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Johanna lindsey - ladies escravas e lordes tiranos 02 - a noiva em cativeiro

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A NOIVA EM CATIVEIRO JOHANNA LINDSEY

TRADUÇÃO: SORYU REVISÃO INICIAL: SORYU

REVISÃO FINAL: Márcia de Oliveira e Cris Skau FORMATAÇÃO: Cris Skau

Ela não

conhecia

nenhum senhor

até um sheik do

deserto

aprisionar seu

coração !!!

Da grande escritora Johanna Lindsey, que já vendeu mais de 60 milhões de livros. Com publicações em mais de 12 idiomas!

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ROMANCES CORRELACIONADOS

SÉRIE LADIES ESCRAVAS E LORDES TIRANOS

01 — ASSIM FALA O CORAÇÃO — Distribuído 02 — A NOIVA EM CATIVEIRO — Distribuído

03 — ESCRAVA DO DESEJO – Em revisão. 04 — FOGO SECRETO — Em revisão.

05 — O AMOR DO PIRATA — Em revisão.

Série em revisão com o grupo

OBSERVAÇÃO – ESTES LIVROS NÃO FORMAM UMA SÉRIE EM SI, MAS SÃO LIVROS

COM TEMAS CORRELACIONADOS E PODEM SER VISTO COMO UMA SÉRIE, QUE

NÃO É NECESSÁRIO LER NA SEQUÊNCIA. NOVOS LIVROS PODEM SER

ADICIONADOS A LISTA! MAIORES INFORMAÇÕES NAS PRÓXIMAS PUBLICAÇÕES!

SORYU

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RESUMO

Em um ato arbitrário e irresponsável, Christina Wakefield insistiu em acompanhar o seu irmão John, de Londres ao Cairo, e agora é

prisioneira de um desconhecido. Sequestrada e levada a galope em seu cavalo para um acampamento escondido Christina nunca se viu

sendo escrava de alguém. Mas logo ela descobrirá que seu raptor, Abu, o Sheik do deserto, tornar-se-ia o senhor de seu coração...

Nota da revisora Soryu:

Eu sempre serei suspeita a falar dos livrinhos da Johanna, todos os que eu li, me emocionei, me indignei e adorei! Livros inesquecíveis.

Esse foi seu primeiro livrinho publicado em 1977. E depois desse nunca

mais deixou de escrever, se tornando uma das autoras número um dos E.U.A. O livro é maravilhoso, Phillip, um nobre e sheik (sim ele é os dois), se

apaixona a primeira vista pela Christina e faz de tudo para possuí—la inclusive

sequestra—la em pleno Egito. Eles são muito parecidos, cada um com um gênio pior que o outro, pessoas altamente difíceis de conviver, vivem em uma guerra de

paixão e ódio altamente declarada. Mesmo em desvantagem Christina não se rende a Phillip, pelo contrario, usa sua inteligência, sua astúcia, para conseguir vencer as adversidades que a vida lhe impôs.

O desenvolvimento dos sentimentos dos personagens é de forma coerente, inteligente, lógica e emocionante. O enredo da história é muito bem escrita,

também em momento nenhum o livro cai na mesmice, no tédio, embora algumas pessoas possam ficar decepcionadas, com certas escolhas que a Johanna fez para a história, mas não deixa de ser um livro cinco estrela, recomendo a todos que

leiam essa bela estória.

ATENÇÃO: Esse é um livro para quem gosta de fortes emoções, sofrimentos, altos

e baixos, cenas fortes, muito fortes, que chegam a impactar o leitor! Exige

cuidado! Mas um cuidado adorável! Extremamente adorável!

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CAPÍTULO 1

Reinava um tempo agradavelmente morno no princípio da primavera do ano de 1883. Uma suave brisa soprava entre os grandes carvalhos que rodeavam ao longo do caminho no fundo do qual se elevava a Residência Wakefield. Dois formosos cavalos brancos atados a uma carruagem aberta esperavam ofegantes frente à enorme mansão de dois pisos.

Dentro, Tommy Huntington caminhava nervoso, acima e abaixo, pelo amplo salão com seus móveis forrados a ouro, esperando impaciente que Christina Wakefield chegasse. Tommy chegou movido por um impulso, depois de ter adotado definitivamente uma decisão relacionada a ela; mas agora começava a sentir-se nervoso.

Tommy pensou: "Droga, nunca tinha se atrasado tanto." Deixou de caminhar e parou em frente à janela que dava à vasta propriedade dos Wakefield. Mas isso era antes que ela começasse a usar aqueles vestidos muito elegantes e cuidar especialmente de seu penteado. Agora, sempre que ele vinha vê-la terminava esperando meia hora ou mais antes que Christina aparecesse.

Tommy começava a se arrepender do que tinha decidido lhe dizer e de repente duas mãos suaves lhe cobriram os olhos e ele sentiu nas costas a pressão dos seios de Christina.

— Adivinha quem é? —Murmurou alegremente a jovem no ouvido de Tommy.

OH, Meu Deus, que ela não voltasse a fazer aquilo! Eles tinham se dado tão bem quando ambos eram crianças e cresciam juntos; mas ultimamente a proximidade da jovem avivava loucamente os desejos de Tommy.

Virou-se para olha-la e se sentiu encantado com sua estranha beleza. Christina vestia um ajustado vestido de veludo azul escuro, com encaixe branco que ressaltava um pouco o se pescoço longo e longas mangas, e os cabelos dourados formavam inumeráveis tranças que lhe rodeavam a cabeça.

— Tommy, queria que não me olhasse assim. Ultimamente o faz frequentemente e me deixar nervosa. Se não te conhecesse, pensaria que tenho a cara suja. — disse a jovem.

— Sinto muito, Crissy. — balbuciou Tommy. — Mas neste último ano mudou tanto que não posso evita-lo. Agora esta tão linda...

— Caramba, Tommy, quer dizer que antes era feia? — Brincou Christina, fingindo-se ofendida.

— Claro que não. Sabe a que me refiro.

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— Muito bem, perdôo-te. — riu a jovem, enquanto caminhava para o divã de estufagem forrado a ouro e se sentou. — Agora me diga por que veio tão cedo. Não te esperava até a hora do almoço e Johnsy me disse que te viu muito nervoso quando entrou aqui.

Tommy se sentia perplexo e tratava de encontrar as palavras apropriadas, pois não tinha preparado seu discurso. Bem, era melhor que dissesse algo antes que a coragem o abandonasse por completo.

— Crissy, não quero que vá a Londres neste verão. Seu irmão voltará em poucos meses e pretendo pedir sua mão. Depois, quando já estivermos casados, se ainda deseja ir a Londres a levarei.

Christina olhou surpreendida. — Tommy, está colocando os cavalos na frente da carroça! —

Disse com aspereza, mas se arrependeu quando viu a expressão dolorida no rosto juvenil do moço. Depois de tudo, ela sempre soube que chegaria este momento. — Lamento ter falado assim. Compreendo que nossas famílias sempre acreditaram que formamos um casal perfeito e que possivelmente um dia nos casaríamos; mas agora não. Você tem só dezoito anos e eu dezessete. Somos muito jovens para nos casar. Sabe que sempre vivi isolada nesta casa. Eu adoro meu lar, mas desejo conhecer outras pessoas e saborear a atração de Londres. Compreende-me? — Fez uma pausa, porque não desejava ofende-lo. — Amo-te Tommy, mas não como você deseja. Sempre foi meu melhor amigo e te amo do mesmo jeito que a meu irmão.

Ele a tinha escutado pacientemente, pois conhecia o caráter voluntarioso da jovem; mas suas últimas palavras o machucaram profundamente.

— Droga, Crissy. Não quero ser seu irmão. Amo-te. Desejo-te como um homem deseja a uma mulher. — Aproximou-se dela e, tomando-a das mãos a aproximou. — Desejo-te mais do que jamais desejei a ninguém. Só penso em te abraçar e fazer amor. Converteu—se em uma obsessão.

— Tommy, está falando tolices. Não quero ouvir nada mais! Christina se afastou bruscamente do jovem e logo depois

Johnsy, a velha babá da jovem, entrou na habitação servindo o chá. Não se falou mais no tema.

Saborearam um agradável almoço depois de dar um longo passeio para aliviar a tensão. Depois que Christina recuperou sua atitude normal e despreocupada, Tommy teve o bom senso de não mencionar novamente seus sentimentos.

Mas naquela mesma noite, enquanto Tommy estava deitado em sua própria cama, pensava em Christina e na tarde que tinham passado juntos, sentiu uma terrível apreensão. De repente teve a certeza de que se Christina viajasse para Londres naquele verão,

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como tinha planejado, isso mudaria sua vida inteira e estragaria a de Tommy. Mas ele nada podia fazer para impedi-la.

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CAPÍTULO 2

Várias estrelas cintilavam naquela clara madrugada. Uma

morna brisa balançava brandamente as folhas das árvores e, de vez em quando, podia se observar a lua cheia e redonda que iluminava a paisagem. Mas a paz da bela paisagem inglesa foi interrompida pela carruagem dos Wakefield que avançava pelo caminho solitário e poeirento.

No interior da carruagem espaçosa e luxuosa, John Wakefield contemplava pensativo sua própria imagem refletida no guichê. Uma vela solitária assegurada a um suporte, no rincão oposto, emitia uma tênue luz que banhava o interior de veludo azul escuro da carruagem. John pensou que bem podia apreciar aquele viaje a cidade; sabia que Crissy gostava. Virou-se para olhar a sua irmã, que dormia tranquilamente no assento, frente a ele.

Christina Wakefield tinha deixado de ser uma menininha travessa para se transformar em uma mulher de beleza surpreendente, e todo isso tinha acontecido no breve ano que John tinha estado fora de sua casa. Um mês atrás, de sua volta, tinha se impressionado ao vê-la tão formosa, e ainda não tinha deixado de admirar a incrível transformação. O corpo da jovem tinha alcançado uma assombrosa perfeição e inclusive seu rosto tinha mudado de tal modo que John mal podia reconhece-la.

Contemplou seu rosto, enquanto ela dormia serenamente. Sobressaiam-se as altas maçãs do rosto, tinha espessos cílios que pareciam ter crescido muito, em apenas um ano. O nariz reto e estreito e o queixo bem delineado parecia haver acentuado mais, agora que tinham perdido a redundeis infantil. John sabia quanto trabalho lhe custaria manter afastados os jovens pretendentes quando chegassem à cidade.

Crissy tinha querido realizar esta viagem a Londres ao cumprir os dezoito anos e John não tinha visto motivo para lhe negar o pedido pois Christina Wakefield sempre conseguia o que desejava. Seu pai sempre se viu submetido aos caprichos de sua filha, e agora acontecia o mesmo com John. Bem, não se importava. John se agradava em agradar a sua irmã: era o único parente que estava vivo.

Recordou claramente aquele dia fatal, quatro anos atrás, em que Jonathan Wakefield tinha morrido em um acidente de caça. John teve que informar a Crissy da morte de pai, sua mãe se sentiu tão afetada que faleceu três semanas depois, segundo o médico morreu de desgosto. Mesmo de luto, John conseguiu ajudar Crissy a suportar a prova. Crissy tinha passado a maior parte desse período cavalgando desenfreadamente nos terrenos da propriedade, montada em seu

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cavalo negro. John a permitia montar dia e noite, isso a ajudou a esquecer suas dificuldades.

Naquele momento John desejou rir. De fato, que dificuldades podiam ter uma jovem de sua idade? Bem, ele tinha aprendido, em muito pouco tempo depois, que os problemas não escolhiam idade. A equitação ajudou Crissy a suportar sua perda e assim, depois de perder bruscamente seus pais, voltou para a normalidade provavelmente mais rápido que ele.

Depois, John se responsabilizou pela educação de Crissy; mas não poderia ter feito sem a ajuda da senhora Johnson, chamavam-na Johnsy. Tinha sido a babá de ambos quando eram pequenos, mas agora a boa mulher se ocupava da Residência Wakefield fiscalizando e organizando a propriedade. John recordava a figura de Johnsy, que agitava o dedo energicamente antes da partida para Londres dos dois irmãos, em seus olhos castanhos uma expressão inquieta.

— Johnny, vigie a minha menina – recordo-o, pela terceira vez nessa manhã. — Que não se apaixone por nenhum desses cavalheiros de Londres. Não me agradam as atitudes desses elegantes, com suas maneiras altivas... De modo que não os tragam para casa!

Crissy riu e caçoou de Johnsy enquanto subia à carruagem. — Que vergonha, Johnsy. Como poderia me apaixonar por um

elegante londrino enquanto tiver Tommy me esperando? Crissy enviou um beijo a Tommy Huntington, que tinha vindo

para se despedir. Tommy inclinou a cabeça, fingindo serenidade, mas John pôde perceber que o moço não via com bons olhos a viagem de Crissy à cidade.

Tommy vivia com seus pais, lorde Huntington, em uma propriedade vizinha. Como nas redondezas não viviam meninos da idade de Crissy, ela e Tommy tinham sido companheiros inseparáveis de infância. John e lorde Huntington sempre tinham a esperança de que um dia os dois jovens se casariam. Mas Tommy, com seus cabelos claros e seus olhos castanhos, tinha apenas seis meses a mais que Crissy, e aos olhos de John ainda era um rapazinho. Em troca, Crissy já era uma moça, em idade de casar. John tinha acreditado que Tommy amadureceria com a mesma rapidez que Crissy; em todo caso, se ela o amava, possivelmente aceitaria espera-lo.

John pensou distraído: quem sabe como funciona a mente de uma mulher. Nem sequer compreendia os sentimentos de Crissy pelo Tommy. Não sabia qual o verdadeiro sentimento que a jovem tinha pelo rapaz. Mais tarde a interrogaria sobre o assunto, mas provavelmente ela estaria tão atarefada nas semanas seguintes que John não teria oportunidade de abordar o tema.

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John sorriu, imaginando as expressões surpreendidas dos jovens que se aproximariam de Crissy, quando descobrissem que ela não só era formosa, mas também inteligente. John sorriu para si mesmo, e recordou a acalorada discussão que seus pais tinham mantido em relação à educação de Crissy. Tinham chegado a um consenso e educaram Crissy como um rapaz, mas também lhe ensinaram as artes femininas da costura e da cozinha, ou pelo menos tentaram ensinar quando a mãe conseguia encontra-la.

Sim, Crissy era uma jovem educada e formosa, mas tinha seus defeitos. Sua obstinação era um defeito herdado de sua mãe, uma mulher que mantinha sua atitude, não importava qual fosse o tema, se acreditava que a razão estava ao seu favor. Outro defeito era seu caráter vivaz; ela conseguia se irritar pela coisa mais insignificante.

John suspirou, pensando que as duas semanas seguintes seriam muito agitadas. Bem, só duas semanas. Começou a cochilar, enquanto a carruagem avançava pelo caminho solitário que levava a Londres.

Christina e John Wakefield dormiam ainda quando a carruagem parou em frente à casa de dois pisos da Praça Portiand. O sol aparecia sobre o horizonte, o céu mudava de rosado ao azul claro e as aves cantavam alegremente.

Christina despertou quando o chofer abriu a porta da carruagem.

— Chegamos senhorita Christina. — disse o homem com expressão de desculpa e se dirigiu atrás para retirar a bagagem da traseira do sólido veículo.

Christina se endireitou no assento e arrumou os cabelos, que formavam largas tranças e emolduravam seu rosto. Alisou o vestido e olhou para John que ainda dormia profundamente, os cabelos loiros lhe cobriam a alta frente.

Sacudiu-lhe brandamente a perna. — John, já chegamos! Acorda! John abriu lentamente os olhos azul escuro e sorriu, passando

uma mão pelos cabelos enquanto se levantava. Christina viu que tinha os olhos avermelhados. Provavelmente não tinha dormido muito durante a noite. Ela se surpreendeu de ter dormido tão profundamente.

— Vamos, John! Já sabe quão entusiasmada estou. — rogou a seu irmão.

— Acalme-te, mocinha. — sorriu John, esfregando os olhos. — Os Yeats provavelmente ainda dormem.

— Mas eu posso desempacotar e ordenar minhas coisas e depois passarei o dia fazendo compras. Disse que podia comprar um enxoval novo, e qual melhor oportunidade para faze-lo que durante

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meu primeiro dia aqui? Assim poderei usar os objetos novos durante nossa estada. — disse a jovem com expressão feliz, enquanto de um salto descendia da carruagem.

— Crissy, esse professor de etiqueta não te ensinou nada? — Repreendeu-a seu irmão, meneando a cabeça ante a falta cometida pela jovem. — Sei que está entusiasmada, mas da próxima vez espere que eu te ajude a descender da carruagem.

Subindo os poucos degraus que os levava a habitação, e John golpeou com força a porta.

— É provável que todos estejam dormindo. — ainda disse e voltou a chamar.

Mas as porta se abriram de par em par e os dois irmãos se olharam surpreendidos. Uma mulher pequena e gordinha de bochechas vermelhas e cabelos cinza recebeu-os com um sorriso.

— Vocês são certamente Christina e John Wakefield. Entrem.. Entrem. Estávamos esperando-os.

Entraram em um pequeno vestíbulo cujo piso estava coberto com um tapete oriental; ao fundo, existia uma escada. Havia uma mesa de mogno contra a parede, e sobre ela muita figurinhas de cerâmica.

— Sou a senhora Douglas, a governanta. Depois da viagem certamente estão cansados. Desejam descansar um pouco antes de começar o dia? O senhor e a senhora Yeats ainda não se levantaram. — disse a mulher com voz tranquila, enquanto os levava para a escada.

— É provável que John queira dormir um pouco mais, mas eu desejaria um banho quente e depois o café da manhã, se não for dar muito trabalho. — disse Christina enquanto chegavam ao corredor do primeiro piso.

— Não, senhorita. — disse a senhora Douglas. Mostrou-lhes as habitações e se retirou. O chofer subiu com a bagagem e depois foi ocupar—se dos

cavalos. John se desculpou, explicando que só desejava dormir um pouco. Naquele momento entrou uma jovem criada com água para o banho de Christina.

— Sou Mary, a criada do primeiro piso. — explicou timidamente, enquanto aproximava uma larga banheira e jogava a água. — Senhorita, se necessitar algo, diga-me.

— Obrigado, Mary. Christina examinou a habitação. Era pequena comparada com o

dormitório que ocupava em sua casa, mas elegante. Um tapete de felpa dourada cobria o piso, e o leito com dossel dourado tinha uma pequena cômoda coberta de mármore a um lado. Na esquina, ao lado

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da única janela, cortinas de veludo verde claro, e um espelho com marco dourado apoiado contra outra parede.

Mary terminou de retirar os objetos que Christina havia trazido consigo e naquele momento trouxeram mais água; Christina ficou sozinha. Depois de recolher os cabelos, a jovem se despiu e se inundou na água cálida e fumegante. Apoiou o corpo no metal da banheira e relaxou.

Fazia muito que Christina sonhava com esta viagem a cidade. Sempre era considerada muito jovem para poder viajar e no ano anterior, quando ela tinha dezesseis, John estava ausente com seu regimento. Tinha retornado ao lar como tenente do exército de Sua Majestade e esperava novas ordens.

Christina tinha passado à vida inteira na Residência Wakefield. Mas sua infância no campo tinha sido maravilhosa; brincava de correr como um varão e freqüentemente se metia em problemas. Recordava que Tommy e ela estavam acostumados a esconder-se nos estábulos de Huntington e ali ouviam resmungar o velho Peter, o chefe dos cavalheiros. Sempre estava resmungando e falando consigo mesmo ou com os cavalos. Christina tinha aprendido com o velho Peter um vocabulário absolutamente impróprio para uma dama; por outra parte, não entendia a maioria das palavras. Mas um dia o pai de Tommy os tinha descoberto no estábulo. Ambos tinham recebido uma severa repreensão e durante muitíssimo tempo Christina não tinha podido aproximar-se dos estábulos do Huntington.

Christina já não era a menina travessa de antigamente. Agora usava vestidos em lugar das calças que Johnsy lhe tinha confeccionado porque a menina sempre estava sujando—se e rasgando seus vestidos. Agora era uma dama, e lhe agradava sê-lo.

Christina terminou de banhar-se e se cobriu com um vestido de algodão floreado. Sabia que não era a moda, mas desejava sentir-se cômoda enquanto fazia suas compras. Penteou os longos cabelos dourados e depois os prendeu formando uma massa de cachos e tranças. Recolheu o chapéu que pensava usar e desceu para tomar o café da manhã.

Abriu uma das portas que davam ao vestíbulo e descobriu o refeitório. John estava sentado frente à enorme mesa em companhia de Howard e Kathren Yeats. Christina percebeu o suave aroma de presunto e maçãs, pois na mesa abundavam estes mantimentos, assim como ovos e pães-doces.

— Christina, querida, não sabe quanto nos agrada vê-la aqui. — Kathren Yeats lhe sorriu com seus suaves olhos cinza. — Estávamos falando com John, sobre as festas às que fomos convidados; além disso, antes que conclua sua visita poderá assistir a um grande baile.

Howard Yeats interveio:

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— Em primeiro lugar, esta noite assistiremos a um jantar formal na casa de um amigo. Mas não se preocupe... Ali encontrará também jovens. — adicionou rindo.

Howard e Kathren Yeats estavam ao final dos quarenta; formavam um casal alegre e robusto, sempre ativo e satisfeito com a vida. Christina e John os conheciam há muito tempo, pois eram antigos amigos da família.

— Não vejo a hora de sair e conhecer a cidade! — Disse entusiasmada Christina, enquanto enchia seu prato com um pouco de cada fonte. — Desejaria terminar hoje mesmo minhas compras. Virá comigo, Kathren?

— É obvio querida..Iremos à Rua Bond. Ali há muitas lojas. — Pensei que poderia te acompanhar, pois não consegui voltar a

dormir. Também desejaria fazer algumas compras. — disse John. Não estava disposto a permitir que Crissy caminhasse sem ele

por essa cidade perigosa, e não se tranquilizava com o fato de que Kathren Yeats a acompanhasse.

Christina pensou que John se sentia cansado; mas parecia tão entusiasmado como ela mesma. Uma donzela lhe encheu a xícara de chá quente e fumegante, enquanto Crissy saboreava um delicioso prato de ovos com toucinho.

— Em um minuto estou terminado. — disse Christina, pois percebeu que todos tinham concluído o café da manhã.

— Leve o tempo que quiser, menina. — disse Howard Yeats, com expressão divertida em seu rosto avermelhado. — Dispõe de todo o tempo do mundo.

— Crissy, Howard tem razão. Não tenha tanta pressa. — repreendeu-a John. Terá que adiar suas compras por culpa de uma dor de estômago.

Todos riram, mas Christina continuou devorando velozmente; desejava sair o quanto antes. Não tinha previsto que a primeira noite de sua estadia em Londres teria que vestir-se formalmente. Tinha apenas um traje de noite, que tinha mandado confeccionar para o último baile de lorde Huntington.

Passaram à manhã inteira e parte da tarde visitando as lojas. Havia um par de lojas que ofereciam objetos de confecção, mas Christina encontrou unicamente três vestidos de rua que a agradaram, com os correspondentes sapatos e chapéus que faziam jogo. Mas não achou vestidos de noite, de modo que o resto do tempo foi à casa de uma costureira, para que tomassem medidas e a escolher tecidos e adornos. Encomendou três vestidos de noite e duas mais de rua, todos com os correspondentes acessórios.

A costureira disse que necessitava pelo menos quatro dias para terminar o pedido, mas que daria preferência aos vestidos de noite, de

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modo que Christina pudesse recebê—los antes. Finalmente retornaram a casa, comeram um almoço leve e depois se deitaram.

Aquela noite todos os empregados comentaram quando Christina e John Wakefield chegaram ao jantar. Formavam um casal muito interessante, com seus cabelos loiros e a excelente aparência de ambos. Christina se sentiu desconfortável com seu vestido de noite violeta escuro; porque todas as jovens vestiam cores claras. Mas se tranquilizou quando John lhe disse ao ouvido:

— Crissy, é a mais elegante de todas. Os donos da casa apresentaram os restantes dos convidados e

Christina se sentiu muito feliz. As mulheres paqueravam descaradamente com John, e esta atitude a chocou um pouco. Mas se sentiu ainda mais surpreendida pelo modo que os homens a encaravam; parecia que a despiam com os olhos. Pensou que teria muito que aprender a respeito dos costumes da cidade.

O jantar foi servido em uma espaçosa e bem decorada mesa. Christina se sentou entre dois jovens que a elogiaram excessivamente. O homem da esquerda, o senhor Peter Browne, tinha o irritante costume de lhe segurar a mão enquanto falava. A sua direita, sir Charles Buttler tinha olhos azuis que não se separavam dela nem um minuto. Os dois homens rivalizavam pela atenção de Christina e cada um se vangloriava e tratava de debochar do outro.

Ao concluir a comida as mulheres se retiraram do salão e deixaram aos homens com seus brandy e seus charutos. Christina teria preferido permanecer com os homens e falar de política ou de assuntos de interesse geral. Em troca, viu—se obrigada a escutar as últimas falações a respeito de pessoas a quem não conhecia.

— Sabe, querida, esse homem insultou a todas as jovens bonitas que seu irmão Paul Caxton lhe apresentou. É desumano o modo que as desprezam. — dizia uma viúva a sua amiga.

— É certo que aparentemente não lhe interessam as mulheres. Nem sequer dança. Não lhe parece que é... Enfim, um indivíduo de costumes estranhos, verdade? Já sabe... A classe de homens que não se interessa pelas mulheres. — replicou a outra.

Como pode dizer isso se tem um ar tão viril? Todas as jovens que buscam maridos da cidade de boa vontade gostariam de apanha-lo... Mesmo as tratando muito mal.

Christina se perguntou de quem estariam falando essas damas, mas em realidade não lhe importava. Sentiu-se muito aliviada quando ela e John puderam retirar-se. Na carruagem, de retorno a casa, John sorriu perversamente.

— Olhe, Crissy, três jovens admiradores de sua pessoa me abordaram em particular para perguntar se podiam te visitar.

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— Mesmo, John? — Replicou Crissy, tratando de conter um bocejo. — O que você disse para eles?

— Disse que seus gostos se faziam muito severo e que não estava disposta a dar nem dois centavos por todos.

Christina abriu os olhos exageradamente. — John, não disse isso! — Exclamou. — Jamais poderei olhá—

los à cara! Howard Yeats posse a rir. — Christina, esta noite te vejo muito crédula. Onde está seu

senso de humor? — Em realidade disse-lhes que não impunha a ti quando se

tratava de determinar a quem recebia ou não recebia... Que era assunto exclusivamente seu dizer se queria visitas ou não. — respondeu calmosamente John, enquanto a carruagem parava frente à casa dos Yeats.

— Olhe... Nem sequer pensei nisso. Não saberia o que dizer ou fazer se me visitasse um cavalheiro. A única pessoa que me visitou às vezes foi Tommy, e para mim é como um irmão. — disse Christina com expressão séria.

— Querida, chegará à hora de te acostumar — disse Kathren com ar de conhecedora. De modo que não é necessário que se preocupe por isso.

Os dias passaram velozmente para Christina, que assistia a festas, reuniões sociais. Peter Browne, o companheiro de jantar da primeira noite em Londres, declarou que se sentia encantado por ela e a irritava com suas constantes declarações de amor. Inclusive pediu a John a mão da jovem.

— Peter Browne ontem pediu minha mão, e sir Charles Butder me disse isso hoje enquanto cavalgávamos pelo parque. Estes londrinos são um pouco repulsivos, verdade? Bem, não quero vê-los mais! É ridículo que pensam que todas quão jovens vêm a Londres estão procurando marido. E afirmam que estão apaixonados, quando apenas me conhecem... É absurdo! — Disse Christina a seu irmão, que se divertiu muito com a indignação da jovem.

Aquela noite era o primeiro baile de Christina. Tinha ansiado aquele momento fazia um mês ou, mais exatamente, desde que tinha aperreado ao marido de Johnsy para que lhe ensinasse alguns passos. Tinha reservado para aquela noite seu vestido mais bonito, e se sentia tão entusiasmada como um menino com um brinquedo novo. Até agora, sua temporada em Londres não tinha sido o que ela tinha previsto. Mas aquela noite seria distinta! E guardava a esperança de que Peter e sir Charles fossem ao baile, porque estava decidida a ignora-los.

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CAPÍTULO 3

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Paul Caxton estava sentado frente à janela de seu escritório e seu rosto tinha uma expressão sombria. Refletia a respeito de seu irmão mais velho, Phillip, a quem nunca tinha entendido. Phillip tinha sido um menino silencioso e retraído, e a convivência com seu pai nos últimos anos não tinha melhorado sua atitude.

Phillip tinha se mostrado descontente desde sua volta a Londres, um ano antes, para assistir o casamento de Paul. Este tinha tratado de convence-lo de que permanecesse na Inglaterra, com a esperança de que Phillip acabasse casando-se, assentasse-se e formasse uma família. Mas Phillip se converteu em um bárbaro depois de viver tanto tempo com seu pai no deserto. Paul e sua esposa Mary tinham apresentado muitas jovens a Phillp, mas este as tinha desprezado.

Paul não podia entender a atitude de Phillip. Sabia que podia ser um homem encantador e cortês quando o desejava, pois tratava Mary com o maior respeito. Mas Phillip não se importava com o que a sociedade pensava dele. Negava-se a representar o papel do cavalheiro, por muito que isso incomodasse ao Paul.

Phillip tinha chegado à noite da véspera depois de passar um mês na propriedade que os irmãos tinham no campo. Sempre se demonstrava como um homem bem equilibrado, mas se encolerizou quando Paul lhe falou do baile que iria oferecer aquela noite.

— Se seu plano é me jogar nos braços dessas senhoritas da sociedade, como as quais já conhecem juro que abandonarei definitivamente a cidade! — Explodiu Phillip. — Paul, quantas vezes terei que te dizer que não desejo esposa? Não quero ter uma mulher emperiquitada e entediante que me obrigue a perder meu tempo. Tenho coisas mais importantes a fazer do que adornar uma mulher. — Phillip passeou agitado de um extremo ao outro da habitação. — Se desejar uma mulher, a tomo, mas só para passar uma noite de prazer, sem compromissos. Não desejo que me sujeitem. Droga, quando colocará isso na cabeça?

— Mas, o que ocorrerá se um dia te apaixona... Como eu me apaixonei? Nesse caso, casar-te-á? — Atreveu-se a dizer Paul, consciente de que o latido de seu irmão era pior que sua mordida.

— Se esse dia chegar, é obvio me casarei. Mas não alimente esperanças, irmãozinho, porque já vi o que esta cidade pode me oferecer. Jamais veremos esse dia.

"Bem, pensou Paul, sorrindo para si mesmo; era possível que Phillip se surpreendesse essa noite, durante a festa." Abandonou bruscamente a cadeira, e subiu a escada, três degraus por vez. Estava muito alegre e descarregou vários golpes sonoros na porta de seu irmão, e apareceu ao interior. Phillip estava sentando-se na cama e se esfregava os olhos para dissipar o sono.

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— Moço é hora de vestir-se — disse perversamente Paul. — E usa seus melhores objetos. Quererá seduzir a todas essas damas, verdade?

Paul se apressou em fechar a porta quando um travesseiro golpeou fortemente contra a madeira. Riu sonoramente enquanto caminhava pelo corredor, em direção a sua habitação.

— O que te diverte tanto, Paul? — Perguntou Mary quando seu marido entrou na habitação rindo ainda.

— Acredito que esta noite Phillip receberá seu castigo e nem sequer sabe — respondeu Paul.

— Do que está falando? — De nada, querida, absolutamente de nada! — Exclamou. Elevou em braços a sua esposa e começou a descrever rápidos

círculos no centro da habitação. Phillip Caxton estava irritado. No dia anterior tinha discutido

com seu irmão a respeito das mulheres e o matrimônio e agora Paul insistia:

— Olhe quantas belezas elegíveis estão nesse salão — dizia seu irmão, com uma piscada dos olhos verdes. — É hora de que sente cabeça e dê um herdeiro aos Caxton.

Paul estava exagerando. Phillip se perguntou qual seria seu jogo. — Pretende que eu escolha uma esposa, e que seja uma destas

jovens atrasadas de nossa sociedade? — Disse sarcasticamente. — Aqui não vejo ninguém a quem desejo convidar nem sequer a meu dormitório.

— Phillip, por que não dança? — Disse Mary, se aproximando. — Que vergonha, Paul, está impedindo que seu irmão conheça estas bonitas jovens.

Apoiou o braço no do Paul. Phillip sempre sorria para si mesmo quando Mary chamava "as

jovens" às moças de sua própria idade. Mary tinha apenas dezoito anos, e era muito formosa, com seus grandes olhos felinos e os cabelos castanhos claros. Paul a havia desposado fazia apenas um ano.

Phillip replicou com bom humor: — Querida, quando encontrar a uma donzela tão bela como você

me sentirei muito feliz de dançar toda a noite. Nesse momento Phillip viu Christina, que estava apenas a um

metro de distância. Parecia uma visão! Nunca tivesse acreditado que uma mulher podia ser tão bela.

Ela o olhou antes de voltar-se, mas naquele momento a imagem feminina ficou gravada para sempre na mente do homem. Seus olhos o fascinaram, escuros anéis de azul marinho ao redor de um centro verde claro. Os cabelos eram uma reluzente massa dourada de

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cachos e algumas mechas soltas lhe cobriam parcialmente o pescoço e as têmporas. Tinha o nariz reto e estreito e os lábios suaves e sedutores, como feitos para ser beijados.

Levava um vestido de cetim azul safira escura. O decote permitia entrever os seios suaves e redondos, e várias cintas celestes destacavam a cintura estreita. Era perfeita.

Phillip interrompeu o olhar quando a mão de Paul agitou a frente de seus olhos. Finalmente, desviou a vista para seu irmão que sorria.

— Está aturdido? — Riu Paul. — Ou será que a senhorita Wakefield atraiu seu olhar? Por que acha que insisti em que viesse esta noite? Vive com seu irmão em Halstead e veio aqui a passar a temporada. Desejaria conhece-la?

Phillip sorriu. — É necessário que o pergunte? Christina viu um homem que a olhava grosseiramente. Pouco

antes tinha ouvido seus comentários, insultantes para todas as damas que estavam no salão. Possivelmente era a mesma pessoa cujos maus modos eram tema de conversação em Londres.

Virou-se quando percebeu que se aproximava. Teve que reconhecer que era o homem mais elegante que ela tinha visto; mas então recordou que tinha vivido isolada e tinha conhecido a muito poucos homens.

— Desculpe-me, John — disse a seu irmão. — Mas aqui faz muitíssimo calor. Poderíamos passear pelo jardim?

Deu um passo, mas a deteve uma voz a suas costas. — Senhorita Wakefield. Christina não teve mais remédio que virar-se. Viu uns olhos

verdes com reflexos amarelos. Sentiu-se abobalhada. Pareceu que transcorria uma eternidade antes que ela voltasse a ouvir as vozes.

— Senhorita Wakefield, conhecemo-nos ontem, no parque... E você disse que viria a esta festa. Recorda-o, verdade?

Christina se virou finalmente para o jovem alto e sua esposa. Sim, recordo-o. Paul e Mary Caxton, não é assim? — Em efeito — disse Paul. — Desejo lhe apresentar o meu

irmão, que também está de visita na cidade. A senhorita Christina e o senhor John Wakefield; meu irmão, Phillip Caxton.

Phillip Caxton estreitou a mão de John e beijou a de Christina, e quando o fez ela sentiu que um estremecimento percorria seu braço.

— Senhorita Wakefield, sentir-me-ia muito honrado se me concedesse a próxima dança — disse Phillip Caxton, sem lhe soltar a mão.

— Sinto muito, senhor Caxton, mas me dispunha a dar um passeio com meu irmão. Aqui faz muitíssimo calor.

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Por que estava oferecendo explicações a esse homem? — Então me permita escolta-la, é obvio com a permissão de seu

irmão — olhou John. — Certamente, senhor Caxton. Acabo de ver um conhecido com

quem desejo falar, de modo que você me fará um favor.

Ela pensou irritada: "OH, John, como pode me fazer isto." Mas Phillip Caxton já a guiava entre os grupos de convidados, em direção às portas. Quando pararam no terraço, Christina retirou imediatamente sua mão da mão de Phillip. Caminharam uns passos antes que ela voltasse a ouvir outra vez a voz profunda do homem.

— Christina, seu nome é encantador. Essa desculpa do calor foi um modo feminino de me atrair aqui?

Ela se virou para olha-lo e o fez com movimentos muito lentos, as mãos nos quadris e os olhos faiscantes.

— Seu vaidoso insofrível! Seu orgulho é impressionante. Está certo de que esta mocinha tola é digna de que você a convide ao seu dormitório?

Christina não viu a expressão de assombro do rosto de Phillip quando ela se virou para retornar ao salão. Tampouco viu o lento sorriso que substituía à expressão de assombro.

"Que me enforquem pensou ele, movendo a cabeça. Não é nenhuma mocinha tola. É uma cobrazinha. Droga, fiz besteira." Fechou os olhos e a viu frente a ele e compreendeu que a necessitava. Mas era incontestável que a coisa tinha começado mal, desde o primeiro minuto tinha demonstrado antipatia por sua pessoa. Bem, não estava disposto a renunciar. De um modo ou de outro, a teria.

Phillip retornou ao salão e viu que Christina estava a salvo, com seu irmão. Observou a noite inteira, mas ela arrumava um jeito de evitar seu olhar. Phillip decidiu manter-se a distância, porque não tinha objetivo piorar ainda mais a situação. Dar-lhe-ia uma oportunidade de acalmar-se durante a noite e à manhã seguinte renovaria seus ataques.

CAPÍTULO 4

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O sol já estava alto quando Christina abandonou seu leito.

Calçou as sapatilhas e fixou a bata, aproximando-se da janela. Perguntou-se que hora seria. Recordou a festa, e que toda a noite se moveu inquieta na cama.

Não podia esquecer aqueles olhos estranhos olhando-a insolentemente e o rosto bem formado. Phillip Caxton era mais alto que a maioria dos homens, possivelmente media um metro oitenta e cinco, era magro e musculoso. Tinha os cabelos negros e a pele intensamente bronzeada, a qual o distinguia dos elegantes londrinos de pele muito clara.

Pensou "O que esta acontecendo com você, Christina? Por que não pode se desviar seus pensamentos desse homem? Insultou-te, mas continuava recordando-o. Bem, se for possível evita-lo, não voltará a ver o Phillip Caxton."

Tirou a bata e as sapatilhas e de seu guarda-roupa retirou um de seu próprio gosto, descendeu a escada em busca de seu irmão.

Christina entrou na sala de jantar e encontrou à senhora Douglas e a uma das criadas retirando o que pareciam os restos de um almoço.

— Olá, senhorita Christina, começávamos a nos perguntar se estava doente. Deseja tomar o café da manhã? Ou talvez prefira almoçar já? — Perguntou à senhora Douglas.

Christina sorriu ao mesmo tempo em que se sentava. — Não, obrigado, senhora Douglas. Será suficiente umas

torradas e uma taça de chá. Onde estão todos? — Bem, o senhor John disse que tinha que fazer algumas

diligencia e saiu pouco antes que você levantasse — disse a senhora Douglas, enquanto servia uma xícara de chá a Christina. — E o senhor e a senhora Yeats estão dormindo a sesta.

A criada entrou com uma bandeja de torradas e geléias. — Senhorita Christina, quase o esqueci — disse a senhora

Douglas. — Esta manhã veio um cavalheiro a vê-la. É muito insistente... Já veio três vezes. Acredito que é o senhor Caxton. — Interrompeu-a um golpe na porta. — Certamente é ele.

Christina se mostrou irritada. — Bem, seja o mesmo ou qualquer outro, lhe diga que não me

sinto bem e que hoje não receberei visitas. — Muito bem, senhorita. Mas este senhor Caxton é um homem

muito arrumado — replicou à senhora Douglas antes de sair para responder a chamada...

Retornou pouco depois, movendo a cabeça.

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— Sim, era o senhor Caxton. Pediu-me que lhe dissesse que lamenta que não se sinta bem, e que espera que manhã esteja melhor.

John e ela pensavam retornar a sua casa no dia seguinte, de modo que não precisaria ver novamente o senhor Caxton. Christina sentia falta do campo, e também das cavalgadas diárias em seu cavalo Dax. De boa vontade retornaria a casa.

Dax e Princesa tinham nascido ao mesmo tempo, e o seu pai a tinha presenteado com Princesa. Mas Princesa era branca e mansa, e em troca Dax era um pardal negro de caráter áspero. Por isso Christina tinha convencido o seu pai a que o desse de presente e para obter seu propósito tinha prometido adestrar o de tal modo que mostrasse um caráter mais manso.

Entretanto, Dax era manso só com Christina. A jovem ria de boa vontade quando recordava que dois anos atrás John tinha tentado montar Dax. O cavalo só suportava Christina. Se voltar para casa, logo esqueceria a figura do grosseiro Phillip Caxton, e ao Peter Browne e sir Charles Buttler.

Christina ouviu a porta principal que se abria e fechava e John apareceu na soleira.

— De modo que ao fim conseguiu abandonar a cama. Esperei-te esta manhã, até o meio-dia e renunciei. — John se apoiou no marco da porta. Encontrei-me com Tom e Anne Shadwell. Como recordará, ele esteve em meu regimento. Convidaram-nos para jantar esta noite com alguns de seus amigos. Pode te preparar para as seis?

— Acredito que sim, John. — Fora encontrei o senhor Caxton. Disse que tinha vindo de

visita, mas que você não se sentia bem. Ocorre algo? — Não. Só que hoje não desejo ver ninguém — respondeu a

jovem. Bem, partiremos amanhã, de modo que hoje é sua última oportunidade de encontrar um bom marido — burlou-se John.

— Caramba, John! Sabe que não vim à cidade para isso. O que menos desejo é me casar e ver-me escravizada pelas obrigações conjugais. Quando encontrar a um homem que me trate como igual, possivelmente então contemple a possibilidade do matrimônio.

John se pôs a rir. — Avisei a nosso pai que a educação que recebeu seria sua

ruína. Onde está o homem que deseje uma esposa tão inteligente como ele?

— Se todos os homens fossem débeis e tímidos, jamais me casaria... E não o lamento!

— Não direi que compadeça ao homem que conquiste seu coração — disse John. Sem dúvida, será um matrimônio muito interessante.

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Dito isto, saiu da habitação. Christina refletiu a respeito do que John havia dito. Duvidava

de que jamais pudesse achar a classe de amor que podia fazê—la feliz: a classe de amor que tinha unido a seus pais. Eles tinham tido um matrimônio perfeito, até a morte de ambos, quatro anos atrás. Depois, John e Christina se aproximaram mais que nunca um ao outro.

E o último ano John tinha obtido uma ascensão no exército de Sua Majestade e agora desfrutava de licença e esperava novas ordens. De repente Christina decidiu que o acompanharia aonde quer que fosse. Sentiria saudades de Dax e de Wakefield, mas sentiria muito mais saudades de seu irmão se não o visse.

Tinha a esperança de que não o enviassem para muito longe. Ele não pensava seguir indefinidamente a carreira militar, mas de todos os modos desejava fazer algo por seu país antes de voltar para sua propriedade. No dia seguinte iriam para Wakefield e logo sairiam dali. Christina esperava que não demorasse muito.

Subiu o primeiro passo foi dirigir-se ao banheiro. Agradavam-lhe muito os banhos tranquilos e prolongados. Da mesma forma a equitação, tranqüilizavam-na e melhoravam seu estado de ânimo.

Christina decidiu escolher um traje especial, porque esta seria sua última noite em Londres. Escolheu um vestido Borgonha e disse a Mary que arrumasse os cachos loiros de acordo com a complicada moda do momento. Distribuiu em seus cabelos rubis vermelhos como o sangue e adicionou um colar ao jogo. Sua mãe tinha deixado a Christina rubis, safiras e esmeraldas. Os diamantes e as pérolas estavam destinados à esposa de John, para quando ele se casasse. Sua mãe lhe havia dito certa vez que sua cútis e seu cabelo eram muito claros e que não lhe convinha usar diamantes e Christina estava de acordo com essa opinião.

Admirou sua imagem refletida no espelho. Adorava usar objetos bonitos e jóias. Sabia que era formosa, mas não podia acreditar que fosse tão bela como todos estavam acostumados a dizer. Tinha os cabelos de um loiro tão claro que a frente alta e branca parecia prolongar-se no penteado. Entretanto, sua própria figura a agradava. Tinha os seios generosos, de forma perfeita, e os quadris eram esbeltos e acentuavam o perfil das largas pernas.

Um golpe na porta interrompeu o os pensamentos de Christina. Ouviu a voz de John. — Crissy, se estiver preparada, acredito que antes de ir jantar

podemos percorrer o parque pela última vez. Quando abriu a porta percebeu a expressão admirativa de John. — Vou por a capa e podemos sair — replicou alegremente a jovem.

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—Crissy, esta noite está muito formosa: embora para falar a verdade, sempre te vejo assim.

— John, adula-me; mas de todos os modos me agrada te ouvir dizer isso — burlou-se ela. — Vamos?

Christina e John deram um lento passeio pelo parque do Regente antes de pararem na frente a uma formosa residência da Rua Eustin. Tom e Anne Shadweil os receberam na porta e John os apresentou a Christina. Anne Shadwell era a mulher mais baixa que Christina tinha conhecido. Parecia uma boneca de porcelana, com os cabelos e os olhos negros, e a cútis branca. O marido era um homem corpulento, como John, e de traços ásperos. — John! Foram os últimos a chegar. Os restantes convidados estão no salão — disse Tom Shadwell enquanto os conduzia para o interior da casa.

Quando entraram no salão, Christina não pôde deixar de vê-lo. Era a pessoa mais alta que estava ali. OH, droga, pensou a jovem; esse homem estragaria sua última velada em Londres!

Phillip Caxton viu Christina apenas quando ela entrou na sala. Quando a olhou, Christina afastou o rosto em um gesto de desprezo. Bem, ele não esperava realizar uma conquista fácil. Na véspera, era evidente que ela o odiava.

Por pura casualidade se cruzou com John Wakefield nessa tarde e tinha sabido que ele e sua irmã estariam ali de noite. Paul conhecia o Tom Shadwell e pôde conseguir que o dono da casa o convidasse e fizesse o mesmo com Phillip.

Phillip também soube pelos lábios de John Wakefield que era a última noite que os irmãos passavam em Londres; portanto, tinha que apressar-se. Guardava a esperança de que Christina não se sentisse muito irritada pela audácia que ele demonstrava, mas de todos os modos não tinha outra saída que tratar de conquista-la naquela mesma noite. Pessoalmente teria preferido levar a Christina a sua própria casa e faze-la sua esposa, com ou sem protestos, ao estilo do povo de seu pai. Mas sabia que isso era impossível na Inglaterra. Tinha que tratar de conquistar seu afeto de acordo com os costumes da civilização.

Suspirou, amaldiçoando a falta de tempo. Embora possivelmente Christina Wakefield só se fizesse de difícil. Depois de tudo, as jovens iam a Londres em busca de marido. E ele não era um mal partido. Ainda assim, como a tinha conhecido apenas a véspera, as probabilidades não o favoreciam. Droga, por que não a tinham conhecido antes?

Anne Shadwell levou Christina onde estava Phillip. — Senhorita Wakefield, desejaria lhe apresentar... Viu-se

interrompida bruscamente.

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— Já nos conhecemos — disse Christina rapidamente. Anne Shadwell pareceu impressionada, mas Phillip fez uma

reverência de arrogante elegância, tomou firmemente o braço de Christina e a obrigou a caminhar para a varanda. Ela resistiu, mas Phillip estava certo de que a jovem não faria uma cena.

Quando chegaram ao corrimão, ela se virou bruscamente para enfrentar Phillip em atitude desafiante. Os olhos faiscavam e sua voz estava carregada de desprezo.

—Realmente, senhor Caxton! Acreditei que ontem à noite tinha esclarecido bem minha posição, mas como parece que você não entende, então explicarei outra vez. Não gosto de você. Você é um indivíduo grosseiro e cheio de si mesmo, e me parece uma pessoa intolerável. Agora, se você me desculpar, retornarei onde está meu irmão.

Virou-se para afastar-se, mas ele lhe agarrou a mão e a atraiu para si.

—Espere, Christina —pediu com voz rouca, obrigando-a a olha-lo nos olhos escuros.

—Realmente, não acredito que tenhamos nada que dizer, senhor Caxton. E por favor, abstenha-se de usar meu nome e sobrenome.

De novo se voltou, mas Phillip continuava aferrando a mão. Ela o enfrentou outra vez e agora, endurecida, golpeou o chão com o pé.

—Solte a minha mão! —Exigiu Christina. Tina, farei quando tiver ouvido o que quero lhe dizer —

respondeu ele, atraindo-a ainda mais. Tina? Disse ela, e lhe olhou hostilmente. —Como se atreve... ? —Faço o que eu quero fazer. Agora, cale-se e escute. —Divertiu-

lhe a incredulidade que se lia no formoso rosto. —Ontem à noite falei grosseiramente das mulheres só para tranqüilizar ao meu casamenteiro irmão. Nunca desejei me casar... Até que a conheci. Tina, te desejo. Honrar-me-ia se consentisse em ser minha esposa. Dar-lhe-ia o que quisesse... Jóias, formosos vestidos, minhas propriedades.

Ela o olhava de um modo muito estranho. Abriu a boca para dizer algo, mas não pôde pronunciar palavra. E então ele sentiu o golpe de sua mão na bochecha.

—Em minha vida nunca fui tão insultada... Mas não lhe permitiu terminar. Abraçou-a e a silenciou com um

beijo profundo e intenso. Apertou-a fortemente contra seu próprio corpo, sentiu a pressão de seus peitos e quase a impediu de respirar. Ela se debatia para liberar-se, mas seus esforços no máximo acentuavam o desejo de Phillip.

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De repente, inesperadamente, Christina caiu inerte nos braços do Phillip e ele baixou a guarda. Acreditou que Christina tinha desmaiado, mas contraiu o rosto quando sentiu uma dor aguda na perna. Soltou-a instantaneamente para segura a perna e, quando voltou a olhar, Christina corria para o interior do salão. Viu que se aproximava de seu irmão, que se afastou em seguida para procurar a capa da jovem e dizer algo ao dono de casa. Depois saiu do salão em companhia de seu irmão.

Phillip ainda sentia os lábios de Christina. Seu desejo não se apaziguou quando voltou os olhos para a rua e viu a Christina e a seu irmão que subiam à carruagem e se afastavam. Continuou observando ao veículo até que desapareceu e depois foi procurar ao Paul e lhe pediu que se desculpasse ante o Tom Shadwell. Não estava de humor para suportar o jantar.

Paul começou a protestar, mas Phillip já estava saindo do salão. Disse que tinha que sair devido a um imprevisto. Tinha se

comportado como um idiota. Bem, seria a última vez. Jamais antes tinha dado explicações a nenhuma mulher e não voltaria a faze-lo. Pensar que tinha acreditado realmente que podia conquista-la em uma noite. Não era uma empregada que sem vacilar aproveitaria da oportunidade de passar da miséria ao luxo. Christina era uma dama nascida no bem estar. Não necessitava a riqueza que ele podia lhe dar.

Devia ir ao lar de Christina em Halstead e iniciar um lento assédio. Mas aquele não era seu estilo. Além disso, jamais tinha cortejado a uma mulher. Estava acostumado a conseguir imediatamente o que desejava e desejava a Christina.

Christina tremia quando entrou correndo no salão. Ainda sentia os lábios de Phillip Caxton sobre os seus e os braços que a aprisionavam; e a endurecida virilidade entre suas pernas, o homem pressionando sobre ela. De modo que era assim que se beijava um homem a uma mulher. Ela sempre se perguntou como seria. Mas não tinha previsto a estranha sensação que Phillip Caxton tinha despertado nela: uma sensação que a atemorizava e ao mesmo tempo a excitava.

Felizmente, tinha lembrado o que sua mãe lhe disse certa vez: se um homem a abordava e ela desejava escapar, devia fingir que desmaiava e depois lhe descarregar o chute mais enérgico possível. Tinha sido eficaz, e Christina agradeceu em silencio a sua mãe pelo conselho recebido.

Christina se acalmou enquanto seu irmão foi em busca da capa. Explicou que tinha uma terrível enxaqueca e que desejava partir imediatamente. Quando ele retornou, ambos saíram em busca da carruagem.

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Olhou para a casa e viu Phillip Caxton na varanda, observando-os. Pensar que esse homem a desejava e a tinha pedido em matrimônio, mesmo conhecendo a antipatia que sentia Christina por ele. Que descaramento que audácia ilimitada!

Agora que estava a uma distancia segura de Phillip Caxton, Christina descarregou sua cólera. Tinha-o conhecido à véspera e hoje já a tinha pedido em casamento... Sem uma palavra de amor. Limitou-se a dizer que a desejava. Era inclusive mais impulsivo que Peter ou sir Charles. Estes pelo menos eram cavalheiros.

Quando pensava neles se irritava ainda mais. Esse homem não era um cavalheiro! Comportava-se como um bárbaro! Christina teria adorado voltar para a varanda e esbofetear de novo aquela cara arrogante.

Os sentimentos de Christina se refletiam em seu rosto e John, que tinha estado examinando-a em silêncio, interrompeu os pensamentos da jovem.

— Crissy, que demônios te passa? Eu diria que está muito nervosa. Havia-me dito que tinha enxaqueca.

Ela voltou os olhos para John, levou-se distraidamente uma mão à frente como quem tentava acalmar uma dor e de repente estalou.

—Enxaqueca! Sim, tive enxaqueca, mas a deixei ali na varanda. John, esse pedante insuportável me propôs matrimônio.

—Quem? —Perguntou serenamente John. —Phillip Caxton! E teve o descaramento de me beijar... Lá

mesmo, na varanda. John pareceu divertido. —Querida irmã, parece que encontraste um homem que sabe o

que deseja e tenta consegui-lo. Diz que te pediu em casamento, um dia depois de te haver conhecido! Pelo menos Browne e Buttler quiseram lhe conhecer um pouco mais. Parece que Phillip Caxton realmente te deseja.

Christina voltou a recordar o que Caxton havia dito e sua irritação se acentuou.

— Sim, deseja-me. Inclusive me disse isso e nenhuma palavra de amor... Só o desejo!

John se pôs a rir. Não era freqüente que visse tão irritada a sua irmã. Se Caxton tivesse tentado molestar Crissy, John não teria achado a mínima graça e teria obrigado ao homem a prestar contas de sua atitude. Mas mal podia criticar ao Caxton por um beijo e uma proposta matrimonial. Ele teria feito o mesmo se tivesse achado a uma mulher tão bela como Crissy.

— Olhe, Crissy, freqüentemente o desejo chega antes que o amor. Se Caxton dissesse que estava apaixonado por ti, provavelmente teria mentido. O que disse foi à verdade... Que te

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desejava. Quando um homem encontra a uma mulher que não pode viver, sabe que está apaixonado. Acredito que o amor precisa crescer lentamente, e isso leva mais tempo que dois dias, ou inclusive duas semanas. Entretanto, parece que Phillip Caxton está disposto a te amar, visto que te propôs casamento. Em lugar de te zangar tanto, poderia ter avaliado a proposta.

Christina começou a acalmar-se, recostou-se no assento e olhou pensativa para longe.

— Bem, de todos os modos pouco importa. Jamais voltarei a ver Phillip Caxton. Além do que, nunca deveria ter vindo a Londres. Aqui os homens não sabem o que querem. Limitam-se a competir para chamar a atenção: cada um se vangloria de que é melhor que o outro. E os homens como Phillip Caxton acreditam que basta pedir uma coisa para consegui-la. Esta não é vida para mim. Acredito que no fundo do coração sou uma moça camponesa. —Christina respirou profundamente e exclamou com lentidão. —OH, John, me alegro de voltar para casa!

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CAPÍTULO 5

Uma brisa suave agitou as saias de Christina quando ela e John

chegaram ao navio que devia leva-los ao Cairo. Christina foi conduzida para uma pequena cabine que teria que compartilhar com outra mulher. John ocupava outra cabine, diretamente à frente de Christina. Quando subiram a bordo a bagagem, Christina saiu da cobertura para olhar pela ultima vez a sua amada Inglaterra enquanto observava os marinheiros prepararem a saída do navio e lembrou-se do ocorrido pela manhã.

Os forte golpes na porta despertaram Christina, que tinha passado uma outra noite de sonho inquieto. John entrou na habitação e parou ao seu lado da cama, em seu rosto harmonioso com uma expressão distraída. Christina viu o papel que John trazia na mão, e esfregou os olhos para dissipar o sonho.

—Crissy chegou esta manhã. Lamento dizer que terei que partir imediatamente.

—Chegou o que? —Disse a jovem com um bocejo. —Do que está falando?

—De minhas ordens. Chegaram antes do que eu previa —replicou John, lhe entregando o papel.

Christina o leu, e agitou a cabeça incrédula. —Cairo! —Exclamou. —Mas isso está a mais de quatro mil

milhas de distância. —Sim, eu sei. Preciso partir dentro de uma hora. Crissy,

lamento te dizer que não posso te acompanhar a casa, mas Howard disse que de boa vontade te escoltará. Sentirei sua falta, irmãzinha.

Um sorriso se desenhou nos lábios de Christina. —Não, não o sentirá, irmão mais velho. Irei contigo! Decidi-lo

faz muito tempo. —Crissy, isto é ridículo! O que fará em um acampamento militar

no Egito? O tempo está terrível. Um calor ardente e um clima insalubre. Estragará sua beleza!

Christina afastou as mantas, saltou do leito e enfrentou John com as mãos nos quadris e uma expressão obstinada no rosto.

—John, irei. E isso é tudo! O ano passado, enquanto estive sozinha, senti-me muito mal. Não suportarei outra vez. Além disso, não permaneceremos tanto tempo no Egito. —Virou-se e deu uma olhada na habitação. —OH, estou perdendo o tempo! Sai daqui enquanto preparo a bagagem e me visto. Prometo—te que não demorarei muito.

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Christina expulsou da John habitação e pediu a Mary que a ajudasse no preparo da bagagem. Tinha que apressar-se, de modo que John não encontrasse uma desculpa para deixa-la em casa.

Em menos de uma hora se vestiu e estava pronta para partir. John não formulou objeções, e inclusive disse que se alegrava de que o acompanhasse.

Faltavam poucos minutos para iniciar a viagem para um país estranho, do qual Christina conhecia muito pouco.

Observando aos passageiros, Christina pensou que era estranho que seu irmão fosse o único oficial do exército que realizava essa viagem.

—Crissy, devia ter me esperado. Não quero vê-la sozinha no lado de fora!

Christina se impressionou ao ouvir as palavras de seu irmão, mas se tranqüilizou quando John se reuniu com ela ante o corrimão da coberta. —OH, John, protege-me muito. Estou perfeitamente bem aqui sozinha.

—Seja como for, durante a viagem preferiria que não saia da cabine sem escolta.

—Muito bem, se insistir —cedeu a jovem. —Estava pensando que é estranho que não haja outros oficiais a bordo. Acreditei que as substituições estavam acostumadas a viajar juntos. —Geralmente o fazem. Também me chamou a atenção, mas não conhecerei a resposta antes de chegar ao Cairo. —Possivelmente necessitam de ti para algo especial! — Aventurou-se a dizer Christina. —Duvido-o, Crissy , mas uma vez que desembarquemos saberemos a que nos espera.

John passou o braço sobre os ombros de Christina, e os dois irmãos viram a costa da Inglaterra afastar-se, enquanto o navio se internava no mar.

Para Christina foi uma viagem longa e tediosa. Detestava o fechamento e o navio oferecia poucos entretenimentos. Fez amizade com sua companheira de cabine, a senhora Bigley. A senhora Bigley tinha ido visitar seus filhos, que estudavam em um colégio inglês, e agora retornava ao Egito. Seu marido era coronel do regimento em que estava destinado John. Mas a senhora Bigley não soube explicar a Christina por que mandavam ao John ao Cairo. Sabia unicamente que outras substituições deviam partir um mês depois.

Como não haveria resposta antes que finalizasse a viagem, Christina decidiu esquecer momentaneamente do mistério. Passava muito tempo lendo em sua cabine. Depois de esgotar todos os livros

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que trouxe consigo, fez freqüentes visitas à pequena biblioteca do navio.

Ao princípio da viagem Christina atraiu a atenção de três jovens admiradores, cada um dos quais fez o possível para monopoliza-la. Eram norte-americanos. Um chamava-se William Dawson, e era um jovem simpático de suaves olhos cinza e cabelos castanhos escuro. Tinha o rosto magro e enérgico, e a voz muito profunda, com um acento extremamente estranho. Christina estava acostumada sentar-se com ele e escutar horas inteiras seus relatos muito interessantes sobre o selvagem Oeste.

Embora simpatizasse com o senhor Dawson, Christina não tinha um interesse pessoal em nenhum dos três galãs. Tinha chegado à conclusão de que a maioria dos homens eram iguais; e de uma mulher, interessa-lhes uma só coisa. Nenhum parecia disposto a respeita-la em um plano de igualdade.

Os dias passavam lentamente, sem incidentes particulares. Christina mal pôde acreditar quando chegou ao Egito. À medida que avançavam ao sul o tempo ficava muito mais quente, e a jovem se parabenizou por ter trazido roupas do verão. John tinha ordenado que enviassem o resto da roupa, mas os baús não chegariam antes de um mês.

O navio desembarcou no porto de Alexandria. Christina ansiava a voltar a pisar em terra firme, mas o desembarque estava tão lotado que os passageiros que desembarcavam tiveram que criar espaço entre a multidão para sair.

John e Christina estavam na cabine, com suas malas, quando a senhora Bigley apareceu e tomou a mão de Christina.

—Querida, recorda que falamos com princípio da viagem das ordens recebidas por seu irmão? Bem, o assunto me intrigou o bastante. Meu marido, o coronel Bigley, virá me buscar e será a primeira coisa que irei perguntar. Se alguém souber por que enviaram antecipadamente a seu irmão, é meu marido. Se não for inconveniente para ti permanecer comigo até que eu o encontre, você mesma poderá ouvir a resposta.

—Sim, é obvio disse Christina. Morro de curiosidade e estou segura de que a John acontece o mesmo.

A senhora Bigley cumprimentou um arrumado cavalheiro que tinha por volta de cinqüenta anos que devia ser seu marido, o coronel. O grupo descendeu a passarela em direção ao recém chegado e este os recebeu na passarela. Abraçou a sua esposa e a beijou nos lábios.

—Querida, me senti tão sozinho sem você —disse o coronel.

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Eu também senti muito sua falta. Quero te apresentar o tenente John Wakefield e a sua irmã, Christina Wakefield. —Olhou a seu marido —O coronel Bigley.

John e o coronel se saudaram. —Tenente, por que demônios chegou um mês antes? Acreditava

que as substituições só seriam efetuadas no mês próximo —disse o coronel Bigley.

John replicou: —Senhor, esperava que você me esclarecesse este assunto. —O que? De modo que não sabe por que está aqui? Trouxe suas

ordens? —Sim, senhor. John extraiu a ordem do bolso da jaqueta e a entregou ao

coronel. Depois de ler a ordem, o coronel Bigley olhou John com uma

expressão de desconcerto. —Sinto muito, filho, mas não posso lhe ajudar. Só posso lhe

dizer que nós não pedimos que viesse antes. Na Inglaterra, tem algum inimigo que deseje afasta-lo do país?

