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João Calvino - Amando a Deus e às nações

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Calvino: amando a Deus e às naçõesGabriel Neubarth

Uma publicação deMorávios publicações

Este e-Book é publicado com permissão do autor. Você está autorizado e incentivado a baixar, ler e distribuir este material, desde que não o utilize para fins comerciais.

Edição e diagramação: moravios publicaçõesmoravios.org

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Índice

INTRODUÇÃO

Capítulo 1- Calvino: da perseguição ao consolo

Capítulo 2 - Calvino e a contextualização: pregando o evangelho na língua do povo.

Capítulo 3- Calvino e o propósito missionário da teologia.

Capítulo 4 - Calvino e o treinamento missionário.

Capítulo 5- Calvino e Bíblia: a hermenêutica missionária de Calvino

CONCLUSÃO

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UMA HISTÓRIA CONTADA E RECONTADA

Tive a grata oportunidade de crescer em um lar cristão, mais especificamente em uma família presbiteriana. Consequentemente, acabei tendo contato com a teologia reformada desde cedo e de diversas maneiras ao longo da minha caminhada cristã. Assim, ouvir falar de João Calvino, além de muito inspirador, era algo comum.

Os anos se passaram e comecei a me relacionar com pessoas de outros círculos evangélicos que também temiam e adoravam o mesmo Cristo a quem eu amava, mas que tinham uma completa aversão a qualquer coisa em que João Calvino fosse mencionado.

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Nesse instante, com muita seriedade me perguntei: em qual história deveria acreditar? Seria Calvino um exemplo ou um tirano?

Comecei a notar que muitos que condenavam a vida e a obra de Calvino nunca tinham de fato lido sua história e muito menos alguma de suas obras. Para eles, associar João Calvino à frieza espiritual e a uma ortodoxia morta era quase que dogmático, para não dizer uma tradição.

Notei que tal desapontamento era fomentado também pelo mal testemunho de muitos ditos calvinistas que de alguma forma cruzaram as suas vidas. Percebi que muitos rejeitavam as belas verdades das “doutrinas da graça” muito mais pela arrogância daqueles que as proclamavam do que pelo conteúdo de tal proclamação. E com isso fiquei extremamente triste.

Os anos continuaram a passar e fui levado pela providência para o Seminário, depois para o mestrado, e em seguida para a tão almejada capacitação missionária. E foi no meio missionário que a dicotomia entre as duas histórias de Calvino foi mais evidenciada. Percebi que, para muitos, calvinismo e missões eram coisas completamente excludentes. Alguns até acreditavam seguramente que o período da reforma foi um atraso para a obra missionária, e que, principalmente, Calvino em nada havia contribuído para a última.

A partir desse momento comecei a me sentir um estranho no meio do ninho. Pois como eu, sendo um calvinista convicto,

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poderia ser um missionário apaixonado? Esse pequeno e-book é parte do meu esforço em defender a integralidade e compatibilidade desses dois paradigmas, a saber: a fé reformada e a obra missionária.

De modo algum esse pequeno livreto tem por objetivo exaurir as problemáticas apresentadas, mas sim lançar mais um prisma a essa história contada e recontada por muitos, a saber: a história de João Calvino. Nos próximos capítulos, passaremos por sua conversão e pelo desafio que teve de viver sua fé em um país perseguido; contaremos como ele se dispôs a pregar o evangelho na linguagem do povo, bem como ele usou sua teologia como um veículo de propagação da graça de Deus a outras nações; veremos como ele fez da cidade de Genebra um verdadeiro centro de treinamento missionário, e por último, veremos como o amor desse homem às Sagradas Escrituras o levou a amar a obra missionária e a compreendê-la de uma maneira mais profunda e graciosa.

Que Deus seja honrado, sua igreja edificada.

Soli Deo Gloria,

Gabriel Neubarth

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INTRODUÇÃO

Dentro do protestantismo histórico, a reforma protestante do século XVI é um evento constantemente lembrado. No entanto, na ampla maioria das vezes, o olhar que temos para esse evento histórico é de caráter teológico e não missionário. Alguns, erroneamente, chegam a afirmar que esse foi um período da história da igreja com pouco, ou quase nenhum, envolvimento missionário. No início desse século, um dos expoentes de tal pressuposto, Gustav Warneck, escreveu: “Nós perdemos com os Reformadores não apenas a ação missionária, mas mesmo a ideia de missões (...) em parte porque perspectivas teológicas fundamentais deles evitaram que dessem a suas atividades, e mesmo a seus pensamentos, uma direção missionária”1.

1History of Protestant Missions, p. 9

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De fato, a importância teológica da reforma é inegável, no entanto, as implicações missionárias da mesma são igualmente importantes. Buscaremos trazer uma releitura da vida de um dos maiores expoentes desse período da história, a saber, João Calvino, mostrando algumas implicações missionárias de sua vida e teologia, e com isso tentar contribuir um pouco para o fim desse preconceito, e até mesmo equívoco histórico, com relação aos reformadores e à obra missionária.

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Capítulo 1

CALVINO: DA PERSEGUIÇÃO AO CONSOLO

João Calvino, o grande reformador suíço, não era na verdade suíço e sim francês. Nascido em Noyon, cidade ao norte da França, no dia 10 de julho de 1509, era filho de Gerard e Jeane Calvin2. Sua família era devota do catolicismo romano, sendo o seu próprio pai um tipo de advogado da igreja católica romana na região. O convívio com sua mãe foi muito curto: na ocasião de sua morte, o pequeno Calvino tinha apenas seis anos de idade. Foi quando pequeno também que o pai de Calvino o introduziu ao mundo da igreja, com o objetivo de que o mesmo pudesse gozar de uma melhor educação. Sendo assim, com o

2CARNS, Cristianismo através dos séculos, p. 252

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apoio do pai e o aval da igreja, Calvino estuda em diversas instituições proeminentes da França do século XVI.

É nesse contexto estudantil que Calvino começa a ter os primeiros contatos com as verdades do protestantismo. Tanto através da amizade com seu primo Pierre Olivetan, que havia alguns anos antes sido convertido ao protestantismo, bem como através do pensamento de alguns professores da época, tal como Lefèvre, Deus começa a trabalhar no coração daquele jovem. A conversão de Calvino se deu em algum momento entre 1532 e 1533, mas o momento exato da mesma continua sendo um mistério. O mais perto que sabemos de tal momento, pode ser observado quando Calvino, muitos anos depois (1557), ao escrever o seu comentário de Salmos, afirma:

"Após tomar conhecimento da verdadeira fé e de lhe ter tomado o gosto, apossou-se de mim um tal zelo e vontade de avançar mais profundamente, de tal modo que apesar de eu não ter prescindido dos outros estudos, passei a ocupar-me menos com eles. Fiquei estupefato, quando antes mesmo do fim do ano, todos aqueles que desejavam conhecer a verdadeira fé me procuravam e queriam aprender comigo - eu, que ainda estava apenas no início! Pela minha parte, por natureza algo tímido, sempre preferi o sossego e permanecer discreto, de modo que comecei a procurar um pequeno refúgio que me permitisse recolher dos homens. Mas, pelo contrário, todos os meus refúgios se tornavam em escolas públicas. Em resumo, apesar de eu sempre ter pretendido viver incógnito, Deus

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guiou-me por tais caminhos, onde não encontrei sossego, até que ele me puxou para a luz forte, contrariando o meu caráter, e como se costuma dizer, me colocou em jogo.”3

O que poucos sabem é que Deus colocou Calvino em jogo muito tempo antes dele se tornar o grande reformador de Genebra. Ainda “universitário”, mas já um missionário, Calvino ardia pela verdade do evangelho. Durante esse período, em especial no final do ano de 1533, provavelmente nos seus primeiros meses de “nova vida”, Calvino iria passar por momentos que marcariam sua vida para sempre.

