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Joana D_Arc, De Régine Pernoud

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Livro da historiadora francesa Régine Pernoud sobre a figura emblemática de Joana D'arc

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  • Joana d'Arc. Uma carreira de dois anos. Dois anos em uma poca

    marcada pela Guerra dos Cem Anos. No h, sem dvida, personalidade do sc. XV sobre quem estejamos melhor e mais abundantemente documentados. Esta pequena biografia de Joana d'Arc

    constituda quase que exclusivamente de testemunhos de seu tempo. Ela permite precisar os quadros

    pessoal, poltico, militar, jurdico, religioso e literrio

    nos quais Joana se situa. Rgine Pernoud, historiadora, autora de cerca de trinta obras, cuja maioria

    se tomou clssica, a pessoa mais abalizada para evocar, com fervor, o

    itinerrio de urna das figuras mais surpreendentes de toda a Histria.

    08574.0 Joua B HC P1uhncs Preco R$ 14.80

    ISBN 85-1311-$42-1

    9 788573113426 >

  • Agradecemos ao Centro Joana d'Arc ter nos c OIH cdtrl11 o direito de uso de uma boa parte dos dot 111111 "'"'' qct ilustram esta obra (p. 18, p. 52, p G. p /h, Jl 111, I' 11!1, p. 109, p. 114, p. 129). Par,t d'l PHI"'"'' '), ' "' " ,J, ''''"' Vigne; 150, clich da C'in
  • Agradecemos ao Centro Joana d'Arc ter nos c OIH cdtrl11 o direito de uso de uma boa parte dos dot 111111 "'"'' qct ilustram esta obra (p. 18, p. 52, p G. p /h, Jl 111, I' 11!1, p. 109, p. 114, p. 129). Par,t d'l PHI"'"'' '), ' "' " ,J, ''''"' Vigne; 150, clich da C'in
  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Pernoud, Rgine Joana D'Arc, a mulher forte I Rgine Pernoud;

    [traduo Jairo Veloso VargasJ. - So Paulo: Paulinas, 1996.- (Coleo testemunhas. Srie santos).

    1. Joana D'Arc, Santa, 1412-14311. Ttulo.

    96-0032 CDD-282.92

    ndices para catlogo sistemtico:

    I. Santos: Igreja Catlica: biografta 282.92

    Titulo original da obra PETflE V/E DE JEANNE D'Af(C

    Descle de Bouwer, Paris, 1990.

    Traduo: Jairo Vetoo Vargas Rcvtso de texto: Sandra Tidbucco Valcnzuela

    Capa: David de Oliveira Lemes

    -! cdio - 200-l

    .\', 'rhttml Jrt.-J., UJ obra rtlt.ltl \,r t .. prvdtt:id,, nu bn.\lllllldtJ por q;wlqmr /otma 'ou quaHqUt.'" m-.:un (4./ru,ittic- tU mccamco. incluin,/o fiJioflJ''" c. gldmriuJ ou Uflflil\ acf,, ,;, qualqt1er \Hftnw ou butco clt JJ.J }f St.M /)\'t'ntiS,o ... ,, nliJ J11 EJII(}fU Dtrt rlus ll h n ,;do.,.

    rnulina Ru'' Pedro tlc Tolcdo. 16-1

    0-103\1-000-S.io Paulo- SP (llr.sil) Tcl.: (li) 2125-3549 FaX' (li) 2125-354&

    hnp://""w.pdulinls.org.br- [email protected] T clcmarkting c SAC: OHOO-70 I OOS I

    "' P1n Socicdac.lc Filha' de So Paulo - Sjo Paulo. 1996

    Prefcio

    Todos conhecemos a histria de Joana d'Arc. Ela to conhecida, que muitos acreditam tudo saber sobre ela antes mesmo de hav-la estudado. No basta porventura ter freqentado a escola primria ou ter lido um manual de Histria para estar informado sobre ela?

    Sobre ela foram escritas inmeras obras, e quase no passa um ano sem que apaream novas. preciso, no entanto, fazer uma escolha acertada, porque, precisamente a histria de Joana, em sua simplicidade, levanta, para todos os que a evocam, uma infinidade de questes. Quando estabelecamos o programa de ordenamento para o Centre Jeanne-d'Arc d'Orlans (Centro Joana d'Arc de Orlans), descobrimos que, para tratar conjuntamente de todas as questes que poderiam ser levantadas, seria necessrio prevermos os quadros pessoal (origens, famlia, ascendncia etc.), poltico (as circunstncias de sua presena) , militar (liderou combates), jurdico (enfrentou julgamentos), religioso (o Tri-

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  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Pernoud, Rgine Joana D'Arc, a mulher forte I Rgine Pernoud;

    [traduo Jairo Veloso VargasJ. - So Paulo: Paulinas, 1996.- (Coleo testemunhas. Srie santos).

    1. Joana D'Arc, Santa, 1412-14311. Ttulo.

    96-0032 CDD-282.92

    ndices para catlogo sistemtico:

    I. Santos: Igreja Catlica: biografta 282.92

    Titulo original da obra PETflE V/E DE JEANNE D'Af(C

    Descle de Bouwer, Paris, 1990.

    Traduo: Jairo Vetoo Vargas Rcvtso de texto: Sandra Tidbucco Valcnzuela

    Capa: David de Oliveira Lemes

    -! cdio - 200-l

    .\', 'rhttml Jrt.-J., UJ obra rtlt.ltl \,r t .. prvdtt:id,, nu bn.\lllllldtJ por q;wlqmr /otma 'ou quaHqUt.'" m-.:un (4./ru,ittic- tU mccamco. incluin,/o fiJioflJ''" c. gldmriuJ ou Uflflil\ acf,, ,;, qualqt1er \Hftnw ou butco clt JJ.J }f St.M /)\'t'ntiS,o ... ,, nliJ J11 EJII(}fU Dtrt rlus ll h n ,;do.,.

    rnulina Ru'' Pedro tlc Tolcdo. 16-1

    0-103\1-000-S.io Paulo- SP (llr.sil) Tcl.: (li) 2125-3549 FaX' (li) 2125-354&

    hnp://""w.pdulinls.org.br- [email protected] T clcmarkting c SAC: OHOO-70 I OOS I

    "' P1n Socicdac.lc Filha' de So Paulo - Sjo Paulo. 1996

    Prefcio

    Todos conhecemos a histria de Joana d'Arc. Ela to conhecida, que muitos acreditam tudo saber sobre ela antes mesmo de hav-la estudado. No basta porventura ter freqentado a escola primria ou ter lido um manual de Histria para estar informado sobre ela?

    Sobre ela foram escritas inmeras obras, e quase no passa um ano sem que apaream novas. preciso, no entanto, fazer uma escolha acertada, porque, precisamente a histria de Joana, em sua simplicidade, levanta, para todos os que a evocam, uma infinidade de questes. Quando estabelecamos o programa de ordenamento para o Centre Jeanne-d'Arc d'Orlans (Centro Joana d'Arc de Orlans), descobrimos que, para tratar conjuntamente de todas as questes que poderiam ser levantadas, seria necessrio prevermos os quadros pessoal (origens, famlia, ascendncia etc.), poltico (as circunstncias de sua presena) , militar (liderou combates), jurdico (enfrentou julgamentos), religioso (o Tri-

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  • Joana D'Arc - a mulher forte

    bunal da Inquisio) 1 e literrio (sua presena na Histria suscitou urna infinidade de poemas, crnicas, peas teatrais, filmes, sem falar em obras de erudio e de histria propriamente dita) .

    Tudo isso em funo de uma carreira de apenas dois anos. Dois anos! Dentro de um perodo caracterizado pela Guerra dos Cem Anos . . . 2

    Fica, ainda, alguma coisa que escapa informtica: a emoo diante dessa mo-

    I. Tribunal da Inquisio - Antigo tribunal eclesistico, conhecido tambm por "Tribunal do Santo Ofcio", e estabelecido pela Santa S em alguns pases para conhecer os crimes contra a f e para procurar e extirpar os hereges, os judeus e os infiis. lnquisidor o juiz do Tribunal da Inquisio.

    2. Guerra dos Cem Anos - (1 337-1453) - Conflito que envolveu as monarquias francesa e inglesa por questes de domnio territorial. A causa imediata foi a ascenso de Felipe VI ao trono da Frana, enquanto Eduardo 111, da Inglaterra, pretendia ser o herdeiro autntico das duas monarquias. O conflito compreendeu quatro fases, com sucesso alternado de ingleses e franceses. A quarta fase ( 1428-1453) iniciou-se com o cerco de Orlans, pelos ingleses, e foi o perodo das vitrias de Joana d'Arc, que animaram os franceses a se reorganizarem, de forma a vencerem definitivamente o inimigo, em cujo poder, depois de 1453, s restou a cidade de Calais, porto no Canal da Mancha, que s voltaria aos franceses em 1558.

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    cinha que, aos 17 anos, conquistou vitrias decisivas, mudando a face da Europa, e morreu queimada viva aos 1 9 anos e a singularidade de uma vocao que, obstinadamente, se recusou a atribuir a si mesma quaisquer glrias ou mritos, creditando tudo a Deus. Para essas questes, nenhuma resposta, a no ser a que se abre para o infinito sempre presente na liberdade human.

    O que surpreendente o nmero de autores e de obras que, a propsito de Joana d 'Arc, viram as costas Histria. Ora, no h personagem, pelo menos no sculo XV, sobre a qual estejamos melhor e mais abundantemente documentados. Ela assombrou seus contemporneos do mesmo modo que nos assombra, donde as inmeras crnicas, as memrias, as cartas que dela falam. Acima de tudo, julgando-a, Pierre Cauchon e os demais universitrios, colaborando com o invasor ingls, no poderiam supor que nos preparavam o mais inquestionvel documento da Histria: o texto do processo de condenao ( 1 4 3 1 ) , com suas perguntas e as respostas de Joana, testemunho sobre sua personalidade mais convincente que o preparado por seus adversrios, determinados a lev-la fogueira. Dezoito anos mais tarde, quando

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  • Joana D'Arc - a mulher forte

    bunal da Inquisio) 1 e literrio (sua presena na Histria suscitou urna infinidade de poemas, crnicas, peas teatrais, filmes, sem falar em obras de erudio e de histria propriamente dita) .

    Tudo isso em funo de uma carreira de apenas dois anos. Dois anos! Dentro de um perodo caracterizado pela Guerra dos Cem Anos . . . 2

    Fica, ainda, alguma coisa que escapa informtica: a emoo diante dessa mo-

    I. Tribunal da Inquisio - Antigo tribunal eclesistico, conhecido tambm por "Tribunal do Santo Ofcio", e estabelecido pela Santa S em alguns pases para conhecer os crimes contra a f e para procurar e extirpar os hereges, os judeus e os infiis. lnquisidor o juiz do Tribunal da Inquisio.

    2. Guerra dos Cem Anos - (1 337-1453) - Conflito que envolveu as monarquias francesa e inglesa por questes de domnio territorial. A causa imediata foi a ascenso de Felipe VI ao trono da Frana, enquanto Eduardo 111, da Inglaterra, pretendia ser o herdeiro autntico das duas monarquias. O conflito compreendeu quatro fases, com sucesso alternado de ingleses e franceses. A quarta fase ( 1428-1453) iniciou-se com o cerco de Orlans, pelos ingleses, e foi o perodo das vitrias de Joana d'Arc, que animaram os franceses a se reorganizarem, de forma a vencerem definitivamente o inimigo, em cujo poder, depois de 1453, s restou a cidade de Calais, porto no Canal da Mancha, que s voltaria aos franceses em 1558.

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    cinha que, aos 17 anos, conquistou vitrias decisivas, mudando a face da Europa, e morreu queimada viva aos 1 9 anos e a singularidade de uma vocao que, obstinadamente, se recusou a atribuir a si mesma quaisquer glrias ou mritos, creditando tudo a Deus. Para essas questes, nenhuma resposta, a no ser a que se abre para o infinito sempre presente na liberdade human.

