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1 PREGANDO O LIVRO QUE DEUS ESCREVEU por John MacArthur CONTEÚDO Introdução ......................................................................................................................................................................1 Inerrância Bíblica, exegese e exposição ..................................................................................................................2 Postulados e proposições ........................................................................................................................................2 Elo da Inerrância para Pregação Expositiva .......................................................................................................3 O legado do liberalismo ..............................................................................................................................................5 Um exemplo recente ...............................................................................................................................................5 Falsas noções .............................................................................................................................................................6 O Ponto de Partida ...................................................................................................................................................6 Nosso desafio .................................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO Acreditamos na inerrância bíblica. E daí? Como é que a verdade da inerrância bí- blica e a revelação da autoridade escrita de Deus afeta o nosso modo de pregar e ministrar? Há um pequeno ponto em defender a inerrância das Escrituras se estamos dispostos a ceder à autoridade da Bíblia na nossa abordagem ao ministério. Este artigo é adaptado de um artigo escrito por John MacArthur, no auge do deba- te sobre a inerrância no início de 1980. O destaque teológico do século 20 teve um intenso foco evangelística sobre a doutrina da inerrância bíblica. 1 Muito do que foi escrito em defesa da inerrância na década de 1970 e 80 re- presentou a fundamentação teológica mais aguda que a nossa geração produziu. No entanto, parece que o nosso compromisso prático com a inerrância está um pouco de- ficiente. O compromisso do evangélico moderno com a autoridade e a infalibilidade da Bíblia, nem sempre é refletido no ministério. A nossa pregação não deve refletir a nossa convicção de que a Palavra de Deus é infalível autoritária? Demasiadas vezes, não. Na verdade, há uma ten- dência perceptível no evangelicalismo contemporâneo distante da pregação bíblica, e um cor- respondente à experiência-centrada, pragmática, e mensagens temáticas no púlpito. Como pode ser isso? A nossa pregação não deve refletir a nossa convicção de que a Bíblia é verbalmente inspirada, inerrante Palavra de Deus? Se acreditarmos que "toda a Escritura é inspi- rada por Deus" e infalível, não deveríamos estar igualmente comprometidos com a verdade que é "útil para o ensino, para correção, para repreensão, para educação na justiça, para que o ho- mem de Deus seja perfeito, e perfeitamente habilitado para toda boa obra"? 2 Esta magnífica ver- dade não deveria determinar como devemos pregar? É evidente que isso deve acontecer. Paulo deu este mandato a Timóteo: "Conjuro-te, peran- te Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a lon- ganimidade e doutrina.” 3 Qualquer forma de pregação que ignore a sua finalidade e concepção de Deus é muito deficiente. 1 A doutrina da inerrância bíblica é "a alegação de que, quando todos os fatos são conhecidos, as Escrituras nas suas grafias originais e devidamente interpretadas serão mostradas ser sem erro em tudo o que elas afirmam ao grau de precisão pretendido, quer essa afirmação se refira à doutrina, história, ciências, geografia, geologia, etc"; Paul D. Feinberg, "Infallibility and Inerrancy," Trinity Journal, VI:2 (Fall, 1977), 120. 2 2 Tm 3:16-17 3 2 Tm 4:1-2, ênfase adionada

John MacArthur - Pregando o Livro Que Deus Escreveu

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www.VoltemosAoEvangelho.comJohn MacArhur fala sobre a importância da inerrância das Escrituras e o perigo do liberalismo teológico.

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Page 1: John MacArthur - Pregando o Livro Que Deus Escreveu

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PREGANDO O LIVRO QUE DEUS ESCREVEU

por John MacArthur

CONTEÚDO

Introdução ...................................................................................................................................................................... 1

Inerrância Bíblica, exegese e exposição .................................................................................................................. 2

Postulados e proposições ........................................................................................................................................ 2

Elo da Inerrância para Pregação Expositiva ....................................................................................................... 3

O legado do liberalismo .............................................................................................................................................. 5

Um exemplo recente ............................................................................................................................................... 5

Falsas noções ............................................................................................................................................................. 6

O Ponto de Partida ................................................................................................................................................... 6

Nosso desafio ................................................................................................................................................................. 7

INTRODUÇÃO

Acreditamos na inerrância bíblica. E daí? Como é que a verdade da inerrância bí-

blica e a revelação da autoridade escrita de Deus afeta o nosso modo de pregar e

ministrar? Há um pequeno ponto em defender a inerrância das Escrituras se estamos

dispostos a ceder à autoridade da Bíblia na nossa abordagem ao ministério.

