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Ano II - Nº 4 Janeiro 2004 Suplemento Cultural do Jornal Correio Brigadiano Alceu Wamosy Alferes brigadiano e poeta chimango Ó tu, que vens de longe... Oh, tu que vens cansada, Entra, sob este teto encontrarás abrigo. Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho Vives sozinha sempre, e nunca foste amada! A neve anda a branquar lividamente a estrada. E a minha alcova tem a tepidez de um ninho. Entra. Ao menos até que as curvas do caminho se banhem no esplendor nascente da alvorada... E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa, essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua, podes partir de novo, ó nômade formosa. Já não serei tão só; nem serás tão sozinha! Há de ficar comigo uma saudade tua... Hás de levar contigo uma saudade minha!... Cláudio Medeiros Bayerle Cláudio Medeiros Bayerle Cláudio Medeiros Bayerle Cláudio Medeiros Bayerle Cláudio Medeiros Bayerle Alceu de Freitas Wamosy, bisneto de imi- grantes húngaros, nasceu em 14 de fevereiro de 1895, em Uruguaiana, falecendo em 13 de setembro de 1923, em Sant’Ana do Livramen- to. Filho de José Affonso Wamosy, (ex-telegra- fista, jornalista,˚ advogado e promotor de Justi- ça) e de Maria de Freitas Wamosy. ˚ ˚ ˚ ˚ ˚ ˚ ˚ ˚ Desde tenra idade Wamosy já se dedica- va à leitura, sobretudo poesia, sendo que aos 12 anos já declamava o poema De Sol a Sol, de sua autoria. Aos 16 anos, míope, asmático, franzino e muito pálido assumiu a direção do jornal A Cidade, fundado por seu pai, no Ale- grete, quando, então, começou a publicar suas poesias. Em 1913, aos 18 anos, ele lançou seu primeiro volume de poesias, Flâmulas. Já em 1914, publicou seu trabalho seguinte Na Terra Virgem, granjeando louvores da crítica brasi- leira. Foi assim que, em 1915, conquistou no- toriedade nacional, com o soneto Duas Almas, muito embora tenha sido em˚ Coroa de Sonho (1923), que Wamosy consolidou seu destaque na literatura brasileiras. Não obstante, escre- via para diversos periódicos, tais como: A Notí- cia, A Federação, O Diário, além da revista A Máscara. Simbolista, ele era filiado à corrente decadentista dos poetas franceses cujo princi- pal representante foi Jules Laforgue. Também recebeu influência direta da poesia de Cruz e Sousa, além de Redenbach, Samain, Rimbaud e até mesmo de Mallarmé. Mas Wamosy também foi um prosador nato, vez que teve vários contos dispersos por jornais e revistas da época, muito embora, como era seu desejo, não os tenha reunido em livro, o qual seria intitulado 0 Jardim das Estátuas Tris- tes, título de um belíssimo conto que ainda hoje cativa os leitores. Por ser chimango, combateu severamente os maragatos, resultando que, em fevereiro de 1923, deixou a tribuna para pegar em armas contra os inimigos no campo de batalha, na con- dição de alferes-secretário da Coluna Oeste do 1º Corpo Provisório da Brigada Militar. E mesmo que não precisasse se expor aos riscos da batalha na linha de frente da ação mi- litar; esta não era a posição em que ele preferia lutar, tendo desempenhado com valentia e des- treza a sua missão, apesar de sua compleição física. Com efeito, aquele rapaz franzino que ou- trora havia demonstrado ser um atirador medí- ocre em um curso de tiro ao alvo e, doutra feita, insurgira-se contra a brutalidade de uma toura- da, era, por ora, um combatente valoroso em˚ meio ao fumo das batalhas e à odiosa prática das degolas de prisioneiros. Ferido logo de início, pela violenta carga da cavalaria de Honório Lemes, o legendário Leão do Caverá, na escaramuça fratricida co- nhecida como o combate de Poncho Verde, que ensangüentou os campos de Dom Pedrito, Wa- mosy foi poupado da degola por seus inimigos e recolhido ao hospital da Cruz Vermelha, insta- lado em Livramento, morrendo dez dias depois do confronto, em conseqüência dos ferimentos, após um violento colapso cardíaco. Há regis- tros de que o próprio Honório Lemos determi- nou que fosse prestado socorro ao ferido, o que revela a grande estima de que desfrutava Wa- mosy como poeta e homem de letras, o que estava acima das paixões políticas daquele con- fronto fratricida. Antes, porém, no dia 8 de abril, pressen- tindo o fim próximo, casou-se in extremis com a jovem Maria Bellaguarda no próprio hospital onde estava baixado. O ato último da Revolução de 1923 foi a assinatura do Pacto de Pedras Altas, em 15 de dezembro, pacificando o Rio Grande. O gover- no do Estado concedeu a Maria Bellaguarda Wamosy uma pensão vitalícia pelo marido "mor- to em defesa da ordem e das leis". Destarte, Alceu Wamosy passou a viver na lembrança dos familiares e amigos, bem como no coração de uma fiel legião de leitores apai- xonados pela melancolia dos seus versos. Tal qual asseverou Rodrigues Till, (pesquisador e autor de vários livros sobre Wamosy), ele "so- nhou como poeta, viveu como homem e mor- reu como herói". Ao ensejo do 80º aniversário da morte de Alceu Wamosy, transcorrido em 2003, prestamos esta justa homenagem ao patrono dos poetas brigadianos, publicando al- guns de seus mais belos poemas em nossa Suplemento Cultural. ------------------------------------------------------ (1) Sargento PM, Ativista Cultural, tesoureiro da Apesp e sócio-fundador da Casa do Poeta, do Escritor e do Artista Brigadiano ˚Principais Atividades e Obras: 1909/1915 - Colaborador do jornal A Cidade; 1913 - Publicação de Flâmulas, primeiro livro de poesia 1915/1917 - Colaborador dos jornais A Notícia, A Federação, O Diário e da revista A Máscara 1917/1923 – Torna-se proprietário do jornal O Republicano, apoiando o Partido Republicano 1923 - Engajamento na Revolução Maragata, como Alferes do 1º Corpo Provisório da Brigada Militar. Participa dos combates em Santa Maria Chica, Ponte do Rio Ibirapuitã e Ponche Verde˚ 1923 – Casa-se "in extremis" com Maria Bellaguarda ˚ Duas Almas Alceu Wamosy Alceu Wamosy Alceu Wamosy Alceu Wamosy Alceu Wamosy Homenagens Post-Mortem: 1920 - Patrono da cadeira nº 1 da Academia Sul Rio-Grandense de Letras 1925 - Publicação do livro Poesias Completas 1967 - Patrono da 13ª Feira do Livro de Porto Alegre 1994 - Publicação do livro Poesia Completa 1995 - Exposição de seu acervo na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul Tu pensarás em mim, por esta noite imensa e erma, em que tudo é um frio e um silêncio profundo? Tu pensarás em mim? Por esta noite, enfermo, tendo os olhos em febre e a voz cheia de sustos, eu penso em ti, no teu amor e na promessa muda que o teu olhar me fez e que eu espero. (Que dor de não saber se tu pensas em mim!) Sob a tenda da noite estrelada de outono, que eu contemplo através dos cristais da janela, junto ao manso tepor da lâmpada que escuta – antiga confidente – os meus sonhos e as minhas vigílias de tormento, eu penso em ti, divina. (E tu talvez nem te recordes deste ausente!) Penso em ti. Penso e evoco o teu vulto adorado. Penso nas tuas mãos – um lis de cinco pétalas – que, em vez de sangue, têm luar dentro das veias; nos teus olhos, que são Noturnos de Chopin agonizando à luz de uma tarde de sonho, na tua voz, que lembra um beijo que se esfolha. Penso. (E nem sei se tu também pensas em mim!) Talvez não. No tranqüilo altar da tua alcova, onde se extingue a luz de um velho candelabro como uma lâmpada votiva, tu adormeces sorrindo ao Anjo fiel que as tuas pálpebras fecha para que tu não tenhas sonhos maus. E eu penso em ti, sem sono, a sós, angustiado e febril, em ti, que nem eu sei se te lembras de mim ... Noturno Alceu Wamosy Alceu Wamosy Alceu Wamosy Alceu Wamosy Alceu Wamosy (1)

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Caderno cultural da Apesp de nº4

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JCB CulturaPág 4 - Janeiro 2004 Ano II - Nº 4

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Ano II - Nº 4 Janeiro 2004Suplemento Cultural do Jornal Correio Brigadiano

A terra bravianunca teve limites.

Nem oceanos, nem montanhasImpediram a busca de encontrar

o ponto da união entre céu e terra.Cada passo dado

mostrava sempre umÊ lugar novoabrindo interrogações...

Instigando descobertas...Ê

O arame– invenção dos homens –

trouxe limites.Prendeu a liberdade

dos potros,do gado e dos gaudériosque fizeram estradas e querências,

quando a sombra,as aguadas e o pasto eram atrativos

– forte laço, aquerenciador.Ê

O aramenão era um simples fio deÊmetal atirado ao campo.

Tinha ciência, o alambrado!O alambrador plantou,

a olho e régua,cernes para moirões

e mestres de porteiras.As tramas,

trastos, para o semitonadoÊÊÊ talareio das canções do vento

ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ ÊÊÊ no braço longo da sesmaria-viola,que talhava camposÊ

no limite incerto de poder e glória.O mestre alambrador

embriagado pela melodia...feliz pelo feitio daquele instrumento,

ÊÊÊ orgulhoso ria.. por uma divisa...que havia feito sem saber porque.

ÊO arame

– instrumento da mais-valia –instituiu donos à terraÊ e aos animais,

permitiu que o homemimpedisse a escolha natural,

apartando harénspara touros e baguais.

ÊO arame

limitou estâncias e invernadasque mermaram no tempo.

