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Instituto Politécnico de Viseu Escola Superior de Educação de Viseu A CRIAÇÃO/EDUCAÇÃO ARTÍSTICO-CULTURAL COMO PROCESSO DE INCLUSÃO SOCIAL João Pedro Rodrigues Nascimento Viseu, 2009 / 2010

João Nascimento Os Processos de Criação Artística como Meio de Inclusão Social

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Instituto Politécnico de Viseu

Escola Superior de Educação de Viseu

A CRIAÇÃO/EDUCAÇÃO ARTÍSTICO-CULTURAL

COMO PROCESSO DE INCLUSÃO SOCIAL

João Pedro Rodrigues Nascimento

Viseu, 2009 / 2010

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RESUMO

Os processos de criação/educação artística estão presentes neste artigo com o intuito de afirmar a

inclusão social como uma realidade e não uma miragem, até porque a arte e a cultura são um direito que

assiste TODOS os cidadãos, independentemente das suas particularidades. Ao considerarmos este artigo

como uma ferramenta teórica, que procura afirmar as práticas artísticas como uma pedagogia inclusiva,

pretende-se demonstrar e reforçar a posição da arte e da cultura na sociedade, como um meio para

transformação social, mudando a forma de agir e pensar do indivíduo e da sociedade. Reflecte-se ainda sobre

a posição que o animador artístico deve ter, no sentido de mediar as realidades socioculturais, para procurar

intervir/prevenir sobre problemáticas constantes que vão surgindo na sociedade contemporânea.

Palavras-chave: Arte, Cultura, Criação/Educação Artística, Pedagogia Inclusiva.

ABSTRACT

The processes of creation / art education are present in this article in order to affirm the social

inclusion as a reality and not a mirage, because art and culture are a right of all citizens regardless of their

particularities. In considering this article as a theoretical tool, which seeks to affirm the artistic practices as an

inclusive pedagogy seeks to demonstrate and strengthen the position of art and culture in society, as a means

for social transformation, changing the way they act and think the individual and society. This is reflected on

the position that the animator art must have in order to mediate the socio-cultural realities, to search for

intervention / prevention issues on constants that arise in contemporary society.

Keywords: Art, Culture, Creation / Arts Education, Inclusive Education.

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INTRODUÇÃO

O presente artigo foi descrito para a disciplina de Psicologia Social e no âmbito do

mestrado em Animação Artística, que me encontro a frequentar na Escola Superior de

Educação de Viseu. Enquanto animador sociocultural e futuramente artístico tenho por

obrigação estar a tento a fenómenos socioculturais que vão (des) caracterizando os valores

e costumes das sociedades actuais, neste caso em particular como combater a exclusão

social. Afinal o animador deve ser mais que um entertainer, deve ser um educador que

procurará estimular a mudança de atitudes e a transformação social através de

actividades/projectos onde as realidades económicas e socioculturais, bem como, as

vontades e desejos de cada sociedade devem estar presentes, para que potenciem a

participação e integração dos cidadãos na decisão da vida sociocultural da comunidade.

O estudo centrou-se na premissa de que a arte e a cultura podem ser o centro da

nossa (animadores) actuação ao favorecimento da inclusão social, afinal são dois factores

gerados em exclusivo pela vontade do Homem e que na sua essência transmitem mais que

uma mera linguagem artística, representam uma manifestação de cada indivíduo perante a

sociedade e são ainda um factor identitário da época em que foram criadas. Sendo o

mestrado na área da Animação Artística pareceu-me pertinente afirmar os processos de

criação/educação artística como meio para a inclusão social, podendo por isso concluir este

como o grande objectivo desta pesquisa. Assim, e antes de partir para a descrição estrutural

do trabalho, vou só fazer referência a que os processos artísticos sobre a arte e a cultura

que serão referidos durante o artigo englobam o conjunto de práticas artístico-culturais,

como por exemplo, o teatro, a música, a dança, a expressão plástica e a pintura, entre

muitas outras formas de expressão artística.

A principal questão que concede a realização deste artigo é: como podemos afirmar a

arte e a cultura como processo de inclusão social? Neste sentido, o presente estudo

apresenta como proposta inicial para afirmação da sociedade inclusiva, a utilização de

acções educativas que tenham a arte e a cultura como fio condutor de acções integradoras.

Estando estruturado por quatro capítulos podemos comprovar no primeiro capítulo

que direccionei as minhas pesquisas para a necessidade dos cidadãos estabelecerem uma

relação próxima e regular com os processos de criação artística, confirmando as minhas

intenções com afirmações de vários autores e através da verificação de informações de

algumas organizações que trabalham no campo artístico-cultural e da educação pelas artes,

tendo sempre presente a intencionalidade de promover estes processos como meio para

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chegar à inclusão social. Neste capítulo, procurei perceber se a arte e a cultura enquanto

pedagogia inclusiva podem funcionar como forças facilitadores ou não das relações

sociais? Será que os processos de criação/educação artístico-culturais podem contribuir

para a ambicionada Sociedade Inclusiva? Apresentando o meu entendimento de certa

forma mais teorizado, salientando para a importância da arte e da cultura nos processos de

integração e socialização de TODOS os indivíduos, independentemente das suas

“diferenças”.

No capítulo seguinte, abordo a temática dos processos de criação/educação artística

dentro das comunidades/grupos de pessoas com necessidades educativas especiais,

procurando perceber até que ponto a arte e a cultura pode contribuir para a inclusão destes

“cidadãos especiais”. Nesta observação procurei respostas para questões, como por

exemplo: se os educadores/animadores consideram os processos artísticos como

facilitadores da integração e afirmação destes cidadãos na sociedade? Que tipo de

actividades motivam mais os jovens com necessidades educativas especiais? Se essas

“pessoas especiais” assumem a iniciativa de criar quando integrados numa sociedade?

Para obter uma melhor percepção desta realidade além da normal procura

bibliográfica, efectuei uma breve pesquisa das associações/instituições públicas e privadas

que trabalham com estes públicos específicos, sendo que posteriormente a essa pré-

investigação, escolhi uma dessas associações para efectuar uma observação-participante

mais pormenorizada, tendo realizado uma visita ao espaço da ASTA – Associação Sócio

Terapêutica de Almeida, onde pude recolher algumas informações com os colaboradores e

voluntários, para perceber as motivações que os jovens têm quando se encontram em

contacto com as práticas artístico-culturais.

