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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Jonathan Barros Vita Valoração aduaneira e preços de transferência: pontos de conexão e distinções sistêmico-aplicativas. DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO – SP 2010

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  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO

    PUC-SP

    Jonathan Barros Vita

    Valorao aduaneira e preos de transferncia: pontos de conexo

    e distines sistmico-aplicativas.

    DOUTORADO EM DIREITO

    SO PAULO SP

    2010

  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO

    PUC-SP

    Jonathan Barros Vita

    Valorao aduaneira e preos de transferncia: pontos de conexo

    e distines sistmico-aplicativas.

    DOUTORADO EM DIREITO

    Tese apresentada Banca

    Examinadora da Pontifcia

    Universidade Catlica de So Paulo,

    como exigncia parcial para a

    obteno do ttulo de Doutor em Direito

    Tributrio, sob a orientao do

    professor doutor Paulo de Barros

    Carvalho.

    SO PAULO SP

    2010

  • Banca Examinadora

    _________________________

    _________________________

    _________________________

    _________________________

    _________________________

  • AGRADECIMENTOS

    Inicialmente, agradeo aos meus pais Roosevelt e Ivone: por todo o

    apoio nesta intensa caminhada acadmica.

    Ao meu eterno mentor Paulo de Barros Carvalho.

    A partir deste ponto, sem distines hierrquicas, agradeo ao

    amigo nordestino, debatedor de brilho e advogado Robson Maia.

    A Samuel Gaudncio e Napoleo Casado: amigos, companheiros de

    IBET e de Joo Pessoa para So Paulo.

    A Sales Gaudncio, cuja amizade e apoio acadmico demonstra que

    os grandes amigos so aqueles que so amigos de toda a famlia.

    A Philippe Gail: amigo de longos debates e frutferas parcerias.

    A Charles Mcnaughton: pelos sempre calorosos debates.

    A Tcio Lacerda Gama: professor, amigo e cientista crtico, tambm

    participante ativo da minha qualificao e, tambm, como professor assistente no

    mestrado e doutorado.

    A Maria Leonor Leite Vieira: incentivadora e artfice da publicao do

    meu primeiro livro.

    A Paulo Ayres Barreto e Aires Fernandino Barreto pelas

    oportunidades e palavras de incentivo, especialmente na viabilizao do lanamento

    do meu livro, dos quais estendo meus agradecimentos ao IDEPE Instituto Geraldo

    Ataliba.

    Ao professor Schoueri, pela sempre calorosa acolhida no IBDT e

    sempre percucientes observaes.

    Ao membro da banca de qualificao e companheiro de inmeros

    projetos acadmicos Cludio Finkelstein.

    Ao meu editor Vincius.

    Reitero os agradecimentos aos professores das disciplinas do

    Mestrado da PUC, que auxiliaram a formao que culmina com este trabalho de

    flego: Roque Carrazza, Heleno Torrs e Celso Campilongo.

    A Maria Rita Ferragut, eterna professora assistente do direito

    tributrio.

  • Querida amiga, coordenadora e participante da minha banca de

    mestrado professora Fabiana Del Padre Tom.

    Aos colegas de Conselho Municipal de Tributos de So Paulo,

    representados pela presidente Natlia Denardi e o amigo Alberto Macedo.

    Aos membros da comisso especial de direito tributrio da OAB

    federal em nome de seu presidente Allemand.

    Ao meu scio e conselheiro federal da OAB Carlos Fbio.

    Ao IBET E COGEAE, FAAP E EPD, especialmente em nome de:

    Priscila Souza, Fabiana Lopes Pinto e Alexandre Nioshika e Renata Elaine Silva e

    Wagner Menezes.

    Ao membro da minha banca de mestrado, advogado Roberto

    Quiroga.

    Florence, Neiva e os amigos que fazem parte do Barros Carvalho

    Advogados.

    Carla Gonalves, que passei a admirar e compartilhar projetos e

    observaes no mundo do direito tributrio.

    A Srgio Bencio: amigo e incentivador desde o mestrado.

    Aos Colegas de mestrado j citados em outras oportunidades e

    aqueles do doutorado que tanto me apoiaram esta caminhada, especialmente,

    Marcelo Diniz, Marcelo Rohenkol, Aldo de Paula Jnior, Rodrigo Fontes, Andr

    Lemos Jorge e Alessandro Rostagno cada um de sua forma.

    Aos meus amigos italianos Riccardo Casadei, Alessandro Turina,

    Andrea Ballancin, Roberto Franze, sem olvidar dos professores Giuseppe Marino,

    Claudio Sacchetto, Carlo Garbarino e Pasquale Pistone.

    Aos professores belgas Jaques Malherbe e Edoardo Traversa.

    Eugenia Finkelstein, pelos projetos em conjunto.

    A Filipe, estudioso do direito tributrio e revisor deste trabalho.

    A Fernanda Priorelli, que sem sua reviso no teria sido possvel a

    entrega da minha qualificao.

    Ao advogado Jayme Vita Roso, exemplo de pessoa humana e figura

    familiar.

    Aos meus amigos e demais familiares.

  • RESUMO

    Primeiramente, deve ser elucidado que a forma de abordagem cientfica deste

    trabalho direcionada pelo acoplamento entre Teoria da Linguagem e Teoria dos

    Sistemas. Este texto dividido em trs partes, cada uma com captulos prprios que

    delimitam: os instrumentos tericos utilizados como ponto de partida; os

    instrumentos e estruturas que guardam relao de pertinncia com o trabalho

    atravs de uma pesquisa no direito brasileiro e comparado; e a elucidao dos

    institutos a serem estudados com suas especificidades e pontos de conexo. A

    primeira parte trata de enumerar os fundamentos da Lgica Jurdica e da Teoria da

    Linguagem adotados e seus contrapontos e complementos na Teoria dos Sistemas,

    resultando no terceiro captulo que a consolidao do suporte terico final

    utilizado. Segunda parte trata de definies trazidas pelo direito brasileiro, em

    especial utilizando-se da estrutura da Regra-matriz de Incidncia Tributria,

    focalizando nas manifestaes do vocbulo tributo e na base de clculo tributria.

    Ainda, existe um captulo dedicado aos problemas do direito internacional acoplados

    aos problemas derivantes da integrao com o direito interno, em especial com o

    direito tributrio. Parte final, de trs captulos, foi destinada a definir e demonstrar a

    aplicao de cada um dos institutos estudados, que sejam: valorao aduaneira e

    preos de transferncia. Captulo final trata das interaes entre estes dois institutos

    em suas estruturas, funes e relaes, apontando convergncias e perspectivas.

    Palavras-chave: Direito Tributrio; Regra-Matriz de Incidncia Tributria; Imposto

    sobre a renda; imposto de importao; imposto sobre circulao de mercadorias;

    PIS/COFINS importao; valorao aduaneira; preos de transferncia; direito

    internacional; base de clculo tributria.

  • ABSTRACT

    Firstly, it shall be explicated that the scientific approach of this work has as premises

    the coupling between Linguistics Theory and Systems Theory. This essay is divided

    into three parts, each one with its own chapters, which can be divided into: the

    theoretical instruments as starting point; the instruments and structures which have

    pertinence with this work thru a research into national and comparative law texts; and

    the clearing of the studied legal institutes with its specificities and connecting points.

    The first part deals with the fundaments of Legal Logics and Linguistics Theory

    adopted and its counterweights and complements in Systems Theory, resulting in

    the third chapter which is the consolidation of the theoretical support used in this

    work. Second part defines the institutes of Brazilian law, specially, using the Matrix

    Rule of Tax Incidence, focusing into the manifestation of the word tax and into the

    taxable basis. Also, there is a chapter dedicated to the problems of the international

    law coupled to the problems deriving from the integration with the internal law,

    specially, with tax law. Last Part, with three chapters, was meant to define and

    demonstrate the application of each one of the studied institutes, which are: customs

    valuation and transfer pricing. Final chapter deals with the interaction between these

    two institutes in their structures, functions and relationships, pointing out

    convergences and perspectives.

    Key words: tax law; matrix-rule of tax incidence; Income tax; import taxes; sales tax;

    PIS/COFINS over import tax; international law; transfer pricing; customs valuation;

    taxable basis.

  • SUMRIO

    INTRODUO. 17

    TOMO I ESTABELECENDO UM SISTEMA DE REFERNCIA TERICO.

    TTULO I ESTRUTURAS DE FILOSOFIA E TEORIA GERAL DO DIREITO.

    CAPTULO I TEORIA DA LINGUAGEM.

    1.1. Sobre o conhecimento, linguagem e objeto do conhecimento. 23

    1.2. O sistema de referncia e a verdade. 24

    1.3. Flusser e a Teoria da Linguagem: entrecruzamentos. 28

    1.3.1. Homem, pensamento e frase. 28

    1.3.2. Lngua, linguagem e fala. 30

    1.3.3. Teoria da traduo. 32

    1.3.4. Relaes entre linguagem jurdica e linguagem social. 34

    1.4. Direito, linguagem e mtodo. 35

    1.5. Ordenamento e sistema jurdico. 38

    1.5.1. Definio do conceito de sistema: entre a Cincia do Direito

    e o direito positivo.

    38

    1.5.2. Distino entre ordenamento e sistema. 41

    1.5.3. Sobre o direito positivo e normas jurdicas. 45

    1.5.4. Diferenciao entre normas jurdicas e morais. 50

    CAPTULO II TEORIA DOS SISTEMAS DE NIKLAS LUHMANN.

    2.1. Elementos introdutrios Teoria dos Sistemas autopoiticos de

    Niklas Luhmann.

    53

    2.2. A estruturao bsica da Teoria dos Sistemas e sua forma de

    abordagem neste trabalho.

    55

    2.3. A respeito da distino entre sistema do direito, o ambiente e a

    sociedade.

    60

  • 2.4. Codificao. 64

    2.5. Programao. 70

    2.6. Contingncia, condicionalidade e recondicionalizao. 75

    2.7. Tempo normativo e do sistema. 78

    2.8. Acoplamentos estruturais: definio e espcies. 82

    2.8.1. Definio. 82

    2.8.2. Acoplamentos estruturais entre economia e direito. 87

    2.8.3. Acoplamentos estruturais entre poltica e direito. 92

    CAPTULO III DESENVOLVIMENTO DE TEMAS APLICADOS DE TEORIA

    GERAL DO DIREITO E DOGMTICA CLSSICA.

    3.1. Evento, fato e fato jurdico 99

    3.1.1. Fatos jurdicos e fatos contbeis. 103

    3.1.2. Fatos simples e fatos complexos. 111

    3.2. Unidade do direito, harmonizao e integrao entre sistemas

    jurdicos: entre a Teoria dos Sistemas e o Construtivismo Lgico-

    Semntico.

    114

    3.2.1. Unidade do direito: entre definio e conceito. 114

    3.2.2. Unidade do direito positivo e da Cincia do Direito: uma

    relao com Flusser.

