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0 9 2 3 5 8 9 0 9 1 Ano 16 | N° 9 | JAN. 2015 Edição Virtual | issuu.com www. /jornaldeartes Facebook | facebook.com www. /jornaldeartes Tumblr | murucieditor www. .tumblr.com Porto Alegre | | 2015 | R$ 3,00 Janeiro Artes Pláscas Cinema Música Literatura | | | JORNAL DE de Munir Klamt e Laura Caani | , em exposição na em Porto Alegre. ÍO Gramatologia I, II, III Galeria Mamute Foto: Mary Lopes

Janeiro | 2015

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Arte | Cultura | Musica | Cinema | Literatura | Publicado pela Muruci Editor, circula em Porto Alegre e interior. Tumblr| www.murucieditor.tumblr.com Facebook | www.facebook.com/jornaldeartes

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Ano 16 | N° 9 | JAN. 2015

Edição Virtual | issuu.com www. /jornaldeartesFacebook | facebook.comwww. /jornaldeartes

Tumblr | murucieditorwww. .tumblr.com

Porto Alegre | | 2015 | R$ 3,00Janeiro

Artes Plás�cas Cinema Música Literatura| | |

JORNAL DE

“ ” de Munir Klamt e Laura Ca�ani | , em exposição na em Porto Alegre. ÍO Gramatologia I, II, III Galeria Mamute Foto: Mary Lopes

Porto Alegre | | 5 | ARTES | JANEIRO 201 02

JORNAL DE

ARTESArtes Plásticas | Artes Cênicas |

Cinema | Musica | Literatua

EXPEDIENTE

Jornal de Artes é uma publicação da MURUCI EditorEditor | João Clauveci B. Muruci Editora de Literatura | Djine Klein ([email protected])Design Gráfico/Capa/Diagramação | Mauricio Muruci Email | [email protected] Edição Virtual | www.issuu.com/jornaldeartesFacebook |www.facebook.com/jornaldeartesTumblr |www.murucieditor.tumblr.comCNPJ | 107.715.59-0001/79 - Fone | 51 3276 - 5278 | 51 9874 - 6249

Colaboradores desta edição

Capa:

ÍO – MUNIR KLAMT E LAURA CATTANI

| Gramatologia I, II, III, 2012 | 40x60cm cada | Fotografia em papel Enchanced Ma�e

| moldura em madeira preta, sem vidro | Tríp�co, 40 x 60 cm.

Exposta na Galeria Mamute. Foto: Mary Lopes

Djine Klein |Dominik Picnic|Eduardo Jablonski | EmanueleBizzoto | Ícaro BiMa �n Palacio Gamboa | MaryLopes | Paulinho Parada | Rejane Hirtz Trein |

Cada silêncio é uma

PAISAGEMPor de Djine Klein Porto Alegre/Viamão - RS

POESIA EM PROSA

Domingo de Ramos. Agora que já sei - o meu corpo é pó de estrelas. Então quando visito memórias é no fundo do espelho que assino meu nome. E depois de vegetar um temporinho por fato de lembrança, é quando me ergo de ser um bicho para ser pedra. Também sou um caniço, o orvalho numa árvore an�ga. Um sapo fascinado de libélula.

- E o próprio cenário com flor.

Manhã seguinte ao Carnaval. Ao longe um quero-quero vigia o amanhecer, enquanto filhotes de cambacicas se bicam na ramagem. Há flor e mel. Porquanto, eu não sei uma ave que emite seu lamento agudo. Fico triste para logo outra vez me distrair de mim... Mas ao voltar-me para o chão raso - é o Sol que chega furando tudo de luz? Ou os pequenos corpos ocultos incendeiam o capim! E já outra vez distraída me assossego entre ramagem e chão. Então estrelas? Amarelas de cinco pétalas! Com a ponta dos dedos respiro oloroso, para desenhar as bordas num tapete. Os lilases margeando pela segunda vez o entorno - meus pés sabem o ouro por onde pisar esse chão.

- De estrelas?...

Quarta-feira de Cinzas. Por aqui é tudo silêncio de gente e paisagem. De passarinho uma corruíra se descontenta, e o gato? Espiando dois sabiás: um se sabe já marcado para um banquete. O outro ainda terá voos sobre esse chão e paisagem. É a vida, é uma quase tragédia com milagre! Des�no de criatura é sempre assim, com muitos sustos e o ser esperando para disputar pelas migalhas...

- Também eu como no cocho do felino.

Silêncio e Paisagem. Em deambular as paisagens, os signos de minha infância se traduziam em letras transparentes de verdes. Então havia aquele riozinho, ou córrego de corredeiras, desenhando-se os caminhos com linhas molhadas. E eu percorria o liso dos dias como quem nascera para as errâncias. Também a u�lidade do Sol a�ngia as coisas do Mundo, alumiando apenas. E de tanto ser desfamiliada eu não corria muito risco de ser alvejada por razão dos bons costumes.

- Principalmente uma menina, que para ser pega em crime é quando a vislumbram pra�cando liber�nagens de ser criança.

Como um pêndulo. Então é só recomeçar a trilha sem rastro. Essa que me levou apagando caminhos para não voltar. As pegadas num chuvisco e o vento nos cabelos... Então é olhar em volta, ou ponto de par�da, mas nada pra ver borrada a pupila em temporais. E o corpo de uma avezinha �mida, como que afrontada por chuva grossa. São quatro rosas por abandono, para transpor todo aquele frio. Isso é visão de nunca regressar: uma criança tão desencorajada de infância, um preceptor inverso e sombrio empurrando pras distâncias... E o tempo usurpador de memórias – eu era como um pêndulo com atrator. Todavia tencionava regalar-me com mimos, uns tesourinhos ocultos em minha embarcação. Mas, e aquela voz ameaçando!

- Apenas o tambor no peito, menina!