No terceiro capítulo acima de tudo procurei confirmar a importância dos serviços

educativos nas instituições/associações culturais, como principal força motivadora da

identidade cultural dos territórios e ao mesmo tempo como transformadores socioculturais

das sociedades contemporâneas. Sendo que é ainda um recente fenómeno, a minha

pesquisa centrou-se, essencialmente, em definir o que pode ser Serviço Educativo na

cultura? Quais as suas finalidades e potencialidades no campo da acção artístico-cultural?

Para o último capítulo do artigo ficou a posição da animação artística e do animador

como “agentes inclusivos”, definindo o papel de ambas as temáticas em todo o processo

inclusivo através da arte e da cultura. Apresentando sugestões e exemplos práticos do

trabalho do animador e da animação, tendo como base, as expressões artísticas. Afinal,

tanto o animador como a animação enquanto elementos de uma mesma metodologia activa

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que deve empenhar-se na motivação da sociedade onde se encontra inserido, no sentido de

fomentar a participação dos indivíduos na sua vida social e cultural e, consequentemente,

na auto-promoção/valorização do seu Capital Humano e do seu Capital Sociocultural.

OS PROCESSOS DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA COMO MEIO DE INCLUSÃO

SOCIAL

Toda arte é uma confissão de que a vida não basta.

(Fernando Pessoa)

É importante que todos sejamos capazes de aceitar e respeitar as particularidades de

cada indivíduo, bem como, das sociedades multiculturais que evidenciam este mundo

como “global”, reconhecendo que só assim será possível que todos se sintam incluídos.

A necessidade de encontrar respostas para os novos desafios de inclusão social

impostos por uma sociedade cada vez mais diversificada a nível económico e sociocultural,

através de procedimentos artístico-culturais é o ponto de partida para a elaboração deste

artigo. Como afirma a Declaração Universal dos Direitos do Homem aprovada pela

UNESCO, no seu Artigo nº 27/1948, de 10 de Dezembro,

“1 - Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da

comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios

que deste resultam.

2 - Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer

produção científica, literária ou artística da sua autoria.”

Os processos artísticos enquanto factores geradores de envolvências e de

transformações à diferenciação sociocultural que as sociedades actuais apresentam,

pressupõe na educação artística,

“Uma íntima integração interdisciplinar, numa convergência de actuações e de

propósitos, claramente voltada para a verdadeira essência da Arte: a elevação espiritual, a

formação da pessoa no que há de mais sublime em si, a sua formação humanística, a

formação dos seus valores morais e éticos, o Bem e o Belo espirituais que já eram referidos

por Platão” (Sousa, 2003, p. 63).

As metodologias de criação artística enquanto pedagogias inclusivas necessitam

revelar dentro de si mais do que uma mera perspectiva ocupacional e ausente de

constrangimentos para com o indivíduo, seja ele uma criança, um adolescente ou um

adulto. As competências artístico-culturais de intervenção e prevenção comunitária devem

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procurar integrar na totalidade o sujeito e ambicionar a transformação social do meio,

através de acções onde a arte e a cultura funcionem como mecanismos capazes de envolver

o seu valor educativo nos processos de inclusão social. Concordo por isso com João de

Freitas Branco (1960, cit. por Sousa, 2003, p. 61), quando afirma que,

“Sem uma formação artística extensiva a praticamente toda a população, não pode

uma nação dizer-se plena de vitalidade, possuidora dos bens todos a que tem direito, apta a

completamente se conhecer a si própria e a outras nações, suficientemente preparada para

modificar a seu favor o curso dos acontecimentos.”

As práticas artísticas e culturais possuem intrinsecamente ligadas a si as noções da

história de um povo/sociedade com as socioculturais e são essas que particularizam cada

um de nós, enquanto “seres sociais”. Englobando por isso, dentro dos processos de

criação/educação artístico-cultural não só as designadas expressões artísticas (teatro,

dança, etc.) mas também as tradições orais, os costumes sociais e religiosos de cada

território, que moldam o indivíduo e a sua vida em sociedade, dotando-o uma “identidade

cultural”. Comprovo a minha afirmação com o Artigo nº 2 /2003, de 17 de Outubro,

estabelecido pela UNESCO, aquando da Convenção para a Salvaguarda do Património

Cultural Imaterial realizada em Paris, onde definiu por património cultural imaterial,

“As práticas, representações, expressões, conhecimentos e aptidões – bem como os

instrumentos, objectos, artefactos e espaços culturais que lhes estão associados – que as

comunidades, os grupos e, sendo o caso, os indivíduos reconheçam como fazendo parte

integrante do seu património cultural. Esse património cultural imaterial, transmitido de

geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função do

seu meio, da sua interacção com a natureza e da sua história, incutindo-lhes um sentimento

de identidade e de continuidade, contribuindo, desse modo, para a promoção do respeito

pela diversidade cultural e pela criatividade humana. (…) Tomar-se-á em consideração

apenas o património cultural imaterial que seja compatível com os instrumentos

internacionais existentes em matéria de direitos do homem, bem como com as exigências

de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos e de desenvolvimento

sustentável.”

Sendo o principal objectivo deste capítulo o de afirmar os processos artístico-

culturais como uma metodologia educativa de integração que ambiciona o

desenvolvimento de uma cidadania mais inclusiva e participativa, capaz de quebrar as

barreiras das “diferenças” entre cidadãos. Seguindo o raciocínio de Sassaki (2005), a

inclusão deve orientar-se como, um processo que implica mudança no sistema social

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comum, de forma a acolher toda a diversidade cultural e em simultâneo defender a

igualdade e as diferenças individuais, através de um entendimento da sociedade em geral,

acerca de que a igualdade se refere à dignidade e aos direitos e as diferenças referem-se à

singularidade de cada ser humano.

Neste sentido, falar de inclusão social numa sociedade contemporânea caracterizada

por uma diversificação sociocultural e económica cada vez mais acentuada, implica olhar

os valores não de um indivíduo (individual), mas principalmente de toda a sociedade que o

rodeia (social). Contudo a comunidade deverá redefinir e transformar os seus

comportamentos e modos de agir com os outros, para que seja possível acolher e integrar

todas as pessoas independentemente das suas “limitações” físicas, económicas e/ou

socioculturais. Para que assim se direccionem para a ambicionada sociedade inclusiva,

enfatizada pela ONU – Organização das Nações Unidas, em Assembleia Geral (1990) e

que se baseia no princípio de que todas as pessoas possuem o mesmo valor e que a

sociedade deve empenhar-se para respeitar as diferentes necessidades de cada cidadão.

