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História das Religiões 26 JAINISMO Introdução. Nataputa Verdamana (chamado de Mahavira, “Grande Herói”) foi contemporâneo de Gautama Buda, ainda que maior. Nasceu em 599 a.C. (outras dastas possíveis: por volta de 480 ou 370 a.C.), próximo de Vaisali (hoje no Estado de Bihar) como príncipe. Depois da morte de seus pais se tornou asceta itinerante e alcançou depois de 12 anos a iluminação (jina, “superador”). Depois de pregar por 30 anos, morreu na idade de 72 anos voluntariamente, por inanição. O jainismo é uma das raras religiões do mundo (ao lado do catolicismo) a ter mais religiosas do que religiosos. Apesar de ser uma religião de apenas três milhões de pessoas que vivem quase todas na índia, exerceu uma grande influência no mundo moderno, graças à figura de Mahatma Gandhi que, não sendo jainista, cresceu entre os jainistas e adotou a sua doutrina mais característica, a não-violência às coisas vivas, a ahinsa. Aspectos Históricos. Foi fundado entre 599 e 537 a.C., pelo nobre indiano Nataputa Verdamana. Assim como ocorre no budismo e no hinduísmo, o jainismo também encontra a origem de sua nomenclatura no sânscrito, derivando do termo “jaina”, o qual se traduz por “vitorioso”. Essa filosofia, tal como o materialismo charvacan, é considerado um dos principais sistemas heterodoxos que podem ser observados nas dissidências hinduístas, tendo sido a primeira a emergir de diferenças surgidas dentro do hinduísmo. Toda a sua estrutura religiosa veio da Índia, posto que, da mesma forma que ocorreu com o budismo, o jainismo traz um histórico de herança religiosa hindu, fato que ocorreu por volta do século 6° a.C., e que, á época, ganhou a justa conotação de corrente filosófica diversa de sua crença mãe, período no qual Mahavira era contemporâneo de Buda, sendo casado e pai de uma filha. As diversidades que acabaram promovendo o cisma e o conseqüente surgimento dessa ramificação versavam sobre os conceitos até então usuais que se referiam às divindades, revelando uma tendência que apontava para rejeição ao teísmo. O jainismo comunga do conceito budista que vislumbra a possibilidade de salvação com base apenas nas virtudes do indivíduo, dispensando a intervenção de quaisquer divindades para esse fim. A antiguidade dessa seita é atestada pela história, que aponta atividades do jainismo na região Norte da Índia, em Magadá, desde os séculos 5° e 6° da era Cristã. Mahavira foi o maior difusor dos conceitos doutrinários desta religião. Esse, após a morte de seus pais, tornou-se um fervoroso perseguidor da iluminação espiritual, objetivo que alcançou após doze anos de vida ascética (Kaiulya), abstendo- se das vestes corporais e vagueando nu por toda a Índia, deixando o cuidado corporal e permanecendo mudo durante todo esse período, quando já contava 43 anos de vida, segundo a tradição.

Jainism o

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O Jainismo na História das Religiões.

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  • Histria das Religies 26

    JAINISMO

    Introduo.

    Nataputa Verdamana (chamado de Mahavira, Grande Heri) foi contemporneo de Gautama Buda, ainda que maior. Nasceu em 599 a.C. (outras dastas

    possveis: por volta de 480 ou 370 a.C.), prximo de Vaisali (hoje no Estado de Bihar)

    como prncipe. Depois da morte de seus pais se tornou asceta itinerante e alcanou

    depois de 12 anos a iluminao (jina, superador). Depois de pregar por 30 anos, morreu na idade de 72 anos voluntariamente, por inanio.

    O jainismo uma das raras religies do mundo (ao lado do catolicismo) a ter

    mais religiosas do que religiosos.

    Apesar de ser uma religio de apenas trs milhes de pessoas que vivem quase

    todas na ndia, exerceu uma grande influncia no mundo moderno, graas figura de

    Mahatma Gandhi que, no sendo jainista, cresceu entre os jainistas e adotou a sua

    doutrina mais caracterstica, a no-violncia s coisas vivas, a ahinsa.

    Aspectos Histricos.

    Foi fundado entre 599 e 537 a.C., pelo nobre indiano Nataputa Verdamana.

    Assim como ocorre no budismo e no hindusmo, o jainismo tambm encontra a origem

    de sua nomenclatura no snscrito, derivando do termo jaina, o qual se traduz por vitorioso.

