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ANO 39, Setembro/Outubro de 2009, nº 251 No mês dos agrônomos, os profissionais que trabalham na produção de alimentos, fibras e energia estão representados no JEA numa matéria que mostra as perspectivas desta profissão

JEA Set/Out 2009 - Edição 251

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Jornal do Engenheiro Agrônomo

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ANO 39, Setembro/Outubro de 2009, nº 251

No mês dos agrônomos, os profissionais que trabalham na produção de alimentos, fibras e energia estão representados no JEA numa matéria que mostra as perspectivas desta profissão

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Associação de EngenheirosAgrônomos do Estadode São Paulo

Filiada a Confederação das Federações de Eng. Agrônomos do Brasil (Confaeab)

Presidente Arlei Arnaldo Madeira [email protected] 1º vice José Antonio [email protected] 2º vice Angelo Petto Neto [email protected]º secretário Ana Meire Coelho Figueiredo [email protected]º secretário Francisca Ramos de Queiroz Cifuentes [email protected] 1º tesoureiro Luis Alberto Bourreau [email protected]º tesoureiro Rene de Paula Posso [email protected] Diretor Glauco Eduardo Pereira Cortez [email protected] Luiz Ricardo Viegas de Carvalho [email protected] Diretor Marcos Roberto Furlan [email protected] Diretor Nelson de Oliveira Matheus Júnior [email protected] Diretor Sebastião Henrique Junqueira de [email protected] Diretor Tulio Teixeira de Oliveira [email protected]

CONSELHO DELIBERATIVO Aguinaldo Catanoce, Arnaldo André Massariol,Celso Roberto Panzani, Fernando Penteado Cardoso, Francisco José Burlamaqui FaracoGenésio Abadio de Paula Souza, Henrique Mazotini, José Amauri Dimarzio, José Ma-ria Jorge Sebastião, José Paulo Saes, Luiz Henrique Carvalho, Luiz Mário Machado Salvi, Pedro Shigueru Katayama, Tais Tostes Graziano, Valdemar Antonio Demétrio CONSELHO FISCAL:André Luis Sanches, Anthero da Costa Satiago, José Eduardo Abramides TestaSuplentes: Francisco Frederico Sparenberg Oliveira, João Jacob Hoelz, Celso Luis Ro-drigues Vegro

Órgão de divulgação da Associação de Engenheiros

Agrônomos do Estado de São PauloConselho Editorial

Ana Meire Coelho F. NatividadeÂngelo Petto

Sebastião JunqueiraDiretor Responsável

Nelson de Oliveira MatheusJornalista Responsável

Adriana Ferreira (mtb 42376)Colaboradora: Sandra Mastrogiacomo

Secretária: Alessandra CopqueTiragem: 10.000 exemplares

Produção: Acerta ComunicaçãoDiagramação: Sígride Gomes

RedaçãoRua 24 de Maio, 104 - 10º andarCEP 01041-000 - São Paulo - SP

Tel. (11) 3221-6322Fax (11) 3221-6930

[email protected]/[email protected]

Os artigos assinados não refletem a opinião da AEASP.

Permitidaa reprodução com citação da fonte.

Rua 24 de Maio, 104 - 10º andar CEP 01041-000 São Paulo - SP Tel. (11) 3221-6322 Fax (11) 3221-6930 [email protected]/[email protected]

Vasto campo para a agronomia

Este mês em que se comemora o Dia do Engenheiro

Agrônomo, a AEASP presta sua homenagem a todos os cole-

gas, queremos que cada um de vocês, associados e leitores

desse periódico, sintam-se cumprimentados por nós. Temos

orgulho da nossa profissão e de pertencermos a essa asso-

ciação que busca a constante valorização daqueles que ali-

mentam a vida.

Em nossa matéria de capa trouxemos uma reportagem

com depoimentos de vários colegas, alguns começando na

carreira e outros na estrada há mais tempo, eles possuem

idades, perfis e atuações diferentes, mas em comum pos-

suem o amor pela profissão que abraçaram. Os desafios da

área são grandes, mas são proporcionais às oportunidades

para aqueles que estiverem dispostos a se atualizar para

atender as demandas do mundo globalizado.

E por falar em homenagem, a AEASP já escolheu o “Enge-

nheiro Agrônomo do Ano”, de 2009, é o colega Ivan Wedekin,

diretor de comodities da BMF. Tivemos o prazer de receber

a visita de Ivan em nossa sede para assim oficializarmos o

convite. Suas contribuições à agricultura e sua determinação

para defender os interesses do setor nos deixam tranqüilos

quanto a nossa escolha. Preparamos uma entrevista com ele

para que aqueles que não o conhecem possam conhecê-lo

e para aqueles que já o conhecem possam saber um pouco

mais de sua história e de como pensa.

Como ocorre todos os meses, em setembro, estive na

reunião do Conselho Superior de Agricultura (Cosag) da

FIESP, presidido pelo colega Roberto Rodrigues. E os temas

discutidos, como sempre, foram de muita relevância para a

agropecuária. Em dois painéis, foram tratados os temas das

mudanças climáticas e seus reflexos na atividade agrícola e

a questão do seguro rural, com a criação do Fundo de Catás-

trofe. Na seção Parabólica deste JEA fizemos um resumo das

informações trocadas durante esse encontro.

Com todas as dificuldades e desafios, acreditamos no

nosso ofício e vamos continuar trabalhando pela valorização

de nossa profissão. Feliz dia do engenheiro agrônomo!

Boa leitura!

Um abraço,

Eng. Agr. Arlei Arnaldo Madeira

editorial

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3JORNAL DO ENGENHEIRO AGRÔNOMO túnel do tempo • agrônomo é notícia

A irreverência de um engenheiro agrônomo

Tomaz Caetano Cannavam Ripoli é piracicabano, engenhei-ro agrônomo, professor titular do Departamento de Engenharia Rural da Esalq, e escritor, não somente de textos científicos, mas também jornalísticos e literários. Ele lançou um livro curiosíssi-mo: “Escrevinhador, Retratista e Introdução à Bundalogia”:

O livro é uma junção de artigos, crônicas e fotos produzidos pelo autor onde fica evidente a personalidade crítica e o gosto pela ironia como recurso de linguagem para mostrar sua visão de mundo; os as-suntos abordados são os mais variados, de política à histórias do seu cotidiano, além de um interessante tratado sobre, nada mais nada me-nos que, “bundas”. Dividido em três partes, a primeira é o Escrivinhador, onde estão agrupados os artigos, na segunda parte, Retratista, encon-tram-se as imagens, registros de Ripoli sobre diversos temas. Na tercei-ra parte, intitulada “Bundalogia” o irreverente escritor faz uma pesquisa curiosa sobre bundas. Tem o bundácio - em substituição ao prefácio -, significados e assemelhados, crônicas, poemas, símbolos da internet, significados no caipiracicabanês, ditados adaptados ao bundês, etc. As nádegas ainda estão presentes em cartoons e na publicidade, em dife-rentes épocas, e tem também o famoso bundograma na Esalq.

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Notas de falecimento

ErrataNa última edição do JEA cometemos uma falha ao não divulgar o nome do Eng° agr° Eduardo Pires

Castanho Filho, pesquisador científico do Instituto de Economia Agrícola (APTA – SAA), no brilhante artigo sobre o Código Florestal escrito por ele na página 8 do jornal.

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Ivan Wedekin é o “Engenheiro Agrônomo do Ano”, de 2009. Ele recebeu os cumprimentos oficiais do presidente da Associa-ção de Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo (AEASP), Arlei Arnaldo Madeira e do diretor Nelson de Oliveira Matheus.

AEASP elege o “Engenheiro Agrônomo do ano de 2009”

Desde 1º de setembro de 2009, o eng. agr. José Luiz Fontes assumiu a direção da Coordenadoria de Assistência Técnica In-tegral (CATI). Ele reuniu os dirigentes do órgão, onde expôs as prioridades de sua gestão, e fez uma homenagem em agradeci-mento ao bom desempenho na administração do coordenador, eng. agrº Francisco Eduardo Bernal Simões.