In: Memórias de Mariana

Por de Porto Alegre/RS Paulo Parada

ENTREVISTA

TANTA COSA com demétrio de freitas xavier

Quem é Demétrio Xavier? Sugerido como tema do ar�go pelo editor Clauveci Muruci, meu conhecimento sobre a música de Demétrio era superficial. A única informação concreta que eu dispunha era a de que Demétrio é apresentador do programa Cantos do Sul da Terra da FM Cultura 107,7, gravado ao vivo em Porto Alegre e apresentado de segunda a sexta, às 13 horas. Ao pesquisar seu nome na internet, descobri que ele também é instrumen�sta e cantor especializado na música crioula do Uruguai e da Argen�na, conhecedor e intérprete da obra de Atahualpa Yupanqui e vencedor do fes�val Califórnia da Canção Na�va em 2009, por sua composição A Sanga de Pedro Lira (com poesia de Marco Aurélio Vasconcellos). Depois de nosso encontro no dia 05 de novembro de 2014, às 14h30 nos estúdios da TVE e FM Cultura, �ve a oportunidade de descobrir um mundo novo, rico em conhecimentos. Compar�lho minhas percepções sobre essa vivência e, confesso, em processo de lenta reflexão por sua complexidade. Assim como todo o ser humano que é agente de seu des�no e, por isso, transformador de sua realidade no mundo, Demétrio tem sua história para contar. Ao lado do editor Clauveci, realizamos o encontro que descrevo e, em partes, transcrevo aqui. Assim começo o ar�go, com Tanta Cosa. Clauveci Muruci – Quero abordar con�go uma parte mais ideológica do teu trabalho. A música rio-grandense foi encarada como movimento a par�r da Califórnia, lá em Uruguaiana [Fes�val Califórnia da Canção Na�va, início em 1971]. Apesar de naquela época a Califórnia ter nascido com algum entendimento que proibia a influência Uruguaia e Argen�na nos nossos compositores, te pergunto, qual era a principal caracterís�ca ideológica em que surgiu o movimento na�vista? Ele já começou com a música engajada, ou não? Demétrio Xavier – Olha, é uma pergunta muito interessante para uma resposta longa. Uma pergunta que, oxalá, eu possa responder de uma maneira sa�sfatória. Porque eu não sou alguém tão voltado, ou tão conhecedor pra esse processo da música regional nossa. Eu sou muito mais – de uma forma monomaníaca e an�ga – dedicado a música rioplatense, música uruguaia e argen�na, música chilena também de uma maneira... Mas é claro (e isso tá na tua pergunta e me parece o mais bonito dela), é claro que a comparação é inevitável, é necessária entre como funciona a coisa num ambiente e no outro. E eu acho, ainda que a Califórnia seja de 71, ainda que a Califórnia evidentemente seja inspirada no Fes�val de Cosquín, que é de 10 anos antes (61) em Córdoba na Argen�na..., a gente começa a ter uma noção do poder, da importância da Califórnia no final dos anos setenta, início dos anos oitenta. Então eu não tô diminuindo em nada aquelas maravilhas das primeiras Califórnias, claro que não. Mas lá na primeira, ou segunda [Califórnia] tava o Mar�n Coplas brigando com essa questão de “pode ou não pode castelhanismo aqui no meio”. Eu falei que era uma resposta longa e tenho medo de me alongar demais, até pelo meu gosto pelo assunto. Mas uma coisa legal que a gente tem conta, é que o Rio Grande do Sul possui uma divisão intelectual – e que não tem como não alcançar o [meio] ar�s�co, a música também – entre pla�nistas e lusitanistas. Isso tem um marco na historiografia, na produção de história como ciência no Rio Grande do Sul, claro. Vamos dar o crédito, quem levantou isso numa bela pesquisa é uma professora chamada Ieda Gu�reind. A Ieda Gu�reind mostrou com clareza que há uma vertente pla�nista e uma vertente lusitanista que se digladiaram tremendamente. Um momento chave disso foram os duzentos anos da morte do Sepé Tiaraju (em 1956 se eu não �ver enganado). O pau pegou no Rio Grande do Sul! Manuelito de Ornellas versus Moyses Velhinho, nessa época..., e muitos outros, muitos ao lado de cada um. Qual era a questão? Homenagear o Sepé ou não. Os lusitanistas diziam: “mas aquilo era história castelhana”, porque aqueles padres em sua maioria eram espanhóis (risos). Então a nossa história começa em 1737 com a fundação do presídio lá, que vem a ser Rio de Grande, [fundada por] José da Silva Pais. E aí os pla�nistas diziam: “tá doido!”, porque aqui havia muita coisa desde a Colônia do Sacramento em 1680... , e antes!

Então essa divisão é feroz e é inescapável. O Érico Veríssimo, imponente, maravilhoso... mas serviu (em O Tempo e o Vento) pra fixar e s s a i d e i a l u s i t a n i s t a q u e fo i a b ra ç a d a c o m u n h a s e d e n t e s p e l o G e t ú l i o Va r g a s e p e l a i d e i a d e criação de uma nacionalidade. Não esqueçam que o Getúlio Vargas é o cara que mandou proibir os hinos dos estados e queimar as bandeiras numa cerimônia pública. Então não servia pra aquela nascente nacional do Estado uma ideia de regionalidade tão forte que nos integrasse até com outros países. Seria um troço de uma inconveniência tremenda pra aquele projeto, que ele [Getúlio] levava com mão de ferro sob vários aspectos. E foi um projeto grandioso, não vamos entrar nesse mérito. Mas tem isso e, daqui a pouco, tem o Aureliano de Figueiredo Pinto que começa As Memórias do Coronel Falcão [livro que Aureliano começa a escrever em 1936] em espanhol. Hoje qualquer um faz isso, numa letra. Qualquer Demétrio fala em espanhol num programa de rádio. Mas naquela época [1936] o livro As Memórias do Coronel Falcão começa com a frase “Cayó el velo, cayó la felpa”. Era uma provocação e tanto, então essa “pauleira” é an�ga. Então tem muita gente intelectualizada, muita gente ligada com essas vertentes literárias e históricas. E que chegam a um movimento como o da Califórnia. Mas mesmo assim, vocês sabem como funcionam essas coisas de ideologia, tem muita gente impregnada nessa discussão sem saber, né? E é isso que acontece a par�r de 1971. Mas quando eu falo da Califórnia, eu sou nascido em 66, então eu não poderia estar antenado em 71, mas me interessa par�cularmente mais no final dos anos 70 e início dos anos 80, porque essa é a abertura democrá�ca e o fim do regime militar. Se situar a Califórnia em 84, a gente tem a transição democrá�ca do país, né? E aí eu tenho uma sensação melancólica – de quem foi adolescente, jovem, ali no início dos anos 80 – de que a gente perdeu um pouco o “trem da história”, que a gente tava criando uma música popular maravilhosa, de raiz

