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JH Magazine Jornalismo em Histórias em Quadrinhos Manaus/AM, dezembro de 2009 #1 José Maria Duas histórias. Duas vidas. R$ 2

JHQ Magazine

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José e Maria. Maria e José. Personagens simples. Personagens reais. Pessoas comuns, daquelas que sabemos existir em todas as esquinas perdidas das grandes cidades, mas que não são interessantes aos jornais nossos de cada dia. Mas aqui, elas assumem o papel principal. São histórias contadas em texto e imagens. São histórias contadas em imagens e texto. A união de duas linguagens - a do Jornalismo e a das HQs - para contar duas belas vidas. José e Maria, Maria e José... eles ainda estão por aí, em algum lugar e em lugar algum.

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Page 1: JHQ Magazine

JH Magazine

Jornalismo em Histórias em Quadrinhos

Manaus/AM, dezembro de 2009

#1

José MariaDuas histórias. Duas vidas.

R$ 2

Page 2: JHQ Magazine

JH Magazine

Jornalismo em Histórias em Quadrinhos

Prezado leitor, o que você tem em mãos não é exatamente uma novi-dade. É algo já realizado em outros países e que ganha mais adeptos a cada dia: jornalismo em Histórias em Quadrinhos (HQ’s). Ao que se tem notícia, o primeiro a usar a lin-guagem das HQ’s para mostrar a realidade foi o jornalista maltês Joe Sacco, que inaugurou o gênero com a aclamada série Palestina, de 2002, em que mostrou os horrores da guer-ra naquela região.

Não estamos falando de charges ou tirinhas. Jornais são papéis em bran-co que, como outros, são preenchi-dos por letras e figuras. Estamos falando de desenhos a serviço do Jornalismo. Esse foi o ineditismo de Sacco e que agora é experimentado por meio deste produto que batiza-mos de JHQ Magazine. Nas páginas a seguir, você vai desfrutar da adapta-ção de uma reportagem em gênero literário para o formato em HQ e vai ainda poder perceber a subjetividade desta adaptação, pois o texto original também será mostrado.

Esperamos que a proposta alternativa da edição zero da JHQ Magazine aos textos de jornais e revistas – em sua maioria chatos, vazios e sem vida – seja de seu gosto. Aproveite.

Mário Bentes, editor de JHQ Magazine.

Editorial

Equipe de JornalismoMário BentesDaniel JordanoLuiz Guilherme Melo

Equipe de ArteMárcio Alexandre Projeto Gráfico

Ana Paula Castro Iasmin SouzaIlustração

Centro Universitário do Norte – UniNorteComunicação Social com habilitação em JornalismoTurma CJN08S2 / 2006-2009Este produto é resultado de Projeto Experimental.

Professora-orientadoraLeila Ronize

Manaus, AmazonasDezembro de 2009

Expediente

Page 3: JHQ Magazine

Um homem de meia idade está sentado na escadaria de um prédio comercial de uma grande ci-

dade. Pele morena e abatida, ele permanece em silêncio com os olhos fixos em um ponto perdido no horizonte. Apesar da agita-

ção daquela cidade, do vai-e-vem frenético dos transeuntes pela calçada, do entra e sai do prédio atrás de si, aquele homem de expressão solitária fica

assim, em silêncio, por alguns minutos, até que finalmente desperta quando uma voz repentina interrompe sua meditação urbana: “Quanto é a manga?”.

O olhar de José Wilson, então, se ilumina como se acabasse de receber a melhor das notícias. Não importa quem seja; o velho vendedor de frutas se levanta e atende seu mais novo cliente

como se fosse um grande e inesquecível amigo dos tempos de infância. “As mangas estão bem fresquinhas”, garante José, sorrindo. Seu cliente, porém, não o olha nos olhos; escolhe as frutas que

julga estarem melhores, paga e vai embora. José Wilson parece não se importar: ele permanece com o cativante sorriso de poucos dentes até que o desconhecido dobre a esquina e se perca na multidão.