    Essa filosofia, tal como o materialismo charvacan, considerado um dos

    principais sistemas heterodoxos que podem ser observados nas dissidncias hindustas,

    tendo sido a primeira a emergir de diferenas surgidas dentro do hindusmo. Toda a

    sua estrutura religiosa veio da ndia, posto que, da mesma forma que ocorreu com o

    budismo, o jainismo traz um histrico de herana religiosa hindu, fato que ocorreu por

    volta do sculo 6 a.C., e que, poca, ganhou a justa conotao de corrente filosfica

    diversa de sua crena me, perodo no qual Mahavira era contemporneo de Buda,

    sendo casado e pai de uma filha.

    As diversidades que acabaram promovendo o cisma e o conseqente surgimento

    dessa ramificao versavam sobre os conceitos at ento usuais que se referiam s

    divindades, revelando uma tendncia que apontava para rejeio ao tesmo.

    O jainismo comunga do conceito budista que vislumbra a possibilidade de

    salvao com base apenas nas virtudes do indivduo, dispensando a interveno de

    quaisquer divindades para esse fim.

    A antiguidade dessa seita atestada pela histria, que aponta atividades do

    jainismo na regio Norte da ndia, em Magad, desde os sculos 5 e 6 da era Crist.

    Mahavira foi o maior difusor dos conceitos doutrinrios desta religio. Esse,

    aps a morte de seus pais, tornou-se um fervoroso perseguidor da iluminao

    espiritual, objetivo que alcanou aps doze anos de vida asctica (Kaiulya), abstendo-

    se das vestes corporais e vagueando nu por toda a ndia, deixando o cuidado corporal e

    permanecendo mudo durante todo esse perodo, quando j contava 43 anos de vida,

    segundo a tradio.

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    Nesse tempo, iniciou a ministrao de seus ensinos, os quais estavam baseados

    em quatro pontos bsicos. So eles:

    AHINSA O princpio da no-violncia em quaisquer circunstancias e no seu mais amplo significado.

    ANEKANTWAD O conceito que se refere no a uma, mais a muitas verdades, e cada qual baseada num ponto de vista.

    APARIGRAHA A renncia a toda possesso material. CARMA A responsabilidade moral de cada pessoa perante seus atos, visveis e invisveis. Essa responsabilidade tambm determina o destino da pessoa.

    Votos bsicos.

    Vardhamana fundou a primeira ordem monstica jainista, exigindo de seus

    candidatos a realizao de quatro votos bsicos, alguns deles extrados de seus

    primeiros ensinos. Vejamos:

    - No causar dano a qualquer ser vivo;

    - Ter carter incondicionalmente verdadeiro;

    - Jamais furtar;

    - Eximir-se de possesses materiais.

    A esses votos, posteriormente, Mahavira acrescentou o celibato, alm de

    requerer dos aspirantes ao monastrio uma vida de intensos exerccios espirituais de

    mortificao, devoo e meditao religiosa.

    Baseado nessa vida de resignao, o termo jaina parece retratar o significado paralelo ao da palavra santo, empregada pelos que seguem o cristianismo, uma vez que sua definio est diretamente relacionada a vitria. Entretanto, tambm no conceito jainista, vitria sobre as mazelas e vicissitudes cotidianas e, neste sentido, a devoo dos jainistas equivaleria devoo que os catlicos prestam s personalidades

    do panteo romanista.

    Mahavira e Parshva so considerados pelos fiis como os ltimos dos 24

    grandes lderes religiosos do mundo, motivo pelo qual teriam galgado o ttulo de

    Tirthankara, que significa atravessador do vale, no caso, aquele que auxilia seu semelhante a atravessar o mar de dificuldades terrenas cotidianas.

    Os escritos sagrados.

    A relao dos livros sagrados do jainismo, originalmente, composta do idioma

    ardhamagadhi, cuja transmisso oral se assemelha a forma como se observa no

    hindusmo. Essa coleo de escritos foi vitimada por extravio aparente desde o sculo

    3 d.C. seus adeptos afirmaram que esta mesma tradio oral teria sido reescrita por

    volta do ano 454 d.C. uma peculiaridade dessa dissidncia hindu, talvez a maior, a

    rejeio dos Vedas, incluindo seu panteo de divindades e suas muitas cerimnias,

    alm de reputar como suprfluo o sacerdcio brmane. Essa compleio crtico-

    literria se constitui na estrutura heterodoxa do jainismo. Tambm consta dessa poca

    (sc. 3 d.C.) que a comunidade jainista que habitava a ndia oriental, lugar a

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    residncia de Mahavira, migrou para Guzerate e Rajasthan, na ndia ocidental. Foi

    durante essa migrao que surgiu um cisma na seita formando duas correntes de

    pensamento sobre at que deveria evoluir o carter. Uma das correntes entendia que o

    correto era a absteno at mesmo das vestes. Esse grupo recebeu o ttulo de

    digambaras, termo que se traduz por vestidos de cu ou nus. Os contadizentes contraram um nome oposto: shvetambaras (vestidos de branco), por causa de sua indumentria branca.