Este artigo é adaptado de um artigo escrito por John MacArthur, no auge do deba-

te sobre a inerrância no início de 1980.

O destaque teológico do século 20 teve um intenso foco evangelística sobre a doutrina da

inerrância bíblica.1 Muito do que foi escrito em defesa da inerrância na década de 1970 e 80 re-

presentou a fundamentação teológica mais aguda que a nossa geração produziu.

No entanto, parece que o nosso compromisso prático com a inerrância está um pouco de-

ficiente. O compromisso do evangélico moderno com a autoridade e a infalibilidade da Bíblia,

nem sempre é refletido no ministério. A nossa pregação não deve refletir a nossa convicção de

que a Palavra de Deus é infalível autoritária? Demasiadas vezes, não. Na verdade, há uma ten-

dência perceptível no evangelicalismo contemporâneo distante da pregação bíblica, e um cor-

respondente à experiência-centrada, pragmática, e mensagens temáticas no púlpito.

Como pode ser isso? A nossa pregação não deve refletir a nossa convicção de que a Bíblia

é verbalmente inspirada, inerrante Palavra de Deus? Se acreditarmos que "toda a Escritura é inspi-

rada por Deus" e infalível, não deveríamos estar igualmente comprometidos com a verdade que é

"útil para o ensino, para correção, para repreensão, para educação na justiça, para que o ho-

mem de Deus seja perfeito, e perfeitamente habilitado para toda boa obra"?2 Esta magnífica ver-

dade não deveria determinar como devemos pregar?

É evidente que isso deve acontecer. Paulo deu este mandato a Timóteo: "Conjuro-te, peran-

te Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino:

prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a lon-

ganimidade e doutrina.”3 Qualquer forma de pregação que ignore a sua finalidade e concepção

de Deus é muito deficiente.

1 A doutrina da inerrância bíblica é "a alegação de que, quando todos os fatos são conhecidos, as Escrituras nas

suas grafias originais e devidamente interpretadas serão mostradas ser sem erro em tudo o que elas afirmam ao grau de

precisão pretendido, quer essa afirmação se refira à doutrina, história, ciências, geografia, geologia, etc"; Paul D. Feinberg,

"Infallibility and Inerrancy," Trinity Journal, VI:2 (Fall, 1977), 120.

2 2 Tm 3:16-17

3 2 Tm 4:1-2, ênfase adionada

Page 2: John MacArthur - Pregando o Livro Que Deus Escreveu

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J. I. Packer capturou eloqüentemente o propósito da pregação:

Pregação aparece na Bíblia como uma afinação do que Deus diz sobre Si mesmo e

suas ações, e sobre os homens em relação a Ele, mais uma ênfase de seus manda-

mentos, promessas, avisos e garantias, com vista a ganhar o ouvinte ou ouvintes... Para

uma resposta positiva.

A única resposta lógica, então para inerrância das Es-

crituras é pregar expositivamente. Por expositivo, quero dizer

para pregar de tal forma que o significado do texto bíblico é

apresentado inteiramente e exatamente como foi planejado

por Deus. A pregação expositiva é a proclamação da ver-

dade de Deus, mediada através do pregador.

Alguns, que são conhecidos como expositores nem

mesmo acreditam na inerrância bíblica. Também poderia ser

o caso que a maioria dos que afirmam a inerrância bíblica

não praticam pregação expositiva. (Novamente, a tendên-

cia mais popular entre os evangélicos nos dias de hoje é decididamente na direção oposta - em

direção a pregação impulsionada por "necessidades sentidas", e outras abordagens atuais para o

ministério do púlpito.) Estas são as incoerências desconcertantes, porque uma perspectiva inerran-

te demanda uma pregação expositiva, e uma perspectiva não- inerrante torna desnecessária a

pregação expositiva.