John ficou impressionado. —Senhor, não tinha pensado nisso. Mas em realidade, não

tenho inimigos. —Uma situação muito estranha, mas agora que estão aqui têm

que nos acompanhar em uma xícara de café. —Disse o coronel Bigley, pegando do braço a sua mulher. —O trem para o Cairo não sai antes de duas horas.

O coronel Bigley os conduziu a um pequeno café. Almoçaram em um pátio aberto e finalmente se dirigiram à estação.

William Dawson foi se despedir de Christina. Prometeu visita-la quando fosse ao Cairo, uma semana mais tarde, pediu que prometesse que não passasse seu tempo dando atenção aos homens locais.

No trem fazia muito calor e os vagões eram incômodos. Christina pensou divertida que, com os trens da Inglaterra, ela escolheu viajar em um justamente no oriente meio. De todos os modos, preferia a frescura e a comodidade de uma carruagem, embora às vezes as viagens nesses veículos fossem um pouco acidentados.

A senhora Bigley e Christina compartilhavam um assento no vagão lotado.

—Ouvi dizer que no deserto há muitos ladrões perigosos. É certo que as tribos locais escravizam seus prisioneiros? —Perguntou nervosamente Christina à senhora Bigley.

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É verdade, querida —replicou esta. — Mas isso não deve te preocupar. As tribos temem ao exército de Sua Majestade, e é natural que o seja. Escondem-se no deserto da Arábia, que está bastante longe do Cairo.

—Bem, agora me sinto mais tranqüila —suspirou Christina. O trem entrou no Cairo antes do anoitecer. Os Bigley levaram

Christina e John a um hotel. —Quando estiverem instalados os mostrarei a cidade e podemos

assistir à ópera —disse amavelmente a senhora Bigley. —Sabia que nesta cidade estreou a famosa Aida para celebrar a inauguração do canal do Suez?

—Não sabia, mas para falar a verdade não tenho lido muito a respeito deste país —replicou Christina. Estava muito estressada para interessar-se realmente em nada. Ela e John agradeceram à amabilidade dos Bigley e se despediram. John pediu um jantar leve, mas Christina pôde comer muito pouco e se deitou cedo.

Seu quarto estava no fundo do corredor, frente ao de John e um banho quente a esperava. Despiu-se rapidamente e se inundou na água do banho. Pensou: "Que delícia!" O calor e o vagão lotado tinham deixado sua pele pegajosa e suada. Mas agora se desfrutou da água quente e fumegante.

Permaneceu no banheiro uma hora, antes de enxaguar-se e secar-se.

A água quente a tinha tranqüilizado e conseguiu dormir sem dificuldade.

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CAPÍTULO 6

Em meio da noite um ruído na habitação interrompeu o sonho

sereno de Christina. Abriu os olhos e viu uma alta figura frente a ela. Christina se perguntou que demônios fazia John em frente à cama, observando-a na escuridão. Mas de repente compreendeu que não podia ser John. Esse homem era mais alto e algo cobria seu rosto.

Tentou gritar, mas antes que pudesse emitir o mais leve som uma mão enorme cobriu sua boca. Tratou de afasta-lo, mas o homem era muito mais forte que ela.

De repente, o homem a atraiu e a beijou cruelmente, oprimindo o corpo da jovem enquanto com a mão livre lhe acariciava descaradamente seus seios.

"Meu Deus, pensou freneticamente Christina, quer me estuprar!" Começou a debater-se com violência, mas seu atacante a deixou cair sobre a cama e com movimentos rápidos lhe colocou uma mordaça à boca e a atou firmemente sobre a nuca. Colocou um saco pela cabeça e o baixou com o passar do corpo, amarrando ao redor dos joelhos. Elevou-a em braços e a jogou ao ombro.

Christina tratou de mover os pés para conseguir que o homem perdesse o equilíbrio, mas ele a jogou no ar e a jovem ficou sem fôlego quando voltou a cair sobre o ombro de seu agressor. Compreendeu que o indivíduo caminhava e ouviu abrir e fechar a porta do dormitório.

Pareceu que descendiam uma escada, e de repente ela sentiu que uma leve brisa acariciava seus pés nus. Certamente tinham saído do hotel. Meu Deus, o que fará comigo este homem? Vim a este bendito país para morrer... E como morrerei? Primeiro me estuprarão brutalmente? Por que fui sair da Inglaterra? Pobre John, se culpará de minha morte! Preciso escapar!

De novo Christina deu chutes ao ar e se contorceu, Mas o homem a apertou com mais força para anular seus intentos.

Durante uns minutos apressou o passo e de repente parou. Falou no idioma dos nativos e depois a jogou sobre algo. Christina tratou de mover-se, mas parou seus esforços quando sentiu uma dolorosa palmada nas nádegas.

Outra voz murmurou umas palavras e ouviu uma gargalhada sonora; Christina sentiu um movimento irregular. Compreendeu que estava depositada sobre um cavalo, como um saco de batatas. Quase se pôs a rir histericamente quando o homem apoiou uma mão sobre suas costas. Acaso temia que ela caísse e se machucasse antes que ele mesmo pudesse feri-la?

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O coração de Christina pulsava tão rapidamente que temeu que fosse explodir. Aonde me leva? E de repente compreendeu. É obvio... Dirigiam-se ao deserto. Que melhor lugar para estuprar a uma mulher que o deserto... Onde ninguém pudesse ouvir seus gritos. Aparentemente, o grupo estava formado por vários homens. Quantas violações teria que suportar antes que a matassem?

Cavalgaram horas inteiras, e Christina perdeu a noção do tempo. Tinham os cabelos colados no rosto e lhe doía o estômago por causa da postura em que se achava. Não podia entender por que entravam tanto no deserto. Ao fim o grupo interrompeu a marcha.

"Será agora", pensou freneticamente, enquanto a colocavam no chão. Quando percebeu que ninguém a tocava, tentou pôr-se a correr, mas esqueceu que o saco estava preso ao redor de seus joelhos e quase em seguida caiu sobre a areia.

Já não podia suportar mais humilhações. Começou a gemer. Teria chorado histericamente se a mordaça não tapasse sua boca. Alguém a levantou, deixando-a de pé. Os dedos de seus pés se afundaram lentamente na fresca areia do deserto.

Christina sentiu que tiravam à corda atada ao redor dos joelhos, e de novo tentou caminhar. Mas alguém a reteve e a jovem sentiu o contato do longo peito de um homem. O indivíduo a abraçou durante o que a Christina pareceu uma eternidade e depois riu com autêntico prazer. Montou-a sobre o cavalo e ele mesmo se instalou atrás. Ao parecer, pelo menos pensava lhe permitir que cavalgasse com certa dignidade.

Mas, por que reataram a marcha? Por que não lhe tinham feito nada? Queriam que sofresse mais nesse estado de inquieta expectativa? E então Christina teve uma idéia. Talvez, depois de tudo, não pensassem mata-la. Possivelmente venderiam como um objeto e depois fossem estupra-la. Naturalmente. Era muito provável que em um mercado de escravos conseguissem com sua venda uma considerável soma em dinheiro. Christina despertaria interesse devido a seus formosos cabelos loiros e compridos e seu corpo branco e esbelto. Sim, isso era o provável. Usar-me-ão, e depois me venderão para obter um ganho. Este destino era pior que a morte.

Christina sempre tinha acreditado que não seria bibelô conjugal de nenhum homem. E agora seria uma verdadeira amante de um amo que faria com ela o que desejasse. Ela não poderia influir sobre o assunto. Pensou que preferia que a matassem, porque não poderia suportar a escravidão.

As horas se arrastaram lentamente e ao fim Christina começou a perceber certa luz através da tosca malha do saco, e compreendeu que estava amanhecendo. Pensou em John e no como sofreria

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quando descobrisse seu desaparecimento. Duvidava de que pudesse acha-la, pois tinham estado cavalgando a noite inteira.

Aonde a levavam? Christina sentiu o suor que lhe corria pelas costelas e as pernas, porque o calor aumentava sem cessar. Queria amaldiçoar esse bastardo... Mas se ele não a entendia, era completamente inútil. Estava esgotada.

Ao fim pararam, embora a Christina já não se importava... Não queria continuar pensando. Deixaram-na no chão, mas as pernas não a sustentaram. Não se entregava, mas sabia que era inútil correr. O sol a cegou uns momentos quando um dos homens lhe tirou o saco que lhe cobria a cabeça. Quando ao fim recuperou a vista viu um nativo de curta estatura. O indivíduo lhe entregou uma chilaba, uma espécie de manta, capuz que cobria o corpo dos pescoços aos pés, muito utilizada no oriente médio, e um pedaço quadrado de tecido com uma corda, para que fixasse sua chilaba ao corpo.

—Kufiyah —disse o homem assinalando o tecido. O indivíduo desatou a mordaça e começou a afastar-se. Eram três. Dois jovens de média estatura e um homem muito

alto que estava ajeitando os cavalos. O jovem que a entregou a chilaba e a kufiyah, uma toca muito utilizada na Arábia, voltou um momento depois, sorrindo timidamente, e lhe entregou um pouco de pão e um copo de água. Christina tinha muito apetite, pois mal tinha comida na noite anterior.

Quando Christina terminou de comer, o homem corpulento se aproximou e lhe tirou o copo, que entregou a um dos serventes. Seu kufiyah cobria a metade inferior do seu rosto, de modo que ela não pôde lhe ver as facções.

Era um homem muito alto para ser árabe. Christina acreditava que os árabes em geral eram pequenos, mas este homem ultrapassava a muito os outros.

O indivíduo a ajudou a fixar a chilaba, e prendeu seus cabelos, que estavam soltos. Pelo menos, ajudava-a a vestir-se em lugar de despi-la. Arrumou-lhe a kufiyah sobre a cabeça, e depois a levou para uma sombra saliente rochosa e a obrigou a sentar-se sobre a fresca areia.

Aterrorizada, Christina se separou do homem. Mas o indivíduo se limitou a rir asperamente e se afastou para ajudar a seus amigos que atendiam os cavalos. Retiraram as toscas mantas dos animais, escovaram-nos e lhes deram um pouco de grão. Alguns árabes acompanhavam ao indivíduo de elevada estatura comeram algo e puseram-se a descansar, completamente cobertos pelas chilabas escuras.

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Christina olhou ao redor e viu o homem alto que subia pelas rochas, um rifle na mão, para montar guarda. Não podia fugir. Deixou que seu corpo esgotado se relaxasse e dormiu.

O sol estava se pondo ao horizonte quando Christina despertou. Os cavalos estavam preparados e o homem alto a obrigou a montar com ele.

Christina pôde ver montanhas ao longe e, ao redor, um oceano de areia. Decidiu não tentar nada e se recostou contra o homem que montava com ela. Parecia que ele ria, mas ainda estava muito cansada para preocupar-se com isso. Voltou a dormir.

Cavalgaram três noites mais, descansando durante as horas de mais calor. Finalmente começaram a sair do deserto. Christina pôde ver árvores a seu redor e notou que o ar estava mais fresco. "Se a temperatura tinha diminuído pensou Christina certamente era porque começavam a aproximar das montanhas."

Desejava desesperadamente que aquele pesadelo não fosse mais que um sonho ruim. Logo despertaria em seu lar em Halstead para gozar das frescas brisas matutinas, tomar o café da manhã e sair para passear com Dax. Mas sabia que não era um sonho. Jamais voltaria a ver Dax, nem a seu lar.

Um fogo ardia a certa distância. Um dos homens do grupo proferiu um grito: todos saíram das árvores e se aproximaram de um acampamento; havia cinco cabanas, uma maior que as restantes, formando um círculo ao redor do fogo. O fogo era a única fonte de luz e as chamas projetavam sombras móveis sobre tudo o que havia ao redor.

Aproximaram-se quatro nativos, com sorrisos em seus rostos escuros, e todos começaram a falar e a rir. As mulheres do acampamento saíram de suas lojas e em seus olhos se lia a curiosidade; mas se mantiveram separadas do grupo de homens.

Christina foi depositada no chão. Compreendeu que tinham chegado o fim da viagem. Tinha que tratar arrumar um jeito de salvar-se do destino que a esperava. Possivelmente poderia esconder-se nas montanhas e arrumar uma forma de retornar à civilização.

Outros homens se reuniram com o grupo, junto ao fogo. Todos rodeavam ao indivíduo alto e falavam e gesticulavam. Christina permaneceu momentaneamente sozinha. Supunham que esperaria tranqüilamente seu destino?

Elevou até os joelhos a chilaba e a camisola, e posse a correr. Correu tão velozmente como nunca fez em sua vida. Não sabia se estavam perseguindo-a. Só ouvia os batimentos do coração acelerados de seu coração. Caiu da cabeça o kufiyah e seus cabelos se agitaram desordenadamente ao vento.

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Christina tropeçou e caiu de bruços. Elevando os olhos viu dois pés frente a ela. Afundou o rosto na areia e começou a chorar. Não podia evitar as lágrimas, mas detestava mostrar sua debilidade a este homem. Ele tinha obtido uma vitória ao conseguir que ela chorasse. Com movimentos bruscos a obrigou a levantar-se e a levou de retorno ao acampamento.

Levaram Christina a mais espaçosa das cabanas e sem cerimônias a depositaram sobre um divã sem apoios na sua parte de baixo, com braços baixos e arredondados em seus extremos. A jovem tratou imediatamente, de recuperar o controle de si mesma; separou da cara os cabelos emaranhados e enxugou as lágrimas que banhavam seus olhos.

A cabana era bastante espaçosa e parte de suas paredes eram cobertos por um tecido muito peculiar, através da qual o fogo que ardia fora iluminava vivamente a habitação. O piso estava coberto por tapetes multicoloridos e o quarto ao lado da cabana era feito de uma malha mais pesada. Christina viu outro quarto, um de cujos lados estavam completamente abertos. A habitação principal estava escassamente mobiliada. Perto do fundo da cabana havia outro divã forrado com veludo celeste, e entre os dois artefatos havia uma mesa larga e baixa. Em um canto, ao fundo da tenda, um pequeno gabinete, e sobre ele um só copo com pedras preciosas e um copo de pele de cabra. Muitas almofadas pequenos de vivas cores apareciam distribuídos sobre os dois divãs e no piso, a curta distância. Christina observou seu raptor. O homem alto estava de costas para a jovem quando tirou a kufiyah e a chilaba. Depositou-as sobre o gabinete e bebeu em apenas um gole um liquido que estava no copo.

Calçava botas altas até os joelhos, e vestia uma camisa e calças largas.

Christina se impressionou quando o homem falou em um perfeito inglês.

—Tina, vejo que não será fácil comanda-la. Mas agora está aqui e sabe que me pertence. E possivelmente não tente voltar a fugir.

Christina não podia acreditar no que ouvia. O homem voltou para olha-la. Os olhos da jovem se aumentaram pela surpresa, e ela sentiu que afrouxava a mandíbula.

O homem pos-se a rir. —Tina, esperei muito tempo para ver essa expressão em seu

rosto... Esperei desde a noite em que você se separou de mim, em Londres.

Do que estava falando? Certamente tinha enlouquecido! As bochechas de Christina se avermelharam em cólera e seu

corpo tremeu de raiva.

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—Você! O que está fazendo aqui, e como se atreveu a me raptar e me trazer para este lugar abandonado da mão de Deus? Phillip Caxton; meu irmão o matará!

Ele voltou a rir. De modo, Tina, que já não me teme. Excelente. Não acredito

que me agradasse ouvi-la rogar e pedir compaixão. —Senhor Caxton, jamais lhe oferecerei essa satisfação. —

Christina ficou de pé, enfrentando o homem, os cabelos quase chegavam aos quadris. —Agora, quer ter a bondade de me explicar por que me trouxe aqui? Se busca um resgate, meu irmão lhe dará tudo o que você deseje. Mas ficaria agradecida que o assunto se resolva rapidamente, de modo que eu possa sair daqui e evitar sua companhia.

Ele sorriu. Esses olhos tão estranhos a tinham deixado meio hipnotizada. Sem saber muito bem por que, pensou: por que tinha que se sentir terrivelmente tão atraída por aquele homem?

—Imagino que devo esclarecer por que a trouxe. Phillip se sentou no divã e a convidou a fazer o mesmo. Bebeu

um gole do copo e a examinou atentamente antes de continuar falando.

—Em geral, não explico a ninguém meus propósitos, mas acredito que em seu caso posso fazer uma exceção. —Fez uma pausa, para pensar nas palavras que desejava usar. — Christina, a primeira vez que a vi em Londres, percebi que a desejava. De modo que tentei fazer as coisas ao seu modo. Expliquei meus sentimentos e lhe propus casamento. Quando você se negou, decidi te-la do meu próprio jeito, e muito em breve. A noite que você me rejeitou conseguiu que enviassem aqui a seu irmão.

—De modo que foi você quem manobrou com o fim de que enviassem aqui meu irmão? —Exclamou ela, atônita. —Não volte a me interromper até que tenha terminado. Está claro? —Disse, bruscamente Phillip.

Christina assentiu, mas só porque sua curiosidade a obrigava a ficar quieta.

—Como disse, consegui que enviassem a seu irmão aqui. Tratava-se simplesmente de conhecer as pessoas adequadas. Se você tivesse decidido permanecer na Inglaterra, para mim teria sido muito mais difícil traze-la aqui quando seu irmão se afastou. Na Inglaterra você conseguiria escapar mais facilmente, mas aqui eu podia te-la antes. Terá menos possibilidades de fugir. Neste país os raptos são coisas comuns, de modo que não espere ajuda das pessoas de meu acampamento. —Phillip lhe dirigiu um sorriso maligno. — Tina, agora você é minha. Quanto antes o compreenda, melhor para você.

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Christina se levantou bruscamente e passeou enfurecida pela habitação.

—Não posso acreditar no que acaba de me dizer! Como pode imaginar que me casarei com você depois de tudo que me fez?

—Casar! —Disse ele rindo. Ofereci-lhe o casamento uma vez. Não, voltarei a faze-lo. Agora que a tenho aqui, não preciso me casar com você! —Aproximou-se da jovem e a abraçou —Agora você é minha amante, não minha esposa.

—Não serei amante de ninguém! Prefiro morrer antes que me submeter a você! —Gritou Christina e se debateu para evitar o abraço.

—Acredita que permitirei que se suicide, depois de espera-la por tanto tempo? —Murmurou Phillip com voz rouca.

Aproximou seus lábios de Christina e a beijou apaixonadamente, lhe sustentando a cabeça com uma mão e os dois braços com a outra.

Christina voltou a sentir aquela estranha sensação em todo o corpo. Gostava do beijo desse homem? Mas isso era impossível. Ela o odiava!

Ela afastou bruscamente o corpo, mas antes que pudesse lhe dar um chute, Phillip a elevou e sua risada ressonou na loja.

—Tina, esse pequeno truque já não te serve. Phillip carregou Christina em seus braços e passando entre as

pesadas cortinas a esmagou em seu leito. Quando ela compreendeu sua intenção começou a lutar ferozmente, mas ele a jogou sobre a cama e se deitou a seu lado. Christina lhe golpeou o peito com os punhos, até que ele segurou fortemente seus braços sobre a cabeça e os sustentou assim com uma mão.

—Acredito que agora verei se seu corpo está à altura de seu formoso rosto.

Phillip desatou a túnica que ela usava. Aplicou uma perna sobre o corpo da jovem para impedir seus movimentos e de um só puxão brusco lhe rasgou a camisola.

Christina gritou, mas ele a beijou apaixonadamente e sua língua se afundou profunda na boca da jovem. Depois disso o beijo foi suave e gentil e Christina se sentia cada vez mais aturdida. Phillip passeou com seus lábios pelo pescoço dela e com a mão livre acariciou audazmente seus seios cheios e redondos.

Phillip sorriu, procurando uma resposta nos olhos da jovem. —É ainda mais bela que o que eu tinha sonhado. Seu corpo

está feito para o amor. Desejo-te, Tina —murmurou com voz rouca. Depois levou os lábios aos seios de Christina, beijando primeiro

um deles e depois o outro. Christina sentiu que uma onda de fogo alagava seu corpo.

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Tinha que dizer algo para faze-lo parar. Não tinha força física suficiente para afasta-lo.

—Senhor Caxton, você não é um cavalheiro. Quer me possuir, contra minha vontade —perguntou friamente, —sabendo que o odeio?

Phillip a olhou e ela percebeu que o desejo se dissipava nos olhos verdes. Soltou-a e ficou de pé frente à cama. Olhou-a desde sua altura e sua boca cobrou uma expressão dura que concordava com o frio resplendor de seus olhos.

—Jamais pretendi ser um cavalheiro, mas não te estuprarei. Quando fizermos amor, será porque você o deseja tanto como eu. E o desejará, Tina, prometo-lhe isso.

—Nunca! —Gritou Christina cobrindo o corpo com a túnica. Jamais o desejarei. Odeio-o com todo meu ser.

—Já veremos, Tina —respondeu Phillip, voltando-se. —Deixe de me chamar de Tina. Não é meu nome! —Gritou ela,

mas ele já tinha saído da tenda. Christina pôs a túnica ao redor da camisola esmigalhada e

contemplou o quarto. Mas não havia nada que ver: só um armário junto à enorme cama, com sua grosa manta de pele de ovelha.

Enquanto se deslizava sob a manta, Christina pensou no que ele havia dito. Não queria estupra-la. Se era homem que fazia honrar a sua palavra, podia se considerar segura, porque sabia que jamais o desejaria. Por que desejaria a um homem? O desejo era um sentimento masculino, não feminino.

Mas, e se ele não respeitava sua palavra? Christina não tinha força suficiente para conte-lo se ele desejava toma-la pela força. O que ocorreria então? E a propósito, que demônios estava fazendo no Egito? Comportava-se como um nativo, e a tribo parecia aceita-lo como um dos seus. Christina não podia compreender a situação, e as duvidas continuava a assola-la, sem achar uma resposta adequada.

Quando pensou em tudo o que tinha feito Phillip Caxton para traze-la a este lugar, enfureceu-se de novo. Pensar que ela tinha atravessado o oceano simplesmente para que fosse raptada por um louco! Bem, se podia evita-lo não permaneceria ali muito tempo. Pensando na possibilidade da fuga, Christina finalmente conseguiu dormir.

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CAPÍTULO 7

Phillip pensou que Christina podia ser perversa quando queria. Bem, chegaria sua hora, e lhe agradaria muito obriga-la a reconhecer que também o desejava.

Embora fosse tarde, Phillip saiu da cabana para visitar seu pai, o xeque Yasir Alhamar; sabia que o ancião estaria lhe esperando.

Yasir Alhamar tinha sido xeque da tribo durante mais de trinta e cinco anos. Tinha raptado a sua primeira esposa, uma dama inglesa de família nobre, ao assaltar uma caravana. Ela tinha vivido cinco anos com Yasir e lhe tinha dado dois filhos, Phillip e Paul.

Durante aquele tempo, a tribo se deslocava pelo deserto e o clima e a vida dura envelheceram rapidamente à mãe de Phillip. Ela pediu para voltar à Inglaterra com seus filhos. Yasir a amava profundamente e o permitiu. Mas lhe prometeu que deixaria que seus filhos retornassem ao Egito uma vez que alcançassem a maioria de idade, se assim o preferiam.

Phillip tinha se criado e educado na Inglaterra; quando completou os vinte e um anos sua mãe lhe falou sobre seu pai. Phillip decidiu procurar Yasir e viver com ele. À morte de sua mãe, fazia cinco anos, Phillip tinha herdado a propriedade. Tinha-a deixado ao cuidado do administrador dos Caxton, pois ele não desejava viver na Inglaterra e seu irmão no momento ainda estava cursando seus estudos.

Phillip viveu onze anos com a tribo de seu pai, mas ao fim tinha retornado a Inglaterra, fazia um ano, para assistir o casamento de seu irmão. Paul tinha tratado de convence-lo a permanecer na Inglaterra por um tempo. Depois tinha conhecido Christina Wakefield e tinha decidido que ela o pertenceria.

Phillip tinha seguido os passos de Christina e John Wakefield até embarcar, e tinha esperado pacientemente a que o navio partisse. A sorte o favoreceu e tinha conseguida passagem em um navio de carga. Embarcou no mesmo dia, mas chegou ao destino uma semana antes que o navio de Christina.

Quando chegou, foi ver Ra Saadi e Ahmad, e lhes pediu que lhe trouxessem seu cavalo, Victory. Saadi e Ahmad eram bons camaradas; e, além disso, eram primos longínquos de Phillip. A tribo inteira estava mais ou menos aparentada com ele.

Phillip tinha um meio irmão oito anos mais jovem. Mas os dois homens não se davam muito bem. Phillip compreendia perfeitamente a razão disso, pois Rashid teria sido o chefe da tribo se Phillip tivesse permanecido na Inglaterra.

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Yasir Alhamar estava sentado sobre as peles de ovelha que eram seu leito. Ainda vivia no tradicional estilo nômade, com escassos móveis e poucas comodidades. Phillip recordava como seu pai riu quando seu filho tinha subido até o acampamento, entre as montanhas, conduzindo sua cama e outros móveis. —De todo jeito, Abu, você ainda é inglês. Acreditei que depois de tanto tempo teria se acostumado a dormir no chão — disse Yasir.

—Pelo menos, pai, consegui me adaptar ao resto —respondeu Phillip

—Então ainda podemos guardar certa esperança contigo— respondeu rindo Yasir.

Quando Yasir viu Phillip, convidou-o a entrar e a sentar-se a seu lado.

—Passou muito tempo, meu filho. Falaram-me da mulher que trouxeste para o acampamento. É sua mulher?

—Será pai. Conhecia em Londres, e compreendi que tinha que ser minha. Arrumei as coisas de modo que enviassem aqui com seu irmão, e agora ela é minha. Ainda me rejeita, mas não necessitarei de muito tempo para doma-la.

Yasir começou a rir. —É realmente meu filho. Raptaste a sua mulher, como eu raptei

a sua mãe. Ela também me rejeitou no princípio, mas acredito que acabou me amando tanto como eu a ela, pois se casou comigo. Possivelmente se tivéssemos vivido nas montanhas, teria permanecido a meu lado, mas não suportou o clima do deserto. Eu a teria acompanhado, mas vivi aqui toda minha vida, e não teria conseguido sobreviver em sua civilizada Inglaterra. Talvez me dê netos antes que morra.

—Talvez pai já o veremos. Amanhã a trarei, mas agora devo retornar.

O pai assentiu e Phillip voltou para sua tenda. Ao entrar nela viu que sua farta refeição o esperava e começou a comer e a meditar a respeito da moça que dormia em seu leito.

Não poderia esperar muito para possuí-la, sobretudo agora que estava tão perto. Fazia muito tempo que não se deitava com uma mulher e o corpo de Christina o enlouquecia. Recordou seus fartos seios sob a carícia masculina; a cintura minúscula e os quadris suaves e esbeltos; as pernas largas, bem formadas; a pele como cetim; os cabelos... Com muito prazer se afundaria naquela dourada massa de cachos.

Os olhos de Christina o fascinavam. Tinham um tom azul colérico quando descobriu quem a tinha raptado. Phillip tinha esperado muito tempo para ver essa reação. Voltou a rir quando

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recordou a surpresa que se refletia no rosto de Christina, o sentimento que prontamente se converteu em ira.

Bem, talvez lhe concedesse um pouco de tempo para acostumar-se a seu novo lar; mas não muito. Um dia seria suficiente.

Despiu-se e entrou sob as mantas. Christina estava encolhida e lhe dava as costas. Phillip pensou na possibilidade de despi-la, mas se o fizesse iria desperta-la e ele estava muito cansado para suportar a cólera feminina. Sorriu pensando na reação de Christina quando o achasse na cama, junto a ela, pela manhã. Bem, pelo menos Christina o acompanhava, embora fosse contra sua vontade. Com o tempo aceitaria sua situação. Phillip fechou os olhos e entrou no mundo dos sonhos.

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CAPÍTULO 8

À manhã seguinte, quando Christina Wakefield despertou, tinha um sorriso nos lábios, porque tinha estado sonhando que corria pelo campo, em seu lar em Halstead. Seus olhos azul-esverdeados se delataram surpreendidos quando viu o homem deitado na cama, a seu lado. De repente recordou onde estava e como tinha chegado a esta situação.

Enfurecida pensou: "Que audácia! Jamais teria acreditado que teria que compartilhar o leito com este homem. Isso é demais! Tenho que fugir deste indivíduo!"

Christina abandonou o leito com movimentos cautelosos e se virou para ver se tinha lhe despertado. Phillip Caxton dormia profundamente; seu rosto mostrava uma expressão inocente, satisfeita. Christina o amaldiçoou em silêncio e com movimentos cautelosos rodeou a cama e passou entre as pesadas cortinas que separavam o dormitório do resto da tenda.

Quando percebeu o aroma da comida que vinha de algum lugar do acampamento, Christina compreendeu o quão faminta estava. Praticamente não tinha comido na noite anterior. Mas não podia pensar na comida. Tinha que fugir enquanto Phillip ainda dormia.

Ela afastou o tecido que cobria a entrada da cabana e olhou para fora. Felizmente não havia ninguém à vista. "Bem, pensou, agora ou nunca."

Reuniu a coragem e começou a sair do acampamento. Logo que deixou para trás as últimas cabanas, começou a correr desesperadamente, afastando-se do atalho principal para evitar a possibilidade de que Phillip saísse a procura-la. As pedras lhe machucaram os pés nus enquanto ela corria entre as plantas silvestres.

Rogou em silêncio que ninguém a tivesse visto abandonar o acampamento. Se conseguisse chegar ao pé da montanha, poderia esconder-se e esperar que uma caravana das que passavam por ali a devolvesse a seu irmão.

De repente, Christina ouviu o galope de um cavalo entre os matagais, atrás dela. Todas suas esperanças se esfumaçaram quando se virou e descobriu que Phillip se aproximava montando em seu formoso cavalo árabe. Seus olhos mostravam um verde sombrio e colérico, e sua expressão era a imagem da fúria.

—Droga! —Gritou Christina. —Como pôde me encontrar tão logo?

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—E ainda por cima me amaldiçoa! Me acordaram do meu profundo sono para ouvir Ahmad dizer que tinha fugido montanha abaixo. O que devo fazer, mulher? Preciso te atar pelas noites a minha cama, para me assegurar de que não fugirá enquanto durmo? É isso que desejas?

—Não se atreverá! —Christina, disse-te uma vez: faço o que quero. —Phillip

desmontou do cavalo com a agilidade de um gato montês. Tinha uma expressão endurecida, os olhos revelavam uma cólera fria e perigosa. Agarrou-a pelos ombros e a sacudiu brutalmente. — Deveria te castigar por fugir de mim! Isso é o que um árabe de respeito faria a sua mulher.

—Não sou sua mulher! —Disse Christina, e seus olhos relampejaram com expressão assassina. — E jamais o serei!

—Nisso te equivoca, Christina, porque é e continuará sendo minha mulher até que me canse de ti.

—Não, não o serei! E não tem direito de me reter aqui. Meu Deus, não compreende quanto o odeio? Você representa tudo o que eu desprezo em um homem. Você é um... Um bárbaro!

—Sim, talvez o seja, mas se eu fosse um cavalheiro civilizado, não te teria aqui, onde desejo que esteja! E te agrade ou não, prenderei-te aqui, atada a minha cama se for necessário —replicou Phillip friamente.

Levantou-a e a depositou no lombo do seu cavalo. —Por que devo viajar assim? —Perguntou indignada.

—Eu diria que é necessário que aceite um castigo tão benigno —disse ele. —Merece algo muito pior.

Phillip montou atrás de Christina, e quando esta começou a debater-se ele descarregou sua pesada mão sobre as nádegas dela. Christina deixou de mover-se e amaldiçoou em silêncio todo o caminho de volta ao acampamento.

"Droga! Pensou irritada. Chegaria o momento em que ela gozaria intensamente com o sofrimento de Phillip. Por que tinha que suportar esta tortura? Sempre tinha sido uma jovem orgulhosa... orgulhosa de sua família, de sua propriedade, de sua beleza e sua independência. Por isso era duplamente doloroso cair tão baixo. Era degradante ser nada mais que um brinquedo deste homem odioso. Não o merecia. Ninguém merecia uma coisa como esta!"

Quando chegaram à tenda, Phillip desmontou, obrigou Christina a descender e a empurrou para dentro. Ela se sentou em um dos divãs e esperou o que ocorria agora.

Phillip falou com alguém que estava fora, entrou e se sentou junto à ela.

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—Agora trarão comida. Tem apetite? —Perguntou, e sua voz já não era dura.

—Não —mentiu Christina. Mas quando uma jovem trouxe a refeição, Christina devorou seu

café da manha. Phillip terminou de comer antes dela e se recostou no divã, atrás

de Christina. Ela sentiu suas mãos, que recolhiam as mechas de cabelos e brincava distraidamente com eles. Christina deixou de comer e se virou para olhar os sorridentes olhos verdes.

—Querida, desejaria se banhar? —Perguntou Phillip, enquanto deslizava entre os dedos uma mecha de cabelos dourados.

Christina não podia negar que adoraria um banho. Enquanto ela terminava de comer, Phillip abandonou a cabana e retornou pouco depois com uma saia, uma blusa, umas sapatilhas e o que ela supôs era uma toalha. Perguntou-se a quem pertenceriam, mas não quis interrogar Phillip.

Ele saiu da cabana com Christina e cruzou o acampamento. Frente à cabana havia uma jovem que teria mais ou menos a idade de Christina, e que brincava com um menino. As cabras e as ovelhas pastavam nas colinas, a certa altura sobre o acampamento, e em um curral havia dez ou doze dos melhores cavalos árabes que Christina viu na vida e entre eles dois potros nascidos pouco antes. Quis parar e observar os cavalos, mas Phillip a afastou do acampamento e começou a subir por um atalho que serpenteava entre as montanhas.

Christina se separou dele. —Aonde me leva? —Perguntou.

Mas ele agarrou novamente seu braço e continuou caminhando. —Queria te banhar, não é? —Perguntou Phillip, enquanto a

levava ao interior de um pequeno local rodeado de uma vegetação selvagem.

As chuvas da região tinham formado um longo lago no meio da região. Era um lugar formoso, mas Christina desejou saber por que Phillip havia a trazido ali. Entregou um tablete de sabão perfumado.

—Realmente acha que vou tomar banho aqui? —Perguntou Christina com altivez.

—Olhe, Tina, já não está na Inglaterra, onde pode tomar um maravilhoso banho quente que as criadas preparam em sua habitação. Agora está aqui e se quer te banhar fará como todos.

—Muito bem. Preciso me banhar depois de uma viagem tão horrível. Se este for o único modo em que posso faze-lo, aceitarei. Agora, senhor Caxton, saia.

Phillip sorriu. —Não, minha senhorita. Não tenho a mínima intenção de sair.

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Sentou-se sobre um tronco e cruzou preguiçosamente as pernas. Ela viu os reflexos amarelos dos olhos se avivavam a luz do sol. Um lento rubor cobriu o rosto de Christina. —Não quer dizer que pensa permanecer aqui e... —Fez uma

pausa, porque não desejava completar a frase —me ver tomar banho. —É exatamente o que pretendo fazer. De modo que se desejas te

banhar, adiante. Olhava-a atentamente, com uma careta perversa nos lábios. O

sangue de Christina ferveu. —Bem, vire-se, e assim poderei me despir! —Ah, Tina, terá que compreender que não permitirei que me

negue o prazer de contemplar seu corpo, embora ainda não o possua— replicou Phillip.

Christina o olhou: seus olhos azuis refletiam hostilidade. Esse homem não lhe deixava nem um resto de dignidade.

—Odeio-o— murmurou. Virou-se e desatou a túnica. A túnica e a camisola esmigalhada

se deslizaram de seu corpo e caíram ao chão. Christina as separou das roupas e entrou na água; cada vez mais fundo, até que pôde ocultar os seios.

Ela não queria agrada-lo, se podia evita-lo. Continuou de costas para Phillip e se lavou nesse lago de águas deliciosamente frescas. Afundou-se para molhar os cabelos, mas necessitou bastante tempo para fazer espuma suficiente e obter uma boa lavagem.

Quando ao fim o obteve, ouviu um ruidoso som. Christina se virou prontamente, mas não conseguiu ver Phillip.

De repente o encontrou diretamente a sua frente. E ela sabia perfeitamente que ambos estavam nus sob a água fria. Phillip sacudiu a água dos espessos cabelos negros e tratou de abraçar Christina, mas ela estava preparada e lhe arremessou o tablete de sabão. Afastou-se nadando rapidamente. Parou quando ouviu a risada de Phillip e quando se virou percebeu que ele não se moveu; agora estava ensaboando-se.

O alívio se refletiu francamente no rosto de Christina quando terminou de enxaguar os cabelos e saiu da água. Secou-se depressa e enrolou na toalha ao redor dos cabelos. Ajustou a larga saia parda ao redor da cintura, enrolando-a por diante. Depois, fixou a blusa sem mangas, com um decote baixo e redondo. O áspero tecido de algodão irritava sua pele, mas teria que adaptar-se com aquilo.

Christina se sentou e começou a pentear com os dedos os cabelos emaranhados quando Phillip se aproximou por trás.

—Querida, sente-se melhor agora? —Disse com voz suave. Ela se recusou a responder ou olha-lo, e se dedicou a seu

penteado enquanto Phillip se vestia. Mas Christina não pôde guardar

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silêncio muito tempo, porque sua curiosidade era mais intensa que sua negativa em lhe falar.

—Phillip, o que faz nesta região, e como é possível que essa gente o conheça tão bem? —Perguntou.

A risada de Phillip ressonou no ar. —Me pareceu estranho que não o perguntasse —disse. —Este é

o povo de meu pai. Christina olhou atônita. —Seu pai! Mas você é inglês! —Sim, sou inglês por minha mãe, mas meu pai é árabe, e este é

seu povo. —Então, você é meio árabe? —Interrompeu—o Christina, essa

hipótese lhe pareceu incrível. —Sim, e meu pai capturou a minha mãe, assim como eu

capturei você. Depois lhe permitiu retornar a Inglaterra com meu irmão e comigo, de modo que me criaram na Inglaterra até que fiquei maior de idade. Logo decidi voltar e viver com meu pai.

—Seu pai está aqui? —O conhecerá depois. —Certamente seu pai não aprova que me tenha raptado? —

Perguntou ela, calculando a possibilidade de que o pai de Phillip a ajudasse.

—Ainda não te fiz nada... Mas sim, meu pai o aprova— disse, com um sorriso nos lábios. — Tina, esquece que não estamos na Inglaterra. Meu povo é acostumado a tomar o que deseja, quando pode. E eu me assegurei previamente de que fosse possível te trazer. Compreenderá melhor depois de estar um tempo aqui.

Acompanhou-a ao retorno das cabanas e ali a deixou sozinha. Poderia compreender algum dia Phillip Caxton? Christina

passeou o olhar pela tenda, perguntando-se o que poderia fazer consigo mesma. De repente se sentiu muito só e isso a afligiu.

Sem pensa-lo muito, Christina correu fora da cabana e viu Phillip que montava seu cavalo, e estava acompanhado por quatro cavaleiros. Correu para ele e o segurou pela perna.

—Aonde vai? —Perguntou. —Voltarei em pouco tempo. —Mas, o que devo fazer eu enquanto você está ausente? —Christina, que pergunta absurda. Faz o que as mulheres

fazem quando estão sozinhas. —Ah, é obvio, senhor Caxton —disse ela acidamente. Como não

o tinha pensado? Posso utilizar o quarto de costura, embora em realidade não é necessário... Estou acostumada a vestir roupa de confecção. Ou talvez poderei me ocupar de sua correspondência. Estou segura de que você é um homem atarefado e não tem tempo

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para ocupar-se pessoalmente. Mas se você o prefere, posso revisar sua maravilhosa biblioteca. Estou segura de que ali poderei encontrar leituras interessantes. Senhor Caxton, além do corpo tenho mente!

—Christina, o sarcasmo não te cai bem –disse Phillip irritado. —É obvio, você é a autoridade e faz e decide o que te convém —

replicou Christina. —Christina, não continuarei tolerando esta conversa. Pode te

comportar como quiser dentro da cabana, mas em público deve me mostrar respeito! —Replicou Phillip e os músculos da mandíbula se contraíam perigosamente enquanto a olhava.

—Respeito! —Ela retrocedeu um passo para olha-lo, um tanto divertida. —Deseja que o respeite depois do modo que me tratou?

—Neste país, quando uma mulher se mostra desrespeitosa com o marido, a castiga fisicamente.

—Você não é meu marido —corrigiu-o Christina. —Não, mas tenho os mesmos direitos de um marido. Sou seu

amo e me pertence. Se deseja que procure um chicote e te bata em público, com muito gosto te agradarei. Se não for assim, retorna a minha tenda.

Falou com tal frieza que Christina não esperou para comprovar se estava disposto a executar sua ameaça. Retornou à cabana e se jogou na cama para aliviar no pranto suas frustrações.

Agora devia temer a surra, além da possibilidade de estupro? Esse demônio exigia respeito depois do que tinha a feito! Mas ela preferia morrer antes que lhe demonstrar algo que não fosse odeio e desprezo.

Detestava a auto compaixão, mas o que podia fazer enquanto ele estava ausente? E a propósito, o que faria quando Phillip retornasse? Chorou um longo momento e por fim dormiu.

Christina despertou bruscamente por causa de uma enérgica palmada no traseiro. Virou-se rapidamente e viu Phillip junto à cama, com as mãos nos quadris e um sorriso zombador em seu rosto harmonioso.

—Querida, passas muito tempo dormindo nesta cama. Desejas que te mostre outro modo de usa-la?

Christina se levantou em um salto. Agora interpretava mais facilmente as grosseiras alusões daquele homem. —Senhor Caxton, estou segura de que posso viver sem essa classe de conhecimento.

Christina se afastou dele e se sentiu mais segura com a cama entre os dois.

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—Bem, muito em breve aprenderá. E prefiro que me chame Phillip ou como me chamam aqui. Acredito que é hora de que esqueça dos formalismos.

—Bem, Caxton, preferiria continuar com os formalismos. Pelo menos sua gente saberá que não estou aqui voluntariamente —disse Christina com acidez.

Phillip sorriu perversamente. —OH, sabem que não está aqui por própria vontade, mas

também sabem que não sou homem a quem pode manter-se esperando. Supõem que foi desvirginada ontem à noite. Possivelmente isso ocorra esta noite. —Christina arregalou os olhos, que adquiriram a cor mais escura do azul.

—Mas você... Você prometeu! Deu-me sua palavra de que não me... Você não tem o mínimo escrúpulo?

—Tina sempre cumpro minha palavra. Não tentarei te estuprar. Como, te disse antes, desejar-me-á tanto como eu te desejo.

—Certamente você está louco. Jamais o desejarei! Como posso faze-lo quando o detesto com todo meu ser? —Exclamou a jovem. Separou-me de meu irmão e de tudo o que amo. Tem-me prisioneira aqui, com um guarda na porta quando você parte. Odeio-o!

Christina saiu irada da habitação e em seu íntimo amaldiçoou Phillip com as palavras mais horríveis que lhe ocorreram. De repente, viu dois montões de livros e pelo menos uma dúzia de cortes de tecido depositados sobre o divã. Esqueceu sua irritação e correu a examinar as coisas.

Havia tecidos, sedas, cetim, veludo e brocado, e as cores eram os mais belos que ela tinha visto na vida. Inclusive encontrou um corte de algodão semitransparente que podia utilizar para confeccionar camisas. Fios de todas as cores, tesouras e tudo o que ela podia necessitar para confeccionar formosos vestidos.

Virou-se para a larga quantidade de livros, e os examinou um após o outro. Shakespeare, Defoe, Homero... Alguns já os tinha lido, e outros pertenciam a autores dos que nunca tinha ouvido falar. Ao lado dos livros, um jogo de pentes e escovas de marfim belamente esculpidos.

Christina se sentiu muito feliz. Durante um instante lhe pareceu que era uma menina pequena que o dia de seu aniversário recebia tantos presentes que estes podiam lhe durar até o aniversário seguinte. Phillip se aproximou e viu sua alegria ante a surpresa. Christina se virou bruscamente para olha-lo e seus olhos tinham recuperado o suave cor azul-esverdeado, no centro de um círculo escuro.

—Tudo isto é para mim? —Perguntou, enquanto com a mão acariciava um retalho de veludo azul que combinava com seus olhos.

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—Era para ti, mas não sei se deveria dar lhe isso depois de tudo o que fez —respondeu Phillip.

Os olhos do homem não indicavam se estava caçoando dela ou não. De repente, Christina teve um impulso de desespero.

—Por favor, Phillip! Se não ter com o que ocupar o tempo, morrerei.

—Possivelmente deveria me dar algo em troca —replicou ele com voz rouca.

—Você sabe que não posso. Por que me tortura assim? —Querida, apressa-te a tirar conclusões. O que tinha pensado

era um beijo... Um beijo honesto, com um pouco de sentimento. Christina jogou outra olhada ao tesouro literário depositado

sobre o divã. Pensou: Que dano podia fazer um beijo, se desse modo ela obtinha o que desejava? Aproximou-se dele e esperou, os olhos fechados, mas Phillip não se moveu. Christina abriu os olhos e viu a expressão divertida de seu interlocutor.

—Minha senhora, pedi que você me desse o beijo e que o fizesse com um pouco de calor.

Ele dirigiu um sorriso a sua prisioneira. Depois de um momento de vacilação, Christina enlaçou com

seus braços o pescoço de Phillip e o atraiu para ela os lábios do homem. Ao faze-lo, entreabriu a boca. O beijo começou brandamente, mas de repente a língua de Phillip penetrou fundo. Aquela estranha sensação voltou a domina-la, mas esta vez ela não o rejeitou. Phillip a abraçou com força inusitada e Christina percebeu o rangido de seus próprios ossos. Podia notar a ereção entre as pernas do homem, enquanto seus lábios deixavam um rastro de fogo no pescoço da moça.

Phillip a ergueu e começou a leva-la à cama. Christina começou a lutar.

—Você pediu só um beijo! Por favor, me solte —rogou. —Maldição, mulher! Chegará o momento em que de boa vontade

virá para mim. Prometo-lhe isso. Depositou-a no chão e saiu. Um sorriso se desenhou nos lábios

de Christina quando viu que tinha triunfado outra vez. Mas, quanto tempo passaria antes que lhe terminasse a sorte? O beijo dele tinha suscitado nela sentimentos que a própria Christina não compreendia. Tinha-a deixado como uma sensação de vazio, desejosa de algo mais: ela não sabia o que era o que desejava.

Uns minutos depois Phillip retornou à habitação, seguido por uma jovem que trazia o jantar. Quando se retirou, Phillip falou com dureza.

—Agora comeremos e depois te levarei para conhecer meu pai. Está nos esperando.

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Comeram em silêncio, mas Christina se sentia excessivamente nervosa para saborear os manjares. Temia o encontro com o pai de Phillip. Se parecesse com seu filho, Christina tinha motivos de sobra para teme-lo. —Não seria possível adiar uns poucos dias este encontro, de modo que eu possa vestir algo mais apresentável que isto? —Perguntou. Phillip a olhou com o cenho franzido.

—Meu pai viveu sempre aqui. Não está acostumado aos vestidos luxuosos das mulheres. O que agora leva é muito apropriado para visita-lo.

—E de quem são estas roupas? Pertenceram a sua última amante? —Pergunto azedamente Christina.

—Christina, tem a língua muito afiada. As roupas pertencem a Amine, que trouxe a comida. Amine é a esposa do Syed, um de meus primos longínquos.

Christina se sentia envergonhada, mas não desejava reconhece-lo.

—Vamos? Meu pai deseja te conhecer. Phillip tomou a mão e a conduziu a uma cabana menor à direita

da que ele ocupava. Entraram e Christina viu um ancião sentado no chão, no centro da tenda.

—Adiante, meus filhos. Ansiava este encontro. O velho fez gestos para que entrassem. Phillip cruzou com ela a habitação e se sentou sobre uma pele

de ovelha, frente a seu pai; obrigou Christina a acomodar-se ao lado. —Quero te apresentar Christina Wakefield. —Phillip olhou a seu

pai, e logo olhou a jovem. —Meu pai, o xeque Yasir Alhamar. —Abu, não deve me chamar xeque. Agora você é o xeque

repreendeu o pai de Phillip. —Meu pai, sempre pensarei em ti como xeque. Não me peça que

deixe de te tratar com respeito. —Bem, entre nós isso pouco importa. De modo que esta é a

mulher sem a qual não podia viver —disse Yasir, olhando fixamente Christina. —Sim, compreendo por que a necessitava. Christina Wakefield, te observar é um prazer. Espero que me dêem muitos e formosos netos antes que eu morra.

Christina abriu os olhos surpresamente, e o rosto se cobriu de ruborizo em um instante.

—Netos! Caramba, eu... Phillip a interrompeu bruscamente. —Não diga mais nada. Olhou-a hostil, como a desafiasse a desobedece-lo.

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Está bem, Abu. Vejo que sua Christina tem muito caráter. Sua mãe era igual à primeira vez que veio a meu acampamento. Mas eu não era tão bondoso como você e tive que castiga-la uma vez.

Christina conteve uma exclamação de horror, mas Yasir lhe dirigiu um sorriso pormenorizado.

—Impressionada, Christina Wakefield? Bem, quando o tive feito, tampouco me agradou muito. Tem que compreender que eu tinha bebido bastante, e a cólera me cegava, porque ela paquerava sem recato com os homens de meu acampamento. Depois me confessou que sua intenção tinha sido despertar meu ciúme, de modo que me vi obrigado a lhe propor casamento. Depois, jamais voltei a castiga-la, e ao dia seguinte nos casamos. Passei com ela os cinco anos mais formosos, e deu a meus filhos Abu e Abin. Mas não suportou o calor do deserto e quando me rogou voltar para sua pátria não pude me negar. Ainda choro sua morte e sempre a chorarei.

O pai de Phillip tinha uma expressão dolorida nos olhos escuros, como se recordasse esse antigo passado feliz. Limitou-se a assentir, sem olha-los, quando Phillip disse que voltariam a vê-lo.

Christina simpatizava com Yasir, que tinha vivido apenas cinco anos com a mulher amada: mas não compartilhava os mesmos sentimentos que Phillip. Quando retornaram a tenda, olhou os cintilantes olhos escuros.

—Não lhe darei netos! —Gritou. —O que? —Phillip se pôs a rir. —É simplesmente o sonho de um

ancião. Eu tampouco pretendo que me dê filhos. Não te trouxe aqui para isso.

—Então, para que me trouxe? —Explodiu Christina. —Tina, já lhe disse isso. Está aqui para meu prazer. Porque te

desejo— respondeu simplesmente. Estendeu a mão para ela e Christina se afastou veloz, a cólera induzida pelo medo.

Onde posso pôr estes cortes de tecido? —Perguntou para distrai-lo.

—Vou trazer um armário na próxima semana. Por agora pode deixa-los onde estão. Vêem, vamos à cama —disse, e começou a caminhar para o dormitório.

—Ainda não escureceu e não estou cansada. Além disso, não dormirei nessa cama contigo. E não tem direito a me obrigar! —Christina se sentou e começou a desatar as tranças. Phillip se aproximou do divã e a tomou em braços.

—Querida, não disse que nos deitaríamos para dormir —sorriu com gesto perverso.

—Não! —Exclamou Christina. —Me deixe! Phillip sorriu enquanto a colocava no dormitório e a deixava

sobre a cama.

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—Disse-te que estava aqui para me agradar. Tina te dispa. —Não farei isso —Christina respondeu indignada. Começou a sair da cama, mas foi um gesto inútil porque Phillip

a devolveu em um instante ao centro do leito e com os joelhos entre seus quadris tirou-lhe a blusa sobre a cabeça, e com uma mão a sujeitou os braços, enquanto ela se debatia com toda sua força. Depois, desabotoou-lhe a saia e a fez girar sobre si mesmo para tirar-lhe o resto.

—Não pode fazer isto. Não o tolerarei! —Exclamou ela, tratando inutilmente de afasta-lo.

—Querida, quando aprenderá que aqui sou o amo? O que desejo fazer... Faço—o.

Phillip viu o medo nos olhos escuros de Christina, mas não se deteve.

—Droga, Tina. Dei minha palavra de que não te estupraria, mas não prometi que não te beijaria ou não tocaria o seu corpo. Agora, fique quieta! —Disse com voz dura.

Beijou com força os lábios da jovem. Phillip a beijou, com um beijo longo e brutal. Christina

experimentava uma sensação muito estranha. Agradavam-lhe realmente os beijos deste homem? Sentia estranhamente um calor entre os seios, o ventre, o corpo inteiro.

Phillip a soltou e permaneceu de pé junto à cama. Acariciou-lhe o corpo com seus olhos verdes enquanto tirava suas próprias roupas. Christina o olhava cada vez mais surpreendida quando viu a nua exposição física do desejo de Phillip. O medo a dominou e saiu da cama, tratando de escapar pela última vez. Mas Phillip, agarrando sua longa trança, obrigou-a a ficar em seus braços.

—Tina, não tem que ter medo de mim —disse, empurrando-a para a cama.

Phillip posou os lábios no rosto da jovem, descendeu ao pescoço, mas quando chegou aos seios, ela começou a debater-se outra vez. Phillip lhe agarrou os braços e com uma mão os sustentou firmemente sobre a cabeça dela.

—Não resista Tina. Relaxe e goza com o que te proporciono —murmurou com voz rouca.

Enquanto Phillip continuava beijando os seus seios, apoiava a mão livre nas coxas de Christina. Quando levou a mão para o triângulo dourado de pêlo, sob o umbigo, Christina gemeu e pediu que Phillip parasse.

—Tina, apenas comecei —murmurou ele e deslizou o joelho entre as pernas de Christina, para separar-lhe. Phillip lhe soltou a mão e deslizou seu corpo sobre o dela. Sustentou-lhe a cabeça com suas mãos enormes e a beijou com beijos famintos. Ela sentiu a

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endurecida virilidade do homem entre suas pernas, mas agora já não lhe importava. Sua mente pedia que ele parasse, mas seu corpo exigia que continuasse. Então Christina compreendeu que Phillip tinha razão. Ela odiava a aquele corpo que a traía, mas desejava o homem.

Christina sentiu uma quebra de onda de prazer quando Phillip a acariciou delicadamente entre as coxas. Cobriu a boca da moça com a sua e ela começou a gemer brandamente. Agora não desejava que ele parasse. Queria descobrir como terminava essa estranha sensação que experimentava no mais fundo de seu ser.

Sentiu que ele começava a penetra-la lentamente. Mas Phillip parou e a olhou nos olhos.

—Desejo—te, Tina. É minha e quero te fazer amor. Desejas agora que o interrompa? Desejas que te libere? —O olhar sorridente, porque sabia que tinha vencido. —Diga-me Tina, me diga que não pare.

Ela o odiava, mas agora não podia permitir que a abandonasse. Rodeou-lhe o pescoço com os braços. —Não pare —murmurou ofegante. Sentiu uma dor dilaceradora quando ele a penetrou

profundamente. Os lábios de Phillip afogaram o grito de Christina e ela afundou

as unhas em suas costas. —Sinto muito, Tina, mas era necessário. Não voltará a te doer...

Prometo—lhe isso. Começou a mover-se brandamente no interior de dela. Tinha razão. Não voltou a senti-lo. O prazer de Christina se

acentuou quando ele acelerou o ritmo. Ela se abandonou por completo ao amor e correspondeu a cada movimento de Phillip com movimentos de seus próprios quadris. Voava cada vez mais longe, até que ela, com os olhos lacrimejados, sentiu que se unia por completo com um homem.

Phillip lhe revelou um prazer cuja existência ela jamais tinha conhecido. Mas agora que estava deitada debaixo de Phillip o odiava ainda mais que antes. Amaldiçoou-se porque se mostrou tão débil. Jurou nunca se entregar a ele: mas o tinha feito e isso não podia se perdoar.

Christina abriu os olhos e descobriu Phillip que a olhava fixamente, com uma expressão indescritível no rosto.

—Tina, jamais renunciarei a ti. Sempre será minha— murmurou em voz baixa. Depois saiu de dentro dela, mas a atraiu para ele de modo que a cabeça da jovem descansou em seu ombro. —E te advirto uma coisa. Se alguma vez tentar fugir de mim, te

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encontrarei e as surra que te darei fará sua pele cair. Prometo-lhe isso.

Christina ficou quieta. Logo ouviu a respiração profunda de Phillip e compreendeu que ele dormira. Com movimentos cautelosos se separou dele e abandonou o leito.

Christina tomou a túnica de Phillip e saiu da tenda. No centro do acampamento o fogo ardia luminoso e projetava

sombras móveis que confundiam todas as coisas: mas ela não viu ninguém. Avançou com cuidado na mesma direção em que Phillip a tinha levado essa manhã e chegou à pequena clareira. Tirou a túnica e imergiu na água morna.

Até agora, ninguém a tinha visto. Pensou um instante na possibilidade de roubar um dos cavalos do curral e escapar enquanto Phillip dormia. Mas possivelmente a sorte não a acompanhasse e por outro lado estava segura de que alguém ouviria o ruído de cascos. Não desejava comprovar que Phillip era capaz de cumprir sua palavra e estaria disposto a castiga-la com o chicote. De modo que renunciou à idéia e deixou que a água morna lavasse o aroma do homem com quem se deitou.

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CAPÍTULO 9

O sol começava a iluminar as montanhas e dissipava o frio da

noite quando Phillip despertou de um grato sono. Virou o rosto para ver se sua prisioneira ainda estava a seu lado. Franziu o cenho quando viu Christina deitada no extremo da cama, coberta com a túnica do próprio Phillip. Teria que conversar com ela, porque não estava disposto a permitir que um objeto os separasse no leito. Quando recordou sua vitória da noite anterior, Phillip sorriu e brincou com os fios soltos da trança dela. Viu a mancha vermelho escuro de sangue no lençol e sentiu os arranhões nas costas.

Que mulher tinha encontrado! Christina tinha se entregue por completo na noite anterior, depois de reconhecer a derrota. Sua paixão selvagem tinha estado à altura do temperamento de Phillip. Possivelmente teria que faze-la sua esposa para evitar que alguma vez o abandonasse. Mas ela já o tinha rejeitado uma vez e não havia jeito de que ele pudesse obriga-la a aceitar o casamento.

Phillip abandonou a cama, abriu a arca que guardava suas roupas e tomou umas calças claras e uma chilaba branca, de mangas. Saiu da tenda e ao ver Amine que estava frente ao fogo, pediu-lhe que trouxesse o café da manhã. Phillip examinou o seu cavalo, Victory, e os dois cavalos recém capturados e guardados no curral. Agradava-lhe trabalhar com os cavalos, e a domesticação destes animais lhe dava algo que fazer, fora do tempo que dedicava a assaltar as caravanas.

Phillip recordava a expressão incrédula no rosto do senhor na tarde anterior, quando ele havia perguntado se a caravana levava livros. Phillip tinha tomado unicamente as coisas que necessitava para Christina e ordenado a seus homens que se apoderassem unicamente de mantimentos e outros artigos indispensáveis.

Phillip não necessitava de riquezas que podiam acumular-se atacando às caravanas, porque na Inglaterra dispunha de bens consideráveis. Sua mãe lhe tinha deixado propriedades muito valiosas e além disso um título.

Seu meio-irmão Rashid se apoderava de tudo o que encontrava quando realizava suas incursões e não se preocupava muito se enquanto assaltava morria alguém. Rashid era um homem duro e cruel. Phillip se alegrava de que não tivesse estado no acampamento quando ele retornou.

Depois de fazer uma última carícia ao focinho cinza aveludado de Victory, Phillip retornou a tenda. Encontrou Christina sentada no divã, tomando seu café da manhã. Tirou a chilaba de Phillip, e agora levava a saia e a blusa que tinha usado a véspera. Quando ele se

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aproximou, a jovem lhe dirigiu um olhar de ódio que teria aniquilado a outro homem.

—Esperava que seu humor tivesse melhorado depois de ontem à noite, mas vejo que não é assim. —Observou Phillip.

—E eu esperava que tivesse a decência de não mencionar o ocorrido ontem à noite. Mas me joga isso na cara, como o grosseiro que é! Prometo-te que não voltará a ocorrer!

Phillip sorriu perversamente enquanto com absoluta serenidade se sentava ao lado da jovem.

—Tina, não faça promessas que não poderá cumprir. Christina indignada tentou golear-lhe o rosto zombador, mas ele

a agarrou pelo pulso. —Meu amor, não é o momento apropriado para disputar. Sugiro

que aplique sua energia a fins mais construtivos e conclua sua comida. Depois te levarei a tomar um banho.

—Não, obrigado. Banhei-me ontem à noite —disse ela com expressão vencedora.

Os olhos de Phillip se cerraram irritados. Christina franziu o cenho quando ele tomou pelos ombros e a obrigou a virar-se.

—Por isso levava meu chilaba esta manhã! —Estalou Phillip, enquanto a sacudia violentamente. —Pequena estúpida! Acha que somos a única tribo que habita estas montanhas? Há pelo menos uma dúzia e compartilhamos a água e o poço de banho com o Yamaid Alhabbal. A diferença da minha, sua tribo não fala inglês. Sabe onde estaria esta manhã se um de seus homens te tivesse descoberto? Em um mercado de escravos... E estariam exigindo por seu corpo um preço elevado. Quer dizer, depois que Yamaid Alhabbal e todos seus homens tivessem saboreado seus encantos. —Phillip a afastou e se fixou frente a ela, os olhos frios e implacáveis. —Jamais volte a sair sem escolta deste acampamento. Ouve-me?

—Sim —murmurou ela humildemente. Quando viu como se atemorizava, Phillip se acalmou. —Sinto muito, Tina. Em realidade, se lhe vendessem,

provavelmente não poderia te encontrar. O abutre gordo e velho que te comprasse te esconderia temeroso em te perder. Nem você nem eu queremos isso, ou não é verdade?

—Pode estar certo de que terei em conta sua advertência, e no futuro terei mais cuidado —replicou Christina, enquanto alisava as rugas imaginárias de sua saia. —E agora, se me desculpar, preciso costurar algumas coisas. —E recolheu um retalho de tecido e desapareceu no interior do dormito.

Phillip meneou a cabeça. Sim, Christina era muito capaz de reagir rapidamente; passava de horrorizada, a temerosa, para indiferente.

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Depois de tomar o café da manhã, ele se aproximou do dormitório e afastou as cortinas.

—A propósito, querida, não perca tempo confeccionando camisolas, porque aqui não os necessitará.

Ele se esquivou de uma almofada que chegou voando com a força de um projétil. Riu de boa vontade enquanto saía da tenda. Agora começaria a domar aos potros: possivelmente fossem mais dóceis que Christina!

Essa noite, depois do jantar, Phillip se recostou preguiçosamente no divã, os olhos fixos em Christina. Ela tinha se sentado em frente, e costurava um retalho de tecido verde claro, e se mantinha indiferente a ele. Essa atitude desdenhosa o irritava; mas estava decidido a que ela soubesse.