Nesse ano, Calvino estudava na Universidade de Paris. Seu amigo de longas datas, Nicolas Cop, era agora reitor da mesma Universidade. Cop, que também havia se maravilhado com as verdades do protestantismo, começara a implementar mudanças nas práticas seculares daquela conceituada universidade. No início de cada ano letivo, era de praxe que o reitor fizesse uma aula magna, na maioria das vezes exaltando a Igreja de Roma bem como seus santos franceses. Mas naquele ano seria diferente. Cop, sob a respeitável tribuna da Universidade, faz o seu discurso baseado nas palavras de Jesus: “bem-aventurados os humildes de espírito”.

Aquilo chocou os presentes e, em especial, os conceituados professores da universidade rival, Sorbonne, que denunciam Cop ao parlamento. Corriam, ainda, entre a comunidade

3CALVINO, João. Comentario de Salmos.

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estudantil de Paris, rumores de que o discurso proferido pelo reitor havia sido fruto de aconselhamentos que o mesmo tivera com o jovem estudante chamado João Calvino4. Deste modo, como consequência desses rumores, no final de novembro de 1533, Calvino aprenderia o que é ser perseguido por sua fé.

Seu amigo Cop estava a caminho do parlamento para ouvir as acusações contra ele, quando foi informado por um amigo parlamentar que os professores de Sorbonne conseguiram manipular o parlamento a não libertá-lo e a encaminharem um pedido de pena capital contra ele. Imediatamente, o reitor foge com o auxílio de seus prestativos alunos, restando, então, à polícia ir através daquele que fomentara tais ideias na cabeça do reitor, ou seja, o próprio Calvino. Mas, da mesma forma que Cop fora auxiliado por estudantes em sua fuga, o mesmo aconteceria com Calvino:

“Enquanto alguns estudantes conversavam com os oficiais da diligencia ao pé da escada, outros ajudavam João Calvino a escapar por uma janela de trás, por meio de cordas feitas às pressas com roupas de cama. Ao escapar, fugiu para a casa de um amigo vitivinicultor, onde vestiu roupas de camponês e logo em seguida saiu da cidade com uma enxada nos ombros, caminhando em direção a Noyon”5.

4VAN HALSEMA, Thea B. João Calvino era assim. Editora os Puritanos. Edição Kindle, Posição 370. 5VAN HALSEMA, Thea B. João Calvino era assim. Editora os Puritanos. Edição Kindle, Posição 381

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Como os acontecimentos acima demonstram, o ano de 1534 foi, nas palavras de Thea B. Van Halsema, biógrafa de Calvino: “um ano de perambulações, um ano sendo caçado”. Sobre esse período o próprio Calvino afirmou: “Deus me dirigiu por tantas voltas e mudanças, que Ele nunca permitiu que eu descansasse em qualquer lugar.”6

Após passar algum tempo longe de Paris, Calvino volta à mesma cidade, agora não como um cidadão comum, mas como um crente perseguido. Os crentes em Paris naquele momento viviam às escuras, tinham reuniões secretas que sempre mudavam de lugar para que a polícia não desconfiasse de nada. Calvino participava dessas reuniões, ensinando e encorajando os crentes em sua caminhada com Cristo. Sobre esse momento, Van Halsema afirma:

“Calvino falava em muitas reuniões secretas, reuniões algumas vezes desbaratadas pela polícia. Ele também sabia escapulir pelas saídas dos fundos, saltar por uma janela, sumir-se na escuridão, livrar-se de tiros de um trabuco. Naqueles dias, Calvino, levantando suas mãos aos céus, dizia no fim de suas mensagens: ‘Se Deus é por nós, quem será contra nós?’. Os que não escapavam da polícia, cujos lugares nas reuniões secretas estavam vazios por estarem aguardando na prisão a sua vez na pira de fogo – estes davam testemunho corajoso da

6VAN HALSEMA, Thea B. João Calvino era assim. Editora os Puritanos. Edição Kindle, Posição 447

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7VAN HALSEMA, Thea B. João Calvino era assim. Editora os Puritanos. Edição Kindle, Posição 453

corajoso da verdade dessas palavras.”7

A descrição desse período da vida de Calvino parece muito bem com as histórias que tanto ouvimos dos nossos irmãos em Cristo que sofreram e ainda sofrem por amor a Cristo e ao evangelho. Esse relato bem que poderia fazer parte de livros que contam as histórias de crentes que sofreram sob os regimes nazistas e comunistas e que ainda sofrem sob a égide de regimes totalitários islâmicos.

Muitos esquecem que a igreja protestante foi, durante os seus primeiros anos, em sua ampla maioria, uma igreja perseguida. E tal esquecimento pode nos fazer perder a oportunidade de trazermos aos atuais fóruns de discussão sobre a igreja perseguida, a imagem, história e vida de homens como Calvino e tantos outros, que nos primeiros anos do protestantismo aprenderam o que é padecer por amor a Cristo. A igreja reformada do século XVI foi sim uma igreja missionária, e ela aprendeu a sê-la, quando a mesma se viu sendo uma igreja perseguida.

Um aspecto marca a história de todos os crentes que escapam de contextos de perseguição, a saber: eles nunca se esquecem de seus irmãos que ainda sofrem. Isso acontece hoje, e também aconteceu com Calvino. Por saber o que era ser perseguido, Calvino poderia consolar aqueles que eram perseguidos. A forma que ele mais utilizou para fazer isso foram suas cartas.

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Diversas delas tinham um endereço certo: os crentes que sofriam por sua fé.