Da mesma forma, o que adianta termos um texto inerrante se não lidarmos com os fenôme-

nos básicos da comunicação, por exemplo, palavras, frases, gramática, morfologia, sintaxe, etc. E

se não fizermos isso, por que se preocupar em pregar? Em sua obra de referência sobre a teologia

exegética, Walter Kaiser acertadamente analisa o estado anêmico da igreja, devido à alimenta-

ção inadequada do rebanho:

Não é segredo que a Igreja de Cristo não é de todo em boa saúde em muitos luga-

res do mundo. Ela foi definhando, porque ela tem sido alimentada, como a linha atual,

"algo que é agradável e atraente mas tem pouco valor real"; todos os tipos de conser-

vantes artificiais e outros tipos de substitutos naturais foram servidas a ela. Como resul-

tado, a desnutrição teológica e bíblica tem afligido a presente geração, muito que

tenha tomado qualquer passos gigantescos para garantir que a saúde física não este-

ja danificada, usando alimentos ou produtos que são cancerígenos ou prejudiciais aos

seus corpos físicos. Simultaneamente, uma fome espiritual no mundo inteiro devido à

ausência de qualquer publicação séria da Palavra de Deus (Amós 8:11) continua a

correr solta e quase sem esmorecer na maioria das áreas da Igreja. A cura óbvia para

a má nutrição espiritual do evangelismo é a pregação expositiva.

O mandato é claro. A pregação expositiva é o gênero declarativo em que a inerrância en-

contra sua expressão lógica e à igreja sua vida e poder. Simplesmente, a inerrância demanda

exposição como o único método de pregar que preserve a pureza das Escrituras e realiza a finali-

dade para a qual Deus nos deu a Sua Palavra.

Ou, como R B Kuiper sucintamente afirmou que: "O princípio de que a pregação cristã é o

anúncio da Palavra deve, obviamente, ser determinante no conteúdo do sermão."

INERRÂNCIA BÍBLICA, EXEGESE E EXPOSIÇÃO

POSTULADOS E PROPOSIÇÕES

Permitam-me propor cinco postulados logicamente seqüenciais que apresentam e emba-

sam minhas proposições principais. Essas cinco idéias também estabelecem a verdadeira base

bíblica para a doutrina da inerrância:

1. Deus é (Gn 1:1; Sl 14, 53; Hb 11:6).

2. Deus é verdadeiro (Êxodo 34:6, Nm 23:19, Dt 32:4; Sl 25:10, 31:6, Is 65:16, Jer 10:8,

10:11, João 14:6, 17:3 ; Tito 1:2, Hb 6:18; 1 João 5:20, 21).

3. Deus fala em harmonia com Sua natureza (Nm 23:19; 1 Sm 15:29, Rm 3:4, 2 Tm 2:13;

Tito 1:2 e Hb 6:18).

Page 3: John MacArthur - Pregando o Livro Que Deus Escreveu

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4. Deus fala somente a verdade (Sl 31:5, 119:43, 142, 151, 160; Pv 30:5, Is 65:16, João

17:17, Tiago 1:18).

5. Deus falou Sua Palavra verdadeira como coerente com sua verdadeira essência a

ser comunicada às pessoas (uma verdade auto-evidente que é ilustrado em 2 Tm 3:16-17;

Hb 1:1.

Portanto, devemos considerar as proposições a seguir:

1. Deus deu Sua Palavra verdadeira para ser comunicada inteiramente como a deu,

isto é, todo o conselho de Deus é para ser pregado. (Mt 28:20; Atos 5:20, 20:27). Corres-

pondentemente, cada porção da Palavra de Deus deve ser analisada à luz da sua tota-

lidade.

2. Deus deu a Sua Palavra verdadeira para ser comunicada exatamente como Ele a

deu. É para ser dispensada exatamente como ela foi entregue, sem alteração da men-

sagem.

3. Apenas o processo exegético que rende proclamação expositiva irá realizar propo-

sições 1 e 2.

ELO DA INERRÂNCIA PARA PREGAÇÃO EXPOSITIVA

Agora, deixe-me justificar essas proposições com respostas a uma série de perguntas. Eles

vão canalizar o nosso pensamento da nascente da revelação de Deus ao Seu destino pretendido.

1. Por que pregar? Simples, Deus assim ordenou (2 Tm 4:2), e os Apóstolos assim responderam

(Atos 6:4).

2. O que devemos pregar? A Palavra de Deus – sola Scriptura e tota Scriptura (1 Tm 4:13; 2 Tm

4:2).

