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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, JANEIRO/2015 - ANO XVII - N o 215 O ESTAFETA Os agravos ambientais provocados pelo homem ao longo dos tempos e, mais recen- temente, com a expansão industrial, leva- ram à escassez dos recursos naturais, com aumento da produção de gás carbônico (CO 2 ) e consequente aquecimento global, cujos reflexos estão sendo registrados com maior intensidade nos últimos anos. A emissão cada vez maior dos gases que provocam o efeito estufa é alarmante. Che- gou-se ao limite da exploração do planeta, que responde de maneira agressiva para toda a humanidade. Em todos os continen- tes, esses agravos são observados. Apesar dos alertas e sinalizações de que a Terra está doente, o homem insiste em agredi-la. Ao longo das últimas décadas, estudos e mais estudos foram feitos anali- sando-se esses efeitos. Inúmeras conferên- cias e encontros discutiram a questão cli- mática decorrente do aquecimento global. Nada de eficiente, no entanto, foi feito. A velocidade com que a natureza é agredida é maior que o tempo que ela tem para se recuperar. No final de 2015, as na- ções do mundo vão se reunir em Paris e ten- tar chegar a um acordo para reduzir as emis- sões de gases do efeito estufa. O papa Fran- cisco, que se engajou nessa cruzada, espe- ra que os católicos do mundo, assim como outras grandes religiões, tenham grande parte a desempenhar na ação séria em rela- ção ao clima. Espera-se que Francisco diga aos 1,2 bi- lhão de católicos de todo o mundo que agir sobre a mudança climática é essencial para a fé. Em setembro, o Papa irá levar sua men- sagem para a Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. Pressionará os líderes políti- cos e religiosos com o objetivo de levá-los à ação real, antes da reunião de Paris, em dezembro. No ano passado, Francisco, dirigindo- se a uma multidão em Roma, disse: “Se des- truirmos a criação, a criação vai nos des- truir!”. Ele chamou de “pecado” a destrui- ção das florestas. Sob sua liderança, a Igre- ja Católica realizou uma reunião de cúpula de cinco dias com cientistas, economistas, filósofos, astrônomos e outros especialis- tas, para explorar formas de a Igreja abordar os temas do clima e da sustentabilidade. Espera-se que o Papa, por meio de uma encíclica, oriente os católicos como agir sobre as mudanças climáticas. Enquanto isso, mudanças simples podem ser efeti- vadas por qualquer cidadão consciente, a fim de se garantir consumo racional e de- senvolvimento sustentável: economizar água, reciclar, não poluir, economizar ener- gia, não desmatar ou praticar queimadas e, se possível, plantar mais árvores. O plane- ta agradece. Papa Francisco contra o aquecimento global Estudos publicados este mês por renomados institutos científicos apon- tam para o que qualquer leigo já havia constatado: a temperatura do planeta está cada vez mais elevada. Nunca se sentiu tanto calor como nos últimos tempos. Os verões estão mais quentes e extremos de temperatura são obser- vados em diferentes regiões do mundo. O ano de 2014 superou o de 2010 e é o mais quente já registrado desde 1880. Além disso, desde 1976 a temperatura global está acima da média histórica do século 20. Com isso, os dez anos mais quentes da história, com exceção de 1998, ocorreram depois da virada deste século. Os cientistas atribuem isso ao aquecimento global, especialmente na temperatura dos oceanos, causado pelo aumento das emissões de gases-estu- fa, como o gás carbônico (CO 2 ). Os cientistas consideram que, se a Terra aquecer em dois graus, o número de secas, furacões e enchentes aumen- tará perigosamente. Como nunca se emi- tiu tanto CO 2 quanto na atualidade, a humanidade atingiria tal marca em pou- cas décadas. Pesquisadores afirmam que impressionou o fato de o recorde ter ocorrido em 2014, ano que não teve o fenômeno El Niño – com ele, o ocea- no despeja enorme quantidade de calor na atmosfera, como aconteceu, por exemplo, em 1998, o quarto ano mais quente já registrado. Assim, da próxima vez que um El Niño forte ocorrer, é pro- vável que todos os recordes estabele- cidos em 2014 sejam quebrados. No final deste ano, negociadores institucionais se encontrarão em Paris para tentar fechar um acordo global que limite os gases-estufa na atmosfera. An- tes, porém, os países devem apresentar metas de emissões e as cidades buscar mecanismos para minimizar os efeitos dos agravos de que os homens foram os principais causadores. É hora de os governos deixarem o conforto de seus gabinetes, olharem o mundo ao seu redor e se mexerem. Ati- tude é o que falta. Sem ela, nossa civili- zação parece caminhar para o fim. Apesar dos alertas de que a Terra está doente, o homem insiste em agredi-la. Mudanças de hábito são necessárias: não desmatar ou praticar queimadas, respeitar as áreas de proteção ambiental, não poluir, economizar água e energia, reciclar e plantar mais árvores. O planeta agradece. Foto Arquivo Pró-Memória

JANEIRO 2015

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Edição de número 216, de janeiro de 2015, do informativo O ESTAFETA, órgão da Fundação Christiano Rosa, de Piquete/SP.

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  • E D I T O R I A L

    RGO DA FUNDAO CHRISTIANO ROSADISTRIBUIO GRATUITA PIQUETE, JANEIRO/2015 - ANO XVII - No 215

    O ESTAFETA

    Os agravos ambientais provocados pelohomem ao longo dos tempos e, mais recen-temente, com a expanso industrial, leva-ram escassez dos recursos naturais, comaumento da produo de gs carbnico(CO2) e consequente aquecimento global,cujos reflexos esto sendo registrados commaior intensidade nos ltimos anos.

    A emisso cada vez maior dos gases queprovocam o efeito estufa alarmante. Che-gou-se ao limite da explorao do planeta,que responde de maneira agressiva paratoda a humanidade. Em todos os continen-tes, esses agravos so observados.

    Apesar dos alertas e sinalizaes de quea Terra est doente, o homem insiste emagredi-la. Ao longo das ltimas dcadas,estudos e mais estudos foram feitos anali-sando-se esses efeitos. Inmeras confern-cias e encontros discutiram a questo cli-mtica decorrente do aquecimento global.Nada de eficiente, no entanto, foi feito.

    A velocidade com que a natureza agredida maior que o tempo que ela tempara se recuperar. No final de 2015, as na-es do mundo vo se reunir em Paris e ten-tar chegar a um acordo para reduzir as emis-ses de gases do efeito estufa. O papa Fran-cisco, que se engajou nessa cruzada, espe-ra que os catlicos do mundo, assim comooutras grandes religies, tenham grandeparte a desempenhar na ao sria em rela-

    o ao clima.Espera-se que Francisco diga aos 1,2 bi-

    lho de catlicos de todo o mundo que agirsobre a mudana climtica essencial paraa f.

    Em setembro, o Papa ir levar sua men-sagem para a Assembleia Geral da ONU, emNova Iorque. Pressionar os lderes polti-cos e religiosos com o objetivo de lev-los ao real, antes da reunio de Paris, emdezembro.

    No ano passado, Francisco, dirigindo-se a uma multido em Roma, disse: Se des-truirmos a criao, a criao vai nos des-truir!. Ele chamou de pecado a destrui-o das florestas. Sob sua liderana, a Igre-ja Catlica realizou uma reunio de cpulade cinco dias com cientistas, economistas,filsofos, astrnomos e outros especialis-tas, para explorar formas de a Igreja abordaros temas do clima e da sustentabilidade.