Hoje, eletrificado,limita potreiros

e, para proteger,em terrenos urbanos

– à guiza de liberdade –mantém os próprios donos

embretados na propriedade.Ê

O aramesó não segura o ideal,

que por roceiro,ÊÊÊ não tem pescoço ou corpo...

É só cabeça!Não se lhe assenta cangalha,

não é apegado à terra,anda no ar...

Propaga-se no ar...Ê

Existem prisões e limites sem aramado...Mas, ideais...

Não têm limites,nem arame que os prenda!

“Um brigadiano é aquele que luta pela sua estrela pessoale por isso ele é tão grande e admirado...Dotado de uma espada de ouro que reluz

aos olhos daqueles que enxergam com a alma...Este guerreiro eterno defende seu coração

e luta por suas causas sem fim.E ainda que as causas estejam perdidas,este é um soldado eternamente valente.

Então, a sociedade tem a chance de admirarum soldado de ferro que nunca se rende,

pois sempre surge uma força anímicaque vinga de seu coração alado.

Ele vai brandindo sua espada de puro ouroe entrincheirado com a força de sua alma

se faz herói das estrelas...Todo brigadiano é um guerreiro...

Um justiceiro eterno...Um homem que abdicou de suas imensas asaspara trilhar um caminho de luz, proteção, justiça

e honra a qualquer custo!É tão magnífico o coro que as galáxias cantam

quando nasce um brigadiano.E quando ele impõe a sua espada,anjos se tornam homens imortais!

É por isso que a Brigada Militaré tão amada e única em todo o universo!”

------------------------------------------------------------------------(1) Extraído da dedicatória feita pela autora, ao Jornal Correio Brigadiano, quando do lançamento de seu livro Universo em Você,

Editora Imprensa Livre, Porto Alegre, 2003.

(2) Publicitária e escritora, natural de Porto Alegre, onde reside. E-mail: [email protected].

O ArameUbirajara AnchietaUbirajara AnchietaUbirajara AnchietaUbirajara AnchietaUbirajara Anchieta

------------------------------------------------------------------------(1) Poema premiado na Carreteada da Poesia de Santa Maria (RS).

(2) Poeta e escritor, Coronel da Reserva da BM, Presidente da Casa do Poeta de Santa Maria.

O Coração da BrigadaVivian A. WeyrichVivian A. WeyrichVivian A. WeyrichVivian A. WeyrichVivian A. Weyrich

-----------------------------------------------------------------------(1) Poeta e escritor, Major da BM servindo no Departamento Administrativo em Porto Alegre, colunista

do Jornal Correio Brigadiano e presidente da Apesp

Noites de SetembroPércio Brasil ÁlvaresPércio Brasil ÁlvaresPércio Brasil ÁlvaresPércio Brasil ÁlvaresPércio Brasil Álvares

No princípio era,A Lua,Uma foice de prataCeifando o ventre da escuridão. Depois tornou-se um queijo partido,Devorado por metade,Entre cálices de vinho:Obra de vorazes bêbados notívagos. Após, virou uma medalha cunhada em relevo,Em contraste, ao fundo, com um céu de chumbo.Espalhava brilho às formas na penumbra,Deixando ver, dissimulada, uma silhueta de cigana. Por fim, tornou-se um côncavo,Prosaicamente pendurado ao firmamentoEntre nuvens de flocos de cinzasCompletando a melancolia dessas noites vazias...

Alceu WamosyAlferes brigadiano e poeta chimango

Ó tu, que vens de longe... Oh, tu que vens cansada,Entra, sob este teto encontrarás abrigo.Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinhoVives sozinha sempre, e nunca foste amada!

A neve anda a branquar lividamente a estrada.E a minha alcova tem a tepidez de um ninho.Entra. Ao menos até que as curvas do caminhose banhem no esplendor nascente da alvorada...

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,podes partir de novo, ó nômade formosa.

Já não serei tão só; nem serás tão sozinha!Há de ficar comigo uma saudade tua...Hás de levar contigo uma saudade minha!...

Cláudio Medeiros BayerleCláudio Medeiros BayerleCláudio Medeiros BayerleCláudio Medeiros BayerleCláudio Medeiros Bayerle

Alceu de Freitas Wamosy, bisneto de imi-grantes húngaros, nasceu em 14 de fevereirode 1895, em Uruguaiana, falecendo em 13 desetembro de 1923, em Sant’Ana do Livramen-to. Filho de José Affonso Wamosy, (ex-telegra-fista, jornalista,Ê advogado e promotor de Justi-ça) e de Maria de Freitas Wamosy.

ÊÊÊÊÊÊÊÊ Desde tenra idade Wamosy já se dedica-va à leitura, sobretudo poesia, sendo que aos12 anos já declamava o poema De Sol a Sol,de sua autoria. Aos 16 anos, míope, asmático,franzino e muito pálido assumiu a direção dojornal A Cidade, fundado por seu pai, no Ale-grete, quando, então, começou a publicar suaspoesias. Em 1913, aos 18 anos, ele lançou seuprimeiro volume de poesias, Flâmulas. Já em1914, publicou seu trabalho seguinte Na TerraVirgem, granjeando louvores da crítica brasi-leira. Foi assim que, em 1915, conquistou no-toriedade nacional, com o soneto Duas Almas,muito embora tenha sido emÊ Coroa de Sonho(1923), que Wamosy consolidou seu destaquena literatura brasileiras. Não obstante, escre-via para diversos periódicos, tais como: A Notí-

cia, A Federação, O Diário, além da revista AMáscara. Simbolista, ele era filiado à correntedecadentista dos poetas franceses cujo princi-pal representante foi Jules Laforgue. Tambémrecebeu influência direta da poesia de Cruz eSousa, além de Redenbach, Samain, Rimbaude até mesmo de Mallarmé.

Mas Wamosy também foi um prosadornato, vez que teve vários contos dispersos porjornais e revistas da época, muito embora, comoera seu desejo, não os tenha reunido em livro, oqual seria intitulado 0 Jardim das Estátuas Tris-tes, título de um belíssimo conto que ainda hojecativa os leitores.

Por ser chimango, combateu severamenteos maragatos, resultando que, em fevereiro de1923, deixou a tribuna para pegar em armascontra os inimigos no campo de batalha, na con-dição de alferes-secretário da Coluna Oeste do1º Corpo Provisório da Brigada Militar.

E mesmo que não precisasse se expor aosriscos da batalha na linha de frente da ação mi-litar; esta não era a posição em que ele preferialutar, tendo desempenhado com valentia e des-treza a sua missão, apesar de sua compleiçãofísica.

Com efeito, aquele rapaz franzino que ou-trora havia demonstrado ser um atirador medí-ocre em um curso de tiro ao alvo e, doutra feita,insurgira-se contra a brutalidade de uma toura-da, era, por ora, um combatente valoroso emÊmeio ao fumo das batalhas e à odiosa práticadas degolas de prisioneiros.

Ferido logo de início, pela violenta cargada cavalaria de Honório Lemes, o legendárioLeão do Caverá, na escaramuça fratricida co-nhecida como o combate de Poncho Verde, queensangüentou os campos de Dom Pedrito, Wa-mosy foi poupado da degola por seus inimigose recolhido ao hospital da Cruz Vermelha, insta-

lado em Livramento, morrendo dez dias depoisdo confronto, em conseqüência dos ferimentos,após um violento colapso cardíaco. Há regis-tros de que o próprio Honório Lemos determi-nou que fosse prestado socorro ao ferido, o querevela a grande estima de que desfrutava Wa-mosy como poeta e homem de letras, o queestava acima das paixões políticas daquele con-fronto fratricida.

Antes, porém, no dia 8 de abril, pressen-tindo o fim próximo, casou-se in extremis com ajovem Maria Bellaguarda no próprio hospitalonde estava baixado.

O ato último da Revolução de 1923 foi aassinatura do Pacto de Pedras Altas, em 15 dedezembro, pacificando o Rio Grande. O gover-no do Estado concedeu a Maria BellaguardaWamosy uma pensão vitalícia pelo marido "mor-to em defesa da ordem e das leis".

Destarte, Alceu Wamosy passou a viver nalembrança dos familiares e amigos, bem comono coração de uma fiel legião de leitores apai-xonados pela melancolia dos seus versos. Talqual asseverou Rodrigues Till, (pesquisador eautor de vários livros sobre Wamosy), ele "so-nhou como poeta, viveu como homem e mor-reu como herói". Ao ensejo do 80º aniversárioda morte de Alceu Wamosy, transcorrido em2003, prestamos esta justa homenagem aopatrono dos poetas brigadianos, publicando al-guns de seus mais belos poemas em nossaSuplemento Cultural.

------------------------------------------------------(1) Sargento PM, Ativista Cultural, tesoureiro

da Apesp e sócio-fundador da Casa do Poeta, doEscritor e do Artista Brigadiano

ÊPrincipais Atividades e Obras:1909/1915 - Colaborador do jornal A Cidade;1913 - Publicação de Flâmulas, primeiro livro de poesia1915/1917 - Colaborador dos jornais A Notícia, A Federação, O Diário e da revista A Máscara1917/1923 – Torna-se proprietário do jornal O Republicano, apoiando o Partido Republicano1923 - Engajamento na Revolução Maragata, como Alferes do 1º Corpo Provisório da Brigada

Militar. Participa dos combates em Santa Maria Chica, Ponte do Rio Ibirapuitã e Ponche VerdeÊ1923 – Casa-se "in extremis" com Maria BellaguardaÊ

Duas AlmasAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu Wamosy

Homenagens Post-Mortem:1920 - Patrono da cadeira nº 1 da Academia Sul Rio-Grandense de Letras1925 - Publicação do livro Poesias Completas1967 - Patrono da 13ª Feira do Livro de Porto Alegre1994 - Publicação do livro Poesia Completa1995 - Exposição de seu acervo na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul

Tu pensarás em mim, por esta noite imensae erma, em que tudo é um frio e um silêncio profundo?