3. Quem prega? Homens santos de Deus (Lucas 1:70, Atos 3:21, Efésios 3:5; 2 Pe 1:21; Ap 18:20,

22:6). Somente depois que Deus havia purificado os lábios de Isaías, ele foi ordenado a pregar (Is

6:6-13).

4. Qual é a responsabilidade do pregador? Primeiro, o pregador precisa entender que a Pala-

vra de Deus não é a palavra do pregador. Mas sim:

Ele é o mensageiro, não um criador (euaggelizo).

Ele é o semeador, não a fonte (Mt 13:3, 19).

Ele é o arauto, e não a autoridade (kerusso).

Ele é o mordomo, não o proprietário (Cl 1:25).

Ele é o guia, não o autor (Atos 8:31).

Ele é o servente de alimento espiritual, não o Cozinheiro (João 21:15, 17).

Em segundo lugar, o pregador precisa considerar que a Escritura é ho logos tou theou (a Pa-

lavra de Deus). Quando ele está comprometido com esta verdade terrível e responsabilidade,

Seu objetivo, especialmente, será de ficar sob as Escrituras, e não sobre elas, e para permitir

que, por assim dizer, fale através dele, entregando o que não é tanto a mensagem dele quanto

sua. Em nossa pregação, é o que deve sempre estar acontecendo. No obituário do grande maes-

tro alemão, Otto Klemperer, Neville Cardus falou sobre a maneira como Klemperer "Definia a mú-

sica em movimento", mantendo ao longo de um auto deliberadamente anônimo, discreto estilo, a

fim de que as notas musicais pudessem articular-se em sua própria integridade por meio dele. As-

sim deve ser na pregação; as próprias Escrituras devem fazer todo o falar, e a tarefa do pregador

é simplesmente "definir a Bíblia em movimento". (Packer, Inerrância e Senso Comum, p. 203)

A expressão "a Palavra de Deus" (logos theou nos textos gregos) é usada 47 vezes no Novo

Testamento. É o que Jesus pregou (Lucas 5:1). Foi a mensagem que os apóstolos ensinaram (Atos

4:31, 6:2). Foi a palavra recebida pelos samaritanos (Atos 8:14) coma dada pelos apóstolos (Atos

8:25). Foi a mensagem que os gentios receberam da pregação de Pedro (Atos 1:1). Foi a palavra

que Paulo pregou em sua primeira viagem missionária (Atos 13:5, 7, 44, 48, 49, 15:35-36). Foi a men-

sagem pregada na segunda viagem missionária de Paulo (Atos 16:32, 17:13, 18:11). Foi a mensa-

gem que Paulo pregou em sua terceira viagem missionária (Atos 19:10). Foi o foco crescente de

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Lucas no livro de Atos (Atos 6:7, 12:24, 19:20). Paulo teve o cuidado de dizer aos coríntios que ele

falou a Palavra que foi entregue por Deus, que não havia sido adulterada e que era uma manifes-

tação da verdade (2 Coríntios 2:17, 4:2). Paulo reconheceu que era a fonte de sua pregação (Cl

1:25, 1 Ts 2:13).

Como foi com Cristo e os apóstolos, assim também a Escritura é para ser entregue pelos

pregadores de hoje, de tal maneira que eles possam dizer, "Assim diz o Senhor". Sua responsabili-

dade é a de entregá-la como ela foi originalmente entregue e destinada.

5. Como começou a mensagem do pregador?

A mensagem começou como uma verdadeira palavra de Deus e foi dada como verdade,

porque o propósito de Deus era transmitir a verdade. Foi ordenada por Deus como verdade e foi

entregue pelo Espírito de Deus, em cooperação com os homens santos que a receberam exata-

mente com a pureza que Deus planejou (2 Pedro 1:20-21). Foi recebida como Scriptura inerrantis

pelos profetas e apóstolos, ou seja, sem desvio da formulação original da Escritura na mente de

Deus.

A inerrância, então, expressa a qualidade com que os escritores do nosso cânone recebe-

ram o texto que chamamos Escritura.

6. Como uma mensagem de Deus pode continuar em seu estado original de verdade?

Se a mensagem de Deus começou verdadeira e se é para

ser entregue como foi recebida, o processo interpretativo ditado

pelas mudanças da língua, da cultura e do tempo vai garantir

sua pureza, quando pregada atualmente? A resposta é que só

uma abordagem exegética é aceitável para uma exposição

precisa.

