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Jorge Boaventura - Marxismo Alvorada Ou Crepúsculo

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  • MARXISMO:ALVORADA OUCREPOSCULO?

    ste livro foi escrito com respeito intelignciado leitor. Nle, o autor expe de maneira clara, semsofismas, o pensamento marxista em todos os seusaspectos fundamentais, recorrendo para tanto li-teratura e a textos de clssicos do marxismo de ir-recusvel autoridade.

    Igualmente a anlise feita daquele pensamento incisivamente objetiva, cabendo ao leitor, em sua in-teligncia, concluir sbre se, afinal, o marxismo 1'2-presenta "uma alvorada ou um crepsculo".

    Estamos certos de que, a quem queira informar-se seguramente sbre o problema do marxismo emnossos dias, nenhuma outra obra editada em nossopas mais indicada do que esta - pela honestidade,pela clareza, pela conciso e pela viso completa qued do assunto de que trata, - razes que nos fazemacreditar, sinceramente, em que se constituir. muitoem breve, em obra extensamente difundida e de pre-sena obrigatria nas estantes de todos quantos, ver-dadeiramente, se interessam pelo assunto.

    Os primeiros que tiverem o privilgio de l-lano deixaro de coment-la - ela , de fato, no g-nero, o que de melhor j se editou em nosso pas.

  • MARXIALVORADA OUCREPUSCULO ?JORGE BOAVENTURA

    o escritor e educador J or geBoaventura, que ocupa hoje altocargo na administrao du ensi-no nacional , o autor do pr esen-te livro do qual se pod e dizer, nu -ma palavra, que undamen ta l-mente uecess rio .

    Compreendendo o impacto qu t'o marxismo, pel os seus at os e pe -las sua doutrinas, exerce sbre avida e a mentalidade contempo-rnea , o autor empreendeu umaobra de esclarecimento e divul-g ao , ma s adotando uma posi-o rigorosamente de acordocom as suas convices e princi-pios filo sficos.

    E studando o pensamento mar-xista, luz de docum entos eobras de reconhecida autoridade,expe com clareza e sem qual-quer idia preconcebida os con-ceitos, os fatos e os problemas.

    Em plena coerncia com a ati-tude intelectual a que subordinouo seu trabalho, leva a sua impar-cialidade ao ponto de no tirarconcluses. Estas ficam natural-mente a cargo do leitor, que te-r de decidir por si mesmo se omarxismo nos tempos presentesest na sua alvorada ou j atin-giu ao seu crepsculo.

    Livrando-se assim de todos osinconvenientes e entraves polmi-cos, o autor facilita singularmen-te essa tarefa ao leitor, graas

  • sua objet ividade, sua hone sti-dade, sua viso e cla reza comqu e expe o se u important ssim otema.

    No tem os de fato hesitaoem afirmar qu e o livro indis-pens vel a que m que ira inteirar-se do caso do marxism o, sem pre-conce itos de hostilidade ou sim-pa tia, para compreend -l o emtda a sua complexida de e reper-cusses.

    Por isso mesmo, cre mos quese trata elo livro mais comp leto {'mais profundo que j se escreveuno Brasil sbre o assunto.

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  • MARXISMO:ALVORADA OU CREPSCULO?

  • JORGE BOAVENTURA

    MARXISMO:ALVORADA OU CREPSCULO?

    1 DISTRIBUIDORA RECORDRIODE JANEIRO-SOPAULOo

  • Copyright 1968 byJorge Boaventura de Souza e Silva

    Direitos reservados para a lingua portugusa pelaDISTRIBUIDORA RECORD DE SERVIOS DE IMPRENSA S. A.

    Av. Erasmo Braga, 266 - 8. andar - Rio de Janeiro (GB) ZC-PImpresso em 1968

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  • ,INDICE

    l.a PARTE

    1. Cinco Traos Fundamentais do Fenmeno Marxista 92. Esbo da Evoluo Intelectual e Breve Perfil Psicolgico

    de Marx 193 . Dialtica 354. Filosofia Marxista de Natureza 41S. Teoria Marxista do Conhecimento 556. Teoria Marxista da Histria - Materialismo Histrico 667. Teoria Marxista do Estado 748. Teoria Marxista da Religio 799. Filosofia Marxista da Moral 8S

    10. O Que , para o Marxismo, a "Revoluo"? 8811. Concepo Marxista da Sociedade 9712. Conceitos Fundamentais da Teoria Econmica Marxista 101

    2.a PARTE

    13. Crtica Filosofia Marxista de Natureza14. Critica Teoria Marxista do Conhecimento

    109120

  • 15. Crtica Interpretao Marxista da Histria16. Crtica Interpretao Marxista do Estado17. Crtica Interpretao Marxista da Religio18. Crtica Interpretao Marxista da Moral19. Crtica Interpretao Marxista da "Revoluo"20. Crtica Interpretao Marxista da Sociedade21. Crtica aos Conceitos Fundamentais da Teoria Marxista

    da Economia22. Que Fazer?

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  • 1. Cinco Tracos Fundamentais~

    Do Fenmeno Marxista

    1.0 - o MARXISMO UM SISTEMA GLOBAL DEPENSAMENTO

    Ao contrrio do que a maioria das pessoas supem, o marxismono , meramente, uma teoria econmica que acarreta uma concep-o social conforme as suas peculiaridades e os seus objetivos. Desdelogo desejamos deixar claro, com tda a nfase possvel, que o mar-xismo tem um carter global, apresentando-se, essencialmente, comouma filosofia completa, que se prope responder a tdas as indaga-es fundamentais do esprito humano.

    Assim, o pensamento marxista s poder ser compreendido sa-tisfatoriamente e avaliado em sua real magnitude quando, a partir dasua filosofia da natureza, pudermos apreender o seu desdobramento,executado de forma coerente, em cada plano em que possam ser foca-lizadas aquelas indagaes.

    Dessa maneira, como h uma filosofia marxista da Natureza,h uma teoria marxista do Conhecimento, uma filosofia marxista daHistria, uma filosofia marxista da Religio, do Estado, da Revolu-o, da Sociedade, da Moralidade, da Cincia, da Economia. e assimpor diante.

    O marxismo, pois, de fato uma filosofia global, apresentando-seos seus aspectos indisfarvelmente interligados, interdependentese penetrados todos, mais ou menos diretamente, das posies queassume ao construir a sua filosofia da natureza.

  • 2. - O ATEISMO NO ~ ELEMENTO A CESSORIO,MAS ABSOLUTAMENTE FUNDAMENTAL DO MAR-XISMO

    o marxismo representa, sem dvida, a forma mais avanada emais elaborada do materialismo jamais concebida pelo esprito huma-no. A negao da crena em um Deus e no destino sobrenatural do ~Homem no para le, como alguns supem e a sua propaganda suees insinua, uma posio lateral, de importncia secundria. Muitopelo contrrio, representa o cerne de sua motivao, a fonte princi-pal do seu impulso, como se tornar claro ao desdobrarmos, nos cap-tulos seguintes, todos os seus aspectos doutrinrios essenciais.

    3. - O MARXISMO ESSENCIALMENTE DINAMICO

    o marxismo essencialmente dinmico e nisso difere de outrascorrentes materialistas que o antecederam, como veremos mais tarde.Seu dinamismo provm do carter dialtico que lhe imprimiu Marxao aplicar, a seu modo, a dialtica de Hegel ao seu sistema pre-tendendo ter com isso, alis, segundo suas prprias palavras, pstode p a dialtica.

    4. - O MARXISMO COLOCA FORA DO PRESENTE,NO FUTURO, OS SEUS OBJETIVOS

    o marxismo, vislumbrando uma evoluo das formas SOCIaIS edo prprio Homem, antev uma poca esplendorosa, em futuro cujadistncia dos nossos dias no pode precisar, na qual tero desapare-cido tdas as tenses sociais e o Homem estar totalmente livre, ple-namente integrado em sua natureza, libertado das alienaes de que vtima no atual mundo capitalista e mesmo naquele de transiopara o paraso na terra visado e que se caracteriza pela instalaode uma ditadura do proletariado.

    O comunista de hoje, portanto, coloca fora de seu tempo, adian-te, muito adiante dle, os objetivos que persegue. Tais objetivos, pois,transcendem os outros, mais imediatos, e relativos s coisas que podealcanar em sua vida. Assim, no admira que os que colocam oshorizontes de suas vidas nos objetivos e interssespalpveis, perten-centes ao terra-terra, em grande parte das uees exclusivamente ma-terial de suas existncias, permaneam ablicos ou, ainda quandointeressados em atuar, perplexos, incapazes de faz-lo.

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  • 5. - O MARXISMO TEM CARATER NECESSARIA-MENTE INTERNACIONALISTA

    Como ser visto em detalhe, mais tarde, o marxismo transcendenecessramente quaisquer ideologias nacionais uma vez que as inter-preta como reflexos das formas de produo e, ainda, como a ex-presso, em ltima anlise, dos intersses das classes dominantes.

    A propaganda nacionalista vigorosamente levada a cabo pelosmarxistas, no raro de forma exacerbada e passional, sobretudonos pases de economia subsidiria ou reflexa das economias dospases mais desenvolvidos, deve ser interpretada como mera tticarevolucionria destinada a levantar a opinio pblica, pela explora-o de ressentimentos, muitas vzes justos, e canaliz-la para osseus objetivos revolucionrios. Trata-se de atitude altamente pro-veitosa aos seus objetivos pois, desencadeadas as presses ditas "na-cionalistas", mltiplos efeitos podem ser conseguidos: propagandavisando a lanar desconfiana e despertar malquerena contra os pa-ses apontados como responsveis pelos males que afligem o povoobjeto de sua propaganda e de que, porventura, se ressinta a eco-nomia do mesmo, promover presses sbre os podres competentescom o fim de forar a adoo de medidas que, sob o pretexto de pro-tegerem a economia nacional e reprimirem abusos, possam contribuirpara criar novas dificuldades e agravar as j existentes o que serexplorado de duas maneiras radicalmente opostas: internamente, di-vulgado interpretaes do agravamento das dificuldades, consisten-tes em atribu-Ias a represlias e presses subterrneas desencadea-das por aquelas naes e fatres que importa sejam desmoralizados;externamente, divulgando informaes alarmantes acrca do que ocor-re no pas, visando agora a superestimar o perigo comunista, o mesmoperigo comunista internamente negado com veemncia e atribudo asuper-reacionarismo, ou fascismo, ou macartismo, sempre que. por-ventura, denunciado.

    Assim, podem ser provocadas, de fato, medidas lesivas aos inte-rsses dos pases envolvidos na poderosa e hbil intriga internacio-nal, que saber explor-Ias de nvo, sempre contando, num sentido,com o desconhecimento popular a respeito dos meandros da econo-mia e, no outro sentido, com a escassez de informaes abundantese fidedignas sbre os povos menos desenvolvidos ou francamente sub-desenvolvidos, de que se ressentem os povos mais ricos, j plenamen-te desenvolvidos ou em vias disso.

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  • Os cinco aspectos do marxismo acima tratados e que, em nossoentender, devem ser destacados desde logo para quantos se iniciemnu estudo dessa vasta e complexa corrente de pensamento, s teroa sua validade e o seu sentido plenamente elucidados aps a aquisi-o de uma viso panormica do aspecto predominante do marxis-mo, que o aspecto filosfico.

    Desde logo, porm, e com o objetivo de firmar os destaquesacima feitos, num esfro de sistematizao que se nos afigura deinteira convenincia, sobretudo em campo to extenso quanto o re-presentado pela feio filosfica do marxismo, de que nos iremosocupar nesta obra, faremos algumas citaes em favor de cada umdos aspectos destacados, antes de encerrar o presente captulo:

    1.0 - O MARXISMO E. UM SISTEMA GLOBAL DEPENSAMENTO

    " . .. O marxismo no apenas um fenmeno poltico. Paracr-lo, seria preciso deixar-se dominar totalmente pelo simplismodas polmicas ou das catequeses. Num fenmeno poltico, as cris-paes superficiais da demagogia tm maior importncia que a pene-trao das concepes e a solidez das construes tericas. Neste sen-tido, o marxismo no apenas um fenmeno poltico.