CATI tem novo coordenador e faz homenagem a antecessor

IAC despede-se de dois brilhantes pesquisadores

O eng. agr. dr. Carlos Eduardo de Oliveira Camargo, pesquisador científico do Instituto Agronômico de Cam-pinas (IAC), que desenvolveu uma brilhante carreira, ao longo de 40 anos, faleceu em agosto. Em vida, recebeu o diploma de reconhecimento outorgado pelo Centro In-ternacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), México, em 2002, pela valiosa colaboração durante os últi-mos 25 anos nas atividades do CIMMYT no Cone Sul e pela geração de germoplasma, em nível mundial.

A eng. agrª e pesquisadora Maria Regina Gonçalves Ungaro, atingiu o nível máximo da carreira pública, traba-lhando na Seção de Oleaginosas, na Fazenda Santa Elisa do IAC; aposentou-se apenas formalmente, pois seguiu desenvolvendo suas pesquisas de campo, orientando jo-vens agrônomos e viajando regularmente para Campinas.

O girassol foi a planta premiada com sua especial de-voção. A AEASP reverencia aos dois colegas e oferece suas condolências às famílias.

A AEASP presta sua homenagem ao colega engº agrº Antonio Pereira Lima, falecido recentemente. Na-tural de Guararapes (SP), formado pela ESALQ, dentre outras coisas, atuou na Assistência de Crédito do Gru-po Real. A AEASP também oferece suas condolências à família de Pereira Lima.

A AEASP também presta sua homenagem ao ex-diretor do IAC, Francisco da Costa Verdade, que faleceu em setembro último, aos 88 anos, vítima de um enfarte.

O engº agrº esteve no comando do IAC entre os anos de 1969 e 1981. Também foi consultor científico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Em-brapa), no Rio de Janeiro e membro titular da Acade-mia de Ciências do Estado de São Paulo.

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Nascido na zonal rural de Buritama, Ivan Wedekin viveu até os 15 anos na pequena cidade de Turiúba, próxima a São José do Rio Preto. De origem simples, terceiro filho do casal Osvaldo e Cirina, Ivan foi o segundo integrante de toda a família Wedekin (originária do migran-te alemão Theodor, falecido em Joinville em 1901) a conquistar um diploma de nível superior.

Muito jovem, a irmã formou-se professora no tempo em que as escolas públicas eram as melhores do País. Seu irmão formou-se em medicina em 1973. Não foi fácil, mas com o sacrifício dos pais, que acreditavam no valor da educação, em 1974, o jovem formou-se em engenharia agronômica na mais renomada faculdade do país, a ESALQ, e não parou mais.

Pós-graduado em Desenvolvimento Agrícola pela Fundação Ge-túlio Vargas, com treinamento em Agribusiness na Universidade de Harvard e treinamento gerencial na American Management Associa-tion, executivo de grandes empresas, professor de programas de MBA em Agronegócio, ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), na gestão de Roberto Rodrigues, autor de diversos livros e artigos sobre agronegócio, ele construiu uma trajetória admirável e desde 2006 é diretor de Com-modities da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBOVESPA).

O homem que tem pela frente o desafio de expandir os mercados futuros no Brasil gosta do trabalho em equipe, fala com tranqüilidade, tem um tom professoral, e surpreende ao descrever suas incursões no meio artístico, sua paixão pelos filhos e pela neta e o modo como define a vida. “A vida é a dinâmica de três arquiteturas: arquitetura de morar, que inclui a saúde, a casa; arquitetura de trabalhar; e a arquite-tura dos relacionamentos”.

Em setembro, Wedekin recebeu o convite oficial do presidente da Associação de Engenheiros Agrônomos de São Paulo (AEASP), Arlei Arnaldo Madeira, para ser o “Engenheiro Agrônomo do Ano de 2009” e esteve presente à sede da entidade para aceitar a honraria.

As “arquiteturas” de um engenheiro agrônomo

JEA- Quantas horas o senhor trabalha por dia?IW - Eu acordo às 6h da manhã e chego em casa, em geral, às 21h. De manhã faço atividade física, caminhada, musculação, parte importan-te do meu ponto de equilíbrio. Acho que a vida é a dinâmica de três arquiteturas: arquitetura de morar, que inclui a saúde, o corpo, a casa; arquitetura de trabalhar e a arquitetura de relacionamentos, a família, os amigos. O Parque do Ibirapuera é minha usina de idéias, lá eu relaxo, espaireço, mas também penso, produzo. Muitos projetos foram lá cria-dos, como um sistema denominado “crédito de precisão” (este não foi para frente à época), os novos títulos do agronegócio e também a idéia de escrever o livro “Pequeno Dicionário Amoroso da ESALQ” surgiu lá.

JEA – Conte um pouco sobre esse livro...IW – Propus a parceria ao Roberto Rodrigues para escrevemos um livro de poesia e prosa para homenagear o primeiro centenário da ESALQ. To-camos como projeto, com divisão de temas, reuniões de progresso. Para cada letra do alfabeto selecionamos 5 temas. Roberto, grande contador de causos, ficou com a prosa e eu com a poesia. Na letra C, por exemplo, escrevi um poema sobre a Deusa Ceres. Fiz a revisão bibliografia sobre Luiz de Queiroz e contei com a gentileza do Prof. Kiehl, que me contou histórias e conduziu-me num “city tour” pelos caminhos de Luiz de Quei-roz. Como todo esalqueano, fiquei ainda mais apaixonado pelo homem e sua obra. Com edição de 4 mil exemplares, o livro foi publicado em outu-bro de 2001, com patrocínio do Canal Rural e da Agroceres e distribuído na Sessão Solene da Semana “Luiz de Queiroz”, de 2001. JEA - Além dos exercícios físicos e da poesia, o que mais o senhor gosta de fazer quando não está trabalhando?IW – Por um acaso da vida, de dezembro para cá virei letrista de MPB, especialmente sambas. Conheci o cantor e compositor mineiro Irineu Palmira em um show na cidade de São Francisco Xavier e fiquei im-pressionado com a qualidade de sua música, e de suas interpretações de músicas de Ataulfo Alves, Dorival Caymmi e tantos outros grandes nomes da Música Popular Brasileira. Conversamos um pouco e ficou registrado em minha memória uma expressão que ele usava muito, “Benza Deus, ô sorte”, como se fosse uma sagração à vida. Dias depois mandei para ele uma letra com esse título e ele fez a música de prima, no mesmo dia. Desde então nos reunimos em alguns sábados para trocar idéias e aumentar a produção, que já soma umas 10 músicas. É uma espécie de terapia anti-stress: só que é mais fácil, toma menos tempo e é mais barato do que a terapia convencional (risos).

JEA - E a família, o senhor tem filhos?IW - Sou casado, tenho uma filha de 22 anos, um filho de 26 e uma ne-tinha de 2 anos e meio. É a coisa mais maravilhosa que existe, é incrível presenciar esse prolongamento da vida. Tem um médico amigo do Ro-berto Rodrigues que diz que somos na vida nada mais do que “mulas de carga”, transportando a carga do DNA. Mas para além dessa determina-ção genética, é fantástica a oportunidade de conviver com uma neta e vê-la crescer no seio da família, sempre fui muito ligado à minha família. Visito os meus pais com freqüência, nunca passei um Natal longe deles.

JEA - O senhor está à frente da BM&FBOVESPA desde 2006, o que considera ser seu principal desafio neste cargo?IW - É a expansão dos mercados futuros no Brasil. Sempre digo que a agricultura não é uma ilha, mas é cercada de riscos por todos os la-dos: risco de produção, por ser uma “indústria a céu aberto”; risco do crédito (tanto vende produtos como compra insumos a prazo, o que resulta no risco de crédito e inadimplência; risco dos contratos, quan-do não são honrados; e o risco de preço. A bolsa oferece aos produ-

Ivan Wedekin

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5JORNAL DO ENGENHEIRO AGRÔNOMO entrevista

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tores e demais participantes de mercado das cadeias produtivas - os chamados hedgers - a oportunidade de fazer um seguro de preços, já que os preços agrícolas são muito mais voláteis do que o preço de qualquer produto industrializado. Essa questão representa um risco muito grande para os agentes do agronegócio, especialmente para o agricultor. Por isso queremos trazer o agricultor para o seguro de preço, o que implica em mudanças de padrão cultural e mais profis-sionalização financeira e comercial dos produtores.

