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A Toga Jornal dos estudantes da Faculdade de Direito da UFRGS www.ufrgs.br/caar CENTRO ACADÊMICO ANDRÉ DA ROCHA Avenida João Pessoa, 80 - térreo (51) 3308.3598 [email protected] João Pessoa, 80: Porto Alegre, dezembro de 2010 - Nº 1 - Ano LXII - Tiragem: 1.000 exemplares Distribuição gratuita endereço centenário Faculdade de Direito UFRGS João Pessoa, nº 80 Cel: 9122.3184 pela manhã 3366.2987 [email protected] Concluído em 1910, o prédio histórico da Faculdade de Di- reito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com- pletou, em 2010, 100 anos. Em sua homenagem, e tam- bém àqueles que entre essas paredes passaram cinco anos de suas vidas, o jornal A Toga publica nesta edição matéria especial com entrevistas de ex- -alunos e imagens de arquivo, recontando um pouco da his- tória que ajudamos a construir todos os dias. Páginas 8, 9 e 10. PESQUISA SIC na Faculdade de Direito p. 3 Polêmica do ficha limpa CONTRAPONTO p. 5 ARTIGO Movimento estudantil e partidos políticos p. 6-7 CULTURA Semana Cultural p. 11 ENTREVISTA Juiz Federal Fausto de Sanctis p. 10

João Pessoa, 80: PESQUISA · Jornal dos estudantes da Faculdade de Direito da UFRGS CENTRO ACADÊMICO ANDRÉ DA ROCHA Avenida João Pessoa, 80 - térreo (51) 3308.3598

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A To g aJornal dos estudantes da Faculdade de Direito da UFRGS

www.ufrgs.br/caar

CENTRO ACADÊMICO ANDRÉ DA ROCHAAvenida João Pessoa, 80 - térreo

(51) [email protected]

João Pessoa, 80: Porto Alegre, dezembro de 2010 - Nº 1 - Ano LXII - Tiragem: 1.000 exemplares Distribuição gratuita

endereço centenário

Faculdade de Direito UFRGSJoão Pessoa, nº 80

Cel: 9122.3184pela manhã 3366.2987

[email protected]

Concluído em 1910, o prédio histórico da Faculdade de Di-reito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com-

pletou, em 2010, 100 anos. Em sua homenagem, e tam-bém àqueles que entre essas paredes passaram cinco anos

de suas vidas, o jornal A Toga publica nesta edição matéria especial com entrevistas de ex--alunos e imagens de arquivo,

recontando um pouco da his-tória que ajudamos a construir todos os dias.

Páginas 8, 9 e 10.

PESQUISASIC na Faculdade de Direito

p. 3

Polêmica do ficha limpa

CONTRAPONTO

p. 5

ARTIGOMovimento estudantil e partidos políticos p. 6-7

CULTURASemana Cultural

p. 11

ENTREVISTAJuiz Federal Fausto de Sanctis p. 10

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A TOGA - Dezembro de 20102

A Toga

EXPEDIENTE

Jornal dos estudantes da Faculdade de Direito da UFRGS - Nº 1 - Ano LXII - Dezembro de 2010

Comissão Editorial: Eduardo Halperin, Fran-cisco Ponzoni Pretto, Guilherme Seibert, Gus-tavo Sanseverino, Laura Marazita Lotti, Mariana Medeiros Lenz, Nathalia Beduhn Schneider.

Diagramação: Mariana Medeiros Lenz

Tiragem: 1.000 exemplares

A Toga é uma publicação de responsabilidade do Centro Acadêmico André da Rocha (CAAR). Os textos assi-nados são de responsabilidade de seus autores.

Fundado por Nicanor Luz e José J. Dall-agnol, em maio de 1949.

Colaboraram nesta edição:

Arthur P. Bedin Bruno Hermes LealBruno Irion ColettoEduardo HalperinEduardo K. M. CarrionElis Marina BarbieriFausto de SanctisFrancisco Ponzoni PrettoGuilherme JantschGuilherme SeibertGustavo SanseverinoJosé Artigas Leão RammingerJudith Martins-CostaLaura Marazita LottiLucas do NascimentoMarcelo de AzambujaMarco Aurélio Moreira de OliveiraMaria Izabel Noll

Ao final de um ciclo, de uma jornada, nada mais natural do que olhar para trás e refletir sobre o que aconteceu. Os erros, os acertos, as mudanças, os crescimentos. É a esta nossa pequena jornada, a Gestão Concretizan-do Ideias do Centro Acadêmico André da Ro-cha e os reflexos que esta trouxe a este jornal, que gostaria de dedicar este Editorial.

Acredito, portanto, que esta edição do Jornal “A Toga” – minha última ação enquan-to Presidente do CAAR – bem representa a caminhada que tivemos neste ano de 2010. De certa maneira, as matérias aqui escritas abor-dam muito da maneira de pensar que tivemos ao longo do ano, muitas das áreas de atuação que este Centro Acadêmico deve ocupar, mui-to da maneira como enxergamos uma entidade representativa como o CAAR.

Este jornal não foi feito apenas pela sua Comissão Editorial. Tivemos contribuições de diversos estudantes, tanto de nossa Faculda-de como de fora dela. Em realidade, tivemos até mesmo duas Comissões: uma que deu o primeiro passo (e que, por razões que não cabe aqui discutir, não o encerrou) e outra que, renovada e turbinada com o gás de calouros, praticamente reinventou o conceito de “A Toga” que tínhamos.

Importante frisar, ainda no tocante às duas Comissões, que houve um importante crescimento, por parte da gestão, ao trabalhar com quem fora oposição nas outras eleições. Percebeu-se, nesta comparação direta, quem realmente estava disposto a trabalhar por um CAAR melhor, mesmo não sendo, formalmen-te, gestão.

Mas esta edição traz à Faculdade muito mais. Adentramos na seara das discussões políticas – que devem sim ser pautadas por um Centro Acadêmico –, publicando o artigo “Interstícios: movimentos estudantis e parti-dos políticos”, de autoria de um estudante da UFMG, a exemplo do que já havíamos feito durante o ano, sendo a única entidade estudan-til do estado a organizar um debate entre os candidatos ao senado e ao organizar eventos que discutiam a história política de nossa Faculdade.

Na página 5, oferecemos aos estudantes importante discussão jurídico-política, que foi tema de inúmeras e infindáveis discussões durante o ano. Os professores Marco Aurélio de Oliveira e Eduardo Carrion iluminam o assunto “Ficha Limpa” de maneira ímpar, que só quem cumula anos de experiência e estudo poderia proporcionar. Esta discussão jurídico--política se mostrou durante todo o ano, ao, por exemplo, organizarmos em conjunto com outras entidades, o VI Fórum Mundial de Juízes, que contou com o português Boaven-tura de Souza Santos, entre outros renomados mestres.

É consenso que uma correta formação do estudante de Direito não deve ser restrita apenas às discussões afeitas a este ramo do conhecimento. Por isso, durante o ano, foi or-ganizada a I Semana Cultural da Faculdade de Direito da UFRGS, o II Minicurso de Crimi-nologia Avançada e Rock e outros eventos que buscavam a transdisciplinaridade, que busca-

vam discutir o Direito em conjunto com outras ciências. Também esses diálogos encontram reflexos no jornal, seja no texto sobre a Semana Cultural, seja na resenha escrita pelo discente Bruno Leal, seja no poema escrito pelo Acad. Arthur Bedin, seja no artigo escrito pela Profa. Izabel Noll.

Também merece destaque a matéria sobre o centená-rio do prédio da Casa do Velho André. Reunimos acadê-micos de diferentes épocas, com diferentes histórias, para nos apresentarem seus relatos e impressões, como forma de valorizar nossa história e dar novo ânimo àqueles que hoje passam grande parte de sua vida dentro dos muros do nosso castelinho.

Não podemos, ainda, olvidar o espaço disponibiliza-do ao maior e mais antigo projeto de extensão de nossa Universidade, exemplo a ser seguido pelo Brasil afora e que temos a honra de acolhermos em nossa Faculdade. O SAJU, em iniciativa nova e que – esperamos – seja seguida pelas próximas edições do “A Toga”, recebe espaço de destaque, permitindo que este lindo projeto tenha mais um espaço de divulgação de sua atuação.

A tão falada e buscada excelência acadêmica, por óbvio, também não poderia ser excluída. Em que pese todo este texto, de uma maneira ou de outra, versar sobre ela, é no tripé universitário (ensino, pesquisa e extensão) que ela se faz mais clara. E, para o tripé completar-se, não esquecemos da pesquisa. Este ano, esta entidade estudan-til organizou o Salão de Iniciação Científica da Faculdade, que contou com a presença, dentre outros, do Min. Ruy Rosado, e, pela primeira vez, foram publicados os resu-mos dos trabalhos apresentados. Manteve-se e ampliou--se, também, a grande conquista obtida neste quesito na gestão passada: a Res Severa Verum Gaudium, Revista Cien-tífica dos Estudantes da Faculdade de Direito, teve suas duas edições anuais publicadas, mantendo este importante meio de publicação à disposição dos discentes.

Essencial para que se legitimidade perante seus representados, uma gestão de uma entidade representativa deve, sempre, primar pela transparência. Essa transparên-cia se dá em vários âmbitos: no financeiro, pela primeira vez nos últimos anos, publicamos a prestação de contas dos primeiros seis meses de gestão e, neste jornal, publi-camos a completa da gestão passada; no político, é deli-berar antes e trazer a discussão e os resultados depois de cada encontro de entidades estudantis; na política interna, é estar sempre disposto a ouvir o estudante e a defendê--lo, é melhorar a comunicação, através de um novo sítio eletrônico e um CAARInforma reformulado.

Poderia eu, aqui, enumerar muitas outras conquistas e avanços, mas creio que não disponho de tantos caracteres. Porém, acredito que, nestes onze parágrafos sobre o que foi feito, consegui, explícita ou implicitamente, enumerar algumas características e ações que, após este ano, vejo como essenciais a uma gestão do CAAR: trabalhar junto com o estudante, mesmo que ele tenha sido oposição nas eleições passadas; disposição para fazer um Centro Acadêmico melhor; proposição de debates (i) políticos, (ii) acadêmicos, (iii) interdisciplinares, (iv) culturais, (v) político-acadêmicos; transparência; legitimidade, que só se obtém quando se está aberto a ouvir o que o estudante tem a dizer e estar disposto a defendê-lo. Por fim, agradeço, como não poderia deixar de ser, a todos aqueles, discentes ou não, membros da gestão ou não, que de alguma forma contribuíram para que este texto tivesse todo este conteúdo. Obrigado a todos que criticaram, com ou sem razão; obrigado às Comissões Editoriais (a nova e a antiga) do jornal; obrigado àqueles docentes que, no dia-a-dia, mostraram que a docência é uma virtude; obrigado aos servidores técnico-administra-tivos, que diariamente ensinam o significado da palavra “dedicação”; obrigado aos demais membros da gestão, que, muitas e muitas vezes, mostraram o caminho onde antes só havia muros.

EDITORIAL

• FRANCISCO PONZONI PRETTOPresidente do CAARGestão Concretizando Ideias (2009/2010)

DIRETORIA EXECUTIVA DO CENTRO ACADÊMICO ANDRÉ DA ROCHA

Gestão Concretizando Ideias

Presidência: Francisco Ponzoni PrettoVice-Presidência: Pedro da Silva MoreiraSecretaria-Geral: André Silva GomesSecretaria Acadêmica: Elis Marina BarbieriTesouraria: Dóris Amaral Kümmel

Coordenação da Revista Res Severa Verum Gau-dium: Raíssa Jeanine NothaftSecretaria de Ensino, Pesquisa e Extensão: Emília Malacarne, Tássia Cividanes Pazinato, Mariana Kuhn de OliveiraSecretaria de Eventos Acadêmicos: Guilher-me Seibert, Laura Lotti, Mariana Padilha, Fernan-do Eick, Ezequiel F. dos SantosSecretaria de Cultura: Cássio Rocha de Mace-do, Gustavo Saling dos Santos, Eduardo Fernan-des “Bera”, Luíza Leão Soares Pereira, Guilher-me dal CastelSecretaria de Comunicação: Fernanda Bonot-to, Arthur Amaral ReisSecretaria de Integração: Felipe Russomano, Fernando Polidori Rios, Lucien Pires, Guilherme Queirolo Feijó, Luiz Edmundo KielboviczSecretaria de Esportes: Rafael Xavier “TAGA”, Vitor Arthur Correa Lima, Eduardo Gutierrez, Morgan Adami, André Giordani, Henrique Buhl Richter

Mariana Medeiros LenzMaurício LicksMuseu da UFRGSNathalia Beduhn SchneiderNico FagundesRaíssa NothaftSAJU/UFRGSSérgio José PortoTatata PimentelThiago Calsa NunesThiago Aguiar SimimVitor Lourenço Simão Castro

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A TOGA - Dezembro de 2010 3

O Salão de Iniciação Científica tem papel indispensável na cons-trução de uma Faculdade fundada nos princípios basilares da pesquisa, ensino e extensão, uma vez que é o fomentador da pesquisa em ní-vel de graduação na Faculdade de Direito da UFRGS, possibilitando ao acadêmico apresentar a sua pes-quisa a uma banca preparada e co-nhecedora do tema, visando ao en-riquecimento do trabalho que vem sendo desenvolvido. O objetivo do XII Salão de Iniciação da Faculdade de Direito da UFRGS é estimular a pesquisa e o debate acerca da im-portância do conhecimento cientí-fico dentro da nossa comunidade acadêmica, contextualizando-a na realidade da nossa Universidade e do Direito brasileiro. A inicia-ção científica é um instrumento de apoio teórico e metodológico à realização de projetos de pesquisa, permitindo ao aluno não apenas o contato com a doutrina, com as teses já estabelecidas, mas também garantindo-lhe o seu próprio pro-cesso ativo de produção de conhe-cimento.

Neste XII Salão, promovido pelo Centro Acadêmico André da Rocha e a Faculdade de Direito da UFRGS, não foi diferente. Realiza-do entre os dias 4 e 8 de outubro, com 37 participantes, o SIC permi-tiu que o pesquisador entrasse em contato com sua comunidade aca-dêmica, apresentasse sua pesquisa e

estimulasse outros a pesquisa-rem. Divididas em quatro áre-as de atuação, as bancas foram formadas por linhas de pesqui-sa e compostas por três profes-sores e profissionais atuantes, conhecedores dos temas.