    118

    3.2.3. Unidade do cdigo e do programa. 121

    3.2.4. Eliso e unidade do direito. 122

    3.2.5. Interaes entre sistemas jurdicos, harmonizao e direito

    internacional.

    127

    3.2.5.1. Harmonizao no contexto da sociedade global. 131

    3.2.5.2. Harmonizao, semitica e compatibilidade. 133

    3.3. Revogao e soluo de antinomias. 136

    3.3.1. A respeito da soluo de antinomias. 136

    3.3.1.1. Antinomias reais e aparentes: um falso problema. 139

    3.3.1.2. A forma de soluo de antinomias no sistema de

    direito positivo brasileiro.

    141

    3.3.2. A respeito da revogao. 144

  • 3.3.2.1. Revogao tcita: uma impossibilidade sob o

    ngulo do Construtivismo Lgico-Semntico.

    147

    3.3.2.2. Revogao e declarao de inconstitucionalidade. 149

    3.3.3. Distino entre revogao e soluo de antinomias. 151

    3.4. Alguns desenvolvimentos da Teoria dos Sistemas. 153

    3.4.1. Onda de choque e distino centro/periferia. 153

    3.4.2. Tridimensionalidade e estrutura molecular dos sistemas

    comunicacionais.

    155

    3.4.3. Validade e codeshifting. 158

    3.4.3.1. Validade, vigncia e eficcia: elementos

    fundamentais das teorias clssicas.

    158

    3.4.3.2. Desenvolvimento da validade a partir de novas

    aplicaes da Teoria dos Sistemas.

    162

    TTULO II ESTRUTURAS DE DIREITO DOGMTICO.

    CAPTULO IV DO DIREITO TRIBUTRIO.

    4.1. Tributos em uma perspectiva sistmica. 168

    4.2. Definio do conceito de tributo. 172

    4.2.1. Distino entre tributo e outros institutos jurdicos

    obrigacionais.

    178

    4.3. Classificao dos tributos. 181

    4.4. Esquematizao da Regra-Matriz de Incidncia Tributria. 187

    CAPTULO V CRITRIO QUANTITATIVO DA REGRA-MATRIZ DE INCIDNCIA

    TRIBUTRIA: PROPOSTAS TERICAS.

    5.1. Critrio quantitativo do conseqente da regra-matriz de

    incidncia tributria: (re)introduo ao tema.

    194

    5.2. Alquotas: (re)definio e classificaes. 196

    5.3. Base de clculo: (re)definio e funes. 201

    5.4. Parametrizao, comparabilidade e equalizao de operaes:

  • ferramentas tericas. 206

    5.4.1. Parametrizao e comparabilidade de transaes. 207

    5.4.2. Equalizao de transaes. 212

    CAPTULO VI FUNDAMENTOS DE DIREITO INTERNACIONAL.

    6.1. Consideraes preliminares sobre direito internacional. 217

    6.1.1. Monismo e dualismo. 226

    6.1.2. Direito nacional e direito internacional. 230

    6.1.3. Distino entre direitos nacionais de pases distintos. 234

    6.1.4. Unidade entre direitos nacionais e direito internacional:

    simetria e bi-implicao de qualificaes.

    239

    6.2. Validade dos tratados internacionais. 247

    6.2.1. Espcies e classificao de veculos introdutores: tratados,

    convenes e modelos.

    247

    6.2.2. Procedimento de produo de tratados e sua internalizao

    no direito brasileiro.

    255

    6.2.2.1. Produo de tratados no mbito internacional. 255

    6.2.2.2. Internalizao dos tratados no direito brasileiro. 259

    6.2.3. Revogao, soluo de antinomias, hierarquia e tratados

    internacionais: Treaty override.

    268

    6.3. Validade e vigncia dos tratados internacionais: casos

    complexos.

    280

    6.4. Aspectos controvertidos da interpretao dos tratados

    internacionais.

    285

    6.5. Direito tributrio internacional e direito internacional tributrio. 294

    6.5.1. Critrio espacial da regra-matriz de incidncia tributria e

    direito tributrio internacional: elementos de conexo e

    estraneidade.

    297

  • TOMO II DOGMTICA ESPECFICA E ELEMENTOS COMPARATIVOS

    ENTRE OS INSTITUTOS ESTUDADOS.

    TTULO III ESPECIFICIDADES DE DIREITO DOGMTICO TRIBUTRIO.

    CAPTULO VII VALORAO ADUANEIRA.

    7.1. Definio, aspectos funcionais e sistmicos da valorao

    aduaneira.

    308

    7.1.1. Direito tributrio e direito aduaneiro: interseco entre

    classes.

    308

    7.1.2. Digesto histrico do comrcio internacional e da valorao

    aduaneira no Brasil e no mundo.

    310

    7.1.3. Definio do conceito de valorao aduaneira. 315

    7.1.4. Fundamentos sistmicos da valorao aduaneira. 322

    7.2. Tributos envolvidos com a valorao aduaneira no Brasil. 325

    7.2.1. Imposto sobre importaes. 327

    7.2.2. Imposto sobre exportaes. 335

    7.2.3. Imposto sobre produtos industrializados na importao. 342

    7.2.4. Imposto sobre a circulao de mercadorias na importao. 346

    7.2.5. PIS e COFINS incidentes sobre importaes de

    mercadorias.

    352

    7.3. Requisitos e princpios da valorao aduaneira. 357

    7.3.1. Aspectos relevantes da valorao aduaneira e a forma e

    contedo do lanamento tributrio na prxis brasileira.

    368

    7.4. Mtodos de determinao do valor aduaneiro. 375

    7.4.1. Consideraes introdutrias. 375

    7.4.2. Valor de transao (artigo 1 do AVA). 381

    7.4.2.1. Ajustes ao valor de transao (artigo 8 do AVA). 392

    7.4.3. Valor de transao de mercadorias idnticas s importadas

    (artigo 2 do AVA).

    402

    7.4.4. Valor de transao de mercadorias similares s importadas

    (artigo 3 do AVA).

    406

  • 7.4.5. Mtodo dedutivo ou decomposio do valor de revenda

    (artigo 5 do AVA).

    409

    7.4.6. Mtodo computado ou verificao do custo ou valor de

    insumos e de fabricao (artigo 6 do AVA).

    414

    7.4.7. Mtodos residuais (artigo 7 do AVA). 416

    CAPTULO VIII PREOS DE TRANSFERNCIA.

    8.1. Definio, aspectos funcionais e sistmicos dos preos de

    transferncia.

    424

    8.1.1. Estudo semntico da expresso preos de transferncia. 424

    8.1.2. Preos de transferncia no direito tributrio. 427

    8.1.3. Os preos de transferncia e seus reflexos na

    contabilidade, no direito societrio, no direito econmico e nos

    controles de fluxos de capitais internacionais.

    431

    8.1.4. Fices, presunes, preos de transferncia e definio do

    conceito de renda.

    437

    8.1.5. Aspectos sistmicos dos preos de transferncia. 441

    8.1.6. Bi-implicao de qualificaes e preos de transferncia:

    fatores complexos.

    444

    8.2. Tributos envolvidos com os preos de transferncia no Brasil. 449

    8.2.1. Imposto sobre a renda e contribuio social sobre o lucro

    lquido.

    450

    8.2.1.1. Pessoas fsicas, imposto sobre a renda e preos de

    transferncia.

    450

    8.2.1.2. Imposto sobre a renda das pessoas jurdicas e

    contribuio social sobre o lucro lquido.

    455

    8.2.2. Tributos indiretamente envolvidos com os preos de

    transferncia no Brasil.

    463

    8.2.2.1. ISS. 470

    8.2.2.2. ICMS. 477

    8.2.2.3. IPI. 482

    8.2.2.4. CIDE royalties. 484

  • 8.2.2.5. PIS e COFINS incidentes sobre as importaes de

    mercadorias e servios.

    487

    8.2.2.6. PIS e COFINS. 491

    8.2.2.7. IOF. 493

    8.2.2.8. Adicional ao Frete para Renovao da Marinha

    Mercante.

    496

    8.3. Requisitos e princpios para aplicao dos preos de

    transferncia.

    498

    8.3.1. Operaes e fluxos financeiros passveis de controle pelos

    preos de transferncia.

    500

    8.3.1.1. Operaes de importao ou exportao de bens,

    servios ou direitos.

    502

    8.3.1.2. Juros. 507

    8.3.1.3. Intangveis, royalties e servios de assistncia

    tcnica, cientfica, administrativa ou assemelhados.

    512

    8.3.1.4. Aplicao dos preos de transferncia em

    operaes nacionais: uma alterao possvel das

    operaes objeto de controle.

    517

    8.3.2. Safe Harbor. 519

    8.3.3. O princpio arms lenght: entre o Modelo OCDE de

    Conveno para evitar a dupla tributao e a legislao brasileira.

    527

    8.3.4. Pessoas vinculadas. 540

    8.3.5. Pases, dependncias ou regimes com tributao

    favorecida, sigilo societrio ou que no identificam o beneficirio

    efetivo de rendimentos.

    561

    8.4. Mtodos de determinao da base de clculo tributria dos

    tributos incidentes sobre a renda.

    580

    8.4.1. Notas introdutrias: entre os mtodos e ajustes contidos

    nos Guidelines da OCDE e os positivados pela legislao

    nacional.

    601

    8.4.2. Apurao dos preos mdios: fundamentos pressupostos. 602

    8.4.2.1. Comparabilidade, equalizao e similaridade: entre

    transaes e seus objetos.

    602

  • 8.4.2.2. Teoria das Provas e preos de transferncia. 627

    8.4.2.2.1. Secret comparables. 647

    8.4.3. Importaes. 650

    8.4.3.1. Preos independentes comparados. 651

    8.4.3.2. Preo de revenda menos lucro. 653

    8.4.3.3. Custo de produo mais lucro. 667

    8.4.4. Exportaes. 674

    8.4.4.1. Preo de venda nas exportaes. 676

    8.4.4.2. Preo de venda por atacado no pas de destino,

    diminudo do lucro.

    677

    8.4.4.3. Preo de venda a varejo no pas de destino,

    diminudo do lucro.

    682

    8.4.4.4. Custo de aquisio ou de produo mais tributos e

    lucro.

    685

    8.4.5. Mtodos aplicveis aos juros ativos e passivos. 689

    8.4.6. Mtodos aplicveis s operaes ativas e passivas com

    intangveis, royalties e servios de assistncia tcnica, cientfica,

    administrativa ou assemelhados.

    692

    CAPTULO IX ENTRELAAMENTOS POSSVEIS ENTRE OS INSTITUTOS DA

    VALORAO ADUANEIRA E DOS PREOS DE TRANSFERNCIA.

    9.1. Valorao aduaneira e preos de transferncia: aspectos

    introdutrios.

