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Iterra 02.pdf · Produção: Instituto de Educação Josué de Castro Projeto gráfico, diagramação e capa: Zap Design Ilustração da capa: Sérgio Ferro

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Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária

ITERRA

Instituto de Educação Josué de Castro PROJETO PEDAGÓGICO

Produção: Instituto de Educação Josué de Castro

Projeto gráfico, diagramação e capa: Zap Design

Ilustração da capa: Sérgio Ferro

Todos os direitos reservados ao ITERRA. 2ª edição - junho de 2007

Distribuição gratuita

Impressão e Acaharm:mo: Maxprim Edirnr~1 e c;r:ifica Ltda.

ITERRA - Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária

Rua Princesa Isabel, 373 Cx. Postal, 134 95330-000 - Veranópolis - RS Fone/Fax: (54) 3441-1755 Correio eletrônico: [email protected]

Sumário

Apresentação

Por que Josué de Castro

Educandos do IEJC

Educadores do IEJC

Objetivos gerais

Concepção de educação e de escola

Projeto de formação do ser humano

Organização curricular.

Mécodo Pedagógico.

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O Instituto de Educação Josué de Castro - IEJC tem como mantenedora o Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária - !TERRA, vinculado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e comprometido com seu projeto político e pedagógico. Tem sua sede e funcionamento atual no município de Veranópolis, Rio Grande do Sul.

O IEJC se constitui como uma escola de educação média e profissional, combinando objetivos de educação geral, escolarização e formação de militantes e técnicos para atuação no MST. Seu funciohamento está organizado em torno de cursos formais de nível médio, de educação profissional e de formação de professores, criados 'a partir de demandas apresentadas pelos diversos setores do MST. Cada curso desenvolvido no IEJC tem uma coordenação colegiada, composta pela equipe interna de educadores e pessoas designadas pelo Setor do MST que apresentou a demanda do curso.

O IEJC começou a funcionar em janeiro de 1995, junto com o !TERRA, acolhendo as Turmas 1 e 2 do "Curso Supletivo de 2º grau, Técnico em Administração de Cooperativas - TAC", que o MST já desenvolvia desde 1993 através de uma parceria com a Fundação de Desenvolvimento e Pesquisa da Região Celeiro - FUNDEP, em seu Departamento de Educação Rural- DER, Escola "Uma Terra de Educar", com sede em Braga, RS. Sua primeira legalização como escola específica aconteceu em junho de 1997, na época com a designação de "Escola de Ensino Supletivo Josué de Castro", daí já abrigando também o "Curso Experimental de Formação de Professores de 1 ª a 4ª série do Ensino Fundamental", conhecido internamente como Curso Magistério do MST, e que também teve sua experiência iniciada junto com a FUNDEP/DER, no ano de 1990. 1

1 l nformaçõcs mais detalhadas sobre a história do !TERRA e do IEJC poderão ser encon tradas cm:

Cadernos tÚJ !TERRA n.• 1. !TERRA: Memória Cronológica, fevereiro de 2001.

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A atual designação de Instituto de Educação foi oficializada eni janeiro de 2001, atendendo a exigências da legislação, em especial a que regulamenta a oferta do atual Curso Normal de Nível Médio, nova designação do Curso de Magistério. A propósito destas alterações, o IEJC está fazendo, junto com a Mantenedora, a atualização necessária em seu projeto pedagógico, que faz constar neste documento.

Os cursos formais que se desenvolvem no IEJC são fruto de necessidades do processo histórico da luta pela Reforma Agrária e dos sujeitos sociais que vêm se constituindo neste processo. Podem deixar de ser ofertados no momento em que estas necessidades desaparecerem ou forem transformadas em novas demandas, dando origem a outros cursos, e a novas adequações em seu projeto pedagógico. Trata-se de assumir, também do ponto de vista estrutural e organizativo, a condição de uma escola em movimento e do Movimento.

Ao mesmo tempo em que flexibiliza a oferta de seus cursos de longa duração, o IEJC também tem presente a importância de cultivar sua identidade pedagógica específica: trabalhar a educação e a escolarização de jovens e adultos do campo, vinculados a movimentos e organizações sociais de trabalhadores. E tratando-se de um Instituto de Educação, voltar­se de uma maneira especial para a prática e a reflexão sobre as questões pedagógicas e metodológicas que dizem respeito à complexa tarefa da formação humana em todos os cursos e atividades realizadas. Nesta perspectiva o Curso Normal, e o conjunto de atividades de formação de educadores, têm um papel catalisador e sistematizador desta preocupação no conjunto do IEJC e do !TERRA.

Também acontecem no IEJC atividades de formação de mais curta duração como seminários, oficinas e cursos livres de qualificação profissional, geralmente combinando objetivos de capacitação técnica e de formação geral, sempre voltados à filosofia de educação da Mantenedora.

As demandas de escolarização e de formação específicas de jovens e adultos da comunidade de Veranópolis e região são analisadas pela Direção da Mantenedora e, havendo as condições necessárias, atendidas pelo Instituto. O IEJC também está aberto à discussão do atendimento de demandas de outros movimentos e organizações sociais do campo.

Este documento apresenta o projeto de educação ou de formação humana do IEJC, e corno isto se traduz na forma de funcionamento ou na organização curricular da escola, e na atuação pedagógica do conjunto de seus sujeitos. Foi elaborado a partir da reflexão da prática de seus educandos, educandas, educadoras e educadores, e dos novos desafios políticos e pedagógicos que o atual momento histórico nos ajuda a perceber. A sistematização aqui apresentada é obra do Coletivo Político Pedagógico do Instituto.

Há outros documentos que se desdobram deste. Em relação ao funcionamento geral do Instituto há outros três documentos: Regimento

Escolar e Regimento Interno; e Plano de Formação Geral dos Educadores. Em relação a cada curso são dois documentos desdobrados deste: o Projeto Pedagógico do Curso (PROPED Curso), e o Plano de Curso ou Plano de Estudos, conforme orientação da legislação em vigor. A operacionalização metodológica está registrada em outros cinco documentos: Plano Anual de Atividades Pedagógicas, Plano de Produção, Projeto Metodológico da Etapa (PROMET); Plano Mensal de Formação; e Programa Semanal de

Atividades.

Coletivo Político Pedagógico. Veranópolis, fevereiro de 2001.

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1. Por que Josué de Castro

O nome do Instituto é uma homenagem ao médico, geógrafo e sociólogo Josué Apolonio de Castro, que nasceu em Recife, próximo aos mangues, no ano de 1908 e morreu no exílio, em Paris, no ano de 1973, e que sempre foi um ardoroso defensor da Reforma Agrária no Brasil.

Josué de Castro foi um dos filhos mais nobres de nossa Pátria. Foi um homem completo e totalmente dedicado às causas do povo. Estudi­oso e conhecedor profundo da realidade brasileira, colocou desde o prin­cípio seus conhecimentos científicos a serviço da defesa da vida e da justi­ça social. Foi reconhecido nacional e internacionalmente como um im­portante cientista. Esteve adiante de seu tempo ao pesquisar e denunciar as verdadeiras causas da fome, identificando na forma de distribuição do uso da terra, uma de suas causas fundamentais. Seus livros "Geografia da Fome" e "Geopolítica da Fome" transformaram-se em clássicos do deba­te da questão da fome no Brasil e no mundo, sendo o primeiro traduzido em mais de quinze idiomas.