    O que surpreendente o nmero de autores e de obras que, a propsito de Joana d 'Arc, viram as costas Histria. Ora, no h personagem, pelo menos no sculo XV, sobre a qual estejamos melhor e mais abundantemente documentados. Ela assombrou seus contemporneos do mesmo modo que nos assombra, donde as inmeras crnicas, as memrias, as cartas que dela falam. Acima de tudo, julgando-a, Pierre Cauchon e os demais universitrios, colaborando com o invasor ingls, no poderiam supor que nos preparavam o mais inquestionvel documento da Histria: o texto do processo de condenao ( 1 4 3 1 ) , com suas perguntas e as respostas de Joana, testemunho sobre sua personalidade mais convincente que o preparado por seus adversrios, determinados a lev-la fogueira. Dezoito anos mais tarde, quando

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  • Joana D'Arc- a mulher forte

    o rei da Frana Carlos VII,3 conseguiu expulsar o inimigo de Rouen,4 abriu-se outro processo, o "de reabilitao": foram interrogados todos os que conheceram a herona para verificar se sua condenao como hertica havia sido, ou no, justa; 1 1 5 testemunhas depuseram, contaram suas lembranas, falaram o que sabiam dela: magnfica fonte, que nos d "diretamente" a impresso que ela causava.

    L est a Histria, nos documentos contemporneos, no nas curtas intelign-

    3. - Carlos VII, rei da Frana, quinto filho de Carlos VI, o Bem-Amado, e de Isabel da Baviera ( 1403-1461 ). Sem esprito de iniciativa, deixou que os cortesos ficassem a discutir para onde deveriam fugir, enquanto os Ingleses estavam sitiando Orlans. A chegada de Joana d' Are a Chinon, em fevereiro de 1429, arrancou-o da inrcia; depois de hesitar, consentiu que ela se pusesse frente das realizaes que culminaram com a libertaao de Orlans e sua sagrao rgia em Reims, em julho de 1429. Tendo cado Joana d'Arc nas mos dos ingleses, nada fez para libert-la. No entanto, mais tarde, em 1456, conseguiu da Santa S a reabertura do Processo de Reabilitao de Jo:lna c.J'Arc. Mereceu o cognome de o Bem-Servido.

    4. - Rouen - Cidade e Capital do Departamento do Sena Inferior, Norte da rtuna,

  • Joana D'Arc- a mulher forte

    o rei da Frana Carlos VII,3 conseguiu expulsar o inimigo de Rouen,4 abriu-se outro processo, o "de reabilitao": foram interrogados todos os que conheceram a herona para verificar se sua condenao como hertica havia sido, ou no, justa; 1 1 5 testemunhas depuseram, contaram suas lembranas, falaram o que sabiam dela: magnfica fonte, que nos d "diretamente" a impresso que ela causava.

    L est a Histria, nos documentos contemporneos, no nas curtas intelign-

    3. - Carlos VII, rei da Frana, quinto filho de Carlos VI, o Bem-Amado, e de Isabel da Baviera ( 1403-1461 ). Sem esprito de iniciativa, deixou que os cortesos ficassem a discutir para onde deveriam fugir, enquanto os Ingleses estavam sitiando Orlans. A chegada de Joana d' Are a Chinon, em fevereiro de 1429, arrancou-o da inrcia; depois de hesitar, consentiu que ela se pusesse frente das realizaes que culminaram com a libertaao de Orlans e sua sagrao rgia em Reims, em julho de 1429. Tendo cado Joana d'Arc nas mos dos ingleses, nada fez para libert-la. No entanto, mais tarde, em 1456, conseguiu da Santa S a reabertura do Processo de Reabilitao de Jo:lna c.J'Arc. Mereceu o cognome de o Bem-Servido.

    4. - Rouen - Cidade e Capital do Departamento do Sena Inferior, Norte da rtuna,

  • 1. "Em minha terra, chamavam-me Joaninha"

    A aldeia onde nasceu Joana d'Arc, Domrmy ,7 situa-se "l para as bandas de Lorraine", isto , na fronteira do Barrois,8 e essa provncia, ento quase independente, que motivou o subttulo do famoso poema de Franois Villon:9 "Joana, a boa Lorenesa".

    As fronteiras, verdade, estavam ainda um pouco indefinidas quando nasceu

    7. Domrmy - aldeia do Departamento de Vosges, NE da Frana, s margens do rio Meuse.

    8. Barreis - antiga regio da Frana. A parte ocidental foi anexada Frana por Felipe, o Belo; a oriental ficou com a Lorena, somente integrando-se Frana em 1 766.

    9. Franois Villon - (1431-?) - Personagem de vida tumultuada, foi o criador da verdadeira poesia como eco da alma e traduo sincera, eloqente e fiel das emoes pessoais do poeta e dos sentimentos generosos da humanidade. Cantou em versos a morte e as pessoas que ela ceifou, pobres moas ou grandes damas de passadas pocas, como "a rainha Blanca, como uma flor de lis, que cantava com voz de sereia; Bertha, a das grandes caminhadas; Joana, a boa Lorenesa, que os Ingleses queimaram em Rouen".

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  • 1. "Em minha terra, chamavam-me Joaninha"

    A aldeia onde nasceu Joana d'Arc, Domrmy ,7 situa-se "l para as bandas de Lorraine", isto , na fronteira do Barrois,8 e essa provncia, ento quase independente, que motivou o subttulo do famoso poema de Franois Villon:9 "Joana, a boa Lorenesa".

    As fronteiras, verdade, estavam ainda um pouco indefinidas quando nasceu

    7. Domrmy - aldeia do Departamento de Vosges, NE da Frana, s margens do rio Meuse.

    8. Barreis - antiga regio da Frana. A parte ocidental foi anexada Frana por Felipe, o Belo; a oriental ficou com a Lorena, somente integrando-se Frana em 1 766.

    9. Franois Villon - (1431-?) - Personagem de vida tumultuada, foi o criador da verdadeira poesia como eco da alma e traduo sincera, eloqente e fiel das emoes pessoais do poeta e dos sentimentos generosos da humanidade. Cantou em versos a morte e as pessoas que ela ceifou, pobres moas ou grandes damas de passadas pocas, como "a rainha Blanca, como uma flor de lis, que cantava com voz de sereia; Bertha, a das grandes caminhadas; Joana, a boa Lorenesa, que os Ingleses queimaram em Rouen".

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  • Joana D'Arc- d mulher forte

    Joana, muito provavelmente em 1411, ou talvez 1 4 1 2 , e, segundo a tradio, na noite da Epifania, isto , no dia 6 de janeiro. Quando de seu interrogatrio em Rouen, Joana, aps haver declarado que diria voluntariamente, sob juramento, tudo o que dizia respeito a seu pai e a sua me, afirmou: "Meu pai chamava-se Jacques d'Arc e minha me, Isabel". Mais tarde, no decorrer do processo, que recebeu em definitivo o nome de "processo de reabilitao", diversas testemunhas interrogadas em Domrmy atestaram tambm suas origens, seu nascimento, seu batismo. Entre outros, seu padrinho Jean Moreau, um campons de Geux, aldeia muito prxima de Domrmy, onde ficava a igreja principal que reunia as duas parquias, afirmou: "Joaninha foi batizada na igreja de Saint-Rmy, parquia da regio. Seu pai chamava-se Jacques d'Arc, e sua me, Isabel, ambos viviam de seu trabalho em Domrmy ( . . . ) . Eram bons e fiis catlicos, bons trabalhadores, de boa reputao e prosa honesta ( . . . ). Eu at fui um dos padrinhos de Joana".

    Assim, os moradores de Dornremy foram interrogados durante o m

  • Joana D'Arc- d mulher forte

    Joana, muito provavelmente em 1411, ou talvez 1 4 1 2 , e, segundo a tradio, na noite da Epifania, isto , no dia 6 de janeiro. Quando de seu interrogatrio em Rouen, Joana, aps haver declarado que diria voluntariamente, sob juramento, tudo o que dizia respeito a seu pai e a sua me, afirmou: "Meu pai chamava-se Jacques d'Arc e minha me, Isabel". Mais tarde, no decorrer do processo, que recebeu em definitivo o nome de "processo de reabilitao", diversas testemunhas interrogadas em Domrmy atestaram tambm suas origens, seu nascimento, seu batismo. Entre outros, seu padrinho Jean Moreau, um campons de Geux, aldeia muito prxima de Domrmy, onde ficava a igreja principal que reunia as duas parquias, afirmou: "Joaninha foi batizada na igreja de Saint-Rmy, parquia da regio. Seu pai chamava-se Jacques d'Arc, e sua me, Isabel, ambos viviam de seu trabalho em Domrmy ( . . . ) . Eram bons e fiis catlicos, bons trabalhadores, de boa reputao e prosa honesta ( . . . ). Eu at fui um dos padrinhos de Joana".

    Assim, os moradores de Dornremy foram interrogados durante o m

  • Joana D'Arc - a mulher forte

    cisa: "Joana era uma moa boa, simples e afvel. Ela freqentemente ia igreja e aos lugares sagrados ( . . . ) . Ela se ocupava, como as demais mocinhas, fazendo os trabalhos da casa e fiando, e, algumas vezes, como eu mesma vi, cuidava dos rebanhos de seu pai". Um trao notado por todos: "Joana gostava de ir igreja e freqentava os lugares sagrados". Foi o que disse tambm um de seus companheiros, Michel Lebuin. E com ele, todos confirmaram sua piedade: "Joana era de boa conduta, devota, paciente; gostava de ir igreja e de confessar-se; dava esmolas aos pobres sempre que podia".

    Ao longo das de:claraes, uma expresso apareceu constantemente: "gostava de". "Ela gostava de cuidar dos animais, de ir igreja e aos lugares sagrados, de dar o que tinha por amor a Deus . . . Gos-

    victo, soldado herico (morreu em setembro de 1914, frente de uma Companhia de Infantaria na I Grande Guerra), concebeu sua obra literria como um apostolado. Suas obras traduzem quase sempre o arrebatamento de sua f religiosa. Nascido em Orlans, desde a infncia ficou fascinado por Joana d'Arc, sobre quem escreveu, em 1 896, um "drama", no qual a herona uma camponesa inspirada que o povo adota e impe ao rei.

    1 4

    ------------___ Rg1ne Pernou

    tava. Gostava". Disso tudo resulta um dinamismo e transparece uma alegria que parecem ter caracterizado Joana por toda a sua existncia.

    Quanto aos fatos que afligiam toda a regio, chega-nos tambm um eco. At nas regies fronteirias sentia-se, efetivamente, a diviso entre Armagnacs e Borgonheses, I I sendo que os ltimos, acompanhando seu duque, tomaram o partido do invasor ingls. A Frana era, ento, um pas

    11. Partido popular de oposio faco dos Armagnacs. Eram essas as duas faces em que se dividira a Frana durante a Guerra dos Cem Anos, de forma mais precisa, durante os reinados de Carlos VI e de Carlos VII. A faco dos Armagnacs era aristocrtica, representando a nobreza feudal e o patriciado urbano. Os borgonheses, frente dos quais estava Joo Sem Medo, aliaram-se aos Ingleses, enquanto os Armagnacs o fizeram ao rei da Frana. Com o assassinato do Duque de Orlans, em 1407, por adeptos do duque de Barganha, a violncia atingiu o mximo. Aos poucos os Borgonheses foram pendendo mais e mais para o lado dos Ingleses, at que Joo Sem Medo, aps a batalha de Azincourt, oficializou a adeso. Bernardo VIl de Armagnacs tornara-se Condestvel da Frana. A paz entre Borgonheses e Armagnacs s veio a acontecer com o Tratado de Arras, em 1435, entre Felipe o Bom, duque de Barganha, e Carlos VIl, rei da Frana.