Reforço minha posição da importância de envolver a arte e a cultura nos processos de

inclusão social, com as palavras de Carolina Campos (2008, p. 70) para quem,

“O estar bem integrado a um grupo é o que confere sentido às pessoas. Não se estará

bem integrado, se alienado da criação e da expressão de emoções. Tudo isso - criar,

expressar-se, interagir e conviver - a arte também ensina. A arte, dessa forma, antecede a

vida, porque a gera (antecede em sua acepção, não cronológica, mas lógica). A arte a

transforma de mera sobrevivência em vida.”

Estes conceitos ganham uma individualização motivadora quando aplicados em

actividades artístico-culturais que possibilitem ao participante relacionar o seu passado,

com o presente numa sociedade dita global, que se afirma mais pelas diferenças do que

pelas igualdades e a pensar num futuro acima de tudo mais equilibrado. Se olharmos a

noção proposta no livro Psicologia da Arte, de Vigotsky (2001), para a medição semiótica

do desenvolvimento psicológico, que engloba não apenas as funções cognitivas, mas

igualmente a dimensão afectiva, os sistemas de relação e de acção. Para ele o papel da

imaginação criadora é evidente na produção de várias disciplinas científicas, técnicas e

artísticas; a vida imaginativa na arte diz respeito à flexibilidade do mundo interior, das

estruturas internas do sujeito; o ser humano é capaz de renovar o meio, de humanizar a

Natureza, porque acima de tudo tem a capacidade de se transformar a si mesmo. Afirma

ainda que esta transformação só é possível com a confluência da arte.

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As experiências artísticas sempre que sugeridas de forma regular e com um carácter

indiferenciado podem ainda proporcionar no indivíduo a capacidade de interpretar e criar

elos de ligação capazes de se traduzirem em valores morais de participação, crítica e

comunicação com os outros, sejam eles como forem.

Porém e como afirma Barbosa (2005, cit. por Silva e Simó, s/d) devemos enquanto

criadores artístico-culturais,

“Desconstruir para reconstruir, seleccionar, reelaborar, partir do conhecido e

modificá-lo de acordo com o contexto e a necessidade, são processos criadores

desenvolvidos pelo fazer e ver arte, e descodificadores fundamentais para a sobrevivência

no mundo quotidiano.”

A arte e a cultura podem e devem ser o motor de um sistema de integração social que

revela valores de igualdade e indiferença para com os “excluídos”, porque afinal somos

todos diferentes e se assim é porque continuamos a excluir os outros com os quais não nos

identificamos em vez de os respeitarmos e compreendermo-nos por sermos distintos?

Quanto maior for a ligação entre o indivíduo e os processos de criação artística, mais

elevada a sua auto-estima poderá estar, afinal pretende-se que nestas actividades as pessoas

sejam “livres” de explorar o seu imaginário e criar personagens ou imagens que não são a

sua diariamente e assim podem auto-estimular os seus níveis de confiança, que permitem

superar as dificuldades de inclusão social e pessoal1. Neste sentido e segundo Elizabeth

D’Angelo Serra (2005, cit. por Campos, 2008),

“Além de respeitar e valorizar os valores culturais próprios do contexto da criança e

do adolescente, é importante dar-lhes condições de acesso à cultura de outros grupos

sociais possuidores de outras histórias, diferentes, mas igualmente importantes. A

Humanidade não se desenvolve no isolamento. É a possibilidade de conhecer e trocar

experiências e ideias que nos enriquece a todos e faz acontecer os avanços sociais. (…) Ter

acesso às fontes de cultura significa ter acesso, também, às formas como outros grupos de

pessoas enfrentam e resolvem os seus problemas. (…) Viabilizar as oportunidades para

desenvolver a imaginação e a fantasia das nossas crianças e jovens é garantir-lhes o acesso

ao conhecimento científico, às expressões de arte e à informação, dando-lhes, assim,

liberdade para criar.”

A estes procedimentos de criação através da arte e da cultura aparecem formalidades

que limitam a sua capacidade e potencialidade de intervenção comunitária, pois de certa

1 Inclusão pessoal, refiro-me à vontade, ambição individual que cada um de nós deve ter para se procurar

inserir/integrar/afirmar num determinado grupo/sociedade

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forma ainda não são vistas como “mais-valias” dentro das políticas de educação formal

implementadas.

Mesmo que esta temática da educação pelas artes seja descrita e defendida há muitos

anos desde Platão e mais recentemente por autores, como Herbert Read e L. S Vigotsky,

ainda não é tida como base de construção para uma educação de modo “livre”, isto é, sob a

forma lúdica-expressiva-criativa, num clima que proporcione a inspiração, motive a

expressão dos sentimentos e estimule a criatividade no indivíduo. (Read, 2007)

Tendo em conta que a sociedade actual está intrinsecamente ligada a fenómenos

sociais, como são a industrialização e a comunicação de massas, importa referir a

importância do impacto visual nas comunidades contemporâneas, sendo por isso

necessário munir as crianças de ferramentas capazes de identificar uma má imagem de uma

boa imagem, não no sentido visual mas sim no educacional, de prevenção sociocultural.

Para isso direcciono minha pesquisa para um dos mais ilustres “defensores” da

educação pelas artes, Herbert Read (2007, p.21), para ele “a educação deve encorajar o

desenvolvimento daquilo que é individual em cada ser humano, harmonizando

simultaneamente a individualidade assim induzida com a unidade orgânica do grupo social

a que pertence.” Neste sentido, a estética assume-se de uma elevada importância para os

processos educativos onde a imaginação e a percepção funcionam como factores

impulsionadores de uma participação mais activa e inclusiva de todos os indivíduos. (Read,

2007) O mesmo autor define como objectivos para a Educação Estética (2007, p. 22):

I. “A Percepção da intensidade natural de todas as formas de percepção e sensação;

II. A coordenação das várias formas de percepção e sensação umas com as outras em

relação com o ambiente;

III. A expressão de sentimento de uma maneira comunicável de formas de experiência

mental que, de modo, ficariam parcial ou totalmente inconscientes;

IV. A expressão do pensamento de maneira correcta;”

O potencial da cultura e da arte enquanto parte integrante de um sistema pedagógico

e sempre que ligados a produções criativas direccionadas para a comunidade em geral

tornam-se evidentes com as afirmações já referidas, ainda que na realidade as políticas

implementadas não se direccionem para esta vertente.