Josué de Castro foi presidente da FAO (Organização das Nações Uni­das para a Agricultura e a Alimentação) entre 1952 e 1956, e presidente do comitê da Campanha Mundial de Luta contra a Fome em 1960. A partir de 1962 foi nomeado embaixador do Brasil junto a diversos orga­nismos internacionais da ONU em Genebra, na Suíça. Com o Golpe Militar de 1964 teve seus direitos políticos cassados e ficou exilado na França até 1973, quando lá faleceu.

Josué de Castro defendia a necessidade da Reforma Agrária como forma de acabar com a fome e a miséria do nosso povo. E ele sabia que para levar adiante esta luta era preciso que o próprio povo pobre do cam­po fosse o primeiro a se organizar. Por isso foi um grande incentivador da organização camponesa e contribuiu diretamente com as Ligas Campo­nesas do Nordeste, ajudando na realização de seu primeiro Congresso que aconteceu em Recife, Pernambuco, em 1955.

Nosso Instituto de Educação quer ajudar a manter viva sua memória e continuar sua obra, motivando educandos e educadores à participação nas lutas pelas transformações sociais, e ao estudo comprometido com a diminuição da miséria humana. 2

2 Uma síntese sobre as obras e a biografia de Josué de Castro pode ser encontrada no livro: Fernandes, Bernardo Mançano e Walter, Carlos. Josué de Castro vida e obra. Sáo Paulo: Expressão Popular, 2000.

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2. Educandos do IEJC

O IEJC recebe predominantemente educandos e educandas jovens e adultos trabalhadores, homens e mulheres do campo, vinculados aos acampamentos e assentamentos de Reforma Agrária, com predomínio de origem dos estados do centro sul do país. Todos são indicados por coletivos e instâncias ligadas à Mantenedora. Por isso trazem ao Institu­to necessidades, expectativas e responsabilidades não apenas pessoais, mas também do grupo ou do coletivo que discutiu sua presença aqui.

Em cada Curso há traços diferenciados no perfil, e isto deve ser ana­lisado quando do ajuste metodológico feito em seu projeto pedagógico no início de cada turma.

De modo geral costuma haver uma combinação entre dois perfis de educandos que chegam ao IEJC: adultos com uma longa experiência de trabalho no campo e de militância no MST e que não tiveram condições anteriores de escolarização e de formação técnica, sendo isto o que bus­cam principalmente no IEJC; são educandos que já experimentaram com bastante intensidade a Pedagogia do Movimento, embora ainda sem ter teorizado sobre isso.

O outro perfil é o de educandos mais jovens, filhos de famílias assen­tadas e ou recentemente acampados, e que há pouco concluíram o ensino fundamental, geralmente com pouca inserção na organicidade do MST, e com menos vivências da Pedagogia do Movimento; nem sempre chegam sabendo o que precisam e pretendem em relação à sua formação. O que esperam é encontrar uma "escola diferente" que vai ajudá-los a se capacitar para atuar no Movimento.

Nos últimos anos tem havido uma tendência de predomínio nas tur­mas deste segundo perfil, o que vem exigindo reflexões pedagógicas espe­cíficas em cada Curso.

Os educandos e as educandas de cursos solicitados pela comunidade de Veranópolis e região são também jovens e adultos trabalhadores, ho­mens e mulheres, geralmente com sua vida e trabalho atual na cidade, e que buscam junto ao IEJC uma oportunidade de escolarização, demanda não suprida pelo sistema público de educação a que têm acesso.

3. Educadores do 1 EJC

São considerados educadores no IEJC todas as pessoas que desenvol­vem tarefas ou funções de condução e de implementação deste projeto pedagógico.3 Isto inclui: os trabalhadores e as trabalhadoras permanentes do IEJC, que atuam em suas diferentes unidades de produção e serviço e que integram o coletivo responsável pelo acompanhamento do processo pedagógico; seu quadro de professores e professoras; as pessoas designadas pelos Setores do MST e pela Mantenedora para acompanhamento espe­cífico de cada curso, e ou do conjunto das atividades pedagógicas do IEJC;

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e os educandos e as educandas, sempre que estiverem no cumprimento de

tarefas desta natureza. Os educadores do IEJC são homens e mulheres, jovens e adultos

vabalhadores, com perfis bastante diferenciados, muitos deles já forma­dos pelos cursos do próprio IEJC, e todos com algum tipo de vinculação

com as lutas do povo. São critérios para escolha e permanência dos educadores no IEJC es-

pecialmente os seguintes: - adesão criativa ao seu projeto pedagógico; -qualificação em sua área de atuação; e - postura coerente com o perfil de educador que o IEJC se propõe a formar.

O IEJC terá um Plano de Formação específico para seus educadores.

3 Do ponto de vista da concepção de pedagogia que defendemos todos os panicipantes do processo pedagógico da escola são a um só tempo educandos e educadores, à medida que aprendem e ensinam nas relações que constroem entre si, mediatizados pelo mun­do. (Paulo Freire) E no IEJC costumamos dizer que a primeira condição para ser educa­dor aqui é assumir a postura de educando no processo, e também na relação com o educador maior que é o próprio Movimento. A distinção que apontamos neste item e no anterior diz respeito à necessária diferenciação de papéis e tarefas na condução do pro-

4 cesso pedagógico da escola.

O IEJC tem como característica a presença permanente de educadores do MST: alguns integram seu quadro permanente; outros alternam tarefas no Instituto e em outros locais, acompanhando atividades específicas e, em alguns casos, ajudando na reflexão do processo pedagógico como um todo. Isto traz mais complexidade ao cotidiano pedagó­gico do Instituto, e requer uma intencionalidade específica no jeito de organizar a atuação dos educadores e fazer a sua formação.

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4. Objetivos gerais O IEJC, inserido no sistema educacional brasileiro e num projeto de

desenvolvimento do campo e de país, tem como objetivos gerais especial­mente os seguintes:

a) Promover a escolarização e a formação profissional de jovens e adultos do meio rural.

b) Proporcionar um ambiente educativo que desenvolva integralmente os educ2.ndos, como pessoas, como profissionais e como sujeitos sociais e históricos.

c) Proporcionar vivências e exercícios práticos de trabalho cooperati­vo e de educação para a cooperação.

d) Desenvolver cursos e atividades de educação de jovens e adultos e de formação e qualificação profissional que atendam às demandas de desenvolvimento do campo brasileiro, numa perspectiva de justiça social e dignidade para todos.

e) Formar educadores sensíveis e qualificados para atuação política e pedagógica em escolas públicas do campo, em especial nas escolas dos assentamentos de Reforma Agrária.

A finalidade principal do Instituto é participar de um projeto de humanização das pessoas que ajude também a formar os sujeitos sociais da construção de um projeto de desenvolvimento do campo e de país comprometido com a soberania nacional, com a Reforma Agrária e ou­tras formas de desconcentração da renda e da propriedade, com a solidari­edade, com a democracia popular e com o respeito ao meio ambiente.

Um projeto que deverá incluir necessariamente transformações cul­turais e uma nova forma de pensar e de fazer a educação e a escola do povo, do campo e da cidade, onde o próprio povo seja o sujeito condutor de seu projeto de formação humana.