A pesquisa científica tem como pilar da sua existência a hipótese, a tese. Duvidar é por em cheque todo o conhecimen-to o desenvolvido até então e desconstruí-lo em busca de novas respostas, novas expli-cações para determinados fa-

tos. Em um Salão de Iniciação Científica, tem-se por estimular a essas pesquisas, para criticá--las e vê-las desenvolverem-se. O objetivo maior de um Salão como esse é o contínuo estímulo aos pesquisadores, que possam desenvolver seus projetos sem-pre da maneira mais adequada e, cada vez mais, transformando a Faculdade de Direito da UFRGS em um espaço para a apresenta-ção, divulgação e aprimoramento dos trabalhos concretizados pelos acadêmicos da nossa graduação.

Produção científica valorizada SIC do Direito ocorreu em outubro, com a apresentação de 36 trabalhos

• LAURA MARAZITA LOTTIAcadêmica do 2º ano manhã Coordenadora do XII SIC da Faculdade de Direito

Intercâmbio em uma metáfora e uma analogia• MAURÍCIO LICKSAcadêmico do 2º ano manhã, atualmente em intercâmbio es-tudantil em Grenoble (França)

Descrevo a situação: es-tou em uma cama há algumas horas, resultado de um violen-to lance esportivo, e conto o tempo não em horas, mas em vezes em que abro a geladeira. Abro minha caixa de e-mails e me deparo com a proposta de escrever algo sobre a experiên-cia de quatro meses vivendo em francês.

Uma metáfora e uma ana-logia.

Digamos que a vida seja um esboço, para o qual não se pode usar borracha ou qual-quer técnica que permita apa-gar o risco de lápis e refazê--lo de alguma outra forma. A maior parte do trajeto do gra-fite é esperada e, mesmo que interessante, dificilmente cha-

ma a atenção novamente. Às vezes, porém, a beleza do rastro do grafite é tanta, que a memó-ria não hesita em fotografá-lo para fazer dele algum quadro ou coisa do gênero. A maioria destes momentos é inesperada: só se vê a beleza quando o gra-fite já desenha outras formas. Existem outros, no entanto, em que se sabe que cada vestígio do grafite, mesmo os que ain-da são só possibilidade, será tão marcante e tão belo que, não importa quantas obras-primas ainda forem desenhadas sobre a superfície da folha, não se poderá deixar de apreciá-los nunca.

É o caso, por exemplo – e me desculpem os namoros posteriores –, de um primei-ro namoro. Um intercâmbio é definitivamente comparável ao primeiro namoro, à diferença de que ele não se passa com uma mulher ou com um ho-

mem, mas com um país – ou mesmo um mundo – inteiro.

Como em um primeiro na-moro, faz-se coisas novas: esqui, degustação de vinho, anda-se de tram, viaja-se pela Ryan Air. Descobre-se que a comida não brota na geladeira e que o pri-meiro bom prato será posterior à massa com molho de queijo Roquefort coalhado e ao arroz com sardinha que cheira a lixo.

Como em um primeiro namoro, continua-se a fazer as mesmas coisas. Vê-se e anota-se a aula – elas são estilo Alfredo –, abre-se um livro e se estuda, letras pretas e folha branca. Há insônia nas vésperas de dias es-perados e vontade de dormir mais no domingo. 99% dos ho-mens continuam falando sobre futebol durante muito tempo. Quanto às mulheres, dizem que elas também fazem amigas nos banheiros das festas. Menos do que em terras brasileiras, é cla-

ro, já que a maioria dos banheiros france-ses é unisex.

Como em um primeiro namoro, faz--se as mesmas coisas, mas de uma forma completamente dife-rente. As pessoas vão em bares beber, mas a cerveja é belga, a pessoa logo à direita é grega e o garçom, seu colega brasileiro de quarto. Todos falando francês – ou inglês. Faz-se uma curta vi-sita àquele seu amigo siciliano, o que mora na Sicília. Nas ma-nhãs, depois de incontáveis “so-necas”, veste-se e se vai para a aula não de ônibus ou de carro, mas de bicicleta. As conversas com a família ainda existem du-rante o almoço, mas a webcam pode travar e um cachorro ja-mais aceita comida virtual como moeda de troca para dar a pata. Enfim, apesar de ainda só ter rabiscado um terço do dese-

nho francês, acho que o que se pode dizer sobre um intercâm-bio universitário é que, como um primeiro namoro – mas de uma forma mais intensa, por-que se vê o dia em que se rom-perão os laços – morar um ano em um novo país, com pessoas desconhecidas, em uma outra língua e cultura é um modo de conhecer um desenho absolu-tamente inédito, irrepetível e fascinante. Uma possibilidade única de contemplar uma bela obra-de-arte na galeria da me-mória enquanto ela ainda não foi finalizada, vivendo anteci-padamente as nostalgias que te aguardam em dias futuros.

DIREITO INTERNACIO-NAL E ARBITRAGEM Prof. Eugênio Battesini, Prof.ª Camila Vicenci, Prof. Augusto JaegerDestaques: “A normatividade do soft law: discrepâncias nas normas de Comércio Internacional e de Direitos Humanos”, (Luíza Leão Soares Pereira)“A regulação do momento translativo da propriedade no âmbito do Comércio Interna-cional” (Henrique de David)

DIREITO CONSTITUCIO-NAL E FILOSOFIA DO DIR.Prof.ª Anelise Schüler, Prof. Fe-lipe X. Oliveira, Prof.ª e Des. Maria Isabel de Azevedo SouzaDestaques:“O Controle de Constituciona-lidade do Reino Unido” (Rafael da Silva)“A judicialização da política no Rio Grande do Sul: uma análi-se das ações diretas de incons-titucionalidade julgadas pelo Tribunal de Justiça Gaúcho (2007-2010)” (Marcio Camargo Cunha Filho)

DIREITO PENAL E PRO-CESSO PENALDes. Umberto Sudbrack, Dr. Agenor Casaril, Prof. Pablo Al-flenDestaques:“A compreensão do fenômeno violência doméstica e a aplica-ção da Lei Maria da Penha pelo

Bancas

Prof. Carlos Zanini, ex-ministro Ruy Aguiar Jr. e Prof. Manoel André da Rocha

Destaque:“O Controle de Constituciona-lidade do Reino Unido” (Rafael da Silva)

Menções honrosas:“A normatividade do soft law: discrepâncias nas normas de Comércio Internacional e de Direitos Humanos” (Luiza Leão Soares Pereira)“O alcance dos laudos psiqui-átricos na verificação da (in)imputabilidade penal: da neces-sidade de adequação do perito ao Código de Ética Médica” (Bruna Rossol)

Poder Judiciário da cidade de Porto Alegre”(Adriana Marques Strohaecker)“O alcance dos laudos psiqui-átricos na verificação da (in)imputabilidade penal: da neces-sidade de adequação do perito ao Código de Ética Médica” (Bruna Rossol)

DIREITO PRIVADO E PROCESSO CIVILDr. Guilherme Lippert, Dr. Daniel Ustarroz, Dr. Felipe LambDestaque:“Aplicação prática de progra-mas de mediação no cenário brasileiro: O PI 447” (Andressa Santos Michel)

Banca final

Um intercâmbio é definitiva-mente comparável ao primeiro namoro, à diferença de que ele não se passa com uma mulher ou com um homem, mas com

um país – ou mesmo um mundo – inteiro.

Mariana Lenz

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A TOGA - Dezembro de 20104

Res Severa Verum GaudiumCAAR protagonista da construção de uma tradição científica

• RAÍSSA NOTHAFTAcadêmica do 3º ano manhã Coordenadora-Geral da Res Severa Verum Gaudium

• ELIS MARINA BARBIERIAcadêmica do 3º ano manhã Secretária Acadêmica

A Res Severa Verum Gaudium - Revista Científica dos Estudantes de Direito da UFRGS foi criada no ano de 2009 pela Gestão Construindo o Caminho do Centro Acadêmico André da Rocha – CAAR, entidade representativa dos estudantes de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A Revista foi ela-borada com o intuito de valorizar os trabalhos acadêmicos dos estudantes de Direito, oferecendo um espaço para publicação, hoje escasso, princi-palmente em relação aos estudantes da graduação.

A gestão Construindo o Cami-

nho, logo após a sua posse, começou a trabalhar para que esse sonho se concretizasse. Após muita pesquisa, a revista tornou-se uma realidade possível. Montou-se um Conselho Administrativo com participantes da gestão e estudantes da Faculdade, que, já no primeiro semestre de 2009, começou a receber os trabalhos.

No dia 09 de setembro de 2009, nas dependências da nossa biblioteca, ocorreu o lançamento da Res Severa Verum Gaudium. O evento contou com a presença de autoridades e dos acadêmicos da Faculdade de Direito, que lotaram a biblioteca. A cerimônia marcou também o momento em que o site da Revista foi disponibilizado na internet.

Como forma de reconheci-mento, foram feitas homenagens às bibliotecárias Maria da Graça Lima

Corrêa e Celina Leite Miranda, as quais, cada qual a seu tempo, fizeram de seu trabalho uma forma de en-grandecimento desse local histórico de nossa Faculdade. Foram mon-tados também dois quadros com reportagens do jornal A Toga que, por várias gestões do CAAR, serviu de veículo para denunciar a precária situação da biblioteca e mostrar sua evolução. Um deles foi presenteado à bibliotecária Celina e o outro está exposto na sede do CAAR.

Em novembro de 2009, a Revista já contava com duas publica-ções, totalizando 18 artigos de alunos da graduação, pós-gra-duação e inclusive de nomes relevantes do mundo jurídico como o professor Dr. Humberto Theodoro Junior. A Res Severa Verum Gaudium conquistou, ainda no ano de 2009, o ISSN (2176-3755), que a tornou uma revista científica reconhecida nacionalmente.

A gestão Concretizando Ideias priorizou, desde seu início, a me-lhoria da Revista, demonstrado pela inclusão do cargo Coordenador da Revista em sua nominata, de for-ma a centralizar o compromisso de melhora da mesma. Buscou, durante

toda sua gestão, engrandecer e difundir a Revista, tornando objetivos os critérios de avaliação, aumentando seu Conselho Editorial e buscando artigos de ilustres professores para ampliar sua divulgação no meio jurídico. A primeira edição de 2010 contou com um artigo do profes-sor dessa Casa, Dr. Salo de Carvalho.

Pela primeira vez, o espaço que a Revista prevê para prestigiar eventos da Faculdade de Direito será aproveitado, com a 1º Edição do Livro de Resumos do Salão de Iniciação Científica da Faculdade de Direito. Dessa forma, am-pliamos e valorizamos o debate jurídico

oriundo dos estu-dantes da graduação, ao reunir os resumos de suas pesquisas e divulgá-los para toda a comunidade jurídica.

Outra iniciativa inovadora dessa Co-

ordenação foi convidar os palestrantes da Semana Cultural, realizada, com gran-de destaque, pela primeira vez esse ano, para publicar suas palestras na segunda edição da Res Severa Verum Gaudium, que está por vir. Desse modo, esse importan-te evento ficará documentado.

Conheça a revista e tenha acesso aos trabalhos através do site www.ufrgs.br/ressevera. Participe dessa construção, envie você também seu artigo para publicação.

Artigos publicados na última edição:

SUBSTITUTIVOS PENAIS NA ERA DO GRANDE ENCARCERAMENTOSalo de Carvalho

A TUTELA JURÍDICA DO PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIROChiavelli Facenda Falavigno

A PRIVATIZAÇÃO DOS PRESÍDIOS COMO ALTERNATIVA AO CAOS PRISIONALFábio Maia Ostermann

A DIRETIVA DO RETORNO NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS MIGRATÓRIAS CONTEMPORÂNEASAna Paula da Cunha

O MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO: DA LACUNA NO DI-REITO POSITIVO À SEGURANÇA JURÍDICA Nathalie Kuczura NedelTatiana Dibi Schvarcz

O CONTRATO DE MANDATO COMO PROCESSO: Ensaio sobre o princí-pio da boa-fé objetiva e sua apli-cação no contrato de mandato do Código Civil de 2002Bruno Hermes Leal

O PENSAMENTO DE JAMES BOYD WHITE E A LINGUAGEM COMO O CERNE DA ATIVIDADE JURÍDICALaila Maia Galvão

OS DIREITOS SEXUAIS MEDIANTE O DIÁLOGO COM OS DIREITOS HUMANOS: DESAFIOS E PERSPEC-TIVASLuana Borba Iserhard

Conselho Administrativo da revista Res Severa Verum Gaudium em 2009

O site da Revista foi inaugurado durante a cerimônia de lançamento, que lotou a Biblioteca da Faculdade de Direito em setembro de 2009

O lançamento da revista científica dos estudantes de Direito da UFRGS marca con-quista histórica por parte do CAAR

Gestão Concretizando Ideias publica a 1ª edição do Livro de Re-sumos do Salão de Iniciação Científica da Faculdade de Direito

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A TOGA - Dezembro de 2010

• MARCO AURÉLIO MOREIRA DE OLIVEIRAProfessor e desembargador aposentado

5

Aplicação da lei da ficha limpa divide STF e opiniõesCONTRAPONTO

No dia 27 de outubro deste ano de 2010, o Supremo Tribunal Federal julgou recurso interposto por político eleito para o Senado da República em que postulava o reconhecimen-to da inaplicabilidade, para as eleições deste ano, da Lei Com-plementar nº 135 que inovava matérias referentes a casos de inelegibilidade de candidatos a postos eletivos.