    Mas o marxismo no tambm um simples grito de revolta daJustia contra a tremenda escravizao do Homem pelo capitalismomoderno. Sup-lo tal, seria um equvoco to grave quanto o pri-meiro, mesmo se induzido sob o pretexto da caridade ou da necessi-dade de cerrar fileiras, ombro a ombro.

    Seria esquecer que o marxismo , antes de tudo, uma anlisedo mundo moderno, uma tomada de conscincia das contradiesinerentes a sse mundo. Seria esquecer, alm do mais, que Marx tratacom desprzo os que vem apenas o aspecto sentimental do. proble-ma social, fingindo ignorar que, para lutar, mister "saber" lutare fazer-se previamente de sua luta uma idia terica.

    Enfim, um ltimo equvoco sbre a doutrina marxista seria ode querer ver nela apenas uma teoria econmica. A obra principalde Marx, "O Capital", pode ter dado azo a ste equvoco. Com efeito,esta obra, que o fruto da maturidade intelectual do autor, essen-cialmente uma anlise crtica da economia capitalista. Da, teremmuitos julgado e continuarem ainda a crer, fiados, alis, mais no ttu-lo que no contedo de trabalho, que a essncia do pensamento mar-xista se reduz elaborao de uma nova economia poltica. Na rea-lidade, a obra de Mor se interessa por tdos as questes que prxima

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  • ou remotamente tangem o probiema do Homem, de sua origem, dolugar que ocupa no Universo, de sua funo sbre a Terra, de seudestino histrico, da existncia e da possibilidade de exerccio de sualiberdade, de suas relaes com a idia de Deus, em uma palavra, todosos problemas clssicos de uma filosofia. Tanto que, se tentssemosclassific-la por gneros filosficos, encontraramos nela uma teoriado conhecimento, uma filosofia da cincia, uma filosofia econmica,uma filosofia da Histria, uma crtica da cultura, uma moral sociale finalmente uma autntica metafsica.

    verdade que, abstraindo por um momento do "O Capital",em vo procuraramos em tda a obra de Marx uma exposio sis-temtica de seu pensamento, e mesmo "O Capital" ficou inacabado.Karl Marx escreveu principalmente numerosas obras de ocasio, ins-piradas pelas circunstncias do momento. Nem por isto, contudo, seupensamento deixa de ter uma unidade e uma coerncia surpreenden-tes." (Bmile Baas - "Introduo Crtica ao Marxismo" - Ed.Agir - Rio).

    " . .. ste processo evolutivo uma lei imanente do cosmos,que preside suas transformaes desde a matria primitiva, origemde tudo que existe, at a sociedade economista perfeita, que o vr-tice para o qual caminha tda a histria e que d sentido a tda aevoluo csmica. A filosofia marxista assim uma cosmooiso(Wetanschaung) .

    O comunismo portanto uma filosofia do cosmos, uma filosofiado Homem e uma filosofia da Histria." (P. Fernando Bastos devila, S. J. - "Neo-Capitalismo, Socialismo, Solidarismo" - Ed.Agir - Rio).

    " . .. Infelizmente o carter absoluto e totalitrio da filosofiacomunista geralmente desconhecido .

    . . . Como conseqncia, a tendncia corrente dos inimigos docomunismo a de consider-lo, apenas, como um movimento revo-lucionrio nascido do dio violento ao Capitalismo. A verdade, porm, que o comunismo apresenta todo um sistema completo de filosofia."(C. J. Mac Fadden - "The Philosophy of Communism" - Benzi-ger Brothers - N. Y. )

    2. - O ATEISMO NO :s ELEMENTO ACCESSORIO,MAS ABSOLUTAMENTE FUNDAMENTAL DO MARXISMO

    "O materialismo filosfico de Marx parte do princpio de que omundo, pela sua mesma natureza, material, que os mltiplos fen-

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  • menos do Universo so apenas diferentes aspectos da matria em mo-vimento; que as relaes e o condicionamento recprocos dos fen-menos, interpretados pelo mtodo dialtico, constituem as leis neces-srias do desenvolvimento da matria; que o mundo evoluiu confor-me as leis do movimento da matria e dispensa a existncia de qual-quer esprito universal." (J. Stalin - Le Matrialisme Dialectiqueet le Matrialisme Historique - Ed. Saciales)

    "O materialismo consiste em professar que o esprito no temexistncia independente do corpo. O esprito um fator secundrio,uma funo do crebro, a imagem do mundo exterior." (Lenine -"Matrialisme et Empiriocriticisme" - Ed. Sociales)

    "O mundo material, perceptvel pelos sentidos, do qual ns mes-mos fazemos parte, a nica realidae. Nossa conscincia e nossopensamento, por transcendentes que paream, no passam de pro-duto de um rgo material, corporal, o crebro.

    A matria um produto do esprito. ste, sim, apenas um pro-duto superior da matria." (Engels - "Ludwig Feuerbach et la Finde la Philosophie Classique Allemande" - apud mile Baas - "In-troduo Crtica ao Marxismo", op. cit.)

    "O marxismo o materialismo. Por sse ttulo, le to impla-cvelmente hostil religio como o materialismo dos enciclopedistasdo sculo XVIII e o materialismo de Feuerbach. Ningum o podenegar. Entretanto, o materialismo dialtico de Marx e Engels vaimais longe que os enciclopedistas e que Feuerbach na aplicao dafilosofia materialista ao domnio da Histria e das cincias sociais.Devemos combater a Religio. o A. B. C. de qualquer materialis-mo e portanto tambm do marxismo.

    2ste porm um materialismo que no fica s no A. B. C., um materialismo que vai mais longe, dizendo que mister "saber"lutar contra a Religio, qwe mister explicar, em trmos materialis-tas; a origem da F e da Religio das massas. No se pode reduziresta luta a uma escaramua ideolgica abstrata. Importa inseri-la naprtica concreta de movimento classista tendente a extirpar as razessociais da Religio." (Lenine - "Petite Bibliothque Lnin, 8-15e 16)

    "A religio embala, na esperana de uma recompensa celeste, osque vivem na misria e com isto lhes vai incutindo pacincia e resig-nao. Aos que vivem do trabalho alheio, ensina-lhes a praticar acaridade e a beneficncia. Com isto, lhes legitima a existncia deexploradores e ainda faz bom negcio vendendo-lhes passagens paraa felicidade celeste. A Religio o pio do povo. uma ordinria

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  • aguardente espiritual, na qual os escravos do capital acabam de afo-gar seu ser humano, e suas reivindicaes de uma existncia um pou-co menos indigna." (Lenine - "Petite Bibliothque Lnin - 8 -3 e 4).

    "Todo nosso programa repousa sbre uma filosofia cientfica, asaber, a filosofia materialista. Faz parte, pois, de nosso programanecessriamente tambm indigitar as verdadeiras causas histricas eeconmicas da intoxicao religiosa. Devemos, por conseguinte, or-ganizar a propaganda do atesmo atravs da publicao de uma lite-ratura cientfica." - (Lenine - "Petite Bibliothque Lnin - 8- 8 a 9).

    3. - O MARXISMO ESSENCIALMENTE DINAMICO

    "Julgava le (Marx) que o materialismo de Epicuro continha,pelo menos at certo ponto, um princpio enrgico, e era isto que maiso atraa. Est a a primeira amostra da preferncia por um mate-rialismo caracterizado por algum tipo de atividade imanente, Algunsanos mais tarde haveria; de utilizar com sse fim a dialtica hegeliana,incorporando-a na sua prpria filosofia." (C. J. Mac Fadden - "ThePhilosophy of Communism" - Benziger Brothers - N. Y.)

    "sse defeito do velho materialismo evidente. Fracassa ao apre-ciar a relatividade de tdas as teorias cientficas, ignora a dialtica,exagera o ponto de vista mecnico." (Lenine - "Matrialisme eEmpiriocriticisme" - Ed. Soe.)

    "Embora o rude materialismo de Feuerbach no pudesse satisfa-zer Marx e Engels, no entanto deu-lhes elementos de imenso valorpara a soluo do prprio problema. Ao tratar de apresentar um ma-terialismo nuo, Feuerbacb tinha utilizado, at certo ponto, a dialticade Regels.

    Marx e Engels no eram to pouco espertos que no percebes-sem as possibilidades de tal mtodo. Reconheceram rdpidamente queno idealismo deveriam encontrar-se os elementos autnticos sbre osquais [sse possvel erguer uma filosofia viva e vitalizadora do mate-rialismo. Se a dialtica tinha sido a alma e o corao do idealimloheqeliano, les a converteriam tambm na alma e no corao do seumaterialismo." CC. J. Mac Fadden - "The Philosophy of Commu-nisrn" - Benziger Brothers - N. Y., op. cit.)

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  • os fenmenos da natureza esto em eterno movimento econtnuas transformaes. O desenvolvimento da natureza o re-sultado do desenvolvimento das contradies, isto , da ao recpro-ca de fras contrrias da natureza." (Stalin - "Le MatrialismeDialectique et le Matrialisme Historique" - Ed. Sociales )

    4. - O MARXISMO COLOCA FORA DO PRESENTE,/\'0 FUTURO, OS SEUS OBJETIVOS

    "A luta de classes conduz necessriamente ditadura do prole-tariado, que constitui apenas o perodo de transio para a fase finalda supresso de tdas as classes numa sociedade sem classes."

    "Entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista se inserec} perioo de transformao revolucionria da primeira na segunda.A sse perodo corresponde lima fase de transio poltica, na qualo Estado s poder ser constitudo pela ditadura revolucionria doIh oletariado" (Karl Marx - "Critique du Programme de Gothe"- Oeuvres Choisies, II - 571.)

    "A partir do momento em que todos os membros da sociedade,ou ao menos a imensa maioria dles, tenham tudo organizado e pstosob seu contrle a nfima minoria de capitalistas, os pequenos bur-gueses desejosos de guardar seus ares capitalistas e os trabalhadoresprofundamente corrompidos pelo capitalismo, neste momento tendera desaparecer a necessidade de tda a administrao.

    Quando todos tiverem aprendido a administrar e administraremrealmente e diretamente a produo social, a necessidade de observaras regras simples e fundamentais da sociedade humana passar a serum hbito.

    Estar aberta, de par em par, a porta para a fase' superior 'dasociedade comunista e, por conseguinte) para o desaparecimento com-pleto do Estado," (Lenine - "Petite Bibliothque Lnin - 7 -114 a 115)

    "Numa fase superior da sociedade comunista, quando tiver de-saparecido a subordinao servil dos indivduos diviso do traba-lho, e com isto o antagonismo entre o trabalho intelectual e o manual,quando o trabalho no fr um meio de vida, mas a necessidade pri-mordial da existncia, quando, com o desenvolvimento integral dosindivduos, as fras produtoras aumentarem, tdas as fontes deri:!ueza coletiva brotaro com abundncia; s neste momento o estrei-to horizonte do direito burgus poder ser completamente superado

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  • e a sociedade poder escrever na bandeira: de cada um conforme suacapacidade, a todos segundo suas necessidades" (Karl Marx -"Critique du Programme de Gothe" - Oeuvres Choisies - II -571)

    "O Estado poder desaparecer completamente assim que a socie-dade tiver realizado ste princpio: "de cada um conforme sua ca-pacidade, a cada um segundo suas necessidades." Esta fase haverde se inaugurar logo que cada um estiver habituado a observar as re-gras primordiais da vida social e o trabalho fr to produtivo quetodos produzam voluntriamente, segundo suas capacidades. A divi-so dos produtos exigir somente que a sociedade designe a cada uma parte de produtos que lhe cabe. Cada um ser livre de haurir doacervo comum, segundo suas necessidades."