Phillip fechou os olhos e deixou fluir o curso de seus pensamentos. Tinha passado o final da tarde com seu pai, e conversado com Yasir sobre Paul e sua nova esposa. Embora seu pai não visse Paul desde durante muitos anos, o filho menor ainda estava muito perto de sua tribo. Phillip abrigava a esperança de que Paul viesse pelo menos uma vez a visitar seu pai. O ancião não viveria durante muito tempo. Nesta terra, as pessoas morriam prematuramente.

Quando Yasir tinha decidido transladar a sua tribo a um lugar que habitavam ao pé das montanhas, Phillip ficou feliz. Nunca gostou da vida nômade do deserto, ou perambular em busca de um novo oásis. Fazia oito anos que a tribo vivia nas montanhas. Phillip não poderia permanecer tanto tempo com seu pai se a tribo não se mudasse constantemente desta região. Aqui o clima era bastante fresco. Havia água suficiente inclusive para banhar-se regularmente. O acampamento ocupava um lugar que lhes permitia defender-se de um ataque se chegava à ocasião.

Phillip não sabia se permaneceria no Egito depois da morte de seu pai. Mas agora que tinha Christina, provavelmente decidiria ficar. Não podia leva-la a Inglaterra, porque ali ela conseguiria escapar.

Phillip se relaxou com gestos lânguidos e quando abriu os olhos viu Christina cochilando no divã. Levantou-se, em silêncio rodeou a mesa e parou ao lado da jovem. Seus olhos acariciaram os cabelos despenteados; a massa reluzente cobria o travesseiro e caía até o chão. Christina estava encolhida, como uma menina pequena e inocente. Não parecia a mulher sensual da noite anterior.

Phillip se inclinou para abraçar Christina. Mas ela se levantou de um salto e correu para o fundo da tenda. Virou-se para ver se ele a perseguia.

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De modo que... Só fingia dormir. Ele se levantou e lhe dirigiu um olhar divertido.

—Preciosa, é um pouco tarde para dedicar-se a estes jogos. —Posso te assegurar que não estou jogando —replicou ela com

gesto duro, recolhendo os cabelos que lhe caíam sobre os ombros. —Pensava unicamente te levar a cama. Mas agora que está

acordada... Me ocorre algo muito melhor. —Burlou-se Phillip enquanto se aproximava lentamente a ela.

—Não! —Exclamou Christina, que começou a retroceder. —E não dormirei contigo nessa cama. É indecente! Prefiro dormir no chão!

Ele sorriu levemente quando abandonou Christina contra o fundo da tenda.

—Não te agradará dormir no chão. Aqui faz muito frio de noite e quererá sentir o calor de meu corpo. O inverno se aproxima.

—É melhor suportar o frio que seu contato —replicou secamente Christina.

Tratou de passar correndo ao lado de Phillip. —Tina, ontem à noite não pensava assim —disse ele. Tomou–a entre seus braços e com um movimento súbito a jogou

ao ombro. Ela lutou ferozmente enquanto Phillip cruzava a cabana e a

jogava sobre a cama. —Acredito que é hora de te ensinar uma lição. É uma mulher

muito apaixonada, embora te negue a reconhece-lo. Christina se debateu furiosamente enquanto ele tratava de

despi-la. Enquanto descarregava chutes e se debatia inutilmente, jogava-lhe maldições, fazendo ornamento de uma linguagem que Phillip nunca escutou em uma dama. Finalmente, ele a prendeu facilmente. Apertando seu corpo contra o de Christina na cama.

—Querida, sua linguagem não é própria de uma dama —disse Phillip rindo. —Já me contará como aprendeu este vocabulário tão horrível.

Christina realizou um último esforço para afasta-lo, e depois mudou de tática e permaneceu perfeitamente imóvel sob o corpo de Phillip.

Abriu sua boca, para receber sua língua, e ele a beijou intensamente, mas sem ela corresponder. —Hummm. Agora esta empregando uma tática diferente. Mas não agüentará por muito tempo.

Movendo-se para baixo da moça, Phillip aproximou os lábios aos peitos redondos, e acariciou e mordiscou seus mamilos um após o outro. Deslizou a mão sobre o ventre e finalmente entre as pernas de

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Christina. Com movimentos doces moveu os dedos de fada para frente e para trás, até que ela gemeu de prazer.

—Oh, Phillip —ofegou Christina. —Me possua. Phillip a cobriu com seu corpo. Os braços dela lhe rodearam o

pescoço, e correspondeu apaixonadamente aos beijos dele, então ele a penetrou lentamente, e depois iniciou um movimento rápido e duro, até que a paixão de ambos estalou levando-os ao arrebatador êxtase.

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CAPÍTULO 10

Para Christina a madrugada demorou a passar. Tinha dormido

nervosa durante a noite e despertou quando tudo estava coberto de sombras. Agora que a luz começava a penetrar lentamente no dormitório, ela fixou o olhar no homem que durante a noite tinha consumido sua vontade. Christina tinha lutado desesperadamente para sufocar os impulsos de seu próprio corpo enquanto Phillip a acariciava, mas não tinha resistido ao contato de sua mão. Entregou-se por completo a ele. Tinha-lhe pedido que a possuísse.

Pensou irritada: "No que me converti? A julgar pelo desejo que me dominava, fui como uma cadela em cio."

Passeou o olhar sobre o corpo nu de Phillip. Ele era perfeito: magro, musculoso e forte. Estudou o rosto: enérgico quando estava acordado, infantil e encantador quando dormia. Os cabelos negros se enroscavam meigamente sobre a nuca, desordenados pelo sono da noite. Phillip parecia o Príncipe Encantado com quem ela tinha sonhado quando era menina, mas seu caráter era demoníaco.

De repente, um voz profunda sobressaltou Christina. —Abu —disse o homem, —acabo de me inteirar de sua volta.

Acorda! Um homem alto e magro a quem Christina nunca tinha visto

entrou no dormitório, mas parou quando a viu. O homem olhou Phillip, que começava a despertar, e de novo

Christina. Um longo sorriso se desenhou em seus traços escuros e Christina tratou de cobrir-se, envergonhada de que a vissem no leito com Phillip.

—Mil perdões, irmão. Não sabia que tinha te casado —disse com ar inocente o recém chegado. —Quando ocorreu o feliz acontecimento?

Phillip se sentou ao lado da cama e olhou irritado ao homem. —Não houve bodas, como sem dúvida já sabe. E agora, se sua

curiosidade estiver satisfeita terá a bondade de sair de meu dormitório?

—Como queira, Abu. Esperarei para tomar o café da manhã contigo— replicou o homem.

Sorriu, deu meia volta e saiu da tenda. Com movimentos cautelosos, Christina abandonou o amparo

das mantas e se virou para Phillip. —Quem era esse homem? —Perguntou irritada. —Como se

atreve a entrar assim em seu dormitório? Aqui não posso ter nem sequer um pouco de intimidade?

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Phillip ficou de pé e se estirou preguiçosamente. Vestiu a chilaba e as calças e se sentou na cama para calçar as botas.

—Maldição, quer me responder? —Gritou Christina. Phillip se virou para olhar Christina e sorriu ao ouvir a cólera da

jovem. —Querida, não voltará a ocorrer. É meu meio-irmão, Rashid, e

um dos jogos que pratica para me chatear. Meu dormitório é o único lugar onde se pode ter privacidade, exceto eu posso desfruta-la... Agora, vista-se— disse, e recolheu as roupas de Christina e as entregou . —Está esperando para te conhecer.

Enquanto saía do dormitório, Phillip não viu como Christina, em um gesto infantil, dava-lhe a língua. “Que irmão pensou enquanto se vestia apressada”. Quantas surpresas mais terei que suportar? Agora terei que conhecer o irmão... sem dúvida, outro bárbaro.

Recolheu-se as mechas de cabelos e as prendeu na nuca com um pedaço de tecido que tinha talhado em um dos tecidos dados por Phillip, Christina desejava ter um espelho, mas não queria pedi-lo a Phillip.

Os dois irmãos estavam sentados no divã, tomando o café da manhã, quando Christina abriu as cortinas. A jovem pensou: São tão selvagens que nem sequer ficam de pé quando uma dama entra na habitação. Cruzou a cabana e parou frente a eles. —Eu sou Rashid Alhamar —disse o irmão de Phillip e seus olhos a exploraram da cabeça aos pés. —E você certamente é Christina Wakefield.

Ela assentiu, tomou um pedaço de pão e se sentou no divã em frente aos dois irmãos.

Exceto pela altura, Rashid não se parecia com Phillip. Tinha a pele muito mais escura, os cabelos negros e os olhos castanhos. O rosto mostrava uma expressão infantil, quase efeminada, com a pele lisa e suave; em troca, Phillip tinha o rosto áspero e a barba crescente. Phillip era longo e musculoso, e Rashid em realidade mostrava um corpo muito magro.

—Seu irmão ofereceu uma recompensa muito considerável por você, Christina —disse Rashid. —Ouvi dizer que ele e seus homens a buscam em todas as caravanas e nas tribos do deserto.

—E você, senhor Alhamar, deseja cobrar essa recompensa? —Perguntou azedamente Christina.

A pergunta fez Phillip mover-se e franzir o cenho. —Não se fala mais de recompensas —disse Phillip a Rashid, com

a voz carregada de ameaça. —Direi isso apenas uma vez. Christina permanecerá aqui porque eu assim o desejo. Sou o chefe desta tribo e ninguém se oporá a minha decisão. É minha mulher e a tratará

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como corresponde a sua condição. E você não voltará a entrar em meu dormitório.

Rashid se pôs a rir. —Nura disse que te mostrava muito protetor com esta mulher.

Vejo que não mentiu. Como sabe, Nura sente ciúmes de sua nova esposa. Sempre quis unir-se a ti.

—Ah, as mulheres! —Disse Phillip, encolhendo os ombros —Jamais dei a Nura motivos para abrigar esperanças matrimoniais.

—Em realidade, nisso se parece com todas as restantes jovens da tribo. Todas reclamam sua atenção.

Christina teve a sensação de que na voz do árabe havia uma ponta de inveja.

—Já falamos bastante de mulheres —replicou azedamente Phillip. —Onde esteve, Rashid? E por que não te vi aqui quando retornei ao acampamento?

—Estive no Balyana e ali me inteirei de que parou uma importante caravana. Também recebi a notícia do desaparecimento de Christina. A caravana se atrasou dois dias; se não tivesse sido assim, teria te encontrado aqui para te dar à bem-vinda.

Do interior de sua túnica Rashid extraiu um saquinho, abriu-o e derrubou o conteúdo sobre a mesa.

—Esta é a razão pela qual esperei tanto. Sabia onde as ocultavam, de modo que foi bastante fácil as roubar.

Christina olhou assombrada as formosas jóias depositadas sobre a mesa. Havia enormes diamantes, esmeraldas, safiras e outras pedras preciosas que ela não pôde identificar. Mas a pedra mais bela era um enorme rubi cujas facetas vermelho sangue refulgiam intensamente. Por si só o rubi valia uma verdadeira fortuna.

—É obvio, como é o chefe da tribo, pertence-te —disse a contra gosto Rashid. —O que faria com um saquinho de jóias? —Disse Phillip rindo. — Aqui não necessito de riquezas. E não as desejo. Pode guardar isso visto que tomou seu tempo em rouba-las.

—Abrigava a esperança de que dissesse isso, Abu. —Rashid colocou as jóias no saquinho, escondeu-o entre as dobras de sua chilaba.

—Espero que você use proveitosamente essas jóias —disse Phillip. —Já falou com nosso pai?

—Irei vê-lo agora. Faz poucos meses adoeceu gravemente. Maidi conseguiu sana-lo, mas depois nunca se sentiu muito bem. Temo que não viverá muito —disse secamente Rashid.

Phillip acompanhou seu irmão até a saída da cabana e permaneceu um momento ali olhando o acampamento. Christina se perguntou que classe de homem era Phillip, que escutou

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indiferentemente as noticias da possível morte de seu pai. Que classe de homem poderia rejeitar uma fortuna em jóias, como se tivessem sido pedras comuns? Jamais conseguiria compreender a esse homem que a tinha convertido em seu amante. Desejava compreende-lo?

Com movimentos lentos Phillip se virou e elevou as duas mãos para alisar os cabelos que estavam emaranhados em seu rosto. Christina viu a tristeza em seus olhos verde escuros.

De modo que, depois de tudo, sofria. De repente, ela desejou abraça-lo. Desejava dissipar essa tristeza. Por que ? Tinha esquecido que o odiava? E além disso, se agisse desse modo à única coisa que conseguiria era faze-lo rir .

—Acredito que é hora de conhecer os membros de minha tribo. —Phillip tranqüilamente cruzou a cabana para parar em frente à Christina. Com uma mão lhe elevou o queixo, obrigando-a a levantar o rosto. —Quer dizer... Se não ter nada melhor que fazer.

—Minha costura pode esperar —replicou Christina. A mão de Phillip baixou até a estreita cintura de Christina

quando ela ficou de pé. Agora, estavam separados por uns poucos centímetros e a proximidade dele acelerou os batimentos do coração de Christina. Sentiu que algo cedia em seu interior e que já não podia dominar-se. Detestava essa influência que ele exercia. Tinha que dizer algo para destruir esse vínculo que os unia.

—Vossa Majestade deseja ir agora mesmo? —Disse sarcasticamente.

—Tina, aqui não existe essas formalidades. Disse para me chamar de Phillip.

A mão dele se fechou sobre a cintura da jovem. —Sim, senhor. Sim, alteza —replicou ela com expressão de

escarro total. —Basta! —Rugiu ele. —Se quiser que te ponha de barriga para

baixo sobre meus joelhos e te ensine uma lição, pode continuar. Do contrário, calce de uma vez as sapatilhas.

Christina não esperou para comprovar se Phillip estava disposto a cumprir sua ameaça. Entrou no dormitório e depois de retirar suas sapatilhas, depositadas sob a cama, calçou depressa e retornou à cabana principal.

Com uma mão na cintura de Christina, Phillip a acompanhou para fora.

Pararam em frente à primeira tenda que estava à esquerda da que ocupavam eles.

—Estão ai? —Chamou Phillip. —Entra, Abu. É uma honra visitar meu lar —disse um homem

baixo e robusto, que tinha aberto a entrada da tenda.

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Quando entraram, Christina viu que aparentemente ali estava reunida a família inteira. As mulheres de um lado da tenda: Alguém amassava, outra estava sentada no piso e amamentava a um menino, e uma mulher de mais idade preparava seus rifles e um variado sortido de armas brancas.

—Esta é Christina Wakefield —disse Phillip ao grupo. Todos a olharam fixamente. —Christina, este é meu velho amigo Said e sua esposa Maidi. —Com um gesto indicou à mulher de mais idade que preparava a comida. —Agora que está doente, cuida de meu pai, e também prepara nossos mantimentos. E a jovem à direita é sua filha, Nura. —A bela jovem de cabelos escuros parecia ter a idade de Christina. Pareceu-lhe que em seus olhos havia uma expressão hostil e recordou que essa moça tinha guardado esperança de converter-se na esposa de Phillip. —E a jovem com os meninos é sua cunhada Amine.

Christina retribuiu o sorriso da bonita morena que parecia ter pouco mais de vinte anos. Era a que havia lhes trazido mantimentos na véspera, e Christina vestia suas saias e a blusas. Se fosse possível, Christina e ela pudessem chegar a ser amigas.

—Estes são os filhos de Maidi. Ahmad, Saadi e Syed, o marido de Amine —concluiu Phillp.

Cada um dos varões assentiu com um gesto da cabeça. Christina reconheceu Ahmad e Saadi: Eram os dois jovens que

tinham ajudado Phillip a seqüestra-la. Syed tinha a idade de Phillip e mostrava uma longa cicatriz na bochecha direita.

—Me alegro muito de conhece-los —disse Christina. —Nos sentimos honrados de te conhecer, Christina Wakefield —replicou Said, com um sorriso cálido. —Compreendo por que xeque Abu se tomou tanto trabalho para te trazer. É realmente bela. —Adula-me, Said, mas eu...

Phillip a interrompeu. —Não foi muito trabalho, como podem testemunha-lo Ahmad e Saadi; mas Christina ainda tem que conhecer outros membros da tribo, de modo que vamos partir. —Obrigou Christina a sair da tenda.

—Compreendo. Já falaremos em outra ocasião —disse Said, com expressão um tanto desconcertada.

Christina se virou para Phillip, às mãos nos quadris e os olhos que jogavam faíscas.

—Por que me interrompeu assim? —Perguntou. —Tina, se souber o que te convém será melhor que baixe a voz.

Não brincava quando te adverti que castigamos as nossas mulheres quando se mostram desrespeitosas —disse Phillip com aspereza. —Interrompi-te porque pensava em dizer que estava aqui contra sua vontade. Todos os membros da tribo sabem a quem responsabilizar.

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Mas se o houvesse dito em público, a situação teria sido muito grave para mim. Umas boas chicotadas é provavelmente o que necessita para melhorar sua conduta.

Phillip lhe agarrou o ombro e a sacudiu brutalmente. —Não! —Ofegou Christina, afastando-se dele. —Me comportarei

bem...Prometo-o! —Disse frenética, e todo o corpo lhe tremia. —Christina, te acalme —disse Phillip mais amavelmente. —Não

penso em te bater agora. Ainda não me levaste a isso. Sustentou-a em seus braços, e a apertou meigamente contra seu

corpo até que ela deixou de tremer. Christina nunca conseguiria compreender a esse homem. Primeiro ameaçava golpeá-la e depois a abraçava com amor e ternura.

Amor? Por que tinha pensado em amor? Phillip não a amava. Só a desejava. E o amor e o desejo eram tão diferentes como a noite e o dia. Ela não poderia abandonar esse lugar enquanto o coração de Phillip não se abrandasse e lhe permitisse partir, como seu pai tinha concedido a liberdade a sua esposa.

—Tina, sente-se bem? —Perguntou ele com voz grave, enquanto com uma mão a obrigava a levantar a cara e a olha-lo.

—Sim —replicou meigamente Christina, sem abrir os olhos. Levou-a para conhecer os dois irmãos de Said e a suas

respectivas e numerosas famílias. Christina viu que todas as jovens olhavam Phillip com desejo

nos olhos. Pensou que definitivamente Rashid não tinha mentido. Todas tinham guardado a esperança de atrair a atenção de Phillip, mas tinha sido antes de sua viagem. Agora, ele a tinha capturado e a exibia ante a tribo inteira. Certamente todas a odiavam... E Nura mais que ninguém.

Naquela tarde Christina terminou a saia que tinha confeccionando e se sentiu bastante feliz com seu trabalho. Tinha usado como modelo o mesmo objeto que estava vestindo; tinha utilizado uma seda verde claro, e tinha com um babado verde escuro.

Podia vestir a saia de seda verde com a blusa verde escura de Amine enquanto confeccionava um objeto que combinasse. Tinha chegado à conclusão de que obteria resultados mais imediatos se confeccionava primeiro as saias e blusas singelas, em lugar de vestidos. Não se importava que os objetos que confeccionava fossem excessivamente delicados para a vida do acampamento. Christina gostava de usar formosos objetos. Quando estava bem vestida, sentia-se confortável, e pouco se importava se estivesse vivendo no centro de Londres ou em um deserto. Antes do almoço, Phillip foi procurar Christina para leva-la para tomar banho; tinha uma faca no cinto, para utilizar em qualquer situação perigosa. Reuniu-se com ela na água morna, mas esta vez não tentou toca-la.

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Depois do banho, Christina colocou a saia nova. Mas Phillip se limitou a comentar:

—Tina, trabalha rápido com as mãos. Rashid foi comer com eles, e enquanto durou a comida não pôde

afastar os olhos de Christina. Os cuidados do árabe irritaram Phillip, de modo que Christina decidiu retirar-se em seguida, deixando aos dois irmãos entrosados na discussão dos assuntos da tribo. Depois, Phillip foi deitar-se, e ela fingiu estar dormindo; supôs que ele tentaria possuí-la novamente. Mas Phillip se limitou a abraçá-la e pouco depois dormiu.

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CAPÍTULO 11

Durante os dias tranquilos que seguiram, Christina e Phillip

estabeleceram uma rotina bastante regular. Ele compartilhava com Christina as refeições, mas a deixava sozinha durante a manhã e a tarde. Levava ao lago para banhar-se todas as tardes, antes do jantar, e depois da comida a acompanhava ocupado em limpar suas armas, ler ou simplesmente meditar.

Todas as noites Phillip fazia amor com ela e cada vez ela lutava com todas suas forças até que a paixão derrubava todas suas resistências. Christina não podia negar que essa relação amorosa lhe dava um prazer muito intenso; mas precisamente por isso odiava Phillip mais que nunca.

Ele provocava nela sentimentos estranhamente contraditórios. Quando estava perto, Christina se sentia nervosa. Nunca podia prever o que ele faria. Conseguia que ela perdesse o controle e provocava sua ira, e depois convertia este sentimento em medo. Porque tinha medo; em efeito, acreditava que ele estava disposto a golpeá-la se o provocava muito.

Tinha transcorrido uma semana desde o dia que Phillip a tinha trazido ao acampamento. Como não tinha nada mais que fazer, tinha terminado a blusa de seda verde e duas saias mais. Mas já estava cansada de costurar. Também estava entediada de permanecer um dia atrás de outro, a jornada inteira, no interior da tenda.

Naquela manhã, depois do café da manhã, Phillip saiu sem dizer uma palavra. Christina sabia que estava irado porque ela não quis lhe explicar a razão de suas lágrimas na noite anterior, como podia lhe confessar que chorava porque seu próprio corpo a traía? Tinha se prometido que não sentiria prazer com suas caricias, mas tinha falhado. Phillip a tinha excitado com movimentos sábios e pacientes, e ao fim a tinha dominado como todas as noites.

Mas desta vez Phillip não se contentou em domina-la. Tinha reafirmado implacavelmente seu poder sobre ela em uma segunda e terceira vez e Christina tinha compartilhado apaixonadamente cada minuto de amor. Mas quando ele a deixou e descansou sobre o leito, Christina se pôs a chorar.

Quando Phillip tratou de consola-la, Christina se limitou a chorar mais intensamente que antes e lhe disse que a deixasse em paz. Estava desgostosa consigo mesma mais que com ele porque aquele amor lhe dava tanto prazer. Mas quando ela não quis explicar-se, Phillip mostrou uma cólera fria. Christina chorou até dormir.

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Agora, à medida que avançava a manhã, Christina se sentia sufocada pela inatividade. Deixou o trabalho de lado e se aproximou da entrada da tenda. A luz do sol filtrada através dos novelos parecia tão grata, que Christina esqueceu seu temor à reação de Phillip se descobria que tinha saído da tenda. Aproximou-se do curral, reconfortada pelo calor do sol.

Parou bruscamente quando viu Phillip. Estava no amplo curral acompanhado por Ahmad, que montava um formoso cavalo árabe. Outros animais pastavam pacificamente na colina, com as ovelhas. Ela continuou avançando corajosamente. Quando chegou à paliçada do curral, o cavalo se moveu inquieto.

Phillip se virou para ver o que incomodava ao animal e os olhos se cerraram ameaçadores quando viu Christina. Tranquilizou ao cavalo e logo se aproximou da jovem com passo rápido. —O que está fazendo aqui? —Perguntou irritado Phillip. —Não te autorizei a abandonar a tenda.

Christina tratou de dominar a cólera que começava a invadi-la. —Phillip, não podia suportar um minuto mais nessa tenda. Não estou acostumada a viver encarcerada. Preciso sentir o sol e respirar o ar da manhã. Não posso permanecer aqui e te observar? Interessa-me saber o que faz todos os dias — mentiu.

—Entre outras coisas, treino a estes cavalos — disse Phillip. —Para que? —Perguntou Christina, tratando de ganhar tempo. —Realmente quer sabe-lo, Christina? Ou está jogando outro

jogo? —Como bem sabe, não posso ganhar em um jogo no qual você é

o antagonista — disse Christina. — Seriamente, desejo saber como treina a seus cavalos.

—Muito bem. O que quer saber? —Para que os treina? —Para que respondam as ordens do cavaleiro com a pressão dos

joelhos e não das mãos. Às vezes as mãos não podem dirigir as rédeas, por exemplo em combate ou depois de uma incursão. Também se obtêm outros resultados, porque ninguém pode roubar nossos cavalos... Salvo que os levem da brida. Não aceitam aos que usam as rédeas para dirigi-los.

—Muito inteligente — disse Christina, agora mais interessada. —— Mas como ensina aos cavalos a obedecer à pressão dos joelhos?

— Induz-se ao cavalo a avançar em certa direção, por exemplo à esquerda, enquanto o cavaleiro pressiona nesse sentido. Continuamos na mesma direção um momento, até que o cavalo aprende.

—Como o ordena que pare?

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—Como não usamos arreios, utilizamos os pés para detê-los... Cravamos-lhes as esporas nas costelas enquanto o sujeitamos fortemente. Está satisfeita agora?

—Posso permanecer aqui um momento para vê-lo? —Perguntou ela com expressão alegre.

—Se ficar quieta e não molestar ao cavalo — respondeu Phillip. Olhou-a cheio de duvidas durante um momento antes de afastar-se.

Maravilha!... Tinha conseguido. Saiu um momento daquela maldita cabana. Devaneou enquanto mantinha fixos os olhos verdes no treinamento.

Desejou intensamente montar aquele belo animal. Talvez pudesse convencer Phillip de lhe permitisse montar um dos cavalos, ou melhor, ainda, que lhe entregasse um animal ainda sem domar. Não seria como montar Dax e percorrer os férteis campos verdes de sua pátria, mas era melhor que privar-se por completo do prazer da equitação.

De repente, Christina compreendeu que estava pensando em um futuro nesse acampamento. Droga; por que John não vinha resgata-la? Mas era provável que John acreditasse que estivesse morta. Precisava achar um modo de fugir, mas não podia faze-lo sozinha. Necessitava de um guia que a ajudasse a cruzar o deserto e a protegesse das tribos nômades. Necessitava de mantimentos, água e cavalos.

Podia esperar que Phillip se cansasse dela? Quanto demoraria a chegar a essa situação? E talvez Phillip não a devolvesse a seu irmão quando já não a desejasse. Possivelmente a vendesse como amante e a destinasse ao harém de outro homem.

Se fizesse se apaixonar por ela, talvez pudesse persuadir Phillip de que lhe permitisse abandonar a tribo. Mas como consegui-lo se ele sabia que Christina o odiava? Além disso, ele mesmo lhe havia dito que só desejava seu corpo.

—Christina. —Elevou os olhos para o rosto sorridente de Phillip. —Chamei-te duas vezes. Estranho modo de demonstrar interesse no que faço.

—Desculpa — respondeu Christina com um sorriso. — Estava pensando em meu cavalo Dax e em que desejaria cavalgar.

—Fazia-o frequentemente em sua casa? — Oh, sim! Cavalgava todos os dias — respondeu Christina com

entusiasmo. Voltaram caminhando a tenda, onde os esperavam fontes

fumegantes de aveia, arroz e pratos doces: o almoço. Havia um recipiente com chá para Christina e um copo de vinho para Phillip.

—Esta tarde sairei um momento do acampamento — disse Phillip quando se sentavam para comer. —Direi a Ahmad que cuide

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da cabana enquanto eu não estou. É uma questão de segurança, e não de outra coisa.

—Mas, aonde vai? —A um ghazw — respondeu Phillip irritado. Era evidente que ela tinha questionado algo que Phillip não

desejava comentar. Mas sua curiosidade feminina não lhe permitiu calar.

—Um ghazw? O que é isso? —Christina, tem que me perguntar sempre tantas coisas? — A

voz de Phillip mostrava sua raiva e Christina estremeceu apesar do calor. — Se quer sabe-lo, é uma incursão. Syed descobriu uma caravana esta manhã. Como nossa provisão de mantimentos é escassa, teremos que tomar o que necessitamos para sobreviver um tempo. Responde isto a sua pergunta ou precisa saber mais?

—Não falará a sério! —Christina estava afligida. Deixou de comer e contemplou os frios olhos verdes. —Por que não pode comprar o que necessita? Rashid tem as jóias que você rejeitou. Certamente você mesmo possui bastante riqueza. Por que tem que roubar a outras pessoas?

Phillip a olhou e os reflexos amarelos de seus olhos verdes desapareceram quando a contemplou, dominado pela ira.

—Christina, não tolerarei mais perguntas. Direi isso uma vez e só. O furto é o costume de meu povo. Roubamos para sobreviver, como o temos feito sempre. Tomamos só o que necessitamos. Aqui não tenho riquezas, porque não às necessito. Rashid me guarda rancor, e eu compreendo seus sentimentos; por isso não reprimo seu desejo de riquezas. Permito-lhe conservar o que rouba. Não volte a me fazer perguntas!

Girou sobre seus calcanhares e saiu furioso da tenda. Christina se sentiu comovida. Tinha a impressão de que caía em um poço sem fundo.

Phillip era um ladrão! Sem dúvida tinha assassinado implacavelmente a muitos homens durante suas incursões. E era provável que se agradasse em matar! E Christina Wakefield estava à mercê desse homem.

Christina tremeu incontroladamente, recordando a cólera que ele acabava de mostrar. Seria capaz de mata-la se ela o irritasse excessivamente? Era um saqueador e ela conhecia onde seu acampamento estava. Será que sabendo o que sabia, Phillip lhe permitiria afastar-se do lugar?

Ouviu os cavalos que saíam a galope do acampamento. Partiam em busca da vitimas e saque e só Deus sabia de que mais. Christina não podia suportar esse novo medo. Tinha que saber o que ele

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imaginava em fazer com ela. Se estava condenada a morrer, queria sabe-lo.

Aproximou-se rapidamente à entrada da cabana e encontrou a Amahd sentado no chão, a um lado. Estava limpando meticulosamente uma longa espada de prata com punho curvo.

—Amahd — atreveu-se dizer Christina, — posso te fazer uma pergunta?

Ele a olhou com expressão de assombro. —Não é certo. As mulheres não fazem perguntas. Não foram feitas para isso.

Isso era demais. Esta gente era bárbara! —Mas, Amahd, não me educaram como suas mulheres. Criaram-me com a idéia de que sou igual aos homens, não compreende? Só desejava saber se Abu já trouxe antes a outras mulheres para cá. —disse, com a esperança de que Ahmad acreditasse simplesmente que ela sentia ciúmes.

Amahd sorriu. —Não, é a primeira mulher que o xeque Abu trouxe para o

acampamento. —Obrigada, Ahmad — disse Christina com um sorriso. Retornou a tenda e começou a passear de um extremo ao outro

da habitação. O que sabia de nada lhe servia. Se tivesse existido outra mulher, Christina teria podido descobrir qual teria sido seu destino quando Phillip se cansou do assunto. Agora teria que encarar Phillip com a pergunta que a torturava. Rogou a Deus que ele estivesse de melhor humor na volta.

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CAPÍTULO 12

O sol ainda estava sobre o horizonte quando o grupo chegou ao

pé das montanhas. Agora cavalgavam a toda velocidade, pois a caravana se encontrava a muitos quilômetros de distância. Phillip esperava que não fosse uma caravana de mercados de escravos, porque estas geralmente levavam pouco alimento.

Maldita mulher, com sua curiosidade! Por que conseguia irritá-lo tão facilmente? Ele sempre se orgulhou da serenidade de suas próprias reações frente às mulheres... Até que conheceu Christina.

Tinha-lhe irritado a noite anterior, quando recusou a dizer por que chorava. Phillip não podia entender aquelas lágrimas. Christina nunca tinha chorado depois de fazer amor.

Conseguiria compreende-la alguma vez? Christina continuava debatendo-se, mas Phillip sabia que gostava de fazer amor. Por que se opunha ao que era tão prazeroso?

Naquela manhã, quando Christina apareceu no curral, ele compreendeu que seu fingido interesse não era mais que uma desculpa para abandonar a tenda. Mas, podia criticá-la? Ele teria feito o mesmo. Estava certo de que ela não tentaria fugir de novo; temia-lhe muito. Possivelmente pudesse confiar nela na medida necessária para deixar que percorresse livremente o acampamento.

Phillip recordou a expressão de horror no rosto de Christina quando lhe disse que saía para participar de uma incursão. Não tinha desejado lhe explicar esse aspecto de sua própria vida. Tampouco lhe agradava e sabia que ela se sentiria afligida. Mas estava tão irritado pelas perguntas que tinha querido impressiona-la.

Não estava acostumado que lhe formulassem muitas perguntas a respeito de sua vida e especialmente uma mulher. Ah, mas que mulher! Phillip adorava sua companhia. Era um verdadeiro deleite contemplar sua beleza virginal.

Ansiava que chegasse o momento de entrar na cabana, porque sabia que ela o esperava... De boa ou má vontade. Antigamente, sua cabana tinha sido um lugar solitário que ele evitava todo o possível.

Quando se aproximaram da caravana, que tinha acampado à beira de um oásis para passar a noite, Phillip viu cinco camelos, os vultos amontoados no chão, e seis homens reunidos ao redor de um pequeno fogo. Phillip e seus homens rodearam o acampamento, erguendo as armas de fogo e Syed disparou dois tiros para comprovar se a caravana iria combater ou entregar sua mercadoria.

Um por um, os guardas da caravana pegaram lentamente seus rifles. Phillip desmontou e se aproximou prudentemente, acobertado por seus homens, mas os seis guardas não opuseram resistência.

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Preferiam conservar a vida antes que lutar e morrer pela propriedade de outro homem.

Syed vigiou aos prisioneiros, enquanto o resto do bando se ocupava em abrir e saquear os mantimentos. Logo depois abriram algumas garrafas de vinho e comeram carne seca.

À manhã seguinte carregaram um dos camelos com os mantimentos e outros artigos que necessitavam, deixaram em liberdade ao resto da caravana e partiram em direção às montanhas. Chegaram ao acampamento à tardezinha e foram aclamados pelo resto da tribo. Levaram os cavalos ao curral, descarregaram o camelo juntamente com os mantimentos e começaram a organizar os mantimentos.

Esperava encontrar Christina de melhor humor que à tarde da véspera. Encontrou-a tranquilamente sentada no divã, à toalha perto e sobre o colo os objetos novos. A jovem não disse nenhuma palavra quando Phillip entrou no dormitório para depositar seus pertences.

—Preciosa, vamos tomar banho em um minuto — disse alegremente Phillip.

Voltou para a habitação principal onde empacotou um pertence que tinha adquirido na noite anterior.

—Querida, ocorre algo? — Perguntou Phillip, que acreditava que o silêncio de Christina não significasse que ainda estava irritada com ele.

Mas ela se limitou a afastar os olhos e menear a cabeça. Bem, não a obrigaria a responder. Sem mais palavras, Phillip a obrigou a ficar de pé e começou a marcha a ladeira da colina, onde estava o lago dos banhos.

Christina ainda não tinha perdido seu acanhamento quando tinha que despir-se na presença de Phillip. Voltou às costas ao homem, e com movimentos lentos tirou a blusa e a saia. Ele dominou com muito esforço seu desejo, e a contemplou enquanto entrava na água.

Logo Phillip desviou a atenção para o pacote que havia trazido; desembrulhou uma navalha de dupla lamina, e começou a barbear-se visto que seus pêlos haviam crescido durante a semana.

Depois de sentir-se satisfeito com o resultado, do pacote extraiu um tablete de sabão e se reuniu com Christina na água.

Tinha escurecido quando retornaram ao acampamento. O fogo recém aceso iluminava a cabana e as chamas projetavam sombras nos rincões.

Phillip meditou sobre o aspecto de Christina enquanto ambos terminavam o jantar. Essa atitude da jovem não podia continuar, porque ele ansiava leva-la a cama. De todos os modos, ela se renderia a seus avanços depois da resistência acostumada.

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Reclinado no divã, atrás dela, Phillip brincou com os cachos soltos que cobriam a nuca de Christina. Inclinou-se para frente e com os lábios roçou a pele suave atrás da orelha e viu como ela se arrepiava.

Depois de beber o resto de seu vinho Phillip ficou de pé e se apoderou da mão de Christina.

— Vêem, Tina — murmurou, e a conduziu ao dormitório, surpreso por ela não opor resistência.

Enquanto se despia, observou que Christina se aproximava do lado oposto da cama e soltava os cabelos, que caiu esplendoroso sobre o corpo feminino. Assombrado, Phillip viu que ela se despia com movimentos lentos e sedutores. Sentou-se nua na cama, como se o convidasse a reunir-se com ela. Mas quando Phillip se aproximou, ela elevou as mãos para detê-lo.

—Phillip, tenho que conversar contigo — disse Christina, procurando os olhos do homem com os seus escuros como safira.

—Depois, querida — replicou com voz rouca Phillip e silenciou as palavras de Christina com um beijo.

Mas fazendo um esforço ela conseguiu afasta-lo. —Por favor, Phillip! Preciso saber algo. Ele a olhou, e viu os lábios trementes e os olhos muito azuis,

quase escuros. —Do que se trata, Tina? —O que pretende fazer comigo? —Pensava em fazer amor. Esperava outra coisa? Phillip sorriu preguiçosamente e brincou com os cachos que

penduravam sobre os peitos da jovem. —Quero dizer no futuro... Quando não me desejar mais ... O que

fará comigo então? —Para falar a verdade, não pensei nisso — mentiu Phillip, porque na realidade não havia nada no que pensar, jamais permitiria que ela partisse.

—Não permitirá que retorne com meu irmão? — disse timidamente Christina.

Phillip compreendeu agora o que inquietava Christina. Acreditava realmente que estava disposto a abandona-la? É obvio, pensava-o, pois sempre se mostrava disposta a acreditar o pior dele.

—Tina, quando me cansar de ti... Bem, nesse caso pode retornar a seu irmão.

—Phillip, vai me dar sua palavra? —Tem minha palavra. Juro-o. Ele viu que o rosto de Christina expressava alívio e ela afrouxou

os músculos sobre o travesseiro. Dirigiu-lhe um sorriso tentador.

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—E agora, querida, esquecerá seus temores — murmurou ele, despejando em seu pescoço seus lábios famintos.

—Quase todos — ofegou Christina. Aproximou o rosto de Phillip ao seu próprio, e aceitou de boa

vontade o beijo apaixonado. Phillip pensou rapidamente que motivo teria Christina para lhe

temer. Mas ela agora não se debatia e esta mudança de atitude desconcertou e excitou Phillip. Não meditou muito tempo, porque não estava em condições de desperdiçar o momento formulando perguntas corriqueiras.

Quando começou a alvorada Christina despertou lentamente, pelo doce canto de um rouxinol. Uma careta se desenhou em seu bonito rosto quando recordou a noite anterior, e as coisas que tinha chegado a fazer.

Não precisava representar o papel de prostituta. Já tinha conseguido que Phillip lhe prometesse devolve-la a seu irmão. Mas tinha feito um trato com ele e se entregou sem resistência para selar o pacto. Não era um sacrifício muito grande... De todos os modos, ele a haveria possuído.

Christina sorriu ao recordar como suas carícias tinham enlouquecido de desejo Phillip. A fervente paixão dele os tinha elevado a alturas maiores que nunca. E ela havia se sentido apanhada pelo mesmo torvelinho de desejo, até que a maré os tinha levado a ambos a um oceano de mútua felicidade.

Bem, agora a noite tinha passado. Entregou-se a Phillip por uma razão. Mas visto que se dissiparam seus temores, Phillip descobriria que no futuro não estava tão bem disposta. Em realidade, mostraria mais obstinada que nunca.

Será um dia maravilhoso, pensou Christina enquanto saía da cama e colocava a nova saia de veludo malva e a blusa verde. Deveria sentir repugnância de si mesma, mas não era assim. Em realidade, sentia-se feliz.

Foi à habitação principal para aplicar os últimos toques à blusa malva antes que Phillip despertasse, porque não estava disposta a permitir que ele a visse com objetos de cores sem harmonia.

Um momento depois, Phillip a chamou do dormitório. Christina sabia que ele acreditava que ela teria saído e se dispunha a responder quando ouviu que Phillip falava alguns palavrões.

Apareceu através das cortinas, e ainda não tinha terminado colocar a túnica. Mas interrompeu bruscamente quando a viu, e a cólera de seu rosto se converteu em surpresa.

—Por que não respondeste?

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—Não me deste a oportunidade — Christina riu de boa vontade, enquanto depositava a um lado as tesouras. — Acreditou que tinha te abandonado de novo?

—Simplesmente, preocupava-me sua segurança. —Bem, não precisa temer, estou a salvo — replicou. Temeu rir outra vez se voltava a ver a expressão de desgosto no

rosto de Phillip, de modo que se inclinou prontamente sobre a costura.

Phillip se virou e abandonou a tenda. Christina pensou na preocupação que ele tinha demonstrado. Não sabia se Phillip estava realmente inquieto por sua segurança, ou se só lhe desagradava perder um brinquedo que gostava.

Christina foi naquela tarde ao curral. O sol não estava muito quente porque o inverno estava próximo. Teria que começar a confeccionar roupas de inverno.

Os cavalos estavam todos no curral. Olhou ao redor, mas não viu Phillip. Sentiu a presença de uma pessoa atrás, e se virou bruscamente, acreditando que era Phillip; mas lhe surpreendeu ver que Amine que a olhava timidamente.

—Não quis te assustar — disse Amine. —Não me assustou. Acreditei que era Abu. —Ah, o xeque Abu te vigia como um falcão. Acredito que está

muito apaixonado por ti. —Que ridículo. Não me ama. —Christina riu ante a idéia. —Só

me deseja. —Não entendo — replicou Amine, com expressão de assombro. —Está bem, eu tampouco o entendo. Posso te perguntar uma coisa? — Amine parecia confusa, mas

continuou falando quando Christina assentiu. — É verdade que come na mesma mesa com o xeque Abu?

Christina a olhou surpreendida. —É obvio, como com ele. Se não fosse assim, onde poderia

comer? Amine a olhou com os olhos castanhos aumentados pela

surpresa. —Não acreditei quando Nura me disse isso, mas agora que você

o confirma, tenho que aceitá—lo. —O que tem de estranho que coma com o Abu? — Perguntou

Christina com curiosidade. —Está proibido que as mulheres comam com os homens —

respondeu Amine meneando a cabeça. — Isso não se faz. De modo que Phillip infringia uma regra quando comia com ela.

"Mas isso é ridículo pensou Christina. Não sou uma delas. Suas

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regras não se aplicam a minha pessoa." De todos os modos, não desejava ofender Amine.

—Amine, tem que entender que me criaram de diferente modo. Em meu país os homens e as mulheres sempre comem juntos. Como vê, Abu simplesmente faz que me sinta como em meu país.

—Ah, agora compreendo — sorriu Amine. Muito considerado da parte do xeque Abu. Tem muita sorte porque te escolheu.

Christina sentiu desejos de rir. Sorte! Tinham a seqüestrado e possuído contra sua vontade! Mas Christina percebeu que Amine era uma romântica e ela não desejava destruir suas ilusões.

—Abu é um homem formoso. Qualquer mulher se sentiria afortunada se ele a escolhesse — mentiu Christina. Qualquer mulher menos ela. — Mas, Amine, onde estão seus filhos? —Perguntou.

—Maidi os vigia. São seus únicos netos e os mima muito. Aqui é difícil casar-se, porque não vêm muitos visitantes a nosso acampamento.

—Então, como conheceu Syed? —Ah, Syed me raptou —disse orgulhosamente Amine. —Raptou-te! — Exclamou Christina. Acaso todos aqueles homens eram iguais? —Antes de julgar, nossas tribos estavam acostumadas a

compartilhar os pastos. Conheci Syed quando eu era menina e sempre o amei. Quando tive idade suficiente para me casar Syed teve que me raptar. Meu pai teria proibido o casamento.

—Mas, por que as duas tribos tinham conflitos? — Perguntou Christina, agora mais interessada.

—Não sei, porque os homens não explicam essas coisas às mulheres. Unicamente sei que o xeque Alí Hejaz de minha tribo guarda rancor de Yasir Alhamar. Tem algo que ver com a mãe de Rashid, que era a irmã de Alí Hejaz.

Nesse momento Phillip entrou cavalgando no acampamento, com um rifle cruzado às costas e uma longa espada rodeada ao cinto.

—Agora devo ir ! — Exclamou Amine quando viu Phillip. —Amine, agrada-me conversar contigo. Por favor; vêem me visitar em minha tenda. Será bem-vinda e traz contigo aos meninos.

—Com muito prazer — disse timidamente Amine. Caminhou depressa para sua cabana enquanto Phillip caminhava com o cavalo para Christina e, ao chegar onde estava a jovem, desmontou.

—Por que saiu Amine com tanta pressa? — Perguntou Phillip. Os reflexos amarelos dos olhos refletiam a luz do sol enquanto se inclinava sobre Christina.

—Acredito que tem medo de ti — Respondeu Christina, com um leve sorriso nos lábios.

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—O que? — Ele pareceu incrédulo. — Não tem por que me temer. —Nisso te equivoca, meu senhor, pois sua mesma presença provoca temor — burlou-se Christina. — Não pode ver como tremo?

Phillip lhe respondeu com um sorriso perverso. —Você, querida minha, tem muito que me temer — disse, e com

o dedo desenhou uma linha no braço da jovem. Christina se ruborizou, porque entendeu o sentido das palavras

de Phillip. Tinha muito que temer dele. E o momento do dia que mais temia estava aproximando-se, porque o sol estava se pondo.

Compartilharam uma deliciosa comida preparada pelas mãos hábeis de Maidi. Depois, Phillip se reclinou no divã e se dedicou a ler um dos livros que havia trazido para Christina, com uma taça de vinho ao lado. Christina saiu do divã que estava em frente e ocupou seu tempo em cortar retalhos de seda. Tinha decidido adicionar mangas largas ao vestido que ela mesma desenhou. O tempo era cada vez mais frio e desejava usar as chilabas de Phillip para abrigar-se.

Possivelmente pudesse confeccionar sua própria túnica... Uma túnica de grosso veludo, com uma kufiyah fazendo jogo. Riu em voz alta quando se imaginou vestida como um beduíno.

—Querida, algo te diverte? —Imaginava a túnica de veludo que pretendo confeccionar.

Observei que o tempo é cada vez mais frio — respondeu Christina. —É sensato de sua parte te preparar, mas não vejo a graça, —

observou Phillip, depositando o livro sobre a mesa. —Bem, não se trata só da túnica, mas sim da kufiyab que fará

par. Não é exatamente o que uma inglesa elegante usa nestes tempos.

Phillip sorriu, os olhos brandos e quentes. —Desejas que traga sua bagagem do Cairo? Posso arrumar isso. Christina pensou um momento. Não... O súbito desaparecimento de minha bagagem no máximo

inquietaria John. Não desejo que se preocupe comigo, e pelo lugar em que estou. Posso me arrumar com os tecidos que você me trouxe.

Christina olhou fixamente as tesouras que tinha na mão. Pobre John. Esperava que ele acabasse aceitando sua morte, em lugar de perguntar-se onde estava e quanto sofria. A cólera a consumiu ao pensar no homem cujos desejos tinham maltratado a vida da própria Christina.

—Christina! — Gritou Phillip, sobressaltando-a. — Perguntei se desejava que seu irmão acreditasse que esteja morta.

—Sim! — Gritou a sua vez Christina, o corpo rígido de cólera. — Meu irmão e eu estávamos muito unidos. John sabe quanto

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sofreria me vendo dominada por um bárbaro como você. Seria mais humano que acreditasse que esteja morta até que pudesse retornar com ele.

Phillip ficou de pé, surpreso ante a súbita cólera da jovem. —Tina, aqui sofre muito? — Perguntou Phillip com voz neutra.

— Castigo-te e te obrigo a trabalhar para mim? —Me aprisiona aqui! — Replicou ela, os olhos escuros olhando

hostis Phillip. — Me possui todas as noites! Acha que me agrada ser possuída contra minha vontade?

—Nega-o? — Perguntou em voz baixa, Phillip, com os olhos zombadores.

Ela baixou a cabeça para evitar o olhar de Phillip, temerosa do sentido das palavras do homem.

—Do que está falando? Negar o que? — Perguntou ela. Com a mão sob o queixo, ele a obrigou a olha-lo aos olhos. — Nega que te agrada fazer amor comigo? Nega que te dou tanto

prazer como você me dá? Tina sofre tanto quando cavalgo entre suas pernas uma noite atrás da outra?

A raiva de Christina se converteu em humilhação, e ela baixou os olhos, reconhecendo a derrota. Sempre tinha que ganhar a partida? Por que precisava lhe perguntar precisamente isso?

Droga! Não lhe deixava nem um resto de orgulho, porque sabia que ela não podia nega-lo. Mas não estava disposta a lhe conceder a satisfação de reconhecer o prazer que obtinha da união com ele.

—Não tenho nada mais que te dizer — respondeu friamente Christina. — De modo que se me desculpa, quero me retirar.

—Tina, não respondeste a minha pergunta — observou brandamente Phillip.

—Não penso faze-lo — replicou altivamente Christina. Ficou de pé para entrar no dormitório, mas Phillip a deteve e a

obrigou a dar meia volta. Christina investiu contra o ombro de Phillip, para afasta-lo do

caminho, e as tesouras esquecidas que sustentava na mão se cravaram no corpo do homem. Afogou uma exclamação, horrorizada ante o que tinha feito. Ele não revelou em sua expressão a dor que, segundo ela bem sabia sentiu, e se limitou a retirar do ombro as tesouras. O sangue brotou abundante.

—Phillip, sinto muito... Eu... Não quis fazer isso — murmurou. — Esqueci que tinha as tesouras na mão... Tem que me acreditar! Jamais pensei em te matar! Juro-o!

Phillip se aproximou do gabinete sem dizer uma palavra. Abriu as portas e retirou um pequeno pacote. Com movimentos lentos retornou onde estava Christina, pegou-lhe a mão e entrou com ela no dormitório. Não lhe ofereceu nenhum indício do que pretendia fazer.

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Mas Christina lhe tirou a camisa e o obrigou a deitar-se. Ele a olhou com expressão cansada enquanto Christina lhe apertava a camisa ao ombro para conter o fluxo de sangue.

Christina saiu depressa da cabana e encontrou Maidi. Conseguiu imediatamente água e toalhas limpas e retornou onde estava Phillip. As mãos tremiam enquanto limpava a ferida e aplicava o ungüento e as ataduras que tinha encontrado no pacote. Sabia muito bem que ele vigiava todos seus movimentos enquanto aplicava a vendagem no peito e o ombro.

Christina ainda experimentava um terrível temor ao pensar no que ele podia lhe fazer. Acreditava que ela tinha tentado deliberadamente mata-lo? Por que não dizia algo... O que seja? Christina não olhou nos olhos por temor da cólera que podia ver refletidos neles.

Quando terminou de enfaixar a ferida Phillip lhe agarrou de repente as pulsos e a obrigou a cobri-lo com seu corpo.

—Tem que estar louco! — Ofegou Christina tratando de liberar-se. — Fará que a ferida sangre novamente.

—Então, Tina, me diga o que desejo ouvir — murmurou. — Diga que se agrada em fazer amor comigo, porque do contrário te possuirei e demonstrarei com seu próprio corpo.

Os olhos verdes de Phillip estavam um tanto frágeis por causa da perda de sangue, mas ele tinha vontade suficiente para cumprir sua ameaça.

De modo que esse era o castigo pela ferida que o tinha infligido! Tinha que reconhecer que o amor de Phillip era para ela uma fonte de prazer. Mas ela não queria aceita-lo... Não podia!

A dor nos pulsos a causa do forte apertão infundiu coragem a Christina, que olhou enfurecida para Phillip.

—Droga, Phillip! Por que precisa ouvir dos meus próprios lábios, quando já conhece a resposta?

— Diga-me isso — exigiu com voz dura. Christina nunca o tinha visto tão cruel e implacável. Agarrou

seus pulsos com uma só mão e com a outra começou a lhe levantar a saia. Compreendeu que se ele cumpria sua ameaça, podia sangrar mortalmente se abrisse de novo a ferida. E se ele morresse, Yasir ordenaria sua morte.

—Muito bem! — Soluçou. — Reconheço-o. Reconheço tudo. Droga, agora está satisfeito?

Quando ele a soltou, Christina rodou para um extremo da cama e com o rosto fundo no travesseiro soluçou brandamente.

—Cederá em breve, meu amor — sorriu Phillip. — Por muito que pareça, não teria feito amor. Prefiro gozar nas noites futuras, antes que morrer hoje em seus braços.

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—OH! Odeio-te, Phillip Caxton. Odeio-te, odeio-te! — Gemeu Christina.

Ele sorriu e pouco depois adormeceu. "Droga... Droga", pensou ela em silêncio chiando os dentes para

evitar o grito. Quase sem esforço, obrigava a abandonar as decisões mais firmes. Ela cedia com expressiva rapidez, como ele tinha observado vitoriosamente. Teria sido melhor permitir que sangrasse? Mas nesse caso o que teria sido dela? Seriamente desejava vê-lo morto?

Havia sentido uma náusea profunda no estômago quando viu as tesouras se afundarem no ombro dele e quando acreditou que o teria matado. Mas, por quê? Medo por Phillip, ou por si mesma? Não sabia, mas se prometeu que no futuro ele não a enganaria tão facilmente.

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CAPÍTULO 13

Durante a semana que seguiu ao acidente, Phillip permaneceu

quase sempre na tenda. Christina se resignou a viver com ele um tempo e decidiu aproveitar o melhor possível à situação. Inclusive começou a gozar da companhia de Phillip, visto que agora ele nada lhe pedia. Conversava e ria com ela, e inclusive lhe ensinou a jogar aos naipes. Christina chegou a dominar com bastante facilidade o jogo de pôquer e logo foi capaz de derrotar o próprio Phillip.

Começou a sentir-se cômoda na presença dele, como se o tivesse conhecido toda a vida. Ele falou de sua vinda ao Egito, em busca de seu pai, e da vida que tinha levado com a tribo. Explicou-lhe que viajavam de um oásis a outro, ou percorriam o deserto em busca de pastos para os rebanhos, e de vez em quando atacavam às caravanas ou a outras tribos de beduínos.

Perguntou-lhe por que preferia esta vida e ele se limitou a dizer: —Meu pai está aqui. Quatro dias depois do acidente, Phillip começou a mostrar-se

irritado, devido ao isolamento e a inatividade. Repreendia-a por coisas mínimas, mas ela não prestava atenção a seu mau humor. Tinha reagido do mesmo modo quando ao princípio ele a tinha confinado na tenda. Quando o humor de Phillip se fazia insuportável Christina escapava da cabana e visitava Yasir.

Yasir Alhamar recebia com alegria as visitas da jovem. Seus velhos olhos castanhos se acendiam e em seu rosto se desenhava um sorriso quando a via aparecer na tenda. Yasir era tão diferente do pai de Christina, que ao morrer ainda era um homem jovem e saudável. Mas Christina sabia que Yasir não tinha a idade que aparentava. O tempo tórrido do Egito e as privações da vida que levava o tinham envelhecido prematuramente.

Agora o pai de Phillip estava morrendo. Estava pálido, mais fraco que o dia que ela o tinha conhecido, e freqüentemente sua atenção se dispersava.

Christina lia fragmentos das mil e uma noites, um texto que agradava muito ao ancião. Mas Yasir dormitava depois de uma hora ou quase assim, ou simplesmente olhava fixamente o espaço, como se ela nem sequer estivesse ali.

Quando Christina mencionou a Phillip a debilidade cada vez mais acentuada do Yasir, ele se limitou a responder:

—Sei. Mas ela viu que a dor se refletia em seus olhos verde escuro.

Phillip sabia que seu pai não viveria muito mais.

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O sétimo dia depois da cura de Phillip, Christina despertou de um profundo sono por causa da mão de Phillip, que a acariciava audazmente. Sonolenta, virou-se e enlaçou os braços ao redor do pescoço dele, arqueando seu corpo contra o corpo masculino, para corresponder calidamente ao beijo.

—Não! — Gritou, quando compreendeu que não estava sonhando. Tratou de afasta-lo, mas lhe aprisionou os braços.

—Por que não? — Perguntou bruscamente. — Meu ombro se curou. A semana passada, antes de me ferir, entregou-te sem resistência. Agora estou curado quase por completo e preciso satisfazer o desejo.

Aproximou os lábios famintos à boca de Christina, e seu beijo longo e ardente a deixou sem fôlego.

—Phillip, basta — implorou Christina. — Entreguei-me uma vez a ti por certa razão, mas não voltarei a faze-lo. Agora me deixe em paz!

Tratou de liberar os braços, mas era inútil. Phillip tinha recuperado todo seu vigor.

—Bem...de modo que essa noite só estava jogando comigo. Pois olhe querida, não escapará... De modo que luta se quiser. Resista até que sucumba no gozo!

Aquela tarde, Christina ouviu vozes irritadas frente à tenda. Correu para a entrada e viu Phillip e Rashid discutindo calorosamente. Três mulheres estavam sentadas no chão, ao lado dos dois homens. Phillip se afastou bruscamente de Rashid e caminhou para a cabana com uma expressão sombria em seu rosto.

—Entra Christina — resmungou Phillip ao entrar na tenda. Foi diretamente ao gabinete, encheu de vinho uma taça e bebeu. —O que acontece, Phillip? — Perguntou Christina. Perguntava-

se por que ele estava tão irritado, e esperava que ela não fosse à causa. — Vejo que temos visitantes.

—Que visitantes! — Explorou Phillip, passeando de um extremo ao outro da habitação. — Essas mulheres não são visitantes. São escravas que Rashid roubou ontem à noite de uma caravana de traficantes. Quer leva-las amanhã ao norte, para as vender.

—Escravas! — Exclamou Christina, horrorizada. Correu para Phillip, e tomando-o dos ombros o obrigou a olha-la. — Educou-se na Inglaterra. Não pode aceitar este comércio de seres humanos. Me diga que não o aceita!

—Não o aceito, mas isso nada tem haver com o assunto. —As deixará livres? — Perguntou, procurando o olhar de Phillip

para assegurar-se. Mas ele recusava olha-la nos olhos. —Não — replicou secamente. — Droga sabia que ocorreria isto.

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Se Phillip permitia que Rashid vendesse as mulheres, o que lhe impediria de vender à própria Christina? Todas suas esperanças voltaram a esfumar-se.

—Por que não as libera? — Perguntou com voz serena. —Mulher, sempre tem que me interrogar a respeito de meus

motivos? As escravas são propriedade de Rashid. Ele as roubou. Como já te disse uma vez, permito-lhe conservar o que rouba. Não volte a me perguntar a respeito de Rashid. Entende-me?

—Entendo o seguinte — explicou Christina. — É um bárbaro cruel e implacável. Se chegar a me pôr as mãos em cima outra vez, minhas tesouras tocarão um lugar mais vital!

Correu à cabana de Yasir e abrigou a esperança de que Phillip não a seguisse ali. Mas Rashid compartilhava a cabana com seu pai e Christina caiu diretamente nos braços do árabe.

—Você — murmurou indignada Christina. — É pior que Phillip. São todos um bando de bárbaros.

Rashid a soltou e retrocedeu um passo, fingindo não entender. —Christina, o que fiz para te ofender? — Perguntou. —Não sente o mais mínimo respeito por outros seres humanos?

— Exclamou a jovem, as mãos firmemente na cintura. — Por que tem que vender a essas mulheres?

—Não preciso faze-lo — disse Rashid, examinando-a com olhos famintos da cabeça aos pés. — Não desejo fazer algo que irrite a uma mulher formosa. Se desejas que libere a essas escravas, as libertarei.

Christina o olhou fixamente. De modo que Rashid não era o indivíduo ambicioso que Phillip descrevia.

—Obrigada, Rashid, e sinto o que disseste. Parece que o julguei mal. — Sorriu. — Jantará conosco esta noite? Acredito que prefiro não estar sozinha com Phillip.

—Ah, não é feliz aqui? — Perguntou Rashid com voz suave. —Não está tudo está bem entre você e Abu?

—Que!!! Acaso acreditou que nos dávamos bem? — Perguntou ela rindo.

Possivelmente tinha encontrado a um amigo no Rashid. —Que lástima, Christina — disse Rashid. Ela leu o desejo nos olhos escuros, mas o rosto tinha uma

expressão tão branda e juvenil, que quase podia pensar que ele era mais jovem que ela mesma.

Essa noite Christina representou o papel de amável anfitriã, disposta a atender todas as necessidades de Rashid. Entreteve a seu hóspede com relatos da Inglaterra e de sua infância.

Rashid não pode tirar os olhos de Christina, e não lhe importava que seu desejo se manifestasse de um modo tão franco. Rashid pensava que dificilmente haveria no mundo inteiro uma mulher que

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pudesse comparar-se com aquela por sua beleza. Vestia com uma saia e uma blusa de seda verde claro, que combinava com um xale do mesmo tecido. Tinha os cabelos recolhidos sobre a nuca, e os cachos dourados descendiam sobre suas costas. Quando a olhava quase podia esquecer de seus planos; mas em realidade tinha esperado muito tempo o momento de realiza-los.

Phillip olhava também Christina, mas por uma razão diferente. Dominava-o uma fúria silenciosa quando via como ela paquerava francamente com Rashid. Com cada copo de vinho Phillip pensava em um modo diferente de mata-los. Zangou-se quando ela saiu da cabana essa tarde; mas agora não era só irritação, a não ser o desejo de retorcer o bonito pescoço. Phillip não havia dito uma só palavra quando Christina lhe informou que Rashid pensava em liberar as mulheres. Agora ele esperava, e seu humor se azedava cada vez mais; queria ver até onde se atrevia a provoca-lo. Durante a comida e depois Christina ignorou completamente Phillip. Sabia que ele estava furioso, porque tinha nos olhos uma expressão sombria e irritada, Christina desejava vê-lo tão encolerizado como ela tinha estado naquela tarde. A seu próprio modo estava ajustando as contas e a situação lhe agradava enormemente.

Depois que Rashid se retirou, Christina se sentou frente à Phillip e dedicou a beber seu chá e a esperar que ele dissesse ou fizesse algo. Mas se sentia um pouco nervosa, porque ele continuava olhando-a fixamente, absolutamente em silencio.

—Christina agradou-te que esta noite eu fizesse o papel de tolo? Sobressaltada, ela o olhou com cautela. —Por favor, me diga de que modo te obriguei a fazer papel de

tolo — inquiriu com expressão inocente. Um calafrio lhe percorreu a coluna vertebral quando ele

respondeu: —Mulher, não sabe o quão longe foste?

—Acredito que chegarei ainda mais longe antes que termine a noite — murmurou ela.

Quando Phillip ficou de pé, Christina se apoderou rapidamente das tesouras que tinha escondido sob a saia. Mas Phillip viu o movimento e adivinhou a intenção. Antes que ela pudesse agarrar as tesouras, aprisionou-lhe as duas mãos com uma das suas. Com um gesto brusco obrigou Christina a ficar de pé, tirou-lhe a saia e jogou as tesouras ao fundo da habitação.

—Tina, seriamente estaria disposta a me matar? — Perguntou, no rosto uma expressão dura.

Para falar a verdade, tinha subestimado a esta mulher. —Sim, poderia te matar! — Gritou Christina. Era muito

humilhante estar seminua e impotente frente a ele! —Odeio-te.

