadoria traria grande mudança em seu prognóstico, sugerindo, inclusive, a possibilidade de acelerar o processo; bem como consta dos autos que o apelado gozou de sucessivas licenças médicas conforme determinação do médico psi-quiatra. 11. A indenização a título de dano moral fixada no valor de R$ 9.300,00 (nove mil e trezentos reais), visando reparar o dano perpetrado e dar ensejo ao caráter peda-gógico da medida, sem promover o enriquecimento sem causa da vítima, afigura-se justa e adequada ao caso dos autos. 12. Remessa necessária e apelação desprovidas.” (TRF 2ª R. – AC-RN 0015670-94.2009.4.02.5101 – 5ª T.Esp. – Rel. Aluisio Gonçalves de Castro Mendes – DJe 03.02.2017 – p. 409)

Transcrição Editorial SínTESE• Lei nº 8.112/1990:

“Art. 172. O servidor que responder a processo disciplinar só poderá ser exo-nerado a pedido, ou aposentado voluntariamente, após a conclusão do pro-cesso e o cumprimento da penalidade, acaso aplicada.

Parágrafo único. Ocorrida a exoneração de que trata o parágrafo único, inciso I do art. 34, o ato será convertido em demissão, se for o caso.”

• Lei nº 9.784/1999:

“Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Administração tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação por igual período expressamente motivada.”

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2345 – salário­maternidade – segurado especial – início de prova material corrobora­da por testemunha – não comprovação – benefício indevido

“Previdenciário. Segurado especial. Salário-maternidade. Não comprovação da ativida-de rural. Ausência de início de prova material. Prova testemunhal. Não cumprimento do período de carência. Provas extemporâneas. Apelação improvida. 1. Apelação interposta em face da sentença que julgou improcedente o pedido de concessão de benefício de salário-maternidade. 2. Nos termos do art. 39, parágrafo único, da Lei nº 8.213/1991, é devido à segurada especial o benefício salário-maternidade, no valor de um salário-mí-nimo, durante cento e vinte dias, desde que seja comprovado o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, nos dez meses imediatamente anteriores ao parto ou ao início do benefício. 3. Hipótese em que os documentos existentes no processo, com o fim de comprovar a condição de trabalhadora rural da autora e o tempo de exer-cício da atividade rural, são insuficientes para provar a relação no período pretendido, por serem extemporâneos ao fato gerador do benefício, bem como por não estarem em nome da requerente. 4. Fragilidade dos depoimentos, não tendo sido demonstrada em audiência de instrução a qualidade de segurada especial da recorrente ante os elemen-tos fáticos objetivos e sua apresentação em juízo. 5. É de se reconhecer a ausência de requisito fundamental para autorizar a concessão do benefício de salário-maternidade à apelante, na qualidade de segurada especial, em virtude de não ter sido comprovado o efetivo exercício de atividade rurícola em regime de economia familiar, deixando de se atender a carência exigida por lei. 6. Apelação improvida.” (TRF 5ª R. – AC 0002797-84.2016.4.05.9999 – (591335/PB) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Carlos Rebelo Júnior – DJe 01.12.2016 – p. 127)

2346 – seguro­desemprego – cancelamento decorrente de cadastro no inss como contribuinte individual – impossibilidade

“Administrativo. Mandado de segurança. Seguro-desemprego. Cancelamento decorrente de cadastro no INSS como contribuinte individual. Impossibilidade. Sentença mantida. 1. Trata-se de mandado de segurança impetrado por Edson Bezerra Lima contra ato de autoridade de chefe do posto do Ministério do Trabalho em Emprego – MTE; chefe do posto do INSS; e gerente da Caixa de Cachoeiro de Itapemirim/ES que cancelou o direito às cinco parcelas do seguro-desemprego, no valor de R$ 1.011,87 (mil e onze reais e oitenta e sete centavos), requeridas pelo impetrante em 22.06.2015, ao argumento de que aferia renda o segurado, pois inscrito nos cadastros do INSS na qualidade de autô-nomo, contribuinte individual. 2. É de rigor e se afigura correta a exclusão da Caixa e do INSS do polo passivo, por evidente inaptidão para responsabilizarem-se pelo inde-ferimento do seguro-desemprego. A primeira, a Caixa, detém obrigação bancária pelo pagamento, tão somente, e do segundo, o INSS, não decorre o ato praticado concernente ao cancelamento do pagamento das parcelas suscitado pelo impetrante. 3. Na hipótese, o impetrante, demitido sem justa causa em 12.06.2015, requereu o seguro-desemprego em 22.06.2015, mas não recebeu nenhuma das cinco parcelas, porquanto inscrito no cadastro do INSS como contribuinte individual, fato que para a administração infirmaria

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a tese de ausência de renda pelo desempregado necessária ao deferimento do pedido. 4. O Ministério Público Federal foi preciso ao aclarar que ‘não obstante o entendimento esposado pela União em suas razões de apelação, não há na Lei nº 7.998/6190 a ex-pressa previsão de possibilidade de cancelamento do benefício de Seguro-Desemprego devido à mera inscrição do segurado como contribuinte individual autônomo’. Prece-dentes desta Corte. 5. Acertada a percepção evidenciada pelo juízo sentenciante de que o impetrante, por ser pessoa de pouca instrução, não soube escolher e tampouco foi inadvertido pelos servidores do INSS sobre a consequência de sua inscrição no cadastro do INSS na qualidade de contribuinte individual ocorrida após a demissão do mesmo, com o evidente fito de evitar a perda de sua qualidade de segurado. 6. Não pode o impetrante ver-se privado, por força de claro erro operacional, de verba de cunho ali-mentar, cujo viés social advém de máxima constitucional de amparo ao trabalhador em situação de desemprego, por óbvio, consectário da proteção à dignidade da pessoa humana. 7. Remessa necessária e apelação desprovidas.” (TRF 2ª R. – AC-RN 0136902-69.2015.4.02.5002 – 6ª T.Esp. – Rel. Alcides Martins Ribeiro Filho – DJe 16.03.2017 – p. 296)

2347 – servidor público – ex­celetista – tempo de serviço prestado sob condições insa­lubres – aposentadoria – reconhecimento

“Direito administrativo. Agravo interno em agravo de instrumento. Servidor público. Ex-celetista. Tempo de serviço prestado sob condições insalubres. Direito adquirido. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que o servidor possui direito adquirido à contagem especial do tempo de serviço prestado sob condi-ções insalubres, referente ao período celetista. Precedentes. 2. Agravo interno a que se nega provimento.” (STF – AgRg-AI 813.723 – Piauí – 1ª T. – Rel. Min. Roberto Barroso – J. 17.02.2017)

2348 – servidor público – pensão por morte – dependência econômica – demonstra­ção – ausência