    " . .. Nenhum socialista ainda ousou "prometer' o advento dafase superior do comunismo; se les a prevem porque contam cOmuma produtividade do trabalho e um tipo de homem bem diferentedo que o de hoje, to inclinado a esbanjar as riquezas pblicas e aexigir o impossvel" (Lenine - "Petite Bibliothque Lnin" -7 - 108 a 109)

    5. - O MARXISMO TEM CARATER NECESSARIA-MENTE INTERNACIONALISTA

    "As teses tericas dos comunistas no se fundam, de modoalgum, sbre idias ou princpios inventados ou descobertos poralgum reformador do mundo. So apenas a generalizao das coni-es reais de uma luta de classes, de um movimento histrico que seprocessa sob os nossos olhos." (Karl Marx - Manifesto Comu-nista)

    "Vimos que tda a Histria, salvo nos seus incios, foi a Hist-ria da luta de classes. As classes antagnicas das diversas sociedadesforam sempre conseqncias das condies econmicas. A estruturaeconmica da sociedade oferece sempre a verdadeira fase a partir daqual possvel elaborar a explicao ltima da superestrutura dasinstituies jurdicas, polticas, das idias filosficas e religiosas deum determinado periodo da Histria." (Karl Marx - apud nmileBaas - "Introduo Crtica ao Marxismo" - Agir - Rio, op. cit.)

    "O marxismo abriu caminho para o estudo vasto, universal, doprocesso de origem, desenvolvimento e declnio das formaes sociatse econmicas pelo fato de ter mostrado, no nvel f1.e ewltIo das

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  • fras produtivas, a fonte de tdas as idias e de tdas as tendn-cias." (Lenine - "Petite Bbliothque Lnin" - 3 - 21 a 22).

    I(Os partidos comunistas e operrios educam incansueimente ostrabalhadores no esprito do internacionalismo socialista, da intran-signcia para com tdas as manifestaes de nacionalismo e chausn-f.ismo. A coeso e a unidade dos partidos comunistas e operrios edos povos dos paises socialistas e sua fidelidade doutrina marxista-leninista so a pedra angular da fra e da invencibilidade de cadapais socialista e do campo socialista em seu conjunto." (N. Krus-chiov - "Problemas da Paz e do Socialismo" - N.? 1 de 1961 - 20)

    "O dever internacionalista da classe operria vitoriosa consis-te em ajudar os povos dos pases subdesenvolvidos no terreno eco-nmico a romper definitivamente as cadeias da escravido" (N.Kruschiov - "Problemas da Paz e do Socialismo" - 1 - 1961- 33)

    18 ij1J.,

  • 2. Esbco da Evoluco Intelectual:> :>

    e Breve Perfil Psicolgico de Marx

    Foram postos em destaque, no captulo anterior, alguns traosto marcantes do marxismo que, observados desde logo, auxiliamde muito a compreenso da verdadeira e mais profunda essncia dessacorrente de pensamento, origem da mais extensa e pertinaz conspi-rao pela conquista do poder de que tem registro a Histria.

    Outros traos importantes, evidentemente, existem e sero ana-lisados no curso desta obra; desde logo, porm, ser conveniente,pelas luzes que traz a uma interpretao correta e pela facilidadeq~e acarreta compreenso justa do marxismo, seja feita uma aali-se, ainda que ligeira, da evoluo intelectual e de certas peculiari-dades da vida de Marx, provvelmente determinadoras de algumasde suas mais marcantes tendncias.

    Assim, para quem estuda a evoluo do pensamento de KarlMarx no podem deixar de ter importncia fundamental ao menosdois traos caractersticos daquela evoluo: o primeiro. relativo inclinao de Marx para a posio materialista, antes me$HIO que umamadurecimento cultural razovel pudesse explicar uma tomada

  • De fato, a tendncia materialista e a inclinao revolucionriade Marx aparecem, a quem estuda honestamente a atuao e, a evo-luo intelectual do mesmo, menos como resultado de estudo e refle-xo do que como conseqncias de um impulso interior, prvio e irre-primvel, em busca, servido por extraordinria inteligncia, da cons-truo de uma teoria capaz de racionaliz-lo.

    Realmente, chama a ateno de quem se debruce sbre a vida dofundador do Comunismo moderno verificar que o mesmo ingressou,efetivamente, na vida universitria aos dezoito anos de idade, na Uni-versidade de Berlim, aps menos de um ano de permanncia na Uni-verdade de Bonn, onde ingressara para estudar Direito um anoantes, tendo desistido no correr do mesmo ano, possivelmente emface do pouco entusiasmo que sentia pelo estudo das leis pelas quaisse regia uma sociedade que no via com bons olhos e que, no fundo,desejava modificar.

    Reagiu, entretanto, imediatamente, no obstante a sua pouca ida-de e quase nenhuma experincia, contra a atmosfera cultural domi-nante na sua nova Universidade, mal transpostos os seus umbrais.

    Essa reao, assim to pronta e to prematura, torna-se aindamais significativa quando verificamos que a Universidade de Ber-lim era o mais importante centro cultural da Alemanha da poca,onde se reuniam e atuavam os vultos mais eminentes do pensamentoalemo e onde, apenas at seis anos antes, pontificara: a figura extra-ordinria de Hegel, o gigante do idealismo germnico, cujo pensa-mento pairava ainda, com grande prestgio, no apenas sbre a Uni-versidade a que pertencera, como sbre tda a Alemanha.

    Se a idade de dezoito anos, apenas, em que se manifestou, nofsse bastante para evidenciar o carter prematuro da reao dojovem Marx contra o idealismo hegeliano, proveniente, assim, menosde anlise amadurecida e profunda do que de impulso prvio, basta-ria a leitura, mais do que significativa, do que j dizia em cartaescrita a seu pai, um ano apenas aps ingressar na Universidade deBerlim: " ...Tinha lido fragmentos da filosofia de Hegel e desco-berto a sua grotesca, spera e desagradvel melodia. Desejei submer-gir-me de nvo nesse oceano, mas desta vez com a inteno direta deverificar que a nossa natureza intelectual est to determinada, toconcreta e slidamente estabelecida quanto a corporal.

    Li, ento, Hegel do princpio ao fim e tambm a maior partedos seus discpulos" (carta de Marx ao seu pai, datada de 10-11-1837- Marx-Engels - "Historische Kritische Gesamtausgabe" - SecoI, vol. I, pg. 218, apud Mac Fadden - "The Philosophy of Com-munism" - Benziger Brothers, N. Y.)

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  • De fato difcil, honestamente, negar que a leitura do trechode carta transcrito acima. patenteia de maneira clara e irretorqui-velo quanto era, em Marx, impulso interior e no resultado de estu-do e reflexo, a sua repulsa ao idealismo.

    Ainda a sse respeito, como um argumento a mais, se algumainda se faz necessrio, convm mencionar que em seus estudos pre-paratrios realizados no Liceu de sua terra natal, a cidade de Tr-ves (Trier para os alemes) e terminados em 1835 (mesmo ano emque, mal ingressado, abandonou a Universidade de Bonn, entrandopara a de Berlim j em 1836), no se revelara o jovem Marx, demodo algum, um estudante excepcional, circunstncia que, levada emconta a inteligncia extraordinria que veio a evidenciar em sua obra,indica de sua parte, ao menos at aquela data, uma dedicao, possi-velmente menos do que moderada, aos estudos.

    Relutou, portanto, o jovem Marx, desde muito cedo e instin-tivamente, em aceitar de modo pleno o idealismo hege1iano, noobstante a atrao que sbre o seu esprito exercia o carter dinmi-co do mesmo. Manifestavam-se, assim, frente ao sistema hegeliano,as duas reaes apontadas acima, uma de repulsa ao seu idealismo,outra de forte atrao pelo dinamismo de que o mesmo se revestia,em consonncia perfeita, ambas, com dois traos marcantes da per-sonalidade de Marx mencionados anteriormente - o representado peloseu materialismo prvio, que o levava, como j vimos, apenas umano aps ingressar na Universidade a dizer em carta ao seu pai que,lidos fragmentos da filosofia de Hegel, j lhe tinha descoberto "a gro-tesca, spera e desagradvel melodia", e o representado pelo seuimpulso revolucionrio, que explicava a atrao pelo dinamismo dosistema hegeliano, fonte afinal, como veremos mais tarde, inspira-dora do dinamismo do seu prprio sistema.

    Sendo, como vimos de mostrar, I jovem Karl Marx, na alturaem que estamos tentando focalizar a sua evoluo intelectual, aindaculturalmente imaturo para tentar um repdio total ao sistema hege-Iiano, aproximou-se de um movimento que h pouco surgira e queera conhecido como movimento dos "Jovens Hegelianos" ou como"Esquerda. Hegeliana".

    sse fato particularmente digno de nota por deixar patenteque o mvel mais importante da atividade de Marx era, desde ento,o desejo ntimo de modificar a sociedade em que vivia, desejo queviria a expressar mais tarde em sua clebre frase: "Os filsofos, athoje. s fizeram interpretar o mundo. Trata-se, agora, de transjo....m-lo".

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  • De fato, torna-se difcil interpretar de maneira diferente os mo-tiros que teriam levado o jovem Marx, para cuja inteligncia, que-la altura de sua vida, deveria, em outras circunstncias, aparecercom muito maior atrativo o vulto intelectualmente gigantesco deHegel, a preferir as relativamente pequenas figuras que pontifica-vam na chamada Esquerda Hegeliana.

    Tudo se torna claro, porm, quando verificamos que um dosiniciadores daquele movimento fra David Strauss o qual, pouco tem-po antes, em 1835, escandalizara a Europa com um seu trabalho,"Vida de Jesus", no qual tentava abalar o crdito na autenticidadede vrias passagens dos Evangelhos. Assim, aos olhos de Marx, apre-sentava-se Strauss com dois traos bastante atraentes para com-pensar-lhe a mediocridade: ao contra as fontes da religiosidadepredominante na Europa e no mundo cristo, de modo geral, e aocontra os valres ligados quelas fontes e configurao social dapoca.

    Tendo encontrado, assim, aparentemente, uma forma de expres-so para os seus impulsos mais ntimos, em breve tornava-se Marxum dos elementos mais radicais daquele grupo radical e, j em 1838(aos vinte anos de idade, portanto), iniciava a feitura de uma teseque, a princpio visando a estudar o materialismo de Epicuro, acaboupor se constituir em um estudo comparativo entre aqule materia-lismo e o de Demcrito., A referida tese, uma vez concluida, o que ocorreu dois anosmais tarde, recebeu o ttulo "Diferena entre a filosofia natural deEpicuro e a de Demcrito".

    O mo de vinte anos apenas, embora vivendo mergulhado ematmosfera intelectual idealista, inclinava-se, j em seu primeiro tra-halho de vulto, para o estudo comparativo entre duas filosofias, am-bas materialistas.

    E como se isso no bastasse, para revelar alguns dos seus maisprofundos ressentimentos, colocou-lhe Marx no frontispcio a seguin-te frase do "Prometeu", de squilo: "Em/ uma S palavra - dio atodos os deuses,n

    Desde muito cedo, portanto, continuava Marx a revelar a orien-tao que haveria de presidir a tda a sua evoluo intelectual, mar-cada sempre pelo desejo de negar a existncia de um Criador e pelavontade de, influir sbre a sociedade humana, modificando-a.