Tu pensarás em mim?Por esta noite, enfermo, tendo os olhos em febre e a voz

cheia de sustos, eu penso em ti, no teu amor e na promessamuda que o teu olhar me fez e que eu espero.

(Que dor de não saber se tu pensas em mim!)

Sob a tenda da noite estrelada de outono,que eu contemplo através dos cristais da janela,

junto ao manso tepor da lâmpada que escuta– antiga confidente – os meus sonhos e as minhas

vigílias de tormento, eu penso em ti, divina.

(E tu talvez nem te recordes deste ausente!)

Penso em ti. Penso e evoco o teu vulto adorado.Penso nas tuas mãos – um lis de cinco pétalas –que, em vez de sangue, têm luar dentro das veias;

nos teus olhos, que são Noturnos de Chopinagonizando à luz de uma tarde de sonho,

na tua voz, que lembra um beijo que se esfolha.Penso.

(E nem sei se tu também pensas em mim!)

Talvez não. No tranqüilo altar da tua alcova,onde se extingue a luz de um velho candelabro

como uma lâmpada votiva, tu adormeces sorrindoao Anjo fiel que as tuas pálpebras fechapara que tu não tenhas sonhos maus.

E eu penso em ti,sem sono, a sós, angustiado e febril,

em ti, que nem eu sei se te lembras de mim ...

NoturnoAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu Wamosy

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Curtas CulturaisCorrespondência

Ê“O suplemento JCB Cultural é uma referência palpável do vigor literário de nossa gente.”ÊÊÊÊÊÊÊÊÊ ÊÊ 2º Ten Ulmerindo S. Pinheiro, Santa Maria.ÊÊ 2º Ten Ulmerindo S. Pinheiro, Santa Maria.ÊÊ 2º Ten Ulmerindo S. Pinheiro, Santa Maria.ÊÊ 2º Ten Ulmerindo S. Pinheiro, Santa Maria.ÊÊ 2º Ten Ulmerindo S. Pinheiro, Santa Maria.

Feira do LivroÊNa Feira do Livro de Porto Alegre ocorreu a sessão de autógrafos do

livro de crônicas Corra que a Brigada vem aí, de autoria do Ten OscarBessi Filho, que serve atualmente no 24º BPM e preside a recém criadaCasa do Poeta do Artista e do Escritor Brigadiano (Poebras-BM). O livrodo Tenente Bessi, é uma crônica bem-humorada do nosso cotidianoprofissional.

Ê

BivaqueÊO Ten Cel Moisés Silveira de Menezes, do IPBM, teve sua poesia Porteira Fechada... Não Se

Vê Ninguém Voltando, classificada em 1º lugar dentre as 12 melhores do 7º Bivaque da PoesiaGaúcha de Campo Bom. O festival, que é promovido pelo CTG M’Bororé contou com 147 poemasinscritos, vindos de todos os recantos do Rio Grande do Sul. O nível de concorrência foi consideradoexcelente pelos organizadores do festival. Todas as poesias foram gravadas em um CD, que visa adivulgação e valorização da poesia gaúcha.

TalentosÊO grande show “Talentos Ostensivos”, apresentado dentro da programação da Semana da

Brigada Militar/2003, no Theatro São Pedro, deu uma amostra da diversidade e da riqueza artísticae cultural dos integrantes da Brigada Militar. Naquela oportunidade foi feita uma justa homenagemà sempre dedicada diretora da Casa,Ê Eva Sopher.

ÊAntologiasÊEm breve, a 1ª Antologia de Contistas Brigadianos e a 1ª Antologia de Poetas da Polícia Civil.

A edição das obras é patrocinada pela Polost/Apesp.

ÊAmigos LeitoresÊMandem seus livros e trabalhos literários (poemas, contos, crônicas, desenhos) para avaliação

da Comissão Editorial, com vista a possível publicação no Suplemento Cultural da Associação Pró-Editoração à Segurança Pública (E-mail: [email protected]).

Editorial

Expediente

Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Verlaine Ulharuso de Vasconcellos

Oscar Bessi FilhoCláudio Medeiros BayerleLuiz Antônio R. Velasques

Pércio Brasil ÁlvaresEditoração Eletrônica: Editoração Eletrônica: Editoração Eletrônica: Editoração Eletrônica: Editoração Eletrônica: Luciamem Winck e Vera Eledina Leivas Pereira

Tiragem:Tiragem:Tiragem:Tiragem:Tiragem: 30 mil exemplaresE-mail:E-mail:E-mail:E-mail:E-mail: [email protected]

Suplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoSuplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoSuplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoSuplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoSuplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoAssociação Pró-Editoração à Segurança Pública (Apesp)Associação Pró-Editoração à Segurança Pública (Apesp)Associação Pró-Editoração à Segurança Pública (Apesp)Associação Pró-Editoração à Segurança Pública (Apesp)Associação Pró-Editoração à Segurança Pública (Apesp)

Casa do Poeta do Artista e do Escritor Brigadiano (Poebras-BM)Casa do Poeta do Artista e do Escritor Brigadiano (Poebras-BM)Casa do Poeta do Artista e do Escritor Brigadiano (Poebras-BM)Casa do Poeta do Artista e do Escritor Brigadiano (Poebras-BM)Casa do Poeta do Artista e do Escritor Brigadiano (Poebras-BM)Ano II, nº 4 - Porto Alegre, Janeiro de 2004

JCB CULTURA

LivrosÊ“Universo em Você – Um pacto sempre“Universo em Você – Um pacto sempre“Universo em Você – Um pacto sempre“Universo em Você – Um pacto sempre“Universo em Você – Um pacto sempre

perfeito”perfeito”perfeito”perfeito”perfeito” - De Vivian Antunes Weyrich, 1ª edi-ção, Imprensa Livre,Porto Alegre, 2003,184 p.

Livro de estréia deuma jovem escritora,natural de Porto Ale-gre, que também é for-mada em Publicidadee Propaganda. Seuslaços afetivos com aBM são fortes e vêm desde a infância, pois éfilha de um ilustre brigadiano, o Cel Milton Weyri-ch, ex-Cmt-Geral. A sensibilidade acentuada éa nota pessoal da autora, que procura desven-dar, às pessoas, o caminho da felicidade que,afinal, está dentro de cada um de nós.

ÊÊ“Troteando Versos” - “Troteando Versos” - “Troteando Versos” - “Troteando Versos” - “Troteando Versos” - De Albeni Carmo de

Oliveira (Beni), 1ª ed. Evangraf, Porto Alegre,1998, 110p.

Esse é o terceirolivro individual de poe-sias gauchescas comque nos brinda esseilustre e autêntico re-presentante do culto àpoesia xucra e às tra-dições do Rio Grandedo Sul.Ê Natural de SãoVicente do Sul e resi-

dindo atualmente em Porto Alegre, Beni é SgtRR da Brigada Militar, além de declamador, le-trista, cantor, pajador e repentista premiado emdiversos concursos.

Iniciamos mais um ano de trabalho e podemos computar, contando com este,o 4º Suplemento Cultural do Correio Brigadiano.

Foi uma jornada de trabalho duro para todos nós brigadianos e, mais ainda,para o grupo de colaboradores do Suplemento que, além dos afazeres habituais desua profissão, ainda reservam um fôlego para trabalhar pelo desenvolvimento cul-tural no nosso meio.

A empreitada demandou esforço e coragem para que se conseguisse fazer donosso veículo cultural uma realidade. Entretanto, tudo que foi realizado até agoraainda não foi devidamente avaliado sendo essa a nossa pretensão para 2004:avaliar a validade e a conveniência da continuidade do Suplemento Cultural.

Será, portanto, bom e oportuno que todos se manifestem, fazendo sua avalia-ção pessoal, para que nos possam ajudar na tarefa de decidirmos o destino dessaatividade cultural, que procura valorizar as criações do espírito entre os nossos.

Por isso não se acanhe. Mande logo sua opinião para o nosso e-mail:Ê[email protected].

Os organizadores agradecem.

É seguramente o romanceÊ históri-co mais importante até hoje escrito noBrasil. Ele teve uma grande receptivi-dade de público e crítica e, como con-seqüência disso, inspirou uma série natelevisão e seusÊ temas serviram debase para muitos filmes. A trama se de-senvolve de 1745, época da destruiçãodas Missões Jesuíticas, até o ano de1945, data da derrubada de GetúlioVargas. Constitui uma trilogia divididanos seguintes volumes: O Continente,O Retrato e O Arquipélago.

Esta obra é a história da famíliaTerra-Cambará e da cidade de SantaFé. ÊÊAtravés de suas diversas facetasvamos acompanhando a evolução doRio Grande do Sul: a conquista do Es-tado; os conflitos com os povos de lín-gua espanhola; as convulsões internas;a evolução cultural e de costumes. Nes-te romance também vemos o debate ea luta das principais correntes ideoló-gicas e a integração dos colonos ale-mães e italianos nas cidades, como co-merciantes ou profissionais especiali-zados.

Um dosÊ personagens mais conhe-

O Tempo e o VentoÊ

Verlaine Ulharuso de VasconcellosVerlaine Ulharuso de VasconcellosVerlaine Ulharuso de VasconcellosVerlaine Ulharuso de VasconcellosVerlaine Ulharuso de Vasconcellos

cidos do grande público é o CapitãoRodrigo Cambará que é um gaúcho comtodas as características e trejeitosÊ quecostumamos associar a essa figura. Ahistória do forasteiro que chega a San-ta Fé e pelo qual Bibiana se apaixona,ocorre no período de 1828 a 1836 e elemorre durante a Revolução Farroupilha.

ÊOutro personagem importante é odoutor Rodrigo Cambará, figura centralde O Retrato e O Arquipélago, bisnetoÊdo Capitão Rodrigo, homem já de hábi-tos urbanos e sofisticado, mas tambéminsaciável em relação às mulheres comosão muitos de seus ascendentes e ir-mão. As mulheres são figuras centraisem todo o enredo e entre elas se desta-cam Ana Terra, Bibiana e Maria Valériaque se caracterizam por terem uma têm-pera firme, mas são condicionadas, pe-los costumes, a servirem os homens eesperá-los durante as guerras e atémesmo após suas farras.