“Administrativo e civil. Apelação. Servidor público. Pedido de pensão por mor-te pelos genitores. Não demonstrada dependência econômica. Apelação desprovida. 1. Apelação interposta pelos autores contra sentença que julgou improcedente o pedido de pensão por morte de servidor público, com fundamento no art. 269, I, CPC/1973. 2. Nos termos da Súmula nº 340, do Superior Tribunal de Justiça, a legislação aplicável à concessão da pensão por morte é aquela vigente ao tempo do óbito do segurado. O falecimento do Sr. Edson Kenji Iwamoto ocorreu em 01.08.2009, sendo aplicável a Lei nº 8.112/1990, em sua redação original. 3. O conjunto probatório é pela ausência de demonstração da dependência econômica dos genitores em relação ao servidor faleci-do. O Sr. Edson Kenji Iwamoto, falecido em 01.08.2009, possuía 26 anos de idade e contava com onze meses de serviço público na Anac à data do óbito. 4. Vislumbra-se, pelas cópias dos e-mails trocados, que o Sr. Edson ajudava financeiramente os geni-tores, mas tal situação não revela dependência econômica destes em relação àquele,

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diante do exercício de atividade remunerada dos genitores; do pouco tempo no serviço público do filho falecido a configurar a dependência; da disponibilidade financeira dos genitores, que contribuíam para a previdência social em montante elevado (a genito-ra no ano de 2008 contribuía mensalmente com o valor de R$ 2.893,30 – correspon-dendo a sete salários mínimos, antes mesmo de o filho ingressar no serviço público, e o valor de contribuição aumentou após a morte do filho). 5. Apelação desprovida.” (TRF 3ª R. – AC 0020025-96.2010.4.03.6100/SP – 1ª T. – Rel. Des. Fed. Hélio Nogueira – DJe 02.02.2017 – p. 922)

Comentário Editorial SínTESEO acórdão em comento trata de apelação interposta contra sentença que jul-gou improcedente o pedido de pensão por morte de servidor público.

Consta dos autos que em suas razões de apelação, os autores, no caso, pais do servidor, alegaram direito à pensão, com fundamento de que viviam sob dependência econômica do filho.

Dessa forma, o nobre Relator em seu voto entendeu:

“[...]

Dispunha a Lei nº 8.112/1990 sobre a pensão, à época do óbito:

Art. 217. São beneficiários das pensões:

[...]

I – vitalícia:

d) a mãe e o pai que comprovem dependência econômica do servidor;

O conjunto probatório é pela ausência de demonstração da dependência eco-nômica dos genitores em relação ao servidor falecido.

[...]

Da análise dos documentos carreados aos autos, especialmente as cópias dos e-mails trocados (fls. 49/50), percebe-se que os genitores moravam e traba-lhavam no Japão até dezembro/2008, subsistindo da atividade remunerada exercida naquela localidade, bem assim enviavam quantias monetárias para o “pagamento do INSS” (contribuição previdenciária), e os filhos – Sr. [...] e sua irmã – ajudavam na administração da remessa de dinheiro do Japão ao Brasil e pagamento das despesas “com o INSS”.

Vislumbra-se, pelas cópias dos e-mails trocados, que o Sr. [...] ajudava finan-ceiramente os genitores, mas tal situação não revela dependência econômica destes em relação àquele, diante do exercício de atividade remunerada dos genitores; do pouco tempo no serviço público do filho falecido a configurar a dependência; da disponibilidade financeira dos genitores, que contribuíam para a previdência social em montante elevado (a genitora no ano de 2008 contribuía mensalmente com o valor de R$ 2.893,30 – correspondendo a sete salários mínimos, antes mesmo de o filho servidor ingressar no serviço público, e o valor de contribuição aumentou após a morte do filho) (fls. 233, 238 e 246).

Digno de nota que a genitora, mediante as vultosas contribuições à previdên-cia, logrou aposentar-se, consoante fl. 241.

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Além disso, o relato das testemunhas é incapaz de revelar a dependência econômica, mas, como dito acima, apenas ajuda financeira.

De outro vértice, a cópia do carnê IPTU 2009 em nome do filho Edson e do autor/genitor Milton é insuficiente para comprovar que o filho arcava com a despesa do imóvel da família, porquanto o documento revela a isenção do imposto territorial urbano.

As despesas no cartão de crédito (fls. 20/21) não indicam quem é o titular do cartão, tampouco a quem as despesas foram dirigidas.

A conta de gás de fl. 24 está em nome da genitora [...] e, por isso, insuficiente para comprovar dependência econômica do filho.

De todas as considerações tecidas, conclui-se que os apelantes não fazem jus à pensão por morte.

Assim, de rigor a manutenção da sentença.

Dispositivo

Pelo exposto, nego provimento à apelação.

É o voto.”

Diante do exposto, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região negou provimen-to à apelação.

2349 – tempo de serviço especial – agentes nocivos – ruído – eletricidade – agentes químicos – uso de epi – irrelevância – reconhecimento

“Previdenciário. Atividade especial. Agentes nocivos. Ruído. Eletricidade. Agentes quí-micos. EPI. EPC. Aposentadoria especial. Concessão. Correção monetária e juros de mora. Fase de cumprimento de sentença. Diferimento. 1. O reconhecimento da especia-lidade e o enquadramento da atividade exercida sob condições nocivas são disciplina-dos pela lei em vigor à época em que efetivamente exercidos, passando a integrar, como direito adquirido, o patrimônio jurídico do trabalhador. 2. Até 28.04.1995 é admissível o reconhecimento da especialidade por categoria profissional ou por sujeição a agen-tes nocivos, admitindo-se qualquer meio de prova (exceto para ruído e calor); a partir de 29.04.1995 não mais é possível o enquadramento por categoria profissional, sendo necessária a comprovação da exposição do segurado a agentes nocivos por qualquer meio de prova até 05.03.1997 e, a partir de então, através de formulário embasado em laudo técnico, ou por meio de perícia técnica. 3. A despeito da ausência de previsão expressa pelos Decretos nºs 2.172/1997 e 3.048/1999, é possível o reconhecimento da especialidade do labor desenvolvido com exposição à eletricidade média superior a 250 volts após 05.03.1997, com fundamento na Súmula nº 198, do extinto Tribunal Federal de Recursos, e na Lei nº 7.369/1985, regulamentada pelo Decreto nº 93.412/1996. Pre-cedentes desta Corte. 4. A exposição a hidrocarbonetos e outros compostos de carbono, bem como a níveis de ruído superiores aos limites legais de tolerância, enseja o reco-nhecimento do tempo de serviço como especial. 5. Não havendo provas consistentes de que o uso de EPIs e EPCs neutralizava os efeitos dos agentes nocivos a que foi exposto o segurado durante o período laboral, deve-se enquadrar a respectiva atividade como

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especial. 6. Implementados mais de 25 anos de tempo de atividade sob condições noci-vas e cumprida a carência mínima, é devida a concessão do benefício de aposentadoria especial, a contar da data do requerimento administrativo, nos termos do § 2º do art. 57 c/c art. 49, II, da Lei nº 8.213/1991. 7. Deliberação sobre índices de correção monetária e taxas de juros diferida para a fase de cumprimento de sentença, a iniciar-se com a observância dos critérios da Lei nº 11.960/2009, de modo a racionalizar o andamento do processo, permitindo-se a expedição de precatório pelo valor incontroverso, enquan-to pendente, no Supremo Tribunal Federal, decisão sobre o tema com caráter geral e vinculante. Precedentes do STJ e do TRF da 4ª Região.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 5004418-57.2014.4.04.7112 – 5ª T. – Relª Tais Schilling Ferraz – J. 07.03.2017)

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Seção Especial – Em Poucas Palavras

Desaposentação na Atual Jurisprudência do STF

guSTAVO FILIPE BARBOSA gARCIALivre-Docente pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Especialista em Direito pela Universidad de Sevilla, Pós-Doutorado em Direito pela Universidad de Sevilla, Membro Pesquisador do IBDSCJ, Membro da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, Titular da Cadeira 27, Profes-sor Universitário em Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Direito, Advogado e Consultor Jurídico. Foi Juiz do Trabalho das 2ª, 8ª e 24ª Regiões, ex-Procurador do Trabalho do Ministério Público da União e ex-Auditor-Fiscal do Trabalho.