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  • Joana D'Arc - a mulher forte

    cisa: "Joana era uma moa boa, simples e afvel. Ela freqentemente ia igreja e aos lugares sagrados ( . . . ) . Ela se ocupava, como as demais mocinhas, fazendo os trabalhos da casa e fiando, e, algumas vezes, como eu mesma vi, cuidava dos rebanhos de seu pai". Um trao notado por todos: "Joana gostava de ir igreja e freqentava os lugares sagrados". Foi o que disse tambm um de seus companheiros, Michel Lebuin. E com ele, todos confirmaram sua piedade: "Joana era de boa conduta, devota, paciente; gostava de ir igreja e de confessar-se; dava esmolas aos pobres sempre que podia".

    Ao longo das de:claraes, uma expresso apareceu constantemente: "gostava de". "Ela gostava de cuidar dos animais, de ir igreja e aos lugares sagrados, de dar o que tinha por amor a Deus . . . Gos-

    victo, soldado herico (morreu em setembro de 1914, frente de uma Companhia de Infantaria na I Grande Guerra), concebeu sua obra literria como um apostolado. Suas obras traduzem quase sempre o arrebatamento de sua f religiosa. Nascido em Orlans, desde a infncia ficou fascinado por Joana d'Arc, sobre quem escreveu, em 1 896, um "drama", no qual a herona uma camponesa inspirada que o povo adota e impe ao rei.

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    ------------___ Rg1ne Pernou

    tava. Gostava". Disso tudo resulta um dinamismo e transparece uma alegria que parecem ter caracterizado Joana por toda a sua existncia.

    Quanto aos fatos que afligiam toda a regio, chega-nos tambm um eco. At nas regies fronteirias sentia-se, efetivamente, a diviso entre Armagnacs e Borgonheses, I I sendo que os ltimos, acompanhando seu duque, tomaram o partido do invasor ingls. A Frana era, ento, um pas

    11. Partido popular de oposio faco dos Armagnacs. Eram essas as duas faces em que se dividira a Frana durante a Guerra dos Cem Anos, de forma mais precisa, durante os reinados de Carlos VI e de Carlos VII. A faco dos Armagnacs era aristocrtica, representando a nobreza feudal e o patriciado urbano. Os borgonheses, frente dos quais estava Joo Sem Medo, aliaram-se aos Ingleses, enquanto os Armagnacs o fizeram ao rei da Frana. Com o assassinato do Duque de Orlans, em 1407, por adeptos do duque de Barganha, a violncia atingiu o mximo. Aos poucos os Borgonheses foram pendendo mais e mais para o lado dos Ingleses, at que Joo Sem Medo, aps a batalha de Azincourt, oficializou a adeso. Bernardo VIl de Armagnacs tornara-se Condestvel da Frana. A paz entre Borgonheses e Armagnacs s veio a acontecer com o Tratado de Arras, em 1435, entre Felipe o Bom, duque de Barganha, e Carlos VIl, rei da Frana.

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  • Joana D'Arc -a mulher Forte --- --

    conquistado, da Normandia 12 at o Loire,l3 desde 1415 (Joana tinha trs anos) quando aconteceu o desastre de Azincourt,I4 noite da Frana, quando o rei da Inglaterra, Henrique V, retomando a poltica de seu pai (que destronou e mandou matar o ltimo descendente legtimo dos Plantegents, 15

    12. Normandia - Regio do NO da Frana, cuja Capital Rouen, onde foi processada e queimada Joana d'Arc.

    13. Loire - Departamento do SE da regio central da Frana, formado pela antiga Provncia de Lyonnais. Tambm nome do mais extenso rio da Frana (aproximadamente 1 020km), que nasce no Departamento de Arleche, ao Sul do Departamento de Loire.

    14. Azincourt - Aldeia do Departamento de Calais, N da Frana, cenrio da vitria de Henrique V, da Inglaterra, sobre as foras francesas, em que ficou demonstrada a eficincia e a eficcia dos arqueiros ingleses contra a organizao pesada do exrcito medieval. Os Ingleses perderam apenas 1600 homens, enquanto os Franceses, 1 0000.

    15. Plantegents - Nome pelo qual so conhecidos os descendentes de Godofredo, conde de Anjou, e da Imperatriz Matilda. Derivado do npelido que o conde de Anjou possua, por usar em seu quepe uma hastezinha de gicsta, esse norn

  • Joana D'Arc -a mulher Forte --- --

    conquistado, da Normandia 12 at o Loire,l3 desde 1415 (Joana tinha trs anos) quando aconteceu o desastre de Azincourt,I4 noite da Frana, quando o rei da Inglaterra, Henrique V, retomando a poltica de seu pai (que destronou e mandou matar o ltimo descendente legtimo dos Plantegents, 15

    12. Normandia - Regio do NO da Frana, cuja Capital Rouen, onde foi processada e queimada Joana d'Arc.

    13. Loire - Departamento do SE da regio central da Frana, formado pela antiga Provncia de Lyonnais. Tambm nome do mais extenso rio da Frana (aproximadamente 1 020km), que nasce no Departamento de Arleche, ao Sul do Departamento de Loire.

    14. Azincourt - Aldeia do Departamento de Calais, N da Frana, cenrio da vitria de Henrique V, da Inglaterra, sobre as foras francesas, em que ficou demonstrada a eficincia e a eficcia dos arqueiros ingleses contra a organizao pesada do exrcito medieval. Os Ingleses perderam apenas 1600 homens, enquanto os Franceses, 1 0000.

    15. Plantegents - Nome pelo qual so conhecidos os descendentes de Godofredo, conde de Anjou, e da Imperatriz Matilda. Derivado do npelido que o conde de Anjou possua, por usar em seu quepe uma hastezinha de gicsta, esse norn

  • Joa'Arc- a mulher forte

    f?OS pagos por seu primo Joo Sem Medo. A poca da invaso, Joo Sem Medo havia tomado o partido dos ingleses, enquanto os partidrios da casa da Frana se rea-

    Pode-se imaginar assim Joana fiando a l ao lado de seu pai. ravura esculpida em madeira ilustrando as Vigiles du ro1 Charles V/1, 1493 (BN, ms. franais). 18

    Rgine Pernoud

    grupavam sob a bandeira dos Armagnacs. O acordo dos Armagnacs realou a fidelidade e o apoio constante que a Frana Meridional, que permaneceu fiel dinastia legtima, oporia aos invasores.

    E, se ningum em Domrmy poderia imaginar que lutas sangrentas seriam, algum dia, encarnadas e conduzidas por "Joaninha", pelo menos sentiam-se, nessas regies longnquas, as repercusses da guerra: os moradores de Domrmy em geral haviam assumido o partido do rei da Frana, enquanto os de Maxey, aldeia prxima, sentiam-se "Borgonheses", o que prova que, at nos menores povoados, a ciso entre franceses era profunda. Surgiam freqentemente brigas das quais se saa "muitas vezes bastante ferido e ensangentado".

    Alis, episdios guerreiros que no faltavam, e a prpria Joana, com 14 ou 15 anos, depois do que aconteceu em 142819 foi levada no xodo dos moradores de Domrmy e da aldeia prxima dos Greux at a cidade fortificada mais prxima, a de

    1 9. 1428 - Ano do encontro de Joana com Robert de Baudricourt, Capito de Vaucouleurs, a quem fala de suas "vozes".

    19

  • Joa'Arc- a mulher forte

    f?OS pagos por seu primo Joo Sem Medo. A poca da invaso, Joo Sem Medo havia tomado o partido dos ingleses, enquanto os partidrios da casa da Frana se rea-

    Pode-se imaginar assim Joana fiando a l ao lado de seu pai. ravura esculpida em madeira ilustrando as Vigiles du ro1 Charles V/1, 1493 (BN, ms. franais). 18

    Rgine Pernoud

    grupavam sob a bandeira dos Armagnacs. O acordo dos Armagnacs realou a fidelidade e o apoio constante que a Frana Meridional, que permaneceu fiel dinastia legtima, oporia aos invasores.

    E, se ningum em Domrmy poderia imaginar que lutas sangrentas seriam, algum dia, encarnadas e conduzidas por "Joaninha", pelo menos sentiam-se, nessas regies longnquas, as repercusses da guerra: os moradores de Domrmy em geral haviam assumido o partido do rei da Frana, enquanto os de Maxey, aldeia prxima, sentiam-se "Borgonheses", o que prova que, at nos menores povoados, a ciso entre franceses era profunda. Surgiam freqentemente brigas das quais se saa "muitas vezes bastante ferido e ensangentado".

    Alis, episdios guerreiros que no faltavam, e a prpria Joana, com 14 ou 15 anos, depois do que aconteceu em 142819 foi levada no xodo dos moradores de Domrmy e da aldeia prxima dos Greux at a cidade fortificada mais prxima, a de

    1 9. 1428 - Ano do encontro de Joana com Robert de Baudricourt, Capito de Vaucouleurs, a quem fala de suas "vozes".

    19

  • Joana D'Arc- a mulher forte ----

    Neufchteau,20 onde todos se entregavam apressadamente, pois soube-se que a poderosa fortaleza de Vaucouleurs,21 cujo capito, Robert de Baudricourt, que lutava ao lado do rei da Frana, estava para ser cercada pelo governador da Champanha,22 financiado pelo duque de Borgonha, Antoine de Vergy. "Todos os moradores de Domrmy fugiram" - disse uma testemunha, Dominique Jacob, vigrio de uma parquia vizinha: "homens armados chegaram a Neufchteau, entre eles Joana d'Arc, com seu pai e sua me, e sempre em sua companhia".

    Isso ocorreu na aprazvel paisagem da "Meuse adormecida", cuja .calma s era interrompida pelas brincadeiras dos jovens da regio, na primavera, quando a neve j

    20. Neufchteau - Localidade a NO do Departam.ento dos Vosges, Leste da Frana, situada perto de Epinal.

    21 . Vaucouleurs - Localidade no Departamento de Mosa, Frana, situada s margens do rio Mosa, nas proximidades de Nancy. A comea a histria blica de Joana d'Arc.

    22. Champanha - Regio do NE da Frana, limitando-se ao Norte com os Pases Baixos, foi, nos tempos medievais, importante condado francs. Durante a I Guerra Mundial foi palco de sangrentas batalhas em 1915-17-18, especialmente na regio montanhosa de Reims.

    20

    Rgine Pemoud

    parara de cair e as rvores reverdeciam. No quarto domingo da Quaresma, quando se cantava Laetare Jerusalem23 ("Alegraivos, Jerusalm") com a chegada das festas pascais, moas e rapazes iam danar e cantar debaixo de uma bela rvore chamada a "rvore das Damas" ou " rvore das Fadas", levando consigo pes e nozes e indo beber a uma fonte, a fonte dos Rains, cuja gua, dizia-se, curava. Tratava-se de uma festa tradicional, cujas origens remontam a tradies muito antigas.

    Parece que Joaninha, apesar da sua alegria pessoal que a levava a fazer tudo de que gostava, participava o menos possvel dessas brincadeiras inocentes. "Nesses folguedos, eu mais cantei que dancei" - disse ela, aps uma evocao, cheia de frescor e poesia, das brincadeiras primaveris de sua terra.

    Embora sua infncia tenha sido "como as outras", aconteceu um fato que ela prpria contou com toda a simplicidade: "Quando eu tinha mais ou menos 1 3 anos, ouvi a voz de Deus que veio para ajudarme a me governar. Na primeira vez, tive muito medo. E veio essa voz, no vero, no jardim de meu pai, por volta do meio-dia

    23. "Alegrai-vos, Jerusalm". 21

  • Joana D'Arc- a mulher forte ----

    Neufchteau,20 onde todos se entregavam apressadamente, pois soube-se que a poderosa fortaleza de Vaucouleurs,21 cujo capito, Robert de Baudricourt, que lutava ao lado do rei da Frana, estava para ser cercada pelo governador da Champanha,22 financiado pelo duque de Borgonha, Antoine de Vergy. "Todos os moradores de Domrmy fugiram" - disse uma testemunha, Dominique Jacob, vigrio de uma parquia vizinha: "homens armados chegaram a Neufchteau, entre eles Joana d'Arc, com seu pai e sua me, e sempre em sua companhia".