Dando já o mote para o tema seguinte, subscrevo as palavras de Cunha (2007, p.

227) quando defende que, “a inclusão social deve processar-se para a construção de um

novo tipo de sociedade, através de transformações, pequenas e grandes, nos ambientes e

nas mentalidades das pessoas, e mesmo na pessoa com necessidades especiais.” Um dos

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factores que determinam se um indivíduo está inserido social e culturalmente é a sua

inclusão e participação no interior de um determinado grupo/comunidade, como vimos

anteriormente a arte e a cultura possuem factores positivos que devem ser potenciados a

favor da afirmação da sociedade inclusiva que devemos ambicionar e que seja uma

realidade de TODOS e para TODOS.

COMO A ARTE E A CULTURA PODEM CONTRIBUIR PARA A INCLUSÃO DE

PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

A função da arte não é a de passar por portas abertas, mas é a de abrir as portas

fechadas.

(Ernst Fisher, 1973)

Os processos artístico-culturais sempre que colocados em práticas dinâmicas e

regulares conseguem englobar dentro da sua conceptualização a utilização das expressões

motoras, físicas e sensoriais de um qualquer indivíduo. Por sua vez possibilitam o

estabelecimento de uma comunicação não verbal, que de uma forma geral e cada um à sua

maneira conseguem ser interpretadas por todos, o que leva a uma valorização de várias

competências, frequentemente não exploradas em outras actividades socioeducativas.

Antes de iniciar a clarificação da temática proposta, apresento três factores que

reúnem de uma forma sintetizada pressupostos que contribuem para a emersão da exclusão

social nas sociedades actuais e que nas comunidades de “cidadãos especiais” se tornam

ainda mais evidentes, sugeridos por Garcia (2004, p. 266):

I. A dificuldade de acesso aos bens económicos (poder aquisitivo e receitas).

II. A dificuldade das redes de apoio social (família, vizinhos, relações, apoios

profissionais).

III. A debilitação dos recursos pessoais (fragilidade na identidade, incapacidade para

enfrentar de modo efectivo, as exigências e dificuldades do respectivo contexto).”

A dificuldade que as pessoas portadoras de deficiências e/ou com necessidades

educativas especiais, que eu designo de “pessoas/cidadãos especiais”, têm para estabelecer

relações sociais com a comunidade dita “normal” é por si só uma enorme barreira e talvez

seja maior do que as físicas e/ou materiais, pois existe um distanciamento evidente entre

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ambas as partes. É importante que nestes públicos com características especiais os critérios

de intervenção, exijam do animador, enquanto “educadores inclusivos” a capacidade,

“De individualizar o tratamento e suscitar o interesse, o ânimo e a confiança,

vencendo a sensação de incapacidade e restabelecendo os critérios de utilidade. É

importante o trabalho em grupo, dado que favorece a socialização, e orienta a educação

para condutas de autonomia que potenciem o autocontrolo e a adaptação progressiva à

inserção laboral. Escolher uma ocupação ou um trabalho adequado aos interesses e

capacidades do sujeito é imprescindível para este colectivo, a fim de evitar a sua

inactividade e a falta de adaptação à vida laboral exterior.” (Garcia, 2004, p. 275)

A palavra inclusão tem vindo a ser utilizada em várias “frentes” no interior dos

sistemas educativos, desde as “classes inclusivas” às “escolas inclusivas”, o que tem

levado a alguns equívocos quanto à sua real aplicação, sendo que é nos “cidadãos

especiais” que os níveis de exclusão social se tornam mais evidentes. Isto para tornar todo

este “movimento inclusivo”, em particular, nestas “pessoas especiais” uma realidade,

reforço a minha posição com o referido na Declaração de Salamanca, organizada pela

UNESCO no ano de 1994, sobre os Princípios, Políticas e Práticas na Área das

Necessidades Educativas Especiais, onde se afirma que,

“As crianças e os jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às

escolas regulares, que a elas se devem adequar através duma pedagogia centrada na

criança, capaz de ir ao encontro dessas necessidades.”

Julgo por isso que os processos de educação/intervenção inclusiva no campo das

artes para estes “cidadãos especiais” poderão alicerçar-se nos princípios da designada

Escola Contemporânea, sugerida por Correia (1995, cit. por Correia, 2008), escola esta

que deve ter atenção à criança/indivíduo como um todo, não só a criança-aluno, e, por

conseguinte que respeite três níveis de desenvolvimento essenciais – académico,

socioemocional e pessoal -, de forma a proporcionar-lhe uma educação apropriada,

orientada para a maximização do seu potencial

Através dos métodos artísticos todos os indivíduos têm a capacidade de se sentirem

incluídos, dada a capacidade aquando da sua prática de libertar a pessoa para a criação e

expressão emocional, sensorial e física, tendo em conta as suas percepções/desejos, o que

fomentará o sentimento de pertença a um grupo/comunidade, obtendo-se assim uma

participação activa desses mesmos indivíduos na vida social e cultural da comunidade.

Como afirma Vigotsky (2001, p. 12) “a arte sistematiza um campo inteiramente específico

do psiquismo do homem-social – precisamente o campo do seu sentimento.”

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Ao observarmos o estado actual da arte, podemos analisar que a variedade e

itencionalidade das práticas artísticas é imensa e praticada de diversas formas, sendo que

mantém a mesma característica durante toda a sua história, isto é, a sua explanação é

normalmente caracterizada pela época em que se pratica e todas as questões políticas,

religiosas, económicas e socioculturais que identificam as sociedades.

Neste sentido e tendo em linha de conta o de procurar afirmar as práticas artístico-

culturais como meio de inclusão, neste caso das “pessoas especiais”, sustento minhas

ideias em Vigostky (2003, cit. Freitas e Pereira, 2007), referindo-se exclusivamente para

toda a actividade criadora como uma manifestação do ser humano, pois só este tem a

capacidade de criar algo novo a partir do que já existe, ou seja, o individuo está

intrinsecamente ligado à capacidade de criar e transformar, independentemente das

limitações ou particularidades de cada um.