O primeiro volume, O Continente,trata da conquista do Rio Grande do Sul,as lutas com os vizinhos e as revolu-ções internas até a de 1893. Já O Re-trato abrange o período que vai de 1909

a 1915, época em que Pinheiro Macha-do dominou o cenário nacional e no qualos italianos e alemães começam a sairda zona rural e se afirmarem como co-merciantes e empresários. É a épocado surgimento do automóvel, do avião,do cinema e da eletrola.

O Arquipélago está associado àdesintegração da família e se desenvol-ve de 1916 a 1945. Essa Êdesintegra-ção está associada à troca de Santa Fépelo Rio de Janeiro, acompanhandoGetúlio Vargas na Revolução de 30, fa-zendo muitas concessões à moralida-de e passando, os filhos, a sofrereminfluência dos costumes mais liberaisdas grandes cidades levando a filha dodoutor Rodrigo a se desquitar do mari-do e passar a viver com um homemservil e parasita.

ÊÉrico Veríssimo é um autor acessí-vel do grande público em função deÊsuas características e até de sua op-ção pessoal. Alfredo Bosi usa umaÊ ex-pressão muito feliz para caracterizá-lo,a mediedade, isto é, uma escritaÊ ao ní-vel eÊ ao gosto do grande público. Astensões internas dos protagonistas é

exemplo da técnica do contraponto nodesenvolvimento do romance: portu-gueses e espanhóis; farrapos e imperi-ais; maragatos e castilhistas.

Segundo Alfredo Bosi, para escre-ver a saga da burguesia ele se posicio-nou ente a crônica de costumes e anotação intimista. Para ele: "A lingua-gem com que resolveu esse compro-misso é discretamente impressionista,caminhando por períodos breves,Ê jus-taposições de sintaxe, palavras comunse, forçosamente, lugares-comuns dapsicologia do cotidiano."

O próprio escritor reconhece emseu livro de memórias, Solo de Clari-neta: "Sei que não sou , nunca fui umÊwriter's writer, um escritor para escrito-res. Não sou umÊ inovador, não trouxenenhuma contribuição original para aarte do romance. Tenho dito, escrito re-petidamente que me considero, antesde mais nada, um contador de históri-as." Avaliando sua obra, ele disse: "Re-puto a publicação da primeira parte deO Tempo e o Vento, em 1949, o acon-tecimento mais importante de minhacarreira de escritor."

Qual a importância dessa obra? Pri-meiramente diremos que ela é de do-mínio comum a muitos brasileiros e crioupersonagens que são referência paratodos nós como o Capitão Rodrigo. Emsegundo lugar, ele trabalha a nossa his-tória de forma realista, fazendo um con-traponto à poesia e à literaturaÊ ufanis-tas, muito comum entre nós, no que dizrespeito ao gaúcho e à parte da históriaa ele relacionada.

Por último podemos dizer que suaobra estáÊ incluída entreÊ as leituras obri-gatórias para o vestibular, o que ressal-ta o valor dessa obra no contexto da li-teratura brasileira.

ÊÊÊÊÊÊÊÊ Érico Veríssimo abre O Tempo e oVento escrevendo: "Era uma noite de luacheia. As estrelas cintilavam sobre a ci-dade de Santa Fé ..." Como um círculoque se fecha , o personagem Florianoque na trama de Encruzilhada tambémera escritor, encerra a épica trilogia ini-ciando uma narrativa exatamente comas mesmas palavras.

--------------------------------------------------------(1) Coronel da Reserva da BM, escritor e vice-

presidente da Apesp

Ilustração Bea Kassow

ÊQuando na calada da noiteO silêncio for cortadoPor um pisar compassadoDe um ser que, com dedicação,Zela por todo um quarteirãoNo rigor das madrugadasTalvez essas pisadasTe tragam recordação.Ê ÊQuando ainda eras pequeno,

Quantas vezes alguém aludiu:- Olha, eu te dou para o titioSe não aprenderes a lição.

Mas depois foste crescendoE, aos poucos, entendendo

Qual era a minha missão,Pois às vezes tu olhavas,

Quando o trânsito eu paravaPara te dar proteção.

Recordas de um certo dia,Quando junto a um amigoExpuseste tua vida ao perigo?Chamei-te a atenção,Tu não ficaste contentePois eras apenas um adolescenteE só querias diversão.Até me achavas um chatoQue cortava o teu “barato”,MasÊ eu te dava proteção.Ê ÊMas hoje tudo mudou

Inclusive já tens filhos Que também têm os seus “grilos”

Para dar-te preocupação.Neste mundo diferente,

Com este progresso crescenteE esta louca agitação,

Tu só ficas sossegado,Quando me vês ali postado

Para dar-te proteção!Olha! Eu também envelheci,Sofri críticas, fui louvado...E assim como o Estado,Passei por transformação.Estou sempre a me atualizar,Mas não deixei de lutar.Em prol da justiça e da razão.Plantei minha bandeira,E desde o litoral até a fronteiraTu tens a proteção.

ÊÊEu também tenho família,Filhos, esposa e um lar.

Por isso fico a pensarComo tu que és cidadão.

Nos rumos da humanidade,No índice de criminalidadeQue assusta a população.

E assim a cada instante,Eu me transformo em gigante

Para dar-te proteção!ÊÊPor isso quero pedir-teQue me faças um favor:- Ensina aos teus o valorDa minha árdua missão.Pois nunca hei de esquecerO juramento e o dever,Que fizeram de mim um guardiãoDa minha Pátria querida,Pela qual prometi dar a vidaPara a tua proteção.

Diálogo de um brigadianoAlbeni Carmo de Oliveira (Beni)Albeni Carmo de Oliveira (Beni)Albeni Carmo de Oliveira (Beni)Albeni Carmo de Oliveira (Beni)Albeni Carmo de Oliveira (Beni)

Ê------------------------------------------------------------------------

(1) Do livro de poesia Conservando a Tradição, 1ª ed.Ê Porto Alegre: Proletra, 1986, p. 65.

(2) Sargento da Reserva da Brigada Militar, poeta, declamador, repentista e trovador, membro daEstância da Poesia Crioula e da Associação Pró-Editoração a Segurança Pública. Várias vezes

premiado em concursos e autor de diversos livros de poesia gauchesca.

Criar, transformar e buscar formatos queretratem a realidade, esta é a rotina do artistaplástico e funcionário civil da Brigada MilitarOsvaldo Reis Paes, também conhecido por “Ja-guarão”.ÊÊÊÊÊÊÊÊÊ Paes já esteve em várias cidades ex-pondo suas obras, inclusive em Montevidéu,no Uruguai, onde vez por outra tem de retornara fim de realizar outros trabalhos. Suas cria-ções circulam em diversos municípios, maspriorizou a divulgação de seus feitos em insti-tuições do Governo do Estado e vinculadas àBrigada Militar, tais como Banrisul, Associaçãode Cabos e Soldados PM, Associação de Sub-tenentes e Sargentos, entre outros locais, to-dos em Pelotas, cidade onde vive.

Na sua história, etapas com desenhos ecriações poéticas, também mereceram desta-que. Com uma estimativa de quase mil obrasexecutadas, o reconhecimento por sua bene-merência cresce dia-a-dia, motivado pelas vá-rias doações a entidades carentes.

Ao ressaltar o projeto que idealiza desen-volver junto aos menores carentes, o artista“voa alto” e demonstra que o limite não existe.“Não posso parar. Pretendo trabalhar com cri-anças e adolescentes, ensiná-os a transformarsucatas em peças e objetos que podem sercomercializados, rendendo algum lucro parasuas famílias e, o mais importante, auxiliá-lasa transformar suas vidas, a encontrar novoshorizontes para que despertem seus talentose se sintam estimuladas a fazer com que ou-tros também se encontrem”, explica.

Com 24 anos de serviço na corporação,dezessete destes no 4º Batalhão de PolíciaMilitar de Pelotas, do alto de seus 47 anos deidade, define-se como um misto de civil e poli-cial militar: “Orgulho-me do que vivi até agora,das pessoas com quem dividi o meu dia-a-dia.Somente convivendo com esta verdadeira fa-mília - a Brigada Militar – é que se poderá ava-liar a sua real importância”, declara.

Ao falar em sua trajetória como artistaplástico, relata que morava em Porto Alegrequando despertou para a prática artística. Dopassatempo no fundo de quintal ao ateliê deagora, as obras ganharam forma e, segundoele mesmo, alma. “Descobri o dom que tinha eacredito na capacidade de cada um de nós.Estilizei várias obras no couro, na argila, no

Sucata, forma e criatividade em Osvaldo Paes

Everton RibeiroEverton RibeiroEverton RibeiroEverton RibeiroEverton Ribeiro

“Eu sonho e crio. Quando me acordo estou consciente de que todos -Ê sem exceção - podem criar.Basta pensar no que é bom, fazer com amor e encontrar soluções para oÊ que se quer realizar.” ÊÊÊÊÊÊÊÊÊ

bambu indiano, na madeira, no chifre, no ferroou em qualquer outro material, descobri queÊcada uma delas, em sua individualidade, temsua história e fala por si própria”, diz Jaguarão,com a simplicidade que lhe é peculiar e umaprofundidade que parece desconhecer, porqueesta só a sente quem vive a arte.

O homem de fala mansa e criativa orgu-lha-se do que faz e segue a intuição sem perdera inspiração: “Tudo é aproveitável: ferro, madei-ra, limpadores de pára-brisa, barro comum ouargila branca ..., sucatas que se tornam maté-ria-prima para os meus pensamentos. Eu so-nho e crio. Quando me acordo estou conscien-te de que todos -Ê sem exceção - podem criar.Basta pensar no que é bom, fazer com amor eencontrar soluções para oÊ que se quer realizar”,complementaÊ o artista autodidata, que se co-munica através de suas obras, sem maioresmeneios.