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Ele a agarrou ainda com mais força que antes. —Disse o mesmo muitas vezes Christina, agora chegaste muito

longe e merece um castigo. Com movimentos lentos e aparência serena, sentou-se e cruzou

o corpo de Christina sobre os joelhos. —Phillip, não! — Gritou ela, mas ele descarregou a mão com

toda sua força sobre as nádegas nuas. Christina proferiu um grito de dor, mas ele descarregou de novo

a mão poderosa, esta vez com mais força e deixou outra marca vermelha sobre a carne branca.

—Por favor, Phillip! — Exclamou Christina. — Seria incapaz de te matar. Sabe!

Mas não lhe prestou atenção e a castigou pela terceira vez. —Phillip, juro que jamais voltarei a tenta-lo! — Exclamou ela, e

as lágrimas lhe corriam pelas bochechas. Agora estava lhe implorando, mas isso agora não lhe importava. — Juro-o, Phillip! Por favor, basta!

Com movimentos tenros e gentis ele a obrigou a trocar de postura e a embalou em seus braços. Christina se sentia como uma menina e soluçava desoladamente. Ninguém, nem sequer os pais, jamais a tinha batido assim. Mas por humilhante que tivesse sido a experiência, Phillip tinha razão; ela tinha merecido. Tinha que ter previsto que ele trataria de comprovar se falava ou não a sério. E ela não queria apunhala-lo; não tinha coragem para isso.

Finalmente, Christina deixou de chorar e apoiou a cabeça sobre o largo peito de Phillip. Ainda tremia quando ele a levou ao dormitório. Não tinha força para protestar e não lhe importava o que ele pretendia fazer. Depositou-a na cama e lhe tirou a blusa e o tecido que ela tinha envolvido ao redor de sua perna para sustentar as tesouras. Cobriu com as mantas o corpo tremente e separou do rosto os cabelos dourados. Inclinou-se sobre Christina, beijou-a meigamente na testa e saiu do quarto; mas tampouco agora lhe prestou muita atenção.

Phillip cruzou a habitação, tomou o copo de vinho e bebeu tratando de esquecer os fatos do dia. Recostou-se no divã e olhou à mulher que dormia na cama.

Toda a noite tinha pensado que ficaria muito feliz a obriga-la a sofrer por suas paqueras com Rashid. Tinha querido forçá-la a pedir piedade a gritos. Mas depois que lhe tinha mostrado um motivo válido para castiga-la, Phillip se sentia envergonhado. Incomodava-lhe a idéia de que a tinha obrigado a gritar de dor. Mas maldição, ela o tinha enfurecido e merecia o que tinha recebido! Essa atitude tão estúpida... Mas agora era ele quem sofria, não ela. No curso de sua vida jamais tinha batido em uma mulher e por certo que não se sentia

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cômodo depois de faze-lo. E ela demonstrava que estava disposta a apunhala-lo se a tocava! Droga, essa mulher começava a lhe perturbar!

Ele se perguntou que classe de jogo estava fazendo agora o imbecil do Rashid. Phillip lhe tinha pedido que liberasse as escravas ou as levasse fora do acampamento. Mas Rashid se negou, e depois tinha mudado de atitude e tinha aceitado libertar às mulheres... A pedido de Christina.

Phillip sabia que Rashid estava fascinado pela Christina e não o criticava por isso. Ela era tão formosa que todos os homens tinham que deseja-la. Possivelmente tentava conquistar o afeto da jovem... Algo no qual Phillip tinha fracassado. Teria que vigiar Rashid. Christina lhe pertencia. E embora ela o odiasse, ele não estava disposto a permitir que ninguém a tirasse dele.

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CAPÍTULO 14

Fazia calor quando Christina começou a despertar sob as

mantas. A habitação estava vazia e ela se perguntou se Phillip tinha se deitado na mesma cama durante a noite. Em realidade, ela não podia criticá-lo, porque lhe tinha devotado renovados motivos para desconfiar. Certamente agora a odiava; mas possivelmente isso era melhor. Christina esfregou brandamente as nádegas, mas não sentiu dor. O que estava machucado era seu orgulho. Perguntou-se que atitude adotaria hoje Phillip, porque depois de castiga-la não lhe havia dito uma palavra. Esperava que não decidisse continuar lhe batendo.

Amine foi visitar Christina antes do almoço e levou consigo seu filho. O pequeno Syed tinha uns dois anos e Christina se sentiu muito feliz quando o viu explorar a habitação, olhando e tocando tudo. Mas se sentia envergonhada em companhia da moça, pois Christina sabia que Amine tinha que ter ouvido os gritos proferidos a noite anterior.

Amine lhe dirigiu um sorriso como soubesse o que a afligia. —Christina, direi algo porque sei o que te inquieta. Não deve se

envergonhar do que o xeque Abu te fez ontem à noite. Demonstra somente que você o interessa muito, porque do contrário não daria a mínima a você. Ontem à noite Nura ardia de ciúmes, porque ela também sabe.

—O acampamento inteiro certamente ouviu meus gritos — exclamou Christina. — Jamais poderei olhar à cara de ninguém.

—A maioria dos habitantes do acampamento dormia. Mesmo assim, não é nada do qual deva se envergonhar.

—Para falar a verdade, não me orgulha — disse Christina. — Mas sim, sei que ontem à noite merecia que me castigasse.

Nesse instante entrou Phillip e assustou às duas mulheres. Entrou no dormitório sem dizer uma palavra. Christina rezava para que ele não tivesse escutado a última frase.

—Agora me retiro — disse Amine, e recolheu o pequeno Syed. — Estou segura de que o xeque Abu deseja estar sozinho.

—Amine, não tem por que ir ainda — observou nervosamente Christina.

—Voltarei. —Agradou-me conversar contigo — disse Christina.

Acompanhou Amine até a entrada e segurou sua mão enquanto murmurava. — Obrigada, Amine. Agora me sinto muito melhor.

Amine lhe devolveu o sorriso e se afastou. Christina pensou que Amine parecia muito feliz, mesmo tendo sido raptada, arrancada do seio de sua família.

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Christina notou a presença de Phillip a suas costas, mas antes que ela pudesse virar-se, ele a rodeou com seus braços e a atraiu com força. Phillip fechou as mãos sobre os seios de Christina e os joelhos da jovem começaram a afrouxar-se quando sentiu a proximidade do homem. Lutou contra a debilidade e o prazer que o contato suscitava nela.

—Basta, Phillip. Deixe-me agora mesmo! — Exigiu, tratando desesperadamente de se separar de seu corpo e das mãos enormes. Mas Christina deixou de debater-se quando ele a segurou com mais força. — Machucou-me — ofegou Christina.

—Tina, não era essa minha intenção — murmurou Phillip ao ouvido da moça.

Afrouxou o apertão e brincou com os mamilos, lhes oprimindo brandamente com os dedos. Ergueram-se firmes sob o tênue tecido da blusa de seda, exigindo satisfação. Ele tinha lhe dito que a faria se render facilmente. Logo ela não podia permitir que continuasse com essa lenta tortura.

—OH, por favor, Phillip — rogou, enquanto ele deslizava os lábios pelo pescoço de Christina.

Em seu interior ardia um desejo quase que doloroso, uma sensação que a obrigava a tremer por causa de sua intensidade e de repente, ela quis que Phillip não a largasse.

—Por que devo parar? É minha, Tina, e te acariciarei quando e onde me agrade.

Ela endureceu o corpo quando ouvir isto. —Não sou tua. Pertenço a mim mesma! Afastou as mãos dele e se virou para enfrentar o seu olhar

orgulho refletia nos olhos verde escuro e sua atitude era de franco desafio.

—Nisso te equivoca, Tina. — Sustentou-lhe o rosto entre as mãos, de modo que ela não pôde se afastar do olhar penetrante. — Raptei-te. Portanto, pertence-me... É exclusivamente minha. Sentir-se-ia melhor se demonstrasse um pouco de afeto.

—Phillip, como pode falar de afeto quando é a razão das minhas dificuldades? Sabe que desejo voltar para casa, mas me retém aqui.

—Desejo-te aqui, e pouco me importa o que desejas. Pensei que se sentiria mais feliz se abrandasse um pouco seu coração. — Separou-se da jovem começou a sair da tenda.

—E você, Phillip? — Perguntou Christina. — Quais são seus sentimentos por mim? Ama-me?

—Se te amo? —Virou-se para olha-la e riu. — Não, não te amo. Jamais amei uma mulher, salvo possivelmente a minha mãe. Desejo-te e isso é suficiente.

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—Mas isso não é suficiente! Pode satisfazer seu desejo com outras mulheres... Por que eu tenho que ser a escolhida?

—Porque outras mulheres jamais me agradaram tanto como você. — Seus olhos exploraram atentamente o corpo de Christina. — Tina, temo que me afeiçoei muito a ti.

E saiu da cabana sorrindo. A tarde era cálida e pegajosa. Não tinha chovido desde a volta

de Phillip ao Egito e o poço de água secava paulatinamente; mas muito em breve teria que chover; sempre era assim nessa época do ano.

Ele estava domando a um cavalo de três anos quando viu Christina cruzar o acampamento e entrar na cabana de Yasir. Sorrindo, recordou que essa manhã tinha visitado a seu pai.

—Abu, essa jovem é boa e gentil — tinha-lhe repreendido Yasir. —E deveria trata-la bem. Doeu-me o coração ouvi-la gritar ontem à noite. Se não estivesse tão débil, eu mesmo teria ido deter-te!

A cabeça de Phillip doía por causa de tudo o que tinha bebido durante a noite, e as palavras de seu pai o tinham irritado. Tinha pensado em dizer o verdadeiro caráter de Christina; mas mudou de idéia. Era evidente que seu pai sentia muito afeto por ela e isso o agradava. Christina era como um sopro de ar fresco para Yasir. Quando desejava, podia ser encantadora.

Passou uma hora antes que Phillip voltasse a vê-la. Olhou-a com cautela enquanto ela se aproximava lentamente, aparecendo um sorriso nos lábios. Viu que os olhos da jovem eram de cor turquesa. "Bem, pelo menos não está zangada comigo", pensou Phillip, recordando o azul escuro dos olhos de Christina a última vez que ambos tinham falado.

—Phillip. Ela falou com voz serena com suas mãos suaves apoiadas na

paliçada do curral. "Certamente necessita de algo", supôs Phillip enquanto desmontava e se aproximava de Christina.

—Querida, o que posso fazer por ti? — Perguntou. —Estava me perguntando se tem cavalos não treinados ainda. —Sim, mas por que o pergunta? —Quero montar — disse Christina, com os olhos baixos. Phillip a olhou, cheio de duvidas. —Pede que te entregue um de meus cavalos depois do que

ocorreu ontem à noite? —OH, por favor, Phillip. Não posso suportar a ociosidade.

Estou acostumada a cavalgar todos os dias — rogou. Phillip a olhou nos olhos. Como sei que pode dominar a um cavalo? Sim, diz que sabe

montar, mas...

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—Insulta-me! Montei desde que era menina, e o cavalo que tenho em casa é dois palmos mais alto que todos os que vejo aqui.

—Muito bem, Tina — riu Phillip, e assinalou o cavalo que ele tinha estado adestrando. — Esse pode servir?

—OH, sim! — Disse alegremente Christina. O formoso cavalo árabe tinha o pêlo negro como asa de corvo e recordava Dax, exceto não era tão corpulento. Tinha o pescoço orgulhosamente arqueado, o peito longo e as patas largas e esbeltas. Parecia incrível que pudesse montá—lo. —Necessito de um minuto para me trocar! — Exclamou Christina e correu para a tenda.

—Terá que montar sem cela — gritou Phillip. Em efeito, os árabes não a utilizavam. —De acordo — gritou Christina por cima do ombro. — Poderei

me arrumar. Christina entrou no dormitório e se apoderou das calças de

montar que acabava de confeccionar. Alegrava-se de ter decidido confecciona-la.

Jogou sua saia sobre a cama e rapidamente vestiu as calças de seda negra. Ajustou uma bandagem de tecido escuro à cabeça, para ocultar os cabelos dourados. Vestiu a longa túnica de veludo negro, prendendo-a a cintura com uma cinta larga, e depois cobriu a cabeça com a kufiyab de veludo negro, assegurando-o com uma grosa corda negra.

Pos-se a rir ao pensar o que diria Phillip quando a visse. Mas não lhe importava, porque se sentia gloriosamente feliz.

Phillip se mostrou surpreso quando a viu sair da tenda. Parecia um rapazinho, até que se aproximava e se podia ver suas curvas voluptuosas realçadas pelo suave veludo.

—Estou preparada. — Virou-se para o cavalo, acariciou-lhe o focinho e murmurou a seu ouvido. — Seremos bons amigos, minha beleza negra, e te amarei como se fosse meu. Tem nome? — Perguntou a Phillip enquanto ele a depositava sobre a manta que cobria o lombo do cavalo e lhe entregava as rédeas.

—Não. —Chamar-te-ei Corvo — disse alegremente Christina, inclinada

de modo que o cavalo pudesse ouvi-la. — E cavalgaremos com o vento, como o corvo.

Phillip montou Victory e assim desceram lentamente a ladeira da colina. Ele estava assombrado da mansidão que Corvo demonstrava com Christina, depois de todo o trabalho que tinha dado para doma-lo.

Christina muito em breve se acostumou a cavalgar sem arreios. Controlava bem Corvo enquanto desciam pelo atalho sinuoso.

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Quando ao fim chegaram ao pé da montanha, Christina obrigou Corvo a iniciar um trote curto e depois um galope mais veloz; Phillip ficou atrás. Atravessou sem destino fixo a vasta extensão do deserto, e se sentia como um espírito liberado que voasse com o vento. Era imensamente feliz, como se tivesse retornado a Halstead, cavalgando em sua propriedade; e de repente Phillip a alcançou.

Agarrou as rédeas de Corvo. —Se insistir em sair tão à frente de mim, Tina, possivelmente

deveríamos apostar e arriscar algo. —Mas não tenho nada que apostar — respondeu ela. —

Entretanto, gostaria muito derrota-lo em algo. —Apostaremos o que cada um deseja do outro — propôs Phillip,

seus olhos fixos no rosto de Christina. — Correremos até o pé da montanha e, se eu ganhar, daqui para frente se entregará a mim sempre que o deseje.

Christina pensou um minuto em sua própria aposta. —E se eu ganhar, me devolverá a meu irmão. Phillip a olhou precavido. Sabia montar. Podia derrota-lo e ele

não estava disposto a correr esse risco. —Pede muito, Tina. Também você, Phillip — replicou ela com secura. Obrigou a girar o cavalo e começou a volta ao acampamento. Sorridente, ele moveu a cabeça, os olhos fixos na figura da

jovem. Ela tinha sabido que ele não estava disposto a aceitar semelhante risco. Bem, tinha tentado. A alcançou e ambos retornaram em silêncio.

As nuvens se agruparam repentinamente e descarregaram uma corrente de chuva que suavizou a temperatura. Christina e Phillip estavam empapados quando chegaram ao acampamento. Os homens trabalhavam febrilmente para assegurar as tendas, de modo que a água não se filtrasse por debaixo, alguém estava sentado sob a chuva, frente ao fogo, dissipando a fumaça que se acumulava no refúgio construído sobre as chamas.

Phillip desmontou frente a sua cabana e acompanhou Christina ao interior.

—Tire estas roupas úmidas e faz o que tenha que fazer agora. Logo escurecerá e esta noite não haverá fogo. — Instalou-a sobre o divã e adicionou. — Tenho que me ocupar dos cavalos, mas voltarei em seguida.

Quando Phillip saiu, Amine pediu permissão para entrar. Havia trazido à comida e algumas toalhas limpas.

—Christina tem que te trocar depressa. A chuva traz o frio e adoecerá se não se abriga agora mesmo.

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—Precisamente, estava me perguntando o que podia fazer com estes objetos úmidos — respondeu Christina, com um sorriso nos lábios. — Não posso pendurar em uma árvore para que se sequem.

—Vêem — disse Amine, e levou Christina ao dormitório. — Tem essas agulhas com as quais esteve costurando?

—Sim. —Bem, usá-las-ei para pendurar suas roupas dentro da tenda.

Demorarão alguns dias, mas finalmente se secarão. Enquanto Christina tirava a túnica, Amine olhava assombradas

as calças de montar. Christina se pôs a rir quando viu a expressão de assombro no rosto de Amine.

—Confeccionei-os para montar. Permitem-me cavalgar sem que a saia agitada pelo vento me golpeie a cara.

—Ah, mas certamente não são do agrado do xeque Abu — riu Amine enquanto Christina lhe entregava as calças e a blusa.

— Ainda não os viu, mas imagino que não lhe agradarão — disse Christina, rindo ante a idéia de que as calças pudessem frustrar os propósitos amorosos de Phillip.

Enquanto Amine pendurava as roupas úmidas, Christina esfregou vigorosamente o corpo com uma toalha. Tinha frio por causa da corrente de ar que atravessava a tenda. Decidiu colocar uma das túnicas de Phillip, visto que não tinha nada para vestir. Soltou os cabelos, que estavam apenas úmidos, e estava penteando os cachos dourados quando Amine retornou ao quarto.

—Agora devo ir alimentar a meus filhos. —Obrigada, Amine. Não sei o que faria se não contasse com sua

amizade — disse sinceramente Christina. Amine sorriu timidamente ante ao comentário de Christina e

saiu rapidamente da tenda. Christina depositou o pente sobre o armário e passou à habitação principal, para jantar antes que escurecesse tanto que não pudesse ver o que comia.

Ingeriu lentamente o guisado de cordeiro e arroz, enquanto se perguntava o que fez mudar a atitude de Phillip, depois do ocorrido a noite anterior. Christina se sentia surpreendida e feliz quando lhe permitiu montar. Corvo era um animal excelente. Ansiava que chegasse o dia seguinte para cavalgar outra vez. Por outra parte, Phillip não havia dito que ela podia montar todos os dias.

—Quer pendura essas roupas? As primeiras palavras assustaram Christina, que deixou cair o

talher no prato. Não tinha visto Phillip entrar e agora ele estava atrás dela, sustentando na mão os objetos molhados. Já tinha se mudado e com a mão livre sustentava uma toalha e secava os cabelos.

—Não te vi entrar — disse Christina, que recebeu os objetos e foi procurar mais agulhas.

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—Em pouco tempo não me verá — disse Phillip. Sorriu, pensando no descanso da noite, no leito morno. Ah,

possivelmente ela não se sentiria tão feliz como o próprio Phillip! Christina pendurou as roupas de Phillip no estreito espaço que

mediava entre a cabana e as cortinas. Depois, reuniu-se com ele para terminar seu jantar, enquanto Phillip fazia seu prato.

—Estão bem os cavalos? — Perguntou ela. Estava preocupada com Corvo. —Os potros parecem um pouco nervosos, mas os cavalos mais

velhos estão acostumados às tormentas repentinas. Chove assim freqüentemente? — Perguntou Christina,

assustada quando um raio iluminou o interior da tenda. —Só nas montanhas — disse ele rindo. — Mas esta tormenta é

mais intensa que o normal... Atrasou-se muito. Tina, tem medo de trovões? — Perguntou Phillip enquanto terminava de comer o guisado. Logo que podia vê-la.

—Claro que não! — Replicou ela com altivez. Esvaziou uma taça de vinho que serviu para esquentar seu corpo. — Muito poucas coisas me atemorizam.

—Bem — replicou Phillip com voz vibrante, enquanto se espreguiçava. — Proponho que nos deitemos, porque já esta praticamente escuro.

—Se não te importar, prefiro esperar um momento. Estirou a mão para o copo de vinho, mas ele interrompeu o

movimento. —Pois sim, importa-me. Obrigou-a a ficar de pé e, embora ela resistia, arrastou-a ao

dormitório. Mas Christina tinha mais coragem graças ao vinho. Afundou os dentes na mão de Phillip, liberou-se e correu a esconder-se atrás das cortinas.

—Droga, mulher! Não acabará alguma vez com suas trapalhadas? — Exclamou Phillip encolerizado.

Mas Christina sabia que ele não podia vê-la. Nesse instante o raio voltou a resplandecer no céu e iluminou o

corpo escolhido de Christina empacotado sobre as cortinas. Quase imediatamente, viu-se deitada de costas e com o corpo de Phillip que pressionava fortemente sobre ela e a afundava no espesso tapete.

Phillip riu cruelmente enquanto a despia com movimentos bruscos, sem incomodar-se em desatar suas roupas. Seus lábios a oprimiram ásperos e famintos, e silenciaram os gritos de Christina quando ele a penetrou com um só movimento. Ela tinha perdido por completo a razão quando seu corpo aceitou o de Phillip como um animal selvagem e a dor se converteu em quebras de onda de enlevado prazer.

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—Sinto muito, Tina — disse mais tarde Phillip. — Mas sempre me assombra quando vejo até onde pode chegar para evitar nosso ato de amor se o deseja tanto como eu!

—Não é certo — exclamou Christina: afastou o corpo de Phillip e correu para o interior do dormitório.

Jogou-se sobre a cama e deixou que as lágrimas fluírem livremente.

Sentiu o peso dele no leito e na escuridão da habitação voltou para ele seu rosto.

—Phillip, desejo voltar para casa. Quero retornar com meu irmão — implorou entre soluços.

—OH! — Replicou Phillip secamente. — E eu não quero ouvir falar mais disso.

Chorou incansável sobre o travesseiro, mas Phillip se mostrou indiferente a suas lágrimas e ao fim ambos adormeceram.

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CAPÍTULO 15

Passou rapidamente um mês, e depois outro. Embora fosse

inverno, havia dias quentes, com suaves brisas do este; mas as noites eram frias. Christina lamentava necessitar do corpo de Phillip para ter calor durante as noites prolongadas e frias. Despertava pela manhã e se encontrava encolhida ao lado de Phillip, ou ele tinha seu corpo abraçado às costas da jovem.

O tempo atuava contra Christina, porque o estreito contato dos corpos desejosos de calor excitava o desejo de Phillip. Se ele despertava primeiro, Christina não tinha modo de escapar.

Ele gostava dos encontros matutinos porque assim não perseguia Christina por toda a cabana e defendia-se de seus golpes e chutes. Pela manhã, agarrava com os braços antes que ela despertasse completamente e percebesse o que estava ocorrendo. Depois, tomava seu tempo, e no máximo tinha que confrontar uns débeis protestos antes que ela se entregasse por completo às carícias. Phillip passava os dias caçando; era bom caçador. Dificilmente errava os tiro e freqüentemente levava a sua tribo um bem-vindo reforço de carne.

Os dias de Christina eram bastante atarefados e ela se ajustava agora a uma rotina. Passava as manhãs na cabana costurando ou lendo. Amine estava acostumada a visita-la. Christina gostava dos meninos e sentia prazer em brincar com os filhos de Amine, especialmente com o menor.

Quando Christina via os meninos brincar, às vezes se perguntava o que ocorreria se engravidasse. Adoraria ter um filho, mas não desejava um filho de Phillip. Odiava-o muito. E como reagiria o próprio Phillip? Expulsaria de sua cabana se ela perdia sua beleza e já não conseguisse satisfaze-lo? Havia dito que ela não estava ali para engendrar meninos. Possivelmente não lhe agradavam os filhos. Mas se lhe desse um filho, aceitá-lo-ia? Ou decidiria expulsa-la sem o bebê? De todos os modos, isso era um grande mistério, de modo que ela não refletiu muito tempo sobre o assunto.

Depois do almoço, todos os dias Christina ia visitar Yasir. Sua saúde tinha melhorado muito. Podia concentrar melhor a atenção e falava mais com ela; seu tema preferido era Phillip. Quando começava a falar de seu filho nada podia detê-lo. Falou da infância de Phillip e como tinha crescido no deserto. Também lhe explicou que tinha ensinado Phillip a caminhar e falar.

—A primeira frase do Abu foi meio árabe e meio inglesa — disse Yasir. — Não sabia que eram dois idiomas diferentes!

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Christina tinha um pouco de pena de Rashid. Era evidente que Yasir reservava todo seu afeto para Phillip. Possivelmente Phillip também tinha um pouco de pena de Rashid e por isso sempre lhe permitia ficar com tudo que roubava.

Depois de visitar Yasir, Christina saía para cavalgar. Esperava ansiosamente o momento de montar. Se Phillip não estava, partia com Ahmad ou Saadi, e às vezes inclusive com o próprio Rashid, se ele se encontrava no acampamento, o que não era freqüente.

Enquanto Christina atravessava o deserto montada em Corvo, imaginava que estava sã e salva em Halstead e que não tinha problemas nem preocupações. Não existia Phillip, não confrontava dificuldades, e se sentia muito feliz. Só Dax sob seu corpo e Tommy John com ela correndo através dos matos, o vento fresco lhe acariciando o rosto. Mas o sopro árido do deserto sempre destruía seus sonhos e a recordava a sua realidade.

Christina rogava desesperadamente que Phillip se cansasse muito em breve dela. Mas o desejo de seu seqüestrador parecia insaciável. Ela consagrava as tardes pensando como evitar o inevitável, mas muito em breve lhe esgotavam as idéias e nada parecia eficaz. Mostrava-se irritável e estava descontente. Fingia sonolências e enxaquecas. Mas ele sempre adivinhava seus planos.

Se provocava a cólera de Phillip, desse modo só conseguia que ele a possuísse brutalmente. Uma noite foi deitar com as calças de montar postas, mas depois lamentou porque o objeto terminou rasgado de um extremo ao outro. A única pausa de Christina era quando ele estava esgotado; mas em geral, Phillip o compensava na manhã seguinte.

Christina não o tinha visto durante o dia inteiro. Rashid tinha jantado com eles a noite anterior e tinha agradado a jovem com um formoso espelho com manga esculpida. Ela lhe deu um beijo fraternal na bochecha, em reconhecimento pelo presente. Phillip tinha se mostrado áspero e taciturno o resto da noite.

Perguntava-se qual era a causa da reação de Phillip enquanto olhava depressa para o curral onde Saadi esperava para acompanha-la em seu passeio diário. Na pressa não viu que Nura se separava do fogo; Christina chocou com a jovem e a jogou no chão.

—Sinto muito — ofegou Christina, enquanto estendia a mão. —Vamos, me permita te ajudar.

—Não me toque — zumbiu Nura, a voz carregada de ódio. — Mulher perversa! Com sua magia conseguiu que Abu te deseje. Mas eu romperei o encanto. Abu não te ama. Logo te jogará de lado e me desposará. Aqui ninguém te quer. Por que não parte?

Christina não soube o que dizer. Precisava evitar o ódio que via nos olhos de Nura. Nunca tinha imaginado que o ciúmes podia

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provocar um sentimento tão intenso. Correu para os cavalos e viu Saadi que a esperava; em seu rosto se via uma expressão de assombro ante as palavras de sua irmã. Começou a dizer algo a Christina, mas ela montou depressa Corvo e sem perder um segundo saiu do acampamento.

Saadi montou e fez todo o possível para alcançar Christina. Sabia que o xeque Abu o esfolaria vivo se algo acontecesse com sua mulher. Ela descia tão velozmente pela colina que facilmente podia cair do cavalo e ferir-se. Seria culpa de Nura, que a tinha perturbado; mas Saadi teria que confrontar a responsabilidade.

Ah, essa Nura! Saadi lhe faria pagar caro seu desplante. Obrigaria a compreender que o xeque se sentia feliz com esta estrangeira, apesar de que ainda não a havia desposado. Nura devia renunciar a suas esperanças.

Christina tinha a visão turvada pelas lágrimas. Não chorava por causa das palavras de Nura, porque pouco lhe importava que Phillip a amasse ou não. Chorava porque Nura a odiava e porque ela não tinha a culpa do que ocorria. De boa vontade Christina teria deixado o lugar de esposa ou amante de Phillip. De boa vontade teria partido do acampamento. Não tinha pedido a ninguém que a seqüestrassem.

Christina conteve Corvo ao pé da colina, para enxugar as lágrimas antes de continuar a marcha. Desejava internar-se no deserto até onde Corvo pudesse leva-la, e não lhe importava o que lhe ocorresse.

De repente, ao longe viu dois cavaleiros. Detiveram-se, e eram duas figuras imóveis ao pé das montanhas. Christina pensou cavalgar para eles, e de repente o mais alto dos dois homens se aproximou.

Podia ser Phillip ou Rashid, porque era muito alto para tratar-se de outra pessoa. Não podia reconhece-lo, porque ainda estava longe e a kufiyab dissimulava os traços.

Se fosse Phillip, ela não poderia evita-lo. Ouviu o ruído dos cascos do cavalo que montava Saadi e ao virar-se viu os olhos inquietos do jovem.

—Desejo pedir desculpas por minha irmã — conseguiu dizer Saadi quando recuperou o fôlego. — Não tinha direito de dizer o que te disse e por isso a castigarei.

—Está bem, Saadi. Não desejo que castigue Nura por mim. Compreendo seus sentimentos.

Quando voltou os olhos para o lugar onde tinha visto os dois homens, Christina percebeu que ambos tinham desaparecido. Continuou o passeio acostumado com Saadi e antes do anoitecer retornou ao acampamento.

Quando Christina entrou na cabana encontrou Phillip que a esperava para ir ao poço de banho. Phillip parecia estar de bom

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humor, e quando ela passou a seu lado, para procurar as toalhas e o sabão, aplicou-lhe uma palmada nas nádegas. Christina não lhe perguntou se ele era um dos homens a quem ela tinha visto no deserto. Phillip havia dito muitas vezes que não lhe agradava que o interrogassem.

Por volta do final da manhã seguinte, Christina estava remendando uma de suas saias quando Amine entrou na tenda. Deteve-se frente a Christina, retorcendo as mãos.

Uma angústia terrível oprimiu o coração de Christina. Compreendeu que tinha que ter ocorrido algo muito grave, mas ela mesma não sabia por que experimentava uma dor tão profunda.

—O que acontece, Amine? — Exclamou. — Ocorreu algo ao Abu? —Não — respondeu Amine e uma lágrima se deslizou em sua

bochecha. — É seu pai... O xeque Yasir Alhamar morreu. —Mas é impossível! — Exclamou Christina, que se levantou de

um salto. — Yasir estava muito bem ontem e em todos estes meses se recuperou muito. Eu... Não acredito!

Christina saiu correndo da tenda, indiferente aos gritos de Amine. Mas antes ainda de entrar na cabana de Yasir e encontra-la vazia, compreendeu que Amine havia dito a verdade. Em efeito, estava morto. Christina chorou e as lágrimas caíram enquanto ela olhava as peles de ovelha sobre o piso que apenas a véspera tinham sido o leito do ancião. Ajoelhou-se, e acariciou os suaves pelos. Ela tinha acabado por amar Yasir e ele morreu.

Notou os braços de Amine, que a ajudou a levantar-se. —Vêem, Christina, não é bom que permaneça aqui. — Amine a

conduziu de retorno a sua cabana, e se sentou com ela no divã, apertando-a fortemente contra seu próprio corpo para reconforta-la. Guardou silêncio enquanto Christina chorava. — O xeque Yasir morreu enquanto dormia, durante a noite. Rashid descobriu pela manhã cedo e ele e o xeque Abu foram enterra-lo no deserto.

—Por que não me disseram isso antes? — Perguntou Christina. —Era um assunto privado entre dois filhos e seu pai. O xeque

Abu não desejava que lhe incomodassem. —Onde está agora Abu? — Perguntou Christina, que

compreendia muito bem como devia sentir-se Phillip. Recordou o sofrimento que ela tinha experiente quando tinha

perdido a seus dois pais. Por estranho que parecesse, desejava reconfortar Phillip, abraça-lo e compartilhar sua dor.

—Quando Rashid voltou para acampamento disse que Abu foi cavalgar pelo deserto, e depois... Depois também Rashid partiu.

Christina esperou pacientemente a volta de Phillip. Tratou de manter-se atarefada, para evitar pensar no Yasir; mas era impossível. Via constantemente seu rosto, como lhe aparecia sempre que ela

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entrava na cabana do ancião. Continuava ouvindo sua voz quando ele conversava afetuosamente de Phillip.

A lua se elevou sobre as montanhas e projetou uma suave luz cinzenta que se filtrava brandamente através das árvores de zimbro que rodeavam o acampamento. Phillip estava de pé frente ao fogo e esquentava seus membros esgotados.

Tinha necessitado a maior parte do dia, horas e horas de desenfreada cavalgada através do deserto, para reconciliar-se com a morte de Yasir. Agora pensava que era melhor que o fim tivesse chegado. Yasir sempre tinha vivido uma vida muito ativa, e os meses que tinham transcorrido depois de sua enfermidade o tinham convertido em um inválido irritado por seu próprio fechamento.

Phillip tivesse desejado passar a mais tempo com Yasir; mas se sentia agradecido por esses anos que a vida lhe tinha concedido. Tinha muitas lembranças afetuosas que o sustentariam o resto de sua vida, pois ele e Yasir tinham tido uma relação mais próxima da que está acostumado a dar-se entre pai e filhos; tinham sido bons amigos; e compartilhado muitas coisas.

Depois de alimentar e escovar Victory, Phillip atravessou com passo rápido o acampamento silencioso, e se aproximou de sua tenda. Sentia-se física e mentalmente esgotado, e ansiava sentir a presença próxima de Christina.

Phillip foi diretamente ao dormitório, mas o achou vazio. Muitos sentimentos se expressavam em seu rosto... Sofrimento, cólera, pesar; em efeito, perguntava-se por que tinha elegido precisamente esse momento para fugir.

Pensou: Maldição, quanto mais terei que sofrer antes que acabe este dia. Virou-se com seu movimento brusco e saiu correndo da cabana enquanto se perguntava que caminho levava Christina. Uma voz suave o deteve antes que tivesse chegado à entrada.

— Phillip, é você? Phillip sentiu que tinha afastado de seu peito um terrível peso, e

se aproximou lentamente do divã. Christina estava recostada, a cabeça apoiada em uma mão, os pés protegidos por uma grossa pele de ovelha. Olhava-o com uma expressão inquieta no formoso rosto.

Sentou-se ao lado da jovem e viu que tinha os olhos avermelhados pelo pranto. Ela estendeu lentamente uma mão e falou em voz baixa.

— Sinto muito, Phillip. —Agora estou bem, Tina. Chorarei durante um tempo, mas o

pior aconteceu e tenho que continuar vivendo minha vida. Olhou os olhos de Christina e compreendeu que também ela

sofria. Não sabia que tinha amado tanto Yasir. Phillip a abraçou e a sustentou meigamente contra seu peito, e Christina voltou a chorar.

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Durante os dias que seguiram, o acampamento manteve uma estranha sorte de duelo. Não havia gritos de alegria nem conversações em voz alta.

A seu modo Amine tratou de reconfortar Christina. E Christina se sentia agradecida de ter uma amiga com quem pudesse conversar. Se não fosse por Amine e seus filhos, teria se sentido realmente muito sozinha.

Aparentemente, Christina não conseguia arrancar Phillip do abismo de depressão em que tinha estado. Ela conversava a respeito disto e aquilo sempre que ele estava perto, mas Phillip se limitava a permanecer sentado e a olhar fixamente o vazio, como se ela não estivesse ali. Respondia às perguntas dela e a saudava, mas isso era tudo. Christina recordava que ela tinha passado pelo mesmo depois da morte de seus próprios pais; mas John a tinha ajudado a superar o momento. Ela mesma não sabia como ajudar Phillip.

De noite, quando se deitavam, Phillip a abraçava e isso era tudo. Christina começava a sentir-se cada vez mais nervosa. Perguntava-se a cada momento quando voltaria a possuí-la. Pensava que a situação atual não lhe agradava, porque não estava acostumada a esta atitude de Phillip.

Tratou de imaginar modos de arranca-lo de sua depressão, mas não os achou. Além disso, não tinha desejado que ele sofresse? Sim, era o que ela tinha desejado antes; mas agora não o queria. Doía-lhe ver a desgraça de Phillip e ela mesma não compreendia a razão de sua própria atitude.

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CAPÍTULO 16

Tinham passado cinco desde a morte de Yasir, e a tensão

começava a esgotar Christina. Phillip tinha saído para caçar, e ela não sabia quando poderia retornar. Tinha preferido permanecer na cabana os últimos dias, mas agora já não podia suportar o fechamento.

Saiu da tenda, procurou Ahmad e lhe pediu que preparasse Corvo. Depois, colocou rapidamente a túnica e as calças de montar e quando chegou ao curral Ahmad já estava preparado para partir.

— É bom que reate suas atividades - disse o jovem com um longo sorriso, enquanto a ajudava a montar.

— Sim, - replicou Christina. Mas não todas as atividades, pensou, recordando as noites tranqüilas que tinha passado ultimamente.

Partiram com os cavalos até a ladeira, mas quando chegaram aos primeiros contrafortes Christina obrigou Corvo a iniciar um rápido galope. Ahmad estava acostumado ao modo de cavalgar dela e conseguiu permanecer ao lado da jovem.

Tinham cavalgado pelo menos meia hora e se internaram bastante no deserto quando Christina divisou a quatro homens a cavalo que se aproximavam rapidamente. Tinham aparecido subitamente e muito em breve estiveram perto.

Christina deteve Corvo, e ao virar-se viu que Ahmad empunhava o rifle. Mas antes que o jovem tivesse tido tempo de oprimir o disparador, um tiro atravessou o ar, e Christina sentiu uma quebra de onda de náusea quando Ahmad caiu lentamente do cavalo, o peito coberto de sangue.

— OH, meu Deus... Não! - Gritou, mas Ahmad jazia imóvel sobre a areia quente.

Christina obrigou Corvo a voltar e o lançou ao galope. Gostaria de auxiliar Ahmad, mas agora tinha que pensar em si

mesmo. Ouviu o ruído dos cascos atrás e compreendeu que se aproximavam e convergiam sobre ela. Um braço se fechou ao redor de sua cintura, arrancou-a do cavalo, e a atirou sobre outro. Debateu-se ferozmente e se sentiu um pouco melhor quando caiu de costas sobre a dura areia.

O homem que a tinha arrancado do cavalo desmontou e se aproximou com passo lento. Tinha uma expressão irritada e feroz em seu rosto barbudo.

Christina sentiu que o coração pulsava dolorosamente quando se levantou e se pôs a correr, mas antes que tivesse avançado três ou quatro metros o homem a alcançou e deu-lhe uma bofetada brutal

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que a derrubou. Agarrando-a pela túnica a levantou e a golpeou duas vezes mais, e depois a soltou como se fosse uma coisa repugnante. Christina chorava histericamente quando afundou o rosto na areia, de modo que este não pudesse lhe pegar outra vez.

Ela ouviu vozes longínquas que disputavam, mas pareciam sons muito distantes. Estava aturdida e durante um momento não soube onde se encontrava, ou por que chorava. Mas a consciência de sua situação se restabeleceu quando com gesto cauteloso elevou a cabeça e viu o corpo inerte de Ahmad a poucos metros de distância.

Meu Deus, por que tinham tido que mata-lo? Uns metros mais longe, três dos homens os esperavam montados em seus cavalos e um deles falava com dureza ao indivíduo que a tinha golpeado.

Amair Abdalla desmontou e se aproximou da mulher que estava sobre a areia. Compadeceu-se quando a obrigou a virar-se e lhe viu a cara já descolorida e torcida. Haviam-lhe dito que essa mulher era muito bela, mas agora tinha o rosto sujo de areia e sulcado por feridas onde tinham deslocado as lágrimas. Esse bastardo do Cassim! Tudo tinha ocorrido com tal rapidez, que Amair não tinha podido impedi-lo. Tinham pressa, de modo que não podia castigar agora a essa besta. Cassim sempre tinha sido um homem cruel. Sua esposa tinha estado duas vezes à beira da morte por causa da crueldade e os golpes dele.

O xeque Alí Hejaz não veria com bons olhos que tivessem batido nesta mulher. Christina Wakefield era importante em muitos sentidos para o xeque Alí; e tinha repartido ordens rigorosas de que não a machucassem.

Ocupar-se-iam de Cassim quando retornassem ao acampamento... E ele sabia. Mas agora, tinham que apressar-se. O plano não contemplava um enfrentamento com os homens do xeque Abu, e Amair não desejava uma luta mão a mão com aquele homem. Significaria uma morte segura.

Tinham passado uns instantes desde o momento em que o jovem tinha obrigado Christina a virar-se. Tinha-lhe cuidado do rosto, e ela viu compaixão em seus olhos castanhos. O que ocorreria agora? Possivelmente não voltariam a bate-la... Pelo menos não agora. Christina tratou instintivamente de evitar o contato com o homem que se inclinava para levanta-la. O árabe a levou onde estavam os cavalos, depositou-a sobre um pequeno corcel e montou atrás. Os três homens restantes estavam esperando e um momento depois o grupo se afastou ao galope.

Christina fechou os olhos quando passaram ao lado do corpo de Ahmad. Pobre Ahmad. Era apenas um pouco mais velho que ela, e agora sua vida tinha terminado. Os quatro homens abandonaram a

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sua sorte Corvo e ao cavalo de Ahmad. Se eram ladrões, por que não se levavam também os cavalos?

Quem eram? Não podiam saber que Christina era mulher, por causa da roupa que vestia. Então, por que não tinham disparado contra ela? Não era possível que tivessem vindo resgata-la, porque ninguém sabia que estava aqui. Além disso, se o propósito tivesse sido devolve-la a seu irmão, não a teriam golpeado. Em realidade, o assunto não tinha sentido.

Era muito provável que esses homens pertencessem à tribo vizinha a respeito da qual Phillip a tinha advertido. Possivelmente todos a usariam, e depois a venderiam como escrava? Phillip nunca conseguiria encontra-la!

Phillip; onde está? Tem que me descobrir! Mas, o que estava pensando? Acaso não tinha ansiado separar-se dele?

Pelo menos, meu novo amo jamais poderá me obrigar a ceder só me tocando, como faz Phillip. Outro homem não excitará meus desejos como Phillip. E de repente compreendeu o que acabava de pensar.

Amava-o! Sempre o amou, e não sabia. Christina, você é uma estúpida, uma perfeita estúpida. Lutou contra Phillip todos estes meses e quis voltar para casa, e em realidade sempre o amou. Talvez nunca volte a vê-lo, e Phillip ainda acredita que o odeia.

Mas, o que ocorrerá se ele não vai me salvar? O que ocorrerá se alegrar com meu desaparecimento, porque agora não poderei mais incomodá-lo? Poderia criticá-lo, depois do modo em que o tratei? OH, não, tem que vir me buscar; é necessário que me salve, porque assim poderei lhe dizer que o amo. E tem que chegar muito em breve, antes que seja muito tarde!

Quando Yasir morreu e eu senti desejos de reconfortar Phillip teria que ter compreendido que o amava. Precisou de um pesadelo para que eu visse a verdade, e agora possivelmente seja muito tarde. OH, Meu Deus, me dê outra oportunidade!

Estava escurecendo, e o grupo continuava avançando a galope, como se o demônio em pessoa os perseguisse. Tampouco essa atitude tinha sentido. Se estes quatro homens pertenciam à tribo vizinha, da qual Phillip tinha falado, tivessem devido internar-se nas montanhas, e já teriam chegado a seu acampamento.

Certamente ela se equivocava. Tinham cavalgado junto às montanhas, mas agora, quando a lua iluminou o caminho, desviaram-se e começaram a internar-se no deserto. Aonde a levavam? E o que lhe ocorreria quando chegassem a seu destino?

Christina recordava o dia, disso fazia muito tempo, em que formulou as mesmas perguntas; mas então o seqüestrador tinha sido Phillip. Ela o tinha odiado realmente nessas primeiras semanas,

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depois de chegar ao acampamento. Phillp a tinha despojado de tudo o que ela amava. Tinha manipulado a muitas pessoas para atraí-la para este país. Mas todas as jovens deixam para trás seu convívio quando se casam. Leva tempo acostumar-se à nova vida.

Bem, acostumou-se... Muito, para falar a verdade. E em seu coração experimentava um sentimento de temor e de vazio ante a perspectiva de não voltar a ver jamais de novo Phillip. Era algo pior que a dor que sentia no rosto inchado com cada movimento do cavalo. Fechou os olhos para evitar o sofrimento e adormeceu.

O som de vozes estridentes despertou Christina. Desceram-na do cavalo. Perguntou-se o que tinha ocorrido até que viu os rostos desconhecidos ao redor e sentiu uma dor na face. O sol estava muito alto, e fazia um calor intenso que brotava da areia e obrigava Christina a entrecerrar as pálpebras para evitar a luz.

Antes que introduzissem Christina em uma pequena cabana, examinou rapidamente o acampamento. Estava em um oásis do deserto. Duas enormes palmeiras cobriam seis cabanas pequenas, e a jovem viu as cabras, ovelhas e camelos pastando a poucos metros de distância.

No interior da tenda, Christina necessitou uns instantes para acostumar-se à escuridão. Viu um ancião sentado sobre um almofada, atrás de uma mesa baixa coberta de panelas com mantimentos.

O velho nem sequer se apresentou. Continuava comendo e Christina examinou a cabana. Havia alguns almofadões aqui e lá, e ela viu uma grande arca em um rincão, mas não havia cadeiras para sentar-se nem tapetes que cobrissem a areia.

Quando Christina voltou os olhos para o ancião, percebeu que estava afundando os dedos em uma pequena terrina de água, como ela fazia muitas vezes depois de concluir uma comida com Phillip. Agora ele a olhou, e os olhos castanhos expressaram irritação quando viu o rosto machucado. Christina se assustou quando o velho descarregou o punho sobre a mesa e todas as panelas saltaram no ar.

Estava vestido com uma túnica de cores e na cabeça tinha a kufiyab e Christina viu que sob a mesa apareciam seus pés nus. Quando o homem ficou em pé, pareceu que não era mais alto que a mesma Christina, mas quando falou, sua voz tinha acentos autoritários.

Falou duramente com o jovem que estava com Christina, e ela chegou à conclusão de que esse ancião era o xeque da tribo. O velho e o jovem trocavam frases acaloradas, incompreensíveis para Christina; e depois, o jovem a levou atrás de uma cortina, em um rincão da tenda.

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O pequeno espaço logo que alcançava para deitar-se. Uma pele de ovelha cobria a areia, e Christina ficou ali, a sós.

Poucos minutos depois uma anciã separou as cortinas e trouxe uma bandeja com uma grande terrina com comida e uma taça de vinho. A mulher depositou a bandeja na areia, entregou Christina uma toalha úmida, com um gesto lhe assinalou o rosto, e depois partiu.

Christina limpou a face com a toalha, mas não pôde eliminar toda a sujeira pega às pálpebras inchadas. A comida tinha muita gordura, mas felizmente era branda, porque também lhe doía mastigar. O vinho tinha um excelente sabor, mas ela se sentiu estranhamente cansada depois de bebê-lo. Christina fez todo o possível para manter-se acordada, porque desejava estar preparada para o que poderia lhe ocorrer; mas não conseguiu manter abertos os olhos nem pensar de um modo coerente e pouco depois caiu em profundo sono.

Quando Amair Abdalla deixou à mulher na cabana do xeque Alí Hejaz, foi dizer a Cassim que o xeque desejava vê-lo; depois, caminhou diretamente para a cabana de seu próprio pai. Não lamentava por Cassim, porque o que lhe ocorresse seria por sua própria culpa. O xeque Alí estava mais zangado do que Amair tinha previsto, e era provável que Cassim pagasse com a vida sua brutalidade.

— Amair, tudo foi bem? - Perguntou seu pai, Cogia Abdalla, quando Amair entrou na cabana que ambos compartilhavam.

— Sim, pai, tudo se fez de acordo com o plano - replicou Amair com expressão de desagrado. Sentou-se sobre o couro de ovelha que era seu leito, e se apoderou da taça de vinho que estava ao lado. —Mas te direi o seguinte... Não me agrada o que me ordenaram fazer. Essa mulher não cometeu nenhum delito, e não deve converter-se em objeto de vingança. Já sofreu o bastante, pois Cassim a golpeou antes que eu pudesse impedi-lo.

—Como! Esse maldito... —Compreende, pai? - Interrompeu-o Amair. — Nada disto devia

ter ocorrido. Cassim feriu de morte um homem que acompanhava Christina Wakefield. Deus permita que o encontrem antes que morra, porque é Ahmad, o irmão do marido de Amine. Se Ahmad morrer, Syed nos odiará e jamais voltaremos a ver minha irmã Amine.

— Eu teria que ter previsto que este plano não era bom - disse Cogia, com expressão de desalento no rosto. — Nunca devia permitir que participasse. Que este ódio termine de uma vez e eu possa ver novamente a minha filha. Amine certamente já tem filhos e eu não os conheço. Talvez nunca veja meus netos!

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—Mesmo assim, pai, jamais deveríamos ter aceitado este plano. O xeque Abu nada teve haver com o que ocorreu todos estes anos. Ele vivia no outro lado do mar. Não acredito que deva ser vítima da vingança do xeque Alí, agora que o xeque Yasir morreu.

—Sei, meu filho, mas, o que podemos fazer? Possivelmente o xeque Abu não caia na armadilha - disse Cogia.

Olhou para a porta da tenda. No centro do acampamento, três meninos brincavam com um carneirinho. Cogia desejava intensamente ver sua própria filha e aos netos.

—Virá - replicou Amair. — E se trouxer os homens de sua tribo, derramar-se-á inutilmente muito sangue por algo que ocorreu faz vinte e cinco anos. E nenhum dos homens que morrerá terá tido nada que ver com isso.

E em efeito, Phillip chegou menos de uma hora depois. Veio sozinho e se amaldiçoou por isso quando compreendeu o perigo que confrontava.

Phillip tinha retornado ao acampamento, e ali lhe disseram que Christina tinha saído a cavalo com o Ahmad. Alegrava-se de que ela tivesse decidido reatar seus passeios diários, e compreendia que era hora de que ele dominasse sua própria depressão. Seu pai tinha morrido, mas ele ainda tinha Christina.

Pensou nela enquanto passeava de um extremo ao outro da tenda, esperando sua volta. Mas quando o sol começou a esconder-se e não teve notícias da jovem, um horrível temor começou a domina-lo. Saiu correndo da cabana e ao ver Syed junto ao curral lhe ordenou que o seguisse.

Phillip obrigou a seu cavalo a galopar freneticamente, enquanto Syed tratava de manter a mesma velocidade. Depois de cavalgar um momento na direção que estava acostumado a tomar Christina, Phillip viu dois cavalos detidos, um ao lado do outro. Empalideceu intensamente quando se aproximou um pouco e viu um corpo imóvel na areia.

Desmontou do cavalo e correu onde estava Ahmad. O projétil tinha entrado na região inferior do peito dele; tinha perdido muito sangue, mas ainda estava vivo. Chegou Syed e os dois homens conseguiram que Ahmad bebesse um pouco de água. Finalmente, abriu os olhos. Olhou primeiro Phillip e depois Syed, e tratou de sentar-se, mas estava muito fraco por causa da perda de sangue.

—Pode falar, Ahmad? - Perguntou Phillip. — Pode me dizer o que ocorreu?

Ahmad olhou Phillip com olhos frágeis. —Quatro homens do deserto se aproximaram velozmente. Eu...

apontei o rifle, mas me dispararam. - Só isso lembrava. Ahmad

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tratou de olhar ao redor e quando viu o cavalo de Christina voltou a apoiar a cabeça na areia. —A levaram?

—Assim parece - replicou Phillip. - Tinha o corpo tenso, preparado para combater. Olhou ao irmão mais velho. —Syed, leva Ahmad de volta ao acampamento. Maidi saberá o que fazer por ele. Não sei quanto demorarei, mas não me sigam. Encontrarei Christina, e o homem que feriu seu irmão morrerá.

—Alá esteja contigo - replicou Syed enquanto Phillip montava seu cavalo.

Ainda eram visíveis os rastros dos quatro cavalos dos seqüestradores, porque não tinha soprado vento que as cobrisse com areia. Phillip seguiu os rastros com uma velocidade que Victory jamais tinha alcançado antes. Imaginava constantemente o rosto atemorizado de Christina e rogava que a achasse a tempo, antes que os homens a violassem e a vendessem.

Jamais deveria ter-lhe permitido que cavalgasse no deserto. Se a tivesse obrigado a permanecer no acampamento, agora a teria com ele, e não temeria pela vida da moça. Meu Deus, faz que a encontre a tempo!

Phillip sentiu que lhe encolhia o coração quando tratava de imaginar o que seria de sua vida sem Christina. Imagino o leito vazio que tinha compartilhado com ela, a cabana vazia aonde sempre ansiava retornar, o corpo belo e suave que o tentava tão facilmente. Acaso era possível que outra mulher ocupasse o lugar dela? Não podia suportar a idéia de que nunca voltaria a vê-la.

Sentia-se assim, certamente porque a amava. Ele nunca tinha acreditado que podia chegar a apaixonar-se.

Que estúpido tinha sido! Mas, o que ocorreria se não pudesse achar Christina? O que era pior, o que ocorreria se ela não desejava que a encontrasse? Bem, acharia ou morreria tentando, e se era necessário a obrigaria a retornar com ele. Preferia viver com seu ódio que sobreviver sem ela. Possivelmente um dia ela chegasse a lhe devolver esse amor.

Phillip agradeceu ao destino a lua cheia que iluminava bastante bem os rastros. As horas passavam lentamente, dominadas por sombrios pensamentos e o sol estava alto quando Phillip viu ao longe o acampamento de uma tribo do deserto. Os rastros que ele seguia

conduziam diretamente ao acampamento. Agora falta pouco, Christina. Encontrar-te-ei e voltaremos para casa.

Phillip cortou a marcha de seu cavalo e entrou no acampamento. Quando conteve Victory no centro do acampamento se aproximaram vários homens.

—Procuro quatro homens e uma mulher - disse Phillip em árabe. —Vieram aqui, não é assim?

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—Abu Alhamar, chegaste ao lugar justo. Desmonta e vêem comigo.

Phillip se virou para olhar ao homem que tinha falado. Um rifle lhe apontava às costas, de modo que não tinha muito que escolher.

—Como sabe quem sou? —Esperávamos. Vêem comigo. Phillip desmontou, e o homem o empurrou com o rifle em

direção à entrada de uma tenda. Outros homens armados caminharam atrás, preparados para responder ao mínimo movimento de Phillip. Ele se perguntou como demônios sabiam quem era.

Um ancião que estava ao fundo da cabana ficou de pé e olhou Phillip.

—Xeque Abu, não demorou muito em chegar. Esperei muito tempo este momento.

—Que demônios significa isto? - Perguntou Phillip. — Como sabe quem sou? Jamais tinha te visto antes.

—Viu-me antes, mas não o recorda. Não ouviu falar de mim? Sou Alí Hejaz, xeque desta tribo e tio de Rashid, seu meio irmão. Agora me conhece?

—Ouvi mencionar seu nome, mas isso é tudo. Por que me esperava?

—Ah, vejo que seu pai te ocultou a verdade! Agora te relatarei a história completa, e assim compreenderá por que vou matar-te em vingança pela morte de minha irmã.

—Certamente está louco - disse Phillip rindo. —Nada te fiz. Por que quer que eu mora?

—Não estou louco, Abu Alhamar. - Alí Hejaz falou com voz serena, saboreando seu momento de triunfo. —Logo saberá por que tem que morrer. Sabia que cairia em minha armadilha, porque tenho a sua mulher.

—Onde está? - Estalou Phillip. —Se a feriu... —Tudo a seu tempo. - interrompeu Alí Hejaz. —A verá mais

tarde, e pela última vez. Não tema por ela, porque em meu acampamento não sofrerá nenhum dano. Estou agradecido por Christina Wakefield ter te atraído aqui. Depois, a devolverei a seu irmão em troca da recompensa.

—Como sabe a respeito dela? - Perguntou Phillip. —Quantas perguntas faz! Olhe, Rashid me visita de vez em

quando. Mencionou que tinha retornado da Inglaterra, e que tinha por amante a uma estrangeira. E agora parece que a salvei de seu seqüestrador! - Ali fez uma pausa. Quando voltou a falar, sua voz expressava profunda de cólera. —Recentemente me inteirei da morte de Yasir. Me senti frustrado, porque desejava mata-lo pessoalmente. E bem, você, seu filho tão adorado, ocupará seu lugar.

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—Do que acusa a meu pai? - Perguntou Phillip. Alí Hejaz serviu duas taças de vinho e ofereceu uma Phillip. Este

recusou e Alí sorriu. —Será seu último sorvo de vinho... Proponho que o beba!

Asseguro-te que não está envenenado. Tenho-me proposto a te matar com métodos mais lentos e cruéis.

—Acaba com suas explicações, Hejaz. Desejo ver Christina - replicou Phillip.

Aceitou o vinho e com gesto zombador ofereceu um brinde ao ancião.

—Vejo que ainda não toma a sério. Entretanto, trocará de atitude quando começar sua morte lenta. Seja como for, tem direito de saber porque morrerá.

Alí fez uma pausa e bebeu um sorvo da taça que sustentava na mão.

—Faz muito tempo, seu pai e eu fomos íntimos amigos. Eu teria feito o que fosse necessário por Yasir. Também conhecia sua mãe, e estava com Yasir quando você nasceu. Então, alegrei-me por seu pai. Tinha tido dois formosos filhos e uma mulher a quem amava mais que a sua própria vida. Recorda que eu tinha-te sobre meus joelhos quando tinha completo três anos, e te contava contos?

—Não. —Não acreditei que recordasse. Foram anos felizes... Até que

sua mãe partiu. Era uma boa mulher, mas destruiu Yasir. Ele jamais voltou a ser o mesmo. Foi-se sua esposa, e com ela os dois filhos. Yasir sentiu que já não tinha motivo para viver. Compartilhei seu sofrimento três anos, porque eu amava Yasir como a um irmão. Abrigava a esperança de que esqueceria a sua mãe, e de que novamente acharia a felicidade. Eu tinha uma irmã chamada Margiana, uma bela moça que adorava Yasir e propus a ele que se casasse com ela.

—Mas minha mãe e meu pai ainda estavam casados. Como poderia desposar a sua irmã? - Interrompeu Phillip.

—Sua mãe partiu e não pensava retornar. Era como se tivesse morrido. Yasir tinha direito a casar-se novamente. Podia iniciar uma nova vida e engendrar filhos, filhos que cresceriam até converter-se em homens. Yasir aceitou desposar a minha irmã. Então eu tive que sair de viagem e pedi a Margiana que não se casasse até minha volta. Mas ela recusou esperar. Fui ferido enquanto viajava e fiquei de cama vários meses.

Levou-me quase dois anos encontrar a minha irmã e à tribo de Yasir. Rashid, filho de minha irmã, tinha então um ano. E assim passaram os anos e eu acreditava que minha irmã era feliz. Yasir ainda se sentia muito desgraçado. Não amava Rashid como tinha te

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querido. Entretanto, quando eu visitava minha irmã, ela se comportava como se fosse sido uma mulher satisfeita e feliz.

Faz vários anos veio para ver-me minha irmã e ao fim disse a verdade a respeito de seu suposto casamento. No último momento Yasir tinha recusado desposa-la. Mas a noite que eles deviriam se casar ele se embebedou e a violou. Quando uns meses depois ela descobriu que estava grávida rogou a Yasir que a desposasse. Mas ele continuou negando-se. Não podia esquecer a sua mãe. Margiana se sentiu envergonhada, porque não estava casada e por isso mentiu e me induziu a acreditar que era feliz. Yasir nunca voltou a possuí-la, mas permitiu que ela e Rashid vivessem em sua tribo. Ela o amava e ele a tratava como se ela tivesse sido a última escória.

Depois que minha irmã me revelou a verdade, se suicidou. Foi como se o próprio Yasir lhe tivesse matado à faca. Matou a minha irmã e aquele dia jurei vingança. Esperei, mas Yasir conhecia o ódio que eu lhe professava e nunca se aventurava sozinho fora de seu acampamento. Nunca esqueceu que eu estava esperando-o, e por minha parte esperei muito. Yasir morreu sendo um homem feliz, sem sofrer como sofreu minha irmã.

—Mas todo isso nada tem que ver comigo. Por que quer me matar? -Perguntou Phillip.

Acreditava nessa história. Yasir tinha vivido com a lembrança de sua primeira e única esposa até o dia de sua própria morte. Provavelmente nunca tinha sabido que Margiana o amava e que por isso padecia.

—Ocupará o lugar do Yasir - disse Alí Hejaz. —Você, seu filho adorado, que era tudo para ele, como minha irmã era tudo para mim. Você, que agradou Yasir nos últimos anos, quando ele deveria sofrer. Você, o filho da mulher que foi culpada da morte de minha irmã. Você, que te parece em tudo a seu pai, pois te empossa das mulheres sem casamento e as obriga a sofrer. Morrerá e eu ao fim serei vingado. - Alí riu, com uma risada breve e satânica. —Ah, mas a vingança é doce; se Yasir estivesse aqui para ver sua morte, minha felicidade seria perfeita. E agora, inclusive estou disposto a te conceder um último desejo, se for razoável.

—É muito bondoso - disse sarcasticamente Phillip. — Bem, agora quero ver Christina Wakefield.

—Ah, sim, a mulher. Disseste antes que a veria, verdade? Mas primeiro quero te advertir. Temo-me que sofreu um pequeno acidente antes de chegar aqui.

—Acidente? Onde está? - Perguntou Phillip. Alí Hejaz fez um gesto a um dos homens que estavam atrás de

Phillip. O indivíduo elevou uma cortina que pendurava ao fundo da tenda.

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Phillip viu Christina encolhida no chão. —OH, meu Deus! - Exclamou. Inclinou-se para toca-la, mas ela não se moveu. —Pareceu-me que era melhor droga-la uns dias, até que se

aliviasse a inflamação - disse atrás a voz de Alí. Phillip se levantou e se virou com movimentos muito lentos para

encarar o ancião. Os músculos das bochechas lhe contraíam por causa da cólera violenta que estava consumindo-o.

—Quem fez isto? - Disse com voz contida, tratando de dominar seus sentimentos. —Quem lhe fez isto?

—Não era para ter acontecido assim. O homem que a golpeou sempre se mostrou cruel com as mulheres. Quando ela fugiu, esse homem se enfureceu e a golpeou antes que meus homens pudessem detê-lo. Naturalmente, morrerá. Dei ordem estrita de que não machucassem a mulher, e ele me desobedeceu. Ainda não decidi como morrerá, mas está condenado.

—Entregue-me ele. - disse sombriamente Phillip. —O que? —Me entregue ao homem que fez isto. Concedeu—me um

pedido. Quero ao homem que a golpeou. Alí olhou incrédulo Phillip e os olhos anciões cobraram uma

expressão fixa. —É obvio! É justo que te conceda essa honra. Não duvido de

que vencerá, mas será uma luta justa. Combaterão com facas, agora mesmo, no centro do acampamento. Quando Cassim tenha morrido, você morrerá de morte mais lenta.

Phillip saiu da cabana atrás do ancião. Um só pensamento dominava sua mente: matar ao homem que se atreveu a machucar Christina.

—Tragam aqui Cassim e lhe expliquem o que lhe espera - ordenou Alí.

Alí extraiu do cinto sua própria faca e entregou a Phillip. —Terminada a briga arrojará a faca sem oferecer resistência. Se

não proceder assim, Christina Wakefield nunca voltará com seu irmão e será vendida como escrava. Compreende-me?

Phillip assentiu e tomou a faca. Fixou-o em seu cinturão, e tirou a túnica empunhou a faca com a mão direita. Retiraram Cassim de uma cabana vizinha; em seu rosto se manifestava claramente o medo. Arrastaram-no para o lugar onde estava Phillip.