    699

    9.2. Anlise a partir da estrutura dos dois institutos. 710

    9.2.1. Distino estrutural primria: veculos introdutores. 710

    9.2.2. Princpios aplicveis. 716

    9.2.2.1. Arms lenght: entre a valorao aduaneira e os

    preos de transferncia.

    726

    9.2.3. Elementos subjetivos. 742

    9.2.4. Objetos dos institutos: Teoria das Classes e diferenciao

    na abertura semntica da norma jurdica que permite a aplicao

    dos institutos.

    753

  • 9.2.5. Bi-implicao de qualificaes: comparao entre ambos

    em sua potncia de aplicao.

    762

    9.3. Estudos sobre a frmula operativa. 767

    9.3.1. Aspectos sistmicos da operacionalizao dos institutos no

    sistema social.

    767

    9.3.2. Elemento temporal. 772

    9.3.3. Comparaes entre os mtodos dos institutos. 780

    9.3.3.1. O artigo 1 e ajustes do artigo 8 do AVA e o Safe

    Habor.

    792

    9.3.3.2. Os mtodos do valor de transao de mercadorias

    idnticas ou similares s importadas (2 e 3 mtodos de

    valorao aduaneira) e o CUP, o PIC e o PVEx.

    796

    9.3.3.3. O mtodo dedutivo (4 mtodo de valorao

    aduaneira) e o RPM, o PRL, o PVV e o PVA.

    803

    9.3.3.4. O mtodo do valor computado (5 mtodo de

    valorao aduaneira) e o CPM, o CPL e o CAP.

    811

    9.3.3.5. Os mtodos residuais da valorao aduaneira e os

    mtodos primrios e secundrios dos preos de

    transferncia na legislao brasileira e nos Guidelines da

    OCDE.

    818

    9.4. Anlise funcional e finalstica da valorao aduaneira e dos

    preos de transferncia.

    826

    9.5. (Re)analisando problemas e solues: anlise de convergncias

    e perspectivas de harmonizao entre os institutos no plano nacional

    e internacional.

    837

    9.5.1. Textualidade: unidade, redundncia e evoluo. 840

    9.5.2. O tempo e o objeto dos institutos. 848

    9.5.3. Aplicao dos mtodos dos institutos: paralelismo e

    convergncia.

    851

    9.5.4. A experincia internacional. 858

    9.5.5. O status atual e as perspectivas brasileiras. 860

    9.5.6. Trocas de informao internacionais. 866

    9.5.7. Deveres instrumentais e uso de tecnologias. 871

  • CONCLUSES. 875

    BIBLIOGRAFIA. 885

  • INTRODUO

    Os problemas derivantes do comrcio internacional na sociedade

    complexa so de polidricos esquemas com pontos de vista em vrios diferentes loci

    no sistema jurdico representados por vises de segundo nvel internas e externas.

    A comunicao interna ao sistema jurdico, com o seu cdigo

    lcito/ilcito tende a apreender os fenmenos de forma geogrfica, na dicotomia

    centro/periferia do sistema, lembrando que tal distino realizada em um complexo

    tridimensional, ou seja, existem vrios pontos prximos de um dado ponto de

    irritao das estruturas, permitindo que a reao do sistema se d por diferentes

    tipos destas estruturas (no contexto da idia a ser elucidada posteriormente da onda

    de choque).

    Igualmente, as irritaes do ambiente so reproduzidas no sistema

    por estruturas que podem ser diversificadas, em parte pelo problema da seleo

    darwiniana1 interna ao sistema, alm do ponto da conjugao lgica entre

    antecedente e conseqente normativo, ou entre objeto dinmico e imediato (um para

    um, uni-unvoca; um para vrios, uni-plurvoca; vrios para um, pluri-unvoca; e

    vrios para vrios, pluri-plurvoca).

    No caso do direito, tais combinaes so sempre presentes, pois

    cada hiptese normativa acaba por ter necessariamente critrios de ingresso em

    dado conjunto e, no caso, um mesmo objeto cognitivo (multifacetado e complexo)

    pode ter critrios que o enquadrem em diversas hipteses normativas.

    Aqui, o problema est nos dois plos, tanto nos critrios do fato,

    como na conseqncia jurdico tributria especfica da (re)qualificao de tais fatos.

    O direito possui um problema interessante do ponto de vista

    metodolgico, j que existe uma confuso de suporte fsico entre o objeto e a cincia

    1 DARWIN, Charles. A origem das espcies. So Paulo: Martin Claret, 2005.

  • 18

    que o estuda, fazendo necessrio que se estude a partir das premissas do giro

    lingstico, escola filosfica que enfrentou tais dicotomias.

    Tanto o direito positivo como a Cincia do Direito so formados por

    linguagem, logo, a nica maneira de diferenciar os dois tratar de formas de

    linguagem diversas (prescritiva e descritiva) ou dizer que h uma distino entre os

    cdigos de cada um desses sistemas.

    Um faz parte de um plexo cognitivo, de percepo do cientista da

    realidade jurdica ao seu redor; o outro possui limitaes de contato com a realidade,

    pois as cria mediante suas prprias estruturas.

    Obviamente, no caso do direito h um ntido problema na delimitao

    da distino entre teoria e prtica, j que a internalizao dos fenmenos ambientais

    realizada atravs das estruturas do direito e, portanto, quando o direito age, cria-se

    realidade atravs da comunicao jurdica/linguagem.

    O mtodo emprico dialtico, dentro do contexto positivista, acaba

    por permitir estas idas e vindas observando o sistema jurdico em uma perspectiva

    externa ao direito, das irritaes do ambiente para as internalizaes do sistema.

    Logo, a pesquisa cientfica, no caso, tanto descreve como tenta

    construir comunicaes que potencializem as irritaes no discurso jurdico, criando-

    as para que o direito continue o seu movimento autopoitico.

    Como finalidade mediata tem-se a reflexo sobre as interaes entre

    vrios sistemas jurdicos, alm da sobreposio de institutos jurdicos, assim como

    ocorre em vrios casos no direito interno, por aspectos conglobantes (como no caso

    do direito penal) ou mesmo por qualificaes distintas em ramos do direito positivo

    (no caso de eliso geral ou fiscal).

    Portanto, no direito positivo (ordem jurdica total), ou entre direitos

    positivos (ordens jurdicas parciais), existem sempre sobreposies qualificativas, ou

  • 19

    seja, o direito reconhece uma dada irritao do mundo como vrios objetos

    imediatos diferentes, do que, tais qualificaes devem ser coordenadas.

    Resumindo, tende-se a focalizar, na pesquisa, o fato de que os

    institutos apresentados possuem ligao com o direito tributrio, em especfico com

    alguns tributos, alm de requalificar, por exemplo, valores de direito civil dos

    balanos contbeis.

    Para tanto, outras etapas finalsticas imediatas so necessrias,

    como a definio e qualificao jurdica, dentro de um contexto de homogeneidade,

    de tais institutos, utilizando ferramentas cngruas entre elas, em especial, estruturas

    de teoria geral do direito, Lgica Jurdica e Teoria dos Sistemas.

    Em outro prisma, a identificao de cada um desses institutos alm

    de sua classificao entre eles um dado necessrio, para que se tenha como

    igualar ou sobrepor os fatos e conseqncias jurdicas de um dado de realidade

    (evento/irritao).

    Estas observaes, portanto, fazem parte da primeira parte do

    trabalho, que delimita as ferramentas tericas a serem utilizadas, tentando, aqui,

    justificar o uso destas, que sejam, as teorias da linguagem e dos sistemas acopladas

    entre si, como j realizado em outros trabalhos deste autor.

    Na segunda parte do trabalho, as estruturas do direito dogmtico

    brasileiro e internacional so colocadas em movimento, elucidando como o direito

    tributrio percebido no direito brasileiro e como se d a conformao da definio

    do conceito de tributo e quais as conseqncias para os temas estudados.

    Ainda, necessrio se faz elucidar como funcionam as estruturas do

    direito internacional e sua forma de interao no direito brasileiro, ou seja, como o

    direito positivo brasileiro reage/internaliza o sistema jurdico internacional e como

    estas estruturas convivem entre si.

  • 20

    Obviamente, o tema deste trabalho faz com que sejam necessrias

    mais elucidaes sobre o papel da base de clculo tributria, aprofundando os

    estudos iniciados na forma operativa: Regra-matriz de incidncia tributria.

    Adentrando na parte das especificidades temticas, terceira e ltima

    parte, deve ser ressaltado que o trabalho no pretende esgotar cada um dos

    institutos, que sejam, valorao aduaneira e preos de transferncia, mas, sim,

    focalizar sobre a Teoria dos Sistemas e Teoria da Linguagem estes institutos, alm

    de verificar suas interaes dentro do ineditismo necessrio que peculiar de uma

    tese de doutoramento.

    Neste contexto, novamente o problema da unidade do direito e sua

    diferenciao da economia coloca-se como tema fundamental que perpassa este

    trabalho, j que a operatividade entre os temas revela estes dois sistemas operando

    sobre premissas diversas, tendo como fundamento comum a idia de

    comparabilidade de operaes, realizada/pressuposta pelo sistema econmico em

    detrimento do sistema jurdico.

    Logo, verifica-se que o problema das causas de cada um desses

    fenmenos (re)qualificativos de valores de transao diversos do pretendido na

    literalidade da comunicao jurdica do contribuinte/negociante, so refeitos em

    todas essas estruturas citadas, dando um carter de homogeneidade ao processo

    intelectual a ser desenvolvido neste trabalho.

    A economia, portanto, realiza programa de propsito especfico para

    o direito, sendo pressuposta por este, com esta necessria comparabilidade entre as

    mais diversas operaes comerciais ou realizando as simulaes tpicas dos

    programas de propsito especficos da economia, perfazendo, ao cabo destes

    processos, um espelhamento cruzado, atravs de uma irritao recproca entre

    direito e economia, permitindo que este internalize todas estas operaes por suas

    prprias estruturas e perfaa a base de clculo tributria.

    Portanto, nestes pontos se tem o ncleo das preocupaes deste

    estudo, em que h uma enorme defasagem entre a tcnica e a teoria, j que as

  • 21

    operaes transnacionais, alm das locais, so de complexidade crescente, mas

    sem soluo/marco terico satisfatrios.

    O problema , conforme j explicitado, coordenar vises e dar uma

    uniformidade a tais estudos que partem de pontos referenciais distintos (legislaes

    internas de cada um dos pases, normalmente) e de formas distintas de analisar o

    problema, como no direito tributrio, direito civil, direito econmico, economia,

    administrao, contabilidade.

    Logo, a viso de conjunto inexistente na doutrina, pois seria

    impossvel produzir um tratado sobre comrcio internacional com as prxis de cada

    um dos pases, do que, obviamente, tendentemente sero estudados os autores que

    falam sobre a rea internacional alm daqueles que tratam do direito interno

    brasileiro.