5. Concepção de educação e de escola O Instituto tem por filosofia os seguintes princípios: (a) Educação de

qualidade social para todos; (b) compromisso com a educação básica do campo; (c) educação que ajude a preparar os sujeitos das transformações sociais; (d) educação voltada para as várias dimensões da pessoa humana; (e) educação que cultiva valores humanistas; (f) educação para o trabalho e a cooperação; (g) educação como processo permanente de formação e transformação humana.

O IEJC assume como orientação de suas práticas educacionais as re­flexões e a elaboração teórica sobre pedagogia e sobre organização e práti­cas alternativas de desenvolvimento social do campo, produzida nos últi­mos 17 anos pelo MST e expressas no conjunto de materiais e documen-

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tos editados ou trabalhados pelo Movimento. 5 Também nos vinculamos ao Movimento Nacional por Uma Educação Básica do Campo, parti­lhando de suas análises e proposições pedagógicas e políticas.

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O IEJC se entende como uma escola do povo d<J campo, vinculada a um Movimento Social de luta pela Reforma Agrária no Brasil. Uma es­cola pública não estatal, com a participação dos educandos jovens e adul­tos em sua gestão, e orientada pela Pedagogia do Movimento, que tem a formação do ser humano histórico como centro, e o movimento como

princípio educativo.

6. Projeto de formação do ser humano

a) Concepção e princípios gerais Entendemos que a grande finalidade da educação é a humanização

das pessoas, e que a escola precisa ser trabalhada como um lugar de forma­ção humana, assumindo a complexidade, o movimento e a incompletude inerentes a esta tarefa. Neste sentido um projeto pedagógico é um projeto de ser humano, ou seja, uma intencionalidade consciente e explícita em relação ao ser humano que queremos ajudar a formar, com que valores e postura diante do mundo, através da nossa prática coletiva de educador, e dos inúmeros detalhes e escolhas que compõem o cotidiano pedagógico

da escola. Nesta perspectiva, há alguns princípios básicos que orientam especi-

ficamente a ação pedagógica do/ no IEJC: 1 º) O ser humano é histórico. Não há ser humano pronto, plena-

mente humanizado. Ele está em contínua transformação e seu processo de humanização acontece na relação com os outros seres humanos em uma sociedade determinada, e no movimento (tensão) permanente entre

humanização e desumanização.

5 Ver especialmente a elaboração que está no Caderno de Educação n.o 8: Princípios da Educação no MST. MST, 1996; no Caderno de Educação n. 0 9: Como fazemos a escola de educação fundamental. MST, 1999; na Coleção Pra soletrar a Liberdade n.º 1: Nossos valores. MST, 2000; no Pra Soletrar a Liberdade n.º 2: Somos Sem Terra. MST, 2001; no livro de Roseli Salete Caldart, Pedagogia do Movimento Sem Terra, Vozes, 2000; no livro deAdemar Bogo, Lições da Luta pela Terra, Memorial das Letras, 1999; no Caderno preparatório ao 4° Congresso Nacional do MS1: Reforma Agrária: por um Brasil sem latifúndio! editado pelo MST em 2000; na dissertação de mestrado de Pedro l van C hristoffoli, O desenvolvimento de cooperativas de produção coletiva de trabalhadores rurais no capitalismo: limites e possibilidades, UFPR, 2000; e nos textos: Nossa política para os Assentamentos -A sociedade que queremos, Concrab novembro de 1999; Os assentamentos na luta pela Reforma Agrária, Concrab abril de 2001

6 Ver a coleção Por uma educação bdsica do campo, especialmente os números 1, 2 e 3, editados em 1999 pelo MST, CNBB, UnB, Unicef e Unesco.

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2°) O desenvolvimento pleno do ser humano é obra de uma intencionalidade pedagógica coletiva e acontece em qualquer tempo da vida, tendo em cada um deles algumas características próprias que preci­sam ser consideradas pela coletividade educadora.

3º) É preciso orientar nossa intencionalidade pedagógica para a for­mação de seres humanos que se construam como sujeitos sociais e políti­cos, dispostos à tarefa de transformar-se e humanizar-se enquanto trans­formam e humanizam o mundo em que vivem; sujeitos históricos que assumem a identidade de lutadores do povo e de militantes de organizações que ajudam a construir uma existência social de dignidade e justiça para todos.

4°) A escola não pode ser vista como lugar privilegiado ou único de formação humana. Em nosso caso, a Pedagogia do Movimento que for­ma os sujeitos Sem Terra é muito maior do que a escola. A escola precisa aprender com os processos de formação que acontecem fora dela, no mundo da produção, no mundo da luta social, no mundo da cultura, e construir um método pedagógico vinculado ao movimento desta forma­ção mais ampla, que é social, histórico, pedagógico.

5º) Para ajudar neste processo de formação humana, a escola precisa assumir como lógica de atuação educativa e de seu próprio funcionamen­to o movimento dialético entre teoria e prática7 e a relação entre a tr~s­formação da existência social (coletiva) dos educandos e sua (trans)formação como pessoas.

6°) Defendemos uma pedagogia da atividade humana que transfor­me e produza as relações sociais capazes de educar as pessoas dentro de valores humanos e de um projeto histórico. Não se trata, pois, de pensar o processo de formação desenvolvido na escola como preparação das pes­soas para uma ação futura de transformação, mas sim de conceber o pro­cesso pedagógico como impulso e organização da participação das pessoas em ações transformadoras e produtoras de relações sociais capazes de educá­las do modo mais humano e histórico possível.

b) Dimensões da formação.

Para melhor desenvolver nosso projeto pedagógico, entendemos que é necessário buscar especificar as dimensões da formação humana a serem

7 No sentido da práxis, unidade encre teoria e prática de que nos fala Paulo Freire: ambas se

vão constituindo, fazendo-se e refazendo-se num movimento permanente no qual vamos da prdtica à teoria e desta a uma nova prdtica ... (Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 8ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. l 09) Ação e reflexão como momen­tos que não existem, em termos autênticos, a não ser como unidade e como processo, qualquer deles que, em certo instante, seja o ponto de partida, não apenas requer o outro mas o contém ... (p. 135)

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trabalhadas prioritariamente pelo Instituto. Estas dimensões que estamos indicando a seguir certamente não esgotam toda a complexidade do pro­cesso de formação humana e nem acontecem de forma estanque. Como se trata de um movimento educativo, sempre aparecerão dimensões no­vas, ou exigências de maior ênfase em algumas delas, e necessariamente sua prática será entrelaçada. O destaque tem em vista nos ajudar como educadores a planejar nossa estratégia pedagógica e dinamizar o ambiente educativo.

Estas dimensões são, na verdade, os parâmetros da escolha das práti­cas, da definição dos tempos e espaços educativos de cada curso e tam­bém, das decisões sobre o processo de avaliação dos educandos e dos edu­cadores. E é importante ter presente também que não existe uma hierar­quia de importância entre as diversas dimensões: somente combinadas é que significam educação, humanização, formação de militantes, de edu­cadores, de técnicos.

As dimensões que temos discutido no IEJC como especialmente im­portantes e que levam em conta também o momento histórico em que vivemos são as seguintes:

1 ª) Formação política e ideológica. O MST quer educar seres humanos que também sejam militantes da

causa da transformação do mundo. E não se chega a ser, de fato, militante de uma organização com objetivos de transformação sem desenvolver cons­ciência polítíca e firmeza ideológica. Consciência política é o que nos exige participar das lutas sociais por um mundo melhor e que nos desafia a relaci­onar as ações do dia a dia com esta participação e com um projeto político que a sustenta e constrói. Firmeza ideológica quer dizer clareza e defesa intransigente dos interesses de classe e da organização, diante de qualquer situação ou embate. Juntas misturam valores, convicções, sentimentos, iden­tidade coletiva, com um conhecimento profundo da realidade em que se vive, suas relações e seu movimento histórico. E com uma atitude perma­nente de crítica e autocrítica, e de abertura ao novo, sem sectarismos nem autoritarismos de nenhuma versão.

O IEJC quer ajudar a politizar o cotidiano dos educandos Sem Terra e trabalhar sua firmeza ideológica, para que consigam fazer de suas ações e questões do dia a dia, práticas que se somem na luta maior, no projeto maior. Temos um grande desafio de mais coerência entre o que aprende­mos nas grandes lutas e o que fazemos nos detalhes cotidianos da produ­ção, da educação, do relacionamento entre as pessoas, nas famílias, na relação com os demais seres da natureza. Politizar o cotidiano quer dizer aprender a relacionar uma coisa com outra, e em cada atividade realizar o projeto, a utopia em que afirmamos acreditar, e que nos move. Para isto é preciso muita atenção ao estudo científico da realidade social do país e do mundo, intencionalidade no diálogo sobre estas relações e sobre nossa

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postura de classe; participação concreta em ações que trabalhem a perten­ça à organização e à classe trabalhadora, e exercício permanente de crítica e autocrítica.

2ª) Formação de valores e educação da sensibilidade. Numa escola pensada como lugar de formação humana os valores

passam a ter lugar central. Valores são princípios e convicções de vida; aquilo pelo qual uma pessoa considera que vale viver. São valores que movem nossas práticas, nossas escolhas, nossa vida, nosso ser humano. São valores que produzem nas pessoas a necessidade de viver pela causa da liberdade e da justiça.

O IEJC quer ajudar na educação da sensibilidade de seus educandos para a dimensão dos valores; busca trabalhar as relações sociais e afetivas entre as pessoas nesta perspectiva; tenta fazer com que em seu dia a dia, educandos e educadores recuperem e cultivem valores humanos como a solidariedade, a lealdade, o companheirismo, o espírito de sacrifício pelo bem do coletivo, a liberdade, a sobriedade, a beleza, a disciplina, a indig­nação diante das injustiças sociais e das di~criminações e preconceitos de todos os tipos, o compromisso com a vida, com a terra e com a identida­de Sem Terra. Quer fazer também um combate explícito aos (anti) valo­res capitalistas desumanizadores, especialmente o individualismo, o ego­ísmo, o consumismo e a apatia social.

3") Cultivo da identidade Sem Terra. Costuma chamar muita atenção nas ações do MST o brio das pesso­

as que dele participam. Este brio, ou sentimento de dignidade se produz à medida que estas pessoas aprendem a ser Sem Terra e a ter orgulho deste nome. E ao assumir esta identidade social, coletiva: somos Sem Terra, so­mos do MST, as pessoas aos poucos vão descobrindo também outras di­mensões de sua identidade pessoal e coletiva: somos trabalhadores, somos camponeses, somos mulheres, somos negras, somos jovens, somos edu­cadoras. São novos sujeitos que se formam e que passam a exigir seu lugar no mundo, na história; sabem que podem e devem lutar pelo direito de ser humano, onde estiverem, com quem ou contra quem estiverem.

O IEJC se sente responsável pela continuidade da formação da iden­tidade Sem Terra entre seus educandos e educadores, ajudando as novas gerações no cultivo desta pertença a uma organização e a uma coletividade como é o MST. Também quer ajudar na sensibilização do conjunto da sociedade para o jeito de ser humano que o Movimento projeta em suas ações e através das bandeiras de luta que empunha.

4•) Cultivo da memória e aprendizado da história. A terra guarda a raiz, diz uma das canções do MST. A escola também

pode guardar a raiz do Movimento, ajudando no cultivo da memória do

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povo e na formação de sua consciência histórica. Foi aprendendo do pas­sado que o MST se fez como é: aprendendo dos lutadores que vieram antes, cultivando a memória de sua própria caminhada. 8 A história se faz projetando o futuro a partir das lições do passado cultivadas no presente. E não há como se manter como um lutador do povo sem uma perspecti­va histórica.

O IEJC quer ajudar a cultivar a memória do MST e do conjunto das lutas populares e se sente responsável pela formação da consciência histórica de seus educandos e educadores. Isto implica em desenvolver alguns aprendizados básicos: compreender a nossa própria vida como parte da história; respeitar as lições da história; aprender a ver cada ação ou situação numa perspectiva histórica, quer dizer, em um movimento entre passado, presente e futuro, e compreendê-las em suas relações com outras ações, situações, uma totalidade maior. O IEJC também quer se desafiar a encontrar métodos adequados de fazer o estudo da história, de modo que ele passe a ser uma necessidade e um prazer, fazendo do próprio dia a dia da escola uma oficina de fazer e aprender história.

5ª) Capacidade de estudo e pesquisa. O estudo é um dos princípios organizativos do MST; é o princípio

que reforça a importância do conhecimento: quem não conhece a realida­de não consegue participar como sujeito de sua transformação. Mas tam­bém nos indica que não se trata de qualquer conhecimento; nem do co­nhecimento pelo conhecimento. Precisamos da ciência que nos ajuda a diminuir a miséria humana (Brecht); que dê ao povo ferramentas de li­bertação da sua opressão (Paulo Freire); que seja um modo de resolver nossos problemas de ser humano Qosé Marcí).

O IEJC quer desenvolver em seus educadores e educandos o valor da apropriação e produção séria de conhecimentos e o valor dos diversos tipos de conhecimentos. Quer ajudar a construir métodos de estudo e a desenvolver postura e habilidades de pesquisa. Quer desenvolver o hábito da leitura e a capacidade de análise da realidade. O IEJC também desafia seus educadores e educandos para que busquem construir, coletivamente, métodos de ensino que garantam o aprendizado não apenas dos conheci­mentos em si mesmos, mas do modo de produzi-los; e um modo capaz de apreender a complexidade cada vez maior das questões da realidade (local, nacional, mundial, global ... ) em que vivemos.

8 Para melhor conhecer a história do MST é importante ler especialmente: Stédile, João Pedro e Fernandes, Bernardo Mançano. Brava gente. A trajetória do MST e a luta pela terra no Brasil São Paulo: Perseu Abramo, 1 999, e Fernandes, Bernardo Mançano. A fannaçáo do MST no Brasil Petrópolis: Vo7.es, 2000.

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6") Formação técnica e profissional. As pessoas se humanizam ou se desumanizam, se educam ou se

deseducam através do trabalho e das relações sociais que estabelecem entre si no processo de produção material de sua existência. O trabalho é certamen­te a dimensão da vida que mais profundamente marca o jeito de ser de cada pessoa. É a dimensão que nos identifica como ser humano, como cultura e como classe. Por isso não deve ficar fora da intencionalidade pedagógica dos educadores, em cada um dos espaços em que se projete formação humana. E existe uma formação específica a ser desenvolvida para a inserção criativa das pessoas no mundo do trabalho.

O IEJC surgiu para formar trabalhadores e militantes que tenham capacitação técnica e profissional específica e de qualidade nas áreas de atuação projetadas pelos diversos cursos. Quer portanto ajudar a desen­volver conhecimentos, habilidades, métodos e posturas necessárias aos novos processos de trabalho que vêm sendo produzidos na luta pela Re­forma Agrária, ao mesmo tempo que quer cultivar o valor do trabalho e fazer dele um de seus métodos de educar seres humanos.

7ª) Formação organizativa. A base da formação organizativa no MST está no enraizamento das

pessoas em uma coletividade e na formação que permite compreender que a força social e política das ações das pessoas está na força organizativa da sua coletividade,9 ao mesmo tempo em que a força da coletividade está na atuação de cada pessoa. A partir daí a intencionalidade pedagógica do Movimento pode levar (ou pode consolidar) ao aprendizado mais profundo de uma postura diante da vida, do mundo, que é: diante de uma situação-problema é preciso organizar-se e agir reflexivamente para resolvê-la; na dúvida aja! em vez de imobilismo, organização e ação. E se o problema for de privação de direitos do ser humano, a ação deve ser de luta social.

O IEJC projeta uma intencionalidade pedagógica específica nesta di­mensão. Quer ajudar nos aprendizados que permitem à pessoa ir mais além da constatação dos problemas e da postura crítica a uma determina­da situação, chegando à proposição de soluções e à organização necessária para implementá-las. Estes aprendizados se relacionam à capacidade de análise das relações de interdependência que existem entre as diversas sim-

9 Coletividade no sentido desenvolvido por Ancón Makarenko: a coletividade é um organis­mo social vivo que é assim porque tem órgãos, poderes, responsabilidades, correlação entre suas partes, interdependência; se não há nada disso, ná() é uma coletividade mas tão somente uma multidão ou uma agwmeraçiio de pessoas. La colcccividad y la educación de la personalidad, Progresso, 1977, p, 79.

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ações que compõem a realidade e que se materializam também nas rela­ções entre as coisas, as ações, as pessoas. Para ajudar neste tipo de aprendi­zado o IEJC precisa proporcionar aos seus educandos e educadores o envolvimento em ações organizadas, que tornem explícita a interdependência entre as partes, pela avaliação necessária dos resultados da atuação do coletivo e de cada pessoa.

8ª) Formação econômica e administrativa. Uma das dimensões da luta do MST é a inserção das famílias dos tra­

balhadores sem-terra em novos processos econômicos, ou novas relações sociais de produção, distribuição e apropriação de bens e serviços n~essári­os ao desenvolvimento humano, sem cair no desvio do economicismo. E o movimento de construção coletiva destes processos econômicos, que co­meça no acampamento e se aprofunda no desafio de viabilização dos assen­tamentos, é uma das pedagogias da formação dos Sem Terra, que ao mes­mo tempo se produz como demanda de formação específica a ser trabalha­da nas atividades de educação do Movimento. Trata-se do desafio pedagó­gico de desenvolver nos trabalhadores do campo a capacidade de compre­ensão e de inserção ativa em processos econômicos mais complexos, e que exigem uma visão de sistema, ou seja, um raciocínio capaz de perceber rela­ções e de ter visão de conjunto; também capaz de se antecipar aos proble­mas pela análise das implicações de médio e longo prazo de cada ação ou decisão a ser tomada.

O IEJC quer ajudar na formação econômica de seus educadores e de seus educandos, e também desenvolver através de seus cursos algumas habilida­des básicas de gestão e administração de empreendimentos coletivos. Pretende fuzer isso propiciando sua participação reflexiva nos processos econômicos de sustentação da escola, e incluindo em seu planejamento pedagógico algumas práticas econômicas suficientemente complexas para exigir estas habilidades específicas e dar condições para o avanço do nível atual de formação econô­mica de seus educandos e educadores.

9ª) Formação pedagógica. No processo de humanização dos sem-terra e da construção da iden­

tidade Sem Terra, o MST vem produzindo uma pedagogia, ou seja, um jeito de fazer e de pensar a educação das pessoas, a formação do ser huma­no. Também vem experimentando e refletindo sobre como isto pode ser traduzido num projeto específico de educação para as escolas do campo. Ter formação pedagógica significa ter domínio da arte de educar ou de formar pessoas, seja na escola ou em qualquer prática social que se desen­volva na perspectiva de humanização de seus participantes. Qualquer ação pode ser mais ou menos educativa, mais ou menos humanizadora e libertadora, dependendo do jeito que é realizada, conduzida.

O IEJC quer desenvolver a sensibilidade pedagógica e elementos des­ta arte de educar o povo, construindo também um método adequado de

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fazer trabalho de base, com todos os seus educandos, de todos os cursos, e quer aprofundar e desdobrar a reflexão específica da pedagogia escolar especíalmente com seus educadores e com seus educandos dos cursos de formação de professores. Para isso é preciso incluir uma intencionalidade própria na reflexão sobre o método pedagógico das diversas atividades do Instituto, bem como dar atenção ao estudo científico da pedagogia e suas relações.

10ª) Formação para o lúdico. Lúdico tem a ver com jogos, brincadeiras, divertimento, recreação,

lazer. Um dos aprendizados de quem participa do MST é o de misturar a dureza da luta pela terra e das condições de vida miserável que exigiram a entrada das pessoas nesta luta, com a capacidade de brincar, de se divertir, de olhar a vida de um jeito menos carrancudo, mais "esportivo". Apren­der a celebrar, a conviver, a jogar, também diante das derrotas que a dinâ­mica da vida de Sem Terra nos impõe. Misturar brincadeira com mística, com utopia e com alegria de viver, para tornar mais 'leve' a escolha de ser um lutador do povo, de vida inteira.

·O IEJC quer ajudar na formação desta dimensão do lúdico, que in­clui o aprendizado da brincadeira sadia, dos jogo~ cooperativos, da agen­da da gratuidade, que é aquela das atividades desinteressadas, ou de puro prazer de viver e de conviver com outras pessoas, com outros seres da natureza, com as obras culturais ... Quer também ajudar a construir alter­nativas de lazer sadio principalmente para a juventude Sem Terra. E aju­dar a cultivar uma postura diante da vida e da militância que deixe lugar, em qualquer idade, para o exercício do brincar, somado ao grande e per­manente exercício de ser feliz.

11 ª) Cuidado com a terra e com a vida. O MST entrou no novo século registrando num cartaz o que consi­

dera seus principais compromissos com a terra e com a vida: • amar e preservar a terra e os seres da natureza; • aperfeiçoar sempre nossos conhecimentos sobre a natureza e a agri­

cultura; • produzir alimentos para eliminar a fome da humanidade e evitar a

monocultura e o uso de agrotóxicos; • preservar a mata existente e reflorestar novas áreas; • cuidar das nascentes, rios, açudes e lagos e lutar contra a privatização

da água; • embelezar os assentamentos e comunidades, plantando flores, er­

vas medicinais, hortaliças e árvores; • tratar adequadamente o lixo e combater qualquer prática de con­

taminação e agressão ao meio ambiente; • praticar a solidariedade e revoltar-se contra qualquer injustiça, agres­

são e exploração contra a pessoa, a comunidade e a natureza;

• lutar contra o latifúndio para que todos possam ter terra, pão, estudo e liberdade;

• jamais vender a terra conquistada, ela é um bem supremo para as gerações futuras.

O IEJC quer ajudar na formação da postura de seus educandos e educadores diante destes compromissos buscando concretizá-los e aprofundá-los em seu cotidiano pedagógico. O IEJC quer educar para a postura de cuidado, naquele sentido que nos explicou Leonardo BofPº: cuidar da terra, cuidar das sementes que fecundam a terra, cuidar da nossa saúde, cuidar da vida em todas as suas formas, quer dizer mais do que uma tarefa; trata-se de uma atitude pessoal e coletiva de ocupação, de preocupação, de responsabilidade e de envolvimento afetivo com o outro ser que precisa de cuidado. Educandos e educadores precisam aprender isso juntos.

7. Organização C!Jrricular

a) Forma de organização dos cursos do IEJC Os cursos do IEJC estão organizados em etapas, cada uma constitu­

ída de dois grandes Tempos, o Tempo Escola e o Tempo Comunidade. O Tempo Escola é o tempo de presença direta dos educandos no

IEJC para desenvolvimento do conjunto de atividades do Curso e parti­cipação no processo pedagógico geral do Instituto. Este tempo é organi­zado através de tempos educativos menores conforme estratégia pedagó­gica definida em cada momento. É um tempo que varia de um a três meses, dependendo das características de cada curso e da agenda geral de atividades do IEJC.

O Tempo Comunidade é o tempo de retorno ou de presença direta dos educandos no dia a dia dos acampamentos e assentamentos realizando tarefas delegadas pelo IEJC e ou pelas instâncias do MST responsáveis pelo seu acompanhamento neste Tempo. Combina atividades de estudo com a participação direta nas ações do Movimento, continuando ou iniciando a realização das tarefas para ou pelas quais os educandos estão no seu Curso específico, e atendendo as demandas específicas de trabalho em cada local. A orientação é que, na medida do possível, se mantenha a organização do dia em tempos menores, continuando o aprendizado de organização pesso­al desenvolvido durante o Tempo Escola. É um tempo que varia entre dois

1º Em seu livro Saber cuidar ética do humano - compaixão pela terra. 2ª ed., Petrópolis: Vozes, 1999.

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e quatro meses, dependendo das características de cada curso e da agenda de atividades do IEJC.

Os cursos oferecidos à comunidade de Veranópolis e região têm uma organização de tempo diferenciada, de acordo com as características espe­cíficas destes educandos. Em geral as atividades se desenvolvem ao longo do ano, em um dos ~umos do dia.

b) Forma de organização da coletividade escolar Um dos princípios de nossa pedagogia é o da inserção de educandos e

educadores em coletividades de que passam a ser os próprios construtores e gestores, numa combinação da dimensão educativa da convivência no coletivo e da participação ou gestão democrática da escola.

A matriz de organização da coletividade do IEJC é a forma de organi­zação do MST em seus acampamentos e ou assentamentos, traduzida para as dimensões específicas de uma coletividade escolar. Não se projeta uma estrutura fixa, mas sim a possibilidade do Instituto ir acompanhan­do o movimento de construção organizativa do MST, preservando os princípios que já foram consolidados em sua trajetória: unidade, discipli­na, participação e criatividade; nem individualismo nem coletivismo; nem democratismo nem autoritarismo; autonomia e liberdade respeitando a organização ou coletividade maior; firmeza nos princípios e flexibilidade nas formas de sua implementação.

e) Tempos Educativos Um dos aprendizados importantes que construímos em nossa traje­

tória diz respeito à organização dos tempos educativos da escola. Ela re­força um importante princípio de nossa pedagogia: escola não é só lugar de estudo, e menos ainda um lugar aonde se vai apenas para ter aulas, por melhor que elas sejam, ou devam ser. Se a escola é um lugar de formação humana, as várias dimensões da vida devem ter lugar nela, sendo trabalha­das de modo que se tomem educativas.

Para trabalhar as diversas dimensões da formação humana é preciso planejar outros tempos além das aulas; é preciso ter uma intencionalidade pedagógica em relação a outras práticas educativas ou situações de apren­dizado. Mas daí é preciso planejar coletivamente tempos para que elas aconteçam, e proporcionar aos educandos condições de gerir o tempo do processo educativo, estabelecendo prioridades e assumindo tarefas, metas e responsabilidades diante disso.

Ter um tempo para as aulas, um tempo específico para leitura, um tempo para o trabalho, para as oficinas, para a educação física, para o lazer etc, ajuda ao conjunto dos sujeitos do processo pedagógico a se dar conta dos diferentes aprendizados que precisam ser garantidos pela escola, bem como das diferentes didáticas que são necessárias para que cada aprendiza­gem aconteça. A organização dos tempos faz parte do planejamento da

escola e deve ser flexível à leitura do processo educativo em cada momen­to. No IEJC estes tempos são previstos no Projeto Metodológico das etapas de cada Curso.

d) Conteúdos e didáticas Conteúdos são basicamente os focos do estudo, da formação e ou do

aprendizado pretendido em cada componente curricular; e didáticas são as formas ou métodos específicos de desenvolver ou de conduzir ou orientar o aprendizado pretendido. Algumas orientações gerais sobre a escolha de con­teúdos e didáticas na prática pedagógica do nosso Instituto:

1 ª) A escolha dos componentes curriculares de cada Curso e os seus respectivos conteúdos e didáticas tem como parâmetros principais: as ca­racterísticas dos educandos e dos educadores envolvidos, as dimensões do nosso projeto de formação do ser humano, os objetivos específicos do Curso, o momento histórico em que o processo pedagógico se realiza e a legislação educacional em vigor.

2ª) O momento da elaboração do Projeto Metodológico de cada etapa do Curso (PROMET) inclui reflexão e planejamento específicos sobre os conteúdos e as didáticas de cada um dos tempos educativos me­nores previstos para este período de Tempo Escola. Cabe ao Coletivo de Acompanhamento Político e Pedagógico garantir sua implementação.

Y) A elaboração do Projeto Metodológico de cada etapa do Curso (PROMET) inclui também uma reflexão específica sobre os conteúdos de ensino (tempo aula) de modo a relacioná-los ao processo pedagógico mais amplo que está sendo vivido pelos educandos no Curso, tanto em seu Tempo Escola como em seu Tempo Comunidade. Ao Coletivo de Acompanhamento Político e Pedagógico cabe dialogar com os professo­res para garantir esta sintonia.

4ª) As didáticas do tempo aula precisam ser escolhidas em função dos aprendizados que se quer ajudar a construir. Não temos no IEJC uma opção específica de método de ensino, mas trabalhamos com algumas orientações metodológicas principais: (a) definir metas de capacitação ou aprendizados básicos para cada componente curricular ou atividades a ele relacionadas; (b) buscar desenvolver a relação prática-teoria-prática em duas dimensões básicas: que os educandos consigam vincular os aprendi­zados com as questões da sua vida em geral, e do seu trabalho e militância em particular, qualificando sua leitura da realidade; e, sempre que possí­vel, o componente inclua aprendizados ligados ao fazer, desenvolvendo habilidades, métodos e posturas; (c) utilizar didáticas que exijam a parti­cipação direta dos educandos: expressando opiniões, tomando posições, perguntando, realizando obras, apresentando o produto de suas leituras, pesquisas, ações; também ouvindo e se concentrando em exposições, lei­turas ou exercícios; nossas salas de aula e de estudo precisam ser lugares que alternem tempos de silêncio fecundo, para as leituras, estudos, refle-

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xões, produção de textos, e de discussões, debates, expressão acalorada de convicções, sentimentos, pontos de vista; (d) combinar ações ou ta­refas feitas em grupos e feitas individualmente, tendo presente os apren­dizados diferenciados que envolvem; (e) garantir a apropriação das fer­ramentas e não apenas dets conteúdos em si mesmos: aprender como se aprende, construir métodos de estudo, de trabalho em equipe são apren­dizados importantes para que os educandos se assumam como sujeitos de seu próprio processo de formação e o continuem depois que saírem do Instituto.

5") Uma reflexão sistemática sobre estas questões deve integrar o pla­no de formação de nossos educadores, e ter um lugar especial em nosso Curso Normal.

Em cada Projeto Pedagógico de Curso (PROPED Curso) devem cons­tar orientações específicas sobre a escolha dos conteúdos e das didáticas voltadas ao foco de formação profissional pretendida.

e) Processo de avaliação A avaliação do IEJC é feita de forma periódica através de todas as

instâncias que participam da sua gestão: coletivo das turmas de educandos, coletivos de educadores, coordenações, direção e órgãos colegiados da Mantenedora, setores do MST. O período de realização de atividades específicas de avaliação do Instituto integra o seu planejamento anual.

Na avaliação são considerados todos os aspectos de funcionamento do Instituto e a atuação de todos os segmentos na concretização do proje­to pedagógico. Tem como principais objetivos: dar elementos para que todas as pessoas envolvidas no processo pedagógico possam superar suas dificuldades e melhorar seu desempenho; promover os ajustes necessários no desenvolvimento do conjunto de práticas que integram o projeto pe­dagógico de cada curso.

A avaliação dos educandos é um processo sistemático, cumu­lativo e participativo de acompanhamento de todos os tempos e espa­ços educativos que são vivenciados no ambiente do IEJC ou por seu intermédio.

Esta avaliação abrange aspectos qualitativos e quantitativos de pelo menos três dimensões básicas: (a) crescimento da pessoa como ser huma­no, formação de seu caráter, valores, convivência solidária no coletivo, e participação no conjunto das atividades; (b) domínio de conhecimentos gerais, desenvolvimento intelectual e desempenho nas práticas que inte­gram o currículo; (c) desenvolvimento das competências básicas identificadas como perfil profissional esperado em cada curso.

Os critérios, as formas e os instrumentos de avaliação são discutidos e elaborados pelo Coletivo de Coordenação Pedagógica com a participa­ção dos educadores e dos educandos, sendo diversificados e flexíveis às demandas do processo pedagógico.

Os resultados da avaliação são expressos através de Parecer Descritivo. São considerados aprovados em cada etapa dos cursos os educandos que obtêm parecer descritivo favorável no conjunto das dimensões avaliadas, e nas competências definidas nos Planos de Curso e de Estudos.

8. Método Pedagógico Entendemos aqui por método pedagógico o jeito de colocar em mo­

vimento a formação humana desde as condições objetivas que encontra­mos em cada momento, curso, turma ou grupo de educandos, e as defi­nições pedagógicas que estão neste projeto.

O método pedagógico não tem uma definição ou receita prévia à prática. Construir o método de educar é a própria prática dos educadores e dos educandos envolvidos no processo. Mas, pela leitura das práticas que já desenvolvemos ou acompanhamos, é possível identificar alguns elementos ou aspectos básicos desta construção. São os seguintes:

a) Movimento Um dos aprendizados pedagógicos fundamentais que construímos

no MST é o do movimento como princípio educativo. Isto implica em algumas concepções básicas:

1 º) O movimento, que é a chave da interpretação dialética da histó­ria, também pode ser a chave da interpretação (dialética) dos processos de formação humana. E assim como precisamos compreender a lógica do movimento da história para poder levar adiante e de forma eficaz nossa luta política, também precisamos compreender a lógica do movimento da formação ou do desenvolvimento do ser humano para poder realizar nosso projeto pedagógico, que é exatamente o de formar sujeitos da trans­formação do mundo.

2°) O movimento é chave de leitura do processo educativo porque também pode ser seu motor pedagógico. No MST as pessoas se educam entrando (inclusive fisicamente) em movimento: movimento da luta so­cial, da distribuição de tarefas, da construção da organização; movimento do Movimento. E se pensamos em relação à realidade mais ampla, pode­mos afirmar também que as pessoas somente se educam se entrarem em movimento; ninguém se forma se ficar parado, e a estagnação é exata­mente a negação da formação.

3º) Para que se possa potencializar a dimensão educativa e política do movimento é preciso desenvolver a consciência do movimento e de sua relação com um projeto de sociedade e de ser humano. Cada pessoa e cada coletivo precisam compreender que fazem parte de um processo maior e aos poucos assumir a direção do movimento que realizam, pas­sando a impulsionar também o movimento de outras pessoas e de ou­tros coletivos.

Transformando isto em estratégia pedagógica podemos dizer que faz

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parte do método de educação do IEJC colocar os educandos e toda a· escola em movimento, e fazer a leitura pedagógica deste movimento para impulsioná-lo em vista do projeto de ser humano que defendemos. Tra­ta-se de potencializar a dimensão educativa do movimento da produção material de nossa existência, do movimento da construção de nossa cole­tividade, do movimento da produção do conhecimento, do movimento da inserção na organicidade do MST, do movimento das contradições da realidade e das transformações que vão sendo vividas no coletivo e em cada pessoa.

b) Inserção na organicidade da escola e do MST Organicidade quer dizer coletividade em movimento, relação entre

as diversas partes do todo, entre as tarefas e seus objetivos, entre as pessoas que participam do processo de construção da coletividade. Implica em fluxo permanente de informações e de ações. É a dinâmica cotidiana que garante a continuidade de uma organização coletiva.

Faz parte da Pedagogia do Movimento a dimensão do enraizamento das pessoas em coletividades com memória e com projeto de futuro. Es­tas coletividades são os acampamentos, os assentamentos, a família Sem Terra, o próprio MST. E este enraizamento acontece através de um méto­do específico de inserção na dinâmica destas coletividades, ou em sua organicidade. Este método de inserção diz respeito ao desafio pedagógico de ajudar as pessoas a fazer parte de uma organização que já tem objetivos e princípios definidos, que já tem uma história e um acúmulo de experi­ências que as pessoas que entram precisam assumir, e logo passar a cons­truir como sujeitos.

O IEJC considera que é elemento fundamental de seu método peda­gógico uma intencionalidade específica na inserção de seus educandos e educadores em sua própria organicidade, bem como na organicidade do conjunto do MST. Para isso, são elementos metodológicos importantes, a distribuição coletiva das tarefas que dão vida à organização, o acompa­nhamento e a avaliação das tarefas realizadas, e o processo de crítica e autocrítica da postura de cada pessoa no processo de construção da coleti­vidade.

Enquanto existir algum educando fora ou alheio à dinâmica do Mo­vimento e da Escola o "sinal de alertà' dos educadores deverá permanecer ligado!

e) Ambiente Educativo Trata-se da concretização do movimento pedagógico, que é também

movimento das diversas pedagogias que compõem a Pedagogia do Movi­mento, 11 e de sua intencionalidade no cotidiano das práticas e das situa­ções de aprendizado previstas no conjunto da escola e de cada curso; a ação consciente e refletida dos educadores em vista de realizar o projeto pedagógico, pondo em movimento sua estrutura orgânica e sua organiza­ção curricular nos detalhes que só aparecem quando a prática começa.