    Na tese mesma a que nos referimos acima, manifestam-se denvo, claramente, aquelas duas tendncias, j antes caracterizadasatravs das suas reaes ante o idealismo hegeliano. A primeira, a

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  • revelar-se agora na prpria escolha do tema de trabalho e na fraseinserida, guisa de ornamento, na abertura do mesmo, como j foiassinalado; a segunda, na preferncia manifestada pelo pensamentode Epicuro sbre o de Demcrito por apresentar-se embebido de umcerto "princpio enrgico" o que era certamente grato a quem agiasob o impulso principal de alterar o mundo em que vivia, como vi-mos tentando demonstrar.

    Antes de prosseguir no estudo da evoluo intelectual de Marx,tal a importncia da identificao das fontes reais de tda a suaatuao, das quais os dois traos dominantes cremos j nitidamentedelineados, julgamos indispensvel lanar alguma luz sbre certascircunstncias de sua infncia capazes, talvez, em conjugao comfatres estritamente individuais, de explicar aquelas fontes de ao,ao menos em parte.

    J vimos que Karl Marx nasceu na cidade de Trves (Trierpara os alemes), tendo sse acontecimento ocorrido em 5 de maiode 1818.

    Surgia, assim, o jovem Marx para a vida em regio geogrficae poltica e em perodo. histrico particularmente capazes de produ-zirem descontentamentos de fundo poltico, social e religioso.

    De fato, a cidade de Trves, ou Trier, situa-se na Rennia,regio que, no perodo de 1801 a 1815, estivera anexada Frana,recebendo, assim, maciamente, as influncias polticas e econmicasoriundas da Revoluo Francesa e da Revoluo Industrial. Pelo tra-tado de Viena, entretanto, celebrado em 1815, passou a; Renniapara o domnio da Prssia onde" at ento, muito pouco haviampenetrado as idias resultantes daqueles movimentos.

    Realmente, mantinha-se a Economia prussiana em bases estri-tamente agrrias dentro de uma organizao de Estado ainda niti-damente feudal. Claro que para os habitantes da Rennia, j tocados,como vimos, por idias polticas reformistas e por concepes eco-nmicas mais tentadoras, a anexao representava um retrocesso su-ficiente para causar mal-estares e insatisfaes profundos. Acresce,ainda, a circunstncia de, com a troca, passar o govrno para asmos de um soberano protestante, da casa dos Hohenzollern, quan-do os habitantes da. regio eram, em sua maioria, catlicos, de acr-do com a posio religiosa dos Habsburgos.

    Estava, assim, claramente implantado, para os habitantes daregio, um quadro que em nada deveria contribuir para a sua con-formidade ou tranqilidade sociais. No caso do jovem Karl Marx.essas dificuldades certamente foram muito agravadas por circuns-tncias peculiares.

  • Assim que era: le filho de pais judeus os quais, possivelmen-te mais por convenincias sociais (1) do que por convico, haviamoficialmente abjurado o judasmo para abraar o protestantismo, re-ligio dos novos governantes.

    O acontecimento ocorreu quando Marx tinha apenas seis anosde idade. Levando-se em conta, porm, que o seu pai era um letra-do, advogado por profisso, e descendente de uma estirpe que jdera vrios rabinos, e que sua me era membro de famlia judiaoriunda da Holanda, sem quaisquer maiores vinculaes locais, no difcil imaginar em que ambiente familiar se teria verificado a mu-dana ou, segundo tudo leva a crer, simulacro de mudana, e quaisas impresses provveImente produzidas no esprito de uma crian-a, na ocasio ainda pequenina, porm que o futuro iria mostrar do-tada de excepcional inteligncia. No seriam elas, certamente, asmais adequadas para afervorar o acatamento s religies vigentes ouaos sentimentos nacionais mas, ao contrrio, muito prprias paraestimular tendncias iconoclastas e revolucionrias com respeito aosvalres sbre os quais estava assente a sociedade da poca (2).

    (1) Seu pai era advogado, em trato constante. portanto. com funcionrios eagentes do govrno.

    (2) Embora no tentando justificar. entendemos no seja difcil compreenderos mveis reais e mais profundos de tda a atuao de Marx. O que julgamos.porm, realmente lamentvel, verificar o nmero imenso de pessoas, sobretudojovens, que no mundo inteiro. despercebidas de que tdas as suas teorizaesNAO REPRESENTARAM MAIS DO QUE INTELECTUALIZAOES DE IMPULSOSNTIMOS E RESSENTIMENTOS PROFUNDOS E PR~VIOS, em busca. a um s6tempo. de autofustftcao, de expresso elegante e de eficincia na sua satisfao,deixam-se atrair, supondo exatamente o contrrio. Acreditam essas pessoas. emsua boa-f, que o marxismo o resultado, OBTIDO A POSTERIORI. ATRAVSDA OBSERVAAO E DO ESTUDO feitos por um homem de gnio. no sentidoda resposta a tdas as indagaes e a todos os problemas fundamentais da hu-manidade. Crem, at e a todo o instante o proclamam. que le . no apenasuma cincia. mas a base. o fundamento, a essncia de tda e qualquer cincia, umavez que a interpretao de qualquer fato s ser cientfica na medida em queestiver conformada dialtica marxista. Dai, tda a cultura f0rmada com inde-pendncia dsses padres. ser cultura alienada ...

    :tsse . sem dvida. um cntico extremamente melodioso para os ouvidos davaidade e para a sensibilidade do orgulho da criatura contingente que pretendesentir-se auto-suficiente ou, o que ainda mais Iamentvel, do jovem ou dajovem inexperiente. que pretende desembaraar-se de limitaes impostas pelasociedade em que vive, com base em valres que ela. sociedade. aceita e sbreos quais foi construda. No admira. assim. que ao som dsse cntico, tantos dei-xem cair os valres positivos e insubstituiveis de sua nobilitante e fortalecedorapureza, de seu altrusmo, de sua capacidade ideal. de tudo que deve ornar econduzir para o alto o entusiasmo da juventude. Por isso, desde logo quisemoschamar a ateno de todos para a singular coincidncia existente entre os traosfundamentais do marxismo j em sua maturidade plena, e os impulsos mani-festados, PRVlAMENTE, pelo jovem Marx quando ainda no tivera. em abso-luto. tempo nem oportunidade, para a construo de to grandiosa e exclusivacnca. . . Para tanto, abrimos, no curso de nossa exposio, que desejamossempre impessoal e serena. o parntesis que aqui se encerra no sem que antesressaltemos. uma vez mais, que os traos mais profundos do marxismo. que soo seu materialismo e o seu impulso de modificar continuamente as formas sociais,

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  • Antes de retomar o fio da exposiao acrca da evoluo inte-lectual de Marx e das mais evidentes e importantes influncias quesbre a mesma se exerceram, acreditamos til trancrever o que, arespeito da evoluo do materialismo de Marx, diz Gustavo A.Wetter em sua obra "11 materialismo dialettico sovietico", de cujaverso castelhana publicada pela Editorial Difuso, de Buenos Aires,pg. 56, ser reproduzido o trecho adequado.

    A leitura do mesmo deixa evidente que aqule autor entendeque o materialismo, em lugar de afirmar-se, como que se atenua. aolongo da obra de Marx. Tal ponto de vista, claro, coincide com atese, da maior gravidade, levantada nessa obra, acrca do carter pr-vio do materialismo marxista. o seguinte o trecho: "A decirverdad, Marx, en sus obras no ha brindade ni una sola exposicinde su concepcin materialista de la historia. Y yuxtaponiendo lasque se puedan deducir de las diversas obras correspondientes a lasvarias pocas de su evolucin, vemos que el materialismo radical delos primeros tiempos se va atenuando cada vez mS. En "La Sa-grada Famlia" rechaza en absoluto toda ideologia. En el trozo citadode Ia "Introducin a la Crtica de Ia Economia. Poltica", aparecenlas ideologias (religin, moral, filosofia, arte, estado .. .) como umreflejo, como un indice de las condiciones econmicas. En el primervolumen de "EI Capital" se encuentra un paso en el que Marx haceresaltar intensamente el significado de Ia actividad espiritual para e1processo de Ia producin: "Una arafia realiza operaciones que seasemejan a Ias de tejer, y una abeja, en la construcin de sus celdasde cera, confunde a ms de un arquitecto humano r pera lo. que dis-tingue antecipadamente al peor de los arquitectos de la mejor de lasabejas, es el hecho de que el arquitecto ha construido a la celda ensu cabeza antes de construi-la en la cera. AI concluir el processo deltrabajo se tiene un resultado que desde el comienzo, ya existia enla fantasia dei trabajador, ,por lo tanto ya existia idealmenM. Noefecta tan slo una mutacin de forma en el orden natural, sino quejuntamente acta en l su fin, conocido por l, fin que determinacomo ley el modo de su realizar.

    Adems de los esfuerzos de los rganos que trabajan, durantetodo e1 tiempo en que se trabaja se requiere la voluntad orientada

    no foram alcanados aps pesquisa criteriosa e isenta como o exigiria qualquercincia, por mais modesta que fOsse em seus objeUvos, mas exatamente ao een-trro, foram estabelecidos A PRIORI, pelos ressenUmentos e frustraes de wnjovem inteligente e revoltado.

    Que tem isso a ver, honestamente. com cincia? 't a peraunta que endereoa.mos ao mago a conscincia dos que nos lem, especialmente OI rnoOl.

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  • hacia el fin" (K. Marx, Das Kapital - I - Hamburgo, 1922 pg.140 - apud G. Wetter).

    E continua Wetter: "Y en el tercer volumen de Ia misma obraya admite explicitamente que el poder poltico, que es determinadopor la forma econmica, por su parte determina tambin a esa[orma.

    Aderns, se ha de notar la oscilacin de Marx para determinarIa base econmica real; a veces Ia denomina "Ias condiciones de Iaproduccin o de Ia propriedad", otras veces: "Ias condiciones de Iaproduccin y de la propriec1ad".

    A leitura das citaes de Wetter, acima transcritas, corrobora,realmente, a sua observao acrca de um gradativo abrandamentodo materialismo de Marx ao longo da obra do mesmo o que, inques-tionvelmente, refora claramente, como j foi dito, a tese do car-ter prvio do seu materialismo.

    Voltemos, agora, ao exame da evoluo intelectual de Marx,j assinaladas anteriormente determinadas circunstncias, nem sem-pre muito felizes, de sua infncia, que tero infludo sbre a natu-reza e a orientao de alguns dos traos mais marcantes do seu tem-peramento e do seu carter.

    J foi sublinhado como, desde o incio de sua: vida universit-ria, repelira le o hegelianismo ortodoxo para filiar-se ao grupo dos"Jovens Hegelianos" ou "Esquerda Hegeliana". Foi j sob a influn-cia dsse grupo que o jovem Marx escreveu a sua tese comparativaentre a filosofia natural de Epicuro e a de Demcrito, trabalho men-cionado anteriormente e que lhe saiu to radical que o grupo' dos"jovem Hegelianos" considerou, como le prprio, que seria im-prudente a sua apresentao na Universidade de Berlim sujeita, pelasua especial importncia, mais do que qualquer outra, fiscaliza-o do govrno prussiano.

    O trabalho, no qual ainda no chegou a revelar Marx qualquerorientao filosfica prpria, foi apresentado na Universidade deJena em 1841 onde, aprovado, determinou a outorga ao seu autor dograu de doutor em Filosofia.

    Munido dessa dignidade universitria, encontrou-se Marx cre-denciado para tentar o objetivo que acalentava de atuar de uma c-tedra universitria. significativo, neste ponto, observar que o con-vite que ento recebeu, dentro daquele objetivo, partiu de um de seuscompanheiros da "Esquerda Hegeliana", Bruno Bauer, ento pro-fessor na Universidade de Bonn. :fisse fato, juntamente com a plane-jada defesa da tese de doutoramento fora da Universidade de Berlim,

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  • parece indicar que havia, seno de todo o grupo, ao menos de partede seus componentes, o propsito de uma atuao eficiente, a. partirda instituio universitria.