A decisão de nossa corte maior, destinada a reconhecer matéria constitucional, aca-bou com igualdade de votos conflitantes, cinco a cinco, pois a décima primeira vaga do Supremo não estava preenchi-da, como cabia, por indicação do Sr. Presidente da República, disso decorrente o empate nos dez votos proferidos. Assim, o STF não decidiu nem a favor nem contra a aplicabilidade dessa lei complementar. Após a proclamação do resultado, entendeu a maioria, ante a falta de solução no seio do STF, manter a decisão do TSE que, por maioria, acolhera a apli-cabilidade da lei nas eleições deste ano.A posição pela inaplicabilidade da Lei Complementar nº 135 decorria do disposto no art. 16 da Constituição Federal que determinava a aplicabilidade de lei nova apenas para eleições que se ferissem além de um ano, contado de sua entrada em vigor. Assim, decidiram cinco ministros do Supremo, por entenderem vigente esse período (a lei vigorara a contar do dia 6/06/2010), pois inci-dia, no caso, a condição de a lei nova “alterar o processo elei-toral”. Sem dúvida, em nosso entendimento, a referida lei complementar alterava profun-

damente o processo eleitoral, dispondo sobre novos casos de inelegibilidade, bem como por haver alterado, para mais, prazos de inelegibilidade. Ademais, a Lei Complementar nº 95 já dispunha sobre a necessidade de serem as leis especiais submetidas a um maior prazo de vacatio, a fim de se permitir um tempo razoá-vel para o exame de suas condições de validade.

Além disso, o fato sobre o qual se discutia a restrição imposta pela lei nova (ocorrido no longínquo ano de 2001), não apresentava nenhuma ilicitude ao tempo de seu “cometimento”, não podendo, pois, em relação ao fato velho incidir norma nova, qualificada como restritiva de direito; notadamente, em se tratando de direito de cidadania, a restrição não prevista ao tempo do fato não podia aplicar-se retroativamente. As restrições a direitos de cidadãos são incompatíveis com a principiologia de nossa Constituição, pois afetam o direito à segurança jurídica.

O argumento de que a lei fora aprovada em decorrência de iniciativa popular, pois participou da proposta legislativa mais de um milhão e oitocen-tas mil pessoas, em nada pode validar uma lei com vício de inconstitucio-nalidade. Se a iniciativa popular fosse bastante para sanar uma lei, bastaria que se imaginasse essa iniciativa em favor da pena de morte, da prisão perpétua ou de abolição da norma proibitiva de tortura. Toda e qualquer lei, sobre a qual se argua inconstitucionalidade, deve ser submeti-da, no sistema de exame concentrado de constitucionalidade, ao julgamento por nosso Tribunal Constitucional.

Lei da denominada ficha limpa ou ficha suja

Com respeito à denominada Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar nº 135 de 04/06/10, que alterou a Lei Comple-mentar nº 64 de 18/05/90, a chamada Lei das Inelegibilidades), parece ter final-mente prevalecido o interesse público à moralidade eleitoral.

Antes de tudo, o STF afirmou, por larga maioria, a constitucionalidade das alterações introduzidas pela nova lei. Dividiu-se o Pleno, entretanto e sobretu-do, com relação à constitucionalidade ou não da aplicação da lei já nas eleições de 2010 e também para casos pretéritos, ou seja, para fatos ocorridos anteriormente à sua promulgação. Em face do empate na deliberação do STF, passou a prevalecer, pelo momento, a convicção majoritária do TSE, exatamente pela constitucionalidade da aplicação da lei em ambas as hipóteses.

Mesmo antes da decisão judicial, a Lei da Ficha Limpa já vinha produzin-do efeitos. Muitos possíveis candidatos haviam pura e simplesmente desistido da disputa eleitoral, em consequência do novo regramento. Mesmo também que a decisão tivesse sido adversa com relação a sua aplicação imediata e a fatos pretéritos, a lei já representaria um grande avanço institucional.

Era de se esperar que os partidos políticos exercessem um efetivo papel de seleção qualificada de seus candidatos a cargos eletivos. Dispensando, assim, a necessidade de uma legislação restritiva. A omissão dos partidos nesse particular levou, em grande parte, à inevitabilidade da lei. Chame-se a atenção, porém, para o fato de ter se tratado de um projeto de lei de iniciativa popular, nos termos de pre-visão constitucional (Artigo 61, “caput” e § 2º). Esse mecanismo de democracia direta, de participação popular cidadã, favoreceu a aprovação da lei, em face das resistências corporativas.

Nas últimas décadas, des-de a redemocratização, houve inúmeros avanços: antes de tudo a estabilidade democrá-tica ou, finalmente, a conso-lidação democrática; também a estabilidade econômica, outorgando maior previsibili-dade ao processo econômico e favorecendo os investimentos. Em decorrência da estabili-dade econômica, passaram a fazer parte da agenda política projetos de desenvolvimento, seja no âmbito nacional seja no plano regional. Um grande avanço está representado pelo fato de a agenda social ter sido definitivamente incorporada em nossa realidade. Fica ainda em aberto a equação ambiental, como problema a ser efetiva-mente enfrentado.

Talvez um dos proble-mas mais persistentes e que dificultam ou impedem nossa maioridade como nação mo-derna e civilizada seja o “déficit republicano”. Não só a cor-rupção, mas também a incúria e a ineficiência na utilização dos recursos públicos, que comprometem a agenda social e, em grande parte, hipotecam nosso futuro, além de atingirem as bases da sociabilidade. A de-nominada Lei da Ficha Limpa pode seguramente contribuir para a superação do “déficit republicano”.

• EDUARDO K. M. CARRION

Em defesa da ficha limpa

Professor Titular de Direito Constitucional e ex-diretor da Faculdade de Direito da UFRGS

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A TOGA - Dezembro de 2010

• THIAGO AGUIAR SIMIM

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Interstícios: MOVIMENTO ESTUDANTIL

Algumas das atuais rela-ções entre os movimentos es-tudantis e os partidos políticos criaram um problema nas fi-nalidades e na atuação do mo-vimento estudantil. O artigo pretende analisar este problema através da nuance criada nos espaços que tradicionalmente são ocupados pelo movimen-to estudantil na esfera pública. Partir-se-á da análise dos movi-mentos estudantil enquanto um movimento social, para traçar de forma geral a sua configu-ração e papel na esfera pública.

O conceito de movimento social está em constante deba-te, mas, para que se tenha uma compreensão geral do que se trata, é importante evocar as definições de alguns autores. Maria da Glória Gohn defi-ne movimentos sociais como ações sociopolíticas cons-truídas por atores coletivos de diferentes classes sociais, numa conjuntura específica de relações de força na so-ciedade civil (GOHN, 2004). Para Ilse Scherer-Warren os movimentos sociais ainda po-dem ser definidos como ação grupal para a transformação, voltada para a realização dos mesmos objetivos, sob orien-tação mais ou menos cons-ciente de princípios valorati-vos comuns (ideologia) e sob a organização diretiva mais ou menos definida (a organização e sua direção) (GOHN, 2004). Friedmann define movimento social a partir do conceito de auto-organização e da busca da emancipação. Já para Alain Touraine “os movimentos so-ciais pertencem aos processos pelos quais uma sociedade cria a sua organização a partir do seu sistema de ação histórica, através dos conflitos de clas-se e dos acordos políticos” (BOBBIO, 1998, p. 789). O dicionário de política de Nor-berto Bobbio, Nicola Mat-teucci e Ginfranco Pasquino traz uma definição razoável para os movimentos sociais:

[O]s comportamentos coletivos e os movimentos sociais consti-tuem tentativas, fundadas num conjunto de valores comuns, des-tinadas a definir as formas de ação social e a influir nos seus resulta-dos. Comportamentos coletivos e Movimentos sociais se distin-guem pelo grau e pelo tipo de mu-dança que pretendem provocar no sistema, e pelos valores e nível de integração que lhes são intrín-secos (BOBBIO, 1998, p.789).

Referências

Pensando na idéia de que os movimentos sociais devem ter identidade, um problema co-mum e um projeto, a identidade que haveria no movimento es-tudantil é a própria condição de estudante, seja no movimento secundarista ou os de universi-dades, seja daqueles que repre-sentam um especifico grupo de estudante em determinada região – como são os Centros Acadêmicos – ou daqueles que representam os estudantes dos mais diversos cursos em um ter-ritório vasto – como é a União Nacional dos Estudantes.

Essa identidade pautada na condição de estudante é que traz demandas comuns tanto dentro da estrutura das insti-tuições de ensino, quanto fora dela. As escolas e universidades nunca foram os limites da atu-ação dos movimentos estudan-tis, que se envolve em diversas causas e tensões sociais ligadas à luta pela democracia, por exemplo, como ocorreu no fim do regime de ditadura militar no Brasil, na década de 80. Em 1992 houve uma ampla atuação do estudante e do movimento estudantil no processo de im-peachment do então presiden-te Fernando Collor. A atuação política estudantil não acabou, mas se voltou a questões mais pontuais e a problemas locais.

Os movimentos sociais têm em vista a emancipação, são sustentados por uma cole-

tividade autônoma e se ligam objetivos particularistas. Já a política partidária têm em vista a representação, atuam no ins-titucionalismo estatal, devendo praticar uma política universa-lista1. Entre partidos políticos e movimentos sociais o ideal, por-tanto, é que haja uma distância.

Fato é que hoje o que há é uma grande aproximação dos movimentos estudantis aos partidos políticos, principal-mente nos movimentos mais amplos de representação es-tudantil – Diretórios Centrais, Uniões Estatuais de Estudan-tes e a própria União Nacional dos Estudantes. E essa apro-ximação traz os problemas que serão apontados abaixo.

Os movimentos sociais po-dem levantar as mesmas bandei-ras e combater os mesmo pro-blemas que os partidos políticos, mas os meios utilizados devem ser distintos. A finalidade de um partido político é adentrar na estrutura do poder estatal, alcançando seus objetivos pela implementação de políticas, pla-nos de governo, pela atividade legislativa e outras formas que constituem o governo. Eles al-mejam, portanto, participar da tomada de decisões políticas.

Por outro lado, os movi-mentos sociais têm objetivos específicos ligados à sua luta, mas que se situam sempre em oposição ao Estado ou a uma si-tuação social. “O projeto de um movimento social não se define pelo horizonte para onde avan-

ça, mas pela sua capacidade de repelir toda a ordem social e de ser o instrumento das dialéticas da ação histórica.” (TOURAI-NE, 1975 apud BOBBIO, 1998, p.790). Ele exerce seu papel sem ultrapassar a fronteira que há entre a periferia e o centro da esfera pública. Os movimentos sociais, estando na periferia do poder político, têm como papel a produção de debates, opini-ões e a reivindicação, trazendo uma tensão, mas não atuam na decisão política. São para Ni-klas Luhmann como “os cães que latem”. Sobre a esfera pú-blica tem-se a seguinte noção:

Habermas define tal esfera (pú-blica) como uma rede comuni-cativa que é formada por – ao mesmo tempo que possibilita – um cruzamento de discursos justificados por razões. Trata-se de uma instância de choque de argumentos em público, sendo que a publicidade deve garantir não apenas a circulação desses argumentos, mas também o seu escrutínio de modo que prevale-ça a força do melhor argumento. Concretizada em várias arenas temáticas que se atravessam, a es-fera pública é o locus em que se processa o bem comum e o escla-recimento recíproco dos cidadãos (MENDONÇA, 2007, p.131).

A decisão política é realiza-da no centro da esfera pública, pelo agentes do governo, sendo o principal objetivo de um par-tido político a participação nes-se processo de decisão. A noção desses fluxos entre o centro e a periferia, que se remete a uma concepção habermasiana, mos-tra que essa comunicação deve haver, mas a tendência é que o centro se feche, para que a deci-são ocorra com mais facilidade e sem percepção da produção de demanda da periferia. O flu-xo entre periferia e centro do poder sofre restrição também quando há esse relacionamen-to estreito entre os movimen-tos e os partidos. Substitui-se o fluxo por uma continuidade.

AZEVEDO, Paulo Roberto. A Democracia Comunicativa: uma exposição da idéia de democracia em Jürgen Habermas a partir da análise dos volumes da obra ‘Direito e De-

mocracia, entre facticidade e a validade’. In: Tempo da Ciência (14) 27:135-156, 2007.BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nico-la; PASQUINO, Ginfranco. Dicionário de

Política. 11°ed. Brasília: Editora UNB, 1998.GOHN, Maria da Glória. Teo-ria dos movimentos sociais: paradig-mas clássicos e contemporâneos. 4°ed.

São Paulo: Edições Loyola, 2004.GOSS, Karine Pereira; PRUDEN-CIO, Kelly. O conceito de movimen-tos sociais revisitado. In: Revista Ele

movimentos estudantis e partidos políticos

Acadêmico do 10º semestre de Direito da UFMG e bolsista FAPEMIG de iniciação científica

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Este é o primeiro interstí-cio que se pretende apontar: o espaço vazio que deveria haver entre os partidos políticos e os movimentos estudantis. Esse espaço é preenchido pela rela-ção promiscua entre eles e faz com que não exista, entre cen-tro e periferia, uma desconti-nuidade necessária para o fun-cionamento e processamento das opiniões e das decisões. A fundo cria-se de um problema na distinção entre Estado e So-ciedade Civil – não na concep-ção tradicional de que o Estado está na esfera pública e a Socie-dade Civil está na esfera priva-da, mas na compreensão de que a Sociedade Civil também par-ticipa da esfera pública, na for-

ma dos fluxos de comunicação entre centro e periferia, como já comentado acima. Esse proble-ma criado na distinção entre es-ses dois lados da esfera pública acontece justamente por causa do vício na intermediação rea-lizada pelos partidos políticos.

A atuação do movimento estudantil como uma antítese deixa de existir e, em lugar de uma síntese, tem-se a supres-são de uma demanda social pela vontade e projeto de um par-tido político. Os movimentos estudantis que se relacionam nessa intensidade com os par-tidos políticos já não se impor-tam mais com o segmento que representa, pois se tornaram um braço do próprio partido.

Essas relações são per-meadas normalmente, por tro-cas de favores: para o partido trata-se de uma maneira de an-gariar pessoal e votos em seu benefício e para os movimen-tos estudantis é uma maneira de conseguir financiamentos e verbas, normalmente desviadas das finalidades a que se prestam esses movimentos, mas que tra-zem benefícios diretamente aos atores deles. A troca de favores,

na verdade, é entre os partidos políticos e os atores dos movi-mentos estudantis, pois os mo-vimentos propriamente ditos se tornam somente um instru-mento na mão desses partidos.