Dentre as muitas cartas, gostaria de citar apenas uma, escrita por ele a cinco jovens franceses, que estavam presos aguardando a sua morte simplesmente por pregarem o evangelho aos seus conterrâneos. A curta carta assim afirma:

“Nós que estamos aqui devemos cumprir nossa obrigação de orar para que ele glorifique cada vez mais a si mesmo por sua constância e que possa, pelo conforto de seu Espírito, abrandar e valorizar tudo que é amargo para a carne e, assim, absorver o espírito deles em si mesmo para que, ao contemplar essa coroa celestial, você possa estar preparado para, sem arrependimentos, deixar tudo que pertence a este mundo. Agora, neste momento atual, é necessário que você seja exortado mais do que nunca a voltar toda sua mente para o céu. Todavia, ainda não sabemos qual será o evento. Mas desde que parece que Deus usaria seu sangue para selar sua verdade, não existe nada melhor para vocês fazerem do que se prepararem para esse fim, suplicando a ele que subjugue vocês ao bom prazer dele de forma que nada os possa impedir de seguir para qualquer parte que ele chamar... Desde que agrade a ele usá-los até a morte para manter sua disputa, ele fortalecerá suas mãos na luta e nenhuma gota de sangue do corpo de vocês será derramada em vão. Seu humilde irmão, João Calvino”8

8Cartas de João Calvino, São Paulo - SP,editora Cultura Cristã, 2009, pg. 103

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Calvino aprendeu nos primeiros anos de sua nova vida em Cristo o que é sofrer perseguição. Ele levou a sério as palavras de Seu Senhor: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus” - Mateus 5.10. As lições por ele aprendidas naqueles anos o acompanharam durante toda a sua vida. A preocupação e constante oração por aqueles que sofriam perseguição por causa da sua fé em Cristo e nas Escrituras sempre foram marcas de sua vida e ministério. Antes de ser um ícone da reforma, e o grande sistematizador da teologia reformada, Calvino foi um estudante perseguido por sua fé, um missionário em meio a um país fechado ao evangelho, um cordeiro em meio a lobos vorazes.

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Capítulo 2

CALVINO E A CONTEXTUALIZAÇÃO:LEVANDO O EVANGELHO NA LÍNGUA DO POVO

Após ser impedido definitivamente de ficar em seu país de origem, Calvino inicia a sua caminhada missionária transcultural, propriamente dita. Alguns anos depois, escrevendo a um amigo, ele falou sobre o desafio de deixar a sua própria pátria: “É difícil deixar o lar da gente para tornar-se um peregrino. Mesmo assim, este destino que aos homens parece tão severo é transformado pelo Senhor em puro gozo9”

Na vida de Calvino, deixar a sua terra deve ter sido ainda mais difícil pelo fato de que não era Genebra, inicialmente, o seu destino final. O seu desejo inicial era viver em Strasbourg (de fato foi nessa cidade onde ele viveu durante os dois únicos anos no qual não ficou em Genebra, a saber, no seu exílio). No

9VAN HALSEMA, Thea B. João Calvino era assim. Editora os Puritanos. Edição Kindle, Posição 628

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entanto, para chegar em tal destino ele teria que se livrar das terras dominadas pelos seus perseguidores franceses. Por essa razão (e é claro guiado pela Providência) ele resolve dar a volta pela Suíça, e no cair da noite estava ele às portas da grande e famosa Genebra.

A história dessa cidade já havia sido impactada pela Reforma Protestante antes mesmo da chegada de seu mais famoso reformador. Os anos iniciais da história do protestantismo em Genebra estiveram ligados a Guilherme de Fareul. Sobre esse importante personagem da história, Erasmus afirmou: “nunca em minha vida conheci um homem tão destemido”. Muitos foram os métodos usados por Fareul nos seus primeiros intentos evangelísticos em Genebra, mas o mais curioso, e que por muitos missionários ainda é utilizado hoje, foi o de lecionar aulas de francês:

“O povo lia com interesse: um jovem recém-chegado nesta cidade dará instruções na leitura e na maneira de escrever a língua francesa, a todos que quiserem, grandes e pequenos, homens e mulheres, mesmos aqueles que nunca foram a escola. Caso não aprenderem a ler e a escrever dentro de um mês, ele não receberá nenhuma recompensa por seu trabalho.Encontrá-lo-eis no Boytel-Hall, perto da praça Molard, onde se vê a Cruz Dourada.”10

Depois de muitos anos de trabalhos e lutas, em 1536 Genebra se tornaria uma cidade oficialmente protestante. O trabalho havia

10Ibid. posição 739

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crescido, e consequentemente a demanda também. Foi nesse intento que, ao saber que o jovem Calvino estava passando a noite em uma hospedaria da cidade, Fareul se deslocou para propor ao jovem reformador algo que transtormaria seus planos originais, mas que em contra partida, mudaria a história do protestantismo.

Ao chegar naquela hospedaria, Fareul contemplava uma esperança para a reforma em Genebra. Ele próprio sabia que não tinha o perfil necessário para esse momento da história de Genebra. Sobre isso Van Halsema afirma:

“Ninguém podia conquistar uma cidade para o evangelho como Guilherme Farel. Tendo-a conquistado, agora então o trabalho começava de verdade. Vinha depois o planejamento cuidadoso, a firme liderança, a edificação. Farel não era o homem para essa atividade; ninguém sabia isso melhor do que ele mesmo. Era magnífico numa batalha. Mas se perdia completamente na rotina diária de planejamento e consolidação. Não podia dar a liderança firme e constante que uma cidade explosiva como Genebra precisava”11

Foi com tal convicção no coração que Fareul chegou à hospedaria e se pôs a argumentar com o jovem Calvino sobre a necessidade que Genebra tinha de uma pessoa com o seu perfil. Ele trovejou para Calvino “Digo-te, em nome de Deus todo-poderoso, que estás apresentando os teus estudos com pretexto. Deus te amaldiçoará se não nos ajudares a levar

11Ibid, posição 858

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adiante o Seu Trabalho, pois doutra forma estarias buscando a tua própria honra em vez da de Cristo”. Tais palavras penetraram profundo no coração de Calvino, e o fizeram seguir a vontade de Cristo e não a sua própria. Mais tarde, ele assim afirmou sobre aquela conversa: “Senti como se Deus tivesse estendido a Sua mão do céu em minha direção para me prender. Fiquei tão aterrorizado que interrompi a viagem que havia encetado (…) Guilherme Fareul me reteve em Genebra”.

Farel a Calvino: “Deus amaldiçoe o teu descanso”

Desse modo, Calvino chegou a Genebra. Cidade que não pertencia à sua nação, cidade cosmopolita, um verdadeiro

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campo missionário transcultural. Como toda cidade cosmopolita, em Genebra convergiam pessoas de diversas nações, e consequentemente de línguas diferentes. E essa problemática específica acabou se tornando para Calvino uma grande oportunidade de proclamação das verdades bíblicas a pessoas de diferentes nacionalidades.

A preocupação de Calvino em comunicar as verdades do evangelho na língua do povo é notável. Mesmo produzindo obras em latim, língua acadêmica da época, sempre escrevia também em francês popular. A sua obra magna, As Institutas da Religião Cristã, foram escritas também em vernáculo popular. Os catecismos e os diretórios da igreja de Genebra também. Isso pode não parecer tão notável à luz da nossa época, no entanto, devemos lembrar que até aquele momento a ampla maioria do cristianismo (os católicos e ortodoxos) ainda realizavam cultos em latim, bem como mantinham suas traduções oficias em línguas não compreendidas pelo público em geral.