    Elucidando, as implicaes recprocas necessrias entre a utilizao

    de cada um destes itens como forma de, globalmente, regular/revestir em linguagem

    jurdica cada uma das transaes deve ser realizada de maneira holstica,

    implicando necessidade de que os dois institutos tenham sua aplicao coordenada

    entre si, sob pena de a aplicao de um implicar afastamento dos demais, algo

    incompatvel com as premissas adotadas.

    Uma observao final necessria no plano da metodologia utilizada

    na elaborao formal deste trabalho, com a ausncia de citaes e o baixo nmero

    de notas de rodap sendo propositais, pois a viso apresentada leva em conta as

    doutrinas tradicionais para se afirmar, buscando, a partir da infirmao delas agregar

    os novos pontos de vista.

    Neste contexto, com uma mera observao da bibliografia de

    pesquisa deste trabalho, pode ser visto que outros autores foram pesquisados, mas

    suas contribuies no foram aproveitadas ou, se foram, uma traduo imperfeita foi

    reproduzida a partir do ponto de vista do autor deste texto evitando, ainda, que no

    existam dois corpos de linguagem no trabalho: a linguagem do autor e a linguagem

    do escritor originrio.

  • TOMO I ESTABELECENDO UM SISTEMA DE

    REFERNCIA TERICO.

  • 23

    TTULO I ESTRUTURAS DE FILOSOFIA E TEORIA GERAL

    DO DIREITO.

    CAPTULO I TEORIA DA LINGUAGEM.

    1.1. Sobre o conhecimento, linguagem e objeto do conhecimento.

    Conhecimento a forma de ver o mundo atravs de um prisma que

    cria o mundo, a linguagem, logo, conhecimento tudo aquilo percebido e

    expressado, pois o que no pode ser expresso dentro de uma forma no pode ser

    conhecido.

    O ato de conhecer pressupe uma reduo de complexidades, uma

    limitao, sendo o produto conhecimento expresso e, ao mesmo tempo, expresso

    em sinais captados pelos sentidos humanos.

    A forma supracitada a linguagem, logo, no existe conhecimento

    sem linguagem, nem linguagem sem conhecimento, o conhecimento o que

    impulsiona e cria o mundo e criado pelo mundo.

    A linguagem que organiza o caos do ato de conhecer, forma, a

    estrutura sobre a qual as limitaes humanas e sensoriais so expressas.

    Aparentemente, nesses paradoxos que informaes so criadas,

    propagadas, tendo na assimetria a criao de um conjunto, o mundo pulsante, o

    mundo real.

    Tal realidade torna-se linguagem e formada de linguagem,

    recordando que as limitaes sensoriais e a pragmtica comunicativa acabam por

    usar a linguagem como recurso para comunicao entre as pessoas e criaes

    coletivas do estado de coisas, o mundo coletivizado.

  • 24

    Os sentidos e as percepes so atos de conhecer, atos de reflexo

    intelectiva, geradores de irritaes sofridas pelo ser, que so percebidas a posteriori,

    ou seja, tais irritaes somente so irritaes a partir da percepo.

    O conhecimento o objeto de tais percepes humanas, aprisionado

    na forma que a linguagem, ele o antes e o depois, ainda que no se possa

    definir o antes, pois, para a mente humana, somente existe o depois, versado

    atravs do processos de percepo e dos sentidos.

    Este conhecimento possui um objeto, lembrando que a forma desta

    expresso ironicamente respondida com a afirmao que o objeto do

    conhecimento o conhecimento e no o objeto ao qual tal conhecimento se refere.

    Parcialmente desvelando a aparente tautologia, o objeto um dado

    que est vinculado a uma criao intelectiva posterior, logo, o objeto pode estar

    dentro da mente do sujeito que realiza tal processo.

    Dentro de tal contexto necessria a distino entre o objeto em si,

    percebido, em sentido amplo; e o objeto em sentido estrito, o contedo de uma

    forma da conscincia.

    Objeto forma, est dentro do ncleo das especulaes, um dado

    sobre o qual se realizam reflexes/processos internos, e sobre o qual so criados

    processos externos.

    Processos tais que geram uma forma de humanizao do mundo, j

    que o mundo somente existe a partir de tal processo e tal processo bi-reflexivo que

    cria o mundo enquanto estado de coisas, j que tal processo somente surge atravs

    de linguagem.

    1.2. O sistema de referncia e a verdade.

  • 25

    Sistema de referncia um conjunto de afirmaes/premissas sobre

    os quais se assentam outros raciocnios que geram um conjunto hermtico/concludo

    de frases/percepes de realidade.

    O sistema de referncia a base do conhecimento, como a

    realidade moldada e direcionada para uma percepo ou para a construo de um

    raciocnio que siga as linhas do pensar surgido na mente do cientista.

    Tal sistema o conjunto de regras de aproximao do dado objeto,

    o conjunto de referncias, como de espao e tempo ou CNTP (condies normais de

    temperatura e presso) da fsica, a exemplo, um direcionamento a atividade de

    conhecer um dado de mundo atravs de um ponto especfico, criado para dar rigidez

    ao conhecimento apresentado.

    O conhecimento deve sempre vir acompanhado de uma srie de

    regras, pois cada lngua, cada usurio, acaba por ter seus prprios fundamentos da

    forma de conhecer ou se aproximar de um dado de mundo.

    Logo, existe a necessidade de que se coloquem amarras em um

    conhecimento que se quer propagar, pois ele tem a tendncia de ser deslocado

    pelas mnimas rajadas de vento/crticas como um balo no meio de um furaco.

    O conhecimento sempre relativo, no somente pelo aspecto das

    tradues/modos de realidade de cada uma das lnguas, mas tambm pelo aspecto

    j exaustivamente citado das inmeras formas de aproximao e da inexistncia de

    uma verdade absoluta.

    Em outras palavras, tudo relativo lngua, aos olhos pelos quais o

    sujeito visualiza o conhecimento, o conhecimento entendido, aqui, como objeto do

    ato bi-reflexivo de percepo.

    Neste contexto, encaixa-se a definio do conceito de verdade,

    recordando que, basicamente, existem cinco correntes sobre a verdade: a da

  • 26

    verdade por correspondncia; verdade pragmtica; a verdade dogmtica; a verdade

    lgica; e a verdade por consenso.

    A verdade por correspondncia seria a clssica verdade que surge a

    partir da observao, se algo existe ou acontece, aquilo verdade.

    A verdade pragmtica a verdade que existe a partir de um ponto do

    sistema, que enumera e seguido emanando verdades que so tomadas como

    ponto de partida dentro de um dado contexto social, como o STF, a exemplo, dentro

    do sistema jurdico.

    A verdade dogmtica semelhante quela pragmtica, com a

    distino de que a base para a sua propagao a f.

    A verdade lgica parte da aferio de estruturas, as quais so

    consideradas valores de verdade, o que, com a utilizao das regras lgicas da

    identidade, no contradio e terceiro excludo, gera um conhecimento universal e

    preciso, ainda que, no plano fenomnico, tal conhecimento possa no ter eco.

    A ltima e mais acertada nas sociedades modernas, ainda que a

    verdade lgica e pragmtica permanecem vlidas, refere-se ao conceito platnico de

    doxa e episteme, opinio e conhecimento, verdade pessoal que reproduzida e

    depois coletivizada, como nas reviravoltas tericas similar aquela de Coprnico, a

    exemplo (conforme autores da linha de Rorty, Lyotard e Baiou2).

    Dentro deste contexto, vrias so as teorias criadas, com pequenas

    distines, no qual reproduzido no plexo do problema da verdade por vrios outros

    autores, o que implica que a verdade algo coletivizado, dentro de uma perspectiva

    moderna, a verdade um consenso criado por uma linguagem comumente aceita,

    ou mesmo que verdade ideologia como para Bakhtin3.

    2 SCAVINO, Dardo. La filosofia actual: pensar sin certezas. Santiago del Estero: Paids Postales, 1999. 3 FIORIN, Jos Luiz. Introduo ao pensamento de Bakhtin. So Paulo: Editora tica, 2006.

  • 27

    Para Flusser4, a verdade um dos aspectos da lngua, logo, o

    absoluto no encontra ressonncia j que tal assertiva sobre a realidade est

    contida em uma das lnguas ou em um dos tipos de lngua (flexionais, aglutinantes e

    isolantes).

    Logo, toda a verdade relativa ao estado de coisas vertidos em

    linguagem, a lngua como filtro e realidade, como forma, de mundo e como mundo

    em si mesma, a lgica reinante como regra formal.

    Logo, para tal teoria somente existem relativizaes, que so

    mascaradas atravs das tradues, que so verses, posicionamentos sobre um

    dado coletivo e inatingvel que a faceta da realidade.

    Obviamente a expresso verdade absoluta no pode utilizada dentro

    do paradigma lingstico, no somente pela distino de verdade interna e verdade

    coletiva, mas, ainda, pela abertura para a revoluo do conhecimento, para a

    adaptao do sistema a discursos mais convincentes.

    Ainda, para Flusser5, a verdade absoluta no contexto da

    correspondncia seria uma operao de identidade ou no entre duas frases, sendo

    que isto mascararia algo no articulvel, no compressvel, e, portanto inexistiria

    esta verdade absoluta.

    A linguagem se presta a manipulaes retricas e comprovaes

    lgicas que permitem uma segurana e consenso no conhecimento, mas, ao mesmo

    tempo, permite uma contestao segura, at estimulada.

    Logo, o conhecer acaba por ser contextualizado, ser manipulado, a

    verdade criada a partir da discrdia, o conhecimento somente o a partir da

    investigao e contraposio.

    4 FLUSSER, Vilm. Lngua e Realidade. 3 Ed. So Paulo: Annablume, 2007. 5 FLUSSER, Vilm. Lngua e Realidade. 3 Ed. So Paulo: Annablume, 2007.

  • 28

    Lembre-se que, em todas as teorias citadas, tem-se como pano de

    fundo utilizado a no aceitao da verdade como um dado de fato, mas a realizao

    da verdade como construo no ontologicamente existente.

    1.3. Flusser e a Teoria da Linguagem: entrecruzamentos.

    Dentro dos temas caros a Flusser6, destacam-se a idia de lngua,

    conscincia, traduo, homem, pensamento, frase entre outros, os quais sero

    desenvolvidos para elucidar o sistema de referncia adotado.

    1.3.1. Homem, pensamento e frase.

    O homem o ncleo sob o qual se assenta a vida e a realidade

    construda de maneira assimtrica, externamente, a partir de um processo bi-

    reflexivo interno, que o pensamento/fraseamento.

    O que ocorre externamente internalizado, mas somente existe aps

    esta internalizao, o homem o produto e produtor de uma srie de smbolos

    concatenados dentro de regras de construo.

    Tudo ocorre a posteriori dos acontecimentos, o homem pensa e cria

    realidade, mas o pensamento estruturado, objetivizado, por meio de uma frase.