Assim aparece o segundo interstício aqui apontado, o que não deveria haver, qual seja: o intervalo que se abre na repre-sentação dos movimentos estu-dantis. A relação viciada entre eles e os partidos políticos leva a uma distância entre os inte-resses do segmento estudantil e a real atuação dos movimen-tos através de seus atores. Eles passam a se atrelar aos objetivos pessoais e dos partidos políti-cos, deixando de lado a repre-sentação estudantil. O prejuízo ocorre inclusive na atuação do movimento estudantil nas ques-tões internas das instituições de ensino. Os interesses estudantis não chegam à esfera pública, que é o locus do discurso pú-blico, pois quem deveria repre-sentá-los no debate não está vinculado àqueles objetivos.

O problema aqui aponta-do ocorre principalmente em razão da percepção pelos par-tidos políticos das lideranças carismáticas nos movimentos estudantis. Os partidos tentam se apropriar dessas lideranças carismáticas ou construí-las nos movimentos estudantis, dando a elas um cargo ou a possibilidade de vida política no partido em troca dos votos que aquela liderança carismáti-ca pode trazer, juntamente com

a possibilidade de utilizar do movimento como extensão de sua atuação política partidária.

A cooptação que ocorre nos movimentos estudantis pe-los partidos políticos traz para a discussão a questão da liderança carismática, como um proble-ma central. Esse problema da liderança carismática existe em menor escala no movimento estudantil, até mesmo pela rota-tividade que há dos seus atores, mas não deixa de ser um proble-ma da estrutura do movimento. A liderança leva, por vezes, ao deslumbramento com o poder e torna o movimento um alvo fácil de cooptação. Este é um dos desafios atuais dos movi-mentos sociais como um todo.

Deve-se admitir que o des-vio dos objetivos dos represen-tados em relação às ações do representante é um problema da própria representação – seja ela vista como delegação, como uma relação de confiança ou até mesmo como um espelho da vontade dos representados – e tem relação também com a institucionalização do movi-mento social. Mas esse é outro desafio que também não diz respeito somente aos movimen-tos estudantis, mas de todos os movimentos sociais institucio-nalizados: a solução deve vir de dentro dos próprios movimen-tos, a partir de uma mudança estrutural que vise, entre outras coisas, relações mais democráti-cas entre eles, para que o movi-mento não tenha a cara somen-te de um ou poucos indivíduos.

É em razão dessa lideran-ça que aparece o ultimo inters-tício aqui apontado: o da visão de que o movimento estudantil é o intervalo, ou a escada para se chegar a uma vida política. Como se do início da atuação

A TOGA - Dezembro de 2010 7

no movimento estudantil até a entrada na vida política ligada aos partidos políticos houves-se apenas um lapso temporal. A atuação no movimento es-tudantil seria um degrau da es-cada para se chegar à política. O interstício nesse caso é o próprio movimento estudantil.

Justamente porque os par-tidos políticos se utilizam dos movimentos estudantis como estratégia política é que muitos vêem neles uma porta aberta de entrada para os partidos políti-cos e, por conseguinte, para a estrutura estatal. Não convêm aqui, citar os exemplos de polí-ticos que se utilizaram dos mo-vimentos estudantis em prol de um partido político ou para a promoção de sua imagem pes-soal, adentrando posteriormen-te em uma vida pública, através de cargos eletivos ou não. Isso ocorreu e até hoje ocorre com freqüência, o que trouxe uma visão pejorativa do atores que atuam no movimento estudantil.

Concluindo, a utilização dos movimentos estudantis pelos partidos políticos como estratégia de se angariar votos acaba com um espaço que há entre um e outro, que deveria ser vago, mas é completado nes-sa proximidade. Retira-se, pois, um interstício que deveria haver entre movimentos estudantis e partidos políticos, quando se acaba com essa distância e uma relação estreita é criada, o que confunde inclusive a atua-ção de um com a de outro nos seus diferentes modos de agir: o movimento estudantil parece um representante do partido político no lugar em que atua, seja pelo financiamento que recebe, seja pelas trocas de fa-vores políticos. Ao mesmo tem-po, cria-se um interstício, um espaço vago na representação estudantil, que não deveria ha-ver tendo em vista o sentido do instituto da representação. E, por fim, o movimento social se torna o próprio interstício para a entrada no centro do poder.

trônica dos Pós-Graduandos em So-ciologia Política da UFSC, vol. 2, nº 1 (2), janeiro-julho 2004, p. 75-91.MENDES JÚNIOR, Antônio. Mo-

vimento estudantil no Brasil. 2° ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.MENDONÇA, Ricardo Fabrino. Mo-vimentos sociais como acontecimen-

tos: linguagem e espaço público. In: Lua Nova, São Paulo, 72: 115-142, 2007.REPOLÊS, Maria Fernanda. Ha-bermas e a desobediência civil. Belo

Horizonte: Mandamentos, 2003.SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-mo-dernidade. 12° Ed. São Paulo: Cortez, 2008.

SCHERER-WARREN, Ilse; KRISCHKE, Paulo J.(orgs). Uma revolução no cotidiano? Os novos movimentos sociais na América Latina. São Paulo: Editora brasiliense, 1987.

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ESPECIAL

História para contar• NATHALIA BEDUHN SCHNEIDERAcadêmica do 3º ano manhã

O prédio em que hoje assistimos às aulas do curso de Ciências Jurídicas e Sociais da UFRGS foi inspirado no Pa-lais du Rhin, casa de verão do Imperador Guilherme II da Alemanha, da cidade de Estras-burgo, França. Sua construção teve início em 13 de junho de 1908; dois anos e um mês depois, em 15 de julho de 1910, teve sua obra concluída, quando seu engenheiro responsável, Rodolpho Ahrons, entregou o prédio pronto para o funciona-mento da Faculdade.

Até então, as aulas da Fa-culdade Livre de Direito eram lecionadas em salas cedidas pelo Estado, na antiga Escola Normal, Liceu Dom Afonso, na esquina da Rua Duque de Caxias com a Rua Marechal Flo-riano. Com grande incentivo do diretor da época, Manoel André da Rocha, para a construção de sede própria, a Faculdade estava, agora, em sua casa para sempre.

O prédio, que foi pago com auxílios, doações e parti-cipação dos professores com parte de seus vencimentos, foi construído em terrenos cedidos pelo Estado. Todo o espaço re-querido tinha como destino não

apenas um prédio com salas de aula e com biblioteca, mas também um espaço para co-modidade e recreio dos alunos, bem como para o jardim.

De 1910 a 1985, o prédio sofreu aumentos complemen-tares e obras de conservação, como a substituição de todo o telhado e a repintura interna de todo o prédio, em 1919. A ampliação do prédio, estenden-do a construção para o lado leste, onde encontramos hoje o Salão Nobre e a Biblioteca, foi planejada e construída em 1951.

A partir de 1954, o “Cas-telinho” foi remodelado. Em 1959, foram inaugurados, na parte térrea, o espaço do Centro Acadêmico André da Rocha, o Bar e as salas do SAJU.

Em 2000, houve a restau-ração das pinturas decorativas dos tetos e paredes internas e dos vitrais. Em 2002, com a lei 8.313/91 – que institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) –, e a Lei de Incentivo à Cultura do RS, foi iniciada a restauração completa da “Casa do Velho André”, finalizada em 2005.

Primo francês (ou alemão?)

Herança prussiana da época em que a atual Alemanha dominou a re-gião da Alsácia-Lorena, o Kaiserpalast (Palácio do Kaiser) têm história. Foi concluído em 1888 para abrigar o imperador alemão Guilherme II, serviu de hospital militar na I Guerra Mundial,

mudou de nacionalida-de após o Tratado de Versalhes, ganhando o nome francês Palais du Rhin (Palácio do Reno), para finalmente servir de escritório da Comissão Central de Navegação no Reno, função que exerce no momento.

João Pessoa, nº 80, Porto Alegre, Brasil Place de la République, nº 2, Estrasburgo.

“No princípio dos anos 60 estava eu com o segundo grau completo no Júlio de Castilhos e deveria fazer um vestibular. Como venho de família de pro-fessores e de leitores, escolhi o Curso de Letras Neolatinas da en-tão URGS. Fatalmente seria pro-fessor. A única possibilidade era realizar junto com o vestibular de Letras e o de Direito, pois a banca e os conteúdos eram os mesmos. Num terrível verão lá ia eu de fa-tiota completa e gravata também. Alguns milhares de candidatos se aglomeravam em uma sala sem ventilador. Literatura, língua portuguesa, francês e inglês não me assustavam. MAS (com letras maiúsculas) era o Latim com El-pídio Ferreira Paes, já quase mito-lógico pela exigência nos exames. As provas eram escritas e orais,

presa maior me aguardaria. O nível dos professores. Todos eram sumidades jurídica, cul-turais e filosóficas. O escritor consagrado Darcy Azambuja dava aula com uma humilda-de impressionante. Leitão de Abreu com toda sua sapiência jurídica esta sempre acessível. Elpídio Paes era o terror dos alunos, no direto romano as leis eram escritas no quadro--negro em latim e com uma caligrafia que data de século de Augusto. Edgar Schneider

no curso de finan-ças tratava os alu-nos como iguais, Ruy Cirne Lima e seu charuto eter-namente apagado pontificava, e por fim, na filosofia

do direito, Armando Câmara, que perguntava aos alunos em língua que queriam a aula: la-tim alemão, francês ou inglês.

Todos estes professores eram o que se ainda diz hoje sumidades. Todos donos de um saber enciclopédico, com livros publicados e atuantes políticos no Estado. Se não me tornei um advogado é que ser professor tinha um apelo mais alto, mas convivi com o fim de uma época onde os professores sabiam tudo. E é neles que me espelhei para ser durante 40 anos profes-sor. Acertei na escolha. Não podia querer o mundo, fiquei com a literatura. Os professo-res da Faculdade de Direito me mostraram o caminho: De um pouco entendas tudo.”

Tatata PimentelAluno de 1960 a 1964Comunicador e professor, apresenta o programa “Gente da noite”

estas “face to face” com o arguidor. Uma tradução sem dicionário deveria ser feita pelo candidato de uma passagem da Eneida de Virgílio, e para a literatura latina, um ponto sorteado com cartões ensebados e numerados retirados de um saquinho mais ensebado ainda. Depois da tradução me veio a literatura Ovídio, o autor que eu mais havia lido e que conhecia mui-to. Aprovação. Festa com

os colegas do Júlio. Aulas começam em um ambien-te assustador, um pé direi-to imenso e, nas paredes, quadros de formatura dos últimos 50 anos. Todas as alegorias possíveis fundi-das em bronze: A Justiça de olhos sempre vendados, Fé, Esperança, Caridade e outras crendices maiores.

Nunca havia eu pen-sado em carreira jurídica, não havia nenhum advo-gado sequer na família nos últimos cem anos. O que era um curso de Direito? Eu estava ali para ter uma chance de entrar na Uni-versidade. De guloso passei nos dois vestibulares e a fa-mília exigiu que cursasse as duas faculdades. Uma sur-

“Aulas começam em um ambiente assustador, um pé direito imenso e, nas paredes, quadros de formaturas dos últimos 50 anos”

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Por fora, a construção que abriga a Faculda-de de Direito da UFRGS é a mesma, hoje mais discreta atrás de árvores crescidas. Por dentro, mudanças percorreram os corredores com as cerca de 100 turmas de estudantes, desde 1910.

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A TOGA - Dezembro de 2010 9

“Entrei na Faculda-de de Direito da UFRGS em 1960, no primeiro ves-tibular que fiz. Comigo ingressaram muitos tra-dicionalistas, colegas que vinham da Campanha, do interior do Estado. Com-panheiros de bombacha. Foi a partir desse encon-tro que tive a ideia de criar, no porão da Faculdade, onde ficava o Centro Aca-dêmico André da Rocha, um CTG, que chamamos de CTG Galpão Universi-tário. Lá tivemos reuniões belíssimas, em que foram discutidas teses importan-tes para o tradicionalismo. Acima de tudo, porém, eram tardes de canção e poesia entre amigos. Che-guei a ensaiar muito por lá. Entre os participantes, estava o professor Darcy de Azambuja, nosso ído-lo, amigo e padrinho do CTG. Até o reitor da Universidade, Dr. Eliseu Paglioli, comparecia para tomar cachaça e conversar

com a gente. O CTG se tornou tão im-

portante na época, tão famoso,

que conseguimos realizar, no Salão de Atos da Reitoria, o 2º Congresso Internacional de Tradicionalismo, em 1962. Vie-ram a Porto Alegre grandes no-mes, companheiros da Argenti-na, do Uruguai, CTGs de todo o Brasil e, é claro, de todo o Rio Grande do Sul. As prendas mais bonitas foram duas das nossas colegas de turma do Direito. Esse evento ficou na memória daqueles alunos que fizeram com que ele acontecesse, mas as nossas reuniões mesmo, de todos os dias, aconteciam no porão dessa Faculdade. Tempos maravilhosos aqueles.”

Nico Fagundes

Aluno de 1960 a 1965 Poeta e compositor tradicionalista, apresenta o Galpão Crioulo

O período em que estu-dei na Faculdade de Direito da UFRGS coincidiu com o auge da ditadura militar, que come-çou com o golpe militar de 64. Era um período extremamente difícil, porque havia se institu-cionalizado uma violência de estado, onde todos os opo-nentes do regime, todos que criticavam a quebra da ordem constitucional, eram conside-rados inimigos, e não apenas adversários.

Havia os que se opunham ao regime mediante palavras (mas não havia liberdade de expressão); outro resolveram se opor mediante a luta arma-da. Estes eram alguns poucos, porque o próprio presidente deposto – e esta Faculdade teve dois ex-alunos presiden-tes depostos (Getúlio Vargas e João Goulart) –, Jango, havia pedido publicamente que não houvesse resistência armada.

Além disso, é preciso con-vir que a maioria da população era a favor do golpe militar, porque temia o que nós chamá-vamos de “reformas de base”.

Essas reformas de base, se tivessem sido feitas à época, teriam como resultado um país diferente daquele que nos foi entregue em 85, mais precisamente em 88 (uma vez que estes períodos se contam por Constituições), que se caracterizava pela corrupção, pelo empreguis-mo (basta dizer que Paulo Maluf era o candidato da ARENA), por uma inflação incontrolável, dívida externa impagável e uma desigualda-de social inencontrável em outros países do mundo ci-vilizado.