A questão que eu coloco nesta fase é o que estará a ser feito no campo da animação

artística dentro das associações/instituições que trabalham com estas comunidades com

necessidades educativas especiais? Pela pesquisa efectuada pude constatar que existe já na

nossa sociedade um aumento (ainda que insuficiente) das organizações, associações e

outras entidades públicas ou privadas, que se esforçam para combater de forma regular e

incansável a exclusão social destas “pessoas especiais”.

Para obter uma real percepção do valor dos processos artístico-culturais nos planos

de educação/intervenção nestas “pessoas especiais”, realizei algumas conversas informais

onde houve desde logo uma partilha de informações importantes, com alguns

profissionais/voluntários que trabalham na instituição que irei referenciar mais

pormenorizadamente, de seguida, é o caso da ASTA2 – Associação Sócio Terapêutica de

Almeida. Durante esta pesquisa pude verificar algo que eu já havia afirmado

anteriormente, que a maioria dos processos de criação associados à arte e à cultura, sempre

que aplicados de forma sistemática e com o rigor de olhar às necessidades específicas de

cada público/indivíduo, podem-se afirmar como uma metodologia participativa de

intervenção/prevenção comunitária e acima de tudo podem contribuir para a afirmação e

inclusão dessas pessoas enquanto cidadãos plenamente integrados social e culturalmente.

A ASTA – Associação Sócio Terapêutica de Almeida, situada no interior do nosso

país, mais concretamente em Cabreira do Côa, no concelho de Almeida, distrito da Guarda,

2 As informações que apresento sobre a Identidade/Missão/Visão e Estratégias de acção da ASTA –

Associação Sócio Terapêutica de Almeida, foram completadas a partir da recolha efectuada no site: www.assterapeutica.com no dia 12 de Abril de 2010. E as restantes informações foram resultado da minha visita à associação e das observações e conversas informais que mantive com colaboradores/voluntários.

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é um óptimo exemplo para comprovar que as desigualdades económicas, sociais, culturais

e até geográficas que “diferenciam” as sociedades actuais, em particular no aspecto do

acesso a serviços sociais e culturais, podem ser combatidas no sentido de encontrar um

equilíbrio “indiferenciado” dentro das sociedades. Esta I.P.S.S. - Instituição Particular de

Solidariedade Social, sem fins lucrativos e de utilidade pública, direcciona o seu SONHO

para as pessoas, essencialmente, jovens a partir dos 15-16 anos com deficiência mental ou

multideficiência, para que “possam encontrar o SEU caminho.” A sua principal missão

passa por apoiar na integração dessas “pessoas especiais”, numa conjuntura terapêutica de

natureza comunitária e familiar, promovendo dessa forma um desenvolvimento

individualizado e inclusivo.

Desta forma, tem contribuído activamente para a integração social, humana e

económica destes “cidadãos especiais”, potencializando as suas intenções sócio-

terapêuticas e pedagógicas para que cada indivíduo encontre o caminho mais apropriado.

As suas práticas representam mais que uma ocupação, contribuem para “a

autonomia, a auto-suficiência e auto estima, para que cada um se converta num membro

social digno, útil e produtivo (respeitando sempre os potenciais e características de cada

um), tendo em conta as três condições indispensáveis para que um ser humano/cidadão se

sinta verdadeiramente incluído: uma família, um trabalho e um grupo social.” A associação

emprega actualmente directa e indirectamente 22 colaboradores/voluntários, trabalhando

com cerca de 30 jovens, na sua grande maioria vindos das zonas envolventes, alguns em

regime interno e/ou de residência permanente e outros em regime externo, dado serem

jovens provenientes de localidades próximas e assim podem regressar a suas casas no final

do dia.

O trabalho sócio-terapêutico da ASTA desenvolve-se em três áreas de intervenção,

pode assim dizer-se que numa primeira fase se procura estimular intelectual e

sensorialmente o indivíduo, através de várias oficinas criativas de diferentes campos

artísticos como são o caso da olaria e azulejos, tecelagem e carpintaria, agricultura

biológica, animação e terapias de reabilitação.

Numa segunda fase estabelecem-se processos de socialização (responsabilização)

dentro da comunidade através da partilha de tarefas entre os jovens e com a comunidade

em geral, através de saídas conjuntas para efectuar as compras, passar férias, fazer visitas,

assistir e realizar espectáculos, convívios com outras instituições nacionais e

internacionais. Por fim a participação/dinamização de eventos anuais como são os casos da

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Feira da Solidariedade e a Marcha (dedicada às crianças do mundo), que acabam por

garantir uma enorme importância no processo terapêutico e sociocultural.

Reforço a minha posição da importância dos processos de criação artística como

meio de inclusão nestes “cidadãos especiais”, salientando o seguinte exemplo prático dos

jovens da ASTA, como são prova disso o grupo de teatro e o grupo musical “Pé Coxinho”,

através destes dois agregados artísticos têm visitado vários locais para apresentarem os

seus talentos teatrais e musicais, conseguindo por isso comprovar as actividades artístico-

culturais podem muito bem ser utilizadas como método inclusivo, capaz de quebrar

algumas das barreiras da indiferença e afirmar a arte e a cultura como sendo de TODOS e

para TODOS.

Durante a minha visita às instalações da ASTA, houve uma frase que registei e julgo

que representa e sintetiza bem a força e intencionalidade que os processos inclusivos (neste

caso da ASTA), mas sejam eles em que áreas forem devem possuir nas suas bases de

intervenção: “A diferença faz-nos crescer.” Foi de facto algo que não deixei ficar em claro

e se tornou na resposta mais objectiva a todas as questões que havia levantado

anteriormente para melhor perceber a importância dos processos artístico-culturais para a

inclusão social.

Finalizo este capítulo dando o meu parecer a partir da constatação de toda esta breve

observação-participante na instituição, assim, afirmo que a arte pode funcionar como

unidade central de toda a metodologia terapêutica nos processos de inclusão social e

cultural, “alimentando” a criatividade e despertando a abertura de horizontes no indivíduo.