Completando um ciclo que se repete ao longo de todo o dia, de todas as semanas e de todos os meses em mais de dez anos, José volta para o silêncio dos seus próprios pensamentos, enquanto senta novamente nas escadas encardidas do antigo edifício Antônio Simões, na Avenida Sete de Setembro, Centro de Manaus. O rosto daquele homem, antes iluminado, volta a se apagar; o sorriso desaparece. E o olhar, outrora atencioso e sincero, volta a se perder num ponto distante e desconhecido.

Senhor Wilson

Essa é a rotina diária de José Wilson, que, entre outras informações da própria vida, descon-hece a idade. Acredita ter mais de 40 anos. Ele também não sabe mais o nome da cidade

onde nasceu, embora tenha vontade de voltar para visitar os parentes e amigos. “Não lembro mais o nome da minha cidade, mas sei que é no Maranhão”, garante. José

diz que tem um filho, mas também não lembra o nome dele nem a idade. “Acho que ele mora em Macapá com a mãe”, arrisca, acreditando ser um

jovem de 16 anos.

Joséum homem sem

passado

Por Mário Bentes e Luiz Guilherme Melo

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Sem chefe, sem regras. Sem apoio

Ele chega ao Centro por volta das dez da manhã, quando julga ser o melhor momento para as vendas. Como

não tem chefe, José escolhe a carga horária de cada jornada. “Quando o movimento está muito bom, eu fico até às seis da tar-

de. Às vezes até às seis e meia, no máximo”. José não tem horário certo, não tem carteira assinada, nem ajuda do governo. “Não recebo

nada do governo. Nenhum tipo de ajuda”, lamenta, com mais uma vez tendo olhar perdido. “Existe alguma instituição que reprensente outros que trabalham como você? Um sindicato, uma organização?”. José ap-enas balança a cabeça negativamente, sem voltar o olhar.

José Wilson, idade desconhecida, terra natal desconhecida, nome desconhecido do filho, renda mensal desconhecida. Direitos

desconhecidos. “Eu conheço meus vizinhos e colegas de trabalho. Gosto de conversar no caminho de volta para casa”, argumenta.

“E o que faz para se divertir, senhor Wilson?”, perguntamos antes de ir. Depois de arriscar algumas respostas, José

pensa melhor e dá a versão definitiva e quase ina-creditável para a pergunta: “Vendo frutas”,

e cai na gargalhada.

O sustento

José Wilson mora sozinho em Manaus há pelo me-nos dez anos – ele também não sabe precisar o tempo certo.

Habita uma casa no Tancredo Neves, na zona Leste. Não sabe ler ou escrever, mas sabe contar. “Quanto você ganha por mês?”, per-

guntamos. José coça a cabeça e dá um sorriso maroto: “Nem sei. Mas dá pra viver”, diz, com um ligeiro sorriso que volta após uns minutos de apatia.

Aposentadoria? Não, José Wilson trabalha desde a infância – já foi vendedor de garrafas de mel e servente de pedreiro –, mas não faz idéia do que é ter uma carteira

assinada. Também nunca esteve em uma sala de aula.

De vez em quando, a conversa é interrompida por um ou outro cliente, que olha para as vistosas mangas rosas maduras cuidadosamente arranjadas num carrinho-de-mão for-rado com uma folha de papelão. “Só um minuto”, pede José, que vai ao encontro de seu mais novo freguês com sorrisos, mesmo que ele nem o olhe nos olhos. Venda realizada, dinheiro recebido, conferido e guardado no caixa – o bolso de trás da bermuda. As man-gas são ensacadas e entregues, e José senta-se novamente nos degraus das escadas.

“As vendas são boas, não?”, aproveitamos o embalo. “Tem dia que vende bem, tem dia que não”, pondera. “Mas é bom não ter chefe”, sorri mais uma vez. José conta que acorda às seis da manhã. Seu primeiro ponto de parada: feira da Panair. “Às

vezes vou na Manaus Moderna ou na feira da banana”. “Para comprar as mangas?”, e damos

um sorriso. “Eu também vendo abacaxi!”, e o sorriso se abre num momento de felicidade repentina.

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José

Por Mário BentesLuiz Guilherme Melo

Ana Paula Castro Iasmin Souza

Ilustração

um homem sem passado

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JHQ Magazine #16

Um homem de meia idade. Ele permanece em silêncio com os olhos fixos em um ponto perdido no horizonte.

Apesar do vai-e-vem frenético dos transe-untes pela calçada, do entra e sai do prédio atrás de si...

... da agitação daquela cidade...

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JHQ Magazine #1 7

...Aquele homem de ex-pressão solitária fica em silêncio. Até que finalmente desperta quando uma voz repentina interrompe sua meditação urbana...

“Quanto é a manga?”

O velho vendedor de frutas atende seu mais novo cliente como se fosse um amigo de infância.

Seu cliente, porém, não o olha nos olhos...

... ele escolhe as frutas que julga estarem mel-hores, paga e vai embora.

José Wilson parece não se importar. Ele permanece com o cativante sor-riso de poucos dentes...

...até que o desconhecido dobre a esquina e se perca na multidão.

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JHQ Magazine #18

Completando um ciclo que se repete a mais de dez anos, José volta para o silêncio dos seus próprios pensamentos.

O rosto daquele homem, antes iluminado, volta a se apagar; o sorriso desaparece...

E o olhar volta a se perder num ponto distante e desconhecido.

Essa é a rotina de José Wilson, que, entre outras informações da própria vida, desconhece a idade.

Acredita ter mais de 40 anos.

Ele também não sabe mais o nome da cidade onde nasceu, embora tenha vontade de voltar para visitar os parentes e amigos.

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JHQ Magazine #1 9

Não lembro mais

o nome da minha cidade, mas sei que é no Maranhão.

José diz que tem um filho...

...mas também não lembra o nome dele nem a idade.

José Wilson mora sozinho em Manaus há pelo menos dez anos...

...mas ele também não sabe precisar o tempo.

Mas um desconhecido qualquer ouve sua história.

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JHQ Magazine #110

José mora no Tancredo Neves, na zona Leste.

Não sabe ler ou escrever, mas sabe contar.

José Wilson trabalha desde a infância. Já foi vendedor de garrafas de mel...

...e servente de pedreiro.

Mas não faz ideia do que é ter uma carteira assinada.

José também nunca esteve em uma sala de aula.

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JHQ Magazine #1 11

Quanto você ganha por mês?

Nem sei. Mas dá pra viver.

De vez em quando, a conversa é interrompida por um ou outro cliente.

José vai ao encontro de

seu mais novo freguês com

sorrisos...

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JHQ Magazine #112

...mas seu cliente não o olha nos

olhos.

Venda realizada, dinheiro recebido.

Conferido.

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O dinheiro é guardado no caixa - o bolso de trás da bermuda.

As mangas são ensacadas e

entregues.

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E José senta-se novamente nos degraus das escadas.

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JHQ Magazine #1 15

As vendas são boas, não?

Tem dia que vende

bem, tem dia que não.

Mas é bom não ter chefe.

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JHQ Magazine #116

José conta que acorda às seis da manhã. Seu primeiro ponto de parada: feira da Panair.

“Às vezes eu vou na Manaus Moderna ou na feira da banana”, diz José.

Para comprar as mangas?

Eu também

vendo abacaxi!

E o sorriso de José se abre num momento de

felicidade repentina.

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JHQ Magazine #1 17

Ele chega ao Centro por volta das dez da manhã, quando julga ser o melhor momento para as vendas.

Como não tem chefe, José escolhe a carga horária de cada jornada.

“Quando o movimento está muito bom, eu fico até às seis da tarde. Às vezes até às seis

e meia, no máximo”.

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Existe alguma instituição que

reprensente outros que trabalham como

você?

Um sindicato, uma organização?

José apenas balança a cabeça negativamente, sem voltar o olhar.

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Eles ficam em silêncio por alguns instantes...

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José Wilson, idade desconhecida, terra natal desconhecida, nome desconhecido do filho, renda mensal desconhecida.

Direitos desconhecidos.

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JHQ Magazine #1 21

O que faz para se divertir, senhor Wilson?

O sujeito pergunta, antes de partir.

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Depois de arriscar algumas respostas...

José pensa melhor...

E dá a versão definitiva e quase inacreditável para a pergunta...

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JHQ Magazine #1 23

Vendo frutas!

FIM.

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JH Magazine

Jornalismo em Histórias em Quadrinhos

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Plém, plém, plém... plém, plém, plém.

O som ecoava e a cada passo para o interior do ambiente ele ficava mais alto. Rodoviária de Brasília, DF, um local com dezenas de

ônibus chegando e saindo sem parar. Várias pessoas andando e falando, frenéticas, seguindo o ritmo da grande cidade. Em uma espécie de dupla pas-

sagem de nível, muitos carros passam ao lado, por cima e sob os pés dos milhares de usuários do transporte coletivo.

Plém, plém, plém... plém, plém, plém.

Apesar do caos urbano, o som ecoava no local. Um barulho contínuo interrompido apenas quando alguém depositava as moedas em uma latinha. A pequena lata era segurada por uma mulher de 50

anos, sentada no chão próximo de uma das escadas da rodoviária.

Dona Maria José, apesar dos 50 anos, aparentava ter uma idade mais avançada: sinais da vida difícil que levou no sertão do Ceará. Com a pele morena, com saia marrom, camisa branca de mangas longas e touca na cabeça que cobria seus cabelos quase brancos, dona Maria estava ali para tentar assegurar o dinheiro do aluguel de R$ 80.

Ela vive em um albergue em Brasiléia, uma cidade-satélite do Distrito Federal, e pede esmolas na capital federal. Assim como outras cidades-satélites, Brasiléia surgiu quando os trabalhadores que construíram a capital federal foram obrigados a sair do plano piloto após as obras.

Como na maioria das cidades ao redor do plano, ruas de barro contrastam com as avenidas largas e os imensos viadutos de Brasília. Faltam serviços básicos, como infra-estrutura e

segurança.

Juazeiro do Norte

A vida de Maria vida nunca foi fácil. Em Juazeiro do Norte, no Ceará, trabalhava desde criança na roça, sempre afetada

pela seca. Ela tem oito filhos, dos quais sete a acompanharam em uma viagem

Sobre moedas e latinhas

Por Daniel Jordano

Page 26: JHQ Magazine

-Ah, meu filho não sei. Que Deus me leve...

Em uma cidade de ruas largas, repletas de órgãos públi-cos e autoridades engravatadas, na Brasília dos carrões, do

dinheiro na cueca e da polícia que bate em professores que protestam, é comum ver várias “Marias”. Pessoas que nas belas

ruas tentam apenas sobreviver. Dona Maria e sua família não são as primeiras e nem as últimas pessoas a percorrem o “caminho para o Sul”, seja por qual motivo for.

No andar superior da rodoviária, olha-se a cidade em quase sua totali-dade, plana ao pôr-do-sol e, de lá, pode-se ver as “casas” do poder e a “casa” de um homem, que também tem veio do Sertão, foi para São Paulo e agora ocupa o Palácio do Planalto.

Na saída, o som das moedas na latinha volta a ecoar na ro-doviária...

Plém, plém, plém... plém, plém, plém.

sem passagem de volta, ou melhor, sem passagem alguma. Dona

Maria chegou há dois anos ao Planalto Central, de carona, na carroceria de muitos caminhões. Uma via-

gem tão longa para um tratamento de tireóide. A doença deixa o pescoço de Dona Maria inchado.

Para fazer o tratamento, ela enfrenta filas madrugada adentro a fim de assegurar o atendimento em um dos hospitais público de Brasília. Nas escadas da movimen-

tada rodoviária, dona Maria continua sentada com a latinha na mão, um lugar nada apropriado para quem está doente.

Duas crianças se aproximam de forma curiosa. Segundo dona Maria, são filhos de uma con-hecida, que também trabalha na rodoviária. Elas também pedem esmolas. Tímidas logo se afastam. Com olhar perdido, dona Maria se lembra do filho mais velho que deixou no Ceará. Dos filhos que estão na capital federal, apenas um é maior de idade e trabalha catando pa-pelão.