    Espera-se que o Papa, por meio de umaencclica, oriente os catlicos como agirsobre as mudanas climticas. Enquantoisso, mudanas simples podem ser efeti-vadas por qualquer cidado consciente, afim de se garantir consumo racional e de-senvolvimento sustentvel: economizargua, reciclar, no poluir, economizar ener-gia, no desmatar ou praticar queimadas e,se possvel, plantar mais rvores. O plane-ta agradece.

    Papa Francisco contra o aquecimento global

    Estudos publicados este ms porrenomados institutos cientficos apon-tam para o que qualquer leigo j haviaconstatado: a temperatura do planetaest cada vez mais elevada. Nunca sesentiu tanto calor como nos ltimostempos. Os veres esto mais quentese extremos de temperatura so obser-vados em diferentes regies do mundo.O ano de 2014 superou o de 2010 e omais quente j registrado desde 1880.Alm disso, desde 1976 a temperaturaglobal est acima da mdia histrica dosculo 20. Com isso, os dez anos maisquentes da histria, com exceo de1998, ocorreram depois da virada destesculo. Os cientistas atribuem isso aoaquecimento global, especialmente natemperatura dos oceanos, causado peloaumento das emisses de gases-estu-fa, como o gs carbnico (CO2).

    Os cientistas consideram que, se aTerra aquecer em dois graus, o nmerode secas, furaces e enchentes aumen-tar perigosamente. Como nunca se emi-tiu tanto CO2 quanto na atualidade, ahumanidade atingiria tal marca em pou-cas dcadas. Pesquisadores afirmamque impressionou o fato de o recordeter ocorrido em 2014, ano que no teveo fenmeno El Nio com ele, o ocea-no despeja enorme quantidade de calorna atmosfera, como aconteceu, porexemplo, em 1998, o quarto ano maisquente j registrado. Assim, da prximavez que um El Nio forte ocorrer, pro-vvel que todos os recordes estabele-cidos em 2014 sejam quebrados.

    No final deste ano, negociadoresinstitucionais se encontraro em Parispara tentar fechar um acordo global quelimite os gases-estufa na atmosfera. An-tes, porm, os pases devem apresentarmetas de emisses e as cidades buscarmecanismos para minimizar os efeitosdos agravos de que os homens foramos principais causadores.

    hora de os governos deixarem oconforto de seus gabinetes, olharem omundo ao seu redor e se mexerem. Ati-tude o que falta. Sem ela, nossa civili-zao parece caminhar para o fim.

    Apesar dos alertas de que a Terra est doente, o homem insiste em agredi-la. Mudanas de hbito sonecessrias: no desmatar ou praticar queimadas, respeitar as reas de proteo ambiental, no poluir,economizar gua e energia, reciclar e plantar mais rvores. O planeta agradece.

    Foto Arquivo Pr-Memria

  • Pgina 2 Piquete, janeiro de 2015O ESTAFETA

    A Redao no se responsabiliza pelos artigos assinados.

    Diretor Geral:Antnio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsvel:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Mximo Ferreira NettoRedao:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondncia:Caixa Postal no 10 - Piquete SPEditorao: Marcos R. Rodrigues Ramos

    Laurentino Gonalves Dias Jr.Tiragem: 1000 exemplares

    O ESTAFETA

    Fundado em fevereiro / 1997

    De fundamental importncia para o de-senvolvimento de Piquete, a estrada de fer-ro Lorena Benfica concorreu para o povo-amento e o crescimento do municpio.

    Construda pelo Exrcito brasileiro paraservir Fbrica de Plvora sem Fumaa, logoaps sua inaugurao, em setembro de 1906,polticos paulistas e mineiros se reuniramnum movimento que pleiteava que o ramalse estendesse at Itajub.

    Este era um sonho havia muito acalenta-do por moradores do Vale do Sapuca terum ramal ferrovirio que os conectasse Central do Brasil, em Lorena, por onde po-deriam escoar a produo agrcola da regio.Esse sonho, na verdade, era muito maisambicioso: pretendiam que o ramal tivessecomo ponto final o porto martimo deMambucaba.

    Foi a partir da segunda metade do s-culo 19 que a ferrovia chegou a So Pauloe se expandiu. Veio substituir o antigo sis-tema de transporte utilizado at ento ode tropa de mulas. A incapacidade do sis-tema por trao animal em atender s ne-cessidades da economia paulista era pa-tente. O alto custo e a demora do transpor-te por mulas j estimulavam a busca denovas formas de superar o problema. Almdisso, o estado precrio das estradas derodagem e, especialmente, a dificuldade doprincipal produto valeparaibano o caf para atingir os portos exportadores expu-nham a fragilidade do transporte que sus-tentava a economia paulista.

    No Vale do Paraba, os interesses doscafeicultores exerceram presso sobre au-toridades governamentais para que fosseaprovada uma legislao favorvel cons-truo de ferrovias, o que facilitaria imensa-mente o escoamento da produo. No esta-do de So Paulo, grande parte das estradasde ferro partiu de iniciativas particulares dosprprios fazendeiros, orientados pela loca-lizao das lavouras e pelas rotas que con-duziam aos portos.

    Assim foi tambm em Lorena, onde fi-nancistas e cafeicultores se associarammais de uma vez para a construo de umaestrada de ferro a fim de transpor aMantiqueira passando pela regio de Pi-quete, onde se concentravam grandes fa-zendas produtoras de caf. A cada notciade que um projeto seria iniciado, os mora-dores da regio de Piquete se alvoroavam.Tambm se beneficiariam tropeiros e via-jantes, que, por inmeras vezes, se queixa-vam das condies da Estrada de Minas.Esta, com frequncia, era de trnsito difcil.Necessitava de conservao, chegando aficar intransitvel no perodo das chuvas,o que ocasionava atraso e prejuzo nosnegcios. Essa ferrovia era, portanto, si-nnimo de progresso, segurana, confortoe rapidez nos transportes. No entanto, es-sas iniciativas malograram.

    Mesmo aps a emancipao de Pique-te, em 1891, projetos foram elaborados esubmetidos aprovao das Cmaras Mu-nicipais, mas no saram do papel. O so-

    nho piquetense de possuir um ramal frreos se concretizaria por ter sido o municpioescolhido para a construo, pelo Exrci-to, de uma fbrica de plvora sem fumaa.As obras do ramal foram iniciadas em no-vembro de 1902 e concludas em 1906,quando de sua inaugurao. Mais tarde,dois grandes polticos da Repblica se uni-ram para que o antigo sonho de um ramalde Itajub a Mambucaba fosse efetivado.Por duas dcadas, houve empenho tantodo lorenense Arnolfo de Azevedo quantodo mineiro da atual Brazpolis WenceslauBrs para que essa obra se concretizasse.A partir de Itajub, o Exrcito iniciou asobras que chegariam a Delfim Moreira. ARevoluo de 30, no entanto, jogaria umbalde de gua fria nessas iniciativas aca-bando com o sonho dos mineiros de aces-so ao litoral passando por Piquete.