    Bruno Bauer, alis, o que tambm muito significativo, fra omesmo que, crca de um ano antes havia publicado o trabalho que, emalemo, recebeu ttulo "Kritik der Evangelischen Geschichte der.Synoptiker" ("Crtica da Histria Evanglica dos Sinticos"). 1!ssetrabalho causou sensao, semelhana do que ocorrera com o jcitado de David Strauss, "Vida de Jesus", publicado poucos anosantes.

    Vemos, asim, que os propsitos revolucionrios da chamada"Esquerda Hegeliana", cujos mais expressivos vultos eram os deDavid Strauss, Bruno Bauer, Max Stirner, Ludwig Feuerbach eKarl Marx, comearam a se fazer sentir, no no domnio social oupoltico, mas nos domnios mais profundos da Filosofia e da Religio,sendo os alvos de ataque preferidos a Igreja Catlica, em particular,e as doutrinas crists, em gera1.

    Entrando em contato com Bruno Bauer, que iria abrir-lhe asportas do magistrio universitrio, algum tempo depois publicavamannimamente, le,Marx, e o citado Bauer, um ataque frontal aHegel sob o ttulo "A trombeta do Juzo Final contra Hegel". Emconseqncia, havendo as autoridades conseguido identificar os auto-res do panfleto, foi Bauer destitudo de sua ctedra, ficando prti-camente fechados, para Marx, os acessos mesma nas universidadesdo Govrno. No demais assinalar que ao govrno prussiano, noapenas no interessava a popularidade de intelectuais de inclinaesextremadas, como interessava sustentar o prestgio do pensamentohegeliano, do qual, ao contrrio, nada poderia ser deduzido contra apermanncia e a estabilidade daquele govrno. A evidncia dssefato pode ser obtida do exame de certas leis, promulgadas por Frede-rico IV logo aps a sua ascenso ao trono da Prssia verificada esn1840, tdas tendentes a impor, nas escolas e universidades, o hegeIia.-nismo mais ortodoxo.

    Por causa talvez do acirramento conseqente dos nimos, foique, no mesmo ano em que Bauer perdia a sua ctedra em Bonn,1841, publicava Ludwig Feuerbach, outro membro, como j vimos,da "Esquerda Hegeliana", a sua obra "A Essncia do Cristianismo",

    Essa; obra representou um papel do maior relvo na formaiointelectual de Marx e, de um modo geral, no reforamento da posi-o materialista da poca.

  • Realmente, os trabalhos de maior repercusso at ali divulgadospor membros da "Esquerda Hegeliana", sem dvida os j mencio-nados de David Strauss e de Bruno Bauer, haviam cingido os seusataques revolucionrios ao campo religioso. No seu "A Essncia doCristianismo", abalanava-se Feuerbach a trazer as divergncias dire-tamente para o terreno da Filosofia, constituindo-se numa tenta-tiva frontal de refutao ao pensamento de Hegel.

    Sbre Marx, at ali fascinado pela dinmica do mesmo, pormintimamente desejoso de afirmar uma posio materialista, como sbreos demais de tendncias afins s suas, o efeito e o entusiasmo pro-duzidos so descritos pelo seu maior amigo e mais ntimo colaborador,F. 'Engels, em sua obra, "Ludwig Feuerbach" (N. Y. - 1934 -pg. 28), da seguinte maneira: ... " preciso ter experimentado oefeito libertador dste livro ("A Essncia do Cristianismo") pflrase fazer uma idia dle. O entusiasmo era geral e todos, a um stempo, nos fizemos feuerbachianos. Na "Sagrada Famlia", podeler-se com que entusiasmo Marx saudou a nova concepo e a gran-de influncia (apesar de certas reservas crticas) que exerceu sbrele",

    Do prprio Marx, podem ser mencionadas, entre outras, asseguintes expresses: "Quem revelou o segrdo do sistema hegelia-no? Quem negou a dialtica do conceito, a guerra dos deuses ques os filsofos conhecem? Feuerbach. Quem colocou homens nos luga-res dos velhos palradores (den Menschen an die Stelle des altenPlauderes)? Feuerbach e apenas Feuerbach", (Dokumente des So-zialismus, II vol., J. H. W. Dietz Nachfolger, Stuttgart, 1904, pg.3:'0, apud Djacir Menezes in "Mondolfo e as interrogaes do nossotempo", Rio, 1963, pg. 51).

    bastante evidente e bastante comprensvel o entusiasmo ini-cial de Marx por Feuerbach uma vez que o pensamento do mesmo,vindo de encontro ao seu ntimo pendor materialista, fornecia-lhe umcaminho de rompimento com Hegel, cujo idealismo lhe repugnavamas cuja intensa dinmica o atraa. Isso para no dizer que, .emseus labres, no reunira ainda Marx, quela poca, bagagem sufi-ciente para uma refutao ntida do pensamento hegeliano.

    E foi assim que, durante trs anos crticos de sua formao, de1842 a 1844, foi Marx um feuerbachiano, ainda que no aceitandosem reservas o materialismo de Feuerbach.

    Sidney Hook, por exemplo, em sua obra "From Hegel to Marx(N. Y., 1936, pg. 272), assegura: "Durante os anos decisivos

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  • (1841-1844), Marx foi feuerbachiano, embora com certas reservascriticas, podemos assegurar.

    A "Sagrada Famlia" fazia propaganda do Humanismo Real,urna expresso tirada de Feuerbach. A influncia de Feuerbach nal-guns documentos de Marx de 1844, que ficaram por publicar e queem seguida apareceram na Gesamtausgabe (1) sob o ttulo "Frag-mentos Filosfico-Econmicos", no entanto mais perceptvel.

    No prprio manuscrito em que rompe definitivamente comFeuerbach, "A Ideologia Alem", encontramos uma viva defesa deFeuerbach contra os ataques de Bruno Bauer e Max Stirner. Oselementos feuerbachianos, para no mencionar as expresses carac-tersticas, repetem-se nas obras da maturidade intelectual de Marx.Como Feuerbach, Marx reclama a reconstruo da Filosofia comomtodo de aproximao para os problemas prticos do homem. ComoFeuerbach, explica os falsos conceitos tradicionais do mundo emtrmos ou expresses fetichistas de atividades inconscientemente in-terpretadas em tempos e perodos diferentes".

    Djacir Menezes, porm, ainda vai mais longe. Em sua "Mon-dolfo e as interrogaes do nosso tempo" (op. cit.) podemos ler napg. 47: "Quandol, porm, Marx e Engels decidiram abandonar ocalhamao indito "crtica roedora dos ratos" - die nagenden kri-tik der rnuse - porque tinham alimpado o horizonte especulativo eviam os quadrantes livres, haviam incorporado ao pensamento gran-de parcela da herana de Hegel e Feuerbach, que foi sendo reduzidapela apologtica. Essa reduo, bem de ver, no foi casual; elaincide sbre as razes mais fortemente humansticas do voluntarismosocial que constituiria os melhores e mais vivazes esteios de uma"filosofia de praxis". Por qu? Porque eram ingredientes ideolgicosque perturbariam a organizao de partidos monolticos, de onde osintelectuais so banidos, asfixiadas as crticas sob a unidade do co-mando duro. Mas foi no "Reale Humanismus" de Feuerbock que:tIars bebeu as mais ativas vitaminas sbre a pra%s como motor his-trico da sociedade e explicao dos "mistrios' especulativos, per-plesidades prticas".

    As citaes poderiam ser multiplicadas, no havendo como negara influncia exercida pelo pensamento de Feuerbach sbre o deMarx ao qual fascinou o materialismo daquele repugnando-lhe, em-bora, o carter insuficientemente dialtico ou um tanto mecanicistado mesmo. Para os propsitos de Marx, de no apenas interpretar a

    (1) "Marx, Engels - Hlstoriche Kr1t1sche Gesamtauaaabe".

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  • sociedade mas de atuar sbre a mesma para modific-la, algo devias-r alterado no sentido de, como numa espcie de ao fecundante,conferir posio materialista uma palpitante e dinmica vitalidadeat ento jamais conseguida. sse elemento fecundador, como vere-mos mais tarde e ao longo de tda esta obra, foi, no fundo, a dial-tica de Hegel, embora aplicada por Marx como que em sua imagemespecular.

    Da no se deve concluir, o que sera injusto, que todo o tra-balho de Marx se tivesse resumido a uma sntese entre a dialticade Hegel e o materialismo de Feuerbach, como querem muitos e,entre les, Plekhanov. Semelhante sntese teria de conduzir, comoconduziu, a conseqncias tais, que no poderiam ser enfrentadase resolvidas sem uma poderosa contribuio criadora, manda a ver-dade diz-lo.

    Voltando, agora, ao fio da nossa exposio, tnhamos visto cornoa publicao feita por Bruno Bauer e Marx de um panfleto contraHegel intitulado "A trombeta do Juzo Final contra Hegel", haviaacarretado a perda da ctedra exercida pelo primeiro na Universida-de de Bonn e o fechamento dos acessos ao magistrio em universi-dades governamentais, para o segundo. Em conseqncia, abandonouMarx a cidade de Bonn, fixando residncia em Colnia, em maio de1842, atrado pela colaborao qU('l um grupo da "Esquerda Hege-liana" lhe havia solicitado para um jornal que sse mesmo grupoestava fazendo publicar naquela cidade. A colaborao efetiva e inten-sa. de Marx naquele jornal, o "Rheinische Zeitung", foi, desde o in-cio e cada vez mais, orientada no sentido de ataque ao govrno prus-siano o que, juntamente com a orientao geral do jornal, em poucotempo acarretou para o mesmo a posio de rgo mais destacadode oposio radical quele govrno.

    To entusistica e eficiente foi a atuao de Marx em sua novaatividade que, nesse mesmo ano, foi elevado situao de editor dojornal. Foi, ento, e somente ento, que Marx comeou a entrar emcontato com as camadas mais humildes da populao e a sentir-lheos problemas de cunho social, atribuindo-lhe Mac Fadden em suaobra "The Philosophy of Communism", op. cit., a afirmao de que"pela primeira vez na sua vida, experimentou a necessidade de umafilosofia social".

    Essa necessidade, muito tempo depois, foi agravada por novosfatos. Realmente, o govrno prussiano, em maro de 1843, poucosmeses apenas aps a ascenso de Marx ao psto de editor do "Rhei-nische Zeitung", e em virtude, principalmente, de sua atuao naque-

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  • le psto, determinou a suspenso da publicao do jornal. A essaaltura, recebera Marx um convite de outro rgo, o "AllgemeineZeitung", especificamente para a publicao de artigos focalizandoas condies sociais do povo o que o obrigou a fixar a sua atenosbre temas de filosofia social a respeito dos quais se reconheciato despreparado que, aps alguns artigos, solicitou afastamento docargo por algum tempo, com a finalidade de dedic-lo ao estudo maiscuidadoso de temas daquela natureza. Foi a, possivelmente, queMarx comeou a entrar em contato mais profundo com o pensamentosocialista francs, como veremos depois, um dos fatres importantesde sua formao intelectual.

    O grupo do "Rheinische Zeitung", entretanto, convencido daimpossibilidade prtica de continuar a edit-lo na Alemanha, apsvrios projetos de transferncia para o exterior, em seguida abando-nados, decidiu-se por edit-lo em Paris, onde prticamente no haviacensura e onde passaria a aparecer, por motivos bvios, sob o nvonome de "Deutsche-Franzsische Jahrbcher". Bsse projeto, poucotempo depois fracassado, determinou a transferncia de Marx paraParis, onde chegou acompanhado de Jenny Von Westphalen, comquem j estava casado e que tantas tribulaes haveria de passar aolongo da vida acidentada do marido.

