48
1 Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador Mister Benny do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia

Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

1

Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador

Mister Benny do Bom Retiro Paulistano

As judiarias em Portugal

Mikva do século XVII encontrada na Bahia

Page 2: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

2editoriaL

ÍNDICENóS guArdAmoSA memóriA dA comuNidAde JudAicA.

Ajude-nos a preservá-laPatrocine nossos projetos.

LOUIS LITTO, filho de Isidore F. Litichevsky e Mania (Minnie) Elsky, um dos patronos da biblioteca do AHJB.

Page 3: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

3

cAro LeiTor

DIRETORIA: PRESIDENTE Jayme Serebrenic VICE-PRESIDENTE Bettina Lenci DIRETORES DE NúClEOS: bIblIOTECA E DOCumENTAçãO Roney Cytrynowicz

O BOLETIM DO AHJB é enviado gratuitamente aos sócios, a instituições culturais do Brasil e do exterior, e é também distribuído aos visitantes e consulentes que o solicitam. Lembramos aos colaboradores que este boletim possui iSSN (international Standard Serial Number), número internacional normatizado para publicações seriadas. os artigos inéditos podem ser enviados à redação pelo e-mail [email protected]

SemA PeTrAgNANi, ediTorA

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do AHJB.

PRESIDENTE Maurício Serebrinic 1O VICE PRESIDENTE Carlos R. de Mello Kertész 2O VICE PRESIDENTE Roney Cytrynovicz DIRETOR FINANCEIRO Jayme Serebrenic DIRETORA SECRETARIA GERAl Myriam Chansky DIR. DE ACERVOS DOCumENTAIS E bIblIOTECA Roney Cytrynowicz DIR. DE ACERVOS ESPECIAIS Simão Frost DIR. DE COmuNICAçãO Sema Petragnani DIR. DE CulTuRA IÍDICHE Abrahão Gitelman DIR. DE DIVulGAçãO Sonia Lea Shnaider DIR. DE EDuCAçãO Anna Rosa Campagnano Bigazzi DIR. DE EXPOSIçÕES Miriam S. S. Landa DIR. DE GENEAlOGIA Paulo Valadares DIR. HISTÓRIA ORAl Marília Freidenson DIR. DE múSICA Samuel Belk DIR. DE PATRImÔNIO Maurício Serebrinic DIR. DE PESQuISA Léa V. Freitag DIR. DE PROJETOS INSTITuCIONAIS Henrique Stobieck DIR. DE RElAçÕES INSTITuCIONAIS Paulina Faiguenboim DIR. DE SEçÕES E INFORmáTICA Carlos R. De Mello Kertész

ADmINISTRAçãO Eliane Klein bIblIOTECA Theodora da C. F. Barbosa DOCumENTAçãO, PESQuISA, PROJETO E EDuCAçãO Lúcia Chermont FOTOTECA Arnaldo Lev SERVIçOS GERAIS José Messias Ribeiro Santos ESTAGIáRIOS Gabriela Munin

REDAçãO - EDITORES Sema Petragnani e Paulo Valadares REVISãO Suely Pfeferman TRADuçãO Flora Martinelli DIAGRAmAçãO Alexandra Marchesini PROJETO GRáFICO Ciro Girard/satelitesmg.com.br ImPRESSãO Northgraph Gráfica CONTATOS [email protected] ou pelos telefones 11 3088-0879 / 2157.4124

Um consulente nosso interpretou com discernimento a missão do AHJB na sociedade. Trata-se do pesquisador Israel Blajberg do Rio de Janeiro que veio a São Paulo em busca de documentos e informações sobre militares judeus, tema ao qual ele se dedica há anos.

Na sede do AHJB ele pesquisou e coletou boa parte do matérial disponível para executar seu trabalho. Declarou, com extrema simplicidade, que utilizará, em seu próximo livro, o material aqui pesquisado.

Ao voltar ao Rio de Janeiro, Blajberg enviou-nos um e-mail que transcrevemos à página 34, e que nos incentivou a continuar, com mais empenho ainda, o nosso trabalho.

Como Arquivo Histórico consideramos que a nossa função é exatamente cumprir nosso papel na sociedade certos de que para trilhar o futuro com segurança, precisamos conhecer e fazer conhecer o nosso passado. E é isso que o Acervo oferece aos interessados.

É também essa a função deste Boletim AHJB e das matérias que publicamos nesta edição.

Há material sobre os judeus em São Paulo: a biografia de um personagem misterioso e a visão do bairro de Higienópolis habitado por judeus.

Temos ainda uma matéria pouco abordada na literatura, a passagem pouco conhecida de Janusz Korszak pela Terra de Israel.

Temos também um artigo sobre o Direito e o cristão-novo em Portugal de Henrique Czamarka e algo também raro, o trabalho inédito de Reuven Faingold sobre um seguidor do Sabateismo.

A isso acrescente-se o Índice do material já pubicado por nós e preparado por Abraão Gitelman, diretor de Cultura Iídiche do Arquivo, que torna accessível aos pesquisadores a riqueza deste material.

Boa Leitura.

A linguagem e soletração em cada artigo respeita a escolha do autor.

ÍNdice03 EDITORIAL E ÍNDICE

04 PALAVRA DO PRESIDENTE

05 CORRESPONDÊNCIA

06 NOTÍCIAS

08 Paulo Valadares MISTER BENNY, O PERSONAGEM DO BOM RETIRO PAULISTANO

12 Sarita mucinic Sarue JANUSZ KORCZAK E A SHOÁ: A VIDA DE UM EDUCADOR

17 carlos Kertesz MIKVÁ DO SÉCULO XVII ENCONTRADA NA BAHIA 18 reuven Faingold SHABATAI TZEVI NA VISÃO DE UM JUDEU-CONVERSO

23 Lucia chermont VIVER EM HIGIENÓPOLIS - DIVERSIDADE CULTURAL

28 Saul Kirschbaum OS JUDEUS ITALIANOS REFUGIADOS DO FASCISMO E O ANTISSEMITISMO DO GOVERNO VARGAS, 1938-1945

29 INDICAçõES E REVISTAS ESPECIALIZADAS

30 Henrique czamarka AS JUDIARIAS EM PORTUGAL – ASPECTOS JURÍDICOS E HISTÓRICOS – UMA ABORDAGEM

34 israel Blajberg MEMÓRIA JUDAICA DO BRASIL

35 ÍNDICE DOS BOLETINS DO AHJB

45 PESQUISADORES

46 DOAçõES

47 IMAGENS VENDIDAS OU CEDIDAS

NóS guArdAmoSA memóriA dA comuNidAde JudAicA.

Page 4: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

4PALAVRA DO PRESIDENTE

A PALAVrA do PreSideNTe

Caros amigos,

Estamos na época de PESSACH e para nós, judeus, é uma das datas mais importantes do nosso calendário.

Trata-se da libertação do Povo Judeu da escravidão de Mitzraim.

Como tantas outras vezes na história de nosso povo, mais um tirano tentou nos escravizar, submeter e destruir e, mais uma vez, guiados por haShem, encontramos o caminho certo.

A História relatando os 40 anos durante os quais estivemos vagando pelo deserto do Sinai já é conhecida por todos e, como sempre, o povo judeu sofreu bastante até alcançar a Terra Prometida, Eretz Israel.

Mas conseguimos! E hoje, temos uma nação judaica forte e consolidada, que tem dado sua contribuição positiva à Civilização moderna, democrá-tica e livre.

O Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (AHJB), ao longo dos seus 35 anos também vem lutando para sobreviver. Hoje temos sede própria, estamos bem instalados e o nosso acervo se encontra armazenado com qualidade e profissionalismo.

Continuamos a nossa luta para tornar o AHJB um modelo para a nossa sociedade. Para isso, é indispensável conseguirmos recursos. Recursos Hu-manos e Financeiros.

Contamos com a colaboração dos nossos Diretores e Sócios e de toda a Comunidade Judaica, que têm no AHJB o depositário da sua história.

SHALOM e CHAG SAMEACH a todos

mAuricio SereBriNic

PRESIDENTE

Page 5: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

5 CORRESPONDÊNCIA

“(…) can you help me find out what happened to the brother of my grandfather Sam Glicker? My grandfather’s brother emigrated to Brazil from New York City sometime after 1915. In 1915, he was living in New York, working as a baker, after emigrating to the United States in 1913 from Yedinitz, Bessarabia, Russia (now called Edinet, Ukraine). I do not know his first name, and the family last heard from him in 1950 when he was living in Sao Paulo with his wife and married daughter or son (I can’t recall which). I belive he was born around 1881. His brothers living in the United States were my grandfather Sam (Yi-ddish name Yishayah or Shaia), Jack, Meyer, and Joseph Glicker. His mother’s name was Bindel Glicker (maiden name Rosenblatt) and his father’s name was Israel Glicker. The only other details I know about my grandfather’s bro-ther in Brazil are that he had one damaged eye, and that he said in his 1950 letter that his son (or son-in-law) was involved in revolutionary activities (…)”.

FLo WoLF, Atlanta - georgia, uSA

Núcleo de genealogia do AHJB responde: Localizamos o seu tio-avô e a esposa, José Gliker, Sha-

betai b. Israel (Iedenitz, 1884 – S. Paulo, 21/03/1952) e Riveka Gliker (Iedenitz, 1892 – S. Paulo, 08/02/1951). Em: Os primeiros judeus de S. Paulo, p. 128. A filha do casal, Aida (ou Ida), “26 anos, costureira, romena” e o marido Jayme (ou Chaim Rubim) Narovsky, “33 anos, alfaiate, polonês” pertenciam à Juventude Comunista. Foram expulsos para Varsóvia, embarcando no navio francês Aurigny no porto de Santos no dia 06/07/1936.

“(…) my family has looked for information about them for 60 years. Now, thanks to your website and museum, and your kindness, we finally know some answers (…)”.

FLo WoLF, Atlanta, giorgia, uSA

O músico americano Chaim Zemach procurou infor-mações sobre familiares em S. Paulo. Ao saber que um deles, ABRAHAM BERTIE LEVI (1899-1968), é nome de rua na cidade, agradeceu as informações genealógicas e comentou:

“(…) Absolutely amazing! Only yesterday I didn’t know much about Bertie, the first cousin of my father Isaac Semach, and today I know not only that he had a street named after him but also where exactly it is!? Thank you very much!

cHAim ZemAcH - Montclair State University e Metro-politan Opera Orchestra

(...) tomei conhecimento da publicação de seu abran-gente estudo genealógico sobre a família LAFER-KLA-BIN, publicado no boletim do AHJB, no qual meu ramo é tratado à pág. 38. Sou trineto de Leon Klabin, bisneto de Luiz Klabin [III], neto de Ana [Klabin 3(IV)] e Salomão Leifert, filho de Waldemar Leifert e Julia; casado com Maria Helena, pai de Tiago e Marcela. Gostaria de lhe contar um detalhe muito curioso sobre Leon Klabin: vi-úvo de Chaia Sarah Papert, sua primeira esposa, falecida em 1910, ele casou-se em segundas núpcias com BEYLA LEIFERT (neé ENENSON, viúva de Moyses Leifert). Beyla (ou Bella) era mãe de Salomão Leifert, casado com Anna Klabin (ela neta de Leon, filha de Luiz Klabin e Rose Lo-wet). Portanto, em virtude desse 2º matrimônio, o avô de Anna, Leon Klabin, passou a ser também seu sogro! Receba meus cumprimentos pelo trabalho realizado e votos de feliz 2012 (...).

GILBERTO CARLOS LEIFERT, S. Paulo, S.P.

Recebemos a ligação do Daniel Borger, filho do Hans Borger falecido no final do ano passado, que informou que seu pai deixou no testamento sua biblioteca pessoal para o Arquivo Histórico Judaico Brasileiro.

O AHJB agradece a doação.

Após uma visita pela primeira vez ao AHJB, no dia dois de fevereiro passado, a Profª. Drª. Ana Magalhães, da Divisão de Pesquisa em Arte e Teoria e Crítica do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, enviou-nos o se-guinte e-mail:

Muito obrigada pela visita de ontem e pela genealogia de Modigliani e de Marguerita Sarfatti, também pelos artigos e pelo link.

Obrigadissima pela descoberta de mais esse universo! Quero encontrá-los mais vezes e estou a disposição para colaborar! - Ana

Page 6: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

6

Para conhecer o AHJB, recebemos com prazer a visita do consul-geral dos Paises-Baixos, Jan Gijs Schouten, no dia 13 de dezembro de 2011, convida-do pelo presidente Mauricio Serebrenic.

O convite foi feito anteriormente durante um al-moço no Consulado dos Paises Baixos em São Paulo e House do Brasil, ocasião em que além do cônsul e da consulesa, estavam presentes a diretora da Anne Frank Joelke Offringa e o Coordenador de Cultura da Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo.

Na ocasião, foi feito o convite aos presentes para conhecerem a Exposição que estava sendo realizada em unidades do CEU, sobre Anne Frank, promoven-do um trabalho de conscientização dos jovens da pe-riferia sobre as diferenças e os problemas causados pela intolerância.

O Sr. Jan Gijs Schouten mostrou-se muito interessado em conhecer o nosso trabalho e, gentilmente, ofereceu ao Arquivo um belíssimo livro, “O Brasil Holandês – a família Nassau, Moedas e Medalhas” de autoria de Alfredo G. Gallas e Fernanda Disperah Gallas, integrado a nossa Bi-blioteca e disponibilizado ao nosso público para consultas.

coNSuL-gerAL doS PAiSeS-BAixoS, JAN giJS ScHouTeN, ViSiTA o AHJB

NOTÍCIAS

Foi lembrada (hazkará) com cerimônia no Cemitério Israe-lita de Salvador, localizado na rua Quinta dos Lázaros, as 9 horas do 15 de janeiro de 2012, a dentista Sara Violeta de mello Kertesz que falecera na mesma data em 1962, re-pentinamente aos 49 anos. Ela nascera em Manaus, filha do comerciante Salomão e Rachel de Mello, membros de uma antiga família de judeus marroquinos radicados há muitos

anos no Brasil. Sara casou-se com o engenheiro e empresário Kertész (Jorge) György (1910-1989), nas-cido em Budapeste. O casal teve três filhos: Carlos Roberto (vice-presidente do AHJB), Eduardo z’l e Mário de Mello Kertész, prefeito de Salvador por duas vezes. Ela foi uma mulher bem-humorada, po-pular e muito culta – para um perfil biográfico, leia-se o Jornal da Me-trópole, Salvador, 13/01/2012, pp. 12-3. A cerimônia teve a presença de descendentes, familiares e ami-gos da família.

CERIMÔNIA NO CEMITÉRIO ISRAELITA DE SALVADOR

Johan IV Von Nassau e esposa Maria Von Leon-Heinsberg, ancestrais de Mauricio de Nassau, Bernard Van Orley, c. 1528-1530, The Paul Getty Museum, los Angeles. Livro doado pelo cônsul.

Em dois de janeiro último, São Paulo ganhou um inu-sitado espaço cultural, o “MEMORIAL DO CEMITÉRIO ISRAELITA DA VILA MARIANA” que tem sua sede na an-tiga Casa de Tahara. O Memorial conta a história da comunidade judaica em São Paulo, através de painéis ilustrativos, tendo como pano de fundo a instalação do primeiro cemitério israelita da Capital.O plano expositivo é de autoria do historiador Roney Cytrynowicz, vice presidente do AHJB e do arquiteto Marcos Cartum e preserva as características originais da antiga construção.O Memorial tem a função de celebrar e registrar a histó-ria, a presença judaica e a memória da diversidade em São Paulo. Os ritos funerários e a concepção de morte no judaismo também são destacados. “É um projeto pioneiro em termos de cemitérios paulistanos, ressalta Cytrynowicz.O Menorial fica aberto para visitação de segunda a quinta-feira, das 7h às 16h; às sextas, das 7h às 15h.Atualmente, o tombamento do Cemitério Israelita de Vila Mariana está sendo pleiteado junto ao Conselho do Patrimônio Histórico.

memoriAL coNTA A HiSTóriA dA imigrAÇÃo JudAicA

Page 7: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

7

NOTÍCIAS

Em 17 de novembro de 2011, no prédio da PUC-SP, rua Ministro Godoy nº 969, foi defendida pela historiadora Lucia Chermont, Coordenadora do Atendimento, Documentação, Pesquisa, Projetos e Educação do AHJB, a dissertação de mestrado, Memória e Experiência de Judeus de Higienópolis e arredores, S. Paulo (1960-1970), que rendeu um texto de 138 páginas. Formou na banca examinadora, a Drª Maria do Rosário da Cunha Peixoto, orientadora do trabalho; o Dr. Luiz Antonio Dias (PUC-SP) e o Dr. Roney Cytrynowicz (USP e vice-presidente do AHJB). Os personagens deste trabalho são judeus residentes no bairro de Higienópolis e a autora tem como objetivo do trabalho compreender “através da ótica de alguns destes sujeitos, como essa vivên-cia foi experimentada, não apenas como uma opção prática, mas também em suas dimensões imaginárias e sentimental”. Ela baseou-se fundamentalmente em treze entrevistas feitas a moradores do bairro. São eles: Rabino Jacob Begun, Alain Bigio, Myriam Chansky, Póla Cohen, Israel Diksztejn, Leon Diksztejn, Olivia Haftel, Arieh Halpern, Sima Halpern, Rachel Mandel-baum, Victor Sayeg, Geny Serber e Cecília Sztutman. A argüição desenvolveu-se tranquilamente, sendo abordados nela desde os aspectos teóricos ao tema desenvolvido na dissertação, para proveito da platéia formada por estudiosos e amigos da can-didata ao grau de mestre. No final da seção a candidata foi aprovada com a nota máxima.

DEFESA DE mESTRADO NA PuC-SP

O jornal italiano “La Repubblica” datado de 14/12/2011 traz uma foto, mostrando crianças atrás das grades de um campo de concentração que ilustra matéria intitulada “TESTE PARA OBTER A CIDADANIA ALEMÃ ESTÁ SOB ACUSAÇÃO POR IGNORAR A “SHOÁ”. O texto citado esclarece que, a partir de setembro de 2010, a obtenção da desejada cidadania alemã será condicionada a atender perguntas as mais variadas sobre a História da República Federal da Alemanha, não focalizando o Holocausto, completamente ignorado no mencionado teste. O fato enfureceu a comunidade judaica e, segundo Stephan Kramer, membro do Conselho Central Judaico, “tal omis-são representa um estranho modo de interpretar a história”. Cláudia Roth, representante do Partido Verde, definiu a questão como “... um exame grotesco. A Alemanha, afinal, continua tendo dificuldades ao se confrontar com a parte mais dolorosa do seu passado”.

E aqui chegamos à palavra Vergangenheitsbewältigung, titulo, na realidade, desta matéria. Fica demons-trado que por este processo histórico surgiram, com o decorrer dos anos, novos termos. É uma palavra composta alemã que descreve o processo de lidar com o passado ou, mais claramente, a reconciliação com o passado, descrevendo bem o modo de afrontar e ministrar os ensinamentos tirados desta elaboração. Essa é a palavra usada para se referir ao processo de superação das brutalidades cometidas pela Alemanha?Aufarbeitung é outro termo que também descreve o modo de afrontar e administrar os ensinamentos tira-dos dessas elaborações e é traduzível como elaboração do passado.Essas duas palavras são usadas para se referir ao processo de superação das brutalidades cometidas.

VERGANGENHEITSBEWÄLTIGUNG

A SiNAgogA dA coNgregAÇÃo iSrAeLiTA PAuLiSTAFeZ HomeNAgem áS VÍTimAS do HoLocAuSTo

O Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, para a exposição “Homenagem às Vitimas do Holocausto”, de 27 a 6 de feve-reiro último, promovida pela Congregação Israelita Paulista, cedeu de seu acervo documentos e objetos da Segunda Guerra Mundial. A receptividade do público presente na inauguração do evento foi grande e muito comovente.

Dra. Maria do Rosário da Cunha Peixoto, Lucia Chermont, Dr. Luiz Antonio Dias e Dr. Roney Cytrynowicz

Page 8: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

8

Mr. Benny foi o personagem popular no Bom Retiro nos anos em que aquele bairro paulistano era um bairro étnico – um bairro ligado aos judeus paulistanos. Ele se destacava por andar de cabeça coberta por turbante e principalmente por ser um judeu negro numa comunida-de essencialmente de origem europeia. Por ter sido um homem de vida modesta, candidato a cantor e professor de inglês, cujo aluno mais conhecido teria sido o empre-sário e entertainer Silvio Santos, não há material biográ-fico sobre ele. Ele é apenas a personagem incidental em poucos trabalhos publicados. Interessado em construir um perfil biográfico deste original e simpático perso-nagem, procurei o Arquivo Nacional no Rio de Janeiro, entrevistei seus contemporâneos. Agradeço particular-mente a Maria Helena Soares Miranda e Josimere Bor-ges (ambas do Arquivo Nacional), Darlan Souza Ferreira, Fabio Koifman, Branco Leone, Nissim Moses, Ardem Zyl-bertsztajn, Abrão Bernardo Zweiman, dentre outros que me ajudaram nesta empreitada. O resultado é o trabalho que levo aos leitores.