Foto: Odara Produções/divulgação

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rural e tradicional, com muita gente boa querendo fazer as devidas fusões e incorporações do contemporâneo e tal, mas que isso não vigorou por muito tempo como um movimento hegemônico, mais forte, isso acabou sendo derrubado por uma ideia mais tradicional de música ligada ao rural e a história regional e que, nem é necessário dizer de tanto que já se diz, que essa tradição é intensamente inventada e, portanto, despreocupada com os processos populares, históricos e coisa e tal. Mas a questão é que tava aparecendo um movimento lindo, que me fazia pensar no Alfredo Zitarrosa dizendo: “a milonga é o blues de Montevideo”. O que tá acontecendo com o trabalho do [Vitor] Ramil só agora, com o trabalho do Bebeto [Alves] só há pouco, com experiências como as do Oly [Jr.], o que tá resultando poderia ser um movimento amplo desde o final dos anos 70 e início dos anos 80, quando começaram a aparecer coisas maravilhosas. Havia um cuidado de temá�ca, letra, profundidade de compromisso, que hoje o que a gente vê no ambiente mais regional, mais tradicional aqui em música, a gente vê uma coisa muito interessante: um apuro, uma qualidade enorme no ponto de vista da execução instrumental e não �nhamos isso. Quando a gente ouve as gravações an�gas de fes�val parece um pouco caseiro e agora é um troço assim que é um relógio! Sobretudo os violonistas, acordeonistas, arranjos, estudo... Mas as temá�cas, as letras, ficam devendo e se repetem, pa�nam, de uma maneira que não se pode comparar ao início do fes�val [Califórnia]. Voltando ao ar�go e saindo do plano da entrevista, convido o leitor para a reflexão sobre a complexidade das questões apontadas por Clauveci e respondidas sob a perspec�va de Demétrio. Existe todo um universo de profundidade de informações e de construção iden�tária, por um lado os lusitanistas e, por outro, os pla�nistas. A resposta de Demétrio para nossa primeira pergunta durou cerca de oito minutos em uma entrevista de quase três horas. Seria necessário algumas dezenas de páginas para a transcrição completa da entrevista e, talvez, a elaboração de novos ar�gos sobre o assunto. Acredito que é interessante informar ao leitor alguns trechos dos tópicos abordados e, também, expor as percepções sobre o encontro.

Na próxima pergunta, Clauveci sugere comentários sobre a afirmação de Atahualpa Yupanqui em entrevista à televisão espanhola, dizendo que seus colegas argen�nos não haviam lido mais que cinquenta livros. A grande questão de Clauveci é: se os músicos regionais do Rio Grande do Sul leram os cinquenta livros, metaforicamente, sugerindo a fundamentação de nossa música. Demétrio afirma que sua preocupação maior é com os jovens que estão nos fes�vais “em uma produção intensa, uma produção fabril. Estou muito mais preocupado com as coisas que eles escrevem do que com as coisas que eles leem.[...] O que é isso exatamente? [referindo-se à afirmação de Atahualpa sobre os cinquenta livros] Tu quer fazer um teste de proficiência pra umbagualeiro, analfabeto? [...] Isso é ambíguo.”. Em minha percepção, creio que Demétrio ressaltou a importância da valorização da poé�ca do povo, dos oprimidos, homens da terra e trabalhadores da cidade. Sobretudo, penso que Demétrio ques�onou a banalização da produção mecanicista das letras, o fazer por fazer, dizer por dizer, compor para mostrar qualquer resultado em curto espaço de tempo/reflexão, da poesia sem preocupação com o conteúdo e a ausência de veracidade nas afirmações apresentadas.

Perguntei para Demétrio sobre sua visão referente ao processo que vivenciamos hoje em nossa música feita no Rio Grande do Sul e, os mo�vos pelos quais ar�stas como Bebeto Alves e Vitor Ramil – que têm suas carreiras há tanto tempo – recentemente voltaram seus trabalhos musicais para a cultura la�no-americana. Demétrio ressalta a universalidade desses ar�stas e a desenvoltura com que apresentam sua música para plateias do Brasil e exterior, nesse momento “tá acontecendo uma licença, uma tolerância das pessoas para escutar isso [a música com influência la�no-americana], mas eu acho que algumas coisas têm que ser lembradas por jus�ça. Primeiro, os caras que faziam isso antes: o Raul Ellwanger, Luis Carlos Borges, Mar�n Coplas, Talo Pereira e certamente estou esquecendo um monte de gente pelo caminho. […] Antes era uma pauleira, dar murro em ponta de faca. E hoje está acontecendo com uma naturalidade, uma fluência. Sim. Mas aí vamos ser justos com a genialidade desses caras contemporâneos que a gente citou [Vitor Ramil e Bebeto Alves]”.