È a inspiração nas mãos habilidosas doartista que, com sensibilidade, recicla sucatas esentimentos para fazer arte.

Em suas obras, o destaque ao ferro, mate-rial que utiliza em boa parte do tempo desde oano de 1997. Castiçais, estatuetas e troféus te-máticos foram compostos neste período. Gran-de Lama, Mestre Budista, Buda, Deusa da Areia,Conquista e Culturas Exóticas são os preferi-dos do autor. Dentre estes, o troféu denomina-do PM Zito tornou-se referência no Estado do

Rio Grande do Sul e tem o carinho especial dequem o idealizou. É o referencial plástico queretrata mais de perto o seu cotidiano.

Conforme relato do artista, o PM Zito, foicriado em 1996 para ser concedido a policiaisda Brigada Militar considerados destaques emsuas atividades pelo comando do 4º BPM. Naépoca, estava sendo desenvolvido um projetonaquele batalhão que visava integrar a comuni-dade brigadiana, valorizar cada um dos servi-dores, buscandoÊ sua inserção no projeto, demaneira a desenvolver a criatividade de cadaum. Paes foi convidado a idealizar e executarum troféu que seria entregue aos policiais mili-tares que fossem destaque por ocasião do tra-balho que estava sendo desenvolvido. Foramdois dias e alguns componentes eletromecâni-cos reciclados, o tempo e material necessáriospara fazer o PM Zito. “Estilizei uma figura hu-mana, e considerei que deveria simbolizar o des-taque: um policial militar. Quanto à cor, optei pelopreto fosco, para que ao ser entregue como prê-mio, não ofuscasse o brilho daquele que mere-ceria , apenas, ver o reflexo de sua importân-cia”, declara.

De sua criação para cá, o PM Zito perma-nece sendo entregue aos policiais militares do4º BPM considerados destaques em suas ativi-dades de policiamento ostensivo. Porém, a ini-ciativa ultrapassou os limites do município e co-mandos de Unidades. oficiais e praças, quersejam patrulheiros, quer comandantes, em di-versos recantos do Rio Grande do Sul, já foramagraciados com a estatueta.

Os detentores do troféu PM Zito, orgulham-se de se verem estilizados na obra de um artis-ta que – realmente – é um Destaque Cultural.

--------------------------------------------------------(1) Artista plástico autodidata, desenhista, poe-

ta e escultor. Funcionário civil lotado no 4º BPM daBrigada Militar. Nascido em Jaguarão em 6 de se-tembro de 1955. Participou como aluno extensionis-taÊ no Instituto de Letras e Artes, da UFPel.

(2) Jornalista, MTb 10445. Cabo PM,Ê prestan-doÊ serviços no CRPO-Sul, em Pelotas.

Ê

Jaguarão e o PM Zito, obra criada em novembro de1996

Eu te bendigo – ó Deus do meu destino! –Por tantos dons de que tu me cobriste:Pela fonte de luz que em mim existe;Pelas paisagens de alma que domino;ÊPelo meu coração, ardente e triste,No meio de outros tantos, peregrino;Pelas notas mais puras do meu hino;Pela bondade em que o meu ser consiste;ÊPor toda esta infinita claridadeQue há nos meus olhos; pelo que hei sofrido;Pelo esplendor da minha mocidade;ÊPela alma que me deste e que não cansaNa luta em prol do sonho inatingido,Na tortura do amor sem esperança! ...

BendiçãoAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu Wamosy

------------------------------------------------------------------------(1) Soneto integrante do livro Coroa de Sonho, extraído da obra Alceu Wamosy – Poesia Completa, co-editada

pela EDIPUCRS, IEL e Alves Editores, 1º edição, Porto Alegre, 1994, p. 139.(2) Poeta simbolista de renome nacional, falecido em 1923, vítima de ferimento recebido no combate de Poncho

Verde, em Dom Pedrito, como Alferes do 1º Corpo Provisório da Brigada Militar.

(1)

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Page 3: JCB 137 CadCultural

JCB Cultura JCB CulturaAno II - Nº 4 Janeiro 2004 - Pág 3Pág 2 - Janeiro 2004 Ano II - Nº 4

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Curtas CulturaisCorrespondência

Ê“O suplemento JCB Cultural é uma referência palpável do vigor literário de nossa gente.”ÊÊÊÊÊÊÊÊÊ ÊÊ 2º Ten Ulmerindo S. Pinheiro, Santa Maria.ÊÊ 2º Ten Ulmerindo S. Pinheiro, Santa Maria.ÊÊ 2º Ten Ulmerindo S. Pinheiro, Santa Maria.ÊÊ 2º Ten Ulmerindo S. Pinheiro, Santa Maria.ÊÊ 2º Ten Ulmerindo S. Pinheiro, Santa Maria.

Feira do LivroÊNa Feira do Livro de Porto Alegre ocorreu a sessão de autógrafos do

livro de crônicas Corra que a Brigada vem aí, de autoria do Ten OscarBessi Filho, que serve atualmente no 24º BPM e preside a recém criadaCasa do Poeta do Artista e do Escritor Brigadiano (Poebras-BM). O livrodo Tenente Bessi, é uma crônica bem-humorada do nosso cotidianoprofissional.

Ê

BivaqueÊO Ten Cel Moisés Silveira de Menezes, do IPBM, teve sua poesia Porteira Fechada... Não Se

Vê Ninguém Voltando, classificada em 1º lugar dentre as 12 melhores do 7º Bivaque da PoesiaGaúcha de Campo Bom. O festival, que é promovido pelo CTG M’Bororé contou com 147 poemasinscritos, vindos de todos os recantos do Rio Grande do Sul. O nível de concorrência foi consideradoexcelente pelos organizadores do festival. Todas as poesias foram gravadas em um CD, que visa adivulgação e valorização da poesia gaúcha.

TalentosÊO grande show “Talentos Ostensivos”, apresentado dentro da programação da Semana da

Brigada Militar/2003, no Theatro São Pedro, deu uma amostra da diversidade e da riqueza artísticae cultural dos integrantes da Brigada Militar. Naquela oportunidade foi feita uma justa homenagemà sempre dedicada diretora da Casa,Ê Eva Sopher.

ÊAntologiasÊEm breve, a 1ª Antologia de Contistas Brigadianos e a 1ª Antologia de Poetas da Polícia Civil.

A edição das obras é patrocinada pela Polost/Apesp.

ÊAmigos LeitoresÊMandem seus livros e trabalhos literários (poemas, contos, crônicas, desenhos) para avaliação

da Comissão Editorial, com vista a possível publicação no Suplemento Cultural da Associação Pró-Editoração à Segurança Pública (E-mail: [email protected]).

Editorial

Expediente

Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Seleção de textos e redação:Verlaine Ulharuso de Vasconcellos

Oscar Bessi FilhoCláudio Medeiros BayerleLuiz Antônio R. Velasques

Pércio Brasil ÁlvaresEditoração Eletrônica: Editoração Eletrônica: Editoração Eletrônica: Editoração Eletrônica: Editoração Eletrônica: Luciamem Winck e Vera Eledina Leivas Pereira

Tiragem:Tiragem:Tiragem:Tiragem:Tiragem: 30 mil exemplaresE-mail:E-mail:E-mail:E-mail:E-mail: [email protected]

Suplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoSuplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoSuplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoSuplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoSuplemento Cultural do Jornal Correio BrigadianoAssociação Pró-Editoração à Segurança Pública (Apesp)Associação Pró-Editoração à Segurança Pública (Apesp)Associação Pró-Editoração à Segurança Pública (Apesp)Associação Pró-Editoração à Segurança Pública (Apesp)Associação Pró-Editoração à Segurança Pública (Apesp)

Casa do Poeta do Artista e do Escritor Brigadiano (Poebras-BM)Casa do Poeta do Artista e do Escritor Brigadiano (Poebras-BM)Casa do Poeta do Artista e do Escritor Brigadiano (Poebras-BM)Casa do Poeta do Artista e do Escritor Brigadiano (Poebras-BM)Casa do Poeta do Artista e do Escritor Brigadiano (Poebras-BM)Ano II, nº 4 - Porto Alegre, Janeiro de 2004

JCB CULTURA

LivrosÊ“Universo em Você – Um pacto sempre“Universo em Você – Um pacto sempre“Universo em Você – Um pacto sempre“Universo em Você – Um pacto sempre“Universo em Você – Um pacto sempre

perfeito”perfeito”perfeito”perfeito”perfeito” - De Vivian Antunes Weyrich, 1ª edi-ção, Imprensa Livre,Porto Alegre, 2003,184 p.

Livro de estréia deuma jovem escritora,natural de Porto Ale-gre, que também é for-mada em Publicidadee Propaganda. Seuslaços afetivos com aBM são fortes e vêm desde a infância, pois éfilha de um ilustre brigadiano, o Cel Milton Weyri-ch, ex-Cmt-Geral. A sensibilidade acentuada éa nota pessoal da autora, que procura desven-dar, às pessoas, o caminho da felicidade que,afinal, está dentro de cada um de nós.

ÊÊ“Troteando Versos” - “Troteando Versos” - “Troteando Versos” - “Troteando Versos” - “Troteando Versos” - De Albeni Carmo de

Oliveira (Beni), 1ª ed. Evangraf, Porto Alegre,1998, 110p.

Esse é o terceirolivro individual de poe-sias gauchescas comque nos brinda esseilustre e autêntico re-presentante do culto àpoesia xucra e às tra-dições do Rio Grandedo Sul.Ê Natural de SãoVicente do Sul e resi-

dindo atualmente em Porto Alegre, Beni é SgtRR da Brigada Militar, além de declamador, le-trista, cantor, pajador e repentista premiado emdiversos concursos.