(...) AN INDIAN FROM THE LAND OF ETHIOPIA (...) O Talmude fala de “um indiano vindo da Etiópia” (KID.

22b; BB 74b); milhares de anos depois, encontramos na comunidade paulistana um judeu com identidade pareci-da. Trata-se do homem que conhecíamos como Mr. Beny, que falava obliquamente de seu passado e que se iden-tificava como filho de pai etíope e mãe indiana. Os no-mes de sua família sofrem variações conforme as versões consultadas. Na documentação oficial, ele aparece como filho de Patel Zavarg (na revista O Hebreu, Patel Yehu-da Zahavi, etíope) e Melea Yanga (no RG de Mr. Beny: Malca). Ele teria nascido em Jaipur, no Rajastão, em 13 de abril de 1927. Seu nome era Benny Yanga Zavarg ou, religiosamente, Beny ben Patel. Todas estas informações foram fixadas a partir de suas declarações. É possível que por alguma razão estejam distorcidos, pois não se en-contram similares nas pesquisas. Dr. Nissim Menachem Moses Talkar, conhecido como Nissim Moses, que possui

MISTER BENNY, O PERSONAGEMDO BOM RETIRO PAULISTANO

PAULO VALADARES *

o maior acervo gene-alógico sobre os ju-deus da Índia, supõe que o sobrenome correto seja Zaveri. Este sugere uma fa-mília ligada à venda de joias, pois, na co-munidade dos Bene Israel, há apenas ou-tro sobrenome pare-cido, Zawlikar.

Sua chegada ao Brasil se deu em cir-cunstâncias misterio-sas. Ele se apresen-tou às autoridades brasileiras em duas versões diferentes da chegada. A primeira, mais inveros-símil, afirmava que viera quando criança a Porto Alegre, numa viagem marítima de recreio com a mãe em 1937 – não devemos esquecer que ele era de origem social modesta. A outra, referendada pelo delegado Isaías de Aquino Soares garantia que ele era tripulante do vapor inglês Orbans e desertara no porto do Rio de Janeiro, em janeiro de 1941, aos treze ou catorze anos de idade. Não possuía qualquer documento que o identificasse ou apresentasse prova de sua cidadania.

Ele pretendia fixar-se no país. Seu desejo, porém, foi in-deferido em 3 de maio de 1944. O seu pedido foi analisa-do em vários níveis; recebeu até o OK do Conselho de Imi-gração e Colonização. Todavia, o parecerista final foi mais atento às minúcias e observou que o “suplicante” era de:

“(...) raça negra, raça esse (sic) cuja emigração atu-almente não consulta aos interesses nacionais, con-forme doutrina formada em casos idênticos. Nessas condições proponho que “in limine”, o pedido seja indeferido (...)”.

BIOGRAFIA

FOTOTECA - AHJB

Page 9: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

9

O político paulista Alexandre Marcondes Machado Fi-lho (1892-1974), Ministro da Justiça e dos Negócios In-teriores, seguiu a recomendação dos escalões inferiores e indeferiu o pedido. De algum modo, o grumete adoles-cente Beny tomou conhecimento desta manifestação e desapareceu no burburinho da cidade grande, para evi-tar a deportação.

Durante anos, viveu como clandestino no Brasil. Espe-rou mudar as tendências e, somente depois do final da Guerra reapareceu para solicitar sua naturalização em 1955. Já estava bem ambientado aos costumes nacio-nais, tanto que trouxe documentação suficiente para não ser recusado. Eram declarações de algumas pesso-as, afirmando que ele era seu professor de inglês. Uma delas era do procurador federal Dr. Alberico Saraiva Ri-beiro, a quem Mr. Benny lecionava inglês “três vezes por semana, à razão de três mil cruzeiros mensais”. É uma testemunha socialmente importante, destacada por isto no processo de naturalização. Perguntado sobre o que acontecera neste tempo, ele contou uma história confu-sa, que ficara doente e fora para o interior restabelecer-se. Mesmo assim, a polícia conseguiu rastrear alguns dos endereços onde ele morara no Rio de Janeiro. São vários endereços no centro da capital federal e até no Seamen’s Hotel, localizado na Rua Marquês de Abrantes nº 165, no Flamengo. Em 27 de novembro de 1956, lhe foi conce-dida a nacionalidade e o direito de permanência no País. No começo dos anos sessenta, ele se estabeleceu em São Paulo, no Bom Retiro.

lação desta comunidade, dividida principalmente em sin-dhis em Manaus e goeses em São Paulo. Não há registro de judeus vindos daqueles lados. Benny Yanga pertence àquele grupo de judeus que, nascidos em locais longín-quos ou exóticos como Herat no Afeganistão ou Harbin na China, por circunstâncias fortuitas, chegaram a São Paulo, onde terminaram seus dias, mas que não faziam parte de um grupo organizado para imigração.

As relações dos judeus com a Índia são muito antigas e se perdem entre as lendas. Já são citadas sob o nome de Hodu na Bíblia, no livro de Esther (1:1; 8:9). Nos anos vinte do século passado, havia três grupos de judeus vivendo na Índia. Eram os judeus de Cochim, a comu-nidade Bene Israel e os Baghdadi. Hoje, outros grupos são listados a estes. Os dois primeiros grupos são au-tóctones, provavelmente descendendo das dez míticas Tribos Perdidas, e o outro grupo, os Baghdadi, oriundos do mundo islâmico especialmente de Bagdá.

No séc. XVII, Mosseh Pereyra de Paiva, comerciante ju-deu de Amsterdã, esteve na Índia e escreveu um relatório sobre os judeus que encontrou por lá.

(...) He toda esta Gente muito bem disposta, e de natural dócil, Grandíssimos Judeus, E bahale torah, e não menos mercadores no que podem furar, a cor he amulatada (...).No British Raj, a Índia foi governada, entre 1921 e

1926, por Rufus Daniel Isaacs, 1º Marquês de Reading (1860-1935), um sefaradita da família Mendoza e primo do ator inglês Peter Sellers (1926-1980).

Não se sabe nada do passado indiano de Mr. Benny. Ele raramente falava disto, nem aos amigos mais próximos, por alguma razão que lhe era dolorosa. Não se deve es-quecer que ele apareceu adolescente no Brasil. Não se sabe quando Benny Yanga deixou a Índia. Pelas conver-sas que ele manteve com os amigos, é possível traçar um percurso mais ou menos possível do seu peregrinar. Nos tumultos que precederam a independência da Índia, ele deve ter migrado com a mãe para a Inglaterra. No clima crispado da época, ser judeu ou simpatizante dos bri-tânicos não devia ser confortável na Índia. Muitos anos depois, ele falava com saudades de um irmão “rabino” que vivia em Liverpool.

MR. BENNY NO BOM RETIROMr. Benny chegou ao Bom Retiro no começo dos anos

sessenta. Durante todos estes anos, viveu como profes-sor de inglês; dizia-se também shadchan (casamenteiro) e chegou a tentar uma carreira de cantor. Era notado não só pela aparência física ou por suas atividades, mas

AS TRIBOS PERDIDAS, A ÍNDIA E O BRASILNão há correntes imigratórias da Índia para o Brasil,

mesmo quando esta era parte do Império Português e havia uma consagrada rota marítima entre Lisboa, Co-chim e Goa, chamada Carreira da Índia. Há registros da vinda de alguns canarins (indianos de Goa) para a Bahia, nos dias coloniais e recentemente, PIO’s (People of Indian Origin), notadamente com o fim das províncias ultramarinas portuguesas. Estima-se em três mil a popu-

BIOGRAFIA

Page 10: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

10

pela simpatia e pela cultura. Contava suas histórias, de quando vivera no “Estrangeiro”, sem mostrar mágoas por incompreensões passadas.

Ele frequentava simultaneamente dois mundos di-ferentes, a comunidade judaica, da qual fazia parte, e também o show-business paulistano. Era encontrado nas sinagogas ou em outras instituições judaicas, mas também em estúdios de televisão onde buscava uma carreira de cantor popular.

As suas histórias são muitas. O escritor Branco Leone, cujo pai foi aluno de Mr. Benny,

lembrou-se com carinho de sua presença e de “um burrico de plástico que ele me deu (desses que abria a boca quan-do se aproximava uma espiga de milho com um imã)”.

O Dr. Ardem Zylbertsztajn, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, lembrou-se de dois episódios marcantes de sua vida com Mr. Benny, que mostram um pouco de sua personalidade.

“A minha lembrança mais antiga dele é de 1962, quando fui com meu pai ao modesto cômodo em que morava na Rua da Graça, quase esquina com a Silva Pinto. Meu pai queria saber se ele poderia en-sinar as rezas para o meu Bar Mitzva, que se apro-ximava. Modestamente, respondeu que não tinha conhecimento suficiente para isso.”

Seguindo o ciclo da vida: “A última vez que vi Mister Benny foi em 1990, em um dos corredores do Hospital Albert Einstein, onde meu pai estava internado após ter sofrido um der-rame. Ele perguntou se poderia ir ao quarto fazer uma reza, com o que concordei, ainda que descrente dessas coisas. Meu pai não se recuperou, mas fiquei contente que tenha recebido uma benção de Mister Beny antes de falecer.”

MR. BENNY NO SHOW-BUSINESSO show-business brasileiro nos anos sessenta ainda es-

tava em formação. O sucesso de um cantor, entenda-se por sucesso a venda de discos e shows, vinha de sua exposição nos meios eletrônicos de comunicações, so-bretudo o rádio e depois a televisão. O centro musical se deslocara do Rio de Janeiro, com a substituição do samba pela influência da música jovem americana. O principal grupo de comunicação eletrônica era a Re-cord em São Paulo, com uma programação musical da promoção de festivais a programas de auditórios, crian-do ídolos populares.

Dois judeus ocuparam posições destacadas na conso-lidação deste mercado artístico, um deles foi o apresen-

tador de TV Silvio Santos (Senor Abravanel), com seus programas de calouros e de auditórios; e outro, o em-presário Marcos Lázaro (Mordechai Eliezer Margulies, 1925-2003), um poilisher vindo da Argentina, que trou-xe competência e seriedade na administração de carrei-ras dos artistas que surgiam.

Benny Yanga (B. Y.) tentou entrar neste mercado. Sua voz era pequena, tendendo a metálica e cantava em in-glês. Possuía um repertório próprio, canções de sua au-toria e do maestro Costa Gomes, que fazia os arranjos musicais para os seus discos. Tinha bons contatos no meio musical, tanto que gravou no mítico selo pernam-bucano Mocambo do bessaraber José Rozemblit (1927-2007). Gravou dois compactos com títulos parecidos: Two songs to your heart e Four songs to your heart. Uma das canções era descrita como um hully gully em ... iídi-che chamado Zug, zug, zug.

B. Y. teve uma trajetória modesta como cantor. Sua car-reira não decolou por uma série de injunções da época. Ele não tinha a estampa do ídolo que se idealizava num rapaz branco e cabeludo. Cantava em inglês num mo-mento de afirmação nacionalista; somente anos depois, outro cantor brasileiro e também judeu, Morris Albert (Maurício Alberto Kaiserman), tornou-se sucesso mun-dial com a canção Feelings (1976), cantada em inglês. Sem espaço neste mercado eletrônico, ele passou a ven-der seus discos pessoalmente, algo que pode ser visto como pioneiro, pois é uma atitude que precedeu os cha-mados “independentes”. B.Y. tampouco conseguiu ser um cantor da comunidade israelita paulistana. Sua pas-sagem pelo meio artístico lhe rendeu amigos fiéis como os cantores Jair Rodrigues e Moacir Montana, que lhe acompanharam até o final da vida.

Uma das raras imagens encontradas de Benny é sua participação no programa “Pinga-Fogo”, transmitido às 22h de 20 de dezembro de 1971, pela TV Tupi (Canal 4). O entrevistado era o médium espírita Chico Xavier (1910 – 2002) e os convidados entrevistadores eram

BIOGRAFIA

Page 11: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

11

(*) Paulo Valadares - Historiador e Genealogista Blog: www.bestaesfolada.blogspot.com

o radialista Vicente Leporace (1912 – 1978), o deputa-do Freitas Nobre (1921 – 1990), o ator Anselmo Duarte (1920 – 2009), o cantor Blecaute (1919 – 1983) e a jor-nalista Liba Friedman. A sua pergunta era simples. Ele fora convidado a ver uma “materialização”, no centro, do professor Herculano Pires (1914 – 1979), junto com outro judeu, mas só ele viu o fenômeno. Por quê? Chico Xavier lhe disse que talvez ele fosse

“(...) portador do que nós chamamos clarividência mediú-nica, talvez não muito desenvolvida, por enquanto, mas sus-cetível de encontrar um grau muito elevado de evolução.”

(http://www.youtube.com/watch?v=OQHH5uSCGs&feature=related)

CONCLUSÃOOriginário das míticas Tribos Perdidas, B. Y. vagou pelo

mundo, mas viveu a parte mais importante de sua vida num bairro paulistano. Ele investiu bastante no sonho de ser cantor, carreira extremamente ingrata para muitos, tal a dificuldade de alcançar o sucesso. O final de sua vida foi difícil economicamente, como fora toda a sua vida. Porém, ele teve o amparo da comunidade judaica paulistana através de suas instituições de auxílio mútuo. Acometido por uma arritmia combinada com nefrite crô-nica, ele faleceu em São Paulo, a 27 de outubro de 2000, e foi sepultado no Cemitério Israelita do Butantã.

Livro de Rezcas, India. Coleção Particular.

Família judia indiana. Coleção

particular

BIOGRAFIA

Page 12: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

12

Janusz Korczak nasceu em Varsóvia em 1878 com o nome de Henryk Goldszmit. Para entendermos o signi-ficado de sua vida precisamos conhecê-lo ainda criança e a história de sua família. Nos 64 anos de vida, ocupou diversas posições. Foi médico, escritor, educador e de-fensor das crianças. Faleceu tragicamente no campo de Treblinka, em 1942.

Descendente de uma das poucas famílias da elite ju-daica integrada à sociedade polonesa, os Goldszmit constituíam uma família de maskilim ou eruditos judeus, inseridos nas idéias do Iluminismo que pretendiam revo-lucionar as bases da vida, da educação e do pensamento judaico. Henryk representava a terceira geração da famí-lia instruída em curso superior.

Seu avô paterno, Tzvi Hirsh Goldszmit, nasceu em 1805 em Hrubieszow, pequena cidade da Polônia. Médico e líder comunitário, Hirsh dedicou-se à solução do proble-ma da emancipação e da integração dos judeus na socie-dade polonesa. Joseph, seu pai, foi advogado em Varsó-via e publicou diversos artigos dirigidos à comunidade judaica em língua polonesa. O avô e o pai de Korczak dominavam três idiomas: o polonês, o iídiche e o he-braico. A dedicação dos Goldszmit à comunidade judaica foi relatada no diário que Korczak escreveu no gueto de

JANUSZ KORCZAK E A SHOÁ:A VIDA DE UM EDUCADOR

SARITA MUCINIC SARUE *

Varsóvia nos últimos meses de 1942, depois publicado como Diário do Gueto, assim expressa:

“Eu deveria consagrar aqui muito espaço ao meu pai (Jo-seph): realizou em vida aquilo a que ele mesmo aspirou tão forte e antes dele meu avô quis realizar.”

Korczak, Diário do Gueto (1942), 1986, p.115

Joseph casou com Cecylia Gebicka, judia secular, edu-cada dentro dos moldes da Haskalá (ou Iluminismo Ju-daico), à semelhança de seu marido. A avó materna resi-diu na casa dos Goldszmit assim que enviuvou e exerceu grande influência na educação do neto. Korczak, que possuía o nome Henryk, em homenagem ao avô pater-no, recebeu educação polonesa, não aprendeu o hebrai-co e nem o iídiche. Dominava, entretanto, o polonês os idiomas russo, francês e alemão.

O encontro de Korczak com o Judaísmo ocorreu aos cinco anos de idade, após a morte de seu canário por in-termédio de um vizinho polonês. Enfrentou, pela primei-ra vez, o dilema de ser judeu em um país católico1. Kor-czak descreveu o fato do seguinte modo em seu diário:

“Eu quis colocar uma cruz no túmulo. A empregada dis-se que não, porque era um pássaro, portanto bem inferior ao homem. Chorá-lo já era um pecado. Eis aí a empre-gada. Mas o que o filho do zelador disse era bem pior: o canário era judeu. E eu também. Eu era judeu e ele, polonês e católico. Ele estará um dia no paraíso; quanto a mim, com a condição de nunca pronunciar palavras feias e levar-lhe docilmente açúcar furtado de casa, poderei en-trar, após a minha morte, em alguma coisa que não pro-priamente o inferno, mas onde, de toda forma, é muito escuro. E eu tive medo do escuro. A morte – judeu – o inferno. O escuro paraíso judeu. Dava o que pensar.”

KORCZAK, Diário do Gueto (1942), 1986, p.12.

1 Fundada como um reino cristão em meados do século X, a Polônia era constituída de dois grupos étnicos distintos: germa-nos e eslavos. Os germanos a oeste, convertidos à fé luterana no século XVI; os eslavos, cristãos ortodoxos, a leste, se firmaram como os mais fervorosos seguidores do Catolicismo do leste eu-ropeu, situação que provocou a simbiose entre a nacionalidade e a religião: um verdadeiro polonês é católico. (LIFTON, 2005, p.8)

ARTIGO

PINACOTECA - AHJB

Page 13: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

13

Não foi por acaso que Korczak resolveu estudar Me-dicina, pois durante sua adolescência denunciava, no próprio diário e posteriormente em artigos para um jornal polonês, a miséria do povo e as injustiças contra as crianças. No período em que cursou a Universidade, continuou escrevendo artigos sobre crianças carentes e admirava o partido socialista polonês, mas não se enga-java politicamente. Ele acreditava no ideal do Socialismo como transformação da sociedade, porém, acima disso, acreditava que somente pela Educação o mundo se tor-naria justo. Ainda estudante, deixou por alguns meses a casa de seus pais e foi morar no bairro pobre de Var-sóvia, a fim de conhecer de perto as necessidades do proletariado.

Korczak escreveu vários livros dirigidos ao público in-fantil e adulto. Alguns deles foram traduzidos para a lín-gua portuguesa: O Rei Mateusinho I2, Quando eu voltar a ser criança3, Como amar uma criança 4 e o Diário do Gueto (1942). Ficou popularmente conhecido por apre-sentar ideias sobre os Direitos da Criança e da Educação Democrática, trazendo novas concepções para o desen-volvimento da capacidade de raciocínio crítico do aluno e o despertar do conhecimento do adulto às fases de crescimento da criança.

Após graduar-se em Medicina Pediátrica, fez residên-

2 Rei Mateusinho I foi publicado, pela primeira vez, em 1923.3 A edição original de Quando eu voltar a ser criança é de 1925. 4 A primeira parte de A Criança na sua Família foi originalmen-te publicada em 1919. A primeira edição completa de Como amar uma criança é de 1920.

cia no Hospital Judaico Infantil. Pouco tempo depois, foi convocado pelo Exército Imperial Russo para servir na guerra Russo-Japonesa (1904-1905), em um trem hos-pital na ferrovia Transiberiana. Durante a guerra, ainda encontrava tempo para escrever artigos sobre a criança e fornecia notícias da guerra em sua coluna na revista Glos. Em Varsóvia, os artigos de Korczak haviam sido am-plamente recebidos pelo público, consagrando-o como o novo escritor jovem da literatura. Esses artigos foram incluídos no seu livro Crianças de Salão (1906).

Após alguns anos trabalhando no Hospital Infantil Ju-daico, Korczak viajou para Berlim, Paris e Londres para completar sua Especialização em Pediatria. Aprofundou conhecimentos sobre a criança, suas doenças, tratamen-tos, necessidades e sobre como lhes oferecer morte dig-na. Korczak também se interessou pelo desenvolvimento emocional da criança em relação ao mundo adulto, o que o levou a estudar os métodos pedagógicos de Jo-hann Heinrich Pestalozzi e Maria Montessori. De volta a Varsóvia, decidiu trabalhar como monitor de colônias de férias para crianças carentes, judias e polonesas.

Na Universidade, conheceu colegas judeus que o leva-ram a participar, também como palestrante, dos encon-tros semanais na casa de Nahum Sokolow, onde eram debatidos problemas da comunidade judaica, bem como sobre crianças sem oportunidades. No período, entrou em contato com a Ezra, instituição judaica de ajuda à criança órfã.

A partir de 1912, abandonou a carreira médica para se

ARTIGO

PINACOTECA - AHJB

Page 14: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

14

tornar o educador do Orfanato Don Sierot, na Rua Kro-chmalna, nº 92, juntamente com a educadora Stefania Wilczinska.

Janusz e Stefania aspiravam a um orfanato que funcio-nasse como uma comunidade democrática, em que os jovens pudessem constituir um Parlamento próprio, um tribunal e um jornal e que, dentro do trabalho grupal, as crianças tivessem a oportunidade de conviver com outras pessoas com honestidade e responsabilidade.