JEA - E quanto ao Projeto de Lei Complementar 374, (PL-374), cujo relator é o deputado federal Moacir Michelet-to (PMDB-PR), que pretende dar sequência ao projeto de desenvolvimento do mercado de seguro rural, criando o Fundo de Catástrofe? Qual sua opinião a respeito?IW – Em 2003, no primeiro ano do mandato do presidente Lula o Con-gresso aprovou a lei que permite ao Tesouro Nacional pagar em média 50% do gasto (prêmio) do produtor rural na compra de um seguro de produção. Na Secretaria de Política Agrícola do MAPA, trabalhamos na implementação da Lei. Em 2005, os gastos do Tesouro com a subven-ção do seguro foram de apenas R$ 2 milhões; em 2008 foram R$ 158 mi-lhões, tendo sido protegido um capital dos produtores de R$ 7 bilhões. Desde 2003 o governo trabalha num tripé: o subsídio do prêmio pelo Tesouro (há também uma subvenção importante pelo Governo de São Paulo); a abertura do mercado de resseguros em 2007 permitiu às res-seguradoras internacionais operarem no mercado brasileiro; o terceiro ponto é exatamente este Fundo de Catástrofe, em trâmite no Congresso. Dessa forma, estamos na reta final para a realização do velho sonho de tantos, um passo importante para a criação de efetiva indústria do seguro rural no Brasil. Correndo menos riscos de produção e de pre-ços, a agricultura será mais sustentável econômica e financeiramente, o que é bom para o produtor, o governo e a sociedade.

JEA - O famoso investidor americano James Jim Rogers, afirmou em entrevista às páginas amarelas de Veja que a agricultura deverá ser o primeiro setor a crescer quan-do o mundo sair da crise e que os agricultores serão os futuros milionários. O senhor concorda? E como o Brasil se insere nesse cenário?IW - Certamente o agronegócio continuará sendo extremamente impor-tante para o mundo pelo papel essencial na produção de alimentos e fibras e também, nas ultimas décadas, pela produção de energia renovável. Mas sabemos que, com o desenvolvimento econômico e o cresci-mento da renda das pessoas, ocorre uma queda natural na participa-ção do agronegócio no PIB, embora estejamos falando de um setor essencial para a humanidade Vivemos nas ultimas décadas a era da vantagem competitiva para poder competir na sua região, no país e no mundo. Mas a alta das commodities nos últimos anos fez com que as chamadas vantagens comparativas (decorrentes dos fatores tradicionais de produção – ter-ra, capital e trabalho) voltassem a ganhar peso, com destaque para o Brasil. Poucos países tem estoques de terras como o Brasil. Além disso, o Brasil passou a ser atrativo ao capital internacional, corrigin-do uma lacuna no nosso desenvolvimento, pois o capital sempre foi escasso e caro. Além disso, temos a tecnologia, os organismos gene-ticamente modificados, a agricultura de precisão, o conhecimento do cerrado, o zoneamento agrícola e os ganhos nas economias de escala. Assim, temos vantagens comparativas que se somam às vantagens competitivas. Por isso somos candidatos a sermos lideres no agrone-gócio mundial, mas isso não necessariamente significa que os agricul-tores serão os futuros milionários.

JEA - Já faz muito tempo que o senhor demonstra pre-ocupação em inserir o agronegócio brasileiro no mer-cado financeiro e de capitais. Por que é tão importante para os produtores brasileiros essa inserção?

IW - Na indústria de refrigerantes, por exemplo, há produção, engar-rafamento, distribuição, venda e recebimento todos os dias, ou seja, tem um fluxo de capital de giro contínuo. Já os agricultores tem de comprar todos os seus insumos antecipadamente, a atividade tem um ciclo produtivo longo, se produz agora para colher em fevereiro ou março. Na colheita não dá para vender tudo de uma vez, daí decor-re um ciclo de estocagem, porque não temos instrumentos no Brasil para financiar adequadamente essa estocagem. Por tudo isso a agri-cultura sempre precisou de crédito de terceiros. Em 1964, saiu a lei do Sistema Financeiro Nacional e a criação do Banco Central. Imediatamente após, em 1965, foi instituído o Sistema Nacional de Crédito Rural que sobreviveu a tantas crises e planos eco-nômicas e ainda responde por 35% de toda a necessidade de capital de giro do agricultor. Por lei, os beneficiários do SNCR são os produto-res e suas cooperativas. Hoje 30% dos depósitos à vista nos bancos devem ser aplicados em crédito rural. O Banco do Brasil e os bancos cooperativos devem aplicar no campo 65% do saldo da caderneta de poupança rural. Com o Roberto Rodrigues, começamos a reforçar o crédito em investimen-to, ampliando recursos para modernização tecnológica em máquinas, armazéns, modernização de cooperativas. Mas como o crédito rural oficial sempre foi um “cobertor curto”, trabalhamos para criar um siste-ma privado de financiamento do agronegócio como um todo – e não apenas para o produtor e as cooperativas. A Lei 11.066, de 30/12/2004, lançou os novos títulos do agronegó-cio com o objetivo de construir uma ponte entre a agricultura, o agro-negócio e o mercado financeiro e de capitais. Quando começamos a desenhar essa “sopa de letras” (CDA-WA, CDCA, LCA e CRA), a Selic estava acima de 20%, mas sabíamos que a inevitável queda da taxa juros abriria espaço para captar recursos do mercado para o agrone-gócio, ainda mais quando o governo isentou os novos títulos de IOF e Imposto de Renda quando o comprador é Pessoa Física. O sucesso foi grande: de 2005 até 31/8/09, o total de emissões dos novos títulos al-cançou R$ 78,5 bilhões. No final de agosto, o saldo (estoque) de títulos no mercado era de R$ 12,4 bilhões

JEA - Quais os maiores desafios para a consolidação do agronegócio brasileiro?IW - O primeiro desafio é o da infraestrutura, o que a agricultura mais pre-cisa é de rodovias, ferrovias, navegação fluvial, portos e logística para que se consolide como uma das agriculturas mais competitivas do mundo. O segundo desafio é caminharmos no processo de formalização da agricultura no aspecto jurídico e tributário, para criar uma figura da Pes-soa Jurídica Rural. Com isso, os médios e grandes produtores poderão estar mais ligados aos mercados financeiros e de capitais, tendo mais crédito a custo de capital menor. As cooperativas podem facilitar essa for-malização e utilizarem o CDCA, um título talhado para elas. Os pequenos produtores devem continuar sendo alvo de políticas específicas para sua integração ao mercado e elevação do padrão de renda e consumo. Outro ponto é a tributação, temos uma verdadeira “babel tributária” no País e a solução é enfrentar de fato a realização de uma reforma modernizante. Em quarto lugar, precisamos avançar cada vez em tecnologia e pro-cessos. O Brasil já tem uma lei de biossegurança e estamos avançando na liberação de materiais genéticos superiores. Por fim, a educação e o capital humano demandam fortes investimentos. Educação em sentido ampliado: tecnológica, operacional, comercial, financeira e ambiental. E é aqui que entra o papel crucial do engenheiro agrônomo, porque ele tem uma visão multidisciplinar do processo agropecuário, essencial para que tenhamos uma agricultura mais competitiva e sustentável. Quando estava na faculdade, dizia-se que a agronomia era a “pro-fissão do futuro”. Na minha visão esse futuro chegou, esse futuro é o presente, que faz do Brasil um gigante do agronegócio mundial. E fazê-lo maior, melhor e mais justo é o desafio a motivar os agrônomos todas as manhãs.

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No campo ou na cidade, são cada vez mais amplas as possibilidades de atuação para o engenheiro agrônomo

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Da esquerda para direita, Lauro Humberto Silva e Vicente Eugenio Tundisi, sócios da Podarte

Em 12 de outubro comemora-se o Dia do Engenheiro Agrônomo. Nesta data, há 76 anos, era regulamentada a profissão do Agrônomo ou Engenheiro Agrônomo, pelo decreto federal 23.196. Hoje, somente no estado de São Paulo há aproximadamente 35 mil profissionais ca-dastrados no CREA.

Em mais de meio século, o país passou por muitas transformações e as atividades agrícolas ganharam outros status, o de agronegócios. O Brasil se tornou um dos principais fornecedores de alimentos para o mundo, além de servir de exemplo na criação e desenvolvimento de energia limpa, o etanol, a base da cana-de-açúcar. Nesse contexto, o profissional de ciências agrárias ganhou destaque, suas atribuições e perspectivas ampliaram-se junto com o aumento da demanda mundial por alimentos, fibras e energia.