Comentei com Demétrio uma observação minha sobre dois pólos: a música la�no-americana me parece revolucionária, enquanto a música na�vista do Rio Grande do Sul me remete ao conservadorismo (muitas vezes reacionário). Sobre essa nova questão que apontei, Demétrio contou que fez graduação em ciências sociais e seu trabalho final de pesquisa foi relacionado às diferenças de matrizes ideológicas entre o regionalismo gaúcho do Rio Grande do Sul e a cultura gaúcha uruguaia/argen�na. Demétrio afirma que “nosso gauchismo [do Rio Grande do Sul] é reivindicado pela oligarquia, pois foi ela que começou a construir isso. [..] Mas o gaúcho foi construído a par�r de um discurso ressen�do das elites que perderam o poder” . Ressalto mais uma vez que Demétrio está falando do gaúcho rio-grandense. Toda essa discussão dialógica me faz lembrar Paulo Freire em A Pedagogia do Oprimido, onde afirma que o oprimido (que deveria ou poderia ser revolucionário) e o opressor (reacionário) são próximos pelo antagonismo e que, na práxis dos opostos, os papeis podem ser assumidos, simulados e confundidos. Ou seja: o oprimido pode hospedar o opressor. Na música gaúcha, observamos algo extremamente posi�vo: se o tradicionalismo das oligarquias do Rio Grande do Sul é reacionário ou opressor, as caracterís�cas revolucionárias, folclóricas/populares dos povos la�no americanos estão cada dia mais presentes na música regional do Rio Grande do Sul.

No momento final de nossa entrevista, conversamos sobre Atahualpa. Comentei que sinto falta de ouvir Atahualpa no repertório dos violonistas acadêmicos do Rio Grande do Sul – nas graduações em música do Brasil, Yupanqui é pra�camente ignorado – enquanto na Argen�na e no Uruguai sua música é estudada com entusiasmo por acadêmicos e intelectuais. Demétrio comenta que os professores costumam ensinar outras composições, os doutores “te dariam uma [peça] do Ginastera, uma do Carlevaro. Acho importante a gente recordar que o Yupanqui não tem toda essa grandeza como criador violonís�co. Mas também é verdade que a gente tem esse divórcio com as coisas do Prata e tal. […] Tem um baita violonista, Arturo Zeballos. Ele fez vários volumes de transcrição da obra do Yupanqui.”. Confesso que esperava uma resposta defensora da obra violonís�ca de Yupanqui, mas acredito que essa surpresa deu-se pela tenta�va de humildade de Demétrio perante a grandeza do repertório violonís�co tradicional das universidades de música. Espero que esse ques�onamento mo�ve a procura por transcrições da obra de Yupanqui.

A atmosfera amigável fez parte de nosso encontro do início ao fim. Ao final da entrevista, Demétrio contou a história de como conheceu Atahualpa Yupanqui. Também falou sobre como conheceu Lúcio Yanel e a história de seu violão takamine – que já foi de Yanel. Combinamos que possivelmente faríamos uma composição juntos e que Demétrio poderia escrever algum poema para eu musicar. Demétrio tocou e cantou Camino del Indio de Yupanqui. Comentamos sobre uma amiga que temos em comum: Marina San�llán. Marina é Argen�na e Demétrio a conheceu em

Cerro Colorado (província de Córdoba, Argen�na) nos anos noventa, eu conheci Marina através de um vídeo em que ela cantava Zamba del Duraznillo (composição de Hamlet Quintana e Óscar Além). Adicionei Marina em uma rede social na internet e combinamos que, futuramente, poderíamos fazer um intercâmbio cultural. Marina ouviu minhas composições e disse que poderia cantar Meu Samba em Paz (canção que compus em parceria com Alexandre Áusquia). A ideia ficou só na conversa por enquanto, não obstante Demétrio dizer que também gostaria que Marina cantasse sua canção autoral in�tulada Tanta Cosa. Foi com emoção que ouvi sua zambita, esperando o dia em que Marina cantará nossas composições – em Porto Alegre, Buenos Aires, Cerro Colorado, qualquer lugar do mundo.

Porto Alegre | | 5 | ARTES | JANEIRO 201 05

Por de Martín Palacio Gamboa Montevidéu/Uruguai

ANALISE

LA LETRA LÍQUIDADelimitaciones provisorias de la nueva literatura uruguaya -

Porto Alegre | | 5 | ARTES | JANEIRO 201 06

*Almandrade é ar�sta plás�co, poeta e arquiteto.

51 3228 - 6900 , Rua 649Duque de Caxias

Centro Histórico | – RSPorto Alegrewww. .com.brgaleriaespacoculturalduque

Armazém Pimenta: A Duque e os Fragmentos da Cidade | Eduardo Vieira da Cunha

Visões de TlöN | Kiran León

Superfícies Humanas | Juliano Gonçalves Aor

Universos Expressivos | Acervo Galeria

Persistente Indecisão | Carlota Keffel Garcia

História da Arte | Escola de Arte Krapok

EXPOSIÇÕES ENTRE de e de 17 OUT 20 NOV

Por otra parte, la noción de sujeto que emerge de estos nuevos autores no se explica ya por las tesis culturalistas

que insisten sobre los tópicos del fracaso desarrollista y el trauma pos-dictadura, elaboradas para dar cuenta de

una historia signada por el desencanto, la carencia y la expoliación (aunque aquí podríamos destacar el peculiar

trabajo de Ana Vidal con su novela Frankfurt y el tratamiento narra�vo que le otorga Guillermo Álvarez Castro al

tema del desaparecido en Celebración). Las hipótesis tremendistas de que somos subsidiarios de la violencia, de

que el resen�miento clasemediero o la autoderogación pequeñoburguesa nos des�nan, se han conver�do, en este

comienzo de siglo, en meros mitos psicologistas, mecánicos y simplificadores, que no logran abarcar en un cuadro

explica�vo la calidad imagina�va de lo que se está perfilando en este nuevo mapeo, de la capacidad crea�va de

inéditas formas de resistencia cultural, de las estrategias de negociación; mucho menos del espesor vivo de la

co�dianidad que, con todas las razones en contra, sigue humanizando a la violencia, procesando a la carencia, y

reapropiándose de los lenguajes dominantes, aspectos que se vuelven notoriamente visibles con la obra de

Rodolfo Santullo, Mercedes Rosende y Luis Fernando Iglesias. Por otra parte, no estamos hablando de un grupo de

escritores que se caracterice por el parricidio, como sí sucedió con la generación de los 80 (la que se empezó a

nuclear alrededor de Ediciones de Uno: Héctor Bardanca, Gustavo Wojciechowski, Luis Bravo, Lalo Barrubia), o la

cacería zombie, como sí sucedió con la generación de los 90 (la que se empezó a nuclear alrededor del suplemento