Declarando ainda as práticas artístico-culturais como sendo capazes de quebrar as imensas

barreiras físicas e emocionais impostas pela sociedade industrializada, que se encontra

demasiado ligada a valores “consumistas” em prol dos valores “humanistas”. Reforço esta

afirmação e posição com a,

“A ideia de que a cultura pode ser um antídoto aos problemas que vivemos como

consequência da globalização neoliberal na qual estamos inseridos, pode parecer

disparatada para aqueles a quem tudo se reduz à economia e concebem o homem

fundamentalmente como homo económicus e homo consumer, acentuando a dimensão de

mero produtor e mero consumidor.” (Ander-Egg, 2008:25)

Page 15: João Nascimento Os Processos de Criação Artística como Meio de Inclusão Social

13

OS SERVIÇOS EDUCATIVOS NA CULTURA UM MEIO PARA A INCLUSÃO

A Arte é a representação, a ciência a explicação – da mesma realidade.

(Herbert Read, 2007)

Numa sociedade contemporânea cada vez mais caracterizada pela diversidade

cultural das suas comunidades, simultaneamente, as imensas desigualdades

socioeconómicas como vimos anteriormente são factores que potenciam a exclusão social,

assim as instituições/associações culturais devem assumir cada vez mais um papel

pedagógico, preponderante para a afirmação da cultura como modelo identitário de cada

grupo/comunidade. Ao mesmo tempo devem ter a capacidade de mediar acerca das

constantes mudanças e transformações socioculturais que particularizam a Sociedade da

Informação, onde muitas vezes se confunde o fácil acesso à informação com

aprendizagem, mas para inverter este sentido devem confirmar-se como espaços de

transformação de mentalidades, onde se alia a liberdade de criação a uma construção do

saber (aprender - fazendo/criando).

Importa por isso procurar uma definição para o Serviço Educativo e de acordo com a

noção sugerida por Camacho (2007, p. 28), que designa o serviço educativo como,

“Uma estrutura organizada e dotada de recursos mínimos, designadamente pessoal,

inscrita organicamente no museu (ou outras instituições culturais) em que se insere, mesmo

que de maneira informal, seja capaz de desenvolver acções dirigidas ao público, com

objectivos educativos.”

Mas qual será o papel da educação dentro das instituições culturais? As actividades

no domínio da educação e sensibilização através da arte e da cultura, ainda representam

uma enorme lacuna nos processos socioculturais de todo o território português, embora nos

últimos anos, se tenha assistido a um progressivo aumento de centros educativo-culturais,

de referir a título de curiosidade que o Centro de Pedagogia e Animação Cultural de

Belém, considerado como um modelo pioneiro de serviços educativos na cultura, tem

pouco mais de 10 anos. Contudo os museus foram precursores à implementação dos

serviços educativos, deixando de lado a ideia principal de ser o local onde se “depositam” e

expõem objectos de valor artístico, passando por isso ao serviço educativo a competência

e,

“O cumprimento da função museológica de educação, uma das indispensáveis

funções inerentes ao conceito de museu, que se articula com as restantes funções

Page 16: João Nascimento Os Processos de Criação Artística como Meio de Inclusão Social

14

museológicas de estudo e de investigação, de incorporação, de inventário e de

documentação, de interpretação e de exposição.” (Camacho, 2007, p. 28)

Este recente fenómeno que procura implementar os serviços educativos nas

instituições culturais públicas e privadas é um claro sinal de intervenção sociocultural nas

sociedades materialistas, dado que na sua essência procuram estabelecer novas formas de

relacionamento recíproco entre o criador (instituição) – espectador (sociedade), no sentido

de obter uma participação cidadã na vida sociocultural da comunidade. A necessidade de

reforçar os laços entre os espaços culturais e a comunidade, afirma,

“A noção de que as instituições culturais são locais de emancipação da sociedade,

fundadores de consciências críticas e agentes construtivos de mudanças nos vários campos

do conhecimento e das expressões, constitui o fundamento que justifica a actualização da

sua função educativa.” (Barriga, 2007,p. 43)

Contudo e olhando à dimensão pública da arte e da cultura e enquanto pedagogia que

procura afirmar as várias performances artísticas como forma de participação flexível e

aberta ao acto de expressar uma liberdade individual e colectiva, concordo por isso com

Miguel Honrado (2007, p. 19), para quem,

“A Arte se evidencia como território onde pulsa uma das características da sociedade

contemporânea: a tensão entre o público e o privado, o individual e o colectivo, que se

traduz numa relação complexa entre a dimensão individual da arte e a sua progressiva

dimensão pública.”

Importa referir que na maioria destes serviços educativos na cultura não estão

integrados na dita “acção educativa formal”, afinal são locais que possuem infra-estruturas

com particularidades específicas das práticas artísticas e culturais regulares, onde a sua

principal missão será a de descentralizar/democratizar culturalmente as sociedades, levar a

arte e a cultura a todos. Contudo possuem a capacidade de transmitir valores identitários

social e culturalmente das diferentes sociedades e contribuir para a educação e prevenção

dos diversos públicos.

Pelo que pude aperceber-me existe também da parte dos programadores culturais

uma preocupação em criar apresentar momentos culturais para todos os públicos, isto é,

começa-se a ouvir falar em termos como “Famílias ao Teatro”, ”Teatro para Todos” e

“Cafés Dançantes”, entre muitos outros temas, estes aparecem com o intuito criar elos de

ligação entre a comunidade e a instituição, estimulando a relação e a participação na vida

sociocultural entre a sociedade no geral. Neste sentido e de acordo com Barriga (2007, p.

44),

Page 17: João Nascimento Os Processos de Criação Artística como Meio de Inclusão Social

15

“Com base no pressuposto de que a instituição cultural serve as comunidades, sendo

uma das suas missões a contribuição para a educação ao longo da vida, portanto, a

formação cultural do indivíduo (numa perspectiva de aprendizagem não formal,

construtiva e crítica), verificou-se nas últimas duas décadas uma preocupação crescente em

criar instrumentos de gestão estratégica prospectiva, capazes de demonstrar a sua eficácia

face às exigências do mercado cultural contemporâneo.”