Os períodos mais vio-lentos da repressão política se verificaram justamente em 64 (com o Ato Institu-cional nº 1) e em 68 (com o

Ato Institucional nº 5), que fechara o Congresso Nacio-nal, entre outras incontáveis arbitrariedades. Foi nesse clima de completa escuridão

Aluno de 1965 a 1970Direito da Faculdade de Direito da UFRGS

Pichações na fachada da Faculdade de Direito evidenciam ebulição política durante o ano de 1986, período imediatamente após o final da ditadura militar, em que foram conduzidas eleições para governadores, deputados estaduais e deputados federais constituintes, estes últimos responsáveis pela elaboração da Constituição de 1988.

que nós, estudantes da turma de 1970, aqui vivemos durante 5 anos.

No campo jurídico pro-priamente dito (por razões óbvias), prevalecia a Teoria Pura do Direito de Kelsen, que reduzia os estudos jurí-dicos à análise das normas jurídicas, independentemente de suas razões históricas e de sua valoração jurídica. Preva-lecia, também pelas mesmas razões, o que se chama de “a jurisprudência dos conceitos” ou Pandectística, que consiste na análise e na depuração dos conceitos jurídicos, de modo a aproximar o direito das ciên-cias físico-matemáticas.

Os expoentes desta dou-trina eram os autores alemães do século XIX e, entre nós,

resplendia a figura de Pontes de Mi-randa.

Com essa orientação predo-minante, toda a discussão política era naturalmente

afastada, independentemente da repressão.

O estudo do direito era puramente normativo, sem nenhuma análise crítica.

“(...) tive a ideia de criar, onde ficava o Centro Acadêmico André da Rocha, um CTG, que chamamos de CTG Galpão Uni-versitário”

Ditadura militar: “Foi nesse clima de completa escuridão que nós, estudantes da turma de 1970, aqui vivemos durante 5 anos”.

Se as paredes falassem...

Sérgio José Porto

Estacionamento da Faculdade de Direito na decáda de 80, em frente à atual entrada mais utilizada.

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A TOGA - Dezembro de 201010

ESPECIAL

Espaço do CAAR já foi bem diferente. Na foto acima, uma porta o separa do pátio; à direita, a porta deu lugar a uma janela.

Aluno de 2002 a 2006Advogado, mestrando em Direito Privado pelo PPGD/UFRGS, ex-presidente do CAAR na gestão de 2006

Vitor Lourenço Simão Castro

Prédio passou por reformas ao longo dos anos

A reforma do prédio his-tórico da Faculdade de Direito era uma necessidade vislumbra-da há algum tempo e realizada após a obtenção do patrocínio necessário através da campanha de resgate do patrimônio histó-rico da UFRGS. Em que pese a elaboração do projeto original de reforma não ter contado com a participação dos estudantes, a pró-atividade destes foi essen-cial para que não fossem per-didos espaços conquistados há décadas. Isso porque, no proje-to original apresentado ao final do ano de 2003 pela Comissão de Reforma – já aprovado para execução – havia previsão de redução do espaço do SAJU à metade (pois a outra metade seria destinada à construção de banheiros para os funcioná-rios), bem como a retirada de uma das salas de aula (e, conse-quentemente, de uma turma em cada turno) do prédio histórico, a fim de privilegiar os cursos pa-gos e a burocracia universitária. À época, a grande mobilização dos estudantes para não perder esses espaços foi determinante para a modificação do projeto original de reforma, resultando na execução do projeto com as modificações sugeridas e hoje conhecidas por todos.

A execução da reforma teve início em 2004, com obras de recuperação estrutural e da fachada do prédio ao longo do primeiro semestre. No segundo semestre do mesmo ano, foi ne-cessário o deslocamento de to-dos os estudantes para salas fora do prédio histórico. Aliás, não só as turmas saíram do prédio, como também o antigo bar (no espaço que hoje é ocupado pela Biblioteca da ONU) e o SAJU, que passou a utilizar o espaço junto ao Posto do JEC na Fa-culdade de Economia; a biblio-teca permaneceu fechada (!); e a secretaria e os departamentos passaram a (realmente) funcio-

nar na Sala Alberto Pasqualini. As aulas foram ministradas nas minúsculas salas localizadas no antigo prédio da Escola Técni-ca, que ficava atrás da Faculda-de de Economia e foi recente-mente derrubado, bem como

no Anexo I da Reitoria e na cúpula do Instituto Parobé, onde funciona a Faculdade de Engenharia Mecânica. É bem verda-de que, ante a precarie-dade das estruturas, não raras vezes víamos aulas nos corredores do pré-dio da Escola Técnica, ou no pátio da Faculdade de Direito; algumas provas eram aplicadas no Salão Nobre, pois era o único local em que se podia alo-car uma turma completa.

No primeiro semes-tre de 2005, o prédio foi devolvido aos estudan-

tes e à comunidade, ainda sem a abertura da biblioteca (o que ocorreu apenas após mais de 1 ano de seu fechamento – e que foi devidamente co-memorado na oca-sião). No entanto, o retorno ao prédio demonstrou que tão

somente a estrutura ha-via sido reformada, pois a história da centenária faculdade – e seus conhe-cidos problemas – con-tinuam na memória de todos...

“(...) havia a previsão de redução do espaço do SAJU à metade (pois a outra seria destinada à construção de banheiros para os funcionários), bem como a retirada de uma das salas de aula”

O bar, hoje com entrada embaixo da escada que dá acesso ao primeiro andar, estava localizado no atual espaço da Biblioteca da ONU

No alto da Avenida Paulista, con-siderada um dos principais centros fi-nanceiros do mundo, Fausto de Sanctis julga polêmicos crimes do colarinho branco e de lavagem de dinheiro. De Sanctis, juiz da 6ª Vara Criminal Fede-ral de São Paulo, foi responsável pelas prisões do banqueiro Edemar Cid Fer-reira, do empresário Ricardo Mansur e do traficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadia; também participou como magistrado da Operação Cas-telo de Areia e da MSI/Corinthians. Nesse contexto, o grande destaque na imprensa nacional deve-se à Operação Satiagraha, em que decretou duas vezes a prisão do banqueiro Daniel Dantas e não se subordinou à ordem do então Presidente da Corte Suprema, Ministro Gilmar Mendes.

Num país com um sentimento de impunidade à flor da pele no que diz respeito à prisão de pessoas ricas e influentes, a doce vontade de trocar o Rolex de um operador financeiro ou de um político corrupto por um par de

algemas pode nos proporcionar uma satisfação imediata de justiça, mas temos de considerar sempre as vias da legalidade para a apu-ração dos fatos que conduzirão ao julgamento do caso. Boa parte da opinião pública brasileira ad-mirou a firme e corajosa atuação de De Sanctis em processos de grande repercussão. No entanto, a completa adesão do magistrado às apurações policiais, forjando a figura do “juiz-investigador”, e o descumprimento de decisão do STF provocaram questionamen-tos a respeito da imparcialidade de algumas decisões. Possíveis divergências não excluem a im-portância de Fausto de Sanctis no atual cenário jurídico do Brasil, pois seus posicionamentos recru-desceram o debate a respeito da independência do Judiciário e do papel do juiz em casos com um amplo impacto na sociedade bra-sileira.

Qual o seu conceito de justiça?Acredito que justiça seja bom-senso. É a capacidade de vislumbrar com quem está a razão. Não basta a erudição, o apego à jurisdição e à doutrina, ou seja, o teorismo. Todos esses são elementos válidos, obviamente, mas a justiça só se faz com a sensibilidade dos fatos. Assim, justiça se referindo aos que são julgados pelo juiz que utiliza sua sensibilidade para saber com quem está a razão.

Por que o senhor considera que a investigação tradicional não é suficiente para combater crimes econômicos?Bom, não sou só eu quem considera. Existe uma compreensão mundial de que para combater a nova crimina-lidade – essa que se vale de recursos tecnológicos, de subterfúgios e pro-fissionais qualificados – não há como chegar a sua revelação apenas com o uso de um inquérito que foi utilizado no passado. Sendo assim, a utilização de técnicas especiais de investigação é recomendada mundialmente, pois sem eles não chegamos a lugar nenhum.

Quando o senhor diz que o seu objetivo é fazer história, o que tem em mente?Houve uma má compreensão da mídia sobre o que eu disse. Eu não quis falar nesse sentido egocêntrico. O que queria dizer é que cada pessoa tem um papel perante o seu núcleo comunitá-rio. Um pai, por exemplo, é importante à sua família, à sua vizinhança, aos seus colegas de trabalho, à unidade religiosa que ele eventualmente frequenta e

assim por diante. Ou seja, cada um tem um papel relevante para fazer uma sociedade melhor. Foi nesse sentido que eu falei que eu, na minha qualidade de juiz, tenho um papel relevante na história e para o aperfeiçoamento da comunidade.

O senhor considera a atuação do juiz (no chamado ativismo judicial) uma forma correta, segundo os princípios demo-cráticos, para correção de pro-blemas como a impunidade?Nunca refleti sobre essa questão específica. O que eu sei que exis-te é o juiz que trabalha. A atuação jurisdicional de um juiz que não é acomodado existe mesmo sem que se considere um ativismo judicial e, se assim é feita, acredito que ela exista mesmo sem extra-polar os limites constitucionais.

E esse ativismo, possui então uma função importante para corrigir a impunidade? Bom, é importante dizer o que diria a Hungria: “justiça de olhos vendados se transforma em um jogo de cabra-cega”. Então um juiz, enxerga, é uma pessoa e precisa tomar suas decisões de acordo com os fatos. O que não pode acontecer é um juiz inerte, de alma gélida e que não se indig-na com a realidade social. É pre-ciso agir e, ao fazê-lo, obviamen-te, estar dentro dos princípios democráticos constitucionais.

ENTREVISTA

Fausto de Sanctis• GUSTAVO SANSEVERINOAcadêmico do 1º ano manhã

Entrevista: Raíssa Nothaft (3M)Transcrição: Marcelo Azambuja (2M) e Thiago Calsa Nunes (4M)

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A TOGA - Dezembro de 2010 11

Semana cultural

• LUCAS DO NASCIMENTO

De 17 a 20 de agosto de 2010, ocorreu a Semana Cultu-ral da Faculdade de Direito da UFRGS: Tradição e Ruptura na Formação Política Brasileira, um evento organizado pelo Círcu-lo Universitário de Integração e Cultura da UFRGS (CUIC/UFRGS) e pelo Centro Acadê-mico André da Rocha (CAAR). Durante quatro noites, diversos temas foram abordados, dentre os quais: história política da Fa-culdade de Direito da UFRGS; figuras ilustres formadas pela Casa e sua trajetória na história do Brasil; Machado de Assis e suas análises sobre o Império e República brasileiros; Ray-mundo Faoro e sua vasta obra sobre o “estamento burocrá-tico”; Glauber Rocha, o Cine-ma Novo e o Golpe Militar de 1964; possibilidades da demo-cracia brasileira; papel político do Juiz no Estado Democrá-tico de Direito, dentre outros.

Neste pequeno texto, gos-taria de ressaltar a relevância de tal evento para o enriquecimen-to de nosso meio universitário. Sendo esta a primeira semana cultural já realizada na Faculda-de de Direito da UFRGS, cum-pre incitar os demais colegas a darem continuidade ao evento, consolidando a ruptura política alcançada com sua realização e reforçando uma nova e profícua tradição na Casa: a de promo-ver atividades interdisciplina-res pertinentes a um refletir e atuar cidadãos, para a comuni-dade universitária e sociedade.

Como um dos organizado-res, cabe escrever que a jornada foi longa, os meses de trabalho muitos. Penamos, passamos dias na frente do computador, ma-nhãs e noites em reunião, nos locomovemos como adoidados, conversamos com muitas pesso-as, criamos diversos contatos, al-gumas amizades, abrimos portas e demos primeiros passos para a (re)aproximação entre o Direito e os cursos de Graduação e Pós--Graduação em Letras, Ciência

Política, Sociologia, Cinema, História, Filosofia, ressaltamos o valor de nossa Faculdade, re-lembramos a importância que outrora o cenário jurídico repre-sentava em termos de personali-dades de atuação política regio-nal e nacional, refletimos muito sobre teoria política e acerca das possibilidades da democracia brasileira, mas, mais importante do que tudo, criamos uma outra realidade e novas perspectivas para aqueles que ingressaram há pouco na Faculdade de Di-reito da UFRGS, conforme era nosso objetivo. Onde estamos? Qual o nosso papel nesse topos?

Queiramos ou não, mais do que falar de política, fizemos política. Quebramos muralhas de um castelo que seria inex-pugnável, se não fosse a atuação e companheirismo de alunos protagonistas como o são os de Direito da UFRGS. Provocamos dores de cabeça, tiramos pes-soas da passividade, inovamos, demos início a uma tradição, tra-tamos de revolução glauberiana ou faoriana, e vivemos uma. O estamento burocrático brasileiro vigora, e muito, no seio univer-sitário, principalmente no meio jurídico e em uma Universidade Pública. Podemos ver e viver, dia a dia, o como esse estamento uti-liza o Estado ou suas autarquias, no caso, a nossa Faculdade, para fins particulares. O que são con-cursos a portas fechadas? O que são professores que tratam a Fa-culdade como coisa sua? Apren-damos com Faoro, não de for-ma a nos satisfazermos com um mundo que se perfectibilizou, porque se compreendeu, mas de maneira a que, compreendendo a “mutabilidade constante” dos negócios humanos e conscienti-zando-nos do espaço e tempo em que vivemos, saibamos transfor-mar o mundo, e fazer História.

Fizemos História, a Se-mana Cultural, que, maior do que qualquer grupo político da Faculdade, espero tenha tão longa vida quanto a do rei.

Tradição e ruptura políticas na Faculdade de Direito da UFRGS

Acadêmico do 4º ano manhã e CoordenadorGeral Discente do Círculo Universitário de Inte-

gração e Cultura (CUIC/UFRGS)

Um livro lido quando ini-ciava minha vida como profes-sora da UFRGS, El aprendizaje del aprendizaje, de Juan Ramón Cappela, ajudou-me a compre-ender que há várias formas de aprendizagem: dentre as não--patológicas (que infelizmente, existem, e não são raras) estão a de mera manutenção, que nos ajuda na sobrevivência bási-ca; a de atualização, praticada comumente na universidade; e a de inovação que consiste em aprender a enfrentar proble-mas e situações distintos dos conhecidos por quem ensina, dando-lhes soluções inéditas, pois aprender não é repetir nem recordar e, muito menos, decorar.