    Isso ocorreu na aprazvel paisagem da "Meuse adormecida", cuja .calma s era interrompida pelas brincadeiras dos jovens da regio, na primavera, quando a neve j

    20. Neufchteau - Localidade a NO do Departam.ento dos Vosges, Leste da Frana, situada perto de Epinal.

    21 . Vaucouleurs - Localidade no Departamento de Mosa, Frana, situada s margens do rio Mosa, nas proximidades de Nancy. A comea a histria blica de Joana d'Arc.

    22. Champanha - Regio do NE da Frana, limitando-se ao Norte com os Pases Baixos, foi, nos tempos medievais, importante condado francs. Durante a I Guerra Mundial foi palco de sangrentas batalhas em 1915-17-18, especialmente na regio montanhosa de Reims.

    20

    Rgine Pemoud

    parara de cair e as rvores reverdeciam. No quarto domingo da Quaresma, quando se cantava Laetare Jerusalem23 ("Alegraivos, Jerusalm") com a chegada das festas pascais, moas e rapazes iam danar e cantar debaixo de uma bela rvore chamada a "rvore das Damas" ou " rvore das Fadas", levando consigo pes e nozes e indo beber a uma fonte, a fonte dos Rains, cuja gua, dizia-se, curava. Tratava-se de uma festa tradicional, cujas origens remontam a tradies muito antigas.

    Parece que Joaninha, apesar da sua alegria pessoal que a levava a fazer tudo de que gostava, participava o menos possvel dessas brincadeiras inocentes. "Nesses folguedos, eu mais cantei que dancei" - disse ela, aps uma evocao, cheia de frescor e poesia, das brincadeiras primaveris de sua terra.

    Embora sua infncia tenha sido "como as outras", aconteceu um fato que ela prpria contou com toda a simplicidade: "Quando eu tinha mais ou menos 1 3 anos, ouvi a voz de Deus que veio para ajudarme a me governar. Na primeira vez, tive muito medo. E veio essa voz, no vero, no jardim de meu pai, por volta do meio-dia

    23. "Alegrai-vos, Jerusalm". 21

  • ( . . . ). Eu ouvi a v9z do lado direito, quando i a para a igreja. E raro que eu a oua sem que haja uma luminosidade. Essa luminosidade vinha do mesmo lado de onde a voz era ouvida. Comumente havia uma grande luminosidade ( . . . ). Depois que eu ouvi essa voz trs vezes, percebi que era a voz de um anjo ( . . . ). Ela me ensinou a me conduzir bem e a freqentar a igreja. Ela me disse que era necesrio que eu, Joana, viesse Frana . . . " As perguntas que lhe fazi

    _am, ela respondia em seguida: "Na pri

    meira vez, tive dvidas se era So Miguel que vinha a mim, e nessa primeira vez tive muito medo. E eu o vi, depois, muitas vezes, at saber que era So Miguel. .. Antes de tudo, ele me dizia que eu era uma boa menina e que Deus me ajudaria. Entre outras coisas, disse-me para eu vir em socorro do rei da Frana . . . O anjo me falava da piedade que existia no reino da Frana".

    "Por volta dos 13 anos", relembrou ela, foi que ocorreu o primeiro apelo. A primeira viso ocorreu, em 1424 ou 1425. Ela a manteve em segredo at o ano de 1428, quando, no tendo mais o que esconder, encontrara em Vaucouleurs o capito Robert de Baudricourt, defendendo obstinadamente sua fortaleza em nome do rei da Frana. 22

    E Joana acrescentou que, logo aps ter ouvido a "voz", "prometeu manter sua virgindade enquanto a Deus aprouvesse". Resposta espontnea ao chamado de Deus: ela permanecera virgem, autnoma, no dependendo de ningum, a no ser do prprio Deus. Era a resposta, atravs dos tempos, da virgem consagrada, desde a Igreja primitiva, quando Ins, Ceclia e Anastcia preferiram expor-se espada do carrasco ou aos dentes dos animais no anfiteatro a trair o dom inteiro feito a Deus em suas pessoas, porque se sabiam chamadas.

    Dentre os familiares de Joana, um teve o pressentimento de seu destino singular: seu pai. "Minha me me disse vrias vezes - declarou ela - que meu pai lhe contara haver sonhado que eu, Joana, sua filha, haveria de ir-me com pessoas armadas ( . . . ). Tambm ouvi de minha me que meu pai dizia a meus irmos: 'Na verdade, se eu soubesse que meus receios se concretizariam para minha filha, eu preferiria que vocs a afogassem. E se vocs no o fizessem, eu mesmo o faria' ." Jacques d'Arc no poderia interpretar este sonho premonitrio de outro modo a no ser no pior sentido: sua filha Joana seguiria a carreira das armas. O pai e a me devem ter ficado

    23

  • ( . . . ). Eu ouvi a v9z do lado direito, quando i a para a igreja. E raro que eu a oua sem que haja uma luminosidade. Essa luminosidade vinha do mesmo lado de onde a voz era ouvida. Comumente havia uma grande luminosidade ( . . . ). Depois que eu ouvi essa voz trs vezes, percebi que era a voz de um anjo ( . . . ). Ela me ensinou a me conduzir bem e a freqentar a igreja. Ela me disse que era necesrio que eu, Joana, viesse Frana . . . " As perguntas que lhe fazi

    _am, ela respondia em seguida: "Na pri

    meira vez, tive dvidas se era So Miguel que vinha a mim, e nessa primeira vez tive muito medo. E eu o vi, depois, muitas vezes, at saber que era So Miguel. .. Antes de tudo, ele me dizia que eu era uma boa menina e que Deus me ajudaria. Entre outras coisas, disse-me para eu vir em socorro do rei da Frana . . . O anjo me falava da piedade que existia no reino da Frana".

    "Por volta dos 13 anos", relembrou ela, foi que ocorreu o primeiro apelo. A primeira viso ocorreu, em 1424 ou 1425. Ela a manteve em segredo at o ano de 1428, quando, no tendo mais o que esconder, encontrara em Vaucouleurs o capito Robert de Baudricourt, defendendo obstinadamente sua fortaleza em nome do rei da Frana. 22

    E Joana acrescentou que, logo aps ter ouvido a "voz", "prometeu manter sua virgindade enquanto a Deus aprouvesse". Resposta espontnea ao chamado de Deus: ela permanecera virgem, autnoma, no dependendo de ningum, a no ser do prprio Deus. Era a resposta, atravs dos tempos, da virgem consagrada, desde a Igreja primitiva, quando Ins, Ceclia e Anastcia preferiram expor-se espada do carrasco ou aos dentes dos animais no anfiteatro a trair o dom inteiro feito a Deus em suas pessoas, porque se sabiam chamadas.

    Dentre os familiares de Joana, um teve o pressentimento de seu destino singular: seu pai. "Minha me me disse vrias vezes - declarou ela - que meu pai lhe contara haver sonhado que eu, Joana, sua filha, haveria de ir-me com pessoas armadas ( . . . ). Tambm ouvi de minha me que meu pai dizia a meus irmos: 'Na verdade, se eu soubesse que meus receios se concretizariam para minha filha, eu preferiria que vocs a afogassem. E se vocs no o fizessem, eu mesmo o faria' ." Jacques d'Arc no poderia interpretar este sonho premonitrio de outro modo a no ser no pior sentido: sua filha Joana seguiria a carreira das armas. O pai e a me devem ter ficado

    23

  • Joana D'Arc - a mulher forte

    satisfeitos ao saber que sua Joaninha tinha sido pedida em casamento por um pretendente; este, porm, ficou furioso por se ver preterido e a denunciou ao oficial de Toul 24 , afirmando que ela havia prometido casarse com ele, o que, poca, era considerado um compromisso srio. Este foi apenas mais um episdio passageiro que no deixou grandes marcas no esprito de Joana: Foi ele quem me fez comparecer diante do juiz, e l eu jurei dizer a verdade. E o juiz, finalmente, compreendeu que eu no havia feito promessa alguma a esse homem".

    Joana era uma moa como as outras: capaz de inspirar amor, mas decidida quanto a si mesma a no se entregar a ningum. O chamado que ela ouviu consagrou-a exclusivamente ao servio de Deus.

    24. Toul- Cidade prxima a Nancy. Tornou-se S Episcopal no sculo IV, privilgio que perdeu na poca de Napoleo.

    24

    2. "Quando vim para a Frana, passaram a chamar-me Joana"

    Chegou o tempo das provaes. Joaninha torna-se Joana e, para ns, Joana d'Arc. Seus contemporneos, por sua vez, chamavam-na "Joana, a Donzela".

    Para ser aceita, Joana passa por toda sorte de dificuldades - bem compreensveis, alis: h uma distncia enorme entre a camponesa que era e a incrvel vocao para a qual era chamada.

    O primeiro homem a quem ela tem de convencer Robert de Baudricourt, que assume a defesa da fortaleza de Vaucouleurs - aquela mesma fortaleza que suportou, sem sucesso, os ataques dos Borgonheses em 1428. Robert teve de tomar a deciso de no atacar as foras anglo-borgonhesas para que a cidade fosse preservada: uma espcie de declarao de neutralidade, graas qual Antoine de Vergy concordou em retirar suas tropas.

    bastante provvel que Joana tenha vindo encontrar-se com Baudricourt antes desse programado combate. Isso confirmado por Bertrand de Poulengy, pequeno

    25

  • Joana D'Arc - a mulher forte

    satisfeitos ao saber que sua Joaninha tinha sido pedida em casamento por um pretendente; este, porm, ficou furioso por se ver preterido e a denunciou ao oficial de Toul 24 , afirmando que ela havia prometido casarse com ele, o que, poca, era considerado um compromisso srio. Este foi apenas mais um episdio passageiro que no deixou grandes marcas no esprito de Joana: Foi ele quem me fez comparecer diante do juiz, e l eu jurei dizer a verdade. E o juiz, finalmente, compreendeu que eu no havia feito promessa alguma a esse homem".

    Joana era uma moa como as outras: capaz de inspirar amor, mas decidida quanto a si mesma a no se entregar a ningum. O chamado que ela ouviu consagrou-a exclusivamente ao servio de Deus.

    24. Toul- Cidade prxima a Nancy. Tornou-se S Episcopal no sculo IV, privilgio que perdeu na poca de Napoleo.

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    2. "Quando vim para a Frana, passaram a chamar-me Joana"

    Chegou o tempo das provaes. Joaninha torna-se Joana e, para ns, Joana d'Arc. Seus contemporneos, por sua vez, chamavam-na "Joana, a Donzela".

    Para ser aceita, Joana passa por toda sorte de dificuldades - bem compreensveis, alis: h uma distncia enorme entre a camponesa que era e a incrvel vocao para a qual era chamada.

    O primeiro homem a quem ela tem de convencer Robert de Baudricourt, que assume a defesa da fortaleza de Vaucouleurs - aquela mesma fortaleza que suportou, sem sucesso, os ataques dos Borgonheses em 1428. Robert teve de tomar a deciso de no atacar as foras anglo-borgonhesas para que a cidade fosse preservada: uma espcie de declarao de neutralidade, graas qual Antoine de Vergy concordou em retirar suas tropas.

    bastante provvel que Joana tenha vindo encontrar-se com Baudricourt antes desse programado combate. Isso confirmado por Bertrand de Poulengy, pequeno

    25

  • Joana D'Arc- a mulher forte

    proprietrio das redondezas, escudeiro do rei da Frana: "Joana, a Donzela - diz ele - veio a Vaucouleurs por ocasio da Ascenso do Senhor, ao que me parece. Nessa ocasio eu a vi conversar com Robert de Baudricourt, que era, ento, o capito da cidade. Ela dizia que havia chegado at ele, Robert, da parte de seu Senhor para notificar o delfim (futuro Carlos VII) de que ele se comportasse bem e no guerreasse contra seus inimigos porque o Senhor o socorreria antes do meio da Quaresma".