A desaposentação é o desfazimento do ato que concedeu a apo-sentadoria por vontade do segurado. Trata-se de desconstituição da apo-sentadoria, em razão de renúncia do benefício pelo segurado, entendida como ato unilateral pelo qual se dispõe do direito, extinguindo-o inde-pendentemente do consentimento do devedor.

O beneficiário, assim, renunciaria a aposentadoria recebida, des-constituindo o ato de concessão, para que pudesse requerer novo bene-fício, com o acréscimo do tempo de contribuição posterior à primeira aposentadoria. Com a desaposentação, o segurado retornaria à posição original de beneficiário, passando a ter direito de requerer o benefício novamente1.

A desaposentação era normalmente pleiteada quando o segurado pretendia requerer a aposentadoria em outro regime previdenciário ou formular pedido de nova aposentadoria, no mesmo regime previden-ciário, em valor superior, com a utilização de novos fatores de cálculo da renda mensal do benefício.

É possível que a aposentadoria por idade, por exemplo, seja con-cedida em valor inferior a 100% do salário de benefício, mas o segurado continue exercendo atividade e contribuindo no Regime Geral de Pre-vidência Social. Pode-se fazer referência, ainda, à hipótese em que o segurado se aposentou por tempo de contribuição, com a incidência do fator previdenciário, mas, posteriormente, preencha os requisitos legais

1 Cf. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito da seguridade social. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 510-515.

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para se aposentar com valor superior, sem a utilização do mencionado redutor, como previsto no art. 29-C da Lei nº 8.213/1991. Com isso, sur-gia o interesse de abrir mão da aposentadoria já concedida, para que o benefício pudesse ser requerido, no mesmo regime previdenciário, com nova renda mensal inicial, ou seja, com o cômputo do novo período de contribuição, somado ao tempo anterior.

Na esfera administrativa, o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048/1999, prevê que as aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas pela Previdência Social são irreversíveis e irrenunciáveis (art. 181-B). Nesse enfoque res-tritivo, o segurado pode desistir do seu pedido de aposentadoria desde que manifeste essa intenção e requeira o arquivamento definitivo do pedido antes da ocorrência do primeiro de um dos seguintes atos: re-cebimento do primeiro pagamento do benefício ou saque do respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou do Programa de Integração Social.

Na jurisprudência, anteriormente, o entendimento majoritário era no sentido da possibilidade de desaposentação, isto é, de renúncia à aposentadoria, por se tratar de direito patrimonial disponível, devendo ser computado o tempo de contribuição subsequente à aposentadoria (que foi renunciada) para efeito de novo benefício.

Prevalecia a posição de não ser necessário devolver os valores já recebidos até a desaposentação, pois esta, tendo natureza desconstitu-tiva, não opera efeitos retroativos, mas somente a partir da renúncia do direito. A desaposentação não corresponde às hipóteses de recebimento de valores de forma indevida, abusiva ou ilegal, mas sim de regular exer-cício do direito pelo beneficiário. No caso, como os valores foram rece-bidos licitamente e têm natureza alimentar, ficaria afastado o cabimento da devolução de algo que foi regularmente usufruído2.

2 “Previdenciário. Agravo regimental na petição. Sobrestamento do feito. Não cabimento. Aposentadoria. Renúncia. Possibilidade. Benefício. Devolução. Desnecessidade. Reserva de plenário. Ausência de violação. Prequestionamento de dispositivos constitucionais. Inviabilidade. Agravo regimental desprovido. I – Segundo dicção do art. 543-B do CPC, o sobrestamento do feito se aplica apenas aos recursos extraordinários interpostos contra acórdãos desta Corte Superior de Justiça (precedentes). II – É pacífico, no âmbito deste eg. Superior Tribunal de Justiça, o entendimento segundo o qual é possível a renúncia da aposentadoria para fins de aproveitamento do tempo de contribuição e concessão de novo benefício, seja no mesmo regime, seja em regime diverso. Tal medida, além do mais, não importa em devolução, pelo segurado, dos valores anteriormente percebidos (precedentes). III – A questão ora debatida já foi objeto de análise em sede de recurso especial repetitivo (REsp 1.334.488/SC, Primeira Seção, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe

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Cabe lembrar que o Regime Geral de Previdência Social adota o regime de repartição simples, em que as contribuições são vertidas a um fundo comum, e não o chamado regime de capitalização, em que as contas são individualizadas. Observa-se, portanto, a solidariedade, inclusive entre gerações.

Apesar do exposto, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar os Re-cursos Extraordinários nºs 381.367, 661.256 (com repercussão geral) e 827.833, aprovou a seguinte tese de repercussão geral: “No âmbito do Regime Geral de Previdência Social – RGPS, somente lei pode criar benefícios e vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previ-são legal do direito à ‘desaposentação’, sendo constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/1991” (J. 27.10.2016).

O mencionado art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/1991 prevê que o aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) que perma-necer em atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus à prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.

Na verdade, esse dispositivo, ao ser corretamente interpretado, não veda a desaposentação, mesmo porque não trata dessa temática específica.

Na desaposentação, o segurado não requer outra prestação previ-denciária, mas somente pleiteia a concessão da própria aposentadoria, em valor mais benéfico, por ter renunciado à que foi concedida ante-riormente.

O art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/1991 apenas estabelece a impos-sibilidade de concessão de outros benefícios e serviços da Previdência Social ao aposentado, com exceção do salário-família e da reabilitação profissional, não versando sobre o instituto analisado, que decorre da

de 14.05.2013) e de incidente de uniformização de jurisprudência (Pet 9.231/DF, Primeira Seção, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 20.03.2014), os quais reconheceram o direito à desaposentação, sem a necessidade de devolução dos valores referentes ao benefício previdenciário renunciado. IV – Não há que se falar em violação ao princípio constitucional da reserva de plenário (art. 97 da Lex Fundamentalis), se, nem ao menos implicitamente, foi declarada a inconstitucionalidade de lei. V – Não compete a este eg. STJ se manifestar explicitamente sobre dispositivos constitucionais, ainda que para fins de prequestionamento (precedentes). Agravo regimental desprovido.” (STJ, AgRg-Pet 8.788/SC, (2011/0248600-2), 3ª Seção, Rel. Min. Felix Fischer, DJe 12.06.2015)

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RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – SEÇÃO ESPECIAL – EM POUCAS PALAVRAS �������������������������������������������������������������������������������������������223

interpretação sistemática do ordenamento jurídico, sem necessitar, por-tanto, de previsão legal expressa.