O difícil, porém, é que a aprendizagem inovadora nem pode ser ensinada diretamente nem depende exclusivamente da atividade de investigação e pesquisa, embora esteja a esta vinculada. A atividade dos professores apenas pode contribuir para a aprendizagem inovadora, diz ainda Cappela, se consegue transmitir não apenas os resultados de sua investigação, mas, fundamen-talmente, a problemática que esses resultados colocam, ou, dito de outro modo, as pergun-tas para as quais quem ensina não tem respostas.

Fui encontrar reflexo prá-tico dessa concepção já quase ao final do período de minha docência na UFRGS, por meio do CUIC, essa sigla que se transfigura e concretiza no corpo, alma, voz, inteligência e entusiasmo imbatível de cada um dos estudantes decididos a romper o círculo de giz que en-capsula os juristas e transforma as faculdades de Direito, modo geral, no massificado locus de “aulários” (Capella), prepara-tórios – e, muitas vezes, mal preparatórios – de burocratas do pensamento.

A palavra ‘entusiasmo’ não

foi acima empre-gada por acaso. Nas suas raízes gregas está o ad-jetivo entheos, isto é, ‘inspirado por um deus’. É, cer-tamente, o deus da cultura que inspira o CUIC em cujo Estatu-to está o escopo ‘precípuo’ de ‘proporcionar a interdisciplinari-dade e o estudo das diferentes espécies de Ar-tes, sempre sob o viés crítico’. O escopo vem sendo cumpri-do desde os finais de 2009. Realizou-se, então, o I Ciclo de Cinema em História do Direito, discutindo -, com Laura Beck Varela e Daniel Mitidiero e com o auxílio dos filmes Le Retour de Martin Guerre e A última viagem do juiz Feng –, o funcionamento da Justiça no Antigo Regime, pois sabem os integrantes do CUIC não existir projeto intelectual digno deste nome se afastadas as exigências da historicidade e da interdisciplinariedade. Seguiu--se seminário sobre Crime, Processo e Pena, presentes Kathrin Rosenfield, Danilo Knijnik, Alexandre Wunderli-ch, Moysés da Fontoura Pinto Neto Tupinambá Pinto de Azevedo, Salo de Carvalho e Alexandre Costi Pandolfo a discutir questões suscitadas por As bruxas de Salem; Doze homens e uma sentença; Seção Especial de Justiça; e Julgamento em Nuremberg e, ainda, mais recentemente, o encontro Aborto: questões éticas e jurídicas, o filme O Aborto dos Outros, sendo o fio condutor de um debate com José Roberto Goldim e Salo de Carvalho, e a mediação de

O Projeto CUIC: uma outra perspectiva para “aprender Direito”• JUDITH MARTINS-COSTALivre Docente e Doutora pela Universidade de São Paulo (USP)Até outubro de 2010, Professora da Faculdade de Direito da UFRGS, onde lecionou Direito Civil e coordenou seminários sobre Teoria Geral do Direito Privado, Fundamentos Culturais do Direito Privado e Direito e Literatura, dentre outros. Foi coordenadora do Círculo Universitário de Integração e Cultura (CUIC) entre novembro de 2009 a outubro de 2010. É autora de livros de doutrina jurídica.

CULTURA

CUIC/UFRGS

2010

Lucas do Nascimento, Dóris Amaral Kümmel e Clarissa de Baumont, integrando, exem-plarmente, CUIC, CAAR e Grupo de Pesquisa em Ciências Criminais (GCrim/UFRGS).

Para um ano, foi bastante – e não foi tudo. Conquanto verdadeiramente entusiasman-te, o Projeto Cinema em Cena (CiCe) não esgota as ativida-des do CUIC. Seus membros também atuaram em debates do seminário MalEstar na Cultura, coordenado, em 2010, por Kathrin Rosen-feld e estiveram presentes na Semana Cultural da Faculdade de Direito, sempre buscando a integração entre os diferentes cursos universitários, único modo de dar sentido à palavra “universidade”. E, sobretudo, têm suas atividades ensinado a professores e alunos que uma aprendizagem inovadora não apenas desvela a relati-vidade das nossas certezas: dá-se fundamentalmente quando, mudando a perspec-tiva, habilitamo-nos a fazer perguntas para as quais não temos respostas.

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A TOGA - Dezembro de 2010

Quando Glauber encontrou Faoro• MARIA IZABEL NOLLProfessora do Departamento de Ciência Política da UFRGS

Notas 1 FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder. Porto Alegre: Globo, 1976. p. 733-34.

12

2 Idem

Mais de 40 anos depois de Terra em Transe ser realizado, ser proibido, ser liberado, ser premiado e ter provocado um grande debate nacional, prin-cipalmente entre as esquerdas, assisti-lo nos provoca uma série de reflexões cujo olhar, hoje, à distância, nos permite um en-tendimento mais claro, mas principalmente a constatação do quanto é difícil para o artis-ta compreender o seu tempo, o momento presente, ainda mais quando se trata de um tem-po de transição – em transe.

Glauber sempre afirmou que Terra em Transe não é uma obra política, mas uma obra sobre a política. Mais: essa po-lítica não é qualquer política, mas aquela que se dá num es-paço determinado – Eldora-do – um país metafórico que identificamos facilmente como o Brasil mas que pode ser qual-quer país da América Latina. Costuma-se dizer que o filme é barroco, é exagerado, é radical, é alegórico. E é. A imagem tra-balha com o claro/escuro, luz/sombra. O barroco é o estilo do Brasil colonial. Há no filme a forma do barroco tradicio-nal mas há o barroco moder-no, retomado pela arquitetura revolucionária dos anos 60.

Estabelecendo sua leitura política dentro da radicalidade, mesmo numa síntese proposita-damente caótica, Glauber define com clareza sua visão do Brasil: há uma elite (Estado + Igreja) que se perpetua num processo civilizatório destrutivo, há os in-telectuais (esquerdas, estudantes, poetas) que mediam o contato com o povo, massa amorfa e fraca, à mercê do jogo maior dos inte-resses políticos ou das idéias da-queles que pretendem libertá-los.

Esquematicamente po-demos ver três personagens que aparecem como síntese dos vínculos com o poder:Diaz – que permite uma pri-meira possibilidade de partici-pação dos intelectuais, dos es-tudantes, da esquerda, mas traz em si – de forma encoberta – a tradição (a Igreja+ o Estado+a civilização do colonizador);Fuentes – o empresário nacio-nal (chamaríamos hoje a mí-dia?), que no jogo do poder procura estar ligado a quem lhe abre mais portas, lhe pro-porciona mais ganhos. O medo do povo e da perda dos bens lhe define as escolhas.Vieira – o líder populista. (Pau-lo, o intelectual, diz: “preci-samos de um líder”). Neste

líder são depositadas as espe-ranças da mudança, Vieira res-ponde: “a praça é do povo”.Os intelectuais (o poeta), os es-tudantes, as lideranças popula-res, as lideranças de esquerda lhe garantem a base eleitoral, mas Vieira/o populista vai priorizar os compromissos de campanha, a ordem, o não derramamen-to de sangue (dos inocentes) – o poeta questiona: “quem são os inocentes?” O povo é servil, é fraco. Frente à morte as mulheres rezam, numa re-volta que busca res-postas no misticismo. A culpa não é do povo dizem as lideranças intelectuais mas, ao mesmo tempo, são os intelectuais que di-zem quem é o povo. Jerônimo – líder sindi-cal que se diz repre-sentante do povo tem sua boca fechada pe-los grupos de esquer-da. “Já pensaram num Jerônimo no poder?” Chega o personagem de Flavio Migliaccio e afirma/grita que o povo é ele – pobre, sem casa, sem terra, sem trabalho – o pária por excelência. É cha-mado de extremista e, logo em seguida, assassinado.

Quem é realmente o povo?Glauber parece se decidir pelo sertanejo - o excluído absoluto. Ele já havia dito no manifes-to Eztetyka da Fome datado de 1965: “A violência não é um simples sintoma, é um desejo de transformação” é “a mais nobre manifestação cultural da fome”. Sua estética vai buscar a violên-cia telúrica. “Para explodir, a re-volução tem que ser precedida por um crime, um massacre.”

Nada mais próximo de Eucli-des da Cunha. A dicotomia sertão versus litoral, barbárie versus civili-zação. Quem realmente é bárbaro?

O poeta do filme rompe com todos e prega a luta: – “te-mos que unir as massas”. Mas o preço dessa opção é a morte. O ditador Diaz olha o expectador nos olhos e diz: “a luta de classes existe – o povo no poder, nunca!”

Entende-se, então, os motivos do filme ter desenca-deado um grande debate na esquerda (ou esquerdas) que já então se dividia entre uma oposição ao regime de 64 den-tro da “institucionalidade” ou a luta armada. É compreen-

sível a reação do governo di-tatorial proibindo a exibição de Terra em Transe. Desmasca-rava-se o conteúdo do golpe.

Mas onde então Glau-ber encont ra Faoro?

Quando vemos a cena de Diaz (o líder do início - o di-tador coroado do final), junto ao colonizador português (Es-tado) e um padre (Igreja) che-gando à praia e indo ao encon-tro de um índio, não há como não lembrar de Faoro que,

em Os Donos do Poder, nos diz:

De D. João I a Getulio Vargas, numa viagem de seis séculos, uma estrutura político-social resistiu a todas as transformações funda-mentais, aos desafios mais profun-dos, à travessia do oceano largo.1

O capitalismo politicamente orientado, o centro da aventura, da conquista, da colonização foi o elemento fundamental da realida-de estatal. O capitalismo moderno foi incorporado, mas não elidiu os traços da formação anterior.

A comunidade política conduz, comanda, supervisiona os ne-gócios, como negócios privados seus, na origem, como negócios públicos depois, (...) Dessa reali-dade se projeta, em florescimento natural, a forma de poder, institu-cionalizada num tipo de domínio: o patrimonialismo, cuja legitimi-dade assenta no tradicionalismo – assim é porque sempre foi.2

A imutabilidade histórica fascina Faoro como modelo analítico. Mas desespera Glau-ber. Faoro vê no Estado e na dominação patrimonial o vérti-ce e o vórtice de uma socieda-de que não é uma sociedade de classes (daí não haver nem luta de classes), mas um estamento.

O estamento privilegia a de-sigualdade e o particularismo. Essa camada se organiza e se define politicamente por suas relações com o Estado. O esta-mento patrimonial é intrinseca-mente personalista desprezan-do a distinção entre as esferas pública e privada. Na sociedade patrimonial, o poder pessoal faz do favoritismo o mecanismo por excelência de ascensão so-cial. Mesmo a justiça, em todas as suas manifestações, veicula

o poder particu-lar e o privilégio em detrimento do universal e do formal-legal.

A referên-cia arquetípica da dominação tradicional pa-trimonial é a autoridade pa-triarcal. O poder atávico, primor-dial, compassivo e arbitrário do patriarca. Poder instável, pessoal, subjetivo, que sai da comuni-dade doméstica e, sem perder suas raízes na tradição e no arbítrio, chega à esfera política.

Os funda-mentos persona-listas do poder, a

ausência de uma esfera pública que se contraponha à privada, o casuísmo jurídico, a irracionali-dade burocrática, a tendência à corrupção, tudo leva ao circulo vicioso da ineficiência. A so-ciedade estamental se constrói no prestigio social, nos mono-pólios sociais e econômicos, num estilo de vida diferenciado que se traduz em privilégios de consumo ostentatório. Aí se abriga o vírus da desigualdade.

Glauber vê a corrupção – associada, no filme, às festas, às orgias sexuais, à bebida, numa visão quase puritana - como o câncer que corrói a todos os que chegam ao poder ou dele se aproximam. A proxi-midade com o estamento (po-der) traz o risco da cooptação.

A quem defender? As bases que levaram Viei-

ra ao poder ou os interesses daqueles com quem os acor-dos econômicos foram feitos?Para Faoro, o estamento é constituído “à ilharga do Es-tado”. O Estado é seu pa-

trimônio e assim é usado.E o povo? Nos Donos do Poder a ausência do povo no mundo político é afirmação reiterada.Glauber vê o povo. Mas este é constantemente enganado. O povo de Glauber é euclidiano: é sobrevivente, é um forte dentro da miséria do deserto do ser-tão, é um esquecido, é um per-seguido por aqueles que dizem querer salvá-lo ou “civilizá-lo”.Faoro vê o povo ausente: “E o povo, palavra e não realidade (...) que quer ele? Este oscila entre o parasitismo, a mobilização das passeatas sem participação políti-ca, e a nacionalização do poder” 3

Confinado na base da pi-râmide social “o povo espera, pede, venera, formulando a sua política, expressão primária de anseios e clamores, a políti-ca de salvação” 4. No topo da estrutura estão os “manipu-ladores olímpicos do poder”.

Confundindo as súplicas religio-sas com as políticas, o desvalido, o negativamente privilegiado, identificado ao providencialismo do aparelhamento estatal, com o entusiasmo orgiástico dos supers-ticiosos, confunde o político com o taumaturgo, que transforme pedras em pães, o pobre no rico.5

Sairá dessa massa uma re-volução?

Nos anos 90, Faoro diria que nossa elite “dissidente” – nos perguntaríamos: os in-telectuais de Glauber? – conti-nuava conduzindo o Brasil de forma patrimonial, conserva-dora, desconhecendo profun-damente o Outro. Faltava-lhe um componente ético em sua conduta, pautada pelo sonho de ter acesso aos padrões de consumo do primeiro mundo, na defesa intransigente de seus privilégios. Faltava-lhe alteri-dade. A construção da cidada-nia e a defesa da coisa pública eram ornamentos discursivos.

Seria interessante saber qual seria o comentário de Glauber ao ver que um Jerônimo chegou ao poder em 2002. Neste senti-do, podemos apenas especular.Já Faoro, ao receber a visita de “Jerônimo”/Lula” no hospi-tal, pouco antes de sua morte em 2003, – numa compreensí-vel ansiedade pelo rompimento do circulo vicioso da domina-ção – teria puxado um pouco as orelhas do agora presidente pela demora em pôr em prática algumas medidas no sentido de republicanizar e democratizar o Estado e, finalmente, construir uma sociedade mais igualitária.