Por um instante ela deixa a lata com as moedas no chão, cessando por alguns minutos o bar-ulho que antes ecoava na movimentada rodoviária. Ela se cala, olha para o outro lado da pista como se toda a história de sua vida contada ali passasse como um filme em sua memória. O silêncio é interrompido por um pergunta:

- O que a senhora espera daqui pra frente?Ela, com simplicidade, responde:

- Só quero voltar pro Ceará, depois que conseguir me tratar. - E o futuro?

Dona Maria responde em um tom desapontado, apensar de ter a pouca idade, fala como se já tivesse vivido mais de oito

décadas.

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Por Daniel Jordanocom colaboração de Mário Bentes

Ana Paula CastroIlustração

moedasSobre

e

latinhas

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JHQ Magazine #128

Rodoviária de Brasília, em mais um dia comum...

...várias pessoas de lá para cá. Mas naquela tarde algo chama a atenção. Um barulho ecoava...

...e mesmo com o som de buzinas e motores, aquele barulho ecoava...

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JHQ Magazine #1 29

O barulho cessava quando alguém depositava a moeda na latinha.

Maria José, apesar dos 50 anos, aparentava ter uma idade mais avançada.

Olá, tudo bem?

Posso sentar ao seu lado?

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JHQ Magazine #130

Desculpe incomodá-la,

mas...

Por que a senhora pede

esmolas?

Apesar de não entender o interesse daquele estranho, Maria José não vê problemas em contar sua história.

Ela se lembra da infância difícil na roça, em Juazeiro do Norte, no sertão do Ceará...

A velha senhora vasculha suas lembranças...

E tudo volta a sua mente, como se fosse hoje.

...e de quando teve de deixar sua terra natal em busca de uma nova esperança...

...o tratamento de sua doença.

Ela partiu com sete filhos para Brasília.

Um ficou para trás. O mais velho.

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JHQ Magazine #1 31

Já se passou dois anos desde que Maria José chegou com os filhos em Brasília para se tratar da tireóide.

Desde então, Maria vem lutando para se tratar. Mas as

dificuldades são tão grandes quanto os prédios daquela

cidade...

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JHQ Magazine #132

Por um momento, ela desperta de suas lem-branças...

...e se preocupa com o aluguel de oitenta reais do albergue onde mora...

Pago de moeda em moeda que sao deixa-das em sua lata...

E a velha Maria ainda ajuda a tomar conta de duas crianças, filhas de uma amiga.

Elas também pedem es-molas para sobreviver.

Por um momento, Maria fica em

silêncio, como se estivesse perdida em suas lembranças e chagas do presente

e do passado...

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JHQ Magazine #1 33

O que a senhora espera

daqui pra frente?

Pela primeira vez durante todo o dia, ela põe a lata com as moedas no chão.

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JHQ Magazine #134

Eu só quero voltar pro Ceará, depois que me

tratar. E o futuro?

Maria José fica em silêncio...

“Que Deus me leve“, pensa ela.

Maria pega novamente a

lata... e o som das moedas

volta a ecoar na rodoviária.

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JHQ Magazine #1 35

O desconhecido vai embora, mas as palavras de Maria José não saem de sua cabeça...

“Que Deus me leve“.

FIM.

Page 36: JHQ Magazine

s

José e Maria.Maria e José.

Personagens simples. Personagens reais.Pessoas comuns, daquelas que sabemos existir em todas as

esquinas perdidas das grandes cidades, mas que não são interessantes aos jornais nossos de cada dia.

Mas aqui, elas assumem o papel principal.São histórias contadas em texto e imagens.São histórias contadas em imagens e texto.

A união de duas linguagens - a do Jornalismo e a das HQs - para contar duas belas vidas.

José e Maria, Maria e José... eles ainda estão por aí, em algum lugar e em lugar algum.

Mário Bentes Daniel Jordano Luiz Guilherme Melo

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