    Para chegar a Vaucouleurs, Joana recorrera a um primo por aliana, Durand Laxart, que morava em Burey-le-Petit, aldeia prxima cidade-fortaleza. Sob o pretexto de ajudar a mulher de seu primo, que estava para dar luz, Joana ficou algum tempo na casa de Durand e revelou-lhe seus propsitos. O primeiro encontro com Robert terminaria mal. Ele recomendara que a moa fosse mandada de volta a seus pais aps dar-lhe umas boas palmadas. Ocorreu, em seguida o ataque a Vaucouleurs, e no final desse mesmo ano de 1428, ou durante os primeiros dias de 1429, Joana retoma ousadamente, sempre graas cumplicidade de Durand, a encontrar Baudricourt. Somente na terceira tentativa ele se deixa convencer. Nesse 26

    Rglne Pemoud

    entretempo, Joana conseguira persuadir, em favor de sua causa, os moradores de Vaucouleurs. "Estes - conta-nos Durand Laxart - compraram para ela vestes de homem, cales, polainas,25 e tudo o mais que lhe era necessrio. Eu prprio e Jacques-Aiain de Vaucouleurs compramoslhe um cavalo por doze francos, por nossa prpria conta." Joana conseguiu hospedagem em Vaucouleurs na casa de Henri Le Royer (o fabricante de carroas) e sua mulher Catherine. Esta guardou vivas recordaes do convvio com Joana: "Ela ficou em minha casa por trs semanas e ento pediu ao senhor Robert de Baudricourt que a levasse presena do rei ( . . . ) . Ele tinha ouvido dizer que existia uma profecia segundo a qual a Frana estaria perdida por uma mulher e seria restaurada por uma virgem l das bandas de Lorraine. Lembrei-me de ter ouvido aquilo e fiquei estupefata. Depois disso, acreditei em suas palavras e, comigo, muitas outras pessoas".

    Essa mesma Joaninha que, em Domrmy, fazia "tudo como as outras", apre-

    25. Polaina - Pea geralmente de pano ou couro que se veste por cima das meias (e dos sapatos) e cobre parte da perna, entre o p e o joelho, abotoando-se ou afivelando-se do lado de fora.

    27

  • Joana D'Arc- a mulher forte

    proprietrio das redondezas, escudeiro do rei da Frana: "Joana, a Donzela - diz ele - veio a Vaucouleurs por ocasio da Ascenso do Senhor, ao que me parece. Nessa ocasio eu a vi conversar com Robert de Baudricourt, que era, ento, o capito da cidade. Ela dizia que havia chegado at ele, Robert, da parte de seu Senhor para notificar o delfim (futuro Carlos VII) de que ele se comportasse bem e no guerreasse contra seus inimigos porque o Senhor o socorreria antes do meio da Quaresma".

    Para chegar a Vaucouleurs, Joana recorrera a um primo por aliana, Durand Laxart, que morava em Burey-le-Petit, aldeia prxima cidade-fortaleza. Sob o pretexto de ajudar a mulher de seu primo, que estava para dar luz, Joana ficou algum tempo na casa de Durand e revelou-lhe seus propsitos. O primeiro encontro com Robert terminaria mal. Ele recomendara que a moa fosse mandada de volta a seus pais aps dar-lhe umas boas palmadas. Ocorreu, em seguida o ataque a Vaucouleurs, e no final desse mesmo ano de 1428, ou durante os primeiros dias de 1429, Joana retoma ousadamente, sempre graas cumplicidade de Durand, a encontrar Baudricourt. Somente na terceira tentativa ele se deixa convencer. Nesse 26

    Rglne Pemoud

    entretempo, Joana conseguira persuadir, em favor de sua causa, os moradores de Vaucouleurs. "Estes - conta-nos Durand Laxart - compraram para ela vestes de homem, cales, polainas,25 e tudo o mais que lhe era necessrio. Eu prprio e Jacques-Aiain de Vaucouleurs compramoslhe um cavalo por doze francos, por nossa prpria conta." Joana conseguiu hospedagem em Vaucouleurs na casa de Henri Le Royer (o fabricante de carroas) e sua mulher Catherine. Esta guardou vivas recordaes do convvio com Joana: "Ela ficou em minha casa por trs semanas e ento pediu ao senhor Robert de Baudricourt que a levasse presena do rei ( . . . ) . Ele tinha ouvido dizer que existia uma profecia segundo a qual a Frana estaria perdida por uma mulher e seria restaurada por uma virgem l das bandas de Lorraine. Lembrei-me de ter ouvido aquilo e fiquei estupefata. Depois disso, acreditei em suas palavras e, comigo, muitas outras pessoas".

    Essa mesma Joaninha que, em Domrmy, fazia "tudo como as outras", apre-

    25. Polaina - Pea geralmente de pano ou couro que se veste por cima das meias (e dos sapatos) e cobre parte da perna, entre o p e o joelho, abotoando-se ou afivelando-se do lado de fora.

    27

  • Joana D'Arc- a mulher forte ---------------------

    goava, obstinadamente, sua misso e pedia que a conduzissem quele que ela chamava de "delfim". Um senhor, amigo de Baudricourt, Aubert d'Ourches, impressionou-se muito com a personalidade de Joana: "Essa donzela, ao que me parece, era dotada de bons costumes. Eu bem que gostaria de ter tido uma filha assim ( . . . ) . Essa donzela falava muito bem". Outras pessoas foram tambm conquistadas pela insistncia e a firme convico de Joana, como Jean de Metz, escudeiro do rei: "Quando Joana, a Donzela, chegou a Vaucouleurs, eu a vi vestida com roupas pobres, vestes de mulher, vermelhas . . . Chamei-a, dizendo-lhe: 'Minha amiga, o que voc faz aqui? No preciso que o rei seja afastado do trono e ns nos tornemos ingleses?' E a Donzela me respondeu: 'Eu vim aqui para pedir a Robert de Baudricourt que me conduza ou faa-me conduzir ao rei, mas ele no presta ateno nem em mim nem em minhas palavras. E ento, como estamos no meio da Quaresma, necessrio que eu esteja junto do rei, mesmo que eu tenha que gastar os ps at os joelhos. Com efeito, no h ningum no mundo, nem rei, nem duque, nem a filha do rei da Esccia ou outra pessoa qual-

    28

    quer que possa recuperar o reino da Frana. No haver socorro seno o meu; embora eu tivesse preferido ter ficado fiando junto de minha pobre me, pois essa era a minha situao. Mas necessrio que eu v e faa isso, porque meu Senhor quer que eu aja assim'. Eu lhe perguntei quem era seu senhor. Ela me respondeu que era Deus. E ento, eu, Jean, que testemunho aqui, prometi Donzela, apertando sua mo em sinal de confiana, que, com a ajuda de Deus, eu a levaria ao rei. Perguntei-lhe quando ela queria partir. Ela respondeu: 'Agora mesmo, que amanh pode ser tarde'. Ento perguntei se ela queria ir com suas vestes. Ela afirmou que preferia ir com vestes de homem. Eu, ento, lhe dei vestes e cales de um de meus empregados para que ela as vestisse".

    Desse modo, criou-se e m volta de Joana toda uma aura de solidariedade. Ela conseguiu convencer, um a um, todos aqueles a quem ela se dirigia. E, finalmente, Robert de Baudricourt tambm ficara encantado com ela. At o prprio Duque de Lorraine, em sua cidade de Nancy,26

    26. Nancy - Cidade e Capital do Departamento de Meurthe-e-Mosela, a NE da Frana. Capital da antiga Lorena e palco de uma batalha memorvel

    29

  • Joana D'Arc- a mulher forte ---------------------

    goava, obstinadamente, sua misso e pedia que a conduzissem quele que ela chamava de "delfim". Um senhor, amigo de Baudricourt, Aubert d'Ourches, impressionou-se muito com a personalidade de Joana: "Essa donzela, ao que me parece, era dotada de bons costumes. Eu bem que gostaria de ter tido uma filha assim ( . . . ) . Essa donzela falava muito bem". Outras pessoas foram tambm conquistadas pela insistncia e a firme convico de Joana, como Jean de Metz, escudeiro do rei: "Quando Joana, a Donzela, chegou a Vaucouleurs, eu a vi vestida com roupas pobres, vestes de mulher, vermelhas . . . Chamei-a, dizendo-lhe: 'Minha amiga, o que voc faz aqui? No preciso que o rei seja afastado do trono e ns nos tornemos ingleses?' E a Donzela me respondeu: 'Eu vim aqui para pedir a Robert de Baudricourt que me conduza ou faa-me conduzir ao rei, mas ele no presta ateno nem em mim nem em minhas palavras. E ento, como estamos no meio da Quaresma, necessrio que eu esteja junto do rei, mesmo que eu tenha que gastar os ps at os joelhos. Com efeito, no h ningum no mundo, nem rei, nem duque, nem a filha do rei da Esccia ou outra pessoa qual-

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    quer que possa recuperar o reino da Frana. No haver socorro seno o meu; embora eu tivesse preferido ter ficado fiando junto de minha pobre me, pois essa era a minha situao. Mas necessrio que eu v e faa isso, porque meu Senhor quer que eu aja assim'. Eu lhe perguntei quem era seu senhor. Ela me respondeu que era Deus. E ento, eu, Jean, que testemunho aqui, prometi Donzela, apertando sua mo em sinal de confiana, que, com a ajuda de Deus, eu a levaria ao rei. Perguntei-lhe quando ela queria partir. Ela respondeu: 'Agora mesmo, que amanh pode ser tarde'. Ento perguntei se ela queria ir com suas vestes. Ela afirmou que preferia ir com vestes de homem. Eu, ento, lhe dei vestes e cales de um de meus empregados para que ela as vestisse".

    Desse modo, criou-se e m volta de Joana toda uma aura de solidariedade. Ela conseguiu convencer, um a um, todos aqueles a quem ela se dirigia. E, finalmente, Robert de Baudricourt tambm ficara encantado com ela. At o prprio Duque de Lorraine, em sua cidade de Nancy,26

    26. Nancy - Cidade e Capital do Departamento de Meurthe-e-Mosela, a NE da Frana. Capital da antiga Lorena e palco de uma batalha memorvel

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  • Joana D'Arc- a mulher forte

    ouvira falar dela. Ele pensava que fosse uma curandeira e enviou-lhe "salvo-conduto"27 para que ela fosse v-lo, pois ele estava, naqueles dias, gravemente enfermo. Joana, porm, no tinha vindo para operar milagres e, sim, para responder ao apelo de Deus, que dela no esperava nenhuma ao milagrosa; tudo o que ela viesse a fazer seria executado naturalmente, por sua prpria fora. Ela se limitava a exortar o duque a um melhor comportamento (ele havia trocado sua esposa por uma jovem com a qual havia tido cinco filhos bastardos)2B e, aproveitando-se da oportunidade, perguntou-lhe se seu genro no viria em socorro do dlfim. Depois disso, ela recolhera prontamente as rdeas de seu cavalo e retornara a Vaucouleurs, sempre escoltada pelo fiel Durand Laxart.

    em que Renato, duque de Lorena, venceu Carlos, o Temerrio, duque de Borgonha, em 1477.

    27. Salvo-conduto - Permisso por escrito que se d a algum para ir a qualquer lugar e poder a demorar-se ou sair de l com segurana de no ser preso ou detido; licena que um chefe de exrcito ou autoridade militar concede a algum para passar livremente por postos militares.

    28. Bastardo - Diz-se do filho que no nasceu de matrimnio legal.

    30

    _____________ Rgine Pernou

    L chegando, ela constatou que o ambiente estava mudado. Todos falavam dela na pequena cidade. O prprio Robert estava tomado de uma segurana muito grande e uma vontade insistente de ir at o rei; tomou uma ltima precauo: mandou exorciz-la.29 Fez-se acompanhar de um padre convenientemente usando estola30 e munido de gua benta. Joana aproximouse do padre e ps-se de joelhos: era o sinal que o padre esperava; todos se tranqilizaram. Baudricourt concordou em deix-la partir com uma pequena escolta, alis, espontaneamente constituda por Jean de Metz e Jean de Honnecourt, seu criado, Bertrand de Poulengy e Julian, seu criado, um mensageiro do reino, Colet de Vienne, habituado a viajar e conhecedor dos atalhos e dos perigos, e um certo Richard I' Archer. Robert acompanhou a pequena escolta at a entrada da Frana, quando despediu-se da estranha moa, que havia

    29. Exorcizar- Exorcismo certmnia religiosa com que a Igreja pretende, por meio de preces e esconjures, expulsar demnios e maus espritos.