Os desafios são muitos, mas a área de atuação para o engenheiro agrô-nomo é vasta. No campo brasileiro, as unidades de produção apresentam-se complexas – existem unidades produtivas especializadas com condições tecnológicas modernas, e unidades que também produzem alimentos e matérias-primas em condições de policultura e tecnologia socioambien-talmente adequada. Nesse sentido, com uma formação multidisciplinar, o engenheiro agrônomo pode adquirir uma especialização, o que o habilita a atuar em áreas diversificadas como as da produção agrícola (pequenas e grandes plantações, produção familiar e não-familiar),

irrigação, topografia, beneficiamento e armazenamento de grãos, de-fesa sanitária vegetal, processamento de produtos agrícolas, alimentos e nutrição animal, melhoramento genético e biotecnologia, e nas demandas surgidas nas zonas urbanas.

Nas cidades, o engenheiro agrônomo também encontra espaço no planejamento da paisagem, por intermédio da ação em paisagismo e ar-borização, segmentos que estão se consolidando.

Além disso, muitos profissionais também têm optado pela carreira acadêmica ou corporativa, como executivos, em empresas pertencentes à cadeia do agronegócio.

Não há dúvida, a tendência do mercado de trabalho para este profis-sional é bastante favorável. Marcus Vinicius Contardi, 29 anos, se formou em dezembro de 2006 pela Faculdade Integral Cantareira (FIC), única facul-dade de agronomia situada na capital paulista, e desde fevereiro de 2007 trabalha numa certificadora que faz o controle de lavouras e estoques de garantias agrícolas para operações de crédito rural.

“Sempre tive duas paixões, carros e plantas, fiz quatro anos de enge-nharia mecânica, mas chegou um ponto em que comecei a sentir que não era aquilo que eu queria, e foi aí que resolvi me transferir para o curso de Engenharia Agronômica”, diz Contardi. Sua meta é tornar-se dono do pró-prio negócio, na área de paisagismo.

Na opinião do jovem, a agronomia oferece um leque muito grande de possibilidades de atuação, como, por exemplo, paisagismo, biocombustí-

Diferentes perfis de profissionais relatam suas experiências e expectativas

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JORNAL DO ENGENHEIRO AGRÔNOMO capa

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Os colegas de curso da ESALQ, Lauro Humberto Silva, 55 anos, e Vicente Eugenio Tundisi, 52 anos, são proprietários da Podarte, empresa especializada em licenciamento ambiental e manejo arbóreo (plantio compensatório, transplante, poda e corte de ár-vores). Situada na capital paulista para atender as exigências am-bientais da legislação municipal, a empresa atua também na área de paisagismo, conservação de áreas verdes e na execução dos Termos de Ajustamento de Conduta (de TAC’s).

Em 1996, quando abriram a Podarte, o mercado para serviços especializados em gestão ambiental ainda estava se formando, por isso os dois precisaram ter uma boa dose de coragem e paciência. E pelo jeito, valeu à pena, hoje a Podarte possui parceria com várias empresas e construtoras de grande porte, como Camargo Correa, Gafisa, Even, Englog & Autoban, Petrobras, Siemens, SPTRANS, Car-refour, Queiroz Galvão, Odebrecht e Andrade Gutierrez, entre ou-tras. Dos serviços já prestados, constam importantes obras, como a adequação viária da Marginal Tietê (Trecho II – Consórcio Nova Tie-tê), a Perimetral da Favela de Paraisópolis, a ampliação dos acessos da Rodovia Anhanguera a Marginal Tietê, e o plantio compensató-rio no Parque Villa Lobos, obra ainda em curso, e diversos outros projetos de relevo para a cidade de São Paulo.

“ A crescente conscientização do paulistano em relação a pre-servação das áreas verdes da cidade, culminou com a promulgação da Lei Municipal 10.365 de 22 de setembro de 1987, que disciplina o manejo arbóreo no município de São Paulo. A partir daquele mo-mento, abriu-se um novo campo de trabalho para os profissionais da área agronômica”, relata Tundisi. E continua. “A visualização de um negócio próprio e promissor, que associava experiência técni-ca, comercial e de marketing, obtidas em empresas multinacionais que trabalhamos, definiu a criação da Podarte”.

Silva e Tundisi acreditam que as exigências em relação às questões ambientais nos demais centros urbanos irão aumentar, ampliando as oportunidades para profissionais de agronomia que queiram atuar nesse segmento. Para quem deseja ingressar na área, eles dão um conselho: “A especialização em gestão ambien-tal será muito útil aos profissionais interessados nesta área, e várias instituições de ensino oferecem estes cursos. Para os graduandos sugerimos estágios em órgão públicos e empresas especializadas”.

Os empresários se mostram otimistas em relação ao segmento e aos negócios. “A Podarte apresenta uma trajetória de crescimen-to desde a sua fundação, embasada principalmente no atendimen-to ágil, qualificado e profissional. Confiamos que a boa imagem construída garantirá a nossa presença num mercado que está con-tinuamente em expansão”.

Paisagismo e manejo arbóreo, demandas que devem crescer nas zonas urbanas

Da esquerda para direita, Mateus Marrafon e Marcus Vinicius

veis, pós-colheita, seguradoras, bancos, entre outras. “O maior desafio para um engenheiro agrônomo não foge muito ao desafio de outras profissões, depois de conseguir o famoso primeiro emprego é essencial manter-se atualizado”, conclui.

Mauro Celso Sandoval Silveira, 44 anos, atua nas áreas de projetos e gestão em empresas ligadas ao agronegócio, desde que se formou. Para-lelamente, junto com sua família, é produtor de citros e café. “Cresci ligado à agricultura, ao homem do campo e a criação de animais, de forma que minha escolha pela agronomia foi algo natural”, conta.

Formado pela ESALQ, em 1986, com especializações na EAESP-FGV, Silveira acredita que o engenheiro agrônomo deveria ser mais chamado a participar das grandes questões da atualidade como a produção com baixo impacto ao meio ambiente, a reserva legal, índices de produtividade. “São temas em que um profissional da área pode contribuir muito com sua experiência”, afirma.

“Nos últimos anos tivemos muitos ganhos de produção e produtivida-de, porém a sociedade e os agentes do mercado iniciaram um movimento pedindo produtos com melhor qualidade, saudáveis, com processos de produção não poluente, com preservação do meio ambiente. Surgiram agencias certificadoras e selos para garantir a qualidade dos produtos. E o engenheiro agrônomo é o profissional capaz de efetuar a gestão destas transformações que estão ocorrendo”, defende Silveira.

Na condição de engenheiro agrônomo e produtor, Silveira diz que ou-tro grande desafio para o agrônomo é fazer com que o agricultor participe mais e também se beneficie destas transformações.

“A escolha foi baseada na amplitude do curso, e teve um pouco de influência da minha mãe, Maria de Fátima Marrafon, que é engenharia agrônoma”. É assim que Mateus Marrafon, 25 anos, um devotado Eng. Agrônomo, recém formado, justifica sua opção. Ele se formou em 2008 pela Universidade Estadual Do Norte Do Paraná (UENP) e já está fazendo mestrado em Máquinas Agrícolas na ESALQ, desenvolvendo sua tese sobre “Identificação dos Fatores Críticos no Processo de Semeadura de Milho”.

Marrafon é um inventor e mesmo antes do mestrado criou e desen-volveu vários equipamentos para facilitar a vida do produtor. O primeiro projeto que desenvolveu foi a “semeadura de fita”, um método de plantio que pode ser usado tanto para a cultura de grãos como para a cultura de sementes menores, como hortaliças. O trabalho foi selecionado pela Incu-badora Tecnológica de Botucatu (Prospecta) e no final de 2008 ganhou o Prêmio Jovem Inovador, parceria da Massey Ferguson com o Canal Rural. O estudante, no entanto, faz questão de frisar que a realização de tal projeto só foi possível “devido a ajuda e incentivo do Prof. Dr. Marco Antonio Gan-dolfo de Bandeirantes.

O jovem também trabalha em outro invento “a aplicação aérea por di-rigível “balão” na cultura de cana de açúcar e milho”, também selecionado pela Prospecta. “Em breve teremos um protótipo em teste, aplicando agro-químicos por ai”, antecipa ele. A usina de idéias dele não pára e ele tem mais uma série de criações, todas aguardando parceiros para transformá-las em produtos comerciais.