Prevaleceu no STF, de todo modo, a tese de que a desaposentação não é admitida, por ser necessária a existência de norma legal a respeito.

Trata-se de entendimento que desestimula o aposentado de con-tinuar trabalhando e contribuindo ao sistema previdenciário. Com isso, pode haver redução de valores recolhidos e até mesmo o efeito social e econômico negativo de se incentivar o trabalho informal.

Apesar de a Previdência Social ser fundada no princípio da soli-dariedade, ao não se admitir a desaposentação de quem continua con-tribuindo ao sistema, ocorre o pagamento de contribuições sociais (que não se confundem com impostos) pelo segurado, mas sem qualquer contrapartida efetiva em seu favor, revelando certo enriquecimento sem causa pelo Poder Público.

Espera-se, assim, que a questão seja prontamente revista pela juris-prudência e adequadamente disciplinada pelo legislador.

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Tabelas Práticas

LIMITES DE DEPÓSITOS RECURSAIS NA JUSTIÇA DO TRABALHO

Novos valores para Depósitos Recursais na Justiça do Trabalho (Ato nº 326/2016 do TST, DJe de 18.07.2016, vigência a partir de 01.08.2016)

Recurso Ordinário R$ 8.959,63

Recurso de Revista, Embargos, Recurso Extraordinário e Recursos em Ação Rescisória R$ 17.919,26

Ação Rescisória – Depósito prévio de 20% do valor da causa, salvo prova de miserabilidade, nos termos do art. 836 da CLT, alterado pela Lei nº 11.495/2007, cujos efeitos começam a fluir a partir do dia 24.09.2007.

INSS – JANEIRO/2017Tabela de contribuição dos segurados empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso, para pagamento de remuneração a partir de 1º de janeiro de 2017.

Salário-de-contribuição (R$) Alíquota para fins de recolhimento ao INSS (%) Até 1.659,38 8,00%

De 1.659,39 até 2.765,66 9,00%

De 2.765,67 até 5.531,31 11,00%

Ir foNte – tabela ProgreSSIva meNSal Para CálCulo a PartIr de abrIl/2015 – mP 670/2015 – dou 11.03.2015

Base de cálculo em R$ Alíquota % Parcela a deduzir do imposto em R$ Até 1.903.98 – – De 1.903,99 até 2,826,65 7,5 142,80 De 2.826,66 até 3.751,05 15,0 354,80 De 3.751,06 até 4.664,68 22,5 636,13 Acima de 4.664,69 27,5 869,36 Dedução por dependente 189,59

TABELA DE ATUALIzAÇÃO MONETÁRIA DAS PARCELAS RELATIVAS A BENEFÍCIOS PAGOS COM ATRASO (ART� 175, DECRETO Nº 3�048/1999)

Março/2017 (Portaria MF nº 83, de 20.03.2017)

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

jul/94 7,600226

ago/94 7,164618

set/94 6,793683

out/94 6,692624

nov/94 6,570414

dez/94 6,362365

jan/95 6,226015

fev/95 6,123749

mar/95 6,063718

abr/95 5,979408

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

mai/95 5,866766

jun/95 5,719768

jul/95 5,617529

ago/95 5,482656

set/95 5,427297

out/95 5,364532

nov/95 5,290466

dez/95 5,211768

jan/96 5,127170

fev/96 5,053390

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

mar/96 5,017764

abr/96 5,003255

mai/96 4,968475

jun/96 4,886384

jul/96 4,827489

ago/96 4,775437

set/96 4,775246

out/96 4,769046

nov/96 4,758577

dez/96 4,745290

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

jan/97 4,703896

fev/97 4,630730

mar/97 4,611363

abr/97 4,558484

mai/97 4,531747

jun/97 4,518192

jul/97 4,486785

ago/97 4,482750

set/97 4,482750

out/97 4,456457

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RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – TABELAS PRÁTICAS ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������225