Um fato torna a preocupação missionária de Calvino em contextualizar a mensagem do evangelho na língua do povo ainda mais notável: “Ele estabeleceu cultos na igreja em línguas diferentes, para os diferentes grupos de refugiados – ingleses, italianos, espanhóis e flamengos.”12 Em pleno século XVI, vemos um homem se preocupando com os imigrantes que viviam em sua cidade. Vemos um homem procurando

12 Ibid. posição. 1846

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desesperadamente se fazer compreendido em diversas línguas, para que assim os mistérios de Cristo fossem proclamados a todos, e assim a glória de Cristo brilhasse sobre todas as nações.

Pregar na língua do povo sempre foi uma preocupação da igreja protestante. Muitos, da primeira geração de reformadores, foram responsáveis pela tradução da Bíblia para a língua vernácula. Tais traduções são tidas até hoje como base para a atual formação de diversas línguas. Tal empenho é uma consequência lógica de um dos princípios da reforma, o sola scriptura. Calvino, e os reformadores, criam plenamente que a Bíblia é a Palavra de Deus, e que é através dela que o Espírito Santo atua em favor da salvação do perdido. Sendo assim, pregar a Bíblia era, e continua a ser, responsabilidade da igreja do Senhor.

Muitos missionários são hoje, para alguns povos, como aqueles primeiros reformadores foram para o seu tempo. Eles se esforçam por traduzir a Bíblia para a língua do povo, passam anos de suas vidas buscando a maneira mais fiel e compreensiva de explicar a Palavra de Deus para determinado povo. Muitos outros passam anos tentando aprender uma língua complicada para então pregar ao povo no seu idioma do coração, e assim desvendar as belezas do evangelho da graça de Deus para determinado povo.

Nesse capítulo podemos detectar, mesmo que brevemente, mais uma marca da visão missionária de Calvino e dos primeiros reformadores. Dizer que alguém que tinha tamanha preocupação

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em explicar a mensagem do evangelho na linguagem do povo, se importando até mesmo com o imigrante estrangeiro, dizer que ele não tinha visão missionária é de uma desonestidade tremenda, ou na melhor das hipóteses, de uma desinformação enorme.

Que possamos seguir o exemplo deixado por Calvino. Que nos esforcemos diligentemente por pregar todo o “conselho de Deus” de uma maneira compreensiva quer para os índios das distantes tribos, ou para o estrangeiro das grandes metrópoles, quer para os doutores das grandes universidades, ou para o mais simples dos homens, pois cremos que o “evangelho é o poder de Deus para todo aquele que Nele crer”.

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Capítulo 3

CALVINO E O PROPÓSITO MISSIONÁRIO DA TEOLOGIA

Nenhum outro ponto da vida de Calvino ficou mais conhecido do que a sua teologia. A produção teológica de Calvino foi de fato grandiosa, ao ponto de preencher 5913 dos 101 volumes da conhecida coletânea de textos da reforma protestante, denominada de Corpum Reformatorum.

Para que o leitor tenha ideia da extensão de sua obra teológica, é válido lembrá-los que nos 42 volumes restantes dessa coleção, estão contidas as produções teológicas dos demais teólogos reformados da época, tais como Melanchton e Bulinger. Ou

13http://www.mackenzie.com.br/7007.html - Alderi de Souza Matos

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seja, Calvino, que mal conseguiu vender o seu primeiro livro (um tratado sobre Sêneca) foi responsável por escrever quase 60% de todas as obras da teologia protestante de sua época: “Um autor observa que o reformador de Genebra escreveu mais num espaço de trinta anos do que uma pessoa pode estudar e digerir adequadamente durante toda uma vida.” 14

Por qual motivo Calvino escreveu tanto? Qual o propósito de tanta teologia? Creio que o propósito principal foi o zelo que ele tinha pela glória de Deus. Não me deterei nesse tema agora, mas gostaria de falar de um propósito por vezes negligenciado pelos leitores de sua obra, a saber: seu desejo missionário.

Talvez esse seja um tema negligenciado pelos leitores de Calvino ao longo da história pelo fato de que, por vezes, não gostamos de gastar tempo lendo prefácios de obras literárias. Muitas vezes, ansiosos pelo conteúdo em si de um livro, saltamos essa parte tão importante para a compreensão do mesmo, uma vez que é no prefácio onde o autor expõe aos seus leitores as razões pelas quais ele dedicou tempo para escrever sobre aquele tema específico.

Gostaríamos de nos deter no prefácio de sua obra mais famosa, a saber, As institutas da religião cristã, mais especificamente no prefácio da primeira edição datada de 1536. Esse prefácio é uma carta destinada ao Rei Francisco, monarca francês na época, com vistas a explanar-lhe as verdades da religião cristã. Vejamos algumas partes dessa extensa carta (mais de 20 páginas) onde o

14http://www.mackenzie.com.br/7007.html - Alderi de Souza Matos

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claro intento missionário de Calvino é evidenciado.

Logo no primeiro parágrafo, Calvino assim afirma:

"Quando, de início, tomei da pena para redigir esta obra, de nada menos cogitava, ó mui preclaro Rei, que escrever algo que, depois, houvesse de ser apresentado perante tua majestade. O intento era apenas ensinar certos rudimentos, mercê dos quais fossem instruídos em relação à verdadeira piedade quantos são tangidos de algum zelo de religião. E este labor eu o empreendia principalmente por amor a nossos compatrícios franceses, dos quais a muitíssimos percebia famintos e sedentos de Cristo, pouquíssimos, porém, via que fossem devidamente imbuídos pelo menos de modesto conhecimento."

Notamos nessa palavra o zelo missionário de Calvino. O desejo de fazer Cristo conhecido aos seus compatriotas franceses e o amor que o mesmo nutria por eles foi a válvula propulsora de uma das obras mais importantes do protestantismo. Calvino procurava cumprir aqui um dos pontos da tão conhecida “grande comissão”, onde se lê: “ensinando-os a guardar tudo que lhes ordenei” (Mt.28.20). A teologia que produzimos deve ter como objetivo último o cumprimento dessas palavras, e deve ser motivada pelo amor que temos para com os perdidos.

Calvino continua:

“Como, porém, me apercebesse de até que ponto tem prevalecido em teu reino a fúria de certos degenerados, de

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sorte que não há neles lugar nenhum à sã doutrina, dei-me conta da importância da obra que estaria para fazer, se, mediante um mesmo tratado, não só lhes desse um compêndio de instrução, mas ainda pusesse diante de ti uma confissão de fé, mercê da qual possas aprender de que natureza é a doutrina que, com fúria tão desmedida, se inflamam esses tresloucados que, a ferro e fogo, conturbam hoje teu reino.”