Tendo estabelecido a necessidade essencial para a exege-

se, a pergunta mais lógica é: "Como a interpretação/exegese

está ligada à pregação?".

Packer responde apropriadamente:

A Bíblia, sendo o que é, toda verdadeira interpretação da mesma deve assumir a

forma de pregação. Com isso vai uma conversão igualmente importante: a de que, a

pregação sendo o que é, toda verdadeira pregação deve assumir a forma de inter-

pretação bíblica? (Packer, Inerrancy and Commom Sense, 187).

7. Agora, praticamente puxando nosso pensamento todo em conjunto, "Qual é o último passo

para que a inerrância una-se à pregação?"

Em primeiro lugar, o verdadeiro texto deve ser usado. Somos gratos a esses seletos estudiosos

que trabalham tediosamente no campo da crítica textual. Seus estudos recuperam o texto origi-

nal das Escrituras a partir do grande volume de cópias manuscritas, que são falhas por variantes

textuais. Este é o ponto de partida. Sem o texto como Deus lhe deu, o pregador seria impotente

para entregá-lo como Deus planejou.

Em segundo lugar, tendo começado com um texto verdadeiro, é preciso interpretar o texto

com precisão. A ciência da hermenêutica está em vista.

Como uma disciplina teológica, a hermenêutica é a ciência da interpretação cor-

reta da Bíblia. É uma aplicação especial da ciência geral da lingüística e do significa-

do. Destina-se a formular as regras específicas que dizem respeito aos fatores especiais

relacionados com a Bíblia... Hermenêutica é uma ciência em que se pode determinar

certos princípios para descobrir o significado de um documento, sendo que estes prin-

cípios não são uma mera lista de regras, mas têm uma ligação orgânica entre si. É

também uma arte como indicado anteriormente, pois princípios ou regras nunca po-

dem ser aplicados mecanicamente, mas envolvem a habilidade (technmae) do intér-

prete. (Bernard Ramm, Protestant Biblical Interpretation, 11)

Em terceiro lugar, nossa exegese deve passar por uma hermenêutica adequada. Desta re-

lação, Bernard Ramm observa que a hermenêutica,

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... está na mesma relação à exegese que um manual está para um jogo. O manual

é escrito em termos de reflexão, análise e experiência. O jogo é jogado pela realiza-

ção concreta das regras. As regras não são o jogo, e o jogo não tem sentido sem as

regras. A hermenêutica adequada não é uma exegese, mas a exegese é a herme-

nêutica aplicada. (Ibid.)

Assim, a exegese é a aplicação hábil de sólidos princípios hermenêuticos ao texto bíblico,

na língua original, visando compreender e declarar o significado da intenção do autor para os

públicos imediato e subseqüente. Em paralelo, hermenêutica e exegese focam no texto bíblico

para determinar o que ele disse e o que significava originalmente (cf. John D. Grassmick, Principles

and Practice of Greek Exegesis, 7). Assim, a exegese em seu sentido mais amplo incluirá várias dis-

ciplinas da crítica literária, estudos históricos, exegese gramatical, teologia histórica, teologia bíbli-

ca e teologia sistemática. A exegese adequada irá dizer ao estudioso o que o texto diz, o que o

texto significa, e como o texto se aplica pessoalmente.

Em quarto lugar, agora estamos prontos para uma verdadeira exposição. Com base no flu-

xo de pensamentos pelo qual acabamos de passar, eu afirmo que a pregação expositiva é a

pregação realmente exegética, e não tanto a forma homilética da mensagem. Merrill Unger ob-

servou precisamente:

Não é o tamanho da parcela tratada, se um único versículo ou uma unidade mai-

or, mas sim a forma do tratamento. Não importa o tamanho da porção explicada, se

ela é manipulada de tal maneira que seu significado real e essencial, tal como existia

à luz do contexto geral da Escritura, é feito puro e aplicado às necessidades modernas

dos ouvintes, pode-se dizer corretamente que é uma pregação expositiva. (Merrill F.