    ***************

    A Ferrovia Lorena - Itajub

    Imagem - MemriaUma das primeiras locomotivas a circularno ramal frreo Lorena - Benfica - Foto 1904

    Estao Rodrigues Alves, em Piquete.Foto de 1906

    Ramal frreo Lorena Benfica, no bairro da Cabelinha, em Lorena.Foto de 1904

    Inaugurao da Estao Ferroviria Rodrigues Alves, em Piquete.Foto de 15/09/1906

    Foto Arquivo Pr-Memria

  • O ESTAFETA Pgina 3Piquete, janeiro de 2015

    PaulinaGENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

    Luiz Flvio Rodrigues Ramos

    Eu queria caminhar na chuva. Chuvafina e fria. Mas o tempo quente e a chu-va no veio. Eu queria me sentar no topoda montanha mais alta, apreciar o valemais distante e olhar pro lado e ver picoscobertos de neve. Mas o tempo me cobraum preo que no posso pagar.

    Poderia cruzar uma trilha por matas emontanhas. Observar os pssaros e rirdesvairadamente da vida. Mas no o fao.Poderia comer das amoras silvestres esubir em rvores cobertas de musgo. Masdeixei de fazer isso.

    Ah o tempo! O tempo uma ferrugemque corri as vontades. Lentamente. Se-gundo a segundo. E eu o perco em boba-gens de terno. Em mesas de reunio. Emdiscusses inteis com chefes e subordi-nados. Quem no o perde? Eu gostaria devisitar o templo nas plancies do Butomuito mais do que apenas apertar essesbotes cheios de letras que ficamclicando sob meus dedos: t,e,m,p,o...

    Ah o tempo! O tempo que me faz sermenos pai, menos irmo, menos filho,menos marido, menos av, menos homem,menos humano. E quando o tenho, ele meescapa entre os dedos feito ar.

    O tempo eterno, mas no terno.Sua ternura se perde no volume que eleme dispensa. No mineirs rasgado, sum tiquim. Por que o tempo no me deixaprosear mais do que apenas escrever?Momentos de prazer solitrio so essesos da escrita. Curtos. Sozinhos.

    Ah! se no fossem os pequenos lap-sos que o tempo nos d. So pedidos dedesculpas por sempre passar correndo.Aquele beijinho despretensioso que ga-nhei de meu neto ontem. Aquele abraoapertado da netinha. Ou aqueles peque-nos momentos de insnia em que fiqueiadmirando o ressonar de minha esposa.

    Ah! esse tempo maldito e bendito!Toma-me as grandes vontades e me en-che de pequenos prazeres. Esse adestra-do cozinho de Chronos fica brincandode esconder comigo. Sorri quando o achoe logo some.

    O tempo me permite virar de costaspro teclado e olhar pela janela. S por uminstante. Fito a secura deste vero, a po-eira e a paisagem que balana bruxuleanteao cruzar pelo ar quente.

    Eu queria tanto caminhar na chuva.Chuva fina e fria...

    Tempo

    Paulina Vieira de Jesus nasceu emLorena, em 6 de outubro de 1930. Nasci aomeio dia. Os sinos batiam e eu estava nas-cendo... Por isso estou bem aqui, com meusquase 84 anos..., afirma, sorridente.

    Logo que nasceu, a famlia veio morarem Piquete, mas ficou por pouco tempo. Vol-taram cerca de dois anos depois para Lorenapara s retornarem para Piquete em 1942,quando fixaram residncia permanente. Vi-emos morar na Vila Duque. Eramos eu e maisduas irms, Nair e Maria Aparecida, a Dad.

    Iniciei os estudos na escola do profes-sor Leopoldo. Motivos vrios fizeram comque deixasse a escola: Papai me tirou daescola. Iniciei, ento, o Corte e Costura...Era tempo integral o curso. Formei-me epassei a trabalhar como costureira.

    Alguns anos mais tarde, retomou, noentanto, os estudos, apoiada tambm pelopai. Cursou o Ginsio e, em seguida, a Esco-la Normal Livre Duque de Caxias. Formou-se professora e foi ser substituta no DarwinFelix, escola em que permaneceu at o finalde 1963, quando foi admitida no Estado eassumiu cadeira em Suzano, na grande SoPaulo. L ficou por pouco tempo. Conse-guiu transferncia para Piquete j em 1965.Eu no conseguiria ficar longe de Pique-te... Eu tinha que cuidar de mame, de mi-nhas irms, meus sobrinhos..., conta.

    Ao retornar, agora como concursada,para o Darwin Felix. Depois, em 1967, foipara o Antnio Joo e, em 1972, para oLeonor Guimares. Paulina cursou, ainda, afaculdade de Pedagogia, em Cruzeiro, o quelhe permitiu lecionar na Escola Normal asdisciplinas de Estrutura do Ensino e Didti-ca. Em 1985, aposentou-se.

    Paulina no se casou. Viveu semprecom a irm Nair: Quando Nair nasceu, euj tinha seis anos... Passei a ajudar mameem tudo: cuidava, trocava, dava mamadei-ra... E crescemos assim... E assim foi atque ela se foi... O sentimento que tinhapor Nair era o de me..., conta, visivel-mente emocionada. Sendo assim, os filhosde Nair eram tratados tambm como seus.Assim que se aposentou, foi morar com

    um dos sobrinhos, Fernando, para cuidarda neta, recm-nascida... Foram doisanos na mineira Paraispolis...

    Paulina uma cidad ativa, participanteda sociedade piquetense como voluntriada Liga Feminina de Combate ao Cncer. Asatividades na Liga so motivo de em-polgao. Paulina conta sobre o perodo emque foi sua presidente, sobre a distribuiode remdios e de cestas bsicas, as visitasaos doentes... So muitos os necessitadosde apoio em nossa cidade... H casas emque marido e mulher esto doentes; umasituao muito triste... O trabalho da Liga essencial em Piquete e merece ser divulga-do, relata entusiasmada.

    Alm da Liga, Paulina faz parte da Le-gio de Maria, organizao coordenada pelaIgreja Catlica que presta assistncia emo-cional e religiosa a muitas famlias. A Le-gio tem vrios praesidia, como so co-nhecidos os grupos. Hoje me ocupo maisda parte espiritual reservada em minha pr-pria casa, pois a partida de minha irm e aidade me deixaram mais sensvel... Fico mui-to abalada em visitas fsicas, conta, emoci-onada.

    Paulina tem Jesusem seu nome... Nofoi coincidncia. Suavida foi pautada noamor ao prximo epode ser resumidaem uma palavra: do-ao. O amor pelairm e pela sua fa-mlia fez dela umapessoa querida, re-conhecida e res-peitada tambm emPiquete. Mestra eeducadora, no,h dvidas.Paulina ( direita) e companh

    eiras da Liga Piquetense

    de Combate ao Cncer em recente evento promovid

    o pelo

    grupo

    Foto Delma Beckmann

  • O ESTAFETA Piquete, janeiro de 2015Pgina 4

    Festa de So Miguel Arcanjo. Em Pique-te, a 29 de setembro de 2014. Estvamos osfiis presentes missa solene das 10 horasna Matriz, celebrada pelo bispo da Diocesede Lorena, D. Joo Igncio, e vrios padresconcelebrantes, inclusive o vigrio titular,Monsenhor Joo Bosco. A Igreja, j peque-na para a populao residente e visitantes,abarrotada. Na nave e no presbitrio gentepara todos o lados. Um grupo de pessoasinstalou-se na capela do Santssimo. Ali, al-guns bancos facilitavam a ocupao. Mis-sa comeada, os cnticos, as invocaes,as vozes dos oficiantes.