“Eu sou um cara apaixonado pela minha profissão, estou muito satis-feito com as possibilidades e oportunidade que este curso me ofereceu. Além do conhecimento teórico, ele me oferece a prática e o contato com um ambiente que me proporciona uma boa qualidade de vida”, declara o engenheiro agrônomo.

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A posse da receita

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1989. Nascia a receita agronômica, ante o clamor de fi-tossanitaristas e ambientalistas e pela força do art. 13º da Lei dos Agrotóxicos: “A venda de agrotóxicos e afins aos usuários será feita através de receituário próprio, prescrito por profissionais legalmente habilitados, salvo casos excepcionais que forem previs-tos na regulamentação desta Lei”.

1990. O regulamento textualizado no Decreto no 98.816 foi além e fez constar no Parágrafo Único do Art. 53: “Só pode-rão ser prescritos produtos com observância das recomendações de uso aprovadas no registro”. Na revisão deste regulamento em 2002, essa sentença foi repetida no Decreto no 4.074, apenas deslocada para o Art. 66.

Os médicos resguardados não só por sua formação acadêmi-ca, mas também pela legislação pertinente, orientam os pacientes e prescrevem medicamentos, fixando doses, horários e duração do tratamento sob sua indissociável responsabilidade. Diferente-mente, os engenheiros agrônomos e florestais estão impedidos de por em prática os avanços tecnológicos que a todo instante ocor-rem na fitossanidade decorrentes de pesquisas e experiências de campo. Até sofrem a humilhante rotulação (desculpem a alusão a rótulos, não resisti) de “copiadores de bulas”.

A verdade é que desta forma o nobre papel técnico-educativo da receita fica restrito a uma mera autorização de compra. E não foi esse o direcionamento da Lei 7.802, elaborada pelo Poder Legislativo. A Lei não impingiu essa afronta à ciência agronômi-ca, como o leitor pode observar no início do artigo. A medida foi fruto da miopia dos construtores das peças regulamentadoras, na área do Poder Executivo.

Temos ainda práticas agrícolas sem obrigação de registro e, por conseguinte não aparecem nas bulas, como são os casos do controle integrado e da mistura em tanque. No entanto, são técni-cas que requerem conhecimento, experiência, acompanhamento constante das pesquisas regionais e globais e que devem ser orientadas por profissionais com formação fitossanitária comple-ta, a qual inclui também plena percepção dos aspectos ecológi-cos e de saúde humana. Ainda, as chamadas Pequenas Culturas, com pouca ou nenhuma indicação de controle às pragas nas bulas dos agrotóxicos, estão a exigir a intervenção responsável desses profissionais, e esses precisam da liberdade legal para exercer suas competências.

Chegou a hora de desbastar um pouco a burocracia. O emérito e diligente Deputado Federal Luis Carlos Heinze, do Rio Grande do Sul (não lembro ou não quero citar o seu partido po-lítico) propôs recentemente na Câmara Federal uma “Indicação Legislativa” ao Poder Executivo para que altere o texto daquele

Parágrafo do Decreto 4.074/2002. Pela proposta o § Único do Art. 66 ficaria assim:

“Os produtos deverão ser utilizados mediante a observância das recomendações constantes nos respectivos rótulos ou bulas ou de acordo com prescrições específicas contidas em receita lavra-da nos termos do caput deste artigo”.

Todos os Engenheiros Agrônomos e Florestais deveriam enviar à Câmara Federal, ao Presidente da República, às Associações de Classe suas considerações de apoio a essa iniciativa. A Câ-mara Temática de Insumos Agropecuários, onde esse articulista tem assento, já decidiu encaminhar uma moção ao Ministro da Agricultura.

Que os doutores das plantas, legitimamente enfim, tomem pos-se da receita agronômica.

Tulio Teixeira de Oliveira – Diretor Executivo da AENDAwww.aenda.org.br / [email protected]

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Um estudo inédito sobre o Plantio Direto no Brasil, com análise dos dados de campo acumulados nos últimos quatro anos, vem sen-do financiado pela Fundação Agrisus desde 2004 e revela que o sistema de plantio direto está consolidado em mais de 40% da área de soja e milho cultivados no Brasil, o que representa uma exten-são de 11,5 milhões de hectares. Outros 8,2 milhões de hectares podem ser adicionados como áreas de plantio direto, porém ainda não totalmente consolidado, totalizando cerca de 19,7 milhões de hectares para essas duas importantes culturas. O levantamento de campo foi feito durante os Rallys da Safra dos últimos anos.

“Esta é a única pesquisa que temos conhecimento no Brasil que dá uma visibilidade real do campo, com esta extensão e ain-da com dados comparativos de quatro safras seguidas”, explica Ondino Cleante Bataglia, secretário executivo da Agrisus, que apresentou o trabalho na abertura do 10º Encontro de Plantio Direto no Cerrado em Dourados (MT).

Com base nesse relatório, a entidade pretende discutir uma nova postura das instituições para fins de elaboração de projetos de pesquisa que permitam melhorar a eficiência do sistema de plantio direto no país. A proposta da Agrisus é incentivar mais demonstrações de campo, com todo acompanhamento técnico e agronômico, para mostrar visualmente tecnologia correta do plantio direto baseado no solo recoberto por resíduos.

Além de montar o principal levantamento privado da safra de grãos e do estado da arte do plantio direto, a novidade em 2009 foi a ampliação do trabalho para avaliar o nível de fósforo

Fernando Penteado Cardoso**Eng.Agr.Sênior, ESALQ-USP1936, Presidente da Fundação Agrisus

Pesquisa de campo revela o perfil do plantio direto no brasil

e da fertilidade química do solo. As equipes do Rally colheram 2.344 amostras de solo, em 1174 pontos diferentes das prin-cipais regiões produtivas, para pesquisar a situação do fósforo que há vários anos vem sendo colocado e não misturado à terra cultivada com milho e soja no país. Os resultados das análises de fósforo e outros nutrientes estão sendo interpretados pela Con-plant, em Campinas (SP) e poderão ser posteriormente usados como referência para definição de ensaios complementares para determinar o melhor emprego dos fertilizantes, com eventual revi-são de paradigmas até agora consagrados.

Hoje a adubação fosfatada é aplicada na proporção de 60 a 80 kg/ha de P2O5, no risco a 5/8cm de fundo, e observa-ções de campo indicam que a partir de determinado nível no solo as plantas nem sempre respondem a novas adições de P, sugerindo a possibilidade de recomendações mais concentradas nas adubações de arranque.

O Rally da Safra é uma expedição técnica anual que existe há cinco anos e, em 2009, foi realizada de 8 a 14 de março por equipes que percorreram 50 mil km passando por 25 pólos de produção em 13 estados, avaliando 1300 lavouras de soja e milho e recolhendo amostras de solo nessas áreas. É uma re-alização da consultoria Agroconsult, com patrocínio de várias empresas e apoio da Fundação Agrisus.

O relatório completo “Estado da Arte do Plantio Direto no Brasil - Rally da Safra 2009” está disponível para consulta e do-wnload no site da Agrisus: www.agrisus.org.br

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De forma inédita o Crea – SP, desde o ano passado, está atuando na área Rural. Uma frota de veículos oficiais, com letras em destaque “FISCALIZAÇÃO”, e uma dupla de agentes fiscais, com coletes, esti-veram em várias propriedades rurais. Numa iniciativa da Câmara de Agronomia do Crea – SP, aprovada e incentivada pelo atual presiden-te, eng. José Tadeu da Silva , foi deflagrada uma operação de fiscaliza-ção e orientação no meio rural.