“República de Platón”: Amir Hamed, Carlos Rehermann, Ercole Lissardi, Aldo Mazzuchelli). Tampoco estamos

hablando de un grupo que sufra de orfandad, pese a que algún autor pueda confundir orfandad con el

desconocimiento liso y llano de sus predecesores más inmediatos o con su nega�va a deberle algo a algún autor

vivo (los muertos no cobran). De hecho, varios integrantes de esta nueva promoción han mostrado una más que

saludable tendencia dialógica y revisionista ante los diversos legados que integran el repertorio de la literatura que

se produjo durante el siglo XX. En todo caso, sí me arriesgaría a hablar de un grupo de autores que parecen tantear

gestos fundacionales frente a la creciente indiferenciación entre el mundo fác�co y el mundo virtual, aspecto que

se vislumbra en la novela de indisimulada filiación cyberpunk de Gabriel Peveroni, El exilio según Nicolás.

Parafraseando a Bauman, “hoy en día las fronteras se desplazan, las categorías se tornan confusas. Las diferencias

pierden su marco; se desmul�plican, llegan a encontrarse casi en estado libre, disponibles para la composición de

nuevas configuraciones, móviles, combinables y manipulables”.

Esas nuevas configuraciones se observan no sólo en sus tác�cas de escritura si no en sus formas de difusión y

diseminación a par�r del impacto que lo digital ha dejado en la nueva producción ar�s�ca y cultural. Mediante la

proliferación de los blogs y el uso de Facebook, los nuevos autores devienen viajeros en un panorama saturado de

signos y nuevas relaciones entre texto e imagen. Se materializan trayectorias –y no tanto des�nos- que se recorren

en el �empo al igual que en el espacio. Lo que colabora también para que surjan, aparte de los siete escenarios

mencionados, los rasgos de una literatura que apela a la factura en constante desarrollo (véanse las ramificaciones

o las arborescencias textuales y argumentales de un libro como Exiliados, de Mar�n Arocena), el caos, la

evanescencia (Posmonauta, de Natalia Mardero), la liquidez (Nadie recuerda a Mljenas, de Ramiro Sanchiz), el

anonimato, la colec�vidad y la autoría híbrida (El juglar entre las ramas, de Mar�n Bentancor, en cuya obra

par�cipan -a modo de work in progress- varios autores para dar cuenta de la naturaleza caleidoscópica de un Bob

Dylan refugiado de sí mismo y en el Uruguay profundo). Mientras tanto, quizá se nos hace necesario ahora pensar

en un espacio crí�co en el que la escritura de estas orillas del Plata guarde la posibilidad de cons�tuirse como lugar

de un pensamiento ya no condicionado exhaus�vamente por la demanda de sen�do iden�tario, de lo que se

quiere enmarcar como “literatura uruguaya”, sino como la posibilidad de varios espacios de pensamiento

alterna�vo en el espacio literario mismo. Asegurar la pluritopía dentro de esta vasta y pareja producción que se ha

ido generando (con su nuevo repertorio de temas, de posiciones esté�cas, de cruces) quiere decir, pues, que la

posibilidad de pluritopía debe poder pensarse desde la literatura misma, y no, como suele hacerse, meramente en

relación con la literatura, o sobre ella, como si fuera meramente determinar, sobre el cuerpo inerte de estos textos,

qué es lo que en estos textos parece apuntar a lugares de subalternidad enuncia�va o a silencios donde lo real

extraliterario otorgaría una legi�midad contrahegemónica. Será cues�ón de �empo. Y de una nueva poli�zación de

nuestras prác�cas de lectura y recepción, que está en potencia aunque todavía no en acto. Como ya dije, será

cues�ón de �empo. Y ese �empo es ahora. Agradezco a Pablo Silva Olazábal por sus observaciones y aportes que

enriquecieron de un modo vasto este breve trabajo divulga�vo.

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SERTÕES NÔMADESExposição cole�va de Alexandre Severo, Fernanda Chemale e Ricardo Labas�er

A exposição “Sertões Nômades” apresenta dois ensaios fotográficos que foram produzidos especialmente para o projeto por Fernanda Chemale e Ricardo Labas�er, assim como uma homenagem póstuma ao fotógrafo Alexandre Severo com a série “Sertanejos”. A exposição composta por 50 imagens em grande formato está no jardim do Museu do Homem do Nordeste da Fundação Joaquim Nabuco em Recife até 6 de janeiro de 2015.

A série “Sertanejos” do fotógrafo pernambucano Alexandre Severo, in memorian, foi viabilizada através acervo do Jornal do Commercio, onde trabalhou deixando registrado: “A idéia do ensaio é trazer à luz os habitantes dessa região, dotados de uma aura imutável, presente no imaginário popular e relegados à tradições ex�ntas. Entretanto, o mesmo sertão guarda espaço para o tradicional e para o contemporâneo”. Com sua par�da prematura aos 36 anos e uma trajetória brilhante que se iniciou em 2002, Alexandre Severo deixou sua marca na fotografia brasileira. Neste trabalho publicado pelo jornal como “Os Sertões” fotografou personagens do sertão do nordeste para o caderno especial sobre a morte do escritor Euclides da Cunha, levando o Prêmio Esso de Jornalismo para o Caderno em 2009. Esteve com seus trabalhos nos fes�vais de fotografia FestFotoPoa, Paraty em Foco e Bienal Argen�na de Fotografia Documental. Além fronteiras ainda apresentou suas imagens na galeria Tate Modern em Londres na Inglaterra. Graduou-se em Publicidade na Universidade Católica de Pernambuco, em 2011, e concluiu pós-graduação em fotografia na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), em São Paulo, 2014. Trabalhou nas redações do Jornal do Commercio, Folha de Pernambuco e no Diário de Pernambuco.