    Pelas portas abertas uma revoada de pas-sarinhos. Um deles adentrou a capela evoou diretamente na direo das janelasenvidraadas cheias da luz solar. Um dia detemperatura alta e muito calor, mais forte peloacmulo de pessoas.

    Um pssaro nervosamente agitava asasas tentando a sada. Batia de encontro aovidro e se agitava no rodopiar acelerado dasasas. A janela metade aberta no eraidentificada pelo passarinho, que se agita-va de encontro parte fechada. As pessoastiveram sua ateno desviada para o peque-no pssaro ofegante pela luta na busca daliberdade. Consultei minha vizinha de as-sento da possibilidade de empurrar a ave nadireo da parte aberta ela mesma, a mi-

    Uma crnica de pssarosnha vizinha, havia providenciado a abertu-ra para fazer ar. Dissuadiu-me, entretanto,da pretenso. No havia meios de o fazer.Outras pessoas tentaram uma soluo, masadmitiram a impossibilidade. Alguns jprelibavam a morte do passarinho. Mas, oh!Ele conseguiu movimentar-se em direo porta por onde entrara. Esvoaava rapida-mente como numa onda eltrica na direoda sada. Mas no completava a ao. Vol-tava ao ponto de origem, de encontro aovidro fechado. Nesse ir e vir, gastou algumtempo. Em seguida, parou e desapareceu.

    Pensvamos que estivesse descansan-do das tentativas frustradas, os nimos ar-refecidos. No sei que fim levou: no maisapareceu. Fiz votos de que tivesse, enfim,sado e no percebido por ns. Espero fir-memente que ele tenha conseguido se safarda priso. Lembro-me de uma crnica que lih algum tempo sobre pssaros migratriosque se chocavam e morriam ensanguen-tados nas peles de vidro dos altos edifcios.Uma imagem constrangedora.

    O cronista refere-se observao quefez da morte de vrios pssaros chocadoscom as paredes de vidro de prdiosaltssimos de 100, 150 metros, os quaisespelhavam o cu azul, nuvens e plantasenganando os pobres pssaros em seusmovimentos agitados.

    Ao cronista, publicado o trabalho,acorriam outras tantas observaes damorte de pssaros nas mesmas circuns-tncias em vrios locais, todos com a ex-presso de modernidade e luxo demons-trados pelas paredes vtreas. Ele lembra-va-se de que os antigos edifcios erammais baixos e possuam janelas menoresem paredes de alvenaria.

    Faz constar que existem estatsticas alar-mantes sobre o problema e as narrativas damorte dos pssaros em choque. So relatosdramticos. J se providenciam formas demonitoramento: um dos recursos apor aovidro figuras de predadores para tentar afas-tar os pssaros agitados. No se sabe se osresultados tm dado certo.

    No incidente do pssaro na Capela doSantssimo na solenidade da Festa de SoMiguel, o desespero daquela ave eracontagiante. As pessoas tiveram sua aten-o desviada para o voo nervoso que aave fazia como se portadora de um cdigode ao programada, mas, sem sada. Defato no registrei a sada da avezinha. Te-ria morrido? Voltei ao local mais tarde enada encontrei: na melhor das hipteses,ela conseguiu escapar. Com foras parasobreviver?

    Dli de Castro Ferreira

    1934 Inutilmente So Paulo havia luta-do para eliminar o rano feudal de nossaPoltica.

    A almejada Constituio foiapenas paliativa. E teve vida cur-ta.

    Que caminho tomar? Comocontribuir para o desenvolvimen-to do pas sem despertar suspei-tas ou ferir suscetibilidades?

    O Brasil uma Federao. Secrescem os estados, cresce o pas.

    Ento So Paulo resolveutransformar em realidade o seuprprio tema: Pro Brasilia fianteximia.

    O projeto de crescimento deSo Paulo brota da fonte do co-nhecimento. criada a Universi-dade de So Paulo USP.

    2015 Todas as alternativasforam experimentadas. Optou-seat pela ascenso da classe operria ao Po-der.

    Mas parece uma conjugao de pragas de av, de me, de madrinha... Ningumtem o corpo fechado ao rano feudal.

    Crescem as desigualdades e os privil-gios. A corrupo campeia. E ao povo faltao essencial: educao e sade.

    Vrias vezes, tive de explicar a brasilei-ros de outros estados que o Non ducor,duco no o lema do estado, que So Pau-lo no quer ser o dono da bola, no preten-de mandar em quem quer que seja. o lema,muito apropriado, da capital do estado ela

    Ousadia, engenho e arteno conduzida, conduz os olhos de to-dos os paulistas se voltam para o governoque est na capital, para que haja um traba-

    lho produtivo, que reverta em benefcio detodos.

    Em Braslia, temos deputados e senado-res. Vamos exigir que trabalhem de acordocom os interessados de So Paulo.

    O Planalto de Piratininga vai voltar a daras diretrizes para o estado: DUCO.

    Em 1934, a USP foi o caminho.Agora, agorinha mesmo, o governo

    paulista pode convocar o Instituto de Pes-quisas Tecnolgicas IPT, USP, para cen-tralizar todo o Programa de Pesquisa e De-senvolvimento do Estado de So Paulo.

    Todas as Universidades Pblicas e Par-

    ticulares sero convidadas, os InstitutosCivis e Militares tambm. No vai ser es-quecida a rapaziada animada do SENAI e

    seus pares.As instituies ligadas a Em-

    presas e Prefeituras, como o Par-que Tecnolgico de So Jos dosCampos, sero chamadas para darsua contribuio.

    Nenhum item deixar de serdiscutido da dificuldade de ob-ter reagentes morosidade naconcesso de patentes.

    As concluses da livre dis-cusso dos temas estaro elen-cadas no Projeto que ser entre-gue ao Governo de So Paulo.

    Os estudantes vo agradecere a indstria vai tomar um novoalento.

    E o Brasil vai crescer com SoPaulo.

    So Paulo quer sediar uma ExposioInternacional.

    Quando examinamos a lista das Exposi-es j realizadas, verificamos que nem sem-pre h coincidncia de temas.

    O Brasil um pas muito diferente. Umcenrio com caractersticas nitidamente bra-sileiras poderia abrigar no uma, mas vriasExposies; um tema de cada vez. Por exem-plo, Produtos da Cana-de-Acar.

    O Projeto que dever ser entregue aoGoverno de So Paulo poderia incluir su-gestes neste sentido.

    Abigayl Lea da Silva

    Viaduto do Ch, em So Paulo

  • O ESTAFETA Pgina 5Piquete, janeiro de 2015

    Calendrio

    O Centenrio da Locomotiva1914 / 2014

    Em 2014, comemorou-se o centenrio denossa locomotiva Baldwin, datada de 1914e localizada junto estao da Estrella doNorte.

    A centenria locomotiva foi produzidana Philadelphia, EUA, como consta naplaca referencial no evento da instalaodo ramal ferrovirio para a memria coletivados piquetenses. Esforo liderado pelo Cel.Alfredo Arajo e a Fundao ChristianoRosa.