O intuito é cadastrar e orientar os produtores rurais, fornecendo aos mesmos uma carta do presidente do Crea-SP, de caráter educati-vo visando defender a sociedade em geral, seja pelo aspecto de saú-de da população, seja pelo ambiental, destacando a importância do profissional de ciências agrárias estar à frente da produção agrícola, garantindo a melhor qualidade dos produtos agrícolas produzidos, com a utilização de técnicas adequadas na produção e na aplicação

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Crea - SP vai a campo

ANDAV e Banco do Brasil consolidam parceria A ANDAV - Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários – e o Banco do Brasil assinaram convênio em

junho deste ano. A parceria irá conceder benefícios exclusivos às revendas associadas à ANDAV, através de produtos que visam o incre-mento no crédito. O primeiro fruto da parceria já está a pleno vapor: A linha de crédito Agroindustrial, antes disponibilizada à Agroindús-tria e Cooperativas, agora dedicada unicamente às revendas, com condições bastante atrativas. Segundo Henrique Mazotini, presidente executivo da ANDAV, este crédito terá importância estratégica neste momento para as revendas, para melhor atender os agricultores.

de defensivos agrícolas preservando o meio ambiente. “Essas atividades vão continuar e devem ser aprimoradas visan-

do sua melhoria”, afirma o eng. Agr. José Paulo Saes, Coordenador da Câmara de Agronomia do Crea – SP.

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O presidente da Comissão de Agricultura da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, deputado José Bittencourt (PDT) fala ao JEA sobre o trabalho realizadona ALESP.

JEA - Qual papel da Comissão de Agricultura?JB - É analisar os projetos que tramitam na Casa pertinentes ao setor com vistas a emitir parecer por um determinado Deputado relator de-signado pelo Presidente e posteriormente ser votado pelo plenário da Comissão preparando projeto para ser votado pelo Plenário principal da Assembléia Legislativa. Além do mais, a Comissão recepciona demandas relacionadas com o interesse da Agricultura e Pecuária no Estado de São Paulo, promovendo o debate necessário, inclusive com Audiências Públicas, fazendo indicações ao Governo, etc. JEA - Os parlamentares influem nas dotações para as secretarias de estado no caso Agricultura e Abastecimento?

JB - Sim, por ocasião da discussão da peça orçamentária, os deputa-dos estão sempre atentos as necessidades do setor, inclusive propondo o incremento necessário orçamentário para fazer frente aos programas desenvolvidos pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento. JEA - Como o deputado vê as perspectivas do orçamento para o pró-ximo ano? Tem uma previsão de quanto será destinado à agricultura?JB - Espero que haja sensibilidade por parte do Governo do Estado e que seja majorado o percentual, que hoje está em torno de 0,72% sobre as receitas do Estado, destinadas à Agricultura. JEA - Os cidadãos podem participar das votações?JB - Sim, anualmente a Comissão Permanente de Finanças e Orçamento da Casa abre espaço para a participação do cidadão. Este ano a Comis-são realizou cerca de 20 audiências públicas em diversas regiões do Estado, colhendo sugestões e propostas do povo de São Paulo para serem contempladas em forma de emendas ao Orçamento/2010.

Direto ao ponto

São Paulo será o primeiro Estado a instituir o pagamento por serviços ambien-tais no Brasil. Segundo o secretário do Meio Ambiente, Xico Graziano, o governo vai criar a figura dos protetores de água e do verde, que receberão recursos para preser-var o meio ambiente.

O secretário revela que, atualmente, o Estado cobra pelo uso da água e que este recurso poderá ser revertido para o pagamento dos produtores que protegerem nascentes e rios. “Da mesma forma, encontraremos uma forma de destinar recursos para o protetor de verde.” A medida será adotada em conjunto com a Secretaria da Agricultura, a exemplo do que ocorre com o protocolo ambiental e o zoneamento agroambiental. “A ideia é recuperar mais três milhões de hectares nas microbracias hidrográficas do Estado”, informa o secretário da Agricultura João Sampaio.

Produtor poderá ser remunerado para preservar o meio ambiente

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Em setembro, a reunião do Conselho Superior do Agronegócio, da FIESP (Cosag-Fiesp) discutiu dois temas de suma importância: seguro rural e mudanças climáticas.

O deputado federal Moacir Micheletto (PMDB-PR), coordenador da po-lítica da Frente Parlamentar da Agropecuária apresentou à platéia o Projeto de Lei Complementar 374 ,do qual é relator, que dispõe sobre o aperfeiçoa-mento dos instrumentos de seguro rural para a proteção da produção agrí-cola, pecuária, aqüicola e de florestas no Brasil. O projeto cria mecanismos para fazer frente a catástrofes decorrentes de eventos da natureza e de do-enças e pragas, incluindo subvenção econômica, e dá outras providências.

A proposta cria o “Fundo de Catástrofe”, trata-se de um programa para desenvolver o mercado de seguro rural, explicou o deputado.O “Fundo” constitui o principal objetivo – mas não o único – do Projeto em foco. Trata-se de um elo adicional de uma extensa cadeia de diluição de riscos, que se inicia com o produtor, passando por empresas privadas, seguradoras, governo e terminando no ressegurador do Fundo.

O modelo é de Parceria Público-Privada (PPP), as seguradoras, resse-guradoras (locais e admitidas) e as empresas privadas comprometem-se a criar uma Sociedade de Propósitos Específicos (SPE), sem fins lucrativos. A SPE irá instituir o Fundo, um fundo privado, constituído com capital priva-do, por uma instituição privada. O capital do Fundo será dividido em cotas a serem adquiridas pelos sócios.

O Projeto autoriza a União a participar desse fundo privado, na condi-ção de cotista, desde que sejam atendidas certas condições nomeadas no Projeto (são dispositivos que o Estatuto do Fundo deverá atender) e outras regras (as da SUSEP e as do Regulamento). Essas cotas poderão ser inte-gralizadas com recursos do Orçamento Geral da União ou com títulos da dívida pública, a critério do ministro da Fazenda.

Seguradoras e empresas privadas que queiram participar do Fundo, também deverão adquirir cotas e terão cadeira assegurada em seu Con-selho Diretor.

De olho no clima Para falar sobre os impactos das mudanças climáticas no agro-

negócio brasileiro foram convidados Rodrigo Lima, do Instituto de

Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Ícone) e Walter di Simoni do Grupo de Trabalho sobre Mudanças Climáticas da FIESP. Após apresentar vários dados, fica clara a preocupação do setor com a necessidade de melhor se articular e posicionar nacional e interna-cionalmente sobre as questões ambientais.

Ao contrário dos EUA, que tem o seu departamento de agricul-tura, à frente das discussões sobre mudanças climáticas, no Brasil o setor do agronegócio sente-se pouco representado. Por isso o ex-mi-nistro Roberto Rodrigues pede as entidades que participam do Cosag que atuem como uma interface dentro do governo para discutir as questões relativas as mudanças climáticas.

Rodrigo Lima apresenta três cenários: um em que o agronegócio é ameaçado pelas conseqüências do efeito estufa, outro em que ele é a própria ameaça, sob forma de desmatamento e outras agressões ao meio ambiente e outro, ainda, em que ele é amigo do meio ambiente e contribui para mitigação dos impactos ambientais. Ele chama a aten-ção para a necessidade de o Brasil se colocar nesse terceiro cenário, utilizando as vantagens que já possui, com sua matriz energética sen-do a mais limpa do mundo, realizando plantio direto, e se articulando melhor para criar formas de se beneficiar com os créditos de carbono.

O eng. Agrônomo José Amauri Dimarzio, presidente da Associa-ção dos Criadores de Brahman do Brasil, disse que a cadeia produtiva da pecuária precisa montar uma proposta que possa dar uma respos-ta a toda a pressão que o setor vem sofrendo. “Tem de ter um levan-tamento forte do governo para separar o joio do trigo, tem casos e casos. Nós trabalhamos com a raça brahman uma raça de alta pro-dutividade, nosso esforço é para que a unidade de área tenha mais animais e que sejam mais produtivos”.

Dimarzio acredita que a maior dificuldade se dá entre aqueles produtores de poucos recursos. “Para esses produtores deveria haver um apoio oficial, a fundo perdido, para que pudessem ter acesso a informação e tecnologias para aumento de sua produtividade, inibin-do as práticas de desmatamento”. Ele aponta ainda como causa para o desmatamento as madeireiras ilegais, “que usam a pecuária como disfarce para sua real atividade”.