Iniciamos mais um ano de trabalho e podemos computar, contando com este,o 4º Suplemento Cultural do Correio Brigadiano.

Foi uma jornada de trabalho duro para todos nós brigadianos e, mais ainda,para o grupo de colaboradores do Suplemento que, além dos afazeres habituais desua profissão, ainda reservam um fôlego para trabalhar pelo desenvolvimento cul-tural no nosso meio.

A empreitada demandou esforço e coragem para que se conseguisse fazer donosso veículo cultural uma realidade. Entretanto, tudo que foi realizado até agoraainda não foi devidamente avaliado sendo essa a nossa pretensão para 2004:avaliar a validade e a conveniência da continuidade do Suplemento Cultural.

Será, portanto, bom e oportuno que todos se manifestem, fazendo sua avalia-ção pessoal, para que nos possam ajudar na tarefa de decidirmos o destino dessaatividade cultural, que procura valorizar as criações do espírito entre os nossos.

Por isso não se acanhe. Mande logo sua opinião para o nosso e-mail:Ê[email protected].

Os organizadores agradecem.

É seguramente o romanceÊ históri-co mais importante até hoje escrito noBrasil. Ele teve uma grande receptivi-dade de público e crítica e, como con-seqüência disso, inspirou uma série natelevisão e seusÊ temas serviram debase para muitos filmes. A trama se de-senvolve de 1745, época da destruiçãodas Missões Jesuíticas, até o ano de1945, data da derrubada de GetúlioVargas. Constitui uma trilogia divididanos seguintes volumes: O Continente,O Retrato e O Arquipélago.

Esta obra é a história da famíliaTerra-Cambará e da cidade de SantaFé. ÊÊAtravés de suas diversas facetasvamos acompanhando a evolução doRio Grande do Sul: a conquista do Es-tado; os conflitos com os povos de lín-gua espanhola; as convulsões internas;a evolução cultural e de costumes. Nes-te romance também vemos o debate ea luta das principais correntes ideoló-gicas e a integração dos colonos ale-mães e italianos nas cidades, como co-merciantes ou profissionais especiali-zados.

Um dosÊ personagens mais conhe-

O Tempo e o VentoÊ

Verlaine Ulharuso de VasconcellosVerlaine Ulharuso de VasconcellosVerlaine Ulharuso de VasconcellosVerlaine Ulharuso de VasconcellosVerlaine Ulharuso de Vasconcellos

cidos do grande público é o CapitãoRodrigo Cambará que é um gaúcho comtodas as características e trejeitosÊ quecostumamos associar a essa figura. Ahistória do forasteiro que chega a San-ta Fé e pelo qual Bibiana se apaixona,ocorre no período de 1828 a 1836 e elemorre durante a Revolução Farroupilha.

ÊOutro personagem importante é odoutor Rodrigo Cambará, figura centralde O Retrato e O Arquipélago, bisnetoÊdo Capitão Rodrigo, homem já de hábi-tos urbanos e sofisticado, mas tambéminsaciável em relação às mulheres comosão muitos de seus ascendentes e ir-mão. As mulheres são figuras centraisem todo o enredo e entre elas se desta-cam Ana Terra, Bibiana e Maria Valériaque se caracterizam por terem uma têm-pera firme, mas são condicionadas, pe-los costumes, a servirem os homens eesperá-los durante as guerras e atémesmo após suas farras.

O primeiro volume, O Continente,trata da conquista do Rio Grande do Sul,as lutas com os vizinhos e as revolu-ções internas até a de 1893. Já O Re-trato abrange o período que vai de 1909

a 1915, época em que Pinheiro Macha-do dominou o cenário nacional e no qualos italianos e alemães começam a sairda zona rural e se afirmarem como co-merciantes e empresários. É a épocado surgimento do automóvel, do avião,do cinema e da eletrola.

O Arquipélago está associado àdesintegração da família e se desenvol-ve de 1916 a 1945. Essa Êdesintegra-ção está associada à troca de Santa Fépelo Rio de Janeiro, acompanhandoGetúlio Vargas na Revolução de 30, fa-zendo muitas concessões à moralida-de e passando, os filhos, a sofrereminfluência dos costumes mais liberaisdas grandes cidades levando a filha dodoutor Rodrigo a se desquitar do mari-do e passar a viver com um homemservil e parasita.

ÊÉrico Veríssimo é um autor acessí-vel do grande público em função deÊsuas características e até de sua op-ção pessoal. Alfredo Bosi usa umaÊ ex-pressão muito feliz para caracterizá-lo,a mediedade, isto é, uma escritaÊ ao ní-vel eÊ ao gosto do grande público. Astensões internas dos protagonistas é

exemplo da técnica do contraponto nodesenvolvimento do romance: portu-gueses e espanhóis; farrapos e imperi-ais; maragatos e castilhistas.

Segundo Alfredo Bosi, para escre-ver a saga da burguesia ele se posicio-nou ente a crônica de costumes e anotação intimista. Para ele: "A lingua-gem com que resolveu esse compro-misso é discretamente impressionista,caminhando por períodos breves,Ê jus-taposições de sintaxe, palavras comunse, forçosamente, lugares-comuns dapsicologia do cotidiano."

O próprio escritor reconhece emseu livro de memórias, Solo de Clari-neta: "Sei que não sou , nunca fui umÊwriter's writer, um escritor para escrito-res. Não sou umÊ inovador, não trouxenenhuma contribuição original para aarte do romance. Tenho dito, escrito re-petidamente que me considero, antesde mais nada, um contador de históri-as." Avaliando sua obra, ele disse: "Re-puto a publicação da primeira parte deO Tempo e o Vento, em 1949, o acon-tecimento mais importante de minhacarreira de escritor."

Qual a importância dessa obra? Pri-meiramente diremos que ela é de do-mínio comum a muitos brasileiros e crioupersonagens que são referência paratodos nós como o Capitão Rodrigo. Emsegundo lugar, ele trabalha a nossa his-tória de forma realista, fazendo um con-traponto à poesia e à literaturaÊ ufanis-tas, muito comum entre nós, no que dizrespeito ao gaúcho e à parte da históriaa ele relacionada.

Por último podemos dizer que suaobra estáÊ incluída entreÊ as leituras obri-gatórias para o vestibular, o que ressal-ta o valor dessa obra no contexto da li-teratura brasileira.

ÊÊÊÊÊÊÊÊ Érico Veríssimo abre O Tempo e oVento escrevendo: "Era uma noite de luacheia. As estrelas cintilavam sobre a ci-dade de Santa Fé ..." Como um círculoque se fecha , o personagem Florianoque na trama de Encruzilhada tambémera escritor, encerra a épica trilogia ini-ciando uma narrativa exatamente comas mesmas palavras.

--------------------------------------------------------(1) Coronel da Reserva da BM, escritor e vice-

presidente da Apesp

Ilustração Bea Kassow

ÊQuando na calada da noiteO silêncio for cortadoPor um pisar compassadoDe um ser que, com dedicação,Zela por todo um quarteirãoNo rigor das madrugadasTalvez essas pisadasTe tragam recordação.Ê ÊQuando ainda eras pequeno,

Quantas vezes alguém aludiu:- Olha, eu te dou para o titioSe não aprenderes a lição.

Mas depois foste crescendoE, aos poucos, entendendo

Qual era a minha missão,Pois às vezes tu olhavas,

Quando o trânsito eu paravaPara te dar proteção.

Recordas de um certo dia,Quando junto a um amigoExpuseste tua vida ao perigo?Chamei-te a atenção,Tu não ficaste contentePois eras apenas um adolescenteE só querias diversão.Até me achavas um chatoQue cortava o teu “barato”,MasÊ eu te dava proteção.Ê ÊMas hoje tudo mudou

Inclusive já tens filhos Que também têm os seus “grilos”

Para dar-te preocupação.Neste mundo diferente,

Com este progresso crescenteE esta louca agitação,

Tu só ficas sossegado,Quando me vês ali postado

Para dar-te proteção!Olha! Eu também envelheci,Sofri críticas, fui louvado...E assim como o Estado,Passei por transformação.Estou sempre a me atualizar,Mas não deixei de lutar.Em prol da justiça e da razão.Plantei minha bandeira,E desde o litoral até a fronteiraTu tens a proteção.

ÊÊEu também tenho família,Filhos, esposa e um lar.

Por isso fico a pensarComo tu que és cidadão.

Nos rumos da humanidade,No índice de criminalidadeQue assusta a população.

E assim a cada instante,Eu me transformo em gigante

Para dar-te proteção!ÊÊPor isso quero pedir-teQue me faças um favor:- Ensina aos teus o valorDa minha árdua missão.Pois nunca hei de esquecerO juramento e o dever,Que fizeram de mim um guardiãoDa minha Pátria querida,Pela qual prometi dar a vidaPara a tua proteção.

Diálogo de um brigadianoAlbeni Carmo de Oliveira (Beni)Albeni Carmo de Oliveira (Beni)Albeni Carmo de Oliveira (Beni)Albeni Carmo de Oliveira (Beni)Albeni Carmo de Oliveira (Beni)

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(1) Do livro de poesia Conservando a Tradição, 1ª ed.Ê Porto Alegre: Proletra, 1986, p. 65.

(2) Sargento da Reserva da Brigada Militar, poeta, declamador, repentista e trovador, membro daEstância da Poesia Crioula e da Associação Pró-Editoração a Segurança Pública. Várias vezes

premiado em concursos e autor de diversos livros de poesia gauchesca.

Criar, transformar e buscar formatos queretratem a realidade, esta é a rotina do artistaplástico e funcionário civil da Brigada MilitarOsvaldo Reis Paes, também conhecido por “Ja-guarão”.ÊÊÊÊÊÊÊÊÊ Paes já esteve em várias cidades ex-pondo suas obras, inclusive em Montevidéu,no Uruguai, onde vez por outra tem de retornara fim de realizar outros trabalhos. Suas cria-ções circulam em diversos municípios, maspriorizou a divulgação de seus feitos em insti-tuições do Governo do Estado e vinculadas àBrigada Militar, tais como Banrisul, Associaçãode Cabos e Soldados PM, Associação de Sub-tenentes e Sargentos, entre outros locais, to-dos em Pelotas, cidade onde vive.