    A frase e o pensamento so formas de organizao, uma objetiva,

    certa ou errada, externa, dependendo da lngua (frase), e uma subjetiva, o

    pensamento, que uma pulso desconexa e ordenada ao mesmo tempo, interna,

    seguindo as ordens do sujeito pensante (homem).

    Os sentidos enviam informaes que so geradas/traduzidas por

    meio de uma srie regular, ordenada, sendo pensados e externalizados

    estruturadamente atravs de frases dentro das regras de construo de um dado

    sistema.

    6 FLUSSER, Vilm. Lngua e Realidade. 3 Ed. So Paulo: Annablume, 2007.

  • 29

    Retomando, o homem o meio atravs do qual os dois lados da

    mesma moeda coexistem, frase e pensamento, objetividade e subjetividade, o

    homem pensa em forma de frases, ordenando os impulsos trazidos por meio dos

    seus sentidos.

    O homem/eu se utiliza de suas ferramentas materiais, o intelecto,

    sentidos, esprito e trabalha os dados brutos que surgem interna e externamente por

    meio de uma forma de realidade, a lngua.

    A lngua vem formada por palavras potenciais (que podem ser), pelo

    caos, transformadas atravs do intelecto em palavras ordenadas, cosmos, frases,

    pensamentos estruturados.

    A lngua o caos e as regras, o dado bruto e o dado filtrado pelo

    intelecto.

    A conscincia passa pelo prisma da reflexo e aprendizado na

    organizao das frases e pensamentos, pois o homem um animal que possui a

    caracterstica de processar ordenadamente as suas pulses e gerar outputs para o

    mundo que o agride.

    Logo, conscincia o que surge a partir dessa noo de si mesmo e

    de seu entorno, a capacidade de se utilizar da matria bruta e a tornar um produto

    acabado.

    A centralizao da realidade individual de Heidegger7 acaba por ser

    uma nota relativa ao centro de significao de uma palavra e a escolha de qual

    realidade est sendo retratada por um dado sujeito, a palavra como catalisador da

    escolha, a realidade escolhida, dentro das realidades possveis.

    7 HEIDEGGER, Martin. Conferncias e escritos filosficos. So Paulo: Nova Cultural, 1989.

  • 30

    dizer, a exemplo, se um sujeito utiliza expresses estranhas na sua

    comunicao cotidiana, ser interessante notar que sua realidade escolhida difere

    da comum realidade coletivizada.

    1.3.2. Lngua, linguagem e fala.

    Linguagem repertrio, forma de expresso, espcie, um conjunto

    sistematizado de signos funcionando como meio de comunicao de idias.

    Lngua realidade, o conjunto, caos e ordenao, tendo como

    elementos constituintes um conjunto de significantes e regras de um dado contexto

    social, espacial e temporal que criao e criado pela lngua.

    Fala o ato do indivduo de por em prtica uma determinada lngua,

    uma forma de ver o mundo, um ato de expresso que se personifica em uma

    forma de linguagem, a verbal.

    A fala a concretizao de uma dada lngua, porm , tambm,

    anterior lngua, mas sem regras e sem sentido estruturado, caractersticas da

    lngua enquanto idioma e tomada como realidade a posteriori, j ordenada.

    Obviamente, tais conceitos so interligados por vrias formas no

    hierarquizadas, como a fala, que o ato de expresso de uma linguagem baseada

    em uma lngua, a exemplo.

    Outro dizer que fala o aspecto dinmico da lngua compondo

    apenas uma espcie de linguagem possvel.

    Terceiro, dizer que a lngua uma das formas de linguagem

    possvel.

    Tais formas de visualizao das interaes entre estes institutos so

    comprobatrias de uma heterarquia e um sistema aparentemente cclico, em que o

  • 31

    que seria a priori tomado como a posteriori, j que somente constitudo em um

    momento futuro.

    O presente destas interaes inexistente e a forma de visualizao

    depende de onde se coloca o observador.

    Complementarmente, a construo do fato dentro do universo

    heideggeriano8 (que, neste sentido, assemelha-se a Flusser9) constri-se de

    maneira arbitrria (ainda que, futuramente, consiga o consenso necessrio para a

    produo da lngua), em que o ato de emisso de fala centraliza mltiplas

    realidades, reconduzindo a uma realidade singular.

    dizer, assim como no momento das experimentaes/ruptura de

    Marcel Duchamp no qual passou a arte de definida atravs de sua esttica, bom

    gosto subjetivo, para uma definida arbitrariamente pelo ato de dizer que algo era

    arte, denota-se um paralelo entre o giro lingstico e Heidegger10, j que o real

    aquele criado pelas palavras.

    Logo, medida que a linguagem se torna mais complexa e mutvel,

    as possibilidades do real aumentam, paradoxalmente ao fato que vrias opes

    coletivizadas j foram tomadas, ou seja, o universo em expanso apresenta um

    nmero menor de possibilidades futuras, j que suas possibilidades passadas (que

    so o primeiro fator de multiplicao) j foram escolhidas.

    A frmula matemtica desta idia seria a (possibilidades passadas) x

    b (possibilidades presentes + possibilidades futuras), sendo as possibilidades

    passadas iguais a 1, j que ocorreu a tomada de deciso no passado, no deixando

    a forma aberta, infinita, tambm, no seu termo antecedente.

    Como conseqncia aplicada, o universo est em expanso espacial

    aps o chamado big bang, momento inicial da criao do universo, mas,

    8 HEIDEGGER, Martin. Conferncias e escritos filosficos. So Paulo: Nova Cultural, 1989. 9 FLUSSER, Vilm. Lngua e Realidade. 3 Ed. So Paulo: Annablume, 2007. 10 HEIDEGGER, Martin. Conferncias e escritos filosficos. So Paulo: Nova Cultural, 1989.

  • 32

    paradoxalmente, esta expanso contraposta a uma retrao do nmero/espao de

    possibilidades deste universo para o futuro.

    O sistema jurdico e sua construo normativa individual so

    idnticos a realidades paralelas, um multiverso, em que cada um sujeito possui seu

    prprio universo, que opera, paralelamente a outros universos, dizer, o conceito de

    norma nico, mas a definio denotativa desse sistema, semanticamente,

    mltipla e depende de cada centralizao de realidade produzida pelos operadores

    do sistema, cada um utilizando a lngua como construtora de realidade.

    Obviamente, este sistema de multiverso possui realidades paralelas

    alinhadas em muitos pontos, o que explica, a partir de uma viso hetero-referente

    desses universos individuais, uma realidade coletiva que chamada de

    consenso/status quo.

    Como exemplo da distino entre a lngua do direito e as outras

    lnguas sociais, deve ser recordado que na linguagem jurdica inexiste o tempo

    presente, somente o futuro e o passado, j que os fatos jurdicos somente existem

    como o a posteriori que re(produz) o a priori, utilizando o pretrito perfeito, mas

    dentro de limites e linhas postos no verbo em seu infinitivo.

    Logo, duas tradues so possveis nesta leitura de Flusser, a

    traduo entre realidades (centralizao do ncleo semntico daquela estrutura

    lingstica) e a traduo em si entre lnguas.

    1.3.3. Teoria da traduo.

    O conceito de traduo pode ser definido como transferncia de

    realidade e sentido de uma lngua/realidade para outra por meio de um processo de

    comparao de repertrios e estruturas, produzindo uma verso na segunda lngua

    escolhida, no mesmo sentir de Flusser11.

    11 FLUSSER, Vilm. Para uma teoria da traduo. In: Revista brasileira de filosofia. So Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia, Vol. XIX, Fascculo 73, jan.-mar. 1969.

  • 33

    Verifica-se, logo, que esta operao extremamente funcional para

    o direito, pois, verificando a partir da comparao entre a linguagem natural e

    jurdica, dos fatos sociais e os jurdicos, existe uma distino de estrutura e

    repertrios, recordando que o do direito somente aquele autorizado por lei.

    Esta linguagem jurdica, portanto, normativa, hipottico condicional,

    tcnica, a qual se diferencia da linguagem social, atcnica, no normativa, no

    estruturada.

    Ainda, existe uma traduo entre sistemas diversos de referncia por

    meio da simplificao, em que um dado de mundo no necessita de todos os seus

    caracteres componentes para expressar uma realidade singularizada em uma dada

    lngua, para transmitir uma mensagem.

    Forma distinta desta aquela que ocorre de um ramo didaticamente

    autnomo do direito para os demais, j que existiria uma traduo, pois as lgicas

    internas ao sistema e os princpios servem como diferenas entre estados de lngua,

    requerendo traduo.

    dizer, um mesmo fato para uma norma deve ser traduzido para as

    demais seguindo o repertrio dela, como no caso de uma infrao tributria que se

    torna um crime contra a ordem tributria, lembrando que tal crime somente advm

    do direito tributrio e no da conduta humana existente no plano da facticidade.

    Outrossim, deve ser dito que o direito sempre traduz, pois compara

    estruturas e significantes e os (re)produz dentro do direito.

    ltimo exemplo de forma de traduo no direito aquela que se

    aproxima do sentido comum para a palavra traduo e est ligada a traduo entre

    textos internacionais para textos de direito nacional, como os tratados e suas

    verses possveis no momento de sua internalizao.

  • 34

    Logo, concluindo, pode ser dito que operar o direito sempre

    traduzir, pois da realidade/lngua da sociedade traduz-se para o direito que perfaz

    uma distinta realidade/lngua da inicial.

    1.3.4. Relaes entre linguagem jurdica e linguagem social.

    Interessante notar que uma traduzida pela outra, so realidades

    distintas, possuem repertrio e regras de construo e transformao prprias.

    Neste caso, um o caminho mais radical, o de proclamar a lngua

    jurdica como forma de construo de realidades, que se contrape linguagem

    social.

    Utilizando-se a definio do conceito de Flusser12 para lngua, em

    que ela realidade, sendo o direito criador de realidade e representante dela

    mesma, no se subsumiria ao conceito de parte de um todo, mas sendo uma

    realidade autnoma das demais, necessitaria ser considerada como uma lngua em

    si mesma.

    Em outro giro, mais simplista, a linguagem social no possui fora

    coercitiva, no possui o cdigo lcito/ilcito do direito, criada de maneira livre, ou

    seja, no necessita de agentes competentes (em sentido jurdico).

    A linguagem social utilizada como uma falsa base para as

    manifestaes denticas, j que o dentico e sua linguagem correspondente so

    uma lngua em si mesma, portanto criadora de realidade.

    A troca entre uma e outra lngua surge dentro do processo de

    desenvolvimento recproco, da abertura cognitiva, da evoluo lingstica da

    sociedade.

    12 FLUSSER, Vilm. Lngua e Realidade. 3 Ed. So Paulo: Annablume, 2007.

  • 35

    A linguagem social no tcnica e possui uma maior multiplicidade

    de palavras, alm de graus de ambigidade e vaguidade superiores.