Após dois anos de existência do Orfanato, foi criado um Parlamento que contava com vinte deputados, elei-tos por voto secreto, Korczak como presidente honorá-rio e um secretário. Estes escolhiam entre si uma Comis-são Legislativa de cinco membros e um vice-presidente para compor o Senado, que aprovava ou rejeitava as leis propostas pelo Conselho Jurídico.

A entrada da Rússia na 1ª Guerra determinou o fim do regime comunista. Em 1914, Korczak se alistou, nova-mente, como médico do exército russo por quatro anos consecutivos. O orfanato, com cento e cinquenta crian-ças, ficou sob os cuidados de Stefania que, com poucos recursos financeiros, conseguiu mantê-lo até o fim da 1ª Guerra em 1918.

Entre a 1a e a 2a Guerras Mundiais (1918-1939), Kor-czak dirigiu um orfanato polonês chamado Nasz Dom com a educadora Marina Falska. Em 1926, um jornal judaico infantil Mali Pshegolond em língua polonesa passou a ser escrito e dirigido por jovens e crianças, sob orientação de Korczak.

Encontro com a Terra de Israel O desejo de Korczak de conhecer a Terra de Israel rece-

beu influência de duas educadoras de seu orfanato que

haviam emigrado na década de 1920 para a Palestina. Vários alunos seguiram o mesmo destino. As educado-ras Feiga Lipshitz e Ester Budko Gad iniciaram troca de correspondência em que contavam todas as dificulda-des e desafios de adaptação a uma nova terra. Os edu-cadores do orfanato eram, em sua maioria, monitores de movimentos juvenis sionistas que se aproximaram de Korczak e Wilczinska e trouxeram novas idéias. Com aprovação de Korczak, promoveram o encontro das crianças do orfanato com as crianças dos movimentos juvenis, introduziram vocabulário no idioma hebraico, acrescentaram a bandeira azul e branca e transmitiram ideias sionistas para construção de uma sociedade justa na Terra de Israel.

A estada de Stefania por três meses no Kibutz Ein Ha-rod em 1932 foi o impulso que Korczak precisava para decidir conhecer a terra dos seus ancestrais. Entre 1934 e 1936, Korczak viajou duas vezes para a Palestina e fi-cou hospedado no Kibutz Ein Harod. Nas duas estadas na Terra de Israel, Korczak era convidado, diariamente, a proferir palestras sobre Educação, o Modelo Democráti-co de Autogestão dos dois orfanatos que fundou e sobre Temas Pediátricos. Os desafios dos jovens pioneiros na realização do ideal sionista, o sistema de educação de-senvolvido no kibutz, a vida das crianças e o trabalho agrícola foram temas que suscitaram em Korczak vários questionamentos pessoais. Ele expressou em suas cartas o permanente desejo de retornar à Terra de Israel para mais uma visita ou para lá morar definitivamente.

Por influência de Joseph Arnon, um dos educadores bolsistas do orfanato, estabeleceu contato com o mo-vimento juvenil sionista Hashomer Hatzair. Após a emi-gração de Arnon à Palestina, trocaram correspondência

entre 1932 e 1940. Essas cartas foram publicadas por Arnon e apresentaram as ideias de Korczak sobre a construção da nova terra pelos jovens pionei-ros e seu dilema pessoal sobre a questão de emigrar ou não para a Terra de Israel.

“Se existe um país, onde é oferecida a chance à criança para expressar honestamente seus sonhos e temores, suas aspirações e suas perplexidades – possivelmente é em Eretz Is-rael. Lá deveria ser erguido um monumento ao órfão desco-nhecido [...]

ARTIGO

FOTOTECA - AHJB

Page 15: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

15

[...] Não perdi a esperança de passar meus últimos anos em Eretz Israel e lá sentir saudades da Polônia.

Goldszmit”Carta de Korczak enviada a Joseph Arnon5 em

08/10/1932.

“Ao menos se tivesse recursos, gostaria de passar meio ano na Terra de Israel, para contemplar o passado, e meio ano na Polônia, para manter as coisas aconte-cendo por lá [...]. Durante anos, tenho observado o de-samparo, a tristeza silenciosa das crianças sensíveis, por um lado, as artimanhas descaradas dos animais adultos, por outro. Receio que estejamos apenas testemunhan-do a destruição, sem sentido, de tudo o que é honesto e amável, o massacre dos cordeiros pelos lobos.

Não tenho ilusões – o mesmo deve acontecer na Terra de Israel. Talvez, dadas as minhas condições não fami-liares lá, minha falta de contatos, ignorância da língua e distância de todas as pessoas, poderia ser capaz de fazer de mim mesmo uma pequena célula monástica, mas viajar para executar este ou aquele trabalho – não, nunca. É demais comprometer-me deste modo.”

Carta de Korczak enviada a Joseph Arnon em 06/12/1933

Korczak, nessas cartas, expressou seu sentimento de impotência em defender a criança na Polônia, em seu desamparo e tristeza, vítima das artimanhas dos adul-tos, a quem ele se refere como animais, em alusão ao Nazismo. Ele se decepcionou com sua pátria polonesa na condição de espectador da tragédia que se desenro-lava à sua frente, pela banalização da violência, e expri-miu novamente o desejo de se transferir para a Terra de Israel e lá estudar em um cheder, em Jerusalém ou em Tiberíades. Entretanto, sabia que as maiores vítimas do Nazismo eram as crianças; por isso não poderia aban-doná-las. Esse seu compromisso com elas era a razão pela qual não poderia estabelecer-se definitivamente na Terra de Israel, ainda que, em algumas cartas, demons-trasse a esperança de passar os últimos anos de vida lá.

“Quando tive minha primeira experiência indo em direção à Terra de Israel, senti algo diferente mais do que uma surpresa, mais do que curiosidade, uma sensação de orgulho, de alegria [...] nenhuma pessoa, nem meus pais – eu sou o primeiro – fui merecedor e cheguei a isso.“KORCZAK, Rashamim vehirhurim, 1978, p.86

ARTIGO

PINACOTECA - AHJB

Page 16: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

16

O encontro com a Terra de Israel o aproximou do Juda-ísmo e da comunidade judaica. Ao retornar a Varsóvia, candidatou-se a membro da diretoria da Agência Judai-ca. Depois, na segunda viagem, foi de cidade em cidade proferir palestras de incentivo à imigração judaica à Pa-lestina. Aproximou-se dos diversos movimentos juvenis judaicos sionistas e participou dos seminários de educa-dores, como palestrante. Escreveu textos sobre diversos temas sobre a criança judia na Diáspora, sobre a Terra de Israel e o Kibutz e sobre as crianças da Bíblia Judaica.

Por fim, as dificuldades impostas pela sociedade aos judeus poloneses devido ao crescente antissemitismo trouxeram-lhe angústias e dissabores. Ele tentou in-fluenciar as autoridades em favor das duzentas crianças do orfanato judaico para que não fossem transferidas para o gueto de Varsóvia, mas seus esforços foram em vão. Independentemente da abominável situação vivida pelos judeus dentro do gueto, Korczak, Wilczinska, os educadores e as crianças mantiveram-se fiéis aos princí-pios de ética e respeito humano. Ele lutou até os últimos dias de vida pelo direito das crianças de morrerem com dignidade. Seu desejo de viver na Terra de Israel não se realizou e sua vida terminou no campo de extermínio de Treblinka ao lado das duzentas crianças e dos educado-res como Stefania, entre outros.

(*) Sarita Mucinic Sarue - professora de Judaís-mo na Hebraica de São Paulo - mestre na Área de Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judai-cas, do Departamento de Letras Orientais da Fa-culdade de Filosofia, Letras, Ciências Humanas da Universidade São Paulo.

O legado de Korczak foi ter deixado uma obra de inegável riqueza e atualidade, sua memória não ficará completa se não contemplarmos seu interesse e apego ao Judaísmo, à causa sionista e à Terra de Israel. Além disso, a multiplicida-de de campos envolvidos na vida e no trabalho de Korczak dão abertura a inúmeras possibilidades de interpretações e pesquisas, que abrangem áreas como Psicologia, História, Pedagogia, Linguística e Medicina Pediátrica.

“Que farei depois da guerra?Talvez me chamem para ajudar a construir uma nova ordem no mundo ou na Polônia? A coisa é pouco provável e, aliás, não gostaria disto. Ser obrigado a tornar-se funcionário [...]. Gosto de ter as mãos livres para agir. Tenho a intenção de escrever:[...] um romance em dois volumes. A história se pas-sa na Palestina. A noite de núpcias de um casal de pioneiros ao pé do Monte Guilboa; no próprio lugar onde fora a fonte; fala-se desta montanha e desta fonte no livro de Moisés. Uma vez terminada a Guerra, as pessoas não pode-rão, por muito tempo, olhar-se nos olhos sem ler aí esta pergunta: Como é que você ainda está aqui? O que você fez para sobreviver?”

Korczak, Diário no Gueto, 1986, p.22

Fonte: Beit Lohamei Haghetaot.

BIBLIOgRAFIAARNON, J. Quem foi Janusz Korczak? Tra-

dução de Fanny Feffer dirigida por J. Guins-burg. São Paulo: Perspectiva, 2005

KORCZAK, J. Dat Hayeled. Israel, By Ghet-to Fighters´House Ltd, 1978.

LIFTON, B.J. The King of Children, The Life and Death of Janusz Korczak. United States: American Academy of Pediatrics, 2005.

PERLIS, I. Ish Yehudi Mepolin - Chaio Upeulo Shel Janusz Korczak, Beith Lohamei Haghetaot by Ghetto Fighter’ House, Israel Ltd: 1986.

ARTIGO

PINACOTECA - AHJB

Page 17: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

17

Foi publicada recentemente, no “Estado de São Pau-lo”, uma matéria relativamente extensa e com chamada na primeira página falando sobre a descoberta em Sal-vador de uma suposta mikvá (banho ritual judaico), em pleno Centro Histórico, num palacete datado de 1680.

Esta informação chegou ao meu conhecimento um dia antes de uma viagem a Salvador. Sendo baiano e vice-presidente do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro em São Paulo, achei por bem visitar o local e tomar co-nhecimento dos fatos para relatar aos meus colegas de Diretoria. Assim o fiz e fui até o Hotel Villa Bahia, no Largo do Cruzeiro de São Francisco ns 16 e 18, Pelouri-nho, onde fui muito bem recebido pela equipe de Bruno Guinard, empresário francês e dono do hotel.

A mikvá se encontra na parte interna do piso térreo, numa área de acesso restrito e situada num ambiente ajardinado e bem cuidado, refletindo o capricho como é mantida. Tudo de muito bom gosto.

Esta notícia poderia passar sem maior destaque se não mudasse toda a história da presença de uma comuni-dade judaica na Bahia, uma vez comprovada, naquela época do período inquisitorial português no Brasil.

Tudo começou em 2005, quando o empresário fran-cês Bruno Guinard, reformando um velho casarão para instalação de moderno hotel bem próximo da famosa Igreja de São Francisco, encontrou no pavimento térreo muitos escombros Com muita sensibilidade, retirou-os cuidadosamente e, bem embaixo, encontrou uma ba-nheira, maior que as comuns, revestida de azulejos que, ficou sabendo serem do século XVII. No mesmo local, encontrou acima, uma espécie de forno a lenha, certa-mente empregado para manter a água de chuva utiliza-da no tal “banho” numa temperatura agradável.

Uma família judaica de passagem pelo restaurante do hotel depois da restauração da área, teve sua atenção despertada e começou então a cogitar a hipótese do referido engenho (foto) ser na verdade uma mikva.

Devido à inexistência em Salvador de pesquisadores entendidos em história daquela época, o diretor do ho-

miKVá do SÉcuLo xViieNcoNTrAdA NA BAHiA

PROF. CARLOS KERTÉSZ *

tel convidou a Profª. Anita Novinsky de São Paulo e a historiadora Suzana Severs para comandarem os traba-lhos de investigação de tão importante fato e que até hoje não foram concluídos.

Em Salvador, ouvi hipóteses sem qualquer certificação:01. Trata-se do local onde funcionou uma Sinagoga se-

creta mantida por cristãos novos fugindo da Inquisição;02. Teria sido a residência de algum abastado cristão-

novo que tinha sua mikvá particular;03. Nem uma coisa nem outra, uma vez que foram

encontradas instalações similares em outros casarões do mesmo bairro de Salvador, onde moravam os nobres e abastados daquela época.

Só um trabalho sério e científico poderá responder es-tas indagações, mas tudo indica, pela aparência, que se trata de uma mikvá de fato. Com a palavra os senhores estudiosos para desvendarem mais um mistério desta nossa Nação Baiana.

(*) Carlos Kertész é engenheiro civil, professor da Escola de Ad-ministração da Universidade Federal da Bahia e vice-presidente do AHJB-SP.

ARTIGO

Page 18: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

18

O AUTOR DO TEXTO

No acervo de obras raras da Biblioteca Nacional de Je-rusalém, despertou minha curiosidade um texto de 16 páginas, redigido por um converso espanhol do século 17. Esta obra intitulada “Abreviado y devoto assumpto cathólico sacado de la Sagrada escritura contra la cegue-dad y engaño de los pérfidos iudíos… Pequeña Historia del Falso Mesías de los judíos (Sabaday Giby) sucedido en la Turquía del año 1666”; escrita por Antonio García Sol-dani, não aparece nos textos bibliográficos, sendo difícil apurar dados históricos sobre o autor do texto.

Não obstante, nas vezes em que García Soldani é lem-brado, os dados colhidos são escassos. As poucas linhas não nos permitem desvendar sua enigmática identidade. Assim, por exemplo, no início do século 18, o estudioso Christian Wolff determinou que “Antônio García Soldani era um eclesiástico de Castela, cujos escritos se opunham ao Cristianismo”. Um rápido olhar pelo texto nos ensina que a afirmação de Wolff não faz sentido, uma vez que o texto “Abreviado y devoto asumpto” sim possibilita ex-trair dados sobre a verdadeira identidade do tal Soldani. Vejamos os principais argumentos encontrados:

1. Antônio Garcia Soldani não seria um eclesiástico e sim um judeu-converso. Sua data de nascimento é desconhe-cida, porém tudo indica que ele fazia parte dos 6.000 judeus de origem sefaradita que se estabeleceram em Livorno, em 1663; decidindo por livre e espontânea von-tade deixar o Judaísmo.

2. Soldani era um hábil diplomata responsável pelas ne-gociações entre a corte espanhola do rei Carlos II de Has-burgo e agentes políticos e religiosos de outras nações européias. Reconhecendo seus méritos no desempenho das funções diplomáticas, ele foi agraciado com três se-

SHABATAI TZEVI NA VISÃO DE UM JUDEU-CONVERSO

PROF. REUVEN FAINGOLD *

Shabatai Tzevi (1626-1676), um dos personagens mais curiosos da história judaica, foi retratado em diversas obras judaicas e não judaicas. Parte destes textos descansa na poeira

das bibliotecas e arquivos. Ao vasto material estudado pelo Prof. Guershom Scholem, revelaremos um novo documento do século 17, desta vez escrito por um judeu-converso.

ARTIGO

los (carimbos) reais, prêmio de enorme prestígio naque-les tempos. O texto de Soldani foi dedicado ao rei Carlos II da Espanha.

3. Na obra “Abreviado y devoto assumpto” de Garcia Soldani não há data, mas ela deve ter sido escrita em Livorno após 1676. Esta afirmação está sustentada em diversos fatos relacionados à época vivida por Shabatai Tzevi, especialmente episódios dos últimos anos de vida quando Shabatai tinha completado 50 anos, idade avan-çada naqueles dias.

4. O texto foi escrito e publicado em espanhol e não em italiano ou latim, indicando que Soldani tinha domínio completo deste idioma. O espanhol era a língua predomi-nante entre os conversos hispanos refugiados em Livorno.

5. Os conhecimentos de Soldani sobre Cristianismo não são profundos, utilizando fontes cristãs de forma muito precária. As citações foram extraídas de versículos tra-dicionais mencionados anteriormente por apóstatas e conversos espanhóis como Abner de Burgos e Alfonso de Valliadolid.

6. Soldani não demonstra domínio das fontes judaicas nem da língua hebraica. Diferente da atitude dos apósta-tas, no seu texto não há uma única palavra em caracteres hebraicos, nem versículos bíblicos citados em hebraico.

7. A única palavra hebraica, escrita em caracteres latinos é chachamim no plural; sendo que Soldani, ao referir-se a Shabatai Tzevi, deveria ter usado chacham no singular.

8. O nome do Messias de Esmirna foi escrito em espa-nhol de forma errônea. Soldani não usa a grafia Shabatai Tzevi (ou Shabetai Sevi / Tzvi), mas Sabaday Giby (Abre-viado, págs. 13, 14 e 15).

Page 19: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

19

A IMAGEM DE SHABATAI

Baseando-se em fontes judaicas, o Prof. Guershom Scho-lem e outros estudiosos do movimento shabataísta coin-cidem em afirmar que Shabatai Tzevi nasceu em 9 de Av de 1626 em Esmirna, no Império Otomano. É possível que essa data tenha sido “ajustada” ao calendário judai-co, pois a tradição estabelece que o Messias apresentar-se-ia neste dia de luto e jejum pelas destruições dos dois Templos de Jerusalém. As fontes cristãs, por sua parte, não aceitam as judaicas. Na maioria dos documentos es-critos pelos cristãos, não se menciona a data de Tishá Be-Av de 1626. Certamente, há um motivo para a exclusão desta data; afinal, existem fortes discrepâncias entre ju-deus e cristãos acerca do tempo em que chegaria o Mes-sias: judeus do século 17 acreditavam que a redenção do Povo de Israel viria em 40 anos, portanto, em 1666. Já os cristãos dedicaram esforços, tentando distorcer essa contagem judaica para o advento do Messias. É curio-so que quase todos os textos cristãos que versam sobre Messias tenham um caráter apocalíp-tico. Todos foram escritos após 1666, negando Shabatai Tzevi como desejado salvador dos judeus.

Shabatai Tzevi era filho primogênito de Mordechai Tzevi, um modesto comer-ciante de aves de origem ashquenazita. O patriarca da família teria migrado da Grécia, enriquecendo o suficiente até se converter em agente e intermediário dos comerciantes ingleses e holandeses que atuavam em Esmirna. Garcia Sol-dani explica que o pai de Shabatai era Mardoqueo Levi, sem citar a cidade gre-ga da qual seria originário. Entretanto, há textos similares em que se menciona como sua pátria a cidade de Patras, Mo-rea ou ainda lugares menores sob domí-nio turco-otomano.

Os autores pouco se interessaram na educação de Shabatai Tzevi, desconhe-cendo as marcantes influências pedagó-gicas dos grandes rabinos Isaac de Albo e Josef Espaça. Essas fontes se limitam somente a afirmar que Shabatai era um talmid chacham (ou seminarista) desde jovem.

Um texto italiano elogia suas qualidades proféticas e seu saber cabalístico, afir-mando ser detentor de uma vivacidade

de espírito pouco comum e aplicado nos estudos caba-lísticos. O Prof. Guershom Scholem foi o primeiro autor a destacar aspectos psicológicos no comportamento de Shabatai Tzevi. Estes assuntos despertaram a aten-ção dos historiadores, tornando-se o principal alvo de pesquisa nas últimas décadas. Dentre os tópicos psico-lógicos discutidos, citaremos a relação afetiva de Shaba-tai Tzevi com sua mãe, os sinais nítidos de sintomas de melancolia e profunda tristeza, frustrações e momentos de euforia e iluminação alternados com momentos de equilíbrio emocional. Soldani ignora qualquer sintoma psicológico presente em Shabatai, acompanhando assim uma tendência constante dos escritos da época.

EUFORIA E ILUMINAÇÕES

Os discípulos de Shabatai Tzevi descreveram a eloquen-cia e a genialidade do mestre, em termos de fortes dis-túrbios internos e crises psicológicas suscitadas por al-

ARTIGO

Shabatai Tzvi "Rei dos JUdeus", visto por Iohannes Meyfsens. Gravura, século XVII

Page 20: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

20artiGo

tos e baixos de melancolia e iluminação. Shabatai teria dificuldades para achar sua homostasis, um equilíbrio físico, mental e emocional.

Numa das mais conhecidas iluminações (alguns falam em alucinações), Shabatai Tzevi desposou Sarah, uma jovem orfã meretriz, encomendada por ele da Itália. Seu casamento teria sido realizado no Cairo em 31 de março de 1664, aos 38 anos. García Soldani não registra nada daquilo relacionado nas fontes judaicas.

Na primeira iluminação registrada pelo converso de Li-vorno em 1662, Shabatai Tzevi viajava a Jerusalém via Rodes. Ao adentrar a cidade santa, teria postado na sua frente um anjo, solicitando aproximar-se do povo para ser venerado. Em troca dessa veneração , o “Messias de Esmirna” o salvaria da miséria. Isto foi comentado pelo próprio Shabatai e todos nele acreditavam. Esta iluminação aparece em vários textos, dentre eles a “Re-lation de la veritable Imposture du faux Messie des Jui-fs”, escrito na França em 1667, e na “Lettera mandata da Constantinopoli a Roma”, publicada em italiano em outubro do mesmo ano.