—Não combaterei contra este homem - gritou Cassim. — Se tiver que morrer, me dispare um tiro!

—Lute como um homem. Do contrário te arrancarei o coração do corpo! -Gritou Alí.

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Phillip não experimentou compaixão pelo homem que o olhava temeroso. O rosto inchado de Christina era quão único ele via.

—Te prepare para morrer, torturador de mulheres! Deixaram em liberdade Cassim, que retrocedeu uns passos, e

depois se equilibrou sobre Phillip. Mas este estava preparado. Saltou para o lado e sua faca tocou o braço direito de Cassim, ferindo sob o ombro. Depois, cada um descreveu um círculo ao redor do outro, com os braços estendidos. Cassim insinuou de novo, com a intenção de ferir Phillip no peito. Mas Phillip se moveu como o raio e feriu outra vez a sua vítima. A faca cortou o braço estendido de Cassim, e abriu a carne até o osso. Cassim soltou a faca e olhou atônito a ferida. Phillip descarregou uma bofetada sobre o rosto de seu antagonista e o derrubou ao chão.

Deu tempo a Cassim para que recuperasse a faca, e voltou a atacar. Era evidente que Cassim não sabia dirigir bem a faca e seu medo o convertia em fácil vítima da destreza de Phillip.

Phillip conhecia muitos truques que tinha aprendido de seu pai, mas agora não os necessitava. A faca de Phillip feriu uma e outra vez a Cassim, até que o árabe ficou talhado com seu próprio sangue. Finalmente Phillip se cansou do jogo e rachou sua garganta. Cassim caiu de bruços sobre a areia.

Phillip estava enjoado. Jamais tinha imaginado que havia nele tanta violência. Como podia matar assim a um homem? De todos os modos o homem tinha morrido e o merecia porque tinha golpeado Christina; mas ter sido seu assassino repugnava Phillip. Jogou a faca ao lado do corpo dele e se aproximou de Alí Hejaz.

—Abu, não parece agradado. Possivelmente se sinta melhor se souber que Cassim também feriu de um tiro a seu companheiro de tribo.

—Não há modo de sentir-se melhor depois de matar a um homem -replicou Phillip.

—Quando esperaste muitos anos para matar a um homem, como em meu caso, a vingança pode ser agradável -disse Alí. —Agora, acompanhará a meus homens. Recorda que tem em suas mãos o futuro de Christina Wakefield. Além disso, ordenei a meus homens que disparem se tentar fugir. Uma ferida no braço ou na perna fará mais dolorosa sua morte.

Os homens se apoderaram de Phillip e o levaram atrás da cabana de Alí Hejaz. Ali havia quatro estacas cravadas na areia e se ataram cordas a cada uma delas. Phillip compreendeu então como morreria.

Não ofereceu resistência. Os homens o tombaram de costas e o ataram às estacas de braços e pernas. Phillip ouviu que um homem murmurava "Me perdoe" e depois se afastava. Outro guarda se

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aproximou da sombra da cabana de Alí, e se sentou para vigiar Phillip.

Vigiar o que? Phillip tivesse desejado sabe-lo. Não podia escapar. Era tarde, mas já haveria sol pelo menos duas horas mais. Sentiu um pouco de fome, mas aquela era a menor de suas preocupações.

No momento não sofreria muito, mas ao dia seguinte começariam seus verdadeiros padecimentos. Poderia suporta-los. Teria a vontade necessária para morrer?

Trataria de permanecer acordado durante a noite; era o único modo. As duas noites e os dois dias que tinha cavalgado sem descanso lhe permitiriam dormir ao dia seguinte, e possivelmente morreria muito em breve, pelos efeitos do sol, sem despertar sequer.

Passou uma hora e Phillip já estava esforçando-se para continuar acordado. Uma sombra se projetou sobre ele e quando abriu os olhos viu Alí Hejaz.

—Acredito que é irônico que morra assim verdade? Quis viver sob nosso sol e fazer feliz Yasir; por isso, é próprio que morra sob nosso sol. Não é um modo agradável de morrer. Te inchará a língua. Mas não quero que te asfixie muito logo. Dar-te-ei água suficiente para impedi-lo. Sofrerá muito enquanto o sol te queima vivo. E se tiver pensado permanecer acordado toda a noite e passar dormindo a tortura que te espera amanhã, tenho que te decepcionar. Acrescentei uma droga suave a seu vinho e esta noite dormirá. -Alí se pôs a rir porque acabava de destruir a única esperança de Phillip. — Parece surpreso, Abu. Mas olhe, pensei tudo. Sim, amanhã despertará ao amanhecer. Dorme bem, Abu. Será sua última noite.

Dito isto deixou Phillip entregue a seus pensamentos. Phillip tentou se mexer com todas as suas forças, mas não havia

modo de fugir. Pouco depois dormiu.

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CAPÍTULO 17

A dor nos olhos despertou Phillip. Quando os abriu, contemplou

o sol de meio-dia e durante um instante a luz o cegou. Perguntou-se um momento por que tinha dormido ao ar livre até que tentou levantar-se e sentiu a dor nos ombros.

"Bem... o sol já estava fazendo seu efeito", pensou. Olhou seu peito e os braços queimados. Pelo menos Hejaz se equivocou em uma coisa... Não tinha despertado para ver o amanhecer. Phillip permaneceu perfeitamente imóvel.

Agora, tinha o sol diretamente sobre a cabeça. Sentia um sabor estranho na língua; parecia-lhe que esta se converteu em um pedaço de tecido seco. O suor de seu corpo lhe ardia na pele queimada. Quanto duraria? Tratou de pensar em coisas agradáveis, e recordou a figura de Christina.

Phillip ouviu uma voz que o chamava de longe, e que o arrancava da inconsciência à medida que cobrava mais volume. Com um esforço abriu os olhos e viu Alí Hejaz de pé, a escassa distância. Tratou de falar, mas tinha a boca muito seca e os lábios estavam gretados e com ampolas.

- De modo que ainda vive. Sem dúvida ama muito a vida. -Alí se virou para o guarda que estava de pé ao lado. - Lhe dê umas gotas de água, mas nada mais.

O guarda verteu umas gotas de água na boca de Phillip e Alí disse:

—Amanhã pela manhã acabaremos contigo. Se ainda viver, direi a um de meus homens que lhe mate porque precisamos levantar o acampamento e nos transladar. Aqui começa a escassear a água. Levar-te-ia comigo para te cravar em estacas outra vez, mas sua tribo viria te buscar. Seja como for, morrerá amanhã. Que tenha sonhos agradáveis.

Caiu o sol, mas Phillip sentia que lhe queimava o corpo. A água que lhe tinha subministrado acentuava ainda mais sua sede. Pensou em Christina, que estava a poucos metros de distância, na cabana de Hejaz. Pelo menos, ela passava dormindo essas horas de pesadelo. Mas possivelmente lhe agradasse ver que Phillip estava cozinhando vivo. Depois de tudo, ela o odiava. Bem, logo retornaria com seu irmão, como sempre tinha querido faze-lo.

A lua estava alta quando Phillip sentiu uma presença a seu lado. —Todos dormem, mas devemos guardar silêncio e evitar que

alguém dê o alarme - murmurou o homem, que se inclinou sobre Phillip. —Sou Amair Abdalla, irmão de Amine, que vive em seu

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acampamento. Peço seu perdão para meu pai e para mim por tudo isto. Meu pai é um ancião e só desejava ver que se dissipava de uma vez o ódio de nosso xeque e recuperar a sua filha. Compreende agora que foi um engano capturar a sua mulher. Nem ela nem você mereciam sofrer. Aplicarei um ungüento a sua pele. Não deve gritar.

O corpo de Phillip estremeceu quando o unguento refrescante lhe tocou a pele. Conteve os gritos de dor enquanto o homem estendia o remédio sobre o peito e o rosto.

—Teria te libertado ontem à noite, mas estava narcotizado. Depois de um momento o ungüento aliviará a dor - disse Amair.

Limpou as mãos.Cortou as cordas, ajudou a Phillip se incorporar e entregou um cantil cheio de água. Phillip bebeu com prudência.

—Seu cavalo espera oculto nas sombras - disse Amair. —A mulher ainda está drogada e não poderá cavalgar sozinha. Trá-la-ei imediatamente. Pode falar?

Phillip bebeu um pouco mais de água e pôde murmurar com voz rouca:

—O que ocorrerá...? —Amanhã, antes que desperte o xeque Alí, meu pai se reunirá

com os anciões. Impedirão que Alí te persiga e me protegerão de sua cólera. Rogo-te que compreenda que me ordenaram capturar a mulher. Não me agradou faze-lo, mas não tinha outra saída. Pode me perdoar?

—Será bem-vindo em meu acampamento -replicou Phillip. —Agora, irei procurar a sua mulher. Dispõe de cinco horas antes

que saia o sol. Quando chegar o momento, poderá vestir de novo a túnica.

Amair se aproximou de um lado da cabana e cortou o tecido com sua faca. Arrastou-se para o interior e um momento depois apareceu com Christina em braços. Depositou-a ao lado de Phillip e foi procurar o cavalo.

Amair ajudou Phillip a montar no Victory e depois depositou Christina diante do cavaleiro.

—Poderá cavalgar? —Terei que faze-lo -disse Phillip. Amair levou a cavalo até a saída do acampamento dormido. —Xeque Abu, desejo-te uma vida longa e fecunda. Alá esteja

contigo. Adeus, meu amigo. Devo-te a vida - murmurei Phillip. Obrigou

Victory a partir ao trote e iniciou o caminho de volta. Cada movimento do cavalo provocava agudas dores em Phillip;

mas, depois de um momento, o ungüento começou a alivia-lo. Embora parecesse estranho, não podia odiar Alí Hejaz. Lamentava por esse homem que tinha vivido tantos anos dominado pelo ódio.

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Phillip agradecia a Deus estar ainda vivo. Logo ficaria curado e tinha recuperado Christina. Sim, tinha muitas coisas que agradecer. Se Christina chegasse a amá-lo, Phillip se sentiria o homem mais feliz da terra. Mas não podia obrigá-la. Se agora lhe declarava seu amor, ela reagiria burlonamente. Não; devia conquistar pouco a pouco o afeto da moça. Agora que a tinha recuperado tinha que mostrar-se paciente com ela.

Christina começou a despertar lentamente, e de repente compreendeu que cavalgava em um cavalo que avançava ao trote.

Já era dia. Alcançou a ver o pescoço do cavalo e, em frente, o deserto. Recordava um acampamento no deserto, uma comida, que tinha bebido um pouco de vinho; mas nada mais. Como tinha chegado a este cavalo? Aonde a levavam agora?

Precisava escapar. Tinha que retornar a Phillip. Christina passou a perna sobre o pescoço do cavalo e caiu à areia. O homem gemeu quando lhe aplicou um vigoroso empurrão; mas Christina isso não importou. Levantou-se rapidamente e posse a correr.

—Christina! Ela se deteve. Não podia acreditá-lo. Phillip tinha vindo

procurá-la e a levava de retorno a casa. A moça pronunciou o nome de Phillip e se virou.

—Oh, meu Deus! - Conteve uma exclamação quando viu o rosto de Phillip cheio de ampolas.

—É precisamente o que disse a primeira vez que te vi, mas agora não percamos tempo em explicações. Por favor, sobe outra vez ao cavalo. Tina precisamos chegar em casa o quanto antes.

—Mas Phillip, sua face... —Imagino que aspecto tem – interrompeu-a Phillip. —Mas,

ainda não viu sua própria face. Nenhum de nós está... Digamos reconhecível; mas nos curaremos. Vamos, Tina.

Christina conseguiu montar sem a ajuda de Phillip. Estava confusa e preocupada. Como tinha chegado a queimar-se desse modo? Pelo menos, agora estavam reunidos e por isso se sentia agradecida.

Uma hora depois entraram no acampamento e foram recebidos por um grupo de rostos surpreendidos e impressionados. Ajudaram a desmontar Christina e Phillip. Amine se adiantou chorando e abraçou meigamente Christina.

—Acreditei que tinham morrido... Todos acreditávamos. E, ao não retornar o xeque Abu, supusemos que o tinham matado quando tentou te salvar. Mas sua face... Oh, Christina, dói-te? Como aconteceu? - Perguntou Amine. Agarrou fortemente as mãos de Christina. —E o xeque Abu, que horríveis queimaduras!

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Golpeou-me um árabe de uma tribo do deserto e me levaram a seu acampamento. Mas não sei por que o fizeram. É tudo o que posso recordar. Nem sequer sei como me salvou Phillip, nem por que está tão queimado. - Voltou os olhos para seu amiga. —Amine, sinto muito por Ahmad.

—Ahmad ficará bom, mas agora devo ajudar Maidi a cuidar do xeque Abu.

—Ahmad está vivo! - Exclamou feliz Christina. —Sim, dentro de poucos dias estará bem. Uma costela deteve a

bala e a ferida está curando perfeitamente. Agora irei procurar Maidi. —É obvio. Depois falaremos - disse Christina. Também ela entrou na tenda. Quando ela entrou no dormitório, Syed estava despindo Phillip.

Christina parou quando viu as queimaduras. —Oh, Phillip, também o peito? -Exclamou. —Creio que sim, Tina. Mas não tema. Não é tão grave como

parece. Mais ou menos uma semana e já não haverá dor e começarei a trocar a pele. Não penso permanecer toda a vida como um homem de duas cores.

—OH, Phillip! Como pode brincar com isto? – Aproximou-se e lhe examinou atentamente o peito e os braços. Franziu o cenho quando viu a horrível pele vermelho escura. —Dói muito? Como foi? -Perguntou.

—Se acalme querida. Não tem por que preocupar-se. Eu sou a pessoa ferida.

Phillip gemeu quando com movimentos lentos, começou a recostar-se na cama.

—Mas, Phillip, como pôde acontecer? -Perguntou de novo Christina, completamente desconcertada.

—Tina, é uma história bastante longa e tenho a garganta tão dolorida que não desejo conta-la agora. Estou cansado, dolorido e faminto como um lobo. Por que não trata de conseguir um pouco de alimento?

—Oh, sim, claro! - Explodiu Christina e saiu da tenda. Amine estava junto ao fogo, enchendo duas panelas com um

guisado de delicioso aroma. Christina se aproximou enfurecida. —É insuportável! Não quer responder a minhas perguntas.

Somente quer comer! -Gritou Christina. —Christina, o xeque Abu certamente sofre muito. E não deseja

que você saiba que está grave. —Tem razão. Está sofrendo e eu penso unicamente em mim

mesma. Necessitei deste pesadelo para que eu compreendesse quanto o amo.

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—É evidente que te professa muito afeto - disse Amine. —Tenha paciência, Christina. Quando tiver descansado te relatará tudo o que ocorreu. Agora ambos precisam comer. Vêem comigo.

—Tem razão. Parece-me que levo vários dias sem comer. —Esteve fora do acampamento três dias com suas noites. —Três dias! Mas, como é possível? - Disse Christina. —Como

posso me haver ausentado tanto tempo? —O xeque Abu certamente poderá explicá-lo. Todos desejamos

saber o que ocorreu. Mas agora vêem; tem que comer. Christina não pôde opor-se ao convite e voltou para a cabana

com Amine. Amine levou o alimento de Phillip ao dormitório, onde Maidi continuava curando-o e depois partiu.

"Sinto-me tão envergonhada, pensou Christina enquanto devorava o guisado. Phillip deve sofrer muitíssimo e eu exijo explicações quando ele não está em condições de oferecer. Tenho que esquecer isso e me ocupar de que ele se cure. Dir-me-á isso quando se sentir melhor... ou não? Não lhe agrada responder às perguntas. Bem, agora terá que falar. Este assunto também me concerne !"

Christina tinha esquecido suas próprias feridas e os golpes recebidos. Tinha os olhos e as bochechas ainda inchados e doloridos, mas isso não a incomodava para comer ou para falar.

Sua túnica era um desastre... Estava completamente coberta de terra. Sentia-se pegajosa, mas como podia banhar-se quando Phillip estava obrigado a permanecer deitado? Era muito perigoso ir sozinha. Quando ela terminou de comer, Syed entrou na cabana trazendo em cada mão um cubo de água.

—O xeque Abu ordenou que te trouxesse água. Disse que durante uns dias terá que te lavar assim -disse Syed enquanto depositava no chão os cubos.

Era evidente que a missão não lhe agradava e Christina sentiu desejos de rir, mas não o fez.

—Obrigado, Syed. É muito amável. Maidi saiu do dormitório e ao fim Christina ficou sozinha na

cabana com Phillip. Decidiu lavar-se no dormitório. Alguém podia entrar na cabana e vê-la nua, mas por outro lado ela desejava estar perto de Phillip. Aproximou-se do gabinete para retirar toalhas e sabão, e depois levou os cubos à habitação próxima.

—Phillip, dorme? -Perguntou. —Não. —Desejo me banhar aqui, onde estou mais protegida; mas se te

incomodo, irei. —Não me incomoda. Em realidade, desejava que te lavasse

aqui. Mais ainda, desejava verte o quanto antes. —OH, que homem! -Replicou ela, zangada.

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Mas quando viu a gordura que em uma espessa capa lhe cobria a metade superior do corpo, pos-se a rir.

—Que demônios te parece tão divertido? -Perguntou ele. —Desculpa -riu Christina. — Mas tem um ar tão ridículo. Ainda

não te viu em um espelho? —Não, não me vi... E você? —O que quer dizer? -Perguntou Christina. —Sugiro que olhe sua própria imagem em um espelho antes de

rir da minha. Christina se apoderou do espelho e conteve uma exclamação

quando viu seu próprio rosto. —Oh, meu Deus... Esta não sou eu! Que rosto tão horrível.

Agradaria-me pegar com um chicote ao bastardo que me golpeou! —Caramba, Tina... É necessário que use uma linguagem tão

grosseira? Não acredito que seja próprio de uma dama. —Próprio de uma dama! Olhe-me à face, Phillip. Este rosto

inchado e machucado é a face de uma dama? Não se golpeia as damas; mas me castigaram.

—E agora que penso nisso, além de que não fala como uma dama, com essa túnica e essas calças tampouco o parece -sorriu Phillip.

—Phillip, está exagerando. Antes de me insultar por minha aparência, por que não olha um pouco a tua? -Replicou a jovem com expressão altiva, enquanto lhe entregava o espelho. —Agora, me diga quem dos dois tem pior aspecto.

—Tem razão, querida. Desta vez você ganha. Por que não te lava? Assim poderemos terminar esta ridícula discussão e descansar um pouco.

—O que você diga amo. Mas visto que já não pareço uma dama, não vejo motivo para me comportar como se o fora.

Desatou a túnica e a deixou cair ao chão. Com movimentos lentos tirou as demais peças.

—Que demônios significa o que acaba de dizer? -Perguntou Phillip.

—OH... Nada -sorriu Christina e começou a esfregar o corpo da cabeça aos pés. Sabia que Phillip a olhava, e por estranho que parecesse, isso não a incomodava no mais mínimo. Antes a envergonhava despir-se frente à Phillip, mas agora lhe agradava o efeito que tinha nele a contemplação de seu corpo.

—Christina, possivelmente seja melhor que te lave na habitação próxima. -Ele parecia irritado e Christina adivinhou a razão.

—Mas, por que, Phillip? -Replicou com ar inocente. — Quase terminei e de todos os modos se te incomoda me olhar, pode fechar os olhos.

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Christina ouviu gemer Phillip e de repente se irritou consigo mesma; não estava bem brincar com Phillip. Um mês, e inclusive uma semana atrás, lhe teria agradado enfurecer Phillip. Mas agora desejava unicamente que ele se curasse. Desejava sentir novamente a força de seus braços.

Depois de secar-se, Christina soltou os cabelos e os penteou um pouco antes de aproximar-se da cama.

—Christina, espera. Acredito que será melhor que eu durma uns dias no divã... Até que esta maldita dor desapareça.

Ela pareceu ofendida um momento, mas depois seu rosto mostrou uma expressão decidida.

—Não fará nada do gênero. Serei eu que dormirei no divã. Não tem sentido que te mova depois de ter achado uma postura cômoda. –Aproximou-se da arca e retirou uma das túnicas que usava para dormir.

—Christina, não permitirei que durma sozinha nessa habitação. —Não está em condições de discutir comigo. -Colocou a túnica e

a assegurou à cintura, e depois começou a subir as largas mangas. —Agora, te acalme e descansa bem. Ver-te-ei pela manhã.

—Sério? Christina se virou e o olhou com expressão afetuosa. —Isso é o que te incomoda... A possibilidade de que fuja durante

a noite? Que vergonha, Phillip. Não estaria bem que eu fugisse agora, quando você não pode se mover. Além disso, não confio em seu condenado deserto. Dou-te minha palavra de que estarei aqui pela manhã.

—Sua palavra tem valor? —OH, é insuportável! Terá que esperar até manhã para

descobrir a resposta a sua pergunta. E agora, boa noite. Dito isto, saiu do dormitório e se deitou no divã solitário. Bem,

pelo menos era cômodo. Não, não desejava dormir ali; tivesse querido dormir na cama, com Phillip. Mas é obvio, ele tinha razão. Podia tocá-lo durante a noite e machuca-lo, e ela não desejava que isso ocorresse. Queria que ele melhorasse quanto antes.

Agora que sabia que o amava e que ele era seu destino já não podia rechaçá-lo ou lhe negar nada. Mas, como podia explicar sua mudança de atitude sem lhe falar de seu amor? Talvez ele acreditasse que Christina estava agradecida porque a tinha salvado. Sim, era possível que acreditasse isso. Ou possivelmente simplesmente não soubesse a que ater-se.

Mas já que tinha cedido, o que ocorreria se Phillip se cansava dela já que ao fim se impôs? Não... Phillip não era assim. Certamente há quereria um pouco, porque do contrário não teria ido salva-la. Christina não suportaria que agora ele a rejeitasse. Nem

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sequer se importava com o casamento. Só desejava permanecer com Phillip.

Possivelmente tivessem filhos. Isso os uniria mais. Um menino... Um filho! Assim tudo se arrumaria, pois ele não poderia afastar de seu lado à mãe de seu filho. A vida poderia ser tão maravilhosa!

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CAPÍTULO 18

Christina achava que fazia uma eternidade que estava correndo.

Os quilômetros pareciam intermináveis, mas ela não chegava a nenhuma parte. Só via mais areia... Areia em qualquer parte e um sol implacável que a golpeava. Mas atrás estava dela estava a morte e ela não tinha outra opção que fugir. As pernas doíam terrivelmente, e parecia que se desprenderam de seu corpo. O peito doía cada vez que respirava, mas a morte continuava perseguindo-a. Tinha que correr mais velozmente... Escapar dali! Ouviu que a morte pronunciava seu nome. Olhou para trás e o medo a dominou porque esta se aproximava mais e mais. O corpo se cobriu de suor devido ao medo. Voltou a ouvir seu nome, mas Christina continuou correndo e rogando que um milagre a salvasse. Agora a voz de um homem era cada vez mais estridente e insistia em pronunciar o nome de Christina. Ela voltou a olhar para trás. Meu Deus, já estava em cima e estendia as mãos; e de repente, ela viu seu rosto. Era esse indivíduo horrível que a tinha golpeado, e agora queria matá-la.

—Phillip! Onde está? —Christina! Christina se levantou bruscamente do divã, os olhos assustados

muito abertos. Mas se serenou quando viu o ambiente conhecido da tenda.

Sorriu. Tinha sido um sonho... Um sonho estúpido. Enxugou a transpiração da frente. Maldição, hoje faria muito calor.

—Que estúpido fui. Não devia confiar nela. Christina se perguntou com quem estaria falando Phillip.

Levantou-se depressa e entrou no dormitório. Quando abriu as cortinas viu Phillip sentado sobre o bordo da cama, tentando colocar as calças.

—Phillip, que demônios está fazendo? Ainda não deve se levantar –repreendeu-o Christina. Passeou o olhar pela habitação, mas não viu ninguém. —E com quem estava falando?

Phillip a olhou, no rosto uma expressão surpreendida, um segundo depois se converteu em irritação.

—Onde demônios estava? —O que? —Onde estava, droga? Faz dez minutos que estou te chamando.

Onde estava? -Gritou. —Há pouco tempo falava sozinho. Bem, é um estúpido se não

pode me ter nem sequer um pouco de confiança. Estava no divã, dormindo. Disse-te que não iria e minha palavra vale tanto como a tua.

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—Então, por que não me respondeu? —Phillip, tive um pesadelo. Sonhei que esse homem que me

golpeou me perseguia através do deserto. O sonho era tão vívido... Pensei que ele pronunciava meu nome. Quando despertei, ouvi que você estava murmurando.

—Está bem, lamento por ter pensado mal. Phillip se levantou da cama e tratou de vestir as calças. —Phillip, não deveria te levantar –apressou-se a dizer Christina

quando viu a expressão dolorida no rosto dele. —Tina, permanecerei deitado, mas nesta cabana faz muito calor.

E a decência exige que me vista. Christina se aproximou e lhe ajudou a vestir as calças e depois o

obrigou a recostar-se novamente. —Phillip, posso te trazer comida? —Por isso te chamava. Tenho muito apetite. Christina começou a sair da habitação e de repente se voltou. —Depois de trazer a comida, dir-me-á como te queimou? —Agora te direi uma só coisa. Não precisa ter pesadelos com

esse homem... Está morto. —Morto! -Exclamou Christina. —Como? —Eu o matei. —Phillip! Por que teve que mata-lo? Por mim?

—Supunha que desejava vê-lo morto! —Tivesse sido necessário castiga-lo com um chicote, não lhe

assassinar. - Christina experimentou uma sensação de náusea... Phillip tinha matado um homem por ela.

—Esse homem também feriu Ahmad e eu prometi a Syed que pagaria pelo que tinha feito. Agora não me agrada te-lo matado, mas de todos os modos o teriam executado por desobedecer as ordens. Esperava sua morte quando cheguei ao acampamento. Pelo menos comigo teve uma oportunidade... Os dois estávamos armados.

—Mas, por que tiveste que fazê-lo você? —Droga, Tina! Quando vi como tinha te castigado, dominou-me

a cólera. E quando descobri que era o mesmo homem que tinha ferido a Ahmad... Tive que fazê-lo. De todos os modos, esse indivíduo teria morrido às mãos de sua própria tribo. Além disso, já me haviam dito que eu morreria de morte lenta, de modo que se esse homem vencia tivesse podido me economizar a tortura.

—Por que tinha que morrer? Possivelmente por isso está queimado... Queriam te queimar vivo?

—Sim. —Por quê? —Tina, como disse ontem à noite é uma história bastante larga.

Por favor, posso comer antes de falar?

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Ela assentiu sem dizer mais, e saiu da habitação. Mas não teve que abandonar a tenda, porque sobre a mesa a

esperava uma bandeja com mantimentos. Christina sorriu e pensou: Amine, sempre se adianta a meus pensamentos. Christina levou a comida ao dormitório, e insistiu em alimentar pessoalmente Phillip. Sabia que o movimento mesmo dos braços o fazia sofrer.

Também ela comeu, e esperou a que ele se saciasse antes de dizer uma palavra. Era necessário responder a muitas perguntas. Por que queriam matar Phillip?

Quando terminaram de comer, Christina retirou a bandeja, voltou e colocou uma saia e uma blusa. Phillip a olhou sem dizer uma palavra. Quando terminou, sentou-se na cama, ao lado de Phillip.

—Está disposto agora? -Perguntou a jovem. Phillip lhe relatou a história completa. Ao princípio ela reagiu

com cólera... Sobre tudo quando soube que a tinham usado para atrair Phillip a sua própria destruição. Mas depois lamentou por Hejaz, que tinha vivido todos esses anos dominado pelo ódio. Possivelmente era melhor que ela tivesse passado esses dias no sonho provocado por drogas. Não tivesse podido suportar o espetáculo do sofrimento de Phillip.

Quando lhe relatou como tinha escapado, Christina agradeceu a Deus que Amair tivesse tido coragem para ajudá-lo. Phillip tinha mencionado a angústia e a dor que tinha suportado sob o sol ardente. Havia uma dificuldade: Não podia agradecer a Phillip que a tivesse salvado. Isso tivesse equivalido a reconhecer que preferia estar com ele; em efeito, seus seqüestradores a houvessem devolvido ao John, e agora ela não se atrevia a lhe dizer quanto o amava, visto que não lhe devolvia esse sentimento.

Christina olhou meigamente Phillip. Quanto tinha sofrido para salva-la. Sentiu que tinha certa esperança...possivelmente a amasse!

—Phillip, por que foi me buscar?- Perguntou. —É minha, Tina. Ninguém tira o que é meu. A Christina endureceu o rosto. Separou-se da cama e com

passos lentos saiu da habitação. Isso era o que significava para ele. Uma propriedade que podia usar até que se cansasse; mas não permitia que ninguém a tirasse. Tinha sido uma estúpida. O que esperava que dissesse... Que tinha vindo a procurá-la porque a amava? Que não podia suportar a idéia de perdê-la?

De repente, deteve-se. Não tinha direito a zangar-se ante a resposta de Phillip. Pretendia muito. Pelo menos, Phillip havia dito que ela era dele e isso era o que Christina desejava ser. Só necessitava tempo... Tempo para conseguir que ele a amasse, tempo para lhe dar um filho que os unisse.

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Christina necessitava algo que afastasse sua mente de Phillip. Aproximou-se do gabinete e tomou um dos livros que havia lhe trazido; depois se sentou em seu leito provisório e começou a ler.

Uns minutos depois Rashid entrou na loja. Quando viu Christina, em seu rosto se desenhou à surpresa. Christina se mostrou igualmente surpreendida, porque sabia da advertência de Phillip para que seu irmão Rashid não entrasse diretamente na tenda.

—O que... Faz aqui? -Perguntou Rashid depois de um silêncio estranhamente prolongado.

—Vivo aqui... Acaso poderia estaria em outro local? -Disse ela rindo.

—Mas você... Como chegou? —O que te passa, Rashid? Ninguém te explicou o que ocorreu?

Seqüestraram-me e seu tio quase matou Phillip; mas conseguiu escapar e me trouxe de volta. Acreditei que sabia.

—Está aqui? —É obvio. Rashid, sua conduta é estranha. Sente-se bem? —Rashid! -Chamou Phillip do dormitório. —Olha ele ai. -disse Christina, que tinha a estranha sensação de

que Rashid não acreditava. — Será melhor que entre, porque ele não pode caminhar.

—O que lhe passa? —Tem graves queimaduras, de modo que será melhor que

permaneça um tempo na cama -replicou Christina. Depois de vacilar um momento, Rashid entrou no dormitório.

Christina o seguiu e se sentou na cama, ao lado de Phillip. —Onde estiveste, Rashid? -Perguntou serenamente Phillip. —Bem... Explorei o deserto, procurando Christina. Retornei a

noite que a levaram e Syed me relatou o que tinha ocorrido. —E Christina não te explicou nossa aventura? —Falou de meu tio. —Me diga uma coisa, Rashid. Sabia do ódio de seu tio a nosso

pai? —Sim, mas meu tio é um ancião. Não acreditei que tentasse

fazer algo a respeito -respondeu Rashid, um tanto nervoso. —Quando disse a Alí Hejaz que nosso pai havia falecido, ele

derrubou sobre mim seu ódio. —Não sabia - murmurou Rashid. —Como resultado de seu bate-papo imprudente, usaram

Christina para me atrair ao acampamento de seu tio. Golpeou-a um homem de sua tribo e seu tio quase conseguiu me matar. -Phillip fez uma pausa e olhou fixamente Rashid. — No futuro te agradecerei que evite mencionar meu nome ou algo que tenha que ver comigo a seu tio... Ou melhor, a ninguém. Se chegasse a ocorrer algo que perturba

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minha vida como resultado de seus comentários, o culparei. Está claro?

—Sim -respondeu nervosamente Rashid. —Agora, pode partir. Preciso descansar. Christina observou Rashid enquanto este saía da habitação, e

depois se virou a olhar Phillip. —Não acha que te mostraste muito duro com ele? Em realidade,

não tem a culpa do que ocorreu. —Sempre tem que defender ao Rashid! A culpa pode

corresponder a muitos... A Amair, que me liberou, mas começou por me seqüestrar; ao pai de Amair, que aceitou o plano; ao Hejaz, que me odeia; e ao Rashid, que subministrou à informação. Que a culpa recaia sobre um e outros, enquanto não se repita o episódio. Não está de acordo, Tina?

—Sim -sorriu docilmente Christina. —Bem, não falemos mais disto. Agora, quer ter a bondade de

me trazer duas garrafas de vinho? Quando me tiver vencido o torpor do álcool, far-me-á o favor de me tirar esta condenada gordura.

—Mas a necessita para acalmar a dor. Necessito várias coisas, mas esta gordura não é uma delas. A

dor já não é tão intensa, mas a gordura me incomoda muito. —OH, está bem; lhe posso tirar isso agora, se o desejar - propôs

ela com ar de inocência. —Não! Primeiro beberei o vinho. A dor se atenuou, mas não

desapareceu. —Sim, amo, o que você diga -brincou ela e saiu da habitação. "Bem, pensou, pelo menos sua atitude está melhorando."

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CAPÍTULO 19

Tinham passado dez dias desde que Phillip levou Christina ao

acampamento. Dez dias de sofrimento, queixa e frustrações. Dez noites miseráveis em seu leito solitário. A dor já tinha desaparecido por completo, e ficava no máximo uma pele parda que começaria a cair poucos dias depois. Abrigava a esperança de que muito em breve recuperasse seu aspecto anterior. E aquela noite... Trataria de que Christina voltasse a compartilhar o leito com ele. Aquela noite voltaria a te-la, depois de esperar tanto tempo.

Phillip se sentia como um menino que espera a Véspera de Natal. De fato, faltavam poucos dias para Natal. Mas aquela noite ele receberia seu presente e era difícil suportar a espera. Tivesse podia ter possuído Christina aquela mesma manhã, mas desejava fazer as coisas bem, de modo que ela não tivesse desculpas.

Phillip tinha reatado sua vida rotineira e inclusive tinha levado Christina para tomar banho. Contemplar a jovem no lago tinha sido uma prova suprema para a força de vontade dele. Mas já tinha chegado à noite.

Christina se achava encolhida no divã, frente à Phillip. Costurava uma túnica para o pequeno Syed e quase tinha terminado; mas sua mente estava distraída. Perguntava-se o que ocorria a Phillip. Ele já se sentia bem, mas ela continuava dormindo no divã. Uma idéia ingrata começava a crescer... O que ocorreria se ele já não a queria mais?

Logo saberia a quem unir-se-ia, porque tinha decidido que essa noite dormiria na mesma cama que Phillip.

—Phillip vou deitar - disse. Ficou de pé e entrou no dormitório, como tinha feito às últimas

dez noites... Para despir-se e usar a túnica de Phillip com a qual dormia. Mas esta noite não pensava usar a túnica, nem retornar ao quarto próximo.

Quando Christina tirou a blusa e a depositou sobre a arca que guardava suas roupas, sentiu uma corrente de ar; abriu-se as cortinas. Mas não se voltou. Começou a desatar os cabelos. Fez o com movimentos lentos porque os dedos lhe tremiam nervosos.

Era o momento que ela tinha esperado. Sabia que Phillip estava na mesma habitação, mas ignorava o que faria. Possivelmente ele se deitasse... Sem lhe pedir nada ou se aproximasse dela. OH, Meu Deus, que ele viesse!

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De repente, Christina sentiu atrás a presença masculina. Virou-se lentamente para olhá-lo, os olhos doces e amante, e os de Phillip dominados por um desejo intenso.

—Christina. Ela se aproximou de Phillip e lhe rodeou o pescoço com os

braços, e aproximou seus lábios aos do homem. Os braços de Phillip a oprimiram estreitamente. Quando a depositou sobre a cama, ela se perguntou se jamais voltaria a ser tão feliz.

Depois de fazer amor, Christina descansou com a cabeça apoiada no ombro de Phillip. Com os dedos desenhou pequenos círculos sobre o pêlo de seu peito. Agora estava segura de uma coisa... Phillip ainda a desejava. E enquanto a desejasse, não a obrigaria a afastar-se.

Sentia-se muito feliz para dormir e lhe pareceu surpreendente não sentir-se culpada depois de haver-se entregue sem resistência a Phillip. Mas, por que sentir-se culpada de sua própria entrega? Amava-o e era muito natural que desejasse fazê-lo feliz. Desejava entregar-se por completo ao homem a quem amava. E era um gozo mais que quando ela se entregava a Phillip ele por sua vez oferecesse o maior prazer concebível.

E de todos os modos, o que era o casamento? Nada mais que um contrato assinado que podia mostrar-se à civilização. Bem, ela não estava vivendo precisamente em um mundo civilizado e o que importava era o que sentia. Ao demônio com o mundo civilizado! Não estava aqui para condená-la e ela não pensava retornar a ele.

Mas tinha que pensar em John. —Phillip, está acordado? —Como posso dormir se está me acariciando? - Replicou ele com

bom humor. Christina se sentou na cama e o olhou. —Phillip, posso escrever a meu irmão para lhe dizer que estou

bem? —Isto te faria feliz? -Perguntou. —Sim. —Então, escreva. Ordenarei a Saadi que entregue sua carta;

mas não diga a seu irmão onde está. Não me agradaria que todo o exército britânico aparecesse na montanha.

—OH, Phillip, obrigado! -Exclamou, e se inclinou e o beijou meigamente.

Mas Phillip a rodeou com os braços e não lhe permitiu afastar-se.

—Se tivesse sabido que resultados obteria, te teria permitido antes escrever a seu irmão - disse sorrindo.

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Rodou na cama com Christina nos braços, e nenhum dos dois pôde pensar já em outra coisa.

À manhã seguinte, Christina despertou consciente de que tinha ante si uma tarefa urgente. Depois recordou que tinha pensado em escrever para John. Entusiasmada começou a levantar-se. E então sentiu a mão de Phillip que descansava preguiçosa entre seus seios e uma excitação diferente a capturou.

Ele continuava dormindo e não havia nada tão importante que a fizesse se afastar de seu lado. Christina pensou fugazmente na possibilidade de desperta-lo, mas então os olhos de Phillip se abriram lentamente e lhe sorriu.

—Pensei que já estaria escrevendo sua carta -disse sonolento e a mão se moveu um pouco, aferrando o seio firme e redondo.

—Dormia com tanta serenidade que não quis lhe incomodar -mentiu ela. —Tem apetite?

—Só de ti, querida. Phillip sorriu e pôs os lábios no outro seio e uma quebra de onda

de fogo percorreu o corpo de Christina. —Não quero negar alimento a um homem faminto -murmurou

ela e o abraçou enquanto ele estreitava seu corpo. Depois, Amine pediu permissão para entrar; nesse mesmo

instante, Christina e Phillip saíam do dormitório. Quando Amine entrou com o café da manhã e viu a alegria no rosto de Christina, sentiu-se muito feliz por sua amiga.

—Acredito que será um formoso dia observou alegremente Amine, enquanto depositava sobre a mesa a bandeja.

—Sim, um belo dia -suspirou satisfeita Christina, sentando-se no divã. Ruborizou-se profundamente quando viu que Phillip a olhava com ar inquisitivo, pois ela ainda não tinha saído da cabana e não podia ter idéia do tipo de dia que era.

—Ah... Como está o pequeno Syed? -Perguntou, tratando de ocultar seus sentimentos.

—Muito bem -disse Amine, a quem a pergunta não enganava. —Agora vai a todas partes com seu pai, e Syed se alegra de te-lo consigo.

—Também me alegro -replicou Christina, que tinha conseguido recuperar o aprumo. — Assim tem que ser. OH... Quase terminei a túnica do pequeno Syed. A levarei depois.

—É muito amável, Christina -Amine sorriu timidamente. Nunca tinha tido uma amiga como Christina, que se mostrava tão bondosa e lhe dedicava muito tempo. Adorava-a muito, e faria qualquer coisa por ela. — Ver-te-ei mais tarde.

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Durante todo o café da manhã Phillip olhou fixamente Christina, e esta se sentiu nervosa e aflita. Quando terminaram de comer, ele decidiu a falar.

—Antes de retornar a Inglaterra estava acostumado a escrever para Paul e em meu armário encontrará os utensílios necessários para escrever. Irei dizer ao Saadi o que tem que fazer e depois retornarei.

Apenas Phillip abandonou a tenda, Christina entrou no dormitório. Enchia de felicidade a idéia de voltar a comunicar-se com John e lhe dizer que estava bem. Encontrou a caixa que continha os utensílios de escrever, e retornou à habitação principal. Sentou-se e, em poucos minutos, começou a carta.

Querido irmão Me perdoe John, por não lhe haver escrito antes, mas

recentemente tive a idéia de fazê-lo. Começarei te dizendo que me sinto perfeitamente bem, tanto de corpo como de espírito, e que sou muito feliz.

Provavelmente acredita que morri, porque passaram meses. Lamento ter provocado sua angústia, mas desejava que pensasse assim. Ao princípio não sabia o que seria de mim, de modo que era melhor que você não soubesse que eu vivia. Mas agora tudo mudou.

Não pense mal de mim quando souber que estou vivendo com um homem. Não desejo te dizer quem é, porque isso não importa. O que importa é que o amo e desejo continuar com ele. Não estamos casados, mas tampouco isso importa. Enquanto eu saiba que ele me deseja, sentir-me-ei feliz.

O homem a quem amo é o mesmo que me separou de ti e ao princípio o odiei. Mas a convivência diária converteu lentamente o ódio em amor. Nem sequer sabia que tinha ocorrido esta mudança até que faz duas semanas ele quase me perdeu. Mas depois aprendi que desejo continuar sempre com ele. Não sei se me ama ou não, mas espero que à medida que passe o tempo chegue a me querer.

Possivelmente no futuro se case comigo, mas embora não o faça permanecerei com ele até que já não me deseje. Diria onde estou, mas ele não quer. No fundo de meu coração sei que um dia voltarei a ver-te. Até esse momento, rogo-te que não se preocupe por mim. Sinto-me feliz aqui e não necessito nada.

John imploro-te que não me julgue com dureza porque não possa evitar o que meu coração sente por este homem. Faria o que fora por ele. Por favor, me compreenda e me perdoe se te fiz sofrer. Sabe que não o teria feito intencionadamente. Desejava-me e tomou. E como diz

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ele, é o costume deste país e agora eu o amo e o desejo mais que a nada. Trata de compreender minha situação. Amo-te Crissy

Christina fechou a carta. O que escreveu lhe trouxe satisfação, mas não podia permitir que Phillip visse a carta. Preparou-se para sair da cabana e procurar Saadi, e nesse momento entrou Phillip.

—Querida, se tiver terminado sua carta a entregarei ao Saadi. Espera lá fora.

—Não -disse ela com voz um tanto tensa. —Eu a darei. Phillip a olhou com expressão interrogativa. —Não haverá dito onde está a seu irmão, verdade? —Phillip, pediu-me que não o fizesse e não o fiz. Dou-te minha

palavra. Se não confiar agora em mim, jamais o fará. —Está bem. Pode entregar a carta a Saadi -disse ele e lhe deu

passo. Saadi esperava montado em seu cavalo. Christina lhe entregou

a carta e murmurou: —Vá com Deus. Dirigiu-lhe um tímido sorriso, depois esporeou ao cavalo e

começou a descender a ladeira da montanha. Christina o olhou até que desapareceu da vista. Depois, virou-se para Phillip, que estava a seu lado, e apoiou a mão nervosa no braço do homem.

—De novo obrigada, Phillip. Sinto-me muito melhor agora que John saberá que estou bem.

—Querida, isso não justifica outro beijo? —Sim, justifica-o -replicou ela. E lhe rodeou o pescoço com os braços e obrigou Phillip a baixar

a face para aproximá-la a seus próprios lábios.

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CAPÍTULO 20

Christina estava encolhida no divã e contemplava distraída com a xícara que tinha nas mãos e que continha o chá da manhã. Tratava desesperadamente de recordar o que lhe havia dito Phillip aquela manhã antes de sair. Tinha sido muito cedo e ela estava tão cansada por causa da noite passada, que não se despertou de tudo para escutá-lo.

Havia dito algo a respeito da assinatura de um acordo com o xeque Yamald Alhabbal, com o fim de assegurar que as duas tribos não disputassem pela água que compartilhavam. Certamente pretendia consertar um encontro das tribos, com objeto de celebrar a renovada amizade dos dois grupos. Ausentar-se-ia todo o dia e possivelmente também à noite.

Tudo parecia tão impreciso Christina que se perguntou se não o teria sonhado. Mas, se tinha sido um sonho, onde estava Phillip? Não o tinha visto na cama quando conseguiu despertar por completo. E Amine lhe disse depois que o tinha visto conversando com Rashid na primeira hora da manhã, junto ao curral, e que logo Phillip tinha saído do acampamento a cavalo.

De repente Christina se sentiu muito sozinha. Phillip nunca se ausentou um dia inteiro... Com a única exceção da vez que a tinham seqüestrado. Era bastante cedo e já ela o sentia falta. Que demônios podia fazer durante todo o dia?

Possivelmente tivesse esquecido de ler algum dos livros da coleção que havia lhe trazido Phillip. Aproximou-se do gabinete onde guardava os livros e começou a repassá-los. Mas, antes que pudesse terminar o exame, Rashid pediu permissão para entrar.

Christina se levantou e alisou a saia antes que o árabe entrasse. Começou a sorrir, contente de que tivesse vindo alguém com quem conversar um momento; mas não o fez quando viu a expressão grave no rosto de Rashid.

—Do que se trata, Rashid? O que ocorreu? -Perguntou com voz premente.

—Christina tenho algo para ti. Da parte de Abu. Correu para Rashid e com um movimento nervoso recebeu o

pedaço de papel que lhe entregou. Mas temia abri-lo. Por que estava tão nervoso Rashid? Por que lhe tinha deixado uma nota Phillip? Mas estava adotando uma atitude tola. Provavelmente era uma surpresa, ou possivelmente uma desculpa porque essa manhã a tinha abandonado tão bruscamente, quando ainda estava meio dormida.

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Christina se aproximou do divã e se sentou com a nota na mão. Com movimentos lentos desdobrou o papel e começou a ler:

Christina

Pedi ao Rashid que te leve de retorno com seu irmão. Não acreditava que pudesse ocorrer isto, mas os fogos se apagaram e não tem sentido que continuemos. Devolvo-te sua liberdade, que é o que sempre desejou. Quero que parta antes que eu retorne. Será melhor assim. Phillip

Christina moveu lentamente a cabeça, olhando incrédula a nota. Não... Não estava certo! Tinha que tratar-se de uma espécie de brincadeira cruel. Mas, por que se sentia tão mal? Nem sequer tinha consciência das lágrimas que começavam a lhe brotar nos olhos, mas notava um nó sufocante na garganta e uma opressão no peito. Tinha as mãos frias e pegajosas quando enrugou o pedaço de papel e o converteu em uma miúda bola.

—Meu Deus, por que... Por que tem que me fazer isto? -Murmurou com voz rouca.

As lágrimas fluíram livremente por suas bochechas e as unhas lhe afundaram profundamente na palma da mão quando apertou o pedaço de papel que tinha destruído sua vida. Mas não sentia nada, só a angústia que a consumia.

Rashid permanecia frente a ela e apoiou brandamente a mão no ombro da jovem.

—Christina devemos partir agora. —O que? Christina o olhou como se nem sequer soubesse quem era. Mas

pouco a pouco se recuperou, e de repente sentiu que odiava intensamente Phillip. Como podia despedi-la assim, tão cruelmente?

—Não! -Exclamou, com a voz carregada de emoção. — Não vou partir. Não me jogaram como se fosse uma camisa velha. Aqui ficarei e falaremos. Que me diga pessoalmente que não deseja ver-me. Não lhe facilitarei as coisas.

Rashid a olhou, surpreso. —Mas acreditei que desejava voltar com seu irmão. Você mesma

me disse que as coisas não partiam bem entre você e Abu. —Mas isso foi faz muito tempo. Depois, tudo mudou. Rashid,

amo-o. —Não o disse? —Não - murmurou Christina. —Como podia dizer-lhe se não

sabia quais eram seus sentimentos? Mas agora sei o que fazer.

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—Sinto muito, Christina. Mas não pode ficar aqui. Ordenou-me que saísse antes de sua volta.

—Bem, não irei. Que diga na cara que já não me deseja. Rashid parecia desesperado. —Christina, temos que partir! Não lhe queria dizer isso, mas

você me obriga. Abu já não te deseja. Quer te afastar e casar-se com Nura logo que retorne.

—Disse-lhe isso? —Sim -disse Rashid com voz neutra e os olhos baixos. —Quando? —Esta manhã... Antes de partir. Mas o mencionou outras vezes.

Estava certo que se casaria com Nura. Agora, partamos de uma vez. Ajudar-te-ei a reunir as coisas.

Não tinha sentido prolongar a tortura. Christina passou ao dormitório e abriu as cortinas. Desejava olhar por última vez a habitação onde tinha passado tantas noites felizes. Por que tinha que sentir assim... Por que tinha se apaixonado por Phillip? Se tivesse contínuo odiando-o, agora se teria considerado a mulher mais feliz do mundo. Em troca, tinha a impressão de que sua vida tinha terminado.

Depois, recordou que não podia cavalgar no deserto tal como vestia agora. Aproximou-se da arca que guardava todas suas roupas, retirou a túnica de veludo negro e a kufiyab, e se vestiu depressa.

Não desejava levar consigo nada, exceto as roupas que vestia... Nem sequer o pente de prender o cabelo com pedras de rubis. Recordou sua surpresa quando Phillip a deu de presente em Natal. Jogou-a sobre a cama porque não desejava nada que recordasse Phillip . Mas quando viu o espelho que Rashid lhe tinha agradado, Christina pensou em Amine. Recolheu-o e saiu do dormitório.

—Christina, devemos reunir suas coisas. A jovem se virou para olhar Rashid. —Não levarei nada que tenha me dado Phillip. Desejo

unicamente me despedir de Amine ... E lhe entregar isto -disse Christina mostrando o espelho. — Não quero nada que me recorde este lugar. Mas Amine foi uma boa amiga e desejo lhe dar de presente algo. Compreende-me, verdade?

—Sim. Depois de dirigir um último olhar ao quarto principal, Christina

saiu com passo rápido. Deteve-se frente à cabana de Amine e chamou. Poucos momentos depois, a jovem árabe saiu a recebê-la e Christina posse a chorar de novo.

—O que ocorre? -Perguntou Amine, que correu a abraçar sua amiga. Christina tomou a mão de Amine e depositou nela o espelho.

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—Quero te dar de presente isto. Recorda que te amo como a uma irmã. Parto e venho me despedir.

—Aonde vai? Retornará logo? -Perguntou Amine, mas em realidade já tinha adivinhado que jamais voltaria a ver seu amiga. —Retorno com meu irmão e não voltarei. Te sentirei falta Amine. Foste uma boa amiga.

—Mas, por que, Christina? —Isso não importa. Não posso permanecer mais tempo aqui. Se

despeça de Syed e seus irmãos e lhes diga que lhes desejo felicidade. Beija por mim ao pequeno Syed e aos meninos. Eu choraria muito se os beijasse. -Sorriu fracamente e depois a abraçou. — Freqüentemente pensarei em ti. Adeus.

Christina correu ao curral, onde Rashid esperava com os cavalos. O árabe a ajudou a montar Corvo e ambos saíram do acampamento. Quando tinham descido parte da ladeira, Christina parou e voltou os olhos para o acampamento. Através das lágrimas viu a figura de Amine, de pé no topo da colina, agitando a mão em que sustentava o espelho.

Depois, Christina cravou os calcanhares nas costelas de Corvo, e iniciou uma carreira desenfreada. Rashid a chamava a gritos, mas ela não se detinha. Desejava morrer. Sentia que já não ficava nada pelo qual viver. Se morria na montanha de Phillip talvez ele se sentisse culpado o resto de sua vida. Mas, por que tinha que lhe dizer que não podia viver sem ele? Se já não a desejava, não podia considerar culpado Phillip. E ela continuava amando-o. Abrigava a esperança de que fora feliz com Nura, se era aquilo o que ele desejava.

Christina obrigou a Corvo a partir mais lentamente. Pensaria em outro modo de acabar com sua própria vida. Mas tinha que esperar, de modo que Phillip não se inteirasse. Pensou em Margiana, e em que se havia suicidado por causa de Yasir. Agora Christina compreendia cabalmente a angústia e o sofrimento que uma mulher podia sentir.

O calor do deserto era entristecedor, mas Christina não o sentia. Estava tão curvada pelo sofrimento que nela não havia lugar para outra coisa. Não podia entender por que lhe tinha ocorrido aquilo.

A noite chegou, passou e voltou a sair o sol, mas Christina não podia achar paz.

As perguntas a atormentavam. Tentava achar respostas, mas não encontrava nenhuma. Por que... Por que não a desejava já? Era a mesma que quatro meses atrás. Sua aparência era a mesma... Só seus sentimentos tinham mudado. Por que Phillip lhe tinha feito aquilo?

Possivelmente porque ela tinha cedido? Ele a tinha afastado porque já não lhe oferecia resistência? Mas isso não era justo... Além

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disso, não podia ser a razão, porque neste caso a teria despedido um mês antes.

E o que podia dizer deste último mês? Tudo tinha sido tão formoso... Tão maravilhoso e perfeito por onde o olhasse. Phillip tinha parecido um homem feliz e satisfeito, exatamente o mesmo que podia dizer dela. Tinha passado mais tempo com Christina. Juntos tinham saído a cavalgar todos os dias. Contou sobre seu passado e lhe tinha revelado muitas coisas de si mesmo. Então, o que significava aquilo? Por que tinha mudado? Por quê? Por quê?

As perguntas não lhe permitiam dormir. Permaneceu acordada durante o calor do dia, descansando e pensando nas mesmas coisas, sem poder achar a paz. Aceitou o pão e a água que Rashid lhe ofereceu e comeu mecanicamente, mas sua mente não lhe permitia descansar voltava uma e outra vez aos mesmos questionamentos tratando desesperadamente de achar uma solução. Voltou a cair à tarde; Rashid e Christina continuaram viagem.

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CAPÍTULO 21

"Droga; outro dia quente", pensou irritado John Wakefield sentado frente a seu escritório enquanto revisava a correspondência da manhã. Era inverno. Não fazia tanto calor como os primeiros tempos de estar neste país horrível, mas aquela última semana sem chuva havia trazido dias calorosos e úmidos. O maldito tempo começava a irritá-lo.

Pelo menos, lhe oferecia a perspectiva de ver aquela noite Kareen Hendricks. A doce e bela Kareen. John agradeceu a sua boa sorte que o tinha induzido a aceitar o convite de William Dowson para ir a Opera; se tivesse recusado ir não teria podido conhecer Kareen.

Um arrepiou percorreu o corpo de John quando recordou o inferno que tinha suportado durante os primeiros três meses no Egito. Mas tudo tinha mudado depois de receber a carta de Crissy... E também sua sorte tinha mudado.

Uns golpes na porta de John interromperam seus pensamentos. —O que há? -Resmungou John. Abriu-se a porta e o sargento Towneson entrou no estufa

sufocante que era o despacho de John. Era um homem arrumado, que dobraria a idade de John, de cabelos avermelhados e espesso bigode do mesmo vermelho intenso.

—Tenente, um árabe quer falar com você. Diz que é um assunto importante - explicou.

—Não é o que mesmo dizem todos? Entendo que estamos aqui para manter a paz, mas essa gente não poderia ir a outros com suas mesquinhas disputas?

—Assim deveria ser, senhor. Estes malditos egípcios não entendem que estamos aqui sobre tudo para evitar que venham os franceses. Trago-lhe este homem?

—Imagino que não há outra alternativa, sargento. Droga... Alegrar-me-ei quando puder sair deste país.

—O mesmo digo, senhor -disse o sargento Towneson, saindo em busca do árabe.

Um momento depois John ouviu fechar brandamente a porta e, elevando os olhos, viu um árabe alto que se aproximava do escritório. O jovem era o árabe era o mais alto que John conheceu, mais alto inclusive que o próprio John Wakefield.

—Você é John Wakefield? -Perguntou o jovem parando na frente ao escritório de John.

—Tenente Wakefield -corrigiu-o John. — Posso perguntar seu nome?

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—Meu nome não importa. Vim procurar a recompensa que você prometeu pela devolução de sua irmã.

"Outro homem que vem com a mesma música, pensou John. A quantos homens ambiciosos e oportunistas, ladrões sem escrúpulos, terei que suportar ainda?" Tinha perdido a conta das muitas pessoas que o tinham visto e afirmado que tinham informações... Dados falsos com os quais pretendiam obter a recompensa. A maioria se burlava quando John lhes dizia que primeiro teria que comprovar a informação. Desse modo tinha realizado muitas buscas infrutíferas na cidade e o deserto.

Inclusive depois de receber a carta de Crissy, entregue por um jovem árabe que tinha fugido imediatamente, John não tinha renunciado à busca. Desejava acreditar que ela era feliz onde estava, mas tinha que comprova-lo com absoluta certeza. Depois de tudo, teria podido ser uma mentira. Possivelmente a tinham obrigado a escrever essa nota. Adoraria pôr as mãos sobre o homem que tinha seqüestrado Crissy, e que a tinha por amante em lugar de casar-se com ela. John obrigaria o maldito a casar-se com ela!

—Não deseja recuperar a sua irmã? —Desculpe -disse John. — Distraí—me. Sabe onde está minha

irmã? —Sim. —E pode me levar até ela? —Sim. Este homem era diferente. Não vacilava em suas respostas como

tinham feito os outros. John entreviu uma luz de esperança. —Como sei que me diz a verdade? Enganaram-me muitas vezes. —Posso pergunta uma coisa? —É obvio. —Como sei que me dará o dinheiro quando o reúna com sua

irmã? Uma boa pergunta pensou John com expressão sombria. Abriu

a última gaveta de seu escritório e retirou um saquinho muito pesado. —Preparei este dinheiro desde o dia que seqüestraram Christina.

Pode contá-lo se o deseja, mas lhe asseguro que a soma total prometida está aqui e que será sua se disser a verdade. O dinheiro não me importa. Simplesmente desejo recuperar Christina. -John se interrompeu e estudou o rosto do jovem. — Me diga... Como sabe onde está minha irmã?

—Esteve vivendo em meu acampamento. —John ficou de pé tão velozmente que a cadeira caiu ao chão. Você é o homem que a seqüestrou? —Não -replicou simplesmente o jovem, sem intimidar-se ante o

olhar colérico de John.

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John se acalmou quando viu que não teria que lutar. —A que distância está seu acampamento? —Não teremos que ir ali. —Então? —Sua irmã está no lado de fora. —Fora? —Viajamos muitos dias. Dorme sobre seu cavalo. Pode vê-la da

janela. John correu para a janela que dava à rua. Depois de um

momento, virou-se para o árabe, e em seu rosto curtido se via a cólera.

—Você mente! Ali vejo só a um jovem árabe inclinado sobre um cavalo. O que pretendia obter com este truque?

—Ah, que céticos são os ingleses. Supunha que sua irmã vestiria de acordo com as roupas de seu país? Esteve vivendo com minha gente e viveu como ela. Se sair, comprovará a verdade de minhas palavras -replicou o árabe, e deu meia volta abandonando a habitação.

"É muito singelo para ser uma armadilha", pensou John. Quão único precisava fazer era sair e comprovar pessoalmente a verdade. O que esperava? John recolheu o saquinho de dinheiro e seguiu o árabe. Tinha que ser verdade.

Fora, na rua queimada pelo sol, John correu por volta dos dois cavalos atados frente ao edifício. Deteve-se o lado do escuro corcel árabe, montado por uma figura embelezada com uma túnica negra coberta de pó. Se tratava de outra mentira, temia ser incapaz de controlar-se; faria pedaços ao jovem que esperava a seu lado.

Para sabê-lo, bastaria retirando a kufiyab escura que lhe cobria o rosto e comprova-lo. Assim de singelo.

Nesse momento o cavalo se moveu e a figura dormida começou a cair lentamente. John a recebeu nos braços. Ao fazê-lo, a kufiyah caiu para trás e revelou um rosto sujo e sulcado pelas lágrimas, um rosto que ele teria identificado em qualquer local do mundo.

—Crissy! Oh, meu Deus... Crissy! Christina abriu os olhos um momento e murmurou o nome de

John, inclinando a cabeça, e apoiando-a logo contra o ombro de seu irmão.

—Como lhe hei dito, passou dois dias e suas noites sem descansar. Só precisa dormir.

John se virou para olhar ao jovem que lhe havia devolvido a sua irmã.

—Devo-lhe uma desculpa por ter duvidado de sua palavra. Estarei eternamente agradecido pelo que fez. Tome o dinheiro. É seu.

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—Obrigado. Sinto-me mais que feliz de lhe haver prestado este serviço. Agora partirei, mas quando Christina desperte lhe diga que lhe desejo todo o bem que merece.

Recolheu as rédeas do cavalo negro, montou em seu próprio corcel e se afastou pela rua.

John olhou Christina que dormia pacificamente em seus braços. Pensou: obrigado, Meu Deus! Por favor, me ajude a compensar Christina pelo que sofreu.

John entrou com Christina no edifício. Sentou-se em uma cadeira frente ao escritório do sargento Towneson, sustentando meigamente em braços a sua irmã.

—Tenente! Desmaiou na rua? Será melhor que a deixe na cadeira. O pó da túnica está lhe sujando o uniforme.

—Deixe de tolices, sargento. Não farei nada pelo estilo. Mas lhe direi o que você tem que fazer. Primeiro, ordene que aproximem minha carruagem à porta principal. Depois, relate ao coronel Bigley que não voltarei hoje.

—Não voltará? E se o coronel pergunta a razão? —Diga que encontrei a minha irmã e que a levo a minha casa.

Poderá arrumar-se sozinho, sargento? —Sim, senhor. Mas não quererá dizer que esta jovem é sua

irmã? O sargento lamentou ter formulado a pergunta quando viu o frio

resplendor nos olhos do tenente Wakefield. —Sargento, diga que tragam imediatamente minha carruagem. É

uma ordem! John chegou a sua casa perto do meio-dia. Conseguiu abrir a

porta de seu departamento sem despertar Christina, mas quando se dirigia ao dormitório, sua ama de chaves, a senhora Greene, o acompanhou o passo.

—John Wakefield, que demônios faz ao meio-dia nesta casa? E o que traz você? -Perguntou a mulher com expressão de recriminação.

—A minha irmã. —Sua irmã? -A senhora Greene se mostrou impressionada. —

Quer dizer que esta é a mocinha que você esteve procurando dia e noite? Bem, por que não o disse antes? Não fique aí, imóvel; leve a sua irmã ao dormitório.

—É o que estava fazendo quando você me interrompeu, senhora Greene -disse John.

Entrou na habitação que continha todas os pertences de Christina e depositou brandamente a sua irmã na cama.

—Está ferida? Como a achou?

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—Precisa dormir um pouco, isso é tudo -disse John. Olhou afetuosamente Christina. — Talvez você possa lhe tirar a túnica, para que se sinta mais cômoda; mas não a desperte.

—Bem, se não querer que desperte será melhor que me ajude. John viu que a mão de Christina ocultava um pedaço de papel

enrugado. Conseguiu solta-lo e o pôs sobre a mesinha de noite junto à cama. Depois, com a ajuda de sua ama de chaves, despojou Christina da túnica e as pantufas. Christina abriu os olhos uma vez, mas os fechou de novo e continuou dormindo.