    Em contrapartida, a linguagem jurdica tcnica, com repertrio

    restrito e busca diminuio das incertezas, com processos de definio

    razoavelmente estabelecidos, dando uma uniformidade maior no seu discurso.

    1.4. Direito, linguagem e mtodo.

    Alguns pontos de partida devem ser esclarecidos para que a ligao

    entre estes trs itens fundamentais da cincia sejam conectados entre si.

    Direito, objeto cultural entendido como o um fenmeno lingstico

    que constri realidades prprias, dentro de um conjunto de fundamentos que so a

    unidade do sistema.

    Os objetos culturais so reais, susceptveis a experincia, sendo

    passveis de valorao positiva ou negativa, sendo apreendidos mediante o ato

    gnosiolgico da compreenso pelo mtodo emprico dialtico.

    Os pontos que formam a unidade deste sistema esto baseados em

    uma estrutura que a norma, estrutura lgica que conjuga um antecedente e um

    conseqente por meio de um functor dentico, em uma implicao contingente.

    Da contingncia e generalidade surge a unidade do sistema jurdico,

    o seu cdigo lcito/ilcito, que cria assimetrias e realiza a comunicao jurdica,

    sustentada pela linguagem.

    A experincia de tais objetos se d atravs do contato com as tintas

    no papel, no caso do direito, a linguagem jurdica veiculada por meio de

    instrumentos competentes como o dirio oficial, que veicula os textos que so

    ordenados mentalmente na forma de normas.

  • 36

    Direito norma e norma linguagem, logo, direito linguagem,

    silogismo bsico e eficaz na demonstrao de que o direito e linguagem so

    interconectados.

    O direito como objeto do mundo e existe atravs da linguagem,

    que a forma de criao de realidades, de existncia do mundo, j que a linguagem

    que est frente dos acontecimentos, que so, somente, alcanados a posteriori,

    quando captados de maneira eficaz por um eixo lingstico-comunicativo.

    Obviamente, qualquer objeto de estudo, no caso, o direito, acaba

    tendo de ser aproximado mediante um mtodo que a forma do conhecer em

    sentido cientfico.

    Em outras palavras, a linguagem o meio pelo qual o cientista

    visualiza o direito, por esta ser o direito, em determinadas condies.

    A relao entre linguagem e direito de gnero/espcie, esta sendo

    determinada atravs da estrutura e do cdigo.

    Obviamente, dentro de uma viso externa ao sistema, o direito cria

    suas prprias realidades, e, dentro de uma viso interna, somente existe o direito,

    no existindo uma realidade distinta para ele.

    Logo, o mtodo de visualizao do direito parte do prprio direito, a

    cincia sendo contida dentro do seu prprio mundo, uma viso de segunda ordem

    interna ao sistema.

    Em outras palavras, o mtodo de aproximao do direito o

    emprico dialtico medida que a realidade interna e os seus reflexos e impulsos

    so visualizados dentro do sistema, uma assimetria que permite a sua insero no

    contexto dos sistemas comunicativos/lingsticos sociais.

    Primeiro passo, reciclando as idias apresentadas, dizer que cada

    um dos elementos conectados no subsiste, enquanto cincia jurdica, sem o outro,

  • 37

    ou seja, o direito no existe sem linguagem e no pode se aproximar da linguagem,

    nem do direito, nem da linguagem do direito, sem mtodo/forma de cognio

    estruturada.

    Segundo enunciar alguns fatos, como o de que uma das formas de

    visualizar o direito a partir de uma perspectiva semitica, ou seja, cincia que

    estuda a linguagem, o que demonstra que o mtodo variado ainda que o objeto

    seja uno.

    Em outro giro, outra forma de descrio do mtodo, dizer que ele

    uno e ao mesmo tempo plural, pois para conhecer um objeto de estudo de nada

    adianta ter apenas uma viso, que sempre deturpada, falha e arreflexiva por

    natureza.

    Logo, o mtodo um posicionamento/reposicionamento frente ao

    objeto constante, quer seja por meio da semitica, lgica, da filosofia, o que infere

    que o mtodo aplicado na construo e investigao do objeto, que dplice e

    uno ao mesmo tempo, pois se estuda a linguagem que a forma de expresso

    (nica) do direito.

    Sob este ngulo, importante mencionar a contribuio do professor

    Barros Carvalho13 que, reinterpretando Vilanova14, apresentou uma teoria chamada

    de Construtivismo Lgico-Semntico.

    Esta teoria apresenta um foco especfico que perfaz um importante

    entrecruzamento entre aspectos lgicos (sintticos), o chamado Giro Lingstico e

    uma forte investigao semntica das estruturas e palavras dispersas no corpo do

    direito positivo.

    13 O exemplo mais acabado de tal teoria foi posto em sua ltima obra: CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: linguagem e mtodo. 2 edio. So Paulo: Noeses, 2008. 14 VILANOVA, Lourival. Estruturas lgicas e o sistema no direito positivo. So Paulo: Noeses, 2006.

  • 38

    Neste plano, portanto, vrias das consideraes realizadas, daqui

    em diante, revelam tal preocupao metodolgica e tomam como pressupostas as

    consideraes sobre este mtodo.

    1.5. Ordenamento e sistema jurdico.

    1.5.1. Definio do conceito de sistema: entre a Cincia do Direito e o direito

    positivo.

    Sistema um conjunto de elementos agrupados segundo uma

    espcie de homogeneidade e que interagem entre si, interrelacionam-se.

    Logo, a concepo de sistema o de um agrupamento que cria

    relaes em seu interior, ou seja, os elementos no so fotografados em um dado

    momento histrico e a descrio destes elementos desta classe basta para a

    configurao do ser sistema.

    O ser sistema ter interao, ter adaptabilidade, mutabilidade,

    relao entre elementos, sem relao entre elementos, sem interao, no existe a

    possibilidade de ser sistema.

    Refora-se que o direito positivo um sistema autopoitico,

    autoreferencial, fechado operativamente e aberto cognitivamente.

    Quando se trata de direito positivo, pode ser afirmado que esta

    unidade sinttica, mas no semntica, e o fato de ser sistema possui como eixo de

    relao o seu cdigo lcito/ilcito, alm das relaes internas entre textos jurdicos

    para conformao da ordem jurdica.

    Em outro giro, o direito positivo estruturado sob a forma de

    programas/normas jurdicas que possuem como estrutura a forma hipottico

    condicional, em que um fato implica (causalidade jurdica) uma relao jurdica entre

    sujeitos que tem como objeto direitos e deveres correlatos, observados a partir da

    assimetria de tal relao.

  • 39

    Recorda-se que se utiliza da forma dada pela sinttica para

    determinar que o objeto da relao jurdica o objeto em si de uma dada frase, ou

    seja, as frases possuem sujeito, verbo e objeto, do que, na relao jurdica existe o

    sujeito (ativo ou passivo), o modal e o verbo (na conformao do verbo de uma

    proposio) e o objeto (direto ou indireto, no caso do direito, direto).

    Neste sentido, os sujeitos e verbos variam entre a relao e sua

    conversa, enquanto o objeto no.

    Conseqentemente, direito positivo sistema, j que possui um

    fundamento comum (a distino entre os cdigos) e interao entre os seus

    elementos pelas relaes de hierarquia/heterarquia/circularidade e, enfim, pela sua

    autopoiesis que fundamenta a mobilidade/mutabilidade das estruturas jurdicas.

    A cincia do direito, tambm, j que pauta-se na descrio de um

    objeto comum (o direito positivo) organizando-se de forma interativa, realizando

    operaes/reinterpretaes de teorias e de direito positivo em si, autoimplicando-se

    reproduzindo reflexes para uma maior consistncia.

    Logo, a cincia do direito possui os dois caracteres de ser sistema, a

    homogeneidade de seus elementos (tendo o direito positivo como ponto de

    observao) e a interao entre eles (relaes entre doutrina implicando o direito

    que implica a doutrina, a exemplo; ou relao entre doutrinas; relao entre normas).

    Como primeira forma de analisar a interao entre esses dois

    sistemas, deve ser dito que a cincia do direito o sistema cientfico observando o

    direito, que pode observar, atravs da abertura cognitiva, com suas prprias

    estruturas, a cincia do direito.

    Em outro giro, o direito positivo reflete as irritaes do ambiente

    atravs de uma srie de estruturas/programas/normas, utilizando como elemento de

    motricidade, a exemplo, a pressuposio de um sistema com relao aos demais ou

  • 40

    os acoplamentos estruturais, em que os dois sistemas, analogicamente, so

    irritados, mas processam as informaes digitalmente.

    Logo, o direito observa a cincia que observa o direito e se adapta,

    evolui, como na plataforma darwiniana15, ou seja, a partir de uma variao, h uma

    seleo e uma estabilizao.

    Recorda-se, como ressalva sobre a distino entre a evoluo no

    sistema darwiniano16 e sua forma de aplicao nesta teoria, que as evolues nos

    sistemas sociais no so condicionadas pelo ambiente, j que so, sempre, internas,

    no so, portanto, provocadas pelo entorno, j que inexiste entorno com inputs e

    outputs.

    E tais elementos so mais fortemente apontados como caminhos

    racionais ou compatveis com o sistema por meio de uma anlise que tem como

    fundamento um estudo mais rigoroso e que visa dar uma maior consistncia

    anlise do direito positivo.

    Como segunda forma de visualizar o problema com relao a

    coexistncia e bi implicao entre cincia do direito e direito positivo, deve ser dito

    que estes so dados necessrios para o desenvolvimento de cada uma delas.

    Utilizando a forma de Robles17, os dados brutos implicam cincia que

    produz um sistema que implica nos novos dados brutos, que implica uma nova

    cincia.

    Lembra-se que no se trabalha, no entanto, com a concepo deste

    autor de que a cincia do direito faz direito, de que ela no seria descritiva de um

    objeto, no caso, o direito positivo.

    15 DARWIN, Charles. A origem das espcies. So Paulo: Martin Claret, 2005. 16 DARWIN, Charles. A origem das espcies. So Paulo: Martin Claret, 2005. 17 ROBLES, Gregrio. O direito como texto: quatro estudos de teoria comunicacional do direito. Barueri SP: Manole, 2005.

  • 41

    Retomando, obviamente, no pode existir cincia do direito sem

    direito positivo, se se utiliza da forma lgica da bi implicao para descrever a

    relao entre eles, do que somente verdadeira a expresso se ambos os

    elementos so verdadeiros (no caso, existentes).

    1.5.2. Distino entre ordenamento e sistema.

    Como forma de distino entre ordenamento e sistema, vrias so as

    teorias construdas no plano da doutrina de Teoria Geral do Direito, do que uma

    indistino seria, ao mnimo uma tentativa de igualar, juridicamente, as definies

    destes conceitos/classes.

    Diga-se que alguns autores mais antigos como Hart18, ou mesmo

    Aftalin,19 no tratam como tpico da diferenciao entre estes dois conceitos, por

    terem ferramentas analticas distintas como repertrio para o estudo do direito

    positivo.