Apreender essas mudanças do nordeste através destes ensaios sobre o sertão em trânsito, com seus deslocamentos internos, suas migrações, a duplicidade de lugar, dos contrastes e confrontos, das rupturas, de um processo emancipatório em busca de uma vida melhor. Essa sobreposição de uma imagem nômade, de realidades que não mais existem, de uma auto referência quebrada, da adaptação ao novo, da busca de pertencimento através de uma narra�va realista se propõe à entender os paradigmas e dilemas de uma autorepresentação. O Nordeste para o resto do Brasil se apresenta muitas vezes como um estereó�po. Estamos em busca do contra-fluxo do re�rante, desvendando esta nova iden�dade em construção. A escrita da história pode ser reduzida a uma imagem congelada e descon�nua. A fotografia propõe o oposto disso numa relação atual de movimento em evolução.

A exposição "Sertões Nômades" tem a curadoria de Fernanda Chemale, coordenação da antropóloga Ciema Mello. Está no jardim do Museu do Homem do Nordeste desde 07 de novembro, como parte da programação do VI Theória e permanecerá em exibição até 06 de janeiro de 2015.

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O ensaio de Emanuele Bizzoto e Dominik Picnic, tras duas leituras. As escadarias num desenho de linhas retas e curvas, realça a esté�ca arquitetônica contemporanea em espaços públicos. E também conduz uma cri�ca ao nosso costumes em subir pequenas distâncias em escadas rolantes e elevadores, tornando-nos escravos inconciêntes do conforto desmedido.

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Conheci Pedro Flores há uns 30 anos atrás e sempre apreciei seu olho clínico e bom gosto em suas produções fotográficas. Na

época me aventurava nesta área e muito pedi seus conselhos. Aos 16 anos, por influência do pai, com nome de Pedro Flores

também, iniciou em seu estúdio. Conheceu grandes fotógrafos de renome, amigos de seu pai, como o Sioma Breitman e La

Hire Guerra. Foi pegando gosto pelo o�cio apesar de ter feito seu brevê para aviação comercial. Curioso e aberto a novidades,

sempre foi flexível às tendências e es�los de exigência do mercado. Sua primeira matéria foi sobre vinhos para uma revista de

São Paulo, o que o levou logo em seguida a ser sócio da Focontexto. Trabalhou na Caldas Jr. De 1970 à 1978 e em publicidade

de 1990 à 1995.

Em 1975 ganhou prêmio da Nikon mundial e foi convidado a palestrar sobre fotografia na PUC e Unisinos. Com produção de

Duda Molinos, novamente foi premiado em campanha internacional da criança, sobre aleitamento materno. Em 1985 fez

sua individual no teatro São Pedro sobre o manicômio u�lizando formatos 4 X 5. Trabalhou de 1990 à 1995 em publicidade e

por conseqüência, convidado a trabalhar em Portugal durante 3 anos para revista Brasil/Europa, ampliando suas

experiências e conhecimentos.

Curiosamente perguntei a Pedro sobre a fotografia dos anos 70 em comparação com a de hoje. Contou-me Pedro que a

fotografia era como assinatura e podia-se iden�ficar o fotógrafo pelo es�lo e tema. As equipes se reuniam e cada um

colaborava em sua área. O estúdio era ambiente de criação e idéias, trabalhando luz e sombra. A regulagem, ajustes de

máquinas e filmes dependiam somente do conhecimento e habilidade individual.

Pedro fez curso de tratamento de cromo em uma época que poucos o faziam, para seu próprio uso. Todos �nham seu

laboratório par�cular e acompanhavam cada etapa dos resultados até as fotos irem para a redação. Com a digitalização algo

se perdeu, diz ele. Caracterís�cas pessoais de cada fotógrafo foram uniformizadas com tratamento de photoshop, formando

um padrão único, as tornando sem iden�dade. Pedro trabalhou para revistas importantes como Elle e Quem onde

perspec�va, equilíbrio, enquadramento, cor e forma, são quesitos diferenciados que tornam imagens em obras de arte.

Inspirado pelos grandes Ansel Adams e Car�er Bressan, fez da fotografia sua fonte de criação. Hoje se volta novamente para

a arte, desta vez u�lizando seus conhecimentos sobre luz e sombra com pinceis para compor suas telas. Com viagem para

França em seu horizonte, brevemente teremos mais uma exposição, nos deliciando com suas magníficas obras.

ARTES PLÁSTICAS

DA ARTE FOTOGRÁFICA À PINTURA

Por de Porto Alegre/RSRejane Hirtz Trein

Foto: Pedro Flores

PEDRO FLORES

Foto: Mariana Molinos

Porto Alegre | | 5 | ARTES | JANEIRO 201 13

GIANCARLO BORBA: A experiência ar�s�ca da milonga social

Nascido em Herval, o músico Giancarlo Borba lançou em 2013 o álbum Milongador, cujo �tulo logo despertou minha atenção, pois tenho especial interesse nas diferentes apropriações que a milonga vem ganhando nos úl�mos tempos. Ano passado, aqui mesmo no Jornal de Artes, escrevi sobre a fusão entre blues e milonga efetuada pelo cantor e compositor Oly Jr.

Indicado na categoria MPB ao I Prêmio Brasil Sul de Música e como revelação 2013 ao Prêmio Açorianos de Música de Porto Alegre, Milongador impressionou-me desde a primeira audição: há muito tempo não ouvia um conjunto de composições que transitasse tão bem entre o lirismo e a crí�ca social. Tal caracterís�ca só parece ter sido viável porque o trabalho ar�s�co de Giancarlo Borba reúne um conjunto de ó�mas referências e inspirações. Os poemas de Osmar Hences, que formam a base do repertório do disco, são de uma beleza que se renova a cada instante e que ganham uma expressão musical apropriada e de incrível sensibilidade a par�r da combinação de ritmos e instrumentos feita por Giancarlo. Além disso, as canções do repertório são a prova de que a arte pode sim nos proporcionar uma experiência de contato com a beleza e, ao mesmo tempo, mobilizar nosso afeto e nossa luta por outros mundos melhores e mais justos.