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

nov/97 4,441357

dez/97 4,404797

jan/98 4,374612

fev/98 4,336451

mar/98 4,335584

abr/98 4,325635

mai/98 4,325635

jun/98 4,315709

jul/98 4,303659

ago/98 4,303659

set/98 4,303659

out/98 4,303659

nov/98 4,303659

dez/98 4,303659

jan/99 4,261892

fev/99 4,213438

mar/99 4,034314

abr/99 3,955986

mai/99 3,954799

jun/99 3,954799

jul/99 3,914868

ago/99 3,853595

set/99 3,798517

out/99 3,743488

nov/99 3,674048

dez/99 3,583388

jan/00 3,539848

fev/00 3,504106

mar/00 3,497461

abr/00 3,491177

mai/00 3,486644

jun/00 3,463439

jul/00 3,431526

ago/00 3,355688

set/00 3,295706

out/00 3,273121

nov/00 3,261055

dez/00 3,248387

jan/01 3,223885

fev/01 3,208165

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

mar/01 3,197294

abr/01 3,171919

mai/01 3,136477

jun/01 3,122737

jul/01 3,077801

ago/01 3,028735

set/01 3,001720

out/01 2,990356

nov/01 2,947616

dez/01 2,925383

jan/02 2,920127

fev/02 2,914589

mar/02 2,909352

abr/02 2,906156

mai/02 2,885954

jun/02 2,854271

jul/02 2,805457

ago/02 2,749100

set/02 2,685717

out/02 2,616638

nov/02 2,510928

dez/02 2,372381

jan/03 2,310010

fev/03 2,260948

mar/03 2,225561

abr/03 2,189220

mai/03 2,180281

jun/03 2,194988

jul/03 2,210461

ago/03 2,214891

set/03 2,201243

out/03 2,178370

nov/03 2,168827

dez/03 2,158467

jan/04 2,145593

fev/04 2,128565

mar/04 2,120295

abr/04 2,108278

mai/04 2,099670

jun/04 2,091304

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

jul/04 2,080900

ago/04 2,065819

set/04 2,055542

out/04 2,052053

nov/04 2,048571

dez/04 2,039596

jan/05 2,022205

fev/05 2,010744

mar/05 2,001936

abr/05 1,987427

mai/05 1,969505

jun/05 1,955814

jul/05 1,957968

ago/05 1,957381

set/05 1,957381

out/05 1,954449

nov/05 1,943179

dez/05 1,932742

jan/06 1,925042

fev/06 1,917754

mar/06 1,913353

abr/06 1,908201

mai/06 1,905914

jun/06 1,903440

jul/06 1,904773

ago/06 1,902680

set/06 1,903061

out/06 1,900021

nov/06 1,891886

dez/06 1,883973

jan/07 1,872364

fev/07 1,863234

mar/07 1,855442

abr/07 1,847313

mai/07 1,842523

jun/07 1,837745

jul/07 1,832065

ago/07 1,826221

set/07 1,815510

out/07 1,810982

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

nov/07 1,805566

dez/07 1,797835

jan/08 1,780564

fev/08 1,768362

mar/08 1,759389

abr/08 1,750462

mai/08 1,739330

jun/08 1,722791

jul/08 1,707255

ago/08 1,697410

set/08 1,693853

out/08 1,691316

nov/08 1,682902

dez/08 1,676531

jan/09 1,671683

fev/09 1,661052

mar/09 1,655919

abr/09 1,652614

mai/09 1,643574

jun/09 1,633771

jul/09 1,626938

ago/09 1,623205

set/09 1,621907

out/09 1,619316

nov/09 1,615439

dez/09 1,609484

jan/10 1,605631

fev/10 1,591624

mar/10 1,580560

abr/10 1,569418

mai/10 1,558044

jun/10 1,551373

jul/10 1,553081

ago/10 1,554169

set/10 1,555258

out/10 1,546905

nov/10 1,532803

dez/10 1,517176

jan/11 1,508127

fev/11 1,494083

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226 �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – TABELAS PRÁTICAS

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

mar/11 1,486058

abr/11 1,476314

mai/11 1,465761

jun/11 1,457453

jul/11 1,454254

ago/11 1,454254

set/11 1,448172

out/11 1,441684

nov/11 1,437086

dez/11 1,428941

jan/12 1,421690

fev/12 1,414476

mar/12 1,408981

abr/12 1,406450

mai/12 1,397505

jun/12 1,389861

jul/12 1,386257

ago/12 1,380322

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

set/12 1,374138

out/12 1,365535

nov/12 1,355908

dez/12 1,348626

jan/13 1,338719

fev/13 1,326515

mar/13 1,319653

abr/13 1,311782

mai/13 1,304088

jun/13 1,299540

jul/13 1,295911

ago/13 1,297598

set/13 1,295525

out/13 1,292037

nov/13 1,284203

dez/13 1,277306

jan/14 1,268175

fev/14 1,260235

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

mar/14 1,252221

abr/14 1,242036

mai/14 1,232423

jun/14 1,225073

jul/14 1,221896

ago/14 1,220310

set/14 1,218117

out/14 1,212177

nov/14 1,207589

dez/14 1,201222

jan/15 1,193820

fev/15 1,176410

mar/15 1,162920

abr/15 1,145621

mai/15 1,137544

jun/15 1,126393

jul/15 1,117786

ago/15 1,111340

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

set/15 1,108569

out/15 1,102944

nov/15 1,094516

dez/15 1,082500

jan/16 1,072845

fev/16 1,056886

mar/16 1,046940

abr/16 1,042353

mai/16 1,035725

jun/16 1,025673

jul/16 1,020875

ago/16 1,014383

set/16 1,011248

out/16 1,010440

nov/16 1,008725

dez/16 1,008019

jan/17 1,006610

fev/17 1,002400

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Clipping Jurídico

suspensos processos sobre extensão do adicional para aposentados que de­pendem de assistência

A ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Assusete Magalhães deferiu li-minar para suspender todos os processos em tramitação nos juizados especiais federais que tratem da possibilidade de concessão do adicional de 25%, previsto no art. 45 da Lei nº 8.213/1991, a outros benefícios além da aposentadoria por in-validez. O adicional é dado ao segurado que necessita da assistência permanente de outra pessoa. A decisão foi proferida pela ministra ao admitir o Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei (PUIL) nº 236, apresentado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) contra acórdão da Turma Nacional de Unifor-mização dos Juizados Especiais Federais (TNU). O INSS alega que o acórdão da TNU segue linha contrária à jurisprudência dominante do STJ, ao considerar pos-sível a extensão do adicional às aposentadorias por idade e por tempo de contri-buição, mesmo havendo diversos precedentes da Corte que limitam a concessão do adicional aos aposentados por invalidez. Impacto financeiro: Segundo o INSS, o impacto dessas concessões para benefícios concedidos entre 2015 e 2017 pode passar de R$ 456 milhões. A ministra admitiu o processamento do pedido e, con-siderando presentes “a plausibilidade do direito invocado, bem como o receio de dano de difícil reparação”, concedeu a liminar para suspender os processos nos juizados especiais federais de todo o País. Assusete Magalhães abriu prazo de 30 dias para manifestação dos interessados e determinou que o presidente da TNU, bem como os presidentes das turmas recursais federais sejam comunicados sobre o incidente, solicitando-lhes informações na forma do art. 14, § 7º, da Lei nº 10.259/2001 e do art. 2º, inciso II, da Resolução nº 10/2007 do STJ (Esta notícia refere-se ao processo: PUIL 236). (Fonte: Superior Tribunal de Justiça)

tribunal nega aposentadoria rural por não cumprimento de exigências pre­vistas em lei

A 2ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) de-cidiu, por unanimidade, confirmar a sentença que rejeitou o pedido de M.O.D. à aposentadoria por idade rural, anteriormente negado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ela não cumpriu as exigências legais para tornar-se uma se-gurada especial: não ficaram comprovados nem o exercício de atividade rural du-rante os 180 meses anteriores ao pedido e nem o trabalho em regime de economia familiar. Tudo começou quando a autora, tendo completado a idade mínima (55 anos), requereu a aposentadoria por idade rural, sem, no entanto, comprovar o tempo necessário de trabalho no campo. Na visão do desembargador federal Mes-sod Azulay Neto, relator do processo no TRF2, a documentação apresentada não foi suficiente. Em que pesem diversos documentos acostados aos autos, nenhum consegue demonstrar, satisfatoriamente, o exercício efetivo do labor rural no pe-ríodo imediatamente anterior ao requerimento, ainda que de forma descontínua,

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228 ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – CLIPPING JURÍDICO

avaliou o magistrado. Ainda de acordo com Messod Azulay, o regime de economia familiar, previsto no art. 11, § 1º, da Lei nº 8.213/1991, ficou descaracterizado, tendo em vista que os documentos apresentados revelam que o marido da autora é policial militar aposentado. Segundo a norma, somente nos casos em que a ati-vidade rural dos membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar é possível se falar em eco-nomia familiar. “Nosso ordenamento jurídico previdenciário estabelece proteção a agrupamentos familiares cuja subsistência dependa inteiramente do trabalho rural, em um regime de mútua dependência e colaboração. Desse modo, [...] a ativida-de de policial militar do marido [...] torna o labor da segurada como não sendo a atividade preponderante para garantir a subsistência da família. Com isso, extin-gue-se, de pronto, o requisito da indispensabilidade”, finalizou o relator (Processo nº 0000927-85.2016.4.02.9999). (Fonte: Tribunal Regional Federal da 2ª Região)