As Institutas da Religião Cristã, edição de 1559

Aqui, mais uma vez, Calvino evidencia que o propósito de seu livro é instruir e tornar a fé protestante conhecida ao Rei (e consequentemente a toda a nação), visto que, aqueles que defendem tal fé, estavam sendo perseguidos a “ferro e fogo” naquele país. Era desejo de Calvino que o rei “aprendesse” a doutrina protestante. Não seria essa ainda hoje a função dos

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missionários, onde quer que eles estejam? Não seria assim que cumpriríamos o “ensinar a guardar todas as coisas”? Não é por meio do conhecimento de Cristo, que são formados os seus discípulos? Mais uma vez nos é suscitada uma reflexão: nossa teologia tem como objetivo instruir e tornar a fé bíblica conhecida?

Com vistas a cumprir tal intento missionário, se fazia necessário que o evangelho fosse claramente explicitado, o que Calvino, no próprio prefácio, o faz:

“Sim, diante de Deus, míseros pecadores; à vista dos homens, absolutamente desprezíveis, escória e lixo do mundo; se o queres, ou qualquer outra coisa que de mais vil se possa, porventura, referir. De sorte que nada resta de que nos possamos gloriar diante de Deus, senão tão-somente de sua misericórdia [2Co 10.17, 18], mercê da qual, à parte de qualquer mérito nosso [Tt 3.5], fomos admitidos à esperança da eterna salvação, nem mesmo diante dos homens nos sobra senão nossa impotência [2Co 11.30; 12.5, 9], o que, a mera admissão, sequer com um aceno, é entre eles suprema ignomínia.”

Calvino expõe aqui a real situação do homem à parte da graça de Deus. Por natureza somos “míseros pecadores” e “escória e lixo do mundo”. No entanto, mesmo em face a tal realidade, “pela misericórdia”, e não por “nenhum mérito nosso”, fomos “admitidos à esperança da eterna salvação”. Quão vibrante, clara, e corajosa é essa exposição do evangelho. Calvino não

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apenas procurou defender a fé protestante, mas claramente expõe o evangelho àquele monarca, pois cria que somente o evangelho “é o poder de Deus para salvação de todo aquele que nele crer”. A coragem de Calvino é ainda evidenciada, quando o mesmo exalta a realeza de Cristo, como único monarca pleno, vejamos:

“Nossa doutrina, porém, sublime acima de toda glória do mundo, invicta acima de todo poder, importa que seja enaltecida, pois não é nossa, mas do Deus vivo e de seu Cristo, a quem o Pai constituiu Rei, para que domine de mar a mar e desde os rios até os confins do orbe das terras [Sl 72.8]. E de tal forma, em verdade, deve ele imperar, que, percutida só pela vara de sua boca, a terra toda, com seu poder de ferro e bronze, com seu resplendor de ouro e prata, ele a despedaçará como se outra coisa não fosse senão diminutos vasos de oleiro, na exata medida em que os profetas vaticinam acerca da magnificência de seu reino [Dn 2.34; Is 11.4; Sl 2.9].

Dizer a um monarca absolutista, como Francisco, que na verdade o único Rei por excelência, que domina de “mar a mar” é Jesus Cristo é um tremendo ato de coragem e fidelidade por parte de Calvino. Muitas vezes, na prática missionária, iremos nos deparar com questões culturais difíceis que demandarão muita coragem e fidelidade a Deus e à sua Palavra para que não calemos a verdade do evangelho. Às vezes, teremos que dizer a reis que de fato existe um Rei sobre ele, o qual domina a história, e a faz concorrer para o bem daqueles a quem Ele ama.

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Aprendemos com esse prefácio algumas lições preciosas que podem e devem ser usadas pelos cristãos nos dias de hoje. Primeiramente, aprendemos que a nossa teologia deve brotar de um desejo de fazer as verdades bíblicas conhecidas daqueles que não a conhecem. Pregar, ensinar, escrever sobre a Bíblia, tudo isso deve ser com o objetivo de clarificar as verdades do evangelho ao pecador, ou para tornar mais madura a fé do crente.

Tal reflexão se faz necessária em nossos dias, em face às diversas discussões teológicas fúteis e sem embasamento bíblico, ou ainda em face a diversos pregadores que em vez de clarificarem Cristo aos seus ouvintes acabam o escondendo atrás de sua retórica, eloquência, ou vestimenta. O plano mestre de nosso ministério como teólogos (quer oficias ou não) deve ser o cumprimento das palavras de Jesus “ensinando-os a guardar tudo que lhes ordenei”.

Segundo, aprendemos aqui com Calvino que a fé deve ser defensiva, mas ao mesmo tempo ofensiva. O que quero dizer com isso é que não podemos nos deter somente na apologética (mesmo considerando-a importantíssima em meio a um mundo tão pluralista como o nosso), mas devemos pregar o evangelho aberta e claramente quer a reis ou a plebeus. Muitos esqueceram que não é por uma defesa coerente das verdades bíblicas que alguém chega à fé em Cristo, mas sim pela pregação clara do evangelho puro e simples de nosso Senhor Jesus. A igreja do Senhor se surpreenderia se ela se dispusesse a pregar mais o evangelho.

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Que Deus presenteie a igreja brasileira com mais teólogos com um coração missionário e mais missionários com um coração teológico. E que em busca de tal objetivo possamos ter em Calvino um bom exemplo a ser seguido.

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Capítulo 4

CALVINO E O TREINAMENTO MISSIONÁRIO

Segundo estatísticas, uma das maiores causas da volta precoce de missionários do campo transcultural está ligada à falta de preparo adequado nas etapas anteriores a sua ida ao campo. Eugene Peterson, ao escrever sobre vocação, afirma: “Muita confusão, muita angústia, muita desinformação tem levado ao campo missionário pessoas com grande entusiasmo, mas que são como soldados de chocolate, que logo se derretem e se desfazem, deixando manchas e muita tristeza”.15

Muitos já tem se atentado para as problemáticas que envolvem o treinamento missionário, e graças a Deus, os avanços são

15Peterson, Eugene. A Vocação Espiritual do Pastor: Redescobrindo o Chamado Ministerial. Traduzido por Carlos Osvaldo Cardoso Pinto. São Paulo: Mundo Cristão, 2006, p. 32

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perceptíveis em diversas agências missionárias de nossa nação. Gostaria, no entanto, de trazer mais um elemento norteador e exemplificador para essa discussão, a saber: Genebra como um centro missionário da Reforma Protestante. Este elemento é por vezes negligenciado, mas se atentamente compreendido, será de grande valia para as discussões sobre essa temática.

Como vimos em textos anteriores, ao chegar em Genebra, Calvino já encontrou uma cidade protestante, pelo menos no que tange a sua religião oficial. No entanto, pelos quase 40 anos em que ali viveu, Calvino transformou aquela cidade em um referencial para o seu tempo e para a história, ao ponto de Jonh Knox, grande reformador escocês que foi aluno da Academia de Genebra nos idos de Calvino, afirmar que Genebra era o que mais próximo ele tinha conhecido de uma “Cidade de Deus”.

Muitos textos já foram escritos sobre a influência social, política e educacional de Calvino em Genebra, sendo assim, não me deterei em tais temas, mas verei como Calvino tinha uma visão holística de treinamento missionário, e como o mesmo se utilizava de todas as esferas da cidade para formar os melhores missionários de sua época.