Unger, Principles of Expository Preaching, 33)

Como resultado deste processo exegético, que começou com a inerrância, o expositor é

equipado com uma mensagem verdadeira, com intenção verdadeira e com aplicação verda-

deira. Isto dá a ele uma perspectiva de pregação histórica, teológica, contextual, literária, sinópti-

ca e cultural. Sua mensagem é a mensagem planejada por Deus.

Agora, porque tudo isso parece tão óbvio, devemos perguntar: "Como é que a igreja per-

deu de vista o relacionamento da inerrância com a pregação?" Permita-me sugerir que a ten-

dência atual é nada mais do que o legado do liberalismo.

O LEGADO DO LIBERALISMO

UM EXEMPLO RECENTE

Dr. Robert Bratcher foi tradutor chefe da Sociedade Americana das Boas Novas para o ho-

mem moderno. Um ex-missionário Batista do Sul, ele foi convidado para falar na Comissão de Vida

Cristã da Convenção Batista do Sul em março de 1981. Ele abordou o tema "Autoridade bíblica

para a igreja hoje." Bratcher disse:

Somente a ignorância intencional ou desonestidade intelectual podem explicar a

afirmação de que a Bíblia é inerrante e infalível. Nenhum amante da verdade, respei-

tador de Deus, honrando a Cristo, crente deve ser culpado por essa heresia. Para in-

vestir a Bíblia com qualidades de inerrância e infalibilidade é idolatria [sic] que, para

transformá-la em um falso deus. . . . Ninguém afirma seriamente que todas as palavras

da Bíblia são as palavras de Deus. Se alguém faz isso, é apenas porque essa pessoa

não está disposta a explorar completamente as suas implicações. . . . Palavras faladas

em aramaico por Jesus nos anos trinta do primeiro século e preservadas por escrito em

grego 35-50 anos depois, não necessariamente exercem convincente autoridade ou

de fé sobre nós hoje. O locus de autoridade das escrituras não são as palavras pró-

prias. É Jesus Cristo como a Palavra de Deus, que é a autoridade para que possamos

ser e fazer. ( "Inerrância: Clearing Away Confusion", Christianity Today [29 de maio de

1981], 12)

Esse pensamento é típico do legado do liberalismo que roubou pregadores da dinâmica da

verdadeira pregação. Por que, afinal, devemos ter cuidado com as Escrituras, se a sua veracida-

de é incerta?

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FALSAS NOÇÕES

Bratcher e outros que assinam a "limitada" ou "parcial" inerrância são culpados de erro ao

longo de várias linhas de raciocínio.

Primeiro, eles não têm realmente compreendido o que a Escritura ensina sobre si mesma. B.

B. Warfield foi ao cerne da questão:

A questão realmente decisiva entre os estudiosos cristãos... é assim vista como “O

que faz uma exegese exata e científica determinar ser a doutrina bíblica da inspira-

ção?" (BB Warfield, A Inspiração e Autoridade da Bíblia, 175)

A resposta é que em nenhum lugar das Escrituras deixa em aberto a possibilidade de que a

Palavra de Deus contém uma mistura de verdade e erro - nem os escritores nunca deram o menor

indício de que eles estavam conscientes desse fenômeno alegado como eles escreveram. Os

autores humanos das Escrituras, por unanimidade concordam que é a Palavra de Deus, portanto

cada palavra deve ser verdadeira (Pv 30:5).

Em segundo lugar, a inerrância limitada ou parcial, pressupõe que haja uma maior autori-

dade para estabelecer a confiabilidade das Escrituras do que a revelação de Deus nas Escrituras.

Eles pecam por dar a priori o crítico de um lugar de autoridade sobre as Escrituras. Isso pressupõe

que o crítico de si mesmo é infalível.

Terceiro, se a inerrância limitada é verdadeira (condição de primeira classe), então os seus

promotores erram ao supor que nenhuma das Escrituras são um comunicador de confiança da

verdade de Deus. Uma escritura errante iria desqualificar a Bíblia como uma fonte confiável de

verdade.

Pressupostos estão envolvidos de qualquer forma. Será que os homens depositam sua fé nas

Escrituras ou nos críticos? Eles não podem ter seu bolo (Escritura de confiança) e comê-lo (a iner-

rância limitada). Como Clark Pinnock corretamente observou:

A tentativa de diminuir a integridade da Bíblia para as questões de "fé" e sua confi-

abilidade histórica é um procedimento indevido e insensato. (Clark H. Pinnock, "Nossa

fonte de autoridade: a Bíblia," BSAC 124/494 [1967], 154).