Na sua história, etapas com desenhos ecriações poéticas, também mereceram desta-que. Com uma estimativa de quase mil obrasexecutadas, o reconhecimento por sua bene-merência cresce dia-a-dia, motivado pelas vá-rias doações a entidades carentes.

Ao ressaltar o projeto que idealiza desen-volver junto aos menores carentes, o artista“voa alto” e demonstra que o limite não existe.“Não posso parar. Pretendo trabalhar com cri-anças e adolescentes, ensiná-os a transformarsucatas em peças e objetos que podem sercomercializados, rendendo algum lucro parasuas famílias e, o mais importante, auxiliá-lasa transformar suas vidas, a encontrar novoshorizontes para que despertem seus talentose se sintam estimuladas a fazer com que ou-tros também se encontrem”, explica.

Com 24 anos de serviço na corporação,dezessete destes no 4º Batalhão de PolíciaMilitar de Pelotas, do alto de seus 47 anos deidade, define-se como um misto de civil e poli-cial militar: “Orgulho-me do que vivi até agora,das pessoas com quem dividi o meu dia-a-dia.Somente convivendo com esta verdadeira fa-mília - a Brigada Militar – é que se poderá ava-liar a sua real importância”, declara.

Ao falar em sua trajetória como artistaplástico, relata que morava em Porto Alegrequando despertou para a prática artística. Dopassatempo no fundo de quintal ao ateliê deagora, as obras ganharam forma e, segundoele mesmo, alma. “Descobri o dom que tinha eacredito na capacidade de cada um de nós.Estilizei várias obras no couro, na argila, no

Sucata, forma e criatividade em Osvaldo Paes

Everton RibeiroEverton RibeiroEverton RibeiroEverton RibeiroEverton Ribeiro

“Eu sonho e crio. Quando me acordo estou consciente de que todos -Ê sem exceção - podem criar.Basta pensar no que é bom, fazer com amor e encontrar soluções para oÊ que se quer realizar.” ÊÊÊÊÊÊÊÊÊ

bambu indiano, na madeira, no chifre, no ferroou em qualquer outro material, descobri queÊcada uma delas, em sua individualidade, temsua história e fala por si própria”, diz Jaguarão,com a simplicidade que lhe é peculiar e umaprofundidade que parece desconhecer, porqueesta só a sente quem vive a arte.

O homem de fala mansa e criativa orgu-lha-se do que faz e segue a intuição sem perdera inspiração: “Tudo é aproveitável: ferro, madei-ra, limpadores de pára-brisa, barro comum ouargila branca ..., sucatas que se tornam maté-ria-prima para os meus pensamentos. Eu so-nho e crio. Quando me acordo estou conscien-te de que todos -Ê sem exceção - podem criar.Basta pensar no que é bom, fazer com amor eencontrar soluções para oÊ que se quer realizar”,complementaÊ o artista autodidata, que se co-munica através de suas obras, sem maioresmeneios.

È a inspiração nas mãos habilidosas doartista que, com sensibilidade, recicla sucatas esentimentos para fazer arte.

Em suas obras, o destaque ao ferro, mate-rial que utiliza em boa parte do tempo desde oano de 1997. Castiçais, estatuetas e troféus te-máticos foram compostos neste período. Gran-de Lama, Mestre Budista, Buda, Deusa da Areia,Conquista e Culturas Exóticas são os preferi-dos do autor. Dentre estes, o troféu denomina-do PM Zito tornou-se referência no Estado do

Rio Grande do Sul e tem o carinho especial dequem o idealizou. É o referencial plástico queretrata mais de perto o seu cotidiano.

Conforme relato do artista, o PM Zito, foicriado em 1996 para ser concedido a policiaisda Brigada Militar considerados destaques emsuas atividades pelo comando do 4º BPM. Naépoca, estava sendo desenvolvido um projetonaquele batalhão que visava integrar a comuni-dade brigadiana, valorizar cada um dos servi-dores, buscandoÊ sua inserção no projeto, demaneira a desenvolver a criatividade de cadaum. Paes foi convidado a idealizar e executarum troféu que seria entregue aos policiais mili-tares que fossem destaque por ocasião do tra-balho que estava sendo desenvolvido. Foramdois dias e alguns componentes eletromecâni-cos reciclados, o tempo e material necessáriospara fazer o PM Zito. “Estilizei uma figura hu-mana, e considerei que deveria simbolizar o des-taque: um policial militar. Quanto à cor, optei pelopreto fosco, para que ao ser entregue como prê-mio, não ofuscasse o brilho daquele que mere-ceria , apenas, ver o reflexo de sua importân-cia”, declara.

De sua criação para cá, o PM Zito perma-nece sendo entregue aos policiais militares do4º BPM considerados destaques em suas ativi-dades de policiamento ostensivo. Porém, a ini-ciativa ultrapassou os limites do município e co-mandos de Unidades. oficiais e praças, quersejam patrulheiros, quer comandantes, em di-versos recantos do Rio Grande do Sul, já foramagraciados com a estatueta.

Os detentores do troféu PM Zito, orgulham-se de se verem estilizados na obra de um artis-ta que – realmente – é um Destaque Cultural.

--------------------------------------------------------(1) Artista plástico autodidata, desenhista, poe-

ta e escultor. Funcionário civil lotado no 4º BPM daBrigada Militar. Nascido em Jaguarão em 6 de se-tembro de 1955. Participou como aluno extensionis-taÊ no Instituto de Letras e Artes, da UFPel.

(2) Jornalista, MTb 10445. Cabo PM,Ê prestan-doÊ serviços no CRPO-Sul, em Pelotas.

Ê

Jaguarão e o PM Zito, obra criada em novembro de1996

Eu te bendigo – ó Deus do meu destino! –Por tantos dons de que tu me cobriste:Pela fonte de luz que em mim existe;Pelas paisagens de alma que domino;ÊPelo meu coração, ardente e triste,No meio de outros tantos, peregrino;Pelas notas mais puras do meu hino;Pela bondade em que o meu ser consiste;ÊPor toda esta infinita claridadeQue há nos meus olhos; pelo que hei sofrido;Pelo esplendor da minha mocidade;ÊPela alma que me deste e que não cansaNa luta em prol do sonho inatingido,Na tortura do amor sem esperança! ...

BendiçãoAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu Wamosy

------------------------------------------------------------------------(1) Soneto integrante do livro Coroa de Sonho, extraído da obra Alceu Wamosy – Poesia Completa, co-editada

pela EDIPUCRS, IEL e Alves Editores, 1º edição, Porto Alegre, 1994, p. 139.(2) Poeta simbolista de renome nacional, falecido em 1923, vítima de ferimento recebido no combate de Poncho

Verde, em Dom Pedrito, como Alferes do 1º Corpo Provisório da Brigada Militar.

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JCB CulturaPág 4 - Janeiro 2004 Ano II - Nº 4

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Ano II - Nº 4 Janeiro 2004Suplemento Cultural do Jornal Correio Brigadiano

A terra bravianunca teve limites.

Nem oceanos, nem montanhasImpediram a busca de encontrar

o ponto da união entre céu e terra.Cada passo dado

mostrava sempre umÊ lugar novoabrindo interrogações...

Instigando descobertas...Ê

O arame– invenção dos homens –

trouxe limites.Prendeu a liberdade

dos potros,do gado e dos gaudériosque fizeram estradas e querências,

quando a sombra,as aguadas e o pasto eram atrativos

– forte laço, aquerenciador.Ê

O aramenão era um simples fio deÊmetal atirado ao campo.

Tinha ciência, o alambrado!O alambrador plantou,

a olho e régua,cernes para moirões

e mestres de porteiras.As tramas,

trastos, para o semitonadoÊÊÊ talareio das canções do vento

ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ ÊÊÊ no braço longo da sesmaria-viola,que talhava camposÊ

no limite incerto de poder e glória.O mestre alambrador

embriagado pela melodia...feliz pelo feitio daquele instrumento,

ÊÊÊ orgulhoso ria.. por uma divisa...que havia feito sem saber porque.

ÊO arame

– instrumento da mais-valia –instituiu donos à terraÊ e aos animais,

permitiu que o homemimpedisse a escolha natural,

apartando harénspara touros e baguais.

ÊO arame

limitou estâncias e invernadasque mermaram no tempo.

Hoje, eletrificado,limita potreiros

e, para proteger,em terrenos urbanos

– à guiza de liberdade –mantém os próprios donos

embretados na propriedade.Ê

O aramesó não segura o ideal,

que por roceiro,ÊÊÊ não tem pescoço ou corpo...

É só cabeça!Não se lhe assenta cangalha,

não é apegado à terra,anda no ar...

Propaga-se no ar...Ê

Existem prisões e limites sem aramado...Mas, ideais...

Não têm limites,nem arame que os prenda!

“Um brigadiano é aquele que luta pela sua estrela pessoale por isso ele é tão grande e admirado...Dotado de uma espada de ouro que reluz

aos olhos daqueles que enxergam com a alma...Este guerreiro eterno defende seu coração

e luta por suas causas sem fim.E ainda que as causas estejam perdidas,este é um soldado eternamente valente.

Então, a sociedade tem a chance de admirarum soldado de ferro que nunca se rende,

pois sempre surge uma força anímicaque vinga de seu coração alado.

Ele vai brandindo sua espada de puro ouroe entrincheirado com a força de sua alma

se faz herói das estrelas...Todo brigadiano é um guerreiro...

Um justiceiro eterno...Um homem que abdicou de suas imensas asaspara trilhar um caminho de luz, proteção, justiça

e honra a qualquer custo!É tão magnífico o coro que as galáxias cantam

quando nasce um brigadiano.E quando ele impõe a sua espada,anjos se tornam homens imortais!