Cosag discute seguro rural e mudanças climáticasC

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AGENDA

III Simpósio sobre Recuperação de Áreas Degradadas O III Simpósio sobre Recuperação de Áreas Degradadas, organizado

pelo Instituto de Botânica da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, ocorrerá entre 24 e 27 de novembro, em São Pau-lo. O evento abordará temas relacionados ao cenário atual das pesquisas científicas e políticas públicas para a recuperação de áreas degradadas e a legislação ambiental. Mais informações: www.ibot.sp.gov.br

Semana Agronômica em Ribeirão Preto A Associação de Engenharia Arquitetura e Agronomia de Ri-

beirão Preto juntamente com a APTA Regional Centro Leste, Insti-tuto Agronômico e Sindicato Rural de Ribeirão Preto promovem a Semana Agronômica Marcos Vilela Lemos. Uma das atrações é o Workshop “Agroenergia e Agregação de Valor”. Os coordenadores são o eng. agr dr. José Roberto Scarpellini - Apta Centro Leste – SAA; eng. agr. Márcio Aurélio Pitta Bidóia , Instituto Agronômico e Centro Avançado de cana-de-açúcar (SAA). Inscrições pelo site : http://aeaarp.org.br/ ou ligue: (16) 3637-1849

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Curso de agronomia da universidade do oeste paulista-unoeste

O curso de graduação em Agronomia, da UNOESTE, com sede em Presidente Prudente, iniciou suas atividades em 03 de agosto de 1987 (Autorizado pela portaria ME nº 83/87 – D.O.U de 16/02/87, com Reconhecimento homologado pela Portaria nº 860/93 - D.O.U de 09/06/93). O Curso insere-se em uma Universidade, iniciada em 1972, que conta hoje com 46 cursos de graduação, 51 cursos de Pós-Graduação “lato sensu” e 3 Programas de Pós-Graduação ”Stricto Sensu” - nível de Mestrado, recomendados pela Capes.

A Administração do Curso é realizada pelo coordenador aca-dêmico, cargo executivo que superintende, coordena e fiscaliza todas as atividades, conforme o Estatuto da UNOESTE. Ainda, a ele compete a coordenação, execução e avaliação da proposta pedagógica, supervisão do cumprimento do plano docente, acom-panhamento e desenvolvimento de programas junto aos alunos e docentes e informação aos pais e responsáveis sobre rendimento dos alunos. Esta função é exercida, desde 2008, pelo Prof. Dr. Carlos Sérgio Tiritan, Doutor em Agricultura, com 15 anos de atua-ção profissional e acadêmica, representante da instituição junto ao CREA desde 2005. A gestão do Curso de Agronomia é integrada a gestão institucional por meio da Pró-Reitoria Acadêmica, que zela pela implementação das políticas institucionais constantes no PDI e PPI no âmbito dos cursos de graduação. O Colegiado do Curso é composto pelo Coordenador, 04 docentes e 01 representante dis-cente, que reúnem-se ordinariamente uma vez por mês e extraordi-nariamente quando solicitado. Suas principais funções são: propor medidas para o bom funcionamento pedagógico do curso; realizar a integração da graduação com a pós-graduação, pesquisa e a extensão; integralizar o corpo docente e discente; estar atento a concordância entre as diretrizes curriculares e a estrutura curricular vigente; auxiliar a Coordenação na supervisão do cumprimento do regime didático, da proposta pedagógica e nos demais planos de trabalhos e participa da elaboração do projeto pedagógico.

Integrado ao Curso de Graduação, a UNOESTE possui, desde 2004, o Curso de Mestrado em Agronomia - Área de Concentra-ção: Produção Vegetal. Em 2007, o Curso participou da primeira avaliação trienal da CAPES triênio 2004-2006, recebendo o con-ceito 4. O reconhecimento do Curso de Pós-Graduação “stricto sen-

su” e sua boa avaliação são fatores que confirmam a consolidação da vocação da UNOESTE, para o ensino, pesquisa e extensão. O Curso de Mestrado oferece condições de formação, aperfeiçoa-mento e treinamento científico, essenciais para dar continuidade ao desenvolvimento regional, com a formação de profissionais qualifi-cados que exercem atividades não apenas na região do Oeste Pau-lista, mas nas outras regiões de influência como Norte do Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

O corpo docente no Curso de Agronomia estabelece ações pedagógicas que conduzem à formação de profissionais, com res-ponsabilidades técnica, social e ambiental, tendo como princípios o respeito e a conservação de todos os recursos ambientais, fauna, flora, solo, água e ar. A utilização racional e sustentável da tecno-logia com espírito criativo, crítico e reflexivo, de forma a suprir as demandas da sociedade por produtos agroindustriais e o atendi-mento às expectativas humanas. Objetiva também a formação de profissionais com bases técnico-científica, capacitado para a ges-tão ambiental de pessoas e de organizações de caráter privado, público e não governamental, que, comprometido eticamente e com o desenvolvimento sustentado da agricultura, possa diagnosticar e empreender mudanças que conduzam o homem, as organizações e as instituições, bem como, as propriedades rurais a crescentes salto de qualidade em sua existência.

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Cada Estado brasileiro teve suas características de desenvolvi-mento. Minas Gerais, por exemplo, tinha muitas riquezas minerais, como ouro, diamantes e outras pedras preciosas, que ajudaram no progresso de muitas cidades e fizeram o Estado crescer. O Rio de Ja-neiro tinha a família real, aquela badalação toda do império que con-tribuiu para seu crescimento. Enquanto em São Paulo a agricultura foi a responsável pelo desenvolvimento, sendo o lugar em que muitas pessoas fizeram fortuna, resultando no parque industrial paulista, que concentra grande parte da riqueza nacional que, há muitas décadas, atrai milhares de migrantes em busca de melhores dias.

São Paulo possui um número de habitantes que ultrapassa os 40 milhões. Segundo o último levantamento do Laboratório Urbano de Pesquisa e Análise (Lupa), atualmente existem no Estado 324.601 unidades de produção agrícola, com 20 milhões de hectares assim distribuídos: 3,9% em pastagens, 32,8% com culturas temporárias, 6,0% de culturas perenes, 11,9% em vegetação natural, 5,0% em re-florestamento e 4,9% com brejos e várzeas.

A agricultura paulista representa 20% do valor bruto da produção brasileira, ou seja, R$ 38 bilhões, e 25% das exportações agronegócio saem de São Paulo. É um setor diversificado, que gera centenas de mi-lhares de empregos no Estado, que se destaca como maior produtor de álcool e laranja, contando com 60% e 90%, respectivamente, da produção nacional. É também o maior produtor de seringueira e te-mos um rebanho bovino em torno de 12 milhões de cabeças e tantos outros produtos que abastecem a mesa dos brasileiros.

A agregação de valor é um fator muito importante em São Pau-lo. Podemos dizer que uma grande parte dos nossos produtos passa por alguma manufatura que aumenta o valor do produto final. Dian-te desses números e uma produção que valoriza a venda, dá para se ter uma idéia da grandeza e importância da agricultura paulista, que continua sendo, para o desenvolvimento do Estado e do país. Vemos que a agricultura paulista sempre foi uma marca importante, pois já em 1887, o imperador D. Pedro II criou o Instituto Agronômico de Campinas que contribuiu tremendamente e continua a fazê-lo até hoje para o desenvolvimento não só do setor no Estado, mas em todo o Brasil. Enquanto no ano de 1891 foi criada a Secretaria da Agricultura que atua com várias coordenadorias divididas em pes-quisa, produção de sementes e mudas, na defesa sanitária, dentre tantas outras atividades.

A Secretaria possui quase 600 casas de agricultura espalhadas nos 645 municípios paulistas. Tem uma deficiência muito grande de material humano, tanto técnico, como pessoal de apoio. E os salários não são compatíveis com as atividades. Devido a vários fatores que prejudicam a atuação profissional, a maioria dos técnicos municipa-lizados acaba tendo uma rotatividade muito grande, o que preju-dica a continuidade de muitos projetos. Eu ajudei na luta para que a Secretaria abrisse um concurso objetivando fortalecer o quadro, principalmente nas Coordenadorias de Assistência Técnica Integral (CATI) e Defesa Agropecuária (CDA). Depois de muito atraso, foi feito um concurso que leva ainda uma eternidade para chamar os apro-

Agricultura Paulista

vados. E, para minha surpresa, muitos dos técnicos que assumiram, pediram demissão por causa dos baixos salários.