    30. Estola - Paramento sacerdotal, que consiste em uma tira de seda, ou outro tecido nobre, mais larga nos extremos do que no meio, e que os sacerdotes colocam por sobre a tnica.

    31

  • Joana D'Arc- a mulher forte

    ouvira falar dela. Ele pensava que fosse uma curandeira e enviou-lhe "salvo-conduto"27 para que ela fosse v-lo, pois ele estava, naqueles dias, gravemente enfermo. Joana, porm, no tinha vindo para operar milagres e, sim, para responder ao apelo de Deus, que dela no esperava nenhuma ao milagrosa; tudo o que ela viesse a fazer seria executado naturalmente, por sua prpria fora. Ela se limitava a exortar o duque a um melhor comportamento (ele havia trocado sua esposa por uma jovem com a qual havia tido cinco filhos bastardos)2B e, aproveitando-se da oportunidade, perguntou-lhe se seu genro no viria em socorro do dlfim. Depois disso, ela recolhera prontamente as rdeas de seu cavalo e retornara a Vaucouleurs, sempre escoltada pelo fiel Durand Laxart.

    em que Renato, duque de Lorena, venceu Carlos, o Temerrio, duque de Borgonha, em 1477.

    27. Salvo-conduto - Permisso por escrito que se d a algum para ir a qualquer lugar e poder a demorar-se ou sair de l com segurana de no ser preso ou detido; licena que um chefe de exrcito ou autoridade militar concede a algum para passar livremente por postos militares.

    28. Bastardo - Diz-se do filho que no nasceu de matrimnio legal.

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    L chegando, ela constatou que o ambiente estava mudado. Todos falavam dela na pequena cidade. O prprio Robert estava tomado de uma segurana muito grande e uma vontade insistente de ir at o rei; tomou uma ltima precauo: mandou exorciz-la.29 Fez-se acompanhar de um padre convenientemente usando estola30 e munido de gua benta. Joana aproximouse do padre e ps-se de joelhos: era o sinal que o padre esperava; todos se tranqilizaram. Baudricourt concordou em deix-la partir com uma pequena escolta, alis, espontaneamente constituda por Jean de Metz e Jean de Honnecourt, seu criado, Bertrand de Poulengy e Julian, seu criado, um mensageiro do reino, Colet de Vienne, habituado a viajar e conhecedor dos atalhos e dos perigos, e um certo Richard I' Archer. Robert acompanhou a pequena escolta at a entrada da Frana, quando despediu-se da estranha moa, que havia

    29. Exorcizar- Exorcismo certmnia religiosa com que a Igreja pretende, por meio de preces e esconjures, expulsar demnios e maus espritos.

    30. Estola - Paramento sacerdotal, que consiste em uma tira de seda, ou outro tecido nobre, mais larga nos extremos do que no meio, e que os sacerdotes colocam por sobre a tnica.

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  • Joana D'Arc- a mulher forte --------------------------

    sido motivo no s de seus sarcasmos mas tambm de suas perplexidades: "Vai, vai, e seja o que Deus quiser!"

    Cerca de 600 quilmetros a percorrer, em uma regio em que ingleses e borgonheses (o que vinha a dar no mesmo) estavam por toda a parte, e seus soldados detinham as cidades e patrulhavam os campos: uma verdadeira proeza! Entretanto, para Joana, esta poderia no ser a prova mais difcil: cavalgar com esses seis homens, ela, a pequena camponesa que nunca at ento havia deixado sua aldeia, iria experimentar o perigoso teste do dia-a-dia.

    Jean de Metz e Bertrand de Poulengy confidenciaram, mais tarde, a Marguerite La Thouroulde, esposa de Rgnier de Bouligny, um conselheiro do rei, seus testemunhos de um bom senso e uma clareza extraordinrios. Marguerite, com quem Joana hospedou-se em Bourges por pouco mais de trs semanas, nos relata: "Os que a conduziram ao rei achavam-na, sobretudo, presunosa e tinham a inteno de coloc-la prova. Mas, quando se puseram a caminho para lev-la, prontificaramse a fazer tudo o que agradasse a ela; eles desejavam tanto quanto ela apresent-la ao rei. E eles no teriam podido resistir 32

    Rgine Pernoud

    vontade de Joana. Eles disseram que, no incio, desejaram-na fisicamente. No momento, porm, em que eles quiseram falar-lhe disso, sentiram uma vergonha to grande que no mais ousaram tocar no assunto. Eles mesmos descreveram os sentimentos que os agitaram: 'Eu estava bastante estimulado por sua linguagem - conta Bertrand de Poulengy - pois parecia que ela era enviada de Deus, e jamais vislumbrei nela qualquer maldade. Ao contrrio, portava-se sempre corno uma moa to virtuosa que parecia uma santa . . .' Jean de Metz, por sua vez: 'Durante a viagem, Bertrand e eu deitvamos ambos com ela, e a Donzela deitava-se a meu lado, conservando o gibo e os cales. E eu, eu a temia tanto que jamais ousaria desej-la. Eu digo sob juramento que jamais a toquei com desejo fsico' " .

    A cavalgada durara onze dias. Ela mantivera a prudncia. "Ns tnhamos medo dos soldados borgonheses e ingleses que dominavam as estradas e, no primeiro dia, caminhamos noite para sair da regio." Joana tinha um desejo de ordem pessoal: "Ela nos dizia freqentemente: 'Se pudermos assistir a uma missa, faremos bem". Mas era necessrio cavalgar, a des-

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  • Joana D'Arc- a mulher forte --------------------------

    sido motivo no s de seus sarcasmos mas tambm de suas perplexidades: "Vai, vai, e seja o que Deus quiser!"

    Cerca de 600 quilmetros a percorrer, em uma regio em que ingleses e borgonheses (o que vinha a dar no mesmo) estavam por toda a parte, e seus soldados detinham as cidades e patrulhavam os campos: uma verdadeira proeza! Entretanto, para Joana, esta poderia no ser a prova mais difcil: cavalgar com esses seis homens, ela, a pequena camponesa que nunca at ento havia deixado sua aldeia, iria experimentar o perigoso teste do dia-a-dia.

    Jean de Metz e Bertrand de Poulengy confidenciaram, mais tarde, a Marguerite La Thouroulde, esposa de Rgnier de Bouligny, um conselheiro do rei, seus testemunhos de um bom senso e uma clareza extraordinrios. Marguerite, com quem Joana hospedou-se em Bourges por pouco mais de trs semanas, nos relata: "Os que a conduziram ao rei achavam-na, sobretudo, presunosa e tinham a inteno de coloc-la prova. Mas, quando se puseram a caminho para lev-la, prontificaramse a fazer tudo o que agradasse a ela; eles desejavam tanto quanto ela apresent-la ao rei. E eles no teriam podido resistir 32

    Rgine Pernoud

    vontade de Joana. Eles disseram que, no incio, desejaram-na fisicamente. No momento, porm, em que eles quiseram falar-lhe disso, sentiram uma vergonha to grande que no mais ousaram tocar no assunto. Eles mesmos descreveram os sentimentos que os agitaram: 'Eu estava bastante estimulado por sua linguagem - conta Bertrand de Poulengy - pois parecia que ela era enviada de Deus, e jamais vislumbrei nela qualquer maldade. Ao contrrio, portava-se sempre corno uma moa to virtuosa que parecia uma santa . . .' Jean de Metz, por sua vez: 'Durante a viagem, Bertrand e eu deitvamos ambos com ela, e a Donzela deitava-se a meu lado, conservando o gibo e os cales. E eu, eu a temia tanto que jamais ousaria desej-la. Eu digo sob juramento que jamais a toquei com desejo fsico' " .

    A cavalgada durara onze dias. Ela mantivera a prudncia. "Ns tnhamos medo dos soldados borgonheses e ingleses que dominavam as estradas e, no primeiro dia, caminhamos noite para sair da regio." Joana tinha um desejo de ordem pessoal: "Ela nos dizia freqentemente: 'Se pudermos assistir a uma missa, faremos bem". Mas era necessrio cavalgar, a des-

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  • Joana D'Arc- a mu;_lh....:.e r_ro.:.....rt.c;..e __________ _

    peito de todas as ansiedades que havia pelo caminho, e eles no puderam assistir missa mais que duas vezes durante a viagem. A primeira vez foi em Auxerre,31 quando j haviam cumprido a maior parte do trajeto, e depois em Sainte-Catherinede-Fierbois, quando se encontraram em terra amiga, em territrio fiel ao rei da Frana. Nessa altura, as provaes j estavam quase terminadas. Joana ditou, ento, uma carta ao prprio delfim, pedindo-lhe que a recebesse. O texto dessa carta no nos conhecido. Provavelmente Colet de Vienne, em sua funo de mensageiro do reino, deve ter-se encarregado de levar a carta a Chinon32 o mais rpido possvel. Enquanto isso, os demais companheiros devem ter aproveitado para desc'ansar um pouco. A prpria Joana declara que, uma vez, em

    31. Auxerre - Cidade e Capital do Departamento de Yonne. Cedida ao duque de Borgonha, pelo Tratado de Arras, passou coroa da Frana, com Lus XI. A foi assinada a "Paz de Auxerre", entre Borgonheses e Armagnacs, em 1412, e realizada a reconciliao entre Carlos VIl e Felipe o Bom, duque de Borgonha.

    32. Chinon - Cidade do Departamento do lndreet-Loire, s margens do rio Viena, a NO da regio central da Frana. Durante algum tempo esteve sob o domnio dos Ingleses.

    34

    Rgine Pemoud

    Sainte-Catherine-de-Fierbois, assistiu a trs missas, o que faz supor que ela ai teria permanecido mais tempo que nos outros lugares.

    necessrio, porm, que se mencione aqui todos os absurdos que se tem escrito ou filmado a respeito da chegada de Joana a Chinon. O mais grosseiro, porque no leva em conta a verdade histrica e inverte a ordem dos fatos, o do cenrio criado por Pierre Moinot para o filme baseado no romance Le Pouuoir et l'lnocence (O Poder e a Inocncia). Mudando completamente a situao, o romancista indica que o prprio rei, o futuro Carlos VIl, mandara vir Joana a Chinon. Ela fica, ento, muito indecisa quanto ao que deve fazer, mas um fradezinho - visivelmente inspirado nas faccias de um Umberto Eco (O Nome da Rosa e outros) - lhe confia misso e a sacraliza, com o que se pode chamar de um anel mgico que lhe coloca no dedo e que permitir a Joana lembrar-se, sob juramento, de que ela foi enviada pelos frades para amaldioar os bispos! Por isso, o rei Carlos VIl, que apresentado como um dbil mental e indiferente, decide fazer vir essa jovem de sua Domrmy natal. Com efeito, sua sogra Yolande d'Aragon (aqui o

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  • Joana D'Arc- a mu;_lh....:.e r_ro.:.....rt.c;..e __________ _

    peito de todas as ansiedades que havia pelo caminho, e eles no puderam assistir missa mais que duas vezes durante a viagem. A primeira vez foi em Auxerre,31 quando j haviam cumprido a maior parte do trajeto, e depois em Sainte-Catherinede-Fierbois, quando se encontraram em terra amiga, em territrio fiel ao rei da Frana. Nessa altura, as provaes j estavam quase terminadas. Joana ditou, ento, uma carta ao prprio delfim, pedindo-lhe que a recebesse. O texto dessa carta no nos conhecido. Provavelmente Colet de Vienne, em sua funo de mensageiro do reino, deve ter-se encarregado de levar a carta a Chinon32 o mais rpido possvel. Enquanto isso, os demais companheiros devem ter aproveitado para desc'ansar um pouco. A prpria Joana declara que, uma vez, em

    31. Auxerre - Cidade e Capital do Departamento de Yonne. Cedida ao duque de Borgonha, pelo Tratado de Arras, passou coroa da Frana, com Lus XI. A foi assinada a "Paz de Auxerre", entre Borgonheses e Armagnacs, em 1412, e realizada a reconciliao entre Carlos VIl e Felipe o Bom, duque de Borgonha.