A senhora Greene e John saíram da habitação, e ele fechou discretamente a porta. Foi ao gabinete de licores do salão, serviu uma abundante dose de uísque e se desabou em sua poltrona favorita.

—Senhor, o que faço com tudo isto? Coloco no lixo? -Perguntou à senhora Greene, que tinha nas mãos as roupas sujas de Christina.

John olhou à senhora Greene, de pé na soleira. —No momento deixe a um lado essas roupas. Christina

decidirá. -John desejava voltar quanto antes para a Inglaterra com Christina. O Egito tinha provocado em ambos nada mais que sofrimentos; mas agora que Crissy tinha retornado, voltariam a ser felizes.

Tivesse desejado saber por que Christina se separou do homem a quem dizia amar. Tinha escrito que continuaria com ele até que já não a desejasse mais. Tratava-se disso? O bastardo a tinha seqüestrado, tinha-a usado e depois abandonado para cobrar o dinheiro da recompensa. Crissy havia dito que o amava. Sem dúvida agora sofria muito!

John bebeu o último gole de uísque, levantou-se e, depois de cruzar o pequeno refeitório, entrou na cozinha igualmente reduzida. Encontrou à senhora Greene inclinada sobre o forno.

—Senhora Greene terei que sair aproximadamente por uma hora. Não acredito que minha irmã desperte. Mas se o faz, lhe diga que fui anular um encontro, mas que retornarei muito em breve. E atenda todas suas necessidades.

—E seu almoço? —Comerei em minha volta -disse John, tomando uma maçã de

uma fonte de frutas sobre o armário. — Não demorarei muito. Não estava longe da moradia do major Hendricks, e John

confiava em que acharia Kareen em casa, pois desejava cancelar pessoalmente a encontro para essa mesma noite.

Kareen era um ano mais nova que John e estava realizando uma curta visita a seu tio, o Major Hendricks. Vivia na Inglaterra, e sua mãe tinha sangue espanhol. Mas John nada mais sabia dela... Só o fato de que a jovem o atraía intensamente.

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Kareen parecia espanhola, com seus sedosos cabelos negros e seus olhos escuros. Tinha o corpo magro, mas perfeitamente arredondado nos lugares apropriados. John tinha ansiado que chegasse a noite para voltar a vê-la; mas agora tinha que pospor a saída. Abrigava a esperança de que Kareen o entendesse.

Bateu na porta do modesto apartamento do Major Hendricks. Depois de uns instantes, aparecia uma jovem que lhe sorria alegremente. John a olhou atônito, porque essa moça parecia ter no máximo dezesseis ou dezessete anos, e ao mesmo tempo...

—Kareen? A jovem riu da confusão de John. —Tenente, ocorre freqüentemente. Sou Estelle, a irmã de

Kareen. Quer entrar? —Ignorava que tinha uma irmã -disse John, entrando no

vestíbulo. —Parecem-se muitíssimo. —Já sei... Como gêmeas. Mas Kareen tem cinco anos mais que

eu. Meu pai sempre diz que Kareen e eu somos a viva imagem de nossa mãe quando era jovem. Mamãe ainda é uma formosa mulher, de modo que é agradável saber o que seremos no futuro. -Sorriu docemente e ofereceu a John um olhar sedutor. — Me perdoe. Todos dizem que falo muito. Deseja ver Kareen, tenente ... ?

—John Wakefield -disse ele com uma breve reverencia. — Sim, desejo falar com ela se for possível.

—Acredito que poderá. Está descansando em sua habitação. Este tempo tão caloroso... Ainda não estamos acostumadas... Sim, é exaustivo. De modo que você é John Wakefield -disse a jovem, que o examinou da cabeça aos pés. — Kareen falou muito de você, e vejo que não exagerou nada.

—Senhorita Estelle, você é muito franca. —Acredito que uma pessoa deve dizer o que pensa. —Isso às vezes traz dificuldades -observou amavelmente John. —Sim, sei. Mas me agrada impressionar as pessoas. Embora

não posso dizer que o tenha impressionado. Certamente está acostumado aos cumpridos das damas - mostrou em seu rosto uma expressão de picardia.

—Não exatamente. Estou acostumado a oferecer comprimentos... Não recebe-los -disse John rindo.

—Fala como um verdadeiro cavalheiro. Mas, já estou conversando outra vez. Se esperar no salão, irei dizer a Kareen que você está aqui.

—Obrigado e lhe asseguro senhorita Estelle que foi um prazer conhece-la.

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—Posso dizer o mesmo de você tenente Wakefield. Mas estou segura de que voltaremos a vê-mos -adicionou, e desapareceu pelo corredor.

Depois de uns minutos, Kareen apareceu na porta, tão bela como ele a recordava depois da última vez.

—Acreditei que minha irmã brincava quando assegurou que você estava aqui. Às vezes adora fazer gozação comigo. Tenente Wakefield, por que veio tão cedo?

—Kareen... Sei que é a segunda vez que nos vemos, mas queria que me chamasse de John. -Pediu ele, tratando de formular o pedido do modo mais sedutor possível.

—Muito bem, John -sorriu Kareen. — Por que vieste? —Não sei como explica-lo exatamente -começou John, que

evitou os olhos inquisitivos da jovem. Aproximou-se da janela aberta e olhou para a rua, as mãos unidas às costas. — Kareen, faz apenas um mês que está aqui, mas já sabe do desaparecimento de minha irmã.

—Sim, meu tio me falou do assunto quando disse que tinha te conhecido -disse a jovem.

—Christina foi raptada em nossa habitação na primeira noite no Cairo. Ela e eu estávamos muito unidos. Busquei-a por toda parte e quase enlouqueci pela preocupação. E bem, devolveram-me ela hoje... Esta manhã.

—John... Que maravilhoso! Me alegro por ti. Está bem? John se virou para olhá-la e comprovou que, em efeito, Kareen

se alegrava da ocorrido. —Está muito bem, mas ainda não pude falar com ela. Cavalgou

quase uma semana inteira e agora descansa. Queria te explicar a situação porque necessito que compreenda por que não irei contigo esta noite à ópera. Tenho que estar em casa quando despertar Crissy.

—Compreendo-o perfeitamente e te agradeço a explicação. Posso prestar ajuda?

É muito amável, Kareen. Possivelmente dentro de uns dias possa visitá-la. Não sei se poderá adaptar-se novamente à vida do lar. Só rogo a Deus que seja capaz de esquecer suas terríveis experiências.

—John, estou segura de que com o tempo todo se arrumará -replicou Kareen.

—Eu espero o mesmo. Christina tinha dormido doze horas. Era quase meia-noite e

John continuava passeando impaciente pelo salão. Precisava averiguar muitas coisas. Não queria apressá-la logo que despertasse,

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mas tinha que obter algumas respostas. Era a mesma pessoa ou esses quatro meses a tinham mudado?

John se aproximou da porta e a abriu discretamente. Mas Crissy continuava feita um novelo com a cabeça apoiada em uma mão. John entrou na habitação e parou frente à cama, observando-a exatamente como tinha feito muitas vezes durante a noite.

Não estava mais magra e parecia estar sã, embora a tivesse visto suja. Vestia uma saia e uma blusa do estilo que era típico na gente do deserto. Mas os objetos tinham sido confeccionadas com um fino veludo verde, e tinham as bordas adornadas com renda. Tinha todo o aspecto de uma princesa árabe.

Crissy já havia dito em sua carta que não necessitava nada. Provavelmente esse homem a tinha cuidado bem. Por isso mesmo a situação era ainda mais desconcertante; em efeito, John se perguntava como era possível que a tivesse liberado depois de te-la possuído. Christina possuía uma beleza tão peculiar. Nela havia algo diferente, assombroso e ao mesmo tempo indescritível, algo que a distinguia de todas as mulheres a quem um estava acostumado a considerar belas.

De repente, Christina abriu os olhos e piscou várias vezes; sem dúvida se perguntava onde estava.

—Te tranqüilize, Crissy -disse John. Sentou-se no bordo da cama. —Está de novo em casa.

Ela o olhou com os olhos cheios de lágrimas e um instante depois se abraçava a ele como se queria salvar sua vida. —John! OH, Johnny... me abrace. Me diga que foi só um sonho... Que jamais ocorreu em realidade -soluçou Christina.

—Sinto muito, Crissy, mas não posso te dizer isso... Como eu queria dizer -replicou John, abraçando-a fortemente. — Mas tudo se arrumará... Já o verá.

Deixou que chorasse, sem dizer mais. Quando ela se acalmou, John a afastou e retirou das bochechas úmidas os cabelos grudados.

—Sente-se melhor agora? —Em realidade, não. -Christina sorriu fracamente. —Por que não lava o rosto enquanto te trago algo de comer?

Depois, poderemos falar. —O que realmente desejaria é me inundar em água quente horas

inteiras. Os últimos quatro meses tive unicamente banhos frios. —Isso terá que esperar um pouco. Primeiro, conversaremos. —OH, John, não quero falar disso... Só desejo esquecer. —Compreendo, Crissy, mas preciso saber certas coisas. Seria

melhor que falássemos agora, e depois poderemos esquecer o assunto.

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—Muito bem, possivelmente tenha razão. -Desceu da cama e passeou o olhar pela habitação. —Me dê um minuto para...

Interrompeu-se bruscamente quando viu o pedaço de papel enrugado que John tinha depositado horas antes sobre a mesa de luz.

—Como chegou aqui esse papel? Sua voz mostrava irritação. —Crissy, o que te ocorre? Retirei-o de sua mão antes de te

deitar. —Mas acreditei que o tinha jogado... –Virou-se para seu irmão, o

cenho franzido. —O leu? —Não. Por que está tão nervosa? —Poderia-te dizer que é minha nota de demissão - disse

Christina como de passada, embora seus olhos tivessem uma expressão colérica. —Mas não importa. Trar-me-á de comer?

Depois do jantar, John serviu duas taças de xerez e entregou uma a Christina, instalada no refeitório. Sentou-se frente a ela, com as pernas estendidas sob a mesa, e estudou o rosto de sua irmã.

—Ainda o ama? -Perguntou John. —Não... Agora o odeio! –Apressou-se em dizer Christina com os

olhos fixos na taça de licor. —Mas faz apenas um mês... Ela olhou ao John, nos olhos uma luz perigosa. —Isso foi antes que descobrisse que era um homem cruel e

egoísta. —Por isso o abandonaste? —Abandona-lo? Ele me expulsou! Escreveu-me essa nota onde

diz que já não me deseja, e que quer que desapareça antes de sua volta. Nem sequer me disse isso pessoalmente.

—Por isso o odeia agora... Porque te separou de seu lado? —Sim! Não se importou com meus sentimentos. Acreditei que o

amava, e esperava que ele chegaria a me amar. Mas agora compreendo que fui muito estúpida. Nem sequer se importou a possibilidade de que eu estivesse grávida!

—OH, meu Deus, Crissy... Esse homem te violou! —Me violou? Não... Em realidade, nunca o fez. Acreditei que

tinha te esclarecido isso, John, na carta que te enviei. Acreditei que dizia claramente que eu tinha me entregue a ele. Por isso te pedia perdão.

—Acredito que não pude aceita-lo. Não quis acreditá-lo. Mas Crissy, se ele não te violou... Quer dizer que se entregou a ele do começo?

—Resisti! - Exclamou ela, indignada, tratando de defender-se. —Resisti com todas minhas forças.

—Então, violou-te? Christina inclinou a cabeça, envergonhada.

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—Não, John, nunca precisou chegar a isso. Mostrou paciência... Tomou seu tempo, e pouco a pouco despertou meu corpo. Por favor, entende isto, John ... Eu o odiava, mas ao mesmo tempo o desejava. Acendeu em mim um fogo cuja existência eu ignorava. Fez-me mulher.

De novo se pôs a chorar. John se sentiu muito deprimido, porque lhe atribuía à culpa de algo que ela não tinha podido evitar. Mas, por que defendia a esse bastardo?

John se inclinou sobre a mesa, obrigando-a a levantar o rosto, e contemplou os doces olhos azuis.

—Está bem. Não é culpada. Foi exatamente como se te tivesse violado.

—Lutei e resisti, mas a situação se repetiu constantemente. Tratei de fugir, mas ameaçou me capturar e me castigar se voltava a fazê-lo. Ao princípio lhe temia muito, mas à medida que passei o tempo me acalmei um pouco. Uma vez o apunhalei e entretanto não me fez nada. Logo uma tribo me roubou e ele quase morreu no intento de me libertar. Então compreendi que o amava, e depois já não me opus. Não podia resistir ao homem a quem amava. Se não puder me perdoar por isso, sinto muito.

—Perdôo-te, Crissy, no amor não há regras. Mas disse que agora o odeia. Por que insiste em defendê-lo?

—Não o defendo! —Então, me diga seu nome, e assim poderei encontrá-lo.

Merece que o castiguem pelo que te fez. —Seu povo o chama Abu. —E o sobrenome? —OH, John... O que importa. Não quero que o castiguem. —Droga, Crissy! -Explodiu John, descarregando um murro sobre

a mesa. — Usou-te e logo te devolveu para cobrar a recompensa. —Recompensa? —Sim. O homem que te trouxe pediu o dinheiro, e eu o dei. Christina se recostou no assento, com um semi-sorriso nos

lábios. —Devia imaginar que Rashid procederia assim. Apoderar-se do

dinheiro onde pode encontrá-lo. Abu provavelmente nunca saberá que Rashid recebeu a recompensa. E essa não é a razão pela qual Phi... Pela qual Abu me devolveu... É o xeque de sua tribo, e não necessita dinheiro. Inclusive certa vez o vi rejeitar um saquinho cheio de jóias.

—Começou a chamá-lo de outro modo - disse John, arqueando o cenho.

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—Bem... Tem outro nome, mas não é importante. -Levantou-se para apurar seu xerez. —John, poderemos esquecer o assunto? Desejo esquece-lo do modo mais completo possível.

—Pode chegar a isso, Christina? -Ele a olhou cético. — Ainda o ama, verdade?

—Não! -Gemeu Christina, mas logo mordeu os lábios, e as lágrimas voltaram a rodar por suas bochechas. — OH, meu Deus... Sim! Não posso evitá-lo. John, por que teve que me fazer isto? Amo-o tanto... Que desejaria morrer.

John a abraçou fortemente, consciente do sofrimento de Christina. Não podia suportar que sofresse desse modo... E que lhe destroçava o coração por um homem que não merecia tanto amor.

—Crissy, levará tempo, mas o esquecerá. Encontrará um novo amor... Alguém que te ofereça o tipo de vida que você merece.

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CAPÍTULO 22

Tinham passado dois meses da separação. Christina se esforçava

desesperadamente para se separar de sua lembrança à imagem de Phillip. Mas pensava nele hora atrás hora. Rogava todos os dias que trocasse de idéia e viesse procurá-la. Mas não havia notícias de Phillip. Christina não conseguia dormir. Permanecia acorda toda a noite, desejando-o, desejando o contato de suas mãos, sentindo saudades o calor de seu corpo na cama.

Com exceção de Kareen, Christina não tinha visto ninguém depois de sua volta. Simpatizou com Kareen a primeira vez que John a levou a pequeno apartamento. Ela não fez perguntas e logo as duas jovens foram muito boas amigas. Christina sabia que Kareen estava apaixonada pelo John, e se alegrava de que ele correspondesse ao sentimento. Passavam juntas muitos dias e finalmente Christina contou tudo a Kareen... Quer dizer, tudo menos o verdadeiro nome de Phillip.

Tratava de evitar que John conhecesse sua infelicidade, mas quando estava sozinha passava o tempo recordando e chorando em seu quarto. Não saía nem recebia visitas, e se amparava na desculpa de que não se sentia bem... O qual era certo. Na cidade fazia muito mais calor que nas montanhas. Sofria por causa da umidade cansativa e da medíocre ventilação do pequeno departamento. Freqüentemente se sentia aturdida e enjoada.

Christina sabia que tinha que reatar sua vida, e por isso ao fim aceitou receber a visita das esposas de alguns oficiais.

Ao princípio, conversaram cortesmente sobre o tempo, a ópera, e o problema da servidão. Mas depois as cinco mulheres de idade amadurecida começaram a falar a respeito de pessoas a quem Christina não conhecia... E que não lhe interessavam. Quase automaticamente, isolou-se do ambiente e começou a pensar no Phillip; mas voltou a emprestar atenção quando ouviu que pronunciaram seu nome.

—Como dizia, senhorita Wakefield, meu marido foi um dos homens que ajudou a procura-la -disse uma mulher corpulenta.

—Outro tanto o fizeram como meu James -interveio outra. Estávamos tão preocupados quando vimos que era impossível

acha-la... Pensamos que depois de tanto tempo já teria morrido -adicionou outra mulher que comia um delicado pastelzinho.

—E depois você apareceu, sã e salva. Foi como um milagre. Nos diga, senhorita Wakefield, como conseguiu fugir? -Perguntou deliberadamente a mulher corpulenta.

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Christina, levantou-se e afastou-se; fixou os olhos no bordo da chaminé. Estas mulheres só desejavam arrancar a informação que depois repetiriam por toda a cidade; em realidade, desejavam tema para criticá-la.

—Se não lhes importar, prefiro não comentar o assunto -disse serenamente Christina, que havia se tornado outra vez para o grupo.

—Mas querida, todas somos seus amigas. Pode falar conosco. Se me tivesse ocorrido o mesmo, haver-me-ia suicidado -observou com expressão altiva uma das damas.

—O mesmo digo - replicou outra. —Estou segura de que vocês atribuem pouco valor a sua vida.

Por minha parte, prefiro continuar vivendo -replicou friamente Christina. —Vocês dizem ser amigas... Mas não são mais que uma turma de fofoqueiras. Não tenho a intenção de lhes dizer nada. E desejo que saiam imediatamente desta casa!

—Bem! Vejam a senhorita pretensiosa. Vamos a lhe oferecer nossa simpatia, e se comporta como se estivesse orgulhosa do que lhe ocorreu... Orgulhosa de ser a prisioneira de um sujo árabe. Caramba... Você não é nada mais que uma...

—Fora daqui... Todas! -Falou Christina. —Já vamos! Mas lhe direi uma coisa, senhorita Wakefield. Agora

já a utilizaram nenhum homem decente pensará em desposá-la depois de ter se deitado você com um sujo árabe. Recorde o que lhe digo!

Christina não falou com John do incidente quando ele retornou a casa. Mas ele já sabia.

—Crissy, choraste por culpa dessas mulheres, verdade? -Disse com voz carinhosa, enquanto lhe sustentava o rosto entre as mãos. —Não deve tomar a sério. Não são mais que uma turma de velhas invejosas.

—Mas John, disseram a verdade. Nenhum homem decente quererá casar-se comigo. Sou uma mulher suja!

—Isso é ridículo e não quero que fale assim -repreendeu-a John. —Crissy, subestima sua beleza. Qualquer homem daria o braço direito para casar-se contigo. Acaso William Dawson não veio a ver-te uma dúzia de vezes? Se aceitasse sair e reatar sua vida, choveriam as propostas! Por que não vem esta noite à ópera com Kareen e comigo?

—Não quero interferir em sua saída com Kareen -replicou Christina com um profundo suspiro, mostrando em seu rosto uma expressão deprimida. —Talvez leia um livro e me deite cedo.

—Crissy... Não posso suportar o mal que você mesma te faz -disse John. — Freqüentemente, quando volto para casa, vejo que tem os olhos avermelhados, exatamente como agora. Tenta oculta-lo, mas

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sei que continua chorando por esse homem. Não vale a pena! Meu Deus, se pudesse lhe pôr as mãos em cima o mataria!

—Não diga isso, John! -Gritou Christina. Agarrou-lhe os braços, afundando os dedos neles com força. —Jamais volte a dizer isso! Sim, fez-me sofrer, mas essa dor era a carga que eu devo suportar. Não é sua toda a culpa, porque jamais soube que eu o amava. Acreditou que me outorgava o que eu mais queria... A liberdade. Jure que jamais tratará de machucá-lo!

—Te acalme, Crissy -disse John, comovido pela explosão de Christina. — Provavelmente jamais me cruzarei com esse homem.

A voz de Christina tinha um acento de obrigação e os olhos lhe tinham enchido de lágrimas.

—Mas talvez um dia o encontre. Necessito que me dê sua palavra de que não tentará destruí-lo!

John vacilou, contemplando a expressão de rogo no rosto de sua irmã. Jamais se cruzaria com aquele Abu, de modo que não tinha inconveniente em dar sua palavra a ela se desse modo a fazia feliz. De repente lhe ocorreu uma idéia.

—Dar-te-ei minha palavra com uma condição... Que deixe de te torturar por esse homem. Sai de casa e conhece outras pessoas. E pode começar vindo comigo à ópera esta noite!

Uma súbita serenidade se expressou no rosto de Christina. Pareceu acalmar-se e soltou os braços de John.

—Muito bem, John, se desse modo obtenho sua palavra. Mas ainda acredito que o passará melhor se prescindir de mim.

—Permite aplicar a isso meu próprio critério. -Voltou os olhos para o relógio do suporte da chaminé. —Tem menos de uma hora para te preparar. -Sorriu quando viu o desalento no rosto de Christina. —Era muito escasso tempo para vestir-se, sobre tudo tendo em conta que se tratava de sua primeira saída noturna em seis meses. Pedirei à senhora Greene que te traga água quente para o banho.

Christina correu para seu dormitório. Escolheu um de quão vestidos havia trazido de Londres. Era um objeto de cetim cor ouro velho, com uns festões de renda dourado aplicados à saia e ao sutiã. Escolheu safiras que faziam jogo com seus olhos. Experimentava certo acanhamento ante a idéia de enfrentar-se à sociedade a tão escassa distância de sua volta. Mas desprezou os temores enquanto a senhora Greene tagarelava alegremente a respeito da ópera e do acertado de que Christina tivesse decidido assistir.

Confirmando a predição de John, menos de uma hora depois estavam na carruagem e se dirigiam à casa de Kareen. Christina esperou no veículo, enquanto John subia os poucos degraus e chamava com firmeza à porta da casa grafite de branco.

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Um momento depois, Kareen descendeu os degraus, de braço dado a John. Pos um vestido de veludo vermelho damasco que contrastava maravilhosamente com seus sedosos cabelos negros, recolhidos em um grosso coque.

Christina conteve uma exclamação quando viu o longo pente de prender cabelo espanhol com rubis que levava Kareen no coque. Recordou o fugaz sorriso de Phillip o dia que lhe deu de presente um pente de prender cabelo parecido. "Querida, foi uma compra honesta. O mês passado ordenei Syed vender um dos cavalos, e trazer o melhor pente de prender cabelo que pudesse encontrar", disse Phillip, e ela se havia sentido agradada com o presente. Desejou ter conservado o pente de prender cabelo em lugar de apressar-se a abandonar tudo o que podia lhe recordar a pessoa de Phillip. Não era possível que o esquecesse e algumas das coisas que ela tinha abandonado evocavam lembranças muito doces. Bem, pelo menos ainda tinha essa horrível nota e as roupas árabes que vestia o dia que tinha recebido a missiva.

—Christina... Diria que está a um milhão de quilômetros de distância. Sente-se bem?

Kareen tinha falado, e seu rosto expressava inquietação. —Desculpa... Distraí-me um momento -respondeu Christina. Kareen sorriu calidamente. —Me alegro muito de que tenha aceitado nos acompanhar. Sei

que te agradará a ópera. Chegaram ali poucos minutos depois e John as acompanhou ao

interior do antigo edifício. Quando entraram, muitos grupos de homens e mulheres que conversavam sobre o vestíbulo se voltaram para olhar sem recato Christina e murmurar observações a seus acompanhantes. As mulheres lhe dirigiram olhadas depreciativas e depois lhe voltaram às costas. Mas os homens sorriram com lascívia e virtualmente a despiram com o olhar. Uns poucos jovens, que sem dúvida conheciam John e a Kareen, adiantaram-se a saudar Christina. Ofereceram-lhe amáveis cumpridos, mas os olhos de todos observavam audazmente o corpo da jovem; e ela replicou secamente às adulações dos homens.

—Senhorita Wakefield! —Christina se virou bruscamente e viu aproximar-se William

Dawson, que reluzia no rosto um longo sorriso. Era exatamente como ela o recordava... Um homem curtido, de corpo atlético. Christina recordava seus interessantes relatos, e nesse momento desejou havê-lo recebido todas as vezes que ele tinha tentado visita-la.

—Passou tanto tempo... -Disse Dawson, aproximando os lábios à mão de Christina. — E você está tão formosa como sempre. Certamente se recuperou por completo de sua enfermidade?

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—Sim. Eu... Convenceram-me da conveniência de voltar de novo para mundo dos vivos -disse Christina. — Me alegro de voltar a vê-lo, senhor Dawson.

—William –corrigiu-a ele. —Christina, já somos velhos amigos. Ofende-me se não me chama William. Tem acompanhante?

—Bem... Vim com John e Kareen. —Que vergonha, John, reserva às duas mulheres mais belas do

Cairo. —Bem, acredito que sou um pouco egoísta quando se trata destas

duas jovens -disse John rindo. Os olhos cinza e afetuosos de William descansaram em Christina.

Ainda sustentava em sua mão a da jovem. —Seria o homem mais feliz do Cairo se me permitisse

acompanha-la durante a representação, e possivelmente levar a de retorno a sua casa. É obvio, com a permissão de seu irmão.

—Bem, eu... -Christina olhou John, como pedindo ajuda, mas lhe dirigiu um olhar de advertência que lhe recordou a promessa que tinha formulado umas horas antes. Christina sorriu levemente. —William, aceitarei agradada seu oferecimento. Parece que agora já tenho meu próprio acompanhante... Não é assim, Kareen?

Kareen assentiu com simpatia. —Sim, e um acompanhante encantador. Kareen sabia que Christina ainda não estava preparada para isso.

Ainda demonstrava claramente que tinha o coração destroçado. Kareen se perguntou de que modo tinha conseguido John que Christina consentisse em assistir à ópera. Era bom que Christina tivesse aceitado essa saída, mas ainda não estava em condições de intercambiar comentários amáveis com um acompanhante.

No caminho de volta a casa, Christina escutou distraída o relato de William a respeito de certa aventura nas planícies do Texas. Não recordava nada da ópera, salvo impressionantes vestidos de vivas cores e a música estrepitosa. Distraía-se cada vez que via o pente de prender cabelo cravado nos cabelos do Kareen. Não podia esquecer um só momento Phillip?

—Christina, chegamos. Alegrava-se de ter permitido que William a trouxesse para casa.

John certamente teria desejado estar um momento a sós com o Kareen. E a própria Christina podia ser uma moléstia.

—William, aceitaria uma taça de xerez? -Propôs Christina, que se sentia culpada por causa das muitas vezes que tinha recusado recebe-lo.

—Confiava em que me pediria exatamente isso. Uma vez dentro, Christina se aproximou diretamente ao gabinete

dos licores, mas William se aproximou por atrás e a agarrou com as

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duas mãos a cintura. Christina se afastou, ele serviu duas taças de xerez e logo se virou para lhe entregar uma.

—Desejaria brindar por esta ocasião. Quanto sonhei com este momento -murmurou William. Seus olhos acariciaram o busto que deixava entrever o generoso decote.

—William, não acredito que valha a pena brindar por nada -disse Christina nervosamente.

Christina se afastou e se sentou na poltrona favorita de John; possivelmente lhe oferecesse certo amparo. De repente, recordou que a senhora Greene tinha saído para visitar alguns amigos e que provavelmente dormiria fora da casa.

—Equivoca-se, Christina -disse William, que tomou a mão e a obrigou a ficar de pé. — Ambos recordaremos sempre esta noite.

De repente, atraiu-a seus braços. Os lábios dele procuraram os de Christina e os apertaram em um beijo imperioso. Christina sentiu nojo e desgosto. Como tinha chegado a esta situação? Afastou a boca, mas ele continuava abraçando-a e estreitando-a contra si.

—William, por favor... Me deixe. Tratou de falar tranqüilamente. Mas sabia que estava sozinha

com ele e experimentou um sentimento cada vez mais intenso de pânico.

—O que acontece, Christina? -Sustentou-a a distância do braço e seus olhos cinza percorreram atrevido o corpo da jovem. — Comigo não é necessário que represente o papel da virgem tímida.

—Você é muito audaz, William Dawson -replicou com frieza Christina, que se soltou bruscamente do apertão da mão dele. —Não tem direito a tomar certas liberdades comigo.

—Não comecei a tomar as liberdades que estão em meus planos. William estendeu as mãos para Christina, mas ela correu de

modo que os separasse a grande poltrona. —Devo lhe pedir que parta -disse Christina com expressão seca. —Com que direito diz isso? Cuidar-te-ei bem. Não sou rico, mas

certamente posso me permitir ter uma amante. Depois de um tempo, se for boa, possivelmente inclusive me case contigo.

—Você deve estar louco! Ele se pôs a rir. Christina podia ver o desejo sensual em seu

rosto. William apartou a poltrona e avançou com os braços estendidos. Christina se virou para fugir, mas era muito tarde. William a agarrou pela cintura e atraiu seu corpo para si. Sua risada perversa enfureceu a moça. As mãos dele posavam nos seios e o ventre da jovem, enquanto ela se debatia, tratando de liberar-se.

—Agrada-te com um pouco de brutalidade? Está acostumada a isso? Outro homem importará pouco depois de tantos bandidos ante os quais abriu as pernas. Me diga... Quantos foram? E qual

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engendrou o bastardo que leva no ventre? Estou certo de que o pequeno não se oporá se eu saborear as coisas de sua mamãe.

Christina se sentiu como paralisada quando ouviu a última frase. Permaneceu perfeitamente imóvel. Nem sequer se atrevia a respirar, e as palavras continuavam ressonando em seus ouvidos. O bastardo que levava em seu vento... O bastardo! Um filho!

—De modo que decidiste te mostrar razoável. Bem, agradar-te-á ter um homem de verdade depois de toda a escória a que está acostumada.

De repente, Christina se pôs a rir. Fazia muito que não ouvia o som de sua própria risada. William a obrigou a virar-se e a sacudiu pelos ombros.

—Que demônios te parece tão divertido? -Perguntou. Mas ela riu histericamente e as lágrimas começaram a lhe correr pelas bochechas.

E então, ambos ouviram o ruído de carruagem que se detinha frente ao edifício.

—Cadela! -Murmurou enfurecido William e de um empurrão a afastou.

—Sim -replicou ela alegremente. — Certamente, posso ser uma cadela quando a situação o justifica.

—Ainda não terminei contigo... Haverá outra ocasião -disse William friamente.

—Oh... Duvido—o, William. John entrou na habitação, e seus olhos se posaram primeiro no

rosto divertido de Christina e depois na expressão hostil de William. Durante uns instantes se perguntou o que tinha ocorrido, mas se absteve de indagar.

—Ainda aqui, William? Bem, é cedo... Quer tomar uma taça? —Bem, eu... —OH, adiante, William -disse debochadamente Christina.

Confiava em que William estivesse ardendo de cólera. —De todos os modos, vou deitar me. Foi uma noite muito estranha. Não muito grata, mas instrutiva. Boa noite, John.

Virou-se e entrou em sua habitação. Fechou a porta, apoiou o corpo contra esta e ainda pôde ouvir os homens que conversavam na sala.

—O que quis dizer com a última frase? -Perguntou John. —Não tenho a mínima idéia. Christina se separou da porta e começou a dar voltas, girando

sobre si mesmo uma e outra vez, até o cansaço, tal como sabia fazer quando era menina. A saia se elevou no ar e as forquilhas saíram disparadas da massa de cabelos, e ela continuou descrevendo círculos até chegar à cama. Desabou-se sobre o leito, rindo de pura

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complacência. Tocou o ventre com ambas as mãos, procurando as provas das palavras de William.

Percebeu uma proeminência muito pequena... Não era uma prova. Possivelmente William só tinha suposto que estava grávida por ter vivido quatro meses com um homem?

Christina saltou da cama e com movimentos rápidos acendeu o abajur. Correu para as janelas que davam à rua e fechou as cortinas. Depois, tirou o vestido e a combinação e se deteve, completamente nua, frente ao espelho de corpo inteiro que ocupava um rincão da habitação.

Examinou seu próprio corpo, mas não percebeu nenhuma mudança. Virou-se de lado e tratou de tirar o ventre todo o possível, que não era muito, e depois o relaxou. Aí estava a prova. Seu estômago não estava liso com antes. Franziu o cenho; em realidade, poderia tratar-se simplesmente de alguns quilogramas mais e não de um filho. Depois de tudo, seu apetite tinha aumentado durante o último mês. Tinha que comprovar melhor do que se tratava.

Apagou a luz, deitou-se na cama e cobriu seu corpo nu com uma manta. Que estranho. Agora que podia usar a camisola, já não o desejava. Estava acostumada a dormir com Phillip e a fazê-lo completamente nua.

Mas se levava em seu ventre o filho de Phillip, tinha que haver outros sinais. De repente sentiu como se lhe tivessem golpeado a cabeça com uma maça. Dispunha de todos os sinais, mas os tinha descartado com diferentes desculpa. Os enjôos, as náuseas... Tinha atribuído todo aquilo ao tempo. Duas vezes tinha falhado a menstruação, mas ela tinha pensado que devia atribuí-lo a sua própria infelicidade. Tinha-lhe ocorrido o mesmo antes, quando seus pais morreram. Tinha formulado desculpas porque temia aceitar a idéia de estar grávida. Mas agora se alegrava profundamente de ter algo pelo qual viver. Teria um filho... Um filho que recordaria eternamente Phillip. Ninguém poderia tirar-lhe

Mas, desde quando estava grávida? Certamente estava no terceiro mês, de modo que faltavam só seis meses. Seis meses muito belos e de alegria, até que nascesse o filho de Phillip. Sabia que seria um varão, e que se pareceria com o pai.

Com esse pensamento feliz na mente, Christina se virou de lado para dormir com um sorriso nos lábios e com as mãos acariciando brandamente seu ventre.

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CAPÍTULO 23

—John, posso falar contigo antes que saia? -Perguntou Christina. Estava sentada frente à mesa do refeitório, bebendo a terceira

xícara de chá da manhã. —Crissy, não pode esperar mais tarde? Preciso levar estes

documentos ao coronel antes da reunião do pessoal -replicou John. —Não pode esperar. Devo te dizer algo agora mesmo. Esperei-te

ontem à noite, mas chegou muito tarde. —Está bem -suspirou John. Sentou-se frente a ela e se serviu

uma xícara de fumegante chá. —Do que se trata? O que é tão importante?

—Ontem pela tarde, quando fui ao mercado, soube que dentro de quatro dias sai um navio para a Inglaterra. Desejo embarcar nele.

—Por que, Crissy? Compreendo que deseje te afastar quanto antes deste país, mas não pode esperar cinco meses mais, de maneira que possamos retornar juntos?

—Não posso esperar. —Sim pode. Não há motivo que te obrigue a partir agora.

Caramba, o último mês foi muito feliz; não houve mais lágrimas, nem caras tristes. Desde que começou a sair, mudou de tudo. Agrada-te ir ao mercado. Conheceste a outras pessoas e passa bem. Me diga, por que não pode permanecer comigo cinco meses mais?

—Há uma razão muito importante pela qual tenho que partir agora. Se ficasse aqui cinco meses teria que permanecer ainda mais tempo. Não posso levar a m... -Fez uma pausa — a meu filho em um navio pouco tempo depois de nascer.

John a olhou como se ela o tivesse esbofeteado. Christina tratou de evitar a imagem do rosto comovido de seu irmão, mas se sentiu muito aliviada porque ao fim o havia dito.

—Um filho -murmurou John, movendo a cabeça. — Terá um filho.

—Sim, John... Dentro de cinco meses -disse Christina orgulhosamente.

—Por que não me disse isso antes? — Eu mesma soube o mês passado, e inclusive então abrigava

certas dúvidas. — Como pode não saber de algo assim? -Perguntou John. — John, estava tão comovida... Muito curvada pela tortura

mental para saber o que ocorria com meu corpo. — Por isso se sentiu tão feliz o mês passado... A causa é o

menino. — OH, sim! Agora tenho motivos para viver!

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— Então, propõe-te conservar ao menino e cria-lo? — É obvio! Como pode sequer perguntar uma coisa assim? Este

menino é meu. Foi concebido com amor. Jamais renunciarei a ele. — Tudo pára no mesmo... Esse homem! Deseja ao menino

porque é seu filho. Pensa partir sem lhe falar do menino? Possivelmente agora aceite casar-se contigo? -Disse John com expressão colérica.

— Se acreditasse que está disposto a casar-se comigo, iria imediatamente. Mas não é possível. Certamente já contraiu casamento com Nura. Não deseja a este menino, mas eu sim o quero. E desejo que nasça na Inglaterra. É necessário que eu parta quanto antes e posso fazê-lo dentro de quatro dias.

— Pensaste no que dirão as pessoas? Crissy, não está casada. Seu filho será um bastardo.

— Sei. Penso nisso com freqüência, mas a situação não tem remédio. Pelo menos, será um bastardo rico -disse. — Mas se as falações lhe incomodam, não ficarei em casa. Sempre posso ir viver em outro local com meu filho.

— Crissy, não quis dizer isso. Sabe que te apoiarei, não importa o que digam. Só estava pensando em seus sentimentos. Depois de tudo, incomodaram-lhe bastante as perversas observações dessas esposas dos oficiais.

— Então eu me sentia indesejada e miserável. E sofri ainda mais quando ouvi seus comentários... A afirmação de que jamais me quereria um homem. Mas agora sou feliz. Já não pode me machucar o que as pessoas diga de mim. Não me importa se não me caso. Somente desejo a meu filho... E minhas lembranças.

— Se for feliz, isso é quão único importa -disse John. Tratou de aceitar o fato de que Christina seria uma mãe solteira.

Sabia que ela era forte e ele desejava acreditar que nada poderia prejudicá-la.

— Seu filho não terá pai, mas terá tio. Crissy ajudar-te-ei a criá-lo.

— Obrigada, John! -Exclamou Christina. Aproximou-se e parou atrás da cadeira que ocupava seu irmão e lhe rodeou o pescoço com os braços. — John, é tão bom comigo e te amo tanto!

— Bem, de todos os modos não me agrada a idéia de que viaje sozinha. Não está bem.

— Se preocupa muito. Estou segura de que em meu estado ninguém me incomodará. Como pode ver, meu filho já é bastante visível -disse Christina e se virou de perfil. — E quando chegar a Londres... Bem, será grande como um boi. Levarei comigo muitos tecidos e tecidos; e me encerrarei no camarote para confeccionar roupas de menino. E quando o navio chegue a Londres, alugarei uma

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carruagem que me leve diretamente à Residência Wakefield. Já vê que não tem motivo para preocupar-se.

— Bem, pelo menos me permita escrever a Howard Yeats. Pode ir ao porto e te escoltar até a casa.

— Não há tempo para isso, John. Meu navio é o primeiro que parte. Sua carta chegará comigo. E de todos os modos Howard e Kathren provavelmente insistiriam em que me aloje com eles, e eu não desejo isso. Quero retornar a casa quanto antes. Necessito tempo para converter em habitação infantil o quartinho dos hóspedes próximo a meu dormitório. Terei que empapelar e ordenarei que construam uma porta de comunicação com meu quarto e...

— Um momento, Crissy –interrompeu-a John. — Vai muito depressa. O que acontece com nosso velho quarto de jogos? Bastou para nós.

— John, sabe que diferença vejo entre meu quarto e a velha habitação? Proponho-me a cuidar pessoalmente de meu filho. Serei sua mãe, sua babá e sua avó. Não terei um marido a quem dedicar à metade de meu tempo. Só a meu filho... E lhe consagrarei toda minha energia e todo meu tempo.

— É evidente que pensaste em todos os detalhes -disse John. Surpreendia-lhe comprovar que Christina estava decidida a organizar sua própria vida. — Bem, se quiser que seu filho esteja na habitação próxima, assim se fará. Mas Johnsy não verá com bons olhos que te ocupe pessoalmente do menino.

— Johnsy compreenderá quando se inteirar de minha história. E de todos os modos, necessitarei sua ajuda -replicou Christina.

— Pensa contar tudo também a Tommy? -Perguntou John. — Christina não tinha pensado nele. — Não... Não tudo; só o indispensável. — Sabe que sofrerá. Tommy queria casar-se contigo. — Sim. Mas nunca o aceitei nesse sentido. Tommy superará a

fase. Possivelmente já encontrou outra pessoa. John a olhou, com duvidas. Tommy tinha declarado seu amor

por Crissy, afirmando que jamais poderia ser feliz com outra mulher. — Crissy, acha seriamente que Tommy pode ter encontrado a

outra pessoa? Esse moço te quer, e acredito que posso dizer, sem temor a me equivocar, que apesar do menino quererá casar-se contigo.

— Mas jamais tive esse tipo de sentimento a respeito de Tommy. Duvido de que me tivesse casado com ele inclusive se não tivesse conhecido Abu. E só ao Abu amarei. Perdi-o, mas tenho a seu filho, e isso é o que importa. Não quero machucar Tommy, mas não posso me casar com ele.

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— Bem, possivelmente troque de parecer. Mas agora irmãzinha, estou muito atrasado. Repreender-me-ão no despacho do coronel. Conservo a esperança de que compreenda e me autorize a te acompanhar ate Alexandria -replicou John.

— Estou segura de que assim o fará. E se não aceitar, simplesmente terei que falar com a senhora Bigley.

— Ao coronel não lhe agradará que as duas mulheres se unam contra ele -disse John rindo. Ficou de pé e beijou meigamente a bochecha Christina. — Tratarei de voltar cedo para casa, de modo que possamos continuar falando.

Apenas John partiu, Christina foi a seu dormitório para decidir o que levaria na viagem de volta a sua pátria. Revisou seu guarda-roupa. Todos os seus objetos cabiam nos dois baús, mas tinha que comprar outro para as roupas do menino que pretendia confeccionar. E de repente compreendeu que seus vestidos ajustados seriam inúteis poucas semanas mais tarde.

Christina sorriu por ter esquecido algo tão importante. Agora teria que comprar metros e metros de tecido para confeccionar suas próprias roupas e as do menino, e também necessitaria dois baús mais.

Ela, sem dúvida estaria muito atarefada durante essa viagem!

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CAPÍTULO 24

Uma brisa fresca acariciou o rosto de Christina e jogou com seu

vestido de longa saia enquanto ela permanecia obstinada ao corrimão do casco de navio. Olhou seu ventre proeminente e sorriu quando sentiu o golpe do menino. Seus movimentos se feito perceptível durante o último mês e Christina se agradava sobremaneira com essa experiência.

Já fazia mais de uma hora que estava lá fora. Os pés lhe doíam terrivelmente, mas não desejava retornar a sua cabine com seu ambiente sufocante... Sobre tudo agora que tinha em frente às costas da Inglaterra.

A viagem se desenvolveu com tal rapidez e ela tinha estado tão atarefada que tinha a impressão de que tivesse sido ontem que se despediu de John. Christina tinha chorado um pouco e tinha recordado a seu irmão que cinco meses mais tarde também ele abordaria num navio para voltar para a Inglaterra. Tinha beijado e abraçado Kareen, que tinha vindo com John para a despedida.

—Cuide-se e cuida do menino -havia dito Kareen e depois também ela se pôs a chorar.

Era uma limpa e formosa manhã de princípios do verão na Inglaterra. Os passageiros se amontoavam contra o corrimão, felizes porque ao fim tinha concluído a viagem.

Christina tocou o ventre e murmurou de modo que ninguém pudesse ouvi-la:

—Pequeno Phillip, logo estaremos em casa... Sim, muito em breve.

Christina conseguiu facilmente uma carruagem que a levou a Residência Wakefield. Viajavam sem pressa e durante a noite pararam em um cômodo botequim para não pôr em perigo a condição de Christina. Mas não lhe importava. Contemplava a bela paisagem inglesa, e olhava tudo ansiosamente enquanto saíam de Londres e se encaminhavam para o Halstead.

Fazia tanto que não via uma campanha tão fértil. Passaram entre bosques frondosos e campos abertos talheres de flores silvestres de todas as cores. Passaram frente a granjas rodeadas de cultivos e atravessaram aldeias pequenas e encantadoras. A Inglaterra rural. Como adorava!

Ao anoitecer do dia seguinte, a carruagem parou frente à formosa Residência Wakefield. Os faróis acesos a ambos os lados das grandes leva dobre iluminavam com luz acolhedora o atalho. Christina abriu a porta da carruagem, porque não desejava esperar nem um segundo mais.

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—Um momento, senhora! -Gritou o condutor, que se desprendeu do boléia. Aproximou-se da porta e ajudou a descer Christina. — É necessário pensar no menino.

—Desculpe. Faz tanto tempo que não estou em casa! Além disso, estou acostumada a me arrumar sozinha.

—Talvez seja assim, mas... Abriram-se as grandes portas duplas e apareceu Dicky Johnson. —Quem vem a estas horas da noite? -Perguntou cautelosamente. Christina voltou à cabeça de modo que a iluminasse a luz e Dicky

a olhou incrédulo. —É você, senhorita Crissy? Realmente é você? A jovem riu e abraçou ao homenzinho. —Sou eu, Dicky, ao fim em casa. —OH, que agradável vê—la outra vez, senhorita Crissy. E

também o amo John retornou a casa? —Não, voltará dentro de uns meses. Mas eu desejava chegar

antes... Para ter aqui a meu filho. —Um filho! Sim, se vê o quanto à gravidez esta adiantada sob a

capa. —Quem é Dicky? -Chamou Johnsy da porta. —É a senhorita Christina. Retornou a casa antes do esperado.

E posso dizer que veio sozinha adicionou com expressão desaprovadora.

—Minha menina! -Exclamou Johnsy. Desceu depressa os degraus e abraçou Christina. Depois, retrocedeu um passo, no rosto uma expressão de surpresa. — Minha menina terá também um menino. OH, Meu Deus, quanto esperei este momento. Mas, por que não escreveu a sua velha babá para dizer-lhe?

—Você não mudou nada, Johnsy. Talvez alguns cabelos mais grisalhos, mas de outra forma são os mesmos. E teria podido ler minha carta? -Brincou Christina.

—Não, mas alguém me teria lido isso. Agora, entra na casa querida. Terá que explicar algumas coisas e poderá fazê-lo enquanto bebe uma xícara de chá disse Johnsy e olhou ao Dick por cima do ombro. Entra a bagagem da senhorita Christina e oferece algo de comer ao condutor antes que parta. No vestíbulo bem iluminado Christina se sentiu curvada pelas alegres saudações do resto da servidão. Pouco depois, Johnsy os despachou a todos com uma série de ordens: trazer chá, preparar comida, esquentar a água do banho e desempacotar a bagagem. Christina retrocedeu um passo e posse a rir. Não trocaste nada, Johnsy. Possivelmente umas poucas cãs mais, mas pelo resto é a mesma.

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—Sim... Por sua culpa tenho mais cabelos brancos... Por esses vagabundeia em terras de pagãos com seu irmão. Acreditei que enlouquecia quando o amo John ordenou que enviassem o resto de suas coisas. E depois, nenhuma palavra de nenhum dos dois. Passou quase um ano – queixou-se Johnsy.

—Lamento não ter escrito Johnsy. Mas o compreenderá quando te explicar algumas coisas.

—Bem, espero que tenha tido boas razões para preocupar a sua velha babá. Mas olhe, tenho-te aqui, de pé no vestíbulo... E nesse estado. Vêem, sente-se - disse Johnsy com expressão áspera enquanto a conduzia à sala.

Depois de lhe tirar a capa e o chapéu, os grandes olhos pardos de Johnsy se fixaram no ventre de Christina.

—Como é possível que o amo Johnny tenha permitido que viajasse sozinha? E onde está seu marido... Não me dirá que teve que ficar nessa terra de pagãos? -Perguntou Johnsy, sentada ao lado de Christina no divã revestido de brocado dourado.

Christina se recostou no respaldo e suspirou fundo. —John aceitou que eu viesse sozinha a casa para ter ao menino.

Do contrário, tivesse sido necessário permanecer no Egito até que meu filho tivesse idade suficiente para viajar. E com respeito a meu marido... Não o tenho. Jamais...

—OH, minha pobre menina! Seu filho ainda não nasceu, e já é viúva.

—Não, Johnsy... Não me permitiste terminar. Não tenho marido porque jamais me casei.

—Não te casou? OH, Meu Deus! -Johnsy começou a chorar. —OH, minha menina! Em seu ventre tem um bastardo... OH, certamente sofre muito. Por que o amo John permitiu que te ocorresse isto? -Gemeu a anciã. —OH... O maldito que te fez isto... Que mil demônios o...

—Não! -Gritou Christina. —Jamais diga nada contra ele... Jamais! Amo ao pai de meu filho. Sempre o amarei. E criarei e amarei a meu filho. Não me importa que seja bastardo!

—Mas senhorita Crissy... Não compreendo. Por que não te casou? Esse homem está morto?

Christina compreendeu que passaria muito tempo antes que pudesse deitar-se aquela noite. Acomodou-se melhor e relatou a história completa ao Johnsy; incluiu tudo o que não havia dito ao John. Começou falando da primeira vez que tinha visto Phillip no baile de Londres e concluiu explicando como tinha sabido que estava grávida e falando de seus planos de volta a casa.

Johnsy chorava e sustentava abraçada Christina.

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—OH, minha menina... Quanto sofreu. Se pelo menos tivesse podido estar ali para te ajudar. E ainda digo que Phillip Caxton é um bandido... Te haver afastado assim...

—Não, Johnsy, Phillip tinha seus motivos. Eram motivos egoístas, mas de todos os modos não o critico. Só espero que se seja feliz com Nura, porque eu sou feliz com meu filho - replicou Christina.

—Sim, talvez se sinta feliz, mas ainda assim também te vê triste, porque amaste a um homem e depois o perdeste em tão pouco tempo. Sinto muito, amor... Seriamente o sinto. Mas agora devo te levar a cama. Está dormindo sentada. Deveria me envergonhar por te reter aqui a estas horas. Mas amanhã pode dormir tudo o que deseje. Ordenarei a quão criados não incomodem.

No quarto de Christina, Johnsy a ajudou a tirar o vestido e a colocar uma ampla camisola. A grande banheira cheia de água que estava frente à chaminé de mármore azul se esfriou muito tempo antes; mas de todos os modos Christina estava muito cansada para banhar-se.

Ela examinou seu velho quarto enquanto Johnsy ordenava o resto das coisas. Agradava-lhe esse quarto e o tinha elegido porque a agradavam os tons azul escuro que prevaleciam no cenário.

OH, mas que grato era voltar para casa e encontrar as coisas e às pessoas entre as quais tinha crescido e às que amava!

Christina se deitou e se cobriu o corpo com as mantas. Já estava dormida quando Johnsy a beijou na testa e saiu em silêncio da habitação.

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CAPÍTULO 25

As grosas cortinas de veludo impediam que a luz do dia claro e luminoso penetrasse no quarto de Christina. Uma porta se fechou fortemente em um rincão da casa. Os olhos avermelhados de Christina piscaram um momento, mas se sentia muito cansada e não desejava abandonar a morna comodidade de seu leito. Voltou a sumir-se em um pacífico sonho.

Mas uns instantes depois o som de vozes coléricas despertou Christina.

—Onde está, droga? Christina se levantou, apoiando-se nos cotovelos. —Senhor Tommy, não pode entrar ali. Disse que está dormindo. Christina reconheceu a voz irritada de Johnsy frente à porta de

sua habitação. —Santo Deus, mulher... É meio-dia. Ou você entra e a acorda...

Ou o farei eu. Era Tommy Huntington. —Não fará nada pelo estilo. Minha menina está cansada.

Chegou muito tarde ontem à noite e precisa dormir. —Por que demônios não me informaram que Christina tinha

retornado? Tive que sabe-lo esta manhã por meus criados. —Acalme-se, senhor Tommy. Não soubemos que vinha a

senhorita Christina até vê-la aqui. Lhe teria informado logo que despertasse. Agora, saia daqui. Mandarei chama-lo assim que desperte a senhorita Crissy.

—Não será necessário. Não vou partir. Esperarei abaixo, mas será melhor que desperte logo, porque do contrário retornarei.

Quando Tommy desceu as escadas, a porta de Christina se abriu silenciosamente e Johnsy apareceu à cabeça. Quando viu Christina sentada na cama, entrou na habitação.

—Ah, menina... Lamento haver despertado. Certamente, o senhor Tommy é obstinado quando quer.

—Está bem, Johnsy. De todos os modos, acredito que é hora de que me levante - replicou Christina. Agora me darei um banho e depois irei vê-lo.

—Sim e estou segura de que se impressionará quando vir seu estado. Bem, dir-lhe-ei ao senhor Tommy que pode ver-te no refeitório dentro de um momento. Poderá lhe dizer o que deseje durante o café da manhã... Você e o menino necessitam alimento.

Aproximadamente uma hora depois, Christina desceu lentamente a escada curva e se encaminhou sem vacilar para o refeitório.

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Deteve-se na soleira quando viu Tommy sentado frente à longa mesa, de costas à entrada. Entrou discretamente na habitação.

—Tommy, me alegro de voltar a ver-te. —Christina por que você não... -Ficou de pé, voltando-se, mas

parou de repente quando viu o ventre proeminente. Um som breve e afogado escapou de sua garganta. Christina se

virou e se sentou ao outro extremo da mesa. Uma das criadas trouxe uma grande bandeja com mantimentos e Christina, como se não houvesse nada anormal, serviu-se de presunto e ovos e dois deliciosos bolos de cerejas.

—Desejas me acompanhar, Tommy? Detesto comer sozinha, e estes mantimentos cheiram muito bem - disse Christina sem olhá-lo, atarefada em pôr manteiga a uma torrada.

—Como... Como pode te comportar exatamente do mesmo modo que se nada tivesse ocorrido? Christina, como pode me fazer isso? Sabe que te amo. Queria me casar contigo. Estive te esperando pacientemente, contando os dias que me separavam de sua volta. Por isso vejo, casou-te logo que chegou a esse maldito país! Como é possível? Como pôde te casar tão às pressas com outro homem?

—Não estou casada Tommy... Jamais o estive - disse serenamente Christina. —Agora, sente-se. Está conseguindo que perca o apetite.

—Mas está grávida! -Exclamou Tommy. —Sim - riu ela. —Estou. —Mas não entendo - e depois, conteve uma exclamação. —OH,

sinto muito, Christina! Se John não matou ao homem, encontrá-lo-ei e conseguirei que se faça justiça!

—OH, basta, Tommy! Nem me casei, nem me estupraram. Raptaram-me e me deixaram prisioneira durante quatro meses. Apaixonei-me por homem que me raptou. Não sabe que levo em meu ventre a seu filho e nunca saberá. Mas entende uma coisa, Tommy. Conservarei a meu filho e o criarei e lhe oferecerei todo meu amor. Sinto-me feliz, de modo que não se compadeça. Faz muito me pediu em casamento, mas nunca disse que aceitava. E agora, é obvio, isso é impossível. Lamento te haver ofendido, mas de todos os modos desejaria que fôssemos amigos, se... Se pode me perdoar.

—Te perdoar! Amei-te e se entregou a outro homem. Queria-te por esposa e leva em seu ventre o filho de outro. Pede que te perdoe? OH, Meu Deus!

Descarregou um murro sobre a mesa e saiu bruscamente da habitação.

—Tommy, não vá assim! -Gritou Christina, mas ele já tinha saído da habitação.

Johnsy entrou no refeitório, no rosto uma expressão preocupada. —Esperei até que ouvi que partia. Ficou muito magoado?

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—Sim, temo que o ofendi terrivelmente - suspirou Christina. — Em realidade, não desejava que tivesse ocorrido nada de tudo isto.

—Sei querida. A culpa não é tua, de modo que não deve inquietar-se. A culpa é desse Phillip Caxton. Mas o senhor Tommy acabará acalmando-se. Você e ele tiveram muitas brigas antes e sempre terminaram arrumando-se.

—Mas isso foi quando fomos meninos. Não acredito que me perdoe isto jamais.

—Tolices! Só necessita tempo para acostumar-se a situação. Recorda o que te digo... Retornará. Mas agora, termina sua comida. Desejas que esquente um pouco?

Não. Já não tenho apetite - replicou Christina, e se levantou da cadeira.

—Sente-se ali, e não te mova. Agora deve pensar não só em ti mesma. Seu filho necessita alimento, e pouco importa se você tiver ou não apetite. Desejas que nasça um menino são e forte, verdade?

—Sim, Johnsy, em efeito. Christina concluiu a comida fria e foi diretamente aos estábulos.

Logo que atravessou a porta aberta, o cavaleiro Deke foi correndo a sauda-la.

—Sabia que você viria antes que conclua o dia. Me alegro de vê-la novamente, senhorita Christina.

—E eu me alegro de estar outra vez em casa, Deke. Onde está ele?

—A quem se refere? —Vamos, Deke! —Possivelmente se refere a esse grande cavalo negro que está no

último box? —Talvez a esse - replicou Christina, rindo alegremente e correndo

para o extremo do estábulo. —Quando viu o grande cavalo negro lhe rodeou o pescoço com os

braços e o apertou contra seu corpo e obteve como resposta um sonoro relincho.

—OH, Dax... Como sentia saudades! —Sim, e também ele sentiu saudades. Ninguém o montou desde

que você se foi, senhorita Christina, embora o tivemos atarefado. É o pai de quatro magníficos potros e há outro a caminho. Mas vejo que ainda terá que esperar um tempo antes de monta-lo - disse timidamente Deke.

—Sim. Mas não será muito - replicou Christina. — Tire-o do box, Deke, e deixe-o no curral. Quero ver como se move.

—Sim, certo que se moverá. É capaz de saltar e correr e oferecer um excelente espetáculo.

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Christina se separou de Dax e atravessou os bosques que começavam atrás dos estábulos chegando ao lago. Onde ela e Tommy estavam acostumados a nadar. Era um lugar sereno, sombreado por um alto carvalho cujos ramos se estendiam quase até o centro do espelho da água.

Christina se sentou no chão e apoiou as costas na velha árvore, recordando um lago análogo nas montanhas. Phillip provavelmente ia banhar-se ali com Nura.

Christina retornou tarde a casa. O sol já se pôs e o céu estava tingido de suave púrpura, que se escurecia pouco a pouco. Christina entrou no vestíbulo iluminado. A temperatura era um tanto fria, e a jovem esfregou energicamente os braços nus ao entrar no salão.

A habitação estava sumida em sombras. Só a tênue luz do vestíbulo lhe permitiu ver o caminho para o lar. Tomou um dos fósforos longos depositados sobre o suporte da chaminé e acendeu o fogo, e quando este começou a cobrar força Christina retrocedeu um passo. Pouco a pouco o calor a envolveu; afastou-se para acender os muitos abajures distribuídos em diferentes rincões do quarto. Tinha dado apenas dois passos quando viu uma figura nas sombras, junto à janela aberta. Conteve uma exclamação de medo quando a figura avançou para ela, mas o temor se converteu em cólera quando identificou ao intruso.

—Tommy, que susto me deste! Que demônios faz aqui, na escuridão? -Disse com voz colérica.

—Estava te esperando, mas não queria te assustar - replicou o jovem com expressão humilde. Geralmente a cólera de Christina o intimidava.

—Por que não me falou quando entrei na habitação? —Queria ver-te sem ser observado. —Com que propósito? —Ainda em seu estado atual... É a moça mais bela da Inglaterra. —Bem, obrigado, Tommy. Mas sabe que não me agrada que me

espiem, e não esperava te voltar a ver hoje. Veio por um motivo particular? Se não for assim, dir-te-ei que estou cansada e que pretendo jantar e me deitar.

—Nesse caso, por que entraste e acendeu o fogo? —Pode ser muito irritante! Comerei aqui, se quer sabê-lo. Não

me agrada jantar sozinha nesse enorme refeitório. Nesse instante uma das criadas entrou na habitação, mas parou

quando viu Christina. —Senhorita, devia acender os abajures. —Nesse caso, faça-o. Depois, diga à senhora Ryan que me

prepare o jantar.

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—Tem inconveniente em que te acompanhe? -Disse Tommy. Christina arqueou o cenho, surpreendida ante a petição. Possivelmente desejava conservar sua amizade.

—Molly, ordene que sirvam o jantar para dois e que a tragam aqui. E por favor, relate a Johnsy que retornei; não quero que se assuste.

Quando a criada se retirou, Christina se aproximou do divã e Tommy se sentou junto à jovem.

—Christina, tenho que te dizer algo e quero que me escute antes de responder.

Christina o examinou mais atentamente, e viu que Tommy tinha amadurecido durante o último ano. Parecia mais alto e seu rosto tinha uma expressão menos infantil. Inclusive tinha deixado o bigode, e tinha a voz mais profunda.

—Está bem, Tommy. Adiante... Escuto-te. —Passei toda a tarde tratando de dominar a impressão que me

provocou saber que ama a outro homem. Eu... Cheguei à conclusão de que ainda te amo. Não importa que leve em seu ventre o filho de outro homem. Mesmo assim desejo me casar contigo. Aceitarei a seu filho e o criarei como se fosse meu. Logo esquecerá ao outro. Aprenderá a me amar... Sei que o fará. E não te pedirei que me responda agora. Desejo que o pense um tempo. -Fez uma pausa, e tomou a mão. —Christina, posso te fazer feliz. Nunca lamentará me haver aceitado por marido.

—Lamento que ainda sinta assim com respeito a mim - disse Christina. —Abrigava a esperança de que pudéssemos ser amigos. Mas não posso me casar contigo, Tommy, e jamais trocarei de idéia. O amor que professo ao pai de meu filho é muito intenso. Embora não volte a vê-lo o resto de minha vida, não posso esquecê-lo.

—Droga! Christina... Não pode viver com uma lembrança. Ele está muito longe, mas eu estou aqui. Em seu coração não há espaço para outro amor?

—Não para essa classe de amor. —E seu filho? Eu lhe daria um nome. Não confrontaria a vida na

condição de um bastardo. —A notícia de minha gravidez provavelmente já se difundiu no

Halstead. Chamariam de bastardo meu filho embora me casasse contigo. Só seu verdadeiro pai pode resolver esse problema.

—Mesmo assim, Crissy... O menino necessita um pai. Eu o amaria... Embora o fosse porque é teu. Tem que pensar no menino.

Christina se separou de Tommy e parou junto ao fogo. Detestava a idéia de machucar a seu amigo.

—Tommy, já te disse...

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—Não, Christina... Não diga isso. –Aproximou-se de Christina e a tomou pelos ombros. — Por Deus... Pensa nisso. É tudo o que sempre sonhei, o que sempre desejei. Não pode destruir tão facilmente minhas esperanças. Amo-te, Crissy... Não posso evitá-lo!

Virou-se e saiu da habitação sem dar a Christina nem sequer a oportunidade de responder. Poucos minutos depois, Molly trouxe o jantar, mas teve que levar um dos pratos.

Christina jantou frente à mesa coberta com a lâmina de mármore dourado e branco, frente ao divã; ao redor, três cadeiras vazias.

Sentia-se pesada e lenta, solitária e desventurada. Maldição, por que Tommy obtinha que se sentisse tão culpada? Não desejava casar-se com ele, porque não suportava a idéia de viver com outro homem depois de ter conhecido Phillip. Por que tinha que amá-la Tommy?