    Como forma de diferenciao, deve ser dito que ambas as

    expresses denotam sistema, do que so formas diversas com linguagens diversas

    de conformao.

    O sistema jurdico formado pela interpretao normativa sob a

    forma unificadora de norma, ou seja, um rearranjo de cincia do direito, em que se

    eliminam as contradies e se estrutura sintaticamente o direito, linguagem

    descritiva que possui como fundo uma linguagem prescritiva.

    O ordenamento jurdico pode ser considerado como o dado bruto, ou

    seja, o texto jurdico da forma em que foi legislado, que sistema pelo fato de

    possuir: homogeneidade finalstica, que seja, a regulao de condutas humanas e o

    tipo de linguagem que, tambm, homogneo, linguagem prescritiva.

    18 HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. 2 Ed. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1994. 19 AFTALIN, Enrique R.; RAFFO, Julio; VILANOVA, Jos. Introduccin al derecho. 3 Ed. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 2004.

  • 42

    Portanto, necessrio se faz a descrio das categorias S1, S2, S3 e

    S4, de acordo com a delimitao de Barros Carvalho, em vrias de suas obras20.

    S1 seria o subsistema em sua concretute, as marcas de tinta no

    papel, um conjunto de elementos que possuem um suporte fsico, signos

    concatenados.

    S2 seria o subconjunto de significaes extradas da leitura de cada

    um desses textos, enunciados jurdicos que apenas do significado a cada um dos

    termos construdos a partir do suporte fsico.

    S3 o subconjunto de normas jurdicas, proposies jurdicas

    estruturadas sintaticamente sob a forma condicional, em que se recombinam os

    enunciados jurdicos.

    S4, por fim, o subconjunto das normas jurdicas rearranjadas em

    suas relaes de coordenao e subordinao, a conformao clara de sistema

    jurdico com maior preciso e estruturada de acordo com regras de construo e

    coordenao do ser sistema.

    Logo, tem-se que os dois primeiros representariam os elementos

    formadores do ordenamento e os dois ltimos representariam os elementos do

    sistema jurdico.

    Sumarizando, para Barros Carvalho21, a distino entre ordenamento

    e sistema jurdico delimitada pelo fato que ordenamento o conjunto de textos de

    direito positivo, caracterizados pela homogeneidade, no caso atravs da linguagem

    prescritiva e do fim de regular condutas, e pelas suas interaes as caractersticas

    necessrias de ser sistema.

    20 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: linguagem e mtodo. 2 edio. So Paulo: Noeses, 2008. 21 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: linguagem e mtodo. 2 edio. So Paulo: Noeses, 2008.

  • 43

    Sistema do direito construo da cincia do direito, j que formado

    por normas jurdicas, forma estruturada de combinao dos enunciados prescritivos

    sob um eixo sinttico comum, labor realizado pelo cientista do direito.

    Logo, ordenamento jurdico do direito positivo, enquanto sistema

    jurdico cincia do direito.

    Para Gregrio Robles22, a distino operada da mesma maneira,

    ou seja, ordenamento como conjunto de textos de direito positivo e o sistema jurdico

    formado por normas e proposies jurdicas sobre o objeto direito positivo.

    Como distino clara teoria de Barros Carvalho23, com a qual se

    concorda, no ponto, tem-se que Robles24 no considera que os textos de direito

    postitivo/ordenamento seriam um sistema.

    Segunda distino, com a qual, tambm, no se concorda, o fato

    que Robles25 inclui a doutrina no sistema jurdico dando carter normativo e

    operacional a ela.

    Dentro destas distines, este autor acaba por dar valor a

    consistncia, tratamento de informaes e reflexividade, ou seja, ele diz que o

    ordenamento reflexo e gera reflexos no sistema e vice-versa, ou seja, a partir de

    um ordenamento elabora-se um sistema, aperfeioamento do ordenamento, que o

    faz, por estas crticas, se aperfeioar e, aps tal aperfeioamento, retoma-se o

    mesmo processo de realimentao.

    Para Alchourrn e Bulygin26, ordenamento seria um conjunto de

    sries de sistemas jurdicos compostos por normas jurdicas (tomadas em sentido

    22 ROBLES, Gregrio. O direito como texto: quatro estudos de teoria comunicacional do direito. Barueri SP: Manole, 2005. 23 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio: linguagem e mtodo. 2 edio. So Paulo: Noeses, 2008. 24 ROBLES, Gregrio. O direito como texto: quatro estudos de teoria comunicacional do direito. Barueri SP: Manole, 2005. 25 ROBLES, Gregrio. O direito como texto: quatro estudos de teoria comunicacional do direito. Barueri SP: Manole, 2005.

  • 44

    lato, norma /lei), do que se pode partir de uma noo similar a de sincronia e

    diacronia de Guastini27.

    Elucidando, a distino entre sistema e ordenamento surge a partir

    da distino entre anlise esttica, ou seja, a fotografia do conjunto de normas em

    um dado momento histrico e a sucesso destes conjuntos de normas e a viso

    dinmica de um ordenamento, entre sincronia e diacronia.

    Dentro de tal contexto, deve se falar em esttica e dinmica jurdica

    no utilizando as expresses kelsenianas28 de princpio esttico e dinmico do

    ordenamento que tratam da forma de fundamentao de uma dada ordem jurdica,

    mas sim as categorias descritas em seu livro e, parcialmente reproduzidas por

    Guastini29 em sua obra.

    Falar em esttica jurdica falar de categorias estruturais do direito,

    como a forma de norma, com a determinao de todos os seus elementos

    constituintes, validade, descrevendo o direito posto dentro de uma perspectiva de o

    direito de um dado momento histrico.

    Falar em dinmica jurdica observar as formas de relacionamento

    entre normas no sistema, tratar de hierarquia, tratar de revogao e modificao

    do ordenamento.

    Uma forma utilizada comumente de tratar de esttica e dinmica do

    direito a analogicamente utilizada, tambm, por Guastini30, em que h uma

    diferenciao entre sincronia e diacronia como formas de distino de ordenamento

    jurdico.

    26 ALCHOURRN, Carlos E.; BULYGIN, Eugenio. Anlisis lgico y Derecho. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1991. 27 GUASTINI, Riccardo. Distinguiendo. Estdios de teoria y metateora del derecho. Barcelona: Gedisa, 1999. 28 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6 Ed. So Paulo: Martins Fontes, 2003. 29 GUASTINI, Riccardo. Distinguiendo. Estdios de teoria y metateora del derecho. Barcelona: Gedisa, 1999. 30 GUASTINI, Riccardo. Distinguiendo. Estdios de teoria y metateora del derecho. Barcelona: Gedisa, 1999.

  • 45

    A sincronia jurdica seria a observao do direito de um dado tempo,

    paralela a esttica jurdica, j a diacronia seria a substituio de uma ordem de

    normas por outra, a verificao da substituio de sistemas de normas.

    Logo, para este autor, existe uma indistino entre sistema e

    ordenamento jurdico, j que ambos tem como fundamento a concepo de norma

    jurdica, e o ordenamento, formalmente, um sistema jurdico, pois formado de

    normas jurdica.

    No que diz respeito ao ponto de vista sincrnico, o ordenamento o

    conjunto de normas em um dado tempo (um sistema de normas).

    Este sistema permanentemente substitudo (a partir de qualquer

    modificao/extino/invalidao/revogao de normas jurdicas) por um novo

    ordenamento/sistema jurdico, sendo a mutabilidade/sucesso de ordenamentos

    sincrnicos a definio do conceito diacrnico de ordenamento jurdico.

    1.5.3. Sobre o direito positivo e normas jurdicas.

    Obviamente, no percurso de construo de uma teoria do direito, a

    homogeneidade objetal surge como ponto de vrias teorias, sendo uma delas a

    teoria normativista.

    O direito positivo formado de normas jurdicas (proposies) que

    so juzos reconstrutivos de textos legais (enunciados), com fora coercitiva e

    sentido dentico completo, podendo ser voltados para a realidade, reconstruda em

    enunciados vetorizados em proposies, ou como hipteses de incluso em classes.

    Vrias podem ser as definies para tal conceito, j que uma srie de

    pontos de vista so produzidos dentro da realidade polidrica de tal importante

    esquema.

    Seguindo esta idia, todas as formas de comunicao

    reconhecidas/auto-produzidas pelo sistema social jurdico so estabelecidas por

  • 46

    meio da condicionalidade, que seja, a necessria implicao entre um antecedente a

    um conseqente e a posterior definio do cdigo (lcito ou ilcito).

    Neste contexto, a norma jurdica, em sua plurissignificao pode ser

    tomada como texto de direito positivo (suporte fsico), como enunciado prescritivo,

    como idia que formada na mente do intrprete, como esquema interpretativo,

    como estrutura hipottico condicional, entre outros.

    Complementarmente a estas idias, cita-se que um ponto

    fundamental para as teorias que tomam como ponto de partida anlises lingsticas

    do fenmeno jurdico utilizam a clssica distino entre enunciados e proposies.

    Os enunciados seriam idias formadas a partir da leitura de um dado

    fragmento de texto com sentido para o leitor, enquanto proposies seriam juzos

    interpretativos sobre os enunciados, lembrando que a combinao entre enunciados

    e proposies segue a mxima de: um por um; um por vrios; vrios por um; e

    vrios por vrios.

    Recorda-se que no plano jurdico valida a distino entre a

    enunciao enunciada e o enunciado enunciado, mas com a ressalva que, antes de

    tudo so enunciados prescritivos, do que a distino entre eles no dada

    legalmente.

    A esta afirmao objetam vrios lingistas31 que impossvel,

    tambm no texto jurdico, distinguir os enunciados enunciados da enunciao

    enunciada, pois eles se recortam e no possuem um ponto necessrio de diviso,

    pois, neste sentido, a contextualizao e a mltipla interpretao constituidora, como

    em Heidegger, perfazem formas de viso distintas, reposicionamentos distintos a

    respeito do objeto (texto) permitindo diferentes vises sobre cada um dos termos,

    vendo marcas da enunciao ou um enunciado em si.

    31 Exemplos em: FIORIN, Jos Luiz (org.). Introduo lingustica I. Objetos tericos. So Paulo: Editora Contexto, 2007.

  • 47

    Neste sentido, dizer que prevalece um sobre o outro acaba por inferir

    que um seria superior ao outro.

    Ainda, neste sentido dizer que se h uma antinomia entre uma

    exposio de motivos ou ttulo de uma dada lei, h a soluo entre eles na

    aplicao/criao da norma jurdica correspondente quele enunciado prescritivo.

    dizer, quando existe a contraposio de um artigo numerado de

    uma lei a uma exposio de motivos, a exemplo, pode prevalecer qualquer um dos

    dois, j que no existe, no sistema positivo brasileiro uma forma de resolver estas

    antinomias entre enunciao enunciada e enunciados enunciados prescritivos.