Como já foi apresentado nos capítulos anteriores, após alguns anos da chegada de Calvino à Genebra, muitos imigrantes procuraram refúgio naquela cidade. A maioria deles fugia de sua pátria natal por perseguições religiosas infligidas por monarcas católicos absolutistas. Tal fluxo foi tão grande que alguns teóricos chegam a afirmar que, da chegada de Calvino em

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Genebra até 1555, a população de Genebra teria duplicado16. Sobre tal questão o próprio Calvino viria a comentar em uma de suas cartas endereçadas a Farel, em 1551, onde se lê: “Eu estou, por enquanto, muito preocupado com os forasteiros que diariamente passam por este lugar em grande número, ou que vêm aqui para viver (...) Você deveria nos fazer uma visita no próximo outono, você encontrará nossa cidade consideravelmente maior – um espetáculo agradável para mim.”17

Tendo em vista beneficiar tão grande número de moradores, desde cedo, Calvino propusera ao conselho da cidade uma reforma educacional na qual, dentre outras coisas, ele defendia o ensino gratuito para todas as crianças. Como resultado de tal esforço educacional, surge em 1559 a denominada Academia de Genebra. O que por vezes esquecemos é que “o estabelecimento da academia de Genebra foi em parte realizado por causa do desejo de suprir e treinar missionários evangélicos”18.

Calvino conseguiu ter uma percepção muito aguçada do seu tempo. Ele percebera que a grande presença de imigrantes em Genebra não era um problema, mas sim uma oportunidade de treinar pessoas para melhor servirem ao Senhor nos seus países

16http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/calvino_missoes_scott.htm 17Corpus Reformatum, XLII, col. 134, citado em G.R. Potter and M. Greengrass, John Calvin, Documents of Modern History (New York: St. Martins Press, 1983), 123.18James MacKinnon, Calvin and the Reformation, Londres: Penguin Books, 1936, p. 195

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de origem. Mas como prepará-los devidamente?

O currículo educacional da Academia pode nos auxiliar a compreender um pouco da filosofia de treinamento missionário de Calvino, ele contemplava matérias tais como teologia, hebraico, grego, filosofia, matemática e retórica. Entre outros, eram estudados autores gregos e latinos, como: Heródoto, Xenofonte, Homero, Demóstenes, Plutarco, Platão, Cícero, Virgílio e Ovidio.19

Calvino não tinha em vistas treinar pessoas em apenas uma área, mas contemplando a diversidade de sua época, ele compreendia que os melhores missionários seriam aqueles que compreendessem profundamente as Escrituras, mas ao mesmo tempo e com a mesma profundidade compreendessem o mundo em que eles viviam. Como nos diria Jeffrey Lee: “A educação e o treinamento em Genebra ajudaram a aumentar as testemunhas do evangelho tanto localmente como globalmente.”20

A academia de Genebra era o centro educacional do movimento missionário de Genebra, no entanto, toda a cidade era um grande centro de treinamento missionário. Em Genebra, os estudantes (ou usando uma linguagem mais atual, os candidatos

19 Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 805; Ronald S. Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma, p. 88; Gerald L. Gutek, Historical and Philosophical Foundations of Education: A Biographical Introduction, 3ª ed, Columbus, Ohio: Merril Prentice Hall, 2001, p. 92.

20 LEE, Jeffrey. John Calvin´s influence on evangelism and mission. E-book - Kindle. posição 152

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a missionários) tinham a oportunidade de serem experimentados em diversas áreas de seus ministérios. Pregar em cultos públicos, ensinar crianças, visitar doentes nos hospitais, acompanhar famílias enlutadas e trabalhar nas instâncias públicas da cidade, tudo isso era encarado como parte do treinamento missionário.

Essa perspectiva de treinamento missionário holístico é para Calvino uma extensão lógica da sua própria compreensão sobre a abrangência do evangelho. Ele afirma: “o Evangelho não é uma doutrina de língua, senão de vida. Não pode assimilar-se somente por meio da razão e da memória, senão que chega a compreender-se de forma total quando ele possui toda a alma, e penetra no mais íntimo recesso do coração”.21 Da mesma forma que o evangelho penetra em todas as instâncias da vida humana, o missionário deveria ser treinado e experimentado nas mais diversas áreas do saber humano, para que assim ele melhor pudesse servir a Deus em meio a sua geração.

O princípio holístico do treinamento missionário de Calvino gerou muitos frutos concretos. Em 1544, Calvino enviou Pierre Brully como o primeiro missionário protestante para a Holanda; em 1559, foi enviado John Knox à Escócia, onde o mesmo fundou o presbiterianismo; em 1557, foi enviado Jean Peski à Polônia. Até mesmo ao Brasil Genebra enviou missionários, em 1556, no episódio que posteriormente ficaria conhecida como a “tragédia de Guanabara”. Além disso, “Por meio da ida e vinda

21 John Calvin, Golden Booklet of the True Christian Life, 6ª ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1977, p. 17

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dos refugiados, e por meio dos escritos evangélicos da imprensa de Genebra, e tudo em latim, francês, inglês e holandês, a fé reformada foi exportada vastamente. Por correspondência, Calvino encorajou, guiou e dialogou com essa diáspora de cristãos evangélicos que testemunhavam sob perseguição.”22

Esse continua sendo um princípio válido para os nossos dias. O mundo precisa urgentemente de missionários bem preparados. O mundo precisa urgentemente de missionários profundos em seu conhecimento das Escrituras pois, como iremos ensiná-los a “guardar tudo o que Cristo nos tem ordenado” se não conhecemos o que ele nos ordenou? O mundo precisa urgentemente de missionários que conheçam profundamente o seu tempo e a sua geração, que consiga falar a mesma língua do povo, que conheça seus heróis (mesmo que falhos), seus medos, seus sonhos. O mundo precisa urgentemente de missionários que tenham sido experimentados em suas igrejas locais, que um dia já pregaram (mesmo que de seu próprio jeito) em reuniões, que já visitaram um enfermo, que já compartilharam da dor de uma família enlutada, ou seja, o mundo precisa urgentemente de missionários que já eram missionários antes de entrarem no avião.

Que a igreja brasileira seja uma nova Genebra. Que nela os vocacionados sejam treinados, experimentados e enviados. E que assim sendo, Cristo seja mais glorificado.

22CARRIKER, Timoteo. João Calvino e a ação missionária. Disponivel em: http://www.ultimato.com.br/conteudo/joao-calvino-e-a-acao-missionaria

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Capítulo 5

CALVINO E A BÍBLIA:A HERMENÊUTICA MISSIONÁRIA DE CALVINO

Ao longo dos capítulos anteriores, pudemos pincelar várias facetas da visão missionária de João Calvino. Apresentamos o intrépido estudante que enfrentava perseguição por amor a Cristo, bem como o pastor que se preocupava com os estrangeiros em sua cidade e para isso lhes proveu culto em suas línguas maternas, apresentamos o teólogo que procurava através de seus escritos fazer Cristo conhecido em outras nações, bem como o já idoso reformador que fez de Genebra um grande centro missionário. O que objetivamos fazer nesse último capítulo é mostrar a fonte da qual jorra todas essas facetas, aquela que é a razão principal pela qual Calvino fez missões, e

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pelas quais nós devemos assim também proceder: uma correta interpretação bíblica.