    Do jornal, propriamente, apenas um nmero chegou a sair, emmaro de 1844. A falta de, recursos materiais e de repercusso nopblico francs impediram o aparecimento de novos nmeros. Noprimeiro, porm, publicou Marx um artigo sob o ttulo "A lei nafilosofia de Hegel" no qual transparece o esfro do autor no sen-tido da fixao de uma filosofia prpria, de cunho realmente revolu-cionrio. De fato, no artigo referido, entre outras coisas, afirmavaMarx que: "As formas legais e constitucionais so produto neces-srio das condies materiais da vida" e que: "A evoluo polticadeve seguir irremedivelmente os progressos evidentes da cincia eda indstria modernas".

    Marx, que havia chegado a Paris em fins de 1843, l perma-neceu durante crca de trs anos e foi nessa oportunidade que esta-beleceu contatos mais diretos e mais profundos, no s com socia-listas franceses como com revolucionrios de vrias procedncias que,na poca, se concentravam em Paris, mais do que em outro lugarqualquer da Europa. Foi ento que estabeleceu contato com revo-lucionrios russos, entre les Bakunin. No mesmo perodo, no ape-nas aprofundou Marx os seus estudos filosficos e sociais, como aindase dedicou muito Histria e Economia.

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  • Data possivelmente dessa poca o incio do aprofundamento dainfluncia que sofreu o seu pensamento por parte do pensamentoeconmico liberal da Inglaterra, representado, entre outros, pelosde Ricardo e Adam Smith.

    De todos os contatos e influncias dsse perodo, porm, sobre-leva, talvez, a todos, em importncia, o cordial convvio estabelecidopor Marx com Proudhon, se excetuarmos o reatamento de sua ami-zade com Frederich Engels, amizade que aos dois uniu ntima eindissoluvelmente. Do ponto de vista de Proudhon os contatos! quemanteve com Marx foram altamente proveitosos pelas lies que dlerecebeu sbre o pensamento de Hegel, que no conhecia satisfat-riamente.

    Do ponto de vista de Marx, foi reveladora a influncia do socia-lista francs de vez que o mesmo, embora no muita versado emHegel, havia tido a idia de aplicar o que conhecia de sua dialtica interpretao e resposta s indagaes de cunho social e econ-mico. A sse respeito diz E. Carr em seu livro "Karl Marx" (E.Carr, "Karl Marx" - Dent and Sons - London, pg. 32) o se-guinte: Comprometeu-se (Proudhon ) a interpretar a economia emtrmos hegelianos. O plano era ideal, embora a execuo de Prou-dhon fsse grosseira e inadequada. Onde, porm, le chegou, emboratropeando, a instalou Marx o seu ponto de partida. O inventor daalavanca central no sistema de Marx foi Proudhon",

    No concordamos em que tenha sido Proudhon, prpriamente,(I inuentor da alavanca centrai do sistema de Marx. Acreditamos, claro, que sse inventor tenha sido Hegel cujas idias, reinterpreta-das por Marx, tero tido a aplicao que ste lhes veio a dar, porsugesto de Proudhon. Realmente, antes da chegada de Marx a Pa-ris, j Proudhon havia publicado trabalhos em que aparecia, expli-citamente, a tentativa da aplicao da dialtica hegeliana soluode problemas sociais e econmicos, no se conhecendo de Marx, antesde sua estada em Paris, tentativas do mesmo gnero.

    Finalmente, no perodo que estamos focalizando, deve ser assi-nalado o reencontro de Marx com Frederich Engels, a quem haviasido apresentado algum tempo antes. sse reencontro deveria selaruma amizade qut': se prolongou por crca de 40 anos. Ningum,centre seus amigos, foi mais ntimo de Marx do que Engels, ningumtendo comungado tanto quanto le das lucubraes, dvidas e esfor-os do primeiro. Para aquilatarmos bem a profundidade dos laosde amizade e de afinidade intelectual que os uniu, podem ser citadostestemunhos de ambos. De fato, em sua obra "Ludwig Feuerbach",

    32

  • op. cit., afirma Engels em certo 'trecho: "Fizeram-se largas refern-cias minha participao nesta teoria e devo dizer aqui algumaspalavras para esclarecer tal ponto de vista. No posso negar que,tanto antes quanto durante os meus quarenta anos de colaboraocom Marx, tive uma certa independncia no ajustamento das for-mas e em particular na elaborao da teoria. A maior parte das dire-trizes e princpios fundamentais, porm, especialmente na esfera daEconomia e da Histria, e sobretudo a sua formulao clara e defi-nitiva, pertence a Marx. Assim, com exceo de alguns estudostcnicos, tudo o que coloquei e defendi, poderia perfeitamente tersido psto e defendido por Marx, sem mim. Ao contrrio, o quele realizou eu no poderia nunca ter realizado. Marx estava maisalto. Atingia, por isso, horizontes mais amplos. A sua viso abarcavamais rpida e extensamente que a de todos ns. Marx era um gnio.Ns, o mais que possuamos, na melhor das hipteses, era talento.Sem le, a" teoria no seria hoje o que ".

    Por sua vez, em carta dirigida a Engels e citada por Mehringem sua obra "Karl Marx", dizia ste: "Tu sabes bem que primeirochego s coisas, pouco a pouco, e depois sigo sempre as tuas pisadas."

    Numa de suas "Cartas ao dr. Kugelmann", publicao feitaem Nova York em 1934, diz Marx, referindo-se a Engels: ... " omeu mais ntimo amigo. No tenho: quaisquer segredos para comHe."

    Foram, sem dvida, grandes amigos e ntimos companheirosde atividade intelectual, tendo sido Engels, que gozava de boa situa-o financeira, quem muitas vzes socorreu e amparou, materialmen-te, a Marx.

    ste captulo foi escrito num esfro para contribuir para, umarpida: compreenso da evoluo intelectual de Marx e de algunsfatres que tero contribudo para a formao de sua personalidade.

    No captulo seguinte, que ser dedicado a uma apresentao,tanto quanto possvel, sinttica e clara da dialtica de Hegel e daforma por que foi interpretada por Marx ao libertar-se dos ltimosliames que o ligavam ao idealismo do primeiro para construir o seuprprio materialismo, expungindo do carter esttico dos sistemasmaterialistas anteriores, cujo mecanicismo era incmodo entrave aosseus impulsos revolucionrios, ser compreendida a influncia pre-ponderante do pensamento de Hegel, cuja formidvel dinmica foi ainspirao decisiva para a dinamizao do materialismo de Marx.

    .13

  • Antes de encerrar ste captulo, ser, pois, conveniente trans-crever, a respe-ito, opinies no apenas de estudiosos do assunto,como dos prprios Engels e Marx: "O que mais o influenciou (refe-rindo-se a Marx) foi a filosofia hegeliana. Foi ela a base de todo oseu pensamento posterior. Foi ela que lhe ensinou: a) o conceitoorgnico da sociedade; b) a viso evolutiva da Histria; c) a cren-
  • 3. Di a1 t i ca

    A dialtica, essa palavra to freqente na expresso do pensa-mento dos adeptos do marxismo, em cujas fileiras menos avisadascl.ega a assumir fros mgicos, sendo pronunciada com a uno su-persticiosa de quem a acredita o alfa e o mega de todos os proble-mas e a quintessncia da nica e definitiva sabedoria, foi na anti-gidade clssica empregada pelos gregos para designar a arte deafirmar e contra-afirmar, a arte de debater.

    claro que o exerccio do debate, pela necessidade que acarretali,' exame crtico por parte de cada um dos contendores dos argu-mentos com que cada qual tende a defender os prprios pontos devista e refutar os do antagonista, se constitui numa contribuio disciplina do raciocnio e, da, na Idade Mdia, terem os esools-ticos, de certo modo, assimilado a dialtica Lgica.

    No difcil, tambm, entender que o exame sistematizado elgico de dois pontos de vista diferentes sbre um mesmo objetocontribui para que se enriquea o conhecimento acrca do mesmosendo, pois, a dialtica, fecunda em seus resultados.

    Semelhante fecundidade, como ser mostrado, constituiu-se namola central do pensamento de Hegel, cuja influncia sbre o deMarx, maior do que o de qualquer outro, torna indispensvel o exa-me que ser feito a seguir das caractersticas fundamentais daquelepensamento.

    Antes de Hegel, j era patente nos filsofos da chamada corren-te romntica, como Fichte e Shelling, a tendncia unificao detdas as coisas da vida e da cultura, para isso procurando-se deduzirtdas elas a partir de um princpio nico.

  • Para Schelling, por exemplo, de um certo Princpio Absolutoque tivesse em si, em sua prpria essncia, uma tal estrutura quea variedade e a multiplicidade verificadas na natureza e na Hist-ria devessem ser entendidas como manifestaes de sua explicitao,de sua evoluo imanente.

    Tal princpio nico seria o "Conceito Absoluto", em permanen-te auto-evoluo, do qual o Universo conhecido representa umaexteriorizao.

    Sem pretenso de penetrar mais fundo na lgica do sistema hege-liano, importante assinalar, com o destaque que merece, que anatureza dialtica para le est presente desde o Absoluto, que seautodetermina nas "categorias", a comear da primeira e mais uni-versal - o "ser" puro, a partir da qual, procedendo por negao -o "no ser" - chega primeira sntese - o "devenir". Essa snte-se, que j exprime uma certa determinao no Absoluto, ser pontode partida para nvo movimento dialtico e assim progressivamenteat o mais alto grau da sua evoluo dialtica.

    A sumarssima observao acima visa apenas desmentir a pers-pectiva em que se colocam certos autores marxistas para os quais adialtica de Hegel representa apenas o mecanismo do nosso pensa-mento, do pensamento humano. Ela mostra que, ao contrrio, a dia-ltica para Hegel existe j no Conceito Absoluto, a desenvolver-sedentro de si mesmo por estgios primrios, que nle esto includos.. Na sua Filosofia da Natureza, considera Hegel o Universo comouma exteriorizao da Idia Absoluta sendo tda a evoluo domundo, tanto na natureza quanto na Histria, o reflexo da atividadeda mesma. Ao exteriorizar-se, porm, conserva a Idia a tendnciaa readquirir a sua unidade.

    Na natureza, "alienada" a idia, e sem conscincia de si, taltendncia se exprime como "necessidade", a qual vai acarretando abusca de unidades sempre mais altas, desde o mecnico ao orgnico.Finalmente, no Homem, readquire autoconscincia e vai elaborar-se na Histria at a reintegrao como "Conceito Absoluto".

    Interessa-nos, porm, particularmente, verificar como Hegel in-terpreta, no Homem, a evoluo das idias. O processo dialtico con-siste, ento, no seguinte: tda idia uma unidade que se constituide elementos que se opem ou contradizem. Assim sendo, tda idiatem um impulso imanente que a faz mover-se, resultado da sua pr-pria contradio interna. O desenvolvimento dialtico se d atravsde trs estgios ou movimentos caractersticos: a tese1 a anttese e a

    36

  • sntese. No primeiro, enunciado o conceito original, ou tese, ste jtraz consigo a afirmao oposta ou contraditria que ir se consti-tuir no segundo estgio ou anttese, negao da tese. Da ao da anti-tese sbre a tese resulta o terceiro estgio, ou sntese.

    absolutamente necessrio, porm, advertir, que a negao datese pela anttese no significa, em absoluto, a anulao da tese, masLt111a limitao que consiste em negar parte de seu contedo. Signi-fica o combate, pela anttese, do rro contido na tese. Dessa fQl1'1Il3.,a negao da tese, a anttese, ainda que indiretamente, apresenta umcontedo de verdade. Na sntese, resultante da negao da negao,no so anuladas as duas etapas anteriores, a tese e a anttese, mas"superadas" ambas de forma que, negadas ambas, permanecem emum modo superior, sendo a sntese mais rica em contedo de verda-de que a tese ou a anttese.