3 Idem. p. 748 5 Idem. p. 740

4 Idem

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A TOGA - Dezembro de 2010

• BRUNO HERMES LEALAcadêmico do 5º ano manhã

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Relendo as margens do Direito

A lógica recomenda que não se comece pelo fim, mas abordar a obra de Pontes de Miranda é encarar, de pronto, o paradoxo lógico em que

consiste a realização de um trabalho de humanidades no tempo de uma só vida, razão pela qual me permito iniciar citando a frase final do primeiro livro escrito pelo grande tratadista brasileiro: “O direito é, em verdade, um produto social de assimilação e desassimilação psíquica”.

O livro “À Margem do Direito”, escrito em 1911, encerra os traços caracte-rísticos da primeira fase do pensamento ponteano, vinca-da pelos avanços científicos subsequentes desde o final do século XIX e pelo positivismo científico-naturalista. Neste escrito de pouco mais de cem páginas, autointitulado “ensaio de psicologia jurídica”, um jo-vem Pontes de Miranda lança as bases do que seria a tônica de sua vasta produção: a inter-disciplinaridade, observando a ciência jurídica de forma integrada, pretendendo “uma explicação homogênea, siste-mática, estribada em outros ramos, com uma bem revelada preocupação realista”.

O provocativo título da obra é explicado no primei-ro capítulo, quando o autor,

atestando a insuficiência da ciência jurídica, por si só, para “desentranhar a realidade do fato jurídico”, procede à análise orgânico-biológica do

Direito, de forma a considerá--lo “organismo vivo”, o qual merece análise tripartite: (a) anatomia jurídica, em que se hão de classificar os direitos, confor-me cada um dos elementos anatômi-cos (titular, objeto e sujeito passivo); (b) fisiologia jurídica, estudo das relações existentes entre eles, como a proteção, coação e preten-são; e, por fim, (c) a psicologia jurídica, cuja missão é exami-nar cientificamente os atos psico-jurígenos dos titulares e sujeitos passivos, para a qual, enfim, dedicou o autor esta obra.

Diversas páginas da obra são dedicadas à análise do ele-mento psíquico-volitivo – fundan-te das primeiras noções de di-reito subjetivo e das pioneiras sistematizações jurídicas, de

destacada conota-ção individualista –, e do elemento social, ensejado-res dos “fatos psicojurídicos”. Nessa senda, o autor exemplifica com o instituto da prescrição aqui-sitiva, anotando que “a prescrição não é causa, mas conseqüência, como todos os fatos jurídicos invariavelmente o são. É mister procurar o fator psíquico, que a produz, quando se combina com o fator social [...] Não é o tempo, esfinge aldravada com rouparias fantásticas, que traz a morte à relação de direito [...] mas a supos-ta renúncia, a presunção legal da pena executada, ou, melhormente,

a lei psicológica do esquecimento, que a experiência pessoal foi lenta-mente revelando ao homem”.

A formação da norma jurí-dica como mero desdobramento da interação entre os dois elementos suprarreferidos é objeto do se-gundo capítulo,

Eu tenho um grande medo de me perder pelos teus olhos escuros. De me perder perdidamente, sem clemência ou remissão. Porque nos teus olhos noturnos eu te vejo calada e ausente. E eu não escuto a tua voz nos murmúrios das árvores no vento que traz a prima-vera. O teu silêncio é a minha distância.

Eu te peço, não cantes, não fales, não movas. Deixa-me perceber teu íntimo silencioso e guardá-lo no meu. Deixa-me abraçar a tua imóvel solidão na minha solidão, a tua imóvel presença na minha presença. E lentamente a tua ausência irá morar no meu interior profundo, e o teu silêncio habitará a minha poesia.

E eu te peço novamente, não fales, não fales, não fales. Nem sequer suspires.

Porque ausente eu te vejo.Porque calada eu te beijo.

RESENHA

À margem do direito: ensaio de psicologia jurídica - Pontes de Miranda. Na Biblioteca do Direito: 340.12 M672m 2005

POESIA

Não fales• ARTHUR P. BEDINAcadêmico do 3º ano manhã

remetendo à origem costumeira do Direito, para consolidar a impor-tância deste enquanto processo de adaptação social através da cristali-zação daquilo que regu-larmente se pratica, e não como produto cerebrino de um legislador abstrato. O costume, que é las-tro basilar na formação da lei, observa Pontes de Miranda, explica-se psicologicamente: o fato mental que se repete ga-nha em energia social, de modo que as sociedades se reservam forças pela repetição sucessiva, que se alonga e se vigora e se ex-pande, dando ao costume poderio e obrigatoriedade (Rechtsgefühl).

O viés psicológi-co adotado por Pontes de Miranda alcança sua praticidade imediata no terceiro e último capítulo, quando aborda institutos jurídicos correntes através dessa perspectiva. No que toca ao Direito Público, genericamente conside-rado, o autor perscruta a natureza da personalidade jurídica do Estado, vista como criação sociológica e psicológica, vez que ad-vém da continuidade dos fenômenos mnemônicos e volitivos dos indivíduos, nivelando a psique geral ao reconhecimento da autoridade.

Neste escrito de pouco mais de cem páginas, autointitulado “ensaio

de psicologia jurídica”, um jovem Pontes de Miranda lança as bases do que seria a tônica de sua vasta produção: a interdisciplinaridade,

observando a ciência jurídica de forma integrada(...), pretendendo

“uma explicação homogênea, siste-mática, estribada em outros ramos,

com uma bem revelada preocupação realista”.

http://blogdobedin.blogspot.com

No que tange ao Direi-to Privado, genericamente considerado, Pontes de Miranda desloca, assimilan-do a hermenêutica filológica de Nietzsche – que explo-rara a ambigüidade semân-tica contida no vocábulo Schuld, a designar tanto a dívida, em sentido jurídico, como a culpa, em sentido psicológico –, a análise dos institutos privatísticos para a observância da manifestação de vontade, considerando-a como fluxo psicojurídico autovinculante “que busca reprodução entre os seres capazes”.

A obra, conquanto date do século passado, expande sua importância muito além dos limites cronológicos da “Era dos Extremos” de que falava Eric Hobsbawn, senão que é objeto de atu-alização histórica, estando presente nos debates do fim desta primeira década de século XXI. As discus-sões jurídicas atuais, como são a interdisciplinaridade (e.g., Law and Economics, multiculturalismo) e a imparcialidade psicológica do juiz (mormente na seara do direito processual penal) reavivam a matéria sobre a qual se debruçou Pontes de Miranda.

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A TOGA - Dezembro de 2010

Da natureza à civilizaçãoBreves apontamentos sobre a culturalização humana e seus reflexos

Conta o mito grego que da união entre o Céu (Urano) e a Terra (Gaia) nasceram a Justiça Familiar (Thémis) e a Memó-ria (Mnemosyne). Ambas, entre umas e outras, uniram-se com a Autoridade Política (Zeus), do que nasceu da Memória as nove musas culturais; e da Justiça Familiar a Justiça pela Igualdade da Lei (Diké).1

A genealogia expõe duas idéias principais. A primeira é a de que a Memória tanto é precedida pelos fatores naturais, quanto é requisito para a Cultura. A segunda consiste em que o ponto de contato entre a Justiça pela Igualdade da Lei e a Cultura está em seu ascendente comum, a Autoridade Política, caracteriza-da no mundo grego antigo pela idéia-resultado de bem constituir e compartilhar aquilo que diz respeito a todos os cidadãos (o comum, koinon). Neste texto, pretende-se embasar as duas percepções de mundo e traçar alguns breves comentários sobre as relações entre a Natureza, a Memória, a Cultura e a Justiça pela Igualdade da Lei.2

Compreende-se aqui a na-tureza como fato preexistente ao, em relação com e existente no homem. Explica-se: este, mais do que ser racional, é física e quimicamente estrutu-rado, ente com corpo orgânico e sujeito às leis biológicas de hereditariedade e seletividade, dentre outras. A natureza está, pois, no homem, condicionan-do seu agir e pensar, inclusive desde momento anterior ao seu nascimento, como através da lei da hereditariedade.

Ao mesmo tempo, o homem está inserido em um meio no qual interferem fatores naturais e, conseqüentemente, compõe um organismo maior do que sua individualidade, seja

ele um grupo humano qualquer ou a Terra globalmente consi-derada.3 Fator físico inofensivo ocorrido na Inglaterra, como o bater de asas de borboleta, pode causar tufão em território chinês quando em conjunto com diversos outros pequenos fatores. Portanto, além de o homem não escolher as condi-ções nas quais inicialmente se insere, escolhe apenas em parte as condições nas quais passará a se inserir. Os atos humanos escapam a avaliações consequên-cialistas.

Daí o porquê de compre-ender-se que o atuar humano é efeito condicionado pelos estímulos circunstanciais do mundo (ente natural no qual se insere o homem) e pelos estímulos provocados pelo pró-prio ser humano nesse mundo e noutros homens, pois, além de se inserir no mundo natural e ser, portanto, natureza, ele é capaz de criar novas realidades, ora através do trabalho, na criação de artifícios, ora através da ação (fruto de sua liberdade e exercida diretamente entre os homens), condicionando ou-tros seres, inclusive humanos, e a si mesmo.4

A terra tem seus limites cantados em comunidades primitivas justamente porque essas coletividades vivem a complementaridade natureza--humano. Essa relação é ga-rantida seja pela adequação do homem à terra, graças aos limi-tes que a natureza impõem ao exercício da liberdade humana, seja pela conformação da terra ao homem, através de artifícios por esse criados para com ela se harmonizar, como a utiliza-ção do fogo e de vestimentas.

Ora, sabe-se que quanto maior for a ligação entre o homem e a terra à qual perten-

ce e mais vasta for a vinculação de sua vida a determinados fatores naturais, maior será sua dependência frente a eles, visto que construída relação na qual a identidade deste sujeito se conforma pelas caracterís-ticas de suas terras: ao correr dos riachos, à robustez dos arbustos, aos rigores do tempo, ao crescer da plantação e ao procedimento da colheita. Lembremos de que há um tra-balho constante de significação dos fatos por parte do homem, processo que chamamos de memorização, tornar lembrado, matéria-prima de todas as ativi-dades culturais. Em contato di-reto com a natureza, a memori-zação se dá sobre fatos naturais brutos, e, em decorrência, a identidade pessoal do sujeito produz-se sobre o resultado da seletividade e significação pela memória sobre essa espécie de fatos. Nessa realidade, a com-preensão do eu está próxima da compreensão da coisa (res). Compreender o mundo natural está muito próximo do com-preender parte de si.

Esta proximidade, entre-tanto, gera dependência do homem frente a fenômenos que não controla: a morte do amigo, a praga nos frutos, a seca das terras, a fome, etc. A inconformidade em relação ao mundo e o desejo de aperfei-çoamento da condição humana levam-no à busca pelo domínio dos fenômenos naturais através da racionalidade técnica. Daí advém, em parte, o surto da produção de artifícios, utensí-lios construídos pelo trabalho humano que possibilitam um domínio sobre os fenômenos naturais, hoje, inconcebível há séculos e até mesmo há décadas atrás. Em um crescen-te de diferenciação, o homem não mais se compreende como incluído no mundo, mas, sim, como seu dominador. Não é coincidência que o pensamento mais ilustrativo da diferencia-ção homem-natureza provenha de filósofo que viveu em época na qual o surto científico era tremendo, Descartes, expoente da Modernidade filosófica que dividiu o universo cognoscí-vel entre a res extensa (o todo externo a mim, homem) e a res cogitans (eu, homem, que penso e existo). Como se percebe, Homem e Natureza passam a

ser conceitos antagônicos.5

É óbvio que quanto mais força tiverem tais artifícios para o domínio do homem sobre os fenômenos naturais e quanto maior for a utilização desses utensílios, mais o seu universo se torna um local de artifí-cio. Do trabalho que quebra demasiadamente a identidade conformada à natureza, se gera uma identidade condicionada à subjugação da natureza e pelos instrumentos criados para esse domínio. A significação pela memorização passa a se dar so-bre artificialidades e, portanto, também o próprio entendimen-to de mundo.

Um dos resultados de tal processo é que, com o surto dessa racionalidade e suas re-percussões, passa-se à negação de todo aquele entendimen-to que compreenda o outro ser humano sob uma mesma humanidade que a minha. Se o que me torna humano é a vericabilidade individual e incompartilhável de que penso (“Penso, logo existo”), e não mais a percepção compartilha-da e objetiva de que nos apro-ximamos uns dos outros por meio de uma natureza comum, considero o outro tão res extensa (externo a mim) quanto qual-quer artifício. Assim, corre-se o risco de tornar os demais em objetos-meio para nossos fins, criando-se a impossibilidade de qualquer vivência política além da arbitrária e coercitiva.

Outro dos efeitos é que, se me relaciono com artifícios, procurarei os que acredito se-rem de valia a fim de, em nossa convivência e em sua posse, significá-los em sua relação para comigo e, pelo proces-so de memorização, incluir a experiência em minha história de vida pessoal, de forma a

enriquecê-la. Portanto, vê-se que no mercado também se busca o preenchimento de um vazio existencial. O problema está em não compreender que, através desse meio, o sucesso no preenchimento do referido vácuo pode ser no máximo parcial, pelo fato de que o homem, “quando se confronta com a ‘realidade objetiva’, não encontra mais a natureza mas se desencontra consigo mesmo, isto é, com objetos que criou e processos que desencadeou, que funcionam, mas que não entende por que não é capaz de explicá-los em linguagem comum.”6

Em um mundo de artifí-cios, no qual, portanto, a pessoa condiciona-se por artifícios, pois é com eles que interage, deve-se tomar o cuidado para não se visualizar os outros como artifí-cios (sob o risco de enxergá-los como meio), mas sim em parte natureza e em parte construção a partir dessa. Um fortalecimen-to de nossa vivência da Justiça pela Lei, consubstanciando a igualdade jurídica (isto é, uma proteção efetiva da dignidade do próximo), só nasce do reconhe-cimento de que mantemos um koinon, um fundo comum: pela igualdade de instrumentos para a apreensão dos fenômenos, por todos nos enquadrarmos sob os mesmos condicionamentos e sujeições provocados pelo meio; pela semelhança nas potencia-lidades; ou ainda pela isono-mia dos limites, como o do conhecimento. Cabe, por tudo isso, refletirmos sobre o nosso estar-no-mundo, no intuito, inclusive, de preocupando-nos com quem somos (com nossos limites, necessidades e poten-cialidades) vivermos adequada-mente com aquilo/aqueles com que(m) lidamos.