A milonga, que compar�lha espaços sonoros com diversos ritmos (como candombe, chote, rancheira, samba, entre outros), é atravessada por uma ternura que empresta suas su�lezas e ma�zes de forma muito cria�va nos arranjos e nas letras das composições.

Segundo o próprio Giancarlo:Milongador é o resultado de vários anos de pesquisa e trabalho em cima de ritmos, sonoridades e temá�cas. Aqui se escutará ritmos como: Chote, Chamarrita, Milonga, Rancheira, Zamba entre outros.

Com arranjos que mesclam regionalismo e modernidade, com influências que passam pelo Samba, Murga, Candombe, música erudita e eletrônica, com instrumentos tradicionais e outros construídos de forma artesanal a par�r de materiais alterna�vos descobertos em oficinas ministradas com crianças e experiências realizadas ao longo dos anos, dando uma sonoridade toda especial às musicas.As letras passam por referências como Fernando Pessoa, Thiago de Melo, Caio Fernando Abreu e José Hernandez. Com uma linguagem su�l e regional, com a visão do gaúcho que vive do lado de fora das cercas do la�fúndio, do gaúcho que anda a pé e não adora as coisas do patrão, que vê a Terra como um lugar e esperança, sonhando com um futuro melhor e um mundo mais justo.

O disco, composto por 13 faixas, traz belíssimas letras de Osmar Hences, educador popular já falecido, que recebe uma homenagem indescri�velmente bela e inspirada de Giancarlo, responsável pelos arranjos e pelas interpretações que valorizam as múl�plas atmosferas e temá�cas abordadas por Osmar em seus escritos. As agruras do trabalhador rural explorado pelo la�fúndio e as incertezas e dificuldades de sua condição errante; as angús�as, dilemas e alegrias dos afetos da vida são poe�zados através de cria�vos recursos, que envolvem desde a simplicidade das tarefas do co�diano até inven�vas e inspiradoras metáforas.

Em Agosto por dentro, o imaginário do “desgosto” associado a um mês do nosso calendário antecipa suas angús�as na alma e no co�diano do narrador, que transita facilmente do chimarrão à meta�sica para traduzir suas emoções. Já em Milongador, faixa-�tulo do álbum, a letra dá vida ao lavrador que, alijado de seus meios de subsistência, sobrevive lutando através da arte, mesclando dificuldades e esperanças em uma poé�ca telúrica de impressionante novidade.

É indispensável também, durante as audições das músicas, prestar muita atenção na atmosfera sonora construída por Giancarlo Borba com os experimentos instrumentais que fazem parte de seu trabalho ar�s�co. A sonoridade resultante, caprichada e repleta de su�lezas, enleva nossa percepção com os recursos necessários para viajarmos pelas letras de Osmar com toda a sensibilidade que elas merecem.Por fim, as músicas do álbum nos ajudam a perceber que poe�zar e transformar o mundo são prá�cas que, além de poderem andar juntas, tornam-se ainda mais fortes e essenciais quando reunidas e sinte�zadas em um mesmo processo crí�co e ar�s�co. Assim, a terra, o amor, o trabalho e a arte (quatro aspectos fundamentais da nossa vida que estão presentes no repertório do Milongador) parecem fazer um convite, através desse disco, para que a nossa luta e a nossa sensibilidade contribuam para que todos possamos desfrutar de suas riquezas.

Por Ícaro Bittencourt de São Francisco do Sul/SC

MUSICA

Giancarlo Borba durante apresentação pelo projeto Dandô em novembro deste ano em Porto Alegre. Foto: acervo pessoal

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TRÊS LIVROS DE CRÍTICA LITERÁRIA

Por de Eduardo Jablonski Santo Antônio da Patrulha/RS*

Prezados, desejo fazer um texto híbrido, mistura de crônica (uso o “eu” e minhas histórias pessoais) e reflexões literárias. Numa época em que os livros ficaram para a úl�ma opção do prazer co�diano, mais do que gostar de ler, amo a crí�ca literária. Então, quando um dos meus alunos - o novelista, poeta e presidente do Grêmio Literário Patrulhense, Maurício Collar, me ofereceu o livro Para ser escritor, de Charles Kiefer, peguei entusiasmado e parei com todas as leituras que estava fazendo, pois, no meu gosto, o ensaio vem em primeiro lugar. Pouco tempo antes, li Novos Ensaios e Ler por Dentro, ambos de Armindo Trevisan. Falo das minhas impressões acerca dos três.Sobre Charles Kiefer, surgiram-me pensamentos posi�vos e nega�vos. Trato dos primeiros: sempre �ve a certeza de que Moacyr Scliar era o escritor de melhor qualidade de texto na história do Rio Grande, porém fazia anos que não me deparava com uma obra de Charles Kiefer (autor de quem já li quase tudo). E �tubeei: os problemas graves dos amadores (eco, aliteração, assonância e colisão), que deixam o texto como se fosse uma careta, não aparecem em Charles Kiefer; é um verdadeiro mestre na área. No entanto, sua arrogância e vaidade chegam a ser luminosas; fiquei com vergonha quando ele se considerou um autor europeu, vejam só – um cara que nasceu no interior do Rio Grande do Sul.Quem não conhece a teoria pós-moderna e uma de suas ramificações – a teoria pós-colonial – acharia que faz algum sen�do, mas não há nenhum, e Charles Kiefer é doutor em Letras, isto é, tem mais estudo do que eu. A teoria pós-colonial, entre outras coisas, defende o seguinte: só entenderá a iden�dade europeia, a história europeia, as nuanças da vida europeia, os idiomas, os níveis de linguagem pra�cados na Europa, apenas e tão somente um europeu e ninguém mais. Explico melhor: só compreenderá os problemas de uma mulher quem for mulher; os de um gay quem for gay; os de um negro quem for negro e assim por diante. É um dos maiores absurdos literários um gaúcho do interior afirmar que poderia ser considerado um autor europeu. Isso se explica pela sua vaidade que deve ser enorme.Sobre Armindo Trevisan, Novos Ensaios trabalha temas literários e outros, o que promove uma queda na atenção de um leitor como eu. Cheguei até a saltar os textos que não �vesse o foco na literatura. Mas certas comparações com outras artes e com a mídia dão um gosto pós-moderno ao livro. Para quem não sabe, uma das caracterís�cas do pós-moderno é a mescla do erudito e do popular, e Trevisan fez isso saborosamente.Já Ler por Dentro é uma obra acabada, de um mestre da crí�ca. Suas reflexões a respeito de Erico Verissimo, Mario Quintana e sobre a poesia deveriam ser lidos com devoção por escritores iniciantes. Há muitas dicas ali, como também há explicações criteriosas em Charles Kiefer. Indiquei aos meus alunos de oficina que comprassem o livro do Kiefer, apesar de não ter gostado da sua vaidade. A gente tem de separar as coisas. Luiz de Miranda também é absurdamente vaidoso, mas é um grande poeta e meu amigo.