tribunal garante benefício à companheira de segurada falecida

A 2ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) con-firmou a sentença que condenou o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a conceder o benefício de pensão por morte à autora, M.A., na condição de com-panheira de segurada falecida. O relator do processo no TRF2, desembargador federal Messod Azulay Neto, explicou que a autora comprovou o preenchimento das condições para obter o benefício, uma vez que demonstrou a existência de união estável homoafetiva por meio da apresentação de diversos documentos. Caracterizada a condição de companheira, a dependência econômica entre ela e a instituidora da pensão é presumida, ou seja, não admite prova em contrário. O magistrado ressaltou que o reconhecimento da união estável homoafetiva deve ser feito segundo as mesmas regras e com idênticas consequências da união es-tável e citou entendimento do Supremo Tribunal Federal nesse sentido. Restou assente a plena legitimidade ético-jurídica da união homoafetiva como entidade familiar, de modo a permitir que se extraiam, em favor de conviventes, relevantes consequências no plano do Direito, notadamente no campo previdenciário (STF, 2ª Turma, RE-AgRg 477554). A propósito, o desembargador fez questão de ressal-tar em seu voto que o STF, no julgamento da ADI 4.277 e da ADPF 132, posicio-nou-se no sentido de excluir qualquer significado que impeça o reconhecimen-to da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de família. Portanto, tem-se que a sentença merece ser mantida, ante a existência de provas suficientes à comprovação da união estável homoafetiva a ensejar a concessão da pensão requerida. As prestações em atraso devem ser corrigidas monetariamente, desde quando devidas as parcelas, e os juros de mora devem incidir a partir da citação, nos termos da lei, concluiu o relator (Processo nº 0151729-52.2015.4.02.5110). (Fonte: Tribunal Regional Federal da 2ª Região)

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tribunal determina divisão igual da pensão por morte entre viúva e ex­­mulher

O benefício, havendo mais de um pensionista, deve ser rateado entre todos em partes iguais. A desembargadora federal Marisa Santos, da 9ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), determinou que o Instituto Nacional do Se-guro Social (INSS) divida igualmente a pensão por morte de um segurado falecido entre a viúva e a ex-esposa. A ex-mulher recorreu ao Tribunal contra tutela de urgência do juiz de primeiro grau que determinou que o INSS reduzisse o valor de sua cota da pensão para o valor de R$ 252,55, correspondente à pensão ali-mentícia que era paga antes do óbito do seu ex-marido. A relatora explicou que a ação originária foi ajuizada pela viúva (com quem o falecido segurado estava casado quando do óbito), objetivando a revisão da sua cota da pensão por morte. Ela pleiteava que a ex-mulher do segurado passasse a receber o valor correspon-dente ao que era pago a título de pensão alimentícia. Já a ex-mulher afirmou fazer jus ao recebimento de 50% do valor da pensão por morte, nos termos do art. 77 da Lei nº 8.2131/1991. Alegou que a coexistência de mais de um beneficiário da pensão por morte importa a divisão proporcional do valor total a ela correspon-dente entre todos os pensionistas. Com isso, a cada um caberia quota idêntica à dos demais, conforme entendimento jurisprudencial dominante. Na decisão, a magistrada ressaltou que “a ex-mulher do falecido, na condição de beneficiária de pensão alimentícia, concorre em igualdade de condições com a agravada, na condição de cônjuge, sendo ambas beneficiárias de primeira classe”. Des-sa forma, para a desembargadora federal, o benefício foi corretamente conce-dido pelo Instituto nacional do Seguro Social (INSS) na proporção de 50% para cada uma das dependentes habilitadas, obedecendo ao disposto no art. 77 da Lei nº 8.213/1991. E conclui: “Deve ser restabelecido o pagamento de 50% do valor do benefício para cada uma das dependentes habilitadas para o recebimento da pensão por morte” (Processo nº 5002189-79.2016.4.03.0000). (Fonte: Tribunal Regional Federal da 3ª Região)

suspenso na 1ª turma julgamento sobre pagamento a aposentados do banespa

O pedido de vista do ministro Luís Roberto Barroso suspendeu julgamento na 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que envolve disputa entre funcio-nários aposentados do antigo Banespa (Banco do Estado de São Paulo) e o banco que o sucedeu, o Santander. O caso foi retomado nesta terça-feira (7), no julga-mento do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) nº 675945, com voto-vista do ministro Luiz Fux. O voto do ministro Fux propõe o retorno do recurso à ins-tância de origem, o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, em São Paulo (TRT2), para que sejam sanadas as nulidades discutidas na ação: a autorização dos funcionários para a representação pela Associação dos Funcionários Aposen-

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tados do Banco do Estado de São Paulo (Afabesp) e direito ao contraditório. Se-gundo o ministro, segundo o novo Código de Processo Civil, é possível identificar erros sanáveis, como é o caso, e corrigi-los. Após o voto de Luiz Fux, pediu vista o ministro Luís Roberto Barroso. O caso envolve o pagamento de Programa de Participação em Lucros e Resultados (PLR) de funcionários da ativa a aposentados do banco, envolvendo um grupo de oito mil pessoas representadas pela Afabesp (Processo relacionado: ARE 675945). (Fonte: Supremo Tribunal Federal)

indígenas menores de 16 anos podem receber salário­maternidade

Meninas indígenas com idade inferior a 16 anos moradoras da região de Ere-chim/RS poderão receber salário-maternidade, desde que fique comprovado o exercício de atividade rural. Essa foi a decisão tomada pela 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que negou, no último dia 22/02, recurso do Ins-tituto Nacional do Seguro Social (INSS) para reformar sentença que determinava o pagamento. O Ministério Público Federal moveu a ação civil pública em 2014 pedindo que a Previdência se abstivesse de negar os benefícios às índias menores de 16 anos que trabalham no campo unicamente pelo motivo de idade. Para o MPF, as questões previdenciárias devem ser vistas sob outro enfoque quando envolver o interesse de índios, uma vez que a cultura indígena é diferente da cultura do homem branco, especialmente no que tange à questão do trabalho e das relações maritais. Conforme um estudo feito pelo autor e apresentado nos au-tos, as meninas de aldeias caingangues trabalham e têm filhos de forma precoce, muitas vezes em idade inferior a 16 anos. Em sua defesa, o INSS argumentou que o menor de 16 anos não pode ser considerado trabalhador, pois existe proibição constitucional ao trabalho da criança e do adolescente. A 1ª Vara Federal do mu-nicípio atendeu ao pedido do MPF. Segundo a sentença, “ao não se reconhecer o direito das meninas indígenas de receber o salário-maternidade, elas estão sendo duplamente punidas. Além de submetidas ao trabalho antes do limite normativo constitucional mínimo, o labor precoce não seria considerado para fins previden-ciários”, diz trecho da decisão. O INSS recorreu ao Tribunal. A relatora do caso no TRF4, juíza federal convocada Gabriela Pietsch Serafin, negou o apelo. De acordo com a magistrada, “é viável reconhecer a condição de segurado especial aos que exercem atividades rurícolas, mesmo que menores de 16 anos de idade, inclusive no caso de indígenas, sob pena de se estabelecer uma discriminação à mulher indígena impúbere” (Processo nº 5005515-77.2014.4.04.7117). (Fonte: Tribunal Regional Federal da 4ª Região)