Se a Bíblia é incapaz de produzir a sã doutrina das Escritu-

ras, então é assim incapaz de produzir, com algum grau de

credibilidade, uma doutrina sobre qualquer outro assunto. Se os

autores humanos das Escrituras cometeram um erro em sua

compreensão da pureza Escrituras Sagradas, então eles têm

desqualificado a si mesmos como escritores para qualquer ou-

tro domínio da verdade revelada de Deus. Se eles são tão

desqualificados em todas as áreas, então todo pastor é rou-

bado completamente de qualquer confiança e convicção

relativo à verdadeira mensagem alegada que ele estaria re-

transmitindo para Deus.

O PONTO DE PARTIDA

G. Campbell Morgan, aclamado como um dos melhores expositores do século XX foi usado

amplamente como mensageiro de Deus. Houve um tempo em sua vida, no entanto, quando ele

lutou com o assunto que discutimos muito. Ele concluiu que se haviam erros na mensagem bíblica,

não pôde ser proclamado honestamente em público.

Aqui está o relato da luta do jovem Campbell Morgan para saber se a Bíblia era certamente

a Palavra de Deus:

Durante três anos, este jovem, contemplando seriamente o futuro do ensino e, fi-

nalmente, da pregação, sentiu-se nas águas turbulentas da corrente de controvérsia

religiosa levando-o além de sua profundidade. Ele leu os livros novos que debateram

questões como: "Deus é conhecível?" e descobriram que a decisão dos autores foi

concertada, "Ele não é conhecível. Tornou-se confuso e perplexo. Não era mais a cer-

teza de que seu pai, proclamado em público, e havia lhe ensinado em casa.

Outros livros apareceram, com vista a defender a Bíblia contra os ataques que fo-

ram sendo feitos em cima dela. Quanto mais ele lia o irrespondível se tornou mais as

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perguntas que encheu sua mente. Aquele que nunca sofreu não se pode apreciar a

angústia de espírito que o jovem Campbell Morgan sofreu durante este período crucial

de sua vida. Através de todos os anos depois lhe deu a maior simpatia com os jovens,

passando por experiências semelhantes na faculdade - experiências que ele compa-

rou a "passar por um infindável deserto." Em crise, a última veio quando ele admitiu pa-

ra si mesmo a sua total falta de garantia de que a Bíblia é a Palavra oficial de Deus

para o homem. Ele imediatamente cancelou todos os compromissos de pregação. En-

tão, tendo todos os seus livros, tanto e atacando aqueles que defendem a Bíblia, pô-

los todos em um armário de canto. Relacionando esta tarde, como fazia muitas vezes,

na pregação, ele disse de girar a chave na fechadura da porta. "Eu posso ouvir o cli-

que de que o bloqueio agora", ele costumava dizer. Ele saiu da casa e da rua para

uma livraria. Ele comprou uma nova Bíblia e, retornando ao seu quarto com ele, disse

para si mesmo: "Eu não estou mais certo de que este é o meu pai alega que ela seja -

a Palavra de Deus. Mas isso eu tenho certeza. Se Será a Palavra de Deus, e se eu vir a

ele com uma mente aberta e sem preconceitos, que trará a garantia de minha alma

de si mesma. " "Essa Bíblia me achou", ele disse: "Eu comecei a ler e estudá-lo em se-

guida, em 1883. Tenho sido um estudante, desde então, e eu ainda sou (em 1938)."

Ao fim de dois anos, Campbell Morgan emergiu daquele eclipse da fé absoluta-

mente convicto de que a Bíblia foi, e de fato é a verdade, ninguém menos que a Pa-

lavra do Deus vivo. Citando novamente a partir do seu relato sobre o incidente: "... Es-

sa experiência é que, finalmente, me levou de volta para o trabalho de pregação e

na obra do ministério. Logo descobri ponto de apoio suficiente para começar a pre-

gar, e a partir naquela época, eu continuei.”