Do que me foi possível observar a maioria dos espaços culturais, englobo nestes

espaços as associações, fundações, museus e todas as instituições que particularizam os

seus princípios de acção através da arte e/ou da cultura, possuem já o designado serviço

educativo, ainda que nem todos possuam um plano concreto para a sua actuação, mas

importa com isto referir a existência de uma sensibilidade dos gestores/produtores culturais

para orientação pedagógica destes espaços culturais. Assim e tendo em conta o que afirma

Honrado (2007, p. 17),

“No quadro da relação entre públicos e serviço educativo é caracterizado o

desempenho do programador como “orientador num vasto universo de sentidos possíveis”.

Neste sentido, a obra de arte e especificamente a obra performativa são valorizadas em

primeira instância, mais como um “despoletador de sentidos” do que como referente

absoluto.”

Contudo ainda há muito por fazer e caberá de certa forma a nós animadores

artísticos, culturais e socioculturais, a potencialização e dinamização de práticas artístico-

culturais dentro destes espaços culturais, através da sugestão de planos de trabalho no

mínimo de período temporal a curto/médio prazo (3 a 5 anos), devidamente organizados e

planificados, para assim difundir e afirmar a sua aplicação numa dimensão de intervenção

pedagógica/comunitária.

Neste sentido a minha opinião coincide com a de Caride (2006), quando afirma que a

animação se deve valorizar enquanto procedimento sociocultural e educativo que poderá

contribuir para um desenvolvimento individual e social, equilibrando as raízes culturais

com as mudanças actuais. Tendo também a oportunidade de alargar a sua actuação ao

conjunto das várias associações, empresas públicas e/ou privadas que em parceria podem

fomentar atitudes e comportamentos inclusivos, que incentivem a comunicação e a

participação cívica, a criatividade individual e colectiva, a capacidade expressiva, a auto

realização do indivíduo e a transformação social.

Page 18: João Nascimento Os Processos de Criação Artística como Meio de Inclusão Social

16

O PAPEL DA ANIMAÇÃO ARTÍSTICA E DO ANIMADOR COMO “AGENTES

INCLUSIVOS”

O teatro é, antes de mais, presença.

(Vieites, 2008)

A forma pelo qual nós animadores enquanto “educadores inclusivos” podemos

estimular o combate a estes fenómenos de exclusão social na comunidade, será através do

aumento da percepção dos mesmos, isto é, utilizando a interpretação dos processos

artístico-culturais como ferramenta que vise fomentar em cada um de nós, seja o

participante ou o criador, a alteração do seu modo de pensar – agir, olhar a diferença com

indiferença. Como refere Vieites (2008, p. 252) em relação aos profissionais do trabalho

social ou da acção artística e sociocultural devem entender o seu campo de acção não só

dentro daquilo que designa por “pedagogia do ócio”, como um “marco para o exercício

real da liberdade de escolha e decisão”, mas deverá também nascer uma outra didáctica

que complemente o seu trabalho, a “pedagogia da concepção”, que se potencia “como

exercício de descoberta e de afirmação pessoal, para a geração de novas expectativas e

como prevenção para a exclusão ou a auto-exclusão.”

Caberá assim ao animador e a todos os gestores de instituições culturais criar e

produzir actividades e projectos capazes de responder às necessidades das diferentes

realidades socioculturais de cada indivíduo e sociedade em que está integrado. Seguindo o

pensamento de Vieites (2008, p. 245),

“O teatro é a mais social de todas as artes, já que, ao contrário de outras

manifestações culturais, supõe sempre um acto de cumplicidade entre a pessoa que assume

o papel de actor e aquela que assume o papel de espectador. Na sua etimologia, a palavra

teatro não deixa margens para dúvidas: é o sítio de onde se observa.”

Assumindo desta forma o teatro como “ferramenta inclusiva” e enquanto animador

artístico cabe-me a missão de sugerir e motivar o trabalho artístico-cultural e neste capítulo

em particular a nossa visão criadora deve ser manifestada, assim sendo apresento aqui de

forma muito sintetizada as ideias gerais para um projecto de inclusão social que neste caso

seria direccionado a pessoas surdas e/ou com deficiências auditivas.

A proposta passaria pela criação de uma peça de teatro, onde se relacionaria a

expressão musical com a expressão corporal. Afinal o facto de não possuírem a capacidade

auditiva, conseguem sentir as vibrações e emoções provocadas por práticas expressivas ao

nível musical, neste caso e através de uma oficina com instrumentos de percussão seria

Page 19: João Nascimento Os Processos de Criação Artística como Meio de Inclusão Social

17

preparada toda a parte musical do nosso espectáculo e a parte de encenação e cenografia

através de ateliês de expressão dramática/teatral e artes plásticas, respectivamente. Para o

dia da apresentação propunha que fosse apresentada a peça e com a ajuda de recursos

tecnológicos fosse colocado em rodapé (na boca de cena) uma espécie de letreiro digital,

onde passaria toda a legenda do texto que estaria a ser teatralizado e para assim poder ser

interpretado por todos os espectadores.

No seguimento desta sugestão vou apresentar um exemplo prático de uma actividade

que alia as artes plásticas, com a expressão musical e ainda a sensibilização para questões

de preservação e protecção da biodiversidade. Esta animação/oficina foi desenvolvida no

âmbito da minha actividade profissional, animador sociocultural/educativo na ACERT –

Associação Cultural e Recreativa de Tondela, tendo sido criada a partir de um livro do

Plano Nacional de Leitura, A Arca de Noé de Luísa Ducla Soares.

Esta animação foi apresentada durante a semana da feira do livro da Biblioteca

Municipal Tomás Ribeiro em Tondela e era direccionada para o público infantil (5 aos 10

anos), numa primeira fase era mantida uma conversa educativa e de sensibilização com as

crianças sobre questões como o que é a biodiversidade, ou quais os animais em vias de

extinção, a importância de TODOS preservarmos o ambiente e os habitats naturais dos

animais e outras problemáticas são abordadas, esta fase termina com a contagem da

história da Arca de Noé, de uma forma muito resumida.

Na fase seguinte desafiamos as crianças para uma actividade de expressão plástica,

eles vão ter que unir os pontos que estão na folha A4 para descobrirem o animal, que de

seguida vão pintar e recortar, para depois colarem numa folha postal que levariam para

casa como recordação e onde estão algumas das questões e canções que foram

interpretadas durante a oficina. Esta animação termina com o cantar e coreografar de uma

canção adaptada a partir de um dos versos retirado do livro.