    Assim, in memorian do Coronel, opoema:

    Para Alzira Beckmann(1951 2014)

    Procurei a imagem de Alzira no acervoda memria. Fisicamente no a encontrei; aforma fsica dissolvera-se. Escondida nosdesvos de sombras combinadas s luzesdas auroras. Ou iluminadas pelas redes el-tricas.

    Escutei, pelo corao, a voz de Alzira achamar Alzirinha. De repente parou. Deu-se conta da prpria identidade.

    Que ventos violentos a desligaram da-qui, para o qual, entretanto, se preparava?

    Encontrei Alzira no sorriso dos familia-res e dos amigos, ao lado de Ernni e decada filho. Cinco ao todo. A letra F inaugu-rando o nome de cada um. Todos irradian-do a luminosidade da me, cujos olhos sa-biam ver de maneira inteligente e artstica.

    Vistos, por seu olhar, outros jovens de-sejosos de vida. O sorriso calmo de Alzira aenxergar beleza e a superar dificuldades tinha vida rica.

    Era fotgrafa. Cheia de esperana sabiaescolher o ngulo certo e completava aobra.

    Elaborou belas fotos e documentais. Vi-suais de alta valia para a nossa histria.

    Para Alzira, as esperanas e os desejosde paz.

    AdelinaNo decorrer de 2014, nos meados do

    ano, precisamente dia 21 de junho, AdelinaMarcondes Bangoim lanou um livro depoesias Retalhos, Na simplicidade davida.

    Obra bem apresentada, tem a leveza dasimplicidade da autora, cuja mensagem cris-t toca seus leitores com espiritualidade.

    Poeta premiada, apresenta poemas quesensibilizam, fazem sonhar e, nos registrosda vida diria, valoriza as pessoas e atestaa capacidade de uma lder de leiturasbblicas, sob interpretao de carisma mis-sionrio como compassivo.

    Professora, sabe o valor da educaocomo misso e projeto de vida. Dedica-se,com afeto, aos seus poemas e os faz men-sageiros de paz e de alegria na esperan-a.

    Entre seus versos Envelhecer comoo sol / Que devagar se esconde no poente/ Levando sabedoria como um farol / Ilumi-nando sempre o corao da gente.

    No fora, apenas, o compartilhamentoda experincia, mas principalmente a entre-ga e a determinao reconhecida entre osirmos.

    Assim, Adelina, com esprito comunit-rio, promoveu a semeadura do Evangelhocom emocionalidade, ternura, ritmo e rima.

    O livro uma mensagem diversificadaentre os acontecimentos, os familiares, eos amigos, em bela capa, sugestivamenterepetida na introduo dos segmentosversificados para nos deixar, leitores, se-duzidos e cumpliciados.

    TerezaTereza de Oliveira Alves, minha amiga

    muito querida, era torcedora apaixonada doEsporte Clube Estrela. No perdia os jogos

    dos domingos, tarde. Antes de tudo, ti-nha de vencer as opinies do pai, que re-cusava deixar filhas vontade para satisfa-zer desejos diversos fora de casa. SeuManoel, pai de rapazes e donzelas, prima-va pela rigidez dos costumes familiares. Asmoas ainda estavam atreladas aos pais, edepois, aos maridos. A vida feminina eraexclusiva do lar.

    Mas, Tereza conseguia driblar a sisu-dez do pai para cultuar o quadro do futebolestrelino cheio de glrias e de desafios. En-tre os torcedores e torcedoras ela se infla-mava e falava com ardor sobre os aconteci-mentos, as performances dos craques e odecorrer das partidas sempre calorosas nosbrilhos do sol ou ameaas das chuvas dosdomingos piquetenses. Os atletas do Es-trela encantavam as torcidas.

    O entusiasmo de Tereza e da torcidacontaminava os cidados ao v-los passar,juntar-se e concentrar-se na arquibancadae na extenso dos alambrados da cerca docampo. Algumas vezes, em datas especiaisde jogos mais importantes, a banda de m-sica, vibrante, fazia do evento momento deglria para ficar no imaginrio e consagra-do nas emoes revividas.

    Da radiosa luz centenria emerge a fi-gura vibrante de Tereza entre torcedoras etorcedores estrelinos.

    Dli de Castro Ferreira

    O que fazer com um pas em que:- escndalos de corrupo governamen-

    tal tm presena quase diria na mdia?- partidos praticam impune e descarada-

    mente o fisiologismo com base unicamenteem interesses prprios, condicionando aaprovao de projetos liberao vergo-nhosa de verbas, como num mercado?

    - competncia profissional, preparo tc-nico-universitrio e capacidade de gerencia-mento e planejamento se tornaram dispen-sveis num processo seletivo de ministrose secretrios de Estado?

    - ministros e mais ministros se alternamde acordo com interesses partidrios, semque haja alterao nos resultados de suaspastas?

    - a continuidade de obras e projetos independentemente de sua eficincia e in-teresse para a populao est condicio-nada continuidade partidria no poder?

    - a desfaatez de polticos aviltante,humilhando-nos, os brasileiros, tratados quesomos como observadores inertes, ignoran-tes e desprovidos de inteligncia?

    - criminosos condenados so tratadoscomo autoridades e frequentam, com os maisdiferentes cargos e funes, os mais altosescales dos poderes Executivo e Legis-lativo federal, estaduais e municipais?

    - os cidados, nos tornamos prisionei-ros em nossas prprias casas, acuados pelomedo e vtimas da incompetncia dos res-ponsveis pela Segurana Pblica?

    - o governo federal, por meio da ofertapblica de liberao de verbas aos parla-mentares, consegue aprovar alteraes emuma lei permitindo seu descumprimento semque sano alguma lhe seja imposta?

    - rus de colarinho branco em proces-sos criminais e civis conseguem desacredi-tar a justia, invalidam provas e postergamjulgamentos com bases em argumentos es-cancaradamente protelatrios aceitos,inacreditavelmente, pela Justia?

    - condenados em ltima instncia con-seguem aprovar sua diplomao a cargoseletivos a despeito da existncia de uma leiconhecida como Ficha Limpa?

    - milhares morrem em filas de hospitaisvtimas do descaso e da corrupo e da ges-to incompetente dos nunca suficientes re-cursos disponveis?

    - museus, patrimnios histricos mate-riais e imateriais so desdenhados pelo Mi-nistrio da Cultura em favor de aesmiditicas populistas e improdutivas?

    - educao e cultura so consideradasprivilgios da elite?

    - letras de msica pornogrficas se tor-naram onipresentes em festas de crianas?

    - Celebridade se tornou uma das maisrespeitadas e almejadas profisses?

    Ah... Quo extensa seria minha lista dequestionamentos no fosse a limitao deespao a que somos sujeitos os articulis-tas! Vejam bem, so regras! E regras, leis,decretos... Todos existem para serem cum-pridos. Assim deveria ser em nosso pas!Mas, no! Aqui existem para ser descum-pridos.

    Pobre Brasil! Pobres brasileiros! Em mi-nha opinio, estamos fadados mediocri-dade por muitas geraes. No vejo fatoresque favoream mudanas em curto prazo.

    Salvem-nos os competentes, os hones-tos e os que querem o bem do Brasil!

    Desnimo total...Laurentino Gonalves Dias Jr.

    Diamante amarelo ilumina,Devassa e passa,Enrosca-se nas curvas,Contorce-se e vai.