Fechamento da Edição: 09�04�2017

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Índice Alfabético e Remissivo

índice por assunto especial

DOUTRINAS

Assunto

O ServidOr e a refOrma Previdenciária

•A Construção do Mínimo Existencial Social em Sede de Direito Previdenciário: o Reconheci-mento da Fundamentalidade da Previdência Social à Luz da Jurisprudência do STF (TauãLima Verdan Rangel) .............................................9

•O Servidor Público na Reforma da Previdên-cia: Comentários Iniciais ao Regime Próprio de Previdência Social na PEC 287/2016 (Franciscode Salles Almeida Mafra Filho) ............................25

Autor

franciScO de SalleS almeida mafra filhO

•O Servidor Público na Reforma da Previdência: Comentários Iniciais ao Regime Próprio de Pre-vidência Social na PEC 287/2016 ........................25

tauã lima verdan rangel

•A Construção do Mínimo Existencial Social em Sede de Direito Previdenciário: o Reconheci-mento da Fundamentalidade da Previdência Social à Luz da Jurisprudência do STF ...................9

índice geral

DOUTRINAS

Assunto

BenefíciO PrevidenciáriO

•As Novas Regras de Concessão de Benefícios Previdenciários – Como e Quais São as Regras e Condições para Concessão e Obtenção de Be-nefícios Previdenciários após as Leis nºs 13.134, 13.135 e 13.183, de 2015 (Luís Rodolfo Cruz e Creuz e Daniela Wagner) ....................................84

Previdência SOcial

•A Reforma da Previdência e Suas Regras de Transição: a Isonomia e o Princípio da Proteção da Confiança (Victor Roberto Corrêa de Souza) ............................................................................63

temPO de ServiçO

•Reconhecimento do Tempo de Serviço para Fins Previdenciários: a Sentença Trabalhista e a Exigência Normativa de Início de Prova Mate-rial (George Resende Rumiatto de Lima Santos) ............................................................................35

Autor

daniela Wagner e luíS rOdOlfO cruz e creuz

•As Novas Regras de Concessão de Benefícios Previdenciários – Como e Quais São as Regras e Condições para Concessão e Obtenção de Be-nefícios Previdenciários após as Leis nºs 13.134, 13.135 e 13.183, de 2015 ...................................84

geOrge reSende rumiattO de lima SantOS

•Reconhecimento do Tempo de Serviço para Fins Previdenciários: a Sentença Trabalhista e a Exi-gência Normativa de Início de Prova Material ............................................................................35

luíS rOdOlfO cruz e creuz e daniela Wagner

•As Novas Regras de Concessão de Benefícios Previdenciários – Como e Quais São as Regras e Condições para Concessão e Obtenção de Be-nefícios Previdenciários após as Leis nºs 13.134, 13.135 e 13.183, de 2015 ...................................84

victOr rOBertO cOrrêa de SOuza

•A Reforma da Previdência e Suas Regras de Transição: a Isonomia e o Princípio da Proteçãoda Confiança .......................................................63

EM POUCAS PALAVRAS

Assunto

deSaPOSentaçãO

•Desaposentação na Atual Jurisprudência do STF(Gustavo Filipe Barbosa Garcia) .........................220

Autor

guStavO filiPe BarBOSa garcia

•Desaposentação na Atual Jurisprudência do STF ..........................................................................220

ACÓRDÃOS NA ÍNTEGRA

Assunto

aPOSentadOria

•Direito civil e administrativo – Agravo regimen-tal no agravo em recurso especial – Revisão de ato de aposentadoria – Alegada violação dos arts. 3º e 198 do Código Civil – A análise da incapacidade para a prática dos atos da vida civil requer a reapreciação do conjunto fático--probatório – Impossibilidade – Súmula nº 7/STJ – Prescrição do fundo de direito – Acórdão em sintonia com o entendimento desta Corte Supe-rior – Agravo regimental do particular a que se nega provimento (STJ) ..............................2300, 126

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aPOSentadOria POr idade

•Direito previdenciário – Aposentadoria por ida- de rural – Não comprovação da atividade ru-ral no período imediatamente anterior ao re-querimento do benefício – Inaplicabilidade da Lei nº 10.666/2003 – Recurso extraordinário interposto sob a égide do CPC/1973 – Even-tual ofensa reflexa não viabiliza o manejo do recurso extraordinário – Art. 102 da Lei Maior – Agravo manejado sob a vigência do CPC/2015(STF) ........................................................2297, 102

•Previdenciário – Pedido de concessão de apo-sentadoria por idade (rural) – Não configuração do início de prova material – Não atendimen-to ao requisito da comprovação do exercício da atividade rural pelo período de carênciaexigido – Sentença mantida (TRF 2ª R.) ....2302, 145

aPOSentadOria POr temPO de cOntriBuiçãO

•Previdenciário – Aposentadoria por tempo de contribuição – Contagem recíproca – Regi- mes diversos – Contribuições para cada siste-ma – Duas aposentadorias – Possibilidade (STJ) ................................................................2299, 118

auxíliO-dOença

•Previdenciário – Auxílio-doença – Requisi-tos – Qualidade de segurado – incapacidade – Laudo pericial – Consectários legais – Diferi-mento – Tutela específica – Implantação do be-nefício (TRF 4ª R.) ....................................2304, 161

BenefíciO PrevidenciáriO

•Civil – Empréstimo consignado – Benefício previdenciário – Desconto indevido – Fraude – Responsabilidade da instituição financeira – Da- no material – Restituição dos valores – Dano moral – Razoabilidade do montante fixado nasentença (TRF 5ª R.) .................................2305, 174

cOntriBuiçãO Previdenciária

•Processual civil e tributário – Contribuição pre-videnciária – Salário-maternidade e férias go-zadas – Incidência (STJ) ...........................2298, 109

decadência

•Previdenciário – Revisão de benefício – No-vos limites máximos instituídos pelas Emendas Constitucionais nºs 20/1998 e 41/2003 – Deca-dência – Não ocorrência – Art. 1.013, § 4º, do CPC/2015 – Prescrição quinquenal – Ajuizamen-to da ação individual – Benefícios concedidos no período denominado “buraco negro” – Proce- dência – Correção monetária e juros moratórios– Honorários advocatícios (TRF 3ª R.) ......2303, 152

PenSãO

•Previdenciário e constitucional – Pensão por morte – Trabalhador urbano – Comprovação da condição de segurado – Extensão período de graça – Desemprego – Filhas menores – Depen-

dência econômica presumida – Necessidade de intervenção do MP – Ocorrência – Termo a quo – Ausência de requerimento administrativo – Parcelas devidas – Correção monetária e juros de mora – Honorários advocatícios (TRF 1ª R.) ................................................................2301, 135