É por isso que a Brigada Militaré tão amada e única em todo o universo!”

------------------------------------------------------------------------(1) Extraído da dedicatória feita pela autora, ao Jornal Correio Brigadiano, quando do lançamento de seu livro Universo em Você,

Editora Imprensa Livre, Porto Alegre, 2003.

(2) Publicitária e escritora, natural de Porto Alegre, onde reside. E-mail: [email protected].

O ArameUbirajara AnchietaUbirajara AnchietaUbirajara AnchietaUbirajara AnchietaUbirajara Anchieta

------------------------------------------------------------------------(1) Poema premiado na Carreteada da Poesia de Santa Maria (RS).

(2) Poeta e escritor, Coronel da Reserva da BM, Presidente da Casa do Poeta de Santa Maria.

O Coração da BrigadaVivian A. WeyrichVivian A. WeyrichVivian A. WeyrichVivian A. WeyrichVivian A. Weyrich

-----------------------------------------------------------------------(1) Poeta e escritor, Major da BM servindo no Departamento Administrativo em Porto Alegre, colunista

do Jornal Correio Brigadiano e presidente da Apesp

Noites de SetembroPércio Brasil ÁlvaresPércio Brasil ÁlvaresPércio Brasil ÁlvaresPércio Brasil ÁlvaresPércio Brasil Álvares

No princípio era,A Lua,Uma foice de prataCeifando o ventre da escuridão. Depois tornou-se um queijo partido,Devorado por metade,Entre cálices de vinho:Obra de vorazes bêbados notívagos. Após, virou uma medalha cunhada em relevo,Em contraste, ao fundo, com um céu de chumbo.Espalhava brilho às formas na penumbra,Deixando ver, dissimulada, uma silhueta de cigana. Por fim, tornou-se um côncavo,Prosaicamente pendurado ao firmamentoEntre nuvens de flocos de cinzasCompletando a melancolia dessas noites vazias...

Alceu WamosyAlferes brigadiano e poeta chimango

Ó tu, que vens de longe... Oh, tu que vens cansada,Entra, sob este teto encontrarás abrigo.Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinhoVives sozinha sempre, e nunca foste amada!

A neve anda a branquar lividamente a estrada.E a minha alcova tem a tepidez de um ninho.Entra. Ao menos até que as curvas do caminhose banhem no esplendor nascente da alvorada...

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,podes partir de novo, ó nômade formosa.

Já não serei tão só; nem serás tão sozinha!Há de ficar comigo uma saudade tua...Hás de levar contigo uma saudade minha!...

Cláudio Medeiros BayerleCláudio Medeiros BayerleCláudio Medeiros BayerleCláudio Medeiros BayerleCláudio Medeiros Bayerle

Alceu de Freitas Wamosy, bisneto de imi-grantes húngaros, nasceu em 14 de fevereirode 1895, em Uruguaiana, falecendo em 13 desetembro de 1923, em Sant’Ana do Livramen-to. Filho de José Affonso Wamosy, (ex-telegra-fista, jornalista,Ê advogado e promotor de Justi-ça) e de Maria de Freitas Wamosy.

ÊÊÊÊÊÊÊÊ Desde tenra idade Wamosy já se dedica-va à leitura, sobretudo poesia, sendo que aos12 anos já declamava o poema De Sol a Sol,de sua autoria. Aos 16 anos, míope, asmático,franzino e muito pálido assumiu a direção dojornal A Cidade, fundado por seu pai, no Ale-grete, quando, então, começou a publicar suaspoesias. Em 1913, aos 18 anos, ele lançou seuprimeiro volume de poesias, Flâmulas. Já em1914, publicou seu trabalho seguinte Na TerraVirgem, granjeando louvores da crítica brasi-leira. Foi assim que, em 1915, conquistou no-toriedade nacional, com o soneto Duas Almas,muito embora tenha sido emÊ Coroa de Sonho(1923), que Wamosy consolidou seu destaquena literatura brasileiras. Não obstante, escre-via para diversos periódicos, tais como: A Notí-

cia, A Federação, O Diário, além da revista AMáscara. Simbolista, ele era filiado à correntedecadentista dos poetas franceses cujo princi-pal representante foi Jules Laforgue. Tambémrecebeu influência direta da poesia de Cruz eSousa, além de Redenbach, Samain, Rimbaude até mesmo de Mallarmé.

Mas Wamosy também foi um prosadornato, vez que teve vários contos dispersos porjornais e revistas da época, muito embora, comoera seu desejo, não os tenha reunido em livro, oqual seria intitulado 0 Jardim das Estátuas Tris-tes, título de um belíssimo conto que ainda hojecativa os leitores.

Por ser chimango, combateu severamenteos maragatos, resultando que, em fevereiro de1923, deixou a tribuna para pegar em armascontra os inimigos no campo de batalha, na con-dição de alferes-secretário da Coluna Oeste do1º Corpo Provisório da Brigada Militar.

E mesmo que não precisasse se expor aosriscos da batalha na linha de frente da ação mi-litar; esta não era a posição em que ele preferialutar, tendo desempenhado com valentia e des-treza a sua missão, apesar de sua compleiçãofísica.

Com efeito, aquele rapaz franzino que ou-trora havia demonstrado ser um atirador medí-ocre em um curso de tiro ao alvo e, doutra feita,insurgira-se contra a brutalidade de uma toura-da, era, por ora, um combatente valoroso emÊmeio ao fumo das batalhas e à odiosa práticadas degolas de prisioneiros.

Ferido logo de início, pela violenta cargada cavalaria de Honório Lemes, o legendárioLeão do Caverá, na escaramuça fratricida co-nhecida como o combate de Poncho Verde, queensangüentou os campos de Dom Pedrito, Wa-mosy foi poupado da degola por seus inimigose recolhido ao hospital da Cruz Vermelha, insta-

lado em Livramento, morrendo dez dias depoisdo confronto, em conseqüência dos ferimentos,após um violento colapso cardíaco. Há regis-tros de que o próprio Honório Lemos determi-nou que fosse prestado socorro ao ferido, o querevela a grande estima de que desfrutava Wa-mosy como poeta e homem de letras, o queestava acima das paixões políticas daquele con-fronto fratricida.

Antes, porém, no dia 8 de abril, pressen-tindo o fim próximo, casou-se in extremis com ajovem Maria Bellaguarda no próprio hospitalonde estava baixado.

O ato último da Revolução de 1923 foi aassinatura do Pacto de Pedras Altas, em 15 dedezembro, pacificando o Rio Grande. O gover-no do Estado concedeu a Maria BellaguardaWamosy uma pensão vitalícia pelo marido "mor-to em defesa da ordem e das leis".

Destarte, Alceu Wamosy passou a viver nalembrança dos familiares e amigos, bem comono coração de uma fiel legião de leitores apai-xonados pela melancolia dos seus versos. Talqual asseverou Rodrigues Till, (pesquisador eautor de vários livros sobre Wamosy), ele "so-nhou como poeta, viveu como homem e mor-reu como herói". Ao ensejo do 80º aniversárioda morte de Alceu Wamosy, transcorrido em2003, prestamos esta justa homenagem aopatrono dos poetas brigadianos, publicando al-guns de seus mais belos poemas em nossaSuplemento Cultural.

------------------------------------------------------(1) Sargento PM, Ativista Cultural, tesoureiro

da Apesp e sócio-fundador da Casa do Poeta, doEscritor e do Artista Brigadiano

ÊPrincipais Atividades e Obras:1909/1915 - Colaborador do jornal A Cidade;1913 - Publicação de Flâmulas, primeiro livro de poesia1915/1917 - Colaborador dos jornais A Notícia, A Federação, O Diário e da revista A Máscara1917/1923 – Torna-se proprietário do jornal O Republicano, apoiando o Partido Republicano1923 - Engajamento na Revolução Maragata, como Alferes do 1º Corpo Provisório da Brigada

Militar. Participa dos combates em Santa Maria Chica, Ponte do Rio Ibirapuitã e Ponche VerdeÊ1923 – Casa-se "in extremis" com Maria BellaguardaÊ

Duas AlmasAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu Wamosy

Homenagens Post-Mortem:1920 - Patrono da cadeira nº 1 da Academia Sul Rio-Grandense de Letras1925 - Publicação do livro Poesias Completas1967 - Patrono da 13ª Feira do Livro de Porto Alegre1994 - Publicação do livro Poesia Completa1995 - Exposição de seu acervo na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul

Tu pensarás em mim, por esta noite imensae erma, em que tudo é um frio e um silêncio profundo?

Tu pensarás em mim?Por esta noite, enfermo, tendo os olhos em febre e a voz

cheia de sustos, eu penso em ti, no teu amor e na promessamuda que o teu olhar me fez e que eu espero.

(Que dor de não saber se tu pensas em mim!)

Sob a tenda da noite estrelada de outono,que eu contemplo através dos cristais da janela,

junto ao manso tepor da lâmpada que escuta– antiga confidente – os meus sonhos e as minhas

vigílias de tormento, eu penso em ti, divina.

(E tu talvez nem te recordes deste ausente!)

Penso em ti. Penso e evoco o teu vulto adorado.Penso nas tuas mãos – um lis de cinco pétalas –que, em vez de sangue, têm luar dentro das veias;

nos teus olhos, que são Noturnos de Chopinagonizando à luz de uma tarde de sonho,

na tua voz, que lembra um beijo que se esfolha.Penso.

(E nem sei se tu também pensas em mim!)

Talvez não. No tranqüilo altar da tua alcova,onde se extingue a luz de um velho candelabro

como uma lâmpada votiva, tu adormeces sorrindoao Anjo fiel que as tuas pálpebras fechapara que tu não tenhas sonhos maus.

E eu penso em ti,sem sono, a sós, angustiado e febril,

em ti, que nem eu sei se te lembras de mim ...

NoturnoAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu WamosyAlceu Wamosy

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