Calvino procurava manter o seu pensamento o mais enraizado possível nas Sagradas Escrituras. Ele levava a bandeira “sola escriptura” muito a sério e isso era evidenciado no zelo que o mesmo tinha em expor o texto sagrado durante toda sua vida e ministério. Por consequência de tal zelo pela Palavra, a consciência missionária de Calvino foi se tornando mais e mais robusta à medida que o mesmo ia expondo e comentando os livros da Bíblia.

Passemos a demonstrar como Calvino, ao interpretar o texto bíblico, evidencia a sua convicção missionária, que por sua vez o levou a vivê-la, de todas as maneira que evidenciamos nos capítulos anteriores. Por fins meramente didáticos, elencaremos alguns princípios hermenêuticos missionários da teologia de Calvino. Estes princípios, por sua vez, são extraídos da obra “Calvin and World Mission”, que se trata de uma coletânea de textos selecionados de diversos autores reformados ao longo da história. Infelizmente ainda não temos essa obra traduzida em português.

A chamada dos gentios

O primeiro princípio hermenêutico que fundamenta a consciência missionária de Calvino é o seu entendimento acerca da inclusão dos gentios no plano redentivo de Deus. Segundo Calvino, essa inclusão dos gentios no pacto da salvação seria progressivo, ou seja, inicialmente a chamada de Israel parece

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restritiva, mas ao longo da construção bíblica no Velho Testamento, principalmente nos profetas, fica claro a inclusão futura (em Cristo) de todos os gentios. Isso pode ser visto, por exemplo, no seu comentário de Isaías 2.1.

“Deus não mais toma para si um nação em particular para ser objeto de seu reinado, o profeta aqui mostra-nos que os limites do reino estão sendo estendidos, e que o seu governos será entendido a todas as nações”

Segundo Calvino, esse dia futuro mostrado pelos profetas se torna real, no tempo e na história, quando Cristo “quebra o muro que separava os judeus e gentios”, para usar a expressão paulina, por isso, segundo a sua teologia, a graça e a misericórdia de Deus estão alocadas “sobre todas as nações”.

Ao falar sobre a profundidade e beleza do Evangelho, Calvino afirma: “Segundo a doutrina do Evangelho, Deus reunirá para si mesmo uma igreja sem levar em conta a sua nacionalidade, esta igreja procede de Sião (...) mas agora os que abraçaram o eterno pacto de salvação, estão unidos em uma só igreja.”23

Aqui vemos claramente que para ele o evangelho contempla todas as nações e que é por meio dele que Deus cria para si um só povo. Essa consciência hermenêutica leva Calvino a uma conclusão bem lógica, a saber, este evangelho deve ser proclamado a todas as nações: “Não existe nenhum povo em todo mundo que seja excluído da salvação, por que Deus ordenou que o evangelho fosse proclamado para todos, sem

23 Commentary on Isaiah 2:3, op, cit., p. 94

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exceção, daí (...) Deus convida igualmente a todos a participarem da Salvação.”24

Calvino afirma, nas palavras acima, a verdade de que a chamada do evangelho deve ser ofertada a todos os homens, independente de nacionalidade. Ele, de maneira nenhuma, defende aqui que todos participaram da salvação eterna, mas sim que a chamada proveniente do evangelho deve ser sim ofertada a todos os homens, pois é através dela que, ordinariamente, Deus irá operar a regeneração no coração dos eleitos.

A maioria das pessoas que lerá esse pequeno livro não é de origem judaica. Da mesma forma como a maioria dos reformadores não era. Sendo assim, se eles, ou nós, fazemos parte do povo de Deus, o fazemos pelo fato de que Deus chamou gentios para o seu eterno pacto de salvação. Deus nos incluiu na história da redenção. Essa consciência hermenêutica deve nos levar a um desejo profundo de pregar o evangelho a todos os homens, em todas as nações. Se Deus, por sua misericórdia e graça, nos incluiu em seu plano eterno, devemos crer que Deus assim também procedeu com outros indivíduos, que até esse momento vivem distantes daquele que é o único capaz de realmente lhe completar.

Calvino cria que Deus incluiu os gentios no seu plano redentivo e levou isso a sério, e nós o que temos feito, a partir do momento que somos levados pelas Escrituras a entender tal verdade?

24 Commentary on 1st Timothy 2:4, Works, v. 43, pp. 54-55.

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A responsabilidade do cristão

Esse princípio hermenêutico missionário de Calvino em nada confronta com o seu conceito de um Deus Soberano. Calvino, por ser bastante fiel às Escrituras, é levado a afirmar ambas as verdades: Deus é Soberano e o homem é responsável. Notem que o contexto de tal afirmação não é soteriológico e sim missiológico. Calvino crê que a salvação é uma obra exclusiva de Deus: O Pai nos elege antes da eternidade, o Filho nos redime na cruz, e o Espírito Santo aplica essa obra na vida dos eleitos ao longo da história.

Em que sentido, portanto, o cristão é responsável? Calvino nos responderia que o cristão é missiologicamente responsável. Ou seja, é dever de todos os regenerados ter compaixão para com o perdido e, consequentemente, pregar o evangelho. Vejamos: “Um desejo deve ser valorizado entre todos os que são verdadeiramente piedosos, a saber, que a Bondade de Deus seja dada a conhecer a todos, para que assim todos possam se juntar na mesma Adoração a Ele. Deveríamos ser especialmente inflamados por esse desejo (...) depois de termos sido libertados da tirania do demônio e da morte eterna.”25

Muitos que se professam calvinistas têm esquecido desse princípio norteador da teologia daquele que dizem seguir. Essas palavras nos lembram de que, para Calvino, uma das marcas da verdadeira piedade é uma extrema compaixão para com o perdido, e um desejo igualmente profundo e verdadeiro de que

25 Commentary on Isaiah 12:4, Works, v. 23, p. 403.

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Deus seja gracioso e bondoso para com o pecado e lhe salve por sua maravilhosa graça.

Segundo Calvino, uma das marcas daquele que foi eleito por Deus é que o mesmo deseja ver outros se tornando “condiscípulos da verdadeira religião”. Mas como podemos participar do agir salvador de Deus na terra, e da expansão do seu Reino às nações, a não ser através da pregação do evangelho? Vejamos o que Calvino tem a nos ensinar: “Deus concedeu o ensino de sua salvação a nós, mas não com o propósito de mantermos esse ensino privado a nós mesmos, mas sim para que mostrássemos o caminho da salvação a toda a humanidade. Este é, portanto, dever comum de todos os filhos de Deus.”26

Em outro momento, Ele chega a ser mais duro ainda ao afirmar: “É nosso dever proclamar as boas novas de Deus em todas as nações. Mas enquanto nós exortamos e encorajamos os outros, não devemos nos manter sentados em nossa indolência.”27

Muitas vezes temos um discurso belo sobre o evangelho. Pregamos as virtudes de Cristo e a beleza da redenção, mas por vezes ficamos sentados em nossa indolência. Essa nunca foi a intenção de Calvino e muito menos a sua prática. Por vezes, os calvinistas são acusados de serem frios em sua prática de evangelização e missões, no entanto, tal acusação não poderia ser feito contra aquele que dá o nome a esse movimento, o próprio Calvino.