    No ser demais insistir em que o desenvolvimento dialtico daidia inerente prpria ndole da idia. Numa mesma idia coe-xistem juntas, sempre e necessriamente, compondo a sua existn-cia, a tese e a anttese por ela arrastada e dela solidria. A snteseresultante da interao passa a constituir nova tese a arrastar consi-go nova anttese e, da, nova sntese e, de nvo, o processo dialtico,e assim sucessivamente, em progresso ininterrupto, sem fim, acom-panhado da constante produo de novas idias, cada vez mais desen-volvidas e mais ricas em contedo de verdade. O Universo, resultadoda exteriorizao da Idia Absoluta, uma totalidade que encerraa verdade completa. Como totalidade, ou unidade, resultante daexteriorizao do Conceito Absoluto, mantm-se em permanente ati-vidade, reflexo da atitvidade do Conceito em seu processo de auto-evoluo. Dessa forma, tdas as partes do Universo se correlacionam,e interagem, como integrantes de um s todo e nenhuma delas, de persi, pode representar a realidade total. Da que o Homem, parte doUniverso, por mais que se tenha desenvolvido a sua inteligncia, ja-mais poder conceber uma verdade total que abranja todo sse Uni-verso. Uma idia contida pela mente humana, h de ser sempre enecessriamente parcial, comportando sempre a negao de umaparte, negao essa, p()r sua vez negada, e assim sucessivamente, nodesdobramento indefinido do processo dialtico. A respeito, vale apena transcrever expresses de C. Joad, citadas por Mac Faddenem seu "The Philosophy of Communism", op. cit.: "Hegel sustentaque o Universo uma totalidade ou unidade na qual se contm averdade e a realidade completas. Como uma parte, por ser menosque o todo, considera-se conter s parcialmente a realidade qualquerdoutrina (idia); por ser menos que a verdade total acrea da reeli-

    11

  • dade total, qualificada de parcialmente verdadeira. Numa doutrina(idia) que o homem possa encerrar em si, no pode conter-se atotalidade da verdade; razo por que nenhuma doutrina (idia) inteiramente verdadeira. Com isso no se quer dizer somente quenenhuma doutrina (idia) a totalidade da verdade; insiste-se, tam-bm, em que nenhuma doutrina (idia) completamente verdadei-ra, ainda mesmo na parte de verdade que tal doutrina afirma. E porserem defeituosas tdas as doutrinas (idias), chamam a atenoda mente que as analisa para as suas opostas, para as doutrinas(idias) que as refutam."

    Acreditamos que o exame do rpido esbo anteriormente feitoacrca da dialtica de Hegel bastante para deixar perceber a for-midvel potncia que se contm em seu dinamismo.

    Potncia que no passava despercebida a Marx, sempre ten-dente a encontrar a maneira de conceber uma filosofia capaz de darveculo ao seu pendor revolucionrio, desde to cedo manifestado.

    Vimos mesmo, anteriormente, como j em seu primeiro traba-lho, em que se propunha comparar as filosofias naturais de Epicuroe de Demcrito, manifestou preferncia pelo pensamento do primei-ro, exatamente por parecer-lhe que o mesmo estava embebido de umcerto princpio energtico, ausente no segundo. Era-lhe, portanto, su-mamente atraente, o extraordinrio dinamismo do sistema hege1ianoo qual sistema, entretanto, no podia aceitar, face o carter rigida-mente idealista de que se revestia, em contraposio frontal com asua tendncia prvia, marcada e decisiva para o materialismo.

    Outro aspecto importante do pensamento hegeliano que, ma-neira de Marx, foi transposto para a sua filosofia, aqule, j assi-nalado, em que se concebe tda a realidade em global correlao epermanente atividade num sentido de progresso, decorrncia neces-sria dos fundamentos mesmo do sistema.

    Engels, por exemplo, em sua obra "A Revoluo Cientfica deHerr Engen Dhring", mais conhecida como "Anti-Dhring", naverso em ingls publicada em Nova York em 1935, diz na pg. 13,referindo-se ao sistema hegeliano: ... "Todo ' Mundo natural, his-trico e espiritual, apresenta-se como um progresso, i. e ,; como movi-mento, mudana, transformao e evoluo constantes."

    Estavam, pois, no pensamento de Hegel, os elementos de dina-mismo revolucionrio ansiados por Marx para dar expresso ao quese continha, desde h tanto tempo, no mago de sua personalidadecomplexa, insatisfeita, inquieta e magoada.

    38

  • No havia dvida de que seria algo extraordinrio a construode uma filosofia materialista precisamente sbre as bases oferecidaspor uma ntida, pujante, vigorosa filosofia idealista.

    Marx, porm, no hesitou. Tendo sentido na dialtica hegelianao pulsar do dinamismo de que necessitava para exprimir, ao mesmotempo, o seu materialismo e o seu impulso revolucionrio, tomou-a sua maneira, invertendo-a, da posio em que estava no sistemahegeliano. Segundo le e os seus seguidores pretendem, para p-lade p pois, naquele sistema, ela estaria de cabea para baixo.

    o prprio Marx quem diz (K. Marx - The Capital - Dentand Sons - London - vol. II, pg. 873) : "O meu mtodo dialti-co no s fundamentalmente diferente do mtodo dialtico de He-gd mas lhe diretamente oposto. Para Hegel, o processo mentalo criador do real, e ste s uma manifestao externa da Idia.Para mim, pelo contrrio, o ideal no outra coisa seno o materialtransportado para o interior da cabea humana."

    V-se, asim, claramente, em que sentido pretendeu Marx, e pre-tendem os seus seguidores, haver o marxismo colocado direita a dia-ltica, que no sistema hegeliano estaria invertida, de cabea parabaixo: para les, a dialtica hegeliana, atuante no mundo das idiascomo expresso da auto-evoluo do Conceito, no seria tal, mas, tosmente, o reflexo da dialtica existente, de fato, na matria.

    Assim, no so as idias que, de sua natureza, se compem deelementos contraditrios; os elementos contraditrios existem, issosim, na matria, de sua natureza, sempre e necessriamente. O mundodas idias, pois, reflete as contradies da matria. Para Hegel, aidia era auto-suficiente para mover-se, sempre, e em um sentidode progresso. Para Marx, a matria, sim, que auto-suficientepara mover-se, no sendo necessrio buscar as causas do seu movi-mento fora dela.

    conveniente, a propsito, citar um trecho de Engels no qualdiz, entre outras coisas, que no se tratava de deixar Hegel em umcanto mas, pelo contrrio, partir do aspecto revolucionrio do seumtodo dialtico. Vejamos de que forma: " ... A forma hegelianadsse mtodo era impraticvel, pois que, segundo Hegel, a dialtica o autodesenvolvimento do Conceito: "havia que acabar com essainverso ideolgica. Agora, colocamos os conceitos dentro da nossacabea, em forma materialista, como imagens de coisas reais, em vezde ver as coisas como imagens dste ou de outro estado de desen-volvimento do Conceito Absoluto... Dste modo, a dialtica doConceito converte-se, simplesmente, num reflexo consciente do mo-

  • vimento dialtico do prprio Mundo e a dialtica de Hegel coloca-sedireita, ou melhor, volta-se-lhe a cabea para os ps". E logo depois:" . .. o aspecto revolucionrio da filosofia hegeliana ficava outra vezencaminhado e, ao mesmo tempo, livre de entraves idealistas, que ha-viam impedido a sua firme realizao nas mos de Hege1." (F. En-gels - "Ludwig Feuerbach" - pg. 53)

    Eis como valeu-se Marx do sistema de Hegel, utilizando, ao seumodo, a dialtica hegeliana.

    Acreditamos no ser excessivo dizer que foi utilizada por Marx,ainda que feio que interessava ao seu materialismo, a dialtica deHegel, uma vez que o prprio Marx quem diz: "Embora a dialti-ca se convertesse, nas mos de Hegel, em uma mistificao, perma-nece de p o fato de ter sido le quem pela primeira vez exps asformas gerais do movimento dialtico . . . ss (K. Marx - The Capital- vol. II - op. cit.).

    Expostas, portanto, em suas linhas gerais, a dialtica de Hegele a forma de sua relao com a dialtica marxista, iremos, no pr-ximo captulo, tentar analisar em mais detalhe essa ltima, ao estu-dar a filosofia marxista da natureza, base incontestvel de todo o pen-samento marxista.

    40

  • ,"

    4. Filosofia Marxista da Natureza

    No captulo anterior foram examinadas, em seus aspectos fun-damentais, a concepo dialtica de Hegel bem como a forma pelaqual dela lanou mo Marx para, atravs da postulao do carterdialtico da matria, estabelecer as bases sbre as quais iria cons-truir a sua prpria filosofia materialista, dotada do dinamismo deque careciam as correntes materialistas anteriores, inclusive as dosculo XVIII, incapazes, por isso mesmo, de satisfaz-lo em sua nsiarevolucionria. Iremos examinar, agora, a filosofia marxista da na-tureza, base de todo o sistema que,' a partir da mesma, se desdobrade maneira lgica e admiruelmente conseqente.

    Da a importncia capital que se deve atribuir ao exame rigo-roso, cuidadoso e honesto dessa Filosofia da Natureza na qual se in-tenta o lanamento das bases materialistas para uma visualizao doUniverso, no como uma coleo de partes independentes, mas comoum "processo" global em geral interao dialtica como, a partir deconsideraes diferentes ou mesmo opostas, j se concebia no sis-tema hegeliano.

    Para que se possa avaliar com propriedade tda a importnciada Filosofia da Natureza que ser examinada neste captulo, toma-se necessrio, desde logo, chamar a ateno para o seguinte: paraqualquer sistema: materialista, que circunscreve necessriamente ro-das as coisas aos domnios da matria, nada podendo conceber fora.independente ou alm dela, so problemas de fundamental importn-cia e especial dificuldade os seguintes - 1.0 - A explicao do mo-

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  • vimento; 2. - A explicao do aumento quantitativo da realidade;3. - O aparecimento de novas qualidades, aumentando a diversi-ficao da realidade.

    bom notar tambm, desde logo, que, para um sistema de pen-samento que admita a existncia de algo que transcenda a matria,podendo ter existncia independente dela, tais problemas j no seapresentam necessriamente to embaraosos. Para quem, por exem-plo, admita a existncia de um Deus criador, os mencionados pro-blemas passam a ter soluo, sem maiores dificuldades.

    Iremos ver, em seguida, como Marx enfrentou aqules proble-mas e quais foram as solues que props para os mesmos.

    Circunscrito posio materialista que postula a inexistnciade qualquer coisa fora ou independente da matria, estava obrigadoa conceb-Ia de modo tal que, de sua natureza, pudessem ser dedu-zidas as solues para os mesmos, sem recurso a qualquer fator ex-terior ou independente.

    Analisemos, em primeiro lugar, a soluo oferecida ao problemado movimento a qual, como as oferecidas aos outros dois problemasfundamentais mencionados anteriormente, o do aumento quantitati-vo e o da diversificao da realidade, ser objeto, oportunamente, dorespectivo exame crtico visando possibilidade de uma opo hones-ta e fundamentada.

    Para resolv-lo, afirma Marx o carter dialtico da matria aoestabelecer a sua "lei dos contrrios", a 1.a lei da matria, a lei bsi-ca de todo o edifcio marxista e na qual mister reconhecer, apli-cada natureza da matria, exatamente o que Hegel concebera para

    ~ natureza da idia. Essa l.a e fundamental lei pode ser assim expres-sa: a realidade uma unio de contrrios. Dessa forma, nega o mar-xismo o que se conhece em filosofia como "princpio da identidade"e segundo o qual um ser idntico a si mesmo, s podendo ser lemesmo, e no outro, princpio sse por outras escolas aceito comoevidente. (1)

    Da contradio inerente realidade, do fato de todo o ser re-presentar uma unio de contrrios, deduz o marxismo, para a ma-tria, a mesma atividade imanente que Hegel admitia para a idia.Da oposio de contrrios existentes em todos os sres resultaria,assim, para Marx, todo o movimento, entendida a expresso em seusentido mais amplo e no, apenas, no sentido puramente mecnico.