    Retomando o problema da distino entre enunciados e proposies

    jurdicas, tem-se que, nitidamente, uma das supracitadas formas se enquadra nesta

    categorizao, tendo como base os enunciados e partindo para as normas jurdicas

    como esquemas de interpretao baseados na dualidade antecedente e

    conseqente normativos, a partir da causalidade jurdica.

    Tal a definio de norma jurdica em seu sentido estrito, esquema

    formal que produzido pelo intrprete do direito como forma de estruturar as

    comunicaes jurdicas, diferenciando-se, assim, dos enunciados prescritivos32.

    Dentro de tal estrutura dual cada um dos elementos possui

    caractersticas diversas, sendo o antecedente uma descrio de um fato hipottico

    ou no (concreta e abstrata) ligado a um conseqente, por meio de um implicador

    dentico no modalizado (dever-ser neutro), que possui dois sujeitos relacionados

    entre si que possuem direitos e deveres recprocos sob a forma modalizada em

    obrigatrio, permitido e proibido, sendo tal esquema geral ou individual.

    Por meio de tais afirmaes consegue se visualizar as normas em

    suas formas33 e recombinao entre antecedentes e conseqentes, do que podem

    32 Dentro deste esquema, portanto, no se faz remisso a idia de normas jurdicas em sentido amplo, j que para ser norma deve possuir estrutura sinttica fixa, sendo que estas normas no possuem este requisito, alm de no visarem regulao de condutas e sim criao de realidades jurdicas ou qualificaes.

  • 48

    ser: gerais e abstratas; gerais e concretas; individuais e abstratas; ou individuais e

    concretas, representando, respectivamente, conseqente e antecedente.

    Verifica-se, a partir da linguagem constituidora da norma, em seu

    antecedente, se os eventos do mundo natural foram transpostos em linguagem,

    consubstanciando-se em fatos jurdicos (normas concretas), ou so descritos

    conotativamente (normas abstratas); e, se os conseqentes normativos estabelecem

    os seus dois sujeitos relacionados de maneira indeterminada (normas gerais) ou

    especificada (normas individuais).

    Sob outro ngulo, Kelsen34 trata de duas formas de normas, as

    primrias e secundrias, sendo as primeiras (a depender da edio do teoria das

    normas) as sancionadoras, ou seja, as que dariam a caracterstica do dentico,

    acesso sano estatal; e as secundrias, dispositivas.

    Hart35 tambm parte da denominao de primrias (obrigacionais) e

    secundrias (metanormas), mas reelabora estas sob trs formas diversas: regra de

    reconhecimento; regra de alterao e regras de julgamento.

    Vilanova36 reinterpreta uma srie de autores como Kelsen37 e

    Engish38 e chega a um esquema de manifestao do dentico com duas estruturas

    vinculadas para dar consistncia ao dentico por meio de seu eixo comum, a

    capacidade do sistema de coero.

    Tal esquema o da norma em sentido completo que seria a ligao

    entre duas normas jurdicas em sentido estrito, primrias e secundrias por meio de

    uma disjuno excludente.

    33 BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurdico. 7a edio. Braslia: UNB, 1996. 34 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6 Ed. So Paulo: Martins Fontes, 2003. 35 HART, Herbert L. A. O Conceito de Direito. 2 Ed. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1994. 36 VILANOVA, Lourival. Causalidade e relao no direito. So Paulo: Saraiva, 1989. 37 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6 Ed. So Paulo: Martins Fontes, 2003. 38 ENGISCH, Karl. Introduo ao Pensamento Jurdico. 7 Ed. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1996.

  • 49

    Neste sentido, a ltima forma estrutural sinttica das normas jurdicas

    o das normas em sentido completo, que denotam a juridicidade existente nas

    relaes, com a possibilidade de coero estatal, em que h a ligao entre uma

    norma primria, dispositiva ou sancionadora, e uma norma secundria,

    sancionadora, de cunho processual.

    Em outro giro, para a conformao do dentico uma norma

    dispositiva (primria) ligada a uma norma sancionatria (secundria), que d a

    possibilidade de, no caso de descumprimento da relao da norma primria, acionar

    o estado-juiz para fazer valer a relao descumprida.

    Dentro do plexo j elucidado, o conceito de norma em sentido

    completo surge com fora em Vilanova39, j que este autor trata das estruturas

    lgicas do sistema de direito e demonstra a forma da norma e toma como base para

    o conceito de direito o de sano estatal organizada.

    Dentro de tal contexto, conforme j referido, na forma de

    recombinao de enunciados criam-se as normas jurdicas em sentido estrito,

    unidades mnimas do dentico estruturadas sob a forma de antecedente (fato)

    implicando uma conseqncia jurdica (relao entre dois sujeitos).

    Sequenciadamente, surge a forma de uniformizao do direito

    atravs da sano, possvel, apenas, com a interveno de um estado por meio de

    procedimentos prprios.

    Logo, surge a definio do conceito de norma jurdica em sentido

    completo que a unio de duas normas jurdicas, uma primria (dispositiva) e uma

    secundria (sancionadora/processual).

    Nesta distino, sintaticamente estas normas so idnticas, mas o

    fato da norma secundria o no cumprimento da relao jurdica da norma

    primria, formalmente: D{[(F (SRS)] v [ - (SRS) (SRS)]}, lembrando que o

    39 VILANOVA, Lourival. Causalidade e relao no direito. So Paulo: Saraiva, 1989.

  • 50

    modal disjuntor excludente trata que as duas normas so vlidas ao mesmo tempo,

    mas a aplicao de uma exclu a outra.

    Obviamente, a individualizao de uma norma em sentido completo

    passa por processos de recombinao normativas, normalmente obtidos na chegada

    ao plano S4, o da reestruturao das comunicaes normativas em termos

    hierrquicos e funcionais.

    Por fim, dentro desta tica o dentico somente seria manifestado

    quando uma norma secundria atuasse, ou seja, a caracterstica do dentico

    somente surge com a completude da norma que reflete a completude diferenciada

    do sistema jurdico com relao aos demais sistemas como o moral e tico.

    1.5.4. Diferenciao entre normas jurdicas e morais.

    Algumas consideraes devem ser ditas com respeito s normas e

    seu contedo de juridicidade, do que, no mesmo sentir de Kelsen40, porm com

    sentidos trocados, tem-se que o direito formado por normas que dem acesso

    jurisdio, do que a fora nica de coero, por meio do aparato estatal, que traa

    a linha de distino entre as normas jurdicas e as demais normas como as morais

    ou religiosas.

    A identificao das normas jurdicas vlidas passa por uma srie de

    conceptualizaes do que seria o sistema jurdico e qual o fundamento de uma

    ordem de normas coesas.

    Kelsen41 apresentou a sua verso dentro da rgida hierarquia

    verticalizada e, derivante de tal conceito, o de validade, que seria a busca de

    fundamento de pertencer ao sistema jurdico por se apoiar em uma regra jurdica de

    superior estatura.

    40 Como interpretado por VILANOVA, Lourival. Estruturas lgicas e o sistema no direito positivo. So Paulo: Noeses, 2006. 41 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6 Ed. So Paulo: Martins Fontes, 2003.

  • 51

    Esta uma das clssicas formas de identificao deste fenmeno,

    com o desdobramento em critrios de pertinncia com o sistema.

    Cita-se que o conceito de validade , muitas vezes, vinculado ao de

    existncia, dado que para existir no sistema jurdico deve uma norma ser

    considerada vlida.

    Dentro do supracitado, os clssicos critrios de incluso na classe

    das normas vlidas so:

    Autoridade, ou seja, pessoa com a aptido para emitir aquele

    comando normativo;

    Competncia, ou seja, ter a possibilidade de legislar sobre

    aquele determinado assunto; e

    Procedimento previsto em lei, que a forma que deve ser

    seguida para a recepo daquele dado no mundo jurdico.

    Adota-se, de forma diversa uma noo de validade como uma

    expresso da segurana jurdica, uma conexo tnue entre duas comunicaes

    jurdicas, uma forma indiciria de pertinencialidade ao sistema jurdico.

    A validade funciona como a cola da certeza do direito, todos

    consideram as normas (potencialmente) vlidas at que estas so declaradas

    invlidas sempre com efeitos ex tunc, j que nunca fizeram parte do sistema jurdico.

    A frmula para esta tnue estabilizao das expectativas normativas

    a de que as comunicaes de uma norma considerada a posteriori invlida so

    juridicizadas com o cdigo no direito, por meio do mecanismo da reentrada, como

    ser elucidado no item infra.

    Obviamente, a distino das normas jurdicas e morais no pode ser

    realizada pela forma, j que ambas podem ser (re)construdas dentro da estrutura

    hipottico condicional.

  • 52

    O mesmo pode ser dito com relao ao objeto que so as condutas

    dos homens em sociedade.

    Logo, uma forma de diferenciao, factvel a possibilidade de

    sano por meio de uma ao estatal organizada sob a forma de um processo,

    conforme dada por Kelsen42.

    Outra forma factvel a de demonstrar a distino entre a

    organicidade e ideologizao das normas de moral frente mobilidade e

    procedimentalizao da forma de colocar o direito posto, que revolucionrio por

    natureza, modificvel.

    Por fim, deve ser citada a forma de diferenciao dada por Luhmann

    que trata da diferena por meio do cdigo, que na moral pode ser o bom/mau e no

    direito lcito/ilcito, o que no leva a recorrncias nem confuses sobre o papel da

    sano ou de gradaes de valor no centro de tais digresses.

    42 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6 Ed. So Paulo: Martins Fontes, 2003.

  • 53

    CAPTULO II TEORIA DOS SISTEMAS DE NIKLAS LUHMANN.

    2.1. Elementos introdutrios Teoria dos Sistemas autopoiticos de Niklas

    Luhmann.

    Dentro do sistema de referncia adotado neste trabalho, como j

    dito, o acoplamento entre a Teoria dos Sistemas de Niklas Luhmann43 e suas

    contrapartes na Teoria da Linguagem se revelam complementares, j que uma

    realiza o processo de abstrao mais absoluta, demonstrando as macro estruturas

    de funcionamento da sociedade de interaes no sistema jurdico e a outra

    demonstra suas micro estruturas.

    Neste contexto, deve ser elucidada a posio de como se visualiza a

    Teoria dos Sistemas e quais os seus fundamentos, seguida por desenvolvimentos

    especficos destes temas a partir de novas premissas no sistema de referncia deste

    autor, deixando claras as expresses e a forma de viso do mundo que criada a

    partir deste referencial terico.

    Interessante notar, inicialmente, que a Teoria dos Sistemas como

    concebida por Niklas Luhmann44 uma forma de sociologia do direito que utiliza

    ferramentas de outras cincias para mostrar similitudes/analogias operativas entre o

    funcionamento da sociedade e o funcionamento do mundo, em sua biologia,

    matemtica e fsica, a exem