• LUCAS DO NASCIMENTOAcadêmico do 4º ano manhã

Notas1 Sobre a teogonia grega, vide HESÍO- DO. Teogonia. 6. ed., trad. de J. A. A. Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2006.

14

2 Filme ímpar no qual nos inspiramos é Narradores de Javé (BRA, 2003), de Eli-ane Caffé. Nele, construção de represa ameaça destruir a pequena cidade de Javé. Para que os moradores impeçam o desa-parecimento de seu povoado, precisam provar ao governo que na cidade existe valor cultural, “patrimônio histórico”. Por isso, decidem relatar a história de Javé, dando forma escrita às narrações orais dos citadinos e, por conseguinte, dando vida à memória política local.3 Importante para uma compreensão sociológica que releve os saberes da física, química, biologia e das ciên-

cias humanas, é PONTES DE MI-RANDA. Introdução à sociologia geral. 2. ed.. Rio de Janeiro: Forense, 1980.4 Vide ARENDT, Hannah. A condição humana. 10. ed., trad. de Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.5 Em crítica a divisão do mundo, pro-movida por Descartes e introjetada pelo homem moderno, entre res cogitans e res extensa, não é outra a conclusão a que se chega em BALLESTEROS, Jesús. Postmodernidad: decadencia o resist-encia. 2. ed. Madrid: Tecnos, 2000.6 LAFER, Celso. Da dignidade da política: sobre Hannah Arendt. In: ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. 6. ed., trad. de Mauro W. Barbo-sa. São Paulo: Perspectiva, 2007, p. 12.

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A TOGA - Dezembro de 2010 15

ACONTECE NO SAJU

Em 2010, o Serviço de Assessoria Jurídica Universitá-ria da UFRGS (SAJU-UFRGS) comemora 60 anos de história. Fundado em 1950, o SAJU pas-sou por inúmeras transforma-ções ao longo das décadas no sentido de vir a melhor cumprir

seus principais objetivos, quais sejam: efetivar o acesso à justi-ça e os direitos humanos, bem como fomentar um estudo crí-tico do Direito. Visa-se, assim, a prestar um serviço importante à sociedade, a complementar a formação universitária e a forta-

O SAJU nos seus 60 anoslecer a própria Universidade por meio da prática extensionista. O desenvolvimento percebido ao longo dos anos permitiu que o SAJU se firmasse como um programa de extensão universi-tária cada vez mais reconhecido na Universidade e na sociedade.

O SAJU conta, hoje, com mais de 180 integrantes, que se reú-nem em 14 grupos, atendendo a centenas de pessoas durante o ano, assessorando-lhes judicial e extrajudicialmente, e atuando, ainda, em diversas comunidades de Porto Alegre.

Nesse ano comemorativo, dentre as diversas atividades levadas a cabo pelo SAJU na Universidade – que se somam àquelas desenvolvidas junto à comunidade, não abordadas aqui devido à sua quantidade –, destacam-se as seguintes:

II Semana de Direitos Humanos

Lançamento do sexto volume da Revista do SAJU

No dia 21 de maio, ocorreu na Biblioteca da Faculdade de Direito o lançamento do volu-me 6 da Revista do SAJU – Para uma visão crítica e interdisciplinar do Direito. A cerimônia, prestigia-da por sajua no(a)s, professore(a)s e acadêmico(a)s do curso de Direito, contou com as falas do Coordenador Discente do SAJU, Guilherme Jantsch, do Coorde-nador do programa à época da publicação do edital de chama-da de artigos em 2007, Márcio Cunha Filho, do membro da co-missão editorial da revista, Lucas

do Nascimento, e da Bibliotecá-ria Chefe, Celina, que recebeu um exemplar da revista doado à Faculdade.

A Revista do SAJU é um meio de divulgação e valorização da assessoria jurídica universitá-ria no meio acadêmico, visando trazer para a Faculdade de Di-reito e para além dela debates, reflexões, objetivos e desafios vividos e pensados pelo(a)s ex-tensionistas. A próxima edição será publicada ainda neste ano. A revista está à venda na sede do SAJU. Adquira já a sua!

SAJU no UFRGS Portas Abertas

Neste 15 de maio, o SAJU esteve presente no UFRGS Portas Abertas realizando uma apresentação no Salão Nobre acerca do papel e da impor-tância da assessoria jurídica universitária.

Essa apresentação, reali-zada pelo coordenador-geral discente Guilherme Jantsch, trouxe ao público os principais aspectos que tornam este pro-grama de extensão um lugar de transformações e de constante aprendizagem. Foi ressaltado, ainda, que o SAJU representa uma porta permanentemente aberta para a sociedade, cons-tituindo um canal de troca de saberes entre Universidade e comunidade. Além disso, pelo segundo ano consecutivo, o grupo de Direitos da Mulher e de Gênero do SAJU (G8--Generalizando) realizou no UFRGS Portas Abertas uma exposição que toma a forma de um Varal Fotográfico nas jane-las do nosso prédio histórico. A mostra trouxe duas narrativas intituladas “Mulheres em Atos, Fatos e Retratos” e “Hetero-normatividade e Sexismo: uma construção invisível”.

Além da Mostra Fotográfi-ca, o grupo realizou a exibição do documentário “Marias do Brasil” no Salão Nobre da Faculdade, abordando com o público de que maneira as Ciências Jurídicas podem se relacionar com temáticas como a Violência Contra a Mulher, assumindo um caráter humano e transformador.

O SAJU no Jornal do Comércio

Cerimônia de aniversárioNo dia 1º de Outubro,

ocorreu, no Salão Nobre da Faculdade de Direito, evento comemorativo referente aos 60 anos do SAJU.

Fizeram-se presentes, diri-gindo a palavra aos presentes, o Vice Pró-Reitor de Extensão, Ângelo Ronaldo Pereira da Sil-va, o Coordenador Geral do SAJU, Guilherme Jantsch, os ex-sajuanos Armando Farah, Domingos da Silveira, Lucas Jost, Luiza Moll, Paulo Caliendo

e Waldyr Barrili. Prestigiaram a cerimônia, além do Diretor da Faculdade de Direito, professor Sérgio Porto, dezenas de saju-anos, ex-sajuanos e estudantes dessa Faculdade.

Durante o evento, foram apresentadas as novas camisetas do SAJU e a sua recém lançada revista, cuja venda não se res-tringe aos membros do SAJU. Após a cerimônia, foi servido, na Sala dos Professores, coque-tel aos presentes.

O SAJU foi objeto de matéria no Jornal do Co-mércio, na edição do dia 23 de agosto. Intitulada “Justiça ao Alcance de Todos”, a re-portagem, que ocupou uma folha inteira do jornal, des-tacou o papel desempenha-do pelo SAJU na efetivação do acesso à justiça e na sua consequente democratiza-ção. Foram entrevistados, para a elaboração da maté-ria, o Coordenador Geral do SAJU, um assistente do SAJU, e uma pessoa assisti-da pelo SAJU. A reportagem destacou, além dos serviços atualmente prestados pelo SAJU à sociedade, projetos recém surgidos no programa, dentre os quais se destaca o emergente grupo de media-ção. Enfatizou-se, ainda, a comemoração dos 60 anos

Quer conhecer melhor o SAJU?

• Acesse www.ufrgs.br/saju• Visite o SAJU durante a tarde• Ligue para 3308.3967 • Envie um email para [email protected]

De 26 a 30 de abril de 2010 aconte-ceu no Salão Nobre da Faculdade de Di-reito a II Semana de Direitos Humanos, Cidadania e Acesso à Justiça promovida pelo SAJU. A Semana de Direitos Humanos nasceu com a proposta de levar à comunidade acadêmica e à comunidade em geral questões que por vezes ficam restritas ao âmbito sajuano. Com esse viés, temáticas que trazem uma abordagem do Direito enquanto instrumento de emancipação social foram trazidas ao deba-te, mobilizando cerca de 150 pessoas. O público, composto

por estudantes, profissionais e agentes populares, refletiu sobre questões como: A Criminaliza-ção da Homofobia, Alienação Parental, Menores em Conflito com a Lei, Políticas Migratórias, e Regulamentação Fundiária.

Deixamos um agradeci-mento a todo(a)s que contri-buíram para o sucesso desse evento!

E foi para tentar resolver um proble-ma de regularização da luz elétrica no bairro em que mora que Jair Dias, de 33 anos, procurou o Saju.Morador da comunidade Jardim Vila Verde, na zona Sul de Porto Alegre, ele foi em busca de auxílio. Não tínhamos energia regular e eu tentei conversar com a concessionária, mas nunca obtive resultado, diz ele. Depois de esperar por dois anos o auxílio público semsucesso, buscou apoio no serviço disponi-bilizado pela Ufrgs. Dias, que é presidente da Cooperativa Habitacional Jardim Vila Verde, conta que rapidamente foi atendido pelo Saju, entrou com uma ação judicial e, depois de um ano e meio, conseguiu regularizar a situação da localidade. Tudo aconteceu dentro do prazo e da forma correta. Na prática, eles resolveram o problemal, diz ele.

Leia um trecho da matéria:

• Crianças e adolescentes: uma análise da dignidade e da cidadania no ECA - Alice Girardi Canesso• Políticas urbanas em Paraisópolis (São Paulo): conflitos de direitos e contradições da democracia - Ana Carolina N. M. F. Cunha, Paulo César de Abreu Paiva Jr., Renata Gomes da Silva, Táygara Martinez Martins• O Direito pela “Mão” do Educador: O Diálogo de Paulo Freire com a Assessoria Jurídica Popular Universitária - José Humberto de Góes Junior• O Direito Fundamental à Moradia no Brasil: Conteúdo Material e Alguns Obs-táculos à sua Efetivação - Marília Passos

Apoliano Gomes• Da violência doméstica e familiar contra a mulher - Matheus Muller • Da internalização da decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos: caso Blanco Romero e outros versus Venezuela - Natália Scalabrini e Daniel Barile da Silveira• Assistência e Assessoria Jurídica Univer-sitária em Direitos da Mulher e de Gênero: um Novo Fazer Interdisciplinar - Patrícia Vilanova Becker• O Sonho da Assessoria - O Princípio Dramático da Horizontalidade - Rafael Graebin Vogelmann

de história do SAJU.

Artigos selecionados para a próxima edição

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A TOGA - Novembro de 201016

Prestação de contas do CAAR: Gestão 2008/2009 Resumos

RECEITAS

Receitas do Caixa(menos) Impressões da Gestão

(menos) Saques na Conta-corrente(menos) Ajustes Contábeis

70.153,52564,80

2.450,003.210,00

R$-R$-R$-R$

R$ 63.928,72

R$ 10.371,80

Receitas da Conta-corrente(menos) Depósitos em Conta-corrente

R$-R$

49.736,52 39.364,72

Receitas da Conta de Investimentos R$ 46,87

DESPESAS

Despesas do Caixa(mais) Impressões da Gestão(mais) Depósitos na Conta-corrente(mais) Ajustes Contábeis

70.971,58564,80

39.364,723.210,00

-R$R$R$R$

-R$ 27.832,06

-R$R$

49.229,582.450,00

-R$ 11,82

-R$ 46.779,58

Despesas da Conta-corrente(mais) Saques na Conta-corrente

Despesas da Conta de Investimentos

01/dez/0802/dez/0831/out/08

R$ 1.549,50R$ 8.168,26R$ 788,19

R$ 10.505,95

Saldo no caixaSaldo na Conta-corrente

Saldo na Conta de Investimentos

Resultados produzidos R$ 74.347,39

-R$ 74.623,46 Despesas efetuadas

R$R$

-R$

R$

10.505,9574.347,3974.623,46

10.229,88

Recebido da gestão anteriorReceitas produzidasDespesas efetuadas

Entregue para a gestão seguinte

10/nov/0910/nov/0931/out/09

R$ 731,44R$ 8.675,20R$ 823,24

R$ 10.229,88

Recebido da gestão “Novos Horizontes”

Entregue para a gestão “Concretizando ideias”

Saldo no caixaSaldo na Conta-correnteSaldo na Conta de Investimentos

CURIOSIDADES

Bombonas de água (20 L) 159 unidades (média: 13/mês) R$ 795,00

Copos descartáveis 20.100 unidades (média: 1.675/mês)

R$ 471,30

Copos retráteis 170 unidades ((R$ 2,90 cada) 130 unidades (quantidade vendida aos alunos)

R$ 492,90R$ 223,00

Impressões(este controle da quantidade de impressões não foi feito desde o início da gestão)

15.500 folhas10.221 impressõesResultado: R$ 321,91

R$ 1.729,92R$ 2.051,83

Máquina de café Resultado: R$ 1.097,60 R$ 4.237,15R$ 5.334,75

Copa do Direito Resultado: R$ 21,41 R$ 2.712,59R$ 2.734,00

Direitão Resultado: R$ 624,00

Olimpíadas Sedentárias

R$ 5.680,00R$ 6.304,00

Resultado: R$ 32,90 R$ 202,12R$ 235,02

Camisetas e baby looks R$ 1.625,75R$ 1.869,00

Resultado: R$ 243,25

R$ 5.794,04R$ 5.476,00

-R$ 318,04 (mais o “estoque” que sobrou)

Bolsas, pastas, mochilas e pastas para Notebook

R$ 4.587,07R$ 3.490,00

-R$ 1.097,07Representação estudantil

R$ 13.718,15R$ 23.802,00

R$ 10.083,85Eventos acadêmicos

R$ 193,45R$ 2.299,00

R$ 2.105,55TRI EPTC

R$ 1.200,00R$ 350,00

R$ -850,00Jornal

R$ 1.740,29Revista eletrônica

R$ 134,40Manual do Calouro

R$ 445,10Taxas Banrisul

R$ 5.520,00Bolsistas

• BRUNO IRION COLETTO(ex-)Presidente do CAARGestão Construindo o Caminho 2008/2009

• JOSÉ ARTIGAS LEÃO RAMMINGER(ex-)Tesoureiro do CAARGestão Construindo o Caminho 2008/2009

Prestação de contas ainda pendente de aprovação pela Comissão Fiscal.