    32. Chinon - Cidade do Departamento do lndreet-Loire, s margens do rio Viena, a NO da regio central da Frana. Durante algum tempo esteve sob o domnio dos Ingleses.

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    Rgine Pemoud

    Sainte-Catherine-de-Fierbois, assistiu a trs missas, o que faz supor que ela ai teria permanecido mais tempo que nos outros lugares.

    necessrio, porm, que se mencione aqui todos os absurdos que se tem escrito ou filmado a respeito da chegada de Joana a Chinon. O mais grosseiro, porque no leva em conta a verdade histrica e inverte a ordem dos fatos, o do cenrio criado por Pierre Moinot para o filme baseado no romance Le Pouuoir et l'lnocence (O Poder e a Inocncia). Mudando completamente a situao, o romancista indica que o prprio rei, o futuro Carlos VIl, mandara vir Joana a Chinon. Ela fica, ento, muito indecisa quanto ao que deve fazer, mas um fradezinho - visivelmente inspirado nas faccias de um Umberto Eco (O Nome da Rosa e outros) - lhe confia misso e a sacraliza, com o que se pode chamar de um anel mgico que lhe coloca no dedo e que permitir a Joana lembrar-se, sob juramento, de que ela foi enviada pelos frades para amaldioar os bispos! Por isso, o rei Carlos VIl, que apresentado como um dbil mental e indiferente, decide fazer vir essa jovem de sua Domrmy natal. Com efeito, sua sogra Yolande d'Aragon (aqui o

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  • Joana D'Arc - a mulher forte

    emprstimo feito das teses de Philippe Erlanger, bem entendido) lhe assegura que essa moa teria todos os poderes do mundo se realmente fosse donzela.. . Efetivamente, Joana, embarcada na aventura do arbtrio ou da fora (ela teria gostado mais de visitar as cidades por onde passara!), escapa de uma emboscada armada no caminho pelo perverso La Trmoille. Por qu? Porque simplesmente a virgindade lhe confere o dom do milagre. O mais risvel que, aps a chegada de Joana a Chinon, a prpria Yolande, rainha da Sicile, vai conferir sua virgindade! Teramos calado esta inverossmil coleo de erros de todo tipo se o filme, exibido na televiso francesa, no tivesse (e ns nos demos conta disso) confundido alguns telespectadores. Este um exemplo tpico desses romancistas que se acovardam diante da deformao das personagens histricas, culpa da imaginao ou precauo com uma publicidade facilitada quando se rotula uma personagem fabricada com a etiqueta "Joana d'Arc".

    Essa no a primeira deformao pela qual passou a personagem e, com certeza, no ser a ltima. at curioso observar a esse respeito o mal que se causa por no

    36

    l\.1....11 '- .... . . . ... . .

    se aceitar a verdade tal qual ela . evidente que essa partida de Joana para uma misso que contrasta to violentamente com sua condio de camponesa gera um problema inicial, e no menos exato que esse problema se apresenta como o expuseram as testemunhas da poca at agora citadas.

    desnecessrio dizer que o rei, seu squito e, em geral, todos os contemporneos, de qualquer opinio, estatuto social ou credo que fossem, ficassem to surpresos quanto ns ao saberem que a Donzela "se prostrava diante do nobre delfim para faz-lo levantar-se do trono de Orlans e conduzi-lo a Reims para que fosse sagrado". O rumor que circulava, depois da chegada de Joana ao territrio "Armagnac", era o de sua unio coroa da Frana. Esse rumor, que se propagou com uma rapidez assustadora, o mesmo que chegou a Jean le Btard, defensor de Orlans.

    Querendo consolidar sua conquista, os ingleses, no ms de outubro de 1428, cercaram a cidade de Orlans, porta de entrada do Loire e, portanto, das regies do Alm-Loire, onde estava refugiado o pretendente ao trono, Carlos VII, que, por zombaria, era chamado o rei de Bourges. O

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    Joana D'Arc - a mulher forte

    emprstimo feito das teses de Philippe Erlanger, bem entendido) lhe assegura que essa moa teria todos os poderes do mundo se realmente fosse donzela.. . Efetivamente, Joana, embarcada na aventura do arbtrio ou da fora (ela teria gostado mais de visitar as cidades por onde passara!), escapa de uma emboscada armada no caminho pelo perverso La Trmoille. Por qu? Porque simplesmente a virgindade lhe confere o dom do milagre. O mais risvel que, aps a chegada de Joana a Chinon, a prpria Yolande, rainha da Sicile, vai conferir sua virgindade! Teramos calado esta inverossmil coleo de erros de todo tipo se o filme, exibido na televiso francesa, no tivesse (e ns nos demos conta disso) confundido alguns telespectadores. Este um exemplo tpico desses romancistas que se acovardam diante da deformao das personagens histricas, culpa da imaginao ou precauo com uma publicidade facilitada quando se rotula uma personagem fabricada com a etiqueta "Joana d'Arc".

    Essa no a primeira deformao pela qual passou a personagem e, com certeza, no ser a ltima. at curioso observar a esse respeito o mal que se causa por no

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    se aceitar a verdade tal qual ela . evidente que essa partida de Joana para uma misso que contrasta to violentamente com sua condio de camponesa gera um problema inicial, e no menos exato que esse problema se apresenta como o expuseram as testemunhas da poca at agora citadas.

    desnecessrio dizer que o rei, seu squito e, em geral, todos os contemporneos, de qualquer opinio, estatuto social ou credo que fossem, ficassem to surpresos quanto ns ao saberem que a Donzela "se prostrava diante do nobre delfim para faz-lo levantar-se do trono de Orlans e conduzi-lo a Reims para que fosse sagrado". O rumor que circulava, depois da chegada de Joana ao territrio "Armagnac", era o de sua unio coroa da Frana. Esse rumor, que se propagou com uma rapidez assustadora, o mesmo que chegou a Jean le Btard, defensor de Orlans.

    Querendo consolidar sua conquista, os ingleses, no ms de outubro de 1428, cercaram a cidade de Orlans, porta de entrada do Loire e, portanto, das regies do Alm-Loire, onde estava refugiado o pretendente ao trono, Carlos VII, que, por zombaria, era chamado o rei de Bourges. O

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    Joana D'Arc - a mulher forte

    emprstimo feito das teses de Philippe Erlanger, bem entendido) lhe assegura que essa moa teria todos os poderes do mundo se realmente fosse donzela.. . Efetivamente, Joana, embarcada na aventura do arbtrio ou da fora (ela teria gostado mais de visitar as cidades por onde passara!), escapa de uma emboscada armada no caminho pelo perverso La Trmoille. Por qu? Porque simplesmente a virgindade lhe confere o dom do milagre. O mais risvel que, aps a chegada de Joana a Chinon, a prpria Yolande, rainha da Sicile, vai conferir sua virgindade! Teramos calado esta inverossmil coleo de erros de todo tipo se o filme, exibido na televiso francesa, no tivesse (e ns nos demos conta disso) confundido alguns telespectadores. Este um exemplo tpico desses romancistas que se acovardam diante da deformao das personagens histricas, culpa da imaginao ou precauo com uma publicidade facilitada quando se rotula uma personagem fabricada com a etiqueta "Joana d'Arc".

    Essa no a primeira deformao pela qual passou a personagem e, com certeza, no ser a ltima. at curioso observar a esse respeito o mal que se causa por no

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    se aceitar a verdade tal qual ela . evidente que essa partida de Joana para uma misso que contrasta to violentamente com sua condio de camponesa gera um problema inicial, e no menos exato que esse problema se apresenta como o expuseram as testemunhas da poca at agora citadas.

    desnecessrio dizer que o rei, seu squito e, em geral, todos os contemporneos, de qualquer opinio, estatuto social ou credo que fossem, ficassem to surpresos quanto ns ao saberem que a Donzela "se prostrava diante do nobre delfim para faz-lo levantar-se do trono de Orlans e conduzi-lo a Reims para que fosse sagrado". O rumor que circulava, depois da chegada de Joana ao territrio "Armagnac", era o de sua unio coroa da Frana. Esse rumor, que se propagou com uma rapidez assustadora, o mesmo que chegou a Jean le Btard, defensor de Orlans.

    Querendo consolidar sua conquista, os ingleses, no ms de outubro de 1428, cercaram a cidade de Orlans, porta de entrada do Loire e, portanto, das regies do Alm-Loire, onde estava refugiado o pretendente ao trono, Carlos VII, que, por zombaria, era chamado o rei de Bourges. O

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    Joana D'Arc - a mulher forte

    emprstimo feito das teses de Philippe Erlanger, bem entendido) lhe assegura que essa moa teria todos os poderes do mundo se realmente fosse donzela.. . Efetivamente, Joana, embarcada na aventura do arbtrio ou da fora (ela teria gostado mais de visitar as cidades por onde passara!), escapa de uma emboscada armada no caminho pelo perverso La Trmoille. Por qu? Porque simplesmente a virgindade lhe confere o dom do milagre. O mais risvel que, aps a chegada de Joana a Chinon, a prpria Yolande, rainha da Sicile, vai conferir sua virgindade! Teramos calado esta inverossmil coleo de erros de todo tipo se o filme, exibido na televiso francesa, no tivesse (e ns nos demos conta disso) confundido alguns telespectadores. Este um exemplo tpico desses romancistas que se acovardam diante da deformao das personagens histricas, culpa da imaginao ou precauo com uma publicidade facilitada quando se rotula uma personagem fabricada com a etiqueta "Joana d'Arc".

    Essa no a primeira deformao pela qual passou a personagem e, com certeza, no ser a ltima. at curioso observar a esse respeito o mal que se causa por no

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    se aceitar a verdade tal qual ela . evidente que essa partida de Joana para uma misso que contrasta to violentamente com sua condio de camponesa gera um problema inicial, e no menos exato que esse problema se apresenta como o expuseram as testemunhas da poca at agora citadas.

    desnecessrio dizer que o rei, seu squito e, em geral, todos os contemporneos, de qualquer opinio, estatuto social ou credo que fossem, ficassem to surpresos quanto ns ao saberem que a Donzela "se prostrava diante do nobre delfim para faz-lo levantar-se do trono de Orlans e conduzi-lo a Reims para que fosse sagrado". O rumor que circulava, depois da chegada de Joana ao territrio "Armagnac", era o de sua unio coroa da Frana. Esse rumor, que se propagou com uma rapidez assustadora, o mesmo que chegou a Jean le Btard, defensor de Orlans.

    Querendo consolidar sua conquista, os ingleses, no ms de outubro de 1428, cercaram a cidade de Orlans, porta de entrada do Loire e, portanto, das regies do Alm-Loire, onde estava refugiado o pretendente ao trono, Carlos VII, que, por zombaria, era chamado o rei de Bourges. O

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  • Joana D'Arc - a mulher forte

    emprstimo feito das teses de Philippe Erlanger, bem entendido) lhe assegura que essa moa teria todos os poderes do mundo se realmente fosse donzela.. . Efetivamente, Joana, embarcada na aventura do arbtrio ou da fora (ela teria gostado mais de visitar as cidades por onde passara!), escapa de uma emboscada armada no caminho pelo perverso La Trmoille. Por qu? Porque simplesmente a virgindade lhe confere o dom do milagre. O mais risvel que, aps a chegada de Joana a Chinon, a prpria Yolande, rainha da Sicile, vai conferir sua virgindade! Teramos calado esta inverossmil coleo de erros de todo tipo se o filme, exibido na televiso francesa, no tivesse (e ns nos demos conta disso) confundido alguns telespectadores. Este um exemplo tpico desses romancistas que se acovardam diante da deformao das personagens histricas, culpa da imaginao ou precauo com uma publicidade facilitada quando se rotula uma personagem fabricada com a etiqueta "Joana d'Arc".