    Nos trilhos,Equilibra-se a velha locomotivaNa vida ativa,No balanceio,Qual serpente negra luzidiaA desafiar nos dormentesO peso do mundo.

    Aquecida pelos fogos dos carves,Sudoriza e desliza.Na pele lisa,Goteja bolhas cristalinas.Aos ventos e s brisas,Segue, e avana nos destinos.Mitologiza-se.

    Baldwin, a velha locomotiva

  • O ESTAFETAPgina 6 Piquete, janeiro de 2015

    Crnicas Pitorescas

    Palmyro MasieroOlha a a estufa...

    O sapateiro de ItajubEdival da Silva Castro

    Ezequiel Andrade Vieira, 60 anos, vivo.Profisso sapateiro. Costurava, colava ebatia sola o dia inteiro, a fim de dar assistn-cia pecuniria ao filho, estudante aplicado.Seu desejo era v-lo formado.

    Quando o rapaz prestou vestibular paraa faculdade, conseguiu ser aprovado entreos primeiros candidatos na rea de medici-na. Cama e mesa, uma sua tia que morava noRio de Janeiro garantiu-lhe. A anuidade es-colar e livros seriam por conta do sapateiro.Homem simples, porm destemido e esfor-ado. Desde ento, passou a trabalhar almdo expediente para que pudesse cumprirseus deveres. Destarte, o sacrifcio em queseu Ezequiel se comprometera durou cincolongos anos.

    Certa manh, um rapaz amigo do seu fi-lho chegou sapataria:

    Ol, seu Ezequiel. Bom dia! Oi, garoto. Bom dia! O que manda, uai? Eu trouxe meus sapatos para serem

    engraxados. Sabe como ... Recebi um con-vite do seu filho para a colao de grau equero ir nos trinques, uai!

    Ah, mesmo?Seu Ezequiel ficou intrigado: que convi-

    te o que? Eu no recebi nada, uai!Procurou averiguar a verdade e ficou

    sabedor do dia e da hora da formatura.Chateado, amargurado, mesmo assim

    tomou o nibus na cidade de Itajub e par-tiu para o Rio de Janeiro.

    Em tempo hbil chegou ao local da for-matura. Ajeitou-se numa poltrona no finaldo auditrio e passou a observar o vaivmdas pessoas.

    Os formandos, de roupas talares, foramtomando seus assentos. Logo o Hino Naci-onal teve incio e vozes unssonas o acom-panharam. Seu Ezequiel foi se emocionan-do com o transcorrer da cerimnia. De vezem quando passava o leno pelo rosto, en-xugava o suor e as lgrimas. Quando seufilho, o Dr. Mrio Andrade Vieira fora anun-ciado, seu corao no resistiu. Colocou asmos no peito e sua cabea pendeu. A cor-reria foi generalizada. Todos procuraramsocorr-lo, inclusive o filho. Quando esteviu que se tratava do prprio pai, apavo-rou-se. Gritou e chorou. Era tarde demais,porm. A, ento, Mrio percebeu a ingrati-do que fizera com o pai; homem simples,trabalhador e de corao bondoso.

    Acesse na internet, leia edivulgue o informativoO ESTAFETAO ESTAFETAO ESTAFETAO ESTAFETAO ESTAFETA

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    Falar que o calor est deixando diaboatrs de ar refrigerado , mais ou menos,contar, como novidade, que no Iraque o paut comendo solto...

    At para a maioria, que gosta do calor, asituao incomoda. No se come direito,dorme-se tarde e acorda-se muito cedo. En-fim, a comentada estufa, parece, vem dandoo ar da graa. E, pela violncia, um tantosem graa...

    A crianadinha mida precisa de cuida-dos especiais por parte das mes, a fim dese evitar a desidratao. Aos primeiros si-nais de vmitos acompanhados de diarreia, levar urgentemente a um mdico. At pa-rece que entendo muito do assunto! Na ver-dade, estou vendendo o peixe comprado naTV. Todavia, uma tecla sempre importantea ser tocada.

    Esse ato de desidratar, porm, no serestringe apenas s crianas. Atinge tam-bm os adultos, que devem, assim como feito com os pequeninos, sorar durante al-gumas horas, um ou mais litros, dependen-do, logicamente, do estado do paciente.

    Aconteceu com uma senhora. Trabalhouo dia todo, suando mais que corredor demaratona, debaixo de trinta e um graus nasala sem ar condicionado ou mesmo umventiladorzinho pra quebrar o mormao, comapenas um vitr acima da altura normal e aporta que dava para outra sala. Corrente dear ali era to possvel como fazer trana emrolos de fumaa.

    Ao trmino do expediente, disparou parao carro, que saiu disparado para chegar emcasa e, disparada, caiu numa boa ducharefrescativa. A veio o primeiro sintoma...Sorte dela era j estar em casa quando esta-lou a primeira clica intestinal. Correu parao banheiro e foi aquela gua. Logo em se-guida, veio o vmito. Um passo, segundos,para desaguar-se por baixo e por cima. En-trou rpida no chuveiro, j bastante fraca.Saiu antes de novas vontades e, esclarecidasobre o assunto, sabia que estava se desi-dratando. Soluo: procurar urgentementeum pronto-socorro ou um hospital.

    Sentia uma sede desrtica e pediu irmque lhe desse rapidamente algo para beberantes de sarem para ser atendida. Na gela-deira havia uma jarra de refresco que foi ser-

    vido num copo devedora de lquido aocorpo. Entornado para dentro, voaram parao hospital mais perto.

    Chegaram. Ela, cada vez mais fraca, foipara a sala de recepo. Dali ao mdico. Tudoisso com nossa amiga desesperada com ansia indmita que a atacava. Esforava-seao mximo para segurar no estmago o re-fresco que acabara de tomar. Foi levada aum quarto e, enquanto o enfermeiro, apsaplicar-lhe uma injeo, saa para providen-ciar o soro, no resistiu mais... Lanou parafora o que acabara de beber. Tudo pro cho.O enfermeiro, ao retornar trazendo aquelepedestal de ferro onde se pendura o litroplstico que pinga enervantemente devagaro soro, levou um susto ao ver no cho aquelaaguaceira vermelha. Nervoso, foi s pres-sas atrs do mdico:

    Doutor, aquela paciente que o senhoratendeu agorinha... Acho que ela tem umalcera que estourou, pois vomitou puro san-gue!

    O mdico foi incontinnti verificar. Elafraca, sem saber o que estava acontecendo,a irm do lado de fora idem e o mdico olhan-do o lanado no cho. Perguntou mulher:

    O que a senhora tomou antes de virpara c?

    Refresco, doutor. No aguentava maisde sede.

    Refresco de qu? De groselha.O enfermeiro, que ouviu o dilogo, ve-

    xado pelo seu diagnstico, mais do que de-pressa, sem um relance de olhar ao mdico,preparou o soro, procurou uma boa veia eempurrou a agulha no encanamento sangu-neo da senhora e foi providenciar a limpezado sangue do cho.

    Pelas onze horas da noite, hidratada, n-vel da gua no corpo normal aps mais dequatro horas contando os pingos que pin-gavam devagarinho, devagarinho, foi libe-rada a quase proprietria de uma lcerapptica ou gstrica que, no vomitar dos acon-tecidos, estava apenasmente groselhada.

    Diagnosticar assim como esse enfermei-ro, meu, s pode descobrir mesmo a doen-a que ataca o Brasil, onde tudo parece masno . Com calor e tudo!