Destaquei esta actividade neste capítulo pois durante a animação tive crianças

provenientes de diferentes realidades socioculturais, algumas até com necessidades

educativas especiais e foi curioso ter a real percepção de que durante a realização desta

actividade lúdico-educativa as crianças esquecem os preconceitos que muitas vezes as

distanciam no dia-a-dia e conseguem ter comportamentos de partilha e cada um deles à sua

maneira exprime a sua criatividade e ideias.

Outras e diversas actividades artísticas podem ser dinamizadas, dou outro exemplo

da criação de arte a partir de lixo, a chamada Reciclarte, isto para afirmar que o potencial

da arte e da cultura enquanto metodologia criativa são imensas e devem ser uma aposta de

Page 20: João Nascimento Os Processos de Criação Artística como Meio de Inclusão Social

18

todos os profissionais da animação, não só pela questão artística em particular, mas

também pelo enorme potencial de sensibilizar/prevenir para acções conscientes. Contudo, é

necessário continuar a estabelecer elos de ligação entre a sociedade em geral e as

estratégias pedagógicas dos processos de criação artístico-culturais como meio de inclusão

e participação destas comunidades na vida sociocultural do seu território, tendo sempre em

linha de conta as particularidades de cada indivíduo e respectiva sociedade. Assim e de

acordo com J. A. Caride (1998, cit. Vieites, 2008, p. 252),

“São cada vez mais necessários profissionais capazes de desempenhar e levar à

prática programas de intervenção que tenham como objectivos construir aprendizagens,

favorecer a criação e a diversão, incrementar a participação social e desenvolver a

personalidade de todos e cada um dos cidadãos e cidadãs participantes.”

Por tudo o que já foi referido durante o presente artigo posso afirmar que a arte e a

cultura enquanto modo de expressão, criação e participação, podem potenciar através de

actividades de animação artística uma reeducação dos sistemas inclusivos impostos de

forma pouco convencional pelas políticas adoptadas até aqui, para isso, nós animadores e

as instituições culturais devemos mediar sobre as características das sociedades actuais e

olhar a criação artístico-cultural mais como um meio de inclusão individual e social e não

como um meio para obtenção de resultados/objectivos. Isto poderá comprovar que a

Cultura e a Arte são um trunfo que o animador deve colocar ao dispor das comunidades e

de cada indivíduo para a valorização da sua especificidade dentro de uma vasta diversidade

cultural que cada vez mais caracteriza as sociedades contemporâneas.

CONCLUSÃO

Os processos de criação/educação através da arte e da cultura assumem-se como um

direito para TODOS os cidadãos, esse direito é lhes conferido por várias convenções

internacionais sobre direitos humanos, bem como, ao Estado é confirmada a obrigação de

possibilitarem o livre acesso a essas práticas artístico-culturais. No campo da inclusão

social utilizando as práticas de criação/educação artístico-cultural ainda existe um enorme

caminho a desbravar, até porque de certa forma a arte e a cultura se encontram pouco

acessíveis ao público em geral e num sentido “livre” de constrangimentos, ainda aparece

ligada a algum elitismo sociocultural.

Page 21: João Nascimento Os Processos de Criação Artística como Meio de Inclusão Social

19

Se como ficou provado anteriormente que a arte tem um papel preponderante nos

processos de socialização do indivíduo, sem ela é dito que o desenvolvimento humano fica

incompleto, por que razão ainda não está formalizada a sua utilização de forma regular nos

processos de educação formal?

Se a educação prepara o indivíduo para no futuro poder participar e contribuir

activamente para a construção da sociedade onde se vier a inserir, como pode uma pessoa

dizer-se plenamente preparada se não teve um contacto regular com processos criativos

capazes de o levar a exprimir as suas ideias e desejos, neste sentido, confirmo as práticas

artístico-culturais como melhor meio de proceder a essa educação mais completa e livre.

Com tudo o que pude confirmar ao realizar este artigo, posso afirmar que uma

educação centrada nos processos de criação artística, pode influenciar o indivíduo na forma

de pensar, criar, expressar, interagir e conviver com o muno que o rodeia, resumindo, a arte

e a cultura são um óptimo remédio para combater a exclusão social. Além de tudo isso, a

arte está associada ao património Humano, seja ele material e/ou imaterial, logo, todo o

tipo de experiências no campo artístico reforça e encoraja os intervenientes a participarem

nas decisões da sua vida sociocultural, o que levará a uma democratização/descentralização

das práticas artístico-culturais. Como pude comprovar com a pesquisa mais interna na

instituição ASTA, a arte e a cultura têm o potencial de facilitar a integração de “cidadãos

especiais”, munindo-os de ferramentas para poderem olhar o futuro de forma mais

integrada na sociedade.

Pude constatar que embora seja reconhecido o enorme potencial da arte e da cultura

como meio de integração social, ainda não é devidamente reconhecida como uma

pedagogia inclusiva. Assim, cabe-nos pensar na cultura e nas culturas em geral

(diversidade cultural) como realidades em que emergem vivências e experiências dotadas

de um profundo significado para as pessoas e comunidades, revelando assim o seu

protagonismo mediante práticas culturais e artísticas que transcendem as coordenadas

espácio-temporais mais imediatas. (Caride, 2006)

Considero por isso que ainda há muito a fazer no campo da inclusão social através da

arte e da cultura, cabendo assim a nós animadores artísticos e enquanto “educadores

inclusivos”, mediar sobre as fortes desigualdades socioculturais que vão caracterizando as

sociedades actuais, para podermos agir de forma coerente no sentido de procurar expor as

práticas artísticas e culturais enquanto pedagogia, que facilita a inclusão dos indivíduos.

Mas para essa acção se tornar uma realidade de TODOS e para TODOS, temos que

perceber como criar artística e culturalmente com o intuito de educar para a cidadania

Page 22: João Nascimento Os Processos de Criação Artística como Meio de Inclusão Social

20

inclusiva? É uma questão para a qual ainda não tenho uma resposta concreta, mas com o

que afirmei anteriormente julgo ter bases para procurar essa resposta.

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Tabela de Siglas

ASTA – Associação Sócio Terapêutica de Almeida

ONU – Organização das Nações Unidas

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura