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1 IX COLÓQUIO DE PESQUISA SOBRE INSTITUIÇÕES ESCOLARES HISTÓRIA E ATUALIDADE DO MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA PROJETO ECOARTE: A NOÇÃO DE SUSTENTABILIDADE MODELADA PELA CULTURA ESCOLAR ALVES, Norma Lopes Licenciatura Plena em Geografia, Graduanda em Pedagogia. UNESP/UNIVESP - Polo São Vicente SP [email protected] MOREIRA, Jaqueline Castilho Doutorado em Educação Escolar UNESP/UNIVESP - Polo São Vicente SP [email protected] SÃO PAULO, 2013

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IX COLÓQUIO DE PESQUISA SOBRE INSTITUIÇÕES ESCOLARES

HISTÓRIA E ATUALIDADE DO MANIFESTO DOS PIONEIROS DA

EDUCAÇÃO NOVA

PROJETO ECOARTE:

A NOÇÃO DE SUSTENTABILIDADE

MODELADA PELA CULTURA ESCOLAR

ALVES, Norma Lopes

Licenciatura Plena em Geografia, Graduanda em

Pedagogia.

UNESP/UNIVESP - Polo São Vicente – SP

[email protected]

MOREIRA, Jaqueline Castilho

Doutorado em Educação Escolar

UNESP/UNIVESP - Polo São Vicente – SP

[email protected]

SÃO PAULO, 2013

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PROJETO ECOARTE:

A NOÇÃO DE SUSTENTABILIDADE

MODELADA PELA CULTURA ESCOLAR

ALVES, Norma Lopes

Licenciatura Plena em Geografia, Graduanda em

Pedagogia.

UNESP/UNIVESP - Polo São Vicente – SP

[email protected]

MOREIRA, Jaqueline Castilho

Doutorado em Educação Escolar

UNESP/UNIVESP - Polo São Vicente – SP

[email protected]

RESUMO

A questão ambiental tornou-se uma problemática intensamente discutida, desde

o final do século passado, em diversos âmbitos. As contradições desenvolvimentistas do

capitalismo e as diversas correntes, que apregoam a necessidade de consciência no uso

dos recursos naturais e uma relação humana mais ética com o ambiente, apontam para o

ambientalismo, como uma possível tendência de enfrentamento do paradigma: consumo

e/ou conservação. Este relato de experiência docente objetivou compreender como seria

possível a escolarização de noções da Educação Ambiental. Para tanto, foi desenvolvido

interdisciplinarmente o “Projeto Ecoarte”, em uma escola pública estadual com alunos

de oitavo ano. Foram várias as estratégias das professoras: o uso do “Caderno do

Aluno” do Currículo do Estado de São Paulo; pesquisas de campo; visitas a um local de

triagem de resíduos sólidos; vídeos e a construção pelos alunos, de obras de artesania. A

partir do confronto dos resultados com as finalidades previstas, analisou-se a

cristalização dos conteúdos do projeto. Acreditou-se que as locuções de alunos sobre

suas produções e o presente relato, reelaborando a experiência, puderam contribuir para

o entendimento de como os processos envolvidos na elaboração de um projeto escolar,

podem valorizar os discentes e suas formas de pensar sobre o conteúdo dentro da cultura

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escolar da unidade, assim como moldar didaticamente algumas das noções de Educação

Ambiental, por exemplo, a de sustentabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Cultura Escolar. Educação Ambiental. Projetos Pedagógicos.

Interdisciplinaridade.

1. INTRODUÇÃO

A questão ambiental tornou-se uma problemática intensamente discutida, desde

o final do século passado, em diversos âmbitos. As contradições desenvolvimentistas do

capitalismo e as diversas correntes, que apregoam a necessidade de consciência no uso

dos recursos naturais e uma relação humana mais ética com o ambiente, apontam para o

ambientalismo, como uma possível tendência de enfrentamento do paradigma: consumo

e/ou conservação.

Reforça esta perspectiva dentro da educação formal, a inserção das preocupações

com o Meio Ambiente, “nos currículos escolares como Tema Transversal, permeando

toda prática educacional” (BRASIL, 1997, p. 169).

Dessa forma, o “Ambiente” passou a fazer parte do leque de saberes que

compõem o que Julia (2001, p.10) chamou de Cultura Escolar, ou seja, “conhecimentos

a ensinar, condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão

desses conhecimentos e incorporação de comportamentos”.

Já para Sacristán (2000, p. 218), a Cultura Escolar: “significa recuperar a relação

entre o currículo como expressão da cultura escolar e as práticas de instrução como usos

nos quais essa cultura adquire sentido”.

Freire (1996) reconhece a existência de uma identidade cultural, tanto no ato de

ensinar quanto no ato de aprender, fator que contribui na prática educativa crítica.

Assim, tentou-se compreender como seria possível a escolarização da noção de

sustentabilidade, prescrita nos Parâmetros Curriculares, como:

A sustentabilidade pressupõe um comprometimento com a qualidade

ambiental e com a gestão adequada do desenvolvimento econômico; a

compreensão de que desgastes ambientais interligam-se uns aos outros e de

que problemas econômicos e ambientais estão relacionados a muitos fatores

políticos e sociais (BRASIL, 1997, p. 220).

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As noções de desenvolvimento sustentável do currículo oficial, do conjunto de

vivências e saberes dos professores e da apreensão dessas idéias pelos alunos foram

aqui relatadas de forma pessoal, por uma docente de Geografia. Para Blumer (apud

KOSMINSKY, 1986, p. 32), esses depoimentos constituem "um relato de experiência

individual que revela as ações do indivíduo como um agente humano e como um

participante da vida social".

2. DESCREVENDO O “PROJETO ECOARTE”: DO LIXO À CRIAÇÃO DE

ARTESANIAS

Desenvolvido já há dois anos na Escola Estadual Profa. Neusa Figueiredo

Marçal, em São Bernardo do Campo (SP); o “Projeto Ecoarte” iniciou-se a partir de um

diálogo em sala de aula, com alunos de oitavo ano (faixa etária entre doze e treze anos),

sobre as atitudes da sociedade em relação ao meio ambiente. Vários deles expuseram

suas ideias para a classe, falando sobre as barbáries que se comete contra a natureza e os

seres vivos; até que uma aluna falou de sua participação em um projeto para ajudar o

meio ambiente, cuidando das tartarugas que nascem no litoral. Ela perguntou se poderia

ser feito algum projeto escolar, com a intenção de diminuir os impactos ambientais.

Logo, os alunos empolgaram-se, discutindo seus pontos de vista e o projeto ganhou

amplitude, sendo que no ano de 2011, foi aplicado em quatro salas de quarenta

estudantes e neste ano em duas classes.

Justificou-se a composição interdisciplinar desse projeto pedagógico, devido à

necessidade de estimular os escolares, com repertórios diversos e de diferentes

maneiras: debates, discussões, reflexões; dentro de um período razoável de tempo, pela

grande abstração que envolve a problemática do desenvolvimento sustentável.

Três professoras abarcaram essa ideia, escrevendo o planejamento, preparando

aulas para a discussão do tema, pesquisando e estudando os conceitos, para encontrar as

formas mais adequadas de expor conceitos e valores, explicar sobre a importância de se

incorporar atitudes sustentáveis e responsáveis, em relação ao meio ambiente e à

natureza.

No ambiente escolar, a interdisciplinaridade e a interação dos especialistas de

diversas disciplinas têm apontado diferentes possibilidades de abordagem no processo

pedagógico de reorganização de saberes, ampliando o interesse por este tipo de

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intervenção, na qual existe todo um esforço coletivo de aproximar, relacionar e integrar

os conhecimentos.

Muitos teóricos concordam que a prática interdisciplinar leva a uma

compreensão adequada da realidade e a produção de conhecimento centrada no homem,

rompendo os “muros” que se estabelecem entre as disciplinas (JAPIAUSSI, 1976;

FAZENDA, 1992; PETRAGLIA, 1993 e LÜCK, 1995). Além disso, geram integração e

engajamento dos educadores em um trabalho conjunto, de integração das disciplinas

escolares e temas que podem ser articulados entre seus currículos, com a realidade da

comunidade escolar; de modo a superar a fragmentação do ensino. Objetivando a

formação integral dos alunos, para que possam exercer uma cidadania crítica, os

preceitos de projetos interdisciplinares estimulam uma perspectiva mais global dos

fenômenos, e uma percepção da complexidade dos problemas, em relação ao

desenvolvimento sustentável.