Christina se levantou do divã, saiu da habitação e começou a subir a escada. Tinha acreditado que nessa casa poderia ter em paz a seu filho; mas o mesmo houvesse ter permanecido no Cairo.

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CAPÍTULO 26

Durante os meses mais ou menos rotineiros que seguiram,

Christina se ocupou de preparar a habitação para o filho de Phillip. Escolheu móveis e decidiu utilizar um tecido celeste e dourado para confeccionar cortinas e cobrir as cadeiras; além disso, comprou um tapete azul. Abriu uma porta que comunicou sua habitação com a do menino.

O quarto estava preparado. As roupinhas que Christina tinha confeccionado formavam ordenadas pilhas. E ela se aborrecia porque não tinha nada que fazer.

Não podia cavalgar, nem ajudar nas tarefas da casa. Somente ler e passear. Sentia-se cada vez mais pesada e se perguntava se conseguiria recuperar a esbelteza. Deu volta ao grande espelho, de modo que olhasse para a parede; estava farta de contemplar sua forma arredondada.

Tommy a torturava. Vinha a vê-la todos os dias e cada vez se repetia a mesma cena. Não estava disposto a renunciar.

Repetia uma e outra vez que não aceitava o casamento, mas ele não escutava. Sempre achava novas razões pelas quais devia casar-se com ele, e fazia ouvidos surdos quando lhe dizia que não estava disposta. Christina começava a fartar do assunto.

Por volta do final da tarde de um dia de setembro Christina adotou uma decisão definitiva. Passou de uma habitação a outra procurando Johnsy e a encontrou na habitação do menino, limpando a inexistente sujeira dos móveis. Christina entrou e parou ao lado do berço. Tocou levemente os palhaços de vivas cores e os soldados de brinquedo que penduravam sobre a caminha.

—Johnsy, tenho que sair daqui - disse de repente. —Querida, do que está falando?

Não posso permanecer aqui mais tempo. Tommy me enlouquece. Repete-me constantemente o mesmo... Cada vez que vem. Não o suporto mais.

—Não lhe permitirei entrar e assim se terminará o assunto. Direi que aqui não o aceitamos.

—Sabe que não suportará isso e que o problema se agravará. Sempre me sinto nervosa temendo que ele apareça.

—Sim, isso não é bom para o menino. —Sei, e por isso tenho que partir. Irei a Londres e alugarei um

quarto em um hotel. Encontrarei um médico a quem chamar quando chegar o momento. Mas estou decidida. Parto.

—Não fará nada pelo estilo. Não irá a Londres... A um lugar lotado de gente que tem tempo só para ela mesma... Gente muito

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egoísta - replicou Johnsy, agitando o dedo frente aos narizes de Christina.

—Mas é necessário que vá... Estarei perfeitamente bem. —Querida, não me permitiu terminar. Aceito que deve te afastar

do senhor Tommy. Mas não vá a Londres. Pode ir com minha irmã que trabalha no Benfleet. É cozinheira em uma grande propriedade que pertence a uma família do mesmo nome que o indivíduo a quem você ama.

—Caxton? —Sim, mas esse Phillip Caxton não pode ser um cavalheiro,

sobre tudo depois do que fez. —Bem, a única família de Phillip é seu irmão, e vive em Londres. —Sim, de modo que pode ir e ter ali a seu filho... Acredito que

Mavis disse que a residência se chama Victory. E ali há gente que pode te cuidar.

—Mas, o que dirá o proprietário se vivo em sua casa? -Perguntou Christina.

—Mavis diz que o amo nunca está... Sempre viaja de um país a outro. Os criados têm a casa para eles e o único trabalho é conservá-la em boas condições.

—Mas você mencionou antes Mavis. Pensei que vivia no Dovet. —Assim era, até faz sete meses. A antiga cozinheira de Victory

morreu, e Mavis se inteirou por acaso de que o posto estava vago. O amo paga bem aos criados. É um homem muito rico. Mavis assegura que sua habilidade na cozinha lhe permitiu ocupar o cargo. Havia tantas candidatas, que ela pôde considerar-se afortunada de conseguir aquele posto. Esta noite lhe enviarei uma mensagem para lhe informar que você vai ali. Depois, faremos à bagagem e sairá amanhã. Querida, agradar-me-ia te acompanhar, mas esta casa se virá abaixo se eu não estiver.

—Sei, mas de todos os modos estou segura de que me sentirei bem com sua irmã.

—Sim, e conforme dizem a ama de chaves é uma pessoa bondosa. Eu me ocuparei de que esteja em boas mãos.

Essa noite Christina não informou a Tommy que partia. Deixou a cargo de Johnsy a tarefa de lhe explicar a situação.

Depois de uma viagem de três dias Christina chegou a fins de uma tarde à vasta propriedade chamada Victory. Durante há última meia hora, a carruagem tinha percorrido a propriedade dos Caxton. Christina percebeu que o lugar tinha pelo menos o dobro da extensão que Wakefield. A espaçosa mansão de pedra calcária coberta de musgo e trepadeira era uma construção luxuosa.

Christina levantou o trinco, uma grande "C" de ferro, fixada às altas portas dobre, e chamou duas vezes. Sentia-se nervosa porque ia

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à casa de gente desconhecida, e lhe parecia irônico que entrasse no lar de um homem chamado Caxton, para ter seu filho engendrado por outro homem chamado Caxton.

Abriu-se a porta e uma mulher pequena e amadurecida apareceu e sorriu com simpatia. Tinha os cabelos negros com grandes mechas recolhidas na nuca, e bondosos olhos cinza.

—Você certamente é Christina Wakefield. Entre... Entre. Sou Mavis, a irmã de Johnsy. Me alegro muitíssimo de que tenha vindo aqui para ter a seu filho - afirmou alegremente, enquanto introduzia Christina em um enorme vestíbulo cujo teto estava à altura do segundo piso. — Quando esta manhã chegou o mensageiro com a notícia de que você vinha, sentimos que a vida voltava para esta velha casa.

—Não quero provocar moléstias - disse Christina. —Tolices, menina! Por que teria que causar moléstias? Aqui há

muita gente ociosa, sobre tudo porque o amo sempre está ausente. Pode considerar-se bem-vinda, e permanecer todo o tempo que deseje. Quanto mais tempo, melhor.

—Obrigado - disse Christina. O espaçoso vestíbulo estava mal iluminado, e as paredes

apareciam revestidas de antigas tapeçarias com cenas de batalhas e paisagens. Ao fundo, duas escadas curvas, e entre elas duas pesadas portas dobre de madeira esculpida. Cadeiras, divãs e estátuas de mármore contra as duas paredes.

Christina se sentiu sobressaltada. —Nunca vi um vestíbulo tão enorme. É muito formoso.

Sim, a casa é assim... Grande e solitária. Necessita uma família que a habite, mas não acredito que viva o tempo necessário para ver satisfeito meu desejo. Parece que o amo não deseja casar-se e ter filhos.

—OH... Então, é um homem jovem? -Perguntou Christina, surpreendida. Tinha-o imaginado velho e débil.

—Assim dizem, e também irresponsável. Prefere viver no estrangeiro antes de administrar sua propriedade. Mas venha, você certamente está esgotada depois de percorrer o campo em seu estado. A levarei a sua habitação, e pode descansar antes do jantar - disse Mavis, enquanto subia a escada com Christina. — Sabe uma coisa, senhorita Christina, seu filho será o primeiro que nasça aqui em duas gerações. Emma, a ama de chaves, disse-me que lady Anjanet foi à última, e era filha única.

—Então, o senhor Caxton não nasceu aqui? -Perguntou Christina.

—Não, nasceu no estrangeiro. Lady Anjanet viajava muito em sua juventude - replicou Mavis.

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Um sentimento de inquietação começou a insinuar-se em Christina, mas conseguiu domina-lo.

—A colocarei neste quarto... Recebe o sol da manhã - disse Mavis.

Chegaram ao segundo piso e começaram a caminhar pelo longo corredor. Também aí as paredes estavam totalmente cobertas de belas tapeçarias.

Christina parou quando chegou à primeira porta. Estava aberta, e o interior azul lhe recordava seu próprio quarto. Surpreendeu-lhe o tamanho e a beleza da habitação. O tapete e as cortinas eram de veludo azul escuro, e os móveis e a colcha mostravam um azul mais claro. Havia ali uma enorme chaminé de mármore negro.

—Poderia ocupar este quarto? -Perguntou Christina, obedecendo a um impulso. — O azul é minha cor favorita.

—É obvio menina. Estou segura de que o senhor Caxton não se oporá. Jamais está em casa.

—OH... Não sabia que este era seu quarto. Não, não poderia. —Está bem, menina. É necessário que alguém viva aqui. Faz

mais de um ano que ninguém o habita. Ordenarei que tragam sua bagagem.

—Mas... Suas coisas, seus pertences, não estão aqui? —Sim, mas é uma habitação para duas pessoas. Sobrar-lhe-á

espaço. Depois do jantar, Mavis percorreu a planta baixa com Christina. Acompanhou a bondosa ama de chaves, Emmaline Lawrance.

As habitações dos criados, uma espaçosa biblioteca e um sala de aula estavam no terceiro piso. Jamais se usava o segundo piso da asa Ocidental, mas na planta baixa um amplo salão de baile ocupava todo o fundo da casa. Christina viu a cozinha, um grande salão de banquetes e o refeitório da residência. Do outro lado, o escritório do amo e o salão.

O salão estava belamente decorado em verde e branco, e muitos retratos adornavam as paredes, Christina se sentiu atraída pelo principal, que pendurava sobre o lar. Permaneceu de pé frente à imagem, contemplando um par de olhos verde mar com reflexos dourados. Era o retrato de uma formosa mulher, de cabelos muito negros que chegavam aos ombros nus. A inquietação anterior de Christina se repetiu, mas esta vez mais intensa.

—É lady Anjanet - informou Emma Christina. — Era tão formosa. Sua avó era espanhola... Dali lhe vêm esses cabelos negros, mas os olhos são herança do lado paterno da família.

—Tem uma expressão muito triste - murmurou Christina.

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—Sim. Pintaram o retrato quando retornou a Inglaterra com seus dois filhos. Jamais voltou a sentir-se feliz, mas nunca explicou a ninguém a razão de sua atitude.

—Você mencionou a dois filhos? —Sim, o senhor Caxton tem um irmão menor, que vive em

Londres. Christina sofreu um enjôo e se desabou na cadeira mais

próxima. —Sente-se bem, senhorita Christina? Se vê pálida - exclamou

Mavis. —Não sei... Eu... Sinto-me um pouco fraca. Quer me dizer o

nome de batismo do senhor Caxton? -Perguntou. Mas já conhecia a resposta.

—É obvio - disse Emma. — Chama-se Phillip. O cavalheiro Phillip Caxton.

—E seu irmão é Paul? -Perguntou Christina com voz débil. —Vá, sim... Como sabia? Conhece senhor Phillip? —Sim o conheço! -Christina emitiu uma risada histérica. — Vou

ter um filho dele. Mavis conteve uma exclamação. —Mas, por que não me disse isso? -Perguntou Emma, uma

expressão comovida no rosto. —Parece-me maravilhoso! -Exclamou Mavis. Mas vocês não entendem. Eu não sabia que esta era sua casa.

Mavis, você nunca disse a Johnsy o primeiro nome do senhor Caxton, e Phillip nunca me explicou que tinha uma propriedade nesta região do país. Agora não posso permanecer aqui... Não lhe agradaria.

—Tolices - sorriu Emma. — Que lugar melhor que sua própria casa para que nasça o filho do senhor Phillip?

—Mas Phillip não quer saber nada mais comigo. Não desejava este filho.

—Não posso acreditá-lo, senhorita Christina... Você é tão formosa - disse Mavis. — O senhor Caxton não pode ser tão estúpido. Você lhe falou do menino?

—Eu... Sabia que ele não desejava este filho, de modo que não vi motivo para dizer-lhe.

—Se não o disse, não pode estar segura de seus sentimentos - observou Emma. — Não, ficará aqui, tal como o planejamos. Não pode me negar a oportunidade de ver o filho de Phillip Caxton.

—Mas... —Bem, não quero ouvir uma palavra mais a respeito de sua

partida. Mas eu adoraria saber como se conheceram você e o senhor Caxton.

—Eu também desejo conhecer toda a história! -Disse Mavis.

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Christina contemplou o retrato de lady Anjanet. Que notável parecia Phillip e sua mãe!

Poucas semanas depois, começaram os dores de Christina. Sentiu os primeiros espasmos leves enquanto dava seu passeio matutino pelos amplos jardins que se estendiam atrás da casa.

Emma deitou imediatamente Christina, pôs a esquentar água e chamou Mavis, que tinha experiência em partos. Mavis permaneceu ao lado de Christina e lhe assegurou que tudo estava bem. As horas passaram lentamente, e Christina teve que apelar a toda sua vontade para conter os gritos de dor.

O parto durou quatorze largas horas. Com um esforço definitivo Christina trouxe seu filho ao mundo e se viu recompensada por um pranto vigoroso.

Christina estava esgotada, mas sorria satisfeita. —Quero ver meu filho - murmurou com voz débil a Emma, que

estava junto à cama e parecia tão cansada como Christina. —Apenas Mavis termine de lavá-lo, poderá vê-lo. Mas, como

sabia que era menino? —Acaso o filho de Phillip Caxton podia ser outra coisa?

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CAPÍTULO 27

Era meio—dia, a fins de setembro, e as paletas dos ventiladores

que se moviam lentamente não aliviavam o calor e a umidade do pequeno refeitório de hotel. Phillip tinha chegado ao Cairo no dia anterior. Aquela manhã tinha conseguido encontrar um traje mais ou menos decente e tinha ordenado tudo o que necessitava para a viagem de volta à Inglaterra. Agora estava saboreando uma taça de conhaque e esperava a comida; sua mente estava totalmente vazia. Não desejava pensar nos últimos oito meses, que tinham sido para ele um verdadeiro inferno.

—Phillip Caxton, verdade? Que coincidência vê-lo aqui. O que o traz para o Cairo?

Phillip elevou os olhos e viu John Wakefield de pé frente à mesa. —Tinha que atender alguns assuntos - replicou Phillip.

Perguntou se John sabia que esses assuntos se relacionavam com Christina.

—Mas agora terminei, e ao fim de mês retornarei a Inglaterra. Quer almoçar comigo? -Perguntou cortesmente Phillip.

—Em realidade, estou esperando a uma pessoa com quem me convidou para almoçar; mas beberei uma taça com você enquanto ela chega.

—Reunir-se-á aqui com sua irmã? -Perguntou Phillip, com a esperança de que a resposta fosse negativa. Não desejava vê-la agora... Ou nunca.

—Christina retornou a Inglaterra faz uns cinco meses. Não podia suportar o Egito. Tampouco me agrada muito este país. O único aspecto positivo de minha estada aqui foi conhecer minha esposa. Casamo-nos o mês passado e muito em breve voltaremos para casa; provavelmente no mesmo navio que você.

—Imagino que corresponde felicita-lo. Pelo menos, sua viagem ao Egito não foi uma pura perda... A diferencia da minha - disse amargamente Phillip. De boa vontade se afastava do Egito e das lembranças recentes que o país evocava nele.

John Wakefield se levantou e fez gestos em direção à entrada e Phillip viu duas formosas mulheres que se aproximavam da mesa. John beijou na bochecha a mais velha das duas jovens e apresentou a sua esposa e sua cunhada.

—O senhor Caxton é um conhecido de Londres. Parece que voltaremos juntos a Inglaterra - disse John às damas.

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—Alegra-me muitíssimo conhece-lo, senhor Caxton - exclamou Estelle Hendricks. — Estou segura de que a viagem será muitíssimo mais agradável com você. Senhor Caxton, não está casado, verdade?

—Estelle! -Exclamou Kareen. — Esse assunto não te concerne! Depois, virou-se para Phillip, um leve sorriso nos lábios ruborizados. —Senhor Caxton, desculpe a minha irmã. É uma moça muito franca e sempre me traz dificuldades.

A audácia da jovem divertiu Phillip. —Não se preocupe senhora Wakefield. É reconfortante conhecer

uma pessoa que diz o que pensa. Aquela noite, Phillip estava deitado na cama do hotel e

amaldiçoava sua sorte, que o tinha levado a encontrar-se com John Wakefield. O encontro tinha renovado vividamente a imagem de Christina. Tinha guardado a esperança de esquecê-la, mas era impossível. Noite atrás noite sua imagem o perseguia; o corpo belo e esbelto apertado contra o corpo do próprio Phillip; seus cabelos quando a luz os roçava; os olhos verde azulados e o sorriso sedutor. Só pensando nela sentia que o dominava uma profunda excitação. Ainda a desejava, mesmo tendo decidido não vê-la nunca mais.

Ao princípio, Phillip tinha pensado permanecer no Egito. Não podia retornar a Inglaterra e correr o risco de tropeçar com Christina. Mas em qualquer lugar que olhava, via-a. Na tenda, à beira do lago, no deserto... Em qualquer parte. Enquanto permanecesse no Egito não poderia afastá-la de sua mente.

Phillip tinha pensado retornar a Inglaterra quatro meses antes. Mas Amair, irmão de Amine, tinha chegado de visita ao acampamento e tinha revelado a Phillip a verdade sobre o seqüestro de Christina. Rashid tinha planejado o assunto. Tinha conspirado para que matassem Phillip, porque desejava ser xeque.

Rashid não tinha retornado ao acampamento depois de levar Christina e devolve-la a seu irmão. Se tivesse retornado, Phillip o teria matado; durante quatro meses Phillip procurou Rashid, mas o árabe tinha desaparecido.

No dia anterior à partida do navio, como não tinha nada melhor que fazer, Phillip foi à praça do mercado e percorreu os postos e as pequenas lojas. As ruas estavam lotadas de árabes que regateavam. Em qualquer parte, Phillip viu camelos carregados com fardos de mercadorias.

O aroma fragrante dos perfumes saturava o ar e recordava Phillip a primeira vez que tinha percorrido essa praça, uns quatorze anos atrás. Então tinha apenas vinte anos, e o Egito lhe tinha parecido um país estranho e temível. Tinha vindo a procurar a seu pai, mas não tinha idéia do modo de achá-lo. Sabia unicamente o nome de seu pai, e que era o xeque de uma tribo do deserto.

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Phillip tinha passado semanas percorrendo as ruas poeirentas e perguntando às pessoas se sabiam de Yasir Alhamar. Finalmente compreendeu que desse modo não obteria resultados. Seu pai era um homem do deserto, de modo que Phillip contratou a um guia para que o levasse ali. Com dois camelos carregados de fornecimentos, iniciaram o percurso pelas areias candentes.

Durante os duros meses que seguiram, Phillip se familiarizou com as privações da vida no deserto. O sol ardente calcinava a terra durante o dia; o frio intenso o obrigava durante a noite a procurar o calor do camelo.

Durante vários dias tinham avançado sem ver ninguém. Quando cruzavam com beduínos, estes não conheciam o Yasir, ou não tinham a menor idéia do lugar em que podiam achá-lo.

E de repente, quando Phillip se dispunha a renunciar à busca, deu com o acampamento de seu pai. Jamais esqueceria esse dia, nem a expressão do rosto de seu pai quando Phillip se identificou.

Phillip tinha sido feliz no Egito, mas já não podia suportar mais a permanência nesse país. Enquanto estivesse ali, não poderia esquecer Christina. Como aparentemente não tinha esperança de achar Rashid, decidiu retornar a Inglaterra. Voltaria para a Inglaterra e informaria a Paul da morte de seu pai e venderia sua propriedade. Possivelmente fosse para aos Estados Unidos. Desejava ir a um lugar muito afastado do lugar em que estivesse Christina Wakefield.

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CAPÍTULO 28

Christina permaneceu em Victory um mês depois do parto e

chegou a conhecer muito bem ao pequeno Phillip. O nome lhe quadrava, porque era a mesma imagem de seu pai, os mesmos olhos verdes, os mesmos cabelos negros, os mesmos traços bem definidos. Era um menino formoso, são... E com apetite insaciável. Era a alegria e a vida de Christina.

Mas ela já tinha permanecido muito tempo nessa casa e era hora de retornar a seu lar. Johnsy sem dúvida ansiava ver Phillip e Christina confiava que agora poderia enfrentar-se com o Tommy.

Virou-se para olhar a seu filho, que estava deitado no centro da grande cama de Phillip, e que a contemplava serenamente. Christina lhe dirigiu um sorriso, guardou os últimos objetos no baú e assegurou bem os fechamentos. Tinha ouvido chegar à carruagem poucos minutos antes, de modo que se aproximou da porta e pediu a uma das criadas que ordenasse ao chofer que subisse a pegar a bagagem.

Quando a criada se retirou, Christina colocou o chapéu e a capa, e dirigiu um último olhar à habitação. Era a última vez que via algo que pertencia Phillip. De repente se sentiu entristecida ante a idéia de abandonar o lar do homem a quem amava. Passeou pela habitação e com a mão acariciou os móveis, consciente de que era a mesma madeira que outrora ele havia meio doido.

—E quem é você, senhora? Christina se virou bruscamente ante o som da voz desconhecida e

conteve uma exclamação quando viu Paul Caxton na soleira. —Que demônios faz aqui? - Perguntou ele. Mas de repente viu o

menino de olhos verdes no centro da cama. —Oh!!! Que me pendurem! Disse que o conseguiria. Disse que a

conquistaria, mas eu acreditei que você jamais aceitaria casar-se com ele! - Paul riu em voz alta e se virou para olhar de novo Christina, que ainda estava tão surpreendida que não sabia o que dizer. —Onde está meu irmão? Suponho que corresponde oferecer minhas felicitações.

—Senhor Caxton, seu irmão não está aqui, e eu não me casei com ele. Agora, se me desculpar quero sair - replicou friamente Christina, e se aproximou da cama para recolher ao menino.

—Mas você tem um filho dele. Quer dizer que esse canalha não se casou com você?

—Seu irmão me seqüestrou e me teve prisioneira por quatro meses. Não quis casar-se comigo. Dei a luz ao filho que Phillip não

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deseja; mas eu sim o desejo, e o criarei sozinha. Agora, se você me desculpar, parto-me.

Passou frente a Paul Caxton e desceu a escada. Paul permaneceu imóvel olhando-a e perguntando-se que

demônios ocorria. Não podia acreditar que Phillip não desejasse a seu próprio filho. E por que não se casou com Christina Wakefield? Teria enlouquecido seu irmão?

Era evidente que não obteria resposta de Christina. Teria que escrever a Phillip.

Christina levava uma semana na Residência Wakefield quando recebeu uma carta de John. Dizia-lhe que Kareen tinha aceitado sua proposta de casamento e que logo voltaria para casa com sua esposa.

Christina sentiu profunda alegria. Tinha afeto por Kareen, e se sentia realmente feliz de ser sua cunhada. Supôs que retornaria a tempo para o Natal, que festas tão felizes celebraria!

Johnsy e Christina se ocuparam de decorar o antigo dormitório que outrora tinham ocupado os pais de ambos os jovens; agora seria a habitação de John e sua esposa. Christina consagrou todas suas forças ao trabalho, pois necessitava o exercício para recuperar a firmeza dos músculos. Havia se sentido decepcionada quando não recuperou imediatamente sua figura e teve que apelar ao espartilho. Mas se exercitava sem descanso e abrigava a esperança de que para a época da volta de John teria conseguido recuperar sua silhueta.

O tempo passava rapidamente. Christina reatou suas saídas diárias a cavalo, um costume que a beneficiava e agradava a Johnsy. Desse modo, Johnsy tinha oportunidade de brincar com o pequeno Phillip e Christina conseguia evitar os cuidados de Tommy. Ele não tinha mudado de atitude depois da viagem de Christina a Victory. O tratava friamente, mas Tommy insistia.

Christina intuía que Tommy odiava ao menino, embora procurasse oculta-lo. Quando pedia ao Tommy que cuidasse do pequeno Phillip, mostrava-se irritado. Insistia em que Johnsy se ocupasse do menino. Além disso, Tommy se enfurecia porque o pequeno Phillip punha-se a chorar sempre que o homem se aproximava. Christina tratava de mantê-los separados todo o possível.

E assim, dois dias depois de Natal, John chegou a casa em companhia de Kareen. Chegaram cedo pela manhã, e Christina ainda dormia quando Johnsy entrou depressa na habitação. Mal teve tempo de colocar uma bata antes que John e Kareen entrassem. Christina correu para eles e os abraçou e beijou.

—Alegro-me muito por vocês e sou feliz porque ao fim retornaram - exclamou Christina, com os olhos cheios de lágrimas.

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—Jamais voltarei a sair de Wakefield - disse John rindo, enquanto abraçava fortemente Christina. — Asseguro-lhe isso. Mas, onde está meu sobrinho?

—Aqui mesmo, amo John - respondeu orgulhosamente Johnsy, enquanto abria a porta de comunicação entre as duas habitações.

O pequeno Phillip estava completamente acordado e tinha um pé em cada mão e todos se reuniram ao redor do berço.

—OH, Christina, é realmente formoso, realmente adorável! - Exclamou Kareen. — Posso segura-lo... Não se importa?

—Claro que sim... O pequeno Phillip adora que o levantem - respondeu Christina.

—Phillip? -John arqueou o cenho. — Acreditei que lhe poria o nome de nosso pai, ou o de seu próprio pai.

—O nome me agradou. Não me pareceu bem chamar Abu a um inglês.

—O mesmo digo - disse John. Tirou a mantinha do pequeno Phillip que estava nos braços de Kareen. — É forte como um boi. Mas, Crissy, de onde vêm esses olhos tão estranhos? Não temos olhos verdes na família e jamais os vi assim em um árabe.

—John faz perguntas tão absurdas. Como posso sabê-lo? -John pensou replicar, mas se interrompeu quando viu o olhar de desaprovação de Kareen.

—É hora de alimentar ao pequeno. Amo John, saia daqui - sorriu Johnsy.

John se ruborizou ante a idéia de que sua irmã amamentava ao menino.

—Crissy desça ao salão quando tiver terminado, Estelle nos acompanhou, de modo que podemos tomar o café da manhã juntos.

Christina se alegrou de saber que Estelle vinha com eles. Era uma formosa jovem e possivelmente Tommy se sentisse atraído por ela.

Um momento depois, Christina deitou o pequeno Phillip, e se reuniu com seus visitantes no refeitório.

—Alegro-me de voltar a verte, Estelle - disse Christina, abraçando a jovem. — Suponho que ficará conosco. Nesta casa dispomos de muito espaço.

—Uns dias; depois, tenho que visitar meus pais. —Você gostou da viagem? -Perguntou Christina. —OH... Foi realmente maravilhoso! -Disse exuberante Estelle. —Temo-me que Estelle se apaixonou por um dos passageiros de

nosso navio... Um amigo de John - disse Kareen. —É o homem mais arrumado que vi jamais, e estou segura de

que corresponde a meus sentimentos - replicou Estelle com uma expressão de felicidade no rosto.

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—Estelle ilude-se muito - disse Kareen. —Que te tenha prestado certa atenção não significa que te ame.

—Sim, ama-me! -Exclamou Estelle. —E voltaremos a nos ver, embora para obtê-lo tenha que ir a Londres. Penso me casar com Phillip Caxton!

Todos se sobressaltaram ante o ruído de pratos quebrados na cozinha e Christina compreendeu que Johnsy tinha estado escutando a conversação. Phillip tinha retornado e estava em Londres. Uma quebra de onda de ciúmes dominou Christina quando pensou em que Estelle tinha viajado no mesmo navio com o homem que ela amava.

Por que tinha retornado? E por que tinha abandonado a Nura? Teria se cansado também dela e agora Estelle era seu novo brinquedo? Esse homem não se cansava de torturar as mulheres?

—Crissy recorda Phillip Caxton verdade? -Perguntou John, que não tinha advertido os sentimentos que ela tratava de controlar.

—Conhece-o, Christina? -Perguntou Estelle. —Então saberá por que eu...

Pálida como um fantasma, Johnsy entrou na habitação e disse: —Senhorita Crissy, lamento que me caíssem os pratos... Me

deslizaram das mãos. Pode me ajudar a chegar a meu quarto? Não me sinto muito bem.

—É obvio Johnsy - respondeu agradecida Christina, que se aproximou da anciã e fingiu que a ajudava a sair do refeitório.

Quando estiveram a certa distância, Johnsy disse: —OH, menina, sinto muito. Deve estar muito mal. Esse bandido

retornou a Inglaterra, e o que pode fazer agora? —Johnsy, não farei nada. Não virá aqui, e eu não irei a nenhum

lugar onde possa encontrá-lo. E não me sinto mal... Só zangada! Esse homem é desprezível. Agrada-lhe destroçar a todas as mulheres bonitas que conhece!

—Querida, parece-me que está ciumenta - observou Johnsy. —Não estou ciumenta - replicou Christina. —Estou enfurecida.

Não o culpo pelo que me fez apesar de que deveria acusá-lo. Provavelmente destroçou o coração de Nura, e agora faz o mesmo com o Estelle! Estelle nem sequer sabe que está casado!

—Tampouco você, Crissy. Não está segura de que se casou com a outra jovem. Possivelmente foi sua amante, como você.

—Não se terá atrevido a fazer isso! Sua família não o teria permitido.

—Bem, de todos os modos não pode estar segura. Aquela noite Tommy foi jantar, mas não prestou atenção a Estelle

nem ela se interessou no jovem. Depois do jantar, Christina conversou um momento a sós com John e lhe pediu que a ajudasse a confrontar o problema de Tommy. Explicou-lhe que Tommy a tinha

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incomodado desde o dia que ela tinha retornado e que não sabia o que fazer.

—Não pode falar com ele, John? Não pode lhe pedir que deixe de me importunar?

—Mas não vejo por que não te casa com ele, Crissy. Ama-te. Seria muito bom marido. E também seria o pai de seu filho. Não pode viver te alimentando com lembranças e estou certo de que com o tempo amaria Tommy.

Christina se surpreendeu um instante. Mas depois compreendeu que possivelmente seu irmão estava certo. Já não havia motivos que lhe impedissem de casar-se com o Tommy.

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CAPÍTULO 29

Phillip descarregou fortes golpes sobre a porta. Atendeu-o um

criado de expressão azeda. —Senhor Caxton... Alegro-me de vê-lo. O senhor Paul se sentirá

muito feliz. —Onde está meu irmão? -Perguntou Phillip enquanto entregava

seu casaco. —Em seu escritório, senhor Caxton. Devo anunciar sua chegada? —Não será necessário - replicou Phillip, e avançou pelo curto

corredor até que chegou à porta aberta do estudo do Paul. —Irmãozinho, posso voltar depois se estiver muito atarefado - disse burlonamente Phillip.

Paul apartou os olhos do papel que estava lendo e ficou de pé rapidamente mostrando um sorriso luminoso em seu rosto harmonioso.

—Caramba, que alegria ver-te Phillip! Quando retornou? Paul se aproximou de Phillip e o abraçou afetuosamente. —Acabo de chegar - respondeu Phillip. Ocupou uma grande

poltrona de couro junto à janela. —Escrevi-te uma carta recentemente, mas parece que iniciou sua

viagem antes que te chegasse minha mensagem. Bem, não importa... Agora está aqui. Bebamos uma taça - disse Paul, e se aproximou de um pequeno gabinete onde tinha um botellón de brandy e um jogo de copos. —Acredito que devo te felicitar.

—Não vejo por que minha volta a casa merece uma felicitação - observou secamente Phillip.

—De acordo. Sua volta sugere simplesmente uma taça, mas merece felicitações porque vi seu filho, e é um menino são e bem formado. Parece-se com você - disse alegremente Paul, enquanto entregava uma taça Phillip.

—Paul, de que demônios está falando? Eu não tenho filhos! —Mas eu... Pensei que sabia! Não foi essa a razão pela qual

retornou a Inglaterra... Para encontrar a seu filho? -Perguntou Paul. —Não te entendo, Paul. Já te disse que não tenho nenhum filho -

respondeu Phillip. Começava a irritar-se. —Então, não pensa reconhece-lo? Negará que existe... Fingirá que

não tem nada que ver nisso? —Não tenho nenhum filho ao que reconhecer.. Quantas vezes

terei que lhe dizer isso Agora, será melhor que me ofereça uma boa explicação, irmãozinho. Está pondo a prova minha paciência! - Explodiu Phillip.

Paul se pôs a rir e ocupou uma cadeira frente à Phillip.

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—Que me enforquem. De modo que não te disse nada, né? Seriamente não sabe uma palavra?

—Não, ela nada me disse, e quem demônios é ela? —Christina Wakefield! Acaso não viveu com ela este último ano? Impressionado, Phillip se recostou em uma cadeira. —Faz três meses teve um filho em Victory. É obvio, supus que

você soubesse visto que ela foi a sua casa a ter o menino. Passava por ali, e me cruzei com Christina precisamente quando ela saía para retornar a sua casa. Pareceu irritar-se porque eu me tinha informado da existência do menino. E me disse o que você tinha feito... Que a tinha seqüestrado e tido aprisionado por quatro meses. Phillip, como demônios pôde fazer uma coisa assim?

—Era o único modo de consegui-la. Mas, por que não me disse uma palavra? - Perguntou Phillip, mais para si mesmo que para o Paul.

—Disse que você não queria ao menino... E que não pensava te casar com ela.

—Mas jamais lhe disse... – Interrompeu-se ao recordar que lhe havia dito precisamente isso. —Havia-lhe dito que não havia a trazido para o acampamento para ter filhos, e ao começo tinha afirmado que não me propunha a desposá-la. Só que o menino se parecer comigo não demonstra que é meu. Christina pôde te-lo concebido depois de voltar com seu irmão.

—Usa a cabeça, Phillip, e calcula o tempo. Deu procuração de Christina logo que chegou ao Cairo, em setembro, não é assim?

—Sim. —Bem, reteve-a quatro meses, abandonou a fins de janeiro e deu

a luz oito meses depois, a fins de setembro. De modo que foi você. E além disso, Christina virtualmente me disse que o menino era teu. Suas palavras exatas foram: "Dei a luz ao filho que Phillip não quer", e posso adicionar que sua intenção é retê-lo e cria-lo ela mesma.

—Tenho um filho! - Exclamou Phillip e descarregou um murro sobre o braço da poltrona e sua risada ressonou na habitação. —Tenho um filho, Paul... Um filho! Diz que me parece?

—Tem os mesmos olhos que você e também os cabelos... É um formoso menino. Pode estar muito contente.

—Um filho. E ela nem sequer me disse isso. Paul, necessitarei um de seus cavalos. Sairei à primeira hora da manhã.

—Vai ao Halstead? —É obvio! Quero a meu filho. Agora, Christina terá que casar-se

comigo. —Se nada sabia do menino, por que retornaste a Inglaterra? -

Perguntou Paul enquanto voltava a encher as taças. — Tornaste a procurar Christina?

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—Ainda a desejo, mas não voltei para encontrá-la. Retornei porque nada tinha que fazer no Egito. Yasir morreu.

—Sinto muito, Phillip. Em realidade, nunca conheci Yasir nem o considerei meu pai. Mas sei que você o queria. Sem dúvida, sofreste muito.

—Assim foi, mas Christina me ajudou a passar esse momento. —Se eu soubesse o que ocorreu entre Christina e você - disse

Paul. —Possivelmente um dia lhe explique isso, irmãozinho; mas não

será agora. Além disso, para falar a verdade ainda não sei muito bem o que ocorreu.

Phillip saiu à primeira hora da manhã seguinte e pôde meditar um pouco enquanto cavalgava através do campo.

Por que Christina não lhe tinha informado logo que soube que estava grávida? Excesso de orgulho? E o que dizer de John? Certamente não tinha revelado a John a identidade de Phillip, porque se o tivesse feito John lhe teria exigido explicações quando se encontraram no Cairo.

Bem, John logo saberia a verdade. Phillip se perguntou como tomaria o assunto, pois tinham chegado a ser bons amigos durante a viagem de volta a Inglaterra. Também se perguntou como reagiria Christina quando ele aparecesse inesperadamente. Era óbvio que não desejava que ele se inteirasse da existência do menino. Ou sim? Tinha ido a Victory com o fim de que ele se inteirasse?

Queria reter e criar ao menino. Se o odiava, por que reter um filho que lhe recordava constantemente ao pai? Possivelmente em realidade ainda sentia afeto por ele!

Se pelo menos houvesse dito que a amava. Se ele não tivesse pretendido que ela o dissesse primeiro. Bem, esta vez o diria assim que a visse.

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CAPÍTULO 30

Christina tinha passado à manhã inteira tratando de evitar

Estelle. Não podia ver tanta felicidade nos olhos da jovem, pois sabia que ela amava Phillip. Agora corriam as últimas horas da tarde e Kareen e Estelle tinham ido a Halstead fazer algumas compra, enquanto John revisava as contas de sua propriedade em seu escritório.

A casa estava em silêncio. Christina estava sentada no salão, e tratava de ler um livro para apartar seu pensamento de Estelle e Phillip. Mas continuava imaginando-os, e os via reunidos, beijando-se e abraçando-se. Droga!

—Christina, preciso conversar contigo. Era Tommy Huntington. Ela se levantou e se aproximou do bar, e sua saia de veludo

vermelho se balançou brandamente. —Tommy, acreditei que não te veria antes da noite. Que assunto

tão importante te traz para esta hora tão cedo? -Perguntou Christina. Voltou-lhe as costas e se atarefou ordenando as pequenas

estátuas sobre o suporte da chaminé. —Conversei esta manhã com John. Coincide comigo em que

devemos nos casar. Christina não pode continuar me rejeitando. Amo-te. Por favor, casar-te-á comigo?

Christina suspirou fundo. Sua resposta faria feliz a todos... Quer dizer, a todos exceto a ela mesma. Inclusive Johnsy lhe tinha explicado que os casamentos se consertavam por conveniência não por amor, e que era suficiente que o senhor Tommy a amasse.

—Está bem, Tommy, casar-me-ei contigo. Mas não te asseguro que... -Pensava dizer "amá-lo-ei", mas o som de uma voz profunda a interrompeu. Virou-se, mortalmente pálida.

—Senhora, me informaram que tenho um filho. É certo? Tommy agarrou bruscamente os braços de Christina, mas ela

estava muito comovida para sentir algo. Tommy a soltou voltando-se para enfrentar-se ao intruso, e Christina se apoiou no suporte da chaminé. Sentia que lhe dobravam os joelhos.

—Quem é você, senhor? -Perguntou Tommy, — E o que significa lhe perguntar a minha prometida se você tem um filho?

—Sou Phillip Caxton. A senhorita Wakefield pode ser sua futura esposa, mas este assunto não lhe concerne. Dirijo-me a Christina, e estou esperando uma resposta.

—Como se atreve! -Exclamou Tommy. — Christina, conhece este homem?

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Christina estava horrivelmente confundida. Virou-se lentamente para enfrentar-se Phillip e sentiu que ao vê-lo sua vontade se debilitava. Não tinha mudado... Ainda era o homem a quem ela amava. Desejava correr para ele. Desejava abraça-lo e não separar-se jamais dele. Mas o horrível ódio que via em seus olhos e a dura frieza de sua voz a detiveram.

—Tenho um filho, senhora? Ante a ameaça da voz dele, o medo se apoderou de Christina.

Mas então também começou a avivar-se sua cólera. Como era possível que perguntasse tão friamente a respeito de seu filho?

—Não, senhor Caxton disse. Eu tenho um filho... Você não! —Então, senhorita Wakefield, formularei de outro modo minha

pergunta. Sou o pai de seu filho? Christina compreendeu que não tinha saída. Paul certamente lhe

tinha informado da data de nascimento. Phillip tinha realizado os correspondentes cálculos e sabia que ela tinha concebido com ele. Além disso, era suficiente olhar ao pequeno Phillip para saber que era o filho de Phillip Caxton.

Christina se desabou na cadeira mais próxima, tratando de evitar o olhar dos homens que esperavam sua resposta.

—Christina, é certo? Este homem é o pai de seu filho? -Perguntou Tommy.

—É certo, Tommy - murmurou Christina. —Senhor Caxton, como se atreve a vir aqui? -Perguntou Tommy. —Estou aqui porque vim buscar meu filho e sugiro que você não

se meta! —A seu filho! -Gritou Christina, levantou-se bruscamente. — Mas

você nunca o quis. Por que o deseja agora? —Temo que interpretou mal o que te disse faz muito tempo,

Christina. Disse-te que não tinha te levado a meu acampamento para gerar filhos. Nunca disse que não aceitaria ao menino que pudesse nascer - replicou serenamente Phillip.

—Mas eu... A aparição de John interrompeu a frase de Christina. —O que são estes gritos? - Perguntou com voz severa. Então viu

Phillip que estava junto à porta, e sorriu com simpatia. —Phillip... Não esperava vê-lo tão logo. Me alegro que decidisse

aceitar meu convite para visitar-nos. Estelle se sentirá agradada de vê-lo.

—Santo Deus! Todos estão loucos? -Explodiu Tommy. —John, sabe quem é este homem? É o pai do filho de Christina!

O sorriso de John se esfumou. —Christina, é isso verdade? - Perguntou. —Sim - murmurou ela com voz tensa.

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John descarregou um murro sobre a parede. —Droga, Christina! Cheguei a ser amigo deste homem! Disse-me

que o pai de seu filho era um árabe! —Mas Phillip é meio árabe e te disse que tinha outro nome! -

Replicou a gritos Christina. —E você - explicou John, voltando-se de novo para Phillip. —

Venha comigo. —John! - Gritou Christina. —Deu-me sua palavra! —Lembro bem à promessa que me arrancou Crissy. Limitar-me-

ei a falar a sós com Phillip em meu escritório. - disse John, mais sereno, e os dois homens saíram da habitação.

John serviu dois brandies e entregou um Phillip. Depois, acomodou-se em uma poltrona de couro negro.

—Por que veio aqui? Santo Deus, Phillip! Tenho todo o direito do mundo a desafiá-lo a duelo por arruinar a vida de minha irmã!

—Espero que a coisa não chegue a isso - replicou Phillip. — Soube da existência do menino por meu irmão e vim aqui para me casar com Christina e levar aos dois a minha casa do Benfleet. Mas cheguei ao momento em que ela aceitava a proposta desse fedelho insignificante brigão, de modo que agora é impossível falar de casamento. De todos os modos, quero a meu filho.

—Christina jamais renunciará ao menino! —Nesse caso, devo lhe pedir que me permita permanecer aqui,

para persuadir à de que acesse. Pode compreender quais são meus sentimentos. O menino é meu herdeiro, e sou rico. Para ele seria benéfico que eu o educasse.

—Não entendo. Você é um cavalheiro, entretanto seqüestra a uma dama e a retém como amante. Como pôde fazer tal coisa? -Perguntou John.

Phillip se sentiu divertido porque John tinha formulado a mesma pergunta que ele tinha ouvido de lábios de seu próprio irmão.

—Desejava a sua irmã mais do que jamais desejei a nenhuma mulher. É tão bela que você mal pode me criticar. Estou acostumado a tomar o que desejo e lhe pedi que se casasse comigo, quando nos conhecemos em Londres. Como ela me rejeitou, consegui que você fosse enviado ao Egito, a pátria de meu pai.

—De modo que você foi responsável pela manobra! —Sim, e provavelmente você conhece o resto. John assentiu. Estava assombrado ante os extremos aos que

tinha chegado esse homem para conseguir Christina. Provavelmente faria outro tanto para conseguir a seu filho. De modo que Crissy se equivocava... Phillip queria tanto à mãe como ao filho e tinha vindo para desposaria. John se sentiu culpado porque a tinha persuadido a aceitar o casamento com o Tommy. Possivelmente tinha estragado a

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única possibilidade que se oferecia a Crissy de ser feliz. Mas se permitia que Phillip permanecesse na casa, ele e Crissy possivelmente resolvessem suas diferenças. John decidiu que não voltaria a interferir no assunto.

—Phillip, você pode permanecer aqui tanto tempo como deseja, embora provavelmente provocará um bom escândalo. Como sabe, Estelle também está aqui e crie estar apaixonada por você. Não sei quais são seus sentimentos para essa jovem, mas lhe rogo que dirija com cuidado a situação... Pelo bem de Christina. - John ficou de pé e se aproximou da porta. —Sem dúvida, agora deseja ver seu filho. Tratarei de explicar o problema a Tommy Huntington enquanto Christina o leva a suas habitações.

—Agradeço-lhe sua compreensão - disse Phillip. Frente à porta do escritório, acompanhado por Phillip, John

chamou Christina, e a jovem apareceu no vestíbulo; seu rosto era a imagem da vacilação.

—Decidi que Phillip continue aqui um tempo - disse John. —Mas John... —Isso está arrumado, Crissy. Agora leva Phillip à habitação do

menino. É hora de que conheça seu filho. —OH! Christina se virou e começou a subir a escada sem esperar

Phillip. —Você não supunha que a coisa seria fácil, verdade? -Perguntou

John. —Nada é fácil quando se trata de Christina - replicou Phillip e a

seguiu pela escada. Christina o esperou à porta da habitação. Sentia-se tensa e

irritada e quando Phillip chegou a ela já não pôde controlar seu desconforto.

—Que esperas ganhar ficando aqui? -Disse com dureza. — Não provocaste já bastante sofrimento?

—Já lhe disse isso, Christina. Vim buscar a meu filho. —Não fala a sério! Depois do que me fez, pretende que entregue a

meu filho? Bem, não o terá! —Está neste quarto? —Sim, mas... Phillip abriu a porta, passou junto à Christina e entrou na

habitação de seu filho. Aproximou-se diretamente ao berço e parou para contemplar ao menino.

Christina se aproximou, mas não disse uma palavra quando viu o sorriso de orgulho de Phillip, que olhava ao menino.

—Um formoso menino, Tina... Obrigado - disse Phillip com expressão cálida e Christina se suavizou de novo quando percebeu a

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doçura da voz dele. Phillip elevou brandamente ao menino. Coisa estranha, o pequeno não chorou e olhou com curiosidade o bigode no rosto de seu pai. Que nome lhe puseste?

Christina vacilou e desviou os olhos. O que podia lhe dizer? —Júnior murmurou. —Júnior! Que classe de nome é esse para meu filho? -Explodiu

Phillip e o pequeno Phillip posse a chorar. Christina se apressou a retirar ao menino dos braços de Phillip, que o entregou sem opor resistência.

—Vamos, querido, está bem... Vêem com mamãe - disse ela, tratando de acalmar ao menino. O pequeno deixou de chorar imediatamente e Christina olhou irritada Phillip. — Visto que não estava comigo, tive que escolher o nome que me pareceu melhor. OH, por que tiveste que vir?

—Vim aqui com boas intenções, mas ao chegar a ouvi aceitar a proposta de casamento de seu amante - replicou Phillip, os olhos sombrios e ameaçadores.

—Meu amante! —OH, vamos, Christina... Não o negue. Sei bem quão

apaixonada é. Depois de todos estes meses, supus que te encontraria nos braços de outro homem.

—Odeio-te! - Exclamou Christina, e seus olhos cobraram um matiz azul escuro.

—Senhora, sei muito bem o que você sente por mim. Se me odiar tanto, por que deseja reter a meu filho? Cada vez que o olhe, verá minha própria figura.

—Também é meu filho! O levei em meu ventre nove meses. Sofri a dor de trazê-lo para o mundo. Não o entregarei! É parte de meu ser e o amo!

—Outro assunto que me desconcerta. Se me odiar tanto, por que foi ao Victory para dar a luz ao menino?

—Não sabia que era sua casa... Soube depois de chegar. Não queria permanecer aqui, e Johnsy, minha anciã babá, propôs que fosse com sua irmã, que casualmente é sua cozinheira. Por isso fui ao Victory. Como podia saber que a propriedade era tua?

—Certamente foi uma surpresa – burlou-se Phillip. — Por que não te partiu quando descobriu a verdade?

—Emma insistiu em que ficasse. Mas agora não desejo continuar discutindo o assunto - replicou Christina. — Phillip, terá que partir. É hora de alimentar ao menino.

—Pois alimenta-o. Christina, é um pouco tarde para que me venha com sua falsa modéstia. Conheço bem o corpo que seu vestido oculta.

—É insuportável! Não mudou no mais mínimo.

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—Não... Mas você trocaste. Antes foi mais sincera. —Não sei de que falas. - Cristina se aproximou da porta do

dormitório. —Sugiro que alguém te leve a seu quarto. Depois se o deseja, poderá ver seu filho.

Christina ocupou uma cadeira no rincão mais afastado da habitação e depositou ao pequeno Phillip em seu regaço, enquanto se desabotoava o sutiã. Mas ainda sentia a presença de Phillip e quando elevou os olhos o viu apoiado contra o marco da porta, olhando-a atentamente.

—Por favor, Phillip! Pode entrar na habitação do menino, mas esta é a minha. Desejo um pouco de intimidade... Se não te importar.

—Incomodo-te, Christina? Jamais despiu seus seios frente a um homem? - Perguntou Phillip. —Proponho que deixe de representar o papel da mulher indignada e que alimente a meu filho. Tem apetite, não é assim?

OH! Christina decidiu ignorá—lo, e formulou mentalmente o desejo de que partisse.

Abriu um lado do vestido e amamentou ao pequeno Phillip. O menino chupou copiosamente, apoiando um minúsculo punho sobre o seio materno. Christina sabia muito bem que Phillip continuava olhando-a.

—Christina, o que está fazendo? -Gritou Johnsy, que entrou na habitação por outra porta e viu Phillip.

—Está bem, Johnsy, te serene - disse irritada Christina. Este é Phillip Caxton.

—De modo que é o pai do pequeno Phillip - observou azedamente Johnsy, voltando-se para enfrentar Phillip. —Bem, muito descaramento vir aqui, depois do que fez a minha menina.

—OH, basta, Johnsy. Já falaste o bastante – interrompeu-a Christina. Phillip se pôs a rir e Christina agachou à cabeça, porque sabia muito bem o que lhe parecia tão divertido. —É um nome comum, Droga! Não preciso explicar nada!

O pequeno Phillip começou a chorar outra vez. —Senhor Caxton, saia daqui. Está incomodando Crissy e a seu

filho - observou Johnsy. Fechou a porta atrás de Phillip, mas Christina ainda ouvia a

risada do homem. Johnsy se apressou a fechar a outra porta e depois olhou Christina e moveu a cabeça.

—De modo que veio... Sabia que viria. O senhor John sabe? —Sim. John decidiu permitir que Phillip permaneça aqui. E

também Tommy sabe. Phillip entrou precisamente quando eu aceitava a proposta matrimonial de Tommy. OH, Johnsy, o que posso fazer? - Christina se pôs a chorar. —Veio buscar o seu filho... Não a

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mim! Phillip se mostra muito frio comigo, e como suportarei vê-lo unido a Estelle?

—Tudo se arrumará, senhorita Crissy... Já o verá. Agora, basta de chorar, porque do contrário o pequeno não se acalmará.

Christina fechou discretamente a porta do quarto e ao virar-se viu Phillip que saía da habitação próxima. Tinha que aproximar-se dele para chegar à escada, mas Phillip lhe fechou o passo.

—Dorme o pequeno Phillip? - Perguntou burlonamente. —Sim - replicou Christina, que evitou o olhar de seu

interlocutor. — Sua habitação é satisfatória? —Arrumar-me-ei - replicou ele, e a obrigou a olhá-lo aos olhos.

—Mas preferia compartilhar a tua. Phillip a apertou contra seu corpo e seus lábios cobriram os de

Christina, exigindo uma resposta. Ela a ofereceu de boa vontade. Todos esses meses tão prolongados e solitários pareciam esfumar-se.

—Ah, Tina... Por que não me disse que teríamos um filho? - Murmurou ele com voz rouca.

—Soube quando levava três meses de gravidez. E então era muito tarde... Tinha-se casado com Nura.

—Nura! - Riu Phillip, os olhos fixos no rosto de Christina. —Eu... Mas então ele ficou rígido, de modo que... Ela tinha retornado com seu irmão porque assim o desejava. Phillip pensou que possivelmente ela já conhecia sua gravidez, e temia que ele se zangasse. Quando aprenderia de uma vez que essa mulher o odiava?

—Phillip, o que te passa? - Perguntou Christina, que viu a frieza nos olhos de Phillip.

—Senhora, será melhor que vá onde está seu amante. Estou certo de que prefere seus beijos aos meus! - Disse Phillip com dureza e a separou de um empurrão.

Christina o viu afastar-se e sentiu que lhe dobravam os joelhos. O que havia dito que o tinha induzido a ofendê-la tão cruelmente? Ela se havia sentido maravilhosamente feliz apenas um momento antes, e agora acreditava estar ao bordo do desastre.

—Phillip! OH, sabia que viria! Christina ouviu a voz agradada de Estelle que provinha do

vestíbulo da planta baixa. — Querida, abrigava a esperança de que ainda estivesse aqui.

Obterá que minha estadia nesta casa seja muito mais grata - respondeu alegremente a voz profunda de Phillip.

As lágrimas brotavam dos olhos de Christina enquanto ela caminhava de retorno a seu quarto e depois de entrar fechava a porta. Desabou-se na cama e afundou o rosto no travesseiro.

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Não podia suportar a imagem de Phillip galanteando com Estelle. Por que a odiava assim? Por que não a desejava mais? Como podia suportar vê-los juntos, quando lhe partia o coração?

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CAPÍTULO 31

Phillip parou na entrada da habitação, contemplando como

dormia Christina. Muitas vezes tinha feito o mesmo, mas antigamente se o desejava podia lhe fazer amor; e agora o desejava. Era tão bela, com os cabelos dourados estendidos sobre o travesseiro, no rosto uma expressão doce e inocente. Tivesse bastado que ela correspondesse a seus sentimentos para que ele se sentisse o homem mais feliz da terra.

Perguntou-se por que não tinha descido para jantar a noite anterior. Ele estava disposto a lhe demonstrar que podia adotar uma atitude tão indiferente como a da própria Christina; e tinha se proposto consagrar sua atenção inteira a Estelle. A ausência de Christina o tinha decepcionado. Estelle era uma formosa jovem, mas não podia comparar-se com Christina... Ninguém podia comparar-se com ela. Por que tinha que ser tão falsa e perversa?

O pequeno Phillip começou a chorar e Phillip se escondeu na porta de modo que podia observar Christina sem ser visto quando ela entrasse em seu quarto. Em efeito, Christina apareceu na habitação e lhe surpreendeu ver que usava a túnica negra que tinha confeccionado no Egito. Por que não a tinha queimado? Ao parecer, a diferença do que ocorria Phillip, esse objeto nada representava para ela.

Aproximou-se diretamente ao berço, os longos cachos dourados caindo nas costas, e o pequeno Phillip deixou de chorar quando a viu.

—Bom dia, meu amor. Esta manhã me deixaste dormir até tarde, verdade? Phillip é a alegria de minha vida. O que faria sem ti?

Phillip se sentiu reconfortado quando viu quão intenso era o amor de Christina por seu filho. Mas lhe desconcertava que ela tivesse dado ao menino seu nome.

Christina se virou bruscamente, porque sentiu a presença de Phillip na habitação: mas nada disse quando o viu junto à porta. Virou-se para o pequeno Phillip, retirou-o do berço e se sentou em uma cadeira estofada, com tecido azul e posto no rincão do quarto. Desabotoou lentamente a camisola.

O silêncio de Christina irritou Phillip. Preferia que lhe gritasse e não que o ignorasse.

—Não necessitaste muito tempo para perder novamente seu pudor - observou cruelmente.

—Phillip, ontem esclareceu bem as coisas. Não posso te mostrar nada que não tenha visto já - disse serenamente Christina, e seus lábios desenharam um semi-sorriso que não se estendeu a seus olhos tão azuis.

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Phillip se pôs a rir. Esta manhã não conseguiria que ela perdesse os estribos. Observou a seu filho que chupava avidamente o seio de Christina, e o espetáculo o comoveu profundamente. Eram seu filho e a mulher que ele ainda desejava. Phillip recusava aceitar a derrota. Acharia o modo de ter a ambos.

—Tem muito apetite. Não necessita uma Ama de leite? - Perguntou Phillip.

—Tenho leite suficiente para satisfazer suas necessidades. O pequeno Phillip está bem atendido - disse ela com voz tensa.

Phillip suspirou profundamente. Aparentemente, não precisava procurar muito para achar uma observação acre que a irritasse... Uma singela pergunta produzia esse efeito.

—Não quis insinuar que não é boa mãe - disse. — Mais ainda, Christina, diria que a é sua sina. Comportaste muito bem com meu filho - disse Phillip com voz serena, enquanto acomodava uma mecha dos cabelos de Christina que se desordenou, e ao fazê-lo acariciava delicadamente entre os dedos.

—Obrigado - murmurou ela. —Onde o batizou? - Perguntou Phillip, de repente. Não desejava

retirar-se, e pensou que era necessário dizer algo porque do contrário sua presença silenciosa acabaria por irritar Christina.

—Ainda não está batizado - disse Christina. —Santo Deus, Christina! Devem batizá—lo um mês depois de

nascer. O que está esperando? - Estalou e rodeou a cadeira para enfrentar-se a jovem.

—Droga... Não grite! Simplesmente, não pensei no assunto. Não estou acostumada a ter filhos - replicou com a mesma voz colérica, e seus olhos cobraram um tom azul safira.

Dando grandes pernadas, Phillip chegou à porta da habitação, mas se virou para enfrentar-se de novo Christina, com o corpo tenso de cólera.

—Vamos batizá-lo hoje... Esta manhã! Te prepare e prepara a meu filho porque sairemos dentro de uma hora.

—Esta é minha casa, Phillip, não seu acampamento nas montanhas. Não pode me dizer o que devo fazer aqui.

—Te prepare, ou eu mesmo o levarei. Dito isto virou-se e saiu do quarto. Christina sabia que falava a sério. Procurou tranqüilizar-se e

terminou de alimentar ao pequeno Phillip; depois, depositou-o no berço, chamou uma das criadas e lhe ordenou que a ajudasse a preparar-se. Não podia confiar o menino a Phillip... Possivelmente não retornasse.

Depositou sobre a cama a túnica e viu que era o objeto árabe, de tecido negro. Sem prestar muita atenção ao assunto, o tinha posto

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quando o pequeno Phillip começou a chorar. Christina se perguntou se Phillip teria percebido o fato. Mas não... Provavelmente nem sequer recordava a túnica; do contrário, teria formulado alguma maligna observação.

Christina se penteou e depois escolheu um singelo vestido de algodão com mangas largas e pescoço alto, um objeto adequado para a ocasião. Como dispunha de tempo, vestiu com cuidado ao pequeno Phillip e uma hora depois desceu a escada.

Phillip esperava sozinho, e tomou ao menino dos braços da mãe. —Onde está John? - Perguntou ela nervosamente. —Saiu cedo esta manhã: foi a Halstead por assuntos de negócios.

Disse que trataria de retornar antes de meio-dia - replicou Phillip e pos se a andar porta a fora.

—Mas... Não iremos sozinhos... Verdade? —OH, vamos, Christina - disse ele rindo. — Não voltarei a te

raptar, se isso for o que te inquieta. Embora para falar a verdade a idéia me passou pela mente.

OH! Christina pensou irritada: "Que fácil é mentir para este homem."

—Phillip, a próxima vez que projete um rapto, sua vítima provavelmente será Estelle! - Replicou Christina.

—Caramba, Christina, para falar a verdade parece ciumenta – burlou-se ele.

—Não estou ciumenta! - Disse secamente Christina. —Ao contrário, agradeço que desvie em outra direção seus cuidados.

Não lhes levou muito tempo chegar à pequena igreja próxima a Wakefield. Christina esperou na carruagem aberta enquanto Phillip entrava na igreja para comprovar que o sacerdote estava disponível. Retornou pouco depois e a ajudou a descer da carruagem.

—Tudo está arrumado? - Perguntou ela quando Phillip voltou a apoderar do pequeno.

—Sim. Levará só um minuto - respondeu Phillip e escoltou a jovem para o interior da igreja pequena e sombria.

Um homem forte, de baixa estatura, esperava-os ao extremo do corredor e Phillip lhe entregou o menino. O pequeno Phillip não chorou quando sentiu a água na testa, mas Christina afogou uma exclamação quando ouviu as palavras pronunciadas claramente na sala escura.

—Eu te batizo... Phillip Caxton Filho. Phillip recuperou a seu filho e puxou pelo braço Christina para

acompanhá-la fora da igreja. Ela nada disse até que estiveram na carruagem e o chofer iniciou o caminho de volta à Residência Wakefield.

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—Não tinha direito de fazer isso, Phillip! - Exclamou Christina, olhando-o com olhos hostis.

—Tenho todo o direito do mundo... Sou o pai - sorriu Phillip. —Não é seu pai legal... Não estamos unidos. Droga! Chama-se

Phillip Júnior Wakefield conforme se lê em seu registro. —Christina, é muito fácil trocar isso. —Primeiro terá que encontrar o documento original. É meu filho,

e levará meu nome, não o teu! —E quando te casar, dar-lhe-á o nome de seu marido? —Em realidade, não pensei nisso, mas se Tommy deseja adota-lo,

sim, levará seu nome. —Não permitirei que esse jovem vaidoso crie meu filho -replicou

Phillip com o cenho franzido. —Phillip, nada terá que ver nisso. Além disso, Tommy será um

bom pai. Mas Christina não acreditava realmente em suas próprias

palavras. —Veremos - murmurou Phillip, e nenhum dos dois voltou a falar

durante o resto da viagem de volta à Residência Wakefield. John os recebeu na porta, e seu rosto expressava profunda irritação.

—Onde demônios estiveram? Senti-me muito inquieto! —John fomos batizar Phillip Júnior. Não havia motivo para

preocupar-se - replicou Christina. Olhou inquisitivo Phillip, que se pôs a rir.

—Por que não disseram a ninguém aonde ias? Quando voltei para casa descobri que tinham saído e que lhes tinham levado a menino, pensei que...

—Sabemos o que pensou, John - riu Christina. — Mas como vê, equivocou-se. Lamento que te tenha inquietado... Não voltará a ocorrer.

Christina subiu ao primeiro piso para deitar ao pequeno Phillip. Depois de trocá-lo, fechou as portas da habitação, de modo que ninguém o incomodasse e mais tarde foi a seu próprio quarto para tirar o chapéu. Através da porta aberta Christina ouviu os movimentos de Phillip que entrava em sua habitação. Sua voz chegou claramente aos ouvidos da jovem, e o que ouviu a induziu a permanecer imóvel, sem fazer o mais mínimo gesto.

—O que faz aqui? Sua irmã se zangará muito se te encontrar no dormitório de um cavalheiro.

—Phillip, não é necessário que atue assim. Certamente está acostumado a receber damas em seu dormitório - disse amavelmente Estelle. — Esperei aqui para te falar a sós. Por que não fecha a porta e se senta? Estará muito mais cômodo.

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—Não será necessário... Não permanecerá muito tempo neste quarto, Estelle, não desejo que me peçam que abandone a casa só porque te interessa jogar a certos jogos.

Christina não quis escutar mais, mas na verdade não atinou a reagir.

—Phillip Caxton, não estou fazendo jogos! Vim buscar uma resposta. Ainda ama Christina? Tenho direito de saber!