Com esta crise por trás dele e essa certeza nova emocionante de sua alma, veio

uma convicção irresistível. Este livro, que é o que foi merecido tudo o que um homem

poderia dar ao seu estudo, não apenas por causa da alegria pessoal de aprofundar o

coração e a mente a vontade de Deus, mas também a fim de que as verdades des-

cobertas por tais das Escrituras deve ser dado a conhecer a um mundo de homens ta-

teando para a luz, e perecem na escuridão sem o conhecimento claro daquele Que-

rer. (Jill Morgan, um homem da Palavra: a vida de G. Campbell Morgan, 94)

Que Deus esteja satisfeito em multiplicar a tribo de pastores que, estando convencido da

natureza inerrante da Bíblia, diligentemente aplicarem-se para entender e proclamar a sua men-

sagem como uma comissão de Deus, para entregá-lo em seu lugar.

NOSSO DESAFIO

Um dos pregadores o mais poderoso e eficaz que já viveu na Escócia foi Robert Murray Mc-

Cheyne. Nas memórias de vida McCheyne, Andrew Bonar escreve:

Era seu desejo de chegar mais próximo ao modo primitivo de expor as Escrituras em

seus sermões. Assim, quando alguém lhe perguntou se ele estava temia ficar em falta

de sermões, ele respondeu: - "Não, eu sou apenas um intérprete da Escritura nos meus

sermões, e quando a Bíblia secar, então vou". E no mesmo espírito que ele evitou cui-

dadosamente o modo muito comum de acomodar textos - fixação de uma doutrina

sobre as palavras, não tirando-a da ligação óbvia da passagem. Ele esforçou-se em

todos os momentos para pregar a mente do Espírito em uma passagem, porque ele

temia que fazer o contrário seria entristecer o Espírito que tinha escrito. Interpretação

foi, portanto, um assunto solene para ele. E, no entanto, aderindo escrupulosamente a

este princípio se, sentiu-se em nenhuma maneira impedido de utilizar, para as necessi-

dades de cada dia, todas as partes do Velho Testamento quanto o Novo. Sua maneira

foi a primeira a conhecer o sentido primário e aplicação, e assim avançar para segu-

rá-lo para utilização presente. (Memórias de Robert Murray McCheyne, 94).

A tarefa do expositor é pregar a mente de Deus que se encontra na Palavra infalível de

Deus. Ele entende que através das disciplinas de hermenêutica e exegese. Ele declara que exposi-

tivamente então como a mensagem de que Deus falou e lhe encomendou para entregar.

John Stott esboçou habilmente a relação do processo de exegese e a pregação expositiva:

Page 8: John MacArthur - Pregando o Livro Que Deus Escreveu

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A pregação expositiva é uma disciplina mais exigente. Talvez seja por isso que é tão

rara. Somente aqueles que se comprometem são os que estão dispostos a seguir o e-

xemplo dos apóstolos e dizer: "Não razoável que abandonemos a palavra de Deus pa-

ra servir a mesa.... Vamos nos dedicar à oração e ao ministério da Palavra "(Atos 6:2,

4). A pregação sistemática da Palavra é impossível sem o estudo sistemático do mes-

mo. Não será o suficiente para formar opiniões através de alguns versos na leitura diá-

ria da Bíblia, nem para estudar uma passagem só quando tivermos a pregar a partir

dela. Não. Temos diariamente embeber-nos as Escrituras. Temos de estudar não ape-

nas, como através de um microscópio, as minúcias linguísticas de alguns versos, mas

tomar o nosso telescópio e digitalizar a vastas áreas da Palavra de Deus, assimilando o

seu grande tema da soberania divina na redenção da humanidade. "Ela é abençoa-

da", escreveu CH Spurgeon, "comer na alma da Bíblia até que, no passado, você

chegou a falar na linguagem bíblica, e seu espírito é aromatizado com as palavras do

Senhor, para que seu sangue seja bíblico e da própria essência da Bíblia flui de você."

(Retrato do pregador, 30-31).

Inerrância exige um processo exegético e uma proclamação expositiva. Apenas o processo

exegético preserva a Palavra de Deus inteiramente e exatamente como ele pretendia que fosse

proclamada. A pregação expositiva é o resultado do processo exegético. Assim, é o elo essencial

entre a inerrância e proclamação. É o mandato de preservar a pureza do dado originalmente

inerrante Palavra de Deus e proclamar todo o conselho de verdade redentora de Deus.

Por John MacArthur © Grace to You. Website: gty.org

Fonte: Preaching the Book God Wrote

Traduzido por: Voltemos ao Evangelho

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