Enfim, buscou-se com o projeto, trazer para o cotidiano dos alunos envolvidos,

temas relacionados à Educação Ambiental. Tanto aqueles abordados em sala de aula

como suas observações do entorno da escola e também de suas casas. Ao trabalhar o

projeto dentro do período de dois bimestres, integrando os componentes curriculares:

Geografia, Ciências e Artes; pretendeu-se conscientizar os educandos, de que todo

material utilizado na escola, em casa, nas indústrias ou no comércio, originava-se de

recursos naturais esgotáveis.

Nesta perspectiva, salientou-se a questão da sustentabilidade, por possibilitar que

falas coloquiais que surgiam nas aulas, como: “a natureza precisa ser preservada, para

que não falte para as gerações futuras”; “as pessoas não tem ideia que o lixo pode

entupir bueiros”, “que o lixo demora muito prá degradar” e gerassem questionamentos

do tipo: “por que acontece tanta enchente?”; “por que tem tanto lixo na rua?”, entre

outros.

Essa transposição da observação a “um olhar crítico”, em relação à quantidade

de descarte produzido pela sociedade, fazia parte do projeto; tanto quanto concretizar o

reaproveitamento do refugo ou do lixo, transformando-o em artesanato, brinquedos,

utensílios.

O trabalho manual é um método dispendioso de produção, dentro de uma

concepção capitalista industrial. Entretanto, na perspectiva ambientalista do

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desenvolvimento sustentável, modelada na cultura escolar; o processo artesanal adquire

uma diferenciada respeitabilidade e as artesanias dos alunos, tornam-se bens preciosos

para uma comunidade escolar, por associarem à sua criação e confecção, outras

importâncias: o tempo e o espaço próprios para “o fazer” e a companhia.

Neste momento, decantar o conceito de artesania pode colaborar com a

compreensão que seus significados vão ganhando no decurso do projeto:

Comumente, senão invariavelmente, as marcas honoríficas do trabalho

feito a mão são certas imperfeições e irregularidades em suas linhas, a

mostrarem onde o artesão falhou na execução do modelo. A base, pois, da

superioridade da obra manual, é uma certa margem de rudeza. Essa margem

não deve jamais ser tão grande, ao ponto de revelar um artesanato confuso,

que só faria evidenciar seu baixo custo; nem tão pequena, de modo a sugerir

a precisão ideal só atingida pela máquina, pois isto só viria comprovar seu

baixo custo (VEBLEN, 1974, p. 358).

3. REFLETINDO SOBRE A EXPERIÊNCIA

A análise do “Projeto Ecoarte” obedeceu à sistematização proposta por Sacristán

(2000), elencando os seguintes itens: Finalidade ou produto das tarefas; Recursos que

utilizam ou elementos dados pela situação e uma série de operações que podem ser

aplicadas aos recursos disponíveis para alcançar a finalidade; Dificuldades ou

constrições; Significado que adquire em relação a proposições pedagógicas e culturais

mais gerais com valor educativo e Cristalização dos conteúdos.

Diferenciadamente das sugestões de Sacristán(2000), neste relato não foi

abordada a execução das tarefas, como base de análise da profissionalização docente, e

nem como um controle da ordem dos alunos.

Finalidade ou produto das tarefas

O projeto tinha como finalidades promover a interconexão das diversas

linguagens; contribuir para a formação de um repertório interdisciplinar significativo,

ampliando os conhecimentos prévios dos alunos; pensar a Arte como formas simbólicas

que permitem ao homem se relacionar com o mundo; promover uma reflexão sobre a

origem dos diversos materiais utilizados no cotidiano na sociedade capitalista, recursos

naturais utilizados como matéria- prima para os diferentes produtos; conscientizar os

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alunos da necessidade de preservar o meio ambiente, repensando as atitudes

consumistas da sociedade atual.

A metodologia usada para seu desenvolvimento consistiu inicialmente em

incentivar os alunos a realizarem pesquisas sobre: a degradação ambiental, o

consumismo e a produção do lixo na sociedade atual e coleta seletiva ou Ecopontos, a

existência de lixo jogado nas ruas e os tipos mais encontrados, registrando esses dados

com fotos e relatórios; e posteriormente produzindo cartazes com os dados das

pesquisas.