* Eduardo Jablonski é mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS e autor de Palavra Revelação em Luiz de Miranda (Pradense, 2014) e Luiz de Miranda – o Senhor da Palavra (EdiPUCRS, 2010).

LITERATURA

Para Ser Escritor, de Charles Kiefer, lançado em 2010

pela editora Leya

Porto Alegre | | 5 | ARTES | JANEIRO 201 15

UM NOVO POSICIONAMENTO COMO

GALERIAMERCADO DE ARTE

Mamute investe em ar�stas representados e se consolida como galeria de arte. Posicionamento busca instaurar no cenário portoalegrense um ponto de referência comercial de arte contemporânea no Sul do Brasil

A Galeria Mamute se reestrutura e lança novo posicionamento de mercado, direcionando e ampliando sua atuação como galeria de arte comercial. Criada em 2012 e voltada à produção ar�s�ca contemporânea, a Mamute vem fomentando a reflexão e a produção de conhecimento no campo das artes visuais. Após um período de muito trabalho, pesquisas intensas, consultoria em modelo de negócios e de gestão, passa a ter como foco o fortalecimento do circuito comercial em seu segmento. “Com esta atuação pontual como galeria de arte, propomos instaurar no cenário local um ponto de referência comercial de arte contemporânea no Sul do Brasil”, afirma Niura Borges, diretora da Mamute.

A principal alteração promovida pela galeria neste momento é o trabalho em sistema de ar�stas representados visando expor, comercializar arte contemporânea e representar com exclusividade um grupo limitado. Com o intuito de seguir colaborando para a profissionalização ar�s�ca, a galeria tem compromisso com o forte inves�mento na carreira de seus ar�stas a par�r de inicia�vas de divulgação de seus trabalhos perante ins�tuições, colecionadores, curadores e público em geral. Com programação até meados de 2017, começa a des�nar o espaço exposi�vo com exclusividade aos seus ar�stas representados para a realização de exposições individuais e cole�vas. A par�cipação da galeria nas principais feiras de arte do Brasil, com expecta�vas de aumento gradual, também está entre as importantes estratégias do novo posicionamento de mercado da Mamute.

Nesta primeira fase são 19 ar�stas com representação exclusiva da Galeria Mamute, que trabalham com plataformas diversas como pintura, desenho, fotografia e vídeo, a maioria deles do Rio Grande do Sul e também de São Paulo e do Rio de Janeiro: Antonio Augusto Bueno, Bruno Borne, Claudia Barbisan, Claudia Hamerski, Clóvis Mar�ns Costa, Danilo Chris�dis, Dione Veiga Vieira, Fernanda Gassen, Fernanda Valadares, Hélio Fervenza, Hugo Fortes, Ío (Laura Ca�ani e Munir Klamt), Le�cia Lampert, Marilia Bianchini, Mariza Carpes, Nathalia Garcia, Pablo Ferre�, Patrícia Francisco e Sandra Rey.

Destaque em Espaço Ins�tucional (2013) no VII Prêmio Açorianos de Artes Plás�cas do Rio Grande do Sul e reconhecida no cenário portoalegrense por sua intensa dedicação às artes visuais, a Mamute realizou, em dois anos, inúmeras ações des�nadas à produção prá�ca e teórica nesta área. Propôs diálogos entre o segmento e seus cruzamentos com outras produções ar�s�cas contemporâneas por meio de palestras, mostras de vídeo, conversas com ar�stas, oficinas, lançamentos de publicações, debates, cursos, residências ar�s�cas, performances e exposições. “Com o novo posicionamento, focado na atuação comercial, a Mamute não vai perder essa caracterís�ca de ser um centro gerador de reflexão. Vamos, na verdade, dar um segundo passo rumo à consolidação da galeria e de seus ar�stas sem perder a essência proposi�va e provoca�va, que é uma de nossas caracterís�cas”, afirma Niura Borges.

O Núcleo de Vídeo RS – NVRS, projeto voltado para a produção ar�s�ca em vídeo, também segue na programação da Galeria Mamute. O NVRS promove a�vidades como palestras, mostras, cursos, orientações em vídeo e residências ar�s�cas com importantes teóricos e pesquisadores do vídeo e do audiovisual do Brasil. A par�r de propostas teórico-prá�co-reflexivas, as ações do Núcleo buscam proporcionar experiências rumo à expansão dos ques�onamentos acerca do território ampliado do vídeo e das suas relações com o cinema e as artes visuais.

Para o lançamento desta proposta, que marca a sua reestruturação como galeria comercial, a Mamute abriu suas portas ao público no dia 24 de outubro, às 20h, para a primeira exposição totalmente dedicada aos seus ar�stas representados. In�tulada “De Longe e de Perto” a mostra tem curadoria de Angélica de Moraes, renomada crí�ca e pesquisadora no campo das artes visuais e apresentará obras de pinturas, desenhos, fotografias e vídeos. “De Longe e de Perto” segue em cartaz até 22 de dezembro.

«Cataclisma» de Claudia Barbisan. Dimensões em 163cm x 130cm. Exposta na Galeria Mamute