    "O empobrecimento da linguagem dificulta e acaba por impedir opensamento. Como poderemos distinguir, discernir, compreender,pensar, sem palavras? A palavra nos tornou humanos. A palavra nos eleva

    at Deus, que era o Verbo antes de se fazer carne. Claro que falo dapalavra rica, variada, justa, exata, prpria, nica, expresso perfeita dopensamento e no de t-legal, paquerar, ficar, e mais os adjetivos televisivos

    espetacular e maravilhoso, expresses que qualquer papagaiodecora e repete e fica repetindo"

    Ruth Guimares Botelho

  • O ESTAFETAPiquete, janeiro de 2015 Pgina 7

    Segundo consta na histria, a certa al-tura da vida o polmico escritor e poeta bra-sileiro Nelson Rodrigues, numa das tantasfrases de efeito que marcaram sua carreira,teria dito que toda unanimidade burra, e, portanto, os que pensavamcom a unanimidade, segundo ele,simplesmente no pensavam. Recen-temente, o agitado mar da histria,que tantos engoliu e outros tantosengrandeceu, parece ter dado a bre-cha pra que a frase de Nelson voltas-se novamente ao crivo dos fatos. Poisento vamos a eles.

    Como se sabe, h algumas se-manas o planeta foi surpreendido,mais uma vez, pelo terror: Dois ho-mens armados com fuzis invadiramo prdio que sediava o jornal fran-cs Charlie Hebdo, em Paris e, sobo pretexto de lavar a honra do pro-feta Maom, alvo de recorrentescharges pelos cartunistas do peri-dico, executaram 12 pessoas e dei-xaram outras cinco gravemente feridas,dentre seguranas, cartunistas e o prprioeditor do jornal. Pouco tempo depois daao, sem ainda se saber ao certo quemeram as pessoas ou quais os motivos queas teriam levado a perpetrar tal barbrie, operigoso e equivocado consenso criadonos ltimos anos acerca do que o terro-rismo e qual a face de seus atores anteci-pava uma concluso derradeira sobre oatentado: os muulmanos, extremistas pornatureza e incapazes de conviver com osvalores democrticos, mais uma vez truci-daram pessoas e seguiram a sina de seucredo o terror.

    A concluso, produto da combinao desuperficialidade e sensacionalismo miditicocom ao consciente de intolerantes anti-isl, cria dois problemas de gravidade pro-funda: Alm de propor a burra unanimidadeda qual falava o poeta brasileiro, associan-do o terrorismo religio muulmana e, porconseguinte, colocando todos seus adep-tos no mesmo saco, a falsa concluso aindafecha nossos olhos para uma parte do ter-ror que, silenciosamente para alguns, conti-nua a privar de direitos, fazer sofrer e tirar avida de uma quantidade enorme de pesso-as, inclusive e especialmente, no Brasil.

    Que o terrorismo no peculiaridadedos rabes os fatos mostram (e do razoao poeta). Anders Breivik, o noruegus queem 2011 assassinou 76 pessoas por meio detiros e exploses em Oslo, e TimothyMcVeigh, o estadunidense que usou 2.300

    kg de explosivos para acabar com a vida de168 pessoas em Oklahoma, no eram ra-bes, muulmanos ou simpatizantes da cul-tura islmica. Eram, na verdade, cristos. A

    prpria Igreja Catlica, histrica em santi-dades e pecados, apoiou golpes militaresna Amrica latina e adotou, em muitos ca-sos, a postura do silncio conveniente econivente para no denunciar o terror deestado promovido por essas ditaduras, res-ponsveis pelos atos mais vis de torturas,estupros e assassinatos. Israel, estado cria-do como reparao histrica ao vitimadopovo judeu, usou da fora absolutamentedesproporcional para revidar os ataques doHamas, atravs do governo chefiado porBenjamin Netanyahu (o mesmo que aparecesorridente na marcha contra o terror em Pa-ris), e acabou por transformar as vidas demais de 2000 pessoas, dentre elas 541 crian-as, em meros efeitos colaterais da ofen-siva contra a barbrie - o terror no combateao terror. Poderamos ainda falar da ocupa-o americana promovida por Bush e conti-nuada por Obama que bombardeia civis noOriente Mdio. Ou ento dos inmeros mas-sacres promovidos por estados totalitrioscontra minorias no leste europeu. Quantomais exemplos so trazidos tona, mais cla-ro fica o erro que se comete ao associar oisl ao terrorismo, assim como fica evidenteque inmeras expresses do terror, dos tor-pedos de Israel s tropas americanas noIraque, continuam sem condenao moralde nossa parte.

    Alis, por aqui tambm as coisas noso flores. O prprio estado brasileiro agente do terror para diversos segmentossociais do pas. Certamente aterrorizante

    O terror da intolernciaser homossexual no pas que concentra44% de todos os homicdios motivados porhomofobia no mundo. Assim como ser umjovem negro no Brasil no deve ser fcil

    medida que a probabilidade de ser as-sassinado trs vezes maior que a deum jovem branco. O Brasil tambmaterroriza a populao indgena, quealm de sofrer com um genocdio desculos, ainda segue com expressivaparte de suas terras sem demarcaoe sujeitas invaso. A propsito, nos o estado brasileiro aterroriza mi-norias como tambm a sociedade e asinstituies do pas so coniventescom tais incivilidades: os leitores de-vem lembrar que, h poucos meses,um deputado carioca, conhecido de-fensor da ditadura e da tortura comomtodo poltico, disse, do plpito daCmara Federal, que s no estupra-ria determinada colega de parlamentoporque a mesma no era merecedora como se estupro fosse questo de

    mrito. Mesmo o Brasil sendo o stimo pasque mais assassina mulheres no mundo a cada uma hora e meia uma mulher as-sassinada no Brasil as criminosas decla-raes do deputado passaram inclumes,eainda com direito a palmas de alguns.

    Ao fim, quando se faz um paralelo en-tre o atentado do Charlie Hebdo e as in-meras manifestaes de terror que se en-contram aqui e l fora, um elemento per-siste nas diversas expresses da barbrie:a intolerncia. Nelson Rodrigues estavacerto quanto burrice da unanimidade,cabendo apenas a ressalva de que a into-lerncia, essa sim, unnime quando setrata do terror. Nenhuma religio, seja elao isl, o judasmo ou o cristianismo, soadeptas do terror por excelncia. O que dunidade aos tiros em Paris, as explosesna Noruega e aos discursos de dio noBrasil no so os credos de quem atira,explode ou fala. O ponto de encontro doterror, na verdade, sempre a intolern-cia, produto da dificuldade humana emenxergar o outro como um igual, providode direitos e da liberdade de fazer suasprprias escolhas sem, por isso, ter desofrer retaliaes de outrem. No nos en-ganemos: a intolerncia no usa burcas,crucifixos ou quips. No cresce em igre-jas ou templos, mas sim nos esgotos daignorncia, os quais os defensores de umasociedade democrtica devem, cotidiana-mente, se esforar por superar.

    Rafael Domingues de Lima

    Notas da Cidade A ACIAP promoveu, em dezembro,

    mais uma vez, seu j tradicional sorteio anualde prmios na Praa da Bandeira. Com mui-ta msica e animao, foram distribudasbicicletas, eletrodomsticos e vrios outrosprmios aos portadores de cupons distri-budos no comrcio local. Tinham direitoao prmio, porm, somente os que estavampresentes na Praa. Parabns direo daACIAP e aos organizadores.