EMENTÁRIO

Assunto

açãO indenizatória

•Ação indenizatória – invalidez permanente –cerceamento de defesa – ocor rência ........2306, 184

açãO regreSSiva

•Ação regressiva – acidente do trabalho – negli-gência do empregador – configuração .....2307, 184

acidente dO traBalhO

•Acidente do trabalho – incapacidade total e temporária – nexo causal demonstrado – inexis-tência de lesão permanente – aposentadoria por invalidez – não cabimento .......................2308, 186

aPOSentadOria

•Aposentadoria – revisão do ato de concessão de benefício – decadência – observação..2309, 186

aPOSentadOria eSPecial

•Aposentadoria especial – atividade profissional – trocador de ônibus – agente agressivo – ruí-do – pagamento devido ...........................2310, 186

aPOSentadOria POr idade

•Aposentadoria por idade – coisa julgada – com-provação .................................................2311, 189

•Aposentadoria por idade – professora – regras de transição – EC 20/1998 – inaplicabilidade ................................................................2312, 189

•Aposentadoria por idade – rurícola – compro-vação – benefício devido .........................2313, 190

•Aposentadoria por idade rural – não compro-vação da atividade no período imediatamenteanterior ao requerimento do benefício .....2314, 191

aPOSentadOria POr invalidez

•Aposentadoria por invalidez – qualidade de se-gurado – período de carência – laudo pericial conclusivo – incapacidade laboral total e per-manente – preenchimento dos requisitos legais – benefício devido ...................................2315, 192

aPOSentadOria POr temPO de cOntriBuiçãO

•Aposentadoria por tempo de contribuição – contribuinte individual – recolhimentos – requi-sitos preenchidos – pagamento devido ....2316, 193

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RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ��������������������������������������������������������������������������������������������������������233 •Aposentadoria por tempo de contribuição –

inércia da administração – ocorrência – manda-do de segurança – cabimento ..................2317, 194

aPOSentadOria POr temPO de ServiçO

•Aposentadoria por tempo de serviço – exercí-cio sob condições especiais – benefício devido ................................................................2318, 195

auxíliO-acidente

•Auxílio-acidente – redução da capacidade la-borativa – inexistência – pagamento indevido ................................................................2319, 196

•Auxílio-acidente – requisitos – não preenchi-mento – benefício indevido .....................2320, 197

•Auxílio-acidente e aposentadoria – concessão após 1997 – impossibilidade ...................2321, 197

•Auxílio-acidente ou aposentadoria por inva-lidez – perícia médica judicial – observação ................................................................2322, 198

auxíliO-dOença

•Auxílio-doença – incapacidade – ausência – direito – inexistência ................................2323, 198

auxíliO-recluSãO

•Auxílio-reclusão – concessão do benefício – possibilidade ...........................................2324, 199

BenefíciO PrevidenciáriO

•Benefício previdenciário – desconto indevido de pensão alimentícia a maior – devolução dosvalores – dano moral – inexistência .........2325, 199

•Benefício previdenciário – devolução de valo-res – boa-fé presumida – má-fé não compro-vada – valores recebidos – cobrança indevida ................................................................2326, 199

•Benefício previdenciário – revisão – RMI limi-tada ao teto – prescrição quinquenal – obser-vação .......................................................2327, 200

cOnflitO de cOmPetência

•Conflito de competência – pensão por morte – alcance ....................................................2328, 201

cOntriBuiçãO Previdenciária

•Contribuição previdenciária – pretensão ini-cial de suspensão da exigibilidade da patronal incidente sobre os Riscos Ambientais do Tra-balho – RAT .............................................2329, 201

•Contribuição previdenciária – verbas indeniza-tórias – não incidência .............................2330, 202

deSaPOSentaçãO

•Desaposentação – utilização do tempo de contribuição em outro benefício – impossibili-dade ........................................................2331, 202

funrural

•Funrural – pessoa física empregador – art. 25 da Lei nº 8.212/1991 – comprovação da con-dição de empregador rural – inexigibilidade da contribuição – inconstitucionalidade – limitesdo indébito ..............................................2332, 203

ir

• IR – aposentadoria – incidência ...............2333, 204

•Pensão por morte – companheira – compro-vação – possibilidade ..............................2334, 204

PenSãO

•Pensão por morte – cônjuge que renunciou ao recebimento de alimentos quando da separação judicial – necessidade econômica supervenien-te – comprovação – benefício devido ....... 2335, 205

•Pensão por morte – desdobramento – habilita-ção de menor – termo inicial dos atrasados – retroação – possibilidade .........................2336, 206

•Pensão por morte – ex-combatente – filha maior inválida – comprovação de incapacidade labo-rativa – benefício devido .........................2337, 207

•Pensão por morte – lei vigente na data do óbi-to – cobrança de valores atrasados – termoinicial ......................................................2338, 208

•Pensão por morte – menor incapacitante sobguarda – efeitos .......................................2339, 208

•Pensão por morte – militar – paridade e inte-gralidade – ausência de matéria constitucio-nal – descabimento ..................................2340, 209

•Pensão por morte – qualidade de segurado – comprovação – benefício devido .............2341, 209

•Pensão por morte – servidora pública estadual falecida – união estável reconhecida judicial-mente – benefício devido ........................2342, 210

reSPOnSaBilidade civil

•Responsabilidade civil – benefício previden-ciário – fraude – cobrança equivocada – ho-mônimo – poder de autotutela – danos morais – não configuração ..................................2343, 211

•Responsabilidade civil do Estado – concessão da aposentadoria – demora injustificada – danos morais – possibilidade .............................2344, 213

SaláriO-maternidade

•Salário-maternidade – segurado especial – iní-cio de prova material corroborada por teste-munha – não comprovação – benefício inde-vido .........................................................2345, 215

SegurO-deSemPregO

•Seguro-desemprego – cancelamento decorren-te de cadastro no INSS como contribuinte in-dividual – impossibilidade .......................2346, 215

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234 ���������������������������������������������������������������������������������������������������������RSP Nº 77 – Mar-Abr/2017 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO

ServidOr PúBlicO

•Servidor público – ex-celetista – tempo de ser-viço prestado sob condições insalubres – apo-sentadoria – reconhecimento ...................2347, 216

•Servidor público – pensão por morte – depen-dência econômica – demonstração – ausência ................................................................2348, 216

temPO de ServiçO

•Tempo de serviço especial – agentes nocivos – ruído – eletricidade – agentes químicos – uso de EPI – irrelevância – reconhecimento ...2349, 218

CLIPPING JURÍDICO

• Indígenas menores de 16 anos podem receber salário-maternidade ...........................................230

•Suspenso na 1ª Turma julgamento sobre paga-mento a aposentados do Banespa ......................229

•Suspensos processos sobre extensão do adicio-nal para aposentados que dependem de assis-tência ................................................................227

•Tribunal determina divisão igual da pensão por morte entre viúva e ex-mulher ...........................229

•Tribunal garante benefício à companheira de se-gurada falecida ..................................................228

•Tribunal nega aposentadoria rural por não cum-primento de exigências previstas em lei .............227

TABELAS PRÁTICAS ............................................. 224

ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ..................... 232