A segunda iluminação de Garcia Soldani teria sido co-piada, quase literalmente, do texto italiano acima cita-do, a “Lettera mandata de Constantinopoli a Roma”. Nele, Soldani comenta sobre uma jovem donzela de 16 ou 17 anos, muito venerada, da família de Shabatai, que profetizava nos círculos judaicos da cidade de Ga-lata, na Turquia. Ela contava a membros de sua família que o Todo Poderoso se postara diante dela, segurando uma espada resplandecente e prometendo-lhe “coisas fascinantes”, dentre elas a vinda do Messias Shabatai.

EFERVESCÊNCIA SOCIAL E ISLAMIZAÇÃO

Nas pesquisas do Shabataísmo, boa parte dos estudio-sos destacam o clima tenso que reinava por volta de 1666, e as condições específicas que contribuíram para o surgimento de uma verdadeira atmosfera de eferves-cência messiânica justamente naquele ano apocalípti-co. Em quase todas as comunidades judaicas, há um enorme interesse em entender a possível aparição do “Messias de Esmirna” como o anunciado redentor do povo. A efervescência messiânica gerada por Shabatai nas comunidades judaicas de Esmirna, Constantinopla, e outros importantes centros do Império Otomano, produziu uma crise nas estruturas comunitárias. Literal-mente, no século 17 os judeus começaram a dividir-se entre shabataístas, seguidores do messianismo de Sha-

batai Tzevi, e anti-shabataístas, ferrenhos opositores à sua vinda, tratando-o como impostor e falsário.

Também entre os moradores não judeus do Império Turco-Otomano esse clima de efervescência messiânica se estendeu. Corriam livremente nas ruas de Constanti-nopla versos e cânticos dedicados a Shabatai Tzevi. Um deles, inserido no “Romancero Sefaradita” dizia:

Hakamim van airando / detrás del nuestro goel / sisim ribbon de judería, /todos iban detrás de él.

No Império Otomano era constante a repressão às ma-nifestações e revoltas. A pena de morte era o castigo imposto àqueles que pretendiam atentar contra a cal-ma e a política dos sultões. Três impostores ou falsos redentores atuantes no Império Turco foram persegui-dos, inseridos na categoria de insurretos e sentenciados com todo o rigor da lei. Foram eles: Padre Ottomane, Mahomed Bei e Shabatai Tzevi. Estes falsos salvadores aparecem em obra escrita em Londres e traduzida em Hamburgo em 1669.

Os insurretos capturados pelo governo turco estavam sujeitos às rigorosas penas impostas pelas autoridades locais. Em 1666, iniciava-se o ano da redenção messi-ânica judaica. O dia anunciado seria 15 de Sivan 5437 do calendário judaico, correspondente a 18 de junho de 1666, no calendário gregoriano. García Soldani informa que, naquele dia, “el escándalo que andava em Turquia de quadrillas de judíos que seguian el malvado y em-bustero Sabaday, era uma cosa espantosa”. Os judeus mais fascinados com a figura de Shabatai doavam ob-séquios e presentes a serem distribuídos entre donzelas orfãs que casariam. Era uma grande mitzvá (ou preceito judaico) ajudar aquelas moças carentes. O clima de efer-vescência messiânica se alastrou por todos os cantos do Império Turco. Soldani comenta no seu texto que Sha-batai, insatisfeito com a agitação popular, começou a corresponder-se com os líderes das diversas sinagogas fora do Império.

Ao dirigir-se às comunidades, Shabatai Tzevi solicitou dos judeus “alegrarem-se para todos poderem congre-gar-se em Jerusalém”, tal qual fala a Profecia de Israel. É possível que Soldani conhecesse o teor das cartas reme-tidas às comunidades por Shabatai, uma vez que essas cartas também haviam chegado à comunidade judaica de Livorno. A efervescência shabataísta havia contagia-do a comunidade israelita de Livorno e Soldani acompa-nhava de perto o cotidiano de sua cidade.

Em correspondência citada por Garcia Soldani, os ju-

Page 21: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

21 artiGo

deus da Turquia são interrogados por seus correligioná-rios da Itália sobre o porquê de estarem tão alegres e fe-lizes. Os primeiros respondem que “a alegria tem como motivo o fato de o Messias haver chegado e em breve lhe precisarem dar as boas-vindas”. Obviamente, respos-tas como estas motivaram comunidades inteiras a viaja-rem até a Turquia, o maior centro de mística e redenção do século 17.

As autoridades turcas não viam com bons olhos a agita-ção messiânica liderada por Shabatai Tzevi. Como pode um não muçulmano considerar-se um santo, movimentar multidões de fiéis e seguidores e, acima de tudo, fazer proselitismo num país governado por muçulmanos? O sultão e as autoridades não poderiam consentir jamais com uma situação dessas. Assim, no momento em que o mufti (ou líder em assuntos político-religiosos) descreveu o clima vigente na Turquia como insustentável, o sultão ordenou deter Shabatai e encaminhá-lo ao palácio.

Em 13 de setembro de 1666, Shabatai Tzevi foi levado a Adrianópolis, diante do “Conselho do Reino”, na pre-sença do sultão turco. Os que presenciaram este mo-mento histórico relatam que Shabatai estava totalmente passivo, como se a magia negra o tivesse dominado. A conversão ao Islamismo foi a punição aplicada, e tudo leva a crer que naquele preciso momento Shabatai teria negado suas pretensões messiânicas. Naturalmente, as autoridades presentes não aceitaram suas palavras.

Antônio García Soldani reconstruiu em seu texto o possí-vel diálogo entre Shabatai Tzevi e o sultão turco, articu-lado em 15 de setembro 1666:

Y así entró Sabaday em presencia del Rey, donde estavan muchos sabios, le fue preguntado como se llamava? Res-pondió que Sabaday Giby. Fuele dicho: Eres tú el Mesías de los Judíos? Habla presto. Respondió: Que sabia bien que no era más que un pobre hombre, y que los judíos le havian hecho perder el juicio y el entendimiento. No es bastante eso, le fue dicho al Sabaday, y para llevar estos escándalos delante, y desengañar al mundo, mira lo que quieres hazer? Porque a[h]ora, aquí en mi presencia te ha de ser cortada la cabeza al instante o que renuncíes a la Ley Mosaica, y te hagas turco. Respondió Sabatay: Pen-saré un poco en ello. No hay que pensar más, dixeron los circunstantes… (Soldani, Abreviado).

O resultado de dita audiência é conhecido pelos estudos de Guershom Scholem. Shabatai Tzevi teria levantado

seu dedo e declarado que, a partir daquele instante, seria um muslim. Ato seguido colocou na cabeça o tar-busch (chapéu típico dos turcos), recebeu nome muçul-mano e ouviu as palavras do sultão: “Agora está tudo em ordem; tudo está andando no caminho da verdade”.

ÚLTIMOS DIAS DE SHABATAIO judeu-converso Antônio García Soldani encerrou seu texto relatando os últimos dias do falso Messias de Es-mirna, agora como muçulmano. O autor nos explica um fato fundamental para poder entender a conversão de Shabatai Tzevi ao Islamismo. Na época, os muçulmanos não recebiam novos fiéis do Judaísmo e. para que um judeu conseguisse entrar na religião de Maomé, preci-sava primeiramente ser batizado. Este deve ter sido o procedimento aplicado a Shabatai, pouco antes de rece-ber seu novo nome “Agis Mehemet Aga”, que em árabe significa “Ilustre Senhor Maomé”.

Para Soldani, Shabatai Tzevi era um judeu convertido ao Islã muito importante, talvez o mais respeitável do Impé-rio Turco-Otomano. Sendo assim, o sultão decretou que fosse nomeado “Portero do Serrallo”(ou porteiro do palá-cio) outorgando-lhe uma quantia diária de três escudos.

Vários seguidores e discípulos do “Messias de Esmirna” se islamizaram, inclusive sua esposa. A mudança de reli-gião teria ocasionado em Shabatai Tzevi uma profunda depressão, segundo aparece em carta dirigida a seu ir-mão Elias, escrita uma semana depois da islamização. Segundo o historiador Guershom Scholem, Natan de Gaza sequer aparece no texto do converso Garcia Sol-dani. Talvez tenha sabido da conversão ao Islamismo no início de novembro de 1666.

Nos escritos de Garcia Soldani, há uma clara referência ao significado oculto da história de Shabatai Tzevi para o mundo cristão. Criado nos ensinamentos do Cristianis-mo, Soldani explica que a maioria dos católicos entende o episódio envolvendo o falso messias como uma profe-cia que se concretiza. Ele acha também que Shabatai Tze-vi representa um dos tantos falsos messias reverenciados pelos judeus após a vinda de Cristo. Para ele, os judeus são incrédulos, cegos e carentes de Providência Divina.

PALAVRAS FINAISA obra escrita por Antônio Garcia Soldani é importante por vários motivos:

1. É o primeiro texto escrito em espanhol por um conver-so apóstata da fé; enquanto outros conversos do século

Page 22: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

22

17 não demonstraram nenhum interesse pelo messianis-mo e, nem muito menos pelo episódio de Shabatai Tzevi.

2. Não há dúvida de que as poucas páginas escritas por Soldani trazem as principais etapas da história de Shabatai Tzevi, incluindo dados biográficos indispensáveis, duas das três iluminações vivenciadas por Shabatai Tzevi, a eferves-cência messiânica ocasionada pelo personagem nas diver-sas comunidades judaicas e, finalmente, a islamização.

3. Diante das numerosas tentativas de comparar Shaba-tai Tzevi a Cristo, Soldani coloca ante seu leitor os con-ceitos de falso e verdadeiro messias.

4. Diferente de apóstatas atuantes em comunidades ju-daicas da Europa Ocidental, Garcia Soldani não sustenta sua versão em informantes. Ele prefere trazer sua pró-pria versão com dados apurados em Livorno.

5. É bastante difícil saber a difusão e repercussão do texto “Abreviado e devoto assumpto” de Garcia Soldani. Certamente, esta obra foi escrita para um público culto, mas não sabemos quem a imprimiu ou quantas cópias foram impressas. A introdução a Carlos II, rei de Espa-nha, sinaliza um marcado interesse dos círculos reais neste tipo de literatura.

6. O texto do judeu-converso Soldani não foi reimpresso nos países da Europa Ocidental, o que demonstra uma exclusividade em relação ao conteúdo.

7. A obra de Soldani faz parte de uma literatura de apo-logia cristã focada no messianismo de Shabatai Tzevi. Todos estes textos antijudaicos são tendenciosos e foram escritos no decorrer do século 17, em quase todas as línguas da Europa.

BIBLIOgRAFIAAMZALAK, M.B., Shabbetahai Sevi – Uma carta em por-tuguês do século XVII em que se testemunham factos relativos a sua vida. Lisboa 1925.

ATTIAS, M., A Sepharadic Romancero. STUDIES & RE-PORTS. Ben Tzvi Institute for Research on Jewish Com-munities in the Middle East. Vol. 1, Jerusalem 1953.

HEYD, U., Teudá turquit al-Shabatai Tzevi. TARBIZ 25, págs. 337-339.

Lettera mandata da Constantinopoli a Roma...etc. Rela-tion de la veritable Imposture du Faux Messie des Juifs. Nomme Sabbatay Sevi, juif native de Smyrne, mainte-nant nomme Achis [=Aziz] Mehemet Aga, Turc Portier du Serrail du Grand Seigneur. Éscrite de Constantinople le vingt-deuxième Novembre 1666 par un Religieux digne de Foy Fidelle tesmoin de ce qu´il ecrit, et envoyée a un de ses amis a Marseille. Avignon, chez Michel Chastel, 1667, 51 págs.

SIMONSOHN, S., A Christian Report from Constantinople regarding Shabbathai Sevi (1666). JJS XII, 1961, págs. 33-58.

SOLDANI, Antônio Garcia, Abreviado y devoto assumpto cathólico sacado de la Sagrada Escritura contra la cegue-dad y engaño de los pérfidos Iudíos… Pequeña Historia del Falso Mesías de los Iudíos (Sabaday Giby) sucedido en la Turquía del año 1666.

SCHOLEM, Gershom, Sabbatai Sevi: The Mystical Mes-siah: 1626-1676, Routledge Kegan Paul, London, 1973.

ARTIGO

Podem ser enviados à Redação por e-mail ou CD, em arquivos de extensão “doc”ou “txt”.As referências bibliográficas obedecem às disposições normativas da ABNT-NBR 6023.

Fotos e ilustrações devem ser escaneadas em 300 dpi.

Apreciamos sugestões e aceitamos também críticas construtivas. O envio é para [email protected] endereço do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro é

Rua Estela Sezefreda, 76 - CEP 05415-070, São Paulo - SP

colaborações e artigosinéditos são muito bem vindos

(*) O autor é historiador e educador, PHD pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Professor titular da pós-graduação no Departamento de Artes Plásticas da FAAP em São Paulo e Ribeirão Preto; sócio fundador da Sociedade Genealógica Judaica do Brasil e membro do Congresso Mundial de Ciên-cias Judaicas de Jerusalém.

Page 23: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

23

O texto que segue envolve algumas das reflexões que de-senvolvi no segundo capítulo da minha dissertação de mes-trado, que busca apreender a vivência e a experiência de alguns judeus que optaram por morar no bairro de Higienó-polis e arredores.

A única pessoa entre os entrevistados que morou no bair-ro nos anos de 1940 e que mencionou as paisagens ante-riores à verticalização do bairro, com bastante nostalgia, foi a Sra. Olívia Haftel. Ela se lembra de um bairro quase sem comércio, em que o único ponto de táxi ficava na Praça Vi-laboim. Para ela, no bairro de sua infância, a quantidade de prédios e de judeus era muito baixa. Ela se refere a estes dois elementos, a verticalização e os judeus que vieram de-pois da família dela, de forma pouco apreciada.

Ainda em tom de intimidade com o território que conside-ra seu, enumerou os primeiros prédios que surgiram: “não acompanhei em datas, mas lembro bem”. Ela comenta que geralmente se lembra do local e do nome do arquiteto ou do construtor, dependendo do prestígio que estes possuem. Em sua narrativa, vão surgindo os nomes – Armando Borg, Artacho Jurado, Lindenberg – e das ruas, avenidas e praças do bairro – Sabará, Higienópolis, Maranhão, Vilaboim, num cruzamento de nomes renomados com o mapa do bairro, num jogo de reciprocidade de prestígio e valorização do bairro e dos construtores.

Sobre os antigos moradores da região, a elite paulistana e os casarões, somente a Sra. Olívia e a Sra. Myriam fazem alguma menção à existência deles. Os outros não tinham co-nhecimento, nem se relacionavam com esse grupo ou com a memória da constituição dessa territorialidade no bairro. Os nomes das famílias Cunha Bueno e Ademar de Barros vêm à lembrança da Sra. Olívia, assim como o local onde habita-vam. Ela cita o nome da rua, se era na esquina, faz referência ao que virou atualmente e lembra:

“Na esquina, onde era a antiga Polícia Federal, morava a família Cunha Bueno... eles tinham um filho louco e esse fi-lho morava no subsolo. E a gente tinha um medo de passar de manhã cedo, ele gritava, porque ele tinha ataques.

[...] o Ademar de Barros morava lá embaixo. Eu me lem-

Viver em Higienópolis - diversidade cultural

LUCIA CHERMONT *

bro dos filhos do Ademar de Barros, o Ademarzinho que era gordo, ele ia andar de motocicleta aqui no Pacaembu.” [1]

Myriam Chansky, que vivenciou e participou do processo de verticalização, relatou com pesar a destruição da paisa-gem e de algumas mansões para prédios. Para ela, as memó-rias das mansões estão ligadas às famílias que ali moravam:

“Quem morava num dos lados do meu prédio na Albu-

querque Lins? Era a família do Ademar de Barros... Eu mora-va no 16˚ andar; então, eu via toda a casa e a casa dele tinha

1 Entrevista concedida a Lucia Chermont por Olívia Haftel. São Paulo, 23/ 01/ 2010.

ARTIGO

FOTOTECA - AHJB

Page 24: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

24

uma ligação com a rua de trás, com a Basílio Machado. Ele tinha outro terreno... tinha duas frentes, só que ninguém sabia. Tinha ainda sobrado alguma coisa da família Simon-sen na São Vicente de Paula... eu vi, lá nesse pedaço onde eu morava, mansões maravilhosas que foram vendidas e de-molidas.” [2]

A avaliação da Sra. Myriam sobre o adensamento de ju-

deus no bairro é diferente da Sra. Olívia. A Sra. Myriam, quando casou, mudou para os arredores de Higienópolis. Logo, mudou-se temporariamente para os EUA, devido à pós-graduação que seu marido faria naquele país. Voltou em 1962, num bairro que, progressivamente, se foi tornan-do bastante judaico. Para ela, essa transformação foi muito positiva, pois todos seus amigos do Bom Retiro foram morar em Higienópolis. Ela lembra que não tinha quase nenhum prédio no entorno, mas que logo começou o boom das cons-truções. Ela acredita que a maioria dos edifícios construí-dos era de engenheiros e construtores judeus, que tinham construído os prédios no Bom Retiro e estavam, naquele momento, construindo e se mudando para Higienópolis.

A Sra. Myriam relata também que a saída do Bom Retiro e a entrada no bairro de Higienópolis foi um marco importan-te em sua vida e na de seus amigos: “os judeus que estavam ‘bem de vida’, mesmo os profissionais liberais, já tinham mudado para Higienópolis. Depois, os que eram os donos de confecções também se mudaram para Higienópolis” fato que ressalta que a saída para o novo território representava uma solidificação do novo status social do seu núcleo.

Marcou a memória dos entrevistados estabelecidos no bairro na década de 1950, a chegada dos judeus do Egito, em função do nacionalismo de Nasser, da Guerra do Canal de Suez em 1956/57, considerada, pelo demógrafo Rene De-col [3], como a última grande corrente imigratória de judeus para o Brasil. Alain Bigio, ele mesmo imigrante do Egito, que chegara ao Brasil em 1953, num período em que a saída do Egito era mais fácil, pois não havia apreensão das contas bancárias nem desapropriação dos bens e limite de dinheiro para sair do país. Relata o esforço da comunidade judaica, de sua própria família e dos judeus egípcios estabelecidos aqui para ajudarem a imigração deste grupo para o Brasil. Segun-do ele, esta se deu por meio das cartas de chamada, pela mobilização das instituições de auxílio ao imigrante, como a HIAS[4], e pelo órgão representativo comunitário, a Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP)[5]. Deu-se também 2 Entrevista concedida a Lucia Chermont por Myriam Chansky. São Paulo, 16/10/ 2009.3 DECOL, René. Imigrações urbanas para o Brasil: o caso dos judeus. 1999. Tese de Doutorado em Demografia – Dpto. de Demografia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Unicamp, São Paulo, 1999.4 Hebrew Immigrant Aid Society, fundada em 1881 nos EUA, para ajudar os judeus oprimidos e perseguidos pelo mundo.5 Entidade que visa reunir a comunidade judaica do estado de São Paulo. Foi fundada em 23 de dezembro de 1946, com o intuito de atender os imigrantes

pela estratégia comunitária de alugar prédios inteiros para acomodar aqueles que não tinham recursos para se estabele-cerem no primeiro momento. A opção desses imigrantes pelo bairro de Higienópolis se deu em função da proximidade com o local da primeira moradia, um edifício na Avenida São João, alugado pela comunidade para acolhê-los. A denominação de “edifícios dos egípcios” ficou marcada. O Sr. Alain lembra que, nessa época, morava com tios e primos em uma casa alugada, que tinha um grande jardim, e os filhos dos novos imigrantes judeus egípcios vinham brincar e os casais iam visitá-los. Nes-sa época, ganharam vários novos amigos.

Buscando apreender como se deu o encontro no bairro, ou não, e as tensões entre as várias origens, várias reali-dades se apresentam. De maneira geral, os grupos ficaram divididos territorialmente entre os judeus asquenazi e se-faradi, mas, por exemplo, na narrativa do Rabino Jacob Be-gun, asquenazi ortodoxo, ele relata que, na década de 1970, quando fundou uma pré-escola no bairro de Higienópolis, o público que a frequentava era majoritariamente de judeus sefaradi. O Rabino é um dos poucos que transpõem a ques-tão das territorialidades asquenazi/sefaradi. Ressalta, entre-tanto, com sentimento de orgulho que permeou todo o seu relato, que fundou a primeira sinagoga de rito asquenazi do bairro, numa sala improvisada da escola, cujos frequentado-res eram pessoas da redondeza, judeus asquenazi. Outro in-tercâmbio, também relatado pelo Rabino Jacob Begun, foi a respeito da inauguração da sinagoga dos judeus da Mooca, na Rua Piauí. Segundo ele, na época da construção foi falar com a liderança da sinagoga para construírem uma mikve[6]. Ele conta que, como a sinagoga da Rua Piauí naquele mo-mento não tinha um rabino, ele explicou a importância da construção de uma mikve, que, segundo o Talmud[7], é mais importante que a construção de uma sinagoga, para garantir a pureza da família[8].