Em outro momento, os discentes foram estimulados a conhecer a coleta seletiva,

através de visita a um local de triagem, próximo à unidade escolar. E, a partir da

imersão nas idéias de desenvolvimento sustentável, foram desafiados a reutilizarem o

lixo reciclável, para a construção/elaboração de uma artesania: utensílios domésticos,

brinquedos, maquetes, embalagens, acessórios entre outros.

Recursos disponíveis para alcançar a finalidade: fundamentação teórica,

estratégias e materiais utilizados

Bursztyn (2001) e Portilho (2005), autores que estudam o desenvolvimento

sustentável, fundamentaram o “Projeto Ecoarte”. Para eles, a lógica crescente de

consumo é impraticável, não somente por colocar em risco os recursos naturais, mas as

condições de vida no planeta. O grande desafio da contemporaneidade é influenciar e

modificar o pensamento da população em atitudes e ações pró-ambientais. A

sustentabilidade ambiental representa uma realidade, em que se leva em consideração à

capacidade de reposição que o planeta tem, assim como a manutenção de medidas que

permitam uma maior justiça social.

Foram várias as estratégias das professoras no desenvolvimento do projeto.

Usaram o “Caderno do Aluno”, do Currículo do Estado de São Paulo, fornecido à rede

pública estadual, que tem diversas propostas de atividades para o trabalho pedagógico

com esta temática. Incentivaram os estudantes, a realizar suas próprias observações e

pesquisas de campo no entorno, buscar informações em sites, assim como, visitar o

local de triagem de resíduos sólidos, localizado próximo à escola. Iniciativas que

aconteceram fora do horário de aula e, sem o envolvimento da escola. Também foram

exibidos vídeos sobre a Mata Atlântica, já que a região do município encontra-se

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próxima a Serra do Mar, com Mata Atlântica original. Além da pertinência do assunto

para os escolares, foram salientados o conforto térmico e sua relevância econômica.

Quanto aos materiais, priorizou-se a criação das artesanias a partir de resíduos

sólidos domésticos, como garrafas pet, latas de alumínio, caixas de papelão, jornal e

diversos tipos de embalagens.

Dificuldades ou constrições

Os resultados esperados com esta intervenção eram de que, a partir das

artesanias feitas por eles, estimulando “o pensar” formas viáveis de contornar a

excessiva produção de resíduos domésticos sólidos, em suas casas; houvesse a

conscientização sobre a importância da sustentabilidade ambiental.

Como o “Projeto Ecoarte” era significativo para os educandos, foram poucas as

dificuldades sentidas pelas professoras; embora o ânimo e a euforia de criar e sentir o

prazer de apresentar sofresse algumas variações em função das dinâmicas sociais

estabelecidas nas salas.

Houve muita participação dos alunos, inclusive aqueles com necessidades

educacionais especiais, construindo, expondo suas peças e até mesmo debatendo junto

ao grupo, sua opinião.

A maior dificuldade do projeto foi notada em relação aos alunos com baixa

autoestima, por não acreditarem que poderiam realizar suas artesanias e terem vergonha

de mostrar seu trabalho, precisando assim de uma mediação docente específica.

Significado que adquire em relação a proposições pedagógicas e culturais mais

gerais com valor educativo

Dois significados ficaram bastante evidenciados no “Projeto Ecoarte”. O

primeiro deles foi o sentido de artesania para os alunos, que extrapolou a categorização

de sua produção, como artesanato feito a partir de sucata ou de lixo. Essas obras, criadas

com esmero pelas suas próprias mãos, em tempo, espaço e companhia peculiares,

tornaram-se peças únicas, de significação afetiva, pessoal e coletiva, não podendo

atrelar seu valor, a mesma concepção de valia do mercado de consumo. Daí os

estudantes terem dificuldade em descartar, doar ou presentear estas peças.

O outro foi a fluição da noção de sustentabilidade, os alunos falavam sobre ela,

tanto nas aulas de Geografia como em Ciências, estudavam o conceito que aparecia no

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“Caderno do aluno”, nos livros didáticos adotados e concretamente modelavam-na, pela

construção de suas obras de artesania.