Eu ando por todo o Estado e ouço reclamações dos produtores com relação à assistência técnica e é natural que isso aconteça uma vez que faltam profissionais. O pior de tudo é que, entra e sai ano, o montante de capital destinado para a Secretaria fica sempre pouco mais de 0,5% do orçamento do Estado, o que é uma vergonha diante do potencial da agricultura paulista e de sua importância para a economia do país. Temos mais de 240 mil propriedades familiares e todos sabemos que, para so-breviver na agricultura, esses produtores precisam de muito apoio para a organização de sua produção e comercialização. Mas não há como a ajuda ser satisfatória com um orçamento desses. É preciso que os gover-nantes enxerguem a importância de valorizar o setor agrícola para que um número muito grande de produtores não abandonem suas ativida-des e se desloquem para as áreas urbanas, engrossando, muitas vezes, as periferias da cidades. Não existe uma preparação para quem está na lavoura e muito menos para quem sai. A violência nas grandes cidades é praticamente insuportável e, da forma que está, só tende a agravar com o êxodo rural. A marginalidade só aumenta e o governo gasta quantias exorbitantes de dinheiro na construção de presídios, ao invés de investir no desenvolvimento pleno para quem trabalha na agricultura.

Todas as entidades do setor agrícola precisam se mobilizar para sensibilizar nossas autoridades com relação ao orçamento do setor. Só teremos sucesso e estabilidade se tivermos agricultores prepara-dos para atender as exigências de produção do mercado. Para isso, necessitamos de uma extensão rural forte no Estado, que dê suporte às demandas dos agricultores. Mas isso só acontece se for tomada uma decisão política de valorização da atividade agrícola, fazendo os investimentos necessários. Ou seja, começando pelo orçamento da Secretaria da Agricultura e Abastecimento.

Braz Albertini, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São e produtor rural. Mantém o Blog do Braz no endereço http://blogdobraz.wordpress.com publicando artigos sobre agricultura, agronegócio, políticas públicas, meio ambiente entre outros.

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A economia que faz diferença na agricultura

O Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Agência Paulista de Tec-nologia dos Agronegócios (APTA), foi fundado em 1943 com o objetivo de pesquisar, analisar e divulgar informações necessárias para o desen-volvimento dos diversos setores dos agronegócios de São Paulo.

Atualmente o instituto conta com 135 funcionários, dos quais 66 são Pesquisadores Científicos - dentre engenheiros agrôno-mos, economistas, estatísticos, geógrafos e sociólogos, e 69 atu-am na equipe de apoio técnico e administrativo.

O IEA foi a primeira instituição a sistematizar os estudos sobre economia agrícola no Brasil e ao longo dos anos passou por diversas reestruturações até o seu formato atual que conta com dois centros técnicos de pesquisa (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Es-tudos Econômicos dos Agronegócios e Centro de Pesquisa e Desen-volvimento de Informações Estatísticas dos Agronegócios ), além de Centro de Comunicação e Transferência do Conhecimento e Centro de Administração da Pesquisa e Desenvolvimento.

“Diferentemente dos demais Institutos de Pesquisa da Agên-cia Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), que apresen-tam forte vínculo com a área biológica, o Instituto de Economia Agrícola tem sua atuação voltada para as relações entre as esferas econômica, política, social e ambiental”, explica eng. agrª. Valquí-ria da Silva, diretora geral do IEA desde 2007.

Segundo Valquíria, o Instituto é fundamental no processo de tomada de decisão dos setores público e privado, através do le-vantamento de informações e dados estatísticos relativos a preços pagos e recebidos pelos produtos, além das estimativas de safras. “Os preços agrícolas são referências para os mercados atacadistas, varejistas e de produtores, tanto estadual como nacional”, diz.

Ainda segundo a diretora, as pesquisas e análises econômicas realizadas pela instituição, bem como a avaliação de políticas pú-blicas, prognósticos, custos de produção, censo agropecuário pau-lista e revistas técnicas e científicas tem se constituído também em importantes fontes de informações para ações públicas e privadas. “Além disso, realizamos estudos com focos na sustentabilidade da agricultura familiar, em agroecologia, em bionergia, em biotecno-logia e no desenvolvimento local participativo”, acrescenta.

Parceria e pesquisaO IEA possui parceiros nos mais diversos segmentos do setor

público – como CONAB, IBGE, ITESP, MAPA e MDA, e no setor priva-

do está presente nas áreas de cafeicultura, fruticultura, cana-de-açúcar, insumos e defensivos agrícolas, entre outros.

Recentemente, o IEA investiu recursos do Governo na área de comunicação, ampliou o banco de dados, por meio da recu-peração de séries históricas estatísticas e de publicações. “Hoje o acervo está disponível em sua totalidade de forma eletrônica, in-vestimos na modernização de nossas instalações e equipamentos, fundamentais para assegurar a qualidade dos trabalhos e presta-ção de serviços à sociedade, conquistada ao longo de nossa histó-ria”, relata a Diretora Geral do Instituto.

Dentre as diferentes áreas de estudo em desenvolvimento, o IEA participa do Comitê de Cobrança de Água na atividade agrí-cola, dos estudos de competitividade e sustentabilidade com enfoque nos arranjos produtivos e indicação geográfica como ferramentas para promoção do desenvolvimento da viticultura paulista. Além de marketing e gestão do negócio agrícola envol-vendo a disponibilização do software ACANT, desenvolvido pela própria instituição, mais o treinamento e avaliação de segmentos como a floricultura, suinocultura, hortaliças, dentre outros.

Para Valquíria, um dos acontecimentos mais importantes du-rante a sua gestão, foi a abertura do instituto para a sociedade através de seminários, cursos e palestras; além da criação do Ban-co de Bioenergia com o objetivo de disponibilizar dados setoriais, de forma ágil, constituindo-se em uma ferramenta útil ao público interessado no assunto.

Desafios e perspectivasAtualmente o maior desafio para a instituição é incorporar no-

vas ferramentas para a previsão e estimativa de safras agrícolas, tendo em vista a velocidade das inovações e o custo para inves-timento em recursos materiais e humanos, além da aquisição de insumos tecnológicos.

A diretora do IEA acredita que o conhecimento acumulado ao longo de sua história permite ao Instituto prospectar as oportuni-dades futuras, com a mesma competência e segurança com que atende as demandas atuais. “Respeitando nosso compromisso com a sociedade, entendemos que as reflexões sobre o setor de-verão contribuir para a competitividade dos produtos, a qualida-de de vida dos agentes envolvidos e a manutenção dos recursos naturais e paisagísticos”, conclui Valquíria da Silva.

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As pesquisas para o desenvolvimento econômico e social do setor são o foco do IEA

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Tradição e Informação O Jornal do Engenheiro Agrônomo é uma publicação que completa 40 anos de existência em 2010. Ao longo dessas quase quatro décadas de atuação, este veículo tem atuado como uma tribuna para os profissionais da agronomia e para o setor agronômico, de modo geral. Seu público leitor é formado por engenheiros agrônomos, sócios da Associação de Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo, autoridades, políticos e demais profissionais ligados à agropecuária. Se você precisa levar sua mensagem, seu produto ou serviço para esse público, anuncie no JEA.

Preencha o campo 058 na ART e contribua com a AEASP

Os engenheiros agronomos e profissionais da área tecnológica que preenchem a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) podem estar deixando de preencher o campo 31 do formulário, no qual o responsável tem o direito de destinar 10% do valor a entidade de classe de sua preferência.

Ao preencher o campo com o número 058, da AEASP, o profissional estará automaticamente fazendo sua contribuição à associação, ajudando assim a manter em seu trabalho de defesa e desenvolvimento da agronomia brasileira.

Quando o campo 31 não é preenchido a contribuição deixa de ser feita. Contudo se o emissor deixá-lo em branco a alíquota não é repassada para nossa entidade e vai direto para o Confea.

Os tipos de ARTs específicas para o engenheiro agrônomo são as de obras, serviços, receituário agronômico, desempenho de cargo/função e crédito rural.

O profissional pode anotar quando for responsável principal, co-responsável ou substituto. Por isso é importante eu os profissionais preencham esse campo com o código 058 da AEASP.

Será considerada nula a Anotação de Responsabilidade Técnica, quando:1 – a qualquer tempo, verificar-se a inexatidão de quaisquer dados nela constantes;

2 – o Conselho Regional verificar a incompatibilidade entre as atividades técnicas desenvolvidas e as atribuições profissionais dos responsáveis técnicos respectivos;

3- for caracterizado o exercício ilegal da profissão, em qualquer outra de suas formas. ( artigo 9º - Resolução nº 425/98 do Confea)