Mais significativo acerca dos estranhamentos e das ten-sões entre judeus asquenazi e sefaradi no bairro - não no que tange a casamentos ou Bar Mitzvá, quando as pessoas vão festejar uma ocasião especial, mas nas rezas diárias - é o relato do Sr. Leon Diksztejn. Ele diz que, certa vez, foi à sinagoga Mekor Haim rezar kadish[9] para o seu pai.

“[...] entre uma reza e outra, tinha uma aula. Aí o Rabi-

no era o Dichi, o velho, deu a aula toda em árabe. (risos)

judeus que fugiam da Europa, organizar o ensino e representá-los politicamen-te. Site: <www.fisesp.org.br>.

6 Banho ritual, por imersão, destinado à purificação.7 Conjunto de produção literária do texto bíblico formado pela Guemará e pela Mishná.8 Segundo as leis judaicas, a mulher casada deve ir à mikve, se purificar depois da menstruação.9 Nome dado à prece especial dita regularmente nas rezas cotidianas e em enterros em memória dos entes falecidos, na qual se dá ênfase à glorificação e santificação do nome de Deus. Geralmente, é realizada pelos filhos ou parentes próximos do falecido.

ARTIGO

Page 25: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

25

Terminando a aula, sabe o que ele perguntou? Vous avez compris?, em puro francês (risos). Si je compris? Non (risos) Vous avez compris? Pode ser que a rotina fosse outra, mas, naquele dia, ele deu aula em árabe. Bom, você perguntou se eu frequento a Mekor Haim. Então, não adianta muito frequentar a Mekor Haim.”[10]

Ele relatou com muito humor a distinção – nada sutil –

que o Rabino havia feito dele em relação aos frequenta-dores habituais da sinagoga, judeus sírios e libaneses, que compreendiam tanto o árabe como o francês. Para ele, rezar na sinagoga sefaradi não era problema nenhum. Todavia, os indícios de que ele não era dali, que era um estranho, foram sentidos e compreendidos por ele, que nunca mais voltou.

A Sra. Myriam relatou sua percepção da ocupação do bairro por outros judeus – primeiro, os egípcios e depois os sírios e libaneses – ao caminhar pelo bairro, nas feiras e na vizinhança.

Já para Victor Sayeg, que saiu do núcleo judaico sefara-di da Mooca, núcleo de concentração de judeus do Oriente Médio, incluindo sírios e libaneses, o encontro com os ju-deus asquenazi, que tinham outros costumes, deu-se pro-priamente quando se estabeleceu com a família no bairro de Higienópolis. Segundo ele, já frequentava o clube Hebrai-ca mesmo quando morava na Mooca, mas a grande proxi-10 Entrevista concedida a Lucia Chermont por Leon Diksztejn. São Paulo, 21/ 04/ 2010.

midade com o seu núcleo abafava a percepção dos costumes diferentes dos demais grupos. Na Mooca, eles eram como uma “tribo”. Eram somente judeus sefaradi, e tinham acesso apenas às tradições e costumes dos judeus sefaradi.. A mu-dança para Higienópolis, que não era um território somente sefaradi, fez com que ele percebesse, pela primeira vez, cos-tumes diferentes dos seus. Quando perguntei se o hábito da família frequentar a sinagoga se alterou com a mudança de bairro para Higienópolis, ele respondeu que não. A mudan-ça mais significativa, segundo ele, foi que não havia rabino na sinagoga da Mooca; por isso, a observância aos rituais religiosos não era tão rigorosa. Na sinagoga da Rua Piauí, contrataram um rabino e toda a comunidade foi se tornando mais religiosa. Ele faz uma menção à imigração dos sírios e libaneses na década de 1970 como um fator que também influenciou o aumento da religiosidade da sua comunidade. Para ele, esses grupos que chegaram eram mais observan-tes, pois eram discriminados nos países de origem. Aqui, en-contraram um grupo que, por um longo período, tinha se agregado socialmente, se assimilado e estava sem orienta-ção religiosa. O encontro desses dois grupos – da Mooca, com o grupo que chegou em 1970 – gerou um aumento da religiosidade no grupo todo. Quando fazia a reconstituição da chegada dos judeus ao bairro, relatando que o grupo da Mooca chegou primeiro, sempre se referia aos judeus sírios e libaneses, incluindo os egípcios, sem fazer menção aos as-

ARTIGO

Sinagoga Mekor Chaim, São Paulo - FOTOTECA AHJB

Page 26: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

26

quenazim do Bom Retiro, por exemplo. Isso demonstra que judeus asquenazi e sefaradi, mesmo habitando o mesmo es-paço, não compartilhavam várias facetas da vida.

Porém, mesmo dentro do grupo sefaradi – egípcios, sírios e libaneses - encontrei focos de tensões. O Sr. Alain Bigio, em sua narrativa, tem uma explicação do porquê de a sina-goga da Rua São Vicente de Paulo, a Mekor Haim, não ser predominantemente de judeus egípcios atualmente, mas sim dos sírios e libaneses. Segundo ele, os judeus que vie-ram do Egito eram culturalmente sefaradi; mesmo aqueles com sobrenomes de origem asquenazi acabavam assimilan-do à cultura sefaradi. No Egito, eles não tinham sinagogas distintas, para as linhas religiosas: ortodoxas, conservadoras e reformistas; eram todos simplesmente judeus. O costume era o de que os mais próximos e ativos na sinagoga fossem mais literais na observância e os menos próximos fossem menos, mas todos frequentavam a mesma sinagoga. Nin-guém fundava outra sinagoga mais liberal ou voltada para outro tipo de interpretação das leis judaicas. A sinagoga Mekor Haim foi fundada pelos judeus egípcios com essa es-trutura que absorvia as diversidades no grau de observância religiosa dos frequentadores. Houve um momento, segundo o Sr. Alain, que os ortodoxos tomaram conta da sinagoga e começaram a expulsar os menos observantes, motivo que fez com que os judeus egípcios se afastassem do núcleo que tinham construído. Para ele, o entrosamento com a comu-nidade brasileira e a judaica asquenazi era inevitável; assim, ele relata que muitos filhos de judeus egípcios preferem, muitas vezes, frequentar sinagogas mais liberais ou mesmo outras de orientação sefaradi, mas não tão ortodoxas como a Mekor Haim.

Um território judaico no bairro de Higienópolis - relatado como total-mente desvinculado das questões religiosas e das tensões de origens asquenazi/sefaradi, bem como en-tre judeus e não judeus - foi o Círcu-lo Israelita. Foi mencionado por dois entrevistados como sendo um local de lazer que promovia a sociabilida-de entre judeus e não judeus. O Sr. Arieh Halpern relata que, quando morou em Higienópolis, de 1969 a 1977, jogou futebol no clube do Círculo, chegando a disputar o Cam-peonato Paulista. No time do Círcu-lo, havia dois judeus, ele e outro. A questão étnica não entrava nas qua-lificações exigidas para participar do time. Já a Sra. Myriam contou que

seu sogro, depois que ficou viúvo, foi morar com ela e seu marido, e que ele jogava cartas no Círculo Israelita todos os sábados. Ela contou também que, por um motivo que des-conhece, o pessoal que jogava passou a frequentar outro clube, o Piratininga, também no bairro. O fato de o Círculo ser uma instituição judaica não o beneficiou nem impediu a mudança dos jogadores para o Piratininga, que não era um clube judaico. As fronteiras tinham territórios em algumas atividades nas quais a etnização fazia sentido, mas, em ou-tras, não, como o time de futebol ou o local do carteado da terceira idade.

Outra instituição do bairro que foi citada pelos entrevis-tados foi o Colégio Hebraico Brasileiro Renascença. Myriam Chansky lembra-se de quando alugaram uma casa para fazer uma sede da pré-escola em Higienópolis e de como foram abrindo as séries gradualmente. O Colégio Renascença, que funcionava no Bom Retiro, inaugurou uma sede no bairro de Higienópolis, na esquina da Rua Bahia com a Rua Pará, em 1968. Isso ocorreu após as alunas normalistas da es-cola terem realizado uma pesquisa que envolvia um longo questionário com as famílias judaicas residentes no bairro de Higienópolis e constatarem a existência de um número significativo dessas na região, as quais tinham interesse em matricular seus filhos em uma escola judaica. A nova sede contava com jardim de infância, primeira e segunda séries do primário[11]. Para Myriam Chansky, a vivência na Esco-

11 CHERMONT, Lucia. Judeus em Higienópolis: dois momentos de reformula-ção urbana em São Paulo. In: ENCONTRO NACIONAL DO ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO BRASILEIRO, 4.: memória e identidade – 300 anos de nascimento de Antônio José da Silva, o judeu, 2008, São Paulo. Anais... São Paulo: Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, 2008.

ARTIGO

Sinagoga Monte Sinai. FOTOTECA - AHJB

Page 27: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

27

la Judaica Renascença de Higienópolis foi uma experiência muito importante para seus filhos, pois grandes amizades formaram-se e perduraram por toda a vida. Sobre o Renas-cença de Higienópolis, a Sra. Póla fez um relato interessan-te: quando fecharam a sinagoga da Penha, o rolo de Tora[12] foi doado para a sinagoga do Colégio Renascença. Em troca, todos os que tinham cadeira na sinagoga da Penha ganha-ram uma cadeira na sinagoga do Colégio Renascença. As sinagogas são instituições privadas; geralmente, um grupo de pessoas aluga ou compra uma casa ou terreno e instaura um templo no local. Essas mesmas pessoas e os frequentado-res do templo financiam a compra ou aluguel e tudo o que for necessário para a sobrevivência dele. Por isso, é comum ven-derem cadeiras na sinagoga para ajudar na sua manutenção. Desta forma, no período das Grandes Festas, Rosh Hashaná e Iom Kipur – respectivamente, Ano Novo Judaico e Dia do Jejum – quando as sinagogas ficam lotadas, as pessoas que compraram cadeiras têm lugar reservado. A negociação do rolo de Torá da sinagoga da Penha com a sinagoga do Colé-gio Renascença se deu, segundo a Sra. Póla, porque muitos judeus da Penha vieram morar em Higienópolis. Quando a sinagoga fechou eles já estavam estabelecidos neste bairro.

Busquei mostrar, neste breve recorte da minha disserta-ção de mestrado, um pouco da forma como os entrevista-dos vivenciaram as tensões religiosas e de origem, no bairro de Higienópolis e nas suas vidas.

12 Contém os Cinco Livros de Moisés (o Pentateuco) escritos à mão no hebrai-co original da direita para a esquerda, sem pontuações, vírgulas, pontos, nú-meros de capítulos ou versículos. É escrito sobre pergaminho, enrolado ao redor de duas hastes de madeira ornamentadas e adornados com acessórios especiais. É (geralmente) guardado na Arca de cada sinagoga, e rotineiramente lido em voz alta em todas as sinagogas.

BIBLIOGRAFIAPeriódicosKHOURY, Yara A. Narrativas orais na investigação da histó-

ria social. Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História –1989.

PORTELLI, Alessandro. A Filosofia e os fatos: narração, in-terpretação e significado nas memórias e nas fontes orais. Tempo - Revista do Departamento de História da UFF, Rio de Janeiro, vol. 1, n. 2, p. 59-72, 1996. 128

THOMPSON, Alistair. Recompondo a memória: questões sobre a relação entre a história oral e as memórias. Revista do programa de estudos pós-graduados em História e do Departamento de História – PUC-SP, n. 15, p. 51–84, abr. 1997.

Teses e dissertaçõesDECOL, René. Imigrações urbanas para o Brasil: o caso

dos judeus. 1999. Tese (Doutorado em Demografia)– Dpto. de Demografia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Unicamp, Campinas, SP, 1999.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBARTH, Fredrik. Grupos étnicos e suas fronteiras. In:

POUTIGNAC; STREIFF-FENART. Teorias da etnicidade. São Paulo: Editora Unesp, 1997.

BIGIO, Alain. Travessia de Ismaleyah a Higienópolis: a his-tória de um judeu egípcio contemporâneo. São Paulo: Edi-ção Privada, 2008.

BOSI, E. Memória e sociedade. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

CHERMONT, Lucia. Judeus em Higienópolis: dois momen-tos de reformulação urbana em São Paulo. In: ENCONTRO NACIONAL DO ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO BRASILEIRO, 4.: memória e identidade – 300 anos de nascimento de An-tônio José da Silva, o judeu, 2008, São Paulo. Anais... São Paulo: Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, 2008.

FISCHER, M. A etnicidade e os estratagemas da memória. In: CLIFFORD, J; MARCUS, G. (Orgs.). Writing Culture. Berke-ley; Los Angeles; London: Univ. of California Press, 1986.

THOMPSON, E. P. Introdução: costumes e cultura. In: ______. Costumes em comum: estudos sobre a cultura po-pular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 9-24.

ARTIGO

Alunas do Colégio Renascença. FOTOTECA - AHJB

(*) Lucia Chermont - Graduada em História PUC-SP; Pós-graduada em Comunicação pela ESPM; mestre em Histó-ria Social pela PUC-SP. Coordenadora de Atendimento e pesquisa do AHJB.

Page 28: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

28LIVROS

De autoria de Anna Rosa Campagnano, a EDUSP vem de pu-blicar In Difesa della Razza: Os judeus italianos refugiados do fascismo e o antissemitismo do Governo Vargas, 1938-1945 (São Paulo, 2011, 352 pp.), pondo à disposição do público brasileiro um relato amplamente documentado das peripécias que tiveram de enfrentar judeus italianos para emigrar para o Brasil, deixados sem alternativa em face do aguçamento das perseguições que os ameaçavam na terra natal.

Quando se fala nas vítimas do Nazi-Fascismo, a ideia que logo vem à mente é a Shoá, a catástrofe que se abateu sobre milhões de judeus de toda a Europa, assassinados nos campos de extermínio instalados na Polônia ou pelos Einsatzgruppen.

Em relação à Itália, a primeira impressão é de que lá o so-frimento dos judeus foi muito menor, uma vez que Mussoli-ni, apesar de aliado de Hitler, não tinha implantado medidas antissemitas, ou pelo menos tinha resistido muito às pressões alemãs neste sentido. Na verdade, o Fascismo, em sua fase de ascensão, até mesmo criou leis que fortaleceram as comunida-des judaicas e recebeu apoio explícito e filiação de um número significativo de judeus. Com a chegada de Hitler ao poder na Alemanha, a Itália se constituiu em lugar de abrigo para judeus alemães e, mais tarde, austríacos. Consta que em 1938 viviam na Itália cerca de 10 mil refugiados judeus.

Mas este “paraíso” não se manteve por muito tempo. Em novembro de 1938 foram promulgadas várias leis anti-judai-cas, conhecidas como In Difesa della Razza. Os judeus foram definidos em bases raciais e excluídos do serviço civil, das for-ças armadas, do Partido Fascista e da propriedade de empresas que empregassem muitos italianos. Todas as naturalizações obtidas a partir de 1º de janeiro de 1919 foram anuladas, e todos os judeus estrangeiros e desnaturalizados receberam or-dem de sair da Itália até março de 1939. Os profissionais libe-rais judeus tiveram sua atuação restrita a clientes e pacientes judeus. Os casamentos mistos foram proibidos. Foram esta-belecidos limites para a posse de propriedades, especialmente terras agrícolas. Cerca de 10% dos judeus emigraram, e outros 10% se converteram.

Com a ocupação da Itália pela Alemanha, em setembro de 1943, a situação ficou muito mais trágica. Os judeus passa-ram a ser deportados; de fato, já em outubro de 1943, mil judeus de Roma foram deportados para Auschwitz; no total,

OS JUDEUS ITALIANOS REFUGIADOS DO FASCISMO E O antissemitismo do Governo varGas, 1938-1945

SAUL KIRSCHBAUM *

Tão-somente guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua alma, que não te esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e não se apartem do teu coração todos os dias da tua vida; e as farás saber a teus filhos, e aos filhos de teus filhos.

Deuteronômio 4:9

cerca de 8 mil judeus ita-lianos foram aniquilados nos campos de extermínio alemães.

À medida que a situação se agravava, os judeus em-preenderam todos os esfor-ços para emigrar, para encon-trar lugares seguros. Muitos tentaram vir para o Brasil, e se depararam com o problema que costuma atormentar os refugiados: as vítimas são vistas como culpadas de seus infortúnios e os pa-íses que poderiam recebê-los impuseram toda a sorte de dificul-dades, demorando a emitir vistos de entrada, ou simplesmente se negando a emiti-los; estabelecendo exigências que certamen-te não poderiam ser satisfeitas pelos refugiados, como docu-mentos de naturalidade, garantia de emprego ou patrimônio e impedindo-os de desembarcar de navios que, assim, navegavam de porto em porto carregando uma massa humana cada vez mais desesperada.

Uma situação que deve ser lembrada e transmitida aos filhos e aos filhos dos filhos.

Anna Rosa Campagnano, doutora em História pela USP, traz para nosso conhecimento uma minuciosa pesquisa, resultado da compilação de documentos, muitos dos quais até então des-conhecidos, armazenados no Centro Bibliográfico Judaico, na Unione delle Comunità Ebraiche Italiane, no Arquivo Histórico do Itamaraty, no Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, nos cemi-térios judaicos da Vila Mariana e do Butantã, nos arquivos da Chevra Kadisha em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre outros.

Para abranger toda a extensão da tragédia, Campagnano procura, por um lado, as raízes do estabelecimento judaico na Itália desde o Ressurgimento, em 1861; por outro, a crescente inclinação do governo Getúlio Vargas para o regime de Benito Mussolini.

Leitura indispensável para quem se sente comprometido com a injunção de não esquecer, e de fazer saber aos filhos e aos filhos dos filhos.

(*) O autor é doutor em Língua Hebraica, Literatura e Cultu-ra Judaica pela FFLCH da Universidade de São Paulo.

Page 29: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

29

REVUE DU CERCLE DE GÉNÉALOGIE JUIVEEditada pelo CÉRCLE DE GÉNÉALOGIE JUIVE45, RUE LA BRUYÈRE, 75009, PARIS FRANCEwww.genealog.org

INDICAÇÕES REVISTAS ESPECIALIZADAS

SHEMOTEditada pela JEWISH GENEALOGICAL SOCIETY OF GREAT BRITAIN

33, SEYMOUR PLACE, LONDON, W1H 5AUwww.jgsgb.org.uk/

Há várias revistas especializadas em genealogia judaica. Neste número destacamos duas, publicando uma página de cada uma dessas:

A JeWiSH Voice From oTTomAN SALoNicA: THe LAdiNo memoir oF SA´Adi BeSALeL A-LeVi. Stanford: Stanford University Press, 2012, 372 páginas.Em 1731 chegou a Salonica um tipógrafo judeu vindo da Holanda, que rapidamente inseriu-se naquele mundo vivido em ladino. Filho ou neto deste tipógrafo, Sa´adi Besalel a-Levi (1820-1903), filho de Besalel a-Levi Ashkenazi e Merkada (Morpurgo) Kovo, cantor e compositor, editor de textos religiosos e seculares em hebraico e ladino e do jornal La epoka, viveu o momento de transição desta comunidade na entrada para a era contemporânea e laica. Rebelde, ele se indispôs com rabinos e foi excomungado. Amargurado escreveu as memórias em ladino e caracteres soletreos. É uma visão contestadora de aspectos desta comunidade e também um documento linguístico. O manuscrito passou ao filho, que deixou para o sobrinho, e este ao filho, o médico carioca Sadi Sílvio Levy – pai, dentre outros, de Joaquim Vieira Ferreira Levy, alto funcionário na área da Fazenda Pública nos governos FHC e Lula - que o doou em 1977 para o Jewish National and University Library em Jerusalém, com a intenção de ser publicado numa edição bilíngue. Com edição e introdução de Aron Rodrigue e Sarah Abrevaya Stein, tradução e transliteração de Isaac Jerusalmi ele foi publicado neste ano como era o desejo do seu doador.

GENEALOGIA

Page 30: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

30

Ao Prof. David José Perez, in memoriam,ilustre sábio e saudoso mestre, de quem muito aprendi.

SumáRIO

1. Legislação aplicável aos judeus: Ordenações Afonsinas. Relações com o Estado e com os cristãos.2. A presença dos judeus em Portugal (Idade Média). Regiões habitadas. Atividades desenvolvidas.3. A administração interna das judiarias. Os “Arrabys das Comunas”. Aplicação dos preceitos religiosos ao cotidiano.4. A expulsão dos judeus, de Portugal. Conversão forçada. A decisão do Rei D.Manoel (1497).5. O ocaso. A memória remanescente.6. Bibliografia.

lEGISlAçãO APlICáVEl AOS JuDEuS: ORDENAçÕES AFONSINAS.RElAçÕES COm O ESTADO E COm OS CRISTãOS.

Em termos de consolidação jurídica das disposições baixadas no Reino de Portugal, inclusive, no que concerne aos judeus, foram consolidadas leis sob a denominação de “Ordenaçõens do Senhor Rey D. Affonso v.” chamadas de Or-denações Afonsinas, das quais destacamos:

Título LxVi: Que o Judeo nom tenha mancebo Chrisptaõ por soldad, nem a bem fazer.

Título LxVii: Que os jJudeos nom entrem em casa das Chrisptaãs, nem as Chrisptaãs em casa dos Judeos.