De nada adianta planejarmos um novo currículo e uma nova estrutu­ra de funcionamento para a escola se depois não há quem coloque tudo isso em movimento; daí os tempos viram rituais, as instâncias se burocra­tizam, e as práticas ficam vazias; logo as pessoas passam a agir no dia a dia de acordo com as referências antigas e a existência social não é, de fato, alterada.

Criar o ambiente educativo é mais do que enfeitar o ambiente físico e as pessoas da escola; também é mais do que buscar interferir pedagogica­mente nas situações e nas relações que vão ocorrendo a cada dia; é isto também, mas é mais do que isto. É principalmente ser capaz de se anteci­par e provocar relações e situações de aprendizado; influir e tornar cada tempo o mais educativo possível, refletindo e recriando seus conteúdos e didáticas; construir circunstâncias objetivas que alterem a existência social de todas as pessoas envolvidas no processo pedagógico, e que criem novas necessidades de aprendizado e de posicionamento pessoal e coletivo, sem­pre em vista de fazer acontecer a formação humana pretendida e, em nos­so caso, de pôr em movimento a pedagogia do Movimento.

Esta é a principal tarefa do coletivo de educadores: criar e dinamizar o ambiente educativo, colocando-se também como educandos do proces­so; saber fazer escolhas e tomar decisões coerentes principalmente com os valores defendidos em nosso projeto, a cada situação que ocorre na escola, em cada um dos tempos que constituem nosso dia; mas também saber provocar situações e construir práticas que permitam a vivência destes valores e a reflexão sobre eles.

E no caso do IEJC o ambiente educativo também precisa se tornar conteúdo de formação dos diversos cursos, garantindo o aprendizado so­bre como se pode construir o ambiente educativo das diversas práticas ou ações realizadas pelo Movimento junto aos acampamentos, assentamen­tos e à sociedade em geral.

11 Pedagogia da luta social, pedagogia da organização coletiva, pedagogia da terra, pedago­gia do trabalho e da produção, pedagogia da cultura, pedagogia da escolha, pedagogia da história. Para aprofundamento destas pedagogias e sua relação com o ambiente educativo da escola ver especialmente: MST, Como fazemos a escola de educação fun­damental, CadernodeEducaçãon.º9, 1999.

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d) Acompanhamento Enquanto elemento metodológico, o acompanhamento é compreen­

dido no IEJC como uma função coletiva de orientar e fazer junto com os educandos o seu processo de formação. Para isso é preciso ter pessoas (edu­cadores) com a tarefa específica de fazer a leitura permanente do movimen­to pedagógico e político do processo educativo da coletividade e de cada pessoa, combinada com a leitura do movimento do Movimento, para po­der criar e dinamizar o amb~ente educativo da escola. Isto quer dizer perce­ber e analisar principalmente as contradições, as fases do processo, os mo­mentos de estagnação, e as transformações da realidade, de cada momento, de cada situação, da coletividade, das pessoas e de seu contexto, e a partir daí reorientar o movimento pedagógico.

Sem acompanhamento não há de fato processo pedagógico. É preci­so acompanhar o desenvolvimento de cada educando, a realização de cada atividade, o fluir de cada tempo, para que se possa potencializar a dimen­são educativa de tudo o que acontece dentro ou através da intencionalidade do Instituto. É preciso também garantir momentos específicos de crítica e autocrítica de todos os coletivos e de todas as pessoas que participam do cotidiano do Instituto.

No IEJC a função de organizar e refletir sobre o processo de acompa­nhamento cabe a um coletivo específico de educadores, que a partir do exercício permanente, e também auto-educativo, de fazer a leitura do mo­vimento pedagógico, se desafia a criar e recriar situações que impulsio­nem os aprendizados nas diversas dimensões da formação humana pre­tendida, para, com e pelos educandos.

Durante o Tempo Escola as tarefas de acompanhamento da coletivida­de e de cada educando são distribuídas entre todas as pessoas que no IEJC assumem tarefas de educadores, o que inclui também os educandos, sem­pre que estiverem em tarefas de monitoria e coordenação.

Durante o Tempo Comunidade as tarefas de acompanhamento à in­serção dos educandos na organicidade do MST são assumidas pelos mili­tantes e dirigentes mais antigos, através de encaminhamentos feitos pelo IEJC e pelo Setor responsável pelo respectivo Curso.

e) Capacitação No IEJC compreendemos a capacitação como um processo intencio­

nal de preparação das pessoas para atuar como sujeitos de ações e de inter­venções concretas na realidade, ligadas aos objetivos de cada Curso e ao projeto de desenvolvimento social e de formação do ser humano que orien­tam o trabalho pedagógico do Instituto, da Mantenedora e do MST.

É esta concepção metodológica que nos orienta a pensar a escola corno espaço de práticas e de situações objetivas que produzam a necessidade de aprender. Deste conceito mais amplo se desdobra um jeito de olhar para o conjunto e para os detalhes do processo pedagógico, e uma lógica de orga-

nização do próprio ambiente educativo, dando prioridade à dimensão do fazer, e colocando as teorias a serviço das questões da prática.

Trata-se também de reconhecer que nem todos os aprendizados se constroem da mesma maneira e que nem todas as dimensões da formação humana devem ser trabalhadas pedagogicamente do mesmo jeito, ou com o mesmo método. Os processos de aprendizagem envolvidos, por exem­plo, no domínio de determinadas teorias não são exatamente os mesmos daqueles envolvidos na construção de habilidades e posturas, ainda que se relacionem à mesma questão. Ou seja, compreender o conceito de coope­ração não é a mesma coisa que saber implementar uma ação cooperativa; embora um aprendizado possa ajudar o outro, não são a mesma coisa.

Esta distinção é importante para adequarmos o método ao objetivo real e específico que temos com cada detalhe do processo educativo: não há como construir, por exemplo, o aprendizado prático da cooperação sem vivenciar diretamente urna experiência de cooperação. Isto nos per­mite refletir sobre o conjunto das situações pedagógicas e também nos sugere ter metas de capacitação para cada etapa do processo educativo.

f) Oficina Organizacional de Capacitação - OFOC A OFOC é um método de capacitação massiva em organização de­

senvolvido pelo MST. Foi elaborado a partir de experiências de adequa­ção para a realidade escolar dos diversos métodos de formação realizados nos assentamentos de Reforma Agrária visando a capacitação das famílias Sem Terra para o desenvolvimento de projetos de cooperação agrícola. 12

No IEJC trata-se de uma intencionalidade específica dentro do mé­todo pedagógico mais amplo, com o objetivo de dar ênfase ao desenvol­vimento da consciência organizativa de seus educadores e educandos.

Trata-se de planejar o processo pedagógico de modo a radicalizar o princípio da alteração da existência social das pessoas envolvidas, criando um ambiente educativo com características ou componentes diretamente voltados para a capacitação em organização. O método da OFOC inclui todos os elementos do método pedagógico descrito até aqui, só que organi­zados e dinamizados dentro de uma lógica própria aos seus objetivos espe­cíficos, e com uma atuação de educadores preparados para isso.

12 Mais informações sobre o histórico deste mérodo, e detalhes de sua concepção e funcio­namento podem ser encontrados cm Cerioli, Paulo Ricardo, osfs. Educação para a cooperação. São Leopoldo: UNISINOS, 1997. Monografia apresentada ao Curso de Especialização Superior em Cooperativismo do Centro de Ciências Humanas da Uni­versidade do Vale do Rio dos Sinos.

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