    (1) No apenas nesse como nos outros principios fundamentais. diverge algica dialtica da lgica formal - como no da contradio e, principalmente,no do terceiro excludo.

    42

  • conveniente deixar claro que, de fato, a explicao marxistapara todo o movimento ou atividade existente no universo consistena afirmao de que todos os sres so o resultado da unio de con-trrios, sendo a natureza, tda ela, de ndole dialtica.

    A explicao marxista do movimento est, pois, sem sombra dedvida, na chamada "Lei dos Contrrios", a primeira lei da filoso-fia marxista da natureza.

    A importncia dada afirmao acima repisada vem, em pri-meiro lugar, da convico de ser ela correta e da importncia; quetem tal fato em face do desenvolvimento ulterior do pensamento mar-xista, dela decorrente de maneira lgica;' em segundo lugar do fatode tentarem alguns marxistas modernos negar a evidncia baseados,principalmente, na ausncia de uma razo de ordem geral que deter-mine a necessidade de coexistirem sempre, em cada ser, os dois prin-cpios contrrios que compem a sua realidade. Argem, os que secolocam nessa posio, que a base para a afirmao do que se contmna primeira lei emprica, i. , consiste em fatos que a cincia reco-lhe. Costumam ser citados ento, em favor da' tese, a necessidade daexistncia de um plo positivo e outro negativo, para que haja corren-te eltrica, da existncia de plos opostos para que se manifestemos fenmenos magnticos, de apresentarem os tomos em sua consti-tuio, cargas positivas e negativas (embora existam, tambm, par-tculas neutras), etc.

    Mac Fadden, referindo-se aos argumentos daqueles marxistasem seu "The Philosophy of Communism", op. cit., alm dsses e deoutros fatos, cita, ainda: "Se olharmos o homem, notamos que a suapersonalidade sempre uma mistura de elementos contraditrios.Tanto os gestos egostas quanto os altrustas, tanto os sociais quantoos anti-sociais, compem a personalidade concreta. Se, por um mo-mento, considerarmos o homem como parte de um grande processonatural, verificaremos que, como entidade, o resultado da unio dedois contrrios: os pais so homem e mulher. Considerando-o em simesmo, descobrimos invarivelmente certas caractersticas, tanto or-gnicas quanto mentais, que so consideradas prprias do sexo opos-to. Tais caractersticas podem encontrar-se de forma pouco desenvol-vida, mas nem por isso deixam de estar presentes". E assim, atravsdessa correlao, feita a posteriori, com certos aspectos da interpre-tao cientfica da realidade, intenta-se, como ser visto mais tarde,desligar a filosofia marxista da natureza de suas conseqncias cla-ras e indiscutveis na interpretao, principalmente, da evoluo daHistria e da Sociedade, e de todos os planos em que, como uma filo-

    4J

  • sofia global, de coerncia admirvel a partir das bases em que assen-ta, deduz o marxismo, com lgica impecvel, aquelas conseqncias.

    Se no bastasse a gritante evidncia de no ser o marxismo umacincia experimental mas um sistema filosfico completo e global;se no bastasse a evidncia, j mostrada anteriormente, da influnciado pensamento de Hegel sbre o de Marx, sendo a lei dos contr-rios do ltimo o resultado evidente da inverso da dialtica do pri-meiro, inverso explicitamente confessada por Engels e pelo prprioMarx, como j vimos; se isso no bastasse para evidenciar a pre-cariedade da posio dos que pretendem desvincular, por motivos quesero vistos mais tarde, aquela lei e a filosofia marxista da nature-za, das posies marxistas com relao Histria, Economia, Scciedade etc., conseqentes a ela, ainda poderamos citar, entreoutros, os seguintes trechos ilustrativos: "No Universo, a evoluono se porta como resultado de uma causa externa (Deus). Noresulta de um propsito inerente aos acontecimentos, antes da con-tradio que acompanha todos os sres e todos os fenmenos. "Acontradio a raz de todo o movimento e de tda a vida" - escre-veu Hegel. Todo o ser leva em si mesmo contradio e por isso semove e adquire impulso e atividade. Tal o processo de todo o mo-vimento." (V. Adoratsky - Dialectical Materialism - M. Law-rence - London - pg. 26). Parece claro poder-se deduzir, da lei-tura do trecho, que realmente o processo de todo o movimento temcomo explicao a le;i dos contrrios, em boa doutrina marxista, umavez que Adoratsky reputado marxista, tendo ocupado, inclusive, ocargo de diretor do Instituto Marx-Engels-Lenin, de Moscou.

    Ainda: "... os fenmenos da natureza esto em eterno movi-menta e contnuas transformaes. O desenvolvimento da natureza o resultado do desenvolvimento das contradies, isto , da ao re-cproca de fras contrrias da natureza". (Stalin - "Le matria-lisme dialectique e le matrialisme historique" - apud mile Baasin "Introduo crtica ao marxismo", op. cit.).

    E, ainda: "A admisso do automovimento (da matria) nosliberta das representaes idealistas de Deus, do esprito universal, daalma e de outras semelhantes que, como se pretende, constituiriam afonte do movimento e da evoluo". (Razumovski, grande Enciclop-dia Sovitica, 22, 149 - apud Wetter in "El Materialismo DialticoSovitico", op. cit.),

    Fica clara, assim, qual a posio adotada pela Grande Enciclo-pdia Sovitica que exprime, claro, o pensamento autorizado dosexegetas oficiais do marxismo-leninisrno, na Rssia Sovitica.

    44

  • rEssa posio, porm, como j ficou dito, conduz a dificuldadesintransponveis, tanto quando considerada em si mesma, nos dom-nios da Filosofia da Natureza, quanto nas conseqncias a que levaem suas projees em domnios diferentes. compreensvel, portan-to, o fato, j assinalado, de alguns adeptos do marxisrno-leninismotentarem desvincular aspectos essencias da teoria marxista da fontede onde les, indiscutivelmente, provm.

    Sidney Hook, p. exemplo, para citar um exemplo, ao afirmarque a dialtica natural no constitui a base da luta de classes, ventilao carter de filosofia global do marxismo para reduzi-lo, ao marxis-mo, a uma isolada filosofia social.

    uma distoro to evidente do pensamento de Marx que quase penoso ter que mencion-la, prevenindo os atalhos obscuros datergiversao e da ausncia de propsitos retos no esclarecimento daverdade, propsitos nem sempre presentes em todos os debates que seferem em trno dsses assuntos.

    A medida em que formos desdobrando outros aspectos essenciaisda Filosofia Marxista da Natureza e, sobretudo, as conseqncias aque conduzem, tornar-se-o claros os motivos que levam os que pre-tendem manter, a qualquer custo, os crditos do marxismo, principal-mente os que vem nle, na verdade, apenas um instrumento para aconquista do poder, s tentativas de desfigur-lo, fracion-lo ouamput-lo, contanto que no transpaream as imensas fendas que

    .apresenta e que, conhecidas, poderiam prejudic-lo ou inutiliz-lo co-mo instrumento daquela conquista.

    Pelo que j foi visto at aqui, no ser demais afirmar que estfora de dvida: que ao enunciar a sua l.a lei em Filosofia da Na-tureza, a lei dos contrrios, j vista, e segundo a qual "tda a rea-lidade sempre uma unio de contrrios", refere-se o mar.rismo auma contradio material, presente na realidade concreta e capasf!.: explicar todo o movimento, no sentido mais amplo da extressiJoe no, apenas, no sentido mecnico da mesma, independentementede qualquer causa externa ao Universo material.

    , portanto, a "lei dos contrrios" a soluo oferecida pelo mar-xismo ao 1.0 dos trs problemas apontados no incio dste captulo,o problema da explicao do movimento, como de especial dificul-dade para os sistemas materialistas, que nada podem admitir alm,fora ou independentemente da matria. Oportunamente ser analisa-do o valor dessa soluo.

    O 2. problema mencionado no incio do captulo foi o represen-tado pelo aumento quantitativo da realidade. :asse problema o m&1'"

  • xismo intenta resolver atravs da 2.a lei da sua filosofia da naturezaou "Lei da Negao". Novamente a transparece, ntida, a relaoentre o pensamento de, Marx e o hegelianismo. De fato, na dialti-ca de Hegel, a idia, em conseqncia da contradio e da forma deinterao entre os opostos que a constituem, no simplesmente mo-ve-se, mas move-se em um sentido de progresso, sendo sempre a sn-tese mais rica em contedo de verdade que a tese ou a anttese.

    Segundo a "lei da negao", em filosofia marxista da natureza,a contradio, que bsicamente existe na realidade concreta, porefeito como que de reflexo, acarreta a natureza contraditria da idiae determina, para aquela realidade concreta, um movimento necess-rio a operar-se, sempre, em um sentido de progresso, em sentido queconduz ao aumento quantitativo da realidade em questo.

    Dessa forma, de acrdo com a lei que estamos estudando, umser, ao mover-se, o faz sempre no sentido da sua prpria negao, ne-gao que se opera, entretanto, acarretando o enriquecimento quan-titativo do universo na classe do ser que foi negado.

    Alguns exemplos concorrero para o esclarecimento do contedoda Lei.

    Engels, p. ex., em sua "A Revoluo Cientfica de Herr EugenDhring", mais conhecida como "Anti-Duhring" simplesmente, op.cit., diz em certo trecho: "Vimos acima que a vida, afinal, consistenisto: um ser vivo a cada momento o mesmo e, ao mesmo tempo,outro. Portanto, tambm a vida uma contradio que reside nossres e nos prprios processos, e que constantemente se afirma, e sedesenuoloe a si prprid'.

    E mais adiante = "Tomemos um gro de cevada. Milhes degros semelhantes so modos, fervidos e preparados para obter-secerveja; assim so consumidos. Mas se sse gro encontra condiesque lhe sejam favorveis, se cai em terreno adequado, ento d-seuma mudana especfica sob a influncia do calor e da luz, i. , ger-mina. O gro, como tal, deixa de existir, negado; em seu lugaraparece a planta, que brota dle, negao do gro. E qual ser oprocesso vital regulador dessa planta? Cresce, floresce, fecundadae, finalmente, produz de nvo gros de cevada; quando stes estive-rem maduros, o caule morre e por sua vez negado. Como fruto detal negao, temos outra vez o gro de cevada, no j como uni-dade, mas em vinte ou trinta unidade". (1)

    (1) Exemplo claro de refutao marxista ao princpio da identidade.

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  • Os exemplos citados deixam claro no apenas o sentido da "leida negao", negao a operar-se sempre num sentido de aumentoquantitativo da realidade material em causa como, ainda, a real acep-o em que deve ser tomada a expresso movimento, que no selimita ao sentido estritamente mecnico mas, como j foi dito antes,abrange tda e qualquer atividade.

    indispensvel, tambm, deixar claro que quando o marxismoafirma que um ser move-se sempre no sentido da sua prpria nega-o, negao que se acompanha de aumento quantitativo, refere-seao modo natural de um ser mover-se e negar-se.

    O prprio Engels, na mesma obra, mais adiante, afirma: "Al-gum dir ... tambm eu nego um gro de cevada, quando o tri-turo, e nego um inseto quando o esmago debaixo do p... "

    Tais objees so, de fato, o principal argumento que apresen-tam os metafsicos contra a dialtica, e so tambm uma prova dapequenez mental de tal modo de pensar. Em dialtica, negao noquer dizer "no", declarar que uma coisa no e