Título LxViii: Que os Judeos nom arrendem Igrejas, nem Moesteiros, nem as rendas delles.

Título LxViiii: Que os Judeos nom sejam escusados de pagar Portagem, nem avudos por vizinhos em alguma Villa, ainda que hi morem longamente.

Título Lxx: Que os Judeos nom gouvam do privilegio, e beneficio da Ley da Avoenga.

Título Lxxi: Que os Arrabys das Comunas guardem em seus Julgados os seus direitos, e custumes.

Título Lxxii: De como os Judeos, que se tornaõ Chrisptaõs, ham de dar Carta de quitaçom aas molheres, que ficaõ Judias, passado hum anno.

Título Lxxiii: De como ham de seer feitos os contrautos antre os Chrisptaõs, e os Judeos.

Título Lxxiiii: De como as Comunas dos Judeos ham de pagar o serviço Real.

Título LxxV: De como os Judeos nom ham de levar armas quando forem a receber Elrey, ou fazer outros jogos.

Título LxxVi: De como os judeos ham de viver em Judarias apartadamente.

Título LxxVii: Que os judeos nom sejam presos por dizerem contra elles, que se tornarom Chrisptaaõs em Castella, salvo seendo delles querellado.

Título LxxViii: Da forma em que ha de seer feita a doaçom, que ElRey fezer dos beens d’algum Judeo, por comprar ouro, ou prata, ou moedas.

Título LxxViiii: De como o Judeo converso aa Fé de Jesus Christo deve herdar a seu Padre, e a sua Madre.

Título Lxxx: Das penas, que averam os Judeos, se forem achados fora da Judaria despois do fino da Ooraçom.

AS JUDIARIAS EM PORTUGALASPEcTOS JURíDIcOS E hISTóRIcOS

UMA AbORDAGEM

HENRIQUE CZAMARKA*

DIREITO

Page 31: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

31

Título Lxxxi: De como o Arraby Moor dos Judeos, e como outros Arrabys devem d’husar de suas Jurdiçooens.

Título Lxxxii: Que os Judeos nom sejam, presos por dizerem contra elles, que fizerom moeda falsa, ou comprarom ouro, ou prata, salvo seendo primeiro delles querellado.

Título Lxxxiii: Do Privilegio dado ao Judeo, que se trona Chrisptaaõ.

Título Lxxxiiii: Que o Judeo possa demandar sua divida ao Chrisptaaõ, posto que sejam passados vinte annos, nom embargante a Ley antes feita en contrairo.

Título LxxxV: Que os Judeos nom sejam Officaaes d’ElRey, nem dos Iffantes, nem de quaeesquer outros Senhores.

Título LxxxVi: Que os Judeos tragam sinaaes vermelhos.

Título LxxxVii: Do Judeo, que rompe a Igreja per mandado d’alguum Chrisptaaõ.

Título LxxxViii: Que nom valha testemunho de Chrisptaaõ contra Judeo sem testemunho de Judeu, e o Juiz valha contra elles no que se passar perante elle.

Título LxxxViiii: Do que doesta Chrisptaaõ que foi Judeo, que responda sobrello perante o Juiz secular.

Título Lxxxx: Que o Judeo ao Sabado nom seja costrangido responder em Juizo.

Título Lxxxxi: Do Judeo, que bebe na taverna.

Título Lxxxxii: Se for contenda antre Chrisptaaõ, e Judeo, a quem perteencerá o conhecimento della.

Título Lxxxxiii: De como os Tabelliaaens dos Judeos haõ de fazer suas Escripturas.

Título Lxxxxiiii: Que nom façam tornar nenhum Judeo Chrisptaaõ contra sua vontade.

Título LxxxxV: Do Judeu, que se torna Chrisptaaõ, e despois se torna Judeu.

Título LxxxxVi: Que nenhum Judeu nom faça contrauto onzaneiro com Chrisptaõ, nem com outro Judeu.

Título LxxxxVii: Se o Chrisptaaõ fez obligaçom ao Judeu por dinheiro, possa dizer, passados dous annos, que os nom recebeo.

Título LxxxxViii: Que as pagas, e entregas feitas pelos Chrisptaaõs, e Judeos, se possam fazer sem a presença do Juiz.

Cabe destacar de tais disposições legislativas, que os ju-deus deveriam habitar em regiões muradas e fechadas por portas, chamadas de judiarias. Estas eram abertas, quando das denominadas orações de matinas e fecha-das, recolhendo-se os judeus ao seu bairro “depois que o sino da oração for acabado de tanger” tal “sino da oração” era aquele para o denominado Ângelo (reza da noite), sendo que o fechamento das judiarias era sub-metido à vigilância de dois guardas reais, por força do disposto nas referidas Ordenações Afonsinas. No dizer de Elias Lipiner (Santa Inquisição: Terror e Linguagem):

“Havia algumas exceções permissivas, encontrando-se entre elas uma assim redigida: se algum judeu for cha-mado de alguma tal pessoa, que deva ir à sua casa, ou lhe for grande necessidade ir lá por causa que ao cris-tão ou ao judeu seja mister, que possa lá ir, contanto que leve candeia e cristão consigo enquanto for, e vier pela vila; e assim o possam fazer físicos e cirurgiões, ou outros mesteirais, se para seus ofícios e misteres forem chamados.”

A PRESENçA DOS JuDEuS Em PORTuGAl (IDADE mÉDIA). REGIÕES HAbITADAS. ATIVIDADES DESENVOlVIDAS.

Difícil a fixação, ainda que aproximada da presença dos judeus, na Península Ibérica e, em particular, no território que veio a se tornar o Reino de Portugal.

No dizer de J. Lucio de Azevedo, “não parece temerário supor terem vindo os primeiros judeus nas armadas dos Fenícios, seus vizinhos, e com a dispersão final da raça, após a tomada de Jerusalém pelos Romanos, encami-nhasse muitos para junto dos seus irmãos, que na Ibéria hospitaleira e fecunda prosperavam.” (citado por Jorge Martins – “Portugal e os Judeus”).

Entretanto, há provas evidentes de que, a partir do sé-culo X, constata-se a presença de judeus em Portugal, sendo que, em Santarém, existiu a mais antiga sinagoga do país, datada de 1147.

No reinado de D.Dinis (1279-1325), por força das pres-sões crescentes do clero e da nobreza, havia tenaz opo-sição à presença de judeus, em altos cargos administra-tivos, levando-os inclusive ao uso de sinal identificador em público (chapéu cônico). Existem vestígios arqueo-lógicos, em restos de estátuas e murais comprobatórios de tal fato.

DIREITO

Page 32: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

32

Induvidosa a existência da judiaria velha de Lisboa, onde foi edificada uma sinagoga, por D.Judas, Rabi-Mor, no reinado de D.Dinis (Samuel Schwarz, citado por Jorge Martins, in op cit).

Numerosas judiarias existiam em Sua presença está com-provada, praticamente em todo o território lusitano. Des-tacam-se por sua importância, as de Lisboa (onde havia duas), Santarém, Évora, Coimbra, Obidos, Guimarães, Braga, Leiria, Setubal, Castelo de Vide, Bragança, Estre-moz, Tomar, Belmonte, Lamego, Guarda, Porto e Marvão.

Outrossim, os judeus exerciam à época diversas ativida-des profissionais e empresariais, destacando-se as dos médicos, artesãos, açougueiros (inclusive para efetuar o abate de animais, observado o ritual judaico) e tabeliães, para lavratura de atos notariais, como ainda existem até a data de hoje. Era frequente a existência destes tabeli-ães nas judiarias em hospitais, leprosários e cadeias, para cumprimento de penas por violação da legislação penal. Havia cemitério privativo dos judeus, campos santos, fora dos limites da maioria das judiarias de certo porte. Excepcionalmente, houve sepultamentos em cemitérios cristãos, quando as judiarias eram de pequeno porte.

Cabe destacar que a judiaria de Faro continha a comu-nidade judaica mais antiga do Algarve. Dedicava-se à pesca e sua salga, além de ter lagares onde armazena-vam vinho ou azeite não só para uso próprio como para exportação. Muito significativa é a referência a esta ju-diaria, pois, estabeleceu-se em Faro a primeira tipografia de Portugal, e dela saiu impresso, o Pentateuco sob a responsabilidade de Samuel Gacon.

Geralmente, os trabalhos históricos especializados silen-ciam sobre uma atividade que não deixa de ser profissio-nal por certo, em razão de um pudor que não tem lugar na pesquisa científica. Na idade média portuguesa, exis-tiram “casas de mancebia”, isto é, prostíbulos. Aqueles encontrados nas judiarias, em geral as de maior porte, v.g. a de Lisboa, eram compostos por mulheres judias e o comércio do sexo fazia-se privativamente com homens de mesmo credo. Isto se explica já que, por força das normas da igreja, proibida estava a relação sexual de ju-deus com mulheres cristãs.

A ADmINISTRAçãO INTERNA DAS JuDIARIAS.OS “ARRAbYS DAS COmuNAS”. APlICAçãO DOS PRECEITOS RElIGIOSOS AO COTIDIANO.

A administração interna das judiarias valia-se dos mode-los da gestão, então,existente nas comunas e freguesias cristãs, tendo pessoas encarregadas da própria gover-

nabilidade, geralmente exercida pelos assim chamados “homens de bem”.

As questões de vária ordem surgidas entre os judeus de-cidiam-se em foro privilegiado, já que, frequentemente encontramos, na estrutura das judiarias, a presença de Arrabys (ou rabinos), para dirimi-las.

A autoridade do Arraby excedia os limites da atividade religiosa, alargando-se, inclusive, para decisões sobre o cotidiano dos judeus e, em diversa ocasião, no relaciona-mento com as autoridades cristãs e até com o próprio rei.

Algumas das judiarias possuíam um midrash para estu-dos do Talmude, e mikvot (casas de banho), para obser-vância do ritual judaico. Aliás, em Tomar, após pesquisas arqueológicas, foi encontrada uma mikva perfeitamente identificada, além do prédio da sinagoga.

Do mesmo modo, as casas que compunham as antigas judiarias apresentavam nas ombreiras das portas princi-pais, ranhuras onde eram colocadas as mezuzot, as mes-mas que ainda se mostram presentes nas casas judaicas, com a oração Shemá (ou reza de proteção aos lares ao Deus Único) em pergaminho em seu interior.

A EXPulSãO DOS JuDEuS DE PORTuGAl.CONVERSãO FORçADA.A DECISãO DO REI D.mANOEl (1497).

Em 1483, Tomáz de Torquemada foi nomeado inquisidor-geral na Espanha, oferecendo forte incremento à insta-lação de tribunais para aqueles que não eram cristãos. Fortaleceu-se o Reino Espanhol em 1492, unificado com a conquista de Granada. Em 31 de março, os assim cha-mados reis católicos Fernando e Isabel assinaram o Édito de Expulsão dos Judeus. Em grande número, foram bati-zados à força, mormente pela ação da rainha. Porém, em tal ambiente e temendo o agravamento de sua situação, os judeus fugiram da Espanha, em número aproxima-do de 150.000, a maior parte dos quais para Portugal. Por óbvio, eis que é bastante extensa a fronteira entre os dois países. Assim, as regiões limítrofes portuguesas foram aquelas que receberam o maior contingente de judeus fugidos da Espanha, em especial, cabe lembrar as judiarias que se formaram em Marvão, Castelo de Vide, Belmonte, entre outras.

Em 05 de dezembro de 1496, o rei D.Manuel decreta, em Portugal, a saída dos mouros e judeus que “são filhos de maldição”, sendo que dita saída se deveria dar até o mês de outubro do ano seguinte, inclusive. Por outro lado, o rei português, com evidentes propósitos expansionistas, casa-se com a filha dos reinantes espanhóis Fernando e Isabel. Consequência imediata é a expulsão daqueles que

DIREITO

Page 33: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

33

permaneceram em sua fé judaica e o batismo em massa daqueles outros que, no porto de Lisboa, aguardavam transporte para sua fuga de Portugal. O batismo forçado de milhares de pessoas nas condições acima indicadas, em 1497, acabou por ser conhecido como o episódio dos Batizados em Pé, assunto tratado em profundidade pelo historiador Elias Lipiner, em erudito ensaio publica-do em 1998, pouco antes de sua morte. (“Os Baptizados em Pé” – estudos acerca da origem da luta dos cristãos-novos em Portugal. Ed. Vega. 1998. 492 páginas).

O OCASO. A mEmÓRIA REmANESCENTE.

O período posterior a 1497 caracteriza-se como um dos mais tristonhos da história judaica. Os cristãos novos (as-sim chamados aqueles conversos que permaneceram no país) e os que continuaram professando a religião ju-daica secretamente foram submetidos, em grande parte, aos severos rigores da inquisição que, além de exercer com grave intensidade a tortura muitas vezes resultan-te em morte, frequentemente, condenava os ímpios (no seu dizer) ao “braço secular”, isto é, à morte na fogueira, na hipótese de serem capturados e, em esfinge, quando eram foragidos. Os bens dos sentenciados eram reverti-dos à propriedade do Tribunal do Santo Ofício , que lhes dava, por vezes, outros destinos. Qualquer que fosse a decisão condenatória, os infelizes condenados saíam nos chamados autos de fé, vestidos a caráter com os “sam-benitos”, tristes espetáculos assistidos pelo populacho e autoridades civis e eclesiásticas, muitas vezes no terreiro do paço, em Lisboa.

Atualmente, identificam-se as regiões das judiarias e das ruas que as compunham, com as seguintes denomina-ções: rua dos judeus, rua nova, rua nova da judiaria, tra-vessa da judiaria, antigas escadas da Esnoga (ou sinago-ga), rua das escadas da Esnoga.

bIblIOGRAFIA (consultada)

A – FoNTe

Ordenações Afonsinas – Livro 2º. – trabalho elaborado por Ivone Susana Cortesão Heitor, consultado no site http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/afonsinas/

B – eSTudoS

FERRO, Maria José Pimenta – OS JUDEUS EM PORTUGAL NO SÉCULO XIV. Instituto de Alta Cultura. Centro de Estu-dos Históricos. Lisboa. 1970

FERRO TAVARES, Maria José – AS JUDIARIAS DE PORTU-GAL. Edição CTT Correios de Portugal [Lisboa]. Julho de 2010

KAYSERLING, Meyer – HISTÓRIA DOS JUDEUS EM PORTU-GAL. Introdução e notas Anita W. Novinsky. Editora Pers-pectiva. 2ª. Edição. São Paulo. 2009

LIPINER, Elias – SANTA INQUISIçÃO: TERROR E LINGUA-GEM. Editora Documentário. Rio de Janeiro. 1977

LIPINER, Elias – OS ARQUIVOS NACIONAIS DA TORRE DO TOMBO EM LISBOA E HISTORIOGRAFIA JUDAICA, in Em Nome da Fé (Estudos in memoriam de Elias Lipiner). Edi-tora Perspectiva. São Paulo. 1999

MARTINS, Jorge – PORTUGAL E OS JUDEUS – Volume 1. Editora Nova Vega. Lisboa. 2006

SARAIVA, Antonio José – INQUISIçÃO E CRISTÃOS NO-VOS. Editorial Inova. Porto. 1968

(*) Henrique Czamarka - Bacharel e Licenciado em História, pela antiga Universidade do Estado da Guanabara, atual UERJ.

DIREITO

ViSiTe-NoS. o ArQuiVo É Seu! É de TodA A comuNidAde!Você pertence à comunidade judaica e quer que seusdescendentes também façam parte dela? Saber mais sobre seu passado significa ter condições de transmitir mais conhecimentos aos seus filhos.Você não está só.

ViSiTe-NoS! Rua Estela Sezefreda, 76, Pinheiros - Tels. (55- 11) 3088-0879 - 2157-4124

Page 34: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

34

Quem passa por uma pequenina rua do bairro paulis-ta de Pinheiros, próximo a Av. Rebouças, percebe uma construção cinzenta que se diferencia em meio ao casa-rio tradicional da região. Mal se dá conta que por trás daquelas paredes cuja única identificação é uma peque-na placa com a sigla AHJB encontra-se um dos grandes, talvez o maior repositório da memória judaica brasileira – o Arquivo Histórico Judaico Brasileiro.

Alguns dias em São Paulo nos permitiram conhecer de perto esta fantástica instituição, que após se instalar em alguns endereços da cidade finalmente encontrou um local apropriado para seus fins, graças à doação do imó-vel por parte de um casal sensibilizado pela importante missão a que se propõe o Arquivo.

Uma dedicada Diretoria e corpo de voluntários, somado a um pequeno grupo de profissionais, permitiu ao AR-QUIVO chegar ao patamar em que hoje se encontra.

Logo fui recebido e instalado na sala de consultas, à en-trada, onde os interessados recebem o primeiro atendi-mento, descrevendo as suas demandas e recebendo em seguida as caixas e demais materiais a serem examinados.

Deste ponto privilegiado foi possível acompanhar o dia-a-dia do Arquivo, naquela semana algo calorenta de março, 2012. Pessoas traziam documentos em doação. Surpresa, uma senhora apresenta um diploma original em pergaminho de um antepassado que fora diploma-do na tradicional Escola Polytechnica do Rio de Janeiro, turma de 1924, a mesma em que me formei, 48 anos depois, em 1968! Lembrei daquela época, em que eu mesmo comprei o pergaminho e o levei a sede da Im-prensa Nacional na Praça Mauá, para a devida impressão do diploma. Era igualzinho, só mudavam nomes e datas.

Outro doador trouxe um manuscrito em polonês, datando de quase 100 anos, assinado e carimbado por um rabino.

Cada dia grupos diferentes se reuniam, um de cultores do iídishe, outro de História Oral, mais um de organiza-dores da biblioteca, ao mesmo tempo em que impor-tantes pesquisadores da historia judaica brasileira por ali passavam regularmente, examinando o rico acervo em busca de novas revelações para seus trabalhos, objeto também de visitas de diversos interessados.

Portanto, o Arquivo é um lugar de memória viva. Nas di-

Memória Judaica do Brasil

versas caixas de documentos examinados, fragmentos de históricos episódios se revelavam a cada momento, enri-quecendo com detalhes preciosos a narrativa. Era como se Frida e Egon Wolff estivessem eles mesmos ali mostrando o fruto do seu trabalho de décadas, cuidadosamente disposto em envelopes plásticos, reunidos em grupos devidamente identificados, numerados, catalogados. A meticulosidade germânica certamente facilitou o trabalho dos profissionais que tão bem implantaram no Arquivo o Fundo Casa Wolff, a partir de caixas e mais caixas vindas do Rio.

É impressionante o aproveitamento ótimo de tanta infor-mação reunida e organizada nos dois andares da residên-cia original ampliada, espaço compacto mas agradável ao consulente, tudo em ambiente de fácil circulação, sob farta iluminação natural.

Livros em iídishe, português, inglês, espanhol, revistas, jornais, documentos, fotos (mais de 40 mil) discos de vi-trola, CDs, DVDs, filmes em celuloide, fitas cassete, cada material em seu nicho próprio, armários de aço, estantes ou arquivos deslizantes.

As doações se sucedem, devidamente classificadas e tratadas em espaçosa mesa de trabalho sempre pronta, computadores, servidores, rede sem fio, reserva técnica, múltiplas duplicatas, espaços de reunião, enfim, uma ampla gama de ferramentas suporta o dia-a-dia do Ar-quivo, no que muito contribuiu um recente projeto com recursos da FAPESP.

É como se estivéssemos em uma miniatura do Arquivo Nacional, instalado na antiga Casa da Moeda dos tem-pos do Distrito Federal. Apenas recentemente a socieda-de brasileira passou a valorizar a preservação histórica, com arquivos, museus e demais entidades do setor se profissionalizando cada vez mais.

O futuro certamente trará novos desafios ao Arquivo, na impressionante faina de manter viva a memória dos judeus brasileiros. Para tanto será fundamental um maior apoio, ajudando a fortalecer a instituição e colocando-a no mere-cido lugar junto com as grandiosas realizações dos setores cultural, religioso e social que demonstram a pujança da comunidade judaica paulista, e por que não, nacional.