    Os digambaras, com o passar do tempo, tambm se moldaram aos trajes,

    empregando tnicas quando surgiam em pblico, mais jamais deixando de apresentar a

    diversidade existente com os shvetambaras.

    Cada uma delas desenvolveu sua prpria literatura, mas sempre explorando as

    questes do carma, preservando-se dentro dos territrios da ndia e resistindo ao

    tempo, mantendo seus costumes, crenas e prticas.

    Esses ensinos adquiriram tal fora entre os povos dessa religio que at mesmo

    Mahatma Ghandi, tambm natural de Guzerate, sofreu influencias do jainismo.

    Aps a morte de Mahavira, essa seita passou a ser liderada por um povo

    chamado ganadharas (lderes da assemblia, que continuou propagando suas crenas pelos territrios da ndia, entretanto, por dispensar a modernidade dos transportes

    motorizados, viajando sempre a p, essa lenta e difcil divulgao impediu uma maior

    expanso de suas crenas.

    Acha-se, ainda, dentro das sagradas escrituras jainistas, como portadoras de

    seus princpios, as doze angas, que possuem posio suprema, mas no segundo

    volume dessa coleo que encontramos as bases para a compreenso da natureza desse

    grupo religioso.

    Ela fala sobre o reconhecimento daquilo que escraviza a alma, para que, uma

    vez reconhecido, seja removido. Todas as coisas so eternas por sua prpria natureza.

    Esses escritos tambm ensinam que o ignorante independente de sua opinio,

    prisioneiro tal como um pssaro na gaiola. Aponta para trs formas de pecado: aquele

    que se comete pelos atos, aquele que autorizado e aquele que aprovado,

    esclarecendo, em contrapartida, que o sbio se afasta, na mesma intensidade, do amor

    e do dio.

    Por odiarem a dor, logo, todos os seres vivos devem ser poupados da morte

    provocada, o que, na literatura jainista, o princpio de toda a sabedoria, alm do

    abandono do orgulho, da ira, do engano e da cobia, sabendo que os homens, na

    verdade, sofrem, cada qual, as conseqncias de suas prticas pecaminosas.

    Tambm deve fazer parte da conscincia do sbio a verdade de que todos os

    seres vivos sofrem, posto que esse pensamento que impede o homem de mergulhar

    na presuno, uma espcie de chaga do carter defeituoso.

    As boas aes, segundo rezam os angas, no devem ser utilizadas para

    autopromoo, mas, sim, para atender s necessidades de todas as coisas vivas,

    colaborando com tudo aquilo que gostaria de receber ajuda.

    A meditao, segundo a norma, o exerccio mais importante. apresentada ao

    fiel por meio de uma modalidade filosfica e comparada embarcao que, estando na

    gua, evita os perigos e se desvia, com sabedoria, dos obstculos, para ento,

    conseguir chegar praia.

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    Crenas.

    A esperana de salvao dentro do entendimento jainista esta presa a trs

    normas principais: o conhecimento, a f e uma conduta correta, ou seja, condizente

    com o que se acha na sagrada escritura da seita, editada no idioma ardhamagadhi, a

    exemplo do islamismo, que s confere autoridade ao Coro grafado em rabe.

    O empenho de cada indivduo, neste aspecto, acaba determinando um ascetismo

    intenso, por meio do qual se alcana a plena libertao do esprito humano. O

    renascimento e o carma so as doutrinas bsicas mais importantes do cdigo sacro do

    jainismo. Esboando similaridade s profisses de f que aplicam os ensinos

    reencarnacionistas, tambm aqui se reconhece que na salvao que opera a libertao

    definitiva dos ciclos de renascimento, cuja situao seus adeptos atribuem o nome de

    conhecimento perfeito e, para os quais, todavia, o conhecimento temporal est associado ao princpio de syadvada. O termo ardhamagadhi se traduz por talvez, significando que todo o conhecimento humano se limita probabilidade e

    parcialidade, no podendo exaurir o todo de qualquer disciplina social, cientfica ou

    religiosa.

    As questes atinentes ao conhecimento ainda so mais abrangentes. E essa parte

    da liturgia jainista est dividida em classes, que so:

    CONHECIMENTO ORDINRIO identificado por meio da memria, do reconhecimento e da induo.