26 Commentary on Daniel 12:3, Works, v. 2527 Commentary on Isaiah 12:5, Works, v. 13

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O que apresentamos brevemente nesse texto é que a prática e a teologia de João Calvino estão alicerçados em sua hermenêutica. Como ele interpreta a Bíblia define quem ele é e o que ele crê. Da mesma forma deveria ser com cada um de nós. Calvino lia na Escritura que o plano redentivo de Deus tinha como alvo a amplitude de todas as nações, e portanto, ele defendia que o evangelho fosse proclamado a todos, e por isso ele mesmo tornou o evangelho acessível a todos que passavam por Genebra e ainda enviou muitos para campos distantes.

Ele ainda lia na Escritura que o cristão é missiologicamente responsável. Ou seja, que cada cristão deveria ter em seu coração uma profunda compaixão para com o perdido, e um profundo desejo que Deus se mostrasse bondoso e gracioso para com o pecador. Ele cria que esse desejo seria inegavelmente expresso na pregação do evangelho a todos indistintamente.

Em face a tal coerência, entre a sua hermenêutica e sua teologia, bem como entre sua teologia e sua prática, somos levados a questionar a crença e prática de muitos que se professam calvinistas hoje. Calvino nunca defendeu que a eleição isenta a pregação, mas pelo contrário, uma correta compreensão da eleição garante que em alguns (os eleitos) a pregação surtirá um efeito transformador.

Gostaria de citar ainda uma última vez o pensamento de Calvino. Aqui entendo que temos um resumo do que foi dito, é como se o próprio Calvino rebatesse a prática e a crença de muitos que se professam calvinistas, ao afirmar: “Se alguém se dirige a

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uma pessoa e lhe diz que se ela não crê, a razão está no fato de ela ter sido ordenada para a destruição, ao dizer isto não só adota uma atitude indolente, mas, também, dá lugar à má intenção. Se alguém estende ao futuro também a afirmação de que os que ouvirão, também não hão de crer porque já foram condenados, também amaldiçoando do que ensinando. Pois não sabemos quem pertence ao número dos predestinados ou quem não pertence, mas devemos estar atentos ao desejo de que todos os homens sejam salvos. Assim acontecerá que nós tentaremos fazer com que cada um que encontramos, seja mais participante de nossa paz (...). Pertence a Deus, contudo, tornar efetiva a recompensa daqueles a quem pré-conheceu e predestinou.”28

Se amamos tanto as Escrituras como dizemos, que possamos viver cada instante de nossa vida aqui na terra como peregrinos que proclamam as “virtudes daqueles que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz” à todas as nações.

28 CALVINO apud KLOOSTER, A doutrina da eleição, 1992, p.44

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ESCREVENDO UMA NOVA HISTÓRIA

Esse pequeno livro está se encerrando, no entanto, a história de Calvino continuará a ser contada e recontada. Muitos continuarão conhecendo uma história que pouco condiz com a vida e obra desse homem de Deus. Muitos outros, que se dizem calvinistas, continuarão vivendo de uma maneira bem diferente daquele que eles dizem admirar. Sendo assim, fica uma pergunta: o que faremos daqui para frente? Encerro esse livreto com dois desafios bem práticos:

Conheça a história antes de contá-la a outros

Entendo que muitas das minhas “crises” descritas no início desse livro seriam minimizadas se procurássemos conhecer a obra daquele que admiramos/ e ou criticamos. Muitas vezes dizemos amar ou odiar um teólogo sem que nunca tenhamos nem ao menos lido uma de suas obras. Que a leitura desse livro o estimule a ler mais sobre a vida dos grandes homens de Deus na história. Que a partir de hoje, você possa introduzir no cenário de discussão sobre a vida de Calvino esse prisma missionário. Que até mesmo você possa ler suas obras com essas novas lentes. Tenho certeza que você irá se surpreender com o tanto que esse homem tem a contribuir com a obra missionária.

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Seja você um calvinista que inspira vidas.

Infelizmente, muitos hoje que se dizem calvinistas mais afastam as pessoas da beleza do evangelho do que as inspiram. Muitas vezes somos vistos como arrogantes e presunçosos, algo muito distante da humildade e piedade pregadas por Calvino. Sendo assim, que sejamos homens e mulheres que amam a Glória de Deus e desejam que essa glória se espalhe por todas as nações. Que sejamos como John Knox , Jonathan Edwards, David Brainerd e tantos outros calvinistas que inspiravam vidas e transformaram a vida de suas nações. Que seja a nossa geração que venha encarnar a verdade defendida por Calvino, ou seja, que teologia e missão não são excludentes e sim complementares.

Um dos emblemas que aparecem nas obras de Calvino mostra uma mão segurando um coração e as palavras latinas “Cor meum tibi offero Domine, prompte et sincere” (O meu coração te ofereço, ó Senhor, de modo pronto e sincero). Esse era o desejo daquele reformador, e precisa também ser o nosso. Que essa seja a nossa oração a cada manhã, e que Ele, que sonda os nossos corações, encontre sempre em nós um coração devotado inteiramente a Ele.

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O autor

Gabriel Neubarth é missionário da APMT, juntamente com sua esposa Kelly, desenvolve um projeto de plantação de igreja na Romênia, pais do extremo leste europeu. Tem graduação em Relações Internacionais e Teologia, e é mestrando em Teologia (M.div – CPAJ) tendo por área de concentração Teologia Sistemática.

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Iniciativa Morávios

A iniciativa Morávios é um projeto cujo objetivo é oferecer conteúdo e engajar jovens missionários e vocacionados, e despertar e expandir a visão missionária de uma nova geração de jovens cristãos com convicção bíblica. O projeto foi inspirado na história do Movimento dos Irmãos Morávios, da Alemanha do Século XVIII, e mais especificamente em uma história de dois jovens desta comunidade, apresentada no filme “Primeiros Frutos, a história dos irmãos morávios”, e popularizada por uma mensagem do pregador Paul Washer. Esta história nos apresenta quatro grandes princípios que devem nortear este projeto: um projeto para jovens, voltado para missões transculturais, com uma perspectiva de vida sacrificial e paixão pela Glória do Nome de Jesus em todas as nações.

Este é um projeto produzido por um grupo de jovens cristãos comprometidos e voluntários, formados por designers, tradutores, jornalistas, editores etc. Se você quiser ajudar de alguma maneira neste projeto, entre em contato através deste email: [email protected]

Acesse >> http://moravios.org