(*) Israel Blajberg - Escola de Engenharia [email protected] - [email protected]

ARTIGO

ISRAEL BLAJBERG *

Page 35: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

35

ÍNDICE DOS BOLETINS DO AHJB DE NÚMEROS 1 A 45 POR ASSUNTO

II - DISCRIMINAÇÃO ASSUNTO TÍTULO (Autor) NO

AHJB •BibliotecaJaimeSapolnik(CarlosKertesz) 14 •BibliotecaLouisLitto 21 •Ante-projetoPedagógico 22 •IEncontroNacional 23 •PreservaçãodoacervoefuncionamentodoAHJB(LubaSchevz) 23 •IIEncontroNacional 26 •IIIEncontroNacional 28 •ÍndicedosBoletinsdoAHJB(1a28) 29 •UmTúneldoTempoemSãoPaulo(DavidTabacof) 29 •AExposiçãonoMemorialdoImigrante(RabinoHenrySobel) 29 •MidoryK.Figuti-MemóriaVivadoMemorial(SemaPetragnani) 29 •AtividadeseRealizações(até2004) 31 •AcervoeBibliotecadoCasalEgoneFriedaWolff 33 •IVEncontroNacional 34 •ÍndicedosBoletinsdoAHJB(1a34) 35 •IVEncontroNacional(CarlosKertész) 35 •AHJB:30anos(NachmanFalbel) 36 •SaraudoArquivo(LeaVinocurFreitag) 36

i - iTemiZAÇÃo gerALAHJBCartões Postais/FilateliaCinema ÍdicheCinema JudaicoCristãos NovosDocumentosEscolas e Educação Judaicas no BrasilFototecaGenealogiaHistória do BrasilHistória OralHolocaustoÍdicheIsraelJudeus (coletividades judaicas) África do Sul Alemanha América Latina Bessarábia Brasil Brasil/Amazonas Brasil/Bahia Brasil/Minas Gerais Brasil/Pernambuco Brasil/Rio de Janeiro Brasil/Rio Grande do Sul

Brasil/São Paulo Egito Espanha Império Otomano Inglaterra Itália Marrocos Portugal República Tcheca RússiaJudeus na MúsicaLiteratura ÍdicheLiteratura Ídiche no BrasilLiteratura HebraicaLiteratura Judaica/ América LatinaLiteratura Judaica em PortuguêsMemória e Identidade JudaicaMúsica e Poesia ÍdichePartidos Socialistas JudeusPersonalidadesPesquisa BibliográficaReminiscências Pessoais e FamiliaresSefaraditasSinagogasSionismoTeatro ÍdicheYivo

ÍNDICE

ELABORADO POR ABRAHÃO GITELMAN

Page 36: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

36

•O que se pesquisa no AHJB (Aurélie Lê Liévre) 37 •Notícia sobre o V Encontro Nacional 41

cartões Postais/ Filatelia •Cartões Postais- Um olhar nostálgico (Nachman Falbel) 22 •“Destino Raro”- A peça filatélica como fonte histórica (Marcos Chusyd) 24 •O Encontro de dois mundos (Marcos Chusyd e Abrahão Gitelman) 28 •O Cartão Postal judaico no Brasil (Marcos Chusyd) 35 •Exposição de Selos em Comemoração aos 60 anos da Independência de Israel 40 •Os “Correios-Móres” de Portugal e do Brasil (Marcos Chusyd) 40

cinema Ídiche •Dicionário do Cinema Ídiche (Abrahão Gitelman) 14 •Sobre o Cinema Ïdiche (Abrahão Gitelman) 33

cinema Judaico •Eva: a khátarsis do dilema de uma existência (Oscar Zimmermann) 25

cristãos Novos •Os Arquivos Nacionais da Torre do Tombo e a Historiografia Judaica (Elias Lipiner) 16 •Fanatismo e Intolerância (Clóvis Barleta de Morais) 22 •“Do Cristianismo ao Judaísmo - A história de Isaac Oróbio de Castro” de Yosef Kaplan 23 (Francisco Moreno de Carvalho) •A Inquisição no rastro de cristãos-novos em Minas Gerais (Neusa Fernandes) 26 •Mártires Cristãos- Novos na Inquisição de Lisboa (Marco Antonio Nunes da Silva) 31 •Uma senhora de engenho na Inquisição (Neusa Fernandes) 33 •Cristãos Novos no Brasil nos séculos XX e XXI - 39 (Dissertação de Mestrado de Paulo Valadares) (Lea Vinocur Freitag) •A Inquisição no Rio de Janeiro (Lea Vinocur Freitag) 40 •Os Velhos Marranos e a “Judeidade” dos Brasileiros (Gilberto de Abreu Sodré Carvalho) 41 •De Jerusalém para Lisboa, de Lisboa para o Sertão (Paulo Valadares) 42 •O Boi e a Toura ( Jane Bichmacher de Glasman) 45

documentos •Pronunciamento do Rabino Pinkuss na Catedral Evangélica de Dusseldorf em 1988 39

escolas e educação •Uma escola ídiche na São Paulo de trinta (Abrahão Gitelman) 17 Judaicas no Brasil •Ações Educativas no Museu Sinagoga Kahal Zur 45 Israel: Novos Paradigmas (Tânia Neumann Kaufmann) •Escolas Judaicas na Bahia (Carlos Kertesz) 45 •Um livro e duas abordagens (Abrahão Gitelman) 45

Fototeca •Peter Scheier, fotógrafo 33 •Peter Scheier- sua obra está em nosso arquivo 36 •Ensaios Fotográficos de Peter Scheier- Profissões de Judeus na Década de 50 39 •Ensaio fotográfico: No Ano do Centenário da Imigração Japonesa 40 •Dirigentes israelenses no Brasil 41 •Personalidades brasileiras em Israel 42 •Escolas judaicas no Brasil 43 •Cooperativa de Crédito Popular do Bom Retiro 44

genealogia •Conversando sobre Genealogia 39 •Shemtov b. Abraham, de Portugal, Avô de Joaquim,de Sérgio, de Francisco... 40 (Paulo Valadares) •Benjamin Nathan Cardozo- O Romance de uma linhagem Cristã-Nova 41 (Paulo Valadares) •J. L. Cardozo de Bethencourt (1861-1938) - O Bibliotecário Real, Sua Ascendência 41 e Descendência (Ana Izabel Ferraz de Oliveira Pinto de Abreu) • Semiótica do Ex-Libris de Joaquim Nabuco (Paulo Valadares) 44 •Lafer-Klabin de Poselvja- Empreendedores e Intelectuais Brasileiros (Paulo Valadares) 45

ÍNDICE

Page 37: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

37

História do Brasil •Brasil 500 anos: a prosa e o verso (Samuel Belk) 19 •O Dia Internacional dos Direitos Humanos em Vassouras (Luiz Benyosef) 42 •O Brasil na Terra Santa em 1876 (Prof. Reuven Faingold) 42 • Rabino Mosse Rephael D’Aguiar-Biografia e Origem (Rabino Y. David Weitman) 43História oral •Congresso de 1996 em Filadélfia 4 •Entrevista com Tatiana Belinky 7 •Como se conhece um povo? [Escopo e Metodologia do Núcleo de História Oral] 13 •Um depoimento [Abram Zajdens] (Sarina Roemer) 16 •Uma experiência de vida: a Unibes (Thea Joffe e Sarina Roemer) 19 •Um homem extraordinário - uma entrevista difícil [O mohel David Simhon] 21 (Gaby Becker e Sarina Roemer) •O primeiro livro do projeto de História Oral: A imigração judaica em S. Paulo 23 (Marília Freidenson) •Projeto de História oral: a imigração judaica em S.Paulo (Gaby Becker) 24 • Relatório do Núcleo de História Oral (Marília Freidenson e Sarina Roemer) 26 •“Entrevistando” as Entrevistadoras: (Gaby Becker, Sarina Roemer, 27 Olívia Haftel, Adriana Jacobsberg, Thea Joffe, Marília Freidenson) •O papel do idioma na integração dos imigrantes judeus (Marília Freidenson) 29 •O Núcleo de História Oral em Congresso em Israel (Sarina Roemer) 31 •“Passagem para a América”- Sobre a História Oral (Estela Sahm) 31 •Minha entrada no Lar (Bertha Kogan) 34 •Nossa amiga Gaby 35 •Dois vícios: Judaísmo e Futebol- Trajetória de um imigrante que foi para Campinas 36 (Sueli Epstein) •Um Pouco da História do Núcleo de História Oral Gaby Becker (Marília Freidenson) 39 •Visita à Universidade Hebraica de Jerusalém - Maio de 2008 (Sarina Roemer) 40 •O Cotidiano do “Banco Judeu” do Bom Retiro 44 (Myriam Chansky, Ilda Klajnman e Maria Theodora da Câmara Falcão Barbosa)

Holocausto •“Onde está Abel. seu Irmão” – notícia sobre o livro de Joe Heydecker 11 • Cinzas e diamantes (Abrahão Gitelman) 15 •Os Diários de Victor Klemperer (Irene Aron) 16 •Uma lição de vida [Michael Stivelman e seu livro sobre os judeus da Transnístria] 16 (Carlos Heitor Cony) •Salonica 1943 - O comportamento do Rabino Zvi Koretz durante a 20 ocupação nazista no norte da Grécia (Ana Rosa Campagnano Bigazzi) •A Questão Judaica enquanto notícia-ideologia e memória nas páginas de 23 “O Estado de S.Paulo”(Antonio Roberto Guglielmo) •Dia da Memória {A instituição na Europa, de 17 de janeiro, como marco de 25 lembrança do Holocausto] •Deus Absconditus: “Yosl Rakover fala com Deus” de Zvi Kolit (Nachman Falbel) 27 •Holocausto: 60 anos (Jorge Josef) 27 •A incrível história de um campo de concentração de judeus em Grosseto 27 (Sema Petragnani) •Shoá: No fio da memória (Ana Rosa Campagnano Bigazzi) 27 • Vitimização x Reparação (Jorge Josef) 28 •A memória na história da vitimologia (Jorge Josef) 29 •Os percalços de uma emigração [A história do navio Saint Louis] (Samuel Belk) 29 •Os caminhos de uma sobrevivente em “Mameloshn-Memória em “Carne Viva” 31 de Halina Grynberg (Dora Landa) •A lista de Pio XII- A reconstrução de um quebra-cabeças (Liana Gottlieb) 34 •Entre lá e cá- A literatura do Shoá (Grace Zicker Guz) 34 •Sons calados pelo Holocausto (Léa Vinocur Freitag) 38 •David Bankier (1947-2010) - pedra angular da pesquisa 43 acadêmica sobre a Shoá (Miriam Bettina P. Oelsner)

ÍNDICE

Page 38: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

38

Ídiche •Interações entre o ídiche e o inglês (Yecheskel Rovner) 12 •Palavras, Códigos, Senhas, Rimas, Piadas, Provérbios e outras expressões (nos campos de concentração) (Partes I e II) (Hadassa Cytrynowcz) 19 e 20 •Sem Mazl (Abraham Koralnik) 20 • Ídiche :Mame-Loshn ou Mame-Lushn- (Língua-mãe) (Nancy Rozenchan) 21 •Algumas considerações sobre a transliteração do ídiche para a língua portuguesa 27 (Samuel Belk) •O ídiche no Brasil (Jacó Guinsburg) 30 •Sobre o ídiche: expressões e impressões (Estela Sahm) 33 •Brasiliana em Ídiche (Abrahão Gitelman) 42

israel •Clima e Civilização em Israel (José Goldemberg) 32 Um livro, um debate e uma conferência sobre Movimento Juvenil (Oscar Zimmermann) 34 •O Movimento Juvenil Chalutziano e o Kibutz (Henry Near) 34 “To the Land!” -200 anos de assentamentos agrícolas judaicos 34 (conferência realizada de 19 a 21/6/2005) • Velhos tempos de Bror Cail, o Kibutz brasileiro (Lea Vinocur Freitag) 42 •Minha Viagem a Israel (Floriano Pesaro) 45Judeus (coletividades judaicas) •EntreoApartheideoAnti-semitismo(SilviaAndreucci) 22áfrica do Sul Alemanha •UmdomingomusicalnacasadosMendelssohn(AbrahãoGitelman) 20 •AimigraçãojudaicoalemãemSãoPaulo(GabyBecker) 22 •AlsáciaeLorena-SeusjudeuseoBrasil(AbrahãoGitelman) 27 •Ajuventude,metáforadeumaidéia:jovensnaAlemanhanazista(CéliaToledoLuna) 34 •Osjudeusalemãeseotradutor(MarcosOcougne) 36 •BerlimdepoisdoHolocausto(MarioNusbaum) 43

América Latina •Nasentrelinhas(ValdemarSzaniecki) 18 •Odiscursoneonazista(OcasoArgentina)(SamuelBelk) 28 •ConferênciadascomunidadesJudaicasdaAméricaLatina(FlorSchivartche) 40

Bessarábia •Bessarábia(TatianaSerebrenic) 43

Brasil •Léxicodosativistassociaisdacoletividade,deautoriadeHenriqueIusim) 7 (Nachman Falbel) •ConvençãonacionaldaConib(CarlosKertesz) 11 •Umaimigraçãodejudeusem1891(NachmanFalbel) 21 •Protestantesejudeus:algunsparalelismosemsuastrajetóriasnoBrasil 22 (Abrahão Gitelman) •Doisimigrantesemcidadesdointerior(FriedaWolff) 23 •Humanusouaconstruçãodoanti-semitismo(SaulKirshbaum) 25 •Algunsregistrossobreapresençajudaicanofolcloreenoimaginárioda 26 população brasileira e sua fixação no léxico (João Henrique dos Santos) •ResgatedamemóriahistóricajudaicanoBrasil:FontesparaPesquisas(FriedaWolff) 27 •AemigraçãodosjudeusitalianosparaoBrasil(AnaR.C.BigazzieSemaPetragnani) 26 •AlsáciaeLorena-seusjudeuseoBrasil(AbrahãoGitelman) 27 •DuasfontesdereferênciasobreacoletividadejudaicadoBrasil(JoséKnoplich) 28 •ObombeirobrasileiroquesalvouvidasnaEuropaemchamas(IsraelBlajberg) 29 •Ojudeunoimagináriobrasileiro(CéliaSnitzer) 31 •“Nopasaránolvidados”:JudeusdoBrasilnaGuerraCivilEspanholae 32 Resistência Francesa (Henrique Samet) •Asarmadilhasdanarrativahistórica(SaulKirschbaum) 32 •JudeusnoBrasil:oscontraditórioseflexíveiscaminhosdaidentidade 33 (Eva Alterman Blay)

ÍNDICE

Page 39: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

39

•ExperiênciasnacolonizaçãoagrícolanoBrasil(NachmanFalbel) 34 •BreveContribuiçãoaoRegistrodaParticipação de Militares Judeus Brasileiros na 2ª Guerra Mundial (Israel Blajberg) 36 •DiásporasediversidadeculturaldosimigrantesjudeusnoBrasil(RachelMizrahi) 43

Brasil/Amazonas •AcomunidadejudaicadeManaus(IsaacDahan) 24 •DoisrelatosdoAmazonas(IsaacDahan) 26 •IdentidadePsicológicaeCulturaldaTransculturaçãodeFamíliasJudaicae 36 Amazonense (Deborah Isaac Pazuello) •Os“Hebraicos”naAmazônia(MariaLiberman) 44

Brasil/Bahia •NotíciasdaSeçãoBahia 1 •NotíciasdaSeçãoBahia(CarlosKertesz) 11 •Saudosismopodeserincurável(DavidTabacoff) 12 •Fellinieointelectualjornaleiro(DavidTabacoff) 16

Brasil/minas gerais •Meupai:IsaiasGolgher:ojudeu(RomainRollandGolgher) 28 Brasil/Pernambuco •AmemóriainstitucionaljudaicaemPernambuco(TaniaNeumannKaufman) 25 •OTetragramaeaMedalhísticaHolandesadosSéculosXVIeXVII(AbrahãoGitelman) 35 •SinagogasdePernambuco(JoséAlexandreRibenboimeJacquesRibenboim) 37

Brasil/rio de Janeiro •AspequenascomunidadesisraelitasnoEstadoRiodeJaneiro(LuizBenyosef) 23 •AtividadesdoMuseuJudaicodoRiodeJaneiro(MaxNahmias) 24 •O“Tição”doColégioPedroII:IdentidadejudaicanoRiodeJaneiro(PauloValadares) 37 •ODiaInternacionaldosDireitosHumanosemVassouras(LuizBenyosef) 42

Brasil/r. grande do Sul •AsmemóriasdeIsraelBecker(ReginaIgel) 24 •ExperiênciasnacolonizaçãoagrícolajudaicanoBrasil(NachmanFalbel) 34 •Meutipoinesquecível(RosaMotta) 34 •TerrornumShtetlGaúcho:QuatroIrmãos(1924)- 39 Uma história oculta da Coluna Prestes (Paulo Valadares)

Brasil/ São Paulo •AHistóriaatravésdeanúncios(EstherWajskopTerdiman) 12 •OsjudeusorientaisdaMoóca(RachelMizrahi) 13 •OsimigrantesdeSafadealiderançacomunitáriadeMárioAmar(RachelMizrahi) 15 •ACooperativadeCréditoPopulardoBomRetiro(NachmanFalbel 17 •UmaescolaídichenaSãoPaulodetrinta(AbrahãoGitelman) 17 •OMacabideSãoPauloesuaevolução(NachmanFalbel) 18 •Umapequenaomissão(JacóGuinsburg) 18 •JoséNadelmaneaHistóriadosjudeusemSãoPaulo(NachmanFalbel) 19 •UmacolonizaçãojudaicanointeriordeSãoPaulo(NachmanFalbel)20 •Aimigraçãojudaico-alemãemSãoPaulo(GabyBecker) 22 •Osclubesdos“JudeusComunistas”deSãoPaulo(LuizIsraelFebrot)28 •AFamíliaHertz:JudeusemCampinas(SéculoXIX)(PauloValadares) 29 •EscolasJudaicasemSãoPaulo 29 •BomRetiro,cadaumtemoseu(EstelaSahm) 30 •OBomRetiroeaimprensaisraelitaemSãoPaulo(EstherWajskopTerdiman) 30 •CisõesedissidênciasentreosjudeusprogressistasdeSãoPaulo(LuizIsraelFebrot) 30 •Gueiler,grinerealgunsroiter(DavidLindenbaum) 30 •Oscoraisdacoletividade(HuguetaSendacz) 30 •OBomRetiro,berçodeconfecções(RobertoComodo) 30 •ReminiscênciasdomovimentosionistadeSãoPaulo(FiszelCzeresnia) 30 •Asportasdeumretiro(DeniseGrinspum) 30 •“Pletzale,marcozero”(SamuelReibscheid) 30

ÍNDICE

Page 40: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

40

•JudeusemCampinas:retratode“outros”estatísticos(PauloValadares) 32 •AsmúltiplasfacesdoBomRetiro(SarahFeldman) 32 •QualafamíliajudiamaisantigadeSãoPaulo?(PauloValadares) 33 •TurismonoTriângulo(AbrahãoGitelman) 34 •HistóriaseLendasdoBarJacobnoBomRetiro(IldaKlajman) 41 •InstituiçõeseFormaçãodaComunidadeJudaicaPaulistanaMárcioMendesdaLuz) 41 •OsprimeirosjudeusdeSãoPaulo:umrelatosobrevidamorte(BertaWaldman) 42

egito •OsjudeusdoEgitonostemposmodernos(SarinaRoemer) 8 •Alexandria:tópicosparaaHistóriadacomunidadejudaica(EfraimFernandHemsi) 12 •Egito-Ofimdeumacomunidade(EfraimFernandHemsi) 15 •OêxododosjudeusdoEgitonostemposmodernos(SarinaRoemer) 32 •ConferênciadaAssociaçãoMundialparaaPreservaçãodoPatrimôniodosJudeus 45 do Egito (Sarina Roemer)

espanha •ViagemàGalícia(CarlosKertész) 28 •“Nopasaránolvidados”:JudeusdoBrasilnaGuerraCivilEspanholaeResistência 32 Francesa (Henrique Samet) •DaIntegraçãoàIntolerância:Cristãos,JudeuseMuçulmanosnaPenínsulaIbérica 41 (Rachel Mizrahi) •Línguaetradição:judeus-conversosespanhóisletoresdeSãoPaulo 44 (Mª Del Pilar Roca) •JuderiasdaEspanha,PatrimôniodaHumanidade(FlávioBitelman) 45

França •“J’accuse”deEmileZola:100anos(NachmanFalbel) 11 •DroiteetGauche(AbrahãoGitelman 12 •AlsáciaeLorena,seusjudeuseoBrasil(AbrahãoGitelman) 27 •AfamíliaHertzemCampinas(séc.XIX)(PauloValadares) 29 •“NoPasaránOlvidados”:JudeusdoBrasilnaGuerraCivilEspanholaeResistência 32 Francesa (Henrique Samet)

império otomano •Dr.YosefEfendiCarmona“ODreyfusOtomano”(Prof.ReuvenFaingold) 45

inglaterra •JudeusaserviçodeSuaMajestade(IsraelBlajberg) 43

itália •Emancipaçãodosjudeusitalinos(AnaRosaCampagnanoBigazzi) 19 •Osneo-convertidosdeSanNicandro(SemaPetragnani) 20 •AHistóriaesquecidadaMorteemVeneza(SemaPetragnani) 21 •OAnti-semitismonaItália-ontemehoje(AnaRosaCampagnanoBigazzi) 21 •PioIX-oúltimoPapa-reieosjudeus(AnaRosaCampagnanoBigazzi) 22 •AemigraçãodosjudeusitalianosparaoBrasil(AnaR.C.BigazzieSemaPetragnani) 26 •OsjudeusdaItáliaentrenós(BertaWaldman) 37 •ODiálogoJudaico-Cristão:AVisitadeBentoXVIà 42 Sinagoga de Roma (Rabino Alexandre Leone)

marrocos •Migranteseimigrantes-Judeusmarroquinos-SãoPauloeRiodeJaneiro 44 (Rachel Mizrahi) •Os“Hebraicos”naAmazônia(MariaLiberman) 44 Portugal •Tratandodemarranos[notíciasobreolivro“OsmarranosemPortugal”, 25 de Arnold Diesendruck •OVCentenáriodoMosteirodosJerônimoseosjudeus(InácioSteinhardt) 27 •Asrelaçõeseconômicasesociaisdascomunidadessefarditasportuguesas 39 •Os“Correios-Mores”dePortugaledoBrasil(MarcosChusyd) 40