    Os comerciantes da Praa da Bandeirainovaram: no ms de dezembro de 2014, pro-moveram noites de shows com artistaspiquetenses que animaram a Praa trazen-do os moradores para as ruas. Numa inicia-

    Com o apoio da comunidade pique-tense, meia-noite do dia 31 de dezembrode 2014, o cu de Piquete ganhou um colo-rido diferente em saudao ao Ano Novo.Como tradicionalmentre ocorre todos osanos, aconteceu um grande queima de fo-gos no Alto da Caixa Dgua. frentedesse trabalho, o fogueteiro Anderson

    A Prefeitura Municipal promoveu umanimado evento para receber o Papai Noel,que chegou Praa Duque de Caxias numtren motorizado. Na Pracinha, toda en-feitada com luzes, em uma tenda Papai Noelrecebeu crianas e adultos, que, aps es-perarem em uma longa fila, recebiam umafago do bom velhinho, faziam fotos e ga-nhavam saquinhos com balas. Na ocasio,houve apresentao de um coral da cida-de de Lorena, que entoou clssicos daMPB e de Natal.

    tiva que merece destaque, animaram a noitepiquetense e proporcionaram diverso aosclientes e a todos que passavam pela Praada Bandeira, tradicional ponto de encontroda cidade. Parabns pela organizao e, es-pecialmente, pela opo por artistas locais,divulgando-os e valorizando-os.

    Sugala. Que a comunidade mantenha ascolaboraes a fim de que esse evento con-tinue acontecendo e seja cada vez melhor!

  • O ESTAFETA Piquete, janeiro de 2015Pgina 8

    Capoeira, Patrimnio Cultural Imaterial da HumanidadeA capoeira uma expresso cultural

    brasileira que mistura arte marcial, esporte,cultura popular e msica. Desenvolvida noBrasil, principalmente por descendentes deescravos africanos, caracterizada por gol-pes e movimentos geis e complexos, utili-zando primariamente chutes e rasteiras,alm de cabeadas, joelhadas, cotoveladas,acrobacias no solo ou areas. A msica uma das caractersticas que distingue a ca-poeira de outras artes marciais. Os prati-cantes da capoeira no apenas jogam mastambm aprendem a tocar berimbau, ata-baques e pandeiro. Um capoeirista experi-ente que ignora a musicalidade conside-rado incompleto.

    Em Piquete, a capoeira est presente hvrios anos. Diferentes grupos a praticam.Em dezembro, um encontro foi realizado porum desses grupos, o Semearte - Associa-o Cultural Negros de Aruanda, cujo lder o Mestre Kiko (Joo Ricardo dos Santos).Impressionantes a organizao, o trabalhoem equipe, a irmandade entre os participan-tes... Numa associao que luta com recur-sos prprios para se manter, o resultado nopoderia ser outro: momentos mgicos paraos capoeiristas. A beleza plstica da capoei-ra encanta com os ritmos mgicos doberimbau, do pandeiro, do atabaque... Flexi-bilidade, gingado, fora, corpos trabalha-dos, tudo isso proporciona uma deliciosasensualidade ao jogo da capoeira...

    A Roda de Capoeira foi registrada comobem cultural pelo IPHAN no ano de 2008,com base em inventrio realizado nos esta-dos da Bahia, de Pernambuco e do Rio deJaneiro, considerados beros dessa expres-so cultural. Em 26 de novembro de 2014,foi declarada pela UNESCO como PatrimnioCultural Imaterial da Humanidade. O reco-nhecimento pela UNESCO abre muitos ca-minhos para os capoeiristas. H diversasformas de fomento que visam a resgatar,apoiar e preservar grupos praticantes des-sa arte. Projetos podem ser elaborados pe-los grupos para obteno de verbas e ga-rantia de manuteno, desde que compro-vada a seriedade na conduo e administra-o do grupo e dos recursos recebidos.

    Esporte sade... O esporte tira muitosdo caminho das drogas e tem que ser incen-tivado pela iniciativa privada e, especialmen-te, pelos poderes pblicos.

    Nunca deixei de os ver como irmosO atentado em Paris nos primeiros dias

    do novo ano contra o jornal Charlie Hebdo,expe o dilema em que se encontra hoje aEuropa. As naes europeias, habituadas homogeneidade tnica, precisam convi-ver com a pluralidade. Apenas no primeirosemestre de 2014, devido aos diversos con-flitos existentes, sobretudo no norte dafrica e no Oriente Mdio, geraram-se 5,5milhes de novos refugiados levas deimigrantes adentram constantemente o con-tinente europeu em busca de melhores con-dies de vida. Essas imigraes vo dan-do nova fisionomia s populaeseuropeias e potencializando um choquecultural de consequncias imprevisveis.Cada vez com mais intensidade, grupos deextrema direita vo se posicionando con-trariamente presena de imigrantes nassociedades europeias. Essas posturas na-cionalistas tornam-se mais populares emcircunstncias como a que estamos assis-tindo na Frana. No se pode negar que ofundamentalismo islmico ameaa a saud-

    vel laicidade das sociedades europeias, masparece inevitvel que os europeus tenhamque lidar com a diversidade tnica e culturalque j um fato no Velho Continente. Cons-truir uma sociedade justa, inclusiva, demo-crtica, plural e multicultural uma escolhairrenuncivel aos europeus.

    O Brasil uma nao que se constituiuna pluralidade cultural e na miscigenao,mas no estamos totalmente ilesos a confli-tos oriundos da heterogeneidade. H de sebuscar sempre a consolidao de uma soci-edade tolerante, plural, multicultural e de-mocrtica tambm entre ns. Na semana quepassou, visitando a cidade de Caxambuacompanhado de um amigo, pastor da Igre-ja Presbiteriana, no sul de Minas Gerais, tivea alegria de conhecer a Irm Ana, uma Fi-lha de Santa Ana italiana, recm-chegadaao Brasil. Ainda no sabe o nosso idioma,mas j est maravilhada com a tolernciaexistente em nosso pas. Veio de uma mis-so entre os muulmanos no Egito, disse-me como difcil a convivncia por l. H

    perseguio explicita contra os cristos. Nofinal da conversa afirmou, de modocomovente, que trabalhou o quanto pdepara servir aos muulmanos, e que nuncadeixou de v-los como irmos. O projeto deJesus, segundo a velha missionria italia-na, que todos os povos faam parte demesma famlia, pois todos somos filhos domesmo Deus. Quanta generosidade nas pa-lavras e nos gestos daquela religiosa! Tam-bm acredito nisto. No existe outro cami-nho vivel para a humanidade, sobretudonestes tempos de globalizao, com a des-coberta de uma fraternidade universal, sim-plesmente por sermos todos seres huma-nos e termos as mesmas necessidades vi-tais. Ser flexvel, relativizar as verdades ab-solutas, dialogar com os diferentes, saberperdoar e procurar caminhos de reconcilia-o e paz, ter venerao pelo sagrado alheiosero virtudes cada vez mais fundamentaispara a vida nas sociedades multiculturais.

    Pe. Fabrcio Beckmann

    Fotos Laurentino Gonalves Dias Jr.

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