    CONHECIMENTO PELOS SINAIS E SMBOLOS Abrange a associao de idias, a compreenso e algumas questes relacionadas ao verdadeiro sentido das

    coisas.

    CONHECIMENTO DISTNCIA Mescla de clarividncia e meios psquicos. CONHECIMENTO DOS PENSAMENTOS ALHEIOS Telepatia. CONHECIMENTO PERFEITO S alcana esse nvel de conhecimento aquele que possui a salvao. Esse estgio anula o conhecimento temporal, limitado pela

    parcialidade que proporciona, alm do vnculo indissolvel com o talvez.

    O CONCEITO DO NO-TESMO

    O jainismo, como forma filosfica e religiosa, no possui vnculo especfico de

    servido com qualquer Deus formal, muito embora consideram que aqueles que

    alcanaram a definitiva libertao espiritual pelo conhecimento perfeito adquiriram

    status de divindade, mas por uma compreenso distinta daquela observada no

    cristianismo, por exemplo.

    No podemos omitir, entretanto, que, embora Mahavira tivesse abominado o

    reconhecimento de deuses por parte de seus seguidores, ele mesmo passou a ser uma

    divindade aps a morte, tornando-se um dolo de adorao para os jainistas. nessa

    oportunidade que recebe o ttulo de vigsimo quarto Tirthankara; o ltimo e maior dos

    seres salvadores, sendo considerado algum que tivesse descido do cu sem pecados e

    portador da plenitude do conhecimento.

    F E CRONOLOGIA CSMICA

    Acreditam na eternidade universal, entendendo que o universo se move por

    meio de ciclos contnuos de ascenso e queda, movimento do qual acreditam advir o

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    estado ideal. O universo no conta, segundo eles, com qualquer Deus supremo que o

    tenha criado e promova sua substncia, possuindo, porm, divindades secundrias,

    sendo certo aos seguidores que todas as ocorrncias terrenas seguem uma ordem

    previsvel, por serem originrias de meras foras mecnicas do cosmos.

    Classificao das essncias.

    Independente do espao ou posio que a matria viva ocupa no globo,

    classificada por alma e, cada uma delas, num incondicional estado de transmigrao.

    Essas essncias so divididas em cinco classes:

    NGODAS So seres que no possuem qualquer percepo que provenha dos sentidos, o que os colocaria nas classes inferiores, at mesmo, na classe dos minerais e

    das pedras, provavelmente numa aluso aos elementos do tomo, nos quais se observa,

    efetivamente, qualquer qualidade inerente ao ser.

    SERES COM UM NICO SENTIDO O tato seria o nico ponto de contato com o todo, e nessa classe aparece a gua, as pedras, o fogo e os demais minerais, alm das

    razes vegetais consumveis.

    SERES COM DOIS SENTIDOS Nessa classe esto o tato e o paladar, alm da possibilidade de desenvolverem alguma forma de comunicao. So os vermes.

    SERES COM TRS SENTIDOS Dotados de tato, olfato e paladar, esses seres abrangem os insetos, os escorpies e os mosquitos.

    SERES COM CINCO SENTIDOS No importando o lugar ou estado no qual se encontra o indivduo dessa classe, celestial ou infernal, ela envolve os animais

    superiores, o homem e os habitantes de outros mundos. A mente seria um sentido

    adicional que alguns desses seres possuiriam.

    O destino da alma.

    Para o jainismo, a alma, uma vez liberta do ciclo constante de renascimentos,

    atinge a verdadeira imortalidade, sendo, neste ponto, que o indivduo adquire atributos

    e posio de divindade, como o da oniscincia, por exemplo. Esse estgio atingido

    por poucos indivduos, segundo essa doutrina. Mas os poucos que alcanam esse

    estgio passam a receber a venerao dos vivos, tm templos construdos em sua

    homenagem, tornando-se exemplos para as futuras geraes de jainistas. O jainismo

    contabiliza, hoje, trs milhes e quinhentos mil seguidores, aproximadamente.

    BIBLIOGRAFIA SOBRE JAINISMO:

    BORAU, Jos Luis Vzquez. As Religies Tradicionais (Animismo, Hindusmo,

    Budismo, Tauismo...). Paulus. Lisboa Portugal. 2008.

    FRANZ, Knig & Waldenfels, Hans. Lxico das Religies. Vozes. Petrpolis/RJ.

    1998.

    VALLET, Odon. Uma outra histria das Religies. Ed. Globo. SP/SP. 2002.

    http://evangelistamariano.blogspot.com/2009/12/foi-fundado-entre-599-e-537.html.