—Amor! O que tem que ver o amor com isto? Faz um tempo a desejei, do mesmo modo que te desejo agora - disse Phillip, e em sua voz profunda não havia sentimento algum.

—Então, ela nada significa para ti agora? - Perguntou Estelle. —Christina é a mãe de meu filho... Isso é tudo. E agora, Estelle,

devo te pedir que saia, antes que alguém te encontre aqui. A próxima vez que deseje me falar a sós busca um lugar mais apropriado.

—O que você diga, Phillip - replicou Estelle com um risinho, era evidente que se sentia muito agradada consigo mesma. —Ver-te-ei a hora do almoço?

—Descerei dentro de alguns minutos. Christina se sentou no bordo da cama; sentia que lhe tinham

afundado uma faca no coração. Um momento antes tinha apetite, mas agora a idéia de comer lhe parecia insuportável. Precisava partir! Tirou o vestido, colocou o traje de montar e desceu depressa a escada. Um momento depois, saía da casa.

Depois de ordenar a um cavalheiro que selasse Dax esperou impaciente

Depois desceu pelo atalho que conduzia aos campos abertos e ao fim rompeu em pranto.

O vento levou as lágrimas de seus olhos quando Christina obrigou Dax a correr cada vez mais velozmente. Dos cabelos se desprenderam as forquilhas, e as mechas caíram sobre suas costas, flutuando no ar. Desejava terminar de uma vez, mas de repente recordou ao pequeno Phillip. Não podia abandonar seu filho. Tinha que confrontar o fato de que ainda amava Phillip, mas jamais o recuperaria. Teria que aceitar a situação e compreender que seu filho era o único motivo de alegria em sua vida. Tommy a amava e possivelmente chegaria o dia em que poderia ser feliz com ele.

Fazia duas horas que tinha escurecido quando ao fim Christina chegou à porta principal e depois de entrar se apoiou contra a folha de madeira, esgotada. Phillip saiu do salão e em seu rosto se via uma expressão irritada e inquieta; mas se tranqüilizou e sorriu quando viu Christina. John e Kareen estavam atrás dele. Kareen preocupada e John dominado pela cólera.

—Christina, onde demônios estiveste? - Exclamou John. —Duas vezes no mesmo dia te parte sem dizer uma palavra. O que te ocorre?

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—O pequeno Phillip está bem? - Perguntou Christina. Muito bem. Johnsy mandou chamar uma Amã de leite ao ver

que você não retornava. O menino estava um tanto nervoso, mas agora dorme. Crissy, está ferida? - Perguntou John. — Parece que te tivesse caído do cavalo.

Christina examinou seu próprio aspecto. Era uma desastre. Tinha os cabelos emaranhados, caíam-lhe sobre os ombros lhe chegando à cintura. O traje de montar de veludo verde estava esmigalhado em muitos lugares por causa da desenfreada cavalgada através dos bosques.

Separou-se da porta e endireitou orgulhosamente o corpo. —Estou muito bem, John. Só cansada e faminta. Começou a caminhar, mas John a obrigou a virar-se. —Um minuto, jovem. Não respondeste a minhas perguntas.

Onde estiveste tantas horas? A casa inteira esteve te buscando. Christina viu a expressão divertida de Phillip e se zangou. —Droga! John, já não sou uma menina... Posso me cuidar

sozinha! Que me afaste umas poucas horas não é motivo que justifique despachar partidas encarregadas de me buscar.

—Umas poucas horas! Esteve fora todo o dia. Estive cavalgando... Isso é tudo! E precisamente você deveria

saber por que o fiz! John sabia a que responsabilizar. Ao parecer a presença de

Phillip na casa inquietava Christina mais do que ele tinha previsto. —Crissy, quero falar contigo... A sós - disse John. —Esta noite não, John... Já lhe disse isso, estou cansada. John a acompanhou até a escada, para ficar fora do alcance do

ouvido dos presentes. —Crissy, se Phillip te inquietar tanto, pedir-lhe-ei que parta. —Não! - Gritou Christina, e depois, em voz mais baixa. —John,

não desejo que se vá. Não posso lhe negar o direito de estar com seu filho. Acabei por me reconciliar comigo mesma... Em adiante poderei suportar sua presença.

Abrigava a esperança de estar dizendo a verdade. John voltou onde estava Kareen quando Christina começou a

subir a escada. —Ordenarei a um criado que lhe leve uma bandeja de comida, e

lhe prepare água quente para dar um banho - disse Kareen, que olhava inquieta seu marido. —Tem descoberto por que saiu esta tarde?

—Sei - replicou John, enquanto dirigia a Phillip um olhar de desaprovação. — Mas não sei o que fazer a respeito.

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CAPÍTULO 32

Era 5 de janeiro de 1885. Os últimos sete dias tinham sido uma sucessão de momentos de grande tensão para todos os ocupantes da Residência Wakefield, mas sobre tudo para Christina. Estelle a desprezava grosseiramente sempre que se encontravam e, por sua parte, Phillip contemplava o espetáculo com um sorriso divertido. Mas o jantar era o momento mais difícil. O pobre John e Kareen ocupavam os dois extremos da mesa e esperavam nervosamente a explosão. Christina e Tommy ocupavam um lado da mesa e Tommy olhava irritado Phillip. Phillip e Estelle ocupavam o lado oposto, e Estelle demonstrava francamente seu desprezo pela Christina. Parecia que todos estavam sentados sobre um barril de pólvora.

Phillip tinha mudado desde o desaparecimento de Christina, uma semana antes. Já não disputava com ela e, em troca, tratava-a com uma atitude cortês e fria. Jamais mencionava o passado e isso incomodava Christina, que esperava constantemente uma observação mordaz que nunca chegava.

Não queria encontrar-se a sós com Phillip, mas essa situação se repetia sempre na habitação do menino. Christina insistia em que Johnsy a acompanhasse, mas logo que aparecia Phillip, Johnsy formulava uma desculpa fútil e se afastava depressa.

Entretanto, Phillip parecia interessado unicamente em seu filho e se mantinha a certa distância de Christina. Via-a banhar ao pequeno Phillip ou brincar com ele sobre o suave tapete. Mas quando chegava o momento de lhe dar o seio, Phillp se retirava discretamente. Essa atitude desconcertava por completo Christina.

Tommy era o pior dos problemas que Christina confrontava. Depois da chegada de Phillip tinha adotado uma atitude muito exigente. Continuamente pedia a ela que fixasse a data do casamento; mas até agora ela se negou a dar aquele passo.

Entretanto hoje Christina tinha encontrado um motivo de alegria. Kareen entrou no refeitório quando Christina tomava um almoço

tardio. —Estelle ao fim decidiu voltar para casa. Agora está em sua

habitação preparando as malas - informou. Christina nada disse, embora sentisse desejos de saltar de

alegria. —Mesmo sendo minha irmã e que a ame muito - continuou

Kareen — não me importa reconhecer que me alegro de que parta. Entretanto, eu gostaria de saber por que adota essa atitude... E ela não quer me dizer uma palavra. Ontem mesmo tentei convencer a de

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que se afastasse, e ela rejeitou energicamente minha proposta. Esta manhã, foi cavalgar com Phillip, e quando retornou, faz uma momento, afirmou zangada que não pensava permanecer aqui um minuto mais. É melhor assim, porque sei que lhe esperava uma grande decepção; de todos os modos, ainda não compreendo a verdadeira situação.

Tampouco Christina sabia o que pensar. Mas pouco importava por que Estelle se ia... Se realmente o fazia. Christina não teria que sofrer a presença de outra mulher que se agarrasse a Phillip. Embora agora que Estelle se ia, possivelmente Phillip também partisse. De repente Christina não se sentiu tão feliz como antes.

Phillip estava recostado na grande cama de bronze com as mãos unidas na nuca, escutando atentamente os sons que vinham da habitação próxima. Voltou os olhos para o antigo relógio do suporte da chaminé. Dez e cinco... Não precisará esperar muito tempo mais.

Phillip esboçou uma careta quando recordou o que tinha ocorrido àquela manhã. Cansou-se do jogo de Christina e Estelle e tinha tratado de pensar em algum modo de terminá-lo. A audácia de Estelle tinha contribuído para a solução ao problema.

Depois do café da manhã Estelle lhe tinha pedido que a levasse a cavalgar. Phillip não viu motivos para negar-se. Christina estava no primeiro piso amamentando ao pequeno Phillip. Mas depois de afastar-se um pouco da casa, Estelle tinha desmontado à sombra de um grande carvalho. Sentou-se sob a árvore; tirou o chapéu de montar, soltou os espessos cabelos negros e com um gesto sedutor convidou Phillip a aproximar-se.

—Estelle, monta seu cavalo. Não tenho tempo para jogos - havia dito Phillip com voz dura.

—Jogos! - Tinha exclamado Estelle. Ficou bruscamente de pé e se enfrentou com ele, com os braços cruzados. — Pensa te casar comigo ou não?

Phillip se surpreendeu, mas de repente viu a solução de seu problema. Podia terminar de uma vez com o jogo mediante uma resposta negativa.

—Estelle, não tenho a mínima intenção de me casar contigo e o lamento se te induzi a acreditar o contrário.

—Mas disse que me desejava! - Replicou ela com voz colérica. —Tive uma razão egoísta para dizê-lo. Além disso, era o que você

queria ouvir. Uma só mulher no mundo me inspira desejos e só com ela quero me casar.

—E está comprometida com outro - riu amargamente Estelle. Um momento depois, a jovem montava em seu cavalo e galopava

de retorno à Residência Wakefield.

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Essa noite, durante o jantar, Phillip comprovou que Tommy Huntington estava muito nervoso. O jovem sabia que, quando Estelle partiu, Phillip disporia de mais tempo para consagrar Christina. Phillip se perguntava como tivesse reagido ele se a situação tivesse sido à inversa... Se o ex-amante de sua prometida tivesse vivido na mesma casa que ela habitava, e ele não pudesse evitá-lo.

Bem, não lamentava por Huntington. Mais ainda, odiava ao jovem. Não podia suportar a idéia de que Huntington muito em breve seria o marido de Christina. Teria o direito de impor-se e lhe fazer amor. Phillip tratou de afastar esses pensamentos. Certamente, não permitiria que as coisas chegassem a esse ponto! E se Tommy Huntington já se deitou com Christina, matá-lo-ia!

Saber que Christina dormia no quarto próximo e que os separava só um magro tabique era algo que punha a dura prova sua vontade. Ouvir seus movimentos no quarto, escutar sua voz vibrante... Não poderia suportá-lo muito mais. Devia recuperá-la antes do dia das bodas, ou voltar a seqüestrá-la. Preferia suportar seu ódio que viver sem ela.

Finalmente, Phillip ouviu os movimentos da criada que saía do quarto de Christina. Abriu a porta de sua própria habitação e viu que o corredor mal iluminado estava vazio. O dormitório de John e Kareen estava no extremo contrário da casa e Phillip confiava em que eles já estariam dormindo.

Percorreu os poucos metros que o separavam da porta de Christina e a abriu sem fazer ruído. A jovem estava banhando-se frente ao fogo vivo do lar; não percebeu a presença de Phillip. Este permaneceu longo momento olhando-a enquanto Christina elevava uma esponja e deixava correr a água com o passar do braço. Estava de costas para Phillip, e o único que ele podia ver era o suave perfil branco dos ombros sobre o bordo da longa banheira. Tinha os cabelos sujeitos em um coque e as inumeráveis tranças brilhavam como ouro líquido; a luz do fogo agitava-se ao redor.

A toalha e a bata de Christina estavam sobre o tamborete, perto da banheira. Phillip se aproximou delas e tomou. Christina conteve uma exclamação.

—O que faz aqui? - Exclamou Christina, e se inundou ainda mais na água. Percebeu zangada a expressão divertida de Phillip, e depois viu que sustentava na mão a bata e a toalha. —Deixa isso, Phillip. Agora! E sai daqui!

—Fala destas coisas? - Perguntou ele burlonamente, e as chamas se refletiam em seus olhos de matizes dourados. —O que você quiser senhora. - Jogou os objetos à cama, longe do alcance de Christina.

Phillip rodeou a banheira e se aproximou da cadeira que estava em um rincão do quarto. Christina olhou estupidamente a bata e a

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toalha depositadas sobre a cama. Logo voltou bruscamente a cabeça e olhou hostil ao homem. Ele tinha ocupado a cadeira e olhava Christina; tinha as pernas abertas e as mãos entrelaçadas, os antebraços apoiados nas coxas.

—Que demônios está fazendo, Phillip? Droga! Quer que lhe expulsem desta casa? Necessita uma desculpa para ir, agora que Estelle partiu? Trata-se disso?

Phillip sorriu, sem deixar de olhar os olhos verdes do rosto irritado de Christina.

—Christina, não desejo sair daqui, e se o quisesse não necessitaria uma desculpa. Se tiver a bondade de baixar a voz, ninguém se inteirará de minha presença e não me descobrirão.

A confusão dominou Christina. Phillip estava oculto parcialmente pelas sombras. Mas Christina ainda podia ver sua expressão ardente nos olhos. Desejava-a, disso ela estava segura, e um peculiar arrepio começou a lhe percorrer o corpo. Desejava-o com todo seu coração, mas sabia que esse amor duraria no máximo uma noite. Ao dia seguinte ele se mostraria tão frio e indiferente como antes e ela não poderia suportá-lo.

—Phillip, fora de meu quarto. Não tem direito a estar aqui. —Tina, esta noite está muito bela - murmurou Phillip. — Poderia

tentar a um homem a fazer o que quisesse... Exceto te abandonar. - Riu de boa vontade.

Ela se moveu na banheira. Não podia suportar a imagem desse homem, com seus cabelos muito negros e frisados, a camisa branca e limpa aberta até a cintura, de modo que mostrava o peito bronzeado com os cachos de pêlo negro. Era a tentação! Christina teve que apelar a toda sua vontade para resistir, porque tivesse desejado abraça-lo assim como estava, empapada da cabeça aos pés; ansiava fazer amor! Era o que ela desejava, e o que ele desejava; mas ela não podia. Não podia suportar a idéia de amá-lo e depois confrontar de novo seu ódio pela manhã. Passaram vinte minutos. Phillip nada disse, e Christina tampouco falou. Estava de costas, mas sabia que ele continuava olhando-a.

—Phillip, por favor... A água se esfria - rogou. —Proponho que saia daí - replicou ele em voz baixa. —Então vá, assim poderei sair! - Exclamou Christina. —Tina, surpreende-me. A vi no banheiro cem vezes... E sempre

saía nua da água. Então não foi tímida; por que finge ser agora? Uma vez inclusive fizemos amor deitados sobre a terra dura, atrás do lago. Esse dia te aproximou e...

—Basta! - Exclamou ela, descarregando um murro na água. —Phillip, não tem sentido falar do passado. É assunto concluído. Vamos, sai daqui antes que me resfrie.

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—A gravidez e o parto prejudicaram seu corpo? - Perguntou Phillip. —Por isso se recusa a mostrá—lo?

—Claro que não! Minha figura recuperou sua forma anterior. —Então, Tina, te levante e demonstra-o - murmurou ele com voz

rouca. Christina quase caiu na armadilha; e em efeito, começou a

levantar. Mas depois se afundou na água ainda mais que antes e baixo amaldiçoou Phillip. As borbulhas de sabão se haviam dissolvido e seu corpo agora era bastante visível. A única esperança de Christina era que ele não se aproximasse. Tinha que partir! Se atrevia a tocá-la, ela bem sabia que estava disposta a ceder.

Nesse momento se ouviram passos no corredor e Christina se imobilizou quando ouviu golpes suaves na porta.

—Christina tenho que te falar. Está acordada? Christina voltou à cabeça para olhar Phillip, mas ele continuava

tranqüilamente sentado em sua cadeira, e era evidente que lhe divertia o apuro em que ela estava.

—Tommy, por Deus, volta para sua casa! Estou me banhando... Chamar-te-ei pela manhã - disse Christina em voz alta.

—Esperarei que tenha terminado - gritou Tommy. —Não, Tommy, não esperará! - Estava mais temerosa que

zangada. — É muito tarde. Ver-te-ei pela manhã... Agora não! —Christina, droga, isto não pode esperar! Não suportarei que

esse homem continue vivendo nesta casa. Tem que ir-se! A risada profunda de Phillip ressonou na habitação. A porta se

abriu bruscamente, golpeando contra a parede e Tommy entrou no quarto. Phillip continuava refugiado nas sombras e Tommy teve que olhar ao redor duas vezes antes de vê-lo.

Indignado, Tommy apertou os punhos junto a seu corpo e olhou Christina, depois Phillip e logo outra vez Christina. Antes que ela pudesse dizer algo, Tommy deixou escapar um grito e começou a aproximar-se de Phillip.

Ela ficou de pé, salpicando água sobre o espesso tapete azul. —Basta, Tommy! - Gritou. Tommy se deteve. Abriu a boca ao vê-la, esquecendo que Phillip

estava na habitação. Mas Phillip, que meio se levantou para confrontar o ataque de Tommy, olhou sombrio Christina.

—Sente-se, mulher - grunhiu irritado Phillip. Ela obedeceu imediatamente, transbordando água pelos flancos

da banheira e um intenso rubor lhe cobriu o rosto. —Que demônios faz aqui, Caxton? - Perguntou Tommy. —Tommy, não tem por que te zangar - tratou de tranqüilizá-lo

Christina. — Phillip veio aqui pouco antes que você... A me falar de seu filho. Quando entrou ignorava que eu estava me banhando.

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—Então, por que está sentado aí, te olhando enquanto te banha? Christina, como lhe permite entrar aqui? Ou isto é um velho costume?

—Não seja absurdo. Digo-te que foi perfeitamente inocente. Meu Deus! Este homem me viu no banheiro varias vezes. Como recordará, Phillip veio aqui por seu filho... Não por mim. E ocupou essa cadeira só o tempo indispensável para me formular umas poucas perguntas... Isso é tudo. Tommy, não saí nem um segundo da banheira. Viu-me unicamente quanto sua absurda atitude me induziu a fazer um movimento.

—Droga, de todos os modos não tem direito a estar aqui! —Baixa a voz, Tommy, não quero que desperte John! - Exclamou

Christina. —Despertar John... É exatamente o que pretendo fazer. Caxton,

não continuará aqui muito tempo. Tommy riu amargamente e saiu com passo rápido do quarto. —Olhe o que tem feito! - Exclamou Christina. — Por que não me

deixa em paz? Agora John se verá obrigado a te pedir que saia da casa. Tem-no feito de propósito, não é assim?

—Christina, minha intenção não era ser descoberto - replicou serenamente Phillip. — É sua casa tanto como a de John. Não terei que sair se você não o deseja. Se quiser que nosso filho cresça sem conhecer seu verdadeiro pai é tua a decisão.

Era a primeira vez que Phillip falava de "nosso filho" e Christina se sentiu surpreendida e ao mesmo tempo agradada de ouvi-lo falar assim.

—Depressa... Me entregue a bata antes que chegue John! - Disse Christina com voz premente. — Bem, te volte, droga!

—OH, por Deus, Christina! Mas Phillip se virou e se aproximou da janela. Christina abandonou a banheira e conseguiu colocar a bata sobre

o corpo úmido e ajusta-la à cintura, tudo antes que John entrasse na habitação, seguido a pouca distancia por Tommy.

—Christina, que demônios ocorre? - Perguntou John. Phillip se voltou e Tommy o olhou com fera expressão. —Disse-te que era verdade. John, é um insulto e exijo que Caxton

saia imediatamente desta casa! - Explodiu Tommy. —Basta, Tommy. Peço-te que volte para sua casa. Eu atenderei

este assunto - replicou John. —Não irei! —Tommy... Vamos! Desejo falar a sós com Christina. Farei tudo

o que seja necessário. Tommy se virou e saiu da habitação. —Também eu irei se você deseja falar a sós - disse Phillip.

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—Sim - replicou secamente John. Pela manhã lhe informarei de minha decisão.

—Muito bem, pela manhã. Boa noite, Tina. Phillip fechou a porta atrás de si. Christina compreendeu que lhe pedia que o defendesse para

poder continuar com seu filho. Afrouxou um pouco os músculos e se sentou ao bordo da cama.

—Crissy, como é possível que tenha permitido Phillip vir a sua habitação a esta hora da noite? - Perguntou John. — Acaso você e Phillip resolveram finalmente suas diferenças? Trata-se disso?

John, não sei do que está falando. Nada terá que resolver entre nós. O que houve terminou... E não se repetirá. E não convidei Phillip a vir a minha habitação. Simplesmente, entrou e não quis ir.

—Possivelmente ele... ? Christina sorriu levemente. —Phillip se sentou nesse rincão enquanto esteve aqui, mas eu

sabia que ele me desejava. E sei que não posso te impressionar mais do que já fiz até agora se te disser que também eu o desejava... Desejava-o mais que a nada no mundo - murmurou, temerosa de que Phillip a ouvisse desde seu quarto. — Mas resisti, porque sabia que me quereria só esta noite. Amanhã me teria odiado de novo.

—Mas Crissy, Phillip jamais deixou de te desejar. —Às vezes sim o tem feito! - Replicou ela com voz irada. Não tinha objeto discutir com Christina quando se mostrava

obstinada. John meneou a cabeça. —Bem, Crissy, pedir-lhe-ei que parta. Se não tivesse sido Phillip,

a estas horas estaria morto. —John não quero que se vá. —Certamente não fala a sério! Acaba de me dizer que não poderá

resistir a ele... Crissy, isto voltará a ocorrer se ele ficar aqui. —John, esta situação não se repetirá. Sei muito bem. E além

disso, em adiante fecharei com chave a porta. Quero que Phillip fique aqui até que esteja preparado para ir. Não lhe negarei o direito de conhecer seu filho.

—E o que me diz de Tommy? Não compreenderá por que Phillip fica na casa. - John fez uma pausa e meneou a cabeça. — Crissy, a culpa é minha. Nunca devia ter insistir em que te casasse com Tommy.

—Agora isso não importa. Pela manhã conversarei com Tommy. Conseguirei que compreenda que foi um encontro inocente.

—Duvido que acredite. O que pensa fazer quando te casar com o Tommy? Jamais permitirá que Phillip ponha os pés em sua casa.

—Não sei. Resolverei esse problema quando chegar o momento. E quando falar com Tommy lhe diga que conversamos a respeito de

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Phillip Júnior. E que sim bem é uma atitude um tanto imprópria, você esquecerá todo o assunto se não voltar a repetir-se.

—É o que há dito esta noite ao Tommy? Não estranho que se zangou tanto. Acha que Tommy é tão ingênuo que pode aceitar isso? Não é tolo.

—Bem, terei que insistir em que é verdade - disse Christina. — Não quero mais choque entre Phillip e Tommy.

—Trata de falar com o Tommy antes que se cruze comigo. Por de minha parte eu não saberia como explicar a prolongação da presença de Phillip nesta casa. Eu mesmo não sei muito bem a quem seguir. - John se aproximou e beijou brandamente a bochecha de Christina. —Imagino que Tommy voltará cedo, de modo que é melhor que descanse um pouco. Boa noite, irmãzinha. Que saiba o que faz.

Christina sorriu levemente, mas não respondeu a seu irmão. Quando John partiu, Christina passeou a vista pela habitação vazia e experimentou um sentimento de pesar. Perguntou-se o que teria ocorrido se Tommy não tivesse entrado repentinamente. Vestiu a camisola, deitou-se e um desejo ardente a dominou... O mesmo desejo que tinha experiente tantas noites. Desejava Phillip... As mãos do homem amado acariciando seu corpo, seus lábios transportando-a, a sensação de seus músculos tensos nas costas quando ela o acariciava. De bruços e com o rosto fundo no travesseiro, chorou em silencio pelo que nunca poderia ser.

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CAPÍTULO 33

O pranto estridente do menino despertou Christina. Ela tomou

sua bata e entrou correndo na habitação de seu filho. Olhou ao redor para assegurar-se de que Phillip não estava, e depois se aproximou do berço. O pequeno Phillip deixou de chorar quando a viu, mas continuou movendo os braços e as pernas. Christina tinha um filho que dormia tranqüilamente a noite inteira. Mas quando chegava a manhã não admitia esperas e se assegurava de que sua mãe soubesse.

Trocou-o e depois se sentou na cadeira de balanço para alimentá-lo. Enquanto amamentava ao menino, Christina voltou a pensar nas palavras de Phillip. Nosso filho. Havia-o dito com muita naturalidade. Ela sempre tinha pensado no pequeno Phillip como em seu próprio filho ou como no filho de Phillip.

Voltou a pôr ao menino no berço e aproximou esta à luz do sol que entrava pela janela. Aproximou-lhe alguns brinquedos para que se entretivera enquanto chegava à hora do banho e depois passou a sua própria habitação. Tinha que preparar-se para o encontro com o Tommy.

O pequeno relógio sobre o suporte da chaminé indicava que eram as sete e dez, mas Christina tinha a certeza de que Tommy chegaria de um momento a outro. Decidiu usar um vestido decote de cetim violeta, com mangas largas e ajustadas. Não era um objeto apropriado para usar pela manhã, mas Christina confiava em que assim conseguiria distrair de sua cólera Tommy.

Christina decidiu assegurar os cachos com as forquilhas adornadas de rubis, e grandes aros adornados com pequenos rubis. Não usou o colar que fazia jogo, por temor que ocultasse o que ela desejava que Tommy visse. Depois de olhar por última vez sua imagem refletida no grande espelho, Christina chegou à conclusão de que sua aparência era satisfatória.

Christina desceu ao andar inferior e se alegrou de comprovar que Tommy ainda não tinha chegado. Pelo menos, poderia tomar o café da manhã em paz. Foi diretamente ao suporte do refeitório da cabana de comestíveis de fontes de mantimentos, e se serviu de um prato. Como as fontes estavam meio vazias era evidente que John e Phillip já tinham tomado o café da manhã, e provavelmente tinham saído da casa.

Depois de concluir o café da manhã, Christina se levantou para servir-se outra taça de chá. Quando se voltou, viu Tommy de pé na soleira. Vestia um elegante traje de montar e na mão direita sustentava um chicote. Como tinha previsto, os olhos castanhos do

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jovem se fixaram diretamente no longo decote que logo que dissimulava os seios grandes e redondos. Ela sorriu com simpatia.

—Tommy não te ouvi chegar, mas não importa. Vêem e tome comigo uma xícara de chá.

—O que? Finalmente ele a olhou nos olhos. —Diga que te convido a tomar uma xícara de chá. —Sim. – Aproximou-se dela e seus olhos voltaram a posar-se

famintos no busto da jovem. — Christina, como pode levar um vestido assim pela manhã? É...

Não te agrada meu vestido? - Sorriu sedutora. — Coloquei isso para ti.

Tommy se abrandou. Atraiu-a e a abraçou. Seus lábios procuraram os dela, mas ela não sentiu nada que se parecesse com uma excitação especial. Não sentiu a quebra de onda de fogo que percorria seu corpo cada vez que Phillip a beijava.

—Crissy, é um formoso vestido. – Apartou-a um pouco e a olhou de cima abaixo. — Não me importa que o use agora que Caxton se foi.

—Tommy. —Meu Deus, Crissy, não sabe o que sofri desde que veio esse

homem. Um verdadeiro inferno! Não podia dormir nem comer, não podia fazer nada. Meu único pensamento era que tinha sido seu amante.

—Tommy. —Mas agora todo se arrumará. Me diga, expulsou-o John ontem

à noite ou se foi esta manhã? —Tommy, Phillip não se foi. Ele a olhou como se tivesse recebido inesperadamente uma

bofetada na cara, mas ela se apressou a falar. —John acreditou quando lhe disse que ontem à noite não

ocorreu nada. Tommy, tudo foi muito inocente... Em efeito, não houve nada. Phillip Caxton já não me deseja... Já viu como se comportou com Estelle. Não há motivo para inquietar-se.

—Não há motivo! - Explodiu Tommy. — Estava em seu quarto e você... Estava nua! Parece-te que isso não significa nada? Christina, não o suportarei mais aqui!. Não o suportarei!

—Olhe, Tommy, isso não está bem. Phillip tem direito de estar aqui. Nesta casa está seu filho.

—Falarei disto com John! Esse homem não continuará na casa contigo!

—Esta é minha casa tanto como a de John! - Gritou Christina. —E eu digo que Phillip pode permanecer aqui.

—Maldição!

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Tommy descarregou o chicote sobre a mesa. —Tommy - disse Christina. — Phillip está aqui só por seu filho...

Não por mim. Não compreende? —Então, por que demônios não entrega seu filho? —Não pode falar a sério - disse Christina rindo. —Se tudo o que Caxton deseja é ter seu filho, entregue-o. De

todos os modos, nunca quis a esse fedelho insignificante - disse Tommy com amargura. —Christina, quando nos casemos teremos nossos próprios filhos. Meus filhos!

Christina falou com voz pausada: —Agradeço que me haja dito o que sente pelo pequeno Phillip

antes que nos casemos. Agora não haverá casamento. Tommy, se não quer a meu filho, não posso me casar contigo.

—Christina! —Não compreende meus sentimentos para o menino, verdade?

Tommy é meu filho e o amo com todo o coração. Não há poder na terra que me obrigue a renunciar a ele.

—Alguma vez pensou em se casar comigo de verdade? - Gritou Tommy, o rosto vermelho pela paixão. Um calafrio percorreu a coluna vertebral de Christina. — Sempre amou a esse homem! Bem, não o terá, Christina. Recorda o que digo! Phillip Caxton lamentará o dia que entrou nesta casa! E você também o lamentará!

—Tommy! - gritou Christina. Mas ele saiu da sala, fechando a porta com um forte golpe. Christina começou a tremer incontroladamente. O que podia

fazer? O que pretendia fazer Tommy? Tinha que encontrar Phillip e lhe advertir, mas não tinha idéia do lugar em que se encontrava.

Christina subiu correndo a escada. Foi diretamente à habitação de Phillip e fechou a porta. "Esperá-lo-ei aqui pensou. OH, Phillip... por favor, venha logo! Tommy enlouqueceu!"

Passaram vinte minutos durante os quais Christina andou de um extremo ao outro do quarto de Phillip. Pareceram-lhe horas. Continuou recordando o que Tommy havia dito e refletindo sobre o sentido de suas palavras. Quando ouviu passos no corredor, conteve a respiração rogando que fosse Phillip. Quando se abriu a porta, quase desmaiou de alívio.

—Que demônios faz aqui? Tenta me devolver a visita que te fiz ontem à noite? - Perguntou Phillip friamente.

Entrou na habitação e começou a tirar a pesada jaqueta de montar.

Christina se sentiu afligida pela dureza de Phillip, mas recordou a razão pela qual estava ali.

—Phillip vim te advertir. Tommy proferiu ameaças contra ti e se comportava de um modo tão estranho que eu...

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—Christina, não seja absurda! – Interrompeu-a Phillip. — Pediu-me ontem à noite que saísse de seu quarto e agora te peço que abandone o meu. Seu irmão há dito claramente que não deseja voltar a vemos sozinhos.

—Disse isso? —Não exatamente, mas esse era o sentido - replicou Phillip. —Mas Phillip Tommy disse que viria aqui. Ele... —Acha que realmente me importa no mais mínimo o que diz

Huntington? Asseguro-te que posso cuidar de mim mesmo. - Separou-se dela, deixando-a em total confusão. — Se seu jovem amante tentar algo tratarei de que não sofra muito. Agora, tenha a bondade de sair de meu quarto.

Christina agarrou o braço de Phillip e o obrigou a olhá-la e seus olhos irritados se cravaram nos olhos verdes de Phillip.

—Acho que quer te matar! Não pode colocar isso em sua dura cabeça?

—De acordo, Christina, é precisamente o que pretendo fazer - disse Tommy.

De repente, Christina sentiu que as náuseas a dominavam e percebeu ao mesmo tempo os músculos tensos do braço de Phillip. Virou-se lentamente para olhar Tommy, que estava de pé na soleira. O recém chegado apontava para Phillip com duas pistolas.

—Sabia que lhes acharia juntos. Bem, Christina, sua advertência chegou um pouco tarde. Agora nada poderá salvar a seu amante. - Emitiu uma risada breve.

Christina tratou de falar, mesmo pensando que ia desmaiar a qualquer momento

—Tommy, não pode fazer isto! Cometerá um assassinato! Arruinará sua própria vida.

—Acha que minha vida me importa em um mínimo? Não me importa o que me ocorra, se ele morrer. E agora morrerá, Christina... Ante seus próprios olhos. Acha que não sei que te deitou com ele enquanto dizia ser minha prometida? Acha que sou tão estúpido?

—Não é certo, Tommy! - Gritou Christina. Avançou para proteger com seu corpo Phillip, mas ele a afastou com um movimento do braço e Christina caiu na cama.

—Christina, saia do meio. Isto tem que se resolver entre Huntington e eu - disse Phillip com voz dura.

—Muito emocionante - disse Tommy rindo. — Mas meu propósito não é ferir Christina.

—Tommy, me escute! - Rogou Christina. Tinha que detê-lo! Levantou-se bruscamente e enfrentou Tommy com a respiração agitada. — Irei contigo, Tommy. Casar-me-ei hoje. Por favor, por favor, deixa as pistolas.

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—Promessas. Sempre me mentiste! —Tommy, não te minto. Isto é absurdo! Não tem motivo para

sentir ciúmes de Phillip. Não o amo. Não me deseja e eu não o desejo. Como poderia amá-lo depois do que me fez? Por favor... Escuta minhas razões! Partirei hoje mesmo contigo e não voltaremos a mencionar este assunto. Por favor, Tommy!

—Basta já, Christina! De novo me engana e não o tolerarei. Sempre quiseste a este homem e não trate de dizer o contrário! - Rugiu Tommy, a cara contraída em uma máscara de ódio. — Fomos noivos entretanto jamais permitiste que te tocasse; mas suportou que ele pusesse as mãos em cima, verdade? Bem, já é suficiente! Christina, não o terá... Nem terá a seu filho. - Tommy voltou a rir quando ouviu a exclamação de Christina, mas manteve a vista fixa em Phillip, que não fazia um só movimento. —Acha que permitirei que esse fedelho insignificante viva para te recordar a este homem? Não, Christina... Ambos morrerão! Tenho duas balas, uma para cada um.

—Terá que usar as duas comigo, Huntington, e inclusive assim o destroçarei. - A voz de Phillip era serena, mas ameaçadora.

—Duvido Caxton... Sou excelente atirador. Minha primeira bala lhe destroçará o coração e ficará uma para matar a esse bastardo. Christina não conservará nada de você. - Fez uma pausa e olhou o piso. —Crissy, foi à mulher que sempre deseje, mas a separaram de mim.

Olhou Phillip e seus olhos de novo mostraram uma expressão extraviada.

Tommy elevou uma das pistolas e apontou ao coração de Phillip. Christina proferiu um grito arrepiante e se jogou na frente no mesmo instante em que Tommy disparava. Phillip tinha dado um passo ao lado para esquivar a bala, mas pôde sustentar Christina em seus braços quando ela desmaiou; o sangue lhe brotava de uma ferida na cabeça.

Christina sentiu que caía, em um movimento lento, descrevendo amplos círculos. Frente a seus olhos tudo se tingiu de vermelho... E depois a escuridão a tragou.

—Oh meu Deus, o que tenho feito? Matei-a! - Exclamou Tommy. Tinha empalidecido intensamente; proferiu um grito que era

quase um uivo se virou e desceu correndo a escada. Mas antes que chegasse à porta principal John saiu do refeitório; atrás foram Kareen e Johnsy.

—Tommy! - Gritou John, lhe impedindo o passo. Tommy se virou lentamente e John empalideceu ao ver as duas pistolas em suas mãos. —Meu Deus, o que tem feito?

Tommy deixou cair às armas, como se lhe queimassem as mãos. Mas uma pistola ainda estava carregada e quando golpeou o chão

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estalou com um estrépito horrível. Do primeiro piso chegou um grito de angústia. Tommy caiu de joelhos e as lágrimas começaram a brotar de seus olhos.

—Já está me perseguindo! - Exclamou Tommy. — Oh meu Deus Crissy, não queria te ferir. Eu te amava.

—Fique aqui, Tommy - ordenou John com voz afogada e começou a subir depressa a escada; as mulheres o seguiram.

—Aonde vou? - Murmurou Tommy no vestíbulo. — Por que não vem me buscar Caxton? É necessário que se faça justiça! Oh meu Deus, como pude ser tão cego que não vi quanto o amava... Tanto, que se cruzou em minha linha de fogo para protegê-lo. Não posso suportar o que tenho feito... Quero morrer!

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CAPÍTULO 34

—Maldição, doutor, por que não acorda? Já vão três dias e você

disse que não era mais que uma ferida superficial... Nem sequer era necessário enfaixa-la!

John passeava pelo dormitório de Christina enquanto o velho doutor Willis fechava sua maleta.

—De acordo com o que me informa o senhor Caxton, temo-me que o problema de Christina é mental, não físico. Quando reagiu do primeiro desmaio e escutou o segundo disparo, imaginou que tinham matado a seu filho. Não há nenhuma razão que lhe impeça de despertar... Simplesmente não o deseja.

—Mas tem motivos para viver! —Sabemos, mas ela não. Em definitiva, sugiro que você se sente

aqui e lhe fale... Trate de arrancar-lhe da inconsciência. E não se inquiete muito, John. No curso de minha vida profissional jamais perdi a um parente que morresse de mera obstinação. Exceto sua mãe. Mas ela tinha lucidez total e desejava morrer. Fale com Christina. Lhe diga que seu filho a necessita... Lhe diga tudo o que possa lhe arrancar de seu torpor. Quando despertar estará perfeitamente bem.

Quando o doutor Willis partiu, Phillip entrou na habitação e parou ao lado da cama.

—O que disse Willis? - Perguntou Phillip. —Que não há motivo que lhe impeça de despertar! Simplesmente,

não o deseja! - Replicou irritado John. — Droga! Está desejando morrer de pena, exatamente como fez nossa mãe.

Bem entrava a noite, depois de que John tivesse passado o dia inteiro lhe falando, Christina abriu os olhos.

Olhou John, que estava sentado em uma cadeira ao lado da cama e se perguntou por que seu irmão se encontrava ali e recordou o que tinha ocorrido.

—Oh meu Deus, não... Não! - Gritou histericamente. —Está bem, Crissy... O pequeno Phillip está perfeitamente bem!

Vive e está são. Juro! - Apressou—se a dizer John. —John, não... Não me minta - implorou Christina entre soluços. —Juro—o, Crissy, seu filho não sofreu o mais mínimo dano. Está

na habitação próxima e dorme. Ela não podia deixar de chorar. —Ouvi um disparo! Ouviu perfeitamente. —Crissy, o disparo que ouviu foi no térreo, quando Tommy

deixou cair às pistolas ao chão. Ninguém foi ferido... O pequeno Phillip está muito bem.

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Christina afastou as mantas e começou a descer da cama. Mas uma dor lacerante lhe atravessou a cabeça, de modo que teve que voltar a deitar-se.

—Desejo vê-lo pessoalmente. Muito bem, Crissy, se não me acredita... Mas agora sente-se sem

fazer movimentos bruscos. Estiveste em coma durante três dias. Finalmente John teve que levar a habitação do menino.

Acompanhou-a brandamente ao lado do berço e a sustentou para que não caísse. Christina contemplou a seu filho dormindo. Aproximou a mão de sua carinha, sentiu o fôlego morno e lhe acariciou a bochecha. O menino se moveu e voltou à cabeça.

—Vive - murmurou feliz Christina. John voltou a elevá-la e a levou de retorno a seu leito. Christina

voltou a chorar, mas esta vez de alegria. —Crissy, ordenarei que lhe tragam de comer. E depois deve

descansar um pouco mais. —Mas disse que tinha dormido três dias. Não necessito mais

descanso, John. Desejo saber o que ocorreu - observou serenamente Christina.

—Um dos criados de Huntington me encontrou nos estábulos. Lorde Huntington enviou ao moço com o fim de que me advertisse que Tommy vinha armado. Ouvi o primeiro disparo antes de chegar a casa. Encontrei Tommy no vestíbulo. O segundo disparo foi acidental. Você gritou e eu pensei que Tommy tinha matado Phillip. Mas quando subi vi que você foi ferida. Crissy... Pensei que estava morta. Mas Phillip me assegurou que só tinha te desacordado depois de ouvir o segundo tiro. Se não tivesse perdido o sentido teria sabido que o pequeno Phillip estava bem. O primeiro disparo não o incomodou, mas os ecos do segundo o assustaram e gritava com toda a força de seus pulmões. Nem sequer Johnsy conseguiu acalmar seu pranto.

—Phillip também está bem? —Sim. Ambos teriam estado perfeitamente se não te tivesse

cruzado na linha de fogo. Crissy, sei por que o fez, mas me pareceu que não era meu assunto dizer a Phillip. Graças a Deus, a bala somente foi de raspão.

—Onde está agora Phillip? —Acredito que abaixo, embebedando-se, como fez as últimas três

noites. —E Tommy... Está bem? —Acredito que Tommy estava mais comovido que todos.

Acreditou que tinha te matado. Chorou como um menino quando lhe disse que só tinha desmaiado. Mas fiquei preocupado quando o prenderam. Alem do que atirou em ti.

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—Mas estou bem... Não foi mais que um acidente. John, não quero que o deixem no cárcere. Tommy enlouqueceu porque rompi nosso compromisso. Quero que obtenha sua liberdade... Esta mesma noite.

—Verei o que posso fazer, mas primeiro te trarei de comer. —Senhorita Crissy, querida, acorda. Aqui há alguém que deseja

ver sua mamãe. Christina se moveu na cama e viu Johnsy que sustentava em

braços ao pequeno Phillip. Sorriu, pois inclusive quando o embalava o menino se movia inquieto. Christina desabotoou a camisola e começou a amamentar o menino enquanto olhava Johnsy, que mostrava evidente nervosismo enquanto ordenava as coisas da habitação.

—O que te ocorre? - Perguntou Christina. —A verdade, assustou-me muitíssimo... Três dias completos na

cama. E para cúmulo, seu irmão me ordena vir a te perguntar se pode ver o senhor Tommy. Se me tivesse perguntado isso, me teria negado; mas já ninguém me pergunta nada.

—OH, Johnsy, deixa de protestar. Verei o Tommy logo que termine de alimentar ao pequeno Phillip.

—Possivelmente ainda não esteja em condições de receber visitas? - Propôs Johnsy com certa esperança.

—Não estou doente. Agora, continua com o teu e diga a Tommy que o verei em seguida.

Um momento depois Tommy bateu na porta quando Christina retornava da habitação infantil, onde tinha deixado ao pequeno Phillip. Christina abriu a porta e viu que Tommy vestia roupas de viagem. Convidou-o a passar.

—Crissy, eu... —Está bem, Tommy - interrompeu Christina. — Não tem que

dizer nada a respeito disso. —Mas desejo falar - disse Tommy e tomou entre as suas as mãos

de Christina. — Sinto muito, Crissy. Tem que me acreditar. Não quis te machucar.

—Sei, Tommy. —Agora compreendo quanto amas Phillip Caxton. Tivesse devido

compreendê-lo antes, mas estava obcecado com meus próprios sentimentos. Quando Caxton chegou a esta casa vi nele só a um rival. Mas agora sei que nunca foi minha... Sempre foi dele. Diga que lamento o ocorrido. Ainda dorme; por isso não posso dizer-lhe pessoalmente.

—Pode falar com ele mais tarde. —Não, não estarei aqui. Parto pela manhã. —Mas, aonde vai?

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—Decidi ingressar no exército - disse timidamente Tommy. —Mas e suas propriedades? Seu pai te necessitará - disse

Christina. Mas era evidente que Tommy já tinha adotado uma decisão.

—Meu pai ainda é jovem. Aqui nada me retém. Quão mesmo você, Crissy, vivi aqui minha vida inteira. É hora de que veja o mundo. – Beijou-a na bochecha e seus olhos castanhos expressaram profunda amizade. —Jamais encontrarei a uma pessoa como você, mas possivelmente apareça alguém.

—Assim espero, Tommy. Digo-lhe isso seriamente. E te desejo toda a sorte do mundo.

Quando Tommy partiu, Christina permaneceu longo momento no centro da habitação. Sentia-se muito triste e solitária, como se lhe tivessem arrancado um pedaço do coração. O Tommy com quem acabava de falar era o de sempre, o homem a quem ela queria como a um irmão; e estava segura de que no futuro lhe sentiria falta profundamente.

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CAPÍTULO 35

Phillip despertou com uma horrível dor de cabeça. A luz do sol

que alagava a habitação não aliviava seu mal-estar. Pressionou suas têmporas com os dedos, para aliviar o sofrimento, mas não servia de nada. Examinou sua própria figura; estava completamente vestido, embora lhe faltasse um sapato. Gemeu baixo.

Ontem à noite John lhe havia dito que ao fim Christina tinha despertado. Ou o tinha sonhado? Bem, havia um modo de comprová-lo. Ficou de pé. Uma dor aguda lhe atravessou de novo a cabeça e Phillip jurou que não voltaria a beber uísque por muito tempo. Salpicou-se água sobre a cara e depois permaneceu imóvel um momento, com as mãos apoiadas na mesa da penteadeira, até que a dor se acalmou um pouco.

Depois de um momento Phillip pôde acender o fogo que não se incomodou em acender a noite anterior. Barbeou-se e trocou de roupa. Começou a sentir-se outra vez quase humano e decidiu que era o momento oportuno para ver Christina.

Caminhou os poucos metros que o separavam da habitação de Christina e entrou sem chamar; encontrou-a sentada na cama, embelezada com a túnica de veludo negro que cobria uma camisola adornada com renda branca. Os longos cabelos cobriam grande parte do travesseiro e envolviam a cabeça com um belo halo dourado.

—Alguma vez chama? - Perguntou Christina secamente. —De todos os modos, dir-me-ia que entrasse, assim não vale a

pena perder seu tempo e o meu. - Phillip fechou a porta e ocupou a cadeira que John tinha aproximado da cama. —De modo que ao fim despertaste. Que demônios pretende conseguir dormindo três dias e deixando a meu filho a mercê de uma Ama de leite?

Pelo tom de voz Christina não pôde decidir se Phillip brincava ou falava a sério. Decidiu acredita na segunda possibilidade e se irritou.

—Lamento que meu prolongado sonho te tenha inquietado, mas eu vi a meu filho esta manhã. E acredito que esta bastante bem. E visto que parecem lhe desagradar às amas de leites, pode me dizer, Phillip, como lhe arrumará isso se aceito te entregar a meu filho?

—Droga, mulher! - Rugiu Phillip e emitiu um gemido provocado pelo som de sua própria voz.

Christina compreendeu o que lhe acontecia e isso a fez rir. —Que demônios te parece divertido? - Phillip a olhou com olhos

irritados. —Você - disse Christina enquanto tratava de conter a risada. — O

que te induziu a beber tanto três noites seguidas? Sei que se preocupou a possibilidade de perder ao pequeno Phillip, mas não

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tinha motivo para te embebedar. Sabia que ele não tinha sofrido o mínimo dano.

—Estava aqui, deitada, inconsciente, e não sei se viveria ou morreria... E me pergunta o que me induziu a beber?

—O que te importa que eu viva ou morra? Estou segura de que se eu não tivesse sobrevivido John teria entregado o pequeno Phillip. Ter-te-á agradado muito a perspectiva de obter o que desejava. Lamento te haver decepcionado.

Phillip se recostou na cadeira e olhou fixamente Christina. —Deveria lhe esfolar viva por causa dessa observação! Ah,

demônios. Enfim... Tivesse sido melhor esperar um pouco antes de te fazer esta visita. É evidente que estava muito comovida porque seu amante se encontra encerrado no cárcere.

—Droga, não foi meu amante! - Observou irritada Christina. —Senhor Caxton, que fique claro que você foi o único amante que eu tive em toda minha vida.

—Não é necessário gritar, por todos os diabos! - Gritou Phillip. —Não preciso gritar? Eu diria que é o único modo de que me

ouça. E além disso, Tommy já não está no cárcere. Foi... —Ouvi bem? - Phillip a interrompeu, e seus olhos verdes se

escureceram. —Ouviu-me bem - replicou Christina, sem fazer caso da cólera

dele. — Tommy foi liberado ontem à noite... Respondendo a meus insistentes rogos.

—Por todos os Santos! - Estalou Phillip, que tinha esquecido sua dor de cabeça. —E por que intercedeu e obteve que o liberassem como se nada tivesse ocorrido?

—Sua intenção não foi de me matar. —Sei! Queria liquidar a mim, senhora, quer que eu formule uma

acusação oficial? —Não o faça, Phillip - disse Christina em voz baixa. —Tommy

lamenta o que fez. Pediu-me que o desculpasse ante ti. Ele... —Já falaste com ele? – Interrompeu-a Phillip. —Sim. Veio para ver-me esta manhã. —E agora me pede por sua liberdade. - Phillip se recostou na

cadeira como se um enorme peso o apertasse contra ela. —Certamente o quer muito.

—Cresci com Tommy. Fomos íntimos amigos até que ele decidiu apaixonar-se por mim. Mas eu não correspondia a esse sentimento.

—Mas pretendia se casar com ele? —Ele pediu minha mão desde o primeiro dia que voltei para casa,

e depois, dia atrás dia, até que já não pude suportar mais. Rejeitava-o, mas ele não estava disposto a ceder. Fui a Victory para me afastar de Tommy, mas quando retornei a casa ele voltou a insistir. Pedi a

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John que tratasse de afastar Tommy, mas meu irmão preferiu apóia-lo. Acreditei que não voltaria a ver-te nunca e por isso cedi. Aceitei me casar com Tommy porque todos queriam que o fizesse. Fomos amigos, e eu o queria como amigo... Isso não trocou. Esta manhã, quando veio despedir-se, havia voltado a ser o mesmo de sempre.

—Despedir—se? —Sim, ingressará no exército. Sentirei falta dele. Quando rompi

nosso compromisso enlouqueceu de ciúmes, mas agora está bem. Ainda deseja lhe acusar?

—Não. Se foi, desejo-lhe boa sorte. De modo que para ti não era mais que um bom amigo?

—Sim. Phillip começou a rir estrepitosamente. Inclinou-se para frente,

sem abandonar a cadeira. —Dir-te-ei algo que devia ter dito faz muito tempo. Amo-te, Tina.

Sempre te amei. Acredito que não vale a pena viver a vida sem ti. Desejo te levar a casa comigo... Quero que vá para Victory. Mas o compreenderei se te nega; tenho que lhe pedir isso e se aceitar, não te exigirei nada. Sei que me odeia pelo sofrimento que te infligi, mas conseguirei suportar seu ódio enquanto possa conviver contigo.

Christina se pôs a chorar. Não podia acreditá-lo. —Tina, não é necessário que me responda agora. Ela abandonou de um salto à cama e se ajoelhou frente à Phillip.

Abraçou a cintura dele como se desejasse não afastar-se nunca. Phillip elevou o rosto de Christina e lhe acariciou brandamente os cabelos e a olhou com expressão tenra e ao mesmo tempo inquisitivo.

—Quer dizer que virá comigo? —Phillip, acaso pensava outra coisa? Como pode acreditar que te

odiasse? Amo-te com todo meu coração. Acredito que te quis desde o começo, mas compreendi só quando Alí Hejaz me seqüestrou. Teria continuado toda a vida no Egito se não me tivesse afastado de seu lado. E quando ocorreu isso, sofri muitíssimo, até que soube que levava a seu filho em meu ventre. O pequeno Phillip me deu um motivo para continuar vivendo.

—Por favor, Tina, não minta. Não te expulsei do acampamento. Você me abandonou!

—Mas não minto, Phillip. Ainda tenho a nota que Rashid me entregou quando você saiu em busca do acampamento de Yamaid Alhabbal. Ao princípio não pude acreditá-lo. Mas quando Rashid me disse que você desejava te casar com Nura, aceitei a situação e o acompanhei.

—Tina, não escrevi nenhuma nota. Fui ao acampamento do Yamaid para convidar a sua tribo a nossas bodas. Quando voltei...

—Nossas bodas!

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—Sim... Em realidade, tinha começado a acreditar que me queria realmente. Desejava me casar contigo para me assegurar de que jamais te perderia. Nossas bodas tinha que ser uma surpresa. Mas quando voltei, tinha partido e... Deixe-me ver essa nota.

A contra gosto, Christina se separou de Phillip e se aproximou de sua escrivaninha. Da gaveta superiora extraiu o enrugado pedaço de papel e o entregou a Phillip.

—Rashid! - Rugiu Phillip depois de ver a nota. — Teria que ter adivinhado! Embora seja meu último ato nesta vida, voltarei para o Egito e matarei a esse bastardo!

—Não entendo. —Rashid escreveu esta nota! Deixou-me outra assinada com seu

nome e nela me pedia que não te seguisse. Pensei que o último mês me tinha enganado. Acreditei que só fingia que foi feliz, com o fim de que te deixasse sozinha para facilitar sua fuga.

—Phillip, como pôde acreditar em tal coisa? Jamais me senti tão feliz em minha vida como durante esse mês contigo. Não poderia ter fingido essa classe de felicidade. - Sorriu afetuosamente e acariciou a nuca de Phillip. —Mas, por que fez isto Rashid?

—Certamente concebeu a esperança de que eu iria te buscar a Inglaterra e não retornaria. Rashid sempre me odiou por que eu era o favorito de nosso pai e porque me converti em chefe da tribo. Para ele, ser xeque era mais importante que tudo. Eu entendia sua situação e lhe permiti fazer sua vontade em muitas coisas. Mas chegou muito longe para obter o que queria. Planejou seu seqüestro e minha morte às mãos do xeque Alí. Quando o irmão de Amine me revelou a verdade, procurei em toda parte Rashid, mas não pude achá-lo. Finalmente, renunciei a meus esforços. Por outra parte, não podia suportar a vida naquele país, onde tudo o que via evocava sua lembrança. Mas não é possível perdoar Rashid. Por sua culpa perdemos um ano inteiro de mútuo amor.

—Teria sido bastante difícil durante alguns meses do ano - riu Christina. —Mas não importa... porque agora temos um ao outro, e para sempre. - Fez uma pausa. — Mas, o que me diz de Estelle? Afirmou que a desejava.

—Só porque sabia que me escutava, querida. Por que acha que deixei aberta a porta?

Phillip ficou de pé e atraiu Christina. Uniram-se em um beijo apaixonado e Christina acreditou que o êxtase a afligia. Phillip lhe sustentou a face entre as mãos e lhe beijou os olhos, as bochechas e os lábios.

—Tina, casar-te-á comigo? Viverá comigo e compartilhará sempre minha vida e amor?

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—Oh, sim, meu amor, eternamente. E jamais voltarei a te ocultar meus sentimentos.

—Tampouco eu os meus. —Mas, Phillip, há algo que ainda me desconcerta. Por que me

tratou com tanta frieza do momento de sua chegada a esta casa? —Querida, porque vim para me casar contigo, mas assim que

entrei ouvi que aceitava a proposta de outro homem. A cólera me dominava de tal modo que não pude ver claro.

—Estava ciumento? - Perguntou Christina alegremente, enquanto lhe acariciava a bochecha com os dedos.

—Ciumento! Jamais senti ciúmes! - Phillip se afastou e fechou com chave as portas do dormitório. Atraiu-a bruscamente para ele. —Mas se te vejo desviando os olhos para outro homem, arrancar-te-ei a pele a tiras!

—Seriamente? - Ela pareceu surpreendida. —Não - murmurou Phillip. Os olhos tinham uma expressão

maligna enquanto a despojava da túnica negra. — Não abandonará o leito o tempo necessário para me dar motivos.

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CAPÍTULO 36

Levavam seis meses de casados, seis meses de felicidade.

Christina ainda não podia acreditar que Phillip era dela. Desejava estar sempre perto de seu marido; tocá—lo, ouvir as doces palavras de amor que lhe enchiam de felicidade o coração.

—Esqueceu a aposta que fizemos ontem à noite? - Perguntou Phillip quando ela entrou no dormitório com a bandeja do café da manhã. —Acredito que apostamos uma manhã deitados tranqüilamente... E eu ganhei.

—Querido, não esqueci nada, mas ainda dormia quando despertei. Acreditei que podia desejar um bocado que te ajudasse a esperar o almoço.

—É mais provável que fosse você quem desejasse um bocado. Ultimamente está comendo muitíssimo; começo a acreditar que lhe interessam os mantimentos mais que eu – queixou-se Phillip. Recebeu a bandeja de mãos de Christina e a depositou sobre a mesa de mármore negro, frente ao divã.

—Isso não é certo e você sabe - disse Christina, fingindo irritação. —Bem, não deveria ter trazido você à bandeja. Que os criados

ganhem seu salário. —Meu senhor, você sabe muito bem que não se permite aos

criados entrar no dormitório quando a porta está fechada. Você mesmo deu a ordem o segundo dia de nossa lua de mel. Uma criada foi trocar a roupa branca e nos encontrou na cama. Sua irritação assustou muitíssimo a pobre moça.

—E tinha razão - sorriu Phillip. Mas, por que te atrasou tanto? Esteve fora da habitação quase uma hora e já pensava ir te buscar. Quando ganho uma aposta, pretendo que me paguem tudo, e não só a metade.

—Estes últimos meses, sempre que jogamos pôquer perdi; começo a acreditar que quando me ensinou o jogo no Egito tinha toda a intenção de me permitir ganhar.

—Nesse caso, não aposte comigo. Mas agora que as apostas são interessantes, prefiro ganhar. E é muito possível que você prefira perder.

—Agradar-te-ia acredita-lo, verdade? - Brincou Christina, reclinando-se no divã forrado de veludo.

—Não é assim? - Perguntou Phillip, sentando-se junto à Christina.

—Meu amor, não necessita um maço de naipes e um jogo de azar para conseguir que eu passe a manhã na cama contigo... Ou para o caso, o dia inteiro. Já deveria sabê-lo.

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—Tina, tantos meses acreditei que me odiava que agora me parece difícil pensar que nossa felicidade é real - disse Phillip. Sujeitou com as mãos o rosto de Christina e a olhou com profundo afeto aos olhos. — Um homem não tem direito a sentir-se tão feliz como eu graças a seu amor. Não posso acreditar que seja realmente minha.

Christina abraçou estreitamente Phillip. —Temos que esquecer os onze meses que estivemos separados -

murmurou — e esquecer as dúvidas que compartilhamos. Fomos uns bestas porque não confessamos nosso amor. Mas agora sei que me ama tanto como eu te amo. Jamais, jamais te abandonarei. - Ela se afastou um pouco e o olhou e de repente lhe brilharam os olhos. —Eu te direi uma coisa, Phillip. Se outra mulher chegasse a atrair sua atenção, lutarei por ti! Disse-me uma vez que ninguém te tira o que é teu. Bem, nenhuma mulher me tirará jamais o que é meu!

—Que mulher mais impetuosa - sorriu. — Por que não me disse que seria uma esposa ciumenta e possessiva?

—Lamenta te haver casado comigo? - Perguntou Christina. —Conhece a resposta a sua pergunta. Agora, me diga por que

esteve tanto tempo lá embaixo. Não estará tentando te afastar de meu leito, verdade?

—Jamais farei isso. Detive-me uns minutos para ver o pequeno Phillip. Estava tentando caminhar sem sustentar-se em nada. E me agrada tanto vê-lo quando faz isso. Além disso, Emma me entregou uma carta... De Kareen.

—E quer lê-la agora mesmo? Adiante - disse Phillip. Christina sorriu e abriu a carta. Depois de lê-la em silêncio uns

minutos, pôs a rir. —Bem - disse —já era tempo. —Do que se trata? - Perguntou Phillip. —Kareen terá um filho. Estou segura de que John se sente muito

feliz, e imagino que o mesmo poderá dizer-se de Johnsy. Estava muito comovida quando fomos e nos levamos a seu filho, como ela chamava o pequeno Phillip. Alegrar-se-á de que haja outro na casa. É uma boa notícia e me alegro por eles. Mas já é hora de que ampliemos nossa família. - Phillip sorriu perversamente. — E podemos começar a trabalhar nisso agora mesmo.

Ele a elevou em braços e a levou para o grande leito de dossel, ainda desordenado depois do descanso noturno. Beijou-a docilmente, e os lábios brandos de Phillip se moveram lentamente sobre a boca de Christina. Beijou-lhe o pescoço, os ombros e depois a depositou sobre a cama.

Os olhos verdes de Phillip ardiam de desejo. Tirou a bata de veludo e ajudou Christina a despir-se. Ela abriu os braços para

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recebê-lo e os corpos de ambos se enlaçaram estreitamente. Ele voltou a beijá-la com ardor.

De repente, ele se apoiou em um cotovelo e sorriu preguiçosamente Christina.

—Agrada-me a idéia de ter uma família numerosa - disse. — Não te oporá a ter outro filho quando aconteceu tão escasso tempo do último, verdade?

—Me perguntou isso faz um mês. Agora já não há alternativa. Dentro de oito meses nossa família aumentará - sorriu Christina.

—Mas, por que não me disse isso antes? - Perguntou alegre Phillip.

—Estava esperando o momento oportuno. Que desta vez tenhamos uma menina.

—Não, não quero. Primeiro, três ou quatro varões... Depois, poderá ter a menina que desejas.

—Mas, por quê? —Porque se nossa filha se parece com ti, necessitará muito

amparo neste mundo. —Bem, esperemos e vejamos. Temo-me que o assunto não

depende de nossa vontade. —Imagino que por isso come tanto ultimamente - disse Phillip. —

Bem esta vez vigiarei pessoalmente sua gravidez. Christina franziu levemente o cenho, e recordou que proporções

tinha alcançado seu próprio corpo a primeira vez. Mas Phillip sorriu. —Em seu ventre crescerá nosso filho. E você estará mais bela

que nunca... se tal coisa for possível. Amo-te, Tina. Phillip a beijou apaixonadamente e os dois corpos se uniram em

estreito abraço. As chamas ardentes do amor os envolveram e Christina compreendeu que sempre seria assim entre eles. Sabia que seu amor por Phillip não se apagaria jamais.

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Johanna Lindsey

Johanna Lindsey Helen nasceu em 10 março de 1952 na Alemanha, onde seu pai, um soldado do Exército E.U.A, estava de serviço. A família mudou-se bastante, quando ela era jovem. Seu pai sempre sonhou em se aposentar e viver no Havaí, e depois que ele faleceu, em 1964, Johanna e sua mãe se estabeleceram lá para homenageá-lo.

Em 1970, quando ela ainda estava na escola, ela se casou com Ralph, tornando-se uma jovem dona de casa. No casamento teve três filhos, Alfred, Joseph e Garret, que já a fez avó. Após a morte do marido, mudou-se para Johanna Maine, Nova Inglaterra, para ficar perto de sua família.

Johanna escreveu seu primeiro livro, Captive Bride em 1977 por um capricho, e o livro foi um sucesso. Em 2008, vendeu mais de 60 milhões de cópias em todo o mundo, com traduções em 12 idiomas fazendo Johanna Lindsey uma das autoras mais populares de mundo do romance histórico.

Os livros de Johanna apresentam diferentes épocas da história, incluindo livros na Idade Média, o "Velho Oeste" americano e a época de Regency Inglesa e Escocesa. Ela já escreveu alguns romances de ficção cientifica. De longe o mais popular entre os seus livros são as histórias sobre a Família Malory-Anderson, a saga Regency Inglaterra.