ÍNDICE

Page 41: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

41

república Tcheca •Umatodevandalismoouarespostaatrasadaaumaprovocação? Monumento anti-semita em Praga (Ana Rosa Campagnano) 37

rússia •ADispersãoJudaicaeo“DistritodeResidência”(SamuelBelk) 32

Judeus na música •FelixMendelssohn-conexõescomojudaísmo(AbrahãoGitelman) 8 •OferBenAmots(IlianaCooper) 11 •UmfinaldetardeemMoscou(AbrahãoGitelman) 13 •UmsenhorchamadoNicolas(AbrahãoGitelman) 19 •UmdomingomusicalnacasadosMendelssohn(AbrahãoGitelman) 20 •Compositoresjudeusnonacionalismomusicalbrasileiro(LéaVinocurFreitag) 23 •TrêsPianistasnaVidaMusicaldeSãoPaulo(LéaVinocurFreitag) 39 •OCavaleiroThalbergesuasAndanças(AbrahãoGitelman) 41

Literatura Ídiche •Glückleseutempo(AbrahãoGitelman) 18 Literatura Ídiche no Brasil •Judeusjogamxadrez(IsaacBorenstein) 13 •OmascateAdolfo(partesI,IIeIII)(NachmanFalbel)12,13e14 •MeirKucinski:“Imigrantes,mascatesedoutores”(NachmanFalbel)25

Literatura Hebraica •Entreláecá-AliteraturadoShoá(GraceZickerGuz) 34

Literatura Judaica/ •Escritoresjudeuslatino-americanos(ReginaIgel) 33América Latina

Literatura Judaica em Português •“evocê,continuaquerendofazerficção?”(OscarZimmermann) 23 •“oquefoiqueeledisse?”-AlgunselementosdaconstruçãodojudaísmonoBrasil 26 (Berta Waldman) •Apresentandoanova“ColeçãoJudaica”naUSP(BertaWaldman) 31 •Ogostodaglosa:“EsaúeJacónatradiçãojudaica”deDaisyWajnberg 32 (Suzana Chwarts) •ImigraçãoeLiteratura(MoacyrScliar)35e44

memória e identidade Judaica •Memóriajudaica:acrucialidadedacontinuidade(HelenaLewin) 26 •EntreMemóriaeHistória(SybilSafdieDouek) 31 •Identidade(s)Judaica(s)(SylvanaHemsi) 32 •LuiseWeiss-AArtedaMemória(NielsCartus) 32 •Asobrevivênciadamemória:“Peçolicençaparacontar”deAnaOstrovsky(JúlioLerner) 32 •Asarmadilhasdanarrativahistórica(SaulKirchbaum) 32 •JudeusnoBrasil:oscontraditórioseflexíveiscaminhosdaidentidadejudaica 33 (Eva Alterman Blay) •ValoreAtualidadeemSimonDubnov(AbrahãoGitelman) 40

música e Poesia Ídiche •YehudaHalevi(SamuelBelk) 2•MordkoGebirtig(SamuelBelk) 3 •MoisheLeiser(SamuelBelk) 4 •MollyPicon(SamuelBelk) 5 •MoisheBroderzon(SamuelBelk) 7 •ChaimNachmanBialik(SamuelBelk) 8 •DavidEdelstadt(SamuelBelk) 9 •MosheShniur(SamuelBelk) 10 •MarkWarshavsky(SamuelBelk) 11 •ManfredLemm(SamuelBelk) 12 •I.L.Peretz(SamuelBelk) 13

ÍNDICE

Page 42: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

42

•Jacinta(SamuelBelk) 14 •QueridaRainha(SamuelBelk) 15 •OpogromdeKishinev(SamuelBelk) 16 •AscançõesdoGueto(SamuelBelk) 17 •Umacriançajudia(SamuelBelk) 20 •AbrahamReisen(SamuelBelk) 21 •Sobreaforçadeumpoeta(DagmarGutmann) 21 •ItzikManger(SamuelBelk) 22 •Oalegrealfaiate(SamuelBelk) 24 •SoreeRifke(SamuelBelk) 25 •AHistóriaJudaicaretratadanaCançãoPopular(SamuelBelk)26 •Umapanorâmicadacançãoídiche(AbrahãoGitelman) 31 •Omundomusicaljudaico(SamuelBelk) 31 •Omeninoderua[deMordkoGebirtig](SamuelBelk) 33 •Omundomusicaljudaico-ACançãodoCantonista(SamuelBelk) 39 •Acançãoìdiche:umaretrospectiva(AbrahãoGitelman) 44 •Umlivroeduasabordagens(AbrahãoGitelman) 45

Partidos Socialistas Judeus •CemanosdafundaçãodoBund(NachmanFalbel) 6 •CentenáriodoBund(AbrahãoGitelman) 8 •UmaescolaídichenaSãoPaulodetrinta(AbrahãoGitelman) 17 Ecos do Progressismo: História e memória da Esquerda Judaica nos anos 30 e 40 24 (Michel German) •Osclubesdos“JudeusComunistas”deSãoPaulo(LuizIsraelFebrot) 28 •CisõesedissidênciasentreosjudeusprogressistasdeSãoPaulo(LuizIsraelFebrot) 30 •“Gueiler”,“griner”ealguns“roiter”(DavidLindenbaum) 30

Personalidades •PorqueCarpeauxescolheuoBrasil(PauloValadares) 20 •EntrevistacomAlbertoDines(AbrahãoGitelman) 26 •Evocandoamemóriadeumadmirávelserhumano[EmanuelTalmor] 26 (Nachman Falbel) •Meupai:IsaiasGolgher,oJudeu(RomainRollandGolgher) 28 •Léxicodosativistassociaisdacoletividade,deautoriadeHenriqueIusim 7 (Nachman Falbel) •HenriqueIusim(RuthIusim) 10 •StefanZweigeaMenorá(AbrahãoGitelman) 24 •MosesRabinovitch-Umtiposingular 28 (Henrique Samet e Nachman Falbel) •InMemoriamdeBennoMilnitzky(NachmanFalbel) 29 •BórisSchnaiderman-Otradutordaculturarussaentrenós(RobertoComodo) 31 •SobreFelíciaLeirner(GiseldaLeirner) 32 •AscartasdoDr.PiotrNapoleonCzerniewicz(BellaHerson)32 •OkadishtardioparaoEmbaixadorSouzaDantas(PauloValadares) 32 •VisitaaoHomemquemoranumabiblioteca(PauloValadares) 35 •DavidJoséPerez,umabiografiadeNachmanFalbel(AvrahamMilgram) 35 •EliasLipiner-inmemoriam(InácioSteinhardt) 37 •CentenáriodeArnoldoFelmanas-UmPioneiropelosdireitosdosnaturalizados 37 (Lea Vinocur Freitag) •OndeandaráoHomem-Montanha? 37 •GiorgioMortaraeaDemografiaBrasileira(AnaRosaCampagnano) 39 •InMemoriamdaHistoriadoraFriedaWolff(1911-2008)(Prof.NachmanFalbel) 40 •MemóriadeTatianaBelinky,umacontadoradehistórias(SimoneRosenthal) 40 •KarlLieblich-Judeu,Jurista,Jornalista,Pensador,HomemdeNegócioseExilado 41 (Eva Lieblich Fernandes) •JoséE.Mindlin(1914-2010) 42

ÍNDICE

Page 43: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

43

ÍNDICE

•DavidBankier(1947-2010)-pedraangulardapesquisaacadêmicasobreaShoá 43 (Miriam Bettina P. Oelsner) •DeVilaFloraJerusalém,ajornadadogeneralDavidShaltiel,primeiroembaixador 43 de Israel no Brasil (Paulo Valadares) •HellaMoritz(marçode1929-novembrode2010)(FábiaTerniLeipziger) 44 •Prof.OttoRichardGottlieb(1920-2011)(Prof.NicolaPetragnani) 45 •Preocupando-secomosdestinosdomundo- 45 Prof. Henrique Rattner (Guilherme Ary Plonsky) •EliahuChut(1933-2011),Empesário,EsportistaeJornalista(PauloValadares) 45

Pesquisa Bibliográfica •PesquisabibliográficaemJudaísmonoâmbitodabiblioteca(NoemiaLernerCutin) 25 Reminiscências Pessoais e Familiares - Duas historinhas românticas 8 (Abrahão Gitelman) •Viagemaosoldameia-noite,sobastrevasdonazismo(AbrahãoGitelman) 11 •Ideologias,máquinaseotempo(OscarKuzniec) 13 •ApedagogiadoCri-Cri[lembrançasdaprofa.AnitaSpeyer](MaríliaFreidenson) 15 •Estudar,estudareestudar(OscarKuzniec) 15 •OsanosdaSibéria(OscarKuzniec) 17 •“Avó:temduas?”(FannyAbramovitch) 30 •Meutipoinesquecível(RosaMotta) 34 •Sonia,ADoceCelina(LéaVinocurFreitag) 41 •Etale,aúltimaimigrante(IsraelBlajberg) 41 •HistóriaseLendasdoBarJacobnoBomRetiro(IldaKleiman) 41 •Bessarábia(TatianaSerebrenic) 43

Sefaraditas •Sefarad-umenfoquemarginal(MaríliaFreidenson) 18 •RabinoJacobMazaltov)(ClaraKochen) 36 •Maimônides,oSábioJudeu(LéaVinocurFreitag) 45

Page 44: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

44ÍNDICE

Sinagogas •Sinagoga:oraçãoeação(EvaAltermanBlay) 26 •SãoPaulo:doismomentosdaarquiteturasinagogaldacidade(AnatFalbel) 27 •“ComocantaríamosocantodoSenhornumaterraestrangeira?”35e37 [partes I e II) (Anat Falbel) •SinagogasemPernambuco(JoséAlexandreRibenboimeJacquesRibenboim) 37

Sionismo •Cemanosdeesperança(NachmanFalbel) 7 •50anosdaPartilhadaPalestina(NachmanFalbel) 8 •Repensandoomovimentojuvenil(OscarZimmermann) 27 •AIdeologiaeseusdescontentes(OscarZimmermann) 28 •MischakIeladim(Resenhadolivro“OdeMemórias” 29 de Nachum Mendel (Avraham Milgram) •ReminiscênciasdomovimentosionistadeSãoPaulo(FiszelCzeresnia) 30 •Umlivro,umdebateeumaconferênciasobreoMovimentoJuvenil 34 (Oscar Zimmermann) •OMovimentoJuvenilChalutzianoeoKibutz(HenryNear) 34

Teatro Ídiche •Osonhoacabou?(BorisCipkus) 14 •OteatroídicheemSãoPaulo:Os“círculosdramáticos”dosamadores 30 (Nachman Falbel) •AtrupedosCipkus-LembrançasdoteatroídicheemSãoPaulo(BorisCipkus) 30 •Osonhoacabou(BorisCipkusCipis) 32 •Kadishparaumaculturaextinta(SaulKirschbaum) 43

Yivo •OYIVO(InstituteforJewishResearch) 14 •OYIVO,oinício(1925-1941)(AbrahãoGitelman) 21 •Velhaslápidescontamhistórias(AbrahãoGitelman) 21

Page 45: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

45

PESQuISADORES DE AGOSTO DE 2011 A mARçO 2012Ana cristina da SilvaPesquisa particularBernardo Kucinski Professor USP Bernardo LererJornalista/ Revista Hebraica Bruno Leal Pastor de carvalhoJornalista e Historiador/ UFRJ carlos PerezPesquisa particular cesar BenevidesProfº doutor/ UEMSdaniel douek Mestrando do Centro de Estudos Judaicos FFLCH-USPdaniel Haim mizrahiProfessor/ Yavnedonato ribeiroDivisão de arquivos e museus de São José dos Camposedith gross HojdaDoutora em sociologia / FFLCH-USPeduardo Verderame Artista plástico/ Oficina Oswald de Andradeeliane Herrera Bordalo Historiadora/ Centro Cultural Jerusalém elza de Fátima garibaldi Mestranda Letras PUC/SPgrazielly A. PereiraGraduanda de História/ Faculdade Anhan-guera São Caetano do Sulguilherme rocha da cruz Pesquisa particular Helena ragusaMestranda/ Universidade Estadual de Londrina israel BlajbergProfessor/ UFFivy Sene costaPós-graduanda Lato Sensu/ FGV-SPJeffrey LesserProfº doutor/ Emory University, EUA Joice de Souza SantosHistoriadora/ Revista de História da Biblioteca NacionalJonathan chagas gonzáles JrDoutorando/ Universidade do Estado do Amazonas Jonny NaimanSociólogo/ Memorial ArteJosé carlos de campos Pesquisa particularLiane gotlib ZaidlerSinagoga Knesset IsraelLivia dios Vaz Auxiliar de Biblioteca/ Docs & Bytes Alexandria On-Line Lucia chermontMestre em História/ Arquivo Histórico Judaico BrasileiroLuciana mirkiewicz de SouzaProdutora cultural e atriz, BQ TeatroLuiz marcio Beterro ScansaniPublicitário/ Editora Linotipo Digital

Luise WeissProfª doutora de artes/ UNICAMP maria de Fatima de NobregaPrograma Mosaico na TV maria Luiza Tucci carneiroProfª doutora de História/ USPmario rogério Sevílio de oliveiraMúsico/ UNIBESmartine Bimbaum Antropóloga/ Centro da Cultura judaicamauricio ianêsArtista plástico/ Centro da Cultura Judaicamichel Todel gorskyArquiteto/ pesquisa particularmonica médici Historiadora/ Twins Bushattskyofra grinfederArtista plástica Paulo Valadaresmestre em História/ diretor Arquivo Histórico Judaico Brasileiro rachel mizrahidoutora em História/ Centro de Documen-tação da Sinagoga Rua da Graçaricardo Besen Jornalista/ CONIB ricardo cássio PatzerMestrando/ Unisinos - RS roberto BedrikowPesquisa particular roney cytrynowiczdoutor em História/ diretor Arquivo Histórico Judaico BrasileiroSálvio roberto da Silva Filho Graduando em História/ UnicasteloSara SchulmanInstituto Cultural Israelita Brasileiro Bernardo Schulman Sarita mucinic SarueMestre Centro de estudos Judaicos / Memo-rial da Sinagoga da Rua da GraçaSônia goussinsky Doutoranda do Centro de Estudos Judaicos FFLCH-USPTatiana Sampaio FerrazBase 7 Projetos CulturaisVladimir SacchetaSaccheta & Associados Pesquisa Histórica e Produção CulturalWalter Faustino dos SantosPesquisa particularWilson roberto rodrigues da SilvaFotógrafo/ Oficina Oswald de AndradeABrÃo JoSÉ KAHNDiscos em idicheABrAHÃo giTeLmANLivros em ídiche ALice e erNeSTo SimoNLivros, folhetosALiciA rAQueL c. SALAmAPeriódicos, textos e material didáticoArQuiVo muNiciPAL de SÃo JoSÉ doS cAm-

PESQUISADORES

Page 46: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

46

doAÇÕeS receBidAS de AgoSTo de 2011 a 2012

PoS – Fundação cultural cassiano ricardoLivros e Periódicos da instituiçãoArTHur NeSTroViSKiLivrosASSociAÇÃo doS AmigoS do mu-Seu JudAico de SÃo PAuLoLivrosBeLA reBecA HerTZLivro “A herança judaica na vida e obra de Vi-ktor Emil Frankl” de Bela rebeca HertzBeLLA HerSoNLivros de sua autoriaceNTro cuLTurAL mordecHAi ANiLeVicHTLivro: A saga de uma família de Clara WertmanBiBLioTecA NAcioNALLivros e periódicosceNTro educAÇÃo reLigioSA JudAicA – coLÉgio iAVNeFitas VHSceSAr BeNeVideSLivros de sua autoriaciLKA THALeNBergPentateuco em alemão gótico e hebraicocLAriSSA FederPeriódico: Tribuna JudaicacLeide LArgmAN BoroViKPeriódicos judaicosdANieL BorgerBiblioteca particular de Hans BorgerdANieLA WeiiL de STrANSKY05 caixas de documentos e fotos de sua famíliadAVid ZiSKiNdLivros e periódicoseLiSABeTH FerNANdeS/ SerVi-Ço de ediTorAÇÃo FFLcH/uSPLivroseNiA riVA rAPoPorTMoldura com a Declaração de Independência de IsraeleSTeLA SAHmLivro: Bérgson e Proust sobre a representa-ção da passagem do tempo de Estela SahmFederAÇÃo iSrAeLiTA do eSTAdo de SÃo PAuLo – FiSeSPDocumentos e fotos institucionaisFeLiciA SPiTZcoVSKYDocumentos e imagens digitais da Sra. Chlava Hish GawendoiLdA KLAJmANLivrosJANgiJS ScHouTeN / cônsul ge-ral do reino dos Países BaixosLivros: O Brasil Holandês – a família Nassau, moedas e me-dalhas de Alfredo O. G. Gallas e Fernanda Disperati GallasJAYme PeNFotos e documentos de familiaresLeÃo gLeZer SoBriNHoFotocópias de documentos de Pessach Gle-zer, Sima Zilberaite e Malka Glezer

LuciA cHermoNTDissertação de mestrado em História: Memória e experiência de judeus de Higienópolis e arredores, São Paulo (1960-1970) de Lucia Chermont mArco guerTZeNSTeiNDiplomas Bernardo Guertzenstein, certificado de mem-bro, decreto para nome de rua, fotografia de pro-grama de TV sobre Laboratório e farmáciamArcoS cHuSYdLivros, periódicos, portes e VHS mAriLiA FreideNSoNLivro: Os doze Pontos de Berlin, e a história da trans-formação de um relacionamento de Gisa FonsecamicHAeL LeiPZiNgerLivrosmicHeL gorSKYFotos e documentos de Rebeca GorskymoNiQue SocHAcZeWSKi goLdFeLdLivrosmYriAm cHANSKYLivros, periódicos e DVDsPAuLiNA FAigueNBoimLibretos de programas musicais da comunidade judaica PAuLo VALAdAreSCópia do boletim de Sophie Furman do Col-legio Israelita de Quatro Irmãos, 1929rAcHeLLe ZWeig doLiNgerMaterial reunido e produzido para os livros Mulhe-res de valor e Homens de valor de Rachelle DolingerreNÉe WexLerLivros, periódicos, fotos e folhetosreVecA BiTeLmANDocumentos de Michel BitelmanriVA BALABAN SiSTerDiscos em idicheroNeY cYTrYNoWicZLivros da Editora Narrativa UmSArA ScHuLmANLivro: O Teatro na vida da coletividade judaica curiti-bana – preservando a memória de Sara SchulmanSAriNA roemerPeriódicos e textos sobre os judeus no Egito SimÃo PriSZKuLNiKPeriódicosSueLi PFermANRevista ShalomSueLi SHoSHodoLSKYDiscos em idicheVALdireNe FerreirA gomeSFitas cassetes de músicas em hebrai-co, pertenceram a Lazar Deutsch

DOAÇÕES

Page 47: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

47

Adriane de oliveiraCentro da Cultura Judaica

Bernardo Lerer Hospital Albert Einstein/ Revista Hebraica

Benjamin SeroussiCentro da Cultura Judaica

cezar BenevidesUEMS

donato donizete dos Santos ribeiro Fundação Cultural Cassiano Ricardo/ Arquivo Público do Município de São José dos Campos

israel BlajbergPesquisa particular

Joice de Souza SantosRevista de História da Biblioteca Nacional

Jonathan chagas gonzáles JrMestrado Universidade do Estado do Amazonas

ImAGENS VENDIDAS Ou CEDIDAS

Jonny Naiman Memorial Arte

José roitbergRevista Menorah

Liane gotlib Zaidler Sinagoga Knesset Israel

Lucia chermontArquivo Histórico Judaico Brasileiro

michel Todel gorskiPesquisa particular

ricardo BesenCONIB

roney cytrynowicz UNIBES e Chevra Cadisha

Vladimir Sachetta Saccheta & Associados

O ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO BRASILEIRO É UMA ENTIDADE DE UTILIDADE PÚBLICA DA COLETIVIDADE

Colabore doando fotos, livros, jornais, documentos pessoais (passaportes, certidões) e para a preservação da memória judaica no Brasil

eNdereÇo:Rua Estela Sezefreda, 76 - PinheirosTel: 3088-0879 e 2157-4124 www.ahjb.com.br

Estacionamento conveniado: Park Land, Rua Mateus Grou, 109 (a 50 metros do Arquivo)

TORNE-SE

SÓCIO DO

ARQUIVO

Page 48: Janusz Korczak e a Shoá - A vida de um educador AHJB_n-¦46_final baixa.pdf · do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia. editoriaL

48

APOIO:

FoToTecA: AHJB