    Essa no a primeira deformao pela qual passou a personagem e, com certeza, no ser a ltima. at curioso observar a esse respeito o mal que se causa por no

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    l\.1....11 '- .... . . . ... . .

    se aceitar a verdade tal qual ela . evidente que essa partida de Joana para uma misso que contrasta to violentamente com sua condio de camponesa gera um problema inicial, e no menos exato que esse problema se apresenta como o expuseram as testemunhas da poca at agora citadas.

    desnecessrio dizer que o rei, seu squito e, em geral, todos os contemporneos, de qualquer opinio, estatuto social ou credo que fossem, ficassem to surpresos quanto ns ao saberem que a Donzela "se prostrava diante do nobre delfim para faz-lo levantar-se do trono de Orlans e conduzi-lo a Reims para que fosse sagrado". O rumor que circulava, depois da chegada de Joana ao territrio "Armagnac", era o de sua unio coroa da Frana. Esse rumor, que se propagou com uma rapidez assustadora, o mesmo que chegou a Jean le Btard, defensor de Orlans.

    Querendo consolidar sua conquista, os ingleses, no ms de outubro de 1428, cercaram a cidade de Orlans, porta de entrada do Loire e, portanto, das regies do Alm-Loire, onde estava refugiado o pretendente ao trono, Carlos VII, que, por zombaria, era chamado o rei de Bourges. O

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    Joana D'Arc - a mulher forte

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    Essa no a primeira deformao pela qual passou a personagem e, com certeza, no ser a ltima. at curioso observar a esse respeito o mal que se causa por no

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    se aceitar a verdade tal qual ela . evidente que essa partida de Joana para uma misso que contrasta to violentamente com sua condio de camponesa gera um problema inicial, e no menos exato que esse problema se apresenta como o expuseram as testemunhas da poca at agora citadas.

    desnecessrio dizer que o rei, seu squito e, em geral, todos os contemporneos, de qualquer opinio, estatuto social ou credo que fossem, ficassem to surpresos quanto ns ao saberem que a Donzela "se prostrava diante do nobre delfim para faz-lo levantar-se do trono de Orlans e conduzi-lo a Reims para que fosse sagrado". O rumor que circulava, depois da chegada de Joana ao territrio "Armagnac", era o de sua unio coroa da Frana. Esse rumor, que se propagou com uma rapidez assustadora, o mesmo que chegou a Jean le Btard, defensor de Orlans.

    Querendo consolidar sua conquista, os ingleses, no ms de outubro de 1428, cercaram a cidade de Orlans, porta de entrada do Loire e, portanto, das regies do Alm-Loire, onde estava refugiado o pretendente ao trono, Carlos VII, que, por zombaria, era chamado o rei de Bourges. O

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    Joana D'Arc - a mulher forte

    emprstimo feito das teses de Philippe Erlanger, bem entendido) lhe assegura que essa moa teria todos os poderes do mundo se realmente fosse donzela.. . Efetivamente, Joana, embarcada na aventura do arbtrio ou da fora (ela teria gostado mais de visitar as cidades por onde passara!), escapa de uma emboscada armada no caminho pelo perverso La Trmoille. Por qu? Porque simplesmente a virgindade lhe confere o dom do milagre. O mais risvel que, aps a chegada de Joana a Chinon, a prpria Yolande, rainha da Sicile, vai conferir sua virgindade! Teramos calado esta inverossmil coleo de erros de todo tipo se o filme, exibido na televiso francesa, no tivesse (e ns nos demos conta disso) confundido alguns telespectadores. Este um exemplo tpico desses romancistas que se acovardam diante da deformao das personagens histricas, culpa da imaginao ou precauo com uma publicidade facilitada quando se rotula uma personagem fabricada com a etiqueta "Joana d'Arc".

    Essa no a primeira deformao pela qual passou a personagem e, com certeza, no ser a ltima. at curioso observar a esse respeito o mal que se causa por no

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    l\.1....11 '- .... . . . ... . .

    se aceitar a verdade tal qual ela . evidente que essa partida de Joana para uma misso que contrasta to violentamente com sua condio de camponesa gera um problema inicial, e no menos exato que esse problema se apresenta como o expuseram as testemunhas da poca at agora citadas.

    desnecessrio dizer que o rei, seu squito e, em geral, todos os contemporneos, de qualquer opinio, estatuto social ou credo que fossem, ficassem to surpresos quanto ns ao saberem que a Donzela "se prostrava diante do nobre delfim para faz-lo levantar-se do trono de Orlans e conduzi-lo a Reims para que fosse sagrado". O rumor que circulava, depois da chegada de Joana ao territrio "Armagnac", era o de sua unio coroa da Frana. Esse rumor, que se propagou com uma rapidez assustadora, o mesmo que chegou a Jean le Btard, defensor de Orlans.

    Querendo consolidar sua conquista, os ingleses, no ms de outubro de 1428, cercaram a cidade de Orlans, porta de entrada do Loire e, portanto, das regies do Alm-Loire, onde estava refugiado o pretendente ao trono, Carlos VII, que, por zombaria, era chamado o rei de Bourges. O

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    Joana D'Arc - a mulher forte

    emprstimo feito das teses de Philippe Erlanger, bem entendido) lhe assegura que essa moa teria todos os poderes do mundo se realmente fosse donzela.. . Efetivamente, Joana, embarcada na aventura do arbtrio ou da fora (ela teria gostado mais de visitar as cidades por onde passara!), escapa de uma emboscada armada no caminho pelo perverso La Trmoille. Por qu? Porque simplesmente a virgindade lhe confere o dom do milagre. O mais risvel que, aps a chegada de Joana a Chinon, a prpria Yolande, rainha da Sicile, vai conferir sua virgindade! Teramos calado esta inverossmil coleo de erros de todo tipo se o filme, exibido na televiso francesa, no tivesse (e ns nos demos conta disso) confundido alguns telespectadores. Este um exemplo tpico desses romancistas que se acovardam diante da deformao das personagens histricas, culpa da imaginao ou precauo com uma publicidade facilitada quando se rotula uma personagem fabricada com a etiqueta "Joana d'Arc".

    Essa no a primeira deformao pela qual passou a personagem e, com certeza, no ser a ltima. at curioso observar a esse respeito o mal que se causa por no

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    l\.1....11 '- .... . . . ... . .

    se aceitar a verdade tal qual ela . evidente que essa partida de Joana para uma misso que contrasta to violentamente com sua condio de camponesa gera um problema inicial, e no menos exato que esse problema se apresenta como o expuseram as testemunhas da poca at agora citadas.

    desnecessrio dizer que o rei, seu squito e, em geral, todos os contemporneos, de qualquer opinio, estatuto social ou credo que fossem, ficassem to surpresos quanto ns ao saberem que a Donzela "se prostrava diante do nobre delfim para faz-lo levantar-se do trono de Orlans e conduzi-lo a Reims para que fosse sagrado". O rumor que circulava, depois da chegada de Joana ao territrio "Armagnac", era o de sua unio coroa da Frana. Esse rumor, que se propagou com uma rapidez assustadora, o mesmo que chegou a Jean le Btard, defensor de Orlans.

    Querendo consolidar sua conquista, os ingleses, no ms de outubro de 1428, cercaram a cidade de Orlans, porta de entrada do Loire e, portanto, das regies do Alm-Loire, onde estava refugiado o pretendente ao trono, Carlos VII, que, por zombaria, era chamado o rei de Bourges. O

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  • Joana D'Arc - a:....:mu=lh.:.:e:....:r f..::..;ort..:..:e ___________ _

    Loire no oferece seno dois pontos adequados para uma invaso procedente da Normandia ou da Ilha da Frana: Angers33 e Orlans. O "regente da Frana", Jean, duque de Bedford34 (ttulo recebido em 1422, com a morte do rei Henrique V, que s deixara como herdeiro um beb de dez meses mais ou menos, o futuro Henrique VI), teria preferido que a armada se dirigisse para o sul, por Angers, pois assim ele anexaria o ducado de Anjou,35 cuja conquista no havia terminado. No entanto, Orlans oferecia uma situao estratgica muito superior: uma vez tomada a cidade, marcharia sem dificuldades sobre Bourges

    33. Angers - Cidade e Capital do Departamento de Maine-et-Loire, no Oeste da Frana, s margens do rio Maine. Invadida pelos Ingleses nos sculos XII e XV, foi sede de vrios conclios e conferncias polticas no decorrer de sua histria.

    34. Jean Plantagent, duque de Bedford - Regente da Frana ( 1 389-1435). Durante o reinado de Henrique V, participou da conquista da Frana, distinguindo-se especialmente depois da morte do rei, quando se tornou Regente da Frana, indicado pelo prprio Henrique V em seu testamento. A grande mcula de seu carter foi a execuo de Joana d'Arc em 1431.

    35. Anjou - Histrica regio situada no NO da Frana. Condado, mais tarde, ducado, foi definitivamente anexada coroa da Frana por Lus XI em 1480.

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    Rgne Pernoud

    e, de l, rumo Guyenne,36 que era inglesa por herana e na qual os suseranos ingleses somente deviam vassalagem ao rei da Frana.

    O alerta dos conselheiros militares prevaleceu e, desde 1 2 de outubro de 1428, o cerco estava empreendido, com os ingleses apoderando-se da principal fortificao que defendia a ponte da margem esquerda do Loire, chamada de "as Tourelles", at que investissem contra todas as portas da cidade propriamente dita, das quais apenas uma deveria permanecer livre, a "Porta de Borgonha", situada a leste de Orlans. Ningum duvidava que o cerco de Orlans levaria ao mesmo resultado que o cerco de Rouen, que, desde 1418 , havia colocado a Normandia sob o jugo do rei da Inglaterra. Talvez as ms notcias procedentes do Loire tivessem influenciado a deciso de Baudricourt, que via nisso, como todos, o ato final da conquista inglesa. Nada ocorria sem provocar alguma indignao, pois o senhor natural de Orlans, Carlos, o poeta, tinha

    36. Guyenne - Antiga regio do SO da Frana. Era ducado perto dos rios Garona e Dordonha, pertencente diviso da Aquitnia. Foi restabelecida como ducado depois de ter sido recuperada pela coroa francesa, dos Ingleses, no fim da Guerra dos Cem Anos.

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  • Joana D'Arc - a:....:mu=lh.:.:e:....:r f..::..;ort..:..:e ___________ _

    Loire no oferece seno dois pontos adequados para uma invaso procedente da Normandia ou da Ilha da Frana: Angers33 e Orlans. O "regente da Frana", Jean, duque de Bedford34 (ttulo recebido em 1422, com a morte do rei Henrique V, que s deixara como herdeiro um beb de dez meses mais ou menos, o futuro Henrique VI), teria preferido que a armada se dirigisse para o sul, por Angers, pois assim ele anexaria o ducado de Anjou,35 cuja conquista no havia terminado. No entanto, Orlans oferecia uma situao estratgica muito superior: uma vez tomada a cidade, marcharia sem dificuldades sobre Bourges

    33. Angers - Cidade e Capital do Departamento de Maine-et-Loire, no Oeste da Frana, s margens do rio Maine. Invadida pelos Ingleses nos sculos XII e XV, foi sede de vrios conclios e conferncias polticas no decorrer de sua histria.

    34. Jean Plantagent, duque de Bedford - Regente da Frana ( 1 389-1435). Durante o reinado de Henrique V, participou da conquista da Frana, distinguindo-se especialmente depois da morte do rei, quando se tornou Regente da Frana, indicado pelo prprio Henrique V em seu testamento. A grande mcula de seu carter foi a execuo de Joana d'Arc em 1431.

    35. Anjou - Histrica regio situada no NO da Frana. Condado, mais tarde, ducado, foi definitivamente anexada coroa da Frana por Lus XI em 1480.

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    Rgne Pernoud

    e, de l, rumo Guyenne,36 que era ingl