Cristalização dos conteúdos

Uma das formas de avaliação do “Projeto Ecoarte” foi a participação dos alunos,

as pesquisas que realizaram, os projetos e a finalização das artesanias. Alguns alunos

desenharam-nas antes de construí-las, pensaram sobre os materiais mais adequados para

sua criação e discutiram o quanto elas poderiam ajudar, em relação à sustentabilidade

ambiental. Uma dessas locuções se destacou: “As pessoas compram porque avança a

tecnologia. Elas não querem ficar fora da moda. Então o modismo acaba gerando o

consumismo que não é responsável, criando um desenvolvimento insustentável”.

Enfim, as artesanias

Uma delas foi a “Maquete”, confeccionada com papelão pintado, plásticos,

palitos de churrasco e bonequinhos. No ano anterior, a sua construção foi feita em trios

e quartetos. Neste ano, somente um aluno interessou-se pelo projeto, criando sozinho

todas as etapas. Como muitos dos trabalhos eram volumosos ou frágeis, acabaram sendo

recepcionados pela Coordenadora Pedagógica, que no caso da “Maquete”, elogiou

muito.

Fig. 01- Maquete. Foto de autoria própria, 2012.

(Fonte: Acervo pessoal)

Fig. 02- Móbile. Foto de autoria própria, 2012.

(Fonte: Acervo pessoal)

Os utensílios e acessórios, como as vassouras de pet, os móbiles feitos com

embalagem de detergente líquido, as sacolas de caixas longa vida, foram artesanias que

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geraram vários comentários. Muitos dos alunos perguntaram entre si, como havia sido

feito. Falas como: “Ficou lindo, nem parece que veio do lixo”; “Lixo para uns, tesouro

para outros”; “Tudo dá prá se aproveitar”; “Tudo pode servir como algo útil, um

enfeite prá casa, um presente...” revelaram como havia sido escolarizada a noção de

sustentabilidade.

Surgiram da combinação de tampinhas, materiais de limpeza, potes de iogurte, lã

e tecidos: palhaçinhos, aviões, ônibus articulados, comuns na cidade de São Bernardo

do Campo. Brinquedos, em especial os palhaçinhos, surgidos de um belo trabalho de

artesania.

Fig. 03- Palhaçinhos. Foto de autoria própria, 2012.

(Fonte: Acervo pessoal)

Fig. 04- Aviãozinho com bateria. Foto de autoria

própria, 2012. (Fonte: Acervo pessoal)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do confronto dos resultados com as finalidades previstas, foi analisado

se houve ou não a cristalização dos conteúdos e conceitos disseminados pelo projeto.

Acreditou-se que as locuções de alunos sobre suas produções e o presente relato,

reelaborando a experiência, puderam contribuir para o entendimento de como os

processos envolvidos na elaboração de um projeto escolar, podem moldar didaticamente

algumas das noções de Educação Ambiental, por exemplo, a de sustentabilidade.

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Fig. 05- Produção final dos alunos. Foto de autoria própria, 2012. (Fonte: Acervo pessoal)

Dentro de uma cultura escolar, os projetos valorizam os alunos, suas formas de

pensar sobre o conteúdo, validam a construção do conhecimento e o trabalho

pedagógico. O aluno tem prazer em falar o que aprendeu e em mostrar o que conseguiu.

Muitas escolas e professores desenvolvem em suas disciplinas projetos

semelhantes com resultados bastante positivos. No intuito de provocar e amplificar a

reflexão sobre a importância dessas artesanias, não somente para o desenvolvimento da

noção de sustentabilidade, como encerramento deste trabalho sugerimos o pensamento

de Dias (2011, p.22):

Nessas experiências, não é o aspecto artístico em si o que mais se

destaca, mas sim, a capacidade de mobilização e participação desencadeadas

por elas.

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REFERÊNCIAS

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Brasília, DF: UNESCO, 2001.

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Imago, 1976.

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PORTILHO, F. Sustentabilidade Ambiental, Consumo e Cidadania. São Paulo:

Cortez, 2005.

SACRISTÁN, G. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed,

2000.

VEBLEN, T. A Teoria da Classe Ociosa. São Paulo: Abril, 1974.